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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC
CENTRO DE CINCIAS HUMANAS E DA EDUCAO - FAED
CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL E
DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL - MPPT
ANLISE DA CONSTRUO DE PCHS
NO ALTO VALE DO RIO TIJUCAS/SC
Jatyr Fritsch Borges
FLORIANPOLIS, 17 DE MARO DE 2011.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC
CENTRO DE CINCIAS HUMANAS E DA EDUCAO - FAED
CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL E
DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL - MPPT
ANLISE DA CONSTRUO DE PCHS
NO ALTO VALE DO RIO TIJUCAS/SC
Dissertao de Mestrado apresentado como
exigncia para a obteno do grau de Mestre no
Programa de Mestrado em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Socioambiental da
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Florianpolis (SC), sob a orientao do Professor
Doutor Ricardo Wagner ad-Vncula Veado.
Jatyr Fritsch Borges
FLORIANPOLIS, 17 DE MARO DE 2011.
RESUMO
Com vistas a contribuir com o debate sobre a produo de hidroenergia de forma sustentvel,
o que significaria o meio ambiente conservado e as comunidades beneficiadas de modo
proporcional explorao dos recursos, props-se este trabalho. Com embasamento em
conceitos das Geocincias, pretende-se desconsiderar a dicotomia terica entre Geografia
Fsica versus Geografia Humana, apropriando-se do mais adequado de cada uma delas.
Primeiramente faz-se a Introduo ao Trabalho, identificando metodologia e referencial
utilizado. Em seguida a caracterizao fsica, bitica e socioeconmica da rea de estudo, a
anlise dos procedimentos de prospeco, licenciamento e construo dos empreendimentos
para, com isto, perceber os reflexos da implantao de PCHs numa mesma Sub-Bacia
Hidrogrfica. O estudo se deu na regio conhecida por Alto Vale do Rio Tijucas (segundo
denominao adotada pelo Comit de Bacia do Rio Tijucas), abrangendo os municpios de
Rancho Queimado, Angelina, Leoberto Leal e Major Gercino e mais especificamente no
entorno dos tributrios onde se localizam empreendimentos hidroenergticos de pequeno
porte (PCHs). Foram utilizadas ferramentas geogrficas (fotointerpretao e
geoprocessamento), modelos de matriz de impacto ambiental e entrevistas com os agentes
sociais envolvidos. O trabalho divide-se em seis partes, a saber: Introduo; Caracterizao da
Regio de Estudo; Anlise das Construes das PCHs; Utilizao de Geo-Ferramentas;
Consideraes Finais; e Bibliografia.
Palavras chave: Anlise socioambiental; energia; PCHs; Alto Vale do Rio Tijucas.
ABSTRACT
This work was conceived in order to offer a contribution to the debate over the sustainable
hydro energy, which means to have a preserved environment and communities benefited in a
proportional basis to the natural resources exploration. Based on Geosciences concepts, its
intention is to refuse the theoretical duality between Physical Geography and Human
Geography, trying to get the very best of each of them. At first, it is presented the Work
Introduction, that explains the chosen methodology and references used by the author. After
that there is the physical, biotic, social and economic study specific areas characterization, the
analysis of the prospection procedures, the environmental permit and construction of
engineering projects in order to make possible the perception and evaluation of the impact
of the PCHs (pequenas centrais hidreltricas small plants hydroelectric) construction in one
same hydrographic sub-basin. The study will be developed in a Santa Catarina State region
known as Alto Vale do Rio Tijucas (according to the denomination adopted by the Comit da
Bacia do Rio Tijucas Tijucas River Basin Committee). This mentioned region covers the
territory where are located the cities of Rancho Queimado, Angelina, Leoberto Leal e Major
Gercino, and more specifically the tributary rivers surroundings areas where the SPHs were
erected. Geographic tools (photo interpretation and geoprocessing), environmental impacts
matrix models and interviews with social agents will be used in the making of this work,
which is divided in six parts: Introduction, Study Area Characterization, Construction of
SPH analysis, Use of Geo-tools, Final Considerations and Bibliography.
Keywords: Socioenvironmental analysis; energy; SPHs; Tijucas River High Valley.
SUMRIO
Lista de Ilustraes............................................................................................................ 00
Introduo.......................................................................................................................... 01
I Apresentao do escopo, objetivos e localizao da rea de estudo.......................... 01
II Motivao pessoal..................................................................................................... 05
III Reviso temtica...................................................................................................... 08
IV Suporte terico........................................................................................................ 09
V Metodologia.............................................................................................................. 16
VI Agradecimentos....................................................................................................... 21
Captulo I Caracterizando a rea de Estudo.................................................................. 22
1.1 Caractersticas do meio fsico............................................................................... 22
1.2 Colonizao............................................................................................................ 34
1.3 Aspectos socioeconmicos..................................................................................... 37
1.4 Infraestrutura regional........................................................................................... 49
Captulo II Analise da Construo das PCHs................................................................. 55
2.1Energia..................................................................................................................... 55
2.2 Recursos Hdricos................................................................................................... 61
2.3 Consideraes acerca das PCHs............................................................................. 68
2.4 Analisando os licenciamentos................................................................................ 73
2.5 Entrevistando atores sociais.................................................................................... 90
Captulo III Utilizando Geo-Ferramentas...................................................................... 92
3.1Anlise de impacto ambiental.................................................................................. 92
3.2 Cartografia temtica............................................................................................... 95
Captulo IV Consideraes Finais.................................................................................. 102
Bibliografia........................................................................................................................ 108
Anexo I Mapa Geolgico Regional................................................................................ 111
Anexo II Mapa Geomorfolgico Regional.................................................................. 112
Anexo III Mapa de Declividade Regional.................................................................... 113
Anexo IV Mapa Hipsomtrico Regional..................................................................... 114
Anexo V Mapa Pedolgico Regional.......................................................................... 115
Anexo VI Mapa Hidrogrfico Regional...................................................................... 116
Anexo VII Mapa de Restries Ambientais da Regio............................................... 117
Anexo VIII Mapa da Vegetao Regional................................................................... 118
Anexo IX Mapa das reas de Influncia (Cenrio 1)................................................. 119
Anexo X Mapa das reas de Influncia (Cenrio 2).................................................. 120
Anexo XI Imagem 1 do Banco de Dados Google....................................................... 121
Anexo XII Imagem 2 do Banco de Dados Google...................................................... 122
Anexo XIII Modelo de Questionrio aplicado............................................................... 123
LISTA DE ILUSTRAES
Ilustrao 1 Mapa da Bacia Hidrogrfica do Rio Tijucas................................................ 03
Ilustrao 2 Mapa de Localizao da rea de Estudo.................................................... 04
Ilustrao 3 Tabela com parmetros e atributos para a avaliao de impactos................ 10
Ilustrao 4 Grfico de insero entre FSE e Geosistema................................................ 14
Ilustrao 5 Foto do relevo acidentado e vales encaixados............................................ 21
Ilustrao 6 Foto dos vales encaixado entre morros em forma de meia-laranja............. 22
Ilustrao 7 Foto de estufa de fumo e criao de gado na Plancie Fluvial...................... 23
Ilustrao 8 Foto dos sedimentos arenosos nas margens do Rio Tijucas...................... 28
Ilustrao 15 Foto da Praa Central de Angelina............................................................. 37
Ilustrao 16 Foto do Portal do Santurio de N S de Angelina...................................... 37
Ilustrao 17 Imagem orbital da rea urbana de Angelina............................................... 38
Ilustrao 18 Foto da Igreja Matriz de Leoberto Leal...................................................... 39
Ilustrao 19 Imagem orbital da rea urbana de Leoberto Leal.................................. 40
Ilustrao 20 Busto de Major Gercino na Praa Central do Municpio............................ 41
Ilustrao 21 Imagem orbital da rea urbana do municpio de Major Gercino................ 41
Ilustrao 22 Imagem orbital da rea urbana central de Rancho Queimado.................... 42
Ilustrao 25 Floresta de Faxinais no municpio de Rancho Queimado.......................... 47
Ilustrao 26 Tabela do rebanho dos municpios estudados em 2009.............................. 54
Ilustrao 27 Tabela dos principais produtos primrios dos municpios estudados......... 54
Ilustrao 28 Tabela da Estrutura Fundiria de Angelina (1970 a 2006)....................... 55
Ilustrao 29 Tabela da Estrutura Fundiria Leoberto Leal (1970 a 2006).................... 55
Ilustrao 30 Tabela da Estrutura Fundiria Major Gercino (1970 a 2006)..................... 55
Ilustrao 31 Tabela da Estrutura Fundiria Rancho Queimado (1970 a 2006)............. 56
Ilustrao 32 Tabela do pessoal ocupado no setor primrio (1995 e 2006)..................... 57
Ilustrao 33 Tabela do Nmero de Estabelecimentos e Pessoal Ocupado no Setor
Secundrio em Angelina (1970-1980-1989).......................................................................
57
Ilustrao 34 Tabela do Nmero de Estabelecimentos e Pessoal Ocupado no Setor
Secundrio em Leoberto Leal (1970-1980-1989)...........................................................
57
Ilustrao 35 Tabela do Nmero de Estabelecimentos e Pessoal Ocupado no Setor
Secundrio em Major Gercino (1970-1980-1989).............................................................
58
Ilustrao 36 Tabela do Nmero de Estabelecimentos e Pessoal Ocupado no Setor
Secundrio em Rancho Queimado (1970-1980-1989)........................................................
58
Ilustrao 37 Tabela do Nmero de estabelecimentos industriais e de empregados nos
municpios da regio (1996-2003).......................................................................................
58
Ilustrao 38 Tabela do Nmero de Estabelecimentos e Pessoal Ocupado no Setor
Tercirio em Angelina (1970-1980-1989)...........................................................................
59
Ilustrao 39 Tabela do Nmero de Estabelecimentos e Pessoal Ocupado no Setor
Tercirio em Leoberto Leal (1970-1980-1989)...................................................................
