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CENTRO UNIVERSITRIO LVARES PENTEADO - UNIFECAP
MESTRADO EM ADMINISTRAO DE EMPRESAS
MAURCIO SCAGLIANTE BOMTEMPO
ANLISE DOS FATORES DE INFLUNCIA NA ESCOLHA PELO CURSO DE GRADUAO EM ADMINISTRAO: UM ESTUDO
SOBRE AS RELAES DE CAUSALIDADE ATRAVS DA MODELAGEM DE EQUAES ESTRUTURAIS
Dissertao apresentada ao Centro Universitrio lvares Penteado UNIFECAP, como requisito para a obteno do ttulo de Mestre em Administrao de Empresas. Orientador: Prof. Dr. Dirceu da Silva
So Paulo
2005
CENTRO UNIVERSITRIO LVARES PENTEADO - UNIFECAP
Reitor: Prof. Manuel Jos Nunes Pinto
Vice-reitor: Prof. Luiz Fernando Mussolini Jnior
Pr-reitor de Extenso: Prof. Dr. Fbio Appolinrio
Pr-reitor de Graduao: Prof. Jaime de Souza Oliveira
Pr-reitor de Ps-Graduao: Prof. Dr. Manuel Jos Nunes Pinto
Coordenador do Mestrado em Administrao de Empresas: Prof Dr. Dirceu da Silva
Coordenador do Mestrado em Controladoria e Contabilidade Estratgica: Prof Dr. Joo B. Segreti
FICHA CATALOGRFICA
B696a
Bomtempo, Maurcio Scagliante Anlise dos fatores de influncia na escolha pelo curso de graduao em administrao : um estudo sobre as relaes de causalidade atravs da modelagem de equaes estruturais / Maurcio Scagliante Bomtempo. - - So Paulo, 2005. 142 f. Orientador: Prof. Dr. Dirceu da Silva. Dissertao (mestrado) - Centro Universitrio lvares Penteado UniFecap - Mestrado em Administrao de Empresas .
1. Administrao Orientao profissional 2. Administrao Estudo e ensino (Superior)
CDD 658.007
FOLHA DE APROVAO
MAURCIO SCAGLIANTE BOMTEMPO
ANLISE DOS FATORES DE INFLUNCIA NA ESCOLHA PELO CURSO DE GRADUAO EM ADMINISTRAO: UM ESTUDO SOBRE AS POSSVEIS
RELAES DE CAUSALIDADE
Dissertao apresentada ao Centro Universitrio lvares Penteado UNIFECAP,
como requisito para a obteno do ttulo de Mestre em Administrao de Empresas.
COMISSO JULGADORA
_________________________________________ Prof a. Dr a. Tania Fator Universidade Municipal de So Caetano do Sul - IMES _________________________________________ Prof . Dr . Mauro Neves Garcia Centro Universitrio lvares Penteado - UNIFECAP
_________________________________________ Prof . Dr . Dirceu da Silva Centro Universitrio lvares Penteado - UNIFECAP Professor Orientador Presidente da Banca Examinadora
So Paulo, 23 de maio de 2005
AGRADECIMENTOS
Este trabalho concretiza um projeto interrompido h 22 anos, e que se
manteve como um sonho latente por todo esse perodo. Isso me permite valorizar
profundamente colaboraes, na forma de favorecimentos ou de estmulos, que de
outra maneira poderiam no ser devidamente aquilatadas.
Assim, antes de tudo, devo minha eterna gratido queles que mostraram-
me pelo exemplo as caractersticas que julgo essenciais ao pesquisador:
Ao meu pai, Mauro Bomtempo (in memoriam), com quem aprendi a importncia dos detalhes e tive o privilgio de conhecer a mais rara das virtudes: a da
humildade, sem submisso;
A minha me, Haydee S. Bomtempo, que deixou-me o legado da persistncia, seriedade e dedicao, da busca pela perfeio. No fosse essa herana e eu
certamente no teria finalizado esta e muitas outras jornadas;
A minha saudosa e querida nonna Jlia B. Scagliante (in memoriam), cujos incentivos constituram a base que viabilizou minha formao acadmica.
Agradeo aos docentes do mestrado da FECAP, Prof. Dr. Eolo M. Pagnani e
Prof. Dr. Roberto Coda, pelos ensinamentos e colaboraes.
Ao meu prestativo orientador, Prof. Dr. Dirceu da Silva, expresso minha
profunda gratido. Seu entusiasmo contagiante, comentrios, crticas e sugestes
foram definitivos para a estruturao e consolidao do estudo.
Agradeo tambm aos professores e colegas Ana Paula Michel, Armando
Terribili Filho, Jairo G. Duarte, Marlene Galeazzo, Paula Canavesi, Sandra Albanese
e Valquiria C. Marques, pelas crticas ao instrumento de pesquisa e julgamento dos
indicadores em cada fator de escolha, e aos professores Euvaldo Boccato, Marcos
Bonavita, Marcos Brambilla e Maria Lage, pela valiosa ajuda na coleta dos dados.
Deixo meus agradecimentos finais minha esposa Lucila, e s minhas
filhas, Niara e Ndia, que estiveram permanentemente presentes neste trabalho e
sofreram suas conseqncias penalizantes: compartilharam esforos e angstias,
sacrificaram momentos de lazer, respeitaram-me a ausncia, vibraram com meus
avanos. A elas dedico esta conquista!
Nada vos pertence mais que os sonhos vossos !
Friedrich Nietzsche
RESUMO O presente estudo analisa os fatores que influenciam os alunos na escolha pelo curso de graduao em Administrao, e como esses fatores se relacionam. Para tanto, parte-se de um recorte de parte das teorias vocacionais existentes e de ampla aceitao, e de alguns estudos que abordam o tema. Apoiando-se numa destacada classificao, foi promovido um agrupamento desses motivos, segmentando-os em trs categorias: Fatores Sociais, Fatores Psicolgicos e Fatores Econmicos. Para anlise da causalidade entre eles, estabeleceu-se trs modelos, cada qual tendo como antecedente um desses fatores. A adeqacidade dos modelos foi testada atravs de dados empricos obtidos junto a um estudo experimental conduzido com 258 estudantes de cursos de graduao em Administrao em quatro Instituies de Ensino Superior da rede privada localizadas na cidade de So Paulo. Usou-se como metodologia para anlise a tcnica estatstica de Modelagem de Equaes Estruturais. Aps processo de ajustamento, foram obtidos os parmetros dos modelos segundo dois mtodos de estimao. De acordo com os critrios estabelecidos, os resultados indicaram uma maior aderncia aos dados amostrais pelo modelo que estabelece fatores sociais como antecedentes no processo de escolha vocacional.
Palavras-Chave: Administrao - Orientao profissional. Administrao Estudo e ensino (Superior).
ABSTRACT
This study intends in analyzing the factors that influent the students when they choose a business management as their graduation course. The starting point is a review on the existing vocational guidance theories as well as the studies that approach the same theme. The factors were classified and grouped, resulting in the following segmentation: social factors, psychological factors and economic factors. During the analysis of the mutual cause-and-effect relationship among the factors, three models were defined, each one based in the respective factor. The adequacy of the models was tested trough a field research with 258 students of business management graduation courses from four private universities located at So Paulo State. A Structural Equation Modeling (SEM) was used as the statistical methodology for the data analysis. After necessary adjustments, the parameters of the models were defined trough an estimation process. According to the defined criteria, the results show that social factors are the most adjusted factors (to the model) that explain the decision process in the vocational choice.
Key-words: Management - Vocational guidance. Management Study and teaching (Higher).
