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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ANNE SULIVAN LOPES DA SILVA REIS MEMÓRIAS DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER ALAGOINHENSES E PADOVANOS: CONTRASTES E APROXIMAÇÕES ALAGOINHAS-BA 2010

Anne Sulivan

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Page 1: Anne Sulivan

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

ANNE SULIVAN LOPES DA SILVA REIS

MEMÓRIAS DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER

ALAGOINHENSES E PADOVANOS:

CONTRASTES E APROXIMAÇÕES

ALAGOINHAS-BA

2010

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I

ANNE SULIVAN LOPES DA SILVA REIS

MEMÓRIAS DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER

ALAGOINHENSES E PADOVANOS:

CONTRASTES E APROXIMAÇÕES

Trabalho monográfico para conclusão de curso apresentado como exigência parcial para obtenção do Grau de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus II, sob a orientação do Professor Dr. Augusto Cesar Rios Leiro.

ALAGOINHAS-BA

2010

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ii

FICHA CATALOGRÁFICA

Reis, Anne Sulivan Lopes da Silva

Memórias dos Espaços Públicos de Esporte e Lazer Al agoinhenses e Padovanos: Contrastes e Aproximações. /Anne Sulivan Lopes da Silva Reis - Alagoinhas: Universidade do Estado da Bahia, 2010 . 123 f.

Orientador: Augusto Cesar Rios Leiro

Monografia (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação.

1. Memórias 2. Esporte 3. Lazer 4. Políticas Públic as

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AGRADECIMENTOS

A minha vida é um caminho maravilhoso, tudo é possivel para mim!!!!!!!!!

Obrigada meu Deus, pela infinita e inesplicável maravilha de existir!

Obrigada minha Virgem Maria do Bom Conselho, que desde menina me acompanha!

Obrigada meu Santo Antônio, que por devoção da minha grande mãe, encaminhou- me

para Alagoinhas-Ba, cidade onde é padroeiro e para Padova- Itália, onde viveu a sua

pregueira intensamente, sendo patrono oficial, igualmente a Santo Antônio de Jesus,

cidade onde meu Pai mora atualmente.

Obrigada minha Nossa Senhora Aparecida, que sempre me direciou e alcalmou meu

coração, quando a dor de estar sem os meus me invadia...

Obrigada a meu grande exemplo de vida, José da Silva Reis, meu Pai, meu maravilhoso

painho, famoso “Zeca Silva”, que com sua coragem e força de lutar, me ensinou a olhar a

vida por meio das suas doçuras...

Obrigada minha grande Mãe Angélica Lopes da Silva, que por meio da sua dedicação e

proteção sempre nos guiou para o caminho do amor e da verdade. Te amo mainha!

Obrigada a minha querida irmã Simony, que sempre me deu forças para continuar,

acolhendo minhas dores e celebrando minhas conquistas! Somos vitoriosas “Mony”!

Obrigada meu irmão Carlinhos, “Cal”, pela torcida pela compreenção e admiração! Amo

você irmão do meu coração.

Obrigada aos meus grandes e verdadeiros amigos da minha terra natal: Samuel, Geiza,

Marta e Mércia pelo amor incondicinal e pelo companherismo mesmo a distância!

Obrigada meu grande amor e companheiro, Ramon Sena de Jesus dos Santos, meu “Rá

lindo” por juntos trilharmos sempre uma bela e maravilhosa caminhada!

Obrigada aos meus inesqueciéveis colegas e amigos de curso: Larissa, Ledinha, Suélen,

Narla, Aurelice, Nívea, Geane, Bete, Guilherme, Marquinhos, Jonatan... A lista é grande!

Obrigada a todos que estiveram comigo durante estes anos de Alagoinhas, principalmente

a bióloga Lílian e sua família, por me acolherem em sua casa, quando na residência era

mais que impossível estar...

Obrigada a minha conterrânea e residente Rosimere, que me levou para este espaço da

“RUA”, Residência Universitária de Alagoinhas, a Aline, primeira pessoa que me acolheu

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iv

quando cheguei e aos demais: Paloma, Olívia, Tatinai, Carla, Flávia, Igor, Jairo, Leandro,

Palmira, Bianca pelos momentos de partilha.

Obrigada a minha tia Rosi e seu esposo Cícero que como Ísis e sua família me acolherem

sempre em Salvador nos fins de semana e pelo otimismo que sempre passavam para mim.

Obrigada ao meu caro e ilustre professor e orientador Augusto Cesar Rios Leiro, grande

mestre e amigo que me “abriu os olhos” para o mundo acadêmico científico e sempre em

busca “da vitória final”!

Obrigada a todos os entrevistados, que gentimente me concederam além do seu precioso

tempo, um pouco de suas vidas, da sua história!

Obrigada ao meu caro professor e coodernador do curso de Educação Física, Luiz Carlos

Rocha, que sempre me encentivou para os estudos e para as realizações profissionais!

Obrigada ao professor e diretor do Departamento de Educação de Alagoinhas, Antônio

Gregório Benfica Marinho, pela orientação nos estudos de Biodança e nos tramites

burocráticos da parte administrativa da Universidade.

Meu muito obrigado aos professores Ubiratam Menezes, Gleide Sacramento, Valter

Abrantes, Maurício Maltez, Ana Cristina, Marta Benevides, Diana Tigre, Micheli Venturine,

Neuber Leite, Francisco Pitanga, a todos os citados e por ventura os não mencionados,

pela amizade, cordialidade e pelas “caronas” para meu tratamento médico e para o curso

de italiano em Salvador, degraus importantes para a conquista do meu intercâmbio com a

Università Degli Studi di Padova (UNIPD).

Um obrigado muito especial a professora Mônica Benfica, pela paciência e pela dedicação

a minha co-orientação monográfica.

Obrigada a Mirelle, Monalisa e Dejane que estando no colegiado, nos atenderam, ou

melhor, nos “socorreram” sempre e muito bem!!!

Obrigada aos amigos italianos do Don Mazza e do Grita Brasil que torceram por mim.

Obrigada, ao professor Anderson Spavier e ao professor Gianni Boscolo pela amizade e

pela contribuição ao meu Intercâmbio, o qual me possibilitou uma visão ampliada da

realidade internacional dos Espaços Públicos de Esporte Lazer! Obrigada a todos e a

todas que estiveram comigo nesta Jornada! Grazie Mille a tutti!!!!!!!!!!!!

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v

“O exílio começa com o esquecimento

e a libertação com a memória”.

Baál Shem Tov

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vi

RESUMO

A investigação em foco surge da participação no Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física, Esporte e Lazer – GEPEFEL, do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, campus II, Alagoinhas-Ba e da experiência na Iniciação Científica, bem como no Intercâmbio Cultural com a Università Degli Studio di Padova – UNIPD, Padova, Itália. Trata-se de um estudo oriundo do projeto intitulado Ordenamento Legal de Lazer e Esporte - OLLE- no município de Alagoinhas e região com o intuito de resgatar e promover as Memórias dos Espaços Públicos de Esporte e Lazer da cidade de Alagoinhas. A pesquisa mapeou, analisou, diagnosticou e discutiu políticas públicas direcionadas ao Esporte e o Lazer, registrando suas memórias e edificações simbólicas, bem como as contrastou com a realidade encontrada na cidade de Padova, situada ao norte da Itália. Caracterizada por sua natureza qualitativa, esta investigação envolveu a história oral como prática metodológica, e como técnicas a análise documental e a entrevista semi-estruturada, formando um banco de dados. Mesmo com uma imensa ausência de registros da memória alagoinhense, por parte dos setores públicos, o que evidencia um profundo descaso com a história do Esporte e Lazer, foi possível por meio de uma constante e árdua investigação, identificar a memória da cidade em questão por meio das recordações da comunidade local. Diferentemente do verificado na cidade de Padova, onde as Memórias dos Espaços Públicos do Esporte e Lazer são preservadas por meio de edificações públicas, tais como centros, museus e bibliotecas, a partir da parceria do poder público, associações comunitárias e instituições privadas. Ficou evidenciado que as Memórias dos Espaços Públicos do Esporte e Lazer Alagoinhense em sua consistência encontam-se na memória de seus cidadãos, os quais relatam saudosamente o tempo em que cidade e comunidade se reuniam para festejar sua cultura e identidade, fossem por meio das apresentações das filarmônicas em suas praças centrais, fossem pelos animados campeonatos de futebol nos campos de várzea nas áreas periféricas.

Palavras chave: Memórias, Esporte, Lazer e Políticas Públicas.

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ABSTRACT

Research in focus comes from participation in Group Study and Research in Physical Education, Sport and Leisure - GEPEFEL, the Department of Education, University of Bahia - UNEB, Campus II, Alagoinhas-Ba and experience in the Scientific Initiation and as in cultural exchange with the Università Degli Studio di Padova - UNIPD, Padova, Italy. This is a study originated from a project entitled Land, Use, Legal Leisure and Sport - OLLE is Alagoinhas municipality and region. Aiming to rescue and promote the Memoirs of Public Spaces for Sport and Leisure City Alagoinhas, research mapped, analyzed diagnosed, and discussed public policies directed to Sports and Recreation, recording their memories and symbolic buildings as well as contrasted with the reality found the city of Padova, north of Italy. Characterized by its qualitative nature, this research involved oral history as a methodological practice, and how technical document analysis and semi-structured interview, forming a database. Even with a huge lack of records concerning the memory of city by public sectors, which shows a profound disregard for the history of Sports and Recreation, was possible through a constant and arduous research, identify the memory of the city issue through the memories of the community alagoinhense. Unlike established in the city of Padova, where the Memoirs of Public Spaces for Sport and Recreation are preserved by means of public buildings such as shopping, museums and libraries, through a partnership of public, community organizations and private institutions. It was demonstrated that the Memoirs of Sport and Recreation Alagoinhense in its consistency are found on the memory of its citizens, which report wistfully the days when the city and the community gathered to celebrate their culture and identity, whether through the presentations of Philharmonic in its central squares, were excited by the football championships in soccer fields in peripheral areas

Keywords: Memories, Sports, Recreation and Public Policy.

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RESUMEN

Tema a fondo proviene de la participación en el Grupo de Estudio e Investigación en Educación Física, Deporte y Ocio - GEPEFEL, el Departamento de Educación de la Universidad de Bahía - UNEB, II Campus, Alagoinhas-Ba y experiencia en la iniciación científica y como en el intercambio cultural con la Università degli Studio di Padova - UNIPD, Padova, Italia. Este es un estudio de su origen en un proyecto titulado Uso de la Tierra Legal Ocio y Deporte - OLLE que Alagoinhas municipio y la región. Con el objetivo de rescatar y promover las Memorias de espacios públicos para el Deporte y Ocio de la ciudad Alagoinhas, trazó un mapa de investigación, analizan, diagnóstico y discuten las políticas públicas dirigidas al Deporte y la Recreación, grabación de sus recuerdos y edificios simbólicos, así como en contraste con la realidad encontrada la ciudad de Padova, al norte de Italia. Caracterizado por su naturaleza cualitativa, esta investigación participan la historia oral como una práctica metodológica, técnica y cómo el análisis de documentos y entrevistas semi-estructuradas, formando una base de datos. Incluso con una enorme falta de documentación relativa a la memoria de la ciudad por los sectores público, lo que demuestra un profundo desprecio por la historia de Deportes y Recreación, fue posible a través de una investigación constante y arduo, identificar la memoria de la ciudad cuestión a través de los recuerdos de la alagoinhense comunidad. A diferencia establecida en la ciudad de Padua, donde las Memorias de espacios públicos para el Deporte y la Recreación se conservan a través de edificios públicos como tiendas, museos y bibliotecas, a través de una asociación de organizaciones públicas de la comunidad, e instituciones privadas. Se demostró que las Memorias del Deporte y la Recreación Alagoinhense en su consistencia se encuentran en la memoria de sus ciudadanos, que informe con nostalgia los días en la ciudad y la comunidad reunida para celebrar su cultura y su identidad, ya sea a través de las presentaciones de Filarmónica en sus plazas centrales, estaban emocionados por los campeonatos de fútbol en las canchas de fútbol en las zonas periféricas.

Palabras clave: Memorias, Deportes, recreación y Política Pública.

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RÉSUMÉ

Recherche en bref vient de la participation au Groupe d'étude et de recherche en éducation physique, Sport et Loisirs - GEPEFEL, le ministère de l'Éducation, Université de Bahia - UNEB, Campus II, Alagoinhas-Ba et de l'expérience dans l'initiation scientifique et comme dans les échanges culturels avec l'Università degli di Padova Studio - UNIPD, Padoue, Italie. Il s'agit d'une étude provenant d'un projet intitulé Aménagement juridique du Loisir et du Sport - OLLE de la municipalité Alagoinhas et de la région visant à conserver et à promouvoir les Souvenirs des espaces publics du sport et de loisirs de la ville Alagoinhas, cartographié la recherche, analysé, le diagnostic et discuté les politiques publiques visant à Sport et du Loisir, de l'enregistrement de leurs souvenirs et des bâtiments symboliques, ainsi que contraste avec la réalité trouvé la ville de Padova, au nord de l'Italie. Caractérisée par sa nature qualitative, cette recherche est une sorte de reconstitution de l'histoire orale comme pratique méthodologique avec comme technique l'analyse de documents et d’entretiens semi-structurés servant de base de données. Malgré un manque criard de documents publics concernant la mémoire de la ville, ce qui témoigne d'un mépris profond pour l'histoire du sport et des loisirs, il nous a été possible grâce à une recherche constante et pénible de restaurer, ne se reste qu’en partie, la mémoire de la ville en ce qui concerne le sport et les loisirs à travers les souvenirs de la communauté de Alagoinhas. Contrairement établi dans la ville de Padoue, où les Mémoires d'espaces publics pour le sport et les loisirs sont conservés par le biais de bâtiments publics tels que magasins, musées et bibliothèques, grâce à un partenariat public des organismes communautaires et des institutions privées. Il a été démontré que les habitants de Alagoinhas gardés précieusement dans leur mémoire les souvenirs du sport et des loisirs dans la logique successive des évènements vécus et, ils en rendent compte avec toute la nostalgie d’une époque où la population de la ville se réunissait pour célébrer leur culture et leur identité, que ce soit sous forme de présentation des philharmoniques au niveau des places centrales ou lors de l’enthousiasme provoqué par les championnats de football sur les terrains de soccer dans les zones périphériques.

Mots-clés: Souvenirs, Sports, Loisirs et Politique Publique.

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RIASSUNTO La ricerca nel fuoco proviene dalla partecipazione al Gruppo di Studio e Ricerca in Educazione Fisica, Sport e Tempo libero - GEPEFEL, il Dipartimento di Scienze della Formazione, Università di Bahia - dall'UNEB, Campus II, Alagoinhas-Ba e di esperienze nel Iniziazione scientifica e come in uno scambio culturale con l'Università degli Studio di Padova - UNIPD, Padova, Italia. Questo è uno studio nato da un progetto intitolato uso del territorio legali per il tempo libero e lo sport - OLLE nella cità di Alagoinhas comune e regione. Con l'obiettivo di salvare e promuovere le Memorie di spazi pubblici per lo Sport e Tempo Libero della città ad Alagoinhas, la ricerca ha mappato, analizzate, diagnosi e discusse le politiche pubbliche dirette a Sport e Tempo libero, registrando i loro ricordi e gli edifici simbolici come pure in contrasto con la realtà trovata la città di Padova, nord Italia. Caratterizzato dalla sua natura qualitativa, la ricerca coinvolti storia orale come pratica metodologica, e come documento di analisi tecnica e l'intervista semi-strutturata, formando un database. Anche con una mancanza enorme di documenti riguardanti la memoria della città con i settori pubblici, che mostra un disprezzo profondo per la storia dello sport e tempo libero, è stato possibile attraverso una costante ricerca e arduo, identificare la memoria della città questione attraverso i ricordi della comunità locale. A differenza istituito nella città di Padova, dove sono conservate le memorie di spazi pubblici per lo Sport e Tempo Libero per mezzo di edifici pubblici come lo shopping, musei e biblioteche, attraverso un partenariato pubblico, organizzazioni comunitarie e istituzioni private. È stato dimostrato che le Memorie di spazi pubblici per lo Sport e tempo libero in Alagoinhense in consistenza si trovano nei ricordi dei suoi cittadini, che malinconicamente report il giorno in cui la città e la comunità riunita per celebrate loro cultura ed identità, sia attraverso le presentazioni delle Filarmonica nelle sue piazze centrali, o per eccitati dalla campionati di calcio in campi di calcio in aree periferiche.

Parole chiave: Memories, Sport, Tempo Libero e Politiche Pubbliche.

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LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS

Aia

Associazione italiana arbitri, Coni - Comitato regionale veneto e Scuola regionale dello Sport (Associação Italiana de Ábitros, Coni - Comitê Regional Veneto e Escola Regional do Esporte).

Aia- Figc Associazione italiana arbitri calcio - sezione di Padova (Associação Italiana de Árbitros Futebol, seção de Padova).

Aiac Associazione italiana allenatori calcio - sezione di Padova (Associação Italiana Treinadores de Futebol, seção de Padova).

BA Bahia

CMEL Centro de Memória de Esporte e Lazer

DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos

Fgi Federazione ginnastica d'Italia - Comitato regionale veneto (Federação Ginástica da Itália – Comitê Regional Veneto).

FAPESB Fundação de Amparo ao Pesquisador da Bahia

Fidasc Federazione italiana disciplina con armi sportive da caccia - Comitato regionale veneto (Federação Italiana de Armas Esportivas de Caça-Comitê Regional Veneto).

Fids Federazione italiana danza sportiva – Comitato regionale veneto (Federação Italiana Dança Esportiva – Comitê Regional Veneto).

Figh Federazione italiana gioco handball - Comitato regionale veneto (Federação Italiana jogo Handebol- Comitê Regional Veneto).

Fipav Federazione italiana pallavolo - Comitato regionale veneto (Federação Italiana Vôlei – Comitê Regional Veneto).

Fipsas

Federazione italiana pesca sportiva e attività subacquee - Comitato regionale veneto (Federação Italiana pesca Esportiva e Atividade Subaquática – Comitê Regional Veneto).

Fise Federazione italiana sport equestri - Comitato regionale veneto (Federação Italiana Esporte Eqüestre – Comitê Regional Veneto).

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Fisd Federazione italiana sport disabili - Comitato regionale veneto (Federação Italiana Esporte com Mobilidade Condicionada – Comitê Regional Veneto).

Fiso Federazione italiana sport orientamento - Comitato regionale veneto (Federação Italiana Orientação ao Esporte – Comitê região veneto).

GEPEFEL Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Esporte e Lazer

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INSS

Ministério da Previdência Social

IPAC Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Cultural da Bahia

JJ SEABRA José Joaquim Seabra

OLLE Ordenamento Legal do Lazer e Esporte

PICIN Programa de Iniciação Cientiífica

RUA Residência Universitária de Alagoinhas

SECEL Secretária Municipal de Cultura, Esporte e Lazer

UNEB Universidade do Estado da Bahia

UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura

UNIPD Università Degli Studi di Padova (Universidade dos Estudos de Padova).

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 01 - MAPA DA CIDADE DE ALAGOINHAS- BAHIA- BRASIL ............................. 17

FIGURA 02 - MAPA DA CIDADE DE PADOVA- VENETO- ITÁLIA ................................... 18

FIGURA 03 – CARTUM ..................................................................................................... 25

FIGURA 04. PIAZZA DEI SIGNORI. .................................................................................. 53

FIGURA 05. PIAZZA DELLE ERBE. .................................................................................. 54

FIGURA 06. PIAZZA DEI FRUTTI. .................................................................................... 54

FIGURA 07. PIAZZA DELL’ INSURREZIONE. .................................................................. 55

FIGURA 08. PIAZZA YTZHAK RABIN.(PIAZZA DELLA PACE) ........................................ 55

FIGURA 9. VISTA PANORÂMICA DO PRATO DELLA VALLE. ........................................ 57

FIGURA 10. FESTA DI FERRAGOSTO. ........................................................................... 57

FIGURA 11. MARATONA S. ANTONIO.. .......................................................................... 57

FIGURA 12. CARTILHA INFORMATIVA DOS ESPAÇOS PUBLICOS PARA A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA NA CIDADE ................................................................................. 58

FIGURA 13. CARTILHA INFORMATIVA PARA A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA NOS ESPAÇOS PÚBLICOS DA CIDADE. ................................................................................. 58

FIGURA 14. BIBLIOTECA DELLO SPORT. ...................................................................... 60

FIGURA 15: STADIO EUGANEO ...................................................................................... 60

FIGURA 16. PADOVA-TORINO , BACIGALUPO,1949. “LE ORIGINI”.. ............................ 62

FIGURA 17. PADOVA-ROMA, BRIGHENTI MORO ROSA,1958. “L’ERA ROCCO”.. ....... 62

FIGURA 18 E 19 - PRAÇA RUI BARBOSA, 1950. ............................................................ 78

FIGURA 20 - PRAÇA RUI BARBOSA, DÉCADA DE 70. ................................................... 78

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FIGURA 21 - PRAÇA RUI BARBOSA, PLAYGROUNDS, JANEIRO DE 2009.. ................ 79

FIGURA 22 - PRAÇA RUI BARBOSA, JUNHO 2009.. ..................................................... 79

FIGURA 23 - PRAÇA JJ SEABRA, “CORETO”, 1929.. ..................................................... 81

FIGURA 24 - PRAÇA JJ SEABRA, “CORETO”, 1929. ...................................................... 82

FIGURA 25 - PRAÇA DR. J.J SEABRA, 1945. .................................................................. 84

FIGURA 26 - PRAÇA DR. J.J SEABRA, 2009. .................................................................. 85

FIGURA 27 - PRAÇA DR. J.J SEABRA, CORETO ........................................................... 85

FIGURA 28 - PRAÇA DR. J.J SEABRA, “JOGO DE DAMA”. ............................................ 86

FIGURAS 29 E 30 - PRAÇA MÁRIO LAERTE. ACIMA E ABAIXO, QUADRAS POLIESPORTIVAS.. .......................................................................................................... 87

FIGURA 31 - PRAÇA MÁRIO LAERTE PISTA DE SKATE.. ............................................. 88

FIGURA 32 - GINÁSIO DE ESPORTES ANTÔNIO C. MAGALHÃES .............................. 89

FIGURA 33 - ESTÁDIO MUNICIPAL ANTONIO CARNEIRO (CARNEIRÃO). ................. 89

FIGURAS 34 E 35 - ESTÁDIO MUNICIPAL ANTONIO CARNEIRO (CARNEIRÃO)1970 E 2008.. ................................................................................................................................. 90

FIGURAS 36 E 37. ALAGOINHAS ATLÉTICO CLUBE 1973 E 2008................................90

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xv

SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................................................... VI

ABSTRACT ....................................................................................................................... VII

RESUMEN ....................................................................................................................... VIII

RÉSUMÉ ........................................................................................................................... IX

RIASSUNTO ....................................................................................................................... X

LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS ............................................................................ XI

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 16

2. ESPORTE E LAZER: VIAS DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO-EDUCATIVAS ......... 23

3. POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPAÇOS PÚBLICOS: MEIOS DE CONSTRUÇÃO SOCIAL .............................................................................................................................. 33

3.1. PRAÇAS PÚBLICAS: LEMBRANÇAS DA COMUNIDADE ..................................... 42

4. MEMÓRIAS: O RECANTO DA HISTÓRIA ................................................................. 47

5. A CIDADE DE PADOVA E A MEMÓRIA DE SEUS ESPAÇOS PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER .......................................................................................................... 52

6. PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................................. 65

7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO ............................................................................. 73

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 91

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 96

APÊNDICE

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16

1. INTRODUÇÃO

O Estudo sobre as Memórias dos Espaços Públicos de Esporte e Lazer

alagoinhense, surgiu a partir da inquietação como bolsista de iniciação científica e da

vinculação de caráter investigativo do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Física,

Esporte e Lazer (GEPEFEL) da Universidade do Estado da Bahia - UNEB campus II,

situada em Alagoinhas – Bahia - Brasil, em parceria da Fundação de Amparo a Pesquisa

do Estado da Bahia (FAPESB) no ano de 2007-2008 e o apoio do Programa de Iniciação

Cientifica da UNEB (PICIN) no ano 2008-2009, nos quais obteve premiação nos

respectivos anos, como melhor trabalho da área das Ciências Aplicadas na Jornada de

Iniciação Científica da UNEB.

Esta pesquisa advém do desmembramento do projeto intitulado Ordenamento

Legal do Lazer e Esporte - OLLE- em municípios baianos, notadamente em Alagoinhas e

região. No OLLE, encontram-se vários subprojetos e dentre eles, Memórias do Esporte e

Lazer Alagoinhense, o qual por meio de uma constante investigação sobre o tema

originou a idéia da construção de um estudo mais profundo e de ampla intervenção a

respeito das memórias dos espaços públicos de esporte e lazer e das políticas públicas

referentes ao tema.

Localizada no leste baiano, a cidade de Alagoinhas (nome dado devido ao número

de lagoas existente na região), conhecida também na literatura como “Pórtico de Ouro do

Sertão Baiano”, tendo mais 150 anos, possui uma população de 132.725 habitantes

(IBGE, 2007), em uma área de 734 km². É uma das cidades mais desenvolvida do agreste

baiano, com um expressivo pólo comercial e industrial, e com uma relevante infraestrutura

nas áreas referentes a saúde e a educação, pois abriga não somente diversas clínicas,

mas um complexo hospitalar com diversas modalidades médicas, além de abrigar um dos

maiores campus universitários da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, denominado

Campus II, que em 2011 completa 30 anos de sua instalação. A cidade conta também

com diversas faculdades particulares e cursos técnicos nas áreas de Petróleo e Gás, já

que estar próxima a uma zona petrolífera.

