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III ENECS – ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS ANÁLISE BIOCLIMÁTICA PARA GESTÃO DO ESPAÇO URBANO DA PRAIA DE PIPA/ RN Danielle Cristina Souza de Sena, Hyram Dionísio de Andrade, Melissa Brenda Gesteira de Morais, Patrícia Cavicchioli Netto, Sileno Cirne Trindade ([email protected] ) Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo/UFRN. Profa. Dra.Virgínia Maria Dantas De Araújo ([email protected] ) Docente do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo/UFRN. RESUMO Localizado no litoral do município de Tibau do Sul - cerca de 81 Km de Natal, o distrito de Pipa passa por um processo de urbanização impulsionado pelo desenvolvimento acelerado do turismo, provocando a degradação de sua natureza nativa. Este trabalho identificou pontos que aglutinaram características climatológicas dos meios ambiente e urbano através da metodologia de Katzschner (1997): uma descrição qualitativa dos atributos do clima urbano através de uma análise de mapas de uso do solo, topografia, altura dos edifícios, vegetação e pavimentação. Analisou bioclimatologicamente o meio antrópico quanto ao seu sítio e à sua tipologia urbana dentro da metodologia de desenho urbano proposta por Oliveira (1988). Na discussão dos dados levantados, foram identificadas áreas características que integram os elementos próprios do espaço público, apoiando-se naqueles elementos inerentes ao edifício e ao urbano. Em seguida, de forma perceptiva e com a finalidade de complementar os dados para a análise, foi feita uma leitura através da metodologia proposta por Bustos Romero (2001). Identificou-se através das análises, a inadequação do espaço urbano ao volume de atividades relacionadas ao turismo, conduzindo à sua descaracterização, à eliminação da massa arbórea e à visível saturação da atual capacidade da malha viária. Palavras-chave: Análise bioclimática, gestão urbana, intervenção urbana. BIOCLIMATIC ANALYSIS FOR URBAN SPACE MANAGEMENT IN PIPA BEACH AT THE COAST OF RIO GRANDE DO NORTE STATE – BRAZIL ABSTRACT Pipa Beach is located in the municipality of Tibau do Sul – at about 81 Km from Natal, the capital city of the Rio Grande do Norte State, in the Northeast Region of Brazil. The district of Pipa is undergoing an urbanization process due to the growing development of tourism, which has caused an increasing deterioration in its native environment. Within this context, this work identified places that present climatic characteristics of the natural environment and the urban ones, using Katzschner (1997) methodology: a qualitative description of the peculiarities of the urban climate based on an analysis of the maps showing the land use, topography, height of the buildings, vegetation and paving. It also analyzed the bio-climatic aspects of the anthropocentric element concerning its locality and its urban typology within the urban design methodology proposed by Oliveira (1988). The collected data identified characteristic places that integrate the elements peculiar to public spaces, according to elements inherent to a building as well as to an urban environment. Using the researchers’ perception and with view to complement the data analysis, a study was carried out according to the methodology proposed by Bustos Romero (2001). Through the assessment of the collected data, the unsuitability of the urban space to the amount of tourist activities presently developed at the place was established. The environmental changes at Pipa beach, such as the destruction of part of the native vegetation, and the exhaustion of the road system were also observed. Keywords: bioclimatic analysis, urban management, urban planning.

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III ENECS – ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS

ANÁLISE BIOCLIMÁTICA PARA GESTÃO DO ESPAÇO URBANO DA PRAIA DE PIPA/ RN

Danielle Cristina Souza de Sena, Hyram Dionísio de Andrade, Melissa Brenda Gesteira de Morais, Patrícia Cavicchioli Netto, Sileno Cirne Trindade ([email protected]) Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo/UFRN. Profa. Dra.Virgínia Maria Dantas De Araújo ([email protected]) Docente do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo/UFRN. RESUMO Localizado no litoral do município de Tibau do Sul - cerca de 81 Km de Natal, o distrito de Pipa passa por um processo de urbanização impulsionado pelo desenvolvimento acelerado do turismo, provocando a degradação de sua natureza nativa. Este trabalho identificou pontos que aglutinaram características climatológicas dos meios ambiente e urbano através da metodologia de Katzschner (1997): uma descrição qualitativa dos atributos do clima urbano através de uma análise de mapas de uso do solo, topografia, altura dos edifícios, vegetação e pavimentação. Analisou bioclimatologicamente o meio antrópico quanto ao seu sítio e à sua tipologia urbana dentro da metodologia de desenho urbano proposta por Oliveira (1988). Na discussão dos dados levantados, foram identificadas áreas características que integram os elementos próprios do espaço público, apoiando-se naqueles elementos inerentes ao edifício e ao urbano. Em seguida, de forma perceptiva e com a finalidade de complementar os dados para a análise, foi feita uma leitura através da metodologia proposta por Bustos Romero (2001). Identificou-se através das análises, a inadequação do espaço urbano ao volume de atividades relacionadas ao turismo, conduzindo à sua descaracterização, à eliminação da massa arbórea e à visível saturação da atual capacidade da malha viária. Palavras-chave: Análise bioclimática, gestão urbana, intervenção urbana. BIOCLIMATIC ANALYSIS FOR URBAN SPACE MANAGEMENT IN PIPA BEACH

