análise de dicionário para surdos

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trecho de uma dissertação sobre dicionários para surdos

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    CAPTULO 03: DESCRIO E ANLISE DOS DADOS E O PROCESSO DE PRODUO DA MICROESTRUTURA

    O universo est em expanso. Onde mais ele poderia crescer seno na cabea dos homens?

    (PEIRCE)

    01. INTRODUO:

    Para propormos uma microestrutura de um dicionrio, interessante e mesmo necessrio verificarmos os paradigmas microestruturais existentes nos dicionrios que circulam no nosso caso, os dicionrios adotados no Instituto Cearense de Educao de Surdos (ICES). Aproveitar seus aspectos positivos e otimiz-los uma forma de tentar diminuir as dificuldades dos aprendizes em seu uso. Por tal razo, esta seo se inicia com a descrio dos dicionrios utilizados no ICES. Em seguida, apresentaremos algumas consideraes sobre possveis adaptaes desse material para a adequao da Educao de Surdos. Por seu turno, as questes relativas a LIBRAS (coleta dos sinais, descrio destes e dos sujeitos) tambm sero descritas em seguida. Por fim, descreveremos todos os 17 verbetes j na composio microestrutural proposta.

    02. LIVRO DIDTICO (Barros; Paulino, 2006):

    O livro didtico da escola adotado para o 8 ano/ 7 srie faz parte de uma coleo de quatro volumes separados por tema e nvel escolar. um livro produzido para falantes de portugus como segunda lngua, pois, apesar do manual do professor fazer aluso s diferenas existentes entre os alunos inclusive diferenas culturais em nenhum momento tal manual menciona Educao inclusiva ou Educao de surdos.

    Segundo o manual do professor, o livro, que dividido em unidades e estas em captulos, procura cumprir os preceitos do Programa Nacional do Livro

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    Didtico (PNLD) de 1995, no qual podemos destacar o desenvolvimento de um vocabulrio cientfico. Por conseguinte, cada obra da coleo apresenta um glossrio nas suas pginas finais glossrio do livro do 8 ano possui 49 termos-chave. O professor , ento, estimulado a trabalhar no s com esse glossrio, mas tambm com dicionrios. Para tanto, no incio de cada captulo h atividades que estimulam o uso do dicionrio e a aprendizagem de alguns conceitos veiculados. Um exemplo so as atividades com mapas conceituais.

    No obstante, o manual no fornece instrues de como o professor deve proceder para fazer um melhor uso do glossrio do livro ou mesmo de qualquer outro dicionrio, ficando a cargo do professor entender as informaes contidas na microestrutura. O manual ainda d sugestes e ressalta a importncia de se trabalhar com textos e as imagens contidas no corpo da obra.

    Sobre o glossrio, podemos fazer algumas consideraes. Primeiramente, observamos que, apesar do manual incentivar o uso das diversas imagens contidas no corpo da obra, o glossrio possui poucos recursos visuais. Apenas 04 dos 49 termos so ilustrados, dos quais trs fazem parte de nossa amostra. Todas as ilustraes so legendadas e coloridas a exemplo do verbete vrus:

    Vrus. Organismos ultramicroscpicos (visveis apenas ao microscpio eletrnico) que atuam como parasitas intracelulares obrigatrios; no tm organizao celular.

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    Notemos que a legenda, que deveria ajudar a relacionar a imagem definio e ao verbete como um todo, possui termos que no so contemplados no glossrio: bacterifago, microscpio eletrnico e a medida de m (l-se micrmetro). Tal fato diminui a funcionalidade da legenda.

    A microestrutura simples, com a entrada destacada em negrito e separada por um ponto. H tambm um pequeno recuo que ressalta a entrada. Quando os autores querem dar um destaque para alguma palavra, seja por sua etimologia ou origem, usam a fonte em itlico. Vejamos:

    As definies possuem um carter enciclopdico inclusive com notas no destacadas, apenas separadas por ponto. Um outro exemplo:

    Podemos ressaltar, ainda, que a maioria dos termos so substantivos, havendo poucos adjetivos e alguns sintagmas como doenas cardiovasculares; ademais, no h uma medioestrutura bem definida, isto , no h remissivas explicitadas e, por vezes, as palavras que introduzem a definio terminolgica, os descritores, no so contemplados na nomenclatura do glossrio. Note que, no

    Figura 44: verbete ilustrado vrus (BARROS; PAULINO, 2006)

    Figura 46: verbete Bactria (idem)

    Bactria. Do grego bakteria, que significa bastonete. Grupo de microorganismos unicelurares e procariontes, a maioria hetertrofa. O termo bactria foi criado pelo pesquisador alemo Christian G. Ehrenberg (1795-1876)

    Figura 45: verbete Aids (BARROS; PAULINO, 2006)

    Aids. Nome comum dado sndrome de imunodeficincia adquirida, causada pelo vrus HIV, que destri certos tipos de glbulos brancos, diminuindo a capacidade de defesa do organismo da pessoa que o contraiu.

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    verbete Aids, h uma remissiva implcita1 a glbulo branco; este por sua vez sinnimo de leuccito. A entrada contemplada, porm, no ser glbulo branco, mas leuccito:

    A despeito disso, termos como sistema imunognico no fazem parte da nomenclatura. Por outro lado, para o termo infarto, e suas variantes enfarto e enfarte feita uma sentena:

    Por fim, destacamos o recurso dos parnteses utilizados pelos autores para fornecer uma explicao dentro da prpria definio. Temos, por exemplo, a definio de vrus:

    Notemos que os parnteses so utilizados para explicar o que vem a ser ultramicroscpicos.

    1 As remissivas explcitas so aquelas que so marcadas de alguma forma em sua microestrutura

    seja por um ver, vide, cf etc ou uma marca tipogrfica. J as remissivas implcitas so palavras que esto no verbete, mas que necessrio o leitor consultar sua definio para elucidar o verbete. No exemplo posto, conhecer o verbete glbulo branco tornaria mais clara a definio de aids.

    Figura 49: verbete Vrus (idem)

    Vrus. Organismos ultramicroscpicos (visveis apenas ao microscpio eletrnico) que atuam como parasitas intracelulares obrigatrios; no tm organizao celular.

    Figura 48: verbete Infarto (idem)

    Infarto. Danificao de um tecido devido a insuficincia da circulao na artria que o irriga. Tambm pode ser chamado de enfarto ou enfarte

    Figura 47: verbete Leuccito (idem)

    Leuccito. Glbulo branco; clula do sangue que integra o sistema imugnico, participando da defesa do organismo contra agentes invasores.

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    03. MINIAURLIO SCULO XXI ESCOLAR (Ferreira, 2001)

    O dicionrio em questo a 2 edio do Miniaurlio sculo XXI Escolar que, conforme as informaes presentes na obra, corresponde a 5 edio do Minidicionrio Aurlio. O Miniaurlio (Ferreira, 2001) no apresenta a data da sua 1 edio, contudo o prefcio apresentado para a 3 edio, de 1993, afirma que a 2 edio a precede em 5 anos.

    A nomenclatura composta por cerca de 32 mil verbetes, dispostos semasiolgicamente, de modo que, dos 49 termos apresentados inicialmente no glossrio do livro didtico, o dicionrio supra possui 38 termos2. Em suas pginas iniciais possui introduo, prefcios, notas, lista de abreviaturas, um resumo gramatical e, em suas pginas finais, uma lista de elementos mrficos (prefixos e sufixos) e uma minienciclopdia. Ainda em suas pginas iniciais, h instrues de como utilizar melhor o dicionrio atravs de algumas informaes sobre sua microestrutura.

    Sobre sua microestrutura, de fato, ela bem mais complexa que o glossrio do livro didtico. Observemos um exemplo inicial:

    Vemos no exemplo AIDS a entrada destacada em negrito vermelho, com uma fonte diferenciada. Da mesma forma que no glossrio do livro didtico,

    2 Ressaltamos que a descrio feita partir, principalmente, da microestrutura contemplada para os

    termos selecionados. No nos cabe aqui o intuito de analisar exaustivamente a microestrutura de toda a nomenclatura. Para tanto recomendamos Pontes (2009) e Carvalho;Marinho (2007) vide referncias bibliogrficas.

    Figura 50: verbete AIDS (Ferreira, 2001)

    AIDS [Sigla do ingl.= Sndrome de deficincia imunolgica adquirida.] Med. Virose contagiosa, causada por HIV, e que, levando a sria deficincia imunolgica, propicia o desenvolvimento de graves infeces. Transmite-se por transfuso de sangue, pelo uso de seringa contaminada, e mediante relao sexual, sem proteo, com parceiro infectado; sida.

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    h um recuo que ressalta o destaque dado entrada. Esta precedida por este

    smbolo: , tambm em vermelho, que indica ser a entrada uma sigla. A marca

    de uso tecnoletal abreviada e est em negrito. valido afirmar que nem todos os termos da amostra possuem a marca tecnoletal, fertilidade e glndula so dois exemplos disso. Por seu turno, evoluo possui duas marcas iguais Biol remetendo ao mesmo universo da Biologia e vrus possui marca para Biologia e outra para Informtica.

