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ADERÊNCIA (Notas de aula) José Luiz Pinheiro Melges Setembro de 2009

Anderencia em barras de aço

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Apostila que trata do assunto de ancoragem e trespasse de barras de aço em concreto.

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Page 1: Anderencia em barras de aço

ADERÊNCIA (Notas de aula)

José Luiz Pinheiro Melges

Setembro de 2009

Page 2: Anderencia em barras de aço

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1. INTRODUÇÃO

Conforme PINHEIRO & MUZARDO (2003), aderência (bond, em inglês) é a propriedade

que impede que haja escorregamento de uma barra de aço em relação ao concreto que a envolve.

É, portanto, responsável pela solidariedade entre o aço e o concreto, fazendo com que esses dois

materiais trabalhem em conjunto, uma vez que não existe deslocamento relativo entre a barra de

aço e o concreto que a envolve (εs = εc).

A transferência de esforços entre concreto e aço, bem como a compatibilidade de

deformações entre eles, são fundamentais para a existência do concreto armado. Isto só é

possível por causa da aderência.

Já ancoragem é a fixação da barra no concreto, para que ela possa ser interrompida. Na

ancoragem por aderência, deve ser previsto um comprimento suficiente para que o esforço da

barra (de tração ou de compressão) seja transferido para o concreto. Ele é denominado

comprimento de ancoragem. Além disso, em peças nas quais, por disposições construtivas ou

pelo seu comprimento, necessita-se fazer emendas nas barras, também se deve garantir um

comprimento suficiente para que os esforços sejam transferidos de uma barra para outra, na

região da emenda. Isto também é possível graças à aderência entre o aço e o concreto.

A aderência é composta por três fatores: adesão, atrito e mecânica.

1.1. Aderência por adesão

Ocorre em função das ligações físico-químicas entre aço e concreto. Ex.: para separar os

dois materiais, é necessário aplicar uma força Fb1 (figura 1).

Figura 1 – Adesão (PINHEIRO & MUZARDO, 2003)

Page 3: Anderencia em barras de aço

2

1.2. Aderência por atrito

Surge quando um material tende a se deslocar em relação ao outro (figura 2). Depende da

rugosidade da barra e da compressão exercida pelo concreto sobre a barra em virtude da

retração. Na figura 2, a oposição à ação Fb2 é constituída pela resultante das tensões de

aderência (τb) distribuídas ao longo da barra.

Figura 2 – Atrito (PINHEIRO & MUZARDO, 2003)

1.3. Aderência mecânica

Conforme CAMACHO (1997), esta parcela da aderência surge em função da conformação

superficial das barras (saliências ou “mossas”), gerando um engrenamento mecânico do tipo

“encaixe” entre as armaduras e o concreto (figura 3). De todas, é a contribuição mais importante

na solidarização aço/concreto.

Figura 3 – Aderência mecânica

LEONHARDT (1977) menciona que mesmo uma barra lisa pode apresentar aderência

mecânica, em função da rugosidade superficial, devida à corrosão e ao processo de fabricação,

gerando um denteamento da superfície.

Page 4: Anderencia em barras de aço

3

Na figura 4, para efeito de comparação, são apresentadas superfícies microscópicas de

barra de aço enferrujada, barra recém laminada e fio de aço obtido por laminação a quente e

posterior encruamento a frio por estiramento. Nota-se que essas superfícies estão muito longe de

serem efetivamente lisas.

Figura 4 – Rugosidade superficial de barras e fios lisos (LEONHARDT, 1977)

É importante destacar que a separação da aderência nas três parcelas - adesão, atrito e

aderência mecânica - é apenas esquemática, pois não é possível quantificar isoladamente cada

uma delas.

2. TENSÃO DE ADERÊNCIA

Uma barra está na iminência de ser arrancada quando uma tensão última de aderência, que

atua na interface do concreto e do aço, é atingida. Considera-se esta tensão como sendo

uniformemente distribuída ao longo do comprimento da barra, embora, na realidade, ela não seja

uniforme (figura 5).

Figura 5 – Tensão última de aderência ( fbd )

Page 5: Anderencia em barras de aço

4

Nos ensaios de arrancamento (figura 6), obtém-se a força de arrancamento Rs.

Figura 6 – Ensaio de arrancamento

Conhecendo-se a força de arrancamento (Rs), pode-se calcular o valor da tensão última de

aderência (fcb), conforme o procedimento mostrado a seguir:

• b

SbdS

barradalateralÁrea

bbd ..RfR...f

l44 344 21l

φπ=⎯→⎯=φπ , onde:

• Rs é a força atuante na barra;

•φ é o diâmetro da barra;

•lb é o comprimento de ancoragem.

A tensão de aderência depende de diversos fatores, entre os quais:

• Rugosidade da barra;

• Posição da barra durante a concretagem;

• Diâmetro da barra;

• Resistência do concreto;

• Retração;

• Adensamento;

• Porosidade do concreto etc.

Alguns desses aspectos serão considerados na seqüência deste texto.

Page 6: Anderencia em barras de aço

5

3. ZONAS DE BOA E DE MÁ ADERÊNCIA

Conforme PINHEIRO & MUZARDO (2003), na concretagem de uma peça, tanto no

lançamento como no adensamento, o envolvimento da barra pelo concreto é influenciado pela

inclinação dessa barra.

Sua inclinação interfere, portanto, nas condições de aderência.

Por causa disso, a NBR 6118:2003 considera em boa situação quanto à aderência os

trechos das barras que estejam com inclinação maior que 45º em relação à horizontal (figura 7a).

As condições de aderência são influenciadas por mais dois aspectos:

• altura da camada de concreto sobre a barra, cujo peso favorece o adensamento,

melhorando as condições de aderência;

• nível da barra em relação ao fundo da forma; a exsudação produz porosidade no concreto,

que é mais intensa nas camadas mais altas, prejudicando a aderência.

