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LUIZ OCTAVIO DE CASTRO CUNHA
ANÁLISE DOS REMANESCENTES ESQUELÉTICOS
RECUPERADOS EM NAUFRÁGIOS DA COSTA
BRASILEIRA:
Galeão São Paulo (1652) e sítio PAPI-01-SC (Nau NS del Pilar -
séc XVIII).
Rio de Janeiro
2008
LUIZ OCTAVIO DE CASTRO CUNHA
ANÁLISE DOS REMANESCENTES ESQUELÉTICOS
RECUPERADOS EM NAUFRÁGIOS DA COSTA
BRASILEIRA:
Galeão São Paulo (1652) e sítio PAPI-01-SC (Nau NS del Pilar - séc XVIII).
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Arqueologia do Museu Nacional da Universidade Federal do
Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Arqueologia.
Orientadora: Profª. Dra. Cláudia Rodrigues Carvalho
Rio de Janeiro
2008
Cunha, Luiz Octavio de Castro
Análise dos Remanescentes esqueléticos recuperados em naufrágios da costa
brasileira: Galeão São Paulo (1652) e sítio PAPI-01-SC (Nau NS del Pilar – séc.
XVIII) / Luiz Octavio de Castro Cunha – Rio de Janeiro:UFRJ/MN, 2008
f 105; 1v;
Orientadora: Claudia Rodrigues Carvalho
Dissertação (Mestrado) – UFRJ/MN/Programa de Pós-Graduação em
Arqueologia, 2008
Inclui Bibliografia.
1. Tafonomia. 2. Bioarqueologia. 3. Naufrágio. I. Claudia Rodrigues Carvalho.
II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, Programa de Pós-
Graduação em Arqueologia. III. Título.
LUIZ OCTAVIO DE CASTRO CUNHA
ANÁLISE DOS REMANESCENTES ESQUELÉTICOS
RECUPERADOS EM NAUFRÁGIOS DA COSTA
BRASILEIRA:
Galeão São Paulo (1652) e sítio PAPI-01-SC (Nau NS del Pilar -
séc XVIII).
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Arqueologia.
Aprovado em:
____________________________________ Profª. Dra. Cláudia Rodrigues Carvalho – Orientadora Programa de Pós-Graduação _______ - UFRJ
______________________________________ Prof. Dr. Adilson Dias Salles, MD. PhD. – Professor Adjunto
Departamento de Anatomia_________ - UFRJ ______________________________________
Profª. Dra. Tânia Andrade Lima - Coordenadora Programa de Pós-Graduação________ - UFRJ
______________________________________ Componente da Banca com sua titulação A unidade de ensino - Instituição
Para minha filha Victoria
AGRADECIMENTOS
A minha família, Maria Octavia e Alfredo (in memorian), Maria de Fátima,
Victoria e Luiz Fernando minha gratidão pela confiança e incentivo recebidos.
Agradeço a minha orientadora, Profa. Dra Claudia Rodrigues Carvalho, por
todo o apoio e atenção.
Aos professores e professoras do Museu Nacional do Rio de Janeiro pela
paciência e dedicação à carreira acadêmica que muito me entusiasmaram para
o mestrado: Dra. Tânia Andrade Lima, Dr. Arnaldo Coelho, Dr. Benedicto
Rodrigues Francisco, Dra. Rhoneds Aldora Perez, Dra. Marta Locks, Dr.
Renato Ramos, Dr. Antonio de Souza Lima, Dra. Giralda Syieffert, Dra. Maria
Dulce Gaspar, Dr.José Rui Valka Alves, Dr. Wagner Castro e Dra. Simone
Mesquita.
Pela disponibilidade técnica oferecida e paciência, Dr. Adilson Dias Salles, Dra.
Elise Tonomura, Dr. Andersen Lyrio, Alte. Max J. Guedes, Dra. Rosanna Najjar,
Dr. Paulo Seda, Dr. Ondemar Dias Junior, Dr. Jules Rosa Soto, Dr. Arthur
Napoleão Figueiredo (in memorian), Dra. Andréa Lessa, Profa. Kátia Marina da
Cunha e Silva, Pós.Dr. Luiz Eduardo Macedo Cardoso, Mestres Gina e Lucas
Bianchinni, Dr. Rui Carita, Dr. Antonio Diomário de Queiroz, Prof. Mario
Moreira, Dr. Lucio Botelho, Dr. Francisco José da Silva Bezerra, Msc.(in
memorian), Prof. Jorge Freitas, Prof. Alcides Dutra, Prof. Kelvin Palmer Rothier
Duarte (in memorian), Arqueóloga.Elisabeth Cristina da Silva, Doutorando
Francisco Eduardo Alves de Almeida, Mestranda Tatiana Weska, Mestranda
Silvia Reis, Dr. Timothy Runyan, Dr. Bradley A. Rodgers, Dr. Lawrence
E.Babits, Dr. Gordon P. Watts Jr., Dr. Carl Swanson, Dra. Angela Thompson,
Dr.Joseph Ezzo, Dra. Maria Ximena Senatore, Pós-Dr. Andrés Zarankin e Dr.
William Kneebone,
Aos amigos, colegas e ex-colegas de trabalho, Alte. Eugênio C Ribeiro e D.
Sylvia Ribeiro, Alte Carlos Vilhena Cunha, Comte. Cesar Christianes da Silva,
Sra. Suraya Burlamaqui, Historiador Fernando Teixeira Marques, Sr. Marcelo
Moura, Arq. Alexandre Viana, Sr. Narbal Correia, Sra. Claudine Leite, Dr.
Richard Flores e D. Gloria Flores, SO Genésio, SO César, todo o staff
administrativo, científico e acadêmico do Museu Nacional do Rio de Janeiro,
UFRJ, que fizeram dessa dissertação uma realidade, promovendo e
acreditando na Arqueologia brasileira.
RESUMO
Esta dissertação apresenta investigações bioarqueológicas em remanescentes esqueléticos provenientes de sítios submersos decorrentes de naufrágios ocorridos na costa brasileira. Os remanescentes humanos
estudados remontam a um período específico da história colonial do Brasil, os séculos XVII e XVIII. Privilegiou-se a descrição e análises do material, na busca
do estabelecimento do número mínimo de indivíduos, na recuperação de informações, relativas ao sexo, idade, estatura, condições de vida e saúde e as informações sobre a distribuição espacial do material ósseo, procurando
interpretá-los à luz do contexto de cada naufrágio. Dessa forma, as observações patológicas em materiais recuperados em naufrágios, seguem a
mesma tendência das outras observações bioarqueológicas. Foram recuperadas 27 peças no Galeão São Paulo, sendo que destas, 22 foram identificadas como remanescentes esqueléticos humanos e 51 no sítio PAPI-
01-SC, dos quais 28 foram identificados também como remanescentes humanos. Após a separação do material e, com as séries de estudo
propriamente ditas, procedeu-se à análise bioarqueológica macroscópica do material, a qual consistiu em: descrição geral da peça e seu estado de preservação, mensurações, estimativas de sexo, idade e estatura além de uma
descrição sumária de condições de vida e saúde. No Galeão São Paulo foi estimado um número mínimo de três indivíduos, no Sítio PAPI-SC os dados
sugerem a presença de um indivíduo. Os sinais de patologias observados foram poucos e não foram encontradas evidências de doenças crônicas e/ou infecciosas. As estimativas de estatura sugerem indivíduos baixos (cerca de
1,60m para masculinos). Um indivíduo apresentou sinas compatíveis com amputação de fêmur. Os dados obtidos no presente trabalho confirmam o
potencial informativo do material analisado.
Palavras-chave: Arqueologia de Naufrágios; Bioarqueologia; Arqueologia
Náutica e Marinha; Antropologia Biológica
ABSTRACT
This dissertation presents bioarchaeological investigations from skeletal remains recovered in submerged sites occurred in shipwrecks along the Brazilian coast. The skeletal remains studied, belong from the colonial period of
the Brazilian history, XVII and XVIII centuries. The main focus were in the description and analysis of the material searching for the minimal numbers of
persons, in the recovery of information relates to sex, age, high, life conditions and health and the data about the bone material spatial distribution, searching interpretation it, under each shipwreck context. Thus, the pathological
observations of shipwrecks recovered materials, follow the same tendency of others bioarchaeological observations. Were recovered 27 artifacts from the
Galleon São Paulo, being 22 of these, human remains and 51 in the PAPI-SC site, being 28 of this one, indentified as human remains. After the material spread and with the study series, occurred the material macroscopic
bioarchaeological analysis, wich one was: artifact general description and it preservation stage, measurements, sex probability, age and high, and beyond
that, a short description of life conditions and health. In the Galleon São Paulo it was estimated a minimal number of three persons, in the PAPI-SC site the info suggests the presence of one person. The observed pathological signs were
few and were not found evidences of chronic or infectious diseases. The high probability suggests short persons (around 1.60m for males). A person
presented the sign that match with femur amputation. The data found in the present work, assures the analyzed material informative potential.
Keywords: Shipwreck Archaeology, Bioarchaeology, Nautical and marine
Archaeology and Biological Anthropology.
Lista de Ilustrações
Figura 1. Vista aérea da área do Cabo de Santo Agostinho, PE. A seta indica o Porto de Suape, a estrela, a localização aproximada do sítio do Galeão São Paulo (1652).
23
Figura 2. Mapa do sítio com os destroços do Galeão São Paulo, áreas 9 13 correspondem aos locais de concentração de fragmentos de material ósseo, fonte: Cunha, 1994.
24
Figura 3. Colocação de quadrícula flex ível com trena de 50 m e espeques de aço (30 cm). Procedimento utilizado no sitio do Galeão São Paulo.
25
Figura 4. Brinco ornamentado recuperado no sítio 26
Figura 5. Detalhe do mapa de escavação com distribuição do material recuperado nas áreas nove e treze.
27
Figura 6. Vista aérea da praia dos Ingleses, Florianópolis , SC. 28
Figura 7. Botija cerâmica luso-espanhola, 1580 -1780. Sítio PAPI-01-SC 29
Figura 8. Disposição das quadrículas escavadas após março de 2006 32
Figura 9. Estratigrafia do sítio na área de escavação 34
Figura 10. À esquerda, aro de relógio de sol; a direita, tinteiro com águia bicéfala 35
Figura 11. Peça n. 37. 44
Figura 12. Peça n. 41 45
Figura 13. Peça n. 52 46
Figura 14. Imagem radiográfica da peça no 52. 48
Figura 15. Peça n. 53.2 50
Figura 16. Peça n. 54.1. 53
Figura 17. Frontal, peça n. 254 59
Figura 18. Maxila peça 254. 59
Figura 19. Peça 02.001. 64
Figura 20. Peça n. 01.218 A 75
Lista de Tabelas e Gráficos
Gráfico 1. Relação das embarcações da primeira frota da companhia geral do
comércio e suas tonelagens.
21
Gráfico 2.Distribuição dos percentuais de variação de cores nas peças analisadas. 77
Gráfico 3. Percentuais de integridade das peças recuperadas em cada s ítio. 78
Tabela 1. Descrição da peças não humanas do sítio PAPI-SC. 79
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
2 SOBRE GALEÕES E NAUS 15
3 OS NAVIOS E OS SÍTIOS ESTUDADOS, CONTEXTUALIZAÇÕES 18
3.1 O GALEÃO SÃO PAULO 18
3.1.1 O SÍTIO SUBMERSO DO GALEÃO SÃO PAULO 23
3.2. HISTÓRICO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SUBMERSO PAPI-
01-SC E POSSÍVEL ASSOCIAÇÃO COM A NAU NUESTRA SEÑORA
DEL PILAR - SÉCULO XVIII.
27
3.2.1 O SÍTIO SUBMERSO PAPI-01-SC 30
4 BIOARQUEOLOGIA DE RESTOS HUMANOS RECUPERADOS EM
NAUFRÁGIOS
37
5 MATERIAL ANALISADO E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA 41
5.1 TRATAMENTO DO MATERIAL E COLETA DE DADOS 41
5.2 TRATAMENTO DOS DADOS 43
6 RESULTADOS 44
6.1 GALEÃO SÃO PAULO 44
6.1.1 DESCRIÇÃO POR PEÇA 44
6.1.2 ESTIMATIVA DO NÚMERO MÍNIMO DE INDIVÍDUOS 61
6.2 SÍTIO PAPI-01-SC 62
6.2.1 DESCRIÇÃO POR PEÇA
6.2.2 ESTIMATIVA DO NÚMERO MÍNIMO DE INDIVÍDUOS
62
76
6.3 CONDIÇÕES GERAIS DE PRESERVAÇÃO: ASPECTOS
COMPARATIVOS 76
6.3.1 VARIAÇÕES NA COLORAÇÃO 76
6.3.2 VARIAÇÕES NA INTEGRIDADE DAS PEÇAS 77
6. 4 MATERIAIS NÃO HUMANOS DOS SÍTIOS DO GALEÃO SÃO
PAULO E PAPI-SC 78
7 DISCUSSÃO 80
8 CONCLUSÃO 85
9 REFERÊNCIAS 87
10 ANEXOS 93
13
1 INTRODUÇÃO
Esta dissertação apresenta investigações bioarqueológicas em
remanescentes esqueléticos provenientes de sítios submersos decorrentes de
naufrágios ocorridos na costa brasileira. Tal investigação é calcada em 15 anos de
atividades de pesquisa, restauração e conservação em materiais recuperados em
naufrágios, ocorridos notadamente entre o período entre 1500 e 1900 de nossa era.
A recuperação de remanescentes ósseos humanos em naufrágios é um
evento raro (ARNAUD, BONUCCI; GRAZIANI, 1980) e mais rara ainda é a
constituição de séries osteológicas provenientes de tais descobertas. São escassos
os achados de esqueletos mesmo que sejam incompletos. Na maior parte das vezes
uns poucos ossos esparsos são encontrados e, quando é possível constituir uma
série, geralmente os remanescentes encontram-se muito misturados, como no caso
da tripulação do navio britânico Mary Rose (STIRLAND; WALDRON, 1997).
O potencial informativo desses remanescentes ainda é grande, a despeito de
eventuais limitações de tamanho e contexto. Sua persistência no registro
arqueológico encontra-se associada a uma série de condições específicas do
naufrágio – como a situação em que se deu o sinistro (incluindo-se aí a presença de
outras embarcações em situações amistosas ou belicosas, a proximidade com a
terra firme, as condições climáticas, etc.), o regime de correntes no local, entre
outras – e as condições micro ambientais do local onde a embarcação e os
remanescentes humanos foram depositados.
Os remanescentes humanos estudados remontam a um período específico da
história colonial do Brasil, os séculos XVII e XVIII. Embora as peças ósseas sejam
numericamente reduzidas, espera-se que tal abordagem, ainda inédita, permita
14
ampliar as discussões sobre alguns aspectos da vida dos atores que construíram a
história marítima do Atlântico Sul.
