21
Faculdade de Ciências Econômicas UFRGS económica A TEORIA NEOCLÁSSICA (PURA) E A TEORIA NEO-AUSTRÍACA FRENTE AO LEGADO CARTESIANO Eleutério F. S. Prado MEDIDAS DE CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL: UMA RESENHA Marcelo Resende SISTEMA TRIBUTÁRIO E IMPOSTO ÚNICO SOBRE TRANSAÇÕES Ricardo Letizia Garcia ECONOMIA DO NORDESTE: TENDÊNCIAS DAS ÁREAS DINÂMICAS Policarpo Lima CUSTOS E BENEFÍCIOS DA INTEGRAÇÃO DO GRUPO ANDINO Marco Antônio Montoya PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Egon Roque Fröhlich iiiiiiiiiiiiiiiiililiiiiiiiiiiiiiiliillllllll lllih. ano 12 março e setembro, 1994 n" 21 e 22

analise economica

Embed Size (px)

DESCRIPTION

analise economica dos setores

Citation preview

  • Faculdade de Cincias Econmicas UFRGS

    econmica A TEORIA NEOCLSSICA (PURA) E A

    TEORIA NEO-AUSTRACA FRENTE AO LEGADO CARTESIANO Eleutrio F. S. Prado

    MEDIDAS DE CONCENTRAO INDUSTRIAL: UMA RESENHA Marcelo Resende

    SISTEMA TRIBUTRIO E IMPOSTO NICO SOBRE TRANSAES Ricardo Letizia Garcia

    ECONOMIA DO NORDESTE: TENDNCIAS DAS REAS DINMICAS Policarpo Lima

    CUSTOS E BENEFCIOS DA INTEGRAO DO GRUPO ANDINO Marco Antnio Montoya

    PS-GRADUAO EM ECONOMIA NOS ESTADOS UNIDOS DA AMRICA Egon Roque Frhlich

    iiiiiiiiiiiiiiiiililiiiiiiiiiiiiiiliillllllll

    lllih.

    ano 12 maro e setembro, 1994 n" 21 e 22

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Reitor Prof, Hlgio Henrique Casses Trindade

    FACULDADE DE CINCIAS ECONMICAS Diretor Prof Pedro Czar Dutra Fonseca

    CENTRO DE ESTUDOS E PEQUISAS ECONMICAS Diretor Prof. Paulo Alexandre Spohr

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS ECONMICAS Chefe Prof Achyles Barcelos da Costa

    CURSO DE PS-GRADUAO EM ECONOMIA Coordenador Prof Naii de Jesus de Souza

    CURSO DE PS-GRADUAO EM ECONOMIA RURAL Coordenador Prof Atos Freitas Grawunder

    CONSELHO EDITORIAL Achyles Barcelos da Costa, Aray Miguel Feldens, Atos Freitas Grawunder, Carlos Augusto Crusius, Fernando Ferrari Filho, Juvir Luiz Mattuella, Marcelo Savino Portugal, Maria Imilda da Costa e Silva, NaIi de Jesus de Souza, Nuno R L. de Figueiredo Pinto, Otilia Beatriz K, Carrion, Paulo Alexandre Spohr, Pedro Cezar Dutra Fonseca, Roberto Camps Moraes, Valter Jos Stlp, David Gartow (Wharton Econometrics Forecasts Association, E.UA.), Edgar Augusto Lanzer (UFSC), Eleutrio Prado (USP), Fernando de Holanda Barbosa (FGV/RJ), Gustavo Franco (PUC/RJ), Joo Rogrio Sansn (UFSC), Joaquim Pinto de Andrade (UnB), Juan H. Moldau (USP), Werner Baer (Univ. de Illinois, E.U.A.).

    COMISSO EDITORIAL: Atos Freitas Grawunder, Pedro Cezar Dutra Fonseca, Marcelo Savino Portugal, Roberto Camps Moraes.

    EDITOR; Nali de Jesus de Souza

    SECRETARIA Cludia Porto Silveira, Jeferson Luis Bittencourt e Vanete Ricachescki (reviso de textos)

    FUNDADOR Prof Antonio Garios Santos Rosa

    Os materiais publicados na revista Anlise Econmica so da exclusiva responsabilidade dos autores permitida a reproduo total ou parcial dos trabalhos, desde que seja citada a fonte. Aceita-se permuta com revistas congneres Aceitam-se, tambm, livros para divulgao, elaborao de resenhas e recenses. Toda correspondncia, material para publicao (vide normas na terceira capa), assinaturas e permutas devem ser dirigidos ao seguinte destinatrio:

    PROF NALI DE JESUS DE SOUZA Revista Anlise Econmica

    Av. Joo Pessoa, 52 CEP 90040-000 PORTO ALEGRE - RS, BRASIL

    E-MAIL: NALI@VORTEX UFRGS.BR Telefones: (051) 316-3348 e 316-3440

    Fax: (051)225-1067

  • ECONOMIA DO NORDESTE: TENDNCIAS RECENTES DAS REAS DINMICAS

    Policarpo Lima*

    SINOPSE Este trabaltio examina as transfonmaes recentes observadas na economia do Nordeste

    brasileiro. Enfatiza o estudo das chamadas "frentes de expanso", tentando mostrar as suas repercusses dinmicas na regio. Com isso procura, por um lado, mostrar que essas reas no se constituem em enclaves e, por outro, reala o papel importante exercido pelo Estado como agente principal, por vias diversas, do surgimento desses subespaos econmicos, que contrastam com o quadro geral de estagnao observado nos anos recentes.

    1. INTRODUO

    O quadro geral de crise econmica e de persistente estagnao da economia brasileira tem levado a anlises bastante pessimistas quanto s perspectivas de retomada do crescimento O tom sombrio acentua-se mais ainda quanto a possibilidade de meltioria dos padres de vida da maioria da populao que, como se sabe, mesmo em perodos de intenso crescimento no evoluram de forma satisfatria.

    As preocupaes acima tornam-se mais evidentes se as anlises enfocam o espao econmico do Nordeste, regio reconhecidamente carente de estmulos e com problemas maiores, relativamente a outras regies. Aqui algumas anlises tm realado as dificuldades adicionais de ser esta regio afetada por possveis tendncias dinmicas mesmo num quadro, pouco esperado, de retomada do crescimento Em suma, se o tom das anlises, em geral, tem sido sombrio, quando estas referem-se ao Nordeste, as cores escuras so absolutamente destacadas, seja pelas reais dificuldades, seja pelo conhecimento insuficiente de certos processos econmico? e sociais em curso, ou ainda pela dificuldade de encarar com menos pessimismo as chances de desenvolvimento na periferia

    Em que pese reconhecermos as condies diferenciadas em que fatores diversos contribuem para anuviar as perspectivas de desenvolvimento do Nordeste, gostaramos, porm, de chamar a ateno para algumas reas dinmicas que tm assumido propores crescentes no cenrio econmico regional. Estas podero contribuir para alterar, caso persistam as tendncias at aqui detectadas, a

    Professor do Pimes/UFPE. Esse trabalho beneficiou-se de auxlio financeiro da FACEPE.

    Cd, AEA 945

    Palavras-chave: desenvolvimento regional, polarizao, frentes de expanso.

    ANLISE ECONMICA ANO 12 maro e setembro/94 p. 55-73

  • realidade econmica do Nordeste pelo menos em alguns de seus subespaos Embora j relativamente conhecidas essas "manchas" de dinamismo, no

    parecem ter merecido a devida ateno, sendo em muitos casos erroneamente consideradas como meros focos localizados, ou at como verdadeiros enclaves que assim no trariam maiores repercusses sobre a diversificao das demais atividades econmicas, seja em nvel local ou regional.

    Nesse contexto, nossa preocupao aqui chamar a ateno para fenmenos em andamento em subespaos dinmicos do Nordeste que merecem uma reavaliao em seus efeitos de encadeamento. Num segundo objetivo, gostaramos de realar o papel importante exercido pelo Estado como agente principal, atravs de vias diversas, do surgimento e expanso destes subespaos onde despontam tendncias destoantes com o cenrio geral de estagnao, misria e contrastes, que tem caracterizado a cena econmica brasileira, e particularmente a nordestina, nos ltimos anos.