Essas duas condições fazem com que a NBR 6118:2003 considere em boa situação quanto

à aderência os trechos das barras que estejam em posição horizontal ou com inclinação menor

que 45º, desde que: • para elementos estruturais com h < 60cm, localizados no máximo 30cm acima da face

inferior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima (figuras 7b e 7c);

• para elementos estruturais com h > 60cm, localizados no mínimo 30cm abaixo da face

superior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima (figura 7d).

Em outras posições e quando do uso de formas deslizantes, os trechos das barras devem ser

considerados em má situação quanto à aderência.

No caso de lajes e vigas concretadas simultaneamente, a parte inferior da viga pode estar

em uma região de boa aderência e a parte superior em região de má aderência. Se a laje tiver

espessura menor do que 30cm, estará em uma região de boa aderência. Sugere-se, então, a

configuração das figuras 7e e 7f para determinação das zonas aderência.

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6

a)

b)

c)

d)

e)

f)

Figura 7 – Situações de boa e de má aderência (PINHEIRO & MUZARDO, 2003)

Page 8: Anderencia em barras de aço

7

4. RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA A resistência de aderência de cálculo entre armadura e concreto é dada pela expressão

(NBR 6118, 2003, item 9.3.2.1):

ctd321bd ff ηηη= ; onde:

⎪⎩

⎪⎨

⎧=η

nervuradasbarraspara25,2entalhadasbarraspara4,1lisasbarraspara0,1

1

⎩⎨⎧

=ηaderênciamádesituaçõespara7,0aderênciaboadesituaçõespara0,1

2

( )⎩⎨⎧

>φφ−≤φ

=ηmm32para100/132

mm32para0,13

fctd = resistência de cálculo à tração direta = 0,15 fck2/3 (em MPa) (fctd = fctk,inf / γc = 0,7 fctm / 1,4 = 0,7 . 0,3 fck2/3 / 1,4, em MPa)

Para efeito da NBR 6118:2003, a conformação superficial medida pelo coeficiente η1,

adotada em função do tipo de aço, está mostrado na tabela 1.

Tabela 1 – Relação entre η1 e ηb

Tipo de barra

Coeficiente de conformação superficial

ηb η1

Lisa (CA 25) 1,0 1,0

Entalhada (CA 60) 1,2 1,4

Alta aderência (CA 50) ≥ 1,5 2,25

Observações: • ηb é o valor mínimo do coeficiente de conformação superficial que a barra deve ter quando submetido a ensaio definido pela NBR 7477 (“parâmetro de qualidade”) • η1 é o coeficiente para cálculo da tensão de aderência (“parâmetro de cálculo”)

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5. COMPRIMENTO DE ANCORAGEM BÁSICO

Conforme CAMACHO (1997), para a viga em

balanço mostrada na figura 8, supondo-se que o valor da

área de armadura (As) no engaste seja o teoricamente

necessário (As = As proj.), a tensão na barra de aço será

(fyd).

Percebe-se que a barra não poderia ser

interrompida bruscamente no apoio A, sob pena da viga

romper quando carregada.

Logo, existe a necessidade da barra penetrar no

apoio de um certo valor, dito de comprimento de

ancoragem, de modo a transferir as tensões do aço para o

concreto.

Em PINHEIRO &

MUZARDO (2003), define-

se o comprimento de

ancoragem básico como

sendo o comprimento reto

necessário para que a

máxima força que atua na

barra (Rs = As fyd) seja

totalmente transferida para o

concreto, admitindo, ao

longo desse comprimento,

resistência de aderência

uniforme e igual a fbd

(figura 9).

O comprimento de ancoragem básico é obtido igualando-se o esforço na barra

(Rs = As fyd) com a força última de aderência (= lb π φ fbd):

Figura 8 – Viga em balanço

Figura 9 – Comprimento de ancoragem básico

Page 10: Anderencia em barras de aço

9

bbdyd

2

bbdyds ff4

ffA ll φπ=φ

π⎯→⎯φπ=

∴ bd

ydb f

f.

=l

De maneira simplificada, pode-se dizer que, a partir do ponto em que a barra não for mais

necessária, basta assegurar a existência de um comprimento suplementar bl que garanta a

transferência das tensões da barra para o concreto.

6. COMPRIMENTO DE ANCORAGEM NECESSÁRIO

Nos casos em que a área efetiva da armadura Αs,ef é maior que a área calculada As,calc, a

tensão nas barras diminui e, portanto, o comprimento de ancoragem pode ser reduzido na mesma

proporção. A presença de gancho na extremidade da barra também permite a redução do

comprimento de ancoragem, que pode ser calculado pela expressão:

min,bef,s

calc,sb1nec,b A

A . lll ≥⋅α= , onde:

⎪⎩

⎪⎨

φ≥=α

ganchodoaonormalplanono3cobrimentocom,ganchoscomstracionadabarraspara7,0

ganchossembarraspara0,1

1

bl : comprimento de ancoragem básico, calculado no item 5

min,bl é o maior valor entre 0,3 bl , 10 φ e 100 mm.

Page 11: Anderencia em barras de aço

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7. GANCHOS DAS ARMADURAS DE TRAÇÃO

Com base em PINHEIRO & MUZARDO (2003), os ganchos das extremidades das barras

da armadura longitudinal de tração podem ser (item 9.4.2.3 da NBR 6118, 2003):

• semicirculares, com ponta reta de comprimento não inferior a 2 φ (figura 10a);

• em ângulo de 45º (interno), com ponta reta de comprimento não inferior a 4 φ (figura 10b);

• em ângulo reto, com ponta reta de comprimento não inferior as 8 φ (figura 10c).

Vale ressaltar que, segundo as recomendações da NBR 6118 (2003), as barras lisas

deverão ser sempre ancoradas com ganchos, sendo recomendados os semicirculares.

a) b) c)

Figura 10 – Tipos de ganchos (armadura de tração)

Ainda segundo a NBR 6118 (2003), o diâmetro interno da curvatura dos ganchos das

armaduras longitudinais de tração deve ser pelo menos igual ao estabelecido na tabela 2.

