179
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA-UFPB CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E DA NATUREZA-CCEN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGG ALTEMAR AMARAL ROCHA ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA E OS PROCESSOS DA URBANIZAÇÃO DE VITÓRIA DA CONQUISTA – BA João Pessoa Outubro de 2008.

Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA-UFPBCENTRO DE CIENCIAS EXATAS E DA NATUREZA-CCEN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGG

ALTEMAR AMARAL ROCHA

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA

E OS PROCESSOS DA URBANIZAÇÃO DE VITÓRIA DA CONQUISTA – BA

João Pessoa Outubro de 2008.

Page 2: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA-UFPBCENTRO DE CIENCIAS EXATAS E DA NATUREZA-CCEN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGG

ALTEMAR AMARAL ROCHA

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA E OS PROCESSOS DA URBANIZAÇÃO DE VITÓRIA DA CONQUISTA – BA

Dissertação apresentada ao Curso do Programa de Pós-Graduação em Geografia-PPGG-CCEN da Universidade Federal da Paraíba-UFPB, como requisito para a obtenção do titulo de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Viana de Lima.

João Pessoa

Outubro de 2008.

Page 3: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

R672a Rocha, Altemar Amaral.

Análise socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos de urbanização de Vitória da Conquista-BA / Altemar Amaral Rocha. – João Pessoa, 2008.

179p. : il. Dissertação (mestrado) – UFPB/CCEN

Orientador: Eduardo Viana de Lima 1. Urbanização – Vitória da Conquista(BA). 2.

Bacia do Rio Verruga – Análise socioambiental. 3. Meio Ambiente – Sociedade.

UFPB/BC CDU: 711.4(043)

Page 4: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

ALTEMAR AMARAL ROCHA

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA E OS PROCESSOS DA URBANIZAÇÃO DE VITÓRIA DA CONQUISTA – BA

BANCA EXAMINADORA Dissertação para obtenção de grau de Mestre em Geografia

________________________________________________________

Dr. Eduardo Viana de Lima. Universidade Federal da Paraíba-UFPB

________________________________________________________

Dr. Pedro Costa Guedes Viana.

Universidade Federal da Paraíba-UFPB

________________________________________________________ Dr. Elias Nunes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN

João Pessoa

Outubro de 2008.

Page 5: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Dedico aos meus pais, minha família e amigos.

Page 6: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

AGRADECIMENTOS

Ao prof. Dr. Eduardo Viana de Lima, por ter me aceitado como orientando e pela

confiança na minha produção.

A minha família pela confiança e compreensão, principalmente nos períodos de

aulas com as longas viagens entre Vitória da Conquista e João Pessoa.

Ao Prof. Dr. Pedro Costa Guedes Vianna, pela colaboração teórica e metodológica

para o desenvolvimento da dissertação.

Aos professores que contribuíram com os conteúdos nos programas das disciplinas

ministradas. Profª. Drª Emilia de Rodat, Profª. Drª Fátima Rodrigues, Profª. Drª

Alexandrina Luz, Profª. Drª Doralice Satiro Maia, Profª. Drª Dirce M. Suertegaray,

prof. Dr. Roberto Verdum.

Aos colegas do grupo de estudo do mestrado que compartilharam o conhecimento e

o cotidiano do curso.

Page 7: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

ROCHA, Altemar Amaral. Análise socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos de urbanização de Vitória da Conquista-Ba, nesse contexto. 2008. 173 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) Centro de Ciências Exatas e da Natureza-CCEN, Universidade Federal da Paraíba-UFPB, João Pessoa, 2008.

RESUMO

Nesta pesquisa, realizou-se a análise socioambiental da bacia hidrográfica do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista-BA, com o objetivo de diagnosticar os fatores que atuam na degradação ambiental e provocam desequilíbrios na paisagem da área estudada. A metodologia da pesquisa baseou-se na articulação da epistemologia materialista e do pensamento critico com a questão ambiental, que conduz ao estudo das relações de interdependência existentes entre os componentes do meio natural e da sociedade, associando-se o método cartográfico com base em técnicas de geoprocessamento que possibilitou um detalhamento das análises diagnosticadas. Foi trabalhado o conceito de espaço geográfico do ponto de vista da epistemologia e da ontologia, pautados no conhecimento do território na gestão dos recursos hídricos. Alem disso, realizou-se uma reflexão sobre o espaço urbano e a urbanização. A discussão dos conceitos e idéias está permeada pela lógica da contradição contida na relação sociedade-natureza. Um conceito chave adotado foi o de produção do espaço e sua sistematização no pensamento geográfico, para compreender as formações sócio-espaciais advindas do processo de urbanização e sua classificação como categoria essencial na compreensão da dinâmica dos processos de apropriação e uso da natureza alocada na bacia hidrográfica. Os resultados dessa pesquisa evidenciam uma problemática ambiental na bacia do Rio Verruga, com uma diversidade de fatos no contexto da degradação. Percebe-se que os corpos d’água da bacia, funcionam como receptáculos de águas residuárias, perdendo a sua capacidade de potabilidade em boa parte dos trechos da bacia, principalmente na área urbana de Vitória da Conquista-Ba, outra questão é o desmatamento da cobertura vegetal natural com cerca de 93% do total da área da bacia desmatado, dando lugar a grandes áreas de pastagens extensiva e agricultura. Com base no mapeamento de uso do solo, constatou-se que há uma ocupação concentrada nas áreas próximas às principais nascentes da bacia, sobretudo pela expansão urbana de Vitória da Conquista. O mapeamento do estado geoambiental da bacia, revelou que existe áreas de preservação implantadas, mas é necessário ampliar essas áreas com a incorporação de pontos frágeis da bacia ao grupo das áreas preservadas. As conclusões desse estudo, revela que é preciso intensificar as políticas publicas para a preservação ambiental da bacia e melhoria da qualidade das águas pela diminuição dos poluentes nos corpos d’água. Aponta a necessidade de ampliar os esforços de mediação da relação sociedade-natureza para diminuição dos problemas ambientais identificados.

Palavras-chave: Sociedade-Natureza; Produção do Espaço; Ambiente

urbano; Bacias hidrográficas; Rio Verruga; Vitória da Conquista.

Page 8: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

ROCHA, Altemar Amaral. Analysis partner-environmental of River Verruga basin and the processes of urbanization of Vitória of the Conquista-BA, in that context. 2008. 173 f. Dissertation (Master's degree in Geography) Center of exact sciences and of the Nature-CCEN, Federal University of the Paraíba-UFPB, João Pessoa, 2008.

ABSTRACT

In this research, took place the analysis partner-environmental of River Wart's basin hydrographic and the processes of the urbanization of Vitória of the Conquista-BA, with the objective of diagnosing the factors that act in the environmental degradation and they provoke unbalances in the landscape of the studied area. The methodology of the research based on the articulation of the materialistic epystemology and of the thought I criticize with the environmental subject, that leads to the study of the existent interdependence relationships among the components of the natural way and of the society, associating the cartographic method with base in techniques of GIS that made possible a detailment of the diagnosed analyses. It was worked the concept of geographical space of the point of view of the epystemology and of the ontology, ruled in the knowledge of the territory in the management of the resources hydrics. Besides, took place a reflection about the urban space and the urbanization. The discussion of the concepts and ideas are permeated by the logic of the contradiction contained in the relationship society-nature. An adopted key concept was the one of production of the space and your systematized in the geographical thought, to understand the formations partner-space comings of the urbanization process and your classification as essential category in the understanding of the dynamics of the appropriation processes and use of the nature allocated in the basin hydrographic. The results of that research evidence an environmental problem in Rio Wart's basin, with a diversity of facts in the context of the degradation. It is noticed that the bodies of water of the basin, work as receivers of waters residuárias, losing your potabilidade capacity in good part of the spaces of the basin, mainly in the urban area of Vitória of the Conquista-BA, other subject is the deforestation of the natural vegetable covering with about 93% of the total of the area of the basin deforested, giving place to great areas of pastures extensive and agriculture. With base in the mapped of use of the soil, it was verified that there is a concentrated occupation in the close areas to the principal East of the basin, above all for the urban expansion of Vitória of the Conquista. The mapped of the state geoambiental of the basin, revealed that exists preservation areas implanted, but it is necessary to enlarge those areas with the incorporation of fragile points of the basin to the group of the preserved areas. The conclusions of that study, he/she reveals that is necessary to intensify the politics you publish for the environmental preservation of the basin and improvement of the quality of the waters for the decrease of the pollutant ones in the bodies of water. it Points the need to enlarge the efforts of mediation of the relationship society-nature for decrease of the identified environmental problems. Word-key: Society-nature; Production of the Space; Adapt urban; Basins hydrographic; River Verruga; Vitória da Conquista.

Page 9: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

LISTA DE FIGURAS

01 Mapa da Vila Imperial Victória de 1840..................................................... 44

02 Mapa da origem e evolução territorial de Vitória da Conquista ................ 46

03 Mapa da Expansão urbana no entorno do Rio Verruga entre 1840 e

1940...........................................................................................................

48

04 Mapa de retilinização do Rio Verruga entre 1940 a 2000.......................... 48

05 Mapa de uso e ocupação do solo urbano de Vitória da Conquista-

BA.............................................................................................................

54

06 Esquema interpretativo do Planejamento Ambiental e Geoplanejamento

urbano em bacias hidrográficas.................................................................

77

07 Carta Imagem da bacia hidrográfica do Rio Verruga e Seu

Posicionamento de drenagem ..................................................................

82

08 Mapa dos limites intermunicipais da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga. 83

09 Mapa de Geologia da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga................................... 85

10 Perfil longitudinal e esboço geológico-geomorfologico do Rio Verruga 89

11 Mapa do relevo sombreado por imagem................................................... 90

12 Mapa geomorfológico da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga.................... 91

13 Mapa de Solos da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga.............................. 92

14 Mapa da tipologia climática da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga........... 93

15 Balanço hídrico e armazenamento d’água da Bacia Hidrográfica do Rio

Verruga trecho do Planalto da Conquista..................................................

94

16 Gráficos do percentual de cobertura vegetal e do desmatamento............ 95

17 Mapa de Vegetação Nativa da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga. ......... 96

18 Mapa do estágio atual da cobertura vegetal na Bacia Hidrográfica do

Rio Verruga................................................................................................

96

19 Mapa de uso do Solo e Cobertura Vegetal na Bacia Hidrográfica do rio

Verruga......................................................................................................

100

20 Percentual por tipo de uso e ocupação do solo na bacia.......................... 101

21 Mapa da cobertura Vegetal urbana no Alto Rio Verruga........................... 103

22 Mapa de uso e ocupação urbana no Alto Rio Verruga. ............................ 105

Page 10: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

23 Mapa de uso e ocupação na nascente do rio Verruga – Reserva do

Poço Escuro...............................................................................................

106

24 Carta imagem da transposição de águas interbacias 109

25 Ilustração do sistema de transferência de águas entre a bacia do riacho

Água fria e a bacia do Rio Verruga

110

26 Perfil longitudinal do sistema de transposição de águas para o

abastecimento humano em Vitória da Conquista-BA

111

27 Carta imagem com os pontos de coleta de água para análise 114

28 Análise físico-química das águas da Bacia do Rio Verruga 116

29 Análise bacteriológica das águas da Bacia do Rio Verruga 118

30 Principais tipos de uso da água na bacia do Rio Verruga 119

31 Fotos com múltiplos usos da água: lavagem de roupas e utensílios

domésticos, nascente do rio verruga área urbana de Vitória da

Conquista – BA

123

32 Fotos da problemática ambiental decorrente dos processos de uso e

ocupação na bacia do Rio Verruga

127

33 Mapa de unidades ecodinâmicas e grau de fragilidade da Bacia do Rio

Verruga

129

34 Mapa de unidades ecodinâmicas e grau de fragilidade do Alto Rio

Verruga

131

35 Fotos de processos erosivos nas margens do anel rodoviário, espaço

urbano de Vitória da Conquista-BA

133

36 Fotos da macrodrenagem urbana de Vitória da Conquista-BA com

canalização aberta revestida em pedra, convergindo para o Rio

Verruga.

135

37 Fotos com acumulo de lixo na nascente do Rio Verruga-Reserva do

Poço Escuro e despejo de esgoto in-natura na Lagoa das Bateias

136

38 Mapa de uso e ocupação do entorno da estação de tratamento de

esgoto da embasa e sua estrutura de funcionamento

137

39 Fotos da estação de tratamento da Embasa margem esquerda do Rio

Verruga; ao fundo barreira com eucaliptos contra o odor dos efluentes.

138

Page 11: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍGLAS ANA - Agência Nacional de Água

BA - Bahia

CAD - Computed Aided Design

CAM - Computed Aided Manufactured

CAR - Companhia de Ação Regional

CEEIBH - Comitê Especial de Estudos Integrados De Bacias Hidrográficas

CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente

CRA - Centro de Recursos Ambientais da Bahia

CPT - Comissão Pastoral da Terra

DBO - Demanda Bioquímica de oxigênio

DQO - Demanda Química de Oxigênio

Embasa - Empresa Baiana de Saneamento e Abastecimento

ETE - Estação de Tratamento de Esgoto

GPS - Global Position Sistems

Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INMET - Instituto Nacional de Meteorologia

LAMC - Lagoa aerada de mistura completa

LAF - Lagoa aerada facultativa

LCA - Laboratório de Controle e Qualidade de Água

LM - Lagoa de Maturação

MMA - Ministério do Meio Ambiente

MNT - Modelo Numérico de Terreno

MS - Ministério da Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas

NPM - Número mais provável

PDU - Plano Diretor Urbano

PNUD - Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento

SIG - Sistema de Informação Geográfica

SRH - Secretaria de Recursos Hídricos

Page 12: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Unesco - Organização Educacional, Social e Cultural das Nações Unidas.

UTM - Universal Transversa de Mercator

VMP - Valor máximo permitido

WWC - Conselho Mundial da Água

Page 13: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 16

PARTE I: OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL.............................................................................................

22

2. SOCIEDADE E NATUREZA: DE E CONTRADIÇÃO DAS RELAÇÕES 232.1. A articulação das ciências na relação sociedade natureza. ................ 232.2. Unidade e contradição das relações sócioambientais e a produção

do espaço geográfico. ............................................................................. 312.3. A produção do espaço, a produção e a diversificação da natureza e

do território. ........................................................................... 35

3. A DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL NO URBANO. ...................................... 383.1. Pressupostos do diagnóstico sócioambiental em área urbana.............. 393.2. A produção do espaço e paisagem no mundo rural e urbano............... 413.3. A Formação sócio-espacial de Vitória da Conquista no contexto da

urbanização.................................................................................................. 433.4. Uso e ocupação do solo urbano em bacias hidrográficas ...................... 50

4. A DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS ......... 564.1. A bacia hidrográfica como unidade de gestão da água........................... 564.2. A contigüidade territorial da bacia hidrográfica e seu desempenho

como unidade integradora.......................................................................... 574.3. O embate das questões sociais e ambientais em bacias hidrográficas 584.4. A gestão da água: uma questão de democracia e de

solidariedade................................................................................................ 64

PARTE II – O GEOPROCESSAMENTO NA ANALISE SOCIOAMBIENTAL.....67

Page 14: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

5. APLICAÇÃO DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS NA ANÁLISE SÓCIO AMBIENTAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS........

68

5.1 O Geoprocessamento no estudo geoambiental....................................... 685.2 Geoprocessamento e planejamento ambiental em bacias

hidrográficas ............................................................................................... 755.3 Procedimentos metodológicos da pesquisa e os requisitos para o

mapeamento temático da bacia 78

6. MAPEAMENTO DA ESTRUTURA GEOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA...................................................................................................... 82

6.1. Apresentando a bacia do rio Verruga........................................................ 826.2. Caracterização geoambiental da Bacia do Rio Verruga. ......................... 846.3. Cobertura vegetal na área da Bacia do rio Verruga. ................................ 95

PARTE III – ANALISE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA DO RIO VERRUGA 97

7. A PROBEMÁTICA AMBIENTAL NA BACIA DO RIO VERRUGA ............... 997.1. Uso do solo na bacia do rio Verruga uma base para o prognóstico

geoambiental................................................................................................ 997.2. Mapeamento da Ocupação urbana, áreas de preservação e diferenças

sócio-espaciais na Bacia do Rio Verruga.................................................. 1027.3. A transposição de águas interbacias para o abastecimento humano

em Vitória da Conquista-BA 1087.4. Os múltiplos usos e a qualidade da água na bacia do rio

Verruga.......................................................................................................... 112

8. AVALIAÇÃO SOCIO-ESPACIAL DA BACIA DO RIO VERRUGA................ 1228.1. Contradições sócio-espaciais e ocupação humana nas áreas de

nascentes, vales e fundos de vale da bacia do Rio Verruga................... 1228.2. Condições da ocupação territorial e geoambiental na bacia do Rio

Verruga.......................................................................................................... 1298.3. Emergência de uma nova perspectiva sócioambiental para a Bacia do

Rio Verruga................................................................................................... 140

Page 15: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

9. CONCLUSÕES .................. ........................................................................... 145

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 149

11. GLOSSÁRIO .................................................................................................. 156

12. APÊNDICE..................................................................................................... 175

13. ANEXOS ........................................................................................................ 177

Page 16: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

1. INTRODUÇÃO

A ciência é um diálogo com a natureza. [...] A realidade do devir é a condição sine qua non de nosso diálogo com

a natureza. (PRIGOGINE, 1996).

Nos últimos anos os recursos hídricos vêm sendo atingidos pelos impactos

ambientais causados, principalmente, pela interferência humana nas áreas das

bacias hidrográficas. A água é o elemento mais vital para o ser humano. Por existir

em grande quantidade, não é encarada com a importância que merecia. Sendo

assim, faz-se necessário destacar que os recursos hídricos são importantes para a

sobrevivência, não apenas do homem, mas também das espécies vegetais e

animais do planeta. A forma irracional como vem sendo utilizado este recurso, está

levando cada vez mais a se projetar sua escassez periódica ou até mesmo

permanente.

A partir dessa problemática tão evidente, procura-se realizar um estudo

referente à utilização dos recursos hídricos, com uma análise integrada da bacia,

buscando diagnosticar a degradação, os possíveis desequilíbrios ambientais na

bacia do Rio Verruga em Vitória da Conquista e a interferência urbana nas

nascentes e mananciais da bacia. Percebe-se assim que as contradições

sócioambientais “não se manifestam apenas no campo, mas principalmente no

ambiente urbano e como conseqüência direta da industrialização” (QUAINI, 2002).

Muitos tem sido o ponto de partida para a abordagem dos fatos físicos,

ecológicos e sociais, (Ab Saber, 2006), referentes aos problemas sócioambientais e

áreas urbanas e principalmente em bacias hidrográficas. Neste caso, o diagnóstico

Socioambiental, fundamentado nos processos interativos existentes na superfície

terrestre com a sociedade, abre um largo horizonte de possibilidades de pesquisa,

principalmente aquelas relacionadas com a identificação de parâmetros internos de

influência indireta, bem como, através do sequenciamento de padrões temporais e

espaciais.

Durante muito tempo, houve a pecha de monotoneidade e extensividade de

condições paisagísticas para o conjunto do espaço geográfico brasileiro (Ab’ Sáber,

16

Page 17: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

2005). Principalmente pelas sutilidades, diferencialidades e fragilidades ambientais

apresentadas no território, especificamente, ambientes de bacias hidrográficas.

Neste sentido, esta pesquisa desponta como importante instrumento para análise do

quadro geoambiental e social, oferecendo subsídio, em escala local para o

planejamento urbano e rural, a curto, médio e longo prazo, relacionando-se com a

definição de estratégias de intervenção em problemas do meio físico e humano e em

programas de desenvolvimento local.

Nos últimos anos, o homem tem participado como agente acelerador dos

processos de desequilíbrios da paisagem, principalmente pelas atividades produtivas

diretamente desenvolvidas nas bacias hidrográficas. A escassez dos recursos

naturais e, especificamente dos recursos hídricos, gera problemas de ordem

econômica, política e social daí, a necessidade de um plano de desenvolvimento

sustentável e de gestão ambiental.

Por ser a água elemento fundamental nas formas de vida, tanto vegetal como

animal, abre-se espaço para discussão e denúncias de agressão ao meio ambiente

dando enfoque maior no que se refere aos recursos hídricos, pois, sendo um

“recurso” natural e renovável é apontado como um problema maior para gerações

futuras.

A pesquisa tem como objetivo geral analisar a problemática socioambiental da

bacia do Rio Verruga, diagnosticar os fatores que atuam na degradação ambiental e

provocam desequilíbrios na paisagem da área estudada analisando processos de

urbanização e os níveis da degradação ambiental da bacia pelo processo de

urbanização de Vitória da Conquista-BA.

Os objetivos específicos são: Caracterizar ambientalmente a área, levando

em consideração os fatores bióticos, abióticos e sociais; Identificar e Correlacionar

as atividades humanas que influenciam na degradação ambiental da bacia;

identificar os processos de urbanização que alteraram a dinâmica natural da bacia;

Mapear a área da bacia, os aspectos sócioambientais e os processos de

urbanização para o estudo integrado. Analisar o controle dos recursos hídricos e a

atuação do poder público na conservação dos fatores geoambientais no município

de Vitória da Conquista; Propor alternativas de solução aos problemas identificados

na pesquisa com a previsão de cenários ambientais da bacia.

17

Page 18: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O diagnóstico ambiental do Rio Verruga em Vitória da Conquista - BA prevê

uma análise das características geoambientais tais como: uso do solo, cobertura

vegetal, estrutura geomorfológica e potencial hídrico; dos desequilíbrios da

degradação provocada pela ação humana.

Busca-se também analisar a qualidade da água principalmente nos

mananciais que abastece a cidade de Vitória da Conquista cuja população é de

308,485hab. (IBGE 2007) e encontra-se na porção central do Planalto de Conquista,

localizado à 14º 30’ S e, 41º ’ W. Vitória da Conquista está situada no divisor de

águas entre duas bacias leste do Brasil. Na porção Sul-Sudeste do município, a

drenagem é voltada para o Rio Pardo. Já na porção Norte-Nordeste, a drenagem

destina-se ao Rio de Contas. O Rio Verruga é afluente do Rio Pardo sendo que sua

bacia encontra-se quase totalmente no município de Vitória da Conquista-Ba.

Atualmente, o desmatamento, a poluição das águas com os despejos

sanitários, e industriais, faz com que acelere os impactos e desequilíbrios ambientais

do Rio. Neste caso, o estudo, seguiu-se de um diagnóstico das condições sócio-

ambientais da área, cujas medidas propostas são de caráter preventivo para o

controle da poluição das águas, da diminuição do desmatamento, principalmente

das matas ciliares e da cobertura vegetal dos mananciais.

A metodologia da pesquisa baseou-se na articulação da epistemologia

materialista e do pensamento critico com a questão ambiental, que conduz ao

estudo das relações de interdependência existentes entre os componentes do meio

natural e da sociedade, para se chegar ao conhecimento do seu funcionamento,

associando-se o método cartográfico com base em técnicas de geoprocessamento

que possibilitou um detalhamento das análises diagnosticadas.

Inicialmente, parte-se de uma reflexão sobre a realidade observada na Bacia

do Rio Verruga, buscando situar de forma adequada o tema a ser pesquisado. Num

segundo momento, foi realizada uma série de leituras de autores, que trabalham

com o conceito de espaço geográfico do ponto de vista da epistemologia e da

ontologia, autores que falam sobre a gestão do território e dos recursos hídricos e

autores que refletem sobrem o espaço urbano e a urbanização.

A discussão dos conceitos e idéias foi permeada pela lógica da contradição

contida na relação sociedade-natureza de modo que pudesse dar suporte à

18

Page 19: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

pesquisa e alargar os horizontes de reflexão da análise socioambiental. Um conceito

chave adotado foi o de produção do espaço e sua sistematização no pensamento

geográfico. Foi trabalhado também autores para compreender as formações sócio-

espaciais advindas do processo de urbanização e sua classificação como categoria

essencial na compreensão da dinâmica dos processos de apropriação e uso da

natureza alocada em um dado território, especificamente numa bacia hidrográfica.

Paralelamente, foi feito uma busca acerca do processo de formação territorial

de Vitória da Conquista a partir das transformações sócio-espaciais ocorridas, para

desvendar o que aconteceu nas terras da Bacia do Rio Verruga e entender a atual

configuração espacial que compõe o seu território, principalmente transformações

que incidiram diretamente nos corpos d’água e no curso do rio principal da bacia

como é o caso da urbanização no alto rio Verruga. Foi feito também um

levantamento de dados e informações sobre os aspectos geoambientais da bacia,

com consultas em diversas fontes como textos, documentos e relatórios, dentre

outras.

Foi realizado leituras sobre a dimensão ambiental em bacias hidrográficas e

em áreas urbanas, procurando perceber o atual estágio de debate sobre o assunto.

Igualmente, um estudo da legislação ambiental brasileira e das Políticas de Gestão

dos Recursos Hídricos e do meio ambiente em escala local e nacional, pois sua

compreensão colocou-se como condição “sine qua non” para refletir sobre a

temática do trabalho.

Após essa base teórica e da coleta de informações em órgãos de gestão

ambiental tais como Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio

Ambiente (SRH/MMA), Agência Nacional de Águas (ANA), Conselho Nacional do

Meio Ambiente (CONAMA), Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista (PMVC) e

órgãos de saneamento na Bacia do Rio Verruga dentre outros, foram intensificadas

as visitas a campo para checagem de informações, bem como a realização de

entrevistas, com roteiros previamente estruturados. Foram realizadas análises

bacteriológicas e físico-químicas dos corpos d’água para testar a qualidade e o grau

de poluição das águas da bacia. Foram igualmente consultados documentos e

relatórios capazes de trazer informações sobre o uso do solo e qualidade das águas

na Bacia do Rio Verruga. Posteriormente, consolidaram-se as análises sobre o tema

19

Page 20: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

pesquisado com uma avaliação geoambiental da bacia e conclusões apresentadas.

Finalmente a dissertação do texto final da pesquisa e sua formatação, segundo as

normas de apresentação de trabalhos científicos vigentes.

A dissertação compreende três partes: a primeira parte refere-se aos

pressupostos teórico-metodólogicos da análise sócioambiental, com três capítulos;

no primeiro capitulo, discute-se a articulação da sociedade e natureza e as

contradições dessa relação, versando sobre essa articulação no pensamento

geográfico e sobre a produção do espaço geográfico e a diversificação da natureza

no território. O segundo capitulo, aborda a dimensão socioambiental no urbano com

base nos pressupostos teóricos da urbanização e da produção e reprodução

espacial, aborda a formação territorial de Vitória da Conquista do ponto de vista da

urbanização, seguindo para a análise da atual configuração territorial urbana com o

mapeamento do uso do solo urbano. No terceiro capitulo, foi abordada a dimensão

socioambiental em bacias hidrográficas, levando em consideração os aspectos de

unidade e gestão territorial e de gestão da água numa bacia.

Na segunda parte da dissertação, fundamenta-se teoricamente o

geoprocessamento na análise geoambiental, por meio da aplicação do sistema de

informações geográficas no estudo de bacias hidrográficas, associando-se com o

planejamento ambiental e com os procedimentos metodológicos aplicados no

mapeamento desenvolvido para a pesquisa. No quinto capitulo, apresenta-se o

mapeamento da estrutura geoambiental da bacia do Rio Verruga, com uma

caracterização fisiográfica e uma análise da cobertura vegetal e seu estágio atual.

Já na terceira parte, realiza-se uma análise socioambiental da bacia,

discutindo toda a problemática ambiental da área pelas condições de uso e

ocupação, mapeando as diferenças sócioespaciais urbanas que aparecem em

detrimento dos usos, apresenta as áreas de preservação e o estado geoambiental

da bacia. Analisa-se também a transposição de águas para o abastecimento

humano em Vitória da Conquista, os múltiplos usos e a qualidade das águas na

bacia. No último capítulo, foi realizada uma avaliação sócio-espacial da bacia,

apontando as contradições da ocupação humana principalmente em áreas próximas

às nascentes e mananciais seguidas por uma análise das condições territoriais e

ambientais resultantes da ocupação humana. Finalizando, foi traçado um quadro

20

Page 21: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

teórico com perspectivas sócioambientais na aplicação de cenários das condições

ambientais em etapas distintas, em seguida são feitas as considerações sobre o

tema pesquisado e reflexões e recomendações para pesquisas posteriores.

21

Page 22: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

PARTE I

PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODÓLOGICOS DA ANÁLISE SÓCIOAMBIENTAL

22

Page 23: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

2. SOCIEDADE E NATUREZA: UNIDADE E CONTRADIÇÃO DAS RELAÇÕES

Considerando a proposição dialética como base para interpretação da

realidade sócioambiental, cuja reflexão é o espaço geográfico, eis que a contradição

da cotidianidade aparece e revela a totalidade conflitiva da relação sociedade-

natureza.

A unidade dos contrários possui uma dubiedade que recai sobre a analise

espaço-tempo, dada pela historicidade e pelo materialismo histórico, pois, “a

contradição dialética não é apenas contradição externa, mas unidade das

contradições, identidade” (LEFEBVRE, 1995. p 192.). Essa dinâmica possui uma

polarização interna que é a base da contradição. Assim, ao falar de produção do

espaço inevitavelmente evidencia-se a contradição dos processos e foi essa a

premissa principal do ponto de partida para elucidar as questões que envolvem a

sociedade e a natureza.

2.1. A articulação sociedade natureza no pensamento geográfico

A relação sociedade natureza bem como todo saber e todo conhecimento

sobre o mundo e sobre as coisas há muito tempo tem estado condicionado pelo

contexto geográfico e ao mesmo tempo, associado ao ecológico e cultural em que

produz e reproduz as variações da formação social. Leff (2002). Afirma que as

práticas produtivas, dependentes do meio ambiente e da estrutura social das

diferentes culturas, geraram formas de percepção e técnicas específicas para a

apropriação social da natureza e da transformação da natureza.

Na relação sociedade-natureza, diversas são as formas de leitura da

realidade, desde a Grécia antiga, passando pela concepção cartesiana de natureza

e da racionalidade do pensamento, até uma visão determinista do século XIX. Eis

23

Page 24: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

que surge uma nova configuração do pensamento contemporâneo segundo a qual a

nova concepção de natureza fica assim, configurada em suas linhas gerais:

Tudo aquilo que se considerava rígido, se havia tornado flexível; tudo quanto era fixo, foi posto em movimento; tudo quanto era tido por eterno, tornou-se transitório; ficava comprovado que toda a natureza se movia num eterno fluxo e permanente circulação. (ENGELS,1991p.23.).

Assim, o homem enquanto ser social domina e ao mesmo tempo produzem a

natureza que, de acordo com Engels (1991,), os homens fazem, eles mesmos a sua

história na medida em que evoluem enquanto espécie. Mas, nessa produção

histórica, mesmo nas sociedades atuais, verificaremos que predominam os efeitos

não previstos; que as forças não controladas são muito mais poderosas do que as

postas em movimento de acordo com o plano estabelecido. E não pode ser diferente

na produção para as necessidades de sua vida, isto é hoje em dia a produção social.

Já para LEFEBVRE, (1995. p 228.) ‘O homem, em sua atividade prática, tem

diante de si a natureza. Entre ele a natureza, durante sua ação, o homem inventa

meios, intermediários: os objetos que ele cria e, notadamente os instrumentos’.

Nessa concepção, os instrumentos não são exteriores à natureza; embora agindo

sobre ela , fazem parte dela objetivamente. É no conjunto dos meios que se realiza o

poder humano sobre a natureza.

Para Santos (2002), a principal forma de relação entre o homem e a natureza,

ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica. Que significa o conjunto

dos meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e,

ao mesmo tempo cria espaço. Na verdade estas relações entre o conhecimento

teórico e os saberes práticos aceleraram com o capitalismo e com isso,

intensificaram as técnicas paralelas ao desenvolvimento dessa tecnologia,

desenvolveu-se a ciência moderna e sua racionalidade tanto científica quanto

econômica.

“Com o modo de produção capitalista produz-se, a articulação efetiva entre o

conhecimento científico e a produção de mercadorias por meio da tecnologia” Leff

(2002), apropriando se cada vez mais do ambiente. No principio tudo eram coisas,

dádivas da natureza, quando utilizadas pelos homens a partir de um conjunto de

intenções sociais, passam também, a ser objetos. Santos (2004, P.65), diz que

24

Page 25: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

assim a natureza se transforma em um verdadeiro sistema de objetos e não mais as

coisas e, ironicamente, é o próprio movimento ecológico que completa o processo de

desnaturalização da natureza, dando a esta última um valor. Para Engels:

Somente a organização consciente da produção social, de acordo com a qual, produza e se distribua obedecendo a um plano, pode elevar os homens, também sob o ponto de vista social, sobre o resto do mundo animal, assim como a produção, em termos gerais, conseguiu realizá-lo para o homem considerado como espécie. A partir daí, iniciar-se-á uma nova época histórica, em que os homens como tais, (e com eles, todos os ramos de suas atividades, especialmente as ciências naturais) darão à sociedade um impulso que deixará na sombra tudo quanto foi realizado até agora. (ENGELS, 1991p26 e 27.)

Essa concepção demonstra que Unicamente o homem conseguiu imprimir

seu selo sobre a natureza, não só trasladando plantas e animais, mas também

modificando plantas e animais em tão elevado grau que as conseqüências de sua

atividade só poderão desaparecer com a morte da esfera terrestre. Engels

argumenta ainda que: Sendo assim, temos uma nova concepção entre as relações

do homem com a natureza. Decorrente disso, o que obtemos é uma dialética entre

sujeito e objeto, numa relação intensa a qual corresponde a uma objetivação e

modificação das forças naturais, tanto as que o homem encontra em si mesmo

quanto as que ele vê ao seu redor.

Milton Santos, (2004), demonstra uma teoria do espaço mediante a analise

do sistema de objetos e sistemas de ação, associada a uma epistemologia pautada

em categorias essenciais para a ciência geográfica tais como a paisagem, o

território, a configuração territorial, o lugar, a região e o espaço. Nessa base

epistemológica, a produção das formas e conteúdos é precedida da noção de

totalidade para a afirmação do discurso filosófico e do discurso geográfico.

A noção de totalidade como categoria analítica, capaz de ajudar a construir

uma teoria e uma epistemologia do espaço geográfico deve estar imbuída de uma

unidade, “a unidade dos contrários”. Para Milton Santos (2004), segundo essa idéia,

todas as coisas presentes no Universo formam uma unidade. Cada coisa nada mais

é que a parte da unidade, o todo, mas a “Totalidade” não é uma simples soma das

partes. As partes que formam a “Totalidade” não explicam a realidade, mas ao

contrário, é a “Totalidade” que explica as partes. Outra forma de explicar a unidade

dos contrários é pela relação dada a compreensão da atualidade que é a unidade do

25

Page 26: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

universal e do particular. Assim, tem-se que o particular se origina no universal e

dele depende.

Há que considerar que o conhecimento na atualidade tenta romper com um

paradigma dominante, que, é pautado numa racionalidade teórica perceptível nos

vários níveis de conhecimento como é o caso da racionalidade ambiental ou

racionalidade ecológica que define as regras do pensamento ambiental e a forma

como a sociedade atua sobre a natureza. Para Boaventura dos Santos (1993),

existe um paradigma emergente o qual tende a suprimir o conhecimento dominante

que, promoveu a hiperdisciplinarização do saber científico, e toda a problemática

existente no tocante ao conhecimento científico. Santos M. (2004:76), diz que “no

paradigma emergente, o conhecimento é total, tem como horizonte a totalidade

universal’... mas sendo total é também local. Constitui-se em redor de temas que em

dado momento, são adotados por grupos sociais concretos”.

Nessa mesma perspectiva de análise, Boa Ventura dos Santos (1993), define

o paradigma emergente como o conhecimento pós-moderno já que ao mesmo

tempo em que ele é local é também total porque constitui projetos cognitivos locais,

cuja ação é dada pela analogia e pela tradução dos conceitos noutros espaços

atualmente produzidos e consumados socialmente. Santos (2004), afirma que, “o

conhecimento emergente sendo total não é determinístico, sendo local, não é

descritivista. É um conhecimento sobre as condições de possibilidades da ação

humana projetada no mundo a partir de um espaço-tempo local”.

Essa concepção de ciência nos conduz para uma articulação entre as

ciências na analise da relação sociedade natureza na forma holística, tal como

define Milton Santos (2008:96), “na sua relação com a natureza, o homem não tem

uma atitude de repetição, mas sim de invenção”. A relação entre o homem e o seu

entorno é um processo sempre renovado que tanto modifica o homem quanto a

natureza. Neste sentido, não dá para a geografia ser apenas determinista e ou

descritivista como afirma Boaventura dos Santos (1996) acerca do conhecimento.

No pensamento de Milton Santos (1978, 79, 94, 96, 97 e 2004), encontra-se

uma analise sobre a relação sociedade natureza bem distribuída em toda a sua

teoria sobre o espaço geográfico. Destacam-se aí, alguns tópicos, tais como: a

aplicação do trabalho sobre a natureza em “o homem e a produção”; a ação humana

26

Page 27: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

e a geografização do espaço; A natureza e suas próteses e o novo sistema da

Natureza que aborda diversos tipos de atuação do homem sobre a natureza e abre

caminho para mais tarde implementar o tema “a diversificação da Natureza com

base no dialogo da noção de totalidade, da unidade dos contrários do universal e do

particular, permeada pela discussão sobre a divisão do trabalho”.

Trata-se de questões pautadas numa dialética espacial. Para Santos (2004,

p.63), “espaço é um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de

ações”. É com base nessa idéia e nas noções de técnica e de tempo, de razão e de

emoção, que é proposta a construção de um sistema de pensamento que busca

entender o espaço geográfico na passagem do século e, paralelamente, alicerçar a

crença em um futuro melhor para todos os homens. Contrapondo-se à realidade de

um mundo movido por forças poderosas e cegas, impõe-se a “força do lugar”, capaz

de antepor-se, pela densidade humana, ao processo da globalização atual que

intensifica as relações sociedade-natureza.

As questões ontológicas moldam a relação do homem com a natureza e

inauguram o discurso geográfico na medida em que se constitui no elo que torna

indivisível a dimensão do ser e do pensamento, responsável pela construção do

conhecimento. A discussão ontológica (Silva, 1992) é o embrião do pensamento

geográfico, moldado pelo conhecimento filosófico.

