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ANÁLISE DOS NÍVEIS DE PLANEJAMENTO DE ESPAÇOS NO AUXILIO Á TOMADA DE DECISÕES EM UMA MARMORARIA Jonnys Atilla Modesto Sales (UEPA) [email protected] Adriano Flexa Leite (UEPA) [email protected] Este artigo tem o objetivo de analisar os níveis de planejamento de espaços e os fluxos de processos envolvidos nas atividades diárias de uma marmoraria localizada na cidade de Belém. O estudo de layout é importante para o aumento da rapideez nos processos e para gerar conseqüentemente maior confiabilidade e menor custo, assim mediante o estudo proposto foi possível a sugestão de melhorias em cada nível analisado para o aumento da produtividade da empresa e conseqüente adequação ás leis ambientes vigentes. Palavras-chaves: Níveis de Planejamento de Espaços, fluxos de processos, estudo de layout. XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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ANÁLISE DOS NÍVEIS DE

PLANEJAMENTO DE ESPAÇOS NO

AUXILIO Á TOMADA DE DECISÕES EM

UMA MARMORARIA

Jonnys Atilla Modesto Sales (UEPA)

[email protected]

Adriano Flexa Leite (UEPA)

[email protected]

Este artigo tem o objetivo de analisar os níveis de planejamento de

espaços e os fluxos de processos envolvidos nas atividades diárias de

uma marmoraria localizada na cidade de Belém. O estudo de layout é

importante para o aumento da rapideez nos processos e para gerar

conseqüentemente maior confiabilidade e menor custo, assim mediante

o estudo proposto foi possível a sugestão de melhorias em cada nível

analisado para o aumento da produtividade da empresa e conseqüente

adequação ás leis ambientes vigentes.

Palavras-chaves: Níveis de Planejamento de Espaços, fluxos de

processos, estudo de layout.

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

As modificações e flexibilidade de produção em ambientes industriais com grande

concorrência são exigidas cada vez mais com o objetivo de aumentar as vantagens

competitivas e se diferenciar no mercado. A concorrência demanda variedades, mudança

freqüente e sistemas de distribuição que forneçam o produto físico, serviço ou conhecimento.

No que diz respeito a espaço, essa mobilidade, nem sempre é obtida de maneira fácil ou

correta. Em muitos casos a localização do empreendimento ou uma pequena demora no

processo produtivo podem se tornar critérios qualificadores perdedores de serviços, isto é,

critérios ditados pelas expectativas dos clientes capazes de gerar ganhos ou perdas de mercado

se atendidos corretamente (FITZSIMMONS & FITZSIMMONS, 2005).

Alguns desses critérios exigem organização da estrutura e dos processos da empresa e podem

receber grande auxílio dos estudos de layout, a fim de tornar os processos mais produtivos e

menos custosos. Um bom planejamento do arranjo físico industrial permite, por exemplo,

integrar produtos, serviços, pessoas, informações e tecnologia.

Os fluxos de empreendimento, no entanto, não se restringem apenas aos limites da empresa. O

contexto do país, cidade, demanda etc. pode definir, por exemplo, uma alta procura por

produtos importados ou exigir adequações de segurança especiais aos funcionários.

Por esta ótica, a análise de cada nível de planejamento de espaço - NPE descreve as intra e

inter relações dos diferentes níveis espaciais, capaz de auxiliar nas presentes e futuras

decisões da empresa.

Este estudo busca analisar os níveis de planejamento de espaço físico e os fluxos e processos

envolvidos, na atividade de uma marmoraria situada no município de Belém.

2. Metodologia

A análise dos cinco níveis de planejamento de espaço sequenciou-se dos níveis de maior

abrangência aos de menor, iniciando pelo Nível Global e tendo seu fim na analise de um dos

postos de trabalho do setor de produção da marmoraria, representando o sub-micro-espaço.

A coleta de dados baseou-se em entrevistas com os proprietários da empresa e pela vivência

de um mês atuando enquanto consultoria interna na organização.

Através das informações obtidas no ambiente formulou-se a análise de cada nível, observando

os fluxos de informações, pessoas e materiais, as dimensões médias de cada setor da empresa,

bem como suas deficiências e possibilidades de melhoria.

