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ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE COGERAÇÃO OPERANDO COM UM CICLO RANKINE ORGÂNICO Maíra Matheus Mascarenhas Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Silvio Carlos Anibal de Almeida, DSc Rio de Janeiro Agosto de 2014

análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

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Page 1: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA

IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE COGERAÇÃO OPERANDO COM

UM CICLO RANKINE ORGÂNICO

Maíra Matheus Mascarenhas

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Silvio Carlos Anibal de Almeida,

DSc

Rio de Janeiro

Agosto de 2014

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Page 3: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

iii

Mascarenhas, Maíra Matheus

Análise da Viabilidade Técnica e Econômica da Implantação de

Sistemas de Cogeração Operando com um Ciclo Rankine Orgânico /

Maíra Matheus Mascarenhas - Rio de Janeiro: UFRJ / Escola

Politécnica, 2014.

xi, 82, p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Silvio Carlos Anibal de Almeida

Projeto de Graduação - UFRJ / Escola Politécnica /

Engenharia Mecânica, 2014.

Referências Bibliográficas: p.79-84.

1. Ciclo Rankine Orgânico. 2. Cogeração. 3. Viabilidade técnica e

econômica, I. Almeida, Silvio Carlos Anibal de. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Engenharia Mecanica.

III. Análise da Viabilidade Técnica e Econômica da Implantação de

Sistemas de Cogeração Operando com um Ciclo Rankine Orgânico.

Page 4: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

iv

“It's much more interesting

to live not knowing than to

have answers which might be

wrong.”

Richard P. Feynman

Page 5: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

v

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a minha avó Marilise Fonseca, por ser meu exemplo de

luta e sabedoria.

A minha mãe Luci Matheus, por sempre ter priorizado minha educação e meu

bem-estar.

Ao meu irmão Alvaro Matheus, pelo apoio incondicional e por me guiar durante

estes cinco anos de graduação.

A Rafael David, pelo companheirismo e por não me deixar esquecer que não há

limites para o conhecimento.

A minha prima Mariza Danielle Matheus, e minha tia Leny Matheus, por sempre

torcerem pelo meu sucesso.

Aos amigos da Technip, Rodrigo, Marysol, Camila, Gabriel, Thais, Dirney e

Fernando, pelo apoio técnico e moral.

Por fim , agradeço ao meu orientador, Prof. Silvio Carlos Anibal de Almeida, por

toda sua ajuda, atenção e cooperação durante o projeto.

Page 6: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE

SISTEMAS DE COGERAÇÃO OPERANDO COM UM CICLO RANKINE

ORGÂNICO

Maíra Matheus Mascarenhas

Agosto/2014

Orientador: Silvio Carlos Anibal de Almeida

Curso: Engenharia Mecânica

O presente trabalho destina-se a avaliar o desempenho energético e financeiro de

centrais de cogeração operando com um Ciclo Rankine Orgânico (CRO). Para isto,

desenvolveu-se uma ferramenta no Microsoft Excel capaz de simular a instalação de

equipamentos CRO em plantas industriais.

Uma vez escolhido o equipamento, a ferramenta analisa o aproveitamento

energético do sistema, calcula o consumo de combustível necessário para atender as

demandas de energia térmica e elétrica, e avalia os aspectos econômicos através da

simulação de fluxos de caixa.

Utilizando a ferramenta desenvolvida, dois estudos de caso foram analisados: uma

serraria e um frigorífico. No primeiro caso, considerou-se a utilização da biomassa

residual da própria planta como combustível na caldeira do equipamento. No segundo,

simulou-se a planta de cogeração operando com gás natural e óleo combustível.

Os resultados obtidos mostraram que apesar de os equipamentos CRO

apresentarem um baixo rendimento (cerca de 18%), a utilização de combustíveis a

custo zero, como os resíduos de biomassa, garantem o retorno financeiro do

empreendimento. Já a queima de combustíveis convencionais mostrou-se

economicamente inviável, visto que aumenta substancialmente as despesas operacionais

da planta.

Palavras-chave: Ciclo Rankine Orgânico, Cogeração, Análise de Viabilidade.

Page 7: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Mechanical Engineer.

TECHNICAL AND ECONOMIC FEASIBILITY ANALYSIS OF THE

IMPLEMENTATION OF COGENERATION SYSTEMS OPERATING UNDER AN

ORGANIC RANKINE CYCLE

Maíra Matheus Mascarenhas

August/2014

Advisor: Silvio Carlos Anibal de Almeida

Course: Mechanical Engineering

This study aims to evaluate the energetic and financial performance of combined

heat and power plants operating under an Organic Rankine Cycle (ORC). In order to do

it, a tool was developed using Microsoft Excel and it is able to simulate the installation

of ORC equipment in industrial sites.

Once the equipment is chosen, the tool analyses the energy efficiency of the

system, calculates the fuel consumption required to meet the demands of thermal and

electrical energy, and evaluate the economic aspects through cash flow simulation.

Using the developed tool, two cases were analyzed: a sawmill and a refrigerator.

At the sawmill, the plant's own biomass waste is used as fuel for the equipment boiler.

At the refrigerator, the CHP plant was simulated operating with natural gas and fuel oil.

The results showed that although the CRO equipment have low thermal efficiency

(about 18%), the use of zero-cost fuels, such as biomass waste, ensure the financial

return of the project. In the other hand, burning conventional fuel became economically

unfeasible because it substantially increases the operational costs of the plant.

Key words: Organic Rankine Cycle, Combined Heat and Power, Feasibility Analysis.

Page 8: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

viii

SUMÁRIO

1. Introdução ............................................................................................................................. 1

1.1. Objetivos ....................................................................................................................... 2

1.2. Organização do Trabalho .............................................................................................. 3

2. Ciclo Rankine Orgânico ........................................................................................................ 4

2.1. Comparação entre o Ciclo Rankine Orgânico e o Ciclo Rankine a Vapor.................... 5

2.2. Fluido de Trabalho do Ciclo Rankine Orgânico ........................................................... 7

2.2.1. Propriedades Termofísicas .................................................................................... 8

2.2.2. Impacto Ambiental .............................................................................................. 10

2.2.3. Segurança e Saúde ............................................................................................... 11

2.2.4. Disponibilidade Comercial e Custo ..................................................................... 11

2.3. Configurações do Ciclo Rankine Orgânico ................................................................. 12

2.4. Fontes de Calor do Ciclo Rankine Orgânico ............................................................... 14

2.4.1. Biomassa ............................................................................................................. 15

2.4.2. Energia Geotérmica ............................................................................................. 18

2.4.3. Energia Solar ....................................................................................................... 21

2.4.4. Calor Residual de Processos Industriais .............................................................. 23

2.5. Componentes do Ciclo Rankine Orgânico .................................................................. 25

2.5.1. Máquina de Expansão ......................................................................................... 26

2.5.2. Trocadores de Calor ............................................................................................ 29

2.5.3. Bomba ................................................................................................................. 30

2.6. Fabricantes de equipamentos CRO ............................................................................. 32

3. Modelo Matemático ............................................................................................................ 34

3.1. Equacionamento do Ciclo ........................................................................................... 34

3.1.1. Primeira Lei da Termodinâmica .......................................................................... 34

3.1.2. Segunda Lei da Termodinâmica .......................................................................... 35

3.2. Análise Econômica ...................................................................................................... 37

3.2.1. Avaliação do Fluxo de Caixa .............................................................................. 37

3.2.1.1. Método do Valor Presente Líquido (VPL) ...................................................... 38

3.2.1.2. Método da Taxa Interna de Retorno (TIR) ...................................................... 38

3.2.1.3. Método do Payback ......................................................................................... 38

4. Ferramenta de Análise Técnica e Econômica ..................................................................... 39

4.1. Aba “Entradas” ............................................................................................................ 39

4.3. Aba “Custos” ............................................................................................................... 50

Page 9: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

ix

4.3.1. Investimento Inicial ............................................................................................. 50

4.3.2. Operação e Manutenção ...................................................................................... 51

4.3.3. Custo de Energia Elétrica (COE) ........................................................................ 52

4.4. Aba “Análise Financeira” e aba “Caso Base”. ............................................................ 53

4.4.1. Receita e Despesas .............................................................................................. 54

4.4.2. Financiamento ..................................................................................................... 56

4.5. Aba “Fluxo de Caixa” ................................................................................................. 56

4.6. Aba “Payback” ............................................................................................................ 58

4.7. Aba “Resultados da Cogeração” ................................................................................. 59

5. Estudos de Caso .................................................................................................................. 62

5.1. Caso A - Serraria ......................................................................................................... 62

5.1.1. Processo de Secagem da Madeira ....................................................................... 63

5.1.2. Aplicação de Unidades CRO nas Serrarias ......................................................... 64

5.1.3. Características de Operação da Serraria .............................................................. 64

5.1.4. Receitas e Despesas ............................................................................................. 65

5.1.5. Financiamento ..................................................................................................... 66

5.1.6. Fluxo de Caixa .................................................................................................... 66

5.1.7. Resultados ........................................................................................................... 67

5.2. Caso B – Frigorífico de Frangos ................................................................................. 72

5.2.1. Características de Operação do Frigorífico de Frangos ...................................... 72

5.2.2. Resultados ........................................................................................................... 73

6. Conclusões .......................................................................................................................... 77

7. Referências .......................................................................................................................... 79

Page 10: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

x

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Aumento da geração de eletricidade a partir de fontes de energia renováveis

(CARLÃO, 2010). ............................................................................................................ 2

Figura 2 - Diagrama do Ciclo Rankine ideal e seus processos termodinâmicos (LACHI,

2014). ................................................................................................................................ 4

Figura 3 – Gráfico Gama de potência x Eficiência para diferentes maquinas térmicas

(SPLIETHOFF & SHUSTER, 2006). .............................................................................. 5

Figura 4 - Diagrama T x s para fluido isentrópico, úmido e seco (COGEN PORTUGAL,

2011). ................................................................................................................................ 8

Figura 5 - Diagrama T-s típico de alguns fluidos orgânicos e da água (QUOILIN, 2011).

.......................................................................................................................................... 9

Figura 6 - Ciclo CRO simples, esquema e diagrama T-S (MUÑOZ, 2013). ................. 12

Figura 7 - Ciclo Rankine com recuperador, esquema e diagrama T-S (MUÑOZ, 2013).

........................................................................................................................................ 13

Figura 8 - Esquema e diagrama T x s do Ciclo Rankine Orgânico com loop

intermediário de transferência de calor e regenerador (COGEN PORTUGAL, 2011). . 14

Figura 9 - Conversão de energia num sistema de cogeração CRO a partir de biomassa

(QUOILIN et al., 2013). ................................................................................................. 17

Figura 10 - Esquema simplificado de uma planta de cogeração CRO a partir de

biomassa (TCHANCHE et al., 2011). ............................................................................ 17

Figura 11 - Mapa de fluxo de calor geotérmico para a América do Sul (HAMZA et al.,

2008). .............................................................................................................................. 18

Figura 12 - Esquema de uma planta para produção de energia elétrica a partir de energia

geotérmica (TCHANCHE et al., 2011). ......................................................................... 20

Figura 13 - Distribuição da irradiação solar na Terra (EZ2C, 2010). ............................ 21

Figura 14 - Princípio de funcionamento de um sistema CRO solar (MUÑOZ, 2013). .. 23

Figura 15 - Configuração típica do Ciclo Rankine Orgânico adaptado à recuperação de

calor residual industrial (TCHANCHE et al., 2011). .................................................... 24

Figura 16 - Componentes básicos de um Ciclo Rankine Orgânico (BINI &

MANCIANA, 1996). ...................................................................................................... 25

Figura 17 - Máquina de expansão tipo parafuso (SILVA, 2010). .................................. 27

Figura 18 - Máquina de expansão espiral (AIR SQUARED, 2014). ............................. 27

Figura 19 - Máquina de expansão de palheta (SILVA, 2010). ....................................... 28

Figura 20 - Mapa de operação para 3 tecnologias diferentes de máquinas de expansão, e

3 aplicações diferentes (QUOILIN et al., 2013). ........................................................... 28

Figura 21 - Trocadores de calor tipo casco e tubos e a placas (TRANTER, 2014,

KORENERGY, 2014). ................................................................................................... 30

Figura 22 - Bomba de diafragma e bomba de êmbolo (DA SILVA, 2010). .................. 31

Figura 23 - Evolução do mercado CRO (esquerda) e participação de cada aplicação em

termos de número de unidades (direita) (QUOILIN, 2013). .......................................... 32

Figura 24 - Esquema e diagrama T x s do Ciclo Rankine simples (TCHANCHE et al.,

2011). .............................................................................................................................. 36

Figura 25 - Lista suspensa para seleção do equipamento. .............................................. 40

Page 11: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

xi

Figura 26 - Lista suspensa para seleção do combustível. ............................................... 43

Figura 27 - Diagrama do CRO apresentado na aba "Análise Técnica". ......................... 45

Figura 28 - Consumo de energia elétrica em função da potência elétrica gerada dos

módulos CRO da Turboden. ........................................................................................... 46

Figura 29 - Custo dos módulos CRO Turboden em função da potência elétrica gerada.

........................................................................................................................................ 51

Figura 30- Simulação do fluxo de caixa. ........................................................................ 57

Figura 31 - Simulação do fluxo de caixa do primeiro ano de empreendimento. ............ 58

Figura 32 - Cálculo do Payback descontado. ................................................................. 59

Figura 33 - Diagrama de uma planta de cogeração CRO em uma serraria (TURBODEN,

2008). .............................................................................................................................. 64

Figura 34- Gráfico COE x Potência elétrica gerado para o caso A.2 (serraria com

cogeração). ...................................................................................................................... 69

Figura 35 - Gráfico Payback x Potência elétrica gerada para o caso A.2 (serraria com

cogeração). ...................................................................................................................... 70

Figura 36 - Composição de custos do COE para o caso B.1 (gás natural). .................... 75

Figura 37 - Composição de custos do COE para o caso B.2 (óleo combustível). .......... 75

Figura 38 - Análise de sensibilidade do VPL em função da variação do custo da energia

elétrica para o caso B. ..................................................................................................... 76

Page 12: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

xii

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Comparação entre o Ciclo Rankine Orgânico e o Ciclo Rankine a Vapor. ................. 7

Tabela 2 - Custo, índice de impacto ambiental e segurança de alguns refrigerantes

(TCHANCHE et al., 2011). ........................................................................................................ 11

Tabela 3 - Produção mundial dos principais produtos para a obtenção de energia (LORA et al.,

2008). .......................................................................................................................................... 15

Tabela 4 - Potencial para energia geotérmica na Europa para diferentes gamas de temperatura da

fonte de calor (FRICK, 2009). .................................................................................................... 19

Tabela 5- Principais fabricantes de unidades CRO (DA SILVA, 2010). .................................... 33

Tabela 6 - Código de cores utilizado para os dados da planilha. ................................................ 40

Tabela 7- Características técnicas dos módulos CRO considerados nos estudos de caso

(TURBODEN, 2008). ................................................................................................................. 40

Tabela 8 - Tabela de dados sobre a demanda energética e as características de operação da

planta. .......................................................................................................................................... 41

Tabela 9 - Tabela de dados sobre a produção de resíduos de biomassa na planta. ..................... 41

Tabela 10 - PCI e custo de alguns combustíveis (FABRES, 2014, SORDI et al, 2013). ............ 43

Tabela 11 - Aba "Análise Técnica". ............................................................................................ 44

Tabela 12 - Indicadores do desempenho energético da cogeração apresentados na aba "Análise

Técnica". ..................................................................................................................................... 47

Tabela 13 - Tabela "Geração de Energia" da aba "Análise Técnica". ......................................... 48

Tabela 14 - Tabela "Queima Adicional" da aba "Análise Técnica". ........................................... 49

Tabela 15 - Custos de investimento da instalação de uma planta CRO como função do custo do

módulo CRO (TURBODEN, 2008). ........................................................................................... 50

Tabela 16 - Cálculo do investimento inicial total na aba "Custos". ............................................ 51

Tabela 17 - Cálculo dos custos com operação e manutenção na aba "Custos". .......................... 52

Tabela 18 - Despesas operacionais anuais de uma central CRO como função do custo da

unidade CRO (OBERNBERGER et al., 2002). .......................................................................... 52

Tabela 19 - Cálculo do custo de energia elétrica (COE) na aba "Custos"................................... 53

Tabela 20 - Receitas e despesas da planta com cogeração. ......................................................... 54

Tabela 21 - Aba "Caso Base" ...................................................................................................... 55

Tabela 22 - Cálculo da parcela de financiamento na aba “Análise Financeira”.......................... 56

Tabela 23 - Resultados da cogeração. ......................................................................................... 61

Tabela 24 - Percentual de geração de resíduos da indústria madeireira. ..................................... 63

Tabela 25 - Características operacionais da serraria (Caso A). ................................................... 65

Tabela 26 - Propriedades físicas e preço do cavaco de pinnus.................................................... 65

Tabela 27 - Resultados para a simulação do caso A.1 (serraria sem cogeração). ....................... 67

Tabela 28 - Resultados para a simulação do caso A.2 (serraria com cogeração). ....................... 68

Tabela 29 - Resultados da cogeração para o equipamento T1500, caso A.2 (serraria com

cogeração). .................................................................................................................................. 71

Tabela 30 - Características de operação do frigorífico de frangos (caso B)................................ 72

Tabela 31 - Propriedades físicas do gás natural e do óleo combustível (FABRES, 2014). ........ 72

Tabela 32 - Tarifa do gás natural em função do consumo (CEG, 2014). .................................... 73

Tabela 33 - Resultados para a simulação do caso B.1 (gás natural). ........................................... 73

Tabela 34 - Resultados para a simulação do caso B.2 (óleo combustível). ................................ 74

Page 13: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

1

1. Introdução

Nos últimos anos tem-se assistido a um forte aumento da produção de energia

elétrica. É esperado que a nível mundial até 2030 sejam produzidos 30364 TWhel

(CARLÃO, 2010). A necessidade de consumo de energia elétrica irá aumentar

principalmente nos países em vias de desenvolvimento, uma vez que estes apresentam

um grande potencial econômico, e um índice de crescimento populacional elevado.

