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Universidade Federal de Sergipe Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Psicologia Social Mestrado em Psicologia Social SAULO SANTOS MENEZES DE ALMEIDA ANÁLISE DO AUTOCONCEITO E AUTOCONTROLE DE CRIANÇAS NEGRAS A PARTIR DA IDENTIDADE SOCIAL São Cristóvão Sergipe 2012

ANÁLISE DO AUTOCONCEITO E AUTOCONTROLE DE … · ambiente, durante seu processo de construção social, e o Autocontrole é uma forma de controlar o próprio comportamento, geralmente

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Universidade Federal de Sergipe

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Psicologia Social

Mestrado em Psicologia Social

SAULO SANTOS MENEZES DE ALMEIDA

ANÁLISE DO AUTOCONCEITO E AUTOCONTROLE DE

CRIANÇAS NEGRAS A PARTIR DA IDENTIDADE SOCIAL

São Cristóvão – Sergipe

2012

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SAULO SANTOS MENEZES DE ALMEIDA

ANÁLISE DO AUTOCONCEITO E AUTOCONTROLE DE

CRIANÇAS NEGRAS A PARTIR DA IDENTIDADE SOCIAL

Dissertação Apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Psicologia Social do Centro de

Ciências de Educação e Ciências Humanas da

Universidade Federal de Sergipe como requisito

parcial para obtenção do grau de mestre em

Psicologia Social.

Orientadora: Dalila Xavier da França

Co-orientador: Elder Cerqueira-Santos

São Cristóvão – Sergipe

2012

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COMISSÃO JULGADORA

Dissertação do Discente SAULO SANTOS MENEZES DE ALMEIDA, intitulada ANÁLISE

DO AUTOCONCEITO E AUTOCONTROLE DE CRIANÇAS NEGRAS A PARTIR

DA IDENTIDADE SOCIAL, defendida e aprovada em 28 de fevereiro de 2012, pela Banca

Examinadora constituída pelos Professores Doutores:

_______________________________________________________

Profa. Dra. Dalila Xavier de França

________________________________________________________

Prof. Dr. Elder Cerqueira-Santos

________________________________________________________

Profa. Dra. Sheyla Christine Santos Fernandes

________________________________________________________

Prof. Dr. André Faro Santos

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À minha mãe, sinal de vitória!

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DOR ATÁVICA

(Jarbas Júnior)

“É triste não ser branco.”

Ter tudo e não ter nada!

A imagem execrada.

Quanto da cor insiste retinta:

Negro congo, negro banto!

Absinta amargura,

A pele escura condena

Distinta de tudo!

Azeviche plena

De desventura!

Mudo olhar de censura

É suficiente

Impertinente,

Ninguém o atura

Indiferente...

Tem qualquer coisa

De tortura

Realmente!

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AGRADECIMENTOS

Ser feliz já não é mistério! Buscar a felicidade continua uma jornada...

É a partir disto, então, que começo os meus agradecimentos. Agradeço à vida,

fonte inesgotável de aprendizados e que me ensinou a enxergar que tudo nasce das minhas

escolhas. Ou seja, o que vem a ocorrer em minha vida não depende dos outros, mas da minha

própria vontade. Como diria Sartre: “não importa o que fizeram de você, mas o que você faz

com o que fizeram de você”.

Neste sentido, ergo os meus olhos aos céus e agradeço a Deus pelas experiências

vividas, pelos obstáculos construídos e superados, pelas alegrias compartilhadas, pelo consolo

e pelo reerguimento. Obrigado Deus, pois, não houve vacilo que não pudesse ser superado!

À minha mãe, dedico grande estima e olhar peculiar. Dela, surgiram as mais

importantes decisões na minha vida, já que com sua entrega total à busca pela minha

felicidade, mostrou-me os caminhos necessários para se alcançar a vitória. Amo você demais!

À minha família, fonte absoluta de prazeres inesgotáveis, de gozos intermináveis,

agradeço de forma toda especial, especialmente às minhas tias Silvânia e Soane e a minha avó

Tereza. E também aos meus primos João Paulo, Vinícius e Erasmo, além de minha afilhada

Letícia. Vocês também são sinais de vitória em minha vida e em nossa família.

Quero também agradecer a alguém muito especial, que durante anos se fez uma

nova família em minha vida: minha irmã Bruna. Amo muito!

Agradeço também de forma especial aos meus orientadores: Prof. Dra. Dalila

Xavier de França e Prof. Dr. Elder Cerqueira-Santos, pelo apoio de sempre e o incentivo na

caminhada. E à Sheyla Fernandes, congratulo com as mais sinceras gratidões, pois desde

sempre tem me apoiado no meu caminhar acadêmico. Obrigado Sheyla pelas orientações,

pelos ensinamentos científicos e de vida.

Por fim, agradeço a Thiago Collares, que surge na minha vida como sinal de que

pessoas especiais chegam para nos fazer ainda mais felizes. Você me faz querer alcançar o

infinito! Eu te amo!

Obrigado a todos!

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RESUMO

O preconceito, ainda que de forma sutil, continua presente na sociedade e isso tem ainda

afetado os negros, numa sociedade que já não quer se mostrar tão hostil, mas ainda com o

preconceito sutil arraigado nos discursos e nas atitudes. O preconceito racial é, pois, uma

construção de atitudes depreciativas e hostis contra grupos marginalizados socialmente,

sabendo que o termo “grupo racial” é definido por atitudes sociais, e não somente pela

biologia ou aparência. Neste sentido, a presente pesquisa busca questionar como as crianças,

que também são participantes de um meio social, respondem a essas questões do preconceito

e aos processos identitários, e até que ponto o autocontrole e o autoconceito destas crianças

são acometidos. O Autoconceito é um produto da interação entre a pessoa e seu meio

ambiente, durante seu processo de construção social, e o Autocontrole é uma forma de

controlar o próprio comportamento, geralmente em situações conflituosas, de acordo com

padrões definidos pela sociedade. Para tanto, foram analisadas 100 crianças de duas escolas

públicas do interior de Sergipe, com idade entre 11 e 12 anos, sendo 47 meninos e 53

meninas. Os instrumentos utilizados dentro de uma compreensão bioecológica foram o

questionário de investigação do racismo e as escalas de avaliação do autoconceito e

autocontrole (Escala de Avaliação do Autoconceito Infanto-juvenil e Escalas Feminina e

Masculina de Autocontrole). Os resultados mostraram que as crianças buscam uma maior

identificação com a categoria de cor “branca”, valorando os estereótipos a partir deste padrão,

e o autoconceito e o autocontrole mostraram-se com níveis baixos. Assim, faz-se pensar em

processos de branqueamento, numa tentativa de valorização de si e do grupo através de uma

aproximação do grupo mais valorizado socialmente.

Palavras-chaves: preconceito, racismo, autoconceito, autocontrole.

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ABSTRACT

Prejudice, albeit subtle, is still present in society and this has also affected the black in a

society that no longer wants to prove as hostile, but still subtle prejudice rooted in the

discourses and attitudes. Racial prejudice is therefore building a derogatory and hostile

attitudes against socially marginalized groups, knowing that the term "racial group" is defined

by social attitudes, not only by biology or appearance. In this sense, this research seeks to ask

how the children, who are also participants in a social environment, respond to these issues of

prejudice and identity processes, and to what extent self-control and self-concept of these

children are affected. The Self-concept is a product of interaction between the person and

their environment during the process of social construction, and Self-control is a way to

control their own behavior, often in conflict situations, according to standards set by

society. To this end, we analyzed 100 children from two public schools in the interior of

Sergipe, aged between 11 and 12 years, 47 boys and 53 girls, categorized into two races:

black, dark brown. The instruments used in understanding the questionnaire were bio-

ecological research of racism and scales assessing self-concept and self-control - EACIJ (Self-

concept Scale Evaluation of Children and Youth) and EFAC or EMAC (Male and Female

Scales of Self-control). The results showed that children seek a greater identification with the

category of color "white" values, stereotypes from the pattern that is afforded to whites, even

though the self-restraint shown with low levels. Thus, it is thinking of bleaching processes in

an attempt to value themselves and the group through a group approach to the more socially

valued.

Key-words: Prejudice, racism, self-concept, self-control.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13

CAPÍTULO 1: O PRECONCEITO E OS ESTEREÓTIPOS – EXPLICAÇÕES NA

PSICOLOGIA SOCIAL ................................................................................................. 18

1.1. As Novas Formas de Expressão do Preconceito ..................................................... 22

1.2. O Preconceito Racial: Aspectos Conceituais........................................................... 25

1.3. Preconceito Racial no Brasil ................................................................................... 28

1.4.. Preconceito Racial em Crianças ............................................................................. 35

CAPÍTULO 2: IDENTIDADE SOCIAL ....................................................................... 42

2.1. Identidade Social nas Crianças Negras .................................................................... 48

CAPÍTULO 3: AUTOCONCEITO E AUTOCONTROLE - EXPLICAÇÕES NA

PSICOLOGIA POSITIVA E NA RESILIÊNCIA ......................................................... 50

3.1. Entendendo a Psicologia Positiva e a Resiliência ................................................... 51

3.2. Resiliência em Negros ............................................................................................. 58

3.3. Autoconceito e Autocontrole ................................................................................... 59

CAPÍTULO 4: MÉTODO .............................................................................................. 64

4.1. Amostra ................................................................................................................... 65

4.2. Instrumentos ............................................................................................................ 65

4.3 Procedimentos .......................................................................................................... 67

4.4. Análise dos Dados ................................................................................................... 68

REFERENCIAS ............................................................................................................. 98

ANEXOS ...................................................................................................................... 111

ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 112

ANEXO B - QUESTIONÁRIO ................................................................................... 113

ANEXO C - FOTOS .................................................................................................... 115

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Freqüências da cor de pele autodeclarada ................................................................ 70

Tabela 2: Freqüências das categorias das justificativas acerca do sentimento em relação a sua

cor de pele (Você gosta de ser assim? Por quê?) ...................................................................... 73

Tabela 3: Freqüências e Percentuais dos sentimentos em relação aos discursos de outros

acerca da cor de sua pele .......................................................................................................... 74

Tabela 4: Freqüências e Percentuais dos comportamentos em relação aos discursos de outros

acerca da cor de sua pele .......................................................................................................... 75

Tabela 5: Percentuais da Atribuição de Estereótipos à criança Negra, Branca e a Si mesmo

(Essa criança é bonita ou feia? Inteligente ou burra? Estudiosa ou não? Comportada ou

Briguenta? Boa ou ruim? Rica ou pobre?) ............................................................................... 76

Tabela 6: Freqüências e Percentuais das Preferências de Escolhas entre os Alvos brancos e

negros ....................................................................................................................................... 79

Tabela 7: Classificação dos Níveis de Autocontrole ................................................................ 80

Tabela 8: Classificação do Nível de Autoconceito a partir da pontuação ................................ 81

Tabela 9: Freqüências ou Percentuais dos níveis de Autocontrole (N=100) ............................ 82

Tabela 10: Freqüência dos níveis de Autoconceito (N=100) ................................................... 83

Tabela 11: Correlações dos Estereótipos atribuídos à criança negra ........................................ 84

Tabela 12: Correlações dos Estereótipos atribuídos à criança branca ...................................... 86

Tabela 13: Correlações dos Estereótipos atribuídos à si mesmo ....................................... 88

Tabela 14: Regressão Linear entre Autoconceito Geral, Autocontrole Geral, Sua Cor, Gênero,

Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC .............................. 89

Tabela 15: Regressão Linear entre Autoconceito Social, Autocontrole Geral, Sua Cor, Gênero,

Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC .............................. 90

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Tabela 16: Regressão Linear entre Autoconceito Pessoal, Autocontrole Geral, Sua Cor,

Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC ................ 91

Tabela 17: Regressão Linear entre Autoconceito Escolar, Autocontrole Geral, Sua Cor,

Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC ................ 92

Tabela 18: Regressão Linear entre Autoconceito Familiar e Identidade, Autocontrole Geral,

Sua Cor, Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC . 92

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Freqüências ou Percentual do Sentimento em relação à cor da criança Negra, Branca

e a Si mesmo ............................................................................................................................. 78

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INTRODUÇÃO

_____________________________________________

"O que se faz agora com as crianças

é o que elas farão depois com a sociedade‖.

( Karl Mannheim )

No dia 15 de setembro de 2010, a Revista Veja publicou um artigo com o nome “Uma

tese perigosa”, onde mostra a polêmica da publicação do livro Deutschland Schafft Sich Ab

(“A Alemanha está se destruindo”), por um dos presidentes do banco central alemão, Thilo

Sarrazin. Este explica a suposta incapacidade dos estrangeiros de se adequar ao modo de vida

alemã por um viés genético, a inteligência é uma qualidade hereditária e as diferenças têm um

caráter biológico e não sociais.

Já no final de 2010, o Ministério Público Federal aceitou a denúncia-crime contra a

estudante de direito Mayara Petruso pelo crime de racismo. A pena, de até um ano de prisão,

mais multa, pode chegar a cinco, devido ao crime ter sido cometido em "veículo de

comunicação". A estudante postou, tanto no Twitter quanto no Facebook, ofensa aos

nordestinos, após a derrota de José Serra nas eleições presidenciais de 2010. “Nordestino (sic)

não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!”, escreveu ela no Twitter.

Assim também, em Sergipe, a médica Ana Flávia Pinto Silva foi condenada pelo

Tribunal de Justiça de Sergipe a pagar R$ 10 mil de indenização ao funcionário da Gol, Diego

José Gonzaga, no Aeroporto Santa Maria, em Aracaju. A médica insultou o funcionário

Diego, chamando-o de 'nego', 'morto de fome' e 'analfabeto', além de humilhar outros

funcionários da companhia aérea por ter chegado atrasada para o check-in de um vôo para a

Argentina, onde passaria lua-de-mel.

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Pouco tempo antes, em julho de 2010, a frase “Say no to Racism” (“Diga não ao

racismo”) estampou cenas de jogos da Copa do Mundo de 2010, na qual jogadores erguiam

faixas com esta frase e se tornavam propagadores da luta contra o racismo, sem esquecer que

o evento acontecia em território africano de maioria negra.

Neste mesmo tempo, em junho, o Senado brasileiro aprova o Estatuto da Igualdade

Racial, que prevê a obrigatoriedade do ensino da história da África; reconhece a capoeira

como esporte e prevê recursos para a prática; reitera prática livre de cultos religiosos de

origem africana; garante linhas especiais de financiamento público para quilombolas; a

criação de ouvidorias em defesa da igualdade racial. Contudo exclui percentual de negros nas

universidades, televisão e em partidos, incentivo a empresas pela contratação de negros,

definição de quem são os remanescentes de quilombos e exigência de identificação da raça no

atendimento do Sistema único de Saúde (SUS). Fato este que causou divergências de opiniões

entre os movimentos negros, mas o que se destaca aqui é uma abertura de discussão do tema

em espaços políticos, o que até antes era uma utopia.

Deste modo, nesta nova realidade social, onde temas até antes ausentes das pautas das

políticas públicas passam a serem destaques nos discursos políticos e públicos, percebe-se que

viver no mundo contemporâneo é deparar-se com novas configurações e modificações de

valores sociais, políticos e econômicos, sendo que grande parte destas novas configurações

parte de um novo questionamento sobre o ser humano e o seu papel na sociedade pós-guerra.

Há de se pensar, neste sentido, que com a ratificação da Declaração Universal dos

Direitos Humanos, assinada em 1948, que defende “o advento de um mundo em que os seres

humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria”, e com a coação dos

movimentos sociais, de opinião pública e de cidadania, junto ao fortalecimento das garantias

das liberdades negativas e à ampliação das liberdades positivas, paradigmas são quebrados ou

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revistos a todo instante e assim, produz-se conseqüências inimagináveis até o presente, que

repercutem na mudança de valores, crenças e papéis sociais (Sachs, 1998).

Concernente às séries de mudanças ocorridas no mundo, principalmente, no que se

refere às relações interpessoais, compreende-se que se modificam as estruturas sociais,

gerando diversos conflitos intersubjetivos, como por exemplo, a luta pela igualdade de

direitos das minorias sociais. Porém, a concepção de revolução social e cultural, mesmo que

tida apenas como uma crença, coloca os indivíduos numa resoluta necessidade de “libertação”

das normas sociais que acabrunham o seu processo gregário e civilizador (Bozon, 2004), já

que ao mesmo tempo em que ocorre uma série de discursos, surge um reação de luta pela

legitimização e naturalização dos grupos inferiorizados (Foucault, 1988).

E é justamente em conseqüência desta atual situação social, que o ser humano começa a

questionar seus papéis na sociedade para uma melhor definição de quem ele e o outro realmente são,

despertando uma série de questionamentos sobre as relações interpessoais, e tendo o preconceito

dentre os fenômenos sociais de notável modificação, que possui duas características principais, sendo

uma, a generalização falha e/ou atitude que é sentida por indivíduos, bem como a expressão de

comportamentos (Lima, 2002).

A constituição da identidade passa assim, também, a ser um fator de relevante

significância na construção social e psicológica dos indivíduos desde a infância, reforçando

aspectos positivos e/ou negativos na história de vida. Sendo assim, a adaptação ao ambiente é

fortemente atingida pelo sentimento de pertença ao grupo e a valorização que o indivíduo faz

do seu grupo, ou seja, aspectos familiares, grupais e pessoais vão ser proeminentes na forma

como o indivíduo, seja adulto ou criança, responderá as ameaças e estresses que ocorrerem

em sua vida.

Partindo então deste entendimento de que a sociedade é diretamente interferida pelas

variáveis sociais e pelo preconceito, tomar-se-á do grupo das crianças negras para um estudo

mais detalhado, ressaltando os seus processos de exclusão e discriminação. Portanto, esta

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pesquisa pretende verificar como o preconceito tem afetado diretamente as relações

interpessoais do grupo de negros, analisando o autoconceito e autocontrole das crianças

negras a partir da sua identidade social, verificando a identidade racial das crianças e a

percepção do preconceito entre elas, ou seja, a pesquisa busca investigar o quanto a

identificação étnica sofre inquietações devido o preconceito racial, e conseqüentemente tem

repercussão no autoconceito e autocontrole da criança.

Assim, fica evidente a importância do estudo, pois pode trazer à tona como o

preconceito é capaz de interferir nos processos sociais e psicológicos da criança, sendo capaz

de denunciar a realidade social em que estas estão inseridas e a forma como elas tem lidado

para atenuar e/ou melhorar a sua participação social, além de fazer com que a mesma revele

como se processam as práticas de exclusão, dominação e marginalização aplicadas pelas

estruturas e convívios sociais.

Para tanto, apresentaremos o trabalho através de três capítulos de revisão bibliográfica

mais um capítulo de parte empírica, onde discutiremos no primeiro capítulo questões sobre o

Preconceito na Psicologia social, suas novas formas de expressão, além do preconceito racial,

destacando-os em relação às crianças. Sabe-se, pois, que o preconceito é condicionado pelas

normas sociais, e crianças a partir dos sete anos começam a expressar suas atitudes para os

grupos sociais considerando tais normas.

No segundo capítulo, discutiremos a Identidade social na Psicologia Social e nas

crianças negras, mostrando a importância da identidade na construção da realidade social para

a criança, e o quanto esta repercute na socialização das crianças, especialmente no meio

escolar.

Já no terceiro capítulo destaca-se o Autoconceito e o Autocontrole, a partir de uma

compreensão da Psicologia Positiva e numa aproximação com o conceito de resiliência, uma

vez que estes conceitos devem ser entendidos numa compreensão ecológica, sendo

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influenciados por características intrínsecas e extrínsecas (contexto, tempo, processos de

interação e aspectos pessoais). E, no quarto capítulo, serão apresentados os resultados e a

análise da pesquisa realizada, tendo um aporte na fundamentação teórica já apresentada.

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CAPÍTULO 1: O PRECONCEITO E OS ESTEREÓTIPOS –

EXPLICAÇÕES NA PSICOLOGIA SOCIAL

_____________________________________________

―Os preconceitos têm raízes mais profundas que os princípios.‖

(Nicolau Maquiavel)

O preconceito está presente na humanidade desde a Antiguidade e até meados do século

XX era tido como algo natural e justificado socialmente através da inferioridade de

determinados grupos (Fernandes, Da Costa, Camino & Mendoza, 2007; Lima & Vala, 2004).

Sabe-se que até os anos 20, o preconceito não era estudado como um fenômeno injustificado

(Rodrigues, Assmar e Jablonski, 1999), mas afirmava-se que realmente existiam diferenças

entre raças. Logo, a cor da pele, o tamanho da cabeça e outras características físicas

explicavam a superioridade ou inferioridade dos grupos sociais.

