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Nº
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Negócios com causaa nova geração de empreendedores que lucra fazendo o bemas melhoresoportunidadespara quemsonha em abriruma empresa— e mudaro muNdo
Da esq. para a dir.,claudio sassaki,
da geekie,alessandra orofino,
da purpose,e rogério oliveira,
do movimentobuena onda:
causas que viraramempresas
ESPECIAL8 AmeAçAs que
encurtAm A vidAdAs empresAs
pág. 90
como abrir suaprimeira loja na internet
pág. 108
Franquias: o que fazerquando dá briga
pág. 98
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pág. 66
OS CONSELHOS DO NOBEL MUHAMMAD YUNUS PARA QUEM QUER COMEÇAR pág. 88
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Capa negócios sociais
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porbrunamartinsfontese júliapitthan
UmanovageraçãodeempreendedoresestáprovocandoumarevoluçãonosnegóciosnoBrasilenomundo.paraeles,lucroéfazerobem
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68 pequenas empresas & grandes negócios Maio, 2013
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lessandra Orofino, 24 anos,estudou economia na Columbia University,de Nova York. A convite do governo francês,também teve a chance de frequentar as aulas de ciência política da Sciences Po, em Paris — uma das escolas mais prestigiadas domundo, que formoumuitos dos presidentesda França. Sua formação lhe daria condiçõespara concorrer a qualquer vaga de trainee, edeconstruir uma promissora carreira em multinacionais. Mas a perspectiva de bônus ebenefícios da vida executiva não a seduziu.Alessandra preferiu empreender. Não em um negócio qualquer.Ela não queria apenas um cargo, e sim um trabalho que pudessetraduzir seus valores. Queria passar o dia usando suas competências e talentos. E acompanhando de perto o impacto de suas ações.Hoje, está envolvida em duas frentes: é cofundadora da Purpose,incubadora e aceleradora de novas organizações e projetos de mobilização de massa, com 2,5 milhões de membros no Brasil; e estáà frente da Meu Rio, ONG carioca que coloca a tecnologia a serviçodos movimentos sociais. “Ganho certamente menos do que se estivesse no mercado financeiro, por exemplo, mas me sinto realizada. Eu quero transformar o mundo”, afirma.Emmarço deste ano, mais de 300 pessoas se comprimiram em
um auditório para ouvir Alessandra falar sobre seus projetos, durante o Congresso Global de Empreendedorismo, no Rio, que reuniu mais de 4 mil pessoas de 125 países. Do painel do qual ela fezparte, o dos “Visionários”, também participou Rogério Oliveira,37 anos. Formado emmarketing e comMBA pela escola de gestãoHEC de Montreal, no Canadá, Rogério fez o percurso clássico dosestudantes bem formados. Ocupou bons cargos em grandes empresas durante vários anos até que, em 2011, percebeu que sucesso financeiro nunca seria o bastante. Inspirado pelos livros do eco
nomista Muhammad Yunus—criador de um revolucionáriosistema demicrocrédito em Bangladesh que lhe rendeu o PrêmioNobel da Paz—, ele jogou forao crachá e fundou oMovimentoBuena Onda, consultoria especializada em um tema que vemganhando espaço nomundo corporativo: a felicidade no trabalho. Em dois anos, conquistouclientes de peso, como a CocaCola e aWhirlpool. Seumodelode negócio é incomum: é o cliente que diz quanto vale o seutrabalho. “Não vejo sentido emacumular riqueza, e sim emmelhorar a vida dos outros.”O arquiteto Claudio Sassaki,
39 anos, formado pela Universidade de São Paulo, comMBA emestrado em educação na Universidade de Stanford, tem umahistória parecida com a de Rogério. Atuou em vários bancosde investimento até encontrarsua verdadeira vocação: ajudaros jovens a montar um plano deestudo adequado a sua capacidade de aprendizado. Com esse propósito, fundou sua empresa, a Geekie, com um amigo,Eduardo Bontempo, 29 anos,que também traz no currículoescolas estreladas, como a FGV(Fundação Getulio Vargas) e oMIT (Massachusetts Instituteof Technology). “Me sinto
A
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FONTES: arTEmiSia, "PErSPECTiVE ON PrOGrESS - THE imPaCT iNVESTOrSUrVEY" (2013), ESTUDO rEaLiZaDO POr J.P. mOrGaN E GiiN (GLOBaL
imPaCT iNVESTiNG NETWOrK)
US$9 r$250bilhões devem ser investidos
em negócios de impacto nomundo em 2013 – 12,5% a mais
do que no ano passado
é a estimativa de quantoos fundos vão colocar
em negócios sociaisno Brasil em 2013
MAIS DINHEIRO PARA FAZER O BEMCresce o interesse dos investidores por negócios de impacto socioambiental
*rESPOSTaS mÚLTiPLaS
*rESPOSTaS mÚLTiPLaS
96% dos
investidoresmedem
o impacto socialou ambientalgerado pelosnegócios querecebem seu
aporte
65% dos fundosesperam queum negócio
social dêum retornofinanceiro
equivalenteà média
do mercado
África Subsaariana América Latina e Caribe Estados Unidose Canadá
Leste e Sudeste Asiático Sul da Ásia
Alimentos e agriculturaServiços financeirosMicrofinançasSaúdeEducaçãoHabitaçãoEnergiaTecnologia da informaçãoe comunicaçãoÁgua e saneamento
63 59 5951 47 43
35 3327
Onde vão fazer aportes* (em %) Setores que interessamnos países emergentes (em %)
Maiores motivações para realizarinvestimento de impacto*
1º Querem ser investidoresresponsáveis2º É um meio eficiente para atingirmetas3º São negócios financeiramente maisatraentes4º Existe uma demanda dos clientes5º Buscam exposição em setores epaíses emergentes6º Pretendem diversificar o portfólio
Satisfação dos investidores com os aportes realizados
* Quanto ao impacto socioambiental84 % Atenderam à expectativa14 % Superaram a expectativa2 % Não atenderam à expectativa
* Quanto ao retorno financeiro68 % Atenderam à expectativa21 % Superaram a expectativa11 % Não atenderam à expectativa
Leste Europeu, Rússiae Ásia Central
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FOTO: DiVULGaçãO
dimenstein:
projeto virou
estudo de caso
nos estados
unidos
Leia na pág. 11e no site http://
bit.ly/ZTdSZpomanifestodo MOviMentO
eMpreendA,uma iniciativapara encorajare capacitar o
empreendedorbrasileiro
70 pequenas empresas & grandes negócios Maio, 2013
Capa negócios sociais
muito mais feliz agora, porquesei que estou realizando umamissão”, diz Claudio.
Alessandra, Rogério e Claudio estão na capa de pequenasEmpresas & Grandes Negó-cios porque representam umanova geração: a dos empreendedores com causa. Para eles, o sucesso está longe de ser medidoapenas pela conta bancária oupor um cargo. Na bolsa de valores dessas pessoas, trabalho elazer têm pesos iguais. Tudo oque eles querem é experimen-tar mais, saber mais, tentar,errar, aprender. Causar. Alémda boa formação, seu denominador comum é o desejo de melhorar a vida de outras pessoas.É um perfil que nada tem a
ver com o ideal da cultura hi-ppie da década de 60. Naquelaépoca, muitos jovens repudiavam o capitalismo e clamavam
por revoluções sociais “contrao sistema”. Os empreendedoresdo novo milênio descobriramque podem usar as regras desse mesmo sistema para fundarempresas comprometidas com obem comum. “O capitalismo hoje está migrando de ummodelo em que o único objetivo é ganhar dinheiro para outro maissustentável, que não comprometa o desenvolvimento das gerações futuras”, diz Stuart Hart,professor da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, e coautor de A Fortuna na Base da Pi-râmide. “Com um novo enfoque,esses empreendedores sociaispodemmelhorar a vida dos maispobres e conservar os recursosdo planeta”. Maure Pessanha,diretoraexecutiva da Artemisia,aceleradora internacional de negócios sociais presente no Brasildesde 2004, complementa: “Sãopessoas movidas pelo ideal decontribuir com a sociedade”. Elamesma é uma jovem de 30 anos,administradora de empresas pela Universidade de São Paulo eexbolsista de Harvard, que dizse realizar profissionalmenteatuando em prol da causa dosnegócios sociais.Quem está embarcando nes
se movimento agora sai em van
tagem. Em todo o Brasil, surgeminiciativas para encorajar, treinar e financiar empreendedores com causa. Neste mês, porexemplo, Rogério vai lançar oficialmente no país a incubadoraque leva a grife de Yunus, presente hoje em dois países quetêm graves problemas sociais:o Haiti e a Albânia. No Brasil, aideia é atrair interessados emcriar negócios que tenham comomissão tirar pessoas da pobrezae melhorar sua qualidade de vida. Para isso, será anunciado umfundo de R$ 40milhões.Yunus criou o modelo de ne
gócios sociais no fim da décadade 70. Em 1983, fundou um banco, o Grameen Bank, que emprestava dinheiro aos pobres deBangladesh a juros módicos.Em 20 anos, emprestou mais deUS$ 13 bilhões a 8,3 milhões depessoas que, em sua maioria,mal conseguiriam abrir umaconta em um banco comum. Suavisão sobre o tema é contundente: só merece o nome de “negócio social” aquele empreendimento em que o lucro é integralmente reinvestido na empresa.Nenhum centavo vai para a mãode investidores (veja as diferen-ças entre os modelos na pági-na ao lado). A essência de sua filosofia está numa frase que elegosta de repetir: “A pobreza sódeveria existir emmuseus. Devemos nos livrar da ideia de queos ricos fazem negócios e os pobres recebem caridade” (leiaentrevista exclusiva na pági-na 88).Mas os sinais de pobrezaainda estão longe de virar peçade museu. Dados do Fórum Econômico Mundial contabilizamem 4 bilhões o número depessoas que ganhammenos deUS$ 250 por mês. Ou seja, 55%da população de todo o mundo.São essas pessoas que os negócios sociais devem beneficiar.Nos últimos dois anos, no
vas incubadoras, aceleradorase fundos de investimento especializados nesse tipo de empreendimento estrearam no país.
