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Ano 122 / Maio, 2004 / N - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2004 - Maio (Federacao Espirita... · possibilidades, para a harmonia dinâmica do Universo. Observando

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R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 122 / Maio, 2004 / No 2.102

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

[email protected]

Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Affonso BorgesGallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho,Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira SãoThiago; Secretária – Sônia Regina Ferreira Zaghetto;Gerente – Amaury Alves da Silva; REFORMADOR:Registro de Publicação no 121.P.209/73 (DCDPdo Departamento de Polícia Federal do Ministério daJustiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 – I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – BrasilTel.: (21) 2589-6020; Fax: (21) 2589-6838

Capa: ALESSANDRO FIGUEREDO

Tema da Capa: Dedicado ao TRABALHO, em sua maisnobre expressão – o serviço ao próximo –, conformea mensagem Trabalha servindo, de Emmanuel.

EDITORIAL 4A Lei do Trabalho

ENTREVISTA: ARNALDO COSTEIRA 11

Movimento Espírita de Portugal

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 14

Trabalha servindo – Serviço – Emmanuel

ESFLORANDO O EVANGELHO 21

Trabalho – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 30

Esperanto em Paris – 2004 – Affonso Soares La Evangelio La9 Spiritismo – Cruz e Souza 31

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 32

Período de luta – Allan Kardec Sobre as comunicações dos Espíritos – Santo Agostinho 33

SEARA ESPÍRITA 42

Conhecimento e transcendência – Juvanir Borges de Souza 5Refluxos, reflexões e reflexos – Jorge Leite de Oliveira 8Mater – Carlos Bittencourt 10Balada maternal – Letícia 13Campo Experimental de Brasília 15Os sentidos da pureza – Carlos Abranches 16

Espiritismo e liberdade – Umberto Ferreira 17O que faria Allan Kardec com um milhão? – 18

Cezar Braga Said

Ascensão de Elias – Mário Frigéri 20

Sou eu – José Carlos Monteiro de Moura 22Pesquisadores pré-kardequianos – Carlos Bernardo Loureiro 25Retorno à Pátria Espiritual – Wagner Nannetti Dias 26Federação Espírita Brasileira – Órgãos 27Repensando Kardec – O bem e o mal – Inaldo Lacerda Lima 28

– Divisão da Lei Natural 29O egoísmo arvorado em virtude – Rogério Coelho 34A influência dos pais na criação dos filhos – Eurípedes Barbosa 36A propósito do Manual do SAPSE – José Carlos da Silva Silveira 38Paradigma espírita – Marcus Vinícius Pinto 39A violência e seus efeitos na criança – Adésio Alves Machado 40

Retificando...: No Sumário de Reformador de abril, no artigo Os variegados e repetidosmecanismos de erro e acerto, o autor é Rogério Coelho e não Mauro Paiva Fonseca.

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ADoutrina Espírita nos ensina que o trabalho é lei da Natureza, necessária ao progresso moral,espiritual e material do homem. Conceituando-o, os Orientadores espirituais esclarecem quetoda ocupação útil é trabalho. Desta forma, não só o homem, como também todos os Espíri-

tos e os demais seres da Criação trabalham, contribuindo, cada um, de conformidade com as suaspossibilidades, para a harmonia dinâmica do Universo.

Observando o que ocorre ao nosso redor, constatamos que, realmente, tudo em a Naturezase move, do microcosmo ao macrocosmo, desde as partículas subatômicas às galáxias. Esta harmo-nia, que prevê o repouso como recurso necessário ao próprio trabalho, só é quebrada pelo ócio e pe-la preguiça, normalmente geradores de problemas tanto para os que os cultivam quanto para os quesofrem os seus efeitos.

O Evangelho, que expressa as Leis de Deus, é um canto permanente de louvor à ação dotrabalho: “Amai-vos uns aos outros...”, “Amai vossos inimigos...”, “Vigiai e orai...”, “Faça isto eviverás...”, “Pedi e obtereis...”, “Buscai e achareis...”, “Olhai os lírios do campo...”, “O semeador saiua semear...” são algumas poucas expressões pinçadas nos exemplos e ensinos de Jesus, convidando--nos a uma constante ação útil, única forma de construirmos em nós o progresso de que necessitamos.

A vida que nos cerca é um exemplo de trabalho em respeito às Leis Divinas; o Espírito de Verda-de, em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XX, item 5) convida-nos para o trabalho de difu-são e prática da Doutrina Espírita: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de queo Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”; e Jesus, ao curar um homem em dia de sábado, de-monstrando que o bem deve ser realizado em qualquer tempo e lugar, ensina: “Meu Pai trabalha sem-pre e eu trabalho também.” (João, 5:17.)

Com a Doutrina Espírita, somos convocados para o serviço de renovação interior marcado pelavivência das Leis de Deus expressas no Evangelho de Jesus. Aproveitemos as oportunidades que aatual existência nos oferece, trabalhando e servindo incessantemente, adquirindo novos hábitos e ilu-minando o caminho de ascensão espiritual que nos cabe trilhar. Importa que eu faça as obras daque-le que me enviou, enquanto é dia. – Jesus (João, 9:4.)

EditorialA Lei do Trabalho

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Ao homem e aos Espíritos quehabitam Esferas semelhantesà crosta terrestre e mundos

pouco superiores ao nosso, não édado conhecer o princípio dascoisas.

É da lei natural que o Espírito,criado simples e ignorante, evoluacom base em seu próprio esforço esob a assistência de Seres superiores,a serviço do Criador.

Ensinam os Espíritos Revela-dores (O Livro dos Espíritos – q. 18)que o véu que oculta o mistério dedeterminadas coisas, ou seja, atranscendência que ultrapassa nos-sa capacidade de conhecimento ede entendimento, só se levanta à me-dida que o ser se eleva e se depura.

Acrescenta Allan Kardec, emcomentário elucidativo, que “quan-to mais consegue o homem pene-trar nesses mistérios, tanto maioradmiração lhe devem causar o po-der e a sabedoria do Criador. Entre-tanto, seja por orgulho, seja por fra-queza, sua própria inteligência o fazjoguete da ilusão (...).”

Está explícito nas instruçõesdos Espíritos (q. 19 de O Livro dosEspíritos) que a Ciência serve ao ho-mem para seu adiantamento, masele não pode ultrapassar os limitesestabelecidos por Deus.

Essas preciosas lições dos Espí-ritos e do Codificador fazem-nosmeditar sobre os muitos sistemasfilosóficos criados e desenvolvidospelos homens, através dos séculos emilênios, a maioria dos quais leva-ram civilizações, raças, nações e re-ligiões a cometerem erros graves,tomados como verdades, ao mes-mo tempo que induziram-nas à re-jeição de verdades, tomadas comoerros.

As escolas filosóficas mais per-niciosas ao homem de todos ostempos têm sido as materialistas,que floresceram ao lado de sistemasfilosóficos e religiosos espiritualistas.

Por um transvio da inteligên-cia, o materialista só admite a exis-tência da matéria visível, tangível,perceptível, não percebendo o espí-rito, o outro elemento presente emtoda a Natureza.

Como o elemento espiritualnão é perceptível pelos sentidos fí-sicos, concluem os materialistas quesó existe matéria, seja nos vegetais,nos animais, inclusive no homem,cujo corpo material se torna inertepelo fenômeno da morte. Não sen-do perceptível a alma, nem a vendoescapar-se, pela morte, a conclusãodos materialistas, simploriamente,é a de que ela não existe.

O pensamento, os sentimentosmais variados, a inteligência, a me-mória, os ideais, os instintos, tudoé propriedade da matéria, na con-cepção materialista.

As doutrinas materialistas vêmda antiguidade e tiveram seus segui-dores em todas as épocas.

O materialismo mecanicistaprocura explicar todos os fenôme-nos da Natureza, inclusive a vida,reduzindo-os a processos mecâni-cos, explicados pelo movimentodos corpos no espaço e por varia-ções materiais quantitativas.

Mas é no século XIX que duascorrentes materialistas se apresen-tam ao mundo, influindo podero-samente nas concepções humanas,na forma da vida individual, na or-ganização social, nas ciências, naeducação, nas leis e em tudo o quediz respeito ao homem: o positivis-mo, de Auguste Comte, e o mar-xismo dialético e histórico, de KarlMarx.

Essas duas correntes filosóficasmaterialistas firmaram-se em váriasnações ocidentais e orientais, dan-do origem a sistemas político-so-ciais que se firmaram no século XX,na Europa oriental e na China, atéa atualidade.

Felizmente para os homens, associedades humanas que se funda-mentam em bases falsas, cedo outarde encontram sua própria disso-lução. Foi o que ocorreu nas naçõesda Europa que adotaram o materia-lismo histórico-dialético como ba-se da organização social, o qual, aofim de cerca de setenta anos, dis-solveu-se, modificou-se, por impo-sição dos próprios fatos, ao des-

Conhecimento e transcendênciaJuvanir Borges de Souza

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mentirem suposições errôneas degrande parte da população.

...Apesar das idéias materialistas

levarem o homem à concepção donada tanto antes do nascimento doser, quanto após sua morte, a reali-dade é que, independentemente dasidéias religiosas e espiritualistas, ohomem tem horror ao nada. Aidéia do vazio, de deixar a vida pa-ra sempre, sem nenhuma perspecti-va futura, além de extremamentepungente, atinge o ser também noseu presente. O abismo do nada se-pulta, para sempre, todas as espe-ranças, todo o amor, todos os sen-timentos e todas as faculdades dacriatura.

A perspectiva do materialistapuro é a do desaparecimento de tu-do o que ele é, de tudo o que pos-sui: conhecimentos, sentimentos,virtudes adquiridas, o bem ou omal praticados. Seu próprio corpodesaparece roído pelos vermes.

Por isso, o materialista é umgrande sofredor, sem expectativas ouesperanças. Mesmo ao passar à vidaespiritual, na qual não crê, seu sofri-mento continua, seja pela incom-preensão dos fatos com que se depa-ra, seja pelo arrependimento que seapresenta ao despertar diante da rea-lidade, como relatam André Luiz eoutros Espíritos instrutores.

A razão humana e as religiõescolocam-se em concepções inteira-mente diferentes do nada do mate-rialismo. Esse realismo, que não seprende à pura materialidade, nempor isso deixa de explicar o princí-pio da vida e da inteligência.

A Terceira Revelação, o Espiri-tismo, veio, na hora certa, para es-clarecer a razão e auxiliar as religiões

no entendimento da vida, do ser ede seu destino.

Com a Doutrina dos Espíritosaclararam-se muitas questões tor-mentosas para inúmeros pensado-res e filósofos.

São os próprios seres que vive-ram na Terra, os Espíritos, com suasindividualidades definidas, que nosvêm relatar suas trajetórias após amorte do corpo, a situação em quese encontram, o que fazem, suasalegrias, tristezas, arrependimentosetc.

Reafirmam, por outro lado, su-cessivos renascimentos e mortesneste mundo, confirmando a anti-qüíssima doutrina da reencarnação,agora com riqueza de detalhes econseqüências que não mais dei-xam dúvidas sobre o destino de ca-da ser.

Os fatos, a realidade, os teste-munhos da própria ciência que sedeixou influenciar pelo materialis-mo negativista respondem, a partirda vinda do Consolador prometidopor Jesus, o Cristo, à persistente in-

terrogação de muitos pensadores,que se pode resumir nesta formula-ção de Leibniz: “Por que existe o sere não antes o nada?”

As religiões têm agora, com aDoutrina dos Espíritos, não hipó-teses sobre a vida futura, com umcéu ou um inferno supostos, mas arealidade da continuação da vida,com todas as peripécias da existên-cia do ser, sob outra dimensão.

Essa certeza da vida futura,comprovada por fatos, por depoi-mentos dos próprios seres, confir-mando o que já fora vislumbradopelas religiões mais antigas e por fi-losofias espiritualistas, é uma dasmaiores bênçãos que a infinita bon-dade e sabedoria de Deus enviou àHumanidade terrena através dosEspíritos Reveladores, sob a égidedo Espírito da Verdade.

O Cristo de Deus já havia evi-denciado, em seus ensinos e comseu reaparecimento após o tristeepisódio da sua crucificação, a con-tinuação da vida, permanecendoentre os homens por quarenta dias.

Agora, entretanto, é a Doutri-na Espírita que demonstra e com-prova a eternidade da vida espiri-tual, subordinada a leis tambémeternas, que determinam todas asfases e todas as formas de vivênciado Espírito, seja em estado livre, se-ja em contato com a matéria.

...Os interesses mais altos da Hu-

manidade sempre foram cultivadospor seres que viveram na Terra. Ohomem primitivo tinha a intuiçãode um Ser superior que o criara eprotegia, ao qual dava denomina-ções e representações diversas.

Com a lei natural do progressoos habitantes do mundo foram

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O Cristo de Deus já

havia evidenciado,

em seus ensinos

e com seu

reaparecimento após

o triste episódio da

sua crucificação, a

continuação da vida

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compreendendo melhor o sentidoda vida e da morte.

Depois de milhares de séculos,a história do homem mostra a evo-lução de suas concepções, o apare-cimento das religiões, a presençade seres mais adiantados formulan-do regras e ensinos para os que jásentiam necessidade do conheci-mento.

O Cristo, o Governador desteorbe, tem acompanhado a evoluçãohumana, enviando seus emissáriosao seio dos povos e raças paraapoiar-lhes o esforço no sentido doconhecimento.

Chineses, hindus, mesopotâ-mios, egípcios, persas, gregos, israe-litas e em geral todos os povos anti-gos tiveram seus sábios, legisladores,condutores, pensadores e filósofos,que se incumbiram de ajudar seuspovos a progredir intelectual e mo-ralmente.

As religiões auxiliaram o pro-gresso em geral, com o cultivo desentimentos positivos e posiciona-mentos morais de seus seguidores.

Os conhecimentos de ordemprática também se foram aperfei-çoando para o atendimento das ne-cessidades materiais, em um mun-do em que a matéria avassala avida.

Há um momento, na históriahumana, em que o próprio Gover-nador da Terra desce à Crosta, con-vive com os homens, ensina-lhes li-ções sublimes e lhes esclarece quehá uma Causa Primária, o Pai eCriador de tudo o que existe.

Essas noções, trazidas peloCristo, retificam muitas concepçõesanteriores, de etapas pretéritas, eatendem às necessidades de novosconhecimentos pelos homens.

Com Ele, inicia-se uma Nova

Era no progresso da Humanidade.O próprio Cristo, na sua sabe-

doria infinita, preveniu quanto àvinda de um novo Consolador, pa-ra complementar com novos co-nhecimentos a Sua Mensagem es-clarecedora.

Cumprida Sua promessa, estáno mundo o Consolador prometi-do, com novos esclarecimentos, no-vas realidades reveladas, além dasretificações necessárias ao entendi-mento correto dos ensinos deixadospelo Mestre.

As ciências dos homens tam-bém evoluíram extraordinariamen-te, mesmo cometendo erros e enga-nos, corrigidos com novas obser-vações e novos conhecimentos. AFísica, a Química, a Medicina, aAstronomia, a Matemática propor-cionaram ao homem conhecimen-tos úteis e necessários ao entendi-mento da vida.

Pena é que as ciências se dei-xaram influenciar pelo materialis-mo, prejudicando-se a si mesmaspelo unilateralismo de considerarsomente o elemento material, dei-xando à margem de suas pesquisaso elemento espiritual, de suma im-portância e presente em todo oUniverso.

Mas é evidente que o períododa prevalência das ciências materia-listas é transitório.

A própria natureza das coisas ea falta de explicações lógicas e cor-retas para inúmeros fenômenos queescapam às leis conhecidas que re-gem a matéria levarão as ciências areformularem muitos de seus pres-supostos, atualmente admitidos co-mo verdadeiros.

O movimento da Terra, anun-ciado por Galileu Galilei, e a refor-mulação dos princípios de New-

ton, quanto às propriedades da ma-téria, são dois exemplos clássicos dereconhecimento de erros científi-cos.

Entretanto, os problemas filo-sóficos mais profundos, cogitadossuperficialmente pelo homem, per-manecem no terreno transcenden-tal.

Os habitantes de um mundoatrasado, moral e intelectualmente,como a Terra, no qual a vida hu-mana tem por finalidade precípuao progresso, ligado a provas e ex-piações, não têm a possibilidadede conhecer a solução para todosos problemas e enigmas transcen-dentes.

A lei divina determinou os li-mites para o conhecimento do quedenominamos enigmas e mistérios.Para os seres que ainda não atingi-ram a plenitude da inteligência e damoralidade, como é o caso da hu-manidade terrena, esses limites secoadunam com o estágio evolutivodo homem, funcionando em seufavor.

No passado da Humanidadeencontramos exemplos desses limi-tes, só ultrapassados após o desen-volvimento das inteligências e dosenso moral.

Na atualidade, são exemplos dequestões transcendentes, superioresàs nossas possibilidades de entendi-mento, os atributos de Deus e suanatureza íntima, as noções do infi-nito, as dimensões dos Universos fí-sico e espiritual, o problema dasorigens e outros.

A Doutrina Espírita nos adver-te sobre nossas próprias limitações,convidando-nos à humildade, semprejuízo do esforço contínuo para aconquista de novos estágios evolu-tivos.

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Segundo definições colhidas noDicionário Houaiss, refluxo éo ato ou efeito de refluir, ou

seja, voltar ao ponto de partida;retroceder. Reflexão é o ato de me-ditar, pensar demoradamente; vir-tude que consiste em evitar a preci-pitação nos juízos, a imprudência,a impulsividade na conduta. Refle-xo é aquilo que resulta de reflexão.Figuradamente é aquilo que repro-duz alguma coisa; cópia, imitação.

A reencarnação não deixa deser uma volta a um ponto de parti-da, mas sem prescindir do progres-so alcançado na vida anterior. Re-tornamos a novo corpo, reprisamostodo o processo de formação física.Por isso, nos primeiros meses danova vida, o comportamento e cui-dados exigidos pela criança sãomuito semelhantes.

Afirma-se mesmo que, apenasapós os sete anos, o Espírito terá to-mado plena consciência de si e ha-verá completado a reencarnação.Nessa idade, segundo Rappaport(1981, v. 1, p. 72), inicia-se o perío-do das operações concretas dacriança, que se estende até os dozeanos.

A Psicologia estuda o desenvol-vimento dos novos seres humanose constata, em todos, repetições decomportamentos semelhantes, mas

sobre os quais a educação exerceforte influência. É, pois, a fase darepetição da aprendizagem psico-motora, que, sob a influência edu-cacional, formará a personalidadedo indivíduo em cada encarnação.Somente os Espíritos puros não sesujeitam mais às reencarnações. Osainda imperfeitos terão de retornar,mais cedo ou mais tarde, à vida físi-ca. São os refluxos...

No que se refere à evolução, oEspírito jamais retroage. Se não fi-zer qualquer esforço para progredir,permanece estacionário espiritual-mente, mas ainda aí chegará o mo-mento em que o ser percebe oquanto sua existência vem sendoinútil. Então, cansado da ociosida-de, extenuado pelo sofrimento con-seqüente a seus atos equivocados, oEspírito reage. Algo, em seu íntimo,o alerta de que sofre por não se ajus-tar às leis de progresso estabelecidaspelo Criador. São as reflexões...

