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As considerações que farei e serão registradas neste trabalho se referem

a um filme de Woody Allen, Édipo Arrasado, apresentado em conjunto com outros

dois filmes de outras autorias e que compõem a obra cinematográfica ‘Contos de

Nova York’.

Às situações apresentedas no filme-caso , eu, na perspectiva de um

espectador-analista tentarei esboçar uma discussão das possíveis articulações

com alguns conceitosa da teoria psicanalítica.

Destacarei as situações de diferentes formas, como exemplares de um

determinado conceito(1); ou como índices que me permitam uma aproximação

psicanalítica via uma interpretação(2) possível de ‘fórmulas’ ( significantes ?)

presentes nas falas dos personagens Tais falas, ouvidas de certo ponto de vista,

podem então revelar alguns mecanismos e estratégias do desejo que

eventualmente subjugam os personagens (sujeitos) a certo tipo de relação com o

outro e com o mundo: fontes de toda sorte de sintomas(3) que os enredam em

uma dada estrutura: aqui , nos interessa, a neurose.

Tais sintomas encontrados a partir daquelas comunicações ao outro dá a

ocasião de também apontarmos para o fenômeno da tranferência (4) como a

situação na qual se movem os personagens e o espectador.

Portanto, estas são as condições, a lente através da qual me pus a olhar o

filme, e a partir daí, avaliar a pertinência da leitura psicanalítica num caminho par

e passo com o filme-caso. Do sintoma a interpretação, ambos proporcionados

pela transferência, estabeleci um possível ‘diagnóstico’ e formulei também em

esboço , um movimento possível a partir do espectador- analista em direção às

Ánalise de "ÉDIPO ARRASADO" filme de Woody Allen

Um percurso

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possibilidades de autonomia , negada esta última em tese inicial pelo sintoma do

sujeito que o proclama como uma espécie de senhor de quem é escravo, fato

comum às várias estrututas clínicas.

O material

Fime: Édipo Arrasado,

in Contos de Nova York

Autoria e Direção de Woody Allen

Personagens: Sheldon Millstein – o filho ( Woody Allen )

Sra Millstein – a mãe de Sheldon

Lisa – a 1a noiva

Treva – a 2a noiva

O Psicoterapeuta

O Mágico

A palavra conto do título mais geral “ Contos de Nova York “ já nos diz de

uma licença poética da narrativa a disposição do autor de Édipo Arrasado, no

sentido de um nível de deformação do real indicado ao espectador. No entanto

não indica qual a acepção da palavra ‘conto’ que devemos necessariamente

esperar.

Segundo o Dicionáario Aurélio: ‘Conto. S.m. 1. Liter. Narrativa poucoextensa, concisa, breve. 2. Narrativa falada ou escrita. 3. Conto da carochinha(1) 4.Engodo, embuste. Conto da carochinha. 1. Conto popular para crianças; conto.2. V. mentira (1). 3. Invenção, peta, puerilidade. [ Sin. Ger.: história da carochinha.]

,in Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa Folha/Aurélio, pag 174.

Podemos supor , encorajados pelo que se passa em Édipo Arrasado, que asvárias acepções da palavra ‘conto’ podem ser úteis como indicadores do que sepassará ( ou do que se passou) na trama do filme, em especial as acepções: ‘contoda carochinha’, ‘conto popular para crianças’, ‘mentira’, ‘embuste’, ‘invenção’ .Estes indicadores já dizem da natureza do que acontece entre os personagens.Algo de natureza infantil. Ou do que se passou naquela época, e no entanto,perdura entre os adultos. A maioria absoluta dos personagens do filme e todos osprotagonistas, são adultos. E, mais, qual é o conto infantil que não é repetido paraa criança e a pedido desta por muitíssimas vezes e de forma curta. E maisimportante do que isso, invariável em seu formato. Se deliberadamente ousarmos