Os empreendedoresbuscamummodelosustentável, quenãocomprometa o futurodas próximas gerações
DO BRASIl PARA HARvARDum negócio social brasileiro acaba de virar referência em umadas mais prestigiadas escolas de negócios do mundo, a americanaHarvard Business School. Criado pelo jornalista brasileiro GilbertoDimenstein, 56 anos, o Catraca Livre é uma plataforma online quereúne conteúdo gratuito sobre cultura, educação, bem-estar etrabalho para quem mora em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Por ser considerado uma inovação no uso das mídias digitaispara a cidadania, no fim de abril o projeto foi tema de um estudo decaso de 15 páginas produzido pela instituição.“O reconhecimentofica ainda maior porque somos uma startup. Harvard prioriza oscases de grandes empresas”, afirma Dimenstein.
Ele fundou o Catraca Livre em 2008, como um projeto social.A iniciativa foi ganhando corpo e, em 2011, passou por um anode incubação em Harvard. Virou uma empresa, que tem hoje 34colaboradores (ele não divulga o faturamento). Depois de consolidara operação no Rio e em São Paulo, a meta é torná-lo uma plataformanacional em até dez anos.
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VALORCOMPARTILHADO
Empresa privada que não enxergao lucro como o único valor quepode gerar. Equilibra suas metasfinanceiras com a geração debenefícios à sociedade e aoambiente. Nesse modelo, o sucessodo negócio não se dá apenas peloslucros distribuídos: deve vir juntocom o impacto social
Empreendedores capazesde criar uma operação que,em cada passo, ajude areverter problemas sociaise ambientais. É precisoser inovador para oferecerprodutos e serviços quesejam relevantes para osconsumidores, incluindoos de baixa renda
Dividendos podemser distribuídos aosacionistas
Wpensar(pág. 74) eFábrica deAplicativos(pág. 77)
NEGÓCIO INCLUSIVO Empresa focada em criar produtose serviços para promover a inclusãosocial de pessoas de baixa rendaou com deficiência. É comumcontratá-las como mão de obraem sua operação
Empresários que se identificamcom a causa da inclusãosocial e querem repensar osprodutos e serviços existentesno mercado para que sejamacessíveis e relevantesa esse público
Dividendos podemser distribuídos aosacionistas
F123 (pág. 86)e The Products(pág 86)
NEGÓCIO SOCIALSEM DISTRIBUIÇÃODE LUCROS
Empresa que tem como prioridaderesolver um problema social ouambiental urgente — o lucro é uminstrumento para atingir esse objetivo
Para quem é engajado emcausas sociais e está dispostoa usar o lucro para resolverproblemas socioambientais.Não deve ver o negócio comomeio de enriquecer
Dividendos 100%reinvestidos no negócio.Não existe distribuiçãoaos acionistas. Aremuneração doempreendedor viráapenas do pró-labore
MovimentoBuena Onda(pág. 77),Purpose(pág. 78),Fleximedical(pág. 81) eSolar Ear(pág. 81)
NEGÓCIO SOCIALCOM DISTRIBUIÇÃODE LUCROS
O principal objetivo dessa empresatambém é o de atacar um desafiosocial ou ambiental. O que odiferencia da modalidade anterioré a distribuição de lucros
Pessoas engajadas naresolução de problemassocioambientais, mas quequerem causar um impactomaior — e em menor tempo.Para isso, elas se aliam ainvestidores e outros parceirosque esperam receber parte doslucros como retorno
Dividendos podemser distribuídos aosacionistas
Geekie (pág.74), Feira Preta(pág. 78),Works (pág.82), Konkero(pág. 82)eTreebos(pág. 85)
EMPRESA B Empresa que recebeu o selo dacertificadora latinoamericanaSistema B por ter bom desempenhoem quatro itens: transparência,governança, relacionamento com osfuncionários e impacto positivo nasociedade e no ambiente
Negócios que causem impactosocioambiental e estejamcomprometidos com a melhoracontínua de seu desempenho.O contrato social dessasempresas deve registrar queseus dirigentes têm sempre deconsiderar o impacto de suasações sobre os funcionários, acomunidade e o ambiente
Dividendos podemser distribuídos aosacionistas
Ouro VerdeAmazônia(pág. 85)
ONG Organização que tem como objetivobeneficiar a sociedade. Pode trazerreceitas – com a venda de produtos eserviços, por exemplo –, mastodos os ganhos devem serreinvestidos em suas atividades.Os dirigentes e associados sãoremunerados com salários
Modelo indicado para quemquer resolver problemas sociaise ambientais e não se vê comoempresário de um negóciocom fins lucrativos. É precisoser um articulador, capazde estabelecer parcerias earrecadar doações
Dividendos podemser distribuídos aosacionistas
Meu Rio (pág.78)
RESPONSABILIDADESOCIAL
Prática que pode ser adotada porqualquer empresa privada, emprol da sociedade e do ambiente.Criar programas de capacitaçãopara comunidades locais e apoiarcooperativas de reciclagens sãoalgumas das ações mais comuns
Empresas que querem apoiarcausas socioambientais,mas que não fazem delas aprioridade de seu negócio
Se a iniciativa forconstituída comoempresa, a distribuiçãode dividendosvaria conforme oestabelecido nocontrato negocial
Consuladoda Mulher,da Whirlpool;Caras doBrasil, do Pãode Açúcar; eColetivo Coca-Cola, da Coca-Cola (pág. 72)
Maio, 2013 pequenas empresas & grandes negócios 71
SETE MODElOS DE IMPACTODeonGs a empresas privadas, há váriasmaneiras de criar uma iniciativa social. a principaldiferença entre os tipos abaixo está namotivação e na distribuição dos lucros
o que é para quem é para onde vaio lucro?
exemplo
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72 pequenas empresas & grandes negócios Maio, 2013
Capa negócios sociais
O EXEMPlO DAS GRANDES EMPRESAStrês iniciativas brasileiras de responsabilidade social que podem inspirar os empreendedores
consulado da mulherNos anos 2000, a diretoriada fabricante de eletro-domésticos WHIRLPOOLquis investir em uma açãosocial sem usar o manjadosistema de doações. Assimnasceu, em 2002, o Consu-lado da Mulher. O programacapacita empreendedorascom negócios em áreascomo alimentação e beleza— algumas ganham equi-pamentos novos da marca,como fogões e geladeiras,para ampliar a operação.“Procuramos projetos quetenham sintonia com onosso ambiente denegócio”, diz Leda Boger,diretora-executiva doConsulado. Em 2012, aWhirlpool investiu R$ 3,6milhões na iniciativa. As160 beneficiadas geraram,juntas, um faturamento deR$ 6,2 milhões.
coletivo coca-colaAulas de empreende-dorismo também sãoa base do programa daCOCA-COLA, que levacapacitação profissionala jovens das classes C e Dem 69 comunidades emtodo o país. A ideia é queeles aumentem sua rendaao se inserir no mercadode trabalho — ou ao abrirsua empresa. No cursoEmpreendedorismo + Fa-mília, oferecido em Maceió(AL) e Fortaleza (CE), porexemplo, a marca mostracomo é possível planejare conduzir um negócio emcasa, com aulas práticasna casa dos alunos. Nocaso dos microempresá-rios que atuam no ramo dealimentação, a empresafaz uma parceria para queeles possam vender Coca-Cola a seus clientes.
caras do BrasilO foco do programa doGRUPO PÃO DE AÇÚCARé levar o trabalho deartesãos ao grande varejo.A equipe do Caras do Brasilprospecta candidatos, porexemplo, em feiras de ar-tesanato. Os selecionadosrecebem consultoria paracriar linhas de produtos eembalagens adequadasàs gôndolas. Eles sãoincentivados a formarcooperativas e seguir aspremissas de comércio jus-to. “Nossas lojas têm umponto especial para venderos 180 produtos que levamo selo Caras do Brasil”,afirma Daryalva Bacellar,gerente de responsabilida-de social do grupo. Desdeque foi fundado, em 2002,o programa já impactou40 mil pessoas, direta eindiretamente.
