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ANÁLISE EXERGÉTICA DE UM CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO ÁGUA-AMÔMIA Rafael Cardoso Brandão Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Nísio de Carvalho Lobo Brum Rio de Janeiro Agosto de 2015

análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

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Page 1: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

ANÁLISE EXERGÉTICA DE UM CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO

ÁGUA-AMÔMIA

Rafael Cardoso Brandão

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Mecânica da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Nísio de Carvalho Lobo

Brum

Rio de Janeiro

Agosto de 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica

DEM/POLI/UFRJ

ANÁLISE EXERGÉTICA DE UM CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO

ÁGUA-AMÔNIA

Rafael Cardoso Brandão

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

________________________________________________

Prof. Nísio De Carvalho Lobo Brum (Orientador)

________________________________________________

Prof. Antonio MacDowell de Figueiredo

________________________________________________

Prof. Manuel Ernani de Carvalho Cruz

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

AGOSTO DE 2015

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iii

Brandão, Rafael Cardoso

QQQAnálise Exergética de um Ciclo de Refrigeração por

Absorção Água-Amônia/ Rafael Cardoso Brandão. – Rio

de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.

QQQXI, 47 p.: il.; 29,7 cm.

QQQOrientador: Nísio de Carvalho Lobo Brum

QQQProjeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Mecânica, 2015.

QQQReferências Bibliográficas: p. 46.

QQQ1. Ciclo de refrigeração por absorção água-amônia.

2.Análise exergética de ciclo de refrigeração. 3. REFPROP.

4.MATLAB®. I. Brum, Nísio de Carvalho Lobo. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,

Curso de Engenharia Mecânica. III. Análise Exergética de

um Ciclo de Refrigeração por Absorção Água-Amônia.

Page 4: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço, inicialmente, a minha rede familiar, que sempre se uniu ao meu redor,

garantindo uma vida privilegiada e me mostrando o poder do amor sobre qualquer

dificuldade. Foco minha gratidão a minha mestra, companheira e amorosa mãe, Etany

Ewelyn da Rocha Cardoso, por batalhar todos os dias pelo meu bem e possibilitar

diretamente mais essa conquista na minha vida.

Hoje me realizo, porque sempre fui apoiado, ensinado e incondicionalmente

amado por meus avós, Everton Menezes Cardoso e Edna da Rocha Cardoso. Desde meu

nascimento, junto com meu tio, Everton Menezes Cardoso Júnior, eles também formaram

minha consciência ética, meu coração, minha razão e meu equilíbrio e, por isso, os

considero meus pais. Ademais, é indiscutível a presença e a importância da minha

madrinha, Merylin Rocha Batalha, e meu primo e irmão, Allan Rocha Batalha de

Leandro, me apoiando e me dando força com amizade e carinho.

Na faculdade, percebi o motivo de destaque, que o curso de engenharia mecânica

da UFRJ possui no Brasil: seus professores. Em especial, agradeço o professor e mestre

Nísio de Carvalho Lobo Brum pela paciência, dedicação e preocupação com a minha

qualificação profissional, compartilhando todo seu conhecimento a cada aula. Com seu

auxílio tenho a certeza, que a “dureza” da vida profissional tornar-se-á mais um motivo

de comemoração.

Está no sentimento e não na matéria a verdade da existência. Está no amor e na

experiência e não em apreensões lógicas o maior aprendizado da vida. Seguindo essa

convicção, agradeço profundamente a espiritualidade e em especial aos meus inkices

Bamburussema e Gongobira, que me dão força e me guiam através do caminho da cura.

Jamais deixarei a barca virar, nunca abrirei mão desta trilha e devo este leme também ao

Marujo.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

ANÁLISE EXERGÉTICA DE UM CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO

ÁGUA-AMÔNIA

Rafael Cardoso Brandão

Agosto/2015

Orientador: Nísio de Carvalho Lobo Brum

Curso: Engenharia Mecânica

Resumo

Este projeto objetiva desenvolver uma ferramenta do tipo solver ágil, intuitiva e

capaz de auxiliar o projeto térmico de um ciclo de refrigeração por absorção água-amônia

para as condições climáticas do Rio de Janeiro. Ele fornecerá ao usuário análises

energética e exergética do sistema calculado, a partir dos dados de entrada desejados.

O sistema de absorção é alternativo ao sistema por compressão (mais empregado),

por isso, ao longo do texto, há uma introdução ao tema refrigeração, focando neste ciclo

mais incomum e apresentando o problema originador do programa. A combustão, a

exergia e a segunda lei da termodinâmica aplicada a processos em regime permanente são

introduzidas durante o trabalho, pois tratam-se de teorias fundamentais à compreensão e

à coerência textual. Após estas elaborações, estuda-se um caso de referência para testar o

desempenho do algoritmo final.

Por fim, interpreta-se os resultados gerados, destacando a avaliação baseada na

segunda lei da termodinâmica. Ou seja, verifica-se a eficiência da queima de metano,

como insumo energético ao gerador e, visualizando as irreversibilidades, destaca-se um

equipamento, cujo performance deve ser aperfeiçoada, a fim de otimizar o ciclo.

Page 6: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

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Summary of the Graduation Project submitted to the Polytechnic School/UFRJ as part of

the requirements for the degree of Mechanical Engineer.

EXERGY ANALYSIS OF AQUA-AMMONIA ABSORPTION REFRIGERATION

SYSTEM

Rafael Cardoso Brandão

August/2015

Advisor: Nísio de Carvalho Lobo Brum

Course: Mechanical Engineering

Abstract

This project will develop a fast and simple solver tool, which can help an

absorption refrigeration cycle thermal design for Rio de Janeiro’s climate condition. It

will provide the user energetic and exergetic evaluations about the calculated system from

desired input data.

The absorption system is an alternative choice to mechanical vapor-compression

system (these are more employed), that’s why there is an introduction about refrigeration

topic presenting this unusual cycle and the program’s primordial case. The combustion,

the exergy and the second law of thermodynamics for a steady-state process are

introduced in this work, because they are fundamental concepts. After the formulation,

the algorithm will be applied to a reference case.

Later, the output data will be checked and finally, the second law evaluation will

be highlighted. In other words, the methane combustion efficiency will be measured and

the least efficient equipment of the thermodynamic cycle will be identified.

Page 7: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1

2. O CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO ............................................... 2

2.1. Aspectos básicos sobre a refrigeração ................................................................. 2

2.2. Diferenças fundamentais entre refrigeração por absorção e refrigeração por

compressão mecânica de vapor simples estágio .................................................. 3

2.3. O ciclo de refrigeração por absorção água-amônia ............................................. 5

3. FORMULAÇÕES ...................................................................................................... 7

3.1. Exemplo fundamental ......................................................................................... 7

3.2. Processos elementares ...................................................................................... 10

3.3. Alterações ao exemplo base ............................................................................. 18

3.3.1. Sistemas auxiliares ................................................................................. 19

3.3.2. Combustão ............................................................................................. 25

3.3.3. Exergia e irreversibilidade ..................................................................... 29

3.3.4. Segunda lei para processos em regime permanente .............................. 32

4. O PROGRAMA ...................................................................................................... 35

4.1. Ferramentas e interface gráfica ........................................................................ 35

4.2. Dificuldades técnicas ....................................................................................... 37

5. CASO EXEMPLO .................................................................................................. 39

5.1. Inputs originais ................................................................................................ 39

5.2. Caso adequado ................................................................................................. 40

5.3. Resultados ........................................................................................................ 42

6. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 45

7. REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 46

8. ANEXO A ............................................................................................................... 47

Page 8: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 – Ciclo de refrigeração por compressão mecânica de vapor simples estágio 3

Figura 2.2 – Ciclo de refrigeração por absorção simplificado .......................................... 5

Figura 2.3 – Ciclo de refrigeração por absorção água-amônia ......................................... 6

Figura 3.1 – Diagrama entalpia-concentração da mistura água-amônia .......................... 9

Figura 3.2 – Mistura adiabática ..................................................................................... 12

Figura 3.3 – Mistura com troca de calor ........................................................................ 13

Figura 3.4 – Polos e linhas de operação ........................................................................ 17

Figura 3.5 – Rede de água de arrefecimento ................................................................. 19

Figura 3.6 – Combustor ................................................................................................. 19

Figura 3.7 – Sistema de água gelada ............................................................................. 20

Figura 4.1 – Interface gráfica do solver ......................................................................... 35

Figura 4.2 – Fluxograma da sub-rotina de cálculo da concentração ............................. 37

Figura 4.3 – Fluxograma do solver ................................................................................ 38

Figura 5.1 – Alerta de temperatura abaixo do ponto triplo da água .............................. 41

Figura 5.2 – Alerta de inadequação ás condições climáticas do Rio de Janeiro ........... 41

Figura 5.3 – Diagrama entalpia-concentração do ciclo de refrigeração calculado ....... 42

Figura 5.4 – Gráfico de barras das irreversibilidades de cada equipamento ................. 43

Page 9: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

ix

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 3.1 – Fórmulas das exergias de cada estado ........................................................ 30

Tabela 3.2 – Fórmulas das irreversibilidades de cada equipamento .............................. 31

Tabela 3.3 – Fórmulas de geração de entropia de cada equipamento ........................... 33

Tabela 5.1 – Inputs originais do exemplo base ............................................................. 39

Tabela 5.2 – Primeiros inputs do caso de referência ..................................................... 40

Tabela 5.3 – Estados do ciclo de refrigeração ............................................................... 42

Tabela 5.4 – Valores das irreversibilidades de cada equipamento ................................ 43

Tabela 5.5 – Subprodutos do solver .............................................................................. 44

Page 10: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

x

LISTA DE SÍMBOLOS

𝐴 Área total de troca de calor do trocador de calor

𝐴𝑠𝑒çã𝑜,𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑣 Área da seção transversal

𝐶𝑂𝑃 Coeficiente de performance do ciclo de refrigeração

𝑐𝑃 Calor específico isobárico

𝑔 Aceleração da gravidade

ℎ Entalpia por unidade de massa

ℎ Entalpia por mol

𝐼 Taxa de irreversibilidade

�� Vazão mássica

𝑛 Vazão molar

𝑃 Pressão

𝑃𝐹 Potência frigorífica

𝑞 Taxa de calor trocado por vazão mássica

�� Taxa de calor trocado

��𝐴 Taxa de calor cedido pelo absorvedor

��𝐶 Taxa de calor rejeitado na condensação

��𝐷 Taxa de calor absorvido pelo deflagmator

��𝐸 Taxa de calor absorvido pelo evaporador

��𝐺 Taxa de calor absorvido ao gerador

𝑅𝑎𝑛𝑔𝑒 Diferença de temperatura entre os dois terminais de um trocador de calor

𝑠 Entropia por unidade de massa

�� Entropia por mol

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜 Taxa de geração de entropia

𝑇 Temperatura

𝑇𝐵𝑈 Temperatura de bulbo úmido de projeto

𝑈 Coeficiente de transferência de calor global do trocador de calor

𝑣 Volume específico

𝑉 Velocidade média de escoamento do fluido

𝑥 Concentração de amônia na mistura binária água-amônia

�� Taxa de trabalho

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xi

��𝑃 Taxa de trabalho fornecido à bomba

𝑤𝑟𝑒𝑣 Trabalho reversível específico

𝑍 Cota de altura da substância

𝑍0 Cota de altura mínima da substância

Δℎ Variação de entalpia por mol entre o estado padrão e um estado desejado

Δ�� Variação de entalpia por mol entre o estado padrão e um estado desejado

휀 Efetividade de um trocador de calor

𝜂 Eficiência

𝜂𝑚 Eficiência mecânica da bomba

𝜌 Massa específica

Φ Fração de ar teórico

Ψ Exergia

Page 12: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

1

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, o crescimento da consciência pública sobre a finitude dos recursos

naturais impulsionou o desenvolvimento de ferramentas, que auxiliam a manipulação

lógica e otimizada do meio-ambiente. Em especial, a exploração de fontes energéticas é

objeto frequente de discussões acerca da influência humana sobre as alterações climáticas

globais evidentes. A fim de minimizarmos nossos danos ao planeta, demanda-se definir

a utilidade e pertinência de fontes distintas de energia. O conceito de exergia (ou

disponibilidade) mede este valor, pois representa a máxima energia útil de uma fonte,

quando totalmente exaurida. Neste sentido, a análise exergética avalia a conservação da

energia primária através de uma cadeia de transformações necessárias a sua conversão

em energia útil e, portanto, atribui, racionalmente, a adequação de uma fonte natural a

determinado fim. A destruição de exergia por cada componente de um processo revela

onde deve-se focar os esforços de aperfeiçoamento da eficiência de um sistema, o que

permite decisões de projeto mais seguras.

Como sistemas de climatização são energeticamente dispendiosos, seu projeto

encontra-se no cerne das questões ambientais e, portanto, sua análise exergética torna-se

fundamental. No Brasil, país de clima tropical, climatização corresponde quase

totalmente a refrigeração e é neste âmbito que o presente trabalho reside.

