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NATÁLIA CRISTINA LIMA RODRIGUES Análise do desempenho da bioimpedância elétrica e somatória de pregas cutâneas na avaliação da composição corporal em pacientes renais dialíticos Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Programa de: Cirurgia do Aparelho Digestivo Orientador: Prof. Dr. Dan Linetzky Waitzberg SÃO PAULO 2011

Análise do desempenho da bioimpedância elétrica e ... · NATÁLIA CRISTINA LIMA RODRIGUES Análise do desempenho da bioimpedância elétrica e somatória de pregas cutâneas na

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  • NATLIA CRISTINA LIMA RODRIGUES

    Anlise do desempenho da bioimpedncia eltrica e

    somatria de pregas cutneas na avaliao da

    composio corporal em pacientes renais dialticos

    Dissertao apresentada Faculdade de

    Medicina da Universidade de So Paulo para

    obteno do ttulo de Mestre em Cincias

    Programa de: Cirurgia do Aparelho Digestivo

    Orientador: Prof. Dr. Dan Linetzky Waitzberg

    SO PAULO 2011

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Rodrigues, Natlia Cristina Lima Anlise do desempenho da bioimpedncia eltrica e somatria de pregas cutneas na

    avaliao da composio corporal em pacientes renais dialticos / Natlia Cristina

    Lima Rodrigues. -- So Paulo, 2011.

    Dissertao(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    Programa de Cirurgia do Aparelho Digestivo.

    Orientador: Dan Linetzky Waitzberg.

    Descritores: 1.Avaliao nutricional 2.Composio corporal 3.Insuficincia

    renal crnica 4.Hemodilise 5.Impedncia eltrica 6.Antropometria

    USP/FM/DBD-071/11

  • DEDICATRIA

    Aos meus pais queridos Benedito e Sandra

    Rodrigues, dedico a minha titulao e os mais

    profundos agradecimentos por suas sbias lies de

    esperana pelo e incentivo sempre em minha vida.

    A minha irm Vanessa Rodrigues pelo

    companheirismo, carinho em minhas decises.

  • AGRADECIMENTO ESPECIAL

    Agradecimento Especial

    Ao Paulo Vasconcellos pela amizade,

    cumplicidade, incentivo e amor que sempre se

    dedicou a mim.

  • AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

    Ao Prof. Dr. Dan Linetzky Waitzberg

    Agradeo ao meu orientador, pela colaborao, pacincia e seus

    conhecimentos repassados durante todo o desenvolvimento do trabalho,

    pela pacincia e inestimvel apoio prestados e, principalmente, pela

    oportunidade de muito aprender com a experincia e conhecimento cientfico

    que lhes pertence e por ter colaborado com minha formao profissional e

    pessoal, muito obrigada por ter sido meu professor.

    A Ms. Raquel Suzana Torrinhas

    Sou imensamente grata pelo incentivo e fortalecimento atravs da leitura

    atenta das vrias correes. No apenas valorizo os comentrios e

    observaes crticas a respeito do texto e as ricas lies, mas tambm sua

    amizade.

    A Ms. Maria Carolina Gonalves Dias

    Que me proporcionou a oportunidade de integrar a novas reas, pela

    confiana depositada em mim desde as primeiras pesquisas e pela

    orientao firme e segura ao longo de todos os tempos de convivncia em

    particular, durante o desenvolvimento deste trabalho. Sempre, incentivando-

    me a prosseguir e contagiando-me com seu entusiasmo e afeto.

  • A Nut. Priscila Garla

    Minha grande amiga e companheira, pelo grande apoio e incentivo dado

    durante os momentos mais difceis. Por ter acompanhado de perto o

    desenvolvimento deste trabalho, pelas constantes demonstraes de

    amizade e principalmente contribuindo com suas opinies valiosas.

    A Nut. Priscila Sala

    Sempre to dedicada e preocupada comigo e com a tese. Com muita

    cumplicidade e carinho muito obrigado pelas mltiplas e inestimveis

    contribuies

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Ivan Cecconello, Titular da Disciplina de Cirurgia do

    Aparelho Digestivo, obrigada por conceder a oportunidade de desenvolver

    esta dissertao de mestrado.

    Aos Professores Dr. Luiz Augusto Carneiro D Albuquerque e Dr. Jos

    Jukemura, por terem acreditado na minha pesquisa e incentivo durante o

    perodo do presente estudo.

    Ao Departamento de Nefrologia do Instituto Central do Hospital das

    Clnicas pela disponibilidade, confiana e apoio para desenvolvimento dessa

    pesquisa.

    Ao Servio de Epidemiologia e Estatstica do Departamento de

    Cirurgia do Aparelho Digestivo ( Prof. Dr. Jlio Pereira, Dmerson Polli, Joo

    talo Frana, Valria Baltar, Lizandra) pela disponibilidade, dedicao e

    orientao, pelo apoio ao desenvolvimento da tese e do artigo.

    A Diviso de Nutrio e Diettica (DND), pelo apoio e carinho pelo

    desenvolvimento da pesquisa.

    Ao Instituto do Cncer do Estado de So Paulo (ICESP), e ao Servio

    de Nutrio Diettica (SND) pelo apoio, confiana e incentivo ao

    desenvolvimento da pesquisa.

    Aos amigos pesquisadores do LIM 35 (Metanutri), por terem

    colaborado com opinies pertinentes, pela ateno durante a pesquisa, pela

    convivncia diria e troca de experincia e amizade durante toda a execuo

    desta dissertao o meu carinho a Graziela Rosa Ravacci, Mariana Raslan,

    Cludia Alves, Ricardo Garib, Giliane Belarmino, Rita de Cssia, Daniele

    Fontes, Cristiane Comeron, Lvia Samara e Lilian Mika Horie.

  • As funcionarias do Metanutri Elaine Muniz e Patrcia Macedo, por

    sempre ter colaborado pelo sucesso da pesquisa.

    A Erly Maria da Paz o meu muito obrigada pelo ensinamento,

    pacincia, amizade e incentivo durante a minha pesquisa, por ter sempre

    acreditado e apoiado em minhas realizaes.

    A secretria da diretoria do GANEP (Grupo de Nutrio Humana)

    Valdenice Galhardi, pela pacincia, dedicao em agendar reunies com

    meu orientador.

