36
Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração. Aquela cativa que me tem cativo, Porque nela vivo Já não quer que viva. Se Helena apartar Do campo seus olhos, Nascerão abrolhos Análise de composições poéticas - A influência tradicional - A medida velha Quem ora soubesse Onde o amor nasce, Que o semeasse.

Análise de Composições Poéticas - A Influência

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração.

Aquela cativa que me tem cativo,Porque nela vivoJá não quer que viva.

Se Helena apartar Do campo seus olhos,Nascerão abrolhos

Análise de composições poéticas - A influência tradicional - A medida velha

Quem ora soubesseOnde o amor nasce,Que o semeasse.

Page 2: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Mote:

Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração.

Voltas:

Campo que te estendescom verdura bela;ovelhas que nela vosso pasto tendes:d’ervas vos mantendesque traz o Verão, e eu das lembranças do meu coração.

Gado que paceis,co contentamentovosso mantimentonão o entendeis;isso que comeisnão são ervas , não:São graças dos olhosDo meu coração.

Page 3: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Mote alheio

Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração.

O sujeito poético começa por apresentar o ponto de partida para a criação poética: A semelhança entre a cor dos olhos da amada e a cor dos campos/ da Natureza.

Estabelece uma comparação entre ambos.Os olhos representam a amada no seu todo(a parte pelo todo – sinédoque)

Está já presente a devoção amorosa e os elementos da Natureza.Destaca-se já a banalidade e trivialidade da inspiração poética.

Os elementos bucólicos estão presentes, reforçando essa simplicidade e trivialidade.

Page 4: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Voltas:

Campo que te estendescom verdura bela;ovelhas que nela vosso pasto tendes:d’ervas vos mantendesque traz o Verão, e eu das lembranças do meu coração.

É apresentado o destinatário ou destinatários deste lamento: Campo, Ovelhas e Gado.O sujeito poético dirige-se a estes elementos.

Primeiro começa por invocar o campo verde que se estende de forma bela, mas passa logo de seguida para as ovelhas que estão tão próximas dessa beleza verde.

O sujeito poético deixa-lhes um recado, ao lembrar-lhes que, por um lado, elas se alimentam/ elas se mantêm vivas por causa dessa verdura que o verão torna possível, por outro lado o sujeito poético alimenta-se vive por causa das lembranças/ das memórias que tem da amada.

Pressupomos, portanto uma relação dominada pela saudade, pela tristeza e pela nostalgia.

Page 5: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Gado que paceis,co contentamentovosso mantimentonão o entendeis;isso que comeisnão são ervas , não:São graças dos olhosDo meu coração

Dirige-se agora ao Gado, no geral, que não tem consciência da realidade do seu sofrimento.

O sujeito poético de uma forma exagerada (hipérbole) assume a projecção da amada na Natureza, assumindo que, sem se dar conta, o gado come a graciosidade dos olhos da amada.

Ao longo da cantiga temos uma comparação entre os olhos da amada e os campos que se vai tornando cada vez mais evidente aos olhos do sujeito poético.A repetição do advérbio de negação “não” transmite um tom de oralidade ao poema, e temos a certeza de que o sujeito poético está convencido desta projecção da amada na Natureza.

No final da composição poética os campos não são como os campos (comparação)São os próprios campos verdes (metáfora).

Page 6: Análise de Composições Poéticas - A Influência

(10pts) 1 – Que relação o sujeito poético estabelece entre os campos e a amada.Mote:

Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração.

Voltas:Campo que te estendescom verdura bela;ovelhas que nela vosso pasto tendes:d’ervas vos mantendesque traz o Verão, e eu das lembranças do meu coração.

Gado que paceis,co contentamentovosso mantimentonão o entendeis;isso que comeisnão são ervas , não:São graças dos olhosDo meu coração.

Os campos

ponto de partida para a recordação da amada semelhança entre a cor dos campos e os olhos da natureza os campos alimentam/ dão vida e a amada também mantém o sujeito vivo através das recordações. projecção e posterior união entre a amada e a Natureza.

Page 7: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Mote:

Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração.

Voltas:Campo que te estendescom verdura bela;ovelhas que nela vosso pasto tendes:d’ervas vos mantendesque traz o Verão, e eu das lembranças do meu coração.

