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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE MECÂNICA CURSO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL MECÂNICA ALEXANDRO GUILHERME JORGE GLEDSON HILTON VIDAL ANÁLISE DE FALHA EM TUBO CONDUTOR DE VAPOR DE CALDEIRA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE MECÂNICA

CURSO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL MECÂNICA

ALEXANDRO GUILHERME JORGE

GLEDSON HILTON VIDAL

ANÁLISE DE FALHA EM TUBO CONDUTOR DE VAPOR DE

CALDEIRA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA

2014

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ALEXANDRO GUILHERME JORGE

GLEDSON HILTON VIDAL

ANÁLISE DE FALHA EM TUBO CONDUTOR DE VAPOR DE

CALDEIRA

Monografia do Projeto de Pesquisa

apresentada à disciplina de Trabalho de Conclusão

de Curso 2 do curso de Engenharia Industrial

Mecânica da Universidade Tecnológica Federal do

Paraná, como requisito parcial para aprovação na

disciplina.

Orientador: Prof. Aldo Santos Pereira, Dr.

Coorientador: Prof. Raul Henrique Erthal, MSc.

CURITIBA

2014

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TERMO DE APROVAÇÃO

Por meio deste termo, aprovamos a Monografia de Projeto de Pesquisa “ANÁLISE DE FALHA EM TUBO CONDUTOR DE VAPOR DE CALDEIRA”, realizada pelos alunos ALEXANDRO GUILHERME JORGE e GLEDSON HILTON VIDAL, como requisito parcial para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso 2, do curso de Engenharia Mecânica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Prof. Aldo Santos Pereira, Dr. DAMEC, UTFPR Orientador

Prof. Raul Henrique Erthal, MSc. DAMEC, UTFPR Coorientador

Prof. Ossimar Maranho, Dr. DAMEC, UTFPR Avaliador

Prof. Ricardo Fernando dos Reis, Dr. DAMEC, UTFPR Avaliador

Curitiba, 20 de Janeiro de 2014.

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RESUMO

Este trabalho trata da análise de falha ocorrida nos tubos de suportação dos

superaquecedores de um gerador de vapor, um dos principais equipamentos em

plantas de processo incumbido de prover vapor para diversos utilizadores. Trata-se

de equipamento complexo, que em sua concepção utiliza diversos materiais e

processos de fabricação para adequar-se às condições de operação. Por ser um

equipamento que historicamente tem um dos maiores índices de acidentes,

acarretando grandes prejuízos materiais e, até óbitos de profissionais da área, deve

ser constantemente monitorado. Em função disto, torna-se vital o diagnóstico e

análise das causas das anomalias a fim de tomar as devidas ações corretivas, que

podem estar relacionadas com as condições operacionais e até com problemas de

projeto. A análise de falha envolve diversas áreas do conhecimento, técnicas de

observação, inspeções e ensaios laboratoriais, necessitando muitas vezes de

formação técnica especializada. Neste contexto, o presente trabalho trata da

identificação e possível mitigação das causas de furos em tubos de feixes tubulares,

condutores de vapor de gerador de vapor, de planta petroquímica da cidade de

Araucária. Com esse intuito foram estudadas técnicas de análise de falha, dentre as

quais foram aplicadas as mais adequadas para a situação. Aplicou-se a metodologia

conhecida por Análise de Causa Raiz, sendo que a Árvore de Falhas juntamente

com utilização de categorias fundamentais mostrou-se realmente eficaz.

Proposições de causas, ensaios, observações e avaliações culminaram por

direcionar a análise a uma causa provável relacionada com a montagem equivocada

de separadores de umidade do tipo ciclone, instalados no interior do tubulão de

vapor, que uma vez identificada, promoveu a aplicação de ações corretivas.

Palavras-chave: Inspeção de equipamentos, Caldeira, Gerador de vapor,

Análise de falhas.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Visão geral da caldeira em que houve a falha dos tubos suspensos.

Jan/2010 ............................................................................................................ 14

Figura 2 – Queima de combustível e aquecimento de água (geração de vapor) ...... 17

Figura 3 – Disposição esquemática dos componentes principais de uma caldeira

aquotubular. ....................................................................................................... 19

Figura 4 – Visão da região de convecção, onde estão os tubos suspensos. ............ 23

Figura 5 – Detalhe da região de convecção, onde estão os tubos suspensos. ......... 24

Figura 6 – Detalhe de montagem dos tubos suspensos e das harpas. ..................... 24

Figura 7 – Detalhe de montagem dos tubos suspensos, ganchos de suportação. ... 25

Figura 8 – Modelo de resolução de problemas. ........................................................ 27

Figura 9 – Gráfico comparando a gravidade de uma condição de serviço com a vida

útil de produtos com uma característica variável. .............................................. 31

Figura 10 – Exemplo de árvore de falhas. ................................................................. 37

Figura 11 – Exemplo de evento e fator causal. ......................................................... 38

Figura 12 – Exemplo do diagrama de Ishikawa. ........................................................ 39

Figura 13 – Fluxograma do GV-5603. ....................................................................... 46

Figura 14 – Visão dos tubos suspensos, região mais afastada da fornalha. ............. 47

Figura 15 – Visão dos tubos suspensos, região mais próxima à fornalha. ................ 48

Figura 16 – Visão dos tubos suspensos, regiões de falha. ....................................... 48

Figura 17 – Ensaio por réplica metalográfica nos tubos da caldeira. ........................ 50

Figura 18 – Detalhe da região do tubo. ..................................................................... 50

Figura 19 – Região limpa. ......................................................................................... 50

Figura 20 – Detalhe da região limpa e isenta de descontinuidades. ......................... 50

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Figura 21 – Microestrutura composta por matriz ferrítica com carbonetos dispersos e

em contorno de grão com início de coalescimento dos carbonetos. Ataque

químico: Villela’s. ............................................................................................... 51

Figura 22 – Visão dos tubos suspensos, conforme retirados da caldeira. ................ 52

Figura 23 – Amostras de tubos após preparação (corte). ......................................... 52

Figura 24 – Redução de espessura e acúmulo de depósito no tubo n° 2. ................ 53

Figura 25 – Laranja com destacamento da espessa camada de óxido no tubo n° 6.53

Figura 26 – Camada de óxido no tubo n° 6. ......... ..................................................... 53

Figura 27 – Depósitos nos tubos n° 1 e 2. ......... ....................................................... 53

Figura 28 – Acúmulo de grande quantidade de depósito nos tubos de n° 7 a 12. .... 54

Figura 29 – Estratificação do depósito no tubo n° 1 2. ............................................... 54

Figura 30 – Divisão das causas físicas. .................................................................... 56

Figura 31 – Trecho do tubo de onde foram retiradas amostras para metalografia. ... 57

Figura 32 – Micrografia da amostra 01 retirada de um tubo aparentemente sem

danos. ................................................................................................................ 57

Figura 33 – Localização de retirada das amostras. ................................................... 58

Figura 34 – Amostra embutida. ................................................................................. 59

Figura 35 – Detalhe da região com oxidação severa. Ampliação: 27x. ..................... 59

Figura 36 – Detalhe das regiões de micrografia. ....................................................... 60

Figura 37 – Amostra 1A – Carbonetos esferoidizados. Nital 3%. .............................. 60

Figura 38 – Amostra 1B – Carbonetos esferoidizados. Nital 3%. .............................. 60

Figura 39 – Amostra 2. Detalhe da região de micrografia. ........................................ 61

Figura 40 – Amostra 2. .............................................................................................. 61

Figura 41 – Amostra 2 – Trinca. ................................................................................ 61

Figura 42 – Utilização do analisador de ligas. ........................................................... 61

Figura 43 – Tela de console com variáveis apresentadas de forma esquemática. ... 65

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Figura 44 – Gráfico da água de alimentação e vapor produzido. .............................. 66

Figura 45 – Diferença entre a água de alimentação e vapor produzido. ................... 67

Figura 46 – Gráfico mostrando o nível no tubulão e vazão de V-88. ......................... 68

Figura 47 – Exemplo de tubulão com ciclone. ........................................................... 71

Figura 48 – Ilustração do funcionamento de um ciclone. .......................................... 71

Figura 49 – Ciclones danificados. ............................................................................. 72

Figura 50 – Ciclone montado invertido. ..................................................................... 73

Figura 51 – Ciclone montado corretamente. ............................................................. 73

Figura 52 – Diagrama da montagem das aletas. ....................................................... 74

Figura 53 – Árvore da análise de falhas do tubo suspenso. ...................................... 78

Figura 54 – Peças de reposição da caldeira (ciclones). ............................................ 79

Figura 55 – Diagrama mostrando a excitação nas camadas eletrônicas. ................. 88

Figura 56 – Diagrama mostrando o funcionamento do ensaio e suas formas de

exposição dos dados para o usuário. ................................................................. 89

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Composição química conforme ASTM .................................................... 21

Tabela 2 – Temperatura de oxidação severa (Scaling) ............................................. 59

Tabela 3 – Composição química do componente ..................................................... 62

Tabela 4 – Valores de dureza ................................................................................... 63

Tabela 5 – Análise química dos depósitos. ............................................................... 68

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Dados técnicos do tubo. ......................................................................... 21

Quadro 2 – Dados técnicos da caldeira. ................................................................... 22

Quadro 3 – Exemplo de análise de ACR de um vaso de pressão............................. 30

Quadro 4 – Defeitos típicos encontrados em processos de fabricação. .................... 33

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LISTA DE SIGLAS

ACR – Análise de causa e raiz.

ASM – American Society for Metals.

ASTM – American Society for Testing and Materials.

ED – Ensaio destrutivo.

END – Ensaio não destrutivo.

MEF – Método dos elementos finitos.

RCA – Root cause analysis (sigla em inglês para ACR).

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

1.1 Contexto do Tema 12

1.2 Caracterização do Problema 13

1.3 Objetivo Geral 13

1.4 Justificativa 13

1.5 Etapas do Trabalho 15

1.6 Conteúdo 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 17

2.1 Gerador de vapor 17

2.1.1 Materiais empregados nas caldeiras 20

2.1.2 Mecanismos de degradação em caldeiras 21

2.1.3 GV-5603 - O gerador de vapor em questão 22

2.2 Análise de falhas 25

2.2.1 Metodologia 26

2.2.2 Definição de falha 28

2.2.3 Análise de causa raiz (ACR) 29

2.2.4 Deficiências de projeto 32

2.2.5 Defeitos de material 33

2.2.6 Defeitos de fabricação e/ou instalação 34

2.2.7 Anomalias durante a operação 35

2.2.8 Métodos de aplicação da ACR 36

2.3 Ensaios 42

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 44

4 RESULTADOS 47

4.1 Manutenção corretiva 47

4.2 Análise de falha 51

4.2.1 Análise de amostras 51

4.2.2 Método dos 5 porquês 54

4.3 Método da árvore de falhas 55

4.3.1 Verificação do material 56

4.3.2 Acompanhamento operacional 63

4.3.2.1 Análises complementares dos depósitos 68

4.3.3 Verificação de montagem 70

5 CONCLUSÕES 75

5.1 Ações corretivas 75

5.2 Análise de falhas 75

5.2.1 Método dos 5 porquês 75

5.3 Consequências e ações 78

6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 81

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ANEXO A – Lista de verificação para operador de caldeira 85

APÊNDICE A – Ensaio Visual 86

APÊNDICE B – Planejamento do exame visual 87

APÊNDICE C – Análise da composição química por fluorescência de raios-X 88

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11

1 INTRODUÇÃO

Entende-se por planta de processo as indústrias em que materiais sólidos ou

fluidos sofrem transformações físicas ou químicas, são armazenados, manuseados

ou distribuídos. Como principais exemplos têm-se a indústria do petróleo, as

indústrias químicas, petroquímicas e termoelétricas (TELLES, 1996).

Os equipamentos que compõe essas plantas denominam-se equipamentos de

processo. São comumente classificados em três grandes grupos, quais sejam:

estáticos, dinâmicos e tubulações. Os equipamentos estáticos ou de caldeiraria

compreendem os vasos de pressão, tanques e esferas de armazenamento, torres,

reatores, fornos, caldeiras, etc. (TELLES, 2003).

Caldeiras ou geradores de vapor são equipamentos que utilizando energia

química liberada durante um processo de combustão, promovem a mudança de fase

da água do estado líquido para o estado de vapor com pressão superior à

atmosférica (LORA & NASCIMENTO, 2004).

Entre os constituintes de uma caldeira têm-se em maior quantidade os tubos,

os quais possuem funções estruturais, de condução do fluido e de troca térmica

entre fluídos e gases de combustão. Tubos são condutos fechados, normalmente de

seção circular apresentando-se como cilindros ocos (TELLES, 2001).

