Analise Multidimensional Da Sustentabilidade

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    70Agroecol. eDesenv. Rur. Sustent., PortoAlegre, v.3, n.3, J ul/Set 2002

    AnliseMultidimensional daSustentabilidadeUma proposta metodolgica a partir da Agroecologia*

    * Extrado deumtexto mais amplo (Caporal eCostabeber, 2002), intitulado "Agroecologia: enfoque

    cientfico e estratgico paraapoiar o desenvolvimento ruralsustentvel", publicado naSrieProgramade FormaoTcnico-Social daEMATER/RS. Sustentabilidade e

    Cidadania, texto 5.** Engenheiro Agrnomo, MestreemExtenso Rural

    (CPGER/UFSM), Doutorpelo Programade"Agroecologa, Campesinado eHistoria" - ISEC/ETSIAM, Universidad deCrdoba(Espanha),

    ExtensionistaRural eDiretorTcnico daEMATER/RS-ASCAR. E-mail: [email protected]

    *** Engenheiro Agrnomo, MestreemExtenso Rural(CPGER/UFSM), Doutorpelo Programade

    "Agroecologa, Campesinado eHistoria" - ISEC/ETSIAM, Universidad deCrdoba(Espanha),

    ExtensionistaRural eAssessorTcnicodaEMATER/RS-ASCAR. E-mail: [email protected]

    A rtigo

    C aporal, Francisco R oberto**C o s t a b e b e r , J o s A n t n i o * * *

    Resumo: O presente artigo pretende con-tribuir na construo da Agroecologia comoparadigma cientfico a partir da elaborao

    de uma proposta metodolgica para a anli-se multidimensional da sustentabilidade.Iniciamos defendendo a Agroecologia comoum promissor campo de conhecimento, umaCincia com especial potncia para orien-tar processos de transio a estilos de agri-cultura e de desenvolvimento rural susten-tveis. Depois, apontamos a necessidade dereduzir o grave equvoco que vem ocorren-do na definio da Agroecologia, no raras

    vezes assumida como um modelo de agri-cultura, u ma tecnologia ou uma polticapblica. Neste contexto, efetuamos uma

    primeira tentativa de definir seis dimen-ses de anlise da sustentabilidade, levan-

    do-se em conta trs distintos nveis hierr-quicos: dimenses ecolgica, econmica esocial (primeiro nvel); dimenses culturale poltica (segundo nvel); e dimenso tica(terceiro nvel). Conclu mos pela necessi-dade de aprofundar e qualificar esse deba-te, j que uma anlise equivocada da sus-tentabili dade pode comprometer severa-mente nossa capacidade de adequada inter-veno em processos de transio apoiadosnos princpios da Agroecologia.

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    Palavras-chave:Agroecologia, Agricultu-ra Sustentvel, Sustentabilidade, Anlise

    Multidimensional.

    1 Paradigma agroecolgicoe sustentabilidade

    Em anos mais recentes, a referncia cons-tante Agroecologia tem sido bastante positi-va, pois nos faz lembrar de estilos de agricul-tura menos agressivos ao meio ambiente, quepromovem a incluso social e proporcionammelhores condies econmicas aos agricul-tores. Nesse sentido, so comuns as interpre-taes quevinculam a Agroecologia com "umavida mais saudvel"; "uma produo agrcoladentro deuma lgica em que a Natureza mos-tra o caminho"; "uma agricultura socialmen-te justa"; "o ato de trabalhar dentro do meioambiente, preservando-o"; "o equilbrio entrenutrientes, solo, planta, gua e animais"; "ocontinuar tirando alimentos da terra sem es-gotar os recursos naturais"; "um novo equil-

    brio nas relaes homem e natureza"; "umaagricultura sem destruio do meio ambien-te"; "uma agricultura que no exclui nin-gum"; entre outras. Assim, o uso do termoAgroecologia nos tem trazido a idia e a ex-pectativa de uma nova agricultura capaz defazer bem ao homem e ao meio ambiente.

    Entretanto, se mostra cada vez mais evi-denteu ma profunda confuso no uso do ter-mo Agroecologia, gerando interpretaesconceituais que, em muitos casos, prejudi-

    cam o entendimento da Agroecologia comocincia que estabelece as bases para a cons-truo de estilos de agricultura sustentvele de estratgias de desenvolvimento ruralsustentvel. No raro, tem-se confundido aAgroecologia com um modelo de agricultu-ra, com a adoo de determinadas prticasou tecnologias agrcolas e at com a ofertade produtos "limpos" ou ecolgicos, em opo-sio a aqueles caractersticos da RevoluoVerde. Exemplificando, cada vez mais co-

    mum ouvirmos frases equivocadas do tipo:"existe mercado para a Agroecologia"; "a

    Agroecologia produz tanto quanto a agricul-tura convencional"; "a Agroecologia menosrentvel que a agricultura convencional"; "aAgroecologia um novo modelo tecnolgico".Em algumas situaes, chega-se a ouvir que,"agora, a Agroecologia uma poltica pbli-ca". Apesar da provvel boa inteno do seuemprego, todas essas frases e expressesesto equivocadas, se entendermos a Agro-ecologia como enfoque cientfico. Na verda-de, essas interpretaes expressam um

    enorme reducionismo do significado maisamplo do termo Agroecologia, mascarandosua potencialidade para apoiar processos dedesenvolvimento rural sustentvel.

