4
TEHA11-P2 © Porto Editora Junot em Lisboa Todos sabem que o Príncipe Regente nomeou uma regência e todos teem conhecimento da famosa pro- clamação em nome de S. A., recommendando aos seus vassallos que recebessem as forças do Imperador Napoleão, como amigos e alliados. […] A Regencia do Reino pouco durou, e recordo-me bem da triste impressão que fez na minha família a mudança da bandeira no Castello de S. Jorge, sendo substituídas as quinas de D. Affonso Henriques pela aguia preta de Napoleão! […] Principiou-se a governar em nome do Imperador Napoleão, e Junot procurou dar commissões, tanto aos militares influentes, como aos magistrados e a muitos fidalgos, mas a maior parte d’elles rejeitaram e demittiram-se do serviço, e, honra lhes seja, com o risco de perderem as suas fortunas e talvez a vida. […] Meu tio, o Marquez de Alorna, foi chamado a Lisboa […] Pareceu-me muito impressionado, e agora, que conheço a história da epoca, avalio os graves motivos dos seus cuidados. Os deveres para com a patria, em tão melindrosa crise, e para com a dynastia reinante que abando- nava o paiz, compromettendo os seus subditos, e mesmo a nacionalidade, para salvar a vida; o pouco ou nada que o Marquez devia á mesma dynastia, pois que não havia muitos annos que seus Avós tinham sido decapitados na praça de Belem e as suas cinzas lançadas ao mar, seus Pais encarcerados dezoito annos, um no forte da Junqueira, e a Mãe no mosteiro de Chellas, sua irmã, a Condessa de Oyenhausen, minha Avó, que tinha partilhado da prisão de sua Mãe, expatriada desde alguns annos sem processo, e elle mesmo perseguido desde a sua primeira edade […] tudo isto devia oprimir o seu espirito e fazê-lo vacillar nos seus deveres de, como soldado e bom portuguez, defender a monarchia de Affonso Henriques, que o Chefe de Estado abandonara (1) . […] Meus tios, os Condes da Ega, convenceram-se desde logo que a Casa de Bragança tinha deixado de rei- nar e relacionaram-se com o General em chefe francez e com os homens importantes que o acompanha- vam. Principiaram a dar bailes e a receber todas as semanas no palacio do pateo do Saldanha, onde iam o General Junot e todos os Generaes do seu exercito, algumas senhoras dos mesmos Generaes e officiaes superiores, como M. me Foy, mulher do celebre General Foy, e quasi todas as senhoras e cavalheiros da aristocracia e sociedade da capital. O General Junot principiou também a dar as suas festas, diziam que brilhantissimas. Os seus janta- res e bailes eram frequentes, tanto no palacio do Quintella na rua do Alecrim, como no palacio da Rainha Carlota, ao Ramalhão. […] Todos os domingos tinhamos nós uma bella festa. Era ella a missa militar a que assistia Junot e que se dizia na egreja de S. Domingos. Depois da missa havia uma grande revista na praça do Rocio, onde o exército formava em columnas cerradas e contiguas. […] A concorrência ás revistas era tanta que se podia dizer que todos os domingos havia uma festividade de Corpus Christi. As janellas da praça guarne- ciam-se de senhoras e as ruas de povo, a ponto de impedirem o transito. Comtudo, os habitantes de Lis- boa nunca se conformaram com a occupação pelos francezes. O General Junot teve instruções para promover um abaixo assignado pedindo ao Imperador Napoleão um rei da sua familia, documento em que figurassem os tres braços do Estado: Clero, Nobreza e Povo. […] (2) Vestiram-me, pouco mais ou menos, com o mesmo vestuario com que tinha ido beijar a mão ao Prín- cipe Regente, e, acompanhado do Abbade de Medrões, vestido à l’Abbé romano, fui conduzido em uma bella carruagem, puxada a quatro cavallos inglezes, equipagem dos bons tempos de minha Mãe, ao Ter- reiro do Paço. [...] 5 10 15 20 25 30 35 40 Analisar um documento escrito Análise de documentos/fontes

