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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 1 MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

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Cartas Ninguém pode ganhar um pouquinho a mais, que é considerado privilegiado, um marajá.

Filiado à FENAJUFE e à CUT

SEDE PROVISÓRIA: Senador Dantas 117 -Sala 1541 - Centro - Rio de Janeiro-RJCEP 20031-911

TEL./FAX: (21) 2215-2443PORTAL: http://sisejuferj.org.brENDEREÇO: [email protected]

DIRETORIA: André Gustavo Souza Silveira daSilva, David Batista Cordeiro da Silva, Dulavimde Oliveira Lima Júnior, Flávio Braga Prieto daSilva, João Ronaldo Mac-Cormick da Costa,Leonor da Silva Mendonça, Lucilene Lima Araújode Jesus, Márcio de Souza Marques, MárcioHungerbühler, Nilton Alves Pinheiro, Otton Cid daConceição, Renato Gonçalves da Silva, Ricardode Azevedo Soares, Roberto Ponciano Gomes deSouza Júnior e Valter Nogueira Alves.

IDÉIAS EM REVISTAJORNALISTA RESPONSÁVEL:

Mário Augusto Jakobskind (RJ 13.389/JP)

REDAÇÃO e REVISÃO:Max Leone (Mtb 18.091)

ASSESSORIA POLÍTICA:Márcia Bauer

PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO:Claudio Camillo (Mtb 20.478)

ILUSTRAÇÃO:Latuff

IMPRESSÃO:PALAVRAS PINTADAS Editora e Gráfica Ltda.

(6.500 exemplares)

As matérias assinadas são de

responsabilidade exclusiva dos autores.

PARTICIPE da Idéias em Revista! Mande sua colaboração para [email protected]

Valeu SISEJUFE-RJ !

A luta foi grande, difícil, árdua esofrida, mas valeu a pena. Sabemos quea nossa pequena e merecida remune-ração será motivo de críticas pelos maisdiversos setores da sociedade, princi-palmente daqueles que estão acostu-mados a concentrar a riqueza em suasmãos, conforme acontece desde que afamília real portuguesa chegou a estepais. A maioria da população não temconsciência de que vivemos num paísque tem por obrigação remunerar me-lhor seus trabalhadores. Foiconvencida de que ganhar um míserosalário, baseado no mínimo é o máxi-mo a que tem direito. Não consegue

PCS: Vitória da luta da greve no piquete 2

Categoria elege delegados para VI Congrejufe 6

Fenajufe: 1º Enconto Nacional de Gênero 7

Ministros do STF votam contra os Quintos 8

Aposentadoria especial aprovada na CAS 9

Toda palavra guarda uma cilada 10

Que tudo se realize no ano que vai nascer 11

a (i)lógica do capital financeiro 12

Foucault e o Assédio Moral 13

Apoio à soberania do povo cubano 14

A sombra de Pinochet 15

A morte de um canalha 16

Governo faz justiça com terras indígenas 17

Exposição América Nativa 18

O ódio à esquerda e aos latino-americanos 20

Entrevista com Eduardo Galeano 21

O lado obscuro da World Wildlife Fondation 24

Miriam Leitão, a Controladora Geral da União 25

Lula discute rumos do novo mandato 26

Perspectivas da CUT para 2007 27

Neoliberalismo no futebol 28

Desenvolvimento com sustentabilidade 29

O segundo governo Lula 30

Ninguém segura Alexandre Gracinha 31

Prisão de Muñoz: violência contra jornalismo 32

Israel adota o qua África do Sul deixou 33

Golpe de Estado petrolífero no 11 de setembro 34

Argentina recupera ex-Centro Clandestino 35

Fausto Wolff: No fim da história o índio morre 36

refletir que os baixos salários que re-cebe são o combustível que mantém aatual concentração de renda que colo-ca o Brasil na vergonhosa posição deum dos líderes de concentração de ren-da do mundo. Ninguém pode ganharum pouquinho a mais, que é conside-rado privilegiado, um marajá, já que amaioria da população ganha, quandopode o salário mínimo. Tenho fé queum dia tudo isso mudará e todos osbrasileiros terão um salário digno quemerecem, para gozar do lazer com fa-miliares e filhos da forma que mere-cem.

Um abraço a todos, Parabéns,José Mauro da Silva Rio de Janeiro.

Curso de História da ArteGostaria de parabenizar a atual dire-toria pela iniciativa de oferecer aos sin-dicalizados o Curso de História daArte que, infelizmente, está se encer-rando. Vamos ficar com saudades.Aproveito para solicitar a vocês o exa-me da possibilidade de que haja novocurso nesta área, nos moldes do quefoi oferecido ano passado. O cursofoi, realmente, extremamenteenriquecedor. A professora escolhidapara ministrá-lo, Juliana Rodrigues, semostrou bastante atualizada, didáti-ca e disponível para nos atender sem-pre que solicitada. Se fosse possível

renovar o contrato com ela, seria óti-mo. Fica, aqui, a sugestão. Talvez pu-déssemos fazer um módulo sobre ArteBrasileira. Tenho certeza de que o in-teresse no tema não é só meu. Casoqueiram ratificar a idéia através deuma pesquisa, estou certa de quemuitos companheiros da atual turma,bem como novos interessados, mos-trarão bastante disposição em inte-grar novo grupo.

Atenciosamente,Maria de Fátima Esteves Bandeira

de MelloTécnica Judiciário do TRF

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4 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

epois de quase dois anos demuita luta, finalmente, nossoPlano de Cargos e Salários, oPCS 3, agora é lei. E seu núme-

ro oficial 11.416 (a íntegra do textopode ser encontrada em http://sisejuferj.org.br). Somente a luta tor-nou o projeto realidade. O PCS é fru-to de uma campanha continuada, devárias paralisações, muito lobby e deuma greve de mais de 60 dias, que foi

PCS: Vitória da luta, Mobilização da categoria e estratégia da FENAJUFE e do SISEJUFE-RJ transformam sonho em realidade

decisiva na hora em que o projeto es-teve ameaçado. Como tudo que nósconquistamos – o PCS 2, a GAJ de 30%,os 11,98%, o juros dos 11,98%, os quin-tos – é fruto de luta, de organização,de persistência, de negociação, desaber que a única coisa que cai do céué chuva, todo o restante tem de serconquistado na pressão.

Está de parabéns a categoriapor atender ao chamado da

FENAJUFE e do SISEJUFE-RJ e ter idopara a rua brigar pelo projeto. Masestá de parabéns também por ter se-parado o joio do trigo, não caindona provocação de quem tentoudesestabilizar a greve e jogar a con-fiança da categoria contra a direçãodo movimento.

É bom lembrar que a oposição,que difamou a FENAJUFE e oSISEJUFE-RJ foi a maior responsável

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 5MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

da greve, do piquete

pelo atraso do projeto, já que insistiuque não deveríamos aceitar este PCS.A oposição achava que deveríamos co-meçar do zero, e apostar em umpropalado plano de carreira de SãoPaulo, que era um arremedo pioradodo nosso PCS (dentre outras coisas, oprojeto de São Paulo, quebrava a pari-dade com uma louca ascensão horizon-tal). Eles, da oposição, votaram contrao projeto no Rio, onde foram derrota-dos por 70% a 30% na assembléia quedecidiu pelo envio do projeto, vota-ram contra na Reunião Ampliada deBrasília, em janeiro de 2005 (quando jáhavia condições de envio do projeto),votaram contra na plenária de Vitória,

em maio de 2005, quando foram nova-mente derrotados. A direção daFENAJUFE, tentando a unidade, adiouo envio do projeto para lutar unida. Aoposição não aceitou e só entrou nagreve do projeto quando viu que o PCSseria vitorioso. Mas continuou a difa-mar o projeto e a Federação, dividin-do a categoria e minando a luta. Toda-via, nossa categoria não caiu na provo-cação e em sua maioria seguiu a orien-tação da FENAJUFE e do SISEJUFE-RJ,conquistando este projeto, por meiode uma estratégia sábia de luta, pres-são e lobby.

Fica a lição, não acreditem emboatos. Informações? Só do

SISEJUFE e da FENAJUFE, o restoé politicagem, da grossa, para fa-zer palanque e atrapalhar a luta dacategoria. Nosso PCS é uma gran-de vitória, nos garante 60% de au-mento, começa a discussão de car-reira, nos coloca no topo da car-reira do funcionalismo. O planodeve ser pago em todos os tribu-nais, na íntegra, em breve, já que averba já foi liberada e enviada paraos tribunais.

Agora vamos começar a discutirnossa carreira, tentando outras con-quistas, como a extensão do Adicio-nal de Qualificação para a graduaçãoe a jornada de trabalho de 6 horas

Parcelamento PCS conforme substitutivo – 1ª, 2ª e 3ª parcelas

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6 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Parcelamento PCS conforme substitutivo – 4ª, 5ª e 6ª parcelas

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 7MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Parcelamento FC CJ

Observações:Os valores do Anexo VII, do texto substitutivo, são menores que os valores acima das CJ de 1 a 4Opção Carreira Efetiva.

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8 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

a avaliação da diretoria doSISEJUFE-RJ, este será um dosmaiores Congressos da históriada FENAJUFE, muito importante

do ponto de vista das perspectivas deluta para o próximo período, quandoserá discutido o nosso plano de carrei-ra, no qual tentaremos implementar ajornada de 6 horas.

Na contramão do movimento, a Cha-pa 2 chegou a entrar com recurso paraanular a assembléia. A diretoria doSISEJUFE-RJ não acatou o pedido, porentender que a reunião foi legítima,com a participação de servidores de to-

Congresso Duas chapas disputaram as vagas de delegados

Categoria elege representantespara o VI Congrejufe

dos os tribunais e com o quórum regi-mentalmente pedido pela Federação.

O VI CONGREJUFE será realizado

O SISEJUFE-RJ realizou assembléia no dia 7 de dezembro de 2006 para eleger suadelegação para o VI Congresso Nacional da FENAJUFE (VI Congrejufe). Participaram dareunião 120 servidores sindicalizados, ultrapassando o quórum necessário, que era de

117. Duas chapas disputaram as vagas de delegados. A Chapa 1 - Ética e Transparência -obteve 67 votos e a Chapa 2, 14 votos, totalizando 81 votantes no momento da eleição,

ultrapassando o quórum mínimo necessário (35% da assembléia). Os participantesseguiram as orientações da FENAJUFE para definição da bancada de representantes.

Portanto, o SISEJUFE-RJ participará do Congresso com 39 delegados, sendo 33 da ChapaÉtica e Transparência e 6 delegados da Chapa 2.

Decisão do Supremo Tribunal Fe-deral (STF), em ação que julgou ainconstitucionalidade do ConselhoNacional de Justiça (CNJ) ao regula-mentar as férias dos juízes, obrigouo Tribunal Regional Federal da 2ªRegião (TRF) a cancelar a decisão emque concedia férias coletivas aosmagistrados e acabava com o reces-so até o dia 6 de janeiro. Devido aesta determinação do TRF, a dire-

Recesso no TRF da 2ª Região continua até o dia 6 de janeiroção do SISEJUFE-RJ protocolou doisrequerimentos administrativos noTribunal e no Conselho Nacional deJustiça. O do TRF foi distribuído aodesembargador André Fontes.

Antes da apreciação do mérito,aconteceu a decisão do STF e, porcausa disto, no dia 7 de dezembrode 2006, na reunião do Conselho deAdministração do TRF, foi decidido,com base na decisão do Supremo,

que seria revogada a resolução e fi-caria mantida a determinação ante-rior que fixa o recesso até o dia 6 dejaneiro.

Também foi julgado o requerimen-to apresentado pelo SISEJUFE-RJ aoConselho Nacional de Justiça sobre orecesso dos Tribunais até o dia 6 dejaneiro. O CNJ deu ganho de causa aoSindicato, ratificando a manutenção dorecesso até o dia 6 de janeiro

“Na avaliação dadiretoria do SISEJUFE-RJ,este será um dos maioresCongressos da história daFENAJUFE, muito importantedo ponto de vista dasperspectivas de luta para opróximo período”

de 28 de março a 1º de abril em Gra-mado, no Rio Grande do Sul. Da pau-ta constam os seguintes itens:

1 - Conjuntura: Nacional e Interna-cional;

2 - Plano de Carreira;3 - Balanço da Atuação da FENAJUFE

e prestação de contas do período demaio de 2006 a fevereiro de 2007;

4 - Alterações Estatutárias e Regi-mento Eleitoral;

5 - Plano de Lutas;6 - Eleição da Diretoria Executiva e do

Conselho Fiscal;7. Moções

N

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 9MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Mulher A FENAJUFE, a partir desse encontro, engajará, ainda mais, em sua bandeirade luta a questão do gênero

e acordo com a Pesquisa Na-cional por Amostra de Domicí-lios (PNAD) de 2005, o núme-ro de mulheres com dez anos

de idade ou mais no Brasil é de78.945.458. Dentre elas, 41.741.144(52,88%) são economicamente ati-vas, ou seja, colaboram com o de-senvolvimento sócio-econômico ecultural do país. Ainda assim são cor-rentes as manifestações demachismo, preconceito, desvalori-zação do salário, agressão em casa,entre outros pontos. A FENAJUFE,ciente da necessidade e abrir umamplo debate sobre essas questões,realizou em 8 de dezembro o I En-contro Nacional de Gênero da Fede-ração, oportunidade em que pude-ram ser discutidas as problemas quetanto afetam as companheiras.

