13
1 ANO IV—#45 Vitória/ES Setembro de 2018

ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

1

ANO IV—#45 Vitória/ES Setembro de 2018

Page 2: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

2

Editor

Raphael Faé Baptista

Editoração:

Felipe Sellin

Colaboram nessa Edição:

Felipe Sellin

Raphael Faé Baptista

Interaja conosco, sua opinião

é muito importante para nós:

[email protected]

Edição n° 44—Agosto de 2018

6.675 seguidores na página

1.842 pessoas alcançadas

72 curtidas em publicação

23 compartilhamentos

Editorial Fechamos esta edição em mais um mo-

mento conturbado da história política

brasileira. Há uma semana da eleição, o

movimento social feminista convocou e

recebeu a adesão de milhares de pessoas,

no Brasil e no mundo, para repudiar a

candidatura do capitão da reserva, Jair

Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-

sas de intenção de votos para presidente.

Defensor do uso político da intolerância

e da violência, o repúdio ao candidato se

deve às suas inúmeras declarações racis-

tas, machistas e homofóbicas, além de

sua defesa pública da ditadura militar e

da atuação do torturador, Carlos Alberto

Brilhante Ustra.

Em meio a este cenário, nós, editores do

Jornal Crítica Espírita, assinamos e reco-

mendamos o documento de “espíritas

progressistas contra Bolsonaro” e repli-

camos em nossa página no facebook. Por

isso, fomos alvo de inúmeras agressões

de pessoas que se declaravam espíritas e

eleitores do Bolsonaro, alegando o uso

do livre arbítrio e a defesa da família, da

vida e/ou contra a corrupção, dentro da

postura “se não está comigo, está contra

mim”.

Todos que acompanham o Jornal Crítica

Espírita sabem que defendemos a livre

expressão entre os adeptos do paradig-

ma do espírito, o que não nos impede de

tomarmos posição frente ao que conside-

ramos contrário à maneira como conce-

bemos a filosofia e a prática espíritas.

Neste sentido, já publicamos inúmeros

textos sobre direitos humanos, emanci-

pação feminina, patriarcado, diversidade

sexual, racismo, combate ao patrimonia-

lismo e à corrupção, para citar alguns

temas relevantes no diálogo entre filoso-

fia espírita e sociedade.

Portanto, apesar de sermos comumente

atacados por defendermos temas óbvios,

como direitos humanos ou justiça social,

ainda sobrou perplexidade diante dos

ataques recebidos e pelo nível dos posici-

onamentos. Acreditamos que a identifi-

cação que muitos espíritas possuem com

um homem, branco, intolerante, machis-

ta e que defende o uso de violência pode

contar muitas coisas sobre o movimento

espírita brasileiro (não sobre a filosofia

espírita). E seguiremos trabalhando na

defesa da diversidade e da tolerância

como expressões do amor e da caridade.

Nesta edição, entrevistamos os candida-

tos à presidência que consideramos pos-

suir um olhar social mais amplo e que se

combinam, ao menos em parte, com a

visão de mundo do Jornal Crítica Espíri-

ta. Conversamos com as assessorias dos

candidatos Ciro Gomes (PDT), Fernando

Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL),

Vera Lúcia (PSTU), e tentamos, mas não

obtivemos sucesso, no contato com Ma-

rina Silva (REDE). Enviamos as mesmas

perguntas para os quatro candidatos e

recebemos respostas de Ciro e Boulos,

que replicamos, na íntegra, nesta edição

(não obtivemos justificativa dos demais

candidatos). Nosso objetivo é contribuir

para sua escolha através destas entrevis-

tas.

Antes das entrevistas, publicamos uma

análise de conjuntura de nosso editor

Raphael Faé, que reflete sobre o momen-

to em que, em meio às eleições, precisa-

mos elevar a qualidade das discussões e

dos posicionamentos políticos e morais,

especialmente quando consideramos a

nossa sobrevivência frente a um sombrio

crescimento de ideias fascistas. A luta

por um mundo melhor não se encerra

nas eleições, pelo contrário.

Tenham uma excelente leitura!

Os editores, Felipe Sellin e Raphael Faé

Page 3: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

3

POLÍTICA

Há poucos dias de mais uma eleição, preci-

samos contextualizar o momento que esta-

mos vivendo e refletir sobre chegarmos ao

ponto de ter um candidato como Jair Bol-

sonaro, de extrema-direita, como líder das

pesquisas de intenção de votos no 1º turno,

e possível Presidente da República, apoiado

por um número expressivo de espíritas.

Extrema-direita ainda é um elogio. Porque

ele é um personagem que espezinha qual-

quer tipo de conquista civilizatória dos

últimos séculos, e representa um elevado

grau de bestialidade no sentido moral –

pois idolatra torturadores sádicos, toma a

intolerância, o ódio e o assassinato como

política de governo, pajeia ditadores, om-

breia com religiosos fanáticos, desmerece

trabalhadores, mulheres e negros, e espezi-

nha o básico em direitos humanos – e no

sentido intelectual – pois, a cada fala se

mostra incapaz de concatenar soluções

minimamente plausíveis aos graves proble-

mas que enfrentamos.

E em total dissonância com os princípios

espíritas e de Jesus – não-violência, frater-

nidade e amor ao próximo –, exalando uma

hipocrisia farisaica das mais perigosas,

ainda defende as propostas de governo

mais antirrepublicanas e antissociais, com

um tratamento mais dadivoso aos ricos e

mais gravoso às classes média e baixa.