59
Ilustrao 40 Tabela do Nmero de Estabelecimentos e Pessoal Ocupado no Setor
Tercirio em Major Gercino (1970-1980-1989)................................................................
59
Ilustrao 41 Tabela da Populao dos municpios do Alto Vale do Rio Tijucas (1970-
1980-1991-2000-2010 e Totais)..............................................................................
60
Ilustrao 42 Tabela dos Domiclios permanentes conforme a adequao da moradia
para a regio de estudo (2000)...........................................................................................
60
Ilustrao 43 Tabela dos Estabelecimentos de Sade e Leitos para Internao............... 61
Ilustrao 44 Tabela de Alunos Matriculados e Nmero de Docentes............................. 62
Ilustrao 45 Tabela de Abastecimento de gua (Nmero de domiclios por municpio
- 2000)..................................................................................................................................
62
Ilustrao 46 Quadro dos Mananciais utilizados pela CASAN nos municpios
estudados.............................................................................................................................
63
Ilustrao 47 Tabela do Esgotamento Sanitrio (n de domiclios por municpio -
2000)....................................................................................................................................
63
Ilustrao 48 Tabela da Coleta e Destino do Lixo por domiclios (2000)...................... 64
Ilustrao 49 Tabela do Nmero de consumidores e consumo de energia eltrica
(mercado CELESC), por classe de consumidores, segundo os municpios de SC 2008..
65
Ilustrao 50 Tabelas das Rodovias Estaduais e Federais existentes na regio............... 65
Ilustrao 51 Tabela da Frota de Veculos Automotores por municpio (2010).............. 66
Ilustrao 52 Tabela de Energia (Brasil x Mundo)........................................................... 68
Ilustrao 53 Tabela do potencial hidrulico por regio do Brasil................................... 68
Ilustrao 54 Tabela da oferta interna de energia (2006-2007)........................................ 69
Ilustrao 55 Tabela da distribuio da participao por fontes na matriz nacional........ 69
Ilustrao 56 Tabela das fontes de energia de Santa Catarina.......................................... 70
Ilustrao 57 Quadro das possibilidades de uso dos Recursos Hdricos.......................... 71
Ilustrao 58 Mapa das regies hidrogrficas de Santa Catarina..................................... 74
Ilustrao 59 Foto de queda dgua no Rio Garcia................................................. 75
Ilustrao 60 Foto de queda dgua as margens da rodovia.................................... 76
Ilustrao 61 Foto de corredeira em mirante do Rio Garcia................................... 76
Ilustrao 62 Foto de corredeira abaixo do mirante do Rio Garcia......................... 77
Ilustrao 63 Tabela da distribuio das PCHs em operao em set./2008 SC.............. 78
Ilustrao 64 Tabela das PCHs em construo em set./2008 SC.................................. 79
Ilustrao 65 Tabela com as PCHs em fase de outorga em set./2008 SC..................... 79
Ilustrao 66 Tabela com as PCHs autorizadas em maio/2009 SC............................... 80
Ilustrao 67 Tabela com as PCHs com pedido de licena em out./2009 SC............... 81
Ilustrao 68 Tabela com a relao das PCHs na rea de estudo..................................... 82
Ilustrao 69 Quadro de exigncias para licenciamento de PCHs................................... 85
Ilustrao 70 Foto da construo da PCH Angelina......................................................... 86
Ilustrao 71 Foto da construo da Usina Angelina....................................................... 87
Ilustrao 72 Foto de obras da PCH Barra Clara.............................................................. 89
Ilustrao 73 Foto do canal e Casa de Fora da PCH Barra Clara................................... 89
Ilustrao 74 Foto do painel de investidores da PCH Barra Clara................................... 90
Ilustrao 75 Tabela com despesas de compensao da PCH Barra Clara...................... 90
Ilustrao 76 Foto da placa dos investidores da PCH Santa Ana..................................... 91
Ilustrao 77 Foto de construo da PCH Santa Ana....................................................... 92
Ilustrao 78 Foto de obras da PCH Coqueiral.............................................................. 93
Ilustrao 79 Foto de obras da PCH Coqueiral.............................................................. 94
Ilustrao 80 Foto de obras da PCH Coqueiral.............................................................. 95
Ilustrao 81 Marco de inaugurao da PCH Garcia I.................................................... 95
Ilustrao 82 Foto do Reservatrio Garcia I..................................................................... 96
Ilustrao 83 Foto do Reservatrio Garcia I..................................................................... 96
Ilustrao 84 Foto da Barragem Garcia I....................................................................... 97
Ilustrao 85 Foto da Barragem Garcia I....................................................................... 97
Ilustrao 86 Foto da Casa de Fora e Subestao Garcia I......................................... 98
Ilustrao 87 Matriz simplificada de Impacto Ambiental............................................... 104
Ilustrao 88 Esquema de reas de Influncia.............................................................. 105
Ilustrao 89 Localizao da Barragem Garcia I........................................................... 107
Ilustrao 90 Localizao da Usina Garcia I................................................................. 107
Ilustrao 91 Localizao da Barragem PCH Santa Ana.............................................. 108
Ilustrao 92 Imagem da localizao de todas as PCHs da regio de estudo................. 108
Ilustrao 93 Mapa com definio de reas de influncia (Cenrio 1).......................... 110
Ilustrao 94 Mapa com definio de reas de influncia (Cenrio 2).......................... 111
Ilustrao 95 Foto com levantamento topogrfico 2006/1............................................ 115
Ilustrao 96 Foto com levantamento topogrfico 2006/2............................................ 116
Anlise da construo de PCHs no Alto Vale do Rio Tijucas/SC - Direitos Autorais Lei 9.610/98 art. 70,
itens X e XI (art. 1), nico
INTRODUO
I Apresentao do escopo, objetivo geral e localizao do objeto de estudo
As preocupaes com o ambiente em que vivemos no so coisa nova. J
constavam at mesmo da Bblia, onde no Livro de Isaas, encontra-se a seguinte frase: Na
verdade a terra est contaminada por causa dos seus moradores porquanto transgridem as
leis, violam os estatutos, e quebram a aliana eterna (Captulo 24:5). Segundo Guimares
(2005:08/9), j faziam parte dos relatos da idade antiga onde Plato e Plnio, por exemplo,
manifestavam preocupaes relacionadas ao equilbrio da qualidade de vida e do meio
ambiente, assim como quanto s interferncias humanas no ambiente fsico e seus
consequentes impactos. Cita ainda Hipcrates que, h 2.500 anos, relatava sua preocupao
com as caractersticas fsicas do espao, considerando que elementos como o clima, a
topografia, composio do solo e qualidade da gua serviriam para identificar e analisar
aspectos da relao homem/natureza.
Modernamente considera-se a questo energtica como a fora motriz do
desenvolvimento econmico e social, marcadamente a partir da revoluo industrial do sculo
XVIII, quando o aumento da produo capitalista tem por base a gerao e consumo de
energia e uma crescente degradao da qualidade ambiental.
Quanto a este perodo da histria, Guimares (2005) tece os seguintes
comentrios:
[...] a Revoluo Industrial [...] revelou imagens de um cenrio de
misrias e excluses sociais, econmicas e ambientais marcadas pela
imensa poluio, pssimas condies de trabalho, deteriorao dos
ambientes naturais e construdos, baixa qualidade de vida, refletidas
no acmulo de resduos, nos ndices de longevidade e nas taxas de
mortalidade, na alta concentrao populacional nos centros urbanos,
na expanso irregular e acelerada de reas industriais, expressando
tambm um caos nas inter-relaes (sic) entre o ser humano e seu
ambiente (Guimares, 2005:09).
Mas foi entre o final da dcada de 1960 e a dcada de 1970 do sculo 20 que os
problemas ambientais ganharam escala e maior repercusso quando tais preocupaes teriam
foco local e suas possveis solues resumiam-se regulamentaes relacionadas ao controle
de fontes poluidoras (Hernandez, 2009:17). Em 1968 criado na Itlia o chamado Clube de
Roma por cientistas preocupados com o paradoxo entre o crescimento econmico e a
Introduo 2
Anlise da construo de PCHs no Alto Vale do Rio Tijucas/SC - Direitos Autorais Lei 9.610/98 art. 70,
itens X e XI (art. 1), nico
disponibilidade de recursos no planeta. Como resultado foi elaborado o Relatrio Os limites
do crescimento ou Relatrio Meadows1. No incio da dcada de 1970, com a realizao da
Conferncia de Estocolmo sobre Meio Ambiente2, este pensamento reforado com a ideia
de que ao contrrio do que se imaginava, os recursos naturais no so inesgotveis e limitam
de forma determinante a produo descontrolada e o consumismo que identificam a sociedade
contempornea e o atual modelo de desenvolvimento capitalista.
Como parte deste universo e remetendo aos dias atuais, este trabalho objetiva
discutir a energia gerada pelas PCHs Pequenas Centrais Hidreltricas (que de acordo com a
Resoluo n 394/98 da ANEEL, so empreendimentos com capacidade de gerao de energia
entre 1 e 30 MW e rea mxima de alagamento de 3 km2
ou 30 ha) e sua contextualizao
quanto Poltica de Recursos Hdricos, o setor energtico e os impactos causados s reas
onde esto situadas. Complementarmente discorrer-se- sobre: a gua como matria-prima,
a insero da hidroeletricidade nas chamadas tecnologias limpas e sua importncia na matriz
energtica.
Discute-se a temtica na viso da cincia geogrfica, com carter multidisciplinar
e com o objetivo de contribuir para a melhor avaliao da implantao destes
empreendimentos em Santa Catarina, seus licenciamentos, incentivos e interferncias no
desenvolvimento local. Em que pese o fato de tratar-se de trabalho monogrfico,
paradoxalmente necessidade da interdisciplinaridade, entende-se esta contemplada no caso
do primeiro captulo desta dissertao, baseada num projeto que contou com a participao
dos colegas de turma do MPPT, de formao diversa, desde socilogos, passando por
arquitetos, advogado, agrnomos e gegrafos. Atenuou-se, ademais esta deficincia da
ausncia de profissionais de outras reas das cincias, com a utilizao de vrios autores e de
vrias correntes de pensamento.