Durante o encontro, foram abor-dados os temas “Livre orientação se-xual”, palestra proferida por Ana NaiaraMalavolta, servidora do Tribunal Re-gional do Trabalho (TRT) da 4ª Re-gião; “A mulher no parlamento”, as-sunto abordado por Ângela Albino,vereadora em Florianópolis (SC) e di-retora do Sintrajusc/SC; e “A mulherno serviço público: assédio moral esexual”, cuja palestrante foi ClairCastilhos, doutora em Saúde Públi-ca, professora da UFSC e presiden-te da Casa da Mulher Catarinense.Em todos os temas, o público pre-sente participou ativamente dos pa-inéis fazendo perguntas e sugerin-do encaminhamentos. Todas as pro-postas serão levadas à diretoriaexecutiva da Federação.

Em pleno século XXI ainda são pri-mitivas as considerações gerais fei-tas em relação ao gênero. A questãodo suposto sexo frágil ainda vem àtona quando o assunto em pauta é amulher. É por esses e outros motivosque encontros sobre a questão degênero, como o promovido pela Fe-

deração, são de importância ímpar nocenário atual, pois vê-se que mais de50% da população brasileira, repre-sentada pelas mulheres, ainda sofreagressões, desvalorização profissio-nal, preconceito, etc. A FENAJUFE, apartir desse encontro, engajará, ain-da mais, em sua bandeira de luta aquestão do gênero. O I Encontro Na-cional de Gênero da FENAJUFE con-tou com a participação de mais de 40representantes dos sindicatos filiados

à Federação como Sintrajuf-PE,Sintrajufe-RS, Sintrajud-SP,SISEJUFE-RJ, Sitraemg-MG,Sindjufe-BA, Sintrajufe-PI e Sindjus-DF; e da Assejus/CE, associaçãoconvidada para participar do even-to. O encerramento foi feito pelo gru-po de percussão feminino Batalá,que agitou o público com batuquede bumbos e caixas

(*) da Imprensa FENAJUFE

Vanessa Galassi*

FENAJUFE realiza o 1º EncontroNacional de GêneroD

REPRODUÇÃO

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10 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

ArteO relator do processo entendeu que o ato administrativo não poderia ter sidopraticado pelo secretário de administraçãoQuintos

Supremo Tribunal Federal (STF)analisou no dia 13 de dezem-bro de 2006 o mandado de se-gurança 2.5845/DF protocolado

pela Advocacia Geral da União (AGU)contra o possível ato da Presidênciado Tribunal de Contas da União (TCU),impugnando a concessão dos quin-tos com base no acórdão 2.248/2005,do TCU, que entendeu ser possível aincorporação dessa gratificação noperíodo de 8 de abril de 1998 a 4 desetembro de 2001.

A sustentação da Presidência doTCU e a intervenção do Sindilegis fo-ram baseadas no fato de que o ato ad-ministrativo do secretário de adminis-tração do Tribunal de Contas foi prati-cado por competência delegada. Naprimeira parte do julgamento foi dis-cutida a intervenção no feito por partedo Sindilegis, que havia sido indeferi-da pelo ministro-relator, Joaquim Bar-bosa, decisão da qual se interpôs agra-vo regimental. Na ocasião, foi dadoprovimento à unanimidade, para acei-

Três ministros do STF votam contraa AGU no processo dos quintosTrês ministros do STF votam contraa AGU no processo dos quintos

tar a intervenção do Sindilegis na qua-lidade de litisconsorte no passivo ne-cessário.

Em seqüência, foi feita a sustenta-ção oral por parte do advogado doSindilegis, Ibaneis Rocha BarrosJúnior, que apontou a ilegitimidade dopresidente do TCU para impugnar aconcessão da gratificação, e em con-seqüência a incompetência absolutado STF para julgar o mérito da legali-dade do ato administrativo. Na segun-

da parte do julgamento, o relator doprocesso entendeu que o ato adminis-trativo não poderia ter sido praticadopelo secretário de administração e ca-minhava no sentido da ilegalidade daconcessão dos quintos.

Após o debate no plenário da corte,o ministro Cezar Peluzo entendeu estarprejudicado o mandado de segurança,diante da evidente prática do ato admi-nistrativo do secretário de administra-ção do TCU em data anterior aimpetração do mandado de segurança.Nesse sentido, foi acompanhado pelosministros Sepúlveda Pertence e CarlosBrito que anteciparam seus votos. Noentanto, o ministro Gilmar Mendes pe-diu vistas do processo.

Desde que a AGU impetrou manda-do de segurança, a FENAJUFE e oSindjus/DF formularam memoriais,que foram entregues pelo coordena-dor-geral da Federação, RobertoPolicarpo, junto com o advogadoIbaneis Júnior em todos os gabinetesdos ministros do STF

O “Na segunda parte dojulgamento, o relator doprocesso entendeu que oato administrativo nãopoderia ter sido praticadopelo secretário deadministração e caminhavano sentido da ilegalidadeda concessão dos quintos”

REPRODUÇÃO

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 11MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Aposentadoria A aposentadoria especial será devida a servidores de cargos efetivos daUnião, Estados, Distrito Federal e dos municípios

e acordo com projetos de auto-ria do senador Antônio CarlosValadares (PSB-SE), a aposenta-doria especial será devida a ser-

vidores titulares de cargos efetivos daUnião, dos estados, do Distrito Fede-ral e dos municípios, inclusiveautarquias e fundações, que exerçamatividades que os exponham a agen-tes nocivos químicos ou biológicos,de maneira permanente ou habitual,excluindo atividades ocasionais ouintermitentes. O PLS 68/03 exige tem-po mínimo de dez anos de serviçopúblico e cinco anos no cargo para ofuncionalismo ter direito a aposenta-doria especial aos 25 anos de traba-lho, independentemente de idade doservidor. No caso de trabalho em ati-vidades de mineração subterrânea,por exemplo, o tempo exigido paraaposentadoria pode ser menor: 15 ou20 anos de trabalho.

Comissão do Senado aprovaaposentadoria especial paraservidores públicos

O PLS 250/05, de autoria do sena-dor Paulo Paim (PT-RS), também con-cede aposentadoria aos 25 anos detrabalho aos servidores portadoresde deficiência. A deficiência definidano texto como limitação físico-motora, mental, visual, auditiva oumúltipla, que torne o servidor semcondições econômicas, para sua in-serção social regular. O PLS 8/06, dosenador Marco Maciel (PFL-PE), pre-vê aposentadoria depois de 25 anosde trabalho aos servidores públicosportadores da deficiência física co-nhecida como Síndrome daTalidomida. O relator acatou, emseu parecer, emenda de Paim ao PLS68/03, para incluir, entre os servido-res que podem requerer aposentado-ria especial com 25 anos de traba-lho, aqueles que exerçam atividadescom risco de vida, como policiais,peritos e agentes penitenciários

Agência Senado

A Comissão de AssuntosSociais (CAS) aprovou em

dezembro de 2006 substitutivoa três projetos de leiscomplementares que

tramitavam em conjunto epreviam a concessão de

aposentadoria especial, aos 25anos de contribuição, a

servidores públicos em trêscondições específicas:

servidores portadores dedeficiência; funcionários quetrabalham em atividades de

risco, como policiais; e os queexerçam funções sob condiçõesespeciais que prejudiquem suasaúde ou integridade física. Amatéria vai para deliberação

em plenário. Os três projetos jáforam aprovados em conjuntona Comissão de Constituição,

Justiça e Cidadania (CCJC),com relatório do senador

Rodolpho Tourinho (PFL-BA).Na CAS, receberam parecercom substitutivo do senador

Geraldo Mesquita Júnior(PMDB-AC).

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12 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Opinião Torquato sabia fazer versos/letras que funcionavam até sem melodia. Ao mesmotempo o poeta compunha versos puros e perfeitos.

Manuel Bandeira dizia que a tarefa defazer letra encaixar numa melodia, erade amargar. Nas parcerias com Vila-Lo-bos e Jayme Ovalle (“Vai, azulão, azulão,companheiro, vai...”) limitava-se a acharpalavras que fizessem corpo com o com-passo e o sentimento da melodia. “Li-das sem a música, as palavras não valemnada”, lamentava-se.

Torquato Neto, o poeta da Tropicália,não. Ao que se saiba, a única letra quefez sobre esboço de melodia foi o delici-oso “Sambinha da Brasa Samba, deTeresina”, em parceria com Silizinho, em1971. Gilberto Gil me contou que nuncafez melodia para Torquato botar letra.Torquato era que chegava com a letrapara receber a melodia. No processo decriação, os dois faziam retoques.

“Embora não tocasse nenhum instru-mento, Torquato tinha muita sensibili-dade musical. Quando escrevia uma le-tra já vislumbrava o acento emocionalque uma determinada melodia ia dar.Era um esteta”, disse Gil, parceiro empérolas como “Louvação”, “A Rua”, e“Geléia Geral”. Por isso me atrevo a di-zer que, em Torquato, a palavra não se“anulava” e muito menos se abastarda-va em contato com a melodia.

O poeta Ronaldo Werneck (“Dentro& Fora da Melodia”, novembro de 2001),não considera poesia, a palavra feitapara servir de letra de música, a menosque já se produza com objetivo de serobra poética. Veja-se Vinícius. Quandoescreveu “Eu sei que vou te amar/ Portoda a minha vida eu vou te amar...” es-tava fazendo letra de música da melhorqualidade. Letra que, em quase todas asgravações, sempre se faz acompanhar darecitação do belo “Soneto da Fidelidade(“Em tudo ao meu amor serei atento...”).Mas não se leia em voz alta “Eu sei quevou te amar”. Nem se tente por melodianos versos do soneto.

Tal como é difícil recitar em voz altaos versos de Bandeira para a canção deOvalle: “Vai Azulão/ Azulão companhei-

Toda palavra guarda uma cilada

ro vai/ Vai ver minha ingrata/ Diz que semela/ O sertão não é mais sertão/ Ah, voa,Azulão/ Azulão, companheiro vai...” As-sim como é igualmente difícil recitar,sem cair no mais atroz ridículo (quemestre Bandeira me perdoe por colocá-lo no mesmo balaio junto com CarlinhosBrown): “Poeira lá rá rá /capoeira lá rá rá/Terça-feira capoeira lá lá lá/ Tô no pé deonde der lá rá rá rá...” Meu atrevimentoao citar Bandeira avec Brown tem o ob-jetivo de exemplificar a diferença entredois “gêneros” de composição, que emTorquato se confundiam.

Formado em Drummond, Cabral, opróprio Bandeira e todos os cantadoresde feiras, sambistas e boleristas, Torquatoexigia que a palavra, quando cantada,mantivesse a mesma voltagem poética.Fazia concessões, quase todas em funçãoda métrica e da prosódia. “Vou fazer a lou-vação, louvação, louvação/ Do que deveser louvado, ser louvado, ser louvado” sósaiu com as repetições porque o ritmoexigia. Do contrário sairia: “Vou fazer alouvação do que deve ser louvado”.

Augusto de Campos, na primeira edi-ção de “Os Últimos Dias de Paupéria” dizque só um verdadeiro poeta para produ-zir versos com a qualidade desses: “Ma-mãe, mamãe, não chore/ Eu quero euposso eu fiz eu quis/ Mamãe, seja feliz”.Sem falar em alguns trechos de “Louva-ção” que dá vontade de ferrar em bronzee colocar no meio da praça. Já oTorquato-apenas-poeta (não necessari-amente letrista) é incomparável. E, namaioria dos casos, “imusicável”. Emraríssimos, como em “Go Back”, até quea melodia dos Titãs, sobreposta aos ver-sos, funciona. Mas é exceção. Torquatosabia fazer versos/letras que funciona-vam até sem melodia. Ao mesmo tem-po, o poeta compunha versos puros eperfeitos que, sobre eles, a música nãocabe, sobra. Torquato bem sabia, comoescreveu no belo e trágico “LiteratoCantabile”, que “toda palavra guardauma cilada”

(*) Jornalista, escritor e pesquisador emComunicação.

Paulo José Cunha (*)

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 13MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Arte Se você reformular suas metas, pesar seus valores, focalizar nas vitórias já realizadas, nobalanço do próximo ano a frustração não terá vez.

É inerente ao ser humano querermelhorar, progredir. E o Ano Novo cos-tuma ser a data propícia para isso. Óti-mo. Mas vamos com calma. Há certosprogressos que não se conseguem re-alizar em apenas um ano.

Exemplificando: você está insatis-

Que tudo se realize no ano que vai nascer

feito com o trabalho, mas anda semdisciplina para estudar, e aí traça ameta: “Ano que vem passarei num con-curso melhor”. A menos que ocorra al-gum milagre, é frustração garantida.Reformule: “Ano que vem me organi-zarei para conseguir estudar pelo me-nos duas horas diárias”, ou então, ca-nalize suas energias para uma outraárea que lhe dê mais prazer. A chancede acerto é bem maior.

Há também outros progressos -que acredito serem os mais importan-tes que não precisam (nem devem) es-perar a virada do ano poderá ser tardedemais. Mudanças do tipo: melhoraro relacionamento com o chefe, conser-tar um casamento, ter mais paciência

Clarisse Faria *

Ano Novo. Tempo debalanço, exame de

consciência, reflexão.Não é raro as pessoas se

sentirem mais tristes emelancólicas. Mas, creio

que a maior parte dafrustração é uma questão

de foco. Claro, hátristezas inevitáveis,como por exemplo, a

perda de um ente querido(“ano passado fulano

passou o Natal conosco;nesse ano não se encontra

mais entre nós...”).Todavia, na maioria das

vezes, cavamos as nossaspróprias decepções.

Como? Traçando metasimprováveis,

aumentando as perdas edesacertos e diminuindo

as conquistas.

com os filhos, cuidar melhor da saú-de, resgatar uma amizade, se aproxi-mar dos familiares – essas devem serexercitadas diariamente, não precisamde hora marcada.