    Outro detalhe a ser destacado a existncia de chaves e parnteses. Quando esses recursos so usados antes da definio, como no caso de AIDS, as chaves caracterizam uma informao etimolgica, j ao final, teremos o plural, antonmia, remissivas ou, mais excepcionalmente, uma informao enciclopdica destacada. Observemos o verbete gene:

    No caso dos parnteses, sua funo tambm a de fornecer detalhes sobre a entrada, contudo tais detalhes surgem no prprio corpo da definio e no so to aprofundados ou extensos como no exemplo de gene. Vejamos:

    Figura 52: verbete hemcia (idem)

    he.m.ci:a sf. Histol. Cada uma das clulas vermelhas (ricas em hemoglobina) que no sangue, tm como funo o transporte dos gases, envolvidos no processo respiratrio (oxignio, gs carbnico); hemcia, glbulo vermelho

    Figura 51: verbete gene (idem)

    ge.ne sm. Gent. Cada uma das unidades de natureza bioqumica presentes nos cromossomos, e que tm a funo de controlar a transmisso de caractersticas hereditrias nos seres vivos. [Cada gene uma seqncia de bases qumicas como localizao bem determinada no interior de uma molcula de ADN, e atua na formao de alguma protena especfica do organismo ou no controle das funes de outras unidades genticas.] gnico adj.

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    Notemos que o primeiro parnteses, ricas em hemogloblina busca esclarecer ao consulente a razo pela qual as hemcias so chamadas clulas vermelhas, isto , so vermelhas porque so ricas em hemoglobina. Mesmo que o leitor no faa essa relao logo de incio, a remissiva implcita para hemoglobina poderia esclarecer, todavia, o verbete hemoglobina ver figura 53 no faz aluso a sua caracterstica de cor avermelhada:

    Os termos parasita e infarte merecem um destaque. No primeiro caso, a entrada parasita apenas remete para sua variante parasito que, por sua vez, definida, porm no faz remisso alguma a parasita. J infarte que possui as variaes enfarte e enfarto, o dicionrio no contempla essa ltima. A entrada enfarte no definida, mas remete a infarto que alm de ser definida, possui a remissiva para enfarte. Por fim, apesar dos recursos visuais empregados, ressaltamos a ausncia de imagens e ilustraes em todo corpo da obra.

    04. MINIDICIONRIO ENCICLOPDICO ESCOLAR (Rocha, 2001)

    O dicionrio estudado a 5 impresso da 10 edio, data de 2001. Suas pginas iniciais pouco informam sobre o dicionrio. Ele se prope ser um dicionrio enciclopdico, mas no h um pblico definido. Sua proposta, ao que parece, atender s necessidades tanto do pblico escolar quanto do pblico em geral. Mesmo quando, em carta, o ento ministro da Educao menciona o pblico de 1 a 4 srie do ensino fundamental, ele acrescenta adiante este dicionrio (...) ir acompanh-lo ao longo de sua vida escolar. Ademais, possui uma minienciclopdia em suas pginas finais. Uma lacuna existente a falta de instrues de como est disposta a sua microestrutura, apenas h uma lista de abreviaturas utilizadas.

    Figura 53: verbete hemoglobina (idem)

    he.mo.glo.bi.na sf. Fisiol. Pigmento existente na hemcia, e que transporta oxignio.

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    Um aspecto interessante, que poderia ser tido como uma vantagem em relao s obras anteriormente descritas: o uso de ilustraes. Entretanto algumas ressalvas so importantes de serem feitas: a capa do dicionrio anuncia que ele amplamente ilustrado, j a contra-capa do dicionrio a nica parte que faz meno quantidade de verbetes e ilustraes, contudo nada preciso, diz-se apenas que so mais de 28 mil verbetes, concisos e ilustrados. Na verdade, no so todos os verbetes que so ilustrados e a autora no explicita os critrios de escolhas de quais verbetes so ilustrados. Ainda sobre as ilustraes, podemos afirmar que elas so desenhos feitos mo livre sem cores e com o tamanho muito reduzido chegando a comprometer a visualizao em alguns casos, alm disso, algumas ilustraes contam com legendas.

    Agora, algumas consideraes sobre os termos de nosso trabalho. 30 dos 49 termos presentes no livro didtico constam na nomenclatura do dicionrio. J dos 17 selecionados apenas o verbete bactria ilustrado. Observemos:

    Notemos que, apesar da ilustrao, os recursos visuais empregados na microestrutura so poucos. O termo, tanto na entrada quanto na nota, destacado pelo negrito, a informao gramatical est em itlico, mas, no h como separar visualmente a nota enciclopdica da definio. A ilustrao no exemplo possui uma legenda e sua relao com a definio s possvel devido legenda,

    Figura 54: verbete bactria (Rocha, 2001)

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    porm, como j ressaltamos, seu tamanho reduzido dificulta a visualizao. Observemos, ainda, a ausncia de remissivas e de marcas de uso tecnoletais. Na verdade, a ausncia das marcas tecnoletais pode tornar confusa, para o aprendiz, sobre a realidade comunicativa do termo, principalmente no verbete h vrias acepes ou usos diferentes como o sentido figurado ou se o termo pertencer a mais de um campo de conhecimento.

    Dentro de contextos como evoluo, situar o termo em um universo de uso se mostra importante De igual modo, podemos falar sobre as lacunas causadas pela quase que total ausncia de remissiva. Essas ausncias dificultam o aluno entender como as diversas reas se relacionam entre si, bem como os termos em suas relaes de sinonmia, hiperonmia etc. H poucas remissivas contempladas nos verbetes:

    Porm, no h remisso, mesmo que implcita ao verbete infarto ou deste para os demais:

    Figura 55: verbete evoluo (idem)

    evoluo sf 1 Ato de evoluir. 2 Transformao, desenvolvimento no tempo. 3 Desfile de escola de samba. 4 Teoria biolgica que defende a transformao progressiva das espcies.

    Figura 57: verbete enfarto (idem)

    enfarto sm 1 Ato de enfartar. 2 Ingurgitamento. 3 Necrose circunscrita de um rgo, motivado por embolia em uma artria.

    Figura 56: verbete enfarte (idem) enfarte sm Enfarto

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    Notemos, inclusive que a terceira acepo de enfarto e a segunda de infarto, mesmo que parecidas, no so as mesmas. A mesma situao se repete com os verbetes parasita e parasito com a ressalva que uma das acepes so idnticas:

    Notemos as definies que, ou o que vive custa alheia do verbete parasita e Pessoa que vive custa alheia de parasito. Apenas as palavras introdutrias de ambas definies (o pronome relativo que e substantivo pessoa) tem natureza diferentes. No entanto, podemos afirmar que as acepes de parasito esto contempladas no verbete parasita.

    Por fim, parece-nos que Rocha (2001) tenta simplificar os verbetes para torn-los acessveis compreenso do aluno, e ainda ampliar o pblico alvo de sua obra para alm do ensino fundamental ao acrescentar as informaes de carter enciclopdico.

    Figura 60: verbete parasito (idem)

    parasito sm 1 Animal que se nutre do sangue de outro. 2 Vegetal que se nutre da seiva de outro. 3. Pessoa que vive custa alheia.

    Figura 59: verbete parasita (idem)

    parasita adj 2gen e sm 1 Que, ou o que nasce e cresce em outros corpos organizados, vivos ou mortos. 2 Que, ou o que vive custa alheia.

    Figura 58: verbete infarto (idem)

    infarto sm 1 Inchao de um rgo enfermo. 2 Suspenso do fluxo sangneo em alguma regio causada pela ocluso de uma artria.

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    05. DICIONRIO ENCICLOPDICO ILUSTRADO TRILNGE: LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (Capovilla; Raphael, 2008)

    Este dicionrio enciclopdico uma obra de grande destaque para a interdisciplinaridade entre a Lexicografia brasileira e a Educao de surdos. Ainda que, dos 49 termos do glossrio do livro didtico, apenas 3 esto contemplados em sua nomenclatura, cabe aqui nos determos a fazer consideraes sobre a obra em questo3. Mesmo porque ele tem sido distribudo pelo MEC na rede de ensino pblica e, no caso do ICES, o dicionrio em maior quantidade. A edio aqui referida a 3 reimpresso da 3 edio de 2008. A primeira edio data de 2001 e a primeira impresso da 3 edio, de 2006. A obra em formato grande e divida em dois volumes. No primeiro volume, temos as pginas iniciais e a nomenclatura de da letra A a L e o segundo volume, da letra M a Z seguida das pginas finais. So 9.500 verbetes, dispostos em ordem alfabtica de acordo com a entrada em LP, todos contendo ilustraes feitas mo livre, isto , so desenhos feitos com traos simples. mister ressaltar que seu carter enciclopdico se d principalmente pelas informaes contidas em suas pginas iniciais e finais. De fato, ele traz diversos artigos sobre a temtica da Surdez sob forma de captulos. Temos assuntos como a escrita de sinais, signwriting, e sua importncia para a educao; o implante coclear etc. Em suas pginas iniciais existe um captulo inteiro explicando a disposio das informaes no verbete, o que elucida o usurio em como utilizar melhor a obra.

    Uma caracterstica da obra que nos chamou ateno foram os captulos em que os verbetes so listados de acordo com categorias semnticas presentes no segundo volume: ndice semntico dos sinais da LIBRAS seguido do captulo Contedo semntico dos sinais da LIBRAS. Temos por exemplo a sexta categoria, medicina e sade, divida em 12 subcategorias. A exemplo temos a subcategoria medicamentos com treze itens (band-Aid; colrio; conta-gotas;

    3 claro que, como j falamos anteriormente, nosso intuito no fazer uma descrio exaustiva

    seguida de anlise extensa, mas apenas fazer as observaes relevantes para nosso trabalho. Para uma leitura mais detalhada do dicionrio supra, recomendamos Carvalho; Marinho (2007) e ainda Faulstich (2006) na Bibliografia.

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    injeo; injetvel; medicamento etc). Nessa listagem, no h a localizao da pgina do verbete dentro do corpo do dicionrio e um mesmo verbete pode estar presente em categoria ou subcategoria diferentes. A exemplo temos o verbete AIDS presente nas subcategorias campanhas preventivas, doenas, sintomas e problemas de sade e sexualidade.