1 Escrito por Jay Forrest e Dennis Meadows, do Instituto Tecnolgico de Massachusetts (MIT), marca o comeo
dos estudos do relacionamento entre meio ambiente e crescimento econmico. O trabalho enfatiza que a
explorao e a degradao dos recursos naturais limitariam o crescimento da economia mundial e vendeu mais
de 30 milhes de cpias em 30 idiomas, tornando-se o livro sobre meio ambiente mais vendido da histria
(Hernandez, 2009:17). 2 As questes relacionadas preservao da natureza comearam a ser discutidas efetivamente a partir da dcada
de 1970. Assim, dois anos mais tarde (1972) aconteceu na capital da Sucia, Estocolmo, a Conferncia das
Naes Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente. Nela emergiram as contradies ligadas ao
desenvolvimento e ao meio ambiente. Neste mesmo ano, um grupo de empresrios solicitou junto ao renomado
Massachusetts Institute of Technology (EUA), um estudo sobre as condies da natureza, o qual foi chamado de
desenvolvimento zero. Fonte: http://www.brasilescola.com/geografia /estocolmo-72.htm .
http://www.brasilescola.com/geografia%20/estocolmo-72.htm
Introduo 3
Anlise da construo de PCHs no Alto Vale do Rio Tijucas/SC - Direitos Autorais Lei 9.610/98 art. 70,
itens X e XI (art. 1), nico
De forma simples o Objetivo Geral Avaliar o licenciamento ambiental de PCHs
na Sub-Bacia Hidrogrfica do Alto Vale do Rio Tijucas em Santa Catarina. Sendo assim,
esta dissertao foi ento estruturada da seguinte forma:
- Esta Introduo, com os objetivos, a metodologia e o referencial terico;
- Caracterizao fsica e socioeconmica da rea de estudo, realizada no
Captulo I;
- Anlise da construo das PCHs, objetivando contextualizar a problemtica e
observar os problemas no licenciamento destes empreendimentos, no Captulo II;
- Utilizao de Geoferramentas: Banco de Dados (BD), Sistema de Informaes
Geogrficas (SIG), Cartografia Temtica e Matriz de Impacto, no Captulo III;
- Consideraes Finais relacionadas aos aspectos positivos e negativos das
usinas, bem como estabelecimento de proposies para mitigar possveis impactos
negativos e ampliar os benefcios, realizado no Captulo IV;.
- A Bibliografia Citada; e por fim
- Os Anexos onde se apresenta a Cartografia Temtica e outros documentos
importantes.
Para atingir estes objetivos foram adotados procedimentos metodolgicos,
iniciando pela caracterizao fsica e cultural da sub-bacia. Alm da pesquisa bibliogrfica
nas bibliotecas pblicas das Universidades, em stios da Internet e outras fontes, foram
realizadas 6 sadas de campo, sendo 3 com a turma do MPPT/2009 e 3 de forma individual. A
bibliografia consultada permitiu a aquisio de dados secundrios que, sempre que possvel
foram checados com outras fontes de campo, inclusive atravs de entrevistas.
O local onde foi desenvolvida a pesquisa so os municpios da Regio
denominada Alto Vale do Rio Tijucas pelo Comit de Bacia deste rio, parte integrante da
Bacia Hidrogrfica do Rio Tijucas localizada, em sua maior poro, na GRANFPOLIS
Microrregio da Grande Florianpolis (exceo para Leoberto Leal, Itapema, Porto Belo e
Bombinhas). A Bacia, como um todo, possui rea de aproximadamente 3.015 Km e
permetro de 447 Km entre as coordenadas geogrficas de longitude oeste 491943 e
482742, e de latitude sul 274636 e 270235. A Ilustrao 1 apresenta a Bacia
Hidrogrfica do Rio Tijucas com suas subdivises espaciais propostas pelo Comit de Bacia
do Rio Tijucas, onde a sudoeste encontra-se a regio de interesse.
Introduo 4
Anlise da construo de PCHs no Alto Vale do Rio Tijucas/SC - Direitos Autorais Lei 9.610/98 art. 70,
itens X e XI (art. 1), nico
Ilustrao 1 Mapa da Bacia Hidrogrfica do Rio Tijucas. Fonte: Comit de Bacia do Rio
Tijucas,2007.
Para iniciar o trabalho, tomou-se como base o projeto desenvolvido pela turma
2009 do MPPT Programa de Ps-Graduao em Planejamento Territorial e
Desenvolvimento Socioambiental da FAED Faculdade de Educao, ligada UDESC, na
disciplina de Prtica em Planejamento Territorial. Ministrada pela Prof. Dr. Isa de Oliveira
Rocha, no segundo semestre de 2009, foi realizado na Sub-Bacia Hidrogrfica do Alto Vale
do Rio Tijucas, tratando-se de um diagnstico socioambiental, que permite, junto a outras
informaes, traar o perfil do ambiente fsico e socioeconmico da rea objeto deste estudo.
Na Ilustrao 2 abaixo destaca-se esquematicamente a posio geogrfica da Sub-
Bacia Hidrogrfica objeto de interesse, composta pelos municpios de Angelina, Leoberto
Leal, Major Gercino e Rancho Queimado, situada na poro oeste da regio da Grande
Florianpolis.
Introduo 5
Anlise da construo de PCHs no Alto Vale do Rio Tijucas/SC - Direitos Autorais Lei 9.610/98 art. 70,
itens X e XI (art. 1), nico
Ilustrao 2: Esquema de localizao da rea de Estudo. Fonte: o autor
Utilizou-se, outrossim, dados primrios coletados em campo e outros obtidos na
anlise dos processos de licenciamento das usinas, protocolados junto FATMA Fundao
Estadual do Meio Ambiente (PCH Angelina, PCH Barra Clara, PCH Santa Ana e PCH
Coqueiral) e, tambm informaes constantes dos Planos Municipais de Saneamento dos
respectivos municpios.
O mapeamento da regio, foi realizado com base em cartografia da Associao
dos Municpios da GRANFPOLIS, do Comit de Bacia do Vale do Rio Tijucas, Imagens
orbitais do Google Earth, novamente, em informaes encontradas nos processos de
licenciamento, e com o auxlio do GEOLAB Laboratrio de Geoprocessamento da
FAED/UDESC.
II Motivao pessoal
A pesquisa iniciou-se em 2009 com a escolha da rea a ser estudada, em funo
de critrios que permitissem uma avaliao factvel relacionada s interferncias
socioambientais das PCHs em relao s questes fsicas (naturais) e humanas
LOCALIZAO DA REA DE ESTUDOS
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:SantaCatarina_Municip_RanchoQueimado.svg
Introduo 6
Anlise da construo de PCHs no Alto Vale do Rio Tijucas/SC - Direitos Autorais Lei 9.610/98 art. 70,
itens X e XI (art. 1), nico
(socioeconmicas) sobre as reas de influncia, conforme a legislao e a bibliografia
disponveis.
Como todo trabalho acadmico, este no tem a pretenso de encerrar o assunto,
muito pelo contrrio, pretende contribuir para a discusso de uma temtica que inclui dois
fatores importantes para a sociedade contempornea: Energia e Recursos Hdricos.
Para observar as mudanas fsicas realizou-se um diagnstico da regio a partir do
trabalho da turma 2009 do MPPT/UDESC (Berticelli et al, 2010), e com base em dados do
Diagnstico Ambiental da Bacia Hidrogrfica do Rio Tijucas, realizada por aquele Comit de
Bacia, em informaes obtidas junto a Associao dos Municpios da Grande Florianpolis
GRAFPOLIS, que contratou trabalhos para a elaborao dos Planos Diretores Municipais,
conforme exigncia da Lei n 10.157/2000 e ainda em dados dos Planos Municipais de
Saneamento Bsico, contratados pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentvel
SDS/SC, para municpios com menos de 10.000 habitantes. Os resultados esto resumidos no
Captulo II.
As sadas de campo na verdade tiveram incio em 2006. Naquele ano, ocorreu um
convite da TOPOCON Projetos e Construes Ltda., ao Professor Artur Frasson, professor
substituto do Departamento de Geocincias da Universidade Federal de Santa Catarina
poca. Tratava-se da necessidade de efetuar levantamentos topogrficos para a elaborao dos
projetos a serem apresentados aos rgos Governamentais para obteno de licenas para
construo de PCHs. O professor Frasson, sabedor de que o autor deste trabalho, alm de
gegrafo havia se formado como Tcnico em Geomensura no hoje denominado ITF/SC
Instituto Tecnolgico Federal de Santa Catarina, estendeu-lhe o convite e o trabalho foi
realizado. Portanto, o primeiro contato mais profundo com a regio e com o tema PCHs, se
deu naquele perodo. Os projetos das PCHs Barra Clara, Santa Ana, Coqueiral, e Schubert
tiveram uma parcela de participao do autor desta dissertao, l em sua gnesis.
A Ilustrao 3 apresenta foto do pesquisador ( direita) e um auxiliar de topografia
realizando levantamentos para a Empresa TOPOCON Projetos e Construes Ltda., s
margens do Rio Engano, em maro de 2006.
No segundo semestre do mesmo ano o pesquisador foi contratado pela
Empresa GIS Cartografia de Florianpolis para auxiliar nos trabalhos de
Georreferenciamento das Imagens de Satlite a serem utilizadas pelos municpios na
elaborao de seus Planos Diretores Municipais, financiados pela Associao dos
Municpios da Grande Florianpolis - GRANFPOLIS. Este segundo contato permitiu
conhecer um pouco mais da regio e de seu interior.
Introduo 7
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itens X e XI (art. 1), nico
Ilustrao 3 Levantamento topogrficos realizados pelo pesquisador em 2006.
Foto: Paulo Csar de Carvalho, 2006.
A prxima foto ilustra os trabalhos realizados no sentido de coletar pontos com
GPS Topogrfico, objetivando a correo de imagens de satlite para posterior utilizao
na confeco dos Planos citados.