Sim, é preciso admitir que sobra ain-da uma margem de mudanças que nãodependem da gente. E é difícil ter odiscernimento necessário para identificá-las. Contudo, se você reformular suasmetas, pesar seus valores, focalizar nasvitórias já realizadas, dedicar-se a seusprojetos, acreditar nos pequenos pro-gressos diários, for mais tolerante eperseverar sempre, tenho certeza queno balanço do próximo ano a frustra-ção não terá vez.

Não há nada melhor do que a sere-nidade do sentimento de dever cum-prido. Faça a sua parte. No mais, sóme resta desejar a você, caro leitor, boasorte, e torcer para que todos os seusprojetos (viáveis e dedicados) se reali-zem no ano que vai nascer

(*) Servidora da Justiça Federal

“Não há nada melhordo que a serenidade dosentimento de devercumprido. Faça a suaparte”

RE

PR

OD

ÃO

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14 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Opinião Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmenteconhecidos como “papagaios”.

os Diretores do Bradesco. Gos-taria de saber se os senhores acei-tariam pagar uma taxa, uma pe-quena taxa mensal, pela existên-cia da padaria na esquina de sua

rua, ou pela existência do posto de ga-solina ou da farmácia, ou da feira, oude qualquer outro desses serviços in-dispensáveis ao nosso dia-a-dia. Fun-cionaria assim: todo mês os senhores,e todos os usuários, pagariam uma pe-quena taxa para a manutenção dosserviços (padaria, feira, mecânico, cos-tureira, farmácia e etc). Uma taxa quenão garantiria nenhum direito extra-ordinário ao pagante.

Existente apenas para enriqueceros proprietários sob a alegação de queserviria para manter um serviço de altaqualidade. Por qualquer produto ad-quirido (um pãozinho, um remédio,uns litros de combustível e etc) o usu-ário pagaria os preços de mercado ou,dependendo do produto, até umpouquinho acima. Que tal? Pois, nou-tro dia saí de seu banco com a certezaque os senhores concordariam comtais taxas. Por uma questão de

A (i) lógica do capital financeiro

equidade e de honestidade. Minha cer-teza deriva de um raciocínio simples.Vamos imaginar a seguinte cena: euvou à padaria para comprar umpãozinho. O padeiro me atende mui-to gentilmente. Vende o pãozinho. Co-bra o embrulhar do pão, assim como,todo e qualquer serviço.

Além disso, me impõe taxas. Uma“taxa de acesso ao pãozinho”, outra“taxa por guardar pão quentinho” eainda uma “taxa de abertura da pada-ria”. Tudo com muita cordialidade emuito profissionalismo, claro. Fazen-do uma comparação que talvez os pa-deiros não concordem, foi o que ocor-reu comigo em seu banco.

Financiei um carro. Ou seja, compreium produto de seu negócio. Os senho-res me cobraram preços de mercado.Assim como o padeiro me cobra o pre-ço de mercado pelo pãozinho. Entre-tanto, diferentemente do padeiro, ossenhores não se satisfazem me cobran-do apenas pelo produto que adquiri.

Para ter acesso ao produto de seunegócio, os senhores me cobraramuma “taxa de abertura de crédito” –equivalente àquela hipotética “taxa deacesso ao pãozinho”, que os senhores

certamente achariam um absurdo e senegariam a pagar. Não satisfeitos, parater acesso ao pãozinho, digo, ao finan-ciamento, fui obrigado a abrir umaconta corrente em seu banco. Para queisso fosse possível, os senhores me co-braram uma “taxa de abertura de con-ta”. Como só é possível fazer negócioscom os senhores depois de abrir umaconta, essa “taxa de abertura de con-ta” se assemelharia a uma “taxa deabertura da padaria”, pois, só é possí-vel fazer negócios com o padeiro de-pois de abrir a padaria.

Antigamente, os empréstimos ban-cários eram popularmente conhecidoscomo “papagaios”. Para liberar o “papa-gaio”, alguns gerentes inescrupulososcobravam um “por fora”, que era devi-damente embolsado. Fiquei com a im-pressão que o banco resolveu se anteci-par aos gerentes inescrupulosos.

Depois que eu pagar as taxas cor-respondentes, talvez os senhores merespondam informando, muito cordi-al e profissionalmente, que um servi-ço bancário é muito diferente de umapadaria

(*) Correntista do Bradesco

Delman Ferreira *

A

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 15MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

O pensador francês Michel Foucaultdescreveu em seu livro “Vigiar e Punir”que as sociedades modernas são es-sencialmente sociedades de discipli-na. Segundo o intelectual, na passa-gem do século XVIII para o XIX, houveuma transformação nas relações depoder, quando os corpos humanospassaram a ser bombardeados comuma série de prescrições e determina-ções (instauração de horários rígidosprogramados, posturas e movimentoscorporais “desejáveis”, vigilância in-tensiva, etc.) que disciplinavam o indi-víduo, internalizando um tipo de su-jeição jamais verificado.

Os corpos para se tornarem disci-plinados precisavam passar por proces-sos de padronização e então se torna-riam obedientes e produtivos. A utili-dade e eficiência estavam, portanto, di-retamente relacionadas à capacidadede docilização desses corpos. Foi as-sim que um tipo de poder, que rapida-mente se disseminou em todos níveisda sociedade moderna, e cuja manu-tenção era garantida por meio de apa-relhos e instituições (escola, quartel,presídio, hospital e fábrica), ao treinarcorpos, conseqüentemente adestravamentes e almas, e transformava as re-lações sociais e a vida humana nos seusmínimos detalhes.

Para nós, representantes do sensocomum, parece óbvio que as discipli-nas apresentam uma função específi-ca e em certa medida essencial para asociedade em que vivemos:maximização econômica, ganhos emforça de produção, bem como em or-ganização política. Todavia, aoenfatizarmos tais aspectos, nos esque-cemos de analisar a “microfísica dopoder” posta em jogo pelos aparelhose instituições, que atravessam e influ-

Opinião Para nós, representantes do senso comum, parece óbvio que as disciplinas apresentamuma função específica e em certa medida essencial para a sociedade em que vivemos.

Foucault e o Assédio Moral

em diretamente nossas vidas.As disciplinas representariam nada

mais que um infra-direito. Ou seja, elasparecem fazer alcançar até um nível mi-croscópico das vidas pessoais, as for-mas gerais e normatizantes definidaspelo Direito. Todavia, advertiaFoucault, temos antes que enxergar nasdisciplinas uma espécie de revés do Di-reito, um tipo de “contra-direito”.

Mesmo que a disciplina seja subs-crita por meio de um contrato ou lei,como é o caso dos servidores públicos,

regidos pela Lei 8.112/90 e seus regu-lamentos, os mecanismos internosque ela faz funcionar, e a desigualda-de de posição dos funcionários frenteao regulamento comum opõem o laçodisciplinar ao contratual-legal.

Tenho observado colegas do Po-der Judiciário vivendo essa desi-gualdade real diante dos regula-mentos comuns, numa estruturaque distribui privilégios debaixo deuma dissimulada máscara de igual-dade. Essa situação tem tornado oambiente de trabalho psicologica-mente tenso e desestimulador. Porisso, acredito que é exatamente noâmbito desse poder disciplinar, e naassimetria que o acompanha ondese configura o chamado AssédioMoral, e é na discrição e sutilezadesse tipo de poder, na sua“microfísica”, que reside a dificul-dade de se deflagrar a ação insidio-sa dos chefes.

Como registrar um olhar hierárqui-co e abusivo, para que conste nos au-tos? Como registrar as pequenasações, os sutis gestos, os pequenosmecanismos que ao exigir determina-das tarefas e posturas do servidor, odesqualificam como um funcionáriode segunda classe? A problemáticanão é facilmente resolvida. Contudodeve-se registrar que a capacidade in-telectual crítica e de ação (eneste âmbito, lembremos do suporteda instituição sindical) é e será essen-cial para diminuir os exageros do po-der disciplinar, pelo qual somos umdos responsáveis. Como afirmavaFoucault, se é verdade que a institui-ção disciplinar nos dá sempre um“chefe”, é o aparelho inteiro que pro-duz poder, pois todos nós compomosas suas engrenagens

(*) Servidor do TRE-RJ

David Gonçalves Soares *

“Tenho observadocolegas do Poder Judiciáriovivendo essa desigualdadereal diante dosregulamentos comuns,numa estrutura quedistribui privilégios debaixode uma dissimuladamáscara de igualdade”

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16 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

emos aproximar-se o fim de umciclo e o despontar de um novomomento na história de uma pe-quena ilha do Caribe, logo ao suldos Estados Unidos da América.

Palco de heróicas batalhas há aproxima-damente quatro décadas e meia, duran-te as quais, o seu povo demonstrou ovalor e a determinação de não viver maissubjugado ou subordinado a qualquerprojeto político que não fosse o seu,Cuba vive agora. Mas, o povo cubanoacompanha a agonia de seu líder máxi-mo, a angústia de uma dolorosa transi-ção com duas veredas à frente: uma emdireção a um socialismo mais centrali-zado e radical, ou, o caminho para umsocialismo com concessões capitalistas(o que por si só já é um paradoxo).

Não há e nem houve, para o povocubano, um líder como Fidel Castro. Nãohá e nem haverá para Cuba outra opçãoa não ser a de manter as rédeas de seudestino em suas próprias mãos, em qual-quer caso. Os mesmos ideais que a dou-trina Monroe proclamava, de que a Amé-rica deveria ser para os americanos, istoé, de que as Américas deveriam perten-cer e ser governadas por seus habitan-tes, estes mesmos ideais valem hoje paraCuba. O outrora inimigo potencial oureal, representado pelas nações européi-as colonialistas, agora, se converte nogrande país ao norte de Cuba, país quejá teve pretensões declaradas de anexá-la em fins do século XIX.

A clareza de pensadores como JoséMartí, que denunciaram esse intento,impediram que se tornasse realidade.País que já fora uma colônia espanho-la, teve que emprestar para sempreuma parte de seu território aos “ir-mãos do norte” pela discreta ajudabélica na luta de sua independência.Um preço, aliás, bastante alto e quehoje se tornou uma espécie de vergo-

Opinião Não há e nem houve, para o povo cubano, um líder como Fidel Castro. Não há e nem haverá paraCuba outra opção a não ser a de manter as rédeas de seu destino em suas próprias mãos.

Em apoio à autodeterminação e soberania dopovo cubano e a todos os povos do mundo

nha internacional: a base militar ame-ricana de Guantánamo onde prisionei-ros, sem lei nem justiça, são mantidosisolados, à revelia de tratados interna-cionais e dos protestos mundiais.

Se a América deve ser dos america-nos, Cuba deve ser dos cubanos – da-queles que lá vivem, e não de outros.Cuba é dos que semearam o seu solo,plantando o seu tabaco, a sua cana, eseu açúcar, “sus porotos y su maiz” ... enão daqueles que têm pretensões se-nhoriais sobre ela.

Cuba é de seus pescadores, do povoque sofreu os embargos e passou fomepor acreditar que o seu regime políticoera o melhor para sua gente. É do povoque optou por um projeto coletivo, enão individualista, de vida. Que acredi-tou que o ser humano é mais importan-te que a empresa capitalista. Que apos-tou no coletivo e acertou, tanto quantopôde. Cuba e seu povo são soberanospara honrar seu passado e construir li-vremente seu futuro.

A liberdade de Cuba é essa: a de que osque lá vivem, segundo os princípios do Di-reito Internacional, possam escolher so-beranamente seus novos representantesno caso da morte de seu líder e comandan-te máximo. Esperemos que os povos domundo saibam dar ao povo cubano o apoiode que necessitará nessa hora fatídica.Apoio declarado e total. Esperemos que omundo saiba se comportar com dignida-de e respeito nesse momento. Pelo respei-to à soberania cubana e ao direito de auto-determinação do todos os povos!

(*) Diretor do SISEJUFE-RJ

Flávio Prieto*

“Se a América deve serdos americanos, Cuba deveser dos cubanos – daquelesque lá vivem, e não deoutros. Cuba é dos quesemearam o seu solo,plantando o seu tabaco, a suacana, e seu açúcar, “susporotos y su maiz” ... e nãodaqueles que têm pretensõessenhoriais sobre ela”

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 17MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Nossa História Morreu verdadeiramente o general? Deixará alguma vez decontaminar cada espelho esquizofrênico da vida nacional?

orreu verdadeiramente o generalAugusto Pinochet? Apesar de nãorestar dúvida de que o seu corpo,comprovadamente mortal, já não

conspurca com sua respiração o ar domeu país, receio que o ditador que malgovernou o Chile durante tantos anosnão vá nunca se extinguir desta terra.Para exorcizá-lo definitivamente teriasido necessário que fosse concluído,cada um dos inumeráveis processos portortura e seqüestro, por roubos e assas-sinatos, que continuavam nos tribunaischilenos.

Seria necessário que Pinochet fos-se obrigado a olhar, uma após outra,as faces dos familiares dos homens emulheres que fez desaparecer. Teriasido necessário que ficasse só na mor-te em vez de que um terço cúmplice,recalcitrante e autoritário da popula-ção chilena chorasse sua partida e exi-gisse luto nacional; teria que ficar so-litário e frio na morte, lamentado so-mente por seus amigos mais próximose seus amigos íntimos. Mas, é tal omedo e a influência, que, ainda des-perta este tirano supostamente mor-

A sombra de Pinochet

Ariel Dorfman* to, que torceram de tal forma o senti-do comum da República. O medo e ainfluência conseguiram confundir detal forma a ética dos políticos chilenos,que o governo democrático decidiu, deforma indigna e vergonhosa, que a mi-nistra de Defesa, Vivian Blanlot, assis-tisse oficialmente os ritos fúnebres.Um governo presidido por uma mu-lher, Michelle Bachelet, a que o gene-ral Pinochet prendeu e atormentou,cujo pai matou!