    Aos funcionrios da Ps Graduao do Departamento de Cirurgia do

    Aparelho Digestivo, Vilma de Jesus Librio, Fabiana Renata Soares Bispo,

    Mariza Ochner, Maria Cristina Rabello, Maria Jollice dos Reis Santos, Marta

    Regina Rodrigues, Myrtes Freire de Lima Graa, pela ateno, pacincia,

    boa vontade e ateno durante o desenvolvimento dessa pesquisa.

    Maria Helena Vargas, meu agradecimento especial, pelo rigor da

    reviso e ateno zelosa comigo e com o trmino da tese. Muito obrigada!

    Aos pacientes, por terem colaborado e participado desta pesquisa.

    A Deus, por ter me dado o que tenho de mais precioso, minha vida.

    E a todos que de alguma maneira colaboraram para realizao dessa

    pesquisa.

  • Trabalho realizado no Centro de Estudos de Gasto Energtico e

    Composio Corporal (CEGECC) do LIM 35 do Departamento de

    Gastroenterologia, localizado no Instituto Central do Hospital das Clnicas -

    ICHC da FMUSP.

    O presente projeto de pesquisa recebeu o apoio financeiro:

    FAPESP:

    Auxlio Pesquisa processo:

    Bodystat Ltda, Douglas, UK

    Ger-Ar Comrcio de Produtos Mdicos Ltda.

    Fundao Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

  • Esta tese est de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicao:

    Referncias: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver)

    Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Servio de Biblioteca e Documentao.

    Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro

    da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Arago, Suely

    Campos Cardoso, Valria Vilhena. 2 ed. So Paulo: Servio de Biblioteca e Documentao;

    2005.

    Abreviaturas dos ttulos dos peridicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.

  • SUMRIO

    Lista de abreviaturas e siglas Lista de quadros Lista de figuras Lista de tabelas Lista de grficos Resumo Summary

    1 INTRODUO .................................................................................................. 1 1.1 Avaliao de Composio Corprea ....................................................... 2 1.2 Medidas de Pregas Cutneas e Bioimpedncia Eltrica ........................ 3 1.3 Insuficincias Renal (IR) Dialtica ........................................................... 5 1.4 Avaliao da Composio Corporal na Insuficincia Renal

    Crnica Dialtica (IRCD) ......................................................................... 8 1.5 Justificativa ........................................................................................... 10 1.6 Hiptese ................................................................................................ 11

    2 OBJETIVOS ................................................................................................... 12

    3 MTODOS .................................................................................................... 14 3.1 Protocolo de Estudo .............................................................................. 15 3.2 Aprovao do Protocolo de Estudo pela Comisso de tica ................ 15 3.3 Local de Desenvolvimento do Estudo ................................................... 16 3.4 Etapas de Desenvolvimento do Estudo ................................................ 16 3.4.1 Etapa 1 - Seleo dos pacientes registro de dados ......................... 16 3.4.1.1 Seleo dos pacientes ................................................................ 16 3.4.2 Mensurao: peso corpreo, altura e IMC ....................................... 18 3.4.3 Mensurao de composio corporal ............................................... 19 3.4.3.1 Somatria das pregas cutneas ................................................. 20 3.4.3.2 Bioimpedncia eltrica ................................................................ 22 3.4.3.3 Pletismografia de deslocamento areo (PDA) ............................ 24 3.5 Anlise Estatstica dos Dados .............................................................. 26

    4 RESULTADOS ............................................................................................... 27 4.1 Etapa 1 - Caractersticas da Populao ................................................ 28 4.2 Etapa 2 - Composio Corporal ............................................................ 29

    5 DISCUSSO .................................................................................................. 36

    6 CONCLUSES ............................................................................................... 45

    7 ANEXOS ....................................................................................................... 47

    8 REFERNCIAS .............................................................................................. 58

    APNDICE ....................................................................................................... 72

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AMC - rea muscular do brao

    BIA - Bioimpedncia eltrica

    CAPPesq - Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa

    CEGECC - Centro de Estudo de Gasto Energtico e Composio Corporal

    CC - Composio corporal

    CCI - Circunferncia da cintura

    CQ - Circunferncia do quadril

    CMBD - Circunferncia muscular do brao

    D - Densidade

    DC Densidade corporal

    LIM - Laboratrio de Investigao Mdica

    M - Massa

    MM - Massa magra

    NIR - Near-infrared reactance

    PDA - Pletismografia de deslocamento areo

    PCB - Prega cutnea bicipital

    PCSE - Prega cutnea subescapular

    PCSI - Prega cutnea suprailaca

    PCT - Prega cutnea tricipital

    PD - Pr dilise

    POD - Ps dilise

    SPC - Somatria de pregas cutneas

    V - Volume

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Caractersticas dos tipos de Insuficincia Renal (IR) de acordo com Ikizler et al.14 ......................................................... 5

    Quadro 2 - Classificao do ndice de Massa Corprea (IMC) para baixo peso e desnutrio ......................................................... 19

    Quadro 3 - Classificao do ndice de Massa Corprea (IMC) para eutrofia, sobrepeso e obesidade ............................................. 19

    Quadro 4 - Clculo da Densidade Corporal (DC) desenvolvida por Durnin e Womersley (1974) utilizando a soma das pregas bicipital, tricipital, subescapular e suprailaca () ........................................................................................... 21

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Situaes clnicas decorrentes da perda da funo renal de acordo com Merck13 ................................................... 6

    Figura 2 - Posicionamento do adipmetro para aferio das pregas bicipital, tricipital, subescapular e suprailaca .............. 21

    Figura 3 - Leitura do resultado de avaliao de composio corporal, medida por aparelho BIA .......................................... 23

    Figura 4 - Procedimentos para avaliao da composio corporal, por meio de Pletismografia de Deslocamento Areo, BOD POD Body Composition System: Life Measurement Instruments, Concord, CA ................................ 25

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Dados descritivos da amostra - Dados antropomtricos de pacientes renais crnicos avaliados imediatamente antes e depois de 20-30 minutos do tratamento de hemodilise ............................................................................. 28

    Tabela 2 - Massa de gordura corporal e massa livre de gordura de pacientes renais crnicos avaliados imediatamente antes e 20-30 minutos aps o tratamento de hemodilise por pletismografia de deslocamento areo, somatria das pregas cutneas e bioimpedncia eltrica ..................................................................................... 30

    Tabela 3 - Interclasse e coeficientes de correlao de concordncia por gnero da gordura corporal de pacientes renais crnicos, avaliada imediatamente antes e 20-30 minutos aps o tratamento de hemodilise por bioimpedncia eltrica e somatria de pregas cutneas, em relao pletismografia de deslocamento areo padro ouro ............................................ 34