Ilustrao 4 Pesquisador coletando coordenadas GPS para correo de
imagens de satlite. Foto: Gabriel Zendron Borges, 2006.
Introduo 8
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III Reviso temtica
Segundo matria do Dirio Catarinense de 14 de setembro de 2008, existiam em
operao 33 PCHs, 9 em construo e 14 em processo de outorga. Mas dados da CELESC
Centrais Eltricas de Santa Catarina j davam conta da existncia de mais de 200 projetos
com pedido de viabilidade para ligao rede da concessionria, o que somaria mais de 230
empreendimentos. Tendo em vista a atual dinmica do Setor, dia a dia surgem novos
nmeros.
O paradigma atual para a gesto de recursos hdricos (Lei Federal n 9.433 de 8
de janeiro de 1997)3 prope utilizar a bacia hidrogrfica como unidade de planejamento e
impe um processo de ampla negociao de interesses, envolvendo o poder pblico, usurios
da gua e a sociedade civil organizada com intervenincia na questo hdrica. Silva (2004)
aponta que para a eficiente gesto destes recursos importante considerar o valor social da
gua que dado pela soma do valor simblico (ambiental) e de seu valor econmico (Silva,
2004:2).
A importncia do estudo desta temtica se baseia, como j observado, no grande
crescimento do interesse pela construo de PCHs em Santa Catarina, marcadamente a partir
do denominado apago eltrico ocorrido em 2001 e que ps em cheque o sistema
energtico brasileiro. Somado a isto, o potencial natural do Estado e a exigncia cada vez
maior de energias limpas, resultando numa previso de dezenas de novas unidades
produtivas nos prximos anos.
No se pode negar que, ainda que estes empreendimentos sejam considerados de
pequeno impacto se comparados s mdias e grandes usinas hidreltricas, termoeltricas e
nucleares, por exemplo com seu nmero expressivo e sua localizao sem critrios que
permitam avaliar os efeitos cumulativos e sinergticos, devem ser motivo de anlise e
pesquisa. Esta dissertao busca discutir provveis efeitos numa sub-bacia onde se preveem a
construo de vrias unidades. Neste caso especfico os efeitos s poderiam ser analisados
parcialmente, uma vez que at o encerramento da pesquisa, apenas seis das quase vinte PCHs
projetadas, estavam efetivamente em funcionamento.
A legislao aplicada, em que pese sua evoluo nos ltimos decnios, no
contempla este importante vis de avaliao (a scio-economia local). Nem sequer prev os
3 Disponvel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9433.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9433.htm
Introduo 9
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itens X e XI (art. 1), nico
efeitos cumulativos da existncia de mais de uma unidade no mesmo rio, ou na mesma sub-
bacia, ou bacia hidrogrfica.
Na legislao brasileira, apesar de a Lei de guas de 1997, conservar a noo de
recursos hdrico como bem pblico, ela reconhece o valor econmico (leia-se: valor de
troca) da gua, explicitando as bases legais para o estabelecimento de sistemas de cobrana
pelo uso do recurso (Silva, 2008:6).
Um dos trabalhos que deram sustentao ao projeto foi o Diagnstico
Participativo dos Recursos Hdricos e seus usos da Bacia Hidrogrfica dos Rios Tijucas,
Perequ, Santa Luzia e Inferninho realizado por tcnicos ligados ao Comit da Bacia
Hidrogrfica do Rio Tijucas4.
Outro trabalho importante, e j citado, foi desenvolvido pelo grupo do Mestrado
em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental, denominado de
Diagnstico Socioambiental do Alto Vale do Rio Tijucas (Santa Catarina): algumas
proposies de planejamento territorial, de cuja equipe este autor fez parte e que deve ser
publicado em breve.
IV Suporte terico
Quanto s questes ambientais o debate terico metodolgico no teve na
primeira metade do ltimo sculo a mesma perspectiva que hoje se apresenta ou que se impe
nestas ltimas dcadas especialmente a partir do evento denominado Clube de Roma em
1967 e da Conferencia de Estocolmo em 19725 em virtude de terem se tornado claras as
limitaes que a natureza nos coloca ao desenvolvimento social e econmico, em virtude da
esgotabilidade dos Recursos Naturais no renovveis.
Esta nova perspectiva impe cincia geogrfica a busca de uma anlise
incorporando conceitos das reas humana e fsica.
Em palestra proferida na Universidade Federal de Santa Catarina durante a
abertura da XX SEMAGeo Semana da Geografia ainda em 1999, Monteiro (2003),
discutindo a importncia da questo ambiental na geografia brasileira, contestada por colegas
que se consideravam adeptos da Geografia Humana, afirma que
4 Cpia em CD Room fornecida pela Gegrafa Brbara Meurer. 5 Segundo os levantamentos realizados por este pesquisador, estes dois acontecimentos internacionais foram as
primeiras iniciativas que tiveram efetiva repercusso mundial, no sentido do despertar das preocupaes com o
ambiente.
Introduo 10
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itens X e XI (art. 1), nico
A evoluo da nossa produo geogrfica apontava a esperana de que
se viesse a promover uma pesquisa ambiental que, ao incorporar as
componentes scio-econmicas (sic), impulsionadoras das aes
antropognicas, no se descuidasse das peculiaridades dos processos
naturais vigentes em nosso vasto territrio (Monteiro, 2003:08).
E segue na defesa de uma Geocincia unificada, ou unificadora destes dois vieses
(o natural e o social), necessria a responder aos importantes desafios que o momento
histrico impunha, e considerando a indispensvel participao de profissionais de outras
reas/disciplinas nos estudos cujo ambiente objeto, lembrando que seu prprio discurso
Era expressivo de um gegrafo brasileiro que sempre acreditou na
unidade da Geografia posto que, em sua atividade de ensino e
pesquisa universitria, na rea dita de Geografia Fsica, sempre
procurou integrar os fatos da natureza aqueles (sic) da sociedade.
Naquele momento em que as mais diferentes corporaes de
cientistas e profissionais liberais lanavam-se, vorazmente, em direo
disponibilidade de verbas e prestgio profissional, aos problemas
ambientais, muitas delas que, na sua formao acadmica, no foram
dadas ao trato de inclusive problemas do complexo espectro
ambiental. Eu, como gegrafo, me sentia tranquilamente capacitado
a co-operar (sic), pela legtima via da interdisciplinaridade, em
qualquer equipe voltada aos problemas ambientais (Monteiro,
2003:08/9).
Nesta publicao dos Cadernos Geogrficos da UFSC, Monteiro (2003)
desenvolve sua teoria citando diversos trabalhos de sua autoria e debates em encontros
nacionais de geografia, cuja temtica foi superar a dicotomia terica da Geografia, entre
Fsica e Humana, com o que esta monografia compactua.
Alerta ainda que
[...] este dualismo um artifcio didtico j demostrado nocivo ao
prprio carter da Geografia, e por isso persigo uma viso conjuntiva
de Geografia: a descrio, compreenso, explicao, interpretao dos
lugares do Homem na Terra para o que indispensvel associar as
dinmicas dos processos sociais nos naturais, em suas peculiaridades,
sobretudo em suas diferenas de ritmo, de dinmicas. E que os lugares
(espaos) expressam os resultados que, atravs da Histria do
Homem na Terra (tempos) se concretizam na superfcie do planeta
Terra (espaos) (Monteiro, 2003:15).
Talvez esta divergncia terico-acadmica seja alimentada porque os Cursos de
Geografia formam, via de regra, duas categorias de profissionais: Licenciados e Bacharis. Os
primeiros se dedicam basicamente ao ensino e pesquisa e os segundos, pesquisa e
elaborao de projetos oferecidos ao mercado, geralmente em reas ligadas, de algum modo,
Introduo 11
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itens X e XI (art. 1), nico
ao meio ambiente, (como autnomos) ou trabalham em empresas ou rgos pblicos em reas
afins. Por este ponto de vista parece at natural que diferenas se manifestem, mas como
afirma Monteiro (2003), s tendem a enfraquecer a Cincia Geogrfica e aos Gegrafos em
todas suas reas de atuao. Dito isto, reafirma-se o propsito adotado neste trabalho em
utilizar referncias tericas independentemente de filiao a uma ou outra corrente.
Mamigonian (1999), quando discorre sobre o desenvolvimento da cincia
geogrfica, considera sua origem com os gregos (Herdoto & Tucdides), a partir de
mudanas do modo de produo. Mas foi s a segunda ruptura, diz ele, correspondente
gnese da geografia moderna na Alemanha (Humboldt & Ritter) que se caracterizou pela
primeira tentativa de integrar criativamente natureza e sociedade (Mamigoniam, 1999:172).
Quando discute a suposta crise atual, considera que a renovao por que passa a
goegrafia requer uma radicalizao terica, no sentido de recuperar a interdisciplinaridade e a
viso de totalidade propiciadas pelos paradigmas de formao scio-espacial e de geo-
sistema (sic) (Mamigonian, 1999:170)
Para responder a este desafio, prope uma viso holstica, segundo a qual
indispensvel analisar os dois grandes processos, reconhecendo-os com graus de autonomia
(formao scio-espacial, conforme Milton Santos e outros e Geossistemas, conforme
Sochava e outros) e de interconexo sem reducionismos pr-determinados (Mamigonian,
1999:175). A Ilustrao 5 a seguir mostra a interface entre as duas teorias.
Ilustrao 5: Grfico de interseco entre Formao Scio-Espacial e
Geossistema - Fonte: Adaptado de Mamigonian (1999:175)
Para concluir, Mamigonian (1999), citando as novas problemticas que estimulam
a renovao de linhas de pesquisa, caracteriza uma das possibilidades reais como a da
preocupao por combinar desenvolvimento econmico e preservao ambiental, como nas
propostas de eco-desenvolvimento [...] procurando solues de crescimento com vantagens
sociais e ambientais (Mamigonian, 1999:176).
FSE
GS
Introduo 12
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itens X e XI (art. 1), nico
Para dar conta de interpretar os aspectos culturais, Santos (1978) afirmava que as
paisagens so formas mais ou menos durveis, combinao de objetos naturais e objetos
sociais, resultado da acumulao da atividade de muitas geraes.
