36
"O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO" - ANÁLISE DA OBRA DE MIA COUTO- Contexto histórico No início do século XVI, Portugal iniciou a ocupação do território onde hoje é Moçambique, mas em 1885, com a Conferência de Berlim (que partilhou a África conforme os interesses das superpotências), Moçambique se tornou uma ocupação militar. No início do século XX, o país havia se tornado uma ocupação colonial portuguesa. Em 1964 teve início a Guerra de Independência de Moçambique entre a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e as Forças Armadas de Portugal. Esta guerra durou dez anos e assolou o país, que conseguiu sua independência em 25 de junho de 1975. Porém, os novos estados independentes não tinham como manter a infraestrutura do país e houve uma grande crise econômica. Durante todo o conflito, a FRELIMO, que tinha ligações políticas com países comunistas (URSS e outros), foi criando em Moçambique "zonas libertadas", que eram administradas pelas forças de libertação. Com a conquista da independência, a FRELIMO tentou implantar no país uma série de melhorias na educação, agricultura, saúde e outras áreas. Porém, com a crise econômica, os planos não surtiram efeito e acabaram por agravar a crise. Nesse cenário de instabilidade económica e sócio-política, dá-se início à Guerra Civil Moçambicana em 1976, entre o exército de Moçambique e o exército rebelde da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). Após 16 anos de guerra, em 4 de outubro de 1992, a FRELIMO e a RENAMO assinam um Acordo Geral de Paz, em Roma. O governo de Moçambique solicita, então, o apoio da ONU para o desarmamento das tropas restantes. A tropa das Nações Unidas em Moçambique, a ONUMOZ, apoiou esse trabalhado durante cerca de dois anos e, em 1994, ouve a formação de um exército unificado e a organização das primeiras eleições gerais multipartidárias. Um país em pedaços A ação de "O último voo do flamingo" se dá nos primeiros anos após a guerra de Independência e os anos de guerrilha. Nas palavras do próprio Mia Couto quando da obtenção do Prêmio Mário António em 2001, este

Análise Do Último Voo e O Pequeno Principe

Embed Size (px)

DESCRIPTION

o ultimo voo do flamingo

Citation preview

"O LTIMO VOO DO FLAMINGO"

- ANLISE DA OBRA DE MIA COUTO-

Contexto histrico

No incio do sculo XVI, Portugal iniciou a ocupao do territrio onde hoje Moambique, mas em 1885, com a Conferncia de Berlim (que partilhou a frica conforme os interesses das superpotncias), Moambique se tornou uma ocupao militar. No incio do sculo XX, o pas havia se tornado uma ocupao colonial portuguesa.

Em 1964 teve incio a Guerra de Independncia de Moambique entre a FRELIMO (Frente de Libertao de Moambique) e as Foras Armadas de Portugal. Esta guerra durou dez anos e assolou o pas, que conseguiu sua independncia em 25 de junho de 1975. Porm, os novos estados independentes no tinham como manter a infraestrutura do pas e houve uma grande crise econmica.

Durante todo o conflito, a FRELIMO, que tinha ligaes polticas com pases comunistas (URSS e outros), foi criando em Moambique "zonas libertadas", que eram administradas pelas foras de libertao. Com a conquista da independncia, a FRELIMO tentou implantar no pas uma srie de melhorias na educao, agricultura, sade e outras reas. Porm, com a crise econmica, os planos no surtiram efeito e acabaram por agravar a crise.

Nesse cenrio de instabilidade econmica e scio-poltica, d-se incio Guerra Civil Moambicana em 1976, entre o exrcito de Moambique e o exrcito rebelde da RENAMO (Resistncia Nacional Moambicana). Aps 16 anos de guerra, em 4 de outubro de 1992, a FRELIMO e a RENAMO assinam um Acordo Geral de Paz, em Roma. O governo de Moambique solicita, ento, o apoio da ONU para o desarmamento das tropas restantes. A tropa das Naes Unidas em Moambique, a ONUMOZ, apoiou esse trabalhado durante cerca de dois anos e, em 1994, ouve a formao de um exrcito unificado e a organizao das primeiras eleies gerais multipartidrias.

Um pas em pedaos

A ao de "O ltimo voo do flamingo" se d nos primeiros anos aps a guerra de Independncia e os anos de guerrilha. Nas palavras do prprio Mia Couto quando da obteno do Prmio Mrio Antnio em 2001, este romance fala sobre a "perversa fabricao de ausncia - a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperana praticado pela ganncia dos poderosos". Dessa forma, "O ltimo voo do flamingo" nasce como fruto de uma nao profundamente agredida pelos anos de ocupao, pelas guerras e pela ganncia dos poderosos, uma terra que no suporta mais essa situao.

As exploses que ocorrem em Tizangara, terra fictcia onde se passa a narrativa, so tanto de estrangeiros quanto de moambicanos. Os anos de conflito em Moambique deixaram para trs tanto minas terrestres reaisquanto minas metafricas, que seriam os conflitos scio-polticos e outras mazelas da populao local. Assim, poderamos dizer que Moambique se tornou uma "nao-mina", pronta para explodir a qualquer momento.

No livro de Mia Couto, os soldados da ONU explodem sem deixar nenhum rastro, exceto seu bon azul e o pnis. Essas estranhas exploses que acontecem aos estrangeiros so explicaes dadas pelo povo local, que busca em sua prpria cultura uma forma de entender o que acontece a seu redor. Dessa forma, a exploso de um estrangeiro de forma sobrenatural seria como uma vingana da prpria terra, fato que encontra eco nas palavras do feiticeiro Zeca Andorinho e do velho Sulplcio.

Como as explicaes para os estranhos acontecimentos s se do atravs do mito local, o italiano Massimo Risi no consegue entender o que est se passando mesmo falando portugus. Para ele o problema no a lngua, mas entender aquele mundo. Assim, buscando nas razes e na memria local que se consegue reconquistar e preservar a identidade africana. E, atravs disso, consegue-se "explodir" toda forma de domnio.

Esse domnio, porm, s vezes nem s estrangeiro. Em "O ltimo voo do flamingo" vemos o domnio totalitrio dos prprios governantes locais, que se esqueceram para o que lutaram nos anos de guerra e passaram somente a pensar na prpria ganncia. Nessa obra, o ataque no se d somente presena opressora de povos estrangeiros, que da frica parecem nada entender, mas tambm queles poderosos que, movidos pela ganncia, se esquecem de sua prpria terra.

O pas arrasado pelos problemas sociais, econmicos e polticos, dividido quanto a sua prpria identidade, simbolizado ao final do livro pela prpria terra que explode. As duas personagens centrais, Massimo Risi e o tradutor, restam sozinhos nesse abismo que sobrou da terra onde antes existira todo um pas a espera do que vir a acontecer. Ao final, o estrangeiro continua sem entender o pas e a prpria frica, que continua um mistrio. S resta aos dois esperar que um outro voo do flamingo faa o sol voltar a brilhar depois de tanta escurido.

Comentrio do professor

Comentrio do professor Deco Duarte, do Colgio Gregor Mendel:

"O ltimo voo do flamingo", do moambicano Mia Couto - um dos autores lusfonos mais influentes da contemporaneidade -, desloca nosso olhar para o continente africano, em especial para a vila fictcia de Tizangara, no interior de Moambique, local onde um acontecimento incomum chama a ateno da comunidade internacional: os soldados da ONU, enviados para vigiar o processo de paz aps anos de guerra civil, comeam a explodir sem uma razo aparente, restando deles apenas o rgo genital. Para investigar o fato, enviado regio o italiano Massimo Risi, inspetor da ONU. Logo sua chegada, Estevo Jonas - o administrador local -, em uma demonstrao do progesso do lugarejo, oferece ao estrangeiro um tradutor, apesar da fluncia dele na lngua local. Ser esse tradutor, que tambm o narrador da histria, um dos responsveis pela mudana gradativa da viso de mundo do italiano. De um ceticismo inicial em relao aos valores locais, Massimo ter de se adequar a um modo novo de ver as coisas, despindo-se de seus valores eurocntricos, os quais parecem de pouca valia naquele universo mgico. "O ltimo voo do flamingo" uma narrativa de formao, na qual ocorre um processo de africanizao do europeu, numa espcie de colonizao s avessas. Ao apaixonar-se pela estranha Temporina - mulher jovem com o rosto de velha -, o italiano ser capaz de compreender as coisas da terra e despir-se da racionalidade ocidental.

Mia Couto um autor muito atento s questes polticas de seu pas, e o episdio serve de pretexto para o desfile de um sem nmero de temas que dizem respeito constituio atual de Moambique e que podem pegar o leitor brasileiro mais desinformado de surpresa. A obra trabalha com questes como o respeito s tradies locais, a ingerncia estrangeira em assuntos internos de uma nao, a corrupo poltica, a riqueza da cultura oral, dentre outros. Assim, muitos dos personagens espelham esses temas em sua constituio: Estevo Jonas, o administrador local, encarna a corrupo e o desrespeito pelas tradies locais; Sulplcio, o pai do tradutor, simboliza, por sua vez, a ancestralidade e o saber da experincia muitas vezes renegado em prol da novidade e da modernizao. Vale ainda dizer que toda a narrativa se passa dentro de um clima que se assemelha quilo que se convencionou chamar de "Realismo mgico" na literatura, apesar das negativas do autor em aceitar esse rtulo. Uma viagem profunda dentro de uma cultura que guarda muito de nossas razes.

http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/ultimo-voo-flamingo-anealise-obra-mia-couto-701944.shtml Acesso em: 23.12.2013