Gado que paceis,co contentamentovosso mantimentonão o entendeis;isso que comeisnão são ervas , não:São graças dos olhosDo meu coração.

(10pts) 2 – A presença da cor é importante na construção desta cantiga. Demonstra a sua importância simbólica.

Verde

– símbolo da Natureza, que é o elemento de comparação com a amada;

- Símbolo da esperança, uma vez que a separação causa sofrimento, há o desejo de reencontrar a amada.

Page 8: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Mote:

Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração.

Voltas:Campo que te estendescom verdura bela;ovelhas que nela vosso pasto tendes:d’ervas vos mantendesque traz o Verão, e eu das lembranças do meu coração.

Gado que paceis,co contentamentovosso mantimentonão o entendeis;isso que comeisnão são ervas , não:São graças dos olhosDo meu coração.

(10pts) 3 – Quais os sentimentos que dominam o sujeito poético ao longo da cantiga.

Apaixonado – porque a natureza o faz recordar as características da amada

Nostálgico/ Saudoso – vive de recordações de passado e não de presente

Triste/Incompreendido/Apaixonado – porque os outros, a natureza não o compreende; porque as saudades são muitas e tudo o que tem são recordações

Page 9: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Mote:

Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração.

Voltas:Campo que te estendescom verdura bela;ovelhas que nela vosso pasto tendes:d’ervas vos mantendesque traz o Verão, e eu das lembranças do meu coração.

Gado que paceis,co contentamentovosso mantimentonão o entendeis;isso que comeisnão são ervas , não:São graças dos olhosDo meu coração.

(10pts) 4 – Observa as palavras “Campo” “ovelhas” “Gado”. Relaciona a sua utilização com o tema da composição poética.

É apresentado o destinatário ou destinatários deste lamento: Campo, Ovelhas e Gado.O sujeito poético dirige-se a estes elementos.

Primeiro começa por invocar o campo verde que se estende de forma bela, mas passa logo de seguida para as ovelhas que estão tão próximas dessa beleza verde.

O sujeito poético deixa-lhes um recado, ao lembrar-lhes que por um lado elas se alimentam, elas se mantêm vivas por causa dessa verdura que o verão torna possível, por outro lado o sujeito poético alimenta-se/vive por causa das lembranças/ das memórias que tem da amada.

Page 10: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Mote:

Ver//des// são// os //cam//pos Da// cor// do// li//mão assim são os olhos do meu coração.

Voltas:Campo que te estendescom verdura bela;ovelhas que nela vosso pasto tendes:d’ervas vos mantendesque traz o Verão, e eu das lembranças do meu coração.

Gado que paceis,co contentamentovosso mantimentonão o entendeis;isso que comeisnão são ervas , não:São graças dos olhosDo meu coração.

(15pts) 5 – Este poema retoma aspectos característicos da poesia tradicional. Identifica-os.

Formal : • Cantiga / redondilha menor (5 sílabas métricas)• mote: quatro versos• voltas com oito versos• repetição do último verso do mote no final de cada volta

Conteúdo:

• Saudade • elogio à beleza da amada• as características da mulher : os olhos claros a graciosidade• 0 bucolismo: a natureza, os campos, as ervas, as ovelhas, o gado, o pasto

• a simplicidade, trivialidade e banalidade dos elementos que estão na base da inspiração poética: os campos verdes

Page 11: Análise de Composições Poéticas - A Influência

(15pts) 6 – Apresenta a Paráfrase da última volta. Identificando e clarificando a intenção do recurso expressivo presente nos últimos quatro versos.

Mote:

Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração.

Voltas:

Campo que te estendescom verdura bela;ovelhas que nela vosso pasto tendes:d’ervas vos mantendesque traz o Verão, e eu das lembranças do meu coração.

Gado que paceis,co contentamentovosso mantimentonão o entendeis;isso que comeisnão são ervas , não:São graças dos olhosDo meu coração.

Dirige-se agora ao Gado, no geral, que não tem consciência da realidade do seu sofrimento.

O sujeito poético de uma forma exagerada (hipérbole) assume a projecção da amada na Natureza, assumindo que, sem se dar conta, o gado come a graciosidade dos olhos da amada.

Ao longo da cantiga temos uma comparação entre os olhos da amada e os campo que se vai tornando cada vez mais evidente aos olhos do sujeito poético.A repetição do advérbio de negação “não” transmite um tom de oralidade ao poema, e temos a certeza de que o sujeito poético está convencido desta projecção da amada na Natureza.