O Conto

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contar de modo diferente a uma criança um conto já familiar a ela, estaimediatamente protestará, e mais, não assimilará as mensagens fundamentais doconto e não dormirá, ou não se acalmará. Sua função de ‘conto ’, assim se perde.Já no caso do conto como ‘mentira’ ou ‘embuste’... quem não se lembra daexpressão ‘conto do vigário’? . Esta acepção no contexto do filme, ganha sentidoquando o conto perde sua função de instrumento de um ganho de discernimentoem favor daquele início do desenvolvimento pessoal, muito pelo contrário, veiculauma mensagem que favorece interesses de um outro na relação com esta pessoaem seus ‘primeiros passos’ , a qual assimilará uma visão de mundo que certamentefavorecerá este contador de estórias. Tanto mais este ‘contista embusteiro’ tiverimportância em sua história de vida, tanto mais ela estará a disposição dos desejosdeste, em detrimento do desenvolvimento de um desejo mais autônomo.

A linguagem cinematográfica

Contos de N.Y. vem via arte cinematográfica com todas as possibilidades

intrínsecas desta arte. Um dos aspectos que mais me interressa nessa arte é o

fato de que ela é marcada por uma relação espaço-tempo específica. Um tempo

“espacializado” que permite ao espectador uma mobilidade em vários sentidos

sem necessariamente respeitar a linearidade do tempo real, e por outro lado um

espaço que não nos é dado como estável mas assuma características temporais

de espaços simultâneo por exemplo, é o espaço cinematográfico como comenta

Arnold Hauser .( in História Social da Literatura e da Arte, Ed. Mestre Jou, 1.982,Tomo II,

pag 1.129 e 1.131).[imagens a seguir]

Podemos adivinhar como a linguagem do cinema se presta bem a retratar

a dinâmica de um dos conceitos mais caros à teoria e clínica psicanalítica: o

Inconsciente (Ics)., nesta sua atemporalidade, indiferente ao princípio da não

contradição* e que não se submete a leis de um mundo constituido de fatos

estabelecidos por uma razão cognoscente que se dão em coordenadas

têmporo-espaciais específicas e consensualmente aceitas de modo geral pelos

indivíduos sujeitos a nossa Cultura.

O referencial cultural

O diretor Woody Allen em Édipo Arrasado já nos sinaliza, desde o título, o

referencial Cultural do qual quer nos aproximar e em que quer trabalhar: o campo

freudiano do saber. Do saber de um Inconsciente que se desenvolve através da

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história individual de sujeitos da nossa Cultura.

W. Allen nos transmite uma das possibilidades de um destino possível e

pessoal que uma dada unidade parental, a família, fornece e é assumida

ativamente por um descendente/herdeiro desta. Este descendente veicula uma

dada configuração mental organizada e funcionate – a neurose do sujeito, cujo

desejo, matéria prima do Inconsciente, é no neurótico um desejo a serviço do

desejo do Outro, primariamente o desejo materno.

O filme em foco

Começa o filme em sessão de psicoterapia e assim o

espectador também é convidado a ser testemunha desde o início das

vicissitudes pelas quais Sheldon Mills passa nesta vida, na relação difícil comsua

mãe, a Sra Milltein que sempre o expõe a humilhações. Sheldon quer alguém

que possa se colocar no lugar dele e, ouvindo seus relatos e sensível às suas

razões, pensar numa possibilidade de ir mais longe, compreendendo sua triste

condição.

Este convite, no entanto, mostra–se um engodo, pois se o

espectador/interlocutor fizer o exercício da troca de papéis com o vitimizado

Sheldom, também ao espectador seria impossível, na perspectiva da vítima, uma

outra solução que não fosse um compromisso com esta mãe, que prolongou sua

influência sobre Sheldon numa relação rigidamente estabelecida desde o início .

Ao espectador, portanto, fica o lugar do impotente,... lugar reservado a todo

terceiro que ousar ocupar um espaço nesta relação.