A ministra da Defesa de um Chiledemocrático participando em umahomenagem a um terrorista interna-cional, o homem que assassinou JoséTohá em um calabouço chileno eOrlando Letelier em uma rua de Wa-shington e o ex-comandante em che-fe do Exército chileno Carlos PratsGonzález, em uma desprotegida ave-nida de Buenos Aires! Sinto que algomudou categoricamente em meupaís. Sabem disso milhares e milha-res de chilenos que festejaram de for-ma espontânea a notícia da partidado general Pinochet deste mundocomo se eles tratassem não de umaextinção, mas de um deslumbramen-to. Dançando nas ruas de Santiago,

eles repetiam incessantemente umapalavra: a palavra sombra. Lá se foi asombra, diziam um homem e umamulher sem terem combinado, sus-surravam uns e outros e todos.

A sombra de Pinochet já não cai so-bre nós. Como se os mil demônios deuma praga tivessem sido lavados do ter-ritório nacional, como se entendêssemosque nunca mais o medo, nunca mais asombra impura e poluída. Mas para es-tes festeiros, a maioria deles jovens, algose tinha quebrado para sempre no mo-mento em que deixou de bater o cora-ção fosco de Augusto Pinochet.

Morreu verdadeiramente o general?Deixará alguma vez de contaminar cadaespelho esquizofrênico da vida nacional?Deixaremos de ser alguma vez um paísdividido? Por acaso terá razão aquela fu-tura mãe, grávida de sete meses, que pu-lava de alegria no centro de Santiago quan-do proclamou aos quatro ventos que ago-ra tudo ia ser diferente, porque seu filhoia nascer em um Chile sem Pinochet?

A batalha pela alma de meu país re-cém começa

(*) Escritor chileno. O seu último livro é“Outros setembros”.

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18 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Nossa História Para matar o homem da paz tiveram que deflagrar a guerrasuja e calar sua voz modesta e falante.

À morte de um canalhaMário Benedetti(Versão livre - Roberto Ponciano)

Os canalhas vivem muito,porém um dia morrem.Obituário com hurras!Vamos festejar.Venham todosOs inocentesOs injuriados que gritaram de noiteOs que sonham durante o dia.Os que pisam descalçosOs que blasfemam e ardemOs pobres congeladosOs que querem a alguémOs que nunca se esquecemVamos festejá-loVenham todosO crápula morreuAcabou-se a alma negraO ladrãoO porcoAcabou-se para sempreQue venham todos a festejá-loA não dizerA morte sempre apaga tudoTudo purificaQualquer diaA morte não apaga nadaFicam sempre as cicatrizesHurra!Morreu o cretinoVamos festejá-loNão chorar por vícioQue chorem seus iguaisE traguem suas lágrimasAcabou o monstro prócerAcabou-se para sempreVamos celebrá-loE não ficarmos fracosE não acreditar que esteSeja um morto qualquerVamos a festejá-loE não tornamo-nos frouxosE não esquecer que esteÉ um morto de merda

Poesia feita celebrando a morte de Ronald Reagan,mas que utilizamos para festejar o fim de Pinochet..

Para matar o homem da pazpara golpear sua face limpa de pesadelostiveram que se converter em pesadelo,Para vencer o homem da paztiveram que congregar todos os ódiose além disso os aviões e os tanques,Para bater o homem da paztiveram que bombardeá-lo, torná-lo lama,porque o homem da paz era uma fortalezaPara matar o homem da paztiveram que deflagrar a guerra turba suja,para vencer o homem da paze calar a sua voz modesta e falantetiveram que empurrar o terror até o abismoe matar mais para seguir matando,para bater o homem da paztiveram que assassiná-lo muitas vezesporque o homem da paz era uma fortaleza,Para matar o homem da paztiveram que imaginar que era uma tropa,uma armada, uma hoste, uma brigada,tiveram que acreditar que era outro exército,mas o homem da paz era apenas um povoe tinha em suas mãos um fuzil e um mandatoe eram necessários mais tanques mais rancoresmais bombas mais aviões mais opróbriosporque o homem da paz era uma fortalezaPara matar o homem da pazpara golpear sua face limpa de pesadelostiveram que se converter em pesadelo,para vencer o homem da paztiveram que se filiar sempre à mortematar e matar mais para continuar matandoe condenar-se à blindada solidão,para matar o homem que era um povotiveram que ficar sem o povo

Allende, o homem da pazMario Benedetti*

(*) Poeta uruguaio em sua homenagem ao presi-dente constitucional Salvador Allende, derruba-do em 11 de setembro de 1973, por um sangrentogolpe militar comandado pelo general AugustoPinochet, demonstra concretamente que a histó-ria e a justiça são implacáveis. Podem eventual-mente até demorar, mas acabam sendo feitas.

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 19MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Reforma agrária Cacique Mariano Ribeiro Kraô-Kanela anunciou que as primeirascasas da nova aldeia já começaram a ser erguidas.

decreto, assinado pelo presiden-te Luiz Inácio Lula da Silva, auto-riza a Fundação Nacional do Ín-dio (Funai) a promover a desapro-

priação dos imóveis, que serão pagoscom R$ 8 milhões vindos do InstitutoNacional de Colonização e ReformaAgrária (Incra). O cacique Mariano Ri-beiro Krahô-Kanela anunciou que asprimeiras casas da nova aldeia já co-meçam a ser erguidas.

– É uma alegria muito grande, po-der voltar ao local em que nossos avósviviam – comemorou.

Os índios moravam até o momento

em uma casa, erguida sobre um antigolixão, na cidade de Gurupi (TO). Segun-do o cacique, os Krahô-Kanela tiveramque fugir, por volta de 1910, do muni-cípio de Barra do Corda, no Maranhão,para não serem mortos pelos fazendei-ros, que já naquela época invadiam eocupavam as terras indígenas.

– Os brancos matavam muita gentee a nossa família (tribo) precisou fugirpara não morrer – recordou.

O líder indígena só lamenta que, aolongo dos anos, a comunidade origi-nal, de 300 pessoas, foi se desfazendo,e, hoje restam apenas 86, que perma-neceram juntas.

– Os outros foram se espalhando pe-

las periferias das cidades e se misturan-do aos brancos. Mas se eles quiseremretornar, serão bem-vindos, desde quesigam os nossos rituais e modo de vida– disse o cacique.

No dia 27 de dezembro do ano pas-sado houve uma festa na nova aldeia,que contou com as presenças de repre-sentantes do Conselho Indigenista Mis-sionário (Cimi), da Funai, do Incra e dovice-presidente da Comissão de Direi-tos Humanos do Senado, senador Pau-lo Paim (PT-RS), que intermediou a ne-gociação da compra das terras com ogoverno

(*) Repórter da Agência Brasil.

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Governo federal faz justiçacom terras indígenasKrahô-Kanela puderam comemorar a vitória de uma lutainiciada há 30 anos. Foi publicado, no dia 8 de dezembro de2006, no Diário Oficial da União, o decreto de desapropriaçãode 7.153 hectares de duas fazendas no município de Lagoa daConfusão, em Tocantins.

Governo federal faz justiçacom terras indígenasKrahô-Kanela puderam comemorar a vitória de uma lutainiciada há 30 anos. Foi publicado, no dia 8 de dezembro de2006, no Diário Oficial da União, o decreto de desapropriaçãode 7.153 hectares de duas fazendas no município de Lagoa daConfusão, em Tocantins.

Wladmir Platonov*

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20 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

m olhar diferente sobre a América - esta é aessência da exposição ?América Nativa?, quereúne 21 obras do fotógrafo Roberto Vámos,

realizada recentemente na Galeria Vilaseca Leblon.As fotografias refletem a integração harmônica doser humano com a natureza nos mais exóticos ce-nários do Brasil, Equador, México e Chile, como aFloresta Amazônica, o Deserto do Atacama e asruínas de uma antiga cidade Maia. Vámos alcançaem suas obras texturas singulares, semelhantes àpintura, através de recursos como a sobreposiçãode imagens. ?As imagens selecionadas retratamuma América ainda bela, digna e nativa, onde ascriações do homem se somam à beleza da nature-za, em vez de anulá-la. Onde a dignidade de seuspovos se reflete no semblante sereno e altivo deseus indivíduos. Uma América ainda não atropela-da pelo rolo compressor da homogeneizaçãoglobalizante?, destaca Vámos.

Usando pigmentos especiais para imprimir asimagens em papéis desenvolvidos especificamen-te para fotografias, com durabilidade muito maiorque o processo fotográfico convencional, Vámoscriou somente 30 cópias de cada imagem: 10 nadimensão 60cm X 90cm e 20 na dimensão 30cm X45cm. Todas numeradas e assinadas pelo artista.

Roberto Vámos é um fotógrafo que viaja pelomundo e retrata paisagens e pessoas de forma di-ferente, ao seu estilo. Carioca de pais húngaros,Vámos é também ambientalista formado em Políti-ca Ambiental pela Universidade de StanfordUniversity (Califórnia, EUA), com Mestrado emGerenciamento Ambiental pela Universidade deYale. Com um extenso currículo de viagens, Vámosjá fez expedições solitárias por vários continentes.

AméricaNovo projeto do fotógrafo Roberto Vámos

AméricaU

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 21MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

a Nativaa Nativa

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22 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Chavez é o maior representante dessaesquerda, já a boa esquerda... a de “men-te aberta”... é a que aceita a “sacralidadedos contratos”. O presidente Lula, justa-mente na semana que seguiu a suaavassaladora eleição, é trazido momen-taneamente ao purgatório para a “salva-ção”, desde que se separe das más influ-ências. A revista não deixa dúvidas sobrea tarefa central: “os venezuelanos (sic!) jáperderam a guerra contra Chávez. Ele pre-cisa ser contido antes que consiga cons-truir o socialismo e destruir mais paísesna América Latina”.

A revista ataca a “Latino-americana:enciclopédia contemporânea sobreAmérica Latina e Caribe”, coordenadapor mim, Emir Sader, Ivana Jinkings eRodrigo Nobile em projeto de quase trêsanos, que reuniu trabalhos de 123 in-telectuais dos mais destacados da re-gião, em 980 verbetes e 1.450 páginas.Apesar de diversificada nas tendênciase perspectivas de pensamento, a Lati-no-americana tem entre os seus “erros”o de não excluir a “má esquerda” e porisso é tratada como “energúmena” – ouem bom português, “possuída pelodemônio” – no blog de um dos princi-pais articulistas da Veja.

Em seu ato de “exorcismo”, a revistaelabora uma “resenha” anônima da mes-ma e a coloca na seção de humor. A enci-clopédia é qualificada como o besteirolde Emir Sader, cuja complexidade é ca-paz de ser apreendida por qualquer umque tenha o QI ligeiramente superioraos chimpanzés e às llamas. Na ilustra-ção da resenha, dezenas de chimpanzésentre livros e computadores são apresen-tados com os autores, acusados de sebanquetearem com o patrocínio estatale produzirem uma “piada petista”.

Elegantes, éticos e vaidosos, os críti-

Nacional Na luta contra o nacionalismo e o “populismo”, que significa povo emação, o verdadeiro demônio é a cultura popular.

A direita, o ódio à esquerdae aos latino-americanos

cos de QI superior cometem um primei-ro equívoco: não sabem somar e multi-plicar! Acusam de termos recebido US$1.700 por verbete, mas apresentam ocusto total como R$ 2,23 milhões, somainferior à multiplicação! Em uma revistatão precisa e isenta não sabem fazer ope-rações básicas de matemática?!

Dos 980 títulos, 80 dos quais ensai-os de 40 a 80 mil caracteres sobre paí-ses e temas – em torno dos quais seorganizam os verbetes menores – queabarcam de Pensamento Social, Ciência eTecnologia, Economia, Geopolítica a Ci-nema e Artes Plásticas, a resenha se con-centra em Gastronomia e Culinária e,neste âmbito, em Feijoada e Cachaça,para debochar de sua complexidade.

Está coerente! Na luta contra o nacio-nalismo, o latinoamericanismo e o“populismo”, que significa povo em ação,o verdadeiro demônio é a cultura popu-lar. Esse é o mais profundo pecado da “La-tino-americana”: contribuir decisivamen-te para a construção de identidades querompam os hiatos que separam nossaregião e impulsionem o protagonismodo latinoamericanismo, enquanto iden-tidade aberta, mas soberana

Carlos Eduardo Martins *

A revista Veja de 13 dedezembro de 2006, cuja

matéria central é dopresidente Hugo

Chavez não ébrinquedo: pretende

fazer um ataquedevastador à esquerda

latino-americana.Derrotada nas eleições noBrasil; em pânico com asvitórias esmagadoras de

Chaves, Evo Morales,Rafael Correa e Daniel

Ortega; e assustada com aforça eleitoral dos

movimentos sociais noMéxico e no Peru,

desenvolve uma variantede sua estratégia

conservadora: já que asesquerdas se tornaram

elemento dominante dapolítica latino-americana,

há que se dividi-las. Oinimigo é apontado

claramente: a esquerdanacionalista e “populista”.

“Na ilustração daresenha, dezenas dechimpanzés entre livros ecomputadores sãoapresentados com os autores,acusados de se banquetearemcom o patrocínio estatal eproduzirem uma ‘piadapetista’”

(*) Doutor em Sociologia da USP e coor-denador da “Latino-americana”

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 23MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Entrevista Esse mundo que diz que é democrático, não é muito democrático, escondediferenças que vão crescendo a cada dia, ano após ano, norte e sul.

IDÉIAS – As veias abertas na Amé-rica Latina estão mais abertas aindado que há 36 anos quando você es-creveu esse trabalho, ou não? O quemudou?Galeano – Estive há pouco tempo,

há duas semanas, em Buenos Aires, par-te da minha família está lá, eu estavacaminhando, feliz, quando encontrei oConde Drácula, tinha chegado daTransilvânia, estava recém chegado eeu achei ele estragadíssimo, não o re-

conheci. Mais morto do que vivo. Olhan-do o chão, caminhando com dificulda-de, acabado o coitado do CondeDrácula. Ai perguntei para ele: O queacontece com você, Conde? E respon-deu: Olha, estou aqui.., fazendo o que?