Para este ano, a previsão é deque pelo menos R$ 250 milhõesdevam ser investidos em negócios sociais no Brasil. Grande parte do dinheiro será destinada a iniciativas que contemplam áreas como saúde eeducação. Projetos relacionadosa serviços financeiros e de habitação para pessoas de baixarenda também estão no radardos investidores. “Fomos pioneiros em um terreno que ainda tem muito potencial para serdesbravado”, diz Daniel Izzo,cofundador e diretorexecutivodo Vox Capital, fundo criado em2009 com o objetivo de investirem negócios capazes de gerargrande impacto social. “Além
disso, temos observado umamelhora substancial na qualidade e na quantidade de projetos que avaliamos” (veja ondebuscar investimento na páginaao lado). Em todo o mundo,os fundos devem destinarUS$ 9 bilhões neste ano a empresas comprometidas comcausas socioambientais em2013 — US$ 1 bilhão a mais doque em 2012, segundo levantamento do banco J.P. Morgan.Mas ainda é pouco. “O valor investido hoje representa apenas0,01% do capital disponível nomercado”, diz Rebeca Rocha, coordenadora do Polo Ande, redeinternacional que desde 2009agrega fundações, institutos,aceleradoras, incubadoras e outros players que apoiam o empreendedorismo social.A perspectiva é de que os pla
nos de negócio apresentados aosinvestidores no paísmelhorempaulatinamente. Neste ano, o tema passou a fazer parte da grade curricular dasmais importantes escolas de negócio do país. Éo caso da FGV (Fundação Getu
lio Vargas), que criou uma disciplina optativa sobre o assunto para seus alunos de Administração de Empresas; da FEAUSP(Faculdade de Economia e Administração daUSP), que tambémoferece uma optativa; e da ESPM(Escola Superior de PropagandaeMarketing), que anunciou para estemês o lançamento do Yunus ESPMSocial Business Centre, onde serão oferecidos cursosde extensão e fomento. “A ideiade criar um curso nasceu a partirda demanda dos próprios alunos.Esse é um tema efervescente entre os jovens”, diz Graziella Comini, coordenadora do Centrode Empreendedorismo Social eAdministração em Terceiro Setor da FEAUSP.Nas próximas páginas, você
vai conhecer iniciativas inspiradoras de quem já fundou negócios que estãomudando—paramelhor— a vida demuita gente. São empreendedores que, aexemplo de Alessandra, Rogérioe Claudio, descobriram que vale apena trabalhar por seu sonho—e pelo dos outros também.
Essa nova geraçãodescobriu que valea pena trabalharpeloseusonho—epelodos outros também
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Maio, 2013 pequenas empresas & grandes negócios 73
ECOSSISTEMA EM EvOluçãOnosúltimos dois anos, o número de aceleradoras, incubadoras e fundos dispostos a apostar nesse segmento semultiplicou no país. Confira abaixo como se capacitar e onde buscar capital
onde aprender
programa dignidadewww.fdc.org.br/dignidadeO curso gratuito da FundaçãoDom Cabral (FDC), em Belo Ho-rizonte (MG), é voltado para em-preendedores sociais com ideiasde negócios lucrativos nas áreasde saúde, educação, habitação,saneamento básico, microcré-dito, tecnologia e ambiente. Oprograma dura dois anos, emmédia, e dá ênfase a serviços ouprodutos que contribuam para aredução da pobreza.
mBa em gestão de negóciossocioambientaishttp://negociosocioambiental.org.brEspecialização de 18 meses paraempreendedores comprome-tidos com a sustentabilidade ecom a geração de valor socio-ambiental de seus negócios.Custa R$ 27.390 (à vista). Éuma parceria entre a Artemisia,o Ceats (Centro de Empreen-dedorismo e Administração emTerceiro Setor) e o IPÊ (Institutode Pesquisas Ecológicas).
quem capacita
curso artemisiawww.artemisia.org.brPioneira em acelerar negóciossociais no Brasil, pretende sele-cionar, neste ano, 20 startupsfocadas em impacto socioam-biental e com alto potencial decrescimento. Seu programa duraseis meses e ajuda a formatar omodelo de negócio, a capacitara equipe e a fazer contato cominvestidores. A Artemisia tambémtem uma formação de cem horaspara quem quer atuar em negó-cios sociais (custa R$ 2.400).
Yunus negócios sociais Brasilwww.yunusnegociossociais.comSerá lançada no Brasil, nestemês, a incubadora do economistaMuhammad Yunus. O plano é se-lecionar quatro empreendedores.O requisito básico é que sejamnegócios em que todo o lucro édestinado a causas sociais. Asempresas receberão auxílio paraestruturar a ideia e empréstimosde um fundo de R$ 40 milhões.Esses recursos precisam serdevolvidos ao investidor paraque sejam destinados a novosprojetos de impacto.
nesstwww.nesst.org/brazilOrganização internacional quedesenvolve negócios sociaisiniciantes e de alto impacto. Osempreendedores são selecio-nados em uma competição — apróxima deve ser lançada nestemês. Serão até quatro aprovadosneste ano, que ganharão um prê-mio de US$ 20 mil e entrarão naincubadora, por um período quevaria de um a três anos.
pipahttp://pipa.vcUma das aceleradoras do progra-ma Start UP Brasil, do governofederal, desde 2012 está de olhoem empresas nascentes que si-gam o conceito de valor compar-tilhado, usem seu know-how paragerar benefícios à sociedade efaturem até R$ 2 milhões porano. Em 2013, dez negócioscom potencial para ganhar esca-la terão direito a mentoriae acesso a investidores.
swap (smiling World accelera-tor program)www.quintessa.com.br/swapbrasilO programa de aceleração,resultado de uma parceria entrea Quintessa e a LGT Venture Phi-lanthropy, chegou ao país nesteano. Serão selecionados até seisempreendimentos que tenhamimpacto socioambiental. Cadaum receberá até R$ 100 mil, alémde consultoria até o final do ano.
projeto visão de sucessohttp://projetovisaodesucesso.com.brA cada semestre, o programa es-colhe 20 empresas focadas ematender a base da pirâmide – en-tram nesse critério aquelas queincluem pessoas de baixa rendaem sua cadeia produtiva ou ofe-recem a elas produtos e serviçostransformadores. Durante umano, as selecionadas recebemcapacitação do Itaú e da Endea-vor, idealizadores do projeto,em parceria com o BID (BancoInteramericano de Desenvolvi-
mento) e o IIC (Inter-AmericanInvestment Corporation).
purposewww.purpose.comÉ uma incubadora de negóciossociais, mas também oferececonsultoria e, em alguns casos,faz aportes financeiros. Fundadapelo australiano Jeremy Heimans,chegou ao Brasil em 2011. Aqui,tem três empreendimentos emseu portfólio e dá preferência aprojetos focados na mobilizaçãode grandes grupos de pessoas, nacolaboração e no compartilha-mento de informações.
quem financia
vox capitalwww.voxcapital.com.brCriado em 2009, o fundo temcomo foco modelos de negócioslucrativos, com potencial paragerar grande impacto social.Neste ano, sua meta é investirem três empresas em troca departicipação acionária – cadauma receberá R$ 5 milhões –, eem outras quatro na forma dedívida conversível. Nesse caso,cada empreendedor recebe R$150 mil e pode optar por saldar odébito ou transformá-lo em cotasde participação.
sitawiwww.sitawi.netAtua como banco social: empres-ta dinheiro para negócios quecausam impacto socioambiental,com taxa de juros de 7,25% aoano. Desde 2006 ajuda empresasque atuam nas áreas de gera-ção de renda, ambiente, saúde,cultura e direitos civis. Neste ano,reservou entre R$ 1,5 milhão eR$ 2 milhões para destinar a em-préstimos e gestão de fundos.
Kaetéwww.kaeteinvestimentos.com.brNegócios sustentáveis são o alvodeste fundo que começou a ope-rar em janeiro. O objetivo em 2013é selecionar duas ou três empre-sas para aportar de R$ 5 milhõesa R$ 20 milhões em cada uma.Em três anos, a meta é adicionaraté dez empreendedores.
instituto venturawww.ventura.org.brInveste em negócios que criamtecnologias, produtos e servi-ços inovadores voltados para asustentabilidade. Entre as áreasde interesse estão agriculturasustentável, produção orgânica,reciclagem e energias renováveis.A previsão é fazer cinco aportes,no valor de R$ 100 mil cada.
first impact investingwww.fircapital.comO fundo começa a operar nestemês e pretende investir emempresas de alto crescimento nasáreas de educação, saúde, servi-ços financeiros e habitação, pormeio de compra de participaçãoacionária. Neste ano deve investirem três negócios — cada um entreR$ 10 milhões e R$ 50 milhões — e,até 2015, em outros quatro.
virtuoseNão possui siteComeçou a operar no final de2012 e investe em negócios so-ciais focados em educação paraa população de baixa renda. É umfundo que não distribui dividen-dos aos acionistas — assim, se re-capitaliza para investir em novasstartups. Neste ano, direcionaráR$ 4 milhões a duas empresas.
quem apoia
movimento choicewww.choice.org.brLiderado pela Artemisia,mobiliza estudantes universitá-rios para divulgar o conceito denegócios sociais pelo país.O programa tem 350 liderançasentre os estudantes. Desde 2011,já atingiu 17 mil jovens por meiode 570 workshops.
the hubhttp://saopaulo.the-hub.netÉ uma rede global com 51 Hubsque congrega mais de 6.000empreendedores e prestadoresde serviços interessados emquestões sociais e ambientais.Para ter acesso a ela e a recursos,como escritório compartilhadoe eventos, os membros pagamum plano anual de R$ 564.