Dessa forma, a presente dissertação analisou comparativamente os materiais
ósseos humanos recuperados no Galeão São Paulo e no sítio submerso PAPI-01-
SC (Nau N. S. del Pilar - século XVIII - sítio das botijas cerâmicas). Privilegiou-se a
descrição e análises do material, na busca do estabelecimento do número mínimo
de indivíduos, na recuperação de informações osteobiográficas (quando possíveis)
relativas ao sexo, idade, estatura, condições de vida e saúde, etc.; na recuperação
de informações sobre as condições de preservação e as informações sobre os
principais processos tafonômicos, bem como a análise da distribuição espacial do
material ósseo e procurar sua interpretação à luz do contexto de cada naufrágio.
Tais análises tiveram como base apenas a observação macroscópica, e
representam, de fato, uma abordagem inicial ao material, frente às possibilidades de
análises microscópicas e moleculares disponíveis na atualidade. Espera-se que a
partir do presente trabalho, outros pesquisadores possam continuar a investigar
estas séries, a partir das questões e sugestões apresentadas por este estudo.
15
2 SOBRE GALEÕES E NAUS
Os galeões e naus a partir dos séculos XVI e XVII eram navios muito
semelhantes. De acordo com Guinote e colaboradores, os termos para distinção dos
diferentes tipos de navios eram muito ambíguos, podendo variar de acordo com o
texto. Ainda segundo estes autores:
Uma forma adicional para distinguir naus e galeões ligava-se a questões de ordem funcional: a nau seria uma embarcação com objetivos essencialmente comerciais enquanto o galeão teria um papel mais ativo do ponto de vista militar, o que acarretava algumas diferenças arquitetônicas mas, mesmo assim, a distinção não era fácil de fazer (GUINOTE et al., 1998, p. 44).
Domingues e Guerreiro (1989, p. 50) concordam que o elemento
funcionalidade era essencial em suas diferenciações, porém apresentam mais
detalhes de ordem prática:
As primeiras [naus], surgem como navios vocacionados para trânsito comercial [daí a expressão naus de carrega], têm geralmente três mastros, com pano redondo [a vela tem forma quadrada, quando cheia de vento fica arredondada], nos dois da frente e latino [triangular] no mais chegado a popa, superestruturas erguidas à popa e à proa, os castelos, ambos com vários pavimentos, sendo o de ré sempre mais elevado (DOMINGUES; GUERREIRO, 1989, p. 44-45). Quanto aos galeões, o caso é diferente. Este terá sido um tipo de navio com características semelhantes às da nau, mas desenvolvido para funções essencialmente militares no decorrer da segunda década de quinhentos. Por isso armava em regra quatro mastros com pano latino, nos da ré [mezena e contra-mezena], em relação a uma nau de idêntica tonelagem era mais afilado comprido e baixo, aumentando as suas aptidões para a guerra no mar e como veleiro. É todavia evidente que a distinção em causa estava longe de ser radical, e a prova disso é a muito freqüente confusão entre navios que no século XVI se chamam indistintamente naus ou galeões, dada sua similitude (DOMINGUES; GUERREIRO, 1989, p. 50).
Outras diferenças se localizavam na altura de seus costados (laterais da
embarcação). Cipolla et al. (1989, p. 79), por exemplo, afirmam sobe os galeões:
Os construtores de navios tentaram melhorar a capacidade de manobra dos grandes navios à vela, sem afectar sua potência
16
de fogo e, justamente após 1550, os seus esforços resultaram no legendário galeão, um navio de extraordinário armamento e manobra ligeira, que podia servir simultaneamente como mortífero navio de guerra e eficaz navio mercante. Em comparação com os tipos anteriores de grandes navios, o galeão era comprido em relação à medida da boca [largura da frente do navio] e o casco seguia, até certo ponto, as linhas das galés; a sua borda era mais baixa e era muito menos “encastelado”, especialmente na proa (...).
Esta era idéia do galeão no início do século XVI. Ver-se-á, todavia, que nos
anos seguintes muitas alterações ocorreriam. Passados um pouco mais de dez
décadas esse tipo de embarcação pesada continuava a liderar e manter a presença
lusitana no oceano Atlântico, o que corrobora a funcionalidade de seu design. .
O Projeto dos galeões juntou características das naus e caravelas Redondas em uma nova concepção. Sua forma era bastante parecida com a da nau, mas seu espaço interno dava ênfase ao armamento, ou seja, havia mais canhões. O galeão foi a origem do navio de guerra nos oceanos, sendo construído para fazer grandes viagens e combater longe da Europa (Informativo Navegante, 2006, p. 3).
Às naus, cabiam atividades prioritariamente mercantis, onde o espaço para
carga era privilegiado em detrimento daquele destinado ao combate (e
conseqüentemente à proteção da embarcação), como assegura o Informativo
Navegante (2006, p. 3):
(...) com grandes espaços nos porões para carregar mercadorias. Suas velas principais tinham a forma de um trapézio (figura geométrica), mas eram chamadas de redondas. O nome não tem a ver com seu formato, mas com o fato de serem semelhantes às velas dos navios mercantes da Antiguidade, chamados de navios redondos (por causa de sua grande largura em relação ao comprimento). As velas da nau eram fixadas em vergas (peças de madeira ou de ferro cilíndrica, que cruza no mastro ou mastaréu, ou que se prende por um dos extremos em um mastro) transversais a linha do centro do navio, sendo boas com o vento de popa (que vem por trás). Por serem navios cargueiros, elas possuíam poucos canhões, sendo presas fáceis para inimigos.
17
É possível entender através de um estudo comparativo o que acontecia no
século anterior e a quantidade de pessoas que eram transportadas nessas
embarcações de madeira.
As naus de Vasco da Gama teriam uma capacidade máxima de 100 tonéis e menos de 1000 homens a bordo, mas durante o século XVI, as naus das índias antes da frota de Cabral], atingiram ou ultrapassaram os 1000 tonéis e uma lotação de mais de 500 homens (SILVA, 1992, p. 103).
Dentro das embarcações dos séculos dos descobrimentos e sua expansão,
os tripulantes e passageiros eram classificados por hierarquia ou função. É possível
descrever algumas destas atividades de bordo, principalmente dos grumetes que
prestavam qualquer tipo de trabalho:
O guardião era responsável direto pelos grumetes. (...) Os grumetes quase sempre jovens adolescentes [12 a 16 anos] restava cumprir com o que se esperava de quem ocupava o lugar mais baixo na hierarquia: os trabalhos pesados os maus tratos (DOMINGUES; GUERREIRO, 1989, p. 44).
Explicar-se-á melhor resumidamente as funções deste tripulantes a seguir:
homens do mar eram o Comandante (ou Capitão), o piloto (no timão, que dirigia a
embarcação), o contra-mestre (comandava todos os marinheiros e grumetes),
marinheiros e grumetes. Homens de guerra eram os condestáveis (oficiais), os
artilheiros - ambos se ocupavam dos canhões e outros armamentos de pequenas
dimensões (como os falconetes ou canhões curtos) - e os soldados.
Condestável era o oficial que comandava os bombardeiros, e respondia apenas perante o Capitão. A utilização da artilharia exigia já um certo grau de especialização, porque entre outras tarefas os bombardeiros tinham também que fabricar a pólvora (DOMINGUES; GUERREIRO, 1989, p. 44).
Além dos homens de “mar” e “guerra”, estas embarcações traziam também
passageiros, de ambos os sexos, de diferentes idades e status social (Melo Neto,
1977, p. 10).
18
3. OS NAVIOS E OS SÍTIOS ESTUDADOS, CONTEXTUALIZAÇÕES
3.1 O GALEÃO SÃO PAULO
De acordo com Esparteiro (1953), o galeão lusitano São Paulo, já navegava
no Atlântico sul desde seu lançamento no mar, no ano de 1649, quando sua
construção fora finalizada. Integrava a “Companhia Geral do Comércio do Brasil”,
companhia esta criada em março de 1649 “(...) como resultado de um contrato entre
a Coroa e os homens de negócio” (Costa, 2000:54), que tinha como principal função
a escolta dos navios mercantes portugueses em suas viagens à colônia brasileira
(Costa, 2000; Esparteiro, 1953).
Fato definitivo para a criação da Companhia fora a presença holandesa na
colônia. Esta foi atraída pela riqueza açucareira das terras brasi leiras, causando
impacto no comércio desse produto:
“Os holandeses quebraram um século de monopólio português, proporcionando um aumento da oferta de açúcar no mercado mundial e determinando a baixa dos preços e do nível de renda dos produtores de açúcar no Nordeste” (Dias, 2005:2).
Wätjen (1938:27) corrobora esta interpretação e descreve a repercussão da
criação da companhia entre os holandeses:
“Para então poder exercitar uma pressão mais vigorosa por mar e assim facilitar aos Patriotas a sua tarefa em extremo pesada, João de Bragança tinha conferido a concessão e outorgado o privilégio do tráfico mercantil brasileiro a uma “Companhia Geral de Commercio” [Companhia Geral do Comércio do Brasil], criada por negociantes de Lisboa e organizada segundo o modelo das Companhias de commercio hollandezas. Quando chegou à Hollanda a notícia da fundação dessa empresa rival, os Altos poderes sem detença autorizaram os Diretores da O. I. C. e da W. I. C. a considerarem como presas marítimas nas respectivas zonas de competência todo e qualquer navio mercante portuguez”.
19
De acordo com Simonsen (1969: 357), parte dos gastos da companhia era
compensado com o monopólio do comércio de “(...) vinhos, azeites, farinhas e
bacalhau (...) e mais tarde, lhe foi, por igual, concedido o estanco do pau-brasil”.
A companhia foi fundada com um prazo de operação, concedido pelo Rei de
Portugal, João IV, de 20 anos (Simonsen,1969). Em 1664 foi encampada pela coroa,
sendo extinta em 1720 (Garcia, 1975).
Ainda segundo Simonsen (1969), a companhia tinha deveres a cumprir:
“Obrigava-se a Companhia a aprestar, dentro de dois anos, 36 navios de guerra, armados pelo menos de 20 até 30 peças de artilharia, guarnecidos de gente de mar e guerra, com tudo o mais necessário” (Simonsen, 1969:356).
A viagem inaugural da companhia às terras brasileiras contou com a presença
do galeão São Paulo, conforme relata Esparteiro (1953:57):
“A primeira frota enviada a Baía, pela Companhia Geral do Comércio do Brasil largou de Lisboa a quatro de novembro de 1649, ao mando do General João Rodrigues de Vasconcellos Sousa, Conde de Castelo Melhor, e constava de dezoito navios de guerra e sessenta e seis navios mercantes. O navio chefe era o galeão São Paulo, e o São Pedro, de igual força e grandes dimensões, era o navio almirante.” 1
Wätjen descreve a passagem dessa frota pela costa pernambucana:
“Ilesa de corsários hollandezes, chegou ella a costa de Pernambuco, e um terror pânico se apoderou da população civil do Recife quando dous [2] barcos anunciaram a vinda de 30 a 40 naus portuguesas (...) Apareceu diante do Recife uma forte esquadra, que, entretanto, proseguiu em sua viagem depois que três grandes navios hollandezes atacaram o galeão do vice-almirante português e as fortalezas do porto iniciaram um nutrido canhoneio” Wätjen (1938:273).
1 Em publicação posterior Esparteiro (1974:38), indica que o galeão São Paulo seria a
embarcação almirante da frota: “A primeira armada (navios de guerra e mercantes) aportou à
Madeira em novembro de 1649, a fim de proceder a carregação de vinhos, tendo como nau Almirante, a São Paulo, de 840 toneladas, então, um navio novo, logo fazia a sua primeira viagem”.
20
Pelas informações obtidas sugere-se que o galeão atacado era, de fato, o
São Paulo. Infelizmente não há informações de avarias ou prejuízos à embarcação
decorrentes desse ataque.
O galeão São Paulo era uma embarcação de grandes dimensões. De acordo
com Simonsen (1969), uma nau capitânia teria, pelo menos, 600 toneladas, ao
passo que o São Paulo, era bem maior, com 840 toneladas e pelo menos cinqüenta
canhões (Esparteiro, 1974). Sua tripulação pode ser estimada com base nos dados
do galeão português Sacramento, também capitânia da Companhia Geral do
Comércio do Brasil que naufragou na Bahia em 1668. De acordo com Melo Neto
(1977), este galeão teria cerca de 800 pessoas a bordo quando de seu sinistro, 200
dos quais deveriam ser passageiros.
Os dados disponíveis para a tripulação dos 18 navios que compuseram a
frota da primeira viagem da companhia somavam 3083 pessoas. Segundo Guedes
(1993: 106), “(...) homens do mar somavam 969, mais 601 condestáveis e artilheiros,
os homens de guerra eram 1.513 infantes”. Considerando -se as 18 naus de escolta,
o número de tripulantes parece muito pequeno frente ao relato do galeão
Sacramento, todavia conforme Guedes apenas o galeão São Paulo e o São Pedro
eram embarcações de grande tonelagem, as demais não passavam de 480
toneladas, conforme pode ser observado no gráfico 1. Dessa forma, os dois galeões
maiores deveriam concentrar os maiores contingentes humanos, não apenas de
tripulantes, mas também de passageiros.
21
Gráfico 1. Relação das embarcações da primeira frota da companhia geral do comércio e suas tonelagens. Adaptado de Guedes (1993). Note-se que apenas o galeão São Paulo e o São Pedro estão acima de 800 toneladas, contrastando com embarcações como Jesus Maria José e S. A. do Porto com 250 toneladas.
A segunda viagem da Companhia Geral do Brasil, dois anos depois de sua
viagem inaugural, marcaria a derradeira participação do galeão São Paulo:
“No final de 1651 largou a frota do Tejo, sendo General Pedro Jaques de Magalhães e Almirante Francisco de Brito Freire. Compunha-se de 60 velas, mas desconhece-se o nome da maioria dos galeões de comboio, sabendo-se, entretanto, que eram seis, no mínimo, e que entre eles se achavam o São Pedro [almiranta] e o São Paulo, sob comando de Bernardo Ramirez Esquível, que, dois anos antes, tivera destacada atuação nas águas pernambucanas”. (Guedes, 1993: 120)
Em fevereiro de 1652 a frota é avistada em águas brasileiras. A despeito das
contendas com os holandeses, as intempéries eram um dos grandes fatores de risco
para os navios, conforme relata Guedes (1993:120):
“No início da travessia oceânica, foi a armada castigada por forte tormenta, que tresmalhou os navios, e causou sérias avarias em alguns. Cessada a tempestade, o grosso da frota parece não ter tido outros contratempos maiores, porquanto, aos 25 de fevereiro de 1652, por volta do meio-dia, foram avistadas do Recife, aproximando-se da costa, com o vento de nor-nordeste que soprava, as mais de 60 velas da frota”.
