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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ENGENHARIA ANALISADOR DE CONSUMO DE DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS COM REGISTRADOR DE DADOS INTEGRADO Porto Alegre, 04 de dezembro de 2017. Autor: Fernanda Canabarro Schmidt Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Curso de Engenharia Elétrica Av. Ipiranga 6681, - Prédio 30 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS - Brasil E-mail: [email protected] Orientador: Prof. Anderson Royes Terroso Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Av. Ipiranga 6681, - Prédio 30 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS - Brasil E-mail: [email protected] RESUMO Este trabalho consiste no desenvolvimento de um analisador de consumo com registrador integrado, capaz de armazenar os valores de correntes lidas, na faixa de 1 uA a 20 mA, ao longo do tempo tendo como objetivo facilitar a forma de medir o consumo de dispositivos eletrônicos com a precisão necessária. Os sensores de corrente implementados utilizaram a técnica shunt combinada com outras topologias de circuito. Duas implementações foram realizadas, uma com o CI (Circuito Integrado) INA212 e outra com o ADC de 24 bits do tipo sigma-delta (Hx711) que exibiu desempenho compatível com a aplicação e se mostrou eficaz na precisão, que foi menor que 0,1% da faixa de leitura. A forma de registro dos dados se deu através de uma memória flash, mais conhecida como pendrive, escrevendo os dados em um arquivo CSV (Comma Separated Values) e também foram exibidos em tempo real através de um display. Palavras-chave: analisador, consumo, dispositivos eletrônicos, Hx711.

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE ENGENHARIA

ANALISADOR DE CONSUMO DE DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS

COM REGISTRADOR DE DADOS INTEGRADO

Porto Alegre, 04 de dezembro de 2017.

Autor: Fernanda Canabarro Schmidt

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Curso de Engenharia Elétrica

Av. Ipiranga 6681, - Prédio 30 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS - Brasil

E-mail: [email protected]

Orientador: Prof. Anderson Royes Terroso

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Av. Ipiranga 6681, - Prédio 30 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS - Brasil

E-mail: [email protected]

RESUMO

Este trabalho consiste no desenvolvimento de um analisador de consumo com registrador

integrado, capaz de armazenar os valores de correntes lidas, na faixa de 1 uA a 20 mA, ao

longo do tempo tendo como objetivo facilitar a forma de medir o consumo de dispositivos

eletrônicos com a precisão necessária. Os sensores de corrente implementados utilizaram a

técnica shunt combinada com outras topologias de circuito. Duas implementações foram

realizadas, uma com o CI (Circuito Integrado) INA212 e outra com o ADC de 24 bits do

tipo sigma-delta (Hx711) que exibiu desempenho compatível com a aplicação e se mostrou

eficaz na precisão, que foi menor que 0,1% da faixa de leitura. A forma de registro dos

dados se deu através de uma memória flash, mais conhecida como pendrive, escrevendo os

dados em um arquivo CSV (Comma Separated Values) e também foram exibidos em tempo

real através de um display. Palavras-chave: analisador, consumo, dispositivos eletrônicos,

Hx711.

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ABSTRACT

This work consists of the development of a current consumer analyzer with integrated

recorder, capable of storing the values of read currents, in the range of 1 uA to 20 mA, over

time in order to facilitate the measurement of the consumption of electronic devices with the

required accuracy. The implemented current sensors use the shunt technique combined with

other circuit topologies. Two implementations were performed in this project. The use of

the INA212 Integrated Circuit IC was inadequate for the application of the project, and the

implementation with 24-bit sigma-delta type ADC (Hx711) showed performance

compatible with the application and was effective in accuracy, which was less than 0.1% of

the reading range. The way of recording the data was through a flash memory, it is better

known as pendrive, writing the data in a CSV file (Comma Separated Values) and also were

displayed in real time through a display. Key-words: analyzer, consumption, electronic

devices, Hx711.

1. INTRODUÇÃO

Em um cenário onde a tecnologia está cada vez mais presente na vida das pessoas

(BRONDANI, 2015), é extremamente relevante que os engenheiros invistam em suprir as

necessidades existentes agregando qualidade e eficiência.

Neste contexto, além de sempre se buscar a inovação com a criação de novas

tecnologias, vigora a ideia de melhorar a tecnologia já existente, principalmente quando há

alguma necessidade de reduzir custos, o vulgo “fazer mais, com menos”.

De modo geral, no desenvolvimento de projetos desde a determinação do escopo até a

validação há uma grande preocupação com a qualidade da entrega final, o produto.

Preocupados com isso, a demanda de ferramentas ágeis e confiáveis, para realizar ensaios de

caracterização abrangentes e satisfatórios, aumenta (BRONDANI, 2015). No setor de

Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da empresa NOVUS PRODUTOS ELETRÔNICOS uma

das etapas de desenvolvimento do produto, consiste em monitorar o consumo dos produtos

desenvolvidos, dessa forma há como estimar o tempo de vida da bateria utilizada para

alimentar o dispositivo e também há como encontrar falhas de firmware e hardware. Nesse

sentido, dois exemplos recentes; ambos com registradores de dados portáteis; demonstram a

importância da caracterização de consumo dos dispositivos:

- Registrador de temperatura portátil com comunicação NFC (Near Field

Communication):

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Na concepção de uma nova versão do produto era desejável que o consumo fosse

otimizado para que ao invés de duas baterias de 3V em paralelo, fosse utilizada apenas uma

bateria de 3V . O ensaio de caracterização do consumo da versão antiga do dispositivo, foi de

extrema importância para avaliar se as alterações realizadas em firmware foram realmente

efetivas. E através delas, foi possível perceber onde o consumo poderia ser melhorado, que no

caso foi otimizando os delays (atrasos), e após implementado a utilização de apenas uma

bateria foi suficiente para alimentar o dispositivo mantendo o tempo de vida desejado da

bateria.

