Análise Biomecânica da Técnica de Judo - Sasae Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Embed Size (px)

Citation preview

Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae^ Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

UNIVERSIDADE DO PORTO FACULDADE DE CINCIAS DO DESPORTO E DE EDUCAO FSICA

ANALISE BIOMECNICA DA TCNICA DE JUDO - SASAE-TSURI-KOMI-ASHI ESTUDO DE CASO

ORIENTADOR: Professor Doutor Joo Paulo Vilas-Boas Soares Campos Realizado por: Joaquim Manuel da Costa Guerreiro

Dissertao apresentada prova de mestrado no ramo das cincias do desporto, especialidade de treino de alto rendimento, nos termos do capitulo II do Decreto-Lei n. 216/92 de 13 de Outubro.

Porto, 2003

Guerreiro, Joaquim; Vilas-Boas, Joo Paulo (2003). Anlise biomecnica da tcnica de judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi. Estudo de caso.

Palavras-chave: Biomecnica - Judo - Cinemtica - Electromiografia.

AGRADECIMENTOSPara a concretizao deste trabalho foi necessria a sinergia de vrios saberes e contributos de vrias pessoas, pois s assim se tornou possvel contornar as limitaes prprias, quer cientficas, quer operacionais. Deste modo pretendemos dar testemunho das vrias pessoas que contriburam para o enriquecimento e a possibilidade de concretizao deste trabalho, sendo certo que as palavras no exprimem todo o reconhecimento e gratido que sentimos. Sofia por tudo... Ao meu filho Andr, pelo tempo que lhe "roubei" ao seu acompanhamento. Ao meu filho Pedro, pelo tempo que o fiz gastar com a sua participao neste estudo como Uke. Ao Professor Doutor Joo Paulo Vilas-Boas Soares Campos, orientador desta dissertao, pelo aceitar do desafio, pelas sugestes efectuadas e por toda a pacincia e carinho com que sempre nos brindou. Ao Nuno Delgado pela amizade, disponibilidade e carcter que sempre demonstrou, apesar da sua agenda sempre "cheia", demonstrando a simplicidade e esprito de inter ajuda dos verdadeiros "campees". Ao Engenheiro Pedro Gonalves, companheiro de algumas noites e dores de cabea, por toda a amizade, pacincia e partilha do seu saber. Ao Prof. Rui Veloso, a amizade partilhada h vrios anos e a sua solidariedade na participao do teste piloto. Ao Prof. Jos Mrio Cachada a sua amizade, tambm, partilhada h vrios anos, o apoio e ajuda. Ao Professor Doutor Graziano a partilha do seu conhecimento da instrumentao. Aos manifestados. Mestres Filipe e Lima, a sua amizade e apoio

I

Aos Professores Doutores Francis Trilles e Vicente Carratal, a ajuda preciosa na facilitao de bibliografia, apesar de no nos conhecermos, seno pela "net". Ao Director de Finanas, Franklin Veloso Fernandes Torres, por toda a compreenso. Ao Chefe de Diviso da Direco de Finanas de Viana do Castelo, Joo Albino Oliveira Vieira, a amizade e compreenso. A Felismina por todo o apoio nas recolhas laboratoriais e por ter contribudo para o nosso curriculum de treinador. A todos os "meus" atletas pela troca e benefcios mtuos que temos partilhado. A todos quantos nos apoiaram e de uma forma ou outra nos incentivaram. O nosso MUITO OBRIGADO...

III

INDICE GERAL AGRADECIMENTOS NDICE GERAL NDICE DOS QUADROS NDICE DAS FIGURAS LXICO ABREVIATURAS E SMBOLOS RESUMO ABSTRACT RESUME 1. INTRODUO 2. EVOLUO HISTRICA DA LUTA 2.1 O Ju-Jitsu 2.2 O criador do Judo - JIGORO KANO 3. 0 JUDO 3.1 O Judo antes da 2.a Guerra Mundial 3.2 O Judo aps a 2.a Guerra Mundial 3.3 A competio no Judo 3.4 Desporto Olmpico 4. O JUDO EM PORTUGAL 4.1 Algumas curiosidades do judo nacional 5. CARACTERIZAO DO JUDO ACTUAL 5.1 O espao 5.2 A durao do combate S3 0judogi 5.4 A interaco 5.5 A preenso - (KUMI - KATA) 6. DESCRIO TCNICA 6.1 Sasae-Tsuri-Komi-Ashi 6.2 Taxinomia da tcnica 6.3 Descrio tcnica do Sasae-Tsuri-Komi-Ashi 6.3.1 Forma hikite I V IX XI XV XVII XIX XXI XXIII 3 13 15 17 25 25 26 27 28 31 35 41 44 45 46 47 47 51 51 51 55 55

V

6.3.2 Forma tsurite 6.4 Resultados Internacionais com a tcnica 7. ANLISE BIOMECNICA NO JUDO 8. PROBLEMAS E OBJECTIVOS 8.1 Objectivos 8.1.1 Anlise cinemtica 8.1.2 Anlise electromiogrfica 9. MATERIAL E MTODOS 9.1 Consideraes gerais 9.2 Sujeito 9.3 Caractersticas do sujeito 9.4 Preparao do sujeito 9.5 Procedimentos para a anlise cinemtica 9.5.1 Descrio da situao 9.5.2 Pressupostos e limitaes 9.6 Anlise cinemtica 9.6.1 Parmetros cinemticos 9.6.2 A estrutura temporal da projeco 9.6.3 Procedimentos associados anlise cinemtica 9.6.4 Anlise de dados cinemticos 9.7 Procedimentos associados anlise electromiogrfica 9.7.1 Parmetros electromiogrficos 9.7.2 Registo do sinal EMG 9.8 Anlise electromiogrfica 9.9 Protocolo experimental da recolha Electromiogrfica

10. APRESENTAO E DISCUSSO DE RESULTADOS10.1 Cinemtica 10.2 Electromiografia 11. CONCLUSES 11.1 Recomendaes BIBLIOGRAFIA

VII

INDICE DOS QUADROS

Pg.

QUADRO 1 QUADRO 2 QUADRO 3 QUADRO 4QUADRO 5

Quadro de Honra do Judo Nacional

37

Equivalncias entre castigos e pontuao, at o ano de 44 2002 Caractersticas antropomtricos do Sujeito Pontos anatmicos de referncia digitalizados, em cada fotograma. Resultados relativos cinemtica angular em relao 93 ao tempo de durao da execuo da tcnica, subdividida nas respectivas fases (kuzushi, tsukuri e kak). Sequncia de activao muscular 76 82

QUADRO 6

103

IX

INDICE DAS FIGURAS Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21 Figura 22 Figura 23 Figura 24 Figura 25 Figura 26 Figura 27 Figura 28 Figura 29 Representao esquemtica da rea de competio Medidas Regulamentares do Judogi As vrias fases da tcnica Sasae-Tsuri Komi Ashi As vrias fases da projeco, com pegas opostas Forma de aproximao e apoio Sasae-Tsuri-Komi-Ashi na forma Tsurite Imagens de recolha electromiogrfica do teste piloto Imagens da preparao e da recolha Representao esquemtica da situao montada para a recolha de dados cinemticos e electromiogrficos Pontos motores Imagens da recolha electromiogrfica de fora mxima O Deslocamento de aproximao Aproximao e contacto Posio corporal da aproximao ao contacto O deslocamento no eixo Y e Z A posio do membro inferior direito Comparao de ngulos em diferentes projeces A rotao sobre o abdmen. Rotao sobre a articulao sacro-lombar Par de Foras Rotao sobre a articulao coxo-femoral Happo no Kuzushi - Direces de desequilbrio. As oito direces do desequilbrio. Representao dos desequilbrios e apoio do seu peso Representao do desequilbrio / equilbrio A ruptura dos apoios superiores O estreitamento do polgono de sustentao Frequncia de Valores Electromiogrficos. (Msculo / Fase) Sinais electromiogrficos aps filtragem. Projeco 1

Pg. 45 46 56 56 57 58 77 77 78 85 87 91 92 92 92 93 94 95 95 96 97 98 99 99 100 101 101 102 103

. XI

Figura 30 Figura 31 Figura 32 Figura 33

Sinais electromiogrficos aps filtragem. Projeco 2 Sinais electromiogrficos aps filtragem. Projeco 4 Sinais electromiogrficos aps filtragem. Projeco 5 Sinais electromiogrficos aps filtragem. Projeco 6

104 104 105 105

XIII

LXICO

DOJO - Local de treino de artes marciais. GOKYO - Cinco grupos. HAPPO KUZUSHI- Desequilbrio em oito direces. IPPON - Um ponto (regras de competio). JUDO - "O Caminho da Suavidade". JUDOGI- Vesturio para a pratica do judo. JU-JUTSU- Primeira forma de autodefesa Japonesa. KAKARI-GEIKO - Treino de repetio tcnica sobre adversrio que se defende por deslocamentos, sem oposio directa. KAKE - Projeco, propriamente dita. KATA - Forma pr-determinada para demonstrao e exames. KUMI KATA - Forma de agarrar o judogi. KUSUSHIM - Desequilbrio. NAGE-KOMI - Forma de treino com uso de projeco continua. NAGE-WAZA - Conjunto de todas as tcnicas praticadas em posio vertical. NE-WAZA - Conjunto de todas as tcnicas praticadas em posio horizontal. OBI - Cinto. RANDORI- Exerccio livre. SOTAI-RENSHU - Treino com parceiros. TAI-SABAKI - Esquiva, movimento circular do corpo. TANDOKU-RENSHU -Treino solitrio, sem parceiro. TATAMI - Tapete para a pratica de judo. TORI - O Atacante, o que toma a iniciativa. TSUKURI - Entrada, contacto. UCHI-KOMI- Treino de entradas sem projeco. UKE- O defensor, o que recebe o ataque. YAKU-SOKU-GEIKO - Estudo atravs do movimento, sem resistncia com projeco rpida e alternada.

XV

ABREVIATURAS E SMBOLOS F.P.J. - Federao Portuguesa de Judo. EMG - Electromiografia. C.O.I.- Comit Olmpico Internacional. J.O. - Jogos Olmpicos. D.L.T. - Direct Linear Transformation. Hz - Hertz FCDEF -UP - Faculdade de Cincias de Desporto e de Educao Fsica Universidade do Porto. A/D - Analgico Digital.0

- Smbolo de grau.

m - metros. Kg - Quiilogramos g- gramas. Cm - centmetros

XVII

RESUMO

O objecto deste estudo laboratorial , atravs de mtodos da biomecnica, analisar a projeco de Judo -Sasae-Tsuri-Komi-Ashi. Definindo-se o judo como um combate entre dois indivduos em situao de preenso mtua, onde cada adversrio procura vencer a resistncia do outro por aces, quer positivas, quer negativas, tcnico tcticas complexas, com a utilizao das capacidades fsicas e psquicas. Tendo o fundador do judo -Mestre Jigoro Kano definido como princpios fundamentais do judo: O principio da utilizao correcta da energia, e O principio da prosperidade e benefcios mtuos. Este estudo insere-se na perspectiva destes princpios pretendendo fazer uma anlise quantitativa, como forma de aportar subsdios para um conhecimento mais profundo da tcnica objecto de estudo, na sua vertente cinemtica e electromiogrfica. Pretende tambm alertar para a necessidade da avaliao quantitativa do judo, como ferramenta essencial para uma melhor e mais produtiva interveno dos agentes de ensino deste desporto reconhecidamente internacional. Este portugus. estudo consagrado anlise cinemtica e electromiogrfica de uma projeco realizada por um atleta de elite do judo

Palavras-chave: Biomecnica - Judo - Cinemtica - Electromiografia.

