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RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 53 Ano XIII Nº 23 Julho de 2011 Salvador, BA Resumo Este trabalho propõe analisar, caracterizar e interpretar a indús- tria siderúrgica brasileira segundo a ótica do padrão concorrencial ob- servado, assentado dentro de uma estrutura oligopo-lizada e com ca- racterísticas tácitas que definem a sua atuação no mercado e a interação estratégica das firmas. Fazendo uso do método analítico- descritivo, o desenvolvimento da pesquisa levou, através da análise do padrão de concorrência observa- do na indústria, a estabelecer con- siderações sobre a interação dessas firmas, bem como os resultados em termos de competitividade da in- dústria a partir do estudo das for- ças estruturais que condicionam as estratégias e a conduta das firmas atuantes nessa indústria. Dessa for- ma, a análise do padrão concorren- cial presente na indústria siderúr- gica, levou a considerá-la competi- tiva e alinhada as práticas concor- renciais adotadas pelas firmas den- tro da estrutura observada, bem como permitiu a identificação de aspectos referentes a divisão do mercado segundo as linhas de pro- dutos. Palavras chaves: Siderurgia, Oligopólio, Padrão de Concorrência, Competitividade, Interação Estraté- gica, Concentração de Mercado. ANÁLISE DO PADRÃO DE CONCORRÊNCIA NA INDÚSTRIA SIDERÚRGICA BRASILEIRA. ANDERSON SILVA DE LIMA 1 GUSTAVO CASSEB PESSOTI 2 Abstract The present paper aimed to ana- lyze, characterize and interpret the Brazilian steel industry from the viewpoint of competitive pattern ob- served, sitting inside an oligopolistic structure, and tacit characteristics that define its mar- ket performance and strategic inter- action of firms. Making use of the analytical method-description, the development of research led by ana- lyzing the competition pattern ob- served in the industry, establish considerations about the interaction of these firms, as well as the results in terms of competitiveness from the study of forcesstructural condition and management strategies of firms operating in this industry. Thus, the competitive analysis of the pattern present in the steel industry led to consider it competitive and aligned with the competitive practices adopted by firms within the struc- ture observed and allowed the iden- tification of aspects related to divid- ing the market according to prod- uct lines. Keywords: steel mill, Oligopoly , Standard of Competition , Competitive edge , Interaction Strategic , Concentration of Market. JEL: D2 A construção do conceito de con- corrência enseja uma grande com- plexidade. O debate desse tema re- monta a Adam Smith, e ainda hoje, encontra espaço para discussão nos diversos meios acadêmicos. Este artigo tem como objetivo fazer uma análise do padrão de concorrência observado na indústria siderúrgica brasileira, evidenciando que a exis- tência de uma determinada estru- tura de mercado designa o espaço concorrencial e seu dinamismo. A análise estrutural da indús- tria siderúrgica brasileira permite identificar um mercado caracteriza- do por um oligopólio concentrado onde um reduzido número de gran- des firmas detêm a totalidade da produção nacional. Ressalta-se que o padrão de concorrência observa- do no interior da indústria siderúr- gica é diretamente influenciado pe- las características estruturais e comportamentais do ambiente com- petitivo da empresa. Assim sendo, as complementaridades tecnoló- 1 Economista graduado pela UNIFACS 2 Economista graduado pela UFBa, Mestre em Análise Regional pelo PPDRU- UNIFACS, Diretor de Indicadores e Estatísticas da SEI, Professor e Coordena- dor do curso de Ciências Econômicas da UNIFACS.

ANÁLISE DO PADRÃO DE CONCORRÊNCIA NA INDÚSTRIA …

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RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 53Ano XIII Nº 23 Julho de 2011 Salvador, BA

ResumoEste trabalho propõe analisar,

caracterizar e interpretar a indús-tria siderúrgica brasileira segundoa ótica do padrão concorrencial ob-servado, assentado dentro de umaestrutura oligopo-lizada e com ca-racterísticas tácitas que definem asua atuação no mercado e ainteração estratégica das firmas.Fazendo uso do método analítico-descritivo, o desenvolvimento dapesquisa levou, através da análisedo padrão de concorrência observa-do na indústria, a estabelecer con-siderações sobre a interação dessasfirmas, bem como os resultados emtermos de competitividade da in-dústria a partir do estudo das for-ças estruturais que condicionam asestratégias e a conduta das firmasatuantes nessa indústria. Dessa for-ma, a análise do padrão concorren-cial presente na indústria siderúr-gica, levou a considerá-la competi-tiva e alinhada as práticas concor-renciais adotadas pelas firmas den-tro da estrutura observada, bemcomo permitiu a identificação deaspectos referentes a divisão domercado segundo as linhas de pro-dutos.

Palavras chaves: Siderurgia,Oligopólio, Padrão de Concorrência,Competitividade, Interação Estraté-gica, Concentração de Mercado.

ANÁLISE DO PADRÃO DE CONCORRÊNCIA NA INDÚSTRIA

SIDERÚRGICA BRASILEIRA.

