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ANÁLISE CRÍTICA DOS PRINCIPAIS
INDICADORES UTILIZADOS EM
EMPRESAS DE BENEFICIAMENTO DE
COUROS, SOB A ÓTICA DA TOC -
THEORY OF CONSTRAINTS
Aline Dresch (UNISINOS)
Gustavo Henrique Dienstmann (UNISINOS)
Daniel Pacheco Lacerda (UNISINOS)
Luis Henrique Rodrigues (UNISINOS)
Ricardo Augusto Cassel (UFRGS)
Este artigo objetiva realizar uma análise crítica dos principais
indicadores de desempenho empregados em empresas beneficiadoras
de couro, Para realização desta análise serão utilizados alguns
conceitos da TOC - Theory of Constraints. Os prrincipais conceitos
abordados e utilizados por este estudo serão o de mundo dos ganhos e
alguns princípios do processo de pensamento (ARA - Árvore da
Realidade Atual).
Palavras-chaves: TOC, curtume, indicadores, teoria das restrições,
desempenho
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
O homem iniciou suas atividades, que denominou de trabalho, de maneira artesanal.
Mensurava seu desempenho através do atendimento de suas necessidades. A partir da
Revolução Industrial, com a criação de indústrias e se acentuando com as técnicas de divisão
do trabalho, houve um distanciamento cada vez maior entre o objetivo individual e o da
organização. Diante disto, os gestores vislumbraram a necessidade de medir o desempenho,
bem como estabelecer objetivos a serem alcançados, para que a organização pudesse
aumentar a sua lucratividade constantemente. Assim iniciou-se a utilização dos indicadores
nas organizações.
O setor coureiro calçadista do Vale do Rio dos Sinos (localizado a 30 km da capital Porto
Alegre-RS) teve modificação no seu cenário econômico, devido primeiramente a valorização
do real e posteriormente à chegada de novos entrantes no mercado. Neste setor é possível
observar uma mudança no padrão antes vigente de produção em massa, já que atualmente o
mercado tem exigido dos curtumes uma maior variedade de produtos em menores
quantidades.
Para garantir a melhoria contínua nos processos, e também, para que a empresa se torne cada
vez mais competitiva e sustentável no mercado, a aplicação de alguns princípios da Teoria das
Restrições (TOC) seriam bastante apropriados, como por exemplo, o estudo das restrições,
utilização de métodos para sincronização da produção e, claro, o uso de indicadores de
desempenho que possam auxiliar a empresa a avaliar o seu comportamento com relação aos
seus objetivos e metas.
Quanto aos indicadores de desempenho também é possível perceber que na maioria dos casos
há um entendimento errôneo sobre estes, já que a sua gestão é feita com enfoque nos
indicadores locais, com a equivocada ideia de que a soma dos ótimos locais será igual ao
ótimo global (QUEIROZ E RENTES, 2010).
Geralmente existe uma desconexão entre as medidas do chão de fábrica e os requisitos da
organização em nível estratégico, fazendo que as equipes trabalhem arduamente para cumprir
as suas metas locais, mas estas nem sempre estão contribuindo para o sucesso global
(NORCROSS, 2006).
Este artigo se propõe a fazer uma análise crítica dos principais indicadores de desempenho
empregados em empresas beneficiadoras de couro, para realização desta análise será utilizada
a teoria proposta por Goldratt (1991) no que tange o mundo dos ganhos e também alguns
princípios do processo de pensamento (Goldratt, 1994) como a ARA – Árvore da Realidade
Atual que será usada como ferramenta para a realização da análise crítica proposta.
Na seção a seguir serão explicitados os conceitos teóricos de contabilidade de custos e a
contabilidade dos ganhos, que servirão de referência para o desenvolvimento deste estudo.
2. Metodologia
Foi realizado um estudo de caso múltiplo em curtumes de médio porte que produzem couros
acabados e estão localizado na região do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul. A forma
utilizada para coleta de dados foi a entrevista não estruturada com os profissionais
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responsáveis pelos indicadores de desempenho destas empresas. Além da entrevista, visitas
foram realizadas a fim de se fazer uma observação direta do processo e possibilitar coleta de
dados acerca dos indicadores utilizados pelas empresas.
