13
ANÁLISE GEOGRÁFICA DA CONDIÇÃO DE GESTÃO DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DO CERRADO - CAMPO MOURÃO Jéssica Assis, (IC, Bolsa Fecilcam), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] Oséias Cardoso, (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] RESUMO: O que motivou o desenvolvimento desta pesquisa está relacionado a situações de conflito associadas aos objetivos de uso das Unidades de Conservação (UCs) urbanas e o desencontro de informações entre gestores e a população influenciada pela área protegida. Nesse contexto a pesquisa se prestou a diagnosticar fragilidades de gestão e apontar caminhos adequados para o manejo de áreas protegidas no espaço urbano. As UCs urbanas são consideradas áreas especialmente protegidas, a sua presença no meio urbano as coloca em uma posição especial quanto aos propósitos de conservação dos recursos naturais e manutenção do conforto ambiental. Essa situação pode ser contemplada quando a unidade apresenta os recursos e elementos básicos para gestão adequada, com a ausência desses elementos, o contrário passa a ser uma realidade que incomoda duramente a sociedade. Observando a condição de incertezas relacionadas às funções de unidades de conservação localizada em área urbana, o objetivo central desta pesquisa esteve associado ao fato da Estação Ecológica Cerrado de Campo Mourão apresentar todas as características de uma área que pode ter suas funções definidas através da instrumentalidade geográfica e que, apontadas as lacunas na gestão da unidade torna-se possível colaborar para ampliar a eficácia desse procedimento. Palavras-chave: Espaço urbano. Unidade de Conservação. Gerenciamento de áreas verdes. INTRODUÇÃO Questões a cerca de problemas ambientais tomaram amplas proporções chegando a alcançar todos os setores da sociedade moderna e seu complexo modelo de estruturação. O acelerado crescimento urbano das últimas décadas desencadeou uma série de problemas sociais e ambientais que ainda são notadamente perceptíveis na atual configuração do espaço, com adendo especial ao cunho ambiental, onde a ocupação humana em áreas antes constituídas de ricos sistemas ecológicos perdeu toda ou a maior parte de seu espaço original. O propósito do presente estudo enquadra-se na perspectiva analítica e de identificação de algumas destas áreas que hoje estão envolvidas pela malha urbana, conhecidas como Unidades de Conservação (UCs). De acordo com Milano (2002) além de preservar belezas cênicas, paisagens bucólicas e ambientes históricos para gerações futuras, as áreas protegidas assumiram objetivos, como a proteção de recursos hídricos locais, manejo de recursos naturais, desenvolvimento de pesquisas científicas, manutenção do equilíbrio climático e ecológico, preservação de recursos genéticos, e, atualmente, constituem o eixo de estruturação da preservação in situ da biodiversidade como um todo. Devido a condição de incertezas relacionadas às funções de unidades de conservação localizadas em área urbana, o objetivo central desta pesquisa esteve associado ao fato da Estação Ecológica do Cerrado apresentar todas as características de uma área que pode ter suas funções definidas através da identificação da situação geográfica e da condição atual de gestão da unidade.

ANÁLISE GEOGRÁFICA DA CONDIÇÃO DE GESTÃO DA … · e a inexistência de elementos norteadores para o manejo, estarão sendo relacionados a um fator ainda ... Obtida através

Embed Size (px)

Citation preview

ANÁLISE GEOGRÁFICA DA CONDIÇÃO DE GESTÃO DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DO

CERRADO - CAMPO MOURÃO

Jéssica Assis, (IC, Bolsa Fecilcam), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] Oséias Cardoso, (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected]