Umas das manifestações culturais mais importantes na cidade é a famosa “Alafolia“

micareta de Alagoinhas realizada sempre em Abril e a festa de Santo Antônio, padroeiro

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do município, no período de junho que reune a população das regiões circunvizinhas ao

som do tradicional forró. Tem como monumentos simbólicos da história alagoinhense, a

Estação Ferroviária São Francisco, com influência neoclássica, datada de 1863, única no

país e a Ruína da igreja inacabada em Alagoinhas Velha, construída por jesuítas no

século XVIII. Podemos localizar o município de Alagoinhas no mapa do estado da Bahia

(Figura 01):

A outra cidade em foco na presente investigação é a cidade de Padova, localizada

no norte da Itália, na região Veneto, fundada em 1132 a.C, com a população de 213.591

habitantes (PADOVA, 2010). Conhecida internacionalmente por ser a cidade onde Santo

Antônio (Frade Franciscano), passou grande parte de sua vida e veio a falecer em 13 de

junho de 1231 data, que até hoje é festejado pelos padovanos e pelos cristãos devotos

em todo o mundo, a exemplo dos Alagoinhenses como a festa de Santo Antônio, no mês

de junho. Padova também abriga a Università Degli Studio di Padova, sétima universidade

mais antiga do mundo, datada de 1222, tendo como ilustre estudante e professor Galileu

Galilei. É nesta cidade também que se passa parte da peça de Willian Shakespeare, “A

Megera Domada” e onde está localizado o “Musei Civici agli Eremitani”, um grande

complexo que reúne 3 museus, os quais recebem turistas de toda parte, para vê dentre

outros, os afrescos de Giotto. Nesta também se encontra o “L’Orto Botanico di Padova”,

fundado em 1545, é o jardim botânico universitário mais antigo do mundo, considerado

patrimônio mundial pela UNESCO. Esta cidade, sempre se destacou pelas grandes

Figura 01 - Mapa da cidade de Alagoinhas- Bahia- Br asil

Page 19: Anne Sulivan

18

referências na história, na cultura e na arte, consagrado o seu viés turístico. Atualmente

esta se sobressai pelo grande fluxo estudantil e pelo destaque que tem em toda Europa,

como centro econômico de transportes intermodal (PADOVA, 2010). O mapa abaixo

localiza a cidade de Padova (Figura 02):

Figura 02 - Mapa da cidade de Padova- Veneto- Itál ia

Observando a cidade como um pólo de formação humana e social em que o

Estado deve ser o grande responsável pelas ações que resguardam os direitos básicos

como: Educação, Saúde e Segurança Pública, podemos evidenciar no Brasil e

especificamente em seus municípios a nítida prevalência do “Estado mínimo”, provindo da

implantação de políticas neoliberais no país, as quais minimizam a participação do Estado

na sociedade e consequentemente promovem uma drástica redução no campo dos

direitos sociais, refletindo com bastante consistência, nas esferas do esporte e do lazer, já

que estes são direitos respaldados pela constituição brasileira.

Focalizando a grande importância e o poder de transformação social que tanto o

esporte como o lazer tem na sociedade, é notável que manifestações de cunho

reivindicatório por meio dessas áreas estejam crescendo cotidianamente, apesar do não

reconhecimento por parte do poder público, o que porventura limita o desenvolvimento e a

ampliação dessas áreas (MARCELLINO, 1996, p. 40).

Diante da necessidade de construir propostas que vão ao encontro das Políticas

Públicas de Esporte e Lazer, por meio da preservação da memória dos seus espaços

Page 20: Anne Sulivan

19

públicos, surge um questionamento: qual é a relevância do resgate da memória dos

espaços públicos de Esporte e Lazer na construção de Políticas Públicas referentes a

essa temática na cidade de Alagoinhas-Bahia-Brasil?

A temática em foco nasce a partir de inquietações acerca da responsabilidade da

Educação Física nos espaços não formais de Educação, onde o poder político é operante

de forma opressora ou simplesmente não opera. Tais inquietações surgem primeiramente

com o ingresso ao curso de Educação Física, o que foi ampliado progressivamente por

meio do acesso de leituras críticas, discussões e participações em diversos eventos da

área, bem como, por meio da Iniciação Científica, do contato com pesquisadores e

estudantes de outras instituições de ensino e de áreas a fins, a exemplo da Geografia,

com o contato da minha irmã Simony Reis, estudante e pesquisadora desta área, e da

História, com o apoio do professor Gregório Benfica, me fez entender profundamente o

conceito de Espaços Públicos e de Memória. Por fim, o intercâmbio cultural realizado com

a Università degli Studi di Padova, na cidade de Padova, Itália no primeiro semestre de

2010, motivo pelo qual este trabalho não foi apresentado no segundo semestre de 2009,

veio para fortalecer e enriquecer ainda mais as experiências e os conhecimentos

acadêmicos vivenciados no Brasil.

O alvo da pesquisa em questão esta em resgatar as memórias dos espaços

públicos de Esporte e Lazer da cidade de Alagoinhas por meio do mapeamento, análise e

discussão dos relatos dos seus atores sociais e de suas políticas públicas, no intuito de

fornecer dentre outros, o reconhecimento do espaço público como um posto educativo,

baseado nos aspectos da educação dita Não-Formal.

O papel do resgate das memórias dos espaços públicos de esporte e lazer está no

reavivamento da identidade sociocultural, neste caso particular, dos cidadãos

alagoinhenses, esquecida em meio ao seu passado histórico, o qual deve ser assimilado

como peça fundamental para a construção e a continuidade de sua edificação histórica,

registrando as memórias e construções simbólicas a elas estabelecidas. Partimos do

pressuposto de que o conhecimento da sua história se configura como base estrutural

para a construção de quaisquer políticas públicas de cunho social que realmente vise à

melhoria da qualidade de vida da população tendo em vista que, para a realização deste

resgistro, é necessário perpassar pela questão que entrelaça o campo da educação e da

política, por meio do processo de mediação cultural, estimulação social que visem

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20

encontrar novas formas de comunicação e de ocupação do espaço público. E nada

melhor que saber aproveitar o ambiente da cidade que nos cerca para concretizar ações

de grande importância social, como é o caso do esporte e do lazer que juntos

representam manifestações de grande poder de transformação e expressão cultural.

Este estudo investigou detalhadamente a influência das memórias dos espaços

públicos na estruturação das políticas públicas referentes ao esporte e lazer citadino,

tendo como principal via de acesso o rememoramento de seus atores sociais e a ação

educativa que este produz. Já que a memória, o passado, a história estão presentes em

toda sociedade, sendo responsável pelas principais mudanças na estrutura política,

econômica, cultural e social de uma nação. Pensando em Memórias como um

instrumento de resgate e preservação histórica importantíssima para a cultura e

sociedade, onde sua estruturação se apresenta, ao contrário do que se possam imaginar,

como um grande subsídio para a busca de vestígios perdidos, fragmentos inusitados do

passado, grandes descobertas. Estas podem subsidiar a Gestão municipal com reflexões

críticas a respeito de suas políticas públicas frente à população local, condizentes com as

práticas de sua preservação histórica, para além das limitações objetivas de sua

promoção, conservação e manutenção, na tentativa de resgatar suas referências

identitárias e de promover a educação através da socialização de conhecimentos

históricos regionais.

No intuito de refletir sobre os preceitos que regem uma sociedade cidadã

conhecedora de sua história e que valoriza a cultura, as tradições, em meio a sua

arquitetura urbana e seus espaços públicos, os quais também são ambientes de formação

humana e social, a exemplo dos espaços do esporte e do lazer, proponho o registro das

Memórias do Esporte e Lazer praticados nos espaços públicos da cidade de Alagoinhas,

focalizando suas principais praças, objetivando contribuir para a construção de políticas

públicas que resguardem a história e a memória citadina, como meio de educação e

formação popular.

Na intenção de promover uma reflexão e encontrar possíveis soluções aos

questionamentos expostos, desenvolvemos 8 itens no referente trabalho. O primeiro

discorre a apresentação da pesquisa, contextualizando o objeto, a justificativa, os

pressupostos, os objetivos e as inquietações responsáveis pelo desenvolvimento do

estudo. No segundo capítulo, Esporte e Lazer: vias de desenvolvimento sócio -

Page 22: Anne Sulivan

21

educativas, mencionamos os principais conceitos de esporte e de lazer no campo social e

educacional, trazendo suas ocorrências no Brasil, os processos de transformação que

estes estão passando, bem como a ampliação no seu campo de atuação no contexto

social. Aprofunda-se questionamentos do esporte como manifestação cultural e o Lazer

como prática a cidadania, ambos legitimados como direitos humanos pelas organizações

de nível federal a mundial. Aqui são analisados documentos públicos que resguardam

esses como direitos a exemplo da Constituição Federal Brasileira e o Relatório da

Organização das Nações Unidas bem como o conceito da Educação não-formal como

instrumento forte de aprendizagem dos direitos dos indivíduos, por meio da sua

flexibilidade com o tempo e com seus espaços. O terceiro, intitulado Políticas Públicas e

Espaços Públicos: meios de construção social, diz respeito às implicações e as

aplicações das Políticas Públicas como construções participativas de uma coletividade.

Estas, neste contexto, aplicam-se aos Espaços Públicos focalizando o Esporte e o Lazer

como principais vias de desenvolvimento, enfatizando, definições, posições e ações tanto

da esfera estatal como da ação comunitária. Relata-se também a organização do Espaço

Público como ambiente precursor da qualidade de vida para os citadinos.

Para entender esta realidade, analisamos algumas definições a respeito da cidade

e da qualidade de vida, em conjunto a estruturação do espaço público. Isto demandou a

formação de um sub - capítulo abordando questões específicas referentes às Praças

Públicas, que foram os espaços estudados na perspectiva de BOSI (1988, p. 43)

verdadeiros “locais da memória”, constituindo-se como elementos centrais nesta

discussão. No quarto capítulo, Memórias: o recanto da história, a memória é discutida

como uma forma de preservação e manutenção da identidade cultural, a qual por meio do

ato de rememorar os fatos, as realidades ocorridas, detém o poder de construir o agora,

recontando o passado e planejando o futuro. No quinto capítulo, Memórias dos Espaços

Públicos de Esporte e Lazer Alagoinhenses e Padovanos: contrastes e aproximações,

reconto a trajetória da minha experiência internacional na cidade de Padova, Itália, por

meio do intercâmbio cultural entre a UNEB e a UNIPD, evidenciado contrastes e

aproximações nos campos do Esporte e Lazer entre as cidades em questão. No sexto, é

disponibilizado o Percurso Metodológico, este descreve o caminho percorrido do trabalho,

tanto os referenciais metodológicos, quanto os procedimentos adotados para o

desenvolvimento do estudo. Ė colocado no sétimo capítulo a Apresentação e a

Discussão, tratando-se da apresentação e discussão do tema pesquisado. Chegando ao

Page 23: Anne Sulivan

22

fim, ao oitavo capítulo é exposto as considerações finais acerca da investigação sobre as

Memórias do Esporte e Lazer Alagoinhense: uma questão de políticas públicas,

constatando sua realidade, indicando suas limitações, seus possíveis progressos, bem

como propor mecanismos de transformação para a melhoria das mesmas.

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23

2. ESPORTE E LAZER: VIAS DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO -EDUCATIVAS

Para iniciarmos a nossa discussão sobre o esporte este fenômeno

economicamente ativo e de crescimento exorbitante, nada melhor que nos votarmos ao

seu surgimento. Existem muitas especulações a respeito de como se iniciou as práticas

esportivas de viés cultural. Melo, em seu livro “Dicionário do Esporte no Brasil”, relata que:

Na definição do surgimento do esporte enquanto uma manifestação cultural pode-se situar duas grandes tendências. Na primeira delas, acredita-se que o esporte já existia na Antigüidade, sendo identificado em jogos que eram praticados por chineses, egípcios e gregos entre outros. Já na outra tendência procura-se entendê-lo como um fenômeno da modernidade, que, mesmo apresentado similaridades com antigas práticas corporais, possui sentidos e significados completamente diferenciados daqueles jogos “pré-esportivos”. (MELO, 2007, p.68).

As grandes discussões a respeito do esporte giram em torno do esporte moderno

na tentativa de entendê-lo e distingui-lo das práticas primárias de competição. Vários

estudiosos do assunto justificam a incompreensão do esporte, por modelos de análises

preconcebidos devido a este encontrar-se ainda em processo de constituição, Gebara

(2002) caracterizado pelos fatores que perpassam a sistematização secular, a

oportunidade igualitária em meios competitivos, o respeito às condições apresentadas, a

precisão das regras, a internacionalização, a burocratização, a qualificação, além da

corrida aos recordes.

Sem dúvida, o esporte faz hoje parte, de uma ou de outra forma, da vida da maioria das pessoas em todo o mundo. [...] Hoje ele é, em praticamente todas as sociedades, uma das práticas sociais de maior unanimidade quanto a sua legitimidade social. (BRACHT, 1997, p. 5).

Ao ressaltarmos o Esporte, como uma manifestação cultural de imenso poder de

influência populacional, e tendo este como umas das principais formas de lazer

envolvendo grande contingente populacional, Melo (2004) propõe que, o esporte foi uma

das mais importantes manifestações culturais do século passado, sendo procurado e

acessado com a mesma magnitude nos momentos de lazer. No entanto ao conceber o

esporte como forma de lazer, o mesmo autor evidencia a necessidade de se requerer

atenção para instâncias maiores, como, por exemplo, a monocultura do futebol e a

carente crítica ao fenômeno esportivo.

Page 25: Anne Sulivan

24

Segundo Linhales (2001) a importância do esporte como um bem cultural, esta na

sua edificação histórica pela sociedade, a qual o legitimou como um dos seus direitos,

apesar deste encontra-se nas administrações públicas, emaranhado a setores sociais,

servindo de instrumento para inúmeros fins, a exemplo das atividades complementares

em políticas ligadas tanto a educação como a saúde.

Já Bracht (2002) nos traz que a legitimidade do esporte no âmbito social se dá por

meio da sua grande capacidade de revigorar e por em dias, os valores, as normas

comportamentais, e os princípios regidos pela atmosfera social. Neste sentido a

significância do esporte na sociedade não estar apenas associado a cultura popular, mas

na sua capacidade de transmitir valores, expressar desejos e proporcionar

questionamentos de forma extremamente impactante, na medida que promove grande

repercussão, atrelada a uma constate reflexão. Por isso temos o esporte como um

instrumento de grande poder social, como nos afirma Leiro (2004):

O esporte é tomado como direito social situado num tempo histórico e uma prática social de grande alcance popular. Uma prática social que influencia e é influenciada pelas decisões políticas e econômicas e que, cada dia mais, com seu poder objetivo e subjetivo, vem persuadindo o pensar e o fazer cotidiano de parcelas significativas das populações. (LEIRO, 2004, p.45).

No Brasil o esporte esta na constituição como um dos direitos do cidadão,

especificamente em seu artigo 217, reconhecendo-o como manifestação cultural de

grande importância social. Tal documento enfatiza tanto o esporte de cunho educativo

como o esporte consagrado ao lazer.

Ao observarmos o lócus do Esporte como um instrumento educacional, nos

deparamos com uma manifestação de cunho formativo que prepara os sujeitos para o

pleno exercício cidadão, baseados em conteúdos sócio-educativos que passa pelos

critérios da participatividade, cooperatividade, co-educatividade, movimentos de

integração, interação e responsabilidade (Tubino,1999, p.27). Neste sentido a invertida

em Esportes de identidade cultural, originados na própria cultura, seja ela identidade

nacional ou regional, conotam aspectos bastante relevantes, pois reforçam a ligação que

existi do ser humano e seu cotidiano, reafirmando sua história, seu ambiente social, os

quais são resguardados em sua memória servindo de base para a legitimação e a

concepção historiografia de suas edificações como ser humano social, político e cultural.

Page 26: Anne Sulivan

25

De acordo com o conceito do esporte como ferramenta educacional, podemos

identificar no cartum abaixo (Figura 03), uma das suas interrelações, a qual permeia o

campo da associação de conhecimentos prévios, teóricos com os adquiridos, por meio de

vivências esportivas.

Figura 03 – Cartum

O Esporte como via de desenvolvimento sócio-educativa, de caráter individual e

coletivo, por meio da sua pluralidade pode ser evidenciado de início nas primícias que o

regem desde a socialização, o ato de compartilhar, o contar com o outro, até suas

dimensões mais complexas, as quais dizem respeito ao compromisso com a efetivação

de objetivos, a superação, o rendimento, o competitividade, o sucesso, a alienação e o

compromisso com a vitória. Ao pensarmos em uma formação humana baseada na

interculturalidade, devemos voltarmos-nos para o esporte e refletirmos sobre a

capacidade que este tem de desenvolver valores éticos, morais e sociais entre os sujeitos

sociais que os pratica, como meio de afirmação identitária, exposição de diferenças e

respeito aos limites. E por ser uma manifestação que abrange um sentido diversificado, já

que estar em uma constate transformação pelos sujeitos que os praticam, no que diz

respeito a seus valores, o esporte transcende uma interface multicultural, o que legítima a

pluralidade de seus sentidos na sociedade.

O esporte hoje é uma das principais atividades de lazer praticado por grande parte

da população, e o futebol se configura como a maior delas. Podemos afirmar que esta

realidade esta inteiramente relacionada com conceitos pré-estabelecidos entre os meios

de comunicação de massa e o próprio sistema esportivo, já que é evidente na rotina

midiática, a hegemonia futibolística predominante no tempo e espaço reservados a esse

Page 27: Anne Sulivan

26

esporte em específico, restringindo as outras tantas modalidades esportivas a meros

segundos informativos, quando estes existem é claro.

Fatos como estes nos porta a uma dimensão controversa, à medida que esclarece

pontos cruciais da relação comunidade e poder público, pois evidencia a prevalência da

desvalorização das práticas esportivas condivisas com a comunidade, a qual rege a

integração social, ao destinar maior importância ao esporte fundamentado nos preceitos

capitalistas, constituído como um produto exposto em prateleiras pronto para ser

comercializado, onde seus valores não estão na capacidade de fortalecer relações

humanas, sócio - culturais e de propiciar questionamentos do sistema operante, mas no

poder alienatório da manutenção e reprodução do modelo capitalista, da sociedade do

consumo, infelizmente vigentes em nosso cotidiano.

E graças a essa articulação condizente com o modelo da dinâmica neoliberal que,

tanto os serviços como os espaços públicos antes assegurados e destinados ao esporte

tão quanto ao lazer, hoje são comercializados, em sua maioria por lucrativos setores

privados, demonstrando um crescimento exacerbado das privatizações, negando os

cidadãos os direitos ao esporte e ao lazer, como diz a constituição brasileira. Assim o

cidadão dá lugar ao consumidor, o qual também é dotado de “direitos” todos referentes é

claro aos bens de consumo prevalecentes na instauração do Estado Mínimo, o qual deixa

a mercê das instituições privadas a estruturação dos espaços públicos esportivos e a

construção e realização de programas referentes aos mesmos, reafirmando o seu

descaso com o setor público, renegando os direitos de seus cidadãos, já que não é capaz

de cumprir com seus deveres de Estado (BRACHT, 2002), o que consequentemente

reforça a indústria do entretenimento, e ou do lazer.

Iniciamos o debate sobre o Lazer, pelo entendimento da origem de sua palavra, a

qual deriva do latim licere, ou seja, ser lícito, ser permitido a algo. E na perspectiva da

liberdade dos afazeres humanos, que buscamos por meio de vários autores de visões

diversas, compreender as discussões nesta área, na tentativa de promover novas

possibilidades e aperfeiçoar as existentes.

Assim vale considerar que discutir o Lazer requer considerar algumas concepções

contemporâneas a respeito deste fenômeno. Iniciamos por Mascarenhas, que relata:

O lazer se apresenta como lugar de uma experimentação valorativa onde a estética, a ética e a política articulam-se como dimensões que acabam por

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27

tornar impossível qualquer iniciativa de dissociá-lo do conceito de educação.(MASCARENHAS, 2001, p.1).

Para este estudioso, o lazer é como qualquer outra esfera do social, que esta

conectada em um espaço interdisciplinar, o qual a todo o momento interage com as

demais esferas da sociedade seja com a política, religião, saúde, educação, relações

pessoais e demais outras. Para este autor lazer nada mais é que uma grande via de

desenvolvimento da cidadania e para a consagração da liberdade. E por isso que o

mesmo ressalta:

“A prática do lazer se configura enquanto uma possibilidade de construção de sujeitos co-participantes do processo educativo e que se transformam na medida em que modificam também suas próprias circunstâncias de vida”.(MASCARENHAS, 2001, p.7).

Ao falarmos de lazer recorremos à necessidade prioritária do ser humano, de

sentir-se livre, de poder vivenciar momentos em que sua vontade, seu prazer direciona

suas ações, as quais são determinadas única e exclusivamente por ele, proporcionando

sua autonomia tanto no âmbito social quanto cultural. Medeiros (1975) diz que o Lazer

significa muito mais que um momento de diversão, este corresponderia primeiramente a

uma das necessidades estruturais de base do ser humanizado. Portanto acordamos que:

”O lazer como prática da liberdade significa, então a possibilidade de, mediante uma

experiência lúdica e educativa, refletir sobre a realidade que o cerca e praticar a liberdade

como um exercício de cidadania e participação social” (MARCASSA, 2004, P.132).

Num lazer que vá além da constatação da realidade, do relaxamento e das práticas recreo-esportivas. Para tanto, é preciso ações que favoreçam a coletividade ao invés do individualismo, a solidariedade ao invés da barbárie e a organização ao invés das ações acríticas referentes dos problemas sócio-ambientais.Tal caminho deve ser potencializado, na dimensão das políticas públicas, para assegurar a um maior número de sujeitos, experiências culturais que contribuam para refletir criticamente sobre os interesses de ordem global e para mobilizar, discutir e organizar os interesses da ordem local (LEIRO 2001, p. 9-10).

Para Marcellino (2001), o lazer é uma manifestação do ócio, um espaço

privilegiado a uma efervescência prazerosa, atuante no espaço da subjetividade,

favorecendo significativas modificações, conceitos, significados e representações da

realidade vivida. Já Amaral (2003), evidência o lazer como sinônimo de cultura,

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28

compreendida no seu sentido mais amplo, vivenciada (praticada ou não) no tempo

disponível. Acordando com esta reflexão Alves (2003) afirma ser o lazer um dos grandes

responsáveis pela a esfera cultural. Mascarenhas (2001) relata que o lazer, se constitui

como um fenômeno tipicamente moderno, resultantes das tensões entre o capital e

trabalho, que se materializa como um tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de

organização da cultura, perpassado por relações de hegemonia. Nesta perspectiva

Bramante (1998) também evidencia:

O lazer se traduz por uma dimensão privilegiada da expressão humana dentro de um tempo conquistado, materializada através de uma experiência pessoal criativa, de prazer e que não se repete no tempo/espaço, cujo eixo principal é a ludicidade (BRAMANTE, 1998, p.11).

Caminhando para além das ocupações do lazer, este teria um sentido mais

abrangente, ultrapassando sua conceitualização ao vislumbrar-se como elemento de

acessão comunitária, sucesso individual, coletivo e é claro uma qualidade no âmbito

humano e social.

Retornado ao assunto citado anteriormente referente ao crescimento da

industrialização do lazer, e a formação de um grande mercado de entretenimento, devido

a omissão estatal no âmbito do esporte praticado como lazer, recorremos ao alerta de

Marcedo & Figueiredo (1986), que constam nesta esfera, uma intrínseca relação entre

meios opressores na manutenção e reprodução de uma sociedade alienada, onde a

desigualdade impera, e a política do pão e circo funciona. E é neste tocante que devemos

nos ater para as discussões que atrelam o lazer a uma supérflua mercadoria

disponibilizada no mundo do capital.

Por meio do conceito de superficialidade, atribuído hoje ao lazer pelo sistema do

capital, este se limita nesta visão equivocada, a mais um serviço a ser contatado, por

centros comerciais, como mais um produto exposto a venda, a espera do consumidor,

com preços elevados, privilegiando apenas uma pequena parcela da população.

Esta visão passou a ser difundida e ampliada pela descoberta de um grande

mercado promissor, tendo o lazer como essência, é a famosa indústria do entretenimento,

capaz de gerar lucros altíssimos para aqueles que detêm o poder. Daí a importância de

se buscar o sentido social do lazer, enquanto exercício de cidadania e alternativas para o

enfrentamento dos limites de nossa realidade (WERNECK 2000).

Page 30: Anne Sulivan

29

Seguindo a ótica do lazer como via de desenvolvimento sócio - educativa, se torna

imprescindível referenciá-lo como uma proposta que permeia o âmbito educacional, já

que é nos seus momentos livres que o ser humano exerce sua criatividade ao máximo,

deixando de ser um mero ser reprodutor de ações para se tornar o criador do seu

cotidiano, do seu universo, das suas ações.

Um dos relatos de Marcassa (2004, p.127) a respeito do lazer esta na complexa

perspectiva deste ser um espaço de educação constante, o qual oferece aos sujeitos o

repouso e o reequilíbrio das atividades físicas e mentais, proporcionando um alívio das

tensões rotineiras oriundas do trabalho, mantendo os indivíduos em situações

estritamente prazerosos, as quais consequente os encaminham para um desenvolvimento

a nível individual e coletivo, reintegrando assim o ser humano ao seu estado de perfeito

equilíbrio, estando pronto tanto para solucionar situações-problemas, como para

desenvolver sua capacidade intelectual, ajustada às súbitas e mutáveis condições

emergentes da estrutura universalmente moderna, favorecendo para uma possível

qualidade no setor social. Esta, segundo a mesma autora se estabelece como visão

funcionalista da relação entre lazer e educação, pois diz possibilitar a liberação de

estereótipos e promover um sistema de adequação a todas e quaisquer situações

aparentemente adversas, já que predomina a crença em uma elevação da personalidade

do indivíduo através do lazer, subsidiados por argumentos do campo psicológico, a partir

do instante que compreende as vias de compensação e de estabilização dos contextos

que resguardam o sujeito individual e o sujeito social, na readaptação e na manutenção

da ordem vivente.

Existem outros autores que compartilham da premissa eficiente do lazer unido a

Educação, estes divergem um pouco da visão funcionalista, a exemplo de Marcellino

(2004) que considera o lazer como um fenômeno educativo que tem a necessidade de ser

inserido no plano sócio cultural, direcionado para efetivas transformações de ordem

social. Como o próprio diz: “Em outras palavras: ... só tem sentido falar em aspectos

educativos do lazer ao considerá-lo como um dos campos possíveis de contra-

hegemonia” (MARCELLINO, 2004 p.63-64).

