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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

ANLISE ERGONMICA DO TRABALHO DO SOLDADOR: CONTRIBUIO PARA PROJETAO ERGONMICASimone Antunes da Silva

Porto Alegre, 2003

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Simone Antunes da Silva

ANLISE ERGONMICA DO TRABALHO DO SOLDADOR: CONTRIBUIO PARA PROJETAO ERGONMICA

Trabalho de Concluso do Curso de Mestrado Acadmico em Engenharia como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Engenharia modalidade Acadmica nfase em Gerncia da Produo e Ergonomia

Orientador: Lia Buarque de Macedo Guimares, PhD CPE

Porto Alegre, 2003

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Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia de Produo e aprovada em sua forma final pelo Orientador e pela Banca Examinadora designada pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo.

Prof. Orientadora Lia Buarque de Macedo Guimares, PhD CPE Universidade Federal do Rio Grande do Sul Orientador

Prof. Jos Luis Duarte Ribeiro, Dr. Coordenador PPGEP/UFRGS

Banca Examinadora: Ivan Guerra Machado, Engenheiro Metalrgico, PhD PPGEM / UFRGS Paulo Antnio Barros de Oliveira, Mdico, Dr. CEDOP / UFRGS Tarcsio Abreu Saurin, Engenheiro Civil, Dr. PPGEP / UFRGS

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AGRADECIMENTOSAdenir Wiprich Aline Kirsh Figueiredo Aline Silva Fontoura de Barcellos Amauri Brizola Anders Sundin ngelo Mrcio Oliveira Santanna Astor Zappe Carla Hiromi Takeuchi Daniela Fischer Danilo Silva Denise Antunes da Silva Gabriela Zubaran de Azevedo Henrique Brasil Salis Jos Maria Antunes da Silva Kevin Cole Lia Buarque de Macedo Guimares Liziara Corvalo de Avila Lucila Ribeiro Antunes da Silva Lus Fernando Souza dos Santos Nestor Formolo Pellini Paulo Portich Raimundo Lopes Diniz Richard Boekholt Roland Kadefors Roselaine Batista Silvrio Fonseca Kmita Slvia Helena Tomatis Petersen Valdecir Silva Oldair Knebelkanp, Gensio da Silva, Getlio Viana, Gilmar Piccinin, Flamarion Peres, Eli Marholt, Csar Camilo, Ivo Bamberg, Jos Anselmo Pais, Jovares dos Reis, Irio Dotto, Andr Ferreira e demais soldadores da John Deere e das Empresas 2 e 3 que participaram da pesquisa.

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SUMRIOLISTA DE FIGURAS ................................................................................................................................6 LISTA DE TABELAS................................................................................................................................8 RESUMO ....................................................................................................................................................9 ABSTRACT ..............................................................................................................................................10 1 INTRODUO ................................................................................................................................11 1.1 1.2 1.3 2 OBJETIVO GERAL...................................................................................................................12 LIMITAES DO TRABALHO...............................................................................................12 ESTRUTURA DO TRABALHO ...............................................................................................13

SOLDAGEM, O SOLDADOR E POSTOS DE TRABALHO......................................................14 2.1 SOLDAGEM..............................................................................................................................14 2.1.1 Processos de soldagem.......................................................................................................14 2.1.2 Robotizao ........................................................................................................................18 2.2 SUBPRODUTOS DOS PROCESSOS DE SOLDAGEM..........................................................20 2.3 PROBLEMAS DE SADE DO SOLDADOR ..........................................................................24 2.4 SEGURANA NA SOLDAGEM..............................................................................................39 2.5 POSTOS DE TRABALHO ........................................................................................................41 2.6 POSTOS DE TRABALHO COM SOLDA ................................................................................43 2.6.1 Equipamentos em um posto de soldagem ...........................................................................47 2.6.2 Organizao do Trabalho...................................................................................................54 2.6.3 Leiaute ................................................................................................................................56

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MATERIAIS E MTODOS ............................................................................................................57 3.1 MTODO...................................................................................................................................58 3.2 COLETA DE DADOS ...............................................................................................................60 3.2.1 Entrevistas ..........................................................................................................................60 3.2.2 Caracterizao e avaliao dos postos de soldagem .........................................................63 3.3 ESTUDO DE CASO 1 EMPRESA 1: JOHN DEERE ............................................................65 3.4 ESTUDO DE CASO 2 EMPRESA 2 ......................................................................................69 3.5 ESTUDO DE CASO 3 EMPRESA 3 ......................................................................................72 3.5.1 Questionrio .......................................................................................................................74 3.5.2 Tratamento estatstico ........................................................................................................76 3.5.3 Teste do questionrio..........................................................................................................76 3.5.4 Aplicao dos questionrios...............................................................................................78 3.6 MEDIES DE FUMOS DE SOLDAGEM E A SADE DOS SOLDADORES DAS TRS EMPRESAS. ..........................................................................................................................................81

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RESULTADOS E DISCUSSO......................................................................................................83 4.1 4.2 4.3 IMPACTO DOS FATORES DE IDENTIFICAO.................................................................89 COMPARAO ENTRE AS TRS EMPRESAS....................................................................94 COMPARAO ENTRE OS POSTOS DE SOLDAGEM .....................................................127

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CONCLUSO ................................................................................................................................131

REFERNCIAS .....................................................................................................................................135 APNDICES...........................................................................................................................................143 A. B. C. D. E. DECLARAES DOS SOLDADORES DAS EMPRESAS 1 E 2 NAS ENTREVISTAS: .............................143 PRIORIZAO DOS ITENS DE DEMANDA LEVANTADOS NAS ENTREVISTAS:.................................158 QUESTIONRIO APLICADO AOS SOLDADORES:...........................................................................165 COMENTRIOS DOS SOLDADORES NO QUESTIONRIO:...............................................................175 ITENS PARA O POSTO DEMANDADOS PELOS SOLDADORES NOS QUESTIONRIOS: .......................186

5 TABELA DOS RESULTADOS DA MANOVA PARA O IMPACTO DOS FATORES DE IDENTIFICAO:187 RESULTADOS DOS TESTES ANOVA, TUKEY E DUNCAN, PARA A COMPARAO DOS ITENS DOS PARMETROS DE PROJETO DE POSTOS DE SOLDAGEM PARA AS TRS EMPRESAS: ...................................188 H. RESULTADOS DOS TESTES ANOVA, TUKEY E DUNCAN PARA A COMPARAO DA PERCEPO DE DESCONFORTO/DOR PARA CADA PARTE DO CORPO DOS SOLDADORES DAS TRS EMPRESAS PARA CADA TIPO DE POSTO DE SOLDAGEM: ..............................................................................................................189 F. G.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Posto de soldagem do tipo Bancada .............................................................. 44 Figura 2 - Posto de soldagem do tipo Gabarito .............................................................. 44 Figura 3 - Posto de soldagem do tipo Produto ............................................................... 44 Figura 4 - Posto de soldagem do tipo Mquina/Rob (BOEKHOLT, 2000) ................. 44 Figura 5 - Quadro com os parmetros de avaliao dos postos de soldagem. ............... 63 Figura 6 - Quadro demonstrativo das unidades de negcios da John Deere Brasil e os produtos ou servios que oferecem (Fonte: KMITA, 2003). ................................. 66 Figura 7 - Grfico com a opinio dos soldadores das trs empresas para os 5 construtos, mais percepo de desconforto/dor. ....................................................................... 87 Figura 8 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com o turno de trabalho....................................................... 89 Figura 9 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com o nvel de experincia. ................................................. 90 Figura 10 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com a faixa etria................................................................. 90 Figura 11 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com o sexo........................................................................... 91 Figura 12 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com a postura adotada. ........................................................ 91 Figura 13 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com o tipo de posto de trabalho........................................... 91 Figura 14 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com o tipo de processo de soldagem. .................................. 92 Figura 15 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com o tempo de trabalho na empresa. ................................. 92 Figura 16 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com a funo........................................................................ 93 Figura 17 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com o setor. ......................................................................... 93 Figura 18 - Quadro com as mdias dos soldadores das trs empresas, para todos os construtos, de acordo com o grau de escolaridade. ................................................ 93 Figura 19 Grfico comparativo das respostas dos soldadores das trs empresas para as questes do Construto Ambiente............................................................................ 95 Figura 20 - Grfico com as mdias das respostas dos soldadores das trs empresas para as questes do Construto Posto. ........................................................................... 103 Figura 21- Grfico com a opinio dos soldadores das Empresas 1 e 2 sobre as mscaras de soldagem. ......................................................................................................... 109 Figura 22 - Grfico com a opinio dos soldadores das trs empresas sobre a mscara de soldagem com sensor............................................................................................ 109 Figura 23 - Grfico com a opinio dos soldadores das Empresas 1 e 2 com os aventais com mangas e sem mangas................................................................................... 110 Figura 24 - Grfico com a opinio dos soldadores das trs empresas sobre o avental sem mangas. ................................................................................................................. 110 Figura 25 - Grfico com a opinio dos soldadores das trs empresas com os sapatos de seguranas e com as perneiras. ............................................................................. 111

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Figura 26 - Grfico com a opinio dos soldadores das Empresas 1 e 2 com os sapatos de segurana, as perneiras e as botas de segurana................................................... 111 Figura 27 - Grfico com a opinio dos soldadores das Empresas 1 e 2 com a touca e o filtro/respirador..................................................................................................... 112 Figura 28 - Grfico com a opinio dos soldadores das trs empresas com as luvas. ... 112 Figura 29 - Grfico com as respostas dos soldadores das trs empresas para as questes de percepo de Desconforto/Dor em diferentes partes do corpo. ....................... 113 Figura 30 - Grfico com as respostas dos soldadores das trs empresas para as questes de Organizao do Trabalho................................................................................. 118 Figura 31 - Grfico com as respostas dos soldadores das trs empresas para as questes do Construto Contedo do Trabalho. ................................................................... 122 Figura 32 - Grfico com as respostas dos soldadores das trs empresas para as questes do Construto Risco. .............................................................................................. 124

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resultados do teste alpha de Cronbach para os questionrios aplicados nas trs empresas. ......................................................................................................... 81 Tabela 2- Dados descritivos da populao das trs empresas participantes da pesquisa. ................................................................................................................................ 86 Tabela 3 - Efeito do impacto da Empresa para cada Construto. .................................... 88 Tabela 4 - Grupo de soldadores da Empresa 3 insatisfeitos com as questes de Ambiente. ............................................................................................................... 96 Tabela 5 - Notas para os postos de soldagem das trs empresas quanto s questes do Construto Ambiente.............................................................................................. 102 Tabela 6 - Notas dos postos de soldagem das trs empresas com relao s questes do Construto Posto. ................................................................................................... 108 Tabela 7 - Mdias de desconforto/dor em cada parte do corpo dos soldadores das trs empresas para cada tipo de posto de trabalho....................................................... 117 Tabela 8 - Notas finais dos postos de soldagem das trs empresas.............................. 126

