97
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA CARLA DINIZ LOPES ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A TRANSFORMADA WAVELET DISCRETA E AS REDES NEURAIS ARTIFICIAIS Porto Alegre 2005

ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

CARLA DINIZ LOPES

ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A

TRANSFORMADA WAVELET DISCRETA E AS REDES NEURAIS ARTIFICIAIS

Porto Alegre

2005

Page 2: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

CARLA DINIZ LOPES

ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A TRANSFORMADA WAVELET DISCRETA E AS REDES

NEURAIS ARTIFICIAIS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Elétrica.

Área de concentração: Automação e Instrumentação Eletro-Eletrônica.

ORIENTADOR: Altamiro Amadeu Susin

Porto Alegre

2005

Page 4: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

CARLA DINIZ LOPES

ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A TRANSFORMADA WAVELET DISCRETA E AS REDES

NEURAIS ARTIFICIAIS

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Elétrica e aprovada em sua forma final pelo Orientador e pela Banca Examinadora.

Orientador: ____________________________________

Prof. Dr. Altamiro Amadeu Susin, UFRGS

Doutor pela Institut National Polytechnique de Grenoble –

Grenoble, França

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Alberto Antonio Rasia Filho, FFFCMPA

Doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

Prof. Dr. Dante Augusto Couto Barone, UFRGS

Doutor pela Institut National Polytechnique de Grenoble– Grenoble, França

Prof. Dr. Marcelo Soares Lubaszewski, UFRGS

Doutor pela Institut National Polytechnique de Grenoble– Grenoble, França

Prof. Dr. Romeu Reginatto, UFRGS

Doutor pela Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil

Coordenador do PPGEE: _______________________________

Prof. Dr. Carlos Eduardo Pereira

Porto Alegre, Março de 2005.

Page 5: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, que me ensinaram a trabalhar arduamente pelos

meus objetivos.

“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para

atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números,

e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua

própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por

onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o.”

Nietzsche

Page 6: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Orlando e Ana Maria, pelo amor incondicional, apoio e incentivo que

sempre me deram. Pai, mãe, perdão pela dor que minha ausência lhes causou.

Aos meus irmãos Otávio e Michelle, os grandes amores da minha vida! Obrigada por

entenderem minha ausência e por acreditarem no que fui, no que sou e no que poderei ser.

À Carla Carvalho, amiga das horas mais alegres e, principalmente, das mais difíceis.

Você é a irmã que Deus me permitiu escolher.

Ao meu tio Márcio, meu grande amigo e professor. Nada que eu faça ou lhe diga

corresponderá ao profundo sentimento de gratidão que lhe tenho pelo apoio e ensinamentos

que me deu nos momentos em que mais precisei.

Ao querido professor Altamiro Amadeu Susin pela orientação, paciência, dedicação e

apoio.

Ao professor e amigo Milton Antônio Zaro, meu sincero agradecimento por todo

apoio e incentivo.

À querida amiga Maria Isabel Timm, meu carinho e gratidão.

Aos amigos do Lapsi: Letícia Vieira Guimarães, Viviane Cordeiro da Silva, Marcos

Vinicius Bandeira, Marcelo Negreiros, Adão de Souza Antônio de Souza Júnior, Thiago Rosa

Figueiro e Nívea Schuch, pelo seu auxílio nas tarefas desenvolvidas durante o curso e apoio

na revisão deste trabalho.

Aos colegas e amigos do NMEAD (Núcleo de Multimídia e Ensino a Distância) da

UFRGS. Foram extremamente valiosas as experiências que trocamos.

Page 7: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

Aos funcionários da Secretaria do PPGEE, Miriam Rosek e Manoel Eduardo

Hofmeister pelo auxílio prestado.

Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, PPGEE, pela oportunidade

de realização de trabalhos em minha área de pesquisa.

Ao CNPq pela provisão da bolsa de mestrado.

Page 8: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

RESUMO

Este trabalho descreve uma aplicação das redes neurais artificiais (ANNs), as quais

usam o algoritmo de erro “backpropagation” no treinamento, usando sinais de EEG juntamente com uma técnica de extração de características, a Transformada de Wavelets (WT) para a classificação dos sinais de EEG. Duas classes de sinais de EEG foram obtidas de indivíduos com alto risco (AR) e baixo risco (BR) em desenvolver o alcoolismo. Depois do treinamento, as ANNs foram capazes de classificar cerca de 70% dos sinais de EEG dos indivíduos com BR e AR.

Palavras-chaves: Classificação de EEG. Transformada de Wavelet, Rede Neural Artificial, Alcoolismo.

Page 9: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

ABSTRACT

This work describes the application of an artificial neural network (ANN), which uses the error backpropagation training algorithm, using EEG data time series and with a feature extraction technique, the wavelet transform, for the classification of EEG signals. Two classes of EEG signals were obtained from individuals with high risk (HR) and (LR) for alcoholism. After training, the ANNs were able to classify about 70% of the LR and HR EEG signals.

Keywords: EEG Classification, Wavelet Transform, Artificial Neural Network, Alcoholism

Page 10: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 14 2 FUNDAMENTOS DOS SINAIS DE EEG ................................................................ 17 2.1 O NEURÔNIO .................................................................................................................. 17 2.1.1 O impulso nervoso..................................................................................................... 19 2.2 OS SINAIS DE EEG ........................................................................................................... 21 2.3 CARACTERÍSTICAS DO SINAIL DE EEG ............................................................................ 22 2.4 COMPONENTES DO SINAL DE EEG................................................................................... 24 2.4.1 Atividade alfa ............................................................................................................ 24 2.4.2 Atividade beta............................................................................................................ 25 2.4.3 Atividade delta .......................................................................................................... 25 2.4.4 Atividade theta .......................................................................................................... 26 2.4.5 Atividade sigma ou beta 1 ......................................................................................... 26 2.4.6 Complexo K............................................................................................................... 27 2.4.7 Espículas isoladas ...................................................................................................... 27 2.4.8 Complexo espícula-onda ........................................................................................... 28 2.4.9 Fatores que podem influenciar os sinais de EEG..................................................... 28 2.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE O EEG ...................................................................................... 30 2.6 PROCESSO DE CAPITAÇÃO DO SINAL ELÉTRICO ............................................................. 33 3 PROCESSAMENTO DOS SINAIS DE EEG ........................................................... 35 3.1 CARACTERIZAÇÃO E PRÉ-PROCESSAMENTO DOS SINAIS ................................................ 35 3.2 TRANSFORMADA DE FOURIER........................................................................................ 38 3.3 TRANSFORMADA DO COSENO ......................................................................................... 39 3.4 TRANSFORMADA DE WAVELETS ..................................................................................... 41 4 REDES NEURAIS ARTIFICIAIS ............................................................................ 45 4.1 O QUE É UMA REDE NEURAL ARTIFICIAL........................................................................ 45 4.2 MODELO DE UM NEURÔNIO ARTIFICIAL......................................................................... 47 4.3 TIPOS DE FUNÇÕES DE ATIVAÇÃO .................................................................................. 49 4.4 TOPOLOGIAS DAS REDES NEURAIS ARTIFICIAIS.............................................................. 50 4.5 TIPOS DE TREINAMENTO................................................................................................ 51 4.6 REDES MULTILAYER PERCEPTRON ................................................................................ 53 4.7 ALGORITMO DE APRENDIZADO PARA UMA MULTILAYER PERCEPTRON ......................... 55 5 DESENVOLVIMENTO PRÁTICO.......................................................................... 58 5.1 COGA ............................................................................................................................. 58 5.2 PREDISPOSIÇÃO AO ALCOOLISMO .................................................................................. 59 5.3 GRAVAÇÃO DO BANCO DE SINAIS DE EEG ....................................................................... 61 5.4 TAREFAS ........................................................................................................................ 63 5.5 CONSTRUÇÃO E CONFIGURAÇÃO DA REDE NEURAL ....................................................... 64 5.6 TREINAMENTO DO SISTEMA E TESTE DE DESEMPENHO .................................................. 66 6 RESULTADOS .......................................................................................................... 68 6.1 RESULTADOS OBTIDOS .................................................................................................. 68 6.1.1 Extração e Classificação do ERP visual ................................................................... 68 6.1.2 Classificação dos sinais de EEG através das ANNs ................................................. 71 7 CONCLUSÕES E DISCUSSÕES.............................................................................. 75

Page 11: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

7.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS........................................................................ 76 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 78 APÊNDICE 1: PROGRAMA EM MATLAB QUE IMPLEMENTA O ALGORITMO "BACKPROPAGATION" ................................................................................................... 82 APÊNDICE 2: PROGRAMA EM MATLAB PARA EXTRAÇÃO DOS COEFICIENTES WAVELETS.............................................................................................92

Page 12: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 Estrutura básica de um neurônio.......................................................................... 18 Figura 2.2 Sentido do impulso nervoso e as sinapses. ........................................................... 18 Figura 2.3 Impulso nervoso transmitido através do axônio. .................................................. 20 Figura 2.4 Eletro-gênese do potencial cortical .............................................................. ....... 22 Figura 2.5 Ritmo alfa. .......................................................................................................... 24 Figura 2.6 Ritmo beta........................................................................................................... 25 Figura 2.7 Ritmo delta. ........................................................................................................ 25 Figura 2.8 Ritmo theta ........................................................................................................ 26 Figura 2.9 Rimo sigma ou beta 1.................................................................................. ....... 26 Figura 2.10 Espícula Isolada. ............................................................................................... 28 Figura 2.11 Complexo Espícula-onda.......................................................................................28 Figura 2.12 Colocação dos eletrodos para aquisição do EEG de acordo com o Sistema Internacional de Posicionamento 10-20 ............................................................................... 31 Figura 3.1 Classificação dos sinais biolétricos de acordo com suas características............... 36 Figura 4.1 Modelo geral do neurônio artificial. .................................................................... 47 Figura 4.2 Funções de ativação mais utilizadas. (a) Função Limiar. (b) Função Linear por partes. (c) Função Sigmóide com parâmetro de inclinação variável ...................................... 50 Figura 4.3 Arquitetura de uma Multilayer perceptron com duas camadas intermdiárias. ....... 55 Figura 5.1 Ilustração esquemática da montagem dos eletrodos em seis grupos regionais (frontal, central, parietal, occipital, temporal direito, temporal esquerdo), utilizada na gravação dos sinais de EEG................................................... ..................................................62 Figura 6.1 Média total de ERPs obtida de todos os indivíduos. Os gráficos da direita são dos indivíduos com BR e da esquerda dos indivíduos com AR......................................................70 Figura 6.2 Região Parietal, percentual de acerto obtido pelas ANNs treinadas com coeficientes Lemarie. Indivíduos com AR e BR. ................................................................. 72 Figura 6.3 Região Occipital, percentual de acerto obtido pelas ANNs treinadas com coeficientes Lemarie. Indivíduos com AR e BR ................................................................... 72 Figura 6.4 Região Temporal, percentual de acerto obtido pelas ANNs treinadas com coeficientes Lemarie. Indivíduos com AR e BR ................................................................... 73 Figura 6.5 Indicação, no escalpo, dos eletrodos em que as ANNs treinadas classificaram corretamente os sinais de EEG dos indivíduos com e sem PA, com índice igual ou superior a 60% ..................................................................................................................................... 77

Page 13: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Ritmos característico do EEg normal e sua faixa de frequências ......................... 23

Page 14: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

LISTA DE ABREVIATURAS

AR : Alto Risco

BR: Baixo Risco

CT: Transformada do Coseno

DCT: Transformada Discreta do Coseno

DFT: Transformada Discreta de Fourier

DWT: Transformada Wavelet Discreta

ECG: Eletrocardiograma

ECoG: EletroCorticoGrafia

EEG: Eletroencefalografia ou Eletroencéfalograma

ERP: Potencial Relacionado ao Evento

FDCT: Transformada Rápida Discreta do Coseno

FFT: Transformada Rápida de Fourier

FT: Transformada de Fourier

KLT: Karhunen-Loève

Page 15: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

PA: Predisposição ao Alcoolismo

STFT: Short Time Fourier Transform

TOC: Transtorno Obsessivo Compulsivo

WT: Transformada de Wavelet

Page 16: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

14

1 INTRODUÇÃO

O alcoolismo é uma doença complexa que ocorre com um alto índice em várias

famílias no mundo, com alto custo econômico e, notavelmente, com uma resposta ao

tratamento não significativa, ou seja, depois de tornar-se um alcoólatra, o indivíduo

dificilmente se recupera. Estudos em populações genéticas indicam que filhos de alcoólatras

são quatro vezes mais suscetíveis a desenvolver o alcoolismo quando comparados com filhos

de não alcoólatras, ainda que estes filhos sejam separados de seus pais logo após o nascimento

(PORJESZ, 1990).

Indivíduos que têm alto risco em desenvolver o alcoolismo, freqüentemente têm uma

necessidade de consumir maiores doses de álcool para sentir os efeitos do mesmo do que

outras pessoas. Estes indivíduos apresentam um baixo de nível de resposta ao álcool

(BIERUT, 2002).

A identificação de adequadas características biológicas que são geneticamente

transmitidas podem ser valiosas na identificação de indivíduos com predisposição ao

alcoolismo antes do início da doença (BEGLEITER, 1987). Medidas eletrofisiológicas podem

servir como marcadores fenótipos para o alcoolismo, pois apresentam características que são

relacionadas à predisposição em desenvolver a doença (BIERUT, 2002).

O objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento de um sistema computacional de

classificação de sinais de EEG (eletroencefalograma) de indivíduos com AR (Alto Risco) e

BR (Baixo Risco) em desenvolver o alcoolismo fazendo-se uso da Transformada Wavelet

Discreta (DWT) e das Redes Neurais Artificiais (ANNs). Nossa motivação principal nesta

pesquisa de mestrado foi dar início ao processo de elaboração de um tipo de abordagem

clínica que auxilie na detecção precoce da predisposição ao alcoolismo.

Page 17: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

15

Tem-se nesta pesquisa a expectativa de alcançar índices corretos de classificação de

sinais de EEG de indivíduos com AR e BR em desenvolver o alcoolismo, como foram obtidos

em trabalhos correlatos (HAZARIKA, 1997) e (KIM, 2004). As ANNs implementadas com

coeficientes wavelets classificaram corretamente 71% dos sinais de EEG de indivíduos com

Esquizofrenia, 66% dos sinais de indivíduos normais e 36% dos sinais de indivíduos com

TOC (Transtorno obsessivo compulsivo) em (HAZARIKA, 1997). Já em (KIM, 2004) foram

classificados corretamente 73,3% dos sinais de indivíduos com Alzheimer e 88,1% dos sinais

de indivíduos normais.

O sistema computacional desenvolvido é baseado na técnica de redes neurais

artificiais do tipo “perceptron” multicamadas, que consiste em uma série de elementos de

processamento, denominados neurônios artificiais, ou nós, interligados, com um determinado

peso associado a cada conexão. A opção por este tipo de rede deu-se pelo fato de o problema

tratado ser basicamente uma classificação de amostras (sinais de EEG de indivíduos com AR

e BR em desenvolver o alcoolismo), sendo esta a principal aplicação dos “perceptrons”.

O algoritmo de treinamento utilizado foi o do tipo “backpropagation”, que é baseado

em uma análise dos erros de resposta do sistema para os ajustes necessários na rede. O

algoritmo “backpropagation” consiste na apresentação, a cada época de treinamento, de um

conjunto de dados de entrada com seus respectivos resultados esperados; a cada erro obtido na

saída é associado um valor que retorna pela rede para ser utilizado na correção dos pesos de

conexão entre os neurônios.

O processo de converter um sinal no domínio do tempo para o domínio da freqüência

é obtido convencionalmente através da Transformada de Fourier (FT). A FT não fornece

informação suficiente quando se trabalha com sinais não-estacionários, como os sinais de

EEG. A FT determina apenas os componentes de freqüência de um sinal, mas não determina

onde esta freqüência está localizada no tempo. Para superar esta desvantagem, a “Short Time

Page 18: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

16

Fourier Transform” (STFT), usando a técnica denominada de janelamento, foi proposta.

