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analysis TRATAMENTO FISCAL DOS DIREITOS DE IMAGEM DOS ATLETAS A exploração dos direitos de imagem dos atletas suscita diversas dúvidas em sede de direito fiscal, facto que motivou a Autoridade Tributária e Aduaneira (doravante, “AT”) a emitir, através da Circular n.º 17/2011, do Gabinete do Director-Geral, esclarecimentos sobre qual o enquadramento fiscal dos rendimentos provenientes da exploração dos direitos de imagem dos atletas. Neste âmbito, cumpre distinguir: Tributação na esfera do jogador: quando exista um contrato de trabalho des- portivo estes rendimentos podem ser qualificados, para efeitos de IRS, como rendi- mentos de trabalho dependente (categoria A), nos termos do artigo 2.º do Código do IRS. No entanto, e na hipótese de não existir a referida relação contratual, os rendi- mentos obtidos pelo atleta que cede a sua imagem qualificar-se-ão como rendimentos de capitais, inseridos na Categoria E (cfr. n.º 1, do artigo 5.º, do Código do IRS e Cir- cular n.º 17/2011 do Gabinete do Director-Geral); Tributação na esfera da entidade não residente: no caso de esta ser titular dos direitos de imagem do jogador e ceder a sua exploração a um clube desportivo ou sociedade anónima desportiva residente em Portugal, estes rendimentos encontrar-se-ão sujeitos a IRC. Com efeito, as entidades não residentes e sem estabelecimento estável em Portugal estão sujeitas a IRC sobre os rendimentos que se considerem obtidos neste território. Ora, a AT entende que os rendimentos derivados do exercício em território português da actividade de desportistas se enquadram nesta categoria, por força do disposto na alínea d), do n.º 3, do artigo 4.º, do Código do IRC. Nesta hipó- tese, poderá haver lugar a retenção na fonte, a título definitivo, à taxa de 25%, o que deve ser aferido casuisticamente, tendo em conta a Convenção para Evitar a Dupla Tributação eventualmente aplicável a cada caso; Tributação na esfera do clube desportivo ou sociedade anónima desportiva: no caso de esta adquirir, a uma entidade terceira, o direito de explorar os direitos de imagem de um atleta com o qual vai celebrar um contrato de trabalho desportivo, os gastos inerentes são fiscalmente dedutíveis (artigo 23.º do Código do IRC), desde que se comprove uma “mínima adequação” entre a exploração daqueles direitos e os encargos suportados. Contudo, a Lei n.º 103/97, de 13 de Setembro (com as alterações introduzidas pela Lei n.º 56/2013, de 14 de Agosto), que estabelece o regime fiscal específico das sociedades desportivas, consagra que apenas 20% do valor total dos montantes pagos pela sociedade desportiva a título de exploração dos direitos de ima- gem são considerados gastos. 2 de Junho | 2015 | Direito do Desporto www.abreuadvogados.com 1/2

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TRATAMENTO FISCAL DOS DIREITOS DE IMAGEM DOS ATLETAS

A exploração dos direitos de imagem dos atletas suscita diversas dúvidas em sede de direito fiscal, facto que motivou a Autoridade Tributária e Aduaneira (doravante, “AT”) a emitir, através da Circular n.º 17/2011, do Gabinete do Director-Geral, esclarecimentos sobre qual o enquadramento fiscal dos rendimentos provenientes da exploração dos direitos de imagem dos atletas.

Neste âmbito, cumpre distinguir:

� Tributação na esfera do jogador: quando exista um contrato de trabalho des-portivo estes rendimentos podem ser qualificados, para efeitos de IRS, como rendi-mentos de trabalho dependente (categoria A), nos termos do artigo 2.º do Código do IRS. No entanto, e na hipótese de não existir a referida relação contratual, os rendi-mentos obtidos pelo atleta que cede a sua imagem qualificar-se-ão como rendimentos de capitais, inseridos na Categoria E (cfr. n.º 1, do artigo 5.º, do Código do IRS e Cir-cular n.º 17/2011 do Gabinete do Director-Geral);

� Tributação na esfera da entidade não residente: no caso de esta ser titular dos direitos de imagem do jogador e ceder a sua exploração a um clube desportivo ou sociedade anónima desportiva residente em Portugal, estes rendimentos encontrar-se-ão sujeitos a IRC. Com efeito, as entidades não residentes e sem estabelecimento estável em Portugal estão sujeitas a IRC sobre os rendimentos que se considerem obtidos neste território. Ora, a AT entende que os rendimentos derivados do exercício em território português da actividade de desportistas se enquadram nesta categoria, por força do disposto na alínea d), do n.º 3, do artigo 4.º, do Código do IRC. Nesta hipó-tese, poderá haver lugar a retenção na fonte, a título definitivo, à taxa de 25%, o que deve ser aferido casuisticamente, tendo em conta a Convenção para Evitar a Dupla Tributação eventualmente aplicável a cada caso;

� Tributação na esfera do clube desportivo ou sociedade anónima desportiva: no caso de esta adquirir, a uma entidade terceira, o direito de explorar os direitos de imagem de um atleta com o qual vai celebrar um contrato de trabalho desportivo, os gastos inerentes são fiscalmente dedutíveis (artigo 23.º do Código do IRC), desde que se comprove uma “mínima adequação” entre a exploração daqueles direitos e os encargos suportados. Contudo, a Lei n.º 103/97, de 13 de Setembro (com as alterações introduzidas pela Lei n.º 56/2013, de 14 de Agosto), que estabelece o regime fiscal específico das sociedades desportivas, consagra que apenas 20% do valor total dos montantes pagos pela sociedade desportiva a título de exploração dos direitos de ima-gem são considerados gastos.

2 de Junho | 2015 | Direito do Desporto

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TRATAMENTO FISCAL DOS DIREITOS DE IMAGEM DOS ATLETAS

A relevância que os direitos de imagem assumem actualmente, bem como a necessi-dade de combater a fraude e evasão fiscais nestes domínios, justificam a preocupação da AT em esclarecer em que moldes deve a tributação ocorrer, em particular no que respeita às entidades não residentes detentoras dos direitos de imagem dos atletas. Não obstante, e em caso de recurso a esquemas que visem, através do recurso a uma estrutura artificial, obter uma vantagem fiscal, mediante a redução, eliminação ou diferimento temporal de impostos, a AT não se encontra impedida de recorrer à cláusula geral anti-abuso, constante do n.º 2, do artigo 38.º, da Lei Geral Tributária.

A relevância que os direitos de imagem assumem actualmente, bem como a necessidade de combater a fraude e evasão fiscais nestes domínios, justificam a preocupação da AT em esclarecer em que moldes deve a tributação ocorrer, em particular no que respeita às entidades não residentes detentoras dos direitos de imagem dos atletas. Não obstante, e em caso de recurso a esquemas que visem, através do recurso a uma estrutura artificial, obter uma vantagem fiscal, mediante a redução, eliminação ou diferimento temporal de impostos, a AT não se encontra impedida de recorrer à cláusula geral anti-abuso, constante do n.º 2, do artigo 38.º, da Lei Geral Tributária.

Assim, e atenta a importância que os direitos de imagem dos desportistas assumem, poderá verificar-se, num futuro próximo, um aperfeiçoamento da legislação fiscal nesta matéria.

Esta Analysis contém informação e opiniões de carácter geral, não substituindo o recurso a aconselhamento jurídico para a resolução de casos concretos. Para mais informações, por favor contacte-nos através do email [email protected]

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