RESUMO: O que motivou o desenvolvimento desta pesquisa está relacionado a situações de conflito associadas aos objetivos de uso das Unidades de Conservação (UCs) urbanas e o desencontro de informações entre gestores e a população influenciada pela área protegida. Nesse contexto a pesquisa se prestou a diagnosticar fragilidades de gestão e apontar caminhos adequados para o manejo de áreas protegidas no espaço urbano. As UCs urbanas são consideradas áreas especialmente protegidas, a sua presença no meio urbano as coloca em uma posição especial quanto aos propósitos de conservação dos recursos naturais e manutenção do conforto ambiental. Essa situação pode ser contemplada quando a unidade apresenta os recursos e elementos básicos para gestão adequada, com a ausência desses elementos, o contrário passa a ser uma realidade que incomoda duramente a sociedade. Observando a condição de incertezas relacionadas às funções de unidades de conservação localizada em área urbana, o objetivo central desta pesquisa esteve associado ao fato da Estação Ecológica Cerrado de Campo Mourão apresentar todas as características de uma área que pode ter suas funções definidas através da instrumentalidade geográfica e que, apontadas as lacunas na gestão da unidade torna-se possível colaborar para ampliar a eficácia desse procedimento. Palavras-chave: Espaço urbano. Unidade de Conservação. Gerenciamento de áreas verdes.

INTRODUÇÃO

Questões a cerca de problemas ambientais tomaram amplas proporções chegando a alcançar

todos os setores da sociedade moderna e seu complexo modelo de estruturação.

O acelerado crescimento urbano das últimas décadas desencadeou uma série de problemas

sociais e ambientais que ainda são notadamente perceptíveis na atual configuração do espaço, com

adendo especial ao cunho ambiental, onde a ocupação humana em áreas antes constituídas de ricos

sistemas ecológicos perdeu toda ou a maior parte de seu espaço original. O propósito do presente

estudo enquadra-se na perspectiva analítica e de identificação de algumas destas áreas que hoje estão

envolvidas pela malha urbana, conhecidas como Unidades de Conservação (UCs).

De acordo com Milano (2002) além de preservar belezas cênicas, paisagens bucólicas e

ambientes históricos para gerações futuras, as áreas protegidas assumiram objetivos, como a proteção

de recursos hídricos locais, manejo de recursos naturais, desenvolvimento de pesquisas científicas,

manutenção do equilíbrio climático e ecológico, preservação de recursos genéticos, e, atualmente,

constituem o eixo de estruturação da preservação in situ da biodiversidade como um todo.

Devido a condição de incertezas relacionadas às funções de unidades de conservação

localizadas em área urbana, o objetivo central desta pesquisa esteve associado ao fato da Estação

Ecológica do Cerrado apresentar todas as características de uma área que pode ter suas funções

definidas através da identificação da situação geográfica e da condição atual de gestão da unidade.

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

DESENVOLVIMENTO

Conceitos e explanações voltadas a unidades de conservação

O crescimento populacional exacerbado dos centros urbanos tornou-se um fenômeno que

dificulta cada vez mais o desenvolvimento e estabelecimento de políticas de preservação em Unidades

de Conservação urbanas brasileiras.

A falta de políticas para o crescimento das cidades tem contribuído para a degradação

ambiental urbana, visto que não são estabelecidos limites adequados de áreas para ocupação humana e

preservação ambiental. Assim, áreas que anteriormente apresentavam predomínio arbóreo acabam

transformando-se em grandes conjuntos habitacionais.

Por apresentarem funções ecológica e socioambiental, as Unidades de Conservação

necessitam de um gerenciamento adequado a fim de que seus recursos sejam preservados e ao mesmo

tempo atenda as carências da sociedade.

O plano de manejo pode contribuir com a gestão das UCs urbanas por ser um documento

técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais da área, se estabelece seu zoneamento e

as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação

das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade (Lei Federal n.º 9985/00).

Os desafios dos governos municipais em manejar essas áreas, a falta de instrumentos, recursos

e a inexistência de elementos norteadores para o manejo, estarão sendo relacionados a um fator ainda

mais delicado, que se formata a partir da sociedade que se aglomera em torno dessas áreas.

Para Ross (1995):

É objeto de preocupação da Geografia de hoje conhecer cada dia mais o ambiente natural de sobrevivência do homem, bem como entender o comportamento das sociedades humanas, suas relações com a natureza e suas relações socioeconômicas e culturais. É, portanto de interesse da Geografia apreender como cada sociedade humana estrutura e organiza o espaço físico-territorial em face das imposições do meio natural, de um lado, e da capacidade técnica, do poder econômico e dos valores socioculturais, de outro. (ROSS, 1995, p. 16).