Este estudioso também destaca ainda o duplo aspecto educativo do lazer:

Trata-se de um posicionamento baseado em duas constatações: a primeira, que o lazer é um veículo privilegiado de educação; e a segunda,

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30

que para a prática positiva das atividades de lazer é necessário o aprendizado, o estímulo, a iniciação, que possibilitem a passagem de níveis menos elaborados, simples, para níveis mais elaborados, complexos, com o enriquecimento do espírito crítico, na prática ou na observação. Verifica-se, assim, um duplo processo educativo – o lazer como veículo e como objeto de educação. (MARCELLINO, 2003, p.58-59.).

Articulado com a idéia do lazer com viés educativo temos Mascarenhas, o qual

propõe um lazer sócio - educativo sistematizado na contemporaneidade, exaltando a

intervenção pedagógica do lazer, pois esta transcenderia as barreiras limitantes da ação

cultural, já que estaria inteiramente relacionada com a realidade contextual,

socioeconômica e histórica da sociedade, em um patamar que visualiza transformações

das atuais condições sociais existentes. Este mesmo autor comunga da perspectiva do

lazer-educação, que baseados nas experiências lúdicas e educativas produz uma

realidade diversa, capaz de libertar a sociedade de um regime que a impede de praticar o

exercício da cidadania e de sua participação como sujeitos operantes, sociais, instituindo

um modelo que visa banir o poder da reflexão sobre a realidade que nos cerca, imposta

atualmente. Neste sentido como “posição político pedagógica de elos com grupos e ou

movimentos de origens sociais em face da sua constante resistência e persistência nas

reivindicações cotidianas que vão desde a sobrevivência, passando pela emancipação,

chegando a consagração da vitória de um mundo mais humano, justo, verdadeiramente

um lugar para viver” (MASCARENHAS, 2003, p.22 apud MARCASSA, 2004).

Aqui é importante ressaltar que as Políticas Públicas referentes ao Lazer devem

resguardá-lo como um organismo fomentador da Educação, conceituada por Fávero e

Santos (2002):

[...] definimos a educação como um processo de criação ao mesmo tempo de sonhos (utopias) e de realidades (materialistas). Uma educação que seja capaz de instaurar a fome no sentido da curiosidade permanente, que enseje uma abertura para o mundo e instaure a condição para o espanto e para a indignação frente às desigualdades sociais e a exclusão da parte que cabe a todos nós. [...], sem descuidar em nenhum momento, o fazer e o aprender, o sonho e a materialidade, o espanto e a ação (p. 15).

A Educação proposta por meio da dimensão do Lazer abrange o campo dos

espaços não-formais de educação, assim esta se configura como Educação não-formal,

referenciada por Gonh (2006):

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[....] a educação não-formal é aquela que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivas cotidianas. (GONH, 2006, P.28).

A educação não-formal designa um processo de formação para a cidadania, de capacitação para o trabalho, de organização comunitária e de aprendizagem dos conteúdos escolares em ambientes diferenciados (GOHN 1999, p.98-99).

Ainda neste contexto da Educação não-formal temos Gadotti que explana sobre a

importância dos espaços para a realização desta:

Na educação não-formal, a categoria espaço é tão importante como a categoria tempo. O tempo da aprendizagem na educação não-formal é flexível, respeitando as diferenças e as capacidades de cada um, de cada uma. Uma das características da educação não-formal é sua flexibilidade tanto em relação ao tempo quanto em relação à criação e recriação dos seus múltiplos espaços. Trata-se de um conceito amplo, muito associado ao conceito de cultura. Daí ela estar ligada fortemente a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos e à participação em atividades grupais, sejam esses adultos ou crianças. (GADOTTI, 2005 p.2,3).

É por meio da direção que concilia o Lazer como um benefício educativo no âmbito

da educação não-formal, que se faz necessário propor políticas públicas que reconheçam

através de suas práticas na sociedade, a importância da efetivação desse direito na

sociedade, legitimado pela constituição federal, e reforçado pelas leis orgânicas

municipais. É importante frisar a responsabilidade do poder local, o qual deve assumir

uma competência destinada a satisfazer as necessidades de seus integrantes respeitando

seus direitos sociais.

Para Silva (2005), direitos sociais são ações positivas atribuídas ao poder estatal, o

qual pode ser efetivado direta ou indiretamente com o objetivo de proporcionar a uma

qualidade vida e bem-estar aos que delas fazem parte, na tentativa de extinguir a miséria

e a exclusão por meio da igualdade social. A dimensão de bem-estar deve considerar

alguns pontos a serem compreendidos, como os discorridos na definição abaixo:

É o bem comum, o bem da maioria, expresso sob todas as formas de satisfação das necessidades coletivas. Nele se incluem as exigências naturais e espirituais dos indivíduos coletivamente considerados; são as necessidades vitais da comunidade, dos grupos e das classes que compõem a sociedade. (MEIRELES, 1976, p.18).

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A constituição brasileira expressa no seu 6°artigo : "São direitos sociais a

educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados” (BRASIL, 2004). Outro

documento de relevante importância é a Declaração Universal dos Direitos Humanos

(DUDH) de 1966, promulgadas pelo Brasil em 1992, que em seu dito 22°, valoriza tanto o

Lazer como o Esporte, como vivências de fundamental importância para o

desenvolvimento humano, pessoal e sócio - comunitário. Este diz:

Uma vez que entendemos que na prática esportiva se formam identidades sociais que se reúnem em grupos e categorias de pessoas simbolizadas pelos jogadores ou por seus times, ampliando as oportunidades de expressão de diferenças sociais e culturais, além de diferenças em relação ao conhecimento que uns têm dos outros e da própria prática que se faz...Por sua vez, lazer tem para nós o sentido da vivência privilegiada do lúdico que materializa a experiência sociocultural movida pelos desejos de quem joga e é coroada pelo prazer. Prazer que se funda no exercício da liberdade e, por isso, representa conquista de quem pôde sonhar, sentir, decidir, arquitetar, aventurar e agir, esforçando por superar os desafios da brincadeira, consumindo o processo do brinquedo, recriando o tempo, o lugar e os objetos em jogo e usufruindo do seu processo/produto que, em sua exuberância, é uma festa. (DUDH, 1966, dito 22°.).

Valendo-se da garantia de direitos inscritos na legislação, como os especificados

acima, é visível a responsabilidade do Estado como centro articulador das esferas do

poder, à medida que cumpri sua obrigação de conceber resoluções hegemônicas que

promovam estabilidade e continuidade de políticas que garantirão os direitos dos

cidadãos. Esta atuação genuína do Estado deve ser preponderante no seu financiamento,

intercalando-se com as diversas iniciativas da sociedade, abrangendo suas inúmeras

formas de organização, sempre visando potencializá-las. Para validar essas ações

estatais é preciso criar mecanismos concretos de instalação e manutenção de uma série

de medidas que privilegie os setores sociais e que façam das políticas públicas,

instrumentos de mediação social, verdadeiros organismos de controle das desigualdades

prevalecentes, com a construção de projetos, programas e serviços realmente eficientes

que rompam com os limites da burocratização e do autoritarismo próprios do sistema

estatal. E este é um dos assuntos que trataremos no capítulo a seguir.

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33

3. POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPAÇOS PÚBLICOS: MEIOS DE CONSTRUÇÃO SOCIAL

Começamos nossa discussão sobre Políticas Públicas as responsabilizando como

meio de construção social. Para tanto recorremos aos estudos de Amaral, 2004, a qual

diz que as Políticas Públicas têm o estigma de assegurar o equilíbrio funcional da

sociedade, valendo-se da resolução dos embates sociais e da legitimação do aparato

estatal vigorante. Outro conceito que distingui esta idéia é o de Menicucci (2006) ao

considerar estas, ações e não ações do Estado por meio dos representantes públicos,

fronte a uma demanda ou um setor social, envolvendo um complexo de medidas de

grande impacto, o que as defini como intervenções públicas.

Na tentativa de compreender a dinâmica das políticas públicas na realidade local,

Teixeira (2002), esclarece os elementos que as constitui, conceituando-as como:

Diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e a sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamento) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. Nem sempre, porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não-ações”, as omissões, como formas de manifestação política, pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos (TEIXEIRA, 2002, p. 02).

Este mesmo autor chama atenção para as finalidades das políticas públicas, e

discorre serem elas: I. Suprir as demandas sociais, principalmente as consideradas

vulneráveis; II. Respaldar e estender os direitos de cidadania; III. Promover o progresso,

por meio da empregabilidade e da renda, visando compensar desníveis criados,

principalmente por estratégias econômicas; IV. Intervir nos embates de interesses,

gerados por e entre sujeitos sociais.

Por esta linha de raciocínio, as Políticas Públicas se posicionam como instrumentos

de sumo valor no estabelecimento e na manutenção da qualidade de vida dos indivíduos,

simbolizando um grande mediador nos diálogos entre Estado e Sociedade, como nos

denomina Rocha (2004, p. 194), “um verdadeiro espaço de fortalecimento da cidadania”.

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34

E para que possamos entender melhor o conceito de qualidade de vida temos Leal

(2008) que traz:

Qualidade de vida é a soma do meio ambiente físico, social, cultural, espiritual e econômico, onde o indivíduo está enserido, dos estilos de vida que este adota, das suas ações e da sua reflexão sobre si, sobre os outros e sobre o meio ambiente que o rodeia. É também a soma das aspectativas positivas em relação ao futuro. (LEAL, 2008, p.18,19).

Para Carvalho (2002) políticas públicas são construções participativas de uma

coletividade, que visam a garantia dos direitos sociais dos cidadãos que compõem uma

sociedade verdadeiramente humanizada. Transpondo os limites do sistema estatal, as

políticas públicas direcionam todos e quaisquer espaços de estruturação social que visem

a legitimação dos direitos humanos. No Brasil, através da conjuntura do estado, as

políticas públicas vêem garantindo por meio da constituição, e das práticas de ações

afirmativas em setores direcionados à educação, a saúde, a habitação, bem como ao

esporte e o lazer, o cumprimento do exercício dos direitos sociais junto aos seus

cidadãos. Valorizando a estruturação de mecanismos promotores de ações no âmbito

social, Rocha (2004), focaliza:

As políticas públicas podem se constituir numa excelente oportunidade de refletir e alterar este quadro através de ações que privilegiem as prioridades da população, equacionando ou minimizando as desigualdades existentes entre os diferentes grupos, principalmente aqueles que estão marginalizados e excluídos do processo social pela política econômica adotada no país centrada na concepção de mercado. (ROCHA, 2004, p. 3).

Surgindo como uma vertente capaz de preencher as lacunas das carências de

ordem diversas, as políticas públicas necessitam passar por um planejamento

consistente, já que o desenvolvimento do contexto social não se limita apenas a questões

de ordem econômica, mas de uma complexa dinâmica envolvendo o reconhecimento do

ser humano e seu universo social. Carvalho (2002) traz que, ao se mobilizarem entorno

de discussões, fundamentos e argumentações, no sentido de regulamentar direitos

sociais, os grupos representantes da sociedade civil e do Estado acabam por formular

políticas públicas que expresse os interesses e as necessidades de todos.

Page 36: Anne Sulivan

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A sociedade cada vez mais vem reivindicando Políticas Públicas, objetivando uma

real qualidade de vida que venha a suprir suas necessidades. Por isso a participação

popular no planejamento municipal democratiza a gestão, causando uma profunda

reflexão sobre projetos a serem implantados, os quais devem esta de acordo com a

realidade e os interesses dos diversos contextos nestes inseridos. No Brasil é possível

observar o alargamento da democracia, expressada na edificação de espaços públicos e

no aumento da participação dos sujeitos que compõem a sociedade civil nos

procedimentos ligados á discussão e as decisões envolvendo questões e políticas

públicas (Teixeira, Dagnino e Silva, 2002).

Voltando-se para a área do Esporte e do Lazer, embora seja possível averiguar

que estes fizeram-se presentes em diversos momentos históricos do cenário político

brasileiro, só foram reconhecidos como direitos dos cidadãos, a partir da Constituição de

1988. Sobre as reivindicações da população brasileira neste campo temos:

No Brasil, as discussões envolvendo as políticas públicas de lazer são relativamente novas e se intensificam na medida em que há um crescimento, demanda motivada, principalmente, pela organização de determinados setores da sociedade que, inspirados na idéia do lazer como um direito social, reivindicam dos poderes públicos ações que atendam essa realidade. (ROCHA, 2004, p. 3).

Nas últimas décadas brasileiras, a conceitualização de políticas públicas de esporte

e lazer começou a migrar da tradicionalidade do esporte de rendimento para o campo do

esporte e lazer comunitário, promovendo a participação geral da sociedade, por meio de

práticas esportivas convencionais ou não, além de modelar-se à cultura local e aos

recursos disponíveis.

Para o aproveitamento do tempo livre, a promoção da saúde e a elevação da

qualidade de vida as práticas de lazer, esporte, recreação e de atividades físicas, formam

um contingente elementar contribuinte para o bem-estar de uma forma generalizada,

atrelando o físico e o mental, o que as consagram como permanentes instrumentos

educacionais, por meio de ações que atinjam a população, respeitando suas

especificidades e necessidades, enfatizando é claro os cidadãos que se encontram a

margem da sociedade. Para a concretude destas, se faz necessário a realização de

atividades em que o esporte e o lazer sejam privilegiados, onde a identidade cultural, o

contexto histórico a realidade de seus participantes sejam levados em consideração, com

Page 37: Anne Sulivan

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o objetivo da edificação de uma sociedade onde os preceitos da justiça se façam

presentes, havendo uma dinâmica de inter-relação que legitimem os direitos sociais.

Compreendendo o esporte de forma desmitificada dentre vários âmbitos sociais,

fomenta-se a oferta de exercer uma compreensão da prática do esporte como forma de

conhecimento vivencial e prazerosa.

A reciprocidade entre esporte e a humanidade, principalmente a relação existente

entre os valores da sociedade neoliberal e a esportivização vem sendo discutidos não só

no âmbito acadêmico, mas no quadro político das administrações públicas, as quais ao

considerar este como fenômeno social, busca a legitimação da acessibilidade do esporte

e lazer, através de políticas que reconheçam os espaços públicos como lugares de

vivências fundamentalmente sociais.

Ao começarmos discussão sobre espaços públicos se faz necessário retomarmos o

conceito de espaço e para isso nos apoiaremos no entendimento de Santos (1997), este

traz que: “O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também

contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados

isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá” (SANTOS, 1997, p. 51).

O pesquisador italiano Giedion 1969, afirma que: “L’uomo prende coscienza del vuoto che

lo circonda e gli conferisce una forma fisica e un’espressione. L’effetto di tale

trasfigurazione è la concezione dello spazio.”1 (GIEDION, 1969, p. 539).

Ainda relacionado ao espaço temos, Silva (1991) que comenta:

O espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente, e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é então um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual (SILVA, 1991, p. 13).

Considerando os Espaços Públicos como meios também de construção social e

sua apropriação um grande fator relacionado à cidadania, como nos traz Cladeira (2000):

“Espaço Público como possível arena na qual a democratização, a equalização social e a

1 "O homem se torna consciente do vazio em torno dele e lhe dá uma forma física e de expressão. O efeito de tal do transfiguração é a concepção do espaço” (tradução própria).

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expansão dos direitos da cidadania vêm sendo contestados nas sociedades

contemporâneas” (CALDEIRA, 2000, p. 12).

Neste sentido é importante recordar o alertar do geógrafo brasileiro Milton Santos

(1985) para a perspectiva do espaço que aprecie tanto os fixos nele situados, como os

fluxos que os percorrem. Esta visão de pensamento empreende uma dimensão de espaço

público capaz de identificar elementos permanentes de transição ao decorrer do tempo,

bem como no momento atual, criando uma ponte entre o passado e o presente,

resgatando os ocorridos por meio das suas memórias, o que consequentemente promove

uma ampliação no horizonte das perspectivas com relação ao futuro.

Tratando de espaços públicos de esporte e lazer, Leiro (2001) afirma que o Espaço

do esporte e lazer é campo de síntese em meio a interesses culturais que reconhecem a

positiva tensão, a qual envolve os cidadãos e o poder público. Nesta dimensão em que o

espaço público e colocado como via primordial para a afirmação dos direitos da

sociedade, por meio da urbanização e edificação desses espaços, Rocha (2003) ressalta

que “... o espaço local ganha grande importância nas discussões pela profunda

articulação entre cidade e cultura”.(ROCHA, 2003, p.52).

E para que os espaços públicos preencham as reais necessidades sociais precisar-

se:

[...] implementar uma política de investimento muito clara na retomada da qualidade do espaço da cidade, na retomada da multifuncionalidade e beleza, na retomada da idéia de uma sociedade que conecte usos, funções e pessoas diferentes, em segurança. (ROLNIK, 2000, p.184).

Estes estudiosos estão de comum acordo com as palavras de Marcellino, quando

ressalta que: ”Democratizar o lazer é democratizar o espaço”. (MARCELLINO, 1995, p.57).

E compartilhando também deste pensamento temos Leiro (2001) “A ampliação de

oportunidades de lazer implica democratizar o espaço, em melhorar a qualidade social da vida

citadina”. (LEIRO, 2001, p.7). Este mesmo autor ainda afirma:

O espaço é qualificador do lazer e, a partir da intervenção do poder público, é possível criar ambientes favoráveis para mudanças de atitudes. A forma de organização do espaço pode contribuir para tornar os parques públicos, por exemplo, um campo de re-criação educativa na perspectiva da superação da ordem do grande capital. (LEIRO, 2001, p.7-8).

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Para efetivar o direito tanto ao esporte e especialmente ao lazer, é preciso segundo

Marcellino apud Isayama (2006) p.67, democratizar o espaço. Espaço o qual em nossa

realidade cotidiana se caracteriza como urbano, por meio das cidades, a qual o mesmo

autor acima a localiza como grandes espaços e equipamentos de lazer. Este ainda relata

que assim como as ruas, as praças públicas em suma em suas metrópoles são

estereotipadas apenas como locais de passagem. Neste sentido o mesmo, diz que o

espaço público cada vez mais sofre perdas referentes a sua real função, a de

multifuncionalidade (p.72).

Concordamos com Bramante (1993) quando diz:

Vale destacar a necessidade de se oferecer oportunidades que atendam a os diversos interesses culturais... São poucos os diagnósticos, os inventários de recursos existentes ou mesmo o conhecimento dos hábitos de lazer dos distintos segmentos da população (BRAMANTE, 1993, p.167).

Nessa perspectiva Le Corbusier (1993) enfatiza que: “A manutenção ou a criação

de espaços livres são, portanto, uma necessidade e constitui uma questão de saúde

pública” (p.35). Em bairros pobres, periféricos, muitos dos seus habitantes criam

alternativas de espaços para a recreação e para o lazer. Estes são locais improvisados,

em sua maioria, com grande precariedade, porém se configuram como a única opção

para o divertimento e para o encontro da comunidade. O autor acima reitera as

argumentações no que tange aos espaços de lazer, estes devem contar no planejamento

da construção do ambiente urbano, pois é necessário dar existência e coordenar sua

continuidade, ao propor locais de esporte e lazer, inseridos antecipadamente em projetos,

assegurando-lhes locais, reservando-lhes áreas (LE CORBUSIER, 1993).

Evidenciando os maus tratos aos dos espaços públicos De Angelis (2005)

exemplifica o palco central desta pesquisa: “as praças localizadas no centro costumam

receber maiores e melhores tratos, enquanto que as periféricas são relegadas, se não ao

abandono completo, a um estado de penúria” (DE ANGELIS, 2005, p.23).

Ao discutirmos a distribuição de equipamentos de lazer pela cidade podemos

refletir sobre as desigualdades e os desafios abarcados pelas políticas públicas em torno

desta realidade nacional, já que em território brasileiro e principalmente baiano, essa

conotação chega a ser ainda mais relevante devido ao grande déficit relacionado a

estruturação e manutenção destes espaços, os quais precisam de um suporte pedagógico

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contínuo e prolongado que procure compreender os indivíduos enquanto agentes sócio-

culturais no intuito de mudar a realidade até então imposta e cantada pela nordestina,

nascida em Paraíba, Elba Ramalho: “...no be-a-bá do sertão, sem chover, sem colher,

sem comer, sem lazer, o be - a - bá do Brasil”.

Melo Alves, (2003) afirma que, a cidade pode até possuir equipamentos públicos,

mas se não houver um estímulo para que estes possam ser freqüentados pela sociedade,

ou apenas um seletivo estrato social seja privilegiado com esses estímulos, nada adianta

a infinidade desses equipamentos.

Outro ponto importante para ser avaliado está na construção dos espaços

públicos, os quais devem respeitar as tradições natas da região, sua história, sua forma

organizacional, suas práticas sócias, levando em conta seus anseios e necessidades.

Cabe aqui reconhecer a existência de aspectos importantes que contribuem de maneira

desfavorável às reais apropriações dos espaços públicos, tais como a própria qualidade

destes e, portanto, as políticas públicas que os planejam e os gestem. Assim é

imprescindível uma qualificação do espaço público na organização e na estratégia,

voltadas ao desenvolvimento sócio-espacial, considerando, sobretudo, suas formas de

apropriação (MENDONÇA, 2007.p.129).

Reconhecendo o espaço público como também um lugar de memória, segundo a

concepção de Neves (2000), que diz estes serem “Os lugares da memória”, esteios da

identidade social, monumentos que têm, por assim dizer, “... a função de evitar que o

presente se transforme em um processo contínuo, desprendido do passado e

descomprometido com o futuro” (p.112).

São lugares em que a população se apropria, Hewison apud Harvey (2000)

destaca que o impulso de preservar o passado é parte do impulso de preservar o eu, pois

o passado é o fundamento da identidade coletiva e os objetos do passado são a fonte de

significado, de símbolos culturais (p.85). Os locais onde se edificam os espaços públicos

de esporte e lazer nos chama para vivenciar profundas experiências por meio das

relações e determinações sociais ali encontradas. É neste campo fértil de relações sociais

que a comunidade formada por mulheres, homens, idosos, jovens e crianças constroem

seus vínculos, projetam seus anseios e realizam seus sonhos, vivem suas vidas. Portanto

se faz jus dizer que o espaço público é um espaço dinâmico como nos traz, CAMPOS

(1995):

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O espaço urbano não pode ser visto como espaços estáticos, pois estão sempre em processo de transformação e contínua adaptação ás condições da sociedade moderna, registrada em diversas formas de utilização dos espaços públicos por seus usuários (CAMPOS, 1995, p.07).

Vale ressaltar que esses espaços estão em meio à cidade, a arquitetura urbana, a

qual ganha outro significado com a participação humana, e este resplandece na relação

do sujeito consigo mesmo, com o outro e com o lugar onde vive. Esses espaços

produzidos resultantes dessas relações precisam ser percebidos na sua dimensão

humana, ou seja, no que a cidade e alguns de seus cenários significam para quem nela

abita e para quem acessam, no âmbito do lazer e do esporte. Segundo Rechia (2003),

independente da sua estruturação, a cidade é uma organização viva, dinâmica, com

partes diversificadas e interação permanente.

Tratando a cidade como universo criacionista, de socialização de conhecimento

temos Gadotti (2005):

O espaço da cidade (...) é marcado pela descontinuidade, pela eventualidade, pela informalidade. A educação não-formal é também uma atividade educacional organizada e sistemática, mas levada a efeito fora do sistema formal (GADOTTI, 2005, p.2).

Secchi (2000) explana: “La città e il territorio (…) non sono solo un immenso

archivio di documenti del passato, ma soprattutto un inventario del possibile”2 (SECCHI,

2000, p. 30). Em conjunto a esta relevância primordial dos espaços citadinos nos

voltamos às idéias de Freire (1993):

A tarefa educativa das Cidades se realiza também através do tratamento de sua memória e sua memória não apenas guarda, mas reproduz, estende, comunica-se às gerações que chegam. Seus museus, seus centros de cultura, de arte são a alma viva do ímpeto criador, dos sinais da aventura do espírito. (Freire, 1993.p.24).

Assim os espaços públicos também podem ser referenciados como espaços do

cotidiano:

2 "A cidade e o território (...) não são apenas um enorme arquivo de documentos do passado, mas também um inventário do possível" (tradução própria).

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... o cotidiano é muito mais que um inconsciente de dias sempre iguais;é no cotidiano que o cidadão se encontra diante de coações e vigilância: mas na repetição também pode surgir a essência do imaginário.(...) Há portanto criação de um mundo prático e sensível a partir de gestos repetitivos. Há brechas no cotidiano que abrem espaço para o criativo (CARLOS, 1996, p.99-100).

Articulando teoria e prática colocada sob a realidade objetiva e subjetiva de cada

ser, incluindo seus ideais, suas lutas e referências, a cidade se configura como um plano

revelador do vivido e da produção social do espaço urbano. Considerando-a como

produtora de realidades em meio as suas representações, é cabível enfatizar neste

contexto as relações de poder, que faz da cidade um espaço que ao mesmo tempo em

que se constrói, é construída na medida em que se busca conhecê-la. Assim, Santos

(2005) diz que a cidade só passou a ser pensada à medida que se tornou necessária para

um determinado estágio da cultura. Por conseguinte, ela é refém da história e dos

projetos sociais e culturais em curso. Tomando a sociedade como um todo, como meio

promotor de educação, nos dirigimos a Freire:

Muito de sua tarefa educativa implica a nossa posição política e, obviamente, a maneira como exerçamos o poder na Cidade e o sonho ou a utopia de que embebamos a política, a serviço de que e de quem a fazemos (Freire, 1993, p.23).

A cidade moderna cada vez mais vem privatizando seus espaços, os públicos vêm

diminuendo em quantidade e extensão, consequentemente a ação do Estado é

minimizada. Podemos evidenciar este processo no discurso abaixo:

[...] Vivese uma época de intensa, profunda e desrespeitosa renovação das cidades por parte dos administradores públicos [...] Para estes, os elementos que dão significado à cidade são simplesmente coisas envelhecidas, ultrapassadas, corroídas, remendadas e que precisam ser demolidos para dar lugar a outros símbolos exóticos e exógenos que não permearam a lembrança, a história e o cotidiano dos citadinos. Equivocadamente chamam de revitalização [...] (ARANHA SILVA, 2006, P.9).

