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ANÁLISE DO IMPACTO PSICOLÓGICO DO BULLYING EM CRIANÇAS DE CONTEXTO ESCOLAR Nadjane Gonçalves de Oliveira. Universidade Estadual de Feira de Santana - Mestrado em Educação - [email protected] RESUMO O presente trabalho traz reflexões em torno do impacto psicológico causado pelo bullying em crianças em contexto escolar, tendo em vista que este fenômeno configura-se em um dos grandes desafios enfrentados pela escola na atualidade. A inquietação que norteou a pesquisa foi tentar buscar respostas para compreender quais os impactos psicológicos que as práticas de bullying podem deixar nas crianças que frequentam a escola. O trabalho objetivou analisar de que maneira as práticas de bullying afetam o psicológico das crianças, caracterizar o bullying, identificar as concepções dos educadores, das crianças e das famílias sobre o fenômeno e perceber os efeitos psicológicos deixados pelo bullying. O trabalho desenvolveu-se mediante a abordagem qualitativa, os dispositivos de coletas de dados foram a observação, a entrevista e o questionário, sobretudo pela necessidade de ouvir os sujeitos envolvidos nos episódios de bullying. O lócus da pesquisa foi uma Escola Municipal da cidade de Serrinha, interior da Bahia. Como resultados significativos esta investigação nos aponta a necessidade de discutirmos a problemática do bullying em contexto escolar, tendo em vista a elaboração e implementação de práticas pedagógicas que oportunizem a formação do sujeito em sua integralidade e, sobretudo, respeitado em sua singularidade. Palavras-chave: Bullying. Efeito psicológico. Crianças. Escola. INTRODUÇÃO Objetivando compreender a dinâmica do bullying e o efeito devastador que esse pode causar em suas vítimas decidimos realizar essa pesquisa, tendo como objeto de estudo o impacto psicológico que esse fenômeno pode deixar nas vítimas, para tanto nos propusemos a realizar um estudo de caso com duas crianças em uma Escola Municipal da cidade de Serrinha-Ba. Definimos então como tema do trabalho “O impacto psicológico do bullying em crianças em fase escolar: uma análise através de estudo de caso”. A ideia de realizar o estudo acerca da temática teve origem nas vivencias enquanto docentes, pois tem se apresentado cada vez mais casos desse tipo de violência nas instituições de ensino, fator que muitas vezes se torna imperceptível ou é

ANÁLISE DO IMPACTO PSICOLÓGICO DO BULLYING …€¦ · A menina tem uma saúde debilitada por conta de uma anemia falciforme, teve complicações desde que nasceu, e já nesta na

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ANÁLISE DO IMPACTO PSICOLÓGICO DO BULLYING EM

CRIANÇAS DE CONTEXTO ESCOLAR

Nadjane Gonçalves de Oliveira.

Universidade Estadual de Feira de Santana - Mestrado em Educação - [email protected]

RESUMO

O presente trabalho traz reflexões em torno do impacto psicológico causado pelo bullying em

crianças em contexto escolar, tendo em vista que este fenômeno configura-se em um dos

grandes desafios enfrentados pela escola na atualidade. A inquietação que norteou a pesquisa foi

tentar buscar respostas para compreender quais os impactos psicológicos que as práticas de

bullying podem deixar nas crianças que frequentam a escola. O trabalho objetivou analisar de

que maneira as práticas de bullying afetam o psicológico das crianças, caracterizar o bullying,

identificar as concepções dos educadores, das crianças e das famílias sobre o fenômeno e

perceber os efeitos psicológicos deixados pelo bullying. O trabalho desenvolveu-se mediante a

abordagem qualitativa, os dispositivos de coletas de dados foram a observação, a entrevista e o

questionário, sobretudo pela necessidade de ouvir os sujeitos envolvidos nos episódios de

bullying. O lócus da pesquisa foi uma Escola Municipal da cidade de Serrinha, interior da

Bahia. Como resultados significativos esta investigação nos aponta a necessidade de

discutirmos a problemática do bullying em contexto escolar, tendo em vista a elaboração e

implementação de práticas pedagógicas que oportunizem a formação do sujeito em sua

integralidade e, sobretudo, respeitado em sua singularidade.