A atuação de geógrafos em estudos ambientais se dá, primordialmente, ao seu preparo técnico-

científico, teórico metodológico e postura ética e crítica adquirida em sua formação básica, elementos

fundamentais para a análise ambiental. Nesse caso o planejamento e manejo de áreas verdes

localizadas no espaço urbano apresenta-se como um campo de atuação associado a qualificação do

Geógrafo.

Conforme Brito (1999) as UCs são áreas espacialmente definidas, terrestres ou marinhas,

estaduais, federais ou municipais, criadas e regulamentadas por meio de leis ou decretos específicos.

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

Seus objetivos são a conservação in situ da biodiversidade e da paisagem, bem como a manutenção do

conjunto dos seres vivos em seu ambiente, ou seja, plantas, animais, microrganismos, rios, lagos,

cachoeiras, morros, picos e outros, de maneira que possam existir sem sofrer grandes impactos das

ações humanas.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, conceitua as áreas protegidas, ou

unidades de conservação, como sendo:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituída pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, à qual se aplicam garantias adequadas de proteção ( BRASIL, 2000 ).

As definições relacionadas a UCs trazem em sua essência a preocupação com a proteção dos

recursos naturais, esses por sua vez devem apresentar características relevantes. No caso de UCs

localizadas em meio urbano a presença de tais recursos não é uma constante, de contra partida a

importância socioambiental dessas áreas é sobremaneira maior comparada a áreas distantes dos

centros urbanos.

ASPECTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento da pesquisa o enfoque sistêmico baseado na análise integrada de

variáveis teóricas e operacionais conduziu o raciocínio durante a pesquisa.

Foi realizada revisão bibliográfica buscando embasamento teórico que possibilitou a

construção de base necessária para produção de diálogo com o objeto de estudo, facilitando a

compreensão e o desenvolvimento da pesquisa.

Nos trabalhos de campo foram utilizados instrumentos como mapas, imagens orbitais,

equipamento fotográfico.

No intuito de compreendermos aspectos que nos aproxime da atual situação geográfica da área

protegida, identificamos alguns atributos que foram analisados e descritos pontualmente no texto

(Quadro 1).

ATRIBUTOS Metodologia

1) Percentual de floresta com relação à área total

Através de identificação e análise de imagens orbitais são estabelecidos polígonos que posteriormente são calculados utilizando o programa Auto Cad, identifica-se o percentual e o caráter de disposição da vegetação na área pesquisada.

.

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

2) Presença de espécies exóticas e invasoras

De maneira generalizada observamos a paisagem formada pela estrutura da vegetação e fauna local. Utilizamos como base a publicação do Instituto Ambiental do Paraná-IAP sobre espécies exóticas invasoras1.

3) Forma Pode-se identificar através de imagens orbitais a figura aproximada da UC com figuras geométricas: a) Forma aproximadamente circular considerada “ideal”; b) Forma aproximada circular ou oval, “intermedeária”; c) Forma aproximada quadrada ou retangular, “ruim”;

4) Isolamento ou insularidade A partir dos limites da unidade pesquisada foi delimitada uma margem de dois mil metros através da técnica de buffer (elaborado no programa Auto Cad), os polígonos obtidos foram sobrepostos a imagens orbitais. A partir da visualização dessas áreas foram descritas a condição de cada unidade com relação à vegetação de outras áreas protegidas.

5) Localização da área considerando os espaços urbano e rural

alcançada através de observação e análise de imagens orbitais; esta etapa teve como prioridade identificar algumas particularidades das áreas pesquisadas, os aspectos situacionais, tais como: a) Área localizada entre espaços urbanos; b) Área localizada no limite do espaço urbano com o espaço rural:

6) Localização da área considerando o relevo

Obtida através de analise de cartas topográficas, imagens orbitais e observações locais. Para visualização do sítio onde se assenta a unidade pesquisada foi utilizado o Sistema de Processamento de Informações Georeferenciadas – SPRING e software GLOBAL MAPPER;

7) Recursos hídricos presentes na unidade

Baseou-se na identificação e descrição das condições dos recursos hídricos presentes na UC, sejam nascentes, rios ou lagos. Os quesitos considerados perpassam pela qualidade da floresta marginal, presença de lixo, erosão e aspecto visual.

