Análise do Estado da Arte do Fechamento de Mina em Minas …‡ÃO... · em todos os momentos importantes desta caminhada. Ao meu pai, irmãos, ... and the size of the mines, as

Embed Size (px)

Citation preview

  • Ministrio da Educao e do Desporto

    Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto Departamento de Engenharia de Minas

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mineral

    Anlise do Estado da Arte do Fechamento de Mina em Minas Gerais

    Autora: Mara Fonseca da Cunha Orientador: Prof. Dr. Hernani Mota de Lima

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mineral do Departamento de Engenharia de Minas da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Mineral.

    rea de concentrao: Lavra de Minas.

    Ouro Preto 2007

  • O futuro depender daquilo que fazemos

    no presente Gandhi O segredo no correr atrs das

    borboletas..... cuidar do jardim para que elas venham at voc. Mrio Quintana

  • A Deus e a Nossa Senhora por iluminar meu caminho e guiar os meus passos.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao meu Professor e excelente orientador e amigo, Hernani Mota de Lima, que aceitou

    o desafio de orientar uma Biloga e me deu todo o apoio necessrio para a realizao e

    principalmente para a concluso desta dissertao. Muito obrigada mais uma vez por

    me ajudar confiar na minha capacidade e no meu trabalho.

    Ao professor Wilson Trigueiro pela dedicao e disponibilidade nestes dois anos do

    mestrado.

    A Flvia pela amizade e apoio durante o mestrado, ao Diego pela dedicao e

    excelente trabalho dos dados em Arcgis e ao Pedro Amade e demais colegas do

    mestrado.

    Ao Programa Capes pelo apoio financeiro com a bolsa de estudo e ao Programa de

    Ps-Graduao em Engenharia Mineral pela oportunidade de desenvolver este

    trabalho.

    A minha me que sempre me deu muita fora e apoio para realizar os meus sonhos e

    que sempre me observou com dedicao e amor a minha caminhada nos estudos e na

    vida.

    Aos meus irmos Svio e Gustavo, a minha av Afra que sempre estiveram presentes

    em todos os momentos importantes desta caminhada.

    Ao meu pai, irmos, tios e vov Zez pelo carinho e interesse nos meus estudos.

    A SEE pela oportunidade de desvendar o fascnio das cavernas, pelo conhecimento

    adquirido, pelas responsabilidades e principalmente pelas amizades formadas.

    Mantendo a chama acesa.

  • Repblica Quarto Crescente pela amizade e companheirismo em todas as horas, a

    todas as moradoras e s ex-alunas o meu muito obrigado por poder fazer parte de uma

    casa maravilhosa.

    Repblica Espigo pela amizade, e a Sparta e Deuses.

    Ao Dente pelo companheirismo, pela fora, amizade e amor durante estes anos.

    s amigas Bitela e Boka, minhas eternas companheiras.

    Aos amigos Morrdera, Nm, Nakapa, Sabo, Tkus, Janjo, Minhoco e Troko.

    As Empresas de Minerao que cederam os dados para a elaborao deste estudo.

    Ao DEMIN, Escola de Minas e UFOP.

  • RESUMO

    Os desafios enfrentados pela minerao atualmente so muitos. Com destaque para a

    contnua pesquisa por novas reservas, limitaes adicionais ao acesso e dificuldades de

    obteno ao direito de lavra e normas ambientais cada vez mais restritivas e,

    potencialmente, os custos associados a estas. Adicionalmente, o sucesso de um fechamento

    de mina tem se tornado uma preocupao e uma meta dentro das empresas, bem como uma

    medida de desempenho entre os envolvidos no processo. A indstria mineral no Brasil

    muito diversa em termos de tipo de minrio e do tamanho das minas e do porte das

    companhias que esto em atividade no setor. O Estado de Minas Gerais o mais

    importante para a minerao, pois acolhe 50,6% das minas grandes e 46,5% das mdias.

    Muitas minas em Minas Gerais esto no primeiro estgio de fechamento. Embora no haja,

    no Brasil, uma legislao pertinente, empresas de minerao tm adotado as melhores

    prticas ambientais e enfrentado o desafio de fechar uma mina de forma adequada de

    acordo com a atual legislao ou abandonando o local da mina. Apesar de no existir uma

    legislao para o fechamento de mina no Brasil, as indstrias brasileiras, atualmente, esto

    desenvolvendo tcnicas para minimizar os impactos ambientais. Os estudos de caso no

    Estado de Minas Gerais, a maioria localizado no Quadriltero Ferrfero, fornecem um

    excelente testemunho das tcnicas de reabilitao implementadas pelas empresas de

    minerao. Esta dissertao apresenta uma anlise do estado da arte do fechamento de

    mina em Minas Gerais tomando como exemplo, a mina de guas Claras (a primeira

    grande mina de minrio de ferro a ser propriamente fechada na Amrica do Sul) visto que

    seu plano de fechamento de mina tem se tornado uma referncia no Brasil, bem como

    outras minas, incluindo uma de urnio, trs de ouro e quatro de minrio de ferro. Destaca

    as razes para o fechamento, os maiores riscos envolvidos em cada uma e as tcnicas de

    reabilitao adotadas alm do uso futuro proposto para o local da mina. O outro objetivo

    deste estudo foi de propor tcnicas para mensurar a qualidade e o nvel da recuperao

    ambiental realizado pela minerao atravs do monitoramento da rea. Adicionalmente,

    utilizao de indicadores biolgicos, bioindicadores, na fase do fechamento foi

    recomendada por se tratar de uma ferramenta importante para medir a qualidade biolgica

    do ambiente na rea ps-minerao.

    Palavras-chave: Minerao, Fechamento de Mina, Recuperao Ambiental, Bioindicadores.

  • ABSTRACT The challenges facing the mining industry today are many. Foremost amongst them are the

    continuous search for new reserves, additional limitations on access and the difficulty of

    obtaining mining rights, ever more prescriptive environmental regulations and, potentially,

    the associated compliance costs. In addition, successful mine closure is becoming a major

    preoccupation within the industry, as well as a measurement of performance by

    stakeholders. The mining industry in Brazil is very diverse in terms of type of ore produced

    and the size of the mines, as well as companies, that are active in the sector and Minas

    Gerais State is the most important mining State holding 50.6% of the largest mines and

    46.5% of the medium ones. Many mines in Minas Gerais State Brazil are today in an

    early stage of closure. Despite the absence of closure regulations in Brazil, many mining

    companies are still attempting to adopt best practice and are facing the challenge of closing

    a mine properly instead of simply complying with current legislation or abandoning the

    mine site. Although there is no current regulation on mine closure in Brazil, the Brazilian

    mining industry today is at the forefront of environmental impact minimisation techniques.

    Many case studies in Minas Gerais State, most of them located in the Iron Quadrangle,

    provide excellent testament to the industrys rehabilitation expertise. This dissertation

    presents the state of art of mine closure in Minas Gerais taking as example, the guas

    Claras Mine (the first big ion ore mine to be properly closed in South America) since its

    mine closure plan already became a reference in Brazil as well other mines, including the

    an uranium, three gold, four iron ore, and other mines. It emphasizes the main reasons of

    closure of each of these mines, their major risks involved for each one and the

    rehabilitation techniques adopted by each in order to reach the final use for the mined area.

    In addition, it is presented the technique proposed for assessment the quality and level of

    environmental rehabilitation by land monitoring. The use of biological indicators,

    bioindicators, is recommended as a useful tool to assess the environmental quality of a post

    mining site.

    Key words: Mining, Mine Closure, Environmental Reclamation, Bioindicators.

  • SUMRIO LISTA DE FIGURAS............................................................................................................ii LISTA DE TABELAS...........................................................................................................v LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS...........................................................................vi CAPTULO 1 INTRODUO........................................................................................1 1.1 APRESENTAO..........................................................................................................1 1.2 OBJETIVOS....................................................................................................................2 1.3 JUSTIFICATIVA............................................................................................................3 1.4 METODOLOGIA............................................................................................................3 CAPTULO 2 ESTADO DA ARTE................................................................................5 2.1 FECHAMENTO DE MINA.............................................................................................5 2.2 RECUPERAO E MONITORAMENTO AMBIENTAL..........................................16 CAPTULO 3 RESULTADOS E DISCUSSES.........................................................29 3.1 FECHAMENTO DE MINA NO ESTADO DE MINAS GERAIS...............................29 3.1.1 MINA DE GUAS CLARAS....................................................................................32 3.1.2 MINA DA MUTUCA.................................................................................................35 3.1.3 MINA DE CAET......................................................................................................36 3.1.4 MINA RIACHO DOS MACHADOS.........................................................................37 3.1.5 MINA DO PIARRO..............................................................................................39 3.1.6 MINA OSAMU UTSUMI...........................................................................................42 3.1.7 MINA VELHA............................................................................................................45 3.1.8 MINA DE GERMANO...............................................................................................50 3.2 NVEL DE RECUPERAO DAS MINAS ESTUDADAS........................................53 CAPTULO 4 CONSIDERAES FINAIS................................................................55 CAPTULO 5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................58 ANEXO................................................................................................................................64

  • ii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Caracterizao esquemtica da dinmica dos sistemas: floresta e

    degradado.............................................................................................................................21

    Figura 2: Mapa de Minas Gerais mostrando as minas georeferenciadas.............................31

    Figura 3: Detalhe do Quadriltero Ferrfero mostrando as minas........................................31

    Figura 4: Vista geral da cava da mina de guas Claras sendo preenchida com gua.........33

    Figura 5: Ilustrao do lago a ser formado na cava e da revegetao nos taludes e reas

    prximas a cava (Mina de guas Claras).............................................................................33

    Figura 6: Layout do guas Claras Village.......................................................................34

    Figura 7: Layers em ArcGIS da Mina de guas Claras.......................................................34

    Figura 8: Vista area da cava da mina da Mutuca (esquerda) e projeto de reconformao

    topogrfica (direita)..............................................................................................................35

    Figura 9: Layers em ArcGIS da Mina da Mutuca................................................................35

    Figura 10: Imagens antes (2001) e depois (2006) da reabilitao ambiental em taludes na

    mina de Caet.......................................................................................................................36

    Figura 11: Layers em ArcGIS da Mina de Caet.................................................................37

    Figura 12: reas em reabilitao (2002 e 2006) na mina de Riacho dos

    Machados..............................................................................................................................38

    Figura 13: Layers em ArcGIS da Mina Riacho dos Machados............................................38

  • iii

    Figura 14: Imagens antes (2000) e depois (2002) da reabilitao ambiental de uma

    vooroca na mina de Piarro..............................................................................................39