- Registrador de temperatura portátil com comunicação BLE (Bluetooth Low

Energy) :

No caso deste produto, por meio do ensaio de caracterização do consumo, uma falha

de firmware foi diagnosticada. Em uma das rotinas típicas do firmware de leitura de um dado,

ao invés de demorar de 1 ms a 10 ms, a rotina ficava 100 ms aguardando uma resposta devido

a um delay (atraso) desnecessário em tal tarefa. A falha não poderia ser detectada em testes

funcionais devido ao tempo ser visualmente pequeno, porém como se almeja o menor

consumo possível para este dispositivo, isso faria uma grande diferença no tempo de vida das

baterias utilizadas.

A proposta principal deste trabalho está situada no desenvolvimento de um analisador

de consumo com registrador incorporado para dispositivos eletrônicos, de forma que associe

ferramentas já existentes, agregando baixo custo ao projeto, além fazer isso com qualidade,

que neste caso se define por medidas precisas, registradas de forma segura e em um pequeno

intervalo de tempo, bem como exibir os dados em tempo real em uma IHM (Interface Homem

Máquina). De forma que, os objetivos do trabalho são: desenvolver um produto que permita

diagnosticar dispositivos que estejam fora de sua especificação de consumo, que através da

análise criteriosa dos dados indique algum possível problema no firmware ou hardware; e

permita estimar de forma mais adequada a vida útil da bateria de dispositivos eletrônicos,

como registradores de temperatura de baixo consumo, utilizados no controle de qualidade de

transporte de vacinas e hemoderivados.

Com a utilização da ferramenta proposta neste trabalho, tendo em vista melhorar a

qualidade dos produtos, há, além de uma solução para monitoramento de consumo, uma

proposta de automatização de ensaio, o que permite que outros testes sejam executados ao

mesmo tempo, otimizando o trabalho e reduzindo custos, tanto do produto, quanto do projeto.

Considerando que os testes podem ser repetidos várias vezes, em pouco tempo, há a

possibilidade de traçar o perfil de repetibilidade do consumo do dispositivo. O método

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utilizado atualmente, medições com o osciloscópio através de um shunt, possui muitas

fragilidades, como por exemplo, o fato de apenas serem medidas formas de onda já

conhecidas devido à análise do firmware. Com o método atual é necessário saber a

periodicidade do evento e a forma de onda esperada, considerando que a janela de tempo que

o osciloscópio disponibiliza é muito pequena, faz-se necessário o acesso ao firmware para

forçar algum pino do microcontrolador como trigger com o intuito de saber exatamente o

momento em que o evento acontecerá. Analisando o método, percebe-se que há muitos fatores

limitantes para a caracterização do consumo do dispositivo, pois somente é medido o que é

esperado, ou seja, eventos inesperados correm um grande risco de passarem despercebidos.

No setor de P&D da empresa NOVUS PRODUTOS ELETRÔNICOS, para

caracterizar o consumo de um produto como o registrador de temperatura portátil com

comunicação NFC, é necessário no mínimo dois dias de trabalho para que todas as formas de

onda sejam capturadas e analisadas. Já o analisador projetado neste trabalho, pode fazer este

mesmo ensaio em no máximo uma hora, tendo ainda a opção de anexar outros períodos de

aquisição para que seja traçado o perfil de consumo de diferentes configurações trazendo mais

detalhamento e amplitude à estimativa.

O trabalho possui um escopo definido em relação ao desenvolvimento de um

analisador de consumo de dispositivos eletrônicos que mede consumo de dispositivos na faixa

de 1 uA a 20 mA DC, esta faixa foi definida devido a abrangência da maioria dos produtos

desenvolvidos pela NOVUS para automação industrial. Consumo de dispositivos com

correntes e tensões superiores ao especificado ou alternadas, não serão abordados neste

trabalho.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta seção serão apresentadas as principais tecnologias necessárias para embasar este

trabalho. As mesmas serão elencadas da seguinte forma: sensor de corrente e tipos de ADC.

2.1. Sensores de corrente

“A palavra ‘sensor’ é derivada de sentire que significa ‘perceber’(...)", segundo o dicionário

Chambers Twentieth Century de 1972. Usher diz que ‘sensor’ é ‘um dispositivo que detecta

uma mudança em um estímulo físico e transforma em um sinal que pode ser medido ou

gravado’. (M. J. Usher, 1985)

No caso de sensores de corrente, por serem analógicos, não há o estímulo físico,

portanto, as variações mensuradas já se dão em relação à corrente ou tensão.

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Há diversos princípios relacionados aos sensores de corrente, desde os mais simples,

como a Lei de Ohm, até mais complexos, como o efeito do campo magnético. Os métodos

mais conhecidos de realizar medidas de corrente são: efeito hall, método de Rogowski Coil,

shunt e métodos com transformadores.

2.1.1 Rogowski Coil

Este método tem seu princípio caracterizado apenas para corrente AC (corrente

alternada), devido à sua relação com a variação do fluxo magnético, como diz o artigo

SHERPARD, 2000.

“A teoria da bobina de Rogowski baseia-se na lei de Faraday que afirma: a força

eletromotriz total induzida em um circuito fechado é proporcional à taxa de tempo de

mudança do fluxo magnético total que liga o circuito.” (SHERPARD, 2000)

Um exemplo de sensor é a bobina flexível, conforme Figura 1.

Figura 1: Bobina Flexível de Rogowski

Fonte: (SHERPARD, 2000)

Portanto, para a aplicação estudada neste trabalho, o método de Rogowski Coil será

descartado.

2.1.2 Sensor de Efeito Hall

O efeito Hall define-se dessa forma:

“(...) cargas em movimento em uma região onde há um campo magnético estão

sujeitas a uma força perpendicular ao seu movimento. Quando estas cargas estão em

movimento em um fio condutor, elas são empurradas para um dos lados do fio. Isto

resulta em uma separacão das cargas no fio — um fenômeno chamado de efeito Hall.