3. Referencial Teórico

3.1 Arranjo Físico

De acordo com Slack (2002), o arranjo físico de uma operação produtiva preocupa-se com a

localização física dos recursos de transformação. Segundo Monks (1987) um bom layout

permite que os materiais, o pessoal e as informações fluam de maneira eficiente e segura. Isso

auxilia no atendimento das estratégias competitivas.

Planejar a implantação de uma unidade produtiva é extremamente complexo. Normalmente é

necessária uma equipe multidisciplinar empregando realizando vários estudos, como

viabilidade técnica e econômica, estudos locacionais, elaboração de projetos das instalações,

compra de equipamentos e materiais necessários à execução do projeto, construção e

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montagem das instalações, etc.

Sendo uma das características mais evidentes de uma operação produtiva, o espaço físico

influencia no trabalho do corpo colaborativo. Desta maneira um planejamento incorreto é

capaz de gerar retrabalho, disfunções, baixo desempenho etc. Abaixo estão listados alguns

objetivos dos planejamento de arranjo físico:

– Obter um fluxo de informações eficientes;

– Obter um fluxo de trabalho eficiente;

– Utilizar melhor a área disponível;

– Aumentar a flexibilidade para as variações necessárias;

– Facilitar a supervisão e a coordenação;

– Minimização das distancias percorridas pelos recursos transformados;

– Reduzir os riscos à segurança e saúde do trabalhador (químicos, físicos, ergonômicos etc.)

3.1.1 Tipos Básicos de Arranjo Físico

De acordo com Slack (2002), arranjo físico é um conceito restrito, mas é a manifestação física

de um tipo de processo, determinado pela relação volume-variedade da produção, que induz o

tipo mais adequado de arranjo físico. Há quatro tipos básicos de arranjo físico: posicional, por

produto, por processo ou celular.

No arranjo físico posicional os recursos transformados não se movem em relação aos

transformadores, ficam parados, enquanto materiais, pessoas e informações se movem na

medida do necessário.

A organização do arranjo por produto pré-define um roteiro para cada produto, elemento de

informação ou cliente, no qual a seqüência de atividades requerida coincide com a seqüência

na qual os processos foram arranjados fisicamente.

No arranjo por processo, agrupam-se os processos similares como oficinas especializadas,

pelas quais os produtos percorrerão um roteiro de processo a processo, de acordo com sua

necessidade.

O arranjo físico celular é aquele em que os recursos transformados, entrando na operação, são

pré-selecionados para movimentar-se para uma parte especifica da operação na qual todos os

recursos transformadores necessários a atender a suas necessidades imediatas de

processamento se encontram.

3.2 Níveis de planejamento de espaços

As empresas que buscam competitividade e lutam para se manter no mercado precisam

encontrar formas para que isso aconteça, e dentre algumas alternativas e prioridades no plano

de ação deve-se atentar para o planejamento do espaço físico que atualmente é mais bem

observado por muitas empresas “O layout ou planejamento de espaço é o foco central do

projeto de instalações e domina o pensamento da maioria dos gerentes.” (LEE et. al., 1998).

Os níveis de planejamento de espaço devem ser analisados individualmente e a melhor

maneira é que seja do nível geral para o particular, ou seja, do nível global para o nível local

de trabalho, isso se deve ao fato de as questões estratégicas de maior expressão serem

decididas em primeiro lugar. Para um planejamento do espaço físico se faz útil pensar em 5

(cinco) níveis de planejamento.

3.2.1 Nível de Planejamento Global

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É um nível de decisão em que a companhia escolhe onde vai atuar e paralelamente a isso é

feita também a escolha da sua missão que é a que se destina a estrutura da empresa. A

definição de missão precisa ser bem entendida devido a sua importância em meio à

competitividade empresarial e segundo (LEE et. al., 1998) é, portanto, um guia importante

para os planejadores de instalações e outros profissionais.

Para esse nível de planejamento não é necessário um número grande de pessoas pois envolve

apenas alguns executivos que irão traçar os planos para a localização da estrutura e enquanto

essa estrutura não for definida o processo de planejamento do orçamento também não avança.