Nas indústrias de processo existem condições específicas que tornam

necessário um maior grau de confiabilidade. Esse segmento trabalha quase sempre

em regime contínuo e ininterrupto durante longos períodos, normalmente superiores

há 30 meses. Outro fator relevante é o fato de que os equipamentos que a compõe

formam uma cadeia contínua através da qual circulam os fluídos de processo, deste

modo a falha de um componente pode gerar a paralisação ou redução de produção

de toda a instalação. Além disso, existe em grande parte das plantas de processo a

manipulação de produtos inflamáveis, tóxicos, explosivos ou em elevadas pressões

e/ou temperaturas, condições essas para as quais pequenas falhas ou vazamentos

podem resultar em acidentes com dimensões potencialmente catastróficas (TELLES,

2003).

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12

Quando uma planta de processo é submetida a uma parada emergencial

devido à falha de um único equipamento e/ou componente, o valor de seu reparo é

relativamente baixo quando comparado aos valores de lucros cessantes e dos

danos oriundos desta parada emergencial. Deste modo, entendendo-se os

mecanismos que propiciaram falhas nos componentes, têm-se mais subsídios para a

criação de medidas que aumentem a confiabilidade da planta de processo

(FRENCH, 1993), (TELLES, 2003).

A massificação da utilização desses equipamentos juntamente com a falta de

materiais testados de forma confiável, como conexões e válvulas de segurança

adequadas, culminaram em acidentes envolvendo caldeiras com frequência

assustadora. De meados do século XIX para o século XX esses eventos resultaram

anualmente em 50.000 mortes e 2.000.000 de feridos. Como resposta a isso, em

1915 surge o código ASME Seção I “Regras para construção de caldeiras”, sendo o

primeiro código internacional (NBBI, 2009).

1.1 Contexto do Tema

No dia 10 de janeiro de 2012 realizou-se parada operacional em uma das

caldeiras de unidade petroquímica, com capacidade instalada de 180 toneladas/hora

de geração de vapor, das 670 toneladas/hora de geração de vapor disponíveis na

refinaria, para realização de trabalhos de interligações nos coletores de vapor

superaquecido (aproximadamente 450 ºC e 88 kgf/cm2) e água de alimentação

(aproximadamente 250 ºC e 120kgf/cm2) da respectiva caldeira.

Decidiu-se pela realização de inspeção interna extraordinária por oportunidade,

ou seja, inspeção não programada. Durante a inspeção foram identificados cerca de

25% dos tubos (tubos suspensos) com sinais de superaquecimento e deformações,

sendo que aproximadamente 25% dos tubos identificados encontravam-se rompidos

e com sinal de derramamento de um produto branco desconhecido.

Por tratar-se de uma caldeira relativamente nova (em operação desde 22 de

abril de 2009), com projeto diferenciado das demais existentes na planta de

processo, não há registro de falha similar. Entre as novidades desse projeto,

destaca-se o componente degradado em questão (tubos suspensos) que agrega

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13

funções de troca térmica e estruturais, como condução de vapor saturado e

sustentação das harpas do superaquecedor/economizador, características

comumente não observadas em caldeiras convencionais.

1.2 Caracterização do Problema

A partir da constatação da falha realizou-se a substituição dos trechos

comprometidos e os testes necessários de forma a reconstituir as condições

operacionais ao equipamento. Durante esse processo de remoção pode-se observar

que os tubos continham depósitos em seu interior. Porém, tratava-se de manutenção

corretiva com intuito de retornar com o equipamento a operação e com isso manter a

produção da planta operacional.

Dessa forma, para garantia da segurança e da continuidade operacional a

médio e longo prazo, a busca pelos mecanismos que levaram a essa deposição e

falha dos tubos, assim como a mitigação dos mesmos mostrava-se de suma

importância.

1.3 Objetivo Geral

Neste trabalho realizar-se-á análise de falha dos tubos de uma caldeira na

região de superaquecimento (tubos suspensos) com o intuito de estudar e buscar

identificar os mecanismos de degradação funcional do componente do sistema de

circulação de vapor. Para tal será utilizado o conceito de análise de falhas, aplicando

um ou mais métodos de resolução.

Também será abordada uma forma corretiva para retornar com o equipamento

a sua condição operacional de forma rápida e segura.

1.4 Justificativa

Conforme descrito anteriormente, a degradação dos tubos suspensos foi

detectada através de uma inspeção por oportunidade ocasionada por uma demanda

operacional. Neste contexto levantou-se um alerta, pois a caldeira operava em

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14

condições normais de geração de vapor, mesmo com vários tubos rompidos, sem

sinais que evidenciassem alguma anormalidade operacional.

Caso não tivesse ocorrido esta parada operacional e a ocasional inspeção, os

demais tubos que foram encontrados com sinais de superaquecimento e

deformações possivelmente teriam a mesma degradação dos anteriores podendo

chegar a romper-se também. Por se tratar de componentes com função, também, de

sustentação, a falha de vários tubos poderia resultar em uma ruptura catastrófica do

conjunto de tubos, com consequente queda das harpas dos superaquecedores e

economizadores de tal forma que comprometeria a caldeira com perdas inestimáveis

de segurança para as pessoas, instalações e ao meio ambiente. Por este mesmo

motivo surgiram os códigos consagrados de projeto, como o ASME (NBBI, 2009).

Com este potencial risco, mostrou-se de suma importância o conhecimento dos

mecanismos de deterioração que ocasionaram o rompimento dos tubos suspensos

sem que houvesse sinais de anomalias, como perdas de rendimento, alteração de

pressão e/ou temperatura. Não obstante, trata-se de equipamento de grande porte e

com uma área de alcance extensa em caso de acidentes, conforme se pode

constatar na Figura 1.

Figura 1 – Visão geral da caldeira em que houve a f alha dos tubos suspensos. Jan/2010 Fonte: Os autores 1

1 Considerar como fonte “Os autores” nos demais casos (quadros, tabelas, figuras, etc.) onde não houver referência.

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15

1.5 Etapas do Trabalho

Inicialmente realizou-se estudo para definir uma forma segura de proceder com

a manutenção corretiva do sistema, retornando com condição operacional.

Num segundo momento buscou-se na literatura as técnicas mais consagradas

para análise de falha em tubo condutor de vapor de caldeira, no contexto de uma

planta de processo.

A partir dos conceitos estudados, aplicou-se primeiramente a técnica dos 5

Porquês, que serviu como base dos estudos e remeteu a uma ferramenta mais

robusta, no caso a Análise da Causa Raiz, conjuntamente com a categorização das

causas fundamentais.

Com isso, necessitou-se da realização de diversos ensaios destrutivos e não

destrutivos das amostras retiradas, análises de dados operacionais e verificações de

várias indicações que as referidas técnicas iam apontando com sua aplicação.

Os resultados obtidos foram compilados e analisados e as indicações foram

verificadas para que se obtivesse a causa mais provável e pudesse-se atuar sobre a

mesma.

1.6 Conteúdo

Para apresentação, esse trabalho foi estruturado em seis capítulos e três

apêndices, cujos teores são descritos a seguir.

No capitulo inicial é feita uma introdução a análise de falha proposta e sua

importância para o equipamento e a planta de processo que o mesmo esta inserido,

além de mostrar os objetivos e as justificativas para realização dessa investigação.

No segundo capítulo é feita uma abordagem correlacionando a teoria prévia

necessária, enfatizando, inicialmente, o equipamento estudado e, posteriormente os

principais métodos de análise de falhas. No mesmo capítulo é feita uma breve

abordagem sobre ensaios.

O capítulo seguinte, 3, demonstra os procedimentos metodológicos

selecionados.

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16

No capítulo 4, estão demonstrados os resultados obtidos utilizando as técnicas

propostas e a discussão dos mesmos.

O capítulo 5 aborda as conclusões obtidas no presente trabalho

No último capítulo têm-se as considerações sobre trabalhos futuros.

No Apêndice A discorre-se sobre a técnica do ensaio visual.

Complementarmente, no Apêndice B o planejamento do exame visual e o Apêndice

C trata da análise da composição química por fluorescência de raios-X.

Ao final, encontram-se as referências consultadas na literatura, citadas no

texto, precedidas dos dados coletados e os resultados dos ensaios.

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17

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Gerador de vapor

Conforme registros, a primeira aplicação de vapor para geração de energia

mecânica (movimento) data de 200 a.C., denominada Eolipila de Heros (The

Babcock & Wilcox 1992).

Apesar da evolução tecnológica o principio de funcionamento de uma caldeira

continua o mesmo. A utilização de energia química liberada durante um processo de

combustão provê a mudança de fase da água de liquido para vapor, conforme

Figura 2.

Figura 2 – Queima de combustível e aquecimento de á gua (geração de vapor) Fonte: Lora & Nascimento (2004)

Nos dias atuais, os principais subsistemas que compõe um gerador de vapor

podem ser visualizados na Figura 3 e descritos abaixo:

a. Câmara de combustão ou fornalha (combustion chamber): Câmara ou

recinto destinado para queima do combustível;

b. Superaquecedor (superheater): Equipamento ou componente destinado

a absorver energia térmica com o objetivo de aumentar a temperatura do

vapor acima de seu ponto de saturação

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18

c. Feixe tubular de convecção (boiler convection bank): Grupo de tubos

formando parte de um sistema de circulação de água da caldeira, no

qual a energia térmica dos gases de combustão é transmitida

preponderantemente por convecção. Também conhecido como banco

de convecção;

d. Tubulão de vapor (steam drum): Tubulão/tambor localizado na

extremidade superior de um sistema de circulação de caldeira, na qual o

vapor gerado é separado da água;

e. Tubulão inferior (lower drum): Tubulão/tambor localizado na extremidade

inferior de um feixe tubular de convecção em uma caldeira aquotubular,

onde normalmente é feita a purga intermitente;

f. Economizador (economizer): Equipamento para recuperação de energia

térmica, projetado para transferir energia térmica dos produtos de

combustão exaustos da seção de vaporização da caldeira (boiler bank)

para a água de alimentação da caldeira;

g. Preaquecedor de ar (air preheater): Dispositivo que transfere energia

térmica de um meio de alta temperatura, tal como um gás quente ou

vapor, para uma corrente de ar de combustão.

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Figura 3 – Disposição esquemática dos componentes p rincipais de uma caldeira aquotubular.

Fonte: Adaptado Eletrobrás (2005)

Compõe o circuito isolado água-vapor tubos da fornalha, superaquecedor, feixe

tubular de convecção, tubulões e economizador, cuja função é o aquecimento da

água, geração e superaquecimento de vapor.

Outro sistema isolado é o de ar-gás de combustão formado por preaquecedor

de ar, câmara de combustão, câmara de convecção e saída dos gases, sendo que o

ar preaquecido é usado na combustão do combustível, gerando os gases que

aquecem os subsistemas que compõe o circuito de água-vapor e depois são

eliminados.

Nesse contexto, componentes como os “tubos suspensos” tem a função de

criar a interface para troca térmica entre os gases de combustão e o fluido a ser

aquecido, nesse caso o vapor saturado.

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2.1.1 Materiais empregados nas caldeiras

O emprego do material adequado a cada uma das partes de uma caldeira é

uma das prioridades no projeto desses equipamentos. Para tal, alguns fatores têm

de ser levados em consideração:

a. Resistência mecânica do material;

b. Serviço;

c. Métodos de fabricação;

d. Disponibilidade dos materiais;

e. Custos;

f. Experiência prévia de emprego do material;

g. Tempo de vida previsto;

h. Variações toleradas de forma ou de dimensões;

i. Segurança.

Neste caso, a experiência do projetista e/ou do usuário do equipamento é de

suma importância para atribuir maior ou menor valor a cada um dos fatores citados,

de tal forma que para cada componente do equipamento faça-se a melhor seleção e

aplicação de material.

Os materiais metálicos são os mais empregados em equipamento de processo,

sendo que o aço carbono corresponde a mais de 90% de toda a produção mundial

desses materiais. Características como fácil obtenção, boa soldabilidade e o menor

custo em relação a sua resistência mecânica, contribuem para que esse metal

componha 95% em peso no total de equipamentos e tubulações em uma refinaria de

petróleo típica (TELLES, 2003).

Em menor escala e para aplicações especificas utilizam-se os aços-liga e os

aços inoxidáveis. Esses metais são essenciais quando se trabalha com

temperaturas elevadas (acima de 350º C) e/ou em atmosferas com produtos

corrosivos. No caso específico do componente que falhou, tem-se um exemplo de

aplicação do aço-liga tal qual demonstrado no Quadro 1.

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Quadro 1 – Dados técnicos do tubo. Material: ASTM A-213 T22;

Diâmetro externo: 33,7 mm

Espessura de parede: 4,38 mm

Pressão de projeto: 11,3 MPa (115 kgf/cm2)

Temperatura de projeto: 374°C;

Temperatura de operação: 324°C;

A seguir, a Tabela 1 apresenta a composição química do material conforme norma ASTM

A213/A213M (Standard Specification for Seamless Ferritic and Austenitic Alloy-Steel

Boiler, Superheater, and Heat-Exchanger Tubes).

