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Políticas Energéticas para a Sustentabilidade
25 a 27 de agosto de 2014
Florianópolis – SC
ANÁLISE DA INSERÇÃO DA MICRO E MINIGERAÇÃO
EÓLICA E SOLAR NO BRASIL E PROPOSTAS DE AÇÕES
PARA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SETOR
Daniel Tavares Cruz 1 Eliane Aparecida Faria Amaral Fadigas2
RESUMO
Este artigo apresenta um estudo sobre a micro e minigeração de energia elétrica no
Brasil, explicando o atual cenário, regulações e incentivos vigentes, capacidade
tecnológica em sistemas fotovoltaicos e eólicos de pequeno porte (tecnologias com maior
potencial de instalação), o mercado profissional, a percepção da população brasileira
diante deste novo conceito e as barreiras que dificultam o desenvolvimento do setor,
possibilitando ao leitor o desenvolvimento de visão ampla e crítica sobre a área. Em sua
parte final, o trabalho apresenta propostas de possíveis ações aos setores públicos e
privados que, se desenvolvidas, poderão contribuir na formação de ambiente favorável
para o desenvolvimento sustentável do setor no país.
Palavras-chave: Microgeração, Minigeração, Geração Distribuída, Políticas Públicas.
1 Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa 3, nº 158,
São Paulo/SP. CEP: 05508-900. Tel.: (11) 96314-6685. E-mail: [email protected].
2 Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa 3, nº 158,
São Paulo/SP. CEP: 05508-900. Tel.: (11) 3091-5278. E-mail: [email protected].
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ABSTRACT
This article presents a study about the micro and mini electricity generation sector in
Brazil, explaining the current scenario, prevailing regulations, incentives, current
technological capability in photovoltaic and small wind generation systems (technologies
with higher installation potential), the professional market, the Brazilian population
perception on this new concept and the barriers that hinder the development of the sector,
enabling the reader to develop a broad and critical view of the area. In its final part, the
paper proposes possible government and private actions that, if developed, can contribute
on creating a favorable environment to a sustainable development of the sector in the
country.
Keywords: Microgeneration, Minigeneration, Distributed Generation, Public Policy
1. INTRODUÇÃO
A humanidade encontra-se numa fase de transição entre o modelo econômico
atual, baseado em fontes energéticas derivadas dos combustíveis fósseis, e a criação de
um modelo sustentável para uma população com crescente demanda energética, que
necessita de soluções para a crise climática e que possui previsão de menor
disponibilidade de expansão da geração centralizada em médio prazo.
Neste cenário, a micro e minigeração se apresenta como uma possível solução
para complementar o fornecimento de energia elétrica, gerando a energia próxima ao
local de consumo através de fontes renováveis, entre elas, a solar fotovoltaica e a eólica.
Em nosso país, o principal marco de regulação sobre este assunto até o momento
é a emissão da Resolução nº 482 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), em
abril de 2012, que estabelece as condições gerais para o acesso de micro e minigeração
aos sistemas de distribuição de energia elétrica e o Sistema de Compensação de Energia
Elétrica, que permite ao consumidor injetar a energia excedente de sua autoprodução na
rede da distribuidora local, gerando créditos para uso futuro. Entretanto, dois anos após o
marco inicial disposto por esta resolução, observa-se, em 2014, que o país possui
aproximadamente apenas uma centena de micro ou minicentrais conectadas à rede
dentro de um universo de 69 milhões de consumidores.
A curva de aprendizagem do setor é acelerada globalmente. Como o crescimento
do setor no Brasil é tímido, pode-se considerar que o país atravessa um atraso relativo,
comprometendo seu posicionamento. Neste setor de micro e minigeração, o fator de
escala produtiva possui importância fundamental, assim, um bem sucedido programa de
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incentivos deverá possibilitar uma melhor atratividade do conceito para criação de escala,
viabilizando a adoção desta alternativa pelos consumidores e impulsionando a indústria
nacional.