No final da composição poética os campos não são como os campos (comparação)São os próprios campos verdes (metáfora).

Page 12: Análise de Composições Poéticas - A Influência

A “Pretos os cabelosOnde o povo vão

perde opiniãoQue os louros são belos”

B

“Tão linda que o mundo espanta”

C“Os ventos serena,Faz claras de abrolhosO ar dos seus olhos.”

D

“Presença serenaQue a tormenta amansa”

E“Pretidão de amor,Tão doce a figura,Que a neve lhe jura que trocou a cor.”

F“Mais branca que a neve pura(…)”“Cabelos de ouro o trançado.”

(20pts) 1 - Organiza as temáticas recorrentes na poesia de influência tradicional, exemplificando com os versos acima apresentados.

• O modelo de mulher correspondia à mulher loura, mas em Camões há muitas vezes a dúvida, a alteração dos padrões habituais. ( A )• Serenidade no perfil psicológico (D e C)• A presença da antítese, por um lado está presente a inquietação, por outro lado está presente a serenidade. (D)• A beleza da mulher é sempre enaltecida, dando muitas vezes origem à hipérbole. (B)

• A brancura da pele é sempre motivo para a metáfora e símbolo da sua pureza e simplicidade. Novamente as dúvidas e contradições do sujeito poético. (E)

• A amada é um agente transformador da natureza supra-humano, divinizado, capaz de fazer coisas que a maioria dos mortais não consegue. (C)

• Além da brancura e dos cabelos louros, ainda se acrescenta a metáfora constante, recorrendo aos metais preciosos (ouro e prata) construindo-se assim um retrato ainda mais valorativo. (D)

Page 13: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Todo o trabalho bemPromete gostoso fruito,Mas os trabalhos, que vêmPara quem dita(1) dita não tem,Valem pouco e custam muito.(1) Boa fortuna, felicidade

Os bons vi sempre passarNo mundo graves tormentos;E, para mais m’espantar,Os maus vi sempre nadarEm mar de contentamentos.

2 - “ A experiência do humanista, a experiência amorosa e a experiência de vida colocam Camões perante uma constatação: a de que o mundo, a realidade, é absurda e domina o desconcerto. Esta constatação deixou marcas amargas em poemas de revolta, queixa, desengano, perplexidade angustiada.” In Amélia Pinto Pais, Eu cantarei de amor – Lírica de Luís de Camões.

(20pts) 2.1 - Clarifica as afirmações e exemplifica com a análise dos versos que se seguem:

Camões foi um humanista, viajou e conheceu o mundo• humanismo alimenta a capacidade nas capacidades humanas;• valorização da razão e do juízo crítico• certificação da verdade através da experimentação• desenvolve a capacidade de conhecer o mundo de o questionar e de reflectir sobre os comportamentos humanos.

No primeiro excerto, conclui que o mundo vive em desconcerto, pois o trabalho deveria levar ao mérito e à honra, o que não acontece.

No segundo excerto, conclui que o mundo vive em desconcerto, pois a bondade deve ser premiada e não é. A maldade deve ser castigada e também não é.

Page 14: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Aquela cativa que me tem cativo,Porque nela vivoJá não quer que viva.Eu nunca vi rosa Em suaves molhos,Que pera meus olhosFosse mais fermosa.

Nem no campo flores,Nem no céu estrelasMe parecem belasComo os meus amores.Rosto singularOlhos sossegadosPretos e cansados,Mas não de matar.

ua graça viva,Que neles lhe mora,Pera ser senhorade quem é cativa.Pretos os cabelos,Onde o povo vãoPerde a opiniãoQue os louros são belos

Pretidão de amor,Tão doce a figura,Que a neve lhe juraQue trocara a cor.Leda mansidãoQue o siso acompanha;Bem parece estranhaMas bárbara não.

Presença serenaQue a tormenta amansa;Nela, enfim descansaToda a minha pena.Esta é a cativaQue me tem cativo,E, pois nela vivo,É força que viva.

Page 15: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Aquela cativa que me tem cativoPorque nela vivoJá não quer que viva.Eu nunca vi rosa Em suaves molhos,Que pera meus olhosFosse mais fermosa.