    Como orientao metodolgica, assumi-mos nesse artigo a Agroecologia como um

    enfoque cientfico destinado a apoiar a tran-sio dos atuais modelos de desenvolvimen-to rural e de agricultura convencionais paraestilos de desenvolvimento rural e de agri-cu l tu r a s us ten tvei s (C A PO RA L;COSTABEBER, 2000a; 2000b; 2001, 2002).Partimos especialmente de escritos deAltieri, para quem a Agroecologia constituium enfoque terico e metodolgico que, lan-ando mo de diversas disciplinas cientfi-

    A rtigo

    "... a Agroecologia como um

    enfoque cientfico destinado a

    apoiar a transio dos atuais

    modelos de desenvolvimento

    rural e de agricultura convencio-

    naispara estilos de desenvolvi-

    mento rural e de agricultura

    sustentveis"

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    cas, pretende estudar a ativi-dade agrria sob uma perspec-

    tiva ecolgica1

    . A Agroecologiabaseia-se no conceito de agro-ecossistema como unidade deanlise, tendo como propsito,em ltima instncia, proporci-onar as bases cientficas (prin-c pi os, con cei tos emetodologias) para apoiar o pro-cesso de transio do atual mo-delo de agricultura convencio-nal para estilos de agricultura

    sustentvel (Figura 1), em suasdiversas manifestaes e inde-pendentemente de suas deno-minaes. Ento, mais do que uma disci-plina especfica, a Agroecologia constituium enfoque cientfico que rene vrioscampos de conhecimento (as diversas se-tas representam as contribuies que sorecolhidas de outras cincias ou discipli-nas), uma vez que "reflexes tericas eavanos cientficos, recebidos a partir dedistintas disciplinas", tm contribudo paraconformar o seu atual corpus terico emetodolgico (GUZMN CASADO et al.,2000, p. 81). Assim, o enfoque agroecolgicopode ser definido como "a aplicao dos prin-cpios e conceitos na Ecologia no manejo edesenho de agroecossistemas sus tent-veis", como nos ensina Gliessman (2000),num horizonte temporal (a seta maior re-presenta a transio como um processo gra-

    dual e multilinear atravs do tempo) que dcabida construo e expanso de novossaberes socioambientais, alimentando, as-sim, o processo de transio agroecolgica.

    Esta definio se expande na medida emque a Agroecologia se nutre de outros cam-pos de conhecimento e de outras discipli-nas cientficas, assim como de saberes, co-nhecimentos e experincias dos prpriosagricultores, o que permite o estabeleci-mento de marcos conceituais, metodolgicos

    e estratgicos com maior capacidade paraorientar no apenas o desenho e manejo deagroecossistemas sustentveis, mas tambmprocessos de desenvolvimento rural sustent-vel. preciso deixar claro, porm, que aAgroecologia no oferece, por exemplo, u mateoria sobre Desenvolvimento Rural, sobreMetodologias Participativas e tampouco so-bre Mtodos para a C onstruo e Validaodo Conhecimento Tcnico. Mas busca nosconhecimentos e experincias j acumu-ladas em Investigao-Ao Participativa,por exemplo, um mtodo de i ntervenoque, ademais de manter coerncia comsuas bases epistemolgicas, contribua napromoo das transformaes sociais ne-cessrias para gerar padres de produo econsumo mais sustentveis.

    Adicionalmente, preciso enfatizar quetal processo adquire enorme complexidade,tanto tecnolgica como metodolgica eorganizacional, dependendo dos objetivos edas metas que se estabeleam, assim comodo "nvel" do processo de transio que nospropomos a alcanar. De acordo outra vezcom Gliessman, podemos distinguir trsnveis fundamentais no processo de transi-o ou converso para agroecossistemassustentveis. O primeiro diz respeito ao in-

    A rtigo

    Figura 1. Agroecologia e Sustentabilidade*

    *Figura adaptada de Miguel Altieri, conforme esquema apresentado no Curso sobre

    "Agroecologia: Enfoque Tcnico-Agronmico", EMATER/RS-ASCAR, Sobradinho (RS), 14 a 18.11.2000.

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    cremento da eficincia das prticas conven-cionais para reduzir o uso e consumo de

    inputs externos caros, escassos e daninhosao meio ambiente. Esta tem sido a princi-pal nfase da investigao agrria conven-cional, resultando disso muitas prticas etecnologias que ajudam a reduzir os impac-tos negativos da agricultura convencional.O segundo nvel da transio se refere subs-tituio de inputs e prticas convencionaispor prticas alternativas. A meta seria asubstituio de insumos e prticas intensi-vas em capital e degradadoras do meio am-

    biente por outras mais benignas sob o pontode vista ecolgico. Neste nvel, a estruturabsica do agroecossistema seria pouco al-terada, podendo ocorrer, ento, problemassimilares aos que se verificam nos siste-mas convencionais. O terceiro e mais com-plexo nvel da transio representado peloredesenho dos agroecossistemas, para queestes funcionem em base a um novo con-junto de processos ecolgicos. Nesse caso,se buscaria eliminar as causas daquelesproblemas que no foram resolvidos nos doisnveis anteriores. Em termos de investiga-o, j foram feitos bons trabalhos em rela-o transio do primeiro ao segundo n-vel, porm esto recm comeando os tra-balhos para a transio ao terceiro nvel(GLIESSMAN, 2000, p. 573-5).