    Alm das entradas em LP, constitudas tantos por palavras quanto por expresses coloquiais, h a equivalncia tanto em ingls quanto e, principalmente, em LIBRAS. Porm, apesar das entradas estarem em LP e em sua ordem alfabtica, o foco do dicionrio a LIBRAS. Explicando melhor: quando temos uma palavra como cheio4,que o dicionrio apresenta trs sinais diferentes, ento teremos trs entradas diferentes: cheio (1), cheio (2) e cheio (3) e no uma nica entrada com trs acepes. Cada sinal apresenta um significado diferente como possvel observar na figura 61. Assim teremos as seguintes acepes:

    1. O verbete cheio (1) refere-se a recipientes cheios; 2. O verbete cheio (2) relaciona-se a ambientes lotados; 3. O verbete cheio (3) est ligado pessoas cheias,fartas.

    Assim, para cada acepo teremos um sinal diferente e, portanto, um verbete diferente. Ainda aproveitando a mesma figura, temos os outros verbetes em seqncia. Notemos a remissiva existente no verbete cheio (2). O sinal dessa palavra semelhante ao sinal do verbete apertado, mas com as bochechas cheias: ou seja, a remisso em LIBRAS disposta ao final da microestrutura, junto descrio do sinal.

    4 Por conta de haver apenas trs verbetes de nossa amostra contemplados em Capovilla; Raphael

    (2008), utilizamos aqui alguns exemplos fora de nossa nomenclatura.

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    Diferente do exemplo de cheio, temos a situao do verbete representar (figura 62), cuja acepo a mesma para ambos, representar (1) e representar (2). O que ir mudar ser o equivalente em LIBRAS. Mas no caso de

    Figura 61: verbete cheio (1), cheio (2) e cheio (3) (Capovilla; Raphael, 2008)

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    cheio, cada verbete possui uma acepo diferente e, conseqentemente, um sinal diferente.

    So caractersticas como essas que fazem com que Carvalho; Marinho (2007) classifiquem essa obra como semi-bilnge. De acordo com as autoras, esses dicionrios se caracterizam como uma fuso de dos dicionrios mono e bilnge: entrada e definio na lngua alvo e a equivalncia na lngua de partida. Vejamos agora um outro exemplo para podermos descrever melhor a microestrutura:

    Figura 62: verbete representar (1) e representar (2) (idem)

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    Como possvel notar nos exemplos j apresentados, os paradigmas de informaes basicamente o mesmo para todos os verbetes, o que facilita o manuseio pelo aprendiz. No exemplo da figura 63, observamos que, apesar de ser um dicionrio ilustrado, h uma ausncia de cores em sua composio visual. Alm dos recursos tipogrficos (negrito e itlico) os nicos elementos visuais utilizados so: a ilustrao pictrica do significado do sinal feito mo livre (tal qual o dicionrio de Rocha,2001); e a ilustrao de como o sinal produzido (da composio quirmica), tambm feito mo livre. Vale salientar que a ilustrao feita da composio do sinal, no geral, so vrios desenhos em seqncia. Apesar do destaque dado composio do sinal por sua posio central, a posio do desenho de um vrus esquerda, segundo os autores, objetiva favorecer o reconhecimento visual direto do significado (Capovilla; Raphael, 2008). direita, temos a escrita de sinais no sistema signwritting feita do ponto de vista do sinalizador, contrrio ao desenho da composio quirmica. Note que h uma linha imaginria em que se separa o texto verbal (entrada, definio etc) sob o texto visual (desenho, composio do sinal e a escrita de sinais). No obstante, a ausncia de frames que possam destacar ou separar um verbete de outro pode vir a ser tornar um problema. Voltando as figura 61 verbetes cheio (1), cheio (2), cheio (3) o usurio pode, em um primeiro momento, confundir as ilustraes

    Figura 63: verbete vrus (idem)

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    atribuindo a ilustrao de cheio (2) ao verbete cheio (1). Claro que, o leitor competente de dicionrios sabe que preciso ler todo o verbete para se conhecer sua microestrutura e eliminar quaisquer ambigidades que possam vir a existir. Contudo, poucos so os leitores que desenvolvem tal competncia sem a devida orientao docente e, dentre os usurios de dicionrios surdos, a dificuldade de leitura em LP pode se tornar um fator limitador no desenvolvimento das habilidades necessrias para a leitura de um dicionrio.

    Notemos agora as informaes verbais dispostas no verbete:

    O uso indistinto do itlico dificulta a identificao por parte do leitor das acepes e destas com a informao enciclopdica. O exemplo apenas destacado por sua abreviao Ex. Por outro lado, esse uso acaba por destacar duas informaes: a entrada, que, alm de no estar em itlico, est em negrito; e a descrio da produo do sinal nesse caso, o uso do negrito aqui observado serve para destacar elementos especficos dessa produo, isto , a remissiva para o verbete doena e a soletrao manual para V-I-R-U-S. Vale ressaltar que muitos dos itens lexicais utilizados na definio, como por exemplo, agente, infeco, clula etc no esto contemplados na nomenclatura do dicionrio. Provavelmente por no haver sinais equivalentes em LIBRAS.

    Figura 64: Informaes verbais contidas no verbete vrus (idem)

    Vrus (ingls: virus): s. m. sing. e pl. Agente causador de doenas infecciosas em pessoas, animais e plantas. Qualquer um de um grande grupo de agentes infecciosos ultramicroscpicos ou submicroscpicos que causam vrias doenas como, por exemplo, a varola e a AIDS. So capazes de multiplicar-se quando em conexo com clulas vivas, e alguns so considerados organismos vivos, enquanto outros so molculas complexas autocatalticas de protena que contm cidos nuclicos comparveis a genes. Ex.: Suspeita-se de que a doena dele seja causada por um vrus desconhecido. Fazer o sinal de doena e ento, soletrar V, I, R, U, S.

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    No verbete parasita (1), figura 65, temos na entrada a sigla CL colocada entre parnteses indicando um classificador para vermes como um tipo de parasita:

    De fato muito mais usual para a comunidade surda o uso do conceito de vermes como parasita que parasitas em geral. Isso explicitado no verbete quando se v, entre parnteses, usual: verme; sugesto: parasita. Tudo isso os autores explicam nas pginas iniciais do dicionrio. O mesmo ocorre com o verbete parasita (2) que se diferencia de parasita (1) pelo classificador:

    Nesse caso, parasita (2) se refere a uma infestao de vermes, o que poderia, talvez, se relacionar com a doena. Note que os exemplos explicitam diferenas entre os dois verbetes:

    Figura 66: verbete parasita (2) (idem)

    Figura 65: verbete parasita (1) (idem)

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    1. Parasita (1): O mdico receitou um remdio anti-helmtico para combater os parasitas intestinais.

    2. Parasita (2): O exame de fezes da criana identificou muitos parasitas intestinais.

    Como podemos perceber, de fato parasita (1) e parasita (2), mesmo sendo termos relacionados, cada qual expressa uma especificidade prpria. Vale notar ainda que a definio restringe-se apenas a esse tipo de parasita, diferente dos exemplos dispostos em Rocha (2001) figuras 59 e 60 que apresentam definies mais gerais. Um outro ponto a remissiva aos verbetes verme (1) e verme (2). Usemos esses exemplos para relacionar as ilustraes e o texto verbal:

    A descrio da composio quirmica, segundo os autores, feita para retirar qualquer ambigidade que possa haver para o leitor ao visualizar a ilustrao. Ou seja, ela no foi escrita de modo que, apenas pela sua leitura o usurio possa reproduzir o sinal, tanto que, se no houvesse a ilustrao, o leitor no recuperaria facialmente a configurao de mo, mo direita em 1,ele teria que ir ao comeo do volume um buscar esta informao. Desse modo, vemos que h uma ntima relao de complementaridade entre esses elementos.

    Figura 67: verbete verme (1) (idem)

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    Vejamos o verbete parasita (2) para descrevermos a coerncia intersemitica entre a ilustrao e a definio:

    Note que tanto o verbete verme (1) quanto verme (2) possuem a mesma ilustrao, mesmo sendo o sinal e a definio sendo diferentes. O segundo, como j elucidamos, trata de uma infestao, porm a ilustrao apresenta apenas um verme, tal qual verme (1). Outro detalhe que comum em vrias imagens o uso da seta para destacar o elemento foco do verbete (veja o mesmo recurso sendo usado em cheio (1), figura 61). A ilustrao das figuras 67 e 68 um recorte de um corpo humano, mais especificamente do abdmen em que se apresentam, em seu interior, o intestino com o parasita/ verme. Desenhos feitos mo livre, apesar de no se configurarem como um retrato fiel da realidade, permitem esse tipo de manipulao. Por fim, h o uso de legendas e outros recursos verbais dentro da ilustrao, o caso da diferena da ilustrao existente no verbete vrus, figura 63, e o verbete AIDS, figura 69. Ambos usam a mesma imagem, que se diferencia apenas pela sigla HIV, do segundo, por ser a denominao do vrus da AIDS:

    Figura 68: verbete verme (2) (idem)

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    06. ASPECTOS COMPARATIVOS ENTRE O MATERIAL DIDTICO

    A descrio apresentada, visava introduzir uma breve comparao entre as obras. Qual delas melhor se adequa ao pblico surdo? Que aspectos microestruturais podem ser aproveitados para um dicionrio ideal para tal pblico? Nosso primeiro impulso classificar a obra de Capovilla; Raphael (2008) como a melhor. De fato, como j deixamos claro, o dicionrio em questo um marco importante para a educao dos surdos, no entanto, existem algumas lacunas que podem ser preenchidas pelas demais obras. Mas antes, importante levar em considerao as diferenas existentes entre elas. Barros; Paulino (2006), no uma obra dicionarstica, mas sim um livro didtico que contm um glossrio ao final de suas pginas, de modo que exigir dele um tratamento lexicogrfico e terminolgico nos parece sem grande sentido. Por outro lado, obviamente, a atitude dos autores em fazer do uso de um glossrio como recurso didtico mostra a importncia de sedimentar os conceitos durante a aprendizagem escolar do tema. J Ferreira (2001) e Rocha (2001) so obras lexicogrficas para uso de aprendizes de fato, mas aprendizes de lngua materna. Com exceo de Capovilla; Raphael (2008), nenhum dos materiais didticos so feitos tendo os alunos surdos como pblico-alvo. Ademais, apesar de contemplarem grande parte dos 49 termos do livro didtico e os 17 da amostra, Ferreira (2001) e Rocha (2001)