3. Contabilidade de custos x contabilidade de ganhos
Diante da evolução dos sistemas produtivos e dos cenários econômicos e de concorrência,
novas teorias, conceitos, métodos e ferramentas são propostos. Para que todos esses novos
paradigmas tenham sucesso na sua implantação é necessário haver um sistema de métricas
aderentes aos objetivos traçados pela empresa, sob pena de boas teorias trazerem péssimos
resultados.
Goldratt (1991) expõe a necessidade de quebra de paradigma na questão de indicadores e
informações para tomada de decisão, principalmente no cerne da questão que é da onde os
mesmos são criados e surgem. Assim este autor propõe a migração da contabilidade de custos
para a contabilidade de ganhos.
Muitos autores (GOLDRATT, 1991; GUERREIRO, 1996; CORBETT, 1997; DUGDALE &
JONES, 1997, GRAVES & GURD, 1998; DRAMAN, LOCKAMY III & COX III,
2002; WATSON, BLACKSTONE & GARDINER, 2007 apud LACERDA e RODRIGUES,
2009) defendem a existência de dois mundos: o Mundo dos Custos e o Mundo dos Ganhos. O
Mundo dos Custos considera os pressupostos da Contabilidade de Custos, já o Mundo dos
Ganhos é apresentado pela Teoria das Restrições.
Tanto o Mundo dos Ganhos como o Mundo dos Custos possuem uma meta em comum que
pode ser explicitado como: melhorar os resultados das organizações. Isso pode ser expresso
na frase “Ganhar dinheiro hoje e no futuro”( GOLDRATT , 1984).
Para o Mundo dos Custos a forma de “Ganhar mais dinheiro hoje e no futuro” é a redução de
custos, uma vez que estes estão sob o controle interno da organização e aumentar as
receitas depende do mercado. As reduções de custos obtidas em cada um dos produtos
somam-se e melhoram o resultado da empresa como um todo (LACERDA, 2005; LACERDA
e RODRIGUES, 2009).
No entanto, no Mundo dos Ganhos, segundo Lacerda e Rodrigues (2009) a maneira de se
alcançar o objetivo de “Ganhar mais dinheiro hoje e no futuro” é através do aumento
dos ganhos, considerando-se que este, teoricamente é ilimitado, porém a diminuição dos
custos é limitada. Para ter-se a visão do porque desta proposição, apresenta-se abaixo,
primeiramente a contabilidade de custos (modelo gerencial de controle amplamente utilizado)
e após o contraponto proposto, a contabilidade dos ganhos.
3.1 Contabilidade de Custos
A contabilidade de custos, como denominada por Goldratt (1991), surgiu a partir da
necessidade de informações para tomada de decisão gerencial. Assim passou-se a utilizar
métodos já empregados pela contabilidade convencional.
3.2 Contabilidade dos Ganhos
Goldratt (1991) propõe uma nova abordagem para controle e medição de desempenho, que
denomina de Contabilidade do Mundos dos Ganhos. Para isso ele realiza quebra de
paradigmas, questionando primeiramente qual a meta da empresa.
A partir da definição de que a meta principal da empresa é ganhar mais dinheiro hoje e no
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futuro (após Goldratt complementar com outras duas metas necessárias para o atingimento da
principal, mas que este trabalho não irá se deter) ele realiza a construção de uma nova visão
para a informação a tomada de decisão (contabilidade gerencial) e das métricas de
desempenho (SINISGALLI, 2009).
A lógica utilizada por Goldratt busca verificar se o objetivo proposto pela empresa (ganhar
mais dinheiro hoje e no futuro) está sendo atingido ou não. Também é possível analisar
através dele se as ações locais voltadas a melhoria contínua do processo estão de fato
contribuindo para o ótimo global. Os indicadores são divididos em dois grupos:
Indicadores Globais: lucro líquido (LL), retorno sobre investimento (RSI) e caixa (C);
Indicadores Locais: ganho (G), despesas operacionais (D) e inventário (I).
