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ANO VIII • Nº 15 • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA • MARÇO 2003 EDITORIAL • O 11º CFORN • O 40º ANIVERSÁRIO DO 5º CEORN ALTOS POSTOS NAS FORÇAS ARMADAS • NOTÍCIAS • SOCIEDADE E FORÇAS ARMADAS • A UNIÃO EUROPEIA, DE NICE À CONVENÇÃO A BIBLIOTECA DA AORN • O CANTINHO DOS POETAS IN MEMORIAM... • "PRESTIGE"-UMA QUESTÃO GLOBAL O DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E AMBIENTE DO LNEC CICLO DE CONFERÊNCIAS NACIONAIS • DIREITO MARÍTIMO

ANO VIII • Nº 15 • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA • MARÇO 2003 · 2012. 10. 9. · ano viii • nº 15 • publicaÇÃo periÓdica • marÇo 2003 editorial • o 11º cforn •

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EDITORIAL • O 11º CFORN • O 40º ANIVERSÁRIO DO 5º CEORN ALTOS POSTOS NAS FORÇAS ARMADAS • NOTÍCIAS • SOCIEDADE E FORÇAS ARMADAS • A UNIÃO EUROPEIA, DE NICE À CONVENÇÃOA BIBLIOTECA DA AORN • O CANTINHO DOS POETASIN MEMORIAM... • "PRESTIGE"-UMA QUESTÃO GLOBALO DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E AMBIENTE DO LNEC CICLO DE CONFERÊNCIAS NACIONAIS • DIREITO MARÍTIMO

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m privilégiopara 3000 membros

U• Usufruir para ti e até quatro acompanhantes, em qualquer época

do ano de um desconto de 30% sobre os preços de balcão no alojamento dos Aldeamentos Turísticos de Pedras D'El Rei e Pedras da Rainha em Tavira - Algarve;

• Usufruir, para ti e até quatro acompanhantes, em qualquer época do ano, de um desconto de 25% sobre os preços de balcão no alojamento (dormida e pequeno almoço) nas seguintes unidades do Grupo Hoteleiro Fernando Barata:

Mónica Isabel Beach Club (Albufeira)

Forte de S. João (Albufeira)

Hotel Sol e Mar (Albufeira)

Hotel Suiço-Atlântico (Lisboa)

Aparthotel Auramar (Albufeira)

Hotel Sol e Serra (Castelo de Vide)

Hotel Mar à vista (Albufeira)

Hotel Dom Fernando (Évora)

Oleandro Country Club (Albufeira)

Hotel São João (Funchal)

Residencial Vila Recife (Albufeira)

• Utilizar a messe de Marinha em Cascais;

• Usufruir de condições especiais na Estalagem da Quinta de Santo António em Elvas.

• Acesso às consultas do Hospital de Marinha, a todos os asso-ciados da AORN, conjuges, ascendentes e descendentes que integrem o respectivo agregado familiar.

Em turismo de habitação, extensivo até cinco acompanhantes, na margem esquerda do rio Douro. Em qualquer época do ano, na Vila de Resende, com desconto de 30% no alojamento (dormida e pequeno almoço).

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Publicação Periódica da Associaçãodos Oficiais da Reserva Naval

Nº 15 • Ano VIIIMarço de 2003

Administração e RedacçãoFábrica Nacional da Cordoaria

Rua da Junqueira1300-342 Lisboa

Telefs.: 21 362 68 40 / 21 362 68 39 (Fax)e-mail: [email protected]/baiagatas/2176

Design e paginação electrónicaM. LEMA SANTOS, LDA.

Fotolito e montagemGRAFILIS, SA.

Impressão e acabamentoGRÁFICAMONUMENTAL, LDA.

Tiragem3.000 exemplares

Presenciar uma Alvorada no mar, Linha do Horizonte finamente marcada num céulimpo com mar chão, marcará indelevelmente a memória, um Ponto-ao-Meio-Diamais preciso.Sofisticada tecnologia e equipamento têm vindo a retirar, aos oficiais de navegaçãoe de quarto, a responsabilidade das primeiras medições mas também a poesia da ta-refa...Preservados da erosão electrónica, mantêm-se os cenários ímpares do Nascer e Pôr-de-Sol e essa linha imaginária separando o Homem do Infinito, para quem, a despeitode tempestades alienantes, materialismo desenfreado e consumismo balofo, mantémserenamente, mão firme no leme, no rumo traçado, uma mão cheia de valores a las-trar o navio...Que há-de tornar a bom porto!Nascer e Pôr-de-Sol, princípio e fim da vida, Linha do Horizonte, um “Ponto-ao-Meio-Dia”, a posição estimada... talvez a corrigir.Quem sabe, ventos fortes e pouco favoráveis, correntes não previstas, equipa cansa-da pelos excessivos “quartos”. São sempre os mesmos! Um caimento excessivo narota; mesmo sem risco de abalroamento poderemos navegar à deriva. Para aAlvorada, erradamente.Manter o rumo, alterá-lo drasticamente ou, simplesmente, acertar a rota com peque-nas guinadas de leme, preferencialmente para “estibordo”, é decisão de quem co-manda.A Assembleia Geral, na AORN! É soberana e nela devemos confiar o retomar donosso Rumo.Dela deverá emanar a “ordem” que deverá ser dada para o “Homem do Leme”.AAORN nasceu do Mar e para o Mar deve viver, aproando a um Horizonte longín-quo, transparente, visível por todos, sem nuvens.Também para ré descortinará a mesma linha, na certeza de que o caminho percorri-do foi correcto e o rumo seguro, traçado. Se assim não for, voltados ao porto de par-tida, teremos definitivamente perdida a esperança de alcançar o destino, e o cenáriode um "Pôr-de-Sol" deslumbrante não passará de uma ambição perdida no tempo.Na Assembleia Geral, que terá lugar no dia 29 de Março próximo, terá de se ouvir avoz clara de “todo o leme a estibordo”... “navega a 270! Máquinas a vante toda aforça!”É importante que assim seja.Para que a AORN, a nossa Juventude e certamente a Marinha saibam que, neste paísde esquecidos, existem cidadãos para quem o Mar será sempre uma justificação pa-ra continuar Portugal.

José Augusto Pires de Lima Manuel Lema Santos4º CEORN 8º CEORN

Editorial

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No ano de 1967 a Marinha incor-porou, pela primeira vez naHistória da Reserva Naval, dois

cursos de formação de oficiais RN.O 11º CFORN, alistado em 2 de Se-tembro desse ano, recebeu 75 cadetes,distribuídos pelas classes de Marinha

(23 cadetes), Engenheiros ConstrutoresNavais (1), Médicos (5), EngenheirosMaquinistas Navais (4), Administração(10), Fuzileiros (16) e Técnicos Espe-cialistas (16).A classe de Técnicos Especialistas incluíaos ramos de Arquitectura, EngenhariaCivil, Electrotécnia, Química e Geogra-fia, licenciatura em Físico-Química,Matemática, Geologia, Direito eEducação Física.Foi patrono deste curso, Diogo Gomes,navegador do século XV, da casa doInfante D. Henrique, que realizou em 1456uma viagem aos grandes rios da GuinéBissau e a quem se atribui a sua descoberta.Participou, com António de Noli, navega-dor italiano, natural de Noli, na Ligúria eque se integrou nas viagens Henriquinas àcosta africana, no reconhecimento dasilhas cabo-verdianas ocidentais.Comandava a Escola Naval o ComodoroLino Paulino Pereira e foi Director deInstrução deste curso, o CFR AlfredoJosé Estevam de Sousa e Costa.

Regulamentado pela Portaria nº 17.090 de30 de Março de 1959, o Prémio “ReservaNaval”, destinado ao melhor aluno na fre-quência escolar e na classificação de carác-ter militar, foi atribuído ao cadete da classede Técnicos Especialistas, AlexandreAugusto Morais Guedes de Magalhães.

O 11º CFORN

Comodoro Lino Paulino Pereira Capitão de Fragata José Estevam de Sousa e Costa

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No período de instrução na Escola Navalos cadetes realizaram diversas saídas pa-ra o mar, em fins de semana, nomeada-mente nos Draga Minas “Lagoa”,“S. Pedro”, “Vila do Porto” e “Lages”,tomando conhecimento com a vida a bor-do e praticando navegação costeira.A viagem de fim de curso realizou-se nasFragatas “Diogo Cão” e “Corte Real”,comandadas respectivamente pelos CFREurico Serradas Duarte e Mário DiasMartins e teve lugar entre os dias 4 e 29de Março de 1968, saindo de Lisboa eaportando a Ponta Delgada, Angra doHeroísmo, Horta, S. Vicente de CaboVerde, Funchal e Porto Santo, antes deentrar de novo em Lisboa.

Na Fragata “Diogo Cão” embarcaram23 cadetes da classe de Marinha, 5 Mé-dicos, 1 Construtor Naval, 4 Engenheirosmaquinistas e 4 Técnicos Especialistas(do ramo de Direito).A Fragata “Corte Real” recebeu 10 cade-tes deAdministração Naval, 16 Fuzileirose os restantes 12 Técnicos Especialistas.Em cerimónia que teve lugar no dia 5 deAbril e presidida pelo Ministro da Ma-ri-nha, CALM Fernando Quintanilha deMendonça Dias, os cadetes prestaram o seuJuramento de Bandeira, sendo que um dosinicialmente referidos, não tendo obtidoaproveitamento, foi mandado destacar parao Centro de Alistamento e Adidos a fim deser alistado como 1º grumete Fuzileiro,Alexandre Augusto Morais Guedes de Magalhães

1 – Luis Camacho Lobo2 – António Reis Camelo3 – José Andrade Biscaya4– Luis Sena Lino5 – Pompílio Horta Ferreira6 – Miguel Puppo Correia7 – Luis Simões Lima8 – Alexandre Guedes Magalhães

9 – Rabindranath Capelo Sousa10 – Manuel Duque de Morais11 – João Gonçalves Sanches12 – Júlio Gamboa Figueira13 – Diogo Freitas do Amaral14 – Guilherme Sousa Guimarães15 – Adelino Amaro da Costa

1 – José Honorato Ferreira2 – Manuel Alves Dinis3 – Manuel Ferreira Raposo4– João Branco Gonçalves5 – António Miranda da Rocha

6 – Alexandre Carvalho Neto7 – Francisco Gonçalves Lopes8 – Luis Cunha Pignatelli9 – António Borges de Araújo10 – Daniel Silva Ferraz

CLASSE DE TÉCNICOS ESPECIALISTAS CLASSE DE ADMINISTRAÇÃO NAVAL

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Na pesquisa histórica uma presença permanenteFundação

Luso-Americanapara o Desenvolvimento

Ãntónio Serra Pacheco António Rosado Cruz António Campos Teixeira Carlos Perdigão Silva Carlos Teixeira Gomes

Francisco Ramos Bisca João Cardoso Prata Joaquim Pires Costa Jorge Carvalho dos Santos José Alves da Trindade Leitão

José Barros Raposo José de Freitas Mariguesa Manuel Leitão de Freitas Manuel Caldeira de Potes Cordovil Agostinho Paiva de Oliveira

Henrique Sanches e Brito Augusto Monteiro Gomes João Costa Poeira José Montalvão de Santos e Silva Luis Alberto Pereira dos Santos

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António Rodrigues da Hora António Roque Taco Calado António Moreira Martins António Homem Caldeira Pessanha Carlos Alberto Nascimento e Silva

Daniel Barreiros Maymone Fernando Penim Redondo Fernando Prado Dias de Freitas João Alberto de Bettencourt Dias João Evaristo Carapinha

João Alexandre Alves Pereira

Da esq. para a dir.: Henrique Oliveira Pires, António Teixeira, Joaquim Pires Costa, José Montalvãoe Silva, Carlos Perdigão e Silva e João Costa Poeira no primeiro embarque no NRP “Lages”

Um grupo de cadetes preparado para escutar a cantora Cesária Évora, na viagem a Cabo Verde

José Luis Roque de Pinho José Monteiro de Sousa Otílio Gonçalves dos Reis Vasco Cunha Brasão

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durante o período de 2 anos, de acordo coma Portaria 22.016 de 26 de Maio de 1966.

