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Elson Vieira de Arruda Junior ANÁLISE PROSPECTIVA DE REDES INTELIGENTES NO BRASIL: UMA ABORDAGEM DE DINÂMICA DE SISTEMAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Engenheiro Eletricista, habilitado em Produção Elétrica. Orientador: Prof. Dr. Maurício Uriona Maldonado Florianópolis 2018

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Elson Vieira de Arruda Junior

ANÁLISE PROSPECTIVA DE REDES INTELIGENTES NO

BRASIL: UMA ABORDAGEM DE DINÂMICA DE SISTEMAS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Departamento de

Engenharia de Produção e Sistemas da

Universidade Federal de Santa

Catarina, como requisito parcial para a

obtenção do título de Engenheiro

Eletricista, habilitado em Produção

Elétrica.

Orientador: Prof. Dr. Maurício Uriona

Maldonado

Florianópolis

2018

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor

através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária

da UFSC.

Arruda Junior, Elson Vieira de

ANÁLISE PROSPECTIVA DE REDES INTELIGENTES NO

BRASIL : UMA ABORDAGEM DE DINÂMICA DE SISTEMAS /

Elson Vieira de Arruda Junior ; orientador,

Mauricio Uriona Maldonado, 2018.

86 p.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) -

Universidade Federal de Santa Catarina, Centro

Tecnológico, Graduação em Engenharia de Produção

Elétrica, Florianópolis, 2018.

Inclui referências.

1. Engenharia de Produção Elétrica. 2. Redes

Inteligentes. 3. Difusão da Tecnologia. 4.

Dinâmica de Sistemas. 5. Modelo de Bass. I.

Maldonado, Mauricio Uriona. II. Universidade

Federal de Santa

Catarina. Graduação em Engenharia de Produção

Elétrica. III. Título.

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Elson Vieira de Arruda Junior

ANÁLISE PROSPECTIVA DE REDES INTELIGENTES NO

BRASIL: UMA ABORDAGEM DE DINÂMICA DE SISTEMAS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado e aprovado,

em sua forma final, pelo Curso de Graduação em Engenharia de

Produção Elétrica, da Universidade Federal de Santa Catarina.

Local, 29 de novembro de 2018.

________________________

Prof. Marina Bouzon, Dra.

Coordenadora dos Cursos de

Graduação em Engenharia de Produção

Banca Examinadora:

__________________________

Mauricio Uriona Maldonado, Dr.

Orientador

Universidade Federal de Santa Catarina

___________________________

Prof. Eduardo Ferreira da Silva, Dr.

Universidade Federal de Santa Catarina

______________________________

Prof. Lynceo Falavigna Braghirolli, Dr.

Universidade Federal de Santa Catarina

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Aos meus pais, pelo apoio recebido

durante a elaboração deste trabalho

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Elson Vieira de Arruda e Jussara Ribeiro dos

Reis, e a minha irmã Mariana Ribeiro dos Reis Arruda, pelo apoio e

incentivo proporcionado desde do começo da minha graduação. Por me

inspirarem, me ajudarem e me encorajarem a realizar este sonho.

A minha namorada e amiga Jessica Costa, por toda paciência,

compreensão, companheirismo, carinho e amor. Ao meu orientador

Mauricio Uriona Maldonado, pela orientação, disponibilidade e apoio

prestado, tornando possível a conclusão desde trabalho. Agradeço a

todos os professores que me acompanharam durante toda a graduação,

pelo conhecimento fornecido. A Universidade Federal de Santa Catarina

pela oportunidade de concluir esta formação acadêmica.

Aos meus colegas e amigos de trabalho Marcelo Scheibel e

Carlos que comigo compartilharam tantos momentos de incertezas e

alegrias. A todos que contribuíram para a conclusão desta formação, o

meu muito obrigado.

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RESUMO

A rede elétrica atual está muito defasada tecnologicamente em

comparação com outras tecnologias correlatas. Esse atraso faz com que a

ineficiência dessa rede seja quase intolerável. A título de exemplo,

considerando apenas os “gatos”, a energia perdida anualmente no Brasil

supriria todo o estado de Santa Catarina por um ano. As redes inteligentes

mitigam muitos dos problemas atuais da rede, principalmente em relação

às perdas energéticas não técnicas. Nos últimos anos houve um aumento

da difusão das redes inteligentes no mundo todo, porém no Brasil esse

aumento não ocorre como o esperado. A rede analógica ainda domina o

mercado no país. Este processo decorre das incertezas geradas pela

escassez de regulamentações específicas para as redes inteligentes.

Portanto, este trabalho modelou a difusão das Redes Inteligentes no Brasil

até o ano de 2060, com o objetivo de analisar a influência de diversas

políticas incrementadoras da difusão dessa tecnologia. A metodologia

utilizada para testar e analisar o modelo foi da dinâmica de sistemas,

utilizando o modelo básico de Bass em conjunto com os complementos

de crescimento do mercado e curva de aprendizado. Políticas como

redução do preço, crescimento do mercado de adotantes, aumento de

ações de publicidade e aumento da taxa de contato foram simuladas,

analisadas e comparadas com o cenário base. Dentro dessas políticas a

que mais incrementou a difusão isoladamente foi o aumento de 60% na

taxa de contato e considerando todos os cenários simulados a melhor

combinação é a do cenário 3, que combina o aumento da taxa de contato

com o aumento das ações em publicidade.

Palavras-chave: Redes Inteligentes. Difusão da Tecnologia. Dinâmica

de Sistemas. Modelo de Bass.

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ABSTRACT

A current electrical network is far from technologically compared to other

related technologies. This gap makes the network inefficiency almost

intolerable, for example, considering only the smuggling of electricity,

the energy lost in Brazil would supply the entire state of Santa Catarina

for a year. Smart grids mitigate many of the network's current problems,

especially in relation to non-technical energy losses. In recent years there

has been an increase in the spread of smart networks worldwide, but in

Brazil this increase does not occur as expected, the analogue network still

dominates the market in the country. This is largely due to the

uncertainties arising from the lack of specific regulations for smart grids.

Therefore, this work modeled the diffusion of Intelligent Networks in

Brazil until the year 2060, with the objective of analyzing the influence

of several policies that increase the diffusion of this technology. The

methodology used to test and analyze the model was the system

dynamics, using Bass's basic model in conjunction with the market

growth complements and learning curve. Policies, such as price reduction,

growth of the adopter market, increase of advertising actions and increase

of the contact rate were simulated, analyzed and compared with the base

scenario. Within these policies the one that most increased the diffusion

alone was the 60% increase in the contact rate and considering all the

simulated scenarios the best combination is the scenario 3 that combines

the increase of the rate of contact with the increase of the actions in

advertising.

Keywords: Smart Grids. Diffusion of Technologies. System Dynamics.

Bass Model.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Evolução do Percentual de Perdas no Brasil .................................... 18 Figura 2 – Perda de energia nos estados ........................................................... 19 Figura 3 – Evolução da Demanda de energia e da taxa de crescimento

econômico ......................................................................................................... 21 Figura 4 – Previsão da difusão dos medidores inteligentes no Brasil (em

milhões) ............................................................................................................. 23 Figura 5- Funcionamento da Rede Inteligente ................................................... 25 Figura 6 - Medidor Inteligente ........................................................................... 26 Figura 7 - IHDs .................................................................................................. 26 Figura 8 - Plataforma Online de Gestão de Energia .......................................... 27 Figura 9 - Crescimento Anual dos Investimentos em Redes Inteligentes .......... 30 Figura 10 - Localização dos projetos de redes inteligentes na Europa ............. 32 Figura 11 - Projeção de consumo de energia no Brasil ...................................... 36 Figura 12 - Curva de adoção de novas tecnologias ............................................ 39 Figura 13 – Modelo de estoque e fluxo ............................................................. 39 Figura 14 – Modelo Genérico de Bass............................................................... 43 Figura 15 - Comportamento do Sistema ............................................................ 44 Figura 16 - Curva S de adotantes e Curva de adotantes por período ................. 45 Figura 17 - Mudança da dominância do loop .................................................... 48 Figura 18 - Passos metodológicos da dinâmica de sistemas .............................. 52 Figura 19 - Modelo Básico ................................................................................ 54 Figura 20 - Cenário Base x Real ........................................................................ 57 Figura 21 - Curva S .......................................................................................... 59 Figura 22 - Crescimento do número de unidades consumidoras no Brasil ........ 60 Figura 23 - Modelo com Crescimento do Mercado Potencial ........................... 60 Figura 24 – Comportamento do Mercado Potencial .......................................... 61 Figura 25 - Comparação da Difusão entre os Modelos ...................................... 61 Figura 26 – Comportamento do Efeito na Taxa de Adoção............................... 63 Figura 27 – Fração do mercado disposto a adotar ............................................. 63 Figura 28 - Modelo com efeito de aprendizado ................................................ 64

Figura 29 -Preço Real x Preço Estimado ........................................................... 65

Figura 30 – Crescimento do Cenário Atual ....................................................... 66

Figura 31- Curva para publicidade nula ............................................................ 67

Figura 32 - Curva para adoção nula ................................................................... 68

Figura 33 - Curva valor máximo de coeficiente de aprendizado ....................... 68

Figura 34 - Curva valor mínimo de coeficiente de aprendizado ........................ 69

Figura 35 – Difusão das RIs para diferentes valores “p” ................................... 72

Figura 36 - Difusão das RIs para diferentes valores “q” .................................... 74

Figura 37 - Difusão das RIs para diferentes valores de preço ............................ 75

Figura 38 - Difusão das RIs para diferentes valores “m”................................... 76

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Figura 39 - Difusão das RIs para diferentes cenários combinados. .................. 79

Figura 40 - Difusão das RIs para cenários variando “p”e “q”............................83 Figura 41 - Difusão das RIs para cenários variando mercado, preço.................84

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Quantidade de medidores inteligentes instalados por país em 2020 31 Tabela 2- Previsão de Demanda de energia no Brasil ...................................... 36 Tabela 3 – Número de medidores instalados por ano ........................................ 55

Tabela 4- Parâmetros Estimados ...................................................................... 59 Tabela 5 – Métricas de validação ...................................................................... 59 Tabela 6 – Valores dos parâmetros do modelo básico ....................................... 58

Tabela 7 – Preço Médio do Medidor Inteligente ............................................... 67

Tabela 8 – Diferentes valores de “p” ................................................................. 75

Tabela 9 – Diferentes valores de “q” ................................................................. 77

Tabela 10 – Diferentes valores de preço ............................................................ 79

Tabela 11 – Diferentes cenários combinados .................................................... 82

Tabela 12 - Matriz variando os valores de “p” e “q”.........................................83

Tabela 13 - Matriz variando os valores de mercado e preço.............................84

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 -Diferenças entre a Rede Atual e a Rede Inteligente. ........................ 16 Quadro 2 - - Benefícios Rede Inteligente .......................................................... 28 Quadro 3 – Caractersticas da dinâmica de sistemas .......................................... 49

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abradee Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

CCEE Câmara de Comercialização de Energia Elétrica

CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos

EUA Estados Unidos da América

EPE Empresa de Pesquisa Energética

IEA International Energy Agency

MIT Massachusetts Institute of Tech

PIB Produto Interno Bruto

RIs Redes Inteligentes

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

WAN Wide Area Network

HAN Home Area Network

IHD In-Home Displays

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................... 15

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DE PESQUISA .......... 16

1.1.1 Redes Inteligentes ....................................................................... 16

1.1.2 Descrição do Problema .............................................................. 18

1.2 OBJETIVOS ................................................................................... 20

1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................ 20

1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................. 20

1.3 JUSTIFICATIVAS PARA O ESTUDO ......................................... 20

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................... 23

2. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................... 23

2.1 REDES INTELIGENTES .............................................................. 23

2.1.1 Vantagens da Rede Inteligente .................................................. 27

2.1.2 Redes Inteligentes no Mundo .................................................... 30

2.1.3 Redes Inteligentes no Brasil ...................................................... 34

2.1.4 Mercado de Energia no Brasil .................................................. 35

2.2 PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA COM DINÂMICA DE

SISTEMAS ........................................................................................... 36

2.2.1 Prospecção Tecnológica ............................................................ 36

2.2.2 Difusão e Dinâmica de Sistemas................................................ 37

2.3 MODELOS DE PREVISÃO ......................................................... 40

2.3.1 Modelo Logístico ........................................................................ 40

2.3.2 Modelos de Richard, de Gompertz e de Weibull ..................... 41

2.4 MODELO DE DIFUSÃO DE BASS .............................................. 42

2.4.1 Curva de Aprendizado............................................................... 45

3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ...................................... 47

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3.1 DINÂMICA DE SISTEMAS .......................................................... 47