Análise de documentos/fontes - Abre Horizontes- Porto Editora · podia dizer que todos os domingos havia uma festividade de Corpus Christi. ... Carta do Príncipe Regente, datada

  • Upload
    dokhue

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

TE

HA

11-P2 ©

Porto E

ditora

Junot em Lisboa

Todos sabem que o Príncipe Regente nomeou uma regência e todos teem conhecimento da famosa pro-clamação em nome de S. A., recommendando aos seus vassallos que recebessem as forças do ImperadorNapoleão, como amigos e alliados. […]

A Regencia do Reino pouco durou, e recordo-me bem da triste impressão que fez na minha família amudança da bandeira no Castello de S. Jorge, sendo substituídas as quinas de D. Affonso Henriques pelaaguia preta de Napoleão! […]

Principiou-se a governar em nome do Imperador Napoleão, e Junot procurou dar commissões, tantoaos militares influentes, como aos magistrados e a muitos fidalgos, mas a maior parte d’elles rejeitaram edemittiram-se do serviço, e, honra lhes seja, com o risco de perderem as suas fortunas e talvez a vida. […]

Meu tio, o Marquez de Alorna, foi chamado a Lisboa […] Pareceu-me muito impressionado, e agora,que conheço a história da epoca, avalio os graves motivos dos seus cuidados.

Os deveres para com a patria, em tão melindrosa crise, e para com a dynastia reinante que abando-nava o paiz, compromettendo os seus subditos, e mesmo a nacionalidade, para salvar a vida; o pouco ounada que o Marquez devia á mesma dynastia, pois que não havia muitos annos que seus Avós tinhamsido decapitados na praça de Belem e as suas cinzas lançadas ao mar, seus Pais encarcerados dezoitoannos, um no forte da Junqueira, e a Mãe no mosteiro de Chellas, sua irmã, a Condessa de Oyenhausen,minha Avó, que tinha partilhado da prisão de sua Mãe, expatriada desde alguns annos sem processo, eelle mesmo perseguido desde a sua primeira edade […] tudo isto devia oprimir o seu espirito e fazê-lovacillar nos seus deveres de, como soldado e bom portuguez, defender a monarchia de Affonso Henriques,que o Chefe de Estado abandonara(1). […]

Meus tios, os Condes da Ega, convenceram-se desde logo que a Casa de Bragança tinha deixado de rei-nar e relacionaram-se com o General em chefe francez e com os homens importantes que o acompanha-vam. Principiaram a dar bailes e a receber todas as semanas no palacio do pateo do Saldanha, onde iam oGeneral Junot e todos os Generaes do seu exercito, algumas senhoras dos mesmos Generaes e officiaessuperiores, como M.me Foy, mulher do celebre General Foy, e quasi todas as senhoras e cavalheiros daaristocracia e sociedade da capital.

O General Junot principiou também a dar as suas festas, diziam que brilhantissimas. Os seus janta-res e bailes eram frequentes, tanto no palacio do Quintella na rua do Alecrim, como no palacio da RainhaCarlota, ao Ramalhão. […]

Todos os domingos tinhamos nós uma bella festa. Era ella a missa militar a que assistia Junot e quese dizia na egreja de S. Domingos. Depois da missa havia uma grande revista na praça do Rocio, onde oexército formava em columnas cerradas e contiguas. […] A concorrência ás revistas era tanta que sepodia dizer que todos os domingos havia uma festividade de Corpus Christi. As janellas da praça guarne-ciam-se de senhoras e as ruas de povo, a ponto de impedirem o transito. Comtudo, os habitantes de Lis-boa nunca se conformaram com a occupação pelos francezes.

O General Junot teve instruções para promover um abaixo assignado pedindo ao Imperador Napoleãoum rei da sua familia, documento em que figurassem os tres braços do Estado: Clero, Nobreza e Povo.[…](2)

Vestiram-me, pouco mais ou menos, com o mesmo vestuario com que tinha ido beijar a mão ao Prín-cipe Regente, e, acompanhado do Abbade de Medrões, vestido à l’Abbé romano, fui conduzido em umabella carruagem, puxada a quatro cavallos inglezes, equipagem dos bons tempos de minha Mãe, ao Ter-reiro do Paço. [...]