ANDERSON SILVA DE LIMA1

GUSTAVO CASSEB PESSOTI2

AbstractThe present paper aimed to ana-

lyze, characterize and interpret theBrazilian steel industry from theviewpoint of competitive pattern ob-served, sitting inside anoligopolistic structure, and tacitcharacteristics that define its mar-ket performance and strategic inter-action of firms. Making use of theanalytical method-description, thedevelopment of research led by ana-lyzing the competition pattern ob-served in the industry, establishconsiderations about the interactionof these firms, as well as the resultsin terms of competitiveness from thestudy of forcesstructural conditionand management strategies of firmsoperating in this industry. Thus, thecompetitive analysis of the patternpresent in the steel industry led toconsider it competitive and alignedwith the competitive practicesadopted by firms within the struc-ture observed and allowed the iden-tification of aspects related to divid-ing the market according to prod-uct lines.

Keywords: steel mill, Oligopoly ,Standard of Competition ,

Competitive edge , InteractionStrategic , Concentration of Market.

JEL: D2

A construção do conceito de con-corrência enseja uma grande com-plexidade. O debate desse tema re-monta a Adam Smith, e ainda hoje,encontra espaço para discussão nosdiversos meios acadêmicos. Esteartigo tem como objetivo fazer umaanálise do padrão de concorrênciaobservado na indústria siderúrgicabrasileira, evidenciando que a exis-tência de uma determinada estru-tura de mercado designa o espaçoconcorrencial e seu dinamismo.

A análise estrutural da indús-tria siderúrgica brasileira permiteidentificar um mercado caracteriza-do por um oligopólio concentradoonde um reduzido número de gran-des firmas detêm a totalidade daprodução nacional. Ressalta-se queo padrão de concorrência observa-do no interior da indústria siderúr-gica é diretamente influenciado pe-las características estruturais ecomportamentais do ambiente com-petitivo da empresa. Assim sendo,as complementaridades tecnoló-

1 Economista graduado pela UNIFACS2 Economista graduado pela UFBa, Mestre em Análise Regional pelo PPDRU-

UNIFACS, Diretor de Indicadores e Estatísticas da SEI, Professor e Coordena-dor do curso de Ciências Econômicas da UNIFACS.

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO54 Ano XIII Nº 23 Julho de 2011 Salvador, BA

gicas, as restrições ou estímulos as-sociados ao fluxo econômico, entreoutros fatores, surgem da interde-pendência das firmas.

A elevada participação no mer-cado detida por um número reduzi-do de firmas, típica das estruturasde mercado do oligopólio homogê-neo, com a prevalência de pequenadiferenciação de produtos e eleva-das escalas técnicas da produção,relativamente aos demais ramos daindústria, ditam a característica co-mum da indústria em análise.

O comportamento concorrencial,expresso pelo padrão de concorrên-cia observado na indústria siderúr-gica nacional, converge para a au-sência de rivalidade entre as firmasatuantes no mercado. Em tempo, éimportante pontuar que ausência derivalidade entre as firmas não ne-cessariamente traduz-se em ausên-cia de concorrência no mercado. Aausência de rivalidade é uma carac-terística observada nesta indústria,pois a realidade fática do mercadonão permitiria inferir a existênciade condutas agressivas por preçosentre as firmas do setor em questão.

Essa afirmação contrapõe-se aoque imaginava Marshall (1890)para quem concorrência e coopera-ção são conceitos inconciliáveis.Fato é, que na indústria siderúrgicanacional a ausência de rivalidade éum elemento visível, e até certo pon-to necessário, haja vista a articula-ção do setor no sentido de tornar-secompetitivo internacionalmente.

Possas (1999, p.54), endossa essefato afirmando que,

[...] Como em outras formas dedisputa e seleção, nem sempre éconveniente agir isoladamente econtrapor-se a todos os demaisparticipantes do processo. O pro-cesso seletivo de concorrência per-mite a sobrevivência de muitoscapitais. Alianças podem ser fei-tas não apenas entre produtoresrivais [...]. É importante que fiquebem claro, entretanto, que a deci-são de se fazer ou não uma alian-ça, e com quem, é parte do pro-cesso de elaboração da estratégiaa ser seguida e, como tal, está su-bordinada à concorrência. Assim,numa economia capitalista, em

vez de oposição entre concorrên-cia e cooperação, a última ocorrecomo parte subordinada da pri-meira.

A ausência de rivalidade obser-vada no setor siderúrgico nacionalassinalado anteriormente, aliado aofato que as firmas são tomadoras depreço, denota que os esforços com-petitivos passam pela capacidadedo setor explorar ao máximo as fon-tes de redução de custos como a ges-tão da sua produção, logística ade-quada, fornecedores etc.