Segundo dados da Agência Internacional de Energia, prevê-se que até 2030 o

crescimento da procura de energia elétrica seja de 119% no setor residencial, 97% nos

serviços e 86% na indústria.

A pressão econômico-social tem levado a um crescimento da chamada produção

de energia elétrica descentralizada. Esta produção acontece em pequenas unidades, de

reduzida potência instalada, distribuídas em função dos recursos existentes. Na grande

maioria das situações a produção descentralizada faz uso das tecnologias de

aproveitamento das fontes renováveis de energia (solar, eólica, geotérmica, biomassa,

etc.), sendo da responsabilidade de operadores independentes ou mesmo de

consumidores finais.

Os sistemas de cogeração de energia (CHP – combined heat and power) se

inserem neste contexto de forma a garantir uma utilização mais eficiente dos recursos

energéticos. Isto é feito a partir do conceito de geração combinada de energia elétrica, e

energia térmica (sob a forma de calor útil) (BALESTIERI, 2002).

No que se refere à utilização mundial de recursos renováveis para a produção de

energia elétrica, estes são atualmente liderados pelos recursos hídricos (90% da energia

elétrica obtida a partir de recursos renováveis é de origem hídrica), sendo que a Agência

Internacional de Energia prevê que este valor baixe para 70% em 2030 graças a um

aumento da contribuição das outras fontes renováveis de energia, em especial da

biomassa (CARLÃO, 2010). A partir da Figura 1 é possível observar esta tendência.

Page 14: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

2

Figura 1 - Aumento da geração de eletricidade a partir de fontes de energia renováveis

(CARLÃO, 2010).

Diante deste cenário, novas tecnologias de conversão de energia são necessárias

ao aproveitamento de recursos energéticos apropriados para a produção de eletricidade

descentralizada. Neste sentido, as fontes de calor de baixa temperatura são consideradas

os recursos energéticos do futuro. O uso de tais recursos como fonte alternativa para

gerar eletricidade tem sido objeto de pesquisa desde o início do século XX, sendo hoje

em dia o Ciclo Rankine Orgânico (CRO) a tecnologia mais utilizada e mais eficiente

para este tipo de aplicação.

1.1. Objetivos

O principal objetivo deste trabalho é realizar uma análise de viabilidade da

instalação de centrais de cogeração operando sob um Ciclo Rankine Orgânico. Para

isso, desenvolveu-se uma ferramenta computacional, em plataforma Microsoft Excel,

capaz de simular a implantação de equipamentos CRO em plantas industriais. A

ferramenta propicia ao usuário uma análise da viabilidade, tanto técnica quanto

econômica, da instalação de um sistema de cogeração CRO em seu empreendimento.

Page 15: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

3

1.2. Organização do Trabalho

Esta seção faz um breve resumo do que é apresentado em cada capítulo do

trabalho. Além deste primeiro capítulo introdutório, este texto possui mais seis

capítulos.

No segundo capítulo, faz-se uma revisão bibliográfica do Ciclo Rankine

Orgânico. São apresentados os principais componentes e as diferentes configurações do

ciclo, as características do fluido de trabalho, e os principais fabricantes de

equipamentos CRO.

O terceiro capítulo apresenta o equacionamento do ciclo de acordo com a

Primeira e a Segunda Lei da Termodinâmica. Além disso, também são apresentados

conceitos sobre a análise econômica de um projeto de cogeração.

O quarto capítulo destina-se a mostrar a metodologia referente ao

desenvolvimento da ferramenta computacional. Toda a memória de cálculo utilizada no

programa é apresentada, assim como o método de inserção de dados por parte do

usuário.

O quinto capítulo destina-se a apresentar os estudos de caso realizados. Foram

analisados dois casos com características distintas. Para cada um deles, apresentaram-se

todos os parâmetros utilizados como dados de entrada na ferramenta, assim como os

resultados obtidos.

No sexto capítulo é feita a conclusão do trabalho e as sugestões para trabalhos

futuros.

Por fim, o sétimo e último capítulo lista as referências utilizadas para o

desenvolvimento do trabalho.

Page 16: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

4

2. Ciclo Rankine Orgânico

O Ciclo Rankine Orgânico (Rankine Organic Cycle - ORC) resulta de uma

modificação do Ciclo Rankine a Vapor, sendo que a principal diferença entre ambos

reside apenas no fluido de trabalho utilizado. Ao invés de vapor d’água, fluido utilizado

no Ciclo Rankine a Vapor, o Ciclo Rankine Orgânico (CRO) recorre a um

hidrocarboneto ou refrigerante.

Por apresentarem um baixo ponto de ebulição e um calor latente de vaporização

inferior ao da água, o uso destes fluidos orgânicos permite uma evaporação a mais baixa

temperatura e, consequentemente, um melhor aproveitamento do calor cedido pela fonte

quente.

O Ciclo Rankine Orgânico apresenta a mesma configuração estrutural de um

Ciclo Rankine a Vapor, podendo identificar-se na Figura 2, os seguintes componentes e

processos termodinâmicos (QUOILIN, 2009, ÇENGEL, 2001):

Figura 2 - Diagrama do Ciclo Rankine ideal e seus processos termodinâmicos (LACHI,

2014).

Tratando-se de um ciclo de aproveitamento de fontes de calor de baixa e média

temperatura, o Ciclo Rankine Orgânico opera entre 60 e 200 ºC para fontes de baixa

temperatura, podendo atingir 350ºC no caso de fontes de calor de média temperatura

(YAMAMOTO, 2001, SALEH, 2007). Esta amplitude de temperaturas máximas do

ciclo permite, assim, trabalhar em diferentes e variados tipos de regime e numa grande

gama de potências. O gráfico da Figura 3 mostra a gama de potência (10 kW - 3 MW) e

a eficiência (8% - 16%) em que costumam operar as máquinas CRO.

1-2: Compressão isentrópica na bomba

2-3: Adição de calor a pressão constante

na caldeira (evaporador)

3-4: Expansão isentrópica na turbina

4-1: Rejeição de calor a pressão

constante no condensador

Page 17: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

5

Figura 3 – Gráfico Gama de potência x Eficiência para diferentes maquinas térmicas

(SPLIETHOFF & SHUSTER, 2006).

O Ciclo Rankine Orgânico assume então, um papel de destaque em meio às

outras tecnologias e ciclos, uma vez que possibilita o aproveitamento térmico do calor

cedido/rejeitado, ou proveniente de uma fonte de baixa-média temperatura, convertendo

em energia elétrica. Logo, pode funcionar como ciclo de fundo numa instalação de ciclo

combinado, ou como instalação principal, fazendo o aproveitamento térmico

diretamente de uma fonte quente.

2.1. Comparação entre o Ciclo Rankine Orgânico e o Ciclo Rankine a Vapor

Como mencionado anteriormente, o Ciclo Rankine Orgânico constitui-se, na sua

totalidade, como um ciclo Rankine convencional, distiguindo-se deste apenas no fluido

de trabalho utilizado. Contudo, apesar da semelhança na configuração, o CRO apresenta

vantagens e desvantagens face ao Ciclo de Rankine a Vapor, algumas delas estão

listadas abaixo:

Temperatura de evaporação: a baixa temperatura de ebulição dos fluidos

orgânicos possibilita a recuperação de calor à baixa temperatura;

Superaquecimento: o vapor produto da expansão do fluido orgânico, se

mantém sobreaquecido na saída da turbina, eliminando a necessidade de

superaquecimento do fluido na entrada da máquina de expansão. A ausência de

condensação durante a expansão elimina as chances de erosão nas pás da turbina, o que

aumenta sua vida útil em até 30 anos (BUNDELA & CHAWLA, 2010);

Page 18: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

6

Temperatura na entrada da turbina: em ciclos a vapor, devido ao processo de

superaquecimento, a temperatura na entrada da turbina deve ser maior que 450ºC para

evitar a condensação da água durante a expansão. Isto implica uma maior tensão

térmica na caldeira e nas pás da turbina, e o aumento do custo da instalação (QUOILIN,

2011);

Design da turbina: nos ciclos a vapor, a razão de expansão e a variação de

entalpia na turbina são elevadas, o que implica o uso de turbinas de múltiplos estágios.

No CRO a queda entálpica é consideravelmente menor, possibilitando a implantação de

turbinas de simples ou dois estágios, o que reduz o custo da instalação. A baixa rotação

e a baixa velocidade periférica das turbinas CRO também se devem à pequena variação

da entalpia na expansão. Este efeito é particularmente interessante, visto que permite

que o gerador elétrico seja acoplado diretamente à turbina (sem o uso de engrenagens),

tornando a construção menos complexa (COGEN PORTUGAL, 2011);

Consumo da bomba: a diferença de entropia entre o líquido saturado e o

vapor saturado é muito menor para fluidos orgânicos, consequentemente, a entalpia de

vaporização também é menor. Portanto, para uma mesma carga térmica no evaporador,

a vazão mássica do fluido orgânico deve ser maior que a da água, o que conduz a um

maior consumo de potência pela bomba;

Pressão na caldeira: no ciclo a vapor, a pressão na caldeira pode chegar a 60-

70 bar, enquanto nos ciclos Rankine Orgânico geralmente não excede 30 bar

(QUOILIN, 2011). Pressões muito elevadas, como as encontradas nos ciclos Rankine

tradicionais, tem um impacto negativo sobre a fiabilidade do sistema, visto que

aumentam os riscos de operação. Além disso, devido às elevadas tensões térmicas,

estruturas e equipamentos mais resistentes são requeridos, aumentando os custos de

investimento e de manutenção da instalação;

Eficiência: a eficiência dos ciclos Rankine Orgânico sob alta ou baixa

temperatura não excede 24%. Já os ciclos Rankine tradicionais, apresentam uma

eficiência térmica maior que 30%, mas com configuração mais complexa em termos de

número de componentes e tamanho (QUOILIN, 2011).

Características do fluido: a água como fluido de trabalho é muito conveniente

quando comparada aos fluidos orgânicos. Apresenta bom custo-benefício e alta

disponibilidade, é um fluido não tóxico, não inflamável e não nocivo ao meio ambiente,

é estável quimicamente e possui baixa viscosidade (TCHANCHE et al., 2011).

Page 19: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

7

As vantagens das duas tecnologias estão resumidas na Tabela 1.

Tabela 1 - Comparação entre o Ciclo Rankine Orgânico e o Ciclo Rankine a Vapor.

Vantagens do CRO Vantagens do Ciclo a Vapor

Recuperação de calor a baixa temperatura Características do fluido de trabalho

Ausência de superaquecimento Consumo da bomba

Baixa temperatura na entrada da turbina Alta eficiência

Design da turbina

Custo

Baixa pressão na caldeira

Em geral, o CRO se mostra mais adequado para aplicações de baixa e média

potência, tipicamente menores do que 3 MWel (SILVA, 2010, TURBODEN, 2013),

visto que plantas de pequena escala requerem componentes simples e de baixo custo, e

operação automatizada. Para potências mais elevadas o ciclo a vapor se torna mais

vantajoso.

2.2. Fluido de Trabalho do Ciclo Rankine Orgânico

O Ciclo Rankine Orgânico se caracteriza por utilizar como fluido de trabalho um

composto orgânico. O nome orgânico é usado para compostos baseados na chamada

química do carbono ou orgânica. Dentro desta disciplina estuda-se uma grande

variedade de substâncias, algumas muito diferentes entre si. Entretanto, já dentro da

aplicação das instalações CRO, são consideradas principalmente substâncias utilizadas

como refrigerantes.

Um refrigerante é um fluido empregado em ciclos termodinâmicos que tem

como objetivo transferir calor com diferentes propósitos. As substâncias mais utilizadas

como refrigerantes são os fluorcarbonetos e os hidrocarbonetos, entre outras categorias

químicas (HERRERIA, 2012).

O desempenho de um Ciclo Rankine Orgânico, é basicamente condicionado pelo

fluido de trabalho escolhido para a instalação. Sendo assim, a seleção do fluido orgânico

tem uma extrema importância no tipo e forma de aproveitamento conseguido pelo CRO,

Page 20: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

8

constituindo-se como o segredo de toda esta tecnologia, e assumindo-se como a questão

chave para o sucesso deste tipo de ciclo (TCHANCHE et al., 2011).

Ao selecionar um fluido de trabalho para uma maquina térmica, pretende-se que

ele maximize o rendimento térmico e/ou potência elétrica gerada, e que minimize o

trabalho requerido pela bomba, levando em conta as temperaturas da fonte quente e da

fonte fria disponíveis.

Contudo, a escolha do fluido não se resume tão somente, às avaliações técnicas e

termodinâmicas. Além das análises referidas, também são avaliados os riscos

ambientais, as questões de segurança e de saúde pública, e os aspectos econômicos,

tornando todo o processo de seleção muito mais criterioso e fundamentado.

Desta forma, e tendo como objetivo a definição e seleção do fluido mais

adequado para cada tipo de aplicação são avaliadas as características que se apresentam

a seguir.

2.2.1. Propriedades Termofísicas

A escolha do fluido de trabalho está relacionada com suas propriedades

termofísicas, que por sua vez afetam o rendimento do ciclo. Levando em consideração

os tipos de curva de vapor saturado segundo a variação da temperatura com respeito à

entropia (dT/ds) no gráfico T x s, é possível identificar três categorias de fluido,

conforme ilustrado na Figura 4.

Figura 4 - Diagrama T x s para fluido isentrópico, úmido e seco (COGEN

PORTUGAL, 2011).

Fluido isentrópico: com derivada (dT/ds) infinita, uma vez que o vapor se

expande ao longo de uma linha vertical no diagrama T-s, o vapor saturado na entrada da

Page 21: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

9

turbina permanece saturado até que se atinja a saída da mesma, não ocorrendo a

condensação (SILVA, 2010);

Fluido úmido: com derivada (dT/ds) negativa, a expansão ocorre na zona de

vapor saturado, sendo necessário efetuar o sobreaquecimento do fluido na entrada da

turbina a fim de evitar possíveis danos no equipamento, como ocorre nos ciclos Rankine

a Vapor que são movidos a água, um fluido úmido (QUOILIN, 2011, SILVA, 2010).

Fluido seco: com derivada (dT/ds) positiva, a fase de vapor saturado torna-se

sobreaquecida após a expansão isentrópica. O uso deste tipo de fluido orgânico não

oferece risco de erosão na turbina, devido ao estado de sobreaquecimento na saída da

mesma (SILVA, 2010).

A Figura 5 mostra as curvas de saturação de alguns fluidos orgânicos secos

típicos de instalações CRO e a curva de saturação da água.

Figura 5 - Diagrama T-s típico de alguns fluidos orgânicos e da água (QUOILIN,

2011).

A massa específica também é um parâmetro fundamental, especialmente para

fluidos com baixa pressão de condensação. A baixa densidade implica uma alta vazão

volumétrica, o que aumenta a perda de carga nos trocadores de calor, o tamanho e o

custo da máquina de expansão. Já a baixa viscosidade tanto na fase vapor quanto na fase

líquida é fundamental para otimizar as trocas de calor no ciclo, e reduzir as perdas de

carga por atrito nos trocadores de calor (QUOILIN, 2011).

Ao contrário da água, os fluidos orgânicos costumam sofrer deteriorações e

decomposições químicas a alta temperatura. Portanto, o composto orgânico deve ser

Page 22: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

10

termicamente e quimicamente estável para todas as pressões e temperaturas de

funcionamento do ciclo. Desta forma, a temperatura máxima da fonte quente estará

limitada pela estabilidade a alta temperatura do fluido orgânico. Já a temperatura

mínima do ciclo é limitada pelo ponto de fusão do fluido, visto que a temperatura de

fusão do fluido deve ser menor do que a mínima temperatura ambiente para evitar o

congelamento do mesmo (QUOILIN, 2011, AOUN, 2008).