Portanto, não está em jogo apenas uma

questão eleitoral, e nem é nosso propósito

falar “vote em fulano, não vote em ciclano”,

pois cada candidato e partido têm suas

mazelas. Isso é pessoal e respeitamos a

vontade de cada um. Estamos falando de

postura política e de posicionamento moral

diante do mundo. O problema não é

“Bolsonaro”, mas o que ele defende e o que

ele representa, especialmente quando ve-

mos as pautas anticivilizatórias que estão

em curso, no Brasil e no mundo, como res-

postas aos problemas de nosso tempo

(imigração, crise econômica, pobreza, con-

centração de renda, violência, desemprego,

questões de gênero, problemas ambientais,

etc.).

Aqui, os espíritas mornos – que esquecem

que ficar em cima do muro já é tomar posi-

ção – se levantam para exigir que não se

julgue. Esses apaziguam suas consciências

pela inação e, achando-se acima do bem e

do mal, acreditam que sua omissão é posi-

tiva. Mas ignoram que a capacidade de

julgar – avaliar o que é bom ou mau, certo

ou errado, digno ou degradante – é ineren-

te à condição humana. Quem não julga são

os animais. E que Jesus se levantou contra

os desmandos de seu tempo, chamando

víboras de víboras e hipócritas de hipócri-

tas, mas deixou o critério do julgamento:

estar atento à trave no nosso olho antes de

ver o argueiro no outro; que ao me atentar

às deficiências morais alheias, devo me

lembrar das minhas. Isso significa que o

julgamento moral é intrínseco ao agir hu-

mano, e que o rigor do meu julgamento

deve levar em conta as minhas atitudes.

Sem isso, o que sobra é hipocrisia.

Logo, posicionar-se moralmente é um de-

ver moral, especialmente quando estamos

num mundo de provas e expiações, cerca-

dos de mal por todos os lados, dentro e fora

de nós. Mas há posições e posições. Duran-

te a escravidão negra, no Brasil, muitos

achavam melhor mantê-la e obrigar os se-

nhores a tratar bem os escravos do que

libertá-los e deixá-los à própria sorte. Sem

dúvidas, isso é melhor do que defender a

escravidão para massacrar o negro. Mas,

AINDA, SOBRE POLÍTICA E ESPIRITISMO

Page 4: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

4

melhor ainda, seria reconhecer o caráter

essencialmente antifraterno da escravidão e

se levantar contra ela como um todo.

Com isso, vemos que o posicionamento

mais correto com relação ao que nos rodeia

– dentro da cosmovisão cristã e espírita – é

o que leve os valores da justiça, do amor e

da caridade ao grau mais elevado. Se existi-

rem duas respostas boas, o espírita tem o

dever moral de escolher a melhor entre

elas. E se as respostas forem péssimas, é

também seu dever colocar no mundo res-

postas melhores.

Assim, o Brasil está cheio de demandas

políticas: combater a corrupção, fortalecer

a democracia, lutar contra o uso político da

religião, buscar a eficiência nas políticas

públicas de saúde e de educação, melhorar

as condições de vida, combater as desigual-

dades e a violência urbana e rural, etc.

Quais os melhores caminhos a seguir? Per-

guntei os melhores, não os mais fáceis.

O problema é que o lado dessas reflexões

estão uma grave crise econômica e a legíti-

ma desilusão do brasileiro com a classe

política. E aqui são criadas as condições

para que surjam “Bolsonaros” da vida.

Primeiro, como em outros setores da vida

humana, a política não é só razão. Isso é

fundamental para compreendermos o que

fez a Alemanha de 1930

ovacionar Hitler, e que

faz agora o Brasil possi-

velmente ter um projeto

mal-acabado de neona-

zista no comando do Exe-

cutivo federal (com as

devidas diferenças, pois

precisamos reconhecer

que Hitler, malgrado sua

deformação moral, era

muito inteligente). A boca

fala do que está cheio o

coração e vazio o cérebro,

e nossas posturas repre-

sentam o que somos co-

mo um todo, incluindo nossas incoerências.

Porque é incoerente defender o amor ao

próximo em palestras, ou se emocionar

com as passagens evangélicas, ou ajudar

pessoas com necessidades materiais e apoi-

ar posicionamentos como “bandido bom é

bandido morto”, “prefiro um filho morto a

um filho gay”, “pobre tem que se ferrar”,

etc. Encontramos coerência quando nos

propomos uma corajosa autoanálise entre o

que somos e o que afirmamos acreditar. Se

sinto satisfação com a morte e o infortúnio

alheio, a coerência com Jesus e o espiritis-

mo é buscar superar esse sentimento, e não

usá-lo para justi-

ficar uma política

de segurança pú-

blica que mate à

vontade. Se sinto

desprezo pelo

pobre, se desejo

um escravo em

lugar de um tra-

balhador, a coe-

rência com Jesus

e o espiritismo,

novamente, é

tentar ver em

cada pessoa um

semelhante, e não

dar vazão ao meu

egoísmo e ódio.

Segundo, os mo-

mentos de incer-

teza e de insegurança aumentam exponen-

cialmente os nossos medos – da privação,

da fome, da morte, etc. Por isso, são férteis

para surgir salvadores da pátria. O mais

hábil em dar forma aos medos sociais leva a

parada. E, mais uma vez, a caricatura fan-

tasmagórica do “comunismo” está a todo o

vapor. Já fez estragos na Europa quando

era uma ameaça real, e continua eficiente

para mobilizar parcela significativa do povo

brasileiro. Parece mesmo uma fixação de

cunho sexual, como a compensar deficiên-

cias cognitivas. E até um personagem limi-

tado como Bolsonaro consegue adeptos ao

simplificar os problemas e as soluções com

a retórica do comunismo que, aliado a um

deturpado e apelativo discurso moral, dá

novas cores ao messianismo político brasi-

leiro.