O conhecimento filosófico (Prigogine, 1996) caracteriza-se por ser um

conhecimento inclusivo. O conhecimento popular, artístico, técnico, mítico/religioso e

metafísico se fundem na perspectiva filosófica. Este caráter inclusivo transformou o

conhecimento filosófico em uma forma de conhecimento mais próxima da sociedade,

uma forma mais humana de conhecimento.

Na filosofia, a relação metodológica do sujeito e objeto na produção do

conhecimento, é, diretamente, a própria relação entre a sociedade e a natureza.

Promissora em relação ao método científico que a ciência clássica inauguraria a

partir do século XVI, porém, dual, na medida em que estabelece a polaridade

homem/meio como condição de produção do conhecimento.

O caráter atemporal da Geografia pode ser explicado por meio do discurso

ontológico. Assim, o discurso ontológico pode ser visto enquanto a primeira

manifestação do pensamento geográfico. Em conseqüência, o conhecimento

27

Page 28: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

filosófico deriva da evolução das formas primitivas do fazer geográfico. O

produto/significado, desse fazer geográfico primitivo num espaço geográfico criado

pela consciência evoluída do homo sapiens foi o primeiro objeto de

inquietação/discussão do homem, enquanto ser empírico dotado de uma

possibilidade projecional metempírica/metafísica.

O fazer geográfico necessariamente proposital, nos primórdios, relacionava-

se com a condição biológico-genética de sobrevivência da espécie, frente às

adversidades naturais. Organizar o espaço geográfico desde então passou a ser um

atributo humano. Um atributo existencial necessário à consolidação da sua presença

num Planeta, que passaria, então, a ser seu. Até que ponto pode-se afirmar que

conhecimento filosófico é uma fase do conhecimento geográfico? Quais as

implicações disso no pensamento geográfico moderno? Não há dúvida de que a

pertinência destas relações é o dispositivo que coloca a Geografia, na atualidade,

como ciência capaz de romper com os grilhões que, inclusive, a aprisionaram na

camisa de força das formas pré-moldadas do reducionismo cartesiano, e que

representa a própria crise atual da ciência clássica, com a possibilidade de largar na

linha de frente do processo de construção de um novo paradigma para as ciências.

O processo que, de certa forma, já se iniciou encontra dificuldade em responder a

estas perguntas, na medida em que ainda depende da formalização de um discurso

homogêneo, por meio de uma linguagem independente.

O fazer geográfico é, por força da lógica, anterior ao pensar geográfico. Este,

por sua vez, quando surge, revela-se elaborado em um discurso. Pode-se dizer que

as origens do pensar geográfico estão vinculadas ao desenvolvimento dos

processos de linguagem. Dessa forma, possivelmente, ambos surgiram

concomitantemente. As etapas de sistematização deste discurso equivalem ao

desenrolar da história filosófica do homem. Pode-se afirmar que a filiação recíproca

entre conhecimento filosófico e conhecimento geográfico respondem pela própria

natureza e constituição do homem epistêmico. Assim, a presença da filosofia na

história do pensamento geográfico é tão forte que o objeto metodológico de sua

pesquisa poderia ser (e, de certa forma é) a própria ética na relação homem/homem

e homem/meio, ou seja, na relação sociedade/natureza, no espaço-tempo.

28

Page 29: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A priori, o conhecimento surge enquanto conhecimento de mundo, e surge a

partir do momento em que o homem epistêmico se desprende do homem empírico.

Neste momento o homem se vê no mundo. Essa metafísica permitiu-lhe refletir

sobre a condição de sua existência no mundo, por meio do desenvolvimento de uma

linguagem própria diferenciada dos demais seres vivos. Esta linguagem surge na

forma de discurso que materializa a realidade empírica, dando condição de

existência real ao homem, nas práticas sociais em grupo. Piaget (1978) dedicou

especial atenção ao homem enquanto ser epistêmico. Para este autor “o estudo dos

processos de pensamento presentes desde a infância inicial até a idade adulta.

Interessou-se basicamente pela necessidade de conhecimento típico do homem,

que o define como espécie ‘homo sapiens’”. (RAPPAPORT in FIORI e DAVIS, 1981,

p.51). Em contraposição, Vigotsky, (1997), define o homem enquanto ser epistêmico,

mas segundo o autor, é pela cognição que o pensamento se estrutura e em

conseqüência disso, o conhecimento. Vigotsky, (1998, p.45), afirma que “o

surgimento do pensamento verbal e da linguagem como sistema de signos é um

momento crucial no desenvolvimento da espécie humana”, [..] momento da

passagem do ser biológico para o ser sócio-histórico, pela mediação simbólica.

Neste sentido, discurso geográfico revela a dimensão simbólica e ideológica

que surge como conseqüência da presença e ação do homem no mundo. Neste

sentido este discurso deve ser ontológico, para que garanta a busca da essência da

realidade dentro da totalidade complexa, holística e dialógica do ser no mundo.

As origens do poder vinculam-se às próprias origens do homem enquanto ser

social, por meio do surgimento de hierarquias locais. Sabendo-se que o substrato

terrestre, permeado por seres humanos, é o objeto máximo de estudo da geografia

e, sendo este substrato correspondente ao que hoje conhecemos como ambiente

terrestre, incluindo todas as demais formas de vida, tem-se caracterizada a

complexidade do mundo vivido e do mundo pensado pelo homem. Leff (2002)

classifica essa complexidade como um saber sobre as formas de apropriação do

mundo e da natureza através das relações de poder que se inscreveram nas formas

dominantes do conhecimento.

Este desprendimento metafísico em relação à natureza fez surgir um homem

epistêmico. Tal mecanismo permitiu aos seres humanos construir se próprio mundo,

29

Page 30: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

um mundo idealizado/planejado, graças ao livre-arbítrio característico da essência

subjetiva da espécie humana.

Pode-se dizer que a origem do homo sapiens promoveu a ruptura entre um

espaço natural pretérito concebido/idealizado como uma espécie de primeira

natureza (SANTOS, 1996), para um espaço artificial/virtual, imagem projetada do

mundo empírico, desenvolvida especialmente, e intencionalmente, para um homem

epistêmico.

Assim a teoria geográfica explica que “na história humana, todo saber, todo

conhecimento sobre o mundo e sobre as coisas tem estado condicionado pelo

contexto geográfico, ecológico e cultural em que produz e se reproduz determinada

formação social”. (Leff, 2002, p.21). A reação contrária aos desígnios de uma

natureza consciente e misteriosa forçaria o homem a assumir uma posição

defensiva, acreditando poder, por meio do conhecimento sistematizado, estabelecer

as leis para, posteriormente, controlar os fenômenos naturais que, de certa forma,

determinavam a condição da presença humana nos diversos espaços terrestres.

Bachelard ensaiando uma crítica sobre o projeto de ciência racionalista,

inspirada na alienação do homem, do espaço natural, considera que:

[...] o espírito científico deve formar-se contra a Natureza, contra o que é, em nós e fora de nós, o impulso e a informação da Natureza, contra o arrebatamento natural, contra o fato colorido e corriqueiro. O espírito científico deve formar-se enquanto se reforma. Só pode aprender com a Natureza se purificar as substâncias naturais e puser em ordem os fenômenos baralhados [...] BACHELARD (1996, p.29). (grifo do autor)

Essa ausência da percepção de pertencimento e a insatisfação frente a

indiferença do mundo levou o ser humano a construir mundos paralelos. Espaços

perfeitos em sua representação matemática. Novo éden abstrato de leis frias, em

tudo previsível e, em tudo, controlável. Irreal e ilusório. Novo mundo reduzido em

escala. Miniaturizado através de técnicas geométricas. O mundo das cartas passa a

ser o mundo dos geógrafos. E, na condição de deuses desses novos mundos, o

transportam em suas bolsas e, às vezes, em seu bolso.

Esse é o mundo que os geógrafos construíram para si através da ciência

cartográfica. Nele, eles apontam com o dedo e localizam precisamente as suas

30

Page 31: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

pequenas casas quadradas e retangulares. Ensinam a todas as pessoas que elas

também moram ali. Dentro daquelas linhas. Na superfície de uma folha de papel.

Nesse mundo racional as questões ontológicas foram subtraídas. A ação do

homem é representada de forma absoluta, na alteração de um determinado trecho

de uma curva de nível. No desenho de novas linhas paralelas ou perpendiculares,

ou, ainda, formando ângulos intermediários. O geógrafo contemporâneo preso no

próprio espaço que construiu, e que, ao invés de espaço-prisão, chamou de espaço

geográfico, deve almejar libertar-se desses velhos sistemas interpretativos de

inspiração iluminista que construiu reencontrar-se com o mundo empírico e

reconstruir seus vínculos de pertinência com a natureza.

2.2. Unidade e contradição das relações sócioambientais e a produção do espaço geográfico.

“A menos que o espaço seja conceituado como realidade completamente

separada da natureza, a produção do espaço é um resultado da produção da

natureza” Smith, (1988, p.109). Essa produção da natureza é dada pela totalidade

das relações humanas e pelas contradições existentes nelas, incluindo toda a

produção dos bens materiais, “porque as coisas, do ponto de vista material não

estão no espaço. As coisas, os objetos são espacialmente estendidos”. Einstein,

(2003).

Quando se fala em contradição, refere-se ao seu caráter conflituoso,

dicotômico e antagônico, mas no sentido da unidade de contrários. “Não existe

dialeticamente a ‘contradição’ em geral; existem contradições, cada qual com seu

conteúdo concreto com seu movimento próprio, que deve ser penetrado em suas

conexões, em suas diferenças e semelhanças.” (LEFEBVRE, 1995. p 238.). É

nesse sentido que recai a análise da produção do espaço.

Do ponto de vista geográfico a compreensão do espaço passa pela

interpretação da dimensão geométrica que é o lugar.

O lugar, [que é] assim a identidade posta do espaço e do tempo, é primeiramente por igual a contradição posta que é o espaço e o tempo,

31

Page 32: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

cada um em si mesmo. O lugar é a singularidade espacial, e também indiferente, e é isto somente como agora espacial, como tempo, de modo que o lugar é imediatamente indiferente ante si, como este exterior a si, a negação de si e um outro lugar. Este desaparecer e regenerar-se do espaço no tempo e do tempo no espaço, de modo que o tempo para si é posto espacialmente como lugar, mas esta espacialidade indiferente do mesmo modo e de imediato e posta temporalmente – é o movimento. Este vir-a-ser é porém ele mesmo igualmente o colapsar sobre si [interno] de sua contradição, a unidade imediatamente idêntica aí-essente de ambos, a matéria. (HEGEL, 1997, p.47,53-54). (grifos do autor).

Assim, pode-se dizer que a unidade espaço-tempo para análise geográfica é,

sem dúvida, o lugar. Nele, a sensação/percepção empírica de simultaneidade, dada

pela imagem, confunde-se, para o interesse tipicamente geográfico, com a essência

dialética da realidade. Os limites e o conteúdo do lugar formam uma unidade que

evolui no espaço-tempo de forma independente, mesmo quando considerados os

fatores externos, como os de ordem política e econômica.

Hegel, ao tecer considerações sobre a natureza do espaço e do tempo, revela

que o termo espaço é a determinação dada pela natureza sobre o ser, ao tempo que

o conceito de espaço é abstrato, o ser o vê como se estivesse fora dele. A abstração

entra na analise espacial sem levar em consideração a categoria tempo. O tempo

para Hegel refere-se à negatividade presente como um ponto no espaço, isto é, o

tempo permite que as determinações, ou seja, as ações que definem o conceito de

espaço sejam materializadas. Mas também o conceito de tempo é abstrato, pois o

que o ser consegue definir sobre o tempo são as suas dimensões tais como

presente, passado e futuro, isto na visão de Hegel corresponde ao vir a ser e como

tal nasce daí os conceitos tempo-espaço.

O espaço [...] A determinação primeira ou imediata da natureza é a abstrata universalidade de seu ser-fora-de-si, a equivalência dele sem mediação, o espaço. Ele é o totalmente ideal ao lado-um-do-outro, porque é o ser-fora-de-si e simplesmente contínuo, porque este fora-um-do-outro ainda é totalmente abstrato e não tem em si nenhuma diferença determinada. [...] O tempo: A negatividade, que se refere como ponto ao espaço e nele desenvolve suas determinações como linha e superfície, são, contudo na esfera do ser-fora-de-si, igualmente também para si e suas determinações ai, mas simultaneamente como pondo na esfera do ser-fora-de-si, nesta ocasião aparecendo como indiferente ao quieto ao lado-um-do-outro. Assim posta para si, é ela [negatividade] o tempo.” (HEGEL, 1997, p.47,53-54). (grifos nossos) e (grifos do autor).

Ainda segundo Hegel:

32

Page 33: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O espaço é em si mesmo a contradição do indiferente ser-fora-um-do-outro e da continuidade sem diferenças, a pura negatividade de si mesmo e a passagem no começo para o tempo. Igualmente é o tempo – porque seus momentos opostos conservados juntos se suprassumem imediatamente – o imediato cair juntamente na indiferença, no indiferenciado fora-um-do-outro ou no espaço. Assim neste a determinação negativa, o ponto excludente não é mais somente em si segundo o conceito, mas posto e em si concreto por meio da total negatividade, que é o tempo; o ponto assim concreto é o lugar. (HEGEL, 1997, p.61) (grifos do autor).

Essa perspectiva de análise demonstra importantes insights sobre a natureza

da realidade. Revela uma realidade formada por um tecido espaço-temporal

fraturado. Essas observações ao serem transpostas para o cenário da discussão

geográfica, mostra a tetradimensionalidade que mantém o espaço e o tempo unidos,

formando um todo contraditório: indissociável na essência e aparentando serem

duas categorias em suas projeções empírica.

[...] as relações espaço-tempo saturam a sociedade em todos os níveis. A espacialidade, em particular, é parte das forças de produção, das relações de produção e da maneira pela qual interagem os níveis ou estruturas da sociedade. As contradições entre esses níveis se multiplicam e se complicam ainda mais quando interagem dentro da matriz espaço-tempo da organização social. (GOTTDIENER, 1997, p.160)

O homem ao planejar suas ações constrói modelos abstratos cada vez mais

próximos aos que serão erguidos, a posteriori, no mundo concreto. O seu caminhar

interdependente no espaço/tempo geográfico, produzido pelo seu trabalho social, o

tem conduzido, na maioria das vezes, a um patamar superior na proporção em que

transforma as duas categorias (física e social) numa única natureza é a natureza

transformada (Gomes, 1991) ou segunda natureza (santos2008).

Para Baudrillard (1994, 16), uma visão linear e absoluta da história da

sociedade, como a parametrizada pela ciência clássica, nada mais é do que um

modelo de simulação, um tipo de hiper-realidade que não só descaracteriza como

suprime o espaço-tempo dos fatos. De igual forma.

O que pensamos de espaço jamais poderá ser compreendido sem que se reflita sobre o próprio movimento que cria, recria, nega e, pela superação, redefine a espacialidade dos próprios homens. Espaço e tempo, considerados aqui como as categorias básicas da ciência moderna, são, na verdade, redimensionados na medida em que as sociedades se redimensionam. (SANTOS, D. 2002, p.23).

33

Page 34: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A identidade dos lugares é apagada e uma nova singularidade técnica passa

a representar estrategicamente o lugar. Nesse contexto, a modernidade globalizante

fundiu a identidade sócio-cultural dos lugares, ao tempo em que construiu uma

singularidade artificial a partir do movimento do capital.

[...] cada lugar é marcado por uma combinação técnica diferente e por uma combinação diferente dos componentes do capital, o que atribui a cada qual uma estrutura técnica própria, específica, e uma estrutura de capital própria, específica, às quais corresponde uma estrutura própria, específica, do trabalho. [...] Isso resulta do fato de que cada lugar é uma combinação de técnicas qualitativamente diferentes, individualmente dotadas de um tempo específico – daí as diferenças entre lugares. (SANTOS, 1997, p.12,13)

A imagem de mundo moderno, abstrato, discutida por Santos (op. cit.), bem

como a sensação de vazio existencial, resulta da perda do vínculo da tríade

ontológica que une o homem a sua condição espaço-tempo. Pode-se dizer que, o

espaço das cidades deve ser, hoje, mais do que nunca, o alvo por excelência da

pesquisa geográfica. A mancha urbana é a imagem refletida de um todo complexo

formado por realidades diametralmente opostas. O gênero de vida urbano aglutina

na imagem uma constelação de lugares singulares que, por mais distantes espaço-

temporalmente que estejam, parecem coexistir na imagem.

O estudo das cidades permite compreender, em escala local, a natureza

complexa do mundo moderno. O urbano é a síntese do global. Equivale a um

espelho e uma projeção de uma realidade mundial homogeneizada pela produção e

pelo consumo e, materializada no espaço da cidade por meio dos fluxos. Essa

circulação conecta a cidade com o mundo. Permite estabelecer um elo dentro de

uma rede virtual, fazendo surgir deste processo a metrópole e, evoluindo o citadino à

condição de cosmopolita.

A imagem da cidade precisa ser decifrada pelo geógrafo, mas não somente

isso. Pois por natureza, a geografia tende a ser metodologicamente heterogênea.

Neste sentido, seu caráter pode mudar, para George (1979), dependendo de ser ela

considerada como um processo descendente ou, em outras palavras, como uma

culminância das relações naturais numa “paisagem natural”, que define uma

“ecologia do homem”, ou então como um processo ascendente e conquistador, a

partir da “ação do homem”, cujo ponto de partida é o estabelecimento humano e o

campo de aplicação, seu meio circundante no sentido mais apropriado a cada caso.

34

Page 35: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Assim, o urbano deve ser encarado na análise geográfica enquanto sistema

ilusório de sobreposições infinitas de imagens. Essas sobreposições criam as

condições de isolamento e, ao mesmo tempo, mascaram as descontinuidades

espaço-tempo que separam as paisagens urbanas. Para o geógrafo, às vezes, um

bairro pode esconder várias células espaço-temporais. Por outro lado, uma pequena

cidade do interior pode apresentar características homogêneas suficientes para ser

caracterizado como um único bloco espaço-tempo.

Não se vê a dimensão real do problema quando se está dentro dele,

contrariando uma expressão corriqueira, mas sim, quando se está dentro e fora dele,

simultaneamente. A ilusão da tridimensionalidade perde o sentido quando se está

acima do objeto observado. Neste nível a realidade da imagem justaposta revela a

sua natureza plana e, passa-se a perceber que a profundidade é função única do

movimento. As cartas/mapas geográficos são bons exemplos. Segundo Harvey

(1992, p.224), Ptolomeu imaginava como o globo como um todo seria visto por um

olho humano que o visse de fora.

2.3. A produção do espaço, a produção e a diversificação da natureza e do território.

Em geografia, a analise espacial nos remete a contemplação da paisagem

enquanto algo que representa o real. Mas o conhecimento do real é entendido como

processos materiais, é uma emergência epistêmica relativamente recente Leff (2002

p.25). De certa forma, os aspectos visíveis da paisagem são, a princípio, os

precursores da busca pelo conhecimento do real. Para atingir os aspectos invisíveis

depende-se de uma análise mais detalhada e, para tanto, teórica da paisagem.

A paisagem, neste contexto, é entendida como uma categoria de análise que

não deve ser confundida com o espaço, nem deve ser vista como algo que inserida

no espaço, pois o espaço é a dimensão da forma e reflete ao mesmo tempo,

paisagem, lugar e território. Einstein (2003), afirma que “objetos físicos não estão no

espaço. Estes objetos são espacialmente estendidos”. (Grifos do autor)

35

Page 36: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Numa análise clássica, o território é dado pela configuração das ações

dimensionadas pela sociedade tais como rodovias, ruas, avenidas, portos,

aeroportos etc. Já o lugar é a métrica, o geométrico do espaço que está

representado pela singularidade e particularidade das coisas, universalizadas e

transversalisadas pelo modo mais abrangente da sociedade atual que, em última

análise, corresponde ao modo de produção capitalista. A paisagem entra aqui como

algo que ao mesmo tempo é representada pelos aspectos visíveis e concretos do

real. Mas essa concretude ocorre quando se compreende que “o concreto é concreto

porque é a síntese de múltiplas determinações” (Marx, 1965). Neste sentido, a

paisagem e o espaço, não são sinônimos, paisagem refere-se ao conjunto de

formas, que num dado momento, exprimem as heranças que representam as

sucessivas relações localizadas entre o homem e natureza. O espaço são essas

formas mais a vida que as anima. Santos (1999 p.79).

Na dinâmica que fundamenta a relação sociedade-natureza, destacam-se

diversos momentos de diversificação da natureza com padrões específicos, para

cada momento histórico. “Desde muito cedo, no decurso da evolução da

humanidade, o homem descobriu que o seu mundo variava acentuadamente de

lugar a lugar” (HARTSHORNE, 1978, p.16). Por muito tempo, a diversidade da

natureza era dada pelas forças sociais vigentes da época. Com o advento da

industrialização, acentuam-se as atividades humanas, aplicando novos meios e

instrumentos que vão diversificando ainda mais a natureza que passa a ser vista

como recurso, ou melhor, que a transforma em propriedade privada e, na base de

extração de matéria prima para a produção. Lefebvre entende que:

O homem é o ser da natureza que penetra na natureza (pelo conhecimento) e a domina (pelos instrumentos); e se ele parece, por causa dos meios que emprega sair da natureza, é apenas para poder reencontrá-la de modo mais profundo, tanto entorno de si como dentro de si. (LEFEBVRE, 1995. p 228.) (grifos do autor)

Assim, surge uma nova concepção de natureza e de mundo ao qual busca

relacionar as transformações espaciais ocorridas com o advento do capitalismo e

suas diversas etapas, que em cada momento, imprime na natureza novas formas de

“dominação”, de uso e de troca. Mas, segundo Marx (1984), a idéia de dominação da

natureza é reducionista e fragmentária, pois, começa com a natureza e a sociedade

36

Page 37: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

sendo dois domínios separados e tenta unificá-los, e o que devemos fazer é o

procedimento oposto. Ou seja, Marx considera a relação sociedade natureza como

sendo uma unidade e qualquer separação que exista entre elas é o resultado

simultaneamente histórico e lógico.

Para Smith (1988), ao invés da dominação da natureza, devemos considerar

o complexo processo de produção da natureza, já que o argumento de dominação

da natureza pode ser unidimensional e livre de contradições.

A produção da natureza é entendida como um paradoxo, já que

tradicionalmente, a idéia de natureza transmite um conceito onde ela é vista como

algo que não pode ser produzido, é uma dádiva divina, “é a antítese da atividade

humana” (Smith, 1988). No entanto, existe uma diferenciação básica, é a

diferenciação do homem perante os animais que se faz a partir do momento em que

ele começa a produzir para viver (Engels, 1991). Essa produção não cessa, ao

contrário ela aperfeiçoa e especializa-se na medida em que homem como ser social

historicamente, transforma a si mesmo, a sociedade e a natureza.

Assim, a produção da Natureza é uma produção social, na medida em que a

sociedade passa a se articular e se estruturar mediante essa interação e uso,

transformando a natureza em recursos cada vez mais diversos. Essa ação

proporciona uma potencialidade de uso acelerada no território de cada sociedade,

que causa uma espacialidade diferenciada e com novos instrumentos acrescentados

àqueles que a própria natureza já possui, uma desses exemplos é a disseminação

de espécies vegetais e animais por diversos pontos da Terra.

Neste sentido, pode-se falar em produção e reprodução do espaço,

conjugado com essa produção da natureza. A produção espacial é entendida aqui

pela distribuição de atividades que, segundo Santos (2004), resulta na totalidade de

recursos e por sua vez na divisão territorial do trabalho. Essa divisão é materializada

na formação sócio-espacial de uma determinada sociedade.

37

Page 38: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

3. A DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL NO URBANO

O estudo da problemática ambiental urbana constitui-se uma tendência e,

ainda não está devidamente enfocada na relação entre o desenvolvimento da

produção e o processo de urbanização. Muitas são as possibilidades de análises a

serem realizadas sobre o ambiente urbano. No entanto, um estudo mais

sistematizado pode ser incorporado ao processo de compreensão da dinâmica

urbana que, cada vez mais cria a escassez, diminuindo a biodiversidade

empobrecendo o ambiente.

Uma das tendências dessa dimensão é o diagnostico dos problemas

ambientais decorrentes do processo de urbanização. É o caso do estudo

implementado na cidade de Vitória da Conquista-Ba, que analisa as conseqüências

desse processo nas nascentes e mananciais localizados no espaço urbano da

Cidade. Para esse tipo de estudo, uma das formas de esquematização

metodológica é o zoneamento das atividades e dos atores que atuam no entorno

das nascentes e mananciais, expandindo essa análise para todo o espaço urbano.

Na definição dos aspectos mais relevantes, segue-se o mapeamento das

nascentes e mananciais no perímetro urbano que evidencia a drenagem e os

problemas decorrentes, além da elaboração do mapa geoambiental e do uso do

solo. Todo esse material funciona como base para sintetizar os impactos

diagnosticados tais como: destruição dos mananciais superficiais da bacia na área

urbana; aterro de parte das margens do rio principal e seus afluentes, aterro das

lagoas que formam as nascentes, aterro das planícies de inundação, entre outros.

Segundo Sposito (2003), o espaço topográfico da cidade, deve ser visto à luz

de sua formação geológica, de conjunto de condições geomorfológicas, no contexto

da bacia ou das bacias hidrográficas que desenham a topografia. Além disso, uma

analise da estrutura topográfica do lugar, e a avaliação da capacidade de drenagem

da bacia hidrográfica, é importante na medida em que busca-se o estudo integrado

do ambiente, priorizando a bacia hidrográfica como estrutura para a integração dos

componentes da analise, os quais, são subsidiadas por mapas temáticos sobre a

38

Page 39: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

problemática geoambiental urbana, sobre o uso do solo próximo às nascentes e

mananciais da área urbana e os limites da bacia hidrográfica.

3.1. Pressupostos da análise sócioambiental em área urbana

A sociedade atual revela-se como uma sociedade urbana, real, concreta e

virtual. Concreta e real na medida em que revela uma cotidianeidade materializada

numa geometria singular e particular, que corresponde ao lugar. Virtual porque está

permeada por um fator universalizante, mediatizada por sistemas de simbólicos da

linguagem e do modo de produção. Na visão de Sposito (2003), uma primeira

perspectiva de análise pode ser a compreensão do que seja o ambiental nas

cidades. Pois na maioria das vezes confunde-se o ambiental com o natural, sem

levar em conta o social que permeia a questão ambiental.

As paisagens urbanas escondem lugares. Os guetos e favelas desenvolvem-

se em tal grau de isolamento que podem se constituir uma unidade de contradição,

desenvolvendo um modo de vida bastante independente. Esses lugares são

paisagens urbanas indesejáveis do ponto de vista do capitalismo, mas é a condição

da contradição que sustenta o próprio modo de produção.

Em sua maioria, tais lugares são os que espacialmente falando, estão

localizados em áreas de alto grau de fragilidade ambiental quer seja nas encostas,

ou nas planícies de inundação. O fato é que a cidade, “resultado maior da

capacidade social de transformar o espaço natural, não deixa, em função disso, de

ser parte desse espaço e de estar submetida às dinâmicas e processos da natureza”

(SPOSITO, 2003, p. 295).

Pode-se dizer que, o espaço das cidades deve ser hoje, mais do que nunca, o

alvo por excelência da pesquisa geográfica e da analise sócioambiental, mas não

sob o ponto de vista apenas do ecologismo, como afirma Seabra (2003), a

sociedade mobiliza-se na atualidade muito mais conforme os impulsos e demandas

do movimento ecológico, naturalizando o processo social.

39

Page 40: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A mancha urbana (Carlos, 2004) é a imagem refletida de um todo complexo

formado por realidades diametralmente opostas, absorvendo a dimensão social e a

da natureza. O gênero de vida urbano aglutina na imagem uma constelação de

lugares singulares que, por mais distantes espaço-temporalmente estejam, parecem

coexistir na imagem.

O estudo das cidades permite compreender, em escala local, a natureza

complexa do mundo moderno. O urbano é a síntese do global. Equivale a um

espelho e uma projeção de uma realidade mundial homogeneizada pela produção e

pelo consumo e, materializada no espaço da cidade por meio dos fluxos. Essa

circulação conecta a cidade com o mundo. Permite estabelecer um elo dentro de

uma rede virtual fazendo surgir deste processo a metrópole e, evoluindo o citadino à

condição de cosmopolita. Pois, “a natureza ou naturalidade do mundo cósmico,

dádiva, entra na história humana pela sua geografia”, Seabra (2003 p. 311).

A imagem da cidade e seus aspectos geoambientais, precisam ser decifrados

pelo geógrafo. O urbano deve ser encarado na análise geográfica enquanto sistema

ilusório de sobreposições infinitas de imagens. Ilusório porque a realidade urbana

não existe como tal, existem apenas correlações. (LEFEBVRE, 2006 p. 38).

Essas sobreposições criam as condições de isolamento e, ao mesmo tempo,

mascaram as descontinuidades espaço-tempo que separam as paisagens urbanas.

Para o geógrafo, às vezes, um bairro pode esconder várias células espaço-

temporais. Por outro lado, uma pequena cidade do interior pode apresentar

características homogêneas suficientes para ser caracterizado com um único bloco

espaço-tempo. Neste sentido:

O ambiental como resultado das relações entre o natural e o social deve ser visto como de resto tudo mais, a partir da dimensão temporal. Trata-se neste caso, das formas como se articulam ou entram em contradição duas escalas temporais – a da natureza e a da sociedade. (SPOSITO, 2003, P.295).

A materialização dos eventos sociais num determinado ponto da superfície

pode ser entendida em termos de produção e de reprodução espacial, levando em

consideração a análise das relações sociais com a natureza, sendo impulsionada

pelo modo de produção vigente. Percebe-se que o ritmo de transformação da

natureza pelas causas ditas naturais, é diferenciado do ritmo de produção e

40

Page 41: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

reprodução implementado pela sociedade, sobretudo no modo de produção

capitalista, que tem como base o estímulo à produtividade e a exploração da

natureza transformada em recursos para o desenvolvimento das forças produtivas e

da sociedade como um todo.

3.2. A produção do espaço, configuração territorial e paisagem no mundo urbano e rural.

O espaço rural, de certa forma, é o espaço de resistência ao projeto de

globalização da cultura. Percebe-se, no entanto, que nas últimas décadas, este meio

converte-se gradativamente em “espaço urbano potencial” (LEFEBVRE, 2006).

Destituído do elemento humano que, quando não migra para as cidades, aglutina-se

em povoados (estágios iniciais do urbano). Consolida-se na análise geográfica uma

perspectiva de futuro urbano. Esta perspectiva posiciona a discussão teórica sobre

as cidades e sobre a tensão cidade/campo dentre as temáticas mais interessantes

da atualidade.

O enfoque rural e urbano e, por decorrência, o rurbano, leva em consideração

a organização do território em subespaços articulados, tanto entre si como inseridos

numa lógica global. Para dar conta desses conceitos, propõe-se buscar distintas

matrizes teóricas que vêm tratando da análise do urbano, do rural e sobre as

relações entre ambos e as novas configurações/determinações decorrentes.

Lefebvre (2006) propõe uma abordagem política da questão urbana cujos

preceitos vão desembocar nos anos de 1980, como base teórica para estudar sobre

as contradições urbanas e os movimentos sociais urbanos. Essa abordagem

influenciou sobremaneira o pensamento dos geógrafos a partir da segunda metade

do século XX, pela forma como tratou da questão espacial, ultrapassando o plano

dos conteúdos para colocá-la na perspectiva de um entendimento que envolve a

lógica da forma e a dialética dos conteúdos.

Para Lefebvre o urbano não se constitui como um sistema por ser “sócio-

lógico”; não se define suficientemente pela função ou pela estrutura e, ao eleger a

forma como elemento de abordagem, o faz na perspectiva de que seja considerada

41

Page 42: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

a questão da circulação e da centralidade; assim, para o autor, “a cidade atrai para si

tudo o que nasce, da natureza e do trabalho, noutros lugares: frutos e objetos,

produtos e produtores, obras e criações, atividades e situações”. Lefebvre

(1981.p.111). Trata a ruralidade, o campo, como o lugar de produção e de obras; a

vida urbana, como forma de mediação simbólica ou de representações entre cidade

e campo; e os tecidos urbanos, constituídos por diferentes malhas/redes são

possibilidades de superação da tradicional oposição cidade campo.

Em se tratando da configuração territorial, evidenciam-se diversas

abordagens. No dizer de Milton Santos (1997), a configuração territorial é o território

e mais o conjunto de objetos existentes sobre ele; seja qual for o país e o estágio do

seu desenvolvimento, há sempre nele uma configuração territorial formada.

Já Raffestin (1993), não tem dúvida de que os geógrafos vêm confundindo

território com espaço. Para ele, apenas quando os “atores” se apropriam de um

espaço é que este se torna território, ou seja, territorializam o espaço. Neste sentido,

ocorre a territorialidade que é multidimensional já que o espaço é a forma das

coisas. Assim, o território se forma a partir do espaço, pois a dimensão espacial é

anterior à territorial.

Lefebvre (2004) demonstra isso muito bem quando analisa a transformação

do espaço pelos circuitos e fluxos que instalam tais como: rodovias, canais, estradas

de ferro, circuitos comerciais e industriais etc., o território nessa perspectiva é um

espaço onde se projetou uma sociedade movida pelo trabalho. É neste contexto que

podemos analisar a dinâmica interna das formações territoriais locais ou mesmo

nacional.

A análise da configuração territorial e da dinâmica espacial exige para seu

eficiente desenvolvimento, algumas considerações teórico-conceituais, primando por

uma metodologia e a relevância estrutural do tema. Na análise da cidade de Vitória

da Conquista e o modo como ela foi se consolidando territorialmente, parte-se da

dinâmica espacial materializada, o como ela insere-se nas novas condições das

relações sociais, econômicas e políticas.

Para tanto, são abordados teoricamente, os conflitos que ocorreram na

consolidação do território e sua influência na produção e reprodução da natureza,

mediante ações humanas que remontam a origem da cidade, as funções

42

Page 43: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

desempenhadas e as transformações sócioambientais decorrentes, os setores

produtivos, a estrutura interna da cidade e o seu significado.

Para isso, foi formulada uma abordagem do processo de formação sócio

espacial, e da estrutura regional que a cerca. Ocorre também, uma análise do

espaço produtivo e suas implicações. Trata-se da estrutura produtiva do município

com base na utilização de dados que demonstram a capacidade produtiva industrial

e na agropecuária, além, da análise do espaço de circulação dos fluxos comerciais e

de serviços e suas implicações ambientais.

3.3. A Formação sócio-espacial de Vitória da Conquista no contexto da urbanização e suas implicações sócioambientais.

O município de Vitória da Conquista tem uma história que remonta à

colonização exploratória do território brasileiro, pertence ao processo de colonização

portuguesa do século XVIII e início do século XIX. A busca do ouro, na faixa de

terras entre o Rio Pardo e de Contas, aliado às políticas de interiorização do

Governo Português, levaram a uma ocupação efetiva das terras hoje pertencentes

ao município de Vitória da Conquista e Região.

Por volta de 1750, ocorreram as primeiras expedições portuguesas pelas

terras pertencentes hoje ao município de Vitória da Conquista. Nesse período, o

território era ocupado por tribos indígenas, principalmente os índios Camacans que

habitavam as margens do Rio Verruga e, no entorno da Serra do Periperi. Os

portugueses “conquistaram” as terras indígenas e passaram a consolidar o arraial

que deu origem à cidade.

Existem diversas versões para a gênese do povoado que se transformou na

cidade de Conquista e, de como ela era no passado. Uma delas pode ser observada

nos manuscritos de viajantes europeus por essa região:

Arraial da conquista, principal localidade do distrito, é quase tão importante quanto qualquer vila do litoral”. Contam-se aqui, umas quarenta casas baixas e uma igreja em construção. Os moradores são pobres, e ocupam as margens do rio. [...], passa por aqui, produtos como o algodão e boiadas

43

Page 44: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

que chegam a mil cabeças por semana, que vão para a baía. (MAXIMILIANO, V. 1969:7).

O crescimento do povoado ocorre principalmente pela sua localização

estratégica, isto é, ponto de ligação entre o litoral e o sertão baiano. Passa a ter no

início do século XIX, status de Vila, cuja principal atividade econômica é o comércio,

aliado à criação de gado na bacia do atual Rio Verruga. Observe o mapa da figura 1.

Figura 1: Mapa da Vila Imperial Victória de 1840.

44

Page 45: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A configuração territorial e a espacialidade do arraial que, passou a ter o

status vila e mais tarde tornou-se Vitória da Conquista, foi constatada desde 1808,

por um Viajante da Coroa que descreve: “A Villa está edificada em terrenos

acidentados ao pé da serra do Periperi. As casas são térreas e a maior parte de

telhas. A praça é quadriculada e de ladeira, ficando no centro da Matriz. (...)..”

(AGUIAR, 1979.).

De acordo com o mapa figura 1, no lugar que se localiza a feira livre do

Século XIX e a igreja matriz ao lado da Rua Grande, é onde atualmente funciona o

centro administrativo, econômico e financeiro da cidade. Sendo que o trecho do rio

verruga visível no mapa de 1840, hoje é canalizado, passando a ter suas águas

correndo em canais subterrâneos, desde meados do século XX.

Assim, percebe-se que a estrutura espacial da sociedade conquistense,

remonta a própria origem e, os traços socioculturais presentes no convívio citadino é

resultado de toda essa formação. Outro fator a considerar é que o status de Vila

perdura por mais de 50 anos e, em 1840, ocorre sua emancipação, passando para a

categoria de cidade, embora, permanecesse com a mesma característica analisada

anteriormente que era a de centro comercial e produtor de itens oriundos da

atividade agropecuária.

Quanto à continuidade das terras, há de considerar que ela é remanescente

da Vila de Santo Antônio da Jacobina, criada em 1720, que administrava toda a

extensão de terras entre o sertão da margem direita do Rio São Francisco, o litoral

baiano e sua fronteira com Minas Gerais; cuja dimensão territorial era maior que a

Espanha (ver mapa fig. 2).