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Resumo Este trabalho trata de uma pesquisa junto aos soldadores de trs empresas do setor metal-mecnico, em diferentes estgios tecnolgicos, para levantamento e avaliao de sua demanda ergonmica por meio de mtodo participativo, como contribuio para o projeto de seus postos de trabalho. Verificou-se que os problemas mais crticos para estes profissionais so de natureza ambiental, tendo sido questionada a validade dos valores limites estabelecidos de exposio a fumos de soldagem. Alm disso, foi constatada a maior influncia do fator empresa sobre a opinio e satisfao dos soldadores, com exceo da empresa onde est estabelecido um programa de ergonomia: nesta o nvel de exigncia dos soldadores maior, portanto, os fatores pessoais representam maior impacto sobre sua opinio e satisfao. Tambm foi avaliado o impacto do nvel tecnolgico da empresa sobre os soldadores, concluindo-se que os que trabalham com sistemas de produo mais manual tm maior envolvimento com seu trabalho, enquanto os soldadores que participam de sistema mais automatizado no esto, necessariamente, livres de problemas relacionados a questes ambientais. Assim, to importante considerar as questes ambientais desde a concepo de uma fbrica, quanto as questes de organizao do trabalho, pois ambas impactam no bemestar e, conseqentemente, na produtividade de seus trabalhadores. Palavras-chave: posto de trabalho, soldador, ergonomia

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Abstract The focus of this dissertation is the evaluation of the work developed by welders employed in three different metal industries with different technological levels. The research was carried out according to the methods of the participatory ergonomics to contribute to the welders workplace design. The critical problems were found to be of environmental nature, putting into question the validity of the established thresholds values for welding fumes exposition. The company was found to be the major influence on the welders satisfaction and general opinion although this was not the case of the only company which helds an ergonomics program: there, the individual issues impact more strongly the welders opinion and satisfaction. The evaluation of the impact of the companys technological level lead to the conclusion that welders working at manual production systems have more involvement with their work, while welders working at more automated production systems are not necessarily free from environmental problems. Therefore, it is important to consider both the facilitys environmental issues and the work organization issues, as they impact the workforce welfare and, consequently, productivity. Key-words: workplace, welder, ergonomics

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INTRODUO

O trabalho do soldador reconhecido como um trabalho que exige grande esforo e que representa risco para o profissional. at mesmo considerado smbolo de tal tipo de trabalho, vindo a ser, em vrios pases, objeto de pesquisas que buscam identificar os elementos responsveis tanto pelo esforo como pelo risco enfrentados pelos soldadores. Profundamente ligado ao tipo de processo de soldagem empregado, o tipo de risco a que o soldador est submetido definido, geralmente, com base em dados ambientais ou estudos de posturas de trabalho. No Rio Grande do Sul, as Comunicaes de Acidente de Trabalho CATs j foram utilizadas, tambm, como indicador da situao de risco dos soldadores em seu ambiente de trabalho, bem como para apontar suas possveis causas: os acidentes do tipo impacto sofrido que acontece quando um objeto o agente do impacto e atinge o trabalhador contriburam para 40% dos acidentes registrados com soldadores nos anos de 1996 e 1997, levando sugesto de que a desorganizao do posto de trabalho fosse o possvel causador deste tipo de acidente, ou ainda, que pudessem ocorrer em conseqncia de dores de cabea, tonturas e estresse resultantes de intoxicao por fumos de soldagem (GOLDMAN, 2000). Ainda, levando em conta, juntamente com as condies de trabalho encontradas nos postos de soldagem, tambm o contnuo desenvolvimento tecnolgico, pode-se considerar dois pontos de vista ao vislumbrar o futuro da profisso de soldador: um, de que o trabalho manual est-se tornando obsoleto a partir das estratgias de racionalizao da industria atual; o outro, de que o recurso humano se torna cada vez mais importante para a indstria nos novos paradigmas da produo (KADEFORS, 2001). Assim, devido aos riscos envolvendo a profisso do soldador e demanda existente por um projeto de posto de trabalho que contemplasse a segurana e conforto do trabalhador, foi considerado o desenvolvimento de uma pesquisa que buscasse parmetros para solues ergonomicamente adequadas e que pudesse contribuir para que no futuro novos postos sejam projetados corretamente, desde o lanamento do primeiro leiaute da fbrica. O tema desta dissertao a anlise ergonmica dos postos de trabalho dos soldadores de trs empresas instaladas no Rio Grande do Sul, em diferentes estgios tecnolgicos e

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apresentando diferentes tipos de organizao de produo, mas empregando os mesmos processos de solda, e a gerao de parmetros de projeto para postos de trabalho com solda adequados realidade de trabalho dos soldadores. Com base na participao dos trabalhadores estes postos deveriam permitir a realizao de tarefas com maior facilidade, respeitando no s a capacidade de trabalho da pessoa, mas, tambm, os limites humanos, garantindo sua segurana, assim como seu conforto e satisfao no ambiente de trabalho. Para isso, foi necessrio levar em considerao os diversos fatores que compem o ambiente, o posto e o prprio trabalho de solda, inserido no processo produtivo da empresa da qual fazem parte. Os postos analisados pertencem s fbricas da planta de Horizontina, RS, da empresa John Deere Brasil, de uma empresa montadora de nibus e de uma empresa produtora de bens de consumo durveis no setor metal-meccnico, no Rio Grande do Sul.

1.1

OBJETIVO GERAL

Esta dissertao tem como objetivo analisar os postos de soldagem de diferentes empresas que apresentam diferentes nveis tecnolgicos e tipos diferentes de organizao da produo, de forma a gerar insumos para o projeto ergonmico de postos de trabalho com solda. Objetivos secundrios. Comparar as empresas quanto tecnologia, cultura da empresa, organizao da produo, alm da satisfao dos funcionrios das trs empresas com relao ao ambiente, os postos de trabalho, percepo de risco, contedo e organizao do trabalho, percepo de desconforto/dor, bem como avaliar o impacto do posto de trabalho na segurana e satisfao dos soldadores.

1.2

LIMITAES DO TRABALHO

Este trabalho aborda as fases de apreciao e diagnose ergnmica, no incluindo a fase de projetao ergonmica, mas apenas a indicao de parmetros de projeto para os postos de soldagem. O trabalho desenvolvido nesta dissertao esteve restrito, na empresa John Deere, aos postos dos soldadores de dois setores das fbricas da planta de Horizontina, RS. Na empresa montadora de nibus, que ser identificada como Empresa 2, o trabalho referese linha de montagem dos nibus. Na terceira empresa estudada, que ser identificada

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como Empresa 3, a coleta de dados junto aos soldadores deu-se por meio de uma das ferramentas utilizadas nas demais empresas: um questionrio padro aplicado aos soldadores, elaborado a partir de itens de demanda levantados de acordo com o mtodo adotado neste trabalho.

1.3

ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho de pesquisa est estruturado em quatro captulos, alm desta introduo. No captulo 2 consta a reviso bibliogrfica para levantamento do estado da arte sobre o trabalho com solda e postos de trabalho, assim como dos temas afins que foram considerados relevantes ou que possam fornecer dados para propostas de soluo. No captulo 3 descrita a metodologia empregada neste estudo e so apresentadas as empresas onde se deu a pesquisa. No captulo 4 so apresentados os dados coletados na pesquisa, juntamente com a anlise e discusso dos dados coletados com base no levantamento do estado da arte feito no captulo 2. Ento, no captulo 5, so feitos os comentrios finais em uma seo reservada concluso. Ao final do trabalho foram acrescentados os documentos complementares considerados necessrios, em uma seo reservada aos Apndices.

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SOLDAGEM, O SOLDADOR E POSTOS DE TRABALHO

2.1

SOLDAGEM

Tcnica de reunir duas ou mais partes que passam a constituir um todo, assegurando a continuidade do material, assim como suas caractersticas mecnicas e qumicas (MAGRINI, 1999), a soldagem classificada com destaque entre os processos de unio dos materiais, por poder ser amplamente empregada e por envolver grande volume de atividades. A soldagem pode ser realizada: pela fuso de dois materiais em contato ntimo, ou seja, no nvel atmico; pela fuso dos mesmos com a adio de outro material fundido; ou pelo contato desses materiais, seja na fase slida ou semi-slida. Tem grande atuao na rea dos metais e suas ligas, por sua versatilidade e economia, assim como pelas propriedades mecnicas apresentadas por estas unies. Porm, apesar da qualidade da unio, a soldagem provoca, em geral, distoro no material base (MACHADO, 1996). Outros processos empregados na unio dos materiais so a brasagem, onde a unio se d pela adio de um material fundido cuja funo unir os materiais base, que se mantm na fase slida; e a solda branda, realizada pela adio de material fundido, com os materiais base permanecendo na fase slida, porm numa temperatura mais baixa que a utilizada na brasagem. A solda branda empregada principalmente na unio de circuitos eletro-eletrnicos (MACHADO, 1996).

2.1.1

Processos de soldagem

Os diversos processos de soldagem empregam grande concentrao de energia (MAGRINI, 1999) e a origem da energia utilizada que define parcialmente estes processos. Assim, conforme a fonte de energia, os processos classificam-se em sete reas: fase slida, termoqumica, resistncia eltrica, arco no protegido, arco protegido por fluxo fusvel, arco protegido por gs e energia radiante. Alm disso, o processo de soldagem necessita ser correlacionado ao controle da atmosfera que envolve o local da solda (MACHADO, 1996). Existem aproximadamente 100 processos de soldagem e tcnicas conexas reconhecidos pela American Welding Society AWS, incluindo corte trmico e pulverizao trmica.

