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ANÁLISE - Ano III - Nº 5 - Março/2002 Revista da Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração de Empresas Padre Anchieta 1

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ISSN 1519-0846

ANÁLISE. Revista da Faculdade de Ciências Econômicas,Contábeis e de Administração de Empresas PadreAnchieta.Jundiaí – SP: Sociedade Padre Anchieta de Ensino. 21 cm.

Semestral

Inclui Bibliografia

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EDITORIAL

Consolidando-se como instrumento de divulgação de idéi-as, a revista ANÁLISE, nesta quinta edição, oferece aosleitores seis artigos.O primeiro artigo, “Ética e Contemporaneidade: entre prá-ticas e princípios”, do professor José Renato Polli, discu-te os conceitos de ética e razão a partir da teoria de JürgenHabermas. Argumenta que é possível elaborar uma dis-cussão ampliada sobre o tema da ética, pois estamosdiante de uma realidade social que exige a construção deum novo paradigma ético, baseado na emancipação hu-mana.Na seqüência, o artigo “A qualidade total e a educaçãosuperior: uma revisão bibliográfica”, do professor LuísEduardo Machado, discute que, diante da aceitação da“crise” no sistema educacional, há necessidade de asinstituições darem uma resposta à sociedade com rela-ção à melhoria da qualidade nos seus processos e produ-tos. Para viabilizar esse quadro, as instituições têmadotado diferentes formas de avaliar e melhorar a qualida-de dos cursos oferecidos.O terceiro artigo, “Terra e Oceanos: fonte da vida”, do pro-fessor Carlos Henrique Pellegrini, argumenta que, se con-tinuarmos tratando a natureza de maneira irresponsável,o futuro nos reservará um mundo devastado e sem recur-sos. Alega que a conscientização da população para asquestões ecológicas é o caminho que garantirá a sobrevi-vência de toda a humanidade.O quarto artigo, “Administração e responsabilidade soci-al” dos professores Vivaldo José Breternitz e SérgioRoberto Porto de Almeida, argumenta que a administra-ção com responsabilidade social pode ser entendida comoa operação de uma empresa, de forma que possam seratendidas as expectativas da sociedade com relação aorespeito à legislação vigente, aos valores éticos, à comu-nidade e ao meio ambiente. Alega que essa prática é po-sitiva para os negócios, razão pela qual as empresas iden-tificam essa postura como fator estratégico para o suces-so.

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Na seqüência, o artigo “Proposição da hipótese trífida paraa fundamentação histórica da educação ambiental: umanova ferramenta para o gestor ambiental”, do professor Dr.Rodolfo Antônio de Figueiredo, argumenta que estamosvivendo uma terceira fase do processo de educaçãoambiental, baseado na revalorização das ações locais, dacompreensão cordial da relação ser humano-natureza edo desenvolvimento pleno da época ambiental. Alega queé um momento de retomada do ideal gestado e concebidodurante a primeira fase do processo.O artigo final, “A importância do microcrédito: a experiên-cia do Grameen”, do professor Adauto Roberto Ribeiro,analisa a experiência de implementação do microcréditoem Bangladesh, através da criação de um banco, oGrameen, com o intuito de atender à carência de créditode parte da população excluída do país. Avalia a concep-ção inovadora do projeto, comparando-o com a linha decrédito executada no Brasil no âmbito do Programa BrasilEmpreendedor.

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Análise é uma publicação periódica da Faculdadede Ciências Econômicas, Contábeis e de Administraçãode Empresas “Padre Anchieta” e está aberta à colabora-ção de pesquisadores de outras instituições, mediante aapreciação dos trabalhos pelo Conselho Editorial.

As posições expressadas em trabalhos assinadossão de exclusiva responsabilidade de seus autores e seustextos não poderão ser reproduzidos sem a permissãodos mesmos.

Conselho EditorialAdilson José da SilveiraAntonio RebelloJosé Carlos MarionLeo Ferreira ArantesMessias Mercadante de CastroSérgio Pio Bernardes

Coordenação de EdiçãoJosé Milton Sanches

SecretáriaEloiza Blumer Rodrigues Soares

Correspondência:Rua Bom Jesus de Pirapora, 140 - Centro - Jundiaí-SPCEP 13207-660 • Caixa Postal 240Fax- (0xx11) 4587-6165 • e-mail: [email protected]

EditoraçãoDepartamento de Publicidade das Escolas eFaculdades Padre Anchieta

RevisãoJoão Antonio de Vasconcellos

Tiragem1.800

AnáliseRevista semestral da Faculdade de Ciências Econômicas,Contábeis e de Administração de Empresas PadreAnchieta.

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ÍNDICE

Ética e Contemporaneidade:Entre Práticas e PrincípiosJosé Renato Polli......................................................9

A Qualidade Total e a Educação Superior:Uma Revisão Bibliografica Luís Eduardo Machado.............................................21

Terra e Oceanos - Fonte de VidaCarlos Henrique Pellegrini..........................................29

Administração e Responsabilidade SocialVivaldo José BreternitzSérgio Roberto Porto de Almeida...............................35

A Importância do Microcrédito:A Experiência do GrameenAdauto R. Ribeiro.....................................................53

Normas para Apresentação de Originais ........61

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ÉTICA E CONTEMPORANEIDADE:ENTRE PRÁTICAS E PRINCÍPIOS

José Renato Polli*

RESUMOO presente artigo procura discutir os conceitos de ética e razão, a partir da teoria

Filosófica de Jürgen Habermas e analisar os desdobramentos da compreensão que temossobre esses conceitos na vida social.

PALAVRAS-CHAVE: ética, razão, modernidade, pós-modernidade.

ABSTRACTThe current article intends to discuss the concepts of ethics and reasons taking Jürgen

Habermas Philosophical theory as a starting point. It also analyses the branches of comprehensionwe have about these concepts in social life.

KEY-WORDS: ethics, reason, modernity, post-modernity.

1. Por um novo conceito de ética

Em decorrência de evidentes transformações patrocinadas pela “era doglobalismo”, muitos questionamentos têm sido feitos sobre a necessidade de umnovo olhar para os problemas éticos, advindos desta “nova realidade”. Da exacerba-ção dos interesses do mercado aos avanços no campo da biotecnologia e da ma-nipulação genética, passando pelo mundo da virtualidade tecnológica e a degrada-ção ambiental, emanam preocupações que redundam em posicionamentos diver-sos sobre princípios éticos que deveriam fundamentar a regulação dos efeitos rela-tivos a essas transformações.

Muitos autores têm ressaltado a importância de um resgate das reflexõesem torno do conceito de ética. Por razões de ordem cultural e etimológica, o termovem sendo utilizado em sentido prático, entendido como sendo a normatização davida e de comportamentos. Não é sem a influência das concepções utilitaristas epragmáticas que a ele se atribui uma intencionalidade localizada, a partir de termi-nologias como “ética empresarial”, “ética no mundo dos negócios”, “ética na políti-ca” e tantas outras. Há uma compreensão aparente de que essa dimensão estáausente no mundo prático e, portanto, como que um atributo necessário ao reco-nhecimento e à validade de procedimentos nessas localizações, a ética torna-seacessório, um apêndice para garantir tal validade. O utilitarismo, tendência presen-

* Licenciado em Filosofia (PUCC) e Pedagogia (FIA), Mestre em História Social (PUC-SP), professor do ColégioPaulo Freire, das Faculdades Padre Anchieta e do Centro Universitário Assunção.

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te no pensamento contemporâneo, apregoa o bem do maior número e daí podemosinferir que a perspectiva eqüitativa e universalista do bem estar ficam comprometi-das.

Ao longo da história da Filosofia, vários filósofos se debateram com a questãodas tensões existentes entre uma universalização de princípios éticos e a suaparticularização. Não tendo a pretensão de analisar a longa história das idéiasfilosóficas e as diversas concepções éticas delas decorrentes, nem assumir umaperspectiva linear na exposição a seguir, tomo como pontuais algumas referênciasque considero importantes preliminarmente.

Aristóteles pensava as origens do agir ético nas formas livres de se viver.Em sua “Ética a Nicômacos”, no século IV a.C., colocava a questão da felicidadecomo ponto central da compreensão sobre a política e a ética. No encontro entrepessoas no âmbito da pólis, ocasionado por causa da vida, surgiu a necessidadede ajuda mútua com o objetivo de alcançar uma vida feliz. A pólis enquanto comu-nidade de agir livre e feliz, reúne cidadãos livres por causa de sua liberdade. Acomunidade política e os indivíduos, portanto, teriam em comum a experiência doalcançar o bem do ser humano. Para o estagirita, é mais nobre e perfeito tomar aliberdade na pólis, liberdade que é entendida como pressuposto da ação.

A lei e o direito concorrem para o horizonte ético e o indivíduo, através deum “acostumar-se”, buscaria condições para viver bem e livremente. A própria vidaintelectual dependeria da condição de pertencimento do filósofo ao universo da vidana pólis.

A ética, enquanto uma parte da política, consistiria numa análise filosóficado bem, nascida da comunidade, refletindo o mesmo objetivo da política, qual seja,o bem para o ser humano. Na imanência, estariam presentes as condições para oestabelecimento dos princípios éticos, não a partir de uma referencial metafísico.

A partir do pensamento iluminista, com o advento da modernidade, umresgate da racionalidade, que ficara obscurecida pelas interpretações religiosas davida nos tempos medievais, os ideais burgueses recolocam o indivíduo e os objeti-vos políticos gerais da nova classe burguesa, no centro do debate ético. Kant acen-tua o caráter universalista da ética e centra na autonomia do sujeito a idéia dodever, que ele exprime no conceito de “imperativo categórico”. O exercício do dever,no âmbito dessa autonomia, convergiria para a garantia da universalização de prin-cípios éticos, validados pela razão.

No momento presente verificamos, dentro de novos contextos, a continui-dade e a intensificação dos debates em torno da possibilidade de estabelecimentode princípios éticos universais.

Filósofos da chamada pós-modernidade, centrando o olhar nos efeitos dautilização da razão, para fins dos interesses do capitalismo, indicam com certarazão os limites existentes para a consolidação de uma ética universal. No entan-to, acentuam com grande pessimismo esses limites, não vislumbrando sequeralguma possibilidade. Há diferentes posições entre esses filósofos, mas em geral

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assumem tal pessimismo.Nos anos 80, Jürgen Habermas, filósofo da segunda geração da chamada

“escola de Frankfurt”, de tradição marxista, participa dos debates com os filósofosda pós-modernidade e valendo-se das contribuições dadas pelos seus mestres,elabora a “Teoria da ação comunicativa”, mas se aproximando, sobretudo da filoso-fia da linguagem, da psicanálise e de outras escolas de pensamento. Dessa teoria,emana a “Ética do discurso”, onde defende a possibilidade de uma universalizaçãode princípios éticos, reavaliando o conceito de razão e imaginando a possibilidadede uma “ação comunicativa” entre os sujeitos como meio para atingir racionalmen-te a validação desses princípios.

Segundo Habermas, não teria ocorrido a morte da razão, nem haveria aimpossibilidade de se utilizar os “metarrelatos” para a leitura da realidade, comoquerem os pós-modernos. Considera que a modernidade engendrada pelo capita-lismo acabou por se fragmentar em patologias, devido a uma instrumentalização darazão para fins de manutenção do domínio de uns sobre outros. A ética tambémteria sido instrumentalizada, daí a necessidade de se considerar a viabilidade doseu resgate e do resgate da razão na ação comunicativa. A razão instrumentalestaria garantindo a manutenção sistêmica do capitalismo e os subsistemas eco-nômicos e políticos estariam tendo a primazia do exercício do controle social. Aação comunicativa se fundaria na consideração da existência de um “mundo davida”, no qual existiriam as condições objetivas para o estabelecimento de diálogosracionais que garantiriam a construção de novas perspectivas éticas para a huma-nidade.

Fatos recentes nos levam a imaginar limites não tão tênues para a cons-trução dessa validação de princípios éticos pela via da comunicação, uma vez que,apesar da crença na possibilidade do diálogo entre os humanos, temos presencia-do a exacerbação da intolerância e do desrespeito às diferenças. Tanto aquelesque defendem os valores democráticos, quanto aqueles que questionam a supre-macia de uns sobre outros, sofrem das mesmas patologias, não conseguem tradu-zir no mundo prático a possibilidade do diálogo.

Quais seriam hoje os dilemas que poderíamos verificar como sendojustificadores da necessidade do empenho em reavaliarmos nossas posições nocampo da ética e em torno do conceito de racionalidade? À ética podemos atribuirum caráter meramente científico-analítico desvinculado de finalidades práticas ouhaveria uma intencionalidade prática a ser considerada? Haveria, de fato, umadicotomia entre os interesses gerais e o particular? Não haveria a necessidade deestabelecimento de distinções entre uma ética compreendida como sendo ativida-de meramente “técnica”, uma produção de modelos para o bem agir fundada emuma racionalidade a priori, de uma ética onde as dimensões práticas e os dilemasda humanidade fossem pensados de forma consensual? Devemos ceder aonegativismo ético, imaginando não haver possibilidades para a construção de umanova ética ou acreditamos que há no “mundo da vida” condições para esta constru-

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ção? Ficamos com o relativismo ético ou ainda acreditamos em uma possibilidadede universalização a partir do agir comunicativo?

Se utilizarmos os referenciais teóricos adotados por Aristóteles, por exem-plo, que indagações poderíamos fazer? Na atual conjuntura encontraríamos condi-ções para o resgate de uma vida com características comunitárias, semdesconsiderar os indivíduos? Não prevalecem, ao contrário, uma certa exacerba-ção do individualismo, do espírito competitivo e de uma lógica mercadológica noâmbito dos sistemas organizativos da vida social? Os intelectuais participam doexercício da vida comunitária ou dele se desvincularam? A ética é uma ação isola-da, localizada, ou relaciona-se a objetivos individuais e coletivos imbricados? Fica-mos com uma perspectiva ética teleológica, aquela que visa afins ou uma éticadeontológica, a partir da idéia do dever? Com o que é estimado bom ou com o quese impõe pelo dever?