5

10

15

20

25

30

35

40

Analisar um documento escrito

Análise de documentos/fontes

Não sei se foi pelo meu titulo de Marquez, porque havia então poucos em Lisboa, se pela minha quali-dade de creança, que fiquei collocado á direita do Presidente, e fui um dos primeiros a assistir a represen-tação que se dirigia ao Imperador.

Houve muito que duvidaram e recusaram assignar e o meu tutor, D. Luiz de Vasconcellos, honra lheseja feita, foi um d’elles.

Houve em 1826 um jornal que me acusou de traidor e afrancezado, porque eu tinha, na edade de seisannos, assignado aquella representação!

D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto, 2003 – Memórias do Marquês de Fronteira e d’Alornaditadas por ele próprio em 1861 (revistas e coordenadas por E. de Campos Andrada), vol. 1, parte 1 – cap. IV, IN-CM

(2.ª reimpressão fac-similada da ed. da Imprensa da Universidade, Coimbra, 1926)

(1) O Marquês de Alorna, tio-avô do autor destas Memórias, foi encarregado por Junot, que cumpria ordens de Napoleão, de treinar e comandar um corpo expedicionário de90 000 homens. Trata-se da «Legião Portuguesa», que partiu para França na primavera de 1808 e combateu integrada nos exércitos imperiais. O Marquês de Alornaentraria em Portugal com Massena, em 1810, por ocasião da terceira invasão francesa.

(2) Este abaixo-assinado foi apresentado a Napoleão, em 23 de maio de 1808, pela Junta dos Três Estados.

TE

HA

11-P

2 ©

Por

to E

dito

ra

45

Identificar o documento:– natureza (ver quadro);– autor (profissão, época em que viveu, seu papel na História, sua

relação com a temática abordada);– data (data de redação/publicação. A data da publicação nem

sempre coincide com a da redação. É esta última que permite asituação no tempo do documento);

– local ou região onde foi produzido.

Identificar o tema tratado (distinguir a informação principal da acessória).

Identificar o contexto histórico (período / acontecimentos em que seenquadra o assunto do texto).

Interpretar o documento (esclarecimento de vocábulos ou frases cujo sentido lhe suscite dúvidas; explicação das ideias centrais).

Mostrar o interesse histórico/fiabilidade do documento para oestudo do assunto em causa (finalidade da sua produção, relação do autor com o assunto tratado, erros ou omissões).

A evitar

A mera paráfrase do documento, isto é, a repetição do texto poroutras palavras.

Dizer tudo o que estudou sobre o assunto em causa sem lhe ter sidopedido.

Fazer juízos de valor sobre o assunto tratado ou sobre as personali-dades mencionadas.

PRINCIPAIS TIPOS DE TEXTO EXEMPLOS

HIS

TÓRI

CO

POLÍTICO Discurso, programa político, manifesto…

JURÍDICO Leis, acordos, tratados…

RELIGIOSO Extrato da Bíblia, do Corão, ata de um concílio…

LITERÁRIO Peça de teatro, romance, poesia, crónicas…

JORNALÍSTICO Artigos de jornal e revista

TESTEMUNHO Diário, carta, memória, autobiografia, entrevista

HISTORIOGRÁFICO Produção dos historiadores do século XIX até aos nossos dias

Regras de análise

Análise de documentos/fontes

TE

HA

11-P2 ©

Porto E

ditora

1. Identifique a natureza do texto e situe-o no tempo.

2. Identifique o autor do texto.

3. A que episódio histórico alude o autor quando fala dos seus antepassados?

4. Contextualize o assunto do texto.

5. Quem é o Príncipe Regente a que o documento alude? Que «famosa proclamação» foi por ele feita?

6. Qual lhe parece ser a opinião do Marquês de Fronteira e d’Alorna a propósito da atitude tomada peloPríncipe Regente?

7. Como atuou o general Junot quando se instalou em Lisboa? Que recetividade teve por parte da população?

8. Parece-lhe ser este texto um testemunho histórico fiável? Que possíveis intenções teve o autor aoescrevê-lo?

1. O documento apresentado é um texto histórico autobiográfico, pelo que se insere na categoria de teste-munho. Faz parte das Memórias do Marquês de Fronteira e d’Alorna, começadas a ditar em 1861 e con-cluídas dois anos depois.