    Como se pode perceber, os trsnveisdatransio agroecolgica, propostos porGliessman, afastam ainda mais a idia

    equivocada de Agroecologia como um tipo deagricultura, um sistema de produo ouuma tecnologia agrcola, por mais bondosaque esta possa ser. Alm disso, estas bre-ves consideraes do a dimenso exata dacomplexidade dos processos socioculturais,econmicos e ecolgicos envolvidos e refor-am a natureza cientfica da Agroecologia,bem como o seu status de enfoque ou cam-po de conhecimentos multidisciplinar e ori-entado pelo desafiante objetivo de constru-

    o de estilos de agricultura sustentvel, no

    mdio e longo prazos. O que estamos ten-

    tando dizer que, como resultado da apli-cao dos princpios da Agroecologia, pode-mos alcanar estilos de agricultura de baseecolgica e, assim, obter produtos de quali-dade biolgica superior. Mas, para respeitaraqueles princpios, esta agricultura deveatender requisitos sociais, consideraraspec-tos culturais, preservarrecursos ambientais,apoiar a participao poltica dos seus ato-res e permitir a obteno de resultados eco-nmicos favorveis ao conjunto da socieda-

    de, numaperspectiva temporal de longo prazoque inclua tanto a presente como as futu-ras geraes (tica da solidariedade).

    2 Agricultura de base eco-lgica e sustentabilidadeNossa opo pela terminologia "agricul-

    tura de base ecolgica" tem a inteno de

    distinguir, primeiramente, os estilos deagricultura resultantes da aplicao dosprincpios e conceitos da Agroecologia (es-tilos que, teoricamente, apresentam maio-res graus de sustentabilidade no mdio elongo prazos) em relao ao propalado mo-delo de agricul tura convencional ouagroqumica (um modelo que, reconhecida-mente, mais dependente de recursos na-turais no renovveis e, portanto, incapazde perdurar atravs do tempo). A opo pela

    terminologia agricultura de base ecolgicatem a inteno, tambm, de marcar dife-renas importantes entre ditos estilos e asagriculturas que podero resultar das ori-entaes emanadas da corrente da inten-sificao verde, cuja tendncia parece sera incorporao parcial de elementos de ca-rter ecolgico nas prticas agr colas(greening process), o que constitui uma ten-tativa de recauchutagem do modelo da Revo-

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    luo Verde, sem, porm, qualquer propsi-to ou inteno de alterar fundamentalmen-

    te as frgeis bases que at agora lhe deramsustentao2.

    Em segundo lugar, a distino entreAgroecologia e estilos de agricultura ecol-gica de suma importncia em relao aoutros estilos de agricultura que, emboraapresentando denominaes que do aconotao da aplicao de prticas, tcni-cas e/ ou procedimentos que visam atendercertos requisitos sociais ou ambientais, nonecessariamente tero que lanar ou lan-

    aro mo das orientaes mais amplasemanadas do enfoque agroecolgico. A ttu-lo de exemplo, no podemos, simplesmen-te, entender a agricultu ra ecolgica comoa qu el a a gr i c u l tu r a qu e n o u t i l i zaagrotxicos ou ferti lizantes qumicos de sn-tese em seu processo produtivo. No limite,uma agricultura com esta caractersticapode corresponder a uma agricultura pobre,desprotegida, cujos praticantes no tm ou

    no tiveram acesso aos insumos modernospor impossibilidade econmica, por falta deinformao ou por ausncia de polticaspblicas adequadas para este fim. Ademais,opo desta natureza pode estar justificadapor uma viso estratgica de conquistarmercados cativos ou nichos de mercado que,dado o grau de informao que possuem al-guns segmentos dos consumidores a respei-to dos riscos embutidos nos produtos da agri-cultura convencional, supervalorizam eco-

    nomicamente os produtos ditos "ecolgicos","orgnicos" ou "limpos", o que no necessa-riamente assegura a sustentabilidade dossistemas agrcolas atravs do tempo3.

    Na realidade, uma agricultura que trataapenas de substituir insumos qumicos con-vencionais por insumos "alternativos", "eco-lgicos" ou "orgnicos" no necessariamen-te ser uma agricultura ecolgica em senti-do mais amplo. preciso ter presente que asimples substituio de agroqumicos por

    adubos orgnicos mal manejados pode noser soluo, podendo inclusive causar ou-

    tro tipo de contaminao. Como bem assi-nala Nicolas L ampkin, " provvel que umasimples substituio de nitrognio, fsforoe potssio de um adubo inorgnico por ni-trognio, fsforo e potssio de um adubo or-gnico tenha o mesmo efeito adverso sobrea qualidade das plantas, a susceptibil idades pragas e a contaminao ambiental. Ouso inadequado dos materiais orgnicos,seja por excesso, por aplicao fora de po-ca, ou por ambos motivos, provocar um

    curto-circuito ou mesmo limitar o desen-volvimento e o funcionamento dos ciclosnaturais" (LAMPKI N, 1998, p. 3).

    Por outro lado, Riechmann (2000) lembraque "alguns estudos sobre agricultura eco-lgica pem em evidncia que as colheitasextraem do solo mais elementos nutritivosque os aportados pelo adubo natural, semque parea diminuir a fertilidade naturaldo solo. Isto convida a pensar que na produ-o agrcola nem tudo se reduz a um aportehumano de adubo e um processo vegetal deconverso bioqumica, segundo a visoreducionista inaugurada por Liebig, masque entre as lides humanas e o crescimentoda planta se intercalam processos ativosque tm lugar no solo por causa deuma aocombinada de carter qumico e biolgicoao mesmo tempo". Citando Naredo (1996), omesmo autor sugere que "nem a planta um conversor inerte nem o solo um sim-

    ples reservatrio, mas ambos interagem eso capazes de reagir modificando seu com-portamento. Por exemplo, a aplicao dedoses importantes de adubo nitrogenadoinibe a funo nitrificadora das bactriasdo solo, assim como a disposio da gua enutrientes condiciona o desenvolvimento dosistema radicular das plantas. Em suma, seimpe a necessidade de estudar no ape-nas o balano do que entra e do que sai nosistema agrrio, mas tambm o que ocorre