A partir de então, novas opor-tunidades de progresso surgem emsua existência. Mas, por ter malba-ratado o tempo que o Criador lhedeu, terá de trabalhar duro paracompensar o período de vida des-perdiçado antes. São os reflexos...

Ultimamente, vem sendo di-vulgado por e-mail, infelizmentesem fonte que nos garanta a proce-dência, um belo texto intitulado“Reflexões”, atribuído a WilliamShakespeare, cuja transcrição toma-mos a liberdade de adaptar para es-te artigo.

Aprendi que:não posso exigir o amor de nin-guém, mas posso dar boas ra-zões para que gostem de mim;posso fazer algo em um minuto eter que responder por isso o restoda vida;vai demorar muito para me trans-formar na pessoa que quero ser, edevo ter paciência;posso ir além dos limites que eupróprio coloquei;posso escolher entre controlarmeus pensamentos ou ser contro-lado por eles;nos momentos mais difíceis, aajuda veio justamente da pessoaque eu não esperava;posso me irritar, mas não tenho odireito de ser cruel;meu melhor amigo vai me ma-chucar de vez em quando, mas te-nho de me acostumar com isso;não é bastante ser perdoado pelosoutros, eu preciso me perdoar pri-meiro;diplomas na parede não me fa-zem mais respeitável nem mais sá-bio;os heróis são pessoas que, inde-pendentemente do medo sentido,fazem o que devem fazer em da-do momento;perdoar exige muita prática, con-denar é mais fácil;há muita gente que gosta demim, embora não expresse isso.

Assim é a vida. Quem constróinossa paz e felicidade somos nósmesmos. Em geral, estamos sempre

Refluxos, reflexões e reflexosJorge Leite de Oliveira

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à procura de quem nos ama e nãopercebemos que, se nos esforçarmospor amar, o fato de ser amado éconseqüência natural do amor quedamos.

Passemos, então, a analisar ospontos principais do texto atribuí-do a Shakespeare.

Aprendi que não posso exigir oamor de ninguém, mas posso darboas razões para que gostem de mim.

O amor é contagiante, mesmoos maiores facínoras são influencia-dos por esse sentimento. Por isso, oEspírito Joanna de Ângelis (Franco,1992, p. 184), aconselha-nos o se-guinte:

“Não te canses de amar.É possível que a resposta doamor não te chegue ime-diatamente. Talvez te cau-sem surpresa as reações quepropicia. É possível que ashaja encorajadoras. Sucede que, desacostuma-das aos sentimentos puros,as pessoas reagem por me-canismos de autodefesa.”

Porque, quando amamos, dizJoanna, conseguiremos “demons-trar a excelência desse sentimentosem limite” e nos beneficiaremossempre. (Id., ibid.)

Aprendi que posso fazer algoem um minuto e ter que responderpor isso o resto da vida.

Com relação ao arrependimen-to pela atitude impensada, isso nosfaz lembrar de como somos vigia-dos pela sociedade, sem que opercebamos. Enquanto procedemosbem, não fazemos mais do que nos-sa obrigação, mas basta um peque-no deslize de comportamento e lávem a censura: “– Quem diria quefulano, tão ‘metido a bonzinho’, fi-zesse isso!” E a falta cometida em um

minuto de irreflexão, muitas vezes,acompanha-nos pelo resto da vida.

Por isso, é muito importanterefletirmos sempre antes de qual-quer atitude. Assim, estaremos am-parados pelos bons Espíritos. Bus-quemos, pois, acima de tudo, obem no que pensamos, falamos oufazemos, porque, conforme a gravi-dade de nossa falta, às vezes somosnós mesmos o juiz implacável quenão se perdoa, mesmo tendo sidoperdoado pelo ofendido. São os re-flexos...

Aprendi que vai demorar mui-to para me transformar na pessoaque quero ser, e devo ter paciência.

Também é muito importante apaciência com nossas próprias im-perfeições, o que não significa aco-modação no mal. Podemos e deve-mos lutar para vencer as barreirasdas próprias limitações, o que tam-bém não significa querer dar passosmais largos do que comportam nos-sas pernas.

Aprendi que posso ir além doslimites que eu próprio coloquei.

O grande desafio que a vidanos impõe é o de nos superarmos acada momento de nossas existên-cias. Os atletas, os cientistas, ospoetas e pensadores estão semprenos dando exemplo de persistên-cia e superação de limites. É muitoimportante que acreditemos emnosso potencial e nos dediquemosa fazer sempre o melhor que puder-mos, em benefício do nosso próxi-mo e de nós mesmos.

Aprendi que posso escolher en-tre controlar meus pensamentos ouser controlado por eles.

O controle mental é a base pa-ra uma vida espiritual equilibrada.Por isso nos recomenda Jesus vigiarpensamentos, palavras e atos. Mas

também nos alerta sobre o poder daoração, para que não venhamos aentrar em sintonia com as inteli-gências voltadas para o mal.

Aprendi que, nos momentosmais difíceis, a ajuda veio justamen-te da pessoa que eu não esperava.

Ainda refletindo sobre as pala-vras de Shakespeare, lembramos Je-sus quando nos recomenda amar osinimigos. Embora fluidicamentenão nos sintamos bem junto a de-terminadas pessoas, nunca devemosdesprezá-las ou tratá-las mal, pois,muitas vezes, ocorre serem elas que,em momento difícil de nossas vi-das, venham a nos socorrer e não ocontrário, como em geral se pensa.E pode mesmo acontecer de as pes-soas com quem mais contávamosnaquele instante serem justamenteas que nos deixem entregues à pró-pria sorte.

Aprendi que posso me irritar,mas não tenho o direito de ser cruel.

O ideal é que nunca nos irrite-mos. Entretanto, se em momentoestressante não conseguirmos man-ter o equilíbrio de nossas atitudes,que pelo menos nosso gesto nãohumilhe, muito menos agrida onosso próximo, mas se paute pelaeducação e sensatez.

Aprendi que não é bastante serperdoado pelos outros, eu precisome perdoar primeiro.

Deus nos deu a consciência co-mo juiz implacável dos nossos atos.As mínimas atitudes são por ela re-gistradas. E mesmo que, por algumtempo, imaginemos enganá-la, che-gará o dia em que ela nos cobrarápor tudo que fizermos contraria-mente às leis divinas.

Aprendi que meu melhor amigovai me machucar de vez em quando,mas tenho de me acostumar com isso.

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> Se estamos reencarnados naTerra é porque ainda necessitamosser muito tolerantes uns com osoutros. Podemos magoar-nos comatitudes irrefletidas de nossos ami-gos, mas também precisamos com-preender que, muitas vezes, podeser que os magoemos. Por isso, a sa-bedoria da prece Pai Nosso, ensina-da por Jesus, condiciona: “Perdoainossas ofensas assim como perdoa-mos aos nossos ofensores.”

Aprendi que diplomas na pa-rede não me fazem mais respeitávelnem mais sábio.

A sabedoria não é resultado dosaber intelectual, e sim do aperfei-çoamento do Espírito. Há pessoassimples, sem qualquer formação es-colar, que se mostram amorosas e sá-bias perante seu próximo e a vida.

Aprendi que os heróis são pes-soas que, independentemente domedo sentido, fazem o que devemfazer em dado momento.

É nos momentos delicados quese revelam as pessoas de valor.Aconselhar o bem é muito fácil,mas praticá-lo é outra coisa. Pra-ticá-lo até mesmo pondo em riscoa própria vida é coisa de herói.Quem sabe não haja muito maispessoas assim no mundo do queimaginamos? Estamos tão acostu-mados a destacar o mal que não en-xergamos os bons exemplos pulu-lando em nossa sociedade.

Aprendi que perdoar exige mui-ta prática, condenar é mais fácil.

Novamente reflete o sábio quecondenar é mais fácil que perdoar.Para exercitar o perdão, necessita-mos praticar a empatia. E, identifi-cados pelo amor com o transgres-sor, orando por ele, como reco-mendava Jesus, estaremos agindocom inteligência e nos libertando

dos sentimentos negativos que tan-to nos prejudicam a estrutura psi-cossomática.

Aprendi que há muita genteque gosta de mim, embora não ex-presse isso.

Em suas palavras finais, Sha-kespeare nos informa de que hámuitas pessoas que gostam de nós,embora não o expressem. Por isso,reflitamos que nunca estamos sós,que mesmo nosso melhor amigotambém necessita de compreensãoe tolerância, tanto quanto nós. E,finalmente, que, assim como obser-vamos, somos observados por mui-tas pessoas, nos dois planos de exis-tência em que nos situamos, querno corpo físico, quer fora dele.

Se nos esforçarmos em ser enão somente em parecer bons, osrefluxos de nossas vidas, aqui con-siderados recomeço de tarefas e nãoretrocesso, trarão reflexos sempre

positivos para a multidão que nosobserva. E, refletindo sobre a exce-lência do amor e da prática do bem,caminhemos unidos, com passosfirmes, para alcançar a perfeição,quando não haverá mais necessida-de de reencarnação em nossa vidaimortal. Assim, dia virá em quecooperaremos diretamente comDeus nas missões elevadas e goza-remos da felicidade inalterável nosaltiplanos siderais. Então, seremosum com o Cristo, que também éuno com Deus, do qual todos nostornaremos um dia Seu Reflexo.

BIBLIOGRAFIA:

FRANCO, Divaldo Pereira.Vida feliz, pelo Es-

pírito Joanna de Ângelis. 11. ed., Salvador, BA:

LEAL, 1992. p. 184.

RAPPAPORT, Wagner da Rocha Fiori; DA-

VIS, Cláudia. Psicologia do desenvolvimento.

São Paulo: EPU, 1981, vol. 1, p. 72.

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MaterEi-la!... – senhora e serva, entre humana e divina,Por mais a dor, por dentro, a espanque ou despedace,Carreia a paz no gesto e o sorriso na face,Fala e desvenda o rumo, abençoa e ilumina.

Anjo renovador, tem no lar a oficina,Onde o serviço exclui todo prazer mendace,Ao seu toque de luz, a esperança renasce,Suporta, recompõe, trabalha, sofre, ensina.

Mãe, um dia, quis Deus mostrar-se à vida humana,Fez-te santa e mulher, escrava e soberana,Vinculada nos Céus, de homenagens prescindes!...

Deus se revela em ti, no amor alto e perfeito,Por isso, trazes, Mãe, nos recessos do peito,A ternura sem par e a bondade sem lindes.

Carlos Bittencourt

Fonte: XAVIER, Francisco C., Poetas Redivivos, por Diversos Espíritos. 3. ed., Riode Janeiro: FEB, 1994, cap. 65, p. 96.

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P. – Como se está desenvolven-do o Movimento Espírita portu-guês?

AC – Muito ainda por fazerem virtude da forma como o Espi-ritismo foi reprimido em Portugal,e também como durante muitosanos as forças político-religiosas fi-zeram confundi-lo com práticas es-drúxulas e fetichistas. Não tem si-do fácil a propagação e o avançodo Movimento Espírita português.Muitos dos dirigentes que assumi-ram publicamente o trabalho espí-rita, logo após o 25 de Abril, vi-nham dessa época sombria, em queas reuniões se faziam em segredo ecom restrições muito grandes, oque os marcou e condicionou a ex-pansão doutrinária.

Porém, desde 1986, quandoexistiam escassas duas dezenas deinstituições, o movimento associa-tivo vem-se ampliando e os gruposaumentando à medida que a divul-gação se torna mais intensa e aber-ta. Surgiram novos dirigentes, os jo-vens organizaram-se e dinamizaramseu movimento em Encontros Na-cionais, integraram-se nas ativida-des da FEP, contribuindo para umamodificação significativa no pano-rama nacional e europeu.

O atual elenco diretivo temfeito um trabalho intenso de divul-gação, aproveitando alguma abertu-ra que surge quando da realização

dos Congressos Nacionais, pelo quepodemos dizer que vivemos umtempo de grande incremento doEspiritismo em Portugal.

P. – Quantas Instituições Espí-ritas estão integradas na FEP? Equal a distribuição delas pelas re-giões de Portugal?

AC – Neste momento estãoagregadas à FEP 58 instituições.Cinco localizam-se no extremo suldo País, na região do Algarve, duasna região Sul de Lisboa, uma emtodo o Alentejo, e outra em Se-túbal. Na região da Grande Lisboaestão localizadas 13.

A região Centro tem agora 16instituições, enquanto a do GrandePorto tem 13. No Noroeste, regiãodo Minho, temos 5, enquanto noNordeste transmontado existem 4.

Numa visão global diríamosque na região Centro, entre Olivei-ra de Azeméis e Leiria, localizam-semais de metade de todas as institui-ções espíritas federadas.

P. – A FEP e o Movimento Es-pírita português já superaram asdificuldades sofridas durante o lon-go período político do salazarismo?

AC – Em boa verdade pode-mos dizer que tal ainda não suce-deu plenamente. É certo que emPortugal se vivem tempos de liber-dade, mas a campanha negativa le-vada a cabo contra o Espiritismo foide tal monta que ainda hoje nãoconseguimos fazer passar em plenoa mensagem espírita, e verificamosgrandes dificuldades de penetraçãocultural. Os meios de Comunica-ção Social continuam a dar atençãofora do comum às médiuns comer-ciárias e a colocar muitos entravesao esclarecimento e à divulgação daVerdade. Por outro lado, as institui-ções oficiais, que continuam bas-tante dominadas pela igreja tradi-cional, oferecem resistência à im-plantação constitucional que impõea igualdade de todos perante a Lei.

Volvidos quase trinta anos so-bre o advento da liberdade, aindanão conseguimos ser reconhecidoscomo os herdeiros legítimos da Fe-deração fundada em 1926, nem tam-pouco recuperar o vasto patrimôniohistórico e cultural que foi confis-

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ENTREVISTA: ARNALDO COSTEIRA

O Presidente da Federação Espírita Portuguesa, Arnaldo Carvalhais da Silveira Costeira, faz um relato sobre as dificuldades impostas ao Movimento Espírita de Portugal

pelo antigo regime político e destaca os progressos atuais

Movimento Espírita de Portugal

Arnaldo Carvalhais da SilveiraCosteira

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cado ilegitimamente em 1962 pelasautoridades do famigerado EstadoNovo… que pelo visto continuacom algumas antenas no presente.

P. – Como se encontra o proces-so de legalização da FEP peranteos órgãos governamentais do País?

AC – Em verdade, após o 25de Abril, todas as instituições proi-bidas pelo antigo regime puderamreabrir as suas portas e reiniciar assuas atividades. Com a FEP as coi-sas não foram bem assim, muitopor virtude do também vasto patri-mônio imobiliário que possuía eque deveria ser devolvido, no valorde mais de 25 milhões de dólares.

Todos estes problemas levarama FEP a interpor recurso contencio-so que acaba de dar entrada nos Tri-bunais, única forma que as autori-dades reconhecem como a seguir.

Temos esperanças fundadasque a justiça será feita. Mas aindaprecisamos de travar um longocombate pela restauração da Verda-de e da Justiça.

P. – Quais as principais açõesimplementadas pela FEP?

AC – Verdadeiramente quan-do este Conselho Diretivo assumiuresponsabilidades na FEP, o traba-lho de subsistência e de tentativa deestruturação havia assoberbado osanteriores dirigentes. Reconhece-mos que foi um trabalho ingenteque culminou com a realização doII Congresso Nacional em 1984,coordenado por Francisco Xavier, eo II Congresso Mundial de Lisboa,que uma equipe diligente coorde-nada por Adriano Barros, Alda Al-buquerque e Carlos Alberto Ferrei-ra levou por diante com o êxito quese reconheceu.

Foi então entendido avançarpor novas orientações de que se des-

tacavam cinco grandes linhas detrabalho. A primeira era a de reini-ciar o processo de luta pelos Bensda Federação, patrimoniais e cultu-rais, tarefa que vem sendo tentadajunto do poder político e dos tri-bunais. A segunda grande linha foia organização dos III e IV Congres-sos Nacionais, em Viseu e no Por-to, como forma de congregar osespíritas na elaboração de temasdoutrinários de interesse nacional,e simultaneamente chamar a aten-ção da mídia para a realidade doEspiritismo e para os seus contor-nos culturais e religiosos. Está já emmarcha o V Congresso, que ocorre-rá em 2005 no Algarve. A terceiragrande linha visaria a dinamizaçãodos Conselhos Federativos. Pro-cedeu-se à criação intermédia deConselhos Federativos Regionais,preparatórios do Conselho Nacio-nal, e pela primeira vez as institui-ções prepararam documentos dou-trinários de interesse como foram o“Orientação ao Centro Espírita”,“Orientação ao Trabalho de Passes”e atualmente a elaboração do“Curso Básico de Espiritismo”. Osdois primeiros já estão adaptados.Simultaneamente trabalha-se na re-visão de toda a legislação federativa,tendo em vista o desenvolvimentoeventual dos processos jurídicos emcurso. A quarta grande linha foicriar uma situação financeira quecolocasse a FEP em condições depoder ser gerida pelas pessoas com-petentes, mas que eventualmentenão pudessem economicamente su-portar de seu bolso as enormes des-pesas. Finalmente a última grandelinha orientadora visou e visa a di-vulgação pública da Doutrina atra-vés da pagela, tendo sido já distri-buídas mais de cem mil e estando

em elaboração nalgumas dezenas demilhar de outras, estas voltadas pa-ra a análise de temas sociais degrande incidência e sua visão à luzdo Espiritismo, que se espera ve-nham a ser distribuídas durante opróximo ano.

É evidente que está ainda emfase de aperfeiçoamento e melhoriaa Biblioteca, que foi já criada pelaatual equipe, com a prestimosa co-laboração, aliás, da Federação Espí-rita Brasileira, que nos ofereceu al-gumas centenas de livros.

Certamente que se não extin-guem aqui as tarefas que temos en-tre mãos, das quais não será menora união de todos os espíritas, comotambém a participação no 4o Con-gresso Espírita Mundial – Paris2004. Mas… as tarefas são árduas,pois as investidas dos falsos espíri-tas não abranda. Esperemos ter for-ças para os desmascarar.

P. – Há outras culturas e tra-dições mediúnicas presentes in-fluenciando o Movimento Espíritaportuguês?

AC – É evidente que por todaa parte pulula um grupo de apro-veitadores e pessoas sem escrúpulosque sempre estão prontos a explo-rar a ignorância e a humildade dopovo. Desde cartomantes, quiro-mantes, utilizadores dos búzios, daastrologia e artes afins, da mediuni-dade de adivinhação e comerciária,dos seguidores do livro de S. Ci-priano e outros, que acabam preju-dicando a Doutrina, porquanto ojuízo popular marcado pelas tradi-ções e pela ignorância generalizada,tudo confunde.

Diria que um tal estado de coi-sas deveria unir os espíritas numacampanha de divulgação genera-lizada. Mas ainda não conseguimos

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chegar lá. Acordaremos, sem dúvi-da. Não desconhecemos que issoacontece um pouco por toda a par-te, embora mais grave seja um ou-tro tipo de ignorância que vai con-fundindo as pessoas humildes, vei-culada por pseudo-sábios que mis-turam o Espiritismo com as suasambições desmedidas, falando emnome de um Espiritismo científicoque querem seja sua propriedade,nem que para isso se identifiquemcomo personalidades da cultura,sem que de fato o sejam, enganan-do-se e enganando os incautos. Es-quecem a frase célebre de Jesus –não há nada que esteja escondidoque não se descubra.