8) Exploração de recursos naturais dentro das unidades

Obtido através de observações locais e entrevista a moradores do entorno.

1 Material disponibilizado pelo Instituto Ambiental do Paraná - IAP através do Programa Estadual de Espécies Exóticas Invasoras que tem como objetivo prevenir a introdução de novas espécies exóticas invasoras e empreender ações para controlar e erradicar aquelas que já se encontram no Estado. Disponível em: http://www.iap.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=811

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

9) Forma predominante de uso do entorno

Levantamento de informações alcançado através de visitas a campo e registros fotográficos.

Quadro 1- Atributos voltados a UC urbana Fonte – Cardoso 2013

Para retratar a condição de gestão foi utilizada como referência básica, a metodologia

originalmente elaborada por Faria (2004). Para essa etapa da pesquisa foram realizadas algumas

adaptações na metodologia, que envolveram principalmente a escolha de indicadores que possibilitem

o cumprimento dos objetivos que envolvem as especificidades da unidade de conservação inserida no

espaço urbano. A esses indicadores foram atribuídos comentários que relataram a situação atual da

unidade.

De acordo com a metodologia utilizada por Cardoso (2013) em UCs urbanas, os indicadores

previamente selecionados foram organizados através de dois âmbitos de gestão:

1- Âmbito Planejamento e Ordenamento

Existência e atualidade do Plano de manejo – refere-se à existência, atualidade e uso de

instrumento de planejamento que aponte as diretrizes para a gestão e manejo da unidade de

conservação.

Zoneamento – refere-se à existência, conhecimento e respeito de algum delineamento físico

dos recursos da área protegida, de acordo com seus atributos e a capacidade de uso de cada uma das

zonas estabelecidas.

Compatibilidade dos usos com os objetivos da unidade – aspecto que está vinculado à

definição conceitual da categoria de gestão, em conformidade com os padrões de classificação aceitos

nacional e internacionalmente.

Programas de manejo – são importantes em qualquer processo de avaliação ou diagnóstico da

gestão, pois se referem aos resultados de um processo de planejamento, podendo ser Programa de

Proteção, Programas de Manutenção e Programa de Educação Ambiental.

Pesquisas e projetos – existência destes na unidade.

2- Âmbito administrativo

Administrador (Responsável) – o administrador da área é o encarregado da direção e condução

da gestão da área. É muito provável que sem um responsável geral a anarquia se estabeleça, impedindo

a eficiência de uso dos recursos da unidade.

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

Corpo de funcionários – procura estabelecer um perfil geral dos funcionários disponíveis para

a gestão da unidade.

Infraestrutura – procura-se verificar se a infraestrutura existente está adequada à demanda

atual e se abarca os programas e/ou atividades desenvolvidas.

Demarcação física da UC – refere-se à porcentagem do perímetro da unidade que se encontra

demarcado comparado ao perímetro demarcável.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Estação Ecológica do Cerrado está localizada no Terceiro Planalto Paranaense ou Planalto

de Guarapuava. Cerca de dois terços da área do território paranaense são constituídos por esse

planalto, que se localiza a oeste da Escarpa da Esperança até o rio Paraná. A unidade situa-se mais

precisamente no planalto de Campo Mourão, que se estende entre os rios Ivaí, Piquiri e Paraná, na

Microrregião de Campo Mourão (figura 1).

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

Figura 1 - Mapa de localização da Estação Ecológica.

No estado do Paraná, a presença de campos de cerrados já foi bastante expressiva (cerca de

1700km²). Todavia, ações antrópicas diminuíram substancialmente estas áreas, possuindo atualmente

alguns traços em poucos municípios paranaenses, como Jaguariaíva, Sengés e Campo Mourão

(Cardoso; Caxambu; Parolin; 2013).