2.2.2. Impacto Ambiental

O principal empecilho ao uso de uma grande quantidade de compostos orgânicos

é o impacto que eles causam na camada de ozônio. Algumas substâncias empregadas

principalmente como refrigerantes estão atualmente proibidas, na utilização e produção,

exceto para aplicações especiais, como na indústria médica.

Em 1996 entrou em vigor o Protocolo de Montreal (assinado em 1987), acordo

entre os países para tentar deter a destruição da camada de ozônio. Este tratado proibiu o

uso de substâncias agressivas à camada de ozônio, em especial compostos

clorofluorocarbonetos (CFCs). Entre estes compostos estão: R-11, R-12, R-113, R-114,

R-115 e R-500 (JACOBS, 2013).

O critério para determinar a capacidade de uma substância de destruir a camada

de ozônio é chamado de ODP (Ozone Depletion Potential). A medida padrão é o

potencial destrutivo do R-11, igual a 1. O valor de 0 quer dizer nenhum dano provocado

ao ozônio, portanto quanto menor o ODP, menos nociva à camada de Ozônio é a

substância (HERRERIA, 2012).

À medida que determina o quanto uma determinada quantidade de gás contribui

para o aquecimento global é o GWP (Global Warming Potential). É uma medida

relativa que compara o gás em questão com a mesma massa de dióxido de carbono, cujo

GWP é igual 1 (HERRERIA, 2012). A Tabela 2 mostra os valores de ODP e GWP para

alguns fluidos orgânicos.

Page 23: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

11

2.2.3. Segurança e Saúde

O fluido de trabalho de um Ciclo Rankine Orgânico não deve ser corrosivo,

tóxico ou inflamável, nem deve apresentar índices de auto-ignição elevados. Estas

características são fundamentais para garantir a segurança, não só dos envolvidos na

operação do sistema, como de todos que vivem próximo à instalação.

A classificação de segurança ASHRAE (American Society of Heating,

Refrigerating, And Air-Conditioning Engineers) dos refrigerantes é o indicador

utilizado para medir o nível de periculosidade (SALEH, 2007). O índice de segurança

de alguns refrigerantes encontra-se na Tabela 2.

2.2.4. Disponibilidade Comercial e Custo

O fluido a ser empregado no Ciclo Rankine Orgânico tem que estar disponível

no mercado para ser adquirido com facilidade, compostos cuja disponibilidade é

pequena dificultam a implementação do ciclo. Outra vantagem deste aspecto, é que um

fluido amplamente disponível reduz os custos de sua compra, e a manutenção. A Tabela

2 mostra alguns fluidos encontrados em ciclos Rankine Orgânico e seus respectivos

preços no mercado.

Tabela 2 - Custo, índice de impacto ambiental e segurança de alguns refrigerantes

(TCHANCHE et al., 2011).

Refrigerante Custo (€/Kg) ASHRAE 34 GWP ODP

R-245fa 32 B1 820 0

R-123 15 B1 77 0,02

R-113 25 A1 6130 1

R-600 1,7 A3 0 0

R-601 1,7 A3 0 0

Page 24: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

12

2.3. Configurações do Ciclo Rankine Orgânico

O Ciclo Rankine Orgânico pode ter uma disposição simples e muito semelhante

à de um Ciclo Rankine convencional. Nesta configuração, o fluido de trabalho é

evaporado no evaporador com o calor obtido a partir da fonte de calor (Figura 6, ponto

4-1). Em seguida, realiza uma expansão dentro da turbina, (Figura 6, 1-2) que é

convertida em trabalho mecânico. Este trabalho é transformado em energia elétrica

através de um gerador que fica acoplado à maquina de expansão. Ao sair da turbina

(Figura 6, ponto 2), o fluido ingressa no condensador onde é resfriado através da troca

de calor com o fluido de resfriamento, até se obter líquido saturado (Figura 6, ponto 3).

Uma vez em fase líquida, o fluido de trabalho é encaminhado para a bomba responsável

por elevar a pressão do líquido (Figura 6, 3-4), e enviado ao evaporador, onde o ciclo é

reiniciado (TCHANCHE et al, 2011).

Figura 6 - Ciclo CRO simples, esquema e diagrama T-S (MUÑOZ, 2013).

As variações da configuração do Ciclo Rankine Orgânico são muito limitadas.

Por exemplo, a utilização de um reaquecedor na entrada da turbina não é necessária,

visto que a maioria das máquinas CRO utiliza como fluido de trabalho, fluidos secos.

Caso o superaquecimento seja necessário, o fluido orgânico pode ser aquecido no

próprio evaporador, antes de ingressar na turbina. O sangramento da turbina, tecnologia

comum em turbinas a vapor, também não é aplicável a instalações CRO, visto que a

turbina destes sistemas tem na maioria dos casos, somente um estágio de expansão

(MUÑOZ, 2013).

A instalação de um recuperador entre a saída da bomba e a saída da turbina, é

uma prática comum em Ciclos Rankine Orgânico. Esta tecnologia permite reduzir a

quantidade de calor necessária para a vaporização do fluido de trabalho, e

Page 25: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

13

consequentemente, aumentar a eficiência do ciclo. Na configuração com recuperador, o

fluido de trabalho após sair da bomba (Figura 7, ponto 4), ingressa no recuperador, onde

é preaquecido. Em seguida, é encaminhado para o evaporador (Figura 7, ponto 10),

dando continuidade ao ciclo simples (QUOILIN, 2011).

Figura 7 - Ciclo Rankine com recuperador, esquema e diagrama T-S (MUÑOZ, 2013).

Nas máquinas CRO o calor pode ser recuperado de duas formas: transferido

diretamente da fonte de calor para o fluido de trabalho, ou um fluido intermediário,

geralmente um óleo térmico, pode ser integrado ao ciclo para transferir o calor da fonte

quente para o evaporador.

A configuração de evaporação direta, apesar de mais eficiente e tecnicamente

mais simples, apresenta algumas desvantagens. Sob altas temperaturas, principalmente

durante a fase transiente, o fluido de trabalho pode se deteriorar quando sua temperatura

máxima de estabilidade química é alcançada, ou quando o trocador apresenta pontos

quentes (TCHANCHE et al., 2011).

Além disso, no caso de evaporação direta, a controlabilidade e estabilidade do

sistema é mais difícil de ser alcançada, enquanto a transferência de calor em loop

intermediário (Figura 8) amortece as variações da fonte quente (QUOILIN et al., 2013).

Como consequência, a maior parte das instalações comerciais CRO utiliza o fluido

intermediário.

Page 26: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

14

Figura 8 - Esquema e diagrama T x s do Ciclo Rankine Orgânico com loop

intermediário de transferência de calor e regenerador (COGEN PORTUGAL, 2011).

2.4. Fontes de Calor do Ciclo Rankine Orgânico

Como resultado das vantagens face ao Ciclo Rankine a Vapor, e do potencial da

tecnologia CRO para o aproveitamento de calor de baixa temperatura, verificou-se nos

últimos anos um crescente interesse neste tipo de instalação, e uma aposta clara na

implementação da mesma em determinados setores industriais.

Apesar de os equipamentos CRO poderem operar com combustíveis fósseis,

durante o desenvolvimento e evolução desta tecnologia apostou-se na utilização de

fontes renováveis de energia, sendo elas a biomassa, energia geotérmica, energia solar, e

o calor residual de processos industriais (Waste Heat Recovery - WHR). A seguir,

apresentaram-se as vantagens e desvantagens destas quatro fontes de calor.

Page 27: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

15

2.4.1. Biomassa

A biomassa é um recurso de energia renovável perfeitamente adaptado à

produção combinada de energia sob a forma de calor e eletricidade (cogeração,

Combined Heat and Power - CHP) em pequena escala. Encontra-se disponível em

processos agrícolas e industriais, e em resíduos urbanos. A principal vantagem da

construção de plantas CRO - biomassa reside no potencial energético e na grande

disponibilidade dos resíduos de biomassa a nível mundial.

A biomassa é a quarta maior fonte de energia do mundo, contribuindo com cerca

de 14% (ANEEL, 2005) da demanda mundial de energia primária. Em países

desenvolvidos esta contribuição é maior, chega a 70-90% (TCHANCHE et al., 2011),

sendo boa parte desta energia produzida de forma sustentável. Atualmente, a produção

mundial dos principais produtos agrícolas utilizados na obtenção de energia é grande, e

há muitas possibilidades de incrementar sua competitividade energética, conforme

apresentado na Tabela 3.

Tabela 3 - Produção mundial dos principais produtos para a obtenção de energia

(LORA et al., 2008).

* FAO, 2004

** Calculado

A implantação do CRO - biomassa, mais bem sucedida a nível local, deve-se a

dois motivos: à baixa densidade energética da biomassa, que aumenta os custos de

transporte, e ao fato de a eletricidade e do calor serem normalmente disponibilizados no

local, o que torna este tipo de instalação particularmente adequado nos casos em que

não existe ligação à rede, ou em que esta ligação não seja fiável. A produção local

conduz assim, a instalações pequenas (1-2 MWel), excluindo os ciclos de vapor

Page 28: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

16

tradicionais que não são economicamente viáveis, nem tão eficientes nesta gama de

potência (MORO et al., 2008).

Para as pequenas unidades descentralizadas, o custo de geração exclusiva de

energia elétrica não é competitivo, e o sistema de geração combinada de calor e

eletricidade é implantado a fim de assegurar o retorno do investimento. A demanda de

calor é então um pré-requisito para aumentar a eficiência global de conversão de energia

deste tipo de planta.

A possibilidade de obter energia térmica como subproduto é uma importante

característica das plantas CRO - biomassa, já que o calor pode ser empregado em

processos industriais, como por exemplo, a secagem de madeira nas madeireiras. Visto

que o transporte de calor de longa distância é tecnicamente complexo, estas plantas de

cogeração são limitadas a uma potência térmica de 6-10 MW (CHINESEN et al., 2004,

QUOILIN et al., 2013).

Um diagrama simplificado de um sistema de cogeração a partir da biomassa está

ilustrado nas Figuras 9 e 10: o calor da combustão é transferido dos gases para o fluido

intermediário (óleo térmico) através do trocador de calor, sob uma temperatura que

varia entre 150 e 320 °C. O óleo térmico é então direcionado ao loop CRO para

evaporar o fluido de trabalho, a uma temperatura um pouco menor que 300 °C. Em

seguida, o fluido evaporado é expandido, passa pelo recuperador para preaquecer o

líquido, e é finalmente condensado. O calor da condensação é utilizado para produzir

água quente a uma temperatura de 80-120 °C (QUOILIN, 2011).

Para o exemplo da Figura 9, apesar de a eficiência elétrica do sistema ser

limitada a 18%, a eficiência global da planta é de 88%, o que é muito maior do que os

valores encontrados para plantas de produção de energia centralizada, nas quais grande

parte do calor residual é perdido (QUOILIN et al., 2013, TCHANCHE et al., 2011).

Page 29: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

17

Figura 9 - Conversão de energia num sistema de cogeração CRO a partir de biomassa

(QUOILIN et al., 2013).

Figura 10 - Esquema simplificado de uma planta de cogeração CRO a partir de

biomassa (TCHANCHE et al., 2011).

Page 30: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

18

2.4.2. Energia Geotérmica

A temperatura da Terra aumenta com o aumento da profundidade. Esta energia

subterrânea emitida a partir do centro da Terra, chamada de energia geotérmica, pode

ser utilizada para os processos de aquecimento e/ou geração de eletricidade. O fluxo de

calor da Terra varia de um lugar para outro na superfície, e com o tempo num

determinado local.

A produção total de energia pela Terra é estimada em cerca de 4 × 1013

W, o que

é mais de três vezes o consumo total de energia no mundo (BARBIER, 2002). O

gradiente geotérmico médio perto da superfície terrestre é de cerca de 25 °C/km

(TCHANCHE et al., 2011) e não é igualmente distribuído, permitindo que alguns locais

sejam mais adequados para aplicações geotérmicas do que outros. A Figura 11 mostra a

distribuição da energia geotérmica na América do Sul. Observa-se que, para o Brasil, os

maiores valores (entre 80-100 mW/m2) se encontram nas regiões Sudeste, Centro-Oeste,

Nordeste e Sul.

Figura 11 - Mapa de fluxo de calor geotérmico para a América do Sul (HAMZA et al.,

2008).

Page 31: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

19

Fontes de calor geotérmicas estão disponíveis em uma ampla gama de

temperaturas, de algumas dezenas de graus até 300°C. O atual limite tecnológico

inferior para geração de energia é de cerca de 80°C: Abaixo dessa temperatura a

eficiência de conversão torna-se muito pequena, e usinas geotérmicas passam a não ser

rentáveis economicamente (QUOILIN, 2011). A Tabela 4 indica o potencial de energia

geotérmica na Europa e mostra que esse potencial é bastante elevado para as fontes de

baixa temperatura.

Tabela 4 - Potencial para energia geotérmica na Europa para diferentes gamas de

temperatura da fonte de calor (FRICK, 2009).

Temperatura MWth MWe

65-90°C 147736 10462

90-120°C 75421 7503

120-150°C 22819 1268

150-225°C 42703 4745

225-350°C 66897 11150

Para a recuperação do calor a uma temperatura aceitável, deve-se perfurar no

solo um poço de produção e um poço de injeção. O fluido geotérmico é bombeado a

partir do poço de produção, passa pelo evaporador do CRO para evaporar o fluido

orgânico, e é injetado no poço de injeção a uma temperatura inferior, conforme descrito

pela Figura 12. Dependendo da configuração geológica, as perfurações podem ter

milhares de metros de profundidade, requerendo vários meses de trabalho contínuo. Isto

faz com que a perfuração represente 70% do custo de uma planta geotérmica (KRANZ,

2007).

Page 32: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

20

Figura 12 - Esquema de uma planta para produção de energia elétrica a partir de

energia geotérmica (TCHANCHE et al., 2011).

Plantas CRO geotérmicas de baixa temperatura também são

caracterizadas por um consumo elevado de bombeamento: as bombas consomem de

30% até mais de 50% da potência gerada (FRICK, 2009). O principal consumidor é a

bomba do poço de produção, responsável por fazer com que o fluido geotérmico

(composto predominantemente por água) circule por grandes distâncias e com alta

vazão.

Fontes de calor que apresentam temperatura mais alta (maior que 150 °C)

permitem a produção combinada de calor e potência. Neste caso, define-se uma

temperatura de condensação maior, por exemplo 60 °C, permitindo que a água de

arrefecimento seja usada para aquecimento. Assim, aumenta-se a eficiência global de

recuperação de energia, entretanto reduz-se a eficiência elétrica da instalação

(QUOILIN, 2011).

Page 33: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

21

2.4.3. Energia Solar

A luz solar fornece energia térmica sob a forma de radiação. Este fluxo de

energia, chamado irradiação, na superfície terrestre tem um valor aproximadamente de

750 W/m2 (GANG et al., 2010). Apesar da grande quantidade de energia solar

disponível, a eletricidade no mundo gerada a partir do recurso solar é uma fração bem

pequena do consumo de energia total. A distribuição de energia solar na Terra pode ser

visualizada na Figura 13.

Figura 13 - Distribuição da irradiação solar na Terra (EZ2C, 2010).

Os pontos pretos mostram as áreas de insolação que podem prover mais do que a

demanda total de energia primária do mundo (assumindo uma eficiência de conversão

de 8%). As cores mostram uma média de três anos de irradiação solar, incluindo noites

e cobertura de nuvens (EZ2C, 2010). Para a conversão desta energia em eletricidade,

uma das rotas tecnológicas é a concentração de energia solar (Concentrating Solar

Power – CSP).

A concentração de energia solar é uma tecnologia já testada e comprovada: o Sol

é monitorado, a luz solar é concentrada através de espelhos ou lentes num coletor linear

ou pontual, transferindo-se o calor para um fluido que, em seguida, será utilizado no

ciclo de produção de energia elétrica. Os captadores mais utilizados são os

concentradores parabólicos, os concentradores lineares, os sistemas de recepção central

(torres solares), e os discos parabólicos (HERRERIA, 2012). O princípio de

funcionamento desta instalação está ilustrado na Figura 14.

Page 34: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

22

Os discos parabólicos e as torres solares são tecnologias de concentração

pontual, levando a um fator de concentração maior e a temperaturas mais elevadas. Os

ciclos de alimentação mais adequados para estas tecnologias são o motor Stirling

(plantas de pequena escala), o Ciclo de Rankine a Vapor, ou até mesmo o ciclo

combinado para as torres de concentração solar (QUOILIN et al., 2013).

Já os concentradores parabólicos trabalham a uma temperatura mais baixa

(300°C a 400°C), estando até agora associados, principalmente, ao tradicional Ciclo de

Rankine a Vapor para a produção de energia elétrica. No entanto, os ciclos

convencionais de vapor funcionam a temperaturas e pressões mais elevadas, conduzindo

a instalações de mais alta potência, devido à necessidade de rentabilidade econômica

(QUOILIN, 2011).