Tabela 1 – Composição química conforme ASTM

Material / (%) Carbono Manganês Fósforo Enxofre Silício Cromo Molibdênio

A213 T22 0,05 – 0,15 0,30 – 0,60 0,025* 0,025* 0,50* 1,90 – 2,60 0,87 – 1,13

* Valores máximos

2.1.2 Mecanismos de degradação em caldeiras

O estudo das falhas em um gerador de vapor é interessante tanto para o

projetista quanto para o engenheiro responsável pela manutenção. Para o

engenheiro de manutenção o conhecimento apurado dos mecanismos de dano a

que uma caldeira está sujeita é primordial para nortear o programa de manutenção,

reduzindo a probabilidade de ocorrência de paradas não programadas ou acidentes

com estes equipamentos.

Os principais mecanismos de danos que podem afetar uma caldeira podem ser

agrupados em:

a) Degradação térmica;

b) Perda de material por oxidação, corrosão ou erosão;

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c) Falhas em uniões de partes pressurizadas ou em acessórios;

d) Fadiga.

Como uma caldeira é composta de vários subsistemas que operam em

condições diferenciadas, constituídos por ligas metálicas com características

próprias e construídos por variados processos de fabricação, essa gama de

variáveis deve ser devidamente conhecida e levada em consideração na análise de

cada mecanismo de dano (FRENCH, 1993), (NALCO CHEMICAL COMPANY,

1991).

2.1.3 GV-5603 - O gerador de vapor em questão

Com intuito de caracterizar o equipamento e as regiões de interesse, nesse

tópico demonstrar-se-ão os principais conceitos de projeto e montagem do gerador

de vapor GV-5603.

No Quadro 2 pode-se observar os principais dados técnicos referentes ao

projeto do equipamento.

Quadro 2 – Dados técnicos da caldeira. Tipo de caldeira: Aquotubular

Capacidade de geração de vapor: 180 ton/h

Combustível: Gás de refinaria e gás natural

Pressão de projeto: 115 kgf/cm2

Pressão de operação no tubulão: 95 kgf/cm2

Temperatura do vapor superaquecido: 485°C

Data de partida: 22/04/2009

Como se pode observar trata-se de uma caldeira com grande capacidade de

produção de vapor e por isso um equipamento de grande porte, conforme visto na

Figura 1 anteriormente.

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Para um melhor entendimento da região de interesse usar-se-ão alguns

registros fotográficos da montagem do referido equipamento. Nas Figuras 4 e 5, tem-

se a visão da região de convecção quando da sua montagem, de tal forma que se

podem visualizar os tubos suspensos, as harpas dos superaquecedores,

sustentadas pelos primeiros, e as parede d’água que fazem o fechamento daquela

região.

Figura 4 – Visão da região de convecção, onde estão os tubos suspensos .

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Figura 5 – Detalhe da região de convecção, onde est ão os tubos suspensos .

Nas Figuras 6 e 7 pode-se notar como é feita a montagem dos tubos

suspensos e como os mesmos são utilizados para sustentar as harpas dos

superaquecedores.

Figura 6 – Detalhe de montagem dos tubos suspensos e das harpas.

Superaquecedores

Tubos suspensos

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Figura 7 – Detalhe de montagem dos tubos suspensos , ganchos de suportação.

2.2 Análise de falhas

Trata-se de um processo crítico para determinar as causas físicas básicas de

problemas. O processo é complexo, pois se baseia em diversas áreas técnicas e usa

uma variedade de recursos, como observação, inspeção e ensaios.

Torna-se necessário, em certas circunstâncias, para integrar a análise da

evidência com a análise quantitativa dos esforços envolvidos, informações básicas

sobre o projeto, fabricação, história e serviço do produto defeituoso ou sistema (ASM

HANDBOOK 11, 2008).

Apesar do aspecto danoso pela perda de função, as falhas também podem

levar a melhores práticas de engenharia. Os fracassos dos navios Liberty durante a

Segunda Guerra Mundial foram estudados extensivamente em décadas posteriores,

e como resultado desses esforços obteve-se a compreensão mais profunda do

fenômeno da fratura frágil, culminando em parte, com o desenvolvimento na

engenharia da disciplina de mecânica da fratura (WULPI, 1999).

Quando um problema ocorre, a empresa responsável deverá analisá-lo para

determinar a causa e resolvê-lo. No entanto, devido a várias pressões comerciais

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e/ou culturais, algumas organizações caem nas seguintes armadilhas quando

surgem problemas (ASM HANDBOOK 11, 2008):

a) Solucionar problemas de forma aleatória, ou seja, tentativa e erro;

b) Perseguição de pistas falsas, não identificando a causa raiz, mas sim as

consequências.

2.2.1 Metodologia

Uma ampla gama de métodos de resolução de problemas e modelos está

disponível na literatura, que apresenta os detalhes dos métodos e processos para

resolver as mais variadas dificuldades sobre falhas encontradas na indústria. Todos

esses métodos e modelos estão embasados no método científico (WILSON, 1993),

como se segue brevemente abaixo:

a) Definir a questão;

b) Propor uma hipótese;

c) Coletar dados;

d) Testar a hipótese;

e) Desenvolver conclusões.

O ASM HANDBOOK 11, 2008, propõe um modelo conciso de resolução de

problemas, adaptado de vários autores consagrados, e que tem aplicabilidade

específica para a análise da falha de fato. Este modelo pode ser entendido com

base na Figura 8.

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Figura 8 – Modelo de resolução de problemas. Fonte: Adaptado de ASM HANDBOOK 11, 2008.

O formato cíclico do gráfico indica que o processo se realimenta com a

identificação de um novo problema ou problemas trazidos à luz como resultado de

uma primeira solução. Note-se a semelhança com o método clássico científico

resumido anteriormente.

As principais etapas no modelo de definir o processo de resolução de

problemas podem ser detalhadas da seguinte forma:

a) Identificar: descrever a situação atual. Definir a falha em termos de

dados e realizar experimentos para determinar qualitativamente e/ou

quantitativamente as evidências;

b) Determinar a causa raiz: analisar o problema para identificar a(s)

causa(s);

c) Desenvolver ações corretivas: lista de possíveis soluções para mitigar

e prevenir a recorrência do problema. Gerar alternativas. Desenvolver

um plano de implementação;

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d) Validar e verificar as ações corretivas: ações corretivas devem ser

aplicadas como teste em estudo piloto. Medir a eficácia da mudança e

validar as melhorias. Verificar se o problema foi corrigido e melhorar a

satisfação do cliente;

e) Padronizar: Incorporar a ação corretiva no sistema de documentação e

normas da empresa, organização ou indústria para evitar a recorrência

em sistemas semelhantes. Monitorar as mudanças para garantir a

eficácia.

2.2.2 Definição de falha

No sentido geral da palavra, uma falha é definida como um evento indesejável.

Para fins de discussão relacionada com a análise de falhas e prevenção de

acidentes, a falha é um termo geral usado para indicar que um componente está

incapaz de realizar adequadamente a função pretendida.

O segundo nível de falha envolve um sistema ou componente que executa sua

função, mas não é confiável ou é inseguro. Neste tipo de falha, o sistema ou

componente está submetido a uma perda de vida útil. Por exemplo, um cabo de aço

de elevador ao perder a sua vida de serviço, quando submetido a fraturas em alguns

dos fios individuais, devido a irregularidades no enrolamento sobre a roldana.

Mesmo que o cabo continue a funcionar, a presença de fraturas em alguns dos fios

resulta em uma condição insegura e por isso é considerado um fracasso. (ASM

HANDBOOK 10, 2008).

No nível final de gravidade de falha, um sistema ou um componente é

inoperante, tal como uma fratura do eixo de uma bomba que faz com que não seja

transmitida a energia do acionador (motor elétrico ou turbina a vapor, por exemplo)

ao impelidor, originando a perda de capacidade de transporte do fluido devido à

fratura (ASM HANDBOOK 10, 2008).

No presente trabalho o componente objeto de estudo se enquadra no segundo

nível de falha, pois os tubos estavam rompidos, porém o sistema no qual os mesmos

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estão inseridos, caldeira aquotubular2 com capacidade de geração de 180 toneladas

de vapor por hora à 485º C e pressões da ordem de 88 kgf/cm2, funcionava sem

indícios aparentes de falha. Os componentes degradados foram evidenciados em

parada por oportunidade do equipamento, o que gerou surpresa à equipe que

acompanha a integridade do equipamento.

2.2.3 Análise de causa raiz (ACR)

Os princípios da ACR podem ser aplicados para garantir que a causa seja

compreendida e ações corretivas apropriadas possam ser identificadas. Um exemplo

de ACR pode ser simplesmente um exercício mental momentâneo ou uma extensa

análise, ambos com a intenção de identificar a causa fundamental que se corrigida

irá evitar a recorrência.

Para facilitar a análise, Wulpi (1999) sugere a divisão destas fontes em três

níveis de análise de causa raiz, que são:

a) Raízes físicas ou as raízes de problemas com o equipamento. Tratam

das causas comumente abordadas em análises e onde normalmente o

estudo finaliza. Estas raízes podem ser os resultados que vem a partir

de uma investigação laboratorial ou análise de engenharia.

b) Raízes humanas, isto é, ligadas às pessoas, envolvem fatores humanos

que causaram o fracasso, a exemplo de um erro humano em julgamento

ou interpretação de um resultado de uma metalografia ou outro ensaio

que demande de análise.

c) Raízes latentes, que estão ligadas às questões organizacionais ou

processos, assim como raízes ambientais ou outras que estão fora da

esfera de controle.

Estes três níveis ou causas são melhores definidos pelo Quadro 3.

2 Caldeiras aquotubulares a vapor: caldeiras em cujos tubos circulam água ou vapor, com a energia térmica produzida por combustão, sendo aplicada na superfície externa dos tubos, segundo a NBR 11096 (ASSOCIAÇÃO..., 2000).

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Quadro 3 – Exemplo de análise de ACR de um vaso de pressão. TIPO DE RAÍZ DESCRIÇÃO

Física Perda de espessura por corrosão.

Humana Realização inadequada da inspeção.

Latente Treinamento inadequado do inspetor.

Fonte: Adaptado de ASM HANDBOOK 11, 2008.

Sistemas de categorização para as causas de falhas de equipamentos variam

entre os profissionais de análise de falha, equipe de qualidade, outros engenheiros e

gerentes, bem como profissionais da área jurídica e de seguros (ASPERGER, 2000).

Agrupar as causas físicas em apenas algumas categorias fundamentais é

vantajoso, pois define qual o aspecto requer uma ação corretiva e estratégias de

prevenção. A análise sistemática de falha em um equipamento revela as causas

físicas que se enquadram em uma das quatro categorias fundamentais (HOSSAIN &

SCUTTI, 1999):

a) Deficiências de projeto;

b) Defeitos de material;

c) Defeitos de fabricação e/ou instalação;

d) Anomalias durante a operação.

Uma representação gráfica eficaz do impacto dos defeitos sobre a vida de um

componente ou sistema de serviço é fornecido na Figura 9 (HOSSAIN & SCUTTI,

2000). O diagrama é construído traçando a vida útil dos componentes tendo

características específicas no projeto, relacionando-as com a gravidade de uma

condição de serviço específico que é prevista para a aplicação.

As características típicas incluem resistência mecânica, resistência à corrosão,

condições de tratamento térmico, o acabamento da superfície, o raio de curvatura,

vazios (como falhas de fundição), entre outros. Exemplos de condições de serviço

incluem a magnitude de tensões (cíclicas ou estáticas), temperatura de exposição,

agressividade do meio, e assim por diante.

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Figura 9 – Gráfico comparando a gravidade de uma co ndição de serviço com a vida útil de produtos com uma característica variável.

Fonte: Adaptado de HOSSAIN & SCUTTI, 2000.

Por meio da variação das características, uma família de curvas é gerada,

contrastando a vida dos componentes, com várias características e condições de

serviços com a vida útil prevista.

Cada uma das curvas representa uma diferente concepção de

projeto/fabricação, com graus crescentes de durabilidade para as curvas que se

deslocam para cima.

As falhas podem ser evitadas quando a curva para um determinado projeto se

encontra acima da gravidade da linha de serviço e, para a esquerda da linha da vida

de serviço pretendido. No entanto, se a gravidade das condições de serviço

aumenta (degradação não prevista em projeto ou alteração nos parâmetros

operacionais ou como resultado de alguma outra mudança no sistema), a propensão

para a falha pode ser maior, uma vez que as curvas características podem cruzar a

gravidade da linha de condição de serviço.

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2.2.4 Deficiências de projeto

Referem-se a recursos inaceitáveis de um componente ou equipamento, que

são resultados da etapa de projeto. Esta etapa (ou processo) compreende o

desenvolvimento do conceito original, a definição da configuração geral e, o projeto

detalhado, incluindo a seleção e especificação de materiais e processos de

fabricação.

O projeto envolve a identificação e definição de uma necessidade para o

componente ou equipamento, seguido por definições dos requisitos de desempenho,

conhecimento prévio das condições de serviços, as restrições do projeto, bem como

os riscos associados com falhas.

Alguns exemplos de deficiências de concepção (ou projetos “pobres”) incluem

concentradores de tensões que poderiam ser evitados (KRASHES & SCUTTI, 1996),

como por exemplo, raios insuficientes em regiões de transição de seções (eixos).