Não é por acaso que a Sra Millstein tem papel central nas preocupações

de Sheldon Millsten, seu filho. Desde sempre suas escolhas na vida são

marcadas pelas escolhas que a mãe faz para e por ele. As escolhas que tenta

fazer como alternativas são desde logo depreciadas pela mãe, a quem Sheldon

de antemão, mesmo constrangido e ansioso, as apresenta para o julgamento

daquela. Podemos admitir via Psicanálise, que o destino de Sheldon já fora de

alguma forma determinado numa das formas de superação neurótica do

Complexo de Édipo.

Filho de uma velhinha viúva e judia ( a Sra Millstein ), Sheldon ( nosso anti-

herói ) tem como justificadas, por circunstâncias da história familiar e Histórico -

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Culturais, suas ações e intenções de cuidar de sua mãe do jeito como sempre

aprendeu a imaginar que ela gostaria de ver supridas suas faltas.

Voltemos à sessão de psicoterapia...

Sheldon fala de seus 50 anos de idade, de seus sucessos profissionais e

fracasso pessoal, onde coloca no centro dessa polaridade, como sabemos, a

difícil relação com sua mãe: uma senhora extremamente poderosa nas ações

invalidadora de suas opções de vida.

Ele tem um sonho que narra ao psicoterapeuta: sonha com a morte dessa

mãe. Ele é quem dirige o carro fúnebre. Mas a mãe, mesmo morta, lhe fala a

partir de seu caixão para espanto de Sheldon. Esta mãe não respeitaria nem

mesmo o silêncio e a passividade tão comum aos que deixam de estar entre os

vivos. Do caixão ela continua a criticá-lo. Critica sua desorientação no trajeto ao

cemitério. E quando Sheldon lhe pergunta se ela duvida que ele saiba o caminho

para o qual se destina,- o cemitério – ,a Sra Milstein confirma ironicamente, que

ele sabe sim, no sentido de que quem se oriente como ele na vida, deve saber o

caminho para onde fica a morte. Mesmo que pense e declare que saiba se cuidar

andando, sem ultrapassar, os 50 por hora. Cabe aqui uma interpretação possível:

Sheldon , por ora aos 50anos, tem essa sua idade como limite se perder esta

mãe que supostamente garantiu-lhe a vida até aqui. Há um vaticínio aí...Sheldon

estará vivo e bem enquanto estiver viva e bem esta mãe assim protetora, ... super

protetora . Seu sonho realiza seu desejo de que esta mãe morra, e ao mesmo

tempo de que ela continue viva, protegendo-o e indicando os caminhos seguros

para ele seguir vivendo.

De onde vem esta fantasia ?

A fórmula possível é : a Sra Millstein é superprotetora pois tem um filho

super desprotegido. Filho e mãe estão assim unidos e unos por uma

necessidade, por assim dizer, ontológica particular a este par. Unidos pelo

destino para infortúnio e insatisfação de ambos, insatisfação que todavia não

cansam de proclamar entre si e para os outros.

Muito bem,... Sheldon consegue na vida algum nível de separação

importantes para si...provavelmente através de outras identificações que

valorizam para ele o uso da razão para conduzir-se e vai percebendo o conflito

que vai ficando cada vez mais claro: entre os interesses e desejos da Sra Millstein

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e seus interesses mais básicos e racionalmente defensáveis: escolher sua

própria noiva por exemplo ... morar em um outro lugar que não fosse com a mãe

...projetar constituir uma outra família...o que o marcaria de certo modo como

reprodutor de uma ordem familiar renovada... fatos que, Sheldon vai se dando

conta, também o ajudariam a separar-se do campo de influências da mãe . E

Sheldon que aos 50 anos fracassou em fundar uma família... vê em Lisa uma

saída ...mas fica ansioso ‘como um garoto’, aponta o psicoterapeuta. O lugar de

garoto... garantido junto a sua mãe, mas que lhe é sabidamente

desvantajoso...Ora, um garoto ainda não sabe escolher...ainda não tem

maturidade para isso. Escolhe Lisa talvez não por acaso ...É conveniente a seus

desejos e idéias...a família já está pronta, ele não precisaria desde já fundar uma

família, mas assumir um compromisso com esta família por adoção. Com a

vantagem adicional de interpor uma mãe supostamente mais saudável e já

pronta como mãe, face a sua própria mãe.