Entretanto, começaram os primeiros des-tacamentos para comissões de serviço noUltramar, com realce, pela novidade de,pela primeira vez na sua História, um ofi-cial RN ter sido enviado para Macau. Foio então 2º TEN RN de AdministraçãoNaval, António Francisco OliveiraMiranda da Rocha. Ali permaneceu du-rante dois anos, legando ao Museu daAORN um valioso espólio histórico,constituído por dezenas de documentos efotografias que relatam fielmente, emmuitos domínios, o que foi a vida naque-le território entre os anos de 1968 e 1970,incluindo a visita da Fragata “João Belo”,comandada pelo CFR Leonel Cardoso,por ocasião dos incidentes da revolução,na República Popular da China, encetadapelos guardas vermelhos.

Destacamos ainda, a sua intervenção nasessão comemorativa do centenário doAlmirante Gago Coutinho, como oradoroficial da Província, em cerimónia presi-dida pelo então Governador, o GeneralNobre de Carvalho.Também para África foram destacados,assumindo o comando de lanchas de fis-calização alguns oficiais deste curso.

Para Moçambique, Manuel Freire deMenezes (NRP “Mercúrio”), para aGuiné, Henrique de Oliveira Pires (NRP“Canopus”) e Jacinto Saraiva Baptista(NRP “Aldebaran”) e para Angola, JoséVieira de Sá (NRP “Fomalhaut”).As LFG “Sagitário”, “Hidra” e “Orion”,em serviço na Guiné, receberam comoOficiais Imediatos, respectivamente,Maximiano de Almeida Martins,Euclides Santiago de Almeida e LuísMendes do Nascimento, enquanto quepara a LFG “Escorpião”, em Angola, se-guiu Silas Esteves Pego.

Também foram mobilizados os cinco mé-dicos deste CFORN integrando Com-pa-nhias de Fuzileiros, destacando paraAngola (Edward Limbert, FranciscoRocha Pires, Joaquim da Silva Borges eLuís Canaveira Manso) e para Moçam-bique (Ricardo Migães de Campos).

Este último, com longa permanência naBase do Lago Niassa, deixou o seu nomeligado à famosa Rádio Metângula, sendoum dos seus mentores, conjuntamente comoutros oficiais da Reserva Naval, comoJoão Peneque (10º CFORN) e José LuísTocha dos Santos (12º).

José Manuel Vieira de Sá Maximiano Guerra de Almeida Martins Euclides Santiago de Almeida Luis Mendes do Nascimento Silas Esteves Pego

Manuel Freire de MenezesAntónio Miranda da Rocha Mário Sousa Rombert Henrique Nunes de Oliveira Pires Jacinto Saraiva Baptista

Sessão comemorativa doCentenário do ALM GagoCoutinho em Macau,(da esq. para a dir.):CFR Manuel de Sousa Barbosa,Comandante da DefesaMarítima,Dr. Alberto Eduardo da Silva,Secretário Geral de Macau,GEN Nobre de Carvalho,Governador de Macau,Juíz Dr. Leal de Carvalho,Chefe dos Serviços Judiciaiso historiador/jornalistaLuis Gonzaga Gomes eMiranda da Rocha proferindoa sua palestra

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A esta Rádio, estão igualmente ligadosmuitos outros nomes que dela fizeramum dos mais importantes meios de co-municação de Moçambique, “apadri-nhada” pelo Comandante Naval, oAlmirante António Tierno Bagulho e naqual se empenharam nomes como osentão Comandantes Guilherme Con-ceição Silva, João da Fonseca Caxaria,Adriano Chuquere, Joaquim EspadinhaGalo, José de Sousa Henriques e muitosmais, aos quais será dado o devido des-taque em artigos a publicar em futurosnúmeros da Revista da AORN.

Sem citar nomes, que nesta resenha his-tórica não cabe referir fora do seu per-curso na Marinha, é no entanto, de sa-lientar, os importantes contributos que

os componentes do 11º CFORN deramnos vários serviços e Unidades para on-de foram destacados, de que são provaos 49 louvores, as 35 Medalhas deCampanhas em zonas de operações, asprimeiras Medalhas de Expedições RN,as 2 Medalhas de Mérito Militar e as 3Medalhas de Serviços Distintos comPalma, não figurando neste conjunto osoficiais RN que integraram mais tarde oQuadro Permanente da Marinha deGuerra, como Oficiais Fuzileiros ouque na Marinha continuaram a prestar oseu contributo profissional, nomeada-mente no Instituto Hidrográfico.

Um CFORN que na senda de tantos ou-tros a Marinha uniu para sempre e quecelebrará, com uma cerimónia na

Escola Naval, no presente ano, os seus35 anos de amizade.Quantos, nesse dia, se reunirem, não dei-xarão de recordar e manter viva a lem-brança daqueles para quem a estrada davida foi mais curta, embora com a certe-za de que também esses marcarão a suapresença na memória de todos.

Nota: As referências históricas aos diversos cursosda Reserva Naval não são mais do que lembrançasdo tempo em que, entrados cadetes na EscolaNaval, dali saíram oficiais RN, para um período deserviço, mais ou menos longo, na Armada. Servirãode base para um relato alargado do percurso de ca-da um, com destaque para a vida que mais tardecontinuaram como cidadãos civis. Daí que, peseembora o desejo de que fossem salientados aspec-tos posteriores da sua vida pública, nos limitemos,nesta Revista, ao tempo efectivo em que vestiram afarda do botão de âncora.

Edward Standlin Limbert Francisco Mont’Alverne Rocha Pires Joaquim Luis da Silva Borges Luis Eduardo Canaveira Manso Ricardo Migães de Campos

Encontro de Évora, na Quinta de S. José do Cano, de Manuel Cordovil, em 17-04-1999. De pé: João Cardoso Prata, António Serra Pacheco, Manuel Cordovil, Capelo de Sousa, Duque de Morais, Leitão deFreitas, Mendes Nascimento, Perdigão e Silva, Ramos Bisca, Rosado da Cruz, Saraiva Baptista e Campos Teixeira. Sentados: Ricardo Campos, Miranda da Rocha, Carvalho Neto, Francisco GonçalvesLopes, Andrade Biscaya, Puppo Correia e Gamboa Figueira

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Foi muito agradável reencontraraqueles amigos que há 40 anos,vindos de diferentes portos, atraca-

ram ao Alfeite.

Eram “navios” novos aqueles emque chegámos, malta nova, todossonhando futuros que são já passa-

dos. Muitos se mantêm ainda no activo,em muito bom estado, bandeiras desfral-dadas, rumos traçados, rotas ainda nãoacabadas. Navegam com alegria e con-fiança, espírito de aventura e de desco-berta bem vivos, alguns com elevada to-nelagem, cascos cheios de responsabili-dade.São já muitos anos de navegação e hárombos. Inevitável. Mas lá estiveram, fir-mes, 22 dos 46 iniciais.Foi na Escola Naval, em 11 de Outubrodo passado ano de 2002.Infelizmente, três já deram baixa, de-

finitivamente. Lembrei-me deles, lembrá-mo-nos todos, desses amigos, numa cha-mada interior que não pudemos evitar,que não pudemos deixar de sentir, naEscola Naval: o Rio Coles, o João NunoCarreira, o Sampaio Cabral.As suas viagens não têm regresso. Nuncamais, infelizmente.Que bons ventos Vos acompanhem, ami-gos, mares sem tempestade percorramnessa viagem desconhecida.De outros três, o Malheiro Araújo, oVictor Elias, o Santos Martins, não há si-nal deles nos radares.Onde estarão vocês, amigos? Em que ma-res navegarão? Posso assegurá-lo, todosgostávamos de vos reencontrar.De dezoito, ausentes do encontro, sabe-mos deles, alguns com avaria, rotas di-vergentes, chamados a missões urgen-tes.Doença impediu o Ferreira da Silva de sejuntar a nós. Senos da Fonseca, Tavaresda Costa, Cunha Lucas e TeixeiraMachado, foram rebocar familiares poravarias de última hora.Votos de rápida solução para esses pro-blemas.O Mendes Uva, requisitado à última hora,faltou. Nada de grave.Conhecidas, antecipadamente, outras na-vegações, do Albergaria Ambar, do Toméde Carvalho e do Inocêncio Mourato e,em última hora, do Munõz de Almeida,

do Machado Lopes e do Pinto da Silva. Aausência inesperada do Santos Mesquita,deixou o encontro sem representantes daclasse de EngenheirosO Gomes de Vallera e o Heitor SousaSantos, perderam-se, sei lá! Não conse-guiram largar as amarras, o BernardinoDias de Oliveira, oAlmendra Rodrigues eo Araújo Frias, que ainda não responde-ram à chamada.Vinte e dois regressaram, estiveram noAlfeite.Foi bom, já o disse, e permitam-me dis-tinguir o Manel Corrêa de Barros, queveio de Angola, e nos brindou com umaintervenção cheia de bom humor e me-mória do passado.E oRanitoBaltazar, que não víamos há anos!Veio do Porto e muito bem conservado.Reencontrámos, após longos anos perdi-do, o Pereira Marques, casco bem tratadoe bem disposto; o Luís Filipe Penedo, omais novo do curso, retirado da activida-de profissional, que faz ainda notáveisviagens com intervenções fadis-tas e gui-tarradas, em que é perito; o DrummondEsmeraldo que veio de Estarreja e trouxeo mesmo sorriso de confiança na vida; oTavares Farinha, gordito, careca e bemdisposto; o Godofredo, pesadote, masbem, o mesmo de sempre; o GarciaBentes, óptimo, compenetrado, sorrisocalmo, dedicado à sua empresa de electri-cidade; o Manel Assunção, bem disposto,activo e um pouco anafado (regresseicom ele a Lisboa); o Pedro Ferreira Pinto,

O 40º ANIVERSÁRIO DO 5º CEORN

Fernando Alves Serra5º CEORN

O 5º CEORN com o Comandante da Escola Naval, CALM Carlos Viegas Filipe Luis Filipe Penedo assinando o Livro de Honra

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mexido, o mesmo malandreco que conhe-cemos de outros tempos e o MesquitaBarbas, o Raposo de Medeiros, oLingnau da Silveira e o SocorroMonteiro, todos em forma. E dos demaisque estiveram? O Emídio Simões, arqui-tecto em Setúbal, bem. O Serrano, queveio do Algarve, foi muito bom vê-lo. OZé Luís Couceiro e o Manel Sales Grade,reformados, mas como se o tempo nãopassasse por eles.A recepção começou na Sala ReservaNaval, onde nos deu as boas vindas o2º Comandante da Escola, CMG Fernan-des Rodrigues, acompanhado de uma de-legação de cadetes e de dois represen-tan-tes da Direcção da AORN.Depois, foi a cerimónia de apresentaçãode cumprimentos ao Comandante,

CALM Carlos Viegas Filipe, um cadeteda “nossa escola” que nos transmitiu agrande satisfação em receber este curso,numa data significativa, e convidando-nos a uma visita pelos cinco cantos damemória.Uma Placa, assinalando a visita, prestahomenagem à Instituição que há quarentaanos nos recebeu, dando início a uma li-gação com a Marinha de Guerra que, in-questionavelmente, contribuiu para a nos-sa formação pessoal.Quarenta anos! São uma longa correntede vida e estou certo de interpretar o sen-timento dos 22 presentes, deixando bemvincado o enorme prazer por este reen-contro. Com os amigos de então, amigosque já são de sempre e com a EscolaNaval. Um muito obrigado ao seu

Comandante, ALM Viegas Filipe, pelainiciativa.Um óptimo jantar, na Sala do Coman-dante, foi o ponto de reunião com oficiaise cadetes da Escola. Ambiente de muitasimpatia e local de intervenções sentidas,bem humoradas e reveladoras do senti-mento geral – o da satisfação de todos.Não vamos deixar passar mais quarentaanos, para nos revermos na Escola Naval.Ou noutra Unidade que nos traga o prazerdas recordações.A vida alimenta-se também de saudade eo prato da balança em que nos equilibra-mos, pende indiscutivelmente, para o la-do das boas lembranças.