LISTA DE ILUSTRAES Grfico 1 Evoluo das Estatsticas do Ensino Superior no Brasil .............. 15
Grfico 2 Evoluo Relativa de Inscries nos Cursos de Administrao ... 16
Grfico 3 Evoluo Relativa de Ingressos nos Cursos de Administrao .... 16
Grfico 4 Distribuio Amostral por nfase do Curso ................................ 88
Grfico 5 Renda Familiar dos Componentes da Amostra ............................ 90
Grfico 6 Tempo de Trabalho dos Componentes da Amostra ..................... 91 Grfico 7 Q-Plot dos Resduos Padronizados para o Modelo S, Segundo
os Mtodos de Estimao MLE e ULS ........................................ 100
Grfico 8 Q-Plot dos Resduos Padronizados para o Modelo P, Segundo
os Mtodos de Estimao MLE e ULS ........................................ 101
Grfico 9 Q-Plot dos Resduos Padronizados para o Modelo E, Segundo
os Mtodos de Estimao MLE e ULS ........................................ 102
Grfico 10 Modelo de Melhor Ajuste aos Dados .......................................... 103
Quadro 1 Tipos de Personalidade, Segundo Holland .................................. 42
Quadro 2 Indicadores Propostos para cada Dimenso do Estudo............... 73
Diagrama 1 Esquema Conceitual da Escolha e Seleo Ocupacional ....... 46 Diagrama 2 Relao Estrutural do Modelo S: Antecedentes Sociais ........ 69
Diagrama 3 Relao Estrutural do Modelo P: Antecedentes Psicolgicos. 70 Diagrama 4 Relao Estrutural do Modelo E: Antecedentes Econmicos. 70
Diagrama 5 Esquema de Construo Inicial dos Indicadores dos Modelos.. 72
Diagrama 6 Modelo S Antecedentes Sociais (Modelo Nulo Inicial) ........ 75
LISTA DE TABELAS Tabela 1 Principais Estatsticas dos cursos de Administrao ..................... 14
Tabela 2 Nmero de Cursos e Matrculas dos Cursos de Administrao ... 28 Tabela 3 Razes Indicadas para a Escolha dos Cursos, Segundo Pesquisa
de Cardoso e Sampaio ................................................................... 50
Tabela 4 Distribuio dos Respondentes por Estgio do Curso .................. 88
Tabela 5 Distribuio dos Respondentes por Faixa Etria e Sexo .............. 89
Tabela 6 Escolaridade dos Pais dos Respondentes ..................................... 89
Tabela 7 Caractersticas do Trabalho dos Respondentes ............................ 90
Tabela 8 Respostas Sobre a Situao e Viso com Relao ao Curso ...... 91 Tabela 9 Respostas Sobre Motivos de Escolha do Curso ........................... 95 Tabela 10 Medidas de Ajustamento para o Modelo Inicial ........................... 96
Tabela 11 Resultados do Ajuste dos Modelos de Medidas, segundo o
Mtodo MLE e com Antecedentes Sociais .................................. 97
Tabela 12 Modelos Completos Estimados, segundo Mtodos MLE e ULS.. 99
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AGFI CFA
Adjusted Goodness-of-Fit Index
Confirmatory Factor Analysis (Anlise Fatorial Confirmatria)
CFA Conselho Federal de Administrao CFI Comparative Fit Index CIEE Centro de Integrao Empresa-Escola EAESP Escola de Administrao de Empresas de So Paulo EBAP Escola Brasileira de Administrao Pblica ENEM Exame Nacional do Ensino Mdio FE Fatores Econmicos FEA Faculdade de Economia e Administrao FGV Fundao Getlio Vargas FP Fatores Psicolgicos FS Fatores Sociais GLS GFI
Generalized Least Squares (Mtodo de Estimao Mnimos Quadrados
Generalizados)
Goodness-of-Fit Index
g.l. Graus de Liberdade IDORT Instituto de Organizao Racional do Trabalho IES Instituies de Ensino Superior INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais LDB Leis de Diretrizes e Bases da Educao Nacional MEC Ministrio da Educao e Cultura MESP Ministrio da Educao e Sade Pblica MLE Maximum Likelihood Estimation (Mtodo de Estimao Mxima
Verossimilhana)
NFI Normed Fit Index NNFI Nonnormed Fit Index ONG Organizao No-Governamental ONU Organizao das Naes Unidas OP Orientao Profissional RMSEA Root Mean Square Error of Approximation
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (continuao)
SEM Structural Equation Modeling (Modelagem de Equaes Estruturais) TLI Tucker-Lewis Index ULS UNESCO
Unweighted Least Squares (Mtodo de Estimao Mnimos Quadrados
No-Ponderados)
Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a
Cultura
USAID United States Agency for International Development (Agncia Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional)
USP Universidade de So Paulo WLS Weighted Least Squares (Mnimos Quadrados Ponderados)
SUMRIO
1 INTRODUO.............................................................................................. 14 1.1 Exposio de motivos e apresentao do problema de pesquisa ............ 14 1.2 Objetivos ................................................................................................... 18
1.2.1 Objetivo geral ......................................................................................... 18 1.2.2 Objetivos especficos ............................................................................. 18 1.3 Estrutura do trabalho ................................................................................. 18
2 O CURSO DE ADMINISTRAO................................................................ 20 2.1 Evoluo do curso de administrao no Brasil ......................................... 20 2.2 Diretrizes curriculares ................................................................................ 23
2.3 Outras caractersticas do curso de administrao .................................... 28 2.3.1 Fragmentao de carreiras .................................................................... 28 2.3.2 Cdigo de tica profissional do administrador ....................................... 30 2.3.3 Viso do curso por egressos .................................................................. 31
2.3.4 Exame Nacional de Cursos - Provo ................................................... 32
3 ESCOLHA PROFISSIONAL : REVISO TERICA ................................... 34 3.1 Modelos tericos de orientao vocacional .............................................. 35 3.1.1 Teorias psicolgicas ............................................................................... 37
3.1.1.1 Teorias evolutivas ou desenvolvimentistas ......................................... 37
3.1.1.2 Teorias decisionais .............................................................................. 39
3.1.1.3 Teorias psicodinmicas ....................................................................... 40
3.1.2 Teorias sociolgicas ............................................................................... 43
3.1.3 Teorias econmicas ................................................................................ 44
3.1.4 Teorias gerais ......................................................................................... 45
3.2 Os fatores de influncia na escolha do curso ............................................ 48
3.2.1 Influncia familiar e de outros grupos .................................................... 51 3.2.2 Vestibular e oferta de vagas .................................................................. 54 3.2.3 Falta de informaes, criao de esteretipo e viso romntica da
profisso .......................................................................................................... 55
3.2.4 Gosto e identificao pessoal ................................................................ 59
3.2.5 Mercado de trabalho .............................................................................. 60 3.2.6 Publicidade ............................................................................................. 61
3.2.7 Prestgio e sucesso profissional ............................................................. 62
3.2.8 Aperfeioamento profissional ................................................................. 63
3.2.9 Viabilidade financeira ............................................................................. 65
4 METODOLOGIA DA PESQUISA ................................................................. 66 4.1 Tcnicas estatsticas de anlise ................................................................ 66
4.2 Modelos de estudo..................................................................................... 67
4.2.1 Composio estrutural ........................................................................... 67 4.2.2 Modelos de medidas .............................................................................. 71 4.2.3 Modelo completo inicial .......................................................................... 74
4.3 Instrumento de pesquisa ........................................................................... 76
4.4 Levantamento dos dados .......................................................................... 78
4.5 Etapas da anlise ...................................................................................... 80
4.5.1 Anlise descritiva ................................................................................... 81 4.5.2 Preparao dos dados ........................................................................... 82 4.5.3 Avaliao individual dos construtos ....................................................... 82 4.5.3.1 Unidimensionalidade dos construtos ................................................... 83
4.5.3.2 Confiabilidade do construto ................................................................. 83
4.5.3.3 Validade do construto .......................................................................... 84
4.5.3.4 Ajuste no modelo global ...................................................................... 84
4.5.4 Avaliao do modelo integrado .............................................................. 86
5 RESULTADOS ............................................................................................. 88 5.1 Perfil da amostra ....................................................................................... 88 5.2 Condies da escolha e viso do curso .................................................... 91
5.3 Posicionamentos sobre os fatores de influncia ....................................... 94
5.4 Validao dos modelos de medidas .......................................................... 96
5.5 Estimao do modelo integrado ................................................................ 98
6 CONCLUSES ............................................................................................ 104 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................... 108
APNDICE A INSTRUMENTO DE PESQUISA .......................................... 116 APNDICE B - RELATRIO GERADO PELO SISTEMA LISREL - TRATAMENTO INICIAL DOS DADOS PELO MODULO PRELIS ............. 119 APNDICE C RELATRIO GERADO PELO SISTEMA LISREL - ESTIMAO PELO MTODO MLE COM ANTECEDENTES SOCIAIS ....... 129 APNDICE D RELATRIO GERADO PELO SISTEMA LISREL - ESTIMAO PELO MTODO ULS COM ANTECEDENTES SOCIAIS ........ 136
14
1 INTRODUO
Este captulo visa a apresentar os aspectos que motivaram o
desenvolvimento do presente estudo, explicitando o problema de pesquisa
formulado, os objetivos do trabalho e sua forma de organizao.
1.1 Exposio de motivos e apresentao do problema de pesquisa
O Censo da Educao Superior em 2002, conduzido pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), apurou as principais estatsticas das
Instituies de Ensino Superior no Brasil naquele ano. Dentre seus resultados, os
cursos presenciais de Gerenciamento e Administrao ocupam parcela significativa
da composio total, representando 17,7% do total de vagas oferecidos pelo
sistema, 12,0% das inscries e 16,9% dos ingressos, conforme indica a Tabela 1.
Tabela 1 - Principais Estatsticas dos cursos de Gerenciamento e Administrao Brasil 2002
Caractersticas Total de Cursos Gerenciamento e Administrao Quantidade Quantidade % Nmero de cursos 14.399 1.413 9,8 % Matrculas 3.479.913 493.104 14,2% Concluintes (ano anterior) 466.260 54.656 11,7% Vagas 1.773.087 313.423 17,7% Inscries 4.984.409 597.701 12,0% Ingressos 1.205.140 204.045 16,9%
Fonte: MEC/INEP
Esta expressividade tem-se mostrado presente tambm em anos anteriores,
sugerindo a intensa procura que h por estes cursos pelos pretendentes ao ingresso
no ensino superior. Em 1998, por exemplo, o Censo da Educao Superior
(MEC/INEP) apresentou o curso de Administrao como o que ofereceu o maior
nmero de vagas de todo o sistema (99.338), e ocupou as segundas posies no
nmero de inscries (275.966), no nmero de matrculas (292.728) e no nmero de
concluintes do perodo anterior (31.630).
Pela mesma fonte, possvel ainda destacar-se que o sistema como um
todo vem crescendo quantitativamente, de forma mais incisiva nos ltimos anos,
15
tanto no nmero de inscries para processos seletivos, como no nmero vagas
ofertadas pelas Instituies de Ensino Superior, no nmero de ingressos em cursos
presenciais de graduao e, de forma um pouco menos acentuada, no nmero de
concluintes de tais cursos. O comportamento dessas tendncias podem ser
constatadas no Grfico 1.
Grfico 1 - Evoluo das Estatsticas do Ensino Superior no Brasil 1985-2002 Fonte: Elaborado com base em dados do Censo da Educao Superior 2002 MEC/INEP
Esta dinmica de crescimento do ensino superior apontada por Castro
(2000, p. 16) como correlacionada com a vigorosa expanso do ensino mdio
registrada na dcada de 90.
Mas se o crescimento expressivo no sistema de ensino superior na sua
totalidade, ainda mais acentuado nos cursos presenciais de graduao na rea de
Gerenciamento e Administrao, como mostram os Grficos 2 e 3 para o nmero de inscries e nmero de ingressos, respectivamente, e que tomam por base o ano
de 1997.
-
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
ANO
QU
AN
TID
AD
ES (e
m m
il)
Concl
Vagas
Inscritos
Ingressos
16
Grfico 2 - Evoluo Relativa de Inscries nos Cursos de Administrao Brasil (Base: 1997) Fonte: Elaborado com base em dados do Censo da Educao Superior 2002 - MEC/INEP
Grfico 3 - Evoluo Relativa de Ingressos nos Cursos de Administrao Brasil (Base: 1997) Fonte: Elaborado com base em dados do Censo da Educao Superior 2002 - MEC/INEP
Pfeffer e Fong (2003, p. 12) salientam o crescimento da educao em
Administrao apontando o aumento do nmero de escolas e universidades que
oferecem cursos de graduao em Administrao, desde o incio dos anos 80, nos
Estados Unidos, na Inglaterra e em pases da sia e da Europa Continental,
sugerindo tratar-se de um fenmeno de incidncia internacional, no obstante
notarem haver questionamentos constantes sobre a eficcia desses cursos no
sucesso profissional.
