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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Licenciatura LUIS FELIPE BRAZ PASSONI ÁNALISE SOBRE DINÂMICA POPULACIONAL E RURALIDADE NO MUNICÍPIO DE DIVINOLÂNDIA A PARTIR DAS RELAÇÕES CAMPO/CIDADE Alfenas - MG 2013

ÁNALISE SOBRE DINÂMICA POPULACIONAL E RURALIDADE … · Este estudo busca analisar a dinâmica populacional e presença das ruralidades no ... Ao considerar o espaço geográfico

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia – Licenciatura

LUIS FELIPE BRAZ PASSONI

ÁNALISE SOBRE DINÂMICA POPULACIONAL

E RURALIDADE NO MUNICÍPIO DE DIVINOLÂNDIA

A PARTIR DAS RELAÇÕES CAMPO/CIDADE

Alfenas - MG

2013

2

LUIS FELIPE BRAZ PASSONI

ÁNALISE SOBRE DINÂMICA POPULACIONAL E

RURALIDADE NO MUNICÍPIO DE DIVINOLÂNDIA A

PARTIR DAS RELAÇÕES CAMPO/CIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentada como parte dos requisitos

para obtenção do título de Licenciado

em Geografia pelo Instituto de

Ciências da Natureza da

Universidade Federal de Alfenas-

MG, sob orientação da Professora

Doutora Ana Rute do Vale.

Alfenas – MG

2013

3

LUIS FELIPE BRAZ PASSONI

ÁNALISE SOBRE DINÂMICA POPULACIONAL E

RURALIDADE NO MUNICÍPIO DE DIVINOLÂNDIA A

PARTIR DAS RELAÇÕES CAMPO/CIDADE

A Banca Examinadora abaixo

assinada, aprova a dissertação como

parte dos requisitos para obtenção do

título de Licenciado em Geografia

pela Universidade Federal de

Alfenas. Área de

concentração:geografia agrária.

Aprovada em:

Profº:

Instituição: Assinatura:

Profº:

Instituição: Assinatura:

Profº:

Instituição: Asinatura:

4

Dedico a realização deste trabalho a

minha mãe, minha maior apoiadora e a

professora Ana Rute do vale, que nunca

desistiu, e hoje tem a minha maior

admiração.

5

AGRADECIMENTOS

A Professora Doutora Ana Rute do Vale, grande incentivadora e mestre.

A minha mãe, que nunca me deixou desistir.

Ao meu pai, e meus professores de geografia do Ensino Fundamental e Médio, Luis

Paulo e Eduardo, que me ensinaram a amar a geografia.

Aos meus amigos de Alfenas que sempre me ampararam nas horas difíceis nessa cidade.

6

Quanto mais cantava o carro...

Eu ficava mais contente...

Eu ainda era um candeeiro...

O piá que vai na frente...

E às vezes eu pensava...

Numa vida diferente...

Tião Carreiro

7

RESUMO

Este estudo busca analisar a dinâmica populacional e presença das ruralidades no

município de Divinolândia, situado na Nordeste do Estado de São Paulo, a partir das

relações campo/cidade. Assim procuramos resgatar a história e as transformações do

município de Divinolândia a partir da década de 1970, buscando identificar e

caracterizar as principais atividades econômicas desenvolvidas no município, com

destaque para a cultura da batata. Através da analise da dinâmica econômica do

município entre 1970 e 2010 buscamos caracterizar o espaço rural do município,

produção agrícola, população e estrutura fundiária, destacando as formas de ruralidades

presentes no município. Com base nessas análises, percebeu-se que as relações

campo/cidade são muito estreitas, principalmente no âmbito econômico e cultural, onde

podemos observar uma forte presença da ruralidade no município, levando em

consideração a dinâmica populacional, principalmente relacionando a população

oriunda do meio rural, e econômica com ênfase nas crises da cultura da batata e

fortalecimento da produção de café.

Palavras-chave: Batata, Café, Dinâmica Populacional, Divinolândia, Produção Agrícola,

Ruralidades.

8

ABSTRACT

This study search analyze to dynamic population and presence of the ruralidades

in the town of Divinolândia, situated in the Northeast one of the State of São Paulo,

from the relations field/city. Like this we are going to rescue the history and the

transformations of the town of Divinolândia from the decade of 1970, seeking identify

and characterize the main economic activities developed in the town, with highlight for

the culture of the potato. Through the it analyzes of the dynamic economic one of the

town between 1970 and 2010 we are going to characterize the rural space of the town,

agricultural output, population and structure fundiária, detaching the forms of

ruralidades present in the town. On the basis of those analyses, perceived itself that the

relations field/city are very narrow, mainly in the cultural and economic scope, where

do we be able to observe a strong presence of the ruralidade in the town, leading out of

regard for dynamic population, mainly relating the arising from population of the rural

environment, and economic with emphasis in the crises of the culture of the potato and

strengthening of the output of coffee.

Keywords: Potato, Coffee, Population Dynamics, Divinolândia, Agricultural Output,

Ruralidades.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa da região de Divinolândia e municípios de entorno..........................................17

Figura 2 - Município de Divinolândia poucos anos após sua

emancipação.................................................................................................................................19

Figura 3 – Hospital Regional Adhemar de Barros.......................................................................22

Figura 4 – Rapel realizado no município de Divinolândia...........................................................32

Figura 5 – Companhia de Reis Estrela de Ouro...........................................................................36

Figura 6 – “Bastiões” das Companhias de Reis...........................................................................36

Figura 7 – Folia de São Sebastião................................................................................................37

Figura 8 - Terço Junino................................................................................................................12

10

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela 1 - Evolução da população do município de Divinolândia, 1970 a

2010..............................................................................................................................................19

Tabela 2 - Produção de Batata no Brasil, de 2004 a 2012............................................................23

Gráfico 1 - Relação de aumento da população urbana em relação a população rural.15.............20

Gráfico 2 - Área plantada em hectares, no município de Divinolândia (SP) de 1990 a

2000..............................................................................................................................................25

Gráfico 3 - Área plantada em hectares, no município de Divinolândia (SP) de 2001 a

2010..............................................................................................................................................25

Gráfico 4 - Produção anual de batata em toneladas, no município de Divinolândia de 1974 a

1988..............................................................................................................................................27

Gráfico 5 - Produção anual de batata em toneladas, no município de Divinolândia de 1989 a

2000..............................................................................................................................................27

Gráfico 6 - Produção anual de batata em toneladas, no município de Divinolândia de 2001 a

2010..............................................................................................................................................28

Gráfico 7 - Produção anual de café em toneladas, no município de Divinolândia de 1974 a

1988..............................................................................................................................................29

Gráfico 8 - Produção anual de café em toneladas, no município de Divinolândia de 1989 a

2000..............................................................................................................................................29

Gráfico 9 - Produção anual de café em toneladas, no município de Divinolândia de 2001 a

2009..............................................................................................................................................30

11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................12

1. HISTÓRICO E TRANSFORMAÇÕES NO MUNICIPIO DE DIVINOLÂNDIA..........17

1.1 Breve Histórico do município....................................................................................17

1.2 Dinâmica Populacional..............................................................................................19

1.3 O Espaço Urbano.......................................................................................................21

1.4 O Espaço Rural: batata,café e o turismo rural...........................................................22

2. MANIFESTAÇÕES DE RURALIDADES PRESENTES NO MUNICIPIO DE

DIVINOLÂNDIA.......................................................................................................................10

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................................10

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................42

APÊNDICES...............................................................................................................................46

12

INTRODUÇÃO

Muitas pequenas cidades espalhadas pelo território brasileiro tem sua economia

baseada, de forma quase integral, na produção agrícola, muitas vezes de um único

produto. São municípios que possuem uma forte presença da ruralidade e por muitas

vezes a falta de emprego culmina em uma diminuição de sua população, via migração

para outros municípios.

Veiga (2003) afirma que qualquer pessoa que conheça um município de

pequeno ou médio porte localizado fora da aglomeração urbana poderá confirmar que

sua economia é essencialmente alicerçada na utilização direta de recursos naturais.