Não se pode subestimar o planejamento global uma vez que as escolhas nesse nível trariam

custos exorbitantes, um exemplo bem claro disso é que se a organização for alocada em um

país errado seria muitas vezes inviável uma mudança nas instalações por isso a estratégia

geral do negócio é mais importante no nível global.

3.2.2 Planejamento do Supra-espaço

O planejamento do local ocorre no nível do supra-espaço considerando aspectos externos e

internos da instalação, inclui também algumas informações mais específicas como o número,

tamanho e localização de prédios sendo que dentro desse planejamento deve-se incluir a

possibilidade de expansão preservando os impactos estratégicos.

As conseqüências do planejamento nesse nível ainda são em longo prazo e de longo alcance

uma vez que a estrutura interna (energia, gás, água, escadas, etc.)

Alguns fatores que afetam as decisões quanto a este nível seriam os custos dos locais,

concentrações e tendências de clientes e cidadãos, tamanhos dos locais, proximidade à

sistemas de transporte, disponibilidade de serviço público, restrições de zoneamento, impactos

ambientais, disponibilidade e custos de materiais e suprimentos e a proximidade a indústrias

de serviço relacionadas (GAITHER E FRAZIER, 2005).

3.2.3 Planejamento do Macro-espaço

É um dos níveis mais importante de planejamento, pois estabelece as diretrizes básicas dos

espaços das instalações. Refere-se a um macro-layout, pois planeja cada prédio, estrutura e

subunidade da instalação. Também nesse nível é definida a localização de todos os

departamentos operacionais e determinam o fluxo dos processos, levando em consideração a

organização básica da fábrica. As decisões no planejamento do macro-espaço é fundamental

para o desenvolvimento de novos produtos, redução de custos e mão de obra flexível. Um

equívoco no projeto resulta no aumento dos investimentos para reorganizar as instalações mal

planejadas, gerando dificuldade no planejamento de novos produtos, entregas irregulares e

excesso de estoques.

3.2.4 Planejamento do Micro-espaço

No planejamento do micro-espaço a ênfase é dada no espaço interno de cada prédio, como

equipamentos e móveis específicos, especificando o espaço pessoal e a comunicação.

O estudo nesse nível define de forma mais precisa a disposição e a infraestrutura de cada

espaço interno dos prédios.Neste nível levam-se em consideração os aspectos sociotécnicos e

ergonômicos. Os projetos mal dimensionados podem gerar baixos níveis de produtividade,

devido a problemas ergonômicos.

3.2.5 Nível Sub-micro

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No quinto e último nível, o Sub-Micro-Espaço, Lee (1998) relata que as preocupações agora

ficam concentradas nas estações de trabalho e nos colaboradores, visando eficiência, eficácia

e segurança. Ferramentas corretas aplicadas nos locais apropriados devem ser o foco no

planejamento executado pelos engenheiros industriais.

Esse é o nível mais detalhado, envolve, dentre outros, o exame e a alocação de tarefas entre

operadores, ferramentas e máquinas. Assim os problemas são mais localizados e se houver

uma possível necessidade de mudança nesse nível as interferências são menores em termos de

interrupção de produção. A Tabela 1 resume os níveis de planejamento de espaço vistos

anteriormente.

NÍVEL ATIVIDADE UPE TÍPICAS AMBIENTE

I

GLOBAL

LOCALIZAÇÃO E

SELEÇÃO LOCAIS

MUNDO OU

PAÍS

II

SUPRA PLANEJAMENTO

CARACTERÍSTICAS

DE CONSTRUÇÕES

OU LOCAL

LOCAL

III

MACRO

LAYOUT DA

CONSTRUÇÃO

CÉLULAS OU

DEPARTAMENTOS CONSTRUÇÃO

IV

MICRO

LAYOUT DE

DEPARTAMENTO

CARACTERÍSTICAS

DE CÉLULAS OU

ESTAÇÕES DE

TRABALHO

CÉLULAS OU

ESTAÇÕES DE

TRABALHO

V

SUBMICRO

PROJETO DE

ESTAÇÕES DE

TRABALHO

LOCALIZAÇÃO DE

FERRAMENTAS

ESTAÇÃO DE

TRABALHO

Fonte: Lee, 1998

Tabela 1: Os níveis de planejamento de espaço

4. Estudo de Caso

4.1 A empresa

A empresa em estudo, situada no município de Belém – PA, bairro do Marco, a cerca de cinco

quilômetros da entrada da cidade, atua há mais de 30 anos no mercado belenense no ramo de

rochas ornamentais, mais especificamente no beneficiamento de mármores e granitos,

produzindo artigos de revestimentos, ambientação e mobiliário, como pedras para piso,

paredes, rodapés, soleiras, peitoris, mesas, balcões de atendimento, bancadas de pia e cozinha,

sepulturas etc.