O sujeito poético começa com um jogo de palavras: cativo/cativa que é sugestivo da escravidão amorosa do sujeito poético.Se por um lado Bárbara é escrava/cativa (socialmente), o sujeito poético também o é. É escravo do seu amor.

O sujeito poético faz um elogio à beleza da amada, construindo já a tradicional hipérbole, onde superioriza a amada.

Os elementos da Natureza são os escolhidos para ajudar a descrever a beleza da amada

Page 16: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Nem no campo flores,Nem no céu estrelasMe parecem belasComo os meus amores.Rosto singularOlhos sossegadosPretos e cansados,Mas não de matar.

Comparativamente com as flores e/ou as estrelas, a sua amada é muito mais bela.Note-se que todo o elogio é pessoal, ou seja, parece ao sujeito poético que a sua amada tem uma beleza incomparável à beleza da grandiosidade da Natureza. Está presente uma comparação.

O rosto da amada não é um rosto banal, é singular/diferente/único, ou seja não corresponde aos padrões habituais.

Mais uma vez, os olhos são apresentados como um espelho da alma, neste caso estão sossegados, o que mais uma vez reforça a ideia da calma e serenidade que caracterizava as mulheres da lírica camoniana.Mas logo de seguida, apresenta características que se opõem ao modelo de mulher: “olhos pretos e cansados”, ou seja, olhos escuros e doridos do trabalho duro.

Mais uma vez o sujeito poético joga com as palavras e diz que ela está cansada, mas não de matar …de amor, não de seduzir e de inspirar paixões.

Page 17: Análise de Composições Poéticas - A Influência

ua graça viva,Que neles lhe mora,Pera ser senhorade quem é cativa.Pretos os cabelos,Onde o povo vãoPerde a opiniãoQue os louros são belos.

O “povo vão”, ou seja, a opinião geral e pouco acertada é de que os cabelos louros é que são belos. O sujeito poético põe em causa o modelo da época e substitui-o por outro.

Antecedente – “olhos”

Mais uma vez se joga com as palavras “senhora” e “cativa”, reforçando a ideia de que apesar de ser cativa/escrava, domina, é senhora dos corações apaixonados.

O reforço da graciosidade da mulher é contínuo e assemelha-se ao modelo de mulher.

Page 18: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Pretidão de amor,Tão doce a figura,Que a neve lhe juraQue trocara a cor.Leda mansidãoQue o siso acompanha;Bem parece estranhaMas bárbara não.

Presença serenaQue a tormenta amansa;Nela, enfim descansaToda a minha pena.Esta é a cativaQue me tem cativo.E, pois nela vivo,É força que viva.

Inicia esta oitava com uma apóstrofe à mulher amada, pondo em destaque precisamente as características que se opõem ao modelo de mulher da época,

Mas logo se sucedem características psicológicas que se adequam ao modelo:Doçura, leda mansidão, siso.

Toda esta descrição pode parecer diferente, mas não agressiva, ofensiva (“bárbara”).

Novamente o reforço da serenidade. E também a presença da antítese, que põe em destaque as contradições amorosas e os conflitos de opinião.

O sujeito poético encaminha para uma conclusão todo este elogio, dizendo que nela se concentra a sua inspiração poética e sofrimento poético (“pena”).

Page 19: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Aquela cativa que me tem cativo,Porque nela vivoJá não quer que viva.Eu nunca vi rosa Em suaves molhos,Que pera meus olhosFosse mais fermosa.

Em no campo flores,Nem no céu estrelasMe parecem belasComo os meus amores.Rosto singularOlhos sossegadosPretos e cansados,Mas não de matar.

ua graça viva,Que neles lhe mora,Pera ser senhorade quem é cativa.Pretos os cabelos,Onde o povo vãoPerde a opiniãoQue os louros são belos

Pretidão de amor,Tão doce a figura,Que a neve lhe juraQue trocara a cor.Leda mansidãoQue o siso acompanha;Bem parece estranhaMas bárbara não.

Presença serenaQue a tormenta amansa;Ela, enfim descansaToda a minha pena.Esta é a cativaQue me tem cativo.E, pois nela vivo,É força que viva.

“Aquela” implica um distanciamento, pois o sujeito poético ainda não apresentou a personagem.

“ Esta” implica proximidade, pois agora as características desta personagem são conhecidas.