2. D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto (1802-1881), o autor das Memórias, perten-ceu à mais alta aristocracia portuguesa, ostentando, entre os seus muitos títulos, os de7.° Marquês de Fronteira, 5.° Marquês de Alorna e 8.° Conde da Torre. Com apenas 4anos e por morte do pai, herdou os bens e títulos da casa Fronteira. Em 1839, recebeuo título de marquês de Alorna, por morte de sua avó, a célebre poetisa Marquesa deAlorna, D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, Condessa de Oyenhausenpelo casamento.O Marquês de Fronteira e d’Alorna distinguiu-se pelos serviços prestados no Exército,onde assentou praça com apenas 16 anos. Foi Par do Reino, deputado, senador, gover-nador-civil de Lisboa (de 1846 a 1851), ocupando, ainda, as altas funções de mordomo--mor da casa das rainhas D. Estefânia e D. Maria Pia, bem como o de mordomo-mor daCasa Real. Dedicadas à sua única filha e herdeira, D. Maria Mascarenhas Barreto, as Memórias do Mar-quês de Fronteira e d’Alorna constituem um repositório precioso de informações sobre os sucessos polí-ticos, os dirigentes monárquicos e a mentalidade aristocrata desse período conturbado que foi a primeirametade do século XIX.

3. O Marquês de Fronteira e d’Alorna alude ao suplício dos Távoras, que tevelugar, em janeiro de 1759, em Belém. Envolvida no atentado perpetrado contrao rei D. José em 3 de setembro de 1758, a família Távora sofreu, terrível eimplacavelmente, a justiça do Marquês de Pombal. Os velhos marquesesforam torturados e decapitados com dois dos seus filhos. Uma sua filha,D. Leonor de Lorena e Távora, viu-se encerrada no mosteiro de Chelas comduas meninas, uma delas a avó do autor das Memórias, enquanto o marido,D. João de Almeida Portugal, o 2.° marquês de Alorna, conheceu as agruras daprisão no forte da Junqueira. Um terceiro filho do casal, com apenas 5 anos,ficou privado de seus pais e irmãs e entregue a criados. Trata-se de D. Pedrode Almeida Portugal, o 3.° Marquês de Alorna, que é o tio, tio-avô melhordizendo, evocado pelo autor das Memórias.

4. O documento tem, como assunto central, o domínio francês em Portugal, em1807-1808, sob a governação de Junot. Os eventos descritos sucedem-se em

Comentário

Questões

O 7.º Marquês deFronteira e d’Alorna,D. José Trazimundo.

Frontispício da edição de 1926das Memórias do Marquês deFronteira e d’Alorna.

Análise de documentos/fontes

Lisboa e focam, com uma envolvência particular, as relações “colaboracionistas” das elites – onde se integraa família do Marquês – com o ocupante estrangeiro.

5. O Príncipe Regente é D. João, que reinará com o nome de D. João VI. D. João assumiu a Regência em1799, devido à incapacidade de sua mãe, a rainha D. Maria I. A «famosa proclamação» consta de umaCarta do Príncipe Regente, datada de 26 de novembro de 1807, na qual ele anuncia a deslocação daCorte para o Rio de Janeiro em virtude da invasão das tropas napoleónicas (ver doc. 2 desta unidade).