Portanto, Bolsonaro é um fenômeno, antes

de tudo, moral. Fala o que querem ouvir, e

defende o que já está nas pessoas. Seus

discursos odientos, violentos e segregado-

res integram o repertório moral de seus

seguidores. E ao jogar suas crenças morais

na esfera pública, os estragos vão aparecen-

do no plano político, agora, com sérias

ameaças aos valores básicos da democracia

e da república, como tolerância, respeito

mútuo, igualdade de oportunidades e laici-

dade.

Chegados até aqui, volto a insistir num

ponto. Mais do que eleições e voto, o espiri-

tismo nos chama à tarefa da regeneração,

Fonte: G1/DATAFOLHA 2 DE 0UTUBRO DE 2018

Page 5: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

5

que é parir uma nova civilização, diferen-

te desta, pois não se coloca remendo novo

em pano velho. E a regeneração é um

projeto político – entendido de forma

ampla, como formas de organização soci-

al em torno dos temas que afetam a todos

– que se realiza na existência material,

nos planos individual e social, visando

construir uma sociedade justa, amorosa,

fraterna. E o espiritismo nos permite pen-

sar uma humanidade a partir de novas

referências morais de Jesus, da imortali-

dade e da reencarnação.

Nessa tarefa, precisamos nos autocom-

preender a partir de novos horizontes

morais. As identidades devem ser cons-

truídas tendo o amor, a abnegação, a hu-

mildade, a fraternidade como valores

inegociáveis. Precisamos repensar uma

sociedade que tome o compartilhar como

imprescindível a qualquer futuro imagi-

nável. Precisamos refletir sobre uma polí-

tica e uma economia que compreendam o

mundo como um todo e superem as dis-

putas egóicas entre pessoas e povos. Pre-

cisamos, ainda, redefinir o sagrado, e

encontrar referências mais sublimes para

que possamos nos reconciliar com nossas

capacidades de pensar e de amar. O

“Deus judaico-cristão” parece já ter cum-

prido sua missão civilizacional.

Bolsonaro – não a

pessoa, mas o

personagem e o

atraso que ele

representa – é o

oposto a esse ca-

minho. É tudo o

que um seguidor

de Jesus e do es-

piritismo não

pode ser: hipócri-

ta, intolerante,

misógino, homo-

fóbico, incitador

da violência, ad-

mirador de tortu-

radores, lambedor de bota de poderosos.

E nem o estado deplorável da política

brasileira deve justificar a ascensão políti-

ca de pessoas como ele. Há outros cami-

nhos, infinitamente melhores.

O que as pessoas de bem e os espíritas

estão sendo chamados é mais do que à

resistência num tempo de trevas, em que

nem mesmo valores básicos de humani-

dade estão sendo respeitados. Mais que

resistir – contra a vontade de poder e

dominação, contra o despotismo que ha-

bita nossos corações –, estamos sendo

chamados à criação e à regeneração, de

articular o futuro, de dar forma ao que

ainda não existe, de cuidar do que ainda

não é, e de amar o que ainda não nasceu.

E tal qual um medieval teria dificuldades

em imaginar e conceber uma sociedade

democrática, hoje temos a dificuldade de

imaginar e conceber uma sociedade em-

basada no amor amplo, na caridade irres-

trita e nos afetos verdadeiros.

Mas essa é a tarefa que nos cabe. Não

podemos subestimar o poder do mal.

Menos ainda, o poder do amor.

Raphael Faé, editor do Jornal Crítica

Espírita

Page 6: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

6

ELEIÇÕES

GUILHERME BOULOS

Jornal Crítica Espírita - O Brasil é

um dos países mais desiguais do

mundo. Itens como moradia, renda,

escolaridade, meio ambiente, saú-

de, segurança, etc., mostram-nos as

disparidades da sociedade brasilei-

ra. E a perspectiva é de agravamen-

to dessa situação com o congela-

mento dos investimentos sociais

pelos próximos 20 anos. Como Pre-

sidente da República, o que pode-

mos esperar de melhorias na quali-

dade de vida de todos os brasileiros

e na redução das desigualdades so-

ciais?

Guilherme Boulos - Onde a desigualdade

se expressa de forma mais cruel é no sis-

tema tributário brasileiro. Quem sustenta

o Estado é pobre e classe média, que é

quem paga imposto de verdade. Defende-

mos uma Reforma Tributária progressiva,

com elevação da tributação sobre renda,

patrimônio, lucros e dividendos. Temos

que tributar mais renda e patrimônio para

criar condições para a redução gradual da

tributação sobre consumo e produção.

Vamos aplicar o Imposto sobre Grandes

Fortunas (IGF), um tributo já previsto na

Constituição Brasileira. Também, criar

uma nova faixa de Imposto de Renda,

passando de 27,5% para 35% de alíquota.

Finalmente, vamos voltar a tributar lucro

e dividendo, algo que parou de ser cobra-

do durante o governo FHC.

Faz parte do nosso plano colocar um fim

às desonerações fiscais, a famigerada

“bolsa empresário”, reduzir os juros e

regular o fluxo de capitais, buscando me-

nos gasto com a rolagem da dívida e con-

sequentemente menos vulnerabilidade às

especulações cambiais.