O MISTICISMO EM O LTIMO VOO DO FLAMINGO DE MIA COUTODADOS BIOGRFICOS DO AUTORAntnio Emlio Leite Couto (Mia Couto) bilogo e escritor moambicano, nasceu na Beira, Moambique, aos 5 de Julho de 1955.Filho de portugueses que emigraram para Moambique em meados do sculo XX, Couto nasceu e foi escolarizado na Beira. Com catorze anos, teve alguns poemas publicados no jornal Notcias da Beira e trs anos depois, em 1971, mudou-se para a cidade capital de Loureno Marques (agora Maputo). Iniciou os estudos universitrios em medicina, mas abandonou esta rea no princpio do terceiro ano, passando a exercer a profisso de jornalista depois do 25 de Abril de 1974.Trabalhou na Tribuna at destruio das suas instalaes em Setembro de 1975, por colonos que se opunham independncia. Foi nomeado director da agncia de informao de Moambique e formou ligaes de correspondentes entre as provncias moambicanas durante o tempo da guerra de libertao. A seguir trabalhou como director da revista Tempo at 1981 e continuou a carreira no jornal Notcias at 1985. Em 1983, publicou o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho. Dois anos depois, demitiu-se da posio de director para continuar os estudos universitrios na rea de biologia.Alm de ser considerado um dos escritores mais importantes de Moambique, o escritor moambicano mais traduzido. Tem 15 livros publicados, sendo que o de estreia o nico de poemas, Raiz de Orvalho, de 1983. Depois, publicou romances, crnicas e contos. O mais recente O fio das missangas, lanado em 2004, de contos. O ltimo voo do flamingo (2000) seu quarto romance. Antes, vieram Terra sonmbula (1992), A varanda do Frangipani (1996) e Vinte e Zinco (1999).RESUMO DA OBRAO ltimo voo do Flamingo, romance de Mia Couto. uma obra em que aborda-se o perodo ps-guerra civil em Moambique, uma fico sobre os tempos em que estiveram neste pas soldados da ONU integrados na misso de manuteno de paz. O romance narra estranhos acontecimentos de uma pequena vila imaginria onde acontecimento era coisa que nunca sucedia, e que s os factos so sobrenaturais, Tizangara, ao sul do pas.O narrador conta que, certo tempo depois de cessada a guerra em seu pas, alguns soldados da ONU explodiram. Simplesmente, comearam a explodir. Hoje, um. Amanh, mais outro. At somarem, todos descontados, a quantia de cinco falecidos (COUTO, 2000, p. 10). Em circunstncias que no so explicadas de forma plausvel.O livro comea com um facto indito: um pnis encontrado no meio da rua de Tizangara. Mais um soldado das Naes Unidas havia explodido e, o seu rgo genital, era o que havia restado dele. E, desta forma, em todo o decorrer da estria prevalece o enigma. Subitamente, corpos de soldados estrangeiros que comeam a explodir. Um oficial das Naes Unidas, o italiano Massimo Risi, destacado para investigar o caso. Tudo contado pelo tradutor, que tambm narrador do romance, destacado pelos poderes oficiais da vila para acompanhar o italiano. medida que os factos se sucedem o foco narrativo dedicado outros personagens: Estvo Jonas - o administrador da vila -, a velha-moa Temporina, a prostituta Ana Deusqueira, a Dona Ermelinda (esposa do administrador da vila), o Chupanga, o feiticeiro Zeca Andorinho e o velho Sulplcio, o pai do narrador. Eles apresentam suas verses do facto (a sbita exploso dos soldados das Naes unidas), mas nada constatado. O mistrio prevalece durante todo o decorrer do romance, ficando assim, por parte do leitor, a seguinte pergunta: quais os motivos das mortes havidas naquela vila?No entanto, diante de tanto mistrio, aps fazer a audio dos depoimentos gravados, ler relatrios e conversar com os habitantes de Tizangara, Massimo Risi no chega concluso nenhuma e, portanto, mostra-se descrente da credibilidade do relatrio que ir apresentar s Naes Unidas, visto que este recheado de misticismo que fruto das indagaes feitas pelas testemunhas dos actos, como pode-se notar no seguinte excerto: Tenho conscincia que o presente relatrio conduzir minha demisso dos quadros de consultores da ONU, mas no tenho alternativa seno relatar a realidade com que confronto (COUTO, 2000, p. 77)O QUE MISTICISMO?1. Conjunto de prticas religiosas que levam contemplao dos atributos divinos. (WWW.Wikipdia.com.pt [consultado em 22/05/2012])2. Doutrina ou atitude baseada mais no sentimento, na intuio e na imaginao do que na razo. (Dicionrio Universal da lngua Portuguesa)3. Tendncia a considerar a aco de supostas foras espirituais ocultas na natureza, que se manifestam por vias outras que no as da experincia comum ou as da razo. (FERREIRA, Aurlio: 2004)Nota-se, portanto, que as duas primeiras definies de misticismo tem um cunho teolgico e at certo ponto, consideram este aspecto como sendo algo institucionalizado. Facto que a terceira definio no deixa transparecer e que, por isso, esta noo de misticismo (aco de supostas foras espirituais ocultas na natureza) que vai circunscrever a presente anlise.ANLISE DO MISTICISMO EM O LTIMO VOO DO FLAMINGOO ltimo voo do flamingo, uma obra cercada de dualidades entre o real e imaginrio, a verdade e o misticismo, presentes em todos aspectos trazidos tona na obra que, em linhas gerais, so relatos fidedignos da situao poltico-social vivida no perodo ps guerra em Moambique, independentemente do sentido imaginrio e/ou mstico desta narrativa. Estas situaes polticas, sociais e econmicas do Moambique ps guerra so apresentadas com recurso a um discurso revestido de ironia, modo de exprimir-se que consiste em dizer o contrrio daquilo que se est pensando ou sentindo (FERREIRA, Aurlio: 2004), que tem at certo ponto um carcter sarcstico devido ao recurso a um certo exagero no acto, como pode-se notar em: Na vspera de cada visita, ns todos, administradores, recebamos a urgncia: era preciso esconder os habitantes, varrer toda aquela pobreza (COUTO, 2000, p. 27)Portanto, nota-se aqui que, Mia Couto, ao servio da ironia at certo ponto sarcstica, faz uma denncia daquilo que so os desmandos da classe poltica.Na ntegra o romance descore sobre o enigma das exploses dos soldados da ONU que estavam em Moambique em misso de paz e, portanto, no meio de tal facto as personagens que ganham voz ao longo da narrativa fundamentam os acontecimentos de acordo com a sua percepo que por sua vez esta cercada de certo misticismo, note-se: A casa de Hortnsia era importante para a misso. Tinham usado o grande casaro para alojar os soldados das Naes Unidas. Foi o administrador que decidiu contra vontade de todos. A casa era um lugar de espritos. No importava o que os soldados fizessem. Importava, sim, o que o lugar ia fazer aos inautorizados visitantes (COUTO, 2000, p. 23)No entanto, a partir deste excerto, nota-se que paira na vila de Tizangara uma crena segundo a qual a casa de Hortncia era um lugar de espritos e tais espritos so portadores de certo poder e, cogita-se, por isso, a possibilidade de as exploses dos soldados ser obra de tais espritos. Portanto, esta percepo partilhada por todos moradores da vila, inclusive os mais instrudos, como ilustra o seguinte excerto, no qual o administrador da vila deixa transparecer a ideia de depositar alguma crena no misticismo partilhados pelos restantes moradores:h muita coisa escondida nestes silncios africanos. Por baixo da base material do mundo devem de existir foras artesanais que no esto mo de serem pensadas (COUTO, 2000, p. 27)Desta forma, dentro deste quadro de credibilidade dada ao mstico, as personagens do romance procuram desmitificar o enigma que cerca a narrativa baseando-se em argumentos fundamentados pelo misticismo que descore em todo o romance, note-se no seguinte excerto em que Ana Deusqueira, afirma conhecer a razo das exploses:Os soldados estrangeiros explodem, sim, senhor. No que pisam em minas, no. Somos ns, mulheres, os engenhos explosivos. Ou j esqueceu as foras da terra?" (COUTO, 2000, p. 30).Entretanto, Mia Couto, sendo um construtor da palavra, preocupado com a linguagem potica, acabando assim por transferir todo o seu potencial potico para a fico (LARANJEIRA: 1995, p. 260), traz na sua obra o misticismo na voz de diferentes personagens, ao servio duma linguagem que espelha aquilo que a realidade lingustica moambicana (caracterizada pelo emprego de moambicanismos[1]) e a sua prpria esttica no seu inventar de palavras, note-se:O motor nhenhenhou-se em tentativas sucessivamente frustradas. O representante do mundo, de janelas fechadas, esperava certamente uma mo generosa para tchovar a viatura.Note-se ainda em:Jonas ria-se: ele no abusava; os outros que no detinham poderes nenhuns. E repetia: cabrito come onde est amarrado.Ou ainda: Tinha que chegar antes que ela desmundasse. (COUTO: 2000 p. 6, 11,17 )Portanto, nota-se aqui que o autor usa vocbulos que, no existindo no portugus padro seguido em Moambique, caracterizam as tendncias do portugus moambicano e que se vo afirmando cada vs mais pois, segundo FIRMINO (2000): Depois da independncia, o uso do Portugus alargou-se e os sinais da sua moambicanizao expandiram-se. Enquanto o uso do portugus se alargava, os mecanismos que haviam contribudo para a aprendizagem e reforo do padro lingustico se alteraram, dando origem proliferao de novas formas lingusticas. Por exemplo, com a sada massiva de colonos reduziu significativamente a possibilidade de exposio dos aprendentes da lngua portuguesa norma europeia.Portanto, nota-se que, Mia Couto faz algumas inovaes na lngua portuguesa recorrendo a certos processos lexicais, semnticos e retricos como: Emprstimos das lnguas autctones, Neologismos morfolgicos (ex: tchovar), incorporao de imagens e metforas do sistema cultural moambicano, para se aumentar a expressividade, atravs do apelo s prticas e smbolos scio-culturais tipicamente moambicanos (ex: cabrito come onde est amarrado).Todavia, a busca estilstica em o ltimo voo do flamingo revea-no tambm que Miam Couto, faz o uso de aforismos[2], fazendo assim a desconstruo de provrbios e ditos populares (ex: contra os factos tudo so argumentos) ou ainda (ex: Mudam-se os tempos, desnudam-se as vontades). Ainda no domnio da linguagem, nota-se por parte do autor o recurso a comparaes e ironia com tom, at certo ponto, rude e humorstico. Note-se: ele se mostrava ainda vaidoso, peito mais arredondado que o pombo em arrasto de asa. ()E logo despachou mandamentos, em trejeitos militares, no fossem os estrangeiros pensar que o martelo no tinha cabo (COUTO: 2000 p. 9)CONCLUSO E SUGESTESFeita a breve anlise do aspecto que predispomo-nos a abordar __ Misticismo__ cabe afirmar que, duma forma geral o romance O ltimo Vo do Flamingo discute, numa construo textual repleta de enigmas, o perodo ps guerra civil em Moambique trazendo tona todos os aspectos que lhe so inerentes, desde os fenmenos polticos (que mereceram pouca abordagem nesta anlise devido linha de anlise definida) e sociais (que afiguraram-se o maior sustentculo desta anlise, visto que o tema abordado esta iminentemente ligado ao factor social da moambicanidade e do prprio pas no perodo histrico supracitado), numa busca do demonstrar daquilo que o desabrochar da cultura moambicana (que por motivos de ordem histrica foi submissa), sem deichar de lado as suas crenas, as suas supersties que dum ou doutro modo constroem ocarcterhbrido da moambicaniade.Portanto, ao abordar o misticismo, Mia Couto revela-se um autntico inventor de palavras e conhecedor da realidade do portugus moambicano, no que concerne aos seus dialctos em geral mostrando de forma clara as influncias que as lnguas auttenes tm sobre a lngua portuguesa, facto que o distancia o portugus falado em Moambique do portugus padro teoricamente seguido e leccionado nas escolas. Portanto, diante deste factoinegvel, torna-se pertinente para os professores de lngua portuguesa, em particular, a tomada de conscincia desta realidade que o portugus em Moambique apresenta. Querendo isto significar que deve seacautelara qualquer tipo de aluso a um padro que s existe na teoria, visto que a realidade tende a ser outra, como afirma ROSRIO (1982: 65):O traumatismo do Pretogus[3] foi desaparecendo e hoje qualquer cidado faz questo de se exprimir correctamente em Portugus e quantos deles, sendo responsveis de sectores, no fazem brilhantes intervenes numa expresso recheada de neologismos de momento, estruturas totalmente novas e alheias lnguaREFERNCIAS:1. COUTO, Mia (2000): O ltimo voo do flamingo. Lisboa: Editorial Caminho;2. FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo Dicionrio de Lngua Portuguesa. 3 ed, So Paulo, Editora Positivo, 2004;3. FIRMINO, Gregrio (2000). A Situao Lingustica de Moambique: Dados do II Recenseamento Geral da Populao e Habitao de 1997. Maputo: INE;4. LARANJEIRA, Pires. Literaturas Africanas de espresso Portuguesa. Vol: 64 Lisboa, Universidade aberta, 1995, pp. 256-262);5. ROSRIO, Loureno (1982), Lngua Portuguesa e Cultura Moambicana: De Instrumento de Conscincia e Unidade Nacional a Veculo e Expresso de Identidade Cultural, in Cadernos de Literatura, Coimbra, Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, pp. 58-66;6. WWW.Wikipdia.com.pt; [consultado em 22/05/2012].Disponvel em: http://rectasletras.blogspot.com.br/2012/07/o-misticismo-em-o-ultimo-voo-do.html Acesso em: 11 de jan de 2014O LTIMO VOO DO FLAMINGO, DE MIA COUTOPUBLICADO: 06/06/2013