Outro fator trata de tensões residuais oriundas de processos de fabricação/

tratamentos térmicos inadequados e/ou condições de operação não previstas,

ambos atrelados à interação com o calor, geometrias complexas, ou montagem de

estruturas excessivamente rígidas (sem graus de liberdade para acomodar

dilatações, por exemplo).

A seleção de um material que é incapaz de proporcionar propriedades

mecânicas adequadas para a aplicação (incluindo resistência mecânica, resistência

à fadiga, resistência à ruptura, resistência à corrosão, resistência a temperaturas

elevadas, etc.) também é um tipo de deficiência de projeto.

Os materiais podem apresentar anisotropia nas propriedades ou a

heterogeneidade dentro de um produto, tal como a espessura variada em regiões

finas de uma peça fundida ou entre as propriedades longitudinais e transversais em

um material forjado.

Falhas provocadas por projetos incluem geometrias inapropriadas (tal como

definido no desenho de engenharia), que podem levar a um comprometimento na

função do componente ou equipamento. Como exemplos, pode-se citar

especificação incorreta de juntas para soldagem, com um chanfro delgado ou

inexistente ou alívio de tensões (ASM HANDBOOK 10, 2008).

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Outras falhas provocadas por geometrias indevidas, ou que deveriam ser

evitadas, podem resultar de insuficiente seção transversal de uma peça fundida ou

uma configuração de fabricação com extremidades excessivamente finas (afiadas),

originando altas tensões residuais que causam uma redução na resistência de vida

em fadiga.

2.2.5 Defeitos de material

Imperfeições ou descontinuidades inaceitáveis em materiais são defeitos e,

alguns tipos de imperfeições podem ser geralmente prejudiciais para o desempenho

ou a aparência de um componente ou equipamento. Alguns dos tipos clássicos de

descontinuidades em materiais que foram identificados como “fator causal” em

falhas são mostrados no Quadro 4.

Quadro 4 – Defeitos típicos encontrados em processo s de fabricação. PROCESSO DE FABRICAÇÃO TIPO DE DESCONTINUIDADE

Forjamento

Dobra (sobreposição)

Fenda

Lascamento

Segregação

Cavidades geradas por contração

Deformações

Inclusões

Fundição

Porosidades

Cavidades geradas por contração

Segregação

Juntas frias

Inclusões

Fonte: Adaptado de ASM HANDBOOK 11, 2008.

Estes defeitos no material podem ser geralmente descritos como

descontinuidades que degradam o desempenho do produto. Apesar das medidas

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tomadas para controlar, documentar, medir, analisar e melhorar os processos

envolvidos na fabricação do componente ou equipamento, defeitos irão ocorrer.

Produtos muito defeituosos são descartados na própria fábrica, fundição, ou forjaria

através dos controles internos da empresa e sistemas de garantia de qualidade.

No entanto, materiais defeituosos são por vezes entregues. Dependendo da

criticidade do componente, pode ser necessária inspeção periódica para identificar

defeitos não identificados anteriormente.

2.2.6 Defeitos de fabricação e/ou instalação

A fabricação refere-se ao processo de transformação de um produto a partir da

documentação técnica e as matérias-primas. A instalação pode ser considerada de

fabricação ou de campo (no local). Os produtos podem ser projetados

adequadamente com os devidos materiais, no entanto, estar com problemas de

fabricação, devido a imperfeições rejeitáveis (isto é, defeitos), introduzidos durante o

processo de fabricação ou devido a erros na instalação de um sistema. Uma ampla

variedade de defeitos causados durante a fabricação ou instalação pode existir, pois

cada processo de fabricação/instalação tem muitas variáveis de controle e, quando

excedem os limites, podem resultar em um produto defeituoso (SMITH, 1998).

Alguns exemplos de defeitos de fabricação/instalação estão listados abaixo

(BAGGERLY, 2000):

a) Em processos de remoção de metal: trincas devido à remoção de

camadas excessivas, danos microestruturais devido à ferramenta sem

fio, falta de fluído refrigerante (tensões residuais e/ou trincas devido ao

superaquecimento);

b) Processos de conformação: rachaduras ou rasgos devido a geometrias

profundas, dobras (dupla laminação), marcas das ferramentas de

conformação, carepas na superfície devido à má preparação da

superfície, tensões residuais deixadas pelo processo, bandas de Lüders

devido à taxa de deformação:

c) Tratamento térmico: crescimento de grãos, transformações

metalúrgicas incompletas, trincas oriundas do processo (resfriamento

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durante têmpera, por exemplo), descarbonetação, precipitação

inadequada, heterogeneidades;

d) Soldagem: falta de fusão, região frágil (zona afetada pelo calor - ZAC),

tensão residual pelo aporte térmico, inclusões de escória, mordeduras,

trincas frias, contaminação da poça de fusão pela má preparação da

superfície;

e) Limpeza / Acabamento: corrosão devido à limpeza inadequada antes da

pintura; ataque intergranular ou fragilização por hidrogênio devido à

limpeza ácida, corrosão sob tensão pela utilização de solução cáustica;

f) Montagem na fábrica / instalação: desalinhamento, falta de peças,

peças erradas, sistema de fixação inadequado, torque incorreto,

ferramentas inadequadas, modificação inapropriada, preparação da

superfície inadequada.

2.2.7 Anomalias durante a operação

A vida de um componente ou sistema é fortemente dependente das condições

sob as quais o produto opera em serviço.

A vida de um produto de serviço inclui a sua operação, manutenção, inspeção,

reparo e modificação. Falhas devido a anomalias em qualquer um desses aspectos

da vida de serviço são exclusivos daqueles criados durante o projeto, aquisição de

materiais e, na fabricação de produtos, tal como descrito acima. Exemplos de tipos

de causas de falhas que resultem de condições de serviços não previstos (HOSSAIN

& SCUTTI, 2000) estão resumidos a seguir.

a) Operação do equipamento fora dos parâmetros de projeto do fabricante.

b) A exposição do produto ou sistema aos ambientes mais agressivos do

que os previstos em projetos, como exemplos:

1) Corrosão microbiológica influenciada em um sistema de água de

refrigeração com água de rio em que o ecossistema mudou suas

características;

2) Contendo cloretos orgânicos não previstos em produtos

constituídos por titânio, resultando em corrosão sob tensão;

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c) Manutenção inadequada, tal como:

Reparação de solda de um material que é sensível a ciclos de calor

elevado, causando trincas e fadiga térmica;

1) Desalinhamento de um rolamento durante a substituição,

causando cargas de flexão sobre o eixo e resultando em falha por

fadiga de flexão;

d) Modificações inadequadas, como:

1) Inserção de concentradores de tensões;

2.2.8 Métodos de aplicação da ACR

Existem muitas ferramentas para auxiliar na realização ACR. A representação

visual de uma ACR é mais facilmente entendida que uma descrição narrativa longa.

Muitos métodos gráficos têm sido desenvolvidos para facilitar a organização

lógica da informação como uma ajuda na realização da análise.

Os tópicos a seguir abordam uma descrição breve e um tanto simplificada de

vários métodos gráficos comuns que poderão ser úteis na realização de um ACR.

a) Análise de árvore de falhas:

Trata-se de uma análise dedutiva que identifica um evento de topo, nesse

caso, uma falha, e, em seguida, avalia todas as maneiras prováveis em que este

evento poderia ter ocorrido, identificando as inter-relações de acontecimentos ou

condições básicas que levam ao fracasso. A árvore é organizada, identificando

todas as cadeias de eventos que levam ao evento principal e conectando-os com um

símbolo que retrate a relação lógica. A Figura 10 mostra uma árvore de falhas

simplificada.

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Figura 10 – Exemplo de árvore de falhas. Fonte: Adaptado de ASM HANDBOOK 11, 2008.

b) A análise do evento e seus respectivos fatores causais:

Ferramenta muito flexível, que é muito útil para a realização de uma análise

lógica da sequência cronológica dos eventos e fatores causais. A construção

começa com um cronograma básico com a adição de condições relacionadas,

eventos secundários, e presunções. Para construir o gráfico, colocam-se os eventos

em retângulos e em seguida conectam-se em sequência da esquerda para a direita

usando as setas. O evento terminal deve ser listado no final do lado direito dentro de

um círculo. Em elipses, listam-se fatores causais e fatores contribuintes, mostrando

a relação entre os eventos com setas tracejadas. Também podem ser adicionados

ao gráfico os mecanismos de segurança para identificar as barreiras que falharam,

permitindo a ocorrência do evento. A barreira pode assumir muitas formas, incluindo

uma barreira física, como uma porta de armário ou uma barreira processual que não

foi devidamente implementada. O objetivo da análise é identificar as principais falhas

de equipamentos, falhas de processo ou erros humanos que permitiram que o

evento indesejado ocorresse. Uma vez que o problema é modelado, os fatores

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causais são identificados, conforme exemplificado na Figura 11. Estes são

identificados como os fatores que se eliminados, teriam impedido a ocorrência ou

diminuído a gravidade da perda evento (WILSON, 1993).

Figura 11 – Exemplo de evento e fator causal. Fonte: Adaptado de WILSON, 1993.

c) Análise de causa e efeito:

Análise de causa e efeito ou diagrama de Ishikawa, em homenagem ao seu

idealizador, é uma maneira de se relacionar causas para uma falha na tentativa de

encontrar a causa raiz. As causas podem ser problemas de projeto, desempenho

humano, má fabricação e assim por diante. A análise da causa e efeito simples pode

tomar a forma de um diagrama de espinha de peixe, Figura 12, que pode ser

construído como segue (ANDERSON & FAGERHAUG, 2000):

a. Claramente descrever a insuficiência do lado direito do diagrama.

b. Identificar as principais categorias de causa como ramos

convergentes sobre o fracasso.

c. Brainstorm para listar todas as causas em cada ramo.

d. Analisar os dados até que a causa raiz seja identificada.

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Figura 12 – Exemplo do diagrama de Ishikawa. Fonte: Adaptado de ANDERSON & FAGERHAUG, 2000.

d) Cinco porquês

É uma técnica simples que se destina a levar o usuário a níveis mais profundos

de identificação da causa. O objetivo geral é perguntar "por que" depois de cada

causa que foi identificada até chegar a verdadeira causa raiz. Comumente a análise

se encerra em aproximadamente cinco "porquês" para atingir o nível desejado de

causa raiz (ANDERSON & FAGERHAUG, 2000). O exemplo a seguir demonstra

este conceito simples.

Evento �Falha de ponte de estrada:

a. Por quê?-Danos de corrosão em aço estrutural;

b. Por quê?- Acúmulo de água;

c. Por quê?- Entupimento de tubos de drenagem por detritos

d. Por quê?- Falta de manutenção para realização de limpeza

e. Por quê?- Redução dos investimentos com manutenção (causa

raiz).

e) Outras ferramentas de análise de falhas

Existem muitas outras ferramentas que devem ser considerados na realização

de uma análise de falhas. Além da ACR propriamente dita, existem técnicas

disponíveis para o analista, tais como:

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1) Fontes de entrada

Os dados físicos, tais como peças falhadas, as amostras de influências

ambientais, fotografias, registros de coleta de dados (pressão, temperatura,

velocidade, etc.), e os dados de base são uma parte importante do processo de

investigação.

Alguns dos elementos-chave a uma análise incluem:

a) Evidência física: Peças quebradas, amostras, componentes que

apresentaram problemas, posições, configurações e assim por diante.

b) A preservação oportuna, coleta e registro de evidências físicas são

essenciais para qualquer investigação de falha eficaz. A preservação de

dados é feito por restrição do acesso a um local de falha, conservação

de configurações e posições, tendo um registro fotográfico da situação

encontrada, fazendo esboços, a gravação de variáveis de processo

(pressão, temperatura, posição, etc.), a marcação de peças e posições.

c) Dados em segundo plano: os dados de projeto, especificações, dados,

análise e simulação de resultados técnicos e, assim por diante.

d) Pessoas: Testemunhas, operadores, projetistas, pessoal de

manutenção, os participantes, especialistas, entre outros.

2) Ensaios

Depois que os dados pertinentes e as amostras foram coletados, os ensaios

são necessários para avaliar completamente a evidência física e para identificar o

mecanismo de falha. Bons procedimentos começam com uma boa preparação das

amostras coletadas e seu manuseio.

Coletar amostras intactas de componentes semelhantes para comparação

com o danificado, desenhar diagramas para indicar a posição das partes e, coletar

amostras locais, também auxilia na resolução do problema.

Tirar fotos de todos os ângulos relevantes e ter sempre um referencial de

medidas na foto. Adicionar marcações dos níveis de fluidos ou outras posições que

devem ser gravados antes de serem alteradas.

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As superfícies devem estar livres de impressões digitais ou outras fontes de

contaminação, devendo as amostras ser protegidas, por se tratar de itens

particularmente delicados.

Identificar (ou etiquetar) amostras, a fim de indicar quando e por que foi

coletada. Geralmente, é desejável recolher a maior quantidade de amostras, antes

de corte ou ensaios destrutivos, garantindo que possam ser refeitos os ensaios, caso

necessário.