Justiça social também é a universalização

dos serviços de saúde e educação, para

que os cidadãos não precisem gastar a

maior parte de seus salários na garantia

de atendimento médico e em escolas e

universidades particulares. Igualmente

importante nossa aposta na ampliação de

programas de transferência direta de ren-

da, como o Bolsa Família, e de financia-

mento popular de moradia.

JCE- Um dos maiores entraves ao

desenvolvimento socioeconômico

do Brasil é a educação pública defi-

ciente. Os problemas são variados, e

parece que se agravam a cada ano.

Mesmo sabendo que o maior garga-

lo da educação está na infância e

nos ensinos fundamental e médio,

de responsabilidade dos Municípios

e dos Estados, como Presidente da

República, quais são suas propostas

para a educação em seu conjunto,

da infância à pós-graduação?

GB-O governo federal não pode dar às

costas para uma área tão fundamental

como é a educação. Hoje, dos 5,5% do PIB

destinado à Educação, só 1% é da União.

Page 7: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

7

Vamos assumir nossa responsabilidade,

aumentar o orçamento, desenvolver um

plano nacional para o ensino básico e am-

pliar o ensino superior público.

Mas, é preciso, em primeiro lugar, revogar

a Emenda Constitucional 95, que conge-

lou todos os gastos em Educação para os

próximos 20 anos. Sem isso, não é possí-

vel fazer nenhum plano para uma educa-

ção pública de qualidade.

Eu sou professor e já dei aula na rede pú-

blica. Hoje, os altos índices de reprovação

e evasão escolar refletem que a sala de

aula está muito distante da realidade dos

alunos. Nós vamos mudar isso com um

Sistema Nacional de Educação que ao

invés de padronização curricular, respeite

as particularidades de cada contexto e

prepare o jovem para a vida e não para

provas. Por isso, vamos revogar a Refor-

ma do Ensino Médio e a Base Nacional

Comum Curricular promovida pelo gover-

no de Temer.

As creches e escolas serão de tempo inte-

gral. Isso passa também por uma necessá-

ria valorização dos professores. Vamos

garantir o piso nacional e dar início a um

plano de carreira.

No ensino superior, iremos criar 1 milhão

de novas vagas em universidades públi-

cas, ampliar o sistema de cotas e o finan-

ciamento para pesquisa. Atualmente, se

gasta 817 milhões em auxílio-moradia a

juízes enquanto 580 milhões podem ser

cortados da Capes. Para quem já está cur-

sando a faculdade em instituições priva-

das com a ajuda do FIES, vamos oferecer

1 ano de suspensão das dívidas.

JCE-O Sistema Único de Saúde é

uma das conquistas mais importan-

tes da Constituição de 1988 e, ape-

sar das críticas, traz muitos benefí-

cios à população brasileira. Porém,

incomoda não somente as já rotinei-

ras deficiências estruturais – falta

de vagas em hospitais, superlota-

ção, falta de valorização dos profis-

sionais da saúde, falta de remédios,

falta de gestão, etc. –, mas também

os ataques que o SUS vem sofrendo

em prol dos interesses financeiros

dos planos de saúde. Nesse sentido,

que SUS podemos esperar de sua

eventual gestão?

GB-O SUS é uma referência internacional

em saúde pública. O problema é que falta

investimento para seu funcionamento

adequado. A população sabe muito bem

disso. Mas, com a Emenda Constitucional

95 que impôs um congelamento de 20

anos nos gastos sociais, a tendência é que

esse cenário piore ainda mais: segundo o

Ipea, R$ 743 bilhões vão desaparecer do

orçamento da Saúde.

Hoje, o Brasil investe apenas 3,8% do PIB,

a metade do orçamento de países como

Inglaterra e Canadá. São, atualmente, 40

mil equipes de saúde da família que co-

brem apenas 60% do território nacional.

Vamos revogar a PEC dos gastos de Mi-

chel Temer e dobrar o orçamento da saú-

de. Vamos dobrar as equipes de Saúde da

Família, que acompanham as comunida-

des de perto para prevenir doenças e im-

pedir o agravamento de casos mais sim-

ples que podem ser tratados. Isso contri-

bui para que os hospitais e postos de saú-

Page 8: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

8

de não superlotem, mas melhora a quali-

dade de vida da população.

Também vamos criar a UBS Completa

com horário de funcionamento estendido

e aberta aos finais de semana. A unidade

de saúde não será apenas básica, mas

completa porque reúne todos os serviços:

consulta, exame, diagnóstico e remédio

no mesmo endereço, sem encaminhamen-

tos. O programa Farmácia Popular será

ampliado para possibilitar o acesso a me-

dicamentos e vamos criar um prazo limite

de espera para a realização de exames.

JCE-Estamos vivendo uma violência

alarmante. Foram mais de 67 mil

assassinatos em 2017. No dia a dia,

alguns bairros são dominados por

criminosos e, em todo o lugar, os

direitos fundamentais, à vida e de ir

e vir, estão na berlinda. Com isso,

quais medidas serão implementa-

das na área da Segurança Pública

em seu eventual governo? E, especi-

ficamente, qual seu posicionamento

quanto ao ciclo completo de polícia

e à regulamentação do uso de dro-

gas?

GB-Investir em cadeia, armamento e re-

pressão não funcionou. Os números com-

provam isso: segundo o Fórum Brasileiro

de Segurança Pública, em 2017, o Brasil

gastou quase 85 bilhões, o equivalente a

1,3% do PIB, em segurança pública. Mas,

no mesmo ano, registrou sete mortes por

hora - um recorde de violência, que atin-

ge, sobretudo, jovens, negros, pobres.