STFT mapeia o sinal em um espaço bi-dimensional de tempo e freqüência usando uma janela

fixa. Já a Transformada de Wavelet (WT) permite a análise com janelas de múltipla duração,

o que permite uma perspectiva de análise multiresolução do sinal. Sendo assim, diferentes

características dos sinais podem ser extraídas pela WT (KANDSAWAMY, 2004).

Avaliando as vantagens da WT em se tratando de processar sinais não-estacionários,

optamos por realizar o pré-processamento dos sinais de EEG fazendo uso desta transformada.

Extraímos coeficientes wavelets dos sinais e estes coeficientes eram injetados nas entradas

das redes neurais artificiais (ANNs). Avaliamos o desempenho de ANNs treinadas com três

famílias de wavelets: Lemarie, Biorthogonal e Daubechies.

Esta dissertação vem apresentar os resultados obtidos nas pesquisas do mestrado.

No Capítulo 2 encontram-se os fundamentos teóricos deste trabalho. Uma introdução

sobre o EEG digital tratado como um sinal e a morfologia de suas formas de onda.

No Capítulo 3 são explicitadas as características dos sinais de EEG que fazem parte do

escopo do trabalho. Avaliou-se também as características de 4 modalidades de transformação:

a FT, a STFT, a DCT e a DWT.

No capítulo 4 apresentamos os conceitos básicos sobre as ANNs.

No capítulo 5 são avaliadas as características do banco de sinais de EEG utilizado

nesta pesquisa e a configuração das ANNs construídas.

No Capítulo 6, são apresentados os resultados da aplicação da metodologia proposta.

Finalmente, no Capítulo 7 apresentamos as discussões e conclusões dos resultados

obtidos. São também apresentadas sugestões para trabalhos futuros e possíveis caminhos para

a continuidade desta pesquisa.

Page 19: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

17

2 FUNDAMENTOS DOS SINAIS DE EEG

O EEG reflete a atividade elétrica de uma população de neurônios cerebrais. Os sinais

produzidos pela atividade elétrica dos neurônios são extremamente complexos, pois o EEG é

gerado a partir da superposição de diferentes e simultâneos sistemas dinâmicos de ação. Antes

de avançarmos para o objetivo principal deste trabalho, faremos uma breve explanação sobre

o mais simples “sistema dinâmico” do sistema nervoso, o neurônio.

2.1 O NEURÔNIO

Os tecidos cerebrais são compostos basicamente por duas linhagens celulares: os

neurônios e células da glia (ou neuróglia). Os neurônios são os constituintes fundamentais

do sistema nervoso. Estima-se que no cérebro humano existam aproximadamente 100 bilhões

de neurônios (BERNARDI, 1999).

Existem diversos tipos de neurônios, com diferentes funções dependendo da sua

localização e estrutura morfológica, mas em geral constituem-se dos mesmos componentes

básicos:

• corpo celular (soma) constituído de núcleo e pericário, que dá suporte metabólico à

toda célula;

• axônio (fibra nervosa) prolongamento único e grande que aparece no soma. É

responsável pela condução dos impulsos nervosos e possuem ramificações na origem

e extremidade. Em toda sua extensão, o axônio é envolvido por um tipo celular

denominado célula de Schwann. Em muitos axônios, as células de Schwann

determinam a formação da bainha de mielina - invólucro lipídico que atua como

isolante térmico e facilita a transmissão do impulso nervoso. Entre uma célula de

Page 20: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

18

Schwann e outra existe uma região de descontinuidade da bainha de mielina, que

acarreta a existência de uma constrição (estrangulamento) denominada nodo de

Ranvier. A parte celular da bainha de mielina, onde estão o citoplasma e o núcleo da

célula de Schwann, constitui o neurilema.

• Dendritos são prolongamentos menores em forma de ramificações (arborizações

terminais) que emergem do pericário e do final do axônio, sendo, na maioria das

vezes, responsáveis pela comunicação entre os neurônios através das sinapses.

Basicamente, cada neurônio possui uma região receptiva e outra efetora em relação a

condução da sinalização.

Figura 2.1 Estruturas básicas de um neurônio.

O percurso do impulso nervoso no neurônio é sempre no sentido dendrito --- corpo

celular --- axônio, ver figura 2.2. A região de passagem do impulso nervoso de um neurônio

para a célula adjacente chama-se sinapse.

Figura 2.2 Sentido do impulso nervoso e as sinapses.

Page 21: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

19

2.1.1 O impulso nervoso

A membrana plasmática do neurônio transporta alguns íons ativamente, do líquido

extracelular para o interior da fibra, e outros, do interior, de volta ao líquido extracelular.

Assim funciona a bomba de sódio e potássio, o mais importante mecanismo de transporte

ativo presente na membrana de células excitáveis, que bombeia ativamente o sódio para fora,

enquanto o potássio é bombeado ativamente para dentro da célula. Porém, esse bombeamento

não é eqüitativo: para cada três íons sódio bombeados para o líquido extracelular, apenas dois

íons potássio são bombeados para o líquido intracelular. Isso acaba criando uma diferença de

cargas positivas entre o interior e o exterior da membrana plasmática, criando-se assim um

gradiente elétrico na membrana. O potencial eletronegativo criado no interior da fibra, é

conhecido como potencial de repouso da membrana. Na maioria das células tal potencial

equivale a algo em torno de -40mV a 90mV, mais negativo no interior da célula por

convenção (NORMANN, 1988). Dizemos, então, que a membrana está polarizada.

Ao ser estimulada, uma pequena região da membrana torna-se permeável ao sódio

(abertura dos canais de sódio). Como a concentração desse íon é maior fora do que dentro da

célula, o sódio atravessa a membrana no sentido do interior da célula. A entrada de sódio é

acompanhada pela pequena saída de potássio. Esta inversão vai sendo transmitida ao longo do

axônio, e todo esse processo é considerado um impulso nervoso ou onda de despolarização,

conforme pode ser observado na figura 2.3. Este efeito dura cerca de 1 ms, e neste período o

potencial da membrana passa do valor de repouso para cerca de +20 mV a +30 mV

(CAMPELO, 2003).

O que “causa” o potencial de ação é uma troca de íons através da membrana. Uma vez

que um ponto em qualquer lugar do nervo se torne despolarizado, um impulso nervoso

propaga-se a partir dele em cada direção, e cada impulso é assim mantido, propagando-se até

atingir as extremidades da fibra.

Page 22: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

20

Figura 2.3 Impulso nervoso transmitido através do axônio.

Imediatamente após a onda de despolarização ter-se propagado ao longo da fibra

nervosa, o interior da fibra torna-se carregado positivamente, porque um grande número de

íons sódio difundiu-se para o interior. Essa positividade determina a parada do fluxo de íons

sódio para o interior da fibra, fazendo com que a membrana se torne novamente impermeável

a esses íons. Por outro lado, a membrana torna-se ainda mais permeável ao potássio, que

migra para o meio interno. Devido à alta concentração desse íon no interior, muitos íons

difundem-se, então, para o lado de fora. Isso cria novamente eletronegatividade no interior da

membrana e positividade no exterior – processo chamado repolarização, pelo qual se

restabelece a polaridade normal da membrana. A repolarização normalmente se inicia no

mesmo ponto onde se originou a despolarização, propagando-se ao longo da fibra. Após a

repolarização, a bomba de sódio bombeia novamente os íons sódio para o exterior da

membrana, criando um déficit extra de cargas positivas no interior da membrana, que se torna

temporariamente mais negativo do que o normal. A eletronegatividade excessiva no interior

atrai íons potássio de volta para o interior (por difusão e por transporte ativo). Assim, o

processo traz as diferenças iônicas de volta aos seus níveis originais.

Page 23: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

21

2.2 OS SINAIS DE EEG

O cérebro humano apresenta uma camada externa de cor cinzenta (formada em sua

maior parte por corpos celulares) chamada córtex cerebral; já a parte interna é formada pela

substância branca. O córtex cobre inteiramente os dois hemisférios.

Os neurônios do córtex estão distribuídos em 6 camadas paralelas à superfície cortical

(estratificação por profundidade). Estes neurônios são de dois tipos: piramidais (camadas III e

V) e não-piramidais (I, II, IV e VI). As células piramidais da V camada são as que mais

contribuem nos sinais elétricos registrados no EEG.

As atividades elétricas do córtex podem decorrer do Potencial de Ação ou do Potencial

Pós - Sináptico.

Potencial de Ação: decorrente da transmissão dos impulsos elétricos pelos axônios,

pouco contribuem para o registro cortical, uma vez que ocorrem assincronamente e são de

curta duração.

Potencial Pós-Sináptico: aparecem sobre a membrana celular após a repolarização.

Esses potenciais são provavelmente os principais responsáveis pela geração dos campos

elétricos extra - celulares que vão influenciar na formação do EEG (LOPES, 1987). Conforme

sinapses excitatórias (dendritos com polaridade negativa em relação ao corpo celular) e

inibitórias (dendritos com polaridade positiva em relação ao corpo celular) alcançam os

dendritos de cada neurônio, flui corrente para os dendritos e soma celulares, respectivamente,

definindo dipolos elétricos, como pode ser observado na figura 2.4. Os dipolos mudam de

intensidade e sentido, produzindo flutuações ondulares no potencial elétrico resultante no

volume condutor.

Page 24: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

22

O fluxo de correntes extracelulares produzidos pelo potenciais pós-sinápticos e pelo

potencial de ação dos axônios podem disparar sincronamente para gerar potenciais corticais,

esta sincronização pode ser entendida pela interconexão de sinapses dendríticas. Qualquer

mudança elétrica registrada na superfície cortical é causada pela resultante das atividades de

uma classe de células corticais.

O fluxo de íons no espaço extracelular gerado pelos processos descritos acima são

acompanhados por campos elétricos que se propagam na superfície, dando origem ao sinal de

EEG que é captado sobre o escalpo.

Figura 2.4 Eletro-gênese do potencial cortical.

2.3 CARACTERÍSTICAS DO SINAL DE EEG

A descoberta da atividade elétrica cerebral humana deu-se em 1875 por Caton.

Acreditava-se que essa atividade apenas poderia ser medida sobre a membrana que recobre o

cérebro, o córtex, mas devido ao trabalho pioneiro de Berger em 1929-1932 (BERGER, 19

29), tornou-se possível registrar a atividade elétrica cerebral por meio de eletrodos

posicionados externamente sobre o crânio intacto, evitando-se assim um processo invasivo,

ou seja, cirúrgico. Este registro, o EEG, tem mostrado ser um método muito útil para

pesquisas sobre estado funcional do cérebro e no diagnóstico de danos e distúrbios funcionais.

Page 25: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

23

Em seu trabalho, Berger fez uma completa e extensiva investigação das características

e propriedades do EEG. Naturalmente suas observações eram baseadas no que podia ser visto

nos traços de EEG gravados em papel. Logo ficou óbvio que o conteúdo de freqüência deste

sinal era de importância crucial para a avaliação do EEG. Berger introduziu uma

nomenclatura para diferentes componentes no traçado do EEG que ainda são usadas na

descrição clínica tradicional de um EEG. As formas de onda são classificadas de acordo com

sua freqüência, amplitude e forma de onda, assim como pela localização dos eletrodos no

escalpo onde está ocorrendo a gravação do sinal.

Os registros dos sinais elétricos no escalpo indicam que a atividade elétrica no cérebro

ocorre continuamente, e que a intensidade e o ritmo destes sinais dependem do nível global de

excitação do cérebro (COSTA, 1994). Ao contrário de outros sinais bioelétricos como o

eletrocardiograma (ECG), o registro eletroencefalográfico é caracterizado por uma aparente

irregularidade. Contudo, existem várias atividades distintas de funcionamento cerebral normal

que foram identificadas, estas atividades receberam a designação de ritmo. Na tabela 2.1 há a

designação de cada uma delas e sua respectiva faixa de freqüência.

Tabela 2.1: Ritmos característicos do sinal de EEG.

Ritmo Frequencia(Hz) Comentários

Alfa (α) 8 - 13 Occipital, associado com indivíduo desperto e relaxado, mais intenso com os olhos fechados.

Beta (β) 14 - 30 Mais evidente nas derivações frontais-parietais; melhor observado com alfa bloqueado.

Delta (δ) 1 – 3 Presente em crianças com menos de 1 ano; durante sono normal; em doenças do cérebro; em anestesia profunda.

Theta (θ) 4 – 7 Predominante em crianças dos 2 aos 5 anos; mais evidentes nas derivações parietais-temporais.

Page 26: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

24

2.4 COMPONENTES DO SINAL DE EEG

Em termos gerais a atividade de EEG pode ser dividida em ritmos regulares e eventos

paroxísmicos. Eventos paroxísmicos são definidos (KELLAWAY, 1973) como um

“aparecimento súbito de uma freqüência não previamente presente ou minimamente presente

com ou sem um aumento súbito em voltagem”. Paroxismos mudam em voltagem, ou

freqüência, ou ambos. Podem envolver eventos de onda-única, trens de onda, ou transitórios.

Como os eventos paroxísmicos são freqüentemente, com algumas exceções notáveis, vistos

em sono e como várias formas de artefatos, achados anormais considerados, é importante que

os sistemas de análise automáticos prestem atenção adequada à separação e descoberta do

paroxismo. A seguir encontra-se uma breve discussão sobre as formas de onda diferentes e as

condições onde elas aparecem em adultos.

2.4.1 Atividade alfa

É um dos ritmos mais importantes nos estudos de vigília, embora haja variação

significante na quantidade de ondas alfa entre indivíduos no domínio normal. Freqüentemente

o ritmo alfa é claramente visível nos canais occipitais do EEG, quando os olhos estão

fechados enquanto o indivíduo está acordado. Além de em vigília, a atividade alfa também

está presente em fases 1 e REM do sono, porém sua freqüência é um pouco inferior, mas sua

proporção progressivamente diminui para as fases de sono mais fundas.

Figura 2.5 Ritmo Alfa (BERNARDI, 1999).

Page 27: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

25

2.4.2 Atividade beta

Como acontece com a atividade alfa, a variação interindividual da atividade beta na

faixa de freqüência superior a 17.0 Hz (ou acima de 15 Hz) é proeminente (HASAN, 1983). A

atividade beta não é usada como um parâmetro visual para o estagiamento do sono. Uma

explicação para isto é o fato que nenhum pico de atividade beta significativo ser encontrado

durante fases de sono diferentes. A faixa de freqüência do ritmo beta, porém, é importante por

ser o único descritor do sono em EEG que permanece constante com idade crescente. Sendo

assim, aumentou-se o interesse nesse enfoque pelos projetistas de sistemas automáticos.

Figura 2.6 Ritmo Beta (BERNARDI, 1999).

2.4.3 Atividade delta

Embora possa ser encontrada em todos os níveis de vigilância, a atividade delta cresce

quando o indivíduo passa para as fases de sono mais fundas que começam na fase 2 e está

presente em mais de 50% do tempo na fase 4. Maiores informações sobre a nomenclatura e

fases do sono podem ser encontradas em (RECHTSCHAFFEN, 1968).

Figura 2.7 Ritmo delta (BERNARDI, 1999).

Page 28: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

26

2.4.4 Atividade theta

As ondas “dente de serra” presentes no sono REM (movimento rápido de olhos) estão

dentro da faixa da atividade theta, mas os valores determinísticos destas ondas geralmente

não são muito altos, porque é um fenômeno comum em fases de sono leve. A faixa freqüência

4.0-7.0 Hz é usada em análise de período, porém, é utilizada como critério parcial de

separação da vigília dos outros estágios do sono.

Figura 2.8 Ritmo Theta (BERNARDI, 1999).