    Figura 15: Vista geral de aplicao das tcnicas de bio-engenharia de uma vooroca na

    mina Piarro........................................................................................................................40

    Figura 16: Layers em ArcGIS da Mina Piarro..................................................................41

    Figura 17: Lago da cava com drenagem cida (Mina Osamu Utsumi)................................43

    Figura 18: Instalao para tratamento da gua cida (esquerda) e instalaes industriais

    (direita) da mina Osamu Utsumi..........................................................................................43

    Figura 19: Fluxograma do tratamento de gua ativo da mina Osamu Utsumi.....................44

    Figura 20: Layers em ArcGIS da Mina Osamu Utsumi.......................................................45

    Figura 21: Vista das instalaes industriais vizinha comunidade no ano de 1960 da Mina

    Velha....................................................................................................................................46

    Figura 22: Antes e depois da recuperao do passivo ambiental no Rio Cardoso (Mina

    Velha)...................................................................................................................................46

    Figura 23: Morro do Galo antes e depois, com barragem para conteno de sedimentos

    (Mina Velha)........................................................................................................................48

    Figura 24: Antiga galeria da mina Velha para explorao subterrnea (esquerda), e uma

    montagem de um futuro anfiteatro a ser criado com destaque para galeria

    (direita).................................................................................................................................48

    Figura 25: Localizao da Gold City no circuito turstico do ouro de Minas Gerais.......49

    Figura 26: Layers em ArcGIS da Mina Velha.....................................................................49

  • iv

    Figura 27: esquerda situao atual da cava do Germano e direita ilustrao da cava

    aps a reabilitao................................................................................................................50

    Figura 28: Layers em ArcGIS da Mina Germano................................................................51

    Figura 29: Ilustrao dos processos que envolvem a restaurao do ecossistema

    degradado.............................................................................................................................52

  • v

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Comparao das condutas de fechamento de empreendimentos mineiros adotadas

    em pases minerais................................................................................................................10

    Tabela 2: Contedo tpico de um plano de fechamento.......................................................15

    Tabela 3: Exemplos de componentes e indicadores para a integridade ecolgica...............22

    Tabela 4: Indicadores biolgicos utilizados na minerao...................................................24

    Tabela 5: Principais minas fechadas e em fechamento no estado de Minas Gerais.............30

    Tabela 6: Custos de fechamento das minas da Companhia Vale do Rio Doce....................41

  • vi

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear

    CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear

    CVRD Companhia Vale do Rio Doce

    DNPM Departamento Nacional de Produo Mineral

    et al. et alli

    FEAM Fundao Estadual do Meio Ambiente

    IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    INB Indstrias Nucleares do Brasil

    MBR Mineraes Brasileiras Reunidas

    NRM Norma Reguladora da Minerao

    PRAD Plano de Recuperao de reas Degradadas

  • 1

    CAPTULO 1 INTRODUO 1.1 APRESENTAO A atividade de extrao dos recursos de minerais se tornou imprescindvel no mundo

    moderno e no poderia ser diferente no Brasil, onde a minerao expandiu nas ltimas

    dcadas impulsionada pela descoberta de novas jazidas, pelo crescimento econmico e

    industrial brasileiro e mundial, e pelo desenvolvimento tecnolgico.

    A interveno humana tem um efeito desestabilizador sobre os ecossistemas naturais e a

    minerao apenas mais uma entre as vrias formas de degradaes decorrentes das

    modificaes ambientais em conseqncia da ao antrpica. Entretanto, os impactos

    advindos desta atividade provocam um intenso nvel de degradao, embora local, alteram

    bruscamente a paisagem com a movimentao de terra (cava da mina, pilha de estril e

    barragem de rejeito), supresso da vegetao, eroso, destruio de habitat animal,

    degradao e exposio do solo, modificao do curso de rios, poeira e poluio, gerao

    de resduos txicos e drenagem cida, alm do impacto scio-econmico, pois muitas

    vezes a minerao cria uma dependncia da comunidade com a empresa em relao

    gerao de empregos e infra-estrutura do municpio.

    Os impactos gerados por esta atividade, portanto so de origem biolgica e ecolgica,

    fsica, qumica e scio-econmica; e a desativao e o fechamento das minas tornou-se um

    grande desafio para as empresas de minerao, agncias reguladoras e para a comunidade.

    O fechamento de mina um dos importantes assuntos que a indstria mineral vem

    enfrentando e, no Brasil, a preocupao com a fase do fechamento/desativao dos

    empreendimentos mineiros iniciou-se com a exausto de algumas grandes minas como, por

    exemplo, a mina de guas Claras e Mutuca da Mineraes Brasileiras Reunidas - MBR e

    mina do Germano da Samarco Minerao. Antes disso, inmeras minas antigas foram

    abandonadas, o que incitou uma preocupao dos rgos ambientais para a

    responsabilidade das empresas.

    O fechamento de uma mina deve ser considerado como uma parte integral do ciclo de vida

    de um projeto de uma mina e, deve ser planejado ainda na fase de licenciamento do projeto

  • 2

    e incorporado ao dia-a-dia da minerao. O uso futuro um dos maiores problemas

    enfrentados na etapa de desativao da mina, pois o retorno da rea fase pr-minerao

    muitas vezes impraticvel devido inviabilidade econmica e tcnica.

    Desde o final da dcada de 80, quando o minerador foi obrigado a recuperar a rea

    degradada e a apresentar o Plano de Recuperao de reas Degradadas (PRAD), as normas

    ambientais esto cada vez mais restritivas, exigindo da indstria cada vez mais rigor na

    minimizao dos impactos da minerao no meio ambiente. Embora no existam leis

    federais especficas para o fechamento de uma mina, o Departamento Nacional de

    Produo Mineral (DNPM) publicou, no ano de 2001, as Normas Reguladoras da

    Minerao. As NRM, dentre outras questes, abordam a suspenso e a retomada das

    atividades de lavra e o fechamento das minas. A recuperao de reas degradadas deve ser

    realizada ao longo do ciclo de vida da mina at seu total encerramento.

    A opinio pblica e a cobrana, principalmente da comunidade vizinha ao

    empreendimento, tem forado as empresas a realizar um amplo e eficiente programa de

    recuperao ambiental na fase do fechamento de mina. Para atender a essa demanda, tm-

    se buscado novas tcnicas, bem como a adoo e o aperfeioamento das melhores prticas

    para recuperao ambiental.

    A recuperao ambiental o processo pelo qual so promovidas intervenes, para a

    recomposio dos processos funcionais de um ecossistema degradado, como a estabilidade

    e biodiversidade, de modo a possibilitar o retorno do stio degradado ao processo

    sucessional natural, conforme as condies edficas e climticas especficas do local.

    Adicionalmente, um plano e uma abordagem racional so tambm necessrios para aliviar

    impactos diretos ou indiretos nas pessoas e nas comunidades afetadas pelo fechamento de

    mina de forma a garantir a sustentabilidade ambiental, econmica e social da rea ps-

    minerao.

    1.2 OBJETIVO

    A dissertao tem por objetivo analisar o processo de Fechamento das Minas no estado de

    Minas Gerais de modo a tecer consideraes sobre o estado da arte do fechamento de mina

  • 3

    e contribuir para o aperfeioamento da prtica de recuperao ambiental de stios mineiros,

    destacando-se a proposio de indicadores da qualidade ambiental adequados para verificar

    a eficincia destas prticas.

    Os resultados da pesquisa, reunidos na dissertao, visam constituir-se numa contribuio

    para o aperfeioamento da prtica de recuperao ambiental e devero ser disponibilizados

    eletronicamente, em ArcGis, os dados das minas fechadas estudadas.

    1.3 JUSTIFICATIVA

    Este estudo se justifica pelo fato do pouco conhecimento da situao das minas fechadas

    no estado de Minas Gerais e dos passivos ambientais destas, bem como das tcnicas e

    procedimentos adotados nas minas em fechamento. Portanto, faz-se necessrio conhecer o

    nmero de minas fechadas no estado, o status, sucessos e insucessos dos programas de

    fechamento adotados em funo dos passivos ambientais existentes ou gerados pelo

    prprio fechamento de mina. Um diagnstico da situao de minas fechadas em Minas

    Gerais propiciar uma viso geral do estado da arte do fechamento/reabilitao de mina.

    Em adio, poder orientar a implementao de uma legislao para fechamento de mina

    que atenda aos anseios das empresas de minerao, agncias governamentais e sociedade.

    1.4 METODOLOGIA

    A metodologia empregada no presente trabalho consistiu de trabalhos de campo e de um

    levantamento da bibliografia existente sobre as minas em processo de fechamento no

    estado de Minas Gerais.

    Foi realizada a compilao dos dados com abrangncia sobre os dois temas principais:

    quanto ao fechamento de mina, seus conceitos e como a fase final de uma operao

    mineira est sendo tratada; quanto s novas tcnicas utilizadas para o monitoramento

    ambiental, como uma maneira de avaliar a qualidade e eficcia da recuperao do

    ecossistema, implementado pelas empresas, no encerramento e no ps-fechamento.

    Na etapa de campo foram realizadas visitas ao DNPM e a Fundao Estadual de Meio

    Ambiente (FEAM), alm das visitas s empresas de minerao que vm desenvolvendo um

  • 4

    plano ou atividades de fechamento de mina nos ltimos 10 anos, buscando-se

    fundamentalmente observar e avaliar qualitativamente o nvel de recuperao/reabilitao

    alcanado e conhecer os problemas e sucessos obtidos. Os critrios utilizados para a

    escolha das mineraes em fechamento foram com relao confiabilidade dos dados,

    maior expressividade do empreendimento, seja no tamanho, no tipo de minrio, ou no grau

    de implementao da recuperao e encerramento.

    As minas foram analisadas qualitativamente quanto ao estgio e ao tipo de fechamento

    utilizado. Adicionalmente, o trabalho pretende sugerir formas de aperfeioamento dos

    procedimentos de monitoramento dessas minas aps o encerramento.

    Foi realizado um Georeferenciamento das Minas Fechadas de Minas Gerais, para

    disponibilizar as informaes coletadas sobre as minas na forma de um mapa

    georeferenciado. Para tal, adotou-se o ArcGIS como instrumento de georeferenciamento

    com mapas (edio e automao), cartografia, gerenciamento de dados e anlise

    geogrfica/espacial, desenvolvido com o tutorial do programa ArcGIS 9.0. Desta forma os

    dados especficos das minas foram organizados na forma de layers (nome, empresa,

    municpio, perodo de atividade, etc) e fotos ilustrativas, inseridos nos mapas de Minas

    Gerais e Quadriltero Ferrfero.