Esse modelo tem que mudar.

Segurança pública se resolve com inteli-

gência e prevenção, combatendo o mal na

raiz. Vamos investir em um sistema de

informação para mapear o dinheiro sujo,

desmantelar os esquemas de lavagem de

dinheiro e colocar fim ao tráfico de armas.

Esse investimento é mais baixo e produz

resultados diretos, sobretudo na otimiza-

ção do trabalho das forças de segurança.

Vamos desmilitarizar a polícia, com a

fusão dos corpos policiais em torno de um

só ente policial, civil, criando o chamado

“ciclo completo” de atuação que já é ado-

tado em muitos países.

Diminuir a criminalidade violenta envolve

também rever nossa política de guerra às

drogas. Conforme diversos países já reco-

nheceram, esse modelo não funcionou,

mas só aumentou o ciclo de violência. A

partir de experiências internacionais, já

está comprovado que descriminalizar o

uso não significa aumentar o consumo,

mas diminuir a violência e abrir espaço

para campanhas de prevenção.

JCE-É lugar-comum dizer que o

Brasil precisa investir em infraes-

trutura, o que engloba portos, aero-

portos, rodovias, energia, estoca-

gem, facilidades de alfândega e o

famoso “custo Brasil”. Ao lado dis-

so, há ainda a discussão do modelo

de implementação dessa infraestru-

tura, se privatizado ou público. Que-

remos saber quais são as suas pro-

postas para a infraestrutura brasi-

leira, e o modelo que pretende ado-

tar.

GB-Vamos associar o investimento públi-

co em infraestrutura com geração de em-

pregos no programa Levanta Brasil. Com

o dinheiro gerado na reforma tributária e

revisão de renúncias fiscais, teremos cerca

de 180 bilhões nos cofres da União para

obras de infraestrutura viária, logística e

social, sobretudo nas regiões mais atingi-

das pela crise ou com carência de infraes-

trutura. Assim, vamos gerar cerca de 6

milhões de empregos e ainda, melhorar a

vida da população que contará com mais

mobilidade e mais equipamentos e servi-

ços públicos.

Serão investimentos públicos diretos, mas

que terão como efeito a expansão de em-

presas de pequeno e médio portes, res-

ponsáveis por fornecer bens e serviços

para as obras. Nosso projeto de governo é

para o 99% da população e não para al-

Page 9: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

9

guns poucos que lucram com a crise.

JCE-Nos últimos anos, duas altera-

ções legislativas tomaram conta do

cenário político brasileiro: as refor-

mas trabalhista e previdenciária.

Adicionamos a questão tributária e

as injustiças estruturais que ela pro-

voca. Enquanto candidato(a), qual a

sua visão sobre a reforma trabalhista

aprovada pelo governo Temer? Você

pretende revogá-la, alterá-la ou man-

tê-la? Com relação à previdência,

podemos esperar alguma reforma e,

se sim, como ela seria? E como pre-

tende lidar com o sistema tributário

em seu possível governo?

GB-Nossa primeira medida vai ser chamar

um plebiscito para que o povo possa deci-

dir se quer manter ou revogar as medidas

do governo Michel Temer. Entre elas, a

Reforma Trabalhista que alterou mais de

100 pontos da CLT e retirou direitos dura-

mente conquistados pela classe trabalha-

dora. Além de contribuir para o aumento

do desemprego, precarizou as vagas e dimi-

nuiu os salários.

Sobre a Previdência, o problema está no

financiamento do sistema. Temos R$ 450

bilhões de estoque de dívida de grandes

empresas com a Previdência no Brasil.

Além disso, hoje, 30% do total da arrecada-

ção por meio da DRU (Desvinculação das

Receitas da União) é desviado de sua finali-

dade original para pagar juros da dívida

pública. É muito fácil apontar o déficit da

Previdência quando o dinheiro que deveria

ir para ela está sendo retirado e direciona-

do para os mais ricos.

Não podemos aceitar uma reforma da Pre-

vidência que tenha como efeitos o aumento

da pobreza, sobretudo entre os idosos, e o

esvaziamento econômico dos pequenos

municípios nas regiões mais afastadas.

Mas, é no sistema tributário que a desi-

gualdade social do Brasil se expressa de

forma mais cruel. São os pobres e a classe

média que sustentam o Estado. Hoje, um

professor universitário paga a mesma

quantidade de imposto que o Neymar. Nós

defendemos uma Reforma Tributária pro-

gressiva, com elevação da tributação sobre

renda, patrimônio, lucros e dividendos

para a redução gradual da tributação sobre

consumo e produção. Vamos aplicar o Im-

posto sobre Grandes Fortunas (IGF), um

tributo já previsto na Constituição Brasilei-

ra. Também, criar uma nova faixa de Im-

posto de Renda, passando de 27,5% para

35% de alíquota. Finalmente, vamos voltar

a tributar lucro e dividendo, algo que parou

de ser cobrado durante o governo FHC.

JCE-Um dos temas fundamentais da

sociedade brasileira, sem sombras

de dúvidas, é o combate à corrupção.

E adicionamos, nessa temática da

corrupção, o problema do patrimo-

nialismo, aquela corrupção instituci-

onalizada, feita dentro da legalidade,

que cria uma série de mordomias

como auxílios, pensões, aposentado-

rias, penduricalhos, etc., para uma

casta de servidores públicos e políti-

cos. O(A) senhor(a) propõe que me-

didas para o combate à corrupção e

ao patrimonialismo que atravancam

o desenvolvimento socioeconômico

brasileiro?