2.4.5 Atividade sigma ou beta 1

Atividade Sigma na faixa de freqüência de 13.0 a 17.0 Hz (ou 12.0 - 14.0 Hz) é

freqüentemente chamada de atividade beta 1. Embora os fusos sigma (surtos rítmicos nesta

faixa de freqüência) sejam talvez o indicador mais importante da fase 2 do sono

(RECHTSCHAFFEN, 1968), sua existência em uma certa parte de gravação não exclui outras

fases de sono, porque eles também podem estar presentes nas fases 3 e 4. Alguns estudos

indicam que o número de fusos diminui ao final da noite, mas isto provavelmente pode ser

explicado pelo fato que a proporção de sono de REM (onde não são achados fusos) aumenta

simultaneamente.

Figura 2.9 Ritmo Sigma ou Beta 1 (BERNARDI, 1999).

Page 29: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

27

2.4.6 Complexo K

É bastante difícil de definir os complexos K exatamente e, então a sua descoberta

automática também freqüentemente falha, pois os detectores falham ao separar os complexos

K de ondas delta. A definição em (RECHTSCHAFFEN, 1968) é "Complexos K são... formas

de onda que têm um negativo bem delineado, onda afiada que é seguida imediatamente por

um componente positivo". A duração total do complexo K não deveria exceder 0.5 segundos.

Como não é conhecido se complexos K e ondas delta representam o mesmo ou fenômenos

diferentes, tentar separá-los automaticamente pode se mostrar uma tarefa inútil.

2.4.7 Espículas isoladas

A definição de uma espícula epiléptica por Chatrian (CHATRIAN, 1974) diz que uma

espícula é “um transitório, claramente distinguido de atividade de fundo, com um pico

pontiagudo a velocidades de papel convencionais e uma duração de 20 a 70 ms”. Esta

definição também poderia incluir as denominadas "ondas afiadas" que às vezes são

mencionadas separadamente. As ondas afiadas são só distintas por sua duração mais longa,

que estão entre 70 e 200 ms. Celestia (CELESTIA, 1976) estudou 600 espículas em 100

pacientes epilépticos e achou que 88% das espículas eram negativas, 98% deles eram pelo

menos 30% maior em amplitude que o fundo e que 75% foram seguidos por uma "onda lenta"

que dura 130 a 200 ms. Duração média de uma espícula é de 45 ms de uma faixa que vai de 9

a 200 ms. Um exemplo de uma espícula interictal pode ser vista na Figura 2.10.

Page 30: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

28

Figura 2.10 Espícula isolada (BERNARDI, 1999).

2.4.8 Complexo espícula-onda

O complexo espícula-onda, consiste de uma (usualmente bipolar) espícula e uma onda

na faixa de freqüência de 1.8 a 4.5 Hz, ou uma seqüência de combinação de ambas. Seu

aparecimento no EEG normalmente coincide com a observação de uma ausência notável no

paciente, mas isto não precisa ser o caso essencialmente. A relação entre a espícula e a onda

não é precisa; às vezes a espícula é achada movida em cima da onda. A forma de onda desses

complexos pode variar em diferentes estágios de sono e vigília.

Figura 2.11 Complexo Espícula-onda (BERNARDI, 1999).

2.4.9 Fatores que podem influenciar os sinais de EEG

Observa-se que o aparecimento de sinais de EEG depende da localização dos eletrodos

no crânio e do estado de vigilância. Porém, muitos outros fatores são conhecidos por

influenciar o caráter dos sinais registrados. Eles podem ser resumidos a seguir:

* Idade do indivíduo;

* Região do cérebro onde é feita a captação do sinal;

Page 31: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

29

* Estado mental do indivíduo (grau de vigília, nível de vigilância);

* Fatores hereditários;

* Influências no cérebro (drogas, perturbações funcionais, doenças, etc.);

* Perturbações (artefatos) que podem ser técnicas (isto é, causadas pelo equipamento

gravador ou ambiente) ou biológicas (isto é, produzidas pelo indivíduo, como a

atividade muscular do escalpo, pulsações arteriais, movimentos de olho, sinais do

coração).

Os primeiros quatro fatores de influências são de interesse no EEG, já que estão

presentes sob circunstâncias normais, o que implica que o conceito de "EEG normal" cobre

sinais com características muito diferentes.

O EEG normal de um adulto em um estado de vigília e relaxamento muscular,

normalmente é dominado pela atividade rítmica da banda alfa, enquanto que as contribuições

de delta e theta são arrítmicas e muito menores. A atividade beta normalmente aparece, mas

não é especialmente proeminente e mostra amplitudes muito mais baixas que a atividade alfa.

Mudanças no estado de vigilância influenciam o sinal de EEG consideravelmente, e

assim tais mudanças podem ser caracterizadas em estágios de sono. O EEG tem um

aparecimento característico para cada estágio do sono, portanto possui um papel importante

nas pesquisas relacionadas aos distúrbios do sono.

A idade da pessoa é um outro fator crucial. Em crianças, a aparência do EEG é bem

diferente da de adultos. Em geral pode-se dizer que quanto menor a idade, maior a quantidade

de atividades de baixa-freqüência. O EEG modifica-se gradualmente durante a infância e o

período juvenil e não adquire seu caráter de adulto até a idade de 15-20 anos. Além disso, é

possível encontrar grandes variações nas características básicas do sinal de EEG entre

indivíduos dentro de uma população normal.

Page 32: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

30

A maioria das doenças, danos e perturbações funcionais que, principalmente ou

secundariamente, afetam o cérebro também influenciam no EEG. Em geral o conteúdo de

freqüências do sinal de EEG é deslocado para freqüências mais baixas. Um dano cerebral

mais severo causa uma atividade de mais baixa freqüência. Através do registro simultâneo do

EEG de partes diferentes do cérebro, isto é, de regiões diferentes do crânio, é possível

descobrir uma perturbação funcional no cérebro e julgar seu grau de severidade, localização, e

expansão. Estas conclusões são baseadas nos conteúdos de freqüência dos sinais de EEG.

Neste contexto, é importante ressaltar que muitas mudanças no EEG não são

específicas a um certo tipo de dano. Diferentes danos e doenças, por exemplo, tumores,

hemorragias, tromboses, e inflamações, causam essencialmente o mesmo tipo de mudanças no

EEG. Além disso, o mesmo tipo de dano pode afetar o EEG de modos diferentes, devido a

variações individuais.

2.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE O EEG

O sinal elétrico presente na superfície do escalpo é captado através de eletrodos que

são fixados no couro cabeludo por meio de uma pasta eletrolítica condutora, em uma

disposição mundialmente aceita como sendo a do Sistema Internacional de Posicionamento

10-20, ilustrado na figura 2.13 (BERNARDI, 1999).

Page 33: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

31

Figura 2.12 Colocação dos eletrodos para a aquisição do EEG, de acordo com o

sistema internacional de Posicionamento 10-20 (BERNADI, 1999).

A atividade dos elétrodos é registrada de 10 a 30 minutos por meio de um registrador

multicanal variando entre 8 e 20 canais permitindo uma pesquisa simultânea da atividade

elétrica em partes diferentes do cérebro. Normalmente o registro é feito com o paciente

acordado e em repouso, mas freqüentemente são usadas condições como sono,

hiperventilação, e estimulação através de “flashes” de luzes para revelar atividades

intermitentes como epilepsia ou outro mau funcionamento temporário do cérebro. Durante a

rotina clínica habitual, divergências desta faixa "normal" são anotadas como "anormalidades".

O EEG também é usado para monitorar operações que direta ou indiretamente influenciam o

funcionamento do cérebro, como parar o fluxo de sangue para o cérebro durante operações de

artérias do cérebro ou para localizar áreas epilépticas no cérebro durante operações

neurocirúrgicas. Este último procedimento normalmente é chamado de EletroCorticoGrafia

(ECoG), pois neste caso o EEG é registrado diretamente do córtex cerebral. Como exemplo

de aplicação do EEG é possível citar a investigação da influência de drogas, e mais

recentemente foi usado para o estudo do efeito da poluição ambiental em seres humanos

(BERNARDI, 1999).

Page 34: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

32

A quantidade de informação apresentada ao neurofisiologista é enorme, e a sua

habilidade para descobrir padrões especiais, mudanças e diferenças estão bastante limitadas.

Longas experiências e testes específicos mostraram claramente que aquela avaliação visual

envolve elementos fortemente subjetivos. Um exemplo típico é quando a atividade delta e

theta são mascaradas na presença de atividade alfa intensa com variabilidade alta, isto é, um

pico espectral largo. Apesar da padronização internacional, falta à interpretação visual

precisão e objetividade que o profissional gostaria de ter. Conseqüentemente, não é

surpreendente que vêm sendo feitas muitas tentativas para desenvolver métodos objetivos

para quantificar gravações de EEG. Alguns desses métodos estão baseados numa análise

estatística dos sinais, enquanto outros vêm sendo testados para encontrar e caracterizar formas

de onda específicas.

No princípio, a implementação era feita por meio de técnicas analógicas que

envolviam elementos como filtros, amplificadores e detectores, mas ultimamente técnicas

digitais vêm sendo cada vez mais utilizadas. Ao mesmo tempo, as técnicas de processamento

de sinais mais robustas têm influenciado enormemente este estudo.

O propósito primário de todos os métodos de análise é fornecer ao neurofisiologista

informações que complementarão a avaliação visual e conseqüentemente irão melhorar o seu

julgamento. Um procedimento, um pouco idealizado, pode ser descrito em três passos.

Primeiramente, são selecionadas seções apropriadas de uma gravação para análise adicional,

ou através de separação visual ou por procedimentos automáticos baseado em algoritmos de

teste. Isto envolve eliminação de seções contaminadas por artefatos e ruídos. Um segundo

passo inclui a extração de características específicas do processo relevantes para o propósito

de análise. Pode-se achar descrições boas da atividade de fundo do EEG ou descobrir eventos

específicos e formas de ondas específicas, como espículas e ondas agudas. O passo final é

classificar seções de gravações de EEG e identificar o conjunto apropriado de classes. Isto

Page 35: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

33

aponta freqüentemente a ordenar EEG normal de forma singular e excluir seções

desinteressantes de registros de longa duração. O propósito também pode ser identificar os

estados funcionais do cérebro, como em uma análise dos estágios do sono.

2.6 PROCESSO DE CAPTAÇÃO DO SINAL ELÉTRICO

Os eletrodos são construídos de ligas especiais (prata, ouro, chumbo) em um formato

circular côncavo em um de seus lados e variando de 5 a 10 mm de diâmetro.

No processo de instalação dos eletrodos no escalpo há a formação de uma junção

metal-líquido e uma outra junção pele-eletrólito. Isso provoca um potencial de eletrodo, com

nível DC que é minimizado ao máximo por amplificadores diferenciais e capacitores do

circuito de amplificação. O nível DC atinge valores de 0,1 a 1,7 V (bem maiores que os sinais

de EEG) e é gerado basicamente por fatores intrínsecos tais como as impurezas no metal,

impurezas no gel, diferença de concentração no gel, temperatura e sudorese.

Um problema a ser considerado durante a aquisição do EEG é a impedância de

eletrodo. Considerando a impedância de entrada dos amplificadores na ordem de MΩ, as

impedâncias dos eletrodos não devem ultrapassar a 10KΩ. O método de se calcular a

impedância dos eletrodos consiste em se aplicar uma corrente com intensidade conhecida I

(da ordem de µA, 30Hz) ao mesmo e obter uma tensão V. Calculando V/I obtemos a

impedância de eletrodos Z (BERNARDI, 1999).

Cada um dos canais de captação deve possuir um amplificador próprio. Um ponto

comum entre eles constitui a referência para todos os amplificadores. Tal ponto pode ser a

referência Central (Cz), a Biauricular (ponto médio de A1 e A2) ou Laplaciana (uma média

em relação aos pontos centrais).

Page 36: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

34

Após a correta amplificação e condicionamento do sinal deve-se fazer a sua conversão

analógica/digital. Dois parâmetros devem ser observados durante este processo: a taxa de

amostragem e a precisão do conversor AD.

Observando o primeiro ponto acima, a discretização do sinal deve ser feita numa taxa

de amostragem que obedeça ao critério de Nyquist (freqüência de amostragem deve ser maior

que duas vezes a maior freqüência do sinal). A taxa de amostragem deve então ser duas vezes

maior que a maior freqüência de entrada. Quando este critério não é obedecido, ocorre o

chamado efeito “Aliasing”, e o sinal de saída é completamente distorcido.

O segundo parâmetro é a precisão que, expressa em bits, representa quantos níveis de

voltagem o conversor analógico-digital pode distinguir. Assim, se o conversor possui 12 bits

de precisão, 4096 níveis de tensão podem ser representados. No caso em que uma precisão de

8 bits é utilizada (256 níveis) para uma variação de voltagem de 512 µV (ou ±256 µV) , a

cada 2 µV um nível de voltagem é registrado. Se para os mesmos 8 bits a variação de

voltagem fosse de ±1024 µV, um nível é registrado a cada 8 µV, ou seja, o passo (ou "erro")

seria de 8 µV.

O erro de quantização pode ser minimizado para aplicações em EEG, escolhendo-se

corretamente o fator de amplificação do sinal, a faixa de entrada e a precisão do conversor

AD.

Page 37: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

35

3 PROCESSAMENTO DOS SINAIS DE EEG

O cérebro humano é um sistema extremamente complexo que, por sua vez, gera sinais

eletroencefalográficos complexos. Esta característica do sinal de EEG e sua importância nas

pesquisas sobre o funcionamento cerebral, assim como suas aplicações clínicas, tornou

imprescindível a introdução de métodos de análise de sinais nos estudos de EEG. Neste

capítulo serão explicitadas algumas características dos sinais de EEG, bem como algumas

possibilidades de processamento digital.

3.1 CARACTERIZAÇÃO E PRÉ-PROCESSAMENTO DOS SINAIS

Os sinais biomédicos constituem uma classe especial de sinais que contêm informação

a respeito de sistemas biológicos. O processamento de sinais biomédicos apresenta problemas

típicos, derivados da complexidade do sistema de origem, o corpo humano, e da necessidade

de realizar medidas indiretas não invasivas, na maior parte das aplicações, como ocorre com

os sinais de EEG. Para selecionar a melhor alternativa de processamento deve-se conhecer as

condições de aquisição do sinal de interesse, as características básicas desse sinal e qual o

objetivo final do processamento, ou seja, qual a informação desejada. O sinal biomédico de

interesse neste trabalho está agrupado na classe dos sinais bioelétricos, pois é gerado pela

atividade nervosa e sua fonte são os potenciais da membrana celular.

Os sinais podem ser divididos genericamente em contínuos e discretos. Os sinais

bioelétricos são contínuos na sua grande maioria. Todavia, dada a existência de grande

número de técnicas para processamento de sinais discretos derivados do avanço

computacional digital, geralmente esses sinais contínuos são amostrados e transformam-se em

discretos.

Page 38: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

36

Outra forma de classificação dos sinais bioelétricos coloca-os em dois grandes grupos:

determinísticos e estocásticos, ver figura 3.1. Os sinais determinísticos são aqueles que podem

ser descritos por meio de técnicas matemáticas ou gráficas. Os sinais bioelétricos reais nunca

são determinísticos, pois sempre existirão ruídos e mudanças de parâmetros não previsíveis,

derivados de mudanças do próprio sistema biológico sob análise (CAMPELO, 2003). Apesar

disso, é comum aproximar ou modelar um sinal estocástico (não – determinístico) usando

funções determinísticas. Conforme pode ser observado na figura 3.1, os sinais determinísticos

são subdivididos em periódicos e não – periódicos. Nos primeiros existe uma determinada

forma de onda com duração T, que se repete indefinidamente pelo tempo. O sinal pode ser

expresso por:

X(t) = x(t+nT) (3.1)

onde n é um inteiro.

Muitas funções determinísticas não são periódicas e podem ser subdivididas como

quase-periódicas e transientes. Freqüentemente durante a análise de sinais bioelétricos,

funções não periódicas são consideradas quase-periódicas ou mesmo periódicas complexas.

Figura 3.1 Classificação dos sinais bioelétricos de acordo com suas características

(CAMPELO, 2003).