  • 5

    CAPTULO 2 ESTADO DA ARTE

    2.1 FECHAMENTO DE MINA

    A origem da minerao remonta aos primrdios da humanidade e, desde ento vm

    deixando as suas marcas na superfcie da Terra. Contudo esta atividade se tornou mais

    expressiva e intensa a partir da Revoluo Industrial quando a explotao de carvo, ferro,

    mangans, cobre e ouro, principalmente, bem como de chumbo, zinco e nquel passou a ser

    praticada em larga escala, removendo enormes toneladas de minrio (CLARK & CLARK,

    2002).

    A minerao uma atividade econmica finita e transitria, que responsvel por

    mudanas substanciais na comunidade e no meio ambiente onde atua. amplamente

    influenciada pelas variaes no mercado e nas reservas de minrio, bem como por

    condies polticas e ambientais dos pases.

    Embora a minerao provoque degradao em reas de floresta relativamente pequenas,

    em comparao com outras formas de mudana de uso de terras, como agricultura,

    explorao madeireira, produo de energia hidreltrica e construo de estradas; os

    impactos advindos da minerao de superfcie so bastante intensos, como, por exemplo, a

    cava da mina altera drasticamente a topografia e a paisagem da rea, alm de influenciar

    em processos erosivos, alteraes no regime hdrico (escoamento superficial e

    rebaixamento de lenol fretico) sem falar na supresso da vegetao, no afugentamento da

    fauna local, na desestruturao do solo e do subsolo.

    Novos mtodos que tentam integrar as interaes entre o ecossistema e as atividades

    humanas so indispensveis para controlar melhor o desenvolvimento de uma rea. Novas

    ferramentas so necessrias para manter e aumentar a biodiversidade em um ecossistema

    degradado como a utilizao de bioindicadores da qualidade ambiental. Para alcanar este

    objetivo, a reabilitao ambiental no deve ser considerada um evento que ocorre em uma

    poca determinada. Na verdade, um processo que inicia antes da minerao e termina

    muito depois desta ter se completado.

  • 6

    O desenvolvimento de tecnologias mais eficientes para a explotao, tratamento de minrio

    e criao de novos produtos, viabilizou e ampliou a vida til de muitas minas,

    principalmente as de baixo teor de minrio, culminando num crescimento das empresas, no

    aumento da gerao de empregos e, em uma diversificao de minas. A expanso da

    minerao somada sua ampla distribuio pelo pas, colocou as empresas frente a

    presses, da sociedade e do Estado, em diversos setores como: segurana do trabalho e

    sade, direitos trabalhistas, responsabilidade social e, principalmente, com relao

    degradao provocada ao meio ambiente e a necessidade e obrigatoriedade de recuper-lo .

    O estgio final de um projeto de explotao mineral envolve o fechamento da mina e o

    cumprimento de todas as exigncias legais e tcnicas cabveis ao empreendimento. Durante

    as ltimas dcadas o termo fechamento de mina estava firmemente arraigado dentro da

    minerao entre os encarregados e os operadores. Somente quando a escola antiga dos

    engenheiros de minas reconheceu que esta quarta fase do ciclo de uma mina era to

    importante como a explorao, desenvolvimento e produo, o fechamento comeou a

    receber mais ateno e passou a ser um pouco mais valorizado entre os profissionais

    (LAURENCE, 2006). Embora seja reconhecido como um importante componente, fechar

    uma mina ainda carece de entusiasmo e prestgio comparado s outras fases.

    O termo descomissionamento (do ingls decommissioning) originou-se de uma

    exigncia formal para a desativao de instalaes nucleares, sendo a seguir estendido para

    a minerao de urnio e subseqentemente abrangendo todos os ramos da indstria mineral

    (CAMPBELL & EMERY, 1995). Segundo OLIVEIRA JNIOR (2001) o termo pode ser

    definido como a parada das operaes mineiras e o preparo para o desmonte de suas

    unidades. Uma fase de transio entre o fechamento (closure) e o uso futuro da rea

    (TAVEIRA, 2003).

    Os conceitos, definies e questes relacionados ao fechamento de mina podem ser

    descritos como ....a reabilitao de uma rea perturbada em um local seguro, estvel e

    produtivo ps-minerao, que seja apropriado e/ou aceitvel pela comunidade.... (ALLEN

    & BRIGGS, 1999), tambm como ....reabilitao e restaurao de um local para assegurar

    que o fechamento de uma mina no vai comprometer a qualidade ambiental no futuro e

    limitar a extenso de qualquer provvel passivo para o responsvel, o governo e para a

    comunidade (SASSOON, 1996) e como ...retornar a mina e as reas afetadas em viveis

  • 7

    e, tambm praticveis, ecossistemas auto-sustentveis que so compatveis com um

    ambiente saudvel e com as atividades humanas (MINING ASSOCIATION OF

    CANADA, 1994).

    O tema comum em todas as definies acima descritas que a rea impactada pela

    minerao seja recuperada e reabilitada a um estado que evite danos ambientais futuros e

    permita um uso alternativo. Em essncia, fechamento de mina considerado pela indstria

    e, recentemente at por muitos governos, como uma questo principalmente ambiental

    (CLARK & CLARK, 2002).

    Para o governo australiano o fechamento de mina o processo de fechar uma mina com o

    objetivo geral de deixar a rea em uma condio estvel e segura que seja coerente com o

    ambiente fsico, social e ambiental circundante e que no necessite de manuteno

    permanente. A rea da mina deve estar adequada para um uso alternativo ps-minerao

    dependendo das circunstncias especificas do local (EPA, 2002).

    Ento, o fechamento de mina caracterizado pela paralisao permanente das operaes de

    uma mina e suas instalaes de tratamento de minrio, aps o completo processo de

    descomissionamento e reabilitao do local. O fechamento final atingido quando o

    critrio de fechamento, um padro de desempenho acordado entre os envolvidos no

    processo, demonstra que o sucesso do programa de fechamento foi alcanado.

    Descomissionamento ou desativao refere-se a uma intensa atividade do programa de

    fechamento, que inicia quando da cessao das atividades de produo, o qual incorpora as

    atividades de remoo, desmontagem da infra-estrutura e servios, bem como a construo

    de componentes especficos para o fechamento (LIMA, 2005). Reabilitao ou recuperao

    refere-se ao retorno da rea a uma condio estvel, produtiva e auto-sustentvel,

    considerando-se o uso final proposto para o local (KNOL, 1999).

    Nos ltimos dez anos ou mais temos visto um aumento expressivo da preocupao

    internacional incidindo em vrios aspectos dentro na minerao, seja de pequeno, mdio ou

    grande porte (ANDREWS-SPEED et al. 2005). Entre eles esto o fechamento de mina, o

    desenvolvimento sustentvel e a legislao que incide sobre estes. Aps a dcada de 1960

    iniciou-se um crescente interesse pelas questes ambientais, na dcada de 70 e 80 a

    recuperao das reas degradadas, drenagem de gua cida, bota-fora (pilha de estril),

  • 8

    barragem de rejeitos foram alvo das preocupaes mundiais. Antes de 1980 a preocupao

    ambiental na esfera da minerao era mnima e pode-se dizer que com relao ao

    fechamento de mina era praticamente nula. J na dcada de 90 e incio do novo sculo o

    desenvolvimento sustentvel, o fechamento de mina e as questes de ordem sociais esto

    em alta na pauta de discusses e devem continuar durante muitos anos at que se atinja um

    patamar mais alto de desenvolvimento dentro da esfera da minerao.

    No Brasil, o fechamento de mina, embora no diretamente, vem sendo tratado desde a

    promulgao do Decreto n 97.632, de 10 de abril de 1989 que passou a exigir dos titulares

    de concesses de lavra, a reabilitao das reas impactadas pelas atividades da minerao,

    de acordo com um Plano de Recuperao de reas Degradadas (PRAD) previamente

    elaborado e aprovado pelo rgo governamental competente. Embora, segundo LIMA et

    al. (2006), PRAD seja apenas um componente do Plano de Fechamento.

    As Normas Reguladoras de Minerao (NRM) constituem o primeiro e importante passo

    para a sistematizao legal das atividades de fechamento das minas. Em 18/10/2001

    publicada pelo DNPM a Portaria 237, que regulamenta a NRM n 20. Esta norma que tem

    por objetivo definir os procedimentos administrativos e operacionais em caso de

    fechamento de mina, suspenso e retomada das operaes mineiras. Essa norma norteia

    duas situaes: a suspenso que significa a interrupo temporria; e o fechamento que

    caracteriza a cessao definitiva da atividade mineira. Neste caso o DNPM dever ser

    previamente comunicado e cabe ao empreendedor apresentar o plano de fechamento que

    contenham os impactos e as medidas mitigadoras referentes aos meios fsico, bitico e

    antrpico, o uso futuro da rea e um cronograma fsico-financeiro do plano (TAVEIRA,

    2003). A NRM n 21, tambm regulamentada pela Portaria 237, tem por objetivo definir

    procedimentos administrativos e operacionais em caso de reabilitao de reas

    pesquisadas, mineradas e impactadas.

    As NRM so um avano na legislao brasileira, mas elas o fazem de maneira ainda tmida

    e simplificada. Pois ainda deixa lacunas quanto s responsabilidades da empresa, do

    governo e da participao da sociedade, bem como no cumprimento do plano de

    fechamento e as diretrizes do mesmo (TAVEIRA, 2003). Alm de no estabelecer

    garantias financeiras reais (cauo ambiental) por parte da empresa para evitar que as

  • 9

    minas sejam abandonadas ou que a restaurao ambiental, fsica e qumica seja realizada

    de forma incompleta.

    A legislao brasileira aborda de forma incipiente a questo do fechamento de mina. Esse

    fato fica evidente quando se analisa a legislao em vigor em outros pases, como a

    Austrlia, o Canad e os Estados Unidos. A Tabela 1 apresenta a conduta de fechamento

    de empreendimentos mineiros em alguns pases mineradores. A evoluo das prticas de

    fechamento de mina nos pases grandes produtores de recursos minerais, como Estados

    Unidos, Austrlia e Canad, teve incio paralelamente ao crescimento da conscincia da

    necessidade de preservao do meio ambiente, como condio para a continuidade da vida,

    no s nos grandes ncleos urbanos, mas tambm nas ainda imensas reas rurais. Assim,

    em muitos deles, os sistemas tcnicos e legais que regulamentam o fechamento de mina

    tm sido incorporados, com maior ou menor grau de exigncias, ao ciclo de vida de todos

    os projetos de minerao (FLORES, 2006).

    explcita a carncia de uma legislao federal especfica para o fechamento de minas no

    Brasil, levando em considerao os tipos de minas e especificidades de cada mina,

    definindo as competncias dos rgos envolvidos no licenciamento tcnico e ambiental dos

    projetos de minerao ambientais e minerrios; federais, estaduais e municipais e nas

    atividades de fiscalizao dos planos de operao, fechamento e reabilitao dos stios

    mineiros. Essa situao pode ser evidenciada se observarmos o grande nmero de minas

    abandonadas que existem em vrios pases mineradores incluindo o Brasil. Entretanto, nos

    ltimos cinco anos trabalhos considerveis foram e esto sendo realizados a nvel global

    para minimizar o impacto da minerao nas comunidades, novas leis e regulamentaes

    esto sendo desenvolvidas.