Palavras-chave: Bullying. Efeito psicológico. Crianças. Escola.

INTRODUÇÃO

Objetivando compreender a dinâmica do bullying e o efeito devastador que esse

pode causar em suas vítimas decidimos realizar essa pesquisa, tendo como objeto de

estudo o impacto psicológico que esse fenômeno pode deixar nas vítimas, para tanto nos

propusemos a realizar um estudo de caso com duas crianças em uma Escola Municipal

da cidade de Serrinha-Ba. Definimos então como tema do trabalho “O impacto

psicológico do bullying em crianças em fase escolar: uma análise através de estudo de

caso”.

A ideia de realizar o estudo acerca da temática teve origem nas vivencias

enquanto docentes, pois tem se apresentado cada vez mais casos desse tipo de violência

nas instituições de ensino, fator que muitas vezes se torna imperceptível ou é

confundido com brincadeiras entre as crianças, mas que causa bastante sofrimento para

suas vítimas e preocupação por parte dos professores, que muitas vezes não conhecem o

problema apesar de ser tão antigo, ou não sabem lidar com o mesmo e nem conhecem as

suas implicações psicológicas, foram esses motivos que despertaram nossa inquietação

a ponto de querer conhecer de perto o fenômeno e as consequências psicológicas para

quem dele é vítima.

Para corresponder aos nossos anseios quanto a essa pesquisa definimos como

objetivo geral: analisar de que maneira as práticas de bullying afetam o psicológico das

crianças que estão em idade escolar. Já como objetivos específicos designamos:

caracterizar o bullying; identificar as concepções dos educadores, das crianças e das

famílias sobre o fenômeno e perceber os efeitos psicológicos deixados pelo bullying.

O trabalho torna-se bastante relevante para o contexto educacional e para a

sociedade civil, uma vez que os índices do fenômeno dentro das instituições escolares

só aumentam, além disso, nos últimos tempos nos deparamos com várias notícias

trágicas no Brasil e pelo mundo nas mais variadas mídias retratando casos de

homicídios e suicídios envolvendo vítimas de bullying, em muitos desses casos pais,

educadores e a sociedade em geral desconheciam a existência do problema bem como

seus impactos psicológicos, nesse contexto quanto mais estudos sobre o fenômeno,

maiores serão as possibilidades de enfrentá-lo.

O bullying é um fenômeno que consiste em atitudes maldosas, agressivas e

intencionais, acontece entre os escolares desde os seus primeiros anos de escola, apesar

de existir há muito tempo, tem se apresentado como um grande desafio, sobretudo para

os educadores que às vezes não conseguem identificar o problema e quando conseguem

não sabe como lidar com o mesmo. As agressões que visam humilhar, ferir

psicologicamente e até fisicamente pode deixar marcas profundas para suas vítimas.

Diante desse contexto surgiu a seguinte inquietação: Quais os impactos psicológicos

que as práticas de bullying podem deixar nas crianças?

Para consolidar a pesquisa, essa se desenvolveu dentro da abordagem

qualitativa, a qual nos permite conhecer e apresentar as especificidades da realidade

estudada faz parte dessa abordagem observar minunciosamente o contexto de modo que

o pesquisador mesmo inserido no lócus não interfere nela.

Com o intuito de realizar uma investigação precisa como sugere a pesquisa

científica foi preciso lançar mão de dispositivos de coleta de dados, que foram eles: a

observação simples que nos colocou em contato direto com a realidade, conhecendo a

fundo o contexto dos sujeitos observados. A entrevista que oportuniza o encontro entre

pesquisador e pesquisado a fim de obter informações a respeito de determinado assunto

e por fim o questionário que pode garantir um número maior de colaboradores e pode

ser respondido em espaços e horários diferentes.