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74 pequenas empresas & grandes negócios Maio, 2013
Capa negócios sociais
Minha paixão pela educação come-çounafaculdade.Eufaziaarquite-turanaUniversidadedeSãoPaulo
edavaaulasparticularesparamesustentar.Nessaépoca,meenvolvi comONGscomooMovimentoJovem,queensinavaadolescen-tes a desenvolver competências como lide-rança e comunicação. Gostava tanto do as-sunto que fui fazer ummestrado em Edu-cação na Universidade de Stanford, nosEstadosUnidos.Comecei a carreira como consultor e de-
poispasseiporváriosbancosde investimen-tos,ondeconheciaestruturadeempresasdeeducação e de tecnologia. Em 2011, fui cha-mado para ser sócio de uma companhia deenergia. Topei, pois era uma oportunidadeincrível.Masqueria fazeralgocommaissig-nificado—eusar aminhavocação.Empar-ceria com Eduardo Bontempo, com quemeu havia trabalhando no Credit Suisse, co-mecei a pesquisar omercado. Ele tinha fei-to umMBAemEducação noMIT.Juntos, chegamosà ideiadoensinoadap-
tativoe fundamosaGeekie.Nossosoftwarepersonalizaoplanodeestudodeacordocomo perfil do estudante, para gerar o melhor
rendimento possível. Chamamos um gru-po de 15 engenheiros recém-formados peloITA (InstitutoTecnológicodeAeronáutica)paradesenvolvê-lo.Noconteúdo,seguimoso conceito da gamificação, trazendo a dinâ-mica dos jogos para o ensino.A plataforma foi adotada por 30 escolas
particulares. A cada contrato fechado, doa-mosomesmonúmerode licençasparaare-depública.Umtesteavaliaamelhormaneirade aprendizado para cada aluno. Conformeele avança pelos conteúdos, monitoramossua evolução. Compartilhamos os resulta-dos com os professores, para que saibamonde os estudantes têmmais dificuldade ecriem atividades específicas para estimulá-los. Para crescer, recebemos aporte de doisfundos especializados emeducação, a Fun-daçãoLemanneoVirtuose.VejoaGeekieco-moa realizaçãodeumamissãodevida: ofe-recer às pessoas a possibilidade de ter umaeducação de qualidade e, assim, poder rea-lizarseussonhos.Eestoumaissatisfeitodoque quando trabalhava embanco.”
claudio sassaki, 39 anos (à direita na foto), quefundou a Geekie com eduardo Bontempo, 29
“Sempre me incomo-dei com o tempo queas escolas perdem naadministração em vezde melhorar o ensino.Por isso, resolvi criarum software paraauxiliar o dia a diados gestores. Chameimeu amigo MatheusMoreira, formado emCiências da Computa-ção, para me ajudar aprogramá-lo. Investin-
do só o nosso tempo,fundamos a WPensar.As escolas podemmontar o pacote maisadequado, usando osseis módulos que cria-mos para cada depar-tamento. Hoje, temoscontratos com 80redes — a licença custaR$ 2 por mês, por aluno.Estamos nos capitali-zando para oferecer osoftware de graça na
rede pública. Aperfei-çoamos nosso modelodepois de passar peloprograma da acele-radora de negóciossociais Pipa. Tambématraímos o interesse daVox Capital. Queremoscrescer e revolucionar oensino público.”
Bruno damascodos santos, 24 anos,
fundador da WPensar
dinHeiro para estudarA mexicana Laudex dá crédito para estudantesde baixa renda fazerem cursos de graduação oude pós — no país, apenas 28% dos jovens vão paraa universidade. O valor do empréstimo é definidosegundo a capacidade de pagamento de cada um.A meta é beneficiar 8.000 alunos até 2025.
geekieO QuE fAz: softwareque adapta o planode estudo segundo ashabilidades do alunofundAçãO: 2011SEdE: São Paulo (SP)funCIOnáRIOS: 40fATuRAMEnTO: nãodivulgadoimpacto: 180 milestudantes usarama ferramentapara melhorar seuaprendizado
WpensarO QuE fAz: softwarede gestão para escolas,nas áreas pedagógica,acadêmica e financeirafundAçãO: 2011SEdE: niterói (RJ)funCIOnáRIOS: 19fATuRAMEnTO:não divulgadoimpacto: 200 escolas de80 redes de ensino usam osistema desenvolvido pelaempresa
causa:simplificarao máximoa gestão deuma escolapara que estase concentreem melhoraro ensino
EDU
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Como as empresas estãomudando o mundo
foto: omar paixão
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na ponta da lÍnguaQuem entra no serviço online de aprendizado deidiomas Duolingo também tem de colaborar: as lições,gratuitas, são baseadas em textos reais da internet.depois de traduzidos pelos alunos, esses textos podemalcançar mais leitores. Lançada em junho de 2012, aplataforma tem hoje cinco opções de línguas.
JoVens sociaisEm uganda, o projeto Educate! capacitajovens de 16 a 18 anos para que eles se tornemagentes de transformação social. Com o apoiode escolas locais, o programa oferece um cursode dois anos com foco em empreendedorismosocial e desenvolvimento sustentável.
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OCapa negócios sociais
carreira com propósitoPropagar a cultura do sentido do trabalho é a missãoda chilena Pegas con sentido. A iniciativa temserviços para os próprios profissionais e também paraas empresas. Oferece coaching para ajudar as pessoasa descobrir um significado em seu emprego — e aencontrar uma posição relevante.
estudos aFricanosO Young africa é um projeto voltado para odesenvolvimento e a capacitação de jovens e crianças nocontinente africano. Em 14 anos, mais de 20 mil pessoasforam auxiliadas — 8.500 delas receberam apoio naformação profissional. A organização tem centros detreinamento no zimbábue e em Moçambique.
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foto: omar paixão Maio, 2013 pequenas empresas & grandes negócios 77
ESCRITÓRIO FELIZA americana WorkplaceDynamics prestaconsultoria a empresas para que criem escritóriosonde as pessoas realmente gostem de trabalhar.O rearranjo dos espaços se baseia em pesquisasfeitas com seus funcionários. Em 2012, foramfeitos projetos para 5.000 organizações.
LINK PARA umA vAgACriado nos Estados Unidos, o portal de vídeosiOnPoverty conecta jovens recém-formadose empreendedores bem-sucedidos. O site trazdepoimentos de líderes de organizações e dicas paraquem procura um emprego e pretende aumentar aschances de se dar bem em uma entrevista.
Por muitos anos, trabalhei na área demarketing de grandes companhias,como a Johnson & Johnson, a War-
ner e aBRMALLS.Mas, a certa alturadami-nhacarreira,fiqueidescontente.Faltavasig-nificadonoqueeufazia.Asempresassóen-xergamosucessonocrescimentofinanceiro.Saí domeuúltimoempregodecididoacriarum negócio social. Identifiquei-me com omodeloassimqueoconheci, lendoos livrosdo economistaMuhammadYunus.Aprendimuitonasempresasemquepas-
sei.Useiessaexperiênciaparacumprirumanovamissão: fazeraspessoassesentiremfe-lizesemseusempregos.Queriaprovocá-lasasairdopilotoautomáticoeencontrarumamotivação.Em2011, fundeiaconsultoriaMo-vimentoBuenaOnda, especializadaemfeli-cidade no trabalho.Hoje, tenho clientes co-mo a Coca-Cola e aWhirlpool. Medimos oíndice de felicidade dos funcionários des-sas empresas edamospalestras sobre o as-sunto. Receboumpró-labore, pois o lucro éreinvestidoparaatendermosmaispessoas.