Mais especificamente, este projeto visa comparar a eficiência exergética de cada

equipamento presente em um resfriador de absorção água-amônia, ressaltando quais

componentes devem ser aprimorados, auxiliando os projetos básicos térmicos e

esclarecendo o motivo de, atualmente, se empregá-los majoritariamente em cogeração

(recuperando os rejeitos térmicos de uma planta). Optou-se analisar este sistema,

principalmente devido ao recente aumento do custo da energia elétrica no Brasil. Mas,

apesar deste fator local, o desenvolvimento tecnológico contemporâneo viabilizou

econômica e ambientalmente este ciclo de refrigeração (quando confrontado com um

ciclo de refrigeração por compressão mecânica de vapor), que utiliza calor (energia de

menor qualidade) como insumo energético. A ampla diversidade de fontes térmicas (água

quente, vapor, queima do gás natural, energia solar e biomassa) e redução no consumo

elétrico, são motivos pelos quais estes chillers são amplamente adotados em indústrias de

ar condicionado. Ou seja, estes sistemas equilibram o balanço de demanda energética por

meio da redução dos picos de demanda elétrica.

Page 13: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

2

2. O CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO

Este capítulo introduz gradualmente o ciclo de refrigeração por absorção e, mais

especificamente, o ciclo que utiliza a mistura binária água-amônia, sendo a água o

absorvente e a amônia o refrigerante. Para este fim, é necessário definir anteriormente

conceitos básicos, como processos de refrigeração e o sistema por compressão mecânica

simples estágio. Como este equipamento prevalece na área de climatização de ambientes,

o sistema por absorção é considerado alternativo. Logo, o ciclo por absorção é explicado

inicialmente por meio de comparações com o equipamento predominante no mercado (e

consequentemente mais familiar). Esta abordagem também visa explicitar de forma

simples os contrastes entre estes dois equipamentos e justificar a escolha do sistema

absortivo a ser modelado e em uma ferramenta do tipo solver, que será o produto final

deste projeto.

2.1. ASPECTOS BÁSICOS SOBRE A REFRIGERAÇÃO

Refrigeração significa fundamentalmente a absorção de calor, produzindo em uma

substância ou em um espaço uma temperatura inferior a temperatura natural do ambiente

circundante. Logo, qualquer método que diminui a temperatura em relação a temperatura

ambiente envolve processos de refrigeração.

Há diversos meios de se refrigerar: por compressão mecânica de vapor, por

absorção (onde o vapor é absorvido por um líquido antes de ser bombeado) e por

compressão de gás, envolvendo estrangulamento e expansão não-resistida do gás

comprimido. O segundo método é vantajoso, quando fontes de calor a baixo custo estão

disponíveis e será o método estudado neste texto. O último método é aplicado em

liquefação, armazenamento e separação de vários gases (THRELKELD et al., 1998).

Os dois primeiros métodos guardam similitude, pois servem-se de três processos

idênticos: a condensação, a evaporação e a expansão. Nota-se que estas técnicas

assemelham-se, pois utilizam a mudança de fase do refrigerante para absorver calor do

recinto e para rejeitá-lo ao ambiente. O resfriamento, em ambos os casos, é realizado

através da evaporação de um refrigerante líquido sob pressão e temperatura reduzidas. A

temperatura de saturação do vapor é, depois, elevada (por compressão mecânica através

de um compressor, na primeira situação), permitindo a condensação do vapor através de

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3

rejeição de calor por água de resfriamento ou ar atmosférico. O líquido a alta pressão é

então expandido e retorna ao trocador de calor, onde a evaporação ocorre, formando assim

um ciclo termodinâmico fechado. O processo de expansão é normalmente realizado por

estrangulamento através de uma válvula. A figura 2.1 ilustra o sistema de refrigeração

por compressão mecânica de vapor simples estágio.

Figura 2.1 – Ciclo de refrigeração por compressão mecânica de vapor simples estágio

2.2. DIFERENÇAS FUNDAMENTAIS ENTRE REFRIGERAÇÃO POR

ABSORÇÃO E REFRIGERAÇÃO POR COMPRESSÃO MECÂNICA DE

VAPOR SIMPLES

É necessária uma elevada quantidade de trabalho para acionar um refrigerador de

compressão mecânica de vapor. Isto ocorre, porque o vapor sofre uma grande variação

no seu volume específico durante a compressão. Logo, é desejada uma forma de aumentar

a pressão do refrigerante, sem aumentar apreciavelmente seu volume. Este resultado é

Page 15: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

4

obtido, empregando-se uma solução refrigerante em fase líquida nesta tarefa, devido a

sua baixa compressibilidade. Para tanto, o equipamento que anima e comprime este fluido

deve ser uma bomba e o compressor deve ser substituído por componentes capazes de:

transformar o vapor em uma solução líquida, movimentá-la e por fim destilá-la à fase

vaporizada purificada (contendo majoritariamente o refrigerante).

A Figura 2.2 mostra o desenho esquemático de um sistema de refrigeração por

absorção, cuja preeminência reside na compressão de uma solução líquida. Considerando

que apenas o refrigerante escoa pelo condensador, válvula de expansão e evaporador, e

comparando o ciclo da Figura 2.2 com o esquema ilustrado na Figura 2.1, observa-se que

estes componentes são idênticos aos presentes em um sistema por compressão mecânica.

No entanto, o vapor saindo do evaporador é absorvido por uma solução líquida no

absorvedor, ou seja, não atravessa um compressor. Ademais, o refrigerante alcança o

estágio de compressão do condensador através de uma bomba e é separado do absorvente

através de adição de calor no gerador. Esta energia recebida no gerador constitui a

principal fonte energética do ciclo, pois a potência fornecida à bomba, como mencionado

anteriormente, é reduzida. A solução líquida remanescente retorna ao absorvedor após ser

expandida em uma válvula de expansão. Em suma, nota-se, que fundamentalmente, um

ciclo de refrigeração por absorção e um ciclo de refrigeração por compressão mecânica

de vapor diferem-se por seus insumos energéticos. O primeiro é acionado através de calor,

o segundo através de trabalho (energia de alta qualidade). Este é o interesse científico no

sistema de refrigeração por absorção, pois ele consome energia de baixa qualidade em

relação ao ciclo de refrigeração por compressão mecânica de vapor.

Page 16: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

5

Figura 2.2 – Ciclo de refrigeração por absorção simplificado

2.3. O CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO ÁGUA-AMÔNIA

O esquema ilustrado pela figura 2.2 conjectura a total separação entre refrigerante

e absorvente através de injeção de calor no gerador. Esta hipótese trata-se de uma

idealização não aplicável ao par binário água e amônia. Nesta circunstância, a água é o

absorvente e a amônia é o refrigerante. Como a água difunde-se amplamente na amônia,

ao empregar-se este sistema simplificado, o vapor abandonando o gerador conteria

excesso de água e consequentemente possuiria elevada temperatura de solidificação. Este

fato restringiria temperaturas no ciclo inferiores a 0 °C. Logo, este sistema reduzido deve

refinar-se para tornar-se aplicável.

Para se alcançar purificação mais eficiente de um dos componentes da mistura,

tendo em mente a exigência, fundamental em um ciclo de refrigeração por absorção, de

completa miscibilidade da mistura binária nas fases vapor e líquida (total ausência de

Page 17: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

6

heterogeneidade para qualquer intervalo de concentração), deve-se vaporizar e condensar

esta solução sucessivamente. Isto acontece através do seu aquecimento (realizado pelo

gerador), resfriamento (realizado pelo deflagmator) e retificação (realizada pela coluna

de retificação). O aquecimento gera uma mistura vaporizada de concentração superior a

encontrada na solução e o resfriamento condensa o fluido resultante em um líquido de

concentração inferior, separando-o de um vapor mais purificado. A introdução de uma

coluna de retificação entre o deflagmator e o gerador objetiva ocasionar um contato

íntimo direto entre o vapor aquecido ascendente e o líquido resfriado descendente,

produzindo um vapor continuamente mais puro em sua ascensão e um líquido

progressivamente menos concentrado em sua descendência. Para produzir este efeito, as

colunas de retificação possuem diversos pratos que restringem o movimento dos fluidos

e obrigam-nos a interagir. A Figura 2.3 elucida o método de absorção água-amônia com

a introdução da coluna de retificação.

Figura 2.3 – Ciclo de refrigeração por absorção água-amônia

Page 18: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

7

3. FORMULAÇÕES

Este capítulo expõe e aplica a teoria termodinâmica utilizada no desenvolvimento

da ferramenta tipo solver, produto final deste projeto. Para tanto, divide-se seu conteúdo

em três partes: apresentação do problema que inspirou o projeto, processos em regime

permanente elementares utilizados no modelo da Figura 2.3 (incluindo a retificação) e

alterações feitas ao exemplo base. Nesta última seção, encontra-se basicamente todo o

fundamento teórico do trabalho. Seus tópicos são: sistemas auxiliares, combustão, exergia

e irreversibilidade e segunda lei para processos em regime permanente.

3.1. EXEMPLO FUNDAMENTAL

Este projeto baseia-se em THRELKELD et al. (1998). O exemplo, que originou

este trabalho, introduz o leitor aos cálculos termodinâmicos de um ciclo de refrigeração

por absorção água-amônia. Ele foca especialmente em uma análise a partir da primeira

lei da termodinâmica e por isso define os estados termodinâmicos (no caso: pressão,

temperatura, concentração mássica de amônia na mistura binária e entalpia) e as vazões

mássicas do esquema ilustrado pela Figura 2.3. Nele, supõe-se: ausência de perda de

carga, escoamento em regime permanente, agitação, devido a vaporização no gerador,

suficiente para igualar sua temperatura a temperatura da solução líquida fraca presente

nele e ainda que os estados termodinâmicos (1), (3), (4), (7), (8) e (12) são saturados.

Estas hipóteses convergem com o foco principal do programa a ser desenvolvido, pois

evitam considerações aprofundadas sobre modelos de transferência de energia por

interação calor presente nos equipamentos térmicos, pouco relevantes à análise exergética

objetivada por este estudo. Este também é o motivo de optar-se especificamente em

modelar o ciclo de absorção por este exercício base. Os dados de entrada são de fácil

acesso e corroboram a afirmativa anterior. São eles: a potência frigorífica, a pressão de

condensação, a pressão de evaporação, a temperatura do gerador, a temperatura do vapor

deixando o deflagmator (estado 7), a temperatura ambiente, a temperatura do recinto, a

temperatura da solução líquida concentrada entrando na coluna (estado 3), o range de

temperatura entre os estados (9) e (8) e a eficiência mecânica da bomba.

Inicialmente, percebe-se, neste exercício, constantes citações a uma nova

propriedade termodinâmica da substância, que circula através do resfriador: a

concentração mássica de amônia na solução. Ela é frequentemente utilizada como uma

Page 19: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

8

das propriedades independentes, que quantifica a composição da mistura e é necessária,

pois misturas binárias diferem-se de substâncias simples, já que, seu estado

termodinâmico não-saturado não é estabelecido por apenas duas propriedades

termodinâmicas independentes. Logo, os processos presentes neste ciclo também

diferem-se de processos realizados por uma substância simples, pois a temperatura de

saturação desta solução binária depende da sua concentração e durante o decurso de uma

transformação, a massa de cada componente da mistura conserva-se (não apenas a massa

total da mistura).

Portanto, em um gráfico entalpia-concentração, para uma determinada pressão, as

regiões de líquido e vapor saturados definem duas curva. A Figura 3.1 as ilustra.

Page 20: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

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Figura 3.1 – Diagrama entalpia-concentração da mistura água-amônia

Este diagrama é fundamental ao entendimento dos processos elementares de

escoamentos de misturas binárias, pois, nele, ilustra-se os processos elementares

presentes no sistema de refrigeração modelado. Consequentemente, certos

desenvolvimentos tornar-se-ão mais intuitivos através dele, por exemplo, percebe-se, que

caso a solução seja saturada, seu estado é definido com o conhecimento da pressão e da

temperatura, ou seja, necessita-se de apenas duas propriedades independentes. Logo,

observando as linhas de saturação, nota-se que a região líquida é a parte inferior do gráfico

e a região do vapor compreende a parte superior.

Page 21: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

10

Feitos estes comentários, identifica-se agora, por quais processos elementares os

fluidos refrigerante e absorvente transformam-se. Iniciando pelo estado (1), a solução

sofre alteração no seu estágio de compressão e alcança o estado subresfriado (2). Logo

após, ela é simplesmente aquecida até atingir a saturação (estado 3). O líquido saturado

entra na coluna de retificação, onde é purificado através da retificação e atinge o estado

(7). A parcela fraca condensada da mistura (estado 4) é simplesmente resfriada por um

trocador de calor (estado 5) e retorna ao absorvedor (estado 6), após expandir-se em uma

válvula de expansão. O vapor, deixando o deflagmator em estado saturado (7), condensa-

se e transforma-se em líquido saturado (estado 8), pois rejeita calor. Posteriormente, ele

é simplesmente resfriado em um trocador de calor (estado 9), expande-se (estado 10) e

absorve calor do recinto (estado 11). Seguidamente, o estado misturado resultante

(mistura em equilíbrio de vapor e líquido) aquece através do líquido saindo do

condensador. Por fim, o vapor saturado derivado (estado 12) é absorvido pela solução

líquida fraca do gerador e completa um ciclo fechado. De todos os processos citados,

observa-se que existem somente cinco operações diferentes: mistura com troca de calor,

mistura adiabática (presente no estado 11, não é um processo, mas é necessário à

determinação da sua temperatura graficamente), retificação, alteração no estágio de

compressão e troca de calor simples. Estes processos serão apresentados na seção

posterior, no decorrer da solução do exercício base.