O Ciclo Rankine Orgânico assume-se assim, como uma tecnologia promissora

uma vez que pode diminuir os custos de plantas de pequena escala. Através do CRO, é

possível operar com temperaturas mais baixas nos coletores, o que melhora o

rendimento térmico dos mesmo (diminuindo as perdas para o exterior), reduz o tamanho

dos campos solares, da instalação e os custos de investimento e de manutenção. O

rendimento total de um sistema CRO solar geralmente atinge valores entre 7 – 9 %

(GANG et al., 2010)

Tecnologias como concentradores de Fresnel linear são particularmente

adequados para CRO solar, pois requerem baixo investimento, e permitem uma potência

total instalada que pode variar desde alguns kW até o MW sob baixa temperatura

(FORD, 2008).

Page 35: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

23

Figura 14 - Princípio de funcionamento de um sistema CRO solar (MUÑOZ, 2013).

2.4.4. Calor Residual de Processos Industriais

O calor residual é o calor gerado durante o processo de combustão ou qualquer

outro processo térmico/químico, que é rejeitado diretamente para atmosfera. Os

processos industriais, bem como motores térmicos e equipamentos mecânicos produzem

grandes quantidades de calor residual. Este calor de exaustão não só contem alto valor

exergético, como também grandes quantidades de poluentes: dióxido de carbono (CO2),

óxidos de nitrogênio (NOx) e óxidos de enxofre (SOx), responsáveis pelo alto nível de

concentração de gases de efeito estufa na atmosfera e pelo aquecimento global

(TCHANCHE et al., 2011).

Alguns países desenvolvidos, visando cortar suas emissões de gases nocivos ao

meio ambiente, e ao mesmo tempo diminuir suas importações de energia, avaliaram o

potencial de recuperação de calor residual (Waste Heat Recovery – WHR) presente em

seus territórios. Nos EUA, o setor industrial responde sozinho por cerca de um terço do

total da energia consumida no país, e contribui na mesma proporção para as emissões de

gases de efeito estufa. Estimou-se que 20-50% da energia de entrada dos processos

industriais é perdida, o que corresponde a aproximadamente 750 MWel (BAILEY &

WORRELL, 2005, TCHANCHE et al., 2011).

Alguns segmentos industriais apresentam particularmente, um alto potencial

para a recuperação de calor residual. Dentre eles, está a indústria de cimento, na qual

40% do calor é perdido nos gases de exaustão. Estes gases são liberados nos processos

Page 36: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

24

de preaquecimento do calcário e na produção de clínquer, com uma temperatura que

varia entre 215 e 730 °C (ENGIN & ARI, 2005, TCHANCHE et al., 2011). Além das

cimentarias, as siderúrgicas, as indústrias de ferro, as refinarias e as indústrias químicas

também são fortes candidatas à implantação de sistemas de recuperação de calor

residual (QUOILIN, 2013).

A temperatura da fonte de calor é um parâmetro que determina a eficiência do

processo de recuperação de energia, e tem grande influência sobre o projeto dos

trocadores de calor. A preferência por sistemas CRO depende, além da temperatura da

fonte quente, da potência de saída requerida. Apesar de alguns fornecedores fabricarem

módulos personalizados de unidades CRO, a maior dificuldade reside na concepção

ótima e integração dos trocadores de calor ao sistema, visando maximizar a taxa de

recuperação de calor (TCHANCHE et al., 2011).

Embora apresente um alto potencial e baixo custo (de 1000 a 2000 €/kWel), a

tecnologia de recuperação de calor rejeito através do Ciclo Rankine Orgânico representa

apenas 9-10% das instalações CRO no mundo (ENERTIME, 2011). A Figura 15 ilustra

um esquema simplificado de instalações deste tipo.

Figura 15 - Configuração típica do Ciclo Rankine Orgânico adaptado à recuperação de

calor residual industrial (TCHANCHE et al., 2011).

Page 37: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

25

2.5. Componentes do Ciclo Rankine Orgânico

O Ciclo Rankine Orgânico simples é composto por quatro equipamentos

básicos; evaporador, turbina, condensador e bomba. No ciclo ideal, a bomba e a turbina

são responsáveis pelo processo isentrópico, e o evaporador e o condensador trabalham

sem perdas de carga. Entretanto, na prática os processos na bomba e na turbina não são

isentrópicos e o condensador e o evaporador apresentam queda de pressão, fazendo com

que o rendimento térmico do ciclo seja menor devido ao aumento das irreversibilidades.

Visto isso, conclui-se que o desempenho de cada elemento da instalação

interfere na performance geral do ciclo, e que a seleção dos componentes configura-se

como uma etapa crucial para o projeto de um Ciclo Rankine Orgânico. A Figura 14

apresenta o arranjo de uma máquina CRO típica.

Figura 16 - Componentes básicos de um Ciclo Rankine Orgânico (BINI &

MANCIANA, 1996).

A seguir descreveram-se as características e critérios de seleção dos principais

componentes de um sistema CRO, assim como sua influência sobre o rendimento global

da instalação.

Page 38: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

26

2.5.1. Máquina de Expansão

O desempenho da máquina de expansão nos Ciclos Rankine Orgânico é um dos

parâmetros que mais afeta e condiciona a eficiência global da instalação.

Genericamente, as máquinas de expansão podem ser classificadas em duas categorias

principais: as do tipo turbo e as máquinas de deslocamento positivo, também conhecidas

por máquinas de expansão volumétrica.

Similar às aplicações de refrigeração, as máquinas do tipo deslocamento positivo

são mais adequadas para unidades CRO de pequena escala, visto que são caracterizadas

pela baixa vazão, elevada razão de expansão e velocidade de rotação muito menor do

que a das turbomáquinas, que são utilizadas para aplicações de maior potência

(PERSSON, 1990).

As maquinas de expansão de tipo turbo compreendem dois grandes grupos:

turbina axial e turbina radial. A turbina axial opera com fluidos de trabalho de elevado

peso molecular, e é adequada para sistemas com elevada vazão e baixa diferença de

pressão. Em sistemas CRO operam em estágio único, sob baixa ou média temperatura.

A turbina radial opera em elevadas condições de pressão e com baixa vazão do fluido de

trabalho. Sua geometria permite uma maior queda de entalpia para cada etapa de

expansão (QUOILIN, 2011).

Os tipos de máquina de deslocamento positivo mais conhecidos são as de

parafuso, de palhetas, e as scroll. As máquinas de expansão de parafuso (Figura 17) tem

como vantagem o fato de apresentarem uma arquitetura mais simples quando

comparadas com outras máquinas de vários estágios. Apresentam, no entanto, a

desvantagem da lubrificação que, além de ser necessária para assegurar um bom contato

entre as diferentes partes metálicas rotativas, serve também para garantir que não hajam

fugas internas devido à distância entre os parafusos e a carcaça. Estas máquinas são,

assim, mais adequadas para operar com lubrificantes miscíveis com o fluido orgânico

(AOUN, 2008).

Page 39: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

27

Figura 17 - Máquina de expansão tipo parafuso (SILVA, 2010).

A turbina scroll (Figura 18) é na verdade um compressor operando em modo

reverso. Dentre as máquinas de expansão, é aquela que apresenta menos peças móveis,

conferindo-lhe assim um funcionamento suave, sem grandes vibrações e ruídos, o que a

torna uma solução compacta e fiável (SILVA, 2010).

Figura 18 - Máquina de expansão espiral (AIR SQUARED, 2014).

As máquinas de expansão rotativas de palhetas (Figura 19) são soluções

construtivas que se caracterizam pela sua simplicidade, segurança e compacticidade. No

entanto, apresentam como maior problema a lubrificação das superfícies de contato

internas. Uma lubrificação insuficiente causa assim, graves problemas de desgaste nos

componentes, conduzindo a valores de rendimento isentrópico muito baixos.

Normalmente, este problema é resolvido através da injeção de óleo (AOUN, 2008).

Page 40: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

28

Figura 19 - Máquina de expansão de palheta (SILVA, 2010).

Enquanto as turbomáquinas estão presentes grande parte das unidades CRO

disponíveis no mercado, por serem uma tecnologia mais madura, quase todos os

expansores de deslocamento positivo que tem sido usados até agora são protótipos,

muitas vezes derivados de compressores existentes. Contudo, as turbinas de

deslocamento positivo constituem-se como um bom substituto para turbomáquinas para

baixas potências de saída. Além de apresentarem uma velocidade de rotação limitada

(geralmente 1500 ou 3000 RPM numa rede elétrica de 50 Hz), são fiáveis (amplamente

utilizados para aplicações de compressor), podem tolerar a presença de uma fase

líquida durante a expansão, e apresentam uma boa eficiência isentrópica (QUOILIN,

2011).

Na Figura 20 apresentam-se as faixas de potência e funcionamento dos

diferentes tipos de máquinas de expansão para diferentes fontes de calor: energia

geotérmica, energia solar e recuperação de calor residual (WHR).

Figura 20 - Mapa de operação para 3 tecnologias diferentes de máquinas de expansão, e

3 aplicações diferentes (QUOILIN et al., 2013).

Page 41: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

29

2.5.2. Trocadores de Calor

Uma instalação CRO inclui geralmente, uma caldeira e três tipos de trocadores

de calor: um evaporador, um condensador e em alguns casos, um regenerador. A

seleção deste tipo de equipamento é específica para cada uma das aplicações e

condições de operação do sistema.

Como em todo ciclo termodinâmico, é desejável que os trocadores de calor de

uma máquina CRO apresentem um elevado coeficiente de transferência de calor, a fim

de aumentar o rendimento térmico global da instalação. Além disso, deve-se avaliar o

tamanho do equipamento (quanto mais compacto, maior a gama de aplicações), e o

preço, visto que este representa uma parcela considerável do custo total da planta

(QUOILIN et al., 2013).

Nos Ciclos Rankine Orgânico, a caldeira é o trocador de calor mais crítico da

instalação. Dependendo da natureza da fonte de calor, deve suportar altas temperaturas

(até 350 °C), elevadas pressões (4,5 MPa) e pode estar sujeita à corrosão e fuligem. O

condensador, por sua vez, deve operar com elevadas vazões e para baixas pressões,

visto que a temperatura de condensação se aproxima da temperatura ambiente. Já o

recuperador é projetado para transferir eficientemente o calor de um fluido em fase

gasosa para um fluido na fase líquida, com vazões mássicas idênticas, mas capacidades

térmicas e coeficientes de transferência de calor diferentes (AOUN, 2008).

Diversos tipos de trocadores de calor podem ser empregados em instalações

CRO, contudo os modelos mais usados são os do tipo casco e tubos, e o a placas (Figura

21). Em geral, os trocadores de calor a placas apresentam menor custo e fácil

manutenção, são mais compactos e estão disponíveis a uma pressão máxima de até 3

Mpa. Por isso são amplamente empregados em unidades de pequena escala (cerca de 1

MWel). Já os permutadores casco e tubos são maiores e mais caros que o a placas para

uma mesma carga térmica, entretanto suportam elevadas pressões e temperaturas, sendo

assim indicados para grandes instalações (QUOILIN et al., 2013).

Page 42: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

30

Figura 21 - Trocadores de calor tipo casco e tubos e a placas (TRANTER, 2014,

KORENERGY, 2014).

2.5.3. Bomba

As bombas estão divididas fundamentalmente em dois grandes grupos: as de

deslocamento positivo e as dinâmicas. Contudo, nem todas as tecnologias de bomba

podem ser adaptadas a um Ciclo Rankine Orgânico. Diversos critérios norteiam o

processo de seleção de uma bomba para uma instalação CRO, entre eles estão:

estanqueidade, eficiência, vazão, fator de compressão e controlabilidade.

O quesito estanqueidade é de suma importância, visto que os fluidos orgânicos

são caros, podem ser inflamáveis, tóxicos e podem ter valores altos de GWP e ODP.

Um vazamento na bomba pode comprometer o rendimento do sistema, a

segurança/saúde dos envolvidos na operação do equipamento, e pode causar impactos

negativos no meio ambiente.

Nos Ciclos Rankine tradicionais, o consumo da bomba é muito baixo comparado

à potência de saída. Já nas máquinas CRO a irreversibilidade da bomba pode diminuir

substancialmente o rendimento global do ciclo. A eficiência das bombas em instalações

CRO relatadas na literatura é geralmente muito baixa (entre 7% e 25%) para unidades

de baixa capacidade (QUOILIN et al., 2013).

O sistema de bombeamento de um Ciclo Rankine Orgânico deve ser projetado

para fornecer pequenas vazões e elevadas diferenças de pressão. Além disso, a bomba

deve ser escolhida tendo em vista que os fluidos de trabalho apresentam viscosidade

muito baixa (< 1mPa.s) (AOUN, 2008).

Nos sistemas CRO a bomba é usada para controlar a vazão mássica do fluido de

trabalho. O motor elétrico é conectado a um inversor, o que permite a variação da

Page 43: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

31

velocidade de rotação da bomba. Nas bombas de deslocamento positivo a vazão é

proporcional à rotação, o que confere maior controlabilidade ao sistema.

Visto isso, e tendo em consideração que a baixa viscosidade dos fluidos de

trabalho que operam num sistema CRO se constitui como o parâmetro que mais

condiciona a escolha do sistema de bombeamento, as bombas de deslocamento positivo

(alternativas e rotativas) constituem a solução mais adequada a este tipo de instalação

(AOUN, 2008).

Dentre as bombas de deslocamento positivo, as bombas de diafragma e de

êmbolos (Figura 22) assumem-se como os conceitos mais promissores para funcionar

com fluidos de baixa viscosidade e sob diferenciais de pressão elevados. As bombas de

diafragma estão disponíveis no mercado com uma ampla gama de vazões (de 0,1 L/min

até 140 L/min), podem ser utilizadas até uma pressão de 17 MPa e uma temperatura

máxima de 120°C, e alcançam um diferencial de pressão de 7 MPa ou mais,

independentemente da viscosidade do fluido (DA SILVA, 2010).

Porém, a principal desvantagem das bombas de diafragma é a necessidade de um

NPSHr (Net Positive Suction Head Required) elevado, o que conduz a um

subarrefecimento do fluido em 10ºC à entrada da bomba, e o fato de apresentar um

elevado volume e massa em comparação com outros tipos de bombas. Como resultado,

as bombas de êmbolos constituem-se como uma boa alternativa às bombas de

diafragma, evitando a sensibilidade destas últimas ao problema de cavitação,

apresentando no entanto a desvantagem de não estarem disponíveis no mercado para

temperaturas superiores a 50°C. Por conseguinte, a escolha da melhor bomba para cada

uma das aplicações resultará da especificidade das condições de funcionamento em cada

um dos casos (DA SILVA, 2010).

Figura 22 - Bomba de diafragma e bomba de êmbolo (DA SILVA, 2010).

Page 44: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

32

2.6. Fabricantes de equipamentos CRO

O mercado de equipamentos CRO está crescendo rapidamente. Conforme

mostrado pela Figura 20, desde a primeira planta instalada comercialmente na década de

70, estabeleceu-se um crescimento quase que exponencial. A partir da Figura 23, é

possível concluir que o CRO é uma tecnologia já madura para aplicações de calor

residual, biomassa e energia térmica, porém muito incipiente quando se trata de energia

solar. Além disso, percebe-se que os sistemas estão instalados principalmente na gama

de potência do MW, existindo poucas plantas com menos de 1 MW de potência elétrica

gerada.

Figura 23 - Evolução do mercado CRO (esquerda) e participação de cada aplicação em

termos de número de unidades (direita) (QUOILIN, 2013).

Os fabricantes de máquinas CRO fornecem sistemas de cogeração numa ampla

gama de potência e temperatura, conforme apresentado pela Tabela 5. A principal

fabricante em termos de unidades instaladas é a Turboden (Pratt & Whitney), com 45%

das unidades instaladas no mundo. Levando em consideração apenas a potência

instalada, a ORMAT se destaca com 86% da potência acumulada no mundo.

Vale lembrar que, além das empresas listadas na Tabela 5, existem outras

companhias se inserindo no mercado CRO, porém com unidades de baixa capacidade.

Estes fabricante ainda não alcançaram maturidade técnica suficiente para comercializar

módulos CRO em larga escala.

Page 45: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

33

Tabela 5- Principais fabricantes de unidades CRO (DA SILVA, 2010).