    As reas a que nos referimos, que aqui sero tratadas como "frentes de expanso" ou "plos dinmicos", etc, so o Complexo Petroqumico de Camaari, as zonas agroindustriais de Petrolina/Juazeiro do submdio So Francisco e dos cerrados do Oeste da Bahia, o plo txtil/confeces de Fortaleza e o plo mineiro-metalrgico Carajs-So Lus Alm dessas "frentes" sabemos da existncia de ocorrncias mais recentes de expanso, em dimenses menores, em outras regies como o Agreste pernambucano (confeces e pecuria), agricultura de gros do Sul do Piau e do Maranho, bem como a fruticultura no Rio Grande do Norte (Vale do Au).

    Embora tambm importantes em termos de tendncias, estas ltimas reas no sero aqui diretamente tratadas por no terem sido includas no mbito da pesquisa em que se baseia este trabalho.' Adicionalmente cabe uma referncia ao turismo, no analisado aqui, atividade que tem se expandido rapidamente ao longo das principais cidades litorneas como Salvador, Macei, Recife, Natal e Fortaleza e ainda no Sul da Bahia, e que est a merecer um estudo detalhado sobre suas principais caractersticas, impactos e perspectivas de expanso.

    2. O COMPORTAMENTO RECENTE DA ECONOMIA NORDESTINA

    A partir da dcada de 1960, a economia brasileira expenmentou um processo de integrao regional, envolvendo a transferncia inter-regional de capitais produtivos que finalizou o longo processo de formao do mercado nacional iniciado com base nas trocas comerciais, a partir do final do sculo XIX.

    Como agente importante dessa ltima fase, a chamada integrao produtiva da evoluo histrica da economia brasileira, encontra-se a atuao do Estado e das polticas regionais que contriburarri decisivamente para a mencionada transferncia inter-regional de capitais produtivos Em funo principalmente destas polticas, observou-se um movimento de inverso da "polarizao" das atividades econmicas no Sudeste, com avanos conseqentes no peso das demais regies na formao do PIB brasileiro, sobretudo crescendo a fatia do Norte e do Centro-

    1 Tal pesquisa tem por ttulo "A Economia do Nordeste: as Potencialidades das Novas Frentes de Expanso", desenvolvida no PIMES/UFPE a cargo dos professores Policarpo Lima e Fred Katz, Esse "paper", alis, beneficiou-se amplamente de discusses feitas ao longo da pesquisa com o Prof. Katz.

  • Oeste, mas tambm o Sul e o Nordeste (Diniz e Lemos, 1989 e Guimares Neto, 1990 ).^

    Assistimos desde ento ao desenrolar de um movimento tendencial de homogeneizao do processo de reproduo do Capital, o que, tomando por base a existencia ou no de especificidades nesta reproduo, tem levado reduo continuada e crescente das diferenciaes nessa reproduo em nvel de cada regio geogrfica (Oliveira, 1977)^ Nesse contexto, forja-se um espao econmico integrado onde a regio hegemnica, o Sudeste, lidera o processo de acumulao, definindo-se ainda uma diviso inter-regional do trabalho que aos poucos estreita os limites das possibilidades de diversificao das atividades produtivas nas demais regies. Embora reduzidas estas chances de diversificao, devemos ter em mente que elas tm se concretizado em alguns casos quando verifica-se a ao conjunta dos fatores locacionais j referidos, que vm condicionando o movimento de "despolarizao".

    No Nordeste, essa observada desconcentrao pode ser aferida a partir das taxas de crescimento registradas ao longo das ltimas dcadas. De forma associada, tambm observa-se certo progresso na evoluo de outros indicadores como, por exemplo, a renda per capita. Entre 1960 e 1989 o Nordeste cresceu a uma taxa mdia anual de 6,4%, enquanto a economia brasileira avanava em 6,0% ao ano. Ao mesmo tempo, o produto per capita do nordestino passa de 43,5% em 1960 para 61,4% do produto per capitando Brasil em 1988 (Maia Gomes, 1991) Esses dados, embora ainda pouco satisfatrios, contrastam bastante com a situao vivida nas dcadas anteriores a 1960, quando o Nordeste crescia sistematicamente num ritmo inferior ao verificado para o Centro/Sul do Pas,

    Algumas caractersticas gerais desse crescimento merecem destaque Em primeiro lugar, deve ser ressaltado que, em nvel setorial, o setor tercirio foi o que mais cresceu ao longo dessas trs dcadas o que, entre outros fatores, reflete a atuao importante do setor pblico, do sistema financeiro, que tem ganho participao em nvel nacional e regional com o crescimento da inflao a partir do final dos anos 70 e, finalmente, do chamado setor informal (Tabela 1)

    Outro aspecto a destacar a tendncia do setor industrial no sentido da crescente participao dos bens intermedirios, que juntamente com os no-durveis constituem os segmentos mais importantes do parque industrial regional" Aqui reside um dos pilares da diviso inter-regional do trabalho, onde o Nordeste tem assumido at aqui, o papel crescente de fornecedor de insumos, notadamente do ramo qumico, para a transformao final concentrada no Sudeste Conforme veremos a seguir, possvel, porm, que com os desdobramentos das "reas dinmicas", esse peso dos intermedirios venha a ser alterado no futuro prximo

    ^ Ao realar o papel do Estado nesta "despolarizao", no queremos desconfiecer cjue fatores ligados base de recursos naturais e s deseconomias de aglomerao tambm contriburam para a referida desconcentrao das atividades produtivas, conforme enfatizam Diniz e Lemos, 1989. ^ Devemos ter claro em mente que essa tiomogeneizao no linear nem uniforme, podendo dar lugar a recriaes de relaes "arcaicas" e ao aprofundamento de tieterogeneidades na estrutura produtiva (Guimares Neto, 1989) " Observa-se nesses dois segmentos tendncias opostas. Enquanto os no-durveis declinam de participao no VTI (66% em 1960 e 42% em 1984) os intermedirios acrescem seu peso (31% em 1960 e 49% em 1984)

  • Setores Taxas anuais de

    crescimento, 1969/89 Partipae s ajustadas

    Setores Taxas anuais de

    crescimento, 1969/89 1969 1989 Agropecuria 3,1 29,0 13,4 Indstria 7,0 23,1 29,4 Servios 8,2 47,9 57,2

    Fonte: Dados Brutos - SUDENE, DPG/PSE, Grupo de Contas Regionais, apud; Maia Gomes, 1991, p.79

    Outro ponto que merece realce a concentrao de atividades produtivas, em nvel regional, nos Estados da Bahia, Pernambuco e Cear. Uma idia dessa concentrao dada pelos valores das liberaes de incentivos fiscais via SUDENE. De um total de US$ 6,7 bilhes, liberados ao longo de trs dcadas (1963/90), foram alocados 29,4% na Bahia, 17,5% em Pernambuco e 16,0% no Cear, ou seja 62,9%.^ Por outro lado, devemos considerar que os Estados do Rio Grande do Norte, Maranho e Alagoas foram os que apresentaram as maiores taxas de crescimento do PIB nos anos 80, o que, caso se mantenha a tendncia, dever contribuir para uma reverso da concentrao produtiva naqueles Estados, ou seja, BA, PE e CE (Uma e Katz, 1992)

    De uma maneira geral, portanto, a face economic* do Nordeste tem se alterado de forma positiva, em boa parte graas aos incentivos fiscais, nas ltimas dcadas, embora os indicadores sociais, mesmo melhorando, ainda registrem dados alarmantes. Por exemplo; a expectativa de vida era de 54 anos em 1986, semelhante a do Haiti; a mortalidade infantil era de 100 por mil, sendo a mesma verificada no Zaire; a taxa de alfabetizao eqtiivalia de Honduras, ou seja, 59,5% (Duarte, 1989). Mesmo assim, deve-se considerar que esses indicadores j apresentaram-se bem piores, antes das transformaes econmicas verificadas nas trs ltimas dcadas.^

    3. AS REAS DINMICAS: INDICAES DE PERSPECTIVAS

    Em boa parte pelo menos, as transformaes mostradas acima tm muito a ver com a expanso obser/ada nas chamadas "frentes dinmicas" que merecem um exame mais cuidadoso no que diz respeito s suas implicaes j observveis e s potencialidades futuras. Aqui, tentaremos resumir esses efeitos e perspectivas para que se possa melhor avaliar o caminhar da estrutura produtiva regional.