AT THE COAST OF RIO GRANDE DO NORTE STATE – BRAZIL ABSTRACT Pipa Beach is located in the municipality of Tibau do Sul – at about 81 Km from Natal, the capital city of the Rio Grande do Norte State, in the Northeast Region of Brazil. The district of Pipa is undergoing an urbanization process due to the growing development of tourism, which has caused an increasing deterioration in its native environment. Within this context, this work identified places that present climatic characteristics of the natural environment and the urban ones, using Katzschner (1997) methodology: a qualitative description of the peculiarities of the urban climate based on an analysis of the maps showing the land use, topography, height of the buildings, vegetation and paving. It also analyzed the bio-climatic aspects of the anthropocentric element concerning its locality and its urban typology within the urban design methodology proposed by Oliveira (1988). The collected data identified characteristic places that integrate the elements peculiar to public spaces, according to elements inherent to a building as well as to an urban environment. Using the researchers’ perception and with view to complement the data analysis, a study was carried out according to the methodology proposed by Bustos Romero (2001). Through the assessment of the collected data, the unsuitability of the urban space to the amount of tourist activities presently developed at the place was established. The environmental changes at Pipa beach, such as the destruction of part of the native vegetation, and the exhaustion of the road system were also observed. Keywords: bioclimatic analysis, urban management, urban planning.

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1. INTRODUÇÃO

A atividade turística vem se consolidando, nos últimos anos, como uma das principais fontes de desenvolvimento econômico para o estado do Rio Grande do Norte, especificamente na sua capital - Natal - e municípios litorâneos adjacentes. Dentro deste contexto, a praia de Pipa - localizada a 81 Km de Natal (Figura 02), vem passando por transformações no seu tecido urbano que levam à descaracterização do local, outrora típico de praia de veraneio, que agora alcança o status de ponto turístico nacional e internacional. Esta mudança de característica trouxe consigo os malefícios de uma expansão urbana ocorrida de forma rápida e sem controle, baseada no aumento da demanda da atividade turística que exigiu a adaptação da estrutura urbana existente.

Figura 01- Mapa do Rio Grande do Norte. Fonte: www.guianet.com.br/rn/maparn.htm

Figura 02 - Localização da área objeto de estudo

Fonte: www.natal.com.br/mapa.htm

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Este trabalho procura, através de análises bioclimáticas, oferecer subsídios a futuras intervenções que venham a controlar a expansão urbana da praia de Pipa. Para isso, foram utilizadas três metodologias de análise: a primeira, proposta por Katzchner (1997) tem como finalidade elaborar uma avaliação das condições do clima urbano, quanto ao conforto térmico e qualidade do ar, visando subsidiar propostas de planejamento, que podem se dar desde a escala urbana até o nível de espaços livres em torno das edificações. Katzchner sugere através da elaboração de mapas (topografia, altura das edificações, vegetação, uso do solo) da área estudada, que sejam identificadas os espaços que devem ser protegidos ou melhorados em função das condições micro-climáticas. A segunda metodologia, desenvolvida por Oliveira (1988), busca oferecer bases para o desenho urbano voltado para a redução dos impactos ambientais e do consumo energético, através da análise dos atributos bioclimatizantes da forma urbana, quanto ao sítio e quanto à tipologia urbana. O sítio é analisado segundo seu relevo e natureza do solo, enquanto a massa edificada é analisada em cinco categorias de elementos: formato, rugosidade, porosidade, permeabilidade e vegetação. Estes elementos do sítio e da tipologia urbana são compostos por seus respectivos atributos bioclimatizantes e são avaliados segundo sua adequação às expectativas sociais de conforto e de conservação de energia. Neste trabalho, quanto a metodologia de Oliveira, foi realizada apenas a análise qualitativa, identificando as características locais segundo cada atributo. A partir dos resultados das análises realizadas pelos dois métodos acima mencionados, foram definidos três pontos considerados relevantes dentro da área estudada, onde se aplicou a terceira metodologia, proposta por Bustos Romero (2001). Nela o espaço urbano é analisado segundo seus elementos ambientais, climáticos, históricos, culturais e tecnológicos, através de uma análise descritiva dos elementos que formam este espaço e suas inter-relações, de forma a selecioná-los como fundamentais para o seu tratamento e para a elaboração de futuras propostas. A metodologia divide o espaço em três componentes básicos: entorno, que compreende o espaço urbano mais imediato ao espaço público em questão; a base, que corresponde ao espaço sobre a qual está assentado o espaço público; e a fronteira constituída pelo espaço que forma o limite ou marco do espaço arquitetônico em questão. Estes componentes são analisados de forma perceptiva através do preenchimento de fichas bioclimáticas e são sub-divididos em elementos que os caracterizam espacial e ambientalmente. Na ótica espacial o entorno identifica os acessos espaciais que o espaço público oferece aos elementos ambientais (sol, ventos e som), assim como características da massa construída e a condução do ar entre os edifícios. A base identifica elementos como: pavimentos, vegetação, presença de água e mobiliário urbano. A fronteira identifica elementos como continuidade da superfície fronteira e a tipologia dos edifícios. Na visão ambiental, os componentes espaciais são avaliados por meio da observação do entorno climático, da estética da luz, dos atributos da cor e do espaço do som. 2. ANÁLISE DOS ATRIBUTOS DA FORMA URBANA Topografia - A topografia da praia de Pipa apresenta-se com as características próprias do litoral sul do Rio Grande do Norte, ou seja, formações de falésias e dunas próximas ao mar. Especificamente na área estudada observa-se uma topografia gerada por dunas, com cotas que chegam a 70 m acima do nível do mar. É possível observar que a ocupação do solo se desenvolveu ao longo do trecho com declividade mais suave (5 a 25 m) em relação ao