2. CONJUNTURA DA MICRO E MINIGERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL
A atividade de micro e minigeração de energia elétrica no Brasil está inserida num
contexto energético, de regulações, incentivos e agentes econômicos conforme a seguir.
2.1 Cenário
O Plano Decenal de Expansão de Energia 2022, elaborado pelo Ministério de
Minas e Energia (MME) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE) (2013), prevê uma taxa
de crescimento do consumo de energia de 4,2% ao ano entre 2013 e 2022, o que
implicará na necessidade de expansão da capacidade instalada do sistema elétrico
brasileiro na ordem de 3 GW ao ano.
De acordo com Filho (2013), espera-se que, em médio prazo, ocorra o
esgotamento do potencial hidrelétrico nacional aproveitável de 160 a 180 GW. Assim,
outras fontes energéticas, entre elas as renováveis para micro e minigeração, deverão
aumentar suas participações na matriz elétrica brasileira.
O Brasil é país rico em fontes potenciais para o setor, sendo o terceiro país com
maior insolação entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento e com áreas
potenciais para geração de energia por sistemas eólicos.
Por estes motivos, propiciar as bases necessárias para o desenvolvimento desta
indústria constitui uma necessidade e vocação natural do país.
2.2 Regulações Vigentes
Compete à ANEEL, fundamentalmente, exercer a regulação e fiscalização sobre a
geração, transmissão, comercialização e distribuição de energia elétrica no país,
buscando harmonizar os interesses do Estado, dos agentes e dos consumidores. A partir
de Abril de 2012, regulações para as operações relacionadas à geração e ao acesso à
rede de energia proveniente de micro e minigeração começaram a entrar em vigor.
2.2.1 ANEEL nº482/12
Após consolidação de ampla discussão através de consulta pública e estudo das
experiências internacionais na adoção de políticas incentivadoras à geração distribuída,
dentre as quais se destacam a Tarifa Prêmio (Feed-In Tariffs) e o Sistema de
Compensação de Energia (Net Metering), a Resolução Normativa nº 482 da ANEEL foi
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aprovada, estabelecendo as condições técnicas e comerciais para o acesso de micro e
minigeração distribuída nas redes de distribuição de energia elétrica e criando o Sistema
de Compensação de Energia Elétrica, no qual a energia ativa injetada na rede de
distribuição pela unidade consumidora que adere ao sistema é cedida a título de
empréstimo gratuito para a distribuidora, passando a unidade consumidora a ter um
crédito em quantidade de energia ativa por 36 meses.
2.2.2 – ANEEL - PRODIST – Seção 3.7
Os Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional
(PRODIST) foram atualizados com a adição da Seção 3.7, que descreve os
procedimentos para acesso de micro e minigeração distribuída ao sistema de distribuição,
incluindo os critérios técnicos e operacionais das instalações e as etapas e prazos a
serem atendidos por distribuidoras e consumidores quando da solicitação de acesso ao
Sistema de Compensação de Energia Elétrica.
2.2.3 – ANEEL nº493/12
Estabelece os procedimentos e as condições de fornecimento de energia elétrica
por meio de sistemas individuais de geração de energia e através de minirredes, sistemas
de geração e distribuição de energia elétrica com potência instalada total de até 100 kW que,
por motivos de ordem técnica, econômica ou ambiental, não podem ser interligados aos
atuais sistemas das concessionárias.
A publicação desta resolução é importante para o objetivo de universalização do
acesso à energia elétrica no Brasil, possibilitando a realização de programas de energia
alternativa para comunidades isoladas ao estabelecer as regras, direitos e deveres dos
consumidores e das distribuidoras.
2.2.4 – ANEEL nº 502/12
Esta resolução estabeleceu os requisitos para os sistemas de medição de energia
elétrica aos consumidores do Grupo B, de forma que proporcionem uma série de
benefícios, como maior eficiência no consumo, a possibilidade de atendimento remoto
pela concessionária e a criação das condições para a microgeração distribuída.