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Esses processos esto organizados em treze grupos: 1) soldagem a arco eltrico; 2) soldagem em fase slida; 3) soldagem por oxigs; 4) soldagem por resistncia eltrica; 5) brasagem; 6) solda branda; 7) soldagem com alta densidade de energia; 8) outros processos de soldagem; 9) pulverizao trmica; 10) unio por adesivo; 11) corte trmico com oxignio; 12) corte trmico por arco; 13) outros mtodos de corte (MACHADO, 1996). Nas empresas onde esta pesquisa foi desenvolvida, os processos empregados so: MIG (Metal Inert Gas)/MAG (Metal Active Gas), TIG (Tungsten Inert Gas), solda tubular, solda ponto e solda com eletrodo revestido, todos processos de soldagem por fuso. Portanto, estes processos sero descritos mais detalhadamente. Todos os processos descritos tm em comum o consumo de energia eltrica, cuja proximidade faz com que os soldadores estejam expostos a risco de choques eltricos. No grupo da soldagem a arco eltrico (Arc Welding: AW), os processos empregados nas empresas analisadas so: Soldagem a arco com eletrodo tubular (Flux Cored Arc Welding: FCAW), processo que apresenta o consumvel alimentado continuamente e contendo um fluxo fusvel no seu interior, o que garante a execuo das reaes pirometalrgicas, benficas ao processo, sem impedir a soldagem em posies diferentes da horizontal e vertical, alm da reduo da contaminao do mesmo pela umidade e dejetos do ambiente. A proteo da poa de fuso tambm pode ser feita por gs, como no processo MIG/MAG (MACHADO, 1996). Por ser um processo de arco aberto, em que o metal do consumvel transferido atravs do arco para ser depositado na junta, a soldagem com eletrodo tubular FCAW est entre os processos que produzem grande quantidade de fumo. Os fumos emitidos por este processo normalmente contm quantidades significativas de cromo hexavalente CrVI, que exige medidas de controle mais rgidas (LUCAS e CARTER, 1999). Existem estudos, porm, que buscam a reduo na emisso de fumos com modificao na especificao tanto da composio do fluxo fusvel, quando do gs de proteo (HARRIS e CASTNER, 2002). Outra desvantagem apontada para este processo a de produzir muitas fascas (ENGBLOM e FALCK, 1992). Soldagem a arco com proteo por gs e eletrodo consumvel (Gas Metal Welding GMAW), tendo como variaes a proteo por gs inerte, cujo processo conhecido

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como MIG (Metal Inert Gas); ou a proteo por gs ativo (oxidante), cujo processo conhecido como MAG (Metal Active Gas). Neste caso, a soldagem realizada por um arco eltrico, estabelecido entre um arame nu, continuamente alimentado, e a pea. A proteo do mesmo e da poa de fuso realizada por gs que flui pelo bocal, tendo o arame no centro do fluxo. Geralmente, os gases utilizados so inertes, como argnio e hlio, ou do tipo oxidante, tambm denominado ativo, como CO2, ou argnio+CO2, ou argnio+O2, ou combinao destes trs gases. A operao semi-automtica ou automtica, podendo ser soldadas ligas ferrosas e no-ferrosas, sendo este processo considerado adequado para robotizao (MACHADO, 1996). Assim como o FCAW, a solda MIG/MAG tambm um processo de arco aberto com transferncia de metal atravs do arco, estando, portanto, entre os processos que produzem grande quantidade de fumo. Os fumos gerados por estes processos normalmente contm grandes concentraes do metal sendo depositado (LUCAS e CARTER, 1999). Alm da escolha do eletrodo e da composio do gs de proteo, outros parmetros de soldagem so a voltagem, a amperagem e o tipo de corrente eltrica, que pode ser contnua ou pulsada. A corrente pulsada oferece vantagens como a reduo de fumos (HARRIS e CASTNER, 2002) e de fascas, maior produtividade em certas aplicaes e menor porosidade do cordo de solda, e usada, principalmente para soldagem de alumnio e ao inoxidvel (ENGBLOM e FALCK, 1992). Soldagem a arco com proteo por gs e eletrodo no consumvel (Gas Tungsten Arc Welding GTAW), que conhecida como TIG (Tungsten Inert Gas). Este processo geralmente se destina realizao de soldas sobre peas de pequena espessura, no entanto, tambm empregado sobre peas espessas quando for essencial a qualidade. O arco eltrico formado entre um eletrodo no consumvel (de tungstnio ou outros compostos com este elemento) e a pea. O eletrodo e a poa de fuso so protegidos por gs, geralmente inerte, que flui num bocal, envolvendo o eletrodo. O arco atua, portanto, somente como fonte de calor, sendo possvel a adio manual de metal (no formato de varetas) ou automaticamente (na forma de arame fino) (MACHADO, 1996). o nico processo de arco aberto que no transfere material atravs do arco, resultando em menor produo de fumos (LUCAS e CARTER, 1999). No entanto, a produo de oznio maior, principalmente na soldagem de alumnio (HEWITT, 1999). A alimentao eltrica da solda TIG emprega energia eltrica de alta freqncia para iniciar e estabilizar o arco. Porm, por estar em um nvel muito baixo de corrente, no

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oferece risco de choque eltrico. O perigo que este tipo de energia oferece de causar queimaduras profundas se atingir a pele, pois pode chegar a furar as luvas de proteo. A energia de alta freqncia tambm gera emisses eletromagnticas, que podem interferir com outros equipamentos (LUCAS e CARTER, 1999). Soldagem a arco com eletrodo revestido (Shielded Metal Arc Welding: SMAW). Grande responsvel pela expanso da soldagem, este processo foi o primeiro a obter aceitao como mtodo produtivo e de alta qualidade. O consumvel (no caso, o eletrodo revestido) consiste num arame (alma) revestido com uma massa formada de diversos minrios e compostos qumicos. Este revestimento permite que o arco se mantenha, protege o metal fundido da atmosfera, estabelece as caractersticas operacionais do consumvel e prov vrias propriedades mecnico-metalrgicas do metal de solda. Trata-se de um processo manual em que o soldador inicia a operao estabelecendo um curto-circuito entre a superfcie da pea e o eletrodo, afastando-o logo em seguida e formando, assim, o arco e a poa de fuso. Este processo pode ser usado em praticamente todas as ligas ferrosas e muitas no-ferrosas, sendo inconveniente para metais altamente reativos, ou de muito baixo ponto de fuso (MACHADO, 1996). Por ser um processo manual, tambm chamado de Manual Metal Arc MMA por alguns autores (ENGBLOM e FALCK, 1992; HEWITT, 1999), e grande gerador de fumo, como os demais processos de arco aberto com transferncia de metal atravs do arco (LUCAS e CARTER, 1999). Todos os processos por arco eltrico emitem, alm de luz visvel, radiao infravermelha e ultravioleta U.V., que responsvel por transformar em oznio o oxignio presente na atmosfera ou no gs de proteo. Geralmente, os processos que mais produzem fumos so os que menos liberam oznio no ambiente, pois os fumos inibem a formao do gs (HEWITT, 1999). No grupo da soldagem por resistncia eltrica (Resistance Welding), o processo empregado nas empresas onde foi desenvolvido este trabalho o de soldagem por resistncia a ponto (Resistance Spot Welding RSW). Este mtodo emprega o calor produzido pela passagem da corrente eltrica em um condutor. A solda realizada entre peas que geralmente esto superpostas por meio da fuso local provocada pela corrente eltrica entre dois eletrodos (fabricados com ligas de cobre), que pressionam as superfcies das mesmas. Este processo bastante aplicado na fabricao de peas com

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chapas relativamente finas (MACHADO, 1996). A soldagem a ponto pode produzir fumos se houver resduos ou leo sobre as peas sendo soldadas e, se a mquina no estiver regulada corretamente, so lanadas fascas que podem atingir o soldador ou demais indivduos presentes no posto de trabalho (CORLETT e BISHOP, 1978). Estudo feito em 1982 encontrou, para mquinas de solda ponto (50 Hz, 15 a 106 kA), fluxos magnticos com densidades maiores que 10 mT (miliTesla) em distncias acima de 1 m (LVSUND, OBERG e NILSSON, 1982).

2.1.2

Robotizao

A robotizao de alguns processos de soldagem, como solda ponto e MIG/MAG, vem sendo cada vez mais empregada, principalmente nos pases mais desenvolvidos. Porm, a soldagem manual permanece uma atividade importante, mesmo em indstrias que apresentam alto ndice de automao e robotizao, tecnologias que requerem operadores com conhecimento tanto em soldagem, como em programao e planejamento da produo (KADEFORS, 1999). Alm de trabalhadores altamente especializados, a robotizao tambm exige que os produtos sejam projetados de maneira a permitir o acesso do rob s juntas a serem soldadas, bem como que seja feito o planejamento cuidadoso do posicionamento das partes a serem soldadas. Assim, interessante que o emprego deste tipo de tecnologia esteja contemplado na estratgia global da empresa, desde o projeto do produto at sua inspeo (PANISSET, 1986). Do ponto de vista de organizao da produo, so vrias as vantagens da robotizao, sendo a simplificao dos detalhes de projeto considerada uma das questes que mais influenciam o custo final de produo. A reduo dos nveis hierrquicos pela diminuio do nmero de empregados, simplificando o gerenciamento de pessoal, considerada como outro ponto positivo da automao dos processos de soldagem, alm disso, a produtividade do rob menos sensvel posio de soldagem, diminuindo a necessidade de contornar a pea sendo soldada (BOEKHOLT, 1999). Comparando-se os custos das diferentes tecnologias, se o custo de implantao de um rob for o mesmo que a instalao de um posto de soldagem e contratao de soldadores, em longo prazo o rob pode ser vantajoso, pois ter maior produtividade

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sendo necessria uma nica pessoa para aliment-lo (SPENCER, 2001). No entanto, preciso ter cuidado na implantao e, principalmente, na troca de tecnologia: se ela for feita simplesmente com o intuito de economizar em custos trabalhistas imediatos, pode decepcionar, pois os custos auxiliares desta implantao podem exceder a economia feita com os custos trabalhistas. Para se obter sucesso na implantao de tal tecnologia, necessrio considerar que questo importante ter como objetivo as mudanas propostas melhorarem a capacidade produtiva dos elementos humanos (BOEKHOLT, 2000; BOEKHOLT, 1999). Apesar da inteno inicial da indstria de ter o trabalho humano totalmente substitudo pela produo automatizada, o que tem sido constatado que a automao no substitui completamente a necessidade de um crebro no cho de fbrica. Assim, o funcionamento do sistema deve incluir o fator humano como parte integrante do sistema de produo. Na nova tecnologia, o equipamento automatizado a ferramenta do operador (BOEKHOLT, 2000). Para o trabalhador, uma das vantagens do emprego de robs o fato de ele ser afastado do ambiente de soldagem, ou seja, da exposio a fumos e demais partculas, bem como dos gases e radiao emitidos, alm do rudo gerado por alguns equipamentos e processos, o que faz com que esteja liberado do uso de equipamentos desconfortveis de proteo EPIs. Nos pases altamente industrializados, com economia forte e estvel, a oferta de profissionais qualificados de soldagem tem-se reduzido por a profisso de soldador ser considerada de baixo status, para a qual so apresentados ambientes pouco saudveis, especialmente pelas geraes mais jovens. Assim, as empresas destes pases tm tido que lidar com a dificuldade de recrutamento e manuteno de profissionais bem preparados (KADEFORS, 1999; BOEKHOLT, 2000; BOEKHOLT, 1999). Neste contexto, alm de evitar que as pessoas sejam submetidas a um trabalho pesado e que oferece risco sade, a robotizao permite s empresas manter sua produo em um mercado com dificuldade de encontrar e conservar profissionais qualificados. Existe, porm, o receio do desemprego que a robotizao dos processos de soldagem possa causar. No Brasil este temor aumenta, como nos demais pases em desenvolvimento, pois o grau de escolaridade da populao ainda baixo, dificilmente permitindo que um trabalhador tenha acesso aos conhecimentos necessrios para a programao de um rob. E o desemprego, para aqueles profissionais que no forem

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capazes de se adaptar nova tecnologia, tem efeito no apenas econmico: ele tambm pode prejudicar a sade dos trabalhadores, uma vez que associado com taxas mais altas de doenas (McMILLAN, 1999). Pode-se considerar dois pontos de vista sobre o futuro da profisso de soldador: um, de que o trabalho manual est-se tornando obsoleto a partir das estratgias de racionalizao da industrial atual; o outro, de que o recurso humano se torna cada vez mais importante para a indstria nos novos paradigmas da produo (KADEFORS, 2001).