3.2. PROCESSOS ELEMENTARES

Recordando, THRELKELD et al. (1998) propôs um exemplo, que define, de

forma ágil, os estados termodinâmicos a partir de propriedades de fácil acesso ao

projetista e, por isso, foi selecionado como o modelo do ciclo de refrigeração por absorção

água-amônia desenvolvido no programa final de análise exergética. Logo, a resolução

automática deste exemplo para diferentes valores dos inputs representa o alicerce, sobre

o qual assimila-se informações mais valiosas. Neste escopo mora a relevância da

investigação dos processos elementares realizados por uma mistura homogênea binária.

Considerando as hipóteses e dados da seção anterior, prosseguem-se as operações

que determinam os estados e as vazões mássicas. Como não há perda de carga, todas as

pressões estão estabelecidas. Observando que os estados saturados fixam-se conhecendo

apenas duas propriedades independentes, encontra-se os estados (3), (4) e (7), pois as suas

temperaturas são dadas. Logo, suas concentrações e entalpias também estão

Page 22: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

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determinadas. Pela conservação de massa de cada componente da solução, estabelece-se

todas as concentrações de amônia restantes. Utilizando a informação de que os estados

(1), (8) e (12) são saturados, seus estados também tornam-se delimitados (pressão e

concentração conhecidas). Combinando o conhecimento da temperatura do estado (8)

com a diferença de temperatura entre os estados (8) e (9), calcula-se a temperatura do

estado (9). Neste momento, deve-se imaginar um volume de controle englobando o

trocador de calor 1, a válvula de expansão 1 e o evaporador. Portanto, neste volume de

controle, ingressa a mistura água-amônia no estado (8). A mistura no estado (12) o

abandona. O calor absorvido do recinto (potência frigorífica) também o atravessa. Então

a partir da conservação de energia para este volume de controle encontra-se a vazão

mássica de entrada e saída.

��8 = ��12 (3.1)

��8ℎ8 + 𝑃𝐹 = ��8ℎ12 (3.2)

Substituindo a equação (3.1) na equação (3.2):

��8 =𝑃𝐹

ℎ12 − ℎ8 (3.3)

A conservação de massa do absorvedor gera as seguintes equações:

��12 + ��6 = ��1 (3.4)

��12𝑥12 + ��6𝑥6 = ��1𝑥1 (3.5)

Explicitando ��6 na equação (3.5) e substituindo ��1 da equação (3.4) na equação

resultante:

��6 = ��12

𝑥12 − 𝑥1

𝑥1 − 𝑥6 (3.6)

O processo térmico transcorrido no absorvedor é um dos processos elementares

citados anteriormente e, por isso, cabe aqui sua análise com mais atenção. Claramente,

trata-se de uma mistura com troca de calor. A conservação de energia aplicada a um

volume de controle, idealizado sobre a superfície do equipamento em questão, retorna a

seguinte fórmula:

��12ℎ12 + ��6ℎ6 = ��1ℎ1 + ��𝐴 (3.7)

Utilizando esta equação juntamente com as expressões (3.4) e (3.5), encontra-se a

relação entre a entalpia específica ao final do processo (h1) e as entalpias específicas de

cada corrente:

ℎ1 = ℎ12 +��6

��1

(ℎ6 − ℎ12) −��𝐴

��1 (3.8)

Page 23: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

12

Nota-se, que caso não houvesse troca de calor, a igualdade resultante definiria um

segmento de reta no diagrama entalpia-concentração, no qual situaram-se os três pontos,

que representam os três estados envolvidos nesta operação. Este processo é conhecido

como mistura adiabática e é exibido na Figura 3.2.

Figura 3.2 – Mistura adiabática

A localização do estado misturado depende das razões entre as vazões mássicas.

Como estado (11) (calculado mais adiante) pode ser interpretado como uma mistura

adiabática de vapor e líquido em equilíbrio, sua posição no diagrama entalpia-

concentração repousa sobre um segmento de reta, que liga o ponto do vapor ao ponto do

líquido.

Considerando, agora, a troca de calor (mais especificamente a rejeição de calor,

ocorrendo no absorvedor), o estado misturado (1) localiza-se a uma distância vertical de

��𝐴

��1 abaixo do ponto obtido pela mistura adiabática. Ou seja, uma troca de calor simples

(outro processo elementar) traduz-se graficamente em um deslocamento vertical de um

estado no diagrama entalpia-concentração. O ponto final desloca-se pra cima, caso calor

seja absorvido, ou desloca-se pra baixo, caso o calor seja cedido.

Page 24: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

13

Figura 3.3 – Mistura com troca de calor

É de suma importância manter esta interpretação gráfica em mente, pois ela será

relevante para tornar a explicação do processo de retificação mais intuitiva.

Retornando ao cálculo das vazões mássicas, encontra-se ��1, substituindo a equação (3.6)

na equação (3.4):

��1 = ��12

𝑥12 − 𝑥6

𝑥1 − 𝑥6 (3.9)

Evocando novamente o princípio de conservação de massa:

��7 = ��8 = ��9 = ��10 = ��11 = ��12

��4 = ��5 = ��6

��1 = ��2 = ��3

(3.10)

Considerando o bombeamento reversível, desprezando variações das energias

cinética e potencial e variação de volume específico do líquido, segundo a primeira lei da

termodinâmica aplicada à bomba:

ℎ2 = ℎ1 + (𝑃2 − 𝑃1)𝑣1 (3.11)

Utilizando novamente a conservação de energia, mas agora para um volume de

controle sobre o trocador de calor 2:

ℎ5 = ℎ4 −��2

��4(ℎ3 − ℎ2) (3.12)

Page 25: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

14

A conservação de energia para a válvula de expansão 1 e 2 resulta em:

ℎ6 = ℎ5 (3.13)

ℎ10 = ℎ9 (3.14)

Nestas duas válvulas de expansão ocorre alteração no estágio de compressão do

fluido. Mais precisamente, ocorre expansão não-resistida. Este processo não varia a

entalpia nem a concentração da substância, por isso a posição de seu estado

termodinâmico em um gráfico entalpia-concentração permanece inalterada. Apesar disso,

a pressão termodinâmica deste estados reduzem-se. Logo, as curvas de vapor e líquidos

saturados modificam-se e passam a apresentar entalpias menores para cada concentração.

Então, para avaliar as temperaturas dos estados (6) e (10) precisa-se conhecer a região,

na qual os pontos, que representam cada estado, posicionam-se após o processo. Caso

eles passem a pertencer à região de equilíbrio (saturada), afere-se a temperatura a partir

das três propriedades conhecidas. Caso eles permaneçam na região de líquido

comprimido, continuam na mesma isotérmica, ou seja, nesta condição:

𝑇6 = 𝑇5 (3.15)

𝑇10 = 𝑇9 (3.16)

A primeira lei aplicada ao evaporador, mostra que:

ℎ11 = ℎ10

��10

��11+

𝑃𝐹

��11 (3.17)

Todos os estados estão definidos. Então, para concluir a análise de primeira lei do

ciclo é necessário definir as variações de energia causadas pelas interações calor e

trabalho. O trabalho cedido à bomba é dissipado mecanicamente e a energia restante

impele movimento ao fluido, logo a variação de entalpia, neste processo, deve igualar-se

a esta potência resultante cedida ao fluido. Então:

��𝑃 =��1(ℎ2 − ℎ1)

𝜂𝑚 (3.18)

O calor rejeitado no condensador e absorvido no evaporador determinam-se

avaliando a conservação de energia nos respectivos equipamentos:

��𝐶 = ��8(ℎ7 − ℎ8) (3.19)

��𝐸 = ��10(ℎ11 − ℎ10) (3.20)

No absorvedor, ocorre uma mistura com troca de calor. Englobando o absorvedor

com um volume de controle e considerando a conservação de energia:

��𝐴 = ��6ℎ6 + 𝑚12ℎ12 − 𝑚1ℎ1 (3.21)

Page 26: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

15

Para calcular a injeção de calor no gerador e o calor rejeitado no deflagmator,

deve-se comentar anteriormente sobre o processo de retificação.

Assim como um processo de mistura adiabática pode ser representado, no

diagrama entalpia-concentração, através de um segmento de reta unindo os dois estados

anteriores à mistura, no processo de retificação, cada interação, ocorrida nos pratos, entre

o vapor ascendendo e o líquido descendendo a coluna também pode ser representada desta

forma. Ou seja, em uma coluna de retificação, as condições de satisfação da conservação

de massa e de energia também definem, em um diagrama entalpia-concentração,

segmentos de retas relativos a cada prato da coluna (parecidos com o caso observado

numa mistura com troca de calor e com uma mistura adiabática). Neste caso, a linha reta

liga o estado do vapor e do líquido, que estão em contato no prato e é chamada de linha

de operação.

Mais precisamente, aplicando os princípios de conservação a cada volume de

controle, cujo contorno engloba apenas o deflagmator e a coluna de retificação, incluindo

os pratos localizados acima da seção transversal, onde o fluido a ser destilado adentra a

coluna (sem o gerador), definem-se, em um gráfico entalpia-concentração, linhas de

operação para cada prato que delimita o contorno. Elas interceptam-se em um ponto

comum, referido como polo. O polo destes volumes de controle, que englobam o

deflagmator, são referidos como polo 1 e, assim como no processo elementar de troca de

calor simples, encontram-se a uma distância ��𝐷

��7⁄ acima do ponto referente ao estado

(7).

Agora, imagina-se outros volumes de controle, mas que englobam, justamente, as

partes da coluna de retificação não contidas nos volumes de controle anteriores e que,

adicionalmente, ao invés de abrangerem o deflagmator, incorporam o gerador. Cada um

destes volumes de controle, definem linhas de operação para cada prato, que delimita

cada contorno. Estas linhas também interceptam-se em um único ponto. Como esperado,

este ponto também é denominado polo e para estes contornos imaginários, que englobam

o gerador, este polo é chamado de polo 2. Este polo, assim como no processo elementar

de troca de calor simples, encontra-se a uma distância ��𝐺

��4⁄ abaixo do ponto referente

ao estado (4).

Mais informações podem ser obtidas, imaginando um novo volume de controle,

que englobe todo o sistema (gerador, deflagmator e coluna de retificação). Aplicando,

Page 27: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

16

novamente as leis de conservação, determina-se uma linha de operação, que une o polo 1

ao polo 2 e que cruza o ponto referente ao estado termodinâmico (3). Ela é chamada de

linha de operação principal e a sua posição fixa a quantidade de calor a ser cedida no

gerador e a quantidade de calor a ser removida pelo deflagmator, pois conforme o citado,

conhecendo-se os dois polos e os estados (7) e (4), encontram-se ��𝐺

��4⁄ e

��𝐷��7

⁄ .

Segundo BOSNJAKOVIC (Apud THRELKELD et al., 1998) o menor número de

pratos presentes na coluna se faz necessário, quando o estado do vapor saturado

ascendente (aqui, considerado como estado 7’), que se encontra na altura, onde o líquido

no estado (3) entra, situa-se sobre a linha principal de operação. Ou seja, os dois polos, o

estado (7’) e o estado (3) encontram-se sobre uma mesma linha. Logo, seguindo esta

recomendação e estimando a diferença de temperatura entre o estado (3) e o estado (7’),

segundo THRELKELD et al. (1998) aproximadamente 5°C, calcula-se a posição da linha

de operação principal, pois conhece-se o estado (7’) (vapor saturado a pressão de

condensação do ciclo e temperatura determinada) e possui-se o estado (3). Relembrando

que a sua posição determina a quantidade de calor a ser cedida no gerador e a quantidade

de calor a ser removida pelo deflagmator, deve-se determinar a posição dos polos, a partir

da equação da reta, a fim de calculá-las.

ℎ𝑝𝑜𝑙𝑜1 = ℎ3 + (ℎ7′ − ℎ3)𝑥7 − 𝑥3

𝑥7′ − 𝑥3 (3.22)

ℎ𝑝𝑜𝑙𝑜2 = ℎ4 − ℎ3 − (ℎ7′ − ℎ3)𝑥4 − 𝑥3

𝑥7′ − 𝑥3 (3.23)

Possuindo esta informação e somando o dado, de que a diferença entre as

coordenadas ordenadas dos polos 1 e 2 e dos estados (7) e (4), respectivamente,

relacionam-se com as taxas de calor trocado no deflagmator e no gerador, é possível

defini-las.

��𝐺 = ��4 (ℎ4 − ℎ3 − (ℎ7′ − ℎ3)𝑥4 − 𝑥3

𝑥7′ − 𝑥3) (3.24)

��𝐷 = ��7 (ℎ3 + (ℎ7′ − ℎ3)𝑥7 − 𝑥3

𝑥7′ − 𝑥3− ℎ7) (3.25)

A Figura 3.4 ilustra o diagrama entalpia-concentração com as linhas de operação.

Page 28: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

17

Figura 3.4 – Polos e linhas de operação

Ressalta-se que o trocador de calor 2 (ver Figura 2.3) diminui o input de energia

necessário ao aquecimento do gerador, pois eleva a entalpia do estado (3) e

consequentemente aproxima o polo 2 do estado (4) no diagrama entalpia-concentração.

Com todos estes dados, já é possível extrair informações sobre o desempenho

global do sistema de refrigeração, sob uma ótica da primeira lei da termodinâmica. As

duas relações capazes de oferecer esta informação são o coeficiente de performance do

ciclo (COP) e a eficiência de primeira lei do ciclo.

