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ISSN: 2316-3992 Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 01, n. 02 – edição especial, p. 385-400, nov 2012 ANÁLISES DE JORNAIS E REVISTAS: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA Palavras-chave: Pesquisa em Comunicação, Análise de veículos impressos, Categorias: Destaque, Agenda- mento e Alteridade. Resumo O artigo pretende apresentar uma proposta metodológica de análise para veículos impressos, quando o corpus da pesquisa é em grande quantidade, por meio de três categorias estabelecidas: Destaque, Alteridade e Agendamento. Com estas categorias pode-se analisar, quantitativamente, um conjunto complexo de fatores quantitativos, como planejamento visual gráfico, tratamento de informações e temas pautados pelos veículos. A técnica pode ser utilizada por pesquisadores interessados em analisar a cobertura de jornais ou revistas sobre determinados temas como pessoas, instituições, países, povos, objetos, dentre outros. Bruno Augusto Amador Barreto 1 1 É doutor em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo/ Universidad Pontificia de Salamanca (Espa- nha), com MBA em Administração Acadêmica e Universitária pela Faculdade Pedro Leopoldo/Carta Consulta de Belo Horizonte/ MG, graduado e Mestre em Comunicação Social pela Universidade de Marília. Atualmente é Diretor de Planejamento de Ensino no Centro Universitário da Grande Dourados. [email protected]

ANÁLISES DE JORNAIS E REVISTAS: UMA PROPOSTA … · presso como jornais, revistas e livros, sem margem de erro. No entanto, sua utilização é maior nas artes gráficas, ... Ou

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ISSN: 2316-3992

Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 01, n. 02 – edição especial, p. 385-400, nov 2012

ANÁLISES DE JORNAIS E REVISTAS: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA

Palavras-chave: Pesquisa em Comunicação, Análise de veículos impressos, Categorias: Destaque, Agenda-

mento e Alteridade.

Resumo

O artigo pretende apresentar uma proposta metodológica de análise para veículos impressos, quando o

corpus da pesquisa é em grande quantidade, por meio de três categorias estabelecidas: Destaque, Alteridade

e Agendamento. Com estas categorias pode-se analisar, quantitativamente, um conjunto complexo de fatores

quantitativos, como planejamento visual gráfico, tratamento de informações e temas pautados pelos veículos.

A técnica pode ser utilizada por pesquisadores interessados em analisar a cobertura de jornais ou revistas sobre

determinados temas como pessoas, instituições, países, povos, objetos, dentre outros.

Bruno Augusto Amador Barreto1

1 É doutor em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo/ Universidad Pontificia de Salamanca (Espa-

nha), com MBA em Administração Acadêmica e Universitária pela Faculdade Pedro Leopoldo/Carta Consulta de Belo Horizonte/

MG, graduado e Mestre em Comunicação Social pela Universidade de Marília. Atualmente é Diretor de Planejamento de Ensino

no Centro Universitário da Grande Dourados. [email protected]

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PROPOSTA METODOLÓGICA

A técnica quali-quanti de análise de veículos impressos surgiu durante a graduação do autor e foi aprimorada

durante sua dissertação de mestrado. A idéia vem da necessidade de ter um método para investigar um grande

volume de material, estudando períodos inteiros e possibilitando uma análise macro do todo por mais de um

ângulo, especificamente, por meio da diagramação, do tratamento da matéria e do agendamento que ela possa

causar. Para isso trabalha-se com as categorias de análises: Destaque, Alteridade e Agendamento

Por meio destas três categorias analisam-se um conjunto complexo de fatores em mídias impressas, possibili-

tando desde análise do posicionamento de uma notícia na página à relação do veículo com o objeto estudado;

de temas pautados aos subsídios para se compreender os fatos; do espaço dedicado a um tema à construção

de sentido do veículo. Com a representação gráfica, fruto da tabulação dos dados desta técnica, tem-se um

conjunto de resultados qualitativos sobre os aspectos levantados anteriormente.

A técnica pode ser utilizada por pesquisadores interessados em analisar a cobertura de jornais ou revistas so-

bre determinados temas como pessoas, instituições, países, povos, objetos, dentre outros; de coberturas eleitorais

a análises de representação de países em veículos específicos.