Lisa ( que não está acostumada com isso) [ daí o potencial modificador

desta noiva] seria sua aliada...Mas, tem que apresentá-la ...e via compromisso

neurótico, submete-la a aprovação da Sra Millstein...(muito diferente de Lisa). Daí

o sintoma ansioso...será que ele conseguirá contentá-las? sua mãe e a outra

estrangeira para aquela?

A Sra Millstein, não fica nada satisfeita....uma loira ? (que dissolve lares...)

[Piranha], com dois filhos ? [ requer muita responsabilidade]. Para que Sheldon

precisaria de 2 filhos ? [ um garoto como Sheldon assumindo responsabilidades

que caberiam a um homem mais bem sucedido ? ... ‘como um astronauta’ ?]...

A Sra Millstein recusa-se a reconhecer a maioridade de Sheldom. Insiste

sistematicamente em dizer ‘em voz alta’ a quem possa ouvir, fatos ( e fotos ) da

infância de Sheldon e de seus fracassos, fixações e atrasos em controlar-se (

chupar o cobertor por toda a infância...fazer xixi na cama) desde pequeno. E

vamos percebendo que isto também tem um valor a ser revelado. O de afastar

um terceiro intromissor nesta díade, através das constantes exposições das

falhas inatas de Sheldon ...que ainda precisa de cuidados dessa mãe ou de

quem compartilhe de suas idéias de como cuidar desse garoto crescido que não

sabe sequer cuidar de sua alimentação, estando sempre com um aspecto

péssimo.

Sheldon, por sua vez, recusa-se a assumir suas escolhas . Não renuncia

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medir a compatibilidade destas últimas com aquelas primevas. Ou somente as

aceita em sua função de solução externa a seus conflitos, qualidades que devem

ser inerentes nas suas opções quanto a ‘noivas’, em seu intento de ruptura com

a mãe. Nesta última opção Lisa teria que fazer o serviço por ele...ou uma

fatalidade se prestaria ao mesmo papel ruptor ( a morte natural daquela mãe)...

Porém, Sheldon , advogado em um escrítorio conservador e formal, pode

sentir-se seguro da invasão materna neste território pelo menos, já que para

chegar até ele há protocolos, secretárias todo um itinerário formal, com horários

formais para cada atividade...reuniões...Lá ele tem um lugar onde pode falar sem

ser criticado a priori, ou mesmo humilhado. Lugar onde pode decidir sobre o que

quer e o que não quer que saibam dele. Mas essas formalidades do ambiente de

trabalho de Sheldon Mills não são barreiras para a mãe de Sheldon Millstein para

quem tudo é a extensão do ambiente doméstico, familiar e privado. Daí a cena

embaraçosa da visita da Sra Millstein ao escritório do filho, cujo espaço

pretensamente protegido do ascesso da mãe é invadido. Sua atividade

interrompida. E, ainda por cima, é finalmente exposto à desconfiança frente a seu

sócio- chefe que fica então sabendo que Sheldon conta supostamente tudo

à sua mãe...Não haveria segredos para a Sra Millstein a partir de Sheldon.

Sheldon prepara o terreno de sua própria condição de vítima desta mãe

invasora e invalidadora, passando para ela todas as coordenadas em que ele se

move e intenções que tem, mesmo as mais pessoais.

Por que Sheldon não rompe com sua mãe...tão invasora...tão

invalidadora...?