    Tabela 4 - Mdia de diferena e intervalo de confiana por gnero de gordura corporal de pacientes renais crnicos avaliados imediatamente antes e 20-30 minutos aps o tratamento de hemodilise atravs da anlise de bioimpedncia eltrica (BIA), somatria de pregas cutneas (SPC) e pletismografia de deslocamento areo (PDA) ............................................................................ 35

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Distribuio por sexo de valores diferenciados da gordura corporal de pacientes renais crnicos avaliados imediatamente antes e 20-30 minutos aps o tratamento de hemodilise por pletismografia de deslocamento areo, somatria de pregas cutneas e bioimpedncia eltrica, tal como interpretado pelo Bland-Altman Plots .................................................................. 31

  • RESUMO

    Lima-Rodrigues NC. Anlise do desempenho da bioimpedncia eltrica e

    somatria de pregas cutneas na avaliao da gordura corporal em

    pacientes renais dialticos [dissertao]. So Paulo: Faculdade de Medicina,

    Universidade de So Paulo; 2011.

    Introduo: Em pacientes com insuficincia renal crnica em tratamento de

    hemodilise (HD), existe necessidade de ferramenta simples, segura e

    eficaz para avaliar a composio corporal (CC) e permitir diagnstico de

    suas alteraes, com finalidade de planejamento e monitoramento de

    tratamento nutricional. Objetivo: Em 60 pacientes em insuficincia renal

    dialtica determinou-se a eficincia da anlise de bioimpedncia eltrica

    (BIA) e a somatria das pregas cutneas (SPC) na estimativa da gordura

    corporal total. Mtodos: Estudo prospectivo, observacional de comparao

    de gordura corprea total (GC) e massa magra total (MM) estimadas, antes

    e aps hemodilise,por BIA multifrequencial e pela SPC com os valores

    estimados pelo mtodo de referncia, pletismografia a ar de deslocamento

    (PDA). Resultados: A mdia estimada GC (kg,%) observado por PDA antes

    da hemodilise (HD) foi 17,95 kg 0,99 (IC 95% 16,00-19,90) e 30,11%

    1,30 (IC 95% 27,56-32,66); aps hemodilise (HD), foi 17,92 kg 1,11 (IC

    95% 15,74-20 10) e 30,04% 1,40 (IC 95% 27,28-32,79). Em nenhum

    perodo do estudo encontrou-se diferena de GC e de MM (para kg e %)

    estimadas pelo mtodo SPC em comparao com PDA, no entanto, o BIA

    subestimou a GC e superestimou a MM (para kg e %) quando comparado

    com PDA. Concluso: O mtodo SPC mostrou resultados semelhantes aos

    PDA e pode ser considerado adequado para avaliao GC em pacientes

    HD. A BIA no foi considerada mtodo para ser utilizado nessas condies.

    Descritores: Avaliao nutricional. Composio corporal. Insuficincia renal

    crnica. Hemodilise.

  • SUMMARY

    Lima-Rodrigues NC. Performance analysis of bioelectrical impedance

    analysis and sum of skinfolds in assessing body composition in renal dialysis

    patients [dissertation]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de

    So Paulo; 2011.

    Introduction: In patients with chronic renal failure on hemodialysis (HD),

    there is need for simple tool, safe and effective for assessing body

    composition (BC) diagnosis and allow your changes, with the purpose of

    planning and monitoring of nutrition therapy. Objective: In 60 patients in

    renal dialysis efficiency was determined from the analysis of bioelectrical

    impedance analysis (BIA) and sum of skin folds (SPC) in the estimation of

    total body fat. Methods: Prospective, observational comparison of total body

    fat (BF) and total lean mass (LM) estimated before and after hemodialysis by

    multifrequency BIA and the SPC with the values estimated by the reference

    method, air displacement plethysmography (PDA). Results: The estimated

    average GC (kg,%) observed by PDA prior to hemodialysis (AHD) was 17.95

    kg 0.99 (95% CI 16.00 to 19.90) and 30.11 1.30% (95% CI 27.56 to

    32.66), after hemodialysis (DHD) was 17.92 kg 1.11 (95% CI 15.74 to 20

    10) and 30.04% 1.40 (IC 95% from 27.28 to 32.79). At no period of the

    study there was a difference of GC and MM (for kg and%) estimated by the

    SPC method compared with PDA, however, the BIA underestimated FFM

    and overestimated GC (for kg and%) compared to PDA. Conclusion: The

    SPC method showed similar results to PDA and can be considered adequate

    for evaluating GC in HD patients. The BIA was not considered to be the

    method used in these conditions.

    Keywords: Nutritional assessment. Body composition. Chronic renal

    failure. Hemodialysis.

  • 1 INTRODUO

  • INTRODUO - 2

    1.1 Avaliao de Composio Corprea

    O interesse em medir a quantidade dos diferentes componentes do

    corpo humano iniciou-se no sculo XIX e intensificou-se no final do sculo

    XX, devido associao do excesso de gordura corporal (GC) ao aumento

    do risco de desenvolver doenas, como doena arterial coronariana,

    hipertenso arterial sistmica, diabetes melito tipo II, doena pulmonar

    obstrutiva, steo-artrites e certos tipos de cncer1.

    Atualmente, o valor do peso corporal como um todo no mais usado

    como referencial para verificao do excesso de GC, j que pessoas com a

    mesma rea corporal, peso, estatura, idade e gnero podem apresentar

    diferenas quantitativas nos compartimentos corporais. Por isso, uma

    avaliao precisa e criteriosa do quanto significa a proporo de cada

    componente faz-se necessria.

    Mtodos de laboratrio altamente sofisticados para estimativa de GC

    encontram-se disponveis para a prtica clnica atual, como, por exemplo, o de

    condutividade eltrica total do corpo2, o ultrassnico3 e o de scanner com raios

    infravermelhos4. Destacam-se tambm absormetria radiolgica de dupla energia

    (DEXA), bioimpedncia eltrica (BIA), pletismografia de deslocamento areo

    (PDA), hidrometria, espectometria, tomografia computadorizada, ressonncia

    magntica, ativao de nutrons, interactncia de raios infravermelhos,

  • INTRODUO - 3

    antropometria, excreo de creatinina, creatinina srica, absoro fotnica,

    radiografia e 3-metil-histidina urinria5.