Dessa comarca, desmembrou-se em 1724, a Vila do Sacramento das Minas

do Rio de Contas, cuja dimensão territorial estava em torno de 100.000 km2. Nesse

fracionamento surge a comarca de Rio de Contas que passa então a comandar toda

essa porção territorial, inclusive as terras pertencentes ao Arraial de Sant’anna do

Caetité (1730) e do Arraial da Conquista(1750). Por volta de 1810, ocorre o

desmembramento da Vila Nova do Príncipe e Santana do Caetité, com uma

extensão territorial de cerca de 52.000 km2. Em 1840, desmembra-se o arraial da

Conquista, que passa a ter o status de Villa.

45

Page 46: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Figura 2. Mapa da Origem e evolução territorial de Vitória da Conquista-BA

46

Page 47: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

47

No inicio do século XX, a estrutura sócio-econômica dessa Villa é comandada

pelo processo produtivo de pequenos produtores, nas margens dos rios e ou nas

planícies de inundação, pois, com o a abolição da escravatura em 1888, uma grande

massa humana e negra, migra para o espaço urbano. Ocupando áreas próximas de

alagados (mananciais e nascentes), ou para os povoados e distritos que

compunham o município de Vitória da Conquista, o que requer uma mudança de

comportamento tanto por parte da burguesia local, que começa a defender suas

terras de possíveis invasões, quanto por parte das autoridades governamentais que

ditam medidas para manter a “ordem” estabelecida.

Do ponto de vista econômico, Vitória da Conquista permanece com a

predominância da agropecuária e do comércio local. Estende-se daí uma influência

maior para a formação de uma rede de pequenas localidades que mais tarde

consolida-se como um pólo regional. Essa influencia firmou-se, entre as décadas de

1930 e 1940, quando inicia-se a construção de várias rodovias como é o caso da BR

116 (Rio-Bahia), da BR 415(Rodovia Conquista Ilhéus), e da BR 407, que antes era

apenas caminho de tropeiros, constituindo-se, numa malha rodoviária intensa,

ligando o centro urbano ao Centro-sul e ao Nordeste do país e o litoral baiano ao

Oeste da Bahia.

As transformações espaciais foram mais visíveis na medida em que se

intensificava a urbanização. Com a expansão urbana, percebe-se a diminuição da

cobertura vegetal. No caso de Vitória da Conquista, a malha urbana está montada

numa estrutura de drenagem que compreende diversas nascentes e mananciais da

bacia do Rio Verruga. Evidencia-se aí, uma redução drástica das matas ciliares e

como conseqüência, a diminuição do fluxo d’água natural da bacia.

Entre 1840 e 1940, período de consolidação do espaço urbano de Vitória da

Conquista-Ba, várias foram as alterações sofridas pelo Rio Verruga no trecho urbano

da cidade, nele destacamos a diminuição das matas ciliares nos diversos cursos

d’água do espaço urbano. A retilinização e terraceamento do canal principal do Rio,

passando ser receptáculo de águas residuárias e de toda a poluição produzida pela

população local. (ver mapas fig. 3 e 4).

Page 48: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

48

Fig.3: Mapa da Expansão urbana no entorno do Rio Verruga entre 1840 e 1940.

Fig.4: Mapa de retilinização do Rio Verruga entre 1940 a 2000.

Page 49: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A expansão do espaço urbano em Vitória da Conquista fez com que houvesse

uma diminuição contínua do ambiente natural no entorno das principais nascentes

do alto rio Verruga, dando lugar a problemas urbanos como o da erosão,

desmoronamentos de encostas, assoreamento dos cursos d’água, uso de áreas

para deposição de lixo, entre outros. Essa expansão é marcada essencialmente pela

inserção da cidade no processo produtivo do capitalismo. Como é o caso da

implantação na década de 1970, do distrito industrial dos Imborés às margens da BR

116, consolidado nos anos oitenta e noventa do século XX. Assim, novas

dimensões do território urbano são definidas a partir de 1980, incorporando grande

parte das áreas de produção agrícola ao perímetro urbano da cidade.

Essa expansão urbana proporcionou algumas mudanças significativas no

curso principal no alto rio Verruga. Comparando os mapas das figuras 3 e 4,

percebe-se que entre o início da urbanização, até meados do século XX, a calha do

rio Verruga sofreu um processo de retilinização, alterando o curso e o leito natural do

rio, com isso, outros processos foram sucedendo-se a este, destacando-se a

canalização de grande trecho do canal do rio, e um conseqüente aterro de áreas

inundáveis, proporcionando uma mudança completa no ambiente que antes possuía

uma extensa faixa de vegetação arbórea e, algumas áreas de planície de inundação.

No mapa da figura 4, destacam-se alguns pontos que sofreram essas mudanças,

como é o caso da extensa faixa de terras onde fica o centro urbano da cidade, a

central de abastecimento, a Avenida Bartolomeu de Gusmão e outros pontos como a

Baixa da Égua, Lagoa do Jurema e a Baixa do Sapo nestas áreas foram grandes as

alterações feitas com o aterro e ou corte de terreno, provocando um desnível terreno

e uma alteração da carga exutória da bacia neste trecho.

Neste contexto é que se define a contradição das relações de produção

desenvolvidas no âmbito da configuração do território de Vitória da Conquista, tendo

em vista a problemática ambiental e toda sua complexidade, sendo um espaço bem

sucedido na produção agrícola e ao mesmo tempo, um grande aglomerado industrial

de abrangência regional, comportando forças produtivas distintas, causando um

descompasso entre o processo de desenvolvimento social e o produtivo, em

detrimento das alterações do ritmo da natureza, ou seja, vivenciamos dois tempos

em um mesmo espaço, o da natureza e o da sociedade.

49

Page 50: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

3.4. Uso e ocupação do solo urbano em bacias hidrográficas

O processo de urbanização no Brasil veio acompanhado de enormes desafios

para as cidades. De um lado, o rápido crescimento das cidades, surgindo grandes

aglomerados urbanos como as metrópoles do sudeste do país. De outro, a

capacidade de uso e ocupação do solo urbano pelos atores que compõem o

processo de urbanização.

No Caso de Vitória da Conquista, a morfologia de ocupação do solo urbano

demonstra que a cidade se desenvolveu de forma desordenada, não respeitando

diretrizes e critérios estabelecidos. A partir do núcleo inicial, o desenvolvimento do

traçado se espalha segundo os eixos viários, deixando grandes extensões territoriais

sem ocupação são as áreas de “engorda”, que marca a configuração do espaço da

cidade. Em contraponto, as áreas periféricas desqualificadas em termos de estrutura

urbana abrigam parcelamentos populares de baixa renda. Essa ocupação urbana,

advinda desde o século XVIII, teve o seu marco às margens do rio Verruga em áreas

próximas da sua nascente e com isso, a sua expansão deu origem uma série de

transformações nos corpos d’água que compunham as nascentes e mananciais da

bacia do rio Verruga, principalmente aqueles que fazem parte do Alto rio Verruga.

A análise do desenho urbano da cidade retrata a forma como se desenvolveu

e foi parcelada, e dela se pode obter um cenário da sua ocupação. Ainda com

relação ao espaço urbano, percebe-se que o uso da cartografia torna-se uma

ferramenta importante para o planejamento. Assim, a representação do urbano pode

ser entendida como sendo uma importante ação da cartografia que remete à

geografia o desenvolvimento de ferramentas de estudo da cidade, de forma a

compreender o processo de urbanização que evoluiu até o estagio atual e, futuras

projeções das formas e dinâmicas que possivelmente desencadearam nesse

processo.

Lefebvre (2004p. 85) chama atenção que o fenômeno e o espaço urbano não

são apenas projeção das relações sociais, mas lugar e terreno onde as estratégias

se confrontam. Esse confrontamento é dado pela projeção das relações sociais no

solo, daí que vem a necessidade de mapear o uso do solo urbano, sobretudo

50

Page 51: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

quando este espaço materializa-se em áreas de nascentes e mananciais de bacias

hidrográficas, dos quais, emanam transformações nos corpos d’água da bacia.

Assim, o primeiro aspecto que chama a atenção quando se observa a

paisagem urbana é o choque dos contrastes, das diferenças. Contrastes que vão

desde o tipo de utilização que se faz da cidade à diferença entre as mesmas

utilizações, isto é, a diversidade dos usos do solo e dentro de cada uso, a

complexidade da vida em sociedade urbana.

Tais diferenciações baseiam-se no fato de que em função da divisão social do

trabalho, a cidade é antes de qualquer coisa uma concentração de pessoas

exercendo uma série de atividades concorrentes ou complementares, o que enreda

uma disputa entre usos. Por outro lado, a produção do espaço deverá,

necessariamente, refletir tais contradições.

Em contrapartida, o espaço da reprodução da vida se manifesta no uso

residencial, incluindo o lazer e a infra-estrutura necessária: escolas, creches,

hospitais, prontos socorros, transporte e serviços em geral, todos meios de consumo

coletivo. Entretanto, o modo de utilização se articula, necessariamente, à existência

da propriedade privada da terra e, portanto, as condições de acesso ao solo urbano

serão determinadas pelo valor que, em seu movimento, redefine constantemente a

dinâmica da utilização desse solo. De acordo com Carlos (1998): “Essa dinâmica

conduz, de um lado, a redistribuição do uso de áreas já ocupadas levando a um

deslocamento de atividades e/ou dos habitantes; e de outro à incorporação de novas

áreas que importam em novas formas de valorização do espaço urbano”.

Essa realidade exposta acima já é visível no espaço urbano conquistense,

pois, ampliou-se a área do centro comercial, atingindo bairros residenciais tais como

Bairro São Vicente, Sumaré e parte do bairro Recreio. Além da expansão dessas

atividades ao longo das principais avenidas que formam o eixo viário urbano da

cidade.

Com relação à configuração do território urbano do ponto vista político-

administrativo, a atual área foi definida de acordo com a lei municipal nº. 205/80, que

estabelece o atual perímetro urbano e, a lei nº. 798/95 estabelece oficialmente os

bairros para o arranjo espacial urbano da cidade. Mais recentemente, a lei nº.

952/98, cria novos bairros e redefine as fronteiras e limites do perímetro urbano, que

51

Page 52: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

do ponto de vista funcional, é impreciso e não contempla áreas já urbanizadas ou

em outros casos, estende demais a área urbana, incluindo muitas localidades

tipicamente rurais ao contexto urbano. Tudo isso justificado por gestores, como uma

das maneiras de aumentar a arrecadação do município. Com isso, a cidade de

Vitória da Conquista, atualmente conta com 24 bairros que englobam diversas áreas

conhecidas popularmente como bairros e na verdade são loteamentos, mas que por

motivos ainda não explicados, são anexados nessa divisão interna que de fato não

está totalmente clara para a sociedade local.

O mapeamento do uso do solo urbano constitui elemento essencial para o

conhecimento do processo de urbanização de Vitória da Conquista e dos

condicionantes antrópicos da qualidade ambiental da área urbana, particularmente

na bacia do Rio Verruga.

Demandas de áreas verdes e de infra-estrutura de saneamento ambiental,

assim como a qualidade do ar e da paisagem urbana são fatores que variam, entre

as diversas localidades, em função do tipo de uso do solo e a intensidade de

ocupação que elas apresentam. A valoração dada pelo capital especulativo do setor

imobiliário acaba influenciando no destino final do uso e ocupação do solo urbano.

A análise do uso do solo urbano em bacias hidrográficas é marcada pela

busca do entendimento e do desvendamento da forma urbana e, sua amplitude na

condição sócio-ambiental da bacia hidrográfica e do lugar. Lefebvre (2004 p.116),

afirma que a forma urbana tende, certamente, a romper os limites que busca

aprisioná-la. Seu movimento procura sua via, o caráter contraditório desse

movimento permite uma relação antagônica entre o ambiente e o processo de

produção do espaço urbano.

Nesse sentido, a análise do uso do solo evidencia áreas da cidade onde o uso

é mais intenso, ou seja, onde existe maior densidade de área construída por metro

quadrado, a tipologia (horizontal e vertical) dessa ocupação, o padrão (baixo, médio

e alto) das edificações e o tipo de uso (residencial, industrial, comércio e serviços

etc.); permitindo variadas abordagens e relações que possam subsidiar análises,

diagnósticos e prognósticos geoambientais e ou sócioambientais.

Há que se observar que a área urbanizada de Vitória da Conquista-BA,

compreende todas as quadras e imóveis (terrenos vazios e terrenos em construção)

52

Page 53: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

53

delimitados pelo decreto municipal de 1993, que cria o novo sitio urbano de Vitória

da Conquista.

Cabe ressaltar que do total da área coberta pelo perímetro urbano, cerca de

70% dela está inserida na drenagem da bacia do Rio Verruga; o que torna de suma

importância a análise do uso do solo urbano, para o desvendamento da estrutura

sócioambiental da bacia.

A classificação de uso e ocupação foi estabelecida da seguinte maneira: 1.

Uso Residencial Horizontal – Baixo Padrão; 2. Uso Residencial Horizontal – Médio e

Baixo Padrão; 3.Uso Residencial Horizontal - Médio e Alto Padrões; 4. Uso

Residencial Vertical – Médio e Baixo Padrão; 5. Uso Residencial Vertical – Médio e

Alto Padrão; 6. Uso Comercial e Serviços; 7. Uso Industrial e Armazéns; 8. Uso

Residencial e Comercial / Serviços; 9. Uso Residencial e Industrial / Armazéns; 10.

Uso Comercial / Serviços e Industrial / Armazéns; 11. Garagens; 12. Equipamentos

de Uso Público; 13. Hospital clinica e postos de saúde; 14. Feiras Livres; 15.

Escolas; 16. Terrenos Vagos; 17. Sítios chácaras e áreas não loteadas; 18. Outros

Usos; além dos usos como a agricultura, pastagem e áreas de vegetação.

Esta classificação é a base para o mapa de uso do solo urbano de Vitória da

Conquista e, cada quadra fiscal assume uma classe de predominância. Observe o

mapa da figura 5.

Page 54: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

54

Fig. 5: Mapa de uso e ocupação do solo urbano de Vitória da Conquista -BA

Page 55: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Sócioespacial Urbana: do Mapeamento ao Planejamento Ambiental na Bacia do Rio Verruga - Vitória da Conquista – BA.

Esta predominância é estabelecida quando a área construída da classe de

maior incidência encontra-se entre 40% a 60% da área construída total da quadra.

No caso das quadras não ocupadas ou minimamente ocupadas, a predominância é

de terrenos vagos.

Verifica-se uma grande quantidade de área da base cartográfica digital, que

não fazem parte da mancha urbana, mas, no entanto, estão delimitadas como área

urbana. É o caso dos bairros de Campinhos, São Pedro, Universidade, Aírton Senna

e outros, nestes, percebe-se que mais de 70% do território são ocupados com Sítios

chácaras e áreas não loteadas.

As principais considerações sobre o uso e ocupação urbana em uma área

que compreende; diversas nascentes derivadas de um terreno de cobertura detrítica

com intensidade elevada é que a pressão sobre esses mananciais é muito grande,

pois do ponto de vista geoambiental, o sitio urbano é moldurado por uma bacia de

ordem Quatro e, em toda a extensão da malha urbana, compreende cerca de cinco

microbacias que convergem para a direção sul-sudeste e, é nesta mesma direção

que concentra toda a expansão urbana que, exerce uma grande influencia no

escoamento superficial, aumentando o fluxo de águas num mesmo canal,

propiciando inundações e alagamentos em período de chuva concentrada.

55

Page 56: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

4. A DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS

A análise de sistemas sócioambientais implica a necessidade e a

possibilidade de articular processos de diferentes ordens de materialidade Leff

(2002, p.166). Esta análise do complexo-concreto remete aos paradigmas teóricos

cuja função é mediar a apreensão da realidade concreta, formando um par dialético

para a formulação de conceitos teóricos e práticos.

A emergência da questão ambiental no campo da geografia e particularmente

no estudo das bacias hidrográficas, traz à tona uma perspectiva de analise onde as

relações sociedade-natureza erguem-se dos processos sócioambientais, entendidos

aqui como sistemas complexos oriundos de diferentes níveis de espacialidade e

temporalidade que se materializam num dado espaço-tempo.

As bacias hidrográficas funcionam como unidades sócioambientais na medida

em que possui, um equilíbrio dinâmico em seu sistema geomorfológico, isso por ser

um sistema aberto com variáveis independentes. Zakia&Lima (1999), estudando a

hidrologia de matas ciliares, detectam que as bacias hidrográficas e suas matas

ciliares possuem valores de uso, que variam de acordo com o ponto de vista e do

interesse de diferentes setores de uso sendo na maioria das vezes conflitantes.

Mesmo assim, a bacia hidrográfica teria uma função de unidade na gestão da água.

4.1. A bacia hidrográfica como unidade de gestão da água.

As discussões teóricas sobre a questão da água, no estudo sócioambiental,

associadas com o estudo de bacias hidrográficas em sua estrutura e, inserindo neste

contexto, a problemática ambiental é, sobretudo, uma composição holística para o

conhecimento. Uma perspectiva analítica pode ser a da compreensão do que seja

ambiental nas cidades e em bacias hidrográficas. Com muita freqüência associa-se

o ambiental apenas ao natural, quando sabemos que contempla o social, pois,

sobretudo na cidade, o ambiente não se restringe ao conjunto de dinâmicas e

56

Page 57: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

processos naturais, mas das relações entre estes e a dinâmica e processos sociais.

Ora, se o ambiental é a síntese, ainda que contraditória, entre o natural e o social, o

embate seria, antes, entre o social e o político, sendo a questão ambiental, uma das

expressões mais complexas deste conflito, (Sposito, 2003).

Num certo sentido, a complexidade ambiental pode encontrar suporte de

análise para a compreensão dos problemas advindos da relação sociedade

natureza, ou melhor, entre os processos naturais e sociais na adoção do estudo

integrado das bacias hidrográficas. As bacias funcionam como unidade sócio-

ambiental e nesse sentido permite revelar as conseqüências ambientais da ação

humana bem como na proposição da formas gestoras mais condizentes com a

realidade de cada ambiente e de cada composição social nela vigente.

4.2. A bacia hidrográfica e seu desempenho como unidade integradora.

A bacia hidrográfica é tradicionalmente considerada como a unidade

fisiográfica mais conveniente para o planejamento dos recursos hídricos, por

constituir-se em sistema aberto de fluxo hídrico. Portanto, o comportamento

hidrológico da bacia hidrográfica pode ser avaliado através dos atributos fisiográficos

inerentes à sua área e aferido através dos registros fluviométricos.

Segundo Granell-Pérez (2004), a bacia hidrográfica ou bacia de drenagem é

constituída pelo conjunto de superfícies que, através de canais e tributários, drenam

água da chuva,sedimentos e substâncias dissolvidas para um canal principal.

A rede hidrográfica, responsável pela drenagem de uma bacia possui

configurações ou arranjos espaciais que refletem a estrutura geológica e a

composição morfogenética da área da bacia. Neste sentido, cada bacia ou micro-

bacia hidrográfica desempenha um papel importante nos moldes da ocupação

territorial, já que essas configurações definem diferentes padrões de drenagem e,

por conseguinte, combinações de padrões que, podem caracterizar-se numa

unidade territorial facilitadora das atividades desenvolvidas pelas sociedades locais

ou, ao contrário, combinar ações que comprometem certos tipos de ocupação.

57

Page 58: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A visão integrada entre as fases de precipitação, escoamento superficial,

infiltração e armazenamento da água, associada ao processo de ocupação do

território e os diversos tipos de uso pela sociedade, fornece um arsenal de condições

a serem analisadas e interpretadas, para a compreensão do uso racional da água

em cada bacia hidrográfica.

Uma bacia hidrográfica pode ser analisada de acordo com as funções de uso

pela sociedade. Assim, podemos destacar alguns itens que merecem ser analisado

numa escala de prioridade para a gestão da água, entre elas: a drenagem da bacia,

o abastecimento humano e o saneamento, a manutenção da ictiofauna, a geração

de energia, a produção de alimentos, a navegação e outros usos diversos.

A drenagem da bacia representa ao mesmo tempo a dimensão territorial da

área e a integração dos diversos componentes de caracterização natural da bacia e

de ocupação humana. A dinâmica da drenagem ao longo do tempo geológico,

promove mudanças na topografia do terreno, aumentando ou diminuindo as

rugosidades, os aclives e declives, permitindo certa evolução do relevo. No entanto,

a ocupação desordenada do território das bacias hidrográficas, com rápidas

mudanças decorrentes das atividades humanas, acelera os desequilíbrios nos solos,

nas vertentes e encostas, nos vales fluviais e em toda a drenagem da bacia. Cunha

& Guerra (1996), destacam algumas atividades que causam degradação, entre elas

estão; o desmatamento, as práticas agrícolas, a mineração, a urbanização e outros.

O abastecimento humano, o saneamento, a produção de alimentos e a

geração de energia, representam a base para a implementação das políticas de

gestão da água nas bacias hidrográficas, pois tais atividades interferem diretamente

na disputa pelo uso da água.

O estudo da disponibilidade e do uso da água em bacias hidrográficas,

concentra esforços no intuito de manter uma base mínima para o planejamento e

implementação de políticas para a gestão de forma sustentável e integrada,

buscando oferecer aos interessados, uma visão genérica e exploratória, de forma

quantitativa e qualitativa do potencial dos recursos hídricos.

4.3. O embate das questões sociais e ambientais em bacias hidrográficas.

58

Page 59: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Nos últimos anos, o homem tem participado como agente acelerador dos

desequilíbrios da paisagem, principalmente pelas atividades diretamente

desenvolvidas nas bacias hidrográficas. Isso por que, a bacia hidrográfica funciona

como unidade integradora tanto das coisas da natureza quanto das atividades

humanas, percebe-se que, entre um divisor de águas e outro, há sempre uma

paisagem em transformação pela ação humana.

O diagnóstico sócio-ambiental das bacias hidrográficas em área urbana prevê

uma análise das características geoambientais tais como: uso do solo, cobertura

vegetal, estrutura geomorfológica e potencial hídrico; dos desequilíbrios e da

degradação ambiental provocada pela ação humana. Busca-se também analisar a

qualidade da água principalmente nos mananciais que abastece as populações de

cada bacia.

Atualmente, o desmatamento, a poluição das águas com os despejos

sanitários e industriais, faz com que se acelerem os impactos e desequilíbrios

ambientais nos rios. Neste caso, um estudo para este fim deve prever um

diagnóstico das condições sócio-ambientais da área que possibilitará um

planejamento sistematizado para uma possível intervenção na problemática

detectada, com medidas de caráter preventivo para o controle da poluição das

águas, da diminuição do desmatamento, principalmente das matas ciliares e da

cobertura vegetal da bacia hidrográfica.

A bacia hidrográfica enquanto estrutura natural tem início na origem na

consolidação do ciclo hidrológico da terra e, por muito tempo, manteve seu status de

funcionamento, desvinculado das atividades humanas, ocorrendo alterações

somente de causas naturais. Com o advento da sociedade, sua ambientalização e

territorialização, proporcionaram uma “tecnificação do espaço” (Moreira, 2007, p.85;

Santos, 2008, p.97), com isso, o homem apropriou-se da natureza, transformando-a

em recursos para a produção cada vez mais diversificada.

Assim, a água disponível nas bacias hidrográficas entra no contexto da

utilização, sua crescente utilização modifica a condição natural da água e da própria

bacia hidrográfica, os corpos d’água perdem qualidade tanto na composição para o

abastecimento humano quanto na manutenção da vida aquática, alterando todo o

ciclo hidrológico e o ambiente como um todo.

59

Page 60: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Nos dias atuais, a preocupação com a preservação ambiental, vem se

intensificando e repercutindo com campanhas direcionadas a essa problemática.

Diante disso, faz-se necessário desmistificar a idéia de que o ambiente seja apenas

um conjunto de plantas e animais. Na realidade, engloba amplamente um conjunto

de elementos dinâmicos, inclusive a presença humana que possui importância

fundamental nesse contexto, especialmente no que se refere à utilização dos

recursos naturais e especificamente dos recursos hídricos, uma vez que tais

recursos são vistos, muitas vezes, apenas de forma utilitarista. Assis (1995:12),

afirma que a água é um recurso natural essencial à vida em suas diversas formas.

Sobre a utilização desses recursos, de forma utilitarista, Quintão, ressalta:

Ora a relação do homem com a natureza não pode ser entendida apenas no seu conteúdo utilitarista, dependente e dominada por ele. Embora as qualidades e qualificações dos recursos da flora e da fauna possam ser úteis ao homem, que em determinadas situações, pode e deve intervir sobre eles para aperfeiçoar a sua capacidade produtiva, é preciso lembrar que o meio natural é constituído de seres vivos, com funções próprias dentro dos respectivos ecossistemas e que nem sempre inclui o homem no seu ciclo de reprodução. (QUINTÃO apud Casseti 1995:35).

É notável perceber que o homem, enquanto parte da natureza, mantém com

esta uma relação de dominação em diversas escalas de abrangência espacial. Essa

relação é, sobretudo, uma relação de poder assumida pela ação das forças

produtivas materializadas nas relações de produção do modo de produção

capitalista.

A utilização do espaço natural foi com o passar do tempo, modificando e

adaptando-se conforme a necessidade de apropriação da natureza criada pelo modo

de produção capitalista, via produção industrial, onde o grau de desenvolvimento

tecnológico, em estágio mais avançado, diminuiu em parte a exploração da

natureza. Sobre essa transformação, Casseti, afirma:

“É através da transformação da primeira natureza em Segunda natureza que o homem produz os recursos indispensáveis a sua existência, momento em que mentaliza (a neutralização da sociedade) incorporando ao seu dia-a-dia os recursos da natureza ao mesmo tempo em que socializa a natureza (modificação das condições originais e primitivas)”. CASSETI (1995:12).

60

Page 61: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Pode-se dizer que a natureza e o homem se integram e interagem o que é

percebido por MARX (1984) quando descreve que “a natureza separada da

sociedade não possui significado”.

Os problemas ambientais constituem uma das principais preocupações do

homem, visto que vários recursos naturais estão ficando cada vez mais escassos.

Sabe-se que na natureza, o homem é mentor de grandes degradações ambientais

no mundo provocados por vários fatores como: “[...] a crescente industrialização

concentrada em cidades, a mecanização da agricultura em sistema de monocultura,

a generalizada implantação de pastagens, a intensa explosão de recursos

energéticos e matérias-primas como carvão mineral, petróleo, recursos hídricos e

minerais, tem alterado, de modo irreversível, o cenário da Terra e elevando, com

freqüência os processos degenerativos profundos da natureza”. (CUNHA&GUERRA,

1996).

As conseqüências das atividades humanas que provocam mudanças no

ambiente levantam debates tanto para as ciências naturais como para as sociais.

Portanto, os efeitos ao meio ambiente provenientes do processo produtivo devem

ser analisadas a fim de verificar as causas e a intensidade para posteriormente

determinar medidas preventivas, principalmente no que se refere à poluição.

A intensa produção desordenada, voltada para o consumo, intensificou os

processos de degradação ambiental em escala local, regional e global, atingindo

níveis elevados de poluição das águas, de desmatamento, processos erosivos em

alguns casos, processo de desertificação. Sobre essa questão, Cunha descreve:

Existem regiões do planeta, em especial as áreas intertropicais onde as sociedades mantêm a alta produtividade através de ocupação de novas terras, à medida que a degradação ambiental avança. Em outras regiões é possível manter a produtividade elevada devido ao uso intensivo de fertilizantes e defensivos agrícolas. Dessa forma, poder-se-ia questionar que, nesses casos não existiriam custos sociais nem econômicos da degradação. Mas por outro lado caso a degradação não ocorresse as sociedades não precisariam utilizar novos recursos naturais, abandonando antigas terras, investir em produtos químicos, para manter os níveis de produtividade. CUNHA&GUERRA (1996: 342).

Os desequilíbrios causados na paisagem pela degradação, quer numa bacia

hidrográfica ou em um de seus compartimentos, tais como: encostas, vales,

61

Page 62: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

meandros ou nascentes e mananciais, são em alguns casos irreversíveis e,

provocam danos tanto para a natureza quanto para a sociedade centrada neste

ambiente.

A degradação ambiental e um posterior desequilíbrio na paisagem, provocado

pela intensificação das forças produtivas, sempre ocorrem dentro um conjunto de

elementos setorizados onde uma bacia hidrográfica é o agente integrador entre os

setores naturais e sociais. Segundo ROCHA (1991:33), “[...] no passado, a ocupação

de uma bacia hidrográfica foi realizada com pouco planejamento, visando o máximo

de benefício com o mínimo de custo, sem a preocupação com o ambiente”. Mas não

somente no passado, pois atualmente, constata-se cada vez mais ocupações

desordenadas. Assim, seja pelo aumento da população ou pela expansão da

produção da economia, a exploração das águas e outros recursos naturais vem

aumentando deteriorando-os cada vez mais.

Portanto, deve-se considerar que a bacia hidrográfica é integradora e precisa

ser administrada levando-se em conta essa questão, a fim de que os impactos

ambientais sejam minimizados. Barth (1987) ressalta que as alterações quantitativas

dos recursos hídricos, provocadas pelos poluentes e detritos, assim como o

assoreamento dos corpos de água em áreas rurais ou urbanas devem ser objeto de

controle pelos órgãos competentes.

No Brasil, diversas leis, decretos e portarias foram implementadas para a

regulamentação do uso dos recursos naturais e preservação do ambiente. Em

agosto de 1981, foi criada a Lei n. º 6.938, que estabelece a Política Nacional do

Meio Ambiente, cujo objetivo é a preservação, melhoria e recuperação da qualidade

ambiental, visando assegurar ao País, condições de desenvolvimento sócio-

econômico, com interesses na segurança nacional e na proteção da dignidade da

vida humana. Em janeiro de 1997, foi sancionada a Lei N° 9.433 que institui a

Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento

de Recursos Hídricos, que regulamenta o inciso XIX do Artigo 21 da Constituição

Federal, e altera o Artigo 1º da Lei 8.001, de 13 de Março de 1990, que modificou a

Lei 7.990, de 28 de Dezembro de 1989. O objetivo principal desta lei é a prevenção

e uso racional das águas e proposição da criação dos comitês de bacias

hidrográficas.

62

Page 63: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A interferência na natureza de modo acentuado provoca alterações até certo

ponto irreversíveis ao ambiente de modo que para intervenções futuras, necessita-se

de estudos prévios que leve a um diagnóstico do quadro sócio-ambiental do lugar.

Existe atualmente, uma preocupação com a quantificação de impactos que a

exploração humana provoca nas bacias hidrográficas, para que sejam adotadas

medidas que minimizem os danos à natureza. (ROCHA, 1991:68), comenta ainda

que o planejamento de ocupação de uma bacia hidrográfica seja uma necessidade

numa sociedade com usos crescentes da água, tende a ocupar espaços com riscos

de inundações, além de danificar o meio ambiente. Percebe-se que a tendência

atual envolve o planejamento integrado da bacia hidrográfica, que implica no

aproveitamento racional dos recursos naturais com mínimos danos ao ambiente.

Dessa forma, em muitos países, tem-se utilizado a bacia hidrográfica como

unidade de planejamento e gestão, compatibilizando os diversos usos e interesses

pela água e garantindo sua qualidade e quantidade. Os planos de gerenciamento de

bacias hidrográficas devem contemplar a utilização múltipla dos recursos da água

levando em conta a qualidade do ambiente e da vida da população. (ARAÚJO N. et.

all. 1995).

No Brasil, esses planos têm privilegiado, na maioria das vezes, um único

aspecto de utilização dos recursos hídricos (irrigação, saneamento, geração de

energia), o que vem acarretando problemas de ordem sócio-econômicas, pois, esses

planos não estão diretamente relacionados com o desenvolvimento sustentável, que,

dentre outras coisas almejam a melhoria da qualidade de vida presente e futura da

população, considerando as limitações dos ecossistemas para conservar o estoque

dos recursos existentes.

A criação do Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas-

CEEIBH em 1978, fortalece o critério de gestão para bacias hidrográficas, cujos

objetivos são de: realizar estudos integrados, monitorar os usos da água, classificar

seus cursos e coordenar as diversas instituições envolvidas.

A análise Sócioambiental de bacias hidrográficas evidencia-se a necessidade

de um estudo integrado, com a definição fisiográfica das bacias e micro bacias

hidrográficas, aliado ao plano de gestão ambiental, e do diagnóstico do processo de

63

Page 64: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

degradação ambiental, para uma avaliação consistente dos problemas ambientais

que ocorrem na bacia hidrográfica.

4.4. A gestão da água: uma questão de democracia e de solidariedade

“Sendo um recurso renovável, indispensável à vida, a água deve ser objeto de

uma gestão e de um controle muito atentos”, (Raffestin, 1993p. 231), isso porque

como qualquer outro recurso, a água é motivo para relações de poder e de conflitos.

Nos dizeres de Petrella (2004), existe um principio básico para a gestão da água na

atualidade que diz respeito ao argumento do contrato mundial, no qual define a água

como “um patrimônio global comum vital”, que está pautado no acesso básico da

água para todos os seres humanos e todas as comunidades humanas (um direito

inalienável político, econômico e social, ao mesmo tempo individual e coletivo). Além

disso, Petrella defende um gerenciamento integrado e sustentável da água, de

acordo com os princípios de solidariedade, associado à metas prioritárias para a

ocorrência dessa gestão.

Na gestão da água, o controle e/ou posse desse bem, são, sobretudo de

natureza política, pois interessam ao conjunto de uma coletividade, (Forbes, 1981 in:

Raffestin, 1993p. 231). Essa visão de gestão pode propiciar a adoção de uma

política de múltiplo uso pautada em referencias de valoração que leve em

consideração os valores fisiológicos, físicos, sociais e culturais.

Quanto ao uso das águas em bacias hidrográficas, Branco (1997) afirma que

os mananciais hídricos comportam os múltiplos usos desde que as diferentes

atividades humanas tais como: geração de energia, pesca, dessedentação de

animais, esportes, recreação, saneamento e outros; não impliquem em prejuízos

para a qualidade da água.

Neste sentido, as estratégias para a proteção da qualidade dos recursos

hídricos envolvem entre outras coisas: um diagnóstico sócio-ambiental da bacia, o

zoneamento das terras nas respectivas bacias, a definição de diretrizes para o

64

Page 65: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

disciplinamento dos múltiplos usos. É neste contexto que insere-se o programa de

adoção do plano diretor de recursos hídricos em bacias hidrográficas.

Se analisarmos a disponibilidade de água, fica evidente uma grande distorção

entre o contingente populacional e o acesso à água potável que, segundo a ONU –

(Organização das Nações Unidas), cerca de 1/5 da população mundial não têm

acesso a este tipo de serviço ou sofre de algum tipo de restrição para a sua

obtenção. Sendo que mais de 2,3 bilhões de pessoas não tem qualquer sistema

sanitário ou de purificação da água de esgoto (PNUD, 1998, in: Petrella 2004).

Podemos destacar neste contexto, novas possibilidades de gestão da água já

que os modelos de gestão usados no passado pautado no intervencionismo, não

tem tido resultados satisfatórios e não conseguem solucionar os problemas de

escassez da água. No entanto, o modelo de desenvolvimento sustentável que está

sendo difundido por gestores e ambientalistas, mundo a fora, não garante condições

favoráveis para toda a população da Terra. Pois, para muitos críticos desse modelo,

ele protegeria a base natural necessária para a reprodução das condições de

existência de apenas 1/3 da população do Planeta (Ribeiro, 2001). Uma vantagem

disso é que a idéia de desenvolvimento sustentável estimula ao surgimento de

novas maneiras de produção e a discussão do devir da vida humana na Terra.

As bacias hidrográficas funcionam como unidade de gestão da água desde

que sejam assim compreendidos pelos órgãos gestores, e ao mesmo tempo,

consigam solucionar o problema de desigualdade existente no contexto das

sociedades que compõem o território representado em cada bacia hidrográfica. Uma

coisa é certa, não dá para estender os padrões de vida e consumo da maioria dos

países ricos para toda a população do planeta. Neste sentido, temos que repensar o

modo como entendemos a sociedade na atualidade. Ribeiro (2001) aponta o

descompasso entre o ritmo de reposição da natureza, de seus processos longos de

duração e o ritmo intenso da acumulação do capital, resultando numa aniquilação

das estruturas vigentes.

O que podemos pensar é que a água é um recurso escasso, um bem vital,

econômico e social (WWC, 1999 In: Petrella, 2004). Sendo assim, o gerenciamento

racional e eficiente dos recursos hídricos requer uma cultura e práticas econômicas

rigorosas, com metas de desempenho, satisfazendo as condições mínimas de

65

Page 66: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

consumo humano, pois a água é um fator primário para a saúde, desta forma o

controle da água deve ser atribuído de forma solidária e democrática.

66

Page 67: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

PARTE II – O GEOPROCESSAMENTO NA ANALISE SOCIOAMBIENTAL

67

Page 68: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

5. APLICAÇÃO DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS NA ANÁLISE SÓCIO AMBIENTAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS.

O estudo em questão leva em conta os pressupostos teóricos aplicados no

estudo geoambiental, utilizando recursos do geoprocessamento. Neste caso tornou-

se necessário o levantamento bibliográfico sobre as técnicas adotadas para a

implantação do SIG (Sistema de Informações Geográficas), além da elaboração do

mapa base e da construção do banco de dados, associando-se às técnicas da

cartografia para a geração de mapas temáticos da área urbana e da bacia

hidrográfica analisada.

A análise dos problemas ambientais decorrentes do processo de urbanização

na cidade de Vitória da Conquista-Ba, e as conseqüências desse processo nas

nascentes e mananciais que estão localizados na bacia hidrográfica do Rio Verruga

abrangendo o espaço urbano da Cidade, é o ponto de partida para o

desenvolvimento dessa análise. Para isso, foi feito um zoneamento das atividades e

dos atores que atuam no entorno das nascentes e mananciais, expandindo essa

análise para todo o espaço urbano, aplicando as técnicas de geoprocessamento,

que auxiliam no estudo das questões pertinentes ao tema.

Para a realização do estudo que se segue, foram utilizados levantantamentos

sistemáticos da estrutura geoambiental da bacia hidrográfica que será abordada no

capitulo seguinte. No mapeamento, foram utilizados imagens de satélite Landsat -

TM5 de 1999, fotografias aéreas digitais do mesmo período e estudo de campo;

posteriormente, foi realizado o zoneamento utilizando o software MapViewer6 para a

produção dos mapas temáticos sobre a problemática geoambiental urbana e da

bacia do Rio Verruga, no sentido de questionar a atual situação sócioambiental da

área e gerar informações que subsidiem na formulação de ações do poder público

que viabilize uma cidade mais equilibrada do ponto de vista social e ambiental.