GB-Primeiro, é preciso reconhecer que a

corrupção começa com o financiamento

Page 10: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

10

privado de campanha eleitoral. Grandes

empresários, do ramo da construção civil,

do agronegócio, de bancos, pagam as

campanhas de vereadores à presidente da

República. Os vencedores vão atender aos

interesses de quem lhes financiou e não

de quem votou. Assim, se formam máfias

no Congresso: é a bancada da bala, do boi,

entre outros, que defendem interesses

privados e corporativos. A política virou

um balcão de negócios, onde troca-se

votos e negociam-se programas.

Nós já estamos mudando o jeito de fazer

política no Brasil. Só assim vamos acabar

com a raiz da corrupção, combater privi-

légios e colocar os mais pobres e a classe

média como prioridade. Vamos governar

junto com o povo por meio de referendos,

plebiscitos e conselhos comunitários. Nós

somos ideológicos, e não fisiológicos.

Mais que ideologias, nós somos fieis a

ideias, a princípios que não estão à venda

no balcão de negócios das alianças.

JCE-Agradecendo a sua importante

participação nessa entrevista, dei-

xamos aberto o espaço para suas

considerações finais.

GB-Gostaria de agradecer o espaço cedido

e cumprimentar os leitores e leitoras do

Jornal Crítica Espírita. Faço um convite

para que conheçam nossas propostas,

visitando nossas redes sociais

(www.vamoscomboulosesonia.com.br) e

acompanhando as visitas que farei a di-

versas cidades do Brasil.

Essa é a primeira vez que concorro à Pre-

sidência da República. Tenho 36 anos,

sou professor e milito há 17 anos ao lado

de quem luta por moradia digna. Decidi

aceitar esse desafio porque quero, assim

como a maioria dos brasileiros, mudar a

realidade da política atual. Nós defende-

mos uma democracia em que o povo par-

ticipe das decisões mais importantes,

aproximando o poder das pessoas.

É por isso que propomos um novo jeito de

fazer política e não apenas uma reforma.

Um jeito de governar que dê ao cidadão

voz ativa por meio de plebiscitos, referen-

dos e conselhos populares. É o povo quem

irá decidir aquilo que afeta a sua vida.

Como primeira medida, vamos propor um

referendo popular para desfazer todas as

medidas maléficas de Michel Temer, re-

vertendo a reforma trabalhista e acaban-

do com o congelamento dos gastos em

saúde e educação.

Vamos ampliar o Bolsa Família, construir

mais creches, escolas em tempo integral,

universidades públicas, saúde preventiva

e hospitais de qualidade, além de uma

política de segurança pública que invista

em inteligência e prevenção dos crimes.

Para gerar mais empregos e renda, vamos

criar o programa Levanta Brasil, que in-

vestirá em áreas de saneamento, educa-

ção, infraestrutura, moradia e que vai

criar 6 milhões de empregos em dois

anos.

Page 11: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

11

Jornal Crítica Espírita—O Brasil é um

dos países mais desiguais do mun-

do. Itens como moradia, renda, es-

colaridade, meio ambiente, saúde,

segurança, etc., mostram-nos as

disparidades da sociedade brasilei-

ra. E a perspectiva é de agravamen-

to dessa situação com o congela-

mento dos investimentos sociais

pelos próximos 20 anos. Como Pre-

sidente da República, o que pode-

mos esperar de melhorias na quali-

dade de vida de todos os brasileiros

e na redução das desigualdades so-

ciais?

Ciro Gomes—Precisamos rever de imedia-

to a PEC 95 que congelou os investimen-

tos sociais. Não se pode conceber que, em

um País onde nascem mais de dois mi-

lhões de bebês todos os anos, durante os

próximos 20 anos o Governo fique impe-

dido de ampliar os investimentos em

áreas fundamentais para que possamos

virar o jogo da desigualdade, da violência

e do desemprego, como educação, saúde e

segurança pública.

JCE-Um dos maiores entraves ao

desenvolvimento socioeconômico

do Brasil é a educação pública defi-

ciente. Os problemas são variados, e

parece que se agravam a cada ano.

Mesmo sabendo que o maior garga-

lo da educação está na infância e

nos ensinos fundamental e médio,

de responsabilidade dos Municípios

e dos Estados, como Presidente da

República, quais são suas propostas

para a educação em seu conjunto,

da infância à pós-graduação?

CG-Só o investimento maciço na educação

poderá fazer do Brasil um país justo e

desenvolvido, com oportunidades iguais

para todos os seus cidadãos. Investir na

melhoria da qualidade da Educação Públi-

ca será uma das nossas principais priori-

dades. E esta prioridade já começa na

Educação Infantil, com a implantação

paulatina de Creches de Tempo Integral

para as crianças de 0 a 3 anos. É nesse

período que se formam as aptidões mais

sofisticadas do ser humano. Vamos criar

um programa específico para cuidar de

todas as crianças nessa faixa etária. Em

relação ao Ensino Fundamental, nosso

problema não é o acesso e sim a qualida-

de. Vamos investir fortemente em sua

melhoria. Almejamos obter no Ensino

Fundamental do Brasil os mesmos resul-

tados alcançados no Ceará, que com 77

das 100 melhoras escolas públicas do En-

sino Fundamental brasileiro, tornou-se

hoje referência nacional. Outra meta é

elevar a média de anos de estudo da popu-

lação, introduzindo a Educação de Tempo

Integral desde o Ensino Fundamental II

até o Ensino Médio e fazendo da escola

um local de aprendizado, desenvolvimen-

to esportivo, artístico e social, diversão e

lazer, reduzindo assim a grave evasão que

existe hoje, premiando as escolas em que

a evasão for reduzida e o desempenho dos

alunos tenha melhorado. A política educa-

cional vai reconhecer e valorizar o profes-

sor e os gestores escolares. As universida-

des públicas deverão, além de ampliar a

oferta de vagas e prosseguir com as políti-

cas de cotas, estreitar seus laços com as

políticas e ações no campo da educação

básica e ciência, tecnologia e inovação.