P. – Uma palavra final paraos leitores de Reformador.

AC – Habituamo-nos a ter es-ta prestimosa publicação como umreferencial de cultura espírita e deabordagem doutrinária do mais al-to sentido do ideal cristão. Acom-panhamo-la desde que aderimos aoEspiritismo e nos integramos noMovimento Espírita, mas principal-mente quando assumimos o com-promisso de dirigir o Jornal Espíri-ta, o que ocorre há mais de vinteanos.

Não podemos, desta forma,deixar de manifestar a todos os lei-tores a nossa admiração pelo traba-lho elevado que todos seguem cal-correando as páginas desta funda-mental publicação doutrinária.

Mas também nos compete afir-mar sem rebuço que nos sentimosirmanados no mesmo ideal, comtodos os nossos queridos irmãosbrasileiros, que rememoramos todasas grandes realizações espirituaisque em conjunto certamente tere-mos levado a cabo, os Espíritos can-didatos a espíritas, que participa-

mos na gesta heróica de quinhen-tos, quando certamente não tere-mos deixado de colaborar na cria-ção da Pátria do Evangelho, ondeJesus pretendeu construir e equiparas Naus da Nova Era para trazeremde volta à Europa equivocada pelaluz de falaciosas culturas, a cristia-níssima mensagem de esperança, de

espiritualização e de implantação daverdadeira Paz.

Por isso saudamos a todos ereafirmamos nossa determinaçãode, em conjunto com todos os espí-ritas do país irmão, caminharmoscom Jesus pela implantação dummundo de regeneração.

Nosso fraternal abraço.

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Balada maternalAge buscando o bem, alma querida!Passa na vida a semear dulçores...Colherás flores em quaisquer caminhos,Terás carinhos em crisóis de dores!

Tu que não crês no mal, segue cantando,Bênçãos plantando nos sendais agrestes...Se tuas vestes mil espinhos rasgam,Teu peito afagam vibrações celestes!

Se lágrimas rebrilham-te nos olhos,Vence os abrolhos com gentil sorriso...Guarda no aviso o coração desperto,Pois fulge perto o Sol do Paraíso!

Entre os acúleos da escarpada via,Doce alegria os passos te conduz...A cruz é a porta de esplendentes eras,Nas primaveras da celeste luz!

Segue, portanto, coração querido,sem dar ouvido a mágoas ou temores...Após as dores da escalada ingente,Terás somente o amor dos teus amores!

Letícia

(Poema psicografado por Hernani T. Sant’Anna, na Federação Espírita Brasileira,no Rio de Janeiro-RJ, na noite de 8 de dezembro de 1977.)

Fonte: Reformador de julho de 1978, p. 14 (210).

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Acada momento, o Criadorconcede a todas as criaturasa bênção do trabalho, como

serviço edificante, para que apren-dam a criar o bem que lhes cria lu-minoso caminho para a glória naCriação.

Não permitas, portanto, que orepouso excessivo te anule a divinaoportunidade.

Assim como o relaxamento éferrugem na enxada, a benefício dojoio que te prejudica a seara, o tem-po vazio é flagelo na alma, em favordas energias perniciosas que devas-tam a vida.

Não há corrosivo da ociosida-de que possa resistir aos antídotosda ação.

Não acredites, desse modo, nopoder absoluto das circunstânciasadversas, a se mostrarem, constan-tes, nos eventos da marcha.

Se a injúria te persegue, traba-lha servindo, e o sarcasmo far-se-áreconhecimento.

Se a calúnia te apedreja, traba-lha servindo, e a ofensa converter--se-á em louvor.

Se a mágoa te alanceia, traba-lha servindo, e a dor erguer-se-á porutilidade.

Se o obstáculo te aborrece, tra-balha servindo, e o embaraço surgi-rá por lição.

No trabalho em que possas fa-zer o melhor para os outros, encon-trarás a quitação do passado, as rea-lizações do presente e os créditos dofuturo. E é ainda por ele que con-quistarás o respeito dos que te cer-cam, a riqueza da experiência, a láu-rea da cultura, o tesouro da sim-patia, a solução para o tédio e o so-corro a toda dificuldade.

Importa anotar, porém, que hátrabalho nas faixas superiores e in-feriores do mundo.

Movimento que aprisiona eatividade que liberta, atração para oabismo e impulso para o Céu...

O egoísmo trabalha para simesmo.

A vaidade trabalha para ailusão.

A usura trabalha para o azi-nhavre.

O vício trabalha para o lodo.A indisciplina trabalha para a

desordem.O pessimismo trabalha para o

desânimo.A rebeldia trabalha para a vio-

lência.A cólera trabalha para a loucu-

ra.A crueldade trabalha para a

queda.O crime trabalha para a morte.Todas essas monstruosidades

do campo moral representam frutoamargo e venenoso de audiênciasda alma com a inteligência das tre-vas, no palácio deserto das horasperdidas.

Todavia, o trabalho dos quetrabalham servindo chama-se hu-mildade e benevolência, esperançae otimismo, perdão e desinteresse,bondade e tolerância, caridade eamor, e, somente através dele, o es-pírito caminha, na senda de ascen-são, em harmonia com as leis deDeus.

Emmanuel

Fonte: XAVIER, Francisco C., Religiãodos Espíritos. 14. ed., Rio de Janeiro:FEB, 2001, p. 115-116.

PRESENÇA DE CHICO XAVIER

Trabalha servindo

ServiçoServiço é trabalho no Bem.

É a dinamização da caridade e dacompreensão. É a exteriorizaçãodo sentimento amoroso, na aju-da, de todas as formas imaginá-veis, ao nosso semelhante. Oexemplo maior deixou-nos Jesus,em suas ações, ao mesmo tempoque declarava ter vindo para ser-vir e não para ser servido. Paraservir retamente precisamos com-preender, aceitar e amar. A todasas horas deparamos com as opor-tunidades de servir. Não as apro-veitamos porque ainda imperaem nós o egoísmo, a chaga moralque precisa ser extirpada.

Emmanuel

Fonte: O Espiritismo de A a Z. 3. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 1999, p. 534.

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Na programação das atividadesda FEB, em sua Sede Central emBrasília, para 2004, destacam-sedois acontecimentos de grande in-teresse geral: a abertura dos Cursosde Espiritismo mantidos em seuCampo Experimental e a inaugura-ção de uma Biblioteca Espírita aopúblico em geral.

Reinício do Ano Letivo

Reiniciaram-se em 20 de marçodo corrente ano as atividades doano letivo de 2004, com a presençade aproximadamente 600 alunos,sem contar com o de EvangelizaçãoInfantil, que teve início no domin-go, dia 21.

Compareceram à abertura con-junta de vários cursos os segmentos:Estudo e Educação da Mediunida-de, Estudo Sistematizado da Dou-trina Espírita (ESDE), Estudo Apro-fundado da Doutrina Espírita, Ju-ventude Espírita e Esperanto. Naoportunidade, todos os coordena-dores dos diversos cursos usaram

da palavra para explicar as normasde funcionamento dos respectivoscursos. Foram focalizadas, também,as atividades do Departamento deAssistência Social desenvolvidas pormeio de cursos, tais como culinária,artesanato, corte e costura, gestan-tes, introdução ao estudo da infor-mática aos filhos dos assistidos, eevangelização espírita.

Inauguração da Biblioteca Pública Espírita

Considerando a importânciados Cursos de Estudo do Espi-ritismo, da significativa demandado Movimento Espírita de Brasíliae da comunidade brasiliense de mo-do geral, foi inaugurada uma Bi-blioteca Espírita, toda informatiza-da, com acervo de livros espíritas deeditoração da FEB, de outras edito-ras espíritas, de referência, de His-tória Universal, didáticos e infantis,entre outros.

Com os usuários, freqüentado-res dos cursos e de reuniões numtotal de 1.000 pessoas, abre suasportas diariamente, incluindo do-mingos, aos espíritas de Brasília e àcomunidade brasiliense não espíri-ta, interessada, entretanto, em co-nhecer o Espiritismo.

Campo Experimental de BrasíliaReinício do Ano Letivo de 2004 – Inauguração da Biblioteca Pública Espírita

Abertura: Palavra do Presidente Nestor Masotti; à sua esquerda: Vice-Presidente Cecília Rocha e coordenadores dos Cursos

Aspecto da inauguração da Biblioteca

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“Bem-aventurados os puros decoração.”

Jesus

Conheci outro dia a pureza. Elamorava nos olhos de umacriança que me observava, du-

rante uma reportagem. Estava coma equipe da TV onde trabalho emum bairro da periferia de minha ci-dade, mostrando o estado de difi-culdade em que milhares de pessoasvivem, quando me senti notado porum garoto de uns 8 anos de idade.

Quieto como quem não querincomodar, a criança esperou que otrabalho fosse concluído e se apro-ximou. Falando baixo, tocou-me edisse:

– O senhor pode vir comigopor um instante?

Segui com ele, curioso, para sa-ber o que queria. O menino levou--me para dentro de um barraco. Olocal era pequeno, com três am-bientes, divididos por uma lona detecido preto, que fazia as vezes deparede, separando a cozinha da sa-la e do quarto. Tudo muito escuro,e tudo muito quente naquela ma-nhã.

Ainda na sala, ele me falou:“Esta é minha casa... mas não lhetrouxe aqui para ver isso. Queroque conheça uma pessoa.”

Levou-me até o quarto, eapontando com o dedinho, falou:

– Eis aqui a minha mãe. Hojeela está de cama. Quis mostrar o se-nhor pra ela, pois não é sempre que

uma pessoa que aparece na televisãoestá dentro da casa da gente em car-ne e osso.

Sutilmente, levantou a colchaque cobria a senhora e mostrou-meo inchaço das pernas dela.

A mulher, apontando para o fi-lho, comentou:

– Esse menino é tudo que eutenho, moço. É meu tesouro.

Conheci a pureza nos olhosdessa criança. Vi a pureza nas pala-vras dessa mãe. Ela não possui na-da, e ainda assim o filho é para elatudo de mais importante. Eis a po-breza das pessoas dignas: todo oseu bem está no que não podempossuir, porque seres humanos,ainda que filhos do corpo, da almae do coração, não são motivos deposse, mas sim de partilha respon-sável, com base no mais profundoamor.

...

Se há um lugar onde a purezamora, é no coração de quem se des-prendeu do desejo de possuir. Estaatitude diante do afeto se manifes-ta na conduta daqueles que amamdesinteressadamente. Fénelon cha-ma isso de amor puro, ao dizer queé o amor “sem nenhuma esperança,o amor libertado de nós mesmos,de tal forma que nos esqueçamosde nós e que nos tenhamos por na-da, para sermos todo dele”. É o queBernardo chamava de “amor semmácula nem mesclado de procurapessoal: é o próprio amor e a pure-za dos corações puros”.1

O sentido original da palavrapureza está guardado na etimologialatina. Puro é o que é limpo, semmácula nem mancha.

Talvez aí a virtude em questãose aproxime da inocência. Tambémoriginária do latim, significa in +nocens, literalmente, não nocivo,isento de culpa, cândido, puro; notocante às ações, significa “sem in-fluência ou efeito maligno, ou quenão promana de má intenção”.

Para que não se caia na impres-são de que só as crianças podem serpuras ou inocentes, é importantelembrar que inocência na vida adul-ta se manifesta como uma qualida-de da imaginação. É a preservaçãode uma claridade infantil na matu-ridade, contribuindo para a preser-vação de percepções com seu fres-cor próprio, sua pureza, novidade ecor.

É dessa inocência que afloramo assombro e o encantamento. Se-gundo o psicólogo humanista ame-ricano Rollo May 2, ela conduz à es-piritualidade; é a inocência de umFrancisco de Assis em sua conversacom os pássaros. É o sentido pro-fundo da afirmação de Jesus: “Senão vos converterdes e não vos tor-nardes como crianças, de modo al-gum entrareis no reino dos céus.”

Para May, a inocência é a pre-servação de atitudes infantis até amaturidade sem sacrificar o realis-mo da percepção do mal pela pes-soa.

Para explicar melhor esta afir-mação, o psicólogo cita o depoi-

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Os sentidos da purezaCarlos Abranches

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mento de uma mulher que cresceuna Alemanha despedaçada pelaGuerra. Ela descreveu que as tropasfrancesas e marroquinas que ocupa-ram a cidade em que vivia tiveramvários dias de “liberdade”, duranteos quais estupravam qualquer mo-ça que encontrassem. Embora tives-se 13 anos (e eles estavam violandomeninas de nove), pôde atravessarum grupo de soldados sem ser mo-lestada, pois nada sabia acerca dointercurso sexual ou do que os ho-mens faziam. Ela acredita que o quea salvou foi sua completa inocência;se possuísse alguma experiência,ainda que mínima, um leve pesta-nejar ou um olhar involuntário desoslaio, talvez de medo, poderia tersido instigação suficiente – tal co-mo um cão morde a pessoa emquem fareja medo – para que ossoldados a apanhassem.

A narrativa é absolutamentecorreta. Assim também narram osEspíritos André Luiz e Manoel Phi-lomeno de Miranda, quando escre-vem sobre as excursões de equipesde socorro espiritual a regiões trevo-sas no Além; tais grupos via de regraseguem orientações firmes dos líde-res, para que não desviem a mínimaatenção dos objetivos traçados paraa tarefa, a fim de não serem sur-preendidos pelas tramas do mundoespiritual inferior. É a prática cons-ciente da inocência amadurecida,em forma de vigilância da condutamental, em favor da causa do bem.

É diante de quadros assim quese entende o que a filósofa SimoneWeil quer afirmar, quando diz que“pureza é o poder de contemplar asujeira”. Só que para chegar a esseestado, é preciso sublimar as per-cepções e deixar que a maturidadese ajuste com o autoconhecimento,

para que a bem-aventurança faladapor Jesus e citada no pórtico destetexto se apresente como um ato deamor plenamente desinteressado,sem mistura de interesses senão ode simplesmente amar.

...

Assim como todo ser humanocarrega um pouco de sombra e luzdentro de si, também não há pure-za absoluta ou impureza total oudefinitiva. Enquanto a criatura esti-ver a caminho da iluminação inte-rior, terá de desbastar-se no empe-nho da transformação pessoal; lá na

frente, mais próxima da perfeição,verá com muito mais clareza a cau-sa e as razões das coisas, e estarásempre à disposição da própria Leide Amor para colaborar na ascesede outros que chegam, em busca dapureza de coração...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1Apud COMTE-SPONVILLE, André. Pe-

queno Tratado das Grandes Virtudes. SP:Mar-

tins Fontes, 1996.

2MAY, Rollo. Poder e Inocência – Uma

análise das fontes da violência, Rio de Janeiro:

Zahar Editores, 1990.

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Em entrevista dada à RevistaÉpoca no 291, de 15 de de-zembro de 2003, Siba Shakid,

escritora e cineasta iraniana, hojeconsultora da força de paz da ONUno Afeganistão, afirma: “Nenhumareligião é compatível com a liberda-de, nem de homens, nem de mu-lheres.”

Não temos a intenção de ana-lisar o que a escritora afirmou, esim de aproveitar a deixa para res-saltar como o Espiritismo é dife-rente. É uma doutrina que acolhetodas as pessoas, qualquer que sejaa sua crença ou a filosofia queadotem. Quando alguém procuraas reuniões espíritas públicas, de es-tudo, ou os trabalhos de assistênciaou promoção social encontra asportas abertas.

É uma doutrina que educa econscientiza, porém respeita sem-pre o livre-arbítrio de cada um,que é de origem divina. Não res-tringe a liberdade de ninguém.Não controla a vida, nem o pensa-mento dos adeptos. Não cobradízimo. O Movimento Espírita temdespesas, mas cada trabalhadorcontribui da forma que acha me-lhor e de acordo com as suas pos-sibilidades.

Emmanuel afirma: “O Espiri-tismo é, acima de tudo, o processolibertador das consciências, a fim deque a visão do homem alcance ho-rizontes mais altos” (Roteiro, psico-grafia de Francisco Cândido Xavier,3. ed., FEB, Rio).

Podemos afirmar, sem nenhu-ma dúvida, que o Espiritismo é adoutrina da liberdade e da liberta-ção espiritual.

Espiritismo e liberdadeUmberto Ferreira

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Além das inúmeras qualidadesque nos acostumamos a ouvir,ler e até divulgar a respeito de

Allan Kardec, existe uma que pou-cas vezes é citada: a honestidade.Podemos comprovar a presençadessa virtude na admirável persona-lidade do Codificador, lendo e es-tudando a Revista Espírita, criadapor ele em janeiro de 1858.

Eram freqüentes suas presta-ções de conta e o detalhamento decomo os recursos obtidos eram em-pregados. Tudo visando dar trans-parência à sua administração e aomesmo tempo informar aos assi-nantes da Revue, aos espíritas deum modo geral e aos críticos deplantão, que as contas da Socieda-de Parisiense de Estudos Espíritas,criada também por ele em abril de1858, não se confundiam com assuas particulares.

Kardec explicará exaustivamen-te como investia cada franco e o faráporque não poucas vezes surgiamcomentários e até publicações, acu-sando-o de enriquecer-se à custadas assinaturas da Revista Espírita,da venda dos livros e das contri-buições dos sócios da SociedadeParisiense.

Na Revista de 1860 ele men-ciona o recebimento de um donati-vo de 10.000 francos, preservandoo anonimato da pessoa doadora porsolicitação desta, e afirma que talquantia seria destinada a formar aCaixa do Espiritismo. São suas asseguintes palavras: “(...)Essa somaformará o primeiro fundo de umaCaixa Especial, que nada de co-mum terá com meus negócios pes-soais, e que será objeto de umacontabilidade distinta (...).” 1 (Gri-fos nossos.)

Essa Caixa Especial se destina-va a atender às necessidades daDoutrina e ao desenvolvimento dasidéias espíritas, uma espécie de fun-do de reserva, e o desejo de Kardecera que ela fosse administrada pe-los companheiros mais próximos.O que demonstra não apenas o seucuidado na condução das contas daSociedade, mas também a confian-ça nos irmãos que trabalhavam comele.

Na Revista de 1862, novamen-te a questão do donativo anterior-mente mencionado é abordada.Nela, ele então explica que recebiatodos os anos, em sua própria casa,cerca de mil e duzentas a mil e qui-nhentas pessoas, entre visitantesfranceses e estrangeiros, e além dis-so toda documentação da Socieda-de encontrava-se na sua residência.Logo, afirma Kardec, parte do do-

nativo fora utilizada para alugar-seum apartamento e transferir a sededa Sociedade para lá. Ressalta queele e a esposa não tinham necessi-dade de um segundo apartamentoe que o custo para manutenção deduas residências se constituiria nu-ma despesa inútil e onerosa. Maspelo fato de o apartamento ser cen-tral e possuir boas acomodações,sem ser suntuoso, ele tomara seme-lhante decisão. Pois se assim não ofizesse “(...) a Sociedade teria quecontinuar na situação precária,mesquinha e incômoda em que seachava (...)” 2

Curioso nisso tudo é que boaparte da mobília para a sede quepassou a funcionar nesse aparta-mento foi doada pelo próprio Kar-dec, recorrendo aos seus recursospessoais, a fim de preservar os daSociedade.