É ainda Guedes (1993:120) que reconstrói com clareza o contexto do sinistro
do galeão São Paulo:
0100200300400500600700800900
S. Pau
lo
S. Pe
dro
S.P. Lisb
oa
S. Teo
dó
sio
S. João
S. Luzia
S. Francisco
N.S. C
on
ceição
Jesu
s Maria Jo
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S. A. d
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S.A. P
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S. Cip
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N.S. G
raça
Tonelagem
22
“Dois barcos holandeses, que velejavam para Itamaracá cruzaram com ela [a frota portuguesa], sem serem molestados. Imediatamente foram despachados três navios com avisos para os 11 outros de Hauthain [Comandante dos navios batavos], que bloqueavam o Cabo de Santo Agostinho, pois era certo que para lá rumava a força portuguesa. (...) No dia seguinte [26 de fevereiro], a frota [portuguesa] cruzou com alguns navios do Coronel Hauthain que abriram fogo sobre ela, ocasião em que “um navio muito grande dos portugueses explodiu por seu próprio fogo, perecendo tudo. (...) Tratava-se do galeão São Paulo, cujos destroços foram, faz alguns anos, localizados pela Marinha do Brasil espalhados por vasta área fronteira ao Cabo de Santo Agostinho, sendo recolhidos alguns canhões de bronze de grosso calibre, um deles exposto hoje no Serviço de Documentação da Marinha”. (Guedes:1993:120).
Vítima da explosão de seu paiol de munição, a embarcação jaz atualmente
distante poucas milhas náuticas, do terminal portuário do Suape, Pernambuco
(Figura 1), quase em frente às ruínas do forte de Santo Agostinho (Cunha,
1994:17:18)
Embora Guedes (1993) apresente uma data específica para o sinistro da
embarcação, há relatos que indicam que o evento teria ocorrido entre o dia 26 de
fevereiro e 03 de março de 1652. Todavia como explica Guedes (op.cit.), este
período entre datas, na verdade, relaciona-se com a perseguição da frota batava de
Haultain, contra a frota portuguesa que neste momento já se retirava em direção ao
sul, para a Bahia, isto após o afundamento e explosão do galeão São Paulo dias
antes.
“No dia 2 de março, oito ou nove navios portugueses ou afretados que, até então, se achavam bloqueados no Cabo [de Santo Agostinho], saíram para juntar-se a frota sob as vistas impotentes dos batavos. Àquela altura, evidentemente havia Pedro Jaques de Magalhães [Chefe da frota portuguesa] desembarcado todos os suprimentos destinados a Francisco Barreto [Governador geral da província de Pernambuco] e dele recebera os açucares há muito
aguardando transporte [e] pode assim retornar a frota sua viagem no rumo da Bahia ,o que foi feito na noite de 2 para 3 de março”. (Guedes:1993:121)
23
O galeão São Paulo não foi o único sinistro da organização. Outras
embarcações, como o citado galeão Sacramento, também sucumbiram durante suas
operações.
Figura 1. Vista aérea da área do Cabo de Santo Agostinho, PE. A seta indica o Porto de Suape, a estrela, a localização aproximada do sítio do Galeão São Paulo (1652). Fonte: Googlemaps
3.1.1 O sítio submerso do Galeão São Paulo
Durante as escavações subaquáticas do galeão São Paulo em 1987, várias
medições foram tomadas durante o mergulho para se entender os vestígios
arqueológicos que ali jaziam.
Devido à explosão do galeão, calculou-se uma área de 120 m de
comprimento por 40 m de largura onde os vestígios arqueológicos e históricos
estariam depositados. Em uma profundidade entre 18 a 20 metros de água de 100%
de visibilidade, verificou-se a total extensão do sítio arqueológico submerso, bem
24
como os fragmentos de ossos humanos coletados, que são objeto deste trabalho
(Figura 2).
Figura 2. Mapa do s ítio com os destroços do galeão São Paulo, áreas 9 13 correspondem aos locais de concentração de fragmentos de material ósseo. Escala: 1:100. Diminuição = 20 x fonte: Cunha, 1994.
A escavação por quadriculamento foi empregada apenas em setores do sítio
com evidências de artefatos de pequenas ou médias dimensões, devido à grande
extensão do sítio e dispersão das peças. Artefatos de grandes dimensões como
restos de madeirame, canhões, etc. foram registradas quanto à sua posição em
relação ao norte verdadeiro e ao ponto “zero” marcado dentro da área do sítio. A
todo foram escavadas apenas quatro quadrículas de 2 X 2 m, em toda a área do
sítio.
Tal quadriculamento, foi elaborado principalmente para estabelecer a posição
dos restos esqueléticos em relação ao contexto geral do sítio submerso e ao norte
verdadeiro no fundo do mar. Foram empregadas quadrículas flexíveis de 2 X 2
metros ou 4 m2. Com o auxílio de uma trena, cada lado da quadrícula era marcado,
de 20 em 20cm (Figura 3).
25
O solo onde o material jazia depositado era composto de areia fina branca e
rochas calcárias esparsas. Não foi verificada a presença de lodo ou qualquer
alteração no solo onde as peças foram recuperadas
Como embarcação capitânia, o Galeão São Paulo teria 50 canhões ou mais
(Esparteiro, 1953). Deste poder de fogo, foram recuperados apenas cinco canhões
(dois de ferro e três de bronze). Sem sinais de que existiam peças de artilharia
lançadas para além da área delimitada do sítio, sugere-se que as demais devem
ainda jazer enterradas na areia.
Figura 3. Colocação de quadrícula flex ível com trena de 50 m e espeques de aço (30 cm).
Procedimento utilizado no sitio do Galeão São Paulo. Foto: Freitas.
Outras peças arqueológicas de relevância arqueológica e histórica foram
cuidadosamente recuperadas segundo descrição de Cunha (1994): Uma espada
naval de ferro concrecionada com bainha, panelas de cobre, fragmentos de louça,
cerâmica e faiança portuguesas, sino da embarcação em bronze, algumas moedas
de prata, barras de ferro da cela do navio, moitões, poleames e roldanas de madeira
encharcada, balas esféricas de mosquete e pistola, prato de porcelana chinesa
fragmentado, facas do serviço de bordo com cabo de marfim e osso, cravos, pregos
e cavilha (pregos grandes) e anilhas (porcas), de ferro, cobre e bronze e um brinco e
anel de ouro (Figura 4). Além de outros materiais de construção naval que resistiram
26
após a explosão, como: o madeirame do porão, a quilha, as cavernas (área de
encaixe das madeiras do porão), a cantoneira do convés e fragmentos de madeiras
longas diversas que não foram retirados do mar por possuírem grandes dimensões
(os mesmos foram identificados, medidos e registrados in situ).
Figura 4. Brinco ornamentado recuperado no sítio : Foto: Luiz Miguel
Quanto ao material ósseo, este foi observado e coletado apenas em duas
áreas (Figura 5): próximo à cantoneira do convés (área 13) e ao lado de uma tábua
fragmentada de grandes dimensões (área 9). Todo o material esquelético
encontrava-se sob uma fina camada de areia branca, e foi removido
cuidadosamente. Dentro de baldes de água salgada, chegou ao Rio de Janeiro, para
dessalinização e limpeza no Laboratório de Arqueologia do Museu Naval e
Oceanográfico.
27
Figura 5. Detalhe do mapa de escavação com distribuição do material recuperado nas áreas nove e treze. Escala: 1:100. Diminuição = 20 x fonte: Cunha, 1994.
3.2. HISTÓRICO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SUBMERSO PAPI-01-SC E
POSSÍVEL ASSOCIAÇÃO COM A NAU NUESTRA SEÑORA DEL PILAR - SÉCULO
XVIII.
Em setembro de 2002, foram localizados os primeiros indícios da existência
de uma embarcação naufragada na Praia dos Ingleses, Florianópolis, Santa
Catarina Figura 6. Inúmeros fragmentos cerâmicos, associados a botijas de grandes
28
dimensões, localizadas sem contexto histórico específico, despertaram o interesse
de pesquisadores catarinenses.
Figura 6. Vista aérea da praia dos Ingleses, Florianópolis , SC. A seta indica a localização aproxim ada
do naufrágio. Fonte Google maps.
Inicialmente acreditava-se estar soçobrado naquele local, um escaler com
remos, embarcação de pequenas dimensões (cerca de 2,5 m), semelhante a um
bote salva-vidas.
Em janeiro de 2006 foi concluído um ciclo científico de estudo deste naufrágio
costeiro, e, ao invés de um escaler, como antes sugerido, a investigação
arqueológica submarina comprovou o naufrágio de uma embarcação de grandes
dimensões.
Os achados de um sino de bronze com cruz escalonada e de um tinteiro de
estanho e chumbo decorado com a imagem de uma águia bicéfala em alto relevo,
29
ambos com características compatíveis com uma procedência espanhola, sugerem
que a embarcação estivera a serviço da Espanha.2
Embora não existam dados que indiquem a data exata do sinistro, a
recuperação, no sítio, de uma régua de navegação (Régua de Günther) datada de
1683 comprova a antiguidade da embarcação e indica que o naufrágio não poderia
ter ocorrido antes do terceiro quarto do século XVII. Da mesma forma, as botijas
encontradas no sítio (Figura 7) apresentam características compatíveis com
fabricação entre 1580 e 1780 (Cunha, 2005), sugerindo também que o naufrágio não
deve ter ultrapassado o século XVIII.
Figura 7. Botija cerâmica luso-espanhola , 1580 -1780. Sítio PAPI-01-SC Foto: Viana, 2001.
Há muitos relatos sobre naufrágios espanhóis na Ilha de Santa Catarina
(Florianópolis, SC). Por exemplo, a nau Nuestra Señora de La Concepción, em 28
de outubro de 1526; duas naus menores da Expedição de Cabeza de Vaca que
soçobraram em meados de 1541, próximos ao ancoradouro de Porto de Vera; o
2 De acordo com o D. Manuel Quintana Saguillo (Maestro Fundidor de Campanas, Saldaña-Palencia-España), a
quem consultamos sobre o sino, o tipo de decoração não permite identificar uma época, embora esta seja comum
a sinos espanhóis com mais de um século de antiguidade. Quanto ao tinteiro, sua decoração corresponde à casa
dos Habsburgos, podendo ser encontrada nos navios espanhóis no período entre 1500-1700 (Altrock, 2006)
30
Galeão San Miguel sob o comando de Juan de Salazar, da expedição de Diego de
Sanabria., em 1551, entre outros (Mosimann, 2002:184).
Há notícias do sinistro de uma embarcação espanhola em época compatível
com os achados encontrados no sítio PAPI 01-SC. De acordo com Godoy (2005:25):
“Perdeu-se a Nau Nuestra Señora Del Pilar na demanda por Buenos Aires em data
imprecisa, entre 1695 e 1701”.
A referida nau e seu naufrágio mantiveram-se no imaginário da população
local. De acordo com Spalding (1955), uma imagem em madeira histórica de São
Pedro seria a única peça salva desse sinistro:
“(...) E foi assim que, certo dia, partiu de Espanha, rumo ao Prata, pequena armada (...) Náus pequenas, de pouco calado, em meados de maio de 1742, pelas alturas da Ilha de Santa Catarina violento temporal se fez sentir e as gloriosas naus de Castela foram dispersas, aportando algumas, sem o querer, nas costas catarinenses (...) Finalmente, depois de mais de 15 dias reuniram-se novamente as caravelas de Espanha (...) Mas, faltava ainda uma nau (...) eram perguntas que todos se faziam em torno da ausência da Caravela Nuestra Señora Del Pilar” (Spalding, 1955:205)
A narrativa informa ainda, que em junho daquele mesmo ano, foi achada no
mar uma caixa contendo uma imagem de São Pedro “(...) única cousa que se
salvara dó naufrágio daquela caravela de Nuestra Señora Del Pilar (Spalding,
1955:207).
Infelizmente não existem elementos que permitam garantir que a embarcação
afundada na Praia dos Ingleses seja de fato a referida nau espanhola.
3.2.1 O sítio submerso PAPI-01-SC
O sítio arqueológico localizado às coordenadas Latitude 27º 26`350`` sul e
Longitude 048º 22` 330`` oeste fica a 32 metros da areia da praia, em uma
31
profundidade de 3 a 4 metros. O projeto científico analisado e aprovado pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Fundação de Ciência de
Tecnologia do Estado de Santa Catarina (FUNCITEC)3, coordenado pela equipe do
Projeto de Arqueologia Subaquática (PAS), foi responsável por reunir a equipe
mutidisciplinar que participou das intervenções arqueológicas autorizadas no sítio,
realizadas entre 2002 e 2006.
A área do sítio foi mapeada e escavada através de quadrículas rígidas de 2 X 2
metros divididas por 10 cm cada uma, para a plotagem de cada peça arqueológica
removida (Bass:1969). De acordo com Marino (2006: 101):
“As quadrículas foram confeccionadas com cantoneiras de aço galvanizado de 1” X 3 /16”, com dois metros de lado (4m2). O gabarito [espaços], foi pintado com tinta vermelha e branca, em intervalos de 10 cm, a fim de se criar uma régua para mensurações, balizamento e orientação da escavação e do registro”
Foi empregada também a técnica de foto-mosaico aplicada sobre as
quadrículas rígidas de aço sub-divididas em 1 X 1 metros e fotografias técnicas
subaquáticas (Figura 8). Segundo Odone et al. (2000), as fotos-mosaicos podem
ajudar em muito os pesquisadores e arqueólogos no trabalho de campo.
“O processo de elaboração de um mosaico consiste no alinhamento de múltiplas imagens individuais em uma única imagem, criando assim uma vista panorâmica.” (Odone et al, 2000:p 1-5).
3 Atualmente denominada Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de Santa Catarina (FAPESC).
32
Figura 8. Disposição das quadrículas escavadas após março de 2006. Números na borda do quadro correspondem a batimetria plana. Números em vermelho, localização do material esquelético
Escala: 1:100 Diminuição = 30 x Fonte: Projeto de Arqueologia subaquática, Relatório Anual, 2006.
É possível entender que, com a quantidade de rochas que se misturavam com
a areia em cada quadrícula escavada, o trabalho lento e minucioso se tornou
obrigatório, para não se destruir as peças arqueológicas que estavam aflorando
naquela área esquadrinhada.
O primeiro achado significativo foi realizado ainda em 2002: uma corrente
antiga de ferro incrustada, que não tardou a associar-se a inúmeros fragmentos
cerâmicos dispostos sob uma camada fina de areia, lodo, cascalho e pequenas
pedras, a menos de 2,5 metros de profundidade. Após mais de 10 dias de
prospecções com jato d água e detector de metais manual findava assim a fase de
pesquisa que se concentrou na delimitação do sinistro histórico.
Já em 2004, com a continuação das escavações subaquáticas, as atividades
concentraram-se na recuperação dos artefatos, na elaboração da topografia e da
estratigrafia do sítio. A utilização das quadrículas de aço permitiu plotar, com
segurança, todos os artefatos arqueológicos de dimensões reduzidas. Cada
33
quadrícula era desenhada, fotografada e novamente ilustrada sobre uma mesa de
desenho em papel vegetal, para ser arquivada e compor um arquivo de imagens
(basicamente o mosaico fotográfico), de acordo com os procedimentos sugeridos por
Odone et al. (2000), para futuras pesquisas em outros pontos do litoral catarinense.
A escavação desenvolvida sistematicamente a partir de 2004 seguiu o sentido
horário sobre a área onde tinha sido localizado o primeiro achado.
Foram também utilizadas na coleta de material arqueológico submerso caixas
coletoras de cascalho (de 3,7 mm e 2,4 mm respectivamente), que permitiram
recuperar vestígios diminutos na triagem por mais objetos históricos.