    Figura 69: Verbete AIDS. (CAPOVILLA; RAPHAEL, 2008)

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    so dicionrios escolares de lngua geral e no de termos. De igual modo, Capovilla; Raphael (2008) no um dicionrio especializado. Pelo contrrio, este um dicionrio semi-bilnge que tenta abranger trs diferentes lnguas tanto para falantes nativos quanto para no nativos; e a ausncia de grande parte dos termos existentes no glossrio do livro didtico se configura como um problema para o usurio, seja o aluno surdo aprendiz de portugus ou ingls, seja o professor da disciplina que esteja aprendendo LIBRAS. difcil afirmar categoricamente o motivo por que isso ocorre, talvez por uma ausncia de sinais para os termos ou uma ausncia de corpora lexicais catalogados sistematicamente para fins de produo de dicionrio. Falaremos mais sobre esse assunto quando tratarmos do material em LIBRAS coletado. Outro ponto no dicionrio Capovilla; Raphael (2008), que tocamos anteriormente, so os aspectos visuais. J mencionamos no captulo terico a importncia dos recursos visuais na aprendizagem do aluno surdo, e a obra em questo apresenta todos os verbetes ilustrados, diferentemente dos demais. Ferreira (2001) no contm ilustraes, Rocha (2001) possui ilustraes detalhadas mas so poucas e sem cores e o glossrio de Barros; Paulino (2006), apesar de as ilustraes serem fotografias coloridas prximas a realidade do objeto, elas so em menor quantidade ainda. mister no ignorar o mrito de Ferreira (2001) ao usar duas cores diferentes em sua microestrutura (vide figuras 50 a 53). Capovilla; Raphael (2008), por sua vez no faz uso de cores e suas ilustraes so traos bem simples que no se aproximam da realidade do objeto como as poucas ilustraes de Barros; Paulino (2006) vejamos:

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    De fato, uma imagem colorida, contextualizada, aproxima o leitor da realidade do objeto, como a figura 70, e isso, para um aluno que aprende essencialmente por meio de recursos visuais faz uma grande diferena.

    Figura 72: imagem para o verbete vrus em Capovilla; Raphael (2008)

    Figura 71: imagem para o verbete bactria em Rocha (2001)

    Figura 70: imagem para o verbete vrus em Barros; Paulino (2006)

  • 137

    Assim, encerramos essa seo reafirmando a necessidade da produo de materiais adequados para aluno surdo. Mesmo o dicionrio Capovilla; Raphael (2008) deixa algumas lacunas. Na verdade, em todos os materiais aqui descritos, existem aspectos complementares que foram levados em considerao durante a elaborao de nossa proposta microestrutural.

    07. AS ENTREVISTAS REALIZADAS PARA A COLETA DO CORPUS E OS SUJEITOS

    A partir da coleta realizada com os sujeitos obtivemos um total de 69 diferentes sinais para os 17 itens lexicais de nossa amostra. Apresentaremos neste trecho algumas observaes sobre a coleta realizada com cada um dos sujeitos5. Salientamos que no inclumos a datilologia, soletrao manual, na contagem dos sinais, apesar de haver algumas soletraes rtmicas e isso poderia gerar alguns sinais futuramente. Mas no as inclumos por este ser um recurso usando exatamente quando inexiste o sinal.

    O incio de nossa coleta foi difcil. O primeiro sujeito (S1) surdo e atua na rea de cincias. Questionamo-nos sobre a melhor forma de fazer essa coleta se atravs da datilologia, explicando o conceito, mostrando a palavra em portugus ou apresentando uma imagem. Optei pelas duas primeiras que se mostraram pouco satisfatrias6. Pois, por vrias vezes, S1 no entendia o que estava sendo pedido e acabava por explicar algo sobre o tema como foi o caso de AIDS, ao invs de apresentar o sinal, ele comeou a explicar como se pega a

    5 Por razes ticas codificamos a identidade das pessoas envolvidas na coleta do corpus. Os

    sujeitos esto enumerados de S1 a S9 seguindo a ordem cronolgica de coleta. No entanto, por vezes nesta descrio iremos fugir da ordem cronolgica para tornar a descrio mais didtica e podermos fazer melhor uma comparao. 6 Ressaltamos a ajuda que tivemos de intrpretes para intermediar a comunicao com os sujeitos

    surdos. Tambm importante frisar a preocupao deste pesquisador no que se refere autenticidade dos dados, uma vez que a comunicao feita com indivduos surdos intermediada por intrpretes passa pela interferncia destes em maior ou em menor grau. Por outro lado, por mais que a fluncia em LIBRAS seja um fator importante para realizar pesquisas sobre Surdez, a produo cientfica no pode deixar de acontecer por conta dessa falta de fluncia, haja vista a necessidade emergente de desenvolver o campo de estudos.

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    doena etc. Alguns conceitos perguntados no ficavam claros por mais que o intrprete explicasse e, sempre que pedamos que ele repetisse o sinal, S1 acrescentava novas informaes, o que dificultava ainda mais nossa coleta. Ao final obtivemos apenas 7 dos 17 termos, os demais, mesmo que S1 soubesse o conceito, desconhecia a existncia de um sinal e/ ou usava datilologia.

    J com nosso segundo sujeito surdo, S7, foi bem diferente. Sendo a stima entrevista realizada, j tnhamos uma maior maturidade com a metodologia e o intrprete que nos ajudou, tinha atuao na rea. Ademais, S7 tem experincia com pesquisas acadmicas e estuda na rea de Sade. Durante a entrevista, o intrprete fazia a soletrao manual e S7 apresentava o(s) sinal(is) e sempre deixando claro que, quando h mais de um sinal, ser o contexto que ir decidir qual o sinal mais adequado. Quando um conceito no ficava claro, S7 questionava, como no caso de EVOLUO, que o sujeito perguntou se o termo estaria ligado com a histria do homem e do macaco. Dos 17 termos, houve 11 com sinais e alguns, com mais de um sinal como no caso de vrus com quatro sinais diferentes.

    A segunda entrevista realizada foi feita com um intrprete de LIBRAS que atua tambm como professor da rea, o sujeito dois (S2). Esta foi uma entrevista bastante produtiva com maior quantidade de termos, coletamos 9 dos 17, havendo alguns itens com variantes (totalizando 12 sinais). O que nos chamou a ateno de S2 foi que, mesmo para os termos sem equivalentes em LIBRAS, S2 propunha sugestes como no caso da palavra fssil, cujo sinal seria OSSO^PEDRA, isto um composto de osso e pedra. De igual perfil, temos o terceiro sujeito, S3, intrprete e professor da rea. Apesar disso, muitos dos sinais de S3 diferem dos sinais de S2. Dessa terceira entrevista, obtivemos 6 termos e 7 sinais. S3, assim como a maioria dos intrpretes, explicou que, nas situaes em que no existe sinal para um termo, usa-se inicialmente a soletrao manual seguida da explicao.

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    Em seguida, tivemos os sujeitos quatro (S4), cinco (S5) e nove (S9) que atuam principalmente como intrpretes do Ensino Fundamental. Desses, S9 e S4 no possuem formao superior e S5 formado em outra rea de ensino. Vale ressaltar que S4 est se formando em Cincias. A entrevista com S4 foi produtiva por possuir o conhecimento da rea e tambm ter tido uma experincia como intrprete em um curso superior de Cincias Biolgicas, tivemos 10 termos e 11 sinais. Chamou-nos a ateno a nfase dada por S4 importncia de se ter intrpretes com formao especializada o que, de fato verdade. Durante a coleta, S4 salientou tambm a importncia do contexto, j que os alunos esto aprendendo estes novos termos e, ainda, por existirem sinais iguais para conceitos diferentes como no caso dos termos bactria e parasita que possuem o mesmo sinal para esse intrprete. Outrossim, S9 tambm ressaltou este mesmo ponto em sua entrevista. De acordo com esse intrprete muitos alunos no compreendem a palavra em portugus e a datilologia por si s pouco ajuda, mas a contextualizao do sinal que ajudar a sedimentar o conhecimento. Ademais, S9 fez interessantes observaes sobre alguns sinais e seus classificadores como, por exemplo, o sinal para a palavra antibitico. Ele utiliza o mesmo que REMDIO e este, por sua vez, possui um classificador para caso seja plula ou remdio lquido. S9 forneceu-nos 9 termos e 15 sinais. Infelizmente, sobre S5 pouco pode ser dito, seu tempo no nos permitiu conversamos muito. Possui formao em Pedagogia e est planejando fazer um curso de Especializao. De sua entrevista, conseguimos 6 termos sem nenhuma variao.