O coeficiente de performance é a razão entre a energia útil e a principal fonte de

energia que aciona o sistema. No caso de um ciclo de refrigeração por absorção água-

amônia, o principal insumo energético é térmico e a sua energia útil é a quantidade de

calor absorvida do recinto a ser refrigerado.

𝐶𝑂𝑃 =𝑃𝐹

��𝐺

(3.26)

Seria útil possuir um ciclo de refrigeração por absorção ideal, a partir do qual

medir-se-ia o grau de afastamento apresentado pelo ciclo real. Este afastamento é medido

a partir da relação conhecida como eficiência de primeira lei do ciclo. Este sistema de

Page 29: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

18

refrigeração imaginário almejado, sobre o qual calcula-se o distanciamento imposto pela

realidade, foi desenvolvido por BOSNJAKOVIC (Apud THRELKELD et al., 1998) e seu

coeficiente de performance é definido a seguir.

(𝐶𝑂𝑃)𝑚á𝑥 =𝑇𝑟𝑒𝑐𝑖𝑛𝑡𝑜

(𝑇𝑎𝑚𝑏𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒−𝑇𝑟𝑒𝑐𝑖𝑛𝑡𝑜)

(𝑇𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 − 𝑇𝑎𝑚𝑏𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒)

𝑇𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 (3.27)

Esta equação mostra, que o limite superior de performance de um ciclo de

refrigeração por absorção é igual ao coeficiente de performance de um ciclo de

refrigeração de Carnot operando entre reservatórios a temperatura do recinto e a

temperatura ambiente, multiplicado pela eficiência de um motor de Carnot trabalhando

entre dois reservatórios a temperatura do gerador e a temperatura ambiente. Portanto, o

COP de um ciclo de refrigeração por absorção não pode ser comparado com o COP de

um sistema de compressão mecânica de vapor. Então é necessária outra base de

comparação entre estes dois sistemas. Uma boa opção é a comparação entre as

quantidades de insumo energético necessárias a um ciclo por absorção e de calor cedido

ao motor que movimentará o compressor.

O grau de distanciamento entre o ciclo idealizado e o ciclo real é calculado através

da razão entre a performance real e ideal de um sistema por absorção. Este é o rendimento

de primeira lei do ciclo e segue sua expressão matemática.

𝜂1ª 𝐿𝑒𝑖 =𝐶𝑂𝑃

(𝐶𝑂𝑃)𝑚á𝑥 (3.28)

3.3. ALTERAÇÕES AO EXEMPLO BASE

No exercício da seção anterior desconsidera-se discussões acerca da

irreversibilidade das trocas de calor no absorvedor, no evaporador, no condensador, no

deflagmator e no gerador. Como esta primeira análise foi puramente relacionada a

primeira lei da termodinâmica (conservação de energia), tais questionamentos não

entraram em pauta. Quando objetiva-se a análise exergética do ciclo, esta abordagem

torna-se insuficiente, pois não infere sobre o fluido que interage nestes processos e

portanto não contabiliza o aumento de entropia e consequente geração de irreversibilidade

ocasionado pela troca de calor a diferença finita de temperatura entre dois meios. Em

outras palavras, é necessário incluir o sistema de água gelada, a rede de água de

resfriamento e o combustor para calcular as exergias, as irreversibilidades de cada

Page 30: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

19

equipamento e, por fim, verificar a possibilidade dos processos a partir da segunda lei da

termodinâmica.

Logo, antes de avançar para uma avaliação segundo a segunda lei da

termodinâmica, deve-se focar em descobrir os estados e as vazões relativos à rede de água

de resfriamento, ao sistema de água gelada e ao combustor. Ou seja, necessita-se repetir

o processo realizado na seção anterior.

3.3.1. SISTEMAS AUXILIARES

As Figuras 3.5, 3.6 e 3.7 facilita a compreensão destes sistemas auxiliares.

Figura 3.5 – Rede de água de arrefecimento

Figura 3.6 – Combustor

Page 31: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

20

Figura 3.7 – Sistema de água gelada

Então, iniciam-se os cálculos através da rede de água de resfriamento. Esta rede

absorve o calor do deflagmator, do condensador e do absorvedor. Sua configuração é

paralela, ou seja, a água resfriada vinda da torre de resfriamento ramifica-se em três

tubulações, uma para cada equipamento a ser arrefecido, e encontram-se novamente antes

de atingirem a torre de resfriamento.

Esta torre de resfriamento transfere calor residual de processo para a atmosfera.

Ela utiliza a evaporação da água para remover este calor e resfriar o fluido de trabalho

para perto da temperatura de bulbo úmido. Como neste trabalho projeta-se um ciclo para

o Rio de Janeiro, concebe-se como a temperatura de bulbo úmido de projeto (TBU), o

valor de 25.4 °C do Galeão (ASHRAE Handbook of Fundamentals, 2013). Usualmente,

considera-se que ao final deste procedimento a temperatura da água aproxima-se 4 °C da

temperatura de bulbo úmido, ou seja, medirá aproximadamente 4 °C acima deste limite

de saturação. O resfriamento máximo em uma torre alcança uma variação de 19,4 °C da

água, enquanto que o mínimo mensura-se em 13,9 °C.

Dito isso, decide-se começar a apuração pelo condensador. Neste equipamento, a

solução água-amônia condensa-se, cedendo calor a água de resfriamento. Durante este

processo, a temperatura de saída da água de resfriamento deve ser suficientemente baixa

para não exceder o valor da temperatura da solução, o que violaria a segunda lei da

termodinâmica.

Page 32: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

21

Evita-se este erro, decretando que essa temperatura seja igual a temperatura de entrada da

mistura. Ou seja:

𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝑇8 (3.29)

A temperatura de entrada da água deve ser definida a partir da primeira lei da

termodinâmica.

𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑 −��𝑐

��𝑐𝑜𝑛𝑑𝐶𝑃á𝑔𝑢𝑎

(3.30)

A vazão mássica de água no condensador pode ser aferida inicialmente,

recordando que a sua velocidade econômica de escoamento mede aproximadamente 2,0

m/s (DE FALCO, 1998) e somando esta informação ao conhecimento de que um diâmetro

interno usual de um trocador de calor (TABOREK et al., 1997) cota 55 mm. Logo, estima-

se a vazão mássica, supondo escoamento unidirecional uniforme e massa específica de

1000 kg/m³.

��𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝜌á𝑔𝑢𝑎𝐴𝑠𝑒çã𝑜,𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑣𝑉á𝑔𝑢𝑎 (3.31)

Substituindo os valores, obtém-se uma estimativa inicial aproximada de 5 kg/s.

Este valor será utilizado posteriormente como o valor padrão de input da vazão mássica,

se o usuário não alterá-lo.

Finalmente, resta apenas encontrar uma estimativa do calor específico da água

líquida. Considerando-o igual a 4,2 J/kgK, alcança-se facilmente a temperatura exigida à

água de resfriamento que entra no condensador. Se este valor for inferior à temperatura

de bulbo úmido mais um approach de 2 °C, o usuário do solver deve, então, ser alertado

com uma mensagem de inadequação deste sistema às condições climáticas do local a ser

implantado. Esta precaução é necessária, pois em dias nos quais, o ambiente possui

temperatura de bulbo úmido de projeto, pela primeira lei da termodinâmica,

possivelmente o circuito não funcionará satisfatoriamente. Em suma, a temperatura final

da água de resfriamento deverá se aproximar, na realidade, da temperatura de bulbo

úmido, logo existe uma faixa de valores, a qual a torre de resfriamento permitirá

𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑atingir. Fora deste intervalo, 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 calculado não corresponderá a 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 real.

Então, decreta-se, que se 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 calculado superar TBU em 6 °C, deve-se utilizar

𝑇𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎,á𝑔𝑢𝑎 igual a TBU adicionada de um approach usual de 4 °C. E deriva-se

𝑇𝑠𝑎í𝑑𝑎,á𝑔𝑢𝑎 a partir da conservação de energia:

𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝑇𝑖𝑛.𝑐𝑜𝑛𝑑 +��𝑐

��𝑐𝑜𝑛𝑑𝐶𝑃á𝑔𝑢𝑎

(3.32)

Page 33: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

22

Em um condensador, um fluido sofre mudança de fase (neste problema, a solução

de água e amônia), enquanto a outra substância permanece líquida (neste problema a água

de arrefecimento). Como um fluido em equilíbrio líquido-vapor possui, por definição,

calor específico tendendo a infinito e, no problema estudado, a solução água-amônia

encontra-se nesta condição, a razão entre o valor desta grandeza para a mistura água-

amônia e para a água é nula. Matematicamente:

𝑐𝑃𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜= (

𝜕ℎ

𝜕𝑇)

𝑃 (3.33)

𝛿𝑇 = 0

𝑐𝑃𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜→ ∞

𝑐𝑃á𝑔𝑢𝑎

𝑐𝑃𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜

→ 0

Ou:

𝑐𝑃á𝑔𝑢𝑎��𝑐𝑜𝑛𝑑

𝑐𝑃𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜��7

→ 0 (3.34)

Em posse desta informação, é desejável obter uma estimativa para o produto entre

o coeficiente global de transferência de calor do condensador e a sua área total de troca

térmica (UA), pois sua derivação, a partir dos dados já disponíveis, é simples e relevante.

Este subproduto do programa final é obtido através do método da efetividade do trocador

de calor. Esta técnica evita cálculos laboriosos, definindo a efetividade de um trocador de

calor como a razão entre a troca térmica de um trocador (no caso,

��𝑐𝑜𝑛𝑑𝑐𝑃á𝑔𝑢𝑎(𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑 − 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑)) e o máximo calor que idealmente poderia ser trocado

(no caso, ��𝑐𝑜𝑛𝑑𝑐𝑃á𝑔𝑢𝑎(𝑇7 − 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑)). Este parâmetro é definido a partir dos sentidos de

escoamentos das correntes e da razão entre suas capacidades térmicas (𝑐𝑃á𝑔𝑢𝑎

��𝑐𝑜𝑛𝑑

𝑐𝑃𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜��7

). O

sentido adotado é contra-corrente (ou correntes opostas). Então, recordando que a razão

entre os calores específicos da água e da mistura é nula e levando em conta a determinação

anterior, para este caso (LIENHARD V et al., 2012):

휀 = 1 − exp −𝑈𝐴

��𝑐𝑜𝑛𝑑𝑐𝑃á𝑔𝑢𝑎

(3.35)

Logo:

��𝑐𝑜𝑛𝑑𝑐𝑃á𝑔𝑢𝑎(𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑 − 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑) = (1 − exp −

𝑈𝐴

��𝑐𝑜𝑛𝑑𝑐𝑃á𝑔𝑢𝑎

) ��𝑐𝑜𝑛𝑑𝑐𝑃á𝑔𝑢𝑎(𝑇7 − 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑)

Page 34: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

23

Explicitando UA:

𝑈𝐴 = ��𝑐𝑜𝑛𝑑𝑐𝑃á𝑔𝑢𝑎ln (

𝑇7 − 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑

𝑇7 − 𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑) (3.36)

Relembrando, o absorvedor, o deflagmator e o condensador compartilham a

mesma temperatura de entrada da água de resfriamento, pois eles participam da mesma

rede de água de resfriamento, que possui configuração paralela.

𝑇𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠 = 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 (3.37)

𝑇𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙 = 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 (3.38)

A água que ingressa no absorvedor aquece a um máximo ideal igual à temperatura

de saída da mistura água-amônia que egressa este equipamento (T1). Este trabalho não

aprofunda-se no fenômeno de transferência de calor por convecção. Logo, a única forma

de garantir, que a estimativa da temperatura de saída da água de resfriamento obedeça a

realidade e, consequentemente, não exceda o limite superior mencionado, é definindo um

approach entre estas duas temperaturas mencionadas e um range mínimo entre as

temperaturas de entrada e saída de água de resfriamento. Esta diferença entre

temperaturas de entrada e saída serve para alertar o usuário sobre ranges excessivamente

pequenos, resultantes de variáveis de entrada mal definidas. O approach do absorvedor é

de 1 °C. O range mínimo vale 2 °C. Então:

𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑎𝑏𝑠 = 𝑇1 − 1 °𝐶 (3.39)

𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑎𝑏𝑠 − 𝑇𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠 ≥ 2 °𝐶 (3.40)

Antes de calcular as vazões das águas de resfriamento e as temperaturas restantes

da corrente do deflagmator é necessário comentar sobre o estado termodinâmico da

substância em cada ponto da rede. Obviamente, é exigido que a água de arrefecimento

mantenha-se líquida durante todo o processo realizado nos equipamentos. Logo, os seus

estágios de compressão devem ser suficientes para garantir a validade desta assertiva,

mesmo nas condições mais adversas. Ou seja, mesmo para a temperatura mais elevada

possível, a água não deve evaporar. Como o limite superior de temperatura foi

estabelecido em TBU mais 6 °C, determinar 2 bar para a pressão de todos os estados

(desconsiderando perda de carga) é o suficiente. Supondo que a água seja uma substância

pura simples, necessita-se de apenas duas variáveis para fixar seu estado termodinâmico.

Recordando que já obteve-se as temperaturas da rede na entrada e na saída do absorvedor

e do condensador, percebe-se que nestes pontos os estados estão determinados. Logo, a

Page 35: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

24

partir das entalpias e da quantidades de calor trocada no absorvedor, afere-se a vazão

mássica da corrente.