2.2.5 – Normas ABNT
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) definiu o procedimento de
ensaio de anti-ilhamento para inversores de sistemas fotovoltaicos conectados à rede
elétrica através da ABNT NBR 62116:2012 e os requisitos e procedimentos de inspeção
da conexão entre tais sistemas e a rede através das normas ABNT NBR 16149:2013 e
ABNT NBR 16150:2013.
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2.3 Programas de Incentivos
O setor conta com programas de incentivos para o seu desenvolvimento
tecnológico e econômico, promovidos por instituições governamentais e privadas.
2.3.1 - Plano Inova Energia – FINEP e BNDES
Este programa, realizado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e pelo
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dentre outras ações,
selecionou planos de negócios em soluções para a cadeia fotovoltaica, apoiando o
desenvolvimento de tecnologias para produção de silício purificado em grau solar e para a
produção de inversores e equipamentos aplicados aos sistemas de microgeração.
2.3.2 – Fundo Clima – BNDES
Visa financiar investimentos que tenham como objetivo a mitigação das mudanças
climáticas. Na área de energia, o programa apoia projetos de desenvolvimento
tecnológico de fontes renováveis e outros voltados à micro e minigeração por sistemas
isolados.
2.3.3 – P&D Estratégico - ANEEL
Em 2011, a ANEEL lançou programa de pesquisa e desenvolvimento (P&D)
denominado “Arranjos Técnicos e Comerciais para Inserção da Geração Solar
Fotovoltaica na Matriz Energética Brasileira”. O objetivo é que os projetos selecionados
aumentem o conhecimento da tecnologia pelos diversos agentes envolvidos, reduzindo a
sua barreira de penetração e contribuindo no desenvolvimento tecnológico e de serviços.
2.3.4 - Instituto IDEAL
O Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina
(IDEAL) realiza ações para promover a microgeração de energia. Entre estas ações, o
Projeto 50 Telhados é executado por empresas instaladoras de diversas cidades do país
que possuem o objetivo de alcançar a meta de instalar cinquenta telhados fotovoltaicos
em um prazo de dois anos como forma de divulgação do conceito. Já o Fundo Solar, em
parceria com a Grüner Strom Label (Selo de Eletricidade Verde da Alemanha) provém
recursos para incentivar a microgeração distribuída no Brasil através de apoio financeiro a
consumidores residenciais e comerciais para a instalação de geradores fotovoltaicos.
2.4 Percepção dos brasileiros sobre a Micro e Minigeração de Energia
Uma pesquisa foi desenvolvida em nível nacional por (Greenpeace e Market
Analysis, 2013) para explorar o conhecimento e as atitudes da população brasileira em
relação à micro e minigeração de energia, obtendo dados importantes:
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Apenas 28% dos entrevistados afirmaram ter algum conhecimento sobre o tema;
91% apresentaram boa receptividade e estão interessados em saber mais sobre o
assunto, percebendo o tema como relevante;
73% questionam as vantagens econômicas da adoção da microgeração de energia
devido aos custos de instalação;
43% dos brasileiros mostram alguma disposição a investir na instalação de um
sistema de microgeração de energia limpa; e;
71% afirmaram que adotariam o sistema se houvessem linhas de financiamento
adequadas disponíveis.
2.5 Capacidade Tecnológica
A capacidade tecnológica é um importante fator na determinação do
desenvolvimento de uma atividade econômica. Para os sistemas de micro e minigeração,
o país apresenta o seguinte ambiente tecnológico.
2.5.1 – Sistemas Fotovoltaicos de Pequeno Porte
O Brasil só possui tecnologia em nível laboratorial para realizar a purificação do
silício ao grau solar, utilizado na fabricação das células fotovoltaicas de silício cristalino, e
para a fabricação de células solares de filmes finos, preparadas através da deposição de
materiais semicondutores de baixa espessura. Seja qual for a tecnologia, a produção
doméstica neste segmento têm esbarrado na competição com os baixos custos da
produção asiática.