Depreende-se então que as fir-mas atuantes não concorrem porpreços, e dessa forma em perfeitoalinhamento com as característicasde uma estrutura de mercado dotipo oligopólio concentrado, ondea ausência de diferenciação de pro-duto é ditada pela predominânciade produto substancialmente homo-gêneo: o aço. De modo geral, as em-presas da indústria em análise são�tomadoras de preços�, pois estessão muitas vezes definidos em bol-sas internacionais e, portanto, sen-síveis as variações da demanda di-tadas principalmente pelos maiorescentros consumidores bem como aovolume da produção mundial(FERRAZ; KUPFER; HAGUE-NAUER, 1995)

1.1 A Interação Estratégica na In-dústria Siderúrgica Brasileira

Presente na discussão sobre opadrão de concorrência observadono interior da indústria siderúrgi-ca nacional, elementos como a au-sência de acentuada rivalidade,concorrência ditada pelo compor-tamento dos investimentos em fun-ção das previsões do comportamen-to da demanda e não pelo preço, ele-vadas barreiras à entradas, rigidezde preços dentre outras caracterís-ticas de uma estrutura de mercadodo tipo oligopólio concentrado dãoo tom da conduta observada nomercado siderúrgico.

No aspecto referente a interaçãoestratégica do setor, cabe destacarelementos da coordenação oligopo-lística presente na conduta das fir-mas atuantes. Como bem prega ateoria econômica, a coordenação deuma estrutura oligopolista é com-plexa. As decisões relativas a pre-ço, nível de produção, propagandae investimentos envolvem variáveisestratégicas. Cada firma deve avali-ar como suas ações afetarão as em-presas rivais e as reações das con-correntes.

A isonomia competitiva do mer-cado siderúrgico brasileiro é reve-lada na distribuição do mercadosegundo a produção e aos seus pro-dutos. A diferenciação nos produ-tos finais é evidenciada através daespecialização das firmas em deter-minadas linhas de produtos, ou seja,as firmas atuantes no mercado si-derúrgico se especializam na pro-dução de linhas de produtos dife-rentes uma das outras.

Como já mencionado, o grau deconcentração econômica do setorsiderúrgico é bastante elevado. Seg-mentando-se a análise, e levando-se em conta que as firmas não atu-am em todos os segmentos produ-tores nos quais se divide a indús-tria, constata-se que o grau de con-centração econômica é ainda maiordo que sugere esta caracterização.Como é sabido que a concentraçãode mercado é uma condição neces-sária para a determinação de podermercado, os organismos de defesada concorrência surgem comoentreposto, com a finalidade de ga-rantir a existência de condições decompetição, garantindo maior efi-ciência econômica no funcionamen-to dos mercados3.

Os quadros que seguem, eviden-ciam a segmentação do mercado si-derúrgico nacional, destacando adivisão da indústria quanto aosseus produtos, relacionando-os comas siderúrgicas produtoras.

3 Para o caso da indústria em análise, o CADE (Conselho Administrativo deDefesa Econômica) após denúncia do Sindipeças, institui processo adminis-trativo (nº. 08000.015337/1997-48) contra a CSN, Cosipa e Usiminas pelaconfiguração de práticas anticompetitivas através da formação de cartel nosegmento de aços planos.

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 55Ano XIII Nº 23 Julho de 2011 Salvador, BA

Quadro 1: Segmentação da indústria siderúrgica quanto aos produtos planosFonte: IAB (2010)

Na linha de aços planos, a CSN,Usiminas e a ArcelorMittal detêmesmagadora participação de merca-do4. No tocante ao mix de produtos,pouca diferenciação é observadaentre as empresas. Um exame noscatálogos de produtos, bem comoevidencia o quadro 1, demonstraque as firmas atuantes nesse tipode segmentação vendem os mesmostipos de produtos, quais sejam: mer-cados de autopeças, rodas, botijões,tubos, perfis, máquinas eimplementos agrícolas e estruturasmetálicas para a linha de lamina-dos a quente. Também a linha auto-mobilística, de utilidades domésti-cas, motores elétricos e compresso-res, embalagens, móveis, construçãocivil na linha de laminados a frio, eatendimento aos setores de tubos degrande diâmetro, naval, construçãocivil, caldeiras e vasos de pressão,máquinas e equipamentos industri-ais, agrícolas, rodoviários, aços es-truturais soldáveis temperados erevenidos e resistentes ao desgastena linha de chapas grossas.

onalmente a sua representatividadena indústria. A produção detrefilados nacional, em grande mon-ta, se divide entre ArcelorMittal eGerdau. Os principais produtos, damesma forma que na segmentaçãodos planos, são poucos diferencia-dos e servem a mesma aplicação. Osprodutos comuns as firmas atuan-tes são: o arame galvanizado, ara-me para solda (Mig-Mag),cercamento, telas soldadas dentreoutros.

Quadro 2: Segmentação da indústria siderúrgica quanto aosprodutos TrefiladosFonte: IAB (2010)

O grupo Gerdau, que tradicio-nalmente atua no segmento de açoslongos, se prepara para concorrerna linha de aços planos na esferanacional. Prevista para o ano de2012, o grupo Gerdau está em fasede construção de um laminador dechapas grossas para a estréia daempresa na produção de aços pla-nos no país.