As hierarquias sociais, de tal modo, acabaram sendo racionalizadas apelando-se à ordem

“natural”, onde pobres eram pobres por falta de sentimentos, virtudes e valores nobres, e as

mulheres teriam posições subordinadas devido a características relativas ao seu sexo, e assim

também, os negros eram escravizados ou inferiorizados por estarem inseridos em uma raça

intelectual e moralmente incapacitada para a civilização (Guimarães, 1999).

Neste sentido, o preconceito passa a ser um tema de grandes repercussões, estudos e

discussões, sendo que é um tema que começou a ser mais bem estudado a partir da década de

50, com a publicação do livro “A Natureza do Preconceito” de Gordon Allport (1954), onde

ele mostra que o preconceito é uma atitude hostil frente a um grupo ou a um indivíduo por

pertencer a este grupo. Desta forma o estudo do preconceito vem sendo abarcado dentro das

suas mais diversas formas: sexismo, preconceito racial, homofobia e outros.

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O preconceito pode, pois, ser definido como uma atitude negativa em relação a um

indivíduo ou grupo com base nas relações ideológicas e representacionais assimétricas de

poder social. Da mesma forma seria compreendido o preconceito racial e demais modalidades

de preconceito, sendo, portanto, estreitamente vinculado à aprendizagem social (Allport,

1954).

A Psicologia Social, então, vai se deter no estudo do homem no seu contexto social,

sendo este influenciado e influenciador das mais diversas variáveis que compõem o ser

humano, fato demonstrado pelas diversas pesquisas que pressupõem um entendimento

sociológico e psicológico do ser humano numa perspectiva idiográfica do ser humano

(Kruger, 2004).

E dentro do imenso campo de estudo, que pode ser deliberado por esse entendimento

amplo e complexo da Psicologia, a formação de crenças, esquemas e estereótipos torna-se um

estrado de profícua importância para a melhor compreensão sócio-histórica e subjetiva dos

sujeitos agentes e passivos a esses construtos, já que, estes influenciam condutas e

comportamentos em interações sociais (Lima & Pereira, 2004). Esta formação de estereótipos

é tida por Allport (1954) como uma “lei do menor esforço”, onde se categoriza e definem-se

atributos, opiniões e crenças para determinados grupos sociais de maneira que nos satisfaça

no entendimento o mundo.

Várias teorias, então, têm tentado explicar o preconceito, assim como nos elucida, de

forma precisa, Pereira e cols. (2003). Principalmente, depois da obra de Allport em 1954, que

define o preconceito como sendo uma antipatia baseada numa generalização falha e inflexível

que pode ser sentida ou expressa, além de dirigida a um grupo em sua totalidade, ou a um

indivíduo por fazer parte do referido grupo, surgem estudos que procuraram explicar o

preconceito salientando causas psicológicas do preconceito, tais como as teorias da

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personalidade autoritária de Adorno (1950), da frustração-agressão (Dollard & Miller, 1939) e

do espírito fechado (Rokeach, 1960).

Surge, então, a perspectiva da cognição social (Fiske & Taylor, 1991), que passa a

explicar através dos vieses psicológicos responsáveis pelos erros no processamento das

informações dos julgamentos sociais (Ross, 1977; Schaller, 1991), reforçando a idéia de

estereótipos. Assim, nesse caminhar científico sobre o estudo e preconceito, surgem diversas

explicações e hoje já se entende também uma abordagem societal para análise das relações

intergrupais (Doise, 1982; Camino, 1996), que situa o viés endogrupal no quadro específico

dos conflitos ideológicos que se desenvolvem no interior de uma sociedade, explicando o

favoritismo endogrupal como conseqüência da dinâmica própria das relações de poder entre

os grupos (Deschamps, 1982; Doise, 1976).

Desta forma, tem se tornado lugar comum discutir o preconceito a partir de sua natureza

basicamente social, minimizando o poder explicativo dos processos psicológicos subjacentes,

percebendo sua fonte então na luta ideológica pelo poder entre os grupos, no interior dos

processos de exclusão social e dos processos políticos (Camino, Da Silva, Machado &

Pereira, 2002; Camino, Da Silva & Machado, 2004).

Isto resultou no distanciamento dos estudos científicos da visão do preconceito como

uma propensão individual de personalidade ou de estilo cognitivo, sendo inquestionável a

idéia de que tal construto é responsável por influenciar diretamente tanto os julgamentos

sociais como as ações dos indivíduos, consistindo nisto sua incomensurável relevância para as

ciências políticas e sociais.

Neste sentido, além de uma formação subjetiva individual frente a outros grupos, a

inserção social seria co-responsável pela formação de estereótipos e preconceito. Pode-se

pensar, por exemplo, nas idéias e pensamentos criados ao se pensar em negros, índios,

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homossexuais e mulheres (minorias sociais) pelos grupos favorecidos socialmente,

geralmente de cunho negativo e generalizados.

Dentro deste entendimento, diversas teorias tem se configurado, tais como a Teoria de

Orientação à Dominância Social, de Sidanius e Pratto (1999), que tenta analisar os aspectos

psicológicos e sociais vinculados e preditores do preconceito. Tem como base a idéia de que

as sociedades humanas tendem a se estruturar em sistemas de grupos baseados em hierarquias

sociais, sendo três processos são responsáveis por estruturar as hierarquias sociais, os quais

vão se acumulando, interagindo e se complementando: 1) a discriminação individual,

referente aos atos individuais de aceitação ou rejeição de indivíduos isolados com a

justificativa de pertencerem a grupos minoritários; 2) a discriminação institucional,

concernente às regras e ações de instituições sociais que promovem, implícita ou

explicitamente, distribuições assimétricas e desproporcionais de valores negativos e positivos

a partir da hierarquia social instituída; e 3) a assimetria comportamental proveniente das

assimetrias grupais e pertinentes às formas de comportamentos sociais como dominância e

submissão, desprezo e estima, dentre outros (Sidanius & Pratto, 1999).

Existem, pois, sistemas sociais naturais que são responsáveis por gerar e manter a

estratificação social, entretanto, esses sistemas não estariam necessariamente ligados a

propensões cognitivas consideradas inatas, mas ancorados nas representações sociais

desenvolvidas no curso da história e do processo civilizatório (Fernandes, Almeida &

Nascimento, 2008), conforme se poderá perceber adiante no estudo histórico do preconceito.

Entre os anos 1960 e 1970, as explicações do preconceito são desenvolvidas em função

das influências culturais, das relações intergrupais e das normas sociais (Duckitt, 1992). Tajfel

(1978), com a Teoria da Identidade Social, definiu o preconceito como resultado da inserção

do indivíduo numa categoria social. Para ele, a mera categorização em grupos leva os

indivíduos a favorecerem o próprio grupo em detrimento do grupo dos outros.

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Assim, na seqüência, essas tendências são postas em relevo enfatizando as relações de

poder entre os grupos sociais como fonte do preconceito (Camino, 1996). Surge, então, uma

busca pela compreensão deste fenômeno como injustificado, proveniente das relações sociais.

Os pré-julgamentos, notadamente, tornam-se fundamentos para a discriminação e o

preconceito frente a grupos que possam estar fora dos padrões socialmente estabelecidos

como corretos ou aceitáveis, numa tentativa de defesa de si e do seu grupo, onde a simples

pertença a um grupo já seria fator de avaliações enviesadas (Tajfel, 1982).

Assim, nas últimas décadas uma série de estudos vem se desenvolvendo tendo o

preconceito como tema principal, partindo do entendimento de que “são pré-julgamentos

negativos sobre os membros de qualquer grupo social” (Jones, 1972). É certo que todos os

dados parecem indicar que o preconceito contra grupos minoritários está em declínio na

atualidade, e esse fato pode ser percebido levando-se em conta as normas de alguns países que

coíbem (em alguns casos com rigor) qualquer tipo de discriminação (Lima, 2003). Entretanto,

a realidade dos fatos não se mostra tão clara quanto às ditas normas anti-preconceituosas.

1.1. As Novas Formas de Expressão do Preconceito

Devido às normas sociais que recriminam e desfavorecem a discriminação, nos dias

atuais, claramente se pode perceber a construção de novas formas de expressão do

preconceito racial, os mesmos vêm sendo camuflados, sutilizados ou se expressando de forma

simbólica.

Na atualidade o que se percebe são as novas configurações de manifestação do

preconceito, o que antes era revelado de forma mais hostil, hoje se revela de forma mais

sutilizada ou camuflada. Uma inquietude de sistemas lutam a favor da igualdade e justiça

social, e constata-se que algo vem paulatinamente se modificando no quadro das relações

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hierárquicas de poder entre os grupos, mas afirmar categoricamente que a sociedade está se

tornando cada vez mais suscetível às normas igualitárias é deveras impertinente. Surge, então,

uma busca pela compreensão deste fenômeno como injustificado, proveniente das relações

sociais.

Como exemplo disto é o estudo de Pettigrew e Meertens (1995) que revelou que as

pessoas não mais procuram expressar abertamente o preconceito, mas o esconde através de

atitudes amigáveis de aceitação do outro. Porém, o preconceito, ainda que de forma sutil,

continua presente na sociedade e isso tem ainda afetado os negros, numa sociedade que já não

quer se mostrar tão hostil, mas ainda com o preconceito sutil arraigado nos discursos e nas

atitudes.

Com efeito, além das notícias passadas pela mídia, as pesquisas também revelam a

inquietude dos sistemas que lutam a favor da igualdade e justiça social. Uma gama de estudos

sobre o preconceito e preconceito racial na atualidade tem demonstrado que uma nova

maneira de expressar atitudes negativas dirigidas aos grupos minoritários se faz atuante no

cenário social dos dias de hoje (Lima, 2003; Lima & Vala; 2004; Fernandes, Da costa,

Camino & Mendoza, 2006; Fernandes, Almeida & Nascimento, 2008).

Esta modalidade moderna de discriminar tem base nas mesmas propensões do

preconceito tal como se conhece desde os primeiros estudos (Allport, 1954), e é caracterizada

por se apresentar de forma sutilizada, camuflada, velada, não se mostrando explícita como as

formas antigas, ditas diretas. Os teóricos atribuem esta modificação às normas sociais

igualitárias e, neste sentido, dirige-se um olhar negativo ao preconceito: ser preconceituoso se

tornou aversivo.

Pesquisas realizadas no Brasil indicam essa disparidade entre o assumir-se

preconceituoso e o perceber a sociedade como preconceituosa. Em pesquisa realizada em

1995, quase 90% dos entrevistados não se consideraram racistas, ao passo que o mesmo

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percentual defende a existência de preconceito racial no Brasil (Turra & Venturi, 1995).

Observa-se assim que o preconceito e a discriminação continuam presentes, mas,

aparentemente longe das representações ideológicas pessoais, de forma que se crê na ausência

de sentimentos preconceituosos nas auto-percepções.

Partindo desta premissa, Vala, Brito e Lopes (1998, 1999), discutem que as

manifestações clássicas de discriminação estão diminuindo por causa das formas não tão

explicitas de transmitir o preconceito. Essas novas formas emanam da formulação de leis que

visam a beneficiar os grupos minoritários, que estão sempre à margem da sociedade.

Esses conjuntos de leis tentam coibir manifestações e atitudes discriminatórios,

penalizando aqueles que o infringem (Lima, 2002), pois o preconceito aparece como um

problema social, já que é uma atitude pejorativa baseada numa generalização errada. Porém, o

que na verdade se percebe é uma conjuntura social onde as relações interpessoais assumidas

na sociedade possibilitam que os grupos majoritários criem estratégias para expressão de

sentimentos negativos contra as minorias sociais.

De fato, como visto, diversos estudos indicam que, em lugar de uma possível

diminuição, surgem novas e dissimuladas formas de expressão do referido fenômeno

(Fernandes, Da Costa, Camino & Mendoza, 2006; Fernandes, Almeida & Nascimento, 2008).

Em pesquisa realizada, Fernandes, Almeida e Nascimento (2008), depararam-se com o

preconceito sutil demonstrado como a forma mais presente e aceita de se assumir o

preconceito, o que ratifica as afirmações anteriormente explicitadas de uma nova forma de

preconceito a se instalar em meio à sociedade.

Segundo Pereira e cols. (2003), o preconceito atualmente é constituído por discursos

que pregam a defesa dos valores igualitários do pós-modernismo e, ao mesmo tempo, opõe-se

às políticas sociais coerentes com esses valores, apoiando-se em discursos justificadores.

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1.2. O Preconceito Racial: Aspectos Conceituais

Na biologia, o ordenamento dos níveis se dá numa possibilidade das classes serem as

mais homogêneas possíveis, e esta ordem socilita hierarquia. De tal modo, todos os níveis

hierárquicos recebem rótulos e todos os conjuntos e classes ganham nomes, mesmo havendo

certa arbitrariedade, pois são produtos da mente do classificador e não do mundo natural.

Neste mesmo caminho, as primeiras tentativas de colocar ordem na humanidade datam do

final do século XVII, através das análises craniométricas, tomando por base uma noção

platônica do tipo ideal.

Em geral, o cérebro é maior em adultos maduros que em idosos, em homens que em

mulheres, em homens eminentes que em homens de talentos medíocres, em raças

superiores que em raças inferiores. [...] Outras coisas equivalentes, há uma notável

correlação entre o desenvolvimento da inteligência e o volume do cérebro. (Gould, 1996,

citado por Magnoli, 2009)

Desta forma, entende-se que o termo raça foi utilizado para descrever, “tipo”,

“linhagem” e “ancestralidade”, mas na cercadura do eurocentrismo ampara-se em

características físicas e hereditárias, pois, as sociedades escravizavam como resultado de

conquistas, guerras ou dívidas, mas com esta nova moldura, a escravidão se legitima

baseando-se em diferenças físicas ou intelectuais.

Já com Charles Darwin tentou-se hierarquizar as raças humanas em função das

capacidades intelectuais e as potencialidades que explicavam as realizações culturais e

econômicas, apesar do mesmo encontrar dificuldades em destacar diferenças nítidas entre as

raças humanas, ainda que honrasse a idéia de superioridade racial dos europeus. Assim

também, como modelo, entre 1853 e 1855, há a publicação de Ensaio dobre a desigualdade

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das raças humanas, de Arthur de Gobineau, onde ele mostra que a humanidade se dividia em

três grandes complexos raciais – branco, amarelo e negro – e o progresso dependia

diretamente das raças brancas, sendo inspiração para as leis antimiscigenação nos EUA e na

Alemanha nazista. Conseqüentemente, o “racismo científico” impetrou que os indivíduos das

raças inferiores percorreram incompletamente a trajetória da evolução da espécie (Magnoli,

2009).

Pensando assim, Allport (1954) define-o como sendo justamente essa construção de

atitudes depreciativas e hostis contra grupos marginalizados socialmente. Consiste, pois, num

preconceito contra um ou mais grupos raciais, que se manifesta em comportamentos hostis

para com os membros desse grupo, sabendo que o termo “grupo racial” é definido por atitudes

sociais, e não somente pela biologia ou aparência (Dummett, 2005). Nesta perspectiva, o

preconceito racial tem a natureza de hierarquização, dominação e exclusão baseada em uma

característica física externa ratificadora de comportamentos (Lima & Vala, 2004), sendo o

preconceito racial um tipo de preconceito (Brown, 1995).

Para Blumer (1980, citado por Guimarães, 2004), os grupos dominantes compartilham

sentimentos de superioridade; de que a raça jugulada é diferente; da propriedade particular de

certos privilégios e do medo de que a raça reprimida partilhe dos benefícios que lhe são

peculiares. A subordinação assim surge como uma visão errada da biologia humana para

estabelecer justificativa de dominação de indivíduos e povos (Guimarães, 1999). Jones

(1972), de tal modo, expõe que o preconceito racial não parte apenas de uma ciência

individual, mas é também institucional e cultural, ou seja, o preconceito racial perpassa um

compartilhamento de sentimentos e uma manipulação institucional e cultural de ideologias

racistas.

O racismo, assim, no sentido moderno, não começa simplesmente numa comparação

fisiológica ou cultural entre raças, mas começa quando se pretende impor uma superioridade

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cultural de um grupo direta e mecanicamente através de uma pretensa superioridade

fisiológica, ou seja, quando um grupo deriva as características culturais de outro grupo das

suas características biológicas, numa tentativa de reduzir o cultural ao biológico, e do

primeiro depender do segundo, explicando um status social por uma característica natural

(Delacampagne, 1990).

Pensando desta forma, e enxergando os estereótipos culturais como um conjunto de

traços e características associados com um grupo particular transmitidos pelos agentes de

socialização, conservados e passados de geração em geração, e tão bem aprendidos que

operam automaticamente, pode-se pensar que traços positivos são sempre dirigidos aos

grupos dominantes, e essa perpetuação atinge os todos os níveis sociais, institucionais e

culturais da sociedade. Esta realidade é verificada nas pesquisas que revelam escores

negativos à inteligência dos negros, como exemplo, tendo como possíveis causas as

diferenças na entrada na escola, nas maiores e melhores oportunidades econômicas, e nos

contextos culturais e sociais diferenciados. A educação e a economia passam a ser diferenças

que levam a estereótipos negativos (Delacampagne, 1990).

Distinções morais também passam a ser tratadas diferentemente entre os membros de

diferentes raças, acreditando-se numa essência racial que alude em certas qualidades

moralmente condescendentes. Assim, os racistas discriminam baseados numa crença de

contestações, tais como a honestidade, coragem ou inteligência, que autorizam um tratamento

diferencial, incontroverso e legítimo, onde se pode fazer também distinções de natureza moral

por se acreditar que cada raça tem suas próprias características morais implicadas (Appiah,

1992).

Desta forma, há de se questionar: num contexto social, onde as representações racistas

são evidentes, atitudes preconceituosas podem não ser manifestas?

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Vislumbrando esta questão, nota-se que todas as informações são distorcidas por

representações impostas, vagas e parcialmente inacessíveis, em outras palavras, os

pensamentos estão condicionados por nossa cultura (Moscovici, 2005): reproduz-se aquilo

que já está formado socialmente. Toda a estrutura cognitiva é ancorada e repercutida por

idéias e pensamentos que já atravessam a sociedade. Estudos apontam o fato de que os grupos

dominantes avaliam positivamente os membros de seu grupo e negativamente os membros de

outros grupos justamente por serem atravessados por categorias e valores fundados em teorias

do senso comum (Tajfel, 1981).

Destarte, numa sociedade onde os valores que sustentam o preconceito racial são postos

sem intervenção contrária, espera-se que este tipo de preconceito seja manifesto de forma bem

expressiva. Os Estados Unidos e África do Sul com o apartheid, como exemplos, defenderam

e justificaram a desigualdade dos indivíduos pelas suas características iminentes, nestes

termos, fica nítida a idéia da discriminação como construída historicamente (Guimarães,

1999), como se pode perceber no processo histórico brasileiro.

1.3. Preconceito Racial no Brasil

“Desculpa, meu caro amigo,

Eu nada te posso dar;

Na terra que rege o branco,

Nos crivam de pensar!...

Ao peso do cativeiro

Perdemos razão e tino,

Sofrendo barbaridades,

Em nome do Ser Divino!!

E quando lá no horizonte

Despontar a Liberdade;

Rompendo as férreas algemas

E proclamando a igualdade;

Do cocho bestunto

Cabeça farei;

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Mimosas cantigas

Então te darei.” (Gama, 1848)

Tomando estes versos de Luís Gama, do livro As primeiras trovas burlescas de

Getulino (1848), pode-se pensar no preconceito dos brancos em relação aos negros desde os

primeiros momentos da colonização, pois, por haver uma imagem de que, como as sociedades

africanas não apresentavam as mesmas instituições políticas, nem os mesmos padrões de

comportamento e visões do mundo do europeu, então, estas eras tidas como sociedades não

civilizadas e sem história, ou seja, o negro desde a colonização e a escravidão é colocado

como um ser à margem da sociedade. Vale ressaltar ainda que, criava-se a divisão dos negros

em grupos, para que na promoção de rivalidades não houvesse o fortalecimento dessa camada

social, ignorando a possibilidade de associação e descoberta de afinidades culturais, até

atingir a um processo de internalização das identificações com seu grupo (Mattos, 2009).

E desde então, o que se percebe, é que, enquanto na história de alguns países fica

evidente a noção de raça, no Brasil apenas entre pessoas “não corretas” e nos movimentos

sociais, onde militam pessoas discriminadas, utiliza-se este conceito. Discutir questões de raça

não se torna um lugar de grandes questões e pautas públicas a serem sinalizadas, pois, o Brasil

viveria numa suposta “democracia racial” ou em um processo de miscigenação em que as

raças conviveriam com equidade.