    Tambm o tempo foi reduzido para conversarmos com S8. Durante a coleta, este intrprete tentou elucidar-nos sobre a composio de alguns sinais. Coletamos 8 termos e 8 sinais, havendo dois sinais para evoluo e um mesmo sinal para hemcia e leuccito. Vale ressaltar que S8 bastante ativo na comunidade surda, fazendo parte de cargos de algumas associaes, e tambm possui parentes surdos. Ademais, alm de fazer curso superior em rea ligada Sade, intrprete de um curso superior da mesma rea. De igual modo h S6, estudante e intrprete da rea de Sade e ligado a uma associao. Durante sua

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    coleta, ele se mostrou conhecedor da estrutura da LIBRAS elucidando-nos sobre o sinais usados, seus classificadores e a composio de alguns sinais, como no caso de enzima. Obtivemos 14 sinais diferentes e contemplamos 14 termos, havendo dois sinais diferentes para evoluo (de acordo com o contexto), dois diferentes para plasma sangneo e dois diferentes para hemcia. Por outro lado, os termos hemcia, hemoglobina e leuccito possuem os mesmos sinais.

    Ao final da coleta, percebemos a grande variedade de sinais coletados e, paradoxalmente, a lacuna existente de alguns termos. Ou seja, h uma pequena quantidade de equivalentes em LIBRAS para os termos selecionados. O prprio fato do dicionrio de Capovilla; Raphael (2008) apresentarem apenas trs dos 49 termos, como j elucidamos, uma prova disso. Como conseqncia, os usurios da lngua de sinais, em especial os intrpretes, se vem diante da necessidade de criar um sinal que veicule o conceito. A ausncia de uma sistematizao, registro e divulgao desses sinais emergentes faz com que, em uma mesma instituio, o intrprete de um turno use um ou dois sinais, alm da datilologia, e o intrprete da mesma, mas de outro turno use outros sinais. Notamos que, mesmo em ambientes de Ensino Superior, onde se supe que os alunos surdos possuem tais conceitos e sinais bem elucidados haja vista a nomenclatura ter sido retirada de um livro didtico do ensino fundamental h uma carncia de sinais para os referidos termos. De fato, acreditamos que isso ocorra por apenas no presente contexto, a comunidade teve sua lngua reconhecida e estudada, bem como os alunos surdos tm tido mais oportunidade de educao.7 Por fim uma dificuldade que tivemos nesse passo foi a diferenciao do que sinal simples, sinal composto, fraseologia em LIBRAS e explicao do conceito. Vrios foram os momentos em que tivemos que questionar junto aos prprios sujeitos se o que estava sendo realizado era um

    7 Cursos ligados rea de Informtica e Pedagogia, por exemplo, a ausncia de sinais

    especializados menor pois essas reas concentram a mais tempo alunos surdos.

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    sinal ou a descrio do conceito do termo e alguns sujeitos demonstraram dvidas em deixar claro esse ponto.

    08. A VALIDAO DAS DEFINIES, SELEO DOS SINAIS E APRESENTAO AOS ALUNOS

    A consulta ao validador, um dos professores do ICES, teve como meta avaliar a metalinguagem utilizada, principalmente a definio uma vez que o professor que est inserido na realidade escolar do ICES. Foi nesse momento que fizemos algumas reformulaes dos termos. Observando alguns sinais e sua proximidade com alguns especificadores, modificamos a nomenclatura para deixar mais claro para o aluno, a saber:

    1. Embrio passou para embrio humano 2. Evoluo passou para evoluo humana 3. Fertilidade passou para fertilidade humana 4. Infarto passou para infarto do corao 5. Plasma passou para plasma sangneo

    Tal deciso facilitou, em vrios, aspectos tanto a pesquisa como a seleo da imagem e do sinal.

    No que se refere seleo dos sinais, devido quantidade de sinais coletados, optamos por apenas um para cada termo, muito mais por questes prticas que por razes normativas j que o foco central de nosso trabalho a microestrutura. Buscamos selecionar sinais tidos como mais simples: com poucas configuraes de mo, pouco movimentos, ou mesmo sinais que no pudessem ser confundidos uns com os outros. Tivemos dois encontros com representantes de associaes ligadas comunidade surda. O primeiro encontro foi problemtico por conta da viso normativa dos representantes. De fato, como j explanamos, h uma necessidade de sistematizao dos sinais da LIBRAS em maior ou menor

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    grau, objetivando a facilidade comunicativa. Nosso sujeito 8 (S8) narrou, em sua entrevista, um fato vivenciado. Estava em uma palestra importante e havia um sinal de um conceito chave que no havia compreendido porque o sinal que utilizava para o mesmo conceito era outro diferente. Tais fatores no podem ser ignorados durante uma produo lexicogrfica8. Dessarte, foram necessrios dois encontros para esclarecer os consultores a necessidade da seleo e que tal seleo no inviabilizava as demais variantes. Uma sugesto dada pelos consultores foi a separao dos verbetes por campo semntico, por, segundo eles, facilitar a consulta para o aluno. Contudo a experincia lexicogrfica nos levou a manter a ordem alfabtica dos termos. Outra sugesto foi o uso de duas imagens em alguns verbetes para elucidar ainda mais o significado.

    Por fim, apresentamos os verbetes prontos aos alunos do ICES. Mostramos para duas turmas, o 8 e o 9 ano. Em ambos os momentos, contamos com a presena do professor da turma e o intrprete da escola. No primeiro caso, os problemas metodolgicos foram grandes. A turma tinha dificuldade com LIBRAS e, mais ainda, com a leitura em lngua portuguesa (LP). Aps apresentar um exemplo dos verbetes do livro didtico (Barros;Paulino, 2006), de Ferreira (2001), Rocha (2001), Capovilla; Raphael (2008) e nossa proposta, entramos em um longo debate sobre tais verbetes. Ficou claro que a preferncia dos alunos pela nossa proposta se deu por conta da presena da LIBRAS e, principalmente, as cores, j que so os elementos mais salientados da microestrutura. A dificuldade que alunos tm na leitura em LP faz com que eles ignorem os elementos verbais (a exceo do termo-entrada) e tentassem adivinhar o significado das palavras. Tal fato ficou claro quando pedimos que eles escolhessem entre a microestrutura de Barros; Paulino (2006), Ferreira (2001) e Rocha (2001). Os alunos optaram, em sua maioria, por Rocha (2001) e alguns justificaram por ser o verbete com menos palavras em LP, isto , mais sinttico. Outro fato que nos chamou a ateno: por vezes, alguns afirmavam que viam o sinal, a entrada, mas no sabiam o significado. A imagem pouco ajudou por essa

    8 Esse ponto foi discutido no captulo terico ao citarmos Cabr (1998)

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    prtica de eles imaginarem sentidos fora do contexto do verbete.9 Acreditamos que, ainda que a imagem se relacionasse apenas com a entrada, a dificuldade no seria minimizada por serem palavras tcnicas. Um exemplo disso foi o verbete enzima:

    No exemplo da figura 73, os alunos confundiram o sinal ENZIMA com FRUTA, uma vez que h uma imagem de frutas no verbete. O aluno surdo sempre parte das pistas visuais para criar hipteses sobre o contedo do texto, no caso acima, a confuso foi causada devido dificuldade do aluno em relacionar a imagem das frutas e o sinal ENZIMA, para isso seria necessrio que ele lesse o

    9 Acompanhamos alguns momentos da pesquisa de mestrado: Uso dos gneros quadrinhos e

    tirinhas no ensino de leitura em portugus como segunda lngua de Patrcia Arajo Vieira, realizada no mbito deste mesmo curso. Durante esses momentos constamos a prtica de muitos alunos surdos em se apoiarem apenas nas imagens para interpretar os textos levando a algumas interpretaes equivocadas. At o presente momento, a referida pesquisa se encontra em fase de concluso.

    Figura 73: verbete enzima.

    enzima (Subst. Fem.)Protena que acelera as reaes qumicas A capacidade de acelerar reaes qumicas as tornam teis para as indstrias. Ex.: Certas enzimaspodem ser ativadas pelas vitaminas que ingerimos (VER: PROTENA; VITAMINAS)

    Ao das enzimas

    Vitaminas de frutas

    MD e ME fechadas com d1 ao lado de d2 e palmas para baixo. MD e ME se movimentam para frente abrindo dos dedos e tamborilando d2, d3 e d4.

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    todo contedo do verbete, principalmente as informaes em LP. Porm, alm desta imagem em questo se relacionar com o verbete como um todo, h ainda a legenda abaixo. A imagem esquemtica da ao das enzimas por si s no tornaria o verbete mais claro, j que uma ilustrao muito mais simblica. De fato, caberia, nesse momento, ajuda do professor para desenvolver as habilidades de leitura de dicionrio junto aos alunos.

    Com a turma do 9 ano, obtivemos resultados melhores. Tal fato se deve mudana da metodologia de apresentao, a turma ter melhor fluncia em LIBRAS e a presena de um professor surdo. A presena do professor surdo deu mais confiana aos alunos em participarem com suas opinies. Configurou-se ainda a dificuldade de leitura em LP pelos alunos, tanto que eles, inicialmente, preferiam verbetes com menos palavras em LP. Entretanto, aps a explicao da estrutura do verbete e as informaes neles dispostas, eles concordaram que um verbete com mais informaes torna-se til para a aprendizagem geral e tambm uma aprendizagem mais aprofundada alm, claro, de servir como ferramentas para ouvintes aprenderem LIBRAS. Dessarte, fortalecemos nossa concluso sobre as dificuldades sofridas pelos alunos da outra turma do 8 ano em localizar as informaes presentes no verbetes. O problema, na verdade, encontra-se na dificuldade de leitura em LP e, principalmente, a ausncia de habilidades para se usar um dicionrio.

    Por fim, defendemos que, em uma pesquisa cujo objetivo produzir o dicionrio em sua organizao plena, as instrues de uso tm funo primordial. Da mesma forma que quaisquer materiais para alunos surdos, o uso de recursos visuais fundamental na explicao de tais instrues. No obstante, sendo nosso foco a proposta de uma microestrutura do verbete, a verso final mostrou-se funcional para os objetivos lanados.