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entorno, uma vez que a leste da área estudada há uma grande duna – Morro da Velha Vicência – que atinge a maior cota do entorno. Esta topografia bastante acidentada aliada à orientação norte do mar neste trecho do litoral, fazem com que a ventilação seja canalizada por entre as dunas e as ruas, gerando um comportamento atípico dos ventos (Figura 03).

OCEANO ATLÂNTICO

0 a 5 m

5 a 15 m

15 a 25 m

25 a 35 m

35 a 45 m

45 a 55 m

55 a 65 m

65 a 75 m

LEGENDA:

400 m2001000 50 Figura 03 - Mapa de Topografia da área objeto de estudo.

Fonte: Secretaria do Patrimônio da União - RN. Uso do solo – O uso do solo é bem diversificado, possuindo os mais diversos tipos de uso. Possui concentração de usos em áreas bem distintas, o que facilita a sua caracterização. Na parte baixa – beira-mar – concentra-se o uso residencial de veraneio com um pequeno conjunto de comércio numa área de apoio aos banhistas (barracas), e na extensão da Avenida Baía dos Golfinhos concentram-se os usos de comércio e serviços que demandam estrutura viária para abastecimento (Figura 04).

OCEANO ATLÂNTICO

LEGENDA:

200 m1000 50

RESIDENCIAL

COMÉRCIO ABANDONADO

INSTITUCIONAL

SERVIÇO VAZIO Figura 04 - Mapa de Uso do Solo da área objeto de estudo.

Fonte: Elaboração própria a partir de mapa da Secretaria do Patrimônio da União - RN.

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Altura das edificações – A área em estudo apresenta pequena diversificação em relação à altura das edificações, sendo a sua maioria térrea. O gabarito máximo permitido pela legislação municipal é de 7,5 metros de altura em 02 pavimentos (térreo e 1º pavimento), porém percebem-se alguns poucos casos, anteriores à legislação, onde esse limite é um pouco ultrapassado. A própria topografia da área, bastante acidentada, torna difícil a identificação das alturas pelo observador, camuflando ou acentuando algumas alturas fora do controle dos 7,5 metros (Figura 05).

LEGENDA:

OCEANO ATLÂNTICO

200 m1000 50

EDIFICAÇÕES TÉRREAS

EDIFICAÇÕES COM TÉRREO + 1 PAV.

EDIFICAÇÕES COM TÉRREO + 2 PAV. Figura 05- Mapa de Altura das Edificações da área objeto de estudo.

Fonte: Elaboração própria a partir de mapa da Secretaria do Patrimônio da União - RN. Pavimentação – Dentro da área de estudo, todas as vias principais de circulação de automóveis são pavimentadas (paralelepípedo), incluindo algumas ruas secundárias. Alguns poucos caminhos - preferencialmente de circulação de pedestres - não recebem pavimentação. É importante observar que esta característica é peculiar à área estudada, por se tratar da zona central. No entanto, no restante da zona urbana da praia de Pipa predomina a ausência de pavimentação (Figura 06).

LEGENDA:

OCEANO ATLÂNTICO

200 m1000 50RUAS PAVIMENTADAS

RUAS SEM PAVIMENTAÇÃO

Figura 06 - Mapa de Pavimentação da área objeto de estudo.

Fonte: Elaboração própria a partir de mapa da Secretaria do Patrimônio da União - RN.

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Áreas verdes – Nas áreas estudadas, a vegetação apresenta-se escassa, apesar de ser abundante na paisagem cênica do sítio. Percebe-se somente alguns resquícios de vegetação não-nativa no interior dos lotes que se encontram nos locais com maior concentração de atividades humanas. Já nas áreas mais afastadas da área de estudo, a vegetação nativa ainda é abundante (Figura 07).

OCEANO ATLÂNTICO

200 m1000 50ÁREAS VERDES

LEGENDA:

Figura 07 - Mapa de Vegetação da área objeto de estudo.

Fonte: Elaboração própria a partir de mapa da Secretaria do Patrimônio da União - RN. 3. ANÁLISE DOS ATRIBUTOS BIOCLIMATIZANTES Quanto ao Sítio Relevo–Declividade – Observando-se o mapa de topografia da área em estudo, nota-se claramente a forte declividade entre a trecho adensado e o nível do mar, proporcionando à superfície maiores trocas térmicas com o meio. Esta forte declividade, apesar de favorecer o escoamento das águas pluviais, demonstra que a área não é favorável bioclimaticamente segundo este atributo. Relevo–Orientação – A declividade da área estudada é voltada para o Norte (situação atípica neste trecho do litoral), o que proporciona pouca ventilação e, principalmente no inverno, a ocorrência de insolação durante quase todo o dia. Portanto, a orientação do relevo não é adequada ao controle bioclimático. Relevo–Conformação geométrica – Por ser um sítio convexo, a área apresenta-se como de conformação adequada ao controle bioclimático, uma vez que expõe a superfície às trocas térmicas e ventilação. Relevo–Altura relativa – A altura relativa do sítio estudado mostra-se adequada ao clima quente – úmido, com altura igual à aproximadamente 1/6 da largura entre os limites da área em estudo.