As veias continuamabertas na América Latina

O escritor e jornalistauruguaio, cidadão latino-

americano, arquiteto dapalavra, Eduardo Galeano, éum dos intelectuais de maiorprestígio na América Latina.

Autor do clássico “VeiasAbertas na América Latina”,

no ano de 1970, Galeanoesteve no Rio de Janeiro e

concedeu esta entrevista àIdéias em Revista, em que

analisa questões atuaisrelativas à criação literária e

temas relevantes daatualidade mundial. Galeano

colabora em diversaspublicações latino-americanas

e a leitura dos seus textos éfundamental para o

aprofundamento da nossarealidade, em mutação

permanente.Desta entrevista, além do

editor do Idéias em Revista,Mário Augusto Jakobskind,participaram as jornalistas

Maria Luíza Franco e Claudiade Abreu. Eduardo Galeano, arquiteto da palavra.

REPRODUÇÃO

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24 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

procurando um psicanalista. Dizem queaqui tem os melhores do mundo, olha,não sei se tem os melhores, mas temmuitos. Qualquer casa dessa, cada cam-painha tem um psicanalista. Mas paraque você precisa de um psicanalista,Conde Drácula? – Eu tenho complexode inferioridade incurável, mas vou ten-tar com ele, se alguém pode me salvar –Complexo de inferioridade por que,Conde? – Porque eu vejo como é queagem hoje as grandes corporaçõesmultinacionais, esses sim que são au-tênticos sanguessugas, isso eu fico... seilá, achando que tem uma crise de iden-tidade, de autoestima.

IDÉIAS – Agora, você percebe queas veias estão mais do que escanca-radas na América Latina, você achaque essa realidade extrapola a Amé-rica Latina? Essa realidade de quecada vez mais a América Latina estáarrombada por essas empresas, poressas corporações, isso é um proble-ma hoje que está percorrendo omundo inteiro, ou está especifica-mente na América Latina?Galeano – Não, é universal. Só queesse mundo que diz que é democrático,não é muito democrático, então escon-de diferenças que vão crescendo a cadadia, ano após ano, o norte e o sul. Masque se abre com uma tesoura, vai abrin-do, abrindo, à distância dos que têm edos que precisam. Os que precisam sãocada vez mais, dos que têm, cada vezmenos. E essa é a organização mundial.(risos) Não é uma coisa, triste, privilé-gio da América Latina ter essas injusti-ças terríveis. O mundo é muito injusto,é muito pouco democrático.

IDÉIAS – Você acha que precisase discutir a democracia?Galeano – Democracia é um temapossível, no mundo de hoje se fala otempo todo em democracia. O mundodemocrático... Democrático não é, seé, eu tenho as minhas dúvidas. Vejavocê, tem esse super governo agoraagindo no mundo. Perdão. Os governoslatino-americanos continuam governosgovernados. Governados pelos super-

governos que estão aí agindo interna-cionalmente. Todos têm nomes, inter-nacional, mundial. Fundo MonetárioInternacional, Banco Mundial, o quenão expressa o conjunto de países. Fun-do Monetário Internacional, as decisõessão tomadas por cinco países, sobretu-do por um, que tem direito de veto.

IDÉIAS – Você está sendo apresen-

tado como escritor, jornalista e ar-quiteto da palavra. O que é ser umarquiteto da palavra?Galeano – Não sei, nunca tinha es-cutado isso. Te agradeço muito porqueacho que a intenção é visar mais ou me-nos como a gente tenta construir casasde palavras. Essa é a minha intenção, nãosei se consigo ou não. Mas, a idéia é quea palavra pode ser um refúgio, contra ofrio, contra a solidão. Que você pode es-crever de tal maneira que vai construin-do casas de palavras para dar refúgio, senão escrever não tem sentido nenhum.

IDÉIAS – Mais do que refúgio,você não acha que a literatura podeser um meio de transformação co-letiva?Galeano – Também. Eu acho que sim,que pode, na medida que a palavra seja

“A idéia é que apalavra pode ser umrefúgio, contra o frio, contraa solidão. Que você podeescrever de tal maneira quevai construindo casas depalavras para dar refúgio,se não escrever não temsentido nenhum”

REPRODUÇÃO

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 25MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

capaz de continuar viva naquele que a rece-be. Quer dizer, que se transforme. O leitorperfeito para mim, o meu grande amigoque foi Júlio Cortazar, falava do leitor pas-sivo, e eu nunca concordei com ele. Que não,que o leitor é o leitor ativo, que recebe. Sãopalavras que depois ficam sendo diferentesporque vão se transformando dentro do lei-tor. Então o leitor, a partir dos livros, umtexto qualquer, aquela coisa trabalha den-tro dele, vai alimentando a sua imagina-ção, a sua consciência, a sua capacidadede alegria e de dor também, de pensar, desentir. Eu acho que sim, que a palavra podeter um certo poder transformador. Não vaimudar o mundo, mas sempre tem influên-cia grande. Os grandes livros de maior in-fluência no mundo estão aí para demons-trar que a palavra não é inútil. A Bíblia, oAlcorão, o Capital, sei lá quantos.

IDÉIAS – A função do escritor nãoé só escrever por escrever. Ele estáengajado no seu contexto social...Galeano – Sim, mas muito cuidadocom isso. Eu não acredito nas palavrasque não sejam nascidas de uma vontadede escrever, de um prazer de escrever. Masse a consciência social não funciona... Eusei por experiência, de você dar ordem àmão, a mão obedece. Obedece de um jei-to que não dá, essa palavra é necessidadede vida. É aquela história, teve uma certautilidade dentro dos limites do que seriaa comunicação entre convencidos. Quan-

do você fala para quem pensa exatamen-te a mesma coisa que você. Aí, uma pala-vra que não corre risco nenhum. Nessa pa-lavra não acredito. Acredito na palavravaliante, que vai, que tenta se dirigir àspessoas que são diferentes, diversas. Essapalavra tem que nascer do prazer de es-crever. Se você não sente prazer escreven-do, não vai transmitir prazer a quem lê.Então, aquela literatura chatíssima,que tenha o mal costume de difundir,é uma literatura impossível. É uma li-teratura que convida não a sonhar, masa dormir. Dormir sem sonhos nenhum,porque não nasce do prazer. Nasce da-quele dever de consciência. “Eu devome engajar para transformar a realida-de”, daí a realidade fica imóvel. A reali-dade morre de rir. Isso que desejo paraficar horrível como eu sou. (risos)

IDÉIAS – Qual você acha que é opapel do intelectual hoje, na Améri-ca Latina?Galeano – Não sei. Eu nunca con-testo esse tipo de programa porquequem sou eu para decidir o papel do in-telectual. Eu só sei o que eu sei. Sempreque eu estou habitando uma realidademaravilhosa e horrorosa, que mereceser contagiada, que merece ser trans-mitida, comunicada, revelada porquecoisas melhores e piores mais impor-tantes da realidade não são visíveis.Você precisa chegar mais lá, no passa-do, no presente. Passado também, his-tória real e uma história mentida, umahistória que não está assim visível. Ahistória oficial é uma coleção de men-tiras onde heróis dizendo grandes fra-ses que não são a verdade dos tempospassados. Essas terras nossas... Porquê? Porque a palavra que vale a penaescutar é a palavra dos desprezados.Tenho muitos bons amigos, intelectu-ais, que têm uma certa tendência aacreditar que o povo é mudo. Não sefala daquele que não tem voz. Voz te-mos todos. Todos temos alguma coisadigna que merece ser oferecida aos ou-tros. Alguma palavra que mereça serdita, alguma palavra que mereça ser es-cutada, celebrada ou ao menos perdo-ada. Então, o problema é saber escutar

para saber falar. Sempre digo: é condi-ção essencial escutar as vozes, as vozesjamais escutadas. São as vozes verda-deiras. Ai, você soma o passado latino-americano, passo ditado pelos machos,pelos brancos, pelos militares, e pela eli-te dominante. Cinco, dez, 50 pessoas.Então, a realidade de verdade é paramim uma fonte de tentação contínua.Que boa coisa para ser contatada..., queboa energia para ser comunicada, e aque vem dos outros, não escutados, dasmulheres, dos negros, dos índios, dospobres, dos civis. Daqueles que não estão,que não figuram ai. Nós pertencemos a na-ções que nasceram mutiladas. Então, elastêm uma cultura passada, literatura, quetambém está mutilada. Tenho a modestaintenção de contribuir para a recuperaçãodessas vozes perdidas.

IDÉIAS – Outra questão que a gen-te sempre discute, nós jornalistas eescritores, no mundo da comunica-ção. Como você vê hoje a mídia naAmérica Latina, essa que tem até a si-gla, Sociedade Interamericana de Im-prensa, a todo momento fala que de-fende a liberdade de imprensa, etc etal, como você vê esse quadro atual?Galeano – Sim, uma coisa é liberda-de de imprensa, uma outra é liberdade deempresa. Uma coisa é liberdade de expres-são e a outra diferente, às vezes até inimi-ga da liberdade de expressão, é a liberda-de de pressão. Essa liberdade de pressão éexercida pelas grandes empresas dominan-tes nos meios de comunicação. Aí é preci-so descobrir qual é a verdade das mentirasque cotidianamente você recebe

“Eu acho que apalavra pode ter um certopoder transformador. Nãovai mudar o mundo, massempre tem influênciagrande. Os grandes livrosde maior influência nomundo estão aí parademonstrar que a palavranão é inútil. A Bíblia, oAlcorão, o Capital, sei láquantos”

“Uma coisa é liberdadede imprensa, uma outra éliberdade de empresa. Umacoisa é liberdade deexpressão e a outradiferente, às vezes atéinimiga da liberdade deexpressão, é a liberdade depressão

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26 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Meio Ambiente A WWF e a cervejaria Heineken propunham a dissolução dos Estadosnacionais europeus para dar lugar a um governo supranacional

Ong World Wildlife Foundation(Fundação da Vida Selvagem) as-sinala que, para o ano 2050, osrecursos naturais do planeta se-

rão insuficientes para abastecer umapopulação humana estimada em unsdez bilhões de seres. No fundo, eles afir-mam que milhões e milhões de crian-ças, mulheres e homens sobram e so-brarão neste mundo. O WWF mente. AMãe Terra tem capacidade para alojaressa população, sempre e desde quedeixe de ser ferida de morte e depreda-da, como hoje. É agora ou nunca.

Por que afirmo que o WWF não de-fende a vida, mas na verdade advoga poruma cultura da morte? Pelo seguinte: OWWF foi fundado em 1971 pelos prín-cipes Felipe, do Reino Unido, eBernardo, da Holanda (é bom lembrarque a Shell, empresa petrolífera, é umaestatal anglo-holandesa) com o supos-to propósito de defender determinadasespécies de animais, como o urso panda.O informe elaborado pelo professor JohnPhillipson da Universidade de Oxford, apedido da próprio WWF em 1989, de-

O lado obscuro da Ong WorldWildlife Foundation (WWF)

O lado obscuro da Ong WorldWildlife Foundation (WWF)

terminou que o que a instituição menosfazia era salvar as espécies que havia pro-posto salvar da extinção. Integram suadiretoria representantes das empresasmultinacionais americanas e européias,organismos financeiros e econômicos in-ternacionais e funcionários de diversosgovernos dos países mais ricos do mun-do.

Na década de 1990, a WWF e a cerve-jaria Heineken, uma das multinacionaispatrocinadoras da instituição, realizaramestudos que propunham a dissoluçãodos Estados nacionais europeus para darlugar a um governo supranacional, ma-nejado por essas corporações. Essa idéiafoi abrigada na Constituição Européia,repudiada há um ano, pelos povos daFrança e da Holanda. O caso mais gravee patente foi o dos elefantes em Ruanda.

A African Wildlife LeadershipFoundation, criada por Russel Train,presidente do WWF dos Estados Uni-dos, convenceu o governo ruandês daimpossibilidade de proteger a elefan-tes e gorilas simultâneamente e, por-tanto, como havia muitos elefantes naÁfrica e na Ásia, e poucos gorilas, eraconveniente matar os elefantes.

Uma assistente da bióloga especia-lista em gorilas Dian Fossey — cuja vidafoi reproduzida em um filme chamado“Nas Montanhas dos Gorilas”, comSigourney Weaver — e cujo assassina-to não foi devidamente esclarecido, de-nunciou que os elefantes foram mor-tos porque as terras onde viviam eramideal para o cultivo de Piretro, uma plan-ta da família dos crisântemos. É daí quese obtém a piretrina, um inseticida na-tural não contaminante.

Quando foi descoberto um substitu-to sintético da piretrina, a produção depiretro acabou. O dano ambiental emRuanda alcançou níveis trágicos e catas-tróficos. Os bosques perdidos para sem-pre, as encostas das montanhas, ondeviviam os elefantes, perderam sua cama-da vegetal com a erosão, os rios foramassoreados, as inundações ocorreramcom mais freqüência, levando tudo pelocaminho, obrigando as pessoas do cam-po a engrossar as favelas das miseráveiscidades ruandesas

(*) Professora, secretária-geral do Centrode Militares para a Democracia Argenti-na (Cemida) - Agência Argenpress.

Elsa M. Bruzzone *

A

RE

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 27MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Nacional

O Bom Dia Brasil do dia 7 de dezembrode 2006 dedicou 13 minutos ao “caosaéreo”. Quando caiu o avião da Gol, oJornal Nacional não noticiou. Mas, ago-ra, a Globo parece especialmente preo-cupada com o “caos aéreo”. No BomDia, a âncora Claudia Bontempo, comosempre, desempenhou com entusias-mo o papel de vice-líder da oposição,em Brasília. A âncora, Renata Vascon-celos tem opiniões. E opiniões sobre oandamento da economia nacional.