    3.1 O Plo Petroqumico de Camaari

    ^ Vale aqui ressaltar que, apesar de postos constantemente em xeque por interesses diversos, o total de incentivos fiscais destinados ao Nordeste em trs dcadas assume propores insignificantes, caso comparado, por exemplo, com investimentos e incentivos diversos destinados pelo Estado ao Centro/Sul do Pas. Esses dados, contudo, no isentam o sistema de incentivos de reformulaes e aperfeioamentos. Em 1960 a expectativa de vida era de 43,5 anos, a mortalidade infantil de 154,9 por mil e a taxa de alfabetizao de 34,2% (Maia Gomes, 1991).

  • Certamente de todos os plos dinmicos, o mais estudado e conhecido, o complexo de Camaari a primeira manifestao concreta de descentralizao da chamada Indstria pesada que teve como agente o investimento estatal. Inserido em meio poltica de substituio de importaes e estratgia de "desconcentrao concentrada" das atividades industriais, o Plo Petroqumico de Camaari constitui-se num dos principais pilares da crescente importncia da produo de bens intermedirios no Nordeste. Implementado ao longo dos anos 70, esse plo significou um investimento total da ordem de US$ 4,5 bilhes. Alm disso, encontra-se em andamento, embora com atrasos, um programa de ampliao que, caso totalmente concludo, dever elevar para cerca de US$ 6,0 bilhes o investimento total.

    Viabilizado com a participao de capitais privados nacionais e multinacionais e, principalmente, com o suporte estatal, o Plo Petroqumico de Camaari contou com fontes de financiamento as mais diversas. Os scios multinacionais, por exemplo, entraram principalmente com a cesso da tecnologia integralizada como capital, cabendo ao esquema estatal a maior fatia seja sob a forma de investimentos diretos da Petrobrs e subsidirias, seja sob a forma de recursos do FINOR (US$ 403 milhes) e assemelhados e de emprstimos, em condies bastante favorveis, do BNDES (US$ 965 milhes), bem como atravs de reduo de impostos de importao de equipamentos, iseno de imposto de renda poi dez anos, reduo do ICM etc. (Suarez, 1986). Trata-se, portanto, de um nvel elevado de envolvimento do setor pblico embasado na deciso, onde pesaram tambm aspectos no estritamente econmico?, de descentralizar a produo nacional de petroqumicos, articulada com a disponibilidade de matria-prima proveniente da Refinaria de Mataripe.

    A magnitude do complexo de Camaari no se limita ao valor dos investimentos. Tambm, e principalmente, se reflete nos impactos diretos e indiretos. Sem entrar em maiores detalhes, cabe-nos aqui registrar, por exemplo, que em 1990 o Plo Petroqumico de Camaari sozinho contribuiu com 13,6% da receita tributria do Estado da Bahia, sendo de 32,8% o seu peso na receita do ICMS, gerado pela indstria de transformao. Ao lado de outros investimentos na indstria pesada (Refinaria Landulfo Alves, Centro Industrial de Aratu, etc), o plo de Camaari concorreu fortemente para alterar estruturalmente a economia baiana, aumentando o peso do setor secundrio de 12,0%, em 1960, para 30% do PIB estadual em 1990.^ Cabe ainda mencionar que entre 1970 e 1980 a Bahia, basicamente em funo do Plo, cresceu em 20,7% sua participao no VTI da indstria de transformao do Pas, expanso que persistiu nos anos 80, tendo o Estado, em 1987, 3,88% do mesmo VTI (3,54% em 1960) (Diniz e Lemos, 1989),

    Outros dados confirmam os elevados impactos do Plo. A capacidade industrial instalada da ordem de 5,5 milhes de toneladas/ano; em 1989 os empregos diretos (25.000) mais os ligados s prestadoras de servio (31 000) somavam 56,000 (Hidroconsult, 1989), ou seja, 19,6% do emprego gerado na indstria de transformao do Estado. Alm disso, vale destacar que o nvel de atividade do Plo expandiu-se mesmo ao longo dos difceis anos 80, graas ampliao das exportaes, tendo o ndice de produo (1960 = 100) atingido 163,3 em 1989,

    ' Dados do Centro de Estatstica e Informaes (CEI) da Secretaria de Planejamento Cincia e Tecnologia da Bahia.

  • enquanto o total de vendas registrava o valor de US$ 3,418 bilhes no mesmo ano (US$1,994 bilho em 1986) (CEI, 1991).

    Apesar das evidncias acima, no raro encontrarmos na literatura afinnaes de tom pessimista sobre os impactos do Plo que seriam muito localizados, com reduzidos efeitos para trs e para frente em nvel regional ou mesmo estadual Embora as repercusses esperadas fossem maiores, no podemos consider-las pouco importantes, tendo o Plo contribudo decisivamente para o maior nvel de emprego e renda estadual e regional, alm de representar hoje uma possvel base para a esperada verticalizao da matriz industrial da petroqumica regional, da qual o Plo uma pr-condio como supridor de bens intermedirios.

    O que nos parece importante destacar que o Plo insere-se no principal espao at aqui aberto ao Nordeste no processo de integrao, qual seja o de supridor de bens intermedirios. A etapa seguinte de transformao petroqumica final enfrenta dificuldades ligadas aos custos de transporte, vez que nessa etapa ocorre agregao de volume, o que encarece aqueles custos e induz a localizao das plantas industriais prximas ao mercado consumidor. Obviamente, isso limita os efeitos a jusante, que no entanto podero ser ampliados no futuro, caso sejam superadas algumas restries e tendncias de mercado que at aqui dificultam o aproveitamento da vantagem da existncia de intermedirios petroqumicos.

    Assim, devemos ter claro que a prpria continuidade e expanso do Plo depender da sua capacidade de concorrer no mercado de petroqumicos, que torna-se cada vez mais competitivo em nvel mundial, num contexto de reduo das alquotas de importao por parte do Brasil, combinado com as perspectivas de restries comerciais por parte dos blocos econmicos, o que pode afetar as exportaes Tudo isso numa fase em que a capacidade instalada em nvel mundial vem crescendo bem acima da demanda. Essas dificuldades vm sendo enfrentadas com a busca tanto de atualizao tecnolgica, at aqui obtida na maioria dos casos, embora em alguns deles j haja defasagem, quanto de diversificao do mercado interno em novas aplicaes de petroqumicos. A continuidade desse esforo pode ser ameaada, entretanto, pela permanncia da estagnao econmica, pela redefinio do papel do Estado, privatizao includa, e da poltica industrial, etc, o que levanta dvidas ainda no elucidveis.

    s restries acima podemos contrapor alguns argumentos. Um dado favorvel est no ainda reduzido nvel de consumo per capita de produtos petroqumicos, tanto no Brasil quanto nos pases em desenvolvimento, havendo ampla margem para expanso do mercado. Alm disso, sabe-se tambm ser elevada a elascicidade-renda da demanda de petroqumicos. Estimativas de Candal e Oliveira (1986) mostram ser esta elasticidade (em relao ao PIB) no Brasil de 2,28 para os plsticos, de 1,28 para os elastmeros e de 2,17 para as fibras (apud Guerra, s/d). Assim, tanto uma retomada do crescimento econmico, quanto uma redistribuiro de renda provocaro fortes efeitos de expanso do consumo de petroqumicos. Adicionalmente, conforme ressalta Guerra (s/d), a implementao de programas ligados construo civil (habitao e saneamento) e irrigao, que aparecem como alternativas provveis dado o conhecido quadro de carncias nessas reas.