Fernando Alves Serra5º CEORN

ALTOS POSTOS NAS FORÇAS ARMADAS

Almirante José Manuel Mendes Cabeçadas Almirante Francisco Vidal de Abreu

Nopassado mês de Novembro to-mou posse do alto cargo deChefe do Estado-Maior General

das Forças Armadas, o Almirante JoséManuel Garcia Mendes Cabeçadas.

Resultante desta promoção, para a chefiado Estado-Maior daArmada foi nomeadoo Almirante Francisco António TorresVidal Abreu.

A AORN, através da sua Revista, mani-festa aos dois ilustres Almirantes, os vo-tos de felicidades nas missões para queforam escolhidos e o apoio que sempreesteve presente na família naval.

A placa comemorativada efeméride

Um grupo atento...

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NOTÍCIAS

No Porto, no habitual jantar das2ªs Quintas-Feiras do mês, reali-zou-se mais um encontro do

Núcleo Polo Norte.

Com um número que oscila entre as12/20 presenças por encontro, passou acontar com um orador mensal que apre-senta à discussão um tema de interesseactual, dando ao evento uma característi-ca gastronómico-cultural e fomentandoum interesse maior por estas reuniões.

Fernando Camisão, João Santos Cardoso e Mário Nunes João Malheiro, Mário Nunes, Sobral Torres e Moreira da Silva

Breves notícias das presenças da AORN:

26-09-2002 Na Biblioteca Central de Marinha, no lançamento e apresentação do livro do VALM Abílio Freire da Cruz Junior,“O Mundo Marítimo Português”.

11-10-2002 Na Escola Naval, no encontro comemorativo do “40º aniversário da incorporação do 5º CEORN na Armada”.

22-10-2002 No Museu de Marinha, na sessão evocativa da "1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul – 1922", sendo orador oCTEN REF António Silva Soares.

24-10-2002 Na Sociedade de Geografia de Lisboa, numa sessão integrada nas Jornadas “A Sociedade Civil e o Mar”.

30-10-2002 No Museu de Marinha, na cerimónia de lançamento do livro “Astrolábios Náuticos”, do CMG REFAntónio LucianoEstácio dos Reis.

06-11-2002 No Instituto Superior Naval de Guerra, na “Sessão Solene de Abertura do Ano Lectivo 2002/2003”.

08-11-2002 Na Escola de Fuzileiros, na cerimónia de “Rendição do Cargo de Comandante da Escola de Fuzileiros”, doCMG FZ Francisco Lhano Preto para o CFR FZ José António de Oliveira Rocha e Abreu.

25-11-2002 Na Escola Naval, na cerimónia de abertura do Colóquio “Pedro Nunes – Novos Saberes na Rota do Futuro”.

25-11-2002 No Palácio Nacional da Ajuda, na cerimónia de “Tomada de Posse” do Chefe do Estado Maior da Armada,ALM Francisco António Torres Vidal Abreu.

29-11-2002 Na Escola Naval, na Sessão Solene de Abertura do Ano Lectivo e de Encerramento do Colóquio “Pedro Nunes –– Novos Saberes na Rota do Futuro”.

05-12-2002 Na Base de Fuzileiros, na “Tomada de Posse” do novo Comandante, CFR FZ João Alberto Pires Carmona, renden-do o CMG FZ Luís Augusto Loureiro Nunes.

16-12-2002 Na cerimónia de “Rendição do Comando do Corpo de Fuzileiros”, do CMG FZ António Manuel Mateus para oCALM Fernando Manuel Vargas de Matos.

31-01-2003 No Instituto Superior Naval de Guerra, num painel subordinado ao tema “Inovação e Mudança nas Organizações”,moderado pelo Professor Dr. Costa Pereira e sendo oradores os Professores Doutores José Keating, da Universidadedo Minho, e Albino Lopes e António Caetano, do ISCTE.

01-02-2003 No Clube do Sargento da Armada, na cerimónia de “Tomada de Posse dos seus Orgãos Sociais”.

13-02-2003 Na Biblioteca Central de Marinha, na apresentação da obra “Naufrágios e Longitude”, da autoria do ComandanteCosta Canas.

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O11º CFORN completou 35 anos da sua incorporação naArmada, em 2 de Setembro passado.Esta circunstânciamereceu de alguns elementos do curso o desejo de cele-

bração do acontecimento, de forma marcante.

Para tal, com a inestimável permissão do Comandante da EscolaNaval, está a ser preparado um conjunto de cerimónias a realizarno dia 8 de Abril próximo, incluindo uma recepção, o descerra-mento de uma placa comemorativa, uma conferência e um jan-tar de convívio e confraternização entre “jovens” que se reen-contram na mais emblemática Unidade da Marinha.

António Campos Teixeira (tm: 91 900 84 53), Manuel Cordovil(tm: 93 942 49 37) e Ricardo Campos (tm: 96 605 47 24) toma-ram sobre si a responsabilidade da organização deste encontro,para quem podem ser dirigidas as inscrições, para além dos ser-viços administrativos da AORN.

Incorporado em 1963, o 6º CEORN completa ,em 26 de Julhode 2003, 40 anos da sua entrada na Escola Naval.À semelhança da celebração que em 11 de Outubro passado

reuniu o 5º CEORN, o Comandante da Escola Naval, CALMCarlosAlberto Viegas Filipe, convida os componentes deste cur-so para um encontro que terá lugar em data ainda a determinar ecujo programa será futuramente divulgado.

Este “aviso” pretende sensibilizar e mobilizar, desde já, os inte-grantes do 6º CEORN para que se mantenham atentos às men-sagens, dentro do espírito que se lhes reconhece e que os leva afrequentes reuniões desde há várias décadas.

Prevê-se que o encontro tenha lugar em Outubro próximo.

A Revista faz um apelo no sentido de serem facultados os ende-reços electrónicos (vulgo email) de quantos possuam este meiode comunicação, facilitando posteriores informações sobre oevento.

O3º CEORN, num dos seus habituais encontros, reuniu-seno passado dia 7 de Novembro, num jantar que teve lu-gar no restaurante da Associação dos Pilotos de Linha

Aérea. Responderam à chamada 15 “jovens” RN's da incorpora-ção de 1960, que aproaram à ementa com determina-ção. Aquificam os nomes dos presentes e de quatro ausentes de última ho-ra, embora indefectíveis participantes destes eventos.

Foram eles: Frederico Blanc de Sousa (o organizador perma-nente), Manuel Morgado Sequeira, Fernando Marques Antunes,Carlos Pombo Rodrigues, Manuel Ramos, João Estarreja,

António Sutil Roque, Pedro Pina Ribeiro, José ManuelBacharel, José Silva Máximo, JoãoAndrade Rocha, João Borgesde Oliveira, Armando Peres, João Guimarães Assédio e JoãoArbués Moreira.Do 2º grupo, ausente, Pedro Norton dos Reis, Alberto NevesCordeiro, Frederico Villas-Boas e Jorge Mendes Pinto.Refira-se que este CEORN, desde há quatro décadas que realizavários encontros ao longo de cada ano, numa demonstração devitalidade e amizade, que pensamos não ter paralelo em mais ne-nhum curso da Reserva Naval.

NOTÍCIAS

Pedro Pina Ribeiro e João Estarreja João Rocha, José Máximo, Manuel Morgado Sequeira e José Bacharel

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A propósito da evocação do10º CFORN, recordado na re-vista nº 14 da AORN, o Prof.Ricardo Campos, defensor, co-nhecedor profundo e entusias-ta da História do Niassa e im-buído da mística que desdesempre se transmitiu a quemesteve na Base de Metangula,enviou à Revista um “reparo”que se transcreve com todo ogosto.

Com o mesmo gosto se divulga a intenção de se dar início à“História do Lago Niassa”, a partir do próximo número destapublicação, na certeza de que não faltarão colaborações demuitos RN's e Oficiais do Quadro Permanente, para quemMetângula tem um significado marcante na vida de quantos aliprestaram serviço nos idos anos de sessenta e setenta.

«Da leitura atenta da descrição referente aos camaradas que in-tegraram o 10º CFORN e, louvando o esforço de tentativa de ri-gor e exaustão de descrição de algumas apreciações aos mes-mos, não posso deixar em claro dados referentes a um dos ca-maradas daquele curso.

Refiro-me ao Dr. João António Rodeia Peneque, que eu bem co-nheço desses tempos.

Pertencemos à mesma companhia de fuzileiros. Sentindo-mecompletamente incapaz de o classificar com base nos dados bé-licos inerentes à sua incorporação na classe de fuzileiros e dei-

xando em claro os referentes aos seus dotes humanos que todoslhe reconhecemos, quero enaltecer a qualidade, ou o “dom”, quepermitiu a divulgação, cantando, sem uma falha, a vida dos mi-litares do Niassa.

O João Peneque foi, na realidade, o intérprete que cantando ecom humor, deu voz ao Niassa.

Foi ele que cantou e ajudou a elaborar o “Cancioneiro doNiassa”, cuja divulgação, naquela data, teve forus de reacção àsituação política que se vivia. Ele, conjuntamente com oComandante Adriano Chuquere, entre outros, conseguiu, no“Cancioneiro do Niassa”, um documento de intervenção quaseimpensável naquela época.

O João Peneque colaborouainda no lançamento daRádio Metangula que, tudoindica, foi a primeira rádiomilitar a nível mundial.

São estes dados que me fa-zem escrever estas linhas, so-brelevando outros elemen-tose dotes para os quais não meconsidero a pessoa indi-cadapara comentar.

Obrigado João Peneque, tornaste menos sós as longas noites doNiassa.»

Ricardo Campos11º CFORN

NOTÍCIAS

A PALAVRA AOS LEITORES ATENTOS

Ricardo Campos11º CFORN

João Peneque10º CFORN

Mário Medeiros Pereira, João Tavares Carreiro, Fernando Pacheco da Costa e Vasco Pereira da Silva

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rafiasd

oCteAntón

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Francisco Cordovil, João Pacheco Rodrigues, Adelino Rodrigues da Silva e Brito Subtil

EmPonta Delgada os componentes do Núcleo dos Açoresda Reserva Naval realizaram mais um dos seus encontrosmensais, reunindo-se num almoço no dia 6 de Novembro

passado, de que damos notícia. O convívio teve lugar na Messe

de Marinha do Loreto e como é hábito, reúne também oficiaisque na altura se encontram aí aboletados.Na falta de uma imagem de grupo, deixamos assinaladas as pre-senças que as fotografias juntas mostram.

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Os alunos da Escola Naval estive-ram na zona do Douro, no finaldo mês de Fevereiro, para realiza-

rem um exercício no rio. Ao mesmo tem-po, entendeu a Marinha realizar acções dedivulgação para captação de jovens juntodas escolas secundárias da região.Tratou-se de atrair os jovens a entraremna Escola Naval, para se prepararem paraa nobre função de oficial da Marinha deGuerra Portuguesa.