Figura 1: Relação entre os indicadores globais e locais.
Fonte: Vieira (2009)
Analisando-se genericamente a relação entre esses indicadores de desempenho globais e
locais pode-se observar que:
O lucro líquido aumenta, com o aumento dos ganhos e diminuição das despesas
operacionais;
Com o aumento do ganho, diminuição das despesas operacionais e diminuição dos
inventários, há um aumento no índice de retorno sobre investimento;
O fluxo de caixa aumenta quando há um aumento no ganho e diminui quando há um
aumento das despesas operacionais e do inventário.
Na próxima seção serão discutidos alguns conceitos sobre indicadores de desempenho, com
enfoque em indicadores sistêmicos, conceitos estes fundamentais para o desenvolvimento
deste estudo.
4. Indicadores sistêmicos
Lacerda e Rodrigues (2006, p.403) afirmam que “o sistema de indicadores tem um papel
importante, uma vez que direciona os esforços organizacionais. Nesse sentido há paradigmas
organizacionais e modelos mentais que sustentam os sistemas de indicadores.” De uma
maneira geral, os indicadores comumente utilizados orientam as empresas para uma visão
local ao invés de uma visão global da empresa.
Segundo Lacerda e Rodrigues (2006) é fundamental que os indicadores atuem como indutores
de mudanças nas organizações. Devem também motivar as partes a atuar tendo em vista a
noção do que é bom para o todo, e não somente para as partes.
Uma contribuição de Goldratt (1984) acerca da temática indicadores é uma célebre frase deste
autor, que afirma: “Diga-me como me medes e te direi como me comportarei; se me medires
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de forma ilógica não reclame de comportamento ilógico” (GOLDRATT, 1984, p.28).
O comportamento ilógico é percebido em uma série de indicadores quando passam a ser
avaliados de maneira mais crítica, uma vez que muitos destes indicadores foram
implementados sem uma ideia clara do que exatamente iriam medir, e de que maneira esta
medição ou estes resultados poderiam contribuir para o sucesso da organização como um
tudo.
Conforme Lacerda e Rodrigues (2006), o mundo dos custos e o mundo dos ganhos (retratados
nas seções anteriores), são sustentados por diferentes modelos mentais. A fim de revisar este
modelo mental do mundo dos custos que interfere nos indicadores normalmente utilizados
pelas organizações, alguns autores como Lacerda e Rodrigues (2006), sugerem um novo olhar
sobre indicadores, um olhar voltado para o todo e não para as partes, os indicadores
sistêmicos.
De acordo com Lacerda e Rodrigues (2006), algumas características estão presentes nos
indicadores chamados sistêmicos:
Indicadores estão relacionados ao planejamento e a tomada de decisão;
Não são numéricos, e sim escalares (aumenta ou diminui);
Indicadores devem indicar a estratégia da empresa por toda organização;
Indicadores devem ser agregados, a fim de diminuir a quantidade de indicadores,
deixando-os mais robustos e coerentes com a visão global da empresa;
Indicadores setoriais devem ultrapassar os limites do setor, tudo deve estar integrado
com os objetivos estratégicos da empresa;
Indicadores devem ser avaliados de forma dinâmica, sistêmica e comportamental.
Na seção a seguir serão explicitados alguns conceitos do processo de pensamento, proposto
por Goldratt em 1994 no seu livro intitulado “Mais que sorte”. Uma das ferramentas propostas
por este autor será utilizada neste estudo para a realização da análise crítica dos indicadores de
empresas do ramo coureiro.