    Na escolha do mtodo para avaliao da composio corporal (CC),

    deve-se levar em considerao o tempo disponvel para a sua realizao, o

    custo para sua execuo e a qualificao tcnica do profissional que o

    aplicar6. Nesse sentido, o uso desses mtodos limitado, pois se utilizam

    de equipamentos caros, demandam gasto considervel de tempo e

    necessitam de profissionais altamente qualificados para serem aplicados4.

    Por essa razo, mtodos simples, de baixo custo e prticos como

    antropometria e BIA so geralmente os mais utilizados para avaliao da CC

    na prtica clnica. Esses mtodos avaliam quantitativamente os

    compartimentos corporais de GC e tambm de massa magra (MM), onde o

    termo massa magra refere-se parcela do corpo excluda de tecido

    gorduroso (basicamente, gua, protenas e minerais).

    1.2 Medidas de Pregas Cutneas e Bioimpedncia Eltrica

    Dentre os mtodos antropomtricos de avaliao da CC, destacam-se

    as medidas de pregas cutneas e de circunferncia do brao7. A somatria

    (S4) de pregas cutneas (SPC) encontrada somando-se os valores obtidos

    da aferio das pregas bicipital, tricipital, subescapular e suprailaca,

    segundo a equao de Durnin e Womeresley8, onde A e B so coeficientes

    elaborados de acordo com a idade e o sexo:

    Densidade corporal = (A-B).log S4 pregas

  • INTRODUO - 4

    A partir do valor de densidade corporal, a porcentagem de GC pode

    ser estimada a partir da frmula de Siri9:

    GC (%) = (4,95/densidade corporal-4,50) x 100

    A MM kg pode ser ento obtido subtraindo-se a GC em kg expressa

    do peso corpreo total do indivduo.

    A BIA, por sua vez, considerada um mtodo rpido e no invasivo

    para estimar os compartimentos corporais, bem como a distribuio dos

    fluidos corporais nos espaos intra e extracelulares. Esse mtodo baseia-se

    no princpio de que os componentes corporais oferecem resistncia

    diferenciada passagem da corrente eltrica10.

    Devido grande quantidade de gua e eletrlitos, os tecidos magros so

    altamente condutores de corrente eltrica, ou seja, apresentam baixa resistncia

    passagem desta. Por outro lado, gordura, osso e pele constituem meio de baixa

    condutividade, apresentando, portanto, elevada resistncia11. A passagem de

    uma leve e baixa corrente eltrica, imperceptvel ao paciente, atravs do corpo

    possibilita a mensurao da impedncia em oposio ao fluxo da gua corrente12.

    Existe considervel vantagem atribuda ao mtodo de BIA, quando

    comparado ao de SPC, pois aquele tem capacidade de mensurao da gua

    corporal total e por apresentar menor erro intra e inter-observador.

    Considerando-se que vrios fatores como idade, gnero, etnia, consumo

    alimentar, estgio fisiolgico, atividade fsica, presena de comorbidades e

    diversas situaes clnicas podem influenciar a CC, a escolha do melhor

    mtodo para sua avaliao deve considerar, entre outros, as caractersticas

    particulares da populao a ser avaliada.

  • INTRODUO - 5

    1.3 Insuficincias Renal (IR) Dialtica

    A IR caracterizada pela incapacidade dos rins em remover

    adequadamente os resduos metablicos e substncias txicas do

    organismo. Ela pode ocorrer por diminuio rpida da funo renal, s vezes

    com valores inferiores a 1 ou 2% da capacidade funcional normal (IR aguda -

    IRA), ou por perda gradual e progressiva de grande parte dos nfrons

    funcionantes (IR crnica - IRC). As caractersticas dos diferentes tipos de IR

    encontram-se no Quadro 113.

    Na presena de IR, quando os rins no conseguem mais remover

    adequadamente os produtos da degradao metablica, a terapia dialtica

    deve ser iniciada. Alm disso, a perda da funo renal acarreta diversas

    situaes clnicas, como se v na Figura 114.

    Quadro 1 - Caractersticas dos tipos de Insuficincia Renal (IR) de

    acordo com Ikizler et al.14

    IRA IRC

    Perda abrupta e reversvel da funo renal

    Perda progressiva e irreversvel da funo renal

    Mximo 3 meses 3 meses

    Ausncia de anemia Presena de anemia

    Oligria Diurese normal

    Rins normais Rins retrados

  • INTRODUO - 6

    Figura 1 - Situaes clnicas decorrentes da perda da funo renal de acordo com Merck

    13

    A hemodilise (HD) terapia dialtica associada a complicaes

    agudas e crnicas, a elevada taxa de hospitalizao e mortalidade e

    distrbios nutricionais14,15.

    H alguns condicionantes que contribuem para o desenvolvimento do

    frequente estado de desnutrio em pacientes em tratamento de HD, como

    estmulos catablicos proticos que resultam em modificaes do

    procedimento dialtico per se e a perda de nutrientes para o dialisato,

    acidose metablica, balano nitrogenado negativo, perda de massa magra.

    O estado nutricional do paciente com IRC tambm afetado por diversas

    condies clnicas, como anorexia, presena de toxinas urmicas, distrbios

    gastrintestinais e alteraes metablicas16,17.

    O Consenso Europeu (European Guidelines for the Nutritional Care of

    Adult Renal Patients 2002)18 classificou a desnutrio em pacientes dialticos

    em dois tipos: desnutrio do tipo 1 (resultante de ingesto inadequada,

    nomeadamente energtica e/ou protica) e desnutrio do tipo 2 (associada

    ativao da resposta inflamatria sistmica). Esses tipos de desnutrio

    foram definidos por alguns autores como a sndrome MIA (Malnutrition,

    Inflammation and Atherosclerosis), e associadas ao aumento de mortalidade

    dos pacientes em HD, particularmente por doenas cardiovasculares17-19.

  • INTRODUO - 7

    A desnutrio proteico-energtica em pacientes renais dialticos afeta

    vrios compartimentos corporais, incluindo o tecido adiposo e as protenas

    viscerais e somticas. O processo contnuo e se inicia com ingesto alimentar

    inadequada ou catabolismo aumentado, provocando alteraes subclnicas

    (inicialmente alteraes da CC e posteriormente de variveis laboratoriais

    bioqumicas e imunolgicas) e clnicas, como alteraes anatmicas e falncia

    de rgos com perda de sua funo, podendo levar o paciente ao bito20-23.