Informações a que tivemos acesso, di-zem-nos que se torna cada vez mais difí-cil motivar os jovens a enveredarem pelacarreira militar. As escolas supe-rioresmilitares estão com grandes dificuldadesde recrutamento.Concretamente na Marinha, corre-se orisco de, dentro de poucos anos, ser difí-cil preencher os quadros de oficiais, prin-cipalmente nas classes de técnicos.É uma situação que nos entristece, depoisde termos sido um dos países com umadas maiores marinhas do mundo e de já,em séculos passados, termos mesmo do-minado os mares com as nossas armadas.É claro que, dirão alguns, são tempos quejá lá vão. Mas é um assunto que nos devedeixar a todos muito preocupados.Por um lado, tal facto constitui tambémpara nós um extraordinário desafio.Um desafio lançado a uma nação inteiraque continua a ter uma das maiores zonaseconómicas exclusivas, que tem de serprotegida, fiscalizada. Os recursos nela

existentes e o poder que nos dá a sua de-tenção em termos internacionais, devialevar-nos a todos, mas principalmente aospolíticos, a ter uma atenção especial à do-tação da Marinha, em termos de recursosmateriais e humanos, de forma a que onosso futuro, como nação, não possa serposto em risco.Por outro lado, compreendem-se as razõespara que os jovens não queiram ingressarnas Forças Armadas. Outrora uma pro-fis-são desejada, disputada, ser militar hoje na-da diz aos jovens, depois de tantos enxova-lhos, de tratos de polé, de toda a forma efeitio, na sequência das atitudes de algunsmilitares a seguir ao 25 de Abril.Aagravar tudo isto, nos últimos anos, osmi-litares sofreram todo o tipo de hu-milhações,como ainda aconteceu nos últimos doisanos, com a Marinha a ter de deixar os na-vios nas Bases Navais, por falta de dinheiropara pagar os combustíveis...Algo terá de ser feito e com urgência, pa-ra que esta situação se altere.Em primeiro lugar, será necessário digni-ficar as carreiras militares, equi-parandoos seus vencimentos às classes do mesmonível, como acontecia há muitos anosatrás.Mas, talvez mais importante que isso, se-rá criar condições que dignifiquem asForçasArmadas, clarificando o seu papel.E será também importante dotá-las demeios modernos, eficazes e indispensáveisà realização das missões de que sejam in-cumbidas, para que os portugueses sintam

que a sua existência é fundamental àNação.Haverá necessidade de sacrifícios, redu-zindo quadros, redimensionando a sua or-ganização, diminuindo o número de ins-talações e evitando a manutenção dequartéis cuja existência se não justifique.Pode ser necessário tudo isso e muitomais. Mas se com isso o país se sentirmais protegido e se pudermos continuar acumprir e a assegurar os nossos com-pro-missos internacionais, então todos tere-mos a ganhar.E, já agora, talvez ainda se vá a tempo deevitar que dentro de poucos anos as nos-sas Forças Armadas tenham de ser consti-tuídas por mercenários, com pessoasoriundas de outros países, que não sintamo sangue português a correr- -lhes nasveias, de onde não adviria nada de bom.Com que disposição iriam esses cidadãospara a guerra?O que sentiriam quando fossem man-da-dos combater em nome da pátria portu-guesa, talvez contra o seu país de origem?Que hino cantariam esses militares nasparadas?A par da Justiça, das Finanças e daEducação, as Forças Armadas são vitaispara qualquer país que se queira perpe-tuar no futuro, sem sobressaltos.Ora, por este andar não teremos futuro.

SOCIEDADE E FORÇAS ARMADAS

António Caseiro Marques21º CFORN

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II. De Nice à Constituição Europeia –o papel daConvenção.

Os objectivos de Nice

O segundo referendo irlandês salvou oTratado de Nice. Ficaram assim lançadasas bases institucionais mínimas, indispen-sáveis para que a União Europeia possaassimilar o grande alargamento que seavizinha.

Mas, como já deixei entender na primeiraparte deste artigo (publicada no nº 14 daRevista da AORN), o grande mérito deNice foi o de preparar o advento de umnovo, e porventura decisivo, salto quali-tativo na evolução “constitucional” daevolução europeia.

É assim que a Declaração nº 23, anexa aoTratado, veio apelar a um debate maisamplo e aprofundado sobre o futuro daUnião Europeia.

A primeira grande inovação no método deabordar as questões da reforma institucio-nal da União ficou clara logo na definiçãodo âmbito desse debate. Pretendia-se queo mesmo associasse todas as partes inte-ressadas: não apenas, como até então, osrepresentantes dos governos dos Estados-membros e a Comissão Europeia, mastambém o Parlamento Europeu e osParlamentos nacionais, os países candida-

tos à adesão e os representantes do con-junto da opinião pública (círculos políti-cos, económicos e universitários, repre-sentantes da socie-dade civil, etc.).

Por outro lado, a Declaração nº 23 defi-niu, ainda que não de forma exaustiva, oâmbito material do processo de reflexãosobre o futuro da Europa: delimitaçãomais precisa das compe-tência respecti-vas da União e dos Estados-membros, norespeito do princípio da subsidiariedade;estatuto da Carta dos DireitosFundamentais; sim-plificação dosTratados; papel dos Parlamentos nacio-nais. O objectivo declarado daConferência, ao lançar estes temas de de-bate, era o de reforçar a legitimidade de-mocrática e a transpa-rência da União edas suas instituições por forma a aproxi-má-las dos cidadãos.

Desde logo se anunciou a convocação, em2004, de uma nova Conferência deRepresentantes dos Governos dosEstados-membros, “para tratar dos pontossupramencionados, a fim de introduzir nosTratados as correspondentes alterações”.

Sucede, porém, que, ao mesmo tempo, a

Declaração n.º 23 encarregou o ConselhoEuropeu de Laeken, de Dezembro de2001, de aprovar uma declaração que pre-visse as iniciativas apropriadas para darseguimento ao processo de reflexão.

A Declaração de Laeken

E foi esta a grande ocasião que, muito pormérito da presidência belga, não deixoude ser aproveitada para lançar o processofortemente inovador que conduziu à con-vocação da Convenção.

Três aspectos importantes devem ser su-blinhados. Em primeiro lugar, aDeclaração de Laeken alargou sen-sivel-mente os temas de reflexão enumeradosem Nice. Em segundo lugar, para prepa-rar a CIG-2004, instituiu a Convenção edefiniu-lhe a duração, a composição e osmétodos de trabalho, indicando para seuPresidente o antigo Presidente francêsValéry Giscard d'Estaing e para Vice-Presidentres dois antigos Primeiros-Ministros, o italiano G. Amato e o belgaJ.-L. Dehaene. Em terceiro lugar, introdu-ziu decisivamente na agenda europeia aideia de abrir caminho para a elaboração

A UNIÃO EUROPEIA, DE NICE À CONVENÇÃO

UMA CONSTITUIÇÃO PARA A EUROPA?

José Luís da Cruz Vilaça15º CFORN

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de “uma Constituição para os cidadãoseuropeus” que conduza, a prazo, “à adop-ção, na União, de um texto constitucio-nal”.Nunca os Estados-membros tinham aceiteir tão longe.Apartir daqui, nada será comodantes no processo de construção europeia.Espera-se, que fique definitivamente en-cerrada a era em que os participantes nasConferências intergovernamentais para re-visão dos Tratados se limitavam a exprimir– à porta mais ou menos fechada – a posi-ção oficial dos respectivos gover-nos, parachegar a um consenso que, depois, os re-presentantes políticos dos eleitorados na-cionais eram chamados a ratificar. Quandomuito, os cidadãos têm acabado por serconfrontados, por via de referendo, com oresultado, tantas vezes confuso, desarticu-lado e minimalista, a que chegaram os re-presentantes dos governos. Não admira,por isso, que, por vezes, não hajam acei-tado o facto consumado e se tenham de-clarado contra.

A Convenção

Desde cedo, a Convenção teve consciên-cia de que a sua missão histórica era a deredigir o texto de uma Constituição ou deum Tratado constitucional, em vez de selimitar a reunir contributos diversos entreos quais a Conferência intergovernamen-tal pudesse exercer as suas preferências,ao sabor de difíceis arranjos políticos en-tre as conveniências de uns e de outros.

Ao longo dos meses de trabalho daConvenção, os projectos constitucionais eos contributos para o debate surgiram detodos os lados. Mas é hoje claro entre to-dos os que seguem os trabalhos daConvenção que aquele objectivo vai sercumprido. Goste-se ou não do perso-na-gem, o certo é que o “método Giscard”vai dar frutos e dos trabalhos daConvenção sairá um texto que poderá ser-vir de base segura à futura arquitecturaconstitucional da União Europeia.

Prova de que o que se passa na Convençãopassou a ser levado a sério é o facto de vá-rios governos dos Estados-membros (e,entre eles, os mais influentes) terem entre-gue aos chefes da sua diplomacia a re-presentação na Convenção: assim sucedecom a Alemanha, a França, aEspanha ou a Grécia, actual presidente do

Conselho.Mais ainda: a traduzir o reconhecimento deque a dinâmica da Convenção será tal quemuito dificilmente poderão influenciar-se àposteriori os seus resultados, os chefes deEstado ou de Governo têm-se apressado aapresentar as propostas que entendem de-ver ser consideradas pela Convenção. É es-se o caso da recente proposta comum doPresidente Chirac e do Chanceler Schröder,com vista à instituição de um Presidente doConselho da União, a eleger por um perío-do de cinco anos.

Um Presidente para a União?

Esta é, sem dúvida, uma das mais radicaise politicamente mais visíveis reformasque podem vir a ocorrer na estrutura ins-titucional da União.

Há nela virtudes e defeitos. Pelo lado ne-

gativo, reforça o órgão intergoverna-mental (o Conselho) relativamente ao ór-gão (a Comissão) a quem os Tratadosconferiram a missão de promover a inte-gração no espaço europeu. Além disso, sea medida não for acompanhada de arran-jos adequados, comporta o risco de criaruma reserva importante de poder para osgrandes Estados-membros.

Mas, em contrapartida, é indiscutível que,relativamente ao sistema actual de presi-dências semestrais rotativas, a reformaoferece a vantagem de maior estabilida-de, eficácia e continuidade na definiçãoda agenda e na organização dos trabalhosdo Conselho, bem como, provavelmente,de uma maior visibili-dade e coerência narepresentação externa da União.

Para confortar os mais integracionistas, epor pressão do Chanceler alemão, aComissão Europeia seria reforçada pelaeleição do seu Presidente através de umvoto qualificado do Parlamento Europeu.

Mas, a ser assim, o risco que se corre é ode uma permanente “guerra de galos”, ca-da qual no seu poleiro, que poderá acabarpor enfraquecer a União. Para evitar essaguerra, o mais provável é que se adoptemmecanismos que assegurem a supremaciado Conselho, isto é, do órgão onde estãorepresentados os governos dos Estados-membros. Neste contexto, não são segu-ramente os Estados de menor dimensão ede menor peso económico (comoPortugal) que saem beneficiados.

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Acomplicar o difícil equilíbrio institucio-nal poderia entrar ainda em jogo a cria-ção, proposta pelo grupo de trabalho pre-sidido por Dehaene, de um posto de“Ministro dos Negócios Estrangeiros” daUnião, responsável simultaneamente pe-rante o Conselho e a Comissão, e comcompetências em matéria de política ex-terna e de defesa. A proposta suscita ób-vias reticências, quer por parte dosEstados-membros mais reservados emmatéria de defesa, quer por parte daque-les que (como a Grã-Bretanha) vêem ne-la um risco de duplicação da NATO.

Teria, contudo, a vantagem de ofereceruma porta de entrada à política externa ede defesa no esquema institucional daUnião, sob uma forma mitigada, susceptí-vel de acomodar federalistas e adeptos dacooperação intergoverna-mental.

A repartição de competência EU –Estados-membros eo princípio da subsidiariedade

A questão da repartição de competênciasentre a União e os Estados-membros éoutra das questões cruciais a resolver nonovo texto constitucional.

Contrariamente aos Estados que a supor-tam, a União disporá sempre de meras“competências de atribuição”, porque nãolhe compete a ela definir a sua própriacompetência constitucional. Mas a exis-tência de cláusulas de flexibilidade tempermitido, até agora, à ComunidadeEuropeia ir ajustando a sua intervenção àevolução das circunstâncias.

Há um risco de bloqueamento, ou mesmode retrocesso (ver recentes propostas dapresidência da Convenção), na capacida-de da União para intervir em certas áreasonde tem desempenhado um papel – porvezes controverso, é certo (educação, cul-tura, política industrial, emprego, investi-gação e desenvolvimento).