Tratando-se de Campo Mourão, o município iniciou sua urbanização por volta de 1940 em

uma área onde os cerrados eram abundantes; assim, a medida em que a cidade aumentava e a

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

agricultura se estabelecia no entorno, tal vegetação diminuía, ficando concentrada em pequenas

"ilhas". Com o objetivo de preservar tal bioma, foi criado em 1987 (Decreto Municipal nº. 596/93) a

Estação Ecológica do Cerrado em meio a malha urbana mourãoense, sendo considerada a menor

Estação Ecológica brasileira (13.300m²).

A Estação Ecológica do Cerrado encontra-se atualmente em uma área predominantemente

residencial, onde algumas partes da vegetação já foram retiradas para novos loteamentos. A presença

de espécies invasoras bem como a retirada de madeira também são alguns dos problemas que colocam

as cerca de 240 espécies de plantas (85% medicinais) (figura 2) do cerrado em ameaça. Outro

problema deste bioma está relacionado à sua concentração em "ilhas", onde a ausência de uma

distribuição contínua do cerrado dificulta a proliferação de algumas espécies (Cardoso; Caxambu;

Parolin; 2013).

A prefeitura mourãoense realiza algumas tentativas para a preservação do cerrado, como

desconto no IPTU para os moradores que mantêm espécies da vegetação em seus quintais, onde cada

pé de árvores como Angico, Pequi e Barbatimão correspondem à 5% de desconto.

Figura 2 – Exemplares de espécies presentes na Estação Ecológica. Fonte - Acervo pessoal de Luiz Cezar Alves.

A Unidade recebe apoio institucional (ICMS ecológico) embora não seja discriminado na unidade. O

ICMS anual da unidade corresponde à R$3.768,62. De acordo com o IAP (Instituto Ambiental do

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

Paraná) o ICMS ecológico é um instrumento de política pública que trata do repasse de recursos

financeiros aos municípios que abrigam em seus territórios Unidades de Conservação ou áreas

protegidas, ou ainda mananciais para abastecimento de municípios vizinhos.

Identificação de atributos geográficos da Estação Ecológica Cerrado de Campo Mourão

Por meio dos estudos de campo, técnicas de observação e entrevistas não formais, chegou-se a

descrição abaixo, tendo em vista facilitar a visualização da situação geográfica da unidade.

1) Percentual de floresta com relação à área total- Dos 13.300m² que compõem a Estação, 13.000m²

correspondem a cobertura vegetal arbórea ou arbustiva. A unidade encontra-se em um processo de

entrada da vegetação Estacional Semidecidual, por isso, vem sendo realizado um intenso trabalho de

manejo a fim de retirar espécies exóticas e invasoras.

2) Presença de espécies exóticas e invasoras- Aglomerados e indivíduos distribuídos por toda a área,

considerado “muito ruim”. A área possuía um grande aglomerado de espécies exóticas e invasoras,

como Leucena (Leucaena leucocephala) em maior quantidade, Braquiária (Urochloa spp) e Colonião

(Panicum maximum). Todavia, o atual trabalho de manejo realizado com o objetivo de eliminar parte

destas espécies, conseguiu extinguir cerca de 98% da Leucena ali presente. Braquiária e Colonião

também foram retiradas de forma significativa.

3) Forma- Forma aproximada quadrada ou retangular, “ruim”. Além da Estação possuir uma forma

considerada ruim, a área é muito pequena quanto comparada à outras Unidades de Conservação, o que

acaba prejudicando a conectividade, as relações ecossistêmicas e a manutenção da biodiversidade.

4) Isolamento ou insularidade- Área isolada. A Estação Ecológica Cerrado é considerada área isolada

por estar entre elementos urbanos. Todavia, apresenta proximidade com outros fragmentos como o

Lote 7H (área de Cerrado), com áreas de APP (Rio 119 e Rio do Campo), Parque Municipal Gralha

Azul e Parque Municipal Parigot de Souza.