Alémdisso,souprofessordotemanaescoladeatividadescriativasPerestroika,que temunidadesnoRiodeJaneiro(RJ),emSãoPau-lo (SP) e emPorto Alegre (RS).Quando me envolvi com os negócios
sociais, descobri um novo sonho — sero representante, no Brasil, da incubado-ra criada por Yunus. Fiz contato com suaequipe e, no anopassado, finalmente o co-nheci pessoalmente. Organizei um even-to sobre negócios sociais em São Pau-lo e preparei um encontro dele com 20CEOs brasileiros no Rio de Janeiro. Logodepois disso, fui chamadopara ser sóciodaincubadoraYunusNegócios Sociais Brasil,que lançamos em fevereiro.Comoempreendedor,nãovejosentidoem
acumular riqueza.Quandoo lucrosaidece-na,aspessoasconseguemdefinir,commaiorclareza, seestão trabalhandopelosmotivoscertos, e não apenas pelo dinheiro.”
ROgéRIO OLIvEIRA, 37 anos,fundador do Movimento Buena Onda e cofundador
da Yunus Negócios Sociais Brasil
“Em 2008, levantamosuma verba de R$ 1milhão na Finep paracriar uma plataformauniversal de desenvol-vimento de aplicati-vos. Assim, qualquerpessoa poderia fazero próprio app, mesmosem conhecimentode programação. Trêsanos depois, o produtoficou pronto e achamosque poderia ser umaferramenta poderosapara dar voz à popu-
lação. A oportunidadeveio em 2012, quandoconhecemos a Casado Zezinho, instituiçãosocial que fica no Par-que Santo Antônio, nazona sul de São Paulo.Percebemos que haviaum grande potencial alie criamos uma meto-dologia para ensinar osjovens a desenvolveraplicativos. Em paralelo,surgiu a oportunidadede levar o projeto para acidade de Belterra (PA).
Nosso maior objetivo édar confiança a essaspessoas, mostrar quesão capazes de fazeralgo por conta própria.Além da capacitação,queremos estimular oempreendedorismo: ojovem poderá vender oaplicativo para peque-nos negócios na suacomunidade.”
gREgÓRIO mARIN JR.,45 anos, fundador da
Fábrica de Aplicativos
mOvImENTOBuENAONDAO qUE FAZ: dáconsultoria epromove palestrassobre felicidadeno trabalhoFUNdAçãO: 2011SEdE: Rio de Janeiro(RJ)FUNCiONáRiOS: 2FATURAMENTO: nãodivulgadoImPACTO: maisde 5.000 pessoaspassaram por seuscursos e programasnas empresas
FÁBRICA DEAPLICATIvOSO qUE FAZ: plataformade desenvolvimento deaplicativosFUNdAçãO: 2011SEdE: São Paulo (SP)FUNCiONáRiOS: 13FATURAMENTO: nãodivulgadoImPACTO: em 2012, 200pessoas participaramdas oficinas na Casa doZezinho, em São Paulo(SP), e na cidade deBelterra (PA)
causa:dar espaçopara que osjovens decomunidadescarentesdesenvolvamaplicativos
felicidade em primeiro lugar
a nova geração de programadores
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78 pequenas empresas & grandes negócios Maio, 2013
Capa negócios sociais
Em 2008, participei de um projetode pesquisa sobre a violência con-trameninas na Índia. Todos os dias,
eu entrevistava vítimas de abuso, era umproblema generalizado. Só que essas jo-vens se sentiamsozinhas, elas não conver-savamsobre o problema. Foi aí que perce-bi a importância damobilização e da orga-nização de grupos na internet.Logo depois desse trabalho, fui aceita co-
mo aluna de Economia na Columbia Uni-versity e mudei para Nova York. Continueiacompanhandoas iniciativasdemobilizaçãoonline. Um dos projetos que me chamou aatenção foi o australiano GetUp!, grupo deativismopolítico coordenadopela internet.Descobri que seu fundador, Jeremy Hei-mans, tambémestava emNovaYork. Ele sepreparava para lançar uma incubadora denegóciossociaisedeONGsdemobilização,aPurpose.Pediumemprego.Eraminhachan-ce de trabalhar na área social.O projeto começou a tomar forma em
2009. Nessa época, retomei o contato com
um amigo dos tempos do colégio, oMiguelLago. Ele estavamorando emParis e, comoeu,queriamontar algona internetparamo-bilizar apopulação jovemdoRiodeJaneiro.Assim,naconexãoNovaYork-Paris,nasceua ONGMeu Rio. Foi um processo natural:como eu trabalhava na Purpose, acabamossendo incubados.Em2012, voltei ao Brasil comamissão de
montar uma subsidiária da Purpose. Hoje,souadiretora-executivaecontinuoà frentedaMeu Rio. Na ONG, vivemos apenas comdoaçõesdepessoas físicas, temosquase100milusuárioscadastradosnonossosite.Umadasprimeiras campanhasquefizemos foi opedidodedivulgaçãodetodososdocumen-tosqueenvolvemasobrasdereformadoEs-tádio doMaracanã. É gratificante dar voz àpopulação. Queremos criarmais ferramen-tasefórunsparaquequalquerumpossaaju-dar amudar oRio de Janeiro paramelhor."
alessandra oroFino, 24 anos,cofundadora da Purpose Brasil
“Trabalhava em umagravadora e fiqueidesempregada em2002. Para me sus-tentar, resolvi montarum brechó itinerante.Comecei a percor-rer as feiras de rua emercados alternativosde São Paulo. Em umdesses eventos, houveum arrastão e perdiparte da mercadoria.Ao rever minha estra-tégia, percebi que nãohavia uma feira dedi-
cada à cultura negra nacidade. Montei entãoa feira Preta, um pro-jeto que tinha um eixocultural, com músicose artistas, e outro comprodutos e serviços.Era um evento de rua,e foi um sucesso. Em2006, parti para umambiente maior e atraímais de 14 mil pessoasao centro de conven-ções do Anhembi. Como processo de acelera-ção da Artemisia, em
2011, o negócio virouuma plataforma comvários projetos. umdeles é a feira Preta,que se transformounuma franquia sociale também foi implan-tada no Rio Grandedo Sul e no Maranhão.Meu sonho é chegar aomaior número possívelde cidades.”
adriana BarBosa,35 anos, fundadora do
Instituto feira Preta
comunidade do Bemno ar desde 2006 nos Estados unidos, o site Goodconecta empreendedores e pessoas que trabalhamem OnGs, fundações e organizações de impactosocial. A intenção é que eles troquem ideias,divulguem suas iniciativas e compartilhem interessescomuns para aumentar o alcance dos projetos.
direitos iguaisA proposta da americana all Out, lançada cominvestimento da aceleradora Purpose, é mobilizarpessoas na luta pelos direitos dos homossexuais,bissexuais e transgêneros. A iniciativa reúne,atualmente, mais de 1,6 milhão de simpatizantesa essa causa em todo o mundo.
purposeBrasilO QuE fAz: incubae acelera novasorganizaçõese projetos demobilização de massafundAçãO: 2011SEdE: Rio de Janeiro(RJ)fATuRAMEnTO: nãodivulgadoimpacto:os projetosinternacionais dapurpose têm maisde 2,5 milhões demembros no Brasil.Há três negóciosincubados no país
Feira pretaO QuE fAz: projetos,produtos e serviçosrelacionados à cultura negrafundAçãO: 2009SEdE: São Paulo (SP)funCIOnáRIOS: 2fATuRAMEnTO: R$ 250 mil(em 2012)impacto: em noveedições do evento, a Feirapreta reuniu 400 artistas,500 expositores e 70 milvisitantes
causa:promovera igualdaderacial pormeio dacapacitaçãode produtorese artistas dacomunidadenegra
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foto: marcelo correa
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polÍtica na WeBPela internet, o avaaz organiza pessoas em torno decausas populares. no Brasil, a plataforma foi usada paracolher assinaturas a favor da renúncia do deputadoMarco feliciano, da Comissão de direitos Humanosda Câmara dos deputados. Lançado em 2007, o siteamericano está disponível em 15 idiomas.
partido independenteA Getup! nasceu como uma organizaçãoindependente na Austrália, com a proposta de engajarcidadãos em torno de causas comuns. A iniciativaganhou tanto fôlego que se transformou em umdos maiores grupos políticos do país — tem maismembros que todos os partidos locais somados.
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foto: gabriel rinaldi
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eXame no celulardesenvolvido pela empresa indiana Biosense, oaplicativo uChek permite a qualquer pessoa usar seusmartphone para realizar exames simples de urina —de forma mais acessível e barata que o procedimentotradicional. A partir de fotos de diferentes amostras,pode indicar 25 diagnósticos.
parceria antimosQuitoHá três anos, o Grameen Health care e a Basffizeram uma parceria para vender redes cominseticidas de longa duração à população de baixarenda em Bangladesh. A meta é reduzir a incidênciade doenças transmissíveis pelos insetos, como amalária, que ameaça 11 milhões de pessoas no país.
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merenda saudÁVelA Revolution Foods, dos Estados unidos, quer tirarcomidas pouco saudáveis das cantinas das escolas.desde 2006, a empresa vendeu mais de 30 milhões derefeições com lanches integrais e frutas frescas — esem extrapolar o valor do subsídio dado pelo governofederal para alimentação em instituições de ensino.