Tabela 2 – Diâmetros dos pinos de dobramento, para armadura de tração

Bitola (mm) CA – 25 CA – 50 CA - 60

φ < 20 4 φ 5 φ 6 φ

φ ≥ 20 5 φ 8 φ _

Page 12: Anderencia em barras de aço

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8. GANCHOS DOS ESTRIBOS

A NBR 6118:2003, item 9.4.6, estabelece que a ancoragem dos estribos deve

necessariamente ser garantida por meio de ganchos ou barras longitudinais soldadas. Os

ganchos dos estribos podem ser:

• semicirculares ou em ângulo de 45° (interno), com ponta reta de comprimento igual a 5φ,

porém não inferior a 5cm (figura 11a);

• em ângulo reto, com ponta reta de comprimento maior ou igual a 10φ, porém não inferior a

7cm (figura 11b). Destaca-se que este tipo de gancho não deve ser utilizado para barras e fios

lisos.

Figura 11 – Tipos de ganchos (estribos)

O diâmetro interno da curvatura dos estribos deve ser, no mínimo, igual ao valor dado na

tabela 3.

Tabela 3 – Diâmetros dos pinos de dobramento, para estribos

Bitola (mm) CA – 25 CA – 50 CA - 60

φt ≤ 10 3 φt 3 φt 3 φt

10 < φt < 20 4 φt 5 φt _

φt ≥ 20 5 φt 8 φt _

Page 13: Anderencia em barras de aço

12

9. ANCORAGEM DE BARRAS COMPRIMIDAS Há necessidade de se ancorar barras comprimidas nos seguintes casos:

a) nas vigas, quando há barras longitudinais comprimidas

(armadura dupla), conforme mostrado na figura 12;

Figura 12 – Armadura dupla

b) nos pilares: nas regiões de

emendas por traspasse que ocorrem

no nível dos andares e nas regiões

junto aos blocos de fundações

(figura 13).

Figura 13 – Pilares

As barras exclusivamente comprimidas ou que tenham alternância de solicitações (tração

e compressão) devem ser ancoradas em trecho reto sem gancho (figura 14).

Page 14: Anderencia em barras de aço

13

A presença do gancho gera concentração de tensões, que pode levar ao fendilhamento do

concreto ou à flambagem das barras.

Em termos de comportamento, a ancoragem de barras comprimidas e a de barras

tracionadas é diferente em dois aspectos. Primeiramente, por estar comprimido na região da

ancoragem, o concreto apresenta maior integridade (está menos fissurado) do que se estivesse

tracionado, e poder-se-ia admitir comprimentos de ancoragem menores. Um segundo aspecto é o

efeito de ponta, como pode ser observado na figura 14. Esse fator é bastante reduzido com o

tempo, pelo efeito da fluência do concreto. Na prática, esses dois fatores são desprezados.

Figura 14 - Ancoragem de barras comprimidas (FUSCO, 1985)

Portanto, os comprimentos de ancoragem de barras comprimidas são calculados como no

caso das tracionadas. Porém, nas comprimidas não se usam ganchos.

No cálculo do comprimento de traspasse c0l de barras comprimidas, adota-se a seguinte

expressão (NBR 6118, 2003, item 9.5.2.3):

min,c0nec,bc0 lll ≥= , onde:

min,c0l é o maior valor entre 0,6 bl , 15 φ e 200 mm.

Page 15: Anderencia em barras de aço

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10. EMENDAS

Conforme CAMACHO (1997), as emendas nas barras devem ser evitadas sempre que

possível, aproveitando-se integralmente o comprimento das mesmas. No entanto, é comum a

necessidade de se efetuar emendas nas barras de aço para atender as necessidades de

detalhamento. Nesses casos é fundamental garantir que ocorra a transmissão de esforços de uma

barra a outra. As emendas são classificadas em 2 grupos: emendas indiretas e diretas.

10.1. Emendas diretas São aquelas em que o concreto não participa da transmissão dos esforços. As barras são

emendadas diretamente entre si, da seguinte forma:

i) Emendas com solda;

ii) Emendas com luvas rosqueadas;

iii) Emendas com outros dispositivos (luvas com preenchimento metálico, prensadas, etc.)

10.2. Emendas indiretas (ou emendas por traspasse) São aquelas que necessitam do concreto para a transmissão dos esforços de uma barra a

outra. As barras estão aderidas ao concreto, e, quando tracionadas, provocam o aparecimento de

bielas de concreto comprimido, que transferem a força aplicada em uma barra à outra (figura 15).

Observa-se que existe a necessidade da colocação de uma armadura transversal à emenda com o

objetivo de equilibrar essas bielas.

Figura 15 – Transmissão de esforços em uma emenda por traspasse

Page 16: Anderencia em barras de aço

15

Segundo LEONHARDT, deve-se, sempre que possível, usar emendas com extremidades

retas, ao invés de usar extremidades com ganchos, para que possa ser evitada a possibilidade do

esmagamento do concreto nessa região.

A emenda por traspasse não é permitida para os seguintes casos:

• barras com bitola maior que 32 mm;

• tirantes e pendurais (elementos estruturais lineares de seção inteiramente tracionada);

• feixes cujo diâmetro do círculo de mesma área seja superior a 45 mm.

10.2.1. Proporção das barras emendadas

Consideram-se, como na mesma seção transversal, as emendas que se superpõem ou cujas

extremidades mais próximas estejam afastadas de menos que 20% do comprimento do trecho de

traspasse (figura 16). Para barras com diâmetros diferentes, o comprimento de traspasse deve ser

calculado pela barra de maior diâmetro.

Figura 16 – Emendas supostas como na mesma seção transversal

A proporção máxima de barras tracionadas da armadura principal emendadas por traspasse

na mesma seção transversal do elemento estrutural deve ser a indicada na tabela 4.

Tabela 4 – Proporção máxima de barras tracionadas emendadas

Tipo de barra

Situação

Tipo de carregamento Estático Dinâmico

Alta aderência Em uma camada 100% 100% Em mais de uma camada 50% 50%

Lisa φ < 16 mm 50% 25% φ ≥ 16 mm 25% 25%

Page 17: Anderencia em barras de aço

16

Quando se tratar de armadura permanentemente comprimida ou de distribuição, todas as

barras podem ser emendadas na mesma seção.