Vemos Sheldon em outra sessão com o psicoterapeuta.

A psicoterapia é o último reduto e único em verdade protegido da Sra

Millstein. Lá, mesmo quando o analista coloca seu comportamento como o de

uma criança, Sheldon age como se não tivesse ouvido tal consideração e

continua a queixar-se da mãe como se suas atitudes não contribuissem para sua

humilhante condição. Sheldon não se implica na produção do sintoma ansioso

como resultado de um processo que ainda esta mal resolvido desde a infância.

De fato, ele declara em psicoterapia que ama sua mãe...fato que os une poruma identificação primordial e forte o bastante para impedir tal iniciativa deruptura. Romper com tal mãe implicaria ter desenvolvido critérios de individuação

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pessoal que fundassem tal possibilidade. Ora, essa mãe sem dúvida, ocupou-sena relação diádica primordial, de estabelecer- via amor materno- o território de seudesejo em todos os registros possíveis do ser de seu filho...um filho-falo. Destemodo, fica desde então garantido como produto da relação diádica, a fantasia quese opera na mãe e no filho, qual seja: que uns determinados desejos estabelecidosa dois e não outros desejos estrangeiros, seriam necessariamente objetivos aserem cumpridos....perseguidos na vida. Então a sobrevivência de ambos e arealização dos tais desejos, também de ambos, constituem uma unidade nafantasia...no fantasma...que será para sempre a marca de uma relação .Estabelece-se aí algo da ordem da necessidade. Uma fantasia de que há umdesejo nescessário a cumprir-se.

Daí uma um outra fórmula possível aqui :Só posso desejar e continuar a sobreviver se minha mente tiver idéias e

desejos compatíveis e deriváveis do desejo primordial e estabelecido na relaçãoprimeira, sob a pena de morte/ desrealização da díade. Mas, fica a pergunta,...Como , aolongo da vida e para a vida deste filho, sempre poder garantir a legitimidade de seusdesejos e idéias a não ser compartilhando-os para sempre com esta mãe, única quepode validar ( ou invalidar ) e firmar a autenticidade ( ou falsidade ) de seus pensamento ( idéias edesejos ) e escolhas, já que é ela quem sabe tudo desse compromisso inicial ou seja desuas origens e destino...A Sra Millstein precede na existência Sheldon Millstein e sabe dostermos deste compromisso fundamentel e das regras de seu funcionamento.

Advogado bem sucedido de uma Escritótio de Advocacia

conservador é o quarto e último nome de uma lista de sócios, que faz o nome do

escritório. Uma profissão conservadora em um escritório conservador que

funciona com rigor formal. Nada por acaso...a advocacia é consagrada e

aprovada pela sociedade e o foi muito provavelmente por sua mãe.... Sabemos

que os advogados não são valorizados por defenderem princípios mas tomar

parte em litígios, conflitos de interesses... Não nos interessa aqui a Advocacia em

si. Mas o Sheldon advogado. Neste caso Sheldon não precisa de princípios ou

de uma ética, mas sim de uma moral . Assim, em um caso, seu intelecto vai

servir a uma das partes conflitantes: aquela que estabelece um compromisso

com seu escritório. Sheldon procurará argumentar da melhor maneira possível

em favor da parte litigante que contratou seu serviço intelectual.

Aqui, na situação profissional, como em situações domésticas, seu

pensamento está a serviço de outrem . De modo especial neste ofício, defende

interesses entre partes em conflito. Portanto é um especialista em defender a

causa de outros. Afinal um advogado não o pode fazê-lo em causa própria.