Sinal

Determinístico Estocástico

Periódico Não-periódico Estacionário Não-estacionário

Sinusoidal

Complexo

Quase-periódico

Transiente

Ergódico

Não-ergódico

Especial

Page 39: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

37

O segundo ramo principal da figura 3.1 evidencia os sinais estocásticos, de maior

interesse para a análise de biopotenciais, principalmente EEG (LOPES, 1987). Um sinal

estocástico é aquele proveniente de um processo estocástico, que não pode ser expresso

matematicamente de forma exata. A descrição de um sinal estocástico baseia-se nas suas

propriedades estatísticas. O sinal de EEG pose ser considerado como realização de um

processo estocástico, uma vez que as características temporais do sinal são imprevisíveis.

Vários pesquisadores provaram que o EEG não tem natureza necessariamente randômica, mas

apresenta um grau de complexidade tão grande que a análise por ferramentas estatísticas é

conveniente (CAMPELO, 2003). Um processo estocástico estacionário é aquele no qual os

parâmetros estatísticos não variam no tempo. Se um determinado processo estacionário gerar

uma série de dados x(1), x(2), ... , x(n), a média, o desvio padrão e a variância calculados a

partir desses dados serão os mesmos para uma medida futura e terão sido os mesmos para

uma passada. Isto é, o fator tempo não altera os parâmetros. Mais rigorosamente, é necessário

que a distribuição conjunta de valores sucessivos do sinal seja constante e que a função de

correlação do processo não varie durante o tempo em que a função é calculada. Média e

função auto-correlação constantes são requisitos suficientes para classificar um sinal como

fracamente estacionário, o que permite executar uma série de análises sobre sinais

bioelétricos. Processos realmente estacionários são aqueles nos quais os momentos de ordem

mais alta permanecem constantes. Um processo estocástico, estacionário e ergódico é aquele

no qual as distribuições de probabilidades estatísticas de medidas sucessivas (épocas) são

iguais à distribuição da média de todas as medidas.

Devido ao grande desenvolvimento dos sistemas digitais para a computação de dados,

os métodos digitais ganharam preferência, de forma que sinais contínuos são discretizados

antes de sofrer análise.

Page 40: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

38

Após o sinal ter sido amostrado, o que existe na memória do sistema digital é uma

seqüência de valores discretos, que podem se manipulados matematicamente. Mediante a

execução de algoritmos específicos é possível realizar a extração de características próprias

do sinal, analisar correlação entre sinais ou mesmo modificá-los. As operações de

processamento digital mais empregadas sobre sinais são a filtragem, aplicação de janelas

temporais, análise espectral auto regressiva ou baseada na Transformada Rápida de Fourier

(FFT), análise de correlação e análise de coerência.

3.2 TRANSFORAMADA DE FOURIER

No século XIX, o matemático francês Jean B. Fourier mostrou que qualquer função

periódica pode ser expressa como uma soma infinita de funções periódicas exponenciais

complexas.

O objetivo da Transformada de Fourier (FT) é decompor um sinal complexo em um

conjunto de sinais senoidais bem localizados na freqüência. Desta forma, pode-se verificar a

quantidade de energia que o sinal possui distribuída nas diversas componentes de freqüência.

Muitos sinais bioelétricos possuem características não estacionárias, tais como os

sinais ECG, sinais de voz, sinais de EEG, dentre outros (AKAY, 1998). A análise do sinal

utilizando-se a FT é mais adequada para análise de sinais estacionários (BENDAT, 1986). Ao

aplicar-se a FT a um sinal, a informação de tempo é perdida e apenas a informação de

freqüência está presente. A FT é definida como:

( )∫∞

∞−

−== dtetxtxFfX tfj ...2..)]([)( π (3.2)

o que é a soma para todo o tempo do sinal x(t) multiplicado por uma exponencial

complexa.

Page 41: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

39

Sabe-se que a FT é ineficiente para representar eventos transientes em um sinal, já que

não é capaz de discriminar os instantes em que ocorrem, isto é, a FT não é adequada a sinais

não estacionários (sinais que têm um espectro de freqüência variável no tempo), como o sinal

de EEG. Gabor em 1946 propôs, para resolver este problema, analisar o sinal em janelas, ou

seja, aplicar a FT em pequenos trechos que possam ser considerados quase-estacionários. Isto

ficou conhecido na literatura como Transformada de Gabor, ou como Short Time Fourier

Transform (STFT), produzindo assim o espectograma. A equação da STFT é descrita abaixo:

( )∫−−= dtetgtxfSTFT

tfj ...2.).(.),( πττ (3.3)

Entretanto, a STFT é limitada devido à interdependência entre resoluções no tempo e

em freqüência. Esta Transformada fornece a informação de quando e em qual freqüência

ocorreu um evento no sinal. Contudo, esta informação tem precisão limitada pelo tamanho da

janela. Uma vez escolhido o tamanho da janela, este será o mesmo para todas as freqüências.

Uma janela muito estreita resulta em uma boa resolução temporal. Mas um trecho estreito

(janela estreita) tem associado no espectro uma função com lóbulo principal largo, o que

reduz a resolução entre freqüências contínuas.

Existem muitos sinais bioelétricos que possuem informações importantes localizadas

na freqüência. E isso não pode ser feito simultaneamente, no tempo e na freqüência, pela FT e

pela STFT.

3.3 TRANSFORAMADA DE COSENO

A Transformada de Coseno (CT) é uma técnica que converte um sinal em suas

componentes elementares de freqüência. De forma similar a FT, a CT transforma o sinal no

domínio tempo para o domínio freqüência, mas usando somente números reais.

Page 42: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

40

Apesar da maior dificuldade de aplicação com relação à FT, a CT vem sendo utilizada

com sucesso em muitas aplicações, tais como na transformação de domínio, análise espectral

de seqüências finitas de números reais, determinação de valores limites e compressão de

sinais. As versões discretas da CT têm sido usadas no processamento digital de sinais,

especialmente em algoritmos de compressão de imagem (CAMPELO, 2003). Como a

Transformada Discreta de Fourier (DFT), a Transformada Discreta de Coseno (DCT) fornece

informações sobre o sinal no domínio da freqüência, entretanto, diferentemente daquela, a

DCT de um sinal real é um valor real (PORAT, 1997). A transformação é linear, então,

podemos expressá-la na forma matriz-vetor.

A adequabilidade de uma dada transformada para uma compressão de sinais, por

exemplo, depende da eficiência com a qual esta pode empacotar a energia de um sinal em um

escolhido número de coeficientes de transformação. Ao contrário da DFT, a DCT fornece

uma melhor aproximação do sinal com um menor número de coeficientes. Uma excelente

análise da DCT, transformadas relacionadas e suas aplicações podem ser encontradas em

(TSAI, 1996).

No desenvolvimento da DFT, o sinal de tamanho finito é estendido periodicamente a

fim de ser analisado. Para a DCT, além da periodicidade, há uma simetria par entre as

extensões periódicas do sinal. Há pelo menos quatro maneiras possíveis de realizar-se essa

periodicidade simétrica, e cada maneira está associada a um tipo de DCT (PORAT, 1997),

(OPPENHEIM 1989). A diferença entre cada maneira é o número total de pontos da

seqüência resultante e os pontos de simetria.

Métodos tradicionais de análise de sinal baseados na FT, como a CT, detectam a

variação de freqüências de um sinal, mas não geram a informação sobre a localização espacial

destas, uma vez que estas técnicas consideram que o sinal é periódico.

Page 43: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

41

A Transformada Wavelet (WT) supre estas falhas presentes na abordagem da FT e da

CT para análise de sinais não periódicos, pois as wavelets são funções que decompõem os

sinais em diferentes resoluções.

Enquanto a FT utiliza senóides complexas como funções base para a decomposição, a

WT não possui apenas uma função base, e sim uma classe delas, desde que a mesma seja

ortonormal. Todas as classes de wavelets obedecem aos requisitos de localização tempo-

freqüência do sinal, onde cada função possui características próprias, que implicam numa

melhor ou pior distinção das freqüências analisadas e a localização destas.

3.4 TRANSFORAMADA DE WAVELETS

A teoria que suporta a WT foi formalizada em 1984 com o nome inicial de Ondelettes

(CAMPELO, 2003). Surgiu como uma alternativa à STFT para análise tempo - freqüência,

objetivando a superação da limitação de janela fixa existente na STFT, utilizando uma técnica

de janelamento variável, ou seja, a janela deslizante de tempo utilizada pela WT apresenta a

capacidade de mudar a sua largura conforme a banda de freqüência que está sendo analisada.

Através da Transformada Wavelet é possível analisar um sinal em diversas escalas (CHUI,

1992), (MALLAT, 1989). Produziu-se assim o escalograma, ou seja, diferente da análise de

Fourier que usa a região tempo - freqüência, este usa a região tempo – escala. Assim, a grande

vantagem da análise Wavelet é a habilidade de analisar uma área localizada de um sinal, ou

seja, ela detecta a variação das freqüências presentes no sinal e a localização destas

(CASTLEMAN ,1996).

Apesar da análise wavelet ser um método novo, Alfred Haar já havia utilizado este

conceito em seu trabalho de tese, hoje conhecida por wavelet Haar (STRANG, 1996). Em sua

forma teórica atual, o conceito de Wavelet, foi primeiramente proposto por Jean Morlet do

Page 44: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

42

Centro de Física Teórica de Marseille, França. Atualmente, a análise wavelet tem sido

estudada principalmente por Yves Meyer e sua equipe. O principal algoritmo é devido a

Stephane Mallat de 1988. Desde então, a pesquisa sobre wavelets tem se difundido

internacionalmente.

As funções wavelets mais conhecidas são: Haar, a primeira e a mais simples de todas

as funções wavelet; Daubechies, que são compactadamente suportadas e adequadas à análise

wavelet discreta; Symlet, uma simplificação das wavelets Daubechies; Coiflet; Biortogonal,

família de wavelets que exibe a propriedade de fase linear, portanto adequada ao

processamento de sinais; Meyer; Battle-Lemarie; Chapéu Mexicano e Morlet (CUSTÓDIO,

1999).

Ao contrário da FT e da CT, o núcleo da WT não é especificado na sua definição

porque a wavelet pode ser qualquer função matemática que atenda a determinados critérios.

Podem ser usadas as várias bases desenvolvidas nos últimos anos, ou mesmo criar-se uma

base nova para uma determinada aplicação.

Para servir como wavelet, uma função deve satisfazer a duas condições:

admissibilidade, expressa matematicamente pela equação (3.4), (o que implica a função

apresentar alguma oscilação), e que tenha energia finita, expressa pela equação (3.5). Uma

terceira condição é a de regularidade, ou seja, as wavelets devem possuir decaimento

exponencial, de modo que seus momentos das n+1 primeiras ordens sejam iguais a zero.

( ) 0=∫∞

∞−

dttψ (3.4)

( ) ∞<=∫∞

∞−

Mdtt2

ψ (3.5)

Ou seja, as funções wavelets são tipicamente funções pares oscilatórias atenuadas

exponencialmente até a amplitude zero nas extremidades e com largura e amplitudes variadas

(CAMPELO, 2003).

Page 45: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

43

Como já foi mencionado anteriormente, a WT apresenta vantagens sobre outras

transformadas por apresentar uma boa resolução tanto no domínio da freqüência quanto no

espacial-temporal. Isso quer dizer que ela é capaz de localizar descontinuidades no tempo ou

espaço, bem como distinguir diferentes componentes de freqüência do sinal (BENTLEY,

1994).

O cálculo dos coeficientes de todas as possíveis escalas requer um enorme esforço

computacional e gera informação redundante. A Transformada Wavelet Contínua de um sinal

de uma dimensão gera uma representação de duas dimensões no espaço tempo-escala.

Uma forma de reduzir este esforço computacional é a utilização de parâmetros de

escalonamento e translação discretos. A esta análise dá-se o nome de “Discrete Wavelet

Transform” (DWT) ou transformada Wavelet Discreta.

A DWT é definida abaixo (BURROS, 1997), onde )(nf é uma função discreta:

)()(),(),( , nnfkjCbaCZn

kj∑∈

== ψ (3.6)

kj ,ψ é uma wavelet discreta definida como:

)2(2)( 2/, knn jj

kj −= −− ψψ (3.7)

Os parâmetros a,b são definidos de tal modo que kba jj 2,2 == .

No caso da transformada wavelet discreta (DWT), além da função wavelet, usa-se uma

base de funções ( )xmφ , chamada função de escalonamento (“scaling function”), em um dado

nível de detalhe m (ou dilatação). Assim, podemos decompor um sinal qualquer em termos da

( )xmφ e ( )xmψ , uma vez que uma condição necessária é que essas funções sejam ortogonais

entre si e também dentro da mesma família ( ( )xmφ é ortogonal a ( )xnφ se m≠n). Em

(MALLAT, 1989), demonstra-se a relação entre esse modelo matemático e um banco de

filtros passa-baixas e passa-altas, mostrando ainda, que podemos decompor um sinal até um

Page 46: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

44

certo nível de resolução e reconstruí-lo a partir desses bancos de filtros. Este método é

conhecido na literatura como análise Multiresolução.

Enquanto a STFT mapeia o sinal de interesse no domínio tempo - freqüência, através

de um espectograma com distribuição uniforme, a WT apresenta distribuição não-uniforme,

permitindo analisar o sinal com diferentes níveis de detalhamento.

Page 47: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

45

4 REDES NEURAIS ARTIFICIAIS

As redes neurais artificiais surgiram a partir do interesse de pesquisadores no

funcionamento do cérebro humano, o sistema mais flexível até hoje conhecido para

processamento de informação. Ainda que o uso das ANNs esteja em expansão, a sua

aplicação na medicina é um fenômeno recente e muitas aplicações estão sendo desenvolvidas.

Dada a força das ANNs em tarefas que envolvam reconhecimento de padrões, as aplicações

clínicas das ANNs estão em fase de grande avanço. As ANNs são usadas em pesquisas para

diagnóstico de demências, infarto do miocárdio, desordens psiquiátricas, embolismo

pulmonar agudo, dentre outras (WEI, 1998).

A habilidade de uma ANN em aprender por exemplos, sua habilidade em reproduzir

arbitrariamente funções de entrada não-linear, e a estrutura regular e altamente paralela de

uma ANN fazem dela uma especialista adequada na tarefa de classificação.

Dependendo do tipo de problema ao qual são submetidas, as ANNs têm apresentado

um desempenho considerado superior aos métodos estatísticos utilizados para o mesmo fim

(FALAS, 1995). Na pesquisa desenvolvida por (SUBRAMANIAN, 1993) comparou-se as

ANNs com determinados métodos estatísticos de classificação. Concluiu-se que para as

diversas circunstâncias estudadas, incluindo pequenos tamanhos de amostras e funções de

maior complexidade, que as ANNs apresentaram um melhor desempenho de classificação.

4.1 O QUE É UMA REDE NEURAL ARTIFICIAL?

Uma Rede Neural Artificial (ANN) é de acordo com (WEI, 1998) “um modelo não-

linear, computacional e matemático, para processamento de informações, com arquiteturas

inspiradas na organização neuronal”. Elas fazem uma representação distribuída da

informação na forma de conexões entre um grande número de elementos simples, ou

Page 48: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

46

neurônios artificiais. Todos estes elementos realizam operacionalmente a mesma função,

como será visto adiante, que é executar a soma ponderada de suas entradas e executar uma

transformação (linear ou não-linear) sobre este valor.