Para os trefilados análise seme-lhante é observada. As firmas atu-antes dividem o mercado proporci-

4 Levantamento feito com os dados dos relatórios anuais das companhias doano de 2009, aponta aproximadamente 90% da produção nacional tuteladasa essas empresas. O market share nesta segmentação de aços planos, estáassim dividido: 37% - Usiminas, 33% - CSN, 20% ArcelorMittal. O restante,(10%) aparece pelas importações.

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Para o segmento de aços longos,o Grupo Gerdau é líder na produ-ção nas Américas e uma das maio-res fornecedoras de aços longos es-peciais do mundo. Atualmente aGerdau possui operações nas Amé-ricas, Europa e Ásia, as quais so-mam uma capacidade instalada demais de 25 milhões de toneladas deaço por ano. Produz aços longoscomuns, especiais e planos para ossetores da construção civil, da in-dústria e da agropecuária.

Junto com a Gerdau, aAcellorMittal divide a produção na-cional de aços longos. O Gráfico 1 aseguir demonstra o grau de concen-tração na segmentação de longos.

Ainda no que se refere ao seg-mento de longos, a V&M do Brasildetém a exclusividade na produçãode tubos sem costura, conferindo aela poder de monopólio nasegmentação do seu produto. Den-tre as principais linhas, destacam-

se os tubos para aplicações automo-bilísticas, tubos para a indústria emgeral (tubos de termogeração, tubossemi-acabados, tubos mecânicos,tubos para gasodutos), tubos paraaplicações petrolíferas e tubos paraaplicações na construção civil.

No cenário oligopolista apresen-tado, a Villares Metals atua no seg-mento de aços especiais de alta liga,com expressiva parcela da sua pro-dução destinada a exportação. Sualinha de produto inclui aços rápi-dos, aços para ferramentas, açosinoxidáveis.

A Votorantim Siderurgia e aSinobras têm suas produções volta-das para a construção civil e mecâ-nica. Atuam da mesma forma nosegmento de aços longos, e as suaslinhas de produtos (vergalhões, fio-máquina, treliças etc.) concorremcom os grandes players do segmen-to em questão, porém as suas dimi-nutas escalas e participação de mer-cado não oferecem a indústria emanálise obstáculos significativos noque se refere a concorrência obser-vado no setor.

Cabe mencionar que as ativida-des do grupo Votorantim têm comocaracterísticas um portfólio diver-sificado, sendo a Votorantim side-

Quadro 3: Segmentação da indústria siderúrgica quanto aos produtos longosFonte: IAB (2010)

Gráfico 1: Market Share Aços Longos 2009Fonte: Relatório anual das empresas. Elaboração própria

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rurgia apenas um braço de uma va-riedade de rotas de atuação dessegrupo5. Desta forma, a diminutaparticipação de mercado no setorsiderúrgico pode ser explicado poropção estratégica de atuação. Parailustrar, apenas 10% da receita lí-quida do ano de 2009 foi fruto donegócio Votorantim Siderurgia.(VOTORANTIM, 2010)

1.2 Padrão de Concorrência eCompetitividade da IndústriaSiderúrgica Brasileira.

Haguenauer (1989), organiza osvários conceitos de competitividadeem duas famílias, quais sejam:competitividade como desempenho,ou seja como um fenômeno ex-post,expressa de alguma forma na parti-cipação de mercado. A participaçãodas exportações da firma ou con-junto de firmas no comércio inter-nacional total da mercadoria apa-rece como seu indicador mais ime-diato; e a competitividade na ver-tente eficiência, fenômeno ex-ante, acompetitividade é associada à ca-pacidade da firma/indústria pro-duzir bens com maior eficácia queos concorrentes. Os indicadores sãobuscados em comparativos de cus-tos e preços, coeficientes técnicos (deinsumo-produto ou outros) ou pro-dutividade dos fatores, em termosdas melhores práticas verificadasna indústria internacional.

Assim como coloca Possas(1999), a conciliação dos dois con-ceitos parece ser possível segundoa utilização que lhes queira dar. Acompetitividade ex-post, seria o de-sempenho efetivamente ocorrido doagente em questão. Esse, por suavez, depende da competitividade ex-ante ora mencionada e do acerto daestratégia escolhida pela firma.

Para o que se propõe a presenteanálise, e em consonância comKupfer (1992), chega-se à proposi-ção de que a competitividade é fun-ção da aderência das estratégiasdas empresas individuais ao pa-drão de concorrência vigente em ummercado específico.

Nas palavras do próprio Kupfer(1992, p. 14),

Em cada mercado vigoraria umdado padrão de concorrência de-finido a partir da interação entreestrutura e condutas dominantesno setor. Seriam competitivas asfirmas que a cada instante ado-tam estratégias de conduta (inves-timentos, inovação, vendas, com-pras, financiamento, etc.) maisadequadas ao padrão de concor-rência setorial.