Ao considerar o espaço geográfico Dollfus (1982) define que este é

“organizado e dividido”. Assim é imprescindível a divisão entre cidade e campo, espaço

rural e espaço urbano.

Ao falarmos de espaço rural não podemos usar erroneamente o termo como se

este tivesse o mesmo sentido de espaço agrícola, uma vez que “o espaço rural inclui o

espaço agrícola, pode ter ou pode não ter a predominância de atividades agrícolas”

(HAURESKO, 2006, p. 118).

O espaço urbano é totalmente distinto do rural, mas em pequenas cidades a

presença da ruralidade é forte dentro das chamadas “áreas urbanas” desses pequenos

municípios.

Para Lefebvre (1973, p. 65-6) a cidade é um objeto espacial e

como tal, ocupa um espaço específico totalmente distinto do espaço

rural. A relação entre estes espaços depende das relações de produção,

quer dizer, do sistema de produção e, através deste, da divisão do

trabalho no seio da sociedade.

Por muitas vezes a pobreza de determinadas regiões e cidades ao redor do

mundo é associada a predominância de áreas rurais, mas este apontamento é feito de

forma errônea, pois remetendo a países extremamente ricos, como a Suécia, poderemos

observar, que segundo estudos da OCDE (Organização de Cooperação e de

Desenvolvimento Econômicos, 2011) este país possui seu território, 49 regiões

essencialmente rurais, 32 relativamente rurais e apenas 19 essencialmente urbanas, e

assim ostenta um dos maiores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo.

13

Neste contexto, a questão da ruralidade e da urbanização são fatores que

isoladamente não definem o desenvolvimento de um país, geralmente, a integração

desses fatores que é responsável por isso. Nessa relação campo e cidade o dinamismo

entre os dois levaria um país ou região a prosperar.

No primeiro mundo, as regiões dinâmicas (leia-se, as que mais criam

emprego) não são as regiões essencialmente urbanas, nem

essencialmente rurais, e sim aquelas onde essa “adjacência” entre

espaços urbanos e rurais é mais intensa. [...] pior ainda será perceber

que milhões de famílias hoje vivendo exclusivamente de atividades

agropecuárias, mas que tendem a se tornar cada vez mais pluriativas,

foram condenadas a depender da caridade, apesar de constituírem um

dos principais trunfos do desenvolvimento rural (VEIGA, 2003, p.94)

Deste modo, o fato de regiões dinâmicas serem regiões que criam mais

empregos, enquanto as regiões em que famílias vivam exclusivamente de atividades

agrícolas convivam constantemente com problemas de ordem social, pode-se afirmar,

através disso, que pequenas cidades, dependentes de uma economia agrícola, sofrem

com um colapso de êxodo populacional e uma grande crise econômica.

Levando em consideração estudos de Manfio (2010) os centros urbanos de

menor porte e importância são verdadeiros centros rurais, que vivem em constante troca

campo/cidade em termos de relações sociais, culturais e econômicas.

Diante da interdependência dos pequenos municípios em função do campo,

quando ocorre uma crise na produção que represente sua principal atividade econômica,

a economia desses sofre os reflexos, pois por muitas vezes os empregos gerados no

município estão relacionados a atividade agrícola, como o beneficiamento destes

produtos e estabelecimentos comercias agropecuários.

De acordo com Wanderley (2001, p. 07):

A pequena dimensão dos municípios e sua estreita dependência do

mundo rural é um fato reconhecido no processo de urbanização

nacional em seu conjunto e os estudiosos da cidade à ele se referem

com termos extremamente expressivos, entre os quais: ‘vida urbana

morta’ (Florestan Fernandes); ‘municípios semirurais’ (Juarez R.

Brandão Lopes); ‘cidades não urbanas’ (Vilmar Faria).

De acordo com Marafon (2007), algumas famílias que vivem na zona rural tem

alguns membros, que migram para a cidade, a fim de através de seus empregos na

cidade assegurarem a permanência de parte de seus familiares no campo. Ainda neste

14

contexto pode-se observar que é crescente o número de migrantes, que saem da zona

rural de pequenos municípios para centro maiores, mas ainda visam à manutenção de

sua família em sua terra de origem e uma melhora da qualidade de vida desta família.

Nos pequenos municípios a presença da ruralidade é enorme, de tal forma que

por muitas vezes é difícil distinguir o meio rural do urbano, assim a ruralidade

hodiernamente está atrelada a formas de serviço que atuam nos centros urbanos, como

casas de produtos agropecuários e máquinas de beneficiamento de batata.

De acordo com Carneiro (1998), a ruralidade se expressa de diferentes maneiras

como representação social - conjunto de categoria referidas a um universo simbólico ou

visão de mundo – que orienta práticas sociais distintas em universos heterogêneos.

O modo de vida existente na grande maioria dos pequenos municípios os

caracterizam como municípios rurais. Entretanto, para Lindner (2008), muitos

municípios são definidos como urbanos sem ser levado em conta o modo de vida e

outras importantes características de sua população.

Dessa forma os espaços, tanto rurais como urbanos, são definidos por

determinados fatores, que segundo Rodrigues (2006), são costumes, crenças, forma de

relacionamento e modo de vida das pessoas que os habitam.

Neste contexto, a ruralidade presente nos pequenos municípios deve ser vista, na

grande maioria das vezes, pelo aspecto cultural, indo muito além do território definido,

deve levar em conta questões históricas, familiares e de características únicas

pertencentes aos locais em questão.

Assim, consequentemente, pequenos “municípios rurais” dependem quase que

exclusivamente da produção agrícola, muitas vezes baseada na agricultura familiar, que

se encontra em crise relacionada a mecanização do campo, agricultura voltada para a

exportação e ao aumento dos latifúndios, o que por muitas vezes leva a um

empobrecimento do município e a uma diminuição ou estagnação da população.

De acordo com Pudell (2005, p. 02),

O empobrecimento dos pequenos municípios e o desemprego

no Brasil tem se acentuado ano após ano, e muitos fatores

contribuem para esta situação, dentre estes fatores, pode-se

destacar, a globalização das economias que ocasionaram

profundas transformações no cenário político, social e

econômico, em virtude de planos voltados a exportação, que

favorecem as grandes empresas.

15

Dessa forma, os pequenos municípios sofrem estes reflexos que culminam na

migração de produtores para as periferias das grandes cidades, em busca de um bom

emprego. É bastante comum os jovens desses municípios buscarem melhores

oportunidades em outros municípios. Essa situação pode refletir na economia e na

dinâmica populacional dos municípios.

As migrações dos pequenos municípios para municípios maiores podem gerar

melhor condição de vida a essas pessoas e o aumento de renda familiar, mas por outro

lado acabam “empobrecendo” o seu município de origem, fato cada vez mais comum,

sempre relacionado a falta de empregos e crises na produção agrícola.

De acordo com Graziano da Silva (1996), a modernização da agricultura

brasileira revelou-se conservadora e parcial, preservando a injusta estrutura agrária

brasileira, à medida que o acesso ao credito era viável apenas para os grandes

produtores. Desta forma, as condições de reprodução dos pequenos produtores e

trabalhadores rurais acabaram sendo dificultadas. Sendo assim, o êxodo rural e a

migração de pequenos municípios se originam do duplo processo de modernização do

campo e industrialização da cidade, juntando este duplo processo, podemos pensar em

um retrocesso nos empregos gerados no campo e um aumento nos empregos no âmbito

da cidade, assim pensamos em uma diminuição da população rural e um aumento da

urbana.

As transformações observadas nos pequenos municípios, especialmente nos

rurais, nas últimas décadas geram um curioso objeto de estudo cientifico,

principalmente, quando se estuda os problemas e mudanças ocorridas nas bases

econômicas e populacionais de pequenos municípios com características rurais como é

o caso de Divinolândia, no estado de São Paulo.

No município em questão o predomínio é de atividades agrícolas, principalmente

a bataticultura e a cafeicultura, ou seja, a economia gira em torno de atividades rurais,

uma vez que as atividades urbanas se restringem ao setor público, como Prefeitura

Municipal e Hospital Regional, que são geradores de empregos. Por conta disso, temos

um município com características muito mais rurais que urbanas.