As amostras recebidas podem variar a partir de um componente grande que

requer um guindaste de alta capacidade para movimentação ou para algo que

apenas pode ser vista sob um microscópio. Os processos de coleta, recebimento,

manuseio, etiquetagem e armazenagem adequada da amostra, são essenciais para

assegurar que as amostras não sejam perdidas ou alteradas.

As amostras devem, sempre, ser mantidas em local seguro, seco e, possuir um

registro de armazenamento.

Medidas tomadas após a recepção adequada das amostras podem incluir:

a) Exame inicial;

b) Documentação (fotos);

c) Ensaios não destrutivos;

d) Verificação do material (composição química);

e) Exame das fraturas;

f) Análise Metalográfica;

g) Determinação das propriedades mecânicas (ensaios destrutivos);

h) Análise dos resultados;

i) Elaboração de um relatório.

3) Análise de tensões

A realização de uma análise de tensão é muitas vezes uma parte crítica de

uma análise de falha estrutural. As técnicas são tipicamente usadas para determinar

o estado de tensão, como resultado das cargas externas ou outras fontes de

tensões, tais como transientes térmicos ou acelerações aplicadas.

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As técnicas de análise disponíveis incluem cálculos manuais utilizando teorias

de resistência dos materiais, aproximações derivadas de fontes de referência

conceituadas, fontes testadas empiricamente e métodos e técnicas computacionais,

como o método dos elementos finitos (MEF). O MEF é amplamente usado como

uma ferramenta de projeto e um instrumento de investigação de análise de falhas.

A simulação pode ser aplicada a muitas áreas úteis na análise de falhas,

podendo a aplicação ser individualmente ou em conjunto, como por exemplo: no

cálculo das tensões, na transferência de calor, no fluxo de fluidos e nas

propriedades eletromagnéticas, entre outros.

A análise de elementos finitos é capaz de modelar situações complexas e lidar

com condições transitórias e não lineares que normalmente são demasiadamente

complexas para executar usando cálculos manuais ou outras aproximações

analíticos.

O uso de MEF em análise de falha é diferente da sua utilização na qualidade

de concepção do produto. Em uma análise de falhas especial atenção é direcionada

para o local fracasso. Esta área do modelo pode ter uma malha mais fina para

capturar as concentrações de tensões localizadas ou outros efeitos localizados.

Cargas aplicadas devem incluir cargas reais históricas que estão associadas com o

funcionamento do equipamento, incluindo eventos que não estão associados com

considerações do projeto.

2.3 Ensaios

Os ensaios são destinados a avaliar as variações físicas, químicas, mecânicas

e/ou metalúrgicas de determinados materiais/componentes, podendo ou não

inviabilizar sua utilização posterior. Deste modo os ensaios são comumente divididos

em dois grandes grupos:

a) Ensaios destrutivos (ED);

b) Ensaios não destrutivos (END);

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Como o próprio nome já sugere (item “b” anteriormente citado), alguns ensaios

não afetam ou não alteram significativamente as propriedades do material e/ou

componente, de modo que ele pode ser utilizado novamente.

Dentre os ensaios destrutivos, podemos citar a macrografia, micrografia,

ensaios de dureza, tração, compressão, flexão, entre outros, onde se torna

necessário a utilização de parte do material que não será reaproveitado

posteriormente.

Já os END´s possuem a característica de não comprometer a utilização

posterior do material e/ou componente utilizado. Pode-se citar como exemplos a

inspeção visual, ensaio de dureza, por líquidos penetrantes, réplica metalográfica,

inspeções por ultrassom, entre outros.

Nota-se que o ensaio de dureza aparece tanto na lista dos END´s, quanto nos

ED´s. Isso se deve ao tipo de aplicação que o componente está sujeito. Por

exemplo, em uma peça retificada, a marca de impressão residual de um ensaio de

dureza pode inviabilizar sua utilização em decorrência da necessidade de

acabamento superficial e/ou restrita faixa de tolerância dimensional, caracterizando o

ensaio como destrutivo. Por outro lado, o mesmo ensaio aplicado em uma peça

fundida de grandes dimensões, pode ser considerado como não destrutivo, uma vez

que a impressão deixada pelo ensaio não restringe a utilização do componente.

Em virtude da grande quantidade de ensaios disponíveis nas literaturas, os

ensaios abordados farão jus especificamente aos ensaios que foram adotados na

análise de falhas em questão e na ordem que foram realizados.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Como já citado a análise de falha é um processo crítico que dispões de muitas

ferramentas e técnicas de abordagem, pois podem tratar de qualquer tipo de

problemas causadores das mais diversas formas de anomalias. Não obstante, a

Sociedade Americana para Metais (ASM International) dedicou um volume inteiro

(ASM HANDBOOK 11, 2008) para tratar do assunto, sendo que este, ainda faz

menção a vários outros volumes que abordam de maneira mais minuciosa temas

como soldagem, materiais, ensaios, metalografia, etc.

De tal forma, que com base nessa extensa bibliografia optou-se pela aplicação

conforme se segue: após a constatação das anormalidades nos tubos suspensos e

a ruptura de alguns destes, duas medidas foram tomadas: a) condução de ações

para a manutenção corretiva do equipamento, de forma que se restabelecessem as

condições de operação do mesmo e, b) análise da falha ocorrida para que se

validassem essas ações corretivas e atuasse-se na(s) causa(s) básica(s) que

poderia(m) ser identificada(s).

Nas ações corretivas, além da avaliação visual serão realizadas réplicas

metalográficas para determinação de quais tubos perderam suas propriedades,

norteando os reparos necessários.

Na questão da análise da falha será realizada uma primeira abordagem pelo

método dos 5 Porquês, através da análise visual e caso necessário será realizada a

análise por árvore de falhas, seguida pela: 1) verificação do material, 2)

acompanhamento operacional, 3) verificação de montagem do equipamento a que

este componente está atrelado e, 4) verificação de projeto, nesta ordem

respectivamente e não necessariamente até o último item, até que uma solução

aceitável seja encontrada.

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Serão realizados diversos ensaios, normalizados, tais quais, inspeção visual,

medição de dureza, determinação da composição através da fluorescência de raios -

X3, análise de microestrutura, réplica metalográfica, entre outros métodos aplicados.

Paralelamente, aos serviços corretivos, se iniciará a coleta de informações

pertinentes ao evento ocorrido para subsidiar e dar um melhor direcionamento do

modo com que a análise da falha será conduzida posteriormente. Para tal, realizar-

se-á um estudo preliminar do projeto da caldeira de forma a conhecer melhor o

componente estudado e uma inspeção visual4 prévia no local e, posteriormente, nas

amostras retiradas dos trechos de tubos substituídos.

Os tubos que falharam são conhecidos como tubos suspensos e têm a função

de conduzir o vapor saturado do tubulão aos superaquecedores e, também, suportar

parte do peso dos superaquecedores e economizador. Localizam-se na região dos

superaquecedores (2° passe) e estão dispostos verti calmente, conforme Figura 13.

Todas as falhas ocorrem na região de passagem dos gases de combustão da

fornalha para o 2° passe, na face dos tubos voltada para a fornalha.

3 Ver Apêndice C com as noções pertinentes sobre análise da composição química por fluorescência de raios-X.

4 Ver Apêndices A e B com as noções pertinentes sobre o ensaio visual e a preparação para o ensaio.

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Figura 13 – Fluxograma do GV-5603.

Com base nesta estrutura apresentada, os resultados obtidos seguiram

conforme capítulo 4.

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4 RESULTADOS

Neste capítulo, são apresentadas as análises dos resultados obtidos nos testes

experimentais, verificações e observações realizadas ao longo do trabalho.

4.1 Manutenção corretiva

A manutenção corretiva consistiu em substituir os trechos de tubos com avaria

por tubos novos. Posteriormente realizarem-se ensaios para garantia da qualidade

das soldas de junção e liberou-se o equipamento para retornar a operação.

Na inspeção inicial, que constatou as falhas, observaram-se alguns aspectos

que serão de extrema importância na análise da falha, como visualizado nas Figuras

14, 15 e 16.

Figura 14 – Visão dos tubos suspensos , região mais afastada da fornalha.

Fornalha

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Figura 15 – Visão dos tubos suspensos , região mais próxima à fornalha.

Figura 16 – Visão dos tubos suspensos , regiões de falha.

Primeiramente, o fato mais relevante, o rompimento de vários tubos. Condição

totalmente inesperada e que causou estranheza, tanto pela prematura degradação

de um componente projetado para 20 anos e que até então operara 2 anos e 8

meses, quanto pela quantidade de tubos com sinais de algum tipo de anomalia.

Fornalha

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Não obstante, observou-se um depósito de material esbranquiçado, que

parecia ter escorrido de dentro dos tubos pelos pontos de ruptura (Figura 16). Outro

sinal de alerta e ponto de dúvida, pois por esses tubos deveria fluir tão e somente

vapor saturado a pressão de 88 kgf/cm2.

Além do já citado, outro ponto a destacar é o fato de determinadas regiões de

vários tubos, rompidos ou não, apresentarem manchamentos que iam de um tom

alaranjado ao enegrecido, sendo que esta última coloração era comum em todas as

regiões de ruptura.

Esta foi a primeira etapa de inspeção visual e que juntamente com o ensaio de

réplica metalográfica5, conforme norma ASTM E1351 – 01 (Standard Practice for

Production and Evaluation of Field Metallographic Replicas) serviram de base para a

decisão de quais tubos substituir, com base na integridade ou degradação da

microestrutura original, para garantir a continuidade operacional, conforme Figuras

17, 18, 19, 20 e 21.

Os tubos com coloração diferente do padrão da caldeira, tubos

esbranquiçados, sofreram réplicas metalográficas nas regiões intermediárias aos

manchamentos, e 50 cm em ambas as extremidades para garantir que fora destas

regiões as microestruturas estavam integras.

5 Procedimento, não destrutivo, que registra e preserva o relevo de uma amostra metalográfica em negativo sobre um filme plástico (PETROBRÁS, 2011).

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Figura 17 – Ensaio por réplica metalográfica nos tubos da caldeira.

Figura 18 – Detalhe da região do tubo.

Figura 19 – Região limpa.

Figura 20 – Detalhe da região limpa e isenta de descontinuidades.

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Figura 21 – Microestrutura composta por matriz ferr ítica com carbonetos dispersos e em contorno de grão com início de coalescimento 6 dos carbonetos. Ataque químico: Villela’s.

4.2 Análise de falha

Com a realização das ações corretivas, iniciou-se a análise de falha.

4.2.1 Análise de amostras

Depois de definidos os tubos que seriam substituídos, foram realizados os

cortes de trechos de aproximadamente 3 m, sendo 25 tubos com indícios de danos e

01 tubo sem indício algum.

Na Figura 22 pode-se verificar alguns dos tubos que foram retirados da

caldeira.

6 Esferoidização ou coalescimento – alteração na microestrutura gerado por aquecimento prolongado, a uma temperatura ligeiramente inferior a linha da zona crítica, ou aquecimento e resfriamento logo acima e logo abaixo respectivamente da zona crítica, formando esferoiditas, resultando em baixa dureza (Chiaverini, 1988).

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Figura 22 – Visão dos tubos suspensos , conforme retirados da caldeira.

Com o intuito de avaliar mais detalhadamente esses tubos, principalmente os

que apresentavam deformações, oxidação severa ou ruptura, foi realizado o corte de

trechos representativos e mais fáceis de manusear. Além disso, posteriormente,

algumas amostras foram seccionadas longitudinalmente, conforme Figura 23.

Figura 23 – Amostras de tubos após preparação (cort e).

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A Figura 23 mostra os trechos dos tubos que falharam ou que apresentaram

sinais de superaquecimento. Os tubos numerados de 1 a 6 apresentam formação de

“laranja7”, com redução de espessura e ruptura do tubo no sentido longitudinal,

conforme Figuras 24, 25 e 26. Principalmente na região de ruptura nota-se espessa

camada de óxido externa que se destaca com facilidade (Figura 26) e, grande

acúmulo de depósito interno causando a obstrução parcial e, em alguns casos,

obstrução total do tubo (Figura 27).

Figura 24 – Redução de espessura e

acúmulo de depósito no tubo n° 2.

Figura 25 – Laranja com

destacamento da espessa camada de óxido no tubo n° 6.

Figura 26 – Camada de óxido no

tubo n° 6.

Figura 27 – Depósitos nos tubos n° 1 e 2.

7 Descontinuidade gerada pelo aquecimento excessivo do material, ocasionando perda de resistência mecânica localizada (NALCO CHEMICAL COMPANY, 1991).

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Os trechos de tubos numerados de 7 a 12 não sofreram ruptura, porém

apresentam algum sinal de superaquecimento. Nestes tubos nota-se grande

acúmulo de depósitos (Figuras 28 e 29). Na Figura 29, nota-se que o depósito

apresenta-se estratificado com diferentes colorações, bem compactos e são

relativamente duros.

Figura 28 – Acúmulo de grande quantidade de depósito nos tubos de n° 7 a 12.

Figura 29 – Estratificação do depósito no tubo n° 1 2.