5) Localização da área considerando os espaços urbano e rural- Área localizada entre espaços urbanos.

Salientamos que essa condição torna a gestão dessa UC algo ainda mais complexo.

6) Localização da área considerando o relevo- Área localizada em região de topo. A localização da

Estação é considerada um ponto positivo quanto à gestão da área, pelo fato de não ser uma receptora

de águas de escoamento superficial, que acabam gerando problemas.

7) Recursos hídricos presentes na unidade- Não há presença de recursos hídricos na Unidade.

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

8) Exploração de recursos naturais dentro das unidades- Não foi constatado exploração expressiva de

recursos nessa área.

9) Forma predominante de uso do entorno- O principal uso no entorno da Unidade é de caráter

residencial, com destaque para outros órgãos, como Batalhão da Política Militar e o Sport Club de

Campo Mourão. O crescimento da malha urbana coloca a área protegida em situação de alerta, visto

que construções recentes, como um posto de gasolina, apresentam alto grau de periculosidade para os

recursos naturais ali presentes.

10) A presença da vegetação de Cerrado em Campo Mourão na área protegida atrai um contingente

significativo de pesquisas, principalmente de acadêmicos e, em segunda instância, pesquisadores. A

peculiaridade de algumas espécies alí presentes atraem a população, principalmente para utilização em

chás e medicamentos, com destaque para o Angico (Anadenthera falcata).

Análise prévia das condições de gerenciamento da Estação Ecológica do Cerrado

Planejamento e Ordenamento

� Existência e atualidade do Plano de manejo – a estação não possui plano de

manejo ou qualquer outro programa.

� Zoneamento – Ausente.

� Compatibilidade dos usos com os objetivos da unidade – atende parcialmente os

objetivos.

� Programas de manejo – há um projeto sendo executado em uma parcela da área.

� Acessibilidade – boa. Há vias de acesso tanto da população local quanto da

população que vem de fora.

� Pesquisas e projetos – são realizados pesquisas e projetos na Unidade,

principalmente por acadêmicos da UNESPAR/Fecilcam. Há também registros de

projetos da UTFPR e UEM.

Administrativo

� Administrador – Coordenador geral: Mauro Parolin.

Técnico ambiental: Luiz Cezar Alves.

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

� Corpo de funcionários – composto por um agente estadual mantido pela

UNESPAR.

� Demarcação física da UC – alambrados.

� Apoio e/ou relacionamento Interinstitucional – a Unidade recebe apoio

institucional da Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR - Campus de

Campo Mourão e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR para

realização de pesquisas dos acadêmicos.

Observamos que entre os indicadores avaliados, o que evidenciou a maior lacuna no processo

de gestão da Estação Ecológica, foi à ausência de um Plano de Manejo. O fato da UC não apresentar

um plano dificulta vários aspectos concernentes à gestão e o cumprimento eficaz das funções da área

protegida.

A Estação Ecológica e a sociedade

No decorrer do trabalho, foram realizadas conversas informais com moradores do entorno

sobre a atual situação da Estação Ecológica do Cerrado e de que forma está implica em aspectos do

seu dia-a-dia.

As informações obtidas pelos moradores foi de caráter positivo. Estes veem a Unidade como

um espaço esteticamente agradável e que diferencia o conjunto habitacional dos demais do município

de Campo Mourão. Segundo relatos, o ar é mais puro, o frescor proporcionado pelas árvores é maior e

a presença de animais (principalmente pássaros) é muito agradável.

Alguns moradores relataram que a situação da Unidade já foi diferente, onde a Prefeitura

estava sempre realizando a limpeza e poda do local, fato que não acontece há algum tempo. Foram

destacados também aspectos com relação à segurança, onde foi proposto a contratação de vigilantes

que realizem a segurança da Estação, já que esta está sujeita a qualquer tipo de vandalismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nesse trabalho preliminar, foi possível entender que os indicadores escolhidos são

suficientes para avaliação prévia da gestão da Estação Ecológica do Cerrado, mas é de fundamental

importância ouvir moradores próximos e responsáveis em tempos passado e presente.