Ainda sobre este processo a mesma autora recita:

Acreditase na importância e significado da revitalização de elementos da cidade para o fortalecimento da identidade cultural local, na medida em que privilegiem ações de preservação do patrimônio histórico e

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arquitetônico e que respeitem os interesses, a memória e o afetivo dos cidadãos. (Ibid, p.9).

Contundente neste discurso Aranha Silva (2006) ressalta a necessidade de

identificar alguns pontos característicos das cidades: I. A humanização dos espaços

públicos; II. A revitalização e valorização dos monumentos marcantes da história citadina;

III. A incorporação de equipamentos para o lazer; IV. O respeito com os aspectos

ecológicos; V. O incentivo a presença da comunidade, tanto na criação como na

implantação destes. Rodrigues (2006) também concorda com este pensamento e

comenta: “criar áreas verdes e praças abertas ao público, assim como preservá - las, de

modo a contribuir para o equilíbrio do meio em que mais intensamente vive e trabalha o

homem: a cidade” (RODRIGUES, 2006, p.117).

3.1. PRAÇAS PÚBLICAS: LEMBRANÇAS DA COMUNIDADE

Praça! Cenário de festas, passeios, reuniões, comércio, permanência, encontros e desencontros, descanso, convulsões sociais; obra do Homem no arco do tempo que transcende o próprio; registro vivo a perpetuar na História. Modismos e estilos de cada época. Senhora dos espaços públicos desafiou séculos. Impassível, superou o abandono, a indiferença e as transformações ao longo do tempo. As praças são as mãos de uma cidade. Lugar de encontro ou de promessa de encontro (SANTOS, 2007, p. 17).

A respeito da concepção das praças como um lugar público livre, de relações

humanas e construção social, trazemos Robba & Macedo (2003, p.17) que configuram

estas como são: “espaços livres públicos urbanos destinados ao lazer e ao convívio da

população, acessíveis aos cidadãos”. Este também ratifica a importância da praça não

apenas como ambiente recreativo, mas também histórico e cultural que está inserido no

processo de construção das cidades (p.18). Estes autores recordam que o espaço urbano

tido com precursor das praças foi a ágora, na Grécia a qual era um espaço aberto,

delimitado normalmente por um mercado, no qual se praticava a democracia direta, visto

ser este o local para discussão e debate entre os cidadãos. A função primordial desta é a

de aproximar e reunir as pessoas, seja por motivo cultural, econômico, político ou social

(LIMA et al., 1994; MACEDO e ROBBA, 2002). Atrelado a este pensamento temos Spirn

(1995):

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As praças públicas sempre estiveram na moda. Ficavam no coração das antigas cidades gregas e romanas, das cidades medievais e, mais tarde, das aldeias coloniais, assim como das metrópoles modernas. São lugares para ver e ser visto, para comprar e fazer negócios, para passear e fazer política. As melhores praças são lugares agradáveis durante a maior parte do ano, amenizando o calor no meio do verão e evitando o frio no início da primavera e no fim do outono. Tais lugares são raros e muito apreciados. (SPIRN, 1995, p.345).

As praças em si guardam em seu íntimo, a história, o cotidiano, a arte e a

expressão popular. Estas para muitos são verdadeiros monumentos, que detém grande

valor, consagradas como necessárias e insubstituíveis no convívio social urbano. O

arquiteto Paulo Casé tem as praças como importantes referenciais urbanos, trazendo a

Praça San Marco, em Veneza, a Praça Mayor, em Madri, a Praça Vermelha, em Moscou,

além das praças da Sé, em São Paulo e, a dos Três Poderes, em Brasília, ambas no

Brasil, como modelos de espaços de intensa troca cultural.

No Brasil os espaços denominados de praças nasceram nos arredores das

capelas, dando início aos primeiros espaços livres, disponíveis ao público citadino. Isso

incitou a aproximação de edificações de pompa, como palácios ostentativos, além das

principais estruturas do setor público e o comércio central, constituindo-se também como

um lugar harmonioso de reunião comunitária e com uma estreita relação com a instituição

religiosa. Conforme salienta Marx (1980):

Logradouro público por excelência, a praça deve sua existência, sobretudo, aos adros das nossas igrejas. Se tradicionalmente essa dívida é válida, mais recentemente a praça tem sido confundida com jardim. A praça como tal, para reunião de gente e para um sem número de atividades diferentes, surgiu entre nós, de maneira marcante e típica, diante de capelas ou igrejas, de conventos ou irmandades religiosas. Destacava, aqui e ali, na paisagem urbana estes estabelecimentos de prestígio social. Realçava-lhes os edifícios; acolhia os seus freqüentadores. (MARX, 1980, p. 50).

Carneiro e Mesquita (2000) relatam que as praças são espaços livres públicos,

com função de convívio social, inseridos no ambiente urbano como elemento organizador

da circulação e do abrandamento público. Em conjunto com esse pensamento Orlandi

(1994) se refere às praças ainda como:

Um nó formal que melhor representa a qualidade do espaço urbano, a praça constitui, por si só, um sucesso a atestar os valores sociais alcançados pela comunidade, que soube dar o justo valor às funções

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institucionais na organização civil (ORLANDI, 1994, apud DE ANGELIS et al, 2005, p.2).

Para Lamas (1993) a praça: “[...] pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e

de um programa”. O autor caracteriza a praça como “lugar intencional do encontro, da

permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e

comunitária e de prestígio, e, conseqüentemente, de funções estruturantes e arquiteturas

significativas” (LAMAS, 1993, p. 102).

Por desempenhar ao longo da história distintas posições, inclusive a de ambientes

destinados a realização de manifestações culturais, a exemplo da apresentação de peças,

shows, danças dentre outros, como também palco de grandes acontecimentos de

movimentações cívicas desde execuções a condenados à intensa luta da sociedade em

busca seus direitos, as praças e as formas de sua utilização dependem da inconstância

temporal sócio-histórica em que esta submetida, mas sobretudo pelo seu cotidiano

coletivo, dinâmico, transformador de relações sociais. Para Dizeró (2006) a praça

constitui-se em local de convívio social por excelência, imbuída de símbolos, que portam

consigo o imaginário e o real, configura-se em um marco arquitetônico e um lugar de

ação, um verdadeiro cenário de edificações e transformações históricas, sociais e

culturais, de fundamental importância para contexto citadino. Em seus estudos, Font

(2003) conceitua a praça como um espaço de comunhão, de reunião social, construído

para e pela sociedade, dotada de significados, desde marcos centrais da constituição de

trajetos, a ponto de chegada e partida, com concentração e dispersão populacional,

consistindo em um espaço do cidadão, representando a esfera da cultura e da história

citadina, abrigando também com grande freqüência tanto o comércio formal e quanto o

informal, a exemplo das feiras populares.

Queiroga (2001) diz que a praça tem o potencial de reforçar a noção de

identidade urbana, ao proporcionar o contato interpessoal público, permitindo tanto o

estabelecimento de interações sócio - culturais, como ações fundamentais, a exemplo das

manifestações cívicas. A autora Zuliane 1995 entende a praça como “lugar privilegiado e

tradicional de trocas, ponto de convergências de ruas e teatro de todas as forças sociais,

eixo de cada movimento” (ZULIANE 1995, apud DE ANGELIS et al, 2005, p.2).

De Angelis, (2005) tem: “praça como espaço da memória histórica que forneceu

tanto a moldura quanto o fundo para discursos políticos e culturais sobre a cidade como

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45

local de identidade, de tradição, de saber, de autenticidade, de continuidade e

estabilidade” (DE ANGELIS, 2005, p. 3). Ainda enfatiza: “qualquer um de nós tem,

remotas que sejam, lembranças de uma praça onde, na infância, o balanço, a gangorra

ou o escorregador faziam parte do universo da criança” (DE ANGELIS, 2005, p. 2).

Para Casé (2000) a Praça é a soma da cultura citadina de uma dada comunidade

que forma um grande acervo de conhecimentos. Exerce uma função incomparável de

reunir pessoas, é um lugar do encontro e da convivência. Este autor ainda relata: “a

importância de uma cidade, avaliada pela sua dimensão social e humana, è proporcional

aos atributos urbanos de suas praças e aos predicados arquitetônicos das edificações

que a delimitam” (CASÉ, 2000, p. 56).

Robba e Macedo (2002) traz uma definição espacial de praça, de acordo com

vários elementos presentes nesta e em especial a vegetação. De acordo com os

respectivos autores, estes espaços estão inseridos em quatro eixos, os quais estão

simplificados abaixo:

I. Praça Jardim: espaços onde, os contatos com a natureza e o “verde” são

presenças marcantes.

II. Praça Seca: largos onde a presença histórica se faz presente com símbolos

arquitetônicos ou espaços que abragem uma grande circulação de pessoas.

Destacam-se neste contexto, as Praças italianas, de São Marcos, em Veneza, a

Praça de São Pedro em Roma, além das praças brasileiras, dos três Poderes

em Brasília e o Memorial da América Latina em São Paulo.

III. Praça Azul: Nestes espaços a água tem destaque fundamental. Caracterizada

por belvederes e jardins de várzea.

IV. Praça Amarela: Geralmante as prais são consideradas praças amarelas.

Podemos perceber as praças como espaços urbanos, públicos, onde o esporte e o

lazer também se encontram, a compor estes espaços, tornando-se equipamentos de

fundamental importância para a concepção dos fenômenos sócios referentes a essas

práticas, nos espaços públicos do cotidiano urbanos dos citadinos e principalmente os

espaços mais antigos que estão carregados de simbologia histórica. A respeito de

espaços como estes, a autora Aranha Silva (2006) nos fala:

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Como há de se notar, as praças mais antigas contêm em sua essência, fatos históricos remanescentes à sua edificação e que traduzem aos usuários e moradores contemporâneos a sua importância cultural e se constituem em espaços coletivos, cuja vivência do lazer e recreação no cotidiano dos moradores garante o exercício pleno da cidadania (ARANHA SILVA, 2006, P.9).

Sitte (1992) impecável protetor do movimento artístico nas praças discorre que

nestas “[...] Concentrava-se o movimento, tinham lugar as festas públicas, organizava-se

as cerimônias oficiais, anunciavam-se as leis, e se realizava todo tipo de eventos

semelhantes” (SITTE 1992, p.25, apud DE ANGELIS et al, 2005, p.2).

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4. MEMÓRIAS: O RECANTO DA HISTÓRIA

A memória é a mais épica de todas as faculdades. (...) Mnemosyne, a deusa da reminiscência, era para os gregos a musa da poesia épica. A reminiscência funda a cadeia da tradição, que transmite os acontecimentos de geração em geração (BENJAMIN, 1994, p. 14).

A segunda metade do século XX esta marcada pelo boom das transformações das

sociedades, elucidando o fundamental papel que a memória coletiva representa, já que é

através dela que concebemos o passado e projetamos o futuro, escrevendo nossa

história. A memória faz parte dos maiores questionamentos, das mais referenciadas

sociedades, principalmente as que se encontram em processo de desenvolvimento, das

camadas superiores às excluídas. Leroi-Gour-han (1964-1965 p.24) traz que: “A partir do

Homo sapiens, a constituição de um aparato da memória social domina todos os

problemas da evolução humana”.

As comunidades as quais o ato de rememorar o social se dá principalmente pela

via da tradição oral ou pela construção de uma memória coletiva escrita, são as que

permitem com maior clareza a compreensão do embate pela dominação do ato de

recordar, bem como da tradicionalidade em meio à manifestação da memória. Para isso

LE GOFF (2003) nos remete a confirmação que a memória coletiva deixa de ser tão

somente uma conquista, passando a ser um precioso objeto de poder. Este ainda enfatiza

que: ”A memória na qual cresce a história que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado

para servir ao presente e ao futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva

para a libertação e não servidão dos homens” (LE GOFF, 2003, p.471).

Em outros estudos SMOLKA (2000) nos revela:

Estudos sobre memória têm nos mostrado que o discurso constitui lembranças e esquecimentos, que ele organiza e mesmo institui recordações, que ele se torna um lócus da recordação partilhada – ao mesmo tempo para si e para o outro – lócus, portanto, das esferas pública e privada. Sob os mais diversos pontos de vista, a linguagem é vista como o processo mais fundamental na socialização da memória. A possibilidade de falar das experiências, de trabalhar as lembranças de uma forma discursiva, é também a possibilidade de dar às imagens e recordações embaçadas, confusas, dinâmicas, flúidas, fragmentadas, certa organização e estabilidade. Assim, a linguagem não é apenas instrumental na (re)construção das lembranças; ela é constitutiva da memória, em suas possibilidades e seus limites, em seus múltiplos sentidos, e é fundamental na construção da história (SMOLKA, 2000, p.188).

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48

Ao nos referirmos a Memória como um instrumento de política pública, em que as

bases da sociedade estão compiladas através do revigoramento da sua identidade social

e cultural, Goellner (2007) descreve que para evitar o esquecimento, há de se preservar a

memória e reconstruir histórias. Já Ferreira & Amado (1996) traz a memória como uma

presentificação do passado, e um registro do presente que permanece como lembrança,

capaz de reter e guardar o tempo que se foi salvando-o da perda total. Seguindo este

raciocínio, Bosi (1987) lembra que “rememorar é uma função social, não é sonho”. Esta

ainda diz que “na maior parte das vezes lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir,

repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado”. (BOSI,1987, p.11).

Afirma também a existência dos “locais da memória” (p.12). Estes devem serem

respeitados e preservados de forma tal a resguardar a história e a identidade cultural.

Pollack (1989) refere-se à memória como um misto permeado de sentidos

envolvendo o tempo passado, o momento presente junto a seus conflitos. Estes estudos

nos revelam que a grande relevância de se estruturar ou reestruturar uma política que

vise o resgate da memória dos espaços públicos de esporte e lazer esta simplesmente no

cumprimento de um dos direitos previsto na constituição brasileira, que os asseguram

como tal. A memória fala sobre os processos que perpassam o adquirir, o conservar e o

ato de evocar das informações.

Conforme o autor acima mencionado “os modos de construção podem tanto ser

conscientes como inconscientes. O que a memória individual grava, recalca, exclui,

relembra, é evidentemente o resultado de um verdadeiro trabalho de organização”, “A

memória é seletiva. Nem tudo fica gravado. Nem tudo fica registrado” (POLLAK, 1992, p.

203, 204).

Izquierdo elabora um conceito que compreende a memória em dimensões

diversas:

A aquisição se denomina também aprendizado. A evocação também se denomina recordação ou lembrança. Só se pode avaliar a memória por meio da evocação. A falta de evocação denomina-se esquecimento ou olvido (IZQUIERDO, 2004, p.15).

Baseado nos estudos de Pollak, podemos adquirir uma visão mais ampliada sobre

memória, concebendo a identidade como um elemento intrínseco a esta, seja no âmbito

da individualidade ou da coletividade, como este mesmo relata:

Page 50: Anne Sulivan

49

A memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si (POLLAK, 1992, p. 204).

Moreira (2007) também nos indica que:

A Memória, no sentido primeiro da expressão, é a presença do passado. A memória é uma construção psíquica e intelectual que acarreta de fato uma representação seletiva do passado, que nunca é somente aquela do indivíduo, mas de um indivíduo inserido num contexto familiar, social, nacional (MOREIRA, 2007, p.1).

Assim a memória coletiva é um instrumento de poder e não apenas algo

conquistado. Tomando este sentido de poder, evidenciamos a memória como um grande

instrumento interventor da realidade social, capaz de comprovar, legitimar e delegar

direitos aos que a ela recorrem e em especial, a comunidade, que por meio do

reavivamento da sua história, propõe soluções eficazes, as quais se enquadram

perfeitamente em sua realidade cotidiana. Constata-se então, a requisição e a edificação

de políticas públicas com e para a comunidade, no momento que esta, ao se sentir parte

integrante da história em meio ao seu contexto social, se agrega as questões norteadoras

da preservação de sua estrutura, no sentido de resguardá-las e repassá-las para os seus

descendentes. É exatamente neste ponto que o universo da educação se instaura, pois a

partir do momento que os sujeitos reconhecem em si, no outro e no espaço que o cerca,

sua identidade social, estes se configuram como verdadeiros cidadãos, capazes de

promover a transformação do seu ambiente.

Através desta corrente educacional perpassarem-se sólidas bases de estruturação

de um sistema social baseado no aprimoramento tanto individual como coletivo do ser

humano, o qual ao poder desfrutar das moções sócias legitimadas pela Constituição, a

exemplo do Esporte e do Lazer como campos de crescimento e reflexão no âmbito social,

os quais resguardam parte importante da história que no caso do esporte e do lazer

reservam intensas manifestações culturais da sociedade em diferentes épocas. Como nos

revela Matos (1989):

A memória, a lembrança acalenta a dor, o sofrimento e a morte no sentido de sua redenção. Não se age de forma a recalcar o passado, a fim de arquivá-lo e produzir apologia acrítica do presente. (...) A memória é

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50

redenção, é luta contra a morte, como relembrança e transcendência. (MATOS, 1989, p. 58).

Correlacionando a memória com a identidade, Neves (2000) afirma:

Considerando-se a evocação do passado como substrato da memória, pode-se deduzir que, em sua relação com a História, a memória constitui-se como forma de preservação e retenção do tempo, salvando-o do esquecimento e da perda. (…) Desta forma, os depoimentos coletados tendem a demonstrar que a memória pode ser identificada como processo de construção e reconstrução de lembranças nas condições do tempo presente. Em decorrência, o ato de relembrar insere-se nas possibilidades múltiplas de elaboração das representações e de reafirmação das identidades construídas na dinâmica da história. Portanto, a memória passa a se constituir como fundamento da identidade. (NEVES, 2000, p. 109).

Para entendermos melhor o sentido de identidade, nos apoiaremos nos conceitos

de Stuart Hall. Este nos traz que: “A identidade, então, costura o sujeito à estrutura.

Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos

reciprocamente mais unificados e predizíveis”. (p. 12).

Nesta concepção sociológica, a identidade compreende o espaço entre o "interior"

e o "exterior" - entre a dimensão individual e o universo público. A ação de projetar "nós

mesmos" nessas identidades culturais, faz com que internalizemos seus significados e

valores, tornando-os "parte de nós" aderindo nosso campo da subjetividade sentimental

com os espaços objetivos que exercemos no mundo social e cultural. Comungando desta

mesma idéia, temos Le goff (2003) que nos diz: “A memória é um elemento essencial do

que se costuma chamar identidade, individual, coletiva, cuja base é uma das atividades

fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje” (LE GOFF 2003, p.469).

E ao referenciar a memória como algo essencial da identidade humana, que esta

intimamente ligada com a formação da identidade coletiva, já que é por meio desta que os

seres se reconhecem como parte de um todo social, a memória pode ser considerada

como um mecanismo chave capaz de edificar e aprimorar as relações e interações locais

com as da esfera global, pois se evidencia aí uma complexa rede de interconexões, onde

o sujeito transita livremente pela sua existência, pelos fatores que marcaram suas vidas,

sendo esses internos ou externos, antigos, recentes, de motivos variados, mas de todo

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51

modo suas escolhas, refletem hoje em seu cotidiano, no ser que se faz ali presente, com

seu passado histórico, com sua própria história, podendo esta ser revista, relida a todo e

qualquer momento, já que a memória nos proporciona explicar situações do presente, de

acordo com o passado, na busca de se modelar um futuro.

Tomando este aspecto da importância da memória coletiva, LE GOFF (2003,

p.469) nos lembra que a memória esta presente tanto nas sociedades desenvolvidas

quanto nas que estão em fase de desenvolvimento, todas em busca do poder e da

sobrevivência. Com este intuito é que o mesmo autor nos remete a tal reflexão:

A memória coletiva foi posta em jogo de forma importante nas lutas da forças sociais de poder. Tornaram-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores destes mecanismos de manipulação da memória coletiva. (LE GOFF 2003, p.422).

Articulada a esfera da identidade, transmitida por Le Goff, Hall (1999), têm-se as

culturas nacionais, as quais segundo o mesmo constroem uma simbologia de sentidos

com os quais nos identificamos, por tanto modelando nossas identidades. Estão contidos,

neste sentido, memórias, imagens e histórias que são referências, nexos necessários

para a constituição de uma identidade nacional. Este argumenta:

[...] as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da representação [...] Segue-se que a nação não é apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos – um sistema de representação cultural. As pessoas não são apenas cidadãos/ãs legais de uma nação; elas participam da idéia da nação tal como representada em sua cultura nacional (HALL 1999, p. 49).

Caminhado nesta perspectiva podemos afirmar com convicta percepção que a memória é

uma complexa e interativa esfera cultural, onde a história e a identidade humana e social

perpassam pelo mesmo caminho da inter-relação e da intercultural, formando um todo

que alarga as dimensões do individual e do coletivo.

Page 53: Anne Sulivan

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5. A CIDADE DE PADOVA E A MEMÓRIA DE SEUS ESPAÇOS PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER

Ao iniciarmos este capítulo se faz necessário retomarmos as prerrogativas que

possibilitaram a realizaram desta constatação internacional, entre a cidade de Alagoinhas,

Bahia, Brasil e cidade de Padova, Veneto, Itália, a qual justifica também a prorrogação da

defesa deste trabalho monográfico para o ano de 2010 e não ao final de 2009 como

estava previsto anteriormente.

Por meio do acordo bilateral entre o Departamento de Educação da Universidade

do Estado da Bahia (UNEB) e o Dipartimento di Scienza dell’ Educazione, da “Università

Degli Studio di Padova” (UNIPD), em julho de 2009, pude concorrer e vencer um edital

que me oportunizou fazer este intercâmbio de 6 meses, entre fevereiro e julho de 2010.

Para obter a conquista deste estágio internacional, passei pela primeira fase da

justificativa, análise curricular, averiguação de participação em pesquisas científicas e

atividades com comunidade de periferia, bem como a segunda fase contendo a avaliação

do idioma italiano por meio de uma entrevista e dos exames oral e escrito, por fim a

terceira fase, a da confecção de um ensaio monográfico em português, tematizando a

Educação no Brasil e em específico esta no território baiano. Superando todas estas

fases com mérito adquirido e pela empenhada vida acadêmica que sempre conservei,

pela participação como bolsista de Iniciação Científica, por meio do grupo GEPEFEL,

como monitora em bairros periféricos de Alagoinhas no Programa Segundo Tempo do

governo federal, e como aluna do curso de italiano na Associação Patí, em Salvador,

coordenados pelo italiano e professor da Universidade do Estado da Bahia - Uneb, Gianni

Boscolo e pelas aulas do professor Anderson Spavier, pude chegar ao primeiro posto das

3 vagas oferecidas anualmente por meio deste edital, o qual me concedeu por meio da

UNEB, as passagens de ida e volta para a Itália, alimentação e alojamento no “Collegio

Universitario Don Nicola Mazza”, pela UNIPD.

Situados os meios os quais possibilitou a inter-relação entre as cidades de

Alagoinhas e Padova, daremos início as discussões que resguardam estes dois espaços

em evidência, no tocante das políticas públicas que preservam a história e a memória dos

espaços públicos de esporte e lazer.

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Como toda cidade histórica, Padova abriga um centro típico característico, com

monumentos, torres, igrejas e palácios importantes, a exemplo do “Palazzo della

Ragione”, que já na época dos romanos, funcionava como um dos setores da estrutura

pública padovana, hoje um renomado museu. As praças centrais da cidade são a “Piazza

dei Signori” (Figura 04), “Piazza delle Erbe” (Figura 05) e a “Piazza dei Frutti” (Figura 06),

estas duas últimas são divididas pelo “Palazzo della Ragione”, já que abriga no centro que

as une, este grande monumento da história e da arte padovana. As praças centrais da

cidade, citadas acima, desde a antiguidade eram ligadas ao comércio, característica que

permanece até os dias de hoje, com a presença de feiras de hortaliças e frutas em meio

aos mercados de roupas e assessórios, além dos serviços dos bares, gelaterias e cafés

vizinhos a essas estruturas, que em determinando horário, também utilizam o espaço

destas, como uma extensão dos seus serviços, colocando mesas e cadeiras, às tardes e

às noites, em particular às quartas-feiras, onde um grande número de jovens, sobretudo,

universitários se reúne para a partilha da bebida típica padovana, o spritz. Estas praças

também são palcos de manifestações políticas, feiras de artesanatos, antiquários e em

determinados períodos do ano são cenários de shows e espetáculos de dança e música,

apesar de não serem muito frequentemente, pois a grande função destas praças é

comercial, sendo assim a maioria dos eventos são realizados em outros ambientes, como

é o caso do “Prato della Vale”, e não nas praças centrais em evidência na cidade.

Figura 04. Piazza dei signori. Fonte: Anne Reis 201 0.

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Figura 05. Piazza delle Erbe. Fonte: Anne Reis 2010

Figura 06. Piazza dei Frutti. Fonte: Anne Reis 2010

Em outos locais na cidade de Padova é possível também observar a

descaracterização da praça como ambiente público por meio da concessão estatal a

serviços do setor privado, a exemplo do serviço de “Parcheggio” estacionamento de

veículos. Todas essas transformações são justificadas pelo poder público, fronte a

população por falta de espaço para estes fins, (relatos dos seus próprios cidadãos,

quando questionados sobre a realidade observada, e dos jornais locais) Como é o caso

da “Piazza dell’ Insurrezione 28 Aprile di 1945”, (Figura 07) monumento erguido em

homenagem a liberação da Itália do nazismo, em 28 de abril de 1945 e da “Piazza Ytzhak

Rabin” (Figura 08), conhecida como “Piazza della Pace”, Esta última na maior parte do

ano, com exeção do período de festas como a de Santo Antônio, abriga um parque de

diversão, fortalecendo a privatização do local, denominado de praça.

Page 56: Anne Sulivan

55

Figura 07. Piazza dell’ Insurrezione. Fonte: Anne Reis, 2010.

Figura 08. Piazza Ytzhak Rabin.(Piazza della Pace) Fonte: Anne Reis 2010.