Não estaria havendo uma banalização do conceito, visto somente a partirde nossos interesses práticos ? Isso reflete uma certa incapacidade crítica oudesinformação?

Acredito que a direção a ser tomada seria a da busca do estabelecimentode consensos entre não-antagônicos, pela via da ação comunicativa, visando auma universalização de princípios éticos validados racionalmente na própria condi-ção do comunicar-se.

Esse seria um mecanismo para a construção de uma nova ética, em emface de um recrudescimento do conservadorismo e das desvinculações entre omundo sistêmico e o mundo da vida, uma certa desumanização em curso que hojepodemos constatar.

2. Ética e contemporaneidade: caminhos e descaminhos

“Em Nova Iorque, o redemoinho da cidade é tão forte, a potência centrífugaé tal, que é sobre-humano pensar em viver a dois, de compartilhar a vida comalguém.”

(Jean Braudrillard, América, trad. de Álvaro Cabral, Rocco, RJ, 1986, p.20.Op citada em Otávio Ianni, A era do globalismo, Civilização Brasileira, RJ, 1996,pp.82-83)

“Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quantomais fora dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens,é uma transgressão.”

(Paulo Freire, Pedagogia da autonomia- saberes necessários à práticaeducativa -,Paz e Terra, RJ, 1999, p.37)

As duas frases acima, aparentemente pinçadas de contextos mais am-plos, não são vistas por mim como mero recortes da realidade e as utilizo comocaminho inicial dessa reflexão. Ao nos referirmos às formas de relacionamento

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mais elementares do cotidiano, aquelas que se fundam na troca e na partilha,como a dos casais, pensamos nas dificuldades que o momento presente vemforjando para a construção de nossas experiências históricas pessoais e coletivas.

Das mais propaladas crises que os céticos nos propõem, muito emboracom certa razão, a da convivência igualitária entre os homens é a que mais noschama a atenção. Em muitas circunstâncias teóricas, tais crises são apontadascomo fundadas no fim do modelo de racionalidade até agora proposto, aquelecentrado na instrumentalização do conhecimento para fins de dominação e opres-são. Associam ainda a esta “realidade” o fim dos paradigmas e das utopias e aimpossibilidade da construção de uma nova consciência ética.

Apontar a fala de Paulo Freire como uma contraposição ao dado propostona primeira assertiva, ou seja, das dificuldades “sobre-humanas” relativas à possi-bilidade da convivência entre as pessoas, é insistir na lógica da utopia que pode vir-a-ser, implícita na dialogicidade, na comunicação efetiva, na ação comunicativaentre os humanos.

A vida parece se encarregar de nos orientar e, como uma grande sala deaula, nos coloca diante das possibilidades que temos para nos tornarmos melho-res. Assim acontece quando das perdas inevitáveis, como a morte de uma pessoaa quem amamos e quando da angústia frente aos desatinos da humanidade. Aindaalguns querem se humanizar e acalentar a perspectiva do encontro de possibilida-des para construção de uma sociedade mais justa, menos desumana. Queremosfazer do nosso agir cotidiano, um instrumento para a comunicação com os outros,para a construção possível de relacionamentos mais estáveis, duradouros, estabe-lecidos pelo consenso entre os pares, numa ética fundada no diálogo.

Infelizmente, as condições do momento presente são bastante desfavorá-veis para a ocorrência dessa humanização, mas não podemos ceder ao fatalismocategórico e sim emoldurarmos nossas intenções a partir da perspectiva do “inédi-to-viável”, como queria Paulo Freire.

No mundo sistêmico detectamos a prevalência dos interesses do capital,cuja força domesticadora não podemos subestimar. A idéia da competitividade, doesforço individual e da privatização da vida, permeiam o nosso imaginário e comoque uma força invisível no seio da sociedade um grande “bezerro de ouro” é coloca-do no pedestal de nossas devoções: o deus consumo. A presentificação da vida, aintensificação do “aqui e agora”, suprimem de nossa existência a idéia de um futuromelhor, dos sonhos que podemos ainda acalentar.

Muitos reagem, mas muitos ainda não conseguem ter a consciência doque fazem de seus passos e do turbilhão de vicissitudes que a vida nos interpõe.Meio que “descoladas” do mundo da vida, pessoas ingressam na virtualidade dasrelações e na exacerbação de seu próprio ego.A modernização engendra otimismos falaciosos, vislumbrados nas estratégias deum marketing futurológico, através dos controles “midiáticos” das sensações eemoções. Fabricam-se templos de consumo, fragmenta-se a vida em desejos e

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consensos fabricados para o exercício de interesses privados.No âmbito dos subsistemas econômico e político, a nova ordem, dita

“neoliberal”, empenha-se pela concentração de riquezas e pelo controle social. Oestado é colocado como obstáculo para o desenvolvimento das potencialidadeseconômicas e, mesmo que continue servindo de esteio para os interesses do capi-tal, debruça-se sobre a tarefa da flexibilização de direitos sociais e dadesresponsabilização pelo que é público. Tudo o que é possível fazer para tornarmais palatável a idéia da necessidade de uma manutenção do estado de coisasnão há escrúpulos em fazer. Em 1987, por exemplo, a “Comissão Mundial para omeio ambiente e Desenvolvimento”, criou o conceito de “desenvolvimento sustentá-vel”, reduzindo a compreensão da necessidade de preservação ambiental ao que érelativo apenas aos bens naturais, esquecendo-se do humano. A sobrevivência dosinteresses centrais do capitalismo, em sua lógica de continuidade predatória esta-va em jogo. (Figueiredo, 2001, pp. 10-11)

Muitos, negando a racionalidade e o metarrelato, não percebem a perma-nência do metarrelato liberal, ou a ele ingenuamente se vinculam, já que “não hánada a fazer”.

Alguns centros urbanos tornam-se pólos do domínio burocrático-econômi-co das nações desenvolvidas em relação aos grandes espaços geográficos perifé-ricos. Os números da concentração econômica são alarmantes, sendo que emtorno de uma centena de empresas em todo o planeta controlam um terço docomércio mundial, algumas dezenas delas faturam mais que os índices de produ-tividade de vários países da periferia somados.

Em contrapartida, verificamos uma acentuação dos índices de desempre-go, uma fragilização dos direitos sociais. Uma grande massa rural vagueia peloBrasil em busca de oportunidades de terra e trabalho. Se nos países ricos existem32 milhões de desempregados (Ahllert, 1999), no Brasil, segundo dados da “Açãoda cidadania contra a fome a miséria e pela vida”, estima-se entre 40 e 50 milhõeso número de pessoas que vivem abaixo da linha da miséria. O que dizer daempregabilidade? Que perspectivas têm a juventude diante deste cenário? O futurodas crianças pode ser medido pelo também alarmante índice de meninos e meni-nas utilizados como mão-de-obra barata, dos quais, milhares são escravizadosdiariamente. Contraditoriamente a escravidão se acentua no mercado “livre”.

A evasão de recursos nos países pobres pode ser constatada não só pelapresença do capital internacional, mas pelas economias administrativas do estado,cujo compromisso público é substituído pelo empenho em saldar o pagamento dejuros e serviços da dívida externa, reduzindo das cotas do orçamento para áreassociais, os minguados recursos disponibilizados.

Na área da educação, verifica-se uma intensificação dos empenhos emdar contornos a um modelo de aprendizagem voltado apenas para os interesses domercado, mesmo que o discurso seja pela emancipação cidadã. Os trabalhadores,mesmo que absorvam a idéia de uma escola voltada para os interesses do merca-

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do de trabalho, são alijados deste mesmo mercado e, para eles, o que deveria serum espaço da emancipação humana, acaba sendo um mecanismo de exclusãosocial.

Michael Apple conta em seu livro “Política Cultural e Educação”, como emum determinado país da Ásia, os interesses do capital sobrepujaram o bem social.Relata-nos que grandes propriedades agrícolas foram adquiridas pelo capital inter-nacional para serem destinadas à produção de batatas, visando ao abastecimentode grandes redes de fast food. Uma grande massa de trabalhadores foi expulsa docampo em função da utilização de recursos mecanizados de produção e jogadosao sabor da vida no meio urbano. Para estes, não haveria a necessidade de esco-la. (2000, pp.25-31)

O sociólogo português Boaventura Souza Santos, em entrevista para arevista do fórum social mundial, aponta que “a lógica do mercado invadiu toda a vidaem sociedade e tem efeito sobre as expectativas e objetivos da educação e daprodução científica”.(2000, p.16)

No entanto, há uma certa emergência de pessoas e grupos que não sefurtam à tarefa de repensar a realidade sistêmica e imaginar possibilidades concre-tas no âmbito do mundo da vida para a superação dessas realidades cerceadorasda construção do humano.

A conjuntura exige dos que estão comprometidos com a causa da emanci-pação humana, que se empenhem ainda mais neste propósito. Os educadores sãofiguras centrais nesse empenho pela humanização. Muitos empresários já se de-ram conta de sua responsabilidade social frente aos inúmeros problemas interpos-tos pelo globalismo, percebendo que a sobrevivência de suas empresas está inti-mamente relacionada ao bem estar geral da sociedade.

3. Novas perspectivas para a ética e a razão

Valendo-me dos argumentos que identifico como válidos na “Teoria da açãocomunicativa” de Jürgen Habermas e sua “Ética do discurso”, penso poder contri-buir para com a reflexão em torno das possibilidades existentes para a construçãode um novo paradigma de razão e uma nova ética. Em sua obra “Consciência morale agir comunicativo”, valendo-se das formulações kantianas acerca da construçãode uma ética com características universais, Habermas afirma que:

“O princípio moral é compreendido de maneira tal que exclui como inváli-das as normas que não possam encontrar o assentimento qualificado de todos osconcernidos possíveis. O princípio-ponte possibilitador do consenso deve, portan-to, assegurar que somente sejam aceitas como válidas as normas que exprimemuma vontade universal; é preciso que elas se prestem, para usar fórmula que Kantrepete sempre, a uma ‘lei universal‘.” (1983, p.84)

Ao longo dessa obra, o filósofo alemão vai demonstrando os procedimen-tos necessários para a efetivação de uma ética do discurso, tentando defender

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“uma abordagem cognitivista da ética contra as manobras da evasão dos céticosrelativamente aos valores e, ao mesmo tempo, encaminhar uma resposta para aquestão: em que sentido e de que maneira podem ser fudamentados os manda-mentos e normas morais”. (ídem,p.78)

Para Habermas, o resgate do conceito comunicativo da razão se dá pelanoção de responsabilidade dos sujeitos frente ao mundo sistêmico e numa relaçãointersubjetiva-argumentativa visando ao estabelecimento de consensos. (Goergen,2001, p.40). Distingue a ação instrumental (técnica visando fins, que predomina nomundo sistêmico e valoriza o discurso teórico), da ação comunicativa, predominan-te no mundo da vida (que valoriza o discurso prático) onde estariam dadas ascondições para a superação da prevalência de uma racionalidade objetivista a priori,considerando um outro tipo de racionalidade, aquela validada pela comunicaçãointersubjetiva.(idem, p.42-43).

Na ação comunicativa, o pensador alemão propõe a linguagem como meiopara estabelecimento de consensos em torno da verdade, que resultaria numa novateoria moral, que ele chama de ética discursiva.

“Chamo de comunicativas às interações nas quais as pessoas envolvidasse põem de acordo para coordenar seus planos de ação, o acordo alcança do emcada caso medindo-se pelo reconhecimento intersubjetivo da pretensões de validez.No caso dos processos de entendimento mútuo lingüísticos,os atores erguem comseus atos de fala, ao se entenderem uns com os outros sobre algo, pretensões devalidez, mais precisamente pretensões de verdade, pretensões de correção e pre-tensões de sinceridade, conforme se refiram a algo no mundo objetivo (enquantototalidade dos estados de coisas existentes), a algo no mundo social comum(enquanto totalidade das relações interpessoais legitimamente reguladas de umgrupo social) ou algo no mundo subjetivo próprio (enquanto totalidade dasvivências a que têm acesso privilegiado). Enquanto que no agir estratégico umatua sobre o outro para ensejar a continuação desejada de uma interação, no agircomunicativo um é motivado racionalmente pelo outro para uma ação de adesão –e isso em virtude do efeito ilocucionário de comprometimento que a oferta de umato de fala suscita.” (1983, p.79)

Habermas mantém o problema da dominação como questão central deseu discurso, mas se refere de outra maneira aos problemas engendrados namodernidade, inovando em relação à tradição marxista e aos pensadores da escolade Frankfurt (ainda presos aos limites da consciência, valorizando oposições edicotomias no campo da racionalidade e da compreensão de mundo). Parte, então,para o paradigma da linguagem que tem no diálogo a fonte de construção de con-sensos que mantêm a perspectiva da criticidade. Não propõe jogar toda a históriaacumulada da humanidade na lata do lixo, como parece ser o caso dos pós-moder-nos, mas acredita na capacidade da aprendizagem.

Ahlert, em sua obra “Eticidade da educação”, defende a utilização doreferencial proposto por Habermas em relação às análises que se fazem em torno

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dos problemas da educação. Diz que “...a questão da ética na educação estáligada e interligada à relação entre ciência e a ética da modernidade. Na modernidade,com a cientificização e tecnificação da ciência, a reflexão ética foi expulsa.”(1999,p.136)

O autor defende a utilização da ética do discurso como fonte de constru-ção de bases relacionais que engendrem forças solidárias universais. Indica que afilosofia pragmática e a hermenêutica possibilitaram novos horizontes de percep-ção em relação à compreensão acerca dos fundamentos da filosofia. (idem, pp.142-145) Habermas, de fato, ao considerar essas escolas, definiu a Filosofia maiscomo uma ”guardadora de lugar”, do que uma porta voz autorizada da razão, o quea colocaria em condições de participar de uma interdisciplinaridade de saberescom as demais ciências. Assim, valeriam menos os conteúdos da razão e mais osprocedimentos e argumentações.