��𝑎𝑏𝑠 =��𝐴

ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑎𝑏𝑠 − ℎ𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠 (3.41)

Como mencionado anteriormente, a faixa de ranges permitidos de uma torre de

resfriamento varia entre 13,9 °C e 19,4 °C. Ou seja, agora, junto com a temperatura de

entrada da água de resfriamento, é possível determinar seu aquecimento ao final da sua

tarefa. Este valor será útil posteriormente, pois amparará o cálculo da temperatura de saída

do deflagmator.

𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 + 13,9 °𝐶 ≤ 𝑇á𝑔𝑢𝑎,𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 ≤ 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 + 19,4 °𝐶 (3.42)

Optou-se, no desenvolvimento do programa, que a temperatura final da água

atingirá o limite inferior de capacidade da torre de resfriamento (𝑇á𝑔𝑢𝑎,𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 = 𝑇𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 +

13,9 °𝐶), pois esta restrição é menos impeditiva em relação aos inputs fornecidos e o

objetivo principal do programa é analisar exergeticamente um ciclo de refrigeração por

absorção, ou seja, as principais inconsistências relatadas ao usuário são violações à

segunda lei da termodinâmica. Enfim, após presumir a temperatura da água de entrada na

torre, estima-se a temperatura do sistema de resfriamento na saída do deflagmator para a

qual a exigência instituída valha. Pela primeira lei da termodinâmica:

ℎá𝑔𝑢𝑎,𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙(��𝑎𝑏𝑠 + ��𝑐𝑜𝑛𝑑 + ��𝑑𝑒𝑓𝑙) = ��𝑎𝑏𝑠ℎ𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠 + ��𝑐𝑜𝑛𝑑ℎ𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 + ��𝑑𝑒𝑓𝑙ℎ𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙 + ��𝐴 + ��𝐶 + ��𝐷 (3.43)

��𝑑𝑒𝑓𝑙 =��𝐷

ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑑𝑒𝑓𝑙 − ℎ𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙 (3.44)

Combinando estas duas expressões e explicitando ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑑𝑒𝑓𝑙:

ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑑𝑒𝑓𝑙 =��𝐷(ℎá𝑔𝑢𝑎,𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 − ℎ𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙)

��𝑎𝑏𝑠(ℎ𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠 − ℎá𝑔𝑢𝑎,𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙) + ��𝑐𝑜𝑛𝑑(ℎ𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 − ℎá𝑔𝑢𝑎,𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙) + ��𝐴 + ��𝐶 + ��𝐷

(3.45)

Esta entalpia, somada a pressão já conhecida, definem o estado termodinâmico da

água na saída do deflagmator. Portanto, encontra-se também a sua temperatura e vazão

mássica (a partir da equação 3.44). Assim como no caso de um absorvedor, é determinado

um range mínimo para a corrente de água escoando no deflagmator, pois ranges

negativos violariam a segunda lei da termodinâmica e range excessivamente curtos não

possuem base na realidade. Então:

𝑅𝑎𝑛𝑔𝑒𝑑𝑒𝑓𝑙𝑎𝑔𝑚𝑎𝑡𝑜𝑟 = 𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑑𝑒𝑓𝑙 − 𝑇𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙 ≥ 2 °𝐶 (3.46)

Falta ainda aplicar a análise segundo a primeira lei da termodinâmica para o

evaporador e para o gerador. No evaporador, escoa a água gelada vinda do recinto, que

deve ser resfriada para posteriormente circular na serpentina e refrigerar o ambiente

Page 36: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

25

desejado. Portanto, sua temperatura é reduzida, medindo frequentemente 12 °C na entrada

do evaporador. Tomando esta como uma aproximação para a temperatura de ingresso no

evaporador, adota-se o mesmo método utilizado no absorvedor para alcançar a

temperatura de saída da corrente. Em outras palavras, a partir de um approach usual

quantifica-se este aquecimento e, imediatamente após, verifica-se se a variação de

temperatura na corrente satisfaz um limite mínimo. Supondo configuração

contra-corrente no evaporador, o approach relativo à temperatura de saída da água é a

diferença entre este valor e T10 (considerado, no caso, 6 °C). Para não violar a segunda lei

da termodinâmica e executar a rejeição de calor, a temperatura de entrada da água gelada

deve ser superior à temperatura de entrada da mistura água-amônia e a temperatura de

saída desta solução deve ser inferior a temperatura de entrada da água. O range mínimo

da água gelada adotado é de 4 °C.

𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑒𝑣𝑎𝑝 = 𝑇10 + 6°𝐶 (3.47)

𝑇𝑜𝑢𝑡,𝑒𝑣𝑎𝑝 − 𝑇𝑖𝑛,𝑒𝑣𝑎𝑝 ≥ 4 °𝐶 (3.48)

3.3.2. COMBUSTÃO

A quantificação dos estados termodinâmicos na entrada e na saída do combustor

exige uma prévia introdução a reações de combustão, pois este equipamento fornece calor

ao gerador queimando metano. Este meio de esquentamento foi escolhido, pois analisar

as irreversibilidades envolvidas no processo de queima direta, elucidam o majoritário

emprego de ciclos de refrigeração por absorção água-amônia em projetos de cogeração.

Combustão é uma reação química exotérmica entre combustível e comburente

(chamados de reagentes). O processo de combustão envolve a oxidação dos constituintes

do combustível e a preservação da massa de cada elemento. O oxigênio é o comburente

mais comum nestes processos e, na maioria das vezes, é fornecido pelo ar atmosférico,

ou seja, encontra-se a temperatura ambiente e geralmente outros gases também interagem

durante este fenômeno.

Então, é importante saber a composição do ar. Ele é composto fundamentalmente,

em base molar, por oxigênio (21%), nitrogênio (78%) e argônio (1%). Admite-se que

nitrogênio e argônio não participam das reações químicas, mas variam a temperatura até

o valor alcançado pelos demais produtos (mudam de estado sem alterarem-se

quimicamente). Pesando a participação de cada gás na constituição da mistura, despreza-

Page 37: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

26

se o argônio e idealiza-se o ar como um composto binário, contendo 21% de oxigênio e

79% de nitrogênio (em base volumétrica). Utilizando a Lei de Avogadro, obtém-se a

relação molar entre nitrogênio e oxigênio de presença na combustão realizada com ar

atmosférico. Conclui-se, que para cada mol de oxigênio estão envolvidos 3,76 moles

(79/21) de nitrogênio.

Agora, surge o questionamento sobre a quantidade mínima de ar que fornece o

oxigênio suficiente para a combustão completa do carbono, hidrogênio e quaisquer outros

elementos do combustível que possam oxidar. Esta porção é constantemente referida

como ar teórico e é adquirida através do balanceamento da reação química

(estequiometria). Em outras palavras, é conquistada através do princípio de conservação

de massa aplicado a cada elemento. A queima de 1 kmol de gás metano por meio de ar

atmosférico é expressa, como:

𝐶𝐻4 + 2 𝑂2 + 2(3,76) 𝑁2 → 𝐶𝑂2 + 2 𝐻2𝑂 + 7,52 𝑁2

Logo, a quantidade de ar teórico necessária à combustão completa de 1 kmol

metano vale 9,52 kmol (2+2.3,76). Mas nem sempre este processo ocorre à quantidade

estequiométrica, para tanto, existe uma relação usual para representar a quantidade de ar

realmente fornecida à reação em um função da porcentagem de ar teórico. Denomina-se

porcentagem de ar teórico.

Φ =𝑛𝑎𝑟,𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑖𝑑𝑜

𝑛𝑎𝑟,𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 (3.49)

Assim, Φ ∙ (100) % de ar teórico significa que o ar é fornecido numa quantidade

Φ vezes maior do que a referente ao ar teórico. A combustão completa do metano com

Φ(100) % de ar estequiométrico é escrita da seguinte forma:

𝐶𝐻4 + Φ𝑥2 (𝑂2 + 3,76 𝑁2) → 𝐶𝑂2 + 2 𝐻2𝑂 + 7,52Φ 𝑁2 + 2(Φ − 1)𝑂2

No solver, a combustão é considerada completa, ou seja, sem formação de

monóxido de carbono e hidrocarbonetos. Esta hipótese alinha-se a meta de simplicidade

e agilidade do programa, pois caso contrário seria necessário analisar a composição dos

produtos de combustão, a fim de analisar energética e exergeticamente o processo. Para

garantir combustão completa, uma boa estimativa de fração de ar teórico presente na

queima é de 1,5 (150 % de ar estequiométrico)

É necessário definir os estados termodinâmicos dos reagentes e produtos da

combustão, para posteriormente calcular suas exergias. A reação selecionada para

fornecer energia ao gerador é a queima de gás metano, modelada como completa, na

presença de uma quantidade de ar Φ vezes maior do que a referente ao ar teórico. Admite-

Page 38: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

27

se que os reagentes invadem a câmara de combustão à temperatura e à pressão ambientes,

pois é utilizado ar atmosférico. As temperaturas dos produtos também são supostas iguais

e seu valor é encontrado a partir da primeira lei da termodinâmica, pois já se possui, desde

a seção anterior, a quantidade de calor ��𝐺 a ser cedido ao gerador pelo combustor.

Considera-se a descarga dos produtos na atmosfera, logo a pressão de saída do combustor

também é a pressão ambiente. Desta forma, pretende-se igualar a variação de entalpia

entre produtos e reagentes ao calor calculado e descobrir sua temperatura, para a qual a

identidade é satisfeita. Neste método, contabiliza-se a diferença entre as duas entalpias.

Por isso, é importante que ambos valores estejam determinados a partir de um mesmo

referencial de quantificação. Como cada substância possui seu referencial mais

conveniente, suas condições de referência distinguem-se e por isso deve-se investigar,

previamente à aplicação da conservação de energia, uma base comum e consistente. Logo,

define-se o estado de referência pela temperatura de 25 °C e pressão de 0,1 MPa, no qual

a entalpia dos elementos é admitida nula. É natural indagar-se, neste momento, acerca do

valor a ser atribuído à entalpia de cada substância, quando submetida à condição de

referência. Caso todas as magnitudes igualem-se, restaria apenas a vazão de combustível

para atingir o objetivo final. Infelizmente não é essa a situação. Certos compostos

possuem uma entalpia de formação, pois liberam ou absorvem calor, quando formados a

partir de seus elementos, na condição de referência. Logo, expressa-se a entalpia total da

seguinte forma:

ℎ𝑇,𝑃 = (ℎ𝑓0)

298 𝐾;0,1 𝑀𝑃𝑎+ (Δℎ)

298 𝐾; 0,1 𝑀𝑃𝑎 (3.50)

Onde o subscrito “f” refere-se à entalpia de formação e o índice “0” refere-se ao

estado padrão de 298 K e 0,1 MPa (WYLEN et al., 2009). Traduzindo, a equação acima

expõe que para todas as substâncias envolvidas no processo de combustão, a entalpia

relativa a uma determinada pressão e temperatura é igual à soma entre a sua entalpia de

formação e a diferença entre a entalpia neste estado desejado e a entalpia a 298 K e 0,1

Mpa. Por conveniência, refere-se à entalpia em base molar denotada com uma barra acima

de h. Atenta-se que, para um elemento, a entalpia de formação é nula. Seguem abaixo

todas as entalpias de formação (WYLEN et al., 2009).

(ℎ𝑓0)

𝐶𝐻4= −74873 𝑘𝐽/𝑘𝑚𝑜𝑙

(ℎ𝑓0)

𝐶𝑂2= −393522 𝑘𝐽/𝑘𝑚𝑜𝑙

(ℎ𝑓0)

𝐻2𝑂(𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟)= −241826 𝑘𝐽/𝑘𝑚𝑜𝑙

Page 39: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

28

(ℎ𝑓0)

𝑁2= 0 𝑘𝐽/𝑘𝑚𝑜𝑙

(ℎ𝑓0)

𝑂2= 0 𝑘𝐽/𝑘𝑚𝑜𝑙

Como presume-se temperatura dos produtos elevada, considera-se que a água

presente ao final da reação encontra-se vaporizada.

Para aplicar a primeira lei da termodinâmica ao sistema reagente, necessita-se

anteriormente saber a vazão mássica ou molar de metano. Uma boa estimativa inicial para

esta vazão mássica, capaz de aquecer satisfatoriamente o gerador, é de 0,06 kg/s, ou,

sabendo que a massa molar de metano vale 16,043 kg/kmol, 0,0037 kmol/s (nCH4). Esta

vazão deve ser suficiente para aquecer o gerador à temperatura desejada. Caso o valor

atribuído a esta grandeza pelo usuário seja inferior ao exigido termicamente, deve haver

um alerta que informe esta impossibilidade.