5. Processo de pensamento da teoria das restrições
Segundo Cox III e Spencer (2002), o Processo de Pensamento da Teoria das Restrições é um
conjunto de ferramentas da Teoria das Restrições (TOC) para a identificação de problemas
centrais, causas-raiz, busca de soluções do tipo ganha-ganha e superação de obstáculos para
implantação de soluções. As ferramentas do Processo de Pensamento podem ser utilizadas de
maneira isolada ou interligadas. Ele busca, através de um método científico, responder a três
questões (o quê mudar, para o quê mudar e como provocar a mudança) através de uma lógica
de relações efeito-causa-efeito (NOREEN et al, 1996).
Cox III e Spencer (2002) apresentam cinco ferramentas, com base na Teoria das Restrições,
para responder as três perguntas fundamentais. As ferramentas estão expostas no quadro 1.
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O que mudar? Para o que mudar? Como mudar?
- Árvore da Realidade Atual
- Diagrama de Dispersão de Nuvem
- Árvore da Realidade Futura
- Árvore de Pré-Requisitos
- Árvore de Transição
Quadro 1: Ferramentas do Processo de Pensamento. Fonte: adaptado de COX III, J.;
SPENCER, M. Manual da Teoria das Restrições. Porto Alegre: Bookman, 2002.
5.1 Árvore da Realidade Atual (ARA)
Cox III e Spencer (2002) e Noreen et al (1996) descrevem cada ferramenta para cada
pergunta. Desta forma, em relação ao o que mudar, a Árvore de Realidade Atual (ARA) é
utilizada para identificar os problemas centrais que podem ser a causa de Efeitos Indesejados.
A ARA é uma ferramenta baseada numa lógica causa-efeito, mostrando os problemas-raiz e
suas consequências. Ela é utilizada, conforme Noreen et al (1996) para diagnóstico de
problemas centrais, a partir duma lista de sintomas levantados em grupos interfuncionais. Os
sintomas são os efeitos indejáveis (EI´s).
Uma ARA bem construída pode fornecer mecanismos para identificação do impacto que as
políticas, procedimentos e ações causam na empresa; para a comunicação da causa dessas
políticas, procedimentos e ações; para a identificação do problema central; e para a
centralização da massa crítica da organização em um problema central, transmitindo um clima
favorável frente aos problemas (COX III E SPENCER, 2002)
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Lacerda (2005), propõe a comparação entre a proposição de Noreen et al (1996) e Cox III e
Spencer (2002), conforme demonstrado no quadro 2.
Quadro 2: Passos para a construção da Árvore da Realidade Atual.
Fonte: Lacerda (2005)
A leitura da ARA ocorre como demonstra Scheinkopf (1999) na figura 2.
Passo Proposição 1 (NOREEN et al, 1996, p.
154)
Proposição 2 (COX III, SPENCER, 2002,
p. 253)
1
Faça uma lista de cinco a dez Efeitos
Indesejados (EIs) que descrevam a área
analisada, e submeta cada um deles à
Ressalva de Existência da Entidade
Liste de 5 a 10 problemas (EIs),
relacionados com a situação
2
Se encontrar uma conexão aparente entre
dois ou mais EIs, conecte este “grupo”
enquanto faz o escrutínio de cada
entidade e flecha ao longo do caminho. Caso contrário, escolha um EI ao acaso e
prossiga para o Passo 3
Teste a clareza de cada EI. O EI é uma
afirmação clara e concisa? Este teste é chamado de ressalva de clareza
3
Conecte todos os outros EIs ao resultado
do Passo 2m fazendo o escrutínio de cada
entidade e flecha ao longo do processo.
Pare quando todos os EIs estiverem
ligados
Procure alguma relação causal entre
quaisquer dos EIs
4
Leia a árvore de “baixo para cima”, fazendo novamente o escrutínio de cada
flecha e entidade ao longo do percurso.
Proceda às correções necessárias
Determine qual EI é a causa e qual é o
efeito. Leia como “SE causa, ENTÃO
efeito”. Esse teste é chamado de ressalva de causalidade. Ocasionalmente, a causa e
o efeito podem ser revertidos. Avalie
utilizando a segunte afirmação: “efeito
PORQUE causa”
5
Pergunte a si mesmo se a árvore como
um todo reflete a sua intuição sobre a
área. Se não, verifique cada flecha para descobrir as Ressalvas de Causa
Adicional.