Como objetivo geral, vamos caminhar na

direção do alcance das metas de desenvol-

vimento sustentável da ONU no tocante à

Educação e persistir na aplicação das me-

tas estabelecidas no Plano Nacional da

Educação (PNE). Vamos eliminar o subfi-

nanciamento das despesas com educação

causado pela Emenda do Teto de Gastos.

JCE-O Sistema Único de Saúde é

uma das conquistas mais importan-

tes da Constituição de 1988 e, ape-

sar das críticas, traz muitos benefí-

cios à população brasileira. Porém,

incomoda não somente as já rotinei-

ras deficiências estruturais – falta

de vagas em hospitais, superlota-

ção, falta de valorização dos profis-

sionais da saúde, falta de remédios,

falta de gestão, etc. –, mas também

os ataques que o SUS vem sofrendo

em prol dos interesses financeiros

dos planos de saúde. Nesse sentido,

que SUS podemos esperar de sua

eventual gestão?

CG-O povo brasileiro, já tão carente de

oportunidades e de bons serviços públi-

cos, merece receber o melhor atendimen-

ELEIÇÕES

CIRO GOMES

Page 12: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

12

to de saúde possível. Merece e precisa,

uma vez que mais de 80% da população,

em média, não possui recursos para alter-

nativas fora da saúde pública. A concep-

ção generosa e o desenho do Sistema Úni-

co de Saúde (SUS) são exemplares. Ao

completar 30 anos de sua criação, o SUS

precisa ser fortalecido e aperfeiçoado, em

busca de melhores resultados para a po-

pulação brasileira. É necessário aprimorar

a organização, supervisão, avaliação e

controle do Sistema, eliminando também,

como na Educação, o subfinanciamento

causado pela Emenda do Teto de Gastos.

Só assim será possível ampliar a qualida-

de e a resolutividade da atenção primária,

que ainda hoje é objeto de insatisfação da

população. Outro ponto a ser trabalhado é

a redução da espera para os atendimentos

ambulatoriais, as consultas especializadas

e a realização de exames, bem como a

diminuição da espera para as cirurgias

eletivas. Para isso, é necessário investir na

rede de atendimento, nas campanhas de

prevenção e de vacinação, na formação de

médicos generalistas, na melhoria dos

sistemas de informação, na coordenação

entre as diversas esferas de atendimento,

incluindo o pacto federativo, e na premia-

ção do bom desempenho.

JCE-Estamos vivendo uma violência

alarmante. Foram mais de 67 mil

assassinatos em 2017. No dia a dia,

alguns bairros são dominados por

criminosos e, em todo o lugar, os

direitos fundamentais, à vida e de ir

e vir, estão na berlinda. Com isso,

quais medidas serão implementa-

das na área da Segurança Pública

em seu eventual governo? E, especi-

ficamente, qual seu posicionamento

quanto ao ciclo completo de polícia

e à regulamentação do uso de dro-

gas?

CG-A solução para a questão da violência,

como prova o fracasso generalizado da

Segurança Pública em todo o Brasil, não é

despejar nas ruas ainda mais armas.

Quanto mais armas, mais violência e mais

mortes. Para mudar esse quadro, proteger

a população e conter a criminalidade, é

necessário aumentar a presença do Gover-

no Federal na Segurança. As medidas que

iremos implementar têm por objetivo

desenhar um novo modelo, em que a Uni-

ão participe mais da prevenção e repres-

são à criminalidade violenta. E isso signi-

fica melhorar as formas de financiamento

das políticas de segurança, coordenar os

esforços dos estados para conter o crime,

direcionar as polícias federais para o com-

bate às organizações criminosas violentas,

controlar o tráfico de armas e drogas, cri-

ar uma Polícia de Fronteiras, organizar os

esforços na repressão e prevenção ao ho-

micídio, e implementar um sistema nacio-

nal de inteligência em segurança pública.

As medidas que iremos implementar têm

por objetivo desenhar um novo modelo,

em que a União coordene um esforço na-

cional para a prevenção e repressão à cri-

minalidade violenta. Ao mesmo tempo,

como já dissemos, vamos investir maciça-

mente em educação, em escolas de tempo

integral que eduquem e protejam nossa

juventude do perigo das ruas, oferecendo-

lhes ocupações alternativas e cursos pro-

fissionalizantes. Em relação ao controle

do uso de drogas, precisamos em primeiro

lugar ampliar o atendimento aos usuários

e avaliar experiências bem sucedidas em

outros países, propondo um debate trans-

parente com a população, para verificar a

viabilidade de implantação no Brasil.

JCE-É lugar-comum dizer que o

Brasil precisa investir em infraes-

trutura, o que engloba portos, aero-

portos, rodovias, energia, estoca-

gem, facilidades de alfândega e o

famoso “custo Brasil”. Ao lado dis-

so, há ainda a discussão do modelo

de implementação dessa infraestru-

tura, se privatizado ou público. Que-

remos saber quais são as suas pro-

postas para a infraestrutura brasi-

leira, e o modelo que pretende ado-

tar.