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Solo–Natureza - O solo da área estudada é predominantemente arenoso, por se tratar de formações de dunas, com ocorrência no entorno de falésias, com terreno argiloso. O solo arenoso, apesar de favorecer a infiltração das águas pluviais, proporciona maior incidência da radiação pelo seu alto albedo. Quanto a Tipologia Urbana Formato-Horizontalidade – Forma urbana alongada, oferecendo maiores possibilidades de trocas térmicas com o meio circundante, favorável ao clima quente-úmido. Formato-Verticalidade – Presença de edificações de um a dois pavimentos em toda a extensão da área de estudo, sendo esta classificada - quanto ao consumo energético - como baixa, pois, quanto maior a edificação, maior a utilização de materiais construtivos, o que proporciona o aumento do consumo de energia. Formato-Densidade/Ocupação do solo – A área em estudo apresenta uma densidade considerada baixa, por estar circundada por uma extensa vegetação natural, cuja captação e difusão da radiação solar para o ambiente climático urbano é amenizada. Formato-Orientação ao sol – Quanto à orientação ao sol, a área apresenta sentido da trama considerado L-O. Porém, o mais recomendado para o clima quente-úmido é o sentido N-S. Rugosidade–Diversidade de alturas – A área de estudo não é caracterizada por diversidade de alturas, possuindo edificações de até dois pavimentos. Porém, como a topografia é acidentada, esta irá determinar a ventilação nos espaços urbanos. Rugosidade–Fragmentação – A área estudada, baseada neste atributo, é caracterizada como baixa, apesar das edificações apresentarem recuos laterais e frontais mínimos ou inexistentes, sendo observada no mapa local a presença de vazios intralotes e de recuos de fundo das edificações, além de este espaço urbano situar-se dentro de uma área natural, favorecendo a classificação determinada baixa a este atributo. Rugosidade–Diferencial de alturas – Predominam as edificações de um a dois pavimentos em toda a área estudada. Porosidade–Tipo de trama – O tipo de trama apresentado na área em questão é considerado aleatório com tendência ao paralelismo. Este tipo é o menos adequado para o clima quente-úmido. Porosidade–Orientação dos ventos – Como o tipo de trama encontrado é aleatório, apenas alguns lotes possuem orientações adequadas, permitindo a penetração dos ventos e a perda do calor por convecção. Aqueles que não se encontram orientados ao vento são parcialmente ventilados devido à “canalização” do vento predominante, como é o caso da avenida Baía dos Golfinhos. Em outros pontos, observou-se a ausência quase que total da ventilação, por situarem-se em regiões de “vales”, que propiciam a formação de bolsões de ar estagnado (encontrado na área da praia, próximo à igreja). Porosidade–Continuação da trama – A trama é considerada irregular, que para o clima quente-úmido é pouco favorável em termos bioclimáticos.

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Pisos/Tetos–Permeabilidade – As ruas são pavimentadas, porém sem recobrimento de vegetação adequado, o que permitiria maior captação e absorção-evaporação das águas. Áreas verdes – A área encontra-se circundada por uma extensa vegetação nativa, ajudando a: controlar a temperatura urbana; aumentar a umidade do ar; direcionar os ventos adequadamente; distribuir o brilho energético; captar os poluentes do ar e, principalmente, diminuir os efeitos negativos da radiação. 4. ANÁLISE BIOCLIMÁTICA DO ESPAÇO PÚBLICO NA ÁREA DE ESTUDO A terceira metodologia utilizada na análise bioclimática da praia de Pipa/RN, foi a proposta por Bustos Romero (2001) que enfoca uma análise do espaço público e o seu tratamento ambiental. Para a análise dos espaços públicos no caso específico de Pipa, foram identificados três pontos estratégicos - para a aplicação das fichas bioclimáticas - decorrentes das análises feitas nas metodologias anteriores. O primeiro ponto identificado foi o espaço caracterizado pela Avenida Baía dos Golfinhos, por se tratar do acesso principal à região e por se comportar como um espaço de múltiplos usos. O segundo ponto identificado foi o largo da igreja católica, caracterizado por ser um dos acessos mais utilizados à praia pelos usuários, utilizado também como estacionamento. O terceiro ponto identificado foi o entorno da loja de material de construção, a “Construjá”, por se caracterizar como uma área tipicamente residencial dos nativos da região (Figura 08). Após a identificação dos três pontos, foram aplicadas as fichas bioclimáticas (ver figuras 09 a 11), e a partir destas, foi elaborada uma comparação/síntese considerando os aspectos mais relevantes deste estudo, complementada com imagens fotográficas tiradas no local.