Enquanto, por exemplo, o modelo norte-americano exibia um padrão de relações

segregacionista, sancionado por regras precisas de filiação grupal e baseado em arrazoados

biológicos que definiam as raças, no Brasil existia um protocolo de distanciamento social,

uma diferença aguda de status e possibilidades econômicas, convivendo com equidade

jurídica e indiferença formal (Guimarães, 1999).

Assim, convive-se com uma ideologia desigual inconsciente que está ainda presente nas

relações sociais, num país marcado por notórias disparidades sócio-econômicas e onde existe

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a maior população negra vivendo fora da África (Lima & Vala, 2004; Camino, Da Silva,

Machado, 2004).

E o entendimento racial no Brasil formou-se, desta forma, devido três razões, segundo

Guimarães (1999): o programa político que ignorou o anti-racismo popular dos negros e

mulatos que denunciavam as barreiras do preconceito; a definição de raça como um conceito

biológico, impedindo a consideração da cor como uma noção racialista; e o realismo

ontológico das ciências sociais que buscava o conhecimento das essências e de explicações

causais, escondendo os discursos do racismo sob uma linguagem de status e de classe. Essas

percepções só começaram a alterar depois do arruinar da segregação racial nos Estados

Unidos.

Neste caso particular do Brasil, Ferreira (2007), também vai apontar que existiram três

condições favoráveis ao desenvolvimento do preconceito racial no Brasil: a concepção

constitutiva das subjetividades ocidentais, desenvolvida na modernidade, que desvaloriza as

minorias (a valorização da cultura branca); o processo histórico e a escravidão do africano; e,

após a Abolição, o desenvolvimento de concepções, apoiadas pela ciência, acerca da

inferioridade racial do negro e, à igualdade política e formal entre todos os brasileiros

(Guimarães, 2004). Destaca-se que após a abolição, as relações entre brancos e negros é

marcada pela falta de legislação étnico-racial, um não desenvolvimento político de integração

dos negros à sociedade e o incentivo a imigração européia branca para branqueamento da

população assim como ocorria na Europa (Silva & Rosemberg, 2008).

Mas, vale ressaltar que, por vezes, as barreiras sociais, políticas e econômicas, impostas

devido à cor, eram burladas, numa tentativa de inclusão social dos que eram tidos como

homens de cor, livres e escravos, principalmente quando tinham que assumir um cargo de

importância. As capitanias, por exemplo, tinham como regra geral, a vedação de qualquer

mulato no exercício de cargos municipais, sendo extensiva aos brancos casados com mulheres

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de cor, no entanto, em 1711, quando procurador mulato foi empossado na capitania de

Pernambuco. Mesmo assim, não se pode deixar de perceber essa liberalidade como não sendo

uma lei geral, já que os homens de cor eram associados a trabalhos escravos (Silva &

Rosemberg, 2008). .

É importante até mesmo notar que os índios tinham um reconhecimento de liberdade

civil, devido principalmente a características a eles atribuídas (ociosidade, aversão a esforço

disciplinado, intemperança e gosto acentuado por atividades antes predatórias do que

produtivas) que os aproximavam dos nobres, enquanto os negros tinham a imagem de

rebeldes e submissos. Os casamentos entre índios e brancos, por exemplo, eram sempre

estimulados pelo governo português, e estes teriam regalias, honras e dignidade, não podendo

nem ser mais chamados de caboclos, e os negros e seus descendentes continuavam relegados

a trabalhos de baixa reputação que os degradavam. A “moral das senzalas” era parcial na

violência, na negação de virtudes, imperando na administração, na economia, nas crenças

religiosas, e até no entendimento da criação do mundo como um languescer de Deus

(Holanda, 2010).

Neste caminho, o preconceito racial no Brasil como campo de estudo começou a ser

entendido através de sua construção sócio-histórica, sabendo-se que foi o país que mais

importou africanos e o último a abolir a escravidão, atualmente é a segunda maior população

negra mundial depois da Nigéria e 46% dos brasileiros se declaram negros (Silva &

Rosemberg, 2008).

A partir dos estudos de Guimarães (2004), pode-se traçar um panorama do preconceito

racial no Brasil, que surge com base política, a partir da abolição da escravatura e desponta

como uma forma da elite lidar com as desigualdades sociais oriundas do processo civilizador.

É nessa conjuntura social que o negro já passa a ser observado como o responsável pela

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criminalidade ou mesmo, quando comparado ao branco, inferior nos aspectos mentais,

somáticos ou psicológicos. Hasenbalg, vai então afirmar que

a discriminação e preconceito raciais não são mantidos intactos após a abolição, mas,

pelo contrário, adquirem novos significados e funções dentro das novas estruturas e as

práticas racistas do grupo dominante branco que perpetuam a subordinação dos negros

não são meros arcaísmos do passado, mas estão funcionalmente relacionadas aos

benefícios materiais e simbólicos que o grupo branco obtém da desqualificação

competitiva dos não brancos” (Hasenbalg, 1979, p. 114).

Com a substituição da ordem escravocrata por outra ordem hierárquica, a cor passou a

ser uma marca de origem, e o racismo colonial, fundado sobre a idéia de pureza de sangue,

cedeu lugar à idéia de uma nação mestiça, cuja cidadania dependia do lugar de nascimento e

não da ancestralidade, onde a cor, status e classe estão intimamente ligados entre si, sendo que

as regras de pertença nacional suprimiram sentimentos étnicos, raciais e comunitários,

imaginadas numa conformidade cultural e termos de religião, raça, etnicidade e língua

(Guimarães, 1999). Assim, as relações sociais e políticas entre brancos e negros destacou-se

pela não adoção de legislação de segregação étnico-racial (diferentemente de outros países

como os EUA e África do Sul), pela falta de desenvolvimento de uma política específica de

integração dos negros recém-libertos, e pelo incentivo da imigração européia branca a fim de

um possível branqueamento da população (Silva & Rosemberg, 2008).

Nesta perspectiva de formação ideológica racial no Brasil, o conceito de democracia

racial e o “branqueamento” passam a significar a capacidade de absorver e integrar mestiços e

negros, onde estes tinham que renegar a sua ancestralidade africana ou indígena,

transformando-se em discursos racialistas. A idéia de democracia reatualizou o precário

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equilíbrio político entre a desigualdade social, autoritarismo político e liberdade formal no

Brasil pós-guerra (Guimarães, 2004), sedimentando um mito de que as relações são cordiais

ainda que se conviva com a dominação branca no acesso a bens materiais e simbólicos (Silva

& Rosemberg, 2008).

Porém, segundo Nabuco (2010), o que deveria ser feito, após o abolicionismo – uma

obra de reparação, vergonha ou arrependimento – e a emancipação dos escravos, era trazer, no

mais breve prazo possível, o apagar os efeitos de desmoralização e inércia, de servilismo e

irresponsabilidade, desbastando através de uma educação servil e viril, a lenta estratificação

de centenas de anos de cativeiro, de despotismo, superstição e ignorância.

Somente em meados do século XX é que surgem os primeiros estudos que buscam

sobrepor à questão cultural à questão biológica para definir o conceito de raça. O termo

“racismo” só foi introduzido nos anos 1970, e somente em 1995 o governo reconheceu que o

país é estruturalmente racista. Desde 1940, o Brasil dispõe de Leis Federais, enfatizando a Lei

Afonso Arinos que incluiu contravenções penais a prática de atos resultantes de preconceito

de raça ou de cor, e a Constituição de 1988 que considera o racismo como crime inafiançável

(Silva & Rosemberg, 2008). O nacionalismo negro e o movimento feminista também

imprimiram uma luta contra a destruição e interiorização do legado cultural africano

denunciando o processo de naturalização e de justificação social de hierarquias culturais.

Como exemplo, em 1935, os intelectuais brasileiros defendiam que: o Brasil nunca

conhecera ódio entre raças; as linhas de classe não são definidas a partir da cor; os negros se

incorporam de forma progressiva à sociedade e à cultura; e os negros irão desaparecer dando

lugar a um tipo físico e cultura propriamente brasileiros (Guimarães, 2004).

Pesquisa realizada no Brasil em 2005, tomando por base dados de pesquisas realizadas

pelo Datafolha em 1995 e pela Fundação Perseu Abramo em 2003 (FPA, 2005), aponta para

esta configuração do preconceito racial no Brasil. Os dados apontam para as seguintes

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características: 49,6% dos brasileiros afirmam existir muito preconceito racial no Brasil;

39,7% afirmam haver um pouco; 5,1% afirmam que não existe, e 5,6% não souberam

responder. E quando a pergunta é se os brancos têm preconceito contra os negros, 60,8%

afirmam que há muito, 25% que há pouco, 9,3% que não existe e 1,7% não soube responder.

Outro fato interessante nesta pesquisa realizada é que junto às respostas acerca do

preconceito, atribuições de características como a riqueza, a beleza, a bondade e a inter-

relação eram sempre direcionadas como partes naturais das pessoas negras, sendo que a estes

eram direcionados os aspectos de pobreza, feiúra, dificuldade de inter-relacionamento e

maldade. Além destes dados, uma questão peculiar é que quando questionados sobre o seu

preconceito, 95,7% dos entrevistados afirmam não ter preconceito, sendo que quando a

pergunta é se há preconceito no Brasil, 60,8% afirmam haver, o que se faz pensar que a

questão da auto-percepção é interferida significativamente pela idéia de que ser

preconceituoso é algo inaceitável na sociedade atual.

Ratifica-se assim, que o processo histórico, a partir do racismo estruturalizado na

sociedade, apresenta-se através de relações raciais com um sistema sofisticado de

classificação baseado tanto na aparência quanto na condição socioeconômica e região de

residência, por um vocabulário racial, uma grande população mestiça, e padrões de relações

verticais e horizontais desiguais, onde há uma intensa desigualdade de oportunidades e

hostilidades abertas ou não, que salientam uma convivência amistosa em determinados

espaços e circunstância (Silva & Rosemberg, 2008).

Neste sentido questionam-se como as crianças, que também são participantes de um

meio social, respondem a essas questões do preconceito. Como será que estas respostas se

apresentam? Será da mesma forma que os adultos? E ele se dá de forma mais sutil ou

flagrante? E, sabendo, pois, que o preconceito é uma atitude que limita as possibilidades

sociais e psicológicas dos indivíduos, o estudo torna-se salutar pela abertura da discussão do

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tema no meio científico e por suscitar possíveis alternativas de melhor atuação frente ao

problema, que pode se apresentar desde os primeiros anos de vida.

1.4.. Preconceito Racial em Crianças

Como visto, os estudos que se debruçam a desvendar o fenômeno do preconceito racial

em indivíduos adultos é tema constante na Psicologia Social (Allport, 1954; Brown, 1995;

Jones, 1972; Fernandes, Almeida & Nascimento, 2008). Porém, apesar da maioria dos estudos

fixarem-se na compreensão do preconceito nos adultos, sabe-se que o preconceito é expresso

pelas crianças desde os quatro anos de idade (Aboud, 1988). Este fato desperta o interesse em

compreender o preconceito racial nas crianças.

Alguns pesquisadores então sugerem que as crianças entre 5 e 9 anos de idade apenas

imitam os comportamentos dos adultos, o que não representaria atitudes verdadeiras,

enquanto outros pesquisadores explicam que estas atitudes são verdadeiras e aprendidas pelas

crianças, e que somente se diminuiria o preconceito se houvesse um aprendizado constante

sobre costumes e tradições culturais de diferentes etnias, bem como o aprendizado sobre a

história das injustiças raciais contemporâneas. Nessa perspectiva, alguns outros estudiosos

defendem que esse contato com outros grupos diminuiria o preconceito devido um

compartilhamento de identidades (Levy & Hughes, 2009).

Há ainda aqueles que defendem um falta de sofisticação social para a tolerância, ou seja,

as crianças por serem imaturas cognitivamente, são abertamente preconceituosas, sendo

minimizado este atributo ao passo que ocorre uma maturação das estruturas cognitivas,

fazendo com que as crianças construam representações do mundo de forma mais tolerante e

julgando as pessoas não apenas pela aparência, mas em termos de componentes internos como

inteligência, bondade, amizade (França & Monteiro, 2004a). Assim, diversas teorias tentam

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explicar a origem do preconceito entre as crianças, conforme nos mostra Levy e Hughes

(2009).

A abordagem psicodinâmica (Adorno, Frenkel-Brunswick, Levinson & Sanford, 1950)

sugere que o preconceito entre crianças é raro e um problema anormal e que é desenvolvido

no processo de formação do ego, onde a o processo de submissão às autoridades pode gerar

impulsos agressivos que são projetados para os tidos como desviantes sociais, tendo como

exemplo a personalidade autoritária.

A abordagem da Aprendizagem Social (Allport, 1954) explica que as crianças aprendem

o preconceito por observação e imitação dos modelos de regras dos pais, e com o decorrer da

idade vai se diminuindo, conforme as sua mais diversas teorias: a teoria Multicultural (Banks,

1995) também derivada da Aprendizagem Social explica que o preconceito existe devido a

falta de conhecimento do outro grupo, sendo assim, o contato, o conhecimento e o respeito

por outras culturas reduzem atitudes negativas; a Teoria Antiracista (McGregor, 1993) é

semelhante a Teoria Multicultural sugerindo que o preconceito deriva da falta de

conhecimento intergrupal e consciência da história a raízes da desigualdade; a Teoria

Daltônica aponta para a desenfatização da categoria raça como responsável pelo decréscimo

do preconceito; a Teoria da Mera Exposição também expõe que atitudes negativas diminuem

com a exposição a outros grupos, devido ao fenômeno que Allport definiu como “o medo do

estranho”; a Teoria do Contato Integrupal também caminha neste viés de que o contato

intergrupal aumenta os conceitos positivos sobre o outro.

A Abordagem Cognitiva que tem como pressupostos as articulações de Piaget, foi

aplicada ao preconceito por Katz e Zalk (1978), destacando-se Aboud (1988), que foi o maior

responsável pelo desenvolvimento desta teoria, entre outros. Ela tenta explicar o preconceito

em crianças pela sua falta de habilidade para pensar sobre os grupos, e, portanto, o

preconceito entre crianças é inevitável pois as mesmas não possuem conhecimentos

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necessários para entender as pessoas como indivíduos, focando-se em seu grupo e exagerando

as diferenças. As atitudes negativas só seriam diminuídas com a maturação cognitiva.

Já as Abordagens do Desenvolvimento Sócio-cognitivo combinam elementos das

abordagens sociais e cognitivas. A teoria do Desenvolvimento da Identidade Social (Turner,

Brown & Tajfel, 1979) que mostra que a mudança fundamental no foco da criança ocorre a

partir do entendimento das categorias sociais, buscando compreender as numerosas

identidades sociais das pessoas e salientando as diferentes situações de comportamento e

julgamentos sociais; o Modelo da Identidade Endogrupal Comum (Gaertner & Dovidio, 1986)

defende que o preconceito é diminuído com o aumento da importância de características

comuns ou compartilhando características relevantes; o Modelo do Domínio Social explica

que o preconceito em criança surge através da influência do contexto moral, das convenções

sociais e aspectos psicológicos; a Perspectiva do Desenvolvimento Social (Levy et al., 2006),

ancorada numa perspectiva bioecológica, mostra que as pessoas interagem e são aninhadas

dentro de muitos ambientes diferentes, e as características pessoais influenciam na

interpretação do ambiente.

Tomando, pois, estas abordagens como possíveis explicações do preconceito em

criança, realizou-se um estudo em Portugal e no Brasil, por França e Monteiro (2004b), e

encontraram que, na realidade, o que ocorre com as crianças em suas visões de mundo é a

introjeção das normas sociais atuantes na sociedade e cultura particular a cada criança,

fazendo com que, a partir de certa idade, o preconceito não seja mais expresso abertamente.

Este estudo baseou-se nas hipóteses de que o alvo negro seria mais discriminado do que o

alvo branco, principalmente pelas crianças com menos de oito anos de idade,

independentemente dos contextos normativos, ou seja, das normas sociais que rejeitam a

expressão do preconceito. As crianças participaram de uma tarefa de distribuição de

recompensas em contextos que justificavam ou não a discriminação.

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Partindo deste princípio, e se colocarmos a idéia da representação como constituinte de

um pensamento racista, preconiza-se um estudo com as crianças para uma assimilação mais

contundente da situação atual do preconceito racial das crianças. Considera-se que as crianças

convivendo com idéias, pensamentos e atitudes preconceituosas dos adultos podem responder

de forma análoga, por estarem profundamente associadas às atitudes raciais dos adultos

(Jones, 1972). Pereira (1987), ainda enfatiza que o lugar da escola na vida da criança é que

por muitas vezes fomenta o preconceito racial, pois aquela é reprodutora dos relacionamentos

que se dão na sociedade, ou seja, “estimula os estereótipos sociais relativos a essa população e

a submissão do afro-descendente aos valores brancos”.

Outra questão a ser levantada junto às crianças é que o ser humano pensa através de

categorias, para uma melhor identificação dos objetos e pessoas. Essas categorias constituem

a base do preconceito (Allport, 1954). Consoante, sabe-se que o preconceito racial não se

refere apenas a doutrinas, mas também a atitudes e preferências, como gostos e valores

estéticos (Guimarães, 1999), portanto, categorias sociais. Trabalho realizado por Oracy

Nogueira em 1998 (apud Checchetto e Monteiro, 2006), verificou que, principalmente no

Brasil, a questão da raça recebe atribuições específicas devido à miscigenação e a história do

país, tais como a classe social, educação e atributos pessoais como modo de vestir e cabelo.

Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável,

culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se

têm como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da

ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. (Nogueira, 1985, p. 78-9)

Logo, as crianças atravessadas por sentimentos e valores assumidos socialmente,

também vão criar categorias para entender melhor os grupos, pessoas e objetos. E entendendo

que o processo de exclusão racial está integrado a um processo de diferenças sócio-

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econômicas e culturais, certifica-se nas crianças, a idéia de que condições sociais e

econômicas precárias são frutos da capacidade pessoal dos indivíduos afro-descendentes

(Ferreira, 2007), sedimentando o preconceito racial a partir de categorias bem definidas e

padronizadas socialmente: beleza, riqueza, inteligência, contato e proximidade.

Sabe-se que as crianças a partir de certa idade introjetam as normas sociais vigentes em

seu contexto, e são capazes de emitir conceitos, preferências e escolhas condizentes com a sua

realidade social. Nestes temos, como se daria a preferência das crianças em relação à cor da

pele?; e como seria essa preferência em função das normas sociais? Poderiam as crianças

serem dissimuladas? E a partir de que idade aconteceria essa dissimulação? Essas questões se

apresentam mais complexas do que se observa rapidamente, pois nas entrelinhas surgem

alguns pontos que merecem ser discutidos.

O primeiro diz respeito à constatação de que desde muito cedo as crianças apresentam

favoritismo pelo seu grupo de referência e que mais tarde apresentam uma moderada

aceitação dos princípios normativos de seu meio social (Brown, 1995), ou seja, em dois

momentos distintos acontece a introjeção normativa, primeiro incorpora-se à cognição da

criança a norma do etnocentrismo, e em seguida a norma da sociabilização.

O segundo ponto sugere um enorme conflito entre as tendências individualizantes e as

tendências intergrupais/sociais de se entender o processo de desenvolvimento cognitivo,

trazendo rumores de acentuadas falhas nas compreensões. Então, por que não se pensar em

uma abordagem psicossocial que abarque ambos os lados desta mesma moeda? O terceiro e

não menos importante ponto, indica que muito se tem a investigar acerca destas tendências

infantis no Brasil, pois em sociedades marcadas pela diversidade e ambigüidade de valores

individuais e sociais, há uma completa escassez de estudos contemplando esta problemática,

fazendo com que sua compreensão seja um tanto quanto escorregadia. A seguir tais pontos

serão considerados.

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Embora o preconceito venha sendo compreendido mais como uma propensão social,

situada nas lutas ideológicas pelo poder (Tajfel, 1981; Billig, 1985; Brown, 1995; Camino, Da

Silva, Machado & Pereira, 2002), alguns pesquisadores atribuem maior ênfase aos processos

psicológicos subjacentes ao preconceito (Gaertner & McLaughilin, 1983; Sidanius & Pratto,

1999) e discutem sua natureza a partir dos processos cognitivos, porém, não negando sua

dinâmica social. Assim, supor que as crianças são preconceituosas por não possuírem um

determinado desenvolvimento cognitivo capaz de entender a diversidade social é plausível.

Dando seqüência a esta perspectiva, com a passagem dos sete para oito anos de idade, estas

estruturas cognitivas estariam formadas e as crianças então apresentariam menores índices de

preconceito, isto aconteceria pela formação de novas estruturas e pelo amadurecimento das

existentes (Doyle & Aboud, 1995).