    O consumo per capita de plsticos, p. ex , no Brasil, em 1989, era sete vezes inferior ao da Alemanha, em 6,4 ao do Japo, em 5,6 ao dos EUA, em 5,2 ao da Itlia etc. (Oliveira, 1990; apud Guerra, s/d).

  • ampliariam a demanda de termoplsticos. Outro ponto merecedor de exame a possibilidade de implantao, na Bahia

    mais provavelmente, da indstria de transformao petroqumica que multiplicaria os encadeamentos a jusante do Plo. Conforme j mencionamos, este ltimo estgio da petroqumica, por conta dos custos de transporte, localiza-se junto da produo de bens finais que, como sabido, concentra-se no Sudeste do Pas A implantao de plantas desse setor na Bahia, ou seja no Nordeste, est na dependncia direta da estabilizao da economia e da retomada do crescimento, o que expandiria o ainda reduzido mercado regional, tornando mais atraente o aproveitamento da matria-prima petroqumica. Embora essa alternativa no parea plausvel a curto prazo, possvel que, com o apoio de uma poltica industrial em nvel federal e/ou estadual, certos espaos sejam progressivamente abertos e que pelo menos empresas pequenas e mdias venham a ocup-los. Isso pode no ser suficiente para a instalao da indstria de transformao petroqumica em sua plenitude, porm algumas brechas podero surgir alargando a diversificao da indstria e agregando maior valor ao PIB regional.

    3.2 O complexo agrondustrial de Petrolina/Juazeiro'"

    Em funo da expanso da agricultura irrigada, a regio do submdio So Francisco, que tem como centros maiores as cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), tem apresentado demonstraes evidentes de dinamismo. Embora essas duas cidades j apresentassem tendncias de crescimento derivadas da agricultura e das funes de entrepostos comerciais, foi nos anos 70, com a implantao de grandes projetos de irrigao, que se iniciou o maior impulso de crescimento na rea. Nessa fase mais recente, observa-se a intensificao das relaes capitalistas e a crescente utilizao de tecnologia e insumos com o dispndio de elevadas somas de capital para a montagem da infra-estrutura de irrigao Nesse processo, a presena do Estado foi crucial, posto que montou a maior parte da infra-estrutura de captao e distribuio de gua, cuidando tambm de aspectos administrativos dos projetos, da assistncia tcnica etc

    Embora inicialmente fosse dada certa nfase ao cultivo irrigado de produtos ligados chamada pequena agricultura, firmou-se na rea um modelo micto de pequenas, mdias e grand'= s^ gleoas irrigadas com o cultivo cada vez maior de produtos de elevado valor comercial, destinados tanto venda in natura para os mercados de maior poder aquisitivo, externo inclusive, quanto ao processamento local em plantas industriais. No bojo desse impulso de acumulao, unidades fabris

    " Nesse sentido apontam as expectativas da Fundao Centro de Projetos e Estudos - CPE da Baha, embora de forma um tanto exce.

  • de variados ramos foram sendo instaladas e/ou expandidas, amplificando o dinamismo da rea, para o que foi importante tambm a instalao de distritos industriais (Juazeiro e Petrolina) e as facilidades inerentes de infra-estrutura.

    O crescimento dos anos 70^' manteve-se elevado ao longo dos anos 80, ocorrendo um aprofundamento da intensidade de capital e de tecnologia, sofisticando-se as tcnicas de irrigao Ao mesmo tempo, verifica-se a implantao de grandes projetos de irrigao por parte da CODEVASF envolvendo a participao de grandes e mdias empresas nacionais e mesmo internacionais. Nessa poca instalam-se na rea diversas plantas industriais de ramos variados: processamento de alimentos, bens de capital, embalagens, equipamentos para irrigao, materiais de construo, fertilizantes e raes, etc. Nessa mesma dcada, mesmo em meio estagnao da economia, foram incorporados agricultura cerca de 56 mil hectares, enquanto o setor industrial gerava cerca de 24.000 empregos (Galvo, 1990).'^

    Para que se possa melhor avaliar a expanso econmica da rea, encontram-se ali, entre outras, uma usina de acar, duas vincolas, plantas de beneficiamento de tomate, pimento, aspargos, cenouras e pepinos, mrmore, fertilizantes, equipamentos para irrigao, fiao, leos comestveis etc, o que mostra o avano e diversificao da atividade secundria na regio.

    Mesmo assim, temos que ter claro que a principal fonte de dinamismo ainda a agricultura irrigada que cada vez mais se intensifica em nvel de capitalizao e de sofisticao tecnolgica, ampliando crescentemente suas vendas com a abertura de novos mercados na Europa e nos Estados Unidos.

    Na base desse dinamismo, podemos identificar alguns fatores condicionantes de maior realce. Em primeiro lugar, a atuao do setor pblico, seja provendo a infra-estrutura de irrigao de forma subsidiada, seja atravs dos incentivos fiscais e crediticios. O esquema 34/18/FINOR e o FNE tm contribudo fortemente para a atrao de grande empresas e projetos (agrcolas e industriais) Alm disso, os governos estadual e municipal tm, junto com o federal, investido tambm na infra-estrutura (principalmente de transporte, porto fluvial, aeroporto e estradas)

    Outro importante fator dessa expanso o clima. Por conta disso, principalmente pela quase constante insolao, s interrompida nos trs meses em que chove na rea, possvel colher mais de uma safra por ano,'^ o que permite um retorno maior do capital fixo investido

    Essa facilidade de manejo do ciclo das culturas propiciada pelo clima, permite uma outra vantagem: o aproveitamento de brechas de mercado em poca em que

    " No perodo 1970/80 a rea agrcola incorporada cresceu no Vale a 1,6% a a, enquanto crescia a 0,4% no Estado de Pernambuco; o pessoal ocupado na agricultura cresceu, respectivamente 4,7% e 0,7%; o uso de defensivos expandiu-se 19,8% e 7,5%. No mesmo perodo cresceu de 3% para 12% o peso do setor secundrio no produto da microregio que envolve Petrolina (Melo, 1990, apud Katz e Lima, 1993).

    Esses resultados poderiam ser mais expressivos caso no tivessem sido paralisados, em funo da crise econmica, vrios projetos industriais com rea reservada no D.l. de Petrolina e ligadas metalurgia, pr-moldados, materiais de construo, insumos agricolas, alimentos, embalagens, higiene e limpeza, vesturio e calados etc

    A uva, por exemplo, pode ser colhida cinco vezes a cada dois anos. Em mdia so colhidas 30 e 20 toneladas por hectare/ano de uva e de manga, respectivamente (Jomal do Commrcio, 10/08/93).

  • as demais regies produtoras no conseguem produzir. Isso tem facilitado bastante a abertura de novos mercados na Europa para a venda, p.ex., de manga e uva.

    Alm disso, deve-se mencionar ainda que h na rea a presena de um nvel razovel de organizao dos produtores atravs de cooperativas e associaes, o que facilita a expanso de mercado, a obteno de financiamentos, a difuso de tecnologias e mesmo o rebaixamento de custos de transporte na exportao de frutas, alm de facilitar, via compra conjunta de alguns equipamentos, o controle de qualidade das mesmas. Observa-se ainda, dado o nvel de competitividade do mercado internacional, uma crescente conscientizao da necessidade de controles de qualidade e de investimentos nas tcnicas e equipamentos de ps-colheita, o que indispensvel para a manuteno e ampliao dos mercados abertos ao exterior.

    A continuidade, principalmente a curto prazo, do crescimento agrondustrial no entorno da regio de Petrolina/Juazeiro, em parte pelo menos, est na dependncia da manuteno do fluxo de incentivos fiscais que tem atrado capitais de fora da regio rebaixando o custo do investimento privado. A tendncia, entretanto, que as condies favorveis de clima e de mercado se firmem como condicionantes maiores do crescimento, dado que h ainda muita disponibilidade de solo e de gua,'" caso venha a ocorrer uma mudana nos rumos com reduo dos incentivos regionais (FINOR e FNE). Isso em funo dos freqentes questionamentos por parte de interesses de outras regies e da prpria redefinio do papel do Estado em curso j h algum tempo.