PONTO 01

PONTO 02

PONTO 03

OCEANO ATLÂNTICO

LEGENDA:

200 m1000 50 Figura 08 - Mapa dos Pontos de Análise na área objeto de estudo.

Fonte: Elaboração própria a partir de mapa da Secretaria do Patrimônio da União - RN.

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Características do entorno O entorno dos três espaços públicos analisados, caracteriza-se por gerar uma média influência nestes espaços, onde alguns aspectos são fortemente rebatidos e outros não causam nenhuma interferência. Acessos/Orientação/Condução - Sol, som e ventos - todos os espaços analisados apresentam-se abertos à radiação solar, exceto o ponto 03 que encontra nas dunas ao leste, uma barreira natural às radiações nas primeiras horas do dia. Os sons produzidos no entorno causam pequena interferência nos espaços, exceto no ponto 03 que por se comportar como ponto de convergência, caracterizado como nó no sistema viário, trás para si a reunião dos sons destas ruas. O ponto 02 possui uma particularidade influenciada pela sazonalidade, quando no período de alta estação, os sons produzidos pelos usuários das barracas na faixa de areia promovem um ruído neste espaço. Já com relação aos ventos, o entorno favorece a sua passagem e condução uma vez que a entrada de ventos pela orientação sudeste, sofre canalização, devido à presença de dunas ao leste, causando o efeito funil. No ponto 01, este aspecto é bastante expressivo por se tratar de uma avenida paralela à orientação dos ventos. No ponto 02, existe uma redução, por se tratar de uma área que tem na topografia uma barreira aos ventos, porém são conduzidos pelas ruas adjacentes. Continuidade da massa - Cada ponto possui uma característica específica com relação à massa edificada do entorno. No ponto 01, esta massa é fragmentada em relação às quadras e compacta em relação ao passeio público. No ponto 02, não há continuidade por estar próxima ao mar. No ponto 03, a massa é fragmentada por haver uma adaptação à topografia. Sensação de cor - É nítida graças à luz incidente. No geral predominam as cores da natureza, em tons de verde e marrom. Ressonância do recinto - Nos três pontos analisados, a superfície do entorno não configura um recinto, sem a possibilidade de criar vibrações ocasionadas por algum anteparo. Clima - Quanto à umidade relativa, foi constatado que no entorno de todos os pontos analisados ela se apresenta maior em comparação aos espaços, por se tratar de áreas menos densas, principalmente no ponto 03, que sofre grande influência da massa arbórea do Morro da Velha Vicência. Quanto à temperatura do ar, foi constatado que ela é menor no entorno de todos os três espaços analisados. E quanto à velocidade do vento, foi observado que é maior no entorno dos espaços analisados, com uma particularidade para o ponto 03, que devido à presença do morro, a área apresenta dois comportamentos distintos para o entorno que está a sotavento, com a velocidade do ar reduzida, e para o que está a barlavento, onde a velocidade é acentuada pela inexistência de barreiras. Características da base De um modo geral, a base dos três espaços públicos possui diversas características em comum quanto aos componentes analisados.

Pavimentação - em todos os três espaços analisados o piso da base é revestido com pedra granilítica que absorve uma parte da radiação solar, transformando em energia térmica e reflete outra parte.

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FICHA BIOCLIMÁTICA DO ESPAÇO PÚBLICO ( PIPA/RN ) – PONTO 01 - AV. BAÍA DOS GOLFINHOS

ESPACIAIS AMBIENTAIS SOL - Totalmente exposta ao sol devido à orientação sudeste e à ausência de vegetação de médio e grande portes.

SENSAÇÃO DE COR - Predominam as cores da natureza (tons de verde e marrom).

CO

R

VENTO - O entorno não apresenta barreiras à passagem do vento.

RESSONÂNCIA DO RECINTO - Inexistente. A superfície do entorno não configura um recinto. SOMBRA ACÚSTICA - Inexistente.

SOM

ACES

SOS

SOM - Pequena interferência dos ruídos do entorno, ocorrendo de forma pontual em algumas ruas adjacentes, como a Rua da Gameleira.

DIRETA - Abundante. DIFUSA - Abundante devido às nuvens (clima quente e úmido) REFLETIDA - Escassa.

RAD

IAÇÃO

CONTINUIDADE DA MASSA - Fragmentada em relação às quadras e compacta em relação ao passeio público (escala do observador).

ENTO

RN

O

CONDUÇÃO DOS VENTOS - o entorno reforça a orientação sudeste devido a existência da grande duna, canalizando o vento.

UMIDADE RELATIVA - Maior no entorno TEMPERATURA DO AR - Mais baixa no entorno VELOCIDADE DO VENTO - Maior no entorno

ÁREA DA BASE -

TEMPERATURAS SUPERFICIAIS - Elevada na rua e amena próximo aos edifícios. ALBEDO - Baixo, devido a baixa refletância do material.

CLIM

A

PAVIMENTOS - Pedra granilítica. VEGETAÇÃO - Frutíferas isoladas e pontuais e arbustivas de pequeno e médio porte.

AMBIENTE SONORO - Ruidoso, constituído por sons próprios de ruas movimentadas (carros, pessoas falando).

SOM

ÁGUA - Inexistente

VARIAÇÃO SAZONAL - Inexistente. CONJUNTO DE CORES - Cores frias. TONALIDADE - dominante tonal cinza (neutra).