Finalmente a primeira lei da termodinâmica para este sistema reagente pode ser

aplicada como segue abaixo:

��𝐺 = ∑ 𝑛𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎ℎ𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎

𝑅

− ∑ 𝑛𝑠𝑎í𝑑𝑎ℎ𝑠𝑎í𝑑𝑎

𝑃

(3.51)

Onde:

∑ 𝑛𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎ℎ𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎

𝑅

= 𝑛𝐶𝐻4(ℎ𝐶𝐻4

+ 2Φℎ𝑂2(𝑅) + 7,52Φℎ𝑁2(𝑅))

∑ 𝑛𝑠𝑎í𝑑𝑎ℎ𝑠𝑎í𝑑𝑎

𝑃

= 𝑛𝐶𝐻4(ℎ𝐶𝑂2

+ 2ℎ𝐻2𝑂(𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟) + 7,52Φℎ𝑁2(𝑃) + 2(Φ − 1)ℎ𝑂2(𝑃))

E:

ℎ𝐶𝐻4= (ℎ𝑓

0)𝐶𝐻4

+ (Δℎ)𝑇𝑎𝑚𝑏,𝑃𝑎𝑡𝑚

ℎ𝑂2(𝑅) = (Δℎ)𝑇𝑎𝑚𝑏 ,𝑃𝑎𝑡𝑚

ℎ𝑁2(𝑅) = (Δℎ)𝑇𝑎𝑚𝑏,𝑃𝑎𝑡𝑚

ℎ𝐶𝑂2= (ℎ𝑓

0)𝐶𝑂2

+ (Δℎ)𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚

ℎ𝐻2𝑂(𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟) = (ℎ𝑓0)

𝐻2𝑂(𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟)+ (Δℎ)

𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚

ℎ𝑁2(𝑃) = (Δℎ)𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚

ℎ𝑂2(𝑃) = (Δℎ)𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚

A temperatura final dos produtos é, então, a temperatura para a qual a equação

3.51 é satisfeita. Possuindo esta informação, fixa-se todos os estados das substâncias, ou

Page 40: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

29

seja, habilita-se a calcular as exergias da câmara de combustão e consequentemente a

irreversibilidade deste equipamento.

3.3.3. EXERGIA E IRREVERSIBILIDADE

Por fim, atinge-se a meta final: o cálculo das exergias ou disponibilidades. Antes,

é importante entender precisamente, o que é esta grandeza, a fim de esclarecer a sua

relevância. Ela é a quantificação do potencial de uma fonte energética, ou seja, é o

máximo trabalho reversível, que uma massa num certo estado é capaz de gerar. Contudo,

esta medida pressupõe noção de um estado final da matéria que tornará máximo o trabalho

reversível. Esta condição é o estado em equilíbrio com o meio, pois desta forma não

ocorrerá nenhuma variação espontânea de estado e o sistema não será capaz de realizar

trabalho. Precisamente, isto significa estar em equilíbrio térmico (uniformidade de

temperatura) e (uniformidade de pressão) mecânico com o meio. Também deve estar em

equilíbrio químico com o meio, implicando na não existência de qualquer reação química.

O equilíbrio com o meio também requer que o sistema tenha velocidade zero e energia

potencial mínima. Exigências análogas podem ser estabelecidas em relação aos efeitos

magnéticos, elétricos e superficiais, se estes forem relevantes na formulação do problema

(WYLEN et al., 2009). Considera-se apenas o máximo trabalho reversível associado a

um escoamento permanente, pois supõe-se que todos os processos do ciclo de absorção e

dos sistemas auxiliares ocorrem desta maneira. Então, a equação do máximo trabalho

específico reversível para uma substância entrando em um volume de controle em um

dado estado é:

𝑤𝑟𝑒𝑣 = (ℎ +𝑉𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎

2

2+ 𝑔𝑍 − 𝑇0𝑠𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎) − (ℎ0 + 𝑔𝑍0 − 𝑇0𝑠0) + 𝑞 (1 −

𝑇0

𝑇𝑓𝑜𝑛𝑡𝑒) (3.52)

Onde o subscrito “0” identifica uma propriedade à condição ambiente (sendo a

pressão ambiente igual à 101325 Pa). Os dois primeiros termos do lado direito da equação

são a contribuição do escoamento ao trabalho líquido reversível e o último termo é

associado a uma transferência reversível de energia por interação calor na fronteira com

um reservatório térmico a Tfonte. Ou seja, este terceiro componente contabiliza a troca

térmica ideal, gerando resultados superestimados, quando contrastados com a realidade.

Por isso foi importante definir sistemas auxiliares ao ciclo de refrigeração principal e

modelar interações térmicas mais fidedignas ao fenômeno natural.

Page 41: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

30

Designa-se o trabalho reversível máximo da matéria em um determinado estado,

por unidade de massa que escoa em regime permanente, adiabaticamente, por

disponibilidade ou exergia por unidade de massa:

Ψ = (ℎ +𝑉𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎

2

2+ 𝑔𝑍 − 𝑇0𝑠𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎) − (ℎ0 + 𝑔𝑍0 − 𝑇0𝑠0) (3.53)

Abaixo encontram-se as exergias de todos os estados do ciclo de refrigeração principal,

da rede de água de resfriamento e do sistema de água gelada:

Tabela 3.1 – Fórmulas das exergias de cada estado

Ψ1 [ℎ1 − 𝑇0𝑠1] − [ℎ1(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥1) − 𝑇0𝑠1(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥1)]

Ψ2 [ℎ2 − 𝑇0𝑠2] − [ℎ2(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥2) − 𝑇0𝑠2(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥2)]

Ψ3 [ℎ3 − 𝑇0𝑠3] − [ℎ3(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥3) − 𝑇0𝑠3(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥3)]

Ψ4 [ℎ4 − 𝑇0𝑠4] − [ℎ4(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥4) − 𝑇0𝑠4(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥4)]

Ψ5 [ℎ5 − 𝑇0𝑠5] − [ℎ5(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥5) − 𝑇0𝑠5(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥5)]

Ψ6 [ℎ6 − 𝑇0𝑠6] − [ℎ6(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥6) − 𝑇0𝑠6(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥6)]

Ψ7 [ℎ7 − 𝑇0𝑠7] − [ℎ7(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥7) − 𝑇0𝑠7(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥7)]

Ψ8 [ℎ8 − 𝑇0𝑠8] − [ℎ8(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥8) − 𝑇0𝑠8(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥8)]

Ψ9 [ℎ9 − 𝑇0𝑠9] − [ℎ9(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥9) − 𝑇0𝑠9(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥9)]

Ψ10 [ℎ10 − 𝑇0𝑠10] − [ℎ10(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥10) − 𝑇0𝑠10(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥10)]

Ψ11 [ℎ11 − 𝑇0𝑠11] − [ℎ11(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥11) − 𝑇0𝑠11(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥11)]

Ψ12 [ℎ12 − 𝑇0𝑠12] − [ℎ12(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥12) − 𝑇0𝑠12(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0, 𝑥12)]

Ψ𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 [ℎ𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 − 𝑇0𝑠𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑] − [ℎ𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0) − 𝑇0𝑠𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0)]

Ψ𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑 [ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑 − 𝑇0𝑠𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑] − [ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0) − 𝑇0𝑠𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0)]

Ψ𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠 [ℎ𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠 − 𝑇0𝑠𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠] − [ℎ𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0) − 𝑇0𝑠𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0)]

Ψ𝑜𝑢𝑡,𝑎𝑏𝑠 [ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑎𝑏𝑠 − 𝑇0𝑠𝑜𝑢𝑡,𝑎𝑏𝑠] − [ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑎𝑏𝑠(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0) − 𝑇0𝑠𝑜𝑢𝑡,𝑎𝑏𝑠(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0)]

Ψ𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙 [ℎ𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙 − 𝑇0𝑠𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙] − [ℎ𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0) − 𝑇0𝑠𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0)]

Ψ𝑜𝑢𝑡,𝑑𝑒𝑓𝑙 [ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑑𝑒𝑓𝑙 − 𝑇0𝑠𝑜𝑢𝑡,𝑑𝑒𝑓𝑙] − [ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑑𝑒𝑓𝑙(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0) − 𝑇0𝑠𝑜𝑢𝑡,𝑑𝑒𝑓𝑙(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0)]

Ψ𝑖𝑛,𝑒𝑣𝑎𝑝 [ℎ𝑖𝑛,𝑒𝑣𝑎𝑝 − 𝑇0𝑠𝑖𝑛,𝑒𝑣𝑎𝑝] − [ℎ𝑖𝑛,𝑒𝑣𝑎𝑝(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0) − 𝑇0𝑠𝑖𝑛,𝑒𝑣𝑎𝑝(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0)]

Ψ𝑜𝑢𝑡,𝑒𝑣𝑎𝑝 [ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑒𝑣𝑎𝑝 − 𝑇0𝑠𝑜𝑢𝑡,𝑒𝑣𝑎𝑝] − [ℎ𝑜𝑢𝑡,𝑒𝑣𝑎𝑝(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0) − 𝑇0𝑠𝑜𝑢𝑡,𝑒𝑣𝑎𝑝(𝑃 = 𝑃0, 𝑇 = 𝑇0)]

Assim, o trabalho reversível deve ser igual à soma da variação da exergia

associada ao fluido que escoa no volume de controle. A diferença entre o trabalho

realizado no processo reversível e o trabalho realizado no processo real é uma medida da

extensão da irreversibilidade por unidade de massa que escoa no volume de controle. A

Page 42: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

31

taxa de geração de irreversibilidade também pode ser relacionada às variações de exergia.

Imaginando diversos escoamentos não reagentes saindo e entrando do volume de

controle, a equação desta taxa, que será utilizada para análise dos equipamentos, é:

𝐼��𝑜𝑙.𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒 = (∑ ��𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎Ψentrada − ∑ ��𝑠𝑎í𝑑𝑎Ψsaída) − ��𝑟𝑒𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜 (3.54)

A taxa de irreversibilidade pode ser interpretada como a taxa de destruição de

exergia e esta taxa é diretamente proporcional a de geração de entropia no volume de

controle (WYLEN et al., 2009). Por isso, compara-se as irreversibilidades de cada

equipamento de um sistema para encontrar, onde deve-se focar a otimização de um ciclo

termodinâmico. Esta é a principal informação que estará à disposição ao final deste

trabalho e as fórmulas das irreversibilidades de cada equipamento do ciclo de refrigeração

por absorção água-amônia, excluindo a coluna de retificação (pois possui o gerador),

seguem organizadas abaixo:

Tabela 3.2 – Fórmulas das irreversibilidades de cada equipamento

𝐼��𝑜𝑚𝑏𝑎 ��1Ψ1 − ��2Ψ2 + ��𝑃𝜂𝑚

𝐼��𝑟𝑜𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟 1 ��8Ψ8 + ��11Ψ11 − ��9Ψ9 − ��12Ψ12

𝐼��𝑜𝑛𝑑𝑒𝑛𝑠𝑎𝑜𝑟 ��7Ψ7 − ��8Ψ8 + ��𝑐𝑜𝑛𝑑(Ψ𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 − Ψ𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑)

𝐼��𝑟𝑜𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟 2 ��4Ψ4 + ��2Ψ2 − ��5Ψ5 − ��3Ψ3

𝐼��𝑎𝑙𝑣.𝑑𝑒 𝑒𝑥𝑝. 1 ��9Ψ9 − ��10Ψ10

𝐼��𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 ��10Ψ10 − ��11Ψ11 + ��𝑒𝑣𝑎𝑝(Ψ𝑖𝑛,𝑒𝑣𝑎𝑝 − Ψ𝑜𝑢𝑡,𝑒𝑣𝑎𝑝)

𝐼��𝑏𝑠𝑜𝑟𝑣𝑒𝑑𝑜𝑟 ��6Ψ6 + ��12Ψ12 − ��1Ψ1 + ��𝑎𝑏𝑠(Ψ𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠 − Ψ𝑜𝑢𝑡,𝑎𝑏𝑠)

𝐼��𝑎𝑙𝑣.𝑑𝑒 𝑒𝑥𝑝. 2 ��5Ψ5 − ��6Ψ6

A equação acima de taxa de irreversibilidade é inapropriada à aplicação em

sistemas reagentes, pois possui inconsistência de referenciais da entropia e da entalpia,

assim como já abordado ao analisar-se a conservação de energia na combustão. Neste

primeiro tratamento, solucionou-se a incoerência presente nos cálculos de variação de

entalpia. Agora, discute-se e desata-se a divergência de bases nos cálculos de variação de

entropia. A terceira lei da termodinâmica estabelece este referencial absoluto, afirmando

que a entropia de um cristal perfeito a temperatura zero absoluto é nula. Isto significa que,

de um ponto de vista estatístico, a estrutura do cristal apresenta o grau máximo de ordem

e que a energia térmica é mínima, pois a temperatura é zero absoluto. O cálculo da

entropia absoluta de uma substância em qualquer estado envolve, então, o seu valor a

25°C e a 0,1MPa somado a variação da entropia entre este estado e o outro estado

Page 43: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

32

desejado. WYLEN et al. (2009) fornece a entropia absoluta a 25°C de temperatura e

0,1MPa de pressão, considerando que gases neste estado comportam-se como perfeitos.