A rosa dos ventos metálica submarina, usada para a localização dos
arqueólogos-mergulhadores, foi importante para em águas turvas identificar as
quadrículas em que se estava trabalhando, e entre outras funções determinar no
fundo do mar, a posição do norte verdadeiro, posicionando-se a mesma com um
cabo branco desde sua base, até dentro da quadrícula em que se estava usando a
sugadora, ou em relação ao ponto “zero”, distante 3 metros da área das quadrículas,
e conseqüentemente auxiliando os pesquisadores.
Durante o período de mergulhos sistemáticos e científicos, duplas de
pesquisadores se revezavam para escavar com a sugadora, quando não havia
artefatos visíveis na área escavada, em toda a superfície da quadrícula escolhida.
Em forma de círculo constante sempre para a direita, ou seja, para leste da direção
do norte verdadeiro, em relação ao sítio submerso, cada quadrícula era escavada
minuciosamente, procurando-se não deixar nenhum vestígio histórico sem ser
catalogado, identificado, fotografado, desenhado e por final removido tecnicame nte
para um contêiner de armazenamento, com caixas d água contendo água salgada
retirada do próprio local de onde as peças arqueológicas foram recuperadas.
34
De acordo com Marino (2006), a profundidade do sítio variou entre três e 0,6
metros. Sua estratigrafia apresenta quatro camadas. Verificou-se variação espacial
na espessura das mesmas. Em 2002, na área das primeiras descobertas históricas,
ou prospecção inicial, as camadas apresentaram a seguinte distribuição: camada I,
30 cm de sedimentos de areia branca fina; camada II, 50 cm de areia amarela fina;
camada III, 80 cm de lodo com presença de conchas trituradas, bivalves e
gastrópodes; camada IV, 20 cm de areia branca e cinza claro. Em 2004, na área de
escavação as camadas apresentaram as seguintes dimensões camada I 20cm,
camada II 8cm, camada III 50cm, camada IV 20cm, na Figura 9 (Marino, 2006).
Figura 9. Estratigrafia do sítio na área de escavação.Fonte Marino, 2006.
Dentre os objetos/fragmentos que se preservaram da embarcação destaca-se o
madeirame (convés da embarcação), provavelmente conservado pelo lodo, o qual
manteve principalmente o tabuado e o leme original da embarcação de grandes
dimensões num ambiente anaeróbico. Além deste são dignos de nota um aro de
relógio de sol em latão e bronze intacto, que marca de meia em hora, entre as 04:00
35
H da manhã até as 16:00H (Figura 10); um carregador (câmara) de falconete em
bronze (pequeno canhão de convés), o único exemplar localizado no Brasil, em sítio
submerso. Também foram recuperados cabos de faca em osso e marfim em grande
número, pederneiras de sílex para o disparo de pistolas e mosquetes, madeiras
encharcadas do aparelho móvel da embarcação (mastreação e cabos), um “colar de
glossário” (rolamentos para proteção dos cabos dos mastros), roldanas, moitões,
cabos de fibra vegetal e até uma selha (parte do instrumento náutico denominado,
balestilha, usado para a navegação), pouco deteriorada. Além é claro de ossos
humanos e animais (veja figura 7 para distribuição das peças ósseas nas quadras do
sítio).
Figura 10. À esquerda, aro de relógio de sol; à direita, tinteiro com águia bicéfala. Foto: Moura.
Despertou a atenção dos pesquisadores e mergulhadores a existência de outro
sítio arqueológico a menos de 7 (sete) metros da área do naufrágio histórico, na
vista lateral, uma oficina lítica, pré-cabralina, com brunidores, amoladores entre
outras marcas visíveis de ocupação humana de prováveis caçadores-pescadores,
pretéritos. Na seqüência das escavações subaquáticas constatou-se que algumas
rochas tinham a mesma característica geológica (rochas diabásicas ricas em ferro),
e entre outros achados, junto às descobertas históricas, encontramos rochas
36
perfuradas, com marcas de amoladores de facas, que se deslocaram da base do
morro e foram sendo enterradas pelo assoreamento contínuo do canto direito da
mesma praia (Canto do Mané Serafim)
De fato, no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), estão
cadastrados quatro sítios arqueológicos pré-cabralinos nas proximidades da praia
dos Ingleses, o sítio supracitado é provavelmente o Ingleses I. O sítio Ingleses III
também apresenta áreas de polimento em embasamento granítico. Ingleses IV
corresponde a duas gravuras na rocha e Ingleses II a uma área de 300m2 com
material lítico e cerâmico (Fonte: sistema de gerenciamento arqueológico do
IPHAN).
37
4. BIOARQUEOLOGIA E OS RESTOS HUMANOS RECUPERADOS EM
NAÚFRÁGIOS
A bioarqueologia é uma disciplina voltada para reconstrução do passado
através do estudo de remanescentes biológicos humanos recuperados em contextos
arqueológicos (LARSEN, 2000). Dentre esses remanescentes, ossos e dentes
representam a maior parte dos achados.
O esqueleto é capaz de fornecer variadas informações sobre o indivíduo em
vida, referentes à suas características biológicas gerais (sexo, ancestralidade, idade
à época da morte), condições de vida e de saúde (UBELAKER, 1994; MAYS, 1998).
Todavia, no caso de remanescentes humanos recuperados em naufrágios,
raramente a unidade de análise é o esqueleto, mas o osso isolado, resultado de uma
combinação de fatores que incluem o caráter não intencional das mortes e o próprio
processo de decomposição dos corpos em meio aquoso (HAGLUND & SORG, 2002)
Analisar peças ósseas ao invés de esqueletos significa lidar com elementos
com grande variação em seu potencial informativo. Poucas partes do esqueleto
permitem estimar o sexo com uma precisão superior a 80%. No caso da estimativa
de idade, a maioria das peças pode indicar apenas maturidade ou imaturidade
óssea. A análise de condições patológicas também é seriamente prejudicada uma
vez que a identificação de muitas doenças depende da observação de sua
manifestação no esqueleto e não apenas em ossos isolados.
A despeito dessas dificuldades, informações relevantes podem ser produzidas
a partir da análise de peças esqueletais resgatadas em condições de naufrágio. Os
estudos efetuados nos remanescentes esqueléticos recuperados no navio inglês
Mary Rose (1545) são um bom exemplo disso. Apesar da grande mistura de
38
materiais, análises voltadas para indicadores de atividade física puderam revelar um
intenso padrão de estresse mecânico entre os marinheiros, inclusive aqueles mais
jovens (STIRLAND & WALDRON,1997).
Outro fato recorrente em remanescentes esqueléticos recuperados em
naufrágios é sua freqüente inexpressividade numérica, impossibilitando a
constituição de séries estatisticamente representativas (ARNAUD et al, 1980). Tal
situação reflete a raridade destes achados, o que acaba por reforçar o interesse
acadêmico-científico do material. Embora os dados produzidos a partir de
investigações com esses materiais não possam ser diretamente extrapolados para a
população de origem, apresentam subsídios para elaboração de investigações em
materiais semelhantes, garantindo o aprimoramento do conhecimento científico.
Os procedimentos gerais de análise bioarqueológica empregados no presente
trabalho pretenderam recuperar informações sobre quantos indivíduos efetivamente
foram resgatados nos naufrágios estudados (e estão representados nos fragmentos
ósseos encontrados), quais os dados osteobiográficos recuperáveis (sexo, idade,
estatura, patologias e condições de vida, etc.) e quais suas condições gerais de
preservação.
Os melhores indicadores para as estimativas de sexo e idade em adultos
estão na pelve, embora variadas técnicas envolvendo observações morfológicas e
mensurações tenham sido desenvolvidas por diferentes pesquisadores com vistas a
refinar o potencial informativo de outros ossos, como no caso das dimensões da
cabeça do fêmur ou do tálus (BYERS, 2002).
Embora a estimativa de sexo em adolescentes e crianças seja difíci l, a
estimativa de idade, com base no desenvolvimento dentário e no grau de fusão das
epífises, é eficaz. A alternativa de mensuração de ossos longos, embora seja uma
39
ferramenta de fácil utilização, deve ser sempre relativizada, uma vez que não há
parâmetros seguros para o estabelecimento de correspondências entre o
desenvolvimento ósseo das populações atuais e do passado, além do mesmo poder
ser afetado por fatores ambientais (BUIKSTRA & UBELAKER, 1994; SCHEUER &
BLACK, 2000).
Preocupação semelhante pode ser estendida para as estimativas de estatura
onde os procedimentos mais comuns envolvem a mensuração de ossos longos e a
aplicação de fórmulas. O desenvolvimento dessas equações é feito em coleções
osteológicas com características específicas e, pelo menos informações sobre sexo
e ancestralidade devem ser conhecidas para garantir uma melhor precisão na
utilização de uma fórmula específica (STEELE & BRAMBLET, 1988). No caso de
peças ósseas isoladas, tais dados podem ser apenas inferidos, ou seja, os
resultados obtidos com estas técnicas são, de fato, aproximações.
A análise de patologias ósseas e dentárias não depende de outras variáveis,
mas, como já dito, em muitos casos a análise de diferentes partes do esqueleto é
fundamental para o diagnóstico de determinadas condições. Dessa forma, as
observações patológicas em materiais recuperados em naufrágios, seguem a
mesma tendência das outras observações bioarqueológicas, ou seja, são em sua
maioria subenumeradas/subrepresentadas.
Importante em qualquer análise bioarqueológica são as condições de
preservação do material esquelético humano uma vez que estas determinam, de
fato, boa parte do potencial informativo do material recuperado. Parâmetros para
registro e análise dessas condições vêm sendo detalhados sistematicamente pela
Tafonomia, disciplina dedicada ao estudo das transformações que ocorrem nos
remanescentes biológicos após sua morte, resultados da interação destes com o
40
ambiente através de fatores bióticos e abióticos, ao longo do tempo (BRAZ, 2001;
BEHERENSMEYER et al., 2000).
Não é objetivo do presente trabalho uma análise tafonômica exaustiva, mas
um registro básico das principais alterações observadas macroscopicamente nas
peças ósseas estudadas.
Embora o meio aquoso tenha uma dinâmica própria, onde potencialmente o
transporte de material pode ser mais fácil, em relação ao material sepultado em solo
seco, muitos dos processos tafonômicos gerais podem ser encontrados, como a
ação de diferentes animais utilizando os remanescentes biológicos humanos como
alimento, estrutura de habitação ou suporte, deixando sinais característicos de sua
interação. A ação de fatores abióticos é sempre mediada pelo ambiente e dependerá
das condições particulares de cada naufrágio, como profundidade, características do
leito marinho, presença de correntes, etc.
Na análise macroscópica de peças ósseas, os principais elementos de
transformação a serem observados são a integridade (entendida aqui como o
percentual de osso presente em relação à peça óssea total); a coloração (ou
colorações); a presença de quebras, erosões, o aumento da porosidade óssea, a
presença de sulcos, ranhuras, cortes e outros fenômenos que levem à
perda/alteração da superfície e/ou de áreas variadas de tecido ósseo; a exposição
de osso trabecular, a presença de materiais aderidos, entre outros (KATZENBERG &
SAUNDERS, 2008). Estes elementos permitem caracterizar as principais alterações
sofridas pelo material esquelético.
41
5 MATERIAL ANALISADO E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
O material analisado compreende a totalidade de peças ósseas humanas
recuperadas nos naufrágios citados. Com a finalidade de evitar viés de seleção,
foram consideradas inicialmente todas as peças ósseas resgatadas, as quais foram
inicialmente inspecionadas para diferenciação entre remanescentes humanos e
animais. Foram recuperadas 27 peças no Galeão São Paulo, sendo que destas, 22
foram identificadas como remanescentes esqueléticos humanos e 51 no sítio PAPI-
01-SC, dos quais 28 foram identificados também como remanescentes humanos.
No caso do Galeão São Paulo, a maioria dos ossos aflorava no leito
submarino, e somente uma camada fina de areia branca cobria os remanescentes
esqueléticos (como pequenas ondas de areia fina que mantinham o relevo irregular
do fundo mar naquela região).
Os ossos coletados no sítio PAPI-01-SC encontravam-se dispersos por 16
quadrículas, enterrados abaixo de uma camada de lodo.
5.1 TRATAMENTO DO MATERIAL E COLETA DE DADOS
Os ossos de cada naufrágio foram analisados separadamente. Todos os
materiais esqueléticos provenientes do sítio PAPI-01-SC encontravam-se úmidos ou
molhados, a maioria mergulhada em água destilada ou deionizada. Estes foram
secos no laboratório de Antropologia biológica do Museu Nacional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, colocando-se sobre papel toalha e aguardando-se sua
secagem ao ar. O material proveniente do Galeão São Paulo, já encontrava-se seco
e estabilizado, não sendo necessário nenhum procedimento prévio à análises.
42
De início procedeu-se à contabilização do total de peças ósseas presentes.
Seguiu-se a esta etapa a distinção entre materiais humanos e não humanos, com
base nos procedimentos sugeridos por BASS (1995) e UBELAKER (1994). As peças
cuja morfologia/condições, não permitiam uma diferenciação entre humanos e não
humanos foram consideradas não humanas, peças com morfologia/aspecto
compatível com remanescentes esqueléticos humanos mesmo que não tenham
condições de serem precisamente identificados foram considerados humanos. O
detalhamento do material não humano foi realizado com auxílio da bióloga Martha
Locks, em momento posterior.
Após a separação do material e, com as séries de estudo propriamente ditas,
procedeu-se à análise bioarqueológica macroscópica do material, a qual consistiu
em: descrição geral da peça e seu estado de preservação, mensurações,
estimativas de sexo, idade e estatura além de uma descrição sumária de condições
de vida e saúde. Devido às características de cada peça e/ou seu estado de
conservação, nem todas foram/puderam ser analisadas para todos os itens.
A descrição geral da peça baseou-se em suas características anatômicas e
seu estado de preservação, e procurou apresentar informações básicas sobre as
principais alterações tafonômicas macroscópicas presentes em cada série,
(BEHRENSHMEYER, 1978; MELO, 2004; BRAZ, 2001). Foi também realizado um
registro da coloração de cada osso, seguindo-se a Tabela de Munsell (2007), (em
anexo para conferência de detalhes técnicos e interpretação dos numerais e letras
utilizados), em pontos pré-determinados de cada peça, além de uma descrição geral.
Para as estimativas de sexo foram consideradas como elementos passíveis de
análise todas as peças que apresentem uma ou mais características utilizadas na
diagnose de sexo proposta por Buikstra & Ubelaker (1994), além de mensurações na
43
cabeça do fêmur. As dimensões de ossos longos não foram consideradas. Para as
estimativas de idade foram utilizados os mesmo parâmetros descritos acima; no
caso de remanescentes esqueléticos imaturos foram consideradas também
mensurações ósseas de acordo com o sugerido em SCHEUER & BLACK (2000).