4.2.2 Método dos 5 porquês

Com base nas informações levantadas decidiu-se iniciar pela aplicação da

técnica mais simples de Analise da Causa Raiz. Sendo assim, utilizou-se o método

dos cinco porquês, ficando a análise do evento da seguinte forma:

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Evento �Falha do tubo suspenso, rompimento:

a. Por quê?- Perdeu resistência mecânica;

b. Por quê?- Sofreu sobreaquecimento e corrosão;

c. Por quê?- Teve sua capacidade de troca térmica diminuída,

sofreu com uma corrosão acentuada e inesperada;

d. Por quê?- Acúmulo de depósito em seu interior, falha na

distribuição de vapor.

e. Por quê?-?

Todavia, nota-se que este levantamento prévio não foi suficiente para se

chegar a raiz do problema. Uma vez que as respostas obtidas a partir de dado

momento não eram mais objetivas e começaram a levantar novos questionamentos.

Sendo assim, optou-se por um segundo modelo de análise de falha, mais robusto,

porém com maior complexidade devido ao nível de detalhamento que se pode

chegar. Utilizou-se então da análise por árvore de falhas.

4.3 Método da árvore de falhas

A partir dessa definição de metodologia, buscou-se para cada categoria,

enumerar as maneiras prováveis de ocorrência do evento de topo, suas inter-

relações e a validação das mesmas, como causas possíveis. Consequentemente,

foram sendo excluídas as hipóteses que se mostraram não aceitáveis, quer seja

pelos resultados de ensaios, observações ou cruzamento de informações.

A estrutura básica da árvore de falhas ficou da seguinte forma: 1) verificação

do material, 2) acompanhamento operacional, 3) verificação de montagem do

equipamento a que este componente está atrelado e, 4) verificação de projeto, nesta

ordem respectivamente e não necessariamente até o último item, até que uma

solução aceitável seja encontrada. Deste modo, a análise ficou dividida conforme a

Figura 30.

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Figura 30 – Divisão das causas físicas.

4.3.1 Verificação do material

Para avaliar se o material está conforme ou não, deve-se introduzir o conceito

que será utilizado para designar defeito. Trataremos como defeitos as imperfeições

inaceitáveis ou descontinuidades nos materiais que, de alguma forma, podem

prejudicar o desempenho ou a aparência de um produto ou sistema (ASM

HANDBOOK 11, 2008).

Foram realizadas medições no diâmetro externo e espessura de parede em um

trecho de tubo aparentemente sem danos, para verificar se o dimensional dos tubos

suspensos está de acordo com o projeto. Os valores médios obtidos foram de 33,4 ±

0,1 mm para o diâmetro externo e 5,0 ± 0,1 mm para a espessura, convergindo para

o especificado pelo fabricante.

O tubo de n° 5 foi cortado (Figura 31) visando a re tirada de amostras de

material para posterior análise metalográfica. Esse trecho de tubo contém uma

“laranja” com ruptura na direção longitudinal. Visando ter-se uma ideia da expansão

localizada, sofrida pelo tubo, foi medida a circunferência do tubo no ponto de maior

deformação (linha vermelha). A medida encontrada foi de 116 mm enquanto que a

circunferência de um tubo novo, considerando um diâmetro externo de 33,4 mm, é

de 104,93 mm. Neste caso houve uma expansão aproximada de 10,5%, contudo,

observa-se que a medida da circunferência foi realizada sobre a camada de óxido e

na região de dilatação do tubo, ou seja, a variabilidade dimensional restringe-se as

regiões que sofreram por dilatação térmica acentuada por sobretemperatura.

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Figura 31 – Trecho do tubo de onde foram retiradas amostras para metalografia.

Foram utilizadas 04 amostras de material dos tubos para exame macro e

microestrutural. Uma das amostras foi retirada do trecho de tubo que aparentemente

não sofreu danos, o mesmo que foi realizada a análise dimensional.

Na micrografia ilustrada na Figura 32, a microestrutura mostra-se composta de

grãos equiaxiais ferríticos e perlíticos, considerada como sendo a microestrutura

original, sem alterações metalúrgicas.

Figura 32 – Micrografia da amostra 01 retirada de u m tubo aparentemente sem danos.

As outras amostras foram retiradas da região de fratura do tubo de n°5

conforme indicado na Figura 33. As linhas vermelhas mostram duas seções de corte

de onde as amostras foram retiradas. O corte para obtenção das amostras 1A e 1B

foi realizado no ponto mais alto da “laranja”, onde houve fratura em toda a espessura

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de parede do tubo. Na amostra 1A tem-se material adjacente a fratura, enquanto

que na amostra 1B tem-se material a 180° da fratura .

A amostra 2 foi intencionalmente realizada em uma seção próxima da

anterior, porém em uma seção onde não houve a perfuração do tubo.

Figura 33 – Localização de retirada das amostras.

Nas Figuras 34 e 35, amostra 1A, pode-se ver que o metal sofreu

considerável redução de espessura e intensa oxidação a alta temperatura. A

espessura da camada de óxido externa na face do tubo, que sofreu

superaquecimento mais intenso, ficou próxima de 2 mm. Na superfície interna nota-

se presença de uma camada de magnetita variando entre 0,5 a 0,75 mm nas regiões

próximas a ruptura.

A amostra de material distante 180° do local da fra tura, amostra 1B, sofreu

menos os efeitos do superaquecimento. Ao microscópio, verificou-se uma espessura

da camada interna de óxido inferior a 0,1mm, camada de óxido externa pouco

relevante e espessura de parede remanescente de aproximadamente 4,3 mm.

Amostra 2

Amostra 1A

Amostra 1B

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Figura 34 – Amostra embutida. Figura 35 – Detalhe d a região com

oxidação severa. Ampliação: 27x.

Com base nessa oxidação intensa e pelas quantidades dos elementos de liga

do material (2,25% de cromo e 1% de molibdênio), pode-se estimar um

superaquecimento superior a 600 °C, conforme correl ação com a Tabela 2.

Tabela 2 – Temperatura de oxidação severa (Scaling)

Material Temperatura (°C)

Aço Carbono 550

½ Mo 570

½ Cr – ½ Mo 580

1 Cr – ½ Mo 600

2 Cr – ½ Mo 600

2 ¼ Cr – 1 Mo 600

3 Cr – ½ Mo – 1 ¼ Si 760

Fonte: Adaptado de NALCO, 1991.

As Figuras 37 e 38 mostram as microestruturas das amostras 1A e 1B,

respectivamente, nas regiões indicadas (Figura 36). Por meio destas micrografias

observa-se que o material sofreu esferoidização dos carbonetos, exemplificada nas

regiões demarcadas em azul.

Camada de óxido

Metal

Camada de magnetita

1A

1B

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Figura 36 – Detalhe das regiões de micrografia.

Figura 37 – Amostra 1A – Carbonetos esferoidizados. Nital 3%.

Figura 38 – Amostra 1B – Carbonetos esferoidizados. Nital 3%.

Na Figura 40, conforme descrito anteriormente, não ocorreu a abertura do

tubo, entretanto é interessante notar nesta amostra a presença de uma trinca que se

iniciou na superfície interna devido a deformação plástica, orientada a

aproximadamente 45° em relação a espessura do tubo. Tal fato condiz com a teoria

da tensão de cisalhamento máxima, responsável pela deformação plástica e

orientada à 45° em relação a tensão principal, no c aso a tensão circunferencial que

age na parede do tubo.

A Figura 41 mostra a trinca, antes mencionada, vista ao microscópio. Nesta

imagem pode-se notar que os grãos estão deformados, na direção paralela a trinca

e, em torno desta, nota-se também presença de inúmeros vazios, alguns

circundados em azul para elucidação.

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Figura 39 – Amostra 2. Detalhe da

região de micrografia. Figura 40 – Amostra 2.

Figura 41 – Amostra 2 – Trinca. Nital 3%.

A identificação do material foi realizada com o analisador de ligas Innov-X-

Systems (Figura 42). A composição química obtida (Tabela 2) corresponde ao

material esperado, ou seja, o ASTM A-213 T22.

Figura 42 – Utilização do analisador de ligas.

Trinca

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Utilizando o aparelho Novex, que usa a técnica de análise da composição

química por fluorescência de raios-X, obtiveram-se os valores listados na Tabela 3,

na qual se compara a composição do material conforme especificação da norma

ASTM A213/A213M, com os obtidos no ensaio.

Tabela 3 – Composição química do componente

Material / %

Carbono Manganês Fósforo Enxofre Silício Cromo Molibdênio

ASTM A213 T22

0,05 – 0,15 0,30 – 0,60 0,025* 0,025* 0,50* 1,90 – 2,60 0,87 – 1,13

Amostra ** 0,53 ± 0,05 0,06 ± 0,01 0,15 ± 0,02 0,47 ± 0,04 2,32 ± 0,05 1,01 ± 0,02

* Valores máximos

** Limitação da técnica. Não identifica elementos de baixo peso molecular. Avaliação complementar

realizada pela dureza do material.

Como se pode notar, as composições químicas são equivalentes. Segundo

Chiaverini (1988), as extrapolações nos valores de fósforo e enxofre não se tornam

danosas ao material, uma vez que o teor de carbono é baixo. Não obstante, como

essa técnica tem a limitação quanto à verificação da quantidade de carbono,

realizaram-se medições de dureza8 com o intuito de verificar compatibilidade com o

material especificado9.

Os resultados da aplicação desta técnica estão listados na Tabela 4, que

convergiram para valores muito próximos para os esperados para o referido material,

que conforme o ASTM A213 estabelece como máxima dureza para o material 163

HV.

8 Ensaio de dureza realizado em durômetro Reicherter, modelo BVR 187,5 H, fabricado em 1976, devidamente calibrado.

9 A dureza decresce com o aumento da temperatura e do tempo de exposição em função do coalescimento dos carbetos. Furtado, 2004, relaciona a variação da dureza das ligas de 2,25% Cr e 1,0% Mo, como é o caso do T-22, com o parâmetro de Larson-Miller para avaliar a degradação em estruturas que operam a altas temperaturas, deste modo concluiu que a medição de dureza é um método confiável para a avaliação da integridade estrutural desse aço liga.

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Tabela 4 – Valores de dureza

Amostra Dureza (HV)

Ponto 01 Ponto 02 Ponto 03 Desvio Padrão

01 155 163 158 4,0

02 147 159 166 9,6

03 161 156 160 2,6

Considerando-se a avaliação da composição química e a dureza encontrada,

conclui-se que o material analisado corresponde ao especificado, de tal forma que a

hipótese de aplicação incorreta de material pode ser descartada.

4.3.2 Acompanhamento operacional

Na sequência de verificação das possíveis causas de falha, verificou-se a

hipótese de ter havido anomalias operacionais.

Para tal, faz-se necessário conhecer as particularidades que envolvem a

operação das caldeiras da referida unidade operacional. Desde o conhecimento do

corpo técnico responsável, suas rotinas, ferramentas de controle, até os dispositivos

de segurança que informam anomalias ou em último caso agem para prever

acidentes. Não obstante, demonstrar-se-ão as condições operacionais que

precederam a parada de manutenção na qual a falha no componente tubo suspenso

foi observada.

A equipe que opera as caldeiras da unidade operacional é composta por

profissionais treinados, capacitados e com experiência mínima, conforme prevê a

norma regulamentadora NR-13, assim como as normas e padrões da referida

refinaria.

Este corpo técnico opera de forma ininterrupta esses equipamentos, sendo

formado por cinco grupos de operadores que se alternam em uma rotina de

revezamento, seguindo uma carga horária pré-definida. Além disso, cada grupo se

divide em operadores de console, técnicos de operação de campo e supervisor de

grupo.

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No console ou painel de controle ficam os profissionais com maior experiência

e devidamente treinados para tal. Atuam acompanhando as principais variáveis de

controle e possíveis alarmes de segurança. Também somam a função de alterar

parâmetros de operação, de forma a mitigar as causas desses alarmes quando

necessário.

Em campo ficam os menos experientes, porém devidamente treinados e

responsáveis por realizar a rotina operacional, inspeção operacional do equipamento

e manobras em campo, como abertura e fechamento de válvulas não automatizadas

quando demandado pelo operador do console, além da correta execução da lista de

verificação para operador de caldeira (Anexo A).

Além desses, um operador de reconhecida vivência na operação do

equipamento, conhecedor das rotinas e com bons conhecimentos do projeto e da

manutenção do equipamento, atua como consultor e acompanha as manobras mais

críticas como partidas e paradas operacionais, assim como manutenções não

rotineiras.

A rotina do operador de console consiste na passagem de turno com seu par,

de forma a conhecer todas as condições sob as quais o equipamento operou e

possíveis mudanças em variáveis nos turnos antecedentes. Após isso, segue-se o

acompanhamento dos equipamentos sob sua responsabilidade até a próxima troca

de turno.

Já o operador de campo, após passagem de turno com seu par, realiza a

leitura de instrumentos e segue a rotina de verificações, sendo necessário o

preenchimento das folhas de leitura e a lista de verificação (Anexo A). Além disso,

também é o responsável pela liberação de equipamentos e tubulações adjacentes

as caldeiras, para manutenções de rotina, o acompanhamento desses serviços e,

posteriormente, a normalização desses equipamentos e sistemas.