Continue o processo de conexão dos EIs
utilizando a lógica SE-ENTÃO até que todos os EIs estejam conectados
6
Não hesite em expandir a sua árvore, para conectar outros EIs existentes mas que
NÃO foram incluídos na lista original de
EIs. NÃO DÊ ESTE PASSO ATÉ QUE
TODOS OS EIS ORIGINAIS ESTEJAM
CONECTADOS
Freqüentemente, a causalidade é forte para a pessoa que sente o problema, mas parece
não existir para outros. Nessa
circunstâncias, a clareza é o problema.
Utilize a ressalva de clareza para eliminar o
problema
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Dessa maneira verifica-se que a ARA é uma ferramenta eficiente para a identificação das
causas de problemas, assim localizando relações de efeito causa efeito para os efeitos
indesejáveis que ocorrem. Torna-se uma abordagem a ser aplicada para a análise de
indicadores sob o viés da contabilidade do mundo dos custos versus o mundo dos ganhos,
objeto deste trabalho.
6. Análise crítica nos principais indicadores encontrados nas empresas beneficiadoras
de couros
Foram coletados grupos de indicadores de doze curtumes que produzem couros do estágio
wet-blue até acabado. Os indicadores foram agrupados por semelhança e cinco deles se
destacaram por serem utilizados em mais da metade das empresas onde os dados foram
coletados, são eles:
Indicador Produtividade: podendo ser medido por m2/colaborador/dia (por setores), m²
faturados mês/nº horas de funcionários diretos+horas extras, m2produzidos/hora
homem, produção/hora máquina.
Indicador Faturamento: medido por m2faturados/mês.
Indicador Absenteísmo: podendo ser medido por % de faltas ou horas previstas/horas
realizadas
Indicador Retrabalho: % de retrabalho por setor produtivo,
Indicador Ociosidade: total de horas de máquina parada para manutenção, taxa
ociosidade máquina ou homem.
Tendo em vista estes dados, elencaram-se os principais efeitos indesejáveis observados
quando utilizados estes indicadores que tem um olhar voltado para os ótimos locais e para o
mundo dos custos. Após elencados estes efeitos indesejáveis, as ARAs – Árvores da
Realidade Atual – foram elaboradas a fim de realizar a análise crítica de cada um destes
indicadores.
Figura 2 – Representação das relações lógicas entre entes Fonte: Scheinkopf (1999)
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6.1 Indicador Produtividade
Na figura 3, apresenta-se a ARA do indicador de produtividade. Uma análise crítica que pode
ser realizada a partir da leitura e análise desta ARA é que quando um indicador de
produtividade é utilizado com um olhar dirigido aos ótimos locais, existe uma busca pela
produtividade máxima em cada máquina o que acaba por levar a um aumento do tamanho dos
lotes, uma vez que com maiores lotes menos set-ups são necessários durante a fabricação de
produtos, assim reduzindo o tempo para este trabalho e podendo aumentar o tempo de
operação e a quantidade produzida. Porém esta atitude acaba por diminuir o mix de artigos, e
com isso os dois efeitos, de aumento do tamanho dos lotes mais a diminuição do mix de
artigos, acabam resultando numa menor flexibilidade, esta por sua vez tende a contribuir para
a não elevação dos ganhos.
Além disto o aumento do tamanho dos lotes traz outros efeitos indesejáveis como o aumento
do estoque em processo e consequente aumento do inventário. O aumento do inventário por
sua vez, pode contribuir para o não aumento do ganho.
Outro efeito indesejável que pode-se observar é que com esta visão de busca pela
produtividade máxima por máquina, há uma possibilidade de se desvirtuar a real
produtividade da empresa, o que certamente não contribui para a elevação dos ganhos.