  • 10

    Tabela 1: Comparao das condutas de fechamento de empreendimentos mineiros adotadas

    em pases minerais.

    Pases desenvolvidos Item

    Canad EUA Austrlia

    Pases em desenvolvimento

    Brasil

    Plano de fechamento faz parte do licenciamento da

    operao Sim Sim Sim

    Vem sendo adotado, mas com falhas em funo da legislao

    antiga

    Comea-se a adotar, mas com falhas em funo

    da legislao antiga

    Para minas em operao que no possuem plano de fechamento dado prazo

    para apresentao

    Sim Sim Sim

    Sim, mas prev negociao entre

    governos e empreendedores

    Sim, mas prev negociao entre

    governos e empreendedores

    Apresentao de relatrio de acompanhamento do plano de fechamento (ou

    documento similar)

    Sim Sim Sim Sim em alguns casos,

    mas com pouco aproveitamento

    No, a menos que se contemple

    nos relatrios enviados pelo empreendedor referentes aos

    planos de monitoramento

    previstos na LO

    Participao da sociedade Sim Sim Sim Em alguns pases

    Apenas nas audincias

    realizadas para aprovao do EIA/RIMA

    Responsabilidade perptua do

    empreendedor pela rea recuperada

    Sim No

    definido No

    definido No definido No definido

    Governo responsvel por fiscalizar a execuo do plano de fechamento ou documento similar

    Sim Sim Sim

    Sim, mas h muitas falhas na fiscalizao, em parte por falta de

    infra-estrutura

    Sim, mas h muitas falhas na fiscalizao, em parte por falta de

    infra-estrutura Cobrana de taxas junto

    ao setor mineral para recuperar a rea degradada por

    empreendimentos mineiros

    Sim Sim No Apenas na ndia No

    Apresentao de garantias e revises peridicas de

    valores Sim Sim Sim Em alguns pases No

    Cobrana de multas por no cumprir o que foi aprovado no plano de

    fechamento ou documento similar

    Sim Sim Sim Em alguns pases Sim

    (Fonte: TAVEIRA, 2003).

    LO: Licena de operao EIA/RIMA: Estudo de Impacto Ambiental/ Relatrio de Impacto Ambiental

  • 11

    Alguns dos componentes bsicos para criar uma poltica de fechamento de mina so

    (CLARK & CLARK, 2002):

    - Prever provises financeiras especficas para recuperao e reabilitao ambiental;

    - Exigir Estudo de Impacto Ambiental e Estudo de Impacto Social associado ao Plano

    Conceitual de Fechamento de Mina;

    - Ter um amplo programa de cauo ou garantia financeira;

    - Estabelecer provises especficas para atividades ps-fechamento e em questes de

    abandono;

    - Implementar procedimentos especficos para assegurar o cumprimento do plano.

    De acordo com TAVEIRA (2003), a definio de responsabilidades no fechamento de uma

    mina um dos grandes abismos existentes na legislao dos pases mineradores, tanto

    desenvolvidos como em processo de desenvolvimento. Sua ausncia d vazo ao abandono

    de muitas reas mineradas. Estabelecer responsabilidades um dos pontos cruciais para

    dar segurana sociedade, ao poder pblico e aos mineradores, garantindo aos dois

    primeiros grupos que os trabalhos sero realizados, e ao ltimo, que no sero feitas

    exigncias absurdas que possam pr em risco a atividade mineral (FLORES, 2006).

    Para abrir uma mina necessrio que o minrio a ser explotado seja economicamente

    vivel durante muitos anos. Mas para fechar uma mina existe uma ampla variedade de

    razes. A mais freqente ocorre devido exausto das reservas de minrio e, na maioria

    dos aspectos a mais fcil de ser realizada, entre eles porque provoca o encerramento

    definitivo das operaes. Muitas minas fecham temporariamente e reabrem posteriormente

    quando as condies adversas cessam, mas muitas das minas cujo fechamento ser

    temporrio resultam no final em propriedades abandonadas, tornando minas

    abandonadas e, cada uma dessas minas apresenta problemas especficos para o governo,

    para a indstria e para a sociedade (CLARK & CLARK, 2002).

    Questes de ordem econmica provocadas pelas flutuaes no preo do produto no

    mercado mundial, geralmente influenciam o fechamento das minas pequenas por serem

    mais instveis economicamente, ou por falncia da empresa. Podendo ser tambm por

    razes geolgicas como a diminuio do nvel do corpo do minrio. Motivos tcnicos

  • 12

    como condies geotcnicas ou mecnicas adversas, em minas subterrneas

    principalmente, ou por questes regulamentares em conseqncia de algum problema

    relacionado ao meio ambiente ou segurana tambm levam ao fechamento de uma mina.

    Mudanas polticas e de governo podem provocar a paralisao temporria, permanente ou

    em alguns casos ao abandono. Por outro lado, uma mina pode ser forada a fechar por

    presses sociais e da comunidade envolvida, principalmente se existe algum tipo de

    oposio presena da minerao na rea (LAURENCE, 2006).

    Considerando o fechamento da mina do ponto de vista do esgotamento das reservas

    economicamente viveis, o primeiro passo deveria ser dado antes do incio da fase de

    explotao. Um Plano Conceitual do fechamento de mina deve ser feito considerando as

    estimativas de vida til da mina e as medidas que vo ser tomadas ao longo do

    desenvolvimento do empreendimento.

    O plano conceitual de fechamento forma uma declarao de inteno de assumir a

    mitigao ambiental, recuperao e tarefas relacionadas ao fechamento durante as

    operaes e depois do fechamento, so necessrias e praticamente possveis. O plano

    tambm inclui medidas de contingncia para fechamento temporrio das operaes.

    baseado no nvel de viabilidade dos projetos de engenharia e do plano de minerao, e

    considerado como um documento dinmico, que pode ser aprimorado durante a fase

    operacional do projeto (KNOL, 1999).

    Para KNOL (1999), SASSOON (2000), EPA (2002) e FOURIE & BRENT (2006) o

    fechamento inclui:

    - O re-estabelecimento da cobertura vegetal apropriada para a rea;

    - Manuteno da qualidade do ar e da gua superficial e subterrnea;

    - Estabilidade fsica e qumica das barragens de rejeitos, pilhas de estril e da cava da

    mina;

    - Disposio segura da infra-estrutura;

    - A proteo da sade e segurana pblica;

    - Promover o desenvolvimento da estabilidade ecolgica e de um ecossistema sustentvel

    (fauna e flora);

  • 13

    - O re-estabelecimento do ambiente esttico proporcionando qualidade visual e

    oportunidades de recreao;

    - Um projeto de configurao do terreno compatvel com o divisor de guas e

    principalmente com o uso futuro da rea;

    - Minimizar os impactos scio-econmicos;

    - Cumprir a expectativa da comunidade.

    Em se tratando de fechamento de mina e reabilitao, KNOL (1999) e SASSOON (2000)

    identificam trs estgios, definidos como:

    1. O Estgio do Planejamento o plano de reabilitao deve ser estabelecido e

    integrado aos planos de lavra e gerenciamento ambiental quanto mais cedo possvel

    e, periodicamente, atualizado durante a vida operacional do projeto.

    2. Estgio de Tratamento Ativo o programa de tratamento ativo deve ser

    implementado imediatamente aps cessao das operaes em uma rea especfica,

    i.e, o fechamento de uma pilha de estril ou o completo fechamento da mina.

    3. Estgio de Tratamento Passivo trata-se de um perodo ou estgio onde um

    programa de monitoramento implementado para demonstrar que o programa de

    tratamento ativo alcanou o sucesso almejado e que um estado de no interveno

    na rea foi atingido.

    De acordo com ANZMEC (2000) para o plano e o fechamento serem viveis e aplicveis

    na prtica necessrio que seis importantes itens possam ser implementados durante o

    ciclo de vida da minerao.

    O primeiro passo determinar quais so os Envolvidos no fechamento para que durante

    todo o processo de fechamento cada um tenha seus interesses e responsabilidades

    determinadas. Geralmente fazem parte deste grupo a empresa, a comunidade e o governo.

    Dentro do escopo da empresa os trabalhadores e gerentes ou diretores esto

    intrinsecamente envolvidos, pois so eles que vo desenvolver os projetos durante toda o

    ciclo da mina. Para a comunidade extremamente importante estar envolvida desde o

    incio do fechamento, pois ela est diretamente relacionada com a atividade,

    freqentemente os impactos ambientais no so o principal problema aps o fechamento,

    mas sim a dependncia criada com a minerao, seja do ponto de vista da gerao de

    empregos ou da infra-estrutura proporcionada como as creches, escolas e clnicas sob a

    responsabilidade da empresa ou da manuteno de praas, parques e jardins, entre outros.

  • 14

    Para os governos locais, estaduais e federais alm de serem os responsveis por grande

    parte das exigncias ambientais e sociais, e tambm pela fiscalizao, com o encerramento

    das atividades os Governos vo deixar de arrecadar com as tributaes (impostos) e com

    royalties. E, em muitos casos, vo ter que arcar com a infra-estrutura antes mantida pela

    minerao nas comunidades.

    O Planejamento deve ser realizado durante os estudos de viabilidade da mina e deve ser

    atualizado na fase de operao para manter os custos e o cronograma sempre compatveis

    com a situao presente. A falta de atualizao dos dados pode provocar graves

    conseqncias ambientais e econmicas (MUDDER & HARVEY, 1998). Os objetivos do

    planejamento do fechamento de mina so para proteger o meio ambiente e sade e

    segurana pblica, reduzir ao mximo os impactos adversos do encerramento, instituir

    condies que sejam condizentes com o uso futuro e reduzir o monitoramento e

    manuteno das reas criando um ambiente qumico e fisicamente estvel. Dentro do Plano

    de Fechamento devem estar contidos o Plano de Reabilitao/Recuperao, o Plano de

    Descomissionamento, o Plano de Monitoramento e Manuteno e o Plano de Anlise de

    Risco.