No campo da educação, os debates também se estabelecem em tornodas possibilidades emancipadoras e da transformação social. A qualidade consis-tiria menos em uma exigência do mercado e mais em uma exigência humana.”Todoprocesso de construção do conhecimento, de ensino-aprendizagem, de educaçãoformal ou informal, de educação técnica e científica, precisa ter incorporado urgen-temente o imperativo ético para promover a inclusão de todos e de tudo”.(idem,p151).

Segundo Habermas, as regras da educação devem fundamentar-se no jogoda linguagem e na argumentação que se baseiem no princípio fundante da igualda-de humana. A educação torna-se um processo coletivo para a libertação humana.Sua teoria se aproxima das teorias construtivistas da educação, que consideram oato educativo um processo aberto, assentado em bases relacionais intersubjetivase criativas.

Faz-se premente, portanto, a necessidade de uma leitura mais apuradadesta teoria, para verificar o seu grau de aplicabilidade nos dias de hoje e, em quemedida contribui efetivamente para a tarefa de construir uma nova ética.

A partir dessas considerações, creio que seja possível o empenho na ela-boração de uma reflexão mais ampliada sobre o tema da ética, diante de umarealidade social que exige a construção de um novo paradigma ético fundado naemancipação humana. Dessa forma, o discurso ético não se reduziria às intençõespráticas no âmbito da vida, a chamada “ética técnica”. Mas, tal empenho tambémcontribuiria para o redimensionamento do agir ético em face aos novos desafioscolocados no mundo contemporâneo, porque nos voltaríamos mais para os princí-pios que regem as nossas ações e menos para as finalidades práticas. Essa novacompreensão reorientaria o nosso olhar para às preocupações que temos em rela-ção à moralização e normatização da vida, especialmente quando nos referimos ànossa atuação profissional, que seria vista menos como técnica e mais como con-tribuição para a efetiva emancipação humana e pela superação das desigualdades.

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A QUALIDADE TOTAL E A EDUCAÇÃOSUPERIOR: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Luís Eduardo Machado*

RESUMOAtualmente, a gestão universitária tem buscado diferentes formas de avaliar e melhorar

a qualidade dos seus cursos oferecidos. A Gestão pela Qualidade Total é um dos modelosdisponíveis às Instituições de Ensino Superior. Este artigo faz uma revisão bibliográfica sobre adiscussão do modelo de Qualidade Total na Educação Superior. Trata de alguns pressupostosbásicos da Gestão da Qualidade Total no meio universitário brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE: qualidade-total, ensino superior, revisão bibliográfica.

ABSTRACTNowadays University management has been looking for different ways to evaluate and

improve the quality of it courses. The Total Quality Management is one of the available models forHigher Educations Institutions. This articles reviews the bibliography concerning the discussionof the Total Quality model in Higher Education. It deals with some elementary assumptions ofTotal Quality Management in the Brazilian university environment.

KEY-WORDS: total-quality, higher education, bibliography review.

O modelo da Qualidade Total surgiu no meio industrial e, a partir do momen-to que passou a ser considerado como filosofia empresarial estratégica (a partir daEra da Qualidade), vem ganhando espaço crescente em outros setores da econo-mia, diferentes da indústria. MEZOMO (1997: 145) afirma:

“A filosofia da administração fundamentada na melhoria contínua da qualida-de nasceu dentro da indústria e por obra de profissionais ligados a ela. Seus resul-tados foram tão extraordinários, que essa doutrina se espalhou pelo mundo todo ehoje nenhuma empresa competitiva dela prescinde. Pelo contrário, a aprofunda erediscute continuamente com o objetivo de explorar-lhe todos os recursos de queela dispõe. Trata-se de fato de uma mina de incalculável valor e dimensão, quepode revitalizar as empresas e dar-lhes uma competitividade antes inimaginável”. Segundo DRÜGG; ORTIZ (1994), apenas a partir da década de 90 é que sepassou a buscar a Qualidade Total na Educação, no Brasil. Experiência pioneiranesta área foi a atuação da Fundação Cristiano Ottoni que, a partir de 1991, iniciouum projeto de Qualidade Total junto à Secretaria de Estado da Educação de MinasGerais, conforme BARBOSA et al. (1995). O processo de se aplicar a filosofia da

* Mestre em Administração, professor em cursos de Pós-graduação e MBA. Professor do programa de Pós-graduação em Administração das Faculdades Padre Anchieta.

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Qualidade Total na Educação é mais antigo nos Estados Unidos, porém não temmais de duas décadas. SPANBAUER (1995) fala do sucesso do Fox Valley TechnicalCollege, em Wisconsin, como um dos pioneiros na implantação da gestão pelaQualidade Total na Educação nos Estados Unidos, em 1985. RAMOS (1994: 202)cita o movimento das universidades americanas rumo aos princípios da QualidadeTotal; declara:“Algumas universidades se deram conta do atraso e já estão fazendo alguma coi-sa. Elas estão usando os princípios e práticas do TQM (Total Quality Management),para saírem da crise, nas duas principais funções: ensino e pesquisa”. A principal alegação para o uso da Qualidade Total na Educação seria queo sistema universitário estaria passando por uma crise sem precedentes em suahistória. Baseado em MEZOMO (1997), os principais problemas que as universida-des brasileiras enfrentariam hoje seriam:a) total obsolescência dos currículos: os currículos dos cursos de 3º grau estariamobsoletos em relação à demanda do mercado de mão-de-obra;b) existência de “feudos”: o excesso de burocracia2 teria transformado a universida-de em um conjunto de segmentos (partes) específicos, sem comprometimentocom o todo, com falta de uma visão holística3 ;c) fragmentação do conhecimento: a universidade teria perdido o seu caráter de“universalidade”4 e estaria fragmentando o conhecimento;d) baixa produção docente: produção acadêmica relevante em níveis quantitativos equalitativos baixos;e) compressão dos salários: haveria a prática de baixos salários no meio acadêmi-co em comparação com outros setores do mercado;f) necessidade de novas disciplinas: haveria a necessidade da criação de novasdisciplinas que contemplassem outras abordagens mais modernas;g) necessidade de autonomia: haveria um excesso de dependência em relação aórgãos regulamentadores5 ;h) baixa criatividade: haveria baixa criatividade na produção acadêmica da maioriadas universidades do Brasil;i) ensino rotineiro: haveria uma prática de ensino essencialmente teórico e sem apreocupação de tornar a sala de aula um local de convívio agradável;j) falta de integração entre ensino-pesquisa e extensão6 : as universidades estariammuitas focadas em suas atividades internas, sem se preocupar com uma maiorinteração com a comunidade em que está inserida;

2 Burocracia é definida como um sistema social organizado por normas escritas visando uma racionalidade eigualdade no tratamento de seus públicos, clientes ou participantes [LODI (1993: 91)].3 A visão holística é a visão do todo. A palavra holismo vem do grego holos , que significa todo [FERREIRA etal. (1998: 176)].4 Universalidade é a percepção do compromisso universal, é o comprometimento com a criação de saber queefetivamente possa transformar a sociedade [BUARQUE (199: 233)].5 Órgãos de regulamentação do ensino de 3º grau, como o Ministério da Educação.6 Extensão é um método para ensino e pesquisa com interação na sociedade [BUARQUE (1994: 190)].

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k) falta de uma política educacional: haveria falta de uma política educacional maisclara e explícita publicamente;l) crise gerencial: haveria amadorismo na gestão universitária e falta de um modelogerencial específico para a gestão universitária;m) falta de laboratórios e bibliotecas: haveria, em muitas instituições, falta de estru-tura de apoio para a aprendizagem.

Análise semelhante faz RAMOS (1992: 57):“A Sociedade, de inúmeras formas, declara, contínua e explicitamente, o seu desa-grado em termos do trabalho, de pouca Qualidade, efetivado pelas instituiçõeseducacionais. As críticas de ‘falta de competência’ e ‘fracasso’ estão cada vezmais definitivas”. O sistema educacional teria, no decorrer dos anos, tentado melhorar a qua-lidade dos seus serviços mas sem resultados expressivos como afirmam GUILLON;MIRSHAWKA (1994: 161):“O ensino de má qualidade passa a ser questionado cada vez mais pelos seusclientes (alunos, pais e comunidade) e é por isso que surgiram várias tentativas euma multiplicidade de métodos para reverter esse quadro, todas elas cheias deismos, como construtivismos, interacionismos, psicologismos, pedagogismos, etc.A maior parte delas falhou e não se conseguiu até agora atender às expectativas eàs necessidades dos clientes da escola”. Diante da aceitação desta referida “crise” no sistema educacional, teria quehaver uma resposta dessas instituições à sociedade no que concerne à melhoriada qualidade nos seus processos e produtos. Tomando-se as afirmações de crisecomo verossímeis, não há outras alternativas para as referidas instituições senãomudar rapidamente. Porém, o processo de mudança demanda alguma complexida-de como afirma TOFFLER (1985: 26):“Em geral, as grandes organizações só mudam significativamente quando determi-nadas condições prévias são atendidas. Primeiro, deve haver enormes pressõesexternas. Segundo, deve haver pessoas lá dentro que estejam extremamente insa-tisfeitas com a ordem existente. E terceiro, deve haver uma alternativa coerente,englobada num plano, modelo ou visão”. RAMOS (1992) coaduna com DRÜGG; ORTIZ (1994) quando ambas afir-mam que estas três condições para mudança (pressão externa, pessoas insatis-feitas dentro da organização e uma nova alternativa através de um novo modelo) jáexistem no meio universitário brasileiro. Em relação à terceira condição, a alterna-tiva seria o modelo da Qualidade Total que, segundo as autoras citadas, serviriapara mudar drasticamente o meio universitário, rumo à sua excelência7 .

7 Excelência é um desempenho acima da média, comparável às “melhores práticas” das melhores organizações[KOTLER (1998: 678)].

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Corrobora GOTTLIEB (1994: 182):“A ‘empresa’ de Ensino Superior precisa acordar para o fato de que, nos

últimos anos, muitos países vêm se dedicando à busca da excelência em todos ossetores de atividade humana e esse esforço tem, como ponto comum, os princípi-os da Qualidade Total”.

Diante da lógica proposta pelos defensores do uso da Qualidade Total naEducação, a questão é, por que as instituições educacionais ainda não se interes-saram amplamente pela filosofia da melhoria contínua através da Qualidade Total enão a incorporaram em seu sistema gerencial ? Há algumas explicações baseadas no texto de MEZOMO (1997):a) as universidades ainda não enfrentaram problemas sérios de sobrevivência comoas indústrias e as empresas de serviços;b) independente de sua classificação (boa ou ruim) as universidades sempre terãouma demanda mínima garantida;c) os clientes (alunos e comunidade) ainda não aprenderam a exigir da universida-de um produto/serviço de melhor qualidade e, em muitas instituições, não sãosequer ouvidos com relação aos seus desejos e necessidades;d) a gerência das instituições educacionais ainda não foi suficientementeprofissionalizada, sendo mais fruto da boa vontade e do empenho pessoal de quemassume esse ministério.Resumindo, afirma MEZOMO (1997: 147):“(...) parece que as escolas não encontram razões para mudar. E não as encontra-rão até o dia que seus ‘clientes’, não só os professores e alunos, mas também aprópria sociedade, decidirem reclamar o direito de receber ‘serviços’ confiáveis ecom a qualidade necessária”.

Os teóricos que defendem a aplicação da Qualidade Total na Educaçãoapontam muitas vantagens para as universidades quando aderirem a esta novafilosofia de gestão. Dentre as vantagens citadas, destacam-se as seguintes, base-ado em MEZOMO (1997):a) os alunos saberão porque estão na universidade e saberão avaliar o valor daaprendizagem para o seu futuro;b) os alunos terão interesse pela aprendizagem e discutirão a respeito da qualida-de, propondo-se a obtê-la;c) os alunos participarão de grupos de trabalho que visam dar nova direção à univer-sidade;d) os alunos assumirão a responsabilidade pela sua própria aprendizagem e inspe-cionarão seu próprio trabalho;e) os professores serão mais “facilitadores” do que “mestres” (que “ensinam”);f) os professores sentir-se-ão responsáveis pela qualidade da aprendizagem deseus alunos;

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g) os professores atualizar-se-ão permanentemente, a fim de garantir qualidade aoseu trabalho;h) os professores criarão um sistema de parceria com os alunos para a construçãodo conhecimento;i) os professores entenderão e facilitarão a prática da interdisciplinaridade8 ;j) os professores empenhar-se-ão em se distinguir por um elevado nível de desem-penho e liderança;k) a administração universitária estará totalmente comprometida com o sucesso daaprendizagem de todos os alunos;l) a administração universitária avaliará e garantirá a satisfação de todos com odesempenho da universidade;m) a administração universitária garantirá retreinamento gratuito para os que ne-cessitarem;n) a administração universitária manterá contato permanente com o sistema em-pregador para conhecer suas necessidades e expectativas com relação aosformandos;o) a administração universitária procurará obter consenso em todas as decisõesimportantes;p) a administração universitária reconhecerá e premiará os resultados expressivos;q) a administração universitária promoverá e apoiará atividades voltadas à melhoriada qualidade;r) a administração universitária manterá contato e intercâmbio com outras institui-ções educacionais líderes em relação à filosofia da Qualidade Total;s) a universidade contará com grande integração e união por parte dos seus funci-onários;t) a universidade reduzirá os seus índices de evasão e reprovação;u) a universidade reduzirá os custos e os desperdícios;v) a universidade reduzirá os problemas de indisciplina;w) a universidade formará profissionais capazes de competir por uma vaga no mer-cado de trabalho;x) a universidade melhorará a sua relação com o corpo docente e haverá conse-qüente aumento de produtividade9 ;y) a universidade melhorará a sua imagem social10 e conseguirá maior apoio dacomunidade.