Em função do processo nos curtumes analisados ocorrer contra pedido, ou seja, o produto só
passa a ser fabricado após o pedido do cliente, não ocorre superprodução (produzir produto
que ainda não está vendido, muito comum quando se faz uma previsão de demanda). Assim, o
grande problema que se verifica é a falta de sincronização, onde alguns artigos são fabricados
antes da data prometida ao cliente, enquanto outros são entregues com atraso.
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INDICADOR
PRODUTIVIDADEÓtimos Locais
Busca por
produtividade
máxima por
máquina
Aumento do
tamanho dos lotes
Diminui MIX de
artigos
Aumenta WIP
Elevação do
inventário
Dificuldade em
sincronizar a
produção
Não eleva o
ganho
Diminui
Flexibilidade
Desvirtua a real
produtividade
Figura 3 – Árvore da Realidade Atual – ARA – Indicador Produtividade.
Fonte: Elaborada pelos autores
6.2 Indicador Faturamento por m2
Na figura 4, apresenta-se a ARA do indicador faturamento por m2. Ao analisar o indicador
faturamento por m2, pode-se elencar uma série de efeitos indesejáveis, um deles ocorre
quando este indicador é medido por mês e com a busca pelo faturamento máximo possível de
m2, acarreta na a síndrome do fim do mês, gerando uma pressão muito significativa na fábrica
durante os últimos dias do mês, isto irá contribuir por sua vez para o aumento do inventário
ou ainda uma superprodução por antecipação. Além disto a busca pelo faturamento máximo
possível de m2 também contribui para o aumento do tamanho dos lotes e diminuição do mix
de artigos, o que diminui a flexibilidade da fábrica, e não contribui para a elevação dos
ganhos.
Outro ponto observado é que a busca pelo faturamento máximo possível de m2 pode levar a
uma produção de artigos com baixo ganho por tempo do gargalo ou ainda não maximização
do ganho no gargalo (caso o gargalo esteja no sistema produtivo), e isto certamente não
contribui para a elevação do ganho.
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INDICADOR
FATURAMENTO
POR m2
Indicador mensal
Síndrome do fim
do mêsFaturar o máximo
possível de m2
Aumento do
tamanho dos lotes
Diminui MIX de
artigos
Aumento do
inventário
Produz produtos
com baixo ganho
por tempo do
gargalo
Não maximização
do ganho no
gargalo
Diminuição do
ganho
Diminui
Flexibilidade
Figura 4 – Árvore da Realidade Atual – ARA – Indicador Faturamento por m2.
Fonte: Elaborada pelos autores
6.3 Indicador Absenteísmo
Na figura 5 apresenta-se a ARA do indicador absenteísmo, sabe-se que os gestores não
possuem muita influência sobre isto, o que acaba gerando uma pressão inútil sobre estes e
sobre seus funcionários, que acabam trabalhando mesmo que não estejam em condições, o
que ocasiona uma redução da sua produtividade. Estes fatores de uma maneira geral acabam
por não contribuir para o aumento do ganho.
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INDICADOR
ABSENTEÍSMO
Gestores não têm
o que fazer
Pressão inútil
sobre os gestores
Pressão sobre o
funcionário
Trabalham mesmo
que com baixa
produtividade
Não contribui para
o ganho
Figura 5 – Árvore da Realidade Atual – ARA – Indicador Absenteísmo.
Fonte: Elaborada pelos autores
6.4 Indicador Retrabalho
Na figura 6 apresenta-se a ARA do indicador retrabalho, percebe-se que este tem uma visão
de ótimos locais, uma vez que ele é medido por setores, gerando uma grande probabilidade de
os setores omitirem problemas, como defeitos na fabricação, produtos defeituosos e até
mesmo o não registro de atividades geradas pelo retrabalho, o que pode contribuir para o
aumento da despesa operacional. Além disso, em função desta medida local mais a
probabilidade de os setores esconderem defeitos, faz com que o defeito ou o problema seja
empurrado para o próximo setor ou operação, o que contribui para o aumento da despesa
operacional.