Em O ltimo voo do Flamingo, romance de Mia Couto, a editora optou por manter, inclusive no ttulo, a ortografia vigente em Moambique. uma obra em que pulsa uma grande fora humanista: depois da guerra de Independncia e dos anos de guerrilha, Moambique vive um momento de reestruturao social e poltica.A obra abordagem sobre o perodo ps-guerra civil no pas, uma fico sobre os tempos em que estiveram em Moambique soldados da ONU integrados na misso de manuteno de paz. O romance narra estranhos acontecimentos de uma pequena vila imaginria, Tizangara, ao sul do pas. O livro comea com um fato inslito: um pnis encontrado no meio da rua de Tizangara. Mais um soldado das Naes Unidas havia explodido e aquilo era a nica coisa que restara dele.A vila est cercada por um mistrio: corpos de soldados estrangeiros que comeam, subitamente, a explodir. Um oficial das Naes Unidas, o italiano Massimo Risi, destacado para investigar o caso. Tudo contado pelo tradutor destacado pelos poderes oficiais da vila para acompanhar o italiano. Bem, quase tudo. medida que os fatos se sucedem, outras vozes ganham espao no texto, deslocando-se o foco narrativo para outros personagens: Massimo Risi, Estvo Jonas - o administrador da vila -, a velha-moa Temporina, a prostituta Ana Deusqueira, o feiticeiro Zeca Andorinho e o velho Sulplcio, o pai do narrador. Eles apresentam suas verses dos fatos, ou contam sonhos ou lembranas essenciais para a compreenso dos fatos vos sobre o tempo dos acontecimentos e o tempo da memria.O mistrio adensa-se. Os soldados da paz morreram ou foram mortos? Os outros personagens, dona Ermelinda (a administratriz), Chupanga (o adjunto do administrador) e padre Muhando completam a atmosfera de Tizungara, envolta em verdade e fico, realidade e magia, natureza e sobrenatural, o mundo dos vivos e o mundo dos mortos; e um presente que balana entre a fora dos antepassados e a ausncia de futuro.Com toda a sabedoria da velha frica, Mia Couto revela-nos, uma vez mais - na ironia, no sentido de humor, no esprito crtico, na palavra custica e no comentrio acerado, no recurso metfora e na carga cheia de simbolismo da frase -, o seu absoluto domnio da escrita e da lngua portuguesas, o conhecimento e o amor profundos que tem e dedica a esse belssimo e atormentado continente, neste novo romance, O ltimo Voo do Flamingo.O autor sabe como ningum manejar seu discurso literrio ora fantstico, ora potico, ora divertido e irnico:

"H aqueles que nascem com defeito. Eu nasci por defeito. Explico: no meu parto no me extraram todo, por inteiro. Parte de mim ficou l, grudada nas entranhas de minha me. Tanto isso aconteceu que ela no me alcanava ver: olhava e no me enxergava. Essa parte de mim que estava nela me roubava de sua viso. Ela no se conformava:- Sou cega de si, mas hei-de encontrar modos de lhe ver!A vida assim: peixe vivo, mas s vive no correr da gua. Quem quer prender esse peixe tem que o matar. S assim o possui em mo. Falo de tempo, falo de gua. Os filhos se parecem com gua andante, o irrecupervel curso do tempo. Um rio tem data de nascimento?" Para falar de uma vila onde acontecimento era coisa que nunca sucedia, e que s os factos so sobrenaturais, Mia Couto parece tomado por um encantamento pela linguagem. Ele mistura num as culturas tradicionais africanas e a cultura ocidental, o portugus colonizador com as variantes dialetais da populao moambicana h um glossrio no final do livro.Outros ingredientes so o uso de aforismos, desconstruo de provrbios e ditos populares (contra os factos tudo so argumentos). Mia Couto "desarranja" a linguagem, em muitos momentos a aproximar-se de Guimares Rosa ("o motor nhenhenhou-se") ou, mesmo, da sintaxe do poeta Manoel de Barros, j na parte final do romance ("as sujidades se definitivam"), e da qual emerge a relao profunda entre o homem e a terra.A tangncia das margens do realismo fantstico latino-americano ou, como sugere Mia Couto, o "realismo animista", na expresso do angolano Pepetela. H Temporina, com o rosto de velha e corpo de moa (mas que, em "flagrante de amor, juvenescia"); uma tia que, aps morta, se transforma em louva-a-deus; um personagem que, quando toca em mulher, suas mos aquecem at ficarem como carvo aceso; outro que, ao dormir, pendura os prprios ossos fora do corpo; determinados feitios que faziam com que os enfeitiados emagrecessem at ficarem do tamanho de formiga. Diante desses acontecimentos, resta ao italiano Massimo Risi, entre uma perplexidade e outra, temer pela veracidade do relatrio que ter de entregar a seus superiores ("na capital, a sede da misso da ONU espera por notcias concretas, explicaes plausveis. E o que tinha ele esclarecido? Uma meia dzia de estrias delirantes").s vezes, na obra, predomina o sarcasmo, s vezes o esprito crtico, outras vezes ambos. Quando, por exemplo, um pnis decepado achado, chamam a prostituta Ana Deusqueira para identificar o todo pela parte. Ou, em outra cena, o administrador relata: Na vspera de cada visita, ns todos, administradores, recebamos a urgncia: era preciso esconder os habitantes, varrer toda aquela pobreza. Mais ironia: contratado para traduzir, o prprio tradutor desnecessrio. Quando ele se apresenta ao italiano, este comenta: Eu posso falar e entender. Problema no a lngua. O que eu no entendo esse mundo daqui.A narrativa potica, carregada de lirismo. Entre vrias seqncias, percebemos aquela em que Massimo Risi passa por um terreno minado como Jesus se deslocou sobre as guas. Podemos tambm acompanhar a me do tradutor desfiando a estria dos flamingos que empurravam o sol para que o dia chegasse ao outro lado do mundo.Enfim, a obra redimensiona o olhar sobre Moambique, um dos pases mais pobres do mundo, recm-sado de trs dcadas de guerra civil fratricida, que matou ao menos 16 milhes de pessoas nesse perodo (em 2000, quando o livro foi publicado, comemorava-se os 25 anos de independncia de Moambique). Mia Couto soube criar o suspense para que passemos toda a narrativa tentando descobrir a causa da exploso dos soldados.

TRECHO DO LIVRO

CAPTULO DCIMO STIMO

O PASSARINHO NA BOCA DO CROCODILONo me basta ter um sonho.Eu quero ser um sonho.(Palavras de Ana Deusqueira)