3.2 ABORDAGEM METODOLÓGICA .............................................. 51

3.3 ETAPAS METODOLÓGICAS ...................................................... 51

3.3.1 Modelagem de Sistemas Dinâmicos .......................................... 51

4.CONSTRUÇÃO DO MODELO ..................................................... 54

4.1 LEVANTAMENTO DOS DADOS HISTÓRICOS ........................ 55

4.2 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DO MODELO ........... 55

4.3 CALIBRAÇÃO DO MODELO ...................................................... 56

4.4 MERCADO POTENCIAL .............................................................. 57

4.5 COMPORTAMENTO DO MODELO ............................................ 58

4.5.1 Modelo Básico ............................................................................. 58

4.5.2 Efeito do Crescimento do Mercado........................................... 59

4.5.3 Efeito do Preço na Taxa de Adoção .......................................... 62

4.5.4 Efeito da curva de aprendizagem .............................................. 63

4.5.5 Cenário Atual.............................................................................. 64

4.6 ANÁLISE SENSIBILIDADE ......................................................... 66

4.6.1 Ação de publicidade nula, p=0 .................................................. 66

4.6.2 Adoção por imitação nula, q=0 ................................................. 67

4.6.3 Valores limites da taxa de aprendizado .................................... 67

4.6.4 Efeito da adoção por diferentes curvas a resposta ao preço ... 69

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................... 70

5.1 POLÍTICAS ALTERNATIVAS ..................................................... 70

5.1.1 Aumento nas Ações de Publicidade .......................................... 71

5.1.2 Aumento na Taxa de Contato .................................................... 72

5.1.3 Redução do preço ....................................................................... 74

5.1.4 Mudanças na taxa de crescimento do mercado ....................... 76

5.2 COMBINAÇÃO DOS DIFERENTES CENÁRIOS ....................... 77

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5.3 CENÁRIOS EM MATRIZ ............................................................. 79

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 82

6.1 CONCLUSÕES .............................................................................. 82

6.2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA .................................................. 83

6.3 RECOMENDAÇÕES ..................................................................... 84

REFERÊNCIAS .................................................................................. 85

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15

1. INTRODUÇÃO

Cada vez mais a tecnologia da informação está sendo utilizada em

conjunto com outras tecnologias. E isso não é diferente no setor elétrico,

que busca uma quebra tecnológica para trazer maior confiabilidade,

segurança e eficiência para o sistema elétrico.

Neste sentido, as Redes Inteligentes (RIs) vêm para sanar esta

busca. Estas redes trazem um sistema de informação capaz de gerar

feedbacks instantâneos do funcionamento do sistema, proporcionando

maior controle sobre a rede elétrica.

Segundo Oliveira e Vieira (2012), as redes inteligentes utilizam

processamento e análise de grande quantidade de dados da rede,

permitindo aos operadores e consumidores tomarem decisões mais

assertivas a respeito da energia gerada, transportada e consumida.

Essas decisões permitem um melhor gerenciamento da rede,

diminuindo as perdas energéticas por eventuais falhas no sistema,

acarretando em diminuição dos custos totais e maior eficiência de todo o

sistema. Para Lamin (2013), as RIs trazem melhorias para toda a cadeia

energética, desde as empresas geradoras, distribuidoras até o consumidor

final, além de possíveis ganhos fora do setor elétrico.

Com o crescimento acelerado do consumo de energia elétrica nos

últimos anos, a necessidade por um sistema mais eficiente de distribuição

é cada vez mais necessária, tornando-se ponto essencial para a melhoria

da eficiência da rede, evitando a ocorrência de falhas e blackouts.

O Brasil já sofreu com blackouts, a exemplo da crise do apagão

ocorrida em 2001. A expansão da economia associada a um sistema

elétrico ineficiente, culminou na escassez de energia elétrica ocasionando

período crítico de racionamento.

De acordo com Santos (2014), a rede atual necessita de

reestruturação em toda a cadeia de gestão de energia, possibilitando assim

a integração dos diversos tipos de equipamentos, tecnologias e tratamento

de dados.

Nesse contexto de necessidade de inovação tecnológica na rede

elétrica atual, vê-se necessário analisar como esta tecnologia está se

difundido no mercado de energia brasileiro. Entre os modelos de difusão

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16

existentes, o mais indicado para a análise da difusão de inovações

tecnológicas é o modelo Bass.

A partir do modelo Bass, este trabalho propõe um modelo de

difusão das redes inteligentes no mercado de energia elétrica brasileiro.

Com o modelo é possível analisar diferentes cenários de difusão das RIs,

de forma a ter melhor entendimento de como esta tecnologia está

crescendo no mercado brasileiro e quais pontos são críticos para o sucesso

da disseminação das RIs no Brasil.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DE PESQUISA

1.1.1 Redes Inteligentes

Segundo Leite (2017), devido a novos desafios advindos das

mudanças modernas, tais como ameaças à segurança, uso de energias

intermitentes, metas de melhoria dos indicadores de qualidade, redução

dos picos de demanda e aumento da confiabilidade, fica evidente a

necessidade de evolução tecnológica das redes de energia em geral, que

permitam a integração de sensores e medidores inteligentes na rede.

Para Santos (2014), as redes inteligentes se diferenciam das

tradicionais, pois possibilitam a comunicação nos dois sentidos,

permitindo a volta das informações entre todos os pontos de conexão da

rede.

As mudanças necessárias para transformar as redes atuais em

inteligentes estão transcritas no quadro 1.

Quadro 1 -Diferenças entre a Rede Atual e a Rede Inteligente.

Rede Atual Rede Inteligente

Analógico/Eletromecânico Digital/microprocessador

Centralizado (geradores) Descentralizado (geração)

Reativo (propenso a falhas e

blackouts )Proativo

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17

Fonte: Adaptado de Santos (2014)

Em países europeus e nos EUA já são

observadas iniciativas implantadas de projetos de

infraestrutura de medição inteligente avançada e de

geração distribuída, que são os passos iniciais para

futura rede de energia elétrica inteligente. Países

como China e Coréia do Sul têm se destacado em

investimentos futuros de médio e longo prazos para

a criação desse tipo de rede elétrica. (CGEE 2012)

Transparência limitada com

consumidores e reguladores

Transparência com

consumidores e reguladores

Controle limitado sobre o fluxo

de potência

Sistemas de controle

pervasivos

Confiabilidade estimada Confiabilidade preditiva

Comunicação direcional (se

houver)

Comunicação

bidirecional/integrada

Poucos sensoresSensores e monitores

ubíquos

Restauração manualManutenção baseada em

desempenho e condição

Manual (restauração de campo)

Semi-automatizado,

automatizado (regeneração

automática)

Preço tomado de uma só vez Preço em tempo real

Sem/escolha limitada do

consumidor

Múltiplos produtos para o

consumidor

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18

1.1.2 Descrição do Problema

Como mencionado, a rede atual necessita ser reestruturada, já

que sua utilização só tende a crescer nos próximos anos. Uma pesquisa

realizada pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, em 2015, revela

que a demanda total de energia deve aumentar cerca de 46,5%, para os

próximos 10 anos.

Atualmente a rede elétrica apresenta diversos problemas, como:

inadimplência, perdas técnicas e não técnicas na rede, faltas energéticas,

etc. Esses problemas afetam diretamente a eficiência do sistema elétrico.

Segundo o Conselho Americano para Economia Eficiente de

Energia (ACEE), o Brasil ocupa, dentre as 23 maiores economias

mundiais, a penúltima posição no ranking internacional de eficiência

energética.

De acordo com Marangoni (2018), as perdas técnicas são as

perdas decorrentes do consumo dos equipamentos e as perdas não

técnicas, ou também chamadas de comerciais, correspondem as perdas

por furtos, erros de medição, erros no processo de faturamento e unidades

consumidoras sem equipamento de medição.

A figura 1 ilustra a evolução do percentual de perdas em relação

à energia injetada no sistema. As perdas técnicas de alta, média e baixa

tensão passa dos 8%, já as perdas comerciais de média e baixa tensão já

chegaram em anos mais críticos a 6%. Considerando apenas as perdas

comerciais o prejuízo passa dos R$ 8 bilhões anuais e se for considerada

a inadimplência, o valor ultrapassa os R$ 11 bilhões anuais. (ABRADEE,

2017)

Figura 1 – Evolução do Percentual de Perdas no Brasil

Fonte: ABRADEE

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19

Segundo Anel (2017), as perdas de energia por fraudes na rede,

popularmente conhecidos como “gatos”, contabilizaram no ano de 2017,

31,5 mil GW, energia essa suficiente para abastecer o estado de Santa

Catarina por um ano. A figura 2 mostra os estados onde mais se perde

devido aos “gatos”. Os quatro primeiros estados onde mais a energia é

perdida são do Norte, isso ocorre devido à dificuldade no controle e

monitoramento da rede nesta região.

Figura 2 – Perda de energia nos estados

Fonte: Aneel (2017)

Diante dos problemas citados e das perspectivas de crescimento

da demanda energética, torna-se necessário o estudo da difusão das redes

inteligentes no Brasil.

A utilização das redes inteligentes ainda é pouco difundida no

Brasil. A ANEEL estimava que mais de 65 milhões de medidores iriam

ser substituídos até 2020, o que colocava o Brasil na quarta posição dos

países com maiores planos para redes inteligentes. Porém, isso acabou

não acontecendo, muito devido à crise econômica que o país vem

enfrentando nos últimos anos. Um novo estudo publicado pela Innovation

Observatory estima que o Brasil irá substituir cerca de 27 milhões de

medidores até 2030, colocando o Brasil na décima primeira posição no

ranking.

Além dos problemas econômicos, outros fatores agem como

barreiras para a difusão dessa tecnologia no Brasil. Segundo EPE(2012),

barreiras como: falta de regulamentação, política públicas insuficientes,

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20

alto custo de implementação, falta de conhecimento por parte do

consumidor das vantagens da nova rede.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Esta pesquisa tem como objetivo geral projetar a difusão das redes

inteligentes no Brasil até 2060.

1.2.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos compreendem:

a) Levantar dados históricos sobre a difusão das Redes Inteligentes

no Brasil

b) Desenvolver um modelo da difusão das RIs baseado na dinâmica

de sistemas para o Brasil.

c) Validar o modelo desenvolvido.

d) Criar e analisar a aplicação de diversas políticas de incentivo a

difusão das RIs.

1.3 JUSTIFICATIVAS PARA O ESTUDO

Com o crescente consumo de energia no Brasil, cerca de 4% a.a.,

como ilustra a figura 3 segundo Ministério de Minas e Energia, é essencial

maior eficiência no sistema de geração, distribuição e consumo, de forma

a atender a demanda. Uma forma de melhorar a eficiência do sistema é

utilizar redes inteligentes em conjunto com fontes renováveis, assim

distribuindo a capacidade de geração de energia a vários sistemas e

melhorando o desempenho dessas operações.

Page 21: ANÁLISE PROSPECTIVA DE REDES INTELIGENTES NO ...Portanto, este trabalho modelou a difusão das Redes Inteligentes no Brasil até o ano de 2060, com o objetivo de analisar a influência

21

Figura 3 – Evolução da Demanda de energia e da taxa de crescimento

econômico

Fonte: (EPE, 2016a)

A implementação das redes elétricas

inteligentes cria oportunidades de negócio e têm

impulsionado maior atuação de pequenas empresas

para a prestação de serviços voltado ao consumidor

final de energia. Haverá oportunidades de

desenvolvimento, pesquisa e inovações tanto na área

tecnológica quanto nas ciências em geral. (CGEE,

2012).

Segundo Junior (2011), existem inúmeros benefícios decorrentes

do uso de métodos avançados de controle. Dentre esses benefícios pode-

se destacar:

● Aumento na confiabilidade dos sistemas;

● Recomposição automática após a ocorrência de uma

falta; ● Minimização dos tempos de restabelecimento do

fornecimento de energia elétrica;

● Redução do congestionamento das linhas de

transmissão;

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22

● Monitoramento do fornecimento e do consumo de

energia elétrica;

● Integração dos sistemas de geração distribuída;

● Implantação de programas de resposta pelo lado da

demanda;

O método utilizado neste trabalho para entender como a difusão

ocorre é a dinâmica de sistemas que auxilia no planejamento de longo

prazo, identificando pontos críticos para o sucesso da difusão da

tecnologia.

Estudos da dinâmica de sistemas são necessários, para o

entendimento de como ocorre a difusão das novas tecnologias em um

determinado mercado. Além disso, é possível criar modelos que

descrevem o comportamento do sistema, analisando a efetividade de

diferentes políticas para o desenvolvimento dessa tecnologia.

A tecnologia que permite a substituição das redes atuais para as

inteligentes é relativamente nova, entretanto, devido a importância dessa

tecnologia para o mercado energético, alguns estudos já surgem, para

analisar o comportamento da dinâmica de sistemas das redes inteligentes.

Um desses estudos foi o realizado por Morvaj et al, (2011), que

analisaram diversos cenários do uso de redes inteligentes em edifícios

inteligentes.