8 interdisciplinaridade é o estabelecimento de intercomunicação efetiva entre as disciplinas de um curso atravésda fixação de um objetivo comum [MACHADO (1993: 320)].9 Produtividade é a eficiência com a qual os insumos são transformados em produção, uma organização aprimoraa sua produtividade fazendo a mesma quantidade de produtos/serviços com menos recursos ou fazendo mais.produtos/serviços com os mesmos recursos [LONGENECKER; MOORE; PETTY (1997: 484)].10 Imagem social é a soma de crenças, idéias e impressões que a sociedade tem com relação a uma instituição[KOTLER; FOX (199: 58)].

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A Fundação Cristiano Ottoni apresenta outras vantagens para a implantaçãoda Qualidade Total na Educação, fruto da sua experiência em consultoria nessaárea específica. Baseado em BARBOSA et. al. (1995), têm-se os seguintes resul-tados nas instituições que se utilizam da Qualidade Total:a) o trabalho pedagógico ganha uma percepção mais holística;b) melhora sensível no ambiente de trabalho;c) incentivo ao trabalho em equipe e aprendizado mútuo;d) redução de retrabalho e favorecimento do uso racional dos recursos;e) melhoria na administração do tempo;f) preocupação com a realização das metas da organização;g) introdução de transparência nos processos11 ;h) amplo conhecimento dos resultados da organização;i) possibilidade de adoção rápida de contramedidas para o bloqueio das causasgeradoras de maus resultados;j) criação de condições para a realização de um planejamento estratégico12 maiscompartilhado;k) geração de possibilidade de manutenção do domínio tecnológico através da pa-dronização13 ;l) melhoria de todos os serviços prestados pela universidade.

Os defensores da Qualidade Total apontam muitas vantagens para o seuuso na gestão universitária; porém há também alguns outros teóricos que criticama utilização da Qualidade Total e apontam erros derivados dessa filosofia de gestãoempresarial. Quanto às criticas, elas serão abordadas numa próxima oportunida-de.

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11 Processo é o conjunto de atividades necessárias para se realizar um determinado trabalho [LONGENECKER(1997: 469)].12 Planejamento é o processo consciente e sistemático de tomar decisões sobre objetivos e atividades que umapessoa, um grupo, uma unidade de trabalho ou uma organização buscarão no futuro. Planejamento Estratégicoenvolve a tomada de decisões sobre os objetivos e estratégias de longo prazo [BATEMAN; SNELL (1998: 122-4)].13 Padronização é tornar algo padrão, isto é, referência.

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TERRA E OCEANOS - FONTE DA VIDACarlos Henrique Pellegrini *

“O sofrimento faz com que sintamos falta” Francisco Xavier

RESUMOA ciência da oceanografia, apesar de ter suas raízes na antiguidade, desenvolveu-se

de forma efetiva no período moderno. Os cientistas e navegadores desbravaram os oceanos,comerciando e pesquisando. Durante séculos, o que se buscava era o conhecimento e o capital.Só mais recentemente é que surgiu o conceito de conhecimento para a preservação.A degeneração dos ambientes estuarinos, onde os manguezais desempenham papel fundamen-tal, foi responsável pelos primeiros sinais de alerta a todos aspectos ambientais.

PALAVRAS-CHAVE: oceanos, meio ambiente, equilíbrio, vida.

ABSTRACTThe Oceanographic Science, despite having its roots in anciernt times, actually developed

itself effectively in modern ages. Scientists and navigators explored oceans trading andresearching. During centuries they searched for knowledge and capital. Only recently the conceptof knowledge in order to preserve emerged.

Estuary environments degeneration, where mangroves perform an essential role, wasresponsible for the first alert signs related to environment issues.

KEY-WORDS: oceans, environment, equilibrium, life.

Introdução

Desde o início dos tempos, os oceanos e os continentes se confrontam aosabor das marés, dos ventos, das correntes.

Do alto dos costões, a paisagem é calma. Dá a dimensão do tempo, olongo tempo geológico necessário para que se defina o desenho da linha de costa.Mas do fundo do mar é possível ver melhor como muitas dessas rochas surgiramdo interior do planeta, como no arquipélago de Fernando de Noronha, um exemplosingular de formações vulcânicas.

* Mestre em Administração – PUC / SP. Engenheiro e Administrador, é professor titular na Admisnistração UNIPe nas Faculdades de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração de Empresas “Padre Anchieta”, pós-graduado em Engenharia Econômica, consultor da Maxi Recurso e Diretor Operacional da Ferplast I.C.P.P –Brasil .

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Pelo que se sabe, só o planeta Terra tem água em abundância. Estamosfalando da água que abrange, aproximadamente, 70% da superfície terrestre. Sãoincontáveis as espécies de animais e vegetais que a Terra possui. Sua distância doSol – 150 milhões de quilômetros – possibilita a existência da água nos três esta-dos: sólido, líquido e gasoso. A água, somada à força dos ventos, também ajuda aesculpir a paisagem do nosso planeta: desgasta vales e rochas, provoca osurgimento de diversos tipos de solo etc. O transporte de nutrientes, que são apro-veitados por centenas de organismos vivos, também é feito pela água.

Tudo na natureza vive em função da água. Quase tudo o que é vivo na Terraflui na água, grande parte dos seus ciclos de desenvolvimento. A maioria dos rioscorre para o mar. É como se a água tivesse memória de sua origem e completasseseu próprio ciclo natural na Terra, planeta água!

Apesar da imensa quantidade de água existente nos rios e lagos, na verda-de os oceanos comportam a quase totalidade deste elemento existente no planeta.São 98% da água do planeta Terra que estão nos oceanos:

Distribuição das águas no planeta

Dimensões dos Oceanos

Os oceanos e o homem

A presença humana não é apenas sinônimo de devastação. Toda a históriado conhecimento segue as trilhas do mar. A navegação começou nos rios e alcan-çou os estuários, abrindo as portas dos oceanos para o comércio, as grandesviagens, as grandes descobertas. A origem do Brasil como nação está ligada ao

Volume (km3)Oceanos e mares 1.370.000.000Gelo 24.000.000Água em rochas e sedimentos 4.000.000Lagos e rios 230.000Atmosfera (vapor) 140.000Total 1.400.000.000

Área (milhões dekm2)

Oceano Atlântico 107Oceano Pacífico 180Oceano Índico 74Total Oceanos 361Continentes 150

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mar, às habilidades dos navegantes de além-mar, aos conhecimentos das triboslitorâneas, dos caiçaras e todas as praias de armação do país. Cada um tem suaprópria impressão sobre o mar. Todos os povos primitivos criaram lendas e mitolo-gias onde a formação das águas desempenha um papel essencial. Os ancestraisdo homem viveram, provavelmente, longe do mar, daí talvez o espanto de muitosdiante da imensidão dos oceanos. Mas há mais de 8 mil anos o Mar Egeu járecebia um intenso fluxo comercial.

A vida na praia

A adaptação da vida na areia é bastante difícil, a começar pelas constan-tes modificações do meio. O substrato - ou base - está sempre em movimento,tanto pela ação da água como do vento. Os grãos de areia chegam a ter menos deum milímetro, e não são muitas espécies que conseguem permanecer e se alimen-tar. Na parte submersa, onde a ação das ondas não é sentida e a profundidadeainda permite a passagem da luz, os microorganismos do fitoplâncton conseguemse desenvolver, tornando-se alimento para várias espécies que vivem no fundo.São as espécies conhecidas como bentos, que vivem na zona bentônica (ambien-te do fundo marinho) do mar.

Poucos peixes habitam a zona de arrebentação, e os que ali vivem devemser capazes de suportar grandes variações de suprimento de água e de temperatu-ra. Alguns deles, como o coió, têm nadadeiras peitorais largas que os ajudam a semovimentar pelo fundo. Outros apresentam disco ventral sugador que lhes permiteficar aderidos ao fundo mesmo em águas turbulentas. E alguns “engolem” a areia,para tirar dela as microalgas e outros nutrientes, e expelem os grãos limpos. Sóalgumas espécies se aproximam da arrebentação quando há algas suspensas,boiando na região de espraiamento.

Ainda há algumas praias, pouco freqüentadas pelo homem, em que é pos-sível encontrar boa quantidade de caranguejos. Quando o homem passa a freqüen-tar a praia, eles desaparecem e já começam os prejuízos para a cadeia alimentardo ecossistema. Assim como nos manguezais e estuários, os caranguejos cum-prem importante papel no processo de decomposição de algas e outros vegetais, ena remobilização da areia.

Talvez as maiores intervenções humanas no ecossistema praia sejam asestruturas construídas para a pretensa defesa do litoral. São espigões para ampli-ação ou “engorda” de praias; molhes ou barras utilizadas na estabilização de ca-nais de acesso a portos, estuários e desembocaduras de lagoas; e quebra-maresconstruídos paralelamente à costa, com o objetivo de protegê-la do ataque diretodas ondas.

Muitas dessas obras foram e ainda são executadas em caráter de emer-gência e muitas vezes sem o competente estudo dos reflexos dessas estruturaspara as áreas adjacentes. Normalmente, o que ocorre é a transferência do proble-ma para a praia seguinte ou para o interior de estuários ou baías. E o resultado, na

1.370.000.00024.000.0004.000.000

230.000140.000

1.400.000.000

10718074

361150

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maior parte das vezes, é a erosão de praias e outras áreas da costa menos resis-tentes ao impacto das ondas.

É verdade que existem causas naturais, como a recente tendência deaumento do nível do mar e as passagens de frentes frias, por exemplo. Mas emmuitas regiões do litoral do Brasil há o represamento de rios, com a conseqüentediminuição da quantidade de sedimentos despejada no mar. As praias deixam dereceber novos fluxos de areia e não conseguem exercer sua função dissipativa daforça das ondas.

O mar, quando quebra na praia, não é só bonito. Não é só poesia. É umecossistema dinâmico que nos oferece muito. Nos dá prazer, alimento e beleza.Mas exige nosso respeito e humildade para que possamos aprender com ele.

Oceanos: fontes de oxigênio

Talvez pela exuberância das florestas, ou pela convivência próxima com asplantas e árvores, tenha sido fácil a propagação da idéia de que as áreas verdessão as principais responsáveis pelo abastecimento de oxigênio. De fato, o proces-so de fotossíntese que ocorre na presença da clorofila das plantas terrestres contri-bui para a renovação das condições da atmosfera. Mas as maiores fontes de oxigê-nio e outros componentes importantes para o ar são os oceanos. O oceano e aatmosfera são dois fluidos em permanente interação e disso depende, e muito, oclima e as condições de vida na Terra.

O sol, como fonte primeira de energia, é o grande motor dessa interação.Cerca de 30% da energia que chega à Terra é devolvida para o espaço. Dos 70%que ficam, cerca de um terço é absorvido pelas nuvens, vapores de água e outrosgases presentes na atmosfera, como o gás carbônico e o ozônio. Os outros doisterços atravessam a atmosfera e são aproveitados pelos oceanos e continentes.Como os oceanos ocupam mais de 70% da superfície do planeta, eles recebem amaior parte da energia solar.

A capacidade da água de absorver calor é muito maior do que a da atmos-fera, e isso torna o oceano um grande reservatório de calor. Essa energia em gran-de parte é aproveitada pelo fitoplâncton, composto por microalgas e outros vegetaismaiores que flutuam na superfície ou nos primeiros metros do mar. Além de ser onível básico da cadeia alimentar oceânica, o fitoplâncton é um dos grandes respon-sáveis pela renovação do estoque de oxigênio e de outros componentes da atmos-fera.

Um exemplo da importância dessa biomassa dos oceanos é o fato de quea atmosfera, nos primórdios da vida sobre a Terra, tinha uma concentração de gáscarbônico (C02) mil vezes mais alta do que a atual, que é de 0,35%. À medida quea atividade biológica foi se intensificando, o terrível efeito estufa a que a Terra estavasubmetida foi gradualmente substituído por um aumento na luminosidade solar.Desde então, o clima tem permanecido relativamente constante e adequadoàs formas de vida atuais.

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Pela fotossíntese, os organismos do fitoplâncton fixam o carbono do C02atmosférico absorvido pelos oceanos como carbono orgânico em sua biomassa.Os animais marinhos se alimentam do fitoplâncton e, na seqüência da cadeia ali-mentar, parte desse carbono é transportado para as águas profundas e para o fundodo oceano. O fitoplâncton também libera C02 para a atmosfera através da respira-ção. Tanto a fixação do carbono em biomassa como a produção de oxigênio pelafotossíntese são processos que têm um papel decisivo no balanço de gases daTerra.

Outra contribuição do mar para a atmosfera é na formação de nuvens. Asnuvens são formadas pelo vapor da água que se condensa em torno de algumassubstâncias químicas presentes na atmosfera, conhecidas como aerossóís desulfato, que constituem os núcleos formadores de nuvens. A maior fonte naturaldestas substâncias é o dimetilsulfeto, um gás produzido pelas algas do fitoplânctonque é liberado para a atmosfera. As nuvens têm um papel importante no controleclimático da Terra, aumentando ou diminuindo a capacidade de reflexão da energiasolar e interferindo no equilíbrio térmico do planeta.

Os mares e a temperatura da terra

E as interações entre o mar e o ar não param por aí. A energia do sol atingea superfície da Terra com mais intensidade na faixa tropical do que nas regiõespolares. Esse aquecimento diferenciado produz massas de ar com temperaturasdiferentes. Para que exista um equilíbrio, essas massas de ar se movimentam eprovocam os ventos, que por sua vez atuam na superfície dos oceanos gerando asondas. As ondas ajudam a manter homogênea a temperatura da água nos primei-ros dez metros do mar, que é a região em que mais de 60% da energia do sol éabsorvida. Enfim, o oceano é um grande regulador térmico da atmosfera, cedendoe retirando calor quando é necessário.

