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1ANÁLISE SOBRE O CONTO “BERENICE” DE EDGAR ALLAN POE
Frederico Dias Freire *Jaqueline Gomes*Odiley de Aquino*
Paulo Henrique Vieira do Nascimento*
Berenice é um conto de horror escrito pelo grande escritor Edgar Allan Poe e
publicado em 1835. Edgar Allan Poe foi autor, poeta, editor e crítico literário. Foi um dos
precursores do romantismo em terras norte-americanas. Conhecido por suas temáticas que
remetem ao mistério e ao macabro, esse autor foi o pioneiro no novo continente, por se
desbravar em composições de contos e de gêneros até então não explorados, como a ficção
policial e a ficção científica. Teve sua vida marcada por acontecimentos infelizes, como o
abandono do pai, a morte prematura da mãe e da esposa. Fatores esses, que somados a um
estilo de vida solitário e boêmio, inevitavelmente influenciaram no teor obscuro e pessimista
de suas obras. O conto Berenice faz jus a essas características.
O conto relata a estória de Egeu. Homem que vive em uma velha casa herdada de seus
pais. Já no início da narração, o narrador-personagem conta que o local em que se encontra, a
biblioteca da casa, é também o local em que sua mãe veio a falecer. Diz também que se trata
do mesmo local do seu nascimento, sugerindo assim, tacitamente, que sua mãe morrera na
ocasião de seu parto. Como segue no trecho retirado da obra:
The recollections of my earliest earliest years are connected with that chamber,
and with its volumes… of which latter I Will say no more. Here died my mother.
Herein was I Born. But it is mere idleness to say that I had not lived before… That
the soul has no previous existence. You deny it? (ALLAN POE)
Ao se ler o fragmento, e notável a menção de um elemento transcendental, incomum
na obra do autor. Seguindo na narrativa, Egeu conta como foi desenvolvida sua paixão pela
leitura, pelos livros. A biblioteca, local que deu inicio a sua vida e que serviu de palco para a
morte de sua mãe, se tornou o seu refúgio, lugar, em que na sua infância, marcadas por graves
enfermidades, que se figurou como um monastério, ambiente para meditação e para a prática
do ato de sonhar sem limites, devanear sobre cada obra lida, por cada surpresa conferida pela
literatura. Entretanto, conta que mesmo findada a infância, não conseguiu superar as
impressões fantásticas do imaginário. Egeu diz que enxergava a realidade apenas como visões
1****Acadêmicos do 6° período noturno do curso de Letras, do Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, no semestre letivo 2013/2.
distantes, como sonhos, e que a sua verdadeira realidade pairava sobre as ideias loucas da
“terra dos sonhos”, que julgava ser sua inteira e única existência.
Logo em seguida, no desenrolar da trama, Egeu introduz a figura de Berenice, sua
prima. Conta como suas vidas eram divergentes. Pois enquanto ele passara toda a vida
enfurnado em um quarto, ou na biblioteca, ela era pura vivacidade e energia. Descreve sua
beleza, sua alegria de viver. Entretanto um infortúnio surgira, uma doença fatal atingiu-a.
Dentre os vários sintomas, os mais greves seriam crises epiléticas e de catalepsia. Nesse
momento ele confessa os sintomas de sua doença, monomania, que consta em um interesse
obsessivo por objetos triviais. Obsessão essa que é capaz de invadir o pensamento de forma
psicótica e doentia.
Nos poucos momentos em que Egeu se encontrava em ócio de sua obsessão
patológica, se empregava a pensar na situação de Berenice, fato que o incomodava,
angustiava, entristecia-o. Viu-se obrigado a pedi-la em casamento, como forma de mitigar seu
sofrimento. Antes da celebração das núpcias, Egeu conta que em uma determinada tarde de
inverno foi surpreendido com a imagem de Berenice. Ambos estavam em sua biblioteca, ele
relata o fato com muita nebulosidade, elementos que dão certa conotação de sonho à situação.
Descreve-a de forma decrépita, quando comparada à imagem jovial e tão cheia de vida de
outra hora. O único aspecto que o impressiona são seus dentes, admira sua brancura, seu
alinhamento, sua beleza. Esse deslumbre o atormenta.