-
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
120,0
140,0
160,0
180,0
200,0
1998 1999 2000 2001 2002
ANO DE INGRESSO
CR
ESC
IMEN
TO (%
)
Total
Gerenciam.e Admin.
-
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
120,0
140,0
160,0
1998 1999 2000 2001 2002
ANO DA INSCRIO
CR
ESC
IMEN
TO (%
)
Total
Gerenciam .e Adm in.
17
Chanlat (1995, p. 69) afirma que, no decorrer dos anos 80, o termo gesto
tornou-se uma palavra da moda.
Ao lado dessas destacadas evolues, deve-se acrescentar constataes
como a de Soares-Lucchiari (1993a, p. 11-12), no tocante ao fato de que a escolha
profissional acontece quando o jovem est definindo sua identidade: quem ele quer
ser e quem no quer ser. o momento em que est buscando conhecer-se melhor,
seus gostos, interesses e motivaes, fazendo sua escolha sem ter muita
conscincia das influncias que sofre e, principalmente, sem ter informaes
suficientes sobre a profisso que est escolhendo. Os sentimentos de insegurana
e angstia tpicos dessa situao surgem, segundo Castanho (1988, p. 7), quando o
jovem percebe que existem vrios fatores pressionando-o sem que ele consiga
identific-los ou conhecer suas origens.
Tal situao, marcada pela magnitude, desperta o interesse na investigao
de questes relacionadas aos fatores que conduzem o candidato a pretender tais
cursos na edificao de suas carreiras (1).
O presente estudo, motivado pelas caractersticas abordadas e tendo como
alvo o aluno que quer ingressar no curso superior, apresenta o seguinte problema de
pesquisa: de que forma se relacionam os fatores de influncia decisria internos
(pessoais) e externos (econmicos e sociais) no processo de escolha do aluno pelo
curso de graduao em Administrao?
______________________________
(1) Super e Bohn Jr. (1980, p. 133, 135-137) definem: - Uma ocupao aquilo que uma pessoa faz para ganhar a vida num dado momento do tempo; - Uma vocao o que ela se sente atrada para fazer; e - Uma carreira a seqncia de empregos e posies ocupadas num determinado perodo de tempo. Os autores dizem que ocupao e carreira so quase sempre confundidos porque as pessoas manifestam tendncia, em certas profisses, de atingir um elevado nvel de estabilidade depois de algum tempo. O conceito de carreira tambm tratado por Dutra (1996, p. 17), que referencia a definio dada por London e Stumph (1982), adotada como referencial em diversas publicaes: So as seqncias de posies ocupadas e de trabalhos realizados durante a vida de uma pessoa. Envolve uma srie de estgios e a ocorrncia de transies que refletem necessidades, motivos e aspiraes individuais e expectativas e imposies da organizao e da sociedade. Orientao profissional ser aqui tratada como sinnimo de orientao vocacional.
18
1.2 Objetivos
Considerando o problema de pesquisa formulado, foram definidos para este
trabalho os objetivos geral e especficos que seguem.
1.2.1 Objetivo geral
Desenvolver e testar um modelo terico que represente os fatores antecedentes e conseqentes que influenciam o aluno na deciso pelo
ingresso no curso superior de graduao em Administrao.
1.2.2 Objetivos especficos
Identificar os fatores que influenciam o aluno a optar pelo curso de graduao em Administrao.
Construir indicadores que permitam apurar o grau de concordncia, sob a tica discente, com os fatores relacionados.
Compor construtos que contemplem a natureza (interna ou externa) dos fatores de influncia.
Investigar algumas possveis relaes de causalidade ou dependncia desses construtos.
1.3 Estrutura do trabalho
Para consecuo dos objetivos estabelecidos, este trabalho deve
desenvolver-se, inicialmente, com uma melhor compreenso do contexto em que as
escolhas profissionais acontecem, mediante a caracterizao dos cursos de
graduao em Administrao. Ser conduzida no captulo 2 uma apresentao de
sua evoluo histrica e das suas diretrizes curriculares, bem como de
caractersticas peculiares dos cursos, complementadas por uma identificao da
19
viso do curso por egressos, retratada em pesquisa conduzida pelo Conselho
Federal de Administrao (1998).
Na seqncia, o trabalho contm em seu captulo 3 uma investigao de
modelos tericos de escolha vocacional contemplados na literatura, e dos fatores de
influncia na escolha do curso apresentados em alguns estudos que trataram, direta
ou indiretamente, dessa temtica.
No captulo 4 h a exposio da metodologia da pesquisa, descrevendo
modelos de causalidade de fatores que se pretende investigar, as tcnicas
estatsticas de anlise, o instrumento de pesquisa desenhado, o plano de coleta dos
dados e as anlises a que foram submetidos os dados.
Os resultados apurados esto exibidos no captulo 5, abrangendo
informaes de natureza descritiva e verificaes previstas para aceite dentro das
avaliaes individuais dos construtos e dos modelos integrados.
No ltimo captulo, so apresentadas as concluses depreendidas e
algumas consideraes finais com registro das limitaes identificadas dentro do
estudo.
20
2 O CURSO DE ADMINISTRAO
A explorao das razes de escolha dos alunos passa necessariamente por
um melhor entendimento do ambiente e cenrio em que a temtica se encontra.
Assim, se o curso de Administrao exerce algum tipo de fascnio sobre um nmero
significativo de alunos, cabe analis-lo em sua evoluo histrica, e posicion-lo em
termos de legislao e caractersticas.
2.1 Evoluo do curso de administrao no Brasil
Como observado por Nicolini (2003, p. 45), a produo cientfica, na forma
de livros ou trabalhos cientficos, sobre a formao em Administrao muito
pequena, e a documentao sobre o incio do estudo de Administrao no Brasil
escassa e carente de sistematizao. Assim, baseamo-nos em artigo do prprio
autor e na dissertao de Barbosa (2002, p. 22-39), que apresentam informaes
relevantes para a compreenso da evoluo deste curso em nosso pas, e que
permitem-nos contextualizar nossa problemtica no cenrio em que ela se encontra.
Este breve resgate histrico tem seu ponto de partida registrado em 1902,
quando duas escolas particulares passaram a ministrar o estudo da Administrao:
Escola lvares Penteado, no Rio de Janeiro, e Academia de Comrcio, em So
Paulo. Nessa poca, porm, o ensino no era regulamentado.
A economia brasileira do comeo do sculo XX era predominantemente
agrcola, com destaque para a lavoura cafeeira. O desenvolvimento industrial teve
incio nesse perodo, reforado pela participao do capital estrangeiro e pela forte
imigrao ocorrida. A industrializao promoveu toda uma transformao social e
cultural, que acabou por gerar uma crise poltica - da Repblica Velha e de suas
oligarquias - desembocando na Revoluo de 1930.
A partir desse perodo, a formao social e poltica brasileira deu forte
nfase preparao de recursos humanos na forma de tcnicos e tecnlogos de
vrias especializaes, e de mtodos de trabalho mais sofisticados para atender ao
desenvolvimento de infra-estrutura de transportes, energia e comunicaes.
21
Em 1931 foi criado o Ministrio da Educao e Sade Pblica (MESP), e
houve a estruturao do ensino em todos os nveis. No mesmo ano foi fundado em
So Paulo o Instituto de Organizao Racional do Trabalho - IDORT, cujo objetivo
era o aperfeioamento gerencial dos profissionais e a soluo de problemas ligados
racionalizao da administrao das empresas, com divulgao das teorias e
mtodos da administrao cientfica e clssica.
Conforme Nicolini (2003, p. 46), a adoo de modelos estrangeiros no
ensino de Administrao aumenta em 1948, quando representantes da Fundao
Getlio Vargas, criada quatro anos antes no Rio de Janeiro, visitaram cursos de
Administrao Pblica em vinte e cinco universidades norte-americanas. Como
conseqncia desse intercmbio, foi criada em 1952, ligada Fundao Getlio
Vargas, tambm no Rio de Janeiro, e destinada formao de especialistas para a
administrao pblica, a Escola Brasileira de Administrao Pblica EBAP, com
apoio da ONU e da UNESCO. Esse apoio garantia a manuteno de professores
estrangeiros na Escola, e a existncia de bolsas de estudo no exterior para o
aperfeioamento dos docentes no Brasil.
Gheraldelli (1994, p. 106) lembra que, no perodo ps-guerra, o ideal de
vida e a democracia existente nos Estados Unidos encantavam setores da burguesia
e das classes mdias.
Em 1954 criada pela Fundao Getlio Vargas a Escola de Administrao
de Empresas de So Paulo EAESP, na cidade de maior desenvolvimento
econmico e iniciativa privada do pas, destinada a formar profissionais especialistas
nas modernas tcnicas de gesto empresarial, que atendessem s expectativas do
empresariado local.
O modelo de ensino de administrao norte-americano influenciou os cursos
iniciais de formao de administradores no Brasil tambm em resposta aos doze
acordos MEC - USAID (United States Agency for International Development)
publicados entre junho de 1964 e janeiro de 1968, mas que foram preparados antes
do golpe militar de 1964 por tecnocratas brasileiros, sob o comando da USAID. De
acordo com Gheraldelli (1994, p. 169-175), esses acordos, que comprometeram a
poltica educacional do pas s determinaes dos tcnicos americanos, tinham o
pensamento orientado pela Teoria Geral da Administrao de Empresas (Taylor-
22
Fayol) aplicadas ao ensino. Adotavam o esprito do modelo universidade-empresa, e
enfatizavam a racionalidade, a eficincia e a produtividade. O governo militar,
voltado por convenincia ao tecnicismo pedaggico e interessado em alinhar o
sistema educacional com a poltica econmica vigente, procurava demonstrar a
necessidade de atrelar a escola ao mercado de trabalho.
Como parte do acordo com a USAID, foi firmado um convnio entre os
governos brasileiro e norte-americano, estabelecendo o envio de bolsistas da EBAP
e da EAESP para estudos de ps-graduao na Universidade Estadual de Michigan.
O intercmbio previu tambm o recebimento na Fundao Getlio Vargas de
especialistas de administrao de empresas.
Outro marco na evoluo do ensino de Administrao foi a implantao, no
incio da dcada de 60, do curso de Administrao na Faculdade de Economia e
Administrao da Universidade de So Paulo FEA / USP.