E segue:
A paisagem no tem nada de fixo, de imvel. Cada vez que a
sociedade passa por um processo de mudana, a economia, as relaes
sociais e polticas tambm mudam, em ritmos e intensidades variados.
A mesma coisa acontece em relao ao espao e paisagem que se
transforma para se adaptar s novas necessidades da sociedade [...]
considerada em um ponto determinado no tempo, uma paisagem
representa diferentes momentos do desenvolvimento de uma
sociedade (Santos, 1978:37).
As alteraes na paisagem ocorrem continuamente, acompanhando as
transformaes sociais, alteradas, renovadas, suprimidas, dando lugar a outra forma que
atenda s novas necessidades. De acordo com Santos (1978), Kant, o filsofo e gegrafo dizia
que a histria um processo sem fim; mas os objetos mudam e do uma geografia diferente
a cada momento da histria (Santos, 1978:38).
A Teoria da Formao Scio Espacial FSE, defendida por Santos (1982) afirma
que a histria da sociedade mundial, aliada da sociedade local, pode servir como
fundamento compreenso da realidade espacial e permitir a sua transformao a servio do
homem. Pois a histria no se escreve fora do espao e no h sociedade a-espacial, o que
pode ser til quando se estabelece o foco de ateno sobre as questes socioeconmicas.
No que se refere escala do estudo, Bertrand (1968:146) situa o Geossistema
como compreendendo entre alguns quilmetros quadrados e algumas centenas de quilmetros
quadrados6. E afirma que nesta escala que se situa a maior parte dos fenmenos de
interferncia entre elementos da paisagem e que evoluem as combinaes dialticas mais
interessantes para os gegrafos. Justifica afirmando que nos nveis superiores a ele, s o
relevo e o clima importam, e, acessoriamente, as grandes massas vegetais. Nos nveis
inferiores, os elementos biogeogrficos so capazes de mascarar as combinaes de
conjunto. Em suma, considera que o Geossistema que compatvel com a escala
humana.
De acordo com Troppmair & Galina (2006), est em voga estudar o espao
geogrfico de forma integrada holisticamente. Mas lembram que este j era o foco desde a
poca de Alexander Von Humboldt. Neste nterim a viso total e integrada da Geografia
6 Bertrand apresenta na pgina 145 daquele trabalho uma proposta de escalonizao das unidades da paisagem.
Introduo 13
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itens X e XI (art. 1), nico
cedeu lugar a divises: primeiro a Geografia Fsica e Geografia Humana e posteriormente
numa pulverizao de numerosas disciplinas (Troppmair & Galina, 2006:79). Entre elas a
climatologia, a geomorfologia, a hidrologia, a biogeografia, que apesar de comporem a
Cincia Geogrfica, isoladamente no so Geografia, na viso destes autores.
Consideram que na dcada de 1930, do sculo passado, ressurge com os bilogos
o pensamento integrado e sistmico, com Ludwig Von Bertanfly. A partir da a sistematizao
e a integrao do meio ambiente com seus elementos, conexes e processos como um
potencial a ser utilizado pelo homem, adquire importncia crescente. Afirmam Troppmair &
Galina (2006:80) que como gegrafos no devemos estudar o meio fsico como produto
final, como objetivo nico e isolado em si, mas como um meio integrado e dinmico, em que
os seres vivos, entre eles o homem, vivem se conectam e desenvolvem suas atividades.
Sochava (1977) criou a teoria do Geossistema em 1960. Para ele este espao de
anlise abrange sempre reas com centenas e mesmo milhares de quilmetros quadrados. Para
as Escolas Russa e Alem de Geografia, o Geossistema funciona em escala regional.
Unidades menores so os geofceis e os getopos, variando entre alguns quilmetros e poucos
metros quadrados, o que se encaixaria na nossa perspectiva de sub-bacia.
Troppmair & Galina (2006:81) citam Weizaecker, para discutir a importncia de
se adotar uma terminologia prpria para os gegrafos, o que se utiliza, sempre que possvel,
neste trabalho. Enquanto os bilogos criaram e utilizam o termo biodiversidade, a geografia,
encampando um espectro mais amplo de anlise, deve utilizar o termo Geodiversidade e, por
analogia, o prprio termo Geossistema, Geoambiental, Geobiocenose e Geocientista (que
estuda as geocincias). No se trata apenas de um neologismo, mas reafirmar a importncia
das anlises integradas da Cincia Geogrfica, atuando de forma inter e multidisciplinar.
Os mesmos autores apresentam o conceito de paisagem como de fundamental
significado cientfico, assim como rochas so para o petrgrafo, biocenose para o bilogo e
poca para o historiador e prosseguem conceituando que um fato concreto, um termo
fundamental e de importante significado para a Geografia, pois a fisionomia do prprio
Geossistema.
Julga-se relevante, para as anlises que se prope, encerrar esta discusso com a
seguinte citao:
No momento em que na maior parte da superfcie terrestre se verifica
o caos na Organizao do Espao com degradao acentuada do meio
ambiente, desertificao, reduo e poluio dos recursos hdricos,
desmatamentos, urbanizao catica, desequilbrios sociais e
Introduo 14
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itens X e XI (art. 1), nico
econmicos, reduo da qualidade de vida, o estudo dos
Geossistemas, atravs da integrao de seus elementos, oferecendo
viso e ao holstica, adquire importncia fundamental para um
planejamento correto da utilizao e organizao do espao, ou seja,
para a Cincia Geogrfica (Troppmair & Galina, 2006:87).
Retornando especificidade a que se refere a questo gerencial de recursos
hdricos, em seu projeto de mestrado, objetivando dar maior consistncia e confiabilidade aos
licenciamentos, o que fundamental mesmo para a prpria auto sustentabilidade do setor
produtivo energtico, Schweitzer (2008), defende que:
As necessidades de gerao de energia eltrica somadas ao vasto
potencial hdrico de Santa Catarina estimularam nos ltimos anos uma
proliferao de projetos de Pequenas Centrais Hidroeltricas no
estado. Contudo, a legislao ambiental ainda encontra-se defasada no
que diz respeito identificao de impactos indiretos, cumulativos e
sinrgicos que podem ser causados pela implantao de vrias
hidroeltricas em uma mesma bacia. Para avaliao desses impactos
indiretos, cumulativos e sinrgicos em escala de bacia hidrogrfica,
comearam a ser realizadas Avaliaes Ambientais Integradas (AAIs),
as quais, porm, ainda no compartilham de uma srie de mtodos e
tcnicas comuns, nem so respaldadas pela legislao vigente
(Schweitzer, 2008:01).
Para o licenciamento das PCHs, a legislao foi amenizada com a criao do
Estudo Ambiental Simplificado, estabelecido na Resoluo CONAMA 279/2001. Optou-se
pelo caminho inverso, ou seja, em lugar de estabelecer critrios mais abrangentes, tal
Resoluo facilita a autorizao sem maiores exigncias. Esta situao tende a agravar a
provvel degradao do empreendimento, uma vez que seus impactos so apresentados de
forma mais superficial e sem levar em considerao aqueles efeitos cumulativos.
Em Santa Catarina somente em 2006 (Resoluo CONSEMA 01/2006), as
atividades passveis de licenciamento foram regulamentadas. E s em 2007 a FATMA
Fundao Estadual do Meio Ambiente publicou a Instruo Normativa 44/07, estabelecendo
critrios para o licenciamento de empreendimentos geradores de energia.
Quanto multi-utilidade, Silva (2008) defende que
A definio de um ou mais usos efetivos de um espao de recursos vai
depender da atuao dos agentes interessados em atribuir-lhes
funes. Por vezes, uma nica atividade pode requerer mais de um
tipo de uso, como a produo de energia hidroeltrica, a qual necessita
capturar uma quantidade x de energia hidrulica (o recurso strictu
sensu) a partir de certas caractersticas ambientais observadas em seu
conjunto como o gradiente de relevo e a vazo do rio principal
Introduo 15
Anlise da construo de PCHs no Alto Vale do Rio Tijucas/SC - Direitos Autorais Lei 9.610/98 art. 70,
itens X e XI (art. 1), nico
(tomando a bacia hidrogrfica como unidade ambiental de
explorao). Tambm podemos observar interaes positivas e
negativas entre diferentes funes atribudas ao mesmo espao de
recursos como pode ser a relao entre os espaos nuticos e o
turismo de litoral e a maricultura, a produo de energia eltrica e a
pesca fluvial, entre muitas outras (Silva, 2008:03).
O mesmo autor complementa seu raciocnio referente necessidade de se
observar de forma mais consistente os reflexos da implantao de empreendimentos
utilizadores de recursos naturais sobre as comunidades direta ou indiretamente atingidas e
sugere que
[...] adotar parmetros de uso apropriados do ponto de vista ambiental
e buscar uma combinao de diferentes fontes de um mesmo recurso
se apresentaria como a soluo desejada, pois diminuiria a presso
humana sobre cada um daqueles espaos e o custo social de utilizao
do recurso seria o mais baixo possvel durante um longo perodo
(Silva, 2008:03).
J em 2004, Silva considerava que o ncleo de todo aparato legal e institucional
montado em torno da gesto dos recursos hdricos est nos instrumentos de que se lanam
mo para estimular, ordenar, limitar, ou constranger os diferentes usos possveis do espao de
recursos (Silva, 2004:07).
Quer dizer, o arcabouo jurdico tem por base o controle, por meio do
licenciamento e outorga, sobre o uso destes recursos a fim de atribuir-lhe valor econmico e
reconhecer-lhe como bem com valor de troca.
No que concerne especificamente ao modelo, segundo Mynayo (2001), a
pesquisa deve ser baseada em teoria, mtodo e criatividade, sendo a cincia a forma
hegemnica da sociedade ocidental, quanto aos critrios de construo do conhecimento, se
torna necessria para dar respostas s questes polmicas do mundo, fundamentada na
cientificidade. O caso das PCHs sintomtico quanto necessidade do aprofundamento da
pesquisa para responder s demandas socioambientais da sociedade contempornea.