XIX

ABSTRACT

The object of this laboratorial study is to analyse the Judo projection -Sasae-Tsuri-Komi-Ashi, through biomechanics methods. Being judo defined has a combat between two individuals, in a mutual strain situation, where each of them seeks to surpass the other's resistance by means of complex technical or tactical actions, either positive or negative, and through the use of their physical and psychic capabilities. The Judo founder, Sense/Jigoro Kano, defined as fundamental principles of judo: The principle of proper use of energy, and The principle of prosperity and mutual benefits. This study inserted on the perspective of those principles intends to make a quantitative analysis, as a way to convey subsidies to a more profound knowledge of the studied technique, in its cinematic and electromiographic facets. It also intend to alert to the necessity of a quantitative analysis of judo as an essential tool for a better and more productive intervention of the coaching agents of this sport internationally acknowledged. This study is devoted to the cinematic and electromyography of the Sasae-Tsuri-Komi-Ashi projection made by a Portuguese judo elite athlete.

Key words: Biomechanics - Judo- Cinematic - Electromyography.

XXI

RESUMEL'objet de cette tude laboratoriel est au travers des mthodes de la biomcanique, analyser la projection de judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi. En definant le Judo comme un combat entre deux individus en situation de prhensions mutuelle ou chaque adversaire cherche vaincre la rsistance de l'autre par des actions, soit positifs, soit ngatives, techniques tactiques complexes, avec l'utilisation des capacits physiques et psychiques. Havent le fondateur du Judo, Matre Jigoro Kano, dfini comme principes fondamentaux du Judo : Le principe de l'utilisation correct de l'nergie, et Le principe de la prosprit e t bienfaits mutuels. Ce tude s'insre dans la perspectif de ces principes on prtendant faire une analyse quantitative, comme forme d'arriver subsides pour une connaissance plus profonde de la technique objet d'tude, dans sa versant cinmatique et electromiographique. Prtende aussi alerter pour la ncessite de l'valuation quantitative du Judo, comme outil essentiel reconnaissance international. Cette tude est consacre l'analyse cinmatique et electomiographique d'une projection par un athlte d'lite du Judo portugais. pour une meilleure et plus productive intervention des agents d'enseignement de ce sport avec

Mots-cls : Biomcanique - Judo - Cinmatique - Electromiographie

XXIII

INTRODUO

I i

;n ibilJ&

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

1. INTRODUO

A Biomecnica desportiva poder definir-se como a cincia, que, utilizando os conhecimentos e mtodos da mecnica e novas tecnologias, se dedica ao estudo da prtica desportiva com o escopo de melhorar o rendimento e preservar a sade dos atletas. Na sua breve histria, iniciada em meados do sculo XX, a Biomecnica tornou-se rapidamente numa disciplina indiscutivelmente importante para o desenvolvimento do rendimento desportivo, merecendo o interesse de variados grupos de trabalho escala internacional, e transformando-se numa disciplina bsica e fundamental na formao inicial dos Cursos de Cincias do Desporto e de Educao Fsica. A par da sua afirmao, e pelas possibilidades e estudo incidentes sobre materiais e equipamento desportivos, floresce um importante desenvolvimento industrial impulsionado de forma decisiva na sua actual evoluo. No obstante o seu desenvolvimento, os variados estudos realizados e a panplia de possibilidades de aplicao, a biomecnica ainda um campo de conhecimentos reservada a um grupo reduzido de profissionais, merc quer do custo da instrumentao e metodologias utilizados, quer dos nveis de conhecimentos exigidos, que restringem ainda a sua utilizao nos variados nveis de prtica desportiva. Contrariamente cincia, o judo foi, durante muito tempo, um instrumento de educao filosfica, psicolgica e fsica, baseado na cultura oriental, que pretendeu conservar o carcter no violento da sua prtica, diferenciando-o das demais formas de luta. A dimenso ldica- agonstica dos desportos ocidentais triunfou no judo com a ocidentalizao deste desporto. O ensino do judo teve por base inicialmente uma metodologia tradicional baseada em conhecimentos adquiridos empiricamente, por acumulao de

3 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae- Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

dados e observaes, quer directas, quer indirectas, fundadas sobre a experincia do Mestre mas desprovida de rigor cientfico. Durante os ltimos anos, verificou-se uma mudana qualitativa na prtica desportiva, a qual afectou, concomitantemente, a estrutura e concepo cientfico-tcnica do desporto. No seu percurso evolutivo, o judo viu-se, inexoravelmente, complexificado no seu processo de tecnificao, resultante da existncia e exigncia do alto rendimento, que estimulou o desenvolvimento de uma sistemtica do processo de treino desportivo, para que se pudesse alcanar, cada vez mais elevados nveis de da performance. A importncia das cincias de suporte ao treino desportivo de elite indiscutvel, ocupando a biomecnica um lugar central, quer no que se relaciona com os materiais, quer no ensino da tcnica e tctica desportivas. Jigoro Kano, fundador do judo, edificou a aplicao da tcnica sobre um princpio fundamental - o Kuzushi (desequilbrio) -consistindo este na utilizao de um esforo mnimo para efectuar a projeco de um adversrio anteriormente sujeito a uma postura instvel, pelo rompimento da sua posio de equilbrio esttico / estvel. Este princpio foi inovador para a poca e ainda hoje, Jigoro Kano uma figura relevante pelo seu legado tcnico e filosfico (projeces, controlos, chaves e estrangulamentos), baseado nesta regra simples e fundamental: o desequilbrio. O tempo de especializao em judo de, aproximadamente, 3 e 5 anos. Todavia somos de opinio que a biomecnica pode aportar as bases para uma aplicao racional da tcnica com maior sucesso e eficincia e potenciar a velocidade da assimilao da sua execuo. No obstante, a introduo de princpios biomecnicos e leis fsicomatemticas no estudo dos aspectos tcnico-tcticos do Judo a principal problemtica na evoluo cientfico - tcnica da modalidade (Mirallas, 1989). A estruturao da tcnica especfica do judo como sistema biomecnico, pode converter didacticamente o seu ensino num conjunto de ensinamentos coerentes e fundamentais.

4 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

A tcnica foi sempre o elemento chave deste desporto. Apesar deste primado escassa a documentao e os estudos cientficos sobre a anlise quantitativa das tcnicas. Esta situao alterou-se com a passagem do judo a desporto internacionalmente reconhecido e praticado, em todo o mundo. Assim conforme constata Burger (1989), os educadores desejam encontrar o apoio de uma investigao cientfica para a elaborao de uma metodologia precisa, que permita estabelecer os fundamentos cientficos necessrios para assegurar de forma honesta a sua misso. Ortega (1984) reflecte que no oriente se estuda de um modo muito rigoroso. No Japo o indivduo tem de adaptar-se ao judo, conquanto no ocidente, promovemos a adaptao deste ao atleta. Dado o judo ser um desporto de situao, caracterizado por uma variedade das situaes e reaces, a tcnica deve poder resolver tarefas motoras muito complexas, relacionadas com as condies cambiantes da competio, o que preconiza uma bagagem variada de aces tcnicas, estruturadas, bem como uma elevada capacidade de adaptao e imaginao. Alguns meios de treino utilizados so: 1. Tandoku-Renshu, que segundo o glossrio do livro de Kano (1989) se define como exerccios individuais. Taira (1992) define-o como um estudo solitrio, sem parceiro, em que o praticante pratica os seus ataques no vazio, imaginando a posio do adversrio, reforando o controlo do seu equilbrio e incrementam-se a sua velocidade e automatismos. 2. Sotai-Renshu, segundo o glossrio de Kano, a sua definio exerccios com o companheiro. Neste estudo pretende-se uma inter-aco no sentido da realizao correcta da tcnica, perante situaes, defesas e dificuldades que se vo complexificando. 3. Uchi-Komi, segundo Uzawa (1981) trata-se de um treino de repetio tcnica, com o objectivo de aperfeioamento tcnico, procurando manter a velocidade com preciso. Segundo Yamashita (1993) este treino a espinha dorsal para qualquer projeco de judo, j que, afirma, o corpo aprende o movimento bsico da projeco. Por sua vez Cecchini (1989) pensa que este treino importante pela automatizao que implica, apesar de pensar que este

5

Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

automatismo

aprendido

a partir

de

uma situao

de uma

repetio

indiscriminada e afastada da sua prtica real, no aporta grandes benefcios por serem movimentos cinticos que no so adequados a situaes de mudanas em desportos como o judo, de situao. 4. Yaku-Soku-Geiko, segundo Uzawa um treino de aplicao tcnica em movimento e sem uma oposio contundente. Taira (1992) considera um treino concertado em que o par sabe de antemo o objectivo de cada um e assumem uma posio e movimento favorvel para a consecuo desse treino. Bias (1997) pensa que apesar de poder ser comparado ao randori, supe o respeito de certas normas adicionais, como seja no forar, no bloquear os ataques antes que se produzam, permitindo um judo mais fludo e dinmico, com um intercmbio de ataques directos e por conseguinte de projeces conseguidas. Neste tipo de treino no deve ser permitido, luta pelo Kumi-Kata, deve ser evitada a posio de jigo-tai (posio defensiva), sem opo de gono-sen-Waza (contra-ataque) e sem utilizao da fora excessiva como elemento necessrio para a projeco, j que se trata de potenciar a combinao e no o resultado baseado na fora, procurando em ltima anlise a harmonia no movimento corporal. 5. Nage-Komi, segundo Uzawa (1981) define-se como um treino de projeco contnua. Taira et ai. (1992) consideram ser um treino de aperfeioamento do Kake (projeco propriamente dita) e que completa e complementa o treino de Uchi-Komi, onde se trabalha o Kuzushi (desequilbrio) e o Tsukuri (contacto). 6. Kakari-Geiko, segundo Uzawa, (1981) um treino em que se repetem as tcnicas que se repetem insistentemente sobre um adversrio que se limita a defender por Tai-sabaki (esquiva), empregando o movimento corporal para evitar a fora do ataque do adversrio. 7. Randori, segundo Kano (1989) este tipo de treino significa prtica livre. Segundo Uzawa (1981) randori um combate livre, e uma forma de treino que emprega o Nage-Wasa (tcnica de projeco) com o Katame-Wasa (tcnicas de controlo) na perspectiva de domnio do oponente, permitindo o treino das tcnicas de ataque e de defesa, com audcia e fora e