Por outro lado, percebe-se que adultos, que supostamente possuem o citado

amadurecimento cognitivo, apresentam altos índices de preconceito. Como explicar tal

fenômeno? Esta questão motivou, em parte, o estudo já mencionado realizado por França e

Monteiro (2004a) com crianças. As autoras buscavam verificar a estruturação do preconceito

racial na infância, sugerindo que a partir dos oito anos de idade as crianças não diminuem

suas tendências preconceituosas em virtude do amadurecimento das estruturas cognitivas, mas

em função da aprendizagem das normas sociais anti-racistas vigentes na sociedade, passam a

exibir o preconceito de forma indireta. Os resultados alcançados pelas autoras confirmaram

suas hipóteses (França & Monteiro, 2004a; França & Monteiro, 2004b).

Com efeito, a saliência da norma social interfere na maneira de exibir o preconceito (ou

a rejeição aos grupos minoritários), assim como a imitação parental, o que leva a crer que a

aprendizagem social é fator determinante do comportamento social. Neste aspecto, considerar

o desenvolvimento cognitivo como base para a introjeção das normas sociais seria bastante

oportuno, ao invés de enfatizar apenas um ou outro caractere próprio da natureza do

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preconceito. O preconceito poderia então ser definido como uma atitude negativa em relação

a um indivíduo ou grupo com base nas relações ideológicas e representacionais assimétricas

de poder social e não apenas vinculado à imaturidade cognitiva ou aos atributos sociais

desiguais presentes nos grupos sociais, da mesma forma seria compreendido o preconceito

racial e demais modalidades de preconceito, sendo, portanto, estreitamente vinculado à

aprendizagem social.

Levando-se, no entanto, em consideração a Teoria da Identidade Social desenvolvida

por Tajfel (1981), que afirma que a procura de uma identidade positiva acaba por valorizar em

demasia o grupo de pertença dos indivíduos, desvalorizando em contrapartida outros grupos.

Neste eixo de pensamento, deixa-se a certeza da importância de estudos que, como este,

busquem explorar mais detalhadamente esta problemática considerando novos caminhos e

possibilidades e, principalmente, possam dar sua contribuição no esclarecimento deste tema.

Para tanto, exploraremos essa questão no capítulo seguinte.

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CAPÍTULO 2: IDENTIDADE SOCIAL

_____________________________________________

A questão da identidade, tratada desde a segunda metade do século XX de forma mais

ampliada, vem sendo estudada a fim de propor uma reflexão sobre a construção de

significados com base em atributos culturais, que inter-relacionam-se e prevalecem sobre

outros significados (Castells, 2008), tendo se destacado na atualidade como uma questão

central no contexto das reconstruções globais das paridades nacionais e étnicas e da

emergência dos movimentos sociais preocupados com a reafirmação das identidades pessoais

e culturais (Silva, Hall & Woodward, 2009).

A cada década pode-se perceber que, cada vez mais a cultura, os modos de se

comportar, de ser e de estar vão se alterando, adequando-se às exigências do próprio tempo,

onde se há possibilidades sempre maiores de revelações de identidades que variam entre a

virtual e a real, até mesmo entre os considerados normais, ou que possuam os defeitos mais

escondidos, ainda que grupos minoritários sejam ainda os melhores objetos de análise

(Goffman, 1988).

As circunstâncias de risco e o modo como percebemos o ritmo acelerado de

transformações, e a dissolução das instâncias de referências usadas para orientação do

posicionamento subjetivo e ação no mundo, são os grandes responsáveis por esta crise das

identidades, que se tornam mais ou menos endêmicas, tanto ao nível individual quanto

coletivo (Giddens, 2002).

Para Giddens (2002), o risco (condição de vida adversa) é essencial para o

desenvolvimento da sociedade e para a descoberta do próprio sujeito, pois, ao reconhecê-lo, o

individuo é forçado a aceitar as situações como um caso que pode até dar errado, mas nem

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sempre será problemático se este indivíduo tiver sentimentos bem estabelecidos de confiança

básica, apesar da consciência de riscos ser fonte de ansiedades.

Essa crise, segundo Hall (2000, citado por Cunha, 2009), se constrói a partir do

descentramento do sujeito a partir da modernidade e da perda dos quadros de referência que

faziam sentido e garantia a eficácia no enfrentamento da realidade através de categorias como

classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade.

Neste sentido, as fronteiras da normalidade, junto às normas sociais vigentes que

exigem mudança na expressão de sentimentos ou comportamentos negativos em relação a

minorias ou ao “diferente”, tornam-se mais flexíveis, o que vem a configurar uma nova

realidade daquilo que chamamos de preconceito, em que este se tem apresentado de forma

sutil (Lima, 2002).

Pode-se entender desta forma que, se o indivíduo é construído socialmente, as suas

relações sociais vão ser determinadas pelo que foi construído, sedimentando a identidade

social (Berger & Luckmann, 2002). E, se as dificuldades de viver em uma cultura de risco não

significam maior insegurança, mas as ansiedades geradas pela falta de planejamento da vida a

proporções manejáveis (Giddens, 2002), se fazem pensar a identidade numa

complementaridade grupo-indivíduo recuperando indiretamente a singularidade do indivíduo

ao destacar os encaminhamentos notavelmente pessoais que são dados às inclusões/exclusões

grupais (Paiva, 2002), considerando que, se perde a chave do problema quando se baseia

apenas na estrutura de personalidade dos indivíduos ou somente nos grupos, mas pode ser

mais bem visualizada ao se considerar a figuração formada pela natureza da interdependência

indivíduo-grupo, pois, a imagem e o ideal do “nós” fazem parte de sua auto-imagem e do seu

ideal tanto quanto a imagem singular a quem ela se refere como “eu” (Elias, 2000).

Desta forma, destacando à idéia de pertinência a um grupo através da raça, esta se

configura numa comunidade quando sentida subjetivamente como uma característica comum

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(Weber, 2009). Assim, mais importante que a pertença a um grupo é o sentimento relacionado

a esta pertença (Tajfel, 1981).

De tal modo, se há um indivíduo que se distingue, ele é desprezado ou venerado de

modo supersticioso (Weber, 2009), ou, se o grupo é avaliado negativamente, o individuo

buscará uma estratégia de mudança ou mobilidade social (Tajfel, 1981), e os que

desempenham os papéis de desviante-normal podem evitar o contato por não se sentir

completamente aceito pelo outro, ou se sua conduta está sendo observada, ficar com seus

“iguais” só para evitar o problema (Goffman, 1988), assim como também os indivíduos

“superiores” podem articular para fazer com que os indivíduos inferiores se sintam carentes

de virtudes (Elias, 2000).

Ao pensar desta forma, seguindo esta linha de pensamento acerca da assimetria social, é

que surgem as crenças e atitudes hostilizantes em relação a um grupo ou a um indivíduo por

pertencer a este grupo (Allport, 1962), assim como se pode observar que grupos que se

sentem mais poderosos que outros grupos interdependentes colocam-se como humanamente

superiores (Elias, 2000).

Elias (2000), através da relação estabelecidos-outsiders, elucida que os contatos são

mantidos através de meios de controle social, ou materializando o estigma social, eximindo os

estabelecidos de qualquer responsabilidade, e fazendo com que “forças que criaram o mundo”

sejam as responsáveis pelas marcas que inferiorizam os outsiders, como, por exemplo, a cor

da pele tem essa função objetificadora de um sinal físico de inferioridade, que justifica a

aversão, uma vez que, a exclusão são armas que preservam a identidade e a superioridade dos

estabelecidos.

Assim também, a estratégia de coesão do grupo contribui substancialmente para se

assumir poder, e um grupo só estigmatiza outro com eficácia quando bem instalado em

posições de poder, onde o estigma enfraquece e desarma o grupo menos poderoso.

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Neste sentido, Bourdieu (1989) nos mostra que as representações sociais são sempre

determinadas pelo interesse do grupo que a forja, pois, há uma imposição de visão de mundo

que implica em condutas e escolhas. É assim que é possível se perceber que os indivíduos e os

grupos exibem, de forma inevitável, essas representações, através de suas práticas e

propriedades, ou seja, os grupos reconhecem-se, colocam limites, aceitam determinismos e

fundamentos sociais destes limites e estratégias, atribuem-se qualidades, e os dominados

acabam por aceitar os princípios de identificação de que sua identidade é produto.

Nesta perspectiva, sabe-se que o preconceito racial tem a natureza de hierarquização,

dominação e exclusão baseada em uma característica física externa ratificadora de

comportamentos (Lima & Vala, 2004), e a raça cumpre esta função de legitimação das

relações de dominação, ainda que sustentada pelas pretensões de igualdade entre todos os

cidadãos (Wallerstein, 1979, citado por Cunha, 2009), uma vez que os agentes e grupos de

agentes, na formação de grupos étnicos, são definidos por suas posições no espaço social, ou

seja, é na disputa por impor uma visão das coisas, de uma visão legítima do mundo, se

institucionaliza um grupo étnico (Bourdieu, 1989).

Assim, a identidade não pode ser separada da racionalidade na qual a alteridade é

sempre ameaçadora e fonte de angústias, e a sua construção se torna uma forma eficaz de

proteção contra essas ameaças e angústias, através de mecanismos mínimos e cotidianos de

controle, domínio de si mesmo e da relação com o outro (Cunha, 2009), entendendo que se

deve evitar uma percepção naturalizada das fronteiras do grupo étnico, já que estas passaram

por um processo político de legitimação, tendo sua existência conhecida e reconhecida no

cenário social, e que a realidade é social e as classificações mais naturais apóiam-se em

características que são produtos de uma imposição arbitrária, produzindo a diferença cultural

(Bourdieu, 1989).

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Destarte, deve-se entender que a diferença é sustentada pela exclusão, e a identidade é

marcada pela diferença (Silva, Hall e Woodward, 2009), e existir é ser reconhecido diferente,

onde se constitui a identidade, uma vez que a unificação ou a assimilação da diferença anula

uma identidade sobre a outra (Bourdieu, 1989).

Igualmente, tratar questões do desenvolvimento dos indivíduos e a interação deste com

construção da identidade é bastante pertinente, pois, embora possa ser construída por

instituições dominantes, somente assumem tal condição se os atores sociais as internalizam,

construindo seu significado (Castells, 2008).

E quando a manutenção das normas que se referem à identidade e que sustentam a vida

social é fracassada ou exercida com êxito, estas têm um efeito direto sobre a integridade

psicológica dos indivíduos (Goffman, 1988), como também, o estigma social imposto pelo

grupo mais poderoso pode penetrar na auto-imagem deste último (Elias, 2000).

Assim, somente numa atitude de oposição a essa aversão ou superioridade, vislumbra-se

uma construção de identidade de resistência que é evidenciada em atores sociais que se

encontram em posições desvalorizadas ou estigmatizadas para construir resistências e

estratégias de sobrevivência com base em princípios diferentes dos que permeiam as

instituições da sociedade (Castells, 2008), tomando-se consciência de que o pertencimento e a

identidade não são tão sólidos, nem garantidos para toda a vida, sendo negociáveis, e as

decisões do próprio individuo de se manter firme a tudo são fatores cruciais tanto para o

pertencimento quanto para a identidade. O estigma produz, pois, a revolta contra este mesmo

estigma (Bourdieu, 1989).

Esta resistência é evidenciada tão logo diminuem a desigualdade do equilíbrio de poder,

agravando contra a estigmatização, sendo que os grupos “estranhos” ou “de fora” exercem

pressões no sentido de reduzir os diferenciais de poder, enquanto os grupos estabelecidos

fazem o mesmo em prol da preservação desses diferenciais (Elias, 2000). Vale ressaltar que a

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barreira afetiva responde pela rigidez da atitude dos grupos superiores para com os

inferiorizados, na perpetuação do tabu contra o contato mais estreito, ainda que diminua a

superioridade social (Elias, 2000).

Para Bourdieu (1989), as escolhas do grupo dominado passam pela aceitação resignada

ou provocante, ou a busca da assimilação que faça desaparecer todos os sinais quem lembrem

o estigma, afastando cada vez mais a identidade legítima, ou seja, uma reapropriação coletiva

do poder de construir e avaliar a sua própria identidade. Assim, a questão da identidade está

intrinsecamente ligada a um processo mais positivo do desenvolvimento pessoal e/ou grupal.

É nesse sentido, que ao valorizar positivamente o seu grupo, tem-se por conseqüência

um estímulo da auto-estima, da criatividade, do orgulho, da solidariedade grupal, da

autonomia e da capacidade da resistência contra elementos exteriores. Relações puras devem

oferecer oportunidades de crescimento da confiança que, se segura, é psicologicamente

estabilizante, devido às fortes ligações, principalmente em relação à figura dos responsáveis,

uma vez que, manter relações autênticas com outras pessoas é importante fonte de apoio

moral e fonte de segurança em momentos decisivos e transições importantes da vida

(Giddens, 2002).

Porém, numa representação negativa da identidade de seu grupo, seja pela falta de

vantagens e êxito, ou pela introjeção de estereótipos e estigmas (Giménez, 2000), a análise do

autoconceito e do autocontrole deve ser vista com uma valorização de um olhar sobre as

políticas públicas e institucionais, dirigindo-se para uma análise das dinâmicas e das

estruturas dos grupos reconhecendo a sua natureza multidimensional, vislumbrada em

famílias, escolas, comunidades majoritárias e minoritárias, pois todas estas instâncias agem

como fatores constituintes da identidade (Libório, Castro & Coelho, 2004), pois, as interações

são meios para se formar, manter e modificar a identidade, e onde esta mesma é representada

(Giménez, 2000).

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2.1. Identidade Social nas Crianças Negras

Neste contexto, valores e crenças dos pais são fatores significativos na formação da

identidade e especificamente na dissonância racial, que é a preferência por comportamentos

das crianças brancas por crianças negras. A falta dos pais negros como reforçadores da

consciência étnica e para lidar explicitamente com questões étnicas e a opressão racial

institucionalizada podem ser um fator importante na dissonância racial (Spencer, 1987). Os

pais são a fonte primeira para a criança ter sentido de si, e pais negros dão a seus filhos

atitudes fundamentais sobre si mesmos como negros.

No entanto, a partir de seu status de minoria, as crianças negras, inevitavelmente, são

socializadas em um contexto de uma maioria branca, portanto, mostram uma preferência para

a cultura branca. Mesmo que não seja uma maioria numérica no grupo/comunidade

específica, trata-se de uma dominação com raízes culturais. Além disso, desde tenra idade,

elas são confrontadas com as desvantagens econômicas e políticas, incluindo os riscos de

saúde, pobreza e desemprego (Spencer, 1987).

Os encargos do atraso "cultural" reforçam uma tendência para elevar a própria condição

da pessoa, criticando certas qualidades das massas ao invés de promover um reforço da

identidade étnica por si mesmo. Um ego saudável compensa ineficácias ambientais. As

crianças se adaptam, indicando a sua resistência em face dos obstáculos sistêmicos refletindo

os esforços de adaptação de um organismo para a sobrevivência. Imagens negativas, a relação

marginal das minorias no processo de produção, uma privação de necessidades básicas

econômicas deixam as crianças negras vulneráveis e em risco.

Vale ressaltar que a objetivação do fato de superioridade de determinados grupos

depende do reconhecimento que lhe concedem os membros deste grupo assim como nas

propriedades econômicas ou culturais que eles têm em comum (Bourdieu, 1989). Neste

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sentido, a consciência da raça é um aspecto importante da consciência de grupo. Ele é

definido como a tendência sentimental a uma identificação ideológica com o grupo racial,

levando à lealdade, devoção e orgulho, e reforça o auto-respeito, exalta a própria concepção

de si (Spencer, 1987).

Tendo em conta estes riscos, consciência da raça fornece uma base para as estratégias

de enfrentamento necessárias para as crianças negras (Brown, 1995, citado por Phinney e

Rotheram, 1987). Este orgulho contribui para o autoconceito e o autocontrole e pode levar a

um enfrentamento que tem conseqüências positivas ao invés de mal adaptativas, e mais

estudos são necessários sobre como os pais, escolas e comunidades podem preparar as

crianças negras tanto para lidar com os riscos associados com a condição de minoria quanto

para ter orgulho de sua etnia. No mais, a cultura da maioria tem de reconhecer os problemas

específicos decorrentes das condições de opressão ligadas ao estatuto das minorias e tomar

medidas para alterar as condições prejudiciais ao desenvolvimento das crianças negras.

Portanto, a constituição da identidade pode ser um fator de relevante significância na

construção social e psicológica dos indivíduos desde a infância, reforçando aspectos positivos

e/ou negativos na história de vida. Sendo assim, as crianças negras estão em risco devido a

fatores estruturais na sociedade que impõem limites à sua oportunidade para um melhor

desenvolvimento (Spencer, 1987). Como exemplos, há evidencias que crianças negras sofrem

uma maior probabilidade de serem separadas de seus pais, passam mais tempo em lares

adotivos e sofrem maior probabilidade de permanecer em lares adotivos.

Neste sentido, trataremos, no próximo capítulo, de aspectos sociais e psicológicos

interferidos pelo preconceito e que se relacionam com o processo de construção das

identidades, que são o autoconceito e o autocontrole, estudados numa visão da Psicologia

Positiva e da Resiliência, a fim de serem tratados de uma forma multidimensional, conforme

será visto.

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CAPÍTULO 3: AUTOCONCEITO E AUTOCONTROLE -

EXPLICAÇÕES NA PSICOLOGIA POSITIVA E NA RESILIÊNCIA

_____________________________________________

―Determinação, coragem e autoconfiança

são fatores decisivos para o sucesso‖.

Dalai Lama

Nos últimos anos, diversos pesquisadores têm dedicado seus estudos às qualidades e

promoção do funcionamento positivo. Assim, a psicologia que tem uma história bem

sedimentada nos estudos das doenças mentais, passa a explorar melhor as qualidades das

pessoas, ainda que não se possa renegar a busca da melhoria de vida das pessoas desde a II

Guerra Mundial (Snyder & Lopez, 2009).

Porém, o que se questiona com esta nova realidade de pesquisas no campo da

Psicologia é que além de curar ou tratar doenças mentais, o cultivo de talentos superiores deve

ser enfatizado, ou seja, o novo ramo da Psicologia que vislumbra essa questão de enfatizar

valores, virtudes e o funcionamento positivo do ser humano, denominada Psicologia Positiva,

quer, na verdade, promover a competência dos indivíduos e focar a ciência nas qualidades e

na resiliência.

Um exemplo é enxergar as crianças como agentes capazes de tomar decisões, com

opções, preferências, ainda que, em situações negativas, desesperançosas e/ou desamparadas,

tomando, pois, a criança como um agente ativo nos seus processos de socialização, ainda que

seja vítima de exclusão, discriminação ou violência psicossocial.

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3.1. Entendendo a Psicologia Positiva e a Resiliência

A Psicologia Positiva, portanto, busca o estudo das emoções positivas, do caráter

positivo e das instituições positivas (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000), aspectos até então

pouco referenciados na literatura, e tem Martin E. Seligman como precursor desta abordagem.

Sabendo, pois, através deste novo campo de pesquisas e estudos, que o mundo com suas

diversas transformações sociais, políticas e econômicas, têm trazido à tona diversas questões

que se tornam problemáticas, pois, estas ocorrem de forma muito rápida e dinâmica, atingindo

aspectos de diversas naturezas que influenciam diretamente à vida e o desenvolvimento social

e psicológico dos indivíduos envolvidos, sejam ele idosos, jovens ou crianças, verifica-se que

o ser humano em situação de risco pessoal e social pode não se desenvolver de acordo com o

esperado pela idade e cultura (Bandeira, Koller, Hutz & Foster, 1996).

Toma-se por base a idéia de que o desenvolvimento é um conjunto de processos que

interagem com as particularidades das pessoas produzindo estabilidade e mudança nas suas

características (Bronfebrenner & Morris, 1998). Assim as situações adversas ameaçam a vida

psicológica, principalmente de crianças, uma vez que o stress e o risco podem levá-las a

problemas emocionais ou de conduta e são preditores de competência na adolescência ou fase

adulta. Além de que não se pode deixar de averiguar que apesar destes riscos e situações

adversas, as crianças respondem de maneira diferente, pois os processos de adaptação e

superação diferenciam-se entre elas, principalmente devido à competência social (Cecconelo

& Koller, 2000).

E, dentre os fenômenos indicativos de vida saudável, destaca-se a resiliência, num

processo de adaptação ao longo do desenvolvimento, tendo como principais traços: a

sociabilidade, criatividade na resolução de problemas e um senso de autonomia e de proposta

(Martineau, 1999), ou seja, processos de autocontrole e autoconceito.

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A resiliência começou, pois, a ser estudada numa questão de demonstrar como eventos

de vida negativos produziam atrasos no desenvolvimento e desordens psiquiátricas. Mais

tarde, o enfoque mudou para a conceitualização dos vários tipos de eventos de vida e como as

perdas pessoais e as ameaças ambientais levavam a problemas psiquiátricos (Rutter, 1996).