Page 20: Análise de Composições Poéticas - A Influência

A escrava contraria o modelo de mulher renascentista pelas suas características físicas que fogem ao pré-estabelecido: loiro, olhos claros, pele branca.

A sua serenidade, sensatez, calma e forma distante já se inscrevem nesse modelo.

Page 21: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Se Helena apartar Do campo seus olhos,Nascerão abrolhos

Voltas:A verdura amenaGados que pasceisSabei que a deveis Aos olhos de Helena.Os ventos serena,Faz flores de abrolhosO ar de seus olhos.

Faz serras floridas,Faz claras as fontes;Se isto faz nos montes,Que fará nas vidas?Trá-las suspendidasComo ervas em molhos, na luz de seus olhos.

Os corações prendeCom graça inumanaDe cada pestanaUa alma lhe pende.Amor se lhe rendeE, posto em giolhos,Pasma nos seus olhos.

Page 22: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Se Helena apartar Do campo seus olhos,Nascerão abrolhos.

No mote, o sujeito poético deixa evidente que os olhos de Helena irradiam uma luz especial, de origem “divina”, inumana capaz de transfigurar a Natureza, transformando-a de forma bela.

Está presente o universo bucólico, onde a Natureza é o cenário da acção da mulher e do seu elogio.

Page 23: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Voltas:A verdura amenaGados que pasceisSabei que a deveis Aos olhos de Helena.Os ventos serena,Faz flores de abrolhosO ar de seus olhos.

Faz serras floridas,Faz claras as fontes;

Continuam a estar presentes os elementos da Natureza e são o destinatário da mensagem do sujeito poético.Está presente uma anástrofe, que reforça a acção dos olhos de Helena.( “Gado que pasceis, sabei que deveis a verdura amena aos olhos de Helena”). (Outro caso de inversão da ordem natural: “o ar de seus olhos faz flores de abrolhos”)

O sujeito poético parece querer tornar claro para o gado que este deve tudo à capacidade que os olhos de Helena têm de transmutar a Natureza.

Esta acção está reforçada quer pela utilização de verbos, quer pela utilização de adjectivação e adjectivo anteposto,

Anáfora – “Faz”Reforça o sentido transformador. Sem o seu olhar nada existiria.

Page 24: Análise de Composições Poéticas - A Influência

--------------------------------------------------------Se isto faz nos montes,Que fará nas vidas?Trá-las suspendidasComo ervas em molhos, na luz de seus olhos.

Os dois primeiros versos desta volta completam a primeira parte do vilancete:• A acção dos olhos de Helena na Natureza

Agora inicia-se a segunda parte:• A acção dos olhos de Helena nas vidas humanas.

Esta segunda parte começa com uma questão retórica que nos leva a reflectir sobre os efeitos que esta mulher terá nos humanos.Logo de seguida, o sujeito poético responde a esta questão, com uma comparação. Conclui que também as almas humanas estão dependentes dela.

Page 25: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Os corações prendeCom graça inumanaDe cada pestanaUa alma lhe pende.Amor se lhe rendeE, posto em giolhos,Pasma nos seus olhos.

Até o amor lhe presta vassalagem.

Helena é uma figura graciosa, inatingível, espiritualizada, pertencente a um outro mundo, onde a matéria se suspende e de si depende.

O amor que inspira é um amor espiritualizado, inefável.

Page 26: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Mote Quem ora soubesseOnde o amor nasce,Que o semeasse.

Voltas:

D’Amor e seus danosMe fiz lavrador;Semeava amorE colhia enganos;Não vi em meus anos,Homem que apanhasseO que semeasse.

Vi terra floridaDe lindos abrolhos, Lindos para os olhos, duros para a vida;Mas a rês(1) perdidaQue tal erva pace(2)Em forte hora nace.

Com quanto perdi,Trabalhava em vão;Se semeei grãoGrande dor colhi.Amor nunca viQue muito durasse,Que não magoasse.

Luís de Camões

Page 27: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Mote Quem ora soubesseOnde o amor nasce,Que o semeasse.

O sujeito poético utiliza o Pretérito Imperfeito do Conjuntivo para expressar as suas dúvidas e os seus conselhos.

O sujeito poético começa por lançar uma

questão, uma dúvida para o ar. Ele diz que se alguém conhece o terreno fértil do amor deveria plantá-lo.