O mercado deste ramo é intimamente ligado ao setor de construção civil. Quanto mais este

setor cresce, mais oportunidades de trabalho surgem, tornando os profissionais desse ramo,

arquitetos, decoradores, construtores e pedreiros, e os proprietários de imóvel os clientes em

potencial do negócio. É imprescindível atentar que por se tratarem de produtos de acabamento

este tipo de produto representa aos clientes a finalização das obras, tornando-os de extrema

urgência.

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Desta maneira, as exigências por qualidade do produto e velocidade de entrega representam

os critérios qualificadores ganhadores de serviço.

4.2 Análise dos Níveis de Planejamento de Espaço – NPE

4.2.1 Nível I: Global

O Nível Global não sofreu planejamentos específicos, deixando de observar itens como clima,

disponibilidade de matéria prima, mão-de-obra, políticas nacionais e regionais, transporte etc.

A escolha pelo Brasil e pelo Estado do Pará dependeu de necessidades trabalhistas. Os

proprietários da empresa foram transferidos de Minas Gerais para Belém através da empresa

que trabalhavam anteriormente. A empresa surgiu para incrementar a renda mensal.

Observou-se inicialmente a possibilidade de vender pedras decorativas mineiras ausentes na

região, porém na época os engenheiros, arquitetos e decoradores preferiam trabalhar com

mármores e granitos, também escassos. Desta oportunidade iniciou-se uma atividade de

beneficiamento de mármores e granitos dos blocos ao cliente final, com estrutura montada no

próprio terreno dos proprietários.

Atualmente a estrutura da empresa destina-se à transformação das chapas prontas nos projetos

de produto de cada cliente, como mesas, balcões, bancadas etc.

Pelo âmbito dos fluxos de materiais, esse nível exige da empresa maiores atenções ao fator

tempo, pois a matéria prima principal não é disponibilizada na região e possui sazonalidade na

extração por conta das chuvas. As rochas são provenientes em sua maioria do Estado do

Espírito Santo, onde são encontradas várias jazidas de minério.

Cerca de 64,3% (SEBRAE, 1999) da produção nacional de rochas é provenientes desse

Estado, que está situado a aproximadamente 3.108 km da capital paraense, implicando em 15

dias de lead time. Em período de extrema urgência é possível solicitar material na região,

porém com custos mais elevados.

O transporte das chapas é realizado por caminhões de carroceria aberta, carregando em média

19,5 toneladas, aproximadamente 60 chapas de materiais diversos à escolha do cliente.

Outra observação importante refere-se ao clima da região. A capital paraense possui grande

umidade relativa do ar, o que, em períodos de chuva, dificulta os processos de colagem das

rochas, atrasando a conclusão do serviço por necessitar aquecer as pedras.

Uma quarta situação é a qualificação da mão-de-obra. Segundo os proprietários, o tempo de

trabalho com mármores e granitos ainda é pequeno se comparado a região sudeste, gerando

certas limitações, onde algumas vezes é necessário pensar pelos funcionários.

Outra situação faz referência às políticas ambientais, por conta dos resíduos sólidos gerados

que necessitam ser decantados, e às políticas relacionadas à segurança, medicina e saúde do

trabalhador que tem afetado bastante o setor. A Lei N° 43 de 11 de março de 2008, por

exemplo, proíbe o corte e acabamento de pedras a seco e todas as marmorarias estarão sujeitas

a multas se não regularizadas até outubro de 2010.

Em nível global podemos considerar que o layout se configura por processos, pois cada jazida

produz apenas um tipo de minério e outros ambientes o beneficiam, como job shops. A

Figura 1 apresenta a organização das jazidos no território nacional.