Levando em conta, então, a falta de estudos geográficos sobre os pequenos

municípios brasileiros, em questão do interior paulista, suas influências rurais - ou

melhor, as manifestações da ruralidade na cidade – propõe-se, nesse estudo, uma análise

da dinâmica populacional e da ruralidade do citado município, estabelecidas durante o

decorrer de sua história.

16

Partindo desse ponto, o objetivo geral desse trabalho é compreender a dinâmica

populacional e a forte ruralidade presente no município de Divinolândia, a partir da

relação campo/cidade. Mais especificamente procuramos: a) resgatar a história e as

transformações do município de Divinolândia a partir da década de 1970; b) caracterizar

as principais atividades econômicas desenvolvidas no município, com destaque para a

cultura da batata; c) analisar a dinâmica econômica do município entre 1970 e 2010; d)

caracterizar o espaço rural do município, produção agrícola, população e estrutura

fundiária; e) destacar as formas de ruralidades presentes no município.

A temática proposta desenvolveu-se a partir do embasamento teórico

possibilitado pela leitura de vários autores, na maioria geógrafos e estudiosos da ciência

geográfica, buscando aliar empirismo e práticas de campo na análise da realidade do

município em estudo. Analisamos a história do município, levando em consideração a

dinâmica populacional, relacionando as questões econômicas, agrícolas e sociais, de

1970 até hoje; realizamos um estudo do espaço urbano, uma caracterização da cidade,

do setor de serviços e das questões econômicas;faremos ainda uma caracterização e

estudo do espaço rural, dando destaque para a cultura da batata e do café e a

implantação do turismo rural; por fim analisamos as ruralidades presentes no município

e as manifestações culturais rurais que predominam no perímetro urbano e rural.

Numa segunda etapa, realizamos a coleta de dados secundários junto à Prefeitura

Municipal de Divinolândia, IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), IBGE

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) e ABBA (Associação da Batata

Brasileira).

Como procedimento metodológico, coletamos dados primários por meio de

entrevistas com o representante dos produtores agrícolas de batata, com trabalhadores

do setor agrícola, com o representante do Sindicato Rural Francisco Sérgio Lange, com

o presidente da Folia de Reis de São Sebastião e o representante da organização não-

governamental DIQBEM (Divinolândia Que te Quero Bem).

O trabalho está dividido em 2 capítulos, sendo eles: 1.Histórico e transformações

no município de Divinolândia, mostrando as mudanças ocorridas no município durante

todo o seu histórico, características sociais,econômicas e a forte presença da ruralidade.

Que está subdividido em : 1.1. Breve histórico do município; 1.2 Dinâmica

populacional; 1.3 Espaço urbano; 1.4 Espaço rural: batata, café e turismo rural. E o

capítulo 2 que trata das Manifestações de ruralidade no município de Divinolândia.

17

1. HISTÓRICO E TRANSFORMAÇÕES NO MUNICÍPIO DE

DIVINOLÂNDIA

O município de Divinolândia possui área total de 243 km², situado na Nordeste

do Estado de São Paulo, cujo inicio de sua formação datada de 1843 obtendo sua

emancipação em 1953. Tem sua história atrelada à produção agrícola e uma

característica atrelada a ruralidade, o que reflete até hoje na economia do município.

O município localiza-se a 1100 metros de altitude em relação ao nível do mar, a

uma latitude de 21º 45’ S, e uma longitude de 46º W, estando a 280 km da capital, São

Paulo, tendo como municípios limítrofes, os paulistas Caconde, São Sebastião da

Grama e São José do Rio Pardo, e o município mineiro de Poços de Caldas (figura 1).

Figura 1: Figura ilustrativa da localização do município de Divinolândia

Fonte: SIDRA (IBGE).

18

Essa proximidade permite que Divinolândia mantenha estreitas relações

comerciais com estes municípios, além do forte escoamento da produção agrícola do

município para grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo.

1.1 Breve histórico do município

Antes do surgimento da primeira capela nas terras da atual Divinolândia, toda a

região se cobria de intrincadas matas que se estendiam por serras, vales e planícies,

intermináveis, perdendo-se no horizonte. Os homens passavam, em viagem, cavalgando

pelos caminhos estreitos que avançavam para dentro das selvas, cortando-as como um

golpe de adaga nas ondas do oceano (DARCIE, 2010, p. 06).

Grespan (2006) diz que os primeiros aventureiros iam chegando para ficar.

Erguiam ranchos e choças e demarcavam as terras, que eram de ninguém, desmatavam-

nas e exploravam-nas, praticando a agricultura de subsistência. Outras famílias iam

chegando, estabelecendo-se, encorajadas pela presença bem-sucedida dos outros

agricultores assentados nas terras já há muito tempo.

Segundo Lopes (1991) por volta de 1850, Divinolândia se resumia na referida

capela e num pequeno rancho à margem do Rio do Peixe, que servia de abrigo aos

tropeiros que por ali pernoitavam, provenientes de Caconde, com destino à vila de Casa

Branca. De repente, um incêndio de causa ignorada, provavelmente causado por fogo

caseiro esquecido a um canto do rancho, por um tição qualquer que ficou aguardando

um sopro do vento após a partida dos tropeiros. E o rancho foi consumido, alastrando-se

o fogo por toda a área circulante. Um novo rancho foi erguido e o local recebeu a

denominação de Pouso do Sapecado.

Em 1881, Joaquim Pio de Andrade e sua esposa, D. Francisca Maximiniana da

Costa, também doaram duas partes de terras à Capela Nossa Senhora do Rosário,

fundada em 1879 por Manoel Pereira da Silva. O Sr. Manoel Pereira da Silva, fundador

da Capela, também fez importante doação de terras ao Divino Espírito Santo. Doou

terras à margem do Rio do Peixe, numa extensão de 20 e tantos alqueires. (DIQBEM,

2010).

Em 30 de novembro de 1938, pelo decreto 9.775, o distrito recebeu a

denominação oficial de Sapecado, nome pelo qual já era conhecido há muito tempo,

19

desde o incêndio do Primeiro rancho, quando o local recebeu o nome de Pouso do

Sapecado. Politicamente emancipado do município de São José do Rio Pardo, Sapecado

recebeu o nome de Divinolândia, pela Lei 2.456, de 30 de dezembro de 1953

(DIQBEM, 2010).

Figura 2: Município de Divinolândia poucos anos após sua emancipação

Fonte: Foto São José (1959).

1.2 . Dinâmica Populacional

Da formação inicial até 1980, Divinolândia apresenta uma população

essencialmente rural. Todavia no início da década de 1990 a população urbana começa a

apresentar um crescimento, mas ainda observa-se que a maior parte do número de

habitantes vive no campo. A partir de 1996, podemos verificar um acentuado êxodo

rural, e inclusive uma diminuição na população absoluta do município, podendo-se

relacionar este fato a crises no setor agrícola, inicia-se o processo de urbanização do

município, com uma pequena diferença entre a população rural e urbana.

Na tabela 1 é possível verificar questões relativas ao êxodo rural no município

de Divinolândia, questões relativas a estagnação populacional do município e a

“urbanização” que começa a ser notada a partir de 1996. Esses dados pautam-se nas

fontes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1970 até 2010,e

encontram-se dispostos na tabela, podendo ser melhor visualizados através do gráfico 1.

20

Tabela 1: Evolução da população rural, urbana e total do município de Divinolândia

(SP) de 1970 a 2010.

População 1970 1980 1991 1996 2000 2010

Rural 8.391 6.115 6.278 5.204 5.141 3.708

Urbana 3.972 4.151 5.553 6.300 6.875 7.500

Total 12.363 10.266 11.811 11.504 12.016 11.208

Fonte: IBGE (2010).

Gráfico 1: População urbana e população rural no município de Divinolândia (SP).

Fonte: Adaptado do IBGE (2010) por Luis Felipe Braz Passoni.