CO

R

A BA

SE

CO

MPO

NEN

TES

E PR

OPR

IED

ADES

SIC

AS D

OS

MAT

ERIA

IS

MOBILIÁRIO URBANO - Iluminação pública/ sinalização.

MANCHAS DE LUZ - Variada de acordo com o sombreamento ao longo do dia ESTÉTICA DA LUZ - Não há uso intencional, nem da luz artificial nem da natural.

CONVEXIDADE CONTINUIDADE DA SUPERFÍCIE - Existe continuidade, porém fragmentada pela alternância de alturas e de cheios e vazios.

LUMINÂNCIA - Baixa

TIPOLOGIA ARQUITETÔNICA - Características da arquitetura vernacular, com varandas e telhados aparentes (barro e piaçava), pilares de madeira da região (guabiraba). ABERTURAS - Poucas aberturas formadas por ruas estreitas e vielas.

INCIDÊNCIA DA LUZ - Direta e indireta. DIREÇÃO DO FLUXO - Normal à fonte.

LUZ

TENSÃO - Movimento gerado por varandas e variação de aberturas. DETALHES ARQUITETÔNICOS - Uso intenso de materiais naturais como a madeira. Ausência de muros frontais.

ABSORÇÃO - Grande capacidade de absorção. REFLEXÃO - Baixa.

CLIM

A

NÚMERO DE LADOS - 2 lados.

MATIZES - No geral prevalece o tom pastel da matriz marrom dos elementos rústicos (madeira, barro) e cores primárias e secundárias de forma pontual, gerando um conjunto harmonioso e interessante CLARIDADE - Há uma variação na claridade pela presença de cheios e vazios.

CO

R

ALTURA - Varia de 1 a 3 pavimentos.

PERSONALIDADE ACÚSTICA - dinâmica, marcada pelo trânsito, burburinho e música dos bares.

SOM

A

FRO

NTE

IRA

ÁREA TOTAL DA SUPERFÍCIE

Fonte: Autores

Fonte: Autores

Fonte: Autores

Fonte: Autores

QUALIDADE SUPERFICIAL DOS MATERIAIS - Grande inércia térmica, maus absorventes do som.

Figura 09 - Ficha Bioclimática do Espaço Público - Ponto 01 Fonte: Elaboração própria a partir de BUSTOS ROMERO (2001)

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FICHA BIOCLIMÁTICA DO ESPAÇO PÚBLICO (PIPA/RN) - PONTO 02 - LARGO IGREJA

ESPACIAIS AMBIENTAIS SOL - Aberto à passagem do sol, com ausência de áreas sombreadas.

SENSAÇÃO DE COR - Predominam as cores da natureza (tons de verde e marrom).

CO

R

VENTO - O entorno imediato não apresenta barreiras à passagem do vento.

RESSONÂNCIA DO RECINTO - Inexistente. Por se tratar de um espaço aberto. SOMBRA ACÚSTICA - Inexistente.

SOM

ACES

SOS

SOM - Os ruídos são de baixa intensidade, com aumento sazonal devido às barracas de praia próximas ao local.

DIRETA - Abundante. DIFUSA - Abundante devido às nuvens (clima quente e úmido). REFLETIDA - Pontual, gerada pela faixa de areia.

RAD

IAÇÃO

CONTINUIDADE DA MASSA - Não há continuidade por estar próxima ao mar.

ENTO

RN

O

CONDUÇÃO DOS VENTOS - o entorno forma barreiras através da topografia, porém conduz os ventos pelas ruas adjacentes

UMIDADE RELATIVA - Maior no entorno. TEMPERATURA DO AR - Mais baixa no entorno. VELOCIDADE DO VENTO - Maior no entorno.

ÁREA DA BASE -

TEMPERATURAS SUPERFICIAIS - Elevadas. ALBEDO - Baixo.

CLIM

A

PAVIMENTOS - Pedra granilítica. VEGETAÇÃO - Escassa.

AMBIENTE SONORO - Calmo. Usado como passagem, recebedor de ruídos externos.

SOM

ÁGUA - Pontual, ocasionada pelo escoamento de águas pluviais.

VARIAÇÃO SAZONAL - Inexistente. CONJUNTO DE CORES - Neutras e frias. TONALIDADE - Dominante tonal cinza (neutra)

CO

R

A BA

SE

C

OM

PON

ENTE

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PRIE

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FÍSI

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DO

S M

ATER

IAIS

MOBILIÁRIO URBANO - Escasso. Apenas placas de sinalização.

MANCHAS DE LUZ - Inexistente, por se tratar de espaço aberto, contornado por superfícies de cor branca. ESTÉTICA DA LUZ - Nula. Não há uso intencional, nem da luz artificial nem da natural.

CONVEXIDADE CONTINUIDADE DA SUPERFÍCIE - Não há continuidade pela presença das ruas e espaço aberto para a praia.

LUMINÂNCIA - Alta. Devido à radiação direta e superfícies claras.

TIPOLOGIA ARQUITETÔNICA - Edificações simples com predomínio de telhado de duas águas (casas tipicamente de veraneio com varandas e telhas de barro). ABERTURAS - Aberturas, formadas pelas ruas de acesso e a abertura para a praia.