10.2.2. Comprimento de traspasse de barras tracionadas, isoladas

Quando a distância livre entre barras emendadas estiver compreendida entre 0 e 4φ

(figura 17) , o comprimento do trecho de traspasse, para barras tracionadas deve ser:

min,t0nec,bt0t0 lll ≥α= , onde:

min,t0l é o maior valor entre 0,3 α0t bl , 15 φ e 200 mm.

α0t é o coeficiente dado em função da porcentagem de barras emendadas na mesma seção,

mostrado na tabela 5.

Tabela 5 – Valores do coeficiente α0t

Barras emendadas na mesma seção (%)

≤ 20

25

33

50

> 50

Valores de α0t 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0

Figura 17 – Comprimento de traspasse de barra isolada, para distância livre

entre barras ≤ 4 φ

Já quando a distância livre entre barras emendadas for maior que 4 φ, ao comprimento

calculado )( min,t0t0 ll ≥ , deve ser acrescida a distância livre entre barras emendadas.

Page 18: Anderencia em barras de aço

17

10.2.3. Comprimento de traspasse de barras comprimidas

• Comprimento da emenda por traspasse = comprimento de ancoragem à compressão (item 9)

• Todas as barras podem ser emendadas na mesma seção transversal.

10.2.4. Armadura transversal

Conforme já mencionado, a transferência de esforço de uma barra para outra se faz através

de bielas comprimidas de concreto. Logo, existe a necessidade da colocação de uma armadura

transversal à emenda com o objetivo de equilibrar essas bielas. Como armadura transversal nessa

região, podem ser levados em consideração os ramos horizontais dos estribos.

a) Para barra da armadura principal tracionada (figura 18)

Quando φ < 16 mm e a proporção de barras emendadas for menor que 25%, faz-se

necessária uma armadura transversal capaz de resistir a 25% da força longitudinal de uma das

barras ancoradas.

Quando φ ≥ 16 mm ou a proporção de barras emendadas for maior ou igual a 25%, a

armadura transversal deve:

• ser capaz de resistir a uma força igual à

de uma barra emendada, considerando os

ramos paralelos ao plano da emenda;

• ser constituída por barras fechadas se a distância entre as duas barras mais próximas de

duas emendas na mesma seção for < 10 φ (φ = diâmetro da barra emendada)

Page 19: Anderencia em barras de aço

18

• concentrar-se nos terços extremos da emenda.

Figura 18 – Armadura transversal nas emendas, para barras tracionadas

b) Para barra da armadura principal comprimida (figura 19)

Devem ser mantidos os critérios estabelecidos para o caso anterior, com pelo menos uma

barra de armadura transversal posicionada 4 φ além das extremidades da emenda.

Figura 19 – Armadura transversal nas emendas, para barras comprimidas

c) Para barra de armadura secundária

Quando φ < 32 mm, deve-se ter, ao longo da emenda, uma armadura transversal capaz de

resistir a 25% da força longitudinal de uma das barras ancoradas. Para diâmetros maiores ou

iguais a 32 mm, ver recomendações do item 9.4.2.6.2. da NBR 6118:2003.

Quando se tratar de barras comprimidas, pelo menos uma das barras constituintes da

armadura transversal deve estar situada a uma distância igual a quatro diâmetros (da barra

ancorada) além da extremidade da barra.

Page 20: Anderencia em barras de aço

19

11. ANCORAGEM DA ARMADURA

LONGITUDINAL EM VIGAS DE EDIFÍCIOS

Nem todas as barras da armadura longitudinal, dimensionadas para o máximo momento

fletor de cálculo, necessitam chegar ao apoio. Algumas delas podem ser interrompidas,

economizando armadura, desde que estejam devidamente ancoradas no concreto (figura 20).

Deve-se, no entanto, garantir que uma quantidade mínima necessária seja ancorada nos apoios.

Obs.: N1: porta-estribo / N4: estribos / N2 e N3: armadura long. de tração

(N2 interrompida antes de chegar ao apoio)

Figura 20 – Exemplo

Page 21: Anderencia em barras de aço

20

11.1 Ancoragem nos apoios De acordo com a NBR 6118 (2003), item 18.3.2.4, a armadura longitudinal de tração junto

aos apoios deve ser calculada para satisfazer a mais severa das condições expostas nos

itens a) a c):

a) no caso de ocorrência de momentos

positivos, a armadura obtida através do

dimensionamento da seção;

b) em apoios extremos, para garantir a ancoragem da diagonal de compressão, necessita-se

de uma área de armadura capaz de resistir a uma força de tração Rs dada por:

dNface,dVda

sR +⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=

l, onde:

⇒ Vd,face é a força cortante na face do apoio;

⇒ Nd é a força de tração eventualmente existente;

⇒ d é a altura útil da seção transversal;

⇒ la é o valor do deslocamento do diagrama de momento, que ocorre em função do

comportamento de treliça de uma viga fissurada (serão fornecidos maiores detalhes nos

próximos itens).

Na flexão simples, o esforço a ancorar é dado por: face,ds Vda

R ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=

l

A armadura p/ resistir a esse esforço, com tensão yds f=σ , é dada por: ydscalc,s fRA =

c) em apoios extremos e intermediários, por prolongamento de uma parte da armadura de

tração do vão (As,vão), correspondente ao máximo momento positivo do tramo (Mvão), de modo

que:

⇒ barras 23 vãoAs Asapoio ≥

⎩⎨⎧ ≥ , para momentos nos apoios nulos ou negativos, inferiores a

1/2 do momento máximo no vão (figura 21):

Figura 21 – Diagrama de momento fletor (CAMACHO, 1997)

Mv

Ma

|Ma| ≤ Mv 2

As vão As apoio

Rs

Page 22: Anderencia em barras de aço

21

⇒ As apoio ≥⎧⎨⎩

≥ As vão

4 barras2 , para momentos nos apoios negativos e maiores que 1/2

do momento máximo no vão (figura 22):