Filtro de Água acessÍVelfundada em 2008, a sarvajal leva água potávela mais de 70 mil pessoas na zona rural da Índia.A empresa instala o sistema de filtragem pormetade do preço praticado no mercado. Assim,causa impacto positivo na saúde pública — a águacontaminada é um grande vetor de doenças no país.
Decidisermédicoporquesemprequiscuidar de pessoas. Ainda estava nafaculdadequandomeupaimefezum
pedido,poucoantesdemorrerdevidoaumcâncerna laringe.Elequeriaqueeufosseumprofissional humano, atencioso. Depois demeformar,em1994,fizresidêncianoHospi-tal Sírio-Libanês, emSãoPaulo, e passei se-teanosestudando.Precisavaentrarnomer-cado, então bati na porta doHospital SantaMarcelina.Meuplanoeracriarumcentrodeendoscopia de excelência como o do Sírio,mas para a população de baixa renda. Oti-mizando processos, conseguimos atendermuita gente e ainda ter lucro de 20%.Os aparelhos de endoscopia eram caros.
Então, eu fazia invenções. Em 2004, entreina incubadora do Cietec para desenvolvermeus produtos. Daí surgiu a Fleximedical,focadanacriaçãode instrumentosmédicosmaisflexíveis. Emmenosdeumano, recebiR$ 1milhão paraminhas pesquisas.Comoprecisavadecapital,procurei inves-
tidores, só que eles não enxergavam possi-bilidades de lucro. Eu precisava de umpro-
jetocomgrandeescala.Tivea ideiademon-tarumacarretacomequipamentosdepontaparaquemusaoSUS(SistemaÚnicodeSaú-de).Batinaportadeempresasquetêmapa-relhosmédicos,comoaPhilipseaOlympus,e contei com a ajuda de amigos e de algumcapitalpróprioparachegaraosR$4milhõesnecessários para o projeto. Em2008, lanceia Oscip Projeto Cies (Centro de IntegraçãodeEducaçãoeSaúde).Hoje,acarretaatende250pessoas e faz 700 examespor dia.No ano passado, a Fleximedical virou um
negócio social que investe 10%do seu lucrono Cies, para não depender só de doações.Nossosprodutos—comoumavanquesobemorros eumboxpara atender empresídios—sãovendidosaoCieseaclientesnoBrasil,noPeruenoParaguai.PretendemosfaturarR$ 2milhões neste ano. Quero ter 50 carre-tasaté2019.Negociocominvestidorescom-prometidos com o social, queme ajudem acumprir o que prometi ameupai.”
roBerto kikaWa, 43 anos, fundador dafleximedical
“depois da morte sú-bita da minha filha porcausa de um aneuris-ma, há 20 anos, perdia motivação para viver.deixei o cargo de presi-dente em uma empresano Canadá, onde nasci,e fui para a áfrica comovoluntário. Lá, conhecimulheres surdas quenão usavam aparelhosauditivos porque eramcaros. Pensei numaforma de barateá-los
e criei um modelo combaterias recarregadascom a luz solar. Em2002, abri a Solar Eare comecei a produçãoem Botsuana. Quatroanos depois, soube queo problema era maiorainda no Brasil e mudeipara o país. Hoje, tam-bém temos fábricas emSão Paulo, onde em-prego 15 jovens surdos,e na China. Tudo o quelucramos é investido
em nossos programassociais, como tratamen-to de fonoaudiologia ecapacitação de jovens.Meu aparelho custaR$ 200, enquanto oconvencional é vendidopor R$ 3.000, em mé-dia. Ainda é muito. Ematé cinco anos, queroque ele custe R$ 100.”
HoWard Weinstein,62 anos, fundador da
Solar Ear
FleXimedicalO QuE fAz: criainstrumentos médicose veículos para oatendimento móvel desaúdefundAçãO: 2005SEdE: São Paulo (SP)funCIOnáRIOS: 6fATuRAMEnTO:R$ 700 mil (em 2012)impacto: 100 milpessoas foramatendidas em suascarretas em cinco anos– 52.800 delas em 2012
solar earO QuE fAz: aparelhosauditivos acessíveis,com baterias que sãorecarregadas com luz solarfundAçãO: 2002SEdE: São Paulo (SP)funCIOnáRIOS: 15fATuRAMEnTO:R$ 2 milhões (em 2012)impacto: vendeu 50 milaparelhos auditivos em 39países e emprega15 surdos na produção
causa:tornaraparelhosauditivosacessíveispara todos
AtEnDimEntO móvEl
Em AltO E bOm sOm
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Ter um negócio sempre esteve emmeusplanos.Em1999,depoisquemeformei emAdministraçãodeEmpre-
sas, pela Fundação Getulio Vargas (FGV),monteicomomeuirmão,Maurício,umaem-presa de promoção de eventos— a Plano1.Tivemos muito sucesso e crescemos rápi-do.Mas eu sentia falta de algo comumpro-pósito maior. Minhamulher tinha acabadode apresentar a sua dissertação demestra-do naUSP (Universidade de São Paulo) so-bre construção demarcas para a baixa ren-da.Acheiqueesseeraumsegmentoquepo-dia terescala.Comeceiaelaboraroprojetoepercebi que as pessoas das classes C eD ti-nhamaumentadosuacapacidadedeconsu-mo—mas estavamse endividando.Em março de 2012, saí do dia a dia da
Plano1 para elaborar o projeto daKonke-ro. Durante um tempo, eufiquei estudan-do o mercado e fiz visitas a empresas definanciamento, lojas e concessionáriasde carros. Descobri que quem tem limi-tação de renda acaba pagando mais ca-ro por esses serviços, por falta de infor-
mação e ajuda. A proposta do nosso si-te, no ar desde outubro do ano passado,é transformar o conteúdodefinanças emalgo fácil de compreender.Hoje temosmais de 500páginas com in-
formações online. Encontramos uma lin-guagemqueébemcompreendidapelonos-sopúblico—ofocosãoas famíliascomren-da mensal entre R$ 1.200 e R$ 3.400. Comorientação, aspessoasconseguemteraces-so a uma vida financeiramelhor e ganhamautoestima. Um caso que me marcou foio da Sueli, a faxineira do nosso escritório.Sem saber, ela estava pagando 12 parcelasdeR$35porumseguroembutidonofinan-ciamento de uma TV. Depois de se infor-mar, ela voltou à loja e conseguiu cancelaro contrato—ereceberodinheirodevolta.KonkerosignificaconquistaemEsperanto.Onomerepresentaonossoprincipalobjeti-vo: ajudar aspessoasagastaro seudinhei-ro para alcançar seus sonhos.”
guilherme de almeida Prado, 36 anos,fundador da Konkero
“No meu trabalho dedoutorado pelo Iuperj(Instituto Universitáriode Pesquisas do Rio deJaneiro), pesquisei oimpacto do microcré-dito em pequenos emicronegócios do Brasil.Durante a construçãoda tese, percebi quemuitos empreendedo-res tinham dificuldadeem usar o dinheiro paraalavancar o negócio. Orecurso entrava, masvirava um problema,
porque havia dificulda-de de gestão. Em 2008,passei a trabalhar comoconsultora para empre-sas que ofereciam mi-crocrédito aos peque-nos empreendedores.Pensei em desenvolveruma plataforma quefosse ágil e ajudasse omicroempreendedor amelhorar a gestão donegócio. Em dezembrode 2010, iniciei o projetoda Works, que oferececursos online e planilhas
de gestão. Até hoje, 150empreendedores usa-ram o sistema. Estamosfechando parcerias comempresas que queiramlevar a plataforma aseus clientes — umadelas é o Instituto Re-decard. Em cinco anos,queremos atenderentre 500 mil e 800 milmicroempreendedores.”
Juliana estrella,42 anos,
criadora do Works
Pagamento Por celularA proposta do aplicativo Kopo Kopo é tornar opagamento móvel por celular acessível a pequenosempresários africanos. A ideia inicial de seuscriadores era fundar uma ONG, mas, ao perceber umaoportunidade de mercado, eles abriram um negóciosocial. Já receberam US$ 1,2 milhão em aportes.
austrÁlia socialA SEFA é uma entidade que faz financiamentopara empresas sociais na Austrália. Além deempréstimos, a organização dá apoio de gestãoe ajuda os negócios a crescer e perpetuar seusmodelos de atuação. Integra uma rede do governoaustraliano, com verba de US$ 40 milhões.