INCIDÊNCIA DA LUZ - Direta. DIREÇÃO DO FLUXO - Normal à fonte.

LUZ

TENSÃO - Pequena tensão causada pela abertura voltada para o mar DETALHES ARQUITETÔNICOS - Ausência de detalhes, exceto pelo frontão da igreja

ABSORÇÃO - Muito baixa. REFLEXÃO - Alta.

CLIM

A

NÚMERO DE LADOS - 5 lados

MATIZES - Prevalecem os tons neutros. CLARIDADE - Isocromia.

CO

R

ALTURA - Predominância de casas térreas.

PERSONALIDADE ACÚSTICA - É sazonal e variada de acordo com o horário do dia.

SOM

A

FRO

NTE

IRA

ÁREA TOTAL DA SUPERFÍCIE

Fonte: Autores

Fonte: Autores

Fonte: Autores

Fonte: Autores

QUALIDADE SUPERFICIAL DOS MATERIAIS - Boa inércia térmica dos materiais.

Figura 10 - Ficha Bioclimática do Espaço Público - Ponto 02 Fonte: Elaboração própria a partir de BUSTOS ROMERO (2001)

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FICHA BIOCLIMÁTICA DO ESPAÇO PÚBLICO (PIPA/RN) - PONTO 03 - ENTORNO DA “CONSTRUJÁ”

ESPACIAIS AMBIENTAIS SOL - Encontra como barreira natural nas primeiras horas do dia, as dunas ao Leste.

SENSAÇÃO DE COR - Predominam as cores da natureza (tons de verde e marrom).

CO

R

VENTO - O entorno não interfere na passagem dos ventos e ainda sofre canalização devido à presença das dunas.

RESSONÂNCIA DO RECINTO - Apesar da existência da duna, o som antes de alcançá-la se perde devido às condições da massa edificada, que se comporta de forma fragmentada. SOMBRA ACÚSTICA - Inexistente.

SOM

ACES

SOS

SOM - Grande interferência do entorno por se comportar como ponto de convergência, como local de passagem.

DIRETA - Abundante. DIFUSA - Abundante devido às nuvens (clima quente e úmido). REFLETIDA - Escassa.

RAD

IAÇÃO

CONTINUIDADE DA MASSA - Fragmentada, fruto de uma ocupação espontânea numa adaptação à topografia.

ENTO

RN

O

CONDUÇÃO DOS VENTOS - Os ventos sudeste estão canalizados pela duna.

UMIDADE RELATIVA - Maior no entorno (grande influência da duna). TEMPERATURA DO AR - Mais baixa no entorno. VELOCIDADE DO VENTO - A área apresenta dois comportamentos distintos. O entorno que está a sotavento da duna apresenta a velocidade do vento reduzida e no restante do entorno a velocidade é acentuada por não apresentar nenhuma barreira.

ÁREA DA BASE -

TEMPERATURAS SUPERFICIAIS - Elevada. ALBEDO - Baixo.

CLIM

A

PAVIMENTOS - Pedra granilítica. VEGETAÇÃO - Escassa, limitando-se a arbustos no canteiro central.

AMBIENTE SONORO - Calmo. Usado como passagem, recebedor de ruídos externos.

SOM

ÁGUA - Inexistente.

VARIAÇÃO SAZONAL - Inexistente. CONJUNTO DE CORES - Neutras e frias TONALIDADE - Dominante tonal neutra.

CO

R A

BASE

CO

MPO

NEN

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E PR

OPR

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ADES

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MAT

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IS

MOBILIÁRIO URBANO - Iluminação pública/ sinalização.

MANCHAS DE LUZ - Não existe nenhum elemento que promova a variação da intensidade da luz. ESTÉTICA DA LUZ - Nula. Não há uso intencional, nem da luz artificial nem da natural.

CONVEXIDADE CONTINUIDADE DA SUPERFÍCIE - Há continuidade, porém não ocorrendo de forma linear devido ao local se comportar como ponto de convergência de vias e a mudança de topografia.

LUMINÂNCIA - Baixa. Não há superfícies refletoras.

TIPOLOGIA ARQUITETÔNICA - Predomínio de edificações com características de vilarejo de praia: telhado com duas águas, muro baixo, presença de terraços que utilizam o espaço público (calçadas) como espaço privado. ABERTURAS - Limitam aos recuos entre as edificações.

INCIDÊNCIA DA LUZ - Direta sobre os planos verticais. DIREÇÃO DO FLUXO - Oblíquo aos planos verticais.

LUZ

TENSÃO - Ocorre devido a falta de alinhamento de algumas edificações em relação às vias e das vias em relação à ortogonalidade DETALHES ARQUITETÔNICOS - Destaca-se a preocupação com o uso das cores.

ABSORÇÃO - Grande capacidade de absorção dos materiais compostos nas fachadas, devido à grande inércia térmica. REFLEXÃO - Escassa.

CLIM

A

NÚMERO DE LADOS - 3 lados.

MATIZES - Apresentam contrastes. CLARIDADE - É uniforme.

CO

R

ALTURA - Predominância de casas térreas.

PERSONALIDADE ACÚSTICA - Composta de ruídos das atividades afins (comercial, residência), enfatiza-se a musicalidade com sons altos.