O sujeito poético inicia aqui esta metáfora que aproxima o amor de uma cultura que necessita terreno especial, ou seja cuidados especiais.

Page 28: Análise de Composições Poéticas - A Influência

D’ Amor e seus danosMe fiz lavrador;Semeava amorE colhia enganos;Não vi em meus anos,Homem que apanhasseO que semeasse.

O sujeito poético conta que se tornou lavrador de amor.Inicia aqui uma metáfora que se irá prolongar ao longo de todo o texto: Todo este processo de colher, nascer, cuidar e colher está presente como a metáfora de sentir amor de o alimentar e conduzir ao longo da vida.

Os aspectos da Natureza dominam completamente a metáfora em construção.

O sujeito poético afirma que ao longo da vida semeou amor, mas só colheu enganos, ou seja faz alusão a um amor infeliz e sofrido.

Por fim refere que, partindo da sua experiência pessoal, nunca viu ninguém que apanhasse o que recolheu , ou seja nunca ninguém foi verdadeiramente feliz no amor.

Page 29: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Vi terra floridaDe lindos abrolhos, Lindos para os olhos, duros para a vida;Mas a rês(1) perdidaQue tal erva pace(2)Em forte hora nace.

O sujeito poético recorda que já teve momentos felizes, porém momentos contraditórios: Por um lado eram “lindos”, por outro eram “duros”, porque levavam ao sofrimento .Constrói-se uma antítese, pois os “abrolhos” não são plantas bonitas, pelo contrário, têm picos , ou seja, representam aqui uma ilusão e um perigo de sofrimento.

A “rês perdida” representa aqui o Homem que se alimenta de “tal erva”, ou seja, do amor ilusório. Destaca-se também o facto deste amor (erva) nascer forte/ intenso e condenar o homem.

Page 30: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Com quanto perdi,Trabalhava em vão;Se semeei grãoGrande dor colhi.Amor nunca viQue muito durasse,Que não magoasse.

Luís de Camões

O investimento, a dedicação, o trabalho que este lavrador (homem) dedicou à sementeira ( ao amor) foi em vão, ou seja foi inútil, porque a única coisa que colheu foi dor e sofrimento.

O sujeito poético conclui a metáfora, tornando-a clara nos últimos três versos onde diz que nunca conheceu um Amor que perdure e que não conduza ao sofrimento.

Anáfora

Aliteração

Page 31: Análise de Composições Poéticas - A Influência

(15pts) 1 – Logo na primeira volta o sujeito poético apresenta-se metaforicamente. Justifica a afirmação.

O sujeito poético inicia esta metáfora que aproxima o amor de uma cultura que necessita terreno especial, ou seja cuidados especiais.D’ Amor e seus danos

Me fiz lavrador;Semeava amorE colhia enganos;Não vi em meus anos,Homem que apanhasseO que semeasse.

O sujeito poético conta que se tornou lavrador de amor.Inicia aqui uma metáfora que se irá prolongar ao longo de todo o texto: Todo este processo de colher, nascer, cuidar e colher está presente como a metáfora de sentir amor, de o alimentar e conduzir ao longo da vida.

Os aspectos da Natureza dominam completamente a metáfora em construção.

O sujeito poético afirma que ao longo da vida semeou amor, mas só colheu enganos, ou seja faz alusão a um amor infeliz e sofrido.

Page 32: Análise de Composições Poéticas - A Influência

(15pts) 2 – Este texto é uma reflexão pessoal. Justifica a afirmação e apresenta o possível destinatário deste vilancete.

Mote Quem ora soubesseOnde o amor nasce,Que o semeasse.

Voltas:

D’Amor e seus danosMe fiz lavrador;Semeava amorE colhia enganos;Não vi em meus anos,Homem que apanhasseO que semeasse.

Vi terra floridaDe lindos abrolhos, Lindos para os olhos, duros para a vida;Mas a rês(1) perdidaQue tal erva pace(2)Em forte hora nace.

Com quanto perdi,Trabalhava em vão;Se semeei grãoGrande dor colhi.Amor nunca viQue muito durasse,Que não magoasse.

Luís de Camões

O sujeito poético começa por lançar uma questão, uma dúvida para o ar. Ele diz que se alguém conhece o terreno fértil do amor deveria plantá-lo.

