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Sociolinguística Ciências da Linguagem Alexandra Guedes Pinto Professora Auxiliar da FLUP Membro do Conselho Científico do CLUP [email protected] Tópicos sobre Análise Interacional – Princípios e Métodos 1 Adaptado de Catherine Kerbrat-Orecchioni - Análise da Conversação – Princípios e Métodos Comunicação oral face a face – forma de comunicação privilegiada e mais natural entre os indivíduos. Que quadro conceptual e que técnicas de análise podemos projetar sobre esta realidade? Quadro Conceptual Análise das Interações Glossário Interlocução (troca de palavras) e permuta de papéis: emissor / recetor Interação: processo de influências mútuas Procedimentos de validação interlocutória: sinais do empenhamento mútuo dos interactantes na comunicação Emissor: orientação do corpo; direção do olhar; formas de tratamento, produção de captadores fáticos verbais, retomas, reformulações, ajustamentos da intensidade vocal, Recetor: produção de reguladores não verbais (olhar, meneio da cabeça, sorriso…) vocais e verbais tais como as retomas sob a forma de eco. As atividades fática e reguladora não são independentes mas sim solidárias. Sincronização interacional: mecanismos de ajustamento na interação. Turnos de fala; comportamento corporal: postura, gestos e mímica; negociação do tema, do registo de língua, dos tempos da troca, dos turnos, da abertura e encerramento da troca…; Coprodução do discurso: trabalho colaborativo incessante na interação face a face. Negociação interacional dos turnos pode ser feita por um mediador (distribuidor oficial dos turnos) ou ser fruto de autogestão com base na regra da alternância dos turnos de fala. A negociação pode ser pacífica ou conflituosa, cortês ou Interlocução Validação interlocutória Atividade fática e reguladora atividades solidárias: Produção de captadores fáticos verbais e não verbais por parte do emissor e de reguladores verbais e não verbais por parte do recetor. Sincronização interacional Coprodução do 1 Este documento constitui apenas um conjunto de tópicos de aula. Não deve ser utilizado com nenhum outro estatuto.

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Princípios e Métodos

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Sociolinguística Ciências da Linguagem

Alexandra Guedes Pinto

Professora Auxiliar da FLUP Membro do Conselho Científico do CLUP

[email protected]

Tópicos sobre Análise Interacional – Princípios e Métodos1

Adaptado de Catherine Kerbrat-Orecchioni - Análise da Conversação – Princípios e Métodos

Comunicação oral face a face – forma de comunicação privilegiada e mais natural entre os indivíduos.

Que quadro conceptual e que técnicas de análise podemos projetar sobre esta realidade?

Quadro Conceptual Análise das Interações Glossário

Interlocução (troca de palavras) e permuta de papéis: emissor / recetor

Interação: processo de influências mútuas

Procedimentos de validação interlocutória: sinais do empenhamento mútuo dos

interactantes na comunicação

Emissor: orientação do corpo; direção do olhar; formas de tratamento, produção

de captadores fáticos verbais, retomas, reformulações, ajustamentos da

intensidade vocal,

Recetor: produção de reguladores não verbais (olhar, meneio da cabeça,

sorriso…) vocais e verbais tais como as retomas sob a forma de eco.

As atividades fática e reguladora não são independentes mas sim solidárias.

Sincronização interacional: mecanismos de ajustamento na interação. Turnos de

fala; comportamento corporal: postura, gestos e mímica; negociação do tema, do

registo de língua, dos tempos da troca, dos turnos, da abertura e encerramento

da troca…; Coprodução do discurso: trabalho colaborativo incessante na

interação face a face.

Negociação interacional dos turnos pode ser feita por um mediador (distribuidor

oficial dos turnos) ou ser fruto de autogestão com base na regra da alternância

dos turnos de fala. A negociação pode ser pacífica ou conflituosa, cortês ou

Interlocução

Validação

interlocutória

Atividade fática e

reguladora –

atividades

solidárias:

Produção de

captadores fáticos

verbais e não

verbais por parte

do emissor e de

reguladores verbais

e não verbais por

parte do recetor.

Sincronização

interacional

Coprodução do

1 Este documento constitui apenas um conjunto de tópicos de aula. Não deve ser utilizado com nenhum

outro estatuto.

Page 2: Analise_interacional_-_Principios_e_metodos (1)

agressiva. Interrupções ou intrusões; sobreposição das falas.

A maior parte das trocas comunicativas são mistas: envolvem interação verbal e

não verbal

A interação sócio verbal é um trabalho contínuo ao serviço da construção da

identidade social de cada interactante.

O contexto = dados objetivos + interpretação que os participantes fazem dos

dados físicos

Relação dialética contexto – texto

Papéis interlocutivos (lugares discursivos) vs papéis interacionais (ligados aos

papéis sociais) constitutivos do script ou frame (tipo de interação) do discurso.

Material das conversações:

Material verbal, para-verbal (prosódia, pausas, intensidade, vocalizações) e não-

verbal (cinética e proxémica) ocorrem simultaneamente ou sucessivamente

contribuindo em conjunto para a construção da coerência do diálogo.

As conversas como práticas comunicativas ordenadas, que se desenvolvem de

acordo com esquemas preestabelecidos e regras.

Regras de gestão da alternância dos turnos de fala:

Princípio da alternância. Equilíbrio interacional. Negociação da vez: negociação

explícita através de enunciados metacomunicativos ou negociação implícita.

Sobreposição ou overlap e gap ou silêncios entre turnos: ‘minimization of gaps

and overlaps’.