Julgamos necessário o questionário e a entrevista considerando o contexto dos

colaboradores da pesquisa, desse modo para as crianças e suas respectivas famílias

realizamos a entrevista semiestruturada, pois nos preocupamos em deixá-las à vontade

evitando constrangimentos mediando às perguntas de modo natural. Já para as

educadoras realizamos o questionário com o intuito de não interferir na rotina de

trabalho e na vida pessoal das mesmas, dada a dimensão das suas atribuições, pois o

questionário permitiu que elas pudessem responder no tempo e local que acharam

pertinentes.

Para melhor compreender o contexto das crianças em estudo e por se tratar de

uma realidade específica dentro de outras realidades mais abrangentes sobre o tema,

optamos pelo estudo de caso com as mesmas, esse procedimento tornou-se adequado

para a referida pesquisa, visto que permitiu que buscássemos informações específicas e

peculiares do objeto a ser estudado. Nesse caso foram duas crianças; uma do sexo

feminino e outra do sexo masculino com respectivamente 9 e 12 anos de idade,

matriculadas no 3º e 4ª ano do turno matutino de uma escola Municipal da cidade de

Serrinha-Ba. Essas apresentam algumas características peculiares “fragilidades” e por

isso sofrem bullying na escola.

METODOLOGIA, RESULTADOS E DISCUSSÃO

O interesse por este estudo surgiu ao vivenciarmos frequentes práticas de

bullying nas escolas, em especial em uma Escola Municipal da cidade de Serrinha,

interior da Bahia. O estudo é realizado com dois alunos, um do sexo masculino e outro

do sexo feminino, que são vítimas deste fenômeno na unidade escolar, suas mães,

professores e gestores escolares.

A referida pesquisa desenvolveu-se dentro da abordagem qualitativa. Utilizamos

a observação simples, aquela em mesmo estando no ambiente o pesquisador não

interfere na realidade, Isso permitiu ver de perto os acontecimentos do dia a dia do

contexto analisado. Para Gil (1999, p.110) “a observação constitui elemento

fundamental para a pesquisa. Desde a formulação do problema, passando pela

construção de hipóteses, coleta e análise e interpretação dos dados”.

Para a consolidação da pesquisa também utilizamos a entrevista semiestruturada

e o questionário, optamos pelos dois por que a entrevista se mostrou mais significativa

para as crianças e suas respectivas famílias.

Para as professoras, coordenadora e gestora da unidade foi entregue o

questionário, visto que consideramos mais pertinente por entender que essas se

sentiriam mais a vontade para responder sem que comprometêssemos seu tempo ou que

interferíssemos na rotina de trabalho das mesmas na escola.

O lócus da pesquisa foi uma Escola Municipal da cidade de Serrinha-Ba, a

entidade mantenedora é a Prefeitura Municipal de Serrinha, a escola fica situada na zona

urbana em um bairro periférico da cidade, funciona há 24 anos e atualmente atende a

aproximadamente 300 alunos que são do próprio bairro e o entorno. Funciona nos turnos

matutino e vespertino, oferece as modalidades de Pré-escola, Fundamental I e

Fundamental II, oferece ainda oficinas pedagógicas para os alunos nos turnos opostos ao

regular em que estudam, se adequando a proposta do ensino integral. A unidade escolar

possui dez salas, diretoria/sala de coordenação, secretária/sala dos professores com

banheiro, dois banheiros recém-reformados para os alunos, cozinha, biblioteca,

almoxarifado, campo e pátio.

Os participantes da pesquisa foram duas crianças que são vítimas de bullying na

referida escola, suas mães e suas respectivas professoras, além da coordenadora e vice-

diretora da instituição, vale lembrar que a diretora não foi citada por que estava afastada

por atestado médico nesse período.

A menina tem uma saúde debilitada por conta de uma anemia falciforme, teve

complicações desde que nasceu, e já nesta na ocasião, precisou de transfusão de sangue,

fator que foi crucial para sua sobrevivência, daí em diante teve seu desenvolvimento

comprometido. Ela necessita se deslocar para a cidade de Salvador - capital da Bahia -

para realizar o tratamento e receber transfusões periódicas de sangue.