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    ou poderia ocorrer dentro e fora do mesmo,alterando a relao planta, solo, ambiente"

    (RIE CHMANN, 2000).Ademais, simplificaes como as acimamencionadas - que centram os esforos e re-cursos apenas na mudana da base tcnica,objetivando gerar produtos diferenciados e denicho - podem provocar um novo tipo deespi-ral tecnolgica, gerando novas contradiese um outro tipo de diferenciao social naagricultura. Queremos alertar que, atual-mente, j possvel observar-se a existn-cia de uma categoria de "agricultores fami-

    liares ecolgicos" que sequer est sendo con-siderada como uma outra categoria nos es-tudos sobre a agricultura familiar brasilei-

    ra. Ou seja, estamos diante do perigo de se

    ampliar as diferenas entre os agricultoresque tm e os que no tm acesso a serviosde assistncia tcnica e extenso rural, cr-

    dito e pesquisa, assim como entre os quedispem e os que no dispem de assessoriapara se organizar em grupos com o objetivode conquistar nichos de mercado que me-lhor remunerem pelos produtos limpos ouecolgicos que oferecem (Costabeber, 1998).A massificao do enfoque agroecolgico viapolticas pblicas e com o decisivo apoio doEstado em reas estratgicas (Extenso Ru-

    ral, Pesquisa Agropecuria e Crdito), tal

    como vem sendo feito no Rio Grande do Sul, talvez a nica forma razovel de minimizar

    a ampliao dessas novas contradies totpicas do sistema capitalista.

    Em sntese, preciso ter clareza que aagricultura ecolgica e a agricultura org-nica, entre outras denominaes existentes,conceitual e empiricamente, so o resulta-do da aplicao de tcnicas e mtodos dife-renciados, normalmente estabelecidos deacordo e em funo de regulamentos e re-gras que orientam a produo e impem li-mites ao uso de certos tipos de insumos e aliberdade para o uso de outros. Contudo, ecomo j dissemos antes, estas escolas oucorrentes no necessariamente precisamestar atreladas ou seguir as premissas b-sicas e os ensinamentos fundamentais daAgroecologia, tal como aqui foi definida. Todoo antes mencionado serve como reforo idia que estamos defendendo, segundo aqual os contextos de agricultu ra e desenvol-vimento rural sustentveis exigem um tra-

    tamento mais eqitativo a todos os atoresenvolvidos - especialmente em termos dasoportunidades a eles estendidas, buscando-se uma melhoria crescente e equilibrada da-queles elementos ou aspectos que expres-sam os incrementos positivos em cada umadas seis dimenses da sustentabilidade,como mostraremos a seguir.

    3 Multidimenses

    da sustentabilidadea partir da AgroecologiaDesdea Agroecologia, a sustentabilidadedeve

    ser vista, estudada e proposta comosendo umabuscapermanentedenovos pontosdeequilbrioentre diferentes dimenses que podem serconflitivas entre si em realidades concretas(COSTABEBER; MOYANO, 2000). Nestatica, asustentabilidadepodeser definida simplesmen-

    " ... uma agricultura que trata

    apenasde substituir insumosqu-

    micos convencionais por insumos

    'alternativos', 'ecolgicos' ou 'org-

    nicos' no necessariamente ser

    uma agricultura ecolgica ..."

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    te como a capacidade de um agroecossistemamanter-se socioambientalmente produtivo ao

    longo dotempo. Portanto, a sustentabilidadeemagroecossistemas (ou em etnoecossistemas, paraincluir a dimenso das culturas humanas nomanejo dos ecossistemas agrcolas), algo re-lativo quepodeser medido somente expost. Suaprova estar sempre no futuro(GLIESSMAN,2000). Por estarazo, a construo dodesenvol-vimento rural sustentvel, a partir da aplicaodos princpios da Agroecologia, deve assentar-se na busca de contextos de sustentabilidade

    crescente, alicerados em algumas dimensesbsicas (Figura 2). No marco desse artigo, en-tendemos que as estratgias orientadas pro-moo da agricultura e do desenvolvimento ru-ral sustentveis devem ter em conta seis di-menses relacionadas entre si, quais sejam:ecolgica, econmica, social (primeiro nvel), cul-tural, poltica (segundo nvel) e tica (terceironvel)4. Assim, embora no sendo um trabalhoconclusivo sobre tema to complexo, misterque faamos uma primeira aproximao ao que

    est subentendido em cada uma destas dimen-ses, destacandoalguns aspectos quepoderiamser teis na definio de indicadores para pos-terior monitoramento dos contextos de susten-tabilidade alcanados num dado momento.

    3.1 Dimenso eco l gica

    A manuteno e recuperao da base derecursos naturais - sobre a qual se susten-tam e estruturam a vida e a reproduo dascomunidades humanas e demais seres vi-vos - constitui um aspecto central para atin-gir-se patamares crescentes de sustenta-bilidade em qualquer agroecossistema. Por-tanto, "cuidar da casa" uma premissa es-sencial para aes que se queiram susten-tveis, o que exige, por exemplo, no ape-nas a preservao e/ ou melhoria das con-

    dies qumicas, fsicas e biolgicas do solo(aspecto da maior relevncia no enfoqueagroecolgico), mas tambm a manutenoe/ ou melhoria da biodiversidade, das reser-vas e mananciais hdricos, assim como dosrecursos naturais em geral. No importaquais sejam as estratgias para a interven-o tcnica e planejamento do uso dos re-cursos - uma microbacia hidrogrfica, porexemplo -, mas importa ter em mente a ne-cessidade de uma abordagem holstica e um

    enfoque sistmico, dando um tratamentointegral a todos os elementos do agroecos-sistema que venham a ser impactados pelaao humana. Ademais, necessrio que

    as estratgias contemplema reutilizao de materiaise energia dentro do prprioagroecossistema, assimcomo a eliminao do uso deinsumos txicos ou cujos

    efeitos sobre o meio ambi-ente so incertos ou desco-nhecidos (por exemplo, Orga-nismos Geneticamente Mo-dificados). Em suma, o con-ceito de sustentabilidade in-clui, em sua hierarquia, anoo de preservao e con-servao da base dos recur-sos naturais como condio