2.2

SUBPRODUTOS DOS PROCESSOS DE SOLDAGEM

Se os produtos da soldagem so a unio das peas e o produto acabado, os subprodutos da soldagem so os resduos ou emisses, tanto de energia como de partculas e gases, que representam desperdcio energtico e de material, e que contaminam o ambiente, prejudicando a sade dos trabalhadores e, mesmo, da populao. Os processos de soldagem podem produzir elementos como fumos, gases, partculas e radiao, alm de rudo. E a emisso de cada elemento, bem como sua quantidade, depende de vrios fatores: material base, revestimento sobre o material base, processo de soldagem, composio do eletrodo, revestimento do eletrodo, composio do gs de proteo, tipo de alimentao da mquina de soldagem, voltagem e amperagem, ou seja, os parmetros de soldagem. Geralmente o ponto de partida para a escolha de um determinado processo de soldagem a avaliao da relao entre a qualidade requerida e o custo de produo. Por isso, a primeira escolha normalmente recai sobre os processos de alta produtividade (LUCAS e CARTER, 1999). No entanto, outros fatores devem ser levados em conta, como emisso de resduos, consumo de energia e risco sade do trabalhador. Assim, considerando os principais subprodutos da soldagem: a) Fumos. As partculas slidas que so produzidas em conseqncia da vaporizao e derretimento do eletrodo consumvel, apresentando tamanhos reduzidos, entre 0,01 e 1,0 mcron, compem os fumos de soldagem (LYTTLE, 1999). Parte da poluio ambiental provocada pelo material base, principalmente quando coberto por impurezas, como resduos de leo, e possveis revestimentos, como tintas, leo ou camadas de zinco, no

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caso de recobrimento galvanizado, que aumentam significativamente a emisso de fumos durante a soldagem (GAREIS, 1994; HEWITT, 1999). Porm, normalmente, os consumveis de soldagem so os responsveis pela maior parte dos fumos gerados durante a soldagem: 85-90% (LUCAS e CARTER, 1999; LYTTLE, 1999; HEWITT, 1999). Deve ser considerado, ainda, que a avaliao do volume dos fumos lanados no ambiente no deve ser visual, pois as partculas respirveis que compem os fumos de soldagem tm, na sua maioria, tamanho inferior ao que o olho humano pode perceber (AIHA, 1984a). A composio dos fumos de soldagem vem sendo analisada em diversas pesquisas, entre elas as supracitadas Lucas e Carter (1999), Lyttle (1999) e Hewitt (1999). Alm dos elementos presentes no metal base ou no consumvel, h, tambm, elementos que so formados durante o processo de soldagem, por reao dos componentes do processo (LYTTLE, 1999). Entre os elementos que tm sido associados aos problemas de sade dos soldadores esto o zinco, o nquel, o mangans, o cobre, o cdmio e o cromo. O zinco, o mangans e o cobre podem causar febre por fumos metlicos metal fume fever. Efeitos agudos da exposio a cobre tambm incluem irritao do nariz e da garganta e nusea. A exposio crnica a mangans pode causar problemas no sistema nervoso central. Os efeitos agudos da exposio a nquel incluem irritao nos olhos, nariz e garganta. A exposio ao cdmio pode causar efeitos agudos como irritao pulmonar grave e, mais tarde, edema pulmonar, e efeitos crnicos podem incluir enfisema e danos nos rins (AIHA, 1984b). O cromo hexavalente CrVI associado ocorrncia de cncer e gerado na soldagem de ao inoxidvel e, principalmente, no uso de consumveis compostos de ao inoxidvel (MORTAZAVI, 1997). Os problemas de sade associados aos fumos de soldagem so, na sua maioria, de curto prazo, como irritao do trato respiratrio ou febre por fumos metlicos metal fume fever. No entanto, tambm podem ocorrer efeitos de longo prazo, como siderose (LUCAS e CARTER, 1999). O sistema de proteo geralmente empregado a diluio dos fumos atravs de ventiladores, ou o uso de mscaras com filtros. Alguns poucos postos de trabalho utilizam ventilao de exausto (GAREIS, 1994).

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b) Gases. Os gases liberados durante o processo de soldagem podem ser tanto os gases utilizados para proteger a poa de soldagem, como gerados por influncia do processo de soldagem sobre a atmosfera ou os gases de proteo. Um dos gases produzidos durante os processos de soldagem o oznio, uma forma instvel de oxignio, produzido pela influncia da radiao ultravioleta. Sua presena mais relevante nos processos que utilizam gases de proteo, como MIG/MAG e TIG (GAREIS, 1994). Outros gases formados pelos processos de soldagem so os xidos de nitrognio e monxido de carbono CO, que pode causar falta de coordenao e confuso mental. Este gs pode ser formado em conseqncia do uso de gs de proteo, no caso do processo MAG, que contenha dixido de carbono CO2 (AIHA,1984b). c) Partculas. Alguns processos de acabamento que ocorrem muitas vezes no posto de soldagem podem produzir, tambm, partculas slidas de tamanho maior que o respirvel. Estas partculas maiores so produzidas, geralmente, na preparao e finalizao de trabalhos de soldagem, quando tambm so usados equipamentos como esmerilhadeiras, rebolos e outros abrasivos. As partculas produzidas por este tipo de equipamento podem atingir os olhos ou produzir irritao na pele (GAREIS, 1994). d) Radiao. A maioria dos processos de soldagem, especialmente os que utilizam arco eltrico, produzem radiao visvel e invisvel. Outros processos que podem produzir radiao so os de corte, como corte oxi-acetilnico, plasma e laser, entre outros (GAREIS, 1994). So produzidas: radiao ultravioleta, infravermelha e, em alguns processos, raios-X. No caso da radiao no-ionizante, a proteo normalmente empregada o uso de roupas de trabalho que cubram braos, pernas e o peito, avental e luvas de couro, creme para a pele e, no caso de radiao ionizante, utilizado avental com camada de chumbo. A radiao visvel pode causar ofuscamento e levar perda da viso, portanto recomendado o uso de mscaras com visores que apresentam filtros, havendo um filtro adequado luminosidade produzida por cada processo de soldagem. O uso da proteo adequada, segundo Scheel (2001), alm de oferecer a proteo, pode, inclusive, aumentar a produtividade do trabalhador. No entanto, muitos usurios deixam de usar a mscara por acharem incmoda ou por quererem economizar o tempo necessrio para ergu-la, para inspecionar o trabalho, e baix-la corretamente, levando ocorrncia de danos aos olhos e face (OLSSON, 2001).

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e) Emisses Eletromagnticas. Apesar de no terem sido comprovados quais os efeitos das emisses eletromagnticas sobre o organismo, recomendado que o trabalhador no se exponha a este tipo de emisso. Os campos eletromagnticos podem ser gerados por equipamentos eltricos de soldagem e podem afetar outros equipamentos, como marcapassos (IIW, 1999). No entanto, campos eltricos e magnticos de freqncias extremamente baixas (ELF, na sigla em ingls) e freqncias muito baixas (VLF, na sigla em ingls) representam uma faixa de freqncias de 0 a 300 kHz, na qual os comprimentos de onda variam do infinito a 10 km: portanto, os campos eltrico e magntico agem independentemente e devem ser tratados separadamente. Tanto os campos eltricos como os magnticos podem agir sobre as pessoas induzindo campos eltricos e correntes dentro do corpo. Os efeitos desta exposio podem ser percebidos de acordo com sua intensidade podendo tornar-se irritantes (REPACHOLI, 1998). Alm disso, sensaes de tremor visual podem ser induzidas por exposio a campos magnticos pouco intensos ou correntes eltricas diretamente aplicadas sobre a cabea, o que sugere que as funes mais sutis do sistema nervoso central, como raciocnio e memria, possam ser afetadas por correntes com densidades acima de 10 mA/m2 (NRPB, 19931 apud REPACHOLI, 1998). Algumas reas da interao destes campos com organismos vivos ainda necessitam pesquisas, pois o conhecimento sobre elas ainda insuficiente, como, por exemplo, na mudana dos crculos circadianos induzidos em animais pela exposio a campos eltricos e magnticos de freqncia extremamente baixa (ELF), ou nos possveis efeitos deste tipo de campo magntico no processo de desenvolvimento de carcinognese. importante considerar, neste contexto, que roupas de proteo no enfraquecem a influncia do campo magntico (REPACHOLI, 1998). O que se recomenda que o trabalhador evite ficar cercado por cabos eltricos, mantendo-os agrupados e to afastados quanto possvel, bem como se manter afastado do equipamento gerador do campo (IIW, 1999). f) Emisses ambientais. Se os gases e fumos lanados no ambiente de soldagem representam um risco para o soldador e os demais trabalhadores que compartilham o mesmo local de trabalho, estes resduos, quando lanados na atmosfera sem tratamento, passam a afetar o resto da populao. Estes resduos, quando na atmosfera, estaro bastante diludos, dificilmente representando risco semelhante para o resto da populao1

NATIONAL RADIOLOGICAL PROTECTION BOARD NRPB. Restrictions On Human Exposure to Static and Time Varying Electromagnetic Fields and Radiations. 1993. Didcot, UK: NRPB.

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que para os trabalhadores no ambiente de trabalho. Porm, mesmo que o efeito acumulado com os outros resduos emitidos por outras indstrias e meios de transporte no chegue a representar risco para a populao e o meio ambiente, importante considerar que a fabricao dos elementos e equipamentos utilizados na indstria de soldagem tambm libera resduos, alm de consumir energia. Assim, tambm pode ser considerado como subproduto dos processos de soldagem o conjunto de emisses e resduos provenientes da fabricao dos equipamentos e consumveis (PEKKARI, 1999). O consumo de energia dos processos de solda, bem como da fabricao da matria-prima utilizada na soldagem, tambm questo que representa impacto ambiental, principalmente na busca, de cada vez mais pases, por formas sustentveis de produo. A busca por equipamentos e processos que consumam menos energia j vem mobilizando governos, fabricantes e empresas em alguns pases e sua escolha por parte dos responsveis pela determinao dos parmetros de soldagem e compra dos equipamentos depende, no s de legislao, da escassez de recursos e da necessidade de reduo de custos, mas da conscientizao dos responsveis por esta escolha. Os esforos que vm sendo feitos na reciclagem de produtos visam a preservao dos recursos naturais e afetam, tambm, a indstria da soldagem, pois so fatores que se esto tornando determinantes na especificao do material que conforma os produtos. Neste caso, alm do material que conforma o produto, tambm poupada energia na fabricao da matria-prima e reduzidas as emisses de efluentes e de resduos na atmosfera (ENGBLOM e FALCK, 1992). Alm disso, este trabalho depende, tambm, da conscientizao dos trabalhadores, enquanto envolvidos no processo e enquanto componentes da sociedade (PEKKARI, 1999).