5.1. O Geoprocessamento na análise geoambiental.

68

Page 69: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O processo de geração de informações geográficas utilizando SIG supõe o

uso de técnicas cujo processo é complexo, envolve as diversas fases que

compreendem o geoprocessamento.

No plano conceitual o geoprocessamento é um conjunto e não apenas um

ramo específico das técnicas avançadas para registrar os fenômenos geográficos, o

tratamento e armazenamento dos dados para a confecção de um mapa. Neste caso,

o georreferenciamento das informações e seu processamento necessitam dessas

técnicas abordadas. A este conjunto de técnicas é denominado geotecnologias

(TEIXEIRA & CHRISTOFOLETTI 1999).

Brito&Rosa, (1996) chamam atenção para a diferença básica entre

geoprocessamento e o Sistema de Informações Geográficas observando que, o

software e sua aplicação fazem a diferença determinando a interface entre ambas.

Há que se considerar que essas tecnologias são interdependentes.

O geoprocessamento pode ser definido como sendo o conjunto de tecnologias destinadas a coleta e tratamento de informações espaciais, assim como o desenvolvimento de novos sistemas e aplicações, com diferentes níveis de sofisticação. Em linhas gerais o termo geoprocessamento pode ser aplicado a profissionais que trabalham com processamento digital de imagens, cartografia digital e sistemas de informação geográfica. (BRITO&ROSA 1996, p.7).

Assim diferem o geoprocessamento e SIG somente no trato do conceito, pois

geoprocessamento e SIG são interdependentes. Pelo fato de serem

interdependentes, o geoprocessamento envolve todas as etapas do processo de

desenvolvimento da informação desde o princípio, na geração da imagem e seu

processamento, tornando-se importante na confecção da base cartográfica, (dados

vetoriais) que permite confiabilidade e visualização da informação além de consulta

na própria imagem (dados raster). Assim, a entrada de dados espaciais e de seus

atributos tem como ponto de partida essas tecnologias.

Neste caso, destacam-se a fotografia convencional, produzida a partir de

levantamentos aerofotogramétricos, e o processamento de imagens orbitais obtidas

por satélite. É importante ressaltar que nenhum processo de geração de mapas a

partir de imagens orbitais e, ou fotografias aéreas exclui o trabalho de campo -

69

Page 70: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Reambulação. Neste contexto, a cartografia digital é utilizada na produção da base

cartográfica onde serão implementadas as informações geográficas.

A aplicação do GPS (Global Positioning System) é muito importante para o

georreferenciamento dos dados. Para Teixeira&Christofoletti (1999),

georreferenciamento é a “Situação em que uma entidade geográfica é referenciada

espacialmente por meio de sua localização, utilizando para tal um sistema de

coordenadas conhecidas”.

E por último, o Sistema de Informações Geográficas propriamente dito,

compondo o bloco das geotecnologias. No entanto, cabe analisar o SIG no contexto

do geoprocessamento; para Brito&Rosa:

O Sistema de Informação Geográfica é um caso especifico do Sistema de Informação. Seu desenvolvimento começou em meados da década de 60. O primeiro sistema a reunir as características de um SIG foi implementado no Canadá, em 1964, sendo chamado de “Canadian Geographic 1nformation System”. Em seguida foram desenvolvidos outros sistemas. Dentre eles podemos destacar os sistemas de New York Land use and Natural Resources Information Systems (1967) e Minnesota Land Management Information System (1969). Nas décadas posteriores ocorreram consideráveis avanços em equipamentos e software. permitindo o desenvolvimento de sistemas mais potentes e novas aplicações, popularizando principalmente os CAD’s (Computer Aided Design). cujos objetivos são diferentes dos SIG’s, No começo da década de 80. A evolução da tecnologia foi afetada pelos avanços cm hardware e software, com o uso mais efetivo na manipulação das informações geográficas, bem como a ligação entre a base de dados gráfica e alfanumérica (BRITO&ROSA, 1996. p.8).

Do ponto de vista conceitual, Teixeira&Christofoletti(199), consideram SIG um

Sistema baseado em computador, que permite ao usuário coletar, manusear e

analisar dados georreferenciados. Nessa direção, de forma mais abrangente, ROSA

ampliam o raio de ação do SIG incluindo a base cartográfica, para que seja dada a

referência espacial destacando, como parte de um sistema mais amplo. Destaca

ainda que a tecnologia do SIG automatiza tarefas que eram feitas manualmente

facilitando complexas análises, através da integração de dados de diversas fontes.

Assad&Sano,(1993) destacam a agilidade de manipular as informações,

considerando o geoprocessamento, e dentro dele o SIG, como sistema destinado

ao tratamento automatizado de dados georreferenciados que manipula dados de

diversas fontes e formatos dentro de um ambiente computacional ágil e capaz de

70

Page 71: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

integrar as informações espaciais temáticas e gerar novos dados derivados dos

dados originais.

Para Lamparelli et all. (2001), ocorre uma divisão dentro do SIG formando um

sistema que engloba programas, procedimentos e módulos, ou subsistema integrado

e projetados para dar suporte ao armazenamento, processamento, análise,

modelagem e exibição de dados ou informações espacialmente referenciadas,

constituída numa única base de dados. Embora apareçam os subsistemas, estes

não são independentes, mas visam permitir a manipulação das camadas e ou layers

em módulos de acordo com o objetivo do SIG. Nesta perspectiva, pretende-se que

vários setores utilizem o mesmo sistema, ou parte dele, em rede, ou de forma

individual a partir de uma matriz única-a base cartográfica georrefenciada.

Hoje o Sistema de Informações Geográficas tem sua aplicação em vários

setores, desde o comércio, até nas mais avançadas empresas de telecomunicações.

Todavia é no serviço público que se nota a carência desse meio de informação. É

importante ressaltar que há outros tipos de informações conhecidas apenas como

informações gerenciais, cujo plano se assenta em uma base de dados sem

vinculação com a base cartográfica.

Nesta mesma linha, ASSAD & SANO (1993) ampliam o conceito de SIG

destacando suas principais características chamando atenção para a possibilidade

de:

- Integrar numa base de dados, as informações espaciais provenientes

de dados cartográficos, dados de censo e cadastro urbano e rural,

imagens de satélite, redes de MNTs ( modelos numéricos de terreno)

- Combinar várias informações através de algoritmos de manipulação,

para gerar mapeamentos derivados;

- Consultar, recuperar, visualizar e desenhar o conteúdo da base de

dados geocodificadas.

Dentro dessas características, temos um esboço da aplicação do SIG em

áreas específicas, tendo como produto final o desenho, aqui classificado como

mapa. O que se propõe, pois, com o sistema, é a associação da base cartográfica,

com as variáveis a serem operacionalizadas e, realizado o georreferenciamento;

associar ao banco de dados chegando ao objetivo que é a geração de documentos

71

Page 72: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

relacionados à Cartografia Temática. Todo esse processo deve levar então à tomada

de decisões via consulta e visualização.

Hoje, com as avançadas técnicas de obtenção de fotografias aéreas digitais e

a evolução da aerofotogrametria é possível adquirir produtos de qualidade e

precisão. O avanço no imageamento por satélite também tem dado suporte ao

mapeamento. Consideramos, entretanto, algumas dificuldades que estão sendo

sanadas a partir do uso do Satélite Ikonos, que gera produtos em escala grande

para cadastro urbano.

Outro avanço a ser considerado é o georreferenciamento por parâmetros

orbitais que permite estabelecer coordenadas UTM e geodésicas com facilidade.

Seguem-se os avanços na área da geodésia com o surgimento do GPS de precisão

e das Estações Totais. O importante é a aquisição dos produtos que permitam

precisão e qualidade. Notamos que as dificuldades encontradas referem-se ao preço

destes produtos, o que muitas vezes o valor é alto para o poder público em

prefeituras de pequeno porte.

Diante das considerações sobre Geoprocessamento e SIG observa-se que a

Cartografia tem papel importante no processo de geração de uma base de dados, a

elaboração da base cartográfica deve requerer critérios rigorosos visando facilitar

problemas na alocação dos dados geográficos.

O conceito de cartografia tem sido objeto de discussão durante o processo de

evolução desta ciência. Assim, para chegar à sua conceituação passa-se,

necessariamente, por uma discussão inicial que diz respeito ao conceito da própria

Cartografia, tendo como base as definições apresentadas por diversos autores. Para

Oliveira, por exemplo, a cartografia é:

Vocábulo criado pelo historiador português Visconde de Santarém, em carta de 8 de dezembro de 1839, escrita em Paris, e dirigida ao historiador brasileiro Adolfo Varnhagem. Antes da divulgação e consagração do termo, o vocábulo usado tradicionalmente era cosmografia. 2. Conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas, baseado nos resultados de observações diretas ou de análise de documentação, visando a elaboração e preparação de cartas, projetos e outras formas de expressão, bem como a sua utilização (ACI). OLIVEIRA (1988:97).

Embora se limitasse à carta topográfica como conceito inicial e posteriormente

ao mapa, os conceitos vinculavam aos procedimentos apenas analógicos – mapa

impresso sobre papel. Estes procedimentos envolviam observação direta,

72

Page 73: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

preparação de originais e produção final do mapa. Com a evolução da produção

cartográfica, da obtenção de fotografias aéreas e da geomática, o conceito evolui as

aplicações em meio digital.

Com os avanços da geomática e dos sistemas CAD, CAC e CAM e demais

aplicações em meio digital, o conceito modifica e, conforme Brito&Rosa (1996),

“Pode ser entendida como sendo a tecnologia destinada à captação, organização e

desenho de mapas”. Para ASSAD E SANO (1993) “Mapa é uma representação

gráfica dos fenômenos geográficos geralmente numa superfície plana e que num

ambiente computacional, a noção deve ser entendida para incluir diferentes tipos de

dados geográficos, como imagens de satélite e modelos numéricos de terreno”.

Conceitos mais recentes que levam em conta as novas técnicas dão conta

que a Cartografia é a Organização, apresentação, comunicação e utilização da

geoinformação nas formas visual, digital ou táctil que inclui todos os processos de

preparação de dados, no emprego e estudo de todo e qualquer tipo de mapa.

Nesse sentido, ocorre uma ligação direta do mapa com o Sistema de

Informações Geográficas, tanto em meio digital quanto analógico. Convém observar

que recentemente há uma definição do mapa como: Apresentação ou abstração da

realidade geográfica, ferramenta para apresentação da informação geográfica nas

modalidades visual, digital e tátil. No caso específico da base cartográfica, convém

observar sua função no Geoprocessamento, pois é essencial ao SIG, uma vez que

lhe é parte intrínseca. Assim, a base cartográfica é:

Um mapa que contém os elementos planialtimétricos fundamentais necessários à apresentação de um determinado espaço geográfico. Um conjunto de dados cartográficos arranjados em forma de mapa, propiciando referencias para os dados do usuário. TEIXEIRA & CHRISTOFOLETTI (1999p 55).

Sobre as diferentes formas de apresentação do mapa OLIVEIRA (1988)

estabelece as diferenças básicas entre a carta, o mapa e a planta. Neste caso,

interessa-nos os conceitos sobre carta a planta. É fato que o traçado urbano toma

várias formas, dependendo da topografia. Embora, ainda um pouco impreciso,

alguns autores, como OLIVEIRA, destaca que:

73

Page 74: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Carta urbana é uma carta em escala grande das áreas de concentração populacional incluindo os seus subúrbios, em geral com a representação detalhada dos logradouros públicos e das informações inerentes às ruas; dos edifícios mais importantes e outras características compatíveis com a escala da carta. Sempre que houver importância, o relevo será representado. O mesmo que planta da cidade. (OLIVEIRA 1988 p. 83).

No plano conceitual, a cartografia temática parte sempre de um mapa básico

ou mapa de fundo. Embora pareça menos rigoroso na precisão, é necessária uma

base segura para evitar erros de análise e tomada de decisões. Será neste mapa

que deve-se fazer a leitura e buscar informações para análise espacial. Portanto,

todas as informações contidas no mapa devem ser o mais próximo da realidade

evitando, no trato estatístico, intervalos longos, adotando escalas compatíveis e

simbologias adequadas. Estabelece-se assim que Cartografia Temática:

Trata da parte da Cartografia que diz respeito ao planejamento, execução e impressão de mapas sobre um fundo básico, ao qual serão anexadas as informações através da simbologia adequada, visando atender às necessidades de um publico especifico (DUARTE, 1995, p.7)

Para Brito, a coerência é importante para a representação dos fenômenos ao

afirmar que “A Cartografia Temática é um ramo especifico da Cartografia, cujo maior

objetivo é apresentar a distribuição espacial de uma ou mais ocorrências ou

fenômenos sobre uma base cartográfica coerente ou precisa”. (BRITO, 2002, p.5). É

comum a concepção de que o mapa temático deve emitir uma informação ou

comunicar, observando que “Da mesma forma que a representação gráfica em geral,

a Cartografia Temática em seu âmbito especifico, tem uma tríplice função: registrar,

tratar de comunicar informações” (MARTINELLI, 1991, p.38). Neste caso, chamamos

atenção para o fato de manter os dados sempre atualizados através de registros

temporários. Martinelli (2002) destaca o processo de informatização na elaboração

de mapas temáticos. A substituição do mapa elaborado analogicamente por meio

digital pode ser encontrada hoje em softwares mais comuns para SIG que permitem

elaborar mapas temáticos a partir de bases disponíveis e ou adicionadas. Assim:

Hoje, grande parte da geração, tratamento e fornecimento de informações estão automatizados. Diz-se da informática, a ciência que aplica à informação um tratamento lógico e automático. É possível, assim, acelerar o fluxo de informações solicitadas pela demanda, diminuindo sensivelmente o tempo entre as observações de campo e a disponibilidade das informações para os usuários (MARTINELLI, 1991, p. 43).

74

Page 75: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Do ponto de vista dos que tratam com rigor o SIG, o mapa temático não se

constitui como tal, mesmo em meio digital, mas é produto do SIG. Os requisitos de

um SIG de maior envergadura podem ser notados no processo de mapeamento

temático digital, desde sua precisão até possibilidade de georreferenciamento. É

certo, também, que todo SIG gera mapas temáticos. Todavia, não é senso comum

que todo programa de mapeamento temático seja, por natureza um SIG.

MARTINELLLI (1991) propõe um sistema mais abrangente envolvendo a

realidade e resultando no mapa. Refere-se à realidade mapeável em contato com a

realidade reconhecida no espaço. Destaca o papel do mapeador como responsável

pela informação que permita que o leitor extraia a informação de forma mais fácil.

Tudo tem como início e final o mapa.

A leitura e análise do mapa requerem experiência acumulada e técnica, bem

como um procedimento coerente por parte do cartógrafo ou mapeador a fim de evitar

distorções no processo de extração de informações do mapa.

5.2. Geoprocessamento e planejamento ambiental em bacias hidrográficas

O planejamento nos moldes convencionais é destinado prioritariamente para

áreas de maior concentração humana, sem preocupar-se com as demais porções

territoriais. Com isso, os resultados são limitados e não resolvem os problemas

propostos. No entanto, o planejamento numa proposição dialética, implica a

compreensão do ambiente de forma ampla e holística, de modo que as ações sejam

visualizadas no todo, porém, detalhável ao nível necessário para enfrentar os

problemas diagnosticados.

As bacias hidrográficas facilitam essa proposição, na medida em que

consegue integrar diversas especificidades das relações sociedade-natureza. Uma

delas é o processo de urbanização, principalmente quando esse processo

concentra-se em bacias hidrográficas de grande relevância, neste caso, há um

grande confrontamento de problemas a serem analisados.

75

Page 76: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Assim, o planejamento ambiental é fundamental para a elucidação dos

diversos problemas existentes, oriundos das relações sociedade-natureza e para

uma fluidez da análise proposta. Mas não somente isso, é preciso saber que o

planejamento nos moldes tradicionais, sempre priorizou e valorizou o econômico em

detrimento das demais questões, neste sentido, o planejamento ambiental deve ser

visto como um agente diferenciado e integrador, que promove a equidade social e as

práticas culturalmente adequadas e que privilegie a qualidade de vida. Para Franco

(2001), o planejamento ambiental passa pelo planejamento territorial estratégico,

econômico-ecológico, sociocultural e agrícola, acrescido do planejamento urbano,

hidrográfico, geomorfológico, hidrogeológico entre outros. Almeida (1999) fala a

respeito do planejamento ambiental baseado na superação de conflitos:

Sendo o planejamento ambiental um processo de tomada de decisões, relativo a um conjunto de problemas interdependentes da produção social do espaço, significa que este planejamento se dá num contexto em constante mutação, caracterizado por um alto grau de incerteza [...] a antecipação da definição de ações a serem realizadas implica o estabelecimento de um equilíbrio dinâmico ente compromisso e flexibilidade. (ALMEIDA, et al., 1999, p. 128).

Neste contexto, o Geoprocessamento entra como um dos recursos que

proporciona ao planejamento ambiental, o detalhamento necessário ao diagnóstico e

prognóstico de forma mais abrangente e ao mesmo tempo holístico. Dada a sua

flexibilização ou pelo grau de interdependência proporcionado no processo de

tomada de decisões.

No caso da analise sócio-ambiental em bacias hidrográficas, o

geoprocessamento, utilizado no planejamento, resulta no Geoplanejamento, que na

visão de VEIGA&XAVIER-DA-SILVA, (2004 p.194.) “pode ser entendido como um

processo gerador de conhecimento necessário para a análise de uma determinada

área geográfica, levando em consideração a territorialidade e a espacialidade dos

fenômenos envolvidos e suas características geoambientais”.

O geoplanejamento proporciona uma maior amplitude na analise sócio-

ambiental, uma vez que desenvolve-se com ele ações paralelas entre o diagnóstico

e o prognóstico dos problemas detectados no processo, conforme o esquema da

figura 6. Assim, os termos geoplanejamento e planejamento ambiental passam a ter

76

Page 77: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

uma simultaneidade, embora o planejamento ambiental possua características

resultantes da atuação dos processos de produção e reprodução social do espaço.

O geoplanejamento resultaria de uma especificidade transversal das categorias de

análise da geografia.

Fig. 6: Esquema interpretativo do Planejamento Ambiental e Geoplanejamento urbano Em bacias hidrográficas. (adaptado de Canholi (2005); Xavier da Silva (2004)

Planejamento Ambiental e Geoplanejamento urbano em Bacias Hidrográficas

I- Inventário

Dados Cartográficos e fisiográficos da bacia

Dados hidrgeologicosda drenagem da bacia

Dados da ocupaçaoe uso do solo da bacia

Dados da qualidadeda água

II- Formulação

MAPAS DIGITAIS BÁSICOS

MAPAS DIGITAIS ANALÍTICOS

INFORMAÇÃO

III- Mapeamento digital

objetivos e metas do plano, problematização,linhas de ação

elaboração coletiva do plano

implementação e gestão do plano

IDENTIFICAÇÃOCLASSIFICAÇÃOCORRELAÇÃOZONEAMENTOAVALIAÇÃOPREVISÃO SIMULAÇÃO

IV - Análise das alternativas

Diagnósticosócio-ambiental

definição das alterantivas

viabilizaçãodas propostas

V - Avaliação

Prognóstico

comparaçao eanálises

Monitoria e(re)avaliação

Tanto o planejamento ambiental quanto o geoplanejamento, são vistos como

processos dinâmicos e interdependentes que podem ser visualizados por etapas: a

primeira delas é o inventário que consiste na compreensão da realidade da bacia

hidrográfica para a proposição do diagnóstico no qual permite avaliar os principais

77

Page 78: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

problemas da bacia, inserindo-se neste contexto o geoprocessamento que, subsidia

o geoplanejamento.

Posteriormente, a etapa do prognóstico que configura como uma das mais

importantes do ponto de vista sócio-ambiental já que, propicia alternativas de

intervenção, mediante a adoção de cenários. Um outro ponto do planejamento

ambiental participativo, é a capacidade de gestão plena das proposições do plano de

ação, nesta etapa, requer uma flexibilidade maior e uma continua evolução do

processo, por meio da fiscalização, da avaliação e reavaliação, da revisão e da

administração dos problemas advindos.

5.3. Procedimentos metodológicos da pesquisa e os requisitos para o mapeamento temático da bacia

A analise Geoambiental integrada e reflexiva, fornece um arcabouço teórico-

metodológico que permite uma investigação mais consistente para a compreensão

da complexidade ambiental, pois o ambiente não é a ecologia, mas a complexidade

de mundo. Sendo assim, a emergência dessa temática, possibilita dentro da escala

do trabalho, entender as potencialidades e limitações de cada espaço geográfico,

permitindo estabelecer perspectivas de utilização, planos de manejo e de

conservação dos recursos e restrições ao uso. Fornece também subsídios para

avaliação da qualidade dos ambientes e de sua capacidade assimilativa das

pressões decorrentes da ocupação e da exploração dos recursos. Este elenco de

correlações, análises e sínteses permitirão uma compreensão mais detalhada das

condições sociais e hidroecológicas da área para a conclusão da analise e

diagnóstico sócio-ambiental.

Inicialmente faz-se necessário o uso de abordagens temáticas com análise,

seleção e hierarquização dos atributos dos componentes naturais e sociais da bacia

hidrográfica. Posteriormente, uma analise do uso desses componentes pelo ser

humano. Para detectar o nível de degradação geoambiental da área e os possíveis

desequilíbrios ocorridos com os sistemas, principalmente no tocante à parte

78

Page 79: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

hidrológica, revelando as contradições do processo de produção do espaço neste

contexto.

O mapeamento dos processos sócio-espaciais da área urbana, em escalas

temporais e espaciais, define uma analise da produção e reprodução das relações

sóioespaciais e das relações de produção desenvolvidas no lugar.

A análise das ações humanas seja de cunho urbano e ou rural, que propicia

as relações campo-cidade, possibilitará uma avaliação do nível de interferência

nas condições naturais do rio seja por assoreamento, por desmatamento da mata

ciliar, da poluição e contaminação das águas que consiste na degradação ambiental.

Os estudos da capacidade e potencialidade hídrica da bacia permitem

entender os processos atuantes na alteração da estrutura natural tanto da drenagem

quanto a composição fluvial de todo o percurso analisado para se estabelecer o

potencial e as limitações do Rio e de parte da bacia que o integra.

A avaliação climática viabiliza o entendimento da organização do clima e sua

relação com a distribuição fitoecológica e limitações do regime hídrico. A análise da

precipitação permite o entendimento do potencial erosivo, elemento essencial para

conhecimento da ecodinâmica.

O estudo de vegetação por meio de uma definição fitoecológica, aponta as

formações, subformações, vegetação secundária e antropismo. A análise da

distribuição florística quando relacionada com seu suporte ambiental (solo, relevo e

clima) condiciona o estabelecimento do arcabouço geoambiental que compõe o

trecho estudado.

A etapa posterior consiste em proceder interações temáticas através de

sucessivos níveis de síntese, de acordo com as reflexões acerca da complexidade

ambiental. Este mecanismo de correlação interdisciplinar conduz à identificação da

estrutura e da dinâmica dos espaços diferenciados para composição do Diagnóstico

sócio-ambiental.

Estão sendo efetivadas correlações entre as diversas ações humanas

praticadas no contexto do território da bacia hidrográfica e os atuais parâmetros das

condições de conservação da vegetação, da água e dos demais condicionantes

ambientais; correlações entre os atributos geomorfológicos e as estruturas

litológicas, resultando em unidades morfoestruturais; correlações entre o relevo e os

79

Page 80: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

solos, na compartimentação morfopedológica e na geração de dados para obtenção

das relações pedogênese/morfogênese necessárias para análise da ecodinâmica.

Foi feito um levantamento de dados juntos aos órgãos competente tais como:

Ibama, CRA, SRH, seguido de entrevistas e questionamentos junto à população

local, que mantém relações utilitaristas com o Rio, seus mananciais e nascentes.

Além da observação direta das condições geoambientais da área

Na aplicação da metodologia e do programa escolhido para esta pesquisa

utilizou-se fotografias aéreas e imagens orbitais para o mapeamento. Para o

geoprocessamento e a análise cartográfica foi utilizada ferramentas tais como:

MAPVIEWER6, SPRING e outros softwares de CAD. Essa integração de softwares

permite um melhor aproveitamento dos dados e amplia a possibilidade de melhor

qualidade no produto final que são os mapas e cartas da área.

A base metodológica utilizada neste trabalho consiste na associação de diversas

técnicas de geoprocessamento, tais como sensoriamento remoto, com a utilização

de imagens orbitais e do uso do sistema de informações geográficas – SIG. Em face

da heterogeneidade dos dados e informações obtidas e manipuladas no presente

trabalho e devido ainda, a utilização de diferentes métodos de análise, os mesmos

estão sendo apresentados separadamente por tema desenvolvido.

A base cartográfica digital utilizada foi elaborada a partir do Mapa Oficial da

Cidade, desenvolvido pela CAR-PRODUR-BA, e atualizada por mim para a

realização desta pesquisa.

A base geopolítica e administrativa foi produzida com o uso de técnicas de

vetorização em autocad 14 e mapviewer6. Está referenciado com coordenadas

planas no sistema de projeção Universal Transversa de Mercator – UTM, e

organizado em camadas ou layers com diferentes informações. Existe uma base a

nível municipal da bacia hidrográfica e, uma outra da área urbana de Vitória da

Conquista – BA, contendo as nascentes e mananciais da bacia do Rio Verruga. A

fonte dos dados refere-se a diferentes órgãos tais como a arquivos municipais,

dados do IBGE e de órgãos Estaduais.

Foram elaborados mapas dos diversos temas que compõe o meio físico da

bacia hidrográfica. Os dados dos levantamentos da estrutura Geoambiental foram os

do projeto Radambrasil folha SD24 SALVADOR, de 1980. Com superposições de

80

Page 81: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

imagens de satélite, de cartas topográficas e por visita em campo para checar as

informações.

Dentre os mapas elaborados destacam-se: o mapa fisiográfico da bacia

hidrográfica, mapa de geomorfologia, de geologia e mapa de solos mapa da

cobertura vegetal e mapa da distribuição da vegetação; mapa de uso do solo e

mapa do atual estágio da cobertura vegetal;. Além desses estão os mapas do

espaço urbano ocupação urbana; Carta imagem da área urbana; Cobertura Vegetal

urbana; Áreas de Preservação Ambiental – área urbana Uso do Solo urbano;

drenagem urbana.

Foi feito também uma avaliação do estado ambiental com um mapa que

demonstra as áreas de preservação da bacia. Bem como um mapeamento da

transposição de águas para o abastecimento humano em Vitória da Conquista, além

da analise dessa transposição, seguida de uma analise do sistema de tratamento de

águas residuais despejadas na bacia, por meio do mapeamento da estrutura e

funcionamento da estação de tratamento de água – ETE da EMBASA.

81

Page 82: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

6. MAPEAMENTO DA ESTRUTURA GEOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA

6.1. Apresentando a bacia do rio Verruga

A Bacia Hidrográfica do Rio Verruga drena a porção Centro-Sul do Município

de Vitória da Conquista - BA, parte da porção Sudoeste de Barra do Choça e parte

da porção norte do Município de Itambé. Suas águas correm de Noroeste para

Sudeste, indo desaguar no Rio Pardo, próximo à cidade de Itambé-BA. Ocupa uma

área de aproximadamente 918,01 km2. Ver mapas, (fig. 7 e 8).

FIG. 7: Carta imagem da bacia hidrográfica do Rio Verruga e seu posicionamento de drenagem.

82

Page 83: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Fig. 8: Mapa dos limites intermunicipais da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga.

O Rio Verruga nasce na Serra do Periperi – área urbana de Vitória da

Conquista, em uma reserva ecológica que preserva sua nascente, também

conhecida como nascente do Poço Escuro. Os afluentes mais importantes, da

margem direita, são: o riacho Santa Rita, Córrego Lagoa de Baixo e Rio Periquito,

83

Page 84: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

enquanto que, da margem esquerda, são os Córregos Leão, Jeribá, Córrego do

Moreira e rios D’Água Fria, dos Canudos, Santa Maria, riacho José Jacinto, córrego

Riacho Seco e riacho da Areia.

6.2. Caracterização geoambiental da Bacia do Rio Verruga.

A bacia do Rio Verruga, drena uma área de 918 km2, seu padrão de

drenagem é o dendrítico e o subdentrítico, embora, localmente, ocorram trechos

subordinados a falhamentos. A rede de drenagem caracteriza-se por afluentes em

sua maioria perenes, enquanto o Rio Verruga flui comumente sobre um leito

pedregoso e chato, em certos locais formando rápidos. A maioria dos vales

apresenta-se em forma de “U”, medianamente abertos, com fundos chatos e

geralmente colmatados.

O mapeamento geológico da bacia evidenciou três unidades geológicas

distintas. Uma extensa faixa de cobertura detrítica com depósitos do Terciário

orientados no sentido sudoeste noroeste do território da bacia é margeada por uma

extensa camada do complexo Caraíba-Paramirim, que possui rochas do Pré-

Cambriano inferior, com mais de 3 bilhões de anos. Conforme o mapa da figura 9

observa-se outras formações menores que aparecem principalmente na porção

central próxima à calha do rio, destacando-se a formação de depósitos aluviais e

coluviais do quaternário.

As formações recentes compreendem aos depósitos aluvionais e coluvionais

de acumulação detrítica do quaternário, sendo que nesta unidade, as ocorrências,

ficam restritas à calha do rio principal e seus afluentes com espessura e extensão

muito pouco perceptíveis na escala de trabalho adotada. Entretanto, apesar da

pequena representatividade cartográfica, armazenam volume razoável de água

subterrânea - manancial de grande importância para a significativa parcela da

população rural que habita as áreas ribeirinhas.

As Coberturas Detríticas dizem respeito à unidade, relacionadas ao Plioceno-

Pleistoceno. Encontra-se amplamente distribuída na área da Bacia Hidrográfica do

rio Verruga, (ver o mapa, fig. 9). Apresenta-se disposta discordantemente sobre

84

Page 85: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

unidades pré-cambrianas do Complexo Caraíba-Paramirim, e granitóides diversos,

com cotas altimétricas entre 700 e 1 100 m. Ocorre com maior representatividade no

Planalto de Conquista, segundo uma extensa faixa irregular que, centraliza toda a

malha urbana de Vitória da Conquista. Encontram-se, na maioria das vezes,

representadas por uma espessa capa de material detrítico amarelado, fino-médio,

areno-argiloso e conglomerático, mal consolidado.

Fig. 9: Mapa de Geologia da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga

85

Page 86: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Segundo Lima et al. (1981), o material que forma os platôs elevados do

Planalto de Conquista - não pode ser designado com precisão como sedimento, pois

não apresenta quaisquer evidências dos mecanismos formadores, seja hidro ou

pneumodinâmicos. Para Lima, constitui, na maior parte, elúvios, isto é, material

proveniente do intemperismo das rochas subjacentes e não transportado ou

brevemente transportado aos sopés das encostas dos platôs (colúvios).

É comum ocorrer uma cobertura de material alterado, amarelo-avermelhado,

tratando-se, quase sempre, de material coluvial, freqüentemente com ocorrência de

linhas de seixo na base. A erosão superficial por escoamento difuso e concentrado

se faz notar nas bordas que limitam os topos desse planalto, através de ravinas e

sulcos que entalham escarpas de declividades variáveis.

O padrão de drenagem básico é dendrítico, tendendo, localmente, para o

angular, tendo os vales um espaçamento regular, numa rede de drenagem incipiente

e pouco ramificada, onde a maioria dos vales apresenta-se em forma de "U",

medianamente abertos, com fundos chatos.

A recarga do sistema ocorre, principalmente, através de infiltração direta da

pluviometria ou a partir dos cursos de água, durante o escoamento superficial no

período chuvoso, o que evidencia o controle topográfico nas condições estáticas da

água armazenada no aqüífero.

O escoamento subterrâneo deve indicar um fluxo comandado pela topografia

e pelos eixos de drenagem superficial (níveis de base), com as divisórias das linhas

de fluxo coincidindo grosseiramente com os limites dos pequenos sistemas

tributários do rio Verruga.

No que se refere aos exutórios do sistema, as fontes difusas nos sopés das

encostas, localizadas geralmente no contato dessas coberturas com a rocha sã,

fornecem um volume razoável de água, indo, algumas delas, constituir pequenos

riachos enquanto alguns sejam sazonais. A rede hidrográfica processa trocas

hidráulicas com esses sedimentos detríticos através das aluviões, recebendo, nos

períodos de estiagem, parcelas escoadas em direção aos níveis de base (rios e

riachos), como também realimenta esse domínio sedimentar nos períodos de

enchente, sendo o primeiro processo bem evidente no leito de alguns riachos

86

Page 87: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

intermitentes, que, apesar de não apresentarem fluxo, conservam, a despeito dos

rigores do clima, águas empoçadas em seus leitos.

De certo modo, esses depósitos representam um sistema aqüífero que

constitui uma opção para exploração de água subterrânea na porção meso-ocidental

da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga. Além dessa franca suscetibilidade à

exploração hídrica em subsuperfície, esses sedimentos constituem uma importante

fonte indireta de realimentação das rochas cristalinas subjacentes, devido à sua

melhor poropermeabilidade.

O potencial hidrogeológico dessa área é baseado, sobretudo, nas condições

favoráveis do relevo, solos, litologia e vegetação, que são realçadas pela extensa

área de ocorrência. Ainda assim, a potencialidade do sistema afigura-se muito

variável, ficando mais condicionada às zonas de maior espessura, onde predominem

fáceis mais arenosas, capazes de proporcionar melhores condições de

permeabilidade e transmissividade.

O Complexo Caraíba-Paramirim representa uma seqüência Polimetamórfica e

polifásica, cuja evolução remonta desde o Pré-Cambriano Inferior. É uma das

unidades de maior distribuição geográfica na área da Bacia do rio Verruga, estando

bem exposta numa faixa orientada no sentido NO-SE, com cerca de 20 km de

largura e 30 km de comprimento, que ocorre entre a encosta oriental do Planalto de

Conquista e a Depressão Itambé-Itapetinga. Morfologicamente, se expressa em

áreas serranas bem encaixadas (serra do Marçal), com intensos processos de

dobras e dissecação.

Trata-se de formas de grande porte, onde a drenagem faz incisões profundas,

com vertentes íngremes de inclinação entre 30º e 45º, sendo comum a formação de

espessa camada de regolito. A drenagem é muito densa, em padrão dendrítico,

sendo os vales, em geral, profundos, em forma de "V" e com fundos, colmatados

pelo material coluvial das encostas. Alguns rios e riachos apresentam trechos

retilíneos, adaptando-se às estruturas.

Os interflúvios compõem-se de rampas de espraiamento e denudação. Os

limites dessa depressão são definidos a leste, em grande parte por falhas de direção

NNO-SSE, que se evidenciam por alinhamentos da rede de drenagem (vales

adaptados a estruturas) e do relevo. O escoamento superficial difuso e concentrado

87

Page 88: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

entalha sulcos e ravinas em toda esta porção formando, às vezes, alvéolos de

cabeceira. Assinalam-se, também, nas vertentes, terracetes e outras marcas de

movimento de massa.

A capacidade de armazenamento hidrológico nesta unidade da bacia está

condicionada à tectônica ruptural, tendo as zonas de tensão, que conduzem à

existência de fraturamentos mais abertos, um condicionamento estrutural mais

favorável que áreas de esforços de compressão, sobretudo, se esses se

desenvolveram sobre rochas xistosas ou de competência similar.

Segundo o Projeto RADAMBRASIL Folha SD24 (1981), a região cristalina em

questão é cortada por um sistema de fraturas longitudinais, orientadas

aproximadamente para NO-SE. Entre estes falhamentos, ocorrem inúmeras

pequenas fraturas transversais, mais recentes, que controlaram em grande parte

trechos da rede hidrográfica.

Os trechos de sujeição dos riachos ao fendilhamento são vistos com

relevância por se tratar de "riachos-fenda" – dentro do conceito exposto por Siqueira

(1967) - que delimitam áreas onde a alimentação dos reservatórios-fenda é muito

efetiva.

De acordo com o projeto RADAMBRASIL folha SD24 (1981), as principais

contribuições ao armazenamento hídrico nesta unidade da bacia, parecem ocorrer

nas zonas de superposição fratura-drenagem, onde além de haver maiores

possibilidades de retenção das águas pluviais, os cursos de água podem assegurar

uma efetiva realimentação através das aluviões, durante os períodos de intensidade

pluviométrica. As perdas por capilaridade podem assumir grande importância,

conduzindo ao aceleramento da concentração salina, principalmente, onde as

condições de fluxo são precárias. As descargas através de pequenas fontes - muitas

delas difusas e sazonais -, existentes no sistema fraturado, ocorrem em função de

condições propícias de alimentação e circulação, bem como do controle topográfico,

que permite a intersecção dos níveis de água livres nas fraturas com a superfície do

terreno ou por contato entre o manto de intemperismo e o embasamento rochoso

impermeável.

A geomorfologia da bacia revela uma morfodinâmica (Tricart, 1977) que

compreende basicamente três unidades de relevo predominantes no território.

88

Page 89: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Essas unidades podem ser constatadas conforme o perfil longitudinal do rio

principal. (ver fig.10), nele foi feita uma representação esquemática da topografia de

forma linear, demonstrando a ocupação urbana e as feições geológicas-

geomorfológicas da área da bacia do Rio Verruga.