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INDICADOR
RETRABALHOÓtimos locais
Omitir problemas
Esconder defeitos
Esconder
produtos
defeituosos
Não registrar as
atividades
geradas pelo
retrabalho
Empurra o
problema para a
próxima operação/
setor
Aumenta despesa
operacional
Figura 6 – Árvore da Realidade Atual – ARA – Indicador Retrabalho.
Fonte: Elaborada pelos autores
6.5 Indicador Ociosidade
Relativo ao indicador ociosidade, apresentado na figura 7, quando visto sob uma ótica de
ótimos locais, como acontece em boa parte das empresas estudadas, a tendência é que se
busque produzir o máximo possível em cada operação, e se evita programar manutenções o
que pode gerar um aumento na despesa operacional, caso algumas manutenções sejam
postergadas e acabem por comprometer a utilização adequada das máquinas. Além disso,
quando se procura produzir o máximo possível, muitas vezes se produz o que não é necessário
para aquele momento, o que contribui para um aumento do inventário e da despesa
operacional.
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INDICADOR
OCIOSIDADEÓtimos locais
Produz o máximo
possível
Evita programar
manutenções
Produz o que não
necessita naquele
momento
Aumenta
inventário
Aumenta despesa
operacional
Figura 7 – Árvore da Realidade Atual – ARA – Indicador Ociosidade.
Fonte: Elaborada pelos autores
7. Análise geral dos indicadores
Identificou-se que os indicadores analisados, de uma maneira geral estão voltados para o
mundo dos custos, indo de encontro ao exposto por Pamplona (1993), e nada influem para o
aumento do ganho.
Os indicadores apurados são típicos do mundo dos custos, onde visam o máximo de
faturamento sem se importar com o lucro deste faturamento e a possibilidade de aumentar o
lucro que teoricamente é infinita. Também não se percebe nestes indicadores a preocupação
com o uso adequado e eficiente da restrição (o que impede a organização de ganhar mais
dinheiro).
Na visão do mundo dos custos, o aumento da lucratividade (lucro líquido) se dá pela redução
das despesas operacionais. Conforme PLANTULLO (1994) MARQUES & CIA (1998) a
redução das despesas operacionais localmente causa o aumento do lucro da empresa como um
todo.
Já o “Mundo dos Ganhos é o mundo das variáveis dependentes” (GOLDRATT, 1991,p. 48,).
Segundo Goldratt (1991) toda organização possui uma restrição, que limita a sua
lucratividade.
Também é importante salientar que alguns indicadores poderiam ser analisados de forma
integrada para evitar o surgimento de novos efeitos indesejáveis.
Não foram evidenciados indicadores que, de fato, neste formato, contribuam para uma
vantagem competitiva das empresas frente ao mercado.
Ademais, os indicadores estão fortemente focados na redução de custos, como por exemplo o
indicador de retrabalho, que é mensurado localmente, e assim acaba mascarando a realidade
global. Jogando produtos defeituosos para os próximos processos, aumentando tempo de
atravessamento, despesas operacionais, credibilidade com clientes etc.
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Outro indicador típico do mundo dos custos é o de produtividade, que quando analisado
localmente e individualmente ocasiona diversos efeitos indesejáveis, como apurado na ARA
da figura 3.
Os indicadores locais propostos pela teoria das restrições não foram observados no conjunto
de indicadores coletados para esta análise, dificultando desta forma a ligação entre estes
indicadores e os indicadores globais da organização.
8. Considerações finais
Este artigo realizou uma análise crítica dos cinco principais indicadores de desempenho
empregados em empresas de beneficiamento de couros, através do processo de pensamento da
teoria das restrições.
A partir da construção das ARAs – Árvores da Realidade Atual – elencou-se os efeitos
indesejáveis que estes indicadores causam numa visão do mundo dos ganhos, evidenciando
que os indicadores analisados foram construídos sob a ótica do mundo dos custos.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Bookman, 2002.
GOLDRATT, Eliyahu M. A Meta. São Paulo: Educator, 1984.
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