CG-A infraestrutura de nosso país é velha,

insuficiente e carece de manutenção. Nas

2 cidades, sejam elas no meio urbano ou

no meio rural, faltam habitações, sanea-

mento e transporte público de qualidade,

assim como precisamos de ferrovias, es-

tradas, portos, aeroportos e energia. Por-

tanto, recuperar e modernizar a nossa

infraestrutura é outro passo decisivo para

gerar imediatamente milhares de empre-

Page 13: ANO IV #45 Vitória/ES Setembro de 2018 · Messias Bolsonaro, que lidera as pesqui-sas de intenção de votos para presidente. ... intolerância, o ódio e o assassinato como política

13

gos em todo o país, melhorar a qualidade

de vida da população e aumentar a com-

petitividade do Brasil que produz. Para

isso, é necessário um setor público com

boa saúde fiscal para participar, junta-

mente com o setor privado, desse investi-

mento maciço. Pretendemos investir nes-

tas obras cerca de R$ 300 bilhões por

ano, através de investimento público ou

estimulando o setor privado a fazê-lo,

para superar as deficiências e gargalos

que encarecem e limitam nossa capacida-

de de produção. Estimamos que somente

as obras atualmente paralisadas podem

gerar cerca de 350 mil novos empregos.

JCE-Nos últimos anos, duas altera-

ções legislativas tomaram conta do

cenário político brasileiro: as refor-

mas trabalhista e previdenciária.

Adicionamos a questão tributária e

as injustiças estruturais que ela

provoca. Enquanto candidato(a),

qual a sua visão sobre a reforma

trabalhista aprovada pelo governo

Temer? Você pretende revogá-la,

alterá-la ou mantê-la? Com relação

à previdência, podemos esperar al-

guma reforma e, se sim, como ela

seria? E como pretende lidar com o

sistema tributário em seu possível

governo?

CG-Com relação à Reforma da Previdên-

cia, precisamos propor com clareza, con-

versando com a população e sem sustos,

um novo modelo previdenciário e cuidar

especialmente do processo de transição

entre o regime de repartição para o regi-

me de capitalização público. Estamos com

uma equipe muito grande de especialistas

estudando, fazendo cálculos atuariais e

estamos chegando conceitualmente a uma

transição que vai marcar, por um período

de tempo que também está em avaliação,

alguns pontos principais.

O primeiro é tirar do ônus do financia-

mento previdenciário todos os benefícios

que foram legalmente criados, de forma

justa, mas para trabalhadores que nunca

contribuíram. Esses trabalhadores, como

é o caso dos trabalhadores rurais, vão

continuar recebendo, mas serão pagos por

recursos do Tesouro, como hoje acaba já

sendo feito, mas agora com transparência

absoluta no orçamento da Previdência

Então vamos propor uma renda mínima

de cidadania de um salário mínimo para

todos os que cumprirem as condições de

idade mínima, com critérios diferenciados

a partir de dados relacionados à região e

ao tipo das atividades.

O segundo ponto é migrar do regime de

repartição para um regime de capitaliza-

ção público, gerido por um coletivo de

trabalhadores e vigiado por agências de

risco e encaminhar essa transição entre os

dois regimes. Se conseguirmos fazer isso,

o País reverte expectativas porque o défi-

cit fica declinante e fica sinalizado para o

futuro a sustentabilidade do endivida-

mento público, que é o que temos que

buscar.

Com relação à Reforma Trabalhista, essa

reforma que foi aprovada pelo governo

Temer precisa ser revista, vamos recolo-

car a questão em pauta, dialogando de

forma transparente com trabalhadores e

com o setor produtivo para encontrar

soluções que sejam mais justas para todos

os segmentos. É preciso deixar claro que

não sou contra fazer reforma, precisamos

reformar o País.

Quanto ao sistema tributário, precisamos

torná-lo mais progressivo, ou seja, cobrar

mais de quem pode pagar mais e menos

de quem pode pagar menos.

JCE-Um dos temas fundamentais da

sociedade brasileira, sem sombras

de dúvidas, é o combate à corrup-

ção. E adicionamos, nessa temática

da corrupção, o problema do patri-

monialismo, aquela corrupção ins-

titucionalizada, feita dentro da lega-

lidade, que cria uma série de mor-

domias como auxílios, pensões,

aposentadorias, penduricalhos,

etc., para uma casta de servidores

públicos e políticos. O(A) senhor(a)

propõe que medidas para o combate

à corrupção e ao patrimonialismo

que atravancam o desenvolvimento

socioeconômico brasileiro?

A corrupção, infelizmente, é uma praga da

política brasileira e como tal deve ser du-

ramente combatida. Somos contrários a

qualquer atitude ilícita e condenamos as

práticas corruptas e os desvios de conduta

na função pública. Defendemos o fortale-

cimento dos mecanismos de transparên-

cia e do chamado controle social, bem

como os órgãos que fiscalizam o setor

público, como a Controladoria Geral da

União (CGU) e o Tribunal de Contas da

União (TCU). Somos favoráveis também

ao mecanismo do acordo de leniência com

empresas envolvidas em casos de corrup-

ção, pois ele é a maneira mais saudável de

separar o joio do trigo, punindo os diri-

gentes e funcionários implicados em prá-

ticas ilícitas, mas preservando as empre-

sas e os empregos daqueles que não tem

envolvimento com corrupção. No Gover-

no, a corrupção deve ser enfrentada com o

exemplo e vigilância permanente .