Dessa forma o padrão de concor-rência observado na indústria side-rúrgica brasileira e entendido comoum conjunto de formas de concor-rência que se revelam dominantesem cada espaço possível de compe-tição, apresenta relação direta coma competitividade do setor.

1.2.1 A competitividade ex-post dasiderurgia brasileira sob oprisma do desempenho ex-portador.

Uma análise sob esse prisma ésempre baseada na capacidade re-velada de competição frente a ou-tros produtores, e a outros merca-dos. O indicador mais imediato paramensuração da atividade siderúr-gica nacional, passa pela capacida-de das firmas em ampliar a sua par-ticipação na oferta internacional dedeterminados produtos6. Possas(1999), sugere que ao afirmar queuma firma é competitiva, é precisoespecificar em que âmbito isso se dá.

O Gráfico 2 a seguir evidencia aparticipação brasileira nas expor-tações mundiais de aço entre o perí-odo de 1999 a 2008.

5 O grupo Votorantim atua em três segmentos: industrial, finanças e novos negó-cios. No segmento industrial, o grupo opera nos setores de cimento, minera-ção, metalurgia, siderurgia, papel e celulose, agroindústria e geração deenergia.

6 Ver Haguenauer (1989).

Gráfico 2: Participação Brasileira no Comércio Mundial de Pro-dutos SiderúrgicosFonte: World Steel (2010). Elaboração própria.

Ao longo do período é observada uma leve recuperação do indicadorentre os anos de 2002 e 2003 e acentuada queda entre 2003 e 2008, atingin-do 2,1% a participação brasileira no comércio de produtos siderúrgico.Alguns elementos podem ser pontuados para explicar o fraco desempe-nho das exportações brasileiras, dentre eles destacam-se: o aumento doconsumo de produtos siderúrgicos no mercado interno em um ritmo bemsuperior ao da ampliação da capacidade, imposição de barreiras protecio-nistas de outros países7 e a crise americana de 2007/2008. Assim, sob oponto de vista do desempenho exportador, a competitividade da indústria

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO58 Ano XIII Nº 23 Julho de 2011 Salvador, BA

siderúrgica brasileira vem pioran-do com passar dos anos.

Em termos de competitividadeinternacional, cabe também umaanálise sob a ótica da forma em quese dá a inserção internacional dosprodutos. De Paula (2002, p.107),constatou que em 1999 a participa-ção brasileira era grande em produ-tos de baixo valor agregado, comosemi-acabados (14,1%), e pequenaem produtos mais nobres, comochapas galvanizadas (0,4%). Esteperfil de exportador especializadoem produtos semi-acabados (comoplacas, blocos e tarugos) foi a tôni-ca da indústria siderúrgica brasi-leira ao longo de toda a década de1990.

O Gráfico 3 a seguir atualiza osnúmeros do estudo de De Paula(2002), tendo como referência a pri-meira década do atual século e per-mitindo um comparativo das análi-ses.

Conforme é observado no gráfi-co, as vendas internacionais de pro-dutos acabados em tonelagem (pla-nos +longos), passaram de relativaestabilidade no início da década,para uma trajetória ascendente du-rante o período, declinando no fim.Grande parte desse declínio éexplicada pela gênese e dissemina-ção da crise americana pelo mun-do, e não a falta competitividade dosetor.

Para os produtos semi-acabadosobserva-se o declínio das suas ex-portações ao longo do período que,apesar de ainda representar em nú-meros absolutos o grosso dos pro-dutos siderúrgicos brasileiros expor-tados, passou de 14,1 % do total dasexportações em 1999, para 8,2% em2008. Isso é reflexo da necessidadeobservada no setor, desde a suareestruturação na década de 1990,em aprofundar a inserção competi-tiva da siderurgia brasileira em dire-ção aos produtos mais nobres.

Em extenso estudo sobre acompetitividade, Ferraz, Kupfer eHaguenauer (1995), estabelecem fa-tores críticos para competitividadebrasileira , dividindo a indústria

nacional segundo os padrões deconcorrência por eles identificadosem quatro grandes grupos de indús-trias para efeito de análise: grupode indústrias produtoras decommodities, de bens duráveis e seusfornecedores, indústrias tradicio-nais e produtores de bens difusoresde progresso técnico.

Pelas características inerentes aatividade siderúrgica, a mesma, se-gundo o estudo ora mencionado,enquadra-se no grupo produtor decommodities, pois são unidos por re-gras similares no que diz respeito acomo as empresas competem emseus mercados e, em grande parte,às trajetórias futuras de evolução.