Devido as características das variáveis de estudo realizadas por esta técnica, dentre elas a grande quantidade

de informações, ela pode ser utilizada como método de coleta e interpretação de dados em Trabalhos de Con-

clusão de Cursos e Dissertações, devido o tempo reduzido para a pesquisa destes estudos. Esta técnica, uma

vez assimilados as suas definições e formulas de tabulação, é um método prático e ágil de colher e interpretar

informações.

A seguir apresenta-se cada categoria, suas definições, quesitos e formas para tabulação dos dados.

2. DEFINIÇÃO DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE

2.1. Categoria Destaque

A Categoria Destaque afere o tratamento/planejamento visual gráfico que um determinado veículo de comu-

nicação dedica a um tema e/ou objeto específico.

Busca avaliar a mancha gráfica dedicada a certo tema e a sua localização na página impressa. Assim, con-

sidera-se dois quesitos para colher os dados desta categoria: espaço e posição.

Analisando os quesitos espaço e posição de um determinado conteúdo em uma página impressa identifica-se

o grau de importância que o veículo condicionou a um tema/objeto.

2.1.1. Quesito Posição

Dois olhos manifestam a visão humana em movimento que assumem uma forma esferóide. Passar o olho sobre uma página impressa é mecanicamente natural, embora assumam traços seqüenciais que dão margem à orientação do planejador gráfico, manifestando a percepção dos detalhes. (KUNTZEL, 2003: 95).

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A distribuição dos temas pelas páginas de um veículo impresso não é feita de maneira aleatória, consi-

derar esta diagramação é o foco do quesito posição.

A diagramação pode e deve ser utilizada como uma forma de guiar o olho do leitor. Para que isso ocorra da melhor maneira possível é necessário que saibamos identificar as áreas de uma página. (HORIE, 2001: 42).

O lugar da página em que um determinado tema encontra-se mostra o grau de tratamento daquele fato ao

veículo, baliza a leitura dos seus leitores.

Numa página de jornal podem ser observadas as zonas de visualização. Quando alguém recebe uma comunicação escrita, uma carta, qualquer recado de um amigo, instintivamente sua visão se fixa no lado superior à esquerda do papel, pos estamos condicionados a saber o começo da escrita ocidental será sempre no lado superior esquerdo. (SILVA, 1985: 47).

A percepção humana é extremamente visual “os olhos em movimento buscam incessantemente obstáculos,

para fixar o foco” (KUNTZEL, 2003:97) e a fixação da leitura tende a ser em zonas estratégicas de uma página.

Lugares onde os temas que o veículo deseja ressaltar são colocados.

No diagrama abaixo tem-se as Zonas de Visualização apresentadas por Edmund C. Arnold em uma página

impressa (KUNTZEL, 2003:98; SILVA, 1985: 49 e HORIE, 2001: 43 ):

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A zona 1 é a principal de uma página, primeiro lugar visto pelo leitor. A zona 2 é a secundária, direção da

visão em um segundo momento. As áreas 3 e 4 são as chamadas zonas mortas, utilizadas para inserir informa-

ções de importância secundária.

A posição 6 é o centro geométrico de uma página, no entanto, é na zona 5, centro óptico, que a visão tende

a se fixar por um tempo maior; espaço reservado para fatos que o veículo deseja evidenciar. É importante consi-

derar que “a altura do centro óptico varia de acordo com a dimensão da página, dependendo da relação entre

a largura e a altura.”. (SILVA, 1985: 48).

Para medir o quesito posição considera-se: as zonas 1 e 5 como áreas de alta exposição, 2 e 6 de média

exposição e os espaços 3 e 4 de baixa exposição.

Escala de medida adotada no quesito:

Um fato que ocupe mais de um ponto, considera-se para medição o quesito de maior exposição. Por exem-

plo, uma reportagem que ocupe toda a parte inferior de um jornal, zonas 4 e 2, será considerada a área 2, ou

seja, um assunto com exposição mediana.

2.1.2. Quesito Espaço

No quesito espaço busca-se identificar a quantidade de mancha gráfica que o veículo impresso dedicou a

determinado tema. Não se considera o conteúdo da informação, é estimado apenas o volume deste material.

A unidade de medida em tipografia utilizada no Brasil é o ponto Didot, desenvolvido pelo tipógrafo e impressor francês, Francisco Ambrósio Didot, representado no sistema métrico um pouco menos que meio milímetro, cerca de 0,376 mm.