Em 1969, a EAESP / FGV passa a oferecer em So Paulo tambm o curso
de graduao em Administrao Pblica. O currculo da Instituio passa a servir de
modelo para as demais instituies de ensino superior de Administrao do pas.
A partir do final da dcada de 60, os cursos de Administrao expandem-se,
do interior de Instituies Universitrias, onde estavam inseridos num contexto de
ensino e pesquisa, para faculdades isoladas privadas, que comeam a ser criadas
em grande nmero.
Para Chau (2001, p. 189), essa expanso, caracterizando a massificao do
ensino universitrio, foi o prmio de consolao que a ditadura ofereceu sua base
de sustentao poltico-ideolgica, isto , classe mdia despojada de poder. A ela
foram prometidos prestgio e ascenso social por meio do diploma universitrio. A
autora acrescenta que, com a reforma universitria realizada a partir de 1968, a
Instituio de Ensino Superior volta-se para treinar os indivduos a fim de que sejam
produtivos para quem for contrat-los, ou seja, passa a adestrar mo-de-obra e
fornecer fora-de-trabalho (CHAU, 2001, p. 52).
Barbosa (2002, p. 36) vincula a expanso ao crescimento no perodo do
modelo de desenvolvimento neo-liberal, que prope livre mercado como nica via
possvel da sociabilidade humana, e valoriza a preparao da mo-de-obra de
qualidade, voltada para o trabalho. A autora mostra esse princpio refletido no Artigo
23
205 da Constituio Brasileira de 1988, que explicita, pela primeira vez, como um
dos objetivos da educao, a qualificao para o trabalho. Cita, por fim, o curso de
Administrao como particularmente aderente a esse modelo, j que se trata do
curso por excelncia para a formao do capital humano, na sua dimenso de
empregabilidade.
2.2 Diretrizes curriculares
As diretrizes curriculares dos cursos de Administrao vivenciaram, ao longo
de sua evoluo, conforme registra o Conselho Federal de Administrao (2004),
trs momentos bsicos: a fixao do currculo mnimo em 1966, a instituio do
currculo pleno em 1993 e a instituio das Diretrizes Curriculares Nacionais em
2004.
A profisso de Administrador foi regulamentada pela Lei 4769 de 09 de
Setembro de 1965, estabelecendo o termo de Tcnico em Administrao para os
profissionais da rea. Em seu Artigo 3, nos itens a, b e d, o regulamento desta Lei
prev como atividades profissionais do Administrador (CONSELHO FEDERAL DE
ADMINISTRAO, 2004):
- elaborao de pareceres, relatrios, planos, projetos, arbitragens e laudos,
em que se exija a aplicao de conhecimentos inerentes s tcnicas de
organizao;
- pesquisa, estudos, anlises, interpretao, planejamento, implantao,
coordenao e controle dos trabalhos nos campos de administrao geral,
como administrao e seleo de pessoal, organizao, anlise, mtodos
e programas de trabalho, oramento, administrao de material e
financeira, bem como outros campos em que estes se desdobrem ou com
os quais sejam conexos;
- exerccio de funes de chefia ou direo, intermediria ou superior
assessoramento e consultoria em rgos, ou seus compartimentos, da
Administrao pblica ou de entidades privadas, cujas atribuies
24
envolvam principalmente a aplicao de conhecimentos inerentes s
tcnicas de administrao.
Atravs do Parecer n 307/66, do ento Conselho Federal da Educao, foi
fixado o currculo mnimo do curso de Graduao.
Lopes (2002) comenta que a denominao Tcnico em Administrao,
adotada na legislao inicial, reflete uma caracterstica dos cursos que permanecem
at a atualidade: a excessiva nfase nas tcnicas e a decorrente especializao de
contedos organizados em disciplinas.
A legislao sobre os currculos dos cursos de graduao em Administrao
passa, ento, por um longo perodo sem alteraes, apesar de um aumento
constante do nmero de cursos que se seguiu.
Em 04/10/1993 o Conselho Federal de Educao expede a Resoluo n 2,
instituindo o currculo pleno dos cursos de graduao em Administrao,
preconizando que as instituies poderiam criar habilitaes especficas, mediante
intensificao de estudos correspondentes s matrias fixadas pela prpria
Resoluo, alm de outras que viessem a ser indicadas para serem trabalhadas no
currculo pleno (CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAO, 2004).
previsto no documento um tempo total de 3.000 horas-aula (h/a), a serem
cumpridas num perodo de quatro a sete anos letivos, com matrias contemplando:
- Formao Bsica e Instrumental (720 h/a);
- Formao Profissional (1.020 h/a);
- Disciplinas Eletivas e Complementares (960 h/a);
- Estgio Supervisionado (300 h/a).
Nicolini (2003, p. 47) esclarece que esse currculo originou-se de proposta
formal originada no Seminrio Nacional sobre Reformulao Curricular dos Cursos
de Administrao, realizado no perodo de 28 a 31 de outubro de 1991 na
Universidade Federal do Rio de Janeiro, e que contou com representantes de 170
cursos de Administrao de todo o pas. O autor observa tambm que esse novo
25
currculo mnimo, embora aperfeioado e modernizado, ainda mantm as Escolas de
Administrao na trilha tradicionalista.
Em 20/12/1996, promulgada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Nacional (LDB), que vem iniciar um novo processo de discusso do ensino superior.
Dentre seus objetivos, est oficialmente o de conferir maior autonomia s
Instituies de Ensino Superior na definio dos currculos de seus cursos, a partir
da explicitao das competncias e das habilidades que se deseja desenvolver,
atravs da organizao de um modelo pedaggico capaz de adaptar-se dinmica
das demandas da sociedade (MEC, 2004).
Poli (1999, p. 112) critica esta LDB (9394/96), colocando-a como
mantenedora de uma tradio burguesa envolta em uma nova roupagem neoliberal,
aumentando ainda mais o cisma entre os dois tipos de trabalho (manual e
intelectual) [], oferecendo cursos de curta durao para [] preparar os
trabalhadores para as funes produtivas para as quais eles so destinados pelo
estigma social e nada mais. A autora conclui que, dessa maneira, fica fcil recrutar
mo-de-obra com algum conhecimento, a baixos salrios.
Em 1997, o Conselho Nacional de Educao, pelo Parecer 776/97,
conclamou as reas a formular as diretrizes curriculares especficas de cada curso
de graduao.
Para os cursos de graduao em Administrao, eventos regionais geraram
propostas que subsidiaram o Conselho Nacional da Educao a emitir, em
02/02/2004, a RESOLUO N 1, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais
do Curso de Graduao em Administrao, Bacharelado.
Publicada no Dirio Oficial da Unio no dia 4 de maro de 2004, esta
Resoluo indica que as Instituies de Ensino Superior devero ter seus projetos
pedaggicos constitudos de forma consistente, especificando suas peculiaridades,
seu currculo pleno e sua operacionalizao e sistemtica de avaliao.
Consideraro, dentre outros aspectos, o perfil do formando, as competncias e
habilidades, e os componentes curriculares, como o estgio curricular
supervisionado (para consolidar os desempenhos profissionais desejados) e as
atividades complementares (que possibilitam o reconhecimento de habilidades,
conhecimentos e competncias do aluno).
26
Como perfil desejado do formando indicado no Art. 3: capacitao e
aptido para compreender questes cientficas, tcnicas, sociais e econmicas da
produo e de seu gerenciamento [...], bem como para desenvolver gerenciamento
qualitativo e adequado, revelando a assimilao de novas informaes e
apresentando flexibilidade intelectual e adaptabilidade contextualizada no trato de
situaes diversas [...].
importante observar que esta descrio insinua uma preponderncia de
atuao tcnica para o profissional, transparecendo uma viso pouco voltada para o
lado humano e crtico, caracterizando o egresso sobretudo como um administrador
de recurso.
Dentre as competncias e habilidades mnimas relacionadas no Art. 4
dessa Resoluo, esto:
- reconhecer e definir problemas, equacionar solues, pensar
estrategicamente, introduzir modificaes no processo produtivo, atuar
preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos e exercer, em
diferentes graus de complexidade, o processo da tomada de deciso;
- desenvolver expresso e comunicao compatveis com o exerccio
profissional, inclusive nos processos de negociao nas comunicaes
interpessoais;
- desenvolver raciocnio lgico, crtico e analtico para operar com valores e
formulaes matemticas presentes nas relaes formais e causais entre
fenmenos produtivos, administrativos e de controle;
- ter iniciativa, criatividade, determinao, vontade poltica e administrativa,
vontade de aprender, abertura s mudanas e conscincia da qualidade e
das implicaes ticas do seu exerccio profissional;
- desenvolver capacidade de transferir conhecimentos para o ambiente de
trabalho, em diferentes modelos organizacionais, revelando-se profissional
adaptvel.
27
Destacam-se, tambm, da Resoluo em questo, no Artigo 5, os contedos
recomendados para figurar nos projetos pedaggicos dos cursos, divididos em
quatro grupos:
Grupo I - Contedos de Formao Bsica: relacionados com estudos
antropolgicos, sociolgicos, filosficos, psicolgicos, tico-profissionais,
polticos, comportamentais, econmicos e contbeis, tecnologias da
comunicao e da informao e cincias jurdicas;
Grupo II - Contedos de Formao Profissional: relacionados com as reas
especficas, envolvendo teorias da administrao e das organizaes e a
administrao de recursos humanos, mercado e marketing, materiais,
produo e logstica, financeira e oramentria, sistemas de informaes,
planejamento estratgico e servios;
Grupo III - Contedos de Estudos Quantitativos e suas Tecnologias:
abrangendo pesquisa operacional, teoria dos jogos, modelos matemticos e
estatsticos e aplicao de tecnologias que contribuam para a definio e
utilizao de estratgias e procedimentos inerentes administrao; e
Grupo IV Contedos de Formao Complementar: estudos opcionais de
carter transversal e interdisciplinar para o enriquecimento do perfil do
formando.
Cabe, finalmente, uma especial meno ao disposto no pargrafo 2 do
Artigo 2 da Resoluo: Os Projetos Pedaggicos do Curso de Graduao em
Administrao podero admitir Linhas de Formao Especficas, nas diversas reas
da Administrao, para melhor atender s demandas institucionais e sociais. Essa
caracterstica, que vem se concretizando nos ltimos anos de forma bastante
contundente nos cursos de Administrao, tratada por fragmentao da carreira,
e ser detalhada a seguir.