6 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

encadeamento de trabalho de Tachi-Wasa (tcnicas em posio bipde e de Ne-Wasa (tcnicas no cho). Para Taira et ai., o randori consiste na execuo livre das tcnicas adquiridas previamente, tanto de ataque como de defesa, respeitando sempre os princpios bsicos do judo e executando as tcnicas o mais correctamente possvel, no obstaculizando as quedas. Bias (1997) considera o randori a situao mais especfica e a mais aberta, que nos permite jogar com as reaces do parceiro, promovendo o inventar e o reinventar de solues em cada momento sempre impelidos por um princpio de emergncia. Considera ser atravs deste meio de treino que o judoca pode moldar um judo personalizado e realmente eficaz. Para Torres (1997) o randori dos uma das formas que supem de um maior grau tentam de oposio e, consequentemente, um maior risco de leso. Pressupe um duelo em torno dois judocas que, depois agarrados, reciprocamente projectarem-se, imobilizarem-se, luxarem-se ou estrangularem-se. Os dois encontram-se numa situao de oposio constante atravs do contacto que se estabelece pelo kumi-kata e em menor medida pelo contacto visual, tentam adivinhar as intenes do adversrio, ocultando/dissimulando as suas prprias, com o fim de surpreender, para aplicar uma projeco ou imobilizao. Nesta luta, torna-se necessrio integrar e interpretar a nvel central a informao que advm dos vrios receptores orgnicos: cutneos, proprioceptivos, receptores labirnticos e telereceptores. A antecipao e a deciso quase imediata, exige que a defesa e o ataque se realizem com gestos tcnicos de um alto grau de dificuldade e grande intensidade. Estas aces tem por objecto a superao constante de foras destabilizadoras, com a inteno final de anular o propsito do adversrio. Segundo Carratal (1997) o randori o treino de combate, a ltima etapa antes da competio onde o compromisso, quer do tori, quer do Uke total e sincero. Tudo permitido dentro das prprias normas do judo e da prpria competio, diferenciando-se deste pelo esprito. 8. Shiai que a competio, ela mesmo fruto de muitos anos de aprendizagem e de treino, demonstrando a si mesmo como aos demais o seu grau de preparao obtido.

7 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Em suma, os mtodos de treino apresentados tm vincadamente inculcado a componente tcnica, como um dos elementos fundamentais do sucesso. No de espantar portanto, a opo de o nosso estudo se situar na anlise de uma tcnica, com o objectivo operacional da extraco de axiomas e o aumento de rigor, compreenso e manipulao intencional dos factores universais, promovendo uma rentabilizao do ensino e do treino, suas situaes e actividades. A tcnica que decidimos focalizar o nosso estudo foi o Sasae-TsuriKomi-Ashi, por trs ordens de razes: 1. Por ser a tcnica utilizada com assinalvel xito pelo melhor judoca portugus da actualidade; 2. Por, apesar de ser uma tcnica "fcil" no fazer parte das tcnicas de sucesso do judo Mundial; 3. Pela necessidade de compreenso das variveis tcnicas que tornam o seu exmio executante no melhor atleta Nacional e n. 1 do ranking Europeu da actualidade, na sua categoria de peso (-81 kg). Este estudo estrutura-se na anlise da tcnica, Sasae-Tsuri-Komi-Ashi, decompondo-a nas trs fases em que comummente subdivida: desequilbrio, contacto e projeco propriamente dita. Este estudo engloba o recurso cinemtica e electromiografia, procurando uma padronizao que servir de suporte ao processo de ensino/aprendizagem na sua vertente tcnica e tctica, convertendo-o num processo coerente o e fundamental desenvolvimento na aquisio da inter-relao apropriado dos e movimentos no espao e no tempo, melhorando a coordenao e o equilbrio, favorecendo msculo-esqueltico aumentando a resistncia e a preparao volitiva no processo de treino. A anlise cinemtica incidir sobre os ngulos formados pelo cotovelo direito e esquerdo, procurando-se assim fazer a anlise do Kumi-Kata (forma de preenso), j que conforme sustentado por vrios autores, entre outros Adams (1992), Thabot (1999), Carratal, (2000) o Kumi-Kata determina, actualmente, o resultado de um combate. Incidir tambm este estudo sobre o

8 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP ngulo formado pelo joelho direito que na tcnica do Sasae-Tsuri-Komi-Ashi, tem a funo de bloqueio. Em termos electromiogrficos, este estudo verificar a sequncia de activao muscular, bem como que msculo possui maior actividade elctrica, em cada fase da tcnica do estudo e qual o msculo com maior valor electromiogrfico na tcnica "total". Baseados no estudo de Ikai e ai. (1963) e por restries instrumentais elegemos os msculos Deltoideus, Biceps brachii eTeres major. Assim este estudo inicia-se com uma sntese sobre a evoluo da luta, o Judo, seus antecessores e fundador, evoluindo-se para a internacionalizao do judo e seus primrdios em Portugal. O trabalho desenvolve-se posteriormente pela descrio tcnica do Sasae-Tsuri-Komi-Ashi e resultados internacionais com ela conseguidos. Parte-se de seguida para uma recolha bibliogrfica sobre a anlise biomecnica no Judo. Segue-se a descrio dos problemas e objectivos, onde definiremos quer os constrangimentos que condicionaram o nosso trabalho, bem como a explanao dos objectivos do que nortearam este estudo. Desenvolve-se em seguida o ponto Material e Mtodos onde, fundamentalmente, caracterizamos o sujeito, concretizamos as variveis fundamentais em estudo e descrevemos o procedimento experimental. De seguida apresentamos e discutimos os resultados obtidos em ordem s variveis estudadas. Por ltimo apresentamos as concluses do estudo com algumas recomendaes para a prtica e estudos posteriores. Pectoralis major,

9 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

10 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

EVOLUO HISTRICA DA LUTA

11 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

2. EVOLUO HISTRICA DA LUTA

As manifestaes de luta foram uma constante da vida do ser humano, tendo a sua origem na defesa da vida e integridade fsica frente a situaes que fizessem perigar a sobrevivncia do homem. Vestgios mais antigos da existncia da luta datam entre 5000 e 3000 a.C. e consistem numa coleco de tbuas de barro cozido, onde se narra o poema pico do heri sumrio Glgamech, rei de Anuk da primeira dinastia, contra o selvagem Eukidu (Alvarez, 2000). No obstante, no Egipto que se viriam a encontrar os vestgios mais relevantes sobre a prtica da luta pelas civilizaes mais antigas; tais vestgios revelam que esta gozava de um grande respeito e que era praticada, inclusivamente, com carcter profissional (Diem, 1966, citado por Espartero 1999). , no entanto, na Grcia onde se produziria com maior intensidade o desenvolvimento e a difuso da luta, at ao ponto de ser considerada como o treino mais importante da juventude (Alvarez, 2000). Neste sentido, Plato, em "As Leis", antepe a luta a todos os demais exerccios gmnicos pois "persegue o bem-estar fsico, agilidade e beleza, conferindo a todos os membros e a todas as partes do corpo o grau conveniente de estiramento e flexibilidade". Afirma ainda que a prtica intensa da luta no deve ser descuidada, posto que contribui para que o corpo se encontre em boa forma e que a fora e sade vo aumentando. As trs modalidades clssicas das lutas praticadas pelos antigos Gregos eram a luta, o pugilato e o pancrcio, sendo, com o decorrer dos tempos, as provas dos concursos olmpicos que desfrutavam de maior expectativa (Durantez, 1976). A luta poderia ser vertical ou horizontal e os participantes dividiam-se por idades.

13

Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

No pugilato no havia categorias ou pesos, no existia um espao de luta determinado, e a sua durao era ilimitada (s caso o combate se prolongasse demasiado que os juzes decretavam o "clmax", que consistia num acordo entre os pugilistas no sentido de suportar alternadamente e a rosto descoberto, sem defesa, os golpes do adversrio at que um se declarasse vencido ou no aguentasse) (Vanhove et ai., 1992, citado por Espartero 1999). O pancrcio era uma luta total, sem grandes regras, sendo apenas proibido morder, tirar os olhos e meter os dedos no nariz do adversrio. O combate terminava por desistncia, invalidez ou morte de um dos combatentes (Alvarez, 2000). A Roma antiga recebeu notveis influxos da civilizao helnica. No entanto a luta nunca foi compreendida como esttica ou emoo provocada por uma luta leal, mas antes como um exibicionismo da crueldade e selvagismo. Os combates de gladiadores eram, no mbito da luta, o espectculo romano por excelncia, no podendo, de todo, ser considerado um tipo de luta desportiva, antes um espectculo circense (Espartero, 1999).

14 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae- Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

2.1 O Ju-Jitsu O Nhion Shoki, um dos documentos mais antigos do Japo (720 d.C), relata uma luta, de morte, corpo a corpo entre dois lutadores, realizada na presena e oferecida ao Imperador Suinin (ano 23 a.C), tendo terminado com a morte de um dos lutadores (Uzawa, 1981). Historiadores consideram este acontecimento como a origem de uma srie de formas de luta, como sejam o Sumo 1 e o Ju-Jitsu2. Posteriormente, e durante o reinado do Imperador Seimu, estabeleceram-se regras e criaram-se 48 tcnicas. Denominou-se este espectculo como "Sumo" o qual viria a ser includo no calendrio ritual da Casa Imperial. O Ju-Jitsu nasceu separado do Sumo, pois para os guerreiros feudais (Samurais) este mtodo no era completamente satisfatrio, nem colmatava as necessidades das misses de que eram incumbidos, j que aps a projeco do seu adversrio tornava-se imperioso det-lo definitivamente, por estrangulamento, imobilizao, luxao ou outra qualquer tcnica. Assim, desta necessidade na luta corpo a corpo, nasce o Ju-Jitsu, que, no entanto, s adquiriu personalidade prpria em 1504-1520 (Uzawa, 1981). Neste perodo, semelhana ao que sucedera na era Kamakura (sculo XII a XIV), os samurais usavam armaduras que foram de certa maneira influenciadas na sua decorao, pelo florescimento e grande expanso artstica e cultural do Japo de ento. No perodo seguinte, de Muromachi (sc. XIV a XVI), desapareceram as grandes e pesadas armaduras por substituio por outras mais ligeiras, pelo facto da introduo, por holandeses e portugueses, das espingardas, deixando

1

Luta tradicional Japonesa que consiste em combater dentro da rea de um crculo previamente delimitado, e que nenhum dos contundentes pode sobrepor Sistema de luta baseada no princpio da suavidade, influenciado pela filosofia chinesa e pelo Confucionismo que dizia " No se deve resistir contra a fora de

com qualquer parte do seu corpo, ou tocar dentro do crculo com qualquer parte do corpo para alm dos ps.1

um adversrio; pelo contrrio, devemos absorv-la e aproveit-la para vencer"