A circulação das águas dos oceanos em larga escala (as correntes maríti-mas), é agente fundamental da distribuição de calor na superfície da Terra. A circu-lação gerada pelo vento atua predominantemente nos primeiros cem metros deprofundidade. O que caracteriza esse tipo de circulação são os chamados girossubtropicais e subpolares e o sistema de correntes equatoriais. Os giros subtropicaissão limitados a leste e oeste pelos continentes, e ao sul e ao norte por correnteszonais. No hemisfério norte, as circulações são horárias, e no hemisfério sul sãoanti-horárias.

As correntes são mais intensas no lado oeste do que no lado leste. Acorrente do Brasil é o movimento dominante no hemisfério sul. Na região equatorial,um pouco ao norte, passam as correntes norte e sul equatoriais, ambas para oes-te.

A corrente sul equatorial praticamente se bifurca na região nordeste doBrasil, na área do arquipélago de Fernando de Noronha. É essa corrente de águasquentes, com temperaturas médias de 24 graus centígrados, que cria as condi-

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ções favoráveis ao abrigo de várias espécies marinhas migratórias e à presençados golfinhos rotadores.

As condições excepcionais da localização de Fernando de Noronha, ascaracterísticas vulcânicas de sua origem, a distância do continente, a disponibili-dade de alimentação e, quem sabe, o encanto e a beleza do lugar, são os fatoresde atração dos golfinhos rotadores. Não há notícia de outro local no oceano Atlân-tico como a baía dos golfinhos, onde centenas dos cetáceos dessa espécie, co-nhecida como Stenella Longirostris, se encontram para descansar, reproduzir ebrincar. E há quem diga que os golfinhos têm um complexo código de comunica-ção.

Conclusão

Se continuarmos tratando a natureza de maneira irresponsável, o futuronos reservará um mundo devastado e sem recursos. Podemos ter um bom futuro,em paz com a natureza, desde que encontremos o equilíbrio entre as necessida-des humanas e a capacidade de recuperação ambiental (auto-sustentação). Nãovale a pena quebrar para depois consertar, poluir para depois limpar. O grandecontraste social e econômico distancia o homem da condição de cidadão e doconhecimento ecológico. Um caminho importante é a educação: para a formaçãoda consciência ecológica, para a vida em harmonia com a natureza e para a convi-vência solidária entre as pessoas.

Na prática, podemos fazer muitas coisas, como economizar água tratada,utilizar menos detergente, jogar o lixo no lugar certo, plantar árvores, respeitar ociclo da água, usar a água limpa com economia, gastar somente o necessário,denunciar as empresas que poluem, denunciar ocupações clandestinas que este-jam despejando esgoto e lixo nos mananciais, cobrar dos governantes a criação ecumprimento de leis que protejam a natureza etc. Conscientizar a população paraas questões ecológicas é importante para a conquista de um futuro com águapotável e com saúde para toda a humanidade.

Bibliografia

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CARVALHO, Anésio Rodrigues de (1997). Princípios Básicos do Saneamentodo Meio. São Paulo: Senac.

SARIEGO, José C. (1994). Educação Ambiental – As ameaças ao planeta azul.São Paulo: Scipione.

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ADMINISTRAÇÃO E RESPONSABILIDADE SOCIALVivaldo José Breternitz *

Sérgio Roberto Porto de Almeida * *

RESUMO

Administração com Responsabilidade Social (ARS) pode ser entendida como a opera-ção de uma empresa, de forma a que esta atenda às expectativas da sociedade em termos derespeito à lei, aos valores éticos, às pessoas, à comunidade e ao meio ambiente. Há percepçãode que a prática da ARS é positiva para os negócios, razão que, aliada às pressões de clientes,fornecedores, empregados e outros grupos, tem feito aumentar o número de empresas que aestão adotando como fator estratégico para seu sucesso. Dado esse cenário, é objetivo destetrabalho propor um conjunto de práticas para subsidiar a implantação da ARS nas empresas.

PALAVRAS-CHAVE: administração com responsabilidade social, ética, balanço social,empreendedorismo.

ABSTRACT

Corporate Social Responsibility (CSR) can be understood as the operation of a companyin such a way as to fulfill  society´s expectations in terms of respect to the law, ethical values,people, community and the environment. There is a perception that the practice of CSR is positivefor businesses, a reason which allied to the pressures of customers, suppliers, employees andother groups, has been increasing the number of companies adopting CSR as a strategicsuccess factor. Therefore, it is objective of this work to propose a group of practices to subsidizethe implantation of CSR in companies

KEY WORDS: corporate social responsibility, ethics, corporate reporting, entrepreneurship,accountability.

Administração com responsabilidade social (ARS) pode ser entendida comoa operação de uma empresa de forma a que essa atenda às expectativas da soci-edade em termos de respeito à lei, aos valores éticos, às pessoas, à comunidadee ao meio ambiente.

Essa visão moderna se contrapõe a outras defendidas por autores de reno-me, como FRIEDMAN (1963) – Milton Friedman, ganhador do Prêmio Nobel deEconomia em 1976, defende a idéia de que a única responsabilidade das empresas

* Mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Mackenzie; professor das Faculdades Padre Anchieta e dasFaculdades Claretianas de São Paulo

** Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo, professor e Coordenador Acadêmico das Faculda-des Claretianas de São Paulo

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é dar tanto lucro quanto possível aos seus proprietários, e que qualquer posiçãodiferente dessa irá enfraquecer as empresas e o sistema capitalista, culminandocom sua destruição.

Contrariando as posições de Friedman, outros autores como DRUCKER(1984) e DAVIS (1975) contribuíram para que as empresas começassem a servistas também como co-responsáveis pela melhoria e manutenção do bem estar dasociedade como um todo, na forma apresentada no início deste artigo.

ARS está passando a ser vista por muitas empresas não apenas como umconjunto de iniciativas motivadas por razões de marketing, relações públicas oufilantropia, mas como um conjunto de políticas, práticas e programas que permeiamos negócios e o processo de tomada de decisões na empresa.

Tem crescido no Brasil o número de empresas que estão adotando propos-tas nessa linha. Embora ainda seja muito grande a quantidade de organizaçõesque não desenvolvem projetos dessa natureza e que não estão convencidas da suarelevância, a velocidade com que essas iniciativas se consolidam e ganham espa-ço indica uma tendência de reversão desse quadro (FISCHER & FALCONER, 1999).

Há a percepção de que a prática da ARS é positiva para os negócios,razão que aliada às pressões de clientes (que se dispõem a cortar seu relaciona-mento comercial com empresas “irresponsáveis”), fornecedores, empregados, in-vestidores, vizinhos e outros grupos, tem feito aumentar o número de empresas detodos os tamanhos e segmentos que a estão adotando, como fator estratégicopara o sucesso no cenário contemporâneo. Convém lembrar que esses grupos sãochamados stakeholders, expressão freqüentemente utilizada nos textos que tra-tam de responsabilidade social.

As empresas que vem praticando ARS estão obtendo resultados positivosprincipalmente em função de redução de custos operacionais, melhoria de ima-gem, aumento do volume de vendas e lealdade dos clientes e melhoria dos indica-dores de produtividade e qualidade.

Dado esse cenário é objetivo deste trabalho propor um conjunto de práti-cas para subsidiar a implantação da ARS nas empresas. Obviamente, cada empre-sa deve abordar o tema levando em conta fatores como cultura, porte, setor deatuação, etc.

Deve-se deixar claro que a prática da ARS depende da quebra deparadigmas, quebra essa que só pode ocorrer com investimentos em educação eestímulo à criatividade dos dirigentes e funcionários da organização.

Até o momento, tem sido mais comum as empresas focarem-se em umaárea, como educação, meio ambiente ou desenvolvimento econômico de uma co-munidade, quase sempre tratando o assunto como filantropia. É claro, porém, quea visão mais ampla de ARS, como um conjunto de políticas, práticas e programasque permeiam os negócios e o processo de tomada de decisões na empresa émais adequada, se bem que bastante mais difícil de ser implantada e praticada.

A definição da Missão e da Visão da empresa ocorre em tempo de plane-

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jamento. Em geral nossas empresas não planejam de forma contínua, mas simespasmódica, fazendo com que Missão e Visão freqüentemente tornem-se apenaspalavras perdidas nos manuais internos. Ao se praticar ARS, essa situação deveser modificada, de forma a que essas definições permaneçam atualizadas e siste-maticamente difundidas, de forma a refletirem constantemente os objetivos e aspi-rações da organização e assim servirem como instrumento de orientação na buscadesses objetivos.

Para as empresas que realmente praticam Planejamento Estratégico, ficaclara a necessidade de que ARS seja considerada também quando se está traba-lhando no planejamento de médio e longo prazo, analisando seu impacto sobre osprojetos e metas, definindo métricas para avaliação de processos, etc.

“Dar retorno aos acionistas”, “ser o maior”, normalmente não esgotam amissão ou a visão das empresas que praticam ARS, mas vêm acompanhadas daintenção de beneficiar todos os que interagem com a organização: funcionários,clientes, fornecedores, comunidades e o meio ambiente.

Fatores de ordem cultural também são importantes. A prática de respon-sabil idade social não pode se desenvolver em um ambiente onde oempreendedorismo não seja aceito e estimulado. O discurso e a prática devem sercoerentes; o sentimento de que a empresa mantém um discurso acerca de ética eARS apenas com objetivos de melhoria de imagem, pode ser mais danoso do quea certeza de que a empresa simplesmente não se preocupa com responsabilidadesocial.

Programas que envolvem a totalidade de uma empresa usualmente fra-cassam quando não existe um suporte explícito e forte da direção (BRETERNITZ,1999); ARS não é uma exceção. Para seu sucesso, é necessário que se atribuaformalmente a um de seus executivos de primeiro escalão a responsabilidade so-bre o assunto. Essa responsabilidade usualmente recai sobre o executivo queresponde por auditoria e compliance (observação das normas legais e dos procedi-mentos normatizados, estes especialmente importantes em instituições financei-ras). Por sua posição no organograma da empresa e pela natureza de suas atribui-ções, o ocupante desse cargo usualmente pode garantir que ARS seja efetivamen-te praticada.

Muitas empresas, em especial as de grande porte, adotam descrições decargos e funções bastante detalhadas como ferramenta para administração de re-cursos humanos. A menção nessas descrições de responsabilidades no que tan-ge a ARS, bem como a fixação de metas para os ocupantes de tais cargos é umaboa forma de aumentar o entendimento e o comprometimento dos empregadosacerca do tema.

Essas medidas podem melhorar também a accountability de ARS na em-presa – no caso essa palavra poderia ser entendida como a propriedade que garan-te que a execução de qualquer ação possa ser acompanhada, bem como identifi-cados os responsáveis pela mesma de forma única e individual. Isso pode ser

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bastante útil no sentido de que se evitem omissões.Cumpre registrar que o termo accountability vem sendo utilizado com bas-

tante freqüência quando se fala em ARS, embora não haja uma tradução consa-grada para o mesmo. A expressão relaciona-se com a idéia de responsabilidadefiscal, embora com ela não se confunda (CAMPOS, 1990). Outros definem-nacomo “responsabilidade pela prestação de contas” (PEDERIVA, 1998) ou “respon-sabilidade pela eficiente gerência de recursos públicos” (TORRES, 2000).

É claro que os membros de uma organização não podem serresponsabilizados por uma determinada postura ou ação se não são adequada-mente informados acerca do que deles se espera, e treinados acerca das ferra-mentas disponíveis para que se atinjam as metas e objetivos fixados. Isso tambémé válido quando se trata de ARS, devendo, portanto, às empresas que pretendempraticá-la, desenvolverem programas para adequada comunicação e treinamento arespeito.

Aliás, ARS é um dos temas que requerem algo mais que iniciativas decomunicação e treinamento: educação na area é fundamental, ao menos para aquelesque ocupam cargos chave na estrutura organizacional. Cursos internos e externos,ministrados de forma convencional ou baseados na Internet são ferramentas alta-mente recomendadas para a pratica de ARS com sucesso. O tema já vem sendoobjeto de estudos em programas de pós-graduação, tendo gerado trabalhos comoo de DUTRA (2001).

É da natureza humana adotar comportamentos que possam trazer reco-nhecimento e vantagens materiais. Dada essa realidade, muitas empresas criamprogramas de reconhecimento e premiação (em dinheiro, presentes, folgas, doa-ções em seus nomes para instituições de caridade), como forma de incentivar seusfuncionários a atingirem determinadas metas ou proporem, por exemplo, formasalternativas para evitar desperdícios e práticas poluentes, ou para aqueles que sedestacam nas campanhas ecológicas promovidas pela empresa. Programas comoestes podem ser ferramentas importantes para a prática de ARS, devendo ser con-siderados durante o processo de planejamento.

A adoção de um “Código de Ética” é providência importante em todo pro-cesso de formalização de políticas, responsabilidades, etc., e na divulgação docompromisso da empresa com ARS. Além de ser um instrumento útil para dar aosdirigentes e profissionais de uma empresa diretrizes e orientação sobre como agirem momentos de tomada de decisões difíceis e/ou relevantes, reduz os riscos deinterpretações subjetivas quanto aos aspectos morais e éticos nelas envolvidos.Sua elaboração deve envolver todos os escalões da empresa e considerar aspec-tos culturais da mesma; a simples adoção de um código utilizado por outra empre-sa normalmente não produz bons resultados, pois se perde a oportunidade dediscutir-se problemas e valores da empresa, e de envolver a todos com o tema.