Mesmo com tais mudanças demográficas, nas quais pode se notar um forte

êxodo rural e um predomínio da população na zona urbana do município

(aproximadamente 67%), Divinolândia continua a ser um município com sua economia

basicamente voltada a produção agrícola tanto mecanizada, como agricultura familiar,

mesmo que esta tenha diminuído com o passar dos anos, devido a questões relacionadas

a problemas financeiros e falta de capacidade de competição com grandes produtores.

A produção da batata é a grande geradora de empregos no município, onde

pode-se observar que deste o inicio da produção, do beneficiamento ao escoamento do

produto muitas pessoas se beneficiam dos empregos criados neste ciclo, uma crise na

produção do tubérculo culmina com uma grave crise econômica no município.

A queda da população rural divinolandense, em meados da década de 1990, é

algo que se pode explicar devido a uma grande crise na produção agrícola do município,

21

o que consequentemente culminou com uma carência exacerbada de empregos gerados

no campo e no município como um todo.

A ruralidade existente no município e a economia baseada em torno das safras

agrícolas dão a Divinolândia uma temporalidade singular, essencialmente

regulamentada por fatores locais, com pouca influência externa, levando em conta

Lefebvre (1991), a forma de vida cotidiana é marcada pela regularidade dos fatos, o que

no município pode-se observar uma mudança nesta regularidade depois das quedas das

safras agrícolas, o cotidiano das pessoas mudam, principalmente devido a questões

relativas a problemas de ordem Econômica e social.

Em decorrência disso a grande diminuição da população rural do município,

além de ser associada ao êxodo rural, também deve estar ligada a migração da

população jovem para municípios vizinhos, de médio porte, que oferecem melhores

oportunidades de emprego, caso de Poços de Caldas e São José do Rio Pardo.

Dessa forma, a indisponibilidade de empregos gera uma gama reduzida de

oportunidades e crescimento profissional, consequentemente, por esse motivo que os

jovens ao terminarem ao ensino médio migram para maiores centros, com melhores

condições de estudo e de vida.

Segundo Grespan (2006), a evolução ou diminuição da população

divinolandense está intimamente ligada aos resultados da produção agrícola, do qual

abordaremos mais tarde.

Produção agrícola esta baseada na cultura da batata e do café, predominantes no

município,mas ainda desenvolvem-se culturas secundárias, como cebola, milho, feijão e

atividades relacionadas a pecuária, de corte e leiteira.

1.3. O Espaço Urbano

Divinolândia por ser uma cidade com características rurais possui um espaço

urbano com pouca movimentação, um pequeno setor de serviços e comercio, poucas

opções de entretenimento e lazer.

No setor comercial, segundo dados da Prefeitura Municipal de Divinolândia

(2012), o município dispõe de 422 pequenos estabelecimentos comerciais, nenhuma

indústria e tem como fonte principal de geração de rendas, as safras agrícolas e

funcionalismo público.

22

No setor de serviços destaca-se o hospital Adhemar de Barros (figura 3),

fundado em 29/09/1945, para atendimento de pacientes tuberculosos. Funcionou como

tal até 1978, quando foi desativado. Em 04/07/1978 a Associação Hospital Adhemar de

Barros celebrou convênio com a Secretária do Estado de Saúde, com finalidade básica

de oferecer serviços como Hospital Geral e prestar assistência médica hospitalar à

população carente de recursos do município de Divinolândia. Em 14/10/1978 celebrou

Convênio com a Secretária de Estado da Promoção Social – Coordenadoria de Ação

Regional para atendimento em regime de internato a 150 pacientes portadores de

Deficiência Física e/ou Mental (DIQBEM, 2010).

Em 13/07/1987 o consórcio passou a administrar o Hospital, prestando

assistência médico hospitalar em regime de emergência e internação clínica e cirúrgica

gratuitamente nas áreas de oftalmologia, otorrinolaringologia, ortopedia, neurologia,

cardiologia, clínica médica e pediátrica, à população dos municípios que o integram,

perfazendo uma população de aproximadamente 480 mil habitantes dando retaguarda de

atendimento primário e secundário, além de abrigar os 150 pacientes (DIQBEM, 2010).

Hoje o hospital Adhemar de Barros possui mais de 500 profissionais

empregados, sendo uma das maiores fontes de renda do município de Divinolândia,

além de ser um centro de referência regional.

Figura 3: Hospital Adhemar de Barros.

Fonte: Arquivo Conderg (2008). Disponível em: www.conderg.org

Acesso em 29 de fevereiro de 2013.

Portanto, o município constitui-se com características rurais no âmbito urbano,

mas mesmo assim possui um grande Centro de Referência na Saúde, que segundo a

Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (2011), é o 7º melhor Hospital do Estado de

São Paulo. Fato que traz reconhecimento para o município, geração de empregos e

renda, e um consequentemente fortalecimento do espaço urbano do município.

23

1.4. O espaço rural: batata, café e turismo rural

Sabe-se que as ocupações das terras de Divinolândia se deram por início devido

suas características climáticas e seu solo conveniente e próspero para a produção

agrícola, assim até os dias atuais o município tem suas bases econômicas

fundamentadas na produção agrícola (GRESPAN, 2006).

O município essencialmente agrícola, com a predominância de pequenas

propriedades familiares, em virtude de ocorrer naturalmente a sucessão hereditária,na

qual as terras são divididas entre irmãos e passadas de pais para filhos.

De acordo com Lopes (2011), levando em consideração dados da Casa da

Lavoura de Divinolândia, o município atualmente possui 1.200 pequenas propriedades,

com uma média de 15 hectares por imóvel.

O município sempre teve destacada em sua economia a produção da batata,

obtendo em meados dos anos 1990 o apelido de “Capital da Batata”.

Segundo entrevista feita com o Presidente do Sindicato Rural de Divinolândia,

Francisco Sérgio Lange, depois da crise de 1929, que ocasionou a falência de

cafeicultura em todos os lugares no Brasil, em 1935, vieram para Divinolândia os

espanhóis, que chegaram para plantar a batata inglesa e aí começa o ciclo da

bataticultura que vai mais ou menos até 1982, onde vamos ter a contribuição da cebola

bulbinho e começa o ciclo das hortaliças. É a partir de 2000 com a bataticultura

imigrando para as regiões mais planas, tipo o cerrado, que a produção do município

começa a declinar pois o relevo de Divinolândia era de difícil mecanização para a

produção agrícola, mesmo assim continua entre os maiores produtores de batata do

estado de São Paulo.

Na tabela 2 pode-se observar que a região Sudeste é a maior produtora de batata

do Brasil, sendo São Paulo o 2º maior produtor do país, o que mostra a importância do

município de Divinolândia, para produção de batata no país.

24

Tabela 2: Produção de Batata no Brasil em toneladas, de 2004 a 2012 .

REGIÕES 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Sudeste 1.233.286 1.376.502 1.635.545 1.677.798 1.350.985 1.611.055 1.679.073 1.898.713 1.709.252

MG 695.795 777.453 986.023 991.310 707.570 860.472 943.795 1.026.350 948.955

ES 5.731 5.580 7.766 8.628 8.577 8.243 8.538 8.733 8.837

RJ 1.760 1.719 1.556 1.730 1.318 1.270 - - -

SP 530.000 591.750 640.200 676.130 633.520 741.070 726.740 863.630 751.460

Sul 1.083.940 1.217.462 1.059.645 1.125.981 1.157.240 1.095.817 1.108.639 1.050.084 989.678

PR 726.283 661.795 588.887 612.227 648.377 582.440 582.709 608.731 575.691

SC 107.068 105.432 109.326 110.451 119.227 128.814 143.455 128.207 121.530

RS 250.589 450.235 361.432 401.303 389.636 384.536 382.475 313.146 292.457

Nordeste 55.309 31.314 20.174 33.539 56.340 72.407 93.225 95.876 136.580

CE 55 - 15 189 18 - - - -

PB 9.970 4.338 2.400 4.601 6.660 907 2.235 4.856 4.580

PE 3.416 1.582 950 900 512 200 - - -

SE 504 494 309 239 28

BA 41.364 24.900 16.500 27.610 49.122 71.300 91.020 91.020 132.000

C.OESTE 33.851 45.215 68.817 67.632 42.367 69.385 3.673 2.330 2.375

MT 20 - - - - - - - -

GO 12.710 25.050 51.000 52.150 30.160 61.124 - - -

DF 21.121 20.165 17.817 15.482 12.207 8.261 3.673 2.330 2.375

Brasil 2.406.386 2.670.493 178.181 2.904.950 2.606.932 2.848.664 2.884.640 3.047.003 2.837.885

Fonte: ABBA (Associação da Batata Brasileira), 2012.