Aqui nota-se que além de não ser o primeiro nome na lista dos sócios ( é o

último ), mudou também seu último nome, o nome paterno. Não por ser um

nome judeu; ou um nome muito judeu, (estes de sufixo “stein”). Mas,

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supostanebte porque o nome do pai traz consigo esta herança conflituosa, este

legado: a mãe judia viúva e vítima plural e que proclama à toda audiência possível

seu fracasso em tornar este filho bem sucedido como seria um astronauta do

qual seria uma mãe satisfeita neste aspecto. ..um filho lá em cima...no lugar mais

alto, donde e só de lá poderia sustentar uma loira com dois filhos (fora a

pensão...).

É aí que aparece a figura do mágico...que acidentalmente, de modo

sobrenatural, desaparece em uma apresentação de magia, com a velha Sra

Milltein...a qual, desaparece pura e simplesmente...cumprindo-se o desejo de

Sheldon desde o início da narrativa na cena de psicoterapia. (...) Eu a amo, mas

gostaria que desaparecesse (...).E é a partir do desaparecimento mágico de sua

mãe que Sheldon começa a experimentar, após curtíssimo período de buscas,

que sua vida melhora em todos os aspectos: saúde ( não sente mais ansiedade )

, desempenho profisssional, sexual,... e resolve que não quer mais procurá-la,

revela isto a Lisa, ao psicoterapeuta, sente-se mais relaxado...

Mas a Sra Millstein reaparece...

E para seu maior desespero e humilhação, ela reaparece nos céus de

N.Y., falando sem parar e em alto e bom som, de seus temas preferidos sobre a

infância de Sheldon para todos. A Sra Millstein não sabe e nem quer saber de

onde fala, de que dimensão ocupa, (isso seria mudar de assunto...). Ocupa-se

imediatamente do que sempre se ocupou, cuidar de Sheldon, agora, de uma

posição mais privilegiada e com mais audiência do que nunca...

Sheldon fica num estado que beira o colapso...pensa em suicidar-se, aliás

sua tentativa de suicídio: também é tímida, pueril. Sheldon não quer suicidar-se...

sua cultura sobre suicídio vem de transgredir um cuidado doméstico, que agora,

desconcertado, não toma. Coloca o dedo molhado em um copo d’água no

contato elétrico de um abajur repetidas vezes, sem resultado...e, não por acaso,

fica perto de onde está Lisa, que o vê e não se importa muito com a cena de

Sheldon, apenas aponta que está não é a solução e mostra sinais de insatisfação

explícitos com sua situação humilhada, ela também e agora, para toda a N.Y.

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Sheldon fala em psicoterapia de suas idéias suicidas...o psicoterapeuta

também impotente diante deste aspecto sobrenatural do caso...recomendá-lhe

um recurso: um profissional que saiba lidar com o oculto,...o sobrenatural.

Sheldon conhece Treva, que derruba seu ceticismo racionalista,

apontando para a realidade desta mãe superpoderosa que paira sobre a

Chrysler...

Após várias cenas, nas quais o pobre Sheldon se submente aos mais

variados rituais místicos e fracassados na solução de seu problema,...ele declara

para Treva que acha tudo aquilo uma fraude...Esta cai em prantos, mostra-se

frágil e desprotegida ,ela também, vítima das circunstâncias ( já foi até garçonete !

provavelmente o último degrau para Narciso) tendo que sobreviver de algum

modo. Mesmo enganando as pessoas, confessa...

Treva sem o saber de todo...recita a fórmula que liga Sheldon a sua mãe.

Já desde o começo, quando recebe Sheldon dizendo-o péssimo, e depois,

mostrando preferências culinárias como as da Sra Millstein, e achando-o sempre

ainda muito magro...fechando a cena com um pratinho feito lanche para Sheldon

não passar fome ...após o jantar. Sheldon já demonstra simpatia especial por

Treva;... uma familiaridade talvez?

Lisa se vai; não suporta aquela situação com a Sra Millstein pairando

sobre N.Y. e falando aquelas coisas...

Sheldon frustra-se...mas olhando para uma coxinha de frango, preparada

por Treva, e cheirando mais de perto...aquele aroma tão conhecido, ( e agora

com sabor!!)...Surge uma esperança renovada de amor...Treva !