Este fenômeno nos permite determinar o sinal da carga nos portadores de carga e o

numero de portadores por unidade de volume, n, em um condutor. O efeito Hall

também fornece um método conveniente para medir campos magnéticos”.( TIPLER,

1933)

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Através de experimentos, Hall descobriu, antes mesmo da descoberta do elétron, que a

cargas negativas se moviam do polo negativo para o positivo. Essa descoberta foi de grande

importância para a época e somente foi possível devido a associação de um campo magnético

que por sua vez induz um campo elétrico, expandindo as possibilidades e usabilidades desta

técnica. (TIPLER, 1933)

Com a presença de um campo elétrico, é possível descobrir a iteração de outras

grandezas, como tensão, diferença de potencial, corrente, densidade elétrica e etc. É partindo

deste princípio que se utilizam sensores de efeito Hall para medir a corrente elétrica em um

fio condutor, conforme Figura 2.(HONEYWELL. Hall Effect Sensing and Application)

Figura 2: Princípio do Efeito Hall

Fonte: HONEYWELL. Hall Effect Sensing and Application

“Os sensores de efeito Hall com saída linear podem ser usados para detectar correntes que

variam de 250 miliamperes a milhares de ampères.” (HONEYWELL. Hall Effect Sensing and

Application)

Como indicado através da citação do artigo da Honeywell, para a faixa de corrente que

o trabalho foi aplicado, há uma certa dificuldade em utilizar este princípio, por ser um sensor

que não realiza contato com o fio condutor, a aplicação mais utilizada é para correntes de

grandes amplitudes, tanto contínuas quanto alternadas, trazendo dificuldade em encontrar

sensores compatíveis no mercado.

2.1.3 Método de medida através de transformadores

No artigo de ZIEGLER, S. et al. é proposto um método diferente de se realizar

medidas de corrent. Esquemático do circuito proposto na Figura 3.

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Figura 3: Circuito proposto

Fonte: ZIEGLER, S. et al.

Segundo os autores do circuito proposto na Figura 3 o método não se tornou popular

na indústria e no meio acadêmico, devido ao uso de muitos componentes.

A topologia do circuito baseia-se no fato de o consumo medido ser uma fonte de

corrente que induz uma corrente amplificada da bobina do transformador devido à relação de

espiras de uma bobina para a outra. A corrente induzida então, é medida através de um shunt e

essa leitura é passada diretamente para um ADC (Conversor Analógico Digital). A frequência

de operação do circuito se dá por um oscilador que excita o transistor e que atua como uma

chave, permitindo ou não a passagem de corrente para o resistor de carga. Os diodos são

utilizados, neste caso, para fins de proteção do ADC (microcontrolador) e do transistor que

está funcionando como chave neste circuito. Os mesmos mantêm a tensão da bobina retida e

não permitem que a mesma gere sobre tensão.

A amplificação da corrente através da relação de espiras é de extrema importância na

pesquisa e faz desta técnica aplicável para a faixa baixa de corrente, porém menos atrativa

para parte alta da faixa, devido à necessidade de um circuito auxiliar para rebaixar a tensão a

fim de que possa ser lida pelo ADC.

2.1.4 Shunt1

Este método consiste basicamente em medir a tensão de um resistor e dessa forma

calcular a corrente que passa nele. A técnica que embasa este método é a Lei de Ohm. Porém,

1 “shunt (palavra inglesa, do inglês [to] shunt, derivar)

[Eletricidade] Desvio introduzido num circuito elétrico, de maneira a não deixar passar senão uma

.fração da corrente nesse circuito.

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apesar de toda sua praticidade, o uso deste método traz perdas de potência relacionadas à

queda de tensão no resistor de medição, o que faz com que sua utilização precise ser muito

bem avaliada. A Figura 4 demonstra um esquemático de como funciona esta técnica.

Figura 4: Esquema elétrico do método shunt

Fonte: TEXAS INSTRUMENTS, 2010

Há uma série de vantagens e desvantagens em realizar as medições nos diversos

métodos existentes. O modo low-side sensing, traduzido de forma livre para “medicão junto

ao terra”, sofre interferências em relação ao terra da carga e o modo high-side- sensing,

traduzido de forma livre para “medicão junto à fonte”, sofre interferência da fonte.(TEXAS

INSTRUMENTS, 2010)

Portanto, para definir a melhor forma de medição deve-se analisar qual o efeito que

cada uma das metodologias terá na carga utilizada. Os valores dos resistores serão

dimensionados de acordo com a corrente da carga, de acordo com a Equação (1). Onde “V” é

a tensão no resistor, “R” é o valor do resistor e “i” é o valor de corrente passante através do

resistor.

𝑉 = 𝑅. 𝑖 (1)

2.2. Tipos de Conversor Analógico-Digital (ADC)

Uma das partes comuns de todas as técnicas de medição de corrente que podem ser

aplicadas neste projeto é o ADC, devido à necessidade de utilizar um microcontrolador

automatizando diversos processos. Existem diversos tipos de ADC e para cada aplicação

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deve-se analisar as diferentes características provenientes deste componente, como: o número

de bits (resolução), forma de conversão, taxa de conversão, entre outros parâmetros. No

Quadro 1 há uma comparação dos tipos mais conhecidos, adaptada do artigo de KANSAL,

2015.

Quadro 1: Comparação de tipos de ADC traduzido de forma livre

Fonte: KANSAL, 2015

Através do Quadro 1, pode-se observar que para cada tipo de ADC há muitas

características a se considerar, evidenciando a importância de se analisar os requisitos

técnicos de cada aplicação a fim de escolher o componente mais adequado. Dependendo das

características da aplicação a ser utilizada, o ADC não consegue atender todos os requisitos ao

mesmo tempo, muitas vezes é necessário abrir mão de alguma característica secundária ou

contornar a deficiência do componente de outra forma.