Creio que a sujeição, em áreas de compe-tência concorrente, aos princípios da sub-sidiariedade e da proporcionalida-de de-verá continuar a ser o critério condutor daintervenção da União.

O problema está em reforçar os mecanis-mos de controlo (prévio ou a posteriori)do respeito desses princípios na legisla-ção e na actividade da União.

A esse respeito, de entre os sistemas quetêm sido avançados, parece estar a colhersimpatia crescente o de dar voz aosParlamentos nacionais, cujas prerrogati-vas estão, ao fim e ao cabo, em causa.Resta determinar quais os mecanismospráticos através dos quais essa voz pode-ria exprimir-se.

Uma Constituição para a União

Não é possível fazer aqui um sobrevoocompleto das questões a que aConvenção terá de dar resposta no pro-jecto de Constituição da União que iráapresentar. Mas gostaria de acrescentarmais duas ou três notas.

É indispensável que a futura Constituiçãoeuropeia seja clara, simples, legível ecompreensível por todos. Daí o esforçode simplificação a que todos os projectostêm procedido relativamente ao texto ac-tual dos Tratados, no sentido de manterapenas o essencial de uma estrutura cons-titucional, relegando para legislação se-cundária as normas de natureza infra-constitucional.

O primeiro projecto preparado, emOutubro de 2002, pelo Presidium daConvenção divide-se em duas partes.

Uma, sobre a “Arquitectura Constitucio-nal”: personalidade jurídica, valores e ob-jectivos da União; cidadania e direitosfundamentais; instituições; instrumentosde execução das competências da União;princípios gerais da vida democrática daUnião; finanças; acção e relações exter-nas da União; condições de entrada, sus-pensão e saída.

Outra, sobre as “Políticas e as Acções daUnião”: mercado interno; política econó-mica e monetária; segurança interna; ou-tras políticas comuns (concorrência, so-cial, coesão económica e social, agricul-tura e pesca; ambiente; protecção dosconsumidores; transportes e redes tran-seuropeias; investigação e desenvol-vi-mento tecnológico); políticas de apoioaos Estados-membros (emprego, saúde,indústria, cultura, educação, formaçãoprofissional e juventude).

Duas notas apenas, a este propósito. Umasobre a protecção dos direitos funda-men-tais na União. É seguro que a Carta dosDireitos Fundamentais constituirá o pontode referência dessa protecção. Resta sabersob que forma. Será a Carta inserida nocorpo da própria Constituição? Ou deveráesta remeter para a Carta, a incluir emProtocolo anexo?

Por mim, prefiro esta última solução, por-que ao mesmo tempo que assegura umaeficácia jurídica plena aos artigos daCarta e a conveniente visibilidade, evitatornar o texto da Constituição demasiadopesado, com a reprodução de um númeroconsiderável de disposições, com alínease sub-alíneas.

Em todo o caso, é também necessário ga-rantir a existência de mecanismos efica-zes de controlo jurisdicional no espaço daUnião, de maneira a que os direitos nãofiquem letra morta no papel daConstituição. É tema que se liga com aestrutura do sistema jurisdicional comu-nitário, que a Convenção não poderáigualmente deixar de encarar.

Um outro tema delicado de debate não

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deixará de ser o da política social. Entreos mais liberais e os mais intervencio-nistas em matéria de política social sedecidirá até que ponto deverá ir a inter-venção da União. Entendo que, a estepropósito, se impõe aos cons-tituintesuma sábia contenção, para evitar criarfactores de rigidez no âmbito social quese imponham a todos os Estados-mem-bros, independentemente do seu nível dedesenvolvimento e das suas estruturas epreferências no plano socio-económico.

Conclusão

O caminho para uma Constituição daUnião está, pois, aberto. Com ela, ficarárelegada para a história das ideias políti-cas a convicção dos constituciona-listastradicionais de que a noção deConstituição é inerente à de Estado--nação. A nova realidade da integraçãoevoluiu de tal modo que a ideia deConstituição transcendeu já o âmbito pu-ramente estatal.No caso da União Europeia, a consis-tên-cia da realidade socio-política que subjaza esta Constituição foi-se consoli-dandoao longo dos anos. O Tribunal de Justiçadas Comunidades foi, por sua vez, levando

a cabo, em algumas das suas mais impor-tantes decisões, aquilo a que se tem cha-mado um processo de progressiva “consti-tucionalização” dos Tratados.Faltava, porém o golpe de asa que viesseconferir a este processo uma plena legiti-mação democrática. É essa legiti-mação,que passa por uma mais ampla e livre par-ticipação da sociedade civil e, a final, pe-la aprovação popular, que pode resultardo processo iniciado em Nice.Uma Constituição é, aliás, a melhor ga-rantia dos direitos de todos os participan-tes num processo colectivo. Para um paíspequeno como Portugal, é particularmen-te importante dispor, no quadro da UniãoEuropeia a que pertence, de uma tal cartade direitos.É certo que, em Portugal, como é costume,andámos distraídos das coisas importantes.

Aparte os colóquios organizados, de formasistemática e aprofundada, pelo Institutode Estudos Estratégicos e Internacionais,pouco ou nada se tem feito para a dis-cus-são pública dos grandes temas da reformainstitucional da União.É, por isso, legítimo motivo de orgulhoda AORN a iniciativa de abrir as páginasda sua Revista ao tema da Europa1, umdaqueles que mais profundamente condi-cionarão o nosso futuro colectivo pormuitos anos.Ficaria satisfeito se este artigo deixassesequelas nas páginas da Revista, abrindoum debate de ideias que abrilhantaria ain-da mais o palmarés da AORN.

José Luís da Cruz Vilaça15.º CFORN

1 Lembremos, aliás, que o representante do Governo Portuguêsna Convenção é o Prof. Ernâni Rodrigues Lopes, Presidente daAssembleia Geral da AORN.

PPPPEEGrupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) e dos

Democratas Europeus

PPSSEEGrupo do Partido Socialista Europeu

EELLDDRRGrupo do Partido Europeu dos Liberais, Democratas e

Reformistas

VVeerrddeess//AALLEESSGrupo dos Verdes / Aliança Livre Europeia

GGUUEE//NNGGLLGrupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda

Nórdica Verde

UUEENNGrupo União para a Europa das Nações

EEEEDDGrupo para a Europa das Democracias e das Diferenças

Reproduções e elementos recolhidos de publicações autorizadasda Comissão Europeia (Serviço de Publicações Oficiais dasComunidades Europeias) com data de Setembro de 2001

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No anterior número da Revista, fi-zemos um apelo aos leitores, só-cios e não sócios desta Asso-cia-

ção, no sentido de os sensibilizar para oapoio à nossa Biblioteca, sector impor-tante do Museu que desde há alguns anostemos vindo a desenvolver.Nesse apelo, salientámos a inegável possi-bilidade que se abria à constituição de umespólio bibliográfico de grande valor cultu-ral, apenas atendendo ao número de leitoresda Revista da AORN e ao facto de grandeparte destes, se situar num patamar culturalque certamente os levou à aquisição demuitos livros e documentos.Salientámos também que, ao longo dotempo, até por limitações de espaço ou al-terações de vida, muitos se desfazem dosseus títulos, quantas vezes por valoressimbólicos, ou simplesmente cedidos aquem ainda possua algum espaço em suacasa.A juventude que de nós descende e, quan-do a nós nos referimos, citamos os cerca de3.000 cidadãos que na Marinha entraramna Reserva Naval, aproxima-se do número8.000.Parece ser razão demasiado forte para quejuntemos à nossa História, recolhida e trata-da através de documentos e material cedidopor muitos RN's, com maior visibili-dadenum futuro Museu da Reserva Naval, umaBiblioteca diversificada, que possa ser localde estudo e conhecimento, abrangendoáreas com relação directa ao Mar, como lo-gicamente se compreende, mas desde agorafocando temas que possam satisfazer as ten-dências mais diversas deste vasto universode potenciais frequentadores.Foi um apelo com resposta imediata dealguns. Não muitos, em quantidade, masque poderão vir a servir de exemplo esti-mulador para que outros dediquem algum

tempo ao tema.Na realidade, quatro ofertas apenas per-mitiram somar mais 1.047 livros e docu-mentos diversos, passando o total arqui-vado, de 650 à data da nossa anteriorRevista, em 1 de Agosto de 2002, para1.697, em 31 de Dezembro passado.Salientamos, como espólio histórico desuperior interesse, a oferta do Director daRevista da Armada, CALM Luís AugustoRoque Martins, da colecção completa dos325 números até ao momento publicados.E, neste local, reforçamos o profundo agra-decimento de que o CALM Roque Martinsé merecedor por este gesto, mais uma pro-va do apoio e colaboração que, desde sem-pre, a AORN tem recebido das Entidades,Serviços e Unidades da Armada.

Constituiu igualmente valioso contributode um associado a oferta de 243 volumesversando Etnografia e História e de 438sobre Política, Temas Sociais e DireitoAdministrativo que, dificilmente, se en-contrarão disponíveis, no seu conjunto,numa só Biblioteca particular.Anunciamos, entretanto, que a página daAORN na INTERNET, em fase de reju-ve-nescimento, irá apresentar os títulos dasobras da Biblioteca, com actualização perió-dica, permitindo a sua divulgação e rápidoconhecimento a todos os interessados.Não repetiremos o apelo que fizemos narevista nº 14.Pedimos apenas que este artigo mereçaalguma reflexão dos leitores e que a nos-sa justa ambição de dotar a AORN comuma das mais importantes bibliotecas na-cio-nais se possa concretizar um dia.Não cremos que nos possam acusar de vi-sionários.É tão só, noção das realidades.

A BIBLIOTECA DA AORN

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Da Parte I, das seis em que esta obra sedivide, e que tem o título "DA POESIA",transcrevemos:

A CRIAÇÃO DO MUNDO

No princípio era a terraE em cima da terraOutra terra foi posta.

Terra funda de mimE em cima de mimNova terra se encosta!

No princípio era o marIndefinido ao amarIniciado e sem fim.

Uma forma a nascerUma razão a saber:Ser o não e o sim!

No princípio era o arE dos lados do ar:Um horizonte perfeito:

O princípio das cores,O começo das dores:O acto a ser feito!

No princípio era o fogoE de dentro do fogoSe fez luz por medida:

Deu tamanho ao espantoE altura ao encantoE diferença à vida!

No princípio era a terraE em cima da terraNova terra foi posta.

No princípio era o marE em cima do marUm adeus deu à costa!

E o ar foi ao fogoE de dentro do fogoUma saudade me quer:

É a minha heresiaAo ser na poesiaUm amante qualquer!

É assim que me douÉ a isto que vouÉ só isto que sei:

O adeus há em mim;A saudade é sem fim;Tomai e bebei.

Da Parte II, dedicada aos Poetas, o autorrecorda MIGUEL TORGA no poema:

ADEUS POETA!

Tu, que hoje deixas a mortalidadeE entras no restrito dos eleitos,Onde só pesa a rara qualidadeDo dever acima de todos os defeitos!

Tu, a quem falamos de modo abertoPara além da circunstância da viagem,Foste a sombra virgem no desertoE norte em direcção à outra margem!

Tu, que entras em nós pelo brioEnsinando os caminhos à filha serra,fecundas os vales em gestos de equilíbriotratando das feridas da Mãe-Terra!

Tu, que do frágil fizeste o sonhoDe ver a pedra bruta do lugar,Soprando o vento agreste de risonho,Na vela, a todo o pano, a navegar!

Tu, canto desconhecido onde caber,Profeta da mensagem prometida,Surdo-mudo e cego de as saberCaídas, uma a uma, nesta vida...

Tu, instante tão distante do momento,Incómodo, intangível,... o Escolhido!Ninho que embala a fé do pensamentoE nas palavras vincadas o mais ferido!

Tu, das pessoas sempre diferentesE delas carente em sublimes rituais;Queimando torgas a construir gente,Mais que deuses, as quiseste a ti-iguais !!!