O que é observado na indústriasiderúrgica nacional, e em particu-lar nos números apresentados, é aadequação do setor as exigênciascompetitivas rumo a fabricação deprodutos mais nobres que permitemaior rentabilidade, menorapropriabilidade e maior estabilida-de nos preços. Dessa forma, a dinâ-mica concorrencial, fruto do padrãode concorrência observado na side-rurgia brasileira, e que tinha naseconomias de escala uma impor-

tante fonte de competitividade, ago-ra passam a ter no grau deenobrecimento do mix de produtosum fator adicional, e decisivo, parao sucesso competitivo. (FERRAZ;KUPFER; HAGUENAUER, 1995)

Assim, pela ótica da inserçãointernacional, a Brasil vem melho-rando o seu posicionamento com-petitivo através da trajetória ascen-dente que se observa nas exporta-ções de produtos mais nobres, po-rém seriamente impactada nos últi-mos anos pelos efeitos da crise ame-ricana, portanto, em perfeito alinha-mento com as tendências competi-tivas internacionais.

1.2.2 A competitividade ex-ante dasiderurgia brasileira sob a ver-tente dos custos de produção.

Sob o ponto de vista dos custosde produção, a siderurgia brasilei-ra é considerada bastante competi-tiva. De Paula (2002) discriminoupara o ano de 2001 os custos de pro-dução de bobinas laminadas a friocomparando-os com os de onzegrandes países produtores mundi-ais. Os resultados estão à mostra naTabela 1 a seguir:

7 O Brasil por diversas vezes protestou junto a OMC contra a taxação do açoprincipalmente pelos EUA, um dos principais destinos da exportação do açobrasileiro fora da América Latina. Um protecionismo excessivo no setor de aço,contribui para tornar vulnerável a competitividade brasileira.

Gráfico 3: Exportação Brasileira de Produtos Siderúrgicos �1999/2008Fonte: World Steel (2010). Elaboração própria

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 59Ano XIII Nº 23 Julho de 2011 Salvador, BA

O processo de abertura comerci-al e a reestruturação do setor no iní-cio da década de 1990 foram ele-mentos importantes para tornar oBrasil mais competitivo internacio-nalmente, no que se refere acompetitividade vista como eficiên-cia (custos de produção). Os núme-ros da tabela 1 evidenciam que noano de 2001 a siderurgia brasileirajá apresentava custos competitivosquando comparados com a gamados países selecionados.

A produtividade também au-mentou acentuadamente. Conside-rando que o principal canal peloqual a abertura comercial estimulao crescimento econômico é o da pro-dutividade, a indústria siderúrgicanacional soube se moldar as modi-ficações de modo a extrair frutos doprocesso, se tornando mais produ-tiva e competitiva.

Bonelli e Pinheiro (2008), em es-tudo sobre os efeitos da abertura co-mercial sobre o crescimento econô-mico no Brasil, dividem as indústri-as em grupos segundo o grau de pe-netração das importações antes da

Fonte: De Paula (2002)*Em hora-homem por tonelada

Tabela 1: Custo de Produção de Bobinas Laminadas a Frio, Países Selecionados-2001 (US$ /tonelada despachada)

abertura, e analisa o crescimento daprodutividade durante a década. Aindústria siderúrgica, no seu grupo,teve o melhor desempenho.

O melhor desempenho nesse gru-po é o da siderurgia -em que aprivatização foi o elemento chaveno ganho de eficiência e produti-vidade- , com uma taxa média decrescimento da produtividade damão-de-obra de 9,8% ao ano en-tre 1990 e 2000. (BONELLI e PI-NHEIRO, 2008, p. 111).

Portanto, nos termos acima, aabertura comercial foi propícia aoaumento da competitividade do se-tor no cenário internacional a par-tir da redução dos custos por meiodo aumento da produtividade, o quepossibilitou a sua inserção interna-cional, e qualificou o setor a compe-tir segundo as normas e preços domercado externo.

De Paula (2002) aponta comoprincipais vantagens competitivasda siderurgia brasileira os reduzi-dos custos salariais, a abundânciade matéria prima, a possibilidade

de comprá-la no próprio território ea sua relação custo/qualidade, cor-po técnico capacitado para promo-ver melhorias otimizadoras e ino-vadoras além da possibilidade dediversificação e verticalização.

Estudo recente realizado pelaBooz & Company (2010) ratifica acompetitividade da indústria se-gundo a eficiência. É mostrada ou-tra face da moeda, onde são apon-tados os fatores que afetam acompetitividade dos produtos side-rúrgico brasileiro vis a vis os fabri-cados nos demais países. O foco dareferida pesquisa é a carga tributá-ria e seus efeitos na competitividadedo setor. Foram avaliadas as duasprincipais rotas produtivas da in-dústria do aço: integrada (a partirde minério de ferro) e semi-integra-da (a partir de sucata) e os produtoscaracterísticos de cada uma delas -bobina a quente e vergalhão paraconstrução. Além disso, os paísesforam selecionados levando emconsideração o escopo geográfico,produção e a representatividade nasexportações internacionais.

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO60 Ano XIII Nº 23 Julho de 2011 Salvador, BA

O estudo mostra que, na ausência de tributos, a indústria siderúrgicabrasileira é competitiva, considerando os custos de produção para a bobi-na a quente e vergalhão, e comparando-os com os países selecionados.Situação diferente é verificada na presença dos impostos.