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Devido a limitações tecnológicas, se a aplicação for muito específica é provável que

circuitos auxiliares e de alta complexidade sejam necessários, pois o ADC ideal não existe,

como é citado na conclusão do artigo de KANSAL, S. : “Um ADC ideal teria um grande

número de bits para uma altíssima resolução, amostras tão rápidas quanto a luz e recuperação

dos passos instantaneamente. Mas infelizmente isso não existe no mundo real.”

3. METODOLOGIA

Neste capítulo, serão expostas as técnicas metodológicas utilizadas para a

implementação do analisador de consumo, bem como suas etapas determinadas. Na Figura 5

pode-se observar o fluxograma macro do trabalho.

Figura 5: Fluxograma do projeto do analisador de consumo

Fonte: Autoria própria

As etapas de detecção do problema e estudo das alternativas de solução foram

discriminadas nos capítulos anteriores do presente trabalho e, portanto, não serão abordados

nos próximos tópicos.

3.1. Levantamento das técnicas compatíveis

Este tópico consiste no levantamento das técnicas compatíveis com a aplicação. O

embasamento obtido através do referencial teórico foi a principal ferramenta para escolha das

técnicas mais adequadas, bem como, pesquisas relacionadas a componentes que foram

utilizados na implementação.

3.2. Implementação e testes das de técnicas

Nesta etapa serão demonstrados que a técnica consistiu em selecionar as tecnologias

disponíveis para a realização da implementação que atendam aos requisitos de

compatibilidade do projeto. Para a implementação, foram utilizadas técnicas de análise de

circuitos, técnicas de firmware, conversões analógico-digitais e instrumentação para circuitos

eletrônicos. Como não há como desvincular de forma completa a implementação dos testes,

serão demonstrados essencialmente os ensaios executados, de forma que a conclusão parcial

de tal ensaio acarrete em mais implementações.

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3.3. Resultados obtidos

Nesta etapa, serão demonstrados essencialmente os resultados gerados, através das

implementações realizadas, que serão baseadas em comparações dos dados adquiridos em

relação a referências confiáveis e em relação à dispositivos de tecnologias semelhantes, ou

destinadas para fins semelhantes. De forma geral, as técnicas utilizadas para a análise dos

dados foram por meio de comparações entre valores de erros, precisão, gráficos informativos,

vantagens e desvantagens.

4. APLICAÇÃO DA METODOLOGIA PROPOSTA

Este capítulo evidenciará a aplicação da metodologia selecionada para este trabalho.

4.1. Levantamento das técnicas compatíveis

Como os requisitos técnicos para a aplicação são bem específicos, poucas técnicas

foram classificadas como compatíveis com a aplicação. Além do referencial teórico, que

embasou os conceitos aplicados neste trabalho, uma pesquisa informal no mercado de

componentes eletrônicos foi fundamental para elucidar e compreender os tipos de soluções

disponíveis, como resultado a técnica que mais se mostrou promissora, foi a técnica Shunt. Os

principais motivos para tal foram: sua implementação menos intrusiva, além de ser baseada na

principal lei da eletricidade, Lei de Ohm, o fato de utilizar poucos componentes para seu

funcionamento e ainda com o ponto positivo de haver soluções amplamente utilizadas que

facilitam a implementação da técnica. O fator limitante, neste caso, foi a leitura de correntes

baixíssimas, a partir de 1 uA; por se tratar de uma aplicação muito específica, apenas dois

métodos foram considerados relevantes.

Os métodos selecionados para a implementação desta técnica foram: medição através

do INA212, que é um circuito integrado com amplificador operacional conectado a um shunt;

o outro método consiste na utilização de um ADC de alta resolução com filtro para diminuir o

ruído.

4.2. Implementação e testes das técnicas

4.2.1 Sensor de corrente

a) INA212 shunt com amplificador operacional integrado:

Uma forma de se obter maior precisão é utilizar circuitos integrados (CI) com

amplificador operacional associado, fazendo com que a queda de tensão no shunt seja

amplificada, no intuito de facilitar a leitura do sinal pelo ADC. Esta topologia de circuito

permite que a corrente lida pelo sensor seja menor, justamente o objetivo deste trabalho. A

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Texas Instruments possui alguns CIs que possuem especificações compatíveis com a

aplicação deste trabalho, como o INA212 (conforme a Figura 6).

Figura 6: Esquemático do sensor INA212

Fonte: TEXAS INSTRUMENTS, 2014.

Características compatíveis à aplicação:

Queda de tensão: o INA212 permite a detecção de corrente com quedas máximas

através do shunt de no máximo 10 mV em escala completa.

A queda de tensão no shunt é o ponto de maior fragilidade da técnica shunt, pois faz

com que ocorra perda de potência e prejudica a estimativa de corrente passante no resistor.

Portanto, a queda máxima ser 10 mV é um ponto positivo deste circuito integrado.

Leitura de –0.3 V a 26 V: esta faixa de tensão flexibiliza a medição de correntes,

desde dispositivos alimentados à bateria, tensões até 9V, até dispositivos alimentados

por fonte externa, 24V.

Ganho 1000 V/V: o ganho elevado permite amplificar correntes baixíssimas fazendo

com que seja possível ler com a resolução do ADC.

Para que o circuito integrado pudesse ser utilizado, uma placa de circuito impresso foi

fabricada (Figura7).

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Figura 7: Esquemático INA212

Fonte: Autoria própria

A tensão de saída que será lida através do ADC, dependerá do consumo de corrente do

dispositivo em teste, além da resistência do shunt e da tensão de referência, como a mesma

está conectada no terra, será 0 V. No Quadro 2, estão relacionados os dados coletado

dispositivo.

𝑉𝑜𝑢𝑡 = (𝐼𝑙𝑜𝑎𝑑 𝑥 𝑅𝑠ℎ𝑢𝑛𝑡)𝐺𝑎𝑖𝑛 + 𝑉𝑟𝑒𝑓 (2)

Quadro 2: Valores medidos e calculados para Vout

Fonte: Autoria Própria

Os dados foram coletados através de um multímetro de que lia a tensão de saída

enquanto era injetado o sinal Iload na entrada. O que foi percebido é que a tensão de saída

varava de forma linear somente após 0,5 mA, o que para a aplicação se torna incompatível.