15 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

de ter sentido as armaduras como proteco das armas tradicionais, em face da nova realidade, a qual exigia a sistematizao de um mtodo de luta com um protector mais ligeiro e originando e criando tcnicas de ataque e defesa mais habilidosas (Taira, 1992). Neste perodo, concretamente em 1532, aparece a fundao de uma escola de Ju-Jitsu chamada de Takenouchi - Ryu. Esta a mais antiga escola conhecida com um estilo e uma metodologia sistematizada (Taira, 1992). No final do sc. XIX, pases estrangeiros, encabeados pelos Estados Unidos da Amrica ameaam o Japo com a abertura do pas para estabelecimento de intercmbios comerciais e culturais. Aps diversas batalhas internas o Japo concorda em modificar a sua poltica externa, terminado um longo perodo de isolacionismo a que se tinha votado (Taira, 1992). Em 1968, o Tokugawa Bakufu (Governo Militar dirigido por Shoguns da famlia Tokugawa), que imperou durante 265 anos, sofreu um colapso. A idade feudal, que durou at ento, teve o seu fim e nasceu um estado moderno, que inclua o novo governo Meiji (Matsumoto, 1996). Ainda que o Tokugawa Bakufu tenha sido originariamente estabelecido para estabilizar o Japo durante o perodo de guerras no sculo XVI, fez crescer um grande desassossego e insatisfao, quer interna, quer externamente. Assim, no ano de 1968 inicia-se a era Meiji e com ela uma grande reforma, despertada pela influncia das culturas ocidentais, levantando-se todas as proibies contra o desenvolvimento e cultura ocidentais. Ao mesmo tempo e por contraposio, as artes marciais tradicionais japonesas, tal como o Ju-Jitsu, perderam o respeito por ser algo "velho" e por ser considerada uma arte militar, sendo que, poca, a arte militar e a sua classe no eram bem vistas pela sociedade Japonesa. Em 1871, com a proibio do porte de armas, teve como consequncia o desaparecimento dos Samurais da Histria Japonesa, bem como a decadncia do Ju-Jitsu, no obstante algumas escolas famosas tentarem obstinadamente sobreviver (Villamon e Brousse, 1999).

16 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

2.2 O criador do Judo - JIGORO KANO

Nasceu ainda na poca Tokugawa, a 28.10.1860 em Mikage, perto de Kobe, baa de Osaka, mas o seu desenvolvimento educacional e cultural realizou-se em Tquio, sob a gide do governo Meiji. Jigoro Kano mostrou no decurso da sua escolaridade uma particular afinidade pelas lnguas estrangeiras. Aos 15 anos ingressou numa escola de lnguas estrangeiras e aos 17 ingressou na Universidade de Teikoku (Imperial) de Tquio. Na Universidade, Jigoro Kano estudou Cincia Poltica, Economia, Educao Moral e Esttica, tendo a sua vivncia universitria contribudo para valorizar fortemente a mais valia da educao. Em 1982, foi nomeado professor no Gakushuin (Escola privada para a nobreza). Neste mesmo ano criou a escola preparatria, com o intuito de formar o carcter dos jovens que a residiam (Kano Juku) e a escola de Lngua Inglesa (Kouburkan). Quatro anos depois foi nomeado professor em chefe do Gakushuin. Em 1891, foi nomeado Director da Escola Intermdia do Quinto e da Escola Superior de Kumamoto, tendo em 1893 assumido o cargo de Director da Escola Secundria para Professores de Tquio, actualmente Universidade de Tsukuba (Kano, 1986). Jigoro Kano considerava que a educao se baseava em trs componentes: 1. a educao do conhecimento; 2. a educao moral e 3. a educao fsica. Assim, estabeleceu um departamento de Educao Fsica e iniciou uma grande variedade de desportos, idealizando um grande festival anual de desporto, aparecendo na escola uma grande variedade de seces desportivas, incluindo desportos estrangeiros como, tnis, beisebol, futebol e desportos nuticos. Atravs destas actividades, que expandiram o Desporto e a Educao Fsica, tanto dentro como fora da escola, o nome de Jigoro Kano assumiu grande protagonismo na sociedade japonesa em geral.

17 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Em 1909, o Japo foi formalmente convidado pelo Baro Pierre de Coubertin a participar no Comit Olmpico Internacional. Como representante do Japo e primeiro membro Asitico foi eleito Jigoro Kano. No havendo uma organizao geral dos desportos no Japo, e, consequentemente, no havendo atletas que pudessem competir a um nvel to elevado, foi fundada, em 1911, a Associao Atltica Amadora do Japo, de que Jigoro Kano foi nomeado primeiro presidente (Bonet-Maury e Courtine, s/data). O Japo iniciou a sua participao olmpica em 1912, nos Jogos Olmpicos que se celebraram em Estocolmo, na Sucia, servindo para catapultar uma ampla expanso e desenvolvimento desportivo. Jigoro Kano continuou o seu labor em prol do olimpismo, deslocando-se vrias vezes ao estrangeiro, quer para as reunies do Comit Olmpico Internacional, quer para as Olimpadas. Em 1938 e em prol do trabalho de Jigoro Kano, o Comit Olmpico Internacional decidiu formalmente celebrar os XII Jogos Olmpicos de 1940, em Tquio. A 4 de Maio desse ano Jigoro Kano faleceu a bordo de um barco de regresso ao Japo, embalado com este feliz conhecimento. Ironicamente o evento no se realizou em virtude da ecloso da 2.a Guerra Mundial. S em 1964 o Japo foi anfitrio dos XVIII Jogos Olmpicos (Villamn e Brousse, 1999). Paralelamente a toda esta actividade educacional e poltica, Jigoro Kano, ainda enquanto jovem estudante da Faculdade de Literatura da Universidade de Tquio, manifestava uma grande inquietude acerca de um mtodo antigo de luta, o Ju-Jitsu. Tendo sido sempre um rapaz de fraca constituio fsica, pensava que tal arte marcial lhe poderia trazer a soluo para a sua inferioridade fsica, nas lutas entre estudantes. Em 1878, quando completara dezoito anos, a Escola Tenshin-Shinyo Ryu e o seu mestre Fukuda aceitam-no como aluno. Dois anos mais tarde, e por bito do mestre Fukuda, recebe lies de Masamoto Iso, filho do fundador da escola. Quando este faleceu, decidiu praticar com Tsunetoshi Jikubo, da

18

Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

escola de Kito, que baseava a sua tcnica fundamentalmente em tcnicas de projeco. Merc da educao superior da nova era que Kano estava a receber, adquiriu um esprito moderno e prtico. Enamorando-se do Ju-Jitsu, pensava que este deveria ser preservado como um tesouro cultural Japons, se bem considerasse que deveria ser adaptado aos tempos modernos. A sua formao acadmica e intelectual servia-lhe para analisar as tcnicas e discernir o til do intil, o eficaz do ineficaz, procurando extrair o melhor das tcnicas, que aprendeu a melhorar com as suas prprias observaes e criaes, fundindo muitas subtilezas do Ju-Jitsu com o esprito daquela nova era, e transform-lo como uma fora de educao fsica e cultural para o seu povo e o resto do mundo. O facto de o JuJitsu, a par da disciplina e moral pblicas, estarem em declive nesta nova poca, havendo amides combates violentos entre praticantes e demonstraes pblicas como de shows se tratasse, Jigoro Kano decidiu chamar ao sistema que criou JUDO, para o diferenciar do ju-jitsu antigo (Inogai e Habersetzer, 1987). Em 1882 fundou o KODOKAN (Ko= ensinar, Do= caminho, Kan = lugar), passando a dedicar a sua vida a trabalhar para a expanso do judo, primeiramente no Japo e depois em todo o mundo. Alguma das razes desta sistematizao e fundao, foram desenvolver as suas prprias ideias, durante os anos de intensas rivalidades entre as vrias correntes e escolas de ju-jitsu, bem como fundir o antigo com o novo, criando novos mtodos e tcnicas de treino e forando novas vias de pensamento, pois, aparte as consideraes tcnicas, Kano era possuidor do conhecimento das tendncias Europeio-Norte Americanas em educao, assim como em desporto, dando uma importncia relevante a elementos do pensamento moderno ocidental (Villamn e Brousse, 1999). O judo Kodokan no contemplava s as prticas fsicas, mas tambm, e de acordo com o seu ideal, uma educao moral e intelectual, promovendo conferncias abordando temas como fisiologia, psicologia, moral. Existia

19 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

tambm uma seco de perguntas e respostas, a qual era inaudita no sistema Japons do seu tempo. Tal curriculum reflectia a ideia de uma aproximao ao estudo do judo de uma ampla base que conduzisse a um completo desenvolvimento pessoal e no a uma formao como mero combatente. Pretendia assim que o Kodokan fosse um lugar de aprendizagem de uma educao geral, atravs do judo (Villamn e Brousse, 1999). Um dos acontecimentos mais importantes para o Judo d-se por volta dos anos de 1885 e 1886, altura na qual o Judo Kodokan participa num torneio aberto a todas as escolas de ju-jitsu, patrocinado pelo superintendente da polcia, e em que os judocas obtm uma vitria retumbante. Esta vitria catapulta o Judo e provoca a sua expanso, inversamente ao que sucede com o ju-jitsu, ao qual infligida uma grande provao (Inogai e Habersetzer, 1987). Ao novo desporto, merc do seu fundador, preocupado em manter a identidade dos mtodos clssicos e desejoso de evitar os perigos do combate, foram definidas regras para um combate educativo, tendo sido precedido de vrias adaptaes e supresso de todas as tcnicas julgadas perigosas, com o intuito de preservao da integridade fsica dos praticantes. Neste contexto, foi aperfeioada a forma de cair, que era primitivamente muito traumatizante. A inovao reputada como a mais importante deu-se com a obrigatoriedade de os combatentes terem de se agarrar para iniciarem a luta, reduzindo a distncia entre contendores e modificando a modalidade de duelo. Jigoro Kano refora desta maneira o auto-domnio e garante um maior controlo do risco e do perigo, passando a habilidade para controlar o oponente, o suficiente para assegurar a sua queda, a demonstrar ao mesmo tempo, o grau de superioridade do lutador. Jigoro Kano, respeitava os dois mtodos utilizados para a prtica e estudo do Judo, a saber: Katas - mtodo de estudo das tcnicas de judo numa ordem e mtodos pr estabelecidos, permitindo o entendimento correcto da base de cada tcnica individual. At 1907, os contedos de 6 Katas estavam ordenadas em: 1. Nage no kata - Formas de projeco;

20 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

2. Katame no kata - Formas de controlo; 3. Kime no kata - Formas de deciso; 4. Ju no kata - Formas de flexibilidade; 5. Ko shiki no kata - Formas antigas e 6. Itsutsu no kata - Formas dos 5 elementos. A partir de 1956, foi implementado o Kodokan Goshin Jutsu - Formas de auto-defesa do Kodokan Randori (prtica livre) mtodo de estudo do judo mediante ataques e defesas reais aplicadas durante movimentos livres com um oponente (Kano, 1986). O Professor Jigoro Kano era filho de samurai e frequentou algumas escolas de Ju-Jitsu da poca, onde obteve vrios ensinamentos. O que de facto diferenciou o Judo Kodokan foi o mtodo organizado para aprendizagem desta modalidade de luta. Na escola Kyto-Ryu ele aprendeu tcnicas de projeco (Nague-waza) e quando seu mestre veio a falecer, Kano herdou os livros de seu professor e sistematizou as tcnicas segundo a aco principal, subdividindo-as em: ashi-waza, koshi-waza, te-waza, sutemi-waza e atemiwaza. Esta diviso demonstra a preocupao pedaggica para o processo de ensino das tcnicas. No que respeita s tcnicas de domnio no solo (Katamewaz), o Professor Jigoro Kano aprendeu e modificou-as a partir dos ensinamentos obtidos na escola Ten-shin-shinyo-ryu (Corao de Salgueiro). As tcnicas mais perigosas, como as chaves de articulao que atacavam no apenas o cotovelo, bem como outras igualmente perigosas para a integridade fsica do praticante, no foram incorporadas pelo Judo Kodokan. A difuso do Judo deve-se aos discpulos do Professor Jigoro Kano, que percorreram o mundo ensinando este mtodo de Educao Fsica Jigoro Kano, apesar de Mestre de uma arte de combate, era tambm um pedagogo, conseguindo planificar o judo, fundamentalmente, de uma forma acentuadamente educativa, inovando, rompendo com as ideias feudais, mas conservando o melhor de pocas anteriores. Assim e dada a sua cultura, conseguiu organizar e conceber o conhecimento de forma diferenciada da utilizada por outras artes marciais, rompendo com o secretismo de um crculo

21 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

restrito do ensino e conhecimento, dando a maior expanso possvel de forma a alcanar a humanidade na sua totalidade, conforme referido por Bergeret (1983). Os princpios que elegeu para o desporto que sistematizou, sintetizou-os em duas expresses: Seiryoku Zenyou - O mximo de eficcia, com um mnimo de esforo. Jita Kyouei - Prosperidade e benefcio mtuo.