2.3

PROBLEMAS DE SADE DO SOLDADOR

Entre as pesquisas desenvolvidas na rea de sade ocupacional, as que incluem ou dizem respeito aos soldadores apontam, entre os problemas de sade relacionados ao trabalho: a) Distrbios Musculoesquelticos; b) Problemas Respiratrios; c) Efeitos da radiao UV;

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d) Queimaduras por fascas e respingos de solda; e) Rudo; f) Vibrao; g) Acidentes; h) Viso. Destes, os mais intensamente investigados tm sido os problemas relacionados aos sistemas musculoesqueltico e respiratrio. a) Problemas musculoesquelticos. A ocorrncia de distrbios musculoesquelticos tem sido associada ao trabalho de soldagem a partir das queixas freqentes dos trabalhadores aos profissionais de sade (HERBERTS e KADEFORS, 1976; WIKER, CHAFFIN e LANGOLF, 1989), bem como pelos dados encontrados em estudos epidemiolgicos que investigavam ndices de afastamento e morte de trabalhadores por problemas mdicos (McMILLAN, 1979; WANDERS et al., 1992). Alm disso, este tipo de distrbio foi apontado, em estudo epidemiolgico que abrangeu 40 anos de trabalho de soldadores e outros profissionais de um estaleiro, como responsvel pela aposentadoria precoce de aproximadamente 20% dos trabalhadores, tanto entre os soldadores como entre os outros profissionais que compunham os grupos de controle (WANDERS et al., 1992). O custo das doenas ocupacionais, quando comparado com o custo das intervenes nos ambientes de trabalho, geralmente minimizado (KADEFORS, PETERSEN e HERBERTS, 1976), pois as empresas normalmente computam somente o custo dos cuidados mdicos necessrios ao atendimento imediato do trabalhador. Porm, os custos indiretos das doenas ocupacionais, como o custo do afastamento do trabalhador e o custo das aposentadorias por invalidez, deveriam ser includos nesta avaliao, pois podem representar somas importantes nos gastos com sade da sociedade como um todo. Exemplos disso so: o impacto dos gastos em conseqncia da dor lombar sobre o PIB da Sucia, de 1,8 bilho de coroas (ANDERSSON, 1979), equivalente a US$420 milhes, em valores da poca; as perdas anuais de produo da indstria britnica em conseqncia de distrbios musculoesquelticos associados ao trabalho, atualmente

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estimadas em 3,7 bilhes, equivalente a US$ 5,98 bilhes, enquanto os gastos com compensao dos trabalhadores por danos em conseqncia de trabalho repetitivo atingiriam valores anuais de 3 bilhes, equivalente a US$ 4,83 bilhes (RCHE, 2003); ou o gasto dos EUA com problemas musculoesquelticos, que at a dcada de 1980, somaram aproximadamente, US$20 bilhes (KELSEY et al., 1979), tendo sido gastos, somente no ano de 1999, US$ 2 bilhes com custos de compensao a trabalhadores (NIOSH, 1999), os quais passaram a ser estimados entre US$ 13 e US$ 20 bilhes anuais em 2003, sendo que a estimativa dos custos totais para a economia da nao teria atingido somas entre US$ 45 e US$54 bilhes (AFGE, 2003). Por isso, diversas pesquisas, principalmente nestes pases, tm-se dedicado investigao das causas deste tipo de problema que afeta a sade dos trabalhadores. No caso dos soldadores, tm sido investigados, alm dos sintomas subjetivos, como as queixas de dor e desconforto, tambm os sinais objetivos, ou seja, os sintomas clnicos de problemas como fadiga muscular localizada, tendinite e bursite, alm da reduo da amplitude de movimento dos ombros e a ocorrncia de atrofia muscular (TRNER et al., 1991). Tambm no Brasil, os soldadores j foram alvo de ateno com relao aos distrbios musculoesquelticos (IRIE, 2003), no entanto, os nicos dados encontrados sobre a situao do soldador brasileiro, so os apresentados no levantamento das CATs feito por Goldman (2000), que aponta as Leses por Esforo Repetitivo LER como responsveis por 40% das doenas ocupacionais dos soldadores no Rio Grande do Sul. As posturas que o soldador adota durante a execuo de suas tarefas tpicas so basicamente estticas, com movimentos curtos, sendo que ele pode adotar uma determinada posio por meia hora ou at por um dia inteiro, o que representa um fator de estresse fsico, j evidenciado em observaes de campo relatadas por Thornton e Stares2 (1994 apud GOLDMAN, 2000). A maioria dos estudos sobre os problemas musculoesquelticos dos soldadores se concentra nos problemas relacionados ao complexo articular do ombro, por este receber grande parte da carga resultante tanto da postura como da manuteno de ferramenta pela mo, com conseqente aumento do momento sobre o ombro. Alguns estudos tm mostrado que os soldadores tm alta prevalncia 66% (TRNER et al., 1991) de sintomas musculoesquelticos e sinaisTHORNTON, M.; STARES, I. Analysis of Particulate Fume Generation Rates from Gas Metal Arc Welding. Welding Rewiew International v. 13, n. 4, Nov. 1994. P. 363 365.2

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clnicos devido, primeiramente, carga esttica sobre os ombros (JARVHOLM et al., 1991; TRNER et al., 1991), pescoo e regio lombar (TRNER et al., 1991). Assim, o trabalho dos soldadores descrito como sendo um trabalho esttico com posturas tpicas caracterizadas por padres especficos de movimentos do complexo articular do ombro (HERBERTS e KADEFORS, 1976; p. 382). As variaes na postura de trabalho dos soldadores foram estudadas por diferentes pesquisadores que investigaram seu impacto na carga de trabalho de msculos e articulaes. Posturas comuns de serem adotadas pelos soldadores, alm do trabalho em p e sentado, so: de joelhos, em decbito dorsal ou ventral, ou de ccoras, e cada uma destas posturas vai definir os grupos musculares que sero mais sobrecarregados, bem como o tempo durante o qual cada postura mantida. Para cada postura geral do corpo, existem variaes no posicionamento dos braos e das mos, para as quais a tarefa do soldador necessita que sua posio e atitude no espao sejam de alta preciso (HERBERTS, KADEFORS e BROMAN, 1980). Investigada em diversas pesquisas (CHAFFIN, 1973; KADEFORS, PETERSEN e HERBERTS, 1976; HERBERTS, KADEFORS e BROMAN, 1980; WIKER, CHAFFIN e LANGOLF, 1989; LOWE et al., 2001), a Fadiga Muscular Localizada (LMF, na sigla em ingls) caracterizada como a fadiga experienciada em msculos regionais em resposta a estresse postural ou por exerccios focados (CHAFFIN, 1973; WIKER, CHAFFIN e LANGOLF, 1989), e, alm de manifestar-se como dor, apresenta, tambm, decrscimos motores que devem ser antecipados (CHAFFIN, 1973). Apesar de serem encontrados sinais de fadiga muscular localizada na musculatura do ombro em vrias posies da mo nvel do ombro, sobre-cabea e em alguns casos de trabalho no nvel da cintura (HERBERTS, KADEFORS e BROMAN, 1980), a maioria dos resultados apontam que os problemas mais crticos se encontram entre os soldadores que desempenham atividades de soldagem sobre-cabea. Estes resultados levaram os soldadores a serem eleitos como os representantes deste tipo de trabalho em alguns estudos epidemiolgicos (VIIKARI-JUNTURA, 1999). Para este tipo de trabalho, foram encontrados, mesmo entre soldadores experientes, sinais de fadiga muscular localizada, apontando para o fato de que, apesar de os soldadores mais experientes se adaptarem mais rapidamente que os soldadores menos experientes a este tipo de trabalho, esta adaptao no completa, significando que experincia e treinamento

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neste tipo de trabalho no acarretam imunidade (KADEFORS, PETERSEN e HERBERTS, 1976; p. 556). O trabalho sobre-cabea o trabalho executado com os braos erguidos acima do nvel da cabea, onde os soldadores tm de soldar ou fazer reparos na estrutura do produto ou no teto de contineres ou ambientes, por exemplo, em navios. A soldagem sobre-cabea empregada, na maioria das vezes, em estaleiros, mas freqentemente encontrada em locais onde so soldadas estruturas maiores, como nibus. Na maioria dos casos, o trabalho feito com o uso de processos que empregam uma tocha de soldagem cuja alimentao feita por cabos e rolo de arame (no caso do eletrodo alimentado continuamente) que contribuem para o peso da ferramenta. A escolha do processo e o dimensionamento destes cabos, bem como da prpria tocha de soldagem, depende de especificao relativa aos parmetros de soldagem. No entanto, com uma ferramenta na mo, executando uma tarefa acima do nvel dos ombros, o trabalhador vai aumentar a carga na articulao do ombro, que no foi construda para suportar carga alm de seu prprio peso para esta posio, j que a principal funo do ombro a de, com sua extrema mobilidade, posicionar corretamente a mo, seu rgo executor, para que possa agarrar os objetos (SIGHOLM et al., 1984). Em estudo comparativo do efeito do peso da ferramenta na carga sobre o ombro de soldadores trabalhando em espaos confinados, dois processos de soldagem foram comparados e a concluso foi de que o tipo de processo influenciava a carga no ombro devido, principalmente, ao tipo de eletrodo fornecido. Enquanto no processo de soldagem com eletrodo revestido (SMAW Shielded Metal Arc Welding) o eletrodo tinha de ser substitudo medida que era consumido, no processo de soldagem com eletrodo tubular (FCAW Flux-Cored Arc Welding), a ferramenta se matinha com peso constante, pois o eletrodo era alimentado continuamente, reduzindo o momento sobre o ombro do soldador, resultando em menor fadiga muscular (LOWE et al., 2001). Foi estabelecido sobre o posicionamento da mo, em estudo sobre a carga no ombro, que: 1) o grau de elevao do brao o parmetro mais importante para determinar a carga na musculatura dos ombros; 2) a dependncia da carga da mo maior para estabilizar do que para elevar os msculos e 3) a rotao do brao e flexo do cotovelo so de pouca importncia para a carga da musculatura do ombro (SIGHOLM et al., 1984). Porm, h estudo que afirma que a posio do cotovelo afeta a carga no ombro