Depois que a praça de São Paulo co-meteu a impropriedade de levantar aremota possibilidade de, por acaso, porobra do destino ingrato, pela mão deDeus, quem sabe?, de alguns setoresindustriais, talvez, hipoteticamente, ga-nharem dinheiro em 2007, eis que Re-nata Vasconcelos, notória analista desistemas macro-econômicos, teceu co-mentário arrasador sobre a hipótesemais provável: tudo vai dar errado, por-que a maioria dos empresários, segun-do Vasconcelos, não pensa como dissea precipitada repórter de São Paulo.

Miriam Leitão, a Controladora Geral da União

Chegamos à Controladora Geral da Re-pública, Miriam Leitão. É notável a ca-pacidade da Controladora Geral de daropinião sobre tudo. A controladora, nodia 7 de dezembro, não deu opinião so-bre economia, porque, em seu lugar, Re-nata Vasconcelos deu o rumo definitivoaos destinos do empresariado nacional.Leitão, a controladora, falou, com a usu-al veemência, sobre o “caos aéreo”. Emseguida, sobre os salários do Judiciário.

Pouco importa, aqui, a múltiplaopinião de Miriam Leitão, deBontempo ou de Vasconcelos. Elastêm a opinião que o dono da empre-sa considerar adequada. O que me pa-rece relevante a considerar é que oBrasil é único lugar do mundo – queconheço – em que a TV aberta, umserviço público, exibe opinião semdizer que é opinião. TV aberta temque colocar uma legenda na telinhaque diga “OPINIÃO’’ ou “EDITORIAL”,quando o dono da empresa quisermanifestar sua opinião. Seja atravésdo ancora, do locutor em off, ou atra-vés de “colunistas” (que podem dizero que quiserem desde que digam o

que o dono da empresa aprovar).Por que eu, beneficiário de um ser-

viço público, que quer saber sobre otempo em São Paulo, ou sobre as saí-das de vôos de Congonhas, tenho queme submeter à opinião de quem aGlobo deu o poder ser a ControladoraGeral da República? Opinião, tenhoas minhas. O “colunismo” ou o“opinionismo” na TV aberta é umabuso de poder das redes de televi-são, que operam por concessão. Éuma desastrosa contribuição brasilei-ra à civilização ocidental. Imaginema Controladora Geral da República naBBC. Na CBS. Na CBC canadense???

“Opinionismo” ou “colunismo” écoisa para a TV paga. O freguês vailá, paga e vê. Gostou? Tudo bem. Con-tinua a pagar. Não gostou? Não pagamais. A família Marinho (através daControladora Geral da Republica, daClaudia Bontempo, ou da Renata Vas-concelos) não tem o direito de enfiar asuas opiniões pela goela do freguês

(*) Jornalista – texto tirado do blog Con-versa Afiada

Paulo Henrique Amorim *

Brasil é o único lugar do mundo – que conheço – em que a TV aberta, umserviço público, exibe opinião sem dizer que é opinião

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28 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

encontro teve um novo caráterde relacionamento. De acordocom ministro da Secretaria-Geralda Presidência, Luiz Dulci, os

movimentos sociais trataram dos ru-mos do próprio governo. Dulci afir-mou que o presidente evitou pontosespecíficos em prol de um debate “defundo”. No entanto, este “novo mo-mento” não foi apenas uma iniciativado governo, mas mereceu destaque naprópria carta entregue pelos movi-mentos ao presidente. O documentotem como centro a defesa de um novomodelo de desenvolvimento “que re-tire as amarras da dependência do ca-pital internacional e financeiro, dosresquícios do neoliberalismo aindapresente na atual política econômicae, para isso, organize a produção e oEstado em benefício dos interesses damaioria da população”.

Para este novo modelo, recuperou-se o recorrente pleito das mudanças napolítica econômica. “Defendemos a ne-cessidade de novos parâmetros para apolítica econômica, com a definição demetas de crescimento que contemplempelo menos 5% ao ano, que tenha comocentro de seus objetivos a distribuiçãode renda, a geração de empregos e auniversalização dos serviços públicos deeducação, saúde, transporte público,entre outros”, diz o documento.

Isso inclui a redução dos juros e dosuperávit primário, bem como o au-

Nacional Precisamos criar mecanismos concretos para que o povo possa participar e decicir.

Lula recebe movimentos sociais paradiscutir rumos do novo mandato

mento dos investimentos sociais,usando para isso a poupança de gran-des bancos públicos como o BancoNacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social, a Caixa Econômica Fe-deral e o Banco do Brasil. Os presentesfizeram questão de ressaltar que ospontos apresentados não são meroscompromissos retóricos, mas consti-tuem um programa que orientará asdisputas sustentadas pelas organiza-ções. Exemplo disso, é a negociaçãosobre o aumento do salário mínimo.

Outro eixo do novo modelo de de-senvolvimento é a ampliação da parti-cipação popular nos processosdecisórios no âmbito do Estado. Estanoção, segundo o documento apre-sentado, deve permear a reforma polí-

tica, pauta do governo e do Parlamen-to em 2007. “Defendemos uma Refor-ma Política que realmente representemaior democratização do sistema depoder e representação em todos osníveis, como partidário, Legislativo,Judiciário e Executivo. Precisamos cri-ar mecanismos concretos para que opovo possa participar e decidir”, diz acarta. Segundo João Paulo Rodrigues,do MST, os movimentos defenderamque a abertura existente nos conselhosconsultivos fosse ampliada às instân-cias deliberativas, como o Conselho dePolítica Monetária (Copom).

Um dos temas que deve gerar polê-mica é a discussão sobre a ampliaçãoda participação no Copom. A propos-ta dos movimentos é que trabalhado-res e empresários possam ter assentono espaço e que nele passem a ser tra-balhadas metas de crescimento e em-prego. Segundo João Paulo Rodrigues,o “novo momento” entre governo e osmovimentos sociais também será mar-cado pela tensão entre o diálogo e asmobilizações, na qual o termômetroserá não mais uma aliança a priori, maso acordo entre as ações da gestão e apauta das organizações. – “Nósestamos disponíveis a construir umaagenda que possa trazer avanço paraos trabalhadores. Caso contrário, ogoverno sabe que os movimentos têmforça para botar gente na rua” – , apon-tou. Pressão não faltará

(*) Carta Maior

Jonas Valente *

O

Historicamente, a interlocução do governo com os movimentos sociais se concentrou nasreivindicações temáticas e específicas de cada organização. Representantes da

Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), que reúne o Movimento dos TrabalhadoresRurais Sem Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Nacional dos

Estudantes (UNE), entre outros, foram recebidos pelo Planalto, no dia 13 de dezembro,para participar de uma reunião com o presidente Lula.

“Defendemos umareforma política querealmente representemaior democratização dosistema de poder erepresentação em todos osníveis, como partidário,Legislativo, Judiciário eExecutivo. Precisamos criarmecanismos concretos paraque o povo possa participare decidir”

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 29MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

“Para garantirmo-noscomo o principal símbolodas lutas pela emancipaçãoda classe, precisamos serofensivos na visibilidadedas nossas conquistas, danossa história e nademonstração da nossacapacidade de convocação”

á uma crise do sindicalismo quenão é recente. Tem raízes na pró-pria desestruturação da classetrabalhadora, sob o impacto das

políticas neoliberais nos anos 1990, ena crise política e ideológica da esquer-da 15 anos atrás. A questão é: comoresponder a essa crise estrutural nes-ta conjuntura. A correlação de forçasatual no movimento sindical repõevelhos problemas. As campanhas sa-lariais foram marcadas, por um lado,pelos ganhos históricos da maioriados ramos (reposição da inflação e au-mento real) e, por outro, pelotensionamento vindo do sectarismoesquerdista e da falta de habilidadedos comandos das campanhas em ne-gociar internamente, em alguns casos.

A tática da CUT parasuperar o neoliberalismo

O primeiro governo Lula impulsi-onou mudanças e avanços com um ca-ráter popular, mas não conseguiu iradiante em mudanças estruturais fun-damentais. Para que isso se concreti-ze é necessário que a CUT e os demaismovimentos sociais se mobilizem epressionem pela superação plena doneoliberalismo.

São de bandeiras a ser priorizadaspela CUT no atual período: aprovaçãode uma política nacional de valoriza-ção do salário mínimo; redução dajornada de trabalho sem diminuir ossalários (40 horas semanais com re-gulamentação das horas extras);formalização do trabalho (retirar mi-lhões de trabalhadores dainformalidade, sem mexer no padrãode direitos já conquistados); altera-ções constitucionais para garantir aliberdade de organização sindical;

Nacional A maior central sindical do país necessita aprofundar e consolidar a suarepresentatividade junto aos trabalhadores.

As perspectivas para a CUT em 2007

instituição de mecanismos de demo-cracia participativa; saúde do traba-lhador; democratização dos meios decomunicação; e, uma nova relação dosgovernos com os servidores públicos.

Projeto Cutista:vamos atualizar a aposta

A maior central sindical do país necessi-ta aprofundar e consolidar suarepresentatividade junto aos trabalha-

dores. Para garantirmo-nos como o prin-cipal símbolo das lutas pela emancipa-ção da classe, precisamos ser ofensivosna visibilidade das nossas conquistas, danossa história e na demonstração danossa capacidade de convocação. A ino-vação nas formas de organização está nagênese do projeto cutista. Essa capaci-dade de reinventar os espaços de repre-sentação urge ser recuperada neste mo-mento, dando respostas às massas detrabalhadores desempregados e refénsda informalidade, excluídos de direitos.

A CUT deve desenvolver uma visãode projeto de país. Na plataforma de-mocrática aprovada no último Concutestão alguns dos seus componentesfundamentais e nela devemos identi-ficar quais pontos devem ser trabalha-dos prioritariamente. A CUT deve afir-mar sua autonomia frente ao governoe aos partidos, reforçar sua democra-cia interna para decisão emobilização. O papel da central naconjuntura é defender os direitos ereivindicações dos trabalhadores econstruir um vigoroso movimentoem defesa do projeto democrático epopular.

Para isso, devemos desenvolveralianças com setores identificadoscom nossos objetivos, sejam elesparlamentares, governos, partidospolíticos, outros movimentos soci-ais. Uma estratégia de fortalecimen-to da CUT deve passar por uma polí-tica de renovação da própria central,para adequá-la aos tempos atuais. Aformação de alianças com outros mo-vimentos sociais é elemento funda-mental para os próximo ano na CUT.

Em 2007, juntos construiremosuma CUT forte e bastante próxima aostrabalhadores. Pois somente unidospodemos ganhar essa luta

(*) Presidente CUT/RJ

Neuza Pinto *

H

FOTO: SAMUEL TOSTA

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30 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

a euforia mercantil que tomouconta do país há uma década emeia, surgiu a panacéia para ofutebol (e para os outros espor-

tes): “profissionalização” tornou-se apalavra mágica. Lei Pelé ou como fi-cou conhecida a lei, supostamentedaria mais liberdade aos jogadores emelhor administração aos clubes. Maso que aconteceu com os esportes – e,em particular o futebol? O que maisavançou não foi a melhoria na gestãodos clubes, nem suas finanças, menosainda as instalações esportivas ou aformação dos jogadores e a conse-qüente melhoria na qualidade do fu-tebol. A principal mudança foi a pas-sagem do reinado dos clubes para odos empresários.

A mercantilização se estendeu até li-mites insuspeitos: camisas coalhadas depublicidade, fazendo desaparecer o dis-tintivo dos clubes. Jogadores e treina-dores que só dão entrevistas com bonésde patrocinadores. Jogadores que fazemgestos das empresas que os patrocinamquando fazem gol ou correm na direçãodas placas de publicidade dos seus pa-trocinadores e que deixam seus clubesno meio do campeonato por “propos-tas irrecusáveis” da Bielorrúsia. E, maisgrave ainda, jovens comprados e vendi-dos em terna idade, sem formação men-tal e física minimamente estruturada,levados para o exterior. Os jogadores selivraram da despótica lei do passe parase transformar em mercadorias nasmãos dos empresários.

Como se tivessem sido abolidos osgrilhões da servidão medieval paraque os jogadores se tornassem “li-vres” – com são “livres” os trabalha-dores no capitalismo: têm que vendersua força de trabalho, por não ter mei-os próprios de sobrevivência. A liber-

Nacional Os jogadores se livraram da despótica lei do passe para se transformar emmercadorias nas mãos dos empresários

Neoliberalismo no futebol

dade passou a ser a do empresário e ado capital. Os profissionais que passa-ram a ter poder não foram bonsgestores, mas empresários, sem ne-nhum compromisso com os clubes.Então, estaríamos condenados aosEuricos Mirandas, aos MustafasContursis e outros do tipo?

Não necessariamente. No capita-lismo se protege o direito do capi-tal de buscar lucros da forma queconseguir, não há democratizaçãopossível, nem os clubes podem fa-zer alguma coisa diante da proprie-dade privada dos passes dos joga-dores. Para democratizar o futebolé preciso desmercantilizá-lo. É pre-ciso democratizar os clubes, impri-mir-lhes o caráter público. Cuidar doFlamengo e do Corínthians – paratomar os dois clubes de maior tor-cida no Brasil – é uma função públi-ca, que atinge a identidade, o esta-do de ânimo, produz alegria, sofri-

mento em milhões de pessoas.Hoje, os clubes se interessam ain-

da menos em formar jogadores, por-que rapidamente eles se tornam pro-priedade de empresários. Jogadoresnão têm mais nenhum apego ao clu-be em que jogam, já que podem ago-ra jogar por dois clubes no mesmocampeonato. Alguns se orgulham deterem jogado em todos os grandesclubes do Rio e de São Paulo, tendobeijado as camisas, à que juraramamor eterno. Os trabalhadores nãotêm pátria no capitalismo, dizia Marx.São explorados igualmente pelo ca-pital, não importando a fronteira, fe-nômeno que se estendeu ao futebol– com jogadores brasileiros partici-pando da seleção de países de quenão tínhamos ouvido falar.