Como consequência das complicações que teve quando recém nascida,

desencadeou-se uma série de problemas de saúde, inclusive um Acidente Vascular

Cerebral (AVC), necessitando assim, de acompanhamento médico periódico. Ela

apresenta ainda uma pequena dificuldade na fala e na aprendizagem, no entanto, é uma

menina recatada, seu histórico de saúde é o motivo mais aparente para que seja vítima

do bullying. Por conta do seu estado de saúde, sua mãe, que também tem um menino

matriculado na instituição, está frequentemente presente na escola, muitas vezes a

espera até o final da manhã quando se encerram as aulas.

Tendo em vista que o fenômeno bullying é considerado violento e está presente

em muitas escolas, fomos a campo observá-lo e saber dos nossos colaboradores o que

esses entendem sobre o conceito do mesmo.

Ao analisar a fala da professora do 3º ano observamos que a mesma tem uma

concepção correta acerca do bullying, também percebemos que ela reconhece a

dinâmica do mesmo, pois o entende como um tipo de violência que vitimiza pessoas

fragilizadas, também esta ciente de que a violência causa impactos físicos e

psicológicos nas suas vítimas.

A professora do 4° ano é mais sucinta ao apresentar seu conceito sobre bullying:

“é uma forma de agressão de um colega para com outro ou de uma pessoa para a outra”. A

mesma não deixa claro se conhece a dinâmica que envolve o fenômeno nem se sabe que

esse pode deixar danos para o psicológico de quem dele é vítima.

Sua colocação apesar de superficial não está errada, pois ela admite que é um

tipo de violência, sua fala pode ser ratificada através da fala de Fante (2005) que afirma

que o bullying caracteriza-se por comportamentos agressivos.

Já a fala da Coordenadora é bem mais profunda, ela percebe que a prática do

bullying envolve violência, descriminação e preconceito, diz ainda que esse não deve

ser considerado como brincadeiras inocentes. Podemos comparar sua colocação com o

que diz Fante (2005) ao enfatizar que o fenômeno tem conceitos bem específicos e bem

definidos, e não confundi-lo com outras práticas se justifica pelo fato de apresentar

características próprias, como a violência por exemplo.

A Vice-diretora também apresenta importantes colocações em face do

fenômeno, percebe-se isso quando a mesma salienta que a violência é comum pelos

corredores da escola. Em sua fala ela deixa claro que compreende a dinâmica do

fenômeno ao reconhecer a atuação dos agressores para com suas vítimas, entende que

esses escolhem as pessoas indefesas, destacou que a violência se manifesta tanto de

forma física quanto verbal.

Nessa pesquisa também foi fundamental saber qual a concepção de bullying por

parte tanto das vítimas e das suas famílias, desse modo apresentamos o entendimento do

menino e da menina que participaram do estudo de caso, assim como das suas

respectivas mães. Quando perguntamos o que esses entendem ou se já ouviram em

bullying nos apresentaram as seguintes respostas:

Sei, o que bota fror?!! Ouvi, aquele que bota na mesa?!! (Menino).

Sim. Bule que coloca sorvete coloca coisas (Menina).

Analisando a fala das crianças, percebemos que as mesmas, não sabem ou nunca

ouviram falar sobre bullying, isso pode dificultar a intervenção quanto ao processo de

vitimização sofrida na escola, ou mesmo a comunicação do problema para a família,

visto que a criança não tem a dimensão do que enfrentam.

O fato deles não saberem o que é bullying, chegando a confundir com objetos de

decoração e utensílio de cozinha, como o bule para colocar café, talvez seja o que faça

com que eles não saibam explicar por que são alvo das agressões do bullying por parte

de alguns colegas, isso ficou explicitado quando perguntamos aos mesmos por que

acham que os colegas os tratam mal, eles nos apresentaram as respostas a seguir:

Eu não fiz nada, eu tava sentado em minha cadeira, ele tava me

xingano, Teteca e Binho na sala de tarde (Menino).