Fabricante Aplicações Gama de

Potência

Temperatura

da fonte de

calor

Máquina

de

Expansão

Fluido de

Trabalho

Custo

(R$/kWel)

ηelétrico

(%)

ORMAT

(EUA)

Geotérmica,

Solar,

WHR

200 kWe

–72 MWe 150 – 300 °C - n-pentano - -

Turboden

(Itália)

Cogeração,

Geotérmica

200 kWe

–2 MWe 100 – 300 °C

Turbina

axial

OMTS,

Solkaterm ≈ 4200 16-19

Adoratec

(Alemanha) Cogeração

300 kWe

–1750

kWe

300 °C - OMTS ≈ 4200 13-18

GMK

(Alemanha)

Geotérmica,

Cogeração,

WHR

50 kWe –

2 MWe 120 – 350 °C

Turbina

Axial

GL160

(patente da

GMK)

- 9-21

Koehler-

Ziegler

(Alemanha)

Cogeração 70 –200

kWe 150 – 270 °C Parafuso

Hidrocarbo

neto - 11

UTC Power

(EUA)

Geotérmica,

WHR 280 kWe > 93 °C - - - -

Cryostar Geotérmica,

WHR

500 kWe -

15 MWe 100 – 400 °C

Turbina

Radial

R-245fa, R-

134a - 17

Freepower

(Reino

Unido)

WHR 6 –120

kWe 180 – 280 °C -

Hidrocarbo

netos - 17,5

Tri-o-gen

(Holanda) WHR 160 kWe > 350 °C

Turbocom

pressor - ≈ 12900 11-21

Electrather

m

(EUA)

WHR 50 kWe > 93 °C Parafuso

duplo R-245fa - 6-12

Infinity

Turbine

(EUA)

WHR 10 –250

kWe > 80 °C

Turbocom

pressor R-134a ≈ 6000 10-12

Ergion

(Alemanha)

Solar,

WHR

4 –300

kWe 120 – 300 °C Parafuso

Água com

aditivos - 13-16

WSK-

Group

(Alemanha)

WHR 52 –65

kWe 490 °C Parafuso

Hidrofluorc

arboneto - 16,3

Page 46: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

34

3. Modelo Matemático

No presente capítulo pretende-se explicar e fundamentar todas as formulações

consideradas nos estudos de caso, assim como critérios e decisões tomadas

relativamente a cada um dos parâmetros envolvidos que sustentam o modelo

matemático que simula o desempenho térmico e econômico do Ciclo Rankine Orgânico.

3.1. Equacionamento do Ciclo

No equacionamento do ciclo considerou-se que o sistema opera em regime

permanente, e desprezaram-se as perdas de carga nos tubos e as perdas de calor para o

ambiente no evaporador, no condensador, na turbina e na bomba. Devido às

irreversibilidades que existem em cada um dos processos termodinâmicos, tais como

expansão não-isentrópica, compressão não-isentrópica, introduziu-se o conceito de

rendimento isentrópico dos equipamentos a fim de avaliar o desempenho do ciclo de

forma mais precisa.

3.1.1. Primeira Lei da Termodinâmica

Como em todo ciclo termodinâmico, no Ciclo Rankine Orgânico existem

processos de entrada e saída de energia (sob forma de trabalho e calor) e massa. Para

conhecer o comportamento do sistema é necessário identificar e quantificar estas formas

de energia e o fluxo de massa.

A partir dos balanços de massa (Equação 1) e de energia (derivação da primeira

lei da termodinâmica, Equação 2) é possível determinar a potência mecânica produzida

pela turbina, a potência consumida pela bomba, o calor absorvido pelo evaporador e o

calor rejeitado no condensador. Por convenção, assumiu-se positiva a energia que entra

no sistema, e negativa a energia que sai do sistema.

∑ ∑

(1)

∑ ∑ (2)

Page 47: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

35

Onde e representam respectivamente a vazão mássica de entrada e saída

do volume de controle em kg/s, e a potência calorífica e o trabalho por unidade de

tempo em kW, e e a entalpia na entrada e na saída do sistema em kJ/kg.

Assumindo que não há troca de calor com o ambiente externo durante os

processos de compressão e expansão obtem-se as equações abaixo para a potência

mecânica produzida na turbina ( e a potência necessária ao acionamento da

bomba ( .

(3)

(4)

Onde , , e são os valores de entalpia nos pontos 1, 2, 3 e 4, adotando a

numeração da Figura 24.

Desprezando as perdas de carga nos trocadores de calor, e sabendo que estes não

realizam trabalho, obtem-se as equações 3 e 4 que determinam respectivamente, o calor

absorvido pelo evaporador por unidade de tempo ( , e a potência térmica rejeitada

pelo condensador (

(5)

(6)

3.1.2. Segunda Lei da Termodinâmica

Num ciclo termodinâmico real, é impossível converter toda energia disponível

em trabalho, devido às irreversibilidades que existem nos componentes. Durante a

expansão, apenas uma parte da energia recuperável a partir da diferença de pressão é

transformada em trabalho útil. A outra parte é perdida na forma de calor. Na bomba,

perdas eletromecânicas e vazamentos internos geram irreversibilidades que aumentam o

consumo de potência necessária ao bombeamento. Portanto, na expansão e na

compressão real, a entropia ( ) do sistema aumenta com o tempo, conforme estabelecido

pela segunda lei da termodinâmica (Equação 7).

(

(7)

Page 48: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

36

Onde

corresponde a um processo reversível, e portanto, com produção

máxima de trabalho.

A fim de contabilizar as irreversibilidades e obter um rendimento global mais

próximo do real, introduziu-se nos cálculos o rendimento isentrópico da turbina ( )

e da bomba ( ), conforme equacionado abaixo.

(

(8)

(

(9)

Onde o índice refere-se à entalpia isentrópica, ou seja, o valor de ideal

encontrado no gráfico a partir das linhas isentrópicas. A Figura 24, ilustra através do

gráfico T x S a diferença entre a expansão isentrópica e a expansão irreversível.

Figura 24 - Esquema e diagrama T x s do Ciclo Rankine simples (TCHANCHE et al.,

2011).

O rendimento do ciclo é o valor líquido de trabalho útil (o trabalho fornecido

pela máquina de expansão menos o trabalho consumido pela bomba) dividido pela

quantidade de calor absorvida pelo fluido de trabalho no evaporador, conforme

estabelecido pela Equação 10.

(10)

Page 49: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

37

3.2. Análise Econômica

A implantação de um sistema de cogeração que economize fontes energéticas

não garante ao investidor benefícios econômicos. Dessa forma, os custos associados ao

uso da cogeração devem ser relativamente menores aos custos de atendimento das

demandas de maneira convencional para que esta opção se constitua em uma vantagem.

Contudo, não basta apenas que estes custos sejam menores. É preciso considerar,

também, o peso que os investimentos de aquisição dos sistemas de cogeração têm em

um projeto. Dessa forma, é preciso ir além da questão da análise de eficiência

energética, e analisar os aspectos financeiros e, com isso, verificar a viabilidade do

projeto. Para isso, existem métodos usuais, que serão aplicados nos estudos

desenvolvidos.

3.2.1. Avaliação do Fluxo de Caixa

O fluxo de caixa é um instrumento de contabilidade que considera as entradas e

saídas de recursos financeiros. Em um projeto de cogeração, a entrada é a redução anual

de custos proveniente da implantação da central de cogeração. Já a saída, é composta

pelos impostos, amortizações de dívidas, juros de financiamento, e os investimentos em

aquisição da planta.

Pode-se então, definir o fluxo de caixa de um determinado período , como a

diferença entre a receita e as despesas da empresa neste mesmo período, conforme

estabelecido pela Equação 11.

(11)

A análise econômica de um projeto é feita através de três métodos:

Método do Valor Presente Líquido (VPL);

Método da Taxa Interna de Retorno (TIR);

Método do Payback.

Page 50: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

38

3.2.1.1.Método do Valor Presente Líquido (VPL)

O valor presente líquido de um fluxo de caixa corresponde a trazer todos os

fluxos futuros para o valor atual, descontando-se uma taxa de juros, chamada de taxa

mínima de atratividade (TMA), que representa o retorno que o investidor poderia obter

em uma aplicação no mercado com risco comparável (SILVA, 2010). Para um fluxo de

entradas e saídas de caixa desiguais ao longo de um horizonte de tempo , o Valor

Presente Líquido pode ser cálculo pela Equação 12.

(12)

Quando o VPL é positivo, o fluxo de caixa agrega valor e é atrativo do ponto de

vista econômico-financeiro. Quando o VPL é negativo, o fluxo de caixa destrói valor, e

não deveria ser realizado.

3.2.1.2. Método da Taxa Interna de Retorno (TIR)

A taxa interna de retorno mede a rentabilidade do fluxo de caixa. O cálculo da

TIR não é direto, uma vez que não existe uma fórmula específica. Na verdade, a TIR é a

taxa de juros que iguala o VPL de um fluxo de caixa a zero, conforme mostrado pela

Equação 13 (SILVA, 2010).

(13)

Se o valor do TIR for menor que o custo de capital ajustado ao risco, ou seja, se

o TIR for menor que o TMA rejeita-se o projeto. Caso o valor do TIR seja maior que

TMA tem-se um argumento para aceitar o projeto.

3.2.1.3. Método do Payback

O payback ou tempo de retorno, corresponde ao tempo necessário para que os

fluxos de caixa positivos recuperem os fluxos de caixa negativos, e é normalmente

expresso em anos. Seu cálculo é obtido a partir dos fluxos de caixa nominais, e a

decisão de implementar ou não um projeto é tomada com base no período máximo que

o empreendedor considera aceitável para recuperar o capital investido. O tempo de

retorno deverá ser inferior a este limite.

Page 51: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

39

4. Ferramenta de Análise Técnica e Econômica

A fim de facilitar a análise de viabilidade técnica e econômica das plantas de

cogeração CRO consideradas nos estudos de caso, desenvolveu-se no Microsoft Excel

uma ferramenta computacional. O software foi escolhido para elaborar a ferramenta, por

se tratar de uma plataforma capaz de desenvolver análises complexas de forma simples,

além de possuir uma interface amigável ao usuário.

A planilha desenvolvida é composta por nove abas. Estas abas são:

“Entradas”

“Módulos CRO”

“Análise Técnica”

“Custos”

“Análise Financeira”

“Caso Base”

“Fluxo de Caixa”

“Payback”

“Resultados da Cogeração”

Nas sessões seguintes serão descritas detalhadamente cada uma das abas da

ferramenta, explicando sua função na planilha, e apontando os valores de entrada e de

saída das tabelas.

4.1. Aba “Entradas”

Na aba “Entradas” o usuário deve inserir os dados de entrada que serão

utilizados pelo resto da planilha. Nesta aba deve-se fornecer todas as informações

necessárias para a análise do projeto de cogeração na planta. Além disso, o usuário

também deve selecionar o equipamento responsável pela geração de energia elétrica e

térmica. Desta forma, a inserção dos dados de entrada nesta aba é realizada em quatro

etapas:

Seleção do equipamento

Características de operação da planta

Resíduos

Combustível

Page 52: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

40

Os dados são informados pelo usuário na planilha seguindo o código de cores

apresentado na Tabela 6.

Tabela 6 - Código de cores utilizado para os dados da planilha.

Legenda

Dado de entrada do usuário

Valor calculado automaticamente

Na etapa “Seleção do Equipamento”, deve-se escolher um dos módulos CRO

presentes na lista suspensa do campo “Equipamento selecionado”, conforme mostrado

pela Figura 25.

Figura 25 - Lista suspensa para seleção do equipamento.

Os módulos CRO que compõem a lista foram selecionados a partir do catálogo

da empresa Turboden. A Tabela 7, presente na aba “Módulos CRO”, apresenta o

resumo das características técnicas de cada um dos equipamentos. Uma vez escolhido o

equipamento a ser analisado, as características técnicas são automaticamente

preenchidas de acordo com as informações da tabela.

Tabela 7- Características técnicas dos módulos CRO considerados nos estudos de caso

(TURBODEN, 2008).

Características T200 CHP Split

T500 CHP Split

T600 CHP Split

T800 CHP Split

T1100 CHP Split

T1500 CHP Split

T2000 CHP Split

Potência térmica requerida pela caldeira [kWth]

1.489 3.600 4.344 5.711 7.641 10.878 13.356

Temperatura de saída da água quente [°C]

90 90 90 90 90 90 90

Potência térmica gerada [kWth]

1.108 2.637 3.191 4.148 5.246 7.920 9.700

Potência elétrica líquida gerada [kWel]

205 538 641 889 1.155 1.674 2.079

Page 53: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

41

Na tabela “Características de operação da planta” (Tabela 8) são inseridos o

tempo de operação e as demandas de energia elétrica e térmica da planta que se deseja

analisar. Assim, para que se possa utilizar a ferramenta, deve-se possuir os dados de

potência elétrica e térmica consumida pelo sistema, assim como seu fator de capacidade,

que corresponde à fração do ano em que a planta está produzindo energia.

Tabela 8 - Tabela de dados sobre a demanda energética e as características de operação

da planta.

CARACTERÍSTICAS DE OPERAÇÃO DA PLANTA

Demanda de energia térmica [kWth] 7.500

Demanda de energia elétrica [kWel] 1.000

Fator de capacidade [%] 90

Tempo de operação

[h/dia] 18

[dias/ano] 365

[h/ano] 6.570

Na Tabela “Resíduos” (Tabela 9) deve-se informar os dados sobre geração de

resíduos de biomassa na planta. O preenchimento destes campos tem como objetivo

contemplar os casos em que a planta gera resíduos de biomassa que podem ser

utilizados como combustível na caldeira do CRO. Sabendo-se o Potencial Calorífico

Inferior (PCI) da biomassa descartada e sua quantidade diária, calcula-se a potência

térmica que pode ser fornecida ao ciclo através de sua combustão, conforme mostrado

pela Equação 14. Caso não haja produção de resíduos, o usuário deve inserir o valor “0”

no campo “Produção de resíduos de biomassa”.

(14)

Onde, é a capacidade de produção de resíduos em m3/dia, e é o tempo

de operação da planta em h/dia.

Page 54: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

42

Tabela 9 - Tabela de dados sobre a produção de resíduos de biomassa na planta.

RESÍDUOS

Produção de resíduos de biomassa [m3/dia] 125

PCI do resíduo de biomassa [MJ/m3] 8.818

Potência fornecida pela combustão da biomassa [kWth] 17.011

A produção de resíduos é capaz de suprir a demanda energética da caldeira do equipamento?

SIM

Consumo de resíduo de biomassa na caldeira [m3/dia] 79,9

Se a potência fornecida pela combustão do resíduo for maior ou igual à potência

térmica requerida na caldeira, conclui-se que a quantidade de resíduo produzida

diariamente é capaz de suprir a demanda térmica do equipamento. Neste caso, calcula-

se a quantidade exata de resíduo que atende a demanda da caldeira através da Equação

15. Caso a potência seja menor, deverá haver queima complementar de biomassa na

caldeira.

(15)

Na etapa de seleção do combustível, deve-se escolher um dos três combustíveis

(biomassa, gás natural ou óleo combustível) presentes na lista suspensa mostrada pela

Figura 26. Vale ressaltar que a ferramenta não considera a mistura de combustíveis

diferentes na caldeira. Isto é, caso haja geração de resíduos de biomassa na planta e

necessidade de queima complementar, o combustível selecionado deve ser

necessariamente a biomassa, e o usuário deve inserir na tabela “Combustivel” o mesmo

valor de PCI informado na tabela “Resíduos”.

Uma vez selecionado o combustível e informado o PCI, calcula-se através da

Equação 16 a quantidade diária de combustível que deve ser queimada na caldeira para

que a demanda térmica do equipamento seja suprida.

(16)

Caso não haja produção de resíduos na planta, assume o valor “0”

informado pelo usuário na Tabela “Resíduos”.

Page 55: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

43

Figura 26 - Lista suspensa para seleção do combustível.

Por fim, como sugestão para o usuário, a planilha apresenta os valores de PCI e

o preço de alguns combustíveis, conforme mostrado pela Tabela 10.

Tabela 10 - PCI e custo de alguns combustíveis (FABRES, 2014, SORDI et al, 2013).

Combustível PCI [MJ/m3] Custo [R$/m3]

Cavaco de madeira (35% de umidade) 8.818 12,20

Óleo combustível 38.874 1.750,00

Gás Natural 35,8 1,50

Bagaço de cana (50% de umidade) 11.411 120,00

Page 56: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

44

4.2. Aba “Análise Técnica”

Na aba “Análise Técnica” faz-se uma análise do desempenho energético do

sistema em questão. Para isso, calcula-se a potência gerada e consumida em cada um

dos equipamentos do ciclo, utilizando os dados técnicos do módulo CRO selecionado.

Estes valores são apresentados na planilha (Tabela 11), junto com um diagrama

esquemático do ciclo termodinâmico (Figura 27).

Tabela 11 - Aba "Análise Técnica".

CALDEIRA/EVAPORADOR

(Ponto 1) Potência térmica requerida na caldeira [kWth] 1.489

Eficiência da caldeira [%] 90

(Ponto 2) Potência fornecida ao óleo térmico [kWth] 1.340

Eficiência do evaporador [%] 98

(Ponto 3) Potência fornecida ao fluido de trabalho [kWth] 1.313

CONDENSADOR

(Ponto 6) Potência térmica útil para cogeração [kWth] 1.108

Temperatura de saída da água quente [oC] 90

BOMBA

(Ponto 7) Potência elétrica consumida* [kWel] 14

TURBINA/GERADOR

(Ponto 4) Potência mecânica na saída da turbina [kW] 231

Eficiência do gerador* [%] 95

(Ponto 5) Potência elétrica produzida pelo gerador [kWel] 219

Page 57: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

45

Figura 27 - Diagrama do CRO apresentado na aba "Análise Técnica".