ESCUDO CRISTALINOCOMPLEXO CARAIBAS PARAMIRIM

ITAMBÉ

COBERTURAS DETRITICAS-TERCIÁRIO

PLANALTO DE CONQUISTA COBERTURAS DETRITICAS- TERCIARIO

ESCUDO CRISTALINO- ENCOSTA ORIENTAL DO PLANALTOCOMPLEXO CARAIBAS PARAMIRIM

ESBOÇO GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICO

MACIÇO RESIDUALSERRA DO PERIPERI

DEPRESSÃO ITAMBÉ ITAPETINGACOMPLEXO CARAIBAS PARAMIRIM

0 10 20 30 40 50 60 70 80 KM

m1050

950

850

750

650

550

450

350

250

Poço Escuro

ÁREA URBANAVITÓRIA DA CONQUISTA

RIO

VERRUGARIO PARDO

RIO VERRUGAPERFIL LONGITUDINAL

N-NW S-SE

Fig. 10 – Perfil longitudinal e esboço geológico-geomorfológico do rio Verruga

A região do alto rio Verruga, conforme o mapa do relevo e perfil longitudinal

do rio (ver fig.10 e 11) possui altimetria entre 750 e 950m que corresponde ao

Planalto de Conquista, dos domínios dos planaltos dos geraizinhos. Possui um

relevo sem variações abruptas de nível, apresentando uma extensa faixa de terrenos

aplanados de topografia tabular - exceção a serra do Periperi, na área urbana de

Vitória da Conquista, onde encontra-se a sua principal nascente que está acima do

nível geral do planalto, com cotas entre 1.000 e 1.100m, esse detalhamento foi

contrastado no mapa 3D do relevo demonstrando os diversos níveis de terreno da

bacia hidrográfica do Rio Verruga.

Na porção do alto-médio Rio Verruga, a dissecação se intensifica com uma

media densidade de canais de drenagem e maior aprofundamento dos cursos de

água, descobrindo rochas pré-cambrianas do Complexo Caraíba-Paramirim, e

biotitas granitóides. Um segundo trecho do Rio entre Serra do Marçal e Itambé, as

89

Page 90: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

cotas altimétricas decrescem para 500 - 800 m, com relevo muito movimentado e

intenso grau de dissecação variando consideravelmente em trechos reduzidos, o

que corresponde à Encosta Oriental do Planalto de Conquista.

Figura 11: Mapa do relevo sombreado.

90

Page 91: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A unidade de Piemonte representa a Encosta Oriental do Planalto de

Conquista, cuja estrutura e bastante dissecada, pertencentes ao escudo cristalino

representando altitudes médias de entre 600 e 900m. Logo após a encosta oriental

do Planalto de Conquista, situa-se a unidade pertencente aos domínios da

depressão Interplanáltica Ab’Sáber (2005) (unidade geomorfológica depressão

Itambé-Itapetinga). (ver mapa, fig. 12).

Fig. 12 Mapa geomorfológico da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga

91

Page 92: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A porção do médio-baixo curso do Rio Verruga corresponde a uma superfície

deprimida, com cotas altimétricas entre 300 e 600 m, cercada, em parte, por relevos

residuais (Serra do Olho D água em Itambé), geralmente dissecados em colinas e

morros, eventualmente rochosos. Esta porção encontra-se submetida a clima

subúmido a semi-árido, com precipitações médias anuais em torno de 950 mm,

sendo a cobertura vegetal constituída de Floresta Semidecidual, que está sendo

progressivamente devastada e transformada em pastagens.

Com relação aos tipos de solos, foram mapeados apenas os tipos de solos

predominantes numa determinada faixa territorial, destaca-se os solos do tipo

Latossolo Vermelho Amarelo Álico e Distróficos com mais de 60% do território, e os

solos do tipo Argissolo situados principalmente nas encostas do planalto de

Conquista. Veja o mapa da figura 13.

92Fig. 13: Mapa de Solos da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga

Page 93: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Há um predomínio dos Latossolos Vermelho-Amarelos de textura argilo-arenosa,

sendo comuns áreas de pastagens e de cultivo de café na faixa territorial

correspondente ao alto Rio Verruga, onde também assenta-se a área urbana de

Vitória da Conquista. Próximo à Itambé, no baixo Rio Verruga ocorrem, solos do tipo

Argissolo, associado com o Brunizém Avermelhado e solos Aluviais.

O clima da área da bacia possui uma variação que acompanha os diferentes

conjuntos topográficos conforme a sua dinâmica, temos uma predominância do clima

Úmido a Subúmido na faixa correspondente à Encosta Oriental do Planalto de

Conquista, com totais pluviométricos que variam entre 1000 a 1500 mm anuais. (ver

mapa da fig. 14.).

Fig. 14: Tipologia climática da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga

93

Page 94: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Verifica-se uma faixa de transição do tipo Subúmido nas extremidades da

Encosta Oriental do Planalto de Conquista, com totais pluviométricos que variam

entre 900 a 1200 mm anuais, tendo um déficit hídrico nos períodos de estiagem.

Apresenta estação chuvosa no outono-inverno e primavera-verão; há também uma

faixa mais seca com o clima predominante de Subúmido e Semi-árido no topo do

Planalto da Conquista e na Depressão Itambé-Itapetinga, com totais pluviométricos

que variam entre 700 a1000 mm anuais.

Para a faixa de clima subúmido a semi-árido da bacia, o Instituto de Nacional de

Meteorologia - INMET, 2008 elaborou um balanço hídrico baseada na classificação

de Thornthwaite (1948), Conforme essa composição climática evidencia-se um

balanço hídrico que representa um período chuvoso de reposição das águas no solo

entre outubro e março sendo uma estação definida das chuvas, com um

armazenamento máximo de 100 mm mensais e um longo período de estiagem que

representa um déficit hídrico no solo que vai de 0 a -40 mm conforme os gráficos da

fig. 15.

Fig. 15: Balanço hídrico e armazenamento d’água da Bacia Hidrográfica do Rio Verrugatrecho do Planalto da Conquista. Fonte: INMET-2008

A transição de áreas úmidas para áreas de menor umidade na Bacia do Rio

Verruga pode ser constatada através da vegetação com áreas de florestas densa

indo em direção a áreas de florestas de transição entre caatinga e mata bem como

pelos tipos de solos que possuem uma sucessão entre solos zonais álicos e

distróficos a medida que a disponibilidade hídrica torna-se menor. Toda essa

94

Page 95: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

95

Com relação ao estágio atual da cobertura vegetal, pode-se perceber que os

maciços florestais nativos em estágios mais avançados de sucessão ecológica estão

confinados nos limites da Bacia do rio Verruga ao Sul e Sudeste, onde se observa

resquícios de áreas florestadas classificadas como: Floresta Ombrófila Densa e

Floresta estacional decidual e semidecidual, correspondendo a menos de 10% do

território, (gráfico 2, fig. 16). Estes remanescentes localizam-se principalmente em

áreas de intensa atividade agropecuária da Bacia, com grande concentração da

pecuária extensiva e do cultivo do café.

A cobertura vegetal nativa da Bacia hidrográfica do rio Verruga, comporta

basicamente três tipos de vegetação predominante, conforme mapeamento e, dados

da classificação do RadamBrasil (1981). Entre eles destacam-se a Floresta Ombófila

Densa Submontana, cobrindo 44,7% do território; a Floresta Estacional

Semidecidual com 24%, a Floresta Estacional decidual com 30,76% e, 0,54% do

território ocupado com uma vegetação endêmica na Serra do Periperi. (Ver fig. 16)

variação climática pode ser explicada pela compartimentação topográfica da Bacia

que é muito diversificada isto é vai dos 300 aos 1100 m de altitude.

6.3. Cobertura vegetal na área da Bacia do rio Verruga.

PERCENTUAL POR TIPO DE COBERTURA VEGETAL NATURAL

24,0%

44,6%30,7%

0,6%

Fl. Est. SemidecidualFl. Est. DecidualAPAFl. Ombrófila Densa

FONTE: Mapa da cobertura vegetal natural- mapview er6/2007

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Fl. Est.Semidecidual

Fl. Est. Decidual APA Fl. OmbrófilaDensa

PERCENTUAL DESMATADO POR TIPO DE VEGETAÇÃO NATIVA

REMANESCENTESDESMATAMENTO

FONTE: Mapeamento digital mapviewer6/2007

Fig. 16: Gráficos do percentual de cobertura vegetal e do desmatamento

Page 96: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Sócioespacial Urbana: do Mapeamento ao Planejamento Ambiental na Bacia do Rio Verruga - Vitória da Conquista – BA.

Fig. 17: Mapa de Vegetação Nativa da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga.

96

Fig. 18: Mapa do estágio atual da cobertura vegetal na Bacia Hidrográfica do Rio Verruga.

Page 97: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Sócioespacial Urbana: do Mapeamento ao Planejamento Ambiental na Bacia do Rio Verruga - Vitória da Conquista – BA.

O mapa da distribuição da vegetação da bacia (fig. 17), evidencia tipos de

cobertura vegetal que segundo Ab’Sáber (2006), correspondem às matas atlânticas

transformadas em matas costeiras e orográficas pelo rebordo da encosta oriental do

planalto dos Geraizinhos onde também situa-se o planalto de Conquista que define a

drenagem da bacia do Rio Verruga. O mapa do estágio atual da cobertura vegetal,

figura 16, por outro lado, nos permite uma quantificação dos usos, segundo a

densidade de vegetação. Assim, pode-se verificar que excluindo a área urbana, 85%

do território da bacia apresentam-se carente em arborização e áreas verdes (áreas

Florestadas), As áreas mais carentes, segundo o mapeamento, situam-se nos

distritos sede e em áreas com intensa ocupação por pastagem. De acordo com o mapeamento do estágio atual da vegetação e do uso (fig. 18),

fica evidenciado que a ausência da cobertura vegetal interfere diretamente na

hidrologia dos solos da bacia, provocando uma ação pedogenética em detrimento da

morfodinâmica em condições antes existentes. Com o desmatamento, o equilíbrio da

dinâmica da bacia é quebrado, afetando todo o ciclo hidrológico e, por conseguinte,

o volume de água na bacia.

As conseqüências dessa ação podem ser traduzidas pelo aumento do

escoamento superficial da água, principalmente no médio curso da bacia do rio

Verruga que possui um grau de dissecação do relevo muito forte. Com isso, a

redução da infiltração da água no solo e uma diminuição da evapotranspiração;

paralelo a isso ocorre o aumento da temperatura na área, aumentam a incidência de

vento sobre o solo, além da redução da fauna local e da flora mesoregional e local.

97

Page 98: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

PARTE III – ANALISE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA DO RIO VERRUGA

98

Page 99: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

7. A PROBEMÁTICA AMBIENTAL NA BACIA DO RIO VERRUGA

Os problemas ambientais dizem respeito às formas pelas quais se produz o

espaço geográfico, Rodrigues (1992 p. 14), mas não somente na produção espacial,

como também em sua reprodução, pois, na medida em que a sociedade amplia sua

ação sobre a natureza, há sempre uma produção e uma reprodução espacial. Essa

reprodução é manifestada, sobretudo pelas relações dominantes de produção que

como afirma Soja (1993 p.115), são reproduzidas numa espacialidade concretizada

e criada.

Assim, a problemática ambiental deve ser analisada no âmbito da produção e

reprodução espacial. No caso do estudo da bacia hidrográfica do rio Verruga, essa

problemática terá o seu prognóstico pela classificação do uso do solo e a análise da

qualidade da água, bem como uma análise da qualidade de vida dos moradores,

sobretudo da população urbana da cidade de Vitória da Conquista – BA, que

concentra a grande maioria da população urbana no território da referida bacia.

7.1. Uso do solo na bacia do rio Verruga uma base para o prognóstico geoambiental.

A análise do espaço ocupado e produzido socialmente na bacia hidrográfica do

rio Verruga, teve como base, a interpretação de mosaicos de imagem de satélite

Landsat TM5 e 7 de 1999 a 2004, cruzando essas informações com imagens

CBERS- 2004. Assim, foi possível fazer um mapeamento do uso do solo em níveis e

escalas espaciais diferenciados.

A caracterização do uso do solo da bacia hidrográfica do rio Verruga, tem por

base o nível de ocupação humana no território, partindo do principio que a área da

bacia um dia possuiu uma cobertura vegetal preservada em seu estado natural.

Sendo assim, foi feito um mapeamento da cobertura Vegetal natural, com base na

classificação do RadamBrasil (1981), da qual detectou-se basicamente três tipos de

vegetação predominante na bacia hidrográfica, sendo a Floresta Ombófila Densa

99

Page 100: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Submontana, cobrindo 44,7% do território, conforme já mencionado anteriormente; a

Floresta estacional Semidecidual com 24%, a Floresta Estacional decidual com

30,76% e uma pequena porção de vegetação endêmica no parque da Serra do

Periperi(ver mapa, fig. 19).

Fig. 19: Mapa de uso do Solo e Cobertura Vegetal na Bacia Hidrográfica do rio Verruga

100

Page 101: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Com relação ao trecho de Floresta Ombrófila Densa, constatou-se que do

total mata nativa restam apenas alguns remanescentes florestais com pouco mais de

4% do total da cobertura vegetal, (ver gráfico fig. 20). Isso evidencia o intenso uso

com atividades que ocupam grandes extensões territoriais, como é o caso da

pecuária extensiva que corresponde a mais de 90% da ocupação efetiva nas áreas l

de ocorrência da Floresta Ombrófila Densa.

CLASSIFICAÇÃO POR POR TIPO DE USO E OCUPAÇAO DO SOLO

21,12%

44,07%

2,48%

7,34%

1,21%

4,10%

5,59%

7,70%

5,98%

0,41%

cafeiculturaagr+pastfl est. semifl ombfl est. dpastagempast+veg. agr+past+vegcorpos d água mancha urbana

FONTE: Mapa de uso do solo e pesquisa de Campo set de 2007

Fig. 20: Percentual por tipo de uso e ocupação do solo na bacia.

Nas áreas de Floresta Estacional, ocorre um processo semelhante sendo que

nessa porção da bacia há uma grande ocupação urbana com cerca de 200 km2, o

perímetro urbano de Vitória da Conquista, que possui mais de 70% de sua área

urbana posicionada na bacia do Rio Verruga. A atual cobertura vegetal das áreas de

Floresta Estacional, não passa de 4% do total da bacia, sendo uma das áreas mais

degradadas pela urbanização e pela agricultura tradicional.

O setor da escarpa Oriental do Planalto de Conquista apresenta-se com relevo

muito dissecado, com topos em patamares planos, verticalmente cortados pela

drenagem, gerando vales profundos em "V", com rampas muito íngremes e grotões

101

Page 102: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

úmidos, onde se desenvolve a Floresta Ombrófila Densa. Nos setores com relevo

mais favorável para a ocupação humana, a vegetação natural foi substituída pela

cafeicultura, até onde permite a altitude. Abaixo dos 700m de altitude, observa-se

intenso desmatamento, para produção de lenha e carvão, com conseqüente

introdução da criação de gado. Nestas áreas a pastagem ocupa cerca de 70% do

territorial bacia.

Analisando as condições de uso e ocupação da bacia, constata-se uma

diversidade de usos com um alto grau de variação que evidencia um estágio de

degradação altamente comprometedor no ambiente da bacia, que pode refletir na

alteração da qualidade da água, pelo aumento da turbidez, da eutrofização e do

assoreamento dos corpos d’água; alteração do deflúvio, com enchentes nos

períodos de chuva e redução na vazão de base nas estiagens.

Outro fator importante a ser considerado na análise do uso e ocupação do solo

na bacia do rio Verruga é que o alto índice de desmatamento provoca nessa área

uma redução drástica da biodiversidade, em decorrência da supressão da flora e da

fauna local que representa diversos ecossistemas integrados da bacia.

7.2. Mapeamento da ocupação urbana, áreas de preservação e diferenças sócio-espaciais na Bacia do Rio Verruga.

Neste item, foram estudados detalhes da área urbana de Vitória da Conquista,

com destaque para o mapeamento da cobertura vegetal. Verificam-se áreas com

pouca ou nenhuma vegetação correspondendo a 47% do perímetro urbano sendo

que existem grandes áreas não urbanizadas, mas, no entanto, sem cobertura

vegetal.

Pela análise dos dados obtidos no mapeamento, pode-se afirmar que na sua

maior parte, o território do Rio Verruga especificamente o espaço urbano de Vitória

da Conquista possui um sistema de áreas verdes deficitário, sobretudo nas áreas de

nascentes e mananciais que por lei deveriam estar protegidos, já que são áreas de

preservação permanente, definidas no Código Florestal Federal.

102

Page 103: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

103

Fig. 21: Mapa da cobertura Vegetal urbana no Alto Rio Verruga.

Page 104: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

No mapa da cobertura vegetal do Alto Rio Verruga (fig. 21), a mancha urbana é

predominante em toda a porção central do mapa, indo à direção norte, onde

encontra-se a principal nascente do Rio. Conforme Lefebvre (2004), a formatação da

mancha urbana de uma cidade, revela uma morfologia que dá conta do que as

pessoas fazem no contexto urbano, os traços de mancha urbana, demonstra que

não houve uma preocupação no passado recente com a arborização da cidade na

medida em que poucas são as áreas verdes que intercalam o espaço ocupado pela

urbanização.

Foi elaborado também um detalhamento da área urbana com o trabalho de

sobreposição de imagens de satélite do relevo, do espectro da cobertura vegetal

resultando no mapa de uso e ocupação do solo urbano. (ver Fig. 22).

O uso do solo nas áreas próximas às nascentes e mananciais, com cobertura

detrítica da bacia do rio Verruga é diversificado. Nos fundos de vale planos e

argilosos, as culturas de olerícolas exercem um papel importante nos níveis de

degradação das nascentes da bacia. Ao lado destas, a criação de gado e a

fabricação de tijolos através de olarias rudimentares constituíam e ainda constituem

importantes atividades com alto grau de degradação ambiental. No entanto, a

maioria destas áreas já foi urbanizada e passou a ter um outro caráter quanto ao

uso, predominando neste caso, ocupações irregulares de moradias e atividades

econômicas rudimentares, com precariedade nas construções sejam de oficinas,

serrarias, carpintarias, fábrica de farinha, depósitos, etc.

Em outras áreas de fundo de vale e ou planície de inundação da bacia, ocorrem

o corte de terrenos e aterro, dando lugar a grandes galpões comerciais, como é o

caso da Baixa da Égua, Baixa do Jurema, Baixa do Sapo e toda extensão da

Avenida Bartolomeu de Gusmão que, sofreu aterro de mais de um metro para a sua

instalação.

Em direção à escarpa Oriental do Planalto de Conquista, principalmente na

faixa entre Barra do Choça e Vitória da Conquista, a cultura do café assume

relevância, principalmente nas áreas de relevo plano e suave ondulado, sobre solos

profundos, aliado à criação extensiva de gado.

104

Page 105: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

105

Fig. 22: Mapa de uso e ocupação urbana no Alto Rio Verruga.

Page 106: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Com relação ao uso do solo urbano destaca-se ainda a criação da reserva do

poço escuro e posteriormente, a ampliação para o Parque da Serra do Periperi,

localizado na área urbana de Vitória da Conquista - BA, onde encontra-se a principal

nascente do Rio Verruga, (veja o mapa da fig. 23).

Fig. 23: Mapa de uso e ocupação na nascente do rio Verruga–Reserva

do Poço Escuro.

106

Page 107: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O Parque da Serra do Periperi foi criado pelo Decreto Municipal nº. 9.480/99,

com o objetivo de organizar o uso e a ocupação do solo, preservar áreas verdes e

remanescentes nas encostas e topo da Serra do Periperi, proteger as nascentes

existentes e recuperar as áreas degradadas pela atividade de mineração,

minimizando e corrigindo os processos erosivos decorrentes da degradação

ambiental.

Com a implantação do Parque, foram executadas obras de infra-estrutura,

consistindo na construção de Sede Administrativa (com Módulo de Educação

Ambiental e Núcleo de Apoio à Pesquisa), do Centro de Triagem de Animais

Silvestres, além de canal de drenagem, guarita, cercas e aquisição de veículos e

equipamentos necessários ao desenvolvimento das atividades de monitoramento,

fiscalização e educação ambiental.

De acordo com o mapeamento de uso e ocupação da área principal do parque

da Serra do Periperi, onde encontra-se a reserva do Poço Escuro, constata-se uma

grande pressão da urbanização sobre a cobertura vegetal e das demais estruturas

ambientais da reserva. Já que todo o parque está rodeado por bairros de intensa

ocupação residencial por metro quadrado, destacando-se residências de baixo

padrão o que evidencia uma grande concentração populacional de baixa renda.

Observe o mapa da figura 21. Nele, destaca-se toda essa dinâmica populacional que

mantém uma pressão constante sobre a preservação da reserva e de todo o Parque

da Serra.

Além das áreas já “protegidas” pela criação do parque da Serra do Periperi,

destaca-se, áreas que também necessitam de proteção ambiental permanente por

se tratarem de nascentes pertencentes a drenagem da bacia do Rio Verruga. Tais

como: Planície de inundação Baixa da Égua, planície de inundação Baixa do

Jurema, Planície de inundação do Lot. Leblon, Planície de inundação Lagoa das

Bateias, nascente do alto do Panorama Fazenda Periquito. Mata ciliar do Rio

Verruga trecho urbano, mata ciliar do riacho Santa Rita em direção aos Campinhos,

mata ciliar do Riacho Lagoa de Baixo Campinhos Jatobá; nascente no lot. Morada

dos Pássaros e outros riachos menores.

Em todas essas áreas, observa-se uma diminuição considerável do nível da

cobertura vegetal, até mesmo a vegetação arbustiva, herbácea e ou gramíneas

107

Page 108: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

estão sendo suprimidas pelo processo de urbanização. Constata-se com isso, o

aumento do deflúvio em todos os canais localizados no espaço urbano, provocando

enchentes nos períodos de chuva, causando com isso transtornos aos moradores

dessas localidades.

Tucci (2001) analisa o processo de urbanização em bacias hidrográficas, nessa

analise constata-se que o aumento da densidade de construções e de cobertura

asfáltica, altera o sistema de drenagem natural, aumenta a área impermeabilizada

diminui a carga e recarga subterrânea, já Tundisi (2005, p.41), afirma que a rápida

urbanização altera todo o ciclo hidrológico e a qualidade da águas da bacia

hidrográfica. Esse fenômeno é observado em Vitória da Conquista em a rápida

urbanização da cidade na bacia hidrográfica do Rio Verruga alterou toda a sua

dinâmica natural.

7.3. A transposição de águas interbacias para o abastecimento humano em Vitória da Conquista-BA

O abastecimento de água para a população urbana de Vitória da Conquista é

realizado por um sistema de transposição entre duas bacias hidrográficas distintas,

especificamente, entre a bacia do Riacho Água Fria situada na porção oriental do

Planalto da Conquista e a bacia do Rio Verruga (veja a Carta imagem da figura 24).

Isso porque a intensa ocupação da bacia do Rio Verruga pelo processo de

urbanização que consolidou a cidade de Vitória da Conquista como um centro

regional modificou a qualidade das águas do Rio Verruga, tornado a imprópria para

o consumo humano.

Para entender á lógica desse processo, é preciso saber como ocorre a

materialização da transposição. “O ato da transposição de águas em si é muito

simples de se entender: trata-se do transporte de um determinado volume de água

entre bacias distintas”, SUASSUNA (2000, p.6). Mas para que ocorra essa

transposição é preciso realizar um recalque-também chamado de adução que,

segundo Suassuna (2001) significa o simples transporte de água de um determinado

108

Page 109: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

ponto a outro (geralmente para um local mais elevado) utilizando-se, para tanto, um

sistema de bombeamento d’água, também chamado de sistema adutor.

Figura 24. Carta imagem da transposição de águas interbacias

109

Page 110: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

No caso do sistema de abastecimento de Vitória da Conquista-BA, o seu

funcionamento é pela transposição de águas da barragem Água Fria I e II com

recalque e adução até à estação de tratamento. Veja a ilustração da figura 25

Estação de bombeamento para osreservatórios apoiados

ManancialBarragem Agua Fria I e II

Estação de tratamento d'água

Área urbanaVítoria da Conquista

Área urbanaVítoria da Conquista

bombaduto

reservatório Rio

adutora

estação de bombeamento (recalque das águas)

Barragem Agua Fria I

Figura 25. Esquema de ilustração do sistema de transferência de águas entre a bacia do Rio Água Fria e a bacia do Rio Verruga.

O sistema de abastecimento de água de Vitória da Conquista é operado pela

EMBASA - Empresa Baiana de Água e Saneamento, implantado na década de

1960, com um pequeno reservatório (Barragem Água Fria). Com a expansão urbana

e o aumento da demanda pelo consumo de água, foi construída a Barragem Água

Fria II, logo abaixo do primeiro reservatório interligada por uma adutora de ferro

dúctil com captação flutuante. Observe a ilustração da figura 26.

110

Page 111: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Reservatório Barragem Água Fria I

Reservatório Barragem Água Fria II

Aqueduto p/ água fria I

Reservatório comestação elevatória (REL)

Reservatório Apoiado(RAP 1)

M1200

Reservatório comestação elevatória (REL)

estação de tratamento de água -EMBASA

BACIA DO RIO VERRUGA BACIA DO RIACHO AGUA FRIA

BARRA DO CHOÇA

VITÓRIA DA CONQUISTA

Reservatório Apoiado(RAP 4,5 e 6)

Sistema de Recalque (elevação das águas)

700

1100

800

900

1000

Rio Verruga

Riacho

Água Fria

E-SE

W

0 4 8 12

km

Figura 26. Perfil longitudinal do sistema de transposição de águas para o abastecimento humano em Vitória da Conquista-BA

A água captada na barragem de Água Fria II é encaminhada para o sistema

de recalque da barragem de Água Fria I, através de uma adutora em ferro dúctil,

com diâmetro de 700 mm e extensão de 3.200 metros. A partir do sistema de Água

Fria I, a água é conduzida para a estação de tratamento, também localizada em

terras do município de Barra do Choça, através de uma adutora de 11.900 metros de

extensão em aço carbono, com diâmetro de 700 mm, e mais uma outra linha de

mesma extensão, em ferro fundido cinzento, funcionando em paralelo à primeira.

A estação de tratamento da água é do tipo convencional e, segundo a

EMBASA (2006), possui a capacidade para tratar 1000 l/s sendo constituída das

seguintes unidades: Calha Parshall, floculadores, decantadores, filtros e sistema de

desinfecção. Após o tratamento, a água é bombeada para o reservatório apoiado

RAP 1, localizado na sede de Vitória da Conquista, de onde a água é encaminhada

para os demais reservatórios integrantes do sistema, além dos distritos de José

Gonçalves, Bate Pé, Pradoso, Iguá, e São Sebastião. O consumo de água em

Vitória da Conquista é de 600l/s no verão e 400 l/s no inverno. A embasa realiza

diariamente constantes bombeamentos de água para cotas mais elevadas, pois já

existem ocupações urbanas que atingem a cota de 1080m e, no entanto a estação

de tratamento encontra-se a 950m de altitude. Além disso, há déficit entre o

111

Page 112: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

consumo e a capacidade de armazenamento já que diariamente há um consumo

médio de 45.000m3 de água e os reservatórios comportam apenas 23.000m3.

De toda água consumida pela população de Vitória da conquista cerca de 85% dela

tem a destinação final diretamente nos canais de drenagem da bacia do Rio

Verruga. O que justifica o alto índice de poluição das águas no trecho urbano da

bacia. Tucci (2001) argumenta que o aumento da densidade populacional,

especificamente em área urbana aumenta a demanda por água e em paralelo,

aumenta o volume de águas residuárias que em sua maioria transformam-se em

esgoto in natura estando estes diretamente interligados bacia hidrográfica e espaço

urbano, acabam por deteriorar os rios a jusante da área urbana.

No caso de Vitória da Conquista, esse processo de deteriorização vem desde

a sua origem enquanto núcleo urbano que data dos finais do século XVIII e inicio do

século XX, forçando a busca por águas de outras bacias o que resultou na

transposição das águas da bacia do rio Água Fria para o Rio Verruga, mantendo de

certa forma a perenidade das águas e uma regularidade na vazão das águas com o

despejo de cerca de 45.000m3 de água e esgoto diários no leito Rio Verruga.

7.4. Os múltiplos usos e a qualidade da água na bacia do rio Verruga

A questão da qualidade das águas é uma preocupação mundial que ganhou

evidência com o acirramento do uso pela escassez da água potável. Segundo

Petrella (2004), existem alguns argumentos explicam essa preocupação entre eles

estão: a distribuição desigual de recursos hídricos; o desperdício pelo mau uso e

gerenciamento da água; o aumento da poluição e da contaminação pela indústria e

demais usos e o crescimento populacional. Tais questões aliadas à falta de políticas

públicas e má gestão política dos recursos hídricos, certamente, aumentam a

possibilidade de disputa pela água.

No Brasil, com a sanção da Lei Federal nº. 9.433, de 8 de janeiro de 1997 foi

instituída a Política Nacional de Recursos Hídricos, tendo como um dos fundamentos

gerir tais recursos, proporcionando múltiplos usos, em consonância com objetivos

112

Page 113: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

que assegurem “à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água,

em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”.

A questão da água então, passou a ter uma preocupação maior não somente quanto

ao uso, mas também quanto à gestão política e o gerenciamento dos recursos

hídricos. Isso porque em todo o globo, surgem novas vertentes econômicas tais

como a privatização e concessão dos serviços de exploração e distribuição da água

para diversos fins, principalmente para abastecimento urbano.

Assim surge uma preocupação com a integração da gestão quanto aos

aspectos de qualidade e quantidade, destacando-se, também, a “integração da

gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental”.

Com essa Lei, surge o enquadramento dos corpos de água em classes,

importante instrumento de gerenciamento de recursos hídricos, que demanda um

conhecimento da qualidade das águas a serem geridas e das questões ambientais e

antrópicas capazes de alterá-la. Neste caso, a utilização das normas de qualidade

das águas, garantirá os padrões de qualidade tendo como base parâmetros para a

definição das normas e dos usos múltiplos desejados pela comunidade, preservando

os aspectos qualitativos para a vida aquática e demais usos.

Os parâmetros e respectivos padrões de qualidade da água são determinados

em função dos seus usos preponderantes atuais e futuros. Para garantir o

atendimento das necessidades, a vontade futura dos usuários da água e, a proteção

da vida aquática, os limites fixados devem ser respeitados para que não venha

prejudicar os usos prioritários.

A resolução CONAMA nº. 357 de 2005, dispõe sobre a classificação e

diretrizes ambientais para o enquadramento dos corpos de água superficiais, bem

como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Já a portaria

518/04 do Ministério da Saúde - MS dispõe sobre a qualidade da água para o

consumo humano e normatiza os critérios para a definição do padrão de qualidade

da água. Para Branco (1991), a qualidade da água deve ser entendida de acordo

com o mérito, grau ou valor de uso e não somente pela condição de substância em

questão.

Sobre a qualidade da água, Sperling (2007), afirma que além do ciclo natural

da água, existe um ciclo de alteração de sua qualidade no interior da bacia

113

Page 114: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

hidrográfica, relacionando-se com a intensidade do uso e ocupação do solo na área

da bacia.

Neste sentido, Com o objetivo de verificar o papel da cobertura vegetal na

diminuição dos índices de poluição das águas da bacia, foi realizada uma análise

microbiológica e outra físico-química com as amostras coletadas em diversos pontos

da bacia do Rio Verruga (ver carta imagem da fig. 27) seguindo a metodologia

recomendada pela portaria 518/2004-MS, que define os padrões de potabilidade da

água.

Figura 27: Carta imagem com os pontos de coleta de água par a análise 114

Page 115: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A escolha dos pontos de coleta foi de acordo com o padrão de drenagem da

bacia e pelo grau de intensidade de uso e ocupação da área, principalmente pelos

processos de urbanização.

Assim, foram coletadas amostras em pontos específicos de nascentes e

mananciais da área urbana de Vitória da Conquista - BA, partindo da nascente

principal do rio Verruga na reserva do Poço Escuro, (ver carta imagem da fig. 27),

seguindo para o segundo manancial, a Lagoa das Bateias daí para a jusante dos

canais originários da área urbana; ponto de coleta denominado encontro dos rios:

riacho Santa Rita que nasce na Lagoa das Bateias (amostra 2) com o Rio Verruga

cuja nascente principal é a do Poço Escuro (amostra 1). A quarta amostra foi na

parte intermediária da Bacia (Médio Rio Verruga) e a quinta amostra foi próximo a

cidade de Itambé no Baixo Rio Verruga. Todas as amostras foram coletadas no dia

26 de setembro de 2007, refrigeradas e entregues para analise no mesmo dia.

Os procedimentos para escolha dos pontos das amostras foram elaborados

de acordo com o potencial de uso da bacia e dos índices de conservação da

cobertura vegetal, mapeados e analisados no capitulo anterior, e da análise do

padrão dos corpos d’água e de lançamento de efluentes estabelecidos pela

resolução 375/2005 do CONAMA.

Dentro dos critérios estabelecidos para a analise da qualidade da água, foram

aplicados os Padrões de Potabilidade definidos pelo MS - Ministério da Saúde

através da Portaria nº. 518 de 26/03/2004. Esses padrões, de um modo geral, são

valores máximos permitidos (VMP) de concentração para uma série de substâncias

e componentes presentes na água. As análises foram realizadas no Laboratório de

Controle e Qualidade de água (LCA) da Universidade Estadual do Sudoeste da

Bahia-UESB, de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and

Wastewater” 19th Edition 1995.

As análises físico-químicas das amostras baseou-se em parâmetros para

medição do pH da água (4,0 a 10,0), da condutividade em (μS/cm à 25° C), da

determinação de cloretos (mg/L) e da dureza total (mg/L). Os padrões foram os de

aceitação para consumo humano da portaria nº. 518 de 26/03/2004(MS). Os

resultados físico-químicos tiveram o pH conduzindo para a alcalinidade com quase

115

Page 116: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

todas as amostras acima de pH 7, com exceção da amostra do Poço Escuro que

teve o pH 6,3. Ver quadro da fig. 28.

ANÁLISE FISICO-QUIMICA-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO VERRUGA

242: Amostra 1: Poço Escuro

243: Amostra 2: Lagoa das Bateias

244: Amostra 3: Encontro dos Rios

247: Amostra 4: Rio Verruga – Fim do Marçal 248: Amostra 5: Rio Verruga - Itambé

Resultados2, 3

Amostras Número Parâmetros 242 243 244 247 248

Padrões de Aceitação para consumo humano1

pH 6,3 7,7 7,5 7,3 7,4 4,0 a 10,0 Condutividade 84,0 699,0 921,0 420,0 275,0 μS/cm à

25° C

Determinação de Cloretos 38,0 49,0 48,0 30,0 24,0 mg/L Até 250 mg/L

Dureza total 42,0 39,0 32,0 37,0 33,0 mg/L Até 500 mg/L Observações: 1Valores Descritos na Portaria N° 518 de 25/03/2004 do Ministério da Saúde 2Os resultado desta análise tem significação restrita e refere-se somente a amostra analisada, não podendo ser utilizada em qualquer tipo de propaganda. 3Análises realizadas de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater” Fonte: Laboratório de Controle e Qualidade de Água – LCA-UESB set. 2007 Fig. 28 Análise físico-Química das águas da Bacia do Rio Verruga

Quanto a condutividade, que presume a concentração de sais dissolvidos na

água, verifica-se uma variação de índice conforme as amostras; a amostra

localizada na nascente do poço escuro possui baixa concentração sendo a menor

taxa encontrada com 84 micromhosS/cm, a taxa mais elevada com 921

micromhosS/cm foi encontrada a jusante dos canais da área urbana (amostra 3

encontro do Riacho Santa Rita com o Rio Verruga) nesse trecho culmina todos os

efluentes urbanos domésticos e industriais esses efluentes são carregados de sais,

principalmente o cloreto de potássio o que aumenta consideravelmente a

condutividade elétrica da água do Rio.

Já em relação as fácies química, feita pela determinação de cloretos, corre

com um percentual médio de 37 mg/l, sendo que o maior índice é o da amostra

coletada na nascente da Lagoa das Bateias com 49,0 mg/L, local onde despeja

cerca de 20% dos efluentes in natura da cidade de Vitória da Conquista. Segundo

Sperling, (2007), os efluentes domésticos possuem elevados índices de cloretos,

116

Page 117: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

derivados da urina e outros produtos consumidos pela população urbana. O

segundo índice mais elevado foi justamente o ponto a jusante da área urbana, a

amostra coletada no encontro do Riacho Santa Rita com o Rio Verruga com 48,0

mg/L, nesse ponto converge todos os efluentes e dejetos urbanos residenciais e

industriais inclusive os que saem da Estação de Tratamento da Embasa - SA.

No quesito dureza total, as amostras evidenciam que no geral as águas são

doces e ou moles, isto é, não possuem altas taxas de concentração de minerais que

precipitam o sabão tais como o Cálcio, o Magnésio, o Ferro, o Alumínio o Manganês

e o Estrôncio TUNDISI, (2005), já que a maioria das nascentes da bacia é

proveniente de áreas com estrutura de coberturas detríticas, que possuem rochas

porosas das quais regulam o teor de salinidade dessas águas superficiais.

Do ponto de vista das características físico-químicas constata-se que as

águas da bacia Rio Verruga podem ser aproveitadas para múltiplos usos com

restrição ao abastecimento humano sem tratamento adequado já que há uma alta

concentração de microorganismos contaminantes dissolvidos nessas águas,

resultantes de águas residuárias da cidade de Vitória da Conquista.

Com relação a analise microbiológica das amostras o resultado foi o seguinte:

das cinco amostras analisadas todas tiveram o índice de coliformes totais, maior que

8 NMP/100ml. A determinação no NMP de coliformes foi feita a partir da técnica de

tubos múltiplos, na qual volumes decrescentes da amostra (diluições decimais

consecutivas) são inoculados em meio de cultura adequado, sendo que cada volume

é inoculado em série de 5 tubos. Através do decréscimo dos volumes inoculados

obtém-se uma determinada diluição em que todos os tubos, ou a maioria, fornecem

resultados negativos. A combinação dos resultados positivos e negativos é usada na

determinação do NMP.

Já com relação aos coliformes fecais, constata-se a água já sai de sua

nascente contaminada por fezes; a amostra da nascente do Poço Escuro obteve 1,1

NMP/100ml de coliformes fecais, lembrando que esta nascente encontra-se numa

área de floresta, reserva do Poço Escuro, rodeada por casas populares e invasões.