22 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

O JUDO

23 .Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo

Sasae- Tsur-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

3. O JUDO 3.1 O Judo antes da 2 a Guerra Mundial

Jigoro Kano, ao mesmo tempo que pretendia dar um carcter internacional ao judo e o defendia como um factor de entendimento entre todos os pases do mundo nos anos trinta do sculo passado, no podia deixar de se confrontar com o pensamento e a mentalidade da sociedade japonesa, que considerava a influncia das ideias democrticas ocidentais como uma ameaa contra a estrutura social e a realidade do Japo, prosseguindo, consequentemente, uma poltica disciplinar rgida, que mais no era que uma forma civil de militarismo. As tendncias nacionalistas, em conjunto com o domnio imposto pelos seus dirigentes militares, conduziram a um clima poltico e social que deixava antever a guerra. O treino das artes marciais foi posto em voga em todo o pas, ajudando a formar todas as camadas populacionais no esprito da guerra. Neste contexto, Jigoro Kano foi pressionado pelo Estado para que o Kodokan fosse posto ao servio dos interesses militaristas, em troca de importantes subsdios e apoios, mas no claudicou, no se deixando, por conseguinte, dominar e controlar pelo exrcito, conseguindo manter a sua independncia (Gleeson, 1984). morte de Jigoro Kano, em 1938, estavam filiados 120.000 judocas, donde 85.000 eram cintos negros. No entanto, e apesar de no Japo a prtica do judo ser popular, o mesmo no acontecia no estrangeiro, s sendo digna de relevo a Gr - Bretanha onde, desde 1889 com Yukio Tani e, posteriormente, Gunji Koizumi em 1918, se encontrava um ncleo desenvolvido, (Adams, 1990). A Frana s em 1935 comeou verdadeiramente o Judo, com Mikonosuke Kawaishi, que iniciou uma nova era no judo, sendo considerado como o fundador do judo Europeu, no s pelas inovaes que empreendeu, entre as que se destacam a diferenciao dos graus do judocas por atribuio

25 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

de cores aos cintos e a classificao exaustiva de todas as tcnicas de judo, quer de p, quer no cho. Nesta classificao introduziu a numerao, tendo igualmente inventado alguns nomes para denominar variaes tcnicas, que eram desconhecidas no Japo e onde no possuam identidade prpria. Por outro lado, a Frana tomou-se um centro onde ocorriam judocas de vrias nacionalidades para fazerem a sua aprendizagem / aperfeioamento, e de onde partiram alguns alunos para difundir o judo noutros pases europeus, com a sua radicao nesses mesmos pases (Bonet-Maury e Courtine).

3.2 O Judo aps a 2.a Guerra Mundial

A partir do final da 2.a guerra mundial, o judo experimentou uma transformao muito rpida, deixando em pouco tempo de ser considerada uma esotrica arte marcial japonesa, para passar a ser considerado um desporto moderno, praticado a grande escala internacional. Esta transformao implicou mudanas profundas na sua organizao, complexidade e orientao. Devem-se essencialmente a um incremento da actividade internacional, um crescente interesse na racionalizao e codificao das regras de competio, produzindo-se de uma forma reflexiva uma transio entre um modelo de autoridade, principalmente carismtico, para um modelo mais burocratizado. Este processo de transformao pode-se dividir em trs etapas: Desde o perodo anterior e imediatamente posterior 2.a guerra mundial e at princpios do ano de 1950; Desde os princpios dos anos 50 at metade dos anos 60, at o judo se converter em desporto olmpico; Desde os finais dos anos 60 at ao presente.

Investigaes levadas a cabo por Goodger e Goodger (1977, 1980 e 1989) na Gr - Bretanha evidenciam importantes diferenas na cultura do judo, relativamente aos perodos que acabamos de referir.

26Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Efectivamente, as diferenas principais centravam-se na organizao, nos processos de prtica individual e na transmisso cultural. Assim, e no que concerne ao sistema organizativo do judo no seu conjunto, destaca-se a fuso num processo de racionalizao, no sentido proposto por Max Weber (1979), aplicando-se s relaes autoritrias, que tinham por base a diferena de graduaes e carisma, que gradualmente foram substitudas pela autoridade "legal" fundada na viso social, com leis justas, funcionrios competentes, hierarquizados, articulados numa estrutura de dominncia burocrtica. Este conceito de racionalidade pode aplicar-se a outros processos significativos do judo, designadamente a tendncia de perda de identidade com o Japo e um concomitante processo de ocidentalizao, quer do conhecimento mais apropriado e cientificao do treino, na arbitragem, no aspecto administrativo, competitivo, etc., bem como na procura de estratgias de "venda" da modalidade, com o escopo de aumentar o nmero de praticantes. Aps a 2.a guerra mundial e com a derrota japonesa, os americanos, no seu desejo de eliminar o esprito guerreiro e revanchista no Japo, proibiram todas as actividades inspiradas no bushido (Cdigo guerreiro). As artes marciais e o judo foram proibidos, mantendo-se, porm a sua prtica e treino, na clandestinidade. Em 1946, o Kodokan foi autorizado, pelas tropas de ocupao americanas, a abrir as suas portas, com a condio de apresentar o judo no como uma arte marcial, mas como um desporto (Villamn e Brousse, 1999).

3.3 A competio no Judo Em 1934, comearam a celebrar-se os campeonatos do Japo. Tambm na Europa, na dcada de 30, celebraram-se diversos encontros e, em consequncia, iniciou-se o processo de organizao de uma estrutura desportiva europeia. Os considerados primeiros campeonatos europeus da modalidade realizam-se em 1932; no entanto, para a histria s em 1951, em Paris, se organizam os "primeiros" Campeonatos Europeus institucionalizados.

27 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Neste mesmo ano fundada a Federao Internacional de Judo, a qual levar por diante a organizao dos primeiros Campeonatos Mundiais, decorria o ano de 1956 em Tquio, no Japo. Para a categoria feminina foi mais dolorosa a sua afirmao, pois s no ano de1975 se iniciam os Campeonatos da Europa e no ano de 1980 os Campeonatos do Mundo.

3.4 Judo Desporto Olmpico A 22 de Agosto de 1960, durante a sua 58.a sesso, o Comit Olmpico Internacional, reunido em Roma, aceitou por 39 votos a favor e 2 contra, a inscrio do judo no programa dos Jogos de Tquio em 1964. No obstante, s em 1972, em Munique, o Judo foi includo, de forma definitiva, dentro do programa olmpico. O judo feminino foi includo como demonstrao nos Jogos Olmpicos de Barcelona e definitivamente aceite como modalidade Olmpica nos Jogos de Seoul.

28 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae- Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

O JUDO EM PORTUGAL

n r v

ft '

f

tJ

W V ~ J H fcs-y.J

l* A

i

?1

'-w:

29 _Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

4. O JUDO EM PORTUGAL A histria do judo em Portugal ainda no foi escrita de uma forma coerente e sistematizada. Em Portugal, semelhana, alis do que sucedeu noutros pases, a histria do Judo inicia-se e deve-se ao esforo de um conjunto restrito de personalidades japoneses que esporadicamente visitaram Portugal e aqui deixaram alguns dos seus conhecimentos, seja em demonstraes, seja em algum ensino mais sistemtico. O primeiro contacto ainda sob a forma de Ju-Jitsu, data do primeiro quartel do sculo XX, altura em que Portugal foi visitado por Mestre Hirano, que infelizmente veio a morrer afogado na praia de Santa Cruz, perto de Torres Vedras. Seguiram-se as visitas do Mestre Sada Kasu Uyenishi que acompanhado por Deku, Taki e Yuki Tani e os Mestres Yamagushi, Magiro e Hayashi, efectuaram demonstraes e combates em Lisboa e Porto. Destes contactos e perante a eficcia dos ensinamentos e tcnicas apresentadas, foi includa a prtica do Ju-Jitsu nos cursos da Polcia de Segurana Pblica do Porto, iniciativa apadrinhada pelo seu comandante Coronel Namorada de Aguiar e por um oficial da mesma corporao; Tenente Alberto Cruz. A instruo desta nova disciplina foi ministrada por Armando Gonalves, decorria ento o ano de 1936. Armando Gonalves publicou alguns livros sobre a modalidade, como - " A defesa na rua", 1. a edio 1914, Porto; " O fraco vence o forte" 1. a edio 1941, Livraria Simes Lopes (Costa Matos, 1983). No ano de 1946 abre o primeiro dojo em Lisboa, com o nome de Academia de Budo, sob a orientao de Antnio Correia Pereira, que ter sido o primeiro portugus a desenvolver a prtica do Judo no nosso Pas. Deve-se a Antnio Correia Pereira a edio da primeira revista sobre o Judo Kodokan que se publicou em Portugal, da qual se publicaram nove nmeros. Sob o pseudnimo de Minuro publicou um livro intitulado " A essncia