Divinolândia é a segunda maior produtora batateira paulista, atrás apenas de

Vargem Grande do Sul, município 40 km distante de Divinolândia. Mesmo passando

por uma grande crise na produção, no levantamento de mercado o município ocupa o

quarto lugar tendo como principal safra a de inverno,sendo três safras anuais. Remete a

maior parte de sua colheita para São Paulo e Rio de Janeiro. Participa ainda do

suprimento de Porto Alegre com sua safra de inverno e de Belo Horizonte com a da

seca. Sua contribuição como distribuidora de batata apresentou crescimento

significativo em início e fim das chuvas, começo da seca e de inverno para Rio de

Janeiro e, ainda, de fim de inverno para Porto Alegre, e a partir dos anos de 2000

começou a apresentar uma queda acentuada na produção (ECONOMIA AGRÍCOLA

DE SÃO PAULO, 2011).

Segundo estudos de Wilson e Sasaoka (1991) a região é produtora de batatas

comuns (Achat, Elvira, Delta e Baraka, entre outras). Destaca-se pela existência de

médias e grandes culturas,mesmo o município ter predominância de pequenas

propriedades.

25

A região conta ainda com grandes armazéns frigorificados, utilizados a plena

carga com sementes de batata. Tendo uma terra fértil e clima tropical, com duas

estações bem definidas, fatos estes que transformaram Divinolândia em uma grande

produtora de batata.

A grande contingência de empregos existentes em Divinolândia, como abordado

anteriormente estão intimamente ligados a cadeia produtiva agrícola, principalmente da

batata, tanto na produção quanto no beneficiamento e escoamento do produto.

Ainda segundo o Presidente do Sindicato Rural, 50% dos empregos gerados

diretos e indiretamente vem da agricultura. Hoje o Sindicato tem uma forte participação,

através de parcerias e apoios de ordem econômica e social, vem tentando mostrar o

produtor da necessidade dele aceitar as mudanças que vem sendo exigidos após a

globalização, mais ou menos de 1990 até os dias atuais. Para ele, a solução na falta de

empregos está na vocação do município para a agricultura e ela tem como característica

fundamental a agricultura familiar.

Precisamos então investir no seu fortalecimento. Investir parcerias

públicas e privadas de modo a proporcionar conhecimento e

transferência de tecnologia aos produtores através da reaproximação

da pesquisa e extensão rural e dos produtores. No setor de serviços,

investir no desenvolvimento do hospital Regional e na área pública em

capacitação do processo de gestão (Presidente do Sindicato Rural,

2013).

Entretanto, nas suas raízes a escassez de empregos e o êxodo rural na cidade

estão relacionados a queda da produção agrícola com o passar dos anos, como pode-se

observar nos gráficos 2 e 3 que demonstram o declínio de toda a área plantada no

município :

Gráfico 2: Área plantada em hectares, no município de Divinolândia (SP) de 1990 a 2000.

26

Fonte: IPEA (2010).

Gráfico 3: Área plantada em hectares, no município de Divinolândia (SP) de 2001 a 2000.

Fonte: IPEA (2010).

Na década de 1990, a área plantada, ou seja, ocupada pelo cultivo era a

considerada grande, principalmente em relação ao tamanho da população

divinolandense.

Nesse contexto observa-se uma grande queda da área plantada no município a

partir do ano 2000, com algumas alterações nos anos de 2008 e 2009 onde aconteceu

um ligeiro aumento na área plantada, definido pelo aumento do plantio de culturas

permanentes, como o café.

O potencial econômico do município, sempre agrícola, necessariamente sempre

teve como seu produto principal a batata, que segundo Grespan (2006), começou a ser

produzido no antigo distrito de Sapecado ainda na década de 1930. A dificuldade para a

produção, os altos custos de produtividade, devido ao uso necessário de fertilizantes e

agrotóxicos, o que encarecem muito a produção, o baixo preço de mercado e a difícil

competitividade com outras regiões produtoras do Brasil fizeram com que a produção

de batata em Divinolândia declinasse a partir de 2004.

Um produtor de batata no município de Divinolândia desde 1945, disse que no

inicio a produção era difícil e feita de forma rudimentar, como a preparação do terreno

feita “a mão de obra do homem” com enxada e enxadão e, em seguida, com bois e

burros, arados e grades, sendo que os homens que manuseavam os arados e os animais

com grades para gradear as terras. E ainda disse que hoje em dia o terreno inclinado,

não sendo próprio para o uso de implementos agrícolas, faz com que a modernização,

que é necessária hoje, não seja possível em nosso município, e o uso excessivo e

discriminado do solo hoje fez com que a terra foi sendo degradada, contaminada e

27

empobrecida. Ele também levou em consideração o fator do aumento da produção em

terras mais planas, propicias a mecanização, como as do Centro-Oeste brasileiro, como

já mencionamos, e pragas como a “murchadeira” fizeram que a produção declinasse (Sr.

Álvaro Braz, 86 anos). Convém ressaltar que segundo Lopes (1999), murchadeira é uma

e doença que está presente em todas as áreas de produção de batata, sendo uma das

doenças mais importantes da cultura, principalmente na produção de batata semente. As

perdas estão associadas às condições ambientais favoráveis e ao número de plantas

infectadas. Essa redução na produção anual de batata pode ser observada nos gráficos 4,

5 e 6.

Gráfico 4: Produção anual de batata em toneladas, no município de Divinolândia (SP) de 1974

a 1988.

Fonte: IPEA (2010).

Gráfico 5: Produção anual de batata em toneladas, no município de Divinolândia (SP) de 1989

a 2000.

Fonte: IPEA (2010) .

28

Gráfico 6: Produção anual de batata em toneladas, no município de Divinolândia (SP) de 2001

a 2010.

Fonte: IPEA (2010).

Através da análise destes dados é possível concluir que Divinolândia obteve seu

ápice produtivo da bataticultura em meados da década de 1975, com produção acima de

80.000 toneladas, época na qual a população rural era dominante no município.

É possível fazer uma relação entre a produção de batata e a população rural do

município, considerando que, na medida em que reduzia a produção de batata, também

decaía a população rural. O ano de 2010 exemplifica bem essa relação quando a

população urbana passou a ser predominante.

Nos anos de 1995 e 2006, anos em que a produção do tubérculo foi bem menor,

em relação a outros anos, a cidade passou por muitos problemas de ordem econômica e

social, principalmente diminuição de empregos diretamente e indiretamente ligados a

produção de batata e uma queda acentuada na arrecadação do município, assim como

grande déficit no comércio local (GRESPAN, 2006).

Segundo o presidente do Sindicato Rural, Divinolândia entrou em um período de

decadência de 2000 a 2002 na produção da batata. Assim iniciou-se um novo ciclo

baseado novamente na cafeicultura, o que comprova, segundo palavras do mesmo, que a

história do município de Divinolândia está totalmente inserido na história da

cafeicultura brasileira.

Neste período de crise da cultura da batata o café começa a aparecer como uma

grande força econômica do município principalmente devido a topografia acidentada,

clima tropical de altitude; solo fértil, presentes nos bairros nos Bairros Ribeirão do

29

Santo Antônio; Pirapetinga; Quebra Machado; Paiva Machado e Pouso Alto (DIQBEM,

2010). Esse aumento na produção entre 1974 a 2009 aparece nos gráficos 7 e 8.

Gráfico 7: Produção anual de café em toneladas, no município de Divinolândia (SP) de 1974 a

1988.

Fonte: IPEA (2010).

Gráfico 8: Produção anual de café em toneladas, no município de Divinolândia (SP) de 1989 a

2000.

Fonte: IPEA (2010).

30

Gráfico 8: Produção anual de café em toneladas, no município de Divinolândia (SP) de 2000 a

2009:

Fonte: IPEA (2010).