6. O Marquês de Fronteira e d’Alorna não dissimula a reprovação que lhe causa a saída do Reino do Prín-cipe Regente e da Corte. A expressão «famosa proclamação» é de uma ironia indiscutível, tanto maisque acentua o facto de o Príncipe Regente nela dissuadir os seus vassalos de guerrearem as forçasdo Imperador Napoleão. Mais à frente, o Marquês de Fronteira e d’Alorna não deixa de expressar quea saída do Reino do Príncipe Regente se assemelha a uma fuga, quando amargamente constata«… a monarchia de Affonso Henriques, que o Chefe de Estado abandonava».

7. As Memórias aludem à governação de Portugal por Junot, como se de uma parcela do império napoleó-nico se tratasse. A substituição das «quinas de Affonso Henriques pela águia preta de Napoleão» mostraque a soberania portuguesa deixara de existir. Esta situação verificou-se em 1 de fevereiro de 1808, dataem que Junot anunciou aos Portugueses o fim da dinastia de Bragança e o domínio de Napoleão emPortugal (ver doc. 3-B desta unidade). A atuação de Junot visou atrair as elites sociais e dirigentes, bemcomo a população de Lisboa. O general deu cargos e funções «tanto aos militares influentes, como aosmagistrados e a muitos fidalgos». Um desses militares e fidalgos foi o 3.° Marquês de Alorna, tio--avô do autor das Memórias. Junot ofereceu festas sumptuosas nos seus palácios onde compareciamos oficias superiores franceses, os aristocratas e burgueses lisboetas. Entre as figuras da nobreza, con-tam-se os Condes da Ega, tios maternos do Marquês de Fronteira e d’Alorna.Num país profundamente católico, entendeu Junot por bem mostrar-se devoto. Aos domingos, frequen-tava a missa na igreja de S. Domingos e, terminada a solenidade religiosa, promovia uma parada militarque seduzia – reconhece o autor do texto – amplos estratos sociais. Efetivamente, Junot pareceu apos-tado em «conquistar» os Portugueses. Talvez aspirasse a um título mais sonante do que o de governa-dor de Portugal. Poderia ser ele o rei que, a seu conselho, a Junta dos Três Estados solicitou a Napo-leão? Os esforços de Junot não surtiram, porém, o efeito desejado. Se houve os que colaboraram epactuaram com ele, e a família do Marquês de Fronteira e d’Alorna forneceu alguns exemplos, outros – nãodeixa de reconhecer o mesmo – arriscaram a vida, recusando as ofertas do general francês. Quanto ao povode Lisboa, é o Marquês que também o diz, nunca se conformou «com a ocupação pelos Franceses».

8. O texto do Marquês de Fronteira e d’Alorna soa a um testemunho histórico fiável, porque relata, antesde mais, factos e situações absolutamente verídicos. Foram eles: a proclamação do Príncipe Regente,aquando da partida da Corte para o Rio de Janeiro (26/11/1807); a dissolução da Regência; a colaboraçãode algumas elites com o poder francês; a hostilidade popular. Dessa situação melindrosa, que foi a coo-peração das elites com o invasor, dá-nos, aliás, o Marquês exemplos notáveis e diversificados. Não osescamoteia, mas relata-os à exaustão. Parece-nos existir, da sua parte, um desejo assumido e sincero(oportuno?) de justificar a colaboração que elementos da sua família praticaram e de que ele próprio,como confessa, viria a ser acusado. A explicação do Marquês centra-se nas difíceis relações de suafamília (especialmente do ramo materno dos Alorna) com o poder real. Por isso, o Marquês evoca asperseguições e execuções de antepassados, lembrando que sua avó, a poetisa Marquesa de Alorna(Condessa de Oyenhausen pelo casamento) se encontrava ainda expatriada à data da entrada dos Fran-ceses em Portugal. O próprio Príncipe Regente (responsável pela expatriação da avó do Marquês em1804, a pretexto do seu envolvimento numa conspiração para o derrubar) é apresentado de uma formapouco digna, como Chefe de Estado que abandona os súbditos. Neste quadro pouco favorável para aCoroa portuguesa, a «traição» e falta de patriotismo dos Alorna parece, pois, francamente justificada e… perdoada.T

EH

A11

-P2

© P

orto

Edi

tora

Análise de documentos/fontes