    De acordo com o consenso da National Kidney Foundation - NKF

    (Fundao Nacional do Rim), publicado no ano 2000, a desnutrio proteico-

    energtica no enfermo portador de nefropatia caracterizada pela insidiosa

    perda de GC e de reservas somticas proteicas, reduo da concentrao

    das protenas sricas e diminuio da capacidade funcional21. Essa

    condio por sua vez, conduz a alteraes da integridade das membranas

    celulares e, consequentemente, da distribuio dos fluidos corporais. Sendo

    assim, aumento da gua extracelular (AEC), reduo da concentrao

    intracelular de potssio e aumento correspondente da concentrao de sdio

    so considerados indicadores de desnutrio24-27.

    Distrbios nutricionais em pacientes em HD esto associados a

    quadros infecciosos, alto tempo de permanncia hospitalar, elevada taxa

    mortalidade e m qualidade de vida28-30.

    de interesse, portanto, medir as modificaes de composio

    corporal na IRCD para evitar estas complicaes em pacientes

    hemodialisados, para quando precocemente diagnosticadas orientar na

    correo.

  • INTRODUO - 8

    1.4 Avaliao da Composio Corporal na Insuficincia Renal Crnica

    Dialtica (IRCD)

    A anlise da CC contribui para a avaliao do estado nutricional, e

    consiste na medio de componentes individuais como gua, gordura, osso

    e msculo31,32. Entretanto, a avaliao da CC de pacientes com IRC

    dificultada por alteraes hidroeletrolticas e perda de massa ssea por

    osteodistrofia renal, frequentes nessa populao33,34.

    Adicione-se, ainda, a influncia da hemodilise, que pode se associar

    a importantes alteraes no volume do fluido corporal, desde edema e

    congesto pulmonar at hipotenso e desidratao. A hemodilise pode

    remover de um a quatro litros de fluidos no perodo mdio de quatro horas, e

    as constantes variaes hdricas podem tornar imprecisas as medidas da

    CC, dificultando a avaliao e o acompanhamento do estado nutricional35,36.

    Dentre as diversas tcnicas de aferio dos compartimentos corporais

    disponveis na rotina clnica dos servios de hemodilise, o tradicional

    mtodo de SPC e o mtodo da BIA tm sido adotados com maior frequncia,

    em funo de sua praticidade, rapidez e pelo custo relativamente baixo37-39.

    DEXA, por sua vez, considerada ferramenta de eleio pelas

    recomendaes de sociedades europeia e americana de nutrio na

    avaliao da CC dos doentes em dilise, vem sendo utilizada como

    referncia em estudos comparativos de CC nos pacientes em HD20,21. No

    entanto, a prtica de DEXA requer equipamento sofisticado, local adequado

    e avaliador treinado para sua realizao, alm de apresentar alto custo.

    Dessa forma, o DEXA tem a sua utilizao limitada, ficando seu uso restrito

    a trabalhos de investigao21.

  • INTRODUO - 9

    Na prtica clnica, a avaliao da CC nesses pacientes realizada por

    mtodos indiretos, como medidas antropomtricas clssicas (recomendadas

    pelas sociedades europeia e americana nefrolgicas de nutrio), e por BIA,

    devido praticidade, rapidez e custo baixo desses mtodos20,21,40.

    Entende-se por antropometria clssica a cincia que estuda a

    mensurao do tamanho, peso e propores do corpo humano. Ela

    utilizada na avaliao da CC em grandes estudos epidemiolgicos, apesar

    de abranger mtodos com considervel coeficiente de variao, mesmo

    quando realizado por profissionais treinados.

    As medidas antropomtricas utilizadas na avaliao nutricional

    incluem peso corpreo total, estatura corprea (E), pregas cutneas,

    permetros e dimetros. A partir dessas medidas, podem ser calculadas

    medidas secundrias, como ndice de massa corprea (IMC), porcentagem

    de perda de peso, circunferncia muscular do brao (CMB) e rea muscular

    do brao (AMB), utilizados como marcadores nutricionais nos doentes em

    HD. A determinao indireta da GC atravs da medida das pregas cutneas

    est baseada na suposio de que existe boa relao entre a gordura

    corporal total e a gordura subcutnea, uma vez que a prega cutnea avalia

    apenas a gordura subcutnea41.

    Um novo mtodo conhecido como pletismografia de deslocamento

    areo (PDA) vem sendo adotado na prtica clnica e se mostrado eficiente para

    a avaliao da CC de pacientes portadores de diferentes enfermidades. Trata-

    se de mtodo rpido e fcil para determinao da CC e que se utiliza da

    relao inversa de presso e volume, baseado na Lei de Boyle (P1V1= P2V2),

  • INTRODUO - 10

    para determinar o volume corporal. Uma vez determinado esse volume

    possvel aplicar os princpios de densitometria para determinao da CC,

    atravs do clculo da densidade corporal (D= m / v) quantificando a gordura

    corprea, atravs da equao de Siri, para se encontrar a massa muscular

    posteriormente42,43.

    Mesmo sendo metodologia recente, vrios estudos tm sido conduzidos

    para avaliar sua eficincia na avaliao da CC em diversas condies clnicas.

    Em sua maioria, os trabalhos apresentam comparaes entre as metodologias

    atualmente disponveis44,45, enquanto outros se preocuparam com a verificao

    da sua validade enquanto novo mtodo de avaliao. Sendo assim considerado

    um mtodo fidedigno para avaliao da CC46-48.

    A PDA usada para avaliar CC em pacientes com IRC dialticos se

    mostrou to sensvel e eficiente quanto DEXA, considerada padro ouro

    para essa finalidade. Alm disso, a PDA mostrou-se menos limitante em

    relao s avaliaes realizadas por DEXA, por ser utilizada em enfermos

    com circunferncia superior e peso corpreo total de 150 kg49.

    1.5 Justificativa

    A avaliao da CC em indivduos portadores de IRC sob tratamento

    dialtico importante para o acompanhamento das alteraes nutricionais e

    orientao de planejamento e tratamento nutricionais, para prevenir e corrigir

    quadros de desnutrio associados maior morbimortalidade desses pacientes.