O CANTINHO DOS POETAS

Carlos Alberto Maia Teixeira20º CFORN

Carlos Alberto Maia Teixeira é médico, exercendo a profissão na cidade deCoimbra, onde vive. Oficial da Reserva Naval, integrou a classe de Fuzileirosdo 20º CFORN, incorporado na Armada no ano de 1972.

Em 1998, publica o livro "OS NAVEGANTES DA MEMÓRIA", da Editorial MouraPinto, de Arganil. No escrito da autora do Prefácio do livro, Leonor Morais Machadoassinala: «Os Navegantes da Memória” é uma obra poética cuja arquitectura revela,antes de mais, a ideia do ser que deambula ao sabor dos sentidos, do próprio ciclo na-tural da vida, o ser em amadurecimento, numa tentativa de fixar rotinas, eternizando-as pelo instante que representam».

E mais adiante: «É sempre redutora a leitura pessoal de um texto, de um livro. Talvezessa constatação seja prova da inexplicável beleza, do infinito de experiências e de re-lações que as palavras proporcionam a todos quantos lêem e admitem esse privilégio».

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Luís Veiga de Macedo, do 12º CFORNconheceu e conviveu de perto com o Co-mandante João Torres Fontes de Sousa

Campos, referindo essa circunstância notexto seguinte:“Foi com a maior emoção que recebi a no-tícia da morte do Comandante SousaCampos.Tive o privilégio de o conhecer de perto,durante anos, quando, sob as suas ordens,prestei serviço no Leste deAngola, no finalda década de sessenta, como oficial fuzilei-ro. Pude então apreciar e admirar esse ilus-tre militar, cuja memória evoco com vivasaudade e o mais profundo apreço. Era umChefe na verdadeira acepção da palavra,que soube honrar, e de que maneira, a nos-sa Marinha e a Pátria, servindo-as comsu-perior elevação e coragem.Foi, sem dúvida, um Comandante que

sempre esteve à altura das delicadas e di-fíceis funções que, em boa hora, lhe fo-ram confiadas. Homem bom, lúcido,compreensivo e consciente dos deveresdo cargo, foi também exigente, mas sem-pre justo, para quantos com ele pude-ramcooperar na patriótica missão de defendera integridade de Portugal. Foi umHomem de carácter e leal. Tinha o cultoda honra e a dignidade própria do trans-montano, «uma das expressões mais ro-bustas e fecundas do génio lusitano».Não poderia, assim, deixar de lhe prestar,com estas palavras, a minha mais profun-da e sentida homenagem.”

Luís Veiga de Macedo12º CFORN

Comandante João Torres de Sousa Campos (1933-2002)

A morte do Comandante Artur ManuelCoral Costa constitui, para todos quantoscom ele privaram ao longo da vida, umairreparável perda. Qualquer que seja o ân-gulo de análise em que nos situemos,qualquer que seja a época de referênciaou a diferença de idade que tenhamos, re-lativamente ao CMG Coral Costa, umaconstatação é comum. Foi um GRANDESENHOR.No trato, nas manifestações de amizade, nocuidado em marcar a sua presença ajudan-do quantos a ele recorriam, ninguém esque-cerá o Comandante Coral, como a ele se re-fe-riam por vezes, deixando mais tristes osamigos e os que, embora esporadicamente,tiveram o privilégio de o conhecer. Fui umdesses privilegiados.Conheci pessoalmente o ComandanteCoral Costa, há apenas meia dúzia de anos.Foi no início da caminhada da AORN, nodesejo de recuperar rapidamente a Históriada Reserva Naval, que tomei a decisão delhe pedir que me recebesse em sua casa.Uma casa aberta que nos deixava de ime-diato a certeza de estarmos perante um ca-sal de grandes diplomatas, GrandesSenhores, parecendo que o nosso conhe-ci-mento vinha de há muito e este primeirocontacto era apenas mais um. Era assim oComandante Coral Costa e é assim aSenhora D. Maria do Carmo, sua viúva.

Perante mim, no primeiro contacto, a cer-teza de iniciar a recolha dos dados histó-ricos da Reserva Naval, exactamente pe-lo oficial que esteve na origem dessamesma História.Diz-se que a História não tem início,acontece todos os dias e não tem fim. Nãoé assim a História da Reserva Naval, naMarinha de Guerra Portuguesa.Nasceu em data conhecida, teve res-pon-sáveis que lhe deram forma e são conhe-cidas as fases imediatamente anteriores àentrada do primeiro CEORN na EscolaNaval, em 1958. Foi seu primeiroDirector de Instrução, o ComandanteArtur Manuel Coral Costa, cujo perfil demilitar e influência, na caminhada inicia-

da nessa data, teve destaque em anteriornúmero da Revista da AORN, em entre-vista conduzida pelo nosso camaradaManuel de Sousa Torres, do 8º CEORN.Não é o perfil militar que, nesta hora, pre-tendemos salientar. Apenas e tão só, aqualidade de Alguém que, ao longo deuma vida inteiramente dedicada àMarinha, mantendo sempre o orgulho nafarda do botão de âncora e com décadasde serviço, soube transmitir e legar, o hu-manismo, a amizade e uma ilimitada sim-patia e que muito para além do brilhantis-mo de uma carreira de marinheiro, foi umGRANDE SENHOR.Ao Comandante Coral Costa fica a Re-serva Naval a dever muito do que aMarinha lhe reconhece, e muito do queconstitui hoje de mais valioso do seu es-pólio histórico. Mas o mais relevante é adívida de gratidão que os seus muitosamigos têm para com quem lhes devotouuma enorme amizade, e em quem deixa amaior das saudades.Neste simples recordar fica a nossa ho-menagem e gratidão e o sentimento soli-dário com a tristeza de sua família, certosde que Deus lhe está dando a sua protec-ção.

José Augusto Pires de Lima4º CEORN

IN MEMORIAM...

No ano de 2002, partiram do nosso convívio dois oficiais de Marinha que, ao longo da sua vida, marcaram de forma parti-cular a Reserva Naval. Muitos foram os que sentiram esses acontecimentos, mostrando desejo de deixar o seu testemunhonuma das edições da Revista da AORN.

Comandante Artur Manuel Coral Costa (1924-2002)

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"Prestige", ou ironia do destino

Defacto, o naufrágio do navio tan-que "Prestige", tanto pelas conse-quências que a sua carga traz pa-

ra um meio ambiente já tão castigado, co-mo pelo tipo de questões que suscita nu-ma actividade que conta já com mais de50 anos de globalização, traz de novo aPortugal uma oportunidade e uma obriga-ção de reflectir sobre a sua vertente oceâ-nica. Para o bem e para o mal, o mar faz

parte da nossa geografia há já quase noveséculos.

Este acidente embora não envolva direc-tamente o nosso país, isto numa primeiraanálise, poderá vir a fazê-lo caso o mar esó o mar, as correntes e os ventos assim odecidam. Em acidentes deste tipo, querpela sua dimensão e imprevisibilidade,como pela dificuldade de um controle efi-caz no mar, os países ribeirinhos da zonaacidentada acabam normalmente por re-ceber na linha da costa as consequênciasmais nefastas: os produtos derramados.

Em alturas destas, somos levados decertoa pensar que temos uma costa bastantegrande, mas se considerarmos também aZona Económica Exclusiva, então tere-mos mesmo uma grande dor de cabeça.

Podíamos tentar aqui uma avaliação téc-nica sobre o acidente e o que poderia ounão ter sido feito, bem como daquilo quepoderá ou deverá ainda ser feito, no sen-tido de minimizar os efeitos daquilo quese desenha como uma grande catástrofe eque só o oceano com os seus caprichos

decidirá. Mas creio que este assunto me-rece uma reflexão um pouco mais profun-da na procura de uma causa para os seusefeitos; o derrame do "Prestige".

O cenário

Propriedade de um armador grego, aUniverse Maritime, navegando sob o pa-vilhão das Bahamas, com comandantegrego, oficiais romenos e restante tripula-ção asiática, o navio tanque “Prestige”transportava cerca de 76 000 toneladas deAM 100 (Fuel Óleo Inter-médio) de umporto da Letónia, no mar Báltico paraGibraltar.

O “Prestige” é apenas um exemplo doque mais se pode encontrar nesta activi-dade global que é o transporte marítimo.Alguns países mantém ainda reservas detransporte marítimo sob pavilhão nacio-nal no sentido de proteger a sua econo-mia, outros para manterem a sua culturamarítima, mas a maior parte da frotamundial navega sob pavilhão de conve-niência.

“PRESTIGE” – Uma questão global

Casimiro Barreto47º CFORN

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Efectivamente, em 1947, com a criaçãodas bandeiras de conveniência do Pana-má e da Libéria começou a construçãodos cenários que caracterizam o trans-porte marítimo e as rotas de navegaçãodos dias de hoje. Cenários estes que aco-lhem a produção de performances como ado “Prestige”. Bahamas, Antigua eBarbados, Camboja, Equador e imensosoutros... são também alternativas.

Registos mais permissivos, com sistemasde controlo deficientes ou por vezes mes-mo inexistentes, que olham o shippingapenas na vertente do alojamento de fro-tas alheias, criando novas e fáceis fontesde receita através da recolha de taxas eimpostos, proliferaram então permitindoa diluição das respon-sabilidades a que ospavilhões nacionais obrigavam.

Tripulações menos qualificadas, tecno-logias mais simples e sofisticadas, ummercado concorrencial mais exigente on-de o homem assume cada vez mais o me-ro papel de elo de ligação entre tecnolo-gias, conduzem a que em última instânciao erro se deva inevitavelmente a falha hu-mana.

Uma frota mundial cada vez mais enve-lhecida, com manutenção deficiente sob apermissividade dos novos registos, aliadaa mercados mais exigentes e concorrên-cias mais implacáveis numa actividade àescala global, determinam a era doTransporte Marítimo.

Esta é uma parte do cenário, aquela quevem do mar. A outra é o próprio mar.

Representando cerca de 18 vezes o espa-

ço ocupado pelo território sólido, a ZonaEconómica Exclusiva portuguesa, esten-de-se por uma parte razoável doAtlânticoNorte. Regulamentada pela Convençãodas Nações Unidas sobre o Direito doMar (Montego Bay 1994) e pelo direitointerno português, esta extensa área me-rece uma atenção especial. Cruzam o nos-so espaço maríti-mo cerca de 700 naviospor dia. Não basta legislar, é também ne-cessário manifestar capacidade para pro-jectar o poder que faça cumprir as leis.Como controlar então este vasto espaço?Como actuar quando se perde ou se estáprestes a perder o controle?

A performance

A 13 de Novembro ao largo da Galiza, o“Prestige” debaixo de condições de tem-po e mar desfavoráveis, sofre um rombono costado a estibordo.

A 14 de Novembro, já a derramar parte dasua carga, aproxima-se até cerca de 4 mi-

lhas da costa espanhola donde é rebocadopara o largo. Aqui, inicia-se uma longaodisseia de indecisões e de decisões ata-balhoadas no sentido de afastar a possívelresponsabilidade de uma maré negra.

De salientar as afirmações do director daSmith Tug (empresa holandesa, grandeespecialista mundial neste tipo de traba-lhos e que assumiu e conduziu o reboquedo Prestige) à publicação do Loyd's List:« sempre que quis falar com responsáveisdo governo espanhol, falei com políticos.Por nenhuma vez apareceu um técni-co…».

Nem franceses nem espanhóis preten-diam experimentar as consequências deuma nova maré negra, e muito menos defuel. Torrey Canyon, Amoco Cadiz,Erika, Urquiola, Andros Patria, MarEgeo,... e um rol de muitos outros já os ti-nham severamente castigado. Talvez daía sua reacção inicial. Portugal, por seu la-do e bafejado pela sorte nesta fase inicial,não pretende também assumir os custosmais pesados da catástrofe. AMarinha de Guerra impede o “Prestige”de entrar na nossa ZEE, obrigando-o anavegar para oeste, afastando-o assim danossa costa.