A potência fornecida ao óleo térmico (ponto 2) e ao fluido de trabalho no

evaporador (ponto 3) foi calculada a partir das Equaçôes 17 e 18, respectivamente.

(17)

(18)

Assumiu-se nos cálculos: e (TURBODEN, 2008).

A potência mecânica gerada pela expansão do fluido de trabalho na turbina

(ponto 4) foi calculada a partir da eficiência elétrica do gerador, conforme mostrado

pela Equação 19.

(19)

Adotou-se nos cálculos a eficiência típica de um gerador de módulo CRO,

(QUOILIN, 2013).

Page 58: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

46

O catálogo dos equipamentos da Turboden considerados nos estudos de caso não

apresenta a quantidade de energia elétrica consumida pela bomba do ciclo (ponto 7).

Este valor foi obtido a partir do gráfico da Figura 28, onde relacionou-se a potência

elétrica consumida pelo equipamento CRO com a potência total gerada. O gráfico foi

traçado a partir de dados de outras unidades CRO Turboden disponíveis no mercado.

Figura 28 - Consumo de energia elétrica em função da potência elétrica gerada dos

módulos CRO da Turboden.

A análise técnica é realizada a partir de indicadores de desempenho comumente

utilizados para avaliar o rendimento de plantas de cogeração. A Tabela 12 apresenta os

indicadores calculados pela planilha.

10

30

50

70

90

110

200 700 1200 1700 2200

Potê

nci

a e

létr

ica c

on

sum

ida

[k

Wel

]

Potência elétrica gerada [kWel]

Page 59: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

47

Tabela 12 - Indicadores do desempenho energético da cogeração apresentados na aba

"Análise Técnica".

DESEMPENHO ENERGÉTICO DA COGERAÇÃO

Rendimento do ciclo 18,41%

Eficiência térmica da cogeração(ETC) 72,81%

Eficiência elétrica da cogeração (EEC) 16,11%

Fator de utilização do equipamento (FUE) 88,91%

Índice de poupança de energia (IPE) 73,03%

Energia economizada (EE) 26,97%

Índice de geração de potência (IGP) 59,23%

A eficiência térmica da cogeração ( ) é definida como a razão entre a

potência térmica útil para cogeração (calor rejeitado pelo condensador), e a potência

térmica fornecida pela combustão na caldeira, conforme mostrado pela Equação 20

(FIOMARI, 2004).

(20)

A eficiência elétrica da cogeração ( ) é a razão entre a potência elétrica

gerada pelo equipamento ( , e a potência térmica total fornecida à instalação

(FIOMARI, 2004), conforme apresentado pela Equação 21.

(21)

O Fator de Utilização do Equipamento (FUE) avalia a eficiência global da

cogeração. É definido como a razão entre a potência útil total produzida pelo sistema de

cogeração, e a potência total fornecida à instalação (FIOMARI, 2004). O FUE pode ser

calculado através da Equação 22.

(22)

O Índice de Poupança de Energia (IPE) refere-se à economia de combustível

obtida por sistemas de cogeração em comparação com sistemas convencionais que

Page 60: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

48

produzem separadamente energia elétrica e térmica (FIOMARI, 2004). É definido

através da Equação 23.

(23)

Sendo a eficiência da turbina de uma planta de referência, e a

eficiência da caldeira de uma planta de referência. Nos estudos de caso adotou-se:

e (FIOMARI, 2004).

Segundo a Equação 23, quanto menor for IPE do combustível, melhor será o

desempenho da cogeração comparado com o desempenho do sistema separado. Logo, a

quantidade de energia economizada (EE) através da cogeração é dada pela Equação 24.

(24)

Por fim, o Índice de Geração de Potência (IGP) é o parâmetro definido para

calcular separadamente a eficiência da geração de potência elétrica, descontando-se dos

insumos de energia, a energia utilizada para os fins térmicos (FIOMARI, 2004). Define-

se o IGP através da Equação 25.

Em seguida é realizada uma análise da quantidade de energia gerada na planta

com cogeração, conforme apresentado pela Tabela 13.

Tabela 13 - Tabela "Geração de Energia" da aba "Análise Técnica".

GERAÇÃO DE ENERGIA

Energia elétrica gerada por ano [kWhel/ano] 1.346.850

Energia térmica gerada por ano [kWhth/ano] 7.279.560

Energia elétrica pendente por ano [kWhel/ano] 5.223.150

Energia térmica pendente por ano [kWhth/ano] 41.995.440

Potência elétrica excedente [kW] -

Potência térmica excedente [kW] -

Energia elétrica excedente por ano [kWhel/ano] -

Energia térmica excedente por ano [kWhth/ano] -

(25)

Page 61: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

49

O valor calculado para potência pendente é diferente de zero caso a potência

gerada pelo equipamento seja menor que a demanda da planta. Nesse caso, a potência

pendente é calculada pela Equação 26.

(26)

Por outro lado, se a potência gerada pelo equipamento for maior que a demanda

da instalação, a potência pendente será zero e a potência excedente será calculada pela

Equação 27. Esta análise é utilizada tanto para a potência elétrica quanto para a potência

térmica.

(27)

Além disso, a tabela apresenta a quantidade de energia, tanto elétrica quanto

térmica, gerada pela cogeração em um ano. A energia elétrica gerada pelo equipamento

é calculada conforme a Equação 28, enquanto a energia térmica é obtida a partir da

Equação 29.

(29)

Sendo o tempo de operação da planta em h/ano.

Se o sistema gerar mais energia do que é demandado pela planta, haverá um

excedente de energia. No caso da energia elétrica, o excedente pode ser vendido para a rede.

Caso a quantidade de energia produzida seja menor do que a consumida, haverá um déficit

energético. A energia elétrica pendente é suprida por meio de compra de energia elétrica da

rede. Já a energia térmica pendente é suprida por meio de queima adicional de combustível

na caldeira. A Tabela 14 informa a quantidade de combustível adicional necessária para

suprir a demanda térmica da planta.

Tabela 14 - Tabela "Queima Adicional" da aba "Análise Técnica".

QUEIMA ADICIONAL

Necessidade de queima adicional de combustível SIM

Demanda térmica a ser suprida [kWth] 6.392

Combustível para queima adicional Biomassa

Consumo adicional de combustível [m3/dia] 10,7

(28)

Page 62: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

50

4.3. Aba “Custos”

A aba “Custos” destina-se a calcular o investimento inicial total do

empreendimento, os gastos com operação e manutenção e o custo específico da energia

elétrica gerada pelo equipamento CRO.

4.3.1. Investimento Inicial

O montante total investido na instalação de uma planta CRO é composto pelos

gastos com construção civil, engenharia, com a compra da caldeira e do módulo CRO.

Seguindo a metodologia sugerida pela Turboden (TURBODEN, 2008), estes gastos

foram definidos aplicando-se um fator multiplicador ao custo do módulo CRO,

conforme mostrado pela Tabela 15. Além das despesas relacionadas abaixo, previu-se

um investimento de 100.000 euros (TURBODEN, 2008) em equipamentos utilizados

para conectar a unidade CRO à rede de distribuição de energia elétrica.

O investimento inicial total pode então ser calculado a partir da Equação 30,

onde é o custo do equipamento em euros.

(30)

Tabela 15 - Custos de investimento da instalação de uma planta CRO como função do

custo do módulo CRO (TURBODEN, 2008).

Investimento Inicial Multiplicador

Módulo CRO 1

Caldeira 1,1

Construção civil 0,5

Engenharia 0,15

Total 2,75

O preço da unidade CRO só foi divulgada para os módulos T500, T1100 e

T2000 (TURBODEN, 2008). A partir destes valores conhecidos, traçou-se o gráfico

(Figura 29) que relaciona a potência elétrica gerada pelo equipamento com seu valor de

compra. Assim estimou-se o preço dos outros módulos Turboden considerados nos

estudos de caso.

Page 63: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

51

Figura 29 - Custo dos módulos CRO Turboden em função da potência elétrica gerada.

Uma vez selecionado o equipamento, o investimento inicial total é calculado

automaticamente, a partir da taxa cambial definida pelo usuário, conforme mostrado

pela Tabela 16.

Tabela 16 - Cálculo do investimento inicial total na aba "Custos".

INVESTIMENTO INICIAL

Módulo CRO R$ 4.694.300,00

Caldeira R$ 5.163.730,00

Construção civil R$ 2.347.150,00

Engenharia R$ 704.145,00

Conexão com a rede elétrica R$ 299.000,00

Taxa cambial [R$/€] 2,99

Investimento inicial total R$ 13.208.325,00

4.3.2. Operação e Manutenção

As despesas operacionais da planta CRO foram divididas em cinco categorias:

mão-de-obra, manutenção, seguro das máquinas e administração, lubrificante e vedação.

O custo da mão-de-obra deve ser definido pelo usuário através dos campos “salário

médio dos funcionários” e “número de funcionários”, conforme mostrado pela Tabela

17. Para as outras despesas, utilizaram-se valores de referência do mercado para

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200

Cu

sto

do

du

lo C

RO

[k€

]

Potência elétrica gerada [kWel]

Page 64: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

52

projetos envolvendo ciclos CRO. A Tabela 18 apresenta os custos anuais com

manutenção, seguro e administração como um percentual do custo do módulo CRO.

Tabela 17 - Cálculo dos custos com operação e manutenção na aba "Custos".

OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO

Salário médio dos funcionários [a.m.] R$ 3.000,00

Número de funcionários 3

Manutenção [a.a.] R$ 93.886,00

Seguro e administração [a.a.] R$ 32.860,10

Lubrificante e vedação [a.a.] R$ 14.082,90

Despesa anual com O&M R$ 248.829,00

Tabela 18 - Despesas operacionais anuais de uma central CRO como função do custo

da unidade CRO (OBERNBERGER et al., 2002).

Despesa Porcentagem (%)

Manutenção 2,0

Seguro e administração 0,7

Lubrificante e vedação 0,3

Total 3,0

4.3.3. Custo de Energia Elétrica (COE)

Define-se o Custo de Energia - Cost of Energy (COE) como o custo médio por

kWh de energia elétrica produzida pelo sistema. O cálculo do COE é feito a partir do

investimento inicial de capital, do custo com combustível e dos custos de operação e

manutenção (ALVES, 2012), e é dado pela Equação 31.

(31)

Onde é o custo de investimento inicial de capital em R$/kW-ano, é o

tempo de operação em horas por ano, é o custo com combustível em R$/kJ, é o

custo com operação e manutenção em R$/kW-ano, e é o fator de capacidade da

planta.

Em empreendimentos de médio e grande porte, é comum que o capital inicial

seja financiado. Cada parcela da dívida é composta de duas partes: a quota de

Page 65: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

53

amortização e os juros. A quota de amortização diminui o valor da dívida e os juros

remuneram o capital.

A fim de contabilizar estas prestações, aplicou-se ao valor do investimento

inicial total ( ) o fator de recuperação de capital (Equação 33), conforme mostrado na

Equação 32 (LIMA et al., 2000).

(32)

(33)

Onde é o tempo de vida do empreendimento em anos e a taxa de juros anual

praticada, que deve ser informada pelo usuário, conforme mostrado pela Tabela 19.

Tabela 19 - Cálculo do custo de energia elétrica (COE) na aba "Custos".

CUSTO DE ENERGIA ELÉTRICA (COE)

Tempo de vida da instalação [anos] 20

Taxa de juros anual [%] 14,5

Fator de recuperação de capital (frc) 0,16

Custo com O&M [R$/kWh] 0,023

Custo de investimento inicial [R$/kWhel] 0,187

Custo com combustível [R$/kWhel] 0,00

COE [R$/kWhel] 0,232

4.4. Aba “Análise Financeira” e aba “Caso Base”.

O objetivo das abas “Análise Financeira” e “Caso Base” é calcular as entradas

necessárias para a simulação do fluxo de caixa. A aba “Análise Financeira” é composta

por três tabelas referentes ao projeto com cogeração: despesas, receitas, e

financiamento. Já a aba “Caso Base” apresenta os valores de consumo e despesa da

planta sem cogeração.

Page 66: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

54

4.4.1. Receita e Despesas

Na Tabela 20 o usuário deve informar o preço de venda e de compra de energia

elétrica. O gasto anual com a compra de energia da rede na planta com e sem cogeração

é obtido através da Equação 34.

(34)

Onde é a demanda de energia elétrica da instalação, e o preço de

compra de energia elétrica da rede. Para a planta com cogeração, a equação só vale para

os casos em que há energia pendente. No caso da planta sem cogeração não há geração

de energia, portanto .

Tabela 20 - Receitas e despesas da planta com cogeração.

DESPESAS

Preço de compra de energia elétrica [R$/kWh] 0,302

Despesa anual com energia elétrica R$ -

Despesa anual com combustível R$ -

Despesa anual com O&M R$ 251.184,00

Total de despesas operacionais R$ 251.184,00

RECEITAS

Preço de venda de energia elétrica [R$/kWh] 0,16

Faturamento anual com venda de energia elétrica R$ 708.508,80

Receita total anual R$ 2.690.415,00

FINANCIAMENTO

Montante financiado R$ 10.739.360,00

Tempo de financiamento [meses] 72

Taxa de juros anual [%] 14,50%

Taxa de juros mensal [%] 1,13%

Parcela mensal do financiamento R$ 219.096,84

Parcela anual do financiamento R$ 2.629.162,05

Pagamento total R$ 15.774.972,29

A despesa anual com combustível é obtida a partir da Equação 35. Considerou-

se o uso do mesmo combustível para os dois sistemas, com e sem cogeração. Se a

potência fornecida pela combustão dos resíduos for capaz de suprir a demanda

Page 67: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

55

energética da instalação, este gasto será nulo. Para a planta com cogeração,

contabilizou-se também o gasto com combustível adicional nos casos em que há déficit

de energia térmica .

(35)

Sendo o preço de compra do combustível em R$/m3, e o tempo de

operação da planta em dias/ano.

O total de despesas operacionais anuais da planta é dada pela soma dos custos

com energia elétrica, combustível e operação e manutenção, conforme mostrado pela

Equação 36.

(36)

Conforme mostrado pela Tabela 21, no caso base as despesas com operação e

manutenção não são contabilizadas.

A receita total anual de uma planta com cogeração é então proveniente da

redução anual de custos operacionais, e da venda do excedente de energia elétrica para a

rede, conforme estabelecido pela Equação 37.

(37)

Sendo o preço de venda de energia elétrica em R$/kWh.

Tabela 21 - Aba "Caso Base"

CASO BASE

Consumo

Combustível Gás Natural

Potência fornecida pela combustão de resíduos [kWth] 0

Consumo anual de combustível [m3/ano] 1.982.011

Potência elétrica contratada da rede [kWel] 1.700

Consumo anual de energia elétrica da rede [kWhel] 11.169.000

Despesas

Preço de compra de energia elétrica [R$/kWh] 2,800

Despesa anual com energia elétrica R$ 31.273.200,00

Despesa anual com combustível R$ 2.348.485,04

Total de despesas operacionais R$ 33.621.685,04

Page 68: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

56

4.4.2. Financiamento

Na tabela “Financiamento” (Tabela 22), o usuário deve inserir o montante que

será financiado, o tempo de financiamento, e a taxa de juros anual. Uma vez informados

estes valores, calculam-se a taxa de juros mensal e a parcela mensal do financiamento

através das Equações 38 e 39, respectivamente.

⁄ (38)

(39)

Sendo VF o valor financiado, e a taxa de juros mensal.

Tabela 22 - Cálculo da parcela de financiamento na aba “Análise Financeira”.

FINANCIAMENTO

Montante financiado R$ 10.566.660,00

Tempo de financiamento [meses] 72

Taxa de juros anual [%] 14,50%

Taxa de juros mensal [%] 1,13%

Parcela mensal do financiamento R$ 215.573,53

Parcela anual do financiamento R$ 2.586.882,41

Pagamento total R$ 15.521.294,44

4.5. Aba “Fluxo de Caixa”

A aba “Fluxo de Caixa” tem como objetivo calcular o Valor Presente Líquido e

e a Taxa Interna de Retorno do empreendimento, através da simulação do fluxo de caixa

para um período igual ao tempo de vida do equipamento.

A saída do fluxo de caixa ( ) no ano n é a soma de todas as despesas referentes

a este ano, o que inclui investimento inicial, financiamento e depesas operacionais. A

entrada ( ) é a receita total anual calculada na aba “Análise Financeira”. E o lucro

líquido é calculado através da Equação 40.

(40)

Page 69: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

57

Sobre o lucro líquido incide a alíquota referente ao Imposto de Renda e ao

PIS/COFINS. Estes valores e a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) devem ser

inseridos pelo usuário na planilha, conforme mostrado pela Figura 30.

Figura 30- Simulação do fluxo de caixa.