    A rtigo

    Figura 2. Multidimenses da sustentabilidade**

    ** Fonte: elaborao prpria

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    essencial para a continuidade dos proces-sos de reproduo scio-econmica e cultu-

    ral da sociedade, em geral, e de produoagropecuria, em particular, numa perspec-tiva que considere tanto as atuais como asfuturas geraes.

    3.2 Dimenso social

    Ao lado da dimenso ecolgica, a dimen-so social representa precisamente um dospilares bsicos da sustentabilidade, uma vezque a preservao ambiental e a conserva-o dos recursos naturais somente adqui-rem significado e relevncia quando o pro-duto gerado nos agroecossistemas, em ba-ses renovveis, tambm possa ser eqita-tivamente apropriado e usufrudo pelos di-versos segmentos da sociedade. Ou seja, "aeqidade a propriedade dos agroecossis-temas que indica quo equnime a dis-tribuio da produo [e tambm dos cus-tos] entre os beneficirios humanos. Deuma forma mais ampla (...), implica uma

    menor desigualdade na distribuio de ati-vos, capacidades e oportunidades dos maisdesfavorecidos". Sob o ponto de vista tem-poral, esta noo de eqidade ainda se re-laciona com a perspectiva intrageracional(disponibilidade de sustento mais seguropara a presente gerao) e com a perspec-tiva intergeracional (no se pode compro-meter hoje o sustento seguro das geraesfuturas) (SIMN F ERNNDEZ; DOMINGUEZGARCIA, 2001). A dimenso social inclui,

    tambm, a busca contnua de melhores n-veis de qualidade de vida mediante a pro-duo e o consumo de alimentos com quali-dade biolgica superior, o que comporta, porexemplo, a eliminao do uso de insumostxicos no processo produtivo agrcola me-diante novas combinaes tecnolgicas, ouainda atravs de opes sociais de nature-za tica ou moral. Nesse caso, a prpriapercepo de riscos e/ ou efeitos malficos

    da utilizao de certas tecnologias sobre ascondies sociais das famlias de agriculto-

    res que determina ou origina novas formasde relacionamento da sociedade com o meioambiente, um modo de estabelecer umaconexo entre a dimenso Social e a Ecol-gica, sem prejuzo da dimenso Econmica(um novo modo de "cuidar da casa" ou de"administrar os recursos da casa").

    3.3 Dimenso econmica

    Estudos tm demonstrado que os resul-tados econmicos obtidos pelos agricultoresso elementos-chave para fortalecer estra-tgias de D esenvolvimento Rur al Susten-tvel. No obstante, como est tambm de-monstrado, no se trata somente de buscaraumentos de produo e produtividade agro-pecuria a qualquer custo, pois eles podemocasionar redues de renda e dependnci-as crescentes em relao a fatores exter-nos, alm de danos ambientais que podemresultar em perdas econmicas no curto ou

    mdio prazos. A sustentabil idade deagroecossistemas tambm supe a neces-sidade de obter-se balanos agroenergti-cos positivos, sendo necessrio compatibi-lizar a relao entre produo agropecu-ria e consumo de energias no renovveis.Alis, como bem nos ensina a Economia Eco-lgica, a insustentabilidade de agroecossis-temas pode se expressar pela obteno deresultados econmicos favorveis s custasda depredao da base de recursos naturais

    que so fundamentais para as geraes fu-turas, o que pe em evidncia a estreitarelao entre a dimenso econmica e adimenso ecolgica. Por outro lado, a lgicapresente na maioria dos segmentos da agri-cultura familiar nem sempre se manifestaapenas atravs da obteno de lucro, mastambm por outros aspectos que interferemem sua maior ou menor capacidade de re-produo social. Por isso, h que se ter em

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    mente, por exemplo, a importncia da pro-duo de subsistncia, assim como a pro-

    duo de bens de consumo em geral, queno costumam aparecer nas medies mo-netrias convencionais, mas que so im-portantes no processo de reproduo sociale nos graus de satisfao dos membros dafamlia. Igualmente, a soberania e a segu-rana alimentar de uma regio se expres-sam tambm na adoo de estratgias ba-seadas em circuitos curtos de mercadoriase n o abasteci men to r egi on al e

    microrregional, no sendo possvel, portan-to, desconectar a dimenso econmica dadimenso social.