No Brasil são várias as regiões que buscam a produção de um café de qualidade,

voltado para a exportação, com domínio de uma agricultura moderna e de um sistema

logístico altamente eficiente, complementadas por um conjunto de fatores produtivos

que são responsáveis pela constituição de uma agricultura de qualidade ímpar, que pode

alavancar a economia de um pequeno município rural. Na realidade, a área plantada de

cafés especiais vem crescendo no país, acompanhando o crescimento do consumo,

apesar dos problemas relacionados a informações sobre manejo, acesso ao

financiamento e as formas de inserção nas estruturas e comercialização desses tipos de

café (RIBEIRO, 2005).

Os chamados cafés especiais são aqueles que recebem o certificado de

“comércio justo” pelo Fair Trade Labelling Organization International (FLO Cert), por

meio da comprovação de desenvolvimento social e econômico independente, ou seja, a

comercialização é feita diretamente com os compradores, sem intermediários,

agregando valor e maior rentabilidade aos agricultores (OLIVEIRA; FREDERICO,

2010). Em Divinolândia, a produção de cafés especiais se destaca, tendo ganhado até

prêmios de âmbito internacional (DIQBEM, 2010).

É importante ressaltar que o crescimento e fortalecimento da cultura do café no

munícipio se deu, principalmente, devido a implantação da APROD (Associação dos

Cafeicultores de Montanha de Divinolândia), que busca lutar para melhorar as

condições socioeconômicas dos produtores rurais do município, além das questões

geográficas, como a localização a poucos quilômetros do Sul de Minas. O Sul de Minas

é a principal região brasileira produtora de café, representado a metade da produção

31

mineira e um quarto da produção nacional, e sendo responsável por 70% da renda

agrícola regional. (ABIC, 2009).

Segundo o presidente da APROD – que é também o presidente do Sindicato dos

Produtores Rurais -, inicialmente imaginava-se ser possível, através do associativismo,

no mínimo reverter a situação que provocava insegurança e falta de perspectiva. No

entanto, com o passar do tempo foi se percebendo que seria necessário muito mais do

que apenas simplesmente atuar em grupo de forma a obter melhores condições de

compra e venda. Com isso, em 2007 surge o “comércio justo” e com ele uma nova

perspectiva. Assim, a associação passou a buscar conhecimento e treinamento de modo

a permitir-lhe ingressar neste novo mundo, baseado em uma parceria comercial

sustentada pelo diálogo, transparência e respeito, buscando com isso uma maior

equidade no comercio internacional e que também contribui para o desenvolvimento

sustentável através do oferecimento a produtores menos favorecidos de melhores

condições de troca e maiores garantias de seus direitos. Por conta disso, ele considera

que investir na cafeicultura, com foco na produção de café diferenciado, é a grande

alternativa econômica do momento, visto que além da história, Divinolândia tem

também todas as condições geográficas necessárias a esse tipo de produção.

Para que isso ocorresse, o presidente lembra que a associação recentemente se

tornou filiada do FAIR TRADE, o que vem proporcionando aos produtores uma renda

extra e um intenso intercâmbio visando o desenvolvimento da moderna cafeicultura

com base na qualidade, na certificação e na implantação do conceito de origem mais

conhecido como denominação de origem (DO). Para os trabalhadores rurais os ganhos

também serão enormes vistos que através da certificação os produtores estão obrigados

a transferir parte de seus ganhos de modo a serem investidos em projetos sociais como,

por exemplo, melhorias dos salários e das condições de vida e de trabalho dos

trabalhadores rurais. Essas medidas, sem dúvidas, contribuíram para o crescimento da

produção de café no município, já mostrada anteriormente, tornando-se uma grande e

forte fonte de renda.

Assim, consequentemente Divinolândia tem tendência em se desenvolver como

grande produtora de cafés especiais e gerar qualificação profissional a sua população,

empregos, renda e reconhecimento para o município.

Outra alternativa econômica com potencialidade para se desenvolver no

município é o turismo em áreas rurais. De acordo com Graziano da Silva; Vilarinho;

32

Dale (2010, p.19), o turismo rural envolveria, entre outras, as seguintes

atividades/produtos:

caminhadas, visitas a parentes/amigos, visitas a museus, galerias e

sítios históricos;

festivais, rodeios e shows regionais, esportes na natureza, visitas a

paisagens cênicas/fauna e flora;

gastronomia regional, artesanato e produtos agroindustriais,

campings, hotéis fazenda, albergues, spas.

A partir de 2011, o município de Divinolândia em uma parceria com o Serviço

Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/AR-SP) e o Sindicato Rural também

promoveu o Programa de Turismo Rural no município, buscando abordar projetos de

valorização do patrimônio cultural e natural, a formatação de produtos turísticos de

acordo com o potencial local e a realização de um festival gastronômico. Através do

Grupo DIQBEM, uma entidade ecológica, ambientalista e esportiva, são feitas várias

atividades relacionadas ao esporte radical, como trekking, escalada e rapel (figura 4),

todas abordando efetivamente o turismo rural, principalmente as cachoeiras

divinolandenses, situadas nos bairros rurais.

Em entrevista, o representante da DIQBEM, ressaltou a importância da

reativação do COMTUR (Conselho Municipal de Turismo), como apoio, para a

organização e promoção dessas praticas, em parceria com os proprietários rurais, que

podem ganhar uma nova forma de renda através do turismo rural.

Figura 4: Rapel realizado no município de Divinolândia com o apoio da ONG DIQBEM.

Fonte: Celso José Dutra (2012).

33

Aliando suas características agrícolas e belezas naturais, Divinolândia pode

apresentar grande potencial turístico. Levando em consideração Graziano da Silva

(2010), pode-se afirmar que aliando agroturismo e ecoturismo é possível chegar a

resultados satisfatórios relativos ao turismo rural, desde que haja uma política de

estimulo a essa integração.

Ainda segundo Graziano da Silva (2010), a pluriatiavidade, que nada mais é do

que a diversificação das atividades rentáveis do negócio, é fator importante para o atual

desenvolvimento de pequenos municípios rurais, e nisso se insere a valorização e apoio

ao desenvolvimento do turismo rural, segundo ele, benéfico para os proprietários de

terra e para o município.

Todavia, as possibilidades do turismo como forma de diversificação interna nos

estabelecimentos agropecuários, não é bem aceita ainda pelos proprietários rurais de

Divinolândia. Para que haja uma mudança de ideia por parte deles, o DIQBEM em

parceria com o Sindicato de Rural, propõe a implantação de programas voltados para

informações e capacitação profissional, com o intuito de acrescentar uma nova

alternativa de fonte de renda para a população rural e o município como um todo.

Portanto, Divinolândia constitui um exemplo de um município com uma

presença maciça das atividades econômicas relacionadas a agricultura, onde existe uma

forte dependência da produção agrícola. É a relação histórica entre campo e cidade que

influencia as atividades econômicas que são fortemente desenvolvidas no município.

34

2. MANIFESTAÇÕES DE RURALIDADES PRESENTES NO MUNICIPIO

DE DIVINOLÂNDIA

A presença das características rurais nos pequenos municípios pode culminar

com o desenvolvimento de características únicas nestes espaços, fazendo com que se

caracterizem pela preservação de elementos peculiares que são levados em conta

através das influências do meio rural sobre o urbano.

Levando em conta as considerações acima, Medeiros (2001) caracteriza rural

como tudo aquilo o que pertence ou é relativo à vida campestre, uma área fora do

perímetro urbano onde predominam as atividades agrícolas. Para o poder público são

todos aqueles que não são urbanos.

Dessa forma existe uma inter-relação entre a ruralidade dos pequenos

municípios, a melhor qualidade de vida e principalmente a dependência das atividades

agrícolas como principal forma de economia.

Graziano da Silva (1996) trata este rural como um “novo rural brasileiro”,

principalmente devido a diminuição do peso da agricultura familiar, o que por muitas

vezes culmina com êxodo rural, diminuição da população e problemas de cunho

econômico em pequenos municípios.