Neste caminho, os termos invencibilidade ou invulnerabilidade são os precursores do

termo resiliência, porém, Rutter (1985) considera que invulnerabilidade passa somente a idéia

de uma característica intrínseca do indivíduo, e a resiliência ou resistência ao estresse é

relativa, suas bases são tanto constitucionais como ambientais, e que o grau de resistência não

tem uma quantidade fixa, e sim, varia de acordo com as circunstâncias.

A resiliência é um processo desenvolvimental dinâmico que evidencia a adaptação

positiva apesar de significativas condições de vida adversas (Cicchetti, 2003). Refere-se a

padrões de adaptação positiva no contexto de adversidade ou risco, tendo um julgamento de

que os indivíduos estão respondendo de forma positiva através de um conjunto de

comportamentos, e que circunstancias representam uma ameaça aos bons resultados (Masten

& Reed, 2002). Ser resiliente significa, portanto, ajustar-se às diferentes condições de

exploração, abuso e dominação (Poletto & Koller, 2006), destacando-se a autoestima, o

autoconceito, a autoeficácia e o autocontrole como respostas positivas a estas condições.

Werner (1993) notou que o componente-chave dessas pessoas é o sentimento de

confiança que o indivíduo apresenta de que os obstáculos podem ser superados (Rutter, 1999).

Para Trombeta e Guzzo (2002), trata-se de em equilíbrio entre os eventos estressantes, as

ameaças, os perigos, o sofrimento e as condições adversas que levam à vulnerabilidade, e, as

forças, as competências, o sucesso e a capacidade de reação e enfrentamento, que fazem parte

do indivíduo resiliente.

Vale ressaltar que os investigadores estabelecem patamares de normalidade para

entender como os indivíduos mantém ou recuperam níveis de normalidade de funcionamento,

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e que se deve levar em conta o contexto dos valores predominantes na cultura e as

expectativas que a comunidade tem em relação ao indivíduo (Snyder & Lopez, 2009).

Neste sentido, apesar de, inicialmente, se estudar os riscos individuais, percebeu-se que

as crianças são vitimas de múltiplas adversidades que acontecem ao longo do tempo (Masten,

2003). Cyrulnik (2008), então, mostra que a o estudo dos processos de adaptação deve

acontecer a partir de três dimensões: da análise de aquisição de recursos internos que se

impregnam no temperamento, desde os primeiros anos, no transcurso das interações precoces

pré-verbais, explicando a forma de reagir diante das agressões da existência, já que colocam

em funcionamento uma série de guias de desenvolvimento mais ou menos sólidas; da

estrutura da agressão esclarecendo os danos provocados pelo primeiro golpe, aferida ou a

carência, e a significação que esse golpe tenha adquirido mais tarde na história pessoal da

pessoa ferida e no seu contexto familiar; por último, da possibilidade de regressar aos lugares

onde se encontram os afetos, as atividades e as palavras que a sociedade dispõe em ocasiões

no entorno da pessoa ferida, deparando-se com os pilares da resiliência que permitirão

prosseguir um desenvolvimento alterado pela ferida.

Assim, ao salientar as crianças como objeto de análise, verifica-se que estas em situação

de risco pessoal e social podem não se desenvolver de acordo com o esperado pela idade e

cultura (Bandeira, Koller, Hutz & Foster, 1996). Os maus tratos sejam físicos, psicológicos ou

negligência, negando o direito que as crianças e adolescentes tem de serem tratados como

sujeitos de direitos e com condição peculiar de desenvolvimento, podem ser considerados

como uma experiência negativa de vida ou um evento estressor traumático, pois provocam

tensão, interferem nos padrões normais de resposta e relacionam-se a eventuais problemas

psicológicos.

Nesse sentido, muitas crianças crescem e se desenvolvem em contextos e situações que

constituem situações de stress e risco no seu cotidiano, e podem apresentar distúrbios

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emocionais e problemas de conduta, mas nem todas as crianças que vivenciam as mesmas

situações de risco apresentam problemas. Algumas delas conseguem adaptar-se e superar

essas situações (Cecconello, 1999). Estudos têm demonstrado que os esforços, bem como as

tentativas de regular as emoções negativas associadas às circunstâncias estressantes, são

importantes para reduzir os efeitos negativos destes eventos, incluindo problemas emocionais

e de comportamento (Seiffge-Krenke, 2000).

No caso das crianças, a boa adaptação depende das expectativas sociais, educacionais e

ocupacionais e do bem-estar psicológico. O que se percebe na verdade é que as crianças que

tem maior facilidade para entender as normas sociais e interação com pares e adultos (a

amizade, a empatia no relacionamento), além de regular melhor suas emoções, são mais

competentes socialmente (Kliewer, 1991; Newcomb & Bagwell, 1996; Garmezy, 1996),

sendo que os fatores de proteção diferenciam-se a depender da idade, pois, alguns tipos de

eventos ou relacionamentos são mais importantes em determinada faixa etária, como por

exemplo, os relacionamentos pró-sociais (Masten, 2009). Podemos perceber esta questão

através do quadro abaixo:

Fatores de proteção para a resiliência psicológica em crianças e jovens

Na criança

Boas capacidades cognitivas, incluindo a solução de problemas e habilidades de

atenção

Temperamento fácil na infância; personalidade adaptável em momento posterior

do desenvolvimento

Autopercepções positivas; autoeficácia.

Fé e uma idéia de sentido na vida.

Perspectiva positiva na vida.

Boa autorregulação da excitação emocional e dos impulsos.

Talentos valorizados por si mesmo e pela sociedade.

Bom senso de humor.

Apelo ou criatividade geral para os outros.

Na família

Relações próximas com adultos que oferecem cuidado.

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Pais competentes.

Clima familiar positivo, com pouca discordância entre os pais.

Em casa, ambiente organizado.

Pais com ensino superior.

Pais com qualidades listadas como fatores de proteção em relação à criança.

Pais envolvidos na educação da criança.

Vantagens socioeconômicas.

Na família ou em outros relacionamentos

Relações próximas com adultos competentes, pró-sociais e que dêem apoio.

Conexões com colegas e amigos pró-sociais e respeitadores das regras.

Na comunidade

Escolas eficazes.

Laços com organizações pró-sociais, incluindo escolas, creches, clubes, etc.

Bairros com alta “eficácia coletiva”.

Altos níveis de segurança pública.

Bons serviços sociais de emergência.

Boa disponibilidade de serviços de saúde e saúde pública.

Portanto, as visões sobre o bem-viver são construídas pessoalmente vinculando

demandas naturais a outras culturais, ao longo da vida, definindo quais as motivações e

comportamentos são mais desejáveis ou indesejáveis a depender de seu objetivo de vida

(Snyder & Lopez, 2009). A história, a passagem do tempo, a cultura, as situações e os

ambientes, e as potencialidades humanas são determinadas reciprocamente, assim sendo, a

resiliência é estudada identificando os recursos pessoais e ambientais que ajudam a superar os

muitos desafios da vida.

Assim, é importante ressaltar que as análises da resiliência devem estar vinculadas a

valores sociais dos indivíduos, grupos e instituições, onde a cultura é influenciadora do

desenvolvimento e manifestação das qualidades e bem-viver humanos, aplicando-se ao fato

de as pessoas procurarem ajudas ou não, tipo de ajudas, estilos de enfrentamento e apoios

sociais e a quanto estigma atribuem às situações (Satcher, 2001).

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Frazier (citado por Spencer, 1987), neste caminho, observa que todos os

componentes do ecossistema devem ser vistos como importantes para o processo pelo qual as

crianças negras aprendem a conhecer-se em relação às oportunidades e limitações do seu

mundo social, sendo que a raça e cor, em particular, continuam a ser questões inevitáveis na

formação da identidade.

Johnson (citado por Spencer, 1987) sugere que a suposição de homogeneidade

cultural retarda o progresso de aspirantes a juventude negra, pois a dominação de um grupo

faz com que aqueles que não se “encaixam” dentro dos padrões estabelecidos sejam

marginalizados, ou precisem buscar uma forma de se adequar a estes padrões, criando formas

“únicas” ou padrões culturais.

Portanto, estes tidos atraso "cultural" reforça uma tendência para elevar a própria

condição da pessoa, criticando certas qualidades das massas ao invés de promover um reforço

da identidade étnica por si mesmo. Imagens negativas, a relação marginal das minorias no

processo de produção, uma privação de necessidades básicas econômicas deixam as crianças

negras vulneráveis e em risco.

Estudos epidemiológicos têm demonstrado uma maior incidência na ocorrência de

diferentes perturbações emocionais na infância e adolescência, como as depressivas, que

condicionam as crianças e os adolescentes no seu desempenho individual, familiar, escolar e

social. Estas perturbações podem, muitas vezes, estar relacionadas com o uso de estratégias de

enfrentamento ineficazes ou inadequadas perante situações de estresse, tendo, por sua vez,

impacto no ajustamento psicossocial das crianças e dos adolescentes (Maag & Irvin, 2005).

Diante disso, evidencia-se a necessidade de trabalhar mais claramente essa temática da

dominação social nestes contextos, através de atividades que permitam a reflexão sobre as

diferenças, preconceitos e tolerância. Contudo, a necessidade de modificar a teoria do stress e

enfrentamento, no sentido de ajustar às crianças, tornou-se imperativa por várias razões: os

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fatores de stress presentes nas crianças não são os mesmos que os observados em adultos; há

uma grande quantidade de fatores de stress nas crianças que está mais fora do seu controle em

comparação com os adultos e, como tal, são mais dificilmente modificáveis pelas próprias; o

desenvolvimento e funcionamento cognitivo das crianças e dos adultos é bastante distinto

(Ryan-Wenger, 1992).

A maior parte das pesquisas realizadas com crianças refere- se ao desenvolvimento

perceptomotor em filhos de mães hipertensas (Leite de Moraes & Moron, 1999); a empatia e

competência social em crianças em situação de pobreza (Cecconello & Koller, 2000; Koller,

2000); caracterização sócio-emocional e fatores protetores em crianças (Ribeiro do Vale,

2001); as estratégias de enfrentamento em crianças vítimas e não vítimas da violência

doméstica (Lisboa et al., 2002); a intervenção psicoterápica com grupos de crianças vítimas

da violência doméstica e escolar (Sauaia, 2003; Neiva-Silva, 2008); a intervenção lúdica com

crianças favorecendo a inclusão (Consoni, 2000); o luto em crianças vítimas de abandono

(Casellato, 2004); dificuldades de aprendizagem na escrita (Bazi, 2003); subsídios para

intervenção com crianças de rua que usam drogas (Brito, 1999); o relacionamento de apego

em crianças institucionalizadas (Alexandre & Vieira, 2004) e a resiliência em crianças

submetidas a maus tratos (Junqueira & Deslandes, 2003). Incluem-se ainda a vulnerabilidade

e resiliência de crianças que trabalham e vivem na rua (Koller, 1999) e o uso de drogas por

esta população (Brito, 1999), e a resiliência em moradores de rua incluindo crianças e adultos

(Alvarez et al. ,1998).

Vale ressaltar que aspectos como a atenção ao contexto sociocultural – incluindo

aspectos de gênero, raça e nível socioeconômico -, e a sensibilidade à diversidade e à

pluralidade, fazem parte de uma leitura ecológica do desenvolvimento (Narvaz & Koller,

2004). Desta forma, grupos de diferentes culturas ou subculturas apresentam diferenças (sem

caráter valorativo) na performance cognitiva, no curso de seu crescimento, em um período

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particular da história (Bronfenbrenner, 1998). As pessoas são competentes a partir do seu

status no seu ambiente, a capacidade de relacionar-se, executar tarefas, e a capacidade de

funcionar efetivamente em grupos específicos de tarefas e atividades relativas a um

determinado ambiente (Copetti & Krebs, 2004).

3.2. Resiliência em Negros

Neste sentido, estudos que avaliem a questão da resiliência em negros ainda são

incipientes, e ao se analisar a resiliência como interferida por questões culturais, pode-se

pensar na mediação que a visão que antropólogos e psicólogos tem de raça e cultura como

determinantes das características e comportamentos pessoais, a partir de uma compreensão de

raça e cultura dominante. Essa perspectiva genética destacara, por muito tempo, a

inferioridade de determinados grupos raciais ou culturas, ao passo, que nos dias atuais, a

perspectiva geneticamente diferente reconhece o potencial de cada cultura para engendrar

qualidades únicas (Sue & Sue, 2003), porém, ainda embasa comportamentos e atitudes de

pessoas ou grupos humanos, conforme visto em capítulo anterior.

Segundo Nadal (2007), exercer a resiliência, para o afrodescendente, é tarefa que

demanda persistência, reafirmação, paciência e bom humor, já que o processo é lento no que

concerne à percepção e aceitação das capacidades dos negros. Ao realizar uma pesquisa em

2007, Nadal constatou que os valores morais, os vínculos afetivos estabelecidos com alguns

familiares e outras pessoas de referência, bem como a aprendizagem através do exemplo,

foram as características que mais se destacaram no que tange ao desenvolvimento pessoal e da

resiliência dos sujeitos negros, fornecendo-lhes a base da sua auto-estima, do seu autoconceito

positivo, da sua autoconfiança e do seu querer-ser.

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Ximenes e cols. (2009), no artigo intitulado Violência e transtorno de estresse pós-

traumático na infância, analisam crianças do Rio de Janeiro, e perceberam que ser uma

criança de cor de pele negra aumenta em 4,79 vezes as chances de apresentação de sintomas

de TEPT, comparadas às crianças brancas. O resultado relacionado à cor da pele mostra a

maior probabilidade de crianças negras desenvolverem o problema quando comparadas às

brancas. Esse resultado pode ser explicado pela presença da discriminação que provavelmente

essas crianças são submetidas.

3.3. Autoconceito e Autocontrole

É notório perceber, então, que analisar a resiliência é muito complexo, uma vez que

diversos fatores interferem no processo de desenvolvimento da criança. Grünspun (2003)

acredita que a criança resiliente possui algumas características específicas: 1) competência

social – é uma criança flexível, sensível e atenciosa, que possui habilidade para demonstrar

suas emoções, que se comunica bem e, em dificuldades, é capaz de usar o bom humor; 2)

competência para resolver problemas – é capaz de pensar de forma crítica e elaborar

alternativas, buscando soluções para suas necessidades; quando não consegue encontrar uma

solução, busca ajuda; 3) autonomia – a criança resiliente tem um forte senso de identidade e

auto-estima positiva, mostra independência e autocontrole; 4) tem propósitos com confiança

no futuro, isto é, propõe-se metas realistas, tem aspirações educacionais elevadas, é

persistente, esforçada, otimista, vê o futuro com oportunidades e sucesso; e 5) tem fatores

protetores contra os de risco, ou seja, essa criança tem competência social, temperamento

fácil, inteligência, autonomia, auto-estima, autocontrole e auto-eficácia.

Assim, faz-se notar que para a pesquisa a ser apresentada destacará dois aspectos que

são de extrema relevância na formação da resiliência: o autoconceito e o autocontrole, que são

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apresentados abarcando as seguintes questões: Boas capacidades cognitivas, incluindo a

solução de problemas e habilidades de atenção; Temperamento fácil na infância;

personalidade adaptável em momento posterior do desenvolvimento; Autopercepções

positivas; autoeficácia; Perspectiva positiva na vida; Boa autorregulação da excitação

emocional e dos impulsos; Pais competentes; Clima familiar positivo, com pouca

discordância entre os pais; Pais com qualidades listadas como fatores de proteção em relação

à criança; Relações próximas com adultos competentes, pró-sociais e que dêem apoio;

Conexões com colegas e amigos pró-sociais e respeitadores das regras; Escolas eficazes.

Esses aspectos, se avaliados a partir da interação do indivíduo com o ambiente, devem

também ser entendidos a partir dos fatores de risco e proteção, sendo que os fatores de risco

correspondem a todos os eventos negativos ocorridos na vida do indivíduo que ocasionam

problemas físicos, psicológicos e sociais; enquanto os fatores de proteção são as influencias

que modificam, melhoram ou alteram respostas individuais a determinados riscos de

desadaptação (Poletto & Koller, 2006).

Segundo Garmezy & Masten (1994) existem três fatores de proteção em indivíduos, que

são as características individuais, como auto-estima, inteligência, capacidade para resolver

problemas e competência social; o apoio afetivo transmitido pelas pessoas da família, através

de um vínculo positivo com os cuidadores; e o apoio social externo, provido por outras

pessoas significativas, como escola, igreja e grupos de ajuda, ou seja, a questão do

autoconceito e do autocontrole, se compreendida numa perspectiva ecológica, ultrapassa a

questão individual e é constituída também pelos vínculos afetivos e sociais.

O Autoconceito, portanto, é um produto da interação entre a pessoa e seu meio

ambiente, durante seu processo de construção social, acompanhada de uma avaliação de suas

capacidades, realizações, experiências e representações, que começa a ser construído na

infância e que sofre o impacto das opiniões dos outros, ressaltando ainda que os indicadores,

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assim como as informações que dão retorno positivo ou negativo, serão diferentes a depender

do contexto social (família, escola ou meio social) (Sisto & Martinelli, 2004).

Outro ponto que deve ser salientado é que se deve entender a diferença entre o

autoconceito e a identidade. O autoconceito pode ser entendido como a somatória das

imagens e sentimentos que um sujeito tem acerca de si mesmo. É a percepção que o sujeito

tem de si próprio. Já a identidade é formada no contexto das práticas sociais e classifica o

sujeito em termos de circunstâncias sociais determinadas. A identidade é, assim, um

constructo cultural situacional, contextual e relacional. É por isso que se pode dizer que um

indivíduo tem um autoconceito e diversas identidades.

Assim sendo, o autoconceito é composto por um componente cognitivo que diz respeito

ao conjunto de características com o que a pessoa se descreve e que orienta seu modo habitual

de ser e se comportar; um aspecto afetivo que diz respeito aos afetos e emoções que

acompanham a descrição de si mesmo; e o aspecto comportamental que passa a ser

influenciado diretamente pelo conceito que a pessoa tem de si mesma (Sisto & Martinelli,

2004).

Neste sentido, o autoconceito divide-se em dimensões que se aplicam aos componentes

afetivo, cognitivo e comportamental, abarcando a complexidade do desenvolvimento humano

em seus diversos aspectos (individuais e sociais) que se inter-relacionam. Para tanto,

trabalhar-se-á com o autoconceito social, familiar, escolar e pessoal.

O autoconceito social é, então, definido pela percepção de aceitação social, sobre sua

competência ou habilidades sociais (Blascovich & Tomaka, 1991). O autoconceito familiar é

construído na relação com os membros de uma família, onde ocorre o estabelecimento de

vínculos, que podem ser harmoniosos, afetivos e solidários ou carregados de raiva e

ressentimentos, e segundo Allport (1962), é na interação com os pais que a criança percebe o

que se espera dela, influenciando o autoconceito positivo e saudável e a existência de padrões

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que combinam limites claros e estritos com disciplina firme mas sem negligenciar o calor e

afeto (Sisto & Martinelli, 2004).

O autoconceito escolar é sedimentado na troca de experiências com os professores e as

outras crianças, modificando-a e construindo referenciais de análise do que se é capaz de

realizar. E o autoconceito pessoal é impactado principalmente pela aparência física que tem

sido destacada como elemento indiscutível para a maior aceitação dos indivíduos pelo meio

social, contribuindo para que sejam mais populares, tenham um tratamento preferencial,

sejam mais aceitos pelo grupo, entre outras vantagens percebidas (Sisto & Martinelli, 2004).

Quanto ao autocontrole, este pode ser definido como uma forma de controlar o próprio

comportamento, geralmente em situações conflituosas, de acordo com padrões definidos pela

sociedade (Martinelli & Sisto, 2006), com três características básicas: ter uma forma

específica de aquisição, um desenvolvimento claro, e ser composto por uma seqüência

definida de sub-comportamentos (Sisto & Rueda, 2008).

Em relação ao desenvolvimento, segundo Shibutani (1961), o autocontrole se

manifestaria quando a criança começa a ter a perspectiva do outro, sendo que o

comportamento que se mostra controlado seria apenas uma adaptação às exigências das

pessoas que convivem com a criança, passando por dois momentos, que seriam a motivação

do controle de seu comportamento como uma forma de agradar às pessoas significativas em

sua vida, seja para obter a sua aprovação, seja para evitar sua desaprovação; e a tentativa de se

auto-agradar e preservar a sua auto-imagem, sendo necessária, que, na ausência de uma

resposta externa, a criança adquira a capacidade de ter prazer ou desprazer consigo mesma.