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no trabalho sobre-cabea, sugerindo que, na impossibilidade de impedir o trabalho sobre-cabea, este deva ser orientado a ser executado com abduo de 45, preferencialmente abduo em 90 ou 0 (HERBERTS, KADEFORS e BROMAN, 1980). Juntamente com a experincia, tambm a idade dos soldadores foi considerada nas pesquisas sobre os efeitos do trabalho sobre o sistema musculoesqueltico destes trabalhadores. Apesar de queixas de dor no ombro j terem sido associadas idade do trabalhador, caracterstica dos trabalhadores mais velhos (HERBERTS e KADEFORS, 1976), no so, no entanto, um fenmeno exclusivamente dependente da idade, podendo aparecer, tambm, em soldadores mais jovens (HERBERTS et al., 1981; TORELL, SANDEN e JARVHOLM, 1988). A principal diferena reside no fato de que, nos soldadores mais novos, o relaxamento e a troca de trabalho podem resultar na regresso de sintomas que, nos mais velhos, tendem a se tornar crnicos (HERBERTS e KADEFORS, 1976). Assim, alm de a experincia do soldador no lhe garantir imunidade contra a fadiga muscular localizada (KADEFORS, PETERSEN e HERBERTS, 1976), deve-se considerar, ainda, que o efeito cumulativo da fadiga pode afetar a resposta do organismo ao trabalho continuado em posturas inadequadas (CHAFFIN, 1973; KADEFORS, PETERSEN e HERBERTS, 1976; HERBERTS e KADEFORS, 1976). Alguns estudos experimentais e epidemiolgicos fornecem evidncias da associao entre trabalho e distrbios musculares, dos quais possvel considerar alguns fatores de risco relacionados ao trabalho: 1) Trabalho fsico pesado; 2) Manejo de carga; 3) Posturas elevadas do brao; 4) Posturas do tronco fora da neutralidade; 5) Posturas estticas; 6) Trabalho repetitivo; 7) Ausncia de pausas; 8) Vibrao; 9) Fluxo de ar que possa causar desconforto no pescoo e ombros; e 10) Fatores de organizao do trabalho. Os fatores de organizao do trabalho tambm devem ser considerados como possveis influenciadores no risco de distrbios no ombro influenciando a intensidade, freqncia ou durao de fatores de carga fsica, pois eles podem tambm afetar o relato dos distrbios ou a recuperao dos trabalhadores (VIIKARI-JUNTURA, 1999).

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b) Problemas respiratrios. As pesquisas sobre problemas respiratrios relacionados ao trabalho com solda tm sido desenvolvidas em vrios pases, como Estados Unidos, Holanda, Dinamarca, Rssia, Noruega, Ir, Canad e no Reino Unido. A principal busca destas pesquisas tem sido para identificar problemas que causem danos irreversveis aos trabalhadores, que resultem em invalidez e, mesmo, morte. Alm da mortalidade dos soldadores (BEAUMONT e WEISS, 1980; POLEDNAK, 1981; McMILLAN e PETHYBRIDGE, 1983; NEWHOUSE, OAKES e WOOLLEY, 1985), morbidade e absentesmo (McMILLAN e MOLYNEUX, 1981; WANDERS et al., 1992; FAWER, WARD GARDNER e OAKES, 1982), problemas especficos tm sido pesquisados, como cncer (BEAUMONT e WEISS, 1981; MELKILD et al., 1989), pneumonia (COLLEN, 1946; COGGON et al., 1994) e bronquite (COTES et al., 1989; AKBARKHANZADEH, 1980), associados exposio dos soldadores a elementos suspeitos de causarem danos sade, como xidos de nitrognio, oznio, vrias composies de ps metlicos e, at algum tempo atrs, asbestos. Os diferentes elementos presentes ou liberados durante a soldagem podem representar risco, tanto para a sade dos trabalhadores que lidam diretamente com o processo, como os que trabalham na vizinhana dos postos de soldagem. Estes elementos so variveis e dependem de diversos fatores, como o tipo de processo empregado na soldagem, o tipo e composio do material sendo soldado, a existncia de revestimento sobre este material, alm do tipo deste revestimento. Tambm podem ser encontrados elementos qumicos, utilizados para remover este revestimento, que estejam depositados sobre o material sendo soldado, ou mesmo presentes no ambiente de soldagem. Exemplo disto pode ser a presena de elementos volteis para remover leo de proteo de peas metlicas contra corroso, que, alm de estar depositados sobre as peas sendo soldadas, podem estar estocados prximo aos postos de soldagem ou serem trazidos por correntes de ar no processo de ventilao do ambiente (CHALLEN, 19623 apud DOIG; CHALLEN, 1964). Considerando o processo de soldagem adotado, podem ser fatores variantes: o gs de proteo da poa de soldagem (no caso de solda MIG/MAG, TIG ou eletrodo tubular), a composio do eletrodo consumvel, bem como a composio do seu revestimento, no caso de eletrodo revestido.3

CHALLEN, P. J. R. 1962. No publicado.

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Outros fatores que influenciam a exposio dos trabalhadores a elementos de risco para o sistema respiratrio so o sistema de ventilao adotado no ambiente de trabalho e o tabagismo. O tabagismo tem sido apontado em alguns estudos como sendo elemento confundidor no estabelecimento da causa de doenas do sistema respiratrio (MELKILD et al., 1989; WANDERS et al., 1992; POLEDNAK, 1981) ou como o real causador dessas doenas, desvinculando a ocorrncia de doenas respiratrias de causas ocupacionais e atrelando-as aos resultados de pesquisas que consideram os soldadores como o grupo ocupacional com maior proporo de fumantes e menor proporo de no fumantes entre os grupos ocupacionais estudados (McMILLAN, 1979; McMILLAN, 1981). Alguns pesquisadores, porm, apontam outras razes para a ocorrncia ou excesso de doenas respiratrias entre os soldadores. Em estudo que investiga ocorrncia de afastamento entre os soldadores de um estaleiro, o ndice de afastamento por doenas respiratrias encontrado, segundo os autores, no poderia ser explicado somente pelo tabagismo (WANDERS et al., 1992). Alm disso, um estudo sobre a mortalidade de soldadores indica que o tabagismo no seja o nico possvel causador de cncer no sistema respiratrio por encontrar ndices normais de enfisema, doena ligada ao hbito de fumar, em uma amostra populacional com excesso de ocorrncia de cncer de pulmo (BEAUMONT e WEISS, 1980). O cncer de pulmo tem concentrado grande parte das investigaes sobre fumos e gases de soldagem como possveis causadores. Apesar de ter sido levantada hiptese de que os fumos e gases de soldagem possam causar tambm outros tipos de cncer (POLEDNAK, 1981), ainda no foi comprovado que qualquer deles tenha ocorrido em conseqncia dos processos de soldagem (McMILLAN, 1983). As pesquisas de mortalidade que tm encontrado ndices mais elevados de mortalidade por cncer de pulmo para soldadores, em geral no tm informaes precisas sobre a exposio dos trabalhadores a asbestos nem sobre tabagismo (BEAUMONT e WEISS, 1981; NEWHOUSE, OAKES e WOOLLEY, 1985; MELKILD et al., 1989; ZSCHIESCHE, 1993). No entanto, em comparao com outros grupos ocupacionais que seriam mais expostos a asbestos, os soldadores apresentaram, ainda assim, maior ndice de mortalidade de cncer de pulmo, juntamente com os calafates (NEWHOUSE, OAKES e WOOLLEY, 1985). Porm, a ausncia de dados sobre o consumo de cigarros no permite concluses precisas, principalmente se for levado em conta, como j mencionado, que os soldadores aparecem como sendo o grupo ocupacional com maior

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proporo de fumantes, entre os grupos pesquisados (McMILLAN, 1981). A incidncia mais elevada de cncer de pulmo que tem sido observada entre os soldadores, na sua maior parte talvez possa ser atribuda exposio coincidente a tabagismo e asbestos (MORGAN, 1989). Certos elementos presentes em alguns processos de soldagem tambm j foram apontados como possveis elementos fibrognicos, como dixido de nitrognio. No entanto, foram descartados por crticas que consideraram os argumentos dessas pesquisas como epidemiologicamente indefensveis (MORGAN, 1989). Os fumos de soldagem tambm tm sido suspeitos de causar doenas especficas do sistema respiratrio, como pneumonia e bronquite. Algumas pesquisas tm sido desenvolvidas, mas os resultados encontrados se mostram contraditrios. Enquanto uma anlise epidemiolgica feita entre 1942 e 1945 no encontrou diferena significativa nos ndices de incidncia de pneumonia entre os soldadores e os demais trabalhadores de um estaleiro nos Estados Unidos (COLLEN, 1946), um estudo de trs anlises de mortalidade ocupacional na Inglaterra e Pas de Gales entre 1954 e 1990 encontrou aumento no risco para soldadores devido a um excesso de pneumonia pneumoccica e pneumonia no especificada (COGGON, 1994). Esta pesquisa tambm apontou ausncia de excesso aps os 65 anos (idade de aposentadoria nestes pases), indicando possvel reverso dos efeitos dos fumos de soldagem sobre o organismo. O autor da pesquisa referida observou padres similares de mortalidade entre os soldadores e moldadores apontando para os componentes metlicos dos fumos de soldagem como possveis responsveis, juntamente com elementos como oznio e xidos de nitrognio, por deixarem o organismo mais suscetvel a infeces pneumnicas, declarando a pneumonia como passvel de ser considerada uma doena ocupacional (COGGON, 1994). Investigaes da mortalidade entre grupos ocupacionais de estaleiros e outras indstrias que trabalham com metal encontraram relaes de mortalidade mais elevada por pneumonia para soldadores e calafates em comparao com outros grupos ocupacionais do mesmo estaleiro na Inglaterra (NEWHOUSE, OAKES e WOOLLEY, 1985) e ndices significativamente maiores do que o esperado para mortes causadas por pneumonia entre soldadores em outras reas industriais (BEAUMONT e WEISS, 1980). Em anlise crtica, McMillan (1983) discute os resultados de estudo da mortalidade dos soldadores, desenvolvido nos estaleiros navais do governo britnico, no qual aponta a