    Cabe, entretanto, chamar ateno para a necessidade de monitoramento da rea plantada e das tendncias de mercado em vista da nfase que vem sendo aplicada ao cultivo de manga e uva no s em Petrolina/Juazeiro como tambm em outras reas em fase inicial de expanso de agricultura irrigada no Nordeste (Sergipe, por exemplo). Com a concentrao nessas culturas, podero ocorrer excedentes de oferta, reduzindo a rentabilidade naqueles momentos em que o mercado internacional mais favorvel, ou seja, quando ocorre a entressafra nos demais pases produtores

    importante entender, assumindo que o monitoramento possvel, que o dinamismo do Vale do S. Francisco tem perspectivas de continuidade, mesmo com uma nfase menor na ao do Estado. Mais ainda, essa expanso tem potencialidades de repercutir sobre a economia da regio, ampliando a malha industrial que normalmente acompanha a intensificao capitalista na agricultura (encadeamentos gerados pelo fornecimento de insumos e pelo processamento de bens agrcolas), mas tambm diversificando a economia em outros ramos industriais e abrindo espaos no setor tercirio em funo do elevado fluxo de renda e de emprego gerados pelas principais culturas (uva, manga, tomate, etc.) em cultivo na rea. Embora seja um processo econmico dependente do nvei geral de atividade da economia, ou do comportamento nem sempre estvel do mercado

    Segundo a CHESF, 71!000 hectares so irrigados atualmente no Vale do S.Francisco, havendo expectativa de que essa rea crescer para 250 mil hectares at o ano 2000, incluindo os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas (Gazeta Mercantil, 30/03/93).

    Para que se tenha uma idia, apenas com a compra de embalagens para a exportao de uva e manga os produtores gastam cerca de US$ 5 milhes por ano (Jornal do Commrcio, 10/08/93)

  • externo, o avano j detectvel na rea suficiente para afastar a idia de enclave s vezes ainda difundida ou apenas insinuada por alguns pesquisadores, seja em palestras seja na literatura disponvel. Vale aqui lembrar, para calar a afirmao acima com uma varivel sntese, que a regio de Petrolina/Juazeiro transformou-se num plo de atrao de migrantes, tendo a cidade de Petrolina entre 1970/80 e 1980/91 crescido sua populao a uma taxa mdia anual de 5,47% e 4,82%, respectivamente. Nos mesmos perodos, a expanso populacional de Pernambuco foi de 1,76% e 1,35% ao ano Em 1991 a taxa de urbanizao de Petrolina atingiu 71,65%, pouco acima da de Pernambuco (70,85%) (Lubambo et all, 1993) o que mostra a expressividade das atividades urbanas e evidencia a diversificao da economia da regio Esta, assim, absolutamente no se limita s atividades dos chamados permetros irrigados, o que tenderia a ocorrer caso prevalecesse um padro de enclave agrcola.'

    3.3 Os cerrados do Oeste da Bahia

    A regio dos cerrados no Oeste baiano, que passa hoje por um boom expansionista, desde a II Guerra Mundial desperta atenes governamentais e, em funo de aes diversas, tem conseguido impulsionar bastante sua estrutura econmica, enquanto mudanas diversas tm sido observadas na estrutura produtiva, adiante comentadas. ^

    Independentemente de outras transformaes, not^e que nos anos 60 e 70 observaram-se alteraes substantivas na rea, incluindo-se a criao de novos municpios, a construo da hidreltrica de Correntina, a interligao via rodovias a Braslia e ao Piau, bem como por estradas estaduais dos seus municpios entre si.

    Paralelamente, observou-se um processo de valorizao das terras, o seu uso crescente para a pecuria mais intensificada e para outras atividades como a cana-de-acar e o reflorestamento. Tudo isso dentro do mbito do apoio governamental, via crdito e subsdios diversos, o que envolveu inclusive a implantao de projetos de irrigao e colonizao

    Resultou de todo esse conjunto de investimentos pblicos e privados a dinamizao de um mercado regional de bens e servios diversos bem como a criao de um mercado de trabalho, o que vai facilitar bastante a expanso extremamente rpida da rea cultivada observada nos anos 80, ao lado da crescente importncia econmica da regio

    Esta vigorosa expanso da economia do Oeste da Bahia, sem dvida, est associada introduo e rpida expanso da soja.

    Esta foi implantada na rea em funo das migraes de agricultores do Sul do Pas, dos avanos tecnolgicos que viabilizaram o cultivo da soja nos cerrados, bem como em funo dos subsdios governamentais ( Santos Filho, 1989 ).

    importante ressaltar que a participao do Estado tem sido, sem dvida, decisiva para esta arrancada, seja atravs da infra-estrutura que bem ou mal vem sendo expandida, seja atravs dos mecanismos da poltica agrcola que tm

    ''^ Uma pesquisa recente sobre as migraes de famlias de baixa renda em Petrolina (Lubambo et all, 1993) mostra, entre outras coisas, que apenas 14% dos migrantes mantiveram-se na atividade agropecuria, tendo 20,9% deslocado-se para o comrcio e 16,3% para a prestao de servios.

  • apoiado decisivamente a expanso das culturas mais voltadas para o mercado externo. Isso em funo da diretriz da poltica econmica de gerar mega-supervits na balana comerciai para saldar os servios da dvida externa, posta em prtica desde a dcada de 80.

    Com a soja, implanta-se na regio todo um conjunto de atividades e prticas ligadas agricultura moderna que marcam a penetrao das relaes capitalistas, a exemplo do j verificado em outras reas. O crescimento d-se em forma de boom: entre 1980/81 e 1985/86 a rea plantada com soja expandiu-se 143 vezes e a produo em 848 vezes, enquanto crescia tambm, embora em escala bem mais reduzida, a produo de arroz. Apesar deste ritmo de crescimento, em 1986 a rea ocupada com arroz e soja (231 100 ha) representava apenas 7,5% da rea agriculturvel dos cerrados baianos (Santos Filho, 1989). A importncia econmica da soja, no entanto, passa a ser infinitamente maior que a das demais atividades, induzindo, inclusive, repercusses diversas sobre atividades tercirias como s relativas a insumos modernos, assistncia tcnica, armazenagem, crdito, etc.

    Deve-se ressaltar que na safra 1991/92 foram produzidas cerc^ de 800 mil toneladas de gros no Oeste da Bahia, principalmente soja, miltio, arroz e feijo, sendo de 460 mi! toneladas a fatia correspondente soja. Com isso, esta regio j se constitui na maior rea produtora de gros do Nordeste do Pas (Queiroz, 1992). Como desdobramentos importantes desse intenso crescimento j foram instaladas no Municpio de Barreiras duas plantas industriais de processamento de soja do porte de 270 mil toneladas/ano, a Olvebasa, e de 450 mil toneladas/ano, a Cevai, esta inaugurada em 1992.

    Da safra de soja, estima-se que 230 mil toneladas sejam absorvidas no prprio Nordeste, sob a forma de leo e de farelo de soja, devendo serem exportadas cerca de 140 mil toneladas de farelo.

    As expectativas de expanso da rea cultivada no Oeste baiano so bastante otimistas, estando previsto que a produo dever triplicar at 1995, situando-se no patamar de 2,6 milhes de toneladas. Para a soja a expectativa de que a produo atingir 1,7 milhes de toneladas no mesmo ano," devendo cerca de 1,0 milho de toneladas de derivados serem absorvidas pelo mercado externo. Alm disso, deve-se ressaltar que nos cerrados vizinhos dos Estados do Piau e Tocantins a produo de gros, que vem tambm crescendo bastante, a estimativa para 1992 situa-se em cerca de 1,0 milho de toneladas.

    As expectativas favorveis expanso da soja na regio centram-se primeiro na crescente demanda em nvel internacional, estando o Brasil bem posicionado para atender parte significativa do crescimento previsto de 40 milhes de toneladas/ano at o ano 2000. Alm disso, deve-se levar em conta que apenas cerca de 10%, ou seja, 450 mil hectares sendo 330 mil com soja, das terras aptas foram incorporadas ao cultivo de gros no Oeste da Bahia.