Figura 22 – Diagrama de momento fletor (CAMACHO, 1997) 11.1.1. Comprimento mínimo de ancoragem em apoios extremos Em apoios extremos, para os casos (b) e (c) anteriores, a NBR 6118 (2003) prescreve que

as barras devem ser ancoradas a partir da face do apoio, com comprimento mínimo dado por:

( )⎪⎩

⎪⎨

φ+≥mm60

)2tabela(ganchodocurvaturadaernointraioordosen,5,5r

)6itemconforme(nec,b

min,be

l

l

Desta forma, pode-se determinar o comprimento mínimo necessário do apoio:

ct min,bemin += l , no qual c é o cobrimento da armadura (figuras 23a e 23b).

a) Barra com ponta reta b) Barra com gancho

Figura 23 – Ancoragem no apoio

Mv

Ma

|Ma| > Mv 2

As vão

As apoio

Page 23: Anderencia em barras de aço

22

A NBR 6118 (2003), item 18.3.2.4.1,

estabelece que quando houver cobrimento da

barra no trecho do gancho, medido

normalmente ao plano do gancho, de pelo

menos 70 mm, e as ações acidentais não

ocorrerem com grande freqüência com seu

valor máximo, o primeiro dos três valores

anteriores pode ser desconsiderado,

prevalecendo as duas condições restantes.

11.1.3. Armadura necessária em apoios extremos

Na expressão do comprimento de ancoragem necessário (item 6), tem-se que:

ef,s

calc,sb1nec,b A

A . ⋅α= ll , onde:

Impondo disponível,bnec,b ll = e ef,snec,s AA = , obtém-se: disponivel,b

calc,sb1nec,s

A .A

l

l ⋅α=

Portanto, a área das barras ancoradas no apoio não pode ser inferior a As,nec.

11.1.4. Ancoragem em laço e por meio de “grampos”

Conforme CARVALHO & FIGUEIREDO FILHO (2001), quando não há espaço para

ancorar as barras próximas dos apoios extremos das vigas, uma solução é empregar ancoragem

em laço, que consiste em dobrar a barra horizontalmente, em semi-círculo (figura 24). Existe

uma especificação do raio mínimo de curvatura (r) que o laço deve ter, além de outros casos em

que é necessário colocar armadura suplementar normal ao plano da curva do laço.

Page 24: Anderencia em barras de aço

23

Figura 24 – Ancoragem em laço da armadura

Muitas vezes, a largura b da viga (figura 24) é pequena para fazer o laço da armadura.

Nessas situações, os projetistas usam o conceito do “porta-estribo”. Considera-se, então, como

“porta-estribo”, a armadura do pilar (N2) indicada na figura 25. Já como “estribos”, consideram-

se as barras N1, indicadas na figura 25. Devido ao seu formato, as barras N1 recebem o nome de

“grampos”.

Figura 25 – Ancoragem das barras junto ao apoio usando ferros tipo “grampo”

Na figura 26, tem-se um exemplo adaptado de CAMACHO (1997) mostrando a utilização

de grampos para ancorar a armadura de flexão da viga V1, que se encontra apoiada na viga V2.

Page 25: Anderencia em barras de aço

24

a) Planta

b) Corte

Figura 26 – Grampos

11.2 Barras tiradas de serviço antes dos apoios

Já foi mencionado que algumas barras longitudinais podem ser interrompidas antes dos

apoios. Para determinar o ponto de início de ancoragem dessas barras, há necessidade de se

deslocar, de um comprimento al, o diagrama de momentos fletores de cálculo.

Conforme PINHEIRO & MUZARDO (2003), o deslocamento al é fundamentado no

comportamento previsto para resistência da viga à força cortante, em que se considera que a viga

funcione como uma treliça, com banzo comprimido e diagonais (bielas) formados pelo concreto,

e banzo tracionado e montantes constituídos respectivamente pela armadura longitudinal e pelos

estribos (figura 27). Nesse modelo há um acréscimo de esforço na armadura longitudinal de

tração, que é considerado através de um deslocamento al.

Figura 27 – Analogia de uma viga de concreto fissurada com uma treliça

Page 26: Anderencia em barras de aço

25

11.2.1. Deslocamento al do diagrama

O valor de al é dado pela expressão: ( )

( )⎥⎥⎥

⎢⎢⎢

⎡α−α+

−⋅⋅= gcotgcot1.

VV2

Vda

cmax,Sd

max,Sdl

,

onde: dbf6,0VV wctdcoc ⋅⋅⋅==

fctd = resistência de cálculo à tração direta = 0,15 fck2/3 (em MPa)

Nos casos usuais, onde a armadura transversal (estribos) é normal ao eixo da peça

(α = 90°), a expressão de al resulta: ( ) ⎥

⎥⎥

⎢⎢⎢

−⋅⋅=

cmax,Sd

max,Sd

VV2

Vdal

Lembrar que:

daadotar,negativosvaloresPara)3 4.1.1.2) item Norma, daanterior versãoanbasecomsugeridoite(limda)2

)45ainclinadosestribospara(d2,0)90aestribos,geralcaso(d5,0

a)1

=≤⎩⎨⎧

°°

l

l

l

11.2.2. Trecho de ancoragem / Será calculado conforme o item 18.3.2.3.1 da NBR 6118, 2003 (Figura 28).

A → ponto de início de ancoragem da barra (onde a tensão σs começa a diminuir). B → ponto teórico de tensão σs nula. Ponto de início de dobramento para as barras dobradas.

Figura 28 – Ancoragem de barras em peças fletidas

Page 27: Anderencia em barras de aço

26

O trecho da extremidade da barra de tração, considerado como de ancoragem tem início na

seção onde sua tensão σs começa a diminuir, ou seja, o esforço da armadura começa a ser

transferido para o concreto. A barra deve prolongar-se pelo menos 10φ além do ponto teórico de

tensão σs nula, não podendo em nenhum caso ser inferior ao comprimento de ancoragem

necessário, calculado conforme o item 6.