A grande vantagem do uso das ANNs para a solução de problemas complexos provém

de algumas propriedades e capacidades úteis descritas a seguir, de acordo com (HAYKIN,

2001):

* Aprendizagem: É a habilidade da ANN de aprender acerca de seu ambiente

através de um processo interativo de ajustes aplicados aos seus parâmetros livres (ex: pesos

sinápticos);

* Generalização: Corresponde ao fato da ANN apresentar uma saída adequada

para uma entrada não presente no processo de aprendizagem;

* Não-linearidade: Uma ANN é não-linear se esta for composta de neurônios

artificiais também não-lineares. Esta é uma característica importante, pois a maioria dos

sistemas físicos responsáveis pela geração dos sinais de entrada para a rede neural são não-

linares;

* Adaptabilidade: É a capacidade que as ANNs possuem de adaptar seus pesos

sinápticos perante modificações do meio ambiente, ou seja, uma ANN treinada para operar

em um ambiente específico pode ser facilmente re-treinada para absorver pequenas alterações

no ambiente;

* Tolerância a Falhas: O conhecimento é distribuído pela ANN, desta forma,

uma parte das conexões da ANN pode estar inoperante, sem que haja mudanças significativas

no desempenho da rede;

* Resposta a Evidências: Em sua utilização como classificadora de padrões, uma

ANN pode fornecer, em sua saída, não somente a informação relativa a qual conjunto a

Page 49: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

47

entrada pertence, mas também uma informação sobre a confiança no resultado. Desta forma,

pode se utilizar destas informações para rejeitar padrões ambíguos.

Estas características dotam as ANNs da capacidade de resolver problemas complexos

que não podem ser resolvidos da forma tradicional. É o caso da tarefa de classificação de

padrões, na qual deseja-se atribuir uma entre várias classes pré-definidas para um

determinado sinal de entrada (representado um objeto físico ou um evento) do qual não se

conhece seu modelo estatístico.

4.2 MODELO DE UM NEURÔNIO ARTIFICIAL

Os elementos processadores de uma ANN, os neurônios artificiais, funcionam

basicamente como elementos integradores. O neurônio artificial tem como função coletar

sinais advindos de outros neurônios, ou mesmo sinais de entrada da rede, ponderar os dados

através de pesos específicos e repassar estes dados para outros neurônios ou para a saída da

rede.O esquema de neurônio artificial pode ser visualizado na figura 4.1.

Figura 4.1: Modelo geral do neurônio artificial (HAYKIN, 2001).

Page 50: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

48

Com base na figura 4.1 é possível distinguir alguns elementos considerados

importantes na estrutura do neurônio:

Sinapses: São caracterizadas por um peso w , que pode representar a sua intensidade.

O papel do peso kjw é multiplicar o sinal jx na entrada da sinapse j , conectada a um neurônio

k . O peso kjw é positivo se a sinapse associada é excitatória e negativo se a sinapse associada

é inibitória;

Somatório: Adiciona as entradas ponderadas pelos seus respectivos pesos, ou seja:

∑=

=n

j

jkjk xwu1

(4.1)

Limiar (threshold, kθ ): Tem um papel determinante na saída do neurônio. Sua função

é controlar a intensidade da função de ativação para se obter o desempenho desejado da rede.

Se o valor de ku for menor que este limiar, então, a saída do neurônio ficará inibida, em caso

contrário, ficará ativa;

Função de ativação: Funciona como um limitante à amplitude da saída do neurônio,

ou seja, a entrada é normalizada dentro de um intervalo fechado, geralmente [0, 1] ou [-1, 1];

Saída do neurônio: Representada por ky , sendo:

)( kkk uy θϕ −= (4.2)

onde ϕ é a função de ativação.

A seguir são apresentadas algumas funções de ativação.

Page 51: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

49

4.3 TIPOS DE FUNÇÕES DE ATIVAÇAO

Segundo (HAYKIN, 2001), existem três tipos básicos de função de ativação utilizados

em ANNs, conforme podem ser vistas na Figura 4.2 e descritas a seguir:

Função de limiar (a): Utilizada no neurônio de McCulloch–Pitts, com a seguinte

definição:

=)(vϕ

0,0

0,1

vse

vse (4.3)

Função Linear por Partes (b): É definida por:

=)(vϕ

>>+

2/1,0

2/12/1,

2/1,1

vse

vsev

vse

(4.4)

Função Sigmóide (c): É a função mais utilizada, definida por:

=)(vϕ).exp(1

1

vα−+ (4.5)

onde α é o parâmetro de inclinação da função.

As funções de ativação acima descritas apresentam seu resultado em um intervalo

entre 0 e +1, no entanto, dependendo da aplicação, é necessário que este resultado fique entre

-1 e +1. Neste caso a função de ativação utilizada deve ser ímpar. Especificamente, para a

função sigmóide, sua correspondente ímpar é a função tangente hiperbólica.

Page 52: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

50

-2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 20

0.5

1

(a)

νϕ

(ν)

-2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 20

0.5

1

ν

ϕ(ν

)

-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 100

0.5

1

a=1a=1/2a=2

ϕ(ν

)

ν

(b)

(c)

Figura 4.2: Funções de ativação mais utilizadas. (a) Função Limiar. (b) Função

Linear por partes. (c) Função sigmóide com parâmetro de inclinação variável.

4.4 TOPOLOGIAS DAS REDES NEURAIS ARTIFICIAIS

Basicamente, as várias tolopologias das ANNs existentes, podem ser agrupadas em

duas classes:

* Não-Recorrentes

* Recorrentes

As ANNs não-recorrentes não possuem realimentação de suas saídas para as entradas

e por isso são ditas também “sem memória”. A estrutura de ANNs ditas não-recorrentes são

em camadas, podendo estas ANNs serem formadas por uma ou mais camadas

(multicamadas).

Page 53: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

51

As ANNs de uma só camada, também chamadas de “perceptrons” (HERTZ et. al.,

1991), não serão tratadas neste trabalho, por possuírem um espectro limitado de

representações. As ANNs multicamadas, por suprirem as deficiências das ANNs de uma

camada, são utilizadas neste trabalho e serão analisadas com mais detalhes no item 4.6.

As ANNs recorrentes contêm realimentação das saídas para as entradas, sendo suas

saídas determinadas pelas entradas atuais e pelas saídas anteriores. Além disso, suas estruturas

não são obrigatoriamente organizadas em camadas. Quando são, estas redes podem possuir

interligações entre neurônios da mesma camada e entre camadas não consecutivas, gerando

interconexões bem mais complexas que as ANNs não-recorrentes.

Nas ANNs recorrentes os neurônios têm conexões com eles mesmos e com outros

neurônios, excitadores ou inibidores. Depois de um certo intercâmbio de sinais os neurônios

que têm uma saída ativa ganham e permitem aos neurônios do seu mesmo grupo atualizar

seus pesos.

4.5 TIPOS DE TREINAMENTO

Segundo (HAYKIN, 2001), o aprendizado no contexto das ANNs pode ser definido

como:

“Processo através do qual os parâmetros livres de uma ANN são adaptados através

de um contínuo processo de estímulo pelo meio-ambiente. O tipo de aprendizado é

determinado pela maneira através da qual a mudança dos parâmetros é efetivada”.

Conseqüentemente o processo de aprendizado implica na ocorrência dos seguintes

eventos:

1. Ocorre estímulo pelo meio externo;

2. O estímulo provoca mudança nos parâmetros da rede;

Page 54: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

52

3. O comportamento da ANN muda em função da mudança de parâmetros.

Ao invés de especificar todos os detalhes de uma computação, tem-se a possibilidade

de treinar uma rede para fazer esta computação. Isto significa que se pode tratar problemas

onde regras apropriadas são muito difíceis de se conhecer a priori.

O treinamento é realizado pela aplicação seqüencial dos vetores de entradas (e em

alguns casos também de saída), enquanto os pesos da rede são ajustados de acordo com um

procedimento de treinamento pré-determinado. Durante o treinamento, os pesos da rede

gradualmente convergem para determinados valores, de maneira tal que a aplicação dos

vetores de entrada produza as saídas necessárias. Os procedimentos que levam uma ANN a

aprender determinadas tarefas podem ser classificados em duas classes de treinamento:

* Supervisionado

* Não-Supervisionado

O treinamento supervisionado necessita de um par de vetores composto do vetor de

entrada e do vetor alvo que se deseja como saída. Juntos, estes vetores são chamados de par

de treinamento

O procedimento de treinamento funciona da seguinte maneira: o vetor entrada é

aplicado. A saída da rede é calculada e comparada com o correspondente vetor alvo. O erro

encontrado é então realimentado através da rede e os pesos são atualizados de acordo com um

algoritmo determinado a fim de minimizar este erro. Este processo de treinamento é repetido

até que se obtenha níveis baixos de erro.

Por sua vez, o treinamento não-supervisionado, não necessita de um vetor alvo para as

saídas e, obviamente, não faz comparações para determinar a resposta ideal. O conjunto de

treinamento modifica os pesos da rede de forma a produzir saídas que sejam consistentes, isto

Page 55: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

53

é, tanto a apresentação de um dos vetores de treinamento, como a apresentação de um vetor

que é suficientemente similar, irão produzir o mesmo padrão de saídas. O processo de

treinamento extrai as propriedades estatísticas do conjunto de treinamento agrupa os vetores

similares em classes. A aplicação de um vetor de uma determinada classe à entrada da rede irá

produzir um vetor de saída específico, mas não existe maneira de se determinar, antes do

treinamento, qual o padrão que será produzido na saída para um vetor de entrada de uma

determinada classe.

No que diz respeito aos tipos de algoritmos usados, há uma grande variedade, tanto

para o treinamento supervisionado como para o não-supervisionado. Entre estes, um dos mais

difundidos é o algoritmo utilizado neste trabalho, o “backpropagation” (retro-propagação).

4.6 REDES MULTILAYER PERCEPTRON

O “perceptron” de camada única só é capaz de classificar padrões linearmente

separáveis. Quando o problema a ser trabalhado envolve um alto grau de não-linearidade, faz-

se necessário o uso de um “perceptron” multicamadas. Seu treinamento é do tipo

supervisionado e utiliza um algoritmo muito popular chamado “error backpropagation”

(retro-propagação do erro). Este algoritmo é baseado numa regra de aprendizagem que

“corrige” o erro durante o treinamento (HAYKIN, 2001). Geralmente, esta arquitetura

consiste em um conjunto de unidades sensoriais que formam uma camada de entrada, uma ou

mais camadas intermediárias (ou escondidas) de unidades computacionais e uma camada de

saída. Os sinais de entrada são propagados camada a camada pela rede em uma direção

positiva, ou seja, da entrada para a saída.

A camada de entrada é utilizada para receber os dados de entrada da rede. Esta

camada, portanto, não realiza qualquer tipo de processamento, servindo apenas para receber e

Page 56: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

54

armazenar o vetor de entrada, ou seja, o padrão a ser classificado. O número de neurônios

desta camada pode ser obtido facilmente pelo número de componentes do vetor de entrada do

sistema.

A camada de saída tem o papel de coletar e armazenar as respostas da rede ao padrão

inserido na entrada. Possui também uma estruturação relativamente simples, sendo composta

de tantos neurônios quantas forem as classes do problema.

Entre a camada de entrada e a de saída, podemos ter uma ou mais camadas ocultas,

assim denominadas por não possuir qualquer comunicação direta com os dados trabalhados.

A principal função destas camadas é a de propiciar complexidade e não-linearidade para a

rede. Redes sem camadas ocultas não conseguem resolver problemas não-lineares. A priori

não se conhece, um número ótimo de camadas ou de neurônios em camada, porém a escolha

desses parâmetros é muito importante e influencia diretamente o desempenho do sistema, pois

o tempo envolvido com o cálculo da resposta e com o treinamento da rede aumenta

significativamente com o aumento do número de neurônios e conexões das camadas ocultas,

por outro lado, com muitas camadas ocultas ou com muitos neurônios nestas camadas. A

figura 4.3 apresenta uma estrutura de ANN do tipo perceptron de camada oculta.

Page 57: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

55

Figura 4.3: Arquitetura de uma Multilayer Perceptron com duas camadas

intermediárias.

4.7 ALGORITMO DE APRENDIZADO PARA UMA REDE MULTILAYER PERCEPTRON

A regra de aprendizado utilizada para treinar uma rede “Multilayer Perceptron” é

denominada Regra Delta Generalizada ou, mais comumente, “backpropagation”. Segundo

(HERTZ et al, 1991) o algoritmo backpropagation é primordial para muitos trabalhos atuais

sobre aprendizado em redes neurais.

O treinamento utilizando esta regra consiste em fornecer à rede um conjunto de pares

de entradas e saídas, onde a cada entrada do treinamento tem-se uma saída desejada. Este

algoritmo é um método de gradiente descendente, que não garante chegar ao mínimo erro

global, e que pode ser divido em 5 passos, (HAYKIN, 2001):

* Passo 1: Apresente um padrão de entrada e saída desejada.

camadas intermediárias

camada de

saída

camada de

entrada

conexões

Page 58: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

56

Utilizando uma determinada estratégia de apresentação coloque um dos padrões de

entrada na camada de entrada e saída desejada nas suas respectivas camadas, então ative o

passo calcule saída.

* Passo 2: Calcule saída

A partir da primeira camada, permita que cada camada produza os valores de saída até

atingir a camada de saída e, então ative o passo ajuste pesos da camada de saída.

* Passo 3: Ajuste dos pesos da camada de saída

Para cada neurônio j da camada de saída, atualize todos os pesos ijw conforme

equação 4.6, então ative o passo ajuste pesos das camadas escondidas.

ijij ow ηδ=∆ (4.6)

onde:

η : taxa de aprendizagem

io : saída do neurônio

jδ : diferença (erro) entre a saída computada e a saída desejada do neurônio j , que

pode ser calculada segundo a equação 4.7 :

)1)(( jjjjj oodo −−=δ (4.7)

onde:

jd : saída desejada de jn

* Passo 4: Ajuste de pesos das camadas escondidas

Para ajustar os pesos de todas as camadas escondidas, atualize o peso kiw de um

neurônio in de uma camada escondida que está ligado a outro kn na camada anterior conforme

a equação 4.8 :

iwki /ηδ=∆ ko (4.8)

onde:

Page 59: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

57

η : taxa de aprendizagem

i/δ : erro relativo do neurônio in , dado pela equação 5.6 :

jijii wooi δδ Σ−= )1(/ (4.9)

ko : saída do kn , que estimula in via ikw

Depois que todas as conexões tenham sido ajustadas ative o passo cheque magnitude

do erro.

* Passo 5: Cheque magnitude do erro

Para se checar a magnitude do erro, pode-se adotar várias estratégias diferenciadas

quanto à forma de aceitar o erro como desprezível. Uma regra muito comum é verificar se o

erro global de saída da rede em relação à saída desejada é menor que um dado erro pré-

definido. Se a condição adotada é satisfeita, então a rede aprendeu o conjunto de treinamento,

caso contrário, volte a ativar o passo 1.

* Fim do algoritmo

Este algoritmo pode ser utilizado em uma arquitetura com qualquer número de

camadas. O passo 4 deve ser ativado recursivamente até atingir a camada de entrada. Para se

aumentar à velocidade de convergência é possível introduzir na equação 4.6 um multiplicador

chamado momentum, onde este valor representa o efeito dos ajustes anteriores no ajuste atual.

Page 60: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

58

5 DESENVOLVIMENTO PRÁTICO

Como já citado, o objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento de um sistema

computacional de apoio ao diagnóstico precoce do alcoolismo, com o intuito principal de

verificar a validade da utilização das redes neurais para este fim.

Neste item elucidamos a origem e as principais características do banco de sinais

utilizado nesta pesquisa de mestrado. Estes sinais são oriundos de um largo estudo que

examina a correlação do EEG com a predisposição genética ao alcoolismo. Este banco de

sinais é de propriedade do pesquisador Lester Ingber e está disponível em (INGBER, 2004) e

não há restrições para o seu uso.

5.1 COGA

O Estudo Colaborativo sobre a Genética do Alcoolismo (COGA) é uma fundação

federal norte americana constituída por seis diferentes núcleos de pesquisa. Estes centros são

localizados em (BIERUT, 2002), (HADA, 2001):

* Universidade do Estado de Nova Iorque – Centro de Ciência da Saúde do

Brooklyn;

* Centro da Saúde da Universidade de Connecticut;

* Escola de Medicina da Universidade de Washington;

* Universidade da Califórnia em San Diego;

* Universidade de Iowa;

* Escola de medicina da Universidade de Indiana.