A superação desse processo demercantilização, de banalização, deconspurcação da identidade futebo-lística – das únicas identidades quepermanecem, quando tantas outras(políticas, de gênero, nacionais, en-tre outras) entraram em crise – sópode se dar por políticas públicas noesporte que abranjam também osclubes

(*) Sociólogo e professor da Uerj

Emir Sader *

N

“Para democratizaro futebol é precisodesmercantilizá-lo. Épreciso democratizar osclubes, imprimir-lhes ocaráter público”

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 31MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Nacional Não queremos um crescimento econômico falacioso, que beneficiesomente as classes dominantes.

Assim, a vitória de Lula deixou claroque se abriu uma nova conjuntura polí-tica no país e que a sociedade, tendo osmovimentos sociais à frente, queremmudanças nos rumos da política econô-mica e aprofundamento de políticas pú-blicas que possam avançar na inclusãosocial e em um novo modelo de desen-volvimento.

Nesse sentido, nos somamos, comomovimentos sociais, como central sin-dical, como via campesina, com aquelesque reivindicam as transformações. Maisalém de ajustes na política econômica,com a redução do elevado superávit pri-mário e a alocação de recursos nas áreassociais, precisamos debater um novoprojeto para o país, que atenda as ne-cessidades da maioria do povo. Os pro-blemas do povo são claros, precisamosde trabalho para todos, distribuir ren-da, terra, moradia e educação. Um pro-jeto que seja responsável e sustentávelsocial e ambientalmente.

Propomos então desenvolvercom sustentabilidade. Isso signifi-ca que não queremos um crescimen-to econômico falacioso, que benefi-cie somente as classes dominantes,ou um “desenvolvimentismo”

Desenvolvimentocom sustentabilidade

que desconsidere o meio ambiente. Adiscussão de setores que apenas que-rem ganhar dinheiro sonha com obras,hidrelétricas, sem medir custos soci-ais e ambientais é que serão arcadospor toda a sociedade, enquanto elesficam com as margens de lucro.

Precisamos repensar o modelo agríco-la baseado em técnicas predatórias irres-ponsáveis, que produzem alimentos comagrotóxicos e com alto custo ambiental.Precisamos de um novo modelo de ener-gia, que seja sustentável e renovável. In-vestimentos irresponsáveis já têm levadoo nosso planeta a pagar um preço alto.Basta lembrarmos as mudanças climáti-cas e seus impactos sem precedentes.

Não! O Brasil pode afirmar que umoutro mundo é possível. Nossa diversi-dade biológica, cultural e étnica podenos dar as condições objetivas para cons-truirmos um novo modelo de desenvol-vimento. Podemos criar um amplo mer-cado de massas, alicerçado em uma so-berania alimentar, em uma agriculturaecológica e em uma indústria voltadapara os interesses nacionais, incluindoas comunidades tradicionais, os sem-ter-ra, os indígenas e as populações locaisna construção desse novo modelo pro-dutivo. Devemos também observar as di-ferenças regionais, desde o respeito aosecossistemas locais até as culturas po-pulares, proporcionando o desenvolvi-mento local sustentável

João Pedro Stédile, Temístocles Mar-celo Neto e Pedro Ivo Batista *

(*) João Pedro Stédile, economista, é mem-bro da direção nacional do MST (Movimen-to dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) eda Via Campesina; Temístocles MarcelosNeto, sindicalista, é membro da executivanacional da CUT (Central ?nica dos Traba-lhadores); Pedro Ivo Batista é membro daCoordenação da Rede Brasileira deEcossocialismo.

O debate de fundo nessesúltimos meses que

antecederam o segundomandato de Lula tem se

referido ao modelo dedesenvolvimento a ser

perseguido. Inicialmente,é importante ressaltar

que o ambiente queproporcionou a vitória no

segundo turno foi o daafirmação de dois campos

políticos em disputa. Porum lado, a candidatura

Lula, que sustentou ocombate ao

neoliberalismo e anecessidade da retomada

do crescimentoeconômico com

distribuição de renda einclusão social. Do outro,o PSDB-PFL defendendo o

neoliberalismo puro.

“Precisamos de um novomodelo de energia, que sejasustentável e renovável.Investimentos irresponsáveisjá têm levado o nosso planetaa pagar um preço alto.

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32 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Nacional Lula tem consciência das dificuldades e obstáculos, até porque sabe que apartida para 2010 já foi dada.

presidente Lula tomou possepara um segundo mandato pra-ticamente sem um partido polí-tico a sustentar-lhe. O que vale

dizer, sem qualquer compromisso como “seu” partido, o PT. Uma coalizaçãode legendas que vai da direita a, deixapara lá, vai tentar implementar um pro-jeto Lula. Só isso, nada mais.

Essa fantástica capacidade damarca Lula sobreviver a todo um es-quema da mídia e das elitespaulistas para derrotá-locredenciam-na, a marca, a tentarmedidas que chama de “destravar”a economia para permitir o tal cres-cimento econômico. Ou seja, vaiseguir os parâmetros doneoliberalismo, com discursopopulista, manter os programas so-

O segundo governo Lula

ciais de efeito notável em sua recu-peração depois de massacrado pormensalões, Rede Globo, Folha deSão Paulo, Veja, etc. Lula tem cons-ciência das dificuldades e obstácu-los, até porque sabe que a partidapara 2010 já foi dada nos dois prin-cipais estados da Federação. SãoPaulo e Minas Gerais, com os respec-tivos governadores: José Serra e oreeleito Aécio Neves. E como no Bra-sil tudo é possível, não é impossívelque, no futuro, o próprio presiden-te, se escore num desses dois, ou nosdois, para sustentar-se diante depitt bulls do tipo PFL (já quase semdentes) e PSDB (mais perigoso, poisnão foi vacinado e baba de FHCmata em um segundo).

O presidente reeleito só terá mi-nistério definitivo possivelmenteem fevereiro. Vai esperar pela elei-

ção dos presidentes das mesas da Câma-ra e do Senado. Quer o que chama de“maior articulação com o Congresso”.Isso, trocado em miúdos, entre outrascoisas, pode significar a volta de SeverinoCavalcanti, primeiro suplente no seupartido e no seu Estado, Pernambuco.É óbvio que Dilma Roussef permane-ce em qualquer circunstância, a nãoser que não queira. E seria um desas-tre trocar o comando da política ex-terna. Furlan quer sair.

Tarso Genro se conseguir morder alíngua cada vez que abrir a boca e re-duzir pela metade o monte de asnei-ras que fala, tem chances. O resto éincógnita, embora tenha lugar, ondequer que queira, o recém eleito depu-tado Ciro Gomes, apontado como can-didato preferencial de Lula para 2010.

Renan Calheiros vai ser, ou já é, umdos homens fortes do esquema. MichelTemer parece estar em marcha batidapara o governo. E se conseguir susten-tar-se na presidência do PMDB.

No frigir dos ovos, o mundoinstitucional continua o mesmo. Nãorepresenta coisa alguma, não tem al-ternativas e nem saídas fora dos esque-mas conhecidos, por menos ruim queLula seja em relação a Alckmin, ouqualquer tucano. A saída é a preconi-zada por algumas importantes lide-ranças: o movimento popular.A real saída para o Brasil passa pelossem terra, pelos sem teto, pelos de-sempregados, pela organização epela luta popular. Fora isso vamosouvir e ter que aguentar Paulo SalimMaluf falando em dignidade. E a fis-calização carregando pastinha paralá e para cá, cheia de papéis e vento.E o tal de corte de custos. Corta emcima, corta embaixo

(*) Jornalista

Laerte Braga *

O

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 33MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Ninguém atura maisAlexandre Gracinha

Fulgêncio Pena Branca O hoje “democrata” começou sua carreirajornalística puxando saco do general Figueiredo.

em, mas esta é uma coluna dehumor, por vezes de mau hu-mor em ambos os sentidos, eele não constaria daqui se não

tivesse lá dito sua besteirinha tam-bém. Na verdade, não uma, mas algu-mas. Seguindo a mais feroz linhaArnaldo Jabour do Neo-Macarthismo,Alexandre Gracinha responsabilizoue criminalizou o PT pelos atos come-tidos pelo MLST. Até aí, necas, afinal,toda a direita correu para fazer omesmo.

Mas, o pior é que mentiudeslavadamente, porque relembroudo seqüestro de Abílio Diniz, em1989, que ajudou a imputar ao Parti-do dos Trabalhadores e que, já foiprovado tal ligação era um factóide.Porém, sua sanha anti-popular não

pára por aí. Ele quer a volta do votocensitário... Se der corda ele defen-de a volta da escravidão e parte logopara contratar uns cinco escravosdomésticos.

Sim, ressuscitando o tempo do Im-pério, no qual só os homens de bensvotavam, Gracinha defende, aprovei-tando o argumento fascistóide de umtal de Nemer Sanches, que haja umaprova para eleitor. Prova? E quem vaiser o gênio que criará os critérios?Tomara que não seja este anta, querdizer, âncora da Globo... Para ele anal-fabeto não pode votar. Mas pode tra-balhar e pagar imposto. A perguntaimbecil é, porque em lugar de acabarcom o voto do analfabeto não se aca-ba com o analfabetismo?

Mas, daí, donde o seu Gracinha vai

(*) Escritor, alcoólatra, hipocondríaco,escreve de graça para esta coluna porfalta de coisa útil para fazer.

conseguir seus futuros escravos do-mésticos. Fico imaginando tal prova...Como seria... Aliás, eu queria ver es-tes gênios que papagaiam na Globo fa-zendo qualquer concursinho públicoborra-botas, ah, isto eu queria...

Concurso para jornalista de tele-visão... Já imaginaram? Estespseudo-intelectuais, fãs de Sandy ePaulo Coelho suando, quase se ca-gando fazendo uma provinha besta?

Aposto que não chegavam aos10% de acerto... O primeiro empre-go a ser cassado seria o do talGracinha... E ia ter de voltar a puxaro saco dos Collors e ACMs da vida

Para ser respeitado no Brasil, basta colocar um terno e um óculos. Eu não sei porque,mas quase todo “âncora” da Globo usa terno e óculos. Dá um ar de“respeitabilidade”, de intelectual, mesmo que o sujeito só tenha lido três livros navida, sendo que dois eram de Paulo Coelho... Alexandre Garcia é um destes tais. Ohoje “democrata” começou sua carreira jornalística puxando o saco do generalFigueiredo e mamando nas tetas da ditadura militar; era simplesmente do gabinetemilitar do João. Gracinha, mantendo sua coerência e sua vocação elitista, lutou paraeleger e apoiou entusiasticamente o caçador de maracujás, Fernando Collor e, comoprêmio por bons serviços prestados à nação, ganhou sua vaguinha no Império Globo.

B

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34 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

redy Muñoz, correspondente daTelesul em Bogotá, esteve presodurante 52 dias, sob a absurda acu-sação de terrorismo. Ele foi deti-do no Aeroporto de Bogotá quan-

do retornava de Caracas, onde partici-pou de um curso para o aprimoramentodos jornalistas do canal interestatal(Venezuela, Argentina, Uruguai, Bolíviae Cuba) de integração latino-americana.Muñoz tinha saído normalmente dopaís onde é profissional de imprensa hávários anos.

A libertação de Muñoz, ocorrida nodia 9 de janeiro, foi tomada, segundoinformaram seus advogados, com baseem uma série de irregularidades no pro-cesso, que vão desde a própria prisãoaté a convocação de “testemunhas ma-rionetes”. Um dos testemunhos denun-ciou que estava sendo pressionado paradepor contra o jornalista, a quem nem

Prisão de Muñoz: violência contrao jornalismo independente

conhecia. O processo contra Muñoz con-tinua. Há temores de que grupos para-militares atentem contra a vida do jor-nalista. Existem precedentes nesse sen-tido de presos libertados pela Justiça eposteriormente assassinados.

Na verdade, a prisão do jornalista sig-nificou, de fato, uma violência contra umtipo de jornalismo, independente, livre ecrítico, como o exercido pela Telesul, ocanal de integração latino-americano. Aacusação das autoridades colombianas

de que Muñoz participou anos atrás deatividades promovidas pela guerrilha queluta por justiça social não tem o mínimofundamento, não se sustenta. Mais estra-nho ainda é que a prisão aconteceu anosdepois da acusação formulada por teste-munhas suspeitas e com o visível objeti-vo de indispor a Telesul na Colômbia.

Muñoz, vale registrar, é um jornalis-ta independente, de 36 anos, que já ti-nha sido repórter em vários órgãos deimprensa do país e era considerado umadas maiores revelações da nova geraçãode jornalistas colombianos.

Em várias partes da América Lati-na, entidades jornalísticas e de defesados direitos humanos semanfiestaram exigindo a imediata li-bertação de Fredy Muñoz. Aqui no Bra-sil, a Associação Brasileira de Impren-sa (ABI) e o Sindicato dos JornalistasProfissionais do Distrito Federal divul-garam notas de solidariedade ao cor-respondente da Telesul em Bogotá

Mário Augusto Jakobskind “Em várias partes daAmérica Latina, entidadesjornalísticas e de defesados direitos humanos semanifestaram exigindo aimediata libertação deFredy Muñoz“

F

Internacional Há temores que grupos paramilitares atentem contra a vida dojornalista. Há precedentes nesse sentido.

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 35MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Internacional Desde 1967, Israel impõe seu controle sobre os territórios palestinos comose fosse um poder colonial, sob a aparência de ocupação.