28
2.3 Outras caractersticas do curso de administrao
Para uma melhor contextualizao do presente estudo, foram selecionadas
algumas outras caractersticas do curso de administrao, no necessariamente
exclusivas, que permitem aprofundar as questes de interesse.
2.3.1 Fragmentao da carreira
Uma caracterstica interessante dos cursos de graduao presenciais em
Administrao, que vem se consolidando de forma mais intensa desde 2000, a
significativa variao dos cursos oferecidos, possibilitada pela autorizao legal para
a criao de habilitaes especficas. A Tabela 2 revela o nmero de cursos e de
matrculas para cada uma dessas variaes no ano de 2002, segundo apurao do
Censo da Educao Superior, conduzido pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (INEP / MEC), junto s Instituies de Ensino Superior
(IES).
Tabela 2 Nmero de Cursos e Matrculas dos Cursos de Administrao Brasil - 2002
N Cursos (modalidades) N Cursos N Matrculas 01 Administrao 1.211 454.43802 Administrao de agronegcios 4 47103 Administrao de cooperativas 4 60104 Administrao de empresas 42 18.15105 Administrao de recursos humanos 8 17206 Administrao de sistemas de informaes 5 41207 Administrao de servios de sade 1 2408 Administrao em anlise de sistemas / informtica 7 2.64009 Administrao em comrcio exterior 18 3.61510 Administrao em marketing 17 2.62611 Administrao em prestao de servios 1 2112 Administrao em turismo 4 1.18913 Administrao hospitalar 15 1.66214 Administrao hoteleira 7 70015 Administrao industrial 1 30216 Administrao pblica 4 31417 Administrao rural 6 71518 Cincias gerenciais 1 019 Empreendedorismo 4 6320 Formao de executivos 3 48021 Gesto ambiental 1 13122 Gesto da informao 3 11523 Gesto da produo 1 16324 Gesto de comrcio 1 0
29
25 Gesto de empresas 5 50726 Gesto de imveis 2 027 Gesto de negcios 3 48728 Gesto de negcios internacionais 3 43229 Gesto de pessoal / recursos humanos 6 30630 Gesto de qualidade 2 8431 Gesto de servios 1 3032 Gesto financeira 15 1.24733 Gesto logstica 7 439
Total Gerenciamento e Administrao 1.413 492.537
Fonte: INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Ministrio da Educao (MEC)
Essa ampla diversificao chamada por Sampaio (2000, p. 98) como
fragmentao de carreira. uma caracterstica especialmente observada nos cursos
de Cincias Sociais (gerenciais e da comunicao). Ainda segundo a autora, a
fragmentao de carreira uma estratgia da iniciativa privada visando a colocar
mais ofertas no mercado e, com isso, atrair a clientela. Aproveita um momento
expansionista dos estabelecimentos particulares de ensino superior, derivada do
crescimento demogrfico e da demanda de educao.
A fragmentao de carreira, notadamente para os cursos de Gerenciamento
e Administrao, apresenta as seguintes caractersticas (SAMPAIO, 2000, p. 98,
103-104):
- promove derivaes de cursos j abundantemente oferecidos pelo
mercado: o que era antes oferecido como habilitao transforma-se em
carreira independente, com vestibulares e currculos prprios;
- procura acenar para ocupaes de futuro no mercado de trabalho;
- no requer alto investimento para implementao;
- contempla carreiras menos seletivas do ponto de vista scio-econmicos
(atendem diferentes perfis de alunos);
- concentra-se em mercados mais competitivos;
- alcana cursos que no desfrutam da tradio de prestgio social, porm
tem forte apelo de mercado;
30
- adotada basicamente por Universidades e Centros Universitrios (que
tem maior autonomia administrativa e didtica para alterar seu elenco de
cursos, pois no dependem de prvia autorizao do Poder Executivo,
segundo Decreto n 3.860 de 09/07/2001).
Relevadas tais caractersticas, a fragmentao da carreira dos cursos de
Gerenciamento e Administrao pode ser um relevante fator de influncia na escolha
do aluno pelo curso.
2.3.2 Cdigo de tica profissional do administrador
Atravs da Resoluo Normativa n 253, de 30/03/2001, o Conselho Federal de Administrao publicou o Cdigo de tica Profissional do Administrador, que em
seu prembulo classifica-se como um guia orientador e estimulador de novos
comportamentos, servindo para que o Administrador visualize seu papel e torne
sua ao mais eficaz diante da sociedade.
Numa anlise abrangente e direcionada para os interesses do presente
estudo, possvel constatar-se que esse documento revela uma grande
preocupao com o profissional frente a aspectos sociais.
H, naturalmente, que se considerar que o prprio conceito de tica vincula-
se a questes sociais. O documento em questo define tica de forma ampla, como
a explicitao terica do fundamento ltimo do agir humano na busca do bem
comum e da realizao individual. E acrescenta: a busca dessa satisfao ocorre
necessariamente dentro de um contexto social especfico o trabalho.
O compromisso com o desenvolvimento social aparece claramente
explicitado em diversos deveres atribudos ao Administrador (art. 6), tais como: II Propugnar pelo desenvolvimento da sociedade e das organizaes, subordinando a eficincia de desempenho profissional aos valores permanentes da verdade e do bem comum.
III Capacitar-se para perceber que, acima do seu compromisso com o cliente, est o interesse social, cabendo-lhe, como agente de transformao, colocar a empresa nessa perspectiva.
XX Esclarecer o cliente sobre a funo social da empresa e a necessidade de preservao do meio ambiente.
31
Aceita esta posio de manter estreitamente ligada funo do
Administrador a preocupao com aspectos sociais, ser destacado neste estudo,
por extrapolao, a importncia dos fatores sociais como antecedentes na influncia
sobre os alunos no tocante escolha pelo curso de Administrao.
2.3.3 Viso do curso por egressos
A viso do curso superior de graduao em Administrao, e as expectativas
construdas antes de seu ingresso, fatores relevantes na concepo idealizada do
curso e da profisso, so tambm sinalizadores das razes de escolha do curso
pelos alunos. Nesse sentido, Tachizawa e Andrade (1999, p. 24-34) citaram ampla
pesquisa conduzida pelo Conselho Federal de Administrao CFA, realizada em
1998 envolvendo empregadores (300 executivos / empresrios), professores (246
respondentes) e profissionais formados (783 administradores), direcionada para
constataes e anlises sobre a atuao e caractersticas das Instituies de Ensino
Superior nos cursos de Gerenciamento e Administrao.
Dos profissionais formados participantes, 705 (90%) estavam empregados.
Algumas posies apontadas na pesquisa pelos egressos foram:
- o currculo genrico demais;
- o ensino desatualizado e no prepara para o mercado de trabalho;
- as Instituies de Ensino Superior no acompanham as mudanas de
mercado;
- h diferenas entre os alunos dos cursos diurno e noturno;
- muitos administradores ficaram decepcionados com a instituio de ensino.
A posio crtica com o curso, porm, no marcou com profundidade o
sentimento de satisfao geral com a profisso. Em anlise desse aspecto, foi
constatado que 60% dos respondentes estavam satisfeitos com a profisso de
administrador, 36% estavam parcialmente satisfeitos, e 4% totalmente
insatisfeitos.
32
Finalmente, a pesquisa indicou como deficincias mais comuns entre os
administradores:
- falta de conhecimento prtico (48%);
- inexperincia profissional (44%);
- capacidade gerencial deficiente (42%);
- falta de viso de conjunto (41%).
Esses resultados permitem-nos deduzir, por um lado, a expectativa de um
curso eminentemente direcionado para as necessidades de mercado, dinmico,
flexvel e especializado, e por outro lado, a viso dos egressos de um
distanciamento entre as Instituies de Ensino Superior e o mercado de trabalho.
Tal posio parece no considerar outros aspectos voltados ao campo do
saber, inerentes aos cursos de graduao, como indica o Plano Nacional de
Graduao Um Projeto em Construo (1999, p. 10), documento resultante do
trabalho de pr-reitores de graduao:
[...] a responsabilidade da IES com a formao do cidado no pode se restringir a preparar o indivduo para o exerccio de uma profisso, como se fosse o suficiente para integr-lo ao mundo do trabalho. Essa formao exige o compromisso com a produo de novos conhecimentos e o desenvolvimento da capacidade de adaptar-se s mudanas.
2.3.4 Exame Nacional de Cursos Provo
A magnitude do nmero de matrculas tem conferido ao curso de
Administrao algumas situaes diferenciadas. o que ocorreu no processo de
implantao do Provo. Em 18/03/1996, a Portaria n 249 regulamentou a Lei 9.131, de 24/11/1995, instituindo o Exame Nacional de Cursos, popularmente
batizado de Provo, para ser submetido aos concluintes de cursos superiores,
como elemento para avaliar a qualidade das instituies e dos cursos de nvel
superior de graduao. Os cursos inicialmente escolhidos foram aqueles oferecidos
pelo sistema educacional nacional superior com o maior nmero de alunos
33
matriculados na oportunidade: Administrao (195.603), Direito (190.712) e
Engenharia (140.169) (SAMPAIO, 2000, p. 228).
Sem questionar a metodologia empregada, que envolve ainda os fatores
titulao e regime de trabalho docente, fato que a contribuio oferecida por estes
cursos consolidou o processo idealizado, que passou a ser aplicado com
regularidade.
A opo pelo curso de Administrao pode ser influenciada pela imagem
institucional formada a partir das destacadas qualificaes.
34
3 ESCOLHA PROFISSIONAL: REVISO TERICA
Hair Jr. et al. (1998, p. 589) definem teoria como um conjunto sistemtico de
relaes causais, fornecendo uma explanao consistente e compreensvel de um
fenmeno. Dessa forma, a partir da necessidade de material terico que pudesse
elucidar as dvidas e questionamentos deste estudo, procedeu-se uma reviso
literria e encontrou-se no contexto das teorias vocacionais argumentos e conceitos
totalmente aderentes ao tema e trazem maiores esclarecimentos para as questes
objeto desta pesquisa.