Um ponto bastante delicado é o da dimensão social do consumo (DUTRA,2001), pois a empresa influencia o comportamento da sociedade. Por isso, suas

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ações de publicidade devem ter uma dimensão educativa, evitando criar expectati-vas que extrapolem o que é oferecido efetivamente pelo produto ou serviço, além denão deverem provocar desconforto ou constrangimento aos que forem por ela atin-gidos. Devem ser evitados anúncios que glorificam a satisfação imediata, a violên-cia, o desrespeito a minorias, a exploração de emoções das crianças, a mistifica-ção e o erotismo. Devem ser procuradas formas de publicidade que transmitammodelos positivos e hábitos saudáveis. Nessa área, talvez o mais difícil seja fugir àtentação de criar-se artificialmente necessidades que devam ser satisfeitas com oconsumo de produtos ou serviços produzidos pela empresa.

Da mesma forma que recorrem a especialistas externos para revisão desuas contas, procedimentos para qualidade total, procedimentos contábeis, pla-nos de segurança na área de tecnologia da informação, etc., muitas empresasestão recorrendo a auditores externos para verificação não só de como estão sen-do vistas por seus clientes, empregados, parceiros de negócios e comunidade,mas também em termos de efetividade de suas políticas e atingimento de metas naárea de responsabilidade social.

Evidentemente, empresas de menor porte podem fazer essa verificação demaneira mais simples e adequada à sua estrutura, empregando porém técnicassimilares às adotadas em processos de auditoria. A verificação formal ajuda a evitarque a rotina transforme ARS em apenas mais uma sigla.

Os processos de auditoria geram relatórios com recomendações paramelhoria de procedimentos, gerando um feedback acerca da situação na áreaauditada. Esses relatórios devem ser avaliados de forma a que eventuais desviossejam sanados, e podem ser a base para relatórios periódicos acerca dos resulta-dos produzidos pela prática da ARS; esses relatórios são usualmente chamados“balanços sociais”, e devem ser dados a conhecer aos clientes, empregados, par-ceiros de negócios e à comunidade. Empresas de maior porte usualmente utilizama mídia para publicação desses balanços, o que ocorre frequentmente em conjun-to com a publicação do balanço societário. Observe-se que em algumas cidades,como São Paulo e Porto Alegre, leis municipais estimulam as empresas a publica-rem seus balanços sociais.

A publicação do balanço social e a divulgação do código de ética sãoalgumas medidas que permitem às empresas socialmente responsáveis exerce-rem influência sobre parceiros de negócios, sobre outras empresas do mesmosetor e área geográfica, etc., no sentido de que essas passem também a se inte-ressar pela prática de ARS. Essa influência é necessária, e pode ser um dos fato-res que permitirão, nas palavras de FIGUEIREDO (2001), “a prática de uma admi-nistração pluralista e interdependente”, que permitiria o cultivo de uma vida comqualidade.

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Referências Bibliográficas

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CAMPOS, Anna Maria (1990). Accountability: Quando poderemos traduzi-la parao português? Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro: Vol. 24.Nº 2.

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PROPOSIÇÃO DA HIPÓTESE TRÍFIDA PARA A FUN-DAMENTAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL: UMA NOVA FERRAMENTA PARA OGESTOR AMBIENTAL

Rodolfo Antônio de Figueiredo*

RESUMOA educação ambiental é um recente ramo do conhecimento humano. Surgida em meio

à contracultura pós-moderna do movimento ambientalista da década de 1960, atualmente cons-titui-se imprescindível ferramenta para a gestão ambiental. O conhecimento da construçãohistórica da educação ambiental possibilita que o gestor opte pela doutrina que mais lhe pareçaadequada, seja a de suas raízes ativistas, seja a de seu amoldamento às instituições internaci-onais e conservadoras.

Palavras-chaves: educação ambiental; gestão ambiental.

ABSTRACTThe environmental education is a recent branch of the human knowledge. Initiating on

the post-modern culture of environmentalism of the sixties, nowadays it is a remarkable way ofenvironmental management. The knowledge of the historical construction of environmentaleducation can bring to the manager the possibility of option for the doctrine which seems to himmore adequate, being that of its activist roots, being that of its adjustment to the international andconservative institutions.Keywords: environmental education; environment management.

Introdução: a educação ambiental e a administração de empresas

A moderna gestão de empresas preconiza a utilização da educação ambientalno gerenciamento das questões ambientais concernentes às atividades produtivas.A certificação da série ISO 14.000 passa necessariamente pela implantação nasempresas de projetos de educação ambiental.

A competitividade e modernização das empresas brasileiras está direta-mente relacionada à gestão ambiental, passando pela conformidade com a suapolítica de atuação social. Em recente pesquisa com 1.451 empresas, verificou-se

* Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas pela UFSCar, Bacharelando em Direito na FADIPA, Mestre eDoutor em Ciências (área Ecologia) pela UNICAMP; Professor Titular e Coordenador Pedagógico do curso deCiências – Habilitação em Biologia da Faculdade de Ciências e Letras Padre Anchieta, Professor e Coordenadordo curso de Pós-graduação em Ecologia e Educação Ambiental, e Coordenador Geral do Centro de Pós-Gradua-ção das Faculdades Padre Anchieta, Rua Bom Jesus de Pirapora 140, 13207-660 Jundiaí, SP, (0xx11)45218444ramal 244, Email: [email protected]

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que 85% delas adotavam algum tipo de procedimento gerencial associado à gestãoambiental (BNDES, CNI & SEBRAE, 1998).

A relação entre uma empresa, particularmente uma indústria, com o ambi-ente é, na maior parte das vezes, de exploração e degradação deste por aquela. Ascrises do petróleo, particularmente a de 1979, trouxeram à cena a chamada “res-ponsabilidade ambiental” das empresas. A concepção ambiental tanto se internalizounas empresas que, atualmente, muitas atuam fortemente no marketing verde, naprodução de “produtos verdes” e no desenvolvimento de tecnologias limpas.

O estudo de UNGARETTI (1998) mostrou que existe uma multiplicidade deações ambientais realizadas pelas empresas, com graus diferentes de interesse econsciência ambiental. Este mesmo autor alerta que “mais do que nunca, a lógicaempresarial é a da velocidade. Este é o novo desafio para o ambientalismo”(UNGARETTI, 1998). Em outro estudo, LAYRARGUES (1998) investiga o grau decoerência entre o discurso ambientalista empresarial com o do ambientalismo tra-dicional. Ele chega à conclusão que “não foi devido à consciência ecológica, massim à consciência econômica que o setor empresarial adjetivou-se de “verde” econquistou um espaço no ambientalismo” (LAYRARGUES, 1998).

Em vista do exposto, percebe-se que existe uma disputa entre aracionalidade econômica e a ética ambiental no seio das empresas. Assim sendo,em muito lucra o administrador de empresas que virá a atuar na gestão ambiental,conhecer mais profundamente a construção da consciência ambiental, da qual aeducação ambiental é sua expressão ativa. O presente artigo tem por objetivo inici-ar este aprofundamento, através da análise histórica do processo de criação eestabelecimento da educação ambiental, tanto em nível nacional como mundial.Além disso, visa a indicar aos gestores ambientais uma recente e relevante litera-tura para aprofundamento na temática “educação ambiental”.

A fundamentação histórica da educação ambiental

A base estrutural da Educação Ambiental, historicamente, é a Ecologia.Essa ciência, a Ecologia, trata da compreensão de mecanismos que regulam asinterações que os diversos grupos de seres vivos mantêm entre si e com os fatoresnão-vivos (abióticos) que os rodeiam. A Ecologia, apesar de envolvida com o aspec-to ambiental, por si só não aborda a preocupação com problemas ambientais per-cebidos por diferentes comunidades. A ciência certamente poderá ser utilizadapara aflorar aspectos do problema, mas nem sempre apresenta um cabedal desoluções prontas para saná-lo. Além disso, a percepção do problema, suas conse-qüências sociais, seu encaminhamento político e a escolha de possíveis soluçõesnão são feitas pelos cientistas (Ecólogos), mas sim, são prerrogativas exclusivasda comunidade que está-se defrontando com aspectos indesejados em seu meioambiente particular. A preocupação ambiental, portanto, começa a se firmar so-mente quando da sua desvinculação da ciência ecológica.

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A primeira manifestação da preocupação ambiental emergida das ciênciasecológicas ocorre em 1949. Em vários artigos, o norte-americano Aldo Leopolddefende que os recursos oferecidos pelo planeta Terra devem ser utilizado pelosseres humanos segundo princípios éticos.

A ética do uso dos recursos da Terra diz respeito à sobrevivência e ao bem-estar das comunidades atuais e futuras. Esses recursos, tais como ar, água, luz,solo, vegetais, animais, devem ser utilizados, por ser eticamente aceitável que acomunidade tenha formas de obter a sua subsistência. Mas, também esses recur-sos naturais devem ser renovados e preservados para as gerações futuras quecomporão essa comunidade.

Em 1962, a cientista norte-americana Rachel Carson, lança um livro no qualexpõe que os recursos naturais não estão sendo utilizados eticamente pela socie-dade daquela década. Esse livro, Primavera Silenciosa, alcançou grande repercus-são em diversos segmentos da sociedade e, talvez pela primeira vez, causou umacomoção tal que mobilizou muitas comunidades a questionar a ameaça que es-condiam as substâncias químicas, dentre elas os agrotóxicos, produzidas pelosseres humanos e descuidadamente lançadas no ambiente.

Por que o ser humano fazia substâncias que, em um primeiro momentoúteis, se desvelavam danosas para ele mesmo e para seus filhos? E, por que elecontinuava a produzi-las, mesmo sabendo que corriam riscos? Essas questõespossivelmente estavam no subconsciente dos especialistas de diversas áreas quese denominaram Clube de Roma. Esses pensadores analisaram diversas facetasdas crises que a humanidade estava enfrentando na década de 1960 e as possíveiscrises que o futuro as aguardava. Concluíram que os modelos vigentes de desenvol-vimento econômico influenciavam sobremaneira a forma de pensar humana. Certa-mente uma forma destrutiva, uma bomba-relógio que provocaria terríveis estragosno futuro.No início da década de 1970, surgem dois importantes documentos que, basean-do-se nas discussões e conclusões da década anterior, propõem formas de com-bater a crise ambiental sentida pela humanidade. Esses documentos são: UmEsquema para a Sobrevivência, lançado em 1971, e Os Limites do Crescimento,de 1972. No primeiro documento, lançado na Inglaterra, são elaboradas diversaspropostas para que a humanidade possa atingir um ambiente saudável. O segundodocumento, feito pelo Clube de Roma, estabelece que o planeta Terra apresentaum espaço finito e que o crescente consumo e incremento populacional levaria ahumanidade a um colapso.

A questão ambiental, então, ganha força e pessoas de diferentes níveis deformação e poderio econômico passam a se atentar para o risco que correm, elasmesmas e seus descendentes. Em 1972, as Nações Unidas realizam em Estocol-mo, na Suécia, a Primeira Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.Esse evento foi um marco significativo para o surgimento de políticas degerenciamento ambiental e, pela primeira vez, reconhece-se a Educação Ambiental

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como uma nova área do conhecimento humano. Pode-se dizer que aí surge, “ofici-almente”, a Educação Ambiental. Essa área é definida como de cunhomultidisciplinar, ou seja, que profissionais das diferentes áreas são importantespara que ela se desenvolva, e que sua ação abranja todos os níveis de educação,formal ou informal, ou seja, em escolas e em comunidades.

O Brasil, que havia participado da Conferência da ONU, cria em 1973 aSecretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), cujo Secretário foi o Prof. Dr. PauloNogueira Neto, com formação em Direito e em Ciências Naturais. Este órgão lan-çou os primeiros diplomas legais no país, assim como criou estações ecológicase, juntamente com o MEC, propôs a criação da disciplina Educação Ambiental noensino formal.

Os princípios básicos da Educação Ambiental foram sendo discutidos apósa Primeira Conferência da ONU, até se estabelecer, em 1975, o primeiro eventodessa nova área. O Seminário Internacional sobre Educação Ambiental ocorreuem Belgrado, Iugoslávia, e forneceu orientações para um programa internacional.Nesse evento, foi definido como princípio básico da Educação Ambiental a atençãocom o meio natural e artificial, ou seja, com a natureza e com os campos agrícolase cidades, considerando todos os fatores envolvidos, sejam eles ecológicos, eco-nômicos, políticos e culturais. Além disso, ficou determinado que a EducaçãoAmbiental deve apresentar ações contínuas, deve ser interdisciplinar, deve voltar-se aos interesses nacionais, e que questionará os tipos de desenvolvimento huma-no em vigor. A meta prioritária da Educação Ambiental passa a ser a de formarindivíduos conscientes da importância do meio ambiente na preservação da espé-cie humana no planeta.

Em 1977, ocorre a Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educa-ção Ambiental, em Tbilisi, Geórgia. Nesse evento, são definidas as estratégiaspara o desenvolvimento da Educação Ambiental, além de reafirmados seus objeti-vos e princípios orientadores já definidos nos encontros anteriores. Nessa confe-rência, ressaltou-se que a Educação Ambiental deve basear-se na Ciência e naTecnologia, e que as questões a serem atacadas devem ser aquelas de influêncialocal e regional, mas sem perder de vista as questões nacionais e internacionais.Os problemas ambientais atuais e futuros devem ser abordados sob uma perspec-tiva histórica, embasando a atual crise ambiental em escolhas de modelosdesenvolvimentistas realizados pelos próprios seres humanos no passado. O ensi-no em ambiente formal, ou seja em escolas, foi enfatizado. Preconizou-se que osalunos deveriam construir seu conhecimento sobre as questões ambientais, de-senvolvendo-se neles as habilidades necessárias para tomarem suas próprias de-cisões. Sugeriu-se aos professores diversificarem seus métodos de ensino, de talforma a ressaltar a complexidade dos problemas ambientais.