(...) Existem outros sistemas de medidas tipográficas, tais como o sistema Fournier, criado também por um tipógrafo francês cujo nome é Pedro Simon Fournier, representado cerca de 0,350 mm, em uso ainda praticamente só na Bélgica. Contudo, o conhecido sistema de Four-nier deu origem ao sistema de medidas anglo-americano, representado pela paica (pica), correspondendo o seu ponto gráfico a 0,351 mm. (SILVA, 1985: 93).

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Estes sistemas de medidas tipográficas calculam milimetricamente a mancha gráfica de qualquer meio im-

presso como jornais, revistas e livros, sem margem de erro. No entanto, sua utilização é maior nas artes gráficas,

na editoração e no design; para analisar o quesito espaço adota-se um sistema de avaliação simplificado, visto

que as variáveis a serem medidas no arranjo gráfico não necessitam de dados milimetricamente calculados, estes

não alterariam os resultados esperados.

Espera-se deste quesito apenas a identificação do espaço geral que foi atribuído em determinado veículo a

um ou mais temas e/ou assuntos. A escala a ser verificada pode ser feita por qualquer estudante de comunicação

que tenha uma noção mínima de planejamento visual gráfico.

Como escala de tamanho adota-se os conceitos: grande, médio e pequeno. Grande para conteúdos acima

de oito parágrafos, com foto e/ou ilustração - exemplo: reportagens. O conceito de médio é atribuído para textos

entre quatro e oito parágrafos, com ou sem foto e/ou ilustração - exemplo: notícias. Como pequeno considera-se

as notas de um a quatro parágrafos, sem foto e/ou ilustração.

Escala de medida adotada no quesito:

2.1.3. Tabulação da Categoria Destaque

Para chegar aos dados da categoria destaque é necessário reunir os resultados do quesito posição com os do

quesito espaço.

Os resultados da categoria são classificados como: Bom, Regular e Insuficiente.

O conceito Bom é atribuído para as matérias que possuem: grande espaço e alta exposição; grande espaço e

média exposição; espaço médio e alta exposição. Regular para: grande espaço e baixa exposição; médio espaço

e média exposição; pequeno espaço e alta exposição. O conceito Insuficiente atribui-se para: médio espaço e

baixa exposição; pequeno espaço e baixa exposição; pequeno espaço e baixa exposição.

Para tabular a categoria utiliza-se a seguinte escala de medida:

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2.2.Categoria Alteridade

2.2.1. O Conceito

O conceito de alteridade utilizado por esta categoria é compreendido com base no livro de TODOROV: A

conquista da América: a questão do outro (1999). Na obra o autor mostra como são estabelecidas e criadas as

relações com o Outro. Possibilitando, deste modo, aferir a condição ou a natureza que o outro adquire em um

veículo impresso:

Quero falar da descoberta que o eu faz do outro, o assunto é imenso. Mal acabamos em formulá-lo em linhas gerais já o vemos subdividir-se em categorias e direções múltiplas, infinitas. Podem-se descobrir os outros em si mesmo, e perceber que não se é uma substância homogênea, e radicalmente diferente de tudo o que não é si mesmo; eu é um outro. Somente meu ponto de vista, segundo o qual todos estão lá e eu estou só aqui, pode realmente separá-los e distingui-los de mim. Posso perceber os outros como uma abstração, como uma instân-cia da configuração psíquica de todo indivíduo, como o Outro, outro ou outrem em relação a mim. Ou então como um grupo social concreto ao qual nós pertencemos. Este grupo, por sua vez, pode estar contido numa sociedade: as mulheres para os homens, os ricos para os pobres, os loucos para os ‘normais’. Ou pode ser exterior a ela, uma outra sociedade que, dependendo do caso, será próxima ou longínqua: seres que, contudo se aproximam de nós, no plano cultural, moral e histórico, ou desconhecido, estrangeiro cuja língua e costumes não compreendo, tão estrangeiro que chego a hesitar em reconhecer que pertencemos a mesma espécie (TODOROV, 1999: 3-4).

Como mostra o autor, o princípio da relação com o outro pode ser entendido através dos seguintes pres-

supostos: 1) O outro é descoberto no eu; 2) Cada um dos outros é um eu também; e 3) Hesito em reconhecer

língua e costumes que não compreendo ou que são distintos aos meus.