Outro trabalho relevante para o assunto foi o relatório realizado

pela Abdi (2012), o relatório foi dividido em duas partes, na primeira é

feita uma análise das principais tendências de desenvolvimento das redes

inteligentes no mundo, e na segunda parte foram elencados os desafios e

as oportunidades para a difusão dessa tecnologia no Brasil.

A figura 4 mostra o gráfico da previsão de crescimento da base

de medidores inteligentes no Brasil. Estimava-se um crescimento

acentuado da difusão dos medidores, em menos de 10 anos todos os

medidores seriam inteligentes.

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23

Figura 4 – Previsão da difusão dos medidores inteligentes no Brasil (em

milhões)

Fonte: ABDi (2012)

Portanto, o intuito desta monografia é criar uma base de

conhecimento da difusão das RIs por meio da dinâmica de sistemas, com

o intuito de compreender o comportamento da difusão desta tecnologia

no Brasil.

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho de conclusão de curso está estruturado da seguinte

maneira: No capítulo 1, encontra-se a introdução; no capítulo 2, o

referencial teórico, onde são apresentados os conceitos do tema da

monografia; no capítulo 3, é explanado os procedimentos metodológicos

a serem seguidos; a construção do modelo é explicada no capítulo 4; no

capítulo 5, são apresentados os resultados e a discussão; a conclusão e as

recomendações estão presentes no capítulo 6; e, por fim, as referências

utilizadas.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 REDES INTELIGENTES

Existem diversas definições na literatura para as redes

inteligentes (RIs) ou, em inglês, Smart Grids (SG). Em síntese, as redes

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24

inteligentes são um conjunto de ferramentas tecnológicas utilizadas para

a automação das redes elétricas.

As Redes Elétricas Inteligentes podem

ser compreendidas como a rede elétrica que

utiliza tecnologia digital avançada para

monitorar e gerenciar o transporte de

eletricidade em tempo real, com fluxo de

energia e de informações bidirecionais entre o

sistema de fornecimento de energia e o cliente

final (CGEE, 2012).

Segundo Gellings (2009), a rede inteligente é a transformação da

rede atual em sistemas inteligentes, aplicando sistemas de comunicação

de forma a controlar a rede, através de feedbacks regulares, possibilitando

o ajuste constante desta.

Para Falcão (2009), as características atribuídas às Redes

Inteligentes são:

• Auto recuperação: capacidade de automaticamente detectar,

analisar, responder e restaurar falhas na rede;

• Empoderamento dos Consumidores: habilidade de incluir os

equipamentos e comportamento dos consumidores nos processos

de planejamento e operação da rede;

• Tolerância a Ataques Externos: capacidade de mitigar e resistir a

ataques físicos e ciberataques;

• Qualidade de Energia: prover energia com a qualidade exigida

pela sociedade digital;

• Acomodar grande variedade de fontes e demandas: capacidade

de integrar de forma transparente (plug and play) uma variedade

de fontes de energia de várias dimensões e tecnologia;

• Reduzir o impacto ambiental do sistema produtor de eletricidade,

reduzindo perdas e utilizando fontes de baixo impacto ambiental;

• Resposta da demanda mediante a atuação remota em dispositivos

dos consumidores;

• Viabilizar e beneficiar-se de mercados competitivos de energia, favorecendo o mercado varejista e a micro geração.

Para automatizar a rede elétrica é necessário utilizar diversas

tecnologias em conjunto, de forma a possibilitar o monitoramento desta.

A Figura 5 apresenta quais são as tecnologias necessárias para o

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25

funcionamento da rede inteligente. A rede funciona como uma teia, onde

todas as pontas se comunicam trocando informações sobre o seu

funcionamento.

Figura 5- Funcionamento da Rede Inteligente

Fonte: PET Elétrica – UFJF.

Segundo Lopes et al (2012), a RI utiliza dois serviços de rede, a

HAN e a WAN. A rede de Área Doméstica (em inglês: Home Area

Network , HAN) é responsável pela coleta e envio dos dados da

residência, os dados são coletados por medidores inteligentes instalados

nas residências. Para Souza (2010), a Rede de Longa Distância (em

inglês: Wide Area Network, WAN) é utilizada na comunicação dos

medidores inteligentes até os Data Concentrator, que são utilizados no

gerenciamento das informações do sistema.

Um medidor inteligente pode ser visto na figura 6, diferente dos

medidores atuais que são analógicos, ele é totalmente digital, o que

possibilita o registro em tempo real do consumo de eletricidade na

residência. Os medidores trabalham com a troca de informação

bidirecional entre os usuários e a central, possibilitando um controle

remoto da rede.

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26

Figura 6 - Medidor Inteligente

Fonte: Safespace.

Outro dispositivo utilizado nas RIs é o in-home displays –

(IHDs), que pode ser visto na figura 7. Este equipamento permite

o monitoramento em tempo real do consumo de energia para o

usuário. De acordo com Lamin (2013), o IHD funciona em

conjunto com o medidor inteligente, que transfere as

informações da rede para o IHDs, que por sua vez mostra para o

usuário as informações da rede, possibilitando a este a utilização

da rede de uma forma mais eficiente.

Figura 7 - IHDs

Fonte: DIYTrade

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27

Outros modelos utilizados para o monitoramento da rede são

aplicativos que podem ser instalados em dispositivos móveis, visto na

figura 8. A empresa Greenant vende medidores inteligentes e oferece o

serviço de BI (Business Intelligence), o qual atende as necessidades dos

consumidores que buscam ter maior controle sobre o consumo.

Figura 8 - Plataforma Online de Gestão de Energia

Fonte: Greenant (2018)

2.1.1 Vantagens da Rede Inteligente

A RI apresenta diversas vantagens em comparação com as redes

atuais, a principal advém da agregação dos dados referentes de toda a

rede. Os dados são processados e transformados em informações,

possibilitando monitoramento e controle constante da rede.

A disponibilização das informações para os consumidores

possibilita algo inédito para este sistema, o controle em tempo real do

consumo. Isso é possível graças a displays instalados nas residências, que

mostram dados sobre tarifas, consumo diário, demanda, entre outras

informações sobre a rede.

Já para as concessionárias, as redes inteligentes possibilitam a

inviabilização de adulterações na rede, como os famosos “gatos”. Para

Nielsen (2013), as concessionárias poderão rastrear as ligações

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28

irregulares na rede elétrica e agir corretivamente, podendo desligar a rede

remotamente em um determinado ponto.

Para Lamin (2013), os três principais motivadores para a

implementação das RIs no Brasil são: redução de perdas não técnicas,

melhoria da continuidade e eficiência energética.

O Quadro 2 apresenta os benefícios da utilização das redes

inteligentes e como os agentes percebem estes benefícios.

Quadro 2 - - Benefícios Rede Inteligente

Categoria do

Benefício

Subcategoria

do Benefício

Benefício Percepção dos

benefícios pelos

agentes

Econômico Melhora da

utilização dos

ativos

Operação

otimizada do

gerador

Distribuidora

Redução nos custos

de serviço auxiliar

Distribuidora

Custo de

congestionamento

reduzido

Distribuidora

Economia de

Capital da

Transmissão e

Distribuição

Redução de falhas

em equipamentos

Distribuidora

Economia de

Transmissão,

Distribuição,

Redução Custo de

manutenção de

equipamentos

Distribuidora

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29

Operação e

Manutenção

Redução do custo

da leitura do

medidor

Distribuidora

Redução dos

roubos

Roubo de

eletricidade

reduzido

Distribuidora

Eficiência

Energética

Perdas energéticas

reduzidas

Distribuidora

Economia no

custo da

eletricidade

Custo da

eletricidade

reduzido

Distribuidora

Confiabilidade Quedas de

energia

Redução das

interrupções

prolongadas

Distribuidora

Consumidor

Sociedade

Qualidade Redução de

grandes

interrupções

Distribuidora

Consumidor

Sociedade

Custo de

restauração

reduzido

Distribuidora

Meio Ambiente Poluição do ar Emissões de CO2

reduzidas

Sociedade

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30

Segurança Segurança

Energética

Redução do uso de

óleos

Distribuidora

Redução de

blackouts em larga

escala

Distribuidora

Consumidor

Sociedade

Fonte: Adaptado de Lamin (2013)

2.1.2 Redes Inteligentes no Mundo

Até 2020 o mercado mundial de redes inteligentes deve chegar

ao patamar de investimento de US$ 73 bilhões anuais. Segundo Pike

(2017), é esperado que o mercado global das redes inteligentes passe dos

$400 bilhões acumulados para o próximo ano.

Como pode ser visto na figura 9, o crescimento dos

investimentos em redes inteligentes no mundo vem crescendo a uma taxa

de 8,4% a.a. A Ásia, liderada pela China é o maior responsável por esse

crescimento, cerca de 1/3 de todo o investimento mundial nesta

tecnologia é aplicado na China.

Figura 9 - Crescimento Anual dos Investimentos em Redes Inteligentes

Fonte: Pike (2017)

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31

De acordo com a pesquisa realizada pela Navigant Research, como

pode ser observado na tabela 1 a China passará dos 400 milhões de

medidores inteligentes instalados até 2020, enquanto que o Brasil chegará

próximo dos 30 milhões. Ou seja, 30% dos medidores instalados serão

inteligentes.

Tabela 1 – Quantidade de medidores inteligentes instalados por país em 2020

País Número de medidores instalados em 2020

China 437.847.228

EUA 132.042.022

Japão 58.750.000

França 35.300.000

Italia 33.600.000

Alemanhã 32.900.000

Brasil 29.576.569

Reino Unido 26.920.000

Espanha 21.800.000

Coreia do Sul 21.328.625

Total 830.064.443

Fonte: Adaptado de Navigant Research

Europa

Na União Europeia, desde 2005 há uma diretiva EU-

2005/89/CE, que normatiza a utilização de sistemas de medição

inteligentes. (COM-EU,2009)

Nos últimos 10 anos já foram investidos mais de 5 bilhões

de euros em mais de 900 projetos voltados para o

desenvolvimento da difusão das redes inteligentes em toda a

Europa, a figura 10 ilustra o local de alguns desses projetos. (EC,

2017b)

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32

Figura 10 - Localização dos projetos de redes inteligentes na Europa

Fonte: (EC, 2017b)

De acordo com (COSTA, 2014), a principal justificativa

desses investimentos são as questões ambientais. Isso, deve-se

ao fato das RIs aumentarem a eficiência da rede e auxiliarem na

utilização de energia limpa e renovável, pois melhora o controle

da geração e micro geração dessas usinas.

Itália

A Itália utiliza o sistema Telegestore, com comunicação

bidirecional, até o ano de 2012 foram instalados mais de 22

milhões de medidores inteligentes e 358 mil concentradores pela

Enel. (ENEL, 2012)

Reino Unido

Há uma política no Reino Unido em substituir mais de 50

milhões de medidores, essa substituição será feita pela Data and

Communication Company. (DECC,2012)

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33

América do Norte

Estados Unidos

Em 2009 foram disponibilizados mais de US$ 3,4 bilhões

para fomentar o desenvolvimento das redes inteligentes nos

Estados Unidos. (EPRI 2011)

De acordo com Costa (2014), ao contrário da Europa, nos

EUA o principal motivo para difusão das RIs é o incentivo

financeiro que esta tecnologia pode trazer para a economia.

Na cidade de Boulder, no estado de Colorado está sendo

investido mais de 100 milhões de dólares para a instalação de

medidores inteligentes, painéis solares, extensões domésticas

para recargas de automóveis elétricos e sistemas de

monitoramento em mais de 50 mil casas (FLETCHER;

BEAUMONT, 2008)

Outro projeto nos estados unidos é na cidade de Austin,

Texas, o Pecan Street Project, investiu 24,4 milhões para o

desenvolvimento de redes inteligentes em conjunto com o uso de

energias limpas. (ALONSO, 2014)

Canadá

Como no Estados Unidos, a legislação no Canadá é de

competência de cada estado, assim a regulamentação das RIs

difere de estado para estado. Segundo Costa(2014), a principal

razão da utilização das RIs no país é a redução de demanda de

ponta, ocasionando maior eficiência no sistema.

Ásia

China

Na China há projeto de instalar mais de 300 milhões de

medidores inteligentes nos próximos anos pela State Grid

Corporation of China. (SANTOS, 2014)

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34

2.1.3 Redes Inteligentes no Brasil

De acordo com Bandeira (2012) a maior motivação da

utilização das redes inteligentes no Brasil é de ordem financeira.

O objetivo é reduzir as perdas não técnicas do sistema, ou seja,

as perdas por fraudes no sistema.