    A Proviso Financeira uma medida de segurana, para o governo e para a comunidade,

    pois os objetivos principais de se estabelecer uma proviso financeira para fins de

    fechamento de mina so assegurar que fundos adequados estejam disponveis no momento

    para implementao do plano de fechamento. Portanto, uma proviso financeira deve fazer

    parte de todos os planos de fechamento (LIMA, 2005).

    O objetivo da Implementao do fechamento de mina assegurar e definir as

    responsabilidades e os recursos necessrios para a realizao do plano de fechamento. Essa

    etapa reflexo da fase de operao da mina e das medidas necessrias para manuteno e

    monitoramento aps o fechamento.

    O estabelecimento de Padres e critrios especficos para mensurar e demonstrar o

    completo sucesso do fechamento so os objetivos desta fase. A tentativa de criar padres

    deve abranger vrias reas de estudo, desde uma legislao especfica e condizente com as

    necessidades do fechamento, passando por medidas scio-econmicas que sejam realmente

  • 15

    efetivas, bem como medidas de cunho ambiental como a seleo de indicadores para medir

    e determinar o sucesso da recuperao do ecossistema e das interaes biolgicas.

    A Renncia do Ttulo Minerrio a ltima etapa do processo de fechamento de uma mina

    e uma garantia dos rgos responsveis que a empresa cumpriu todas as exigncias e que o

    Governo est de acordo com as medidas realizadas para o completo fechamento da mina.

    A Tabela 2 apresenta o contedo tpico de um plano de fechamento, o qual pode variar

    dependendo das circunstncias de cada projeto, mas que pode servir como base para a

    realizao de um plano com relao s fases e medida que devem ser tomadas.

    Diversas minas observadas, em vrios estgios de vida, demonstraram que o planejamento

    para o fechamento complexo e inclu um alto grau de subjetividade e incerteza,

    particularmente com relao aos envolvidos no processo, pois estes sofrem muitas

    influncias externas. Quanto maior for o engajamento dos envolvidos no processo de

    planejamento menor ser o risco e o grau de incerteza e subjetividade no ps-fechamento

    (KNOL, 1999).

    Tabela 2 Contedo Tpico de um Plano de Fechamento para mineraes de grande porte e/ou impacto (ANZMEC, 2000).

    1. Introduo e Descrio do projeto 2. Objetivos do Fechamento 3. Banco de Dados Ambientais 4. Obrigao Legal (ou de outra natureza) Estatutos bsicos e regulamentaes Autoridade responsvel Instrumentos reguladores

    5. Partes Envolvidas Identificao das Partes Consulta comunidade

    6. Avaliao de riscos Passivo Ambiental Presente Riscos futuros Anlise de custo/benefcio

    7. Critrios de fechamento 8. Custos de fechamento Provises financeiras Garantias financeiras

    9. Plano de Aes para o Fechamento Recursos humanos / distribuio de responsabilidades Reabilitao progressiva Descomissionamento Remediao

  • 16

    Avaliao geotcnica Conformao do relevo Revegetao Conformao esttica Herana cultural / valor histrico Sade e segurana pblica Plano de Monitoramento e Manuteno para o Ps-fechamento Documentao e arquivamento dos relatrios/projetos Superfcie (estruturas remanescentes e fontes potenciais de contaminao)

    10. Renncia ao Ttulo Mineiro Fonte: LIMA (2005).

    2.2 RECUPERAO E MONITORAMENTO AMBIENTAL

    O grande e crescente nmero de seres humanos na Terra combinado com os rpidos

    avanos no desenvolvimento tecnolgico asseguram extensos danos ao meio ambiente. Os

    problemas ambientais causados pela extrao mineral da superfcie e do subsolo deixam

    suas marcas nos ecossistemas e se estendem por toda parte do mundo. Os impactos

    causados pela explotao do minrio e por todas as suas fases posteriores afetam a

    superfcie do solo, a composio vegetacional e toda a dinmica de um sistema ecolgico,

    dando origem a um novo ecossistema que necessita de monitoramento e avaliao

    contnua.

    Sendo assim, a interveno humana tem um efeito desestabilizador sobre os ecossistemas

    naturais, perturbando seu equilbrio dinmico. Os ecossistemas no so entidades estticas,

    ao contrrio, sofrem flutuaes na sua estrutura e funo em decorrncia de mudanas

    ambientais de curto, mdio e longo prazo (KIMMINS, 1987), e um dos principais atributos

    dos ecossistemas a sua capacidade de mudana temporal.

    Todos os ecossistemas aquticos ou terrestres esto sujeitos a distrbios naturais ou

    antrpicos, que provocam mudanas em menor ou maior grau. Segundo WHITE &

    PICKETT (1985), distrbio um evento relativamente discreto no tempo que altera a

    estrutura de um ecossistema, comunidade ou populao, bem como provoca mudanas na

    disponibilidade de recursos ou no meio fsico. Cada ecossistema reage de forma

    caracterstica que pode ser medido de acordo com a escala (tamanho da rea afetada),

    durao (tempo de permanncia do distrbio), freqncia (nmero mdio de eventos por

    unidade de tempo), intensidade e magnitude (ENGEL & PARROTTA, 2003).

  • 17

    Definem-se como ecossistema degradado aquele que sofreu perturbaes antrpicas,

    levando-o a diminuio da sua capacidade de recuperao e com perda de espcies e

    interaes importantes, mas mantendo os meios de regenerao bitica (CARPANEZZI et

    al, 1990 ). Um ecossistema degradado apesar de no ser capaz de regenerar-se at a sua

    condio inicial, ainda mantm sua capacidade de produzir bens e servios para as

    necessidades do homem (BROWN & LUGO, 1994).

    Em ecossistemas terrestres ocorre a destruio da cobertura vegetal e fauna, perda da

    camada frtil do solo e alterao na qualidade e vazo do sistema hdrico, situao definida

    como rea degradada, segundo MINTER/IBAMA (1990). Nesses casos a interveno do

    homem faz-se necessria, a fim de estabilizar e reverter os processos de degradao,

    acelerando e direcionando a sucesso natural. Tal interveno pode ser feita sob diferentes

    abordagens, com objetivos e resultados distintos (ENGEL & PARROTTA, 2003).

    Na maioria das vezes a tarefa de restaurar o ecossistema s suas condies originais

    difcil ou praticamente impossvel por vrias razes. As informaes ecolgicas detalhadas

    sobre a condio original muitas vezes no esto disponveis e as tcnicas para recolonizar

    o ecossistema danificado com espcies originais no so adequadas, alm de no possuir

    fontes relevantes e satisfatrias sobre os organismos presentes sob as condies originais

    (CAIRNS JR., 1997). Diante de tais circunstncias, deve-se levar em considerao a

    criao de ecossistemas alternativos que sejam ecologicamente superiores condio

    danificada e a condio anterior, mesmo que muito diferentes do sistema original.

    Muitos tm sido os termos utilizados para designar os processos naturais e artificiais de

    reparao de danos ambientais. Entretanto, somente na dcada de 1980, com o

    desenvolvimento da ecologia da restaurao como cincia, o termo restaurao ecolgica

    passou a ser mais claramente definido, com objetivos mais amplos e passando a ser o mais

    utilizado no mundo nos ltimos anos (ENGEL & PARROTTA, 2003).

    O termo reabilitao (do ingls rehabilitation) vem sendo utilizado no Brasil e

    principalmente na esfera da minerao para descrever aes sobre ecossistemas degradados

    que promovam a restaurao do solo e da parte bitica, principalmente a revegetao, sem

    a preocupao de retorno ao ecossistema original, criando ambientes diferentes.

  • 18

    O termo recuperao (equivalente ao ingls reclamation) mais usado no pas, adotado

    com sentido amplo. O Manual de Recuperao de reas Degradadas pela Minerao

    (MINTER/IBAMA, 1990) define recuperao como o retorno do stio degradado a uma

    forma de utilizao de acordo com um plano pr-estabelecido de uso do solo, que pode

    ser diferente de sua condio original.

    O conceito que precisa ser discutido o de Restaurao (restoration) freqentemente

    utilizado dentro do seu sentido restrito, significando o retorno ao estado original do

    ecossistema (MINTER/IBAMA, 1990; BROWN & LUGO, 1994). Com este enfoque, no

    Brasil predominam o uso dos termos recuperao e reabilitao ao invs de restaurao

    (ENGEL & PARROTTA, 2003).

    A definio adotada pela Society for Ecological Restoration considera que restaurar um

    ecossistema no copiar exatamente um modelo na natureza, mas sim recuperar a

    estabilidade e integridade ecolgica dos ecossistemas naturais. Restaurar integralmente os

    ecossistemas naturais est muito alm da nossa capacidade e retorn-lo ao seu estado

    original impossvel, devido s caractersticas dinmicas dos mesmos (ENGEL &

    PARROTTA, 2003).

    Na realidade, as tcnicas utilizadas na recuperao, reabilitao e restaurao so

    praticamente as mesmas, a diferena est na escala de tempo adotada e das metas e

    objetivos definidos anteriormente. O objetivo ideal de uma recuperao, restaurao ou

    reabilitao das reas degradadas restabelecer o complexo sistema ecolgico sustentvel

    de um ecossistema. Para isso necessrio realizar medidas de curto, mdio e longo prazo,

    desde a total interveno antrpica at o restabelecimento de um ambiente estvel que no

    precise de nenhum tipo de manuteno ou monitoramento humano.

    O monitoramento o conjunto de aes ou procedimentos destinados a avaliar o sucesso

    ou avano da restaurao de uma rea degradada, e ele pode ser aperfeioado com a

    utilizao de critrios e indicadores ambientais (ALMEIDA, 2002).

    Para alcanar tal objetivo indispensvel a identificao de fortes ferramentas biolgicas

    que possam capturar efetivamente a diversidade e complexidade do ecossistema

    (HAMBURG et al., 2004), criando um mecanismo efetivo para o monitoramento,

  • 19

    qualitativo e quantitativo. E, aliado restaurao sob os aspectos fsicos, qumicos

    pedolgicos e topogrficos, constitua a base para todo o processo de reabilitao de reas

    degradadas pela minerao.

    Alguns conceitos e princpios biolgicos sero apresentados a seguir para elucidar os

    processos que ocorrem na natureza, e que influenciam direta ou indiretamente a

    degradao e a recuperao dos ecossistemas.

    Denomina-se comunidade bitica, ou simplesmente comunidade, a reunio das vrias

    espcies que ocorrem juntas num dado trato de terra ou volume de gua (TOWSEND et

    al., 2006). As condies para uma comunidade reunir-se dependem tanto de fatores

    dependentes da biodiversidade e da densidade, isto , dos nichos existentes, quanto dos

    fatores do habitat. O nicho ecolgico pode ser considerado como as relaes positivas ou

    negativas entre as populaes de uma comunidade.