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ausncia de evidncia de que a exposio a fumos e gases de soldagem estivesse associada crescente mortalidade atribuda a doenas respiratrias ou gastrintestinais ou, ainda, a doenas cerebrais malignas. Sua principal crtica a outras investigaes diz respeito utilizao, por parte de pesquisadores, dos ndices padronizados de mortalidade (Standard Mortality Ratio SMR) como referncia para comparao com os casos de mortalidade especficos de determinados grupos e avaliar a existncia ou no de excesso nestes grupos. Assim, os dados das pesquisas, quando coletados em amostras populacionais, deveriam ser comparados somente a ndices calculados proporcionalmente, com freqncias relativas, e comparados com os casos esperados baseados somente na mortalidade proporcional das causas especficas dos grupos analisados. A mesma crtica e resultados de McMillan (1983) para pneumonia so apresentados para bronquite. Outra anlise crtica enfatiza pesquisas que no encontraram diferena significativa no aumento da prevalncia de bronquite crnica entre soldadores, bem como na comparao com grupos de controle (MORGAN, 1989). Os nicos casos de diferena significativa so encontrados entre os fumantes ou, em uma das pesquisas citadas, entre soldadores provavelmente expostos a asbestos. Morgan (1989, p. 63) descreve a bronquite que se desenvolve em soldadores como uma resposta no especfica a fumos irritantes originados no processo de soldagem. Os irritantes podem ser gasosos ou em partculas. A bronquite que afeta os soldadores deve ser vista como uma forma de bronquite industrial e tem os mesmos efeitos na funo pulmonar e as mesmas caractersticas patolgicas encontradas em outros trabalhadores que desenvolvem bronquite por outras exposies industriais. Duas pesquisas desenvolvidas no mesmo estaleiro, com um intervalo de nove anos, chegaram a concluses semelhantes em ralao ao hbito de fumar: fumantes e ex-fumantes so mais suscetveis ao desenvolvimento de bronquite crnica (AKBARKHANZADEH, 1980; COTES et al., 1989), sendo que a pesquisa mais recente encontrou associao entre respirao ruidosa (como a dos asmticos) e histrico de febre por fumos metlicos metal fume fever (COTES et al., 1989). A febre por fumos metlicos uma doena temporria produzida pelo zinco contido na superfcie galvanizada e bastante comum entre os soldadores (AIHA, 1984a). Entre os efeitos de longo prazo dos fumos de soldagem sobre os trabalhadores est uma condio benigna nos pulmes conhecida como siderose (LUCAS e CARTER, 1999).

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Alm dos estudos epidemiolgicos de mortalidade, morbidade e anlise dos sintomas apresentados pelos soldadores, os estudos sobre os elementos que compem as partculas encontradas nos fumos de soldagem mostram que elementos como potssio, ferro, mangans, flor, sdio, clcio e silcio provocam comportamentos especficos das clulas do organismo. Em anlise atravs de estudo comparativo de sua ao no sistema cardiorespiratrio, houve atividade biolgica mais marcante na presena dos componentes mais pesados dos aerossis de soldagem com alto contedo de flor, potssio e mangans solvel. Ocorreram danos estruturais nos pulmes e desenvolvimento distrfico no miocrdio (contractual myocardium), porm, nenhuma amostra apresentou atividade fibrognica em qualquer grau (POCROVCSCAIA e CHEREDNICHENCO, 1990). Medies das partculas constantes na zona de respirao de soldadores, atravs de nefelmetros, encontraram deposio significativamente maior destas partculas no sistema respiratrio, como um todo, dos soldadores fumantes do que no sistema respiratrio dos soldadores no fumantes (FRSIG, BENDIXEN e SHERSON, 2001). Outras medies, tambm na zona de respirao do soldador, encontraram exposies freqentemente acima dos limites estabelecidos, para soldadores trabalhando em ambientes amplos, sem ventilao localizada de exausto (VAN DER WAL, 1990). As pesquisas desenvolvidas at o momento parecem mostrar que os fumos de soldagem sozinhos no causam doenas irreversveis (COGGON, 1994), e que, diversas vezes, as doenas diagnosticadas esto associadas ao tabagismo. Porm, deve-se observar que o efeito combinado dos dois elementos agrava os problemas de sade dos soldadores (FAWER, WARD GARDNER e OAKES, 1982; FRSIG, BENDIXEN e SHERSON, 2001). c) Efeitos da radiao Ultravioleta UV Outro elemento que pode causar danos sade dos trabalhadores a radiao ultravioleta UV. Ela gerada pelos processos de soldagem que empregam arco eltrico, como MIG/MAG, TIG, e pode causar danos tanto aos soldadores como aos demais trabalhadores dos postos vizinhos aos de solda. So relatados danos pele e aos olhos. Os locais mais comuns de sofrerem queimaduras por radiao UV so as laterais e a frente do pescoo (ROSS, 1978). A pele desprotegida ou mesmo coberta por tecido

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muito fino pode ficar avermelhada, semelhante que sofre queimadura provocada por raios solares (BEAUMONT e WEISS, 1980). Apesar de no ser a maior responsvel pelos danos ocorridos nos olhos dos soldadores (72% so danos causados pela entrada de partculas nos olhos) a radiao responsvel por 23% dos danos aos olhos dos soldadores (REESAL et al., 1992). A radiao UV pode danificar a conjuntiva por desnaturao de protena (BEAUMONT e WEISS, 1980), e resultar em uma fotoqueratocunjuntivite (arc eye ou eye flash), acompanhada por sintomas como dor, lacrimejo, sensao de areia nos olhos e fotofobia (OKUNO, 2001). No Japo, foi divulgada pela Japan Welding Engineering Society JWES (JWES, 19804 apud OKUNO, 2001) pesquisa que apontou que 85% dos trabalhadores dos ambientes de soldagem j haviam apresentado fotoqueratoconjuntivite em algum ponto do passado e que, na poca da pesquisa, 45% dos trabalhadores apresentavam-na mais de uma vez ao ms. A pesquisa de Okuno (2001) mediu a radiao UV proveniente do processo MAG com gs de proteo CO2 que, de acordo com as medies de Dennis et al. (1997) tem padro de emisso semelhante ao processo de solda MIG. As medies para solda MAG com CO2, feitas a 1,00m de distncia do arco de soldagem, atingiram nveis que, de acordo com os padres estabelecidos pela American Conference of Governmental Industrial Hygienists ACGIH (ACGIH, 20005 apud OKUNO, 2001) corresponderiam a um tempo permitido de exposio diria de 4s a 100s. Considerando que a radiao UV obedece lei do inverso do quadrado (a qual postula que a intensidade da radiao inversamente proporcional ao quadrado da distncia entre o ponto de medio e a fonte), como confirmado nas medies de Okuno (2001), o efeito da radiao sobre o soldador, que trabalha normalmente a uma distncia muito inferior a 1,00m, muito maior. As medies de Okuno (2001) tambm confirmam que a distncias maiores a radiao ainda oferece risco. A 10,00m de distncia, a radiao decresceu somente 1% do nvel apresentado a 1,00m de distncia, o que resulta em um tempo permitido de exposio diria de apenas 6 minutos a 3 horas, significando que no apenas os

JAPAN WELDING ENGINEERING SOCIETY JWS. Shakouhougogu no Seinouhyouka tou ni Kansuru Chousa Kenkyu Seika Houkokusho. (A Research Report on the Performance of Eye Protectors Against Optical Radiation). 1980. Sampo-Sakuma Bld. 9F. 1-11. Kandasakumacho, Chiyoda-ku, Tokyo 101-0025. Japan. 5 AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIAL HYGIENISTS ACGIH. 2000 TLVs and BEIs. Cincinnati: The American Conference of Governmental Industrial Hygienists. 2000.

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soldadores correm risco com a exposio radiao UV, mas todos os trabalhadores em um raio de 10,0m ao redor de cada posto de soldagem. d) Queimaduras por fascas e respingos de solda Outros fatores de risco que existem no ambiente de soldagem so as fascas e respingos provenientes da soldagem. Os respingos de solda so pequenas pores de metal derretido que podem desprender-se do ponto onde se realiza a solda. Em geral, estes respingos caem verticalmente, mas pode ocorrer que sejam projetados em outras direes, atingindo os soldadores. Em postos de trabalho em que os soldadores trabalham sobre o prprio produto, principalmente quando vrios soldadores trabalham ao mesmo tempo, pode ser bastante comum a ocorrncia de queimaduras por respingos de solda pelo trabalho dos colegas. Dependendo do local do corpo atingido, da maneira como atingido e do tempo que o metal derretido fica em contato com a pele, os danos podem ser mais graves. As fascas provenientes dos processos a arco eltrico saltam em vrias direes e podem atingir distncias que ultrapassam os limites do posto de soldagem. Estas fascas podem atingir os olhos, causando queimaduras na conjuntiva. Tambm podem atingir a pele descoberta ou mesmo a pele que estiver coberta por tecidos menos espessos. As fascas tambm podem se alojar dentro de dobras da roupa, entrar nos calados dos soldadores ou atrs do cinto o que, considerando o tempo necessrio para retir-las, pode resultar em queimaduras mais graves (ROSS, 1978). e) Rudo O soldador est exposto a um ambiente ruidoso, seja em conseqncia do equipamento que utiliza, do emprego de ferramentas de acabamento, como esmerilhos, que muitas vezes compartilham o mesmo posto de trabalho, seja pelo uso de marretas na correo do posicionamento das peas eventualmente deformadas durante a soldagem, seja pelo rudo gerado nos outros postos de trabalho que compartilham o mesmo ambiente. O levantamento das CATs dos soldadores do Rio Grande do Sul apontou o rudo como o agente responsvel por 60% das doenas ocupacionais apresentadas por estes profissionais (GOLDMAN, 2000). A escolha do processo de soldagem empregado um dos fatores que vo determinar o nvel de rudo a que o soldador ser exposto. Por exemplo, o processo de corte por plasma e o processo de corte por goivagem a arco, que

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esto entre os mais ruidosos, este chegando a ultrapassar os 115 dB(A) (AIHA, 1984a). Devido ao risco de diminuio da capacidade de audio ou, mesmo, de perda auditiva a que o soldador est exposto (ROSS, 1978), ele deve ser protegido de nveis sonoros superiores a, para a AIHA (1984 a), 90 dB(A) e, para a NR 15 (MTE, 2003b), 85 dB(A) para 8 horas de trabalho, principalmente porque o efeito acumulativo e no se manifesta antes de muitos anos de exposio, porm, quando se manifesta irreversvel (AIHA, 1984b). Alm do risco de perda auditiva, o rudo no ambiente de trabalho tambm pode interferir na comunicao entre os trabalhadores, perturbar ou distrair as pessoas expostas ou alterar o desempenho de algumas tarefas (ERGONOMIC..., 1983). f) Vibrao Dependendo da ferramenta que utilizam, os soldadores podem estar expostos vibrao, o que pode causar danos, principalmente nas extremidades em contato com a ferramenta. J houve relatos de alguns soldadores, em estudo comparativo, em um ndice de 11% contra 1% do grupo de controle, de Sndrome de Raynauld, ou Sndrome do Dedo Branco. Seus dedos ficavam brancos ou azuis em dias frios, principalmente pela manh, sendo que alguns apresentavam, tambm, entorpecimento, formigamento ou dor nos dedos afetados (ROSS, 1978). g) Acidentes Os soldadores esto sujeitos a sofrer acidentes de diversas naturezas, como os do tipo impacto sofrido, quando um objeto agente do impacto, ou do tipo impacto contra, quando o prprio trabalhador o agente do impacto, alm de choques eltricos e das doenas ocupacionais j comentadas. Em trabalho de anlise das Comunicaes de Acidentes de Trabalho CATs de trabalhadores dos setores metalrgico e metalmecnico do Rio Grande do Sul nos anos de 1996 e 1997, Goldman (2000) aponta o impacto sofrido como sendo a causa da maior parte (40%) dos acidentes registrados junto aos soldadores, juntamente com as doenas ocupacionais DOs, principalmente rudo (8%) e Leses por Esforos Repetitivos LER (5,33%). Os acidentes do tipo impacto contra contriburam para 6,67% dos registros de acidentes com soldadores, podendo ser um indicador, juntamente com os acidentes do tipo impacto sofrido, da desorganizao ou mau dimensionamento do posto de trabalho destes profissionais. Outra hiptese levantada para a causa dos acidentes com os soldadores a destes