Page 61: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

59

O COGA tem como objetivos principais identificar e caracterizar os fatores genéticos

de risco ao alcoolismo. O estudo envolve mais de 1.000 alcoólatras e suas famílias, com

pesquisadores buscando características, fisiológicas e genéticas dos participantes. Estas

análises têm identificado muitas características, ou fenótipos, que parecem ser geneticamente

determinadas, tal como a presença da dependência do álcool, o nível de resposta ao álcool, ou

o número máximo de doses que um indivíduo consome em uma dada ocasião. A análise

genética tem identificado regiões em vários cromossomos que estão associados com estes

fenótipos que vêm sendo estudados.

5.2 PREDISPOSIÇÃO AO ALCOOLISMO

Evidências sugerem que indivíduos com predisposição ao alcoolismo (PA) podem ser

distinguidos daqueles indivíduos que não têm predisposição através de seu EEG

(RANGASWAMY, 2004a) e do seu ERP, uma aplicação especial do EEG, (PORJESZ,

1997), (HADA, 2001). O EEG, um sinal altamente complexo, é uma das fontes mais comuns

de informação usadas no estudo das funções cerebrais e desordens neurológicas.

Evidências substancias indicam que o alcoolismo é biologicamente mediado por uma

predisposição genética (HADA, 2001). Estudos indicam também que as variações na

atividade eletrofisiológica podem prever o desenvolvimento do alcoolismo. Por exemplo,

comparadas com pessoas sem histórico familiar de alcoolismo, alterações em EEGs e ERPs

existem também em dependentes de álcool e em pessoas que não são alcoólatras, mas têm o

risco de desenvolver o alcoolismo. Estas medidas eletrofisiológicas representam, então,

características que são relacionadas à predisposição em desenvolver o alcoolismo (BIERUT,

2002).

Page 62: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

60

Por exemplo, um componente ERP visual, denominado P300 ou P3, freqüentemente

tem uma amplitude significativamente menor em indivíduos com PA do que em indivíduos

que não tem PA (POLICH, 1994), (HADA, 2001). Este déficit do componente P300 em

indivíduos com PA pode ser mais facilmente observado em tarefas visuais, do que em tarefas

auditivas (PORJESZ, 1997).

O estudo (RANGASWAMY, 2004a) demonstrou um aumento na potência beta em

EEG gravado em repouso de filhos (as) de alcoólatras. Os filhos com alto risco (AR) em

desenvolver o alcoolismo demonstraram uma maior potência beta 1 (12-16 Hz) e as filhas

com AR demonstraram um aumento nas potências beta 2 (16-20 Hz) e beta 3 (20-28 Hz)

quando comparados com os indivíduos do grupo de baixo risco (BR). Estes resultados

indicam que o aumento na potência beta pode ser considerado como um provável marcador de

risco para pessoas com risco em desenvolver o alcoolismo.

Deficiências neurofisiológicas em alcoólatras crônicos têm sido bem documentados,

especialmente em tarefas que envolvam memória espacial, solução de problemas e

flexibilidade cognitiva. O suporte destas evidências funcionais indicam que uma diminuição

na ativação do sistema cortical frontal provavelmente é causadora das deficiências em tarefas

visuais e especiais em alcoólatras crônicos (RANGASWAMY, 2004b). A atividade cortical,

por sua vez, pode se interrelacionar funcionalmente com estruturas subcorticais, como é o

caso do complexo amigdalóide (RANGASWAMY, 2004b), (RASIA-FILHO, 2000).

No caso de indivíduos com, deficiências em tarefas visuais e espaciais, de

desempenho verbal, categorização e organização, de atenção e índices de memória têm sido

consistentemente relatados (RANGASWAMY, 2004b). Estes detalhes também sugerem que

essas deficiências podem prever o uso abusivo do álcool. Claramente, essas manifestações

clínicas e comportamentais têm por base alterações morfológicas, funcionais neuronais e

gliais, as quais têm sido estudadas com diversas técnicas que podem contribuir, de forma

Page 63: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

61

geral, para o entendimento da base neurofisiológica dos dados aqui estudados (RASIA-

FILHO, 1999), (RASIA-FILHO, 2002), (RASIA-FILHO, 2004).

Existem poucos estudos de neuroanatomia feitos em indivíduos com PA, e um deles,

feito por (HILL, 2001) identificou que o volume da amígdala esquerda é menor em sujeitos

com AR e isto foi relacionado com a amplitude da onda P300.

De acordo com Begleiter (BEGLEITER, 1993) e (HERTZ et. al., 1994) a região

occipital-temporal está fortemente envolvida no processo de reconhecimento e classificação

de objetos e figuras. Lesões na região temporal anterior prejudicam o padrão de discriminação

visual, enquanto que lesões mais posteriores, como lesões nas regiões temporal e occipital

produzem deficiências perceptuais mais severas.

Conclui-se, assim, que a identificação de adequadas características biológicas que são

transmitidas geneticamente, dentre elas as medidas eletrofisiológicas, poderiam ser valiosas

na identificação de indivíduos que apresentam predisposição ao alcoolismo, antes do início da

doença.

5.3 GRAVAÇÃO DO BANCO DE SINAIS DE EEG

Estes sinais de EEG foram coletados por Henri Begleiter, principal pesquisador do

COGA na Universidade do Estado de Nova York – Centro de Ciência da Saúde do Brooklyn,

e preparado por David Chorlian. Cento e vinte e dois (122) indivíduos, dentre eles 75 com PA

e 47 sem PA, foram selecionados para a coleta dos sinais, realizando cada um durante esta

coleta 120 tarefas que serão explicadas em detalhes no item 5.4. Todos os indivíduos eram

destros, com visão normal ou corrigida e não apresentavam desordens psiquiátricas. O

tamanho aproximado deste banco de sinais é de 700Mbytes.

Page 64: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

62

Em cada indivíduo usou-se 64 eletrodos para a captação do sinal de EEG. Os eletrodos

são: AF1, AF2, AF7, AF8, AFZ, C1, C2, C3, C4, C5, C6, CP1, CP2, CP3, CP4, CP5, CP6,

CPZ, CZ, F1, F2, F3, F4, F5, F6, F7, F8, FC1, FC2, FC3, FC4, FC5, FC6, FCZ, FP1, FP2,

FPZ, FT7, FT8, FZ, ND, O1, O2, OZ, P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P8, PO1, PO2, PO7, PO8,

POZ, PZ, T7, T8, TP7, TP8, X e Y. (Nomenclatura padrão dos eletrodos de posição,

Associação Americana de Eletroencefalografia). A figura 5.1 ilustra a montagem dos

eletrodos sobre o escalpo dos indivíduos para a gravação dos sinais de EEG.

Figura 5.1: Ilustração esquemática da montagem dos eletrodos em seis grupos

regionais (frontal, central, parietal, occipital, temporal direito, temporal esquerdo),

utilizado na gravação dos sinais de EEG.

Todos os eletrodos colocados no escalpo foram referidos a Cz. O eletrodo usado como

terra foi colocado no nariz, e sua impedância foi mantida em 5KΩ. Duas derivações

adicionais foram usadas para gravar sinais verticais e horizontais de eletrooculograma (EOG).

Região Frontal Região Central

Região Temporal Esquerda

Região Temporal Direita

Região Parietal Região Occipital

Page 65: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

63

Os sinais foram amplificados com um ganho de 10.000 e com passa banda entre 0,02 a 50 Hz.

Os sinais amplificados foram amostrados a uma taxa de 256 Hz por segundo. Sinais com

excessivo movimento ocular e muscular (>73.3 µV) foram rejeitados já durante a gravação.

5.4 TAREFAS

No experimento realizado por Henry Begleiter durante a gravação dos sinais de EEG,

os indivíduos receberam estímulos visuais externos. O objetivo do experimento era o de obter

o ERP P300 ou P3, que é extraído quando os indivíduos estão engajados em uma tarefa visual

que requer atenção. Estes estímulos eram compostos por figuras que foram escolhidas do

Snodgradss e Vanderwat de 1980. Todas as figuras selecionadas representavam diferentes

objetos concretos e foram facilmente nomeadas. As figuras eram mostradas aos indivíduos

que participaram do experimento em duas formas:

* Visualizar um único objeto;

* Visualizar dois objetos: objeto um (S1) e o objeto dois (S2) mostrados em duas

condições: “matching” e “nonmatching”.

Na condição “matching” a primeira figura (S1) era idêntica à segunda figura (S2). Já

na condição “nonmatching”, a figura (S1) era seguida por uma outra figura (S2) que era

completamente diferente de (S1) em termos de sua categoria semântica. A apresentação das

tarefas “matching” e “nonmatching” foi randomizada. Em metade das tarefas o estímulo teste

(S2) era idêntico ao (S1), e na outra metade das tarefas, o estímulo teste (S2) foi diferente do

(S1).

Page 66: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

64

A tarefa do indivíduo era decidir se a figura (S2) apresentada a ele era a mesma do

primeiro estímulo (S1). A duração para a apresentação do primeiro (S1) e segundo (S2)

estímulo em cada tarefa teste foi de 300 ms. O intervalo entre cada tarefa foi fixado em 3.2 s.

A função cerebral pode ser avaliada através da análise dos ERPs. ERPs são médias de

sinais de EEG com fase e tempo simultâneos ao estímulo. Estes sinais são adquiridos através

do EEG com o sujeito respondendo a estímulos externos, sejam eles visuais ou auditivos, por

exemplo. A vantagem de se usar o ERP é que se pode combinar eletrofisiologia com cognição

(PORJESZ, 1997).

O objetivo principal do experimento realizado era o de identificar e extrair o ERP

relacionado à memória visual. Este ERP é nomeado de Potencial de Memória Visual (VMP),

devido à sua ligação com a memória visual e é geralmente localizado na região occipital-

temporal do cérebro (MIKAMI, 1980), (MILLER, 1991).

5.5 CONSTRUÇÃO E CONFIGURAÇÃO DA REDE NEURAL

O sistema computacional desenvolvido neste trabalho baseou-se na técnica de redes

neurais artificiais do tipo “perceptron” multicamadas, que consiste em uma série de

elementos de processamento, denominados neurônios artificiais, ou nós, interligados entre si,

com um determinado peso associado a cada conexão.

A opção por este tipo de rede deu-se pelo fato de o problema tratado ser basicamente

uma classificação de amostras (sendo esta a principal aplicação dos “perceptrons”), de dois

padrões de sinais de EEG:

* Sinais de EEG de indivíduos com AR;

* Sinais de EEG de indivíduos com BR.

Page 67: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

65

Para o treinamento da rede, utilizou-se o paradigma da aprendizagem supervisionada,

através do algoritmo “backpropagation”, que é baseado em uma análise dos erros de resposta

do sistema para os ajustes necessários na rede.

Vários testes para diferentes configurações da rede foram utilizados, mantendo-se

sempre o mesmo número de elementos na camada de entrada, ou seja, 256 neurônios. Na

camada de saída utilizou-se um neurônio e testou-se uma série de variações quanto ao número

de elementos ocultos.

Com relação ao número de camadas ocultas e de elementos nestas camadas, não foi

encontrada na literatura nenhuma regra básica que defina os melhores valores. Nos trabalhos

pesquisados, estas quantidades são bem variadas, não apresentando nenhuma relação entre si.

Na maioria das publicações verificadas, obteve-se como sugestão, iniciar o treinamento com

uma configuração de uma camada oculta com um pequeno número de elementos e ir

aumentando esta quantidade para se verificar as diferenças.

Partiu-se inicialmente com uma configuração de uma camada oculta composta de 16

elementos, e aumentou-se gradativamente esse número de elementos até alcançar 200

elementos. De todas as configurações testadas, a que apresentou melhores resultados, e

portanto a escolhida, contém uma camada oculta com 200 neurônios promovendo a conexão

entre a camada de entrada e a de saída.

Construímos uma rede neural para cada canal de EEG selecionado, ou seja,

construímos 64 redes neurais usando os coeficientes wavelets calculados na etapa do pré-

processamento. Conseqüentemente, cada canal foi avaliado independentemente com o

objetivo de compararmos seus respectivos desempenhos.

Page 68: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

66

Nas duas unidades de saída,

1

0 representa indivíduos com AR em desenvolver o

alcoolismo e

0

1 representa os indivíduos com BR.

Para garantir que houvesse uma convergência de forma estável para um erro mínimo

local abaixo do erro máximo esperado, que foi de 5%, utilizamos um coeficiente de

treinamento adaptativo )(tη igual a 0,01 no algoritmo “backpropagation”. As unidades de

saída tiveram uma função de ativação do tipo tangente hiperbólica devido às variações

positivas e negativas dos sinais de EEG.

O treinamento da rede foi realizado com 1000 iterações, a fim de encontrar os valores

das conexões entre os neurônios. Este número foi obtido empiricamente, levando em

consideração que um número alto de iterações faz com que a rede reconheça apenas as

amostras utilizadas durante o treinamento e um número baixo não é suficiente para os pesos

sinápticos.

5.6 TREINAMENTO DO SISTEMA E TESTES DE DESEMPENHO

Como já citado anteriormente, o treinamento do sistema se deu através do algoritmo

backpropagation descrito no item 4.1. O algoritmo “backpropagation” foi implementado no

MATLAB e está no apêndice 1. Os testes de desempenho da rede foram feitos utilizando

uma amostra de 60 sinais de EEG, com os indivíduos respondendo a estímulos “matching”,

escolhidos aleatoriamente, da base de dados usada nesta pesquisa (INGBER, 2004). Sendo

que 30 amostras eram de indivíduos com PA, e as outras 30 amostras restantes de indivíduos

sem PA (denominado aqui de grupo controle).

Page 69: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

67

Antes de realizar-se o treinamento da rede, eram separados 40 sinais de EEG, sendo 20

de indivíduos com AR e 20 de indivíduos com BR em desenvolver o alcoolismo, a rede era

treinada com os outros 20 registros de EEG restantes. Assim, os testes eram realizados com

amostras totalmente desconhecidas da rede no treinamento.

Page 70: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

68

6 RESULTADOS

São apresentados, a seguir, alguns resultados obtidos nas diversas fases da pesquisa, e

são discutidos alguns de seus aspectos mais relevantes.

6.1 RESULTADOS OBTIDOS

6.1.1 Extração e classificação do ERP visual

O principal objetivo desta pesquisa de mestrado que foi o de classificar sinais de EEG

de indivíduos com e sem PA fazendo-se uso da DWT e das ANNs, mas antes disso, fez-se

uma análise destes sinais de EEG através do ERP.

No trabalho (LOPES, 2004a) extraímos, investigamos e classificamos o ERP visual

P300 que reflete o processo cerebral de reconhecimento de imagens. O objetivo de extrairmos

ERPs dos indivíduos com e sem PA da base de dados utilizada nesta pesquisa (INGBER,

2004) foi o de verificar a baixa amplitude do ERP visual (P300 ou P3) de indivíduos com BR

em desenvolver o alcoolismo em tarefas “matching” comparadas as tarefas “nonmatching”, e

verificar também se os ERPs de indivíduos com AR não apresentariam esta diferença, de

acordo com (BEGLEITER, 1987), (PORJESZ, 1997), (PORJESZ, 1990), (HADA, 2001),

(BIERUT,.2002), (RANGASWAMY, 2004b). O processo de extração produziu uma forma de

onda ERP que consiste em 3 componentes:

* Componente 1: c110, ocorre entre 100 e 125 ms;

* Componente 2: c175, ocorre entre 160 e 190 ms;

* Componente 3: c247, ocorre entre 220 e 260ms.

Page 71: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

69

O ERP foi obtido para as condições “matching” e “nonmatching” para os eletros P7 e

P8 da região parietal e T7 e T8 da região temporal. Para extrairmos os ERPs utilizamos 22

amostras “matching” e outras 22 amostras “nonmatching” de cada um dos 60 indivíduos

selecionados da base de dados (INGBER, 2004), sendo 30 indivíduos com AR em

desenvolver o alcoolismo e outros 30 com BR. Na figura 6.1 temos a forma de onda ERP

média para os indivíduos com AR e BR em desenvolver o alcoolismo.