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Fonte: CPRM, 2001.

Figura 1: Disposição das jazidas de rochas e materiais para construção no Brasil

É importante frisar que neste nível o fluxo de informações entre empresa e fornecedor

acontece basicamente através de ligações telefônicas e fax. Já as informações sobre o setor

são veiculadas por meio de revistas, estudos geológicos, sindicatos e associações.

4.2.2 Nível II: Supra-espaço

O supra-espaço descreve a relação entre a UPE e seu entorno. Envolve circulação de pessoas,

automóveis, suprimento de água e energia, a relação entre a empresa e a comunidade, e dentre

outros os impactos que é capaz de gerar no meio em que se insere. Em linhas gerais analisa os

fluxos de entrada e saída da empresa.

Neste nível os produtos são transportados em caminhão aberto deitados por conta de sua

fragilidade, ou em um carro menor devido o tamanho do produto. Acontece também dos

clientes irem buscar seus pedidos.

Excetuando-se os insumos para a preparação da massa de colagem, os outros insumos e

recursos, precisam ser coletados pela empresa em cada fornecedor, os quais não são

necessariamente os mesmos. Isso encarece o processo, pois pode consumir mais combustível,

além de ocupar um funcionário responsável pela distribuição dos produtos e o próprio

automóvel da empresa.

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Ainda neste quesito a empresa dispõe de uma moto elétrica, com a qual o medidor se desloca

às obras dos clientes para aferir as dimensões corretas de cada pedido.

A Figura 2 mostra a localização da empresa em amarelo e a realidade de seu entorno, onde os

círculos verdes representam atividades de apoio e fornecedores como assistência técnica e

lojas de EPI. O círculo azul localiza um dos parceiros da empresa, fabricante de cantoneiras

metálicas, suporte para bancadas de pedras. A linha azul representa um canal coberto que

passa atrás das instalações da empresa.

Figura 2: Visão do supra-espaço, imagem do entorno da empresa

Negócios-chaves localizam-se nas proximidades da empresa, auxiliando no bom andamento

de suas atividades. Situada há 7 km do galpão de matéria prima da região, é possível ter o

material em duas horas no seu pátio de estoque.

Um das preocupações gira em torno dos resíduos gerados pela empresa. A lama derivada do

corte com água escoa sem tratamento algum para o canal coberto que carrega esses

sedimentos à outras regiões, podendo reduzir a profundidade dos canais.

As informações neste nível transmitem-se por ligações telefônicas e conversas diretas. E o

bairro, mais precisamente a rua principal, à direita da empresa, possui grande movimentação

de pessoas e automóveis, além de uma concentração razoável de empreendimentos.

O layout neste nível organiza-se por processos. Pois cada setor tem suas áreas específicas de

atuação e transmitem dados e materiais de uma a outra.

4.2.3 Nível III: O Macro-espaço

A marmoraria é dividida em duas áreas: o escritório, que agrega funções de administração,

venda e almoxarifado e a fábrica, com funções de estocagem, produção, alimentação e

carregamento. Classifica-se essa disposição como layout em linha, pois há um único fluxo do

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escritório para a fábrica. A Figura 4 apresenta o macro-espaço e algumas funções do micro-

espaço, melhor descritas no próximo nível.

Legenda

Escritório ~ 126 m²

Estoque de MP + embarque ~ 321 m²

Serraria ~ 75 m²

Acabamento ~ 66 m²

Estoques em processo ~ 10 m²

Estoque de retalhos ~ 12 m²

Fluxo de materiais

Fluxo de informações

Estoques de produtos acab. ~ 10 m²

Área inutilizada ~ 502,5 m² Fonte: Autores.

Figura 4: Layout da Marmoraria

Com aproximadamente 126m², o escritório recebe pedidos, produtos e insumos. Circulam em

média 12 pessoas por dia, contando com clientes, funcionários e fornecedores. As

informações partem do escritório para a produção através de ordem de serviço (OS) em papel,

as demais, são transmitidas diretamente pela fala, sem necessariamente serem registradas para

consultas posteriores ou unificação das informações. A marmoraria recebe uma média de 10

pedidos por dia.