31

Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

do Judo". o primeiro cinto negro portugus inscrito no Kodokan, no obstante por nunca ter estado ligado Federao Portuguesa de Judo, fundada muito posteriormente, a sua graduao no obteve reconhecimento em Portugal. Todas estas tentativas, apesar da sua relevncia, no foram suficientes para promover a difuso e a massificao do judo em Portugal. Em 1955, vem para Lisboa o francs Decruet, leccionar na Polcia Militar e em Mafra, sendo cinto castanho de Judo e mestre de armas. No mesmo ano, vem incorporar o corpo docente do Liceu Francs Charles Lepierre, o professor de Educao Fsica e cinto negro (1. Dan) Henri Bouchend'Homme. Verificando que no se pratica judo em Lisboa, comea a leccionar no Lisboa Ginsio, onde tem como alunos futuros judocas e precursores da modalidade. Tambm pela mesma altura radica-se em Lisboa Antony Striker, de nacionalidade Suia, tambm ele cinto negro 1 o Dan e que abre uma sala no Largo do Intendente. No ano de 1957 nasce a ideia, protagonizada por alunos de Henri Bouchend'Homme e de Antony Striker, de fundar um clube a que deram o nome de Judo Clube de Portugal e que teve como scio n. 1 - Edmundo Pires. Em Janeiro de 1958, e durante uma semana, esteve em Lisboa a convite deste nefito clube, o Mestre Kyoshi Mizuno. Em Agosto do mesmo ano vem o Mestre Ishiro Abe acompanhado do belga Lannoy - Clerraux e aquele que mais tarde h-de ser considerado o "pai" do Judo no nosso pas - Mestre Kiyoshi Kobayashi. Os praticantes da poca ficaram entusiasmados com a perfeio e eficincia dos seus atributos tcnicos, pelo que lhe foi dirigido um convite para leccionar em Portugal. Acordadas as condies, radica-se em Portugal a partir de Novembro desse mesmo ano. A sua actividade em vrios clubes de Lisboa e Beja permite uma normalizao competitivo. tcnica e, consequentemente, uma melhoria no plano

32 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Como consequncia lgica do desenvolvimento da modalidade e pela necessidade de reconhecimento Nacional e Internacional, nasce a vontade de criar a Federao Portuguesa de Judo, como forma de organizar, orientar, fomentar e dirigir as actividades, quer de divulgao, quer competitivas. Assim em 28 de Outubro de 1958 nasce a Federao Portuguesa de Judo, sendo as suas funes delegadas no Judo Clube de Portugal, seu scio fundador. Os primeiros clubes que se inscreveram na Federao foram: O Clube Shell, o Judo Clube de Beja, fundado em 12.06.1957, o Lisboa Ginsio Clube, o Ginsio Clube Portugus e, posteriormente, o Crculo de Judo do Porto, que foi o precursor do actual Clube de Judo do Porto. Em 1963, e dado o crescimento da modalidade, a Federao Portuguesa de Judo separa-se do Judo Clube de Portugal. Em 1975, e como corolrio do desenvolvimento da modalidade e sua expanso pelo pas, o judo adequou-se prtica da generalidade das outras modalidades, passando a ser scios da estrutura federativa as associaes distritais da modalidade. Esta alterao foi promovida pelos clubes de Lisboa, desde sempre o ncleo mais desenvolvido; contudo as primeiras Associaes devidamente reconhecidas e com estatutos publicados em Dirio da Repblica, foram as de Coimbra e de Santarm. Do labor empreendido pelo Mestre Kiyoshi Kobayashi, realiza-se, em 1959 no Estdio Universitrio de Lisboa, o primeiro campeonato absoluto de Portugal, onde Arlindo de Carvalho se sagra "primeiro" campeo do Judo Portugus. A actividade competitiva j existia, nomeadamente entre equipas, tendo decorrido no ano de 1956 uma prova denominada Lisboa - Sintra, saindo vencedora Lisboa por 4-2. Em 1959, enfrentam-se Lisboa e Porto sagrando-se vencedora a equipa de Lisboa, pelos mesmos nmeros. Portugal, devido ao seu crescimento e desejo de internacionalizao, viria a requerer a filiao da Federao Portuguesa de Judo no Congresso da Unio Europeia de Amesterdo no ano de 1960, aceite a sua candidatura, torna-se seu membro efectivo em 1961.

33 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

A primeira competio internacional em que Portugal participou teve lugar no Campeonato da Europa em 1960 em Amesterdo, fazendo-se representar, no ano seguinte, no Campeonato do Mundo de Paris. Entre os estrangeiros que leccionaram em Portugal e que contriburam para o desenvolvimento da modalidade, destacam-se: No Porto: Mestres Franceses - Unhe e Briskine, Mestre Japons - Nobuaki Yamamoto Em 1968, leccionou no Porto, onde viveu durante um ano. Em Maio de 2002, esteve no Luso a assistir ao Torneio Internacional de Judo que ali se realizou. Em Lisboa: Mestre Masami Shirooka Esteve uma grande temporada na Academia de Budo. Nos Aores: Masatoshi Ohi Viveu e leccionou Judo nos Aores, na ilha de S. Miguel durante cerca de 10 anos. Depois de uma ausncia de mais de 20 anos regressou novamente a S. Miguel onde se encontra novamente ligado modalidade. Com o mestre Kobayashi e com os contactos internacionais

estabelecidos, intensificaram-se as visitas de professores e atletas estrangeiros de renome internacional, de que destacamos: Natsui (Vencedor do 1. Campeonato Mundial), Tomita, Toshiro Daigo (Campeo Absoluto do Japo por 2 vezes na dcada de 50) Patrick Vial (Campeo da Europa e medalha de bronze nos Jogos Olmpicos de Montreal), Isao Inokuma (Campeo do Mundo e Olmpico), Angelo Parisi (vrias vezes Campeo da Europa e Campeo

34 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Olmpico em Moscovo), Neil Adams (Campeo da Europa do Mundo e ViceCampeo Olmpico em Los Angeles), Anton Gessing (o primeiro campeo do Mundo e Olmpico Europeu), Mestre Awazu uma das mais altas graduaes Europeias, Risei Kano (Presidente do Kodokan e filho do fundador do Judo), Frank Wieneke (Campeo Olmpico), etc. (Costa Matos, 1983). Paralelamente, Portugal aplica-se no sentido do reconhecimento das instncias Europeias para organizar Campeonatos de ndole europeia, o que acontece no ano de 1967, ao organizar os Campeonatos da Europa de Juniores e Esperanas, que se disputaram no Pavilho dos Desportos em Lisboa. Seguir-se-, no ano de 1968, a colaborao com as autoridades que superintendem o desporto universitrio, na organizao dos Campeonatos Mundiais Universitrios que se realizam no Pavilho do Estdio Universitrio de Lisboa e no Pavilho da Juventude Salesiana, no Estoril. Novamente no Pavilho dos Desportos de Lisboa, em 1980, a F.P.J. organiza os Campeonatos da Europa de Juniores, que repete no ano de 1994, desta feita em Almada, e em 1998 o Campeonato Mundial de Juniores, no Porto, no Pavilho Rosa Mota. No ano de 2001, na Madeira, organiza a "final four" de equipas masculinas, onde Portugal se sagra Vice-Campeo Europeu de equipas.

4.1 Algumas Curiosidades do Judo Nacional importante conhecer-se algumas das realizaes que marcaram o incio do judo neste pais, bem como realizaes que marcaram o rumo deste desporto. Apesar a fundao da F.P.J datar de 1956 s em Fevereiro de 1989 se realiza o I Congresso Nacional de Judo, em Lisboa e o II Congresso Nacional do Judo, realiza-se passado uma dcada em Sintra em 1999. O 1 o rbitro internacional da modalidade, tendo arbitrado no Campeonato Europa de Juniores e Esperanas, que decorreu em Lisboa no ano de 1967, foi Afonso H. Ivens F. Maia Loureiro, que com Kiyoshi Kobayashi, so as nicas pessoas a quem foi atribuda a qualidade de Scios Honorrios.

35 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuh-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

De destacar algumas proezas histricas alcanadas na modalidade, seja pelo valor que representam para o judo, seja pelo valor histrico da modalidade, como o facto de Nuno Denis Afonso Ribeiro, ter sido o 1 o cinto negro reconhecido pela Federao Portuguesa de Judo e Maria Margarida Gonalves, hoje Maria Margarida Gonalves Barbosa Arajo ter sido a 1 a judoca portuguesa a ser promovida a cinto negro. Essa graduao ocorreu a 13-12-1969, era na altura atleta do Ginsio Clube Portugus. Em termos competitivos merecem destaque, o atleta Arlindo Carvalho por ter sido o 1. Campeo Nacional, em 1959. O atleta Fernando Almada que foi o primeiro atleta portugus a ganhar uma medalha num Campeonato da Europa, foi em Juniores, no ano de 1968, em Londres. Fernando Costa Matos como o 1 o atleta Olmpico Portugus em Tquio, 1964. Foi Porta - Estandarte nesses Jogos. Antnio Roquete Andrade que detm o record de, como o judoca, possuir o maior nmero de participaes em jogos Olmpicos. Mais precisamente quatro. Foi Porta-estandarte nos Jogos Olmpicos de Los Angeles 1986. Filipa Cavalleri que foi Porta-Estandarte nos Jogos Olmpicos de Barcelona, em 1992. Foi a primeira atleta portuguesa a obter uma medalha num Campeonato da Europa de Juniores, foi 2 a classificada na categoria -56 Kgs, em 1991 em Pieksamaki. Por fim, NUNO DELGADO que foi o primeiro atleta do judo a sagrar-se Campeo Europeu Snior, em 1999. O primeiro atleta do Judo a conseguir uma medalha Olmpica, em Sydney 2000. Sendo o atleta que catapultou o Judo para patamares nunca antes atingidos, tendo feito mais pelo Judo nacional, que toda a sua antanha histria.

36 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae- Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Quadro 1. Quadro de Honra do Judo Nacional:Eventos Desportivos Nomes Classificaes Local/Ano

JOGOS OLMPICOS CAMPEONATO MUNDO SENIOR CAMPEONATO MUNDO JUNIOR

Nuno Delgado Filipa Cavalleri Guilherme Bentes Catarina Rodrigues Michel Almeida Pedro Soares Pedro Soares Michel Almeida

BRONZE BRONZE BRONZE BRONZE PRATA PRATA BRONZE OURO OURO BRONZE PRATA BRONZE PRATA BRONZE PRATA OURO PRATA PRATA BRONZE BRONZE BRONZE PRATA

SYDNEY/2000 MAKUHARI/1995 PARIS/1997 MUNIQUE/2001 CAIRO/1994 /2002 /2002 WROCLAW/00 BRATISLAVA/99 Ostende/1997 Haia/1996 BIRMINGTON/95 BRATISLAVA/99 GDANSK/1994 CHIPRE 2000 ALMADA/1994 ALMADA/1994 PAPENDHAL/1993 LONDRES/1968 PAPENDHAL/1993 JERUSALEM/1992 PIEKSAMAKI/1991

CAMPEONATO EUROPA

Nuno Delgado Pedro Caravana Pedro Soares Pedro Soares Paula Saldanha Justina Pinheiro Joo Pina Pedro Soares

SENIOR

CAMPEONATO EUROPA

Michel Almeida Michel Almeida Fernando Almada Andreia Cavalleri

JUNIOR

Silvia Henriques Filipa Cavalleri

37 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

38 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

CARACTERIZAO DO JUDO ACTUAL

39 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae- Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