    Apesar dessas expectativas otimistas, imprescindvel destacar que alguns gargalos devem ser removidos para que as estimativas se confirmem. Os problemas concentram-se nos custos de produo que, a despeito do uso de recursos modernos, so ainda superiores em cerca de 20% aos registrados no Paran (Queiroz, 1992.) e nas dificuldades de escoamento da produo impostas pelas

    Estas cifras foram estimadas com base em levantamento feito junto s grandes cooperativas que atuam na rea. Ver Queiroz, 1992.

  • deficincias da maiia de transporte. Estes estrangulamentos ganham importncia, aaescente-se, ao se saber que quantidades crescentes da expanso prevista para produo de gros devero ser colocadas no mercado internacional. Para isto imprescindvel a existncia de custos competitivos com as demais reas produtoras dentro e fora do Pas.

    O estrangulamento da infra-estrutura de transportes um fato que j preocupa o governo do Estado da Bahia. Conforme informaes colhidas junto Fundao CPE, rgo da Secretaria de Planejamento, Cincia e Tecnologia, aes j vm sendo desenvolvidas no sentido de viabilizar, atravs de emprstimos externos, os recursos para a recuperao e expanso da malha de transporte com destaque para a prevista articulao rodo-hidro-ferroviria, onde a soja seria transportada at Juazeiro, via rodo-fluvial e da at o porto de Aratu por ferrovia, ou ainda para o porto de Suape, caso se viabilize a ferrovia transnordestina.

    Gargalos parle, deve-se ter em conta que ao lado do boom da soja vm sendo bastante expandidas as atividades urbanas no Oeste da Bahia com o surgimento de cidades de mdio porte, contando com o suporte de toda uma rede de servios associados aos ncleos urbanos modernos (comrcio, sade, educao, construo civil, etc), inclusive, e principalmente, com a instalao de agroindstrias de beneficiamento da soja. Observa-se assim uma crescente integrao da rea com os demais espaos econmicos do Pas, associada dinmica e lgica da acumulao em nvel nacional.

    Por conta do dinamismo at aqui observado, a regio do Oeste baiano constitui hoje, sem dvida, um caso atpico dentro do quadro geral de estagnao observado na economia brasileira, e no Nordeste, ao longo dos anos 60. Esta regio desponta como uma rea que pode se constituir num plo de desenvolvimento integrado em vista das vinculaes com o setor industrial e com as demais atividades urbanas de comrcio e de servios de uma maneira geral, que se associam ao crescimento agrcola com base na intensificao do uso do capital.

    Algumas dessas vinculaes para frente e para trs j se sobressaem. Alm das unidades de beneficiamento da soja, despontam atividades como avicultura e suinocultura e a frigorificao de carnes em geral, beneflciando-se da produo local de milho e, principalmente, de farelo de soja. Do lado dos insumos, a rea comea a atrair fornecedores de equipamentos agrcolas, inclusive conjuntos para irrigao, alm de fertilizantes e calcrio.

    Embora ainda no incio, a diversificao para as atividades industriais tem perspectivas principalmente se levarmos em conta que junto do Oeste da Bahia estendem-se os cerrados pelo Piau, Tocantins e Maranho com padro semelhante de ocupao dos solos. Sendo a cidade de Barreiras hoje um centro urbano de mdio porte para onde convergem os fluxos econmicos da rea, bem provvel que para l fluam com mais facilidade os investimentos ligados ao chamado complexo agroindustrial. A diversificao da economia, mantida a tendncia de crescimento do setor agrcola, induzida pelo crescimento da renda, dever tambm ocorrer como tem sido o padro historicamente observado.

    Pelo visto, embora ainda num estgio no to diversificado quanto o j existente no Vale do So Francisco, a regio dos Cerrados tende a continuar crescendo e expandindo sua vinculao com outros centros urbanos do Nordeste, a Regio Metropolitana de Salvador, por exemplo, desenvolvendo o papel de fornecedor de

  • alimentos in natura e processados e absorvendo produtos industriais. A proximidade geogrfica, entretanto, poder estimular uma integrao com o Centro-Oeste. A expanso da maltia de transportes dever ser decisiva para definir o futuro dessa vinculao.

    3.4 O plo txtil/confeces de Fortaleza

    Como sabido, o setor txtil um dos mais tradicionais do Nordeste. No movimento geral da integrao dos mercados nacionais, entretanto, observou-se uma perda de importncia do mesmo, tanto no contexto nacional, quanto no regional, em vista da ao de incentivos diferenciados (de mercado e estatais), beneficiando o setor txtil do Centro-Sul. Mesmo assim, em 1989 estimava-se que a indstria txtil nordestina gerava cerca de 20% do total produzido no Pas (Carvalho, 1989).

    Com a criao de SUDENE, o txtil nordestino sofreu um processo de intensa modernizao, findo o qual fecharam inmeras empresas obsoletas e outras, atualizadas tecnologicamente, surgiram. Nesse processo, mudou tambm a localizao do parque regional, tendo Pernambuco sofrido grandes perdas, em boa parte por ter sido a Regio Metropolitana do Recife, entre 1969 e 1987, excluda da faixa A de prioridades da SUDENE, enquanto o Cear ampliava sua participao

    Nesse nterim, ocorreu tambm uma desintegrao da indstria em nvel regional, com a gradativa queda de produo de algodo no Nordeste, dada a praga do bicudo. Com isso, as fiaes passam crescentemente a comprar matria-prima fora da regio e no exterior, mas, mesmo assim, assumem um papel cada vez mais expressivo no setor, principalmente pelo elevado nvel de atualizao tecnolgica. Enquanto isso, a tecelagem perdeu peso na regio, concentrando-se no Centro-Sul, porm o outro elo da cadeia, o de confeces, despontou com crescente importncia, inclusive em nvel nacional

    Participando ativamente dessas modificaes, a indstria txtil/confeces do Cear, mais especificamente de Fortaleza, desponta hoje como um dos importantes centros do setor, tanto em nvel regional, quanto nacional. Entre 1970 e 1985, por exemplo, o nmero de esiabelecimentos txteis do Cear cresceu de 155 para 358, enq' lanto os ligados ao vesturio passavam de 152 para 850 (Censos Industriais -IBGE). Afora os nmeros em i, muito mais significativo o fato de ter havido crescimento mesmo ao longo dos anos da "dcada perdida". Em 1991, segundo o Sindicato da Indstria de Confeces do Cear, o plo cearense reunia cerca de 3 000 empresas, gerava 60 000 empregos diretos e era responsvel por 12% do ICMS do Cear. Esses dados, mesmo que possam ser superestimados, ilustram bem o dinsmismo da atividade naquele Estado

    Na origem da indstria txtil/confeces cearense encontram-se as habilidades artesanais das "rendeiras", as qualificaes e vocaes de uma populao afeita ao setor juntamente com os tradicionalmente baixos nveis salariais e a disponibilidade de algodo. A partir dos anos 80, contando com o crescente apoio governamental e o esprito empresarial empreendedor, foram sendo organizadas feiras da moda que vo pouco a pouco ocupando espao em nvel nacional e que hoje renem mais de 400 empresas. Para isso contribuiu tambm a organizao dos produtores em associaes e sindicatos, tanto na dinamizao de mercados, quanto na busca do

  • apoio do Estado. Esse apoio tomou a forma de incentivos fiscais estaduais, bem como do FINOR/SUDENE.' As facilidades dos incentivos atrairam grandes projetos para Fortaleza, na tecelagem e principalmente na fiao. Outros fatores como o dinamismo empresarial, a qualidade dos produtos, associada a preos competitivos, e a prpria diferenciao de produtos das confeces impulsionaram fortemente a expanso do plo cearense

    importante ter em conta que o parque txtil/confeces de Fortaleza apresenta-se competitivo em nvel nacional e, no caso da fiao, em nvel internacional, em funo de sua atualizao tecnolgica. Os segmentos de tecelagem e de confeces, embora apresentem as heterogeneidades caractersticas do desenvolvimento desigual, contam com um padro de nvel tecnolgico semelhante ao existente no Centro-Sul do Pas, mesmo que este esteja em mdia dez anos atrasado em relao ao padro dos pases mais avanados do setor, conforme afirmaram alguns empresrios entrevistados em Fortaleza em fins de 1991. No segmento da fiao, que tem 80% do peso do setor fiao/ tecelagem, predomina a atualizao tecnolgica mesmo para os padres mundiais. Isso explicado tanto por se tratar de um parque industrial recente, tendo cerca de 80% dos equipamentos menos de dez anos, segundo empresrios locais. Alm disso, dada a rapidez das mudanas tecnolgicas no setor, torna-se necessrio dedicar pelo menos 5% das despesas anuais em modernizao, o que em geral vem sendo seguido pelos empresrios da fiao cearense.