Portanto, na armadura longitudinal de tração das peças fletidas, o trecho de ancoragem da

barra terá início no ponto A (figura 28) do diagrama de forças Rs = Md/z deslocado. Se a barra

não for dobrada, o trecho de ancoragem deve prolongar-se além de B, no mínimo até 10φ. Se a

barra for dobrada, o início do dobramento poderá coincidir com o ponto B (figura 28)

11.2.3. Cobrimento do diagrama de Rs (ou DMF)

11.2.3.1 Barras com mesmo diâmetro

a) Para Armadura Tracionada

i) Divide-se o diagrama deslocado de la em (n) faixas, onde (n) representa o nº de barras

escalonadas de comprimentos diferentes.

ii) Cada faixa terá uma altura X igual a (figura 29): n/M = X máx

Figura 29 – Divisão do diagrama de momento fletor deslocado em faixas

Page 28: Anderencia em barras de aço

27

b) Para Armadura Comprimida

Para as barras comprimidas (As´), não há necessidade de se efetuar o deslocamento do

diagrama do valor al, em função da analogia com a treliça clássica (figura 30).

Figura 30 - Armadura comprimida: diagrama momento fletor sem deslocamento de al 11.2.3.2 Barras com diâmetros diferentes

Nesse caso, deve-se utilizar bl ao invés de nec,bl e a altura de cada faixa (Xi) será

proporcional à área de cada barra:

Asi . AM = Xi

totals

máx. , onde:

As total = armadura calculada para resistir à Mmáx

Asi = área da(s) barra(s) responsável por absorver o quinhão de esforço Xi.

Observação: esta formulação também pode ser usada para barras com mesmo diâmetro.

11.2.4. Exemplo

Apresenta-se, a seguir, um exemplo do procedimento a ser seguido no processo de

interrupção de barras.

Page 29: Anderencia em barras de aço

28

Primeiro Passo) Dividir o diagrama de momentos em faixas

Neste exemplo, adotam-se

quatro barras de mesmo diâmetro

para resistir ao momento máximo

positivo. Deste modo, o diagrama

pode ser dividido em 4 faixas de

mesma altura.

Cada faixa vai ter um

comprimento (l) na face superior

e outro na face inferior. Este

comprimento pode ser obtido por

meio de cálculo ou de um

desenho em escala (figura 31).

Figura 31 – Divisão do diagrama de momento fletor em faixas

Segundo Passo) Deslocamento do diagrama de momentos fletores: al (figura 32)

Figura 32 – Deslocamento do diagrama

Terceiro Passo) Ancoragem das barras nos apoios extremos (N1 e N2)

Supondo que seja necessário ancorar duas barras nos apoios extremos, escolhem-se as barras

que apresentam os maiores comprimentos para se estenderem ao longo de toda a viga e serem

ancoradas nos apoios. É o caso das barras N1 e N2 (figura 33).

Page 30: Anderencia em barras de aço

29

Figura 33 – Ancoragem das barras nos apoios extremos

Quarto e Último Passo) Interrupção das barras restantes (N3 e N4)

A ancoragem da barra tem início na seção onde a sua tensão σs começa a diminuir e deve

prolongar-se pelo menos 10φ além do ponto teórico de tensão σs nula. Para cada faixa, faz-se a

seguinte análise:

a) no ponto do diagrama deslocado, onde o momento começa a diminuir, deve-se somar o

comprimento de ancoragem nec,bl

b) no ponto onde o momento fletor foi totalmente absorvido pela barra, soma-se o valor de 10φ

c) o comprimento da barra devidamente ancorada será o maior entre os comprimentos das faces

inferior e superior da faixa

Portanto:

• Barra 4 ( = faixa 4, figura 34)

⎩⎨⎧

+φ++

≥nec,b

4barra 2a2

)10(2a2ll

lll

Figura 34 – Ancoragem da barra 4

Page 31: Anderencia em barras de aço

30

• Barra 3 ( = faixa 3, figura 35)

⎩⎨⎧

++φ++

≥nec,b4

3barra 2a2

)10(2a2lll

lll

Figura 35 – Ancoragem da barra 3

Observação: o procedimento apresentado é válido também para as barras tracionadas

posicionadas junto às bordas superiores das vigas, ou seja, aquelas que absorvem momentos

fletores de cálculo convencionados como negativos (figura 36);

Figura 36 – Ancoragem de barras tracionadas referentes a momentos negativos

Observação: cuidado com diagramas assimétricos

Page 32: Anderencia em barras de aço

31

11.3 Ancoragem em apoios intermediários

Se o ponto A de início de ancoragem estiver na face do apoio ou além dela (figura 37a) e a

força Rs diminuir em direção ao centro do apoio, o trecho de ancoragem deve ser medido a partir

dessa face, com a força Rs dada no item 11.1.2.

Quando o diagrama de momentos fletores de cálculo (já deslocado de al) não atingir a face

do apoio (figura 37b), as barras prolongadas até o apoio devem ter o comprimento de ancoragem

marcado a partir do ponto A e, obrigatoriamente, devem ultrapassar 10φ da face de apoio.

a) Início da ancoragem dentro do apoio b) Início da ancoragem fora do apoio

Figura 37 – Ancoragem em apoios intermediários

Quando houver qualquer possibilidade da ocorrência de momentos positivos nessa região,

provocados por situações imprevistas, particularmente por efeitos de vento e eventuais recalques,

as barras deverão ser contínuas ou emendadas sobre o apoio.

11.4 Ancoragem de viga engastada elasticamente no pilar

Sempre que no cálculo for considerada

a transmissão de momento fletor da viga para

o pilar (figuras 38), é preciso prever

armaduras no nó viga/pilar que garanta a

existência e transferência desse momento

fletor.

Figura 38 – Viga engastada no pilar

Page 33: Anderencia em barras de aço

32

Duas situações distintas podem ocorrer em função da distribuição das tensões normais que

atuam no pilar:

i) quando o pilar apresenta somente tensões de compressão pode-se adotar uma ancoragem

comum (figura 39).