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    09. APRESENTAO E DESCRIO DOS VERBETES

    Segue agora uma apresentao dos verbetes com algumas observaes feitas10. mister ressaltarmos aqui que os verbetes encontram-se isolados, no entanto, sua microestrutura foi produzida idealizando um dicionrio completo. Alm de justificar as remissivas existentes, tal fato tem como conseqncia a existncia de um captulo introdutrio que instrua o consulente a localizar as informaes buscadas, que os elementos descritores, bem como as remissivas, estejam contempladas na microestrutura. Nas observaes feitas, exibimos a quantidade de variaes de sinais, algumas diferenas entre elas, e alguns comentrios feitos pelos consultores surdos. importante ressaltarmos, ainda, que todas as informaes dispostas em todos os verbetes convergem para um esclarecimento do conceito, seja a definio, a nota enciclopdica ou mesmo os exemplos de uso.

    10 Salientamos que as palavras grafadas em caixa alta se referem ao sinal em LIBRAS, enquanto

    que as palavras entre aspas se referem ao verbete. Quando a palavra no aparecer nem em caixa alta e nem entre aspas, estaremos nos referindo ao termo de modo geral.

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    Para o termo AIDS, tivemos dois sinais diferentes alm do uso bastante corrente da datilologia. Tal uso corrente se d pelo ritmo da composio: A-I-D-S. Esse mesmo fenmeno pode ser observado em N-U-N-C-A (Ferreira-Brito, 1995). A diferena entre os dois sinais a configurao da mo passiva: no outro sinal ela fica completamente fechada e com a palma para baixo. O sinal selecionado j de uso corrente em So Paulo, de acordo com os consultores surdos, e j se encontra dicionarizado por Capovilla; Raphael (2008). A imagem, como ocorre com vrios outros verbetes apresentada com uma legenda a fim de elucidar sua relao com o todo e, inclusive, diferencia do verbete vrus (figura 91). Mesmo nas marcaes gramaticais, achamos melhor apresentar tanto o gnero corrente nos contextos quanto o fato de, na verdade, o termo ser uma sigla.

    Figura 74: verbete aids.

    AIDS (SIGLA; Subst. Fem)Sndrome causada pelo vrus HIV que diminui capacidade de defesa do organismo da pessoa que o contraiu e leva ao aparecimento de doenas oportunistas, como a pneumonia e a tuberculose. adquirida por meio de transfuso de sangue, pelo uso de seringa contaminada, e mediante relao sexual, sem proteo, com parceiro infectado etc. Ex.: Os primeiro casos de AIDS apareceram em 1979, nos Estados Unidos. No Brasil, a doena foi registrada pela primeira vez em 1982. (VER: VRUS; SNDROME)Vrus da AIDS

    MD com a palma voltada para a esquerda e ME com a palma voltada para a direita. MD aberta com os dedos semi-flexionados se movendo em linha reta em direo palma da ME. ME aberta com os dedos separados em frente ao corpo. Expresso facial de doente.

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    Os sinais deste verbete, todas as trs variantes, tiveram como sinal-base REMDIO sendo, dois deles, o mesmo sinal, includo o sinal selecionado. Contudo, com intuito de diferenciar do sinal mais comum para a palavra remdio, optamos, junto com o consultor, pela variao que faz uso do classificador para remdios lquidos, ainda que a imagem no faa aluso ao medicamento sob forma lquida. Uma ltima observao: alguns intrpretes fazem um sinal composto REMDIO^BACTRIA para antibitico, no entanto, eles prprios afirmam no ser esse um sinal, mas a explicao do conceito.

    Figura 75: verbete antibitico.

    antibitico (Subst. Masc)Medicamento capaz de combater infeces provocadas por microrganismos, como bactrias e parasitas. No tem efeito sobre as viroses como, por exemplo, a gripe e o sarampo. Ex.: A penicilina foi o primeiro antibitico a ser usado com sucesso em pessoas em 1941 (VER: BACTRIA)

    MD fechada fazendo movimentos circulares sobre a palma da ME. Em seguida, MD com os dedos juntos, mas polegar separado, flexionados formando uma pina. MD levada a boca fazendo movimento como se bebesse algo.

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    Com o verbete bactria (figura 76), podemos exemplificar um ciclo completo de remissiva (vide figura 75, antibitico), o que corrobora para o que afirmamos no incio dessa seo. Outro detalhe foi a opo por um desenho que apresentasse a bactria em suas estruturas de forma clara, ainda que no colorida. Ao nosso ver, isso dispensa o uso da legenda. Tambm os alunos no demonstraram dificuldade em relacionar essa imagem com o verbete. Esse termo pouco conhecido entre os surdos e pouco utilizado pelos intrpretes. Interessante dizer que tivemos 3 sinais e um deles contendo um alofone11. Interessante dizer que um dos sinais coletados o mesmo sinal utilizado para verme. Isso serviu como motivao para selecionar o sinal apresentado na figura 76. A idia no causar confuso entre os termos. Um outro sinal utiliza as

    11 A alofonia em LIBRAS se explica quando temos um mesmo sinal, mas produzido de formas

    diferentes e tal diferena no gerando mudana de significado. No verbete bactria a diferena entre o sinal e seu alofone repetio de movimento pela mo ativa.

    Figura 76: verbete bactria.

    bactria (Subst. Fem.)Microorganismos constitudos por uma clula, sem ncleo celular nem organelas membranares, procariontes e podem ser encontrados isoladamente ou em colnia. Podem provocar doenas no ser humano. Ex.: A clera uma doena causada por bactria e s afeta seres humanos (VER: ANTIBITICO, PROCARIONTE)

    MD fechada com d1, d2 e d3 pouco dobrados. ME aberta com os dedos separados. A MD se direciona para frente fazendo leves flexes com os dedos passando pela palma da ME.

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    mesmas configuraes de mo e orientao que o sinal no selecionado de AIDS, mudando apenas o movimento.

    Aqui vemos o primeiro termo modificado. Originalmente, tnhamos apenas embrio, mas, por ser um termo muito geral aplicvel a praticamente todos os seres vivos existentes, seguimos a sugesto do professor de Cincias e delimitamos o termo ao ser humano. De todos os sete sinais coletados apenas um no faz aluso gravidez, mas apenas clula, e muitos fazem aluso a beb ou filho. Inclusive, um intrprete afirmou usar o mesmo sinal para os termos feto e embrio. No verbete (figura 77), o sinal selecionado uma composio de GRVIDA^PEQUENO-DENTROventre escolhido por sua funcionalidade. Interessante dizer que, no momento que apresentamos este sinal aos alunos, houve um aluno que afirmou utilizar o mesmo sinal, porm, com sua

    Figura 77: verbete embrio humano.

    embrio humano (Subst. Masc.)Ser humano nas primeiras fases de desenvolvimento. Ex.: Por volta da oitava semana de gestao, o embrio humano j exibe sua forma humana e passa a ser chamado de feto (VER: FERTILIDADE, FETO, GRAVIDEZ)

    MD e ME fechadas com o d2 estendido, ambas unidas pela ponta desses dedos. MD com a palma para baixo e ME com a palma para frente. Em um movimento semicircular, a ponta do d2 da MD desce at a base do d2 da ME. Em seguida, MD fechada com d1 e d2formando uma pina e palma para a esquerda. MD faz movimento semicircular como se colocasse algo dentro do ventre. Finaliza com MD junto ao ventre e palma para baixo.

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    composio final (segunda foto da composio do sinal na figura 77) de baixo para cima e no de cima para baixo como apresentamos. A imagem apresentada, apesar de ser um desenho em preto e branco, destaca e contextualiza o termo. Vemos nela um embrio dentro do ventre de uma mulher.

    Uma grande dificuldade desse verbete (figura 78) foi a seleo de uma imagem que representasse um conceito to especfico. De fato, a primeira ilustrao, que representa a ao das enzimas sistematicamente, foi editada de uma outra imagem para deixar mais clara a funo das enzimas12. Uma vez que apenas uma imagem nos pareceria insuficiente, optamos pela segunda: vitaminas de frutas que relaciona metonimicamente com o exemplo de uso: Certas enzimas podem ser ativadas pelas vitaminas que ingerimos. No que se refere

    12 Para ver a imagem original consultar a fonte nas fichas terminolgicas (vide anexo).

    Figura 78: verbete enzima.

    enzima (Subst. Fem.)Protena que acelera as reaes qumicas A capacidade de acelerar reaes qumicas as tornam teis para as indstrias. Ex.: Certas enzimaspodem ser ativadas pelas vitaminas que ingerimos (VER: PROTENA; VITAMINAS)

    Ao das enzimas

    Vitaminas de frutas

    MD e ME fechadas com d1 ao lado de d2 e palmas para baixo. MD e ME se movimentam para frente abrindo dos dedos e tamborilando d2, d3 e d4.

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    LIBRAS, este foi o termo menos produtivo. Apenas um surdo e um intrprete o utilizam como sinal, os demais usam a datilologia. Entretanto, diferentemente de A-I-D-S, o uso da datilologia em E-N-Z-I-M-A no se configura como uma soletrao rtmica, mas apenas, um emprstimo. Obtivemos dois sinais para enzima e o sinal disposto foi selecionado por ser mais simples em sua produo e isso poderia facilitar a aprendizagem do aluno surdo, segundo nossos consultores e estamos de acordo.

    Esse termo apresentava, originalmente, apenas a base evoluo, mas resolvemos considerar o sintagma evoluo humana por sugesto do professor da escola tal qual embrio humano. Infelizmente, apesar de um termo do glossrio, observamos que um dos menos utilizados pelo livro didtico e isso reduziu nosso nmero de contexto. Por outro lado, em termos de lngua de sinais, houve uma boa representatividade para esse termo dentre os sujeitos. Obtivemos

    Figura 79: verbete evoluo humana.

    evoluo humana (Subst. Fem.)Processo de transformao contnua da espcie humana ao longo do tempo.Ex.: A cultura foi um importante agente da evoluo humana (VER: FSSIL)

    MD e ME fechadas com d2 estendido e palmas para baixo. Com movimentos circulares e alternados, mover MD e ME para cima.