No galpão, de aproximadamente 994m², circulam cerca de 20 pessoas e são processados

aproximadamente 15m² dentre mármores e granitos diariamente, que são transformados em

produtos aos clientes. Agrega também todos os fluxos de pessoas, informações e materiais,

pois recebe e processa produtos, recepciona pessoas, dentre clientes e fornecedores e utiliza as

ordens de serviço e dos proprietários enquanto vias informativas indispensáveis.

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As dificuldades se instalam na transmissão de informação sem critérios de prioridade, onde o

escritório repassa ordens desorganizadas aos serradores, primeiro elo do processo produtivo, e

quando repassadas aos acabadores dependem da procura dos mesmos pela informação correta

ou prioridade mais adequada. Também não são emitidas informações sobre estoques,

acompanhamentos de pedidos ou impossibilidades de produção, pois não há um elo unificador

de informações.

4.2.4 Nível IV: Micro-espaço

O micro-espaço escolhido foi área da fábrica, onde acontece o processo produtivo e a maior

parte dos fluxos da empresa. O processo produtivo é definido por duas etapas: corte e

acabamento, porém pode ser minudenciado e sequenciado como mostra a Figura 5.

Transporte da pedra

Corte (m²)

Desenho detalhes (projeto)

Cortes e furos (projeto)

Colagem

Acabamento

É possível fazer o

acabamento?

Sim Não

É preciso

colar?

Precisa de

acabamento?

Colagem

Não Não

Início

Sim Sim

Acabamento

É preciso

colar?

Sim

Fim

Não

Colagem

Fonte: Autores.

Figura 5: Fluxograma do processo produtivo

O processo tem início quando o serrador recebe a OS e precisa buscar o material no setor de

estoque de matéria prima ou nos estoques de retalho. Normalmente são necessários 4 (quatro)

funcionários para transportar uma chapa até a mesa de corte. Nesta, o mármore ou granito é

cortado em metros quadrados de acordo com o projeto do cliente e armazenado em um dos

espaços de estoque em processo junto com sua OS.

Os acabadores, então, deslocam-se à um desses estoques e dão continuidade a um dos pedidos

lá armazenados. Feitos os acabamentos o produto é levado ao estoque de produtos acabados e

aguarda para ser carregado e entregue. A Figura 4 acima representa esse processo seguindo o

trajeto do fluxo de materiais.

Há dois fluxos de informação neste nível, o fluxo padrão, representado na Figura 4, composto

basicamente pelo caminho das informações contidas nas OS.

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O segundo fluxo refere-se às ordens diretas dadas pelos proprietários, que não seguem padrão

algum e dependem unicamente da ação dos mesmos. A problemática deste fluxo está no fato

supracitado de ausência de unificação de informações. Isso implica na sobreposição de

comandos, onde a decisão de um dos donos interrompe de forma não intencional a decisão do

outro.

O fluxo de pessoas não foi representado, pois perpassa por todos os setores de forma aleatória.

Acabadores podem, por exemplo, ser chamados para transportar as chapas até a mesa de corte

ou o produto final até o caminhão, o serrador pode se deslocar ao setor de acabamento para

emprestar a serra manual ou andar pelos estoques de retalhos procurando pedras e todos

normalmente precisam ir até o escritório tirar dúvidas sobre as ordens de serviço.

O tipo de arranjo físico neste nível é por processos, pois cada setor é responsável por um tipo

de atividade e alguns produtos não precisam passar por todos os processos, como mostra a

Figura 5.

4.2.5 Nível V: Sub-micro-espaço

Os dois postos de trabalho de maior atuação na fábrica são do serrador e do acabador. A

complexidade da atividade de acabamento promoveu este posto o foco de estudo.

A empresa possui cinco acabadores, capazes de desempenhar todas as atividades de

acabamento, serrar, lixar e colar de acordo com os mais diversos projetos de produto. Para tal

atividade o acabador trabalha sobre uma bancada de ferro de 3 m de comprimento e 60 cm de

largura, resistente ao peso dos produtos e às ferramentas cortantes.