Não sei, eu não entendo por que eles fazem isso comigo, só comigo e

os outros eles não pertuba, não entendo. (Menina).

Para que as crianças vítimas do bullying, assim como seus agressores

compreendam as dinâmicas do fenômeno e passem a refletir sobre os transtornos que o

problema deixa em todos os envolvidos exige o desenvolvimento de projetos

pedagógicos ou propostas parecidas para trabalhar a temática na escola.

Ao analisar as falas das mães das crianças que são vítimas de bullying, dá para

perceber que elas têm uma pequena noção do que seja o bullying e o compreendem

apenas como a prática de colocar apelidos, descartando assim, as outras características

do fenômeno. A concepção que elas têm apesar de superficial, uma vez que não

conhecem as outras características e o dinamismo do fenômeno não está incorreta,

apenas incompleta, pois, Fante (2005) sinaliza que os xingamentos e os apelidos

maldosos fazem parte das agressões do bullying.

Em muitos casos educadores, crianças e suas famílias têm convivido lado a lado

com essa violência nesse ambiente. Desse modo perguntamos as professoras e gestoras

se as mesmas já identificaram ocorrências de bullying na escola, elas nos responderam

afirmativamente “Sim. Quando o agressor percebe a fragilidade das vitimas, ele não hesita

em agredir verbalmente e fisicamente suas vitimas”, afirma a vice-diretora.

Ao lançar o olhar sobre a fala da Professora do 3° ano: “Vi um aluno pegar o

lanche do outro e satiriza-lo com a ajuda de outro aluno que utilizava a câmera do próprio

celular para filmar toda a ação”, vê-se que há a presença do fenômeno na referida escola.

Destacamos o uso dos recursos digitais na prática do bullying, quando ela cita

que o ato que presenciou foi filmado por um aluno, isso nos remete a fala de Ventura e

Fante (2011) quando fala que com esses novos recursos, as vítimas podem sofrer ser

submetidas a humilhações e difamação de maneira bem mais ampla, visto que as

agressões podem ser expostas nas redes sociais por meio da internet, os teóricos acima

denominam essa prática ou modalidade de bullying de cyberbullying.

A Coordenadora também sinaliza que já presenciou ocorrências do fenômeno

na escola, ela considera o fenômeno bastante comum no dia a dia das unidades escolares

e que esse é um desafio que a comunidade escolar tem se deparado, isso nos lembrou da

fala de Fante (2005) quando postula que o bullying mesmo sendo um problema mundial

e que não é recente, muitos educadores tem consciência da existência do fenômeno, no

entanto foram poucos os esforços para empreenderem um estudo sistemático acerca do

bullying, e isso se deve a fatores diversos que envolve as interfaces do próprio sistema

educacional no tocante aos professores, como sua remuneração, carga horária de

trabalho e outros fatores que podem implicar diretamente na formação continuada dos

mesmos.

Para saber com mais precisão perguntamos diretamente as crianças em estudo

se os colegas já adotaram com elas algum tipo de comportamento do qual elas não

gostaram,

Sim pertuba, xinga, briga, bate, falam que eu sou doida, fala um

monte de coisa e falano que eu sou doida, fala um monte de coisa e

quando eu respondo ou bato dizem é assim que é crente. (Menina).

O Menino nos afirma que é constantemente agredido na escola e que vários

colegas o xingam, praticam agressões físicas como chutes, murros, empurrões e

arremessam objetos como pedras e outros. Ele salienta que as agressões acontecem no

campo. Eles vão para o campo geralmente no recreio e os educadores não estão por

perto e por isso as agressões acontece com maior frequência. Dessa forma, Oliveira

(2012), fala que esses momentos são para as vitimas do bullying os momentos de maior

tensão, onde a agressão pode acontecer várias vezes na semana e os agressores podem

encontrar apoio nos demais colegas para empreitar a agressão.

