12
48 ANO IX / Nº 15

ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

48 ANO IX / Nº 15

Page 2: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

49ANO IX / Nº 15

Santo AmaroFortaleza de

da Barra Grande

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

PAULO ROBERTO RODRIGUES TEIXEIRA

A Fortaleza de Santo Amaro foi construída no período

de 1583 a 1584. Nesta época, as coroas portuguesa e espanhola,

estavam unidas. Uma aliança que durou sessenta anos.

A importância do Porto de Santos impôs a

construção imediata desta fortaleza, pelo que representava

como área estratégica, alvo da cobiça inimiga. Com a

restauração do trono português, deu-se início a uma nova etapa

na defesa da Baía de Santos. A reportagem que iniciamos

nos contará esta longa trajetória até os dias atuais.

FOTO: ADLER HOMERO FONSECA DE CASTRO

Page 3: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

50 ANO IX / Nº 15

No período colonial, as primeiras fei-

torias portuguesas corriam risco per-

manente pela ameaça de assaltos de pi-

ratas ingleses, franceses e holandeses.

Diversas nacionalidades buscavam,

além das riquezas da terra, tomar pos-

se de regiões ainda não ocupadas pela Coroa por-

tuguesa, estabelecendo enclaves destinados a trans-

formar-se em colônias, rompendo, assim, a con-

tinuidade do litoral português. Várias alianças su-

cederam-se dessas nações com os indígenas que

habitavam no Rio de Janeiro, Maranhão, Bahia

e Pernambuco, contra Portugal.

Em 1580, uniram-se as coroas portuguesa

e espanhola, quando Filipe II, rei da Espanha,

ascendeu ao trono português, união

que permaneceu até o ano de 1640.

Os piratas e corsários prossegui-

ram atacando os navios nas rotas co-

merciais dos reinos inimigos, con-

duzindo a Coroa a fortificar cidades,

vilas e feitorias. É nesse cenário que vão ser edi-

ficados fortes e fortalezas para proteger o Porto

de Santos. A Fortaleza de Santo Amaro da Barra

Grande foi uma delas.

A FortalezaEstá localizada na Ilha de Santo Amaro, na

Baía de Santos, em São Paulo, assentada sobre um

esporão rochoso, coberto pela Mata Atlântica,

Acima, vista

panorâmica da

Fortaleza de

Santo Amaro.

Ao lado, águia

dos Habsburgos.

Domínio

espanhol sobre

Portugal

(1580–1640).

Page 4: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

51ANO IX / Nº 15

que se projeta sobre o canal de acesso ao porto

de Santos.

Ao todo são mais de 28 mil m2 de área for-

tificada, proporcionando um visual da Baixa-

da Santista que encanta pela beleza natural. O

projeto é de Giovanni Battista Antonelli, arqui-

teto militar que acompanhava a esquadra es-

panhola. Nesse projeto, percebe-se a influência

marcante do terreno, com suas muralhas em

planos diferentes.

A instalação principal da fortaleza é o pré-

dio do quartel. Ali concentravam-se o o coman-

do, a prisão, parte da logística e o alojamento da

guarnição. Hoje, transformou-se em espaços cul-

turais, palcos onde são realizados exposições

temporárias e eventos culturais, sociais e outros.

A Casa de Pólvora, ao lado do Quartel, ofe-

recia risco para a segurança da fortaleza. Foi

transformada em capela e passou a ser um espa-

ço cultural onde se encontra um painel de 20m2,

chamado Vento Vermelho, de autoria do artista

Planta

da Fortaleza

de Santo

Amaro da Barra

Grande.

FOTO: ERALDO SILVA

Page 5: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

52 ANO IX / Nº 15

1 2

4

3

FOTO

: ERA

LDO

SILV

AFO

TO: A

DLER

HOM

ERO

FONS

ECA

DE C

ASTR

O

FOTO

: RIC

ARDO

SIQ

UEIR

AFO

TO: A

DLER

HOM

ERO

FONS

ECA

DE C

ASTR

O

Page 6: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

53ANO IX / Nº 15

plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-

truída no alto do morro, afastando o perigo que ameaçava as

demais instalações.