    Devido sua disponibilidade e praticidade, os mtodos mais utilizados

    para a avaliao da CC de indivduos portadores de IRC sob tratamento

  • INTRODUO - 11

    dialtico so medidas de pregas cutneas e BIA. No entanto, devido a

    alteraes hidroeletrolticas e perda de massa ssea frequentes nessa

    condio clnica, a eficincia da SPC e BIA como mtodos para avaliar a CC

    nessa populao de pacientes permanece para ser confirmada.

    Por outro lado, existem tcnicas padro ouro para avaliao da CC de

    pacientes portadores de IRC sob tratamento dialtico, como DEXA e PDA.

    No entanto, seu alto custo e necessidade de mo de obra especializada

    limitam significativamente o uso desses mtodos na prtica clnica.

    Torna-se de interesse comparar as tcnicas de SPC e BIA com a PDA

    na sua capacidade de avaliar a gordura corprea total.

    1.6 Hiptese

    A hiptese do presente estudo considera que a tcnica SPC

    superior a BIA na medida de GC em enfermos com IRCD.

    Nossa hiptese ampara-se que a BIA mede a resistncia e passagem

    de corrente eltrica por diferentes compartimentos orgnicos. No paciente

    com IRCD, a pratica frequente de HD produz modificaes frequentes de

    gua, que podem comprometer as medidas de BIA, cuja interpretao

    matemtica pode levar a enganos de interpretao nas medidas

    mensuradas de GC.

    De outro lado a prega cutnea, sofre menos modificaes em sua

    espessura pela remoo de liquido na HD e pode refletir com mais

    propriedade a compartimento de GC.

  • 2 OBJETIVOS

  • OBJETIVOS - 13

    Verificar a eficincia dos mtodos de SPC e BIA na avaliao da

    gordura corprea de pacientes portadores de IRCD, em comparao tcnica

    de PDA.

  • 3 MTODOS

  • MTODOS - 15

    3.1 Protocolo de Estudo

    O presente estudo prospectivo e clnico e abrange mensurao de

    dados de CC de pacientes portadores IRCD do Ambulatrio de Nefrologia do

    Instituto Central do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo (ICHC- FMUSP), no periodo de fevereiro a julho

    de 2009.

    3.2 Aprovao do Protocolo de Estudo pela Comisso de tica

    Todos os procedimentos desenvolvidos nos pacientes foram

    aprovados pela Comisso tico Cientfica do Departamento de

    Gastroenterologia da FMUSP em 22 de outubro de 2008 e pela Comisso de

    tica para Anlise de Projetos de Pesquisa (CAPPesq) da Diretoria Clnica

    do Hospital das Clnicas e da FMUSP em 5 de junho de 2008, sob o

    protocolo de pesquisa nmero 0863/08 e Processo FAPESP: n 2008/58131-5

    (Anexo A).

  • MTODOS - 16

    3.3 Local de Desenvolvimento do Estudo

    As atividades do presente estudo foram desenvolvidas no Laboratrio

    de Nutrio e Cirurgia Metablica do Aparelho Digestivo do Departamento

    de Gastroenterologia - LIM 35.

    Foram selecionados e includos 60 pacientes adultos de ambos os

    sexos em tratamento no Ambulatrio de Nefrologia do Instituto Central do

    Hospital das Clnicas (ICHC) da Faculdade de Medicina da Universidade de

    So Paulo (FMUSP).

    As medidas de CC presentes nesse estudo foram realizadas no

    Centro de Estudos de Gasto Energtico e Composio Corporal (CEGECC)

    do LIM 35 do Departamento de Gastroenterologia, localizado no Instituto

    Central do Hospital das Clnicas - ICHC da FMUSP.

    3.4 Etapas de Desenvolvimento do Estudo

    3.4.1 Etapa 1 - Seleo dos pacientes registro de dados

    3.4.1.1 Seleo dos pacientes

    Foram selecionados e includos 60 pacientes adultos de ambos os

    sexos em tratamento no Ambulatrio de Nefrologia do ICHC da FMUSP.

    Aps apresentao do estudo, foram includos na pesquisa apenas aqueles

    pacientes que concordaram espontaneamente em participar do protocolo,

    assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo B) e se

    encaixaram em critrios de incluso e excluso pr-estabelecidos:

    Critrios de incluso:

    - Idade entre 18 a 60 anos; ambos os sexos.

  • MTODOS - 17

    - Portadores de doena renal crnica e sob terapia hemodialtica no

    mnimo trs vezes por semana acima de dois anos de tratamento e

    no tempo de quatro horas de tratamento dialtico.

    - Anuncia em participar do estudo e assinatura do termo de

    consentimento ps-informado.

    Critrios de excluso:

    - Portadores de doena renal no dialtica.

    - Gestao ou lactao.

    - Portadores de doena renal aguda, AIDS e cncer.

    - Obesidade grave (IMC 35 kg/m3).

    - Amputao fsica.

    - Alcoolismo atual.

    - Insuficincia heptica grave (ascite).

    - Transplantados renais.

    - Recusa em participar da pesquisa.

    Para o processo de escolha dos pacientes candidatos ao estudo, a

    listagem de enfermos em tratamento dialtico foi obtida inicialmente da coleta

    de dados na Secretria do Ambulatrio de Nefrologia do ICHC. Aps a

    excluso dos doentes que no preencheram os critrios pr-estabelecidos,

    foram selecionados os pacientes aptos, iniciando-se a aplicao das

    tcnicas de composio corporal.

    O registro das medidas de CC previstas nos pacientes foi feito pelo

    preenchimento de um protocolo de atendimento elaborado especificamente

    para o presente estudo (Anexo C).

  • MTODOS - 18

    3.4.2 Mensurao: peso corpreo, altura e IMC

    Peso corpreo

    Para aferir o peso corpreo dos pacientes, utilizou-se balana de peso

    corpreo com rgua medidora, digital ou mecnica, do tipo plataforma, com

    capacidade para 150 e 300 kg, da marca Filizola.

    No momento da avaliao, os pacientes permaneceram em posio

    ereta, em p e descalos, no centro da base da balana e somente com a

    vestimenta do hospital. Registrou-se o peso em kilogramas (kg) com a

    variao mnima de 100 gramas12.

    Estatura

    Para a medida da estatura corprea, foi feita por estadimetro (Sanny).

    Os pacientes permaneceram de costas para o marcador da balana, com os

    ps unidos e em posio ereta. A leitura da estatura foi realizada no centmetro

    mais prximo ao marcador, quando a haste horizontal da barra vertical da

    escala de estatura encostou-se cabea do paciente50,12.

    ndice de Massa Corprea

    Para calcular o ndice de Massa Corprea (IMC), tambm conhecido

    como ndice de Quetelet, dividiu-se o peso corpreo em kilogramas pela

    estatura elevada ao quadrado em centmetros51.