    J a biodiversidade a contrao da expresso diversidade biolgica, e engloba a variao

    de todas as formas de vida e em todos os nveis em que ela se manifesta, ou seja, dos genes

    s comunidades e ecossistemas. A diversidade biolgica considerada um tema central da

    ecologia e apresenta grande aplicao nos campos de monitoramento e conservao

    ambiental, onde utilizada como um indicador da qualidade ambiental.

    O uso dos recursos naturais tem afetado de diferentes formas a biodiversidade,

    especialmente por meio de fragmentao de habitats naturais. Fragmentos de habitat

    podem ser naturais ou geralmente causados ou intensificados pela ao antrpica. O

    processo de reduo e isolamento da vegetao natural, conhecido por fragmentao de

    habitat, tem conseqncias sobre a estrutura e os processos das comunidades vegetais.

    O processo global de fragmentao de habitat , possivelmente, a mais profunda alterao

    causada pelo homem no meio ambiente. Muitos habitats naturais que eram quase contnuos

    foram transformados em paisagens semelhantes a um mosaico, composto por manchas

    isoladas de habitat original. Para HARRISON et al. (1988), existem trs principais

    categorias de mudanas que tm se tornado freqentes nas florestas do mundo: 1) a

    reduo na rea total da floresta; 2) a converso de florestas, naturalmente estruturadas, em

    plantaes e monoculturas e, 3) a fragmentao progressiva de remanescentes de florestas

  • 20

    naturais em pequenas manchas, isoladas por plantaes ou pelo desenvolvimento agrcola,

    industrial ou urbano. um processo que ocorre na Europa desde h muito tempo e que

    aumentou, particularmente, a partir do sculo XIX. Esse mesmo processo vem ocorrendo

    no Brasil desde a sua conquista pelos europeus (RAMBALDI & OLIVEIRA, 2003).

    A desestabilizao ecolgica um dos resultados do impacto gerado pela minerao, assim

    como a alterao da topografia original, alteraes fsicas, qumicas e hidrolgicas,

    distrbios na paisagem e principalmente a remoo do ecossistema original. Provocando

    uma mudana em todas relaes ecolgicas, acarretando uma brusca reduo da

    biodiversidade, alterao no equilbrio das populaes e comunidades de animais e plantas,

    sendo um dos mais srios danos provocados nesse sentido a fragmentao do habitat.

    medida que ocorre a reabilitao dos locais minerados so criados novos habitats e,

    gradualmente os processos e as riquezas de um sistema ecolgico vo sendo restaurados

    (Figura 1). de essencial importncia a conexo de fragmentos de ecossistemas

    remanescentes nas reas prximas degradada (SKLENICKA & CHARVATOVA, 2003).

    Essas ligaes so chamadas de corredores ecolgicos e ocasionam um aumento na

    velocidade, na qualidade e no sucesso do novo habitat, quanto disperso e

    estabelecimento de novas espcies.

    A restaurao da conectividade seria uma das formas de garantir a existncia de um fluxo

    mnimo entre os remanescentes de vegetao natural, de forma a viabilizar a manuteno

    de uma biodiversidade relativamente alta em reas produtivas e/ou degradadas

    (METZGER, 2003).

    Os sistemas ecolgicos so governados por alguns princpios bsicos. Esses sistemas

    integrados funcionam de acordo com as leis da termodinmica, transformaes fsicas e

    qumicas, (como a difuso de oxignio); o meio ambiente fsico exerce uma influncia

    controladora na produtividade dos sistemas ecolgicos; a estrutura e a dinmica das

    comunidades ecolgicas so reguladas pelos processos populacionais e atravs das

    geraes; e os organismos respondem s mudanas no meio ambiente atravs da evoluo

    dentro das populaes (RICKLEFS, 1998).

  • 21

    Figura 1: Caracterizao esquemtica da dinmica dos sistemas: floresta e degradado.

    (Fonte: Modificado de RAMBALDI & OLIVEIRA, 2003).

    Em um ambiente florestal em equilbrio, a alta produtividade resultado da dinmica e da

    ciclagem dos nutrientes dentro do sistema (Figura 1): nutrientes das folhas que caem, dos

    ramos, dos frutos, de rvores tombadas e at da prpria gua da chuva que atravessa a copa

    das rvores.

    Para METZGER (2003) nenhuma ao de restaurao tem por objetivo retornar s

    condies de uma paisagem no alterada pelo Homem, pois o ideal conciliar as reas

    produtivas e sustentveis com as reas de conservao biolgica.

    Os indicadores biolgicos, tambm denominados indicadores ecolgicos, ou simplesmente

    bioindicadores vm sendo utilizados na minerao como instrumento da restaurao

    ambiental destas reas. As pesquisas utilizando bioindicadores tm conquistado mais

    espao nas ltimas dcadas. Estudos de diversidade e comunidade so tradicionalmente

    utilizados para avaliar a qualidade biolgica do ambiente, e utilizando como ferramenta os

    indicadores biolgicos. Eles fornecem ndices, que refletem traos do impacto ecolgico,

    fatores de estresses e atividades antropognicas (VASSEUR & COSSU-LEGUILLE,

    2003).

    FLORESTA

    REA DEGRADADA

    Sistema mais simples

    Sistema mais complexo

    - Maior diversidade de espcies; - Acmulo de matria orgnica; - Ciclagem de nutrientes; - Alta produtividade devido ao equilbrio dinmico.

    - Baixa diversidade e abundncia de espcies; - Perda de matria orgnica por eroso e lixiviao; - Habitat fragmentados;

  • 22

    Os indicadores ecolgicos podem ser usados para avaliar a condio do meio ambiente,

    fornecendo um sinal precoce de advertncia das mudanas no meio ambiente, e para

    diagnosticar a causa do problema ambiental. Idealmente o conjunto de indicadores fornece

    um simples e eficiente mtodo de informao representativa sobre a estrutura, funo e

    composio do complexo sistema ecolgico, alm de serem utilizados para quantificar a

    magnitude do estress, os graus de exposio ao estresse e o grau da resposta ecolgica a

    exposio (DALE & BEYELER, 2001).

    Os bioindicadores so utilizados em vrios nveis hierrquicos dentro do sistema

    ecolgico, desde os organismos at nos distrbios da paisagem (Tabela 3).

    Tabela 3: Exemplos de componentes e indicadores para a integridade ecolgica. Hierarquia Processo Indicadores Sugeridos

    Organismo

    Toxidade Ambiental Mutagnese

    Deformao Fsica Leses Carga Parasita

    Espcies Grande expanso ou contrao

    Extino

    Tamanho e alcance das espcies N da populao

    Populao Oscilao abundncia

    Colonizao ou extino

    Estrutura da idade ou tamanho Comportamento da disperso

    Ecossistema

    Excluso Competitiva Predao ou parasitismo

    Baixa energia

    Riqueza espcies Igualdade de espcies Nmeros de nveis trficos

    Paisagem

    Distrbio Sucesso

    Fragmentao Distrbio espacial das comunidades Persistncia de habitats

    (Fonte: DALE & BEYELER, 2001).

    O critrio para a seleo de indicadores efetivos a chave para o sucesso de algum

    programa de monitoramento. Em geral, indicadores ecolgicos necessitam de capturar as

    complexidades do ecossistema, mas ainda devem continuar, simples o suficiente, para ser

    facilmente mensurado e freqentemente monitorado.

    Segundo DALE & BEYELER (2001), as caractersticas dos indicadores ecolgicos

    incluem:

    - A facilidade de mensurao;

  • 23

    - A sensibilidade ao estresse no sistema;

    - A resposta ao estresse de uma maneira previsvel;

    - So antecipadores: significa uma mudana iminente no sistema ecolgico;

    - Prev mudanas que podem ser evitadas por aes de controle;

    - So integrados: o conjunto completo de indicadores fornece uma medida da cobertura

    que so gradiente chave atravs dos sistemas ecolgicos (solos, tipos de vegetao,

    temperatura, etc.);

    - Uma resposta conhecida para distrbios naturais, estresse antropognico e mudanas

    sobre o tempo;

    - Baixa variabilidade na resposta.

    Os organismos utilizados como indicadores ecolgicos tendem a variar de acordo com a

    rea perturbada, tipo de minerao, o nvel de impacto, o tipo de reabilitao implantada, e

    as respostas esperadas dos bioindicadores, ou seja, para minerao existe uma espcie

    especfica. Mas algumas classes se destacam nessa funo. Entre eles esto os

    invertebrados terrestres, as plantas e animais aquticos.

    A recuperao da vegetao geralmente a primeira a ser realizada nas reas degradadas a

    fim de restabelecer a composio da rea e desenvolvendo um novo habitat. As plantas que

    so utilizadas como bioindicadores possuem a capacidade de acumular ou de tolerar altas

    concentraes de metais no solo. Elas tm sido usadas como indicadores ecolgicos em

    toda a rea de degradao pela minerao, inclusive em barragem de rejeitos (Tabela 4).

    As plantas que crescem em solos metalferos podem desenvolver gentipos e estruturas

    internas e externas tolerantes a metais (SHU et al, 2005). O sucesso das plantas

    bioacumuladoras de metais dependem de trs fatores: o grau de contaminao de metal no

    solo; o grau de biodisponibilidade (aspectos qumicos e fsicos) e a capacidade das plantas

    de acumular os metais nas razes (ERNST, 1996).

    A colonizao animal e a formao de padres espaciais de comunidades animais tm sido

    amplamente estudada dentro do sistema de numerosas teorias ecolgicas (BRRING et

    al., 2005). A primeira imigrao para rea amplamente perturbada deve ser uma

    colonizao bem sucedida, pois no processo de reflorestamento na minerao os solos so

    de central importncia para restaurao da atividade e produtividade biolgica. Protistas,

  • 24

    Microrganismos e Invertebrados do solo so uma parte importante dessa rede alimentar

    terrestre, influenciando direta e indiretamente microflora do solo, predadores, e

    desenvolvimento do solo (WANNER & DUNGER, 2001).

    Tabela 4: Indicadores biolgicos utilizados na minerao como ferramenta do monitoramento ambiental.

    (Fontes: 1 WANNER & DUNGER, 2001; 2DUNGER & WANNER, 2001; 3ANDERSEN

    et al., 2003; 4 HAMBURG et al., 2004; 5 RATHKE & BRRING, 2005; 6 BRRING et

    al., 2005; 7BRRING & WIEGLEB, 2005; 8ENGLEMAN & McDIFFETT, 1996; 9BURD, 2001; 10 LUDWIG et al., 2003; 11SHU et al., 2005; 12 Nixdorf et al., 2005).