SOM

A

FRO

NTE

IRA

ÁREA TOTAL DA SUPERFÍCIE

Fonte: Autores

Fonte: Autores

Fonte: Autores

Fonte: Autores

QUALIDADE SUPERFICIAL DOS MATERIAIS - Possuidores de grande inércia térmica.

Figura 11 - Ficha Bioclimática do Espaço Público - Ponto 03 Fonte: Elaboração própria a partir de BUSTOS ROMERO (2001)

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Vegetação - nos três espaços analisados a vegetação é escassa, limitando-se a arbustos e frutíferas isolados nos pontos 01 e 02 e a arbustos no canteiro central no ponto 03. Mobiliário urbano - nos três espaços, estes elementos limitam-se à iluminação pública e a sinalização. Temperaturas superficiais/Albedo - a temperatura é elevada devido às características do material da base e o albedo é baixo devido a baixa refletância deste material. Ambiente sonoro - difere-se no ponto 01 por se tratar de uma rua movimentada com sons próprios ocasionados por carros, burburinho, caracterizando por um ambiente ruidoso. Nos pontos 02 e 03 caracteriza-se como calmo, por se comportar como local de passagem. Cores - destacam-se as cores frias, com o predomínio da tonalidade cinza. Luz - Quanto às manchas de luz, não existem nos espaços analisados elementos que promovam a variação da intensidade da luz, exceto o sombreamento dos edifícios ao longo do dia. Com relação a estética da luz, não há em nenhum dos três espaços, a preocupação com o uso intencional da luz natural, nem da artificial. Características da superfície fronteira Dos três componentes dos espaços públicos analisados, este é o que apresentou mais características particulares a cada um, tendo destaque para os detalhes arquitetônicos, que são bastante diferentes devido à multiplicidade de uso de cada espaço. Continuidade da superfície - cada um dos três espaços mostrou possuir particularidades, quanto a este aspecto. No ponto 01, existe continuidade, porém é fragmentada pela rugosidade e pela presença de cheios e vazios. No ponto 02 não há continuidade, devido aos recuos laterais das edificações e ao espaço que se abre para a praia. No ponto 03, há continuidade, porém não ocorre de forma linear, devido ao local ser um ponto de convergência. 6. DIRETRIZES Como forma de repensar a questão urbana, refletindo sobre a qualidade de vida, as diretrizes são propostas como uma ação conceituada e orientada pela concepção do bioclimatismo, ou seja, que todo o repertório do meio ambiente urbano de Pipa, o qual vem sofrendo a descaracterização descrita, conjugue-se para uma gestão que iniba as ações predatórias do turismo como atividade de crescimento sem a devida interação, harmonia e conformidade com a ordem cultural e social da área. Com o estudo do clima, torna-se importante acrescentar a compreensão da mecânica que gerou o “status quo” da área, seus princípios e entendimentos sobre o que precisa e deve ser controlado para que o desenvolvimento mal fomentado não destrua a ambiência natural e espontânea, e a rusticidade que caracteriza Pipa. Para a tipologia do tecido urbano propõe-se a reordenação e ampliação do sistema viário, através da expansão da infra-estrutura urbana para fora da área do ponto 01, um remanejamento do fluxo de transportes, com definição e apontamento de áreas para tráfego e estacionamento, utilizando e respeitando os fatores climáticos locais quando da definição hierárquica das vias como vetores de crescimento. Some-se a isso a necessidade de se criar,

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através de ferramentas de planejamento, uma legislação que regule o uso, crescimento e expansão da estrutura urbana. Em médio prazo, com o aumento da quantidade de ruas pavimentadas, é necessário prever um sistema de captação e condução das águas pluviais, as quais, devido à topografia da área e de seu entorno, tendem a seguir na direção das falésias à beira-mar, pondo em risco a frágil conformação. Quanto ao sítio, enfatiza-se a necessidade de preservação da paisagem cênica – através de legislação específica - que finde por criar, recriar e reforçar o ambiente natural da área, inclusive através de um projeto de recuperação da massa verde do tecido já transformado. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KATZCHNER, Lutz (1997). Urban climate studies as tools for urban planning and architecture. In: ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 4, Salvador, 1997. Anais... Salvador: FAUFBA, ANTAC, 1997. pp. 49 a 58. OLIVEIRA, Paulo Marcos P. de (1988). Cidade apropriada ao clima: a forma urbana como instrumento de controle do clima urbano. Brasília, Universidade de Brasília. Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Unb, 1988. ROMERO, Marta Adriana Bustos (2001). Arquitetura Bioclimática do Espaço Público. Brasília: Editora Universidade de Brasília. Cap. 10 e 11. P. 143-210. Imagens resgatadas da internet: < http://www.guianet.com.br/rn /maparn.htm >. Acesso em: 10 jul. de 2002. < http://www.natal.com.br/mapa.htm>. Acesso em: 09 jul. de 2003. 8. AGRADECIMENTOS: À Secretaria do Patrimônio da União do RN que cedeu a foto de satélite (1998) e o mapa digitalizado da área objeto de estudo, utilizados como base para a elaboração dos instrumentos de estudos necessários à aplicação das metodologias adotadas.