5. CARACTERIZAO DO JUDO ACTUAL

Estudo realizado por Villamn et ai. (1995), Conclui pela existncia de trs tendncias de interpretao e prtica do Judo. Utilizando um mtodo descritivo cronolgico, caracteriza-as como: 1. - Judo Tradicional - onde se procura redescobrir o Judo tal como o interpretou Jigoro Kano, concedendo uma importncia fulcral ao seu lado espiritual, bem como ao facto da sua gnese advir das Artes Marciais Japonesas; 2. - Judo Rendimento (Desporto Olmpico) - Visto unicamente como um desporto, afastando ou delimitando os elementos culturais japoneses (rituais, filosofia, oriente, etc.), visa a modernizao do judo, a partir da sedimentao das alteraes determinadas pela espectacularidade e pela sua transformao em desporto popular e atractivo, ditadas pelos meios televisivos e econmicos. Este conceito evidencia que a evoluo das mentalidades e o interesse dos Pases na obteno de vitrias e medalhas, aliados idolatrao social dos seus melhores performers, afastam o judo da sua ortodoxia; 3. - Judo para Todos, classificado como o judo que deveria ser praticado por um segmento de populao adulta, que j foi numerosa, bem como por crianas e jovens que, ao serem impelidos a competir, muitas vezes sem o desejarem, acabam por abandonar a actividade. Na verdade, todas estas formas tm uma base tcnica comum e, apesar de intensidades e finalidades diferenciadas, possvel e imperiosa a sua coexistncia, explorando a sua complementaridade, quer em funo da idade, quer do centro de interesse de cada praticante. Segundo Burger (1995), o mundo oficial do judo vive de costas voltadas para o judo cio / tempo livre, e a confirmar esta tendncia pode ocorrer o mesmo que com outros desportos, como a Luta Livre Olmpica e GregoRomana, por exemplo, que praticamente desapareceram tal a exorbitante ateno dada alta-competio, em detrimento do desporto cio / tempo livre, que praticamente desapareceu.

41 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsur-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Ressalva-se que no judo actual prevalece a tendncia da componente Judo Rendimento, sobretudo por razes Institucionais, j que o apoio institucional quase inteiramente dedicado e canalizado para este tipo de desporto como forma de exaltao pblica e afirmao internacional. O judo um jogo de luta com regras prprias, entre dois adversrios, sem possibilidades de condutas de cooperao, com a finalidade do domnio, em interaco, de um sobre o outro, respeitando ao mximo a sua prpria integridade fsica, bem como a do seu adversrio. Daqui advm algumas particularidades do judo, j que cada um o nico e directo responsvel, e sempre quem decide e pe em prtica as aces, sem estar dependente de nenhum outro companheiro. Como resultado final do combate s pode haver um vencedor, pelo que implica uma grande responsabilidade, tanto no decurso, como no fim do combate, na assumpo individual da vitria ou derrota. A manifestao de superioridade pode obter-se, basicamente, por duas formas: em p, com o objectivo de projeco; ou no solo, com o objectivo de imobilizar, estrangular, por forma area ou sangunea, ou pela aplicao de uma chave articulao do cotovelo, nica articulao passvel de ser luxada, que pode ser realizada por hiper-extenso, flexo forada ou por toro em posio supina ou prona. Como desporto de luta corpo a corpo, caracteriza-se por apresentar um aspecto tctico complexo e diverso. Com caractersticas estruturais e funcionais prprias, onde a tcnica um dos aspectos primordiais que, em funo do envolvimento, se caracteriza por destrezas abertas, j que essencial para a sua realizao e sucesso um circuito de feedback externo ou perifrico, no qual a informao visual e quinestsica jogam papis fundamentais, na percepo dos sinais que permitir organizar, em funo de experincias e vivncias anteriores, resposta adequada. J que num combate intervm serem humanos em aco, com uma relao cambiante em cada instante, ora atacante, ora defensor, Singer (1980) sintetiza a anlise de Knapp e de Pouton (1957) englobando as tarefas motoras do tipo predominantemente perceptivo e abertas em tarefas de regulao externa.

42 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae- Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Em funo da estrutura do movimento e socorrendo-nos de Kreighbaum e Barthels (1990), podemos considerar o judo como um desporto de habilidades discretas. Em funo do controlo e da tomada de decises, o judo, conforme a classificao de Farfel (1960), uma modalidade acclica, j que no se trata de um repetio cclica de um acto motor, mas antes de combinaes de aces cclicas e acclicas e, inclusivamente, de aces acclicas continuadas, onde prevalece como caracterstica mais relevante: a variabilidade. As aces tcnicas do Judo caracterizam-se por dispor de trs fases, que, interligadas, so parte integrante de cada tcnica e condio para o seu sucesso, como sejam o desequilbrio (Kuzushi) - fase inicial de qualquer tcnica e necessria para a sua aplicao-, o contacto (Tsukuri), fase de execuo da prpria tcnica, e a fase de projeco propriamente dita (Kake) e que se refere correcta relao dos corpos, bem como ao controlo do adversrio, quer na sua fase area, quer na fase final do contacto com o tatami. A tcnica no judo cumpre vrias funes, seja na consecuo da preciso dos movimentos e coordenao das tcnicas individuais, seja no evitar da antecipao do adversrio e na desconstruo do seu ataque. A competio no judo desenvolve-se por categorias de peso, o que garante algum equilbrio. Actualmente, so oito as categorias de peso, mas nem sempre foi assim, pois nos primrdios era uma nica categoria; posteriormente, por imperativos olmpicos, passaram a quatro, de seguida a seis e, pela mesma razo, passaram ao nmero de categorias ora existentes. Os aspectos desportivos da estrutura formal do judo, segundo Castarlenas et. ai. (1999) e baseando-se numa anlise do regulamento, so o espao, o tempo, o judogi e a interaco. Assim, o desenvolvimento do combate dentro destas coordenadas tem traduo num sistema de pontuaes-penalizaes (quadro 1) de tal maneira que o marcador sofre variaes tanto pela aco de objectivos prprios da luta (projectar, imobilizar, estrangular, luxar), como pela infraco a alguma norma, pelo que afinal possuem um valor e somadas perfazem o resultado.

43 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

As pontuaes derivam e materializam-se em aces ofensivas e esto codificadas em pontos. Assim "Ippon" equivale ao final do combate, seja pelo resultado de uma tcnica de projeco, seja por uma imobilizao de 25 segundos, seja proveniente do abandono por estrangulamento ou luxao; o "Wazar', que corresponde a meio ponto, que tem a qualidade de ser somativo e que com outro pressupe o fim do combate por Ippon, e ainda o "Yuko" e o "Koka", que so vantagens menores e que so acumulativos, mas no alteram a sua qualidade seja qual for o nmero que se obtenha. No final, a qualidade prevalece sobre a quantidade, isto , por exemplo, 100 Kokas valem menos que um 1 Yuko e qualquer nmero destes inferior a 1 Wazar. Do lado contrrio, mas com o valor equivalente a cada uma das pontuaes, esto as penalizaes, que cumprem duas importantes funes no judo, como seja preserv-lo como um desporto de luta e no deixar que extravase o aspecto desportivo, bem como dinamizar a sua interaco, no permitindo condutas de falta de combatividade ou de passividade. As sanes esto relacionadas com as seguintes aces e comportamentos: (1) m ou incorrecta utilizao do espao, (2) falta de combatividade, (3) perigosidade da integridade fsica do adversrio ou da prpria, (4) utilizao indevida do judogi ou suas partes e (5) comportamentos anti-desportivos.

Quadro 2. Equivalncias entre castigos e pontuao, at o ano de 2002. Pontuao KOKA YUKO WAZAR IPPON Penalizao SHIDO CHUI KEIKOKU HANSOKUMAKE

5.1 O espao O espao onde se desenrola uma competio de judo denomina-se rea de competio. Esta, por sua vez, subdivide-se em duas, a rea de combate que deve possuir a rea de 10x10 m, ou no mnimo 8x8m, e compreende a44 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

zona de perigo dada por um permetro quadrado de um metro de largura, e a zona de segurana, a qual deve ter a largura de 3 metros. Assim, para a validade de qualquer tcnica, necessrio que esta ocorra na rea de combate. Em consequncia, muitos combates de judo em p eram tacticamente jogados com esta norma, quer obrigando o adversrio a sair, logo sendo penalizado, quer aproveitando o movimento de defesa sua no sada da rea de combate, para desferir um ataque vitorioso. O mesmo acontecendo com o judo no solo, j que se torna menos arriscado o perigo de imobilizao, junto ao limite da rea de combate, pela maior facilidade da sua defesa com a sada total do seu corpo da rea de combate.

rea de competio

Figura 1. Representao esquemtica da rea de Competio 5.2 A durao do combate A durao do combate, para as categorias juniores e seniores, quer masculinos quer femininos, de cinco minutos; o tempo o real, no tendo em conta as paragens. Para as categorias Juvenis de trs minutos e para os Esperanas de quatro minutos de tempo real. Segundo um estudo realizado por Castarlenas e Planas (1995), a durao mdia de um combate, se considerarmos tanto os combates que terminam antes do tempo, como os que finalizam por tempo de dois minutos

45 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

e cinquenta e dois segundo. Outra das caractersticos dos combates do judo a alternncia entre sequncias de trabalho e sequncias de pausa, sendo que a sequncia de trabalho de dezoito segundos e as de pausa de cerca de doze segundos. 5.3 0 judogi O judogi uma veste baseada no kimono tradicional Japons. A sua utilizao deve-se s origens do judo, bem como ao facto de ser um desporto de preenso, servindo o judogi para mediatizar o confronto e oferecer, conforme constata Adams (1992), a possibilidade da aquisio de habilidades sem limites e da utilizao de uma variedade de tcnicas de luta sem paralelo em nenhum outro desporto de combate. O judogi, que entretanto e desde a criao do judo, sofreu grandes alteraes, composto por um casaco, umas calas e um cinto. As regras definem o seu tamanho, comprimento e largura (figura 2).

Figura 2. Medidas Regulamentares do Judogi (adaptado de Regras de Arbitragem F.P.J.)

46 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

5.4 A interaco A interaco pode-se definir como a relao de oposio que se estabelece entre os judocas, baseada na oposio dual e mediatizada pelo objectivo comum de demonstrar a superioridade tcnica, sendo utilizada a contra comunicao motora. Aqui se poder incluir o sistema de pontuao e de penalizao, resultantes dessa manifestao de superioridade, bem como o sancionamento de qualquer desrespeito, quer pelo espao, tempo, judogi, ou mesmo de infraco de regras de segurana ou de conduta desportiva.

5.5 A preenso - {KUMI-KATA)

Todas as tcnicas de projeco dependem do factor de preenso "pega"- e da forma como esta se efectua, sendo um factor crucial no desenrolar de um combate de judo. Existem duas divises fundamentais e tradicionais na forma de preenso: HIKITE - Que significa estender/estirar e que se aplica geralmente mo da manga do judogi, proporcionando a energia suficiente para a projeco. TSURITE- Que significa "pescar" e se aplica mo da lapela ou gola, descrevendo normalmente a aco de desequilbrio do adversrio sobre os dedos dos ps e sobre um dos lados. Pese embora o facto de a tcnica standard em estudo ser demonstrada e codificada em posio hikite, isto a mo da manga e o p de bloqueio se situarem do mesmo lado, resultados de inquritos e de observaes levados a efeito em competio e randori demonstraram que cerca de 70% da tcnica eram realizadas em verso tsurite.