(��𝑓0)

𝐶𝐻4= 186,251 𝑘𝐽/𝑘𝑚𝑜𝑙𝐾

(��𝑓0)

𝐶𝑂2= 213,795 𝑘𝐽/𝑘𝑚𝑜𝑙𝐾

(��𝑓0)

𝐻2𝑂(𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟)= 188,834 𝑘𝐽/𝑘𝑚𝑜𝑙𝐾

(��𝑓0)

𝑁2= 191,609 𝑘𝐽/𝑘𝑚𝑜𝑙𝐾

(��𝑓0)

𝑂2= 205,148 𝑘𝐽/𝑘𝑚𝑜𝑙K

O subscrito “f” denota que a entropia é absoluta, o índice “0” mostra que a entropia

é avaliada a 25°C e 0,1MPa e a barra expõe que a base da entropia é molar. Logo, a

fórmula geral para o cálculo de qualquer componente envolvido na combustão é:

��𝑇,𝑃 = ��𝑓0 + Δ��0→𝑇,𝑃 (3.55)

Com esta informação determina-se, enfim, a irreversibilidade na câmara de

combustão:

𝐼��𝑜𝑚𝑏𝑢𝑠𝑡𝑜𝑟 = ∑ 𝑛𝑠𝑎í𝑑𝑎𝑇0��𝑠𝑎í𝑑𝑎

𝑃

− ∑ 𝑛𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎𝑇0��𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎

𝑅

− ��𝑐𝑜𝑚𝑏𝑢𝑠𝑡𝑜𝑟 (3.56)

Onde:

∑ 𝑛𝑠𝑎í𝑑𝑎𝑇0��𝑠𝑎í𝑑𝑎

𝑃

= 𝑛𝐶𝐻4𝑇0 (𝑠𝐶𝑂2

𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚

+ 2𝑠𝐻2𝑂 𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚

+ 7,52Φ𝑠𝑁2

𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚+ 2(Φ − 1)𝑠𝑂2

𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚

)

∑ 𝑛𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎𝑇0��𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎

𝑅

= 𝑛𝐶𝐻4𝑇0 (𝑠𝐶𝐻4

𝑇𝑎𝑚𝑏 ,𝑃𝑎𝑡𝑚

+ 2Φ𝑠𝑂2

𝑇𝑎𝑚𝑏,𝑃𝑎𝑡𝑚+ 7,52Φ𝑠𝑁2

𝑇𝑎𝑚𝑏,𝑃𝑎𝑡𝑚

)

��𝑐𝑜𝑚𝑏𝑢𝑠𝑡𝑜𝑟 = ��𝐺

Logo, a irreversibilidade presente em um volume de controle, que engloba a

coluna de retificação, a câmara de combustão e o deflagmator é expressa na seguinte

fórmula:

𝐼��𝑜𝑙𝑢𝑛𝑎 = ��𝑑𝑒𝑓𝑙(Ψin,defl − Ψout,defl) + ��3Ψ3 − ��7Ψ7 − ��4Ψ4 + 𝐼��𝑜𝑚𝑏𝑢𝑠𝑡𝑜𝑟 (3.57)

3.3.4. SEGUNDA LEI PARA PROCESSOS EM REGIME PERMANENTE

Uma forma análoga de analisar o grau de irreversibilidade do ciclo, que também

está presente neste trabalho é através da variação líquida de entropia no ciclo. Como a

geração de entropia é uma medida de destruição de disponibilidade e, pela segunda lei da

termodinâmica, cada processo provocar variação líquida de entropia positiva, sua

Page 44: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

33

derivação é relevante para a análise do ciclo. A expressão que define a taxa variação de

entropia em um processo adiabático em regime permanente é:

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜 = ∑ ��𝑠𝑎í𝑑𝑎𝑠𝑠𝑎í𝑑𝑎 − ∑ ��𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 (3.58)

Observa-se que, neste caso, apenas os escoamentos, atravessando o volume de

controle estudado contribuem para a geração de entropia. Esta equação é considerada nos

cálculos do ciclo, pois todas as trocas térmicas foram modeladas com o auxílio de

sistemas secundários, que interagiam termicamente com o ciclo principal. Portanto, neste

trabalho não há fluxo de calor sobre qualquer equipamento.

Segue abaixo a tabela contendo as formulações de cada equipamento presente no

ciclo de refrigeração (excluído a coluna de retificação, pois possui o combustor acoplado).

Tabela 3.3 – Fórmulas de geração de entropia de cada equipamento

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 ��2s2 − ��1s1

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑡𝑟𝑜𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟 1 −��8s8−��11s11 + ��9s9 + ��12s12

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑐𝑜𝑛𝑑𝑒𝑛𝑠𝑎𝑜𝑟 −��7s7 + ��8s8 − ��𝑐𝑜𝑛𝑑(s𝑖𝑛,𝑐𝑜𝑛𝑑 − s𝑜𝑢𝑡,𝑐𝑜𝑛𝑑)

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑡𝑟𝑜𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟 2 −��4s4 − ��2s2 + ��5s5 + ��3s3

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑣𝑎𝑙𝑣.𝑑𝑒 𝑒𝑥𝑝. 1 −��9s9 + ��10s10

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑒𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 −��10s10 + ��11s11 − ��𝑒𝑣𝑎𝑝(s𝑖𝑛,𝑒𝑣𝑎𝑝 − s𝑜𝑢𝑡,𝑒𝑣𝑎𝑝)

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑎𝑏𝑠𝑜𝑟𝑣𝑒𝑑𝑜𝑟 −��6s6 − ��12s12 + ��1s1 − ��𝑎𝑏𝑠(s𝑖𝑛,𝑎𝑏𝑠 − s𝑜𝑢𝑡,𝑎𝑏𝑠)

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑣𝑎𝑙𝑣.𝑑𝑒 𝑒𝑥𝑝. 2 −��5s5 + ��6s6

Para a reação de combustão na câmara que fornece calor ao gerador, a seguinte

formulação é necessária:

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑐𝑜𝑚𝑏 = ∑ 𝑛𝑠𝑎í𝑑𝑎��𝑠𝑎í𝑑𝑎

𝑃

− ∑ 𝑛𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎��𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎

𝑅

(3.59)

Onde:

∑ 𝑛𝑠𝑎í𝑑𝑎��𝑠𝑎í𝑑𝑎

𝑃

= 𝑛𝐶𝐻4(𝑠𝐶𝑂2

𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚

+ 2𝑠𝐻2𝑂 𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚

+ 7,52Φ𝑠𝑁2

𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚+ 2(Φ − 1)𝑠𝑂2

𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙,𝑃𝑎𝑡𝑚

)

∑ 𝑛𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎��𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎

𝑅

= 𝑛𝐶𝐻4(𝑠𝐶𝐻4

𝑇𝑎𝑚𝑏,𝑃𝑎𝑡𝑚

+ 2Φ𝑠𝑂2

𝑇𝑎𝑚𝑏,𝑃𝑎𝑡𝑚+ 7,52Φ𝑠𝑁2

𝑇𝑎𝑚𝑏,𝑃𝑎𝑡𝑚

)

Portanto, a entropia gerada em um volume de controle sobre a coluna de

retificação, o deflagmator e o combustor é formulada a seguir:

��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑐𝑜𝑙 = ��7𝑠7 + ��4𝑠4 − ��3𝑠3 + ��𝑑𝑒𝑓𝑙(𝑠𝑜𝑢𝑡,𝑑𝑒𝑓𝑙 − 𝑠𝑖𝑛,𝑑𝑒𝑓𝑙) + ��𝑔𝑒𝑟𝑎çã𝑜,𝑐𝑜𝑚𝑏 (3.60)

A irreversibilidade é uma característica inerente a processos reais, logo

irreversibilidades negativas tratam-se de violações à segunda lei da termodinâmica e

Page 45: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

34

devem ser alertadas ao usuário para que ele forneça novos inputs. Os únicos dois

equipamentos ainda não discutidos, que poderiam violar a segunda lei da termodinâmica

são os trocadores de calor 1 e 2 (ver Figura 2.3). Esta situação poderia ocorrer, pois não

há approaches definidos entre as temperaturas extremas de cada trocador, ou seja, não há

restrições que evitem a extrapolação das temperaturas de entrada. Então, caso isso

aconteça nestes equipamentos, as suas irreversibilidades acusarão através de valores

negativos e então, por meio desta condição, deve ser exposto um alerta relatando este

acontecimento.

Após obter todas estas informações teóricas relacionadas a irreversibilidade, já

deve ser possível derivar uma quantificação para o desempenho total de um ciclo de

refrigeração por absorção sob a ótica da segunda lei da termodinâmica. Esta grandeza

almejada denota-se eficiência de segunda lei e define-se como a razão entre a variação de

exergia no processo desejado e a variação de exergia dos insumos utilizados para a

obtenção do processo desejado. No caso estudado, a fórmula desta quantidade é:

𝜂2ª 𝐿𝑒𝑖 =��𝑒𝑣𝑎𝑝(Ψ𝑜𝑢𝑡,𝑒𝑣𝑎𝑝 − Ψ𝑖𝑛,𝑒𝑣𝑎𝑝)

𝐼��𝑜𝑚𝑏𝑢𝑠𝑡𝑜𝑟

(3.61)

Page 46: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

35

4. O PROGRAMA

Neste capítulo, apresenta-se as ferramentas utilizadas no desenvolvimento do

solver, a interface gráfica final do programa e as dificuldades técnicas durante a

implementação do solver.

4.1. FERRAMENTAS E INTERFACE GRÁFICA

Finalmente, possui-se todas as ferramentas teóricas capazes de fundamentar a

análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água-amônia determinado

através de quaisquer inputs desejados. Sobre este alicerce, constrói-se um solver em

MATLAB®, capaz de analisar exergeticamente o sistema mencionado e embasar decisões

alinhadas às exigências ambientais atuais. A fim de facilitar a interação com o usuário,

criou-se uma interface gráfica intuitiva dividida em seis painéis. Cada um possui no título

a informação entregue ou exigida ao usuário. A Figura 4.1 o expõe.

Figura 4.1 – Interface gráfica do solver

No painel “Valores de Entrada” estão presentes, além das variáveis de entrada,

seus valores usuais, a fim de indicar ao usuário suas ordens de grandeza. Mais

informações sobre cada input, são obtidas posicionando o ponteiro do mouse sobre a sua

respectiva caixa de texto. Um desenho esquemático do ciclo é introduzido nesta área para

auxiliar a visualização do sistema, bem como a numeração de cada estado.

Page 47: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

36

Caso as unidades das variáveis de entrada desejadas divergirem das unidades

impostas, há, no painel “Conversor de Temperatura, Pressão e Potência para SI” um

conversor de unidades.

Os resultados são mostrados nos demais painéis. Caso os cálculos ocorram sem

qualquer alerta de erro, propriedades relativas aos estados do ciclo de refrigeração por

absorção são exibidas em “Tabela com as Propriedades Termodinâmicas de cada Estado”

e o painel “Gráficos” apresentará o diagrama entalpia-concentração do sistema. Os

valores das irreversibilidades de cada equipamento são escritos em “Tabela das

Irreversibilidades” e ilustrados em gráfico de barras no painel “Gráficos”. “Outros

resultados” referem-se a: taxas de calor indicadas no ciclo, potência cedida à bomba,

eficiências de primeira e segunda lei do ciclo, bem como seu coeficiente de performance,

a taxa de geração de entropia do ciclo e o produto entre e o UA do condensador.

Todos estes resultados foram gerados através do NIST Reference Fluid

Thermodynamic and Transport Properties Database (REFPROP), Version 9.1, pois todas

as propriedades termodinâmicas foram aferidas a partir da base de dados presente neste

software. A função “refpropm.m” torna esta base de dados automaticamente acessível a

outro programa escrito na linguagem MATLAB®. A concentração de amônia na mistura

água-amônia foi avaliada através de duas sub-rotinas, que definem esta propriedade com

tolerância significativa de 10-3, se a solução for líquido saturado ou vapor saturado. Ou

seja, esta função retorna a concentração, conhecidas somente a pressão e a temperatura

do fluido, pois na condição de equilíbrio líquido-vapor precisa-se apenas saber duas

propriedades termodinâmicas da mistura. Se a pressão e a temperatura não formam um

estado saturado, retorna-se uma mensagem de erro, cujo efeito final é um alerta ao

usuário, expondo a incoerência nos dados de entrada. O método de obtenção da

composição da solução envolve achar o zero de uma função, cujo domínio é a

concentração. Então, varia-se a propriedade e encontra-se o valor, que anula a regra. A

função é a diferença entre a temperatura de saturação da solução a pressão fixa e

concentração variável (de 0 a 1) e a temperatura fornecida pelo usuário. Portanto, igualar

estes dois valores, significa alcançar a variável independente desejada. Foi utilizado o

método da bissecção para empatar as duas temperaturas e atingir a raiz. A figura 4.2 expõe

um fluxograma, contendo a lógica de programação desta sub-rotina.

Page 48: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

37

Figura 4.2 – Fluxograma da sub-rotina de cálculo da concentração

4.2. DIFICULDADES TÉCNICAS

A concentração de amônia, após o processo de retificação, é próxima à unidade

(aproximadamente amônia pura). Se sua magnitude ultrapassar 99%, o cálculo das

temperaturas dos estados 10 e 11 (estados misturados de líquido e vapor), a partir da base

de dados do REFPROP, divergirá. Evita-se esta discrepância, considerando, nesta

condição, que escoa amônia pura do condensador ao evaporador. Ou seja, nestes casos, a

temperatura, a pressão e a concentração (amônia pura) do estado (7) estão definidos. Este

fato determina o superaquecimento do fluido, pois o usuário escolhe sua pressão e sua

Page 49: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

38

temperatura, mas sua concentração não compõe a condição de saturação. Resumindo, esta

dificuldade técnica, relacionada ao dimensionamento de cada componente na mistura,

resultou em outra modificação do problema final em contraste ao problema original.

Ressalta-se, que, nas duas ocasiões o estado (7) está totalmente definido e então as

elaborações anteriores, presentes na seção 3.2, permanecem válidas. A Figura 4.3

representa um fluxograma contendo a lógica de programação do solver.

Figura 4.3 – Fluxograma do solver

Page 50: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

39

5. CASO EXEMPLO

5.1. INPUTS ORIGINAIS

O exemplo base para a construção deste trabalho foi apresentado na seção 3.2 sem

detalhar os valores dos dados. A intenção, naquela etapa, era desenvolver um método apto

a dimensionar o ciclo de refrigeração, qualquer que fosse a quantia desejada. Agora,

almeja-se fundamentar discussões posteriores acerca do caso de referência utilizado na

análise do programa produzido. Como este caso teste é uma adaptação do exercício

original às condições climáticas do Rio de Janeiro, é necessário rever a lição, revelando

a extensão de cada grandeza dada, justificando possíveis inadequações do sistema original

e, neste processo, exibindo as funcionalidades do solver desenvolvido no projeto.