Que fazer com um navio que continua aderramar fuel para o mar? Conduzi-lo pa-ra um porto, tentar circunscrever o derra-me e transfegar o fuel que ainda se en-contrava nos tanques? Rebocar o naviopara longe da costa e fazê-lo explodir,queimando uma parte substancial do fuel,evitando assim que atingisse a costa?Tentar a transfega mesmo em alto mar?...ou talvez outra, ou outra ou ainda outra.

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Mas a ausência de decisão conduziu a si-tuação a um delicado desfecho: um derra-me inicial de 17.000 toneladas de fuel, se-guido do colapso e naufrágio do“Prestige” com mais cerca de 60.000 to-neladas nos tanques para uma profundi-dade de 3.500 metros e sem que ninguémconsiga prever o que poderá acontecercom os destroços e a restante carga umavez chegados ao fundo do mar.

Avaliação

A avaliação no sentido de minimizar oacidente, foi desastrosa. Este tipo de deci-sões não pode ser tomada em cima doacontecimento devido às consequênciasque implicam. Devem sim constar numplano de Contingência, previamente esta-belecido, sustentado e devidamente en-saiado.

Na sequência das observações efectuadaspelo submarino Nautilus, a realidademostrou-se ainda mais cruel: o “Prestige”continua a derramar o fuel do interior dosseus tanques com as consequentes altera-ções da estrutura do navio, as quais po-dem conduzir ao seu colapso total.

A partir daqui, resta apenas monitorizar efazer a recolha possível no mar. Mas, co-mo mostra a experiência de um rol de ou-tros acidentes, a maior parte do derramevai atingir a orla costeira. Há portanto umimenso trabalho a realizar no sentido depreparar a máquina logística e as pessoasnecessárias para as operações de recolha,caso o mar traga o fuel para a nossa cos-ta.

Embora nenhum país se possa considerar

de per si preparado para combater umderrame deste tipo, os meios de quePortugal dispõe são manifestamente insu-ficientes pelo que necessitaremos de umaboa colaboração quer a nível nacionalquer a nível internacional caso se venha aconcretizar este cenário.

Conclusão

É cedo de mais para concluir sobre o aci-dente do “Prestige” uma vez que este seencontra ainda longe de estar concluí-domas, no entanto, podemos desde já retirardaqui algumas reflexões.

Acidentes deste tipo sempre acontecerame continuarão a acontecer. E, nestes casos,o amanhã deve preparar-se ontem.

A montante do acidente e na área da pre-venção, devem ser intensificados e maiseficazmente aplicados o port state controle o flag state control, obrigando assim ospaíses de registo e as empresas contratan-tes à aplicação de medidas mais eficazes,responsabilizando-os pelo seu pavilhão epelo seu negócio. Por outro lado deveexistir uma formação e certificação maiscontrolada dos maríti-mos, de modo a ga-

rantir um padrão mínimo de qualidade.Em Portugal, essa garantia é asseguradapelo Instituto Português de TransportesMarítimos, pela Escola Náutica InfanteD. Henrique, na formação dos oficiais eoutras escolas especializadas na forma-ção dos restantes marítimos. Porém, à es-cala global, são conhecidas as facilidadescom que um indivíduo, perfeitamente es-tranho à actividade, consegue documen-tação e certificação profissional para ope-rar neste marcado em desempenhos paraos quais não está preparado e que envol-vem enormes riscos tanto para o homemcomo para o meio ambiente. Finalmente,também as sociedades classificadoras de-vem ser mais inflexíveis nas suas inspec-ções, pareceres e certificações.

A jusante do acidente, a tónica deve sercolocada na preparação necessária paralidar com ele. Uma cadeia de comandosólida, decisões rápidas e seguras, recur-sos humanos, equipamentos e materiaisadequados, como barreiras, skimmers eoutro tipo de recuperadores quer em terraquer no mar, etc., atempadamente mobili-zados, aliados ao know-how de quem en-frenta continua-mente estas catástrofespelo mundo inteiro, serão porventura umaajuda necessária para enfrentar os dias

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Por cortesia do Instituto Hidrográfico

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pós- -“Prestige”.

A IMO – International MaritimeOrganization, aliada a algumasInstituições ligadas à indústria como aIPIECA – International PetroleumIndustry Environmental ConservationAssociation e a ITOPF – The Inter-natio-nal Tanker Owners Pollution FederationLimited, promoveram acordos regionais einternacionais no sentido de prevenir emitigar a poluição, bem como de indem-nizar os lesados em situações deste tipo.

“Working Together” – Trabalhar emequipa, é o seu lema. Cientes pela análisede uma sucessão de acidentes que cadaum é apenas igual a si próprio, que a suadimensão ou evolução é imprevisível eque no mar estes saem geralmente fora docontrole humano, e cientes ainda de quenenhum país poderá por si próprio afir-mar-se capaz de lidar com este tipo de ca-tástrofes – vide Exxon Valdêz versusEstados Unidos da América –, a IMO ra-tificou 1995, a International Conventionon Oil Pollution Preparedness, Responseand Co-operation, 1990, também conhe-cida como OPRC 90. Basta apenas ratifi-car a Convenção e este grande escudoprotector estará à disposição.

Por outro lado, o acordo regional quePortugal mantém com a Espanha, Françae Marrocos desde 1990 e que a Espanha eMarrocos ainda não ratificaram devido adivergências entre os dois e que tem pornome Acordo de Lisboa ou CILPAN--Centro de Luta contra a Poluição noAtlântico Nordeste, não parece ter algu-ma capacidade de resposta face a uma si-tuação deste tipo. Será altura para voltarde novo a tentar resolver esta questão eporque não, tomando em consideração a

actual situação, solicitar com um argu-mento mais forte, a localização daAgência Europeia de SegurançaMarítima em Portugal, uma vez que estaInstituição iria concerteza trazer algumasegurança acrescida e uma atenção maiscuidada sobre o nosso país.

Finalmente, não existe em Portugal umaautoridade única capaz de liderar em todaa linha em colaboração com a Indústria,as múltiplas situações que se desen-vol-vem no espaço marítimo português, istoquer por precariedade de meios quer porfalta de vocação ou mesmo de organiza-ção. Por uma questão de economia demeios, algumas destas actividades na suaespecificidade poderiam ser desenvolvi-das por empresas privadas especializadas,actuando porém sob coordenação directade uma única autoridade – trabalhandoem parceria Estado e Indústria. Assim se-ria possível, tomar decisões imediatas emcaso de crise desenvolvendo e experi-mentando em conjunto Planos deContingência para futuras situações quepossam vir a ocorrer.

Mas esta questão não se resume apenasao “Prestige”, ou a outros navios do mes-mo tipo.

Ela estende-se a quase todos os navios.Qualquer tipo de navio de médio ou gran-de porte, transporta nos seus tanques al-gumas centenas ou milhares de toneladasde fuel oil, marine diesel oil, bunker C,ou outro tipo de combustível, que em ca-so de derrame pode causar danos impre-visíveis numa comunidade, como quenum estalar de dedos. Quer queiramos ounão, cruzam as nossas águas todos os diascentenas de navios. É nossa obrigação es-tar minimamente preparados para estefacto. É bastante mais que uma questãode “prestige”.

Casimiro Barreto47º CFORN

Professor convidado da:Escola Náutica Infante D. Henrique – Lisboa“Prevenção e Protecção do Meio Marinho”

IMO – International Maritime Academy – Trieste“Pollution: Prevention and Combat”

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ODepartamento de Hidráulica eAmbiente (DHA) do LaboratórioNacional de Engenharia Civil

(LNEC) é um dos seus sete sectores ope-rativos (www.dh.lnec.pt). Criado em1949, desenvolve actividade de inves-ti-gação aplicada no domínio da água, noque respeita quer aos meios hídricos emsi, quer às obras hidráulicas a elas asso-ciadas.

Estuda assim os meios hídricos como:• rios;• águas subterrâneas;• estuários;• orla litoral e mar;• estruturas hidráulicas fluviais (barra-gens e açudes);

• estruturas hidráulicas marítimas (por-tos, molhes, quebra-mares, esporões ecanais de navegação);

• sistemas de saneamento básico (siste-mas de abastecimento de água, siste-mas de drenagem e tratamento deáguas residuais e sistemas de proces-samento de resíduos sólidos)

Esse estudo é feito aos níveis do planea-mento, do apoio à concepção, ao projectoe à construção, da análise de comporta-mento, da reabilitação e do impacte am-biental.

A abordagem que faz aos problemas daágua é não só quantitativa, mas tambémqualitativa e com uma interacção com osaspectos ambientais.

A sua actividade de investigação aplicadatraduz-se essencialmente pela realizaçãode projectos de investigação programada,de projectos de investigação por contratoe por actividades diversas de apoio geralà indústria da água.

Os projectos de investigação programadacorrespondem a linhas de investigaçãoem geral propostas pela própria institui-ção, programadas por quadriénios e quesão consideradas prioritárias por seremd einte-resseacurtoou am é -

dio prazo para o País, inserindo-se nosprogramas quadro da União Europeia pa-ra a investigação.

Os projectos de investigação por contratoconsistem na prestação de serviço de con-sultoria técnica avançada para entidadespúblicas e privadas, nacionais e estran-geiras, em que se aplicam os resultadosda investigação programada anteriormen-te referida.

O DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E AMBIENTE DO LNEC

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As actividades de apoio à indústria da águareferem-se essencialmente à regulamen-ta-ção e normalização, formação científica etécnica, edição de publicações técnicas,ensaios, certificações e pareceres.

Para a execução dos seus projectos oDepartamento de Hidráulica e Ambientedo LNEC utiliza como metodologias deabordagem dos problemas:

• estudos analíticos;

• modelação matemática; modelaçãofísica;

Simulador numérico de manobras de navios

Marina de Vila Franca do Campo,Ponta Delgada, Açores:protótipo e modelo reduzido

Variação espacial das Correntes e Salinidade na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, Brasil

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• experimentação de campo e a experi-mentação laboratorial.

O Departamento de Hidráulica e Ambientetem uma equipa total de 105 elementos, dosquais 38 são da carreira de investigação,sendo 30 doutorados ou equiparados, e osrestantes são pessoal técnico experimen-ta-dor, operário e administrativo.

As infra-estruturas tecnológicas do De-partamento de Hidráulica e Ambiente ocu-pam cerca de 6 hectares, que correspondem

a um terço da área total do LNEC, e com-preendem 2.500 m2 de gabinetes e 35.000m2 de área experimental, o que o tornamsem dúvida no maior centro do País dedi-cado à investigação e ao desen-volvimen-to dos problemas da água, quer do pontode vista de quantidade quer de qualidade.Dispõe, além disso, de numeroso e podero-so equipamento computacional para apoio àinvestigação, nomeadamente para a elabora-ção de modelos matemáticos, ferramentascuja sofisticação actual permite simular com

grande rigor o comportamento da naturezaou do protótipo.

Ao longo dos seus mais de 50 anos de exis-tência, o DHA realizou cerca de 210 es-tu-dos de investigação em mais de 30 países.Elaborou cerca de 5000 publicações, dasquais cerca de metade na última década.

Engº Carlos Matias RamosVice-Presidente do LNEC e

Director do Deptº de Hidráulica e Ambiente

Barragem do Alqueva: protótipo e modelo físico

CICLO DE CONFERÊNCIAS NACIONAIS

AAORN e a UniversidadeLusíada levam a efeito, nospróximos dias 19 e 20 de

Março, uma conferência subordinadaao tema “As Forças Armadas naActual Conjuntura Internacional”.Pretende-se com esta conferência, le-var à Universidade a mensagem dostrês ramos das Forças Armadas comopartes fundamentais da Defesa doTerritório Nacional, e também comocomponentes de um todo Europeu.Serão igualmente tratados aspectosda Defesa Civil, particularmente osresultantes da vasta Zona EconómicaExclusiva que compete a Portugal

fiscalizar e preservar.Marinha, Exército e Força Aérea, es-tarão representados através dos seusInstitutos de Altos EstudosSuperiores. Preside o Ministro daDefesa Nacional, Dr. Paulo Portas,com intervenções do Chefe doEstado Maior General das ForçasArmadas, Almirante MendesCabeçadas e do Director do Institutode Defesa Nacional, Tenente GeneralGarcia Leandro.Será Moderador o Professor DoutorErnâni Rodrigues Lopes, Presidenteda Assembleia Geral da AORN.