Dessa forma, o custo dos impos-tos sobre produção e vendas de pro-dutos siderúrgicos reduz acompetitividade do aço brasileirono mercado internacional, levandoem consideração as cargas tributá-rias dos países selecionados versusos respectivos custos de produção.

Se considerarmos ainda o im-pacto de tributos associados a no-vos investimentos, o aço brasileiroperde ainda mais em competiti-vidade, na medida em que a eleva-da tributação onera os investimen-tos realizados em 2 US$/T para asbobinas a quente e em 1 US$/Tpara os vergalhões (BOOZ eCOMPANY, 2010).

Associado a tudo isso, e confor-me características de uma estruturade mercado no formato de oligopólioconcentrado, dentre elas a elevadarelação capital/produto e a neces-sidade de investir à frente da de-manda (manutenção de capacida-de ociosa), fazem com que a capaci-dade de mobilizar recursos parainvestimentos seja decisiva para amanutenção da competitivi-dade daindústria. Contudo, as elevadas ta-xas de juros não dão à indústria si-derúrgica a mobilidade necessáriapara os investimentos, sendo con-siderada uma das taxas de juros re-ais mais altas do mundo. No gráfi-co a seguir é evidenciado o panora-ma das taxas de juros em dezembrode 2009

Gráfico 4: Custos de Produção para bobina a quente sem im-postos em países selecionados � US$/T � 2009Fonte: Booz &Company (2010)

Gráfico 5: Custos de Produção para vergalhão sem impostosem países selecionados � US$/T � 2009Fonte: Booz &Company (2010)

Se considerarmosainda o impacto de

tributos associados anovos investimentos, oaço brasileiro perde

ainda mais emcompetitividade, namedida em que a

elevada tributação...

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O gráfico 8 mostra as cinco mai-ores e as cinco menores taxas de ju-ros reais praticados no mundo emdezembro de 2009. Conforme podeser observado o Brasil ocupa a po-sição de segunda maior taxa de juroreal do mundo, fato esse que enca-rece o investimento produtivo espe-cialmente da atividade siderúrgica.

Retomando questões anterior-mente abordadas, é observado quedo ponto de vista da firma particu-lar, a competitividade deve ser en-carada como �o poder de definir(formular e implementar) estratégi-as de valorização do capital, desdeque baseado em aspectos econômi-cos e não institucionais� (POSSASe CARVALHO, 1990, p. 53 apudPOSSAS, 1999, p. 173). Ou seja, essepoder deve ser respaldado na pos-se de vantagens competitivas commaior ou menor eficácia em relaçãoaos demais concorrentes.

Com relação a competitividadesob o prisma da eficiência, e levan-do em conta as considerações acer-ca da competitividade baseada nosaspectos puramente econômicos enão institucionais, percebe-se peloexposto que a indústria siderúrgica

Gráfico 6: Custo de produção + tributos bobina a quente empaíses selecionados � US$/T � 2009Fonte: Booz &Company (2010).

Gráfico 8: Taxas de Juros Reais de Países Selecionados � De-zembro/2009Fonte: Up Trend Consultoria. Extraído do Folha.com (2009)

Gráfico 7: Custo de produção + tributos vergalhão em paísesselecionados � US$/T � 2009Fonte: Booz & Company (2010).

Retomandoquestões

anteriormenteabordadas, é

observado que doponto de vista dafirma particular, a

competitividade deveser encarada como �o

poder de definir(formular e

implementar)estratégias de

valorização do capital,desde que ...

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brasileira sempre possuiu custos deprodução competitivos. Porém, as-pectos como a acentuada tributaçãosobre a produção e o investimento,e altas taxa de juros reduz acompetitividade do setor frente aosseus concorrentes no plano interna-cional.

Considerações FinaisA análise da estrutura e do pa-

drão de concorrência da indústriasiderúrgica brasileira permite iden-tificar um mercado caracterizadopor um oligopólio concentrado. Atu-almente apenas oito grupos empre-sariais privados são responsáveispela totalidade da produção nacio-nal. Há predominância de produ-tos homogêneos (aço), alta concen-tração técnica da produção e a au-sência de rivalidade entre as firmasconformam a estrutura da indústriaanalisada. A exigência de elevadasescalas de produção e a alta relaçãocapital/produto constitui elevadasbarreiras à entrada para osentrantes potenciais.

O padrão de concorrência daindústria siderúrgica brasileira vemsendo profundamente influenciadopelas transformações no cenáriointernacional, especialmente o au-mento da oferta mundial de aço.Com a ausência de rivalidade que éobservado entre as firmas, aliado aconstatação de que na indústria emquestão a competição via preço nãoé um procedimento regular, os es-forços concorrenciais evoluem nadireção de redução dos custos e dacrescente diferenciação dos produ-tos, especialmente ao atendimentoa especificações individuais dos cli-entes e pela prestação de serviçoscomplementares como transporte eestocagem, por exemplo.