Duas baterias ocupando suas posições na encosta, escalo-

nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom desempe-

nho da defesa. As peças de artilharia eram direcionadas para o

mar, de onde procedia a principal ameaça dos invasores. Nas suas

extremidades, as guaritas, muito bem dimensionadas no terreno,

serviam de postos de vigilância.

O Fortim do Góes, construído para impedir o desembarque

inimigo na praia ao lado, aumentava a área de defesa da fortaleza,

ligada a ele por uma muralha que dificultava a ação inimiga. O

reduto também fazia parte do sistema de defesa na parte mais alta

da elevação, oferecia excelente campo de tiro e era ocupado por

uma terceira bateria defronte à Casa de Pólvora.

HistóriaA Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande foi construída

entre 1583 e 1584, durante o domínio espanhol, por ordem de

Diogo Flores de Valdez, comandante da expedição destinada a

fortificar o Estreito de Magalhães, a sudeste da Ilha de Santo

Amaro, após o ataque do corsário inglês Edward Fanton.

A sua construção tinha o objetivo de guarnecer o porto de

Santos, que crescia de importância pela sua localização estratégica

1) A Capela

junto ao prédio

dos quartéis.

2) Interior da

Capela destelhada

antes da

restauração.

3) Capela e Quartel

restaurados.

4) Base da guarita.

5) Interior do

quartel destelhado

6) No primeiro

plano, uma das

baterias protegida

pela muralha.

7) Ruínas da Casa

de Pólvora.7

5

6

FOTO: ADLER HOMERO FONSECA DE CASTRO

FOTO

: ERA

LDO

SILV

AFO

TO: E

RALD

O SI

LVA

Page 7: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

54 ANO IX / Nº 15

e pelo aumento da comercialização das rique-

zas da terra. Era, também, um marco caracteri-

zando, simbolicamente a presença do Rei Filipe II.

Diante da necessidade de torná-lo opera-

cional, antes de seguir para o Rio de Janeiro,

Valdez ordenou que a construção fosse concluí-

da e guarnecida com artilharia de bronze e ferro

e mobiliada com uma guarnição de cem homens.

Muitos eram artífices e dezenas deles, mais tarde,

radicaram-se naquela região.

O ataque do corsário Thomas Cavendish ao

porto de Santos, em 1591, comprovou a fragilida-

de da defesa, até então restrita à Fortaleza da Bar-

ra Grande, para barrar o acesso inimigo. Com a

Visão geral

da Fortaleza.

As duas baterias

ocupavam

suas posições,

escalonadas

em planos

diferentes.

Ao lado,

vista noturna

da Fortaleza

de Santo

Amaro da

Barra Grande.FO

TO: A

NTON

IO C

ARLO

S FR

EDDO

Page 8: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

55ANO IX / Nº 15

restauração do trono português em 1640, a ex-

pulsão dos holandeses em 1654 e a descoberta de

ouro na Capitania de São Vicente, em 1698, a pro-

teção do porto de Santos voltou a ser prioridade

política da metrópole.

O rei de Portugal ordenou, em 1698, a arre-

cadação de impostos na Capitania de São Vicente

para sua construção. A tentativa fracassou.

O Brigadeiro João Massé foi o mais impor-

tante personagem na consolidação da defesa mi-

litar da capitania no período colonial. Em 1714,

elaborou os projetos da Fortaleza do Crasto, que

viria mudar o nome para Estacada, e da moder-

nização da Fortaleza da Barra Grande.

Para a Fortaleza de Santo Amaro, o enge-

nheiro Massé iria propor uma ampla reforma.

Apenas o edifício dos quartéis ou casa-forte per-

maneceria igual; o restante seria alterado e am-

pliado para atender aos novos preceitos da ar-

quitetura militar.