A concepção e as relações com o outro são estudadas na categoria Alteridade por meio de uma análise

que busca identificar a construção de imagem/significado de determinado tema/objeto pelos meios de comuni-

cação impressos.

2.2.2. A Categoria

A categoria Alteridade, como dito, avalia o tratamento dado à informação. Em uma analogia a TODOROV

é estudado como os veículos impressos descobrem e/ou expõem o outro: temas e/ou objetos.

Assim como na categoria Destaque, na categoria Alteridade dois quesitos são estipulados para identificar

como os veículos versam/discorrem sobre algo, são: relação e subsídios. Esta categoria possibilita identificar a

construção de sentido/significação de determinados temas por jornais ou revistas.

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2.2.2.1. Quesito Relação

Neste quesito estuda-se as relações, tratamento, do veículo de comunicação com o referente reportado, se

ele enaltece ou denigre, se é favorável ou desfavorável a um determinado fato.

Para compreensão deste quesito faz-se necessário antes discutir a natureza dos signos lingüísticos.

Natural ou convencional? Esta é discussão conduzida por Sócrates em Crátilo – sobre a justeza dos nomes, de Platão; onde investiga-se a relação entre os nomes, as idéias e as coisas. A questão chave deste “dialogo de três” – Crátilo, Hemórgenes e Sócrates – é se a relação entre nome, idéia e coisa é natural ou depende de convenções sociais. Hemórgenes sustenta a tese de que os nomes são oriundos de uma convenção/acordo: “(...) não existe nome dado à coisa alguma por sua natureza, tudo é convenção e hábitos dos usuários; essa é minha visão.” (PLATÃO, 1999: 4). Já Crátilo, defende que os nomes possuem relação natural com as coisas que denotam: “Representação por semelhança, Sócrates, é infinitamente melhor que represen-tação por qualquer outro meio.” (ibid.: 54). Mais adiante acrescenta: “Eu acredito, Sócrates, que a explicação mais verossímil é que um poder superior ao homem deu às coisas seus nomes primitivos, de modo que estes são necessariamente justos.” (ibid.: 58).

Sócrates parece ser contraditório, ora dando ganho de causa a tese de Crátilo ora a de Hemórgenes, mas sempre esteve coerente tendo sua posição própria, mesmo que implícita no texto. Sócrates quer mostrar que a teoria de ambos estão corretas em certos aspectos, mas quer que descubram isso sozinhos, não entregando a chave da discussão de imediato. (BARRETO, 2007:3)

A questão natural/arbitrária do signo foi suficientemente analisada em Crátilo2 e nos teóricos que o sucedem.

Trazendo a contenda aos nossos dias, em uma analogia a Crátilo, pode-se perguntar: as notícias são naturais ou

arbitrárias? Possuem semelhanças ao objeto que denotam ou são fruto de convenções? E ai vê-se que a discus-

são, iniciada por Platão, nunca esteve tão atual. A cada dia mais valores, interesses e ideologias são agregados à

informação, cada vez mais a convenção/acordo de grandes grupos de mídia pautam o noticiário - predominam

sobre os fatos reais.

Para buscar identificar o tratamento e a construção de significados, ocorrida nas relações objeto-veículo,

mais uma vez utiliza-se da alteridade. Como visto o outro é sempre adotado com base no eu. Todavia, as relações

com outrem nem sempre são iguais, não ocorrem em uma única dimensão. Podem ser divididas em três eixos:

Para dar conta das diferenças existentes no real, é preciso distinguir em pelo menos três eixos, nos quais pode ser situada a problemática da alteridade. Primeiramente, um julgamento de valor (um plano axiológico): o outro é bom ou mau, gosto dele ou não gosto dele, ou, como se dizia na época [colonização], me é igual ou me é inferior (pois, evidentemente, na maior parte do tempo, sou bom e tenho auto-estima...). Há, em segundo lugar, a ação de aproxima-ção ou de distanciamento em relação ou outro (um plano praxiológico): adoto os valores do outro, identifico-me nele; ou então assimilo o outro, impondo-lhe minha própria imagem; entre a submissão ao outro e a submissão do outro há ainda um terceiro termo, que é a neutralida-de, ou indiferença. Em terceiro lugar, conheço ou ignoro a identidade do outro (seria a plano epistêmico); aqui não há, evidentemente, nenhum absoluto, mas uma gradação infinita entre os estados de conhecimento inferiores e superiores. (TODOROV, 1999: 223-224).