    3.4 Dimenso cultural

    Na dinmica dos processos de manejo deagroecossistemas - dentro da perspectiva daAgroecologia - deve-se considerar a neces-sidade de que as intervenes sejam res-peitosas para com a cultura local. Os sabe-res, os conhecimentos e os valores locais

    das populaes rurais precisam ser anali-sados, compreendidos e utilizados como pon-to de partida nos processos de desenvolvi-mento rur al que, por sua vez, devemespelhar a "identidade cultural" das pesso-as que vivem e trabalham em um dado agro-ecossistema. A agricultura, nesse sentido,precisa ser entendida como atividade eco-nmica e sociocultural - uma prtica soci-al - realizada por sujeitos que se caracteri-zam por uma forma particular de relacio-

    namento com o meio ambiente. Esta facetada dimenso cultural no pode e no deveobscurecer a necessidade de um processode problematizao sobre os elementos for-madores da culturade um determinado gru-po social. Eventualmente, estes elementospodem ser relativizados em sua importn-cia, considerando-se as repercusses nega-tivas que possam ter nas formas de manejodos agroecossistemas, descartando-se aque-

    les procedimentos ou tcnicas que no semostrem adequados nos processos de cons-

    truo de novas estratgias na relao ho-mem-natureza. Ou seja, prticas cultural-mente determinadas, mas que sejam agres-sivas ao meio ambiente e prejudiciais aofortalecimento das relaes sociais e sestratgias de ao social coletiva, no de-vem ser estimuladas. De qualquer modo,historicamente a Agricultura foi produto deuma relao estruturalmente condiciona-da, envolvendo o sistema social (a socieda-

    de, os agricultores) e o sistema ecolgico (omeio ambiente, os recursos biofsicos), oque, em sua essncia, traduz-se numa im-portante base epistemolgica da Agroecolo-gia, tal como nos ensina Norgaard (1989).Mais do que nunca, esse reconhecimentoda importncia do saber local e dos proces-sos de gerao doconhecimento ambiental esocialmente tilpassa a ser crescentementevalorizado em contraponto idia ainda do-mi nan te, mas em pr ocesso de

    obsolescncia, de que a agricultura pode-ria ser homogeneizada com independnciadas especificidades biofsicas e culturais decada agroecossistema.

    3.5 Dimenso poltica

    A dimensopoltica da sustentabilidadetema ver com os processos participativos e demo-crticos que se desenvolvem no contexto daproduo agrcola e do desenvolvimento rural,assim como com as redes de organizao soci-

    al e de representaes dos diversos segmentosda populao rural. Nesse contexto, o desen-volvimento rural sustentvel deve ser conce-bido a partir das concepes culturais e polti-cas prprias dos grupos sociais, considerando-sesuas relaes dedilogo e deintegraocoma sociedade maior, atravs de representaoem espaos comunitrios ou em conselhos po-lticos e profissionais, numa lgica que consi-dera aquelas dimenses deprimeiro nvel como

    A rtigo

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    79Agroecol. eDesenv. Rur. Sustent., PortoAlegre, v.3, n.3, J ul/Set 2002

    integradoras das formas de explorao e ma-nejo sustentvel dos agroecossistemas. Como

    dizAltieri, sob a perspectiva daproduo, a sus-tentabilidadesomentepoder ser alcanada "nocontexto de uma organizao social que prote-ja a integridade dos recursos naturais e esti-mulea interao harmnica entre os seres hu-manos, o agroecossistema e o ambiente", en-trando a Agroecologia como suporte e com "asferramentas metodolgicas necessrias paraque a participao da comunidade venha a setornar a fora geradora dos objetivos e ativida-

    des dos projetos dedesenvolvimento [rural sus-tentvel]". Citando a Chambers (1983), lembraque, assim, espera-sequeosagricultores ecam-poneses se transformem nos "arquitetos e ato-res de seu prprio desenvolvimento" (ALTIE RI,2001,p. 21), condioindispensvel para oavan-odo empoderamento dos agricultores ecomu-nidades rurais como protagonistas e decisoresdos rumos dos processos de mudana social.Nesse sentido, deve-se privilegiar o estabele-cimento de plataformas de negociao nas

    quais os atores locais possam expressar seusinteresses e necessidades em p de igualdadecom outros atores envolvidos. A dimenso pol-tica diz respeito, pois, aos mtodos e estratgi-as participativas capazes de assegurar o res-gate da auto-estima e o pleno exerccio da ci-dadania.

    3.6 Dimenso tica

    A dimenso tica da sustentabilidade se re-laciona diretamente com a solidariedade intra

    e intergeracional e com novas responsabilida-des dos indivduos com respeito preservaodo meio ambiente. Todavia, como sabemos, acrise em que estamos imersos uma crise so-cioambiental, at porque a histria da nature-za no apenas ecolgica, mas tambm soci-al. Portanto, qualquer novo contrato ecolgicode-ver vir acompanhado do respectivo contratoso-cial. Tais contratos, queestabelecero a dimen-so tica da sustentabilidade, tero que tomar

    como pontodepartidaumaprofunda crtica so-bre as bases epistemolgicas que deram sus-

    tentao ao surgimento desta crise. Neste sen-tido, precisamos ter clareza de que o que estverdadeiramente em risco no propriamen-te a natureza, mas a vida sobre o Planeta, de-vido forma como nos utilizamos e destrumosos recursos naturais. Sendo assim, a dimen-so tica a que nos referimos exige pensar efazer vivel a adoo de novos valores, que nonecessariamente sero homogneos. Para al-guns dos povos do Norte rico e opulento, por

    exemplo, a tica da sustentabilidade tem a vercom a necessidade de reduo do sobreconsu-

    mo, da hiperpoluio, da abundante produode lixo e de todo o tipo de contaminaoambiental gerado pelo seu estilo de vida e derelaocom o meio ambiente. Para ns, doSul,provavelmente a nfase deva ser em questescomo o resgate da cidadania e da dignidadehumana, a luta contra a misria e a fome ou aeliminao da pobreza e suas conseqnciassobre o meio ambiente. Ademais, como lem-bra Leff (2001: 93), "a tica ambiental vinculaa conservao da diversidade biolgica do pla-neta com respeito heterogeneidade tnica ecultural da espcie humana. Ambos os princ-pios se conjugam no objetivo de preservar osrecursos naturais e envolver as comunidadesna gesto de seu ambiente". Assim, a dimen-so tica da sustentabilidade requer o fortale-cimento de princpios e valores que expressema solidariedade sincrnica (entre as geraes

    "... dentro da perspectiva da

    Agroecologia - deve-se considerar

    a necessidade de que as interven-

    essejam respeitosas para com a

    cultura local ..."