O índice mais elevado de coliformes fecais foi registrado na segunda amostra

que corresponde a nascente da Lagoa das Bateias. Nesse ponto índice foi maior

que 8 NPM/100ml, (ver quadro da fig. 29). A Lagoa das Bateias boa parte dos

117

Page 118: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

efluentes urbanos in natura diretamente na sua lâmina d’água em seguida a água é

escoada para o Córrego Lagoa de Baixo, desaguando no Riacho Santa Rita e

posteriormente no Rio Verruga a jusante da área urbana. Desse ponto em diante,

foi detectado a ausência de coliformes fecais nas duas amostras seguintes, sendo

encontrado 1,1 NPM/100ml na amostra coletada próximo a Itambé, onde o rio

Verruga encontra com o rio Pardo.

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

Resultados

Presença de Coliformes2, 3

N° Amostra/Descrição Coliforme fecal

Valor máximo permitido1

914 Amostra 1: Poço Escuro > 1,1 NMP/100mL

> 8,0 NMP/100mL 915 Amostra 2: Lagoa das Bateias

916 Amostra 3: Encontro dos Rios Ausente

932 Amostra 4: Rio Verruga – Fim do Marçal Ausente

Ausência em

100 ml

> 1,1 NMP/100mL 931 Amostra 5: Rio Verruga – Itambé Observações: NMP: Número Mais Provável; UFC: Unidade Formadora de Colônia. 1Valores Descritos na Portaria N° 518 de 25/03/2004 do Ministério da Saúde 2Os resultado desta análise tem significação restrita e refere-se somente a amostra analisada, não podendo ser utilizada em qualquer tipo de propaganda. 3Análises realizadas de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater”

Fonte: Laboratório de Controle e Qualidade de Água – LCA-UESB set. 2007

Fig. 29 Análise microbiológica das águas da Bacia do Rio Verruga

Cabe ressaltar que em um trecho de 20 km percorridos pelas águas nascidas

no espaço urbano de Vitória da Conquista - BA existe uma vegetação arbustiva,

entrelaçada por herbáceas que influenciam na limpeza tanto da poluição quanto da

contaminação dessas águas, formando uma zona de autodepuração. Sperling

(2007) define esse tipo de processo como o e autodepuração para Sperling (op.cit.),

a autodepuração refere-se à capacidade de assimilação dos rios. Ou seja, o quanto

um corpo d’água suporta poluentes sem apresentar problemas do ponto de vista

ambiental.

No caso do Rio Verruga, essa capacidade autodepurativa, é facilitada por

possuir um canal de drenagem sobreposto em terrenos planos e ou suavemente

ondulado, sobretudo no trecho que compreende o espaço urbanizado analisado.

Nesse trecho do rio, a água percorre com muito menos carga energética, ou seja,

118

Page 119: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

demora mais tempo para chegar ao destino final, o que facilita o processo de

autodepuração pelo surgimento de uma vegetação em meio ao leito do rio e em

todas as suas margens, mas, segundo Sperling (op. cit), não é somente essa

cobertura vegetal que atua, os diversos tipos de movimento dos corpos d’água no

leito do rio, e o fenômeno de sucessão ecológica, que atua na expansão e

diminuição das bactérias resultantes do processo de poluição atuam na

autodepuração.

Uma outra situação pertinente é a diversificação das características

geoambientais da bacia, principalmente com relação aos aspectos geológicos e

geomorfológicos que comporta três unidades distintas além dos aspectos climáticos

que também variam de acordo com essas diferenciações e, por conseguinte os tipos

de vegetação nativa. Essa condição geoambiental, interfere no regime e

escoamento dos rios e na cobertura vegetal, que são importantes fatores para a

preservação da qualidade dos corpos d’água. Quanto menor a vazão dos rios menor

a capacidade de diluição de poluentes, e quanto menos cobertura vegetal em suas

margens, maior o risco de carreamento de sólidos para o corpo hídrico e

conseqüente aumento do assoreamento dos rios. Como menor também será a

capacidade de depuração dos efluentes ejetados em toda a bacia.

Existem algumas alternativas de controle da poluição por matéria orgânica em

um rio, ou em toda a bacia de drenagem, para isso, é necessário conhecer os tipos

de usos, (ver gráfico da fig. 30).

TIPOS DE USOS DA ÁGUA NA BACIA DO RIO VERRUGA

23%18%

21%

10% 8%6%

14%

Irrigação

Dessedentação animal

Lavagem de roupa

Recreação

Pesca

Abast. humano direto

Outros usos

FONTE: Pesquisa de Campo set/07

Figura 30: Principais tipos de uso da água na bacia do Rio Verruga

119

Page 120: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Quanto ao uso das águas na bacia hidrográfica do Rio Verruga, constata-se

que há uma prevalência do uso para a dessedentação animal, seguido da irrigação

com pivô central, principalmente para a cafeicultura e pastagens, da coleta manual

irrigação de hortaliças, da recreação e do abastecimento humano de populações

rurais. Já que o abastecimento urbano de Vitória da Conquista é proveniente de

outra bacia.

Para a Agência Nacional das Águas – ANA, os usos das águas de uma bacia

podem ser do tipo consuntivo e não consuntivo. Os tipos não consuntivos são os

que mais poluem as águas, pois neste caso, enquadram o despejo de águas

residuárias provenientes de esgoto, o garimpo e a mineração e outros tipos de usos

poluentes.

Assim, em relação às fontes poluidoras das águas, constata-se que as fontes

com grandes riscos para os recursos hídricos da bacia hidrográfica do Rio Verruga,

variam de acordo com nível de usos não consuntivos dessas águas, sobretudo para

o despejo de águas residuárias oriundas do espaço urbano de Vitória da Conquista.

Já que em função do desenvolvimento urbano regional de Vitória da

Conquista, do número de habitantes elevado, das atividades econômicas, a cidade

produz muita água residuária e esgoto que converge para a bacia.

Outro fato é que a população urbana consome muito, principalmente produtos

industrializados com grande número de materiais ditos descartáveis que em sua

maioria não são coletados pelo serviço público e acabam indo para as nascentes,

mananciais e fundos de vale por onde correm as águas dos rios da bacia

hidrográfica. Além disso, a cidade de Vitória da Conquista concentra grande número

de indústrias e casas com serviços especializados que sempre produzem resíduos

altamente poluentes e contaminantes que certamente convergem para drenagem da

Bacia do Rio Verruga.

Conforme LONRANDI&CANÇADO(2005), a poluição hídrica é caracterizada

por qualquer alteração nas condições naturais de um corpo d’água. Evidencia-se na

Bacia do Rio Verruga, um cenário de degradação por diversos agentes de poluição

hídrica. Dentre eles destacam-se a decomposição de matérias orgânicas, o despejo

de águas residuárias, os resíduos sólidos e outros. Essas fontes potenciais de

poluição foram identificadas em grande parte no espaço urbano de Vitória da

120

Page 121: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Conquista, principalmente aquelas relacionadas ao despejo de águas residuárias

nos trechos selecionados para obtenção das amostras de água, mostrando a

relação direta das atividades humanas, com o nível de poluição identificado na

amostragem e nos corpos d’água de toda a bacia hidrográfica.

Os efluentes líquidos urbanos e industriais associados com os resíduos

sólidos configuram as principais fontes potenciais de poluição e representam as

piores situações de risco para os mananciais de água superficial da bacia.

Dos trechos analisados, a maioria possui altos índices de poluição por

termotolerantes e situações de riscos de contaminação da população, principalmente

por coliformes fecais, devido às fontes de esgoto doméstico e dejetos de animais.

Os produtos químicos oriundos das indústrias, da lavagem de roupas e

utensílios domésticos é outra fonte de poluição e contaminação bastante peculiar

nos trechos analisados.

Assim, para o controle dessa poluição, é necessário uma estratégia que

associe o tratamento dos esgotos, o controle da poluição difusa, a regularização da

vazão do curso d’água, a aeração dos esgotos tratados, a alocação de outros usos

para o curso d’água, para estabilizar ou diminuir a quantidades de poluentes que

permanecem nos corpos d’água do rio.

121

Page 122: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

8. AVALIAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DA BACIA DO RIO VERRUGA

O espaço geográfico da bacia hidrográfica do Rio Verruga comporta relações

sócio-espaciais advindas das estruturas espaciais estabelecidas pelo processo de

ocupação decorrente do modo de produção vigente e da relação direta entre

sociedade e natureza. As relações sócio-espaciais passam, sobretudo pelo viés do

capitalismo que se manifesta pela contradição e a tarefa da geografia e da teoria

espacial neste contexto, “consiste em elaborar representações dinâmicas de como

essa contradição se manifesta por meio das transformações” (Harvey, 2005, p.145).

A avaliação sócio-espacial pretendida neste capitulo, visa essencialmente,

trabalhar as contradições desenvolvidas no espaço compreendido pela bacia

hidrográfica, destacando principalmente as condições de uso e ocupação humana,

de saneamento, de moradias, e as condições socioeconômicas que formam a

qualidade de vida dos moradores da área, além das relações de produção

resultantes da ocupação territorial dadas pelas condições naturais e condições

desenvolvidas pela sociedade local.

8.1. Contradições sócio-espaciais e ocupação humana nas áreas de nascentes, vales e fundos de vale da bacia do Rio Verruga.

As condições da ocupação humana na bacia do Rio verruga são definidas

basicamente pela expansão urbana da cidade de Vitória da Conquista – BA que

tiveram sua materialização do núcleo inicial da urbanização e toda a sua expansão

urbana nas margens do canal principal do Rio Verruga e de suas principais

nascentes e mananciais.

Desse modo, as condições geoambientais da bacia foram alteradas

significativamente, mesmo tendo garantido a perenidade de suas águas. O fato é

que toda essa ocupação humana decorrente do processo de urbanização

transformou significativamente a qualidade da água brotada nos mananciais da

Bacia. Veja as fotos da figura 31, nelas percebe-se o uso indiscriminado da água de

122

Page 123: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

uma das nascentes do rio Verruga na Reserva do Poço Escuro em área urbana da

Cidade de Vitória da Conquista-BA.

Foto

s: A

ltem

ar A

. Roc

ha d

ez-0

7.

Foto

s: A

ltem

ar A

. Roc

ha d

ez-0

7.

Fig.31: Lavagem de roupas e utensílios domésticos, nascente do Rio Verruga área urbana de Vitória da Conquista – BA. Fonte: Pesquisa de campo set – 07.

Segundo entrevista com os moradores do Bairro Guarani próximo a essa

nascente onde foi construída a fonte para a retirada de água, o uso desse local para

lavagem de roupas e utensílios domésticos nesse ponto é bastante antigo desde a

década de 1960, época de expansão urbana para o entrono da Serra do Periperi,

onde fica localizada a reserva ambiental e as nascentes do Rio Verruga, dando

origem ao bairro Guarani.

O que foi constatado na pesquisa de campo e comprovado em laboratório,

com analise química e biológica da água, é que desde a sua nascente as águas do

Rio Verruga já estão poluídas e contaminadas, mesmo sendo a nascente localizada

numa área de preservação permanente: a reserva do Poço Escuro, criada em 1981

e posteriormente, transformada em Parque da Serra do Periperi, criado pelo Decreto

Municipal nº. 9.480/99,

Eis aí uma das contradições ambientais na bacia já que o parque foi criado

com o objetivo de organizar o uso e a ocupação do solo, preservar áreas verdes

remanescentes nas encostas e topo da Serra do Periperi, proteger as nascentes

existentes e recuperar as áreas degradadas pela atividade de mineração,

minimizando e corrigindo os processos erosivos decorrentes da degradação

ambiental.

123

Page 124: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

De acordo com a legislação ambiental no Brasil, essa realidade não deveria

acontecer. Principalmente a partir da Constituição Federal de 1988, que em seu

artigo 208, proíbe o lançamento de efluentes e esgotos sem o devido tratamento em

quaisquer corpo d’água.

Mas é com o Código Florestal que fica mais claro a questão do uso e

preservação para áreas que possuem cursos ou corpos d’água, sejam eles recursos

hídricos ou não localizados em áreas de preservação permanente. No artigo 2º do

Código Florestal Federal (Lei 4.771/65), estabelece-se a proteção das formas de

vegetação e limites de ocupação ao longo dos cursos d'água e em topos de morros

e vertentes com declividades acentuadas. Eis que surge no Brasil, a definição das

áreas de preservação permanente, protegidas do ponto de vista da intocabilidade da

cobertura vegetal e da ocupação territorial.

Sendo assim, consideram-se áreas de preservação permanente, as florestas

e demais tipos de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso

d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:

− De 30 metros para os cursos d’água com menos de 10 metros de largura;

− De 50 metros para os cursos d’água que tenham entre 10 e 50 metros de largura;

− De 100 metros para os cursos d’água que tenham entre 50 e 200 metros de largura;

− De 200 metros para os cursos d’água que tenham entre 200 e 600 metros de largura;

− De 500 metros para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 metros.

Consideram-se ainda na atualização do Código Florestal, a mesma condição

para áreas ao redor das lagoas, lagos reservatórios d’água naturais ou construídos;

nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água”, qualquer

que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 metros de largura, nos

topos de morros, montes, montanhas e serras; nas encostas ou partes destas com

declividade superior a 45º, equivalente a 100% na linha de maior declive; nas

restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; nas bordas de

tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo faixa nunca inferior a

100 metros, qualquer que seja a vegetação.

124

Page 125: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Já o artigo 3º da Resolução do CONAMA, n° 004 de 18 de setembro de 1985,

estabelece áreas de proteção legal nos seguintes casos:

− 30 metros ao redor de lagos que estão situados em áreas urbanas;

− 100 metros ao redor das lagoas que estão situadas em áreas rurais;

− 300 metros para restingas a contar da linha da preamar máxima;

− Áreas com florestas naturais e demais formas de vegetação natural situadas em classes de declividades superiores a 45%.

Conforme a analise dessa legislação ambiental percebe-se que a implantação

da Reserva do Poço Escuro onde encontra-se as principais nascentes do Rio

Verruga, ameniza a problemática ambiental decorrente da pressão urbana, mas não

impede a sua contaminação. Já que a proximidade das casas com os mananciais é

latente e o uso dessas águas tornou-se uma “tradição cultural” com mais de 40 anos,

pois, conforme a Embasa (2006), 98,9% dos domicílios localizados nos arredores da

Reserva do Poço Escuro possuem abastecimento de água.

Outra questão a ser considerada é que mesmo com a robustez da legislação

ambiental brasileira sobre o uso, com severas formas de punição aos infratores,

encontra-se nela uma fragilidade que permite a supressão da vegetação dessas

áreas com fragilidade ambiental, “em caso de utilidade pública ou de interesse

socioeconômico”, dependendo do poder municipal, a sua outorga para esses fins.

Vale ressaltar ainda do ponto de vista da legislação para com a questão

ambiental aqui abordada, a importância da Lei Federal n° 6.766 de 19 de dezembro

1979, que trata do parcelamento do solo urbano, restringindo o uso em terrenos com

declividade acima de 30% e definindo reservas para áreas públicas.

Deve-se considerar que essa Lei, foi alterada pela Lei Federal 9.785/99 que

transmitiu a competência de delegar sobre o parcelamento do solo urbano para os

municípios, tornando muito mais susceptíveis às pressões do Capitalismo e dos

setores mais localizados como é o caso da especulação imobiliária.

Em Vitória da Conquista - BA, a Lei Orgânica Municipal de 1990, no capítulo

VI, trata da questão ambiental de forma genérica: o artigo 141 dispõe sobre a

preservação ambiental, fala da recuperação de áreas degradadas sem direcionar as

125

Page 126: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

categorias e ou os componentes naturais a serem preservados. Já em 2006 foi

aprovada a Lei Municipal nº. 1385, estabelecendo o Plano Diretor Urbano que define

as diretrizes de uso e ocupação do solo urbano. O PDU aponta cenários sobre a

questão ambiental de Vitória da Conquista - BA e define quatro unidades

geoambientais que carecem de atenção especial e preservação, ambas estão

situadas na Bacia do rio Verruga.

Atrelado ao plano diretor, foi aprovado o Plano de Saneamento Ambiental

com uma nova Lei Orgânica, sancionada em 23 de fevereiro de 2007, prevendo boa

parte da problemática ambiental urbana de Vitória da Conquista – BA e direciona

algumas ações para este propósito, mas muito pouco do que foi proposto está sendo

executado.

Em junho de 2007, foi aprovada a Lei Municipal nº. 1410, que cria o Código

Ambiental do Município, definindo entre outras funções a promoção e manutenção

de um inventário e mapeamento da cobertura vegetal nativa e dos rios e córregos

além da criação do Fundo Municipal para Recuperação Ambiental do qual receberá

os recursos advindos das penalidades administrativas relativas aos danos

ambientais flagrados no município de Vitória da Conquista e respectivamente na

bacia do Rio Verruga. O código ambiental ratifica a criação do Parque da Serra do

Periperi, da Reserva do Poço Escuro, cria a Reserva da Lagoa das Bateias, da

Baixa do Jurema e confirma outras áreas de preservação permanente de acordo

com a legislação ambiental brasileira em vigor.

A análise das contradições sócio-ambientais decorrentes das diferentes

formas de uso e ocupação das áreas de nascentes e vales e fundos de vales da

bacia do Rio Verruga, parte do pressuposto teórico abordado anteriormente,

relacionando-se com as normas da legislação ambiental vigente, para a proposição

de cenários ambientais e ou sócio-espaciais, de degradação ou não, definidores da

qualidade de vida da população em detrimento dos processos produtivos e das

relações espaciais que definem o uso e ocupações adequadas ou inadequadas para

o modo de vida da atual fase da sociedade contemporânea.

Do ponto de vista da ocupação e aglomeração humana por edificações,

destaca-se a expansão urbana no Alto Rio Verruga, com a crescente urbanização

irregular na Lagoa da Baixa do Jurema, no entorno da Lagoa das Bateias, da Baixa

126

Page 127: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

da Lagoa do Sapo, no entorno da nascente do Córrego São Pedro, nos Campinhos

(planície de inundação, confluência entre o riacho Santa Rita, Lagoa de Baixo e

Córrego São Pedro), entorno da nascente no Bairro Morado dos Pássaros, entorno

da nascente na Urbis VI(Renato Magalhães); aterro por entulho e edificações nas

margens do canal principal do Rio Verruga, cerca 8 km em área urbana com a

supressão da vegetação e conseqüente processo de assoreamento e solapamento

da calha. Veja as fotos da figura 32.

Foto

: Alte

mar

A. R

ocha

dez

-07.

Solapamento da margem direita do Rio Verruga – Visão sobre e sob a Ponte da Av. Luis E. Magalhães - área urbana de Vitória da Conquista-BA : pesquisa de Campo dezembro de 2007.

Foto

s\: A

ltem

ar A

. Roc

ha d

ez-

07Foto

s\: A

ltem

ar A

. Roc

ha d

ez-0

7.

Trechos com assoreamento ao longo do leito do Rio Verruga – área urbana de Vitória da Conquista-BA: Pesquisa de Campo dezembro de 2007.

Foto

s: A

ltem

ar A

. Roc

ha d

ez-

07 Foto

s: A

ltem

ar A

. Roc

ha d

ez-

Áreas de nascentes e mananciais com ocupação urbana – lagoa das bateias e baixa da jurema Figura 32: Fotos da problemática ambiental decorrente dos processos de uso e ocupação na bacia do Rio Verruga: Fonte pesquisa de campo dez/07.

127

Page 128: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Desse modo, fica evidenciado conforme a ilustração da figura 32, que existe

uma ineficácia no Planejamento Ambiental Municipal de Vitória da Conquista e na

execução das políticas e planos executivos que contribuam para a diminuição eficaz

da problemática ambiental da Bacia do Rio Verruga, sobretudo no trecho da malha

urbana, seja por problemas de micro e macrodrenagem, pela supressão da

cobertura vegetal, por acumulo de lixo e entulho, pela poluição e contaminação das

águas com efluentes domésticos e industriais, pela falta de saneamento básico em

mais de 50% da área urbana e, de um saneamento ambiental que contemple o

afastamento das águas residuárias do leito do rio Verruga e seus afluentes da área

urbana, a destinação do lixo industrial para um aterro sanitário industrial. Apesar de

existir uma legislação municipal bem direcionada para a solução dessa problemática.

O fato é que em área urbana os danos ambientais são bem maiores.

GUERRA et all (2002), afirma que o desmatamento associado às construções de

prédios e o surgimento de ruas e avenidas causam uma impermeabilização das

encostas e colúvios, fazendo com que as inundações e sejam cada vez maiores

nessas cidades (grifos meus).

Uma das várias contradições da ocupação humana em bacias hidrográficas é

o da preservação e conservação já que da ocupação humana precede a

urbanização e do crescimento das cidades precede a transformação da natureza

pela produção e reprodução das relações sócioespaciais, mesmo quando existe

uma legislação dizendo como e quando preservar.

Daí, que como ressalta Rodrigues (1996), ”trata-se, assim, de compreender

as contradições desse processo Sócioespacial”, é preciso considerar que a questão

ambiental é plural e universal dentro de uma complexidade que se materializa num

dado território do qual evidencia-se aqui, no estudo da bacia hidrográfica e do

espaço urbano, imbricado de contradições dados pela problemática ambiental

presente em sua espacialidade.

A problemática ambiental deixa claro, a necessidade da delimitação territorial

para analisar os pressupostos do desenvolvimento social e econômico em

detrimento da proposição dos objetivos para o vislumbramento de cenários

ambientais condizentes com a equidade social e manutenção da natureza.

128

Page 129: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

8.2. Condições da ocupação territorial e geoambiental na Bacia do Rio Verruga

De acordo com as condições de uso e ocupação territorial da Bacia do Rio

Verruga, foi possível definir unidades ecodinâmicas da Bacia conforme o mapa da

figura 33, sobretudo o grau de fragilidade conforme o uso e ocupação do território,

aliado as condições geoambientais que estrutura a bacia.

Figura 33: Mapa de unidades ecodinâmicas e grau de fragilidade da Bacia do Rio Verruga

129

Page 130: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Esse comportamento morfodinâmico da bacia foi mapeado com o cruzamento

de informações do relevo, da geologia, dos tipos de solos e da cobertura vegetal da

área, associando-se com os diferentes tipos de uso e ocupação, definindo-se assim

unidades geoambientais com estabilidade no comportamento morfodinâmico e

unidades com instabilidade que variam de intensidade de acordo com a estrutura,

localização na bacia e o tipo de uso. Do ponto de vista da ocupação territorial e da

variabilidade geoambiental, pode se considerar ainda o comportamento

morfodinâmico da Bacia que define áreas de estabilidade e áreas de instabilidade

morfodinâmica (Ross, 2006).

A avaliação do estado geoambiental também evidencia uma serie de outros

processos de degradação, conforme observação em campo, foram detectados

vários pontos de terracetes por pisoteio de gado em terrenos da encosta meridional

do planalto de Conquista que possui alta declividade e dissecação muito forte, foi

detectado também, o surgimento de sulcos e ravinas geradas pelas trilhas do gado

ou em caminhos de acesso às propriedades rurais, sendo que nessa área o

percentual de ocupação pela pecuária extensiva representa mais de 90% do

território ocupado.

Foi dado um destaque especial ao território da bacia ocupado pela

urbanização de Vitória da Conquista, (ver mapa da fig. 34). Nessas áreas o

detalhamento das informações, permite uma maior compreensão do comportamento

morfodinâmico apresentado pela bacia como um todo. Desse modo, conforme Ross

(2001), e com base no cruzamento de informações, o mapeamento do estado

geoambiental do Alto Rio Verruga, trecho urbanizado, apresenta zonas de equilíbrio

e zonas em desequilíbrio ambiental.

− As zonas em equilíbrio ou estabilidade morfodinâmica; são aquelas com

estabilidade natural – cobertura florestal natural Ex. reserva do Poço escuro e

matas ciliares do rio. Estabilidade por urbanização e impermeabilização do

solo em terrenos planos; estabilidade por urbanização de alto padrão.

− As zonas em desequilíbrio ambiental moderado a fraco; foram encontrados

em áreas com relevo suave e ocupação pouco densa; instabilidade forte

relevo de declividade entre 10 e 30%, com ocupação caótica, solos expostos

130

Page 131: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

por retirada de material (areia e cascalho); ex. encosta meridional da Serra do

Periperi;

− As zonas de instabilidade morfodinâmica muito forte com o relevo de planície

de inundação e fundos de vales estrangulados por aterros, pontes,

tubulações, depósitos de lixo e entulho e construções irregulares; ex. Baixa

dos Campinhos, Baixa do São Pedro, Lagoa das Bateias, Baixa do Jurema,

Baixa do Sapo, Praça Vitor Brito Avenida Bartolomeu de Gusmão, Baixa da

Égua, Ponte sobre a Av. Luis Eduardo Magalhães, ambos próximos do leito

principal do Rio Verruga.

Figura 34: Mapa de unidades ecodinâmicas e grau de fragilidade do Alto Rio Verruga

131

Page 132: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Assim, conforme os trabalhos de campo realizados na área da bacia do Rio

Verruga e com base no mapeamento da ecodinâmica da Bacia, a dinâmica de

apropriação territorial aponta para as seguintes tipologias de uso e ocupação:

− Os vales e fundo de vales da bacia estão sendo ocupados por pastagens,

agricultura, atividades de extração de argila e areia, condução de efluentes,

esgoto e moradias;

− As áreas de fundo de vale sofrem intervenções arbitrárias, incluindo

canalizações dos córregos e riachos, destacando-se a área urbana de Vitória

da Conquista-BA que ocupa fundos de vales do Riacho Santa Rita, Córrego

Lagoa de Baixo, Córrego São Pedro, Córrego das Bateias, Córrego do

Jurema e o Rio Verruga.

− As nascentes e mananciais da bacia estão desprovidas de cobertura vegetal

do entorno exceto a nascente principal do Rio Verruga localizada na Reserva

do Poço Escuro;

− As áreas de preservação permanente definidas pelo Código Ambiental do

município estão sendo destinadas ao lazer e em outras, foram ocupadas por

loteamentos e invasões para moradia;

− Em área urbana, os fundos de vale e nascentes, foram transformados em

depósito de lixo, entulho e receptáculos de efluentes domésticos e industriais;

contribuindo para a poluição e contaminação das águas da bacia,

− As nascentes e mananciais da bacia localizadas em área urbana, passam por

um processo de revitalização com a incorporação dessas áreas no plano de

saneamento ambiental da cidade, com a criação da reserva do poço escuro e

do parque da Serra do Periperi, com a construção da Lagoa das Bateias e

urbanização das invasões ali existentes; com a expansão do sistema de

macrodrenagem da cidade.

− As encostas da Serra do Periperi parte meridional, onde localiza-se boa parte

das nascentes da bacia, sofreram corte e aterro para a construção da BR 116

e do Anel Rodoviário, propiciando o intenso processo de ravinamento e

voçorocamento.

132

Page 133: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Mas a grande quantidade de sulcos e ravinas foi detectada no perímetro

urbano com construção de estradas, corte e aterro, principalmente com a

implantação do anel rodoviário após 1999, vários trechos de ravinamento e

voçorocamento surgiram observe as fotos da figura 35.

Fo

tos:

Alte

mar

A. R

ocha

dez

-07.

Figura 35: fotos com processos erosivos nas margens do anel rodoviário, espaço urbano de Vitória da Conquista-BA. Fonte: pesquisa de campo dez-07.

Os processos erosivos do Anel rodoviário ocorrem na drenagem da alça

oeste com canais entre 2 e 15 m de profundidade e cerca de 3 km de extensão

convergem para a baixa do Córrego São Pedro e da alça leste converge diretamente

para o canal principal do Rio Verruga, carreando milhares de toneladas de resíduos

sólidos para as nascentes e córregos da bacia.

Complementando a avaliação do estado geoambiental da bacia, pode se dizer

que os processos erosivos detectados projetam vários pontos críticos na parte

urbanizada da bacia, merecendo destaque além representados pelas fotos da figura

30, outros pontos como a baixa dos campinhos que alguns trechos recebem aterro

133

Page 134: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

naturalmente pelas águas da chuva ou pelas obras de urbanização da prefeitura e

em outros sofrem a retirada de material.

Com relação à drenagem e sua distribuição pelo território da Bacia, constata-

se que com ausência da cobertura vegetal arbórea em quase toda a área da bacia,

ocorre um aumento do escoamento superficial no período das chuvas estrangulando

vários pontos do canal principal do Rio Verruga e diminuindo sensivelmente em

períodos de estiagem, quando o leito do rio fica com o volume mínimo de águas e

em muitos canais de córregos e riachos da bacia, chegam ocorrer a sua

intermitência.

Mas a drenagem que apresenta maiores problemas é justamente na parte do

Alto Rio Verruga, onde encontra-se a malha urbana da Cidade de Vitória da

Conquista-BA.

Nessa parte do Rio, foram verificados diversos processos de canalização,

corte e aterro dos córregos e riachos que formam a bacia, além da criação de canais

de micro e macrodrenagem urbana que convergem principalmente para as áreas de

nascentes e mananciais do Rio Verruga. Suertegaray (2002), afirma que os aterros

urbanos, são soluções técnicas para a criação de novas áreas ou para apropriação

de espaços frágeis. É o que se verifica na bacia do Rio Verruga, principalmente no

espaço urbano de Vitória da Conquista. (Fig. 36).

Entre os problemas detectados com relação à drenagem urbana na bacia do

Rio Verruga, destaca-se: a falta de planejamento para a expansão urbana,

despreocupando-se entre outras coisas com o arranjo do traçado urbano – como a

implantação de longas avenidas, sem rede de drenagem, que no período de chuvas

intensas se transformam em verdadeiros cursos d’água; implantação de vias

preferenciais nas encostas da Serra do Periperi, aumentando a velocidade de

escoamento;

134

Page 135: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Foto

s: A

ltem

ar A

. Roc

ha d

ez-

Canais do alto da Serra do Periperi que convergem para a Lagoa das Bateias

Canal do Córrego Jurema e canal da Av. Luis Eduardo Magalhães ambos convergem para o leito do Rio Verruga Figura 36: Macrodrenagem urbana de Vitória da Conquista-BA com canalização aberta revestida

em pedra, convergindo para o Rio Verruga. Fonte: pesquisa de campo dez-07.

Outra questão são as ocupações arbitrárias das áreas de drenagem natural,

diminuindo o processo de infiltração e aumentando o escoamento superficial das

chuvas; impermeabilização do terreno com a pavimentação asfáltica e construção de

prédios, aumentando o volume das águas superficiais pluviais de forma exponencial

e todo o processo de degradação ambiental. Cunha (2003, p. 229), afirma que “nas

áreas urbanas, as estruturas de revestimento dos canais são utilizadas como

indicador da degradação”.

Ocorre também a retilinização dos canais de drenagem construídos,

aumentando a velocidade das águas pluviais e consequentemente o seu volume nas

partes mais baixas, causando estrangulamento do leito dos córregos e riachos

receptores, daí as constantes inundações em períodos chuvosos, é o caso da de

135

Page 136: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

toda a porção central da cidade, que é cortada pelas galerias fechadas do leito do

Rio Verruga, da Praça Vitor Brito e da Avenida Bartolomeu de Gusmão.

Devido à inexistência de um sistema de esgotamento sanitário em cerca de

50% da cidade, os dispositivos de drenagem existentes, recebem efluentes

residenciais e industriais, sem nenhum tratamento, aumentando os índices de

poluição e contaminação das águas da Bacia do Rio Verruga. Outro fator é a

ineficiência do sistema de limpeza pública, aliado à falta de educação ambiental da

população, em locais em que a coleta é insatisfatória, o lixo é depositado nos canais

de drenagem. (fig.37)

Foto

s: A

ltem

ar A

. Roc

ha d

ez-0

7.

Figura 37. Acumulo de lixo na nascente do Rio Verruga-Reserva do Poço Escuro. Despejo de esgoto in-natura na Lagoa das Bateias. Fonte: pesquisa de campo dez-07

No processo de avaliação sócioespacial da bacia do Rio Verruga, fica

evidente a necessidade de compreender as condições ambientais e os processos de

destruição e degradação da água. Petrella (2004) destaca alguns processos de

degradação da água tais como: a irrigação na agricultura intensiva e industrializada;

a poluição e contaminação causada por atividades industriais e pela falta de

gerenciamento do lixo urbano, entre outros.

Aqui será feito uma analise da degradação da água em detrimento das

condições de saneamento ambiental do espaço urbano de Vitória da Conquista-BA

produzido na bacia do Rio Verruga e que de certa forma, contribui para a

degradação da água da Bacia.

Atualmente o Sistema de Esgotamento Sanitário da cidade de Vitória da

Conquista, compreende duas sub-bacias, integrantes da bacia do Rio Verruga

136

Page 137: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

denominadas pela empresa de saneamento de sub-bacia Oeste e sub-bacia Leste.

A parte oeste da cidade, não possui estação de tratamento de esgoto - ETE.

Neste caso, os bairros que possuem rede coletora, conduzem todo o efluente

in-natura para as nascentes e mananciais da Bacia do Rio Verruga. É o caso dos

bairros Zabelê, Bateias, Nossa Senhora Aparecida, parte do bairro Ibirapuera, Parte

do Bairro Brasil, que distribuem seus dejetos diretamente na Lagoa das Bateias. O

tornando as águas que nascem no local e converge para o Rio Verruga uma das

mais poluídas e mais contaminadas de toda a bacia. Já os Bairros São Pedro, Parte

do bairro Patagônia, Jatobá e Campinhos, destinam os efluentes diretamente nos

canais de córregos e riachos que cortam a sub-bacia oeste.

A parte leste da cidade é parcialmente coberta pela rede de esgotamento

que converge para a estação de tratamento da EMBASA - ETE, localizada nas

margens esquerda do Rio Verruga, próximo ao estádio de futebol Lomanto Junior no

bairro Candeias. No seu entorno existe uma área reflorestada com eucaliptos, mas

devido a proximidade das residências, mau cheiro incomoda bastante os moradores

da vizinhança que compreende um bairro de classe média a alta e uma invasão com

moradias de baixo padrão que segue em toda a faixa ocidental da margem direita do

Rio Verruga, paralelo ao reflorestamento de eucalipto. (Fig.38).

Figura 38. Mapa do entorno da estação de tratamento de esgoto da embasa e sua estrutura de funcionamento.

137

Page 138: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Segundo a EMBASA (2006), a ETE é composta por caixas de areia para

gradeamento e desarenagem dos resíduos e por quatro unidades de tratamento,

que compreende: uma lagoa aerada de mistura completa (LAMC), uma lagoa aerada

facultativa (LAF) e duas lagoas de maturação (M1, M2).

De acordo com a EMBASA (2006), As lagoas funcionam em série, LAMC,

LAF, M1, M2, sendo o efluente final lançado no rio Verruga, (Fig. 39). O sistema

funciona da seguinte forma: A LAMC - lagoa aerada de mistura completa é a

primeira porta de entrada dos efluentes com 10 aeradores de 30cv cada, com tempo

de detenção de 1,5 dias; daí segue para a lagoa LAF, que funciona como lagoa

aerada facultativa com 10 aeradores de 7,5 cavalos cada, com tempo de detenção

de 2 dias; e posteriormente, as lagoas LM1 e 2 que funcionam como lagoas de

maturação, por alguns dias devolvendo os efluentes ao Rio Verruga.

Foto

s: A

ltem

ar A

. Roc

ha d

ez-0

7.

Figura 39: Fotos da estação de tratamento da embasa margem esquerda do Rio Verruga; ao fundo barreira com eucaliptos contra o odor dos efluentes. Fonte: pesquisa de Campo dez-07.

Conforme o relatório estratégico para implantação do Plano Diretor Urbano -

PDU de Vitória da Conquista-BA, a fim de verificar as condições operacionais das

lagoas, foram analisados os valores da Densidade Bioquímica de Oxigênio - DBO de

entrada e saída dos esgotos e os valores de Densidade Química de Oxigênio - DQO.

Para o PDU (2006), “embora, de modo geral, haja eficiência em termos de remoção

de DBO, verifica-se que os valores atingidos pelos efluentes ainda são bem

elevados (30mg/l)”, provavelmente por conta dos resíduos industriais contidos nos

efluentes. Isso aumenta o índice de turbidez das águas do rio Verruga que chega

antes da estação relativamente límpida.

138

Page 139: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O sistema da ETE, atende parcialmente os bairros da sub-bacia leste,

representando cerca de 46% do total de residências do espaço urbano de Vitória da

Conquista, o que evidencia a ineficiência do sistema de coleta e tratamento dos

efluentes produzidos pela sociedade local. Desse modo, a qualidade das águas da

Bacia do Rio Verruga fica totalmente comprometida, inviabilizando o uso para fins de

dessedentação humana entre outros usos.

O processo de avaliação sócioespacial pautado na integração de fatores

transversais que emanam da questão ambiental, foram decisivos para a elucidação

da problemática ambiental da Bacia. Segundo Sperling (2007), uma bacia

hidrográfica possui naturalmente zonas de autodepuração das impurezas,

principalmente as que resultam do despejo de efluentes e esgoto. Para Sperling (Op.

Cit.), numa bacia hidrográfica existem quatro zonas de autodepuração: zona de

degradação, zona de decomposição ativa, zona de recuperação e zona de águas

limpas.

No caso do Rio Verruga, a Bacia está passando por um processo de

degradação ambiental acelerado, especialmente nas áreas de nascentes e próximas

aos vales e fundo de vales. Pois, há uma extensa ocorrência da zona de degradação

definida por SPERLING (op.cit), como zona de lançamento de águas residuárias,

seguida por uma zona de decomposição ativa com ambientes aeróbicos e

anaeróbicos. Na zona de recuperação há aspecto melhorado, mas não consegue

limpar toda a poluição despejada no rio, sendo assim, a zona de água limpa é muito

pequena ou quase inexistente, já que sua a nascente também está poluída e

contaminada por coliformes fecais. Mesmo sendo considerada uma zona de água

limpa por estar localizada numa reserva ambiental protegida por floresta.

Dessa problemática, o que mais sobressai, são os processos erosivos, com

sulcos, ravinas e voçorocas, principalmente nas cabeceiras das nascentes, seguidos

de solapamentos das margens fluviais dos canais de drenagem, acarretando o

assoreamento e muitas vezes a interrupção do leito natural do Rio.

No que diz respeito ao nível de proteção das margens fluviais com vegetação,

no trecho urbano da bacia, a mata ciliar é ausente, em alguns pontos restam pouca

vegetação muito alterada, que exerce a função natural de proteção.

139

Page 140: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Na parte exutória da bacia, a degradação é agravada pela criação extensiva

de gado com cerca de 93% da ocupação do território, conforme o mapeamento de

uso e ocupação.