KonKeroO qUE fAz: site deeducação financeirapara as classes C e DfUNDAçãO: 2012SEDE: São Paulo (SP)fUNCIONáRIOS: 8fAtURAmENtO:R$ 1 milhão (previsãopara 2013)imPacto: desdea sua fundação, osite recebeu 50 milvisitas. até o final doano, a projeção é de250 mil acessos
worKsO qUE fAz: plataformade ferramentas de gestãopara micro e pequenosempreendedores dasclasses C, D e EfUNDAçãO: 2010SEDE: Rio de Janeiro (RJ)fUNCIONáRIOS: 5fAtURAmENtO:não divulgadoimPacto: ajudou amelhorar a gestão de 150empreendedores
cAuSA:dar condiçõesaos microem-preendedoresindividuais dechegar maislonge com osseus negócios
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IÇO
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AjudA dE VAlOR
CRédItO bEm AplICAdO
foto: gabriel rinaldi
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interesse conectadoA colombiana Buena Nota funciona como uma redeque estabelece conexões entre empreendedoressociais no país. também presta assessoria e faza divulgação dos projetos. Já firmou 15 parceriasestratégicas com grandes empresas do país econecta 1 milhão de pessoas.
amigos em redeA plataforma americana Amicus ajudaorganizações com causa a usar as redes sociaise as conexões com os seus colaboradores paralevantar dinheiro, atrair mais membros e aumentaro engajamento. Assim, voluntários podem setransformar em novos doadores potenciais.
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carVÃo lucratiVoEm vez de ir para o lixo, os resíduos gerados nasplantações de Uganda se transformam em dinheiro.Eles são vendidos para a Eco-Fuel Africa, quedesenvolveu um carvão orgânico, usado para cozinharnas zonas rurais do país. Com a iniciativa, a empresamelhorou a renda de 3.500 agricultores.
luZ PrÉ-PagaA Off.Grid:Electric criou um modelo inspiradona indústria de telefonia para levar energialimpa a comunidades africanas sem acesso àeletricidade. Os usuários contratam o serviçopelo modelo pré-pago. A meta é, em umadécada, iluminar a vida de 10 milhões de famílias.
foto: gabriel rinaldi
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saBonete inclusiVoA equipe do +Ambiente, da Argentina, capacitapessoas de baixa renda para produzir e vendersabonetes artesanais reciclando o óleo e o azeiteusados na cozinha. Os produtos são biodegradáveis etêm proteção antibacteriana. Neste ano, a empresabusca tirar uma certificação de comércio justo.
energia do somO Soundscraper é uma torre capaz de transformar osruídos da cidade em eletricidade. Desenvolvida por cincodesigners franceses, tem capacidade de produzir até150 mW/h, o que representa cerca de 10% da iluminaçãourbana de uma cidade como Los Angeles. Além de gerarenergia renovável, ajuda a reduzir a emissão de CO2.
Souformadoemveterináriaedei aulasnaUSPpor dez anos.Mas tinha von-tadedeempreender.Ouvia falarmuito
de sustentabilidade na Amazônia e fui pes-quisar o mercado. Descobri que, apesar desua alta qualidade nutricional, a castanha-do-paráerapoucoexplorada industrialmen-te.Tive a ideiadecriar ingredientes inusita-dos com a semente: um azeite, um creme eumgranulado, todos orgânicos.Eueminhamulher,AnaLuisadaRiva, ins-
crevemosumprojetodepesquisanaFinep.Fomos selecionados e captamosR$240milpara desenvolver nossos produtos. Assimnasceu a Ouro Verde Amazônia, em 2002.À procura de fornecedores, viajei para AltaFloresta (MT),naregiãoamazônica,efiqueichocadocomoqueencontrei.Acadeiapro-dutivaeraamesmadecemanosatrás.Osex-tratorescatavamqualquercastanhadochão.Elesnãorecebiamdinheiroporseutrabalho—e sim arroz, café e açúcar.Convencidodequepoderiamudaressece-
nário, busquei a ajuda deONGs e parceiros
locais.Treinamosos trabalhadorespara se-lecionar asmelhores castanhas, o que con-tribuiria para aumentar sua remuneração.Também incentivamos a formaçãode coo-perativas formais, para eles teremacessoacrédito e negociarem commais empresas.
Hoje, 400 famílias sãonossas fornecedo-ras em seis estados—e até índios nos dãonota fiscal. As comunidades ganharampo-der de barganha, não são mais reféns dosclientes.Esse impacto social podeser ates-tado: no ano passado, fomos os primeirosbrasileiros a conquistar a certificação deEmpresa B, que traz benefícios socioam-bientais. Ametadomeunegócio—ganhardinheiro— não está dissociada da minhaconvicção de ajudar essas pessoas a me-lhorar suas vidas. Em parceria com os ex-trativistas, queremos crescer bastante esair de um faturamento de R$ 3 milhõespara R$ 50 milhões em oito anos.”
luis Fernando laranJa, 45 anos,fundador da Ouro Verde Amazônia
“Em 2009, eu traba-lhava como médicoem Normandia (RO)e queria comprar umacasa. Um agricultorsugeriu que, em vez deinvestir num imóvel, euplantasse arroz — eleestava faturando altoexportando para a ásia.me chamou a atençãoo fato de ter gente lu-crando tanto enquantopoucas pessoas tinhamacesso ao produto.Aquele episódio des-
pertou em mim umapreocupação com aprodução e o consumode alimentos no país.Por isso, criei um negó-cio diferente: oferecercotas na internet paraquem quisesse consu-mir suas próprias fru-tas, mesmo sem ter umterreno. É como se cadaum tivesse um quintalvirtual para plantar. Aprimeira unidade surgiuem meus 11 hectares deterra em Bom Jesus de
Itabapoana, no EspíritoSanto. Conquistamos320 associados. No fimde 2011, larguei a medi-cina para me dedicar aonegócio. Criamos umsistema de assinaturaspela web, abastecidopor pequenos produto-res. quero ter clientesnos EUA e na Europa noprazo de cinco anos.”
murilo FerraZ,33 anos, fundador da
treebos
ouroVerdeamaZÔniaO qUE fAz: fabricaazeite, cremese granulados decastanha-do-paráorgânicosfUNDAçãO: 2002SEDE: Alta floresta(mt)fUNCIONáRIOS: 45fAtURAmENtO:R$ 3 milhões (em 2012)imPacto: capacitoue formalizoucooperativas commais de 400 famíliasna amazônia, que,assim, aumentaramsua renda
treeBosO qUE fAz: conecta gruposde pessoas interessadasem produzir e consumiralimentos de formasustentávelfUNDAçãO: 2012SEDES: Guarapari (ES) e Riode Janeiro (RJ)NúmERO DEfUNCIONáRIOS: 22fAtURAmENtO: nãoinformadoimPacto: são 320donos de árvores e 200assinantes, que recebemfrutas no rio de Janeiro
cAuSA:criar umaformadiferentede produzir,vender econsumiralimentossaudáveis
pROduÇãO SuStENtáVEl
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86 pequenas empresas & grandes negócios Maio, 2013
Capa negócios sociais
Meuproblemadevisãocomeçounainfância. Aos 9 anos de idade, eudescobri que tinha retinose pig-
mentar — uma doença genética que causaaumentoprogressivodacegueira.Nuncameacomodei,batalheipelaminha independên-cia. Gostavade estudar. Graças àminhade-dicação, terminei o EnsinoMédio, em Lon-drina,no interiordoParaná,em11º lugaremuma turma de 43 alunos. Em 1989, fui fazerfaculdadenosEstadosUnidos.Lá, tiveaces-so a uma tecnologia queme ajudava a usaro computador. Logo no primeiro semestredauniversidade,me tornei oquartomelhoraluno em uma turma de 904 pessoas. Sen-ti napele o impactoqueoacessoà informa-ção pode causar.Depois dos Estados Unidos, eu morei na
Suíça. Trabalhei comorganizações interna-cionais, entre elas o projeto PhilanthropyServices,dobancosuíçoUBS.Comisso, tivecontato com alguns dosmaiores nomes daárea de empreendedorismo social doBrasile domundo. Conheci ONGsque faziamumtrabalho lindoeoutras iniciativas importan-
tes, todas com impacto local. Eu acreditavaque poderia ter um resultado muito maiorse fundasse uma empresa.Foram quase 18 anos fora do Brasil. Em
2007,eueminhamulher,FláviadePaula,de-cidimos que queríamos criar raízes e volta-mos para Curitiba. Foi então que eu come-cei a trabalhar para desenvolver um protó-tipo de software para a inclusão digital decegos. As soluções disponíveis nomercadoerammuito caraspara amaioriadapopula-ção. Desde o começo, eu e a Flávia percebe-mos o potencial do programa.Em2009, conseguimosoprimeirofinan-
ciamentopara contratar desenvolvedores.Atéhoje, cercademil usuários já forambe-neficiados pelo software, mas podemos irmais longe. A forma como a vida das pes-soas muda ao usar o sistema nos motiva air em frente. Asmensagens que recebemosdos clientes reforçam a certeza de que es-tamos no caminho certo.”
Fernando Botelho, 43 anos,fundador da f123
“minha filha Sofia temdeficiência locomotora.quando ela entrou naescola, vi que muitasmães sofriam paraajeitar as crianças nascarteiras — usavam sa-cos de arroz e listas te-lefônicas. Sou arquitetae pensei num projeto: aCarteira Escolar Inclusi-va (CEI), com encostose regulagens. Para ascrianças menores,desenhei a cadeira Ci-randa, que permite queelas brinquem no chão.