Tudo isto é uma reflexão pessoal, porque o sujeito poético recorre à sua experiência pessoal para tirar conclusões. Isto é ele vai contando o que fez, o que semeou, o que colheu, o que viu, o que perdeu, o que trabalhou, e a que conclusões chega: o amor conduz sempre ao sofrimento…

Page 33: Análise de Composições Poéticas - A Influência

(10pts) 3 – Quais os efeitos e características do Amor? Justifica, fazendo o levantamento de palavras que o comprovam.

Mote Quem ora soubesseOnde o amor nasce,Que o semeasse.

Voltas:

D’ Amor e seus danosMe fiz lavrador;Semeava amorE colhia enganos;Não vi em meus anos,Homem que apanhasseO que semeasse.

Vi terra floridaDe lindos abrolhos, Lindos para os olhos, duros para a vida;Mas a rês(1) perdidaQue tal erva pace(2)Em forte hora nace.

Com quanto perdi,Trabalhava em vão;Se semeei grãoGrande dor colhi.Amor nunca viQue muito durasse,Que não magoasse.

Luís de Camões

Efeitos:

DanosSofrimentoDesilusãoDormagoa

Características:

EnganosoIlusórioContraditórioForte/intensoExigente

O Amor é apenas uma ilusão, cria expectativas, alimenta as esperanças, mas no final acaba sempre por levar ao sofrimento e à desilusão.

É também forte e exigente, pois quando surge é intenso e arrebatador, e todo o apaixonado deve “trabalhar”, ou seja empenhar-se nesta tarefa.

Page 34: Análise de Composições Poéticas - A Influência

(15pts) 4 – Este poema retoma aspectos característicos da poesia tradicional. Identifica-os.

Mote Quem ora soubesseOnde o amor nasce,Que o semeasse.

Voltas:

D’ Amor e seus danosMe fiz lavrador;Semeava amorE colhia enganos;Não vi em meus anos,Homem que apanhasseO que semeasse.

Vi terra floridaDe lindos abrolhos, Lindos para os olhos, duros para a vida;Mas a rês(1) perdidaQue tal erva pace(2)Em forte hora nace.

Com quanto perdi,Trabalhava em vão;Se semeei grãoGrande dor colhi.Amor nunca viQue muito durasse,Que não magoasse.

Luís de Camões

Formal : • vilancete / redondilha menor (5 sílabas métricas)• mote: três versos• voltas com sete versos• repetição do último verso do mote no final de cada volta

Conteúdo:•0 bucolismo: a natureza, os campos, o lavrador, a sementeira, o gado, o pasto

• a simplicidade, trivialidade e banalidade dos elementos que estão na base da inspiração poética: a sementeira.• o sofrimento amoroso e a submissão amorosa. A coita de amor.

Page 35: Análise de Composições Poéticas - A Influência

(15pts) 5 – Apresenta a Paráfrase da última volta. Identificando e clarificando a intenção do recurso expressivo presente nos últimos quatro versos.

Mote Quem ora soubesseOnde o amor nasce,Que o semeasse.

Voltas:

D’ Amor e seus danosMe fiz lavrador;Semeava amorE colhia enganos;Não vi em meus anos,Homem que apanhasseO que semeasse.

Vi terra floridaDe lindos abrolhos, Lindos para os olhos, duros para a vida;Mas a rês(1) perdidaQue tal erva pace(2)Em forte hora nace.

Com quanto perdi,Trabalhava em vão;Se semeei grãoGrande dor colhi.Amor nunca viQue muito durasse,Que não magoasse.

Luís de Camões

O investimento, a dedicação, o trabalho que este lavrador (homem) dedicou à sementeira ( ao amor) foi em vão, ou seja foi inútil, porque a única coisa que colheu foi dor e sofrimento.

O sujeito poético conclui a metáfora, tornando-a clara nos últimos três versos onde diz que nunca conheceu um Amor que perdure e que não conduza ao sofrimento.

Page 36: Análise de Composições Poéticas - A Influência

Maria de Lurdes Augusto - 2010

Aquela cativa que me tem cativo,Porque nela vivoJá não quer que viva. Se Helena apartar

Do campo seus olhos,Nascerão abrolhos

Quem ora soubesseOnde o amor nasce,Que o semeasse.

Fim

Verdes são os campos da cor do limão assim são os olhos do meu coração.