    As perspectivas da expanso do setor evidentemente tm a ver com a retomada do crescimento e com uma melhor distribuio de renda na economia brasileira, o que expandiria o mercado interno. A abertura comercial pode ter implicaes negativas sobre a tecelagem e as confeces, caso a defasagem tecnolgica no seja superada, porm a prpria retomada do crescimento, caso se confirme, dever estimular investimentos em modernizao e expanso, gerando condies de competio diante da reduo das alquotas de importao. A questo que se coloca se haver capacidade financeira dos empresrios cearenses para os investimentos em atualizao numa fase de dificuldades para um maior apoio por parte do setor pblico. Diante disso, fcil imaginar que, com a menor proteo e com o mercado interno encolhido, haver uma tendncia concentrao do nmero de empresas do setor prevalecendo as de maior capacidade financeira

    Os encadeamentos do plo cearense CO.TI a regio podero ser ampliados a mdio e longo prazo

  • do modelo existente no Su! do Pas. Com isso, seria recomposto um elo quase perdido da indstria nordestina e expandida a integrao do setor em nvel regional.

    Do lado das confeces, h espao para um reforo do setor de tecelagem (60% dos tecidos so adquiridos fora do Estado), bem como para o crescimento de unidades fornecedoras de aviamentos e linhas (cerca de 80% destes so comprados fora). Recentemente foi implantada em Fortaleza uma empresa (de capital japons) fornecedora de equipamentos para a indstria de confeces, portanto um importante desdobramento do plo cearense, que, por sua vez, poder impactar tambm sobre outros centros de confeco do Nordeste.

    3.5 O plo mineiro-metalrgico do Maranho

    O crescimento econmico mais acelerado do Maranho, objeto de comentrio no incio deste trabalho, ao longo dos anos 80, em grande medida, est associado aos desdobramentos do Programa Grande Carajs (PGC) e ao interesse crescente do capital multinacional da rea mineiro-metalrgica em diversificar suas fontes de abastecimento de matrias-primas, A viabilizao do PGC tem como base esse interesse, juntamente com a diretriz de poltica econmica do Estado brasileiro de priorizar as exportaes e engajar as empresas estatais no esforo de integrao da Amaznia ao mercado nacional,

    Como resultado desses movimentog de capital, onde a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) vem desempenhando um dos principais papis, foram implantadas a infra-estrutura para explorao/exportao de minrio de ferro (a mina em Carajs, uma ferrovia de 890 km de extenso e o porto de Ponta de Madeira, na regio de So Luiz) e projetos como o da ALUMAR em So Luiz alm de algumas guserias no trajeto da Estrada de Ferro Carajs (EFC),

    A disponibilidade de minrios, aliada infra-estrutura de escoamento, surgem como fatores locacionais para o desenvolvimento da Siderurgia, o que pode dinamizar os efeitos de encadeamento do PGC (Machado, 1991), Para que esses efeitos venham a se concretizar, no entanto, algumas dificuldades precisaro ser superadas, o que ser comentado mais adiante

    Algumas implicaes desses projetos na estrutura produtiva do Maranho, ao longo dos anos 80, podem ser evidenciadas O PIB total do Estado, por exemplo, aumentou de US$ 2 059,2 milhes em 1980 para US$ 3,045,7 milhes em 1987, tendo o produto tia indstria ampliado sua participao no total de 14,3% para 20,8% (Dados do Governo do Estado do Maranho)

    Como j comentamos, a CVRD tem tido uma participao das maiores nessas mudanas. Seus dispndios no Projeto Ferro Carajs (PFC) situam-se em US$ 2,9 bilhes, sendo destes 14% investidos nas instalaes do porto de Ponta da Madeira, 20% nas minas, 10% na infra-estrutura e 56% na Estrada de Ferro Carajs (EFC). Da resultou a criao, apenas no Maranho, de 1300 empregos diretos e 1200 empregos indiretos e importantes impactos sobre o nvel de renda e consumo de So Luiz (os menores salrios do Vale situavam-se em torno de U$ 300,00 em maio de 1992), sobre a construo civil e setor imobilirio etc, Alm disso, a EFC surge como um dos maiores agentes de desdobramentos desses investimentos sobre o Maranho. Por ela esto sendo escoados cerca de 33 milhes de toneladas/ano de minrio de ferro, alm de passageiros e carga geral, inclusive

  • caminhe$. Cortando regies, anteriormente remotas, integrou-as ao circuito da produo mercantil. A EFC, por exemplo, participa da dinamizao do plo agrcola do Sul do Maranho, regio de cerrado, onde a produo de soja comea a se expandir, sendo possvel que at o final da dcada estejam sendo colhidas um milho de toneladas de so ja^

    Um outro projeto em implantao dever ampliar o uso da EFC. Trata-se do projeto CELMAR, que tem a CVRD como scia, para produo de celulose em Imperatriz, para o qual prev-se investimentos de US$ 1,2 bilho. Quando concludo, dever produzir 420.000 toneladas/ano, gerando diretamente 800 empregos, mais 3000 no reflorestamento, alm de cerca de 3200 empregos indiretos.^'

    Alm disso, a EFC ajudou a dinamizar a instalao de usinas de ferro-gusa e de ferro-ligas ao longo de sua extenso. Esses projetos associam-se tambm, vale registrar, a outros fatores condicionantes, como o processo de rediviso internacional do trabalho na siderurgia no sentido dos pases menos desenvolvidos, esta, por sua vez, condicionada por questes energticas, ambientais e da prpria expanso de mercado no interior destes pases. Ademais, estes projetos beneficiariam-se em muito de incentivos tributrios e financeiros especficos para projetos na rea do PGC. Por fim, devemos ter em mente que a existncia de matria-prima, minrio de ferro e madeira para carvo vegetal tambm contribuiu para os investimentos nessas usinas (Machado

    Ao lado dessas vantagens locacionais, os projetos siderrgicos defrontam-se com algumas dificuldades, como a reduo dos preos no mercado internacional, a escassez de mo-de-obra qualificada e at mesmo de carvo vegetal. Esta, em funo da reduzida tradio local na sua produo, bem como das presses ambientalistas contra o desmatamento. Os custos do reflorestamento, comparados aos preos do gusa, podem inviabilizar o seu uso e, assim, as usinas tendem a recorrer ao desmatamento. Do lado oposto s dificuldades, alguns pontos positivos podem ser listados o baixo consumo per capita de ao, notadamente no Norte e Nordeste, e o mercado regional j significativo de fundidos e aos no-planos (Machado, 1991). Com a retomada do crescimento, esses fatores podem expandir o mercado e levar superao das limitaes acima, alargando os impactos regionais do PGC.

    O projeto da ALUMAR outro de grande expresso na indijstria maranhense. 1 rata-se de uma aosociao rta ALCOA, ALCAN e BILLINGTON donde resultou um investimento de US$ 2,0 bilhes para a produo de 3 milhes de toneladas/ano de alumina e 500 mil de alumnio, estando atualmente sendo geradas um milho de toneladas de alumina e 350 mil de alumnio. De forma semelhante ao caso da CVRD, a ALUMAR injeta mensalmente um fluxo elevado, pelo menos para os padres locais, de rendimentos na economia de So Luiz.^^ O projeto criou 4100 empregos diretos, estimando-se em 12000 os empregos indiretos, tendo ainda

    ^ A soja sai da regio de Balsas por rodovia at Imperatriz de onde vai pelos trilhos da Norte-Sul at o entroncamento desta com a EFC em Aailndia e da at Ponta da Madeira.