Internamente, a interação estra-tégica das firmas é visualizada peladivisão do mercado quantos as prin-cipais linhas de produtos. No seg-mento de aços planos, como as cha-pas, folhas metálicas e placas, aCSN, Usiminas e a ArcelorMittal(Inox e Tubarão) detêm 90% da pro-dução nacional. Produção essa que

não é dividida com as outras firmas.No segmento de aços longos, aGerdau e a ArcelorMittal (Aços Lon-gos) possuem também 90% da pro-dução nacional. Ainda no segmen-to de aços longos, a V&M do Brasilpossui o monopólio na produção detubos de aço sem costura. Algumasempresas, menores em escala, comoa Sinobrás, Vilares Metals e aVotorantim Siderurgia, compõem afranja do mercado e não ameaçamo comportamento das firmas domi-nantes.

A indústria siderúrgica analisa-da é responsável pelo fornecimentode bens intermediários para a mai-or parte dos setores econômicos.Embora venha experimentando for-te concorrência de materiais alter-nativos, como plásticos e alumínio,o aço ainda é a principal fonte dematerial básico da indústria, espe-cialmente aquela ligada a bens deconsumo duráveis e a bens de capi-tal. Segundo a delimitação analíti-ca colocada na concepção do con-ceito de competitividade, a indús-

tria siderúrgica é considerada com-petitiva e alinhada ao padrão deconcorrência que a conforma. Nes-se aspecto, algumas consideraçõessão necessárias para afirmação dahipótese, pois foi verificado que acompetitividade deve ser mesuradapor uma cesta de indicadores e nãoatravés de um indicador isolado,dada a falta de consenso na teoriaeconômica.

Em termo de desempenho expor-tador (conceito ex-post), medido pelaparticipação brasileira no comérciomundial de produtos siderúrgicos,a competitividade brasileira vempiorando pois a sua participaçãovem diminuindo ao longo anos.Percebe-se porém, que essa parcelada produção que deixou de ser ex-portada encontrou destino no mer-cado interno, tanto pela diminuiçãoda demanda internacional frente acrise americana, como pela medidasanti-cíclicas, como a redução do IPIsobre linha branca e automóveis,além do Programa de Aceleração doCrescimento (PAC) e a obras para arealização da Copa do Mundo de2014 e as Olimpíadas de 2016.

A despeito da competitividadeda siderurgia brasileira com relaçãoa inserção internacional dos seusprodutos (ex-post), percebe-se umamudança no paradigma na últimadécada. A siderurgia nacional vemse esforçando para cada vez maiscolocar no mercado internacionalprodutos de maior valor agregadocomo os planos e longos de ummodo geral. Foi constatada a redu-ção, ainda tímida, da inserção dosprodutos de menor valor agregadocomo os semi-acabados. Este perfilde exportador especializado em pro-dutos semi-acabados e de baixo va-lor agregado foi o principalparadigma da indústria siderúrgi-ca brasileira ao longo de toda a dé-cada de 1990. Assim, sob essa con-cepção, a competitividade brasilei-ra melhorou.

Em termos de competitividadepelo viés ex-ante, analisada pela óti-ca dos custos de produção desen-volvida durante a pesquisa, a indús-

A despeito dacompetitividade dasiderurgia brasileira

com relação ainserção internacional

dos seus produtos(ex-post), percebe-se

uma mudança noparadigma na últimadécada. A siderurgia

nacional vem seesforçando para cadavez mais colocar no

mercado internacionalprodutos de maior

valor agregado comoos planos e longos de

um modo geral.

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tria siderúrgica brasileira desde aabertura comercial na década de1990, destaca-se competitivamenteno cenário internacional. Dentre oscondicionantes que levaram o Bra-sil a essa posição, evidenciou-se opapel das privatizações e a abertu-ra comercial, gerador da exposiçãono cenário internacional dos pro-dutos siderúrgicos e elemento cha-ve do aumento da eficiência e dacompetitividade no setor. O aumen-to da produtividade brasileira e aconseqüente redução nos custos deprodução no pós-privatizações,aconteceu pela eliminação das ine-ficiências do Estado brasileiro nodesenvolvimento do setor, e do in-vestimento maciço da iniciativa pri-vada na modernização do parquenacional.

As empresas revelaram buscarcompetitividade em vantagens decusto, através da expansão das es-calas produtivas, padronização dosprocessos e redução dos índices de

consumo de matérias-primas. Oscustos tributários e as elevadas ta-xas de juros do Brasil ainda sãoinibidores de um melhor posicio-namento competitivo no mercadointernacional do aço nacional. Naausência de tributação, o Brasilapresenta um dos custos mais com-petitivos do mundo na produção devergalhão e bobinas a quente. Por-tanto, baseado em aspectos econô-micos e não nos aspectos institucio-nais, a indústria siderúrgica brasi-leira deve ser considerada competi-tiva.

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As empresasrevelaram buscar

competitividade emvantagens de custo,através da expansão

das escalasprodutivas,

padronização dosprocessos e redução

dos índices deconsumo de matérias-

primas. Os custostributários e as

elevadas taxas dejuros do Brasil aindasão inibidores de um

melhor ...

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