A mesma autora considera que as diferenas entre esta cientificidade nas cincias
sociais e naturais, que dizem respeito objetividade ou subjetividade, se justificam pelo
prprio objeto de estudo diferenciado, quer dizer, conforme o objeto de estudo utilizar-se-o
critrios e mtodos mais, ou menos, objetivos.
O estudo de uma bacia hidrogrfica se baseia no atual modelo de gesto dos
recursos hdricos proposto no pas (inclusive pela Lei n 9.433/97 PNRH) e a evoluo
geoambiental a partir da anlise da paisagem impactada por centrais hidreltricas pode
Introduo 16
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itens X e XI (art. 1), nico
contribuir para o debate quanto ao paradigma dos licenciamentos adotados pelos rgos
ambientais no Brasil. Tambm interessa analisar a insero deste formato de gerao na
matriz energtica nacional e no contexto das energias limpas e alternativas.
V - Metodologia
Para atingir estas metas far-se-o: (1) a caracterizao fsica, bitica e
socioeconmica do local de estudo; (2) uma discusso quanto aos processos de inventrio,
licenciamento e implantao de tais usinas; bem como (3) a consequncia destas sobre os
aspectos socioambientais (do meio fsico e das comunidades atingidas).
Nesta mesma Introduo, trata-se dos Objetivos e da Metodologia empregada,
discorrendo-se acerca do interesse em contribuir com uma maior discusso quanto a
proliferao de PCHs e os cuidados necessrios para que este modelo de gerao energtica
seja compatvel com a conservao do ambiente e que traga benefcios s populaes que so
afetadas direta ou indiretamente. Procura-se ainda, na questo metodolgica, explicitar como
as ferramentas geogrficas podem contribuir neste trabalho.
Discute-se o Referencial Terico, onde se procura deixar claro que o
embasamento so as Cincias Geogrficas que, por si s, so interdisciplinares posto que se
dividem numa srie de disciplinas oriundas da Geografia (biogeografia, geologia,
geomorfologia, climatologia, oceanografia, rural, industrial, entre outras). O Captulo II
constitudo pela caracterizao socioambiental da rea de estudo.
No Captulo II busca-se contextualizar a pesquisa atravs da conceituao de
Energia e Recursos Hdricos e d-se entrada no assunto especfico das PCHs. A questo dos
recursos hdricos e da energia hidreltrica, tem assumido papel de destaque e as PCHs vm
sendo importante forma de investimentos em gerao de energia (eltrica) no Estado
Catarinense. Nele esto tambm as anlises dos processos de licenciamento e os resultados de
entrevistas realizadas com representantes da sociedade local, que so os maiores afetados e
interessados na discusso dos efeitos da construo destes empreendimentos e seus reflexos
positivos e negativos. O sentimento manifestado destes indivduos subsidia as consideraes
do ltimo captulo.
Avanando na explicao das PCHs e seu papel e discutindo a viso dos atores
sociais envolvidos no Planejamento Territorial e no Desenvolvimento Socioambiental a partir
daqueles elementos, colocando estes dados numa Matriz que visa facilitar a visualizao
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itens X e XI (art. 1), nico
objetiva dos resultados apurados (Captulo III). Esta Matriz foi elaborada com base nos
parmetros da Resoluo Conama 001/86, de acordo com Barbosa & Dupas (2008).
O ltimo Captulo, de nmero IV dedicado s Consideraes Finais e tentativa
de prognosticar os efeitos da manuteno dos paradigmas atuais, bem como sugerir melhorias
possveis nos processos de explorao dos recursos naturais, especialmente a gua, para
gerao de energia, com base na anlise da bacia (ou sub-bacia) hidrogrfica.
Neste sentido esta anlise pode contribuir e representar uma nova necessidade no
desenvolvimento do modelo atualmente proposto, levando em considerao a percepo de
como se distribuem nus e bnus na construo do espao em virtude da presena de referidas
usinas.
Por estarem, via de regra, em reas rurais e muito menos modificadas do que as
reas urbanas, os impactos so mais facilmente notados e possivelmente avaliados quanto aos
reflexos no desenvolvimento local.
O mapeando da rea de impactao das PCHs, utilizando ferramentas geogrficas
(softwares de geoprocessamento) foi efetuado com base em fotografias, mapas e imagens
orbitais, somadas s informaes cartogrficas fornecidas pela GRANFPOLIS, e tambm
retiradas dos processos de licenciamento que os empreendedores apresentaram ao rgo
ambiental (FATMA), para a obteno das licenas ambientais (LAP, LAI e LAO). A visitao
aos municpios e aos empreendimentos, com a coleta de pontos com GPS Garmim, completou
as informaes necessrias.
Adotou-se o modelo de buffer, onde uma distncia referencial foi tomada a
partir da localizao central do empreendimento, gerando reas de impactao, que permitem
observar, entre outras, possveis sobreposies entre as diversas unidades construdas, ou
projetadas, para a sub-bacia e consequentes anlises desta espacializao.
Foram cumpridas ento as seguintes etapas:
1. Reviso bibliogrfica, com pesquisa em notcias (jornais e revistas) e
materiais (artigos, dissertaes, teses, livros) referentes aos aspectos fsicos e sociais da regio
e aos projetos relacionados a PCHs, junto s bibliotecas pblicas e universitrias, rgos
pblicos, mdias diversas e rede mundial de computadores.
Segundo Silva (2001),
Nesta fase voc dever responder s seguintes questes: quem j
escreveu e o que j foi publicado sobre o assunto, que aspectos j
foram abordados, quais as lacunas existentes na literatura. Pode
Introduo 18
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itens X e XI (art. 1), nico
objetivar determinar o estado da arte, ser uma reviso terica, ser
uma reviso emprica ou ainda ser uma reviso histrica. A reviso de
literatura fundamental, porque fornecer elementos para voc evitar
a duplicao de pesquisas sobre o mesmo enfoque do tema.
Favorecer a definio de contornos mais precisos do problema a ser
estudado (Silva, 2001:37).
2. Sadas de Campo com entrevistas, objetivaram o conhecimento da realidade
local, aplicao dos questionrios e obteno e checagem de dados. Neste momento buscou-se
analisar aspectos relacionados s negociaes de aquisio/arrendamento das terras ocupadas,
construo dos empreendimentos e operao destes, com suas interferncias positivas e
negativas na scio-economia, bem como no meio ambiente afetado.
Pesquisa e entrevistas foram realizadas junto aos gestores municipais e atores
sociais do municpio, incluindo a populao diretamente envolvida (proprietrios rurais),
buscando obter seus pareceres frente a estes impactos ocorridos desde a poca dos estudos de
viabilidade, negociao para compra ou arrendamento das terras ocupadas, utilizao de mo-
de-obra local e demais negociaes pr-empreendimento. Procurou-se medir a percepo
destes quanto s mudanas ocorridas nas fases de construo e a partir da, at os dias atuais,
no que diz respeito s melhorias na qualidade ambiental e social do municpio e suas relaes
com as usinas construdas. Com a preocupao de evitar contaminao nas respostas dos
interlocutores, buscou-se a realizao de entrevistas estruturadas. Com base em informaes
de Rosa & Arnoldi (2008),
Elaborar um roteiro de entrevista estruturada impe o estabelecimento
de questes formalmente elaboradas, que seguem uma sequncia
padronizada, com uma linguagem sistematizada e de preferncia
fechada, voltando-se para a obteno de informao, atravs de
respostas curtas e concisas, sobre fatos, comportamentos, crenas,
valores e sentimentos (Rosa & Arnoldi, 2008:29).
Mas as autoras alertam da importncia do comprometimento com a veracidade e
objetividade dos entrevistados e o cuidado com a elaborao de roteiros que bem avaliem
estes diferentes sujeitos. Este tipo de informao assim obtida, permitir uma maior
integrao com a matriz de impacto utilizada para detectar os efeitos sobre o meio fsico e
cultural, conforme a objetividade dos dados coletados.
Os entrevistados foram escolhidos conforme a ocasio, ou seja, durante a
visitao dos locais e a oportunidade de encontra-los, entretanto buscou-se respeitar alguns
critrios, como: moradores limtrofes das PCHs e trabalhadores das Usinas. No Anexo IX
encontra-se o modelo de questionrio aplicado nas entrevistas.
Introduo 19
Anlise da construo de PCHs no Alto Vale do Rio Tijucas/SC - Direitos Autorais Lei 9.610/98 art. 70,
itens X e XI (art. 1), nico
3. Analise dos processos de licenciamento elaborados e protocolados junto aos
rgos reguladores e ambientais a fim de obter informaes que puderam balizar a anlise da
situao encontrada e aquela prevista nos procedimentos iniciais. A legislao ambiental no
pas, especialmente as Resolues do CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente,
exigem a publicidade dos processos de licenciamento dos empreendimentos potencialmente
poluidores, categoria na qual as PCHs se enquadram. O rgo Ambiental catarinense, a
FATMA, dispe dos processos de licenciamento das usinas da regio de estudo e os mesmos
foram solicitados atravs de requerimento protocolado e endereado Diretoria de
Licenciamento da Fundao Estadual do Meio Ambiente FATMA. Conforme quadro abaixo
(Ilustrao 6) pode-se ter a noo do funcionamento do licenciamento ambiental, previsto pela
Resoluo CONAMA 01/86. A importncia de se analisar os projetos apresentados aponta
para a verificao de dados j produzidos, desde os estudos de viabilidade e inventariamento,
at a proposio de medidas mitigadoras e compensao ambiental.
Ilustrao 6: Tabela com Parmetros e atributos para avaliao de impactos
(EIA, 2001).
Parmetro Atributo
Reflexos sobre o ambiente Direto/Indireto,
Positivo/Negativo
Abrangncia do Impacto Pontual, Local, Regional
Frequncia com que se manifesta Permanente, Temporrio,
Cclico
Temporalidade com que se manifesta Curto, Mdio, Longo prazo
Reversibilidade sem medidas mitigadoras Reversvel, Irreversvel
Magnitude grau de comprometimento da
qualidade ambiental
Alta, Mdia, Baixa
Fonte: Adaptado de Barbosa & Dupas, 2008.