    BIOINDICADOR

    MINERAO CONTROLE LOCAL FECHADO DURAO ESTUDO

    AMEBA (Protista)1

    Carvo Pilha de Estril

    Alemanha Sim 1996-1998

    INVERTEBRADOS TERRESTRES 2

    Carvo Cava Alemanha Sim 46 anos

    FORMIGAS 3 Carvo reas

    Reabilitadas Austrlia Sim 2001

    FORMIGAS 4 Carvo

    Barragem

    Rejeitos das cinzas

    frica do Sul No 1997-1999

    MAMFEROS 5 (Roedores)

    Carvo Cava Alemanha Sim

    1995-1997 e 2001-2002

    ARTHROPODA 6 Carvo Cava Alemanha Sim 1995-1996 HETEROPTERA 7 Carvo Cava Alemanha Sim 1995- 1996

    BRIFITAS 8 Al/Fe

    Bacia de drenagem - gua cida

    da Mina

    Estados Unidos

    Sem informao 1993

    FAUNA BENTNICA9 Cobre

    Barragem Rejeito Canad Sim 29 anos

    PLANTAS e Ciclagem de nutrientes 10

    Ouro

    Urnio

    Pilha de estril Austrlia Sim

    1992-1996

    1984-1995

    PLANTAS 11 Pb/Zn Barragem de

    rejeito China No 1995-1997

    FITOPLNCTON e ZOOPLNCTON 12

    Linhito

    (gua cida) Lagos na cava Alemanha Sim

    Sem informao

  • 25

    Invertebrados terrestres so timos candidatos para indicadores biolgicos porque eles so

    ubquos, diversos, fcil amostragem, e ecologicamente importantes (ANDERSEN, 1997).

    Os invertebrados possuem condies ideais de satisfazer a esta tarefa por causa da grande

    abundncia, diversidade, e importncia funcional nos ecossistemas (ROSENBERG et al.,

    1986; MAJER, 1989). Geralmente respondem rapidamente as mudanas ambientais e

    fornecem uma deteco adiantada das mudanas ecolgicas (KREMEN et al., 1993). Eles

    representam funes em ambientes naturais como decompositores, predadores, parasitas,

    herbvoros, e polinizadores, e eles respondem a vrias perturbaes (ROSENBERG et al.,

    1986). Adicionalmente, certos txon (como abelhas, borboletas e formigas) respondem aos

    efeitos dos distrbios humanos e naturais (NIEMELA et al., 1993; ANDERSEN, 1997;

    BLAIR & LAUNER, 1997; SPITZER et al., 1997; RODRIGUEZ et al., 1998).

    A indstria mineral da Austrlia tem adotado amplamente formigas como invertebrados

    indicadores chave na reabilitao da rea minerada (ANDERSEN, 1997; MAJER &

    NICHOLS, 1998). Isto se deve a dominncia ecolgica das formigas em ecossistemas

    terrestres (MAJER, 1983) e porque a sua dinmica da comunidade em relao a

    perturbao so bem conhecidos (ANDERSEN, 1997). Padres da colonizao de uma

    mina por formigas tm mostrado como refletem outros grupos de invertebrados, assim

    como s mudanas chaves em processos dos ecossistemas como ciclo de nutrientes

    (MAJER, 1983; ANDERSEN, 1997).

    O conhecimento sobre as formigas nos locais de depsito extremamente importante na

    concepo da funo de formao do solo, ciclo de nutrientes, disperso de sementes e

    como alimento para animais insetvoros (HOLEC & FROUZ, 2005). A tcnica utilizada

    normalmente comparar riqueza e composio das espcies de formiga nas mineraes

    que sofrem processos de reabilitao com reas prximas, os locais no perturbados so

    tomados como referncia, pois possuem alta similaridade indicando uma restaurao do

    ecossistema mais bem sucedido (ANDERSEN et al., 2003). O sucesso das espcies que

    invadem as reas reabilitadas depende da composio de espcies presentes em seu habitat

    de origem nas regies vizinha (SKLENICKA & CHARVATOVA, 2003).

    Os organismos aquticos, principalmente as comunidades de fitoplncton e zooplncton,

    podem ser usados como intrigantes e simples indicadores, para diferentes tipos e nveis de

    gua cida em lagos e barragens na minerao. Eles so utilizados como bioindicadores

  • 26

    pela capacidade de tolerar e se adaptar a baixos ndices de pH (potencial Hidrogeninico) e

    pela capacidade de algumas populaes serem tambm tolerantes a metais pesados

    (NIXDORF et al., 2005).

    Um objetivo freqentemente aceitvel para a reabilitao da rea minerada de restaurar a

    estrutura, diversidade, funo e dinmica do ecossistema perturbado, para todas essas

    caractersticas os indicadores ecolgicos representam uma funo primordial (MAJER &

    NICHOLS, 1998), pois todos os organismos (plantas e animais) vo retornar e recolonizar

    as reas depois de terminada a atividade mineral (RATHKE & BRRING, 2005).

    Outras tcnicas esto sendo desenvolvidas e aplicadas no monitoramento ambiental de

    reas degradadas pela minerao na fase do fechamento de uma mina devido necessidade

    de mensurar o nvel de recuperao conquistado e de estabelecer critrios para considerar

    uma rea ambientalmente recuperada ps-minerao. Como exemplo dessas ferramentas

    utilizadas mundialmente podemos citar a Ecologia de Paisagem, a Ecologia Industrial e a

    Anlise de Funo do Ecossistema (EFA), a Ecotecnologia e a Biologia da Conservao.

    A Ecologia de Paisagem uma nova rea de conhecimento dentro da ecologia, que utiliza

    imagens de satlite, fotografias areas e geoprocessamento para analisar a influncia

    antrpica na paisagem e a importncia do contexto espacial sobre os processos ecolgicos

    (METZGER, 2001). METZGER (1999, 2001) define a paisagem como um mosaico

    heterogneo, composta por um complexo de unidades interativas (ecossistemas, vegetao,

    geologia, clima, uso e ocupao do solo), que visto pelo homem (abordagem geogrfica)

    e pelo olhar das espcies e comunidades estudadas (abordagem ecolgica).

    O objetivo desta cincia recuperar reas degradadas pela ao antrpica, como

    construo de estradas, reservatrios, minerao, agropecuria e desmatamento, utilizando

    a teoria de fragmentao e conectividade dos habitats, e realizar um planejamento

    ambiental de maneira a fragmentar o ambiente da forma correta e inteligente (METZGER,

    1999).

    Este mtodo forma um componente chave para o desenvolvimento de um novo conceito de

    ecologia, voltado na prtica, para as questes do mundo real, sendo essencial para

    descrever, analisar, prever e obter, antecipadamente, informaes sobre as transformaes

  • 27

    negativas do ecossistema global como uma conseqncia do crescente desenvolvimento

    humano nas diversas partes do mundo (BOGAERT, 2001).

    A Ecologia Industrial o campo de pesquisa cientfica mais recente e que ainda est em

    desenvolvimento terico e prtico, mas que vale a pena ser citado justamente por se tratar

    de uma novidade para monitoramento ambiental. Este novo mtodo estuda as interaes

    fsicas, qumicas e biolgicas e a relao deles com o sistema industrial e ecolgico. Esta

    metodologia de trabalho tem por objetivo integrar um grande nmero de processos,

    econmicos, ambientais e de sade e segurana, para otimizar a utilizao dos recursos

    naturais, evitar a poluio e criar um ambiente de desenvolvimento sustentvel (BASU &

    van ZYL, 2006).

    J a Anlise de Funo do Ecossistema (EFA) resultado de um trabalho de muitos anos

    realizado na Austrlia com o objetivo de avaliar a restaurao de reas antes ocupadas pela

    minerao. Este estudo faz parte de um programa chamado Indicadores do Sucesso na

    Reabilitao de Ecossistemas (Indicators of Ecosystem Rehabilitation Success) e um

    procedimento para o monitoramento de ecossistemas que estabelece como est o sistema

    biofsico. simples de usar e foca nos indicadores do solo ao contrrio dos programas de

    monitoramento que focam na presena e abundncia de uma biota selecionada

    (TONGWAY & HINDLEY, 2003).

    O EFA utiliza trs procedimentos como metodologia, a Anlise de funo da paisagem

    (LFA), a Complexidade do habitat e a Dinmica vegetacional. A primeira utiliza dois

    passos: a estratificao e caracterizao da paisagem, e a condio e anlise do solo

    (infiltrao, estabilidade, composio, ciclagem de nutrientes, etc).

    A complexidade do habitat mensurada atravs da cobertura vegetal de rvores, arbustos e

    gramneas; da quantidade matria orgnica e de gua disponvel no ambiente. E a dinmica

    vegetacional calculada atravs de ndices de desenvolvimento estrutural e composio de

    espcies. Para realizar todas as amostragens, de solo, vegetao e complexidade de habitat,

    existe um manual de procedimentos de campo com as informaes de coleta, planilhas de

    dados feito pelos autores TONGWAY & HINDLEY (2004) que de extrema importncia

    para o desenvolvimento da anlise de funo de ecossistemas.

  • 28

    Estas novas metodologias e estudos que esto sendo desenvolvidos vo auxiliar os

    programas de recuperao ambiental e com o passar dos anos e com a realizao dos

    experimentos prticos no Brasil, esta tcnica pode de tornar uma medida efetiva para

    mensurar o nvel e o sucesso da reabilitao e podero ser utilizados como referncia para

    rgos ambientais e empresas de minerao.

  • 29

    CAPTULO 3 RESULTADOS E DISCUSSSES

    3.1 FECHAMENTO DE MINA NO ESTADO DE MINAS GERAIS

    Diversas minas encontram-se abandonadas, fechadas ou em fechamento em Minas Gerais.

    Embora o nmero de minas fechadas em Minas Gerais seja grande, quando se considera

    minas de pequeno e mdio porte, existe uma dificuldade enorme para estim-lo de forma

    mais precisa. As razes para isso so as dificuldades de obteno de informaes nos

    rgos governamentais, mais precisamente o DNPM e a FEAM. Quadro deficiente de

    pessoal, no informatizao dos dados e falta de uma poltica de fechamento de mina so

    os principais motivos.

    De acordo com os critrios adotados neste levantamento foram detectados oito minas

    fechadas e/ou em fase de fechamento, no considerando minas abandonadas devido

    dificuldade de assim classific-las. Tampouco, os rgos governamentais tm uma

    metodologia para isso. As minas sero apresentadas na Tabela 5 e localizadas conforme

    demonstrado na Figura 2 e na Figura 3.

    As minas de pequeno porte visitadas, como a Mina de Pequeri e Mina Fundo ou Ch,

    ambas de mangans e a Mina DelRey (ferro e ouro), atualmente pertencentes a CVRD,

    no foram includas nos resultados devido a grande dificuldade de conseguir dados

    confiveis para o estudo.