Depois do acontecido, percebe que sua monomania encontra um novo objeto de
apreço, ou seja, os dentes de Berenice. Força se para manter seu desejo sob controle. Com o
passar do tempo, a doença da jovem piora significativamente. Certo dia um criado chama-o ao
quarto da moça, diz que ela morrera. Ageu teve a impressão, de maneira confusa, é claro, de
que ela estava viva. Mas por algum motivo, não mencionado, não dá atenção para essa
hipótese. Vai para biblioteca, adormece e, depois de algum tempo, percebe que Berenice já
tivera sido enterrada, olha ao seu redor e nota a presença de uma caixa de procedimentos
medicinais em cima da mesa. Pensamentos estranhos e memórias confusas insistem em sua
mente, ele não entende, sente se angustiado. Um criado entra no ambiente e relata um fato
ocorrido. Disse que o som de um tenebroso grito despertou o interesse de todos naquela
mesma noite, quando foram ver do que se tratava, encontraram um túmulo violado, um corpo
desfigurado, mas que ainda respirava. Nesse momento o criado percebe que as roupas de
Egeu estavam sujas de sangue. Egeu pega a caixa médica e depois de abri-la, percebe que os
instrumentos nela contidos estavam sujos, como se tivessem sido usados há pouco tempo,
encontra também dois alvos dentes.
A narração do conto é feita em primeira pessoa, como já é característico em se
tratando de contos de Edgar Allan Poe. Esse tipo de perspectiva narrativa remete a
parcialidade dos fatos, pois como são contados pelo narrador-personagem, não é possível
constatar de fato a credibilidade dos acontecimentos. É interessante ressaltar que no referido
conto, a única voz presente é a do narrador-personagem, no caso, Egeu. Apesar de incluir
personagens como os criados e a própria figura da prima Berenice, em momento algum
nenhum desses se pronuncia de forma direta. Somente a voz de Egeu rege o conto. Esse é
mais um aspecto que torna a verdade dos acontecimentos duvidosa. Pois tudo se passa por
meio do viés de Egeu. Outra característica interessante é o diálogo com o leitor, percebido no
trecho “That the soul has no previous existence. You deny it? Let us not argue the matter. Convinced
myself, I seek not to convince...”. Característica muito usada por Machado de Assis em suas obras,
algumas vezes exprimindo a intenção de personagens de convencer o leitor.
Tal traço talvez possa mostrar que o narrador-personagem, Egeu, não esteja sendo
honesto em todos seus relatos. Por exemplo, talvez ele se lembre muito bem de ter arrancado
os dentes de Berenice. Até a circunstância em que se deu a própria morte da moça é algo
muito mal explicado, uma vez que ele já sabia que a mesma sofria de catalepsia, doença da
falsa morte, e mesmo assim, permitiu o seu enterro, pois a sua obsessão pelos dentes da
amada falaram mais alto nesse dado momento.
O espaço se dá na residência de Egeu, mas especificamente em sua biblioteca, lugar
em que sua mãe morreu, em que ele nasceu e que desde então, passara a maior parte do
tempo. O tempo é cronológico na maior parte do conto, porém, no desfecho sofre uma
pequena mudança quando Egeu acorda logo após o enterro da prima, sendo assim, passa a ser
psicológico nesse trecho.
A temática se coloca sobre a loucura, as estranhas obsessões humanas, inclinações da
alma, insanidade. Podemos identificar também temas próprios do Romantismo como a
idealização da beleza feminina como em “Ah, vividly is her image before me now, as in the
early days of her light-heartedness and joy! Oh, horgeous yet fantastic beuty!”. Apesar de
Egeu não se mostrar apaixonado por Berenice quando ela ainda não sofria de mal algum, é
possível verificar a idealização de sua beleza. Percebe-se também o confronto entre a vida e a
morte. A tristeza que paira sobre toda trama, os elementos nebulosos, oníricos, psicóticos são
responsáveis por dar um teor pesado ao conto, mórbido. As tragédias familiares e as doenças
inesperadas reafirmam esse aspecto. Nota-se também certa subjetividade expressa no
narrador-personagem, pois ele não se importa com os valores sociais da época, a questão da
vida, da família. Para satisfazer o seu desejo, passa por cima de todos os valores morais de
forma egoísta, a seu bel-prazer.
Não é possível finalizar uma análise literária sobre o conto Berenice de sem evidenciar
a primazia do autor pela qualidade nessa modalidade de composição. Já é sabido o apreço que
Edgar Allan Poe nutria por esse gênero. Ele nos conduz com maestria por uma atmosfera de
terror psicológico que não enfadonha, tem todos os elementos; ritmo, tensão, o imprevisto
dentro dos parâmetros previstos, conflito, início, meio e fim; na sua dose certa. Nem mais,
nem menos.
REFERÊNCIAS
OPERÁRIA; Causa. 160 anos do "gótico" Edgar Allan Poe. [online] Disponível na
internet via www: http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=. Acesso em
24 de novembro de 2013.
POE, Edgar Allan. Histórias Extraordinárias. São Paulo: Martin Claret Ltda, 2005.
RODRIGUES, Antonio Paiva. Edgar Allan Poe. [online] Disponível na internet via
www: http://recantodas letras.uol.com.br/biografias/543296). Acesso em 24 de
novembro de 2013.