    Um outro projeto de caracteristicas semelhantes, o FLORAR, encontra-se em fase de estudos. ^ Entre os 22 projetos submetidos Secretaria Executiva do PGC, sete esto instalados ou em andamento sendo quatro no Par e trs no Maranho ^ Segundo dados colhidos na ALUMAR, o dispndio mdio mensal da mesma no Maranho de US$ 113 milhes, incluindo salrios, compras (seivios inclusive) e impostos

  • articulaes a montante via absoro de bauxita do Rio Trombetas, de cal do Cear, de soda custica de Alagoas, da energia eltrica de Tucuru, alm dos servios de manuteno refletidos nos empregos indiretos. As articulaes pelo lado do uso do alumnio so reduzidas j que 95% do mesmo exportado. Apesar disso, importante lembrar que, dos 5% destinados ao mercado interno, parte alimenta uma planta de perfis de alumnio (de propriedade de um dos scios) em Pernambuco, sendo, caso o mercado interno volte a crescer, uma possvel fonte de maior articulao intra-regional. As perspectivas de instalao de novas plantas de perfis de alumnio, seja em So Luiz seja em outros Estados do Nordeste, so reduzidas em funo dos elevados investimentos exigidos e das dimenses do mercado. Em nvel local os desdobramentos diretos so, portanto, limitados s pequenas fundies e aos servios industriais. Vale ressaltar, porm, que por tratar-se de um projeto que usa tecnologia totalmente atualizada, o relacionamento com os parceiros locais tem gerado efeitos indiretos, elevando o padro tecnolgico destes fornecedores.

    4. GUISA DE CONCLUSES

    Pelo que foi exposto acima, os plos dinmicos da economia nordestina constituem-se em concentraes de avanos e de transformaes concretas sobre a estrutura produtiva, mesmo que de forma limitada e enfrentando dificuldades de expanso nessa fase de crise da economia brasileira.

    Embora com caractersticas e potencialidades distintas, essas "frentes" j produziram efeitos importantes sobre o nvel de emprego e renda e mesmo sobre a diversificao da economia de cada um dos seus subespaos. Dada a diviso interna de atividades prevalecente na economia brasileira, ao Nordeste vem cabendo o papel crescente de produo de bens intermedirios, estando at aqui suas chances maiores de expanso industrial ligadas disponibilidade de matria-prima e atuando de forma a complementar a estrutura produtiva nacional. Os plos aqui comentados inserem-se a nesse modelo e dentro dessa lgica principal que devem ser encarados. Entretanto, as evidncias acima mostram que os mesmos, em certos casos, j geraram efeitos diversificadores que transcendem a simples integrao complementar economia nacional. Mais importante ainda entendermos que esses avanos ocorreram mesmo em uma fase de estagnao da economia e que, com a retomada do crescimento, seus efeitos de encadeametuo sero certamente potencializados, no cabendo, portanto, associar aos mesmos a idia de enclaves.

    Por fim, cabe lembrar que a dinmica desses plos tem por trs a ao decisiva do Estado. Num momento em que a sociedade brasileira rediscute o papel do Estado, imprescindvel lembrar que esse seu papel indutor, sob a forma de inverses diretas e incentivos s inverses privadas das atividades econmicas, fundamental para a manuteno do processo de desconcentrao da produo e de reduo das desigualdades regionais. Mesmo com uma menor capacidade de nvestirnento, o Estado tem um papel decisivo de estmulo e de coordenao, que no pode absolutamente ser descartado, no sentido da diversificao econmica de regies menos desenvolvidas. Assim, a manuteno da "despolarizao" da economia brasileira certamente depender, entre outros fatores, dos rumos que

  • forem seguidos pela poltica econmica em nvel nacional.

    BIBLIOGRAFIA

    CARVALHO, Teresa. Setor txtil e confeco. Recife, 1989, mimeo. CANDAL, A.P.R & OLIVEIRA. J.C. Anlise e projees da petroqumica brasileira. Rio de

    Janeiro, 1986, mimeo. DINIZ, Cllio O. e LEMOS, Maurcio B. Dinmica regional e suas perspectivas no Brasil. In:

    IPEA/IPLAN, Para a dcada de 90: prioridades e perspectivas de poltica pblica, Braslia, vol.3, 1989.

    DUARTE, Renato. Dinmica e transfonnaes da economia nordestina na dcada de 70 e anos 80, CME/PIMES/UFPE, Recife, 1989. (Texto para Discusso, n. 206).

    GALVO, Olmpio. Impactos da irrigao sobre os setores urbanos nas regies de Juazeiro e Petrolina. CME/PIMES/UFPE, Recife, 1990. (Texto para Discusso, n. 226)

    GUERRA, Osvaldo F. Camaari 2000, Anlise das alternativas de desenvolvimento econmico. UFB/VDept. de EconomI?, Salvador, s/d, mimeo.

    GUIMARES NETO, Leonardo. Introduo formao econmica do nordeste. Recife: Massangana, 1989.

    . Questo regional no Brasil: reflexes sobre processos recentes. Cadernos de Estudos Sociais, vol. 6 n. 1, jan./jun., 1990.

    HIDROCONSULT. Ampliao do plo petroqumico de Camaari; objetivos e justificativas. Salvador, 1989, mimeo.

    KATZ, Fred e LIMA, Policarpo. Inovaes tecnolgicas e desenvolvimento na periferia: estudo de casos no nordeste brasileiro. Recife: Revista Pernambucana de Desenvolvimento, v.14, n. 1/2,1993.

    LIMA, Policarpo e KATZ, Fred. A economia de Pernambuco: perda de dinamismo e a necessidade de buscar camintios possveis. Recife: CME/PIMES/UFPE, 1992. (Texto para Discusso, n. 268)

    LUBAMBO, Ctia W, et alli. Migraes e assentamentos populacionais em reas de expanso do nordeste. Um estudo de caso em Petrolina. Recife: Fundao Joaquim Nabuco/Departamento de Economia, 1993, mimeo.

    MACHADO, Paulo F. Plo sdero-metalrgico de carajs: gnese de uma nova regio industrial? Porto Alegre: Ensaios FEE, v.12 n.1,1991.

    MAIA GOMES, Gustavo. Uma estratgia para acelerar o desenvolvimento do Nordeste. Recife: CME/PIMES/UFPE, 1991. (Texto para Discusso n. 233).

    MELO, Fernando V. de. A regio do So Francisco: dinmica e tendncias de integrao na economia reoional e nacional. Anais do Seminrio sobre a Scio-Economia de Pernambuco, Recife, FIPE, 1991

    OLIVEIRA, Francisco de Elegia para uma re(li)gio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967. QUEIROZ, Luiz N. de. Corredores de transporte para os cen-ados baianos. Carta da CPE, n 12,

    Salvador, i992. SANTOS FILHO, Milton (Coord). O p'^ ocesso de urbanizao no oeste-baiano. Recife: SUDENE,

    1989. SEPLANTEC/CEI. Perfl do Estado da Bahia: estatsticas selecionadas. Salvador.

    SEPLANTEC/CEI, 1991. SEPLANTEC/CPE. Reconstruo e integrao dinmica. Salvador; Secretaria de Planejamento,

    Cincia e Tecnologia, 1991. SUAREZ, MA. Petroqumica e Tecnoburocracia - captulos do desenvolvimento capitalista no

    Brasil So Paulo: HUCITEC, 1986.

    ABSTRACT

    ECONOMICS OF THE NORTHWEST: RECENT TREND IN THE DYNAMIC AREAS

  • This paper examines the rent changes observed in the Northeastem economy. It stresess the study of the so-called "fronts of expasion', attempting to show their dynamic links with the region. It conclued, on the one side, that these areas can not be considered as enclaves and, on the other, that the state has had an importante role In promoting these economic subspaces which contrasts with a general picture of stagnation lived in the recent years.