Outro fato importantíssimo é que a saída equivalente a 20 mA (fim da faixa de

medição) chegava a 2V, o que faria com que um circuito rebaixador de tensão fosse

necessário para que esse dado fosse lido pelo conversor AD. A adição deste circuito

aumentaria as perdas de potência e afetaria diretamente a medida do sensor.

b) Leitura direta através da entrada de um ADC:

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Para ensaiar esta técnica foi escolhido o shield Hx711, que é utilizado amplamente

como célula de carga. Como a aplicação utilizada para este ADC não é a leitura de células de

carga, que é a aplicação concebida para este shield, uma alternativa encontrada foi realizar

adaptações no circuito utilizando a célula de carga como um Shunt, sabendo o valor do shunt

e o valor de tensão lido pelo ADC, temos a corrente passante do circuito.

Além da facilidade de adaptação do circuito, há outras vantagens neste shield que

foram fundamentais para a sua escolha nesta aplicação, como a fácil disponibilidade e o fato

de possuir 24 bits de resolução com o método de conversão sigma-delta, que é caracterizado

por dar estabilidade para os sinais de entrada do ADC. Na Figura 8 pode-se observar o

circuito recomendado pelo fabricante, bem como o layout da placa utilizada na Figura 9 .

Figura 8: Circuito recomendado pelo fabricante

Fonte: AVIA SEMICONDUCTOR, 2016

Figura 9: Esquemático da placa utilizada

Fonte: Elecrow, 2017

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Como o ADC utilizado não é interno, há uma interface de comunicação com o

microcontrolador através de pinos GPIO (General Purpose Input/Output) e que foi

implementado através do SM32F04-DISCO. O protocolo de comunicação funciona da

seguinte forma, quando 25 pulsos de clock são dados as leituras do canal A são enviados pelo

pino de dados, quando 26 pulsos de clock são dados, as leituras do canal B são enviadas pelo

pino de dados.

Nesta etapa inicial de ambientação com o Hx711, para compreender seu

funcionamento, foi utilizada a aplicação de essência do chip, célula de carga. Com uma ponte

de wheatstone2 conectada na entrada do Canal A, com essa topologia a leitura foi realizada de

forma correta.

Por se tratar de um ADC para leitura de célula de carga, o mesmo possui leitura

diferencial em seus dois canais disponíveis (Canais A e B). Portanto, o resultado final da

leitura, enviado para o microcontrolador, é a diferença da leitura entre as entradas positiva e

negativa de cada canal. O canal A possui ganho ajustável com Program Gain Amplifier

(PGA) de 128 e 64 já o canal B possui ganho fixo de 32.

Quando se utiliza 5V como referência, a faixa de entrada (tensão diferencial) do canal

A configurado com um ganho de 128 é de -20mV a 20mV, de modo que para ler correntes de

até 1mA com um bom aproveitamento desta faixa, o resistor de shunt foi dimensionado em 15

Ohms. A fim de possibilitar a leitura de um shunt, foi necessário prover a tensão de modo

comum especificada, que seria naturalmente fornecida pela ponte. Esta tensão deve estar entre

GND+1,2V e VCC-1,3V, e será obtida através de um divisor resistivo com dois resistores

iguais, para dar um ganho na entrada diferencial pois, as medidas são apenas positivas,

conforme Figura 10.

Foi implementada a leitura do canal A com o esquemático mostrado na Figura 10:

2 ponte de wheatstone: um dispositivo para determinar o valor de uma resistência

desconhecida, a partir da comparação com uma uma resistência conhecida.(COLLINS

DICTIONARY, 2017)

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Figura 10: Esquemático para leitura dos canais A e B independentes

Fonte: Autoria Própria

Através de ensaios, foi possível comprovar que este circuito atende aos requisitos do

HX711, permitindo a leitura da corrente na entrada. Porém não atingiu a precisão esperada,

havia um erro de ganho que era de aproximadamente 0,5% do range. Após uma análise mais

aprofundada, percebeu-se que os resistores utilizados não eram de precisão e, portanto, foram

substituídos. A precisão melhorou, entretanto, a variação das casas decimais continuou

grande, havia uma variação maior do que o esperado em relação aos 24 bits de resolução,

como pode-se observar na Tabela 1.

Tabela 1: Amostras coletadas com oscilação

Amostras coletadas

Amostra = 0.123567581

Amostra = 0.123310089

Amostra = 0.123603344

Amostra = 0.123693943

Amostra = 0.123713017

Amostra = 0.123791695

Fonte: Autoria própria

Na busca para explicações para tal comportamento, foi percebido que a referência do

ADC é a alimentação do mesmo, que é uma tensão não regulada, e a compensação que

normalmente ocorre com a célula de carga, quando ela é excitada por esta mesma tensão, não

estava acontecendo devido à modificação do circuito para atender a especificação deste

projeto. Portanto, como alternativa para a solução do problema, foi utilizar uma referência

externa e realizar algumas alterações no circuito do Hx711.

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Uma referência externa de 3,3V com boa estabilidade, o componente ADR3433ARJZ,

foi adicionado, tornando parte do circuito desnecessária, para tal, o resistor R12 e o transistor

Q2 foi retirado e um curto-circuito foi realizado no resistor R13. Essas alterações foram

realizadas a fim de desconectar o circuito que interligada a tensão de alimentação como

referência do ADC. A referência externa foi conectada aos pinos E+ e E-, deixando os terras

unidos. Após alguns ensaios de precisão, a conclusão é de que a precisão passou a ser superior

ao circuito original validando, portanto, a alteração como positiva. A alteração de hardware

realizada pode ser observada na Figura 11.