Associação Brasileira de Distribuidores de Energia

Elétrica apontam alguns tópicos como os mais críticos e

desafiadores na implantação real de projetos com Redes

Inteligentes no Brasil. (MCNAMARA, 2013)

Os mais relevantes são:

● A indústria brasileira de energia é diferente da

maioria dos países pelo fato de haver um baixo

consumo de potência per capita;

● Alto volume de perdas, técnicas e não técnicas,

no sistema de transmissão e distribuição de

energia;

● Cada grid de energia deve ser estudado e

adaptado para um melhor aproveitamento do

sistema inteligente;

● Regulamentações sobre Redes Inteligentes,

medidores inteligentes, sistemas de

infraestrutura de tecnologia de informação e

comunicação ainda estão em discussão;

● Aceitação e adaptação dos consumidores ao

sistema, uma vez que estas pessoas passam a ter

papel mais importante sobre a supervisão e

utilização da energia elétrica.

O diretor de engenharia da AES Eletropaulo, Charles

Capdeville, comentou que políticas públicas são necessárias para

alavancar o mercado nacional de medidores inteligentes. “Na

maioria importados, os equipamentos oneram processos de

implantação e expansão de redes inteligentes”.

Nos últimos anos muitos investimentos foram criados para

o desenvolvimento das redes inteligentes no Brasil, um desses é

o Inova Energia. O Inova é um Plano de Apoio à Inovação

Tecnológica no Setor Elétrico criado em 2013, orçado em R$ 3

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35

bilhões, ele tem o objetivo de fomentar a implementação de

projetos de redes inteligentes.

Vários projetos foram e estão sendo implementados em

todo o território brasileiro. Dentre os projetos podemos destacar:

Curitiba

A Copel gerencia a distribuição da energia elétrica no

estado do Paraná e está implementando a automatização da rede

em Curitiba, trazendo melhoria na rede com a diminuição das

quedas do fornecimento de energia. (COPEL, 2012).

São Paulo

Em São Paulo a Light instalou mais de 20 mil unidades de

medidores inteligentes e estão com a meta de instalar 1 milhão

até o ano de 2020.

Muitos projetos pilotos estão sendo implementados no

Brasil, nos últimos anos. Dentre eles se destacam: Cidade

Inteligente de Búzios/RJ, Sete Lagoas/MG, Smart City Laguna,

Pedra Branca, Cidades Inteligente de Barueri, Cidade Azul e a

Cidade Inteligente de Vinhedo.

2.1.4 Mercado de Energia no Brasil

O Brasil apresenta cerca de 82 milhões de unidades consumidoras

(ANEEL, 2014). As unidades consumidoras são divididas em indústria,

comercio e residência,

A tabela 2 mostra a previsão de consumo de energia elétrica para

os próximos quatro anos. Atualmente a demanda está em torno dos 480

GWh, como pode ser visto na tabela 2 e a previsão de crescimento é de

4% a.a., conforme figura 11, até o ano de 2022.

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36

Tabela 2- - Previsão de Demanda de energia no Brasil

Período Unid. 2018 2019 2020 2021 2022

Previsão G

Wh

478,477 496,563 515,155 535,003 556,444

Fonte: Adaptado de Aneel (2014)

Figura 11 - Projeção de consumo de energia no Brasil

Fonte: Adaptado de Aneel (2014)

2.2 PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA COM DINÂMICA DE

SISTEMAS

2.2.1 Prospecção Tecnológica

O estudo da prospecção ou olhar para o futuro ganhou força na

“Guerra Fria”, quando surgiu a necessidade de reconstrução de partes

significativas da Europa e do Japão, onde a definição de uma estratégia

de trabalho implicava em conhecer de forma detalhada os cenários

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37

destruídos e os riscos envolvidos nessa reconstrução (BERNARDES;

LAPOLLI, 2006).

Existem diversos métodos e técnicas

para análise prospectiva, como:

Brainstorming, Análise de Correlação,

Análise de Risco, Delphi, AHP, etc. A

reflexão sobre as diferentes abordagens,

métodos e técnicas deve ser vista como meio

para aperfeiçoar a atividade prospectiva e seus

resultados, ou seja, responder adequadamente

às indagações quanto ao futuro, em seus

diversos níveis e interesses. (SANTOS et al.,

2010)

A prospecção tecnológica pode ser definida como um meio

sistemático de mapear desenvolvimentos científicos e tecnológicos

futuros capazes de influenciar de forma significativa uma indústria, a

economia ou a sociedade como um todo. (CARUSO; TIGRE, 2004).

Segundo Coelho (2003), a prospecção tecnológica é definida

como:

● processo e não somente um conjunto de técnicas;

● concentra-se em criar e melhorar o entendimento dos

possíveis desenvolvimentos futuros e das forças que parecem

moldá-los;

● assume que o futuro não pode ser cientificamente

demonstrado a partir de certas premissas. O ponto central é tratar

quais as chances de desenvolvimento e quais as opções para a

ação no presente;

● não se espera comportamento passivo frente ao futuro,

mas um posicionamento ativo. O futuro será criado pelas

escolhas que forem feitas hoje.

Desse modo, a prospecção serve como análise de como o sistema

irá se comportar, ela auxilia no planejamento estratégico, identificando

ameaças e oportunidades futuras.

2.2.2 Difusão e Dinâmica de Sistemas

De acordo com Rogers (1983), difusão é o processo pelo qual uma

inovação é comunicada através de certos canais entre os membros de um

sistema social. Portando a difusão é quando novas ideias são inventadas,

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38

difundidas, sendo aderidas ou rejeitadas, acarretando em mudanças

sociais.

Segundo Rogers (1983), o sistema de difusão é dividido em quatro

elementos: inovação, canais de comunicação, tempo e sistemas sociais.

Logo, a difusão da inovação é a troca de informações por canais através

do tempo entre membros da sociedade.

Para Rogers (2003), os adotantes das novas tecnologias podem ser

divididos em 5 categorias:

1. Inovadores: São os que buscam por tecnologias

disruptivas, geralmente são os primeiros a aderirem a uma nova

tecnologia. Rogers (1983) afirma que esse grupo representa 2,5%

da população que adere a inovação. Eles são ousados e estão

dispostos a aceitar um revés, quando a tecnologia acaba não

dando certo.

2. Adotantes iniciais: Representam cerca de

13,5% da população de adotantes. São considerados pelos outros

grupos como referência quando o assunto é a utilização ou não

da nova tecnologia.

3. Maioria inicial: São os que seguem os adotantes

iniciais, percebem que a nova tecnologia está se tornando popular

e decidem fazer parte desse grupo. Para Rogers (1983),

representam cerca de 34% dos adotantes, e se caracterizam por

esperar certo período para decidir se irão ou não adotar a nova

tecnologia.

4. Maioria tardia: Grande parte da população

apresenta uma relutância a aderir a uma nova tecnologia.

Igualmente ao grupo anterior, este constitui cerca 34% da

população, e são considerados céticos, só aceitam a nova

tecnologia com persuasão.

5. Retardatários: São os últimos a aderirem a nova

tecnologia. Cerca de 16% da população é de retardatários,

quando aderem a tecnologia, nova tecnologia já foi lançada e os

inovadores já estão a utilizando.

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39

A divisão dos adotantes a novas tecnologias segue uma

distribuição quase normal, como pode ser vista na figura 12. Ainda de

acordo com Rogers (1983), essa é uma característica importante, já que

permite dividir a população de adotantes em categorias, como

mencionado anteriormente.

Figura 12 - Curva de adoção de novas tecnologias

Fonte: Adaptado de Rogers (2003)

A modelagem da dinâmica de sistemas, segundo Sterman (2000),

utiliza como base dois conceitos, o estoque e o fluxo. O estoque são

aglomerações, como, população, produtos, aprendizado, entre outros. O

estoque indica o a situação do sistema. Já os fluxos representam as taxas

de crescimento nos estoques, como, depreciações, mortes.

Os estoque, como ilustra a figura 13, é representado por retângulos,

enquanto que o fluxo é representado por válvulas com setas apontando o

sentido do fluxo. No modelo também são incluídas variáveis auxiliares,

representadas por círculos, estas variáveis geralmente contêm algum

parâmetro que influencia no desenvolvimento do sistema.

Figura 13 – Modelo de estoque e fluxo

Fonte: Autor

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40

Com a construção de um modelo de dinâmica de sistemas é

possível observar que na maioria dos casos o resultado da curva de

crescimento é a curva S. De acordo com Sterman (2000), a curva S está

presente em muitos sistemas, é um dos comportamentos mais comuns de

desenvolvimento de sistemas dinâmicos, principalmente no mundo

animal e na difusão de tecnologias disruptivas.

Segundo Sterman (2000), a curva S caracteriza-se por apresentar a

interação das curvas de feedback positivo e negativo de forma não linear.

O crescimento inicial da curva é exponencial, até alcançar o ponto de

inflexão, onde ocorre a mudança de dominância do feedback positivo para

o negativo, desacelerando o sistema, até sua estabilização. Esse ponto é

alcançado quando o número de adotantes da inovação atinge 50% do

potencial de adotantes.

Ainda de acordo com Sterman (2000), um sistema só apresenta

uma curva S se duas condições forem verdadeiras. A primeira diz respeito

ao loop negativo, que não deve incluir atrasos de tempo significativos, a

segunda condição é sobre a capacidade de carregamento, que deve ser

fixa.

2.3 MODELOS DE PREVISÃO

Diversos são os modelos que descrevem o comportamento de

difusão. Neste tópico será dada uma pincelada sobre o modelo logístico e

o modelo de Richard, de Gompertz e de Weibull. Estes modelos servem

de base para o melhor entendimento do modelo de Bass, que é o modelo

utilizado neste trabalho.

2.3.1 Modelo Logístico

De acordo com Sterman (2000), no modelo logístico a taxa líquida

de crescimento decai linearmente em relação a população.

Matematicamente a taxa líquida de natalidade é descrita pela equação 1.

∂p

∂t= g ∗ (1 −

𝑃

𝐶) ∗ P (1)

Onde g é a taxa máxima de crescimento, que ocorre quando a

população é pequena. Já P é a população em um determinado período e C

a capacidade máxima da população. Portanto, quanto maior a população,

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41

menor será a taxa de crescimento, sendo o crescimento positivo para

valores de P < C, zero para P = C, e negativo para P > C.

Segundo Sterman (2000), o modelo logístico funciona na maioria

das vezes, já que inclui no processo, o feedback positivo que acelera o

crescimento inicial e o negativo que faz o crescimento diminuir até a

estabilização.

2.3.2 Modelos de Richard, de Gompertz e de Weibull

O modelo Logístico é amplamente utilizado para descrever

crescimento, no entanto, ele apresenta uma limitação, já que a taxa de

crescimento decresce linearmente. O que nem sempre condiz com a

realidade, já que na maioria das vezes a taxa decai não linearmente.

Para contornar esse problema, outros modelos são utilizados,

como, modelo de Gompertz, Richards e Weibull. No modelo de

Gompertz, a curva de crescimento é semelhante da curva produzida pelo

modelo logístico, porém, a diferença entre as duas é que aquela decresce

exponencialmente em função do tempo.

No modelo de Richards, a taxa de crescimento é não linear, e

matematicamente é expressa de acordo com a equação 2.

∂P

∂t=

g ∗ P

(m − 1)∗ [1 − (

𝑃

𝐶)m−1] (2)

Segundo Sterman (2000), para quase todos os valos de m, o modelo

se comporta de forma não linear, apenas para o valor de m = 2 o modelo

se comportará igual ao modelo logístico.

Ainda de acordo com Sterman (2000), quando o valor de m = 1, o

modelo descreve a curva de Gompertz, que segue uma taxa crescimento

que decai linearmente em relação logarítmica da população.

Outro modelo que descreve o crescimento populacional é o a

distribuição de Weibull, que pode ser descrita da seguinte forma:

P(t) =C ∗ [ 1 − e−(

𝑡

𝑏)

𝑎

] (3)

Os parâmetros a e b descrevem a forma e a escala do modelo. Para

Sterman (2000), valores de b, ou seja, de escala cada vez maiores a curva

acaba ficando mais “espelhada”, já para valores maiores de a, a forma da

curva se altera, no entanto, o ponto de inflexão é mantido.

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42

Um dos problemas dos modelos citados, Segundo Sterman (2000),

é o problema da difusão de inovações, os modelos supracitados não

explicam como que ocorre os primeiros adotantes. Para superar este

problema Frank Bass desenvolveu um modelo que resolve esse problema.

2.4 MODELO DE DIFUSÃO DE BASS

O modelo de Bass, foi desenvolvido por Frank Bass em 1969, o

modelo inicialmente era utilizado como uma ferramenta para vendas de

novos produtos. (STERMAN, 2000)

No modelo Bass as novas tecnologias são adotadas de duas

maneiras, uma pelo boca-boca e a outra por propagandas. O primeiro

grupo é denominado inovadores e o segundo imitadores.