Na Revista Espírita de 1863,num artigo intitulado “Orçamentodo Espiritismo ou Exploração daCredulidade Humana”, o Codifica-dor apresenta as insinuações feitaspor um oficial reformado e publica-das num livro em Argel (África).Nesse livro, o autor afirmava queKardec possuía um lucro anual lí-quido da ordem de 250.000 fran-cos. As receitas e despesas do Codi-ficador eram descritas de formapormenorizada, atribuindo-lhe, taloficial, maledicentemente, uma ha-

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O que faria Allan Kardec com um milhão?

Cezar Braga Said

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bilidade especulativa que ele nuncateve.

Embora esse fato seja apresen-tado na Revista de 1863, antes dis-so provavelmente já experimen-tando questionamentos de algunscompanheiros, Kardec será incansá-vel em tornar públicas as suas con-tas e os seus investimentos.

As páginas da Revue revelam,através dos depoimentos do próprioKardec, que nas viagens que faziapara tratar de interesses da Doutri-na, era obrigado a empregar seupróprio capital, pois o que a Socie-dade arrecadava não cobria todasessas despesas. Além do que fica cla-ra a sua preocupação em não darmargem para especulações em tor-no da maneira como investia ospoucos recursos que a Sociedadepossuía. Mais de uma vez ele reite-ra que o objetivo dela (a Sociedade)não era o lucro.

“(...) Os gastos de viagem, comotodos os que necessitam as nossas re-lações para o Espiritismo, são cober-tos por nossos recursos pessoais e nos-sas economias, acrescidas do produtode nossas obras*, sem o que ser-nos--ia impossível enfrentar todos os en-cargos conseqüentes da obra que em-preendemos. Digo isto sem vaidade,mas unicamente em homenagem àverdade e para edificação dos queimaginam que entesouramos.” 3

Entendemos sua preocupaçãoe acreditamos que a mesma devaentender-se até os dias de hoje aosdirigentes dos Centros Espíritas eórgãos de unificação, com a devidaadequação. Se as Casas dispõem decondições para enviar um represen-tante a um curso que ocorrerá em

determinada cidade, para que ocompanheiro posteriormente repas-se as informações obtidas e este temdificuldades para arcar com tais des-pesas, por que não custeá-las? Damesma forma, trazermos um expo-sitor de outra região do País para fa-lar em nossas Casas, é mais um in-vestimento do que propriamenteum gasto. Ouvimos uma outra for-ma de abordagem, oxigenamos nos-sas idéias, promovemos o intercâm-bio salutar de experiências, con-fraternizamo-nos e todos crescemoscom essa dinâmica.

Ainda na Revista Espírita de1862, num item intitulado “Os mi-lhões do Sr. Allan Kardec”**, o Co-dificador refuta as colocações deum padre que o acusava de ter tape-tes caros, carruagem com quatro ca-valos e outras coisas mais. De for-ma categórica ele afirma: “(...) Seeu possuísse a que me atribuem[fortuna] e, sobretudo, se a devesse aoEspiritismo, seria perjuro aos meusprincípios de a empregar na satisfa-ção do orgulho e na posse de prazeresmundanos, em lugar de fazer servirà causa cuja defesa abracei.” 4

Em relação às especulações emtorno do montante arrecadado coma venda dos livros que haviam sidopublicados até aquela ocasião (ju-nho de 1862), Kardec declara quea primeira edição de O Livro dosEspíritos ele a fez por sua conta erisco por não ter encontrado umeditor que quisesse fazê-la. Esgota-da a edição, ela havia lhe rendidoapenas 500 francos e isso ele podiacomprovar por meio de documen-tos. Ele diz com ironia: “(...) Não

sei que tipo de carruagem poderiaser comprada com isto (...).” 5

Revela que sem os milhões quelhe eram atribuídos, teve que ceder,por algum tempo, os direitos depublicação de algumas edições aoseditores, não tendo ciência de quan-to esses já haviam arrecadado nemda natureza das vendas e que elepróprio tinha que pagar por qual-quer exemplar que retirasse, vendes-se ou desse de presente.

Uma leitura atenta da RevistaEspírita de 1865 vem reforçar oque Kardec já afirmara três anosantes.

“Para começar direi que minhasobras não são minha propriedade ex-clusiva e sou obrigado a comprá-lasao meu editor e as pagar como livrei-ro, com exceção da Revista, da qualguardei a propriedade; que o lucro seacha singularmente diminuído pelosnão-pagamentos e pelas distribuiçõesgratuitas, feitas no interesse da dou-trina a pessoas que, sem isto, delas es-tariam privadas(...).” 6

Parece-nos que o tal donativooferecido ao Codificador, em 1860,ainda rendia comentários, pois nes-te mesmo ano de 1865 ele volta afalar sobre o assunto e de forma de-finitiva se dirige novamente aos queespeculavam sobre o seu supostoenriquecimento:

“(...) jamais nada pedi a nin-guém, ninguém jamais me deu algopara mim pessoalmente; nenhumacoleta de um vintém qualquer veioatender às minhas necessidades, nu-ma palavra, não vivo às custas deninguém, pois que, das somas queme foram confiadas no interesse doEspiritismo, nenhuma parcela foiretirada em meu proveito (...).” 7

O Codificador sabia comopoucos indignar-se com elegância e

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*Aqui ele se refere às suas obras pedagógicas.

**N.R. Publicado em Reformador de novem-bro/2003, p. 33-35.

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sem transformar sua indignação emacusações e insinuações maliciosas.Defendia-se, porque possuía essedireito, mas ao mesmo tempo nãoalimentava um assunto que nãomerecesse maiores atenções.

Como eram freqüentes os bur-burinhos em torno da sua suposta ri-queza, ele resolve dar asas à imagina-ção e de forma criativa diz o que fariase tivesse um milhão de francos8.

“(...) Outrora teria feito a pro-paganda por uma larga publicida-de; agora reconhecia que isto erainútil, pois que os adversários distose tinham encarregado à sua custa”.E prossegue: “Hoje que o horizon-te se alargou, que sobretudo o futu-ro se desenrolou, fazem-se sentir ne-cessidades de uma outra ordem.(...) uma parte serviria para con-verter minha propriedade numacasa especial de retiro espírita, cu-jos habitantes recolheriam os bene-fícios de nossa doutrina moral; aoutra para constituir uma rendainalienável, destinada: 1o – a man-ter o estabelecimento; 2o – a assegu-rar uma existência a quem me su-ceder e aos que o ajudarem em suamissão; 3o – a cobrir suas necessi-dades correntes do Espiritismo, semse aventurar aos produtos even-tuais, como sou obrigado a fazer,desde que a maior parte dos recur-sos repousam em meu trabalho, queterá um termo.”

Assim procedem os Espíritossuperiores: convertem toda sorte deintrigas e falatórios em estímulos pa-ra prosseguirem em suas tarefas,cumprindo fielmente suas missões.Esses trechos revelam o caráter dia-mantino de Allan Kardec, a sua pro-bidade administrativa e a transparên-cia com que conduzia a SociedadeParisiense de Estudos Espíritas.

Conhecemos Centros Espíritasque fazem questão de comunicaraos seus associados, seja através deboletins ou mesmo de correspon-dência, como os recursos financei-ros foram empregados. Embora res-peitemos os que não utilizam osmesmos procedimentos, entende-mos que a visibilidade de uma ges-tão atrai simpatias, congrega esfor-ços, afasta desconfianças, soma parao fortalecimento da equipe de tra-balho, facilitando o desempenho detodos.

Vemos assim, caro leitor, queKardec está superado!

Sim, ele está superado por elemesmo, pois quando pensamos queuma determinada questão não foiabordada por ele, nos surpreende-mos com sua genialidade e antevi-

são das coisas. Por isso, entendemosque não dá para “atualizar Kardec”;por enquanto precisamos mesmo éde nos “atualizar com Kardec”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:1KARDEC, Allan. Revista Espírita (março de1860). Ed. Edicel, Os Pré-adamitas, p. 74.2Idem, ibidem, (junho de 1862). Ed. Edicel, So-ciedade Parisiense de Estudos Espíritas, p. 167.3Idem, ibidem, (outubro de 1862). Ed. Edicel,Aos nosso correspondentes, p. 322.4Idem, ibidem, (junho de 1862). Ed. Edicel, Osmilhões do Sr. Allan Kardec, p. 178.5Idem, ibidem, p. 179.

6Idem, ibidem, (junho de 1865). Ed. Edicel,

Relatório da caixa do Espiritismo, p. 159.

7Idem, ibidem, p. 159.8Idem, ibidem, p. 163.

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Ascensão de Elias“Meu pai! meu pai! carros de Israel e seus cavaleiros!”

– Eliseu (II Reis, 2:12.)

Mário FrigériElias e Eliseu caminham, lado a lado,Dos muros de Betel às margens do Jordão;Ao ver que seu senhor vai ser arrebatado,O servo lhe revela oculta aspiração...

“– É duro o que pediste e só será aprovadoSe me vires partir, à hora da ascensão”,Assim responde o mestre ao seu discípulo amado,Que almeja, de seus dons, o dobro da porção...

Caminham... Mas num carro, em fogo, de repente,– Envolto em chamejante e túrbida torrente –,Elias sobe à glória, à vista de Eliseu!

Ascende e lança às mãos do servo o próprio manto,O manto que Eliseu aperta ao peito, enquantoElias pelo azul do céu se esvaneceu...

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Trabalho“E Jesus lhes respondeu: Meu Pai obra até

agora, e eu trabalho também.” – (João, 5:17.)

Em todos os recantos, observamos criaturas queixosas e insatisfeitas.

Quase todas pedem socorro. Raras amam o esforço que lhes foi conferido. A

maioria revolta-se contra o gênero de seu trabalho.

Os que varrem as ruas querem ser comerciantes; os trabalhadores do campo

prefeririam a existência na cidade.

O problema, contudo, não é de gênero de tarefa, mas o de compreensão da

oportunidade recebida.

De modo geral, as queixas, nesse sentido, são filhas da preguiça inconsciente.

É o desejo ingênito de conservar o que é inútil e ruinoso, das quedas no pretérito

obscuro.

Mas Jesus veio arrancar-nos da “morte no erro”. Trouxe-nos a bênção do tra-

balho, que é o movimento incessante da vida.

Para que saibamos honrar nosso esforço, referiu-se ao Pai que não cessa de ser-

vir em sua obra eterna de amor e sabedoria e à sua tarefa própria, cheia de impere-

cível dedicação à Humanidade.

Quando te sentires cansado, lembra-te de que Jesus está trabalhando. Come-

çamos ontem nosso humilde labor e o Mestre se esforça por nós, desde quando?

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. 21. ed., Rio de Janeiro: FEB,2001, cap. 4, p. 23-24.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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“Jesus, porém, lhes falou logo,dizendo: Tende bom ânimo, soueu, não temais.”

(Mateus, 14:27.)

1. Neste mundo de expiação ede provas, não existe quem não pas-se ou não tenha passado por sofri-mentos e infortúnios. São as conse-qüências inexoráveis da lei de cau-sa e efeito, em virtude de açõescometidas nesta ou em outrasvidas, razão por que significama colheita daquilo que o homemtem plantado ao longo dos mi-lênios, comprovando a lógica ea veracidade do velho adágiopopular: Quem semeia vento,colhe tempestade.

Conquanto se trate de umaverdade aceita tranqüilamentepelo Espiritismo, ela tem sido,no entanto, mal interpretadapor alguns de seus adeptos, quea identificam com o fatalismodeterminista. De acordo comAmilcar Del Chiari Filho, esseequívoco assume o aspecto deum verdadeiro “pecado originaldos espíritas”1.

Daí o motivo de muitos assu-mirem uma atitude meramentepassiva diante da dor e do sofri-mento, que entendem regido pelomais absoluto determinismo, quan-do não adotam uma constante eenfadonha cantilena que deságuanuma postura sadomasoquista,digna de um consultório de psi-quiatra. Não levam em considera-

ção que, apesar do caráter irreversí-vel da lei de causalidade, o livre--arbítrio de que são portadores lhespermite alterar ou minimizar osseus efeitos, nos termos da conheci-da fórmula proposta por Kardec,no item 33, no 3, do “Código Penalda Vida Futura”, a saber:

“– Podendo todo homem liber-tar-se das imperfeições por efeito desua vontade, pode igualmente anu-

lar os males consecutivos e assegu-rar a futura felicidade.

A cada um segundo as suasobras, no Céu como na Terra: – talé a lei da Justiça Divina.”2

Como se observa, ao lado daconsciência dos próprios erros,bem como do arrependimento queprovoca, exige-se, também, um es-forço individual de cada um, nosentido da renovação interior. Tra-

ta-se do velho tema da reforma ín-tima, tão falado e tão pouco exerci-tado, que implica, necessariamen-te, a modificação ou eliminação doshábitos e costumes que, ao longodas reencarnações, conduzem o ho-mem a constantes desvios.

2. Uma considerável parcela daHumanidade, presa ao materialis-mo que ainda campeia livrementeem seu seio, desconhece ou nãoaceita a força da relação de causa-lidade e se insurge contra toda equalquer espécie de sofrimento e deinfortúnio, imputando-os ao Cria-dor, cuja justiça questionam ou

põem em dúvida, atribuindo--lhe as mesmas imperfeições tí-picas daquela elaborada peloshomens. Semelhante procedi-mento tem sua origem na mile-nar idéia que dormita nos refo-lhos das consciências indivi-duais, segundo a qual o seu Deusestá sempre à disposição de seuspreferidos e eleitos, em detri-mento dos que não gozam des-sa posição. A pior ou mais la-mentável conseqüência desseentendimento é a inevitável in-veja que produz, agravada, nostempos modernos, pela compe-tição desvairada que se observaem todos os níveis da sociedade

O fenômeno se verificatanto no âmbito interno de cadapovo, no particular aspecto do rela-cionamento entre os integrantes dasociedade, como no campo inter-nacional. No caso dos conflitos in-ternos, os exemplos mais marcantesda atualidade são os da Irlanda doNorte, onde a intolerância religiosaexistente entre católicos e protestan-tes já rendeu centenas e centenas devítimas, ou do Egito, onde a dispu-

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Sou euJosé Carlos Monteiro de Moura

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ta entre os Baha’is, seita islâmicadissidente, vem provocando perió-dicas ondas de matança. No campointernacional, a contenda árabe-is-raelense, na qual, por detrás dos in-teresses políticos e econômicos, es-conde-se a milenar divergênciareligiosa dos dois povos que, nostermos de sua versão bíblica, re-monta à expulsão de Agar da Casade Abraão, levando consigo, para odeserto, o seu filho Ismael, o pai dofuturo povo árabe. Os israelitas, nacondição de descendentes diretosde Abraão e, conseqüentemente,dos hebreus, não se esquecem dosprivilégios de que gozavam em faceda preferência que lhes dispensavaJeová, sempre de plantão e a seuserviço, ainda que isto significassemorticínios e crueldades inominá-veis, além de situações inteiramen-te incompatíveis com as leis da Na-tureza, que Deus não revoga porcapricho ou por uma questão deprotecionismo pessoal. Os ismae-litas (árabes) entendem-se comoúnicos destinatários dos favores deAlá, comprovando, com as açõesterroristas de seus grupos funda-mentalistas, aquela terrível afirma-tiva de Pascal: “Os homens nuncapraticam o mal de modo tão com-pleto e animado como quando o fa-zem a partir de convicção religio-sa.”

Não se pode esperar de situa-ções como essas outra coisa que nãoseja a dor, o sofrimento, as afliçõese as dificuldades de toda ordem,causadas diretamente pelos homens,ainda que sob o pretexto de agiremem nome de Deus.

Infelizmente, são a companhiainseparável do homem em todas asépocas de sua história. Nem se po-de dizer que ontem foi melhor do

que hoje, uma vez que nem sequerlhe era assegurado o direito de pen-sar, em face do controle que a Igre-ja exercia sobre o pensamento hu-mano através da confissão auricular.Conquanto o mundo ocidental, emdecorrência das distorções impos-tas ao Cristianismo, tenha criado efomentado uma verdadeira culturado temor de Deus, os instantes dedor e sofrimento serviram, parado-xalmente, para relembrar ao ho-mem de Sua existência. No entan-to, ou por ignorância ou por

comodismo, o ser humano – naqui-lo que poderia ser chamado de seurelacionamento com Deus – prefe-riu optar pelos serviços dos prepos-tos ou representantes da divindade,com os quais negociava a soluçãodo mal que o afligia. Foi assim naépoca anterior a Jesus, foi assim du-rante sua passagem pela Terra, econtinua sendo assim neste iníciode século, em virtude do costumepróprio do segmento mais numero-so do Cristianismo das promessas,das preces pagas ou de outros pro-cedimentos de conteúdo eminente-mente mercantilista. Muitas vezes,

tais condutas são típicas de um ver-dadeiro contrato de prestação deserviço, nos melhores moldes doDireito das Obrigações.

3. Nas incontáveis ocasiões, emque o homem se vê varrido pelaventania e navegando nas ondas re-voltas do mar de suas tribulações, aexemplo da situação vivida pelosapóstolos (Mateus, 14:25-27), eleergue a voz, clama por socorro, pe-de a imediata presença do socorris-ta e, ao ser atendido, revela-se teme-roso e indeciso, quando não sedeixa dominar pelo medo, repelin-do a mão que lhe estende o socorrosolicitado.

Invariavelmente, por detrásdessa mão, está, como sempre este-ve, o amigo insuperável, o irmãomais velho, o Mestre Jesus. Não sedeve pensar que se trata de privilé-gio concedido apenas aos cristãos.O caráter universal dos princípiosevangélicos é uma constante de to-das as religiões. Ao se referir a umsó rebanho e a um só pastor, Jesusnão condicionou essa situação à fi-liação a uma determinada religião,mesmo porque Ele não criou reli-gião alguma. O ex-frade francisca-no Leonardo Boff, excluído da Igre-ja pela versão moderna do SantoOfício – A Congregação para aDoutrina da Fé – em seu livro Es-piritualidade, um caminho de trans-formação (Ed. Sextante, Rio, 2001,p. 37), ressalta esse fato no desen-volvimento do tema proposto nocapítulo 6, sob o título: “Jesus pre-gou o Reino e em seu lugar veio aIgreja”.