Neste sentido, o meio familiar e social é responsável por colocar limites como um modo

de ajudar a criança a modificar o seu comportamento, porém, deve ser sempre sem prejudicar

a sua auto-estima. Por exemplo, a compreensão e a firmeza dos pais, na contenção de

condutas inadequadas, junto com o aumento da maturidade e da capacidade de autocontrole

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da criança, resultam em uma gradual substituição das ações impulsivas e inaceitáveis por

condutas adequadas (Zagury, 2003).

Patterson e cols. (1992), ainda demonstram que as práticas educativas ineficientes dos

pais são vistas como determinantes do problema de comportamento na criança, e na idade

escolar, essa a desobediência e falta de autocontrole pela criança obstruem diretamente o

aprendizado e junto à rejeição pelos colegas levam, por sua vez, ao aumento no risco de

depressão e ao envolvimento com grupos de “rejeitados”.

Desta forma, fica clara a importância de estudos que avaliem a questão da resiliência,

destacando o autoconceito e o autocontrole, no desenvolvimento humano, especialmente em

crianças, e ainda mais particularmente em crianças negras, já que as mesmas são alvos de

preconceito e, ainda assim, demonstram grande capacidade de superar as adversidades.

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CAPÍTULO 4: MÉTODO

_____________________________________________

Buscando uma análise dentro de um modelo bioecológico, por tratar-se de uma análise

dos sistemas em que a criança está envolvida, particularmente um microssistema – interação

criança-criança e criança-adultos – envolvidos num macrossitema – crenças e valores que

incluem o racismo haverá uma busca de uma avaliação das relações pessoais e sociais,

intragrupais e intergrupais.

O desenvolvimento, numa perspectiva bioecológica, é um conjunto de processos que

interagem com as particularidades das pessoas produzindo estabilidade e mudança nas suas

características (Bronfenbrenner, 1989), ou seja, consiste em um processo de interação entre a

pessoa e o contexto através do tempo, através de processos de interação recíproca

(Bronfebrenner & Morris, 1998).

Vale ressaltar que aspectos como a atenção ao contexto sociocultural – incluindo

aspectos de gênero, raça e nível socioeconômico -, e a sensibilidade à diversidade e à

pluralidade, fazem parte de uma leitura ecológica do desenvolvimento (Narvaz & Koller,

2004).

Desta forma, as pessoas são competentes a partir do seu status no seu ambiente, a

capacidade de relacionar-se, executar tarefas, e a capacidade de funcionar efetivamente em

grupos específicos de tarefas e atividades relativas a um determinado ambiente (Copetti &

Krebs, 2004).

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4.1. Amostra

A pesquisa contou com uma amostra de 100 crianças sendo 47 meninos e 53 meninas,

com freqüência de idade entre 11 (80 crianças) e 12 anos (20 crianças), sendo categorizados

em duas raças, a partir da cor da pele: moreno (categoria 5) e moreno escura (categoria 6)1.

Essa categorização era feita através de juízes que avaliavam a criança e definiam a cor numa

escala que ia de 1 a 7, sendo que quanto mais se aproximava de 1, mais branca era a criança, e

quanto mais se aproximava do valor 7, mais negra era a criança. Assim, as crianças foram

abordadas em duas escolas do interior de Sergipe, onde estudam, sendo de diversas séries (da

3ª a 5ª), sendo a maioria da 5ª série (91 crianças).

As crianças advinham de um nível socioeconômico baixo, participantes de escola

pública integrada, com participação de brancos e negros. É bom salientar que mesmo sendo

de níveis socioeconômicos semelhantes, as duas escolas apresentavam uma sutil diferença na

composição entre brancos e negros, sendo que a escola que possuía um histórico mais

privilegiado dentro do contexto histórico da cidade era mais freqüentada por brancos que

negros.

4.2. Instrumentos

A pesquisa propõe analisar o autocontrole e o autoconceito num contexto de preconceito

racial, portanto serão utilizadas várias técnicas de coletas de dados:

1. Instrumento de investigação do preconceito e estratégias de enfrentamento: Entrevista

Estruturada e Questionário (ANEXO A) - entrevista e aplicação de questionário

com crianças colhendo dados sócio-demográficos das crianças, e principalmente, a

1 Algumas outras pesquisas utilizaram este tipo de classificação da cor da pele da amostra: Fernandes e Almeida,

2006;

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questão da identidade com seu grupo étnico, além dos tipos de problemas

comumente enfrentados na escola com professores e com colegas e as estratégias

de enfrentamento utilizadas pelas mesmas para lidar com estes.

Investigação do racismo: as crianças serão convidadas a expor seus pensamentos

acerca da associação das categorias sociais beleza, riqueza, inteligência, bondade,

contato e proximidade frente aos dois alvos. As perguntas serão dirigidas às

crianças de forma padronizada e simples, utilizando as categorias beleza, riqueza,

inteligência, contato (brincar) e proximidade (adotar como irmão), uma por vez, e

pedindo as crianças que escolham qual dos dois alvos se enquadraria melhor nos

atributos determinados (ex.: Mostre as palavras que mais combinam com essa

criança. Bonito ( ) ou Feio ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ou ruim?).

Estas categorias foram escolhidas devido a fácil compreensão das crianças no que

se refere à preferência social. A literatura mostra que essas categorias são as mais

utilizadas historicamente nos discursos dos indivíduos para avaliar as pessoas e os

grupos (França e Monteiro, 2004; Pettigrew e Meertens, 1995; Santos, 2002;

Guimarães, 2004).

2. Instrumentos de Avaliação de Fatores de Proteção da Resiliência – avaliação dos

fatores de proteção em indivíduos, que são as características individuais, como auto-estima,

inteligência, capacidade para resolver problemas e competência social:

2.1. Escalas EFAC & EMAC - Escala Feminina de Autocontrole e Escala

Masculina de Autocontrole - avalia a percepção que a criança e o adolescente têm de si

mesmos em relação às condutas sociais e aos sentimentos e às emoções. O teste é composto

por duas escalas: uma feminina (EFAC) e outra masculina (EMAC). A EFAC é constituída

por 30 afirmações, e a EMAC, por 31 afirmações, todas relacionadas a acontecimentos

cotidianos. A criança responde, dizendo com que freqüência isso ocorre em sua vida. A

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correção é realizada pelo total de respostas dadas para cada uma das escalas e pela avaliação

quantitativa e qualitativa. Existem estudos de precisão, validade e Tabelas em percentis para o

público-alvo de acordo com sua idade.

2.2. EAC-IJ - Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil -

avalia com precisão os diferentes níveis de autoconceito de crianças e jovens. Verifica a

interação entre a pessoa e o seu meio ambiente durante seu processo de construção social e

ciclo de vida, acompanhado de uma avaliação de suas capacidades, realizações, experiências e

representações em diferentes contextos sociais com os quais interage. A escala é composta

por 20 frases, divididas em autoconceito pessoal, autoconceito escolar, autoconceito familiar e

autoconceito social. A criança assinala a freqüência com que o determinado comportamento

acontece em sua vida. A correção é realizada pela avaliação quantitativa e qualitativa.

Existem estudos de precisão, validade e Tabelas em percentis para o público-alvo de acordo

com sua idade e sexo.

4.3 Procedimentos

Depois de contatados, as escolas e os pais dos entrevistados foram responsáveis por

determinar o local de entrevista e aplicação do questionário, que foi a própria escola da

criança, em local reservado, com a presença somente do entrevistador.

E, levando em consideração as necessidades específicas do local de coleta e à ética em

pesquisas com seres humanos, especialmente quanto a questões de confidencialidade e

voluntariedade, inicialmente, acontecerá a apresentação da pesquisa, seus objetivos e convite

à participação voluntária, onde os responsáveis foram instruídos quanto ao preenchimento dos

instrumentos e do Termo de Consentimento Livre/Esclarecido (Anexo B). Preenchido o

TCLE pelos responsáveis, os participantes puderam, assim, responder aos instrumentos.

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68

Os entrevistados foram convidados a responderem as escalas de avaliação do

autocontrole e do autoconceito, e posteriormente, a entrevista individual para investigação do

racismo.

4.4. Análise dos Dados

Os dados apresentados pelas escalas foram analisados no programa estatístico SPSS

15.0 através de uma correlação de variáveis e regressão simples, junto com os dados coletados

pela entrevista.

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69

CAPÍTULO 5: RESULTADOS

_____________________________________________

A presente pesquisa buscou analisar os níveis de autoconceito e autocontrole das

crianças negras, a partir de um entendimento da sua identidade social, ressaltando o contexto

em que esta está inserida, destacando a participação em um ambiente preconceituoso e/ou

discriminatório devido à cor da pele.

Assim, no primeiro momento aconteceram as análises dos questionários, numa tentativa

de verificar os aspectos identitários que foram ressaltados pelas respostas dadas pelas

crianças. Para tanto, lançou-se mão de uma análise das freqüências que serão descritas a

seguir.

Num segundo momento, é analisado como se configura o preconceito em meio às

crianças, através da verificação dos estereótipos que as circundam e são internalizados. E,

posteriormente, é verificado como esta realidade social de preconceito e/ou discriminação

afeta diretamente a construção dos fatores de proteção de resiliência das crianças, que, neste

caso, são o autocontrole e o autoconceito.

Por fim, são feitas algumas regressões a fim de ratificar as relações possíveis entre as

diversas variáveis dos instrumentos, numa tentativa de explicar a acuidade e implicação das

variáveis na construção das possíveis inter-relações entre os conceitos estudados.

1. Identidade

1.1. Autodeclaração

Para a pesquisa foi utilizada, então, uma amostra de 100 crianças, que foram

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70

classificadas segundo sua cor por juízes, conforme descrito na amostra. E, além da

classificação feita pelos juízes, as crianças foram também convidadas a se autoclassificarem.

E, dentre as diversas cores da pele auto-atribuídas pelas crianças destacam-se a Branca,

com 31 sinalizações, e a Morena, com 49 sinalizações. Apesar de outras cores de pele

surgirem, estas duas autodeclarações foram responsáveis por 80% das escolhas das crianças,

conforme Tabela 1.

Tabela 1: Freqüências da cor de pele autodeclarada

Cor da pele Freqüência

Branca 31

Café com leite 2

Cor de pele 1

Creme 1

Misturada 1

Morena 49

Moreno claro 8

Moreno

marrom 1

Negra 1

Parda 4

Preta 1

Estes resultados que mostram uma autodeclaração de cor diferente da esperada pelos

juízes. Esta compreensão pode ser pensada em termos de uma realidade histórica de formação

ideológica racial no Brasil, onde o conceito de democracia racial e o “branqueamento”

passam a significar a capacidade de absorver e integrar mestiços e negros, onde estes tinham

que renegar a sua ancestralidade africana ou indígena, passando a ser observado como

responsável pela criminalidade, com aspectos mentais, somáticos ou psicológicos inferiores. E

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esta formação ideológica ainda traz até os dias atuais essa imagem de que cor, status e classe

estão intimamente ligados (Guimarães, 1999).

Essa gama de cores apresentadas pelas crianças é vista comumente por diversas

pesquisas e até mesmo pelas pesquisas censitárias nacionais (IBGE), com as categorias

branco, pardo, preto e amarelo; o sistema branco, negro e índio, referente ao mito fundador da

civilização brasileira; o sistema de classificação popular de 135 cores, segundo dados da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada pelo IBGE em 1976; o

sistema bipolar branco e não branco, utilizado por grande número de pesquisadores de

ciências humanas; e o sistema de classificação bipolar branco e negro, proposto pelo

Movimento Negro (D’Adesky, 2001), o que demonstra que a compreensão de uma nação

multiétnica perpassa a realidade social, refletindo até mesmo nas crianças.

Esta variedade de termos que definam a cor dos brasileiros tem sido explicada como

evidência do caráter único do sistema de classificação racial brasileiro (Telles, 2003), ou

indicaria a inadequação do procedimento usado pelo IBGE nos censos demográficos e nas

PNADs, quando propõe as cinco categorias de cor/raça (Rocha e Rosemberg, 2007).

Mas, o que se sabe de verdade é que o vocabulário racial para definir a “cor da pele”

penetrou o Brasil Colônia e se mantém até os dias atuais, sendo as mesmas escolhas de cor

incluídas nas investigações populacionais, com pequenas variações, desde o primeiro censo

demográfico de 1872 (Rocha e Rosemberg, 2007).

E desta forma, a escolha da cor traz à tona uma série de sentimentos que perpassam o

entendimento da pessoa avaliada, sendo estes positivos, negativos ou neutros. Fazzi (2000,

apud Rocha & Rosemberg, 2007), em pesquisa realizada com crianças de 6 a 14 anos em Belo

Horizonte também ressalta que a negatividade associada à categoria preto-negro quanto à

valorização da categoria morena, mostra que no discurso racial das crianças estas duas

categorias são diferenciadas.

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Desta forma, destaca-se o grande número de autodeclarações de cor como morenas

(58%) e brancas (31%), demonstrando essa associação negativa à categoria preto ou negro,

buscando assim uma aproximação com o que é mais valorizado socialmente. Esta realidade

faz com que haja, pois, uma busca por uma(s) identidade(s) mais valorizadas, assim como nos

apresentava Tajfel (1981) ao afirmar que se o indivíduo ou o grupo não é discriminado

socialmente, este poderá buscar a estratégia de se aproximar do grupo mais aceito, adquirindo

características deste grupo.

Ser socialmente definido como moreno representa uma vantagem, em relação aos que

são socialmente definidos como preto-negro, pois a resguarda do preconceito racial entre

crianças, e não a expõe num ritual de inferiorização com prováveis conseqüências para seu

desenvolvimento psíquico, emocional, cognitivo e social (Rocha e Rosemberg, 2007).

1.2. Sentimentos

Deste modo, conforme Tabela 2, podem ser observadas diversas respostas para o

sentimento em ser da sua cor autodeclarada. E para um melhor entendimento, as respostas

puderam ser agrupadas em seis categorias: Beleza, Gosto, Condição divina ou natural,

Família, Discriminação, e Melhor que branca. Na categoria beleza incluem-se os discursos

das crianças que afirmavam gostar da sua cor de pele pela beleza desta. A categoria gosto

sinaliza as respostas evasivas onde as crianças apenas afirmavam que gostavam sem muito

discurso. Já a categoria Condição Divina ou Natural representa as respostas que revelam um

gostar da sua cor de pele por ser algo natural ou dada por Deus.

A categoria família é fomentada pela identificação da sua cor com a da sua família. Na

questão da discriminação, as repostas são dadas por um cunho negativo de juízo de valor. E a

última categoria mostra uma comparação e valoração do seu grupo em relação ao grupo dos

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brancos.

Assim, pode-se observar que as categorias que tiveram maior representatividade foram

as da Condição Divina ou Natural e a da Beleza (29,4% e 25,9% respectivamente). Neste

ponto, vale lembrar que os contatos são mantidos através de meios de controle social,

materializando o estigma social, eximindo os dominantes de qualquer responsabilidade, e

fazendo com que “forças que criaram o mundo” sejam as responsáveis pelas marcas que

inferiorizam os dominados (Elias, 2000).

A de menor sinalização foi a da Família (3%), ou seja, as crianças assumem que

nasceram com essa cor, não tem como mudá-la e sentem-se bem com ela, pelo menos no

discurso sobre elas, uma vez que boa parte das crianças se autocategorizam como brancas ou

morenas. Assim, a cor não é vista como algo que traz malefício para elas, mas para as

crianças tidas como negras, conforme poderá se perceber nas descrições de resultados a

seguir.

Tabela 2: Freqüências das categorias das justificativas acerca do sentimento em relação

a sua cor de pele (Você gosta de ser assim? Por quê?)

Categoria Descrição Freqüência Percentual

Beleza A cor bonita

A cor mais bonita do mundo

Acho bonita minha cor

Mais bonita

14 25,9%

Gosto Gosto da cor

Gosto da minha cor

É bom

13 24%

Condição Divina ou Natural A gente nasce como Deus quer

Deus fez, ninguém muda

Deus me criou assim

A cor que eu nasci

16 29,4%

Família A família gosta de mim

Considero minha mãe 2 3,7%

Discriminação Moreno tem discriminação

Colocam apelido 5 9,6%

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Melhor que branca Galega não pode tomar sol

Não gosto de ser muito branco 4 7,4%

É interessante notar também como as crianças percebem os diversos discursos dos seus

pares e adultos sobre a cor de sua pele. Na Tabela 3, portanto, são apresentadas as respostas

dadas aos sentimentos das crianças ao ser classificada pela cor da autodeclaração, destacando-

se como as crianças se sentem ao ouvir a cor da sua pele.

Os sentimentos mais presentes foram o que demonstram neutralidade ou boas

sensações, tais como sentir nada (16%) ou sentir-se bem (21%). Vale ressaltar que o resultado

relaciona-se com o fato da criança estar em um grupo que não as identificam como negras.

Tabela 3: Freqüências e Percentuais dos sentimentos em relação aos discursos de outros

acerca da cor de sua pele

Categoria Como você se sente quando te chamam dessa

cor? Frequência

Percentual

(%)

Positivos

Orgulhosa 4

53%

Ótima 5

Acho bonita 2

Alegre 5

Bem 21

Chique 4

Elogio 1

Gosto 7

Importante 2

Muita gente diz que sou branco 2

Neutros

Nada 16

30% Não falam de minha cor 5

Não tem preconceito 2

Normal 7

Negativos Triste 1

2% Vergonha 1

Quanto aos sentimentos apresentados pelas crianças quando são chamadas por uma das

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cores mostradas na Tabela 03, vê-se na Tabela 04 que as crianças sentem nada ou sentem-se

bem: 7% agradecem ou ficam alegre e 68% não sentem nada ou ficam caladas.

Tabela 4: Freqüências e Percentuais dos comportamentos em relação aos discursos de

outros acerca da cor de sua pele

E o que você faz quando te chamam assim? Freqüência Percentual (%)

Agradeço, alegre, bem 7 7

Raiva 4 4

Digo à professora, a diretora 2 2

Digo oi, dou um abraço 11 11

Dou risada, ri 5 5

Fico calado, nada 68 68

Ia chorar 1 1

Nunca chamaram 1 1

Revido 1 1

2. Preconceito e Estereótipos

Ainda que as crianças tenham tido um comportamento de evitar classificar-se, em sua

maioria, como negras, em relação aos estereótipos atribuídos às crianças negras apresentadas

nas fotos, estes foram mais positivos, sendo a única exceção a do estereótipo acerca da

riqueza, onde a criança negra apresentada em foto foi vista como pobre (ver Tabela 5).

Na Tabela 5, podemos observar, por exemplo, que 54% das crianças apontaram que a

criança negra apresentada em foto era bonita, 58% que a criança branca era bonita e 92%

delas declaram-se bonitas. Quanto à riqueza, nota-se que 82% acreditam que a criança negra

seja pobre, 46% que a criança branca também seja pobre e 36% declaram-se pobres.

Assim sendo, em relação às crianças brancas, os estereótipos atribuídos, em sua maioria,

também foram positivos, ou seja, as crianças atribuíram mais valoração positiva aos

estereótipos. E ao autoatribuir-se estereótipos, há uma valoração positiva ainda maior, o que

se faz pensar numa identificação que se opõe ao que os juízes apontaram como sua cor ou

numa tentativa de fuga da desvalorização social e preconceito.

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Essa realidade faz pensar que nas suas relações raciais, o preconceito racial se configura

como um preconceito de marca, que aparece quando é levada em conta a aparência física da

pessoa e a sua condição socioeconômica, não prevalecendo a descendência racial como fator

determinante. Assim, as atitudes de preconceito racial no Brasil são situacionais, dependendo de

outros fatores como a educação, a amizade, a estratificação social, entre outros (Nogueira, 1985).

Do mesmo modo, o processo de branqueamento funciona como um enfraquecedor da

construção de uma “identidade negra”, onde a presença do “mulato” suaviza a linha racial entre

“brancos” e “negros”, não favorecendo assim uma polarização em termos de identidade racial

(Munanga, 2004), ou seja, os discursos da mistura podem ser interpretados pelas crianças de

maneira positiva e serem aproveitados nos processos de auto-identificação.

A idéia do branqueamento não se reduz apenas à concepção segundo a qual o negro poderia

ser transformado em branco, mas faz surgir uma gama de cores delimitado por estes dois pólos, o

que impede a fixação de fronteiras rígidas, o que faz que qualquer escolha de cor terá um

conteúdo ambíguo, definido pelo contexto social e interesses pessoais (Hofbauer, 2006).