Por fim, a escolha de Sheldon mostra-se sob medida para a Sra Millstein.

Finalmente uma noiva a altura das necessidades básicas de seu filho, que

finalmente fez a escolha certa. A esta altura a Sra Millstein desce dos céus de

N.Y. e une-se a Treva e este novo par de mulheres concordam agora duplamente

em tudo sobre ( e contra ) Sheldon. Este constata com certa resignação seu

destino...

Comentário final

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Em certa ocasião convidei um professor de linguística da PUC-SP, o genial

prof. Flávio Di Giorgi, para uma palestra sobre Mito e Cultura a ser proferida no

Ambulatório de Psiquiatria de um Hospital do Servidor Público Municipal em que

eu trabalhava e no qual entre outras coisas, me ocupava de ocupar os outros

com temas que não fossem de nossa especialidade. Fazia-o ajudado por minha

cara amiga, psicóloga e psicanalista, Eliana Brito Barbosa, com quem trabalhava.

O Prof. Flávio, a certa altura nos fala de Prometeu, um deus que

desafiando os deuses, presenteou os homens com o Fogo, o conhecimento do

fogo, o poder produzi-lo. Prometeu cai em desgraça e é castigado...mas a uma

certa altura já na condição de homem e mortal declara aos deuses ( e aí já

estamos no ‘Prometeu’ de Goethe ) a liberdade de sua condição humana já que

não é determinado por moira (o destino), mas leva moira em suas próprias

mãos...Talvez seja o que queiramos sempre resgatar a nós e aos outros com a

clínica psicanalítica: que possamos carregar moira em nossas mãos

O objetivo do presente trabalho que redigi é apresentar uma possível articulação de

alguns dos conceitos da Psicanálise à luz dos textos da Obra de Sigmund Freud; mais

precisamente daqueles conceitos que assimilei a meu modo e que foram veiculados nas

aulas do Curso acima citado sob orientação mais próxima da psicanalista e docente

Berenice Neri Blanes e de modo mais panorâmico em aulas- síntese por esta e outros

docentes do curso. Como material a ser ‘analisado’ foi proposto um dos trez filmes - Édipo

Arrasado, de Woody Allen - que compõe um conjunto nomeado ‘Contos de Nova York’ No

entanto, receio que o objetivo acima não tenha sido alcançado, como o terá conseguido

alguém que, mais do que eu, adquiriu mais familiaridade e esteve mais atento aos textos

que foram propostos no curso como itinerário para a iniciação à Psicanálise. Talvez, e só

assim, na perspectiva do trabalho de iniciação, possam ser justificadas, em parte, as

limitações de minha apresentação. Não fiz referências bibliográficas, mas quase tudo o que

redigi está no itinerário proposto no curso. Ou tras referências se fizeram necessárias. Ainda

assim, além de resultado de meus esforços, o presente texto, só me foi possível escrevê-lo,

no contexto deste curso do Instituto Sedes Sapientiae na ação didática de seus docentes,

em especial para mim da professora Berenice, cuja dedicação e entusiasmo facilitou-me

muito a aproximação à Psicanálise a quem agradeço aqui, estendendo meus

agradecimentos a colaboração de meus colegas de grupo, cujos comentários sobre os

Nota :

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textos e a transmissão de suas experiências vividas, proporcionou-me, ao longo de nossos

encontros periódicos, um aclaramento e reavaliação das minhas próprias idéias e

vivências.Este texto foi redigido finalizando o curso Fundamentos da Psicanálise e sua

Prática Clínica sob coordenação de: Maria Helena Saleme e Oscar Miguelez e sob

orientação de Berenice Neri Blanes ( e demais docentes, em aulas síntese ) São Paulo,

novembro de 2000

José Luiz

Bonfitto

Posted 29th November 2011 by José Luiz Bonfitto

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