O depoimento das mães das crianças quanto às queixas das mesmas em relação

às agressões ratificam a violência que sofrem na escola, elas deixaram isso claro quando

as perguntamos se as mesmas se queixam sobre o problema. As mães dizem que estão

cientes das agressões sofridas pelos filhos, elas conseguem até mesmo identificar o

grupo de agressores e afirmam que já comunicaram o fato a professora e a mesma não

deu a devida importância.

A Mãe da menina diz que as agressões que a filha sofre tem mudado seu

comportamento e que ela tem se comportado como seus agressores. Diz que ela fia

revoltada e para extravasar a violência que sofre se comporta agressivamente. Ela

afirma que a filha não gosta de ir para a escola.

De acordo com uma pesquisa realizada por Oliveira (2012), os alunos vítimas do

bullying relatam que se sentem ansiosos, com medo e estressados, a autora diz ainda

que esses apresentam fobias e timidez e podem ainda desenvolver dificuldades de

concentração sentimentos que podem resultar no afastamento dessas vítimas da escola,

já que tem medo de ir à escola, pois a vê como um ambiente inseguro e desagradável.

O desabafo das vítimas para os pais e professores é fundamental para identificar

os agressores e inferir diante da agressão, Oliveira (2012), no entanto aponta que o

desabafo da vitima de bullying é marcado pelo medo e tensão, talvez esse motivo

também contribua para que as mesmas tentem se afastar da escola.

Comunicar o fato aos educadores é fundamental para que as agressões tenha fim,

entretanto, para que as crianças tenham confiança nos professores, estes necessitam

criar, através de sua prática pedagógica, um ambiente empático e afetivo com seus

alunos.

O Menino participou à mãe as agressões sofridas. Ele procurou a diretora e duas

funcionárias da escola para participar o problema.

A atitude da diretora ao castigar e ameaçar expulsar os agressores, não finda as

agressões que caracterizam o bullying, pois não leva o agressor a refletir sobre suas

atitudes, como afirma Oliveira (2012) ao serem castigados ou advertidos para expulsão,

por exemplo, os agressores realizam gracejos e risos nessas situações.

Com a Menina também comunicou as agressões aos pais, à professora e a

diretora, porém, segundo ela, não resolveram muita coisa. Provavelmente as educadoras

devem ter adotado a mesma atitude que adotaram diante das queixas do caso anterior.

Ela relata que a mãe procurou os pais de uma das agressoras e os mesmos ficarm

omissos à situação. Ela relata que eles ainda ironizaram, sugerindo que a mesma

procurasse as autoridades competentes.

Reconhecer as dinâmicas do bullying é de fundamental importância para intervir

nos casos, proteger as vítimas, conscientizar os agressores e enfrentar esse sério

problema.

Ao observar minuciosamente o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola

percebemos que não há nem uma proposta ou projeto de intervenção objetivando o

bullying. Consideramos que seria interessante para sanar as ocorrências do fenômeno na

escola, que são bem frequentes como as próprias educadoras da instituição salientaram.

O bullying é um fenômeno em que seus agressores adotam atitudes maldosas,

agressivas e intencionais com o intuito de ferir e humilhar suas vítimas. Seus efeitos

psicológicos têm sido motivo de estudos por parte de teóricos do mundo inteiro, pois, os

comportamentos violentos que vitimizam tem levado muitas crianças e adolescentes a

atravessarem de forma traumática sua fase escolar e essa violência pode afetar a vida

adulta. Assim, procuramos saber das duas crianças em estudo nessa pesquisa como elas

se sentem ao serem mal tratadas pelos colegas.

Diante da resposta da Menina: “Fico com raiva, com vontade de bater, nervosa e

muito triste”, percebemos que as agressões sofridas despertam diversos sentimentos

negativos. Enquanto o menino não conseguiu responder e começou a chorar. Para Fante

(2005) esses episódios causam nas vítimas os sofrimentos de dor, angústia, ansiedade,

tensão e medo.