Foram analisados os projetos elaborados desde o inventrio do potencial de
gerao de energia hidreltrica, apresentados ANEEL e CELESC, por meio de
informaes disponveis nos respectivos stios da Rede Mundial de Computadores (Internet),
at os de licenciamento junto aos rgos ambientais;
4. Criao de um Banco de Dados, utilizando um Sistema de Informaes
Geogrficas7, onde constam os dados coletados ao longo da pesquisa, especialmente
7 As potencialidades de um SIG so enumeradas por Lisbo Filho (1999). De maneira resumida podemos indicar as funes de Recuperao de Dados (busca seletiva, manipulao e gerao de resultados), Funes de Medida
(executada sobre objetos espaciais como pontos, linhas, polgonos e conjunto de clulas, bem como distancia
entre pontos, comprimentos de linha e permetros de reas), Funes de Sobreposio de Camadas (overlay:
relaciona informaes de duas ou mais camadas de dados), Funes de Interpolao (mtodo matemtico no qual
valores no definidos em uma localizao podem ser calculados com base em estimativas feitas a partir de
valores conhecidos em localizaes vizinhas), Funes Matemticas (regresso polinomial, Sries de Fourier,
mdias ponderadas), Gerao de Contorno (linhas de contorno representando superfcies), Funes de
Introduo 20
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itens X e XI (art. 1), nico
referentes s PCHs construdas ou projetadas para a sub-bacia, o que subsidia a elaborao da
Matriz de Impacto, e o prognstico a ser elaborado no captulo V. O BD (Banco de Dados)
um instrumento valioso para a pesquisa, especialmente nas geocincias, onde permite uma
interface mais amigvel entre seu contedo e usurios e permite uma maior facilidade de
organizao e utilizao das informaes coletadas ao longo do trabalho. A criao destes
Bancos de Dados uma ferramenta importante para trabalhos nas reas de anlise ambiental
baseada em territrios especficos.
5. Elaborao e estruturao de uma Matriz de Impacto que utiliza o Banco de
Dados criado anteriormente e as respostas obtidas nas entrevistas com os atores sociais
envolvidos com o objetivo da mensurao das interferncias sobre o geoambiente. As
matrizes de interaes so tcnicas bidimensionais que relacionam aes com fatores
ambientais. Embora possam incorporar parmetros de avaliao, so mtodos basicamente de
identificao. Tiveram incio a partir da tentativa de suprir as deficincias das listagens
(check-list).
6. Mapeamento atravs de softwares de Geoprocessamento da distribuio
espacial das PCHs implantadas na referida Bacia Hidrogrfica e os limites das interferncias
causadas, em nvel dos aspectos fsicos, biolgicos e sociais. Para isto utilizou-se cartografia
pr-elaborada e imagens orbitais alm das informaes apresentadas pelos empreendedores. A
elaborao de cartografia georreferenciada permite a melhor visualizao e interpretao dos
fenmenos localizados. Foram confeccionados os mapas temticos de interesse e a partir
destes mapas, com os dados dos processos de licenciamento e as observaes de campo,
foram coletadas as coordenadas de localizao das PCHs, com utilizao de receptor GPS
Global Posicional System, e a utilizao de sistemas CAD na elaborao de reas de
impactao;8
7. Elaborao de Mapas, identificando a localizao dos empreendimentos
construdos ou em fase de planejamento/licenciamento, adotando um sistema de buffer que
permite visualizar as sobreposies entre as reas de impacto dos mesmos e, assim, avaliar
sua implantao;
8. Identificao dos reflexos dessas construes sobre a comunidade e o
desenvolvimento local, buscando alternativas para ampliar os benefcios e mitigar os efeitos
negativos desses empreendimentos. Com base nas informaes e dados coletados ao longo da
Proximidade (permitem anlise de proximidade, associadas gerao de zonas de buffer). Disponvel:
http://www.geo.ufv.br/simposio/simposio/trabalhos/trabalhos_completos/eixo10/005.pdf 8 O conceito sobre reas de influncia encontra-se no captulo III.
http://www.geo.ufv.br/simposio/simposio/trabalhos/trabalhos_completos/eixo10/005.pdf
Introduo 21
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itens X e XI (art. 1), nico
pesquisa, devidamente relacionadas em banco de dados e cartografados, buscou-se perceber
os reflexos para os meios fsico e antrpico, de alguma forma influenciados pela construo
dos empreendimentos;
9. Redao da Dissertao, procurando descrever fsica e
socioeconomicamente a regio do Alto Vale do Rio Tijucas e avaliar os processos de
implantao de PCHs, e os impactos destas com base nos itens anteriores, propondo medidas
que visam ampliar os benefcios e mitigar os impactos negativos.
VII Agradecimentos
Cabe aqui agradecer a todos os professores (Carmen Suzana Tornquist, Francisco
Henrique de Oliveira, Glussia de Oliveira Assis, Isa de Oliveira Rocha, Mariane Alves Dal
Santo, Maria Paula Casagrande Marimon, Mrio Jorge Cardoso Coelho Freitas, Pedro
Martins, Ricardo Wagner ad-Vncula Veado e Vera Lcia Nehls Dias) que participaram da
construo deste mestrado que ora conclumos, bem como aos colegas da turma que
participaram deste processo, especialmente no trabalho de Prtica em Planejamento (Alziro
Antnio Golfetto, Daniel Alexandre Heberle, Elizangela Ribeiro Bosco Chelone, Heloisa de
Campos Lalane, Karla Ferreira Knierin, Marco Aurelio Dias, Nilson Berticelli, Sandra da
Silva Bertoncini, Sinara Fernandes Parreira), ao Comit da Bacia Hidrogrfica do Rio Tijucas,
na pessoa da Gegrafa Brbara Meurer, Associao dos Municpios da GRANFPOLIS, por
intermdio do Gegrafo Vinicius Constante, Diretoria de Licenciamento e ao Eduardo do
Arquivo da FATMA, Prof Beate Frank da FURB e Clcio Azevedo da Silva da UFSC, a
Cludio Lovato, meu concunhado que me ajudou nas tradues, a Mrio Gabriel Abreu, meu
amigo que me acompanhou em atividades de campo e, especialmente, minha famlia
(Gisele, Gabriel e Ellen) que esteve sempre ao meu lado.
CAPTULO I
CARACTERIZAO DA REGIO DE ESTUDO
Este captulo visa caracterizar os aspectos natural e cultural da rea de interesse
com base no trabalho interdisciplinar realizado durante a disciplina de Prtica em
Planejamento Regional, nos trabalhos realizados para a elaborao da Etapa I (diagnstico)
dos PMSB - Planos Municipais de Saneamento Bsico dos municpios de interesse e
financiados pela SDS Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econmico Sustentvel, em
dados obtidos junto aos processos de licenciamento das hidreltricas da Bacia Hidrogrfica e
em atividades de campo.
1.1 Caractersticas do Meio Fsico
Para Berticelli et al. (2010) a Geologia da Regio constituda por trs grandes
grupos de rochas, caracterizados basicamente por suas idades e constituio: o Embasamento
Cristalino, a Cobertura Sedimentar Gondunica (Bacia Sedimentar do Paran) e a Cobertura
Sedimentar Quaternria.
O mesmo autor observa que a variedade litolgica favorece a formao de
paisagens diversas. As principais formaes encontradas so o Corpo Granito Pedra Grande e
a Formao Taciba, alm do Corpo Granitide Major Gercino.
As rochas locais apresentam resistncias variadas, como as sedimentares (arenitos,
mais resistentes, nos topos; folhelhos ou argilitos, menos resistentes, nos vales). O relevo
apresenta vales muito profundos encaixados em linhas de falha ou fratura, e os pontos
culminantes encontram-se a 1.120 m, na Serra da Boa Vista, situada no municpio de Rancho
Queimado, onde esto localizadas as nascentes do rio Tijucas. Encontram-se especialmente
rochas derivadas dos grupos Tabuleiro e Granito Imaru (FATMA, 2001:398).
Na Ilustrao 7, em foto captada em sada de campo com mestrandos do MPPT
em setembro de 2009, v-se parcialmente o relevo acidentado com vales e morros, no
municpio de Angelina, sede da maioria das Pequenas Centrais Hidreltricas.
Caracterizao da rea de Estudos 23
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A Bacia est localizada nos domnios da unidade geomorfolgica da Serra do
Tabuleiro, que tem orientao predominante no sentido NE-SW e apresenta altimetria
gradativamente mais baixa em direo ao litoral.
Ilustrao 7: Relevo acidentado e vales encaixados, conhecido como mares de morros
(Embasamento Cristalino). Foto: Helosa de Campos Lalane, 2009.
Berticelli et al. (2010) considera ainda que esta unidade geomorfolgica
caracterizada pela presena de extensos patamares, alcanando dezenas de quilm, e de
relevos residuais de topo plano, limitados por escarpas. Caracterizada por encostas ngremes e
vales profundos, favorecendo processos erosivos, sobremaneira nas reas desmatadas, onde o
manto de material fino, resultante de alteraes da rocha, mais espesso, podendo atingir
mais de 20 m.
O alto vale do rio Tijucas caracterizado por trs unidades geomorfolgicas:
Serras do Leste Catarinense, Patamares do Alto Rio Itaja e Plancie Fluvial.
A Leste da rea de estudo, onde afloram as rochas do Embasamento Cristalino,
predominam morros em forma de meia laranja (mares de morros) e vales planos, encaixados
entre os morros, como na Ilustrao 6. O relevo acidentado facilita a construo de PCHs
(Pequenas Centrais Hidreltricas), haja vista que o potencial hidroenergtico funo direta
das diferenas de nvel existentes.
Caracterizao da rea de Estudos 24
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Na Ilustrao 8 observa-se outro aspecto do relevo da regio, com o rio ladeado
por um talude florestado esquerda e uma pequena plancie fluvial desmatada direita, rea
onde ocorre a ocupao humana.