Em oposição a essa realidade, temos os parques e os jardins padovanos e

principalmente o “Prato della Vale” (Figura 09), que é a maior praça da cidade de Padova

e uma das maiores da Europa, com 88.620 m ² (LIONELLO, TOFFANIN, 1983). Esta se

configura como um grande espaço monumental, com uma pequena ilha verde ao centro,

chamado de “I’Isola Memmia” em homenagem ao prefeito que iniciou a sua construção,

cercada por um canal adornado com 78 estátuas de personalidades famosas da história

da cidade, com 4 pontes sobre o gramado, que levam ao centro da praça onde esta uma

fonte que a noite é iluminada. Esta é uma das mais importantes praças de Padova, em

que seu sentido genuíno de espaço público não foi violado, pois a além de resquardar seu

sua atmosfera natural e verde, resguarda o espaço para a população que frequenta este

espaço com a família, os amigos, com os seus animais de estimação, para a pratica de

atividades lúdicas como o jogo de cartas, o vôlei, o futebol e até mesmo a capoeira,

devido a comunidade africana que habita na cidade. É muito comum encontrar o gramado

do “Prato della Vale”, tomado de pessoas que sentam-se e ou deitam na grama para

tomar sol, estudar, conversar, tocar um violão, encontrar com os amigos em meio à

natureza, ouvindo uma banda, ou assistindo um jogo de futebol, um show, um filme ou

peça de teatral patrocinados pela prefeitura local, os quais ou se realizam neste local ou

Page 57: Anne Sulivan

56

são transmitidos para este, por meio da instalação de um telão. Em torno do “Prato” existe

uma intensa atividade física, por parte da comunidade padovana, com caminhadas,

corridas, patinação e atividades com o skate e a bicicleta.

Em determinados períodos do ano, acontecem eventos importantes neste espaço

como a “Maratona S. Antonio” (Figura 11) em Abril, a “Festa di Ferragosto” (Figura 10) em

Agosto, o Festivalbar, em Setembro e a “Festa di Capodanno” que é a comemoração da

virada do ano, em Dezembro, dentre outras manifestações, todas abertas ao público,

diferentemente das atividades propostas nos parques e jardins da cidade, os quais

cobram taxas de participação a maior parte das vezes. Este belo e ilustre espaço de

Padova e da Europa, na década de 90, encontrava-se em profunda degradação, sua

estrutura estava abandonada, segundo os moradores daquela região, o “Prato della Vale”

neste tempo era um espaço para o narcotráfico, com a presença constante de usuários de

drogas. Depois de uma grande reforma, este espaço público de orgulho dos padovanos

foi devolvido a seus cidadãos, para seu livre e ativo usufruto.

Hoje a praça do “Prato della Vale” é um lugar exuberante, em que natureza, arte e

comunidade comungam o imenso prazer de estarem juntos para celebrar a dinâmica da

vida, seja por meio da simples caminhada, da observação de seu espaço ou da incrível

partilha com o outro em um ambiente cheio de paz, beleza, ar puro e tranquilidade, lugar

onde os caminhos da cultura e o do lazer se encontram, um verdadeiro espaço construído

pelo povo e para o povo.

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Figura 9. Vista panorâmica do Prato della Valle. Fo nte: Archivio Turismo Padova Terme Euganee, 2009.

Figura 10. Festa di Ferragosto. Fonte: PadovaCultura, 2009

Figura 11. Maratona S. Antonio. Fonte: Comuni di Padova, 2010.

As atividades de Lazer e Esportes mais intensas são realizadas nos inúmeros

parques e jardins públicos que são distribuídos pela cidade, por 6 quarteirões dispostos

abaixo:

Page 59: Anne Sulivan

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• Quarteirão 1, Centro histórico: Città dei bambini, Giardini all'Arena, Parco

giochi all'Arena, Parco Treves de’ Bonfili, Giardino Cavalleggeri di Padova,

Giardino della Rotonda, Giardino col. E. Venturini e mar. S. Natale,

Giardino sen. L. Merlin.

• Quarteirão 2 , Norte (Arcella-S. Carlo-Pontevigodarzere): Parco San Carlo,

Giardino Fantasia, Giardino F. Milcovich, Giardino di via D. Piacentino,

Giardino dei Ciliegi, Parco Fornace Moranti.

• Quarteirão 3, Leste (Brenta-Venezia, Forcellini-Camin): Giardino di Cristallo

serra, Parco Iris, Parco Europa, Parco del Roncajette, Parco delle

Farfalle,Giardino Esperanto.

• Quarteirão 4, Sul- Leste (S. Croce - S. Osvaldo - Bassanello-Voltabarozzo):

Parco Iris, Parco "Giorgio Perlasca", Giardino dei Bimbi, Parco dei Faggi,

Parco Guizza-Sant'Agostino, Giardino Flicorno, Giardino Appiani, Parco dei

Salici.

• Quarteirão 5, Sul- Oeste (Armistizio- Savonarola):Giardino degli Ulivi di

Gerusalemme, Giardino Folgore, Giardino dei Gelsi.

• Quartiere 6, (Brentella-Valsugana): Parco degli Alpini, Giardino della Luna,

Parco giochi Fiordaliso. (PADOVANET, 2010).

Figura 12. Cartilha informativa dos espaços publicos para a prática de atividade física na

cidade. Fonte: Comuni de Padova, 2010.

Figura 13. Cartilha informativa para a prática de atividade física nos espaços públicos da

cidade. Fonte: Comuni de Padova, 2010.

Page 60: Anne Sulivan

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Estes espaços em sua grande maioria seguem um calendário anual que vai de

acordo com as estações do ano, determinado os horários e os períodos de funcionamento

(Figura 12). São geralmente dotados de boa infraestrutura, com espaços arborizados,

pistas para corrida, skate e patinação, playgrounds, dentre outros. Os parques e jardins

citados acima são áreas que obedecem a um regulamento para sua utilização além de

serem áreas muradas, denominado “Custodite”. Nestes mesmos quarteirões

exemplificados, existem também em sua grande maioria, os parques e os jardins, “Non

Custodite”, que são áreas abertas, livres de portões e muros, portanto estão sempre a

disposição da população.

Na cidade há vários projetos que fornecem aos seus cidadãos assistência nestes

espaços de esporte e lazer (Figura 13), observados na “Rete civica di Padova”

(PADOVANET). Este sítio virtual gerido pela sua “Comuni”, o mesmo que prefeitura,

disponibiliza para a comunidade local, os diversos programas realizados como “Vivi il

parco" (Viva o parque), o qual durante os meses, que compreendem de Maio à Setembro,

o “Settore Verde, Parchi e Giardini” da “Comune di Padova”, organiza uma série di ações

gratuitas e ou a pagamento como: ginástica, animação para crianças, cinema, teatro,

música, mostras, percurso botânico e atividades recreativas para o usufruto nos espaços

verdes da cidade.

Padova também conta com três estádios, o “Stadio Appiani”, que é o precursor,

datado de 1924 com a capacidade de 24.000 pessoas, o “Stadio Euganeo” (Figura 15),

inaugurado em 1994, com 32.420 lugares, é o estádio mais importante da cidade, onde

seu time principal joga suas partidas, e o “Stadio di rugby Plebiscito”, utilizado

prioritariamente para a prática da modalidade esportiva do rugby, com 9.600 assentos.

(PADOVANET, 2010).

No centro padovano encontra-se um importante e intenso ponto de reflexão sobre

a cultura esportiva a “Biblioteca dello Sport” (Figura 14), fundada em 2000, pela parceria

de três órgãos importantes a “Associazione Patavina Cultura e Sport”, a “Fondazione

Cassa di Risparmio di Padova e Rovigo” que è uma instituição privada a qual è

responsável pelo financiamento para a aquisição de materiais a ser consultados e o

“Settore Servizi Sportivi del Comune di Padova” que disponibiliza o espaço e funcionários

para o local. A Biblioteca è pública e fornece gratuitamente um grande número de

Page 61: Anne Sulivan

60

materiais, no total de 3.000, sendo que 700 exemplares só de monografias, além de

livros, revistas, periódicos, CD’s, DVD’s, VHS a respeito do esporte e de temas afins, bem

como organiza vários eventos, concursos, encontros, cursos, mostras na área esportiva,

os quais também podem ser acessados por meio da internet, através do seu endereço

virtual. (BIBLIOTECA DELLO SPORT, 2010).

Figura 14. Biblioteca dello Sport. Fonte: Anne Reis, 2010.

Figura 15: Stadio Euganeo, 2009. Fonte: La Gazzetta dello Sport.

A cidade de Padova, neste ano de 2010 comemora o centenário do seu time de

futebol o “Calcio Padova”, calcio é o mesmo que futebol, em italiano. O “Biancoscudato”

como é chamado por seus fiés torcedores, nasceu em 29 de Janeiro de 1910, quando foi

fundada a 'Associazione Calcio Padova’ a qual deu início a história do futebol na cidade.

E para falar da história do futebol padovano, precisamos nos remeter ao Estádio

Euganeo, o qual abriga as sedes das instituições esportivas da cidade e da região em sua

estrutura, citadas as seguir:

• Aia - Associazione italiana arbitri, Coni - Comitato regionale veneto e Scuola

regionale dello sport;

• Fipsas - Federazione italiana pesca sportiva e attività subacquee - Comitato

regionale veneto;

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• Fidasc - Federazione italiana disciplina con armi sportive da caccia -

Comitato regionale veneto;

• Fisd - Federazione italiana sport disabili - Comitato regionale veneto;

• Aia - Figc Associazione italiana arbitri calcio - sezione di Padova;

• Fiso - Federazione italiana sport orientamento - Comitato regionale veneto;

• Fids - Federazione italiana danza sportiva - Comitato regionale veneto;

• Fgi - Federazione ginnastica d'Italia - Comitato regionale veneto;

• Aiac - Associazione italiana allenatori calcio - sezione di Padova;

• Figh - Federazione italiana gioco handball - Comitato regionale veneto;

• Fise - Federazione italiana sport equestri - Comitato regionale veneto;

• Fipav - Federazione italiana pallavolo - Comitato regionale veneto

(PADOVANET, 2010)

No Euganeo também se encontra o “Calcio Padova Museum”, è um rico museu

direcionado ao futebol em Padova, com uma série de imagens, recordações e vídeos

interativos que recontam história centenária do futebol padovano, permitindo aos seus

visitantes desfrutar das memórias dos protagonistas que fizeram parte desta grande

manifestação cultural. A visita è gratuita, acompanhada de um guia que a direciona. Esta

disponível também na internet um site do museu, o qual organiza materiais como fotos,

jornais da época e documentos, que podem ser acessados livremente. O acervo está

organizado por períodos. O primeiro deles “Le origini” (Figura 16) retrata a origem,

compreende os anos de 1910 a 1950. “L’ era Rocco” (Figura 17) é a segunda e que vai de

1955 a 1961, denominada de anos ouro, por ser o período em que o ilustre ex-jogador e

então técnico Nereo Rocco esteve a frente do time padovano, utilizando o “Catenaccio”

que è uma tática defensiva do futebol desenvolvida nos anos trinta na suíça (SADAR,

1999). A terceira è chamada de “Gli anni duri”, que em portugues seria “Os anos duros”

que compreende o período de 1962 a 1980, onde as dificuldades internas e econômicas

perduraram.

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62

O período sucessivo a este, de 1981 à 1995, a quarta desta, foi nomeado de

“Destinazione Paradiso”, o qual o time passou da série “C” à “A”, depois de 32 anos da

brilhante “L’era Rocco”(Figura). A quinta e última esta denominada “Era recente ritorno in

serie B”, abrangendo os anos de 1996 à 2010, depois de um incrível ritorno a série “C”,

onde permaneceu por 11 anos, hoje incontra-se na série “B” (CALCIO PADOVA

MUSEUM, 2010). Abaixo podemos observar 2 fotos disponibilizadas pelo “Calcio Padova

Museum”, atraves do seu sítio virtual. Este se configura como uma grande orgão promotor

da preservação da memória do futebol em Padova, conservando sua história e a

promovendo por meios dos seus veículos de comunicação, seja eles impressos ou

virtuais.

Figura 16. Padova-Torino, Bacigalupo,1949. “Le Origini”. Fonte: Calcio Padova Museum,

2010.

Figura 17. Padova-Roma, Brighenti Moro Rosa, 1958. “L’era Rocco”. Fonte: Calcio

Padova Museum, 2010.

As Políticas Públicas de “Sport e Tempo libero” como é genericamente conhecidas

as Políticas Públicas de Esporte e Lazer na Itália, contam com a parceria do setor privado

que finaciam boa parte dos recursos das iniciativas de esporte e lazer ocorridos em

Padova, bem como na Itália como um todo. Neste sentido a maioria dos programas

oferecidos pelo governo italiano, mesmo quando públicos não são gratuitos, restrigindo a

participação e os direitos dos cidadãos a contratos pré-estabelecidos, dotados de taxas

adotadas pelos setores públicos, coordenadas ou não por instituições privados de

arrecardação fortalecendo e legitimando a minimização estatal.

Mas quais são os porquês de toda esta averiguação da organização política e

social dos espaços públicos de esporte e lazer da cidade italiana em questão?

Page 64: Anne Sulivan

63

Para começarmos a responder este questionamento, recorremos a um dos

objetivos dessa pesquisa, a proposição de uma reflexão sobre a conjuntura das políticas

públicas de esporte e lazer alagoinhese, por meio da preservação da sua memória local,

especificamente dos seus espaços públicos referentes ao tema. Como podemos observar

pelas informações descritas neste capítulo, a cidade de Padova, oferece aos seus

cidadãos por meio da organização pública, ou público-privado, uma grande variedade de

iniciativas que conotam a participação da comunidade padovana em locais apropriados

para a prática e para o estudo do esporte e do lazer, disponibilizando uma ampla

estrutura, no que se refere aos espaços públicos, seja, aqui definidos, como praças,

jardins, parques, biblioteca, ou museo.

Assim podemos nos apoiar nas experiências padovanas para aprimorar e construir

políticas públicas que sejam verdeiramente eficientes no setor que resguarda o esporte e

o lazer alagonhense, como vias de desenvolvimento humano. Este diálogo com uma

realidade de âmbito internacional tão diferente da região do agreste baiano e ao mesmo

tempo tão próxima, porque ao tempo, que precisamos de exemplos inovadores, que

deram e dão certo como os projetos da biblioteca pública e do museo do esporte em

Padova, temos também a capacidade de sugerir reflexões para esta mesma cidade, a

respeito do que seria políticas e espaços genuinamente públicos, já que no Brasil estas

são totalmente finaciados pelos setores do Estado, livres de taxas e cobranças. Portanto

esta troca entre culturas podem favorecer tanto a cidade brasileira como a italiana em

pauta. Esta última no que diz respeito especificamente à utlização das suas praças

públicas, que neste estudo, por meio de observações, do diálogo com a população e

averiguação da história citadina acessada por documentações, foi possível identificar a

carência das prerrogativas que definem praça como lugar público para o convívio social,

portanto, lugares que devem ser respeitados por seus cidadãos e pela administração

local, que deve assegurar estes espaços como tal e não como um lugar sem importância,

sem identidade e sem história, as trasformando em simples terrenos com a função de

abrigar uma série de máquinas que desejam serem estacionadas por seus clientes, que

nesta situação deixaram de execer sua cidadania, a partir do momento que estiveram de

acordo e ou permitiram a apropiação do espaço público da praça para fins capitalistas

expressados e registrados acima.

Neste sentido as averiguações encontradas na cidade de Padova nos servirá para

contirnuarmos a luta para a edificação de intituições que possam resguardar as memórias

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dos espaços públicos de esporte e lazer, documentado-as e disponibilizando-as para os

cidadãos alagonhienses, por meio da criação do Centro de Memórias do Esporte e Lazer

Alagoinhense – CMEL e para reforçarmos e aprofundarmos os estudos referentes a

utilização do espaço público, para assim melhorarmos as condições de uso dos nossos

próprios espaços, contribuindo também para o aperfeiçoamento de outras realidades,

como a da cidade de Padova. O intercâmbio realizado com outras instituições de ensino,

proporciona o contato direto com outras realidades, com culturas diversas, contribuindo

para a socialização do conhecimento, estimulando pesquisas nesta área de

conhecimento, estabelecendo assim um grande e consistente diálogo que reúne

Universidade, Estado e Sociedade, em comum acordo com as relações que os

interpelam, as quais podemos equiparar com as afirmações abaixo:

O poder só é efetivado enquanto a palavra e o ato não se divorciam, quando as palavras não são vazias e os atos não são brutais, quando as palavras não são empregadas para velar intenções, mas para revelar realidades, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para criar relações e novas realidades (ARENDT, 2002, p.212).

Este poder enfatizado por Arendt é o elo que permeia as esferas sociais citadas

acima, as quais só terão eficácia e convivência harmônica, no momento que o ser social

for autor da sua própria história, resguardando as dinâmicas do seu cotidiano.

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65

6. PERCURSO METODOLÓGICO

A presente pesquisa se caracteriza pela sua natureza qualitativa, que segundo,

Bogdan & Biklen (1982) tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o

pesquisador como seu principal instrumento, supondo um contato direto e prolongado do

pesquisador com o ambiente e a situação que esta sendo investigado via de regra

através do trabalho intensivo de campo. Assim esta não parte por etapas de regimento,

prevalecendo, portanto, uma flexibilidade ditada pelo próprio objeto que compõe suas

próprias perguntas. Nesta perspectiva, por meio do método dialético abordaremos a

história oral como prática metodológica, utilizaremos a análise documental e a entrevista

como técnicas a auxiliar a desenvoltura desta investigação. Foram entrevistadas ao total 9

pessoas, na faixa etária de 60 a 89 anos, todas residentes no município de Alagoinhas, no

interior da Bahia, nos arredores das praças públicas, frequentantes destes espaços por

mais de 30 anos. Vale ressaltar que neste estudo utilizamos nomes fictícios para os

entrevistados, visando preservar suas identidades, mas relembrando que todas as

entrevistas citadas dispõem da permissão de seus autores, por meio do registro oral e/ou

por escrito, por meio do termo de compromisso A escolha da faixa etária do grupo em

questão deu - se por meio do que Bosi (2003) relata:

No estudo das lembranças das pessoas idosas [...] é possível verificar uma história social bem desenvolvida: elas já atravessaram um determinado tipo de sociedade, com características bem marcadas e conhecidas, elas já viveram quadros de referência familiar e cultural igualmente reconhecíveis (BOSI, 2003, P.60).

Começamos a explorar os caminhos percorridos iniciando pela abordagem

qualitativa, que se justifica principalmente, por ser uma forma adequada para entender a

natureza de um fenômeno social como nos afirma Minayo (2000) “Um ponto importante a

se destacar, é que “[...] o objeto das Ciências Sociais é, essencialmente, qualitativo”

(MINAYO, 2000, p. 21). Segundo a mesma, esta se encontra na interpretação e no

entendimento dos significados e das ações e relações dos atos não quantificáveis.

Entendemos com base em Turato (2003) que “Método é um conjunto de regras que

elegemos num determinado contexto para se obter dados que nos auxiliem nas

explicações ou compreensões dos constituintes do mundo” (TURATO, 2003, p.153). E

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66

que a Metodologia, como nos traz Minayo (1996) “é o caminho do pensamento e a prática

exercida a abordagem da realidade” (MINAYO, 1996, p.16).

A respeito do método da dialética, temos as reflexões de Konder, que nos indica:

Para reconhecer as totalidades em que a realidade está efetivamente articulada (em vez de inventar totalidades e procurar enquadrar nelas a realidade), o pensamento dialético é obrigado a um paciente trabalho: é obrigado a identificar, com esforço, gradualmente, as contradições concretas e as mediações específicas que constituem o "tecido" de cada totalidade, que dão “vida” a cada totalidade (KONDER, 1999, pg. 46).

Lakatos (2007) reafirma este pensamento quando diz que: "para a dialética não há

nada de definido, de absoluto de sagrado, nada existe além do processo ininterrupto do

devir e o transitório. Esta idéia é compartilhada por Sichirollo, (1980) quando afirma que:

"a dialética é conhecida como a arte do diálogo que aos poucos se transforma na arte de

demonstrar uma tese capaz de definir, atingir com a clareza os conceitos envolvidos na

discussão." (p. 247).

A dialética tem como objetivos fundamentais ajudar no diálogo para que se possa

chegar as respostas de determinadas questões como define Lakatos (2007) "o objetivo da

dialética é encontrar sempre vias de se transformar, desenvolver o fim de um processo é

sempre o começo de outro." (p. 101). Portanto segundo a mesmo, a dialética fornece a

base para uma interpretação dinâmica e real, estabelecendo que os fatos não podem ser

considerados isoladamente e propiziando a abordagem qualitativa.

Partindo para a metodologia da história oral empregada em nosso contexto de

pesquisa, podemos afirmar que esta configurada como um moderno recurso para a

elaboração de documentos, arquivamento e estudos dentre outros, referentes à

experiência social de pessoas e porventura de grupos; Thompson (2002) relata que a

história oral é uma história construída em torno de pessoas lançando a vida para dentro

da própria história alargando seu campo de ação. Assim evidenciasse que esta se

constitui como um espaço de contato e influência diversa, capaz de oferecer

interpretações qualitativas de processos histórico - sociais.

Por tanto dentro da perspectiva teórico-metodológica da história oral,

compreendida aqui a partir de três grandes atribuições, temos como primeira delas a

técnica de produção e tratamento de entrevistas; a segunda como método de

investigação científica e por fim como uma fonte de pesquisa. Supera-se aí a

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67

conceitualização do que seja história oral, permitindo refletir que desde meados do século

XX, vários pesquisadores e autores a têm empregado em diversas formas e em diversos

campos disciplinares e por meio dela tem construído muitos textos de cunho científico,

acadêmico e literários. Talvez um empecilho encontrado para sua definição esta no fato

de que a história oral não encerrando um estatuto independente, já que uma das suas

especificidades esta na sua utilização em diferentes abordagens, transitando em terreno

pluridisciplinares (Camargo, 1989, Thompson, 1992, Ferreira, Amado, 1996).

Essa maneira de trabalhar com história oral, vinculada a pesquisa e a

documentação, esta datada na segunda metade do século XX, quando se estabelece na

história mundial, um movimento contrário à história positivista que, entre outras

referências, destinava status de documento, apenas aos documentos escritos e

principalmente, oficiais. Assim é no âmbito de um movimento epistemológico da própria

historiografia que a história oral ganha espaço e conquista respeitabilidade como um

eficiente e importante método investigativo.

A percepção de que o documento a ser produzido a partir do depoimento oral

privilegia a recuperação do vivido conforme concebido por quem viveu, traduz a razão

pela qual não se pode pensar em história oral sem trazer do passado experiências

individuais armazenada por um sujeito que tenha determinadas experiências e vivências.

Essa memória esta marcada pela sociedade em que este conviveu e se agrupou, e é

através dessa sociabilidade que se constitui um ponto essencial da sua autoformação e

visão coletiva, como também na tentativa de apreender as razões pelas quais as pessoas

concebem o passado de uma determinada forma e não de outra. Neste contexto Marinho

(2001) nos traz que, o registro oral dos atores sociais legitima a memória como fonte de

resistência e alternativa ao poder estabelecido. Segundo Montenegro (1994):

A história oral se descobre um processo de socialização de uma visão de passado, presente e futuro que as camadas mais populares desenvolvem de forma consciente/ inconsciente. (...) resultam num processo de interiorização e transformação do imaginário popular que se reconhece, que se redesenha em um outro lugar da sociedade. Essa mudança é, sobretudo, a redefinição de outro plano da cidadania e, por extensão de poder (MONTENEGRO, 1994, p. 40).

Esta mudança preconizada pelo autor, esta fundamentada pelo processo de

socialização de conhecimentos atemporais, conota segundo o mesmo, um instrumento de

grande transformação social. Já que a sociedade em que vivemos por meio da palavra,

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68

do discurso, do relato oral produz conhecimento, dá valor as suas criações, inseridos em

seus discursos, nas suas verdades, as quais são passadas de geração para geração,

num ciclo audacioso de conhecimento, em que a memória se configura como objeto

precioso, já que o ato de recordar conduz a sociedade reconhecer-se na história, o que a

direciona para o exercício da reflexão e revalorização daquilo que foi e está posto. Este

mecanismo de revalidação histórica do ser humano, consigo, e com o mundo que o cerca

por meio primeiramente de suas recordações, seguidas de posteriormente pela tradição

da oralidade, eleva este ser partindo da individualidade para a coletividade, revalidando

os fundamentos do ser que vive na sociedade, o ser coletivo, o ser social, que visa não só

a edificação da parte , mas do todo em si. Assim Montenegro (1994) nos traz que:

Rememorar discussões e acontecimentos é também ensinar aos ouvintes como enfrentar situações semelhantes; um convite a participação na história, ao acompanhamento, ao forte envolvimento no que esta sendo contado. (MONTENEGRO, 1994, p. 44).

Referente à história oral diz Bosi (2003): “Quando se trata da história recente, feliz

o pesquisador que pode se amparar em testemunhos vivos e reconstituir comportamentos

e sensibilidades de uma época!” (Bossi, 2003, p.11). No mesmo sentido Pollak (1992)

argumenta: “a História Oral permite fazer uma história do tempo presente” (POLLAK 1992,

p. 212) em conjunto com Neves (2000) que ressalta:

É a busca de construção e reconhecimento da identidade que motiva os homens a debruçarem-se sobre o passado em busca dos marcos temporais ou espaciais que se constituem nas referências reais das lembranças. (…) O mesmo se pode dizer da metodologia da História Oral, que, sendo uma produção intelectual orientada para a produção de testemunhos históricos, contribui para evitar o esquecimento e para registrar múltiplas visões sobre o que passou. Além de contribuir para a construção/reconstrução da identidade histórica, a História Oral empreende um esforço voltado para possibilitar o afloramento da pluralidade de visões inerentes à vida coletiva (NEVES, 2000, p. 112).

Trabalhar com a história oral na comunidade proporciona o resgate de vivências,

visões de mundo, representações passadas e presentes. Trilhando por este caminho do

rememorar, as entrevistas, peças chaves deste resgate, são instrumentos que instituem

um novo espaço documental, o qual por inúmeras vezes vem sofrendo grandes perdas

com a morte dos seus sujeitos sociais.