Figura 39 – Pilar submetido somente a tensões de compressão

ii) quando o pilar apresenta tensões de tração e compressão, deve-se garantir um comprimento

do trecho reto do gancho igual ao comprimento equivalente a uma emenda por traspasse, relativo

a uma barra tracionada )( t0l . Além disso, deve-se adotar o raio de curvatura do gancho

indicado na figura 40.

Figura 40 – Pilar submetido a tensões de tração e de compressão

Além disso, segundo LEONHARDT (1977), a transmissão dos momentos fletores da viga

para os pilares extremos contínuos provoca, na região do nó, não só esforços de tração na

direção diagonal, como também altas tensões de aderência na armadura tracionada do pilar

(figura 41).

Mvd

“Ancoragem comum”

compressão

Mvd

Page 34: Anderencia em barras de aço

33

c) Solicitação nas armaduras d)Distribuição de tensões e) Caminhos das tensões

Figura 40 – Tensões de tração e de compressão na região do nó

O detalhamento recomendado LEONHARDT está mostrado na figura 41. A armadura

inclinada deve ter área igual a metade da área da armadura a ancorar, e o diâmetro das barras

deve ser igual a 70% do diâmetro das barras daquela armadura. Os estribos do pilar devem ter o

espaçamento reduzido para 10 cm (no máximo) no trecho de comprimento igual a duas vezes a

largura do pilar (medida na direção da viga), acrescido da altura da viga.

a) Ancoragem em dobra b) Ancoragem reta

Figura 41 – Detalhamento recomendado por LEONHARDT (1977)

Page 35: Anderencia em barras de aço

34

11.4 Ancoragem na extremidade de balanços

As barras que chegam até a extremidade de um balanço deverão ser ancoradas em forma

de gancho, conforme mostrado na figura 42.

Figura 42 – Ancoragem da barra na extremidade de um balanço

Quando a extremidade do balanço servir de apoio para outro elemento (geralmente vigas),

a armadura ancorada deverá ser capaz de resistir ao seguinte esforço Rst (figura 43):

RV al

dst

d=

.

O trecho efetivo disponível para ancoragem de barra vale: lbe = bw2 - c. Quando lbe <

lb,nec é comum recorrer-se ao uso de grampos.

Figura 43 – Ancoragem da barra em extremidade de balanço carregado

É comum, para proteger a borda livre, estender o gancho da armadura superior até a face

inferior da viga, respeitados os cobrimentos (Figura 44).

Figura 44 – Detalhe do gancho na extremidade de um balanço

c

Page 36: Anderencia em barras de aço

35

11.5 Ancoragem da armadura transversal em vigas (Estribos)

A ancoragem dos estribos (das vigas e dos pilares) deve ser garantida através de ganchos

nas extremidades. Estes ganchos devem ter, em cada uma de suas quinas, uma barra longitudinal

de diâmetro adequado.

BIBLIOGRAFIA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1978). NBR 6118 - Projeto e execução de obras de

concreto armado. Rio de Janeiro, ABNT.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2003). NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto.

Rio de Janeiro, ABNT.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 7197 (1989) Projeto de estruturas de concreto

protendido. 71p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 8681 (1984) Ações e segurança nas estruturas.

CAMACHO, J.S. (1997). Detalhamento de concreto armado. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, UNESP,

Ilha Solteira (apostila)

CARVALHO, R.C.; FIGUEIREDO FILHO, J.R. (2001). Cálculo e detalhamento de estruturas usuais de

concreto: segundo a NBR 6118 (NB1/80) e a proposta de 1999 (NB1/99). São Carlos, Editora da UFSCar.

FUSCO, P.B. (1975). Fundamentos da técnica de armar: estruturas de concreto. v.3. São Paulo, Grêmio

Politécnico.

GAIOTO, N. (1979) Estruturas de Arrimo e Empuxos de Terra. Escola de Engenharia de São Carlos, USP, São

Carlos (apostila).

GIONGO, S. (1993) Concreto Armado: Ancoragem por Aderência. Escola de Engenharia de São Carlos, USP, São

Carlos (apostila).

LEME, R. A.S. (1993). Métodos Atuais de Estabilização de Taludes. São Paulo.

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. (1977). Construções de concreto: princípios básicos do dimensionamento de

estruturas de concreto armado. v.1. Rio de Janeiro, Interciência.

MOLITERNO, A. (1994). Caderno de Muros de Arrimo, Editora Edgar Blücher Ltda. São Paulo.

MOREIRA DA ROCHA, A. (1987) Concreto Armado, Volume 3. Livraria Nobel S. A. São Paulo.

PINHEIRO, L. M. ; MUZARDO, C.D. (2003) Aderência e Ancoragem. Escola de Engenharia de São Carlos, USP,

São Carlos (notas de aula).

PINHEIRO, L. M. (1993). Concreto Armado: Tabelas e Ábacos, Escola de Engenharia de São Carlos, USP, São

Carlos (apostila).

VILAR, O. M., BUENO, B. S. (1985) Mecânica dos Solos, Volume II. Escola de Engenharia de São Carlos,

USP, São Carlos (apostila).

Page 37: Anderencia em barras de aço

36

QUESTÃO 3 – PROVÃO 2002

Fazendo parte de uma equipe de cálculo estrutural, você examinou o detalhamento da armadura principal (armadura de combate à flexão) de uma viga, representado esquematicamente na Figura 1, onde todas as outras armaduras (costelas, cisalhamento, etc.) foram omitidas. Você observou também que não estava indicado o comprimento das barras N3.

Figura 1 - Desenho esquemático do detalhamento da armadura principal no qual estão omitidas todas as

outras armaduras da viga (costelas, cisalhamento, etc.). Para determinar o comprimento das barras N3, inicialmente, você calculou e desenhou o diagrama de forças Rst da viga (forças de tração na armadura), simétrico em relação ao centro, e traçou 5 linhas paralelas ao eixo da viga, espaçadas igualmente de forma que a distância entre linhas contíguas representasse a força de tração absorvida por duas barras da armadura principal. Os comprimentos das linhashorizontais, medidos no interior do diagrama, estão indicados acima das mesmas (Figura 2).