Ilustrao 8: Rio Garcia com vales encaixados configurando a
drenagem local. Foto: Helosa de Campos Lalane, 2009
A Unidade Geomorfolgica Plancies Fluviais formada por terrenos planos, ou
ligeiramente inclinados em direo ao rio, e compreende a plancie de inundao e os baixos
terraos. So reas, portanto, periodicamente inundadas e frequentemente utilizadas para
lavouras e criao de gado, alm da construo de moradias e prdios auxiliares, como
garagens, secadores de fumo, depsitos, entre outros. Surgem de forma descontnua e em
pequenas extenses na rea em estudo (Berticelli et al, 2010).
A Ilustrao 9 abaixo, ressalta estas caractersticas. Estas reas so, via de regra,
desmatadas e sofrem tambm os problemas de desbarrancamento. Observa-se em muitos
trechos os caminhos formados pelo gado para beber gua, sendo aproveitados para a chegada
das pessoas para nadar, pescar e colocar embarcaes, quando as condies do rio permitem.
Caracterizao da rea de Estudos 25
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Ilustrao 9: Estufa de fumo e criao de gado na Plancie Fluvial do Rio
Garcia. Foto: Helosa de Campos Lalane, 2009.
Nos anexos apresenta-se os Mapas Geolgico, Geomorfolgico, de Declividade e
Hipsomtrico da sub-bacia, em tamanho A3 ao final, para melhor visualizao, permitindo
uma noo mais clara do relevo regional. No primeiro, a diviso entre o Planalto Centro-
Oriental e as Serras do Leste Catarinense. No seguinte, a diversificada declividade encontrada
onde um observador treinado pode detectar o sistema de drenagem das sub-bacias,
complementando com o mapa seguinte em que esta (drenagem) fica ainda mais visvel.
O Alto Vale foi mapeado pela equipe do MPPT, com base em dados do
Diagnstico realizado pelo Comit da Bacia Hidrogrfica do Rio Tijucas e dos trabalhos
contratados pela Associao dos Municpios da GRANFPOLIS para a elaborao dos Planos
Diretores Municipais. Os mapas foram confeccionados pela acadmica Sinara Fernandes
Parreira, com o auxlio dos colegas do MPPT e do GEOLAB, especialmente da Prof.
Mariane Alves Dal Santo.
Segundo Berticelli et al. (2010) os solos so outro fator determinante do relevo,
resultado da decomposio das rochas formadoras que, em funo da sua resistncia, so mais
ou menos suscetveis ao intemperismo fsico-qumico e, assim, vo dar origem ao modelo
hidrogrfico da paisagem. Segundo levantamento de solos realizado pela Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA, os solos existentes nos municpios que compem a
sub-bacia Alto Vale do Rio Tijucas pertencem s ordens dos Cambissolos, Argissolos e
Litlicos.
Caracterizao da rea de Estudos 26
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Nas plancies fluviais, onde o uso do solo muito mais acentuado, especialmente
com o plantio de culturas anuais e a construo de moradias, h desde sedimentos arenosos
at lama (principalmente argila e silte) conforme Ilustrao 10. Observa-se que a mata ciliar
quase inexistente, o que provoca o desbarrancamento da margem e o aoreamento do curso
dgua.
Os principais solos encontrados so o Cambissolo lico e distrfico com horizonte
A moderado e proeminente, com mdia vulnerabilidade, o podzlico vermelho-amarelo,
cambissolos com horizonte A do tipo turfosos e hmicos, com alta vulnerabilidade e solos
gley pouco hmico, lico e litlicos licos, com vulnerabilidade muito alta (FATMA,
2001:156).
Ilustrao 10: Sedimentos arenosos nas margens do Rio Tijucas. Foto: Heloisa de
Campos Lalane, 2009.
Pelo clima, determinante no condicionamento do tipo de vegetao e pelas
diferenas de altitudes, as rochas deram origem a vrios tipos de solos, que se caracterizam
por serem rasos e jovens no relevo montanhoso tornando-se mais profundos e maduros
medida que o terreno se torna mais suave, devido percolao das guas no solo. Fator que
acentua os efeitos do intemperismo qumico, propcio decomposio qumica das rochas,
apresentando, nos locais onde se verifica essa decomposio parcial, uma forma esferoidal,
sobressaindo-se, na parte decomposta, blocos ou mataces de tamanhos variados (Berticelli et
al, 2010).
Caracterizao da rea de Estudos 27
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Quando se refere s PCHs, FATMA (2001) revela que o aspecto escalonado dos
solos e das corredeiras tem origem na estrutura dos derrames baslticos sucessivos, de maior
resistncia decomposio, prestando-se implantao de obras dessa natureza pelas
caractersticas de carter colunar das diclases.
No anexo V apresentado o Mapa pedolgico da regio, onde aparecem os trs
principais tipos de solo: Cambissolo, Podzlico Vermelho-Amarelo e Litlicos, onde a
predominncia marcadamente do primeiro tipo, que ocupa aproximadamente 90 % da rea
total.
No Estado, a altitude da plancie litornea varia de 0 a 300 m. Logo que se sobe a
Serra do Mar, no Planalto Serrano e no Meio Oeste, as altitudes variam entre 800 e 1500 m;
mais para oeste, as altitudes vo diminuindo at atingirem prximo de 200 m no extremo
oeste. Toda essa variao de altitude e distanciamento do mar faz com que o clima varie
bruscamente entre uma regio e outra; as temperaturas, por exemplo, podem variar mais de 10
graus entre os Planaltos e o Litoral (FATMA,1992).
Para Monteiro (2001)
o relevo de Santa Catarina contribui, fundamentalmente, na
distribuio diferenciada da precipitao em distintas reas. Naquelas
mais prximas s encostas de montanhas, do lado barlavento, as
precipitaes so mais abundantes, pois a elevao do ar mido e
quente favorece a formao de nuvens cumuliformes, resultando no
aumento do volume de precipitao no local. Neste sentido, so
observados ndices maiores de precipitao nos municpios prximos
encosta da Serra Geral, quando comparados aos da zona costeira
(Monteiro, 2001:70)
Segundo o mesmo Monteiro (2001), a localizao geogrfica faz o Estado
catarinense desfrutar da melhor distribuio pluviomtrica durante o ano, de todo pas.
O clima de uma determinada localidade formado por uma complexa interao
entre os continentes (continentalidade), oceanos e as diferentes quantidades de radiao
recebida do sol. O giro da Terra em torno deste astro faz com que essa quantidade de energia
recebida em cada localidade varie ao longo do ano, criando um ciclo sazonal responsvel
pelas estaes de vero, outono, inverno e primavera.
Em Santa Catarina esta variao sazonal do clima bastante definida por causa da
localizao geogrfica. No vero, quando os raios solares esto chegando com maior
intensidade, a quantidade de radiao solar global recebida chega a 502 cal/cm; no inverno
esse fluxo bem menor e fica em torno de 215 cal/cm (Monteiro, 2001:70).
Caracterizao da rea de Estudos 28
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Tambm no inverno, a frequncia de insero de frentes frias e massas de ar frio
so muito maiores e contrastam com as altas temperaturas de vero, geradas pela permanncia
da massa de ar tropical. As estaes de transio, outono e primavera, mesclam caractersticas
das duas outras estaes. Alm das variaes sazonais associadas ao movimento da Terra em
torno do sol, a orografia (distribuio das montanhas) e a proximidade do mar so os grandes
responsveis pelas diferenas de clima existente entre as diversas regies do estado.
(Berticelli et al., 2010).
Segundo Monteiro (2001) o clima do estado subtropical mido mesotrmico,
apresentando duas variaes, Cfa e Cfb. A variao Cfa encontrada em praticamente todo o
estado nas reas abaixo de 800 m de altitude. J o Cfb encontra-se nas reas altas acima de
800 m.
As chuvas costumam ser bem distribudas ao longo do ano com uma pequena
diminuio nos meses do inverno. Existem diferenas significativas entre as regies. Nas
zonas mais elevadas do planalto norte, o vero fresco e o inverno frio. No litoral (devido
baixa altitude) e no Oeste (devido continentalidade), o vero mais quente e prolongado.
No litoral, comum ocorrer o vento sul, que traz para a atmosfera a umidade ocenica,
tornando o inverno mido. No planalto sul, devido s altitudes que variam de cerca de 800
at 1.828 m, o frio mais forte e dura mais tempo. Ali, frequente a ocorrncia de geadas e
neve, com temperaturas que podem atingir at -17,8C (1996). Bom Jardim da Serra, So
Joaquim, Urubici e Urupema so os municpios mais frios do estado e esto entre os mais
frios do Brasil (Berticelli et al., 2010).
Os principais sistemas e fenmenos atuantes no Estado so: ZCAS (Zona de
Convergncia do Atlntico Sul); Alta Subtropical do Atlntico Sul; Complexos Convectivos
de Mesoescala (CCM); El Nio; e La Nia (Monteiro,2001).
Na Sub-bacia do Alto Vale do Rio Tijucas, formada pelos municpios de
Angelina, Leoberto Leal, Major Gercino e Rancho Queimado, encontramos algumas
variaes, principalmente em funo do relevo e da altitude diferenciada. Os dados a seguir
foram obtidos junto pgina do Governo do Estado de Santa Catarina na internet1 e nos
diagnsticos realizados nos PMSB Planos Municipais de Saneamento Bsico, entregues
SDS Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econmico Sustentvel.
No municpio de Angelina a altitude mdia de 450 m em relao ao nvel do
mar. O clima predominante no municpio e regio, segundo Nimer (1989), mesotrmico
1 Disponvel www.sc.gov.br, visitada em julho de 2010.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Subtropicalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Classifica%C3%A7%C3%A3o_do_clima_de_K%C3%B6ppenhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Litoralhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Invernohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Planaltohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Geadahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Nevehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bom_Jardim_da_Serrahttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Joaquimhttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Joaquimhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Urubicihttp://pt.wikipedia.org/wiki/Urupemahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://w