Quando possível, foram tomadas medidas padronizadas na literatura para cada
peça óssea (BUIKSTRA & UBELAKER, 1994; BASS 1995); nos caso de peças
fragmentadas procurou-se, no mínimo, estabelecer o comprimento máximo. As
estimativas de estatura basearam-se nas equações propostas por STEELE &
BRAMBLET (1988). A análise das condições gerais de saúde seguiu as perspectivas
bioarqueológicas delineadas em LARSEN (2000); basicamente, cada peça óssea foi
examinada em busca de sinais anômalos e/ou patológicos. Cada observação dessa
natureza foi registrada e descrita.
Apenas uma peça foi objeto de exame radiográfico, um fragmento de fêmur
recuperado no Galeão São Paulo, para comprovar a possibilidade de uma
amputação.
5.2 TRATAMENTO DOS DADOS
Devido à natureza esparsa do material estudado em cada naufrágio, os
resultados da análise bioarqueológica constituem o principal elemento de discussão
e interpretação das séries. Além disso, a totalidade do material de cada sítio foi
considerada (dentro das especificações de cada situação) para o estabelecimento
do número mínimo de indivíduos e para comparação das condições de preservação
entre os sítios (especificamente para variações no padrão de cor e integridade das
peças). Cálculos de percentagem foram empregados, quando necessários.
44
6 RESULTADOS
6.1 GALEÃO SÃO PAULO
6.1.1 Descrição por peça
Peça n◦ 37
Descrição: fragmento de diáfise de osso longo incrustada em fragmento de ferro.
Possível fêmur ou úmero delgado, identificação incerta (Figura 11).
Mensurações: comprimento máximo = 188mm (o que pode ser observado da junção
com o metal até a extremidade fragmentada), largura máxima: 18mm. (na área
média do osso).
Sexo: indeterminado.
Idade: indeterminado.
Condições de preservação: osso
bastante intemperizado, perda por
arrancamento/descamação de
porções mais externas do osso
cortical ao longo de boa parte da
diáfise.
Coloração: varia do castanho avermelhado ao marfim. Tabela de Munsell: epífise
com concreção: 10 Y R 7 / 6 e diáfise : 10 Y R 6 / 4 . (Anexo 2).
Condições gerais de saúde: sem sinais observáveis.
Peça n◦ 41
Figura 11. Peça n. 37. Barra de calibração: 2cm.
45
Descrição: fragmento de fêmur esquerdo, imaturo. Presentes terço proximal e início
do médio, aproximadamente. A cabeça do fêmur e os trocânteres, não fusionados.
(Figura 12).
Mensurações: comprimento máximo: 159mm; diâmetro subtrocantérico anterior-
posterior: 21,80mm; diâmetro subtrocantérico mediolateral = 25,20, diâmetro antero-
posterior (porção mais distal da diáfise) = 18,64mm; diâmetro transverso = 18,84mm.
Sexo: indeterminável.
Idade: sem sinais de início de fusão,
menos de 14 anos, se masculino e
menos de 12, se feminino.
Índices: índice platimérico = 86,5,
eurimérico (moderado). Metodologia
científica de abordagem arqueológica.
Condições de preservação: fragmento
apresenta boas condições de
preservação. Superfície de osso cortical
com leves ranhuras, abaixo da linha
pectínea (vista dorsal esquerda).
Coloração: uniforme, bege amarelado com mancha acastanhada próximo à área de
fixação do vasto medial, abaixo do trocânter maior com cerca de, 29 mm. Apresenta
também pontos escuros em uma área com cerca de, 23 mm na porção ântero-
medial, na altura do trocânter menor. Tabela de Munsell: epífise proximal: 10 Y R 8 /
4; diáfise: 10 Y R 8 / 1
Condições gerais de saúde: nada observado.
Figura 12. Peça n. 41
46
Peça n◦ 52
Descrição: fragmento de fêmur esquerdo contendo epífise proximal e parte da diáfise
(aproximadamente até a metade do terço médio), a qual finda de levemente
afunilada (Figura 13).
Mensurações: comprimento máximo = 204 mm; segmentos presentes para
reconstrução do comprimento do fêmur: segmento I = 66 mm; diâmetro máximo da
cabeça = 43, 40 mm; diâmetro subtrocantérico anterior-posterior = 25,70 mm;
diâmetro subtrocantérico mediolateral = 26,80.
Sexo: de acordo com Bass (1995) e Steele &
Bramblett, (1988), com base no tamanho da
cabeça do fêmur: possívelmente feminino. De
acordo com Iscan & Shihai, (1995) e Purkait &
Chandra, (2004), diâmetro compatível com
indivíduo masculino de origem asiática.
Idade: indivíduo adulto indeterminado.
Estimativa do comprimento do fêmur: homem branco = 45,2 cm (+/- 2,32); homem
negro = 46,98cm (+/- 2,66); mulher branca = 42, 30 (+/- 2,15); mulher negra = 43,564
(+/- 1,95).
Estimativa de estatura: homem branco = 168,99 cm (+/- 3,27); homem negro =
169,49cm (+/- 3,94); mulher branca = 158,58 (+/- 3,72); mulher negra = 159,08 (+/-
3,41).
Índices: índice platimérico = 95,89, eurimérico (moderado).
Figura 13. Peça n. 52
47
Condições de preservação: na face dorsal apresenta destruição do osso compacto e
exposição de osso trabecular no trocânter menor, ao redor da crista intertrocantérica;
sinais semelhantes são observados entre o colo e a cabeça do fêmur. Abaixo do
trocânter menor (face posterior) verifica-se um conjunto de sulcos oblíquos, de
extensão variada. Tais sulcos são superficiais e não apresentam sinais de reação
óssea; alguns exibem leve descoloramento, sugerindo uma origem em evento após
a morte do indivíduo, provavelmente pela ação de animais. Sulcos semelhantes
podem ser observados na face ventral, na área do colo do fêmur, já próximo a
cabeça. Ao longo da diáfise verificam-se pequenos arrancamentos de osso cortical.
A partir de imagens radiográficas é possível verificar a obliteração do canal medular
por elementos estranhos ao osso.
Elementos aderidos: na face posterior, no limite entre a cabeça do fêmur e o colo, há
incrustação de material acinzentado. De acordo com a Dra. Elise Tonomura,
especialista em radiologia (UFRJ), a densidade deste material, quando observado
em imagem radiográfica é compatível com remanescente de objeto metálico. O
exame radiográfico foi realizado no Hospital do Fundão da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, UFRJ, nas especificações técnicas das imagens de Perfil = 44KV,
23mAs, distância foco-filme: 1,01m.e AP= 44KV, 32mAs, distância foco-filme: 1,01m
(Figura 14)
Coloração: varia do bege claro a bege, com pontos cinza. Tabela de Munsell: epífise
proximal: 10 Y R 7 / 2 e 8 / 2; diáfise: 10 Y R 8 / 1.
48
Condições gerais de saúde: a peça não apresenta sinais de grande robustez óssea,
a linha intertrocantérica é bem definida, a tuberosidade glútea é pouco marcada. No
colo do fêmur, próximo à cabeça na
face ventral há sinais de aumento de
vascularização e crescimento ósseo.
Sinais de crescimento ósseo e
remodelação podem ser observados
na extremidade final do osso, que
parece ligeiramente afuni lada, embora
se verifique perda de osso cortical
após a morte em sua borda. A
alteração de formato é compatível
com remodelação óssea decorrente
de amputação, o que pode ser
confirmado através de imagem
radiográfica (Figura 14). A imagem
radiográfica sugere, também a
manutenção de padrão de
organização trabecular próxima do
normal no colo do Fêmur, em especial
do triângulo de Ward (Palastanga et
al., 2000), o que permite supor a
manutenção do uso da perna para
locomoção, provavelmente através de prótese.
Figura 14. Imagem rad iográfica da peça no 52.
Note-se o canal medular obliterado, o afilamento
das terminações corticais da diáfise (seta) e a
manutenção do triângulo de Ward. Nesta mesma
área pode-se observar a mancha esbranquiçada
próximo à cabeça do fêmur com densidade
compatível com metal (elipse). Presença de
micronodulações radiopacas e material
radiopaco. (Anexo 4).
49
Peça n◦ 53
Descrição: ulna direita , imaturo.
Mensurações: comprimento máximo = 229mm; menor circunferência da diáfise =
32mm.
Sexo: indeterminável.
Idade: adolescente tardio (15 anos) a adulto indeterminado.
Estimativa de estatura (mínima): homem branco = 158,78 cm (+/- 4,32); homem
negro = 153,94cm (+/- 4,42); mulher branca = 155,54 (+/- 4,3); mulher negra =
151,18 (+/- 4,83); homem mongolóide = 157,14 (+/- 4,66).
Condições de preservação: danos na região do olécrano com remoção de osso
cortical e exposição de osso trabecular, o mesmo pode ser observado no processo
coronóide.
Coloração: varia de bege escuro ao bege claro,quase branco. Tabela de Munsell:
epífise proximal: 10 Y R 8 / 1, diáfise: 10 Y R 8 / 2
Condições gerais de saúde: nada verificado.
Peça n◦ 53.1
Descrição: rádio direito completo.
Mensurações: comprimento máximo = 222mm.
sexo: indeterminável.
idade: adolescente tardio (16 anos) a adulto indeterminado.
Estimativa de estatura: homem branco = 162,93 cm (+/- 4,32); homem negro =
157,48cm (+/- 4,30); mulher branca = 160,58 (+/- 4,24); mulher negra = 155,56 (+/-
5,05); homem mongolóide = 160,58 (+/- 4,60).
50
Condições de preservação: apresenta destruição de osso compacto com exposição
de osso trabecular ao redor da epífise distal, à exceção da face medal; o mesmo
pode ser observado na porção dorsal da epífise proximal.
Coloração: heterogênea, varia do bege ao marrom claro e marfim na área da
margem inter-óssea. Tabela de Munsell: epífise proximal: 10 Y R 7 / 4, diáfise: 10 Y
R 8 / 3.
Condições gerais de saúde: área do bíceps delimitada, indicando grau leve de
robusticidade.
Peça n◦ 53. 2
Descrição: fragmento de diáfise de tíbia esquerda. Apresenta
todo o terço médio e porções dos terços proximal e distal,
faltam as epífises (Figura 15).
Mensurações: comprimento máximo = 231mm; segmentos
presentes para reconstrução do comprimento da tíbia:
segmento III = 118,30mm; diâmetro antero-posterior =
18,84mm; diâmetro mediolateral = 17,50.
sexo: indeterminável.
idade: tamanho da diáfise compatível com indivíduo
adolescente tardio ou adulto.
Estimativa do comprimento da tíbia: homem branco = 34,65
cm (+/- 1,86); homem negro = 36,66cm (+/- 2,24); mulher
branca = 32, 19 (+/- 1,69); mulher negra = 33,84 (+/- 1,76).
Estimativa de estatura: homem branco = 165,94 cm (+/- 3,37);
Figura 15. Peça n. 53.2
51
homem negro = 166,30cm (+/- 3,78); mulher branca = 154,88 (+/- 3,66); mulher
negra = 155,56 (+/- 3,7).
Condições de preservação: apresenta destruição de osso cortical na área da quebra.
Coloração: heterogênea: porções lateral e posterior apresentam aspecto bege
amarelado, porção medial acastanhada com manchas oblíquas mais claras.
Extremidade proximal apresenta áreas esbranquiçadas. Tabela de Munsell: epífise
proximal: 10 Y R 8 / 2, diáfise: 10 Y R 8 / 3.
Condições gerais de saúde: osso delgado, sinais sugestivos de reação periosteal no
meio da diáfise e início do terço distal, na face medial.
Peça n◦ 53.3
Descrição: fragmento de rádio direito, apenas diáfise.
Mensurações: comprimento máximo = 157mm; diâmetro anteroposterior = 9,90mm;
diâmetro médiolateral = 11mm.
sexo: indeterminável.
idade: caso masculino, cerca de sete anos, caso feminino, cerca de sete anos e
meio. Obs.: em ambos os casos as idades estimadas devem ser consideradas como
mínimas, uma vez que as peças não estão completas.
Condições de preservação: área da metáfise proximal danificada em toda sua volta,
com destruição de osso cortical e exposição de osso trabecular. Apenas no centro é
possível ver a superfície de fixação da cartilagem de crescimento. Apresenta
pequenos arrancamentos difusos de osso cortical. A extremidade distal apresenta
sinais de quebra recente.
Coloração: varia de bege escuro ao bege claro. Tabela de Munsell: epífise proximal:
10 Y R 7 / 4, diáfise: 10 Y R 8 / 3.
52
Condições gerais de saúde: área do bíceps e do pronador redondo visíveis, mais
robusto que o rádio esquerdo de tamanho e características semelhantes. (peça
53.4).
Peça n◦ 53.4
Descrição: fragmento de rádio esquerdo, apenas diáfise.
Mensurações: comprimento máximo = 159mm; diâmetro ântero-posterior = 9,10mm;
diâmetro mediolateral = 8,9mm.
sexo: indeterminável.
idade: caso masculino, cerca de sete anos, caso feminino, cerca de sete anos e
meio. Obs.: em ambos os casos as idades estimadas devem ser consideradas como
mínimas, uma vez que as peças não estão completas.
Condições de preservação: mesma condição da peça 53.4.
Coloração: varia de bege escuro a bege claro, com pontos de cinza. Tabela de
Munsell: epífise proximal: 10 Y R 8 / 1 e 8 / 2, diáfise: 10 Y R 7 / 4.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦ 54
Descrição: temporal direito. Não apresenta indícios que o associem à peça 54.1, é
possível que pertença ao crânio no 254.
Mensurações: largura máxima = 79 mm, comprimento máximo 64mm
sexo: possível feminino (mastóide pequena).
idade: adolescente ou adulto indeterminado.
Condições de preservação: em bom estado. Áreas, interna e externa sem ranhuras
visíveis.
53
Coloração: apresenta coloração amarelada. Apresenta ainda mancha esbranquiçada
na área externa de 18 mm. Tabela de Munsell: ponto central tábua externa: 10 Y R 7
/ 4, ponto central tábua interna: 10 Y R 8 / 3.
Condições gerais de saúde: nada verificado e sem sinal de doença.
Peça n◦ 54.1
Descrição: temporal esquerdo e
fragmento de esfenóide. Processos
zigomático e mastóide fragmentados
(Figura 16). Não apresenta indícios que
o associem ao crânio no 254.
Mensurações: largura máxima = 110
mm, comprimento máximo = 67mm
sexo: indeterminável.
idade: adolescente ou adulto indeterminado.
Condições de preservação: em bom estado. Áreas interna e externa do fragmento
apresentam osso cortical (liso) com poucas ranhuras superficiais.
Coloração: apresenta coloração marfim, com mancha castanha na tábua interna com
cerca de 58mm. Tabela de Munsell: ponto central tábua externa: 10 Y R 8 / 2, ponto
central tábua interna: 10 Y R 7 / 4.
Condições gerais de saúde: nada verificado.
Peça n◦ 67
Descrição: Ílio esquerdo, imaturo, sem a epífise da crista i líaca.
Figura 16. Peça n. 54.1. Barra de calibração: 2cm
54
Mensurações: 106 mm X 81 mm , largura ilíaca = 106 mm (segundo i lustração do
manual de Buikstra & Ubelaker,1994).
sexo: indeterminado.
idade: cerca de 10 anos
Condições de preservação: Quebras na borda da crista ilíaca.