Entrei no quarto de Massimo e uma multido de papeladas estava espalhada em todos os mveis.- No me diga que desbotaram as letras outra vez?!- No.Me assaltou ento um frio. O italiano empacotava suas coisas. Se retirava. Uma inesperada tristeza me sombreou. Eu j me afectuava ao estrangeiro?- Vai partir?O homem confirmou, apenas com um aceno de cabea. Eu o espicacei: ia desistir, baixar as mos da obra? Abandonava a sua ambio de promoo assim, no meio do caminho?- Que caminho?Eu no sabia responder. Ele tinha razo. Havia, quando muito, um labirinto. Mais tempo ali, mais ele ficaria perdido. Assim, arrumando suas roupas na mala, o estrangeiro parecia dobrar a sua prpria alma. Num certo momento, parou, com um sorriso estranho. Por que se ria?- Voc no diz que eu devia era contar estrias? Pois me lembro agora de uma.- Finalmente uma estria! Conte, Massimo.- No uma estria, uma lembrana. Recordei-me do que faziam com meu av, quando ele envelheceu l na Itlia.- O que faziam? noite levavam o velho prostituta. Chamavam a meretriz parte e lhe pediam para ela lhe dar ternura. Simples carinho sem anexos nem sexo. Afinal, o prazo do velho j passara. A meretriz que simplesmente cantasse para o adormecer. Assim combinavam com ela, sem que o velho se apercebesse. E pagavam ainda mais para que ela, no dia seguinte, corroborasse com a mentira do sucesso dele. Tanto vigor nem os mais jovens! Familiares e prostituta gabavam a frescura do velho, participando na farsa. O que sucedeu, com os anos, que a moa se converteu e se dedicou, em exclusividade, ao idoso av. Nunca mais nenhum homem lhe foi conhecido. At que, um dia, a prostituta apareceu grvida. Ningum levantava dvida: a criana seria do av.E voc, Massimo, se lembra disto porqu?- Essa criana sou eu.Preferi nada dizer. Nem me parecia verdade, aquela confisso dele. Porqu me entregava a mim aquele segredo dele? Mas o italiano prosseguia: que havia um destino, sim. Esse destino o tinha conduzido at ali, o tinha atirado para aqueles confins e lhe entregara, inclusive, uma prostituta que guardava segredos.- A mo de um bom santo me protegeu.S agora avaliava essa proteco. Noites seguidas, ele no dormira com medo de estourar como os outros. No sabia eu porqu ele tinha sido poupado? Se ele ficara inexplodvel era porque beneficiara de uma bondosa proteco. Sobrevivera graas a um amor.- E acredita nisso, Massimo? Acredita nessas nossas coisas?O importante no era a verdade do assunto. Contava era ter havido algum que intercedera por ele. Essa era a nica verdade que lhe interessava.- E quem voc acha que foi?Acreditava ter sido Temporina. Seu corao lhe dizia isso. Eu sabia que a moa-velha no podia encomendar um feitio. Nenhuma mulher pode chamar servio de curandeiro sem chegar a ser me.- No foi Temporina. Foi outra.Ele sorriu, certo que tinha sido Temporina. Continuou arrumando seus haveres. No momento, uma cassete lhe parecia sobrar. Lembrou-se: era um depoimento de Ana. Tinha ali uma gravao que ele sozinho registara. Numa tarde em que eu fora administrao o italiano visitara a prostituta.- Afinal, voc anda por a sem mim? Sem o seu tradutor oficial?O europeu se envergonhou. Comeou a justificar-se, mas eu o dispensei da culpa. Massimo ainda hesitou. Porm, acabou ligando o gravador e os dois nos calmos a escutar a voz de Ana Deusqueira:O senhor se cuide, Massimo Risi: a boca grande e os olhos so pequenos. Ou como se diz aqui: o burro come espinhos com a sua lngua suave. que isto aqui mais perigoso que o senhor pensa. Perigoso porqu? O senhor vai descobrir como o pato. Sim, como pato que descobre a dureza das coisas s depois de partir o bico. que no meio de tudo h sangue, monos a quem no cobriram o rosto. Esses mortos dormiram no relento, impurificaram a noite. Para o senhor, com certeza, isso no traz gravidade. Aqui no a morte, mas os mortos que importam. Entende? Ainda vai morrer mais gente, lhe asseguro. No faa essa cara. Eu espero que a desgraa lhe passe nas suas costas, a si que me parece um homem bom.Fui mandada para aqui pela Operao Produo. Quem se lembra disso? Atafulharam camies com putas, ladres, gente honesta mistura e mandaram para o mais longe possvel. Tudo de uma noite para o dia, sem aviso, sem despedida. Quando se quer limpar uma nao s se produzem sujidades.Em Tizangara at me receberam bem. Esta gente se afastava, como no querendo ser contaminada. Contudo, no me maltrataram. No incio eu me sentia como numa priso, sem grades, mas cercada por todo o lado. Eu estava como o prisioneiro que encontra no carcereiro o nico ser com quem trocar as humanidades. E pergunto: por que nos ensinaram essa merda de sermos humanos? Seria melhor sermos bichos, tudo instinto. Podermos violar, morder, matar. Sem culpa, sem juzo, sem perdo. A desgraa esta: s uns poucos aprenderam a lio da humanidade.Certa vez, fugi. Meti-me pelos matos at l onde a floresta se despenteia mesmo sem nenhum vento. Fiquei tombada como mona, junto a uma ponte no leito seco do rio. Senti que chegava algum, me levantava em seus braos. Eu estava leve como entranha de morcego. Fui levada para uma casa linda, nem meus olhos haviam sido ensinados a contemplar tais belezas. Nunca identifiquei quem me tratava: eu estava exausta, tudo me chegava entre nvoas e tonturas. Depois me deixaram na igreja quando eu j podia comigo. Hoje, creio que foi tudo sonho. Essa casa nunca houve. E, se houve uma tal casa, ela ruiu, desabada em poeira sem lembrana. que todas as mulheres do mundo dormem ao relento. Como se todas fossem vivas e se sujeitassem aos rituais da purificao. Como se todas as casas tivessem adoecido. E o luto se estendesse por todo o mundo. s vezes, em breves momentos de alegria, ns fazemos de conta que repousamos sobre esse tecto perdido. s vezes me parece reencontrar essa voz que me salvou, essa casa que me abrigou.Estes poderosos de Tizangara tm medo de suas prprias pequenidades. Esto cercados, em seu desejo de serem ricos. Porque o povo no lhes perdoa o facto de eles no repartirem riquezas. A moral aqui assim: enriquece, sim, mas nunca sozinho. So perseguidos pelos pobres de dentro, desrespeitados pelos ricos de fora. Tenho pena deles, coitados, sempre moleques.Assim, aprendi minhas sabedorias: passo como penumbra no poente. Sou pessoa muito cabida. Como aqueles passaritos que comem na boca do crocodilo. Lhe aparo sujidades nos dentes e ele me aceita. Me protejo fazendo morada no centro do perigo. Minha vida um acerto de favores, um negcio entre dentes e maxilas dos matadores.Aprenda isto, amigo. Sabe por que gostei de si? Foi quando lhe vi atravessar a estrada, o modo como andava. Um homem se pode medir pelo jeito como anda. Voc caminhava, timiudinho, faz conta um menino que sempre se dirige para a lio. Foi isso que apreciei. O senhor um homem bom, eu vi des-de-desde. Lembra que falei consigo no primeiro dia da sua chegada? L de onde o senhor vem tambm h os bons. E isso me basta para eu ter esperana. Nem que seja s um. Unzinho que seja, me basta.Ao v-lo, logo no primeiro dia eu disse para mim: este vai-se salvar. Porque aqui voc precisa de calar a sua sabedoria para sobreviver. Conhece a diferena entre o sbio branco e o sbio preto? A sabedoria do branco mede-se pela pressa com que responde. Entre ns o mais sbio aquele que mais demora a responder. Alguns so to sbios que nunca respondem.Faz bem, Massimo: no aspire ser centro de nada. A importncia aqui muito mortal. Veja, por exemplo, essas avezitas que pousam no dorso dos hipoptamos. Sua grandeza o seu tamanho mnimo. essa a nossa arte, nossa maneira de nos fazermos maiores: catando nas costas dos poderosos.Desculpa, tenho que interromper essa minha declarao, mas voc me est atrapalhar. Est-me olhar assim, porqu? Me est desejar, no Massimo? Mas no pode ser. Com voc no pode ser. Se me tocar voc vai morrer.- Eu sei me prevenir, trouxe o preservativo.- No isso. Esta outra doena.- Ento morro como?- As mulheres aqui foram tratadas...- Tratadas como?- Deixe isso, Massimo. Deixe, depois algum lhe h-de explicar tudo.Quem sabe, mais tarde, nos encontraremos, longe de tudo isto? Agora, vou s lhe contar como sucedeu naquela noite com o zambiano. Nunca contei isto a ningum, voc o primeiro a saber o que aconteceu. Pois, esse soldado me visitou sem nenhumas maneiras. O homem nem perdeu tempo com beijo. Voc sabe como a minha gente. Me subiu assim, sem preparo, mais salivoso que cachorro. E ali se serviu, todo por cima de mim, completamente nu, excepto a boina na cabea. Transpirado, aguando-se pela pele, ia gemendo, arfalhudo. Suspiros e gemidos iam crescendo, cada mais frequentes, eu j aliviada por ver a coisa a terminar. Foi nesse instante: em vez de se vir, o tipo rebentou-se, todo estampifado. Me assustei, quase de morrer. Fechei os olhos. Eu j tinha ouvido falar disso, dos estrangeiros explodirem quando montam nas meninas. Porm, nunca tinha acontecido comigo, nunca. Eu no queria nem abrir os olhos, ver a sangraria toda espalhada, tripas dependuradas nos candeeiros. Mas, afinal, no tive que limpar nada. O homem explodira como um balo. Aquele vivente se tinha espatifurado sem vestgio.E agora se v. Vire costas e no volte para trs. Nem me espreite. Pois voc me veria lhe deitando olho desejoso. V, que um outro tempo nos h-de visitar.Disponvel em: http://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_ultimo_voo_do_flamingo Acesso em: 11 de jan de 2014O PEQUENO PRNCIPEPor Ana Lucia SantanaO francs Antoine de Saint-Exupry lanou, em 1943, nos EUA, um ano antes de sua morte, o livro que se tornaria um clssico da literatura universal, Le Petit Prince, traduzido no Brasil como O Pequeno Prncipe. Escrito e ilustrado por este ex-piloto areo ao longo da Segunda Guerra Mundial, ele se transformou na obra mais vendida em todo o mundo, por volta de 80 milhes de volumes; foi editado pelo menos 500 vezes. Esta fbula ou parbola, aparentemente dirigida ao pblico infantil, mas permeada por um alto teor filosfico e potico, foi a terceira produo literria mais traduzida no Planeta a primeira o Livro Sagrado e a segunda O Peregrino, A Viagem do Cristo da Cidade da Destruio para a Jerusalm Celestial, do ingls John Bunyan -, lanada em 160 idiomas ou dialetos, at mesmo na frica do Sul. Em Portugal esta obra adotada no ensino bsico, nas aulas de Lngua Portuguesa, e no Japo foi construdo um museu para o protagonista da trama.O escritor se torna, em sua obra, um dos personagens principais, alm de ser o prprio narrador do enredo, protagonizado por uma criana de cabelos da cor do ouro e cachecol vermelho em torno do pescoo. A histria tem incio com um problema no avio do autor, que fica preso temporariamente no deserto do Saara. Ao acordar, uma certa manh, ele se depara com O Pequeno Prncipe, que lhe pede para desenhar um carneiro para ele.O narrador tem suas prprias experincias traumticas com desenhos, pois quando criana ele criara um elefante engolido por uma jibia, mas os adultos apenas viam em sua obra o esboo de um chapu. Inconformado e sem incentivos para continuar a criar, ele tem dificuldades para atender o pedido do pequeno jovem, mas incentivado por encontrar algum que finalmente v em seu desenho a imagem real, alm das aparncias, e consegue assim produzir um carneiro dentro de um recipiente. Este episdio revela as dificuldades dos adultos para perceberem o universo da fantasia quando crescem e matam dentro de si a criana que foram um dia. O rapaz vai narrando suas aventuras ao escritor, desvelando diante de seus olhos a simplicidade da vida, a pureza de seu olhar, a essncia da realidade. Ele contesta naturalmente cada evento da existncia considerado normal e convencional pela maior parte das pessoas. Ao deixar seu lar, um pequeno planeta onde reside na companhia de uma rosa repleta de vaidade e orgulho, procura de um carneiro que possa consumir os ameaadores baobs, rvores que crescem em excesso na sua terra, inicia uma alegrica trajetria csmica. Ele j havia atravessado vrios planetas, encontrando em sua jornada diversos personagens que simbolizam as inteis inquietaes do universo adulto. Um rei soberbo que acreditava ser venerado por todos os seus vassalos, mas na verdade se encontrava totalmente s; um negociante que trabalhava sem cessar e, assim, no encontrava espao para fantasiar; um alcolatra que cada vez mais se embriagava para no se lembrar que era um bbado; um antigo gegrafo que desconhecia os contornos geogrficos de sua prpria terra; um ser destinado a acender lampies; um homem vaidoso; e, na Terra, uma serpente que lhe promete presente-lo com uma picada, para que desta forma ele possa regressar para seu astro natal estas so as figuras que atravessam seu caminho na viagem pela galxia. medida que ouve a narrativa do Pequeno Prncipe, o autor vai despertando para o valor das coisas mais simples, esquecidas pelos adultos. Como diz a raposa, amiga da criana de outra estrela, S se v bem com o corao. O essencial invisvel aos olhos. Saint-Exupry o prprio jovem de cabelos dourados, assim que ele v os que cresceram e esqueceram da criana que habita dentro de cada um, transformando-se assim em seres estranhos que ele no consegue compreender.