O operador mais experiente dá apoio técnico em todas essas rotinas e faz o

acompanhamento das manobras mais críticas. No caso específico do gerador de

vapor em questão, foi esse profissional que participou de toda a fase de instalação,

pré-operação, operação assistida e por fim a transição das responsabilidades do

fabricante para o cliente. Como essa caldeira havia operado por curto período de

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tempo, até a falha, o depoimento desse profissional foi considerado de grande valia

para o melhor entendimento sobre a operação deste equipamento.

A indústria petroquímica é fortemente preocupada com segurança. Para tal, faz

uso de diversas ferramentas que possibilitem operar suas instalações minimizando

os riscos envolvidos. Dentre elas, podem-se citar rigorosos procedimentos

operacionais, constante treinamento do seu corpo técnico e alta tecnologia em

controle operacional (automatização).

Essa última, composta por válvulas de controle, instrumentos de medição de

variáveis operacionais, sistemas de controle e painéis de controle.

Os sistemas de controle fazem uso de malhas de controle pré-definidas, que a

partir da leitura dos indicadores operacionais comparam com os valores de projeto

(ou set-point) e fazem a correção automática e contínua dessas variáveis, conforme

lógica pré-determinada.

Em casos de descontrole, não previstos nessas malhas, alarmes são

acionados nos painéis de controle demandando a atuação do operador.

Essas grandezas, além do acompanhamento remoto necessário a operação,

tem suas variações ao longo do tempo armazenadas, podendo ser consultadas a

qualquer momento fazendo uso de software especifico.

Figura 43 – Tela de console com variáveis apresenta das de forma esquemática.

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A Figura 43 exemplifica a visualização do operador de console, quanto às

variáveis do processo (vazões, concentrações, quantidades relativas, temperaturas,

pressões, entre outros) que são visualizadas e/ou controladas, podendo agir sobre

elas quando de algum evento inesperado.

As Figuras 44, 45 e 46 referem-se aos dados retirados do sistema de

monitoramento contínuo das principais variáveis de controle, conhecido por PI (Plant

Information), em um intervalo de 90 dias que antecederam a parada da caldeira.

A Figura 44 apresenta a média diária da vazão de água de alimentação e vapor

produzido pela caldeira em questão. Nota-se que as curvas estão praticamente

sobrepostas, logo, a diferença entre a entrada de água e a saída de vapor (Figura

45) é pequena e praticamente constante, pois flutua em torno do ponto zero,

indicando que os furos nos tubos não poderiam ter sido identificados simplesmente

pelo acompanhamento destas variáveis.

Figura 44 – Gráfico da água de alimentação e vapor produzido.

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Figura 45 – Diferença entre a água de alimentação e vapor produzido.

Na Figura 45, a linha de tendência linear (linha preta) apresenta leve

inclinação, o que pode ser desconsiderado em função da incerteza de medição do

instrumento de vapor.

No gráfico da Figura 46 tem-se a vazão de vapor e nível de água no tubulão

indicados por instrumento. Nota-se que a produção de V-88 variou bastante neste

período em função das sopragens das tubulações10 novas e, que o nível no tubulão

sofreu uma leve alteração (subida de aproximadamente 60 mm) no dia 7/12/2011,

contudo, tais condições, a princípio, não são consideradas anormalidades.

10 Entende-se por “sopragem de tubulação” o processo de passagem de vapor a alta pressão, com o intuito de remover eventuais resíduos remanescentes de construção ou manutenção da tubulação, de modo que estes resíduos sejam destinados de modo correto e não dificultem ou impossibilitem o funcionamento dos equipamentos conectados a esta malha de tubos, tais como filtros, instrumentos, ou outros equipamentos de qualquer natureza.

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Figura 46 – Gráfico mostrando o nível no tubulão e vazão de V-88.

4.3.2.1 Análises complementares dos depósitos

Os tubos que falharam sofreram superaquecimento devido ao acúmulo de

depósitos nas suas superfícies internas, que obstruíram a passagem de vapor e com

isso diminuíram drasticamente a troca térmica. Por isso a determinação da

composição e origem desses depósitos é fundamental na compreensão e

determinação das causas da falha.

Com esse intuito, realizaram-se análises de algumas amostras retiradas do

interior dos tubos, conforme orienta Babcock & Wilcox (1992), utilizando-se

novamente o aparelho Novex. Obtiveram-se composições químicas nas quais os

elementos preponderantes eram Fe, S, Cu, Zn, Cr, Mo e P, conforme Tabela 5.

Tabela 5 – Análise química dos depósitos.

Elemento químico Ferro Fósforo Enxofre Cobre Zinco Cromo Molibdênio

Quantidade (%) 54,37 ± 0,46

36,71 ± 0,40

7,95 ± 0,22

0,44 ± 0,05

0,26 ± 0,03

0,14 ± 0,04

0,13 ± 0,01

A maioria desses elementos atribui-se ao produto da corrosão do tubo, todavia

o elemento Fósforo (P) não fazendo parte da composição do tubo, atribuiu-se a sua

presença ao arraste pelo fluido transportado nos tubos.

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De posse dessa informação, buscou-se pela análise do fluxograma da água de

caldeira, os pontos onde poderia existir a contaminação (com algum composto que

levasse Fósforo em sua composição química) ou alguma falha no tratamento de

água.

Qualquer falha no tratamento da água de caldeira foi descarta, pois a mesma

sofre um rígido controle tento varias amostras analisadas durante o dia.

Seguindo-se com a análise do fluxograma observou-se que existe um ponto de

injeção de fosfato, para proteção dos tubos, de onde se definiu como ponto de

partida para análise dos sistemas seguintes, de modo a identificar a causa dos

depósitos. Todavia, isso não se faz suficiente para explicar como esse produto

chegou até a região afetada, pois segundo The Babcock & Wilcox, 1992, estes

componentes são severamente carregados pelos líquidos nos tubos e a região

afetada possui apenas vapor saturado.

Conforme NALCO CHEMICAL COMPANY, 1991, depósitos nos

superaquecedores11 são causados pelo arraste de água de caldeira que ao

vaporizar deixa o sólido suspenso. Comumente associados à geração de espuma,

nível excessivo de água no reservatório de água-vapor (tubulão) ou devido à falha

do sistema de separação e retenção de gotículas (separação líquido/vapor).

Ocorre geração de espuma quando há um excesso de produtos químicos

acumulados no tubulão, de tal forma, que o turbilhonamento natural do processo de

chegada das fases água/vapor gere cada vez mais espuma e a mesma se desloque

em direção ao sistema de superaquecimento.

Os valores limites para, principalmente de Sílica e Fosfato, potenciais

formadores de depósitos, são delimitados pelo manual de operação do

equipamento. Estes componentes, assim como quantidades de Ferro e Cloretos, são

analisados periodicamente, de segunda à sexta-feira, conforme padrão de execução

dos operadores de caldeira da empresa. Deste modo, a hipótese de geração de

espuma por excesso de produtos químicos foi descartada.

11 Pode-se entender o tubo suspenso como um superaquecedor, pois na verdade se trata de um suporte refrigerado dos aquecedores, podendo ser chamado também de pré-superaquecedor.

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Outra possibilidade para o arraste de água da caldeira, o nível alto de água no

tubulão (ou atolamento do tubulão), que se dá quando o nível de líquido ultrapassa o

valor de projeto determinado, comumente 50% do diâmetro interno mais uma faixa

de 200 mm.

O controle desse parâmetro é feito por instrumentos, que indicam o nível e

acionam as válvulas de controle de entrada de água e saída de vapor. Além disso,

mesmo que essa malha de controle apresente algum tipo de falha, o operador é

avisado por meio de sinal visual e sonoro no painel de controle de tal forma, que

poderá acionar manualmente os controles para que se restabeleça a condição ideal

de projeto.

Verificando as variações de nível dos três meses que antecederam as falhas,

pode-se notar que não houve em nenhum momento a sobreposição do limite

superior do mesmo.

A terceira possibilidade trata-se da falha do sistema de separação de gotículas

do vapor. Deste modo, avaliou-se a possibilidade de erro na montagem do conjunto,

conforme item 4.3.3 a seguir.

4.3.3 Verificação de montagem

A caldeira em questão utiliza ciclones para fazer essa separação da fase

líquida da fase vapor. Esses componentes utilizam-se da força centrifuga para

separar o vapor saturado das gotículas de água e, estão dispostos conforme Figura

47.

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Figura 47 – Exemplo de tubulão com ciclone. Fonte: Babcock & Wilcox (1992).

Os ciclones para essa caldeira são em um total de 26, localizam-se no interior

do tubulão, cada um possuindo uma tampa individual e a cada par um tampo em

comum, conforme exemplificado na Figura 48.

Figura 48 – Ilustração do funcionamento de um ciclo ne.

VaporVapor +água

Água

Tampo

Direcionadores de fluxo

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Durante a inspeção do tubulão, Figura 49, um dos tampos individuais (seta

azul) foi encontrado solto no fundo do tubulão e, um dos tampos duplos (seta

vermelha) fora de posição.

Figura 49 – Ciclones danificados.

Primeiramente, associou-se essa condição a um recente histórico de vibração

do equipamento. Não obstante, a condição encontrada poderia ser suficiente para o

arraste de água e os seus malefícios.

Como essa condição não era esperada e o tempo para retorno do equipamento

era reduzido, optou-se por recompor os tampos a condição de projeto e, realizar o

travamento complementar dos componentes de fixação por meio de soldagem.

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Apesar dos reparos executados, naquele dado momento não se tinha

resultados conclusivos quanto às causas da falha dos tubos suspensos, fato que

levou a equipe de inspeção a realizar registro fotográfico complementar de todos os

componentes.

No entanto, como os tampos dos ciclones estavam fora de posição, foi possível

visualizar a sua região interior, sobre os quais se levantou a possibilidade de

possuírem algum erro de montagem, pois apenas um par de ciclones com avaria nas

tampas (7,7%) provavelmente não teria sido capaz de gerar a deposição em 25%

dos tubos suspensos.

Em decorrência desta inspeção interna, os registros fotográficos foram

encaminhados ao fabricante do equipamento, com a prerrogativa de verificar se

havia alguma anormalidade na montagem dos ciclones. O parecer do fabricante foi

de que os direcionadores de fluxo daquele par de ciclones estavam montados de

forma invertida, o que possibilitou a passagem de líquido para os tubos dos

superaquecedores e também contribuiu para o arrancamento dos tampos, uma vez

que impunha um fluxo mais intenso do que o de projeto.

Figura 50 – Ciclone montado invertido.

Figura 51 – Ciclone montado corretamente.

Com base no fato das palhetas daquele par de ciclones, parcialmente mostrado

nas Figuras 50 e 51, estar montado invertido, iniciou-se o procedimento de

verificação nos demais ciclones, onde se constatou que 19 dos 26 (mais de 73%)

ciclones estavam com os direcionadores de fluxo montados invertidos.

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De forma a elucidar a consequência das aletas montadas invertidas, a Figura

52 mostra em azul as aletas montadas de forma correta e em vermelho as aletas

montadas de forma indevida. Nota-se que na região A, o fluxo de gotículas de água

e vapor se torna concordante com o ângulo de montagem das aletas, fazendo com

que a água (mais densa que o vapor) seja direcionada para a parte inferior do

sistema. Na situação B, pelo fato da inversão de montagem, o fluxo de água incide

na parte posterior dos direcionadores de fluxo, fazendo com que parte da água

incidente se espalhe, formando gotículas menores, sendo projetadas para cima e

posteriormente carregadas pelo vapor.

Figura 52 – Diagrama da montagem das aletas.

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5 CONCLUSÕES

Nesse trabalho foi apresentada uma falha em tubos de caldeira. Foram

levantadas técnicas de análise de falha, utilizando as mais adequadas ao problema.

Como foram realizadas várias etapas de análise, as conclusões se dividem da

mesma forma.

5.1 Ações corretivas

Com base nas réplicas metalográficas foi possível a determinação de quais

tubos e seus respectivos comprimentos deveriam ser substituídos. Essa técnica de

análise de campo se mostrou bastante eficaz.

5.2 Análise de falhas

5.2.1 Método dos 5 porquês

O ensaio visual possibilitou a elaboração da análise através da metodologia

dos “5 Porquês”. Porém esta técnica não se mostrou suficiente para a resolução do

problema em questão, devido a sua complexidade de possibilidades da origem da

falha. Partiu-se então para uma metodologia complementar, através da árvore de

falhas.

Primeiramente, buscou-se a confirmação da aplicação do material correto,

conforme projeto do fabricante. A verificação dimensional constatou que o tubo tinha

as dimensões requeridas. A análise química demonstrou que o material continha os

elementos de liga esperados. E os resultados do ensaio de dureza convergiram para

concluir que o material aplicado foi exatamente o material solicitado pelo projetista.

Posteriormente, realizaram-se análises metalográfica das regiões com danos

para verificar se eram condizentes com o material aplicado e a condição que o

mesmo estava sendo submetido. Inferiu-se que o material operara em temperatura

acima da de projeto, vindo a falhar em consequência dessa situação indesejada.