A aba “Fluxo de Caixa” também apresenta uma tabela onde é simulado o fluxo

de caixa no primeiro ano de empreendimento. Esta tabela tem como objetivo

contemplar os casos em que há um investimento inicial extra nos primeiros meses de

emprendimento. Neste caso, o usuário deve inserir o montante referente a este

investimento na coluna “Investimento Inicial” da Tabela “Fluxo de Caixa – Ano 1”

(Figura 31).

Page 70: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

58

Figura 31 - Simulação do fluxo de caixa do primeiro ano de empreendimento.

4.6. Aba “Payback”

A aba Payback calcula o tempo de retorno do investimento através do método do

payback descontado. Os valores da coluna “FC” são calculados subtraindo da entrada

do fluxo de caixa no ano , a despesa com O&M referente àquele ano, conforme

estabelecido pela Equação 41.

(41)

O FC a Valor Presente no ano é obtido a partir da Equação 42.

(42)

E o FC acumulado é calculado através da Equação 43.

(43)

Como pode ser observado na Figura 32, o retorno do investimento se dá no

último ano em que o FC acumulado é negativo.

Page 71: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

59

Figura 32 - Cálculo do Payback descontado.

4.7. Aba “Resultados da Cogeração”

Na aba “Resultados da Cogeração” apresenta-se um resumo dos valores obtidos

nas outras abas da planilha, a fim de fazer uma comparação entre o desempenho técnico

e econômico da planta convencional (sem cogeração) e da planta com cogeração.. Os

resultados são divididos em oito categorias, conforme mostrado pela Tabela 23.

Em “Equipamento e Combustível”, o modelo CRO e o combustível selecionados

na aba “Entradas” são apresentados. Como no sistema sem cogeração não há nenhum

equipamento gerador de energia, o campo não se aplica a esta situação.

Após a apresentação do equipamento selecionado, o relatório mostra os dados

sobre a geração de energia. Na planta convencional, este dado não se aplica já que não

há produção de energia elétrica. Na planta com cogeração a geração de energia é aquela

obtida exclusivamente através do equipamento selecionado.

Os dados comparativos referentes ao consumo, tanto de energia elétrica quanto

de combustível, também são apresentados neste relatório final. Para o caso da planta

sem cogeração, o consumo de energia elétrica e de combustível são obtidos a partir dos

Page 72: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

60

dados da aba “Entradas”. Para a planta com cogeração, o consumo de combustível

inclui ainda a queima complementar (caso a demanda térmica não seja atendida pelo

equipamento), e o consumo de energia elétrica da rede é obtido subtraindo a potência

elétrica gerada pelo equipamento da demanda de energia elétrica da instalação.

Em “Autossuficiência energética”, a planilha conclui se a planta com cogeração

é energeticamente autossuficiente. Para isso compara-se a demanda energética da

instalação com a potência térmica e elétrica produzida pelo equipamento. Neste campo

o energia elétrica comprada da rede e a queima adicional não são contabilizadas.

As despesas também são apresentadas, baseadas nos cálculos realizados

anteriormente pela planilha. Os custos com combustível, energia elétrica e operação e

manutenção calculados na aba “Análise Financeira” são apresentados aqui novamente.

O total de despesas operacionais é o somatório dos custos operacionais (energia elétrica

da rede, combustível, O&M,) anuais para cada uma das situações.

Em “Desempenho Energético da Cogeração” são apresentados os indíces de

desempenho calculados na aba “Análise Técnica”. Por fim, na tabela “Desempenho

Financeiro” são apresentados os indíces de desempenho econômico (VPL, TIR e

payback), o COE, e o custo de investimento específico da instalação para a planta com

cogeração.

Page 73: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

61

Tabela 23 - Resultados da cogeração.

SITUAÇÃO DA PLANTA SEM COGERAÇÃO COM COGERAÇÃO

Equipamento e Combustível

Modelo - Turboden T1100 CHP Split

Combustível Óleo Combustível Óleo Combustível

Geração de Energia

Energia elétrica gerada por ano [kWhel/ano] - 7.588.350

Energia térmica gerada por ano [kWhth/ano] - 34.466.220

Consumo

Potência elétrica contratada da rede [kWel] 1.000 0

Consumo anual de energia elétrica da rede [kWhel] 6.570.000 0

Consumo anual de combustível [m3/ano] 17.585 3.514

Autossuficiência Energética

Autossuficiência elétrica - SIM

Autossuficiência térmica - NÃO

Despesas

Despesa anual com energia elétrica R$ 1.981.906,20 R$ 0,00

Despesa anual com combustível R$ 0,00 R$ 42.867,57

Despesa anual com O&M - R$ 214.156,80

Total de despesas operacionais R$ 1.981.906,20 R$ 257.024,37

Venda de Energia Elétrica

Preço de venda de energia elétrica excedente [R$/kWh] - 0,16

Faturamento anual com venda de energia elétrica - R$ 162.936,00

Desempenho Energético

Potência útil para cogeração [kWth] - 5.246

Rendimento do ciclo - 18,52%

Eficiência térmica da cogeração(ETC) - 70,31%

Eficiência elétrica da cogeração (EEC) - 16,23%

Fator de utilização do equipamento (FUE) - 86,54%

Índice de poupança de energia (IPE) - 74,61%

Energia economizada (EE) - 25,39%

Índice de geração de potência (IGP) - 54,67%

Desempenho Financeiro

Investimento por energia elétrica gerada [R$/kWhel] 0,205

Investimento por energia total gerada [R$/kWh] 0,037

Custo de Energia - COE [R$/kWhel] 0,260

Tempo de vida do equipamento [anos] 20

Economia operacional anual da planta R$ 1.724.881,83

Valor Presente Líquido (VPL) R$ 3.046.575,76

Taxa Interna de Retorno (TIR) 16,22%

Payback [anos] 12,3

Page 74: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

62

5. Estudos de Caso

Neste capítulo pretende-se fazer uma análise técnica e econômica da

implantação de centrais de cogeração operando com um Ciclo Rankine Orgânico. Para

tal, fez-se o estudo de viabilidade da instalação de módulos CRO em uma serraria e um

frigorífico. O estudo pode ser dividido em dois casos distintos.

CASO A - Serraria:

o CASO A.1: Simulação de uma serraria onde a energia elétrica é

comprada da rede e a energia térmica obtida através da queima de

biomassa (cavaco de pinnus) numa caldeira convencional.

o CASO A.2: Proposta de substituição da planta original (caso 1)

por uma planta com cogeração. Neste caso, os resíduos de

biomassa produzidos pela própria planta são utilizados como

combustível na caldeira do equipamento CRO.

CASO B – Frigorífico de Frangos:

o CASO B.1: Simulação de uma central de cogeração CRO num

frigorífico. Neste caso o gás natural foi utilizado como

combustível na caldeira.

o CASO B.2: Mesma simulação do caso B.1, mas utilizando óleo

combustível como combustível na caldeira.

5.1. Caso A - Serraria

A indústria madeireira tem a característica de gerar grandes volumes de resíduos

no processo de beneficiamento da madeira, conforme mostrado pela Tabela 24. Esta

produção de resíduos ocorre até mesmo antes de as toras de madeira serem introduzidas

na linha de produção propriamente dita. Após as inspeções de qualidade, muitas peças

são descartadas por não apresentarem os requisitos exigidos pelo mercado consumidor.

Muitas empresas então, optam por queimar estes resíduos a céu aberto, simplesmente

para se livrarem do volume de cavaco de madeira acumulado em seu parque industrial.

Page 75: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

63

Tabela 24 - Percentual de geração de resíduos da indústria madeireira.

Tipo de indústria Percentual de geração de resíduos (%)

Serraria 50

Fábrica de compensados 40

Fábrica de aglomerados 30

É importante observar que neste ramo de atividade a demanda de energia

térmica e elétrica é bastante alta. Demanda-se eletricidade para o acionamento das

máquinas, e calor para o processo de secagem da madeira. Portanto, a implantação de

um sistema de cogeração utilizando como combustível os resíduos oriundos do processo

de beneficiamento da madeira, mostra-se como uma alternativa para a autosuficiência

energética da indústria madeireira.

5.1.1. Processo de Secagem da Madeira

Nas serrarias, a secagem da madeira é a etapa mais importante do processo

produtivo, sendo responsável por grande parte do valor agregado ao produto final. É

também a etapa que mais contribui para os custos do processo de transformação da

madeira devido aos gastos com energia elétrica e calor.

O objetivo do processo de secagem é assegurar que a madeira esteja

dimensionalmente estável antes do uso em um item estrutural ou manufaturado. Quando

recém cortada, a madeira começa a secar, contraindo-se até entrar em equilíbrio com o

ambiente. No processo de secagem, ocorre uma pré-redução em suas dimensões, para

garantir que não ocorra nenhum movimento da madeira durante o uso final (encaixes,

móveis, ligações, etc). Dentro do produto final a acomodação deverá ser pequena ou

desprezível (KLITZKE, 2010).

A secagem da madeira em uma fábrica convencional é executada nas câmaras de

secagem ou estufas. A madeira é seca em câmaras fechadas, onde o ar é aquecido de

forma controlada, geralmente por uma fonte externa de calor (água quente ou vapor de

baixa pressão). Na maioria dos casos, a fim de evitar tensões residuais na madeira e

garantir a qualidade do produto, a temperatura do ar na estufa é relativamente baixa

(50°C). Normalmente, a circulação de água quente a 90-95°C na câmara de secagem, é

suficiente para reduzir em 50% o teor de umidade das toras de madeira (TURBODEN,

2008).

Page 76: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

64

5.1.2. Aplicação de Unidades CRO nas Serrarias

A instalação de unidades CRO mostra-se particularmente interessante para o

caso das serrarias visto que uma renda adicional pode ser obtida a partir da energia

gerada pelo módulo CRO, sem mudanças significativas na configuração típica da

câmara de secagem. A adaptação da câmara de secagem já existente pode ser facilmente

implementada. Substitui-se a caldeira de água quente (alimentada por gás natural ou

biomassa), por uma caldeira capaz de aquecer o óleo térmico que alimentará a unidade

CRO. A água quente estará disponível a jusante do condensador (TURBODEN, 2008).

A Figura 33 apresenta o diagrama de blocos do processo que ocorre na planta de

cogeração de uma serraria, baseada em uma câmara de secagem e uma unidade CRO.

Parte da energia elétrica gerada é usada para o consumo próprio da indústria e o restante

é vendida para rede, de acordo com as condições de mercado sobre o valor de venda da

energia elétrica, e possíveis subsídios para o uso de enrgia renovável.

Figura 33 - Diagrama de uma planta de cogeração CRO em uma serraria

(TURBODEN, 2008).

5.1.3. Características de Operação da Serraria

No estudo de caso analisou-se uma serraria de médio porte cujas características

estão apresentadas na Tabela 22. A demanda de energia elétrica e térmica foi calculada

a partir dos valores médios de consumo energético da indústria madeireira apresentados

na Tabela 21. E a quantidade de resíduos produzida diariamente foi obtida a partir do

percentual de geração de resíduos apresentado na Tabela 25. A capacidade de produção

das serrarias é usualmente medida em metros cúbicos de madeira processada por dia.

Page 77: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

65

Tabela 25 - Características operacionais da serraria (Caso A).

Serraria

Capacidade de produção [m3/dia] 250

Geração de resíduos [m3/dia] 125

Demanda térmica [kWth] 6.556

Demanda elétrica [kWel] 1.000

Tempo de operação

[h/dia] 18

[dias/ano] 365

[h/ano] 6.570

O combustível considerado tanto no caso base (sem cogeração) quanto na

simulação da planta com cogeração foi o cavaco de madeira (cavado de pinnus), cujas

propriedades estão apresentadas na Tabela 26.

Tabela 26 - Propriedades físicas e preço do cavaco de pinnus.

Cavaco de Pinnus

Teor de Umidade [%] 35

Poder Calorífico Inferior (PCI) [MJ/m3] 8818

Preço de compra [R$/m3] 12,20

5.1.4. Receitas e Despesas

O preço de compra de energia elétrica varia de acordo com a região do país. Nos

estudos de caso adotou-se o custo médio de compra de energia elétrica no setor

industrial brasileiro, 0,302 R$/kWh (ANEEL, 2014). Para o preço de venda,

considerou-se o valor de 0,16 R$/kWh (FABRES, 2014).

Quanto às despesas com mão-de-obra, levou-se em consideração que o alto

nível de automatização das centrais CRO permite que a demanda de pessoal seja

reduzida a atividades de inspeção e manutenção, o que totaliza 5 horas por semana de

trabalho (OBERNBERGER et al., 2002). Considerou-se então, um gasto médio de R$

3000,00 mensais por empregado, e uma necessidade de quatro funcionários para operar

todo o sistema.

Page 78: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

66

5.1.5. Financiamento

Em todos os estudos de caso o financiamento do capital inicial foi contabilizado

no cálculo do custo de investimento. Para tal, selecionou-se um plano de financiamento

do BNDES (PROESCO) voltado para projetos de eficiência energética, entre eles

projetos que aumentem a eficiência global do sistema energético, como é o caso das

plantas CRO nas serrarias.

Estão entre os itens financiáveis: estudos e projetos, obras e instalações,

máquinas e equipamentos novos, entre outros. Também fica estipulado que o

financiamento é voltado para usuários finais de energia, e que a participação máxima do

BNDES é de 80% dos itens financiáveis, e o prazo máximo para o pagamento é de 72

meses (BNDES, 2008).

As condições financeiras da linha de crédito estabelecem uma taxa de juros

anual de 14,5%. Optou-se por pagar o financiamento em 72 meses, e a partir dessas

informações calculou-se o valor da parcela mensal de pagamento da dívida.

5.1.6. Fluxo de Caixa

Estipulou-se um prazo de dois meses para a instalação das máquinas, e início da

operação da planta. Sendo assim, nos dois primeiros meses do fluxo de caixa não há

receita nem despesas operacionais, contabilizaram-se apenas o pagamento do

financiamento do BNDES e os 20% do investimento inicial que não são financiáveis.

Para calcular o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR)

simulou-se o fluxo de caixa para o tempo de vida de um equipamento CRO, em média

20 anos (OBERNBERGER et al., 2002). Nas saídas de caixa, além das despesas

operacionais e da parcela do financiamento, considerou-se uma alíquota de 34%

referente ao Imposto de Renda, incidente sobre o lucro líquido anual. O PIS e o

COFINS, que juntos somam uma alíquota de 9,25%, incidiram sobre o lucro após o

desconto do Imposto de Renda. Para o cálculo do TIR, considerou-se uma Taxa Mínima

de Atratividade (TMA) de 8%.

Page 79: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

67

5.1.7. Resultados

Os resultados obtidos da simulação da planta sem cogeração (Caso A.1) estão

descritos na Tabela 27. Observa-se que a despesa anual com combustível é nula, visto

que a potência fornecida pela combustão dos resíduos da serraria é suficiente para

atender a demanda térmica da planta.

Tabela 27 - Resultados para a simulação do caso A.1 (serraria sem cogeração).

CASO BASE

Consumo

Combustível Biomassa

Potência fornecida pela combustão de resíduos [kWth] 17.011

Consumo anual de combustível [m3/ano] 17.585

Potência elétrica contratada da rede [kWel] 1.000

Consumo anual de energia elétrica da rede [kWhel] 6.570.000

Despesas

Preço de compra de energia elétrica [R$/kWh] 0,302

Despesa anual com energia elétrica R$ 1.981.906,20

Despesa anual com combustível R$ -

Total de despesas operacionais R$ 1.981.906,20

Para o Caso A.2 (planta com cogeração), simulou-se a instalação de cada um dos

sete equipamentos do catálogo da Turboden. A Tabela 28 apresenta os resultados destas

análises. Os campos em azul são valores que dependem apenas das características

técnicas dos equipamentos. Já os campos em rosa, resultam das características de

operação da serraria em questão.

Page 80: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

68

Tabela 28 - Resultados para a simulação do caso A.2 (serraria com cogeração).