Devido o tamanho de alguns produtos é importante que esse funcionário disponha de um

espaço mínimo de 90 cm ao redor da mesa para manipular e movimentar-se ao redor das

pedras, sendo preciso geralmente do auxílio de outro funcionário. A Figura 6 mostra o posto

de trabalho desse profissional.

90 cm

3 m

60 cm

Fonte: Autores.

Figura 6: Posto de trabalho para a função de acabamento

Utiliza-se três ferramentas diferentes: serra manual, lixadeira manual e espátula. Dependendo

do tipo de acabamento é necessário usar lixas de granulações diferentes e muitas vezes usar a

broca na mesma máquina para fazer os furos para torneira.

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A atual organização dispõe as ferramentas e outros insumos como cera e cola em uma

extremidade da bancada para que o outro lado fique livre para o produto. As modificações

normalmente são feitas em todas as laterais do material, exigindo que o funcionário se

movimente por toda a extensão da bancada e envolta do produto. Isso caracteriza um arranjo

posicional, no qual os recursos se movimentam em torno do produto, modificando-o.

Apesar disso, o fluxo de materiais neste nível é pequeno, pois o intuito é de apenas colocar em

evidência a beleza natural das pedras. As informações são transmitidas pelas OS e em alguns

casos pelo próprio cliente, quando acompanha o processamento de seu pedido.

A circulação de pessoas no posto de trabalho é acima do normal, gerada pela falta de

organização e planejamento da empresa, pois normalmente falta material ou máquina para se

trabalhar e os acabadores precisam emprestar um dos outros. Além de tirarem dúvidas com os

companheiros sobre como fazer determinado projeto.

5. Considerações Finais

A análise dos níveis de planejamento de espaço estimula a criação de uma visão holística do

empreendimento, com a qual é possível observar o quanto uma ação em um determinado nível

é capaz de influenciar nos demais. A aquisição de chapas ofertadas dentro do estado paraense,

por exemplo, exigiria da empresa menor área para o estoque de matéria prima, pois os

produtos chegam num intervalo máximo de duas horas, enquanto as compradas fora do

Estado demoram 15 dias e exigem espaço no pátio. A decisão por essa opção, no entanto

geraria um custo de mais de R$ 4.000,00 mensais.

A empresa estudada apesar do tempo de existência ainda não se preocupou em sanar alguns

problemas muito comuns. Um deles é a falha no fluxo de informação. No atual sistema as

informações chegam aos trabalhadores de forma confusa, dificultando o processo produtivo,

aumentando o tempo de produção e limitando a capacidade da empresa.

É de suma importância que a empresa contrate um profissional capaz de atuar enquanto

unificador de informações, exercendo o papel do chefe de oficina. Seria interessante, também,

a aquisição de um software que informasse a ordem de produção com suas devidas

especificações, disponível ao setor de produção. Esse último, no entanto, necessita de um

ambiente fechado livre da poeira gerada pelo beneficiamento das pedras, pois esta causa

danos aos computadores e hardwares de modo geral.

Outro problema comum é a falta de organização, em especial do macro-espaço, onde estoques

de retalho ficam espalhados pelas dependências da empresa sem qualquer classificação de

tamanho ou tipo de material, aumentando o tempo da procura por material e reduzindo a

motivação dos funcionários.

Quanto às normas vigentes é importante que a empresa adquira lixadeiras pneumáticas com

adaptação interna para água, a fim de eliminar o lixamento a seco das pedras e reduzir o

impacto à saúde dos trabalhadores.

A marmoraria possui grandes possibilidades de expansão por possuir em seu terreno um

espaço inutilizado de dimensões consideráveis, pouco menos de 50% do espaço total. Porém

deve-se atentar às dificuldades de informação, definindo prioridades e implantando um

sistema de informações confiável independente da contratação de um chefe de oficina ou da

utilização de um software, devido os custos elevados desses últimos.

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Fica evidente que as atitudes exercidas em cada nível repercutem em outros níveis, podendo

gerar novas dificuldades se não observadas corretamente, dando maior importância ao melhor

planejamento ou análise dos níveis de espaço.

6. Referências Bibliográficas

CPRM - Serviço Geológico do Brasil. Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil. Ministério de Minas

e Energia, 2001. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/gis/frame_inicio.htm#recbr>

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