A degradação das águas da Bacia é agravada pela deposição irregular de

resíduos sólidos em área urbana, provenientes de entulho, lixo residencial e

industrial, além da entrada de efluentes in natura de cerca de 50% do total produzido

pela sociedade Conquistense.

8.3. Emergência de uma nova perspectiva sócioambiental para a Bacia do Rio Verruga.

A interface sociedade-natureza está muito pouco definida do ponto de vista do

conhecimento na atualidade. Na analise sócioambiental deve-se trabalhar a

complexidade que permeia as relações sociedade-natureza de forma mais

consistente, rumo a uma participação maior da sociedade nas decisões sobre

intervenções em quaisquer que seja a problemática ambiental vivenciada.

Atualmente, segundo Leff (2006), “a crise ambiental vem questionar a

racionalidade econômica que induz a destruição da natureza e gera pobreza”. Daí a

emergência de uma democracia sócioambiental, participativa voltada para um

planejamento eqüitativo participativo e articulado, levando à revisão das políticas

sócioambientais autoritárias e centralizadas numa só esfera de poder. O principio de

gestão participativa dos recursos ambientais implica numa democracia ambiental

direta, ou seja, feita a partir das bases em que materializa a questão ambiental e não

somente diante do domínio dos “tomadores de decisão”.

Assim, conforme Almeida et. all. (1998), “No planejamento participativo, a

coletividade deve dispor de mecanismos eficazes para influenciar a condução da

máquina pública, ter acesso aos meios de comunicação e dispor de informações”. A

participação da coletividade torna-se assim, inerente ao planejamento,

140

Page 141: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

principalmente no planejamento urbano ambiental, onde as instancias municipais

atuam com mais freqüência.

Neste sentido, sobremaneira, há que rever a concepção predatória da

sociedade dominada pelo paradigma atuante, na direção de uma condição

emancipatória das atuais formas de gestão da problemática ambiental.

Não cabe aqui, a elaboração de um planejamento efetivo de execução, pois

esse fato diz respeito ao processo político/administrativo, principalmente na esfera

municipal, sobre a questão sócioambiental urbana e pela temática tratar-se também

de uma bacia hidrográfica insere-se no planejamento da esfera Federal e ou

Estadual. O que se propõe é trabalhar na perspectiva de cenários temáticos

definidos por estágios da condição sócioambiental preestabelecida.

Trata-se de um exercício teórico-metodológico para visualizar situações de

recuperação, de conservação e preservação, além da perspectiva da participação

popular e de educação ambiental, tendo em vista a problemática sócioambiental,

decorrente da produção social do espaço.

Os estágios previstos nessa projeção referem-se às condições

sócioambientais em estágio avançado, estabilizado e de recuperação. No estágio

avançado, projeta-se um cenário de precariedade em que a problemática

sócioambiental da Bacia do Rio Verruga prosseguirá sem nenhuma intervenção para

mudar ou minimizar a degradação ambiental pertinente aos processos atuantes

detectados pela pesquisa de campo e pelo mapeamento.

− Expansão das áreas de pastagens e cafeicultura por todo o Território da

Bacia, diminuindo ainda mais as áreas florestadas;

− Expansão do parcelamento do solo urbano da cidade de Vitória da Conquista

que possui vetores de crescimento para a zona sul, em direção ao médio Rio

Verruga.

− Aumento da impermeabilização dos solos pela expansão urbana que

aumentará o escoamento superficial das águas pluviais, aumentando de

forma exponencial o volume das águas dos canais de drenagem da Bacia,

causando estrangulamento e inundações nas partes mais baixas do espaço

urbano;

141

Page 142: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

− Aumento dos processos erosivos, assoreamento dos canais de drenagem da

bacia e solapamento das margens dos canais em área urbana, promovendo

aterramento e desvios da calha fluvial;

− Supressão da cobertura vegetal e das matas ciliares com redução das áreas

verdes do Espaço urbano pela concentração das edificações, incidindo maior

carga pluvial no Rio Verruga e declínio da qualidade ambiental da Bacia e da

cidade de Vitória da Conquista-BA;

− Aumento significativo das ocupações irregulares em áreas de nascentes e

fundos de vale da Bacia na parte urbana de Vitória da Conquista-BA.

O estágio estabilizado demonstra a permanência da problemática ambiental,

mas, contudo, sem progressão, ou seja, há uma tentativa de conter a evolução dos

problemas, sem uma solução definitiva. É o que contempla, por exemplo, o Código

Ambiental Municipal Lei nº. 1410/2007, que prevê:

− Implantação das proposições sócioambientais apontadas no Plano Diretor

Urbano Lei Municipal nº. 1385/06

− A manutenção de 30 metros para preservação permanente das margens dos

cursos d’água da Bacia do Verruga, principalmente os da área Urbana de

Vitória da Conquista-BA;

− Melhoria nos sistemas de micro e macrodrenagem urbana que canaliza para

o Rio Verruga;

− Exigência da legislação em vigor para implantação de novas indústrias com a

Exigência de EIA e RIMA para equipamentos e ou construções o estabelecido

na legislação;

Já o estágio de recuperação, trabalha com uma perspectiva das condições

ambientais em que os cenários de preservação e conservação ambiental, avançam

em direção a uma realidade sócioambiental menos comprometedora do espaço

urbano de Vitória da Conquista-BA e de toda a qualidade sócioambiental do território

da Bacia do Rio Verruga.

− Recuperação das áreas desmatadas que corresponde hoje a cerca de 90%

do total territorial da bacia, começando pelas partes mais elevadas como o

topo dos morros e serras,

142

Page 143: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

− Recompor as matas ciliares, e recuperar a cobertura vegetal das áreas de

nascentes e mananciais da Bacia, obedecendo aos critérios estabelecidos na

legislação ambiental;

− Diminuir ao máximo os trechos canalizados do rio verruga para com isso,

diminuir a sua retilinização que aumenta o volume das águas em períodos de

chuva intensa, provocando estrangulamento dos canais e inundações em

área urbana;

− Recuperar a sinuosidade natural dos rios e córregos nas áreas retificadas por

processos de urbanização, marcando com setas o sentido da correnteza, para

evitar o aumento do volume exponencial das águas pluviais;

− Recuperar áreas degradadas por processos erosivos do tipo ravinas,

voçorocas e deslizamentos de encostas em áreas de risco ambiental, levando

em consideração o ambiente anteriormente existente.

− Redirecionar as atividades produtivas que causam o desmatamento e a

poluição das águas;

− Melhorar o nível de qualidade dos processos produtivos para não interferir

tanto no ambiente da Bacia;

− Implantação de Parques nas margens dos córregos e riachos que cortam o

espaço urbano para melhorar a preservação da cobertura vegetal e as matas

ciliares;

− Elaboração de um plano integrado para a contenção de enchentes na área

Urbana de Vitória da Conquista-BA, contendo os itens a seguir:

− Criação de locais específicos para destinação do entulho, sobretudo, sobras

das construções, para que não seja mais depositados nas margens dos

cursos d’água da Bacia;

− Expansão da macrodrenagem urbana com a implantação de galerias pluviais

transversais ao Rio Verruga no Espaço urbano de Vitória da Conquista-BA,

principalmente nas ruas e avenidas do Bairro Recreio, quebrando a

concentração da carga exutória pluvial num só ponto;

− Alargamento e aprofundamento da calha do Rio Verruga entre a Praça Vitor

Brito, e a Avenida Bartolomeu de Gusmão, seguindo até a ponte de acesso

ao Caminho do Parque, mantendo a sinuosidade do Canal principal do Rio.

143

Page 144: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

− Construção de bacias e ou reservatórios de contenção das águas pluviais nos

diversos pontos críticos de estrangulamento de canais: bacia de contenção 1 -

canal da Av. Rosa Cruz Bairro Lot. Panorama próximo a Av. Presidente

Vargas; bacia de contenção 2 - canal da Serra Urbis IV próximo ao CAIC, Av.

Contorno; bacia de contenção 3 - Canal da Conquistinha fundos da biblioteca

municipal; bacia de contenção 4 - Final do canal da Av. Presidente Dutra na

Lagoa do Jurema bacia de contenção 5 – final do canal da Serra na lagoa das

Bateias, para impedir o rápido assoreamento da Lagoa.

− Alteração do Código Ambiental Municipal, incorporando outras Áreas de

Preservação Permanente, não contempladas na edição da Lei 1410/07. A

saber: a Área da Lagoa do Sapo, Área da Lagoa da Urbis VI, Área da Lagoa

do Morada dos Pássaros área da Lagoa do São Pedro;

− Implantação de dissipadores de energia nas margens do anel rodoviário na

encosta da Serra do Periperi, tanto na alça leste, entre a Serra e a saída para

a Barra do Choça, como na alça oeste, entre a Serra e a Lagoa do São Pedro

para impedir o aumento dos graves processos erosivos existentes nesses

trechos;

144

Page 145: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

9. CONCLUSÕES

A diversidade da natureza estabelecida pelas relações sociedade-natureza, é

“processo e resultado” (Santos 2003). Como resultado tem-se a divisão territorial

comandada pelo trabalho. Como processo, uma nova conceituação que pode ser

entendida como o da biodiversidade. Essa natureza biodiversa, altera todo o

conjunto dos conceitos herdados do paradigma físico, levando a refazer a noção de

estrutura e movimentos da natureza e de recursos naturais a partir de uma nova

forma de percepção e atitude espacial, Moreira (2006).

Nos dizeres de Ruy Moreira, essa nova concepção do espaço geográfico

materializa-se com a nova feição técnica da produção que é a bioengenharia,

deslocando o foco da repetição mecânica promovida pela produção industrial, para a

lógica da diferenciação.

Mas ainda é na cidade que se percebe todo o processo mecânico da

produção industrial promovendo uma diversidade cada vez maior da natureza e da

relação sociedade-natureza. Não somente pelas contradições sócioespaciais

materializadas no espaço urbano, como pelo acirramento da problemática ambiental

decorrente dessas contradições, é o que foi preconizado pelo estudo da bacia do

Rio Verruga e todas as contradições evidenciadas no espaço urbano de Vitória da

Conquista-BA.

A conclusão dos trabalhos expostos aqui neste estudo, formaliza um

referencial destinado a fundamentar pesquisas que refletem investigações

geográficas e ou de cunho sócioambiental, cujas análises se concentram sob as

condições que se fizeram presentes na concepção de todo o arcabouço teórico e da

base epistemológica engendrada nessa produção.

Ressalte-se dessa base epistemológica, a compreensão do significado da

categoria de analise, o espaço e sua articulação com o estudo sócioambiental. Alem

de diversos temas relacionados com a categoria espaço geográfico, articulando no

desvendamento da relação sociedade-natureza, entendida como ponto de partida

para analise sócioespacial elaborada no escopo teórico do planejamento ambiental,

tanto para o espaço urbano como em bacias hidrográficas.

145

Page 146: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Buscou-se a elucidação de questões relativas ao estudo da natureza e da

sociedade, tais como a estrutura e a forma que definem a configuração territorial dos

lugares, tendo como ponto de partida, a analise das relações sócioespaciais da

relação sociedade-natureza e do imbricamento teórico-conceitual dos termos

espaço-tempo e ambiente além da analise da problemática sócioambiental.

Do ponto de vista do planejamento ambiental urbano e em bacias

hidrográficas, houve uma preocupação em evidenciar a participação da sociedade

como ferramenta essencial das políticas de gestão do território, das águas e do

espaço urbano, tendo em vistas a produção social do espaço geográfico. Outro fator

importante é salientar a robustez da legislação ambiental brasileira, mas sem essa

participação popular não teremos a efetivação das eventuais políticas ambientais.

Em escala local, entre 2006 e 2007, mesmo período do desenvolvimento

dessa pesquisa, foi sancionados importantes dispositivos legais referentes à

problemática ambiental materializada na bacia do Rio Verruga e no espaço urbano

de Vitória da Conquista-Ba, mas deve-se ressaltar que somente a legislação não

basta para a efetivação das medidas propostas é preciso um esforço político e uma

maior participação da sociedade na consolidação dessas ações.

O que foi constatado na pesquisa sobre a questão sócioambiental da Bacia

do Rio Verruga, evidenciando entre outras coisas: 1- A ocupação desordenada do

solo urbano; 2- Indústrias poluentes das águas da Bacia; 3- Problemas de

tratamento das águas e do lixo; 4- Problemas de esgotamento sanitário; 5- Baixo

nível de conservação das áreas de preservação permanente; 6- Desmatamento

erosão e perda de solos; 7- Poluição e assoreamento dos corpos hídricos da Bacia;

8- Alta concentração fundiária principalmente as áreas destinadas à criação de gado

de forma extensiva, com o predomínio de mais de 50% do território efetivo da Bacia,

entre outros.

Quanto ao meio físico e ocupação da Bacia, verificou-se que os principais

problemas de caráter estrutural que afetam a ocupação territorial, são os processos

erosivos na encosta da Serra do Periperi e inundações na base do Rio Verruga que

foram canalizados em quase toda a sua extensão urbana. Esses canais não

suportam o volume de água em períodos chuvosos e provocam inundações em

146

Page 147: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

vários trechos da cidade, principalmente na parte central da cidade área de maior

concentração urbana.

A causa destes fenômenos está na conjugação de condicionantes

geoambientais tais como: tipos de rochas, de relevo, presença de descontinuidades

e outros, com as formas de ocupação urbana (supressão de vegetação, aterramento

das várzeas, modificação do perfil natural da encosta pela execução de corte-aterro

lançado, impermeabilização do solo, etc.).

Em relação ao perfil sócioespacial, constatou-se uma desigualdade social,

revelada pela diferenciação das moradias e de todo e desenho urbano materializado

na Bacia do Rio Verruga. No espaço urbano de Vitória da Conquista, verificou-se,

com o mapeamento de uso do solo, apenas dois ou três bairros com um médio a alto

padrão de vida, o que reforça os índices de desigualdades revelados na pesquisa.

Os demais Bairros, na medida em que se distanciam desta área, vão

progressivamente apresentando queda no padrão socioeconômico da população

residente, atingindo os piores índices nos Bairros limítrofes do perímetro urbano e

nas ocupações de vales e fundos de vales, que acabam por formar extensas

manchas de pobreza no espaço urbano da cidade pertencente ao território da Bacia,

justamente nessas áreas, onde concentra-se os maiores problemas sócioambientais.

É necessário apontar outros pontos importantes de análise da dinâmica

sócioespacial e da configuração territorial da Bacia do Rio Verruga que certamente

interfere diretamente no planejamento sócioambiental, entre eles estão: o processo

de urbanização que advinha da concentração de pessoas nesse território; a

consolidação da cidade de Vitória da Conquista como pólo regional, tendo como

base a especialização do comércio e serviços, e a integração da produção industrial

e da agropecuária como suporte para o desenvolvimento de relações de produção, o

que de certa forma intensifica a problemática ambiental da Bacia.

É preciso também considerar que, quando se aborda a questão da ocupação

sócioespacial em bacias hidrográfica e do planejamento ambiental, estes têm sido

dissociados do processo produtivo como se fossem circuitos fechados, sem

nenhuma relação entre os diversos mecanismos que atuam na produção

materializada no território sendo, portanto fragmentada. Essa fragmentação não

permite a compreensão da complexidade da problemática ambiental na atualidade.

147

Page 148: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O gerenciamento integrado dos problemas sócioambientais da Bacia e a

maior participação da sociedade nos destinos da água e de sua qualidade,

promoverá o principio de compartilhamento, conservação e proteção da água. Pois,

o controle da água não pode ser entregue à lógica das finanças e do mercado, já

que a privatização da água restringe o uso e a distribuição, impedindo o acesso de

maior parte da população a água.

Em resumo, analisar a dinâmica sócioespacial, a configuração territorial e

problemática sócioambiental de Vitória da Conquista, cotejada na bacia do Rio

Verruga, não foi fácil, pode se dizer que as estruturas da base ambiental da bacia

são permanentes, mas as mudanças provocadas pelo uso e ocupação e pelo

processo de urbanização da cidade de estão presentes no seu espaço geográfico.

Constata-se que as maiores transformações diz respeito à supressão da cobertura

vegetal, ao alto índice de poluição das águas, o aumento dos processos erosivos

nas encostas entre outros.

Desse modo, a proposição de uma nova perspectiva sócioambiental para a

bacia do Rio Verruga, está pautada no rompimento do atual quadro sócioambiental

da bacia que é representado pela degradação e comprometimento das estruturas

ambientais, pela baixa incorporação da dimensão sócioambiental no pensamento da

sociedade organizada como um todo; pela baixa efetividade das questões

ambientais nas políticas executivas, e pela alta desigualdade socioeconômica que

legitima a pobreza e a idéia de desenvolvimento sem comprometimento ambiental.

Por fim, dizer a melhoria da qualidade ambiental na bacia do Rio Verruga e no

Espaço urbano de Vitória da Conquista passa, sobretudo pela adoção de um plano

de recuperação das áreas degradadas, por um plano de educação ambiental e de

um plano integrado e participativo na tentativa de recuperação e recomposição do

ambiente, pois, percebe-se que ações pontuais não têm surtido efeito, apenas tenta

estabilizar a degradação, mas não impede o processo como um todo. Além disso,

uma tentativa de redução das desigualdades sociais detectadas na pesquisa, pois o

que se verifica é que os maiores problemas ambientais da bacia do Rio Verruga,

estão nas áreas mais pobres da cidade de Vitória da Conquista.

148

Page 149: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB´SÁBER, A. N. Brasil: paisagens de exceção, São Paulo: Ateliê, 2006.

______. Domínios da Natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo:

Ateliê, 2005.

AGUIAR, R. Evolução territorial da Bahia. Salvador: Edba, 1979.

ALMEIDA, J. R. de et. all. Planejamento ambiental: caminho para participação

popular e gestão ambiental para nosso futuro comum: uma necessidade, um desafio.

Rio de Janeiro: Thex Ed. Biblioteca Estácio de Sá, 1999.

ARAÚJO N. M.D.(et. all). Recursos hídricos e ambiente. Brasília: CEOB, 1995.

ASSAD E. D. & SANO E. E. Sistema de Informações Geográficas aplicações na

Agricultura. Brasília. Embrapa/1993

ASSIS, A. S. Fluxos D'água superficiais associados ao relevo Côncavo do Rio de

Janeiro. Rio de Janeiro: anais, Vol. 4 - ABGE/ABMS, 1995.

BACHELARD, G. A formação do espírito científico. Rio de Janeiro: Contraponto,

1996.

BARTH, F.T. et. all. Modelos para gerenciamento de recursos hídricos. São Paulo:

ABRH/NOBEL, 1987.

BAUDRILARD, Jean. A sombra das maiorias silenciosas. O fim do social e o

surgimento das massas. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BRANCO, Samuel Murgel. O meio Ambiente em debate. 26ºed. São Paulo:

Moderna, 1997.

______. A água e o homem. In: hidrobiologia ambiental. São Paulo:

EDUSP/ABRH,1991.

______. Ecossistema, uma abordagem integrada dos paradigmas do meio ambiente.

São Paulo:Edgard Blucher, 1981

BRASIL. Código Florestal brasileiro. Lei nº. 4.771, de 15 de setembro de 1965,

Brasília: MMA, 2006.

______, Ministério das minas e Energia, secretaria-geral, projeto RADAMBRASIL,

Folha SD, 24 Salvador. Rio de Janeiro: IBGE, 1981.

149

Page 150: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

______. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Recursos Hídricos. Política

Nacional de Recursos Hídricos. Lei nº. 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Brasília:

MMA, 1997.

______. Ministério de Estado da Saúde. Norma de qualidade da água para consumo

humano e seu padrão de potabilidade. Portaria nº. 518, de 26 de março de 2004.

Brasília, 2004

______. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente.

Resolução CONAMA nº. 357, de 18/03/2005. Brasília: CONAMA, 2006.

BRITO, J.L.S. Os Solos da Bacia do Ribeirão Bom Jardim e suas Relações com

Relevo e os Recursos Hídricos - Uberlândia (MG). Revista Caminhos de Geografia,

Vol. 2, out./2002.

BRITO, J. L. S.; ROSA, R.. Introdução aos sistemas de informação geográfica.

Uberlândia: UFU, 1996.

CANHOLI, A. P. Drenagem urbana e controle de enchentes. São Paulo: Oficina de

textos, 2005.

CARLOS, A.F. A. O Lugar no/do mundo. São Paulo: Hucitec, 1998.

______. O espaço urbano. São Paulo: Contexto, 2004.

CASSETI, Valter. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: Contexto, 1995.

CUNHA, S. B. da & GUERRA, A. J. T. (Org.) A questão ambiental - diferentes

abordagens, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

______. Degradação ambiental. IN: ______.(Org) Geomorfologia e meio ambiente.

Rio de Janeiro: Bertrand Brasil l996.

DUARTE, P. A. cartografia Básica Florianópolis. UFSC. 1986

______. Cartografia Temática. Florianópolis: UFSC, 1995.

EINSTEIN, A. A teoria da relatividade especial e geral. Trad. Carlos A. Pereira. Rio

de Janeiro: Contraponto, 2003.

EMBASA. Empresa Baiana de Água e Saneamento, Relatório de qualidade das

águas. Salvador: Embasa, 2006.

ENGELS, F. A dialética da natureza. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

FRANCO, M. de A. R. Planejamento ambiental: para a cidade sustentável. São

Paulo: Annablume, 2001.

GEORGE, P. Geografia Industrial no mundo. São Paulo: Difel, 1979.

150

Page 151: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

GOMES, H. A produção do Espaço Geográfico no Capitalismo. (Repensando a

Geografia). São Paulo: Contexto, 1992.

GOTTIEDNER, Mark. A produção social do espaço urbano. São Paulo: Edusp. 1997.

GRANELL-PÉREZ, M. D. C. Trabalhando geografia com as cartas topográficas. Ijuí-

RS: UNIJUÍ, 2004.

GUERRA, A.J.T. et. all. Subsídios para a avaliação econômica de impactos

ambientais. IN: CUNHA, S.B & GUERRA, A.J.T. avaliação e perícia ambiental,Rio de

Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

HARTSHORNE, Richard. Propósitos e natureza da geografia. São Paulo: Hucitec,

1978.

HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.

______. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005.

HEGEL, G. W. F. Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio: II_.Filosofia

da natureza. São Paulo: Loyola, 1997.

INMET - Instituto Nacional de Meteorologia. SEOMA. Seção Observação e

Meteorologia Aplicada. Disponível em http//www.inmet.gov.br acessado em

dezembro de 2008.

LAMPARELLI, R. A. C.; ROCHA, J. V.; BHORGUI, E. Geoprocessamento e

Agricultura de Precisão - Fundamentos e Aplicações. 1. ed. Guaíba - Rio Grande do

Sul: Agropecuária, 2001. V. 01.

LEFEBVRE, Henry. O Direito à Cidade. Trad. Rubens Eduardo Frias. São Paulo:

Centauro, 2006.

______. A revolução Urbana. Trad. Sergio Martins, Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004.

______. Lógica formal / lógica dialética. São Paulo: Civilização brasileira, 1995.

______. O Direito à Cidade. Trad. Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Editora Moraes

Ltda. 1981.

LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

______. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Trad. de Luiz

Carlos Cabral, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

LIMA, M. I. C. de et al. Geologia. In: FOLHA SD.24 Salvador. (Levantamento de

Recursos Naturais, v. 24), Rio de Janeiro: Projeto RADAMBRASIL, 1981.

151

Page 152: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

LIMA, O. A. L. de; RIBEIRO, A. C. Caracterização hidrogeológica do aqüífero São

Sebastião na área de captação do CIA Bahia, usando perfilagens elétricas de poços.

Revista Brasileira de Geofísica, São Paulo, n. 1, p. 11-22, 1982.

LORANDI, R. & CANÇADO, C. J. Parâmetros físicos para gerenciamento de bacias

hidrográficas IN: SCHIAVETTI A. & CAMARGO A. F. M. Conceitos de bacias

hidrográficas, teorias e aplicações. Ilhéus: Editus, 2005.

MARTINELLI, Marcelo. Curso de cartografia Temática São Paulo: Contexto, 1991.

______. Fundamentos de cartografia temática. São Paulo: Contexto, 2002.

MARX K. O Capital. São Paulo: Bluker ltda., 1965.

______. Para a critica da economia política. In: manuscritos econômicos e

filosóficos. São Paulo: Coleção os pensadores, 1984.

MAXIMILIANO, P de W. N. Viagem ao Brasil. São Paulo: Companhia Editora

Nacional, 1940.

MAXIMILIANO, P de W. N. Viagem ao Brasil 1815-1817. São Paulo: Melhoramentos,

1969.

MOREIRA, R. Para onde vai o pensamento geográfico? : por uma epistemologia

critica. São Paulo: Contexto, 2006.

______. Pensar e ser em geografia. São Paulo: Contexto, 2007.

OLIVEIRA Céurio. Curso de Cartografia Moderna RJ. IBGE. 1988.

PETRELLA, R. O manifesto da água: argumentos para um contrato mundial.

Petrópolis-RJ: Vozes, 2004.

PIAGET, J. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Difel, 1978.

PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza. São Paulo:

Editora da UNESP, 1996.

QUAINI, M. Marxismo e geografia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

RAFFESTIN C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

RAPPAPORT, C. R. Modelo piagetiano. In RAPPAPORT, C. R., FIORI, W. R.,

DAVIS, C. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: EPU. 1981.

RIBEIRO, W.C. A ordem ambiental Internacional. São Paulo: Contexto,2001.

ROCHA, J.C.S. Caracterização geológica e hidrológica dos escorregamentos da

região serrana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: anais, Vol. 2 ABGE/ABMS, 1991.

152

Page 153: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

RODRIGUES, A. M. Moradia nas Cidades brasileiras (Repensando a geografia). 3a

ed. São Paulo: Contexto, 1992.

______. Produção e consumo do e no espaço problemática ambiental urbana. São

Paulo: Hucitec, 1996.

ROSS, Jurandyr L. S. Geomorfologia: ambiente e planejamento. São Paulo:

Contexto, 2001.

______. Ecogeografia do Brasil: subsídios para o planejamento ambiental. São

Paulo: oficina de textos, 2006.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. Porto, Portugal:

Afrontamento, 1993.

SANTOS, D. A reinvenção do espaço: Diálogos em torno da construção do

significado de uma categoria. São Paulo, Unesp, 2002.

SANTOS, M. Metamorfoses do Espaço habitado. 6ª ed. São Paulo: Edusp, 2008.

______. A natureza do espaço: técnica e tempo razão e emoção. São Paulo:

EDUSP, 2004.

______. Economia espacial. São Paulo: EDUSP, 2003.

______. A natureza do espaço: técnica e tempo razão e emoção. São Paulo:

hucitec, 1999.

______.Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1997.

______. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1997.

______. Técnica espaço tempo: globalização e meio técnico-científico informacional.

São Paulo: Hucitec, 1996.

SEABRA O. A dimensão sócioambiental no urbano. IN: Dilemas urbanos: novas

abordagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2003.

SILVA, Armando Corrêa. Ontologia analítica: teoria e método. In. Geografia território

e tecnologia. São Paulo: Terra Livre, 1992.

SIQUEIRA, L. Contribuição da geologia à pesquisa de água subterrânea no

cristalino. Água Subterrânea, Recife, v. 2, n. 9, p. 1-24, jan./mar. 1967.

SMITH, N. Desenvolvimento desigual. Natureza, capital e a produção do espaço. Rio

de Janeiro, Bertrand Brasil, 1988.

153

Page 154: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

SOJA, E. W. Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social

crítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.

SPERLING, M. V. Estudos e modelagem da qualidade da água de rios. Belo

Horizonte: ed. UFMG. 2007.

SPÓSITO, M. E. B. O embate entre as questões ambientais e sociais no urbano. IN:

Dilemas urbanos: novas abordagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2003.

SUASSUNA, J. Transposição do São Francisco: alguns descaminhos. Recife:

FUNDAJ/DESAT, 2000.

______. Recalque e transposição de águas: equívocos nos conceitos. Recife:

FUNDAJ/DESAT, 2001

SUERTEGARAY, D. M. A. Geografia física e geomorfologia: uma [re] leitura. Ijuí-RS:

Unijuí, 2002.

TEIXEIRA, Amandio L A, Christofolete, Sistema de Informações Geográficas São

Paulo: Hucitec, 1999.

TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: Fundações Brasileiras de Geografia e

Estatística, 1977.

TUCCI, C.E.M. hidrologia. Ciência e aplicação. Porto Alegre: UFRGS,2001.

TUNDISI, J.G. a água no século XXI: enfrentando a escassez. São Carlos: RIMa,

IIE, 2005.

VEIGA, T. C. & XAVIER-DA-SILVA, J. Geoprocessamento aplicado a identificação

de áreas potenciais para atividades turísticas: o caso do Município de Macaé-RJ IN:

geoprocessamento & analise ambiental: aplicações. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil,

2004.

VIGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem, São Paulo: Martins Fontes, 1997.

VIGOTSKY, L.S. et. al. Linguagem desenvolvimento e aprendizagem. Col. Educação

Crítica. São Paulo: Ícone ed., 1998.

VITÓRIA DA CONQUISTA, Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista Bahia.

Lei Orgânica do Município de 23 de fevereiro de 2007. Vitória da Conquista: PMVC,

2007.

______. Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista Bahia. Plano Diretor Urbano,

Lei nº. 1385 de 26 de dezembro de 2006. Vitória da Conquista: PMVC, 2007.

154

Page 155: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

______. Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista Bahia. Código Municipal

Ambiental, Lei nº. 1410, de 05 de junho de 2007. Vitória da Conquista: PMVC, 2007.

XAIVER-DA-SILVA, J. & ZAIDAN, R.T. (org) geoprocessamento & análise ambiental:

aplicações. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2004.

ZAKIA, M.J.B. & LIMA, W. P. Hidrologia de matas ciliares. IN: Matas ciliares,

conservação e recuperação. São Paulo: Edusp, 2001.

155

Page 156: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

11. GLOSSÁRIO Parte A Contradição - Ato de afirmar e de negar, ao mesmo tempo, uma mesma coisa.

Dialética - Arte de discutir; tensão entre os opostos. Materialismo Dialético - O

materialismo dialético é a união do materialismo clássico com a dialética de Hegel, e

representa o núcleo filosófico do marxismo.

Epistemologia - (episteme, “ciência”): estudo do conhecimento científico do ponto

de vista crítico, isto é, do seu valor; crítica da ciência; teoria do conhecimento.

Estudo da natureza e dos fundamentos do saber, particularmente de sua validade,

de seus limites, de suas condições de produção. As questões relativas à

possibilidade e à validade do conhecimento, cruciais na filosofia de todos os tempos,

ganharam renovado interesse na sociedade moderna, voltada para o saber científico

e tecnológico. Quanto maior a importância da ciência, maior a necessidade de dotá-

la de sólidos fundamentos teóricos e critérios de verdade.

Epistemologia, gnosiologia ou teoria do conhecimento é a parte da filosofia cujo

objeto é o estudo reflexivo e crítico da origem, natureza, limites e validade do

conhecimento humano. A reflexão epistemológica incide, pois, sobre duas áreas

principais: a natureza ou essência do conhecimento e a questão de suas

possibilidades ou seu valor.

Espaço O conceito filosófico de espaço tem raízes na antiguidade clássica, quando os

filósofos gregos estabeleceram o contraste entre o pleno e o vazio. Platão concebeu

o espaço como o receptáculo de tudo o que existe, e Aristóteles como o lugar em

que se localizam os objetos. A teoria da relatividade de Albert Einstein criou o

conceito de espaço-tempo: o espaço tridimensional com uma dimensão, de caráter

temporal.

Espaço e tempo - Espaço é meio de coexistência, enquanto tempo é o meio da

sucessão. (SANTOS, M.).A idéia de tempo depois de Einstein. No século XX, o

físico Albert Einstein contribuiu para afastar a idéia de um tempo absoluto ao

formular a teoria da relatividade. No lugar do fluxo contínuo e imutável, Einstein

156

Page 157: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

introduziu o conceito de espaço-tempo, segundo o qual o espaço e o tempo são dois

sistemas de relações inseparáveis, embora à percepção humana se apresentem de

forma independente. Não há um tempo nem um espaço absoluto independente do

que acontece com a consciência que o observa, assim como não há um ponto de

referência que permita comparações absolutas. O que se chama de tempo é apenas

a ordem de sucessão das coisas, umas depois das outras. Assim relacionado ao

espaço, o tempo passa a constituir mais uma dimensão deste, ao lado das três

dimensões já concebidas, assumindo assim uma concepção tetradimensional do

cosmo.

Essência À simplicidade da definição de essência não corresponde uma similar unanimidade

nas maneiras de interpretar o conceito, que é dos mais debatidos em filosofia. O

termo essência designa o ser, a consistência ou qüididade de um ente, considerado

independentemente da sua existência. Dizer o que é uma coisa é declarar a sua

essência. Aquilo que a coisa é ou que faz dela aquilo que ela é.

Insights - Compreensão repentina, em geral intuitiva, de suas próprias atitudes e

comportamentos, de um problema, de uma situação.

Metafísica - Transcendente: & Difícil de compreender; sutil, nebuloso. Termo

caracterizado pela adjetivação espirituosa ou filosoficamente profunda. Parte da

filosofia, que com ela muitas vezes se confunde, e que, em perspectivas e com

finalidades diversas, apresenta as seguintes características gerais, ou algumas

delas: é um corpo de conhecimentos racionais (e não de conhecimentos revelados

ou empíricos) em que se procura determinar as regras fundamentais do pensamento

(aquelas de que devem decorrer o conjunto de princípios de qualquer outra ciência,

e a certeza e evidência que neles reconhecemos), e que nos dá a chave do

conhecimento do real, tal como este verdadeiramente é (em oposição à aparência).

[Cf. ontologia.]

Metempírico - Diz-se de conhecimento que provém, sob perspectivas diversas, da

experiência e que transcende o próprio empirismo.

Método - Derivado do grego methodos, formado por meta, "para", e hodos,

"caminho". Poder-se-ia, então, traduzir a palavra por "caminho para" ou, então,

"prosseguimento", "pesquisa".

157

Page 158: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Ontologia - Ao afirmar a necessidade de uma ciência que estudasse o ser enquanto

ser, voltada para os primeiros princípios e as causas mais elevadas, Aristóteles

distinguiu-a como filosofia primeira e deu, assim, o primeiro passo para o advento da

reflexão ontológica, dois mil anos antes da entrada do termo "ontologia" no

vocabulário filosófico. Ontologia (do grego ontos, "ser", "ente"; e logos, "saber", "doutrina") é, em sentido

estrito, o "estudo do ser" e, desse modo, pode equivaler à metafísica. Uma vez que

esta, com o tempo, passou a incluir outros tipos de pesquisa e reflexão

(cosmológicos e psicológicos por exemplo), desde o século XVII, e sobretudo na

filosofia moderna, o termo ontologia passou a designar o estudo do ser enquanto tal.

Totalidade - O conjunto das partes que constituem um todo, mas não a soma das

partes. A soma das partes não é o todo isso porque, a divisão do todo em partes

para uma análise, após sua conclusão não se consegue chegar na totalidade.

PARTE B Adutora - Tubulação normalmente sem derivações que liga a captação ao

tratamento da água, ou o tratamento à rede de distribuição.

Aeração - Reoxigenação da água com ajuda do ar. A taxa de oxigênio dissolvido,

expressa em % de saturação, é uma característica representativa de certa massa de

água e de seu grau de poluição. Para restituir a uma água poluída a taxa de oxigênio

dissolvido ou para alimentar o processo de biodegradação das matérias orgânicas

consumidoras de oxigênio, é preciso favorecer o contato da água e do ar. A aeração

pode também ter por fim a eliminação de um gás dissolvido na água: ácido

carbônico, hidrogênio sulfurado.

Afluente ou Tributário - Qualquer curso d'água que deságua em outro maior, ou

num lago, ou lagoa.

Água - Forma líquida do composto químico H2O. A água é essencial para a vida.

Água capilar - Umidade líquida presa entre grãos de solo, seja por atração

eletrostática entre as moléculas minerais e da água, seja por forças osmóticas.

Água de captação - Qualquer rio, lago ou oceano em que a água servida tratada ou

não-tratada é finalmente descarregada.

158

Page 159: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Água de esgoto - Corrente de água servida que é drenada de um pátio de fazenda,

de um monte de escória ou de uma rua.

Água de reposição - água requerida para substituir a usada num sistema ou

perdida por ele. A água de reposição inclui a usada para substituir a água que escoa

de um sistema de irrigação e, mais comumente, aquela perdida numa torre de

refrigeração usada na geração de energia.

Água doce - água que contém muito pouco sal (menos de 0,05 por cento), em

comparação com a água salobra (que tem entre 0,05 e 3 por cento), como a dos

rios, lagos e lagoas.

Água dura - água subterrânea com sais minerais dissolvidos, geralmente carbonato

de cálcio (ou uma combinação de cálcio e magnésio). A água dura não espuma bem

com sabão, forma depósitos (escama, CaC03 ou MgCO) em chaleiras e tanques de

água quente, e, em casos mais extremos, pode entupir as tubulações, formando

depósitos de cálcio nos canos de água. O tratamento com amaciantes de água

remove grande parte do cálcio e do magnésio por meio da troca de íons.

Comumente, a água dura é misturada com cloreto de sódio (sal de mesa); o sódio

"amacia" a água, substituindo grande parte do cálcio durante o processo de troca de

íons.

Água subsuperficial - Termo que se aplica a toda água abaixo da superfície da

terra, nas formas sólida, líquida ou gasosa. A água subsuperficial inclui a do solo, do

fundo de rocha e da litosfera. Cf. ÁGUA DE SUPERFÍCIE.

Alcalinidade da água - Qualidade da água em neutralizar compostos ácidos, em

virtude da presença de bicarbonatos, hidróxidos, boratos, silicatos e fosfatos.

Esgotos são alcalinos, por receberem materiais de uso doméstico com estas

características.