Conseqüentemente, o desejo de ser aceito por um grupo racial, no qual a crença

dissimulada ou explícita na superioridade branca está muito presente, pode levar a pessoa a

assumir crenças para tornar-se mais coerente com a aceitação do racismo, e o branqueamento

e ascensão social podem aparecer como sinônimos, já que as crianças negras são socializadas

em um contexto de uma maioria branca, e assim, mostram uma preferência para a cultura

branca, ainda mais quando são confrontadas com as desvantagens econômicas e políticas,

incluindo os riscos de saúde, pobreza e desemprego (Spencer, 1987).

Tabela 5: Percentuais da Atribuição de Estereótipos à criança Negra, Branca e a Si

mesmo (Essa criança é bonita ou feia? Inteligente ou burra? Estudiosa ou não?

Comportada ou Briguenta? Boa ou ruim? Rica ou pobre?)

Estereótipo Positivo

(%)

Negativo

(%)

Positivo

(%)

Negativo

(%)

Positivo

(%)

Negativo

(%)

Negra Branca Si mesmo

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Beleza 54 46 58 42 92 08

Inteligência 77 23 66 34 92 08

Estudos 68 32 68 32 92 08

Comportamento 53 47 53 47 90 10

Bondade 70 30 73 27 89 11

Riqueza 18 82 54 46 64 36

E ao expressar os sentimentos em relação ao fato da criança apresentada em foto ser

negra, a Figura 01 mostra que 70% das crianças afirmaram que é bom ser da cor da criança

apresentada em foto (negra). E a Figura 01 ainda mostra que 76% das crianças afirmaram que

é bom ser da cor da criança apresentada em foto (branca), e que 97% das crianças afirmaram

que é bom ser da sua própria cor.

Assim, pode-se confirmar que as crianças avaliadas como negras não se autopercebem

como sendo negras ou passam por um processo de branqueamento, negando a sua própria cor

a fim de buscar um grupo que seja mais valorizado positivamente, ou embranquecendo a cor

do “outro” (criança da foto) para “moreno”.

Entende desta forma que se o grupo é avaliado negativamente, o individuo buscará uma

estratégia de mudança ou mobilidade social (Tajfel, 1981), e que ainda que se possa evitar o

contato por não se sentir completamente aceito pelo outro, procura-se uma busca de

aproximação com o “outro” grupo, ainda mais quando os indivíduos tidos como “superiores”

articulam-se para fazer com que os indivíduos inferiores se sintam carentes de virtudes.

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70

30

76

24

97

30

20

40

60

80

100

Negra Branca Si mesmo

Bom

Ruim

Figura 1: Freqüências ou Percentual do Sentimento em relação à cor da criança Negra, Branca e a Si

mesmo

Na Tabela 06, ainda podemos perceber que 44% das crianças preferiram a criança

branca para levar para sua casa, 39% a criança morena e apenas 17% escolhem a criança, o

que demonstra um favoritismo pelo grupo dos brancos e morenos.

Quanto à escolha de um amigo, percebe-se que 30% das crianças entrevistadas

escolheram a criança branca, 41% a criança morena e 29% a criança negra, apontando ainda

uma maior escolha pelas crianças brancas e morenas, ainda que a diferença seja pequena em

relação a negra.

A escolha maior para dividir um pirulito se deu pela criança negra (36%), sendo que

34% escolheram a morena e 30% a branca, o que faz notar que a diferença foi pequena,

porém, diferentemente das outras escolhas há de se questionar o porquê. Há de se imaginar

pelos discursos apresentados pelas crianças que o fato de imaginarem a criança negra como

mais pobre, faz com que estas não tenham dinheiro para comprar um pirulito e é necessário

que outros a dêem. Este fato está novamente associado à construção da ascensão social está

mais vinculada aos brancos, conforme tratamos ao sinalizarmos o processo de

branqueamento.

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Este processo está muito vinculado ao processo de miscigenação cultural no Brasil que

produz mitos como o da democracia racial, onde a estratificação social é vista como a

principal responsável pela discriminação, levando a uma idéia de exclusão social não por ser

negro, mas por ser pobre, como nos confirma Camino e colaboradores (2001), afirmando que

a cor é central na definição no nível de classe do individuo.

A Tabela 06, pois, revela que a preferência maior se dá pela criança branca na hora de

escolher um parceiro para as atividades escolares, ainda que as crianças morenas e negras

tenham tido um bom número de escolhas (30% e 31% respectivamente).

Tabela 6: Freqüências e Percentuais das Preferências de Escolhas entre os Alvos

brancos e negros

Freqüência da Cor escolhida (%)

Preferência Branca Morena Negra

Criança que gostaria que

os pais levassem para

sua casa

44 39 17

Criança para ser seu

melhor amigo 30 41 29

Criança para dividir um

pirulito 30 34 36

Criança para juntos

fazerem a atividade que

a professora passou

30 39 31

3. Autoconceito e Autocontrole

Tratando-se dos instrumentos de avaliação de autocontrole e autoconceito, deve-se

destacar que, quanto ao autoconceito, o instrumento se divide em subescalas que avaliam os

autoconceitos pessoal, social, escolar e familiar; e quanto à escala de autocontrole, esta se

divide em duas escalas, sendo uma masculina e outra feminina, e estas ainda se subdividem

em dois fatores: Fator 1 e 2.

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Estes fatores são compreendidos nas seguintes dimensões: Fator 1 compreende

autocontrole relacionado às regras e condutas sociais e o Fator 2 se refere ao autocontrole em

relação a sentimentos e emoções.

No instrumento de avaliação constituído por 30 afirmações (EFAC – Escala Feminina)

ou 31 afirmações (EMAC – Escala Masculina), todas relacionadas a acontecimentos

cotidianos, a criança responde, dizendo com que frequência isso ocorre em sua vida, e para

cada item marcado há uma pontuação de 0 ou 1, que depois somados dão o resultado final,

que é classificado de acordo com a Tabela abaixo, apresentada no manual do instrumento

aplicado.

Tabela 7: Classificação dos Níveis de Autocontrole

Fator 1 EMAC / EFAC Fator 2 EMAC / EFAC EFAC / EMAC Classificação

0-20 / 0-18 0-12 / 0-13 0-33 Autocontrole baixo

21-27 / 19-25 13-16 / 14-19 34-43 / 34/42 Autocontrole médio

28 ou mais / 26 ou mais 17 ou mais / 20 ou mais 43 ou mais Autocontrole alto

Na Tabela 09 que mostra a freqüência dos níveis de Autocontrole vê-se que a maior

parte das crianças apresentou níveis baixos (56%) e médios (41%) tanto no Geral quanto em

ambos os fatores Social e Pessoal.

Vale lembrar que a escala é composta por 20 frases, divididas em autoconceito pessoal,

autoconceito escolar, autoconceito familiar e autoconceito social, onde a criança assinala a

frequência com que o determinado comportamento acontece em sua vida. E, para cada

assinalamento há uma pontuação de 0 a 2, que somados dá um resultado final que é

classificado de acordo com a Tabela a seguir.

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Tabela 8: Classificação do Nível de Autoconceito a partir da pontuação

Idad

e Escolar Social Pessoal Familiar Geral

Classificaçã

o

Mas

c

Fe

m

Mas

c

Fe

m

Mas

c

Fe

m

Mas

c

Fe

m

Mas

c

Fe

m

11

anos

4 3 7 8 4 4 5 21 22 Autoconceit

o baixo

6 5 9 10 5 6 25 24 Autoconceit

o médio

7 6 11 6 7 28 27 Autoconceit

o alto

12

anos

4 3 8 4 3 4 23 19 Autoconceit

o baixo

5 4 10 9 5 4 6 25 23 Autoconceit

o médio

6 5 11 7 6 7 28 27 Autoconceit

o alto

Deste modo, essas crianças, com níveis baixos de autocontrole, demonstraram ter

dificuldades em ter controle sobre situações presentes no seu dia-a-dia em casa, com os

amigos e na escola, como o cumprimento de deveres, rotinas e obrigações, e em controlar

suas emoções diante de situações em que se vê obrigada a desempenhar atividades ou

enfrentar situações de confronto.

Essa situação pode explicar a necessidade de se autodeclarar como brancas ou morenas

como forma de evitar qualquer tipo de confronto e dificuldades que possam se apresentar

devido à sua cor. A falta de autocontrole pela criança, pode assim obstruir o aprendizado e

junto à rejeição pelos colegas levam ao aumento no risco de depressão e ao envolvimento com

grupos de excluídos (Patterson & cols., 1992).

Tal situação se coaduna com o já apresentado na Tabela 04, quando mostra a

dificuldade das crianças em exprimirem seus sentimentos e não apresentam reações diante do

que se é colocado diante delas, sendo, neste caso, a exposição da sua cor de pele.

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Pode-se ratificar assim, que os maus tratos sejam físicos, psicológicos ou negligência,

que negam o direito que as crianças e adolescentes de serem tratados como sujeitos de direitos

e com condição peculiar de desenvolvimento, até em questões de desvalorização social devido

à raça, podem ser considerados como uma experiência negativa de vida ou um evento

estressor traumático, pois provocam tensão, interferem nos padrões normais de resposta e

relacionam-se a eventuais problemas psicológicos.

E, se ainda retomarmos a idéia do branqueamento nas respostas das crianças

entrevistadas, ainda se destaca que a desvalorização do seu grupo, tem-se por conseqüência

um falta de estímulo da auto-estima, da criatividade, do orgulho, da solidariedade grupal, da

autonomia e da capacidade da resistência contra elementos exteriores (Giddens, 2002).

Tabela 9: Freqüências ou Percentuais dos níveis de Autocontrole (N=100)

Conceito Autocontrole Social Autocontrole Pessoal Autocontrole Geral

Baixo 56 42 54

Médio 41 37 40

Alto 3 21 6

Os níveis de Autoconceito, como mostrados na Tabela 9, também apresentam um maior

número de crianças que mostram ter um autoconceito baixo (56%) ou médio (41%).

Este fato também demonstra que a ocorrência de as crianças se considerarem brancas ou

morenas deve estar associada à questão da busca pelo grupo mais valorizado socialmente.

Esta situação já nos é apresentado por Tajfel (1981) quando nos coloca que no processo de

construção social das identidades, o indivíduo busca estratégias de valorização do seu grupo

ou tenta se aproximar do grupo mais valorizado. Assim, como as crianças entendem que se

aproximar dos brancos traz em si uma valorização social e as deixam mais confortáveis e com

sentimentos mais positivos, então, é estratégico buscar essa mobilidade social, ao menos no

campo simbólico.

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As crianças negras, então, aprendem a conhecer-se em relação às oportunidades e

limitações do seu mundo social (imagens negativas, a relação marginal das minorias no

processo de produção, uma privação de necessidades básicas econômicas), sendo que a raça e

cor, em particular, continuam a ser questões inevitáveis na formação da identidade,

reforçando uma tendência para elevar a própria condição da pessoa, criticando certas

qualidades das massas ao invés de promover um reforço da identidade étnica por si mesmo

(Spencer, 1987).

Tabela 10: Freqüência dos níveis de Autoconceito (N=100)

Conceito Autoconceito

Pessoal

Autoconceito

Escolar

Autoconceito

Familiar

Autoconceito

Social

Autoconceito

Geral

Baixo 56 66 44 36 51

Médio 15 17 16 38 28

Alto 29 17 40 26 21

Com esses resultados, podemos sintetizar que as crianças, em geral, apresentaram uma

tentativa de aproximar-se das características do grupo mais valorizado socialmente, que, neste

caso, é o grupo dos brancos. Deste modo, as crianças negras atribuíram-se com a cor branca

ou morena, e, portanto, atribuindo sentimentos e estereótipos positivos a esta cor. Assim

também, ao mesmo tempo em que atribuíam estereótipos mais negativos à criança negra

apresentada em foto, elas atribuíram estereótipos positivos à criança branca e a si mesmo.

Neste caminho, as crianças negras apresentaram, assim, autoconceito e autocontrole

baixos, já que sendo negras procuravam se aproximar do grupo dos brancos, causando uma

dissonância entre a sua cor de pele e a cor de pele autodeclarada e desejada, gerando um

processo de identificação controverso e atitudes de neutralidade ou passividade.

Então, com esses resultados anteriores já postos, para melhor compreensão dos dados,

foram analisadas correlações, primeiramente, com os questionários de investigação do

racismo, onde as crianças foram convidadas a expor seus pensamentos acerca das crianças

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apresentadas em fotos (ver anexo C), e em seguida com as escalas de Autocontrole e

Autoconceito.

Tabela 11: Correlações2 dos Estereótipos atribuídos à criança negra

Variáveis Gênero Etnia Beleza Inteligência Estudos Comportamento Bondade

Etnia -,117

Beleza -,096 -,146

Inteligência -,104 -,039 ,068

Estudos ,002 ,084 ,184 ,542(**)

Comportamento -,237(*) -,084 ,256(*) ,390(**) ,342(**)

Bondade -,258(**) ,039 -,035 ,420(**) ,440(**) ,345(**)

Riqueza -,128 -,237(*) ,224(*) ,194 ,098 ,180 ,193 * significativo (p< 0,05)

** significativo (p<0,01)

A Tabela 11 mostra, pois, as correlações entre os estereótipos atribuídos a criança negra

e a etnia declarada pelo entrevistador. Conforme se pode observar, as correlações

significativas apontam que a variável Gênero expõe que as meninas demonstram perceber

uma criança negra como mais comportada e bondosa. Este achado corresponde ao encontrado

em outra pesquisa que mostra que as meninas assumem mais a característica de serem menos

racistas, pois também fazem parte de um grupo de minoria social (Nunes, 2010). Assim, elas

se colocam na situação do negro, e quando ela também é negra, esse processo de identificação

fica ainda mais acentuado.

A variável Etnia teve correlação negativa com a Riqueza, mostrando que quanto mais

escura a cor da pele da criança mais ela atribui o aspecto da pobreza à criança negra. Esse

aspecto, como já discutido anteriormente está vinculado ao processo histórico e da visão de

que a ascensão social é algo dos brancos.

2 Etnia (5: moreno, 6:moreno escuro), Gênero (1: mas, 2: fem), Beleza (1:bonito, 2: feio), Inteligência (1:

inteligente, 2: burro), Estudos (1: estudioso, 2: não estudioso), Comportamento (1: comportado, 2: briguento),

Bondade (1: bonzinho, 2: malvado), Riqueza (1: rico, 2:pobre)

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Para Bento (2002), mesmo em situação de pobreza, o branco ainda tem o privilégio

simbólico da brancura, e os negros encontram um déficit muito maior em todas as dimensões

da vida, na saúde, na educação, no trabalho. A pobreza tem cor, qualquer brasileiro

minimamente informado foi exposto a essa afirmação, e esse jargão repetitivo limita o

racismo à classe social. Ainda assim, legado da escravidão para o branco é um assunto que o

país não quer discutir, pois os brancos saíram da escravidão com uma herança simbólica e

concreta extremamente positiva, e este silêncio e cegueira permitem não prestar contas, pois

interesses econômicos em jogo.

Em relação à Beleza sugere-se que as crianças percebem que quanto mais bonita a

criança mais comportada e rica ela será; E na questão da Inteligência, as crianças entendem

que aspectos como ser mais estudioso, comportado e bonzinho estão correlacionados.

Quanto à beleza, lembra-se que esse processo histórico do racismo estruturalizado na

sociedade, apresenta-se através de relações raciais com um sistema sofisticado de

classificação baseado tanto na aparência quanto na condição socioeconômica e região de

residência, conforme nos apresenta Silva e Rosemberg (2008) e Fernandes e Almeida (2008).

Portanto, trazer à tona a questão da cor, traz em si diversas categorias que quando valoradas

são sempre mais desfavorecidas para o negro, tais como a beleza e a riqueza. Nos discursos,

por exemplo, das crianças entrevistadas nesta pesquisa, foi comum encontrar frases como

“negro é feio” ou “preto é pobre”.

Vale ressaltar que o estereótipo é analisado pela opção positiva, ou seja, a escolha da

opção positiva do estereótipo, como por exemplo, a porcentagem do estereótipo beleza refere-

se ao item “bonito” e não “feio”.

A segunda etapa do questionário deu-se acerca da atribuição de estereótipos à criança

branca, conforme Tabela 12, onde as crianças negras entrevistadas atribuíam valoração aos

atributos associados à criança da foto. Vale lembrar que os atributos associados à criança

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negra foram os mesmos associados à criança branca, e posteriormente a si mesmo.

Outro ponto é que as crianças negras percebem as crianças brancas mais bondosas. No

estereótipo de beleza, também se percebe que esta categoria está associada à inteligência,

estudos, comportamento, bondade e riqueza, ou seja, as crianças brancas que são tidas como

mais bonitas são também avaliadas como mais inteligentes, estudiosas, comportadas e ricas.

Vale notar que esta associação positiva entre estes estereótipos se dá de maneira comum

entre eles, portanto, se a criança branca foi analisada de forma positiva em uma dessas

categorias, as outras também foram vistas de forma positiva conseqüentemente. Por último, a

Riqueza associou-se a Beleza e Comportamento. Assim, uma criança tida como rica é também

vista como bonita e comportada.

Todas estas correlações reforçam o que já explicitado anteriormente, onde as mulheres

como integrantes de grupo excluído conseguem ser mais empáticas, e as crianças num

processo de branqueamento da própria cor conseguem diminuir o impacto do preconceito

procurando valorizar-se um pouco mais, ainda que associem as categorias de forma mais

positiva aos brancos, ressaltando, principalmente, a questão da riqueza como ainda mais

característica dos brancos, ou seja, a ascensão social é uma característica dos brancos.

Tabela 12: Correlações3 dos Estereótipos atribuídos à criança branca

Variáveis Gênero Etnia Beleza Inteligência Estudos Comportamento Bondade

Etnia -,117

Beleza -,417(**) ,011

Inteligência -,339(**) ,085 ,373(**)

Estudos -,342(**) ,170 ,372(**) ,639(**)

Comportamento -,237(*) -,004 ,417(**) ,466(**) ,342(**)

Bondade -,330(**) ,240(*) ,350(**) ,372(**) ,500(**) ,465(**)

Riqueza -,096 -,186 ,353(**) ,185 ,141 ,216(*) ,026 * significativo (p< 0,05)

** significativo (p<0,01)

3 Etnia (5: moreno, 6:moreno escuro), Gênero (1: mas, 2: fem), Beleza (1:bonito, 2: feio), Inteligência (1:

inteligente, 2: burro), Estudos (1: estudioso, 2: não estudioso), Comportamento (1: comportado, 2: briguento),

Bondade (1: bonzinho, 2: malvado), Riqueza (1: rico, 2:pobre)

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Quanto à associação de características a si mesmo, na Tabela 12 é possível perceber que

as meninas vêem mais a si como bondosas do que os meninos. Além disso, as crianças

morenas aparecem como mais comportadas, assim também como os mais bonitos aparecem

como mais comportados, e os comportados como ricos. Outra questão é que os inteligentes e

estudiosos são tidos como bondosos e ricos.

Desta forma, há de se pensar na assimilação da ideologia de que os grupos dominantes

compartilham sentimentos de superioridade; de que a raça jugulada é diferente; da

propriedade particular de certos privilégios, acomodando-se a uma superioridade cultural de

um grupo direta e mecanicamente através de uma pretensa superioridade fisiológica, ou seja,

explicando um status social por uma característica natural (Delacampagne, 1990).

Vale ressaltar ainda que a diferença é sustentada pela exclusão, e a identidade é marcada

pela diferença (Silva, Hall e Woodward, 2009), e a unificação ou a assimilação da diferença

anula uma identidade sobre a outra (Bourdieu, 1989), o que leva a um questionamento de

como estas crianças analisadas estão anulando a diferença de cor numa forma de eliminar a

diferença, o que tem levado a uma anulação da identidade de cor enquanto negras. E quando a

manutenção das normas que se referem à identidade e que sustentam a vida social é

fracassada estas têm um efeito direto sobre a integridade psicológica dos indivíduos

(Goffman, 1988), ou seja, o estigma social imposto pelo grupo mais poderoso pode penetrar

na auto-imagem deste último (Elias, 2000).

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Tabela 13: Correlações4 dos Estereótipos atribuídos à si mesmo

Variáveis Gênero Etnia Beleza Inteligência Estudos Comportamento Bondade

Etnia -,117

Beleza ,056 ,092

Inteligência -,165 ,165 ,185

Estudos -,165 ,018 ,049 ,457(**)

Comportamento -,001 ,267(**) ,357(**) ,161 ,063

Bondade -,245(*) ,117 ,132 ,250(*) ,368(**) ,522(**)

Riqueza -,170 ,087 ,086 ,316(**) ,240(*) ,104 ,069 * significativo (p< 0,05)

**significativo (p< 0,01)

Vale ressaltar neste ponto que, no processo de construção das identidades, os grupos

dominantes avaliam positivamente os membros de seu grupos e negativamente os membros

de outros grupos por estarem atravessados por categorias e valores fundados em teorias do

senso comum (Tajfel, 1981), ou seja, se o grupo de crianças tidas como negras declararam-se

como brancas e possuem uma imagem positiva do grupo dos brancos, tornou-se esperado que

estas avaliassem positivamente os membros de “seu grupo”.