Equipamento T200 T500 T600 T800 T1100 T1500 T2000

Combustível Biomassa Biomassa Biomassa Biomassa Biomassa Biomassa Biomassa

EE gerada [kWel] 205 538 641 889 1155 1674 2079

ET gerada [kWth]

1108 2637 3191 4148 5246 7920 9700

Autossuficiência elétrica

Não Não Não Não Sim Sim Sim

Autossuficiência térmica

Não Não Não Não Não Sim Sim

Custo O&M [R$/kWhel]

0,144 0,056 0,047 0,035 0,028 0,023 0,021

Custo de investimento

inicial [R$/kWhel]

0,941 0,375 0,319 0,241 0,205 0,190 0,187

Custo com combustível [R$/kWhel]

0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

COE [R$/kWh] 1,205 0,479 0,407 0,307 0,260 0,236 0,230

Rendimento do ciclo

16,5% 17,9% 17,7% 18,6% 18,5% 18,4% 18,6%

Eficiência térmica da

cogeração(ETC) 74,4% 73,3% 73,5% 72,6% 70,3% 72,8% 72,6%

Eficiência elétrica da

cogeração (EEC) 14,7% 15,7% 15,4% 16,4% 16,2% 16,1% 16,3%

Fator de utilização do equipamento

(FUE)

89,1% 88,9% 88,9% 89,0% 86,5% 88,9% 88,9%

Índice de poupança de energia (IPE)

73,9% 73,3% 73,5% 72,8% 74,6% 73,0% 72,9%

Energia economizada

(EE) 26,1% 26,7% 26,5% 27,2% 25,4% 27,0% 27,1%

Índice de geração de

potência (IGP) 57,5% 58,7% 58,2% 59,8% 54,7% 59,2% 59,5%

Valor Presente Líquido (VPL)

[R$] -7.285.075 -2.723.681 -2.425.786 -1.323.403 3.696.471 3.849.753 3.575.263

Taxa Interna de Retorno (TIR)

- 0,83% 4,39% 4,47% 18,31% 15,69% 13,66%

Payback [anos] > 20 > 20 > 20 14,6 11,0 12,6 14,6

Page 81: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

69

A partir da Tabela 28 é possível observar que os módulos T200, T500, T600 e

T800 possuem COE mais alto do que a tarifa média paga pela energia elétrica no Brasil,

0,302 R$/kWh. Além disso, apresentam VPL negativo, e TIR menor do que a Taxa

Mínima de Atratividade (TMA) de 8% considerada no estudo de caso. O gráfico da

Figura 34 mostra que a medida que a potência elétrica produzida pelo equipamento

aumenta, o custo da energia diminui. A partir de aproximadamente 900 kW de potência

elétrica gerada, o COE passa a ser menor que a tarifa média de energia praticada no

mercado. Por estes fatores, conclui-se que a implantação dos módulos mencionados

acima é financeiramente inviável.

Figura 34- Gráfico COE x Potência elétrica gerado para o caso A.2 (serraria com

cogeração).

O gráfico da Figura 35 apresenta a relação entre a potência elétrica gerada pelo

equipamento e o payback do empreendimento. Observa-se que o tempo de retorno

diminui significativamente até atingir a potência de aproximadamente 1200 kWel. A

partir deste ponto o alto custo de investimento inicial faz com que o payback aumente.

000

000

000

000

000

000

001

500 1000 1500 2000

CO

E [R

$/k

We

l]

Potência elétrica gerada [kWel]

Page 82: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

70

Figura 35 - Gráfico Payback x Potência elétrica gerada para o caso A.2 (serraria com

cogeração).

Os módulos T1100, T1500 e T2000 apresentam payback menor do que o tempo

de vida de 20 anos do equipamento. O T1100, apesar de possuir o menor tempo de

retorno de investimento (11 anos), não fornece a potência necessária para que a planta

atinja a autossuficiência térmica. Já os módulos T1500 e T2000 são ambos capazes de

suprir a demanda elétrica e térmica da planta, e apresentam basicamente os mesmos

índices de desempenho energético. Entretanto o T1500 possui valores de VPL e TIR

maiores, e payback menor (12,6 anos), o que o qualifica como a melhor opção para o

caso da serraria. A Tabela 29 apresenta os resultados da análise da planta de cogeração

operando com o equipamento Turboden T1500.

11

11

12

12

13

13

14

14

15

15

800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Pay

bac

k [a

no

s]

Potência elétrica gerada [kWel]

Page 83: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

71

Tabela 29 - Resultados da cogeração para o equipamento T1500, caso A.2 (serraria

com cogeração).

SITUAÇÃO DA PLANTA SEM COGERAÇÃO COM COGERAÇÃO

Equipamento e Combustível

Modelo - Turboden T1500 CHP

Split

Combustível Biomassa Biomassa

Geração de Energia

Energia elétrica gerada por ano [kWhel/ano] - 10.998.180

Energia térmica gerada por ano [kWhth/ano] - 52.034.400

Consumo

Potência elétrica contratada da rede [kWel] 1.000 0

Consumo anual de energia elétrica da rede [kWhel] 6.570.000 0

Consumo anual de combustível [m3/ano] 17.585 29.176

Autossuficiência Energética

Autossuficiência elétrica - SIM

Autossuficiência térmica - SIM

Despesas

Despesa anual com energia elétrica R$ 1.981.906,20 R$ 0,00

Despesa anual com combustível R$ 0,00 R$ 0,00

Despesa anual com O&M - R$ 251.184,00

Total de despesas operacionais R$ 1.981.906,20 R$ 251.184,00

Venda de Energia Elétrica

Preço de venda de energia elétrica excedente [R$/kWh] - 0,16

Faturamento anual com venda de energia elétrica - R$ 708.508,80

Desempenho Energético

Potência útil para cogeração [kWth] - 7.920

Rendimento do ciclo - 18,41%

Eficiência térmica da cogeração(ETC) - 72,81%

Eficiência elétrica da cogeração (EEC) - 16,11%

Fator de utilização do equipamento (FUE) - 88,91%

Índice de poupança de energia (IPE) - 73,03%

Energia economizada (EE) - 26,97%

Índice de geração de potência (IGP) - 59,23%

Desempenho Financeiro

Investimento por energia elétrica gerada [R$/kWhel] 0,190

Investimento por energia total gerada [R$/kWh] 0,033

Custo de Energia - COE [R$/kWhel] 0,236

Tempo de vida do equipamento [anos] 20

Economia operacional anual da planta R$ 1.730.722,20

Valor Presente Líquido (VPL) R$ 3.849.752,92

Taxa Interna de Retorno (TIR) 15,69%

Payback [anos] 12,6

Page 84: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

72

5.2. Caso B – Frigorífico de Frangos

O caso do frigorífico de frangos foi estudado apenas com o objetivo de analisar a

viabilidade técnica e econômica de uma planta de cogeração CRO onde não há geração

de resíduos de biomassa. Neste caso, estudou-se a utilização do óleo combustível e do

gás natural como combustível na caldeira.

5.2.1. Características de Operação do Frigorífico de Frangos

Nos cálculos de custos de operação e manutenção, na análise financeira e no

fluxo de caixa, utilizaram-se os mesmos dados de entrada (taxa de juros, TMA, IR,

PIS/COFINS, preço de compra/venda de energia elétrica) considerados no Caso A. As

características de operação do frigorífico de frangos estudado estão descritas na Tebela

30.

Tabela 30 - Características de operação do frigorífico de frangos (caso B) (SORDI et

al., 2010)

Frigorífico de Frangos

Capacidade de Produção [cabeças de aves/dia] 180.000

Demanda térmica [kWth] 3.000

Demanda elétrica [kWel] 1.700

Tempo de operação

[h/dia] 18

[dias/ano] 365

[h/ano] 6.570

As propriedades dos combustíveis considerados na análise estão apresentadas na

Tabela 31. A tarifa industrial do gás natural depende da quantidade consumida por mês,

portanto nos estudos de caso utilizou-se a Tabela 32 para estimar o preço de compra do

gás natural.

Tabela 31 - Propriedades físicas do gás natural e do óleo combustível (FABRES, 2014).

Combustível PCI [MJ/m3] Custo [R$/m3]

Óleo combustível 38.874 1.750,00

Gás Natural 35,8 1,50

Page 85: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

73

Tabela 32 - Tarifa do gás natural em função do consumo (CEG, 2014).

Faixa de Consumo [m3/mês] Tarifa [R$/m

3]

50.001 - 100.000 1,5100

100.001 - 300.000 1,3611

300.001 - 600.000 1,1849

600.001 - 1.500.000 1,1803

1.500.001 - 3.000.000 1,1674

acima de 3.000.000 1,1238

5.2.2. Resultados

As Tabelas 33 e 34 apresentam os resultados obtidos a partir da simulação dos

casos B.1 (gás natural) e B.2 (óleo combustível), respectivamente. Para ambos os casos,

analisou-se a instalação de todos os equipamentos disponíveis na ferramenta de cálculo.

Tabela 33 - Resultados para a simulação do caso B.1 (gás natural).

Módulo CRO T200 T500 T600 T800 T1100 T1500 T2000

Combustível GN GN GN GN GN GN GN

EE gerada [kWel] 205 538 641 889 1155 1674 2079

ET gerada [kWth] 1108 2637 3191 4148 5246 7920 9700

Custo O&M [R$/kWhel]

0,144 0,056 0,047 0,035 0,028 0,023 0,021

Custo invest inicial [R$/kWhel]

0,941 0,375 0,319 0,240 0,205 0,190 0,187

Custo de combustível [R$/kWhel]

0,86 0,92 0,93 0,77 0,77 0,77 0,76

COE [R$/kWh] 2,067 1,395 1,335 1,071 1,029 1,010 0,993

Despesa operacional anual sem cogeração

[R$] 6.066.956 6.066.956 5.717.726 5.717.726 5.717.726 5.717.726 5.708.608

Despesa operacional anual com cogeração

[R$] 6.064.489 6.204.331 5.698.645 6.281.363 7.134.978 8.818.320 10.698.608

Economia operacional anual [R$]

2.467 -137.375 19.081 -563.637 -1.417.252 -3.100.595 -4.989.999

Valor Presente Líquido (VPL) [R$]

-53.758.748

-56.005.209

-50.986.007 -60.199.483 -74.143.436 -103.084.748 -

131.648.076

Payback [anos] > 20 > 20 > 20 > 20 > 20 > 20 > 20

Page 86: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

74

Tabela 34 - Resultados para a simulação do caso B.2 (óleo combustível).

Módulo CRO

T200 T500 T600 T800 T1100 T1500 T2000

Combustível OL OL OL OL OL OL OL

EE gerada [kWel]

205 538 641 889 1155 1674 2079

ET gerada [kWth]

1108 2637 3191 4148 5246 7920 9700

Custo O&M [R$/kWhel]

0,144 0,056 0,047 0,035 0,028 0,023 0,021

Custo invest inicial

[R$/kWhel] 0,941 0,375 0,319 0,240 0,205 0,190 0,187

Custo comb [R$/kWhel]

1,10 1,02 1,03 0,98 0,98 0,99 0,98

COE [R$/kWh]

2,308 1,495 1,437 1,281 1,240 1,223 1,206

Despesa operacional anual sem cogeração

[R$]

6.563.483 6.563.483 6.563.483 6.563.483 6.563.483 6.563.483 6.563.483

Despesa operacional anual com cogeração

[R$]

6.756.590 6.720.402 6.923.302 7.891.404 9.238.378 11.885.038 14.504.512

Economia operacional anual [R$]

-193.106 -156.918 -359.819 -1.327.920 -2.674.894 -5.321.555 -7.941.028

Valor Presente Líquido

(VPL) [R$]

-60.108.378

-59.938.923

-63.141.392

-78.197.489

-99.621.022

-143.166.747 -182.867.415

Payback [anos]

> 20 > 20 > 20 > 20 > 20 > 20 > 20

A partir das Tabelas 33 e 34 é possível observar que para todas as simulações

dos casos B.1 e B.2, o VPL é negativo e o payback maior do que 20 anos. Além disso,

na maioria dos casos não houve economia operacional. Isto se deve ao aumento do

consumo de combustível após a implantação do sistema de cogeração.

No sistema sem cogeração, queima-se na caldeira apenas a quantidade de

combustível suficiente para atender à demanda térmica do frigorífico. Já na planta com

cogeração, o consumo de combustível é maior, visto que se deve suprir também a

demanda térmica da caldeira do equipamento. Este gasto extra com combustível

aumenta significativamente a despesa operacional das instalações com cogeração. A

Page 87: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

75

partir dos gráficos das Figuras 36 e 37, é possível observar que o custo com combustível

representa uma parcela significativa do COE, 72% no caso B.1, e 76% no caso B.2.

Figura 36 - Composição de custos do COE para o caso B.1 (gás natural).

Figura 37 - Composição de custos do COE para o caso B.2 (óleo combustível).

Portanto, mesmo que haja redução anual dos gastos com compra de energia

elétrica e/ou faturamento com a venda de energia pra rede, as despesas operacionais

superam a receita anual, não havendo assim lucro no empreendimento.

3%

22%

72%

Composição de Custos (Gás Natural)

Custo O&M

Custo Investimento Inicial

Custo Combustível

3%

19%

76%

Composição de Custos (Óleo Combustível)

Custo O&M

Custo Investimento Inicial

Custo Combustível

Page 88: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

76

A Figura 38 apresenta uma análise de sensibilidade do VPL em função da

variação do preço de compra de energia elétrica da rede. Para traçar a curva utilizou-se

o equipamento T1500 operando com gás natural e óleo combustível.

Figura 38 - Análise de sensibilidade do VPL em função da variação do custo da energia

elétrica para o caso B.

A partir do gráfico observa-se que o VPL do caso B.1 (gás natural) e o do caso

B.2 (óleo combustível) só passam a ser positivos a partir de uma tarifa de 1,55 e 2,05

R$/kWh, respectivamente. Portanto, considerando apenas este critério, pode-se concluir

que a instalação do equipamento no frigorífico só será economicamente viável se a

tarifa de energia praticada no mercado for maior ou igual a estes valores.

-100000,0

-80000,0

-60000,0

-40000,0

-20000,0

,0

20000,0

40000,0

0 0,5 1 1,5 2 2,5

Val

or

Pre

sen

te L

íqu

ido

[kR

$]

Preço de compra da energia elétrica [R$/kWh]

Gás Natural

Óleo Combustível

Page 89: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

77

6. Conclusões

O presente trabalho mostrou que a implantação de sistemas de cogeração CRO

constitui-se como uma alternativa para a geração descentralizada de eletricidade.

Através dos estudos de caso realizados, fez-se uma análise técnica e econômica da

instalação de equipamentos CRO em setores representativos da indústria brasileira.

De uma forma geral, os índices de desempenho energético dos módulos CRO

analisados mostraram-se bastante competitivos. O FUE, como medida de eficiência

térmica, apresentou valor médio de 88,6%, um resultado satisfatório se comparado às

modernas aplicações de sistemas de cogeração que podem alcançar até 90% para este

indicador. Além disso, O IPE médio de 73,4% mostrou que as plantas CRO são

capazes de recuperar boa parte do calor obtido através da queima do combustível, se

comparadas às plantas convencionais que produzem separadamente energia elétrica e

térmica.

O estudo de caso B revelou a influência do custo do combustível sobre o custo

específico da energia elétrica (COE). Através da análise, ficou evidente que um dos

principais fatores responsáveis por aumentar a despesa operacional de uma planta com

cogeração, reduzindo o tempo de retorno do investimento, é o preço do combustível.

Para o caso do frigorífico de frangos concluiu-se que mesmo a tarifa máxima de energia

elétrica praticada no mercado atualmente (0,48 R$/kWh - ANEEL, 2014), não

viabilizaria a instalação de um equipamento CRO operando com óleo combustível ou

gás natural.

Através da análise do caso A, provou-se que a implantação de equipamentos

CRO cuja potência gerada é menor do que 800 kWel é financeiramente inviável devido

alto custo de investimento incial. Além disso, concluiu-se que o aproveitamento de

resíduos de biomassa para geração de energia através de um módulo CRO, pode

aumentar consideravelmente a receita de uma planta industrial. O fato de o combustível

não representar um custo para a planta, faz com que o COE alcance valores mais baixos

do que o preço de compra da energia da rede, tornando o projeto financeiramente viável

sob este aspecto.

Em ambos os estudos de caso, os custos com operação e manutenção

representaram menos de 10% do COE. Isto prova que o alto nível de automatização dos

equipamentos CRO permite reduzir consideravelmente as despesas operacionais,

aumentando o retorno financeiro do empreendimento.

Page 90: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

78

Se comparados com os motores de combustão interna, que só operam com

combustíveis convencionais, os equipamentos CRO constituem-se como uma solução

de geração descentralizada de energia para os casos em que o combustível é a biomassa.

Apesar do baixo rendimento (cerca de 18%), as plantas de cogeração CRO operando

com resíduo de biomassa apresentaram um custo de geração de energia menor, 308

R$/MWh contra 680 R$/MWh nos motores de combustão interna. Para a queima de

combustíveis convencionais, os motores de combustão interna assumem-se como uma

melhor alternativa. Neste caso, os gastos com combustível nos sistemas CRO fazem

com que o COE alcance um valor médio de 1100 R$/MWh.

A partir dos estudos desenvolvidos, conclui-se que antes de se propor uma

solução de cogeração CRO definitiva para uma determinada planta, é fundamental que

se realizem simulações com diferentes equipamentos e combustíveis, a fim de avaliar o

desempenho do sistema de cogeração no suprimento das demandas da instalação. Estas

decisões podem ser facilitadas pelo emprego da ferramenta desenvolvida no trabalho.

Como proposta de continuidade deste estudo, sugere-se analisar o desempenho

energético e financeiro de outras unidades CRO disponíveis no mercado, e avaliar a

utilização de outros tipos de fonte de calor, como por exemplo o calor residual de

processos industriais. Além disso, propõe-se considerar nos cálculos a receita

proveniente da venda de resíduos de biomassa, de modo a tornar a ferramenta

desenvolvida mais genérica.

Page 91: análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de

79

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