A função que determina a probabilidade de ocorrer a adoção de

uma nova tecnologia em um determinado tempo é dada por Bass (1969):

𝑓(𝑡)

[1−𝐹(𝑡)]= 𝑝 + 𝑞𝐹(𝑡) (4)

F(t) é a fração cumulativa de adotantes em um determinado

período e f(t) é a função de densidade do tempo para adoção. Quanto

maior a adoção inicial maior será a probabilidade de ocorrer adoção da

inovação. O número de adotantes em um determinado período é

determinado pela equação 5:

𝑝(𝑡) =𝑑𝑃(𝑡)

𝑑𝑡= 𝑝[𝑚 − 𝑃(𝑡)] +

𝑞

𝑚𝑃(𝑡)[𝑚 − 𝑃(𝑡)] (5)

O primeiro termo p[m – P(t)], é referente às pessoas que adotaram

a inovação sem levar em conta o número de pessoas que já haviam aderido

à inovação. Já o segundo termo, q/m P(t)[m – P(t)], são o restante dos

adotantes, ou seja, aqueles que levaram em conta o número dos que já

haviam aderido.

O termo P(t) é a curva S, que pode ser obtida integrando a equação

5.

𝑃(𝑡) = 𝑚 [1−𝑒−(𝑝+𝑞)𝑡

1+𝑞

𝑝𝑒−(𝑝+𝑞)𝑡

] (6) p(𝑡) = 𝑚 [𝑝(𝑝+𝑞)²𝑒−(𝑝+𝑞)𝑡

(𝑝+𝑞𝑒−(𝑝+𝑞)𝑡)²] (7)

𝑃1(𝑡) = 𝑚𝑝

𝑞𝑙𝑛 [

1+𝑞

𝑝

1+𝑞

𝑝𝑒−(𝑝+𝑞)𝑡

] (8)

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43

O coeficiente de inovação (p) tem influência externa no modelo, já

o coeficiente de imitação (q), a influência é interna.

P1(t) é o número de adotantes por influência externa. O número de

adotantes por influência interna P2(t) pode ser obtido pela subtração do

número total pelo número de influência externa:

P2 (t) = P (t) − P1(t) (9)

Pode-se também dividir o grupo de adotantes potenciais em dois,

o primeiro de Inovadores Potenciais (m1) e o segundo de Imitadores

Potenciais (m2). Ambos são influenciados pela mídia de massa, e apenas

Potenciais Imitadores são influenciados pelo boca-boca.

Inovador: 𝑑𝑃1(𝑡)

𝑑𝑡: =𝑝1[𝑚1 − 𝑃1(𝑡)] = p1[m1 – P1(t)] (10)

Imitadores: 𝑑𝑃2(𝑡)

𝑑𝑡= p2m2 − P2t + q2p1t + P2t[m2 − P2(t)]2 (11)

A Figura 14 mostra uma estrutura genérica que produz a curva S.

O crescimento só ocorrerá se a fração de ganho for maior que a fração de

perda. Assim, a entrada será maior que a saída, e o sistema apresentará o

crescimento exponencial. Quando o efeito do estoque alcança um valor

maior que 1, a fração de perda aumenta, ocasionando na diminuição da

taxa de crescimento. O sistema estará em equilíbrio quando o valor da

saída se iguala ao da entrada. (MARTINE, 1996).

Figura 14 – Modelo Genérico de Bass

Fonte: Autor

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44

O modelo de difusão apresenta dois estoques, os Adotantes

Potenciais e os Adotantes, porém, apenas um dos estoques é

independente, já que a população total é a soma dos adotantes potenciais

com os adotantes.

Esse modelo gera uma curva S, onde no primeiro momento o

crescimento da adesão a nova tecnologia é exponencial, até o mercado

começar a ficar saturado, reduzindo exponencialmente o crescimento até

o equilíbrio.

As figura 15 e 16 ilustram o comportamento de um sistema

dinâmico e também do ponto de inflexão da curva de difusão, ele ocorre

quando o número de potenciais adotantes se igual ao número dos

adotantes. Neste ponto encontra-se a maior taxa de adesão, e a partir desse

ponto a taxa desacelera e o mercado começa a saturar.

Figura 15 - Comportamento do Sistema

Fonte: Adaptado de Sterman (2000)

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45

Figura 16 - Curva S de adotantes e Curva de adotantes por período

Fonte: Adaptado de Sterman (2000)

A saturação do mercado é dependente do tamanho do mercado (m),

quanto maior for o mercado mais difícil será ele saturar. Esse fator

modificará o formato da curva S, além do tamanho do mercado, mais dois

coeficientes alteram a forma da curva, o coeficiente de inovação (p) e o

coeficiente de imitação (q). (ISLAM, 2014).

Estudando os parâmetros p e q Lawrence e Lawton (1981),

descobriram que a soma dos coeficientes inovação (p) e imitação (q) fica

na faixa de 0.3 a 0.7. Eles também descobriram que para os anos iniciais

a curva S pode ser expressada como:

𝑚(1−𝑒−(𝑝+𝑞))

[1+𝑞

𝑝𝑒−(𝑝+𝑞)]

(12)

2.4.1 Curva de Aprendizado

Ao passar do tempo os custos de produção diminuem, isso ocorre

pelo acúmulo de conhecimento nos processos produtivos adquiridos.. A

curva de aprendizado é o efeito da experiência na produtividade

reduzindo os custos médios e marginais. (BASTOS, 2015).

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46

Segundo Sterman (2000), as equações que gerem a curva de

aprendizado são:

𝑃 = 𝑃0 ∗ 𝐴 (13)

O preço (P) é o produto do preço inicial (P0) com o efeito do

aprendizado (A). O efeito do aprendizado está em função da experiência acumulada

(E), experiência acumulada inicial (E0) e o expoente que determina o quão

forte é a curva de aprendizado, que é geralmente negativo (c). A curva de

aprendizado é proporcional a redução percentual dos custos a cada razão

de aumento na experiência acumulada (f).

𝐴 = (𝐸

𝐸0) 𝐶 (14)

Quando o custo percentual reduz (f)

𝐶 =𝑙𝑛 (1−𝑓)

𝑙𝑛 (𝑒) (15)

Com a descontinuação tecnológica ocorre uma mudança no

sistema, já que os adotantes voltam a ser potenciais adotantes. Segundo

Sterman (2000), a taxa que o produto é descartado e a taxa da mudança

da população adotante para potenciais adotantes depende do número de

adotantes e da média de vida do produto.

Conforme Zurek e Henrichs( 2007), para lidar com a incerteza do

futuro é necessário analisar diferentes cenários. Esses, cenários não

devem ser confundidos com previsões ou projeções. Já que os cenários,

diferentemente das previsões e projeções, assumem que as condições

poderão mudar no futuro.

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47

3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

3.1 DINÂMICA DE SISTEMAS

Dinâmica de Sistemas foi desenvolvida na década de 50 pelo

engenheiro eletricista Jay Forrester do MIT. Forrester utilizou seu

conhecimento adquirido nas forças armadas, usando conceitos da teoria

de controle e servomecanismos para aplicar às ciências administrativas

(VILLELA, 2005)

A dinâmica de sistemas voltada para a difusão é um estudo do

comportamento do sistema, com o intuito de analisar a influência da

aplicação de políticas no desenvolvimento do sistema.

O primeiro e mais importante fundamento para dinâmica de

sistemas é o conceito do servomecanismo, ou sistema informativo de

feedback. As interações entre os componentes do sistema podem ser mais

importantes que os próprios componentes. Um sistema informativo de

feedback existe quanto o ambiente lida para uma decisão que resulta em

uma ação que afeta o ambiente e então influencia uma futura decisão.

Deste modo, o estudo da dinâmica de sistemas possibilita a

compreensão de como o sistema se comporta e como irá se comportar por

meio da modelagem computacional.

Uma das principais características dos sistemas dinâmicos é o

crescimento exponencial. Segundo Sterman (2000), o crescimento

exponencial é causa dos feedbacks positivos. Quanto maior o elemento,

maior será o seu crescimento. Crescimentos puramente exponenciais

apresentam uma propriedade que o estado do sistema dobra em um

período fixo de tempo.

Conforme Martine(1996), um crescimento exponencial verdadeiro

não pode existir no mundo real. Eventualmente todo crescimento irá se

estabilizar no limite de crescimento.

Para Sterman (2000), feedbacks positivos realimentam o sistema,

amplificando o que está acontecendo com este. Já os feedbacks negativos

apresentam uma relação inversa, o sistema se autocorrige, quanto maior

o valor de uma variável menor será o valor da variável correlata.

De acordo com Sterman (2000), feedbacks negativos estabilizam

o sistema, eles agem de forma a corrigir o estado do sistema. Eles levam o sistema ao estado desejado, ou seja, ao equilíbrio.

Essas mudanças na dominância no feedback produzem a curva S,

citada anteriormente. Quando o feedback positivo começa a aumentar, o

feedback negativo também é amplificado, até ocorrer a inversão de

dominância. (MARTINE, 1996).

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48

Essas alterações de dominâncias podem ser observadas na figura

17. Inúmeros fatores podem influenciar na difusão de inovações, fatores

como redução do preço, aumento da qualidade do produto, funcionam

como amplificadores da difusão, aumentando a variável crítica, que para

este exemplo pode ser a quantidade de adotantes da inovação. Já fatores

como produtos concorrentes, saturação do mercado, aumento do preço,

acarretam na redução da taxa de crescimento da população de adotantes.

Os fatores que reduzem a difusão são chamados de fatores

estabilizadores, pois irão estabilizar o crescimento do sistema, até o

produto alcançar o estágio de maturação, onde o crescimento será quase

nulo.

Figura 17 - Mudança da dominância do loop

Fonte: Adaptado e traduzido de Martine (1996)

Portanto, todo o sistema é influenciado diretamente por inter-

relações, ou também chamados de feedbacks. Esses feedbacks podem

influenciar positivamente e/ou negativamente o crescimento da difusão.

Portanto, o conceito central para da dinâmica de sistemas é entender como

cada fator do modelo interage entre si.

A análise das variáveis que afetam o sistema no mundo real é

dificultada, pois vários feedbacks, tanto positivos quanto negativos,

interagem simultaneamente (STERMAN, 2000). Não é só as interações

simultâneas que aumentam a complexidade da dinâmica de sistemas,

outros fatores também corroboram para este aumento, como pode ser

visto no quadro 3.

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49

Quadro 3 – Caractersticas da dinâmica de sistemas

Característica do Sistema Descrição da

Característica

Dinâmico O sistema nunca está

estagnado, está em constante

mudança

Fortemente atrelado Todos os atores do sistema

estão conectados e interagindo

entre si.

Governado por feedback Todas as decisões causam

efeitos, que por sua vez refletem no

próprio sistema. A dinâmica advém

desses feedbacks.

Não linearidade Nem sempre os efeitos são

lineares as causas.

Histórico dependente Muitas ações são

irreversíveis, assim afetam o

sistema permanentemente.

Auto-organização A dinâmica de sistemas se

desenvolve com a própria estrutura

do sistema.

Adaptativo O sistema e seus agentes

conseguem se adaptar as mudanças

que ocorrem através do tempo.

Contra intuitivo Muitas vezes as interações

do sistema são de difícil

entendimento, não sendo óbvias.

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Resistente a Políticas A complexidade do sistema

dificulta a solução deste, muitas

soluções podem trazer falhar ou até

piorar a situação.

Caracterizado por trade-offs Trade-offs são comuns em

sistemas complexos, uma melhora

em um fator pode trazer piora em

outro.

Fonte: Adaptado de (VILLELA, 2005)

Pela complexidade dos sistemas a única maneira segura de avaliar

os modelos é pela simulação computacional. Segundo Sterman (2000), a

simulação é a melhor maneira em descobrir como o sistema funciona.

O processo de modelagem começa com a definição do problema,

coleta de dados, formulação do modelo, teste e análises, todo o processo

dever ser continuo sempre analisando o comportamento do modelo

construído. Para Sterman (2000), os passos da modelagem são:

1. Articulação do problema

Para entender melhor sobre a situação é necessário destrinchar o

problema. Deve-se entender o contexto e todas as variáveis que afetam o

modelo, para definir corretamente qual é o problema a ser modelado.

2. Formulação das hipóteses dinâmicas

O segundo passo é desenvolver hipóteses que descrevem o que está

ocorrendo com o sistema, desenvolvendo mapas da estrutura baseada

nessas hipóteses.

3. Formulação de modelo de simulação

Após a construção das hipóteses, é necessário definir quais serão

as regras de decisão, condições iniciais, as relações de comportamento,

etc.

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51

4. Teste

Com o modelo construído, é possível testá-lo com modelos de

referência, verificando sua sensibilidade a mudanças de valores iniciais.

5. Avaliação e Política de design

Quais são as possíveis mudanças que o sistema pode sofrer. Deve-

se avaliar diferentes cenários e como os fatores interagem entre si.