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I–Introdução

Os Estados costeiros estendem a sua so-berania para além dos territórios respecti-vos, (e no caso de um Estado arquipelági-co, das suas águas arquipelá-gicas) a umazona de mar adjacente designado por marterritorial.

Esta soberania é efectuada no espaço aé-reo sobreadjacente ao mar territorial bemcomo no leito e no subsolo do mesmomar.

Antes de definir os limites exteriores épreciso definir a linha de base porque to-dos esses limites são considerados a par-tir dessa linha.

1 – Linha de base

Há dois tipos de linha de base.

– Linhas de base normal: É a linha dabaixa mar ao longo da costa (artº 5).

– Linhas de base rectas: São linhas tra-çadas ao longo de uma costa apresen-tando recortes profundos e reentrân-cias, ao longo da qual, e na sua proxi-midade imediata existe uma franja deilhas.

Essas linhas têm que ser traçadas unindopontos apropriados a partir da qual se me-de o limite do mar territorial (artº 7).

2 – Águas interiores

Águas situadas entre a costa e as linhas debase (artº 8.2).

3 – Águas arquipelágicas

Águas interiores das linhas de base arqui-pelágicas (artº 47).

4 –Mar territorial

Não pode estender-se além das 12 milhas,contadas a partir das linhas de base.

Contém a coluna de água, o solo e o sub-solo.

5 – Zona contíguaNão pode estender-se além de 24 milhasmarítimas, contadas a partir das linhas debase e que contém só a coluna de água(artº 33.2).6 – Zona económica exclusivaNão pode estender-se além das 200 mi-lhas marítimas das linhas de base contémsó a coluna de água (artº 57).7 – Plataforma continentalA plataforma continental de um Estadocosteiro compreende o leito e o subsolodas áreas submarinas que se estendem

além do seu mar territorial, em toda a ex-tensão do prolongamento natural do seuterritório terrestre, até ao bordo exteriorda margem continental, ou até uma dis-tância de 200 milhas marítimas das linhasde base nos casos em que o bordo exteriorda margem continental não atinja essadistância (artº 76.1).8 – Alto marRefere apenas a água e define as liberda-des de que gozam todos os Estados (artº87).9 – ÁreaSignifica o leito do mar, o fundo marinhoe o seu subsolo além dos limites da juris-dição nacional (artº 1.1).10 – Linha de equidistânciaQuando as costas de dois Estados são ad-jacentes ou se encontram situadas frente afrente, nenhum desses Estados tem o di-reito, salvo acordo de ambos em contrá-rio, de estender o seu mar territorial alémda linha mediana cujos pontos são equi-distantes dos pontos mais próximos daslinhas de base, a partir das quais se medea largura do mar territorial de cada umdesses Estados.

DIREITO MARÍTIMO

O TRAÇADO DOS LIMITES EXTERIORES DOS ESPAÇOS MARÍTIMOS DEFINIDOS NA (CNUDM) EDAS FRONTEIRAS MARÍTIMAS ENTRE ESTADOS:

ASPECTOS HIDROGRÁFICOS, CARTOGRÁFICOS E GEODÉSICOS

Carlos Pereira Pinto1º CFORN de 84

Fig. 1

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II –Aspecto Hidrográfico

As cartas marítimas apresentam só umaparte dos dados hidrográficos disponíveise um número limitado das curvas de ní-veis, em função da escala, da distância àcosta, da utilização da carta e dos dadosbatimétricos e oceanográficos.

Quando uma apresentação exacta da mor-fologia do fundo é necessária, (por exem-plo determinar a relação com a morfolo-gia terrestre do país costeiro mais próxi-mo), é útil o recurso a cartas oficiais deminutas originais e dados que podem sernão oficiais, mas aceitáveis na condiçãode que sejam fornecidas por organizaçõesou comissões qualificadas para efectuarlevantamentos hidrográ-ficos e oceano-gráficos.

Anecessidade de dados detalhados torna-separticularmente importante, quando é preci-so determinar linhas ou pontos par-ticula-res, por exemplo, a margem conti-nental.Nesse caso, além de uma documen-taçãodetalhada e precisa sobre as profun-dida-des, têm que ser elaborados perfis de sís-mica com grande precisão para, pelo me-nos os 1 000 primeiros metros a partir dasuperfície do fundo, acompanhados de do-cumentos sobre a geologia da zona costei-ra e da interpretação das rochas sedi-men-tares e da sua espessura.

Com a ajuda desses documentos, é pos-sí-vel obter perfis morfológicos do fundo pa-ra determinar pontos ou zonas dividindo asdiversas partes do fundo (PlataformaContinental, talude início e fim do pé dotalude...). Nesses casos, uma sondagem

de grande exactidão deverá ser feita, paradeterminar as batimétricas (exemplo abatimétrica dos 2 500 m necessária parautilizar o método de determinação dos li-mites da Plataforma Continental no casode se estender por mais do que os 200 m)(ver fig. 1).

E, quando se fala de sondagem, a reduçãoda maré torna-se obrigatória nesse do-mí-nio até para as profundidades supe-rioresaos 200 metros. A determinação da maréé um dado muito importante para a loca-lização da linha de baixa mar (linha debase normal). Convém ter um maré-grafoou outros métodos precisos na zona con-siderada. Ter um cuidado particular à re-dução da maré ao longo das costas queapresentam um pequeno declive, porqueum erro de medida na vertical, induz umdeslo-camento importante na horizontal.

É muito importante obter a altura exactasobre o nível de referência da baixa-marde todas as rochas ao largo e outras ca-racterísticas, a diferença entre preia-mar ebaixa-mar tem que ser determinada comprecisão, para saber se essas carac-terísti-cas são acima ou abaixo do nível dapreia-mar. O facto de uma característicaser ou não um baixio a descoberto (artº13) ou uma característica em perma-nên-cia acima da preia-mar, tem uma impor-tância considerável (por exemplo, na de-terminação das linhas de base rectas).Nunca esquecer a influência dos factoresmeteorológicos sobre o nível do mar, quesão consideráveis nas águas pouco pro-fundas ou onde a costa apre-senta um pe-queno gradiente.

III –Aspecto Cartográfico

Como já vimos, os limites exteriores sãoconsiderados a partir da linha de base(recta ou normal), mas o traçado nas car-tas dessas linhas bem como as dos limitesexteriores requer um cuidado particular,por causa das deformações.Por exemplo, na projecção Mercator, asLoxodrómias são representadas por li-nhas rectas mas só entre as latitudes 15ºNorte e Sul. Para além dessas latitudes(se só esse tipo de projecção é dispo-ní-vel), a escala tem que ser bem escolhidapor causa da variação do comprimento deum minuto de arco ao longo das latitudes.As projecções de Lambert só são adequa-das para as operações de delimi-tação de4º a 72º de latitude Norte e Sul (ver fig.2).Depois de escolher a projecção apro-pria-da, tem que ser preparada uma carta degrande escala em função da zona a repre-sentar.A Convenção das Nações Unidas sobre oDireito do Mar (CNUDM) exige umaapresentação dos limites, quer seja sobrecartas com a escala apropriada bastantegrande para cobrir toda a zona em ques-tão, quer na forma de lista de coordena-das geográficas dos pontos utilizados pa-ra esse efeito (precisando o sistema geo-désico utilizado) (artº 16).Para escolher a escala da carta sobre aqual o Estado costeiro pretende apre-sen-tar as suas linhas de base ou de limites,deve ser aplicado o critério seguinte: Aescala deve permitir ao uti-lizador deter-minar esses limites, com o mesmo rigordo que o Estado pretende.

Fig. 2

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A escolha da escala tem um efeito directosobre a precisão com a qual uma linha ouuma zona pode ser determinada numa car-ta para o utilizador. Por exemplo, a escalaapropriada para a delimitação da ZonaEconómica Exclusiva (ZEE), e da Plata-forma Continental (PC), vai normalmentede 1:100 000 a 1:1000 000. A escala paraa delimitação doMar Territorial deveria serde 1:50 000 a 1:100 000. Os erros do tra-çado das delimitações em função das esca-las são aproximadamente:• 1:50 000 = 10 m• 1:200 000 = 40 mQuando queremos uma solução numéricapara diferentes problemas de delimitação,têm que serem extraídas as informações nu-méricas das cartas marítimas existentes;consegue-se isso pela digitalização da linhada baixa-mar e todas as outras carac-terísti-cas necessárias e explicar o processo de di-gitalização e da transformação de coordena-das locais produzidas (X,Y) e as coordena-das geodésicas (lat, long).Quando definimos uma linha, seja linhade base ou linha de equidistância, é reco-mendado dizer se é uma Loxodrómia ouGeodésica particularmente quando sãocompridas (ver fig.3). A diferença entredois tipos de linhas aumenta com a latitu-de e o comprimento da linha.Por exemplo: A 60º de latitude, a separa-ção máxima entre uma geodésica e umaloxodrómia, entre dois pontos separadosde 45 Milhas, é de 236 metros, num esca-la de 1:200 000 esse valor corresponde acerca de 1 mm.Com a mais comprida linha de base ar-quipelágica aceitável (125M), a separa-ção a 60º de latitude pode atingir 1820 m;

nesse caso, é muito importante quase umamilha de diferença entre a loxodrómia e ageodésica.

IV –Aspecto Geodésico

Como mencionado no artigo 16 daCNUDM, as linhas de base devem ser re-presentadas numa carta ou apresentadaspor uma lista de coordenadas geográficasde pontos, indicando o sistema geodésicoutilizado. Por outro lado, os limites exte-riores da Zona Económica Exclusiva (artº75) e da Plataforma Continental (artºs 76e 84) podem também ser definidos. Essaespecificação é baseada na necessidadede definir com precisão os limites que fi-cam a muitas milhas da linha da costamais próxima e evitar as ambiguidades nainterpretação da carta.Para a determinação de uma linha de ba-se recta numa costa apresentando recortesprofundos e reentrâncias, ou ao longo daqual ou na sua proximidade existe uma

franja de ilhas, é preciso determinar pon-tos que, unidos, determinam a linha. Porisso, medidas geodésicas devem ser efec-tuadas porque a precisão desses pontos énecessária.Um reconhecimento prévio do terreno é ne-cessário e, depois de escolher os dife-rentespontos úteis para a linha de base, coordená-los através da rede geodésica com os méto-dos conhecidos (triangulação, trila-teraçãoou por satélite), (ver fig. 4). Um relatório es-pecial será apresentado com todos os docu-mentos de trabalho e cálculos para apoiar osresultados obtidos dos levantamentos geo-désicos e consequen-temente da delimita-ção adoptada. Como exemplo, os limitesapresentados por um Estado costeiro uti-lizando o elipsóide internacional datumEuropeu ED 50 são diferentes dos mes-mos limites apresenta-dos utilizando umoutro datum.Por outro lado, os limites da PlataformaContinental são muito longe da costa; apossibilidade de ter uma posição erradaaumenta o que se traduz por uma de-ter-minação de um limite inexacto; nesse ca-so, seria melhor utilizar um sistema deposicionamento com alta exactidão, porexemplo GPS que permite a coorde-na-ção dos pontos isolados do continente, oque elimina grande número de erros. Ascoordenadas geográficas dos pontos defi-nindo os limites são dados com uma pre-cisão de um segundo de latitude ou delongitude, uma precisão melhor e ne-ces-sária quando a tecnologia o permite.

BIBLIOGRAFIA

Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Versãoem Língua Portuguesa com Anexos e Acta Final da TerceiraConferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar),Ministério dos Negócios Estrangeiros

Manuel sur les aspects techniques de la CNUDM, 1982

Fig. 3

Fig. 4

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