Figura 2 - Diagrama de forças de tração na armadura (forças Rst).

O valor calculado para a decalagem la , com a qual o diagrama de forças Rst encontrado anteriormente precisa ser deslocado, é de 0,75 m. A ancoragem das barras ocorre em zona de boa aderência e o comprimento de ancoragem ( bl ) deve ser obtido considerando que a armadura efetivamente utilizada (Ase) é igual à armadura calculada (As cal). Os pilares possuem largura de 30 cm e o vão teórico da viga é 10 m. Segundo a NBR 6118, “o trecho da extremidade da barra de tração considerado como ancoragem tem início onde sua tensão σs começa a diminuir (o esforço começa a ser transferido para o concreto) e deve prolongar-se pelo menos 10φ além do ponto teórico de tensão σsnula, não podendo em nenhum caso ser inferior ao comprimento necessário de ancoragem ( bl )". De acordo com o acima exposto, na armadura longitudinal de tração de peças fletidas, o trecho de ancoragem da barra terá início no pontoA (Figura 3) do diagrama de forças Rst deslocado; se a barra não for dobrada, o trecho de ancoragem se estenderá pelo menos até 10φ além do ponto B.Com base nos dados acima, determine o comprimento mínimo das barras N3, de acordo com o detalhamento da Figura 1. (valor: 10,0 pontos).

Page 38: Anderencia em barras de aço

37

QUESTÃO 1 – PROVÃO 2000

Você foi designado para fazer parte de uma equipe de um projeto de drenagem urbana. Em um

dos trechos, está prevista a construção de um canal retangular em concreto, enterrado no solo,

conforme mostra o croquis da Figura 1. Para efeito de cálculo estrutural, duas hipóteses devem

ser verificadas (Figura 1):

Hipótese I: canal vazio – deverá resistir à pressão do solo;

Hipótese II: canal completamente cheio – deverá resistir à pressão da água, considerando que,

tendo ocorrido um deslocamento do solo junto às paredes do canal, o solo não mais exerce

pressão sobre estas paredes.

Baseado nestas informações, atenda ao solicitado abaixo.

a) Faça um croquis da seção transversal, mostrando onde devem ser colocadas as armaduras do

canal em concreto para atender às Hipóteses I e II, identificando-as. No seu croquis, não se

esqueça de indicar as armaduras longitudinais. (valor: 5,0 pontos)

b) Faça um croquis da distribuição de pressão que agirá sobre uma das paredes laterais do canal

quando este estiver cheio (Hipótese II),indicando os valores máximo e mínimo da pressão efetiva

sobre esta parede do canal. Considere que o canal esteja totalmente cheio e em condição

hidrostática. (valor: 5,0 pontos)

Dados/Informações Adicionais:

P = γ h, onde :

P = pressão em N/m2;

γ = peso específico da água em N/m3;

h = altura de água em metros.

Page 39: Anderencia em barras de aço

TABELA COMPRIMENTO DE ANCORAGEM BÁSICO (lb),

PARA SITUAÇÃO DE BOA ADERÊNCIA

AÇO CONCRETO CA25

(barras lisas) CA50

(barras nervuradas) CA60

(barras entalhadas)

C10 78,1 φ 69,4 φ 133,8 φ

C15 59,6 φ 53,0 φ 102,1 φ

C20 49,2 φ 43,7 φ 84,3 φ

C25 42,4 φ 37,7 φ 72,6 φ

C30 37,5 φ 33,4 φ 64,3 φ

C35 33,9 φ 30,1 φ 58,0 φ

C40 31,0 φ 27,5 φ 53,1 φ

C45 28,6 φ 25,5 φ 49,1 φ

C50 26,7 φ 23,7 φ 45,8 φ

OBSERVAÇÕES:

φ: DIÂMETRO DA BARRA

PARA SITUAÇÃO DE MÁ ADERÊNCIA DIVIDIR O VALOR DE lb OBTIDO NA TABELA POR 0,7.

PARA BARRAS COM DIÂMETRO MAIOR QUE 32 MM DIVIDIR O VALOR DE lb OBTIDO NA TABELA POR [ (132 - φ ) / 100 ], COM φ DADO EM mm.

Page 40: Anderencia em barras de aço

TABELA: COMPRIMENTO TOTAL DAS BARRAS COM GANCHOS • comprimento calculado considerando-se a linha que passa pelo c.g. da armadura • φ = diâmetro da barra; φdob. = diâmetro interno de dobra • TR = trecho reto; L1 = projeção horizontal da barra 1) GANCHO TIPO A a) Extremidade com 2 ganchos: Ltot = 2 TR + L1 + 2,142 φdob. +1,142 φ

b) Extremidade com 1 gancho: Ltot = TR + L1 + 1,071 φdob. +0,571 φ

2) GANCHO TIPO B a) Barra com ganchos nas duas extremidades: Ltot = 2 TR + L1 + 1,356 φdob. + 0,356 φ

b) Barra com gancho em uma das extremidades: Ltot = TR + L1 + 0,678 φdob. +0,178 φ

3) GANCHO TIPO C a) Barra com ganchos nas duas extremidades: Ltot = 2 TR + L1 + 0,571 φdob. - 0,429 φ

b) Barra com gancho em uma das extremidades: Ltot = TR + L1 + 0,285 φdob. - 0,215 φ

Page 41: Anderencia em barras de aço

TABELA: DETALHAMENTO DOS GANCHOS

ARMADURA DE TRAÇÃO:

a) b) c)

Diâmetros dos pinos de dobramento, para armadura de tração

Bitola (mm) CA – 25 CA – 50 CA - 60

φ < 20 4 φ 5 φ 6 φ

φ ≥ 20 5 φ 8 φ _

ESTRIBOS:

Diâmetros dos pinos de dobramento, para estribos

Bitola (mm) CA – 25 CA – 50 CA - 60

φt ≤ 10 3 φt 3 φt 3 φt

10 < φt < 20 4 φt 5 φt _

φt ≥ 20 5 φt 8 φt _