Coloração: varia do bege ao castanho com manchas esbranquiçadas. Maior
extensão da mancha: 79mm Tabela de Munsell: ponto central dorsal:10 Y R 8 / 3,
ponto central ventral: 10 Y R 7 / 4.
Condições gerais de saúde: nada observado
Peça n◦ 216
Descrição: fragmento de diáfise de úmero direito, apresentando terço proximal, sem
epífise e início do terço medial.
Mensurações: comprimento máximo = 204mm
sexo: não verificável
idade: indivíduo adulto indeterminado.
Condições de preservação: encontra-se com vários arrancamentos da cortical, de
diferentes profundidades. Apresenta diferentes ranhuras na superfície.
Coloração: varia de castanho ao bege claro com tons acinzentados na área
intertubercular. Tabela de Munsell: ponto mais próximo da epífise proximal: 10 Y R 8
/ 1, diáfise: 10 Y R 8 / 1.
Condições gerais de saúde: nada foi observado
Peça n◦ 237
Descrição: primeiro osso metatarsal esquerdo.
55
Mensurações:comprimento máximo = 57,5mm, altura da base = 25,2mm.
sexo: indeterminado.
idade: adulto indeterminado.
Condições de preservação: pequena exposição de osso trabecular nas áreas das
epífises proximal e distal.
Coloração: do castanho ao bege. Tabela de Munsell: epífise proximal: 10 Y R 7 / 2,
ponto médio anterior: 10 Y R 7 / 3
Condições gerais de saúde: nada foi observado
Peça n◦ 237.1
Descrição: fragmento indeterminado de epífise proximal (fêmur ou úmero).
Mensurações:comprimento máximo = 37mm
sexo: indeterminado.
idade: indeterminado.
Condições de preservação: apenas fina camada erodida de osso subcondral com
correspondente exposição de osso trabecular na face contrária..
Coloração: marfim. Tabela de Munsell: epífise proximal: 10 Y R 8 / 2.
Condições gerais de saúde: nada verificado.
Peça n◦ 237.2
Descrição: diáfise de ulna direita,
Mensurações: comprimento máximo = 136mm
sexo: indeterminável.
idade: indeterminável.
56
Condições de preservação: apresenta diferentes ranhuras na superfície, sulcos
transversais e sinais de arrancamento da cortical.
Coloração: marfim e branco Tabela de Munsell: epífise distal: 10 Y R 8 / 1, diáfise:
10 Y R 8 / 2
Condições gerais de saúde: sinais sugestivos de crescimento ósseo na extremidade
distal. Danos dificultam observação.
Peça n◦ 237.3
Descrição: quarto metatarsal esquerdo.
Mensurações:comprimento máximo = 64mm.
sexo: indeterminável.
idade: adulto indeterminado.
Condições de preservação: pequena exposição de osso trabecular nas epífises
proximal e distal:
Coloração: do castanho ao bege. Tabela de Munsell: epífise proximal: 10 Y R 7 / 2,
ponto médio da face plantar: 10 Y R 7 / 4
Condições gerais de saúde:.nada verificado
Peça n◦ 237.4
Descrição: parietal direito.
Mensurações:comprimento máximo = 66mm, largura máxima = 31,5mm, espessura
= 5 mm.
sexo: indeterminável
idade: provável adolescente ou adulto indeterminado
57
Condições de preservação: além da fragmentação apresenta diferentes ranhuras na
superfície.
Coloração: varia do castanho ao bege. Tabela de Munsell: tábua externa: 10 Y R 7 /
4, tábua interna: 10 Y R 8 / 3.
Condições gerais de saúde: nada verificado.
Peça n◦ 237.5
Descrição: três fragmentos de diáfise de fêmur esquerdo, apresentando terço distal,
sem epífise. Junto com a peça 41, constituem um único fêmur.
Mensurações: comprimento máximo = 170mm ( do maior fragmento).
sexo: indeterminável
idade: menos de 14 anos, se masculino e menos de 12, se feminino.
Condições de preservação: Além da fragmentação apresenta diferentes ranhuras na
superfície Praticamente só existe o osso compacto nos três fragmentos. Na diáfise
só existe o osso compacto.
Coloração: varia do bege ao cinza escuro. Tabela de Munsell: ápice da face
poplítea: 10 Y R 6 / 2 e 7 / 2, extremidade distal do terço distal da face posterior: 10
Y R 7 / 4.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦ 237.6
Descrição: Quinze fragmentos de costelas. Sete fragmentos com osso cortical e
trabecular. Os outros oito fragmentos apresentam apenas o osso compacto
(cortical), (com destruição completa do osso trabecular).
58
Mensurações: Maior fragmento, comprimento = 82 mm e espessura = 13 mm. Menor
fragmento, comprimento = 51.90 mm e espessura = 8 mm. Maior fragmento de osso
cortical, comprimento = 72.10 mm, espessura = 11.10 m
sexo: indeterminável.
idade: indeterminável.
Condições de preservação: péssimo estado. Todos muito fragilizados em com
presença de osso trabecular ou ausência de osso trabecular.
Coloração: do marrom ao bege. Tabela de Munsell: face anterior 10 Y R 7 / 3 e 7 / 2,
face posterior: 10 Y R 7 / 3.
Condições gerais de saúde: nada observado. Não há sinal de doença.
Peça n◦ 237.7
Descrição: sete fragmentos de epífise distal de osso longo, provavelmente de fêmur,
bastante destruídos, com exposição de osso trabecular.
Mensurações: maior fragmento, 31,5mm; menor fragmento 8mm.
sexo: indeterminável
idade: indeterminável
Condições de preservação: péssimo estado.
Coloração: marfim. Tabela de Munsell: face anterior 10 Y R 8 / 2
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦ 254
Descrição: fragmento de crânio (metopismo) e face com maxila e dentes. Peça
originalmente encontrada em conexão anatômica, separou-se em laboratório.
59
Mensurações: face: largura da órbita esquerda=
35,8mm; altura da órbita esquerda = 35,3mm;
altura nasal = 51,92mm; largura nasal = 21mm,
mínima largura do frontal = 102, 08mm; largura
facial superior = 105mm; largura interorbital =
26,56mm, largura bi-orbital = 99,30mm.
(medições com paquímetro e tábua osteométrica).
sexo: órbitas finas, discretas, com margem em estágio 2; glabela em estágio 2,
compatível com o sexo feminino.
idade: adolescente tardio a adulto jovem.
Condições de preservação: ótimo estado de preservação.
Coloração: área do frontal variando do marrom escuro ao bege, maxila variando do
marrom escuro ao
marrom claro. Tabela de
Munsell: área abaixo do
nasion, direito e
esquerdo: 5 Y R 7 / 2 e 8 /
1, área sobre o palato: 5
Y R 7 / 2 e 8 / 1,
zigomático esquerdo: 5 Y
R 7 / 2 e 8 / 1.
Condições gerais de
saúde: órbitas apresentam leves porosidades, no limite entre o que poderia ser
entendido como alterações tafonômicas. Observações dento-patológicas: no lado
esquerdo presentes do canino até o segundo molar. Incisivos perdidos após a morte,
Figura 17. Frontal, peça n. 254
Figura 18. Maxila peça 254. Círculos indicam as lesões cariosas
60
área do terceiro molar destruída. Presença de lesões cariosas no segundo pré-molar
direito, próximo a face distal e no primeiro molar esquerdo, afetando a porção
mesial, tomando quase todo o quadrante mesio-bucal e borda do quadrante mesio-
vestibular (Figura 18). Manchas sugestivas de cálculos leves supragengivais, porém
sem vestígios dos mesmos. Desgaste dentário predominantemente leve, valores
lado esquerdo: canino = 2; primeiro pré-molar = 2; segundo pré-molar = 3; primeiro
molar = 3; segundo molar = 1; lado direito: primeiro pré -molar = 2; segundo pré-
molar 3; primeiro molar = 4; segundo molar = 1. (Anexo 1).
Peça n◦ 351
Descrição: Ílio direito imaturo, sem a epífise da crista ilíaca.
Mensurações: largura ilíaca = 107mm.
sexo: indeterminado.
idade: cerca de 10 anos.
Condições de preservação: quebras na borda da crista ilíaca.
Coloração: varia do bege ao castanho (manchas) Tabela de Munsell: ponto central
dorsal:10 Y R 8 / 4, ponto central ventral: 10 Y R 7 / 4 e 7 / 6.
Condições gerais de saúde: nada verificado
Peça n◦ 441
Descrição: hemimandíbula esquerda, compatível com a peça 254. Presentes o
primeiro e o segundo molar esquerdo. (Anexo 8).
Mensurações: ângulo da mandíbula = 106◦, comprimento = 90mm; altura do ramo =
65mm. (medições com paquímetro e tábua osteométrica).
61
sexo: eminência mentoniana marcada (grau 3), sugerindo de sexo indeterminado a
possível masculino.
idade: adolescente tardio a adulto jovem.
Condições de preservação: estado regular erosão na vista posterior, na área da
espinha mentoniana, quebra na área próxima a fossa incisiva e sobre o forame
mentoniano.
Coloração: na vista esquerda anterior-lateral, a área do côndilo está esbranquiçada.
Marrom e acinzentado com mancha marrom escura abaixo dos dois (2) molares.
Tabela de Munsell: face lingual :10 Y R 7 / 2, face vestibular: 10 Y R 8 / 2.
Condições gerais de saúde: observações dento-patológicas: cárie pontual,
interproximal no ponto de contato entre o primeiro molar e o segundo pré -molar,
vestígios de cálculo nos molares. Desgaste leve a moderado, concordando com o
observado na maxila 254, valores: primeiro molar = 4, segundo molar = 2; verificou-
se também a presença de duas linhas hipoplásicas no terço cervical do primeiro
molar. (Anexo 1).
6.1.2 Estimativa do número mínimo de indivíduos
A quantidade de ossos para estabelecimento do número mínimo de indivíduos
foi pequena. Fêmur rádio e ulna apresentaram todos dois ossos do mesmo lado
(sendo os remanescentes esqueléticos localizados numa mesma área ou contexto
arqueológico específico. Vide a distribuição espacial dos materiais ósseos humanos
nos dois sítios pesquisados), sugerindo a presença de, no mínimo duas pessoas. As
peças número 41, 53, 53.3, 53.4, 67, 237.2 e 351 são compatíveis com pelo menos
um indivíduo imaturo, ao redor dos 10 anos de idade. As demais peças, em sua
maioria parecem pertencer a adultos ou adolescentes tardios. Dentre estas, a peça
62
número 54.1, um temporal esquerdo, não apresenta características compatíveis com
o crânio composto pelas peças 254 e 441, sugerindo a presença de pelo menos dois
indivíduos diferentes do indivíduo imaturo supracitado, o que leva a sugestão de um
número mínimo de três indivíduos. (Anexo 3).
6.2 SÍTIO PAPI-01-SC-
6.2.1 Descrição por peça
Peça n◦13.018
Descrição: quarto metatarsal direito.
Mensurações: comprimento máximo= 58 mm, diâmetro da área média= 9.70mm.
sexo: indeterminável.
idade: provável adolescente.
Condições de preservação: apresenta exposição de estrutura óssea trabecular nas
extremidades.
Coloração: marrom claro, avermelhado e marrom escuro. Ocorrência de pequenos
orifícios pretos na área média. Tabela de Munsell, Epífise proximal 10 Y R 8 / 3 e no
ponto médio 10 Y R 8 / 3.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦ 00.041
Descrição: fragmento de costela
Mensurações: comprimento = 52 mm, diâmetro máximo = 8 mm
sexo: não verificável.
idade: não verificável.
63
Condições de preservação: apresenta exposição de estrutura óssea trabecular nas
extremidades fragmentadas e área lateral.
Coloração: numa das extremidades existem manchas avermelhadas e na área
média há ocorrência de manchas pretas pontuais. Tabela de Munsell: ponto médio
10 Y R 8 / 2 e 8 / 3.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦ 29.017
Descrição : fragmento navicular direito.
Mensurações: comprimento= 15.90 mm, Largura= 11 mm
sexo: indeterminável
idade: indeterminável
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular em toda a
superfície do osso e forma triangular do fragmento
Coloração: coloração marrom. Tabela de Munsell, 10 Y R 7 / 4.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦05.005
Descrição: fragmento de diáfise de osso longo (provável tíbia ou úmero)
Mensurações: comprimento= 46 mm
sexo: indeterminável
idade: indeterminávell.
Condições de preservação: Apresenta exposição de osso trabecular. Osso compacto
com pequenas manchas marrons na área externa. Não identificado sinal de doença.
64
Coloração: cor bege predominante. Tabela de Munsell: ponto médio 10 Y R 8 / 1 e 8
/ 2.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦02.003
Descrição: terceira costela esquerda fragmentada.
Mensurações: comprimento= 166 mm, diâmetro máximo = 14 mm
sexo: não verificável.
idade: não verificável.
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular em todas as
áreas exceto a face interna. Duas ranhuras na área ventral
Coloração: coloração predominante bege. Tabela de Munsell, 10 Y R 8 / 1.
Condições gerais de saúde: nada verificado
Peça n◦ 02.001
Descrição: epífise distal de fêmur direito, não fusionado.
Mensurações: Comprimento= 79 mm, diâmetro máximo= 35.50 mm
sexo: indeterminável.
idade: 14 anos ou menos
Condições de preservação: áreas do
epicôndilo medial e epicôndilo lateral
apresentam exposição de osso trabecular. O
osso apresenta a área interior totalmente
deteriorada com um orifício de 18 mm de
diâmetro (sinal tafonômico), e exposição de Figura 19. Peça 02.001.
65
osso trabecular. Área dorsal com pequena área de osso compacto.
Coloração: predominante marfim. Tabela de Munsell, 10 Y R 8 / 1.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n 29.022
Descrição: 11 fragmentos ósseo indeterminados.
Mensurações: fragmento maior: Comprimento= 36 mm, diâmetro= 25 mm e
espessura= 21 mm
sexo: indeterminável
idade: indeterminável
Condições de preservação: Material esquelético bastante fragmentado.
Coloração: marrom claro, Tabela de Munsell, na área do osso cortical 10 Y R 7 / 3.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦91.015
Descrição: L 4, quarta vértebra lombar, sem discos epifisários. Imatura.
Mensurações: comprimento= 59 mm, diâmetro máximo= 71 mm Não identificado
sinal de escoliose ou sinais de assimetrias facetas.
sexo: indeterminável.
idade: menos de 20 anos.
Condições de preservação: apresenta osso trabecular e áreas de osso cortical.
Existência de pequenos orifícios na área primária central fusionada.
Coloração: bege, marrom claro e marrom escuro. Corpo da vértebra mais escuro.
Tabela de Munsell: 10 Y R 7 / 4, corpo e arcos neurais 10 Y R 8 / 4.
Condições gerais de saúde: nada observado.
66
Peça n◦02.002
Descrição: vértebra torácica indeterminada.