47 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Ainda dentro das pegas existem duas subdivises importantes e que condicionam o factor tcnico. So elas: AI-YOTSU - Que significa que os judocas possuem a mesma pega, ou seja pega direita contra direita, ou pega esquerda contra esquerda. KENKA-YOTSU Que significa que os judocas possuem pegas opostas, isto , pega direita contra esquerda ou vice-versa.

48 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

DESCRIO TCNICA

49 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo

Sasae- Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

6. DESCRIO TCNICA 6. 1 Sasae-Tsuri-Komi-Ashi A tcnica Sasae-Tsuri-Komi-Ashi foi codificada como uma tcnica de membros inferiores, traduzindo-se por projeco com apoio na articulao tbio-trsica. A sua aplicao no depende da escolha de um momento oportuno, tratando-se de uma tcnica de bloqueio do tornozelo com desequilbrio das mos, requerendo um movimento de tori pequeno e restringido, podendo tambm usar-se como forma de varredura. uma tcnica mais vantajosa para atletas altos e de membros inferiores longos, sendo necessrio um bom sentido de equilbrio e tronco flexvel.

6.2 Taxinomia da tcnica Vrios autores procederam classificao das tcnicas de projeco, procurando estabelecer, fundamentalmente, critrios didcticos para o ensino do Judo, quer baseado em princpios biomecnicos, quer pela organizao por princpios pr-estabelecidos (Casterlenas e Calmet, 1999), assim o SasaeTsuri-Komi-Ashi,

Segundo a classificao proposta pelo Kodokan em 1982, (datando a primeira classificao de 1885), esta tcnica pertence s tcnicas de projeco de membros inferiores. Data de 1920 a organizao didctica por ordem de dificuldade na aprendizagem, posicionando-se em terceiro lugar na escala de aprendizagem.

51 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

O mtodo Kawaishi, proposto em 1964, considera-a uma tcnica de membros inferiores, mas coloca-a na sua escala de aprendizagem, na dcima primeira posio.

A classificao proposta por Koizumi, pioneiro do judo ingls, baseada em dois critrios, que se enunciam: 1. O deslocamento do uke no momento de projeco, e 2. O tipo de aco que realiza tori para projectar o uke. Classificando, o Sasae-Tsuri-Komi-ashi, com base nestes

pressupostos como Tsumazukase Waza - projeco atravs de bloqueio da perna ou ps do uke. Sacripanti (1991), props uma das classificaes mais cientficas, baseada em critrios biomecnicos rigorosamente seleccionados. Depois de uma conceptualizao terica em volta de uma anlise esttica das tcnicas, cuidando dos princpios da composio das foras para a realizao das projeces, partiu para uma anlise dinmica com o estudo da trajectria de voo do corpo de uke e a sua simetria relativa. Na sequncia destes estudos, Sacripanti referencia dois tipos de projeces: 1. Tcnicas em que o tori faz uso de um par de foras para projectar, e 2. Tcnicas em que o tori faz uso de uma alavanca para a execuo da projeco. Assim, a tcnica em anlise neste estudo seria classificada, segundo Sacripanti, como uma tcnica de alavanca fsica, pelo facto de o corpo rodar em torno de um fulcro do seu prprio corpo, sendo uma tcnica de brao mximo, j que o fulcro se situa no malolo direito do uke.52 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Gleeson

(1975)

teve

em

linha

critrios

de

ordem

tctica,

diferenciando a sua classificao de todas as outras por organizar as tcnicas no a partir de parmetros morfolgicos, mas a partir das circunstncias do combate e das aces necessrias a realizar por quem projecta.

Assim, considera, a tcnica em estudo, uma tcnica do grupo das tcnicas de rotao do subgrupo 1 - rotao pura, que se caracteriza por normalmente o uke se deslocar lentamente e o tori colocar o membro inferior, anca, brao ou corpo em frente ou atrs do uke e a manga ser utilizada para provocar a rotao e projeco sobre as costas.

Adams (1992), baseou a sua classificao das tcnicas a partir das diferentes situaes que se produzem em combate, relacionadas com a forma da "pega". A partir desta ideia estabeleceu alguns critrios que suportam a sua perspectiva: 1. O sentido da queda do Uke; 2. A necessidade, ou no, do controlo da cabea, na projeco; 3. A colocao do tori em funo dos braos do adversrio, e 4. O deslocamento de uke em relao com os braos do tori. Classificando, a tcnica em estudo, como uma tcnica de projeco para um dos lados ou em crculo com bloqueio/ varredura dos ps do adversrio.

Kolychkine (1989), adoptou a classificao do Kodokan, introduzindoIhe, no entanto, a teoria dos movimentos principais e movimentos afins. Atravs desta teoria organiza famlias de movimentos, que possuem similitude mecnica e caractersticas comuns entre si.

53 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Segundo esta premissa, uma tcnica possui em cada grupo todos os elementos bsicos das outras. Caberia tcnica deste estudo ser um movimento principal e ter por movimentos afins as tcnicas Hiza-guruma, Ashi-guruma e Haraitsuri-komi-ashi.

Segundo Geesink (1967) a classificao das tcnicas deve basearse no somente nos diferentes aspectos bio-estruturais, como fez o Kodokan, mas tambm na utilizao das cadeias cinticas, utilizando este autor as seguintes definies:

1. Brao de trabalho -

O brao que no muda de posio

independentemente da sua prpria funo; 2. Brao de aco - O brao que muda de posio, que se move; 3. Brao de ajuda - O brao de aco quando volta sua posio precedente; 4. Membro inferior de trabalho - O membro inferior que com a sua aco dinmica permite efectuar a tcnica; 5. Membro inferior de aco - O membro inferior de trabalho que est livre antes do contacto com o adversrio, e 6. Membro inferior de ajuda - O membro inferior de trabalho quando no efectua aco de contacto, mas suporta o apoio no solo para dar mais estabilidade posio. A tcnica em estudo no encontra lugar nesta classificao. A nova progresso da Federao Francesa de Judo, classifica s um certo nmero de tcnicas, consideradas importantes para a aprendizagem pedaggica. at cinto verde e no pretende ser uma classificao rigorosa, antes um instrumento de facilitao

54 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Nesta

classificao

agrupam-se

as

tcnicas

em

grupos

homogneos, segundo os seguintes critrios: 1. Nmero de apoios no solo - Os dois ou um dos ps; 2. Separao das membros inferiores - Afastadas ou juntas; 3. Colocao de tori em face do uke - De frente ou de costas; 4. Outras tcnicas - Varrimentos, sutemis e projeces com priso das membros inferiores, e 5. Direco da queda do uke - Para a frente ou para trs. Aparece-nos que a tcnica em estudo deve ser classificada como uma projeco para a frente, com o tori posicionado de frente para o uke, sobre um apoio.

6.3 Descrio tcnica do Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Descrita por Nobuyuki Sato (1992) 6.3.1 Forma hikite 1. Tcnica bsica Ai-Yotsu Adiantando o p esquerdo, induzir o adversrio a retroceder com o seu p direito (figura 3 a), no se sentindo cmodo e necessitando de mais apoio retrocede tambm com o seu p esquerdo, deixando entre os dois um importante espao vertical (figura 3b) que se utiliza apoiando o p direito altura do tornozelo do adversrio (figura 3c) e rodando o corpo para a direita. O membro inferior de apoio deve estar totalmente estendido, o corpo firme mas inclinado para trs. Com a mo esquerda exero traco para cima e em crculo. Este movimento apoiado com a elevao tambm em crculo da mo da gola (figura 3d).

55 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Figura 3. As vrias fases da tcnica Sasae-Tsuri Komi Ashi. a)Deslocamento b) Desequilbrio c) Contacto d) Projeco

2. Kenka-Yotsu Esta posio de mais difcil sucesso, embora no impossvel. A maioria dos pontos importantes so os mesmos que para a tcnica precedente, alterando s alguns detalhes. Sendo a maior diferena o facto de a mo da manga fazer a pega pelo interior junto axila (figura 4e), necessitando esta aco de um efeito circular mais acentuado, e o facto de esta pega proporcionar um maior controlo do trem superior do corpo do adversrio.

Figura 4. As vrias fases da projeco, com pegas opostas. a)-b) Deslocamento c) desequilbrio d) contacto e)-g) Projeco.

56 _Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

Como norma geral, os atletas de maior flexibilidade dorsal podem colocar o p de apoio da parte de fora do p direito do adversrio (figura 5a), enquanto que os menos flexveis devem fazer uma entrada mais profunda com o p de apoio na parte interior do p direito do adversrio (figura 5b).

a)

b)

Figura 5. Forma de aproximao e apoio, a) interior, b) exterior.

6.3.2 Forma tsurite Tcnica bsica Ai-Yotsu e Kenka-Yotsu A aco de projeco virtualmente a mesma nas duas verses. Comeo por criar movimento pelo empurrar ligeiramente da mo direita sobre o peito do adversrio (figura 6a) Comeo por criar movimento pelo empurrar ligeiramente da mo direita sobre o peito do adversrio (figura 6b) Perante a ameaa, a reaco fugir para fora, apoiando-se no seu p direito, para proceder transferncia para o retirar do p esquerdo (figura 6c) Nesta posio o adversrio encontra-se na posio ideal para o ataque, que se realiza pela mudana drstica de lado (figura 6d), efectuando um passo com o p e para o lado direito, bloqueando o adversrio com o p esquerdo com uma traco da mo da lapela para cima e em crculo e com a mo direita empurrar duma forma parablica, como se manobrasse um volante de um grande pesado de passageiros (figura 6e).

57 Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

c)

Figura 6. Sasae-Tsuri-Komi-Ashi na forma Tsurite a)-c) Deslocamento d) Desequilbrio e) Projeco.

58 .Anlise Biomecnica da Tcnica de Judo - Sasae-Tsuri-Komi-Ashi Estudo de Caso

Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica - UP

6.4 Resultados Internacionais com a tcnica Dos dados disponveis verifica-se que no panorama internacional no foram muitos os combates ganhos atravs da tcnica em anlise, e este facto pode dever-se dificuldade da sua anlise, j que a velocidade a que as tcnicas, em contexto competitivo, so efectuadas no permitem verificar com exactido se so realizadas em bloqueio se em varrimento. A verdade que apesar da inexpressiva vantagem atribuda pelas estatsticas, indiscutivelmente uma tcnica usada como recurso e de desequilbrio, no existindo dvidas da sua eficcia, quer para romper um equilbrio, ou uma defesa, quer para provocar uma reaco, e uma tcnica que, indubitavelmente, alcana pontuaes menores. Por conseguinte, trata-se de uma tcnica importante, e que deve fazer parte do reportrio de qualquer judoca. Estudos realizados por Gleeson (1975) publicados no Japo no "The Bullettin of the Association for the scientific studies on Judo", possvel verificar num estudo estatstico que compreende os anos de 1952 a 1969 que em 2512 vitrias por Ippon (pontuao mxima