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    quatro sinais diferentes, mas todos os sujeitos conheciam um sinal para o termo. Interessante dizer que, segundo muitos sujeitos, h uma diferena entre evoluo no sentido histrico e cronolgico cujo movimento segue de trs para frente e evoluo em sentido de desenvolvimento este possui um sinal que vai de baixo para cima, como podemos notar na figura 79. Um outro detalhe a semelhana existente entre os sinais, todos possuem o mesmo tipo de movimento circular, alguns, inclusive, diferem apenas pela configurao de mo, o que pode ser caracterizado como alofone. Esse movimento circular tambm presente no sinal para mudana e acreditamos que a relao semntica entre MUDANA e EVOLUO explicitada nessa semelhana de movimento.

    Tambm esse verbete foi modificado de fertilidade para fertilidade humana. Tal deciso, motivada pelo professor, tornou o termo mais funcional ao nosso ver. Uma

    Figura 80: verbete fertilidade humana.

    fertilidade humana (Subst. Fem)Capacidade para a reproduo. Ex.: O perodo de fertilidade humana varia, na mulher comea com a primeira menstruao e vai at a menopausa (VER: FECUNDAO; REPRODUO)

    Fecundao humana

    MD fechada com d1 estendido. Passar d1 da bochecha direita em direo ao queixo. Em seguida, MD e ME fechadas com d2 menos flexionado e d1 estendido junto ao d2. Em um movimento semicircular, abaixar MD e ME simultaneamente. Em seguida, MD e ME fechadas com o d2 estendido, ambas unidas pela ponta desses dedos. MD com a palma para baixo e ME com a palma para frente. Em um movimento semicircular, a ponta do d2 da MD desce at a base do d2 da ME.

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    vez que o sinal selecionado faz referncia gravidez, assim como EMBRIO-HUMANO (figura 77), optamos por dispor duas imagens nesse verbete. Ambas imagens no se ligam diretamente ao verbete por convergncia, mas apenas semanticamente, isto , no h uma contradio entre a relao texto-imagem, mas um desvio (Camargo 1999). Isso se d pela dificuldade em representar concretamente o conceito abstrato de fertilidade. Interessante desse termo foram os trs sinais coletados. Cada qual difere bastante do outro. De acordo com cada sujeito, o sinal selecionado uma composio feita a partir de MULHER-SE-ENGRAVIDAR, j outro utiliza o mesmo sinal de FECUNDAO. Para o terceiro sinal, no tivemos nenhuma explicao por parte do sujeito. Apesar do sinal selecionado ser o mais complexo, segundo os consultores, ele o que melhor elucida o conceito veiculado.

    Poucos sujeitos usam um sinal para esse verbete, de modo que obtivemos trs sinais diferentes todos usando um sinal para osso como sinal-

    Figura 81: verbete fssil.

    fssil (Subst. Masc.)Vestgio ou restos de seres vivos preservados naturalmente em rochas, sedimentos ou mbar h pelo menos 20 mil anos. Vo desde ossadas de enormes dinossauros at minsculas plantas e seres microscpios ou mesmo simples vestgios, como conchas, ossos, dentes, madeira, pegadas de animais, plantas que permanecem idnticos. Ex.: O fssil mais antigo do homem foi achado na Frana e era chamado de Homem de Cro-Magnon (VER: EVOLUO)

    Fssil de dinossauro

    MD fechada com d2 estendido pouco dobrado. D2 tocando repetidas vezes os dentes da frente. Em seguida, ME fechada com a palma para a direita e antebrao na vertical. MD toca o cotovelo esquerdo com a palma repetida vezes. Em seguida, MD a frente, fechada com o d2 estendido e d1 e d3 unidos como uma pina. Estalar os dedos vrias vezes movimentando MD para trs por cima do ombro. Expresso facial de antigo.

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    base e dois deles fazendo relao de OSSO e PEDRA. Uma vez que o fssil pode ser considerado pelo senso comum como osso(s) antigo(s), nossos consultores optaram pelo sinal apresentado acima, uma composio feita a partir de OSSO^MUITO-ANTIGO. A ilustrao escolhida para o verbete demonstra bem isso, ela tenta aproximar o usurio do dicionrio do universo terminolgico a partir do conhecimento de mundo que este possui sobre o tema. De fato, a imagem em muito ajudou aos alunos durante a apresentao desse termo.

    Por certo, a imagem selecionada poderia confundir o usurio, uma vez que a ilustrao esquemtica traz mente o termo dna. No entanto, a relao existente entre esses dois termos est presente tanto na parte em lngua portuguesa (pela definio e remissiva) quanto no equivalente em LIBRAS: o sinal GENE uma composio de DNA^ PEDAO-PEQUENO. Sua seleo se deu por

    Figura 82: verbete gene.

    gene (Subst Masc)Partes de DNA capazes de atuar na formao de alguma protena especfica. So transmitidos de gerao para gerao e determinam as caractersticas do indivduo. Cada gene possui um cdigo especfico, uma espcie de instruo qumica que pode controlar determinada caracterstica do indivduo, como a cor da pele, o tipo de cabelo, etc Ex.: Os genes so transmitidos de gerao para gerao e determinam as caractersticas do indivduo(VER: DNA)

    MD e ME fechadas com d2 e d3 estendidos. MD com a palma fora. ME com palma para dentro. MD e ME unidas pelas pontas dos dedos. MD e ME se afastam com movimentos giratrios contrrios. Em seguida, MD fechada com palma para cima. D1 e d2 dobrados formando um semicrculo. Expresso facial de pequeno.

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    ser mais especifica que usar o mesmo sinal de dna como visto em outra variante e mais simples que o terceiro sinal, uma composio de DNA^DENTRO. Mas interessante notar que os sinais coletados usam DNA como sinal-base.

    glndula (Subst Fem)Conjunto de clulas especializadas com a funo de produzir certas substncias como hormnios. Essas substncias so utilizadas em outras regies do corpo ou no prprio local.Ex.: O pncreas uma glndula alongada que produz o suco pancretico e tambm a insulina (VER: HORMNIO, PNCREAS, INSULINA)

    MD e ME aberta com d1 e d2 unidos formando um crculo e d3, d4 e d5 afastados. MD e ME com a palma para fora encostado na garganta. Fazer um movimento semicircular simultneo at acima do umbigo e depois abaixo, como se localiza-se as glndulas.

    Para esse verbete (figura 83), obtivemos cinco variantes em LIBRAS, quatro delas fazendo aluso quantidade e diversidade de glndulas em nosso corpo. O sinal selecionado usa como base a mesma configurao para CELULA (em destaque na figura 83). Por conta da produo desse sinal, a imagem selecionada para compor o verbete salienta as glndulas existentes no corpo humano. Interessante dizer que a representao do corpo se deu ou no prprio tronco, como no sinal selecionado, ou em uma das mos para representar o mesmo corpo. As legendas existentes se apresentam como um recurso para tirar

    Figura 83: verbete glndula.

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    quaisquer ambigidades quanto ao sentido da imagem e, ao mesmo, tempo para exemplificar o termo.

    Interessante observarmos o verbete hemcia (figura 84) juntamente com os verbetes leuccito (figura 87), plasma (figura 90) e hemoglobina (figura 85), pois possuem muitas caractersticas semelhantes. Todos esses termos esto dentro do mesmo campo semntico: componentes do sangue tanto que temos as remissas. A hemoglobina faz parte da hemcia; tanto a hemcia quanto o leuccito so glbulos sangneos e o plasma a parte lquida do sangue. Tais fatores influenciaram na produo desses verbetes de diferentes formas. Alguns intrpretes utilizam os mesmos sinais para hemcia, hemoglobina e leuccito. Com isso, a seleo foi feita objetivando sinais diferentes para cada termo, diminuindo assim uma possvel confuso terminolgica entre os alunos. Algo

    Figura 84: verbete hemcia.

    hemcia (Subst Fem)Clula do sangue altamente especializada na funo de transporte dos gases, envolvidos na respirao (oxignio, gs carbnico). As hemcias tambm so conhecidas como glbulos vermelhos e duram entre 90 a 120 dias. Ex.: As hemcias so as mais numerosas clulas sangneas (VER: HEMOGLOBINA, LEUCCITO, GLBULO VERMELHO)

    ME com a palma para cima e dedos unidos formando uma pina. MD envolvendo ME. Em seguida, ME fechada com a palma para cima. MD fechada com d2estendido percorrendo o antebrao aproximando-se do brao. Em seguida levantar MD com a palma para fora e cruzar d2 e d3.

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    semelhante se d com as imagens: hemcia, leuccito e plasma possuem duas imagens sendo uma delas repetida exatamente a que apresenta os componentes do sangue (notemos na figura 84). Por fim, mister enfatizar que todos os termos relacionados supra usam dois sinais como base: SANGUE e/ ou CLULA. O sinal selecionado para hemcia (foram coletados cinco sinais diferentes) uma composio de CELULA^SANGUE^RESPONSVEL.