Mensurações: comprimento= 53 mm, diâmetro máximo = 52.80 mm
sexo: indeterminável
idade: indeterminável
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular e início de
pequenas fissuras na área primária central fusionada. Área dos arcos neurais
apresenta também exposição de osso trabecular e orifícios circulares rasos e
disformes.
Coloração: manchas de colorações bege , preta e branca. Tabela de Munsell, parte
do corpo da vértebra escurecida 10 Y R 5 / 1. No outro lado do corpo da vértebra 10
Y R 8 / 1. Arcos neurais 10 Y R 5 / 1, lado reverso dos arcos neurais 10 Y R 8 / 1.
Condições gerais de saúde: nada observado
Peça n◦ 29.039
Descrição: segundo molar superior esquerdo.
Mensurações: comprimento= 18 mm, diâmetro máximo= 11 mm
sexo: indeterminável
idade: indeterminável
Condições de preservação: presença de esmalte nas áreas visíveis.
Coloração: Tabela de Munsell, 10 Y R 8 / 1 e 8 / 2.
Condições gerais de saúde: apresenta placas de sedimentação marinha ou cálculo
cobrindo parte da superfície e raiz inclusive. Desgaste grau 4, leve a moderado.
(Cópia da tabela de desgaste dentário em anexo).
67
Peça nº 14.005
Descrição: quinta vértebra lombar.
Mensurações: comprimento do corpo da vértebra = 41 mm, Diâmetro máximo do
forame = 21 mm, espessura máxima do corpo da vértebra = 16 mm. Não
identificadas doenças ou sinais de escavação das lâminas.
sexo: indeterminável.
idade: indeterminável.
Condições de preservação: bom estado, apresentando exposição de osso trabecular
no corpo de vértebra.
Coloração:. Bege. Tabela de Munsell, no corpo de vértebra 10 Y R 8 / 2 e 8 / 3.
Arcos neurais 10 Y R 8 / 3.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça nº 91.013
Descrição: Ulna direita, sem epífise distal (não fusionada).
Mensurações: Comprimento= 229 mm, diâmetro no meio do osso= 14.10 mm,
Sexo: indeterminável.
Idade: 12-14 anos, caso feminino, 13 - 16 anos, caso masculino
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular na área do
processo coronóide, e extremidade inferior. Ranhuras na área ventral e dorsal.
Coloração: bege com algumas manchas marrons. Tabela de Munsell, epífise
proximal 10 Y R 8 / 2. Diáfise 10 Y R 8 / 4.
Condições gerais de saúde: nada observado.
68
Peça nº◦13.069
Descrição: fragmento de epífise proximal de úmero.
Mensurações: comprimento= 28 mm, diâmetro máximo no ponto médio= 19 mm,
Sexo: indeterminável.
idade: indeterminável.
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular. Coloração:
Coloração marrom claro. Tabela de Munsell: epífise proximal, 10 Y R 7 / 3.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça nº 13.056
Descrição: costela direita.
Mensurações: comprimento= 162 mm, Diâmetro máximo no ponto médio= 15.10
mm,
sexo: indeterminável
idade: indeterminável
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular nas áreas
dorsal, ventral e lateral. Área dorsal com osso cortical, alguns orifícios e ranhuras.
Área da extremidade fragmentada.
Coloração: coloração bege com manchas vermelhas, marrons e pequenos pontos
pretos. Tabela de Munsell, ponto médio dorsal 10 Y R 8 / 2. Ponto médio ventral 10
Y R 8 / 2 e 8 / 3.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça nº 09.004
Descrição: segunda costela direita.
69
Mensurações: comprimento= 119 mm, Diâmetro máximo no ponto médio= 6.10mm
sexo: indeterminável.
idade: indeterminável.
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular na extremidade
fragmentada e área lateral. Ocorrência de ranhuras diversas nas áreas dorsal e
ventral.
Coloração: marrom claro predominante com manchas pretas circulares e simétricas
nas áreas ventral e dorsal. Tabela de Munsell, ponto médio da costela, nos dois
lados, ventral e dorsal, 10 Y R 8 / 2 e 8 / 3.
Condições gerais de saúde: nada observado
Peça n◦ 30.016
Descrição: fragmento indefinido de costela.
Mensurações: comprimento= 40 mm, diâmetro do ponto médio= 8.10 mm
sexo: indeterminável
idade: indeterminável
Condições de preservação: fragmento muito deteriorado seccionado
longitudinalmente. Ranhuras profundas na área ventral e exposição de osso cortical
na área dorsal.
Coloração: manchas marrom claro esparsas. Tabela de Munsell, 10 Y R 8 / 1.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦12.033
Descrição: fragmento de púbis direito; apresenta sinais sugestivos de não
fusionamento.
70
Mensurações: comprimento = 75 mm
sexo: indeterminável
idade: provável adolescente.
Condições de preservação: porosidades na superfície do fragmento. Áreas
quebradas com exposição de osso trabecular e ranhuras por toda superfície do osso
cortical.
Coloração: Manchas cinza e preto. Tabela de Munsell, área do ponto médio 10 Y R 7
/ 6.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦ 57.006
Descrição: escápula direita.
Mensurações: comprimento = 126.50 mm, largura = 89.90 mm, comprimento da
espinha = 95.60 mm
sexo: indeterminável
idade: menos de 15 anos.
Condições de preservação: bom estado de preservação, Manchas avermelhadas no
processo coracóide.
Coloração: contraste de cores é bem acentuado: na extremidade da junção com o
úmero. Tabela de Munsell, 5 Y R 8 / 2. Área ventral no ponto médio, 10 Y R 8 / 4.
Área dorsal no ponto médio 10 Y R 8 / 1 e 8 / 2.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦12.027
Descrição: Ilío direito fragmentado, não fusionado.
71
Mensurações: distância entre as espinhas (pontas), anterior e posterior = 126.20
mm; distância entre o ponto médio da crista do ilíaco e o ponto mais distante na
extremidade acetabular= 102.10 mm. (segundo ilustração do manual de Buikstra &
Ubelaker,1994).
sexo: provável masculino.
Idade: provável adolescente.
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular nas áreas
dorsal e ventral. Média porosidade nas áreas dorsal e ventral, e pequenos orifícios.
(sinais tafonômicos).
Coloração: manchas avermelhadas e marrom claro. Tabela de Munsell: ponto médio
dorsal 10 Y R 8 / 4. Ponto médio ventral 5 Y R 8 / 2.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦ 91.027
Descrição: sexta vértebra cervical, sem a metade esquerda do arco neural.
Mensurações: comprimento= 39 mm, diâmetro máximo= 33 mm,
sexo: indeterminável.
idade: indeterminável.
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular e orifícios
dispersos em toda a área do osso cortical.
Coloração: manchas marrom claras e predomínio das cores bege e branca. Tabela
de Munsell, corpo da vértebra 10 Y R 8 / 3. Arcos neurais 10 Y R 8 / 2.
Condições gerais de saúde: nada verificado.
Peça n◦30.026
72
Descrição: escápula esquerda imatura
Mensurações: distância entre o ângulo médio e inferior da escápula = 121 mm
(comprimento); distância entre a fossa glenóide (segundo ilustração de Buikstra &
Ubelaker,1994), e o final médio da espinha = 79.50 mm (largura), distância da
espinha (do osso ou protuberância pontuda), ao acrômio = 81.10 mm (comprimento).
sexo: indeterminável.
idade: cerca de 15 anos.
Condições de preservação: bom estado. Apresenta pequenas áreas expostas de
osso trabecular na margem superior, processo coracóide, margem medial e ângulo
inferior.
Coloração: manchas avermelhadas. Tabela de Munsell, contraste de cores é grande.
Face (lado) ventral 5 Y R 8 / 2 e 8 / 3. Face (lado) dorsal 10 Y R 8 / 2 e 8 / 3.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦ 02.004
Descrição: metatarso direito, sem epífise proximal (base)
Mensurações: Comprimento= 53 mm, Diâmetro máximo no ponto médio= 13mm.
sexo: indeterminável
idade: masculinos, menos de 16 anos, femininos, menos de 13 anos.
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular na junção com
o cuneiforme III.
Coloração: manchas pretas na área do osso cortical circundando-o e mancha
amarelo e bege. Tabela de Munsell, epífise proximal escurecida 10 Y R 7 / 2 . Área
do ponto médio 10 Y R 8 / 3 e 8 / 4 .
Condições gerais de saúde: nada verificado
73
Peça n◦ 29.146
Descrição: fragmento de epífise distal de fêmur.
Mensurações: comprimento= 18 mm, Diâmetro máximo= 14 mm.
sexo: indeterminável.
idade: indeterminável.
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular em toda a
superfície.Inexistência de osso cortical. Mancha preta na área ventral. Possível
fragmento da cabeça do fêmur.
Coloração: bege. Tabela de Munsell, 10 Y R 7 / 4.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦ 91.014
Descrição: rádio esquerdo imaturo, sem as epífises (não fusionadas).
Mensurações: comprimento= 201 mm, diâmetro máximo no ponto médio= 11.50 mm.
sexo: indeterminável.
idade: cerca de 11 anos, se feminino, cerca de 14, se masculino.
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular perto da diáfise
e na junção com o carpo. Presença de alterações articulares porosidades difusas.
(possivelmente tafonômicos).
Coloração: bege predominante, manchas amarelo-avermelhadas devido a contato
com objetos de ferro. Tabela de Munsell, manchas de oxidação ferrosa 10 Y R 6 / 6.
Epífise distal 10 Y R 8 / 1 e diáfise 10 Y R 8 / 1.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça n◦ 24.004
74
Descrição: costela esquerda, fragmentada.
Mensurações: Comprimento= 157 mm, Diâmetro máximo no ponto médio= 11.10
mm.
sexo: indeterminável
Idade: indeterminável
Condições de preservação: apresenta exposição de osso trabecular nas
extremidades, áreas lateral e dorsal. Perda completa de osso trabecular em uma das
extremidades e algumas ranhuras no osso cortical.
Coloração: bege e alguns pontos pretos sobre a superfície do osso cortical. Tabela
de Munsell, ponto médio 10 Y R 8 / 2 e 8 / 3.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça nº 01.218
Descrição: clavícula direita
Mensurações: comprimento = 119 mm, diâmetro máximo = 10.20 mm
sexo: indeterminável
idade: indeterminável
Condições de preservação: apresenta destruição de osso cortical nas extremidades
acromial e esternal, com exposição de osso trabecular. Existência de pequenas
ranhuras na superfície do osso.
Coloração: marfim, com mancha marrom circular na área ventral. Tabela de Munsell,
na metáfise 10 Y R 8 / 1.
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça nº 01.218 A
75
Descrição: clavícula esquerda em concreção.
Mensurações: comprimento = 119 mm, diâmetro máximo = 10.20 mm
sexo: indeterminável
idade: indeterminável
Condições de preservação: a extremidade esternal está sob concreção ferrosa e
rochas. A extremidade acromial está fragmentada, com exposição de osso
trabecular.
Coloração: Marfim, amarelada e manchas beges. Mancha de ferrugem na área de
junção do osso com a concreção. Tabela de Munsell, na extremidade acromial 10 Y
R 8 / 2 e 8 / 3. Na área da junção do osso com a mancha da concreção ferrosa e
rocha 10 Y R 6 / 6
Condições gerais de saúde: nada observado.
Peça nº 15.002
Descrição: fragmento de costela direita.
Mensurações: Comprimento = 117 mm,
largura máxima na face interna e externa =
11 mm
sexo: indeterminável
idade: indeterminável
Condições de preservação: Péssimo estado.
Apenas osso compacto com ranhuras na
face externa.
Coloração: Manchas pretas e pontos pretos Figura 20. Peça n. 01.218 A
76
na área dorsal, lateral e ventral. Tabela de Munsell, ponto médio dorsal 10 Y R 8 / 3
e ponto médio ventral 10 Y R 8 / 2.
Condições gerais de saúde: nada observado.
6.2.2 Estimativa do número mínimo de indivíduos
Os dados sugerem a presença de um indivíduo. A morfologia de uma das
costelas não parece compatível com o conjunto, fato também observado pela
pesquisadora Luciane Scherer, em parecer preliminar (Scherer, 2004). A única
estimativa de sexo sugere um indivíduo provavelmente masculino, ao redor dos 14
anos de idade. (Anexo 3).
6.3 Condições gerais de preservação: aspectos comparativos
6.3.1.VARIAÇÕES NA COLORAÇÃO
Comparando-se os dados obtidos para os remanescentes esqueléticos
recuperados em cada sítio, verificam-se variações no padrão de cores observado.
De fato, não há peça com coloração completamente uniforme, mas verificam-se
claramente diferenças entre peças com pequenas variações da cor e peças que
apresentam grandes mudanças na coloração. Em ambos os sítios, as peças ósseas
foram divididas em dois grupos; aquelas que não apresentaram variação ou que
variaram no máximo um grau da Tabela de cores Munsell e aquelas cuja variação
excedeu esse padrão. Comparando-se as peças de cada sítio. Verificou-se que o
Galeão São Paulo apresentou percentuais próximos para as duas características,
com um leve predomínio do conjunto com maior variação (12 peças) sobre o
conjunto de menor variação (11 peças). No sítio PAPI-SC verificou-se um percentual
maior de peças com pouca ou nenhuma variação (19 contra 9 peças), apresentando
um padrão distinto do observado no Galeão São Paulo (Gráfico 2).
77
Gráfico 2.Distribuição dos percentuais de variação de cores nas peças analisadas.
6.3.2 VARIAÇÕES NA INTEGRIDADE DAS PEÇAS
Sobre a integridade dos materiais esqueléticos em questão é possível afirmar
que apenas 30, 36% das peças encontrava-se com 90% ou mais de suas porções
intactas. A presença de peças com integridade inferior a 50% não superou os
33,96%, o que mostra uma distribuição relativamente equilibrada entre peças com
muita e pouca fragmentação. Observando os percentuais de integridade das peças
recuperadas em cada sítio (gráfico 3), percebe-se no sítio PAPI-SC a baixa
freqüência de peças com integridade inferior a 10% e predomínio de peças com
integridade superior a 89%, enquanto no Gal. São Paulo predominam as peças com
integridade estimada entre 50 e 89 % e verificam-se três peças com menos de 10%
de integridade (13,04% do total do sítio).
Outras alterações tafonômicas como quebras fissuras, ranhuras e
arrancamentos da cortical são freqüentes no material como um todo.
0102030405060708090
100
Gal. SP PAPI-SC
47,83
67,8552,17
32,14Variação baixa
Variação alta
78
Gráfico 3. Percentuais de integridade das peças recuperadas em cada sítio.Valores no eixo horizontal
correspondem a percentuais de integridade
6.4 Materiais não humanos dos sítios do Galeão São Paulo e PAPI-SC
Após a análise dos materiais esqueléticos humanos provenientes dos dois sítios
arqueológicos iniciou-se a identificação dos materiais não humanos, que foram
separados para identificação e análise no laboratório de mamíferos da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, no Museu Nacional.