3.2 ABORDAGEM METODOLÓGICA

Segundo a classificação da metodologia científica concebida por

Gil (2009), esta monografia pode ser classificada da seguinte forma:

a) Finalidade da pesquisa: Aplicada, tem como característica

fundamental a aplicação em uma realidade específica, neste caso, a

difusão das RIs no Brasil.

b) Nível da pesquisa: Exploratória, visa desenvolver, esclarecer e

modificar conceitos, visando a aproximar modelos da situação real.

c) Forma de abordagem: Quantifica, a avaliação de projetos de

redes inteligentes leva em consideração dados quantitativos, como:

custos e quantidade de usuários.

3.3 ETAPAS METODOLÓGICAS

3.3.1 Modelagem de Sistemas Dinâmicos

O processo de modelagem deve ser simples e assertivo, tendo o

cliente como alvo. O processo de modelagem começa com a definição do

problema, e como este será modelado e solucionado.

A modelagem para Sterman (2000), figura 18, é um processo

contínuo de interação entre problemas, geração de hipóteses, coleta de

dados, formulação de modelo, teste e análises.

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Figura 18 - Passos metodológicos da dinâmica de sistemas

Fonte: Adaptado de STERMAN (2000)

1. Articulação do problema da difusão das Redes Inteligentes

no Brasil

A primeira etapa metodológica é destrinchar o problema da

difusão das redes inteligentes no Brasil. Esse passo foi descrito no item

1.1 e será desenvolvido no capítulo 4 deste trabalho.

Este passo é o mais importante da construção do modelo, a

definição do problema levará ao sucesso da modelagem. Para o modelo

ser útil, ele deve ser simples e com foco na resolução de um problema

específico.

2. Formulação do estado atual da difusão das redes inteligentes

no Brasil

Neste passo foi estudado como que ocorre o funcionamento da

difusão das redes inteligentes no Brasil, especificando como o sistema é

estruturado e suas regras de interação. Esse passo é descrito no item 2.1.3

e será desenvolvido no capítulo 4.

3. Formulação de modelo de simulação

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53

Após a construção das hipóteses, é necessário definir quais serão

as regras de decisão, condições iniciais, as relações de comportamento do

modelo. Esses passos foram descritos nos itens 2.2.1 e 2.5 e serão

aprofundados no capitulo 4.

Após a formulação de hipóteses dinâmicas, estas devem ser

testadas. Como os modelos conceituais são muito complexos, formaliza-

se o modelo através de equações, parâmetros e condições iniciais. A

própria formulação do modelo ajuda na sua compreensão antes mesmo

das simulações serem feitas.

4. Teste

Com o modelo construído, é possível testá-lo com modelos de

referência, verificando sua sensibilidade a mudanças de valores iniciais.

Essa etapa foi descrita no item 2.5 e será investigada no capitulo 4

5. Formulação de Políticas e Avaliação

Deve-se avaliar diferentes cenários e como os fatores interagem

entre si. A política de avaliação inclui a criação de novas estratégias,

estruturas e regras de decisão. Essa etapa será construída no capítulo 5.

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54

4.CONSTRUÇÃO DO MODELO

Para construir o modelo, primeiro foi definido qual seria o

melhor método para descrever o comportamento do sistema. Entre os

modelos, o escolhido foi o de difusão Bass, por ser o que melhor relata a

difusão de novas tecnologias.

Seguindo o modelo proposto por Sterman (2000), apresentado no

item 2.4 e com o auxílio do software Stella, foi modelado as primeiras

interações. Já que o mercado é dinâmico e há um aumento constante do

mercado potencial e o preço dos medidores inteligentes com o passar do

tempo apresentam um decaimento, como pode ser visto na figura 19,

foram acrescentados dois complementos no modelo: efeito do

crescimento do mercado e efeito da curva de aprendizagem.

Figura 19 - Modelo de Estoque e Fluxo

Fonte: Autor

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55

4.1 LEVANTAMENTO DOS DADOS HISTÓRICOS

Após construir modelo base, foi necessário levantar dados

históricos da difusão das redes inteligentes no Brasil. Foram utilizados

dados obtidos na literatura em relação a quantidade de medidores

inteligentes instalados por ano, ou seja, a quantidade de unidades

consumidoras que utilizam esses medidores. Para o ano de 2018 foram

contabilizados os medidores instalados até o mês de agosto. Esses dados

se encontram na tabela 3.

Tabela 3 – Número de medidores instalados por ano

Ano Número de Medidores

Instalados

2011 243377

2012 405629

2013 650314

2014 955182

2015 1664652

2016 1789155

2017 2439652

2018 3382400

Fonte: Autor

4.2 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DO MODELO

Como a tecnologia é incipiente e não foi encontrado dados

mensais do crescimento das RIs no Brasil, utilizando os dados anuais não

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56

foi possível otimizar os valores dos parâmetros: Efetividade das ações de

publicidade (p) e o coeficiente de inovação (q).

Assim, por métodos de tentativa e erro, os melhores valores

encontrados para os parâmetros estão descritos na tabela 4.

Tabela 4 – Parâmetros Estimados

Parâmetro Valor Estimado

p 0,0025

q 0,197

Fonte: Autor

4.3 CALIBRAÇÃO DO MODELO

Para validar o modelo é necessário compará-lo com os dados

históricos, analisando se os desvios são aceitáveis ou não. Para avaliar os

erros de previsão foram utilizados três métricas:

1. Desvio Médio Absoluto (MAD): O MAD é a média dos resíduos,

ou seja, da diferença entre os dados históricos e os simulados.

Com ele é possível ter ideia da variabilidade dos dados.

2. Média Percentual Absoluta do Erro (MAPE): O MAPE expressa

a acurácia do resíduo em percentagem.

3. Raiz do Quadrado Médio do Erro (RMSE): No RMSE os

resíduos afetam de forma quadrática a medida, portanto quanto

maior a o resíduo maior será interferência. Consequentemente, o

RMSE é bastante sensível para outliers.

Na tabela 5 são apresentados os valores obtidos pelas três métricas.

Tabela 5 – Métricas de validação

Métrica Valor Calculado

MAD 28.583,69

MAPE 4,66%

RMSE 31.844,24

Fonte: Autor

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57

Como esperado o valor do RMSE é maior que o do MAD, mas a

diferença é pequena, evidenciando que não há outliers. O modelo pode

ser aceito já que os valores do MAD, MAPE e do RMSE são pequenos

em relação aos dados.

A comparação dos dados históricos da difusão das RIs no Brasil,

para os anos de 2011 a 2018, com os dados simulados pode ser vista na

figura 20

Figura 20 - Cenário Base x Real

Fonte: Autor

Como pode ser visto na figura 20, mesmo com um período

pequeno foi possível construir um modelo válido para o sistema de

difusão das Redes Inteligentes no Brasil.

4.4 MERCADO POTENCIAL

O mercado de energia no Brasil só cresce, nos últimos anos o

crescimento foi de 3,5% a.a. Até 2026, estima-se que o consumo de

energia elétrica cresça a uma taxa de 3,7% ao ano, de acordo com dados

da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Portanto, o mercado potencial está em constante mudança, a cada

ano o consumo de energia aumenta, também aumentando a quantidade de

unidades consumidoras. Assim, para ter um modelo mais robusto é

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58

necessário utilizar uma função que descreva esse crescimento do

mercado.

No primeiro momento, o mercado potencial (m) foi definido como

estático. O valor do mercado potencial utilizado foi de 2011, onde no

Brasil havia cerca de 68 milhões de unidades consumidoras.

4.5 COMPORTAMENTO DO MODELO

4.5.1 Modelo Básico

O modelo básico, figura 20, espelha-se no modelo básico de

Bass, onde o sistema é influenciado por três parâmetros: efetividade das

ações de publicidade (p), fração de adoção (q), e o tamanho de mercado

potencial (m).

Com os coeficientes de imitação e inovação estimados e o

mercado potencial definido foi possível rodar o modelo de difusão no

Stella.

As equações que modelam este sistema foram descritas no item

2.4, e os valores dos parâmetros estão descritos na tabela 6.

Tabela 4 – Valores dos parâmetros do modelo básico

Parâmetro Valor

Adotantes Iniciais 0

Efetividade das ações por

publicidade (p)

0,0025

Fração de adoção (q) 0,197

Tamanho do mercado

potencial (m)

68000000

Taxa de contato 1 Fonte: Autor

Foi considerado que o número de adotantes iniciais é 0 para o

ano de 2010 com o horizonte de análise até 2060 e com a taxa de contato

constante igual a 1.

Como mencionado no item 2.2.2, a difusão para inovações segue

a curva S, e não poderia ser diferente para a difusão das redes inteligentes

no Brasil, como pode ser visto na figura 21.

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59

Figura 21 - Curva S

Fonte: Autor

Nos primeiros anos o crescimento é exponencial, isso ocorre,

pois, o número de adotantes potenciais é alto, já que segundo o modelo, a

quantidade de adotantes potenciais é igual à diferença entre o tamanho do

mercado potencial com o número de adotantes.

O ponto de inflexão da curva, ou seja, o momento que o número

de adotantes supera o de adotantes potenciais ocorre em 2034. A partir

deste ano a taxa de crescimento começa a diminuir, até a saturação do

mercado que acontece em 2051.

Como já mencionado este modelo analisado é básico, pois não

descreve da melhor forma o comportamento do sistema, já que não leva

em consideração alguns fatores como preço, crescimento do mercado e

efeito do aprendizado, entre outros. Nos próximos itens serão discutidos

modelos mais robustos para a difusão das redes inteligentes no Brasil.

4.5.2 Efeito do Crescimento do Mercado

Como mencionado anteriormente o mercado potencial não é

estático, na realidade, como pode ser visto na figura 22, o crescimento de

2010 até 2016 nas ligações residenciais foi de 3,4% a.a e a projeção de

crescimento para os próximos anos é de 2,5% a.a (EPE,2016).

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60

Figura 22 - Crescimento do número de unidades consumidoras no Brasil

Fonte: (EPE, 2016b)

Portanto, a taxa de crescimento do mercado potencial utilizada

no modelo será de 3,4% a.a. para os anos de 2011 até 2016 e de 2,5% para

os anos seguintes.

Como pode ser visto na imagem 23, agora o mercado potencial é

um estoque, sendo influenciado por uma taxa fracional de crescimento,

definida no parágrafo anterior.

Figura 23 - Modelo com Crescimento do Mercado Potencial

Fonte: Autor

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61

A figura 24 mostra o comportamento do mercado potencial

dinâmico em comparação com o mercado estático, como há uma taxa de

crescimento de 2,5 % a.a. o mercado dobra de tamanho em um pouco

mais de 30 anos, chegando ao patamar de mais de 250 milhões de

unidades consumidoras.

Figura 24 – Comportamento do Mercado Potencial

Fonte: Autor

O modelo demora mais para saturar neste caso, já que o mercado

potencial está em constante expansão. O declínio do crescimento também

ocorre, como pode ser visto na figura 25, de forma mais suavizada.

Figura 25 - Comparação da Difusão entre os Modelos

Fonte: Autor

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62

4.5.3 Efeito do Preço na Taxa de Adoção

O modelo básico não leva em consideração o impacto do preço

na difusão das redes inteligentes no Brasil. Com a adição do efeito do

preço no modelo, agora os adotantes potenciais são influenciados

inversamente pelo preço. Quanto menor o preço, maior será o número de

pessoas dispostas a adotar as RIs.

O preço dos medidores inteligentes varia muito dependendo do

modelo de medidor. No modelo, foram utilizados preços médios para

cada ano, conforme tabela 7.

Tabela 7 –Preço Médio do Medidor Inteligente

Ano Preço Médio do Medidor

Inteligente

2011 520,00

2012 473,00

2013 445,00

2014 424,00

2015 405,00

2016 400,00

2017 380,00

2018 370,00

Fonte: Autor

Como pode ser visto na figura 26, a fração do mercado disposta

a adotar as redes inteligentes segue um função não-linear. Com uma

redução de apensa 10% no preço a fração de mercado disposto a adotar

passa de aproximadamente 2% para quase 40% e com uma redução de

50%, a fração disposta a adotar os medidores inteligentes passaria a ser

aproximadamente 83%.

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63

Figura 26 – Fração do mercado disposto a adotar

Fonte: Autor

4.5.4 Efeito da curva de aprendizagem

Com o avanço tecnológico ocorre a redução do preço, já que o

conhecimento sobre a produção cresce, portanto quanto maior o

aprendizado sobre os medidores inteligentes menor será o preço destes.

Pode-se observar na figura 27 que neste novo modelo o preço é

o produto do preço inicial como efeito da curva de aprendizado. Já a curva

de aprendizado é influenciada exponencialmente pelo coeficiente de

aprendizado (c), que sempre será um valor negativo de ordem de – 0,08 a

– 0,3.