Esta obra inspirou vrias produes cinematogrficas, animaes e adaptaes. uma narrativa que tanto pode ser lida como uma fbula infantil pelos pequenos, quanto em seu contedo profundo por adultos que deixaram de sonhar.

Fonteshttp://pt.wikipedia.org/wiki/O_Pequeno_Prncipehttp://www.paralerepensar.com.br/exupery.htmhttp://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo_c_3981.html

Disponvel em: http://www.infoescola.com/livros/o-pequeno-principe/ Acesso em: 11 de jan de 2014O PEQUEO PRNCIPE

ANTOINE DE SAINT-EXUPRY

Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupry filho do conde e condessa de Foscolombe (29 de junho de 1900, Lyon - 31 de julho de 1944, Mar Mediterrneo) foi um escritor, ilustrador e piloto da Segunda Guerra Mundial.Faleceu durante uma misso de reconhecimento sobre Grenoble e Annecy. Em 3 de novembro, em homenagem pstuma, recebeu as maiores honras do exrcito. Em 2004, os destroos do avio que pilotava foram achados a poucos quilmetros da costa de Marselha. Seu corpo jamais foi encontrado.Suas obras foram caracterizadas por alguns elementos em comum, como a aviao, a guerra. Tambm escreveu artigos para vrias revistas e jornais da Frana e outros pases, sobre muitos assuntos, como a guerra civil espanhola e a ocupao alem da Frana.No entanto, deve-se dar uma ateno a este ltimo, O pequeno prncipe (O Principezinho, em Portugal) (1943), romance de maior sucesso de Saint-Exupry. Foi escrito durante o exlio nos Estados Unidos, quando fez visitas ao Recife. E para muitos era difcil imaginar que um livro assim pudesse ter sido escrito por um homem como ele.O pequeno prncipe uma obra aparentemente simples, mas, apenas aparentemente. profunda e contm todo o pensamento e a "filosofia" de Saint-Exupry. Apresenta personagens plenos de simbolismos: o rei, o contador, o gemetra, a raposa, a rosa, o adulto solitrio e a serpente, entre outros. O pequeno prncipe vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha trs vulces, dois ativos e um extinto. Tinha tambm uma flor, uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranqilidade do mundo do pequeno prncipe e o levou a comear uma viagem que o trouxe finalmente Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu descobrir o segredo do que realmente importante na vida. uma obra que nos mostra uma profunda mudana de valores, que ensina como nos equivocamos na avaliao das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam solido. Ns nos entregamos a nossas preocupaes dirias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criana que fomos.

Principais Obras O aviador (1926);

Correio do Sul (1928);

Vo Noturno (1931);

Terra de Homens (1939);

Piloto de Guerra (1942);

O Pequeno Prncipe (br) - O Principezinho (pt) (1943).

Cidadela (1948)-

Cartas ao Pequeno Prncipe

O PEQUENO PRNCIPE - ANTOINE DE SAINT-EXUPRY

O Pequeno Prncipe foi escrito e ilustrado por Antoine de Saint-Exupry um ano antes de sua morte, em 1944. Piloto de avio durante a Segunda Grande Guerra, o autor se fez o narrador da histria, que comea com uma aventura vivida no deserto depois de uma pane no meio do Saara. Certa manh, acordado pelo Pequeno Prncipe, que lhe pede: "Desenha-me um carneiro"? a que comea o relato das fantasias de uma criana como as outras, que questiona as coisas mais simples da vida com pureza e ingenuidade. O principezinho havia deixado seu pequeno planeta, onde vivia apenas com uma rosa vaidosa e orgulhosa. Em suas andanas pela Galxia, conheceu uma srie de personagens inusitados talvez no to inusitados para as crianas!

Um rei pensava que todos eram seus sditos, apesar de no haver ningum por perto. Um homem de negcios se dizia muito srio e ocupado, mas no tinha tempo para sonhar. Um bbado bebia para esquecer a vergonha que sentia por beber. Um gegrafo se dizia sbio mas no sabia nada da geografia do seu prprio pas. Assim, cada personagem mostra o quanto as pessoas grandes se preocupam com coisas inteis e no do valor ao que merece. Isso tudo pode ser traduzido por uma frase da raposa, personagem que ensina ao menino de cabelos dourados o segredo do amor: S se v bem com o corao. O essencial invisvel aos olhos.

Antoine de Saint-Exupry via os adultos como pessoas incapazes de entender o sentido da vida, pois haviam deixado de ser a criana que um dia foram. Entendia que difcil para os adultos (os quais considerava seres estranhos) compreender toda a sabedoria de uma criana.

Desta fbula foram feitos filmes, desenhos animados, alm de adaptaes. Muitos adultos at hoje se emocionam ao lembrar do livro. Talvez porque tenham se tornado gente grande sem esquecer de que um dia foram crianas.

"As pessoas tm estrelas que no so as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas so guias. Para outros, elas no passam de pequenas luzes. Para outros, os sbios, so problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porm, ters estrelas como ningum... Quero dizer: quando olhares o cu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), ento ser como se todas as estrelas te rissem! E tu ters estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirs contente por me teres conhecido. Tu sers sempre meu amigo (basta olhar para o cu e estarei l). Ters vontade de rir comigo. E abrir, s vezes, a janela toa, por gosto... e teus amigos ficaro espantados de ouvir-te rir olhando o cu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!" "O Amor a nica coisa que cresce medida que se reparte"."O amor no consiste em olhar um para o outro, mas sim em olhar juntos para a mesma direo."

"Foi o tempo que dedicaste tua rosa que fez tua rosa to importante."

" No exijas de ningum seno aquilo que realmente pode dar."

"Em um mundo que se fez deserto, temos sede de encontrar companheiros."

" Nunca estamos contentes onde estamos."

" Ser como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, doce, de noite, olhar o cu. Todas as estrelas esto floridas."

"Para enxergar claro, bastar mudar a direo do olhar."

" S se v bem com o corao. O essencial invisvel para os olhos."

"Sois belas, mas vazias. No se pode morrer por vs. Minha rosa, sem dvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha porm mais importante que vs todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus a redoma. Foi a ela que abriguei com o para-vento. Foi dela que eu matei as larvas. Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. a minha rosa."

" Tu te tornas eternamente responsvel por aquilo que cativas"

" Aqueles que passam por ns, no vo ss, no nos deixam ss. Deixam um pouco de si, levam um pouco de ns."

" O amor verdadeiro no se consome, quanto mais ds, mais te ficas."

" S os caminhos invisveis do amor libertam os homens.

" O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se d mais se tem."

"Se algum ama uma flor da qual s existe um exemplar em milhes de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla."

"Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, doce, de noite, olhar o cu. Todas as estrelas esto floridas." (Antoine de Saint-Exupry)

"ACASO

"Cada um que passa em nossa vida,passa sozinho, pois cada pessoa nicae nenhuma substitui outra.Cada um que passa em nossa vida,passa sozinho, mas no vai snem nos deixa ss.Leva um pouco de ns mesmos,deixa um pouco de si mesmo.H os que levam muito,mas h os que no levam nada.Essa a maior responsabilidade de nossa vida,e a prova de que duas almasno se encontram ao acaso. "(Antoine de Saint-Exupry)

"A civilizao um bem invisvel porque inscreve seu nome nas coisas",

E suas ltimas palavras antes de embarcar na misso final e fatal: "Se voltar, o que ser preciso dizer aos homens?"

Ele escreveria que "durante sculos e sculos a minha civilizao contemplou Deus atravs dos homens. O homem era criado imagem de Deus. Respeitava-se Deus no homem. Esse reflexo de Deus conferia uma dignidade inalienvel ao homem", para concluir que "as relaes do homem com Deus serviam de fundamento evidente aos deveres do de cada homem consigo prprio ou para com os outros".

"Havia, em algum lugar, um parque cheio de pinheiros e tlias, e uma velha casa que eu amava. Pouco importava que ela estivesse distante ou prxima, que no pudesse cercar de calor o meu corpo, nem me abrigar; reduzida apenas a um sonho, bastava que ela existisse para que a minha noite fosse cheia de sua presena. Eu no era mais um corpo de homem perdido no areal. Eu me orientava. Era o menino daquela casa, cheio da lembrana de seus perfumes, cheio da fragrncia dos seus vestbulos, cheio das vozes que a haviam animado."