Como pode ser visto na figura 6.1 observa-se, para indivíduos com BR, uma diferença

significativa de amplitude dos ERPs “nonmatching” comparado ao ERP “matching”, no

componente c247, mas essa redução na amplitude não foi observada nos ERPs dos indivíduos

com AR. Estes resultados sugerem que além de haver uma diferença entre os sinais de ERP

entre os dois grupos, os dois grupos apresentam diferenças entre seus ERPs.

Em um estudo recente (RANGASWAMY, 2004b) em que se trabalhou com o

potencial P300, demonstrou-se que indivíduos com BR empregam redes neurais distribuídas

para realizar uma tarefa visual, enquanto que indivíduos com AR parecem utilizar substratos

neurais mínimos. Ainda de acordo com (RANGASWAMY, 2004b), sujeitos com AR

adotaram uma estratégia menos ótima, ou uma estratégia diferente para executar estas tarefas,

e que os circuitos frontoparietais não são utilizados de modo otimizado, o que contribui para

um processamento neural menos eficiente (PORJESZ, 1997).

Estas deficiências cognitivas podem prever o uso crônico do álcool

(RANGASWAMY, 2004b), e a identificação de marcadores genéticos como o P300 são

valiosos para que se identifique os sujeitos com PA.

Page 72: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

70

--------- “Nonmatching” ______ “Matching”

Figura 6.1 Média total de ERPs obtida de todos os indivíduos. Os gráficos da

direita são dos indivíduos com BR e da esquerda dos indivíduos com AR.

P7 P7 Pico c247 Pico c247

P8 P8

T8 T8

T7 T7

Page 73: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

71

6.1.2 Classificação dos sinais de EEG através das ANNs

O principal objetivo desta pesquisa de mestrado foi de classificar sinais de EEG de

indivíduos com AR e BR em desenvolver o alcoolismo. Neste trabalho, isto compreendeu

determinação dos coeficientes wavelets, além da construção e treinamento das ANNs. O

algoritmo desenvolvido para a determinação dos coeficientes wavelets foi implementado no

MATLAB e está no apêndice 2. Estes coeficientes foram calculados com o objetivo de

“descrever” as características dos sinais de EEG. Utilizamos as famílias Lemarie, Daubechies

e Biortogonal. Depois de calculados, os coeficientes wavelets na etapa de pré-processamento

eram alocados na entrada da ANN, a qual executava a classificação dos sinais.

Depois de treinadas, as ANNs em cujas entradas aplicaram-se os coeficientes wavelets

classificaram corretamente cerca de 70% de sinais de EEG e de ERP de indivíduos com AR e

BR de desenvolver o alcoolismo (LOPES, 2004a), (LOPES, 2004b), (LOPES, 2005).

Nos trabalhos (LOPES, 2004b) e (LOPES, 2005) treinamos ANNs com coeficientes

wavelets Lemarie, Biorthogonal e Daubechies. No trabalho (LOPES, 2004b) usou-se a

wavelet Lemarie e no trabalho (LOPES, 2005) usou-se as wavelets Biorthogonal e

Daubechies. Em termos de desempenho de classificação, as ANNs treinadas com coeficientes

da função wavelet Lemarie com ordem 5 para decomposição e 3 para reconstrução exibiram

melhores resultados (LOPES, 2004b) e serão mostrados a seguir. As figuras de 6.1 a 6.3

mostram o desempenho de classificação das redes neurais dos sinais de EEG dos eletrodos

das regiões parietal, occipital e temporal dos indivíduos com BR e AR em desenvolver o

alcoolismo.

Page 74: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

72

0

20

40

60

80

100

CP1 CP3 CP4 CPZ PZ

Eletrodos

Perc

en

tual d

e A

cert

o

BR

AR

Figura 6.2: Região Parietal, percentual de acerto obtido pelas ANNs treinadas

com coeficientes Lemarie. Indivíduos com BR e AR.

0

20

40

60

80

100

O1 O2 OZ PO8 POZ

Eletrodos

Pe

rce

ntu

al d

e A

ce

rto

BR

AR

Figura 6.3: Região Occipital, percentual de acerto obtido pelas ANNs treinadas

com coeficientes Lemarie. Indivíduos com BR e AR.

Page 75: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

73

0

20

40

60

80

100

T7 TP7 CP5

Eletrodos

Pe

rce

ntu

al d

e A

ce

rto

BR

AR

Figura 6.4: Região Temporal, percentual de acerto obtido pelas ANNs treinadas

com coeficientes Lemarie. Indivíduos com BR e AR.

As ANNs treinadas classificaram corretamente os sinais de indivíduos com e sem PA

na maioria dos eletrodos das regiões: parietal, occipital e temporal do escalpo, porém não se

obteve sucesso na classificação dos sinais das regiões frontal e central. Fato este esperado,

pois a estratégia para processar o estímulo visual recebido não é a mesma para indivíduos

com AR e BR (RANGASWAMY, 2004b), (PORJEZS, 1997), ou seja, a forma de onda do

EEG e ERP não é a mesma para este dois tipos de classe. Esta diferença em processar o

estímulo visual pode ser percebida nas regiões parietal, occipital e temporal (MIKAMI,

1980), (MILLER, 1991), (RANGASWAMY, 2004b).

Observa-se nas figuras 6.1, 6.2 e 6.3 que as ANNs treinadas classificaram os sinais de

EEG de indivíduos com AR, com um índice de 90% acerto em um eletrodo, de 70% de acerto

em nove e outros dois com um índice de 60% de acerto. Já para os indivíduos com BR,

obteve-se um índice de 100% de acerto em quatro eletrodos, de 90% em sete eletrodos e de

Page 76: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

74

70% em dois eletrodos. Vê-se também que estes índices foram obtidos na maioria dos

eletrodos da região temporal esquerda, occipital e parietal. Porém, não se obteve sucesso na

classificação dos sinais de EEG das regiões frontal e central.

A figura 6.4 auxilia-nos a visualizar, no escalpo, os resultados obtidos nas figuras 6.1,

6.2 e 6.3, ou seja, em quais eletrodos as ANNs treinadas classificaram os sinais de EEG dos

indivíduos com AR e BR com um índice igual ou superior a 60%.

Figura 6.5: Indicação, no escalpo, dos eletrodos em que as ANNS treinadas

classificaram corretamente os sinais de EEG dos indivíduos com e sem PA, com um

índice igual ou superior a 60%.

Page 77: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

75

7 CONCLUSÕES E DISCUSSÕES

Nossa motivação principal na pesquisa do mestrado foi o de dar início ao processo de

elaboração de um tipo de abordagem clínica que auxilie na detecção precoce da predisposição

ao alcoolismo.

Na revisão de literatura encontramos trabalhos correlatos ao desenvolvido nesta

pesquisa de mestrado. Em (HAZARIKA, 1997) usou-se a mesma arquitetura de rede neural

que foi usada neste trabalho, isto é, as redes neurais eram do tipo “perceptron” multicamadas,

as quais implementavam o algoritmo “backpropagation”. Depois de treinadas, as ANNs

implementadas com coeficientes wavelets classificaram corretamente 71% dos sinais de EEG

de indivíduos com Esquizofrenia, 66% dos sinais de indivíduos normais e 36% dos sinais de

indivíduos com TOC (Transtorno obsessivo compulsivo). Em um trabalho mais recente

(KIM, 2004), usou-se a combinação de algoritmos genéticos e ANNs (também do tipo

“perceptron” multicamadas implementadas com o algoritmo “backpropagation”), para

classificar sinais de EEG de indivíduos com Alzheimer e indivíduos normais. Para a

arquitetura implementada, foram classificados corretamente 73,3% dos sinais de indivíduos

com Alzheimer e 88,1% dos sinais de indivíduos normais.

Foi confirmada nossa expectativa de classificar corretamente sinais de indivíduos com

AR e BR em desenvolver o alcoolismo com índices semelhantes aos obtidos nos trabalhos

correlatos (HAZARIKA, 1997), (KIM, 2004). Depois de treinadas, as ANNs em cujas

entradas aplicaram-se os coeficientes wavelets classificaram corretamente, com índice igual

ou superior a 60%, os sinais de EEG e de ERP de indivíduos com AR e BR de desenvolver o

alcoolismo (LOPES, 2004a), (LOPES, 2004b), (LOPES, 2005).

Enquanto as medidas eletrofisiológicas podem servir como marcadores fenótipos para

o alcoolismo, isto não sugere que eles sejam necessariamente específicos para o alcoolismo,

nem sugere também que todos os indivíduos que apresentam estes marcadores venham a usar

Page 78: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

76

o álcool de forma abusiva. Como estas medidas eletrofisiológicas são geneticamente

determinadas, estes dados implicam que a predisposição ou a vulnerabilidade ao alcoolismo é

hereditária (PORJESZ, 1990).

7.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Como foi mencionado nos capítulos anteriores, o principal escopo desta pesquisa de

mestrado foi classificar sinais de EEG de sujeitos com e sem PA.

Uma análise estatística dos sinais de EEG utilizados (INGBER, 2004a) deverá ser o

próximo passo deste trabalho, pois julgamos necessário descobrir, por exemplo, o tamanho

adequado da amostra de sinais de EEG para o treinamento das ANNs de uma a população de

122 indivíduos, cada um com 120 sinais de EEG gravados, que compõe o banco de sinais que

temos disponível (INGBER, 2004).

Estudar-se-á a família wavelet mais adequada ao pré-processamento de sinais de EEG

e outras configurações de ANNs com o objetivo de melhorar o resultado de classificação dos

sinais de EEG obtidos com a configuração atual (LOPES, 2004a), (LOPES, 2004b), (LOPES,

2005).

Pretende-se ainda, extrair novos tipos de informação dos sinais de EEG de indivíduos

com e sem PA através da aplicação da Teoria do Caos.

A Teoria dos Sistemas Dinâmicos Não-Lineares oferece técnicas para a análise de

sinais onde não se sabe, ou não é conhecido, o modelo detalhado do mecanismo de produção

desses sinais, como é o caso dos sinais de voz, de EEG e dos sons pulmonares. A dinâmica do

sinal é avaliada e medidas qualitativas podem ser obtidas deste sistema. Essas medidas não

fornecem informações específicas quanto ao modelamento do processo de produção do sinal

avaliado, isto é, o modelo matemático é ainda inacessível. Entretanto, pode-se inferir a

Page 79: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

77

respeito de suas características qualitativas, como o número de graus de liberdade que esse

modelo apresenta, a taxa de perda de informação do modelo relativo às condições iniciais, ou

a estabilidade local de sua trajetória no espaço de fase. Espera-se que as estimativas de

invariantes dinâmicas como dimensão e expoentes de Lyapunov agreguem informação,

elevando a taxa de reconhecimento destes sistemas (PETRY, 2001), (PETRY, 2002).

Tem-se, então, o propósito de analisar a produção do sinal de EEG como produto de

um sistema não-linear e com isso extrair informações qualitativas desse sinal, de forma que

esses novos tipos de informação possam ajudar na diferenciabilidade de indivíduos com PA.

Page 80: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

78

REFERÊNCIAS

AKAY, M. Time Frequency and Wavelets in Biomedical Signal Processing. New York: IEEE Press, 1998. BEGLEITER, H.; PORJESZ, B.; ECKARDT, M. Auditory Recovery Function and P3 in Boys at High Risk for Alcoholism. Alcohol, USA, v. 4, n. 4, p. 315-321, july./aug. 1987. BEGLEITER, H.; PORJESZ, B; WANG, W. A Neurophysiologic Correlate of Visual Short-term Memory in Humans. Electroenceph. Clin. Neurophysiol., Amsterdam, v. 87, n. 1, p. 46-53, july. 1993. BENDAT, J. S.; PIERSOL, A. G. Random Data: analysis and measurement procedures. 2.ed. New York, NY, USA: John Wiley & Sons, Inc., 1986, 592 p. ISBN 0-471-04000-2 BENTLEY, P.; MCDONNELL, J. Wavelets Transforms: an introduction. Electronics & Communication Engineering Journal, London, v. 6, n. 4, p. 175-186, aug. 1994. BERGER, H. Über das Elektrekephalogramm des Menschen. Archiv für Psychiatrie und Nervenkrankheiten, Berlin, v. 87, p. 527-570, 1929. BERNARDI, A. Filtros de Kalman no Levantamento de Característica do Sinal de EEG. 1999. Dissertação (Mestrado em engenharia) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Escola Federal de Engenharia de Itajubá, Itajubá, 1999. BIERUT, L. J. et al. Defining Alcohol-Related Phenotypes in Humans. Alcohol Research & Health, USA, v. 26, n. 3, p. 208-213, 2002. BURROS, C. S.; GOPINATH, R. A. Introduction to Wavelets as Wavelets Transforms. NJ, USA: Prentice Hall, 1997. CAMPELO T, M. Aquisição e Processamento de Sinais Biolétricos Neurofisiológicos Intraoperatórios. 2003, 305 p. Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. CELESIA, G.; CHEN, R. Parameters of Spikes in Human Epilepsy. Diseases of the Nervous System, New York, USA, v. 37, n. 5, p. 277, may. 1976. CHATRIAN, G., et. al. A glossary of Terms Most Commonly used by Clinical Electroencephalographers. Electroenceph. and Clin. Neurophysiol, Amsterdam, v. 37, 1974. p. 538-548.

Page 81: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

79

CHUI, C. K. An Introduction to Wavelets. Boston, MA: Academic Press, 1992. COSTA, M. H. Derivação da Fonte de Sinais de EEG: correlação e mapeamento cerebral. 1994. Dissertação (Mestrado em engenharia) – Programa de Engenharia Biomédica, COPEE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1994. CUSTÓDIO, R. F. Análise Não-Linear no Reconhecimento de Padrões Sonoros: estudo de caso para sons pulmonares. 1999. 119 p. Tese (Doutorado em Ciência da Computação) – Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação, PPGC, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999. FALAS, T.; CHA, A. Neural Networks in Empirical Accounting Research: an alternative to statistical models. Neural Network World, Czech Republic, v. 5, n. 4, p. 419-432, 1995. HADA, M. et. al. Auditory P3a Deficits In Male Subjects at High Risk for Alcoholism. Biological Psychiatry, New York, v. 49, n. 8, p. 726-738, 2001. HASAN, J. et. al. Intra- and Intersubject Variability of EEG Waveforms Studied With a Hybrid System. In: KOELLA, W. (Ed.) Sleep 1982. Switzerland, 1983. p. 171-173. HAYKIN, S. Redes Neurais: princípios e práticas 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001, 900p. ISBN 85-7307-718-2. HAZARIKA, N. et. al. Classification of EEG Signals Using the Wavelet Transform. Signal Processing, Netherlandes, v. 59, n. 1, p. 61-72, may. 1997. HERTZ, J.; KROGH, A.; PALMER, R. G. Introduction to the Theory of Neural Computation. Redwood City: Adison-Wiley, 1991. HERTZ, S. et. al. Event-Related Potentials to faces: the effects of priming and recognition. Electroencephlografy Clinical Neurophysiology, Amsterdam, v. 92, n. 4, p. 342-351, july. 1994. HILL, S. Y. et. al. Right Amygdala Volume in Adolescent and Young Adult from Families at High risk for Developing Alcoholism. Biological Psychiatry, New York, v. 49, n. 11, p. 894-905, june. 2001. INGBER, L. Banco de dados de EEG. Disponível em: <http://kdd.ics.uci.edu/database/eeg/eeg-full.tar>. Acesso em: 10 abril de 2004. KANDSAWAMY, A. et. al. Neural Classification of Lung Sounds Using Wavelet Coefficients. Computers in Biology and Medicine, Elmsford, v. 34, n. 6, p. 523-537, sept. 2004. KELLAWAY, P. Automation of Clinical Electroencephalography: the nature and scope of the problem in kellaway. In: PETERSEN, I.; P. Automation of Clinical Electroencephalography. Raven Press: New York, 1973. p. 18-19.