2 PLATÃO. Crátilo. Versão traduzida por L. BULIK (em disquete). Londrina, UEL, 1999.

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Os três planos destacados por TODOROV serão utilizados aqui para classificar o quesito relação. Com estes

planos pode-se analisar o julgamento de valor e as ações de comportamento de veículos impressos, logo iden-

tificar a construção de sentido estabelecida ao tema reportado pelo meio de comunicação.

Na primeira análise deste quesito adota-se a seguinte escala de medida:

Exemplificando, se em uma reportagem o texto mostra gostar do objeto (plano axiológico), tem aproximação

a ele (plano praxiológico) e demonstra conhecê-lo (plano epistêmico) essa reportagem é positiva ao objeto que

reporta, tende a enaltecê-lo. Por outro lado, se temos uma notícia que manifesta não gostar do objeto citado, que

não tem identificação e o ignora, essa notícia será negativa ao objeto divulgado; assim sucessivamente.

Para tabular o tratamento dado em cada um dos planos tem-se como base a seguinte tabela:

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Os pesos acima dizem respeito aos dados encontrados na análise dos planos, um resultado positivo, tende a

favorecer o objeto reportado, já um negativo, denigre. Os resultados positivo 2 e negativo 2 ficarão mais claro

com a tabulação do próximo quesito.

2.2.2.2. Quesito Subsídios

Além das relações veículo-objeto, busca-se identificar a construção dada a um determinado assunto. Verifica-

se se o material jornalístico possui argumentos para que se compreendam as circunstâncias reais em que ocorreu

cada fato noticiado, se a matéria dá bases para o entendimento da situação em que a notícia está inserida; ou

se apenas comunica um fato superficialmente, sem subsídios para o seu entendimento.

No quesito subsídios adota-se as classificações: embasado e superficial. Embasado para uma matéria que pos-

sibilite a compreensão do fato e superficial para um material sem lastros com as circunstâncias que levaram ao fato.

Escala de medida do quesito:

2.2.3. Tabulação da Categoria Alteridade

Para tabular o tratamento dado à informação, identificado nos quesitos anteriores, atribui-se os conceitos:

Favorável, Regular e Desfavorável.

O conceito Favorável corresponde a um material que enaltece determinado tema ou assunto; o contrário do

que ocorre com o conceito Desfavorável que denigre. Já o Regular identifica um material com certa neutralidade

com relação ao objeto, nem enaltece nem denigre.

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2.3.Categoria Agendamento

A Categoria Agendamento busca identificar quais são os temas que estão sendo pautados.

Por agendamento tem-se como base a hipótese da agenda setting.

Os pressupostos da hipótese de agendamento são vários, mas destaquemos alguns principais:a) o fluxo contínuo de informação (...)b) os meios de comunicação, por conseqüência, influenciam sobre o receptor

não a curto prazo, como boa parte das antigas teorias pressupunham, mas sim a médio e longo prazos (...)

c) os meios de comunicação, embora não sejam capazes de impor o quê pensar em relação a determinado tema, como desejava a teoria hipodérmica, são capazes de, a médio e alongo prazos, influenciar sobre o quê pensar e falar, o que motiva o batismo desta hipótese de trabalho (...) (HOHLFELDT, 2000 :190).

Os temas e os assuntos tentem a circular em torno de um mesmo eixo. Este é o agendamento, o efeito en-

ciclopédico provocado pela mídia. A escolha do que é dito nos veículos de comunicação torna-se o assunto de

conversa entre as pessoas, gerando uma agenda individual e/ou coletiva. Por exemplo:

(...) dependendo dos assuntos que venham a ser abordados – agendados – pela mídia, o público termina, a médio e longo prazos, por incluí-los igualmente em suas preocupações. Assim, a agenda da mídia termina por construir também na agenda individual e mesmo na agenda social. (HOHLFELDT, 2000 :191).

Para identificar os temas que pautam/rotulam determinado objeto recorre-se a esta categoria. Para ter uma

visão dos temas e/ou assuntos que estão em pauta em um veículo específico separa-se, nesta categoria, os fatos

por temas e o número de vezes em que apareceram.