(Antoine de Saint-Exupry)Disponvel em: http://www.paralerepensar.com.br/exupery.htm. Acesso em: 11 de Jan de 2014O Pequeno Prncipe (Anlise sob o olhar da Psicanlise) Oh! Ultrapassei as imperiosas fronteiras da terra, E dancei nos cus com alegres asas de prata; Em direo ao sol subi, e com o corao leve fui parte das alturas, das nuvens entre as quais passa o sol e fiz muitas coisas Que voc nunca sonharia - girei e subi direto E balancei-me no ar, Bem alto no silncio iluminado pelo sol. Planando l, Persegui o vento que assobiava, e bruscamente virei e levei Meu ansioso aparelho atravs de corredores no ar suspensos. (Vo Alto, John Magee) difcil dizer se lcito interpretar uma obra artstica atravs de seu autor, ainda mais num caso como O Pequeno Prncipe, de Saint-Exupry, cuja repercusso foi to grande a ponto de converter-se em pouco tempo num clssico da literatura. Segundo a a psicologia Junguiana todo artista como o leito de uma correnteza da alma coletiva. Mas o prprio artista, em sua conscincia, marcado por esta inundao. Como diz Jung, "dificilmente haver um homem criativo que no tenha que pagar caro pela divina centelha do poder". Partindo desta premissa, podemos dizer que O Pequeno Prncipe certamente um personagem que, apesar de possuir elementos da psicologia pessoal do autor, ultrapassa-o e configura uma mensagem humanidade. O romance O Pequeno Prncipe coloca em evidncia, logo de incio, a disparidade entre o pensamento infantil e o pensamento adulto, cada um com a esfera de interesses que lhe prpria, como dois mundos de difcil conciliao. Tanto que o narrador tomado por um profundo sentimento de solido, como ele mesmo declara: "Vivi assim, sozinho, sem ningum com quem verdadeiramente falar ..." De fato, parece que no encontrava com quem compartilhar sua vivncia pessoal. Isto posto, era de se esperar que algo acontecesse. E logo o autor acrescenta: "...at que tive uma avaria no deserto do Saara, faz 6 anos"."Era uma questo de vida ou morte". Desta maneira inicia-se O Pequeno Prncipe, que Saint-Exupry comeou a escrever no vero de 1942 e que est baseado em um fato que lhe ocorrera seis anos antes, no Ano Novo de 1936. Naquela ocasio seu avio caiu no deserto, e "tanto o tanque de gua quanto o tanque de combustvel foram perfurados. Tnhamos por toda proviso uma laranja, algumas uvas passas, um quarto de litro de vinho branco num recipiente trmico, um pouco de caf em outro". "Estvamos privados de gua por destruio de nossas reservas e incapazes de nos localizarmos no deserto com uma margem de preciso de 300 quilmetros", de acordo com o que o prprio Saint-Exupry descreve em relatrio. Esteve quase quatro dias perdido at que foi encontrado por um beduno. "Tinham visto miragens magnficas: osis, camelos, cidades. Prvot, seu companheiro de aventura, tinha ouvido um galo cantar. Saint-Exupry tinha visto em sua alucinao trs ces que se perseguiam mutuamente". Em 26 de abril de 1934 Saint-Exupry ingressa na Air France como piloto. J fora recusado no ano anterior. Possua uma tremenda energia posta a servio de atividades muito dinmicas e rpidas, que implicam em parte a ampliao de horizontes intelectuais ou vivenciais. Foi um pioneiro da aviao, que trabalhou fazendo correio areo em diversas partes do mundo, tendo aberto, inclusive, a primeira linha aeropostal da Patagnia. Era algum com presunes aristocrticas ou de auto-importncia, pois nosso heri procedia de famlia nobre e herdou o ttulo de conde de seu pai, mas, nunca fez alarde disso. Caracterizava-se por uma excessiva audcia, por um sentimento exagerado de confiana, levando s vezes a realizar atos imprudentes. De fato, seu bigrafo relata o contexto da realizao da acidentada viagem. Apesar de sua situao econmica no andar muito boa, Exupry no resistiu tentao de comprar um avio, se bem que esperasse tirar proveito disso: o Ministrio da Aeronutica da Frana oferecia um prmio de 150.000 francos a quem batesse o recorde de tempo no trajeto Paris-Saigon. Exupry conseguiu inclusive que um peridico aceitasse publicar uma reportagem sobre o vo. Mas sua situao econmica piorou tanto que no pde pagar o aluguel do apartamento onde vivia com a esposa Consuelo, e ainda lhe cortaram a luz e o gs. "Nunca havia passado por uma situao semelhante. No restava mais do que um modo de sair dela: bater o recorde Paris-Saigon". "Saint-Exupry se encontrava visivelmente num estado nervoso pouco propcio para embarcar numa experincia fisicamente exaustiva". Em 1935, tentado pela possibilidade de ganhar 150 mil francos, Saint-Exupry se lana corrida Paris-Sagon. O desafio era ligar as duas capitais em menos de cinco dias e quatro horas. A partida acontece em 29 de dezembro. Em 30 de dezembro, s 2h45 da madrugada, a aeronave se espatifa ao atingir a crista de um planalto. Durante trs dias o piloto e o mecnico Jean Prvot caminham pelo deserto, sofrendo de sede, at serem resgatadospor um beduno. Nestas condies empreendeu a aventura que quase o levou a morrer de sede no deserto. Sabemos, por Jung, que quando faltam estmulos exteriores, tal como ocorre num deserto, o inconsciente comea a produzir seus prprios contedos, que se extrovertem na tela de projeo vazia que o prprio deserto. Da aparecem as alucinaes - miragens. Alm disso, a cincia mdica diz que as extremas condies decorrentes do calor excessivo do deserto e da falta de gua, combinados, do como resultado diversos sintomas fsicos: disfuno neurolgica, conduta psictica, delrios e alteraes mentais. Imagino que O Pequeno Prncipe seja um produto tardio desta experincia. "Estava mais isolado que um nufrago sobre uma balsa no meio do oceano. Imagine, pois, minha surpresa quando, ao romper o dia, despertou uma estranha vozinha que dizia: - Por favor... me desenhe um cordeiro!" Como uma miragem, surgiu do deserto este homenzinho das estrelas. Desta maneira o inconsciente irrompeu como um fantasma. Conforme Marie-Louise Von Franz, o homem que se identifica com o Puer Aeternus (Trata-se do nome de um deus da antigidade. Procede da Metamorfose de Ovdio, onde se aplica ao menino-deus dos mistrios Eleusinos e, do ponto de vista da psicologia profunda de Carl Jung, representa um arqutipo relacionado com a mudana e a renovao) permanece muito tempo na psicologia adolescente "com uma dependncia excessiva da me". Jung diz: "o Puer Aeternus s tem uma vida breve, pois sempre uma mera antecipao de algo desejvel e desejado. Isto to real que certo tipo de menino mimado ostenta tambm in concreto as propriedades do adolescente divino que floresce prematuramente, e inclusive sucumbe de morte precoce". Recordemos que Saint-Exupry morreu aos 44 anos. Sempre teve medo de ver-se colhido por uma situao da qual "poderia ser impossvel escapar". Alm disso, tinha "uma fascinao por esportes perigosos, especialmente o vo e o alpinismo". Seu pai morreu quando ele tinha quatro anos. Manteve pela vida inteira uma prolfica correspondncia com a me que foi recolhida e publicada, em francs, em 1955. E Jung diz, em uma nota de p de pgina, que "o complexo materno deste autor foi abundantemente confirmado por informao de primeira mo". N'O Pequeno Prncipe, diz o narrador: "tenho srias razes para pensar que o planeta de onde vem O Pequeno Prncipe o asteride B612" A grande maioria dos asterides descobertos at agora est numa regio exatamente entre as rbitas de Marte e Jpiter. Na verdade no existe um asteride B612, mas sim o 612, cujo nome Vernica, um nome de mulher, e, alm disso, tambm uma planta herbcea de flores azuis. Na obra, o Pequeno Prncipe tem uma relao intensa com uma flor que "havia germinado de uma semente trazida de sabe-se l onde"- de outro planeta? Na carta de Saint-Exupry, o significado etimolgico desta ltima palavra "no lugar". Podemos relacionar a flor com uma Vnus que vem de um no lugar. Isto se v tambm em indivduos com pouco enraizamento na Terra, cuja conscincia est em algum no lugar fora da terra, ou seja, extraterrestre. As oposies se manifestam, geralmente, como o que em psicologia se chama projeo, quer dizer, o ver em outra pessoa caractersticas que nos so prprias, sejam estas consideradas boas ou ms. A flor se comportava de uma maneira muito coquete, deixando o Pequeno Prncipe fascinado por sua beleza. Mas em pouco tempo a flor j o chateava com seguidas exigncias: um dia lhe pediu um biombo porque "sentia horror s correntes de ar", e inclusive forou a tosse para lhe infligir remorsos. Tpica manipulao emocional do tipo materno negativo que tem por finalidade obter a submisso do eu de nosso pequeno heri, impedindo sua maturao. Uma conscincia masculina com uma anima, ou seja, com um fundo anmico deste tipo ficaria sempre envolta nesses caprichos "femininos", com duas possibilidades: ou se identifica com eles, configurando uma possvel homossexualidade, ou os abandona em busca de uma nova oportunidade. Ambas as possibilidades descritas ainda mantm a conscincia masculina muito perto do complexo materno. Nosso homenzinho parte, abandonando a flor e o planeta. como se seu amor frustrado lhe tivesse servido de incentivo para afastar-se do lar e chegar finalmente Terra. A flor, para Novalis, smbolo do amor e da harmonia que caracterizam a natureza primitiva. Identifica-se com o simbolismo da infncia e de certo modo com o estado Ednico. Essa flor, como o feminino que h nele, embora ainda muito apegado me. Segundo Jung, a figura do arqutipo da Anima emerge do arqutipo Me, e analisando a carta do Saint-Exupry vemos que um reflexo de sua psicologia pessoal. Mas a flor no apenas smbolo do feminino, tambm do renascimento primaveril e da totalidade em sua manifestao plena, ou seja, o que Jung chamaria o Si mesmo, e nesta histria funciona como um indicador do processo por desenvolver. O asteride 325 leva o nome de Heidelberga (30) faz referncia cidade alem de Heidelberg, conhecida por ter a universidade mais antiga deAlemanha, imortalizada na opereta de Sigmund Romberg intitulada O prncipe estudante. Na obra, o Pequeno Prncipe corresponde a um reino sem sditos e coincidiria com o momento em que o puer percebe que rei de um mundo solitrio que no tem contato com a realidade. Svea, o asteride que corresponde ao faroleiro, que acende o farol cada vez que o sol se pe e o apaga em cada amanhecer. O habitante deste diminuto planeta parece que o encarregado de iluminar a noite - a luz da conscincia, o que indica uma pequena esperana para nosso Pequeno Prncipe. digna de nota a acelerao do processo, j que a durao do dia deste asteride vai-se acelerando at chegar a um dia por minuto terrestre. Provavelmente terei que pensar na circulao da luz, e citando Jung, "psicologicamente, esse curso circular seria um dar voltas em crculo em torno de si mesmo, com o que evidentemente ficam implicados todos os aspectos da personalidade. Outra questo importante neste asteride que o faroleiro o primeiro que faz algo que no para ele, como observa o prprio Pequeno Prncipe.Possivelmente o faroleiro s se pe a servio de uma finalidade superior, que para Jung seria o Si mesmo, coisa que ainda no pode fazer, por exemplo, na etapa do homem de negcios, que pretende apropriar-se do que pertence totalidade (as estrelas). Por ltimo, antes de chegar Terra, faz uma parada no asteride Adalberto, onde encontra um Gegrafo, etimologicamente algum que desenha a Terra. Agora passarei a falar do simbolismo da escada, ou da escala, como diz o Dicionrio dos Smbolos de Chevalier. "Os diferentes aspectos do simbolismo da escada se reduzem ao nico problema das relaes entre cu e terra" A escada pode ser esculpida em uma rvore, na rocha, ou tambm pode ser de matria area, como o arco-ris; ou de ordem espiritual, como os degraus da perfeio interior. Mas a escada pode igualmente ser utilizada pela divindade para descer do cu terra", e neste sentido um instrumento das epifanias divinas, mas tambm veculo de encarnao das almas. "No Timor Leste, o Senhor Sol, divindade suprema, baixa uma vez ao ano a uma figueira para fecundar sua esposa, a Terra Me". Os xams siberianos sobem ao cu e voltam a descer por uma btula com sete entalhes (ou 9 ou 12), a escada de Buddha tem sete cores, a escala dos mistrios mitraicos sete metais, a escada de Jacob, por onde sobem e baixam os anjos, etc, so diferentes exemplos do sentido da escala ou escada na histria religiosa mundial; e no esqueamos, que nosso Pequeno Prncipe baixou sua escada de 6 asterides e planetas, chegando Terra, como stimo. Por ltimo transcrevo uma traduo de um texto de Macrbio, um platnico latino do sculo IV, Comentrio a um Sonho de Cipio: "A alma, ao comear seu movimento descendente desde a intercesso do zodaco com a Via Lctea at as esferas sucessivas inferiores, ao cruzar estas esferas, no apenas adota o envoltrio de cada uma das esferas, aproximando-se de um corpo luminoso, mas tambm adquire cada um dos atributos que exercitar mais tarde, ou seja: na esfera de Saturno adquiriria a razo e a compreenso...; na esfera de Jpiter, a capacidade de atuar...; na esfera de Marte, um esprito intrpido...; na esfera do Sol, a percepo dos sentidos e a imaginao...; na esfera de Vnus, o impulso passional; na esfera de Mercrio, a capacidade de falar e de interpretar...; e na esfera da Lua, a capacidade de semear e de cultivar corpos...". Como poderamos interpretar, do ponto de vista psquico, esta viagem interplanetria, ou mais exatamente, inter-asterides? Para isso deveremos rever as teorias astronmicas que tratam da origem destes diminutos corpos celestes. H duas teorias sustentadas pelos astrnomos: A primeira diz que seriam o resultado da fragmentao de um antigo planeta, pois segundo uma tese astronmica, deveria haver um planeta entre Marte e Jpiter. A segunda, que seriam pores de matria csmica que nunca teria chegado a formar um corpo celeste maior. Estas duas possibilidades enfatizam a polaridade integrao-desintegrao, que, se interpretada simbolicamente do ponto de vista psquico, tem, como j veremos, srias conseqncias, inclusive para nosso tema. Assim como se considera em astrologia que o Sol a fonte primria da energia que o restante dos planetas reflete, na psique humana existem fragmentos que so chamados complexos que formam parte do que, para Jung, o inconsciente pessoal. Estes complexos so conglomerados de tonalidade afetiva, quer dizer, so como centros de fora que atraem certo tipo de experincias. Assim se pode falar do complexo materno, do paterno ou de um complexo de poder, etc. Os planetas, segundo este ponto de vista, podem ser entendidos como complexos. O objetivo do trabalho teraputico seria a integrao conscincia destes fatores inconscientes, que tendem a ter certa autonomia. Os asterides, neste contexto, podem ser entendidos da mesma maneira, quer dizer, como aspectos cindidos a serem integrados na conscincia. O Pequeno Prncipe, atravs da viagem para a Terra, no processo encarnatrio, foi encontrando seus diferentes complexos. E Saint-Exupry, o autor, j vimos que era conde, nascera na cidade de Lyon, pertencia a uma famlia nobre de provncia que descera na escala social, embora conservasse algumas propriedades familiares, mas seu pai trabalhava para uma companhia de seguros. Aqui vislumbramos possivelmente o rei sem sditos do primeiro asteride. Saint-Exupry no s escreveu O Pequeno Prncipe, mas tambm elaborou mais trs novelas, alm de muitos artigos e cartas. Em 1939 recebeu o prmio da Academia Francesa de melhor novela do ano por Terra de Homens, e no mesmo ano recebeu o National Book Award do EUA por obra de no fico. Em todas as suas obras e cartas expressa um elevado nvel de idias, com um exacerbado idealismo que se manifesta tambm em artigos jornalsticos e como correspondente de guerra na Espanha, nas pocas mais sombrias daquele pas. E apesar de ter combatido como piloto de guerra no exrcito aliado, ter participado de mil aventuras, haver-se comprometido politicamente nas difceis horas da Frana ocupada, continuava tendo um irrefrevel desejo de vo. Diz em uma carta de 1944, o ano de sua morte: "Fao a guerra o mais profundamente possvel. Sou, por certo, o decano dos pilotos de guerra do mundo... Vi de tudo desde minha volta esquadrilha. Conheci as avarias da mquina, o desmaio por vazamento do tanque de oxignio, a perseguio por caas, e tambm o incndio em vo. Pago bem. No sou avaro, e me sinto um carpinteiro so. minha nica satisfao. E tambm passear em vo solitrio, somente eu e meu avio, durante horas sobre a Frana, tirando fotografias. uma coisa estranha." Na mesma carta diz mais adiante algo que como a confisso do rei sozinho, e que alm disso quase um prembulo da apario do jovem das estrelas na obra O Pequeno Prncipe: "No tenho ningum, nunca, com quem falar. Isso j alguma coisa. Tinha com quem viver (refere-se separao de sua esposa), mas que solido espiritual!!" Ou seja, havia vivncias ou formas de pensar ou de entender o mundo que Saint-Exupry no encontrava com quem compartilhar, um mundo como o daquele rei aquariano a que fizemos referncia. difcil dizer se realmente nosso escritor deu materialidade vida, como sugere a simblica da escada csmica, ou na realidade concretizou o processo inverso de espiritualizao ou de busca espiritual, que, em sua forma mais concreta, levou-o a morte. E aqui podemos ver o que acontece com o Pequeno Prncipe: ele volta para seu asteride fazendo-se picar por uma serpente do deserto. Textualmente: "Parecer que sofro... parecer um pouco que morro". Tambm: "Parecer que morri, e no ser verdade..." e ainda: " muito longe. No posso levar meu corpo ali. muito pesado." Parece que nosso Pequeno Prncipe desejava voltar para o lugar de onde veio, e sem o corpo, quer dizer, em esprito. E Saint-Exupry tambm tinha esse desejo espiritual irrefrevel que leva certas almas a desdenhar a vida corprea, pondo-a em perigo, para poder viver uma vida mais alta, uma vida espiritual. No devemos vasculhar apenas a psicologia pessoal do escritor para compreender-lhe a obra artstica: temos que compreender tambm que mensagem coletiva deve manifestar, e que relao tem o contedo da obra com a conscincia de sua poca. Se existe algo que seja caracterstico deste personagem, sua ingenuidade, esse dom antigo que faz pensar no paraso, no "pastaro juntos o leo e o cabrito" da Bblia. O Pequeno Prncipe um ser que nos remete ao princpio, ao paraso terrestre original, razo pela qual, ao voltar a seu asteride, picado por uma serpente, que como o ouroboros da alquimia, a serpente que morde a prpria cauda, que a roda interminvel da origem sempre voltando para si mesma, e assim se fazendo eterna. Por outro lado a serpente tambm pode ser a astcia da terra que nos pica, e esta outra vertente do mesmo smbolo. Tais caractersticas so evidentes no livro desde o comeo, e em meu entender so o motor que nos faz l-lo uma e outra vez com esse prazer, digamos, infantil. No nvel coletivo, O Pequeno Prncipe funciona como um balde de gua fresca no meio do deserto humano da Segunda Grande Guerra (recordemos que foi escrito em 1942). Aqui nos referimos ao aspecto positivo do puer aeternus, que essa capacidade de estar perto da fonte da vida, como os meninos, o que exerce um efeito rejuvenescedor sobre as pessoas que encarnam o arqutipo oposto, o senex, modelo do esgotado e do que chegou ao fim (o deserto). Este um exemplo possvel de como expressar a polaridade Mercrio-Saturno. Em segunda instncia, O Pequeno Prncipe um extraterrestre, vem de outro planeta. E sabido que em 1942, poca em que esta encantadora histria comeou a ser escrita, comearam a proliferar as notcias de OVNI, cuja quantidade aumenta grandemente aps o fim da guerra (Segunda Guerra Mundial). Segundo Jung, que tambm se ocupou deste tema, embora, naturalmente, considerando-o como fenmeno psquico, durante a Segunda Guerra Mundial foram observados na Sucia misteriosos projteis, que se supunha terem sido inventados pelos russos; tambm luzes que acompanhavam os aparelhos de bombardeio aliados, em suas incurses Alemanha; logo se seguiram as profusas observaes de ps-guerra nos EUA, at chegar ao conhecido caso Adamsky, em 1952, que disse ter viajado Lua em uma nave tripulada por venusianos. Jung estima que os OVNIs ou "discos voadores" so objetos de estrutura mandlica, de forma circular ou esfrica - embora haja tambm com forma de "charutos", quer dizer, cilndricos -; e que tm a propriedade de irradiar luz intensa de diferentes cores. Fonte Constelar on Line Edio 108 :: Junho/2007 . Um Pequeno Prncipe entre Marte e Jpiter. Ricardo D. Copln http://www.constelar.com.br/