Portanto, a tabela abaixo exibe os inputs convertidos para SI.

Tabela 5.1 – Inputs originais do exemplo base

Pressão de condensação [MPa] 1,4

Pressão de evaporação [MPa] 0,2

Temperatura no gerador (estado 4) [K] 388,7

Temperatura do estado (7) [K] 327,6

Temperatura ambiente [K] 299,3

Temperatura do estado (3) [K] 366,5

Range de temperatura entre os estados (9) e (8) [K] 5,6

Diferença de temperatura entre o estado (7’) e (3) 5,6

Temperatura do recinto [K] 254,3

Potência frigorífica [kW] 352

Eficiência mecânica da bomba 0,75

Percebe-se imediatamente, que adequar este exemplo à realidade do Rio de

Janeiro, traduz-se basicamente em alterar as temperaturas ambiente e do recinto e as

demais propriedades afetadas por restrições impostas pela existência, não considerada

neste problema base, de uma torre de resfriamento.

Page 51: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

40

5.2. CASO ADEQUADO

Outras grandezas de entrada, não relevantes na análise de primeira lei do ciclo de

refrigeração, mas obrigatórias após a introdução de sistemas secundários auxiliares,

devem ser fornecidas pelo usuário. O calor absorvido pelo gerador é cedido, por meio da

queima de metano, pelo combustor, ou seja, tanto a vazão de metano, quanto a fração de

ar teórico precisam ser determinadas como dados de entrada. Outra grandeza adicional ao

problema base é a vazão mássica de água de arrefecimento no condensador. Apesar destas

três inclusões, houve também uma remoção de input. A diferença de temperatura entre o

estado (7’) e (3) é de difícil acesso ao utilizador do solver, logo, exigi-la limitaria a gama

de possíveis interessados no programa. Por fim, utilizou-se o valor usual de 5°C, retirando

esta decisão indevida.

Então, inicialmente, modifica-se basicamente apenas as temperaturas ambiente e

do recinto em relação aos inputs originais e adiciona-se as demais variáveis solicitadas e

já estimadas anteriormente. A Tabela 5.2 organiza os inputs referentes à primeira

tentativa:

Tabela 5.2 – Primeiros inputs do caso de referência

Pressão de condensação [MPa] 1,4

Pressão de evaporação [MPa] 0,2

Temperatura no gerador (estado 4) [K] 390

Temperatura do estado (7) [K] 330

Temperatura ambiente [K] 305

Temperatura do estado (3) [K] 370

Range de temperatura entre os estados (9) e (8) [K] 5

Vazão mássica de água de resfriamento no condensador [kg/s] 5

Temperatura do recinto [K] 296

Potência frigorífica [kW] 352

Eficiência mecânica da bomba 0,75

Vazão mássica de metano no combustor [kg/s] 0,06

Fração de ar teórico no combustor 1,5

A resposta obtida foi uma mensagem de alerta reportando uma temperatura de

egresso da água gelada do evaporador inferior à temperatura do ponto triplo da água.

Page 52: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

41

Observa-se, que somente após a consideração do sistema de água gelada, encontra-se a

impossibilidade de implementação do ciclo desejado.

Figura 5.1 – Alerta de temperatura abaixo do ponto triplo da água

Como esta temperatura depende da temperatura do estado (10), deve-se elevar este

aquecimento a fim de evitar o erro. Este objetivo é alcançado, elevando a pressão de

evaporação do ciclo, pois o estado (10) é submetido a este estágio de compressão. Então,

rodando novamente o programa, mas agora considerando uma pressão de evaporação

igual a 0,37 MPa, obtém-se a seguinte resposta do programa.

Figura 5.2 – Alerta de inadequação às condições climáticas do Rio de Janeiro

Este novo aviso sinaliza, que a temperatura da água de resfriamento exigida para

arrefecer os equipamentos não pode ser alcançada pela torre de resfriamento, ou seja,

deve-se abrandar esta imposição. Como esta temperatura da água de resfriamento é

definida a partir das exigências impostas pelo condensador, altera-se uma grandeza deste

equipamento, no sentido elevar a temperatura necessária à tarefa de resfriamento deste

trocador. Para tanto, aumenta-se a vazão de água de resfriamento neste equipamento para

10,5 kg/s. Os cálculos ocorrem sem mais alertas e os resultados são exibidos na próxima

seção.

Page 53: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

42

5.3. RESULTADOS

Como mencionado anteriormente, além de uma análise baseada na segunda lei da

termodinâmica, o programa realiza uma avaliação baseada na primeira lei da

termodinâmica, cujos principais resultados são os estados de cada ponto do ciclo principal

e o gráfico entalpia-concentração do ciclo de refrigeração por absorção água-amônia.

Figura 5.3 – Diagrama entalpia-concentração do ciclo de refrigeração calculado

Tabela 5.3 – Estados do ciclo de refrigeração

P [MPa] T [K] X h [kJ/kg] ��

[kg/s] v [m³/kg] Ψ [kJ/kg]

Estado 1 0,37 320,7 0,382 93,9 2,67 0,001 10,6

Estado 2 1,40 320,7 0,382 95,1 2,67 0,001 11,8

Estado 3 1,40 370,0 0,382 338,3 2,67 0,001 39,8

Estado 4 1,40 390,0 0,297 428,7 2,34 0,001 50,0

Estado 5 1,40 332,7 0,297 151,9 2,34 0,001 7,3

Estado 6 0,37 332,7 0,297 151,9 2,34 0,001 6,3

Estado 7 1,40 330,0 1,000 1696,1 0,32 0,103 374,1

Estado 8 1,40 309,4 1,000 516,6 0,32 0,002 355,3

Estado 9 1,40 304,4 1,000 492,3 0,32 0,002 355,2

Estado 10 0,37 269,2 1,000 492,3 0,32 0,045 342,0

Estado 11 0,37 269,2 1,000 1578,6 0,32 0,327 197,7

Estado 12 0,37 269,2 1,000 1602,9 0,32 0,333 194,5

As irreversibilidades de cada equipamento são também expostas pela Tabela 5.4.

Page 54: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

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Tabela 5.4 – Valores das irreversibilidades de cada equipamento

Irreversibilidade [kW]

Bomba 0

Trocador de Calor 1 1

Coluna de Retificação / Gerador / Deflagmator 213

Condensador 6

Trocador de Calor 2 25

Válvula de Expansão 1 4

Evaporador 16

Absorvedor 39

Válvula de Expansão 2 2

Total 307

Figura 5.4 – Gráfico de barras das irreversibilidades de cada equipamento

Nota-se claramente a irreversibilidade da coluna de retificação, deflagmator e

gerador prevalecendo sobre as demais irreversibilidades. Este fato ocorre, pois a

combustão é um processo altamente irreversível. Logo, a queima direta de combustível

deve ser repensada, visando melhorar o aproveitamento de uma fonte térmica. Conclui-

se, então, que este método de fornecimento de calor ao gerador sacrifica insumos

energéticos. Por isso, atualmente, emprega-se este ciclo de refrigeração em projeto de

Page 55: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

44

cogeração, recuperando rejeitos térmicos. Em suma, substitui-se desperdício por

reaproveitamento de um recurso natural. Analisando novamente os resultados, verifica-

se que o equipamento com a segunda maior irreversibilidade é o absorvedor, portanto,

avalia-se que, após a substituição da fonte térmica do gerador, o maior foco do projetista

deve ser aprimorar termicamente esse equipamento.

Outros subprodutos do solver, que equipam o usuário com mais informações sobre

o rendimento do sistema por absorção, são gerados e estão presentes na Tabela 5.5.

Tabela 5.5 – Subprodutos do solver

Potência fornecida à bomba [kW] 4

Taxa de calor fornecida ao gerador [kW] 748

Taxa de calor extraída pelo deflagmator [kW] 97

Taxa de calor cedida ao absorvedor [kW] 625

Taxa de calor extraída pelo condensador [kW] 382

COP 0,47

Eficiência de primeira lei do ciclo 0,066

Eficiência de segunda lei do ciclo 0,017

Taxa de aumento líquido de entropia do ciclo [kW/K] 6

UA do condensador [kW/K] 15

Page 56: análise exergética de um ciclo de refrigeração por absorção água

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6. CONCLUSÕES

Durante o trabalho, foi desenvolvida uma ferramenta tipo solver, que provou-se

polivalente, pois municia o projetista com resultados valiosos de desempenho total e de

cada equipamento do ciclo de refrigeração por absorção água-amônia e adicionalmente,

através dos alertas ao usuário, define instantaneamente as limitações de operação do

sistema. Sua simplicidade técnica provê cálculos ágeis, característica fundamental em

ambientes pedagógicos e no cotidiano de empresas.

Ademais, a interface gráfica atestou-se intuitiva, pois organiza todas as respostas

(incluindo gráficos) e inputs em uma mesma janela, sem necessidade de abas. Este layout

facilita a interpretação de dados, pois possibilita comparações de ordem de grandeza e

comparações visuais entre os valores expostos lado a lado.

No que tange possíveis futuros aperfeiçoamentos do programa, lista-se a

separação na contabilização das irreversibilidades da coluna de retificação, do

deflagmator, do gerador e do combustor, a fim de sofisticar a análise exergética. Outras

alterações desejáveis são o maior detalhamento das interações entre ciclo principal e

sistemas auxiliares e o cálculo das propriedades a partir de formulações próprias (sem

utilizar a base de dados do REFPROP).

Por fim, exalta-se o valor didático do solver, capaz de expor a um estudante de

refrigeração evidências palpáveis do prejuízo causado pelo destino equivocado dado a um

insumo energético. O contraste quantificável entre os diversos componentes do sistema

de refrigeração, possível por meio da análise baseada na segunda lei da termodinâmica,

confere ao pesquisador o auxílio racional às decisões de otimização térmica e exemplifica

a relevância desta avaliação aos olhos de um iniciante. Esta contribuição alinha-se ao

crescimento atual do pensamento ecológico e integrado em detrimento da antiga lógica

reducionista, mecanicista e imersa em preocupações a curto prazo. Esta interligação

torna-se ainda mais óbvia, quando visualiza-se as restrições na implementação de um

ciclo de refrigeração por absorção água-amônia, impostas pelas condições climáticas.

Portanto, evidencia-se que o objetivo final deste trabalho foi alcançado.

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46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CONDE-PETIT, M.R., 2004, Thermophysical Properties of Ammonia + Water

Solutions for the Industrial Design of Absorption Refrigeration Equipment, Zurich, M.

Conde Engineering.

DE FALCO, R., DE MATTOS, E.E., 1998, Bombas Industriais. 2 ed. Rio de

Janeiro, Interciência.

KUEHN, T.H., RAMSEY, J.W. THRELKELD, J.L., 1998, Thermal

Environmental Engineering, 3 ed. New Jersey, Prentice-Hall Inc.

LIENHARD IV, J.H., LIENHARD V, J.H., 2012, A Heat Transfer Textbook. 4

ed. Massachusetts, Phlogiston Press.

WYLEN, V.; BORGNAKKE, C.; SONNTAG, R. E. Fundamentos da

Termodinâmica. 7th ed. São Paulo: Blucher, 2009.

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ANEXO A – RESSALVAS SOBRE A UTILIZAÇÃO DO REFPROP

A versão 9.1 do REFPROP proporciona cálculos mais ágeis de propriedades

termodinâmicas da solução água-amônia em relação à versão 9.0. No entanto, os novos

ajustes de curvas utilizados nestas apurações possuem acurácia inferior, quando

comparados com as anteriores. Por vezes, estes erros de aproximação geram avaliações,

que divergem da realidade e em certos casos impossibilitam, inclusive, a convergência

computacional dos valores das grandezas desejadas.

A fim de utilizar ajustes mais acurados e corrigir este erro, deve-se mover o

arquivo AMMONIAL.FLD para o diretório Refprop\Fluids. Esta modificação funcionará

apenas com a versão 9.1, ou seja, não pode ser realizada com a versão 9.0. O arquivo

AMMONIAL.FLD não substituirá o arquivo AMMONIA.FLD.

Após esta mudança, a substância deverá ser referida, na função “refpropm.m”,

pela denotação “ammonial” e não “ammonia”, como seria o padrão anterior. O arquivo

modificado está disponível em:

<http://www.boulder.nist.gov/div838/theory/refprop/901/REFPROP.HTM>. Acesso em:

28/07/2015.

Outro arquivo necessário à execução do programa é o “rp_proto.m” (caso o

sistema seja 32 bits) ou “rp_proto64.m” (caso o sistema seja de 64 bits). O arquivo

correspondente a versão utilizada pelo usuário deve estar no mesmo diretório do

“refpropm.m” e do algoritmo de análise exergética (“Projeto_Final_Refprop_Final.fig” e

“Projeto_Final_Refprop_Final.m”). As funções referentes ao cálculo das concentrações

(“bissecTx_refprop.m” e “bissecTy_refprop.m”) e a imagem do diagrama esquemático

de um ciclo de refrigeração por absorção água-amônia (Exemplo 553.bpm) também

compõe o diretório, onde será executado o programa.