Ambiente - A totalidade dos fatores fisiográficos (solo, água, floresta, relevo,

geologia, paisagem, e fatores meteoroclimáticos) mais os fatores psicossociais

inerentes à natureza humana (comportamento, bem-estar, estado de espírito,

trabalho, saúde, alimentação, etc.) somados aos fatores sociológicos, como cultura,

civilidade, convivência, o respeito, a paz, etc.;

Anaeróbico - Organismo que não necessita de oxigênio

159

Page 160: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Aqüífero - Formação porosa (camada ou estrato) de rocha permeável, areia ou

cascalho, capaz de armazenar e fornecer quantidades significativas de água. Toda

formação geológica em que a água pode ser armazenada e que possua

permeabilidade suficiente para permitir que esta se movimente. Vê-se, portanto, que

para ser um aquífero uma rocha ou sedimento, tem que ter porosidade suficiente

para armazenar água, e que estes poros ou espaços vazios tenham dimensões

suficientes para permitir que a água possa passar de um lugar a outro, sob a ação

de um diferencial de pressão hidrostática.

Áreas naturais de proteção - Essas áreas são protegidas para fins de manutenção

de biodiversidade, pesquisas científicas e conservação de ecossistemas. No Brasil,

são divididas em Unidades de Conservação, todas protegidas por leis, algumas

delas são:

• áreas de proteção ambiental - áreas voltadas para a conservação da vida

silvestre, os recursos naturais e a manutenção de bancos genéticos, além da

preservação da qualidade de vida dos habitantes da área. A ocupação

acontece por meio de zoneamento ambiental pelo poder político, juntamente

com universidades e ONGs. Podem ser federais ou estaduais.

• Estações ecológicas - áreas representativas de ecossistemas naturais

destinadas a pesquisas ecológicas, proteção do meio ambiente e

desenvolvimento de uma educação voltada para o preservacionismo.

Precisam Ter no mínimo 90% de sua área destinada à conservação integral

do ecossistema. Podem ser criadas pela União, estados ou municípios.

• Parques - áreas de extensão considerável, pertencentes ao poder público,

com grande variedade de espécies e habitats de interesse científico,

educacional ou recreativo. Devem estar abertos à visitação pública. Podem

ser criados pelo governo federal ou pelos estados.

• Reservas biológicas - áreas de tamanhos variados cuja característica básica

é conter ecossistemas ou comunidades frágeis, em terras de domínio público

e fechadas à visitação pública. Podem ser declaradas pela União ou pelos

estados.

• Reservas florestais - áreas de grande extensão territorial, inabitadas, de

difícil acesso e ainda em estado natural. Devem ser protegidas até que se

160

Page 161: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

estabeleça seu status e se proceda a sua inclusão em outra categoria de

Unidade de Conservação.

Área degradada - área onde há a ocorrência de alterações negativas das suas

propriedades físicas, tais como sua estrutura ou grau de compacidade, a perda de

matéria devido à erosão e a alteração de características químicas, devido a

processos como a salinização, lixiviação, deposição ácida e a introdução de

poluentes.

Área de proteção ambiental (APA) - Categoria de unidade de conservação cujo

objetivo é conservar a diversidade de ambientes, de espécies, de processos naturais

e do patrimônio natural, visando a melhoria da qualidade de vida, através da

manutenção das atividades sócio-econômicas da região. Esta proposta deve

envolver, necessariamente, um trabalho de gestão integrada com participação do

Poder Público e dos diversos setores da comunidade. Pública ou privada, é

determinada por decreto federal, estadual ou municipal, para que nela seja

discriminado o uso do solo e evitada a degradação dos ecossistemas sob

interferência humana.

Assoreamento - Processo em que lagos, rios, baías e estuários vão sendo

aterrados pelos solos e outros sedimentos neles depositados pelas águas das

enxurradas, ou por outros processos. Obstrução do leito de um canal, estuário ou rio

por sedimentos; isso geralmente ocorre devido à erosão das margens ou redução da

correnteza. A mineração é um dos agentes diretos ou indiretos desse processo.

Autodepuração da água - Processo natural de purificação da água, que reduz a

poluição orgânica. Por exemplo, há espécies de plantas aquáticas que absorvem

poluentes.

Bacia hidrográfica - Conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus

afluentes. A noção de bacias hidrográfica inclui naturalmente a existência de

cabeceiras ou nascentes, divisores d'água, cursos d'água principais, afluentes,

subafluentes, etc. Em todas as bacias hidrográficas deve existir uma hierarquização

na rede hídrica e a água se escoa normalmente dos pontos mais altos para os mais

baixos. O conceito de bacia hidrográfica deve incluir também noção de dinamismo,

por causa das modificações que ocorrem nas linhas divisórias de água sob o efeito

dos agentes erosivos, alargando ou diminuindo a área da bacia.

161

Page 162: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Bacia de Captação - Mais de que o rio, lago ou reservatório de onde se retira a

água para consumo, compreende também toda a região onde ocorre o escoamento

e a captação dessas águas na natureza.

Bacia de Drenagem - área de captação que recolhe e drena toda a água da chuva

e a conduz para um corpo d'água (por exemplo, um rio), que depois leva ao mar ou

um lago.

Bacia Hidrográfica ou Bacia Fluvial - Conjunto de terras, rios e seus afluentes, que

forma uma unidade territorial.

Bactérias - Espécies vivas microscópicas, caracterizadas por uma estrutura celular

sem núcleo definido, que existem no ar, água, animais e plantas. Há as que ajudam

na decomposição de matéria orgânica.

Banhado - Setor de uma planície de inundação em que habitualmente acontece o

transbordamento de águas pluviais/fluviais, durante a estação chuvosa; várzea,

vazante.

Barragem - Construção para regular o curso de rios, usada para prevenir enchentes,

aproveitar a força das águas como fonte de energia ou para fins turísticos. Sua

construção pode trazer problemas ambientais, como no caso de grandes

hidrelétricas, por submergir terras férteis, muitas vezes cobertas por importantes

florestas, e/ou por desalojar populações que vivem na área.

Biota - Conjunto de fauna e flora, de água ou de terra, de qualquer área ou região,

que não considera os elementos do meio ambiente.

Cabeceira ou Nascente - Local onde nasce o rio, ou curso d'água. Nem sempre é

um ponto bem definido, constituindo às vezes toda uma área. Isso se nota, por

exemplo, na dificuldade em determinar onde nasce o rio principal, como é o caso da

definição das cabeceiras do Rio Amazonas.

Calha - Vales ou sulcos por onde correm as águas de um rio.

Captação da água - Conjunto de estruturas montadas para retirar água dos

mananciais, para abastecimento público ou outros fins.

Carga poluidora - Quando se fala de recursos hídricos, é a quantidade de poluentes

que atingem os corpos d'água, prejudicando seu uso. Medida em DBO e DBQ.

Chorume - Líquido venenoso que se forma na decomposição do lixo, podendo

contaminar o ambiente, se não houver cuidados especiais.

162

Page 163: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Ciclo Hidrológico - Movimento da água através do ecossistema. O ciclo depende

da capacidade de a água estar presente nas formas líquida e gasosa. O ciclo tem

quatro fases: evaporação, condensação, precipitação e deflúvio.

Classe de águas - Classificação da qualidade da água dos rios, mares e outros

corpos d'água. No Brasil, a Resolução 20/86, do CONAMA - Conselho Nacional do

Meio Ambiente, define cinco classes para as águas doces, e determina que tipo de

uso possa fazer da água, em cada caso (de consumo humano à navegação). No

caso de águas salobras (com 0,5 a 30% de salinidade) e salinas (salinidade acima

de 30% de salinidade) a Resolução estabelece duas classes para cada uma.

Corpo d'água - Rio, lago, ou reservatório.

Córrego - Pequeno riacho, ou afluente de um rio maior.

Coliforme Fecal - Organismo humano trato intestinal humano (e de outros animais),

cuja ocorrência serve como índice de poluição.

Colmatado – lugar preenchido por um determinado agente natural. é um termo

utilizado pela geologia para definir depósitos ou sobreposição de terras.

Coluvial – material derivado de colúvios ou Solo de vertentes, parcialmente alóctone

de muito pequeno transporte, misturado com solos e fragmentos de rochas trazidos

das zonas mais altas, geralmente mal classificado e mal selecionado. A gravidade,

enxurradas e avalanches com deslizamentos de solos e rochas, trazem material que

se mistura com o solo local da encosta para formar o coluvião.

CONAMA - Sigla de Conselho Nacional do Meio Ambiente.

Contaminação da água - Contaminação de águas correntes devido às crescentes

descargas de resíduos procedentes de indústrias e de águas residuárias; poluição

da água. A água contaminada nem sempre perde as características naturais, ou

seja, ela pode ser insípida, inodora e incolor, no entanto ser contaminada.

Controle Ambiental - Ação pública, oficial ou privada, destinada a orientar, corrigir e

fiscalizar atividades que afetam ou possam afetar o meio ambiente; gestão

ambiental.

Deflúvio - Escoamento superficial da água. Aproximadamente um sexto da

precipitação numa determinada área escoa como deflúvio. O restante evapora ou

penetra no solo. Os deflúvios agrícolas, das estradas e de outras atividades

humanas podem ser uma importante fonte de poluição da água.

163

Page 164: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Degradação Ambiental - Alteração poluidora, degradante do meio ambiente.

Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) - A DBO de uma amostra de água é a

quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica por decomposição

microbiana aeróbia para uma forma inorgânica estável. A DBO é normalmente

considerada como a quantidade de oxigênio consumido durante um determinado

período de tempo, numa temperatura de incubação específica. Um período de

tempo de 5 dias numa temperatura de incubação de 20º C é freqüentemente usado

e referido como DBO 5,20. Os maiores acréscimos em termos de DBO, num corpo

d'água, são provocados por despejos de origem predominantemente orgânica. A

presença de um alto teor de matéria orgânica pode induzir à completa extinção do

oxigênio na água, provocando o desaparecimento de peixes e outras formas de vida

aquática. Um elevado valor da DBO pode indicar um incremento da micro-flora

presente e interferir no equilíbrio da vida aquática, além de produzir sabores e

odores desagradáveis e ainda, pode obstruir os filtros de areia utilizadas nas

estações de tratamento de água. Pelo fato da DBO somente medir a quantidade de

oxigênio consumido num teste padronizado, não indica a presença de matéria não

biodegradável, nem leva em consideração o efeito tóxico ou inibidor de materiais

sobre a atividade microbiana.

Demanda química de oxigênio (DQO) - É a quantidade de oxigênio necessária

para oxidação da matéria orgânica através de um agente químico. Os valores da

DQO normalmente são maiores que os da DBO, sendo o teste realizado num prazo

menor e em primeiro lugar, servindo os resultados de orientação para o teste da

DBO. O aumento da concentração de DQO num corpo d'água se deve

principalmente a despejos de origem industrial.

Dendrítico - Padrão de drenagem: Também conhecido como rede de drenagem, é o

formato ou o aspecto que apresenta o traçado do conjunto dos talvegues de uma

bacia hidrográfica. Este padrão ou desenho está intimamente relacionado a

características geológicas e geotectônicas da área, sendo portanto importante

elemento diagnóstico e interpretativo.

Dissecação,s.f. Geomorf. - Escavação de vales numa região ou superfície pela ação

de processos erosivos. Uma região dissecada é aquela onde a superfície real

coberta pelas vertentes dos vales é muito significativa em relação à área topográfica

164

Page 165: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

medida em um mapa. O grau de dissecação mede a exposição de uma superfície a

eventos erosivos. Superfícies pouco dissecadas são em geral aplainadas ou

levemente onduladas, como é o caso das planícies e planaltos.

Divisor de águas - Linha que separa a direção para onde correm as águas pluviais,

ou bacias.

Efluente - Substância líquida, com predominância de água, contendo moléculas

orgânicas e inorgânicas das substâncias que não se precipitam por gravidade.

EIA/RIMA - Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ambiental:

Regulamentado através da Resolução CONAMA 001/86, que estabelece a

obrigatoriedade da elaboração e apresentação de EIA/RIMA para licenciamento de

empreendimentos que possam modificar o meio ambiente.

Enquadramento dos corpos de água - Previsto na Lei de Recursos Hídricos (Lei

Federal 9433/97) para assegurar a qualidade da água e reduzir o custo de combate

à poluição, através de ações preventivas. É a qualificação do corpo d'água, segundo

seus usos preponderantes e a classificação (classes de corpos de água)

estabelecida pela legislação ambiental. (Fonte: Lei Federal 9433/97).

Erosão - Desgaste do solo devido ao vento, à chuva, ou a outras forças da

natureza. A erosão pode ser acelerada pela agricultura, excesso de pastagem,

atividade madeireira e construção de estradas.

Erosão remontante:

Erosão que ocorre quando o lençol freático é interceptado pela superfície do terreno.

O fluxo de água subterrânea, na forma de uma fonte ou nascente, inicia a retirada

das partículas do solo dando surgimento a pequenos túneis que progridem a

montante do fluxo subterrâneo. Com o passar do tempo o solo que recobre este

túnel, ou buraco horizontal, sofre colapso gravitacional e todo o material é carregado

pelo contínuo fluxo de água da nascente. Nas épocas chuvosas a infiltração de mais

água no solo aumenta o fluxo subterrâneo, reforçando a ação da erosão remontante,

mesmo que o fluxo de água superficial não atinja diretamente a ravina. Desta forma

a ravina vai progredindo e se aprofundando a montante do fluxo subterrâneo. Este

processo pode atingir grandes extensões e profundidades, sendo responsável pelo

surgimento de uma feição geomorfológica característica, conhecida como boçoroca

ou voçoroca.

165

Page 166: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Necessário se faz separar claramente as ravinas formadas por erosão pluvial

(superficial) das formadas por erosão remontante. A ação da erosão pluvial aumenta

à medida que mais água da chuva se acumula no terreno, isto é, a retirada do solo

se dá de cima para baixo. Na erosão remontante acontece exatamente o contrário: a

retirada do material se dá de baixo para cima, como é o caso das boçorocas. Uma

ravina de origem pluvial pode progredir em direção a uma boçoroca, mas não

necessariamente. Da mesma forma podemos ter a progressão de boçorocas

independente da erosão pluvial, pois esta depende do fluxo subterrâneo e não do

fluxo superficial.

Esgotos - Resíduos líquidos, divididos, pelos técnicos, em quatro tipos:

1- esgotos domésticos, que contém matéria fecal e águas servidas, resultantes de

banho, lavagem de roupa e louças, 2- despejos ou efluentes industriais, que

compreendem resíduos orgânicos (por exemplo, de indústrias alimentícias ou

matadouros), ou inorgânicas, podendo conter materiais tóxico; 3- águas pluviais (da

chuva); 4- águas do subsolo, que se infiltram no sistema de esgotos.

Estrutura Polimetamórfica – geologia estrutura rochosa que sofreu diversos tipos

de metamorfismo. O Metamorfismo: corresponde ao processo que leva a mudança,

no estado sólido, na mineralogia e/ou textura de uma rocha. Estas mudanças

acontecem devido à variação das condições de pressão e temperatura atuantes

sobre a rocha. Os principais agentes promotores de metamorfismo são: a

temperatura e a pressão. Existem várias maneiras de ocorrência do metamorfismo,

entres destaca-se o metamorfismo de contato.

Eutroficação - Processo de alterações físicas, químicas e biológicas de águas

paradas ou represadas, associado ao enriquecimento de nutrientes, matéria

orgânica e minerais; é o envelhecimento precoce da água de lagos e reservatórios,

que afeta a transparência da água, o nível de clorofila, a concentração de fósforo, a

quantidade de vegetais flutuantes, o oxigênio dissolvido, e leva à alteração do

equilíbrio das espécies animais e vegetais. [O mesmo que eutrifização e trofização

nítrica].

Eutrofização - Aumento de nutrientes (como fosfatos) nos corpos d'água, resultando

na proliferação de algas podendo levar a um desequilíbrio ambiental a ponto de

provocar à morte lenta do meio aquático. A eutrofização acelerada é problemática,

166

Page 167: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

porque resulta na retirada de oxigênio da água, matando os peixes ou outras formas

de vida aquática não-vegetais.

Exutório: ponto de um curso d'água onde se dá todo o escoamento superficial

gerado no interior da bacia hidrográfica banhada por este curso. O exutório é um

elemento importante na análise do regime de uma bacia, pois a quantidade de água

que passa por ele é conseqüência do regime pluviométrico e da capacidade de

retenção de água desta bacia.

Falha - Geol. São fraturas planares em rochas onde houve deslocamento de um

bloco em relação ao outro. Estes deslocamentos podem ser de poucos centímetros

a dezenas de quilômetros. São deformações que estão quase sempre associadas a

ambientes tectonicamente ativos. Algumas falhas podem se originar de

acomodações do terreno a esforços de carga superficiais ou devidos ã diminuição da

pressão interna, como é o caso de subsidências do terreno causadas por extração

de grandes quantidades de água subterrânea.

Fendilhamento – processo que origina fendas e ou falhas em rochas ou estruturas

rochosas.

Flotação - Processo de elevação de partículas existentes na água, por meio de

aeração, insuflação, produtos químicos, eletrólise, calor ou decomposição

bacteriana, e respectiva remoção.

Fonte - Lugar onde brotam ou nascem águas. A fonte é um manancial de água, que

resulta da infiltração das águas nas camadas permeáveis, havendo diversos tipos

como: artesianas, termais etc...

Fossa séptica - Câmara subterrânea de cimento ou alvenaria, onde são

acumulados os esgotos de um ou vários prédios e onde os mesmos são digeridos

por bactérias aeróbias e anaeróbias. Processada essa digestão, resulta o líquido

efluente que deve ser dirigido a uma rede ou sumidouro. "Unidade de sedimentação

e digestão de fluxo horizontal e funcionamento contínuo, destinado ao tratamento

primário dos esgotos sanitários" (Decreto nº. 533, de 16.01.76).

Foz - Ponto mais baixo no limite de um sistema de drenagem (desembocadura).

Extremidade onde o rio descarrega suas águas no mar. "Boca de descarga de um

rio. Este desaguamento pode ser feito num lago, numa lagoa, no mar ou mesmo

num outro rio. A forma da foz pode ser classificada em dois tipos: estuário e delta".

167

Page 168: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Fratura - Geologia estrutural - Ruptura da crosta terrestre ou de corpos rochosos

sem que haja deslocamento dos blocos resultantes.

Geoprocessamento – É uma ciência que trabalha com a integração do

processamento de dados digitais com uma topologia espacial digital,

georreferênciada e geocodificada, obtida por sensoreamento ou por meio de dados

vetorizados em um software especifico para tal finalidade. surgindo daí o Sistema de

Informações Geográficas- SIG, que atua na geração de mapas de base e mapas

temáticos.

Gestão integrada - É a combinação de processos, procedimentos e práticas

adotadas por uma organização para implementar suas políticas e atingir seus

objetivos de forma mais eficiente do que através de múltiplos sistemas de gestão. Na

integração de elementos de sistemas de gestão, considerando-se as dimensões

qualidade, meio ambiente, saúde e segurança no trabalho, temos a congregação

das normas ISO 9001, ISO 14001, e OSHAS 18001.

Gradeamento - Remoção de sólidos relativamente grosseiros em suspensão ou

flutuação, retidos por meio de grades ou telas.

Intemperismo - Processo pelos quais, as rochas ao sofrerem a ação da chuva, do

sol, do vento e de organismos vivos, vão se transformando, até chegarem a

minúsculas partículas, invisíveis a olho nu e que formam as argilas.

Interflúvio (s.m. Geog.) - Terreno ou área mais elevada situada entre dois vales.

Apesar de às vezes este termo ser usado como sinônimo de divisor de águas, o

interflúvio se caracteriza mais por ser toda a região ou área compreendida entre dois

talvegues, ou entre dois cursos de maior importância de uma mesma bacia

hidrográfica ou mesmo de bacias distintas, ao passo que o termo divisor de águas

melhor se adequar a ser usado para designar não uma área, mas uma linha, como

por exemplo, linha de cumeada.

Inundação - É o efeito de fenômenos meteorológicos, tais como chuvas, ciclones e

degelo, que causam acumulações temporárias de água, em terrenos que se

caracterizam por deficiência de drenagem, o que impede o deságüe acelerado

desses volumes.

Jusante - Uma área ou um ponto que fica abaixo de outro ao se considerar uma

corrente fluvial ou tubulação na direção da foz, do final. O contrario de montante.

168

Page 169: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Lago - Depressões do solo produzidas por causas diversas e cheias de águas

confinadas, mais ou menos tranqüilas, pois dependem da área ocupada pelas

mesmas. As formas, as profundidades e as extensões dos lagos são muito variáveis.

Geralmente, são alimentados por um ou mais 'rios afluentes'. Possuem também 'rios

emissários', o que evita seu transbordamento.

Lagoa - Depressão de formas variadas, principalmente tendente a circulares, de

profundidades pequenas e cheias de água salgada ou doce. As lagoas podem ser

definidas como lagos de pequena extensão e profundidade (...) Muito comum é

reservarmos a denominação 'lagoa' para as lagunas situadas nas bordas litorâneas

que possuem ligação com o oceano.

Lagoa aerada - Lagoa de tratamento de água residuária artificial ou natural, em que

a aeração mecânica ou por ar difuso é usada para suprir a maior parte de oxigênio

necessário.

Lagoa aeróbica - Lagoa de oxidação em que o processo biológico de tratamento é

predominantemente aeróbio. Estas lagoas têm sua atividade baseada na simbiose

entre algas e bactérias. Estas decompõem a matéria orgânica produzindo gás

carbônico, nitratos e fosfatos que nutrem as algas, que pela ação da luz solar

transformam o gás carbônico em hidratos de carbono, libertando oxigênio que é

utilizado de novo pelas bactérias e assim por diante.

Lagoa anaeróbica - Lagoa de oxidação em que o processo biológico é

predominantemente anaeróbio. Nestas lagoas, a estabilização não conta com o

curso do oxigênio dissolvido, de maneira que os organismos existentes têm de

remover o oxigênio dos compostos das águas residuárias, a fim de retirar a energia

para sobreviverem. É um processo que a rigor não se pode distinguir daquele que

tem lugar nos tanques sépticos.

Lagoa de maturação - Lagoa usada como refinamento do tratamento prévio

efetuado em lagoas ou outro processo biológico, reduzindo bactérias, sólidos em

suspensão, nutrientes, porém uma parcela negligenciável de DBO.

Lagoa de estabilização - Um lago artificial no qual dejetos orgânicos são reduzidos

pela ação das bactérias. As vezes, introduz-se oxigênio na lagoa para acelerar o

processo.

169

Page 170: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Lagoa contendo água residuária bruta ou tratada em que ocorre estabilização

anaeróbia e/ou aeróbia.

Licença Ambiental - Certificado expedido pela CECA ou por delegação desta, pela

FEEMA, a requerimento do interessado, atestatório de que, do ponto de vista da

proteção do meio ambiente, o empreendimento ou atividade está em condições de

ter prosseguimento. Tem sua vigência subordinada ao estrito cumprimento das

condições de sua expedição. São tipos de licença: Licença Prévia (LP), Licença de

Instalação (LI) e Licença de Operação (LO)" (Del. CECA nº. 03, de 28.12.77).

Lençol freático - É um lençol d'água subterrâneo que se encontra em pressão

normal e que se formou em profundidade relativamente pequena.

Limnologia - Termo criado em 1892 pelo suíço F.A. Forel, para designar a aplicação

dos métodos de oceanografia ou da oceanologia às águas estagnadas continentais

(lagos). À limnologia interessam, portanto, todos esses fatores da vida nas águas

estagnadas. Entretanto, o I Congresso Internacional de Limnologia, realizado em

Kiel, em 1922, propôs designar sob o termo limnologia a ciência da água doce,

aplicando-se ela ao conjunto de águas continentais ou interiores, separadas do

mundo oceânico.

Lixiviação - Processo que sofrem as rochas e solos, ao serem lavados pela água

das chuvas (...) Nas regiões intepropicais de clima úmido os solos tornam-se

estéreis com poucos anos de uso, devido, em grande parte, aos efeitos da lixiviação.

A lixiviação também ocorre em vazadouros e aterros de resíduos, quando são

dissolvidos e carreados certos poluentes ali presentes para os corpos d'água

superficiais e subterrâneos.

Manancial - Qualquer corpo d'água, superficial ou subterrâneo, utilizado para

abastecimento humano, industrial, animal ou irrigação.

Matéria em suspensão - Em sentido estrito, matéria sólida que flutua na água (ou

em outro meio) por ter peso específico similar ao do meio, sendo arrastada por ele.

No caso em que a matéria sólida seja mais leve que a água, e por isso fluente sobre

ela, é chamada matéria flutuante, se trata de matéria sólida que, após certo período

de flutuação, acaba fundindo-se ao solo, chama-se matéria submergida.

Mata ciliar - É o conjunto da flora existente à beira de um rio, córrego ou espelho

d'água. Também conhecido como floresta ciliar.

170

Page 171: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Metais pesados - Grupo de metais de peso atômico relativamente alto. Alguns -

como zinco e ferro - são necessários ao corpo humano, em pequeníssimas

concentrações. Outros - como chumbo, mercúrio, cromo e cádmio - são, em geral,

tóxicos aos animais e às plantas, mesmo em baixas concentrações.

Montante - Um lugar situado acima de outro, tomando-se em consideração a

corrente fluvial que passa na região. O relevo de montante é, por conseguinte,

aquele que está mais próximo das cabeceiras de um curso d'água, enquanto o de

jusante está mais próximo da foz.

Nível da água subterrânea - Limite superior da zona saturada, do solo ou aqüífero.

Olho d'água, nascente - Local onde se verifica o aparecimento de água por

afloramento do lençol freático (Resolução nº. 04, de 18.09.85, do CONAMA).

Piemonte - Geol. Região situada entre a montanha e a planície. Depósito

sedimentar que, formado no sopé das montanhas, passa gradualmente aos

depósitos aluviais, e se constitui, em geral, de blocos não arredondados e mal

selecionados, de mistura com partículas mais finas.

Poluente - Substância. meio ou agente que provoque, direta ou indiretamente

qualquer forma de poluição.

Poluição - É qualquer interferência danosa nos processos de transmissão de

energia em um ecossistema. Pode ser também definida como um conjunto de

fatores limitantes de interesse especial para o Homem, constituídos de substâncias

nocivas (poluentes) que, uma vez introduzidas no ambiente, especificamente na

água podem ser efetiva ou potencialmente prejudiciais ao ambiente e ao Homem ou

ao uso que ele faz de seu habitat; Efeito produzido por um agente poluidor num

ecossistema. Especificamente num corpo d’água.

Poço cacimba - Construído manualmente e revestido de tijolos, também conhecido

como "poço caipira". Capta água de lençol freático em pequenas profundidades, de

até 20 metros. Pouco comum no Estado de São Paulo, esse poço ainda existe em

regiões rurais do Nordeste e do Norte do País.

Qualidade da água - Características químicas, físicas e biológicas, relacionadas

com o seu uso para um determinado fim. A mesma água pode ser de boa qualidade

para um determinado fim e de má qualidade para outro, dependendo de suas

características e das exigências requeridas pelo uso específico.

171

Page 172: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Recarga artificial - Processo de aumentar o fornecimento natural de água a um

aqüífero bombeando água para dentro dele através de perfurações ou para dentro

de bacias de captação que drenam a água para dentro do aqüífero.

Rede de drenagem - Sistemas de canais numa bacia de drenagem.

Rede de esgoto - Termo coletivo para o sistema de coleta e usina de tratamento de

esgoto num determinado bairro ou região.

Regolito - [Sin.manto de intemperismo] Capeamento natural das rochas (manto de

intemperismo), inconsolidado, composto por fragmentos de rocha e solo, incluindo

solo transportado, solo autóctone, depósitos residuais.

Reservatório - Corpo artificial de água de superfície que é retido por uma represa.

Rio - Canal natural de drenagem de superfície que tem uma descarga anual

relativamente grande. Um rio geralmente termina oceano.

Saneamento - Realização de disposições municipais direcionados à renovação de

bairros, melhoria do traçado das ruas, colocação de esgotos e água encanada,

drenagem de pântanos. Limpeza de rios e valas, etc.; saneamento básico.

Salinidade - Medida de concentração de sais minerais dissolvidos na água.

Salinização - Degradação de terras férteis causada pelo sal. A salinização das

terras agrícolas é comum em áreas que dependem de irrigação: a evaporação

superficial retira sais do solo e das pedras do subsolo, sendo que a redução das

águas subterrâneas aumenta o percentual de minerais e sais na água armazenada.

Sedimentação - Acúmulo de solo e/ou partículas minerais no leito de um corpo

d'água. Em geral, esse acúmulo é causado pela erosão de solos próximos, ou pelo

movimento vagaroso de um corpo d'água, como ocorre quando um rio é

representado para formar um reservatório.

SIG: Sistema de Informação Geográfica, também conhecido por sua sigla em Inglês:

GIS-Geographic Information System. É um conjunto de processos que através da

representação digital de objetos e processos situados num espaço geográfico,

permite seu armazenamento em banco de dados, facilitando sua recuperação, a

análise de suas interrelações e suas variações no tempo. Através do SIG, um mapa

passa a existir com um banco de dados de informações georreferenciadas, e que

pode, a qualquer momento, ser modificado, acrescido ou corrigido. Sua

apresentação como um elemento impresso, o mapa propriamente dito, passa a ser

172

Page 173: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

uma versão impressa, naquela data e hora, das informações existentes na base de

dado. Desta forma, o mapa, historicamente um produto estático, passa a ser um

produto dinâmico, obtido a cada momento, que conterá, num espaço bidimensional,

e na escala desejada, as informações solicitadas por quem o imprimiu e que refletirá

a forma e a acuidade com que os dados foram armazenados no banco. Como os

dados referentes a um "locus" geográfico, são armazenados em camadas

independentes, separadas segundo seus atributos temáticos, podemos fazer um

sem número de relacionamentos ou cruzamentos das informações, gerando um

poderoso instrumento de análise e gerenciamento.

Solo aluvial - Solo resultante do depósito de material por correnteza, como ocorre

quando a enchente de um rio ultrapassa suas margens naturais e cobre as terras

adjacentes.

Sumidouro - Em hidrologia - Cavidade, em forma de funil, na superfície do solo, que

se comunica com o sistema de drenagem subterrânea, em regiões calcárias,

causada pela dissolução da rocha. Em engenharia sanitária - Poço destinado a

receber o efluente da fossa séptica e permitir sua infiltração subterrânea.

Talvegue - Linha que segue a parte mais baixa do leito de um rio, de um canal ou

de um vale. Perfil longitudinal de um rio; linha que une os pontos de menor cota ao

longo de um vale.

terracete- Geol. Superfície plana ou levemente inclinada, em geral com frente

escarpada, que margeia um rio, um lago ou o mar, e atesta, por meio de

testemunhos geológicos e geomorfológicos, as variações do nível das águas fluviais,

lacustres e marítimas através dos tempos.

Transferência de bacia - transposição - É o processo de transferência de água

que consiste em conduzir o fluxo de um rio através de obras de engenharia, a fim de

ser incorporado às reservas subterrâneas ou a rios pobres de outra bacia. Ou para

abastecimento humano.

Tratamento Aeróbico - O mesmo que tratamento por oxidação biológica, em

presença de oxigênio.

173

Page 174: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Tratamento de água - É o conjunto de ações destinadas a alterar as características

físicas e/ou químicas e/ou biológicas da água, de modo a satisfazer o padrão de

potabilidade.

Tratamento anaeróbico - Estabilização de resíduos feita pela ação de

microorganismos, na ausência de ar ou oxigênio elementar. Refere-se normalmente

ao tratamento por fermentação mecânica.

Tratamento químico - Qualquer processo envolvendo a adição de reagentes

químicos para a obtenção de um determinado resultado.

Turbidez - Medida da transparência de uma amostra ou corpo d'água, em termos da

redução de penetração da luz, devido à presença de matéria em suspensão ou

substâncias coloidais. Mede a não propagação da luz na água.

Usos múltiplos - Nos processos de planejamento e gestão ambiental, a expressão

usos múltiplos refere-se à utilização simultânea de um ou mais recursos ambientais

por várias atividades humanas. Por exemplo, na gestão de bacias hidrográficas, os

usos múltiplos da água (geração de energia, irrigação, abastecimento público,

pesca, recreação e outros) devem ser considerados, com vistas à conservação da

qualidade deste recurso, de modo a atender às diferentes demandas de utilização.

Vazão - Volume fluído que passa, na unidade de tempo, através de uma superfície

(como exemplo, a seção transversal de um curso d'água).

Voçoroca - Processo erosivo subterrâneo causado por infiltração de águas pluviais,

através de desmoronamento e que se manifesta por grandes fendas na superfície do

terreno afetado, especialmente quando este é de encosta e carece de cobertura

vegetal.

174

Page 175: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

12. APÊNDICE

175

Page 176: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA-UFPB CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E DA NATUREZA-CCEN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGG

PESQUISA PARA ELABORAÇÃO DE DISSERTAÇÃO: “ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA E OS PROCESSOS DA

URBANIZAÇÃO DE VITÓRIA DA CONQUISTA – BA”

QUESTIONÁRIO DE CAMPO: PARA MORADORES DA ÁREA LOCALIDADE:_______________________________________________ DATA: _______ NOME DO ENTEVISTADO (A): ______________________________________________ PROFISSÃO: _________________________________________ 1- Há quanto tempo que reside no local? ( ) menos de 1ano ( )1-5 anos ( ) 5-10 anos

( ) 10 a 20 anos ( ) acima de 20 anos ( ) sempre morou nesta localidade

2- Tipo de moradia? ( ) dom. part permanente, próprio ( ) dom. part. permanente, cedido

( ) dom. part. Alugado ( ) outros

3- Renda familiar: ( ) Até 1 sal/min. ( )1-2 sal/min. ( )3-4 sal/min.

( ) 5-8 sal/min ( ) de 8-10 sal/mim ( ) acima de 10 sal/min

4- Qual a procedência da água? Para beber: ( ) poço ( ) água encanada ( ) rio ( ) outro Atividades doméstica/trabalho ( ) poço ( ) água encanada ( ) rio ( ) outro 5- A sua casa possui saneamento básico? ( ) sim ( ) não para onde vai o esgoto? _________________________________________ 6- Qual o destino do lixo? ( ) coletado pelo serviço de limpeza ( ) jogado em terreno baldio ( ) jogado em rios e lagos

( ) enterrado ( ) queimado na propriedade ( ) outro

7- Já observou diferença no nível do rio e ou na qualidade da água do rio? ( ) sim ( ) não. Caso sim, por quê?___________________________________________________________ 8- Qual o tipo de uso da água do rio. ( ) Agricultura (irrigação) ( ) consumo humano ( ) lazer ( ) lavar roupa ( ) comércio ( ) outros 9 Que tipo de uso é feito na terra? O que cultiva? R.:________________________________________________________________ 10- Usa agrotóxico ou algum tipo de fertilizante na agricultura? ( ) sim ( ) não. Quais?_________________________________________________________ 11- Acha que existem problemas ambientais neste local? ( ) sim ( ) não Especifique _____________________________________ 12- Para o Sr. (a), quem mais utiliza a água dos rios na região? R.:_______________________________________________________________

Page 177: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

13. ANEXOS

177

Page 178: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Estrada do Bem-Querer, km 4 CEP 45083-900 – Vitória da Conquista – BA Tel: 424-8642/8650

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB Departamento de Engenharia Agrícola e Solos - DEAS

Laboratório de Controle e Qualidade de Água – LCA

Fone: 77 3424 8642 / 8650 Vitória da Conquista, 15 de outubro de 2007.

ANÁLISE FISICO-QUMICA

Cliente: Altemar Amaral Rocha Departamento de Geografia

Forma da Coleta: Realizada pelo solicitante

Data da Coleta: 26/09/2007

Data/Entrega no Laboratório: 26/09/2007

N° Amostra / Descrição

242: Amostra 1: Poço Escuro

243: Amostra 2: Lagoa das Bateias

244: Amostra 3: Encontro dos Rios

247: Amostra 4: Rio Verruga – Fim do Marçal

248: Amostra 5: Rio Verruga - Itambé

Resultados2,3

Amostras Número Parâmetros

242 243 244 247 248

Padrões de Aceitação para consumo humano1

pH 6,3 7,7 7,5 7,3 7,4 4,0 a 10,0

Condutividade 84,0 699,0 921,0 420,0 275,0 µS/cm à 25° C

Determinação de Cloretos 38,0 49,0 48,0 30,0 24,0 mg/L Até 250 mg/L

Dureza total 42,0 39,0 32,0 37,0 33,0 mg/L Até 500 mg/L

Observações: 1Valores Descritos na Portaria N° 518 de 25/03/2004 do Ministério da Saúde 2Os resultado desta análise tem significação restrita e refere-se somente a amostra analisada, não podendo ser utilizada em qualquer tipo de propaganda. 3Análises realizadas de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater”

Responsável Técnico: _____________________________________

Page 179: Anlise socioambiental da Bacia do Rio Verruga e os processos da urbaniza§£o de Vit³ria da

Estrada do Bem-Querer, km 4, CEP 45.083-900 – Vitória da Conquista – Ba

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB Departamento de Engenharia Agrícola e Solos - DEAS

Laboratório de Controle e Qualidade de Água – LCA

Vitória da Conquista, 15 de outubro de 2007.

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

Amostra n° 914 915 916 931 932

Cliente: Altemar Amaral Rocha Departamento de Geografia

Forma da Coleta: Realizada pelo solicitante

Data da Coleta: 26/09/2007

Data/Entrega no Laboratório: 26/09/2007

Resultados

Presença de Coliformes2,3 N° Amostra/Descrição

Coliforme total Coliforme fecal

Valor máximo permitido1

914 Amostra 1: Poço Escuro > 8,0 NMP/100mL > 1,1 NMP/100mL

915 Amostra 2: Lagoa das Bateias > 8,0 NMP/100mL > 8,0 NMP/100mL

916 Amostra 3: Encontro dos Rios > 8,0 NMP/100mL Ausente

932 Amostra 4: Rio Verruga – Fim do Marçal > 8,0 NMP/100mL Ausente

931 Amostra 5: Rio Verruga - Itambé > 8,0 NMP/100mL > 1,1 NMP/100mL

Ausência em

100 mL

Observações: NMP: Número Mais Provável; UFC: Unidade Formadora de Colônia. 1Valores Descritos na Portaria N° 518 de 25/03/2004 do Ministério da Saúde 2Os resultado desta análise tem significação restrita e refere-se somente a amostra analisada, não podendo ser utilizada em qualquer tipo de propaganda. 3Análises realizadas de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater”

Responsável Técnico: _____________________________________