    A rtigo

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    atuais) e a solidariedade diacrnica (entre asatuais e futuras geraes). Trata-se, ento, de

    umatica dasolidariedade(RIECHMANN, 1997)que restabelece o sentido de fraternidade nasrelaes entre os homens. Na esteira dessa di-menso, a busca de segurana alimentar in-clui a necessidade de alimentos limpos e sau-dveis para todos e, portanto, minimiza a im-portncia de certas estratgias de produo or-gnica dirigida pelo mercado e acessvel ape-nasa umapequena parcela dapopulao. Igual-mente, esta dimenso deve tratar do direito ao

    acesso equnime aos recursos naturais, ter-ra para o trabalho e a todos os bens necessri-os para uma vida digna. Em suma, quando se

    aborda o tema da sustentabilidade, a dimen-so tica se apresenta numa elevada hierar-quia, uma vez que de sua considerao pode-mos afetar os objetivos e resultados esperadosnas dimenses de primeiro e segundo nvel.

    4 Consideraesfinais

    Como vimos, a Agroecologia proporcionaas bases cientficas e metodolgicas para apromoo de estilos de agricultura sustent-vel (perspectiva multidimensional), levan-do-se em conta o objetivo de produzir quan-tidades adequadas de alimentos de elevadaqualidade biolgica para toda a sociedade.Apesar de seu vnculo mais estreito comaspectos tcnico-agronmicos (tem sua ori-gem na agricultura, enquanto atividade pro-dutiva), essa cincia se nutre de diversasdisciplinas e avana para esferas maisamplas de anlise, justamente por possuiruma base epistemolgica que reconhece aexistncia de uma relao estrutural deinterdependncia entre o sistema social eo sistema ecolgico (a cultura dos homensem co-evoluo com o meio ambiente).

    Assim, a ttulo de consideraes finais,queremos destacar que: a) h consenso deque o atual modelo de desenvolvimento ru-

    ral e de agricultura convencional insus-tentvel no tempo, dada sua grande depen-

    dncia de recursos no renovveis e limi-tados. Ademais, este modelo tem sido res-ponsvel por crescentes danos ambientaise pelo aumento das diferenas scio-econ-micas no meio ru ral; b) a par disso, est emcurso uma mudana de paradigma na qualaparece com destaque a necessidade debuscar-se estilos de desenvolvimento rurale de agricultura que assegurem maior sus-tentabilidade ecolgica e eqidade social; c)

    a noo de sustentabilidade tem dado lugarao surgimento de uma srie de correntesdo desenvolvimento rural sustentvel, en-tre as quais destacamos aquelas alinhadascom a perspectiva ecotecnocrtica e aque-las que vm se orientando pelas basesepis temolgicas da Agroecologia, nu maperspectiva ecossocial; e d) a construodeste processo de mudana tem impulsio-nado uma transio agroambiental, que sematerializa pelo estabelecimento de dife-

    rentes estilos de agriculturas ecolgica ouorgnica, entre outras denominaes, ade-mais de novos enfoques de desenvolvimen-to local ou regional que levam em conta asrealidades dos distintos agroecossistemas.

    No obstante, observa-se que os diferen-tes enfoques conceituais e operativos, quevm sendo adotados pelas distintas corren-tes da sustentabili dade, esto levando a umafastamento cada vez mais evidente entreas posies por elas assumidas na perspec-tiva do desenvolvimento rural sustentvel.De um lado, a corrente agroecolgica suge-re a massificao dos processos de manejoe desenho de agroecossistemas sustent-vei s , n u ma p er s pec ti va d e a n l is esistmica e multidimensional. Outras cor-rentes, por sua vez, se orientam, principal-mente, pela busca de mercados de nicho,centrando sua ateno na substituio deinsumos qumicos de sntese por insumos

    A rtigo

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    orgnicos ou ecolgicos, restringindo-se,portanto, aos dois primeiros nveis da tran-

    sio. Como evidncia das principais dife-renas de enfoque entre as correntes, des-tacamos os dois aspectos a seguir:

    Enquanto a correnteagroecolgica defen-de uma agricultura de base ecolgica que sejustifique pelos seus mritos intrnsecos aoincorporar sempre a idia de justia social eproteo ambiental, independentemente dortulo comercial do produtoque gera ou do ni-cho de mercado que venha a conquistar, ou-

    tras propem uma "agricultura ecologizada",que se orienta exclusivamente pelo mercadoe pela expectativa de um prmio econmicoque possa ser alcanado num determinadoperodo histrico, o que no garante sua sus-tentabilidade no mdio e longo prazos, porque,no limite terico, uma agricultura ecologizadamundialmente no guardaria espao para umdiferencial de preos pela caracterstica eco-lgica ou orgnica de seus produtos.