Atualmente, o Brasil possui tecnologia e algumas empresas atuando na montagem
de módulos fotovoltaicos, necessitando para isso importar as células fotovoltaicas de
silício cristalino ou de filme fino, além de comprar materiais de suporte, como vidro,
plástico e estruturas metálicas de indústrias nacionais.
2.5.2 – Sistemas Eólicos de Pequeno Porte
O Brasil possui poucas empresas atuando na fabricação e comercialização de
turbinas eólicas e equipamentos auxiliares voltadas para a geração de energia a partir de
sistemas de pequeno porte. Atualmente, estas empresas possuem poucos modelos
disponíveis e baixa escala de produção, reflexo do mercado ainda incipiente.
2.5.3 – Equipamentos Comuns aos Sistemas
Os inversores, equipamentos necessários nos sistemas de micro e minigeração
para acondicionamento da potência, possibilitando o consumo autônomo ou a conexão à
rede de distribuição, possuem processo produtivo similar aos de equipamentos
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eletrônicos para as áreas de informática, telecomunicações e geração de energia de
grande porte, o que tem feito alguns fabricantes nacionais estenderem suas linhas de
negócios, começando a produzir tais equipamentos. Entretanto, os inversores com maior
participação no mercado nacional são os importados.
Com relação a baterias, o Brasil possui diversos fabricantes instalados, porém os
modelos produzidos não atendem aos requisitos técnicos necessários para desempenho
ótimo dos sistemas de micro e minigeração, tornando a importação recomendada.
Os demais componentes dos sistemas de micro e minigeração, como cabos,
proteções e estruturas, possuem fabricação no Brasil, sendo que em alguns casos são
necessárias adaptações à linha de fabricação original para a utilização ser possível.
2.6 Mercado Profissional
O desenvolvimento do mercado de micro e minigeração de energia exige a
formação de mão de obra qualificada para a adequada realização de projetos, instalação,
manutenção e tratamento dos resíduos dos sistemas. O segmento de serviços
concentrará grande parte das oportunidades de atuação dos profissionais no mercado
doméstico, garantindo efeitos benéficos sobre as economias locais. Entretanto, o Brasil
possui déficit na formação de engenheiros e profissionais técnicos eletricistas, o que
dificulta a expansão do setor.
2.7 Perspectivas
O Plano Decenal de Expansão de Energia 2022, desenvolvido pelo MME e EPE
(2013), prevê que, em curto prazo, a micro e minigeração não deve ter grande
crescimento devido à queda nas tarifas de energia ao consumidor causada pela Medida
Provisória n° 579/2012, convertida na Lei n° 12.783/2013. Entretanto, mantendo-se a
tendência de queda nos custos da tecnologia, especialmente da fotovoltaica, e a
perspectiva de aumento das tarifas, a sua viabilidade deve ser maior nos próximos anos.
No horizonte decenal, estima-se que a micro e minigeração, permita reduzir o
consumo nacional em 1,9 TWh em 2022, equivalente a 219 MW instalados. O número é
baixo considerando o potencial de geração brasileiro, principalmente devido aos altos
índices de irradiação solar.
3. BARREIRAS AO DESENVOLVIMENTO DO SETOR
Através da análise da conjuntura da micro e minigeração no Brasil, apresentada no
tópico anterior, e de consultas a profissionais de distribuidoras, empresas projetistas,
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instaladoras e a consultores do setor energético, o estudo detectou prováveis barreiras ao
desenvolvimento desta atividade, que precisam ser avaliadas e solucionadas.
3.1 – Incertezas Comerciais e Técnicas das Distribuidoras de Energia
As incertezas nas proporções de crescimento da participação da micro e
minigeração na matriz elétrica nacional dificultam as projeções das necessidades de
contratação de energia nova pelas distribuidoras, realizadas com até cinco anos de
antecedência, de acordo com a atual regulação, o que aumenta o risco de realizarem
sobre contratação, impactando em possíveis multas e, consequentemente, no equilíbrio
financeiro das distribuidoras.