No se pretende, com este estudo, avaliar a eficcia ou contribuies que as
teorias vocacionais proporcionam no processo de orientao profissional, ou sua
suficincia para esclarecer questes relacionadas ao processo decisional, como
questes do tipo para que estudar?, para que trabalhar? ou para quem
trabalhar?, apontadas por Pimenta (1979, p. 41-42) como no abordadas pelas
teorias vocacionais. Tampouco interesse aqui discutir a natureza instrumental a
que elas se prestam para auxiliar no processo de orientao.
A explorao das teorias vocacionais prender-se-, neste estudo,
perspectiva do que podem colaborar na explicao dos fatores de influncia na
escolha, em particular pelo curso de graduao em Administrao, cabendo contudo
explicitar que a presente adoo de tais teorias foram motivadas pela importncia
que o trabalho representa para o ser humano, no s sob a tica de um componente
que lhe proporciona adaptao e atuao na sociedade em que vive, mas tambm
na complementao de sua realizao enquanto pessoa, sob uma concepo
evolutiva de crescimento.
Muito embora a necessidade pelo precoce ingresso no mercado de trabalho
e outros fatores scio-econmicos externos ao controle do indivduo
reconhecidamente restrinjam-lhe a escolha profissional, pressuposto deste estudo
a sua liberdade em decidir pela prpria sorte e construir seu destino, alterando
rumos e ajustando-se a situaes, em busca da felicidade.
Reiterando as palavras de Bohoslavsky (1977, p. 49): A pessoa no
seno o que procura ser.
35
3.1 Modelos tericos de orientao vocacional
medida que aprofundou-se a explorao na sua evoluo, foram
encontradas indicaes que a orientao profissional passa a configurar-se como
disciplina cientfica no final do sculo XIX, com o desenvolvimento das cincias
humanas, especialmente da Psicologia, e com os trabalhos de Galton, Catell e Binet
(SILVA, 1996, p. 23-24).
Com o advento das duas guerras mundiais, houve um significativo avano
no desenvolvimento de mtodos de diagnsticos de aptides profissionais. A partir
de ento passam a ser elaboradas em grande nmero as teorias vocacionais,
enfatizando aspectos distintos da questo.
O conhecimento do contedo fundamental das principais teorias
vocacionais, torna-se fundamental para levar identificao e melhor compreenso
das relaes que influenciam a questo da escolha profissional. A importncia da
teoria num processo de pesquisa valorizada por Stefflre (1976, p. 2), segundo o
qual: Uma teoria um mapa onde alguns pontos so conhecidos, pontos esses
ligados por uma estrada inferida. Da qualidade desse mapa depende o uso que
podemos fazer dele para nos auxiliar.
Constata-se em reviso literria uma ampla diversidade de teorias
vocacionais existentes. Giacaglia (2003, p. 101) atribui o fato s diferentes
concepes de homem, no s por parte de profissionais de diferentes reas, [...]
mas tambm por parte de profissionais de uma mesma rea, como entre psiclogos
de diferentes escolas da Psicologia.
Folmer-Johnson (2000, p. 45) expe a complementaridade das teorias
existentes neste segmento:
Cada um dos modelos psicolgicos da orientao profissional d uma contribuio nica, ao explicar uma dimenso especfica das tomadas de deciso dos indivduos. Ao longo do desenvolvimento da orientao profissional, as descobertas vo sendo assimiladas nos modelos, todos tendendo a considerar a escolha da profisso como um processo de desenvolvimento e de explorao de carreira, sujeito a influncia de inmeros fatores. Na prtica, os orientadores lanam mo de conceitos, tcnicas e instrumentos de diversos modelos.
36
Silva (1996, p. 39, 210) tambm conclui sobre a parcialidade das teorias
existentes, abordando aspectos isolados da questo. Mas garante que as duas
instncias afetiva e scio-econmica so determinantes na escolha da profisso,
sendo necessrio, portanto, criar mediaes e articulaes entre essas duas ordens
de determinaes.
Para o avano da problemtica vocacional Silva (1996, p. 212) sugere,
dentre outros, que sejam conduzidos estudos com amostras de sujeitos de um
mesmo segmento profissional. Nesse sentido, o presente estudo poder contribuir,
dentro de suas limitaes, oferecendo material que proporcione um maior
conhecimento dos estudantes dos cursos de graduao em Administrao, e
estimulando anlises mais aprofundadas sobre a questo.
Pela adequao e estruturao apresentada, este trabalho tomar por base
a classificao proposta por Crites (1974, p. 95), destacada por Pimenta (1979, p.
26), Silva (1996, p. 25) e Folmer-Johnson (2000, p. 34) como de ampla utilizao
nos estudos do tema.
Crites (1974, p. 95) divide as teorias vocacionais em grandes grupos:
psicolgicas, no-psicolgicas (sociolgicas e econmicas) e gerais (interdisciplinares). Foram selecionadas, dentro de cada um dos grupos propostos
por Crites, algumas teorias de especial relevncia para o propsito da pesquisa. O
critrio adotado considerou, dentre as teorias destacadas na literatura revisada,
aquelas que fossem representativas de suas categorias ou subcategorias, e que
favorecessem a criao de indicadores relativos a fatores de influncia passveis de
mensurao junto a alunos do curso de graduao em Administrao. Pelo foco da
pesquisa, foram excludas aquelas direcionadas ao processo de aconselhamento em
si (orientao vocacional), e no voltadas para a explicao dos motivos da escolha
e fatores associados.
Embora o objetivo deste estudo no seja exatamente aprofundar a anlise
dos modelos tericos da orientao vocacional ou explorar-lhes com grande
abrangncia, foi procedida uma reviso conceitual para permitir uma compreenso
fundamental dos aspectos tericos existentes, e constatao de como elas podem
explicar os questionamentos centrais deste estudo.
37
3.1.1 Teorias psicolgicas
A abordagem psicolgica estabelece a escolha profissional como um
fenmeno individual, vinculada a caractersticas pessoais do indivduo. As teorias
enquadradas nesta abordagem procuram explicar os fatores psicolgicos envolvidos
no processo da escolha e no ajustamento profissional, com o pressuposto bsico da
liberdade de opo, do controle e poder das pessoas sobre o seu destino.
As crticas feitas abordagem psicolgica concentram-se no fato de atribuir
menor importncia a fatores scio-econmicos no processo de escolha profissional,
no favorecendo uma compreenso mais ampla e complexa do processo.
Dentro desta categoria, vamos destacar algumas teorias dentro de cada uma
de trs subcategorias de classificao:
3.1.1.1 Teorias evolutivas ou desenvolvimentistas
So teorias que evidenciam a natureza seqencial do comportamento
vocacional, descrevendo os processos pelos quais o indivduo se desenvolve neste
plano. Observam no s a escolha da profisso, mas o seu exerccio, com xito,
ascendendo a postos mais elevados como estgios de desenvolvimento, dentro da
carreira, com maior capacidade de adaptao.
Tem-se aqui o princpio da explorao da carreira ocorrendo ao longo da
vida, e no o de uma escolha profissional num dado momento.
A concepo desenvolvimentista de escolha da profisso implicou fortes
mudanas na Orientao Profissional, dentre as quais destaca-se a extenso da
orientao a pessoas em qualquer estgio de vida profissional.
A teoria precursora desse modelo desenvolvimentista foi formulada por
Ginzberg e colaboradores (1966), que reconheceu a interao entre fatores
individuais e sociais e o carter evolutivo dessa interao.
Dentre as diversas teorias fundamentadas nesta concepo, destacamos a
Teoria do Autoconceito e do Desenvolvimento Vocacional, de Super (1980).
38
Para Super: o autoconceito uma descrio sumria da personalidade, que
leva em conta, explicitamente, a imagem que uma pessoa tem de si mesma
(SUPER; BOHN JR., 1980, p. 132).
O autoconceito formado nas primeiras experincias com outros indivduos
e nas situaes da vida, que vo-lhe modificando continuamente a imagem que tem
de si na medida que essas experincias acontecem.
um conceito particularmente til no relacionamento de personalidade e
ocupaes, pois as pessoas tendem a escolher profisses que julgam
representativas das caractersticas que vem em si mesmas, a partir da imagem
que fazem de profissionais das diferentes ocupaes, e sua identificao com essas
pessoas. E, para Super, quando uma pessoa elege uma profisso, est elegendo
um modo de atualizar seu conceito de si mesma.
Super estabeleceu o processo de desenvolvimento vocacional como
vitalcio, composto por cinco estgios (SUPER; BOHN JR., 1980, p. 160-161):
Estgio de crescimento (at os 14 anos): perodo em que o autoconceito se
desenvolve atravs da identificao com as figuras importantes na famlia e
na escola;
Estgio de explorao (dos 15 aos 24 anos): caracteriza-se pela auto-
anlise e pela explorao ocupacional;
Estgio de estabelecimento (dos 25 aos 44 anos): perodo no qual o
indivduo, tendo encontrado uma rea compatvel, esfora-se para
permanecer nela;
Estgio de permanncia (dos 45 aos 64 anos): fase em que j conquistou
um lugar no mundo do trabalho, ficando a preocupao em sustent-lo;
Estgio de declnio (dos 65 anos em diante): fase em que as foras fsicas e
mentais declinam, e no devido tempo a atividade de trabalho cessa.
Em sua teoria, Super reconhece, no desenvolvimento nos padres de
carreira, alm de determinantes psicolgicos (Inteligncia, aptides, interesses,
valores e necessidades), a influncia de fatores econmicos (oportunidades
39
ocupacionais, condies econmicas e mercado de trabalho) e sociolgicos (posio
social) neste caso justificando que carreiras estveis e convencionais so mais
comuns nos nveis scio-econmicos mais altos, enquanto que os padres instveis
so mais comuns nos nveis scio-econmicos mais baixos. Indica tambm que raa
e sexo interferem significativamente nas posies educacionais e ocupacionais
(SUPER; BOHN JR., 1980, p. 169-171).
Folmer-Johnson (2000, p. 38) comenta que, embora Super reconhea a
importncia dos fatores econmico-sociais na determinao dos padres de carreira
e das decises profissionais, no esclarece como explorar e relacionar esses
mltiplos fatores.
3.1.1.2 Teorias decisionais
So teorias que fazem uso de modelos de deciso para explicar o processo
de escolha profissional.