    Enquanto a correnteagroecolgica susten-

    ta a necessidadedequesejam construdos pro-cessos de desenvolvimento rural e agricultu-ras sustentveis que levem em conta a buscado equilbrio entre as seis dimenses da sus-tentabilidade, outras correntes, por estaremorientadas principalmente pela expectativa deganhos econmicos individuais, acabamminimizando certos compromissos ticos e so-cioambientais. Sob a perspectiva de umaagri-cultura ecologizada edesprovida destes compro-missos, podemos at supor que venha a existirumamonocultura orgnicade larga escala, ba-seada em mo-de-obra assalariada, mal remu-nerada emovidaa chicote.Essa monocultura eco-lgicapoder at atender aos anseios e capri-chos de um consumidor informadosobre asbenesses de consumir produtos agrcolas "lim-pos", "orgnicos", isentos de resduoscontaminantes. No entanto, o grau deinforma-o ou de esclarecimento de dito consumidortalvez no lhe permita identificar ou ter conhe-

    cimentos das condies sociais em que o de-nominadoprodutoorgnicofoi ou vem sendopro-

    duzido; talvez, nem mesmo lhe interesse sa-ber. Neste caso, no limite terico e sob a consi-derao tica acima mencionada, nenhum pro-duto ser verdadeiramente "ecolgico" se a suaproduo estiver sendo realizada s custas daexplorao da mo-de-obra. Ou, ainda, quandoo nouso decertos insumos (para atender con-venes de mercado) estiver sendo "compen-sado"por novas formas deesgotamento do soloou dedegradao dos recursos naturais.

    Finalmente, temos conscincia de que osdesafios para fazermos avanar o enfoqueagroecolgico, numa perspectiva de agricultu-ra e desenvolvimento rural sustentveis, aindaso muito grandes e complexos, mas no so,em absoluto, intransponveis. Sua superaodepende, primeira e principalmente, da nos-sa prpria capacidade de dilogo e de apren-dizagem coletiva, assim como do reconheci-mento de que a sustentabilidade encerra noapenas abstraes tericas e perspectivas fu-

    turistas, mas tambm elementos prticos quedevem ser adotados em nosso cotidiano.Soma-se a isso o fato de que muitos dos jcomprovados impactos negativos causadospela agricultura qumica ainda no penetraramna opinio pblica na intensidade necess-ria, retardando o debate e a possvel tomadade conscincia da sociedade, no sentido deapoiar a construo de processos de desen-volvimento rural e de estilos de agriculturamais ajustados noo de sustentabilidade.Destaque-se ainda que a socializao de co-nhecimentos e saberes agroecolgicos entreagricultores, pesquisadores, estudantes, ex-tensionistas, professores, polticos e tcnicosem geral - respeitadas as especificidades desuas reas de atuao -, , e seguir sendo,uma tarefa imperativa neste incio de mil-nio. Se isto verdadeiro, todos ns temos odever - e tambm o direito - de trabalharmospela ampliao das oportunidades deconstru-

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    o de saberes socioambientais necessriospara consolidar um novo paradigma dedesen-

    volvimento rural, que considere as seis di-menses (ecolgica, social, econmica, cul-tural, poltica e tica) da sustentabilidade.Como enfoque cientfico e estratgico de ca-rter multidisciplinar, a Agroecologia apre-senta a potencialidade para fazer florescer no-vos estilos de agricultura e processos de de-senvolvimento rural sustentveis que garan-tam a mxima preservao ambiental,enfatizando princpios ticos de solidarieda-

    de sincrnica e diacrnica.

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    Notas1Entre outros importantes estudiosos que tm

    prestadoinestimvelapoio naconstruo coletivadaAgroecologia a partir de diferentes campos doconhecimento, vertambmAltieri (1989;1992; 1994;1995; 2001), Gliessman(1990;1995; 1997; 2000),Pretty (1995;1996), Conway(1997), ConwayeBarbier(1990a;1990b), GonzlezdeMolina(1992), SevillaGuzmn y G onzlez de Molina (1993), Carroll,Vandermeer & Rosset (1990), Leff (1994), Toledo(1990; 1991; 1993), GuzmnCasado, GonzlezdeMolina y Sevilla Guzmn (2000), Sevilla Guzmn

    (1990, 1995a, 1995b, 1997, 1999), MartnezAlier(1994), MartnezAlierySchlpmann(1992).

    2Como temostentado ressaltaremoutroslugares

    (Caporal, 1998; Costabeber, 1998; Caporal eCostabeber, 2000a; 2000b; 2001), o processo deecologizao da agricultura no necessariamenteseguiruma trajetria linear, podendo seguirdistintasvias, mais prximas ou alinhadas com a correnteecotecnocrticaoucoma correnteecossocial, havendodiferenasfundamentais entreaspremissasou basestericasquesustentamcada uma dessascorrentes. Eso essasdiferenasquemarcamosespaosdeao

    e de articulao dos distintos atores sociaiscomprometidoscomuma oucomoutra perspectiva.

    3Emrecenteartigo emqueanalisama evoluo e

    dificuldades da "produo biolgica" emPortugal,Cristvo et al. (2001) apontam que o produtorbiolgico"mdio"apresenta perfil distinto doprodutorconvencional mdio, "emtermos deidade, nvel deescolaridade e formao profissional, sendo suasexploraes dominantemente mdias a grandes eestritamente ligadas ao mercado". Por sua vez, osconsumidores de produtos biolgicos formam "um

    nicho ainda restrito, constitudo por elementos commaiorpoderdecompra, maisinformadose commaisconscincia emmatriadesadehumanaeambiente".

    4Se entendermos o Desenvolvimento Rural

    Sustentvel como uma melhoria crescentedestasseisdimenses, ento ser mais fcil estabelecer asestratgiasnecessriasparacaminhar-senadireoda sustentabilidade. No obstante, o maior desafioresidenoestabelecimento deindicadorescapazesdemostrar avanos e/ ou retrocessos nos nveis desustentabilidade dosagroecossistemas, segundosuascondiesreaisespecficas.