Acompanhando o movimento mun-dial anti-apartheid, poderíamos esperarum esforço internacional semelhanteunido em oposição ao odioso tratamen-to dado aos palestinos. Em vez disso,vemos uma comunidade internacionaldividida entre o Ocidente e o resto domundo. O Conselho de Segurança daONU é impedido de agir devido ao vetodos EUA e à abstenção da União Euro-péia. O novo livro do ex-presidenteJimmy Carter “Palestine: Peace NotApartheid” (Palestina: paz e nãoapartheid) acende uma controvérsia de-vido a sua alegação de que Israel praticauma forma de apartheid.

O apartheid era um sistema de dis-criminação racial institucionalizada, quea minoria branca empregava na Áfricado Sul para manter o poder sobre a mai-oria negra. Caracterizava-se por negaraos negros seus direitos políticos, porfragmentar o país em áreas para bran-cos e áreas para negros (chamadasbantustões), e por impor aos negrosmedidas restritivas, com o objetivo deimplementar a superioridade branca, aseparação racial, e conseguir segurançapara os brancos.

Os territórios palestinos: Jerusalémoriental, a margem ocidental e Gaza têmestado sob ocupação militar de Israeldesde 1967. Embora seja tolerada e re-gulamentada pela legislação internaci-onal, a ocupação militar é consideradaum regime indesejável, que deve ser ter-minado o mais depressa possível. A ONUpor quase 40 anos tem condenado aocupação militar de Israel, junto com ocolonialismo e o apartheid, como sen-do contrários à ordem pública interna-cional.

Em princípio, o objetivo de uma ocu-

Apartheid: Israel adota oque a África do Sul deixou

pação militar é diferente do objetivo doapartheid. A ocupação não é planejadapara ser um regime opressivo de longoprazo, mas como uma medida provisó-ria que mantém a lei e a ordem num ter-ritório após um conflito armado e atéque haja um acordo de paz. Mas estanão é a natureza da ocupação israelenseda Palestina. Desde 1967, Israel impõeseu controle sobre os territórios palesti-nos como se fosse um poder colonial,sob a aparência de ocupação.

O método israelense tem muitos as-pectos de uma colonização. Ao mesmotempo, tem muitas das piores caracte-rísticas do apartheid. A margem ociden-tal foi fragmentada em três áreas: Norte(Jenin e Nablus), Centro (Ramallah) e Sul(Hebron), que cada vez mais se parecemcom os bantustões da África do Sul.

As restrições à liberdade de movi-mentos impostas por um rígido sistemade licenças, cuja obrigatoriedade é re-forçada por uns 520 pontos dechecagem e barreiras nas estradas, se pa-recem com o sistema de passes doapartheid, mas em sua severidade vãobem além dele.

A destruição em larga escala pratica-da por Israel, o arrasamento de terras deagricultura, as incursões militares e as-sassinatos de palestinos escolhidoscomo alvo excedem de longe quaisquerpráticas semelhantes ocorridas na Áfri-ca do Sul nos tempos do apartheid. Ne-nhum muro foi jamais erguido para se-parar negros e brancos. Mas, sim para opovo palestino por ter eleito, de mododemocrático, um governo consideradoinaceitável por Israel e pelo ocidente

John Dugard *

(*) Professor de direito que leciona naHolanda. Atualmente é relator especial so-bre a Palestina para o Conselho de DireitosHumanos das Nações Unidas.

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36 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Internacional Nos Estados Unidos a mentira é a língua corrente da nação

os Estados Unidos, a mentira é alíngua corrente da nação, segundoo famoso escritor norte-americanoGore Vidal, que fez recentemente

uma visita de cinco dias a Havana.–Não há mentira que o nosso gover-

no não nos conte quando fala de Cuba –disse Vidal em uma entrevista ao jornal“Juventud Rebelde”, que o define comoo mais corrosivo crítico do atual gover-no republicano de George W. Bush. Vidalentende que em 11 de setembro de2001 (quando se produziram os atenta-dos contra as Torres Gêmeas) “houve umgolpe de Estado nos Estados Unidos, oprimeiro em nossa história”.

– Um golpe no qual um grupo degente desonesta de uma junta petro-lífera usurpou o poder do Estado e jo-gou abaixo o Congresso. É um fatoúnico e os detalhes vão formar algumdia uma grande história – previu.Neste contexto, estimou que “as san-ções contra os norte-americanos quequerem uma relação normal com Cubasão filhas destas circunstâncias”.

Perguntado sobre os cinco jovenscubanos que há oito anos estão pre-sos nos Estados Unidos e foram víti-mas de um intricado processo judi-cial, afirmou que “nos encanta pren-der as pessoas, tanto como gosta-mos da pena de morte. É a estrelamais brilhante de nosso sistema so-lar” . Vidal acrescentou que “temosum país louco por tortura, por as-sassinato, por execuções, por sen-tenças para prisão perpétua”.– É uma mentalidade perversa, influ-enciada pelo puritanismo protestan-te - explicou Vidal, que é também con-siderado como o escritor norte-ame-ricano mais erudito de sua geração.

– Entendo que o presidente (Bill)Clinton e o presidente (Fidel) Castrotrocaram mensagens para deter os

terroristas de Miami que tinham colo-cado bombas em hotéis e escritóriosde empresas que enviavam turistas àilha. Ambos estavam de acordo queesta situação deveria parar. Clintonpediu ao FBI (Escritório Federal de In-vestigações dos Estados Unidos) quefosse a Cuba e Castro concordou. Emvez de prender os terroristas, o FBIprendeu os cubanos – lembrou.

Sobre a eleição de George W.

Bush, como inquilino da Casa Bran-ca, ele considerou que “se o povoestadunidense tivesse tido uma ver-dadeira imprensa livre e alguns mei-os de comunicação alertas, jamaiseste homem teria sido eleito”.

Assegurou que o governo Bush é tãoextremista e há pessoas com as mentestão vazias, que seriam capazes de co-meçar a bombardear a Rússia, o Irã, sim-plesmente para desviar a atenção deoutra guerra (no Iraque) para que o go-verno não caía antes do tempo.

– Eles são especialistas em fabricaros pretextos para criar pânico. Há mui-ta gente nos Estados Unidos que ga-nha dinheiro graças ao temor. Esse é oseu trabalho: assustar – finalizou

Escritor acha que houve um golpe deEstado petrolífero no 11 de setembro*

N

“Eles são especialistasem fabricar os pretextospara criar pânico. Há muitagente nos Estados Unidosque ganha dinheiro graçasao temor. Esse é o seutrabalho: assustar”

Entrevista de Gore Vidal ao jornal cu-bano Juventud Rebelde

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Ano II – número 8 – Janeiro/2007 37MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

Internacional Muitos presos foram fuzilados fora da prisão, tirados dolocal com a cumplicidade dos juízes.

esde 1983, os governos da Argen-tina têm se negado a entregar oespaço em que, durante a ditadu-ra militar, funcionou o Departa-mento de Inteligência da Policía

de Córdoba. Agora, o governador JoséManuel de la Sota, não por suas convic-ções mas por causa do temor de que olocal seja ocupado pela militância, ce-deu o edifício, localizado no PasseioCatalina, contíguo ao Arquivo Histórico,bem no centro da capital mediterrânea.

A cessão foi aprovada por lei emmarço do ano passado. Mas, só novemeses depois se cumpre integralmen-te. A partir de agora, a Comissão Pro-vincial da Memória e os integrantes daComissão de Notáveis, composta porSonia Torres (presidente das Avós daPraça de Maio), Juan Enrique Villa, (ex-secretário geral do Sindicato daPerkins e da Direção Nacional dos Sin-dicatos em Luta nos Anos 70), CarlosAlonso (artista plástico), GuillermoMariani (sacerdote) e SantiagoD´Ambra (de Familiares e Presos porRazões Políticas), têm a missão de con-cretizar crônicas de vida, onde antes

Argentina recupera ex-centro clandestino*

reinou a morte. Precisamente, a pri-meira coisa que pediram foi a entregados arquivos policiais, guardados comcuidado pelos governos anteriores.

Nesse edifício, que ainda mostra emseu interior as celas e os lugares de tor-turas, que culminavam com o assassina-to de dezenas de combatentes, se trans-formará em um local de portas abertas àmemória, a novos projetos políticos esociais. Horas antes da abertura, os or-ganismos de direitos humanos, com apresença de cerca de mil ex-presos polí-ticos e suas famílias, de representantesde organizações sociais, estudantis,camponesas, entre outras, inauguraramum monumento aos fuzilados na peni-tenciária. Entre 30 de abril e 11 de outu-bro de 1976, foram assassinados Eduar-do Bartoli, Miguel Mozé, José Svagusa,Luis Verón, Eduardo Hernández, DianaFidelman, Ricardo Yung, CarlosSgandurra, José Puchetta, ClaudioZorrilla, Miguel Barrera, Mirta Abdón,Esther Barberis, Marta Rossetti deArqueola, José Funes, Rául Bauducco,José Moukarzel, Miguel Vaca Narvaja,Higinio Toranzo, Gustavo de Breuil,

Ricardo Tramontini, Liliana Páez,Florencio Díaz, Pablo Balustra, JorgeGarcía, Oscar Hubert, Miguel Ceballos,Marta González de Baronetto e, em ju-lho de 1978, Osvaldo de Benedetti.

Muitos deles fuzilados fora da pri-são, tirados do local com a cumplici-dade dos juízes, os mesmos que de-pois validavam os comunicados de im-prensa do Exército argentino, em quefalavam de “enfrentamentos” ou “ten-tativas de fuga”. E outros, com tirosna nunca ou esfaqueados nos pátiosdo cárcere, no inverno de 1976, com-pletaram a prática do terror de Estado,cujos responsáveis materiais e intelec-tuais gozam de liberdade, graças a leisde impunidade e a chamada morosida-de dos julgamentos depois da sua re-vogação. Nesse sentido, cabe recordarum dos trechos do documento dos fi-lhos das presas e presos políticos, fuzi-lados na penitenciária: “A democraciafoi generosa com os assassinos”, fazen-do referências às leis de impunidaderevogadas por força da luta

(*) Agência Adital

DArgentinos tiveram que sair às ruas e enfrentar a polícia para conseguir valer os direitos humanos.

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38 Ano II – número 8 – Janeiro/2007MAIS NOTÍCIAS? Portal Sisejufe: http://sisejuferj.org.br

lém da superfície em que vive-mos há duas camadas celestes euma subterrânea. Antes dessadisposição, um marido, indigna-

do com um insulto da esposa, come-çou a cantar, a fumar e a sacudir o cho-calho. De repente, o solo de pedra seergueu e formou a abóbada celeste.Um pessoal conseguiu se agarrar napedra enquanto ela subia. Esses setornaram deuses. Não demorou mui-to e outra pedra começou a subir e ul-trapassou a primeira. O pessoal queconseguiu se agarrar nesta foi morarbem no alto, no céu vermelho.

A terra, agora sem pedras, se dis-solveu na água e quase todos os ho-mens, mulheres e crianças foram co-midos por uma piranha e por um jaca-ré muito grandes. Apenas dois homense uma mulher se salvaram e decidirammorar em cima de uma babaceira.Outros e outras que submergiram enão foram comidos, passaram a habi-tar umas ilhas de um grande rio nomundo inferior.

Apenas um sol ilumina os diferen-tes patamares mas cada patamar tem

Fausto Wolff A lua, pelo menos a que nos ilumina, é um ser masculino que faz asmulheres menstruar porque não transou com elas.

No fim da história o índio morre

suas estrelas e sua lua. A lua, pelo me-nos a que nos ilumina, é um ser mascu-lino que faz as mulheres menstruarporque não transou com elas. O san-gue delas pode ser visto ocasionalmen-te no céu como um halo vermelho.

O luo sofre muito pois todos os diasum espírito feminino corta um pedaçodele. Quando esse espírito acha que aca-bou com o luo, ele volta ao seu tamanhonatural e ela começa a fatia-lo outra vez.

Há um caminho que vai dababaceira ao centro da primeira cama-da superior. É o das almas que já setransformaram em deuses quando vi-sitam a terra. Outro caminho vai darno primeiro céu. É o caminho das al-mas dos que acabaram de morrer. Oaumento do número de mortos vai fa-zer a primeira pedra ficar muito pesa-da e ela vai cair matando muita gente.

Tão ou mais bonitas que esta exis-tem ainda centenas de histórias da cri-ação do mundo contadas por índiossobreviventes em todo o Brasil. Quan-do eu tinha quatro anos e morava nacolônia Buriti, no Rio Grande do Sul,um indiozinho que ia comigo à escolaalemã (era a única no distrito) contou-me uma história parecida. Na dele, se

não me engano, o marido chegava emcasa bêbado e a mulher corria paracima de uma árvore que se levantavapara os céus. Ele viera do Uruguai coma família que tinha uma roça perto dacasa do meu avô. Dizia que era des-cendente de Charruas. Mais tarde sou-be que haviam dizimado todo seupovo 50 anos antes.

Essas histórias estão diminuindoporque no Brasil inteiro matam índi-os à paulada, facada, tiro, veneno en-quanto estupram índias em nome daganância e o governo não faz nadaporque os fazendeiros, os mineiros,os latifundiários são ricos e influen-tes. Muitos índios escapam para a ci-dade onde viram mendigos, carrega-dores de malas, flanelinhas. Mesmoaqueles que vêm à cidade para algu-ma reunião correm perigo como ocoitadinho que foi incendiado por fi-lhinhos de papai em Brasília. Os paisdesses adolescentes tinham amigosinfluentes e os garotos estão em li-berdade. Agora mesmo li nos jornaisque só em 2005 assassinaram, pelomenos oficialmente, 46 índios e es-tupraram mais de cem índias. Por bai-xo do pano, o número é bem maior

AFausto Wolff

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