    As classificaes do IMC para baixo peso e desnutrio e para

    sobrepeso e obesidade esto descritas, respectivamente, nos Quadros 2 e

    3, ambos referentes populao adulta.

  • MTODOS - 19

    Quadro 2 - Classificao do ndice de Massa Corprea (IMC) para

    baixo peso e desnutrio

    IMC (kg/m2) Classificao

    17 a 18,4 Magreza grau I

    16,0 a 16,9 Magreza grau II

    < 16,0 Magreza grau III

    FONTE: World Health Organization52

    Quadro 3 - Classificao do ndice de Massa Corprea (IMC) para

    eutrofia, sobrepeso e obesidade

    IMC (kg/m2) Classificao

    18,5-24,9 Eutrofia

    25,0-26,9 Sobrepeso grau I

    27,0-29,9 Sobrepeso grau II (pr-obesidade)

    30,0-34,9 Obesidade grau I

    35,0 a 39,9 Obesidade grau II

    40,0-49,9 Obesidade grau III (mrbida)

    50,0 Obesidade grau IV (extrema)

    FONTE: Salas-Salvad et al.53

    3.4.3 Mensurao de composio corporal

    Todos os pacientes selecionados foram submetidos avaliao da

    composio corporal por medidas obtidas pelos mtodos de SPC, BIA e

    PDA, antes e depois 20 a 30 minutos do tratamento dialtico. A coleta de

    dados de todos os pacientes para o presente estudo compreendeu um

    perodo de seis meses. No dia da avaliao de CC, os pacientes

    compareceram com quatro horas de jejum completo, sem ter praticado

    exerccio fsico nas 12 horas anteriores ou ingerido bebida alcolica nas 24

    horas anteriores.

  • MTODOS - 20

    3.4.3.1 Somatria das pregas cutneas

    A somatria das pregas cutneas foi realizada de acordo com o

    protocolo proposto por Costa54. Foram aferidas as pregas bicipital, tricipital,

    subescapular e suprailaca no brao oposto ao da fstula arterio-venosa,

    seguindo as tcnicas descritas na literatura16 com uso de adipmetro

    cientfico (Lange - TBW/So Paulo), com preciso de 1 mm e presso

    constante de 10 g/mm2 e fita mtrica inextensvel, flexvel e milimetrada.

    Para estabelecer a quantidade estimada de GC, utilizando-se a

    somatria de pregas cutneas, soma-se os valores obtidos da aferio das

    pregas bicipital, tricipital, subescapular e suprailaca, e aplica-se a equao

    de Durnin e Womersley onde densidade corporal = (A-B).log S4 pregas, e

    onde A e B so coeficientes elaborados de acordo com a idade e o sexo (ver

    Quadro 4) e S4 a somatria das quatros pregas. A partir do valor de

    densidade corporal, a porcentagem de gordura corporal total pode ser

    determinada com a frmula de Siri: gordura corporal (%) = (4,95/densidade

    corporal-4,50) x 1008,9. A massa corporal magra pode ser ento obtida

    subtraindo-se a gordura corporal encontrada do peso corpreo total do

    indivduo.

  • MTODOS - 21

    Quadro 4 - Clculo da Densidade Corporal (DC) desenvolvida por

    Durnin e Womersley (1974) utilizando a soma das pregas

    bicipital, tricipital, subescapular e suprailaca ()

    Homens - Idade (anos) Mulheres - Idade (anos)

    17-19: DC = 1,1620 -0,0630 x(log ) 17-19: DC = 1,1549 -0,0678 x(log )

    20-29: DC = 1,1631 -0,0632 x(log ) 20-29: DC = 1,1599 -0,0717 x(log )

    30-39: DC = 1,1422 -0,0544 x(log ) 30-39: DC = 1,1423 -0,0632 x(log )

    40-49: DC = 1,1620 -0,0700 x(log ) 40-49: DC = 1,1333 -0,0612 x(log )

    50+: DC = 1,1715 -0,0779 x(log ) 50+: DC = 1,1339 -0,0645 x(log )

    Fonte: Cuppari12

    Figura 2 - Posicionamento do adipmetro para aferio das pregas bicipital, tricipital, subescapular e suprailaca

  • MTODOS - 22

    3.4.3.2 Bioimpedncia eltrica

    Para a avaliao da composio corporal por meio de bioimpedncia

    eltrica, utilizou-se aparelho porttil de quatro frequncias (5 khz, 50 khz,

    100 khz e 200 khz - Bodystat - QuadiScan 4000 - United States) em sala do

    CEGECC com temperatura ambiente. O paciente encontrou-se deitado em

    decbito dorsal sobre maca com superfcie no condutora, com as pernas

    afastadas (evitando o contato dos tornozelos e joelhos) e as mos e braos

    afastados do corpo. Os eletrodos da BIA foram colocados em pontos

    anatmicos pr-determinados (tornozelo e mo do lado oposto da fstula

    dialtica), para medir a impedncia corporal. Quando ligado, o aparelho emite

    um sinal eltrico de baixa intensidade e frequncia fixa.

    Para a avaliao da GC por BIA, o peso e altura corpreos do

    paciente foram previamente mensurados, conforme descrito no item 3.4.2.

    A fim de garantir a qualidade da avaliao com a BIA, os indivduos

    atenderam s seguintes exigncias:

    - Jejum de quatro horas (mnimo duas horas)

    - Nenhuma prtica fsica nas 12 horas anteriores

    - Nenhuma ingesto de bebida alcolica nas 24 horas anteriores

    Previamente anlise, todos os pacientes foram orientados a esvaziar a

    bexiga urinria e retirar todos os objetos metlicos do corpo. Antes do incio do

    procedimento, o paciente permaneceu 15 minutos de repouso na posio

    supina, com braos e pernas em abduo de 30. Os eletrodos foram ento

    colocados em locais especficos da mo e do p do lado oposto da fstula, para

    leitura do resultado da composio corporal pelo aparelho.