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Com relação ao resgate das memórias dos espaços públicos de esporte e lazer

alagoinhense, cabe destacar que a coleta de informações e depoimentos por meio das

entrevistas não tem o interesse de instaurar a verdade, por meio da busca de fatos que

realmente ocorreram, mas como uma forma de compreensão, uma versão da pessoa

entrevistada. Nesta perspectiva:

[...] a memória pode falhar, pois entre o acontecido e o narrado há um tempo decorrido. O ato de rememorar além de esta atrelado ao que se quer e se pode rememorar, pode conter distorções e descompassos, deslocamentos, ênfases e ocultamento (GOELLNER, 2007, p.55).

A memória ao sofrer interferências do cotidiano e do tempo, vivido não se mantém

intacta. Portanto todos os relatos deste estudo carregam em si, um significado da vivência

desses espaços de esporte e lazer para estes sujeitos. Compartilhando as recordações

do esporte e lazer presentes durante a sua vida, os entrevistados exprimem uma idéia a

respeito da memória coletiva. Esta idéia relaciona-se com o espaço preenchido por cada

ser na sociedade. Este espaço pode ser mudado baseado nas relações que cada sujeito

estabelece com os diferentes grupos aos quais são pertencentes. Segundo Halbwachs

(1990) citado por Goellner (2007), “essa memória coletiva tem assim, uma importante

função de construir para o sentimento de pertinência a um grupo de passado comum, que

compartilha memórias”.

As incursões a respeito da investigação em questão, cada conversa, cada encontro

era um viagem no tempo, um verdadeiro encontro com o passado, com a memória, com a

história na qual todo ocorrido pode ter valor, podendo revelar um maior entendimento do

momento atual. Ao trazer uma visão específica de certos fatos, os relatos e as memórias

se configuram também como um retrato de vida e dos costumes de uma determinada

época. Assim ao manter estas tradições, esses costumes promovem a reflexão a respeito

da nossa forte ligação com o passado.

O instrumento de pesquisa conhecido como fonte documental, segundo Vergara

(2003) objetiva reunir, classificar e distribuir os documentos de multiplas genêses das

diversas facetas dos contextos humanos. Esta, também se faz por meios de fontes

secundárias que tenham veracidade. Duarte, Barros (2005) referencia esta como uma

forma de se investigar que sustenta um grupo de questões ligadas ao intelecto,

objetivando a descrição e a representatividade de documentos de forma generalizada e

sistêmica no intuito de recuperar-los com mais facilidade. Os mesmos ressaltam:

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70

A análise documental, muito mais que localizar identificar, organizar e avaliar textos, som, funciona como expediente eficaz para contextualizar fatos, situações, momentos. Consegue dessa maneira introduzir novas perspectivas em outros ambientes, sem deixar de respeitar a substancia original dos documentos (DUARTE, BARROS, 2005).

Assim, Moreira (2005) relata que a análise documental na área da educação se

constitui como fonte de informações, pontos que sugerem metas e ou a constatação de

empecilhos neste campo.

Utilizando-se da entrevista semi-estruturada como técnica de coleta de

informações, é essencial entende-la como:

Parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam a pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo a medida que se recebe as respostas dos informantes (DUARTE, BARROS, 2005).

Tendo a entrevista como uma atuação interativa entre indivíduos Trivinos e Molina

Neto (1999) diz que a entrevista tem que ser:

Pensada para obter informações de questões concretas, previamente definidas pelo pesquisador, e, ao mesmo tempo, permite que se realize exploração não-prevista, oferecendo liberdade ao entrevistado para dissertar sobre o tema ou abordar aspectos que sejam relevantes sobre o que pensa. (TRIVINOS; MOLINA NETO, 1999, p.74).

A entrevista (documentação) esta se encontra intrinsecamente relacionada a

memória, compreendida como a capacidade que o ser humano tem de reter fatos e

experiências vividas, seu processamento articula ,ao mesmo tempo pesquisa e

documentação pois promove a produção de um registro histórico. “Seu valor qualitativo

vem da transformação dos “objetos de estudos em sujeitos”, incentivando uma história

com maior riqueza de detalhes, mais viva, como também mais verdadeira” (THOMPSON,

1992).

Entendendo o ato de rememorar como uma forma de educação e um viés de

transformação social, nos apoiamos aqui na ideologia de base qualitativa, visto que o

objeto da pesquisa permeia um campo de relações de sujeitos com histórias impregnadas

de valores, conceitos e ações subjetivas, sendo, portanto,“ um contexto de observação e

interpretação que não se resume a elementos quantificáveis” (COSTA,2007, p173.)

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71

Tendo em vista essa considerações e seguindo os caminhos metodológicos

necessário à construção de uma minuciosa pesquisa baseada na coleta de depoimentos

e a sua transformação em fontes de pesquisa tem-se enumerados abaixo os

procedimentos adotados:

1. Identificação das pessoas objetivando entrevistadas;

2. Confecção de roteiros para cada entrevista (neste estudo este procedimento fica em

aberto, penas direcionado, devido a entrevista ser semi - estruturada);

3. Aplicação das entrevistas;

4. Processamento das entrevistas: passagem dos depoimentos da forma oral para a

escrita, incluindo as aqui seguintes etapas;

a. Transcrição, que se dá pela passagem do documento oral para a escrita;

b. Ato de Conferência - conferi-se o que esta gravado com o que foi transcrito;

c. Correção de possíveis erros de gramática, ajustando o texto às normas de

padronização.

5. Estudo, consistindo em uma conferência do documento a partir do que foi dito, na

tentativa de aproximar-los o mais possível do acontecido e narrado;

6. Elaboração de sumário: objetivando facilitar posteriores consultas;

7. Concessão da entrevista por escrito para que a pessoa entrevistada confira;

8. Atestado concebendo os direitos das entrevistas;

9. Organização das entrevistas através de catálogo;

10. Disponibilização dos documentos para fins de consultas acadêmicas.

Cumpridos esses procedimentos, inicia-se a construção das histórias, já que até o

momento discorrido foi apresentado à escolha e a fabricação do documento, no caso da

oralidade e da escrita. Este documento é um registro da memória dos seres edificadores

desta e só poderá concretizar-se como tal segundo Catroga (2001) se forem formuladas

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de acordo com as normas e as particularidades metodológicas próprias em conjunto com

as experiências pessoais e coletivas vivenciadas ou transmitidas pela oralidade ou pela

escrita.

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7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO

No trabalho em tela, foram discutidas formas para o levantamento de informações

a respeito do patrimônio imaterial citadino referente ao esporte e lazer, apresentando os

caminhos que se pretende seguir no intuito de documentá-las, bem como sua

disponibilidade para a comunidade, focalizando a necessidade de sua preservação

histórica, seja pela escrita como por meio da oralidade.

Tomando o ciclo de estudo a partir de bibliografias que tematizam a memória, as

políticas públicas relacionadas ao esporte e lazer, espaços públicos, preservação histórica

bem como a oralidade, foi possível uma melhor compreensão sobre o foco da pesquisa

qualificando o seu entendimento. Seguindo um roteiro onde inicialmente foi feito um

levantamento dos sítios virtuais, bibliotecas, secretárias e acervos públicos, identificou-se

de início a inexistência de uma sistematização dos períodos históricos do Esporte e Lazer

na cidade de Alagoinhas-Ba. Atrelados a isso temos a apropriação indevida de raros

registros que compõem o antigo cenário dos tempos passados, incluindo os espaços

públicos de esporte e lazer alagoinhense. A existência dessas lacunas está relacionada,

diretamente a pessoas que por um tempo tiveram uma vinculação com uma instituição

pública, e neste período se apossaram do bem público com fins pessoais, mantendo-os

em regime de cárcere privado. Em demasiados momentos tais sujeitos foram contatados

para uma possível contribuição com o estudo exposto, por meio da concessão de

entrevista, disponibilidade de registros, fotos, dentre outros, mas em momento algum não

obtive no mínimo o bom e velho respeito como pesquisadora. Neste sentido me aproximo

das reflexões de Amado (1990) quando também evidência:

A documentação local, necessária a pesquisa geralmente está em mãos de pessoas que se consideram “donas” e não querem cedê-la. Isto talvez aconteça porque, em locais menores, onde predominam relações de tipo pessoal e privado, haja mais dificuldade em identificar patrimônio histórico como patrimônio público. Mas também porque, nestes lugares, muitos “donos” da documentação pertencem às oligarquias locais, estão habituados a mandar. E não hesitam em usar este poder contra o pesquisador, principalmente quando desconfiam que o resultado da pesquisa poderá prejudicar seus interesses ou comprometer sua imagem (AMADO,1990, p.12).

Diante da dificuldade de recrutar registros das memórias históricas citadina, o

mesmo autor coloca:

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74

E não é fácil realizar trabalhos de cunho regional, se problema do mau estado de conservação e de desorganização dos documentados históricos é sentido em todo o país, ainda mais agudo ele se apresenta na maioria das instituições estaduais e municipais, principalmente as situadas nas regiões mais pobres (AMADO, 1990, p.11).

O descaso é tanto que pra se per uma idéia, durante dois anos de pesquisa a

respeito das Memórias dos Espaços Públicos de Esporte e Lazer Alagoinhense, em

contato com setores referentes ao Esporte e Lazer da cidade, como a Secretaria de

Esporte e Lazer (SECEL), com seus administrados e funcionários, bem como o arquivo

público e a biblioteca pública da cidade, pude constatar a falta de conhecimento a respeito

do tema questionado, muitas vezes negligenciado por parte dos administradores dos

respectivos setores públicos, já que em alguns destes, como é o caso do arquivo público,

no período de 2008, sempre estava fechado, por falta de pessoal capacitado para o

atendimento ao público, restringindo o seu acesso à coordenação do próprio arquivo e a

alguns conhecidos do Secretário de Esporte e Lazer da cidade, os quais concediam o

livre acesso a estes, pois detinham a chave deste setor.

No ano de 2009 com a eleição municipal, o cargo da direção do arquivo de

Alagoinhas foi mudado. Com isso o arquivo público já se encontrava aberto, porém os

funcionários que estavam neste setor não sabiam informar a existência de documentação

referente ao tema, além de comunicar que se estes existiam, sempre foram de acesso

exclusivo da direção do arquivo, já que a sala onde se encontram materiais deste tipo,

nem eles funcionários do espaço, a anos poderiam frequentar. Assim, estes relatam que

até 2008, só a diretora do arquivo e o Secretário de Esporte e Lazer da cidade, podiam

frequentar esta sala onde a maior parte da documentação antiga da cidade se

encontrava.

Como o arquivo em 2009, se encontra aberto, pude muitas vezes ir à busca de

materiais para a organização do estudo presente, porém os responsáveis encontrados

não sabiam da existência desta documentação solicitada, alegado só agora, ano de 2009,

poderem acessar os espaços onde estas eram dispostas, espaços os quais em 20 anos

de trabalho, os mesmos não tinham permissão de acessar. Sendo assim só agora os

próprios funcionários do arquivo público de Alagoinhas estão em contato direto com seu

objeto de trabalho, seja para descobrir, organizar, catalogar, ou mesmo desfrutar da sua

história.

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Situações como estas mencionados, são bem mais que profundos descasos, uma

verdadeira violência a sociedade alagoinhense, que por tanto tempo foi e ainda é privada

de sua própria memória histórica, seja por meio da negligência ou apropriação e

privatização de materiais históricos citadinos por parte de seus representantes públicos

seja, pela falta de conscientização do que estas são para a identidade social de um povo.

E é também por causa desta escassez de informações que se fez e faz necessário o

encontro com os cidadãos alagoinhenses, porque é através dos seus múltiplos aspectos

relacionados com a escuta, o diálogo, com seus sujeitos sociais, com o seu testemunho,

que podemos resgatar os modos de vida, os sujeitos, os acontecimentos, as

representações, as conjunturas, os eventos, relacionados com a sua história.

As vozes dos atores sociais alagoinhenses presentes neste capítulo saem do eco

do anonimato, do passado ainda vivaz em sua memória, para ressoar com uma bela

melodia tocada nas praças públicas da cidade, pelas antigas e saudosas Siciliana e

Euterpe, mais que filarmônicas, verdadeiros ícones de movimento e resistência citadino.

Estes testemunhos e melodias esbravejam bem mais que um passado, no leva a outra

dimensão, a qual podemos, mesmo estando no presente, experimentar as lembranças, as

mudanças, o progresso, o regresso, a sociedade, as ideologias, a saudade, a política, o

esporte, o lazer, enfim a história, a qual esta entranhada no cotidiano do seu povo, que a

todo momento os remete a ela com se fossem dependentes da mesma para continuarem

a caminhar no presente, em projeção a suas vivências futuras. Assim discutiremos as

praças públicas de Alagoinhas como espaços de construção sociocultural, em que a

dinâmica criada pelos seus sujeitos, dá vida às estruturas de concreto, arborizadas ou

não, construídas e denominadas de espaços públicos.

Tomando como universos influentes de investigação de espaços de Esporte e

Lazer da cidade de Alagoinhas, as praças se apresentam como espaços de densa

frequentabilidade, onde os sujeitos sociais as utilizam não apenas como via de passagem

que separa os pequenos universos particulares de concreto, mas como lugar de vivência

cultural e social por meio de suas experiências individuais e coletivas que estas

proporcionam.

As praças investigadas trazem em especial além das características já citadas, um

público diversificado em cada uma delas o que as enriquece ainda mais. Palco de

diversas experiências, estes espaços se caracterizam como espaços de educação não

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formal, onde a presença de animadores culturais é essencial para o desenvolvimento de

atividades onde o foco principal seja o aprendizado da comunidade sobre os seus direitos

de ser cidadão, atrelados as posições política e político - pedagógico de compromisso

com grupos e movimentos sociais, como afirma Fernando Mascarenhas, em “O lazer

como prática de liberdade” de 2003, que traz em conjunto a esta proposta de educação

popular de Paulo Freire, relacionando este plano acima mencionado, a resistência e a luta

cotidiana em prol da sobrevivência, visando a emancipação e a formação de um mundo

que possa proporcionar uma vida com condições totalmente superiores.

É apresentado a seguir o conjunto das informações levantadas ao lado dos

comentários acerca do tema. Para tanto, optou-se por discutir as praças centrais da

cidade, as quais estão situadas no Território de Identidade 18, mostrando as suas

singularidades, semelhanças e contradições:

Praça Rui Barbosa (Figuras 18, 19, 20, 21 e 22);

Praça Dr. J. J. Seabra – Coreto (Figuras 23, 24, 25, 26 27 e 28);

Praça Professor Mário Laerte (Figuras 29, 30, 31, 32, 33, 34 e 35).

A Praça Rui Barbosa, antiga Praça do Cruzeiro situa-se no centro da cidade,

caracterizada por sua estrutura amplamente arborizada, onde existe uma grande

circulação de pessoas, esta praça se posiciona como ponto de encontro de sujeitos que

se dispõe a vivenciar nos espaços públicos citadinos suas nuances pessoais e suas

relações sociais. Nesta localiza-se também a Secretaria de Cultural Esporte e Lazer

(SECEL) responsável pelo planejamento e gestão destas esferas na cidade. A

frenqüentabilidade da praça esta entre todas as faixas etárias, sendo que há um grande

contingente da população mais jovem ente 14 á 21 anos. Esta se tornou um ponto de

encontro juvenil, pois após o término das aulas, os estudantes se encontram para uma

calorosa confraternização de experiências de caráter interpessoal. Os pais também levam

seus filhos para brincarem nos equipamentos montados para esta finalidade, os então

chamados playgrounds que de acordo com Robba & Macedo (2003) uma vez

implantados, quadras esportivas, playgrounds e pistas, o lazer ativo se faz presente

(p.36).

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77

O trânsito da comunidade neste espaço é intenso, apesar das restritas

possibilidades oferecidas, já que não há um programa de animação cultural, aliás, em

nenhuma das praças da cidade, com exceção das datas comemorativas - em que eventos

esporádicos acontecem exclusivamente neste local, e o programa do governo federal

“Segundo Tempo”, realizado em outra praça. Mas nem sempre foi assim, como relata o

Sr. J. C. Silva, um pernambucano de 86 anos, que veio trabalhar na ferrovia em

Alagoinhas em 1946, ex-tocador de clarineta e trompete da Euterpe e da Siciliana, antigas

filarmônicas da cidade, fundadas em 1896, hoje em decadência:

[...] Aliás, teve tempo aqui que todo domingo as filarmônicas tocavam nas praças, um domingo era da Euterpe e o outro da Siciliana. E começou assim, uma tocava na JJ Seabra e a outra na praça do Cruzeiro, a Rui Barbosa né. E na Rui Barbosa as duas se encontravam e disputavam quem tocava mais, uma na parte de cima e a outra na de baixo, o povo ia ao delírio, era bonito de se vê (REIS, p. 4, 2009)

A respeito da Praça Rui Barbosa o Senhor V. Souza, 81 anos nascido em Feira de

Santana e morador de Alagoinhas a mais de 60 anos relembra:

A Praça Rui Barbosa sempre foi bonita assim, com aquelas árvores grandes, toda vida teve brinquedo pra crianças; Domingo assim as famílias levava as crianças pra brincar; depois foi entrado prefeito, saindo prefeito, um fazia uma coisa outro cruzava os braços. Assim ela foi melhorando um bucadinho, eu sei que ela tá melhorzinha agora, nesse prefeito que “tava”, foi quem melhorou muito ela, porque já teve tempo que se fazia nojo passar.

Já a Sra. M. S. Moreira, 61 anos, natural de Alagoinhas, funcionária pública à 26

anos e recorda:

De primeiro era tudo mais animado, me lembro quando tinha a disfilata das filarmônicas na Rui Barbosa, eu passava a tarde ali com minha família antes da missa... Era tão animado, a gente ia pra lá tudo arrumado e tomava soverte na praça, eu jogava “macaco” com meus irmãos e com os meninos de lá ouvindo a banda tocar...”

O Senhor A. Nogueira, comerciante de 74 anos, nos traz uma saudosa Praça Rui

Barbosa:

Naquele tempo quando eu era um “rapazote”, sempre “vinha” aqui na praça pra vê as retretas da Euterpe e da Siciliana, e pra vê as moças também, foi aqui que começei a namorar, “eita” tempo bom...Aqui na praça a gente se divertia até a noite chegar, porque era sempre movimentado, quando não tinha música tinha o parque, e quando não era o parque, tinha

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a meninada que vinha brincar, a gente jogava baliado, até as meninas tavam também [...]. Já os jovens de hoje só querem saber de beber e dançar o pagode, eles não vão mais pra praça se divertir. Antes era de lei ir pra festa de reis, de natal, de ano bom tudo aqui na Praça do Cruzeiro, mas hoje se têm, quando têm, porque não é sempre não, precisa vê quem vai, só mesmo o pessoal mais antigo, assim da minha idade pra cima. Aqui tem mais é criançada aos domingos, que vem brincar nesse parquinho aí e os jovens também, que ficam nos bares que fizeram alí.

Figura 18 e 19 - Praça Rui Barbosa, 1950. Fonte: Ma rcelo Ornellas. 2009

Figura 20 - Praça Rui Barbosa, década de 70. Fonte : Arquivo Público de Alagoinhas-Ba, 2009.

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Figura 21 - Praça Rui Barbosa, playgrounds, Janeiro de 2009. Fonte: Anne Reis, 2009.

Figura 22 - Praça Rui Barbosa, Junho 2009. Fonte: A ndré Lima, 2009.

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A Praça Dr. J. J. Seabra, localizada no centro comercial de Alagoinhas, abriga uma

das mais admiráveis edificações que embelezam a cidade, o Pavilhão-Bar, que foi

inaugurado no dia 15 de novembro de 1927. A praça tem esse nome em homenagem ao

soteropolitano, político e jurista brasileiro, José Joaquim Seabra, o qual governou a Bahia

por duas vezes, em 1912 e 1920.

O “coreto” pavilhão-bar, foi construído em estilo renascentista, com colunas de

cimento armado ao redor é considerado pela maioria um verdadeiro “bibelô” de forma

octogonal, apesar de haverem muitas opiniões contrárias a sua construção nesta praça,

pois se cogitava para este local a instalação de uma estatueta de busto homenageando o

fundador da cidade. Situada nas proximidades da sede da prefeitura municipal é

freqüentada em sua grande maioria por pessoas idosas entre 60 á 85 anos que fazem

deste local, não apenas uma via de fluxo de pedestres, mas um ambiente propício à

diversidade de lazer, a um campo de trocas de valores humanos-sociais, que neste caso,

em sua grande maioria, se dá através da realização de jogos como o xadrez, a dama e

vários outros jogos de tabuleiro nos bancos desta praça, a qual já foi palco tanto de

conflitos como o aquartelamento da Forças Armadas Militares legalistas em novembro de

1930, como também de intensas manifestações culturais com apresentações de

filarmônicas locais a exemplo da Euterpe Alagoinhense, Siciliana, bem como a Banda do

“1° Corpo da Polícia Militar”, composta por cem ele mentos, nas décadas passadas.

Hoje a “praça do coreto” é tomada pela terceira idade, o que chama a atenção de

muitos que no seu cotidiano passam por ela, ao se deparem com a dinâmica que este

grupo em especial, vivencia o espaço, o preenchendo de vida, apesar das adversidades

encontradas neste local. Esta praça tem uma especialidade, pois reúne um grande

contingente de pessoas que guardam em sua memória a história dos espaços públicos,

podendo se constituir o principal campo a revelar o resgate dos espaços de esporte e

lazer citadinos. A respeito do cotidiano passado deste local, nos apegamos novamente às

palavras de Sr. J. C. Silva:

Toda festa que existia naquele tempo era em função do “coreto”, sempre antes do carnaval aqui existia uma festa que era a dança do “maxixi” e todo mundo se divertia. Nesse tempo todo domingo era uma festa, todo mundo da cidade comparecia para vê as “retretas” com a família, fosse a Euterpe ou a Siciliana que fosse tocar.

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E seguindo a linha de recordar o cotidiano da JJ Seabra, faz-se relevante valer-se

das memórias do então alfaiate de 89 anos - sendo 70 deles de Alagoinhas - Sr. B. B.

Santos, filho de Inhambupe, município que originou a cidade estudada:

Todo mundo passava por ali, porque era o centro da cidade e tinha o trânsito ferroviário. A sua estrutura era muito agradável. Na minha idéia hoje ali tem pouco movimento festivo. Ali antes era mais para as filarmônicas, os casais de namorados. Não se incentiva aquele coreto para nada, não tem filarmônicas todo domingo como antes, nem de quinze e quinze, nem de quando em vez. Não se usa aquele coreto para nada útil hoje, muitas vezes serve de abrigo para drogados e mendigos (REIS, p. 6, 2009)

Outro frequentador da praça do “coreto” e que sente muito a falta de incentivos

para com este espaço é o alagoinhese de 67 anos, E. Machado, hoje um grande

incentivador da revitalização das filarmônicas na cidade este diz:

Eu conversei muito com algumas pessoas que estavam na gestão passada pra questão daquele coreto ali, porque nos temos um coreto na JJ Seabra, então qual o verdadeiro sentido dele aqui? porque hoje não se utiliza ele pra forma que ele foi construido? pra abrigar uma filarmônica, um show aos domingos como era antes, onde a orquestra de frevo “OsTurunas” tocavam, e que até hoje esta presente na mente daqueles que estiveram aqui naquele tempo. Ali hoje tem que ser um lugar de todos nós. No caso aí a gente tem que criar algumas ações para levar as pessoas para a praça novamente, pra que elas possam sair das suas casas e pra que a gente possa crescer neste contexto.

Figura 23 - Praça JJ Seabra, “Coreto”, 1929. Fonte: Marcelo Ornellas. 2009.

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Figura 24 - Praça JJ Seabra, “Coreto”, 1929. Fonte: Marcelo Ornellas, 2009.

Ainda sobre a J.J Seabra o Sr. J. C. Silva relata:

A Praça JJ Seabra mudou muito! Muito! Vigi, nem parece a mesma praça, aquilo antes era uma praça e que praça, a senhora precisava vê! Aquele jardim, aquelas plantas, aquelas arvores, ali eles faziam banco, cadeira de dentista de barbeiro, fazia essas pombas, esses passarinhos tudo na árvore, tinha tudo ali, mas depois que o comércio foi chegando as coisas foram mudando [...] E toda vida o pessoal ali jogava “Gamão”, Dominó! O pessoal daqui é viciado em dominó. (REIS, p. 5, 2009)

Sra. M. S. Moreira aponta algumas mudanças que lhe vêm à memória:

Eu freqüentava estes espaços, mas morava longe do centro e me vem na lembrança mais do que ela é hoje... Lembro da época em que o coreto era todo ornamentado, as árvores eram todas em formas, me lembro que era muito bonito, muito mais do que é. Hoje, nem se compara! Ele não está tão bonito, tão florido, como já foi. Mas ainda é um espaço bom e que precisa ser mais utilizado.

Em conferência proferida no “Pré-Fórum em Crítica Cultural: Políticas públicas e

heterotopias culturais” no campus II da UNEB, Alagoinhas, em dezembro de 2009, o

escritor e jornalista Antonio Torres, relembra as lembranças de um dos seus singelos e

memoráveis moradores, Eurico Alves, o qual descreve por meio de suas recordações o

cotidiano da cidade e em especial das vivências na Praça JJ Seabra, na década de

cinquenta, no poema intitulado “Luzes verdes, sonhos dourados” :

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(...) as marcas culturais da cidade de Alagoinhas eram sinalizadas pelos letreiros luminosos nas fachadas das lojas na Praça J. J. Seabra – a das árvores podadas artisticamente em forma de pássaros -, seguindo pela Rua Coronel Anísio Cardoso, cujo movimento intensificava-se à noite com a chegada na Estação da Leste de um trem chamado Marta Rocha, que trazia os passageiros mais elegantes e os jornais da capital, e depois das sessões do Cine Azi, onde toda uma geração aprendeu a beijar, a dizer “Ai lóvi iu”, e a andar como se tivesse acabado de apear do cavalo do cow-boy. E a ficar horas diante de um espelho, caprichando num pimpão igual ao do Elvis Presley – com a untuosa ajuda da brilhantina Glostora -, cantando “Don’t leave me now”, como no filme “O prisioneiro do amor” (...) (ALVES, 1957).