4. Há, incontestavelmente, po-vos cuja cultura ainda não lhes per-mite uma convivência mais íntima

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Ao se referir a um

só rebanho e a um

só pastor, Jesus não

condicionou essa

situação à filiação

a uma determinada

religião

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com Jesus. Contudo, jamais foi suaintenção fazer-se conhecido e admi-rado ou aclamado como o ídolo ouherói, uma vez que todo o seu mi-nistério teve como objetivo funda-mental a conscientização do ho-mem para a fiel observância dosseus mandamentos, estribados, úni-ca e exclusivamente, na Lei de Deus.O conteúdo ético desses manda-mentos sempre foi repassado aoshomens, através dos grandes inicia-dos de todas as religiões, emboracom nomes e maneiras característi-cos de cada povo e de cada época.Assim, a regra áurea do Cristianis-mo – “Portanto, tudo o que vósquereis que os homens vos façam,fazei-lho também vós (...)” (Mateus7:12) – é encontrada no “temível”Islamismo (“Ninguém pode ser umcrente até que ame o seu irmão co-mo a si mesmo”), ou no “misterio-so” Hinduísmo (“Não faças nos ou-tros aquilo que, se a ti fosse feito,causar-te-ia dor”). De mais a mais,grandes nomes que marcaram assuas trajetórias na Terra pelo altíssi-mo grau de espiritualização quealcançaram, não eram ou nãosão cristãos, como, por exemplo,Gandhi, num passado mais próxi-mo, e o Dalai-Lama em nossos dias.Este, cuja cruzada pela convivênciapacífica das religiões é mundial-mente conhecida, afirma: “Ao pre-gar uma revolução espiritual, esta-ria eu afinal defendendo uma so-lução religiosa para os nossos pro-blemas? Não. Cheguei à conclusãode que não importa uma crença re-ligiosa. Muito mais importante éque seja uma boa pessoa.”3

5. A análise dos ensinamentosde Jesus permite concluir que a Elepouco importa a preferência religio-

sa de alguém, mesmo porque, ao sereferir à verdadeira caridade, tomoucomo exemplo a figura do heréticosamaritano...

Interessa-lhe, e muito, que ospostulados fundamentais de suaDoutrina sejam devidamente com-preendidos e postos em prática portodos os homens indiscriminada-mente, a fim de que cada um seja“(...) humano e benevolente paracom todos, sem distinção de raças,nem de crenças, porque em todosos homens vê irmãos seus”.4

No episódio de sua caminha-da sobre as águas a ausência dessadiscriminação ficou clara e patente.Em face do estranho e imprudenteprocedimento dos apóstolos, teme-rosos de estarem diante de um fan-tasma, Ele se limitou a dizer-lhes:“Tende bom ânimo, sou eu, não te-mais.” Mesmo diante de uma atitu-de tão incompreensível como aque-la – tendo em vista de onde partira– Ele apenas lhes disse sou eu, semnenhum qualificativo ou atributo,sem qualquer espécie de condicio-namento, sem nada que pudessesignificar alguma modalidade de ex-clusivismo.

Nessa hora Jesus foi, ao mesmotempo, mestre, irmão, amigo, com-panheiro de toda Humanidade, alirepresentada por aqueles rudes do-ze homens que o acompanhavammais de perto.

Quantas vezes, nos momentosde aperto, nas dificuldades do dia--a-dia, nas horas amargas em que odesespero ocupa a mente do ser hu-mano, ele tem ouvido, da voz doamigo sincero, do irmão mais expe-riente, do professor que se identifi-ca com o aluno, do pai amoroso eatento, e, sobretudo da mãe, sem-pre presente nos momentos mais

difíceis da vida dos filhos, que, pa-ra ela, continuam os eternos meni-nos de ontem, essa pequenina ealentadora frase – sou eu!

O seu poder é de tal formacontagiante e profundo que detémo dom de despertar esperanças,afastar animosidades, amenizar do-res e sofrimentos, reconstruir vi-das.

Por isso os ecos do sou eu res-soam, até os dias atuais, em vibra-ções de harmonia e paz, caridade ecompaixão, tolerância e compreen-são, fraternidade e solidariedade ase irradiarem por toda a Humani-dade, sem distinção de raça, cor,posição social ou religião. No en-tanto, como ele foi, originariamen-te, dirigido aos primeiros seguido-res do Mestre, é forçoso reconhecerque os cristãos se tornaram seus de-positários, cabendo-lhes a enormeresponsabilidade de, onde quer quehaja um aflito ou desesperado, fa-zer com que a voz suave do Cristopossa alcançar cada um dos sofre-dores, atingir as fibras mais íntimasde seus corações, e dizer-lhes: –“Tende bom ânimo, sou eu, não te-mais.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1A Barca do destino, Minas Editora, Araguari

(MG), 2000, p. 30.

2KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 47. ed.,

Rio de Janeiro: FEB, 2001, p. 101.

3Uma ética para o novo milênio, Ed. Sextan-

te, Rio, 2000, p. 29

4KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Es-

piritismo, 121. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2003,

cap. XVII, item 3, p. 273.

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Os pesquisadores pré-karde-quianos, em certos momen-tos, ficavam intrigados com o

poder demonstrado pelos médiuns,que liam, previam, anunciavam fa-tos e afirmavam verdades de queeram, até então, desconhecedores.

O Dr. Jean Philippe FrançoisDeleuze (1753-1835), autor devárias obras sobre magnetismoanimal e discípulo de Anton Mes-mer, escreveu, em 1819, em suaobra: Histoire du MagnétismeAnimal:

“Todos os sonâmbulos, deixa-dos livres no transe, se dizem escla-recidos e assistidos por um ser quelhes é desconhecido.”

Investigadores de renome co-mo Eschenmayer, Ennemoser,Abade Faria e outros admitiamque, normalmente, havia a inter-venção de agente exterior, espiri-tual, estranho à organização dosonâmbulo.

O Barão Du Potet, após assu-mir posturas nitidamente materia-listas, terminou aceitando a existên-cia de causas espirituais em certoscasos, conforme preceitua em suaobra Journal du Magnétisme:

“Não, não; há aqui algumacoisa que ultrapassa a nossa razão.O sobrenatural se evidencia, quan-do eu queria negar-lhe a existência.”

Em 1829, ocorreu um interes-sante debate epistolar entre o Dr. J.P. F. Deleuze e o Dr. G. Billot, so-bre a doutrina do fluido magnéticodirigido, unicamente, pela vontadedo operador. A querela daria ori-gem à obra Correspondence UponVital Magnetism, publicada em1839, pelo Dr. Billot.

As concepções de François De-leuze sofreriam, ao correr de suaspesquisas com os diversos médiunsde sua época, sensível mudança,levando-o a reconhecer a interven-

ção de Espíritos nos fenômenos quepesquisava.

Vários fatos sustentavam a teo-ria, entre os quais o de uma rudecamponesa, quase idiota, que, emestado de transe (sonambúlico), res-pondia com absoluta precisão àsperguntas que um médico lhe fazia.Ao lhe perguntar de que modo o“agente magnético” agia sobre ela,em transe, surpreendeu a todoscom esta resposta:

“O Espírito age sobre o Espí-rito, isto é, sobre a alma que soueu, e eu lhe obedeço ao impulso, e

faço executar em meus órgãos osmovimentos que vedes. Se resisto, oEspírito atua fortemente sobre meusórgãos.”

E o que também desorientavaesses dedicados pesquisadores pré--kardequianos eram os inúmerosefeitos físicos propiciados pelos Es-píritos através do ectoplasma dosmédiuns.

O Dr. Deleuze, a propósito,numa de suas cartas ao Dr. G. Bil-lot, destacava a ocorrência de fenô-menos de transporte de objetos pa-ra ambientes hermeticamente fe-chados, causando-lhe viva impres-são o trazimento, pelos seres invisí-veis, a uma sessão que se realizavaem Paris, de um ramo de tomilhoda Ilha de Creta, na Grécia.

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Pesquisadores pré-kardequianos

Carlos Bernardo Loureiro

Louis Alphonse Cahagnet

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A essa altura dos acontecimen-tos o Dr. Deleuze diria, a respeito,de tais fenômenos que, realmente,abalaram as suas convicções meca-nicistas:

“Não sei que pensar de tu-do isso (...). Contudo, não ouso ne-gar mais nada.”

Assim, as manifestações dosEspíritos se sucederam entre os “so-nâmbulos” e, em 1845, segundoinforma o Marquês Eudes De Mir-ville, em sua obra Question desEsprits, o assunto começou a ser de-batido até nos periódicos magnetis-tas, como em Le Somnambule e naRevue Magnétique.

O Dr. G. Billot, numa cartadatada de novembro de 1858, afir-mava que ele próprio recebia con-selhos dos “verdadeiros Espíritos deLuz” por intermédio de indivíduos“mergulhados no sopor clarividen-te”; conselhos vazados, acrescenta-va, numa linguagem elevada e mo-ralizadora.

Por esse tempo, surge a figurado magnetizador Louis AlphonseCahagnet (1809-1885), que em1847 publicava o 1o tomo de suaobra Arcanes de la vie future dé-voilés, sendo fundada em fins de1848, por sugestão do EspíritoSwedenborg, a “Sociedade dosMagnetizadores Espiritualistas”,mais tarde (1852) denominada de“Sociedade dos Estudantes Swe-denborguianos”.

Os testemunhos a favor deste“magnetismo espiritualista” encontra-riam reforço nas idéias do sábio Fran-çois Arago (Estagel, Roussillon, 1786– Paris 1853), famoso físico e astrô-nomo francês, esposadas na obra An-nuaire du Bureau des Longitudes:

“A maior parte dos fenômenos,grupados hoje em torno desse nome(magnetismo animal), não eramnem conhecidos, nem anunciadosem 1784... Os sábios que hoje seentregam a experiências de sonam-bulismo penetram num mundo to-do novo, de cuja existência os La-voisier, os Franklin, os Bailly nãosuspeitavam sequer.”

Ao tempo em que esses ilustresinvestigadores especulavam sobre aintervenção de seres espirituais nosfenômenos de magnetismo, Hip-polyte Léon Denizard Rivail obser-vava as mesas girantes. Iniciava-se,aí, todo um monumental trabalhode análise e de pesquisas, que cul-minaria na feitura da Codificaçãoda Doutrina dos Espíritos.

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No dia 20 de fevereiro de 2004desencarnou, por problemas pulmo-nares, o confrade Wagner Nannet-ti Dias, Presidente da CAPEMI e doLar Fabiano de Cristo. Ele foi umdos arquitetos da previdência priva-da no País. Advogado, funcionáriodo Banco do Brasil, aproximou-seda CAPEMI ainda na década de1960. Gradativamente adquiriuprofundo saber jurídico na áreaprevidenciária. Foi um dos artíficesda lei que disciplinou a atividade,em 1977. Trabalhou no projeto quese transformou em lei, regulamen-tando a regência relacionada às en-tidades abertas de previdência pri-vada. Mais recentemente, quandofoi reformulada a legislação referen-te ao setor, atuou com grande com-petência nas propostas que resulta-ram em novas leis que regulama previdência complementar. Foimembro durante 16 anos do Con-selho Nacional de Seguros Privados,Presidente durante longos anos doSindicato das Entidades Abertas de

Previdência Privada, Diretor e Vice--Presidente da Associação Nacionalde Previdência Privada durante 15anos consecutivos.

Mineiro de Machado, era hu-milde e simples, afável e firme, per-severante defensor das suas posições.Generoso, respeitado pelos seus pa-res, autoridades, funcionários. Ama-va a Obra de Fabiano, acreditavanela, sabia que era um modelo paraos tempos novos. Quando nem sefalava em responsabilidade socialdas empresas, a CAPEMI já a prati-cava. Quando atividades de assistên-cia eram inteiramente paternalistas,o Lar Fabiano inaugurou, muito an-tes da atual legislação, ações promo-cionais pioneiras no atendimento afamílias necessitadas.

Wagner Nannetti Dias, por suavida, demonstrou que “Evangelhovivido é caridade aplicada” e que talfrase pode ser verdadeira para aspessoas e para as empresas.

Rogamos as bênçãos de Jesusao seu retorno à Pátria Espiritual.

Wagner Nannetti Dias

RETORNO À PÁTRIA ESPIRITUAL

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Reformador/Maio 2004 27185

Federação Espírita BrasileiraO Conselho Superior da Federação Espírita Brasileira, em reunião realizada em 27 de março de 2004, elegeu os membros do Conselho Diretor, da Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal, cujos mandatos

terminaram. Os órgãos da FEB estão, agora, assim constituídos:

CONSELHO DIRETOR

PRESIDENTE – Nestor João Masotti; VICE-PRESIDENTES – Altivo Ferreira, Cecília Rocha, Ilcio Bianchi e José Carlos da Silva Silveira

DIRETORIA EXECUTIVA

DIRETORES: Affonso Borges Gallego Soares, Amaury Alves da Silva, Antonio Cesar Perri de Carvalho, Arthur do Nascimento, EdnaMaria Fabro, Evandro Noleto Bezerra, Geraldo Campetti Sobrinho, José Carlos Martins Lopes, José Salomão Mizrahy, Lauro de

Oliveira SãoThiago, Maria de Lourdes Pereira de Oliveira, Marta Antunes de Oliveira Moura, Norberto Pasqua, Rute VieiraRibeiro e Tânia de Souza Lopes

CONSELHO FISCAL

EFETIVOS: Cesar Augusto Lourenço Filho, Danilo de Castro Silva e Sérgio ThiesenSUPLENTES: Alamir Gomes de Abreu, Eliphas Levi Garcez Maia e Ennio de Oliveira Tavares

ASSESSORES DA PRESIDÊNCIA

Jorge Godinho Barreto Nery, José Yosan dos Santos Fonseca, Sady Guilherme Schmidt e Zêus Wantuil

REFORMADOR

DIRETOR – Nestor João Masotti; DIRETOR-SUBSTITUTO E EDITOR – Altivo Ferreira; REDATORES – Affonso Borges Gallego Soares,Antonio Cesar Perri de Carvalho, Evandro Noleto Bezerra, Lauro de Oliveira São Thiago; SECRETÁRIA – Sônia Regina Ferreira

Zaghetto; GERÊNCIA – Amaury Alves da Silva

CONSELHO SUPERIOR

EFETIVOS: Adésio Alves Machado, Allan Eurípedes Rezende Nápoli, Allan Kardec Rezende Nápoli, Ana Maria Rodrigues dos Santos,Carlos Roberto Campetti, Christodolino da Silva, Clara Lila Gonzalez de Araújo, Délio Pereira de Souza, Inaldo de Lacerda Lima,Ismael de Miranda e Silva, Jamile Mizrahy, João Carlos Isaac Feres, João Pinto Rabelo, Jorge Godinho Barreto Nery, José CarlosMartins Lopes, José Francisco dos Santos, José Jorge, José Yosan dos Santos Fonseca, Marco Aurélio Luzio Assis, Maria EunyHerrera Masotti, Maria Luiza Priolli dos Santos Fonseca, Nilton da Costa Pereira de São Thiago, Norberto Pasqua, Paulo Affonso deFarias, Raimunda Maria Prata, Regina Lúcia de Souza B. Rodrigues, Salim Tannus Feres Neto, Tossie Yamashita, Yola Carvalho Borgesde Souza e Zêus Wantuil. Indicados pelo CFN: Antonio Cesar Perri de Carvalho, César Soares dos Reis, Dori Vânia da Costa

Cunha, Francisco Bispo dos Anjos, Gerson Simões Monteiro e Jonas da Costa Barbosa

SUPLENTES: Lydia Alba da Silva, Lucia Maria Alba da Silva, Darcy Neves Moreira, Rosa Mizrahy, Cybele Silva Gomes, BittencourtRezende de Nápoli, Suely Caldas Schubert, Israel Quirino do Nascimento, Alzira Matoso de Abreu, Márcia Antonio Frota Correia,Maria da Conceição Campos, Marley de Souza Lopes, Venita Abranches Simões, Henrique A. L. Magalhães e Maria Alves da Silva.Indicados pelo CFN: Ana Luiza Nazareno Ferreira, Pedro Valente da Cunha, Márcia Regina Pini de Souza e João de Jesus Moutinho

CONSELHO FEDERATIVO NACIONAL

ENTIDADES FEDERATIVAS ESTADUAIS: Federação Espírita do Estado do Acre, Federação Espírita do Estado de Alagoas, FederaçãoEspírita do Amapá, Federação Espírita Amazonense, Federação Espírita do Estado da Bahia, Federação Espírita do Estadodo Ceará, Federação Espírita do Distrito Federal, Federação Espírita do Estado do Espírito Santo, Federação Espírita doEstado de Goiás, Federação Espírita do Maranhão, Federação Espírita do Estado de Mato Grosso, Federação Espírita de MatoGrosso do Sul, União Espírita Mineira, União Espírita Paraense, Federação Espírita Paraibana, Federação Espírita do Paraná,Federação Espírita Pernambucana, Federação Espírita Piauiense, União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio deJaneiro, Federação Espírita do Rio Grande do Norte, Federação Espírita do Rio Grande do Sul, Federação Espírita deRondônia, Federação Espírita Roraimense, Federação Espírita Catarinense, União das Sociedades Espíritas do Estado de SãoPaulo, Federação Espírita do Estado de Sergipe, Federação Espírita do Estado do Tocantins.ENTIDADES D E Â M B I T O

NAC I O N A L : Associação Bras i le i ra de Divulgadores d o E s p i r i t i s m o , A s s o c i a ç ã o Br a s i l e i r a dos MagistradoEspíritas, Cruzada dos Militares Espíritas e Instituto de Cultura Espírita do Brasil.

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Oassunto o Bem e o Mal teminício com o cuidado de umadefinição de moral, que para

os Espíritos Reveladores constitui aregra de bem proceder, ou seja, da dis-tinção do que é o bem e do que é o mal.

Mas, atendendo a uma preo-cupação maior do homem acercadesse assunto, indaga Allan Kardeca respeito de como se pode distin-guir o bem do mal.

E os Espíritos superiores res-pondem: “O bem é tudo o que éconforme à lei de Deus; o mal, tudoo que lhe é contrário (...).” Logo, de-duzimos que fazer o bem é proce-der de acordo com a lei de Deus;fazer o mal é infringi-la, confirmamas questões 629 a 630.

Na questão 631, o Codificadorquestiona se possui o homem meiosde distinguir por si mesmo o que éo bem e o mal. E os Espíritos res-pondem, afirmativamente, expli-cando, antes, a necessidade de o ho-mem acreditar em Deus e o querersaber, uma vez que Deus para tan-to lhe deu a inteligência.

Entretanto, como pode ocorrerque o homem se engane na aprecia-ção do bem e do mal, de modoque, julgando praticar o bem, pra-tique o mal, eis que sobre essa ques-

tão (632) eles fazem a seguinte cita-ção evangélica: “Jesus disse: vede oque queríeis que vos fizessem ounão vos fizessem (...).” Não haverá,portanto, como alguém se enganar:Bastará não fazer ao seu semelhan-te o que não gostaria se lhe fizes-sem.

Tudo, nas questões seguintes(633 a 635), se resume num pro-cesso racional, na conformidade doadiantamento espiritual e moral dacriatura dotada de inteligência. To-dos os seres espirituais foram cria-dos (q. 115) simples e ignorantes,concedendo-lhes Deus, nosso Pai, olivre-arbítrio com todas as condi-ções de projetar-se na prática dobem, mas sendo responsabilizadopelo mal que vier a praticar.

Deus é Deus, nunca se engana!Ao tornar-se Espírito, cada uma deSuas criaturas terá condições decrescer e projetar-se evolutivamen-te e, ainda assim, nunca deixa deassisti-lo através de um guia espiri-tual chamado de anjo de guarda.