  • MTODOS - 23

    Durante a avaliao pelo aparelho de BIA, correntes eltricas

    imperceptveis de 5, 50, 100 e 200 khz foram introduzidas no paciente, via

    eletrodos distais na mo e no p. A voltagem dessas correntes foi detectada

    pelos eletrodos proximais, localizados no calcanhar e punho do hemicorpo e

    oferece valores de impedncia nas quatro frequncias supracitadas e

    consequente estimativa da composio corporal (Figura 3).

    Figura 3 - Leitura do resultado de avaliao de composio corporal, medida por aparelho BIA

    A partir dos valores de impedncia oferecidos pelo aparelho de BIA

    fora obtidos valores de resistncia e reactncia nas frequncias avaliadas,

    atravs de programa de informtica BodyStat Ltda, Douglas, UK.

  • MTODOS - 24

    3.4.3.3 Pletismografia de deslocamento areo (PDA)

    A estimativa da composio corporal pela PDA foi realizada pelo

    aparelho BOD POD Body Composition System; Life Measurement

    Instruments, Concord, CA. O aparelho estima o volume corporal com base

    na lei de deslocamento de ar de Boyle42, na qual o volume varia

    inversamente com a presso enquanto a temperatura permanece constante,

    que pode ser representada pela seguinte equao:

    P1 x V1 = P2 x V2

    Onde P1 a presso exercida pelo cilindro de calibrao, V1 o

    volume do cilindro de calibrao, P2 a presso exercida pelo indivduo e

    V2 o volume corporal do indivduo a ser determinado.

    Atravs de um software especfico, instalado em um microcomputador

    conectado ao equipamento, foram avaliadas as variaes de volume de ar e

    a presso em seu interior primeiramente com o equipamento desocupado e,

    depois, ocupado pelo indivduo a ser avaliado. Foram analisadas, ainda,

    variveis pulmonares necessrias para a estimativa do volume corporal, que

    foi calculado automaticamente pelo software do aparelho, e a partir dele foi

    possvel aplicar os princpios da densitometria para a determinao da

    composio corporal, atravs do clculo da densidade corporal

    (Densidade=massa/volume)55-57.

    Previamente s avaliaes, o aparelho foi calibrado, utilizando-se um

    cilindro com volume conhecido (50 litros). Aps essa calibrao, os

    voluntrios foram avaliados vestindo o mnimo de roupa possvel e uma

  • MTODOS - 25

    touca, com o intuito de prender os cabelos. Durante todo o teste, o paciente

    avaliado permaneceu sentado dentro do equipamento.

    No ltimo passo da avaliao, foi solicitado ao paciente a realizao

    de trs incurses respiratrias. Caso essas incurses estivessem acima do

    padro aceitvel, o prprio software do equipamento recusaria os valores

    obtidos, exigindo, portanto, nova avaliao, at que a mesma fosse

    considerada adequada. Para se evitar alteraes indesejveis em relao

    aos resultados, e conforme j recomendado na literatura, durante a

    avaliao no foi permitido o uso de objetos metlicos como brincos, anis,

    correntes, piercings etc.42 (Figura 4).

    Figura 4 - Procedimentos para avaliao da composio corporal, por meio de Pletismografia de Deslocamento Areo, BOD POD Body Composition System: Life Measurement Instruments, Concord, CA

  • MTODOS - 26

    3.5 Anlise Estatstica dos Dados

    Os dados das medidas antropomtricas e de composio corporal

    foram submetidos anlise descritiva e comparados entre os estados pr e

    ps-tratamento dialtico por teste t pareado. Para comparar as estimativas de

    composio corporal pela PDA, SPC e BIA, foi utilizado o teste ANOVA e

    comparou-se ainda estruturas de dependncia entre os modelos ajustados

    usando o critrio de Akaike para escolher entre simetria composta e

    autorregressiva heterognea. A concordncia entre os mtodos foi

    determinada atravs da anlise precisa e acurada de Bland-Altman58-60.

    Foram realizadas tambm testes como o coeficiente de correlao

    intraclasse (ICC) e o coeficiente de concordncia (CCC), que fornece uma

    medida da concordncia entre os mtodos.

    Os resultados foram apresentados na forma de mdia e desvio

    padro, adotando-se como nvel de significncia p < 0,05.

  • 4 RESULTADOS

  • RESULTADOS - 28

    4.1 Etapa 1 - Caractersticas da Populao

    A amostra do presente estudo foi composta por 60 pacientes (29

    mulheres/31 homens) portadores de doena renal crnica dialtica com idade

    mdia de 41,7 9,1 anos. A mdia de tempo do tratamento hemodialtico foi

    de 8 2,2 anos. Quanto doena de base da IRC, predominou a

    glomerulonefrite crnica (37,5%), seguida de hipertenso arterial (28,1%) e

    de diabetes melito (9,4%). A anlise e variveis antropomtricas como altura

    e medidas de circunferncia da cintura e do quadril no mostrou diferena

    entre os perodos pr e ps-dilise para ambos os sexos (Tabela 1).

    Tabela 1 - Dados descritivos da amostra - Dados antropomtricos de

    pacientes renais crnicos avaliados imediatamente antes e

    depois de 20-30 minutos do tratamento de hemodilise

    Variveis PD POD

    Peso (kg) 58 9,2 56 9,0

    Altura (m) 1,62 0,088 1,62 0,088

    IMC(kg/m2) 22,4 2,5 21,4 2,4

    CCI (cm) 79,7 9,2 79,2 9,1

    CQ (cm) 91 7,9 90,8 7,8

    IMC = ndice de massa corporal; CCI = circunferncia da cintura; CQ= circunferncia do quadril; PD = pr hemodilise; POD = ps hemodilise

    Dados expressos como mdia desvio padro

    * Teste: t de Student, sem diferena estatstica (p> 0,05)

  • RESULTADOS - 29

    4.2 Etapa 2 - Composio Corporal

    As mdias da estimativa de GC e MM em kg e porcentagem

    observada pelos diferentes mtodos estudados nos perodos pr e ps-

    dilise encontram-se na Tabela 2.

    Em ambos os perodos dialticos (pr e ps), no houve diferena

    significativa na estimativa de GC pelo mtodo de SPC quando comparado

    com PDA; Pr dilise (PD) - kg (p

  • RESULTADOS - 30

    Tabela 2 - Massa de gordura corporal e massa livre de gordura de

    pacientes renais crnicos avaliados imediatamente antes e

    20-30 minutos aps o tratamento de hemodilise por

    pletismografia de deslocamento areo, somatria das

    pregas cutneas e bioimpedncia eltrica

    Tab

    ela

    2 -

    M

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