Figura 11: Alteração de hardware realizada

Fonte: Adaptado de Elecrow, 2017

Alguns cálculos precisaram ser refeitos devido à troca de referência da entrada, o que

por consequência alterou a referência do ADC. O fabricante especifica o range de entrada

diferencial como: ±0,5(AVDD/GAIN) o que neste caso resulta em uma faixa total de

25,78125 mV de fundo de escala como pode-se observar na Tabela 2.

Para as Tabelas 2 e 3 as colunas significam: Vref [V], tensão de referência do ADC;

PGA, ganho do ADC; Faixa min [V], valor mínimo de leitura do canal do ADC; Faixa

max[V], valor máximo de leitura do canal do ADC; Total [V], faixa total do canal.

Tabela 2: Cálculo da faixa do canal A

Fonte: Autoria própria

Com o valor de fundo de escala definido, foi possível determinar a faixa de operação

em corrente do circuito através da escolha do Shunt. Como a amplitude de entrada do Canal A

ficou pequena devido à referência de 3,3 V do ADC, foi percebido que não seria possível

utilizar o mesmo shunt para toda a faixa de medição, pois necessita-se de valores pequenos de

shunt para que a perda por potência seja minimizada. Devido à disponibilidade de dois canais

com o ADC utilizado, a solução que mais pareceu compatível, foi a utilização dos dois canais.

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Para que isso seja possível, a faixa correspondente ao Canal B precisou ser considerada a fim

de que possa se dar a definição da faixa de operação e o valor de shunt utilizado no circuito,

como pode-se observar na Tabela 3.

Tabela 3: Cálculo da faixa do canal B

Vref [V] PGA Faixa min [V] Faixa max[V] Total [V]

3,3 32 -0,0515625 0,0515625 0,103125

Fonte: Autoria própria

Após o cálculo da faixa para cada canal (±0,5(AVDD/GAIN)), o shunt ideal foi definido,

conforme Tabela 4 e 5.

Tabela 4: Definição do shunt do canal A

Ch A mín[mA] Ch A máx [mA] Val mín [mV] Val máx [mV] R [Ω]

0,001 1,000 0,01 11,4 11,4

Fonte: Autoria própria

Tabela 4: Definição do shunt do canal B

Ch B mín[mA] Ch B máx [mA] Val mín [mV] Val máx [mV] R [Ω]

1,0000 20,0000 2,4000 48,0000 2,4000

Fonte: Autoria própria

Com um instrumento de referência para a geração das correntes correspondentes com

cada canal, foi atestado o funcionamento de ambos canais com o circuito estabelecido. Como

o desejado seria que ambos os canais se comportassem como um só, uma adaptação no

circuito projetado foi necessária. Na Figura 12 está alteração está explicitada.

Figura 12: Circuito adaptado para leitura de canal A e B em série

Fonte: Autoria própria

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19

Além da modificação da topologia do circuito, o único componente que precisou ter

seu valor alterado, foi o resistor de shunt do Canal A (R3) que passou a ser a somado com o

resistor shunt do Canal B (R2).

Feito isso, o desafio passou a ser na forma de implementação em firmware que faria a

alteração de canal automaticamente. Pois devido ao protocolo de comunicação utilizado pelo

Hx711 a escolha entre o canal A com PGA 128 e B, a diferença é de 1 pulso, contudo, os

pulsos devem ser enviados sequencialmente para a leitura de cada canal, pois, possuem um

intervalo especificado entre si muito pequeno (no máximo 50 us). Tornando imprescindível o

envio ora de 25 pulsos (Canal A), ora 26 pulsos (Canal B). O problema foi contornado através

de uma lógica switch-case, porém, com isso, há uma limitação esperada nessa abordagem:

uma leitura sempre será perdida durante a troca de um canal para o outro devido ao fato de

não conhecer o valor de corrente lida, antes de se selecionar o canal.

A comprovação desta limitação se deu através de um ensaio realizado com um

dispositivo eletrônico com comunicação BLE. O consumo do dispositivo foi monitorado ao

mesmo tempo por um multímetro de precisão, que neste caso será a referência, e pelo

analisador projetado neste trabalho.

O que se torna perceptível é que o analisador consegue captar amostras que o

multímetro ignora, entretanto, quando deveria ocorrer a mudança do canal A para o canal B, o

analisador acaba não sendo rápido o suficiente e registra o valor saturado do canal A

(aproximadamente 1,062 mA). Como já era de se esperar, os dois dispositivos se

comportaram de forma diferente, conforme Figura 13. Há uma diferença de número de

amostra entre os equipamentos, isso se dá, devido aos diferentes períodos de aquisição.

Figura 13: Comparação entre os analisadores em 10 Hz

Fonte: Autoria própria

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No Hx711 há duas opções de frequência de operação: 10 Hz e 80 Hz. O circuito

testado até então estava operando à 10 Hz, sabendo isso, uma alternativa para amenizar a

limitação de perda de amostra durante a troca de canais, foi alterar a frequência de operação

para 80 Hz. Para ensaiar a eficácia da implementação, foi realizado o mesmo teste anterior.

Os resultados estão nos Gráficos 1 e 2.

Gráfico 1: Curva plotada a partir dos dados lidos pelo multímetro de

Fonte: Autoria própria

Gráfico 2: Curva plotada a partir dos dados lidos pelo analisador projetado

Fonte: Autoria própria

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Observando o Gráfico 2, pode-se perceber que o analisador projetado possui inclusive

intervalo de amostragem menor que o multímetro de , o que de fato ocorre, pois, a

configuração do multímetro de está com intervalo de aquisição de 100 ms e o analisador está

com um intervalo de aquisição de aproximadamente 40 ms. Houve também uma saturação no

sinal referente ao buzzer do dispositivo eletrônico analisado, o consumo durante a operação

do buzzer é de aproximadamente 30 mA, e o analisador satura sua faixa em aproximadamente

20 mA, portanto, já era esperado que o analisador operasse desta forma.