Em 2003, fundei a ONGInstituto Noisinho daSilva para organizar ofi-cinas nas quais famíliasde baixa renda possamproduzir cadeiras (atéhoje são 800 unidades).mais tarde, recebiR$ 500 mil do ministériodo Desenvolvimento,Indústria e ComércioExterior para fabricar aCEI em escala industrial.Como contrapartida,doamos as primeiras150 unidades a escolaspúblicas. Há um ano,
criamos um negóciosocial, a the Products,para vender cadeiras,carteiras e mochilas in-clusivas. Parte do lucroé investido no Noisinho.A primeira venda, de50 Cirandas, foi feitapara a prefeitura de SãoBernardo do Campo(SP). Estamos estudan-do propostas de aportepara ganhar escala.”
eriKa Foureaux,38 anos, fundadora
da the Products
gestÃo coletiVatodos os funcionários são donos da King ArthurFlour, a fabricante mais antiga de farinha dos EstadosUnidos, criada há mais de 200 anos — 40% dosgestores são pessoas antes excluídas do mercado detrabalho. Cada um deles pode usar 40 horas por anopara ajudar organizações sem fins lucrativos.
autistas em redeNa plataforma social Squag, desenvolvida noCanadá, jovens autistas criam um espaço virtual noqual podem controlar as tarefas do dia e conversarcom colegas. Lá, estão rodeados de seus objetosfavoritos e mantêm um diário com fotos — seus paispodem deixar mensagens que estimulem à reflexão.
F123O qUE fAz: softwarepara pessoas comdeficência visual quemelhora o acessoà educação e aoempregofUNDAçãO: 2010SEDE: Curitiba (PR)fUNCIONáRIOS: 3fAtURAmENtO:R$ 210 mil (em 2012)imPacto: 1.000deficientes visuais. aexpectativa é atingir20 mil assinantesem cinco anos
the ProductsO qUE fAz: cadeiras,carteiras e mochilasespeciais para criançascom deficiênciafUNDAçãO: 2012SEDE: Belo Horizonte (mG)fUNCIONáRIOS: 6fAtURAmENtO:não divulgadoimPacto: 180 carteirasescolares inclusivas e 150cirandas foram vendidaspara pessoas físicas,escolas e associações
cAuSA:promovera inclusãoescolar decriançascomdeficiência
INCl
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l ACESSO uNIVERSAl
ESCOlA pARA tOdOS
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ForÇa FemininaO Girls Helping Girls é um projeto criado por umaestudante da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, paradiscutir temas ligados ao universo feminino. Uma de suasmissões é identificar e orientar meninas, em todo o mundo,com potencial para se tornarem novas líderes. A rede jáconectou 30 mil garotas em 22 países.
a wiKiPedia dos sinaisA japonesa ShuR é a responsável pelo SLinto:uma Wikipedia na linguagem dos sinais. Hoje,em fase inicial, o projeto tem a ambição dechegar a 126 línguas. A empresa tambémdesenvolveu um teclado que ajuda a traduzir umsinal de um idioma para outro.
foto: guilherme pupo
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Capa negócios sociais
por BRUNA MARTINS FONTES
ParaoeconomistaMuhammadYunus,asempresasolhamdemaisparaosganhosindividuais—epoucoparaasociedade
"eu não soucontra o lucro"
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Maio, 2013 pequenas empresas & grandes negócios 89
MUHAMMADYUnUsQUEM É:economista,fundador doGrameen Banke membro dadiretoria daFundação da onu(organização dasnações unidas)
O QUE FAZ:lidera a Yunussocial Business,que tem umaincubadora paraempreendedorescriarem negóciossociais e dáconsultoria agrandes empresassobre o tema.escreveu doislivros sobre oassunto: UmMundo semPobreza –Empresa Sociale o Futuro doCapitalismo(Ática, 2008)e Criando umNegócio Social(editora campus,2010)www.muhammadyunus.org
Como você, criador do conceito, define umnegócio social?É uma empresa que tem comomissão resolver umproblema social em vez de focar emmaximizar seuslucros—estessão totalmente reinvestidosnaopera-ção,paraampliarseu impacto.Os fundadorese inves-tidores podem, gradualmente, recuperar o dinheiroaplicadononegócio,masnão retiramdividendosde-poisdisso,poisnãotêmexpectativadeganhosfinan-ceirospessoais.Éalgodiferentedafilantropia,naqualovalordoadonãovolta.Odinheirodeumnegócioso-cial é sempre reciclado e pode ajudar a criar empre-endimentossemelhantes.Essemodeloéatraentepa-raquemquer fazeralgumadiferençanavidadaspes-soas, resolver asmazelas que vê a seu redor.
Segundoseumodelo,todoolucrodeveserrein-vestidona empresa. Por que isso é essencial?Algumaspessoasmeperguntamporquenãosepodegerir uma empresa com distribuição de lucros e, aomesmo tempo, ter um objetivo social. Isso pode serfeito, claro, nãosoucontrao lucro.Masestou tentan-do iratéoúltimoestágio,noqualoempreendedornãofica comparte dos dividendos. Quando semisturamlucro e impacto social, o raciocínio do CEO ficamaisnebuloso.Onegócio social cria um foco claro para osgestores, e isso facilitasuasdecisõesnodiaadia.Nãoexistirádilemaentrereduzirpreçosparaoserviçoouproduto ser mais acessível, ou manter o retorno fi-nanceiro para os acionistas. Quemconsegue concor-daremreceberumpequeno lucropodeseconvencera ter lucrozero.Quandochegaaesseponto,oempre-endedor se desfaz domodelo antigo de raciocínio.
Sem essa busca pelo lucro, qual passa a ser aprincipalmotivaçãodo empreendedor?Onegócio social preencheuma faceta importante doserhumano.Não somosmáquinasde fazer dinheiro,não temos apenas uma dimensão. Nem tudo o que
nos interessa enosmobiliza temaver comacumularriqueza.Podemosabrirmãodosganhospessoaispa-ra obenefício coletivo. Precisamos ter aomenosdoistiposdenegócio:umquegereriquezaesatisfaçanos-so lado individualista e outro no qual possamos ex-pressar nossa vertente coletiva e fazer algo pelo ou-tro. Preencher essa outra dimensão liberta em todosnós um grande poder de criatividade, de alegria, dedesejo de transformação. Isso ajuda a resolver pro-blemas sociais demaneira inovadora e eficaz.
Que outros benefícios uma empresa podegerar para a sociedade?É importante, até para os negócios tradicionais, co-meçar aomenos a complementar suasmissões comvalores que vão além da maximização do lucro. Asempresas devem incorporar umolharmais coletivo,colaborativoe,principalmente, reescreverepraticarsuasmissões. Seuspropósitosdevemsermais signi-ficativosparasuasequipes,especialmenteparaasno-vas gerações. Os jovens precisarão ser estimuladosemmais dimensões alémdafinanceira.
O que um empreendedor deve se perguntarantes de abrir umnegócio social?Empreender em um negócio social é tão desafiadorquantoemqualqueroutrotipodeempresa,eexigeasmesmasreflexõespessoais.Adiferençaéqueele levaas pessoas a um aprendizado gratificante: fazer coi-sas que nunca fez antes, pensar de outra maneira,explorar um mundo que era totalmente desconhe-cido. Comece procurando emsuas experiências an-teriores o que é relevante para o novo desafio, con-tate experts para atingir esse novo objetivo. O em-preendedorpercebeque,quandoestácomas“lentesde negócios sociais” nos olhos, vê coisas que nuncatinhanotadoquandousava “lentesdemaximizaçãode lucro”. Torna-se umser humanomultidimensio-nal em vez de ser uma pessoa robotizada.
MuhammadYunus,72anos,temumaconvicçãoinabalável:adequeapobrezanãoéresulta-dodaincapacidadedospobres,esimdadeficiênciadasinstituições,comobancosquenegamcréditoadoisterçosdapopulaçãomundial.sãopessoascapazesdesedesenvolver,estudar,empreender—masprecisamdeoportunidade.essapreocupaçãonasceuem1976,enquantoYunus,duranteumapesquisa,visitavavilarejosdaregiãoondenasceu,nosuldeBangladesh.comUs$27nobolso,ojovemformadoemeconomiapelaUniversidadeVanderbilt,nos esta-dosUnidos,criouosistemademicrocrédito.em1983,fundouo grameenBank,bancodemi-croempréstimosquelherendeuumPrêmionobelem2006—nãoodeeconomia,esimodaPaz,porestimularodesenvolvimentosocialdosmaispobres.nomesmoano,eleapresentouao mundo um conceito revolucionário: o de negócios sociais.nesta entrevista a PequenasEmpresas & Grandes Negócios, Yunus explica por que eles fazem a diferença no mundo.
No dia 28demaio,
MUhAMMAdYUNUs faráa palestrade aberturada segunda
ediçãoMovimentoEmpreenda,em São Paulo.Fique atentoao concursocultural nowww.movimento
empreenda.com.br.Você podeganhar umingresso.
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