Com os dados desta categoria têm-se o resultado de quais assuntos são agendados pelo veículo de co-

municação, estes temas serão a médio e longo prazo relacionados à imagem do objeto estudado.

2.4. Roteiro para interpretação e coleta dos dados

Compreendidas as definições de cada categoria e quesito, a coleta de dados é tarefa simples. Eleito o tema

a ser estudado e os veículos a serem analisados o pesquisador inicia a coleta dos dados do material. O primeiro

passo é a tabulação dos dados

Tabulação é o processo de agrupar e contar os casos que estão nas várias categorias de análise. Pode haver tabulação simples e cruzada. A tabulação do primeiro tipo, que também é denominada marginal, consiste na simples contagem de freqüência das categorias do con-junto. A tabulação cruzada, por sua vês, consiste na contagem das freqüências que ocorrem juntamente em dois ou mais conjuntos de categorias. (GIL, 2006: 171).

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A tabulação deve ser feita manualmente em todas as categorias. Sendo as categorias Destaque e Alteridade

de tabulação cruzada e a categoria Agendamento simples. Antes de iniciar a análise tenham em mãos as tabelas

de tabulação dos dados de todas as categorias e de seus respectivos quesitos.

Para facilitar a aprendizagem da técnica quali-quanti de análise de veículos impressos será adotado um

exemplo único (ficcional) para explicar como colher e interpretar os dados nas três categorias.

2.4.1. Exemplo Modelo para coleta e interpretação dos dados

•Objeto de estudo: a cobertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio em 2007

•Veículos a serem analisados: Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo e Correio Braziliense

•Recorte: Cadernos de Esportes dos periódicos citados

•Período: 17 dias dos jogos, de 13 a 29 de julho de 2007.

•Total do material para análise: 04 jornais, 68 exemplares, 340 notícias (ima média de cinco matérias

por dia em cada jornal)

Supõe-se que inicie a análise pelo jornal O Globo de 17 de julho de 2007 e o primeiro material a ser es-

tudado seja uma notícia sobre o número total de medalhas do Brasil em todos os Jogos Pan-Americanos, reali-

zados desde 1951 - Pan de Buenos Aires. Veja nos itens a seguir como colher os dados deste exemplo em cada

categoria.

Comece a análise pela categoria Destaque

2.4.1.1. Tabulação da Categoria Destaque

O primeiro passo para identificar o Destaque de uma matéria a ser analisada é identificar o quesito posição,

logo após levanta-se o quesito espaço, cruzando os dados destes dois quesitos tem-se o resultado da Categoria

Destaque.

Exemplo Modelo 1:

•Quesito Posição: Supõe-se que a notícia sobre as medalhas conquistadas pelo Brasil esteja no canto

superior direito da página. Para buscar este resultado veja o diagrama Zona de Visualização, e perceberá que a

notícia está na zona 1, o que representa Alta Exposição. Logo, no quesito Posição a notícia tem Peso A.

•Quesito Espaço: A notícia possui uma foto e mais de oito parágrafos, o que representa o conceito gran-

de. Logo, no quesito Espaço tem Peso 1.

Desta forma, cruzando os dados dos dois quesitos temos o resultado 1-A, representa que esta notícia teve

um Destaque Bom.

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2.4.1.2. Tabulação da Categoria Alteridade

Identifique o quesito relação e depois o quesito subsídios, cruzando os dados terá o resultado da Alteridade.

Exemplo Modelo 2:

•Quesito Relação: a notícia sobre as medalhas do Brasil teve um enfoque de inferioridade do país, mos-

trou indiferença em relação aos atletas brasileiros, mas demonstrou conhecimento do objeto reportado. Assim

no Plano Axiológico tem peso N, no Praxiológico N, e no Epstêmico P, Pesos: NNP. Tabulando o quesito terá o

resultado Negativo 2.

•Quesito Subsídios: analisando a matéria vê que a mesma é embasada, que permite compreender os

fatos noticiados, logo tem Peso A.

Analisando a tabela para tabulação da categoria nota-se que o resultado Negativo 2 – A representa Alteri-

dade Regular.

2.4.1.3. Tabulação da Categoria Agendamento

A Categoria Agendamento utiliza pata tabulação dos dados uma tabela como a abaixo. Na coluna assunto

são elencados os temas de cada matéria analisada e na coluna ao lado o número de vezes que este tema apa-

receu durante o período analisado.