Para, então, ratificar os resultados até então encontrados e finalizar o processo de

análise foram feitas algumas análises de regressão. A análise de Regressão é uma metodologia

estatística que utiliza a relação entre duas ou mais variáveis quantitativas (ou qualitativas) de

tal forma que uma variável pode ser predita a partir da outra ou outras.

Para fazer as análises de regressões foram utilizados os método Enter do software

SPSS. O método Enter trabalha com todas as variáveis, sem descartar nenhuma, até mesmo

aquelas variáveis que foram reprovadas no teste de significância. Nos dois casos procurou-se

tabular os principais elementos integrantes da análise de regressão, entre eles: Significância

(Sig), R Quadrado (R²) e ANOVA.

4 Etnia (5: moreno, 6:moreno escuro), Gênero (1: mas, 2: fem), Beleza (1:bonito, 2: feio), Inteligência (1:

inteligente, 2: burro), Estudos (1: estudioso, 2: não estudioso), Comportamento (1: comportado, 2: briguento),

Bondade (1: bonzinho, 2: malvado), Riqueza (1: rico, 2:pobre)

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As variáveis utilizada nas Regressões foram as do Autoconceito (Geral, Social,

Familiar, Pessoal e Escolar) relacionando-as com as do Autocontrole (Geral, Fator 1 e Fator

2)

Logo na avaliação do Autoconceito Geral, percebe-se que as variáveis associadas

(Autocontrole Geral, Sua Cor, Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1

EFAC ou EMAC) conseguem juntas explicar 15% ( R2 = 0,15) da variância.

Tabela 14: Regressão Linear entre Autoconceito Geral, Autocontrole Geral, Sua Cor,

Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC

Variável Dependente Variáveis Independentes R Square Sig.

ANOVA Sig.

Autoconceito Geral

Fator 1 EFAC ou EMAC

,150 ,086

,171

Fator 2 EFAC ou EMAC ,862

Autocontrole Geral ,262

Gênero ,560

Idade ,299

Etnia ,836

Escola ,588

Sua cor ,475

Quanto ao autoconceito, este é explicado em 16% (R2 = 0,16) pelas variáveis

independentes (Autocontrole Geral, Sua Cor, Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia,

Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC).

A cor teve relativa significância em relação ao autoconceito social (sig. = 0,077), ou

seja, a cor declarada pela própria criança é responsável por influenciar o autoconceito social.

Assim também o processo identitário – como essa criança se percebe em relação aos

estereótipos apresentados – mostrou-se com relativa influência na construção do autoconceito

social (sig. = 0,053). Desta forma, vê-se que a raça e a forma como essa criança avalia a sua

cor interfere diretamente nas relações sociais da criança.

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Percebe-se assim que o fato de se autodeclararem brancas faz com que estas crianças

entrevistadas se percebam como bem aceitas pelo meio social, o que interfere na sua

identidade social, que também se mostra mais positiva. Assim, pode-se entender que a cor

autodeclarada impacta na Identidade Social, que, inevitavelmente, repercute no autoconceito,

neste caso, particularmente, no autoconceito social. Estas evidências, portanto, ratificam o que

já foi mostrado até então, que é a ideologia de um branqueamento, sedimentado e marcado na

história por uma representação de uma cultura branca superior.

Tabela 15: Regressão Linear entre Autoconceito Social, Autocontrole Geral, Sua Cor,

Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC

Variável Dependente Variáveis Independentes R Square Sig.

ANOVA Sig.

Autoconceito Social

Fator 1 EFAC ou EMAC

,164 ,053

,162

Fator 2 EFAC ou EMAC ,238

Autocontrole Geral ,890

Gênero ,458

Idade ,277

Etnia ,917

Escola ,134

Sua cor ,077

Na Tabela 16 vê-se que 12,5% (R2 = 0,125) do Autoconceito Pessoal é explicado pela

relação entre as variáveis Autocontrole Geral, Sua Cor, Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou

EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC.

O Gênero é a variável de maior significância na relação com o autoconceito pessoal

(sig. = 0,39). Isto mostra o que já havia sido encontrado que o fato de ser homem ou mulher

altera a forma como a criança se enxerga, destacando o fato de a mulher, por ser também de

um grupo das minorias sociais, identificar-se com o grupo de negros.

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Vale lembrar que valores e crenças dos pais podem ser fatores significantes na formação

da identidade e especificamente na dissonância racial, sendo que a falta dos pais negros como

reforçadores da consciência étnica e para lidar explicitamente com questões étnicas e a

opressão racial institucionalizada podem ser um fator importante na dissonância racial

(Spencer, 1987). Tal fato pode ter ocorrido nesta situação de pesquisa, e não somente pela

figura do pai biológico, mas até mesmo dos professores que articulavam uma maior

preferência pelas crianças brancas.

Tabela 16: Regressão Linear entre Autoconceito Pessoal, Autocontrole Geral, Sua Cor,

Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC

Variável Dependente Variáveis Independentes R Square Sig.

ANOVA Sig.

Autoconceito Pessoal

Fator 1 EFAC ou EMAC

,125 ,190

,823

Fator 2 EFAC ou EMAC ,473

Autocontrole Geral ,190

Gênero ,039

Idade ,976

Etnia ,198

Escola ,939

Sua cor ,326

Quanto ao autoconceito Escolar, as variáveis Autoconceito Escolar, Autocontrole Geral,

Sua Cor, Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC

são capazes de influenciá-lo em 13, 7%, sendo a variável Sua Cor de maior significância.

Esse resultado mostra que a cor autodeclarada também interfere na forma como a

criança se percebe nas suas atividades escolares. A expectativa esperada, de que os brancos

devem ser mais inteligentes e mais espertos do que os negros, causa um diferencial na forma

como a criança consegue se perceber enquanto sujeito do meio escolar.

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Ainda assim, vale ressaltar que as práticas educativas ineficientes dos pais são vistas

como determinantes do problema de comportamento na criança, e na idade escolar, essa a

desobediência e falta de autocontrole pela criança obstruem diretamente o aprendizado e junto

à rejeição pelos colegas levam, por sua vez, ao aumento no risco de depressão e ao

envolvimento com grupos de “rejeitados” (Patterson e cols., 1992).

Tabela 17: Regressão Linear entre Autoconceito Escolar, Autocontrole Geral, Sua Cor,

Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC ou EMAC

Variável Dependente Variáveis Independentes R Square Sig.

ANOVA Sig.

Autoconceito Escolar

Fator 1 EFAC ou EMAC

,137 ,130

,848

Fator 2 EFAC ou EMAC ,442

Autocontrole Geral ,695

Gênero ,527

Idade ,324

Etnia ,181

Escola ,505

Sua cor ,023

O autoconceito familiar teve 20% de explicação dada pelas variáveis Autocontrole

Geral, Sua Cor, Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola e Fator 1 EFAC ou

EMAC. E as variáveis Gênero, Autocontrole geral e Escola tiveram correlações significativas.

Tabela 18: Regressão Linear entre Autoconceito Familiar e Identidade, Autocontrole

Geral, Sua Cor, Gênero, Idade, Fator 2 EFAC ou EMAC, Etnia, Escola, Fator 1 EFAC

ou EMAC

Variável Dependente Variáveis Independentes R Square Sig. ANOVA Sig.

Autoconceito

Familiar

Fator 1 EFAC ou EMAC

,202 ,013

,753

Fator 2 EFAC ou EMAC ,591

Autocontrole Geral ,022

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Gênero ,034

Idade ,667

Etnia ,925

Escola ,037

Sua cor ,188

Identidade ,489

Pensando assim, acerca dos processos identitários destas crianças e sua repercussão

psicossocial no autoconceito e no autocontrole, devido o preconceito racial, pode-se ratificar

que há um processo de branqueamento apresentado nos discursos das crianças, que preferem

se perceber como brancas, a fim de ter uma imagem mais positiva de si. Porém, por exemplo,

o autoconceito é baixo, o que demonstra que, na verdade, há um camuflar da realidade sofrida

por estas crianças. Elas apresentam um discurso sobre si que não equivale a realidade como

um todo, já que o autoconceito e o autocontrole foram avaliados em vários contextos e não

somente em relação a si. Vale pensar, desta forma, que a cor da criança interfere na

construção de seu autoconceito e autocontrole.

Neste processo de “branqueamento”, os resultados ratificam o que Bourdieu (1989) nos

apresenta, de que as escolhas do grupo dominado passam pela aceitação resignada ou

provocante, ou a busca da assimilação que faça desaparecer todos os sinais quem lembrem o

estigma, afastando cada vez mais a identidade legítima, ou seja, uma reapropriação coletiva

do poder de construir e avaliar a sua própria identidade.

Identidade racial é de tal modo, o sentimento de pertença a um grupo racial, e decorre da

construção social, cultural e política, fundamentada na história de vida e na consciência adquirida

diante das imposições sociais raciais. Neste sentido, como afirma Oliveira (2004), assumir a

identidade racial negra em um país como o Brasil é um processo difícil e doloroso, considerando-

se que os modelos “bons”, “positivos” e de “sucesso” de identidades negras não são muitos e

poucos divulgados, e o respeito à diferença em meio à diversidade de identidades raciais inexiste.

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Ainda pode-se entender que, nestes processos identitários, conforme Giddens

(2002), o risco (condição de vida adversa) é essencial para o desenvolvimento do próprio

sujeito, uma vez que o individuo é forçado a aceitar as situações como um caso que pode até

dar errado, porém, será problemático se este indivíduo não tiver sentimentos bem

estabelecidos de confiança básica, o que agrava a situação das crianças entrevistadas.

Além disso, a falta da consciência da raça, que é a tendência sentimental a uma

identificação ideológica com o grupo racial, compromete a lealdade, devoção e orgulho, e não

reforça o auto-respeito, e nem exalta a própria concepção de si (Spencer, 1987).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto e dos resultados encontrados, nota-se claramente que o preconceito é

produto arraigado na sociedade, construído nas relações sociais e dissimulado através dela,

independentemente da faixa etária. Isto é comprovado pelos resultados que demonstraram que

as crianças, ainda que negras, confirmam uma preferência pelo alvo branco e isso repercute

automaticamente nos processos identitários, uma vez que as elas, nos seus discursos,

preferem, por exemplo, as crianças negras para serem seus amigos por se parecerem com si

mesmas, e, no entanto, declaram-se brancas ou morenas, atribuindo estereótipos mais

positivos para os brancos. E esta identificação é então sentida nas relações sociais, familiares

e escolares, como nos demonstraram os níveis de autoconceito e no autocontrole.

A partir disto, percebe-se, pois, que os grupos minoritários continuam a ser alvo de

discriminação, e, independentemente de apresentar-se de forma sutil ou flagrante, os grupos

dominantes continuam a hostilizar e segregar, mesmo que camuflado, os grupos tido como

inferiores.

Entende-se assim que o Brasil ainda se configura numa mestiçagem, porém, tratar da

questão racial ainda é um tabu, já que naturaliza as posições sociais desiguais. O racismo,

pois, se manifesta de maneira cordial. E no caso particular desta pesquisa, os resultados

encontrados demonstram que o preconceito continua a selar as mais diversas categorias

sociais. O fato de ser rico ou pobre, feio ou bonito, inteligente ou rude, está intrinsecamente

ligado ao fato de ser branco ou negro. E o mais alarmente é que isto está sendo perpetuado

através das crianças, que constroem suas normas e cognições através das relações sociais.

Apesar de tantas experiências históricas, ainda subsiste o preconceito de que existe uma

cultura melhor do que a outra. E, finalmente, o excluído é todo aquele que pensa de maneira

que diverge do poder instaurado. Torna-se um marginal, periférico.

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Os resultados alcançaram, portanto, que o preconceito racial, apesar das diversas leis e

normas sociais que determinam a ilegalidade ou imoralidade da discriminação racial, continua

a ser instigada e camuflada no meio social, como forma de manutenção de ―status quo‖ e

defesa dos grupos majoritários.

E, sabido que a identidade é construída através do reconhecimento dos espaços públicos

e privados que os grupos e sujeitos alcançam a partir do reconhecimento social, viu-se que a

cor da pele foi determinantes na construção de como as crianças conseguem se perceber

perante si e a sociedade. E quem demonstra pertencer a uma categoria com atributos

incomuns ou diferentes é pouco aceito pelo grupo social, tornando-se, muitas vezes, para a

sociedade, uma pessoa má e perigosa. Sendo assim, a sociedade limita e demilita a capacidade

de ação de um sujeito estigmatizado.

A construção da identidade social é, e apresentou-se nesta pesquisa, marcada pela busca

de uma aproximação com as identidades mais aceitas socialmente, a fim de uma provável

aceitação de si e dos outros, evitando qualquer tipo de atitude de rejeição ou discriminação.

As crianças demonstraram que ser negro é uma identidade que deve ser evitada, pois esta traz

em si uma série de desgastes psicológicos e sociais.

Para as crianças estigmatizados, a sociedade reduz as oportunidades, esforços e

movimentos, impõe a perda da identidade social de acordo com o modelo que convém á

sociedade, sabendo que quanto mais discrepante for a diferença entre a identidade virtual e

real, mais acentuado é o estigma, em conseqüência, o sujeito passa a não aceitar-se a si

mesmo. A identidade social estigmatizada, então, destrói atributos e qualidades do sujeito,

exerce o poder de controle das suas ações e reforça a deterioração da sua identidade social.

Quanto ao autoconceito e ao autocontrole, ficou evidenciado que esta luta pelos espaços

faz com que as crianças se percebam como menos favorecidas socialmente e isso as leva a um

sentimento de serem mais rejeitadas e, consequentemente, isto repercute na forma como elas

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se enxergam e que lugares elas ocupam na sociedade, afetando, pois o seu autoconceito, além

de apresentarem dificuldades em se expressar, pois já não conseguem entender o seu lugar no

mundo (perda de autocontrole social e emocional).

Diante do exposto, fica clara a configuração de formas de preconceito na sociedade,

que, na verdade, só dissimulam o preconceito contra negros ainda bem presente e arraigado, e

continua a vitimizar boa parte deles. Estas formas, ainda que sutil tem também sido

conseqüência de uma dificuldade de composição de identidades raciais em busca de uma

inserção social, afetando aspectos como o autoconceito e autocontrole, que são fatores de

proteção da resiliência. Portanto, vê-se a necessidade de novas pesquisas que ampliem o

número de entrevistados, em outras regiões do país, a fim de subsidiar novos grupos de

discussão sobre o preconceito, o racismo e identidades raciais e suas possíveis repercussões

no desenvolvimento humano.

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ANEXOS

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112

ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL

MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL Para:

De:

Local: Assunto: Solicitação de autorização para a efetuação de pesquisa, através de aplicação de

questionários, base para estudos sobre relações interpessoais entre crianças

Prezado Senhor (a):

Vimos, formalmente, solicitar sua autorização para a aplicação de um questionário/entrevista

junto à CRIANÇAS DE 10 A 11 ANOS DE IDADE.

O referido estudo tem como objetivo ANALISAR O AUTOCONCEITO E O

AUTOCONTROLE DAS CRIANÇAS

A coleta dos dados SERÁ BASEADA EM APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS E

ESCALAS PSICOSSOCIAIS

A referente pesquisa estará respeitando critérios como, o sigilo relacionado à identificação dos

pesquisados, ressaltando que só será solicitado deles a idade e a assinatura dos mesmos no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sem que tais assinaturas

comprometam-nos na pesquisa, já que esta se encontra dentro dos parâmetros éticos

essenciais para a pesquisa com seres humanos. Vale destacar que, em nenhum momento, será

feita referência a pessoas, nem a identificação dos entrevistados ou de terceiros.

Enfim, em caso de qualquer dúvida ou maiores informações sobre a pesquisa, estamos à

disposição para o esclarecimento.

Com a certeza de vossa atenção, agradecemos antecipadamente.

SAULO SANTOS MENEZES DE ALMEIDA – PESQUISADOR

RESPONSÁVEL PELA INSTITUIÇÃO E/OU PELA CRIANÇA

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113

ANEXO B - QUESTIONÁRIO

Data:____/___/____

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL

MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

QUESTIONÁRIO

Nome:__________________________________________________Gênero (M) (F)

Idade:____________ Etnia: 1 2 3 4 5 6 7 Série:_______________________

Escola:______________________________________________________________

Entrevistador._________________________________________________________

Entrevistador 1 2

Etnia ( ) ( )

1. Primeiro, eu gostaria que você falasse só um pouquinho de você. Como você é?

2. Qual a sua cor?

3. Você gosta de ser assim?

Sim ( ) Não ( ) Por que? ____________________________________________________

Você mudaria a sua cor? Sim ( ) Não ( )

Se sim, o que você mudaria?____________________________________________________

Como você ficaria? ___________________________________________________________

Como você se sente quando te chamam dessa cor? __________________________________

E o que você faz quando te chamam assim? ________________________________________

4.a) Seus pais mudariam a sua cor? Sim ( ) Não ( )

Por quê? ___________________________________________________________________

E você deixaria?

O que você faria?

b) Seus amigos mudaria a sua cor? Sim ( ) Não ( )

Por quê?? ___________________________________________________________________

E você deixaria?

O que você faria?

c) Seu professor (a) mudaria a sua cor? Sim ( ) Não ( )

Por quê? ____________________________________________________________________

E você deixaria?

O que você faria?

5.1 Você tem aqui a foto de uma criança (mostrar a foto da criança negra), uma caixinha e

algumas palavras. Mostre as palavras que mais combinam com essa criança. (ler as palavras

aos pares).

a) Bonito ( ) ou Feio ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

b) Inteligente ( ) ou Burro ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

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114

c) Estudioso () ou Não Estudioso ()? Essa palavra quer dizer uma coisa boa () ou ruim ()?

d) Comportado () ou Briguento ()? Essa palavra quer dizer uma coisa boa () ou ruim ( )?

e) Bonzinho ( ) ou Malvado ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

f) Rico ( ) ou Pobre ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

g) Essa criança é Branca ( ), Marrom ( ) ou Negra ( )?

É bom ser X (etnia escolhida no item g)? Sim ( ) Não ( )

Por que? _________________________________________________________________

5.2 Agora você tem aqui a foto de uma outra criança (mostrar a foto da criança branca).

Mostre as palavras que mais combinam com essa criança. (ler as palavras aos pares).

a) Bonito ( ) ou Feio ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

b) Inteligente ( ) ou Burro ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

c) Estudioso () ou Não Estudioso ()? Essa palavra quer dizer uma coisa boa () ou ruim ()?

d) Comportado () ou Briguento ()? Essa palavra quer dizer uma coisa boa () ou ruim ()?

e) Bonzinho ( ) ou Malvado ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

f) Rico ( ) ou Pobre ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

g) Essa criança é Branca ( ), Marrom ( ) ou Negra ( )?

É bom ser X (etnia escolhida no item g)? Sim ( ) Não ( )

Por que? _________________________________________________________________

5.4 Agora você vai fazer o mesmo com você. Mostre as palavras que mais combinam com

essa criança. (ler as palavras aos pares).

a) Bonito ( ) ou Feio ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

b) Inteligente ( ) ou Burro ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

c) Estudioso () ou Não Estudioso ()? Essa palavra quer dizer uma coisa boa () ou ruim ()?

d) Comportado () ou Briguento ()? Essa palavra quer dizer uma coisa boa () ou ruim ( )?

e) Bonzinho ( ) ou Malvado ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

f) Rico ( ) ou Pobre ( )? Essa palavra quer dizer uma coisa boa ( ) ou ruim ( )?

g) Você é Branca ( ), Marrom ( ) ou Negra ( )?

PREFERÊNCIA

7) Nesta sessão utiliza-se os desenhos (pede-se pra desenhar uma criança branca e uma

negra).

Qual desses meninos você prefere que seus pais levem para sua casa para dormir no

mesmo quarto que você e viver com seu irmão (ã)?

( ) Branco ( ) Mulato ( ) Negro

Porque?

Qual dessas crianças você escolhe para ser seu melhor “Amigo (a)”?

( ) Branco ( ) Mulato ( ) Negro

Porque?

Vamos imaginar que você têm um chiclete (pirulito) a mais e quer dividi-lo, e essas

crianças são suas colegas, com qual dessas crianças você dividiria seus chicletes (pirulitos)?

( ) Branco ( ) Mulato ( ) Negro

Porque?

Com qual desses você prefere fazer a atividade que a professora passou?

( ) Branco ( ) Mulato ( ) Negro

Porque?

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ANEXO C - FOTOS