No Brasil, em 1981, foram promulgadas duas leis, a 6.902/81, definindo queas áreas de preservação ambiental destinavam-se às pesquisas e à educaçãoambiental, e a 6.938/81, que instala uma política nacional para o meio ambiente.

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Em 1985, a Lei Nº 7.347/85 permite à sociedade organizada defender juridicamenteo ambiente.

Em 1987, surge no plano internacional mais um documento de grande influ-ência, denominado Nosso Futuro Comum (WCED, 1987). Elaborado pela Comis-são Mundial de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Comissão Brundtland), da qualparticipava o Prof. Nogueira Neto. Este relatório traçou um painel sobre a situaçãoambiental do mundo, propondo formas de atenuar os problemas ambientais detec-tados. Foi definido que formas de desenvolvimento sustentável deveriam serimplementadas, em substituição aos modelos desenvolvimentistas vigentes. Co-mentários sobre o conceito de desenvolvimento sustentável podem ser vistos emFIGUEIREDO (2001). No plano nacional, neste ano de 1987, o Conselho Federal deEducação através do Parecer Nº 226/87, veicula a necessidade da introdução daEducação Ambiental no ensino formal brasileiro.

Dez anos após à Primeira Conferência, é realizada em Moscou a SegundaConferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, no ano de 1987. Nelaocorre a avaliação do que foi implantado em termos educacionais ao longo desseperíodo de tempo, além de corroborar as recomendações feitas em 1977. Particu-larmente, enfatiza-se que a Educação Ambiental está ligada à resolução de proble-mas concretos e que a percepção dos problemas ambientais pela população éinfluenciada por fatores econômicos, sociais e culturais.

A nova Constituição Federal Brasileira é promulgada em 1988, tornando-seuma das mais modernas do mundo no aspecto ambiental e sedimentando o DireitoAmbiental brasileiro. A Carta Magna incumbe o Poder Público de “promover a edu-cação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para apreservação do meio ambiente” (CF Art.225, §1º, inciso VI). O Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) foi criado em 1989,contendo um departamento que trata exclusivamente de Educação Ambiental. Tam-bém em 1988, ocorreu o Primeiro Congresso Brasileiro de Educação Ambiental,reunindo Educadores de todo o país no Rio Grande do Sul. Em 1989, foi realizadoo Primeiro Fórum de Educação Ambiental, na USP e, em 1991, o Segundo Fórumde Educação Ambiental, no Anhembi, em São Paulo.

A Segunda Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desen-volvimento ocorre em 1992, na cidade do Rio de Janeiro. Representantes do gover-no de 178 países (oficialmente denominados de Cúpula da Terra) oficializaram aAgenda 21. A Agenda 21 é um plano de ação para ser implementado, nos maisdiferentes níveis, no século 21, visando à sustentabilidade da vida no planeta Terra.Em um evento paralelo à conferência, o Fórum Global de ONGs, com participaçãode cerca de 1.300 organizações não-governamentais, formula-se o Tratado de Edu-cação Global para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Nestedocumento encontram-se os diversos princípios de Educação Ambiental, a par deplanos de ação, monitoramento e avaliação. Os participantes desse evento enten-deram que a educação deve ser realizada a partir do entorno em que vivem as

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comunidades, levando os indivíduos a pensar e agir local e globalmente. Acorda-seque a raiz dos problemas ambientais é o superconsumo e a superprodução, geran-do distribuição irregular de renda, pobreza e poluição. Esse evento é um marcopara o movimento ambientalista brasileiro, devido a sua repercussão na mídia, ori-ginando-se diversos projetos em Educação Ambiental, assim como o foi a CartaBrasileira para a Educação Ambiental, produzida em outro evento paralelo à Rio-92, pelo MEC.

O MEC, em 1993, instala o processo de surgimento da Coordenação deEducação Ambiental do Ministério, que atua nos rumos da Educação Ambientalem nível formal. Em 1994, o MEC e o MMA (através do IBAMA) criam o ProgramaNacional de Educação Ambiental (PRONEA), elaborando estratégias para implan-tação da Educação Ambiental tanto nos níveis formal como não-formal. Neste mes-mo ano, realiza-se na PUC-SP o Terceiro Fórum de Educação Ambiental. Em1995, o IBAMA elaborou as Diretrizes de Educação Ambiental.O evento Rio + 5 ocorreu no Rio de Janeiro, organizado por ONGs em 1997, ondeficou constatado que os compromissos assumidos na Rio-92 não estavam sendocumpridos. À mesma conclusão geral chegaram os delegados de diversos paísesque participaram, nos Estados Unidos (Nova Iorque), da Cúpula da Terra II. Em1997, no Brasil, ocorre a Primeira Conferência Nacional de Educação Ambiental,com participação de dezenas de milhares de pessoas, e a publicação da Declara-ção de Brasília para a Educação Ambiental, ambas organizadas pelo MEC. Aindaneste ano, ocorreu em Guarapari (ES) o Quarto Fórum Brasileiro de EducaçãoAmbiental.A UNESCO promove em Thessaloniki, na Grécia, a Conferência Meio Ambiente eSociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, no ano de1997. Neste evento foi reconhecido que as conferências anteriores não motivaramprogressos suficientes para a implantação do desenvolvimento sustentável, cla-mando pela ação mais efetiva dos governos de todos os países. Uma nova confe-rência foi agendada para 2007, a fim de avaliar os progressos obtidos.No Brasil, em 1998 é promulgada a lei dos crimes ambientais (Lei Nº 9.605/98) e,em 1999, é promulgada a Lei N0 9.795/99.

Em 2001, o I Encontro de Educadores Ambientais para Sociedades Susten-táveis, realizado em Piracicaba, chegou à uma importante conclusão: “encontra-mos as respostas, mas mudaram-se as perguntas”. A Agenda 21 Brasileira conti-nua em discussão, tendo-se chegado a seis documentos temáticos (AgriculturaSustentável, Cidades Sustentáveis, Ciência & Tecnologia para o DesenvolvimentoSustentável, Infra-estrutura e Integração Regional, Gestão do Recursos Naturais eRedução das Desigualdades Sociais). E, dormita no Congresso Nacional o ante-projeto de consolidação das leis ambientais, que permitirá a reunião dos diversosdiplomas legais em um único Código do Meio Ambiente. Em julho de 2001, o En-contro de Pesquisa em Educação Ambiental, realizado na UNESP – Rio Claro,figura como o primeiro evento no qual a Educação Ambiental passa à alçada de

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Ciência e, como tal, inicia a produção de conhecimentos utilizando a metodologiacientífica. Está previsto para 2002 a realização da Rio + 10, na África do Sul.

A proposição da “Hipótese Trífida”

O presente artigo apresenta como conclusão a inédita proposição da “hi-pótese trífida” para a construção do campo epistemológico da educação ambiental.Segundo esta hipótese ora proposta, a história da educação ambiental está dividi-da em três fases:

• 1ª fase: de 1949 a 1972. Neste período, ocorre a criação da ética ambientale da educação ambiental enquanto movimento ativista, revolucionário e contracultural.A educação ambiental está arraigada às comunidades e associações que enfren-tam as questões ecológicas colocadas aos locais e condições em que vivem cadauma delas.

• 2ª fase: de 1972 até 2001. Este longo período viu a educação ambientalser expropriada das comunidades locais e ativas, passando às mãos da ONU edos Estados. A enxurrada de conceitos abstratos e pouco palpáveis estimuloumuitos debates internacionais, poucas ações locais efetivas, a criação de vários efrágeis diplomas legais pelo direito positivo e a apropriação da educação ambientalpela segregada casta dos cientistas.

• 3ª fase: agora. Neste exato momento está-se construindo esta terceirafase da educação ambiental. É um momento de retomada do ideal gestado e con-cebido durante a primeira fase. É a revalorização das ações locais, da compreen-são cordial da relação ser humano – natureza e do desenvolvimento pleno da éticaambiental.

A compreensão de que a terceira fase da educação ambiental é a que traráà humanidade a tranqüilidade necessária para continuar sua evolução no PlanetaTerra, estará motivando todos os agentes sociais a atuarem segundo esses “novos”parâmetros epistemológicos. E o Administrador de Empresas será o principal agentemultiplicador desta fase, levando para o seio da contraditória empresa capitalista,valores éticos, estéticos e humanísticos fortes e estáveis.

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* Mestre em Economia pela UNICAMP e professor da FCECA Padre Anchieta de Jundiaí (SP) e Centro Univer-sitário Unisal de Americana (SP).

A IMPORTÂNCIA DO MICROCRÉDITO:A EXPERIÊNCIA DO GRAMEEN

Adauto R. Ribeiro*

RESUMOO artigo analisa a experiência de implementação do microcrédito em Bangladesh,

através da criação de um banco, o Grameen, criado para suprir a carência de crédito de parte daparcela excluída da população do país. O artigo centra sua análise na concepção inovadoradeste projeto de microcrédito, comparando-o com a linha de crédito executada no Brasil nocontexto do Programa Brasil Empreendedor.

PALAVRAS-CHAVE: microcrédito, Grameen,

ABSTRACTThe article analyses the experience of the implementation of microcredit in Bangladesh

by creating a bank, the Grameen, developed to supply a need for credit from an excluded part ofthe country’s population. The article centers its analysis in an innovative conception of thismicrocredit project, comparing it to a credit line carried out in Brazil inside the Enterprising BrazilProgram.

KEY-WORDS: microcredit, Grameen.

Introdução

O microcrédito é um conceito que vem se expandindo rapidamente emeconomias do terceiro mundo, apresentado como uma alternativa para aliviar osgraves problemas impostos pela situação de subdesenvolvimento existente nessespaíses. De alguma forma, os defensores deste instrumento o colocam como umimportante mecanismo para o estímulo ao desenvolvimento econômico, além deser um programa de estimulo ao auto-emprego e de diminuição da pobreza. As-sim, muitas experiências, aplicadas na forma de programas, oriundos da iniciativaprivada e/ou pública, têm sido executadas nos últimos anos, com a finalidade deimplementar um circuito de crédito e investimentos junto às populações com poucoacesso a esse recurso produtivo.

No Brasil, muitas experiências têm sido executadas com característicasde microcrédito, dentre elas cabe destacar o Programa Brasil Empreendedor, sen-

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do que mais recentemente, proliferaram no país inúmeras instituições denomina-das de Banco do Povo, com a intenção de estabelecer canais de crédito à popula-ção com pouco ou nenhum acesso a esse mercado.

Estes projetos e programas normalmente têm como base a experiênciabem sucedida executada em Bangladesh por Yunus, denominada Banco da Aldeiaou Grameen1 . Desta forma, para avaliar a relevância e o papel transformador domicrocrédito, cabe destacar inicialmente a filosofia com que foi concebido eimplementado o Grameen e levantar algumas questões quanto ao programa execu-tado no Brasil.

1. Idéias básicas da concepção do Grameen

O Grameen é o maior exemplo prático de um projeto de microcrédito cita-do mundialmente , que obteve grande sucesso no seu objetivo de permitir o acessoao crédito para a população de baixa renda de Bangladesh. Sua filosofia consistebasicamente em emprestar pequenos valores à população destituída de todo equalquer meio de produção, possibilitando-lhes desenvolver atividades autônomasque os libertem do círculo vicioso de dependência dos agiotas, que dominam omercado de microcrédito, para que com isso possam deixar a condição de pobrezaabsoluta. Trata-se, portanto, de uma instituição de crédito destinada a oferecerrecursos financeiros à população carente deste recurso produtivo, sendo assim,uma instituição com ação diferenciada das que operam neste “mercado”.

O seu criador, Muhammad Yunus (2000), relata que o projeto começou aser delineado quando verificou que um dos grandes males associados ao estado depobreza da população de seu país se baseava na falta de crédito ou de acesso aomercado de crédito, para a população de baixa renda; basicamente diagnosticou afalta de um suporte financeiro para início, expansão ou manutenção de pequenosnegócios geradores de renda e emprego. Mais especificamente, constatou quefaltava uma instituição que suprisse de baixos valores monetários a população demenor renda que, como não tinha acesso ao mercado de crédito bancário “normal”,recorria ao crédito não formalizado.

Este microcrédito, obtido junto aos agiotas, possibilitava que essa parcelada população efetuasse pequenos investimentos em seu tipo de atividade. No en-tanto, em função das altas taxas de juros cobradas, impedia um maior desenvolvi-mento de novos negócios e sua expansão. Geralmente, a renda gerada pela ativi-dade financiada era tão pequena e os juros tão altos que não permitiam a essaspessoas melhorarem sua condição social e, conseqüentemente, a qualidade devida de seus familiares, especialmente de seus filhos que, desta forma continua-vam crescendo à margem da sociedade. Segundo Yunus (2000), neste sistema,essa parcela da população estava presa a um círculo vicioso da pobreza.

1 A experiência do GRAMEEN pode ser analisada em: Yunus, M. O Banqueiro dos Pobres. Ed. Ática, São Paulo,2000.

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A grave crise social pela qual Bangladesh passou na década de setenta,com milhares de pessoas morrendo de fome, e o título de país mais pobre domundo na década de 80, segundo relatórios do FMI, foram os motivos que impulsi-onaram Yunus a deixar sua dedicação aos estudos e a vida acadêmica para buscaruma ação mais efetiva no combate à pobreza. De imediato, procurou com a colabo-ração de seus alunos, obter um diagnóstico mais preciso sobre a crise, concen-trando-se na dificuldade de acesso ao crédito como a barreira a ser derrubada.

A solução pensada e posta em prática foi a idéia de um banco que conce-desse crédito à população pobre para que pudessem romper o círculo de pobreza.Criou-se então o Grameen, cujo significado é Banco da Aldeia2 . O Banco nãofornece crédito aos consumidores, mas apenas aos produtores. São créditos parainvestimento produtivo, destinados à aquisição de meios de produção ou insumos.