Enquanto cresce, o homem, vi-vendo em grupos ou famílias, podeser acicatado ao mal, e muitos o sãoefetivamente, deixando-se, por de-terminada disposição de arbítrio,levar pelo orgulho e pela vaidade, oque lhes dificulta os passos no ca-minho do progresso!

Na verdade, assegura-nos aquestão 636 que a lei de Deus éuma só para todos. A diferença con-siste apenas quanto ao grau de res-ponsabilidade que, nos Espíritos,varia do ponto de vista de sua evo-lução, ou seja, diferindo quanto àestrada percorrida ou experiênciasadquiridas.

Já na questão 637, levanta oCodificador uma curiosa indagaçãoquanto à culpa ou não do selvagemque, cedendo a certo instinto, nu-tre-se de carne humana. Ao queo Espírito superior, compreenden-do-o, responde com ênfase: “Eudisse que o mal depende da von-tade. Pois bem! Tanto mais culpa-do é o homem, quanto melhor sabeo que faz.”

Percebe-se que o fato de tratar--se de um selvagem não o inculpado mal praticado, uma vez que nacondição de homem já é Espírito,faltando-lhe apenas melhor discer-nimento da verdade, e a falta é co-locada em proporcionalidade ao seuestado de ignorância, pois já não setrata de um ser irracional, mas deindivíduo consciente do que faz.Daí a questão 638 assinalar que“embora necessário, o mal não dei-xa de ser o mal (...).”

Assim, por ilação das questões639 a 641, tem-se por fundamento

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Repensando KardecO bem e o mal

(Questões 629 a 646 de O Livro dos Espíritos)Inaldo Lacerda Lima

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que o mal, pouco importando asrazões que aparentemente o justifi-quem, é sempre o mal.

Eis que das questões 642 e 643se depreende que não basta não opraticar, mas indispensável se faz aprática do bem, prática esta de quenenhum ser espiritual se acha im-possibilitado.

E, ainda da questão 644, po-de-se concluir que nem mesmo omeio em que viva coloca o Espíri-to em sujeição à prática do mal, da-do que não lhe faltam condiçõespara resistir à sua tentação, por-quanto ainda o confirma a questãoseguinte (645) que alguém podesofrer arrastamento à prática domal, mas nunca um arrastamentoirresistível !

Assim, o assunto o bem e o malé concluído com termos que se fa-zem necessários aqui salientar naquestão 646:“O mérito do bem es-tá na dificuldade de praticá-lo. Ne-nhum merecimento há em fazê-losem esforço e quando nada custe(...).” E acrescentam os EspíritosReveladores comparando o méritodo “pobre que divide com outro seuúnico pedaço de pão, do que o ricoque dá do que lhe sobra (...)”, e àsvezes a certo custo...! E nos suge-rem, ainda, refletirmos nas palavrasde Jesus a respeito do óbolo da viú-va no gazofilácio: “Em verdade vosdigo que ninguém deu mais do queela, pois todos deram de suas so-bras: ela deu tudo que tinha.” (Lu-cas, 21:3-4.)

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Orespeitável Codificador da sa-pientíssima Doutrina prome-tida pelo Cristo como outro

Consolador para os seus fiéis segui-dores, de então e do futuro, indagaaos Espíritos Reveladores: “A lei deDeus se acha contida toda no pre-ceito do amor ao próximo, ensina-do por Jesus?”

E eles responderam: “Certa-mente.” E explicaram que tal “pre-ceito encerra todos os deveres doshomens uns para com os outros”. Eesclareceram ainda que cumpre, po-rém, seja dada aos homens a expli-cação que comporta no sentido deque tal preceito seja efetivamentecumprido, porquanto, caso contrá-rio continuarão os mesmos.

Demais, acrescentaram os Es-píritos comunicadores, a lei natural

abrange todas as circunstâncias davida, e o preceito do amor ao pró-ximo compreende apenas uma par-te da lei, uma vez que aos homenssão necessárias regras especiais. Ge-ralmente, preceitos muito generali-zados se tornam vagos, deixandoportas abertas a interpretações nemsempre boas.

Foi, talvez, em face dessa ad-vertência, que Allan Kardec su-geriu, na questão seguinte (648):“Que pensais da divisão da leinatural em dez partes, compreen-dendo as leis de adoração, traba-lho, reprodução, conservação, des-truição, sociedade, progresso, igual-dade, liberdade e, por fim, justi-ça, amor e caridade?”

E eles responderam: “Essa di-visão da lei de Deus em dez partes

Divisão da Lei Natural(Questões 647 a 648 de O Livro dos Espíritos)

é a de Moisés, e de natureza aabranger todas as circunstâncias davida, o que é essencial. Podes, pois,adotá-la, sem que, por isso, tenhaqualquer coisa de absoluta, comonão o tem nenhum dos outros siste-mas de classificação (...).” E acres-centaram que a última lei – a dejustiça, de amor e de caridade “(...)é a mais importante, por ser a quefaculta ao homem adiantar-semais na vida espiritual, visto queresume todas as outras”.

Observemos que, em tudo, apreocupação do Mundo Maior écom o Espírito reencarnado, com oseu adiantamento moral e espiri-tual. E percebe-se, assim, que a fun-ção de ser espírita é trabalhar peloprogresso e evolução de nossos se-melhantes e da sociedade, especial-mente na exemplificação do Evan-gelho trazido à Terra pelo Cristo deDeus.

E a ilação que tiramos damensagem contida no item 5 docapítulo XX de O Evangelho segun-do o Espiritismo – “Vinde a mim,vós que sois bons servidores, vósque soubestes impor silêncio aosvossos ciúmes e às vossas discórdias,a fim de que daí não viesse danopara a obra!” – refere-se, obvia-mente, à obra do Consolador queveio, na ocasião propícia, cumprira grande promessa do Mestre, ob-jetivando a preparação, na huma-nidade deste planeta, daqueles quejá se encontram em condição de vi-ver a Nova Era prevista em seu Ser-mão cantado na montanha. Cum-pre-nos, pois, atentos e diligentes,exemplificar aos olhos dos homens,tudo o que se contém nos dez capí-tulos seguintes de O Livro dos Es-píritos, dessa Parte 3a, à luz doEvangelho de Jesus.

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30 Reformador/Maio 2004

Em outubro de 2004 a famíliaespírita mundial se reunirá emParis, França, num imponente

congresso, para festejar os 200 anosde nascimento de Allan Kardec. Se-rá a oportunidade para se enaltecera personalidade ímpar do Codifica-dor, evocar-se sua vida e obra, vi-sualizar em retrospectiva as balizasque os adeptos da grande Doutrinatêm fincado no seio das sociedadespara a sua difusão, avaliar o terrenoainda por desbravar, dimensionan-do-lhe com lucidez os obstáculos,enfim, reforçar a consciência de quea seara permanece grande e os tra-balhadores ainda são poucos.

Ali se configurará com nitidezo problema que dificulta toda equalquer relação internacional: – oda comunicação entre grupos quefalam línguas diferentes. Esse pro-blema já tem a sua solução provadae concretizada sob a forma da Lín-gua Internacional Neutra ESPE-RANTO, que tanto toca os aspectospráticos, materiais da comunicaçãonesse nível, quanto, principalmen-te, os ângulos espirituais, psicológi-cos, estreitamente ligados à justiçae à fraternidade na convivência en-tre indivíduos e povos.

Mas, por contrariar, como legí-tima expressão de progresso, múlti-plos interesses decorrentes dos pre-

juízos humanos, igualmente indivi-duais e coletivos, o Esperanto comoque parece letra morta, restringin-do-se o seu cultivo, a sua prática auma seleta coletividade de idealistasque, dispersos no mundo, tambémcarregam a missão de rasgar sendasque conduzirão o planeta às formasde vida universalista, em que justi-ça, fraternidade, solidariedade, to-lerância tenderão a se estabelecerconcretamente.

É fora de qualquer dúvida queos espíritas do Brasil se alinham en-tre os membros dessa generosa co-letividade, pela simpatia com que,desde 1909, abraçaram o Esperan-to como item de suas atividadesrenovadoras.

Terá sido apenas para usar oEsperanto como mais uma língua

que, no Brasil, os espíritas o temosestudado, divulgado e utilizado háquase cem anos, o que revelaria des-prezo por sua precípua finalidadede instrumento para as relações in-ternacionais? Terão os Espíritos, emnossos círculos, prestigiado, apoia-do os esforços em torno desse gene-roso ideal tão-somente para que oencerremos nos acanhados limitesde atividades nacionais?

Paris será o grandioso cenárioem que os esforços dos espíritasbrasileiros em prol do Esperanto in-gressarão em nova fase: despertar afamília espírita mundial para a uti-lidade, a necessidade, a conveniên-cia de que adotem o Esperantocomo seu instrumento de comu-nicação nas relações internacionais.

Um verdadeiro arsenal de ar-gumentos poderá e deverá ser evo-cado, nesse nobre empenho de fra-terno convencimento, mas nenhumserá mais eloqüente do que o usopleno do idioma em itens do pro-grama do congresso, visando-se àdemonstração prática de suas qua-lidades.

Não creiamos, porém, que aconsecução de um tal objetivo po-derá resultar do improviso de últi-ma hora. Se efetivamente desejamosevidenciar a nossos irmãos france-ses, ingleses, suecos, italianos, bel-gas, e de tantas outras nacionalida-des que o Esperanto de fato fun-ciona, preenche todas as condiçõespara tão alto desempenho, devemos

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Esperanto em Paris – 2004Affonso Soares

A FEB E O ESPERANTO

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Reformador/Maio 2004 31

apresentá-lo no pleno uso, na plenaposse, como coroamento de todaargumentação teórica.

Nesse sentido, conviria que aimensa maioria dos congressistasbrasileiros – se não a totalidade – sededicasse, com fervor e afinco, aoaprendizado em profundidade doidioma, a fim de que em Paris seforme um terreno firme para a de-monstração prática a que nos refe-rimos atrás. E esse não é um objeti-vo inatingível (...).

Imaginemos o efeito poderosoda presença de um contingente nu-meroso de efetivos falantes do Es-peranto – talvez 500 congressistas –num meio em que o problema decomunicação se imporá inexoravel-mente. Muito se poderá demons-trar com a participação efetiva des-ses co-idealistas do EEE (Evange-lho, Espiritismo, Esperanto). Ne-nhum deles ficará privado de enten-der as exposições, por exemplo, emlíngua francesa, pois esperantistasfranceses poderão servir de intérpre-tes do francês para o Esperanto. Damesma forma, trabalhos poderãoser expostos em Esperanto com ainterpretação desses esperantistas deoutras nacionalidades para as lín-guas nacionais. Evidentemente, se-rá necessário contar com a boa-von-tade deles para esses serviços, masnão temos dúvidas de que eles seoferecerão voluntariamente, umavez que para esperantistas não exis-te ofício mais grato do que servir aopróprio ideal facilitando as comu-nicações.

Enfim, caros irmãos, essas sãoidéias que nascem em nosso cora-ção de idealista. Elas podem parecersimplistas, ingênuas, mas acredita-mos que, se concretizadas, poderãodar belos frutos em favor da difusão

do Esperanto no seio da família es-pírita mundial. Outras idéias me-lhores, obviamente, poderão ocor-rer aos samideanoj mais competen-tes, e é o que de todo o coração de-sejamos, pois o que a todos nos in-teressa é a vitória dos ideais a quetemos a honra de servir.

Agora é arregaçar as mangas epôr mãos à obra. Dispomos de tu-do: idealismo, fé nas generosasidéias que nos sustentam, fé no pro-gresso de que elas são portadoras,farto material didático, excelentescursos de Esperanto nos círculos domovimento esperantista neutro edo Movimento Espírita e, princi-palmente, o apoio das Esferas Espi-rituais Superiores.

Finalizemos transcrevendo esta

fraterna exortação do Espírito Fran-cisco Valdomiro Lorenz na mensa-gem O Esperanto como revelação,ditada na cidade de Uberaba (MG),em 19 de janeiro de 1959, ao mé-dium Francisco Cândido Xavier:

“Atendamos, desse modo, nósoutros, espiritualistas e espíritas, en-carnados e desencarnados, ao incre-mento do Esperanto, em simulta-neidade com o esforço de restauraras colunas do Cristianismo, porsantuário vivo da Religião Univer-sal, em bases de amor e sabedoria,no terreno da Bondade Imensurá-vel de Deus e Sua Justiça Indefectí-vel.”

Fonte: Publicado no SEI, no 1.861, em29/11/2003.

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La Evangelio La99 SpiritismoTorna a beleza do Evangelho SantoA renovar-se para o mundo inteiro,Santificante e lúcido roteiroÀ claridade excelsa do Esperanto.

É a mensagem dos filhos do CruzeiroAo mundo que transborda angústia e espanto,Estandarte sublime, sacrossanto,De verdades eternas mensageiro.

Simples, nobre, feliz, vasta e divina,Eis que a língua dos Povos descortinaO Código da Vida, claro e puro!

Salve Brasil da Paz, augusto e grande,De onde o Esperanto em luz se eleva e expandePara a Glória terrestre do futuro!

Cruz e Souza

(Recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 28 de novembro de 1947,quando era lançada a 1a edição, em Esperanto, de O Evangelho segundo o Es-piritismo.)

Fonte: Reformador de dezembro de 1947, p. 10 (278).

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Oprimeiro período do Espiritis-mo, caracterizado pelas mesasgirantes, foi o da curiosidade.

O segundo foi o período filosófico,marcado pelo aparecimento de OLivro dos Espíritos. A partir destemomento o Espiritismo tomou umcaráter completamente diverso. En-treviram-lhe o objetivo e o alcancee nele hauriram fé e consolação,sendo tal a rapidez de seu progres-so que nenhuma outra doutrina fi-losófica ou religiosa oferece exem-plo semelhante. Mas, como todas asidéias novas, teve adversários tantomais obstinados quanto maior era aidéia, porque nenhuma idéia gran-de pode estabelecer-se sem ferir in-teresses. É preciso que ocupe umlugar e as pessoas deslocadas nãopodem vê-la com bons olhos. De-pois, ao lado das pessoas interessa-das estão os que, por espírito de sis-tema e sem razões precisas, são ad-versários natos de tudo quanto énovo.

Nos primeiros anos, muitos du-vidaram de sua vitalidade, razão porque lhe deram pouca atenção. Masquando o viram crescer, a despeitode tudo, propagar-se em todas as fi-leiras da sociedade e em todas aspartes do mundo, tomar o seu lugarentre as crenças e tornar-se uma po-tência pelo número de seus aderen-tes, os interessados na manutenção

das idéias antigas alarmaram-se seria-mente. Então uma verdadeira cru-zada foi dirigida contra ele, dandoinício ao período da luta, de que oauto-de-fé de Barcelona, de 9 de ou-tubro de 1861, de certo modo foi osinal. Até então ele tinha sido alvodos sarcasmos da incredulidade, queri de tudo, principalmente do quenão compreende, mesmo das coisasmais santas, e aos quais nenhumaidéia nova pode escapar: é o seu ba-tismo de fogo. Mas os outros nãoriem: fitam-no com cólera, sinal evi-dente e característico da importân-cia do Espiritismo. Desde então osataques assumiram um caráter deviolência inaudita. Foi dada a pala-vra de ordem: sermões furibundos,pastorais, anátemas, excomunhões,perseguições individuais, livros, bro-churas, artigos de jornais, nada foipoupado, nem mesmo a calúnia.

Estamos, pois, em pleno perío-do de luta, mas este não terminou.Vendo a inutilidade dos ataques acéu aberto, vão ensaiar a guerrasubterrânea, que se organiza e jácomeça. Uma calma aparente vaiser sentida, mas é a calma precurso-ra da tempestade; não obstante, àtempestade sucede o tempo sereno.

Espíritas, não vos inquieteis,porque a saída não é duvidosa; a lu-ta é necessária e o triunfo será maisretumbante. Disse e repito: vejo ofim; sei como e quando será alcan-çado. Se vos falo com tal segurançaé que para tanto tenho razões, sobreas quais a prudência manda que me

cale, mas vós as conhecereis um dia.Tudo quanto vos posso dizer é quevirão poderosos auxiliares para fechara boca de mais de um detrator. Con-tudo a luta será viva e se, no confli-to, houver algumas vítimas de sua fé,que estas se rejubilem, como o fa-ziam os primeiros mártires cristãos,dos quais muitos estão entre vós, pa-ra vos encorajar e dar o exemplo;que se lembrem destas palavras doCristo: “Bem-aventurados os que so-frem perseguição por causa da justi-ça, porque deles é o Reino dos céus.Bem-aventurados sois vós quandovos injuriarem, e perseguirem, e,mentindo, disserem todo o mal con-tra vós, por minha causa. Exultai ealegrai-vos, porque é grande o vossogalardão nos céus; porque assimperseguiram os profetas que vieramantes de vós.” (Mateus, 5:10, 11 e12.)

Estas palavras não parecem tersido ditas para os espíritas de hoje,como para os apóstolos de então? Éque as palavras do Cristo têm istode particular: são para todos ostempos, porque sua missão era pa-ra o futuro, como para o presente.

A luta determinará uma novafase do Espiritismo e levará ao quar-to período, que será o período reli-gioso; depois virá o quinto, períodointermediário, conseqüência natu-ral do precedente, e que mais tardereceberá sua denominação carac-terística. O sexto e último períodoserá o da regeneração social, queabrirá a era do século vinte. Nessa

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

Período de luta

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época, todos os obstáculos à novaordem de coisas determinadas porDeus para a transformação da Terraterão desaparecido. A geração quesurge, imbuída das idéias novas, es-tará em toda a sua força e prepararáo caminho da que há de inauguraro triunfo definitivo da união, da paze da fraternidade entre os homens,confundidos numa mesma crença,pela prática da lei evangélica. Assimserão confirmadas as palavras doCristo, já que todas devem ter cum-primento e muitas se realizam nestemomento, porque os tempos predi-tos são chegados. Mas é em vão que,tomando a figura pela realidade,procurais sinais no céu: esses sinaisestão ao vosso lado e surgem de to-das as partes.

É notável que as comunicaçõesdos Espíritos tenham tido um cará-ter especial em cada período: noprimeiro eram frívolas e levianas;no segundo foram graves e instruti-vas; a partir do terceiro eles pressen-tiram a luta e suas diferentes peripé-cias. A maior parte das que seobtêm hoje nos diversos centrostem por objetivo prevenir os adep-tos contra as intrigas de seus adver-sários. Assim, por toda a parte sãodadas instruções a este respeito, co-mo por toda a parte é anunciadoum resultado idêntico. Tal coinci-dência, sobre este como sobre mui-tos outros pontos de vista, não éum dos fatos menos significativos.A situação se acha completamenteresumida nas duas comunicaçõesseguintes, cuja veracidade já foi re-conhecida por muitos espíritas.

Allan Kardec

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –dezembro de 1863. Tradução de EvandroNoleto Bezerra.