No aspecto técnico, questões como a qualidade da energia da rede de distribuição
resultante de uma ampla inserção da micro e minigeração e o nível de segurança do
sistema para manutenção, ou seja, a eficaz realização de desacoplamento de todas as
fontes de micro e minigeração da rede da distribuidora em caso de desligamento da rede,
conforme previsto nas resoluções normativas ANEEL nº 482 e no PRODIST Seção 3.7,
são incertezas que fazem as distribuidoras terem cautela com o conceito.
3.2 – Retorno Financeiro no Sistema de Compensação de Energia Elétrica
Os altos custos dos equipamentos, tanto nacionais quanto importados, estes
últimos analisados em trabalho da Câmera de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha
(2012), associados aos custos de projeto e instalação, tornam alto o investimento para
adoção dos sistemas de micro e minigeração. Considerando o modelo de Sistema de
Compensação de Energia Elétrica adotado no Brasil alinhado aos atuais níveis tarifários
praticados pelas distribuidoras de energia, os retornos financeiros das pequenas centrais
geradoras não se mostram atraentes aos consumidores.
3.3 - Tributação no Sistema de Compensação de Energia Elétrica
Embora a Resolução Normativa ANEEL nº 482/2012 informe que a relação entre a
energia injetada e a consumida pelo micro ou minigerador na rede da distribuidora seja de
compensação, a maioria das Secretarias de Fazendas Estaduais estão orientadas a
realizar cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre a
energia gerada pelo próprio consumidor. Assim, além dos atuais impasses financeiros e
técnicos para a viabilização da micro e minigeração, o retorno financeiro do consumidor é
prejudicado pela tributação incidente na energia gerada pelo próprio sistema.
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3.4 – Ausência de Regulação para Ilhamento
A Seção 3.7 do PRODIST não permite o ilhamento dos sistemas de micro e
minigeração. Atualmente, se houver desligamento da rede elétrica, o inversor do sistema
de geração distribuída deverá interromper tanto a injeção de energia na rede como a
alimentação das cargas do consumidor, ou seja, não é permitido que as pequenas
centrais de energia assumam a alimentação das cargas de forma independente.
Este procedimento torna os sistemas menos atrativos, uma vez que o consumidor
realiza um alto investimento em geração própria, porém continua dependente da rede de
distribuição, assim, com a mesma disponibilidade de atendimento.
4. PROPOSTAS PARA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SETOR
A seguir, algumas propostas são apresentadas com o objetivo de promover
discussões e estudos para a melhoria do setor de micro e minigeração de energia.
4.1 Tarifa Diferenciada entre a Energia Injetada e a Consumida
A adoção de tarifa diferenciada para a energia injetada na rede, maior em
comparação com a consumida, dentro da política incentivadora de geração de crédito,
possibilitaria um melhor retorno financeiro para os investimentos em micro e minigeração,
incentivando um desenvolvimento do setor que leve à redução do custo de geração. Com
base no exemplo do mecanismo de tarifa prêmio adotado para incentivar o setor em
outros países, conforme apresentado em (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e
Eletrônica, 2012), a política incentivadora adotada no país poderia incluir contratos com
cláusulas claras sobre a redução das tarifas diferenciadas ao longo do tempo, baseadas
na evolução da competitividade das fontes adotadas nos sistemas de micro e
minigeração.
4.2 Criação de Projetos Padrão com Sistemas de Financiamento Específicos
Para facilitar a aprovação de financiamentos e, assim, gerar escala de utilização, o
governo poderia desenvolver modelo padrão de projeto para investimentos em
microgeração de energia, ou seja, modelo técnico-econômico aplicável aos vários perfis
de consumidores, oferecendo como parte do projeto o financiamento necessário, com
fundos específicos constantes do orçamento da união. O financiamento poderia oferecer
juros subsidiados, ter longo prazo para sua amortização e desenvolver mecanismo para
se utilizar os créditos obtidos pelos consumidores pela injeção da energia excedente na
rede das distribuidoras como parte da amortização da dívida.