A menina fala ainda que sente vontade de bater nos seus agressores isso nosso

lembra o perfil da vítima agressora designada por Fante (2005) que na tentativa de

extravasar o sentimento ruim despertado pelas agressões também se torna agressiva.

É notório que estas crianças estão sofrendo e infelizmente não têm condições de

resolver os problemas e o impacto que o bullying lhes causa. Nessa perspectiva,

Oliveira (2012) contribui dizendo que os alunos vítimas do bullying relatam que se

sentem ansiosos e estressados. Fante (2005), por sua vez, sinaliza ainda que as vítimas

do bullying podem se tornar adultos inseguros, com autoestima empobrecida,

dificuldade em relacionar-se socialmente e uma maior tendência para desencadear

comportamentos depressivos.

Diante da fala e do comportamento apresentado pela Menina e pelo Menino

recorremos à contribuição de Fante (2005) ao sinalizar que a não superação do trauma

deixado pelo bullying poderá desencadear processos prejudiciais, ao seu

desenvolvimento psíquico, uma vez que a experiência traumatizante orientará

inconscientemente o seu comportamento, uma das falas da sua mãe deixa claro que seu

comportamento tem mudado, a mãe sinalizou que a Menina vem se tornando agressiva.

O sofrimento do Menino é de conhecimento das professoras, pois algumas

relatam que ele está sempre chorando ou se queixado de algum colega. Fante (2005)

acredita que o bullying pode despertar nas vítimas os mais variados sentimentos

negativos, como dor angústia, baixa autoestima, dificuldade e relacionar-se, dificuldade

de concentração e sentimento de vingança, a autora salienta ainda que esses sentimentos

podem afetar o comportamento das vítimas e interferir na própria construção do

conhecimento, podendo desencadear transtornos mentais e psicológicos gravíssimos,

esses efeitos devastadores deixados pelo bullying deixam marcas profundas na vida das

vítimas.

CONCLUSÕES

O bullying é uma violência que se caracteriza por agressões que podem ser tanto

físicas como psicológicas e sem motivos aparentes que visam humilhar e ferir suas

vitimas, essa violência pode deixar danos profundos ao psicológico das mesmas.

Constatamos que as vítimas do bullying podem desenvolver sentimentos

negativos diversos, como angústia, ansiedade, baixa autoestima, medo, fobias,

dificuldade em relacionar-se e outros. Nessa perspectiva, não podemos deixar de citar

que a gravidade e a frequência dos episódios de bullying podem, infelizmente, levar o

individuo a prática de homicídio e ou de suicídio.

Esses sentimentos podem causar impactos irreparáveis para o psicológico das

mesmas, suscitando o desejo de vingança, visto que o trauma pode conduzir

inconscientemente o seu comportamento, podem ainda desencadear comportamentos

depressivos e transformá-los em adultos inseguros.

Os conhecimentos adquiridos por meio da pesquisa certamente irão colaborar

para nossa atuação como pedagogas, bem como poderão contribuir para intervir nas

situações de bullying que se apresentam nas escolas. É importante considerar a

discussão e reflexão em torno de um currículo de formação de professores que

possibilite o estudo dos fenômenos vinculados à violência e a agressividade, uma vez

que essa temática ainda é distante dos cursos de formação docente.

Almejamos que os resultados aqui apresentados possam trazer contribuições

para outros trabalhos que abracem essa temática e futuramente para continuação de

trabalhos nessa linha de pesquisa em mestrado e doutorado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5 ed. São Paulo: Atlas,

1999.

FANTE, Cléo; Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar

para a paz 2 ed. Campinas: São Paulo: Verus, 2005.

OLIVEIRA, Nadjane. Bullying: Agressão e vitimização entre crianças de contexto

escolar público e privado. In: Anais do IV Seminário Internacional de Direitos

Humanos, Violência e Pobreza. Rio de Janeiro. Editora rede Sírius/UERJ, 2012.

VENTURA, Alexandre; FANTE, Cléo. Bullying: Intimidação no ambiente escolar e

virtual Belo Horizonte: Conexa, 2011.