Além de todas implementações explicitadas anteriormente, em ambos os canais uma

calibração foi realizada. Devido ao fato do shunt ser um sensor linear, pois é regido pela lei de

Ohm, uma calibração de dois pontos é suficiente, um no início e outro no final da faixa de

cada canal. A equação da reta entre os dois pontos escolhidos foi traçada, através disso foram

calculados offset e ganho a serem aplicados nos valores lidos.

Através da equação da reta:

𝑦 = 𝑎𝑥 + 𝑏 (3)

Adaptando ao projeto:

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑗𝑎𝑑𝑜 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑙𝑖𝑑𝑜. 𝑎 + 𝑏 (4)

4.2.2 Registrador de dados:

Para registro dos dados, a interface escolhida foi o pendrive, tanto devido ao fato do

kit de desenvolvimento (STM32F4-DISCO) possuir o hardware necessário, quanto ao fato de

o pendrive ser uma ferramenta acessível e popular. A implementação foi baseada na

tecnologia de USB OTG (On The Go) que significa: “tecnologia que permite que dois

dispositivos USB conversem entre si sem requerer os servicos de um computador pessoal”

(Maxim Integrated Products, 2002). Apesar da taxa de escrita do pendrive ser baixa, não

houve impacto na velocidade de escrita, pois os dados lidos pelo ADC possuíam uma taxa

menor ainda. Na Figura 14, pode-se observar como fica gravado o arquivo de dados no

pendrive e na Figura 15, como fica a composição dos dados de consumo e tempo dentro do

arquivo “DATA.csv”.

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Figura 14: Print screen dos dados gravados no pendrive

Fonte: Autoria própria

Os dados foram escritos no arquivo na forma “valor de corrente lido, cronômetro”, conforme

Figura 15.

Figura 15: Arquivo csv com os dados gravados

Fonte: Autoria própria

4.2.3 Display

Para auxiliar na observação dos valores de consumo uma IHM (Interface Homem

Máquina) foi utilizada. O display escolhido para tal funcionalidade foi o Nextion 3.2”, que

possui firmware próprio, ou seja, não ocupa processamento do microcontrolador principal da

aplicação. Além disso, possui uma IDE (Ambiente de Desenvolvimento Integrado) própria

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para o desenvolvimento da interface gráfica, com diversas opções de debug. Na Figura 16,

pode-se observar o gráfico de consumo sendo exibido no display, e na Figura 17, o mesmo

sinal demonstrado na Figura 16 é exibido na Figura 17, porém no osciloscópio.

Figura 16: Dados exibidos através do display Nextion 3.2”

Fonte: Autoria própria

Figura 17: Monitoração através do osciloscópio dos mesmos dados da Figura 15

Fonte: Autoria própria

4.2.4 Analisador integrado com Hx711

O analisador integrado com Hx711 é composto por todos os módulos representados na

implementação, e na Figura 18, o fluxograma completo do analisador é demonstrado.

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Figura 18: Fluxograma do analisador de consumo implementado

Fonte: Autoria própria

Na Figura 19 está explicitado o protótipo do analisador de consumo desenvolvido.

Figura 19: Analisador de consumo finalizado

Fonte: Autoria própria

4.3. Resultados obtidos

Na análise qualitativa, cada técnica foi comparada em relação ao seu desempenho. A

precisão nesse caso, foi o ponto chave que apontou a melhor técnica. Para se obter os

resultados a instrumentação utilizada foi de extrema importância e o principal instrumento foi

um calibrador Microcal 200 do fabricante Eurotron, conforme Figura 20. Este instrumento

foi utilizado na etapa de calibração e precisão, bem como para coletar os resultados de cada

técnica implementada.

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Figura 20: Microcal 200

Fonte: EUROTRON, 2007

Comparando as duas implementações realizadas, é possível afirmar que a

implementação realizada com o ADC Hx711 se mostrou muito mais adequada, pois além de

conseguir excursionar toda a faixa de medição, possui uma precisão superior. Sendo assim,

foi escolhido como sensor da aplicação final do trabalho. A precisão do sensor com Hx711

está explicitada na Tabela 5:

Tabela 5: Precisão do sensor de corrente

Fonte: Autoria própria

Os canais A e B são correspondentes à faixa de medição a que foram destinados. O

“valor medido” corresponde às medicões do analisador projetado e o “valor esperado” é o

valor que a referência está aplicando no analisador projetado. Além disso, o “erro em mA” é a

diferenca entre o “valor esperado” e o “valor medido”. Por fim, o “erro em %” é o erro

percentual em relação ao span (Valor Final - Valor Inicial), ou seja, à faixa de medição do

sensor.

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Ensaio de rampa na entrada do canal A:

Para validar se há linearidade no sensor projetado, foi realizado um ensaio em que se

aplica uma rampa com step de 0,0010 mA indo de 0,0010 mA a 1 mA, com um multímetro de

em série no circuito para realizar a comparação em relação ao analisador projetado, conforme

Gráficos 3 e 4.

Gráfico 3: Rampa vista pelo multímetro de

Fonte: Autoria própria

Gráfico 4: Rampa vista pelo analisador projetado

Fonte: Autoria própria

A diferença entre número de amostras no multímetro e do analisador existe em

decorrência do fato do intervalo de aquisição entre as ferramentas serem diferentes.

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Ensaio de rampa na entrada do canal B:

Da mesma forma, como foi realizado o ensaio para o canal A, foi realizado um ensaio

em que se aplica uma rampa com step de 0,100 mA indo de 0,100 mA a 20 mA, com um

multímetro de em série no circuito para realizar a comparação em relação ao analisador

projetado, conforme Gráficos 5 e 6.

Gráfico 5: Rampa vista pelo multímetro de

Fonte: Autoria própria

Gráfico 6: Rampa vista pelo analisador projetado

Fonte: Autoria própria

A diferença entre número de amostras no multímetro e do analisador existe em

decorrência do fato do intervalo de aquisição entre as ferramentas serem diferentes.