Muitas vezes vos admirais aover faculdades mediúnicas,sejam físicas ou morais,

que, em vossa opinião, deveriam serprova de mérito pessoal, em pessoasque, por seu caráter moral, estãocolocadas abaixo de semelhante fa-vor. Isto se prende à falsa idéia quefazeis das leis que regem tais coisas,e que quereis considerar como in-variáveis. O que é invariável é o ob-jetivo; os meios variam ao infinito,a fim de ser respeitada a vossa liber-dade. Este possui uma faculdade;aquele, outra; um é levado peloorgulho, outro pela cupidez, umterceiro pela fraternidade. Deusemprega as faculdades e as paixõesde cada um, e as utiliza em suas res-pectivas esferas, fazendo sair o bemdo próprio mal. Os atos do ho-mem, que vos parecem tão impor-tantes, para ele nada são; aos seusolhos, é a intenção que faz o méri-to ou o demérito. Feliz, pois, aque-le que é guiado pelo amor fraterno.A Providência não criou o mal: tu-do foi feito em vista do bem. Omal só existe pela ignorância dohomem e pelo mau uso que este fazdas paixões, das tendências, dosinstintos que adquiriu em contatocom a matéria. Grande Deus!quando lhe tiverdes inspirado asabedoria para ter em mãos a di-reção desse poderoso móvel, apaixão, quantos males desapare-cerão! quanto bem resultará dessaforça, da qual hoje não conhece

senão o lado mau, que é sua obra!Oh! continuai ardentemente vossaobra, meus amigos; que, enfim, ahumanidade entreveja a rota naqual deve pôr o pé, a fim de al-cançar a felicidade que lhe é dadoadquirir neste globo!

Não vos admireis se as comu-nicações que vos dão os Espíritoselevados, apoiadas inteiramente namoral do Salvador, vo-la confir-mando e a desenvolvendo, vos ofe-recem tantos pontos de contato ede similitude com os mistérios dosAntigos. É que os Antigos tinhama intuição das coisas do mundo in-visível e do que deveria acontecer, eque muitos tinham por missão pre-parar os caminhos. Observai e es-tudai cuidadosamente as comunica-ções que recebeis; aceitai o que avossa razão não rejeitar; repeli o quea choca; pedi esclarecimentos sobreas que vos deixam na dúvida. Aítendes a marcha a seguir para trans-mitir às gerações futuras, sem receiode ver desnaturadas as verdades,que separareis sem dificuldade deseu cortejo inevitável de erros.

Trabalhai, tornai-vos úteis aosvossos irmãos e a vós mesmos. Nãopodeis prever sequer a felicidadeque o futuro vos reserva pela con-templação de vossa obra.

Santo Agostinho

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –julho de 1863. Tradução de Evandro No-leto Bezerra.

Sobre as comunicaçõesdos Espíritos

(Grupo Espírita de Sétif, Argélia)

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34 Reformador/Maio 2004

“(...) O egoísmo é sombra emnosso sentimento em forma devaidade e tóxico em nosso racio-cínio na feição de orgulho.”

André Luiz 1

Oadmirável “Médico dos Po-bres”, o nosso sempre queri-do Dr. Bezerra de Menezes,

exclamou, num arroubo de consta-tação filosófica2: “Ah! a Igreja Ro-mana! a Igreja Romana!

O Cristianismo nunca terá tãoformidável inimigo! O materialismonunca terá aliado tão prestimoso!”

Evidentemente, ele assim sepronunciou por inúmeras e bem se-dimentadas razões, entre elas o fatode que os ensinos de Jesus foramenormemente deturpados por boaparte da casta sacerdotal, sempremuito ciosa dos bens materiais e dopoder temporal, embora Jesus tenhaafirmado que o Seu Reino não erana Terra. Tais “ensinos” escamo-teiam a Verdade tão acintosamenteque só poderão ser aceitos em suaindiscutível formatação dogmáticatão-somente por criaturas que abri-ram mão de seus raciocínios, já queem sã consciência são inaceitáveisem seus aspectos impossíveis de se-rem acomodados com um senti-mento íntimo que dá à razão cons-ciência de que ali se encontra a

Verdade. Mas a Verdade não é aqui-lo apregoado por esses pseudo-re-presentantes do Cristo com seus an-cilosados dogmas medievais. Daí arazão de existirem, hodiernamente,inúmeras criaturas que se agitam,perdidas no báratro dos vendavaisdas descrenças, atoladas nos marnéisdo materialismo e nas gândaras docepticismo esterilizante que devasta,que calcina, torturadas pela necessi-dade de crer, mas não tendo ondeacomodar sua crença.

Dentre os muitos “ensinos”(evidentemente equivocados), exis-te numa pastoral de MonsenhorGousset, que foi cardeal-arcebispode Reims, portanto, uma autorida-de religiosa, feita para a quaresmade l865, dentre outros, o seguinteabsurdo3:

“Assim, os seres misteriosos [re-fere-se aos Espíritos e à comunica-bilidade] que acodem ao primeiroapelo do herege, do ímpio ou docrente – o que importa dizer: – dainocência ou do crime – não sãonem enviados de Deus, nem apósto-los da verdade e da salvação, masfatores do erro e agentes do inferno.”

Vejamos o comentário de Kar-dec a tal respeito:

“Estas palavras persuadem queDeus não permite a manifestaçãode bons Espíritos que possam escla-recer e salvar da eterna perdição oherege, o ímpio e o criminoso! So-

mente os prepostos do inferno se lhesenvia, para mais mergulhá-los nolodaçal. Pesa dizê-lo, mas, segun-do a Igreja, Deus não envia à ino-cência senão seres perversos para se-duzi-la!

Essa Igreja não admite entre osanjos, entre as criaturas privilegia-das de Deus, um ser bastante com-passivo que venha em socorro dasalmas transviadas! Para que ser-vem, pois, as brilhantes qualida-des que exornam tais seres? Acaso etão-somente para seu gozo pessoal?E serão eles realmente bons, quan-do, extasiados pelas delícias da con-templação, vêem tantas almas nocaminho do inferno sem que procu-rem desviá-las? Mas isso é precisa-mente a imagem do egoísmo dessespotentados que, impiedosos na far-ta opulência, deixam morrer à fo-me o mendigo que lhes bate à por-ta!

É mais ainda: É o próprioegoísmo arvorado em virtude e co-locado aos pés do Criador!

Mas vós vos admirais que bonsEspíritos venham ao herege e aoímpio, certamente porque vos es-quecestes desta parábola do Cristo:– ‘Não é o homem são que precisade médico.’ Então não tendes umponto de vista mais elevado que odos fariseus daquele tempo? E vósmesmos, vós vos recusareis mostraro bom caminho ao descrente que

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O egoísmo arvoradoem virtude

Rogério Coelho

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vos chamasse? Pois bem: os bons Es-píritos fazem o que faríeis; diri-gem-se ao ímpio para dar-lhe bonsconselhos. Oh! em lugar de ana-tematizardes as comunicações dealém-túmulo, melhor fora bendis-sésseis os decretos do Senhor, admi-rando-lhe a onipotência e bondadeinfinitas.”

Mais adiante, na mesma absur-da pastoral, aduz o “preclaro” car-deal 4:

“Não é indigno de celestes men-sageiros – dizeis – o transmitirem suasinstruções por meio tão vulgar qual odas mesas? Não será ultrajá-los o su-por que se divertem com frivolidadesdeixando a sua mansão de luz para seporem à disposição do primeiro curio-so?”

Eis a belíssima e lógica refuta-ção de Kardec:

“Jesus também deixou a man-são do Pai para nascer num es-tábulo. E quem vos disse que o Es-piritismo atribui frioleiras aosEspíritos superiores? Não; o Espi-ritismo afirma positivamente ocontrário, isto é, que as coisas vul-gares são próprias de Espíritos vul-gares. Não obstante, dessas vulgari-dades resulta um benefício, qual ode abalar muitas imaginações, pro-vando a existência do mundo espi-ritual e demonstrando à saciedadeque esse mundo não é tal, porémmuito diferente do que se julgava.Essas manifestações iniciais eramporventura simples como tudo quecomeça, mas nem por germinar deminúscula semente a árvore deixaum dia de estender virente e copa-da a sua ramagem.

Quem acreditaria que da mi-sérrima manjedoura de Belém pu-desse sair a palavra que havia detransformar o mundo?

Sim! O Cristo é bem o Messiasdivino. A sua palavra é bem a pa-lavra da verdade, fundada na quala religião se torna inabalável, massob condição de praticar os subli-mes ensinamentos que ela contém,e não de fazer do Deus justo e bom,que nela reconhecemos, um Deusfaccioso, vingativo e cruel.”

Como vemos (e podemos vermais) tanto no livro O Céu e o In-ferno quanto no extraordinário opús-culo O que é o Espiritismo, a ma-neira eficiente e irrefragável com aqual o Codificador “pulveriza” to-da e qualquer argumentação dos an-típodas, mostrando quão portento-sa é a Mensagem Espírita que trazJesus de volta em Espírito e Verda-de, consolidando assim a Sua Pro-messa quanto ao Consolador quedeveria vir, mais tarde, para noslembrar os Seus Verdadeiros Ensinose nos ensinar todas as demais coisasque ao Seu tempo Ele não nos po-dia ministrar em virtude de nossaancestral insipiência.

Por tudo isto, e muito maisainda, é que escreveria o nobre Es-pírito Dufêtre, este sim, esclarecidobispo de Nevers5:

“Espiritismo! doutrina conso-ladora e bendita! felizes dos que te

conhecem e tiram proveito dos sa-lutares ensinamentos dos Espíritosdo Senhor! Para esses, iluminadoestá o caminho, ao longo do qualpodem ler estas palavras que lhesindicam o meio de chegarem aotermo da jornada: caridade práti-ca, caridade do coração, caridadepara com o próximo, como para simesmo; numa palavra: caridadepara com todos e amor a Deus aci-ma de todas as coisas, porque oamor a Deus resume todos os deve-res e porque impossível é amar real-mente a Deus, sem praticar a cari-dade, da qual fez ele uma lei paratodas as criaturas.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1XAVIER, Francisco C. Cartas do Coração, pe-

lo Espírito André Luiz. Ed. Lake.

2EQUIPE DA FEB. Bezerra de Menezes –

Ontem e hoje. 3. ed., Rio de Janeiro: FEB,

2001, p. 32.

3KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 47. ed.,

Rio de Janeiro: FEB, 2001, 1a Parte, cap. X,

item 16, p. 150.

4Idem, ibidem, item 19, p. 154.

5Idem, O Evangelho segundo o Espiritismo.

121. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. X,

item 18, p. 180.

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1 RevistaEspírita do

Brasil

ª

(21) 2589-6020

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“Se alguém não tem cuidado dosseus e, principalmente, dos dasua família, negou a fé e é piordo que o infiel.”

Paulo – (I Timóteo, 5:8.)

Um dos objetivos da reencarna-ção é o de possibilitar ao Es-pírito devedor novas oportu-

nidades de remissão. Desse modo,o Espírito nasce como homem oumulher conforme a tarefa que lhecabe realizar. Uma vez aqui, todosaspiramos à felicidade. Alguns espe-ram encontrá-la cedendo à inclina-ção sacerdotal, tendo uma vida ce-libatária e trabalhando em prol dossemelhantes. Mas, a grande maioriaespera encontrá-la mesmo é no ca-samento, na constituição da famí-lia.

Sem sombra de dúvidas, o Laré a escola das almas. Mas, qual a di-ferença entre Casa, Família e Lar? ACasa é a habitação, o cimento, ma-deira, tijolos, móveis. A Família sãoas pessoas que vivem, em geral, namesma casa: pai, mãe, filhos, gen-ro, nora, avós e outros. A família éum grupo de Espíritos necessitados,em compromisso inadiável, para re-paração e crescimento geral. Já o laré o sentimento de união que envol-ve a família em prol da harmoniadoméstica. Temos, então, no lar,dedicação, renúncia, harmonia, ze-lo, compreensão, amor.

Se não há entendimento entreas pessoas que vivem juntas, pode-mos ter uma casa, uma família, masnão termos um lar. O ideal será po-dermos dizer: “Lá em casa, na nos-sa família, temos um lar.” Masquantos de nós podemos dizer isso?O que temos feito para tornar nos-sa Casa um verdadeiro Lar?

A melhor escola de preparaçãodas Almas reencarnadas na Terra éo Lar, onde o indivíduo deve rece-ber as bases do caráter e do senti-mento.

João Henrique Pestalozzi, aoser procurado por uma mulher, queestava preocupada quanto à épocade iniciar a educação de seu filho,perguntou-lhe: – Qual a idade dacriança? – 3 anos – respondeu amulher. – Então, vá correndo, con-cluiu Pestalozzi, porque você já es-tá três anos atrasada. Dentro doconceito reencarnacionista, diría-mos que aquela mulher estava trêsanos e nove meses atrasada em suatarefa educacional.

Para que a família exerça a fun-ção de educar, necessário se faz tercomo infra-estrutura o amor recí-proco entre seus membros. Neces-sita ter como pedras angulares a au-tencidade, onde os membros co-nhecem o papel de cada um: a mãecomo força integrativa do lar; o paiexercendo autoridade; e os filhos,espera-se que aprendam a ven-

cer o egoísmo e cultivem a frater-nidade.

Para que os pais exerçam a as-sistência, necessária se faz sua pre-sença no lar não só de corpo, masde alma, para dar aos filhos cober-tura moral. Outra pedra angular éa harmonia que resulta de valorescultivados pelos pais e da autodisci-plina dos filhos, enquanto a estabi-lidade compreende a definição cla-ra dos ideais visados, a determi-nação de um quadro de valores aatingir. E como cúpula do redutodoméstico, a solidariedade que seexprime pelo calor humano, pelocompartilhamento de interesses.

Na questão 582, de O Livro dosEspíritos, Kardec pergunta: “Pode-seconsiderar como missão a paternida-de?” E os Amigos espirituais respon-dem: “(...) Deus colocou o filho soba tutela dos pais, a fim de que esteso dirijam pela senda do bem (...).”

Apesar dos cuidados que lhedispensaram, os pais não são res-ponsáveis pelo transviamento dofilho que enveredou pelo caminhodo mal, cedendo às suas propen-sões do passado. Porém, se conse-guirem desviá-lo do mau cami-nho, maior mérito terão. Contu-do, para isso, têm que trabalharcom persistência, buscando com-preender o filho e colocando emprática os mecanismos de educa-ção e amor...

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A influência dos pais nacriação dos filhos

Eurípedes Barbosa

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Façamos uma tomada de cons-ciência das nossas responsabilidadespara que, no futuro, não tenhamoso dissabor de vê-los desviados dobom caminho.

“Quantos pais são infelizescom seus filhos, porque não lhescombateram desde o princípio asmás tendências! Por fraqueza, ouindiferença, deixaram que neles sedesenvolvessem os germens do orgu-lho, do egoísmo e da tola vaidade,que produzem a secura do coração;depois, mais tarde, quando colhemo que semearam, admiram-se e seafligem da falta de deferência comque são tratados e da ingratidãodeles.” (Allan Kardec, O Evange-lho segundo o Espiritismo, cap. V,item 4, Ed. FEB.)

Mas o que devemos fazer parapreservar os vínculos familiares? Ini-cialmente, devemos priorizar asnecessidades fundamentais de nos-sos filhos. Devemos preocupar-noscom o futuro deles, mas proporcio-nando-lhes, no presente, um am-biente repleto de amor, compreen-são, ternura, paz e alegria. É im-prescindível a presença dos pais efe-tiva e afetiva no lar.

A mãe, principalmente, deveser a fonte perene de afetividade. Oamor materno é tão indispensávelquanto o Sol o é para a vida dasplantas. Ela tem a sublime missãode ser a despenseira de afeto. Se-gundo a Psicologia, a carência ouinsuficiência do amor materno po-de ser a responsável por distúrbiospsicológicos do adulto, prejudican-do sua adaptação à sociedade. Amãe precisa, ainda, estar preparadapara ver o filho crescer, desprender--se de seus braços, buscar outros re-

lacionamentos, desejar auto-afir-mar-se. Mas, o amor de mãe, paraser autêntico e corresponder aosdesígnios da Providência, há deser sobretudo doação, nunca pos-sessão.

“O trabalho da mulher é sem-pre a missão do amor, estendendo--se ao infinito.” (Waldo Vieira,Conduta Espírita, pelo Espírito An-dré Luiz, cap. 1, FEB.)

Por outro lado, o pai deve sa-ber exercer a autoridade paterna.Pais existem que exercem domínioabsoluto e cruel sobre os filhos.Valem-se dos métodos repressivosda ameaça, da surra, da crítica hu-milhante, das proibições sistemáti-cas. O que o pai consegue com es-sa atitude é uma submissão cega, oque fará dos filhos indivíduos tími-dos, com sentimentos de inferiori-dade, ou revoltados, futuros tiranosda própria prole.

Há pais que deixam os filhos àsolta (e aqui estou falando de pai emãe), permitindo-lhes tudo, satis-fazendo a todos os seus desejos. Au-toridade legítima é o processo peloqual o pai ajuda o filho a crescer e aamadurecer, para que chegue à au-tonomia, sabendo que a liberdadetem um preço: a responsabilidade.Devemos ter em mente que a auto-ridade legítima é a força moral queo pai deve ter sobre o filho.

“Ó espíritas! compreendei agorao grande papel da Humanidade;compreendei que, quando produzisum corpo, a alma que nele encarnavem do espaço para progredir; in-teirai-vos dos vossos deveres e pondetodo o vosso amor em aproximar deDeus essa alma; tal a missão que vos

está confiada e cuja recompensa re-cebereis, se fielmente a cumprirdes.Os vossos cuidados e a educação quelhe dareis auxiliarão o seu aperfei-çoamento e o seu bem-estar futuro(...).” Santo Agostinho. (Allan Kar-dec, O Evangelho segundo o Espi-ritismo, cap. XIV, item 9, FEB.)

Assim, os pais têm grande in-fluência na criação dos filhos. Va-mos exercer nosso papel no lar comsegurança e continuidade. Tratandotodos com igual solicitude, semnunca demostrar preferência. Cas-tigando quando preciso, mas saben-do também desculpar, valorizar eincentivar. Temos que ser coerentes,mantendo nosso ponto de vistaacerca do que nos pareça certo ouerrado. Procuremos ser cordiais,promovendo o afeto, a estima e acamaradagem, superando conflitose mantendo nosso amor ante os er-ros dos filhos. Sabendo discernirentre o que é essencial e o que é se-cundário. Sejamos conciliadores,acatando as opiniões do grupo fa-miliar, ao invés de impor apenas asnossas.

Para que cumpramos com nos-sa missão enquanto pais, devemosacompanhar de perto a vida de nos-sos filhos, evitando dar mostras deimpaciência, irritação ou cólera.Dando “sim” quando julgarmosque possamos dá-lo, tendo a cora-gem de dizer e manter o “não”,sempre que isso se faça necessário.

Por fim, coloquemos em práti-ca os ensinamentos espíritas. Procu-remos estar sempre bem infor-mados, para saber interpretar osacontecimentos do mundo e repas-sá-los aos nossos filhos. Tenhamosprestígio com eles por meio de nos-sos exemplos.