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4.3 Dedução no Imposto de Renda
A permissão do governo para deduzir um percentual do valor investido em
sistemas de micro e minigeração no imposto de renda, obtendo significativo impacto no
custo nivelado de geração, tornariam os retornos financeiros da energia fotovoltaica e da
eólica de pequeno porte mais atraentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, tal medida foi
importante para o sucesso do setor no país, sendo que as residências que investem em
geração local são elegíveis a um desconto de até 30% do valor investido.
4.4 Incentivos Fiscais para Indústrias e Prédios com Micro e Minigeração
A adoção de benefícios fiscais, como a redução de impostos aplicados a indústrias
que instalem sistemas de minigeração nas amplas coberturas de suas fábricas e a
prédios que adotem a microgeração para a iluminação de áreas comuns, por exemplo,
seria importante incentivo para maior disseminação do conceito e para promover a
transição em direção a uma economia de baixa emissão de carbono.
4.5 Regulação para Ilhamento
O estabelecimento de critérios para realização de ilhamento em sistemas de micro
e minigeração possibilitaria ao consumidor suprir o seu consumo de energia em caso de
desligamento da rede elétrica da distribuidora, aumentando, assim, a atratividade do
investimento.
4.6 Realização de Leilões Específicos para Energia Fotovoltaica
A realização de leilões específicos para energia fotovoltaica, como instrumento de
política energética e industrial, a exemplo do que ocorreu com a energia eólica, é uma
expectativa da indústria nacional como incentivo à fabricação dos equipamentos em maior
escala, com consequente redução dos custos e aumento de competitividade da
tecnologia.
4.7 Desenvolvimento de Projetos Pilotos pelas Distribuidoras
Para diminuir as incertezas comerciais e técnicas das distribuidoras, propõe-se o
desenvolvimento de dois projetos pilotos:
4.7.1 - Bairro Residencial com Alta Inserção de Microgeração
Selecionar bairros residenciais para implantação de microgeração em suas
unidades consumidoras para avaliação técnica da qualidade de energia resultante da
conexão de um número expressivo de sistemas na rede elétrica, desenvolvimento de
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procedimentos seguros de manutenção e de outras soluções que julgarem necessárias,
diminuindo assim as incertezas que tais agentes possuem em relação aos impactos na
rede caso haja ampla disseminação do conceito.
4.7.2 – Minirrede Inteligente através de Tarifação Dinâmica
Desenvolvimento de minirrede inteligente com tarifação dinâmica, possuindo
sistema de controle que armazene energia nos horários de menor tarifa, realize o
gerenciamento da demanda e injete energia na rede nos períodos de ponta, possibilitando
maior retorno ao consumidor e à concessionária. Este conceito é adotado em
condomínios inteligentes nos Estados Unidos.
4.8 Utilização de Área de Reservatórios Hidrelétricos para Energia Fotovoltaica
A maior parcela da energia elétrica gerada no Brasil (66%) tem procedência de
empreendimentos hidrelétricos, com mais de mil usinas em operação. Considerando esta
característica energética nacional, propõe-se o estudo da utilização das áreas não
utilizadas de reservatórios hidrelétricos para a instalação de minicentrais fotovoltaicas,
aumentando a garantia física das usinas sem alterar o custo de transmissão. Tal medida
possui potencial de tornar a energia fotovoltaica competitiva neste segmento,
proporcionando desenvolvimento do setor.
5. CONCLUSÕES
Este artigo apresentou informações que possibilitam concluir que o mercado de
micro e minigeração de energia elétrica no Brasil é incipiente e possui barreiras para sua
maior disseminação. Entretanto, os brasileiros percebem o tema como relevante e
demonstram alguma disposição para adotar tais sistemas em suas unidades
consumidoras. As propostas apresentadas demonstram que há possibilidades de ações
governamentais e privadas, passíveis de discussões e estudos, para fomentar ambiente
que possibilite um desenvolvimento sustentável do setor.
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