Um representante desse grupo Gelatt (1962), que prope um sistema
racional para o indivduo decidir entre duas ou mais alternativas. Seu modelo prev
trs fases para o processo de escolha:
Fase 1: Atravs de um sistema preditivo, o indivduo avalia as alternativas
possveis, as conseqncias das decises, e a probabilidade de que elas
ocorram;
Fase 2: O indivduo estima a desejabilidade dessas conseqncias,
estabelecendo como desejveis aquelas que ele valoriza como fonte de
prazer;
Fase 3: Utilizando um critrio de deciso, o indivduo seleciona a alternativa,
confrontando a probabilidade de concretiz-la e a sua desejabilidade.
Silva (1996, p. 32) atenta que, embora Gelatt no se aprofunde nos motivos
de escolha profissional, fornece as bases para que esse aprofundamento seja feito.
40
Hershenson e Roth (1966) so citados em Giacaglia (2003, p. 29), pela
abordagem desenvolvimentista no processo de tomada de deciso vocacional. Para
eles, o indivduo toma sucessivas decises, afunilando as alternativas de escolha,
de forma que torna-se muito difcil reverter os primeiros descartes no final do
processo decisrio. O processo desenvolve-se, assim, por duas tendncias:
progressiva eliminao de alternativas e reforo das alternativas no excludas,
restringindo gradativamente a gama de opes e aumentando a certeza de deciso
(PIMENTA, 1979, p. 40-41).
3.1.1.3 Teorias psicodinmicas
As teorias psicodinmicas, no contexto da escolha vocacional, procuram
explicar a preferncia de indivduos por uma ocupao e os conflitos vivenciados
nessa escolha com base na busca de satisfao de necessidades e desejos, criados
nas experincias dos indivduos, aqui focadas as vivenciadas nos primeiros anos de
vida.
A literatura destaca a teoria de Bordin, Nachman e Segal (1968), a teoria de
Roe (1968), e a teoria tipolgica de Holland (1975).
Bordin, Nachman e Segal (1968, p. 257-268) identificam as gratificaes que
algumas ocupaes podem proporcionar, relacionando essas gratificaes s
necessidades e motivaes internas, que pressupem serem influenciadas pelas
experincias infantis. Silva (1996, p. 34) destaca o avano dessa teoria em relao
s anteriores, por considerar questes emocionais na motivao da escolha
profissional, embora critica no considerar a singularidade do indivduo na escolha.
Roe (1968, p. 233-239) estabeleceu que, dependendo do tipo de situao
familiar experimentado pela criana, a vida adulta manifestar atitudes bsicas
correspondentes. Assim, um ambiente afetuoso influenciar o indivduo a escolher
profisses mais ligadas a pessoas. A necessidade pela auto-realizao. Silva
(1996, p. 35) menciona o forte interesse dessa teoria, o que motivou uma srie de
pesquisas, porm com baixa validao.
41
Considerando o requisito bsico de habilidade interpessoal para o
Administrador, sob a luz dessa teoria, a escolha do curso de Administrao estaria
influenciada pelo ambiente afetuoso vivido na fase infantil.
Holland formulou sua teoria sob o princpio que a escolha profissional
apenas uma das muitas expresses de personalidade e apoia-se em trs pontos
bsicos (MARTINS, 1978, p. 63):
- As pessoas podem ser caracterizadas de acordo com sua semelhana
com um ou mais tipos de personalidade;
- O ambiente no qual a pessoa vive pode ser caracterizado atravs de um
ou mais modelos de ambientes;
- O emparelhamento de pessoas e ambientes conduz a vrios resultados
que podemos prever e compreender atravs de nosso conhecimento sobre
tipos de personalidade e modelos ambientais.
Holland concebe seis diferentes tipos de personalidade, onde cada tipo o
resultado da interao entre uma herana determinada e uma variedade de fatores
culturais e pessoais, como famlia, classe social, cultura e ambiente fsico, que cria
no indivduo uma srie de caractersticas de capacidades perceptivas e
predisposies especiais, valores e aspiraes voltadas para determinado tipo de
trabalho. Dessa forma, aqueles que se identificam com o tipo social, por exemplo,
tendem a buscar ocupaes sociais, como ensino, trabalho social, religio.
Segundo Holland (1975, p. 23):
As pessoas buscam ambientes e vocaes que lhes permitam exercer suas habilidades e capacidades, expressar suas atitudes e valores, dedicar-se soluo de problemas ou atividades agradveis e evitar as desagradveis.
Os tipos de personalidades definidos por Holland, com respectivas
caractersticas e correspondentes ocupaes congruentes, relativas a especficos
ambientes ocupacionais, esto dispostas no Quadro 1, construdo a partir de Martins
(1978, p. 66-77) e Robbins (1998, p. 97-98)
A teoria contempla que nenhum indivduo um tipo puro, mas concentra
predominantemente as caractersticas de um dos tipos.
42
1. Tipo: REALISTA
Atividades preferidas: Fsicas, que exijam habilidade motora, fora e coordenao.
Personalidade (autoconceito): Maduro, prtico, convencional (no sentido de alguns valores), persistente, insocivel, humilde, submisso, natural (no exibicionista), favorvel
mudana, pequena amplitude de interesses, baixo nvel de auto-confiana.
Ocupaes congruentes: Mecnico, operador de mquina de furar, trabalhador de linha de montagem.
2. Tipo: INVESTIGATIVO
Atividades preferidas: Que envolvam pensamento, organizao e entendimento. Personalidade (autoconceito): Insocivel, analtico, persistente, auto-controlado, independente,
acadmico, intelectual, introvertido, modesto, original, no exibicionista, no prestativo, realizador.
Ocupaes congruentes: Bilogo, economista, matemtico, fsico.
3. Tipo: SOCIAL
Atividades preferidas: Que envolvam ajudar e desenvolver outros.
Personalidade (autoconceito): Socivel, alegre, aventureiro, conservador, dependente, dominante, no acadmico, intelectualmente eficiente, realizador, com auto-apreciao, Impulsivo, no socorrente, fluente verbal, popular, original, agressivo.
Ocupaes congruentes: Assistente social, professor, psiclogo clnico, conselheiro.
4. Tipo: CONVENCIONAL
Atividades preferidas: Atividades regidas por regulamentos, ordenadas e no-ambguas.
Personalidade (autoconceito): Astuto, conservador, dominante, divertido, consciencioso, controlado, rgido, dependente, intelectualmente ineficiente, causador de boa impresso, estvel, baixo nvel de liderana.
Ocupaes congruentes: Contador, arquivista, bancrio.
5. Tipo: EMPREENDEDOR
Atividades preferidas: Verbais, onde existam oportunidades para influenciar outros e ganhar poder.
Personalidade (autoconceito): Dominante, socivel, dinmico, aventureiro, conservador, impulsivo, no- acadmico, jovial, no-intelectual, com auto-aceitao, estvel, desejoso de alto status, alto nvel de habilidades verbais e de liderana, estabilidade emocional, popularidade, capacidade atltica, agressividade, tendncia prtica, autoconfiana.
Ocupaes congruentes: Advogado, corretor de imveis, relaes pblicas, gerente de negcios, poltico.
6. Tipo: ARTSTICO
Atividades preferidas: Atividades ambguas e no-sistemticas, que permitam a expresso criativa.
Personalidade (autoconceito): Insocivel, introspectivo, depressivo, sensitivo, imaginativo, independente, radical, impulsivo, flexvel, irresponsvel, realizador, instvel, natural, alto nvel de habilidades redacionais, originalidade, expressividade. Baixo nvel de popularidade.
Ocupaes congruentes: Pintor, msico, escritor, decorador.
Quadro 1 - Tipos de Personalidade, Segundo Holland Fonte: Elaborado com base em Martins (1978, p. 66-77) e Robbins (1998, p. 97-98)
43
3.1.2 Teorias sociolgicas
As teorias concebidas sob esta abordagem destacam a influncia da cultura
e da sociedade no processo de escolha. Assim, so relacionados como
determinantes da escolha vocacional: a classe social, as oportunidades de educao
e cultura, de qualificao profissional e de trabalho, a famlia, a religio e outros
agentes transmissores de valores, a raa, a nacionalidade.
A Teoria do Acidente estabelece que a escolha ocupacional e o
desenvolvimento vocacional so devidos em grande parte a acidentes, assim
entendidos eventos ou condies fora do controle do indivduo (SUPER; BOHN JR.,
1980, p. 171). Dessa forma, fatores como classe social e contexto familiar,
reconhecidos como fortes determinantes da escolha profissional, no so escolhidos
pela pessoa.
O adolescente realiza sua opo dentro daquilo que o meio lhe permite
escolher. A cultura e a sociedade onde vive so elementos que o conduz na
formao dos objetivos vocacionais.
Numa concepo mais extrema, as pessoas obtm uma colocao
profissional em empresas quando o sistema precisa delas e as encontra. Ou seja, o
sistema tem o poder de selecionar os indivduos para ocuparem uma funo no
emprego, e os desejos e esforos individuais apenas contribuem para conciliar
aspiraes pessoais com necessidades do mercado (FOLMER-JOHNSON, 2000, p.
49)
Silva (1996, p. 36-37) cita Caplow (1951), na afirmao que as crianas
herdam (aspas do autor) o nvel ocupacional dos pais, escolhendo uma ocupao
dentro de uma relao de profisses compatveis com a classe social a que
pertencem. Menciona, tambm, afirmao de Hollinghshead (1949) de que os
adolescentes tm conscincia do prestgio diferencial das profisses e sabem a
posio de suas famlias nesse sistema de prestgio.
Chanlat (1995, p. 69-70) defende o enraizamento social das carreiras. No
seu entendimento, independente do tipo, toda sociedade estabelece as condies
atravs das quais as carreiras nascem, desenvolvem-se e morrem. a cultura e a
estrutura social de cada sociedade que acabam por modificar as configuraes
44
ocupacionais e os modelos de carreira, interferindo assim nas possibilidades da
escolha vocacional pelo aluno.
Ferretti (1976, p. 88) cita algumas abordagens existentes sobre a relao do
sexo e da raa com escolha da profisso. Percepes culturais ligadas a papis
ocupacionais conduziriam formao de esteretipos de profisses ligando-as ao
sexo, abrindo perspectivas profissionais para um grupo e restringindo a outro.
Um argumento adotado por alguns autores para fortalecer a abordagem
sociolgica a constatao do significativo nmero de pessoas que trabalham em
reas diferentes da sua formao acadmica.