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Otrabalho assistencial realiza-do pelo Movimento Espíritajunto às populações social-

mente excluídas é bastante amplo,uma vez que abrange desde umapequena e eventual distribuição deagasalhos e gêneros alimentícios atéobras sociais de grande vulto, extra-polando os muros das instituiçõesespíritas para ligar-se às atividadesdo Poder Público e de outras insti-tuições, na esfera da Assistência So-cial.

No desenvolvimento do seuprograma de ação, o Conselho Fe-derativo Nacional (CFN) da Fede-ração Espírita Brasileira aprovou di-retrizes e recomendações que cons-tam dos documentos A Adequaçãodo Centro Espírita para o melhoratendimento de suas finalidades(ACE) e Orientação ao Centro Es-pírita (OCE).

A respeito do Serviço de Assis-tência e Promoção Social, comouma das atividades básicas dos Cen-tros Espíritas, esses documentos re-comendam:

Promover o serviço de assistên-cia social espírita, assegurando suascaracterísticas beneficentes, preven-tivas e promocionais, conjugando aajuda material e espiritual, fazen-do com que este serviço se desenvol-va concomitantemente com o aten-dimento às necessidades de evange-lização. (ACE, II-h.)

O Serviço Assistencial Espíritadas entidades deverá ser realizadointegradamente, com orientaçãodoutrinária e assistência espiritual,sem imposições, de modo que possaconstituir-se em um dos meios paraa libertação espiritual do homem,finalidade primordial da DoutrinaEspírita. (OCE, IX-a.)

No decorrer dos trabalhos dasComissões Regionais, logo se evi-denciou a necessidade de ser elabo-rado um documento para orienta-

ção das atividades de assistência so-cial desenvolvidas pelos Centros Es-píritas. Isso porque essas atividades,quando marcadas por traços emi-nentemente assistencialistas, numavisão superficial das carências hu-manas, buscam atender aos assisti-dos apenas em suas necessidadesemergenciais, criando dependênciacontinuada, pela desconsideraçãoda característica fundamental doSAPSE, que é educar e promover oser humano sob as luzes da Doutri-na Espírita.

A tarefa de construção do do-cumento em referência representouo esforço comum dos companhei-ros responsáveis pela coordenaçãoda área de Assistência e PromoçãoSocial Espírita em todo o País. Umavasta bibliografia foi consultada eprocurou-se dar atenção especial àsexperiências significativas das Fede-rativas Estaduais. As recomendaçõesdo CFN constantes do opúsculoOrientação ao Centro Espírita ser-viram de diretriz para a elaboraçãodo referido instrumento orientador,que, em verdade, explicitou e de-senvolveu o conteúdo daquele opús-culo.

Assim é que surge o Manualde Apoio para as Atividades doSAPSE, lançado no Encontro Na-cional de Assistência e PromoçãoSocial Espírita, ocorrido no Rio deJaneiro, em agosto de 2000. Com-põe-se de sete capítulos, abrangen-do os seguintes temas: EvoluçãoHistórica da Assistência Social;

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A propósito do Manual do SAPSE*

José Carlos da Silva Silveira

*O Manual de Apoio para as atividades doSAPSE encontra-se no site www.febnet.org.brna parte referente a material do apoio ao Cen-tro Espírita.

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Fundamentação Evangélico-Dou-trinária Básica, Características Ge-rais, Finalidade Educativa, Obje-tivos, metodologia de ação e orga-nização do SAPSE; elaboração deplano de ação para as suas ativida-des; entrosamento do SAPSE comas diversas áreas do Centro Espíri-ta; conceitos e fundamentos consti-tucionais e legais da Assistência So-cial. A par das referências biblio-gráficas que fundamentam todo oseu conteúdo, possui o Manualuma listagem de obras recomenda-das para aprofundamento do as-sunto; doze anexos com modelosde instrumentos necessários para aorganização do SAPSE, tais comocartas, formulários, fichas diversas,e ainda o termo de adesão ao Ser-viço Voluntário.

As Federativas Estaduais, desdeo lançamento do Manual de Apoiovêm-se desdobrando no trabalho desua divulgação. Urge, entretanto,adotar medidas no sentido de de-senvolver estratégias para sua utili-zação pelos Centros Espíritas, como devido acompanhamento pelacoordenação da área do SAPSE emcada Estado. Esse o serviço priori-tário, que deve concentrar a nossaatenção no momento, o que pre-tendemos fazer no ciclo de reuniõesdas Comissões Regionais deste anode 2004.

Só pelo empenho na execuçãodessa tarefa desafiadora é que tere-mos condições de avaliar os resulta-dos da aplicação do Manual doSAPSE – cujo preparo reclamou aunião dos nossos esforços ao longode quatro anos de trabalho –, a fimde aprimorá-lo e enriquecê-lo pormeio das experiências que foremsendo colhidas com a sua imple-mentação.

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AHumanidade, em sua trajetó-ria histórica, sempre necessi-tou de paradigmas na busca

de diretrizes para seus questiona-mentos. Esses paradigmas (mode-los, padrões), que foram utilizadosnas áreas da religião, da política, daciência, sempre necessitaram passarpor revisões e atualizações, vistoque os conhecimentos sempre seampliaram na medida do progres-so realizado. Existe, entretanto, umconjunto de princípios, na área daespiritualidade do ser humano,que pode formar um paradigmauniversal, aplicável a todos os seres,de todas as nações, de todos os cre-dos e de todos os tempos, baseadonas leis da Natureza. É o paradig-ma espírita, resultante das pesqui-sas realizadas por Allan Kardec atra-vés de diversos médiuns e diversosEspíritos, dentro do parâmetro daconcordância universal do ensinodos Espíritos.

Para estabelecer este paradigmaespírita torna-se necessário alinharos princípios encontrados nas obrasda Codificação Kardequiana, e quese acham sintetizados em O Livrodos Espíritos:

1 – Deus: Criador de todas ascoisas; 2 – Espíritos: seres inteli-gentes da Criação; 3 – Imortalida-de da alma: a alma (Espírito encar-nado) jamais deixará de existir;4 – Dualidade dos corpos da alma:(corpo físico e corpo perispiritual);

5 – Pluralidade das existênciascorporais: o ser inteligente e imor-tal passa por uma série de existên-cias; 6 – Pluralidade das dimen-sões espirituais (pluralidade dosmundos habitados); 7 – Penas egozos futuros da alma de acordocom o mérito de cada um; 8 –Evolução progressiva moral e inte-lectual de todos os Espíritos, tan-to encarnados quanto desencarna-dos; 9 – Ética Cristã: conjunto dosvalores morais cristãos: caridade,humildade, mansidão, compaixão,perdão, pureza, bondade, verdade,honestidade, resignação, esperança,trabalho perseverante, paciência,tolerância, solidariedade, temperan-ça e domínio próprio. O Reino deDeus em primeiro lugar. Tudo issoincluído na busca da santificaçãoprogressiva, da verdadeira evolução;10 – Lei de Causa e Efeito: tudoque o homem semear (de bem oude mal) ele colherá; 11 – Comuni-cabilidade dos Espíritos via me-diunidade.

Mediante os conceitos supra-citados, entramos no conhecimen-to do paradigma espírita, o qualrepresenta uma revolução conscien-cial, que dilata a compreensão davida e da morte, amplia a fraterni-dade e a solidariedade entre todose representa uma realidade maisampla, desconhecida pela maioriadas pessoas. Este paradigma, que éa soma dos conceitos básicos doEspiritismo, faz parte das leis daNatureza, as quais são leis deDeus.

Paradigma espíritaMarcus Vinícius Pinto

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Aviolência instalada no íntimoda criatura humana, no seuinício, por uma necessidade à

sua sobrevivência, é um dentre osgrandes flagelos morais existentesna Terra, pedindo solução de ur-gência.

As maiores vítimas são as crian-ças e as mulheres, sofrendo na pró-pria carne as conseqüências de umpassado delituoso, é bem verdade,porque não há dor sem causa, atualou remota.

Todavia, o que choca, e va-mos nos deter neste ângulo daquestão, é o estímulo à violência aque estão sendo levadas as crian-ças e os jovens. A ela, violência, re-correm as crianças e se lhe adap-tam, por ser excessivamente mos-trada pela mídia.

É admissível e até lógico que aspessoas, vivendo de sua propagação,que se locupletam com a sua exibi-ção, rebelem-se contra essa realida-de mais do que palpável, e tudo fa-çam para trazer para o atual con-texto de vida violenta outras justifi-cativas, pontos de vista insustentá-veis, conclusões apressadas e, porconseguinte, destituídas de razão

para explicar o recrudescer da vio-lência na criança e no jovem, prin-cipalmente.

A ONU (Organização das Na-ções Unidas), preocupada com aonda de violência mostrada clara-mente às crianças e adolescentesatravés de desenhos animados, du-rante o período de uma semana, emagosto de 1998, gravou, até ondelhe foi possível, filmes supostamen-te inocentes, e por isso mesmo ofe-recidos aos olhares infantis.

De seis emissoras de TV foramcolhidas 196 fitas, cujo tempo totalde duração chegou a 1.667 horas.As cenas de violência iam do assal-to ao estupro. A investigação foiacompanhada por sociólogos, juris-tas e educadores. Foram detectados1.432 crimes durante aquela sema-na, numa média de 20 crimes poruma hora de exibição dos desenhos.

Uma criança, dessarte, assistin-do a duas horas diárias desse tipo dedesenho animado (cálculo feito porbaixo), está exposta a 40 cenas deviolência. Num mês sobe para 1.200,e em um ano assiste a 14.400.

Sejamos lógicos: se a mídia ele-trônica é mundialmente reconheci-da como poderoso meio de divul-gação e de influenciação no psiquis-mo humano, levando os interessa-dos, que crêem na sua eficiência de

divulgar, a consumirem milhões dedólares em publicidade para indu-zir as pessoas a comprarem os pro-dutos por ela propagados, por querazão não seria ela também eficien-te no que diz respeito à violência?Somente no aspecto violência a mí-dia eletrônica se mostraria nula? Porfavor senhores, não estão lidandocom seres irracionais!

Nós, espíritas, temos fundadasrazões para afirmar, convictos, queuma propaganda como a que é fei-ta da violência nos veículos de pro-pagação reforça, e substancialmen-te, o que o Espírito reencarnado játraz de vidas anteriores, estimulan-do-o à violência, por trazer a into-xicação do morbo em suas estrutu-ras psicológicas mais sutis.

O Espírito é herdeiro de simesmo, ele é o seu passado. O pre-sente e a sua aparência são-lhe umamáscara.

A Dra. Paula Cunha Gomide,da Universidade do Paraná, segun-do lemos num periódico espírita denovembro de 1998, ilustra exem-plarmente esse quadro caótico so-cial que envolve crianças e jovens.Foram divididos 160 jovens adoles-centes, entre 14 e 16 anos de idade,em três grupos. Cada qual assistia aum determinado filme. Dois gru-pos só viram filmes com cenas de

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A violência e seus efeitosna criança

Adésio Alves Machado

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violência e um sem nenhuma. Apósas sessões, foi promovido um cam-peonato de futebol. Os estudantesdos grupos dos filmes de violênciase mostraram truculentos, propen-sos a chutes desleais, a xingamentose empurrões.

É óbvio que não é o filme oúnico fator indutor da criança, dojovem e do adulto à violência, masas pesquisas são por demais conclu-dentes do seu papel intoxicante nasmentes incautas, despreparadas.

A fase de violência na criaturahumana mostra-se como um meca-nismo instintivo de defesa que seinstalou e teve predominância nafase primária do Espírito, com mar-cantes repercussões, ainda hoje.

Sem motivo algum, outras ve-zes por questões de somenos impor-tância, a agressividade explode noser, causando-lhe sérios danos quenão só o prejudicam, mas tambémà sociedade que o tem como mem-bro.

A Terra virou um vasto campode batalha perigoso, constatando-seque a ausência da guerra entre asgrandes potências não arrefeceu abelicosidade entre as pessoas.

Hoje, como ontem, golpeia-seprimeiro por instinto de defesa, an-tes de se ser agredido.

A violência e a agressividade,segundo Joanna de Ângelis, teminício no íntimo desgovernado dascriaturas, distantes que elas seacham da disciplina e do amor exa-rados por Jesus. São pessoas envol-tas nas faixas sombrias primitivasdo desenvolvimento moral. Nãosouberam desatar os liames instin-tivos que as mantêm na retaguardaevolutiva.

A veneranda Mentora estabele-ce, com a sua lucidez psicológica

sobre o ser humano, uma diferençaentre agressividade e violência, mos-trando que se pode ser agressivosem ser violento. “A agressividade –diz ela – é natural na criatura,faz-lhe parte da vida e, bem condu-zida, responde pelas conquistas dopensamento, da arte, da ciência, datecnologia, da religião, quando osidealistas recorrentes a ela o fazemà manutenção do aspecto excelentedos propósitos que objetivam. Ela éforça promotora da luta edificante,sendo um estímulo à coragem.”*

Já a violência, que é típica so-mente no ser humano, deriva dasua maneira de pensar, induzin-do-o a tomar, agredindo, o que po-deria pedir. Acha o violento que es-ta é a única forma de conseguir oque almeja. Deste modo, toda vio-lência é uma forma de agressivida-de.

“A violência costuma tornar-seloucura e hediondez”, afirma a ve-neranda Mentora.

Reprime-se a violência quandoela deveria ser diluída com a educa-ção da agressividade. O que é o es-tupro, o assassínio senão formas deagressividade não dominadas! Oinstinto sexual sem governo conduzao estupro; o ódio, em conluio como egoísmo, sem o freio do raciocí-nio, da razão fraternal, leva ao assas-sínio.

Haveremos de vencer a violên-cia com a mansuetude, a pacifica-ção, a humildade, a paciência, abrandura, que são as característicasvivenciadas por Jesus, conseqüente-mente, os recursos mais positivospara o enfrentamento da violência.O exemplo de Gandhi junto aos in-gleses é bem marcante.

Tiremos nossas conclusões.Uma pergunta, entretanto, quere-mos deixar no ar: você vai conti-nuar dando de presente aos seus fi-lhos e afins armas de brinquedo epermitindo, livremente, que elesassistam a filmes e desenhos anima-dos de violência?

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*Livro Sendas Luminosas, lição 24, Edição

da Casa Editora Espírita Didier, Votuporanga,S. Paulo, psicografia de Divaldo Pereira Fran-co, pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Reformador no Centro EspíritaA FEB faz, mensalmente, remessa gratuita de Reformador aos Cen-

tros Espíritas de todo o Brasil, quer estejam ou não ligados às respec-tivas Entidades Federativas estaduais, com base no cadastro que pos-sui.

Para que essa oferta atinja seus objetivos de divulgação da Doutri-na e do Movimento Espírita, solicitamos aos dirigentes dos CentrosEspíritas que façam campanha de assinatura de Reformador junto aosseus trabalhadores.

Pedimos às Federativas que nos informem se as Casas Espíritas doEstado estão recebendo a Revista, assim como os nomes e endereçosdas novas instituições.

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Pernambuco: XVI INTECEPEA Federação Espírita Pernambucana promoveu naÁrea Metropolitana de Recife, nos dias 28 e 29 defevereiro, o seu XVI INTECEPE – Integração dos Cen-tros Espíritas de Pernambuco – com o tema centralAcontecimentos na Casa Espírita. O INTECEPE terádesdobramentos, com o mesmo tema, nas cincograndes regiões do Estado, e será realizado nasseguintes cidades: Mata Norte – Nazaré da Mata; Ma-ta Sul – Gameleira; Agreste Norte – Limoeiro; AgresteCentro Meridional – Garanhuns; e Serão – Arcoverde.Participará, nessas cidades, a confreira Edmár Santos,coordenadora, na FEP, do Estudo Sistematizado daDoutrina Espírita (ESDE).

ABRAPE: Psicologia e EspiritismoA Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas realizaráem 15 e 16 de maio corrente, na Federação Espíritado Estado de São Paulo, o II Congresso Brasileiro dePsicologia e Espiritismo, com o tema Psicologia e Fé,a fim de debater e proporcionar a reflexão sobre o pa-pel da fé e como a Psicologia ajuda a esclarecer osignificado da espiritualidade na vida do homem.Inscrições e outras informações nos telefones (11)3898-2125 ou 3898-2139.

Colômbia: Congresso EspíritaCom o apoio da Confederação Espírita Colombiana(CONFECOL) e a organização da Federação Espíritade Cundinamarca, realizou-se em Bogotá, no períodode 8 a 10 de abril, no Grande Auditório de Compen-sar, o X Congresso Espírita Colombiano, com o temacentral: O legado de Kardec para a Humanidade. Par-ticiparam do evento o Secretário-Geral do CEI e Pre-sidente da FEB, Nestor João Masotti, e o tribuno Di-valdo Pereira Franco.

Paraná: 50 anos com Divaldo Franco A Federação Espírita do Paraná comemorou, no mêsde abril, o Cinqüentenário de Oratória Espírita deDivaldo Pereira Franco no Paraná, quando ele proferiuuma série de palestras nas cidades de Londrina (dia19), Maringá (dia 20), Cascavel (dia 21) e PontaGrossa (dia 22), cuja realização esteve a cargo das

Uniões Regionais Espíritas (UREs) a que pertencemas referidas cidades.

Conferência Estadual Espírita: O período de rea-lização desse evento foi de 23 a 25 de abril passado, enão de 21 a 23 daquele mês, como, por um lapso, in-formamos em março, nesta seção.

Rádio Rio de Janeiro na InternetA Rádio Rio de Janeiro tem toda a sua programaçãoconhecida na Internet. Durante as 24 horas do dia,em qualquer parte do mundo, os ouvintes terão aces-so a entrevistas, programas interativos e doutrinários.Basta acessar www.radioriodejaneiro.am.br e clicar olink “Ouça nossa programação”.

Niterói (RJ): Mês de Cultura EspíritaO Conselho Espírita de Unificação de Niterói pro-moveu o I Mês de Cultura Espírita de Niterói, comuma série de eventos em comemoração ao Bicen-tenário de Nascimento de Allan Kardec, dos quaisdestacamos: 1. Em 1o de abril – Descerramento dePlaca da Praça Professor Rivail, na praia de Pira-tininga, em Monumento de granito e bronze; 2. Em18 de abril, na Câmara Municipal – Sessão SoleneComemorativa do Dia do Livro Espírita, criado pelaLei 2067/03, com conferências de César Soares dosReis e Hélio Ribeiro Loureiro; 3. Dia 30 – Palestrade Suely Caldas Schubert sobre o Bicentenário deAllan Kardec.

Ribeirão Preto (SP): XXII CONRESPIRealizou-se em Ribeirão Preto, de 21 a 24 de fe-vereiro, nas instalações da Escola Estadual Prof.Alcides Correa, a XXII CONRESPI – Confraterniza-ção Regional Espírita –, importante evento regionalespírita do Estado de São Paulo, que conta com a par-ticipação ativa das famílias espíritas (pais e filhos),organizado pela USE Regional de Ribeirão Preto.O evento abordou o tema central Liberdade, um Di-reito do Homem e contou com a participação de cer-ca de 600 pessoas. O Presidente da União das So-ciedades Espíritas do Estado de São Paulo (USEEstadual), Attílio Campanini, prestigiou a abertura daCONRESPI.

SEARA ESPÍRITA

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