    A Mina DelRey, em processo de reabilitao ambiental, encontra-se paralisada com

    perspectiva de ser retomada a explotao de minrio de ferro.

  • 30

    Tabela 5: Principais Minas Fechadas e em Fechamento no Estado de Minas Gerais.

    MINA EMPRESA RESPONSVEL

    CIDADE MINRIO FECHAMENTO

    1 MINA DE GUAS CLARAS

    Mineraes Brasileiras

    Reunidas - MBR

    Nova Lima

    Ferro 2001

    2 MINA DA MUTUCA

    Mineraes Brasileiras

    Reunidas - MBR

    Nova Lima

    Ferro 2001

    3 MINA DE CAET

    Companhia Vale do Rio Doce -

    CVRD Caet Ouro 2000

    4

    MINA RIACHO

    DOS MACHADOS

    Companhia Vale do Rio Doce -

    CVRD

    Riacho dos

    Machados Ouro 1997

    5 MINA DO PIARRO

    Companhia Vale do Rio Doce -

    CVRD Nova Era Ferro

    Encerrada em 1985/Fechada em

    2003

    6 MINA

    OSAMU UTSUMI

    Comisso Nacional de

    Energia Nuclear - CNEN

    Caldas Urnio

    Fechada/ Tratamento ativo devido

    drenagem cida.

    7 MINA VELHA

    Anglo Gold Ashanti

    Nova Lima

    Ouro Em fechamento

    8 MINA DE GERMANO

    Samarco Minerao S/A

    Mariana Ferro Encerrada em

    1992/Em Fechamento

  • 31

    Figura 2: Mapa de Minas Gerais mostrando as minas georeferenciadas.

    Figura 3: Detalhe do Quadriltero Ferrfero mostrando as minas georreferenciadas.

    Mina Velha

    Mina de guas Claras Mina do Piarro

    Mina de Germano

    Mina de Caet

    Mina da Mutuca

    Mina Riacho dos Machados

    Mina Osamu Utsumi

  • 32

    3.1.1 MINA DE GUAS CLARAS

    A mina de guas Claras pertencente companhia Mineraes Brasileiras Reunidas

    MBR, 5 maior exportadora de minrio de ferro do mundo, iniciou suas atividades em 1973

    e encerrou a produo em 2002. A cava principal teve as operaes de lavra encerradas em

    setembro de 2001. Ao longo de 29 anos de vida til, guas Claras produziu 290 milhes

    de toneladas de hematita e 200 milhes de toneladas de estril. O programa de fechamento

    da mina de guas Claras merece destaque por ser a primeira grande mina a ser

    propriamente fechada no Brasil e estar situada a 14 km do centro de Belo Horizonte. Alm

    disso, a caracterstica fsica do local o grande atrativo com destaque para a Reserva

    Natural do Jambreiro numa rea de 912 hectares pertencente MBR e o lago a ser formado

    na extinta cava (240 metros de profundidade). Do ponto de vista legal o processo de

    fechamento da mina de guas Claras tornou-se bastante evidente por coincidir com a

    discusso e processo de regulamentao do fechamento de mina no pas. O programa de

    fechamento da mina de guas Claras envolveu uma srie de estudos incluindo:

    - potencial de uso futuro da rea Design Workshop (1992)

    - prognstico de qualidade da gua do lago (1993)

    - anlise de comportamento dos taludes da cava durante enchimento do lago 1996,

    reviso em 2001 (Golder)

    - verificao dos passivos para fins de fechamento

    Estes estudos serviram de base para a elaborao do plano de fechamento que, aps

    concludo, passou por auditorias nacional e internacional, antes de ser encaminhado ao

    rgo ambiental do estado de Minas Gerais FEAM.

    O programa de fechamento completo da mina de guas Claras envolveu:

    - Programa de comunicao social;

    - Programa de fechamento e estabilizao das reas da mina, pilhas de estril e barragens

    de rejeitos;

    - Programa de fechamento e estabilizao de encostas nas reas industriais e encostas

    naturais;

    - Programa de aproveitamento da infra-estrutura existente;

    - Programa de desmontagem e demolio;

    - Plano de contingncia para riscos ambientais detectados;

  • 33

    - Programa de descontaminao /reabilitao ambiental;

    - Programa de preservao da biodiversidade;

    - Programa de monitoramento ambiental;

    Figura 4: Vista geral da cava da Mina de guas Claras sendo preenchida com gua (2005).

    Figura 5: Ilustrao do lago a ser formado na cava e da revegetao nos taludes e reas

    prximas a cava (Fonte: MBR).

  • 34

    Figura 6: Layout da guas Claras Village Projeto inicial de uso futuro da rea (Fonte:

    MBR).

    Figura 7: Layers em ArcGIS da Mina de guas Claras.

  • 35

    3.1.2 MINA DA MUTUCA

    As operaes de lavra a cu aberto da mina da Mutuca deram origem a uma cava com

    1.600 m de comprimento, 800 m de largura e 350 m de profundidade que ser

    topograficamente recuperada atravs da disposio no seu interior do estril removido da

    mina de Capo Xavier e dos rejeitos produzidos na usina de beneficiamento da prpria

    Mutuca (Figura 8).

    Figura 8: Vista area da cava da mina da Mutuca (esquerda) e projeto de reconformao

    topogrfica (direita) (Fonte: MBR).

    Figura 9: Layers em ArcGIS da Mina da Mutuca.

  • 36

    3.1.3 MINA DE CAET

    A mina de ouro de Caet da CVRD operou de junho de 1996 a 2001, em lavra a cu

    aberto, com o minrio sendo tratado atravs de lixiviao em pilhas. Foram movimentadas

    1.359.000 t de minrio, 10.700.882 t de estril, com uma produo de 2.110 Kg de ouro.

    As atividades de reabilitao dos 79 hectares degradados pelas operaes da mina de Caet

    (Figura 10), tiveram incio em 2002 estendendo-se ao longo do ano de 2003. Para o

    programa de monitoramento e manuteno previu-se 5 anos.

    Figura 10: Imagens antes (2001) e depois (2006) da reabilitao ambiental em taludes na

    mina de Caet (Figura de 2001: CVRD).

  • 37

    Figura 11: Layers em ArcGIS da Mina Caet. 3.1.4 MINA RIACHO DOS MACHADOS

    A mina de Riacho dos Machados iniciou suas atividades em 1989 e encerrou em 1997,

    com lavra a cu aberto. O minrio foi tratado por lixiviao em pilhas. Neste perodo

    foram movimentados 3.220.000 t de minrio, 6.878.739 t de estril e produzidos 4.825 Kg

    de ouro. As atividades de reabilitao dos 60 hectares foram executadas no ano de 2002,

    sendo tambm planejados cinco anos para as atividades de monitoramento e manuteno,

    Figura 12.

  • 38

    Figura 12: reas em reabilitao (2002 e 2006) na mina de Riacho dos Machados (Fonte:

    CVRD).

    Figura 13: Layers em ArcGIS da Mina Riacho dos Machados.

    25 03 2006

  • 39

    3.1.5 MINA DO PIARRO

    A mina de ferro de Piarro (CVRD) operou de 1976 a 1985. A partir de 1985 foram

    realizados pequenos servios de reabilitao ambiental. Entretanto, um programa definitivo

    de reabilitao somente teve incio em 2000 e encerramento em 2003, seguido de um

    programa de monitoramento e manuteno previsto para trs anos. A rea reabilitada

    totalizou 160 ha. A Figura 14 mostra as atividades da recuperao de uma vooroca no

    talude da mina. As medidas de reabilitao adotadas para a mina de Piarro

    compreenderam duas atividades principais, a saber: a recuperao vegetal e reabilitao

    das voorocas (Figura 15) e a implementao de sistemas de drenagem superficial e

    conteno de sedimentos, incluindo as obras nos trechos ameaados da estrada.

    Figura 14: Imagens antes (2000) e depois (2002) da reabilitao ambiental de taludes na

    mina de Piarro (Fonte: CVRD).

    As voorocas foram tratadas utilizando tcnicas de conteno de sedimentos e de

    bioengenharia. Foram realizadas paliadas e a regularizao das superfcies laterais da

    vooroca para reter os sedimentos. A proteo da superfcie foi realizada atravs da

    aplicao de telas vegetais biodegradveis nas cabeceiras e encostas.

  • 40

    Figura 15: Vista geral de aplicao das tcnicas de bioengenharia em uma vooroca da

    mina de Piarro.

    BIO-RETENTOR

    PALIADA DEMADEIRA

    SEDIMENTOSRETIDOS

    TELA OU MANTAVEGETAL

  • 41

    Figura 16: Layers em ArcGIS da Mina Piarro.

    A Tabela 6 apresenta um demonstrativo dos custos de reabilitao das minas anteriormente

    descritas da CVRD.

    Atividades Custos em US$

    Piarro Caet Riacho dos

    Machados

    Projeto Conceitual e Executivo,

    Revegetao, Drenagem e

    Reconformao Topogrfica

    1.322.906,00

    633.138,00

    761.646,00

    Monitoramento e Manuteno 375.222,00 342.975,00 689.114,00

    Total estimado 1.698.126,00 976.113,00 1.450.760,00

    Fonte: CVRD

  • 42

    3.1.6 MINA OSAMU UTSUMI

    A mina Osamu Utsumi entrou em operao em 1982 constituindo o primeiro complexo

    mnero-industrial para a produo de concentrado de urnio no Brasil. Em 1988 foi criada

    a Indstrias Nucleares do Brasil (INB), para suceder a NUCLEBRAS, dentro de um

    programa do governo federal de reorganizao do setor nuclear brasileiro. O conjunto

    mina/instalaes industriais operou at dezembro de 1995, quando ocorreu a paralisao,

    em carter definitivo, das atividades de lavra e beneficiamento fsico do minrio e do

    tratamento qumico da polpa para a produo do concentrado de urnio.

    O complexo encontra-se em fase de descomissionamento e fechamento, em funo do

    esgotamento das reservas minerais da jazida de Caldas e da descoberta das reservas de

    Caetit (BA). As instalaes industriais para a produo do concentrado de urnio por

    processos qumicos sero utilizadas para atender outros projetos, dentre eles, o tratamento

    qumico da monazita e a produo de cloretos de terras raras, em uma primeira etapa.

    A deposio do capeamento e do material estreis, removidos para viabilizar a lavra dos

    corpos mineralizados, ocorreu sem a adoo de tcnicas que minimizassem ou impedissem

    a instalao das condies necessrias para a gerao de drenagem cida.

    A