Figura 27 – Modelo com Efeito de aprendizagem

Fonte: Autor

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64

O valor do coeficiente de aprendizado foi estimado com base nos

dados históricos das médias do preço dos medidores inteligentes, e o

melhor resultado encontrado foi para c = - 0,13. A comparação entre a

evolução do preço real com o estimado pode ser vista na figura 28.

Figura 28 – Preço Real x Preço Estimado

Fonte: Autor

O modelo aqui construído levou como base o modelo básico de

Bass, sendo que os parâmetros que o definem foram definidos e testados

no capítulo anterior. Agora é necessário testar o modelo completo, com

todas as suas interações e feedbacks e para cenários extremos, para

entender melhor o funcionamento do modelo, com o objetivo de ser mais

assertivo nas políticas a serem adotadas para estimular a difusão das RIs

no Brasil.

4.5.5 Cenário Atual

Para o cenário atual, foi utilizado o modelo que compreende o

modelo básico de Bass em conjunto com os complementos de

crescimento do mercado potencial, preço, efeito da curva de aprendizado,

figura 30. Todos os parâmetros que afetam o modelo foram determinados

no capitula 4.

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65

Com todos os parâmetros definidos foi rodada a simulação apara a

difusão das redes inteligentes no Brasil. O resultado pode ser visto na

figura 29.

Figura 29 -Crescimento do Cenário Atual

Fonte: Autor

Para o cenário base o modelo apresenta o comportamento da curva

S, com um maior crescimento para os anos a partir de 2034. Nos primeiros

anos o crescimento é lento porque a base instalada é pequena, mas com o

passar dos anos o número de adotantes aumenta o que afeta diretamente

a taxa de contato por imitação, acarretando no aumento da taxa de adoção.

Outro fator que ajuda na difusão da tecnologia para os próximos

anos é a redução do preço. Atualmente 5% das unidades consumidoras

utilizam redes inteligentes, isso para um preço atual de instalação dos

medidores na casa dos R$ 400,00. O modelo prevê que para o ano de 2020

o preço cairá para R$ 350,00, o que aumentaria o número de pessoas

dispostas a adotar para 75%.

Se nada se alterar no panorama da difusão das redes inteligentes

no Brasil, o mercado entrará em equilíbrio no ano de 2060. Isso considerando que o mercado apresenta uma oferta infinita, ou seja, a

demanda é sempre suprida e que o mercado continua crescendo

indefinidamente a uma taxa de 2,5% a.a.

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66

4.6 ANÁLISE SENSIBILIDADE

Nesta seção serão testados valores extremos para os parâmetros

do sistema com o objetivo de analisar e validar se o modelo se comporta

da maneira esperada.

4.6.1 Ação de publicidade nula, p=0

Para o caso de não haver novos adotantes oriundos das ações de

publicidade o crescimento é mais afetado, como pode ser observado na

figura 30, nos primeiros anos de difusão. Isso ocorre, devido a influência

das adoções por publicidade, nos primeiros anos de difusão, é mais efetiva

que as adoções por imitação, pois esta é dependente da quantidade de

adotantes, que ainda é pequena para os primeiros anos. Porém, conforme

o número de adotantes cresce, esta lógica se inverte e a dominância da

difusão passa a ser das taxas de contato e não mais das ações de

publicidade.

Figura 30 – Curva para publicidade nula

Fonte: Autor

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67

4.6.2 Adoção por imitação nula, q=0

Como pode ser visto na figura 31, a difusão das RIs sem a

interferência da adoção por imitação segue um crescimento linear.

Portanto, sem a adoção pelo boca-a-boca, o modelo crescerá seguindo

estritamente o crescimento do mercado.

Figura 31 - Curva adoção nula

Fonte: Autor

4.6.3 Valores limites da taxa de aprendizado

Como já mencionado no item 4.5.4 quanto menor o valor do

coeficiente de aprendizado (c) maior será o decaimento do preço com o

passar dos anos.

Para o primeiro limite, será testado o valor de c = -0,08. A figura 33 ilustra que a curva de difusão para este cenário segue a curva S, como

esperado. Entretanto, em comparação com a curva do modelo base, figura

32, este novo cenário apresenta um crescimento muito mais reduzido.

Essa atenuação no crescimento já é esperada, já que um valor maior de c,

influencia negativamente a difusão.

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68

Figura 32 – Curva valor máximo de coeficiente de aprendizado

Fonte: Autor

Para o segundo teste será utilizado o valor de c =- 0,3. Neste caso,

conforme a figura 33, o crescimento é acentuado, já que agora o

aprendizado ocorre mais rápido, e por consequência, o preço também é

reduzido mais rapidamente.

Figura 33 - Curva valor máximo de coeficiente de aprendizado

Fonte: Autor

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69

4.6.4 Efeito da adoção por diferentes curvas a resposta ao preço

Na figura 34, pode-se observar que mesmo com uma grande

diferença entre as curvas de resposta ao preço, como visto no item 4.5.3,

a desigualdade entre as difusões não foi significativa. O crescimento teve

uma alteração apenas a partir de 2026 e a maior diferença ocorreu entre o

cenário 1 e o 3, que não passou de 5%.

Figura 34 - Difusão das RIs para diferentes curvas a resposta ao preço

Fonte: Autor

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 POLÍTICAS ALTERNATIVAS

Diferentes políticas de incentivo podem ser adotadas para acelerar

o processo de difusão de nova tecnologia no mercado. Essas políticas

podem advir do próprio mercado, como a redução do preço dos

medidores, aumento da concorrência, ou podem ser originadas por

políticas governamentais, como a isenção de impostos, financiamentos,

regulação impondo a obrigatoriedade da implantação de medidores

inteligentes.

Desta forma, neste capítulo, serão simuladas diversas políticas de

incentivos a difusão das redes inteligentes no Brasil, buscando identificar

quais dessas políticas são as mais efetivas sempre comparando com o

modelo base de difusão, explanado no item 4.5.1.

A primeira e a segunda política a serem testadas são a mudança

dos parâmetros efetividade das ações de publicidade (p) e aumento da

taxa de contato (q*c). A análise da variação desses dois parâmetros é

necessária para o entendimento do comportamento do modelo e para

nortear futuras medidas incentivadoras da difusão dessas redes no Brasil.

Já na terceira simulação será testado diferentes medidas

mitigadoras no preço dos medidores inteligentes. Políticas de incentivo a

compra, como financiamento, são muito comuns no estimulo a utilização

de novas tecnologias, principalmente para o caso de energias renováveis

e limpas.

Outro fator que pode reduzir o preço é a concorrência. Com a

regulamentação dos medidores inteligentes no Brasil, mais empresas

nacionais podem entrar no mercado, o que afetaria o preço da aquisição

dos medidores inteligentes.

Para quarta e última simulação será testado mudanças no

crescimento do mercado potencial. O mercado potencial (m) do modelo

base, como citado no item 4.5.2, foi construído seguindo o crescimento

estimado das unidades consumidoras em todo o país. Entretanto, como o

horizonte de análise é muito longo e o crescimento econômico do

mercado consumidor é muito instável, há a necessidade de analisar o comportamento do modelo a diferentes cenários de crescimento.

Para a análise das políticas será utilizada a taxa média de

crescimento da difusão, ou seja, será analisado a diferença percentual

média entre o novo cenário com o cenário base, que foi descrito no item

4.5.5.

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5.1.1 Aumento nas Ações de Publicidade

A política de aumentar as ações de publicidade é interessante, já

que atualmente há pouca informação para os consumidores sobre os

diversos benefícios da utilização das redes inteligentes. Serão testados

três valores de incremento, de 20%, 40% e 60% para as ações de

publicidade.

Os valores do parâmetro de efetividade das ações de publicidade

podem ser observados na tabela 8.

Tabela 8 – Diferentes valores de “p”

Cenários Efetividade das ações de

publicidade (p)

Base 0,0025

20% 0,003

40% 0,0035

60% 0,004

Fonte: Autor

Como já esperado, o incremento nas ações de publicidade faz

com que o modelo apresente crescimento mais acentuado nos primeiros

anos, estabilizando-se por volta de 2040. A taxa média de crescimento

da difusão em comparação com o cenário atual é de 8% para um aumento

de 20 % nas ações de publicidade. O aumento é maior nos primeiros anos,

chegando a faixa de 14% no ano de 2021, mas com o passar do tempo a

taxa de adoção por imitação se torna mais relevante para a adoção,

reduzindo a influência das ações de publicidade no modelo.

Dobrando o aumento na efetividade, o modelo já apresenta

crescimento mais acentuado. Em comparação com o cenário de 20% de

aumento, o cenário com 40% quase triplica a taxa média de crescimento

da difusão, alcançando taxa média de 23%.

No último cenário, o aumento de 60% não apresenta o mesmo

desenvolvimento do último caso. Para este aumento o incremento na taxa média é de 26%, é o melhor resultado para estas políticas, porém, em

comparação com o aumento de 40% o resultado dessa medida ficou

aquém do esperado.

Como pode ser observado na figura 35, as ações de publicidade

não têm grande efeito na difusão das RIs no Brasil. Pode-se explicar esse

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72

fenômeno pelo fato que atualmente as concessionárias são as tomadoras

de decisão na implementação dos medidores inteligentes, e por

consequência da atualização da rede, portanto a influência das ações de

publicidade é relativamente pequena na difusão das redes inteligentes no

Brasil.

Figura 35 – Difusão das RIs para diferentes valores de “p”

Fonte: Autor

5.1.2 Aumento na Taxa de Contato

As políticas de aumento na taxa de contato seguirão a mesma

lógica do incremento nas ações de publicidade. Três cenários foram

simulados e comparados com o cenário base, como pode ser visto na

tabela 9.

Tabela 9 – Diferentes valores de “q”

Cenários Fração de Adoção (q)

Base 0,197

20% 0,2364

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73

40% 0,2758

60% 0,3152

Fonte: Autor

Para o primeiro cenário, a taxa de contato foi aumentada em 20%,

passando de 0,197 para 0,2364. Este aumento faz com que o crescimento

da difusão se acelere, principalmente a partir do ano de 2026, já que a

influência da taxa de contato no modelo é tardia. Em comparação com o

cenário base, o aumento médio da difusão com 20 % de aumento na taxa

de contato é de 17 %. Portanto a difusão crescerá 17% em média a mais

com esse incremento.

As maiores diferenças entre os dois cenários ocorrem nos anos

de 2038 até 2046, após este ano a taxa de crescimento da curva com o

novo cenário tende a se estabilizar e seguir paralelamente a curva do

cenário atual.

Para o segundo cenário foi alterada a taxa em 40% o que gerou

aumento médio de 34% na taxa média de difusão. A maior diferença entre

o cenário com 40% de aumento da taxa de contato e do cenário base

ocorre no ano 2033, onde este apresenta população de adotantes em torno

dos 45 milhões, enquanto que naquela os adotantes passam dos 69

milhões, representando aumento de 55%.

No terceiro e último cenário, o aumento na taxa de contato é de

60%, trazendo um resultado de 40% de aumento na taxa de crescimento

da divisão das redes inteligentes no Brasil. Como pode visto na figura 36,

as maiores diferenças entre o cenário anterior e este ocorrem nos anos de

2030 a 2040. Isso denota que a influência da taxa de contato é maior perto

do ponto de inflexão da curva de difusão para este modelo, ou seja, a

maior diferença entre a quantidade de medidores inteligentes instalados

ocorre no ponto de alternância na dominância do feedback positivo para

o negativo.

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74

Figura 36 - Difusão das RIs para diferentes valores de “q”

Fonte: Autor

A política de aumentar a taxa de contato se mostrou mais

eficiente que a política de aumentar as ações de publicidade. A maior

diferença entre essas duas políticas atinge a marca de 40 milhões de

unidades utilizando medidores inteligentes no ano de 2034, para o cenário

com 60% de aumento.

5.1.3 Redução do preço

Para a política de redução do preço dos medidores inteligentes

foram testados três valores percentuais de redução. Como mencionado no

item 5.1 os motivos da redução no preço dos medidores podem vir do

próprio mercado ou de ações governamentais.

A tabela 10 apresenta os valores que foram alterados no modelo

junto com o valor de base.

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75

Tabela 10 - Diferentes valores de preço

Cenários Preço Inicial dos Medidores

Base R$ 520,

20% R$ 433,00

40% R$ 371,00

100% 0

Fonte: Autor

Comparando cenário com 20% de redução com o de base, o

incremento na taxa de crescimento foi de 10%. Portanto uma redução de

20% no preço acarreta em um aumento de 10% na difusão das redes

inteligentes.

Como o cenário de 40% de redução, a taxa média de incremento

da difusão é de 12%. Para o ano de 2034 a diferença entre a quantidade

de medidores inteligentes instalados no país é cerca de 8 milhões.

Portando, a redução do preço mostra que pouco influencia na difusão dos

medidores inteligentes, principalmente, comparando-se com o aumento

de 40 milhões da política citada no item anterior.