Exemplo Modelo 3: Imagina-se que o tema medalhas sai em mais três notícias até o final dos jogos, então

tem-se:

A coleta dos dados das categorias podem ser feitas simultaneamente, ou seja, uma vez analisada a notícia

já identifica-se os seus resultados em cada categoria. Repete-se a atividade em cada notícia de cada jornal. No

final terá o resultado final da cobertura destes quatro veículos sobre os Jogos Pan-Americanos e os resultados de

desempenho de cada periódico.

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2.4.2. Interpretação dos dados

A interpretação dos dados de cada categoria está sujeita a divergência entre um estudo e outro, devido a

característica intrínseca do resultado com o objeto estudado. Por exemplo, se o objeto de estudo é determinadas

matérias do caderno de cultura de um jornal específico e obtiver-se como resultado da Categoria Alteridade o

conceito Favorável, pode ser algo positivo. Já obter o conceito Favorável em um estudo de notícias relacionadas

a um determinado candidato na cobertura de eleições seria algo extremamente negativo, por demonstrar a par-

cialidade do veículo, resultado não esperado.

Exemplo Modelo:

No exemplo modelo utilizado obteve-se um Destaque Bom, o que pode mostrar que o veículo teve a notícia

como uma das principais na edição. A Alteridade foi Regular, o jornal não enalteceu o tema, mas também não o

denegriu. Já o Agendamento foi baixo, visto que o tema não foi dos mais noticiados. Vale salientar que o exem-

plo utilizado foi apenas ilustrativo, logo não há interpretações mais elaboradas, como a matéria era ficcional a

análise das categorias foi criada a título didático.

3. ORIGEM DA TÉCNICA E APLICAÇÃO

A primeira vez que a técnica foi empregada, ainda que superficialmente, foi na monografia do autor:

Comunicação Controlada: As Agências de Notícias na América Latina (2003). Mas foi na sua dissertação de

mestrado, Uma América e muitas vozes: a comunicação no continente 25 anos após o Informe MacBride, em

que ela foi empregada com mais propriedade e com resultados mais satisfatórios.

Na dissertação foram analisados com a técnica dez jornais latino-americanos, durante uma semana,

num total de 70 exemplares. Buscava-se identificar a representação da América Latina em seus próprios jornais.

Analisou-se especificamente as matérias relacionadas ao continente nas editorias de internacional, totalizando

192 notícias.

Os resultados foram:

35

62

95

Bom Regular Insuficiente

Des

taqu

e

Categrioa destaque

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Alteridade

171

21

Favorável Desfavorável

Categoria alteridade

O desafio agora era empregar a técnica a uma temática diferente, o que foi experimentada com sucesso na

monografia de Bruna Telo: A imprensa douradense: os jornais diários nas eleições governamentais de 2006, sob

orientação do autor. A monografia analisou como os jornais impressos de Dourados/MS, O Progresso e Diário

MS, cobriram durantes o mês de setembro de 2006 as eleições dos principais candidatos ao Governo do Estado,

André Puccinelli (PMDB) e Delcídio do Amaral (PT).

A técnica possibilitou neste caso identificar o posicionamento e o tratamento dos jornais com cada can-

didato. Percebeu-se a diagramação diferenciada para cada um, o candidato preferencial de cada veículo e os

temas que foram agendados para cada candidato.

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Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 01, n. 02 – edição especial, p. 385-400, nov 2012

4. CONCLUSÃO: uma proposta metodológica

A técnica é uma proposta metodológica, já foi utilizada por três vezes satisfatoriamente. No entanto, novas

aplicações e contribuições são essenciais para a evolução e o aprimoramento da técnica.

Uma das características deste método é que ele requer uma quantidade considerável de material para análise.

Uma pesquisa que visa estudar três ou quatro exemplares de jornal em um tema específico não terá um resultado

satisfatório, já que a amostragem e o volume de informações que permitem uma rica interpretação pela técnica.

Acredita-se que a principal contribuição da técnica é permitir uma análise de veículos impressos a partir de

três ângulos: Destaque, Alteridade e Agendamento, o que possibilita uma visão do todo destes periódicos em

coberturas e temas específicos, em um curto espaço de tempo.

Os dados coletados com este método possuem um rico solo para interpretações de diferentes temas e obje-

tos.

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Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 01, n. 02 – edição especial, p. 385-400, nov 2012

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