Ponto transicional: ponto de mudança de turno, tanto quanto possível assinalado

pelo F1 no enunciado através dos sinais verbais de fim de turno (completude

semântico-pragmática do enunciado. Ex: pergunta; morfema de conclusão ou

expressão de contacto ou fática. Sinais prosódicos: curva entoacional marcada,

redução da velocidade da elocução, queda da intensidade articulatória seguidas

de pausa. Sinais de natureza mímico-gestual: olhar fixo para o destinatário,

paragem da gesticulação. Seleção do sucessor: procedimentos verbais ou não

verbais ou então autosseleção.

Falhas no sistema de turnos: fracasso involuntário ou violação deliberada. Gap,

overlap, interrupção, intrusão

Incidências da negociação sobre o desenvolvimento da interação e sobre a

construção da relação interpessoal

Regras de organização estrutural da interação:

Sucessão de turnos de fala com princípios de coerência interna; regras de

discurso

Construção da

identidade

Papéis

interlocutivos e

papéis

interacionais

Script ou frame

Material verbal,

para-verbal e não-

verbal.

Alternância dos

turnos de fala

Equilíbrio

interacional

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encadeamento sintático, semântico e pragmático: gramática da interação.

Dependência condicional das diferentes contribuições dos participantes e

determinação mútua das intervenções. As transgressões têm efeitos no

desenvolvimento da conversa. Conversa é uma espécie de texto coletivo.

Organização global e local. Organização global: inscrição num script; organização

local: encadeamento explícito e implícito dos diferentes constituintes do diálogo:

Modelo hierárquico da conversação:

Unidades dialogais: interação (evento comunicativo) – unidade máxima de

análise; sequência (episódio); troca

Unidades monologais: intervenção; ato de fala – unidade mínima de análise.

Interação: qualquer que seja o script em que se inscreve, uma interação é uma

unidade comunicativa que apresenta continuidade interna: grupo de

participantes, tema, quadro espácio-temporal.

Esquema geral da interação: sequência de abertura; corpo da interação e

sequência de conclusão; abertura e fecho particularmente ritualizadas.

Sequência: Bloco de trocas ligadas por uma forte coerência semântico-

pragmática (em torno de um mesmo tema ou uma mesma tarefa)

Troca: unidade dialogal menor. Estrutura típica: par adjacente (duas

intervenções); intervenção iniciativa e intervenção reativa. Trocas estendidas:

mais do que 3 intervenções. Ciclos de negociação.

****************

Intervenção: conjuntos de atos de fala

Ato de fala: ato diretor (determina o valor pragmático da intervenção) e atos

subordinados

Regras de relação interpessoal

Sistema de direitos e deveres.

“Uma interação é uma ação que afeta (altera ou mantém) a relação com o outro”

(Labov)

Relação horizontal:

Eixo gradual orientado para a distância/desconhecimento/antagonismo ou para a

familiaridade.

Relacionemas: indicadores e construtores da relação interpessoal.

Relacionemas horizontais: gestos, distância física; contactos visuais, mimetismo,

gestos, timbre da voz, débito da elocução…formas de tratamento, tema

abordado, registo de língua

Relação vertical:

Modelo

hierárquico da

conversação

Unidades dialogais:

interação (evento

comunicativo) –

unidade máxima de

análise; sequência

(episódio); troca

(par adjacente;

intervenção

iniciativa e

intervenção

reativa)

Unidades

monologais:

intervenção; ato de

fala – unidade

mínima de análise

(ato diretor,

determina o valor

pragmático da

intervenção, e atos

subordinados)

Relação horizontal

Relacionemas

Relação vertical

Taxemas

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Poder, hierarquia, domínio. Posições altas e posições baixas. Distância

dissimétrica. Dimensão gradual. A desigualdade pode ser um fator contextual

(idade, sexo, estatuto, papel interacional).

Relacionemas verticais ou taxemas. Taxemas de posição alta e taxemas de

posição baixa (gestos, distância física; contactos visuais, mimetismo, gestos,

timbre da voz, débito da elocução…formas de tratamento, tema abordado,

registo de língua; aspetos quantitativos e qualitativos da distribuição dos turnos

de fala; organização estrutural da interação (intervenções iniciativas,

intervenções de fecho; tipos de atos de fala produzidos durante uma interação.)

Cortesia:

Fenómeno pertinente porquanto exerce muita pressão sobre a interação. O

objetivo da cortesia é preservar o caráter harmonioso da relação interpessoal, o

equilíbrio interacional.

Cortesia linguística

Face; face positiva e face negativa; FTA; atos autoameaçadores (oferta, promessa

ou confissão, autocrítica) e heteroameaçadores;

Face work: cortesia dá resposta a um desejo mútuo de preservação das faces

Anti FTA ou FFA: atos de fala valorizantes para as faces do emissor e do recetor

(elogio, agradecimento, votos)

Cortesia negativa: de natureza abstencionista, preventiva ou compensatória:

evitar produzir um FTA; atenuar o efeito de um FTA. Muitas vezes os FTA’s

sofrem atenuação através de atenuadores;

Cortesia positiva: de natureza produtiva. Consiste em efetuar um FFA valorizante

para as faces do recetor. Muitas vezes os FFA’s sofrem intensificação.

Interação e double bind (Escola de Palo Alto): os sujeitos estão por vezes

submetidos a um duplo vínculo tendo de optar por soluções de compromisso: ex:

sinceridade e cortesia.

Cortesia

Face; face positiva e

face negativa; FTA;

atos

autoameaçadores e

atos

heteroameaçadores

Face work

Anti FTA ou FFA

Cortesia negativa

Cortesia positiva

double bind