O Professor Nilton Rodrigues relata em um blog3 de sua autoria, chamado ”Os

Rudimentos” o seguinte a respeito da praça em evidência:

Antigamente, nas tardes domigos, os jovens constumavam sair de suas casas em direção à “Praça do Coreto”, para assistirem os maravilhosos shows que eram realizados pelas Filarmônicas "Siciliana" e Euterpe". Hoje esses jovens já não são mais tão jovens e muitos até já se foram para a espiritualidade... As festas são diferentes e os jovens de hoje já não têm mais uma identificação com a arte e a beleza.

Em outro momento, recorda os momentos festivos deste espaço e incrivelmente

cita um dos nossos entrevistados, como ícone importante na desenvoltura cultural

daquela época:

Quando a orquestra “Os Turunas”, comandada pelo clarinetista Benigno, atacava de rock and roll, e ele, com seu balanço inimitável, mais parecia um personagem do filme “Rock around the clock”, causando espanto a uma cidade que ainda se movia a passos de bolero (dois pra lá, dois pra cá). Aliás, naqueles anos também de “rumba”, “chá-cha-chá”, “samba-canção”, “valsa”, “baião” etc., Alagoinhas fazia bonito nos salões e também nas praças ao ritmo da Filarmônica da Euterpe, principalmente no carnaval e na micareta. Folia foi o que nunca faltou aqui (ALVES, 1957).

Já no blog da Associação Cultural Euterpe Alagoinhense, intitulado “Tocando em

frente” o então presidente da associação Carlos Eduardo de Jesus Santos, no ano de

2007, deixou um depoimento em 10 de setembro de 2009 a respeito das filarmônicas de

Alagoinhas, este diz:

A Sociedade Filarmônica União Ceciliana apresentavam-se em praças públicas sempre ao entardecer, onde famílias inteiras viviam às expectativas dos dias de “Tocatas” e se posicionavam para ouvir e aplaudir com entusiasmo as apresentações, bailes em clubes sociais da cidade,

3 OS RUDIMENTOS: Ambiente virtual, histórico cultural. Colégio Estadual Dr. Magalhães Neto. http://wwwosrudimentos.blogspot.com/ Acesso: Setembro 2009.

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casamentos, aniversários, procissões, desfiles cívico, visitas de autoridades, campanhas políticas, cortejos fúnebres e os famosos bailes de carnaval.

Este mesmo ressalta com perspicácia:

O descaso em que as filarmônicas foram tratadas ao longo de anos pelos seus dirigentes que, atendendo interesses pessoais, principalmente políticos, sucateou-nas, destruindo o acervo (documentos e instrumentos) com falsas promessas de recuperação, este sofrimento abrandou as disputas, levando os maestros a manterem-se lutando no anonimato, praticamente sozinhos, pela sobrevivência das entidades.

Figura 25 - Praça Dr. J.J Seabra, 1945. Fonte: Mar ia do Socorro Limoero, 2009.

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Figura 26 - Praça Dr. J.J Seabra, 2009. Fonte: Tito Garcez, 2009.

Figura 27 - Praça Dr. J.J Seabra, Coreto. Fonte: An ne Reis, 2009.

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Figura 28 - Praça Dr. J.J Seabra, “Jogo de dama”. F onte: Anne Reis, 2009.

A Praça Mário Laerte compõe vários equipamentos direcionados ao esporte

contendo duas quadras poliesportivas (Figuras 29 e 30), uma pista de skate (Figura 31), o

Ginásio de Esportes Antonio Carlos Magalhães (Figura 32) e o Estádio Municipal Antonio

Carneiro - Carneirão (Figura 33), com a capacidade de abrigar 12.000 espectadores,

inaugurado em de janeiro de 1971, tendo este nome devido a esse então administrador

da municipalidade, em sua gestão, - Antonio de Figueiredo Carneiro. A maioria dos

usuários desses espaços é jovem, que buscam ali a satisfação do contado com o outro,

através de atividades coletivas esportivas como o vôlei, o futebol, o basquete, o handebol.

É nesta praça que também acontece o programa do governo federal, o Segundo Tempo4

que visa à inserção das crianças e jovens das comunidades mais carentes dos arredores

desta localidade, na cultura do esporte. Cercada por escolas, a frenquentabilidade desse

ambiente por estudantes é bastante relevante, mas não só a este público a praça se

destina, mas às comunidades distantes, as quais se reúnem para concretizarem suas

4 O Segundo Tempo é um Programa Estratégico do Governo Federal tem por objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura do Esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente em áreas de vulnerabilidade social. Ministério dos Esportes. http://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo/ Abril de 2009.

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intenções e ações com intuito de promover o esporte e lazer de maneira lúdica e

produtiva. Nesta dinâmica a comunidade estabelece horários os quais são estabelecidos

para que as quadras poliesportivas cumpram seu papel de equipamentos públicos de

esporte e lazer, possam ser utilizados por todos de maneira igualitária.

A respeito desta praça o Sr. M. Santos, nascido em Alagoinhas, com 60 anos de

idade, em entrevista, expõe:

Aqui antes era tudo mato! Só tinha mesmo um campinho meio de terra e meio de grama. Mas tinha muita gente de meia idade, assim de cinqüenta anos, pó aí... E a garotada, as mulheres que vinham vê o marido, o filho jogar. Antigamente não tinha time em Alagoinhas, nem Estádio, tinha “LDA”, Liga Desportiva de Alagoinhas e a Suburbana, que jogava os times amadores e de bairros, eu mesmo jogava, e era a gente mesmo que pagava, era um “conto” por jogador. A torcida enchia, gostava mesmo e era fanática. [...] A Praça Mário Laerte surgiu depois da construção do Estádio. Tudo na vida a gente tem que correr atrás e foi assim que foi feito ele. [...] A cidade foi crescendo foi colocando mais praças, são importantes para o lazer e a cultura (REIS, p. 6, 2009)

A Sra. M. S. Moreira relata algumas transformações a respeito deste espaço:

Agora a praça Mário Laerte mudou bastante, mesmo porque é hoje um lugar perigoso por causa das drogas, tem muito disso ali, principalmente à noite. Crianças e jovens tem muito sim, por causa da escola também, mas antes todos estavam tranquilos, com os pais que os acompanhavam e agora não é mais assim.

Figuras 29 e 30 - Praça Mário Laerte. Acima e abaix o, quadras poliesportivas. Fonte: Reis,

2009.

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Figura 31 - Praça Mário Laerte Pista de skate. Font e: Anne Reis, 2009.

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Figura 32 - Ginásio de Esportes Antônio C.

Magalhães. Fonte: Prefeitura de Alagoinhas, 2009.

Figura 33 - Estádio Municipal Antonio Carneiro (Carneirão). Fonte: Anne Reis.

A Senhora M. L. Soares, professora aposentada, moradora do bairro Alagoinhas

Velha, de 68 anos nos relembra a Praça Mário Laerte de antes:

Para começar esse lugar aqui da praça Mário Laerte sempre foi frequenatado pelo pessoal do bairro(...) porque era um lugar amplo, arejado, com um grameado verde, que hoje não se vê muito, mas antes tomava toda a praça, tanto que os meninos faziam campeonato de futebol aqui, meus irmãos mesmo, vinha que era uma beleza! Eu só vinha com meu pai, sabe como é, menina, mocinha é um outro jeito, mas eu vinha vê eles jogarem porque meu pai gostava e jogava também, na verdade todo mundo gostava de vê eles jogarem, minha mãe e minhas tias sempre ia também e a gente se divertia. Eu ficava em baixo das árvores vendo o jogo e jogando “carta decorada” com minhas primas, levavamos boneca e faziamos pique-nique.

Relembrando Praça Mário Laerte que abriga um complexo esportivo, o Senhor J. I.

O. Cardoso, de 74 anos, nascido em Aramari, município vizinho a Alagoinhas relata:

A praça Laerte esta sendo revitalizada aos poucos, se a senhora passar agora lá, vai vê que tem um lugar pra os meninos brincar de skate, de bola, a garotada tá toda lá, e a rampa é nova ai os meninos se acabam!, desce correndo não sei cuma não cai! Também tem o ginásio ali atrás do “carneirão”. Esse ficou novinho em folha! arrumaram o gramado, as cadeiras, botaram as luzes pro jogos a noite e até o banheiro melhorou, fui lá torcer pro meu Atlético que ganhou essa semana de 4 em cima do Rio Branco, só dá o “Carcará”!

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Figuras 34 e 35 - Estádio Municipal Antonio Carneiro (Carneirão)1970 e 2008. Fonte: 34 . Google e 35. Prof.MM.

Para tratar de memórias dos espaços públicos de esporte e lazer é de fundamental

importância referenciar as manifestações que passaram e passam por estes verdadeiros

palcos de memórias que são os espaços públicos, afinal de contas é a partir destas que

podemos resgatar a história destes espaços, sendo assim trazemos abaixo (Figuras 36 e

37) exemplos da memória iconográfica esportiva alagoinhense, nas imagens do seu

principal time de futebol, o “Alagoinhas Atlético Clube”.

Figuras 36 e 37 . Alagoinhas Atlético Clube 1973 e 2008. Fonte: Goo gle, 2009.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

"O homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber ”(FREIRE,1974, p.47).

Ao apresentar as considerações finais sobre o estudo é possível reconhecer as

aproximações que interligam os territórios investigados da cidade de Alagoinhas e de

Padova, já que estes foram palco de grandes movimentos culturais. Em Alagoinhas, no

que se refere ao Esporte e ao Lazer, é possível afirmar que infelizmente seus principais

espaços estão registrados apenas na memória da população mais idosa e nos acervos

privados de terceiros, os quais se aproveitaram de certo status sociais, apropriaram-se do

patrimônio histórico citadino alagoinhense, fazendo uso deste para ascensão pessoal,

principalmente nos meios acadêmicos, impedindo que seus cidadãos conheçam sua

história a fim de conservá-la e transformá-la. Isto fica evidenciado ao constatar que nem a

Secretaria de Cultura Esporte e Lazer (SECEL) nem o arquivo público da cidade, são

dotados de registros sobre a história destes espaços, o contrário do que se evidência em

alguns “acervos” privados de pessoas que já estiveram à frente de alguns cargos

públicos, como a própria secretária citada acima.

No caso das memórias dos espaços públicos de esporte e lazer da cidade de

Padova, estas estão muito bem conservadas devido às políticas públicas direcionadas

para estes fins. As iniciativas que conservam a memória dos espaços padovanos

averiguados em questão, tem parceria do setor público, no caso a “Comuni di Padova”

(Prefeitura de Padova) com associações comunitárias a exemplo da “Associazione

Patavina Cultura e Sport” (Associação Padovana Cultura e Esporte) além das instituições

privadas a exemplo da “Fondazione Cassa di Risparmio di Padova e Rovigo” (Fundação

Banco de Poupança de Padova e Rovigo), todas estas organizações comungam do

mesmo objetivo de fornecer aos seus cidadãos uma maior qualidade nos âmbitos que

resguardam o Esporte e Lazer e que assegurem ambientes onde a memória dos seus

espaços públicos e atores sociais sejam preservados. Na cidade italiana em foco, estas

memórias, encontram-se em estruturas organizadas exclusivamente para esta finalidade,

como é o caso da Biblioteca dello Sport (Biblioteca do Esporte) e do “Calcio Padova

Museum” (Museu Futebol Padova) dentre outros. Em contraste a realidade italiana, esta a

cidade brasileira de Alagoinhas, a qual demonstra uma real necessidade de rever as

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bases que regem suas políticas públicas direcionadas a memória dos espaços públicos

de Esporte e Lazer.

Essa diferença de concepção de preservação encontra evidências a respeito dos

materiais históricos citadino, não só com esta temática, mas de um modo geral, esbarra-

se nas portas trancadas de uma Fundação que recebe benefícios públicos por tanto,

deveria ser aberta ao público, onde seus dirigentes - por desfrutarem a um tempo, de

certa posição política e social - se apossaram deste patrimônio, o qual até o final do ano

de 2009, segundo esta mesma instituição, ou melhor, seus dirigentes, foram transferidos

para a sede do partido político, o qual a direção da fundação faz parte, alegando ser um

lugar mais seguro, já que segundo os mesmos, a instituição até “tenta” um financiamento

público, para reformar o acervo que se encontra na antiga Estação Ferroviária São

Francisco em Alagoinhas, mas sempre se deparam com inúmeras dificuldades. Ė bom

lembrar que a antiga estação foi tombada pelo IPAC (Instituto do Patrimônio Histórico

Artístico Cultural da Bahia) em 2002, quatro anos antes do desabamento, em 2006, de

parte importante de sua estrutura superior, a qual formava a abóboda, característica

marcante e diferenciada de sua estrutura inglesa.

Tendo em vista, que a comunidade alagoinhense até o momento, é o único acervo

vivo que preserva a história do esporte e lazer, se faz necessário uma eficiente política

pública que legitime a edificação e manutenção de um espaço destinado a resgatar as

memórias do esporte e lazer citadinos, promovendo através de ações sociais, um

processo de conscientização comunitária a respeito da importância de se preservar a

memória e se reconstruir a história.

Sendo assim proporemos no decorrer desta discussão caminhos que devem ser

percorridos no intuito de resgatar o Esporte e o Lazer, por meio do ato de garimpar a

memória de seus cidadinos, em busca do avanço e do desenvolvimento de aplicações e

soluções, que encaminhem e dê continuidade para o resgate histórico verdadeiramente

eficaz e produtivo para o município alagoinhense. Tomando a perspectiva de alargarmos

nossas vias de conhecimento e compressão da esfera social, nos apoiaremos também no

diálogo com experiências de origem internacional, como é o caso da realidade encontrada

na cidade de Padova, Itália durante o intercâmbio cultural realizado no primeiro semestre

de 2010. Este proporcionou um contato direto com realidades distintas, as quais

ampliaram o entendimento das investigações no tocante dos espaços públicos de esporte

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e lazer, bem como, as políticas públicas que resquardam a história por meio da

preservação e socialização da sua memória, como foi constatado na cidade de Padova

por meio da existência tanto da biblioteca pública, quanto do museo do esporte. A

observação vista ali nos confirma a necessidade de darmos continuidade ao

desenvolvimento de pesquisas históricas como formas investigativas que alcance a

obtenção de recursos que possam suprir lacunas existentes na memória do esporte e

lazer da cidade, promovendo a busca e a organização da documentação histórica e de

materias, os quais devem ser disponibilizados por meio dos avanços do aparato

tecnológico do computador, dos catálogos bibliográficos, das mostras fotográficas, das

exposições, de palestras, oficinas temáticas, dos cursos e do finaciamento a publicações

de pesquisas neste setor, bem como a sua socialização no âmbito político e acadêmico

internacional. Com isso, se execer a prática de reconstrução da história e sua

socialização por meio da disponibilização de informações relacionadas à memória do

esporte e do lazer, neste caso em específico da comunidade alagoinhese, que por meio

de documentos, tais como registros, cartas, livros, fotografias, videos, artefatos como

medalhas, vestimentas, toféus, podem compreender da sua própria formação histórica

social, ainda mais se todos esses materiais de memória estejam disponibilizados em

locais específicos para a preservação e para o livre acesso comunitário, características

fundamentais do CMEL- Centro de Memórias do Esporte e Lazer, proposto neste estudo.

Constatamos que a comunidade de Alagoinhas demonstrou um grande interesse

para com o reavivamento da memória por meio do reconto oral. Assim, se faz necessário

caminhar de braços dados com a comunidade, atráves da colheta de seus relatos, com

perspectivas de organizar um arcevo de história oral, bem como um acervo iconográfico e

documental, a partir desse diálogo com a população, o que acaba por preservar e divulgar

a sua memória. Neste estudo notou-se que as filarmônicas alagonhenses são bem mais

que doces e alegres lembranças de seus espectadores, mas sim, grandes símbolos de

identidade sociocultural, os quais fizeram parte constatemente do seu lazer, de suas

praças, de seus espaços públicos, de suas vidas. Neste sentido se torna essecial que as

medidas tomadas pelos setores públicos, alcancem também estas instituições, que

infelismente cairam na decadência e no esquecimento dos poderes públicos, mas ainda

continuam vivas na memória da sua população, principalmente daqueles que continuam a

lutar por estas ainda hoje.

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Todas estas políticas públicas devem ser desenvolvidas de modo a instaurar um

diálogo entre poder público e a sociedade, perpassando por um amplo caminho, o qual

por obrigação deve recorrer a memória, o passado, para acessar a história, reconhecendo

e comprendendo o presente para construir e melhorar o futuro. Restaurar o passado por

meio da memória é uma das formas mais belas e sábias além de eficiente, de se

promover a Educação, já que é por meio dos recônditos históricos, recontados e

vivenciados pelos sujeitos sociais, que se aprende a vê o mundo com olhos iguais aos

que temos quando acabamos de nascer, olhos sem preconceito, sem discriminação, sem

ânsia, sem inferioridade ou incapacidade, verdadeiros olhos de águia, que visulizam

apenas o infinito que os esperam, com todas as suas possibilidades, surpresas e

novidades, um verdadeiro céu azul para ser pecorrido, uma folha em branco pra ser

escrita e colorida como bem desejarmos, um universo esperando criação.

A Educação entendida aqui compreende o comlexo que abrage todos seus campos

de atuação, com um destaque maior para os espaços não-formais, a exemplo dos

espaços públicos de esporte e lazer, especificamente as praças públicas. Portanto a

Educação não-formal, e seus espaços de atuação se interligam através de instrumentos

de transformação como é o caso da política, que neste sentido, nada mais é que uma

grande via promotora da liberdade do ser, do pensar, do agir e do viver social. A política

explícita neste estudo tem mãos dadas com a Educação e justamente neste ponto é que

acontece a transformação, então porque não fazer da política um forte instrumeto

educativo transformador? É nítido que as possibilidades de mudanças por meio das ações

socias de cunho educativo, são majoritariamente bem sucedidas, porque resquardam a

identidade e a cultura da sociedade, preservando a sua memória e a sua história.

Entendendo os espaços públicos como recantos de memória do esporte e do lazer,

em que a sociedade condivide nestes, seu cotidiano, seu ser social e coletivo, podemos

compreender o enigma que interage os âmbitos da Educação, da Política, do Esporte, do

Lazer, da Memória e dos Espaços Públicos em um só ambiente, o qual denominamos

aqui de social. O ambiente social revela o equilíbrio e preserva o mistério da vivênvia

individual e coletiva junto às dinâmicas socioculturais. Estas fornecem aos indivíduos que

dela fazem parte, a compreenssão da magnitude de sua existência, da sua própria

realidade como seres humanos culturais, históricos e socias. É como o nosso sábio e

inesquecível Freire nos relembrada na vinheta exposta no início deste capítulo, o

conhecimento é a chave da metamorfose humana, traduzindo sua sabedoria. E é

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justamente este saber que buscamos aqui, por meio desta investigação que visou

resgatar as memórias dos espaços públicos do esporte e do lazer alagonhense e o qual

desejamos deixar como legado, por meio da edificação do CMEL- Centro de Memórias do

Esporte e Lazer, por parte do poder público, abrangendo toda sua história, no intuito de

preservar promover a sua memória.

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96

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APÊNDICE

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APÊNDICE - A

ENTREVISTA 1 – NOITE DE 07 DE ABRIL DE 2009

J. C. SILVA

NATURALIDADE - PERNANBUCO

IDADE – 86

Anne: Boa noite Senhor J. tudo bem com o senhor?

J: Tudo bem minha filha.

Anne: Podemos começar com a nossa entrevista?

J: É pra já.

Anne: Começamos falando um pouco do senhor. O senhor se apresentar dizendo o nome, a idade e profissão.

J: Meu nome, J. C. Silva, tenho 86 anos, eu não sou baiano, eu nasci em pernambucano, e vim trabalhar na estrada de ferro, na “Leste Brasileira”, fui transferido pra qui, no ano1946, que anexou a estrada de ferro de Petrolina com a “Leste Brasileira” daqui. Chegando aqui eu, como já tocava clarineta e trompete também, era músico, juntei com o pessoal daqui e fui tocar na “Sociedade Filarmônica União Ceciliana”.

Anne: Seu J. o Senhor poderia nos falar como era as praças da cidade quando o senhor chegou aqui?

J: As praças eram muito animadas eu me lembro. Aliás, teve tempo aqui que todo domingo as filarmônicas tocavam nas praças, um domingo era da Euterpe e o outro da Seciliana. E começou assim, uma tocava na JJ Seabra e a outra na praça do Cruzeiro, a Rui Barbosa né. E na Rui Barbosa as duas se encontravam e disputavam quem tocava mais, uma na parte de cima e a outra na de baixo, o povo ia ao delírio, era bonito de se vê.

Anne: O senhor falou da praça JJ Seabra, a praça do “coreto” , o senhor poderia falar um pouco mais sobre ela?

J: Toda festa que existia naquele tempo era em função do “coreto”, sempre antes do carnaval aqui existia uma festa que era a dança do “maxixi” e todo mundo se divertia. Nesse tempo todo domingo era uma festa, todo mundo da cidade comparecia para vê as “retretas” com a família, fosse a Euterpe ou a Ceciliana que fosse tocar.

Anne: Para o senhor a praça JJ Seabra passou por alguma mudança nesses últimos tempos?

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J: A Praça JJ Seabra mudou muito! Muito! Vigi, nem parece a mesma praça, aquilo antes era uma praça e que praça, a senhora precisava vê! Aquele jardim, aquelas plantas, aquelas árvores, alí eles faziam banco, cadeira de dentista de barbeiro, fazia essas pombas, esses passarinhos tudo na árvore, tinha tudo alí, mas depois que o comércio foi chegando as coisas foram mudando, a praça perdeu lugar para o comércio. E toda vida o pessoal alí jogava “Gamão”, Dominó! O pessoal daqui é viciado em dominó.

Anne: Seu J. muito obrigada pela atenção e pelas belas recordações que o senhor nos contou agora. Sabia que estas já são peças fundamentais para resgatar a história das praças de Alagoinhas.

J: Não tem de que professora! A gente nessa vida só pode querer ajudar mesmo, porque se é bom pra uns deve ser bom para todos e depois o que a gente leva daqui? Nada. (risos)

Anne: Seu J. preciso que o senhor me permita utilizar esta entrevista nos meios acadêmicos, universitários, pois servirá como instrumento para resgatar a historia de Alagoinhas.

J: Disso a professora pode ficar despreocupada, pode levar e utilizar para tudo quer for de interesse dos estudos de vocês.

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ENTREVISTA 2 – TARDE DE 20 DE MARÇO DE 2009

V. SOUZA

NATURALIDADE – FEIRA DE SANTANA

IDADE – 81

Anne: Boa tarde seu V. ! pronto para começar nossa entrevista?

V: Boa tarde! Pode mandar vê dona moça.

Anne: Então vamos lá. Para começar nossa entrevista gostaria que o senhor, falasse um pouco da sua pessoa, seu nome, idade, profissão.

Valdélio: Meu nome é V. Souza, tenho 81 anos, sou da cidade Feira de Santana, mas me considero de Alagoinhas, porque moro aqui pra mais de 60 anos.

Anne: Seu V. o senhor poderia nos contar um pouco como eram as praças aqui de Alagoinhas?

V: Posso sim, o que tiver no meu alcance, a dona moça pode perguntar que eu respondo.

Anne: O senhor poderia nos falar um pouco da praça Rui Barbosa, de como ela era para como ela estar agora?

V: A praça Rui Barbosa sempre foi bonita assim, com aquelas árvores grandes, toda vida teve brinquedo pra crianças; Domingo assim as famílias levava as crianças pra brincar; depois foi entrado prefeito, saindo prefeito, um fazia uma coisa outro cruzava os braços. Assim ela foi melhorando um bucadinho, eu sei que ela tá melhorzinha agora, nesse prefeito que “tava”, foi quem melhorou muito ela, porque já teve tempo que se fazia nojo passar.

Anne: E das outras praças o senhor se lembra de alguma coisa, da Dr. JJ Seabra e da Mario Laerte?

V: Da JJ, me lembro sim, porque até hoje dou uma passada por lá, vou jogar “dama” com os esportistas da minha idade. Num tem 8 anos que o prefeito querendo agradar agente mandou fazer aqueles tabuleiros nos bancos da praça. A gente já praticava esse tipo de jogo muito antes de ter aqueles desenhos. Sempre fui frequentador daquela praça porque andava a vê as filarmônicas da Ceciliana e da Euterpe tocar. Era todo domingo, que elas se encontravam lá.

Anne: E da praça Mário Laerte o senhor se recorda?

V: Não tenho muita lembrança dalí não, não fazia parte do meu percursso, sei que o carneirão esta lá.

Anne: Seu V, lhe agradeço muito por todo esse relato sobre as praças da cidade e lhe peço se o senhor me permite, disponibilizar essa nossa entrevista para outros estudantes

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da Universidade, para que as pessoas possam conhecer também a história das praças da cidade.

V: Por mim esta tudo bem, se é pra ajudar na formação, esta tudo bem!

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ENTREVISTA 3 – MANHÃ DE 17 DE MAIO DE 2009.

M. S. MOREIRA

NATURALIDADE – ALAGOINHAS

IDADE – 61

Anne: Senhora M.S bom dia!

M.S: Bom dia Anne.

Anne: Vamos começar nossa entrevista, tudo bem?

M.S: Ai meu Deus( risos) vamos la!

Anne: Bom, gostaria que a senhora falasse um pouco de si, seu nome, sua idade,

profissão?

M.S: Eu me chamo M. S. Moreira, tenho 61 anos, sou natural de Alagoinhas e trabalho no setor público há 26 anos.

Anne: Gostaria que a senhora falasse um pouco das praças de Alagoinhas pra gente, da Rui Barbosa, da Dr. JJ Seabra, da Mário Laerte...

M.S: Eu freqüentava estes espaços, mas morava longe do centro e me vem na lembrança mais do que ela é hoje... Lembro da época em que o coreto era todo ornamentado, as árvores eram todas em formas, me lembro que era muito bonito, muito mais do que é. Hoje, nem se compara! Ele não está tão bonito, tão florido, como já foi. Mas ainda é um espaço bom e que precisa ser mais utilizado.

Anne: E da praça Rui Barbosa de que a senhora lembra?