Vale destacar a importância dos trabalhos de manejo que vêm sendo realizados na Unidade,

onde, apesar desta encontrar-se num processo de entrada da vegetação Estacional Semidecidual,

conseguiu-se retirar cerca de 99% das espécies exóticas e invasoras, contribuindo para a expansão

deste bioma, mesmo a área sendo muito pequena quanto comparada à outras Unidades de

Conservação.

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

No ano de 1993, a Unidade foi cadastrada junto ao IAP para que esta se enquadrasse no

programa de ICMS Ecológico, já ressaltando um indicativo da necessidade da elaboração de um plano

de manejo. Sendo assim, a proposta final deste trabalho é a da elaboração de um plano de manejo, a

fim de que sejam estabelecidas normas, ações a serem desenvolvidas e restrições para uso deste

bioma.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n° 9.985 de 18 de julho de 2000, que regulamenta o art. 225, § 1°, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em: < www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm> Acesso: 08-04-14.

BRASIL. Resolução do CONAMA nº 369, de 28.03.2006. Disponível em: <www.siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idNorma=5486> Acesso: 19-04-14.

BRITO, M.C.W.; JOLY, C.A.Infraestrutura para Conservação da Biodiversidade In:JOLY, C. A; BICUDO, C. E. M. (Org.) Biodiversidade no Estado de São Paulo, Brasil – Síntese do conhecimento no final do século XX. São Paulo, Fapesp, v. 7, 1999.

CARDOSO, O. Olhar Geográfico sobre a gestão de Unidade de Conservação presente em espaço periurbano. In SEURB - II Simpósio de Estudos Urbanos, 2013, Campo Mourão.

CARDOSO, O; CAXAMBU, M; PAROLIN, M. A espera do fogo: a longa agonia do Cerrado de Campo Mourão. In I Simpósio Nacional de Métodos e Técnicas da Geografia e XXII Semana da Geografia, 2013, Maringá.

CORRÊA, R.L. O Espaço Urbano. São Paulo: Editora Ática, 1999.

FARIA, Helder H. de. Eficácia de gestão de unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo, Brasil. 2004. 401 p. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Estadual Paulista de Presidente Prudente, Presidente Prudente, 2004.

IBAMA (INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS

RENOVÁVEIS) 2002. Roteiro Metodológico para o Planejamento de Unidades de Conservação de Uso Indireto. Brasília: IBAMA.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico –2010. BRASILIA: IBGE 2010.

MACEDO, Silvio Soares; SAKATA, Francine Gramacho. Parques urbanos no Brasil . São Paulo: Edusp, 2003.

MAZZEI, K.; COLSESANTI, M.T.M.; SANTOS, D.G. Áreas verdes urbanas, espaços livres para o lazer. Revista Sociedade & Natureza, Uberlândia - MG, v. 19, n. 1, p. 33-43, jun. 2007.

MILANO, M. S; PÁDUA, M.T. J; AZEVEDO, P.U.E.de. Unidades de Conservação: atualidades e tendências. 2.ed.Curitiba:Fundação O boticário de Proteção à Natureza,2002.

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

MOURA, A. M. M. de. Sustentabilidade política e política ambiental federal no Brasil 1989-1994. 1996. 226 p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável), Universidade de Brasília, Brasília-DF, 1996.

MOURA, J. R. S.; COSTA, V. C. da. Parque Estadual da Pedra Branca: O desafio da gestão de uma unidade de conservação em área urbana. In: GUERRA, A. J. T.; COELHO, M. C. N. (Org.) Unidades de conservação: abordagens e características geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. Cap. 7.

NUCCI, João Carlos. Qualidade Ambiental e Adensamento Urbano. São Paulo:Humanistas/FFLCH-USP, 2001.

Philippi Jr., Arlindo. Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri, SP: Manole, 2005.

ROSS, J. L. S. (org). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e Urbanização. São Paulo: Ed. Contexto, 2000.