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5. CONCLUSÃO

O presente trabalho apresentou o desenvolvimento de um analisador de consumo com

registrador integrado, tendo como maior e já esperado desafio, a implementação de um sensor

de corrente capaz de realizar leituras de qualidade em uma faixa de 1 uA a 20 mA. Após

diversas implementações e testes, o objetivo foi alcançado, com base nos ensaios realizados,

foi possível concluir que o sensor implementado com o Hx711 é linear, com sua utilização a

resolução projetada foi atendida e a faixa de leitura estimada foi alcançada. A precisão está

menor que 0,1% da faixa de leitura, estando dentro do esperado para o circuito já que a

maioria dos resistores utilizados possui precisão de 0,1%.

Em comparação com o analisador lógico e com o osciloscópio, existe a vantagem de

poder registrar dados por períodos longos e o fato de possuir display faz com que as amostras

possam ser monitoradas de forma visual e em tempo real. Comparando com o multímetro de,

a principal vantagem frente a esse dispositivo é o tamanho dos arquivos em que os dados são

registrados e o tempo máximo de aquisição, que geralmente não ultrapassa uma hora.

Em comparação com os dispositivos já existentes, o analisador projetado obteve um

maior intervalo de aquisição, o que pode ocasionar perda de amostras. É importante salientar

que isso não inviabiliza o projeto, apenas o limita em relação a dispositivos específicos que

possuem picos de consumo com pequeno intervalo de tempo entre si. Esta limitação está

presente devido ao fato de ter sido utilizado um ADC de alta resolução do tipo sigma-delta

(Hx711) que gera amostras mais estáveis, mas possui baixa frequência de operação. Como o

exposto na teoria de conversores analógico-digital (Quadro 1) é difícil conseguir realizar

leituras com alta resolução, com filtros de supressão de ruído e em altas velocidades, sendo

esse o fator limitante do analisador projetado.

Sendo assim, cabe salientar a necessidade de estudos que contemplem estimativa de

tempo de vida de bateria através de análise de consumo, principalmente em relação a

topologias de circuito eficazes e com uso de poucos componentes, por exemplo, um circuito

integrador de corrente.

Além disso, como melhoria deste projeto, um circuito que trate o dado com filtros de

supressão de ruído antes de ser lido pelo ADC abriria a possibilidade de utilizar um ADC de

menor resolução e maior velocidade de conversão. Resolvido o problema de latência na

leitura, projetos que associem memórias formando um buffer de dados armazenados

reduziriam significativamente o risco de perda de dados durante o ensaio.

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29

6. REFERÊNCIAS

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<https://www.collinsdictionary.com/pt/dictionary/english/wheatstone-bridge> Acesso

em novembro de 2017.

ELECROW, Weight Sensor Amplifier- HX711. Disponível em:

<https://www.elecrow.com/weight-sensor-amplifier-hx711-p-715.html>. Acesso em

outubro de 2017.

EUROTRON. MicroCal 200/200+ MicroCal 2000+. 2007.

HONEYWELL INC. MICRO SWITCH Sensing and Control: Hall Effect Sensing and

Application. MICRO SWITCH Sensing and Control, p. 126, [s.d.].

HUDGINS, D. Precision , Low-Side Current Measurement. p. 1–3, 2016.

KANSAL, S.; KAUR, J. Study of Various ADCs and Compare Their Performance and

Parameters. International Journal of Advanced Engineering Research and

Technology (IJAERT), v. 3, n. 3, p. 88–99, 2015.

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<https://www.maximintegrated.com/en/app-notes/index.mvp/id/1822> Acesso em

dezembro de 2017.

SEVERNS, R. IMPROVING AND SIMPLIFYING HF DC CURRENT SENSORS

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SHEPARD, D. E.; YAUCH, D. W. an Overview of Rogowski Coil Current Sensing

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TIPLER, PAUL ALLEN. Fisica para cientistas e engenheiros, volume 2 : eletricidade

e magnetismo, 1933.

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ZHEN, Y. Current Sensing Circuit Concepts and Fundamentals. Report, p. 1–12,

2010.

ZIEGLER, S. et al. Transformer Based DC Current Sensor for Digitally Controlled

Power Supplies. [s.d.].

7. AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer infinitamente ao meu pai Ivomar Schmidt e a minha mãe Clair

Bernadete Canabarro Schmidt, por terem sido fontes inesgotáveis de amor e que sempre

estiveram ao meu lado durante o curso. Quero agradecer também às minhas irmãs Vitória

Canabarro Schmidt e Aline Canabarro da Rosa, pelo total apoio e por sempre me motivarem a

sempre dar risada da própria desgraça, agradecer o meu sobrinho Pierre Canabarro que

sempre manteve meu coração quentinho de tanto amor e carinho.

Um agradecimento especial ao meu namorado Tiago Sebastiany, que sempre esteve ao

meu lado e que teve uma paciência inesgotável nesse período do curso, além de sempre me

motivar a nunca desistir dos meus sonhos. Quero agradecer aos meus amigos, que sempre

foram compreensivos quanto à minha ausência devido ao curso: Camille Langdraf, Rebecca

Arôca, Bruno Teixeira, Thiago Sousa, Gabriel Guerguen e Maria Reinisch.

Meus profundos agradecimentos à NOVUS por todo o apoio e compreensão

concedidos à mim nesses anos de curso. Agradeço imensamente aos amigos que fiz e que

foram peças fundamentais para que eu conseguisse concluir essa etapa: Giuliano Guarese,

Elisandra Lazaretti, Vânder Schwartzhaupt, Camila Zen, Bruno Albuquerque, Douglas Borba

e demais colaboradores do P&D.

Quero agradecer também aos mestres que foram de fundamental importância para meu

desenvolvimento acadêmico e profissional, por todos os ensinamentos passados durante esses

cinco anos, sou imensamente grata.