Com a ajuda da Profa. Marta Locks foram identificados 5 ossos não humanos
provenientes do Galeão São Paulo. Destes 5 ossos , quatro deles são de eqüídeos
(cavalos), não sendo possível afirmar que sejam de um único quadrúpede: nºs 33.2
(fragmento de vértebra dorsal do lado direito), 441.3 (fragmento de patela), 676
(fragmento do púbis e o acetábulo) e 44.1 (fragmento do trocânter maior). O último
osso trata-se de um possível fragmento de atlas de bovídeo, nº 441.2. Entende-se
que o transporte desses animais era comum nesse determinado período histórico, e
está de acordo com as citações contidas na introdução deste trabalho acadêmico.
O outro sinistro histórico, PAPI-SC, continha uma quantidade maior de material
ósseo não humano, e não doméstico (de fora do Brasil), muitas vezes trazidos de
outras regiões, o que dificultou a identificação das amostras. Um exemplar chamou a
atenção por sua particularidade. È um pequeno osso que pode ser de cervídeo ou
0102030405060708090
100
<20% 20%-49% 50%-89% 89%<
13,04 21,74
47,83
17,39
3,57
32,14
28,57 35,71Gal. SP
PAPI
79
de carneiro (ovelha), possibilitando levantar a hipótese de caça eventual em algum
ancoradouro ou carga da embarcação para alimentação dos tripulantes e
passageiros. São 23 ossos que estão descritos na tabela que se segue.
Peça Descrição
00.058 Fragmento do corpo da vértebra caudal de bovino 00.023 Fragmento de osso de ave voadora 16.007 Fragmento de osso de ave voadora
11.011 Fragmento de Il íaco, possivelmente bovino 04.011 Astrágalo de pequeno porte, artiyodactila 14.007 Muito modificado pela ação dos agentes tafonômicos
00.057 Úmero de ave voadora, gaivota 29.022 Fragmento de costela de bovino 09.004 Costela de canídeo
04.0068 Costela de canídeo 02.006 Costela de canídeo 04.006 Costela de canídeo
23.005 Costela de canídeo 00.024 Costela de canídeo 12.030 Costela de canídeo
29.015 Fragmento de osso, possivelmente canídeo 29.018 Fragmento não identificável 07.011 Fragmento não identificável
13.050 Fragmento não identificável 13.049 Fragmento não identificável 00.062 Fragmento não identificável
24.002 Fragmento não identificável 00.064 Fragmento não identificável
Tabela 1. Descrição da peças não humanas do sítio PAPI-SC.
80
7 DISCUSSÃO
Os remanescentes esqueléticos recuperados em ambos os naufrágios são
numericamente reduzidos e certamente não podem representar o conjunto da
tripulação-passageiros envolvidos nestes sinistros marítimos. Todavia, representam,
de fato, um mínimo de quatro indivíduos (três no Gal São Paulo e um no PAPI-SC)
que viveram entre os séculos XVII e XVIII. De três deles, as análises
bioarqueológicas puderam recuperar dados osteobiográficos; de todos, pode-se
tecer algumas considerações sobre o contexto de cada naufrágio, a preservação dos
materiais e os processos de recuperação de restos humanos em sítios submersos.
Uma das peculiaridades dos naufrágios é que os corpos das vítimas podem
ser levados do local do sinistro, muito antes do processo de esqueletonização. A não
ser em situações especiais, os corpos tendem a flutuar algum tempo após a morte,
sendo levados pelas correntes (HAGLUND & SORG, 2002). Por este motivo, boa
parte dos remanescentes esqueléticos estudados deve ter sido retida em
conseqüência de condições particulares em cada naufrágio. Este processo
certamente se deu de forma distinta entre os dois sítios. A disparidade entre o
número de peças humanas recuperadas e o número mínimo de indivíduos em cada
sítio é um reflexo disso.
Chama a atenção o fato de que em ambos os sítios existem indivíduos muito
jovens. Numa amostra tão pequena, não pode ser descartado viés de seleção.
Entretanto a presença de adolescentes e crianças como integrantes da tripulação ou
como passageiros dos navios da época não seria uma novidade (GUERREIRO,
1999).
Em ambos os sítios as peças ósseas não revelaram sinais clássicos de
demandas mecânico-musculares intensas, como osteoartroses ou robustez
81
acentuada das áreas de fixação muscular (RODRIGUES-CARVALHO, 2004),
sugerindo baixo estresse físico dos indivíduos, fato que contrasta com os dados
apresentados por WALDRON (1997) para os tripulantes do navio inglês Mary Rose.
Tal situação poderia sugerir que os remanescentes analisados neste trabalho,
poderiam ter pertencido a passageiros e não a marinheiros ou soldados. Entretanto
a escassez de dados e informações sobre marcadores de estresse ocupacional e
atividade física para as populações desse período e para as diferentes ocupações
em um navio tornam essa possibilidade carente de substância.
Uma observação interessante no que diz respeito ao estresse físico,
relaciona-se a dois rádios compatíveis morfologicamente, recuperados no Gal. São
Paulo. Estas peças apresentam diferenças de robustez nas áreas de fixação dos
músculos bíceps e pronador redondo. Embora tais diferenças não expressem sinais
de solicitação acentuada, o fato de serem observadas em um indivíduo 4 com cerca
de 10 anos ou menos, ou seja, ainda em fase de desenvolvimento, sugere que este
indicativo de lateralidade esteja refletindo atividades mais vigorosas com o
antebraço. O bíceps atua como flexor e supinador do antebraço, enquanto o
pronador quadrado, além da pronação atua como protetor da articulação rádio-ulnar
inferior, especialmente na sustentação de cargas (PALASTANGA et al., 2000;
RODRIGUES-CARVALHO, 2004). Movimentos que envolvam a prono-supinação,
provavelmente com carga, devem ser os responsáveis pelos sinais encontrados.
Ainda no Galeão.São Paulo, destaca-se o fêmur no 52, o qual apresenta
sinais de uma bem-sucedida amputação. O diâmetro vertical da cabeça deste fêmur
é pequeno (43,4mm), compatível com o sexo feminino em populações caucasóides
e negróides ou com o limite inferior da média de indivíduos masculinos de origem
4 Assume-se aqui que os dois rádios, compatíveis morfologicamente, pertenceram a um mesmo indivíduo.
82
asiática. Análises radiográficas desta peça permitem observar, no colo do fêmur, a
manutenção de padrão aparentemente normal do padrão de trabeculação
(Palastanga et al., 2000), sugerindo que o indivíduo poderia ter mantido sua
mobilidade, provavelmente pelo uso de algum tipo de prótese. Tal sugestão é
reforçada pela observação, na extremidade distal, da manutenção de uma
espessura cortical, também próxima do normal. Infelizmente não existem elementos
que permitam uma estimativa de idade confiável, sendo possível sugerir apenas que
trata-se de um adulto.
Este mesmo indivíduo apresenta ainda na área do limite articular da cabeça
do fêmur uma massa dura, disforme, cuja densidade, na imagem radiográfica, é
compatível com um metal. A aderência de tal material ao osso provavelmente deu-se
no momento da explosão da embarcação, atravessando os tecidos moles e fixando-
se no osso.
Não existem elementos que permitam assegurar a associação deste fêmur
com outras peças ósseas, que pertencem a adultos. Todavia, foi possível
estabelecer correspondência entre o frontal e maxila (peça 254) com o fragmento de
mandíbula (peça 441), que pertenceram a um adulto jovem, com características
morfológicas indefinidas quanto à estimativa de sexo. Este indivíduo apresentou três
cáries no total, desgaste dentário leve a moderado e, duas linhas hipoplásicas na
porção cervical do primeiro molar, sugerindo episódios de estresse fisiológico por
volta dos dois anos de idade (BUIKSTRA & UBELAKER, 1994). Não foram
verificadas linhas hipoplásicas nos demais dentes, sugerindo que o indivíduo teve
poucos episódios de estresse infantil.
As três lesões cariosas observadas no indivíduo (considerando-se maxila e
mandíbula) afetaram 27,27% dos dentes presentes, o que é consistente com um
83
período onde o consumo de alimentos com açúcar começa a se intensificar, levando
gradativamente a uma mudança significativa no padrão epidemiológico da cárie das
populações européias (ROBERTS & MANCHESTER, 2007).
A despeito das observações acima, foram poucos os sinais patológicos
observados nos remanescentes dos dois sítios. As extensões de facetas ou o
desenvolvimento de facetas acessórias observadas em alguns metatarsianos, não
são uma patologia, mas um indicador de estresse físico, associado à postura e a
cargas sobe o pé (RODRIGUES-CARVALHO, 2004). Os dois casos sugestivos de
reação periosteal, não necessariamente representam sinais infecciosos, podendo
ser respostas a traumas localizados. Embora o reduzido número de peças e seu
estado fragmentário possam ser responsáveis por esta situação, é possível sugerir
que de fatos, os indivíduos apresentavam “boas” condições de saúde à época da
morte, sem sinais sugestivos de alguma debilidade.
As estaturas estimadas foram consideradas todas baixas (independente do
sexo). ROBERTS & MANCHESTER (2007) apresentam médias para a população
britânica pós-medieval de171cm para homens e 160 cm para mulheres. A estatura
reflete a interação entre o potencial genético e fatores ambientais (Larsen, 2000), o
que pode sugerir que os indivíduos estiveram expostos a situações de estresse
fisiológico capazes de comprometer a expressão ótima de seu potencial genético.
Contudo os resultados obtidos devem ser relativizados, especialmente se
considerarmos que parte das estimativas foi feita a partir de reconstrução das
dimensões originais de algumas peças, o que aumenta consideravelmente a
margem de erro dessas aproximações.
No que diz respeito à preservação, as peças de cada sítio apresentaram
algumas diferenças, relacionadas, principalmente, às condições de cada sinistro, ao
84
local de deposição dos corpos. O fato de os remanescentes recuperados no sítio
PAPI-SC apresentarem percentuais menores de variação na coloração pode resultar
do fato de que este material corresponde em sua maioria a um único indivíduo. O
raciocínio contrário pode ser aplicado ao material recuperado no Gal. São Paulo,
somando-se a isto o fato da explosão, que deve ter levado à mistura e dispersão de
corpos e objetos alguns bastante alterados, como o pedaço de metal incrustado no
fêmur no 52.
A explosão do galeão também deve ter sido um fator importante para a maior
fragmentação do material deste sítio, enquanto no PAPI-SC predominam peças com
acentuado grau de integridade.
Chama a atenção o fato de que em ambos os sítios foram recuperadas peças
de pequenas dimensões. Tal fato sugere que, a despeito das diferenças de
equipamentos e técnicas de escavação, ambas as intervenções arqueológicas
apresentaram condições adequadas para o resgate de ossos humanos.
Os materiais não humanos recuperados nos sítios foram bastante diferentes.
Enquanto no Galeão São Paulo apenas eqüídeos e bovinos estavam representados
(cavalo e boi), no sítio PAPI-SC, além de bovinos há representação de canídeos, um
possível carneiro e aves marinhas. Não existem elementos suficientes para explicar
essas diferenças que não envolvam um possível viés de seleção, uma vez que é
esperado que ambas as embarcações transportem animais variados, para
alimentação, como carga ou mesmo como animais de estimação.
85
8 CONCLUSÃO
Conclui-se esta análise dos remanescentes esqueléticos recuperados de
naufrágios, provando que o mar, com 71 % de massa d´água do planeta terra, ainda
esconde riquezas arqueológicas e históricas incalculáveis. Somando-se a isto,
percebe-se naturalmente que o maior cemitério do mundo está localizado no fundo
dos oceanos, sem esquecer mares interiores, bacias fluviais, lacustres e a calota
polar de gelo da Antártida. (Skinner e Porter, 1987).
A partir de uma perspectiva bioarqueológica, os resquícios ósseos humanos
recuperados em dois sinistros marítimos ocorridos na costa brasileira entre os
séculos XVII e XVIII, puderam oferecer informações científicas relevantes para as
conclusões deste trabalho acadêmico. A dissertação se propôs a investigar estes
dados relevantes, coletados e interpretados em detalhes.
As análises permitiram estabelecer um mínimo de três indivíduos recuperados
no Galeão São Paulo e um indivíduo no PAPI-SC. Dentre estes, um era subadulto. O
sexo destes indivíduos não pode ser estimado com precisão.
Os indivíduos não apresentaram sinais de estresse físico intenso, sugerindo
que não faziam parte da tripulação ou suas atividades não envolviam demandas
mecânico-musculares acentuadas.
Os sinais patológicos observados foram poucos, sem indícios que pudessem
caracterizar a presença de doenças crônicas e / ou infecciosas. Embora a presença
86
de sinais patológicos de estresse fisiológico infantil tenha sido limitado a uma
ocorrência de hipoplasia, as estruturas estimadas, todas tendendo a estatura baixa,
sugerem que estes indivíduos tenham sofrido, durante seu crescimento, episódios
que comprometeram seu pleno desenvolvimento.
Um indivíduo adulto do Galeão São Paulo apresentou o fêmur esquerdo com
sinais de amputação. Análises radiográficas sugerem que o mesmo poderia ter
utilizado algum tipo de prótese que permitisse sua locomoção.
No que diz respeito às condições de preservação, essas foram diferentes entre os
sítios, com maior fragmentação de peças e variação nos padrões de coloração entre
os remanescentes recuperados no Galeão São Paulo.
A maior variedade de remanescentes esqueléticos não humanos foi
observada no sítio PAPI-01. Dentre esses, predominaram aqueles pertencentes a
animais domésticos.
Os dados obtidos no presente trabalho confirmam o potencial informativo do
material analisado, a despeito de sua pouca expressão numérica e apontam para a
importância de novas investigações, envolvendo procedimentos técnicos de análise
de DNA, investigações da microestrutura óssea, entre outras.
87
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93
A N E X O S
94
Anexo 1: Tabela de estágios de desgaste dental Anexo 2a: Tabela de cores de Munsell usada neste trabalho (5 YR). Anexo 2b: Tabela de cores de Munsell usada neste trabalho (10 YR) Anexo 3a: Distribuição esquemática das peças encontradas por indivíduo. Anexo 3b: Distribuição esquemática das peças encontradas por indivíduo. Anexo 3c: Distribuição esquemática das peças encontradas por indivíduo. Anexo 3d: Distribuição esquemática das peças encontradas por indivíduo. Anexo 4a: Imagens e ilustrações complementares. Anexo 4b: Imagens e ilustrações complementares. Anexo 4c: Imagens e ilustrações complementares. Anexo 4d: Imagens e ilustrações complementares.
95
Anexo 1: Tabela de estágios de desgaste dentário.
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Anexo 2a: Tabela de cores de Munsell usada neste trabalho (5 YR).
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Anexo 2b: Tabela de cores de Munsell usada neste trabalho (10 YR).
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Anexo 3a: Distribuição esquemática das peças encontradas por indivíduo.
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Anexo 3b: Distribuição esquemática das peças encontradas por indivíduo.
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Anexo 3c: Distribuição esquemática das peças encontradas por indivíduo.
101
Anexo 3d: Distribuição esquemática das peças encontradas por indivíduo.
102
Anexo 4a: Imagens e ilustrações complementares.
103
Anexo 4b: Imagens e ilustrações complementares.
104
Anexo 4c: Imagens e ilustrações complementares.
105
Anexo 4d: Imagens e ilustrações complementares.