Disnvel em: http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2008/06/o-pequeno-prncipe-anlise-sob-o-olhar-da.html. Acesso em 11 de Jan de 2014ANALISE CRTICA DO LIVRO O PEQUENO PRINCIPE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR UECE FACULDADE DE EDUCAO DE CRATES FAEC CURSO: PEDAGOGIA DISCIPLINA: LEITURA E PRODUO TEXTUAL 1 SEMESTRE ORIENTADOR: PROF. ESP. OLAVO LUIZ SOARES S ALUNO: ANTONIO EDSON ALVES DA SILVA

A INTERPRETAO DA LINGUAGUEM DO LIVRO: O PEQUENO PRNCIPE

CRATES/CEAR 2012

RESUMO Este trabalho de pesquisa sobre A Interpretao da linguagem do livro: O Pequeno Prncipe, tem como objetivo adentrar na compreenso da mensagem central, a qual o autor quer transmitir. Estamos vivendo em uma sociedade capitalista, que tem como propsito a banalizao dos sentimentos, sejam em qual aspecto os caracterizarmos, o estudo da linguagem do livro, vem de encontro com estes conceitos pr estabelecidos e neste contexto percebi o quanto estamos ainda distante de tirarmos esta venda de nossos olhos e observar a vida da maneira que ela , aprendendo a dar valor aos simples acontecimentos do cotidiano e dele tirarmos frutos para um amadurecimento e desenvolvimento pessoal. Temos que desconstruir valores, e aprendermos a valoriza o que realmente nos faz bem, sairmos desta situao de egocentrismo e individualismo e passarmos a observar a sociedade dentro de uma realidade de bem comum, onde podemos nos tornar responsveis uns pelos outros e aprendermos a viver em harmonia com o meio.

INTRODUO

A linguagem surgiu nos primrdios da existncia humana, ela uma das principais caractersticas que nos difere dos animais, porque est intrinsecamente ligada ao raciocnio, figura particular do ser humano. A linguagem, alm de nos diferenciar dos animais, ela responsvel por toda a forma de comunicao existente. Sem a linguagem o ser humano no poderia se comunicar, e mesmo que se comunicasse de alguma forma, sejam em qual for sua caracterstica, a j surgiria uma forma especfica da linguagem. Depois da linguagem, automaticamente temos a compreenso, e isso acaba se tornando muito complexo, porque depende de outras circunstncias, como a historia de vida, os tipos de mentalidades e culturas. Com o estudo do livro: O Pequeno Prncipe, observei que muitos ainda pensam que por ser uma historinha simples, de reis, estrelas, planetas, acham que um livro exclusivo para crianas, a surge a complexidade da interpretao e compreenso em perceber o real sentido da mensagem. Quando trazemos esta historia do pequeno prncipe e suas experincias de vida, podemos fazer uma interpretao mais coerente com a realidade e da tiramos elementos produtivos para a melhoria e transformao do homem e da sociedade.