O Governador Luiz Antônio de Souza Mou-

rão iniciou, a partir de 1765, a remodelação do

sistema de defesa do porto de Santos. Na Forta-

leza de Barra Grande concluiu a cortina1 e a cor-

tadura2 e construiu a prisão no interior do quar-

tel. Projetou um fortim na Praia do Góes, para

impedir o desembarque e o envolvimento da

fortaleza pelo invasor.

Em 1742, o Governador José Raiz de Olivei-

ra transformou a velha Casa de Pólvora, abando-

nada, em capela. Em 1897, a comissão que estuda-

1 Cortina – Muralha que servia de proteção para as baterias.2 Cortadura – Espaço entre a cortina e a rocha. Os canhões eram po-

sicionados nessa área e permitiam o deslocamento da guarnição.

Um dos

acessos para

o pátio

dos quartéis.

FOTO

S: A

DLER

HOM

ERO

FONS

ECA

DE C

ASTR

O

Page 9: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

56 ANO IX / Nº 15

va o novo plano de defesa trabalhava sigilosamente

com a hipótese de se criarem duas linhas de defesa.

A primeira, na entrada da Baía de Santos, com-

posta de três fortificações assentadas na Ponta de

Itaipu, na Ilha das Palmas, e um forte marítimo

no meio da baía. A segunda linha também com

três baterias situadas na Fortaleza de Santo Amaro.

No fim do século XIX, foi elaborado um

novo plano de defesa do porto de Santos, em fun-

ção da chegada da ferrovia inglesa e da moderni-

zação do sistema portuário de Santos. Os canhões

Krupp e Schneider tornaram obsoleto o sistema

de defesa colonial da Baixada Santista. As novas

instalações de defesa seriam transferidas para

Itaipu. Em 1893, cumpriu sua última missão de

artilharia contra o cruzador República, cujo co-

mandante era o Almirante Custódio de Melo, na

Revolta da Armada, cessando as suas ações opera-

cionais de guerra.

Em abril de 1905, a Fortaleza da Barra foi de-

sarmada, após 312 anos de atividades militares,

substituída pela Fortaleza de Itaipu, situada no

contraforte sul da Baía de Santos.

Em 1967 foi tombada pelo Instituto do Pa-

trimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN).

O processo para a recuperação da fortaleza ini-

Acima, vista

ao anoitecer

do pátio

da Fortaleza

de Santo

Amaro. Ao

fundo a praia

de Santos.

FOTO

S: A

DLER

HOM

ERO

FONS

ECA

DE C

ASTR

O

FOTO

: ADL

ER H

OMER

O FO

NSEC

A DE

CAS

TRO

Page 10: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

57ANO IX / Nº 15

ciou-se em 1993 com a assinatura do Protocolo de

Intenções entre o IPHAN, a Universidade Católica

de Santos e a Prefeitura de Guarujá.

CuriosidadeA Fortaleza de Santo Amaro da Barra Gran-

de tem uma peculiaridade. Ela é a única que pos-

sui no seu interior um mural, chamado Vento

Vermelho, do artista plástico Manabu Mabe, um

dos maiores atrativos para as inúmeras pessoas

que diariamente visitam as suas instalações.

A antiga Casa de Pólvora converteu-se em

capela, no ano de 1742. Era um depósito de ar-

mamento e munição que foi transformado num

espaço de exposição temporária.

Criado em 1997, o mosaico foi a última obra

desse artista, que veio a falecer em seguida. Ao to-

do são 20m2 quadrados. Uma harmoniosa mes-

cla de cores que encanta o visitante. Em formato

estilizado, representa figuras como um pavão, uma

caravela, uma foca, um porta-estandarte de es-

cola de samba com sua bandeira e outros elemen-

tos culturais relativos à ambientação do forte e à

cultura regional.