Medeiros (2001, p.61) define perfeitamente o conceito de ruralidade a suas

formas de presença nos pequenos municípios:

A ruralidade pode ser entendida como um modo de vida, como uma

sociabilidade que é pertinente ao mundo rural, com relações internas

especificas e diversas do modo de viver urbano.

A ruralidade sugere uma gama considerável de imagens, quando é

pensada, quando é discutida. Ruralidade é uma construção social

contextualizada, com uma natureza reflexiva, ou seja, ela é resultado

de ações a sua condição sociocultural presente reflexo daquela

herdada de seus antepassados. Nesta ruralidade se expressa a

capacidade destes sujeitos se adaptarem às novas condições

resultantes de influências externas.

Já na concepção de Correa (1999), “ruralidade é um processo dinâmico de

constante reestruturação de elementos da cultura local, com base na incorporação de

novos valores, hábitos e técnicas, decorrentes de novas relações cidade/campo”. Isso

reforça a ideia de que o campo e cidade mantém suas características e relações

constantes.

35

Segundo Duran (1998), não deve haver distinção entre rural e ruralidade uma

vez que não se constitui em uma questão e, mais do que isso, deve ser ignorada,

especialmente quando se investiga uma multiplicidade de aspectos, socioculturais,

econômicos e ecológicos.

No contexto do município de Divinolândia, a ruralidade se expressa

principalmente nas manifestações culturais, que são inúmeras e de diversas origens,

principalmente devido a uma economia baseada na produção agrícola – conforme já

ressaltado -, além de uma forte presença de uma cultura caipira interiorana, relacionada

a forma de vida das pessoas e manifestações culturais, como a música sertaneja raiz,

Companhia de Reis e quermesses.

As Folias de Reis provindas das culturas italiana e negra,segundo Grespan

(2006), estão presentes no município desde a época que Divinolândia era uma vila

pertencente a São José do Rio Pardo, nos meados da década de 1930.

No contexto geral, as Folias de Reis são grupos de pessoas que se deslocam

acompanhando-se de cantos instrumentos. São grupos que por devoção, por gosto ou

função social peregrinam de casa em casa do dia de Natal até 6 de janeiro, andando por

todos bairros rurais e o centro urbano do município. Em cantoria fazem uso de temas

religiosos, da Profecia ao Nascimento de Jesus Menino, à Visita dos Reis Magos.

Cumprem sempre, aproximadamente, os mesmos rituais de chegada e despedida,

visitando os amigos e os devotos, atendendo pedidos, tirando promessas, (ajudando os

devotos a cumprir suas promessas). Bastiões, marungos, palhaços, são personagens

sempre presentes nestes folguedos, com máscaras e trajes vistosos, divertem a todos

com seus saltos acrobáticos, dançando e declamando versos decorados. Quando visitam

uma casa, uma folia é motivo de festa para toda a rua (DIQBEM, 2010).

Segundo entrevista feita com o presidente da Companhia de Reis Divina Folia,

que também é presidente da Folia de São Sebastião, as Companhias de Reis, em

Divinolândia, se iniciaram em 1926 e a história no município está relacionada a devoção

dos mais antigos habitantes do município a Santo Reis.

Em Divinolândia, existem mais ou menos 10 companhias de reis, tendo tradição,

principalmente, as folias vindas dos bairros rurais Três Barras e Paiva Machado, mas

também destaca-se a Companhia de Reis Estrela de Ouro, que tem sede no centro

urbano do município (Figuras 5 e 6):

36

Figura 5: Companhia de Reis Estrela de

Ouro.

Autor: Nilceu Passoni, 2011.

Figura 6: “Bastiões” das Companhias de Reis

de Divinolândia.

Autor: Luis Fernando Limongi,2009.

A Folia de São Sebastião também é outra forma muito tradicional de

manifestação da cultura divinolandense, festa popular de cunho religioso é promovida

anualmente na cidade de Divinolândia. A folia representa a formação de um grupo

composto por cantadores, músicos e foliões, que percorrem casas, propriedades rurais e

vilarejos da cidade, sempre de posse da bandeira que homenageia o santo. A

“peregrinação” se estende de 14 a 20 de janeiro, este dia dedicado a São Sebastião.Nas

paradas, o grupo entoa cantos e versos rimados. Como é comum nessas ocasiões, os

anfitriões oferecem aos visitantes comidas e bebidas, invariavelmente com muita

fartura. Neste instante, todos fazem orações em agradecimento. A reunião em torno da

mesa tem, evidentemente, um caráter importante de congraçamento. (DIQBEM, 2010)

Em Divinolândia, a tradição tem sido mantida graças à dedicação dos antigos

organizadores e à participação das novas gerações. Destaca-se aí a “Folia do Gerardão”

composta basicamente por homens negros e que tocam a tradição por mais de 30 anos

no município (Figura 7).

37

Figura 7: Folia de São Sebastião ou do Gerardão.

Fonte: Richard Álvares (2011).

Outra caracterização da ruralidade presente no município se dá através das

cavalhadas ou cavalarias, que representam uma reunião de pessoas a cavalo, ou marcha

de cavaleiros com finalidade de lazer ou mesmo religiosa. São um traço comum em

todo o Estado de São Paulo, mostrando o grande o gosto, o prazer de significativa

parcela dos cidadãos de todas as classes sociais no trato com os cavalos. Sua expressão

mais significativa se dá nas inúmeras romarias a cavalo. Com orgulho, cavaleiros e

amazonas de todas as faixas etárias e classes sociais participam dos mais variados

eventos populares que acontecem à parte do universo chamado “country”

(ALMANAQUE CULTURAL, 2010).

No município de Divinolândia destaca-se as inúmeras cavalhadas espalhadas

pelos mais diversos bairros rurais, principalmente com cunho religioso, na maioria das

vezes terminando com leilões de gado em prol das paróquias católicas existentes no

município, e também a cavalgada conhecida como Tropeiros do Sapecado que remete a

um contexto histórico divinolandense, sendo uma homenagem aos desbravadores e

fundadores de Divinolândia.

A forte presença da religiosidade no município também é fortemente relacionada

ao meio rural, principalmente quando abordamos as inúmeras quermesses existentes,

feitas anualmente a mais de 30 anos, os tradicionais terços juninos, as romarias,

principalmente para Aparecida – SP e as orações de recomenda das almas .

Segundo Lopes (1991) as quermesses em Divinolândia, são festas realizadas em

diversas épocas, de acordo com cada paróquia. Geralmente são compostas por

manifestações e quitutes, barracas de sorteios, jogos com prêmios, leilões dos mais

diversos tipo, bebidas e típica comida caipira como: milho verde cozido, espetinhos

38

assados, pamonha, vinho quente, bolinho caipira e quentão, entre outros. No município

este tipo de festividade é tradição acontece do mês de junho em diante, está ligada

a religião católica, é a festa do santo padroeiro da paróquia ou aniversário da igreja.

Destaca-se a quermesse existente no bairro rural denominado Três Barras que é feita

pela comunidade local desde 1973 e sempre acontece tradicionalmente em meados do

mês de agosto.

No município os terços juninos acontecem em mais de 50 localidades no mês de

junho, são realizados pelas igrejas e paróquias, e também por diversos devotos em suas

próprias casas e sítios, para celebrar o mês de três santos católicos: Santo Antonio, São

João e São Pedro. Esses, juntamente com as quadrilhas são realizados em forma de

agradecimento à produção do ano. Como junho é uma época de entressafra, os antigos

aproveitavam para festejar o que foi colhido no primeiro semestre do ano, ou como

forma de pagamento de alguma promessa (Figura 8).

Figura 8: Terço Junino.

Fonte: Valdir Norato (2003).

Outro traço que se destaca na cultura rural em Divinolândia são as romarias: a

pé, a cavalo, de charrete, de motos, de carro, ou em ônibus fretados. Acontecem durante

todo o ano e geralmente são promovidas por Romeiros que moram nos bairros rurais e

organizam Romarias a dezenas de anos. A maioria das Romarias que acontecem durante

todo o ano em Divinolândia tem como final a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em

Aparecida-SP e Santa Rita de Caldas-MG, para este roteiro católico a grande maioria

dos romeiros vão a pé ou a cavalo com o intuito de atingir graças ou o pagamento de

promessas.