1 HISTRIA DA LINGUAGEM

A linguagem surgiu, dentro da histria, como um meio para a comunicao. Surge o homem e com ele o desejo de interagir com o meio que vive, ela j nasce com essa vontade de conhecer o novo e interagir com os demais, a a necessidade de comunicar-se, isso ocorre dentro de um processo evolutivo. Primeiro o homem comea a se comunicar atravs da imitao, para sua prpria sobrevivncia, pois da iniciado aos costumes de sua comunidade. Com o passar do tempo, surge ainda, o desejo de transmitir e registrar as experincias vividas pelos povos, para deix-las s geraes futuras. Ento, o processo da linguagem vai evoluindo, de acordo com as necessidades que vo surgindo. 1.1 O QUE LINGUAGEM?

Linguagem o uso coerente da lngua, meio a qual o ser humano utiliza para se comunicar, transmitir sua mensagem, seja ela qual for. Alm de nos proporcionar um mtodo eficiente de comunicao, foi a linguagem que com sua evoluo nos deixou grandes preciosidades da nossa cultura, historia e at mesmo para tentar explicar, ou ao menos, nortear a formao e criao do homem.

1.2 CARACTERSTICAS DA LINGUAGEM

Esta pode ser classificada em duas formas: linguagem verbal e no verbal, que vo de encontro as mais diversas formas de expresso. A linguagem verbal, est associada fala, a um emissor que pronuncia sons, e que deve transmitir uma mensagem para ser compreendido. Dentro dela vemos a linguagem escrita, que passa por um procedimento mais lento, de elaborao de idias e pensamentos a qual vou express-lo de maneira coerente para uma compreenso do receptor. A linguagem no verbal mais ampla e est voltada as diversas formas de expresso sejam elas visuais e corporais. A linguagem corporal a mais utilizada em nossa existncia, porque ela um conjunto daquilo que somos e envolve todo nosso corpo, comportamento, maneira de nos expressarmos e nos comunicarmos com o meio em que vivemos.

2 RESUMO DO LIVRO: O PEQUENO PRNCIPE

O Livro uma verdadeira obra de arte, narrado na primeira pessoa, a qual o retrata quando criana tentando mostrar aos adultos uma das suas primeiras obras de arte, um desenho de uma jibia engolindo um elefante, os mesmos com suas limitaes, no enxergaram o real desenho, mas deturparam-no e achavam somente que era um chapu qualquer. Continuando, o autor frustrado por seu insucesso artstico, quando criana, cresce e resolve ser piloto de avio, e em uma de suas viagens, seu vo entra em pane e ele veio a cair no meio do deserto do Saara. Chegando ali, o narrador encontra o Pequeno Principe, assustado, sem entende de onde quele serzinho to pequeno veio, o narrador escuta ele pedindo para desenhasse um carneiro, e logo sem hesitar, desenhou o que unicamente sabia e havia feito quando criana, a imagem da jibia engolindo o elefante. O Pequeno Prncipe, no gostou e disse que no queria uma jibia engolindo o elefante e sim um carneiro. Depois de muitas tentativas ele enfim desenha uma pequena caixa e pra seu espanto, era exatamente o que o pequeno prncipe queria, pois morava em um planeta muito pequeno e que tinham muitas rvores grandes que tomavam todo o espao, ele precisava de um pequeno carneiro para comer essas rvores e abrir o lugar para uma rosa a qual ele tinha grande estima e considerao. A rosa, porm com toda sua delicadeza, seu cheiro e singeleza, era muito boba e exigente, pedia muito do pequenino e se achava o centro das atenes, afinal, no planeta s havia ela, alguns vulces e o Pequeno Prncipe. Ele cansado desse seu mundinho, resolve sair e conhecer novas realidades. O Pequeno esteve viajando por muitos planetas, e encontrando diversas pessoas, no primeiro planeta ele encontra um rei, o mesmo, achava que todos tinham que obedec-lo, servi-lo e reverenci-lo. O pequeno no gostou e partiu, percebendo como pessoas adultas so estanhas e diferentes. No segundo planeta ele encontra um homem, que no diferente do rei, queria somente que o pequenino, aplaudisse, reverenciasse e saudasse como uma pessoa muito importante. O Pequeno se cansou e partiu daquela realidade mais convencido em relao aos adultos. No Terceiro planeta, ele encontra um homem bbado, e o questiona com toda sua inocncia, o porque ele bebia, e o mesmo responde que bebe para esquecer que tem vergonha de beber. Mais estranho ainda, ele partiu para outro planeta.

No quarto, ele encontra um homem, que sua vida era exclusivamente para contar estrelas, e tirar vantagens dizendo que todas o pertencia. O Pequeno Prncipe tambm no gostou e partiu. Em um quinto planeta ele conhece um homem, que tinha como funo nica de acender a luz da rua noite e apagar pela manh, como o mundo era muito pequeno, comeou a girar muito mais rpido e o homem estava ficando exausto do seu trabalho, porque os dias e as noites eram curtos e ele no tinha tempo para descansar. O prncipe gostou desse planeta, porque eram mais nasceres do sol para admirar, mas teve que partir. No sexto planeta, o pequeno conhece um gegrafo, que era incapaz de lhe falar sobre seu planeta, porque o mesmo no tinha o desejo de pesquisar, procurar e examinar seu meio, e pediu para que o principezinho lhe falasse sobre seu planeta, afim, o gegrafo aconselhou a visitar a terra. O Pequeno Prncipe veio a terra, e depois de andar bastante encontrou um jardim, e ao ver inmeras rosas, percebeu que a rosa, deixada pra trs era apenas mais uma. Ele encontra uma raposa, e como uma criana comum, pede para brincar com ela, mas ela diz que no mansa e por isso no podia se aproximar dele, Ele no entende e a raposa explicou, que se ele quer algum pra brincar, um amigo, ele teria que cativ-lo. Com o passar do tempo, eles se tornaram amigos, aprofundando assim seus laos afetivos, depois percebendo que era responsvel por aquilo que cativava, resolve ento voltar para cuidar da rosa ora deixada anteriormente. O Narrador, tambm cativado pelo prncipe, fica muito triste em saber que ele est voltando pro seu planeta, afinal, seu nico consolo, que o pequeno disse que seriam grandes amigos, e que todas as vezes que o narrador olhasse para as estrelas ele lembraria dele.

2. 1 COMPREENDENDO O PEQUENO PRNCIPE

As viagens pelos planetas, foram de suma importncia para o Prncipe, porque so elas, que fazem ele perceber e ensinar ao narrador, o real sentido da vida e da importncia as pequenas coisas do seu cotidiano. Percebe ainda, a importncia da rosa, e que mesmo com seu gnio difcil, ela havia cativado-o e ele sentia muito amor e posteriormente, sente-se obrigatoriamente na responsabilidade de cuidar da mesma. O Pequeno, ver que na vida, tudo vale pena, principalmente seu amor por sua rosa, suas amizades e suas experincias de vida, na jornada de visita aos planetas, e que mesmo cada um com suas diferenas, lhe trouxe um aprendizado e uma reflexo da vida.

3 RECORTE DA REALIDADE

Vivemos em uma sociedade que est ligada de maneira alienada ao capitalismo, gerando um esprito de competio, egocentrismo, falso moralismo e distoro da realidade da vida. O livro recheado de metforas e alegorias, e ns com uma mentalidade um pouco reduzida, pensamos que apenas uma historinha bonitinha para as crianas, mas muito pelo contrrio, ele traz uma bagagem de experincias e aprendizagem aos adultos. Percebo ento, logo de inicio, uma crtica, que diante de um mundo de superficialidade, os adultos, no conseguem enxergar alm das aparncias, alm do que visvel aos olhos, no tem um senso crtico para ver alm do que se v, alm do que senso comum. Porm, s a ingenuidade de uma criana, a maneira de ver, passa ser mais clara, porque o Pequeno Prncipe, ainda no tinha sido corrompido pela sociedade, ela s vivia em seu planeta, e s admirava o que lhe era belo aos olhos, como o por do sol e a rosa, e quando somos corrompidos pelo capitalismo, pela hipocrisia da sociedade, acabamos que nos mascarando diante do que realmente importa e passamos a no existir como pessoas nicas e exclusivas, e sim, como fantoches nas mos daqueles que ditam e impe as regras e os padres de comportamento. Deixamos de existir e acabamos vivendo numa inteira reproduo, de padres e regras que nunca chegaremos a alcanar, pois sua realidade est inteiramente voltada as classes dominantes, a elite, e os pobres s conseguem imitar, e quando conseguem, essas determinadas tendncias j tem se modificado causando uma insatisfao plena pela vida, em prol do esteretipo, do superficial. Vivemos em mundo frentico, que nos sufoca a ponto de no conseguirmos observar e valorizar as coisas mais simples da vida, que tem seu valor mpar e seu significado profundo. Cada pessoa correr naturalmente para viver a individualidade, como no livro, cada um com sua particularidade distorcida, vivendo no centro de seu mundinho fechado, sem se preocupar com o outro, se existe o outro e com os sentimentos que so muitas vezes eliminados, por estarmos nos tornando mquinas e robores insensveis vida.

CONCLUSO

Diante da minha interpretao da linguagem do livro: O Pequeno Prncipe, concluo que este de grande importncia, para a percepo da realidade da vida, e de quanto construmos valores, que nos tornam cegos para observar a realidade que nos cerca e a enxergar no cotidiano, experincias diferentes que servir para um crescimento pessoal, tornando-nos cada vez mais humanos. Todas as pessoas deveriam ler o livro e se maravilhar com o filme, para da tirarem suas concluses e perceberem o quanto essa histria meche no mais ntimo de nosso ser. Cada mundo em que ele passou, percebo essa crtica voltada s pessoas que dentro desta sociedade, vivem de maneira que se acham auto-suficientes, e incapazes de perceber o que muitas vezes, est diante de nossos olhos e no vemos. O Livro vem deixar bem evidente, de acordo com minha viso, muitos sentimentos, como o amor incondicional, a aceitao do outro da maneira que ele , o valor da amizade, de como somos responsveis pelos que cativamos, e como devemos deixar de lado a superficialidade e aprendermos a aprofundar os relacionamentos sejam em que situao estivermos. Percebo que uma profunda leitura e interpretao deste livro podero gerar no ser humano um impacto, onde o mesmo, dependendo de sua realidade vida, aprender a desconstruir valores superficiais, impostos pela sociedade, poltica e leis e viver de maneira mais autentica e coerente com os valores essenciais a vida humana.

REVISO BIBLIOGRFICA

SAINT EXUPRY, Antoine. O Pequeno Prncipe: com aquarelas do autor. 48 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2000. FISCHER, Steven Roger. Uma breve histria da linguagem. So Paulo: Novo Sculo, 2009. PDUA, Bruno R. Resenha crtica do livro O Pequeno Prncipe, jul. 2006. Disponvel em: . Acesso em: 05 mai. 2012. NETO, Antonio Severino de Aguiar. Resenha de O pequeno prncipe. dez. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 05 mai. 2012 ABNT NBR. Manual de Normalizao. 3 ed. Rio de Janeiro: Petrobrs, 2011Disponvel em: http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Relatorio-Sobre-o-Pequeno-Principe/281223.html Acesso em: 11 de Jan de 2014.