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sofrerem intoxicao por fumos de soldagem, que podem causar dores de cabea, tonturas e estresse. O surgimento de distrbios musculosqueletais a que o soldador est sujeito, pode gerar fadiga muscular que poderia justificar, juntamente com a intoxicao por fumos de soldagem, o fato de o soldador estar se acidentando devido queda de objetos. Esta queda pode ocorrer, no no momento da soldagem, mas aps a soldagem, onde seus msculos se apresentam cansados e extenuados devido operao de soldagem que, em muitos casos, pode levar at um dia. Doenas como Tendinite, Tenossinovite, Epicondilite e Sndrome do tnel de carpo, que apareceram nas CATs analisadas, podem estar sendo causadas devido s caractersticas do posto de trabalho do soldador. h) Viso Deve-se, ainda assim, prestar ateno questo da viso dos soldadores, pois problemas com viso podem causar tontura e dor de cabea, alm de diminuir a capacidade de realizao de tarefas pelo soldador, pela sua menor acuidade visual e conseqente reduo da ateno. Estes so fatores que tambm podem contribuir para a incidncia de acidentes com os soldadores, principalmente quando estes esto fora de seus postos de trabalho. Alm disso, importante considerar, na anlise da situao do soldador quanto sua viso, que o perodo crtico para viso a troca de procedimento e adaptao para as novas situaes (GOLDMAN, 2000). Entre os problemas de viso encontrados nos soldadores, pode-se citar problemas de convergncia, queratite por UV, siderose ocular, corpos estranhos intraoculares. Alm disso, os soldadores apresentam crnea embaada e granular, podendo-se identificar um soldador pelos olhos, principalmente aquele que atua por muitos anos na profisso (MARINI, 1994). No entanto, assim como no houve ocorrncia de problemas respiratrios, os mais investigados junto aos soldadores, nas CATs analisadas por Goldman (2000), tambm no houve ocorrncia de problemas de viso. Porm, entre os soldadores entrevistados na pesquisa, 50% apresentou queixa de problemas de viso, principalmente entre os soldadores mais velhos (GOLDMAN, 2000). Entre as questes comentadas com relao viso dos soldadores est o uso de lentes de contato. Embora existam relatos sobre acidentes com soldadores usurios de lentes de contato, em princpio no existe impedimento para seu uso, porm seu manuseio consiste em ponto frgil para o contato de produtos qumicos ou resduos com os olhos (MARINI, 1994).

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2.4

SEGURANA NA SOLDAGEM

O trabalho com solda apresenta diversas situaes de risco para os trabalhadores, seja no emprego de equipamentos eltricos, que podem ocasionar choques eltricos, de elementos em combusto, que podem ocasionar queimaduras e gerar fumos, de gases combustveis, que podem ocasionar incndios e exploses, de arco eltrico, que pode gerar radiao visvel, podendo ofuscar e at causar a perda da viso, e invisvel, que pode causar queimaduras, entre outros efeitos nocivos aos seres humanos. Alm destes, tambm h o risco de doenas do sistema musculoesqueltico, para os quais os soldadores esto entre os grupos de trabalhadores com incidncia acima da mdia, segundo pesquisa desenvolvida em 1990 pelo Ministrio do Trabalho da Sucia (KADEFORS, 1999). Tambm devem ser considerados os acidentes que ocorrem no ambiente de trabalho do soldador. Tanto os acidentes do tipo impacto contra, como os acidentes de impacto sofrido: vrios soldadores tm os olhos atingidos por partculas provenientes da soldagem ou de trabalhos com esmerilho. Diversas entidades governamentais, como o National Institute for Occupational Safety and Health NIOSH (2001), Occupational Safety and Health Administration OSHA (1992), ou Canadian Centre for Occupational Health and Safety CCOHS (2001), assim como associaes de soldadores em vrios pases, como a American Welding Society AWS (1998), ou o Welding Technology Institute of Australia WTIA (1999), desenvolvem, organizam ou patrocinam pesquisas sobre a segurana no trabalho e disponibilizam em seus sites na internet guias de segurana para o trabalho com os diversos processos de soldagem de acordo com o tipo de risco a que os trabalhadores esto expostos. Existe, ainda, o International Institute of Welding IIW, que mantm uma comisso permanentemente investigando as questes de sade e segurana dos soldadores. A Comisso VIII do IIW acompanha a literatura cientfica na rea e publica seus pareceres no peridico da instituio, o Welding in the World/Le Soudage dans le Monde. Entidades brasileiras que desenvolvem ou organizam pesquisa na rea do trabalho com a soldagem, como a Fundao Brasileira para a Tecnologia da Soldagem FBTS, ou a Associao Brasileira da Soldagem ABS oferecem cursos e divulgam publicaes. A maioria dos guias diz respeito ao uso de Equipamentos de Proteo Individual EPIs, como os do CCOHS (2001), que falam do risco da radiao para os olhos e pele e seus

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efeitos, recomendando o uso de elmo (mscara de soldagem) para a face e o cuidado na escolha dos filtros de proteo para os olhos. Tambm so oferecidos conselhos sobre os cuidados necessrios contra choques no uso de equipamentos eltricos. O NIOSH (2001) disponibiliza documentos alertando sobre o risco dos fumos de soldagem. J o OSHA (1992), disponibiliza documentao com interpretaes tcnicas sobre assuntos relacionados aos riscos ocupacionais, como o risco de infertilidade para os homens expostos radiao ionizante proveniente de alguns processos de soldagem. Institutos de soldagem, como o AWS, disponibilizam conselhos sobre sade e segurana que abrangem vrios tipos de risco, como fumos e gases, radiao, rudo, a presena de cromo e nquel no fumo de solda, riscos eltricos, preveno contra fogo e exploso, proteo contra queimaduras, riscos mecnicos, tropeos e quedas, queda de objetos, trabalho em espaos confinados, uso de lentes de contato, ergonomia no ambiente de solda, smbolos grficos para avisos, e, tambm, estilo de guias para documentos sobre segurana e sade, o uso de marca-passos por quem solda, campos eltricos e magnticos (electromagnetic fields EMF), segurana da solda a laser e de corte, segurana da pulverizao trmica. O WTIA (1999) oferece um conjunto de instrues para minimizao de fumos, tanto em soldagem como em corte, brasagem e solda branda, composto de 16 itens sobre regulamentos a respeito de substncias perigosas, opes de controle de fumos, materiais utilizados na soldagem, soldagem manual a arco (Manual Metal Arc Welding MMAW), soldagem a arco com proteo a gs (Gas Metal Arc Welding GMAW), soldagem com eletrodo tubular (Flux Cored Arc Welding FCAW), corte a plasma, corte oxigs, processos com baixo teor de fumos, brasagem e solda branda indstria de tubulao, solda branda indstria eletro/eletrnica, solda branda geral, brasagem industrial geral, soldagem a alta temperatura. As diretrizes de algumas destas entidades se referem ergonomia nos ambientes de trabalho: apesar do enfoque geral das diretrizes do CCOHS (2001) ser microergonmico, priorizando as questes posturais, tambm foram includas questes sobre iluminao e a cor do ambiente; j as diretrizes do AWS (1998) tm enfoque mais prximo do modelo macroergonmico seguido neste trabalho, aconselhando a participao do trabalhador no processo de proposta de solues, e, tambm, incluindo questes ambientais e de contedo do trabalho.

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2.5

POSTOS DE TRABALHO

Em sua essncia, o espao de trabalho definido como um espao imaginrio, onde o indivduo realiza aes de trabalho, e no qual a postura o fator que mais influencia no seu dimensionamento. J o posto de trabalho, considerado como a menor unidade produtiva, podendo ser composto, em seu arranjo mnimo, de um homem e seu local de trabalho (IIDA, 1990), onde ele desempenha tarefas por um perodo de tempo relativamente longo. Alm do posto de trabalho, tambm existe a estao de trabalho, definida como um de uma srie de postos de trabalho que podem ser ocupados ou usados pela mesma pessoa, seqencialmente, quando desempenhando sua atividade (ERGONOMIC..., 1983 p. 14). importante considerar que, em sua concepo fsica, um posto de trabalho bem projetado garante, no s o bem-estar do trabalhador, mas tambm pode aumentar sua produtividade e garantir sua segurana, ao contrrio de um posto mal projetado, que pode ocasionar queixas ou doenas ocupacionais crnicas, bem como problemas com a manuteno da produtividade e qualidade do trabalho (KADEFORS, 1998). Podem ser encontrados dois enfoques de anlise do posto de trabalho: o enfoque tradicional e o enfoque ergonmico. No enfoque tradicional, valorizada a economia de movimentos, e no enfoque ergonmico, valorizada a reduo das exigncias biomecnicas sobre o trabalhador (IIDA, 1990). importante ressaltar, no entanto, que o projeto fsico do posto no pode ser separado da organizao do trabalho, portanto deve-se sempre considerar ambos os fatores ao se pensar o projeto de um posto de trabalho (KADEFORS, 1998). A qualidade do resultado final do processo de projeto reside em trs bases, segundo Kadefors (1998): conhecimento ergonmico, integrao com produtividade e demandas de qualidade, e participao. Este processo de projeto est de acordo com os princpios bsicos do modelo macroergonmico (GUIMARES, 2001a) seguidos por este trabalho, envolvendo a participao dos trabalhadores tanto no levantamento da demanda, como na priorizao dos itens levantados, no desenvolvimento do projeto, validao e detalhamento do mesmo. Este processo vlido tanto para o projeto de novos postos de trabalho como para a modificao de postos j existentes. Os vrios itens de demanda devem ser considerados em paralelo, o que pode resultar em uma situao complexa no momento de projetar o posto. Assim, apesar das diversas