3.1.3 Teorias econmicas
As teorias econmicas da orientao profissional procuram identificar os
fatores de natureza econmica que levam os indivduos a escolher uma determinada
profisso, e os fatores responsveis pela concentrao diferenciada de pessoas por
entre as profisses. Assim, teriam influncia na escolha da profisso aspectos como
demanda de mo-de-obra, poltica salarial, estrutura econmica, eventualmente
vinculados a determinantes como desenvolvimento tecnolgico, crescimento
populacional, dentre outros.
Adam Smith, um dos representantes do liberalismo econmico, afirma que,
em havendo completa liberdade de opo, o indivduo tende a fazer a escolha de
forma racional, escolhendo a profisso que imagina trazer-lhe maiores vantagens
(SILVA, 1996, p. 37-38).
Dessa forma, as profisses que oferecem maiores salrios seriam as mais
procuradas e, por conseguinte, a distribuio dos profissionais no mercado de
trabalho seguiria a lei da oferta e da procura.
Os economistas neo-clssicos contestam essa posio, argumentando que
se assim fosse, haveria uma reduo dos salrios das profisses mais procuradas,
de forma a manter o equilbrio na sua distribuio, o que no acontece. Assim, o
neoclssico H. F. Clark (1931) estabelece dois fatores para a desigualdade na
distribuio dos indivduos pelas ocupaes: ignorncia, pelo indivduo, sobre as
45
vantagens e desvantagens salariais das diferentes ocupaes; e a variabilidade do
custo para adquirir-se capacidade para as diferentes ocupaes (PIMENTA, 1979, p.
27-28; SILVA, 1996, p. 38).
Os economistas contemporneos incluem outras variveis influenciadoras
da escolha vocacional, como: prestgio das ocupaes, estabilidade e segurana no
emprego, exigncias de habilidades do trabalhador, efeitos dos ciclos econmicos e
das mudanas na estrutura de classe, dentre outros (FOLMER-JOHNSON, 2000, p.
48; PIMENTA, 1979, p. 28).
As crticas a esses modelos, bem como aos sociais, so feitas pela nfase
atribuda aos fatores externos ao indivduo, colocando-o como passivo, respondente
ao mercado.
3.1.4 Teorias gerais
As teorias gerais representam um esforo no sentido de reunir as diversas
contribuies, procurando apresentar uma grande variedade de fatores que
influenciam a escolha vocacional, tratados sob a caracterstica da
interdisciplinaridade, sem contudo aprofundar sua anlise.
Pressupem que a escolha depende de aspectos pessoais e ambientais,
valorizando o conhecimento de si prprio e da informao ocupacional. O xito
dentro de uma profisso depende do ajustamento entre as caractersticas individuais
e as do ambiente onde o indivduo atua.
Nesta categoria, um dos modelos de destaque o esquema conceitual de
Blau et al. (1968, p. 359-370), onde os fatores externos interagem com os fatores
internos para a escolha vocacional.
Esse esquema, retratado no Diagrama 1, foi formulado conjuntamente por
um socilogo, dois psiclogos e dois economistas, e considera que o ingresso do
indivduo numa determinada ocupao resultado de dois processos: o de escolha
e o da seleo ocupacional. Em ambos, h influncia da estrutura social: no
processo de escolha, influencia o desenvolvimento da personalidade, e no processo
de seleo ocupacional, define as condies scio-econmicas em que ele ocorre.
46
Diagrama 1 Esquema Conceitual da Escolha e Seleo Ocupacional Fonte: Blau et al. Occupational Choice: a conceptual framework. In: Zytowski, D.G. (1968, p. 360)
Escolha Ocupacional
Seleo Ocupacional
Hierarquia de Hierarquia de preferncias expectativas Indivduo
Padres Estimativas ideais realistas Prticas da agncia de seleo
1 DETERMINANTES IMEDIATOS Informao ocupacional Qualificaes tcnicas Caractersticas do papel social Hierarquia de valores
I DETERMINANTES IMEDIATOS Oportunidades formais (demanda) Requisitos funcionais Requisitos no-funcionais Quantidade de tipos de recompensas
Entrada na Fora de Trabalho
2 ATRIBUTOS SCIO-PSICOLGICOSNvel geral do conhecimento Habilidades e nvel educacional Posio social e relaes (sua importncia, identificao com modelo, aspiraes, etc.)
II ORGANIZAO SCIO-ECONMICA Distribuio ocupacional Diviso do trabalho Poltica das organizaes relevantes (governos, firmas, sindicatos, etc.) Estgio do ciclo de negcios
3 DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Desenvolvimento educacional Processo de socializao Efeitos de recursos financeiros disponveis Influncias familiares diferenciais
III MUDANA HISTRICA Tendncias na mobilidade social Modificaes na composio industrial Desenvolvimento histrico das organizaes sociais Mudanas no nvel e na estrutura da demanda pelo consumidor
CONDIES BIOLGICAS Potencial Inato
CONDIES FSICAS Recursos Topografia Clima
ESTRUTURA SOCIALSistema de estratificao social Valores e normas culturais Caractersticas demogrficas Tipo de economia Tecnologia
47
Os autores sustentam que a escolha profissional pode ainda ocorrer como
uma ao habitual, em especial nas situaes onde o indivduo no dispe de
maiores informaes sobre as profisses (SILVA, 1996, p. 39).
Folmer-Johnson (2000, p. 53) destaca que as mais freqentes crticas s
teorias gerais concentram-se na sua natureza superficial, que relacionam apenas
intuitivamente pressupostos, hipteses e conceitos. Faltam-lhes ainda
desenvolvimentos metodolgicos para consolidarem-se como modelos tericos
abrangentes. Giacaglia (2003, p. 41) e Silva (1996, p. 39) expressam que mesmo
Blau e col. (1968) preferiram no chamar de teoria seu trabalho, mas de quadro
terico para a escolha e seleo ocupacional.
A pluralidade de enfoques das teorias, privilegiando aspectos isolados das
escolhas profissionais, deixa clara a complexidade do processo de escolha
vocacional.
Sob o foco do processo de Orientao Profissional (OP), diferentes
abordagens so constatadas. Boholavsky (1977, p. 29-43) considera a Orientao
Profissional um trabalho realizado em consultrios ou clnicas psicolgicas,
caracterizando uma abordagem clnica para a questo. So tratados aspectos como:
expectativas e ideais familiares, dinmica familiar da pessoa e influncias de
aspectos sociais, aprofundando a identidade vocacional no sentido de apurar as
razes da escolha de uma determinada profisso. Cabe destacar a observao do
autor (p. 55, 65, 80) que a escolha profissional ocorre predominantemente na
adolescncia, perodo de crise, transio, adaptao e ajustamento (destaque do autor), quando o jovem est reestruturando seu mundo interior e suas relaes com
o mundo exterior. Sua escolha uma situao de definio de quem deixa de ser,
criando o que o autor chamou de estado de lutos: luto em relao imagem dos
pais, em relao ao paraso da infncia, em relao s fantasias onipotentes, em
relao ao corpo e formas infantis.
Numa tica diferenciada, Soares-Lucchiari (1998, p. 25-31) cita a abordagem
educacional, que prev sejam trabalhados sistematicamente na escola os temas
relacionados s diferentes profisses, no s oferecendo informaes ocupacionais
de cada uma delas, mas tambm explorando a relao homem-trabalho, discutindo
48
questes como desemprego, oportunidades e exigncias do mercado. Na
abordagem educacional, pais e professores so preparados para auxiliar o jovem a
proceder uma escolha profissional consciente, baseada no autoconhecimento e
num nvel de informao das possibilidades objetivas abrangentes, como alicerce
para uma vida futura mais feliz (LISBOA; MAURO, 1993, p. 102).
H, ainda, uma terceira abordagem indicada por Soares-Lucchiari (1998, p.
35): a abordagem organizacional. Em geral dirigida a adultos, o trabalho de
orientao realizado sob este foco explora a posio do indivduo nas organizaes,
intervindo no sentido de proporcionar melhor ajuste do trabalhador na empresa, seu
desenvolvimento profissional, a mobilidade na carreira, as situaes de desemprego,
a preparao para a aposentadoria.
Pfromm Netto (1979, p. 386) sintetiza: De modo geral, os interesses do
adolescente resultam da interao entre fatores herdados e ambientais, entre
capacidades, personalidades, oportunidades proporcionadas pelo meio, aprovao
social, desejos, impulsos.
Neste contexto dinmico e abrangente, justificam-se anlises que
contemplem, mesmo que isoladamente, os dois lados da questo: como fenmeno
individual, envolvendo aspectos subjetivos, ou como um fenmeno econmico-
social, envolvendo aspectos objetivos.
3.2 Os fatores de influncia na escolha do curso
Complementarmente aos modelos tericos selecionados, buscou-se na
literatura alguns estudos e abordagens relacionados ao tema.
Os provveis motivos que levam os estudantes a optarem por um
determinado curso ou carreira tem sido avaliados, em especial, em estudos de
Orientao Profissional e desenvolvimento de carreira, junto a uma rea especfica
de atuao ou para um conjunto de reas, e com estudantes em diferentes estgios
(ensino mdio, em cursos pr-vestibulares, universitrios de diferentes sries). As
razes identificadas, em geral, so muito semelhantes, e pouco caracterizadas como
especficas a um determinado curso ou rea.
49
Oliveira (2001, p. 77), em estudo conduzido junto a estudantes universitrios
do ltimo ano de Pedagogia, apurou como motivos de escolha do curso:
compatibilidade com a atual ocupao profissional (30%), aquisio de novos
conhecimentos para melhorar a capacitao (26%), gosto pela rea e identificao
pessoal com o curso (17%), necessidade em funo de seu contexto profissional
(16%), localizao, horrio e/ou durao do curso (7%) e busca do sucesso e da
realizao de suas metas (4%).
Folmer-Johnson (2000, p. 86-105), como parte de sua dissertao de
Mestrado, realizou pesquisa com vestibulandos da cidade de Campinas / SP, sobre
problemas enfrentados na escolha da profisso. O registro da maioria dos alunos
indicou fatores pessoais, como: interesses, desejos, habilidades, motivao,
aprendizagem, benefcios e recompensas. O estudo apurou tambm nos
depoimentos, a preocupao com a deciso em si pelo curso, p