M.S: De primeiro era tudo mais animado, me lembro quando tinha a disfilata das filarmônicas na Rui Barbosa, eu passava a tarde alí com minha família antes da missa... Era tão animado a gente ia pra lá tudo arrumado e tomava soverte na praça, eu jogava “macaco” com meus irmãos e com os meninos de lá ouvindo a banda tocar... Agora a praça Mário Laerte mudou bastante, mesmo porque é hoje um lugar perigoso por causa das drogas, tem muito disso alí, principalmente à noite. Crianças e jovens tem muito sim, por causa da escola também, mas antes todos estavam tranquilos, com os pais que os acompanhavam e agora não é mais assim.

Anne: A senhora vê alguma solução para resolver estes problemas que estão acontecendo nestes espaços?

M.S: Falta ação dos governantes porque se houvesse policiamento naquela área e preservação do espaço público as coisas não teriam chegado onde chegaram.

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Anne: Bem dona M.S, acho que podemos finalizar por aqui. Lhe agradeço pela disposição, mais uma vez, meu muito obrigada!

M.S: Por nada Anne, se precisar de alguma, e eu poder ajudar, pode contar comigo, é um prazer.

Anne: Uma outra coisa, gostaria de socializar esta nossa entrevisrta para a UNEB, para que outros estudantes possam ter acesso, para que possa servir como instrumento acadêmico, a senhora me permiti?

M.S: Esta bem, pode fornecer sim a universidade, tudo que eu disse esta dito. Espero que ajude a vocês de alguma forma.

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ENTREVISTA 4 – MANHÃ DE 10 JUNHO DE 2009.

A. NOGUEIRA

NATURALIDADE – ALAGOINHAS

IDADE – 74

Anne: Olá seu A. bom dia! Podemos começar nossa entrevista?

A: Bom dia mocinha! Na hora que a mocinha tiver vontade.

Anne: Pois bem seu Almir, o senhor poderia falar pra gente seu nome completo, idade, profissão?

A: Na minha carta de identidade, eu sou resgistrado como A. Nogueira, mas sou mais conhecido como “noguera”. Sou alagoinhense, já tenho 74 anos de vida nessa terra boa que Deus me deu. Recebo meu aposento todo mês, graças a Deus e aos meus filhos que foram lutar por mim lá no Inss pra isso.

Anne: Seu A. o Senhor poderia nos recontar um pouco da paça Dr. JJ Seabra, a praça do coreto?

A: Eu me lembro muito bem sim da nossa pracinha. Sabe tenho um carinho muito grande por ela, porque é um lugar muito especial pra Alagoinhas, para todos nós que vivemos aqui perto e para quem vive distante também, para todo mundo que é cidadão.

Anne: E do que o senhor lembra assim da Praça Dr. JJ Seabra?

A: De quando eu era menino, a estação da leste, parava aqui na praça, e tinha feira também. Naquele tempo quando eu era um “rapazote”, sempre “vinha” aqui na praça pra vê as retretas da Euterpe e da Ceciliana, e pra vê as moças também, foi aqui que começei a namorar, “eita” tempo bom... Aqui na praça a gente se divertia até a noite chegar, porque era sempre movimentado, quando não tinha música tinha o parque, e quando não era o parque, tinha a meninada que vinha brincar, a gente jogava baliado, até as meninas tavam também, tudo isso a luz do lampião ou do gerador que as filarmônicas colocavam pra poder tocar, porque nesse tempo não tinha essas luzes de hoje não. Já os jovens de hoje só querem saber de beber e dançar o pagode, eles não vão mais pra praça se divertir. Antes era de lei ir pra festa de reis, de natal, de ano bom tudo aqui na Praça do Cruzeiro, mas hoje se têm, quando têm, porque não é sempre não, precisa vê quem vai, só mesmo o pessoal mais antigo, assim da minha idade pra cima. Aqui tem mais é criançada aos domingos, que vem brincar nesse parquinho aí e os jovens também, que ficam nos bares que fizeram alí.

A: A mocinha me dá licença agora?

Page 113: Anne Sulivan

Anne: Claro seu A. o senhor pode ficar à vontade.

Pausa de 10 minutos. O entrevistado precisou se retirar por alguns instantes.

Anne: Retornado para nossa conversa, o senhor estava falando da praça do coreto e falou também da praça Rui Barbosa, o senhor se lembra de como ela foi construída?

A: Disso aí eu não sei muito não, mas se não me falhe a memória foi no tempo do coronel Saturnino, se não me engano, que aquele coreto foi construído alí, calculadamente foi isso aí.

Anne: E a praça Rui Barbosa?

A: Dessa eu não me lembro de quando foi não, é muito antiga, já existia aqui há muito tempo.

Anne: Muito obrigada seu A. pela nossa conversa. Queria lhe pedir mais uma coisa. Será que o senhor me permitir disponibilizar esse nosso bate papo, para que outros estudantes, tanto da universidade, como das escolas, possam esta consultando para conhecer um pouco da história das praças de Alagoinhas?

A: Com todo prazer, é um prazer poder contribuir com os estudos de vocês, quando precisar de novo estou aqui de prontidão (risos).

Page 114: Anne Sulivan

ENTREVISTA 5 – TARDE 04 DE ABRIL DE 2009.

B. B.SANTOS

NATURALIDADE – INHAMBUPE

IDADE – 89

Anne: Boa tarde seu B.podemos começar nossa entrevista?

B: Boa tarde, dona moça, podemos sim.

Anne: Seu B. o senhor poderia nos apresentar sua pessoa, dizer o nome, a idade, a

profissão?

B: Me chamo B. B. Santos, nasci em Inhambupe, município aqui vizinho, a 40 km. Minha idade é 89, 89 anos, 70 de alfaiate aqui em Alagoinhas, eu vim pra cá no ano1939, eu tinha 19 anos.

Anne: Seu B. o senhor se recorda da praça JJ Seabra, a chamada praça do coreto?

B: Como poderia esquecer dona moça, logo da praça mais ilustre da cidade? Para a moça ter uma idéia todo mundo passava por alí, porque era o centro da cidade e tinha o trânsito ferroviário. A sua estrutura era muito agradável. Na minha idéia hoje alí tem pouco movimento festivo. Alí antes era mais para as filarmônicas, os casais de namorados. Não se incentiva aquele coreto para nada, não tem filarmônicas todo domingo como antes, nem de quinze e quinze, nem de quando em vez. Não se usa aquele coreto para nada útil hoje, muitas vezes serve de abrigo para drogados e mendigos.

Anne: Mas o senhor seu B. faz alguma idéia do motivo da praça não ser mais tão animada como antigamente?

B: Olha eu vou lhe contar uma coisa dona moça, observe, falta o compromisso dos poderes públicos, porque as filarmônicas, nunca tiveram ajuda de prefeito aqui não, a não ser no tempo de Saturníno, que era um cidadão muito acreditado, chegou a possuir aqui em alagoinhas 110 casas, era um comerciante com muito crédito aqui, o nome dele era Saturníno da Silva Ribeiro, ele que inalgurou a praça JJ Seabra, foi uma festa, porque ele foi intendente, daqui antes de ter prefeito. Fora ele, nenhum mais se importou para a música aqui não. Eu era da Siciliana e sei bem como faziamos para manter a instituição, ela sobrevivia por causa do amor, que agente tinha a ela, e até hoje tem, mas o tempo muda muito as coisas.

Anne: E para as praças?

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B: As praças estão aí, os políticos sempre arrumam um pouquinho de lá, um pouquinho de cá, mas não tem mais a alegria de antes, a emoção de ir para praça, aos domingos, dias festivos vê as filarmônicas tocar. Isso tudo é uma pena, porque os mais jovens é quem perdem com a falta dessa tradição. Na praça do coreto mesmo, quem é que vai? Só os mais velhos, para jogar um gamão durante a semana, comprar um jornal e mais nada, porque não tem mais nada além disso lá, infelismente as coisas chegaram a esse ponto. Antes como “Secilianista” eu tocava sempre aos domingos ao cair da tarde, mas os tempos mudaram, hoje não tem mais lugar para as filarmônicas, oa jovens nem sabem que ela existe.

Anne: Seu B. lhe agradeço muito pela sua atenção, pela disposição, para com nosso

estudo!

B: Obrigada pelo que dona moça, não tem nada para agradecer não, quando precisar estarei aqui a disposição, eu que agradeço!

Anne: Mais uma coisa seu B. posso utilizar essa nossa conversa para fazer trabalhos na universidade, para que outros alunos possam vê e fazer estudos?

B: Como, não entendir direito?

Anne: Queria saber do senhor, se o senhor libera essa nossa entrevista para que outros estudantes possam esta utilizando em seus estudos na universidade?

B: Com todo prazer, pode sim.

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ENTREVISTA 6 – MANHÃ DE O8 MAIO DE 2009.

E. MACHADO

NATURALIDADE – ALAGOINHAS

IDADE – 67

Anne: Tudo bem Seu E. podemos começar nossa entrevista?

E: Quando a professora quiser.

Anne: Bem Seu E. vamos começar pelo seu nome, idade e profissão?

E: Professora meu nome é E. Machado, mas sou conhecido com “nininho”, por causa do tamanho (risos), não cresci muito dá pra vê né (risos) puxei ao “diacho” da minha mãe, sair assim míudo (risos). Sou quase setentão, tô chegando na casa dos setenta, tô com 67 agora.

Anne: Seu E. queria que o senhor falasse um pouco da Praça JJ Seabra, tudo que o senhor se lembrar.

E: Professora, dalí eu me lembro de muita coisa porque alí era o centro de tudo aqui sabe! E ainda é porque o movimento do centro tá todo naquela região. Daqui do início do barreiro pra lá a professora viu que não é quinze minutos a pé. Pois é, alí é o lugar onde o povo vai pra se encontrar, jogar conversa fora, passar o dia. Eu mesmo vou alí pra encontrar o pessoal do dominó, porque a gente joga por alí também, lê um jornazinho, toma uma branquinha e por aí vai. Hoje é só isso que se pode fazer, a JJ Seabra não é mais a praça do coreto, a grande praça do coreto, deixou de ser há muito tempo, assim que as filarmônicas deixaram de tocar, à deus praça, acabou tudo, morreu. O coreto que era onde as filarmônicas tocavam, virou um bar, o lugar que era dos meninos brincarem, hoje tem aquelas bancas de tirar foto, só restarão, alguns bancos, que na verdade não era os que tinham antes, esses que estão agora são outros que a prefeitura fez depois, os antigos deram fim há muito tempo, porque no lugar deles, hoje passam carros, porque reduziram o tamanho da praça por causa do trânsito.

Anne: O senhor vê alguma possibilidade de se renovar o espírito JJ Seabra?

E: Eu conversei muito com algumas pessoas que estavam na gestão passada pra questão daquele coreto alí, porque nos temos um coreto na JJ Seabra, então qual o verdadeiro sentido dele aqui? porque hoje não se utiliza ele pra forma que ele foi construído? pra abrigar uma filarmônica, um show aos domingos como era antes, onde a orquestra de frevo “Os Turunas” tocavam, e que até hoje esta presente na mente daqueles que estiveram aqui naquele tempo. Alí hoje tem que ser um lugar de todos nós. No caso aí a gente tem que criar algumas ações para levar as pessoas para a praça novamente, pra que elas possam sair das suas casas e pra que a gente possa crescer neste contexto. Ė por isso que sou a favor de colocar as filarmônicas de novo pra sair na rua, esses jovens que estão entrando agora, tem que desfilar na rua, tem que tocar pra o pessoal de agora vê, e poder, conhecer, e respeitar.

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Anne: Muito obrigada seu Everton pelas contribuições a respeito da memória da famosa praça do coreto de Alagoinhas, será que o senhor me permiti disponibilizar a nossa conversa para os alunos da UNEB, e para os estudantes interessados na história de Alagoinhas?

E: Pode sim, a professora usa para que achar que deve, é pra estudo não é?! então, tudo bem.

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ENTREVISTA 7- TARDE DE 05 DE ABRIL DE 2009

M. SANTOS

NATURALIDADE – ALAGOINHAS

IDADE – 60

Anne: Boa tarde Seu M. Santos!

M: Boa tarde menina!

Anne: Bom seu Manuel para começar nossa entrevista, o Senhor poderia dizer seu nome completo, sua idade, ocupação?

M: Me chamo M. Santos, nasci em aqui em Alagoinhas, sou carpinteiro desde de que me conheço por gente, com 7 anos já lavorava com meu pai. Agora com 60, ainda não me aponsentei, mas por volta de qualquer tempo, o aponsento sai, é dificil, mas o que é fácil nessa vida, me diz ?Nada!

Anne: Seu M. o senhor poderia falar um pouco da Praça Mário Laerte, de como ela era, o que mudou? Se mudou?

M: Aqui antes era tudo mato! Só tinha mesmo um campinho meio de terra e meio de grama. Mas tinha muita gente de meia idade, assim de cinqüenta anos, pó aí... E a garotada, as mulheres que vinham vê o marido, o filho jogar. Antigamente não tinha time em Alagoinhas, nem Estádio, tinha “LDA”, Liga Desportiva de Alagoinhas e a Suburbana, que jogava os times amadores e de bairros, eu mesmo jogava, e era a gente mesmo que pagava, era um “conto” por jogador. A torcida enchia, gostava mesmo e era fanática, “ave maria” e como era agitada, era animado demais. A Praça Mário Laerte surgiu depois da construção do Estádio. Tudo na vida a gente tem que correr atrás e foi assim que foi feito ele, porque se for esperar tudo pela vontade dos políticos, já viu né, as coisas não arredam pé. A cidade foi crescendo foi colocando mais praças, são importantes para o lazer e a cultura. Anne: E o que o senhor acha da praça Mário Laerte hoje? E do o Estádio, do Ginásio de esportes? M: A praça hoje esta bem mais arrumada, porque tem as quadras de esportes, fizeram até uma pista de skate, melhorou sim, mais ainda precisa de mais proteção, porque ali esta tendo muito moleque, marginal, que vedem e fumam dogras ali, e ainda por cima quebram as janelas da escola dali da frete, acabam com as redes, as traves da quadra, sobem em cima, acabam com tudo, a cesta de basquete já tá caindo aos pedaços, não sei ainda como esta lá. Anne: E do estádio e do ginásio o seu senhor se recorda de alguma coisa?

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M: Lembro de quando o ginásio foi contruido, acho que foi no ano de 83, se não me falhe a memória acho que foi isso mesmo, 83. Se fui lá muito foram 3 voltas, é grande, parece ser organizado, mas não vejo muito movimento la não só de vez em quando, aqui na praça é bem mais movimentado, todo dia tem menino pra cima e pra baixo, com as bolas e os skates. Anne: Do Estádio o senhor se lembra de alguma coisa? M: Do carneirão? E como me lembro, esse eu não esqueço não. Principalmente dos jogos que nos finais de semana eu ia e continuo indo vê lá. Vou te dizer menina, alí enchi e como enchi de gente, de tudo quanto é idade, jovens, novo, velho, mulher, criança menino, tudo, no dia de jogo do Atlético, é claro. A torcida daqui lota dia de jogo, vem todo mundo pra cá, fica gente dentro e fora do Carneirão, é cheio demais da conta. Anne: Seu M. gostaria de saber se posso disponibilizar essa nossa entrevista para a Universidade, escolas e outros meios vinculados a Educação, para que outras pessoas possam esta conhecendo um pouco da história de Alagoinhas? M: Tudo que eu falei tá falado se a dona menina precisar levar pra alguém, pode levar sim, se alguém quiser vê também, não tem nada, tudo certo, sem problemas. Anne: Seu M. foi um prazer esta aqui com o senhor ouvindo um pouco das memórias da cidade de Alagoinhas. Muito obriga mesmo Seu Manuel, e até uma outra oportunidade. M: Que nada menina, não foi nada! Eu até gosto de conversar assim, bater um papo com gente jovem, é bom pra alma (risos) alegra a gente!

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ENTREVISTA 8- MANHÃ DE 14 DE ABRIL DE 2009

M. L. SOARES

NATURALIDADE – ALAGOINHAS IDADE – 68

Anne: Senhora M.L bom dia !

M.L: Bom dia!

Anne: A senhora podoreia se apresentar pra gente? dizendo seu nome, idade, profissão?

M.L: (risos) É meu nome é M.L Soares, sou filha de Alagoinhas, nasci aqui no segundo ano da década de 40, ai é só fazer as contas né! (risos). Sou professora desde os 16 anos de idade, agora aposentada. Comecei com os meninos que mora lá na roça, pertinho daqui, e depois vim pra cá, pra cidade, onde conheci meu finado esposo Antônio, tivemos 4 filhos, dois estão em Salvador, um em Feira de Santana e um em jacobina, este trabalha nas minas lá, é o caçula e o único casado, tem 2 filhos, umas graças!quando estes meninos vêm passar férias aqui é uma felicidade!Ave Maria!

Anne: Dona M? posso lhe chamar assim?

M.L: Pode sim, o pessoal aqui me chama assim mesmo.

Anne: Dona M. a senhora poderia contar um pouco da história da praça Mário Laerte pra gente?

M.L: Olha minha filha estou aqui em Alagoinhas Velha a 20 anos, nesta casa aqui mesmo, porque antes morava ali no petrolar. A Mário Laetre sempre foi um jardim esverdiado, com inúmeras árvores, mais parecia um bosque que praça. Para começar esse lugar aqui da praça Mário Laerte sempre foi frequenatado pelo pessoal do bairro de Alagoinhas Velha e do Petrolar, mas tinha gente também da “Jaqueira” nos finais de semana, porque era um lugar amplo, arejado, com um grameado verde, que hoje não se vê muito, mas antes tomava toda a praça, tanto que os meninos faziam campeonato de futebol aqui, meus irmãos mesmo, vinha que era uma beleza! Eu só vinha com meu pai, sabe como é, menina, mocinha é um outro jeito, mas eu vinha vê eles jogarem porque meu pai gostava e jogava também, na verdade todo mundo gostava de vê eles jogarem, minha mãe e minhas tias sempre ia também e a gente se divertia. Eu ficava em baixo das árvores vendo o jogo e jogando “carta decorada” com minhas primas, levavamos bonecas e faziamos pique-nique. Naquele tempo menina tudo era motivo de divertimento, e como era. A vida não era fácil para ninguém, mas nós nos divertiamos com pouco, éramos muitos felizes e não sabiamos (pausa). Mas na vida apredemos com o passar do tempo, com as experiências não é? Então por isso que hoje bem digo todos os dias quando acordo tanto as cruzes como as bençãos que Deus me deu e me dá! Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado!

Anne: Dona M, o que a Senhora pensa da praça Mario Laerte hoje?

Page 121: Anne Sulivan

M.L: Hoje esta praça esta mais organizada na sua estrutura para o esporte, porque antes só havia um campo de vársea, onde hoje tem as quadras poliesportivas, apesar que estas hoje estão precisando de uma reforma, porque depois que foram instaladas, não tiveram uma reparação. Aquela tela mesmo que proteje o fundo da quadra, impedindo da bola cair na pista, esta completamente danificada. Toda vez que passo alí tem menino correndo atrás da bola entre os carros que passam, é um perigo.

Anne: E a senhora frequenta hoje a praça, o estádio ou o ginásio de esportes?

M.L: Quando meu esposo era vivo eu já fui algumas vezes no estádio com ele, porque ele adorava futebol e meus filhos também. Fora isso só quando levava os meninos para jogar bola na praça e o karatê no estádio, eles tomavam aula alí. Antes naquelas salas que têm no estádio, eram oferecidos vários cursos para a comunidade, tinha para todas as idades, aulas de dança, karatê, bordado, tricô, desenho, pintura.

Anne: Mas esses cursos eram pagos?

M.L: Sim eram pagos, mas não custava muito pouco, porque o pessoal que estava alí não pagava o local para dar aulas, e era daqui da comunidade mesmo, então só cobrava o mínimo, uma taxa pequena ao mês.

Anne: E hoje ainda exiti esse tipo de atividade da comunidade neste espaço?

M.L: Sei que lá no momento esta em reforma, mas já vi alguns anúcios na parede do estádio, mas o pessoal, conhecidos meus, já não frequentam mais, sabe como é a idade vai chegando e a gente já não tem paciência para muita coisa.

Anne: Dona M.L lhe agradeço pela paciência e pela disponibilidade. Foi um prazer esta aqui com a senhora relembrando um pouco da história de Alagoinhas. Muito obrigada!

M.L: o prazer é meu minha jovem em esta contribuindo de alguma forma para os estudos referente a nossa cidade. Espero que tenha lhe ajudado. Estou aqui a disposição, quando precisar é só chamar!

Anne: Mais uma coisa Dona M, será que a senhora poderia permitir a divulgação desta entrevista no meio acadêmico, na universidade, para estudos futuros?

M.L: Desde de que seja para contribuir com a formação dos estudantes, esta tudo bem minha filha, pode disponibilizar sim.

Anne: Mais uma vez, meu muito obrigada!

M.L: Não há de que!

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ENTREVISTA 9 – TARDE DE 06 DE JULHO 2009

J. I. O. CARDOSO IDADE – 74

NATURALIDADE – ALAGOINHAS

Anne: Bom dia Senhor J.!

J.I: Bom dia!

Anne: Gostaria que o Senhor se apresentasse para puderssemos começar a nossa entrevista.

J.I: Como a senhora quiser, eu me chamo J.I.O. Cardoso, mas o pessoal me chama de zezinho, por causa do j. né, mas tem gente que me trata de Inácio, eu prefiro assim.

Anne: Então seu Inácio, o senhor mora aqui perto da praça Mário Laerte, há quanto tempo?

J.I: Moro sim a mais de 40 anos sei muito desse lugar, porque como ali è caminho para ir pra feira né, pro centro é um lugar que passo sempre, na verdade todo mundo daqui do bairro corta caminho por alí, porque alí é reto e se for por traz tem que pegar a ladeira.

Anne: O Senhor costuma frequentar a praça, o estádio ou o ginásio de esportes? sabe um pouquinho da história desses lugares?

J.I: Olha quando eu me mudei pra Alagoinhas, vim logo pra cá, pra alagoinhas velha, ainda era menino, sair de Aramari e vim com meu pai trabalhar na construção e aqui antes era movimentado como o centro da cidade, na verdade o centro, a fera jà foi aqui também, mas depois foram botando mais comércio pro lado da praça do coreto e a coisa pro lá de lá foi se alargando. Do que eu me lembro é que a praça jà tinha antes de vim o Carneirao, os meninos jogavam bola aqui, vixe, como eles jogavam, até na chuva ficavam tudo “ilamiado”, tudo sujo, parecendo porco no chiqueiro, porque antes não tinha as quadras que tem hoje, era um gramado grande que de tanto jogar bola ficava de terra e ai a moçada caia na gandaia alí. O Estádio foi construído porque o povo daqui da cidade sempre apertou o juízo dos políticos, pra ele sair, se não, não tinha estádio aqui não, depois da formação do Atlético de Alagoinhas é que ele tinha que vim mesmo. O ginásio é novo, num tem 15 anos, a meninada adora ir pra lá jogar esse, como é o nome... um tal de basquete, é isso mesmo basquete. Meu neto, o do meio é quem vai lá, fui umas duas vezes, mas eu gosto mesmo é do futebol, do carcará, do meu Atlético clube.

Anne: Ainda a respeito da praça Mário Laerte o senhor lembra de como ela era, se mudou muito para o que tá hoje?

Page 123: Anne Sulivan

J.I: Sim, sim mudou muito porque antes alí tinha muito verde, tinha muitas árvores, cheio de verde, tinha grama, até passarinho agente via por ali, os meninos soltava pipa, e botava gaiola pra pegar as “cuiubinhas” (risos) coisa de “meninote”.

Anne: Mas na opinião do senhor a praça esta melhor hoje ou como era antes?

J.I: Pra eu opinar tenho que dizer uma coisa antes, porque de primeiro aqui era mais tranquilo, mas não era organizado como agora. De uma coisa a senhora precisa entender, que a praça Laerte esta sendo revitalizada aos poucos, se a senhora passar agora lá, vai vê que tem um lugar pra os meninos brincar de skate, de bola, a garotada tá toda lá, e a rampa é nova, aí os meninos se acabam!, desce correndo não sei “cuma” não cai! Também tem o ginásio ali atrás do “carneirão”. Esse ficou novinho em folha! arrumaram o gramado, as cadeiras, botaram as luzes pro jogos a noite e até o banheiro melhorou, fui lá torcer pro meu Atlético que ganhou essa semana de 4 em cima do Rio Branco, só dá o “Carcará”! (risos). Mas como eu tava dizendo, que de primeiro as coisas aqui eram mais simples eram, não vou negar, não tinha isso tudo que tem hoje, mas a tranqulidade, a paz ninguém compra, aqui hoje se faz até medo passar certas horas passar, tá igual ao barreiro, se é de noite ou dia de domingo, ou feriado, que tá tudo vazio, não é bom não, tem muito mau sujeito por aí a fora.

Anne: Em relação a essa mudança na praça de um lugar tranquilo para um lugar como disse o senhor até perigoso o senhor tem uma idéia do porque disso? Dessa transformação toda?

J.I: Isso è devido ao que meu pai dizia, as pessoas de hoje não são mais como as de antes não, não se tem mais vontade, nem coragem de ir buscar trabalho não, só fica esperando o governo, vivendo às custas do governo. Esses jovens de hoje então, ficam aí nesses “jogo” de computador, acha que saber lê e escrever já tá bom. Na minha época isso não era pra qualquer um não, porque a maioria como eu que não tinha condições, o estudo era o trabalho, e o caderno era o “rolo” ou a enxada.

Anne: Penso que agora chegamos ao fim da nossa entrevista, então gostaria de lhe agradecer seu J. ou melhor, seu I. por toda essa nossa conversa, recordando a praça Mário Laerte, o estádio, o ginásio e tudo mais! Muito Obrigada mais uma vez.

J.I: Não precisava agradecer não, estou aqui à disposição, o prazer foi meu de esta aqui conversando com a senhora! e se for pra ajudar mais ainda.

Anne: Mais uma coisa seu Inácio, gostaria que o senhor me permitisse disponibilizar essa entrevista para a utilização nos meios acadêmicos, para que outros estudantes possam utilizá-la em seus estudos. O senhor me concede essa permissão?

J.I: Se é para os estudos tá tudo certo, pode deixar sim eles usarem.