O público alvo para a nova instituição de crédito foi definido como sendo asmulheres de Bangladesh. A estratégia de conceder créditos às mulheres, em umasociedade onde a mulher tem poucos direitos, sendo, portanto, pouco valorizadas,partiu da concepção de que se o crédito fosse repassado a elas, haveria uma maiorcorrespondência em termos de responsabilidade e de apego à oportunidade deutilizarem os créditos no sentido de melhorarem a qualidade de vida da família.

Houve uma série de obstáculos para que se atingisse o objetivo de conce-der crédito a essa população carente, e em especial às mulheres. Obstáculos quevão desde a origem religiosa da região, dominada pela religião muçulmana querestringe a participação da mulher na vida econômica, política e social do país; aalta taxa de analfabetismo; até os problemas de logística em função da populaçãoalvo em sua imensa maioria residir em áreas rurais.

A ação do Grameen foi idealizada para que se concedessem empréstimossem a necessidade de serem exigidas garantias reais, o que é compatível com suafinalidade, já que os empréstimos seriam destinados a quem não possuísse rique-za já acumulada. Basicamente procurou-se montar um sistema de crédito ao tra-balho e não ao capital como é de costume. Desta forma era necessário encontrarum sistema de cessão de crédito, fora dos esquemas de garantias normais dasatuais instituições bancárias, sem que isso se traduzisse em altos índices deinadimplência.

Das possibilidades pensadas para resolver o dilema, destacou-se a con-cessão de crédito solidário, ou seja, um crédito que fosse “assegurado” por umconjunto de pessoas, salientando assim a idéia de solidariedade de todos os com-ponentes de uma determinada comunidade na dívida assumida por um membrodesta comunidade.

A sistemática adotada pelo Grameen consiste em conceder os emprésti-mos a tomadores individuais, no entanto, com responsabilidade de um grupo depessoas, no mínimo cinco mulheres. Este crédito é realizado após um período de

2 Cabe destacar que Bangladesh ainda possui cerca de 80% de sua população vivendo em aldeias, na zona rural,segundo relatório do FMI (dez/1998).

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amadurecimento do projeto a ser implementado, e de aprendizagem sobre o funci-onamento do Banco. Esse período, de discussão do projeto e da forma de ação dobanco é acompanhado e incentivado por funcionários do Banco. A finalidade docrédito obedece a um projeto que é escolhido e elaborado pelos tomadores, tendoem vista suas habilidades e conhecimentos prévios. Não há cursos de formaçãotécnica previstos, ou pretensão de se ensinar as atividades financiadas aostomadores de crédito.

Embora seja necessária a formação de grupos para obtenção do crédito,cada participante é responsável individualmente pelo seu empréstimo. Aos demaismembros cabe a tarefa de acompanhamento e auxílio na aplicação do recurso,ressaltando assim o caráter de solidariedade deste tipo de crédito.

Os pagamentos são efetuados semanalmente, o que possibilita acompa-nhar o investimento de cada um e o sucesso da atividade. Isso diminui o risco dedesvio do objetivo do empréstimo, contribuindo também para reduzir o nível deinadimplência. Além disso, com pagamentos semanais, as quantias pagas emcada parcela não são altas, incentivando o cumprimento dos compromissos emdia.

Como se trata de uma instituição privada, o Grameen pratica taxas dejuros compatíveis com o mercado de crédito do país, sendo, portanto, semelhanteas outras instituições financeiras. Não há qualquer forma de subsídio nos seusempréstimos, no entanto, como os níveis de inadimplência são baixos, suas taxasde juros eliminam esse risco podendo também ser menores, em média, que astaxas que as outras instituições praticam.

Outro aspecto relevante é que, mesmo em casos de inadimplência, inclu-sive devido aos baixos valores envolvidos, não são acionados os complexos e de-morados esquemas jurídicos de recuperação de empréstimos que as outras insti-tuições usam, o que aumentam seus custos. No Grameen, o inadimplente deixade pertencer ao sistema, não terá mais acesso a novos empréstimos e, conse-qüentemente, verá sua chance de deixar a pobreza absoluta ser reduzida. Esseparece ser o mais forte argumento em favor da manutenção das baixíssimas taxasde inadimplência da instituição.

Outro fator que diferencia o Grameen dos demais bancos é sua posturaativa com relação à concessão dos empréstimos, sua ação se dá diretamente nasaldeias divulgando os objetivos e o funcionamento do Banco, incentivando a adesãoà instituição, agindo desta forma como uma espécie de instituição de assistênciasocial, com potencial para incluir os excluídos à economia formal, desde que essaformalização não imponha maiores custos aos microempreendedores, que inviabilizeessa formalização.

A experiência do banco da Aldeia realizou também uma grande transfor-mação ao definir como seu alvo emprestar recursos diretamente à população ca-rente, e não aos já tradicionais e estabelecidos produtores (minimamente capitali-zados), para que esses gerassem emprego e renda. De acordo com Yunus, essa

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opção se deu pela necessidade de inverter o processo usual, pois a ação tradicio-nal executada pelos bancos de emprestar para quem já possuía algum capital, nãotinha alterado os níveis de pobreza absoluta da população.

Emprestando direto aos “sem crédito”, o Grameen possibilitou que estestrabalhassem por conta própria e ficassem com a maior parte do faturamento gera-do, livrando-os dos emprestadores no mercado informal de crédito que se apropria-vam de parte dos rendimentos obtidos. Através desses empréstimos foi possível amilhares de famílias ultrapassarem os limites impostos pela linha da pobreza abso-luta3 , possibilitando-lhes melhor qualidade de vida, e inclusive, como parte obriga-tória na recepção dos empréstimos, que seus filhos passassem a freqüentar aescola, o que foi um grande passo para a melhoria dos índices de alfabetização ede desenvolvimento humano do país.

A experiência deste banco, destacada por Nogueira da Costa (FSP, 15/01/2001), representa, para este autor, uma revolução na lógica de concessão do crédi-to, mas mais do que isso, representa: “também uma revolução feminista contra opatriarcalismo”, e ao buscarem educação , torna-se também uma “revolução cultu-ral”.

II. A EXPERIÊNCIA COM MICROCRÉDITO NO BRASIL

Muitas experiências com microcrédito, ou algo semelhante, têm sido exe-cutadas no Brasil, sob diferentes nomes e formas, no entanto, para efeito desteartigo, vamos nos ater à linha de crédito oficial presente no programa governamen-tal Brasil Empreendedor, visto também que o setor financeiro privado, no caso bra-sileiro, não executa esse tipo de crédito.

Em 1999, o Governo Federal lançou o Programa Brasil Empreendedor4 ,cujo objetivo era alavancar as pequenas e microempresas do país, bem como esti-mular a abertura de novos negócios, visando à geração de emprego e renda. Oprograma parte, como inúmeros outros, da constatação de que a péssima distribui-ção de renda existente no país deve ser combatida imediata e permanentemente.O diagnóstico que antecedeu a essa ação propugnava, como em Bangladesh, queo acesso ao crédito era, e ainda é, um dos grandes problemas que os interessadosem desenvolver sua atividade econômica própria encontram na economia brasileira.

Para colocar em prática este programa, as instituições de crédito e finan-ciamento governamentais, entre elas o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Fe-deral, colocaram em prática as diretrizes de funcionamento da linha de crédito deacordo com a política de implementação do projeto. Desta forma, estas institui-ções obedecendo as determinações governamentais iniciaram a concessão de li-

3 Dados do FMI sobre Bangladesh destacam a redução da pobreza absoluta, entre 1980 e 1998, de 49,9% para35,6 % da população.4 Maiores informações sobre o Programa podem ser obtidos nos sites do Ministério da Fazenda do Brasil, doBanco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, e do Sebrae.

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nhas de crédito, denominados “microgiro”, somente às empresas que possuíssemde 03 a 12 meses de atividade legal, sendo que o valor máximo de concessãodefinido era de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Para ter acesso a essa linha de crédito a empresa deveria estar formal-mente constituída, com mais de 3 meses de atividade, e deveria também passarpor uma análise efetuada pela equipe técnica da instituição financiadora e obter umrating (nota) mínimo, conforme normas determinadas pelo Banco Central para con-cessão deste tipo de crédito.

Nesta análise são avaliados o faturamento da empresa, seu giro financei-ro, o ciclo de estoque e seu fluxo de caixa. Essa análise implica na necessáriaformalização da empresa com todos os custos daí decorrentes. Além disso, exige-se plena idoneidade cadastral dos proponentes, o que significa que a empresa eseus sócios não podem possuir qualquer débito em atraso, registrado nos bancosde dados do sistema financeiro nacional. Obtido o rating mínimo, cabe ainda àempresa, apresentar garantias reais para obtenção do financiamento, não se acei-ta simplesmente um aval pessoal ou de sócios.

Apesar das inúmeras normas de segurança para a concessão do crédito,obviamente com a preocupação de não exceder os valores liberados para uso nes-ta linha e de recuperar esses valores concedidos, essa linha de crédito não tevevida longa, sendo suspensa já em meados de 2000 sob o argumento de que esta-vam ocorrendo altos índices de inadimplência, agravado pelas altas taxas de mor-talidade das empresas com menos de um ano de vida. Com isso,

cancelou-se a parte do programa referente ao apoio à empresas nascen-tes, aquelas com menos de um ano de idade. A nova orientação passou a seroperar apenas com empresas já consolidadas, com mais de um ano de atividade.

Em função do exposto com relação ao microcrédito, sua função e finalida-de, como articulado a partir da experiência executada em Bangladesh, por Yunus,o programa brasileiro apresenta enormes diferenças, de concepção filosófica e deimplementação. No caso brasileiro, na modalidade de crédito Microgiro, observa-seque a linha de crédito se concentrou basicamente em empresas já existentes, eapós alguma experiência com empresas nascentes, em empresas com mais deum ano de atividade, não sendo disponibilizados recursos para a abertura de em-presas e/ou empréstimos para trabalhadores que estavam na informalidade. Aspessoas que possuíam, ou possuem, pequenos negócios na economia informalforam alijadas do programa contrariando, desta forma, a idéia básica de permitir ummelhor acesso ao crédito para quem não o possui, novamente, no Brasil, o créditose concentra nas mãos de quem já possui capital.

Além disso, os pequenos produtores independentes, prestadores de servi-ços ou comerciantes que se candidatam ao crédito geralmente não possuem, emsua quase totalidade, capacidade de manutenção de uma estrutura formalizadanas suas atividades, tampouco garantias reais para a obtenção dos financiamen-tos, o que significa que o objetivo principal do programa, que era conceder crédito

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visando a alavancar negócios tocados por microempresas carentes deste tipo definanciamento não é atingido, por uma falha de análise e escolha dos mecanismosde implementação do programa.

Não é possível exigir aumentos de custos e garantias de quem não aspossui, a atividade de cessão do microcrédito deve estar lastreada em garantiasoutras que não seja a baseada em riqueza acumulada. Se persistir este critério oacesso ao crédito continuará restrito neste segmento5 .

Outro ponto de contraste entre as duas experiências está na conscientizaçãodos tomadores do crédito quanto a sua finalidade e responsabilidade. Para isso, aescolha do Grameen recorreu às mulheres e ao aval solidário. No Brasil não cons-truímos um mecanismo capaz de reproduzir os mesmos efeitos, de manutençãode baixas taxas de inadimplência e de sobrevivência dos projetos financiados. Exe-cutou-se no Brasil um processo de formação profissional dos tomadores de créditovia Sebrae, com cursos para qualificação técnica dos tomadores dos empréstimos,no entanto, aparentemente os resultados não foram satisfatórios.

Desta forma, diferente do programa de microcrédito executado peloGrameen, o Microgiro do Programa Brasil Empreendedor não apresentava a mes-ma facilidade de acesso para o tomador de crédito, impondo-lhe um processo buro-cratizado, e tendo como maior dificuldade a exigência de garantias reais. Alémdisso, o caráter de solidariedade que Yunus conseguiu inserir na distribuição docrédito não foi abordado no programa brasileiro, onde só foram levantadas questõesfinanceiras e organizacionais da empresa solicitante.

Há, no entanto, outras experiências de microcrédito sendo implementadasno Brasil, e entre elas cabe destacar, a do Banco do Povo. Neste caso, há semdúvida uma maior aproximação com a experiência de Bangladesh. São projetosque estão se espalhando pelo país, a partir de experiências e iniciativas munici-pais, com o alto grau de exclusão social em suas cidades. Deve-se destacar, quetambém unidades da federação estão preocupadas em tomar este tipo de iniciati-va, como é o caso do Estado de São Paulo. Cabe, no entanto, em outra ocasião,analisar os avanços conseguidos com estes projetos.

Por fim, é importante ressaltar que o sucesso de um programa demicrocrédito a pequenos empreendedores está diretamente ligado aos destinos daeconomia do país. Se este programa, ao mesmo tempo em que concede recursosfinanceiros aos excluídos do mercado de crédito, ocorrer no contexto de um amploprocesso de redistribuição de renda e crescimento econômico, estarão dadas ascondições para a criação de oportunidades que estes agentes poderão e terãocondições de usufruir. Nestas circunstâncias, o dinamismo econômico resultaráem melhor distribuição de oportunidades e renda. A probabilidade de insucessodestes programas será, no entanto, bastante provável, quando inseridos em um

5 Cabe destacar que o programa vem sendo reformulado para que novas linhas de crédito com inovações quantoà questão de garantias reais sejam reabertas.

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ambiente de estagnação econômica ou incompatibilidades evidentes nos objetivosda política macroeconômica vigente, ou seja, quando o crescimento econômiconão for a meta alvo da política do país, os recursos do microcrédito não passarãode paliativos contra a estagnação resultante da anemia econômica da nação. Cabe,portanto, repensar os programas de microcrédito dentro de um contexto mais am-plo de eliminação da pobreza, obviamente inserido em um ambiente de crescimen-to econômico como objetivo maior da política macro do país, algo que não temocorrido no Brasil.

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