O projeto de restauração foi de Antônio Luiz

Dias de Andrade e Victor Hugo Mori e a execução

Sequência de

fotos do interior

da Fortaleza,

espaços

aproveitados

para realização

de exposições

temporárias

e imagem

do Mural de

Manabu Mabe,

na Capela.

FOTO

: ANT

ONIO

CAR

LOS

FRED

DOFO

TO: E

RALD

O SI

LVA

FOTO

: ANT

ONIO

CAR

LOS

FRED

DO

FOTO

MON

TAGE

M: V

ICTO

R HU

GO M

ORI

Page 11: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

58 ANO IX / Nº 15

do mural ficou a cargo do ateliê artístico Sara-

sá. Quando Manabu Mabe esteve no local pela

primeira vez, ficou maravilhado com a beleza

do patrimônio e com a vista deslumbrante do

mar. Assim se expressou: “Eu me empenharei

muito para poder deixar minha obra neste lu-

gar maravilhoso.”

Mabe não retornaria mais à capela, porém

sua obra está lá até hoje, fazendo parte do belís-

simo patrimônio histórico, marca contemporâ-

nea na história antiga.

EncerramentoA Fortaleza de Santo Amaro da Barra Gran-

de era o mais expressivo conjunto arquitetôni-

co militar do Estado de São Paulo, entre aque-

las que foram edificadas para a proteção do por-

to de Santos.

No decorrer da história, desde a época em

que foi construída, vimos o que representou pela

FOTO

S: A

DLER

HOM

ERO

FONS

ECA

DE C

ASTR

O

Page 12: ANO IX / Nº 15 - funceb.org.br · plástico Manabu Mabe. A Casa de Pólvora, por sua vez, foi cons-truída no alto do morro, ... nadas em planos diferentes, contribuíam para o bom

59ANO IX / Nº 15

importância estratégica da sua localização. Seus

valorosos homens eram conscientes da responsa-

bilidade que tinham e estavam sempre dispostos

a cumprir a árdua missão de defesa.

Antiga guardiã do porto de Santos, debru-

çada sobre o mar, do seu mirante, que antes era

a posição de tiro das baterias e posto de vigilân-

cia, hoje o visitante vislumbra um belíssimo es-

petáculo visual das cidades de Santos e Guarujá.

Foi sede do Círculo Militar e posteriormen-

te da Sociedade dos Amigos da Marinha. Após

o tombamento pelo IPHAN, em 1967, transfor-

mou-se numa área de realização de eventos cul-

turais, sociais, artísticos, históricos, ambientais,

desportivos e comunitários.

A Universidade Católica de Santos, que tão

bem administra o valioso patrimônio histórico,

abre a sua porta para visitação pública todos os

dias, agora como parte integrante do pólo turís-

tico e cultural da Baixada Santista, para que to-

dos conheçam e vejam a grandiosidade do le-

gado que recebemos dos nossos colonizadores.

Para maiores informações consulte o site:

www.unisantos.br/fortalezadabarra.

REFERÊNCIAS

CORREIA, João Rosado (Coord.). Fortificações portuguesas no Brasil. Monsaraz: Centro de Estudos Patrimoniais Lusófonos da Fundação

Convento da Orada, 1998.

FROTA, Guilherme de Andrea. Quinhentos anos de História do Brasil. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 2000.

MORI, Victor Hugo. Arquitetura Militar – Um panorama histórico a partir do Porto de Santos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2003.

SECOMANDI, Elcio Rogério. Circuito turístico dos Fortes: Região Metropolitana da Baixada Santista, SP. Ed. Universitária Leopoldianum, 2005.

. Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, SP Ed. Universitária Leopoldianum, 2005.

Vistas

parciais da

Fortaleza.

Ao fundo

a Cidade de

Santos.

PAULO ROBERTO RODRIGUES TEIXEIRA – Coronel de Infantaria e Estado-Maior, é natural do Rio de Janeiro. Tem o curso de Estado-Maior

e da Escola Superior de Guerra. Atualmente é assessor da FunCEB e redator-chefe da revista DaCultura.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○