39

Durante a Quaresma, com uma tradição de 50 anos, segundo Darcie (2010),

a recomenda das almas, rituais de penitência em sufrágio das almas do purgatório,

executados durante o tempo da quaresma. Às segundas, quartas e sextas do período,

depois das 21 horas, saem os grupos penitentes em silêncio, parando às portas de

outros devotos, dos cemitérios, das capelas ou junto às cruzes de beira de estrada.

Começando nos bairros rurais de Divinolândia, mas com o passar dos anos se

espalhando pela zona urbana do município, ao redor do cemitério municipal.

Assim, consequentemente, estas características integram a tradições do

município, e as conservam com o passar dos anos, principalmente através do êxodo

rural e a particularidades levadas da zona rural de Divinolândia para o centro do

município que são tradicionalmente passadas através das gerações.

Novamente, retomando do presidente da Companhia de Reis Divina Folia,

percebemos as incertezas sobre o futuro dessas manifestações rurais no município. Ele

afirma ter medo de que, com os mais antigos perdendo suas forças, envelhecendo e

adoecendo, não tendo condições para manter as Companhias e as tradições culturais de

Divinolândia. Em geral, os jovens são poucos os interessados, por esse motivo corre-se

o risco de essa tradição se extinguir com o tempo.

Essa realidade de Divinolândia, portanto, pode ser contextualizada na

afirmativa de Biazzo (2007, p.285) de que há “paisagens do campo e da cidade,

ruralidades e urbanidades que, combinadas, ensejam as territorialidades de cada

localidade, município ou região”. Essas particularidades “rurais” advindas desde a

formação do município e que juntas marcam a territorialidade ímpar ali

existente,fundamentada principalmente pela forte presença da ruralidade.

40

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em consideração a revisão bibliográfica e a pesquisa empírica

realizada no município de Divinolândia, conclui-se que as relações entre

campo/cidade ou rural/urbano, mostram que estes espaços não tem apenas

singularidades em relação um ao outro, como é descrito por muitos autores, Ao

contrário, constituem meios que se associam entre si e estabelecem laços de trocas

que se complementam, principalmente quando observarmos as ruralidades

presentes na cidade, constituídas ao longo do processo de formação do município e

que predominam até hoje.

Entretanto, mesmo com todas as modificações do espaço e paisagens desses

locais, a características continuam e caracterizam particularmente o município,

onde são preservadas as particularidades do meio rural e urbano principalmente

através das manifestações culturais, fator este que determina uma relação intrínseca

entre meio rural e urbano. Assim um fator que nos permite e nos leva a observar a

presença da ruralidade dentro do perímetro urbano do município, certamente é o

fato do município ter sua economia quase que exclusivamente baseada na produção

agrícola, principalmente a batata e mais recentemente o café.

A pesquisa também apontou uma intensificação no êxodo rural no

município, a partir dos meados de 1990, fato este relacionado a quedas na produção

agrícola, principalmente na cultura da batata, o que levou muitos agricultores a

deixarem o campo e se estabelecerem na zona urbana e em municípios vizinhos, o

que culminou com uma ligeira queda e posteriormente estagnação da população

absoluta do município.

A partir da inter-relação campo/cidade, da análise da presença da ruralidade

no município e dos estudos dos fatores que impulsionam a dinâmica populacional,

podemos considerar que nossa análise acrescenta informações de extremo valor

sociocultural e econômico ao município de Divinolândia, bem como a no contexto

geral dos pequenos “municípios rurais”, e a todos municípios de pequeno porte do

Brasil, onde os estudos geográficos praticamente inexistem.

É válido ressaltar, que tal estudo remete-nos a busca de soluções para os

problemas enfrentados em Divinolândia e outros pequenos municípios, sobretudo

se refere a necessidade de maiores incentivos para a melhoria da produção agrícola

41

local e a geração de novos empregos a fim de evitar a migração da população

conduzindo assim a um crescimento econômico sem deixar de lado os laços

relativos a presença da ruralidade.

42

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APÊNDICES

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Apêndice 1: Roteiro da entrevista com produtor de batata no município de

Divinolândia – SP

1- Como e em que ano, provavelmente, a cultura da batata foi inserida no

município de Divinolândia?

2- Como foi o modelo utilizado para a produção deste tubérculo no início?

3- A produção já era grande desde os primeiros anos, ou ao decorrer do tempo que

ela foi aumentando?

4- Quais fatores levaram Divinolândia a ter uma grande produção de batata?

5- A população que dependia economicamente da bataticultura, desde os

primórdios, já era significativa para o município?

6- Para o senhor o que causou a crise na produção da batata, especificamente no

município de Divinolândia?

7- Por ter acompanhado a produção da batata, em Divinolândia, desde o inicio, o

senhor crê que esta pode voltar a ser grande e significativa para economia do

município como foi nas décadas passadas?

8- Como o senhor começou a produzir a batata, de onde vinham as informações e

se já era cara a produção de cada saca?

9- O senhor sabe me falar como Divinolândia ganhou o apelido de “Capital da

batata”?

10- Divinolândia já possui uma população pequena, e com a crise da batata se

estagnou e até diminuiu. O senhor acha que se não fosse a produção da batata a

população de Divinolândia hoje seria ainda muito menor ?

Apêndice 2: Roteiro da entrevista com o presidente da APROD e Sindicato Rural

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1- Qual é a base da economia do município de Divinolândia? Sempre foi assim?

2- Quantos empregos diretos e indiretos são gerados pela produção agrícola no

município? Qual o papel da APROD desenvolvimento da agricultura no

município?

3- Em que anos aconteceram as piores crises na produção agrícola de Divinolândia

? E quais foram os reflexos disso na economia local?

4- A população de Divinolândia com os anos vem diminuindo e se estagnou. Na

sua opinião, qual seria o principal motivo para essa situação?

5- Qual seria a alternativa para melhorar a produção agrícola do município?

6- Desde que o senhor assumiu a presidência do Sindicato rural de Divinolândia

quais foram os maiores problemas encontrados ?

7- Existem soluções para a falta de empregos no nosso município? Quais seriam?

8- Quais programas de auxílio ao produtor e trabalhador rural, implantados pelo

Sindicato rural e APROD ?

9- Qual a sua visão sobre a produção agrícola de Divinolândia no futuro?

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Apêndice 3: Roteiro da entrevista com o representante do DIQBEM

1- Quando foi criado, qual a finalidade e os objetivos do DIQBEM?

2- O DIQBEM através de parcerias busca aumentar e incentivar o Turismo rural no

no município ?

3- Quais programas relacionados ao turismo rural já foram implantados? Tiveram

resultados positivos?

4- Quais os benefícios do turismo rural para Divinolândia ?

5- Além do Turismo Rural o incentivo a cultura, principalmente relacionada ao

meio rural, é de extrema importância para nosso município. O DIQBEM tem

programas ou projetos para isso ?

6- O DIQBEM busca ideias e programas de qualificação profissional para as

pessoas que pretendem implementar projetos relacionados ao Turismo Rural?

Quais?

7- Acredita que o turismo rural poderá agregar valor à produção agrícola,

sobretudo, a agricultura familiar do município? De que forma?

8- Como poderia caracterizar o Turismo Rural em Divinolândia nos dias atuais?

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Apêndice 4: Roteiro da entrevista com representante das Companhias de Reis

1- Quando se iniciaram as manifestações culturais relacionadas as companhias de

Reis em Divinolândia ? Por favor, fale sobre sua história no município?

2- Onde se concentram as companhias de Reis do município?

3- Qual a faixa etária dos participantes? Eles são do campo ou da cidade? E os

jovens tem se interessado?

4- Quando e onde ocorrem as apresentações das companhias?

5- A população do município, em geral, apoia as companhias? De que forma?

6- Apesar das companhias de Reis fazerem parte de nossa cultura, elas correm o

risco de se extinguir com o tempo? Por quê?

7- Considera importante a manutenção desse tipo de manifestação rural e

Divinolândia? Por quê?