    Em hemoglobina, temos uma composio feita a partir de SANGUE^CLULA. Poucos foram os sujeitos que usam sinal para esse termo, a maioria usa apenas a datilologia e, mesmo aqueles que usam, salientam a necessidade de explicar o conceito sempre que usa o sinal. Para esse termo, tivemos apenas trs sinais diferentes dentro das explicaes dadas sobre o termo hemcia (figura 84). A imagem selecionada contextualiza o termo dentro de seu

    Figura 85: verbete hemoglobina.

    hemoglobina (Subst Fem)Pigmento de protena encontrado nas hemcias do sangue e que funciona principalmente no transporte do gs oxignio dos pulmes para as clulas do corpo a hemoglobina que d a cor avermelhada ao sangue. Ex.: A hemoglobina constituda por sais de ferro (VER: HEMCIA; GLBULO VERMELHO)Molcula de hemoglobina

    MD fechada com d2 fexionando junto ao lbio. Em seguida, ME fechada com a palma para cima. MD fechada com d2 estendido percorrendo o antebrao aproximando-se do brao. Em seguida, ME com a palma para cima e dedos unidos formando uma pina. MD envolvendo ME.

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    universo discursivo, ainda assim fizemos uso de uma legenda para tornar mais clara sua relao com o verbete.

    Esse termo era, originalmente, apenas infarto que significa a mesma danificao de tecido, mas em qualquer tecido. Porm, como todos os quatro sinais coletados partem do sinal-base CORAO, resolvemos, juntamente com o professor, delimitar tambm este termo para infarto do corao. A ilustrao selecionada e suas legendas deixam bem claro tal aspecto, apesar de a imagem no ser uma imagem real, mas um desenho. O equivalente em LIBRAS do termo em portugus (figura 86) foi selecionado por sua simplicidade na composio. Importante ressaltar que as remissivas, em LP, apresentadas em nossa microestrutura, so utilizadas tanto para termos relacionados (sinonmia, antonmia, hiperonmia, partonmia), como tambm para variantes grficas (formas

    Figura 86: verbete infarto do corao.

    infarto do corao (Subst Masc)Danificao do tecido do corao devido a insuficincia da circulao na artria que o irriga Tambm conhecido como enfarto ou enfarte. Ex.:As doenas cardiovasculares, como o infarto do corao, matam cerca de 300 mil pessoas por ano no Brasil. (VER: ENFARTO; INFARTO)

    MD aberta com os dedos juntos e o punho junto ao peito esquerdo. Gira MD para baixa e para cima repetidas vezes. Em seguida, MD e ME fechadas com os pulsos cruzados. MD com a palma para esquerda e ME com a palma para direita. Mover MD e ME afastando uma da outra repentinamente. Expresso facial de dor.

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    alternativas de grafar o termo). Este ltimo apresentado no verbete infarto do corao.

    Muito j foi dito sobre o verbete leuccito, ao tratarmos do verbete hemcia (figura 84). Novamente, temos a mesma imagem esquemtica que mostra os elementos do sangue (o que auxilia na remissiva para os demais termos) e uma segunda imagem que destaca o leuccito e sua caracterstica como glbulo branco. Para os equivalentes em LIBRAS, tivemos trs sinais, todos eles iguais aos sinais coletados para hemcia. O sinal apresentado foi escolhido de modo a ser diferente dos demais termos relacionados. Importante salientar que a diferena principal entre os termos so as variaes do sinal CLULA, uma vez que usam esse sinal na composio do termo. O sinal LEUCCITO formado a partir da composio CLULA^SANGUE.

    Figura 87: verbete leuccito.

    leuccito (Subst Masc)Clula do sangue e da linfa especializada na funo de defesa do organismo contra agentes invasores O leuccito tambm conhecido por glbulo branco por ser incolor. Ex.: Os leuccitosso capazes de sair da corrente sangnea(VER: GLBULO BRANCO, HEMCIA)

    MD acima da ME com a palma para baixo e dedos um pouco dobrados. ME aberta com dedos separados e palma para cima. MD toca ME com a ponta dos dedos. Em seguida. MD fechada com d2 fexionando junto ao lbio. Em seguida, ME fechada com a palma para cima. MD fechada com d2 estendido percorrendo o antebrao aproximando-se do brao.

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    A definio do termo parasita apresentada faz meno ao seu alojamento externo ou interno no corpo do hospedeiro. Foi essa caracterstica que fez com que as imagens e o sinal apresentados fossem selecionados. Tivemos quatro sinais coletados. Curiosamente, todos os demais no selecionados j so utilizados para outras palavras como bactria, inseto e barata. Segundo os consultores, o sinal selecionado para o verbete em questo (figura 88) representa bem o conceito de algo externo que pode se alojar internamente ou no. Tambm, para as imagens, como j falamos anteriormente, optamos por duas que fizessem a mesma aluso: um verme (parasita interno) e um carrapato (parasita externo). Vale ressaltar que as legendas auxiliam no esclarecimento de quaisquer ambigidades.

    Figura 88: verbete parasita.

    parasita (Subst Masc)Organismo que se aloja externa ou internamente em outro, prejudicando seu hospedeiro. Por vezes, o parasita pode levar o organismo hospedeiro morte.Ex.: No se deve comer carne mal cozida ou mal assada, pois ela pode conter larvas de parasita (VER: HOSPEDEIRO)

    Verme

    Carrapato

    MD aberta com d1 e d3 unidos formando uma pina e palma para frente. ME com os dedos juntos em formato circular e palma para direita. Mover MD em direo ME como se colocasse d1 e d2 dentro de ME posicionando a palma para baixo.

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    Plasma foi o termo menos produtivo de todos, apenas um sujeito props sinais: ou usar o mesmo sinal que SANGUE, ou um sinal de fizesse referncia s muitas clulas. Este ltimo foi o selecionado pelos consultores. Notamos que os alunos tiveram uma certa dificuldade na produo deste sinal, mas to logo ele foi esclarecido em sua produo e o conceito foi elucidado. De fato, notamos que, primeira vista, a composio do sinal se mostra complexa para o usurio, porm tal fato se d pelas limitaes de um dicionrio impresso para o pblico em questo. Nesse momento, o auxilio do professor em orientar os alunos em como manusear o dicionrio far com que ele complemente as informaes da composio do sinal pela descrio em portugus (trecho destacado em azul abaixo das imagens) ou, ainda, pela escrita de sinais. As imagens selecionadas por si s no tornam o termo mais claro. Ainda que o verbete contenha duas ilustraes, so as legendas que tornam a coerncia intersemitica entre texto

    Figura 89: verbete plasma.

    plasma sangneo (Subst Masc)Parte lquida do sangue, que contm protenas, vitaminas, glicose, sais minerais etc. Parte do plasma sanguneo extravasa continuamente dos vasos capilares, formando um material lquido entre as clulas dos diversos tecidos do organismo o lquido intercelular ou intersticial. Ex.: O sangue constitudo de 55% de plasma e 45% de clula. (VER: LQUIDO INTERCELULAR; HEMCIA)

    MD acima da ME com a palma para baixo e dedos um pouco dobrados. ME aberta com dedos separados e palma para cima. MD toca ME com a ponta dos dedos repetidas vezes. MD e ME fazem um crculo. Em seguida, MD com os dedos esticados gira acima de ME.

    Plasma sangneo em amarelo

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    visual e verbal mais confluente. Destaque dado cor amarela do plasma apresentado nas imagens.

    Anteriormente, a imagem do verbete vrus (figura 91) e AIDS (figura 74) eram invertidas mesmo porque as imagens so muito parecidas. A deciso de trocar as imagens pareceu-nos bvia uma vez que faz mais sentido esquematizar as partes de um vrus no verbete vrus. Tal idia foi corroborada, inclusive, pelo professor da escola que validou os verbetes. No que se refere a LIBRAS, este foi o termo com maior representatividade. Todos os sujeitos tinham um ou mais sinais para o termo. No total, foram nove variaes. Os consultores surdos selecionaram o equivalente apresentado sob a justificativa de ser o mais comum na comunidade. De fato, esse verbete foi o que os alunos do ICES tiveram mais facilidade de discutir por, praticamente todos, j conhecerem o sinal.

    Figura 90: verbete vrus.

    vrus (Subst Masc)Agente infeccioso visto somente por meio de um microscpio eletrnico que sobrevive apenas dentro de uma clula e no possui organizao celular. Ex.: Hepatites B e C so doenas causadas por vrus que atacam o fgado da pessoa (VER: HEPATITE; AIDS)

    MD fechada com d1, d2 e d3 pouco dobrados. MD se direciona para frente fazendo leves flexes com os dedos finalizando em formato de pina.

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    Interessante dizer que o sinal VRUS apresentado parece ser usado tambm para a rea da informtica. Sobre os demais sinais, houve um sujeito que chamou-nos a ateno: ele afirmou que o sinal para o termo vrus vai depender do contexto, ou melhor, do tipo de vrus: se um vrus que pega no ar, como o vrus da gripe, ou por relaes sexuais etc. Tais fatores foram desconsiderados pelos consultores surdos em favor do sinal mais comum.

    10. OBSERVAES FINAIS

    Aps a apresentao do presente captulo, resta-nos agora finaliz-lo salientando a caracterstica de proposta do trabalho como um todo. Em nenhum momento intencionamos classificar o melhor ou pior dicionrio para se utilizar em sala de aula com aluno surdo. Qualquer dicionrio, independente de sua microestrutura, uma ferramenta pedaggica em potencial, nenhum deles totalmente dispensvel, ao mesmo tempo em que, nenhum deles perfeito. Outrossim, no quisemos aqui apresentar uma proposta de normatizao da LIBRAS, mas sim, apresentar uma metodologia de coleta de cunho terminolgico e tratamento lexicogrfico. Os sinais que no foram selecionados para compor a microestrutura no deixam a desejar em sua funo de veicular um conceito cientfico apenas, o limite de uma pesquisa acadmica de mestrado nos impulsionou a fazer tal seleo.

    Por fim, no captulo seguinte apresentaremos as concluses que alcanamos com as reflexes feitas nessa pesquisa. De fato, como iremos destacar, uma pesquisa feita em campos de estudos em incio de desenvolvimento jamais dever ser concluda com consideraes que fecham a pesquisa, pelo contrrio, so apenas contribuies iniciais.