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Dentre as possíveis causas elencadas, não poderia descartar-se alguma

variação nas condições de operação para o qual o equipamento foi projetado. Sendo

que as levadas a estudo foram: a condição de operação efetiva do equipamento e a

deposição que se originou no tubo do equipamento.

Para entender as condições operacionais a que o gerador de vapor estava

sujeito, primeiramente, buscou-se entender a operação desde as ferramentas de

controle, até o corpo técnico e suas rotinas. Desses estudos, pode-se obter como

resultados práticos a identificação de um corpo técnico altamente qualificado e a

certeza de um acompanhamento rigoroso das principais variáveis de processo. Isso

foi melhor evidenciado com a observação da lista de verificação para operador de

caldeira (Anexo A) e as telas do sistema PI, que não demonstraram haver qualquer

anomalia que pudesse ser origem dos danos encontrados.

Não obstante, a análise mais minuciosa de algumas das principais variáveis de

controle e a busca de correlações dessas variáveis, que pudessem, de alguma

forma, ter identificado alguma anormalidade na caldeira, se mostraram ineficazes.

Por isso, desconsiderou-se a condição operacional da caldeira como motivadora dos

danos e depósitos verificados.

Inicialmente, buscou-se, através da análise química desses depósitos,

identificar componentes que pudessem ligar o depositado analisado com sua

origem. Dentre os vários compostos identificados chamou à atenção a quantidade

de Fósforo (P), na ordem de 37% da composição em massa total.

A partir dessa constatação, procurou-se, pela análise dos fluxogramas de água

de caldeira, os pontos de injeção de produtos químicos. Verificando-se que essa

origem se dava por uma injeção de fosfato utilizada como tratamento da água, que

possui um controle rigoroso, esta informação ajudou a servir como base para

descartar outras possibilidades referente a existência desse material.

De posse da análise química e dos controles realizados periodicamente na

água, mais uma vez buscou-se na bibliografia principalmente de The Babcock &

Wilcox, 1992, pode-se propor três causas para esse material se alojar nos referidos

tubos. A primeira, geração de espuma, foi rebatida com base nos procedimentos e

rotinas de controle da água. O nível excessivo de água no tubulão foi facilmente

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conferido, pois o mesmo tem controle e registro contínuo, no qual não se observou

essa anormalidade ao longo do tempo. Por fim, restava avaliar o sistema de

separação de gotículas.

Como já dito, esse sistema é composto por ciclones que apresentaram um

indicio de problemas por ter uma de suas tampas fora de posição. Todavia

considerou-se uma pequena variação para ser sozinha a causa básica de todos os

problemas até então identificados. Como a caldeira já havia retornado a operação no

decorrer desta análise optou-se por consultar o fabricante. Para tal, enviou-se o

relatório fotográfico inicial para o fabricante do equipamento, questionando-os sobre

o que poderia causar algum tipo de falha na separação de gotículas. A resposta do

fabricante veio de encontro ao, até então, determinado por esta análise: houve uma

falha na montagem nas palhetas do ciclone, de tal forma, que direcionavam o fluxo

de gotículas em direção a saída de vapor.

Embora advindo da análise operacional, a identificação de anomalias nos

ciclones remete a uma falha de fabricação, reforçando a ideia de inter-relação entre

acontecimentos que a ACR propõe identificar.

Outra consequência da verificação anterior é a de que a vibração outrora

visualizada na caldeira, que remeteria outra linha de análise, pôde ser descartada

nesse momento, pois mesmo que pudesse interferir de alguma forma, avaliou-se

como irrelevante e possivelmente até consequência do erro de fabricação

constatado.

Decidiu-se por parar a análise ao final do ultimo item devido aos resultados já

obtidos e o desfecho que já se encaminhava. Por isso, o item deficiência de projeto

foi previamente descartado, devendo ser retomado em caso da não observância da

validação das correções a serem propostas.

Com isso, pode-se constituir a árvore de falhas em sua totalidade como pode

ser visualizado na Figura 53.

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Figura 53 – Árvore da análise de falhas do tubo suspenso.

5.3 Consequências e ações

A partir da aplicação dessas ferramentas, obtiveram-se respostas para as

muitas questões levantadas ao longo do processo. Os tubos que falharam possuíam

acúmulo de depósitos nas suas superfícies internas, que impediram o fluxo de vapor.

A deposição excessiva foi provocada provavelmente devido às deficiências no

sistema de separação água/vapor, que permitiu o arraste de água pelo vapor

saturado a partir do tubulão. Na primeira região de transferência de calor após o

tubulão, a água passou ao estado vapor e os sólidos e minerais nela diluídos ficaram

depositados nas paredes dos tubos. Os depósitos aderidos às superfícies internas

dos tubos diminuíram a capacidade de resfriamento destes pelo vapor. À medida

que o acúmulo de depósito crescia a temperatura do metal aumentava, reduzindo a

resistência mecânica e acelerando transformações metalúrgicas, no caso a

esferoidização, contribuindo para reduzir as propriedades do material ainda mais.

Com as propriedades mecânicas reduzidas e a pressão interna do vapor, as regiões

mais quentes dos tubos (acima de 600°C) sofreram pr ogressiva deformação plástica

(formação de “laranja”), além de intensa oxidação que culminou com a ruptura dos

tubos. Este mecanismo de falha é conhecido na literatura como superaquecimento

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de longa duração. Conclui-se desta forma que a causa básica foi a inoperância dos

ciclones devido a um erro de fabricação/montagem dos mesmos.

A partir dessa constatação e a corroboração do fabricante, realizaram-se os

tramites necessários para a substituição dos componentes defeituosos. Para tal,

programou-se para a Parada Geral da caldeira, em atendimento as normas, que se

efetuasse também, essa manutenção. Como o fabricante já havia assumido a

responsabilidade pelo ocorrido, enviou equipe própria especializada de modo a

acompanhar os trabalhos de substituição, assegurando a correta instalação dos

ciclones, que vieram parcialmente montados de fábrica (região de direcionamento de

fluxo). Na data programada realizou-se a troca completa dos 26 componentes, que

foram recebidos conforme se pode visualizar na Figura 54.

Figura 54 – Peças de reposição da caldeira (ciclone s).

Não obstante, inferiu-se que o modelo de análise de falha que melhor se

adéqua ao problema está relacionado com a profundidade que se deseja obter como

resultado. Numa primeira análise, o modelo utilizado conduziu o resultado até um

nível superficial (cinco porquês), porém não menos importante, pois serviu de base

para o aprofundamento da análise e utilização do método de árvore de falhas. Deste

modo, pode-se observar que as técnicas de análise de falhas são complementares e

devem ser utilizadas em concordância quando necessário.

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O resultado desse trabalho foi fundamental para a correção da falha de

montagem e com isso retornar com o equipamento a condição de projeto, podendo

operar com segurança para a planta industrial e para as pessoas. Além disso, todas

as informações levantadas serviram para que o fabricante identificasse seu erro de

montagem nos ciclones e assumisse sua responsabilidade pela correção. De tal

forma, espera-se que todos os geradores de vapor com mesmo projeto e fabricação

similares sejam verificados e as correções necessárias sejam realizadas.

Como ganhos desse trabalho, pode-se salientar ainda, a assertividade da

realização da inspeção extraordinária desse equipamento, sem a qual não seria

possível estimar quando a anormalidade seria identificada e em que circunstancias.

Por isso, apresentações para toda força de trabalho envolvida na área de inspeção e

manutenção foi mais uma das ações resultantes deste trabalho.

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6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Por fim, para trabalhos futuros, sugere-se:

• A avaliação da eficácia da troca dos ciclones, importante etapa para o

fechamento do ciclo da análise de falha, durante manutenção

programada futura da caldeira em questão;

• Para o fabricante, aconselha-se estudar uma alternativa de projeto de

montagem que evite este tipo de erro identificado. Como proposição

dessa equipe, fica a aplicação das técnicas de poke-yoke, que se

entende por ideal para o caso de componentes que tem intervenção

humana em sua montagem conjuntamente com formas que

impossibilitem posicionamento equivocado.

.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO A – LISTA DE VERIFICAÇÃO PARA OPERADOR DE

CALDEIRA

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APÊNDICE A – ENSAIO VISUAL

Ensaio não destrutivo que emprega a radiação eletromagnética em frequências

visíveis, podendo ser direto, remoto ou translúcido, com aumento de até 10 vezes

(ASSOCIAÇÃO..., 2011).

Foi o primeiro método de ensaio não destrutivo aplicado pelo homem. É

certamente o ensaio mais usado de todos, em todos os ramos da indústria. Por este

motivo trata-se de um ensaio mais simples, entretanto, apesar dos avanços

tecnológicos em outros métodos de ensaios, a inspeção visual ainda se faz

fundamental (OLIVEIRA, 2013).

Apesar de ter simples aplicação e fácil aprendizado, este ensaio não é

suficiente para uma análise completa, sendo necessário sempre o auxílio de ensaios

complementares.

Em uma boa inspeção visual observa-se a aparência da superfície, formatos,

dimensões e descontinuidades grosseiras, gerando-se um ponto de partida para os

ensaios complementares.

Como o método de ensaio visual baseia-se fortemente na utilização da visão,

se torna necessária a acuidade visual12 do responsável por conduzir este trabalho.

Os ensaios em que o observador (pessoa responsável) tem acesso ao

componente e/ou local são denominados ensaio direto. Quando há necessidade de

se utilizar de recursos adicionais como, por exemplo, boroscópio, fibroscópio,

videoscópio, entre outros, a inspeção se torna remota (ASSOCIAÇÃO..., 2007).

Além da utilização da visão, o responsável por conduzir uma inspeção visual

pode portar ferramentas que o auxiliem, tais como lupa, microscópio, lanterna,

espelho, câmera fotográfica, instrumentos de medição (trena, nível, paquímetro,

micrômetro, calibres, etc.).

12 Acuidade visual: capacidade de distinguir pequenos detalhes segundo a ABNT NBR MN 329 (ASSOCIAÇÃO..., 2011).

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APÊNDICE B – PLANEJAMENTO DO EXAME VISUAL

Trata-se do levantamento das informações pertinentes ao que se deseja

inspecionar, de modo a garantir a qualidade da execução do ensaio. É

recomendável que o profissional tenha acesso aos aspectos do equipamento que

possam interferir na integridade física, tais como (OLIVEIRA, 2013):

a) Detalhes construtivos;

b) Acessórios existentes;

c) Condições de trabalho (pressão, temperatura, etc.);

d) Mecanismos de dano a que o componente está sujeito;

e) Regiões definidas para ensaio;

f) Motivo e objetivo da inspeção.

Deste modo, cria-se previamente um melhor entendimento de como o

componente e/ou equipamento deve estar em seu local de funcionamento, sendo

mais fácil a observação de anomalias.

Assim como os demais, o ensaio visual deve ser registrado em formato de

relatório, de modo que possa ser consultado se necessário.

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APÊNDICE C – ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA POR

FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X

Cada um dos elementos químicos presentes numa amostra gera um conjunto

de raios-X característico e específico. Os analisadores determinam a composição

química de uma amostra medindo o espectro de raios-X emitidos pelos diferentes

elementos na amostra quando é “bombardeada” por raios-X.

A fluorescência de raios-X é criada quando um raio de energia suficiente

atinge um átomo na amostra, deslocando um elétron de uma das camadas internas

do átomo. O átomo recupera a estabilidade, preenchendo a lacuna deixada na

camada orbital interior, com um elétron de uma camada mais afastada do núcleo. O

elétron cai para o estado de energia mais baixo, liberando um raio-X fluorescente, e

a energia desse raio-X é igual à diferença específica de energia entre dois estados

quânticos do elétron.

Este processo pode ser mostrado na Figura 55.

Figura 55 – Diagrama mostrando a excitação nas cama das eletrônicas. Fonte: NITON (2007)

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Ao medir simultaneamente a fluorescência de raios-X emitidos pelos diferentes

elementos da amostra, o analisador pode determinar rapidamente os elementos

presentes na a amostra e as suas concentrações relativas, comparando a

fluorescência recebida com sua respectiva biblioteca interna (química elementar da

amostra). Para amostras com composição química especificamente definida, tal

como os tipos mais comuns de ligas utilizadas industrialmente, estes instrumentos

também identificam a maioria dos tipos de amostras por nome, normalmente em

poucos segundos, conforme exemplificado na Figura 56.

Figura 56 – Diagrama mostrando o funcionamento do e nsaio e suas formas de exposição dos dados para o usuário.

Fonte: NITON (2007)

Para a preparação da superfície, recomenda-se que sejam removidas todas as

substâncias que não compõem o aço em seu estado de fornecimento, como por

exemplo, poeiras, umidade, produtos de corrosão, entre outros. Para tal, sugere-se

limpar a superfície primeiramente com lixamento da área em questão, com lixa

própria para metais grana 80 e/ou grana 120, em seguida, limpando os detritos com

álcool isopropílico (ASM HANDBOOK 10, 2008).