Para a última simulação foi considerado subsidio total na compra

dos medidores. Portanto o preço agora não é mais empecilho para a

difusão das redes inteligentes. Porém, como pode ser observado na figura

37, mesmo com 100% de subsidio o aumento gerado não é grande,

principalmente em comparação com as políticas adotadas nos itens

anteriores.

Figura 37 - Difusão das RIs para diferentes valores de preço

Fonte: Autor

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76

Com esse cenário foi validado a ideia que o preço não tem grande

efeito sobre a difusão das RIs no Brasil. Até com redução de 100 % no

preço o aumento na taxa de difusão foi de apenas 18%, praticamente o

mesmo resultado do aumento de 20% na taxa de contato.

5.1.4 Mudanças na taxa de crescimento do mercado

A redução do PIB afeta diretamente o crescimento da demanda

de energia que por sua vez afeta o crescimento das unidades

consumidoras no país. Além disso, a redução do PIB pode acarretar na

redução da fração do mercado disposta a adotar, já que em períodos de

crise econômica os consumidores tendem a diminuir gastos.

Assim, para este cenário foi considerada a taxa de crescimento

do mercado igual ao do PIB da década de 1980, de 1,6 % a.a. Como ilustra

a figura 38 com a redução do crescimento do mercado a difusão das RIs

no Brasil começa a se estabilizar em 2050. Este cenário é extremamente

pessimista, pois dificilmente o país entraria em uma crise tão longa.

Figura 38 - Difusão das RIs para diferentes valores de “m”

Fonte: Autor

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77

5.2 COMBINAÇÃO DOS DIFERENTES CENÁRIOS

Neste item, será analisado diversas combinações das diferentes

políticas aplicadas no item 5.1. A escolha de quais políticas seriam

combinadas levou em consideração fatores como, eficiência e facilidade

da aplicação em conjunto com essas políticas.

O Primeiro cenário será a combinação da política de aumento de

40% nas ações de publicidade em conjunto com a redução em 20% no

preço. Já para o segundo cenário será simulado a combinação do

crescimento moderado do mercado com o aumento de 40% na taxa de

contato. E por fim, será analisado a combinação das políticas de aumento

de 40% das ações de publicidade e da taxa de contato.

Os diferentes cenários junto com as políticas combinadas e seus

respectivos valores dos parâmetros modificados podem ser vistos na

tabela 11.

Tabela 11 - Diferentes cenários combinados

Cenários Política

Adotada

Valor do

Parâmetro

Cenário 1 Aumento de

40% na

efetividade das

ações por

publicidade

(p).

0,0035

Redução de

20% no preço .

R$ 433,00

Cenário 2 Crescimento

Moderado do

mercado

potencial (m).

0,015

Aumento de

40% na fração

de adoção (q)

0,2758

Cenário 3 Aumento de

40% na

0,0035

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efetividade das

ações por

publicidade

(p).

Aumento de

40% na fração

de adoção (q)

0,2758

Fonte: Autor

Cenário 1: Conjunto das políticas de aumento da efetividade das

ações por publicidade com a redução no preço dos medidores inteligentes.

Para este cenário será considerada uma redução de 20% do custo

de aquisição dos medidores inteligentes, em conjunto com aumento de

40% nas ações de publicidade.

A curva de difusão deste cenário pode ser vista na figura 39, nela

podemos observar que o crescimento é quase linear após 2042, isso se

deve ao crescimento constante do mercado potencial, pois mesmo com a

aplicação dessas novas políticas de incentivo, a difusão das RIs para este

cenário, não alcança a maturidade do produto, isso para um período de

análise até 2060

Neste primeiro cenário, a combinação das duas políticas

supracitadas aumentou em 28% a taxa de crescimento da difusão em

comparação com o cenário base. Portanto, essa associação não se mostra

vantajosa, já que políticas isoladas, como, o aumento da taxa de contato,

apresentam aumento mais significativo, como explanado no item 5.3.2.

Cenário 2: Combinação do crescimento moderado do mercado

potencial com o aumento da fração de adoção.

Este novo cenário utiliza como base o crescimento moderado do

mercado potencial, esse crescimento é mais natural em comparação com

os outros, pois apresenta anos onde há crescimento acentuado seguidos

por anos de declínio. Utilizando esse crescimento em conjunto com a

política de aumento da taxa de contato (fração de adoção), a taxa de

adoção média cresceu 38% em comparação com o cenário base. Para o

ano de 2060 a diferença no número de adotantes entre os cenários é de

cerca de 36 milhões em comparação com o cenário base de 15 milhões

Cenário 3: Conjunto das políticas de aumento na efetividade das ações por publicidade e da fração da adoção.

Para a última simulação foram considerados as duas políticas que

mais surtiram efeito na difusão das RIs no Brasil. Pode-se notar na figura

39, que a curva de difusão deste cenário, apresenta formato mais sigmoide

em comparação com os cenários anteriores. Entre todos os cenários

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simulados até agora, este é o que apresenta o melhor resultado de

crescimento da taxa média de difusão, que fica em torno de 46% em

comparação com o cenário base.

Figura 39 - Difusão das RIs para diferentes cenários combinados.

Fonte: Autor

5.3 CENÁRIOS EM MATRIZ

Para ter uma melhor ideia do comportamento da difusão das

redes inteligentes no Brasil, foram simulados 32 cenários, divididos em

duas matrizes, como pode ser visto na tabela 12 e 13.

Na primeira matriz os valores alterados foram da taxa de contato

e da fração de adoção. O primeiro cenário diz respeito a difusão das RIs

com os valores dos parâmetros estimados no item 4.2, já os outros

cenários foram obtidos pela combinação das diferentes taxas de

incremento (20%, 40% e 60%) na efetividade das ações de publicidade

(p) e na taxa de contato (q).

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Tabela 12 - Matriz variando os valores de “p” e “q”

Fonte: Autor

Na figura 40 pode ser observado que os cenários que

apresentaram os maiores crescimentos na difusão foram os com maiores

taxas de incremento, principalmente os cenários 13, 14, 15 e 16, que são

os que apresentam o maior crescimento na taxa de contato.

Figura 40 - Difusão das RIs para cenários variando “p”e “q”

Fonte: Autor

Na segunda matriz foram combinados diferentes valores para o

cresciemento do mercado com a redução do preço. Neste caso, como no

Base 20% 40% 60%

0,0025 0,003 0,0035 0,004

Base 0,197 Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4

20% 0,2364 Cenário 5 Cenário 6 Cenário 7 Cenário 8

40% 0,2758 Cenário 9 Cenário 10Cenário 11 Cenário 12

60% 0,3152 Cenário 13Cenário 14Cenário 15 Cenário 16

p

q

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anterior, foram considerados 4 valores para cada parâmetro, assim,

foram analisados 16 cenários.

Tabela 13 - Matriz variando os valores de mercado e preço.

Fonte: Autor

Como pode ser visto na figura 41, os cenários com o mercado pessimista

não alcançaram nem 60% do mercado para o horizonte de tempo analisado.

Entretanto, para o caso dos cenários com o mercado moderado o crescimento é

mais acentuado, chegando a alcançar 94% para o ano de 2058. Entre todos os

cenários os que apresentam os melhores resultados de difusão, são os que

combinam a redução de 100% no preço com crescimento do mercado otimista,

sendo que esses chegam a apresentar uma diferença de mais de 20% na difusão

em comparação com a combinação do crescimento moderado e redução de 100%

no preço.

Figura 41 - Difusão das RIs para cenários variando mercado e o preço

Fonte: Autor

Base Pessimista Moderado Otimista

2,50% 1,60% 4,00% 8,00%

Base 520 Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4

20% 433 Cenário 5 Cenário 6 Cenário 7 Cenário 8

40% 371 Cenário 9 Cenário 10Cenário 11 Cenário 12

100% 0 Cenário 13Cenário 14Cenário 15 Cenário 16

Mercado

Preço

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.1 CONCLUSÕES

Este trabalhou compreendeu o estudo da difusão das redes

inteligentes no Brasil, utilizando simulações pelo modelo da

dinâmica de sistemas. Os parâmetros que afetam o sistema,

como, a efetividade das ações de publicidade (p), fração de

adoção por imitação (q) e o mercado potencial (m) foram

calibrados, testados e validados.

Por meio da revisão da literatura, o primeiro e o segundo

objetivos específicos, levantar os dados históricos e desenvolver

um modelo da difusão das RIs no Brasil, foram alcançados. O

terceiro objetivo especifico também foi alcançado, o modelo

construído com base nos dados históricos foi testado e validado

com os dados históricos da difusão, apresentando um erro

percentual absoluto médio menor que 5%.

Para o último objetivo específico foram analisadas

diferentes políticas para o incremento da difusão das redes

inteligentes no Brasil. Pôde-se observar que o preço pouco afeta

o crescimento da taxa de adoção, mesmo com redução em 100%

no preço, o aumento da difusão foi baixo em comparação com

outras políticas.

A política que mais acelera a difusão das RIs é o aumento

da taxa de contato, mesmo a aplicação dessa política

isoladamente produz um resultado maior que a combinação das

políticas de redução do preço em 20% com o aumento de 40%

nas ações em publicidade. Isso mostra que para este modelo a

maior influência para a adoção dos medidores inteligentes é a

adoção por imitação. Porém, esse fator tem efeito no médio e

longo prazo, pouco afeta a difusão nos primeiros anos.

Com base em todas os cenários testados o que melhor

apresentou resultado foi a combinação do aumento de 40% na

taxa de contato com o incremento de também 40% nas ações de publicidade. O crescimento para este caso foi de quase 50%, o

que é um ótimo resultado

Nenhum dos cenários testados apresentou resultado tão

acentuado, como o esperado pela pequisa da Navigant Research,

que estimava quem em 2020, cerca de 30 milhões de medidores

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inteligentes estariam instalados no Brasil. Na realidade, na

melhor das hipóteses aqui testadas, isso só ocorreria no ano de

2024.

Para viabilizar esse crescimento estimado pela Navigant é

necessário melhorar a regulamentação existente das redes

inteligentes no Brasil. Com nova regulamentação, novas

empresas poderiam entrar no mercado de medidores inteligentes

o que acarretaria na diminuição do preço. Além disso, em último

caso, poder-se-ia implementar legislações impondo a

obrigatoriedade da substituição da rede atual para a rede

inteligente.

Outro estudo realizado pela Innovation Observatory

estima que o Brasil irá substituir cerca de 27 milhões de

medidores até 2030. Segundo o modelo desenvolvido neste

trabalho, este valor será alcançado no ano de 2032, para o cenário

base, onde não são aplicadas políticas de incentivo. Essa

estimativa é alcançada com uma redução de apenas 10% no preço

dos medidores inteligentes e com o aumento de 20% nas ações

de publicidade. E para superar essa estimativa algumas das

políticas necessárias são: Aumentar em 20% a taxa de contato;

reduzir em 40% o preço e aumentar em 40% as ações de

publicidade. Além disso, todos as políticas combinadas que

foram testadas neste trabalho, superam a perspectiva instalação

supracitada. E no melhor dos cenários, agregação das políticas

de aumento das ações de publicidade e da taxa de contato, a

instalação dos 27 milhões de medidores inteligentes é alcançada

em 2024.

Por fim, percebe-se que difusão das RIs no Brasil

necessita de maiores incentivos, principalmente em relação a

regulamentações na utilização dos equipamentos das redes

inteligentes.

6.2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

A principal limitação do estudo é referente a baixa

quantidade de dados e informações sobre o processo de difusão

das redes inteligentes no Brasil. Por isso, optou-se por não

analisar fatores que potencialmente influenciam na difusão das

redes inteligentes no Brasil, como, custos de infraestrutura,

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manutenção, tempo de vida dos medidores, redução da tarifa de

luz, mercado de carbono, entre outros.

6.3 RECOMENDAÇÕES

Recomenda-se que para estudos futuros sejam analisados

outros fatores que também influenciam na difusão das redes

inteligentes no Brasil, como, custo de implantação da

infraestrutura para a utilização das redes inteligentes, custo de

aquisição de outros equipamentos por parte do usuário e das

concessionárias, redução dos custos operacionais, vida útil dos

medidores, tempo de instalação da infraestrutura.

Pode-se também em trabalhos futuros analisar o

comportamento das unidades consumidoras individualmente,

utilizando a subdivisão de unidades: residencial, industrial,

comercial e outras.

Além disso, pode-se agregar no modelo fatores como,

utilização das redes inteligentes em conjuntos carros autônomos,

redução da emissão de CO2, mudança nas tarifas (tarifa branca),

e influência dos consumidores livres.

Por fim, entende-se que há a necessidade em repetir o

estudo da difusão das redes inteligentes no Brasil em um período

futuro, para que se possa ter maior agregação de dados e ter uma

melhor visão estratégica da difusão desta tecnologia para o país.

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