Page 82: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

80

KIM, H. T. et. al. Computerized Recognition of Alzheimer Disease-EEG Using Genetic Algorithms and Neural Network. Future Generation of Computing Systems, North-Holland, 2004. Articles in press. LOPES, C. D. et. al. Classification of Event Related Potentials in Individuals at Risk for Alcoholism Using Wavelet Transform and Artificial Neural Network. In: SYMPOSIUM ON COMPUTATIONAL INTELLIGENCE IN BIOINFORMATICS AND COMPUTATIONAL BIOLOGY, CIBCB, 2004 San Diego, California. Proceedings… San Diego, California: IEEE, sept. 2004. LOPES, C. D.; RASIA-FILHO A. A. R.; SUSIN, A. A. Nonlinear Methods in ElectroEncephalographic Analysis: artificial neural networks and wavelets for classification of EEG signals in individuals at risk for alcoholism. In: BRAZILIAN WORKSHOP ON BIOINFORMATICS, WOB, 3., 2004, Brasília. Proceedings… Brasília: WOB, oct. 2004 LOPES, C. D.; ZARO, M. A.; SUSIN, A. A. The use of Wavelet Transform as a Preprocessor for the Neural Network Classification of EEG Signals. In: IASTED INTERNATIONAL CONFERENCE ON BIOMEDICAL ENGINEERING, 2005, Innsbruck, Austria. Proceedings… Innsbruck, Austria. feb. 2005. LOPES, F. H. S. Eletroencephalography: basic principles, clinical applications as related fields. Baltimore: Urban & Schwarzenberg, 1987, p. 871-897.

MALLAT, S. G. A Theory for Multiresolution Signal Decomposition: the wavelet representation. IEEE Trans Pat Anal Mach Intell, [S.l.], v. 11, p. 674-693, july. 1989.

MIKAMI, A.; KUBOTA, K. Inferotemporal Neuron Activities and Color Discrimination with Delay. Brain Research, Amsterdam, n. 1, v. 182, p. 65-78, jan. 1980. Research Report. MILLER, E. K.; LI, L.; DESIMONE, R. A Neural Mechanism for Working and Recognition Memory in Inferior Temple Cortex. Science, Washington, v. 254, n. 5036, 1377-1379, nov. 1991. NORMANN, R. A. Principles of Bioinstrumentation. New York: Wiley, 1988. 576 p. OPPENHEIM, V. A.; SCHAFER W. R. Discrete-time Signal Processing. [S.l.], Prentice-Hall signal processing series, 1989. 879 p. ISBN 0-13-216292-X. PETRY, A.; BARONE, D. A. C. Fractal Dimension Applied to Speaker Identification. In: IEEE INTERNATIONAL CONFERENCE ON ACOUSTICS, SPEECH AND SIGNAL PROCESSING, 1CASSP, 2001, Salt Lake City: 1CASSP. Proceedings… Salt Lake City, May 2001. PETRY, A.; BARONE, D. A. C. Speaker Identification Using Nonlinear Dynamical Features. Chaos, Solitons & Fractals, Amsterdam, v. 13, n. 2, p. 221-231, feb. 2002. POLICH, J.; POLLOCK, V. E.; BLOOM, F. E. Meta –analysis of P300 Amplitude From Males at Risk for Alcoholism. Psychological Bulletin, Washington, v. 115, n. 1, p. 55-73, 1994.

Page 83: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

81

PORAT, B. A Course in Digital Signal Processing. New York: John Wiley, 1997, p. 114-120. PORJESZ, B.; BEGLEITER, H. Event Relates Potentials in Individuals at Risk for alcoholism. Alcohol, USA, v. 7, p. 465-469, 1990. PORJESZ, B.; BEGLEITER, H. Event Related Potentials in COA’S. Alcohol Health & Research Worlds, [S.l.], v. 21, n. 3, p. 236–240, 1997. RANGASWAMY, M. et. al. A Functional MRI Study of Visual Oddball: evidence for frontoparietal dysfunction in subjects at risk for alcoholism. Neuroimage, Amsterdam, v. 21, n.1, p. 329-339, jan. 2004. RANGASWAMY, M. et. al. Resting EEG in Offspring of Male Alcoholics: beta frequencies. International Journal of Psychophysiology, Amsterdam, v. 51, n. 3, 2004, p. 239-251, feb. 2004. RASIA-FILHO, A. A. et. al. Influence of Sex, Estrous Cycle and Motherhood on Dendritic Spine Density in the Rat Medial Amygdala Revealed by the Golgi Method. Neuroscience, Oxford, v. 126, n. 4, p. 839-847, 2004. RASIA-FILHO, A. A.; LONDERO, R.G.; ACHAVAL, M. Effects of Gonadal Hormones on the Morphology of Neurons from the Medial Amygdaloid Nucleus of Rats. Brain Research Bulletin, Amsterdam, v. 48, p. 173-183, 1999. RASIA-FILHO, A. A.; LONDERO, R.G.; ACHAVAL, M. On Some Functional Activities of the Amygdala: an overview. Journal of Psychiatry and Neuroscience, Ottawa, v. 25, p. 14-23, 2000. RASIA-FILHO, A. A. et. al. Glial Fibrillary Acidic Protein Immunodetection and Immunoreactivity in the Anterior and Posterior Medial Amygdala of Male and Female Rats. Brain Research Bulletin, Amsterdam, v. 58, p. 67-75, 2002. RECHTSCHAFFEN, A., KALES, A. A Manual of Standardized Terminology, Techniques and Scoring System for Sleep Stages of Human Subjects. In: U.S. Public Health Service, U.S. Washington D.C., USA ,Government Printing Office, 1968. STRANG, G. Wavelets and Filter Banks. Wellesley: Cambridge Press, 1996. SUBRAMARIAN, V.; HUNG, M. S.;HU, M. Y. An Experimental Evaluation of Neural Networks for Classification. Computers & Operations Research, [S.l.], v. 20, n. 7, p. 769-782, 1993 TSAI, M. J.; VILLASENOR, J.; CHEN, F. Stack-Run Image Coding. IEEE Transactions on Circuits and Systems for Video Technology, New York, v. 6, p. 519-521, oct. 1996. WEI, J. T. et. al. Understanding Artificial Neural Networks and Exploring their Potential Applications for the Practicing Urologist. Urology, Ridgewood, v. 52, p. 161-172, 1998.

Page 84: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

82

APÊNDICE 1:

Programa em MATLAB que implementa o algoritmo “backpropagation”.

Page 85: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

83

APÊNDICE 1: PROGRAMA DE IMPLEMENTAÇÃO DO ALGORITMO

“BACKPROPAGATION”

Parte 1: implementação do “backpropagation”:

function [netout, W1, W2,

erro]=jhnettrain(in,out,nneuron,nepochs,lr,finalerror)

%[netout W1 W2]=jhnet(in,out,nneuron,nepochs)

% in = matriz de entrada

% out = matriz com os valores desejados de saída

% nneuron = número de neurônios na camada intermediária

% nepochs = número de vezes que todos os padrões são treinados

% lr coeficiente de aprendizagem - valor positivo ex. 0.2 ou 0.6

% o valor de lr define a convergência do algoritmo de treinamento

% o valores de lr grandes fazem o algoritmo não convergir,

% em geral usa-se valore menores que um

% finalerror = erro médio quadrático aceitável no final do treinamento

% netout saída da rede treinada excitada com os padrões de treinamento

% W1 e W2 matrizes dos pesos sinápticos da camada de entrada e de saída

% a rede é do tipo : netout=tanh([W2*(W1*[in;1]);1])

% O treinamento acaba quando o finalerror é atingido ou após o

% treinamento com o número de épocas especificadas em nepochs

% A função retorna a saída da rede após o treinamento e as matrizes da rede

% Para obter a saída da rede treinada para outros padrões use a função

jhnet

inrow=size(in,1);

incol=size(in,2);

outrow=size(out,1);

outcol=size(out,2);

inmin=min(min(in));

inmax=max(max(in));

mx=max(abs([inmin inmax]));

% Criando e inicializando a rede

A=mx/20;

W1=mx*(rand(nneuron,inrow+1)-0.5)/mx;

W2=mx*(rand(outrow,nneuron+1)-0.5)/mx;

%W1=A*ones(nneuron,inrow+1);

%W2=A*ones(outrow,nneuron+1);

fix=1;

% Treinando a rede

sqerror=0;

for ep=1:nepochs

sqerrorep=0;

x=round(rand*(incol-1)+1);

ind=[x:incol 1:x-1];

%if ep==10 lr=lr/2; end

%if ep==40 lr=lr/2; end

for y=1:incol

ii=ind(y);

% Calculando a saída da rede

IL=[tanh(W1*[in(:,ii);1])];

Page 86: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

84

OL=tanh(W2*[IL;1]);

error=[out(:,ii)-OL];

sqerrorep=sqerrorep+(error'*error/incol);

% Calculando correção dos pesos sinápticos

dW2=(error.*(1-OL.^2))*[IL;1]';

dIL=(W2'*(error.*(1-OL.^2))); % derivada do erro quadrático em

relação a saída da camada intermediária

dW1=(dIL(1:nneuron).*(1-IL.^2))*([in(:,ii);1]');

% Corrigindo os pesos

W1=W1+lr*dW1;

W2=W2+lr*dW2;

end

sqerror=sqerror+sqerrorep;

if ep==1 lri=lr; end

if ep>1 ant=meansqr; end

meansqr=sqrt(sqerror/ep)

%if ep>2 & ant==meansqr fix=0.9; end

%if ep>2&ant<=meansqr fix=(meansqr-ant)*10000+1.1; end

%if ep>2&ant<=meansqr lr=lri/fix; end

ep

%fprintf(fpm,'%d %7.5f\n',ep,meansqr);

erro_co(ep)=meansqr;

if meansqr < finalerror

netout=tanh(W2*[tanh(W1*[in;ones(1,incol)]);ones(1,incol)]);

%plot(in,out,in,netout,'x')

'fim: o erro final foi atingido'

return;

end

end

'fim: o erro final não foi atingido, mas todos os padrões foram treinados

nepochs vezes'

netout=tanh(W2*[tanh(W1*[in;ones(1,incol)]);ones(1,incol)]);

%plot(in,out,in,netout,'o')

%fclose(fpm);

erro=meansqr;

Parte 2: treinamento das ANNs

%treina ANN para eletrodo OZ, por exemplo:

clear all;

close all;

%namostra eh o numero de pacientes patologicos + controle

namostra=40;

% para patologicos

pos=0;

for indi=1:namostra/2

indi

if indi==1

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000364\Coeficientes\CoefOZ.

txt','r');

elseif indi==2

Page 87: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

85

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000368\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==3

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000369\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==4

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000370\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==5

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000371\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==6

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000372\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==7

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000375\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==8

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000377\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==9

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000378\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==10

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000379\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==11

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000380\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==12

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000381\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==13

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000382\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==14

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000385\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==15

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000386\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==16

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000387\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==17

Page 88: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

86

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000388\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==18

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000392\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==19

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000394\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

elseif indi==20

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000395\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

end

B=fscanf(fid,'%f');

tam=size(B);

B1=B;

pos=pos+2;

for i=1:tam

entra(i,pos)=B1(i);

end

saida(pos)=1;%patologicos

fclose(fid);

clear B;

end

%para NORMAIS ou grupo de controle

pos=-1;kk=namostra/2+1;

for indi=kk:namostra

indi

if indi==kk

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000337\Coeficientes\CoefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+1

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000338\Coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+2

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000339\Coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+3

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000340\Coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+4

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000341\Coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+5

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000344\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+6

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000345\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

Page 89: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

87

elseif indi==kk+7

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000346\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+8

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000347\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+9

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000351\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+10

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000357\Coeficientes\CoefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+11

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000362\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+12

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000363\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+13

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000370\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+14

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000371\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+15

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000373\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+16

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000374\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+17

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000379\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+18

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000382\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

elseif indi==kk+19

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000383\coeficientes\coefOZ.txt

','r');

end

B=fscanf(fid,'%f');

tam=size(B);

B1=B;

pos=pos+2;

for i=1:tam

entra(i,pos)=B1(i);

Page 90: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

88

end

saida(pos)=-1;%normais

fclose(fid);

clear B;

end

%normalizacao do valores da entrada

%MCW valor maximo esperado para os Coeficientes Wavelet

MCW=max(max(abs(entra)));

entra=entra/MCW;

%treinamento

nneuron=200;

nepochs=1000;

lr=0.01;

finalerror=0.05;

[netout, W1, W2,

erro]=jhnettrain(entra,saida,nneuron,nepochs,lr,finalerror);

%teste de erro

for t=1:10

if t==1

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000398\Coeficientes\coef

OZ.txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==2

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000414\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==3

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000415\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==4

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000409\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==5

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000410\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==6

Page 91: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

89

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000411\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

B1=B;

MCW=max(max(abs(B)));

fclose(fid);

elseif t==7

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000457\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

B1=B;

MCW=max(max(abs(B)));

fclose(fid);

elseif t==8

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000458\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

B1=B;

MCW=max(max(abs(B)));

fclose(fid);

elseif t==9

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000459\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

B1=B;

MCW=max(max(abs(B)));

fclose(fid);

else

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisPatologicos\co2a0000412\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

B1=B;

MCW=max(max(abs(B)));

fclose(fid);

end

for i=1:tam

gteste(i,1)=B(i);

end

[netout1]=jhnetout(gteste,W1,W2);

netout1

pause;

end

for t=1:10

if t==1

Page 92: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

90

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000384\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==2

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000387\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==3

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000389\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==4

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000392\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==5

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000393\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==6

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000395\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==7

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000396\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==8

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000397\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

Page 93: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

91

B1=B;

fclose(fid);

elseif t==9

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000402\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

MCW=max(max(abs(B)));

B1=B;

fclose(fid);

else

fid=fopen('\\Warrior\EEG\SinaisControle\co2c0000403\Coeficientes\coefOZ.

txt','r');

B=fscanf(fid,'%f');

B1=B;

MCW=max(max(abs(B)));

fclose(fid);

end

for i=1:tam

gteste(i,1)=B(i);

end

[netout2]=jhnetout(gteste,W1,W2);

netout2

pause;

end

Page 94: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

92

APÊNDICE 2:

Programa em MATLAB para extração dos coeficientes wavelets:

Page 95: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

93

APÊNDICE 2: PROGRAMA PARA EXTRAÇÃO DOS COEFICIENTES

WAVELETS:

function [coef,C,S]=wtcmp(diretorio,nomeEletrodo,X, fam,ord, thr);

% Argumentos de entrada:

% X: sinal original

% fam: familia da wavelet a ser usada ('db2', 'bior5.3',...)

% ord: ordem de decomposiçao da wavelet

% thr: nivel de “threshold”

% Argumentos de saida

% coef: coefiecientes obtidos

%

X=double(X);

dwtmode('per');

% Decomposiçao wavelet: retorna coeficientes

[C,S]=wavedec(X,ord,fam);

% parametros funçao wdencmp

[Xcmp,CXC,LXC,PERF0,PERFL2] = wdencmp('gbl',C,S,fam,ord,thr,'h',0.01);

Xcomp = WAVEREC(CXC,LXC,fam);

%

Exportar sinais para fora do MAtlab p

%save Sinaloriginal.mat X

%save Coeficientes.mat coef

aux=strcat(diretorio,'Coef',nomeEletrodo,'.txt');

fid = fopen(aux,'w');

fprintf(fid,'%3.4f\n',C);

fclose(fid);

%save VetorCoef.mat lcoef

%as variaveis estao armazenadas na pasta work do Matlab

Page 96: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 97: ANÁLISE DE SINAIS DE EEG UTILIZANDO A …livros01.livrosgratis.com.br/cp005369.pdf · anÁlise de sinais de eeg utilizando a transformada wavelet discreta e as redes neurais artificiais

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo