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ANSELMO DOMINGOS FERREIRA SANTOS DESEMPENHO PRODUTIVO E REPRODUTIVO DE VACAS LEITEIRAS SUPLEMENTADAS COM GORDURA DIETÉTICA NO PRÉ E PÓS-PARTO Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós- Graduação em Zootecnia, para obtenção do Título de “Doctor Scientiae”. VIÇOSA MINAS GERAIS – BRASIL 2005

ANSELMO DOMINGOS FERREIRA SANTOS · O outro, passageiro, que leva à dor. O permanente mostra-se difícil. ... os grupos C e G. Observou-se, portanto, que a produção total de gordura

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ANSELMO DOMINGOS FERREIRA SANTOS

DESEMPENHO PRODUTIVO E REPRODUTIVO DE VACAS LEITEIRAS

SUPLEMENTADAS COM GORDURA DIETÉTICA NO PRÉ E PÓS-PARTO

Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, para obtenção do Título de “Doctor Scientiae”.

VIÇOSA MINAS GERAIS – BRASIL

2005

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Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação da Biblioteca Central da UFV

T Santos, Anselmo Domingos Ferreira, 1973- S237d Desempenho produtivo e reprodutivo de vacas 2005 leiteiras suplementadas com gordura dietética no pré e pós-parto / Anselmo Domingos Ferreira Santos. _ Viçosa:

UFV, 2005. xiii, f. : il. ; 29cm.

Orientador: Ciro Alexandre Alves Torres. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de

Viçosa. Inclui bibliografias.

1. Bovino de leite - Reprodução. 2. Bovino de leite - Registros de desempenho. 3. Bovino de leite - Alimentação e rações. 4. Lipídios na nutrição animal. I. Universidade Federal de Viçosa. II. Título.

CDD 22.ed. 636.20824

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ANSELMO DOMINGOS FERREIRA SANTOS

DESEMPENHO PRODUTIVO E REPRODUTIVO DE VACAS

LEITEIRAS SUPLEMENTADAS COM GORDURA DIETÉTICA NO

PRÉ E PÓS-PARTO

Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, para obtenção do Título de “Doctor Scientiae”.

APROVADA: 31 de março de 2005

Prof. Eduardo Paulino da Costa

(Conselheiro)

Prof. José Domingos Guimarães

(Conselheiro)

Dr. João Henrique Moreira Viana

Dr. Jeferson Ferreira da Fonseca

Prof. Ciro Alexandre Alves Torres

(Orientador)

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“A vida tem dois caminhos.

Um permanente, imutável, eterno, que leva você à felicidade.

O outro, passageiro, que leva à dor.

O permanente mostra-se difícil. Precisa ser procurado. Exige esforço, compreensão, persistência.

O passageiro se oferece, apresenta atrativos.

Assim são os caminhos do bem e do mal.

Tenha coragem na escolha.

Todo sacrifício na estrada do bem produz luz e alegria que nunca se extinguem.

(Lourival Lopes – Sementes de Felicidade)

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“Toda a natureza é uma harmonia divina, sinfonia maravilhosa que convida todas as criaturas que acompanhem sua evolução e progresso. Seja, em sua

vida, um instrumento apto a captar as vibrações de paz e serenidade da natureza, e sua saúde encontrará o equilíbrio necessário para prosperar

cada vez mais.”

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À minha mãe Silionisia Ferreira Santos e ao meu pai Ailton Cardoso Santos, pelas demonstrações de amor, confiança, dignidade,

perseverança e justiça, dedico toda a minha vida.

Às minhas irmãs Naiana Carla, Naiara Mírian e Náira Cristina, pelo carinho, ternura, atenção, compreensão e incentivo, dedico.

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AGRADECIMENTO

A Deus...

Ao professor Ciro Alexandre Alves Torres, pela experiência, amizade,

compreensão e confiança.

Ao professor Eduardo Paulino da Costa e professor José Domingos

Guimarães, pela confiança, amizade, apoio, pelo exemplo de humildade,

trabalho, dedicação, competência, perseverança e amor à profissão.

Ao professor Paulo Sávio, pela competência e pelo fundamental apoio

no desenvolver deste trabalho.

Ao Departamento de Zootecnia e a Universidade Federal de Viçosa

(UFV), pela realização deste curso.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), pela concessão da bolsa de estudo.

Ao amigo Chico Rennó, pela competência profissional, pelo precioso e

indispensável apoio no desenvolvimento deste trabalho, pela transmissão de

conhecimentos e pela amizade.

A Mariana Drumond (Candinha), pelo sentimento, convivência,

dedicação, confiança e zelo.

Aos professores Sebastião Valadares, José Maurício, Marcelo Teixeira,

pelos aconselhamentos e pelas sugestões.

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Aos amigos Jeferson, Alan, Hebert Lafon, Nadja, Dudu Maníaco, Vitor,

Fabiene, Amélia, Miller, Luiz Gustavo, Fábio Luns Joel, Zé Franciso, Paulim,

pelo apoio na execução deste trabalho e, também, pela amizade e

companheirismo.

Aos amigos da Grande “Pelada da Violeira”, em especial ao Mingote,

Marieta, Junior, Branco, Bigode, Sebastião, Kita, Erly, pelos agradáveis dias

de sábado. Sentirei muita falta!

Aos amigos, Fabrício, Matheus, Priscila, Mariele, Henrique, Rodrigo,

Cristiano, Gustavo, Ana Paula, pelo apoio e companheirismo.

Às amigas Áurea e Flávia, pessoas abençoadas, com quem tive o

privilégio de conviver.

Ao Zootecnista Belmiro, pelo caráter, competência, confiança, amizade

e convivência.

Ao Mauro, da fábrica de ração, por todo o apoio e confiança em mim

depositado, para que pudesse desenvolver este trabalho.

Ao professor Dantas, que esteve presente nos momentos críticos

durante a execução deste trabalho.

Ao Professor Aloísio, Fátima, Aloisinho, Alexandre e Thiago, pela

amizade e convivência.

A todos os funcionários do Departamento de Zootecnia, Celeste,

Adilson, Venâncio, Raimundo, Rosana, Márcia, Joélcio, Marcelo, Sr. Jorge e

aos demais, pela presteza e disposição.

Aos companheiros do estábulo, Almiro, Chico, Cláudio, Joãozinho,

Zezé, Zé Antônio, Maurinho, Paulinho, Antônio, Zé Ramin, Zinho, enfim a

todos com quem pude conviver e desfrutar de momentos de alegria, e pelo

imprescindível apoio.

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Ao Pum e Sr. Raimundo, do Laboratório Animal, pela garra, força de

vontade, competência, compromisso e suporte.

A todos os professores da Universidade Federal de Viçosa que, direta ou

indiretamente, aprimoraram meus conhecimentos de vida e profissional.

Ao funcionário José Cândido (Nenzinho), pelo seu alto astral, pela

prontidão e por ter me ajudado a fazer do Laboratório de Reprodução Animal

(DVT) a minha segunda casa.

Aos professores, colegas de curso e funcionários do DZO e DVT,

enfim, a todos aqueles que, de uma forma ou outra, ajudaram na minha

formação.

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BIOGRAFIA

ANSELMO DOMINGOS FERREIRA SANTOS, filho de Ailton

Cardoso Santos e Silionisia Ferreira Santos, nasceu em Vitória da Conquista,

Bahia, em 5 de julho de 1973.

Graduou-se em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Bahia

(UFBA), em fevereiro de 1998.

Especializou-se em Reprodução Animal, no Departamento de Medicina

Veterinária da Universidade Federal de Viçosa, dedicando seus estudos na

área de Fisiopatologia e Biotecnologia da Reprodução, submetendo-se à

defesa de monografia em março de 1999.

Iniciou, em março de 1999, iniciou o curso de Pós-graduação em

Zootecnia na Universidade Federal de Viçosa, sob a orientação do professor

Ciro Alexandre Alves Torres, concentrando seus estudos na área de Fisiologia

da Reprodução, submetendo-se à defesa de tese para obtenção do título de

“Magister Scientiae”, em 29 de março de 2001.

Em abril de 2001, iniciou o curso de Doutorado em Zootecnia na

Universidade Federal de Viçosa em abril de 2001, concentrando seus estúdos

na área de Fisiologia da Reprodução, Produção e Nutrição Animal,

submetendo-se à defesa de tese em 31 de março de 2005.

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ÍNDICE

RESUMO .................................................................................................... xii

ABSTRACT ................................................................................................ xv

1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................. 4

2.1. Lipídios na nutrição de ruminantes .................................................... 5

2.2. Período de transição e o consumo de matéria seca (CMS) ................ 7

2.3. Mobilização de reservas corporais ................................................... 10

2.4. Efeito da gordura dietética no metabolismo lipídico durante o

período de transição................................................................................. 12

2.5. Efeito da gordura dietética sobre a reprodução ................................ 13

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 21

RESPOSTA PRODUTIVA DE VACAS NO INÍCIO DE

LACTAÇÃO SUBMETIDAS À SUPLEMENTAÇÃO DE

GORDURA DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO ........................ 28

RESUMO . .................................................................................................. 28

ABSTRACT ............................................................................................... 29

1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 30

2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 31

3. RESULTADO E DISCUSSÃO .............................................................. 35

4. CONCLUSÃO......................................................................................... 47

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 48

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VARIAÇÃO DA CONDIÇÃO CORPORAL E DO PESO

CORPORAL NO INÍCIO DA LACTAÇÃO EM VACAS

SUBMETIDAS À SUPLEMENTAÇÃO DE GORDURA

DIETÉTICA DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO ....................... 52

RESUMO. ................................................................................................... 52

ABSTRACT – ............................................................................................. 53

1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 54

2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 55

3. RESULTADO E DISCUSSÃO .............................................................. 59

4. CONCLUSÃO......................................................................................... 69

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 70

EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO DE GORDURA DURANTE O

PERÍODO DE TRANSIÇÃO SOBRE A ATIVIDADE OVARIANA

E O DESEMPENHO REPRODUTIVO DE VACAS LEITEIRAS DE

ALTA PRODUÇÃO ................................................................................... 72

RESUMO . .................................................................................................. 72

ABSTRACT ............................................................................................... 74

1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 75

2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 76

3. RESULTADO E DISCUSSÃO .............................................................. 81

4. CONCLUSÃO......................................................................................... 93

5, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 94

3. CONCLUSÕES GERAIS ....................................................................... 97

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RESUMO

SANTOS, Anselmo Domingos Ferreira, D.S., Universidade Federal de Viçosa, março de 2005. Desempenho Produtivo e Reprodutivo de Vacas Leiteiras Suplementadas com Gordura Dietética no Pré e Pós-Parto. Orientador: Ciro Alexandre Alves Torres. Conselheiros: Eduardo Paulino da Costa e José Domingos Guimarães.

Este estudo foi realizado com o objetivo de estudar os efeitos da

suplementação dietética com gordura durante o período de transição sobre

consumo de matéria seca (CMS), a produção de leite, o balanço energético, a

mobilização de reservas corporais, a dinâmica folicular ovariana, os

parâmetros plasmáticos hormonais e metabólicos (colesterol, colesterol HDL e

progesterona) e o desempenho reprodutivo (intervalos do parto à primeira

ovulação, ao primeiro estro e à primeira inseminação, taxa de concepção à 1ª

inseminação, número de serviço por concepção). Para todos os experimentos,

utilizaram-se 20 vacas da raça holandesa, multíparas, gestantes, distribuídas

aleatoriamente em dois tratamentos: C = dieta-controle (3% de extrato etéreo

(EE) na matéria seca (MS)) e G = dieta-gordura (6% de EE na MS). No

experimento 1, os valores médios de consumo de MS (CMS) não diferiram no

pré e pós-parto (10,73 e 9,95 kg e 16,06 e 17,81 kg de MS/dia para os grupos

C e G, respectivamente), contudo houve aumento (P < 0,05) na quarta semana

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de lactação para o animais do grupo G (15,53 vs 18,29 kg de MS). Este

aumento no CMS, associado à maior densidade energética da dieta G, foi

responsável por um maior consumo de energia líquida para os animais do

grupo G após o parto (28,22 vs 32,61 Mcal/dia; P< 0,05). A produção de leite

total e o leite corrigido para 3,5% de gordura não diferiram, com médias de

31,88 e 34,41 kg/dia e 36,34 e 36,05 kg de leite/dia para os animais dos grupos

C e G, respectivamente, apesar de os animais do grupo G produzirem 2,53 kg

de leite a mais por dia (7,93%) que o grupo C. Houve redução da porcentagem

da gordura do leite (P < 0,05), com médias de 4,36 e 3,81 % de gordura para

os grupos C e G. Observou-se, portanto, que a produção total de gordura não

foi afetada (1,38 vs 1,29 kg de gordura por dia para os animais dos grupos C e

G, respectivamente). No experimento 2, verificou-se interação entre dieta e

semanas em lactação sobre o balanço de energia líquida e os animais do grupo

G apresentaram menor balanço negativo de energia a partir da quarta semana

de lactação (P < 0,05), coincidindo com o aumento de consumo verificado

neste mesmo período. Não foram observados efeitos das dietas sobre o Escore

de Condição corporal e Mudança de Condição Corporal. Contudo, observou-

se interação entre dieta e semanas em lactação sobre o Peso Corporal e

Mudança de Peso Corporal no pré e pós-parto para os animais do grupo G, que

estabilizaram o peso corporal e começaram a ganhar peso a partir da sétima

semana, enquanto os do grupo C permaneceram perdendo peso. No

experimento 3, a suplementação de gordura promoveu aumento nas

concentrações plasmáticas de Colesterol Total (54,23 vs 73,68 mg/dL) e

Colesterol HDL (52,59 e 61,42 mL/dL), não alterou as concentrações de

progesterona (2,35 vs 2,47 ng/mL). Verificou-se também aumento na

população de folículos ovarianos da classe 1 (0,3–0,6 cm de diâmetro;

P<0,05), principalmente entre os dias 26 e 31 após o parto, quando o consumo

de energia foi maior para este grupo. Os animais dos grupos C e G

desenvolveram 13,40 e 12,63, 6,90 e 7,38, 2,90 e 4,78 folículos das classes 2,

3 e 4, respectivamente. O diâmetro médio do maior folículo foi afetado pela

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dieta (P = 0,53), com valores de 1,46 ± 0,22 e 1,74 ± 0,37 cm para os grupos C

e G respectivamente. Houve melhoria dos indices reprodutivos de forma geral

para os animais do grupo G comparado ao C. Verificou-se menor intervalo 1-

2ª ovulação, (29,50 vs 23,13 dias para os animais dos grupos C e G,

respectivamente). Não foi verificado efeito da dieta sobre a área do corpo

luteo, contudo, houve correlação (r = 0,50; P<0,01) entre está caractarística e o

diâmetro do folículo ovulatório.O primeiro estro no pós-parto ocorreu 27 dias

após a segunda ovulação para o grupo G contra 60 dias para o C. Houve

redução de 39 dias no intervalo parto-1º estro, de 46,37 dias no intervalo Parto

– 1º IA (P = 0,08), e de 42,89 dias no intervalo de parto para os animais do

Grupo G. O período de serviço e o número de serviços por concepção foram

de 152,67 e 106,89 dias e 1,33 e 1,50 doses para os grupos C e G,

respectivamente. O fornecimento de energia adicional na forma de gordura

reduz o estado energético negativo da vaca, fazendo com que retorne ao estro

mais cedo após o parto, e dessa maneira, concebe mais precocemente.

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xiv

ABSTRACT

SANTOS, Anselmo Domingos Ferreira, D.S., Universidade Federal de Viçosa, March, 2005. Productive and Reproductive Performance of Dairy Cows Supplemented with Dietary Fat During the Pre and Postpartum. Adviser: Ciro Alexandre Alves Torres. Committee members: Eduardo Paulino da Costa and José Domingos Guimarães.

The aim of this study was to evaluate the reproductive and productive

performance, dry matter intake, energy balance, changes in condition score,

ovarian follicular dynamics, plasma concentration of cholesterol and

progesterone in the early lactation of dairy cows supplemented with dietary fat

during the transition period. Twenty pregnant Holstein cows were randomly

assigned in two treatments: C – control diet (3% Ether Extract in dry matter);

and G – dietary fat (6% Ether Extract in dry matter). In the first experiment,

the cow average dry matter intake (DMI) did not differ among pre and post-

partum period (10,73 e 9,95 kg e 16,06 e 17,81 kg de DMI/day) for C and G

groups respectively. However, in the fourth lactation week, animals from

group G had a higher DMI than group C (15,53 vs 18,29 kg de DM). The

increase in the DMI associated with a higher energy density of the G diet was

the responsible for a higher liquid energy intake for the animals G group in the

pos-partum (28,22 vs 32,61 Mcal/day; P< 0,05). Milk production and

corrected milk did not differ among the groups (31,88 e 34,41 kg/day to group

C and 36,34 e 36,05 kg of milk/day to group G) even with a 2,53 kg/day

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increase in milk production to group G animals. A decrease in milk fat

percentage was verified to group G animals (4,36 X 3,81% milk fat) but not

for total fat production (1,38 X 1,29 kg of milk fat/day for groups C and G). In

the second experiment, group G animals had a lower negative energy balance

after the fourth week of lactation (P < 0,05), concurring with a higher DMI in

the same period. No differences in body condition score and body condition

changes was verified among the groups, however group G animals had a

higher average daily body weight gain than group C after the seventh week

pos-partum while group C animal remain loosing weight until the and of this

experiment. In the experiment 3, a higher total and HDL cholesterol

concentration was verified for group G (54,23 vs. 73,68 mg/dL and 52,59 vs.

61,42 ml/dL). Differences in plasma progesterone concentration were not

significant in the experimental period. A higher number of class 1 follicles

also were verified to group G animals principally between the 26 – 31 days

after partum (P < 0,05), when this group had an increase in energy intake. The

number of class 2 and 3 were not different among the groups. Dominant

follicle average diameter was affected by diet (P = 0,53), animals from group

G had a higher diameter than group C (1,46 vs. 1,74 cm). The reproductive

performance was better for group G animals, when evaluated the interval from

first to second ovulation (23,13 vs. 29,5), days to first ovulation pos-partum (

42,89 vs. 46,37 days), open days (106,89 vs. 152,67 days) and IA per

conception (1,33 vs. 1,5 doses). In conclusion the supplementation of dietary

fat to dairy cows during the transition period decreases the cow negative

energy status and improves the reproductive and productive performance.

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1. INTRODUÇÃO

Alta produção de leite e um bom desempenho reprodutivo são condições

imprescidíveis para a lucratividade de um empreendimento leiteiro. Contudo, a

associação entre produção de leite e reprodução é antagonista (BUTLER e

SMITH, 1989). Durante o início da lactação, a taxa de aumento na produção de

leite excede ao de consumo de matéria seca (CMS), resultando em balanço

energético e protéico negativo (BEN), o qual está estritamente relacionado ao

desempenho reprodutivo. Portanto, métodos para minimizar a magnitude e duração

do balanço negativo de nutrientes podem ser benéficos para a reprodução.

Suplementos lipídicos têm sido adicionados a dietas de vacas de alta

produção durante o início da lactação, com o objetivo de aumentar a densidade

calórica das dietas, o que resulta em maior ingestão de energia, aumento de

produção de leite e melhoria no desempenho reprodutivo em geral. Isto porque as

vacas utilizam o ingrediente gordura de forma mais eficiente que grãos ou

forragens para a produção de leite; as perdas energéticas durante o metabolismo de

gordura são menores que as perdas para grãos e forragens; e a maior parte da

energia da gordura é incorporada diretamente no leite. Além disso, a adição de

gordura aumenta a absorção de nutrientes lipossolúveis.

Schingoethe e Casper (1991) citaram aumento na produção de leite entre 5 e

10% quando vacas foram suplementadas com óleos de sementes oleaginosas. A

inclusão de sementes de girassol ou soja na dieta de vacas entre a 4ª e 16ª semana

após o parto resultou em 2,8% a mais de leite no momento da suplementação,

maior pico de produção e produção total de leite 8,2% maior no final de um

período de 12 semanas de alimentação. Esta maior produção de leite foi mantida

durante toda a lactação.

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O aumento do nível de energia pelo uso de lipídios é especialmente

importante na fase inicial da lactação, quando o consumo de alimentos é limitado

pelo estresse pós-parto (15% em média), evitando, assim, a perda de peso, o

balanço negativo de nutrientes e, conseqüentemente, a redução da produção total

de leite na lactação e a baixa eficiência reprodutiva (Butler e Canfield, 1989).

A alguns autores têm reportado diminuição no CMS ou aumento na produção

de leite corrigido para gordura quando dietas foram suplementadas com gordura,

ocorrendo mudanças mínimas no balanço de energia (Staples et al., 1998).

Portanto, o efeito benéfico primário da gordura suplementar pode ser independente

do balanço de energia e ser mediado por meio do aumento do suprimento de

ácidos graxos.

A suplementação de gordura tem influenciado positivamente o desempenho

reprodutivo de vacas leiteiras, incluindo aumento no tamanho do folículo

ovulatório, aumento no número de folículos, aumento da concentração de

progesterona plasmática, redução na secreção de metabólitos de prostaglandinas e

aumento na fertilidade, independentemente do balanço de energia das dietas

(Williams, 1996; Beam e Butler, 1997; Staples et al., 1998). Há vários mecanismos

possíveis pelos quais a gordura dietética pode melhorar a função reprodutiva: 1)

diminuição do balanço energético negativo; 2) aumento da esteroidogênese

favorável ao aumento da fertilidade; 3) manipulação da insulina de forma que

estimule o desenvolvimento folicular ovariano; 4) aumento das concentrações

plasmáticas de colesterol que, por sua vez, serve como precursor para síntese de

progesterona; e 5) inibição da produção e liberação da prostaglandina F2a (PGF2α).

Também, parece haver uma diminuição da síntese de 17β-estradiol, o que pode

diminuir a sensibilidade do corpo lúteo a PGF2α (Staples et al., 1998).

A adição de fontes de gordura suplementar na dieta de vacas lactantes é uma

alternativa para diminuir o período do balanço energético negativo e maximizar o

desempenho produtivo e reprodutivo no pós-parto. Contudo, a recomendação

tradicional é que se adicione gordura à dieta logo após o parto. No entanto, estudos

posteriores demonstraram que a resposta à suplementação é retardada neste

período (Salfer et al., 1995). A lenta resposta e a substancial resposta residual

(carry-over) à suplementação de gordura podem parcialmente explicar porque

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3

pouca ou nenhuma resposta na produção foi observada em alguns estudos que

utilizaram desenho experimental de curta duração. O intervalo para a resposta à

suplementação (lag time) pode ser maior no início da lactação (Schingoethe e

Casper, 1991) e isto provavelmente ocorreu em razão de não haver nenhum

período de adaptação anterior à dieta contendo gordura suplementar.

Os objetivos desta pesquisa foram estudar os efeitos da suplementação

dietética com gordura durante o período de transição sobre: consumo de matéria

seca (CMS), produção de leite, balanço energético, mobilização de reservas

corporais, dinâmica folicular ovariana, parâmetros plasmáticos e perfis hormonais

e metabólicos (colesterol, colesterol HDL), desempenho reprodutivo (intervalos do

parto à primeira ovulação, ao primeiro estro e à primeira inseminação, taxa de

concepção a primeira inseminação e número de serviços por concepção).

2. REVISÃO DE LITERATURA

O termo ‘gordura’ é normalmente utilizado para descrever componentes que

têm alto conteúdo de ácidos graxos de cadeia longa, incluindo triglicerídios,

fosfolipídios, ácidos graxos não-esterificados e sais de ácidos graxos de cadeia

longa.

Diferentes tipos de suplementação de gordura têm sido fornecidos a vacas

lactantes. Alguns deles incluem misturas de lipídios vegetal – animal, sebo bovino,

gordura amarela, óleos de farinha de peixe, óleos de sementes (algodão, soja,

canola, girassol), gordura granulada, gordura ‘protegida’, entre outros. As gorduras

das forragens contêm, tipicamente, altas concentrações de ácidos linolênico (C18:3)

e linoléico (C18:2), enquanto grãos e sementes oleaginosas contêm triglicerídios,

que são ricos em ácidos linoléico e oléico (C18:1). Gorduras como sebo contêm

mais ácido palmítico e esteárico, enquanto óleos de peixe são os únicos que

possuem relativamente altas concentrações de ácidos graxos longos altamente

insaturados, denominados eicosapentanóicos (EPA, 20:5) e docosahexaenóico

(DHA, 22:6) (Staples et al., 1998).

O conteúdo energético líquido das gorduras dietéticas é altamente

influenciado pelo grau de saturação dos ácidos graxos. Gorduras que contêm maior

proporção de ácidos graxos insaturados (fontes vegetais) comparadas a ácidos

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graxos saturados (fontes animais) são freqüentemente mais digestíveis no intestino

delgado, possivelmente, devido a um menor ponto de saturação em relação às

gorduras saturadas, aumentando, dessa maneira, a formação de micelas para

absorção (Staples, 2001). Estes ácidos graxos polinsaturados (linoléico, linolênico,

eicosapentaenoico e docosahexaenoico) são classificados como essenciais,

devendo ser suplementados nas dietas de vacas leiteiras (Mattos et al., 2000).

2.1. Lipídios na Nutrição de Ruminantes

Os alimentos glicídicos (forrageiras), aqueles consumidos em maior

quantidade pelos ruminantes, após fermentados pelos microrganismos presentes no

rúmen produzirão ácidos graxos voláteis (AGV), que constituem 70 a 80% do

aporte energético para o animal (Byers e Schelling, 1993).

Entre os AGV produzidos no rúmen, os ácidos acético e butírico são os

responsáveis pela formação da gordura do leite e deposição dessa em diversos

tecidos (subcutâneo, intermuscular e intramuscular, medula óssea, cavidades

torácica e abdominal, associada às vísceras e aos órgãos vitais). Metade dos AGV

e sintetizada de novo na glândula mamária a partir do acetato e hidroxibutirato,

porém. Os outros 40-50% originam-se da gordura da dieta, que podem ser

transferidos diretamente para a gordura do leite, e menos de 10% são provenientes

do tecido adiposo (Palmquist e Jenkins, 1980).

A adição de gordura a dietas de ruminantes pode causar problemas de

palatabilidade, e diminuição da digestiblidade, provavelmente devido a um efeito

tóxico de ácidos graxos de cadeia longa sobre as bactérias celulolíticas ruminais,

além de reduzir a relação acetato:propionato e, conseqüentemente, o suprimento de

ácido acético, precursor direto de 50% da gordura do leite (Chalupa et al., 1986;

Palmquist, 1989). A influência dos lipídios sobre os microrganismos ruminais é

dependente, ainda, da presença de ácidos graxos livres, da capacidade de formar

sais insolúveis, da propriedade de formar barreira física sobre o alimento,

dificultando a colonização microbiana, e da quantidade diária ingerida por dia

(Palmquist, 1989; Jenkins, 1995).

A insaturação e a esterificação são as duas maiores propriedades da gordura

que podem influenciar na digestão (Palmquist e Jenkins, 1980). Embora a

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fermentação seja depreciada pela adição de gordura na dieta, a digestibilidade total

da energia não é sempre diminuída, presumivelmente devido à fermentação

adicional no intestino grosso (Byers e Schelling, 1993).

Conforme Devendra e Lewis (1974) existem quatro teorias para explicar a

diminuição da digestibilidade dos componentes da parede celular, induzida pela

adição com gordura na dieta: 1) efeito causado pelo envolvimento de partículas de

alimentos pela gordura; 2) déficit de cátions para formação de sais insolúveis com

ácidos graxos de cadeia longa; 3) inibição da atividade microbiana no rúmen; e 4)

modificação da população microbiana.

A ação da gordura sobre a concentração de protozoários é um fator muito

variável, principalmente em relação à fonte de lipídio. De acordo com Ameny et

al. (1995), os efeitos deletérios da adição de gordura têm sido mediados pela ação

inibitória direta de alguns ácidos graxos livres sobre a degradação da fibra por

bactérias e protozoários. O grau de inibição parece depender primeiramente da

taxa de liberação de ácidos graxos pela lipólise.

Jenkins e Jenny (1989) e Beam e Butler (1998) verificaram que o CMS de

vacas diminuiu com a adição de gordura na dieta, mas a ingestão de energia e o

balanço de energia foram similares entre as dietas. Vargas et al. (2002) verificaram

que as fontes de lipídios reduziram em 20% o consumo de matéria seca, sem,

contudo, afetar a produção e composição do leite e os parâmetros fermentativos

ruminais.

Palmquist (1990), citado por Salfer et al. (1995), sugeriu que durante o

período de rápida mobilização de tecido adiposo, as vacas podem diminuir o CMS

para regular a concentração de ácidos graxos no plasma. Os mecanismos pelos

quais a gordura dietética reduz o CMS não estão bem esclarecidos. Contudo,

fatores potenciais incluem aceitabilidade da dieta, liberação de hormônios

intestinais e oxidação da gordura pelo fígado. Choi et al. (2000) verificaram que as

concentrações plasmáticas de NEFA, triclicerídios e colecistoquinina aumentaram

linearmente com o aumento do nível de gordura dietética, ao contrário da insulina

que diminuiu linearmente. E concluíram que a elevada concentração plasmática de

colecistoquinina pode ter mediado a depressão no CMS de vacas suplementadas

com gordura dietética.

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Kin et al. (1993) não verificaram redução no CMS quando suplementaram

vacas holandesas com óleo de soja (18.4 kg MS/ dia) ou ácidos graxos ligados a

sabões de cálcio (16.6 kg MS/dia) comparado ao grupo controle (17.8 kg MS/dia)

da quarta até a 15º semana após o parto. Salfer et al. (1995) verificaram que vacas

alimentadas com gordura durante os primeiros 35 dias de lactação tiveram maior

CMS que aquelas da dieta controle.

Salla et al. (2003) verificaram consumos de EE de 3,67, 5,92, 6,70 e 6,29%

da MS das dietas, respectivamente, para as dietas controle, sebo, gordura protegida

e grão de soja. Embora os níveis de extrato etéreo fossem superiores aos

usualmente recomendados (em torno de 5%), aparentemente estes não exerceram

efeito negativo pronunciado sobre a digestibilidade do volumoso, e,

conseqüentemente, sobre o consumo voluntário. Outro aspecto a considerar é que,

aparentemente, as fontes de gordura adicionadas foram palatáveis ou pelo menos

não alteraram negativamente o apetite dos animais.

A incorporação de lipídios em dietas de ruminantes é uma prática comum.

Segundo Schauff et al. (1992), muitos produtores de leite, nos Estados Unidos, têm

tido sucesso com o uso de sebo ou óleo de soja nas rações. Fontes lipídicas como

óleo de soja, sebo ou gordura animal, usualmente, são de baixo custo, o que

aumenta o interesse em maximizar sua utilização nas dietas para vacas leiteiras.

Têm sido adicionadas em dietas a um nível máximo de 6 a 8%, pois níveis

superiores a este têm afetado a digestibilidade ruminal. A eficiência máxima para

produção de leite é conseguida quando cerca de 15 a 20% da energia

metabolizável dietética for oferecida na forma de lipídios (aproximadamente 8%

da dieta).

A resposta em produção de leite à suplementação de gordura é curvilinear,

ou seja, a resposta diminui quando a suplementação de gordura aumenta na dieta a

partir de um determinado valor. Alem disso, pode ser influenciada por vários

fatores, incluindo a dieta basal, o estágio de lactação, o balanço energético, a

composição e a quantidade da gordura dietética. Segundo Kronfeld, em 1976, a

produção de leite atinge seu máximo quando os ácidos graxos constituem 16% da

energia metabolizável, o que equivale a 600 – 700 gramas de gordura suplementar

por dia (aproximadamente 3% da MS). Para Jenkins (1997) a máxima resposta em

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produção de leite à suplementação com gordura é de 3,5 kg por dia (leite corrigido

para gordura). Cerca de 700 gramas de gordura suplementar é requerido para

suportar a produção de 3,5 kg de leite corrigido, admitindo-se que a gordura é 80%

digestível e que 75% da gordura absorvida vai para a glândula mamária.

A partir de resultados combinados de diversos trabalhos, Palmquist (1984)

citado por Palmquist (1996) observou um aumentou de 10% na produção de leite

quando adicionado 500 gramas de gordura a dieta. Ao fornecer uma dieta com 5%

de extrato etéreo (EE) para vacas no início da lactação, a produção de leite foi

mais baixa que as controle até a sexta semana de lactação, causado pelo menor

CMS das dietas suplementadas com gordura. Em todos os trabalhos, as vacas

suplementadas com gordura alcançaram pico de lactação mais alto. Porém, duas

semanas mais tarde que as do grupo-controle. A persistência de lactação melhorou

nas vacas que receberam gordura adicional. Grummer (1992) observou que o

fornecimento de 500 gramas de gordura aumentou a produção de leite em 1,3 kg

por dia para novilhas e 2,8 kg por dia para vacas adultas.

De maneira geral, pode-se considerar que uma ração comumente utilizada

para vacas em lactação contém cerca de 3% de ácidos graxos. As fontes

comerciais convencionais de lipídios podem ser utilizadas de modo a proporcionar

uma suplementação de 2 a 3% de ácidos graxos em rações de vacas em lactação,

perfazendo cerca de 7-9% de lipídios na dieta (Palmquist, 1989).

2.2. Período de Transição e Consumo de Matéria Seca (CMS)

O sucesso do período de transição, efetivamente, determina a lucratividade

de uma vaca durante a lactação subseqüente (Drackley, 1999). Este período é

geralmente definido como aquele que se inicia três semanas antes do parto e

prossege até três semanas após o parto (Grummer, 1995) e é caracterizado por

ajustes endócrinos e metabólicos para se adequar ao parto e à lactação.

A insulina plasmática diminui e o hormônio de crescimento aumenta neste

período, com ondas de grandes intensidades nas concentrações plasmáticas de

ambos os hormônios ao parto (Kunz et al., 1985). Os requerimentos para glicose e

energia metabolizável aumentam duas a três vezes durante este período (Drackley,

2001). A concentração de glicose plasmática permanece estável ou aumenta

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levemente durante o período seco de transição,eleva drasticamente ao parto e

diminui imediatamente após o parto (Kunz et al., 1985). Devido ao menor CMS

observado neste período, este aumento transiente da glicose pode ser o resultado

da elevação das concentrações de glucagon e glicocorticóides, os quais são

responsáveis pela depleção das reservas de glicogênio hepático. A concentração de

tiroxina plasmática (T4) gradualmente aumenta durante o final da gestação,

diminui aproximadamente 50% ao parto e novamente começa a aumentar (Kunz et

al., 1985).

Mudanças no ‘status’ endócrino e diminuição no CMS durante o final da

gestação influência o metabolismo e leva à mobilização de gordura do tecido

adiposo e glicogênio do fígado. Os ácidos graxos não-esterificados (NEFA)

aumentam duas vezes ou mais entre 2 2 3 semanas pré-parto e 2 e 3 semanas após

o parto (Bertics et al., 1992; Grum et al., 1996). A alimentação forçada a vacas no

período seco reduziu a magnitude de aumento do NEFA, mas não o eliminou

completamente (Bertics et al., 1992). O NEFA plasmático eleva-se rapidamente no

dia do parto, provavelmente devido ao estresse decorrente desse momento, e

diminui rapidamente após o parto, mas mantendo níveis superiores àqueles antes

do parto (NRC, 2001).

A ocorrência de desordens metabólicas e de problemas clínicos é

centralizada, desproporcionalmente, neste relativo curto espaço de tempo e pode

facilmente comprometer o desempenho produtivo e reprodutivo de uma vaca

individual em uma lactação (Drackley, 1999). Uma transição subótima do período

seco para o período de lactação pode diminuir o pico e a persistência de produção,

o que, consequentemente, prejudica também a produção total de leite, e o

desempenho reprodutivo.

O primeiro desafio enfrentado pela vaca logo após o parto é um rápido e

marcante aumento nas exigências nutricionais para produção de leite, no momento

em que o CMS e, dessa forma, o suprimento de nutrientes, não acompanham este

aumento. As exigências para energia líquida e proteína metabolizável pela vaca no

quarto dia após o parto excede a ingestão em 26 e 25%, respectivamente. Já a

utilização da energia líquida e proteína metabolizável pela glândula mamária para

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produção de leite representa 97 e 83%, respectivamente, do CMS, restando pouco

para o suprimento das necessidades de exigência para mantença (Bell, 1995).

A restrição imposta pelo baixo CMS, associada a outros fatores de estresse

relacionados com o parto e ajustes metabólicos para a lactação, contribui para a

alta incidência de desordens clínicas neste período, resultando em perdas na

produção de leite durante a enfermidade e, frequentemente, em toda a lactação.

Conforme Wallace et al. (1996), vacas com alguma desordem no período de

transição produziram 7,2 kg de leite/dia a menos nos primeiros 20 dias após o

parto. As vacas com retenção de placenta e subseqüente metrite produziram 8,2 kg

de leite/dia a menos que vacas saudáveis.

Segundo Grant e Albrightt (1995), o período de transição pode ser dividido

em duas fases distintas: 5 a 7 dias pré-parto, caracterizado por redução de 30% no

CMS, e 0 a 21 dias após o parto, durante o qual o CMS aumentará rapidamente.

A taxa de aumento do CMS durante o início da lactação pode ser

primariamente determinada pela ingestão e pelo balanço de energia, com aumento

aproximado de 1,5 a 2,5 kg/semana durante as primeiras três semanas de lactação

(Bertics et al., 1992).

Quando uma vaca inicia e termina o período seco, há mudanças na dinâmica

do rúmen, as quais são induzidas nutricionalmente e não fisiologicamente. A

mudanças de um dieta que é rica em concentrado para uma rica em fibra causa

alterações na população microbiana e nas características do epitélio ruminal.

(NRC, 2001). Dietas com alta energia favorecem as bactérias utilizadoras de

amido com aumento na produção de propionato e lactato e alongamento das

papilas ruminais (responsáveis pela absorção dos ácidos graxos voláteis). Dietas

com alta fibra favorecem as bactérias celulolíticas, a produção de metano e o

encurtamento das papilas ruminais. Quase 50% da área absortiva do rúmen pode

ser perdida durante as primeiras sete semanas do período seco e o alongamento das

papilas, após reintrodução do concentrado, leva de 4 a 7 semanas, para o completo

desenvolvimento (Dirksen et al., 1985; Grummer, 1995).

Grummer (1995) sugeriu que o aumento da densidade energética da dieta por

meio do aumento de carboidratos não fibrosos durante este período traz alguns

benefícios. A energia adicional fornecida para o animal pode ajudá-lo a minimizar

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o balanço energético negativo antes do parto, especialmente se o CMS está

grandemente reduzido. Aumento na formação de propionato pode estimular uma

elevação na insulina plasmática, a qual pode agir para reduzir a mobilização de

ácidos graxos do tecido adiposo e desordens metabólicas relacionadas aos lipídios.

Rabelo et al. (2003) estudaram os efeitos da densidade de energia dietética

durante o período de transição sobre o desempenho produtivo de vacas leiteiras.

Os animais que receberam uma dieta rica em energia no pré-parto (a partir do dia -

28) tiveram o CMS 19,8% (% PV) maior e 21.5% maior de consumo de energia

que animais que receberam dieta com baixa energia no pré-parto. A produção de

leite foi maior em vacas alimentadas com dieta alta em energia comparada às

alimentadas com baixa energia. Os tratamentos pré-parto não afetaram as

características de fermentação ruminal no pós-parto.

Hayirli (2001) agrupou dados de CMS de 699 vacas holandesas alimentadas

com 49 diferentes dietas durante as três semanas finais de gestação e observou que

o CMS diminuiu linearmente e quadraticamente com o aumento do FDN dietético.

Com menor conteúdo de fibra dietética, a digestibilidade da matéria seca ruminal é

maior, permitindo mais rápida evacuação da digesta ruminal e, consequentemente,

maior CMS.

Para avaliar a importância do CMS pré-parto, Bertics et al. (1992)

compararam o desempenho metabólico e produtivo de vacas alimentadas

voluntariamente durante as ultimas três semanas antes do parto com vacas forçadas

a se alimentarem via fístulas ruminais. Após o parto, ambos os grupos foram

alimentados ad libitum e o CMS não diferiu entre os grupos. Contudo, as vacas

que receberam alimentação forçada tiveram menor deposição de triglicérides

(gordura) ao parto e produziram mais leite e gordura.

Grummer* ao agrupar dados de vacas “controle” de vários experimentos e

examinar a relação entre CMS voluntário imediatamente antes do parto e o CMS

voluntário 21 dias após o parto, observou uma relação bastante forte (r = 0,54).

2.3. Mobilização de Reservas Corporais

O entendimento das relações biológicas entre as reservas corporais, a

produção de leite e a reprodução podem resultar em estratégias de alimentação

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otimizadas que resultem em maior eficiência no processo de produção de leite

durante a vida útil de vacas leiteiras (Waltner et al., 1993).

Vacas leiteiras apresentam constantes alterações na composição corporal

durante a lactação e o período seco, refletindo, primariamente, na depleção ou

repleção de tecidos corporais quando são fornecidas dietas com energia

insuficiente ou em excesso para o atendimento dos requerimentos nutricionais

(Komaragiri et al., 1998). Segundo Ferguson e Otto (1989), o monitoramento

adequado das reservas corporais é crítico para manter vacas leiteiras,

principalmente de alta produção, em condições de expressarem seu potencial

produtivo, contribuindo, dessa forma, para o sucesso econômico da atividade

leiteira.

Waltner et al. (1993) verificaram que o escore da condição corporal ao parto

(ECCP) influenciou a produção de leite corrigida (3,5% de gordura) aos 90 dias de

lactação, sendo as maiores produções de leite observadas em vacas que

apresentaram escore da condição corporal (ECC) entre 3,0 e 4,0 ao parto. Domecq

et al. (1997) relataram que um ponto de aumento no escore de condição corporal

ao parto (ECCP) resultou em cerca de 545 kg de leite a mais nos primeiros 120

dias de lactação.

Durante o balanço energético negativo, eventos homeorréticos sustentam as

necessidades metabólicas da lactação e, aparentemente, a função da glândula

mamária tem prioridades metabólicas quanto à função ovariana. A taxa e a

extensão da mobilização de reservas corporais dependem de fatores como:

produção de leite, composição corporal ao parto, estágio de lactação, idade da

vaca, ordem de partos, tipo de dieta e utilização de hormônios, como a

somatotropina (Bauman e Currie, 1980; Chilliard et al., 1991; Ruegg e Milton,

1995; Komaragiri et al., 1998).

O monitoramento do ECCP e da mudança de condição ao longo da lactação

pode ser utilizado para determinar as recomendações de manejo nutricional e

identificar problemas em potencial (Butler e Smith, 1989; Nebel e McGilliard,

1993).

O aumento do balanço energético negativo pós-parto e o tempo para o

máximo balanço energético negativo são altamente associados com o declínio no

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desempenho reprodutivo (Butler e Smith, 1989; Britt (1992) e Beam e Butler

(1998). Domecq et al. (1997) verificaram que o aumento da condição corporal

durante o período seco alcançando valor próximo a 3,5 (escala de 1-5) resultou em

melhores índices reprodutivos que condições corporais inferiores. Price et al.

(2001), após ajustar as médias de taxa de concepção para o efeito de produção de

leite, verificaram que vacas que apresentaram maior ECCP tiveram taxa de

concepção ao primeiro serviço 10% maior do que a média das vacas do rebanho.

Dessa forma, a duração e a magnitude do balanço energético podem ser

importantes reguladores no restabelecimento do ciclo estral e subseqüente

manutenção da gestação. O balanço energético negativo interfere, primariamente,

em razão da habilidade do eixo hipotalâmico-hipofisário em desenvolver um

padrão de liberação do hormônio luteinizante (LH) necessário para induzir o

desenvolvimento folicular ovariano e a ovulação. Secundariamente, o ‘deficit’ de

energia e a baixa concentração de insulina durante este período podem limitar a

responsividade dos ovários à estimulação pelas gonadotrofinas. O intervalo para a

primeira ovulação no período pós-parto depende da recuperação da função normal

do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal (Butler e Smith, 1989).

Lucy et al. (1991) demonstraram que o aumento do balanço energético foi

proporcional ao número de grandes folículos em vacas leiteiras no pós-parto com

significativa diferença no desenvolvimento folicular relacionada à condição

corporal.

2.4. Efeito da Gordura Dietética no Metabolismo Lipídico Durante o Período

de Transição

Segundo Drackley (1999), a suplementação com gordura dietética resultou

em diversas mudanças metabólicas em roedores, incluindo aumento na β-oxidação

peroxissomal e mitocondrial dos ácidos graxos, diminuição da esterificação dos

ácidos graxos, alteração no perfil e “clearance” das lipoproteínas plasmáticas e

alteração na responsividade a sinais metabólicos.

Vacas holandesas com ECC = 3,5 no início do período seco foram

distribuídas em três tratamentos: dieta-controle (rica em forragem; NEL = 1,27

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Mcal/kg MS), dieta-controle mais 6,5% de gordura (1,44 Mcal/kg MS), ou dieta

alta em grãos (1,44 Mcal/kg MS). As vacas foram alimentadas ad libitum durante

o período seco até uma semana antes do parto previsto. Após o parto, todas foram

alimentadas com a mesma dieta de lactação. No primeiro dia após o parto, aquelas

que foram alimentadas com dieta rica em gordura no pré-parto tiveram menor

acúmulo de triglicerídios no fígado (1,4% do peso úmido), comparado com o

grupo-controle (7,3%) ou o grupo alto em grãos (5,9%). A menor concentração de

lipídio hepático foi acompanhada pelo menor aumento na concentração de ácidos

graxos não esterificados (NEFA) plasmático ao parto, e aumento da β-oxidação

peroxissomal no homogenato hepático (Grum et al., 1996). Estas mudanças

indicam que a dieta rica em gordura durante o período seco resultou uma

adaptação coordenada no metabolismo de lipídios que culminou em menor

acúmulo de triglicerídeos hepáticos no parto. Este efeito foi específico no período

periparto, pois não resultou em aumento na β-oxidação peroxissomal do dia 21 a

300 de lactação.

Segundo Drackley (1999), os mecanismos para estas coordenadas mudanças

adaptativas induzidas pela gordura dietética são incertos, mas muitas destas

mudanças na atividade enzimática são mediadas pela interação dos ácidos graxos

ou seus metabólitos com receptores nucleares específicos (receptor ativado

proliferador peroxomal ou PPAR). A ativação do PPAR pelos ácidos graxos é

responsável pela ligação do PPAR à áreas de respostas específicas de genes-alvo,

que codificam proteínas envolvidas no metabolismo lipídico que são encontradas

em peroxissomos, mitocôndrias, microsomas e citosol.

Skaar et al. (1989) reportaram que a suplementação dietética 17 dias antes do

parto previsto não afetou os trigliceridios hepáticos no primeiro dia após o parto,

embora as médias tenham sido maiores. Se a suplementação com gordura altera o

metabolismo no periparto por meio da indução mediada pelo PPAR das enzimas

envolvidas no metabolismo lipídico, é possível que um período maior de

suplementação seja necessário.

Outro aspecto da gordura dietética durante o período de transição é o seu uso

em dietas após o parto. Kronfeld (1982) propôs que gordura suplementar

preveniria a cetose e aumentaria a eficiência lactacional pela supressão da

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mobilização de NEFA dos tecidos adiposos. Chilliard (1993) sumarizou os

resultados de 11 experimentos, nos quais as vacas foram suplementadas com

gordura durante o início da lactação. O balanço de energia aumentou cerca de 1,1

Mcal/dia, mas não houve redução das mudanças no peso corporal (-65

gramas/dia).

2.5. Efeito da Gordura Dietética sobre a Reprodução

A função reprodutiva no pós-parto é diretamente dependente da

disponibilidade de nutrientes energéticos relativos a sua utilização para lactação.

Segundo Butler e Smith (1989), a correlação entre produção de leite e o número de

dias até a primeira ovulação no pós-parto é significativa apenas após o 40o dia,

quando muitas vacas já ovularam, o que significa que outros fatores estão

envolvidos no intervalo do parto-primeira ovulação.

De acordo com Spicer et al. (1990), citaram que o balanço de energia entre

os dias 20 e 60 pós-parto foi inversamente relacionado ao número de dias do parto

à primeira ovulação, concordando com Bean e Butler (1997), que encontraram

correlação positiva entre o número de dias do parto à primeira ovulação com o

tempo para o restabelecimento do balanço energético, e que maior energia resultou

em folículos maiores (> 15 mm).

Quanto mais deficiente for o manejo nutricional de vacas relacionado à

produção de leite durante a fase inicial de lactação, maior será o tempo gasto para

a vaca restabelecer o ciclo estral e, também o ambiente uterino favorável à

sobrevivência do embrião. Portanto, o objetivo principal é otimizar o manejo

nutricional de vacas, principalmente quanto à ingestão de energia, durante o

período de transição e nos estádios iniciais de lactação (dois primeiros meses) para

diminuir a duração e magnitude do balanço energético negativo e,

conseqüentemente, diminuir os dias até a primeira ovulação e aumentar a taxa de

concepção nos primeiros ciclos estrais.

A suplementação lipídica tem influenciado positivamente o desempenho

reprodutivo de vacas em lactação, alterando a função do folículo ovariano e do

corpo lúteo por meio do aumento do status energético e dos precursores para a

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síntese de hormônios reprodutivos, como esteróides e prostaglandinas (Mattos et

al., 2000). De fato, inúmeros são os benefícios da adição de lipídios sobre os

parâmetros reprodutivos em vacas leiteiras, por exemplo aumento do número de

folículos grandes (acima de 8 mm), maior número de folículos recrutados,

aumento nas concentrações de estradiol e progesterona circulantes, redução da

secreção da prostaglandina (PGF2a), maior diâmetro do folículo dominante e do

corpo lúteo subseqüente, encurtamento do intervalo parto - 1º estro e, na melhoria

da performance reprodutiva em geral (Grumer e Carroll, 1988; Williams, 1996;

Staples et al., 1998).

Diferentes tipos de suplementação lipídica têm sido fornecidos a vacas

lactantes. Alguns deles incluem mistura de lipídios vegetal – animal, sebo, gordura

amarela, óleos na farinha de peixe, óleos de sementes (algodão, soja, canóla,

girassol), entre outros. Os principais ácidos graxos na maioria dos lipídios de

sementes são o ácido linoléico (C18:2) e o ácido linolênico (C18:3), ambos

classificados como essenciais e devem ser suplementados nas dietas devido à

dupla ligação entre o carbono ∆9 e o grupo metil terminal não poder ser utilizado

pelo sistema biológico animal.

Estudos realizados por Scott et al. (1995) mostraram que grande proporção

de vacas alimentadas com ácidos graxos de cadeia longa ligadas à sais de cálcio

(Ca-LCFA) apresentou intensos sinais de estro (71,4% versus 65,6% de exibição

de padrão de estro) e tiveram os ovários mais ativos (75,4% versus 69,5%,

determinado pela palpação retal a cada 2 – 4 semanas). Lucy et al. (1993) e Beam

e Butler (1997) observaram folículos dominantes maiores com a suplementação de

Ca-LCFA, e mistura de sebo e gordura amarela, em vacas lactantes e recém-

paridas, respectivamente. SegundoWilliams (1996), o aumento de consumo de

gordura por fêmeas bovinas promove crescimento folicular e aumento de 1,5 a 5

vezes no número de folículos classificados de médios e grandes dentro de três a

sete semanas, independentemente da ingestão de energia metabolizável ou do

ganho de peso. Parece haver uma substituição na população de folículos pequenos

(= 3 mm) pela categoria de folículos médios (4 - 9 mm) (Wehrman, 1991), e esta

substituição ocorre em, aproximadamente, seis semanas após o consumo de óleos

de origem vegetal.

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Lucy et al. (1990) infundiram Intralipid® (20% de emulsão de óleo de soja

e 50% de ácido graxo na forma de ácido linoléico; Kabivitrum Inc., Alameda, CA)

ou solução fisiológica, ambas por via intravenosa, em novilhas holandesas (310 kg

de peso vivo) nos dias 9 a 13 de um ciclo estral sincronizado, e observaram que no

dia 16 do ciclo, o número médio de folículos ovarianos > 3mm de diâmetro foi

aumentado três vezes (de 2 para 6 mm) e o diâmetro do maior folículo foi

aumentado de 7 para 10,2 mm nas novilhas que receberam a infusão com

Intralipid®.

Quando o milho foi substituído por 2,2% de Ca-LCFA na MS em uma

dieta contendo 14,5% de caroço de algodão e fornecida a vacas no início da

lactação, houve aumento no número de folículos médios (6 – 9 mm) e diminuição

no número de pequenos folículos (3 – 5 mm) antes de 25 dias pós-parto. Durante

um ciclo estral sincronizado, após 25 dias do parto, o número de pequenos e

grandes (>15 mm) folículos aumentou nos animais suplementados com gordura.

Este maior número de pequenos folículos pode refletir maior pool de folículos

disponíveis para o desenvolvimento subseqüente (Lucy et al., 1991b).

O impacto dos folículos maiores sobre a fertillidade ainda não está claro.

Quando a suplementação com gordura reduziu o CMS durante o início do período

pós-parto, o tamanho do maior folículo não influenciou a taxa de ovulação (Beam

e Butler, 1998). No entanto, Beam e Butler (1997) observaram que folículos que

ovularam durante a primeira onda de crescimento folicular pós-parto tinham

diâmetro maior. Portanto, é possível que o aumento no número e no tamanho das

estruturas foliculares pelo fornecimento de gordura na dieta possa acelerar o

intervalo do parto à primeira ovulação no pós-parto, o que pode beneficiar a

fertilidade.

A resposta máxima à suplementação com óleos vegetais tem ocorrido

quando os bovinos são alimentados com óleos de 4 a 6% da matéria seca da dieta

(MS), sendo o menor aumento observado com baixos níveis de lipídios

adicionados (Williams, 1996). A inclusão de sebo animal, ácidos graxos saturados

de sais de cálcio, e óleo de peixe tem mostrado menor efeito no crescimento

folicular que aquele causado por óleos de origem vegetal (Hightshoe et al., 1991).

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Uma das possíveis razões para este efeito pode ser explicada em razão de o

fornecimento de óleos vegetais polinsaturados promover um rápido aumento na

concentração basal de insulina (Palmquist e Moser, 1981; Gutiérrez et al., 1997) e

este rápido aumento na concentração de insulina tem concomitante aumento na

população de folículos médios (Hightshoe et al., 1991).

Os ácidos graxos polinsaturados (linoléico, linolênico, eicosapentaenoico

(EPA; C20:5, n-3) e docosahexaenóico (C22:6, n-3)) podem inibir a sintese de

prostaglandina F2α (PGF2α) por meio de mecanismos como diminuição da

disponibilidade de seu precursor, ou seja o ácido araquidônico, aumento na

competição destes ácidos graxos com o ácido araquidônico pela ligação à

prostaglandina H sintetase (PGHS), inibindo a sua atividade (Mattos et al., 2000).

Acredita-se que o mecanismo de inibição ocorre em virtude da competição do

ácido linolêico com o ácido araquidônico, quando este se liga à enzima

cicloxigenase. A inibição da produção do ácido araquidônico pode também ocorrer

em nível da enzima ∆-6-dessaturase (Staples et al., 1998). Os ácidos graxos do

grupo n-3 (linoleico) inibem a atividade da enzima dessaturase e sofrem

dessaturação preferencial no lugar da dessaturação dos ácidos graxos n-6

(linoléico), resultando no aumento da incorporação de ácidos graxos n-3 e na

redução da incorporação do ácido araquidônico (AA; C20:4, n-6) dentro da

membrana plasmática. A diminuição da disponibilidade do AA e o aumento da

disponibilidade do EPA resultam na redução da síntese das prostaglandinas da

série 2 e aumento da síntese de eicosanóides da série 3. Os ácidos graxos podem

ativar fatores de transcrição nuclear como receptor proliferador de peroxissomos

ativados (PPAR) para inibir a resposta a elementos proliferador de peroxissomos

na região regulatória de genes-alvo.

Lucy et al. (1991b) argumentaram que os efeitos da gordura sobre a

dinâmica folicular de vacas recém-paridas ocorreram em razão da maior síntese de

PGF2α quando elevadas doses de ácido linolêico atingiam o intestino delgado.

Estes autores sincronizaram o estro de vacas de leite no início do período pós-parto

e forneceram uma dieta controle ou uma dieta contendo gordura inerte na forma de

sabões de cálcio. A suplementação com gordura no início do período pós-parto

aumentou a secreção de PGF2α medida pelos níveis de seu metabólito no plasma

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(PGFM ou 13,14-dihidro-15-keto-PGF2α). Entretanto, observou-se recentemente

que a adição de ácidos graxos poliinsaturados à dieta de vacas de leite no meio da

lactação inibiu a secreção de PGF2α (Staples et al., 1998; Oldick et al., 1997).

Portanto, a resposta à adição de gordura na dieta de vacas de leite e de corte pode

estar associada com o estágio de lactação desses animais.

Oldick et al. (1997) infundiram leite com água, glicose, óleo vegetal ou

gordura animal no duodeno de vacas. A infusão de uma fonte de gordura altamente

insaturada (óleo vegetal) diminuiu o nível de PGFM no plasma em resposta ao

desafio com injeções de ocitocina. Coelho et al. (1997) alimentaram 15 vacas de

leite primíparas, com média de 83 dias em lactação, com farinha de peixe. Essas

vacas tiveram seus ciclos estrais sincronizados e receberam a aplicação de uma

injeção de 3 mg de estradiol e 100 UI de ocitocina. Amostras de sangue foram

coletadas seqüencialmente a cada 15 min durante 1 hora antes e 5 horas após a

injeção de ocitocina. A concentração de PGFM no plasma foi reduzida pelo

fornecimento de farinha de peixe. A infusão de resíduo de óleo vegetal no duodeno

de vacas aumentou significativamente a vida do CL (Oldick et al., 1997). Portanto,

o uso de fontes de gordura que suprem maiores quantidades de ácidos graxos

poliinsaturados ao intestino delgado diminui a secreção de PGF2α e aumenta vida

do CL.

Após uma dieta com suplemento lipídico, ocorre uma elevação na

concentração de colesterol no sangue bovino, encontrado principalmente em

lipoproteinas de alta densidade (HDL; 90 a 95%). A concentração de colesterol no

fluido folicular também aumenta após suplementação lipídica A maioria do

colesterol nos ovários chega pelo transporte direto das lipoproteínas do sangue ou

pela síntese “de novo” (Grummer e Carroll, 1988).

Antes da vascularização, apenas HDL está no fluído folicular e contribui

com esteróis para as células da granulosa porque outras lipoproteínas em razão de

sua massa molecular são incapazes de atravessar a membrana basal. Após a

vascularização, ambos LDL e HDL encontram-se nas células luteais (Grummer e

Carroll, 1988).

O colesterol serve como precursor para a síntese de progesterona pelas

células luteais ovarianas. Hawkins et al. (1995) utilizaram novilhas gestantes para

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determinar se o aumento nas concentrações de lipídios séricos alteraria a área

ocupada por gotas lipídicas nas células luteais esteroidogênicas e a taxa de

liberação de progesterona para o soro destes animais. Para tanto, foi utilizada uma

dieta contendo ácidos graxos de cadeia longa de sabões de cálcio (Megalac –

Church and Dwight, Princeton, NJ) fornecida 100 dias antes do parto. As dietas

tinham 2% e 5% de lipídios na MS para os grupos-controle e tratamento,

respectivamente. As vacas que receberam o tratamento lipídico apresentaram,

aproximadamente, duas vezes maior concentração de colesterol, HDL e

progesterona no soro comparado àquelas do grupo-controle. Também, a área

ocupada por gotas lipídicas foi maior nas vacas tratadas que nas controles.

A suplementação com lipídios tem estimulado o aumento da concentração

sérica de hormônio de crescimento (GH), que coincide com o aumento no acúmulo

do fator de crescimento semelhante à insulina I (IGF-1) no fluido folicular, sem

afetar o IGF-1 periférico (Thomas e Williams, 1996). Há evidências de que o GH

pode estimular diretamente o mRNA para IGF-1 dentro das células da granulosa

(Yoshimura et al., 1994).

Conforme Bao et al. (1995), a habilidade de dietas com alto teor de gordura

em promover aumento na incidência de função luteal normal e estimular o

crescimento folicular está, também, relacionada aos seus efeitos nos eventos

mediados pelas lipoproteínas em nível celular. A lipoproteína circulante

predominante em bovinos é a lipoproteína de alta densidade (HDL,

aproximadamente 80% do total). A HDL, juntamente com outra lipoproteína de

baixa densidade (LDL), promove a viabilidade das células da granulosa in vitro,

independentemente do tipo de folículo, aumento da proliferação in vitro de células

derivadas da teca de folículos pré-ovulatórios, aumento da androstenediona nas

células da teca e produção de IGF-1 nas células da granulosa. A HDL foi mais

potente em estimular a produção de progesterona pelas células da granulosa e teca,

e LDL atenuou a produção de progesterona estimulada pelo HDL.

O aumento das concentrações plasmáticas de progesterona tem sido

associado à maoir na taxa de concepção de vacas lactantes e ainda com maior

fertilidade antes da inseminação (Staples et al., 1998). A progesterona não somente

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prepara o útero para a implantação do concepto, mas também ajuda a manter a

gestação, uma vez que nutre o embrião.

Receptores para lipoproteínas desenvolvem-se nas célulass luteínicas para

a sintese de progesterona da mesma forma que receptores são desenvolvidos para o

LH. Highthoe et al. (1991) encontraram maior concentração de LH (1,47 versus

1,12 ng/mL) em vacas Simental suplementadas com 1 kg/dia de Ca-LCFA e maior

número de folículos em crescimento que vacas não suplementadas.

Evidências suportam a hipótese de que lipídios dietéticos podem modular a

sobrevivência do corpo lúteo e, conseqüentemente, a gestação. Outros estudos

mostram uma estimulação da hipófise anterior liberando de LH após

suplementação lipídica. Este mecanismo ainda não está bem esclarecido, mas

supõe-se que haja “economia” de glicose pela glândula mamária, promovendo

maior quantidade de glicose no sistema hipotalâmico-hipofisário, com produção de

LH mais acentuada. No útero, ácidos graxos polinsaturados (linoléico e

encosapentaenóico), além de inibir a síntese de PGF2α, promovem maior síntese de

progesterona, e dessa forma, permite a sobrevivência do concepto (Staples et al.,

1998).

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28

RESPOSTA PRODUTIVA DE VACAS NO INÍCIO DA LACTAÇÃO

SUBMETIDAS À SUPLEMENTAÇÃO DE GORDURA DURANTE O

PERÍODO DE TRANSIÇÃO

RESUMO – Objetivou-se com este experimento estudar o efeito da

suplementação dietética de gordura de 28 dias pré-parto até 60 dias pós-parto

sobre o consumo de matéria seca (CMS) e o desempenho produtivo de vacas

leiteiras de alta produção. Foram utilizadas 20 vacas holandesas, multíparas,

gestantes, distribuídas aleatoriamente em dois tratamentos: C = dieta controle (3%

de extrato etéreo (EE) na matéria seca (MS)) e G = dieta gordura (6% de EE na

MS). Os valores médios de CMS não diferiram (P>0,05) no pré e pós-parto (10,73

e 9,95 kg e 16,06 e 17,81 kg de MS/dia para os grupos C e G, respectivamente).

Contudo, houve aumento (P<0,05) na quarta semana de lactação para o animais do

grupo G (18,29 vs 15,53 kg de MS). Este aumento no CMS, associado à maior

densidade energética da dieta G foi responsável pela elevação do consumo de

energia líquida para os animais do grupo G após o parto (32,61 vs 28,22 Mcal /

dia; P<0,05). A produção de leite total e de leite corrigido para 3,5% de gordura

não diferiram (P>0,05), com médias de 31,88 e 34,41 kg/dia e 26,34 e 36,05 kg de

leite/dia para os grupos C e G, respectivamente, apesar do G produzir 2,53 kg de

leite a mais por dia (7,93%) que o C. Houve redução da porcentagem da gordura

do leite (P < 0,05), com médias de 4,36 e 3,81 % de gordura para os grupos C e G.

Observa-se, contudo, que a produção total de gordura não foi afetada (1,38 vs 1,29

kg de gordura por dia para os grupos C e G, respectivamente; P>0,05). A

suplementação com gordura fez com que a ingestão de energia líquida no início da

lactação aumentasse, resultando, consequentemente, em maior produção de leite

diária.

Palavras-chave: período de transição, gordura dietética, vacas leiteiras,

consumo de matéria seca, produção de leite.

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29

PRODUCTIVE PERFORMANCE IN THE EARLY LACTATION

DAIRY COWS SUPPLEMENTED WITH DIETARY FAT DURING

THE TRANSITION PERIOD

ABSTRACT – The aim of this study was to evaluate the reproductive

performance and dry matter intake (DMI) of dairy cows supplemented with dietary

fat during the transition period. Twenty pregnant Holstein cows were randomly

assigned into two treatments: C = Control diet (3% of EE in DM); and G = Fat diet

(6% of EE in DM). The average DMI did not differ during the pre and pos-partum

for both groups (P < 0,05; 10,73 and 9,95 kg DM to group C and 16,06 and 17,81

kg of DM to group G). However, in the fourth lactation week, animals from group

G had a higher DMI than group C (15,53 vs 18,29 kg de DM). The increase in the

DMI associated with a higher energy density of the G diet was the

responsible for a higher liquid energy intake for the animals G group in the

pos-partum (28,22 vs 32,61 Mcal/day; P< 0,05). Milk production and

corrected milk to 3,5% of butter fat did not differ among the groups (31,88 e

34,41 kg/day to group C and 36,34 e 36,05 kg of milk/day to group G) even

with a 2,53 kg/day increase in milk production to group G animals. A

decrease in milk fat percentage was verified to group G animals (4,36 X

3,81% milk fat) but not for total fat production (P > 0,05; 1,38 X 1,29 kg of

milk fat/day for groups C and G). In conclusion the supplemtary dietary fat

in dairy cows during the transition period increased the liquid energy intake

resulting in a higher daily milk production

Key-words: dairy cows, dietary fat, dry matter intake, milk production,

transition period.

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30

1. INTRODUÇÃO

A gordura suplementar é freqüentemente adicionada às dietas de vacas de

alta produção no pós-parto por aumentar a densidade calórica da dieta e, assim,

promover aumento da ingestão de energia e produção de leite. Adicionalmente, o

valor energético da gordura, associado ao baixo custo de algumas fontes, tem

possibilitado a suplementação de lipídios em dietas, com uso em vários países.

Diferentes tipos de suplementação lipídica têm sido fornecidos a vacas

lactantes. Alguns incluem mistura de lipídios vegetal – animal, sebo, gordura

amarela, óleos na farinha de peixe, óleos de sementes (algodão, soja, canola,

girassol), entre outros. Os principais ácidos graxos na maioria dos lipídios de

sementes são o ácido linoléico (C18:2) e o ácido linolênico (C18:3), ambos essenciais

e devem ser suplementados nas dietas devido à dupla ligação entre o carbono ∆9 e

ao grupo metil terminal não poder ser utilizado pelo sistema biológico animal.

Segundo Schingoethe e Casper (1991), houve aumento de 5 e 10% de leite

quando as vacas foram suplementadas com sementes oleaginosas, ocorrendo maior

persistência na produção sem, necessariamente, apresentar maior pico. Este

aumento na persistência foi associado a um efeito residual após o término da

suplementação com gordura sobre a produção de leite. A inclusão de sementes de

girassol ou soja na dieta de vacas entre a 4º e 16º semana no pós-parto resultou em

2,8% mais leite no momento da suplementação, maior pico de produção e

produção 8,2% maior no final de um período de 12 semanas de alimentação. Este

significativo pico de produção de leite foi mantido durante toda a lactação.

A adição de gordura suplementar pode aumentar o status energético das

vacas, mas o resultado líquido depende do efeito da gordura suplementar no CMS,

na digestibilidade dos ácidos graxos e do nível de produção de leite. Uma

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31

característica da gordura que limita o seu uso em rações para vacas leiteiras é o

grau de saturação. O efeito negativo das gorduras insaturadas na digestão da fibra

ruminal tem sido observado (Jenkins e Jenny, 1989).

Tradicionalmente, recomenda-se adicionar gordura à dieta logo após o parto,

embora estudos tenham demonstrado que a resposta à suplementação é retardada

neste período (Salfer et al., 1995). O mecanismo não tem sido esclarecido, mas

Palmquist (1990), citado por Salfer et al. (1995), sugeriu que altas concentrações

de ácidos graxos livres, estimulados pelo início da lactação e superestimulado pela

gordura adicional, poderiam atrasar o aumento no consumo de matéria seca

(CMS).

A resposta lenta e a resposta substancial “carry-over” à suplementação de

gordura podem parcialmente explicar porque pouca ou nenhuma resposta na

produção foi observada em alguns estudos que utilizaram desenho experimental de

curta duração. O “lag time” para a resposta à suplementação pode ser maior no

início da lactação (Schingoethe e Casper, 1991) e isto ocorreu, provavelmente, por

não haver nenhum período de adaptação anterior.

O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da suplementação dietética de

gordura, iniciando-se 28 dias pré-parto até 60 dias no pós-parto, sobre o consumo

de matéria seca (CMS) e o desempenho produtivo de vacas leiteiras de alta

produção.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido no Setor de Bovinocultura de Leite

(Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite, UEPE-GL),

Departamento de Zootecnia, na Universidade Federal de Viçosa, MG, e no

Laboratório de Reprodução Animal do Departamento de Zootecnia da referida

instituição, no período de março de 2003 a maio de 2004.

Foram utilizadas 20 vacas holandesas, pluríparas (4,15 ± 2,13 partos),

gestantes, com peso vivo médio aos 28 dias pré-parto de 712,02 ± 65,20 kg e

escore de condição corporal médio igual a 3,16 ± 0,53 (escala de 0 a 5; Wildman

et al., 1982; Edmonson et al., 1989).

Os animais foram balanceados quanto a idade, peso corporal, escore de

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condição corporal, número de lactações e produção de leite na lactação anteriores

e distribuídos em dois grupos: dieta controle (C; 3% extrato etéreo (EE) na

matéria seca (MS); n = 10) e dieta gordura (G; 6% de EE na MS; n = 10),

começando 28 dias pré-parto até 60 dias no pós-parto.

As dietas foram formuladas conforme as recomendações do National

Research Council (NRC 2001) para cada período (pré e pós-parto) e produção de

leite durante a lactação (Tabela 1).

Tabela 1. Critérios utilizados para cálculo das exigências nutricionais dos grupos

Controle (C) e Gordura (G)

Pré-Parto Pós-Parto

Idade (meses) 58,0 60,0

Peso vivo (kg) 650,0 600,0

Dias de gestação 250 0

Escore de condição corporal (ECC) 3,0 2,5

Dias em lactação 0 30

Número de lactações 3 3

Idade ao primeiro parto (meses) 30 30

Intervalo de Parto (meses) 13 13

Produção de leite (kg / dia) - 35,0

Gordura no leite (%) - 3,80

Proteína bruta no leite (%) - 3,23

As análises químico-bromatológicas dos ingredientes das dietas foram

realizadas de acordo com os procedimentos do Laboratório de Nutrição Animal do

Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (Silva e Queiroz,

2002) e, em seguida, a dieta C foi calculada para oferecer, aproximadamente, 3%

de extrato etéreo (% MS). A dieta G foi calculada para oferecer,

aproximadamente, 6% de EE (% MS) via adição de óleo de soja (Tabela 2).

As dietas foram similares na composição, exceto para o extrato etéreo e a

energia liquida, devido à adição de óleo de soja. A energia da dieta G pré-parto

apresentou 0,12 Mcal/kg de MS e a dieta de lactação apresentou 0,10 Mcal/kg de

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MS que suas respectivas dietas controle.

Tabela 2. Ingredientes e composição nutricional das dietas durante os períodos pré e pós-parto como porcentagem da matéria seca (MS)

Pré-Parto Pós-Parto Ingredientes

Controle Gordura Controle Gordura

% da Matéria Seca

Silagem de milho 81,72 81,81 45,02 45,10

Fubá de milho 10,77 7,49 28,93 26,04

Farelo de soja – 48% PB 4,95 4,70 22,35 21,71

Óleo de soja - 3,30 - 3,25

Uréia 1,19 1,33 - 0,21

Núcleo mineral 1,10 1,10 3,02 3,02

Sulfato de amônio 0,16 0,16 - -

Premíx vitamínico 0,12 0,12 0,03 0,03

Bicarbonato de sódio - - 0,65 0,64

Composição

PB1 % da MS 12,3 12,3 17,7 17,7

PDR2 % da PB 9,6 9,8 11,0 11,3

PNDR3 % da PB 2,7 2,5 6,7 6,4

NEl4 Mcal / kg MS 1,42 1,54 1,61 1,71

FDN5 % da MS 45,9 45,6 29,4 29,1

FDN, % da MS (forragem) 44,4 44,4 24,4 24,5

FDA6, % da MS 26,4 26,3 16,6 16,5

NDT7(1x) , % da MS 62,0 66,0 70,0 73,0

EE8, % da MS 2,1 5,3 2,4 5,5

CNF9, % da MS 35,1 32,3 43,7 40,9

1PB – Proteína Bruta 2PDR – Proteína Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 3PNDR – Proteína Não Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 4NEl - Energia Líquida 5FDN – Fibra Solúvel em Detergente Neutro 6FDA – Fibra Solúvel em Detergente Ácido 7NDT – Nutrientes Digestíveis Totais (nível de mantença) 8EE – Extrato Etéreo 9CNF – Carboidrato Não Fibroso

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As vacas que receberam a dieta G foram alimentadas com a dieta C antes do

início do período experimental, com substituição parcial da dieta-controle antes da

4ª semana pré-parto na proporção de 20%, até chegar a 100% da dieta G. Foi

considerado o primeiro dia experimental no início da 4ª semana pré-parto, quando

cada animal consumiu sua ração completa. A água e o sal mineral foram

fornecidos ad libitum.

Os animais foram mantidos em baias individuais, sendo arraçoados duas

vezes ao dia (as 07:00 h e às 15:00 h). A quantidade de volumoso e concentrado

foi ajustada diariamente para manter uma sobra entre 5 e 10% de MS. A

quantidade total de volumoso mais concentrado a ser oferecido para cada animal e

também das sobras do dia anterior foram pesadas diariamente.

Amostras de silagem e sobras foram coletadas diariamente e armazenadas em

sacos plásticos a -20 ºC, até completar o período de sete dias, compondo uma

amostra semanal. Este procedimento foi repetido até o final do período

experimental, para posterior análise química. Amostras do concentrado foram

obtidas quinzenalmente e armazenadas em sacos plásticos a -20º C.

Todos os animais foram pesados e avaliados quanto ao ECC uma vez por

semana, por um técnico treinado, segundo metodologia desenvolvida por

Edmonson et al. (1989), a partir de uma escala biológica de 1 a 5, com sub-

unidades de 0,25 pontos, em que 1 representa uma vaca muito magra e 5 muito

gorda. No dia do parto, os animais também foram pesados e avaliados quanto ao

escore de condição corporal (ECCP).

Informações relacionadas à produção de leite eram obtidas diariamente após

as ordenhas, e as amostras de leite foram coletadas semanalmente para a avaliação

da porcentagem de gordura. A produção de leite foi corrigida para 3,5% de

gordura segundo fórmula descrita por Sklan et al. (1994).

As variáveis consumo de materia seca (kg), consumo de materia seca (% do

peso vivo), consumo de nutrientes (kg de proteína bruta, fibra detergente neutro,

carboidrados não fibrosos, carboidratos totais, matéria orgânica, extrato etéreo,

nutrientes digestíveis totais e energia líquida), produção de leite (PL), produção de

leite corrigida (PLC), produção de gordura (Gkg) e porcentagem de gordura (G%)

foram analisadas pelo procedimento PROC MIXED do SAS (SAS, 1999).

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Utilizando-se um modelo linear misto para medidas repetidas no tempo. Foram

considerados os efeitos fixos de tratamento (dietas), dias em lactação e interação

tratamentos x dias em lactação. Os efeitos de vacas dentro de classes foram

considerados aleatórios. As médias ajustadas (LSmeans) dos efeitos fixos foram

comparadas por intermédio da diferença mínima significativa (LSD), obtida pelo

teste “t”.

A produção total de leite na lactação foi estimada segundo equação de

Wood (1967). Os dados foram submetidos a análise de variância usando-se o SAS

(SAS, 1999).

Esta equação é essencialmente uma curva do tipo gama e é expressa pela

função:

yn = a nb exp (-cn) (1)

Em que yn é a produção de leite diária na semana n e a, b e c são constantes. A produção

total é assim expressa pela função:

y = ___a___ Γ (b + 1) (2) cb+1

A produção para a semana t é representada pela função:

yt = a ∫0t tbexp (-ct) dt (3)

Que pode ser avaliada usando-se tabelas de função gama incompleta.

3. RESULTADO E DISCUSSÃO

O peso corporal ao parto e o ECCP para os animais dos grupos C e G foram

de 640,10 e 651,33 kg, e 3,10 e 3,15, respectivamente. Aos 60 dias no pós-parto,

os animais dos grupos C e G pesaram 565,46 e 582,46 kg e apresentaram ECC

igual a 2,40 e 2,50, respectivamente. Esta diminuição do ECC está dentro dos

valores normais citados pelo NRC (2001) para vacas de leite nos primeiros 60 dias

após o parto, os quais variam de 0,5 a 1,0 unidade.

As análises de variância do consumo de matéria seca (CMS; kg), CMS em

porcentagem do peso vivo (CMS % PV), proteína bruta (PB), fibra solúvel em

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detergente neutro (FDN), carboidrato não fibroso (CFN), carboidrato total

(CCHO), matéria orgânica (MO), extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais

(NTD) e energia líquida (NEL) estão sumariados na Tabela 3. Nas Tabelas 4 e 5

estão sumariados as médias das variáveis anteriormente citadas, segundo o tipo de

dieta e semanas pré e pós parto.

Tabela 3 – Resumo das análises de variâncias do consumo de matéria seca (CMS; kg), consumo de

matéria seca em porcentagem do peso vivo (CMS % PV), proteína bruta (PB), fibra

solúvel em detergente neutro (FDN), carboidrato não fibroso (CFN), carboidrato total

(CCHO), matéria orgância (MO), extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais

(NTD) e energia líquida (NEL) nas vacas durante o pré e o pós-parto.

Valor de P

Variáveis

CMS CMS

%PV PB FDN CFN CCHO MO EE

NDT NEL

Pré-Parto

Grupo1 0,4612 0,2602 0,3472 0,4785 0,0851 0,2352 0,4283 <,0001 0,8264 0,8513

Tempo2 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0004 <,0001 <,0001

Grupo x

Tempo

0,3336 0,1733 0,7555 0,1848 0,3168 0,2970 0,3392 0,1378 0,3910 0,4869

Pós-Parto

Grupo3 0,1557 0,2484 0,4489 0,5168 0,8234 0,4874 0,4032 <,0001 0,0459 0,0239

Tempo 0,0003 <,0001 <,0001 0,0046 <,0001 0,0008 0,0001 <,0001 0,0004 0,0001

Grupo x

Tempo

0,0907 0,0974 0,1504 0,1398 0,2357 0,1067 0,1050 0,0813 0,3388 0,2394

1 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,1% da MS) 1 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,3% da MS) 2 Dias em lactação 3 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,4% da MS) 3 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,5% da MS)

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37

Tabela 4 – Consumos de matéria seca (CMS; kg), CMS em porcentagem do peso vivo (% PV), PB,

FDN, CFN, carboidrato total (CCHO), matéria orgânica (MO), EE, NTD e energia

líquida, de acordo com as semanas antes do parto e os tipos de dieta

Semanas Itens Grupo S-4 S-3 S-21 S-11

C 11,95 11,77 10,70 8,86 G 10,97 10,72 9,70 8,61 CMS (kg/d)

P< 0,4957 0,3836 0,3182 0,8114

C 1,72 1,65 1,49 1,25 G 1,54 1,42 1,34 1,20 CMS

(%PV) P< 0,2176 0,1479 0,2466 0,7115

C 1,61 1,54 1,42 1,34 G 1,42 1,39 1,27 1,26 PB (kg/d)

P< 0,3229 0,3550 0,2691 0,5532

C 5,46 5,45 4,92 3,86 G 4,93 4,83 4,30 3,62 FDN (kg/d)

P< 0,6607 0,4360 0,2885 0,6826

C 4,16 4,00 3,61 3,00 G 3,29 3,20 2,94 2,58 CNF (kg/d)

P< 0,0581 0,0636 0,0761 0,2706

C 9,62 9,45 8,53 6,91 G 8,23 8,03 7,24 6,20 CCHO

(kg/d) P< 0,2451 0,2051 0,1634 0,4510

C 11,51 11,26 10,20 8,45 G 10,29 10,05 9,09 8,06 MO (kg/d)

P< 0,4471 0,3676 0,3057 0,7170

C 0,27 0,26 0,23 0,19 G 0,64 0,62 0,58 0,59 EE (kg/d)

P< 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001

C 7,47 7,36 6,68 5,53 G 7,18 6,98 6,36 5,66 NDT (kg/d)

P< 0,9364 0,6693 0,6258 0,8559

C 16,96 16,76 15,32 12,93 G 17,04 16,60 15,14 13,52 NEL

(Mcal/d) P< 0,6328 0,9884 0,9043 0,6964 S1...9 = Semanas pós-parto

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Tabela 5 – Consumos de matéria seca (CMS; kg), CMS em porcentagem do peso vivo (% PV), PB,

FDN, CFN, carboidrato total (CCHO), matéria orgânica (MO), EE, NTD e energia

líquida segundo a semana de lactação e o tipo de dieta.

Semanas Pós-Parto Itens Grupo

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

C 12,34 14,34 15,10 15,53 16,70 17,84 17,81 16,98 17,58

G 13,13 15,71 17,29 18,29 18,47 18,73 19,23 20,01 19,43 CMS

(kg/d) P< 0,5212 0,2585 0,0916 0,0410 0,1229 0,5475 0,4039 0,1212 0,3647

C 1,97 2,36 2,56 2,69 2,92 3,12 3,13 2,99 3,10

G 2,06 2,57 2,90 3,12 3,17 3,22 3,30 3,43 3,34 CMS

(%PV) P< 0,6706 0,3708 0,1546 0,0947 0,2207 0,6599 0,5324 0,1554 0,4459

C 2,23 2,58 2,73 2,81 3,02 3,24 3,18 3,03 3,15

G 2,25 2,69 2,96 3,13 3,15 3,20 3,27 3,41 3,32 PB (kg/d)

P< 0,9529 0,5838 0,3547 0,1583 0,5127 0,8765 0,7050 0,1617 0,6133

C 3,84 4,25 4,48 4,47 4,77 5,24 5,20 4,80 5,32

G 3,99 4,59 4,99 5,23 5,09 5,06 5,54 5,59 4,66 FDN

(kg/d) P< 0,7805 0,4281 0,3044 0,0937 0,4407 0,7477 0,4785 0,2028 0,5120

C 5,49 6,44 6,87 7,09 7,68 8,25 8,24 7,82 7,99

G 5,32 6,34 6,96 7,33 7,49 7,57 7,81 8,10 7,84 CNF

(kg/d) P< 0,7604 0,8497 0,8828 0,6746 0,7321 0,3599 0,5227 0,6813 0,8664

C 3,74 4,31 4,54 4,60 4,90 5,27 5,32 4,97 5,32

G 3,70 4,48 4,96 5,19 5,18 5,21 5,42 5,65 5,49 CCHO

(kg/d) P< 0,9313 0,6389 0,3446 0,1454 0,4876 0,9176 0,8184 0,2181 0,7924

C 11,83 13,73, 14,54 14,90 16,01 17,21 17,17 16,24 16,89,

G 12,03 14,42 15,88 16,80 16,97 17,20 17,67 18,39 17,86 MO

(kg/d) P< 0,8732 0,5371 0,3173 0,1188 0,4022 0,9963 0,7172 0,1714 0,6033

C 0,31 0,37 0,39 0,41 0,43 0,45 0,44 0,42 0,43

G 0,76 0,90 0,99 1,06 1,07 1,07 1,09 1,13 1,10 EE (kg/d)

P< 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001

C 8,65 9,47 10,61 10,93 11,78 12,54, 12,40 11,82 12,26

G 9,59 11,52 12,67 13,35 13,51 13,68 14,02 14,59, 14,15 NDT

(kg/d) P< 0,3039 0,0593 0,0308 0,0133 0,0406 0,2904 0,1879 0,0528 0,2116

C 20,93 23,96, 24,99 25,58 27,31 28,74 28,65 28,95 28,22

G 23,67 27,63 29,97 31,36 32,94 31,95 32,57 33,71 32,61 NEL

(Mcal/d) P< 0,1933 0,0562 0,0120 0,0043 0,0161 0,1281 0,1193 0,0555 0,1438

S1...9 = Semanas pós-parto

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O CMS no pré e pós-parto não foram diferentes entre os animais dos

tratamentos C e G, com médias de 10,73 ± 2,87 e 9,95 ± 1,80 kg, e 16,02 ± 3,71 e

17,80 ± 3,62 kg MS por dia, respectivamente. Os consumos dos demais nutrientes

foram semelhantes (PB, FDN, CNF, CCHO e MO), exceto EE (P<0,01). Neste

caso, verificou-se no pré-parto e pós-parto, para as vacas dos grupos C e G

consumos de 0,234 ± 0,08 e 0,408 ± 0,09, e 0,607 ± 0,09 e 1,02 ± 0,22 kg de EE

por dia, respectivamente. Também houve maior consumo de NDT e NEL no pós-

parto (P<0,05).

Estudos realizados por Rabello (1995) e Silva (1997) relataram que os CMS,

MO, CCHO, NDT, PB, FDN, pH, amônia e síntese microbiana não foram afetados

pela inclusão de fontes de gordura na ração concentrada. Porém, o consumo de EE

aumentou linearmente com o aumento de grão de soja. Corroborando, Malafaia

(1995), trabalhando com sebo bovino, verificou que o consumo médio diário de

MS, MO, PB, CCHO, FDN, NDT, a produção de leite corrigida para 3,5% de

gordura e os teores de proteína bruta e gordura do leite não foram influenciados

pela inclusão de sebo no concentrado.

A ingestão de nutrientes é uma função do CMS e da densidade de nutrientes

da dieta. Como visto na Tabela 2 e descrito anteriormente, a dieta de lactação G

apresentou 0,10 Mcal por kg de MS a mais que a dieta-controle. Como

demonstrado na Tabela 5, apesar de não haver diferença, as vacas do gupo G

consumiram em média 1,8 kg de MS por dia a mais que o grupo C, permitindo,

dessa forma, que o consumo de NDT e, consequentemente, de NEL, fosse maior

para a dieta (P<0,05).

O CMS diminuiu da quarta semana pré-parto até o parto para ambos os

grupos (Figura 1; P<0,05). Houve redução de 22,75 e 17,68% na última semana

pré-parto, comparado às semanas anteriores, para os grupos C e G,

respectivamente. Bertics et al. (1992) e Grant e Albrightt (1995) observaram

redução entre 20 e 30% no CMS na última semana pré-parto. A concentração

sangüínea de muitos hormônios aumenta ou diminui drasticamente ao parto e pode

ser um potente modificador do CMS. Grummer (1995) sugeriu que o estrógeno ou

a proporção entre estrógeno e progesterona tem uma influência no CMS pré-parto.

Infusão intravenosa de 17β-estradiol diminuiu o CMS e a produção de leite em

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vacas leiteiras (Grummer et al., 1990). A progesterona não tem efeito direto no

CMS, mas, indiretamente, bloqueia os efeitos do estrógeno em vacas leiteiras

(Muir et al., 1972). Limitações físicas, devido ao crescimento fetal, têm sido

apontadas como causas da diminuição do CMS com a proximidade do parto

(Ingvartsen et al., 1992, citados por Agenas et al., 2003). Outra possível explicação

para o declínio no CMS verificado alguns dias pré-parto está associada ao aumento

da infiltração de gordura no fígado (Bertics et al., 1992).

79

11131517192123

S-4 S-3 S-2 S-1 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

Semanas Peri-Parto

CM

S (

Kg

/ D

ia)

C G

Figura 1. Mudanças no consumo de matéria seca (CMS) durante o pré e o pós-parto para as vacas

alimentadas com dietas controle (C) e gordura (G). S-4 até S-1 representam semanas

relacionadas ao pré-parto e S1 até S9 representam semanas relacionadas ao pós-parto.

Houve rápido aumento do CMS após o parto para ambos os grupos (Figura

1; P<0,05). Neste estudo, a taxa de aumento no CMS entre a primeira e a terceira

semana foi de 1,38 e 2,08 kg por semana para os animais dos grupos C e G,

respectivamente. Estes valores estão dentro dos limites citados por Bertics et al.,

(1992), com aumento aproximado de 1,5 a 2,5 kg/semana durante as primeiras três

semanas de lactação. A taxa de aumento do CMS durante o início da lactação pode

ser primariamente determinada pela ingestão e pelo balanço de energia (Bertics et

al., 1992).

O CMS (% PV) durante o período pré-parto foi de 1,51 e 1,37% para os

animais dos grupos C e G, respectivamente. Já no pós-parto, o CMS (% PV) foi de

2,77 e 3,01%, respectivamente, até 60 dias de lactação (1,26 e 1,64% a mais).

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Diversas medidas de manejo nutricional têm sido propostas para aumentar a

ingestão de nutrientes durante períodos críticos no ciclo de produção. Dentre todas

elas, a maximização do CMS é a principal. Vacas que podem avançar no CMS de,

aproximadamente, 2% de seu peso vivo durante o período seco para 3,5% dentro

das primeiras seis semanas de lactação (1,5% a mais), não apenas apresentarão

menor e mais curto BEN, mas também produzirão mais leite (Staples et al., 1990).

As análises de variância das características associadas à produção e

composição do leite (PL, PLC, Gkg e G%) estão sumariadas na Tabela 6. Na

Tabela 7 estão resumidas as médias das variáveis acima citadas, em razão dos dias

em lactação, segundo o tipo de dieta utilizada. Não foi observado efeito do

tratamento sobre a PL e nem sobre a PLC (P>0,05). A PL foi afetada pelo tempo e

as maiores produções foram observadas durante o primeiro e segundo mês de

lactação para os grupos C e G, respectivamente.

Tabela 6 – Resumo das análises de variâncias da produção de leite total (PL), produção de leite

corrigido para 3,5% de gordura (PLC), produção total de gordura (Gkg) e porcentagem

de gordura no leite (G%) nas vacas durante o pós-parto

Valor de P Variáveis

PL PLC Gkg G%

Grupo1 0,2353 0,9106 0,0159 0,4764

Tempo2 <,0001 0,0002 0,0002 <,0001

Classe x Tempo 0,1925 0,2353 0,0558 0,3466

1 Grupo 1: Dieta-controle (EE = 2,4% da MS) 1 Grupo 2: Dieta-gordura (EE = 5,5% da MS) 2 Dias em lactação

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Tabela 7 - Produção de leite (PL), produção de leite corrigida a 3,5% de gordura (PLC),

produção de gordura por quilograma (Gkg) e porcentagem de gordura (G%) segundo

a semana de lactação e o tipo de dieta, nas vacas após o parto

Semanas de Lactação Itens Grupo

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

C1 25,60 32,09 33,84 32,04 33,24 33,70 33,26 31,84 31,35

G2 27,25 32,22 34,09 35,09 35,76 35,90 36,58 37,34 35,42 PL

(kg/d) P< 0,4845 0,9580 0,9225 0,1273 0,3159 0,3538 0,2017 0,0544 0,1322

C 31,47 39,52 40,82 37,61 35,81 36,31 35,68 34,51 35,33

G 34,48 40,39 38,73 36,49 35,29 36,05 33,73 35,36 33,68 PLC

(kg/d) P< 0,3729 0,8284 0,5890 0,6922 0,8441 0,9268 0,5544 0,8030 0,6279

C 4,89 4,88 4,74 4,56 4,00 3,95 3,94 4,05 4,29

G 5,12 5,04 4,28 3,69 3,40 3,55 2,95 3,11 3,14 G%

(%) P< 0,5993 0,6944 0,1863 0,0030 0,0384 0,2204 0,0017 0,0207 0,0045

C 1,25 1,58 1,61 1,46, 1,31, 1,33 1,30 1,27 1,34

G 1,39 1,62 1,47 1,31 1,21 1,26 1,10 1,18 1,13 Gkg

(kg) P< 0,3714 0,8408 0,4499 0,2607 0,3853 0,5788 0,1650 0,5522 0,1897

1 Grupo C: dieta-controle. 2 Grupo G: dieta-gordura.

Durante os primeiros 60 dias de lactação, a PL média para os grupos controle

(C) e gordura (G) foram de 31,88 ± 5,06 e 34,41 ± 6,51 Kg por dia,

respectivamente (+2,53 kg/dia). Os animais do grupo G produziram 7,93% mais

leite por dia que os a do grupo C. Ao final dos 60 dias de lactação, os animais do

grupo C produziram 1.912,8 kg de leite e os do grupo G, 2064,6 kg de leite,

resultando na produção de 151,8 kg de leite a mais ao final de 60 dias de lactação

para os animais do grupo G.

De acordo com a equação de Wood (1967), a produção total de leite na

lactação foi estimada em 8.442,5 e 9.338,5 kg para os os animais dos grupos C e

G, respectivamente, o que representa 895,9 kg de leite (10,61%) a mais na

lactação. Este resultado é similar aos 10% observados por Palmquist (1984), citado

por Palmquist (1996), e 8,2% registrados por Schingoethe e Casper (1991), os

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43

quais também observaram que a produção de leite manteve-se maior durante toda

a lactação para os animais suplementados com gordura mesmo após o final do

tratamento na 16ª semana após o parto. O efeito residual à suplementação de

gordura é um fator importante a ser considerado para avaliar a resposta total à este

tipo de suplementação.

Este aumento pode ser devido à maior ingestão de energia verificada para as

vacas suplementadas com gordura, principalmente a partir da terceira semana de

lactação, quando consumiram 4,66 Mcal/dia a mais que os animais do grupo C,

resultando em 3,44 kg de leite a mais por dia a partir da quarta semana de lactação.

De acordo com Onetti e Grummer (2004), a resposta positiva a suplementação

com gordura deve ser esperada, devido à maior disponibilidade de NEL, desde que

não haja redução do CMS.

O padrão de produção de leite foi afetado pela dieta quando as curvas de

lactação foram comparadas (Figura 2). A produção de leite cresceu continuamente

para ambos os grupos. Contudo, o pico de produção de leite para os animais do

grupo C ocorreu na terceira semana (33,84 kg de leite), enquanto para os do grupo

G, o pico de produção aconteceu na oitava semana (37,34 kg de leite). A curva de

lactação para os animais do grupo G aumentou acima daquela do grupo C à partir

da terceira semana e continuou até o final do experimento (3,44 kg de leite a

mais/dia). Estes resultados estão de acordo com os de Garcia-Bojalil et al.(1998),

os quais verificaram que o padrão de produção de leite não foi afetado pela

gordura suplementar até 20 dias após o parto, momento no qual a curva de

produção começou a se separar, estimulando a produção em aproximadamente 2,0

kg de leite a mais por dia.

Schingoethe e Casper (1991) registraram valores semelhantes quanto à

semana de pico de produção, sendo que os animais alimentados com a dieta-

controle apresentaram o pico de produção de leite na sexta semana e aqueles

tratados com gordura mostraram pico na nona semana de lactação.

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20

25

30

35

40

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

Semanas Pós-Parto

Pro

du

ção

de

Lei

te (

Kg /

dia

)

C G

Figura 2. Produção de leite nos primeiros 60 dias de lactação para as vacas tratadas com dieta

controle (C) ou gordura (G). As semanas pós-parto são representadas de S1 a S9.

Segundo vários autores, a suplementação com gordura tem aumentado a

produção de leite. Estes aumentos foram observados quando de utilizaram sais de

ácidos graxos com cálcio a 4% da MS da ração (Peixoto et al., 1994), gordura

protegida – Magnapac (Pinto, 1997), sebo bovino (Malafaia et al., 1996). As

respostas, contudo tem sido bastante variáveis. Algumas das variações podem ser

atribuídas à redução do CMS quando a gordura foi adicionada à dieta. Se o CMS

for bastante diminuído, a ingestão de energia total pela vaca pode não ser

aumentada.

O consumo de EE neste estudo foi 0,612 kg a mais para o grupo G, o que

suportou o aumento de 2,53 kg de leite a mais por dia. Grummer (1992), citado por

Palmquist (1996), observou que o fornecimento de 500 gramas de gordura fez com

que a produção de leite fosse aumentada em 2,80 kg por dia. Este volume foi

inferior ao verificado por Jenkins (1997), o qual indicou que a máxima resposta

em produção de leite à suplementação com gordura foram de 3,50 kg por dia.

Cerca de 700 gramas de gordura suplementar foram requeridos para suportar a

produção de 3,50 kg de leite.

A porcentagem de gordura no leite (G%) diferiu (P<0,05) entre os animais

dos tratamentos, sendo significativo a partir da quarta semana de lactação, quando

a diferença na produção total de leite tornou-se mais expressiva (Figura 3). As

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médias finais da G% aos 60 dias de lactação foram 4,37 ± 0,79 e 3,81 ± 1,08 %

para os animais dos grupos C e G, respectivamente (redução de 0,56%). Esta

diferença pode ser devido à maior produção de leite verificada neste período para

os animais do grupo G, visto que, quanto maior o volume de leite, menor será a

concentração por mililitro de seus constituintes. Contudo, esta redução da G% foi

compensada pela maior produção de leite diária, resultando na ausência de efeito

dos tratamentos utilizados sobre a produção total de gordura (Gkg). As produções

médias de gordura foram de 1,38 ± 0,29 e 1,30 ± 0,40 kg/d para os grupos C e G,

respectivamente.

2.50

3.00

3.50

4.00

4.50

5.00

5.50

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

Semanas Pós-Parto

%G

C G

Figura 3. Mudança na porcentagem de gordura (G%) do leite nos primeiros 60 dias de lactação para

as vacas tratadas com dieta controle (C) ou gordura (G). As semanas pós-parto são

representadas de S1 a S9.

A redução da gordura do leite tem sido demonstrada quando fontes

adicionais de gordura são fornecidas nas dietas de vacas em lactação,

principalmente se estas fontes são compostas de grande quantidade de ácidos

graxos insaturados (Schingoethe e Casper, 1991), o que pode reduzir a digestão da

fibra e diminuir a proporção entre acetato e propionato. Outros autores não

verificaram redução na porcentagem de gordura no leite quando vacas foram

alimentadas com gordura (Ruegsegger e Schultz, 1985; Driver et al., 1990).

Schingoethe e Casper (1991) observaram redução na porcentagem de gordura do

leite de 0,25% durante o período de suplementação. SegundoWrenn et al. (1978), a

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porcentagem de gordura do leite reduziu 0,5% quando animais foram

suplementados com gordura.

A redução da gordura do leite pode ter ocorrido devido também em virtude

do acúmulo de ácidos graxos trans no rúmen durante a hidrogenação dos ácidos

graxos de cadeia longa. Gaynor et al. (1994) demonstraram que a infusão

abomasal de ácidos graxos oléicos trans reduz a percentagem de gordura do leite,

devido à diminuição na síntese de outros ácidos graxos e reduzida atividade da

enzima acyl transferase no tecido mamário, reduzindo assim a síntese de

triglicerídeos. Baumgard et al. (2002) relataram que ácidos graxos polinsaturados,

com duplas ligações trans-10 diminuiu, diminuiram a porcentagem de gordura do

leite por meio da redução da síntese de novo de ácidos graxos.

4. CONCLUSÃO

De acordo com os dados deste experimento, a suplementação dietética de

gordura (óleo de soja) durante 30 dias pré-parto até 60 dias pós-parto promoveu a

adaptação à gordura suplementar, mantendo o consumo de matéria seca e

melhorando a ingestão de energia, sem diminuir a ingestão de fibra. Também foi

eficiente em aumentar a produção de leite diária e, conseqüentemente, a produção

total no período de suplementação, sem comprometer a quantidade de gordura

produzida.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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VARIAÇÃO DO ESCORE DE CONDIÇÃO CORPORAL E DO PESO

CORPORAL NO INÍCIO DA LACTAÇÃO EM VACAS SUBMETIDAS À

SUPLEMENTAÇÃO DE GORDURA DIETÉTICA DURANTE O PERÍODO

DE TRANSIÇÃO

RESUMO – Este estudo foi realizado com o objetivo de estudar os efeitos da

suplementação dietética com gordura durante o período de transição sobre o

balanço energético, a mobilização de reservas corporais e mudança de peso

corporal. Foram utilizadas 20 vacas holandesas, multíparas, gestantes, distribuídas

aleatoriamente em dois tratamentos: C = dieta controle (3% de extrato etéreo (EE)

na matéria seca (MS)) e G = dieta gordura (6% de EE na MS). Os valores médios

de consumo de MS (CMS) não diferiram no pré e pós-parto (10,73 e 9,95 kg e

16,06 e 17,81 kg de MS/dia para os grupos C e G, respectivamente; P>0,05).

Contudo, houve aumento (P < 0,05) na quarta semana de lactação para o animais

do grupo G (18,29 vs 15,53 kg de MS). Este aumento no CMS, associado a maior

densidade energética da dieta G, responsável pelo aumento no consumo de energia

líquida para os animais do grupo G após o parto (32,61 vs 28,22 Mcal/dia;

P<0,05). A produção de leite total, e leite corrigido para 3,5% de gordura não

diferiram, com médias de 31,88 e 34,41 kg/dia e 26,34 e 36,05 kg de leite/dia para

os grupos C e G, respectivamente (P>0,05). Verificou-se interação entre dieta e

semanas em lactação sobre o balanço de energia liquida, sendo que os animais do

grupo G apresentaram menor balanço negativo de energia a partir da quarta

semana de lactação (P<0,05), coincidindo com o aumento de consumo verificado

neste mesmo período. Não foram verificados efeitos das dietas sobre o escore de

condição corporal e mudança de condição corporal. Observou-se no entento que

houve interação entre dieta e semanas em lactação sobre o peso corporal e

mudança de peso corporal no pré e pós-parto para os animais do grupo G, que

estabilizaram o peso corporal e começaram a ganhar peso a partir da sétima

semana enquanto os animais do grupo C permaneceram perdendo peso. A

suplementação dietética com gordura durante o período periparto fez com que o

‘deficit’ energético diminuisse, resultando, portanto em menor mobilização dos

tecidos corporais.

Palavras-chave: período de transição, gordura dietética, vacas leiteiras, escore de

condição corporal, peso corporal

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BODY CONDITION AND WEIGHT CHANGES IN THE EARLY

LACTATION PERIOD OF DAIRY COWS SUPPLEMENTED WITH

DIETARY FAT DURING THE TRANSITION PERIOD

ABSTRACT – The aim of this study was to evaluate the energy balance and body

conditions and weight changes of dairy cows supplemented with dietary fat during

the transition period. Twenty pregnant Holstein cows were randomly assigned into

two treatments: C = Control diet (3% of EE in DM); and G = Fat diet (6% of EE in

DM). The average DMI did not differ during the pre and pos-partum for both

groups (P < 0,05; 10,73 and 9,95 kg DM to group C and 16,06 and 17,81 kg of

DM to group G). However, in the fourth lactation week, animals from group G

had a higher DMI than group C (15,53 vs 18,29 kg de DM). The increase in the

DMI associated with a higher energy density of the G diet was the responsible for

a higher liquid energy intake for the animals G group in the pos-partum (28,22 vs

32,61 Mcal/day; P< 0,05). Milk production and corrected milk to 3,5% of butter

fat did not differ among the groups (31,88 e 34,41 kg/day to group C and 36,34 e

36,05 kg of milk/day to group G). Group G animals had a lower negative energy

balance after the fourth week of lactation (P < 0,05), concurring with a higher

DMI in the same period. No differences in body condition score and body

condition changes was verified among the groups, however group G animals had a

higher average daily body weight gain than group C after the seventh week pos-

partum while group C animal remain loosing weight until the end of this

experiment. In conclusion, dairy cows supplemented with dietary fat during the

pre-partum period had a lower energy deficit that resulted in a decrease in body

condition score and weight changes.

Key-words: body condition score, body weight, dairy cows, dietary fat, transition

period.

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1. INTRODUÇÃO

Fontes suplementares de gordura dietética têm sido utilizadas para que sejam

maximizadas as respostas produtivas de vacas em lactação. Adicionalmente, o uso

de fontes de gordura suplementar pode resultar em melhor equilíbrio metabólico

em vacas leiteiras durante o início da lactação, conseguindo-se menores variações

do escore de condição corporal (ECC) e do peso corporal (PC; Garcia-Bojalil et

al., 1998; NRC, 2001).

Apesar de serem relatados aumentos de produção de leite de 5 a 10% quando

vacas são suplementadas com gordura dietética (Schingoethe e Casper, 1991),

estes aumentos podem estar acompanhados de um balanço energético negativo

mais intenso caso não sejam fornecidas as quantidades necessárias de nutrientes

para suprir estes aumentos. A utilização de gordura nas dietas pode resultar em

maior quantidade de energia ingerida diariamente, se não observadas observadas

as reduções de consumo associadas à suplementação dietética com gordura.

Vacas leiteiras apresentam constantes alterações na composição corporal

durante a lactação e no período seco, refletindo, primariamente, a mobilização ou

reposição de tecidos corporais quando as dietas contêm energia insuficiente ou em

excesso para o atendimento das exigências nutricionais (Komaragiri et al., 1998).

O monitoramento adequado das reservas corporais é crítico para a manutenção de

vacas leiteiras, principalmente de alta produção, em condições de expressarem seu

potencial produtivo (Ferguson e Otto, 1989; Waltner et al., 1993).

Variações no ECC durante a lactação, refletindo o padrão de mobilização de

reservas corporais, estão relacionadas com os dias em lactação, sendo esperada

diminuição gradativa no ECC no início da lactação, seguida de posterior

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recuperação e retorno ao ECC inicial no meio e final da lactação (Pedron et al.,

1993; Waltner et al., 1993).

O peso corporal também apresenta variações durante a lactação, sendo

influenciado pelo tamanho dos animais, quantidade de reservas corporais e

enchimento do trato gastrintestinal (Enevoldsen e Kristensen, 1997). Estes fatores

dependem dos estádios de lactação e gestação e da idade dos animais (Koenen et

al., 1999). Segundo Koenen et al. (1999) e Buckley et al. (2000), o PC segue um

padrão, com ligeira redução na época do parto, quando o feto, a placenta e demais

conteúdos uterinos são expulsos, seguido de declínio gradual, em virtude da

mobilização de reservas corporais para o fornecimento de energia para a produção

de leite e, após o início da lactação e nova concepção, o animal retorna ao peso

inicial, por causa da reposição dos tecidos corporais mobilizados e pelo

desenvolvimento fetal.

O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da suplementação dietética de

gordura, iniciando-se 28 dias pré-parto até 60 dias no pós-parto, sobre o balanço

de energia, a variação do peso corporal e do escore de condição corporal de vacas

leiteiras de alta produção.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido no Setor de Bovinocultura de Leite

(Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite, UEPE-GL),

Departamento de Zootecnia, na Universidade Federal de Viçosa, MG, e no

Laboratório de Reprodução Animal do Departamento de Zootecnia da referida

instituição, no período de março de 2003 a maio de 2004.

Foram utilizadas 20 vacas holandesas, pluríparas (4,15 ± 2,13 partos),

gestantes, com peso vivo médio aos 28 dias pré-parto de 712,02 ± 65,20 kg e

escore de condição corporal médio igual a 3,16 ± 0,53 (escala de 0 a 5; Wildman

et al., 1982; Edmonson et al., 1989).

Os animais foram balanceados quanto a idade, peso corporal, escore de

condição corporal, número de lactações e produção de leite na lactação anteriores

e distribuídos em dois grupos: dieta controle (C; 3% extrato etéreo (EE) na

matéria seca (MS); n = 10) e dieta gordura (G; 6% de EE na MS; n = 10),

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começando 28 dias pré-parto até 60 dias no pós-parto.

As dietas foram formuladas conforme as recomendações do National

Research Council (NRC 2001) para cada período (pré e pós-parto) e produção de

leite durante a lactação (Tabela 1).

Tabela 1. Critérios utilizados para cálculo das exigências nutricionais dos grupos

Controle (C) e Gordura (G)

Pré-Parto Pós-Parto

Idade (meses) 58,0 60,0

Peso vivo (kg) 650,0 600,0

Dias de gestação 250 0

Escore de condição corporal (ECC) 3,0 2,5

Dias em lactação 0 30

Número de lactações 3 3

Idade ao primeiro parto (meses) 30 30

Intervalo de Parto (meses) 13 13

Produção de leite (kg / dia) - 35,0

Gordura no leite (%) - 3,80

Proteína bruta no leite (%) - 3,23

As análises químico-bromatológicas dos ingredientes das dietas foram

realizadas de acordo com os procedimentos do Laboratório de Nutrição Animal do

Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (Silva e Queiroz,

2002) e, em seguida, a dieta C foi calculada para oferecer, aproximadamente, 3%

de extrato etéreo (% MS). A dieta G foi calculada para oferecer,

aproximadamente, 6% de EE (% MS) via adição de óleo de soja (Tabela 2).

As dietas foram similares na composição, exceto para o extrato etéreo e a

energia liquida, devido à adição de óleo de soja. A energia da dieta G pré-parto

apresentou 0,12 Mcal/kg de MS e a dieta de lactação apresentou 0,10 Mcal/kg de

MS que suas respectivas dietas controle.

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Tabela 2. Ingredientes e composição nutricional das dietas durante os períodos pré e pós-parto

como porcentagem da matéria seca (MS)

Pré-Parto Pós-Parto Ingredientes

Controle Gordura Controle Gordura

% da Matéria Seca

Silagem de milho 81,72 81,81 45,02 45,10

Fubá de milho 10,77 7,49 28,93 26,04

Farelo de soja – 48% PB 4,95 4,70 22,35 21,71

Óleo de soja - 3,30 - 3,25

Uréia 1,19 1,33 - 0,21

Núcleo mineral 1,10 1,10 3,02 3,02

Sulfato de amônio 0,16 0,16 - -

Premíx vitamínico 0,12 0,12 0,03 0,03

Bicarbonato de sódio - - 0,65 0,64

Composição

PB1 % da MS 12,3 12,3 17,7 17,7

PDR2 % da PB 9,6 9,8 11,0 11,3

PNDR3 % da PB 2,7 2,5 6,7 6,4

NEl4 Mcal / kg MS 1,42 1,54 1,61 1,71

FDN5 % da MS 45,9 45,6 29,4 29,1

FDN, % da MS (forragem) 44,4 44,4 24,4 24,5

FDA6, % da MS 26,4 26,3 16,6 16,5

NDT7(1x) , % da MS 62,0 66,0 70,0 73,0

EE8, % da MS 2,1 5,3 2,4 5,5

CNF9, % da MS 35,1 32,3 43,7 40,9

1PB – Proteína Bruta 2PDR – Proteína Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 3PNDR – Proteína Não Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 4NEl - Energia Líquida 5FDN – Fibra Solúvel em Detergente Neutro 6FDA – Fibra Solúvel em Detergente Ácido 7NDT – Nutrientes Digestíveis Totais (nível de mantença) 8EE – Extrato Etéreo 9CNF – Carboidrato Não Fibroso

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As vacas que receberam a dieta G foram alimentadas com a dieta C antes do

início do período experimental, com substituição parcial da dieta-controle antes da

4ª semana pré-parto na proporção de 20%, até chegar a 100% da dieta G. Foi

considerado o primeiro dia experimental no início da 4ª semana pré-parto, quando

cada animal consumiu sua ração completa. A água e o sal mineral foram

fornecidos ad libitum.

Os animais foram mantidos em baias individuais, sendo arraçoados duas

vezes ao dia (as 07:00 h e às 15:00 h). A quantidade de volumoso e concentrado

foi ajustada diariamente para manter uma sobra entre 5 e 10% de MS. A

quantidade total de volumoso mais concentrado a ser oferecido para cada animal e

também das sobras do dia anterior foram pesadas diariamente.

Amostras de silagem e sobras foram coletadas diariamente e armazenadas em

sacos plásticos a -20 ºC, até completar o período de sete dias, compondo uma

amostra semanal. Este procedimento foi repetido até o final do período

experimental, para posterior análise química. Amostras do concentrado foram

obtidas quinzenalmente e armazenadas em sacos plásticos a -20º C.

Todos os animais foram pesados e avaliados quanto ao ECC uma vez por

semana, por um técnico treinado, segundo metodologia desenvolvida por

Edmonson et al. (1989), a partir de uma escala biológica de 1 a 5, com sub-

unidades de 0,25 pontos, em que 1 representa uma vaca muito magra e 5 muito

gorda. No dia do parto, os animais também foram pesados e avaliados quanto ao

escore de condição corporal (ECCP).

Informações relacionadas à produção de leite eram obtidas diariamente após

as ordenhas, e as amostras de leite foram coletadas semanalmente para a avaliação

da porcentagem de gordura. A produção de leite foi corrigida para 3,5% de

gordura segundo fórmula descrita por Sklan et al. (1994).

O balanço de energia líquida (NEL) foi assim: Ingestão de NEL –

Requerimento de NEL para mantença – Requerimento de NEL para produção de

leite. Os exigências nutricionais foram estimadas conforme NRC (2001), e os

cálculos realizados por meio do software Nutrient Requirements of Dairy Cattle

(versão 1.0; Clark, 2000).

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As variáveis escore de condição corporal (ECC), mudança de condição

corporal (MECC), peso corporal (PC) e mudança de peso corporal (MPC) foram

analisadas pelo procedimento PROC MIXED do SAS (SAS, 1999), utilizando-se

um modelo linear misto para medidas repetidas no tempo. Este procedimento

permitiu melhor ajuste na estrutura da matriz que descreve as covariâncias de

medidas repetidas no tempo. Foram considerados os efeitos fixos de tratamento

(dietas), dias em lactação e interação tratamentos x dias em lactação. Os efeitos de

vacas dentro de classes foram considerados aleatórios. Na avaliação da MPC pré-

parto e pós-parto utilizou-se, respectivamente, o peso corporal no início do período

experimental e no dia do parto como covariável.

3. RESULTADO E DISCUSSÃO

O resumo das análises de variância do consumo de matéria seca (CMS; kg),

CMS em porcentagem do peso vivo (CMS % PV), extrato etéreo (EE), nutrientes

digestíveis totais (NTD), energia líquida (NEL), produção de leite total (PL) e

produção de leite corrigido para 3,5% de gordura (PLC) estão sumariados na

Tabela 3, e as médias das variáveis descritas anteriormente, segundo o tipo de

dieta, encontram-se representados na Tabela 4.

Tabela 3 – Resumo das análises de variâncias do consumo de matéria seca (CMS; kg), consumo de

matéria seca em porcentagem do peso vivo (CMS % PV), extrato etéreo (EE),

nutrientes digestíveis totais (NTD), energia líquida (NEL), produção de leite total (PL)

e produção de leite corrigido para 3,5% de gordura (PLC) nas vacas durante o pré e o

pós parto.

Valor de P Variáveis

CMS CMS %PV EE NDT NEL PL PLC

Pré-Parto

Grupo1 0.4612 0.2602 <.0001 0.8264 0.8513 - -

Tempo2 <.0001 <.0001 <.0004 <.0001 <.0001 - -

Grupo x Tempo 0.3336 0.1733 0.1378 0.3910 0.4869 - -

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Pós-Parto

Grupo3 0.1557 0.2484 <.0001 0.0459 0.0239 0.2353 0.9106

Tempo 0.0003 <.0001 <.0001 0.0004 0.0001 <.0001 0.0002

Grupo x Tempo 0.0907 0.0974 0.0813 0.3388 0.2394 0.1925 0.2353

1 Grupo 1: Dieta-controle (EE = 2,1% da MS) 1 Grupo 2: Dieta-gordura (EE = 5,3% da MS) 2 Dias em lactação 3 Grupo 1: Dieta-controle (EE = 2,4% da MS) 3 Grupo 2: Dieta-gordura (EE = 5,5% da MS)

Tabela 4 – Médias para CMS pré e pós-parto, CMS em porcentagem do peso vivo (% PV),

consumos de extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais (NTD), energia

líquida (NEL), produção de leite total (PL) e produção de leite corrigido para 3,5%

de gordura (PLC) dos animais alimentados com dieta controle (C) ou gordura (G)

durante o período de transição

Controle Gordura

Pré - Parto

CMS (kg/dia) 10,73 ± 2,87 9,95 ± 1,80

CMS (% PV) 1,51 ± 0,37 1,37 ± 0,26

EE (kg/dia) 0,234 ± 0,085 0,607 ± 0,090

NDT (kg/dia) 6,70 ± 1,83 6,51 ± 1,24

NEL (Mcal/dia) 15,38 ± 4,05 15,49 ± 2,89

Pós - Parto

CMS (kg/dia) 16,02 ± 3,71 17,81 ± 3,62

CMS (% PV) 2,76 ± 0,70 3,01 ± 0,62

EE (kg/dia) 0,408 ± 0,09 1,022 ± 0,22

NDT (kg/dia) 11,16 ± 2,70 13,01 ± 2,67

NEL (Mcal/dia) 28,22 ± 5,79 32,61 ± 6,99

PL (kg/dia) 31,88 ± 5,06 34,41 ± 6,51

PLC (kg/dia) 36,34 ± 6,29 36,02 ± 8,30

O CMS não foi afetado pela dieta no pré e nem no pós-parto (Tabela 4).

Contudo, os animais do grupo G consumiram 1,79 kg de MS a mais que os

animais do grupo C após o parto, resultando em maior consumo de NDT e,

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60

consequentemente, NEL (P< 0,05). Como esperado, verificou-se no pré-parto e

pós-parto, para as vacas dos grupos C e G, consumo de 0,234 ± 0,08 e 0,408 ±

0,09, e 0,607 ± 0,09 e 1,02 ± 0,22 kg de EE por dia, respectivamente (P<0,05).

Não foi verificada diferença na PL nem na PLC (P>0,05), sendo que os animais do

grupo G produziram, em média, 2,53 kg de leite a mais que o grupo C durante os

primeiros 60 dias de lactação.

O padrão de CMS foi semelhante para ambos os animais dos grupos.

Reduziu gradativamente nas últimas semanas pré-parto e voltou a aumentar logo

após o parto, com pico de consumo ao redor de 45 e 60 dias para os grupos C e G,

respectivamente (Figura 1). As vacas do grupo G aumentaram o CMS a uma taxa

maior que o grupo C, com valores de 2,08 e 1,38 kg por semana, respectivamente,

entre a primeira e a terceira semanas de lactação, sendo superior na quarta semana

(P<0,05). Devido ao fato de a densidade energética da dieta com gordura ser maior

que a da dieta-controle, a ingestão média diária de NDT e, consequentemente, de

NEL dos animais do grupo G durante os primeiros 60 dias de lactação foi maior

que dos animais do grupo C (P <0,05), principalmente entre a terceira e a quinta

semanas de lactação (Figura 2).

79

11131517192123

S-4 S-3 S-2 S-1 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

Semanas Peri-Parto

CM

S (

Kg

/ D

ia)

C G

Figura 1. Padrão de consumo de matéria seca (CMS) durante o peri-parto para as vacas tratadas

com dieta controle (C) ou gordura (G). S-4 até S-1 representam semanas antes do

parto. As semanas após o parto são representadas de S1 a S9

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61

10

15

20

25

30

35

S-4 S-3 S-2 S-1 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

Semanas Peri-Parto

Con

sum

o de

NE

líqu

ida

(Mca

l/di

a)

C G

Figura 2. Padrão de consumo de energia líquida (NEL) durante o peri-parto para vacas tratadas

com dieta controle (C) ou gordura (G). S-4 até S-1 representam semanas antes do

parto. As semanas após o parto são representadas de S1 a S9

As análises de variância do balanço de energia (BE), escore de condição

corporal (ECC), mudança de escore de condição corporal (MECC), peso corporal

(PC) e mudança de peso corporal (MPC) estão sumariadas na Tabela 5.

Tabela 5 – Resumo das análises de variância do balanço de energia (BE), escore de condição

corporal (ECC), mudança de escore de condição corporal (MECC), peso corporal (PC)

e mudança de peso corporal (MPC) nas vacas durante o pré e o pós-parto.

Valor de P Variáveis

BE ECC MECC PC MCP

Pré-Parto

Grupo1 0,9488 0,8563 0,8612 0,5777 0,3638

Tempo2 <,0001 <,9844 <,7660 <,0001 <,0001

Grupo x Tempo 0,5691 0,4465 0,5551 0,0047 0,0106

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Pós-Parto

Grupo3 0,0900 0,6908 0,9848 0,6581 0,6909

Tempo <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001

Grupo x Tempo 0,0237 0,2798 0,3684 0,0031 0,0216

1 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,1% da MS) 1 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,3% da MS) 2 Dias em lactação 3 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,4% da MS) 3 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,5% da MS)

As vacas de todos os tratamentos manifestaram balanço energético negativo

(BEN) no início da lactação (Figura 3). As do grupo C e G atingiram o ponto

máximo de BEN na segunda (-12,38 Mcal / dia) e primeira (-9,41 Mcal / dia)

semana de lactação, respectivamente. Não foi verificado efeito de tratamento sobre

o BEN, exceto na quarta semana (P = 0,02), em que as vacas do grupo G

apresentaram BEN de -3,0 Mcal/dia enquanto as do grupo C mostraram BEN igual

a – 9,14 Mcal/dia. Esta diferença no BEN apresentada na quarta semana pode ser

explicada pelo maior CMS neste mesmo período (P < 0,05), além da maior

densidade energética da dieta. Contudo, verificou-se interação entre tratamento e

tempo ( P < 0,05). De forma geral, as vacas do grupo G tiveram melhor status

energético que as fêmeas do grupo C, com menor magnitude e duração em BEN.

Os animais do grupo G começaram a melhorar o balanço de energia a partir da

terceira semana de lactação, enquanto que nos animais do grupo C, isto só foi

verificado a partir da quarta semana, porem com taxa menor que as fêmeas do

grupo G. As vacas do grupo G atingiram o balanço positivo de energia na oitava

semana (60 dias de laçtacão) enquanto as do grupo C permaneceram em BEN após

o período experimental.

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63

-14.00-12.00-10.00-8.00-6.00-4.00-2.000.002.004.006.00

S-4 S-3 S-2 S-1 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

Semanas Peri-Parto

Ene

rgia

Líq

uida

(M

cal /

dia

)

Controle Gordura

Figura 3. Balanço de energia líquida (NEL) durante o periparto para as vacas tratadas com dieta

controle (C) ou gordura (G). S-4 até S-1 representam semanas antes do parto. S1 até

S9 representam semanas após o parto

Na Figura 4 estão sumariadas as médias de ECC (Painel A) e MECC (Painel

B) nas quatro semanas pré-parto, no dia do parto e nas nove semanas pós-parto,

em razão das dietas utilizadas. Em todos os animais, o ECC mudou rapidamente

após o parto. O ECC diminuiu acentuadamente até a quarta semana de lactação (30

dias), após o qual esta diminuição tornou-se mais moderada. Esta diminuição foi

verificada até, aproximadamente, a oitava semana de lactação, quando esta se

estabilizou. Estes valores são semelhantes aos de Moallem et al. (2000), que

verificaram redução acentuada no ECC até 35 dias de lactação para os animais

controle e suplementados com gordura e a estabilização a partir do dia 60.

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64

2.25

2.5

2.75

3

3.25

S-4 S-3 S-2 S-1 Parto S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

Semanas Peri-Parto

EC

CC G

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0

0.2

S-3 S-2 S-1 Parto S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

Semanas Peri-Parto

Mud

ança

de

EC

C

C G

Figura 4 - Escore da condição corporal (ECC) (Painel A) e mudança do escore de condição

corporal (Painel B) em virtude das semanas em relação ao parto, para as vacas

alimentadas com a dieta controle e com a dieta suplementada com gordura.

A utilização de gordura na dieta não influenciou (P>0,05) o ECC e a MECC

durante o período pré-parto. Em relação ao ECCP, não foram observadas

diferenças entre os animais dos tratamentos utilizados (P>0,05), sendo o ECCP

para os animais do grupo C e G, respectivamente, de 3,10 ± 0,47 e 3,15 ± 0,44,

demonstrando que os animais apresentavam adequada condição corporal ao parto.

Também não foram verificadas alterações no ECC e na MECC em função das

semanas pré-parto (tempo) ou alguma interação do tempo com as dietas utilizadas

(P>0,05).

A

B

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O ECC e a MECC no pós-parto não foram influenciadas (P>0,05) pelas

dietas utilizadas ao longo das nove primeiras semanas. Após o parto, as vacas

alimentadas com a dieta G apresentaram maior mobilização de reservas corporais

nas três primeiras semanas de lactação, possivelmente devido a maior produção de

leite da vacas deste grupo, ocorrendo posteriormente estabilização no ECC e na

MECC, coincidindo com a melhora do balanço energético verificado a partir da

terceira semana pós-parto. No entanto, os animais submetidos à dieta C

apresentaram mobilização de reservas corporais menos intensa nas três primeiras

semanas de lactação, e, ao contrário dos animais submetidos a dieta com gordura,

mostraram contínua diminuição do ECC e aumento da MECC com o avanço da

semanas em lactação, confirmando estarem em balanço energético negativo mais

acentuado e prolongado que os animais submetidos às dietas com gordura (Figura

4). Em razão destes resultados, as vacas submetidas às dietas controle

apresentaram ECC e MECC ao final do período experimental 2,40 ± 0,33 e -0,70 ±

0,37, enquanto as submetidas a dieta com gordura suplementar exibiram ECC e

MECC de 2,50 ± 0,23 e -0,65 e ± 0,39.

O argumento de que gordura dietética deve ser benéfica para vacas no início

de lactação é que a gordura iria suprimir a mobilização de NEFA. Apesar da

melhora verificada, não foi notado efeito da dieta sobre a mobilização de reserva

corporal. Segundo Drackley (1999), o fornecimento de gordura suplementar

melhorou o balanço de energia calculado mas não suprimiu a mobilização de

energia corporal e nem a perda de peso corporal.

Na Figura 5 estão sumariadas as mudanças nas médias do Peso Corporal

(PC; Painel A) e mudança de peso corporal (MPC; Painel B), em razão das dietas

utilizadas, nas quatro semanas pré-parto, no dia do parto e nas nove semanas pós-

parto. Em todos os grupos, o PC mudou rapidamente após o parto. O PC diminuíu

até o dia 35 pós-parto nos animais do Grupo G, enquanto no grupo C o mesmo

continuou diminuindo até o final do experimento. Resultados similares foram

verificados por Moallem et al. (2000), no qual os animais suplementados com

gordura diminuíram de peso até 39 dias de lactação.

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66

550

600

650

700

750

S-4 S-3 S-2 S-1 Parto S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

Semanas Peri-Parto

Pes

o C

orpo

ral

(kg)

C G

-80

-60

-40

-20

0

20

P-3 P-2 P-1 Parto S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9

Semanas Peri-Parto

Mud

ança

de

Pes

o (K

g /

sem

ana)

C G

Figura 5 - Peso corporal (Painel A) e mudança de peso corporal (Painel B) em função das semanas

em relação ao parto, para as vacas alimentadas com a dieta controle e com a dieta

suplementada com gordura.

O PC e a MPC não foram influenciadas pelas dietas utilizadas (P>0,05) no

período pré-parto. Observou-se efeito do tempo sobre a MPC, especialmente em

relação à mudança de peso no dia do parto. As vacas dos tratamentos controle e

gordura perderam 74,29 ± 20,58 e 74,55 ± 16,73 kg de peso corporal no dia do

parto. Essa perda é resultado da expulsão do feto e anexos fetais e do início do

catabolismo das reservas corporais. No período pós-parto não foi verificado efeito

da dietas utilizadas no PC e na MPC (P>0,05), sendo notado efeito do tempo

(semanas em lactação) (P<0,01) sobre estas variáveis, onde com o avançar da

lactação foi verificada diminuição gradativa do peso corporal para ambos os

A

B

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tratamentos (Figura 5). No entanto, notou-se interação entre as dietas utilizadas e

as semanas em relação ao parto. Os animais do grupo G perderam peso mais

acentuadamente nas primeiras quatro semanas de lactação, provavelmente devido

à maior produção de leite verificada neste período comparado ao grupo C, e não

sendo acompanhado, concomitantemente, pelo aumento no CMS. Na quarta

semana houve significativo aumento no CMS (P < 0,05) para os animais do grupo

G, melhorando o balanço de energia (P = 0,02) e diminuindo a perda de peso.

Como o status energético continuou melhorando nas semanas seguintes, os

animais do grupo G estabilizaram a perda de peso e começaram a ganhar peso a

partir da sétima semana, quando ganharam 0,122 kg/dia, enquanto os animais do

grupo C continuaram a perder peso (- 0,382 kg/dia), até o final do período

avaliado.

De acordo com Drackley (1999), vacas suplementadas com gordura dietética

apresentaram menor balanço negativo de energia que animais do grupo controle (+

1,1 Mcal / dia), mas as mudanças no PC não foram reduzidas. Segundo Kim et al.

(1993) e Garcia Bojalil et al. (1998), a utilização de gordura suplementar não tem

influenciado o peso corporal e a mudança de peso corporal em vacas no início da

lactação. No entanto, estes autores citam que em razão das dietas utilizadas e do

consumo de matéria seca obtido com vacas suplementadas com fontes dietéticas de

gordura, estas podem apresentar melhor balanço energético no pós-parto,

resultando em menores alterações da condição corporal. Os resultados obtidos

neste estudo também são semelhantes aos verificados por Schingoethe e Casper

(1991).

4. CONCLUSÃO

Os dados deste experimento sugerem que a suplementação dietética de

gordura (óleo de soja) durante os 30 dias pré-parto, até 60 dias após o parto,

melhorou o status energético após o parto, mesmo com a produção de 2,53 kg de

leite a mais por dia, refletindo menor perda de peso durante a lactação. A

mobilização de reservas corporais avaliadas pelo ECC não foi influenciada pela

dieta com G, mas reduziu a taxa de mobilização a partir da quinta semana quando

comparado ao grupo C.

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68

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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70

EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM GORDURA DURANTE O

PERÍODO DE TRANSIÇÃO SOBRE A ATIVIDADE OVARIANA E

O DESEMPENHO REPRODUTIVO DE VACAS LEITEIRAS DE

ALTA PRODUÇÃO

RESUMO – Este estudo foi realizado com o objetivo de verificar os efeitos da

suplementação dietética com gordura sobre a dinâmica folicular ovariana, os

parâmetros plasmáticos hormonais e metabólicos (colesterol, colesterol

HDL) e o desempenho reprodutivo em vacas leiteiras durante o período de

transição. Utilizaram-se 20 vacas holandesas, multíparas, gestantes,

distribuídas aleatoriamente em dois tratamentos: C = dieta controle (3% de

extrato etéreo (EE) na matéria seca (MS)) e G = dieta gordura (6% de EE na

MS). Houve aumento no consumo de matéria seca (CMS; P < 0,05) na

quarta semana de lactação para os animais do grupo G (15,53 vs 18,29 kg de

MS). Este aumento no CMS, associado à maior densidade energética da

dieta G, fez com que eleva-se o consumo de energia líquida para os animais

do grupo G após o parto (28,22 vs 32,61 Mcal/dia; P< 0,05). Verificou-se

aumento nas concentrações plasmáticas de colesterol total (54,23 vs 73,68

mg/dL) e colesterol HDL (52,59 e 61,42 ml/dL) mas não houve alteração

nas concentrações de progesterona (2,35 vs 2,47 ng/mL). Verificou-se também

aumento na população de folículos ovarianos da classe 1 (P<0,05),

principalmente entre os dias 26 e 31 após o parto, quando o consumo de

energia foi maior para este grupo. Os animais dos grupos C e G

desenvolveram 13,40 e 12,63, 6,90 e 7,38, 2,90 e 4,78 folículos das classes

2, 3 e 4, respectivamente. O diâmetro médio do maior folículo foi afetado

pela dieta (P = 0,53), com valores de 1,46 ± 0,22 e 1,74 ± 0,37 cm para os

grupos C e G respectivamente. Verificou-se menor intervalo 1 - 2ª ovulação

com valores de 29,50 vs 23,13 dias para grupo C e G, respectivamente. As

dietas não afetaram a área do corpo lúteo, contudo, houve correlação (r =

0,50; P < 0,01) entre esta característica e o diâmetro do folículo

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71

ovulatório.O primeiro estro no pós-parto ocorreu 27 dias após a segunda

ovulação para o grupo G contra 60 dias para o C. Houve redução de 39 dias

no intervalo parto-1º estro, de 46,37 dias no intervalo Parto – 1º IA (P =

0,08) e de 42,89 dias no intervalo de parto para os animais do Grupo G. O

período de serviço e o número de serviços por concepção foram de 152,67 e

106,89 dias e 1,33 e 1,50 doses para os grupos C e G, respectivamente. O

fornecimento de energia adicional na forma de gordura melhorou o estado

energético negativo da vaca, pois o retorno ao estro ocorreu mais

precocemente após o parto e, dessa maneira, pôde conceber mais cedo.

Palavras-chave: período de transição, gordura dietética, vacas leiteiras, dinâmica ovariana,

colesterol, progesterona, desempenho reprodutivo

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72

OVARIAN ACTIVITY AND REPRODUCTIVE PERFORMANCE OF

HIGH PRODUCING DAIRY COWS SUPPLEMENTED WITH DIETARY

FAT DURING THE TRANSITION PERIOD

ABSTRACT - – The aim of this study was to evaluate the energy balance and body

conditions and weight changes of dairy cows supplemented with dietary fat during

the transition period. Twenty pregnant Holstein cows were randomly assigned into

two treatments: C = Control diet (3% of EE in DM); and G = Fat diet (6% of EE in

DM). The average DMI did not differ during the pre and pos-partum for both

groups (P < 0,05; 10,73 and 9,95 kg DM to group C and 16,06 and 17,81 kg of

DM to group G). However, in the fourth lactation week, animals from group G had

a higher DMI than group C (15,53 vs 18,29 kg de DM). The increase in the DMI

associated with a higher energy density of the G diet was the responsible for a

higher liquid energy intake for the animals G group in the pos-partum (28,22 vs

32,61 Mcal/day; P< 0,05). A higher total and HDL cholesterol concentration was

verified for group G (54,23 vs. 73,68 mg/dL and 52,59 vs. 61,42 ml/dL).

Differences in plasma progesterone concentration were not significant in the

experimental period. A higher number of class 1 follicles also were verified to

group G animals principally between the 26 – 31 days after partum (P < 0,05),

when this group had an increase in energy intake. The number of class 2 and 3

were not different among the groups. Dominant follicle average diameter was

affected by diet (P = 0,53), animals from group G had a higher diameter than

group C (1,46 vs. 1,74 cm). The reproductive performance was better for group G

animals, when evaluated the interval from first to second ovulation (23,13 vs.

29,5), days to first ovulation pos-partum ( 42,89 vs. 46,37 days), open days

(106,89 vs. 152,67 days) and IA per conception (1,33 vs. 1,5 doses). In conclusion,

dairy cows supplemented with dietary fat during the transition period had a better

energy balance and an early return to estrus.

Key-words: cholesterol, dairy cows, dietary fat, follicular dinnamic, reproductive performance,

progesterone, transition period.

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73

1. INTRODUÇÃO

Um bom manejo de vacas leiteiras integra fatores reprodutivos aos

programas nutricionais do rebanho, a fim de aperfeiçoar tanto o desempenho

reprodutivo como o produtivo. Para se conseguir estas respostas de produtividade,

é fundamental atingir alto consumo de energia com o objetivo de reduzir o status

energético negativo o mais rápido possível após o parto. A adição de gordura na

dieta de vacas tem sido utilizada com esta finalidade, ou seja, aumentar a

densidade energética da dieta, além de ser uma alternativa para reduzir custos com

alimentação.

Em fêmeas bovinas, a ocorrência da ovulação durante o pós-parto é

influenciada pela habilidade do eixo hipotalâmico-hipofisário para secretar

gonadotrofinas. Uma complexa arquitetura de interações endócrinas, autócrinas e

parácrinas conduzem o estabelecimento da capacidade esteroidogência ovariana e

o desenvolvimento de um folículo dominante até a competência ovulatória. O

estádio final deste processo está relacionado à habilidade do eixo hipotalâmico-

hipofisário para gerar um padrão adequado de liberação de gonadotrofinas, o qual

pode ser influenciado por vários fatores extrínsecos e intrínsecos. O resultado

destes fatores sobre a atividade ovariana tem sido estudado primeiramente pelos

seus efeitos no eixo hipotalâmico-hipofisário ou no ambiente hormonal e

metabólico. Apesar da necessidade de suficiente suporte gonadotrófico, o ambiente

metabólico dentro do folículo deve ser considerado um potencial e independente

modulador da capacidade esteroidogênese e maturacional (Wehrman et al., 1991).

O status do metabolismo de lipídios pode influenciar o status reprodutivo de

vacas após o parto, desde que estes, em particular o colesterol, tenham sido

reconhecidos como precursores da esteroidogênese ovariana (Grummer e Carroll,

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1988). Esta relação parece ser independente de mudanças na secreção de

gonadotrofinas e pode ter particular importância durante o período de transição em

vacas leiteiras, quando restrições dietéticas têm maiores influências (Randel,

1990).

A suplementação lipídica tem influenciado positivamente o desempenho

reprodutivo de vacas em lactação, alterando a função do folículo ovariano e do

corpo lúteo por meio do aumento do status energético e pelo aumento de

precursores para a síntese de hormônios reprodutivos tais como esteróides e

prostaglandinas (Mattos et al., 2000). De fato, diversos são os benefícios da adição

de lipídios sobre os parâmetros reprodutivos em vacas leiteiras, como aumento do

número de folículos grandes (acima de 8 mm), maior número de folículos

recrutados, aumento nas concentrações de estradiol e progesterona circulantes,

redução da secreção de PGF2a medida por meio de metabólito PGFM, maior

diâmetro do folículo dominante e do corpo lúteo subseqüente, encurtamento do

intervalo parto-1º cio e na melhoria do desempenho reprodutivo em geral (Grumer

e Carroll, 1988; Williams, 1996; Staples et al., 1998).

Na maioria das vacas leiteiras, o desenvolvimento de folículos dominantes

no ovário ocorre nos estádios iniciais do pós-parto. Porém, a competência

funcional destes folículos varia de acordo com o status energético em que a

maioria desses folículos surgiu (Beam e Butler, 1997). Com o advento da ultra-

sonografia, tem-se observado que o folículo dominante é maior nas vacas lactantes

suplementadas com gordura.

O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da adição de gordura 30 dias pré-

parto até 60 dias no pós-parto sobre a atividade ovariana e o desempenho

reprodutivo de vacas leiteiras de alta produção.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido no Setor de Bovinocultura de Leite

(Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite, UEPE-GL),

Departamento de Zootecnia, na Universidade Federal de Viçosa, MG, e no

Laboratório de Reprodução Animal do Departamento de Zootecnia da referida

instituição, no período de março de 2003 a maio de 2004.

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Foram utilizadas 20 vacas holandesas, pluríparas (4,15 ± 2,13 partos),

gestantes, com peso vivo médio aos 28 dias pré-parto de 712,02 ± 65,20 kg e

escore de condição corporal médio igual a 3,16 ± 0,53 (escala de 0 a 5; Wildman

et al., 1982; Edmonson et al., 1989).

Os animais foram balanceados quanto a idade, peso corporal, escore de

condição corporal, número de lactações e produção de leite na lactação anteriores

e distribuídos em dois grupos: dieta controle (C; 3% extrato etéreo (EE) na

matéria seca (MS); n = 10) e dieta gordura (G; 6% de EE na MS; n = 10),

começando 28 dias pré-parto até 60 dias no pós-parto.

As dietas foram formuladas conforme as recomendações do National

Research Council (NRC 2001) para cada período (pré e pós-parto) e produção de

leite durante a lactação (Tabela 1).

Tabela 1. Critérios utilizados para cálculo das exigências nutricionais dos grupos

Controle (C) e Gordura (G)

Pré-Parto Pós-Parto

Idade (meses) 58,0 60,0

Peso vivo (kg) 650,0 600,0

Dias de gestação 250 0

Escore de condição corporal (ECC) 3,0 2,5

Dias em lactação 0 30

Número de lactações 3 3

Idade ao primeiro parto (meses) 30 30

Intervalo de Parto (meses) 13 13

Produção de leite (kg / dia) - 35,0

Gordura no leite (%) - 3,80

Proteína bruta no leite (%) - 3,23

As análises químico-bromatológicas dos ingredientes das dietas foram

realizadas de acordo com os procedimentos do Laboratório de Nutrição Animal do

Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (Silva e Queiroz,

2002) e, em seguida, a dieta C foi calculada para oferecer, aproximadamente, 3%

de extrato etéreo (% MS). A dieta G foi calculada para oferecer,

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aproximadamente, 6% de EE (% MS) via adição de óleo de soja (Tabela 2).

As dietas foram similares na composição, exceto para o extrato etéreo e a

energia liquida, devido à adição de óleo de soja. A energia da dieta G pré-parto

apresentou 0,12 Mcal/kg de MS e a dieta de lactação apresentou 0,10 Mcal/kg de

MS que suas respectivas dietas controle.

Tabela 2. Ingredientes e composição nutricional das dietas durante os períodos pré e pós-parto

como porcentagem da matéria seca (MS)

Pré-Parto Pós-Parto Ingredientes

Controle Gordura Controle Gordura

% da Matéria Seca

Silagem de milho 81,72 81,81 45,02 45,10

Fubá de milho 10,77 7,49 28,93 26,04

Farelo de soja – 48% PB 4,95 4,70 22,35 21,71

Óleo de soja - 3,30 - 3,25

Uréia 1,19 1,33 - 0,21

Núcleo mineral 1,10 1,10 3,02 3,02

Sulfato de amônio 0,16 0,16 - -

Premíx vitamínico 0,12 0,12 0,03 0,03

Bicarbonato de sódio - - 0,65 0,64

Composição

PB1 % da MS 12,3 12,3 17,7 17,7

PDR2 % da PB 9,6 9,8 11,0 11,3

PNDR3 % da PB 2,7 2,5 6,7 6,4

NEl4 Mcal / kg MS 1,42 1,54 1,61 1,71

FDN5 % da MS 45,9 45,6 29,4 29,1

FDN, % da MS (forragem) 44,4 44,4 24,4 24,5

FDA6, % da MS 26,4 26,3 16,6 16,5

NDT7(1x) , % da MS 62,0 66,0 70,0 73,0

EE8, % da MS 2,1 5,3 2,4 5,5

CNF9, % da MS 35,1 32,3 43,7 40,9

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1PB – Proteína Bruta 2PDR – Proteína Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 3PNDR – Proteína Não Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 4NEl - Energia Líquida 5FDN – Fibra Solúvel em Detergente Neutro 6FDA – Fibra Solúvel em Detergente Ácido 7NDT – Nutrientes Digestíveis Totais (nível de mantença) 8EE – Extrato Etéreo 9CNF – Carboidrato Não Fibroso

As vacas que receberam a dieta G foram alimentadas com a dieta C antes do

início do período experimental, com substituição parcial da dieta-controle antes da

4ª semana pré-parto na proporção de 20%, até chegar a 100% da dieta G. Foi

considerado o primeiro dia experimental no início da 4ª semana pré-parto, quando

cada animal consumiu sua ração completa. A água e o sal mineral foram

fornecidos ad libitum.

Os animais foram mantidos em baias individuais, sendo arraçoados duas

vezes ao dia (as 07:00 h e às 15:00 h). A quantidade de volumoso e concentrado

foi ajustada diariamente para manter uma sobra entre 5 e 10% de MS. A

quantidade total de volumoso mais concentrado a ser oferecido para cada animal e

também das sobras do dia anterior foram pesadas diariamente.

Amostras de silagem e sobras foram coletadas diariamente e armazenadas em

sacos plásticos a -20 ºC, até completar o período de sete dias, compondo uma

amostra semanal. Este procedimento foi repetido até o final do período

experimental, para posterior análise química. Amostras do concentrado foram

obtidas quinzenalmente e armazenadas em sacos plásticos a -20º C.

Todos os animais foram pesados e avaliados quanto ao ECC uma vez por

semana, por um técnico treinado, segundo metodologia desenvolvida por

Edmonson et al. (1989), a partir de uma escala biológica de 1 a 5, com sub-

unidades de 0,25 pontos, em que 1 representa uma vaca muito magra e 5 muito

gorda. No dia do parto, os animais também foram pesados e avaliados quanto ao

escore de condição corporal (ECCP).

Informações relacionadas à produção de leite eram obtidas diariamente após

as ordenhas, e as amostras de leite foram coletadas semanalmente para a avaliação

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da porcentagem de gordura. A produção de leite foi corrigida para 3,5% de

gordura segundo fórmula descrita por Sklan et al. (1994).

O balanço de energia líquida (NEL) foi assim: Ingestão de NEL –

Requerimento de NEL para mantença – Requerimento de NEL para produção de

leite. Os exigências nutricionais foram estimadas conforme NRC (2001), e os

cálculos realizados por meio do software Nutrient Requirements of Dairy Cattle

(versão 1.0; Clark, 2000).

Para a avaliação da atividade ovariana, utilizou-se um aparelho de Ultra-som

portátil, marca ALOKA, modelo SSD-500, acoplado a um transdutor linear de 5

MHz. Foi realizada ultra-sonografia transretal, diariamente, iniciando após o 15º

dia no pós-parto até o 60º dia, pela manhã, antes do fornecimento da dieta. A

principio, tentou-se iniciar a ultra-sonografia a partir do sétimo dia após o parto,

mas dificuldades decorrentes da involução uterina (feridas na mucosa retal,

útero/ovário na cavidade abdominal e etc) em alguns animais impossibilitaram a

sua execução, optando-se por padronizar a partir do 15º dia. Foram estudadas as

variáveis: duração do período inter-ovulatório, emergência do 1°, 2° e 3° folículos

dominantes, persistência do folículo ovulatório, emergência das ondas de

crescimento folicular, número de folículos recrutados por onda de crescimento

folicular, número de folículos dentro das classes: 1, 2, 3, 4 (de 0,3 – 0,5, de 0,6 –

0,9, 1,0 -1,5 e folículos > 1,5 cm de diâmetro) respectivamente, diâmetro máximo

dos folículos dominantes, taxa de crescimento folicular e o número de ondas de

crescimento folicular, bem como a identificação do CL e mensuração de sua área.

Cavidades luteais também foram mensuradas.

O estro foi monitorado duas vezes ao dia, durante 1 hora, às 6h 30 e às 17h

30 , sendo consideradas em estro as fêmeas que aceitaram a monta pelas

companheiras de rebanho.

A partir de 60 dias no pós-parto as vacas detectadas em estro foram

inseminadas 12 horas após o início do estro, com sêmen de fertilidade

comprovada. Os parâmetros reprodutivos avaliados foram: involução uterina com

retorno à região pélvica (Parto-Pelv), intervalo parto a 1ª ovulação (Parto-1ª ovul.),

intervalo de ovulações (1-2ª ovul.), intervalo parto ao primeiro estro (IPE),

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intervalo parto a primeira inseminação (IPIA), período de serviço (PS), número de

serviços por concepção (NSC) e intervalo de partos (IP).

Amostras de sangue foram obtidas uma vez por semana, iniciando no dia -30

(pré-parto) até o 60º dia pós-parto para determinação de colesterol total, colesterol

HDL e progesterona, utilizando-se kits comerciais. A coleta de sangue foi

realizada previamente ao exame ultra-sonográfico, em estado pré-prandial, em dois

tubos vacuolizados com anticoagulante (EDTA), pela punção da artéria ou veia

coccígea. As amostras foram centrifugados a 3.000 rpm por 15 min, para a

obtenção do plasma e prontamente acondicionados em frasco esterilizado,

identificado e estocado a uma temperatura de -20 °C, até posterior análise

laboratorial.

As variáveis concentração de colesterol total, colesterol HDL e progesterona

foram analisadas pelo procedimento PROC MIXED do SAS (SAS, 1999),

utilizando-se um modelo linear misto para medidas repetidas no tempo. Este

procedimento permitiu melhor ajuste na estrutura da matriz, que descreve as

covariâncias de medidas repetidas no tempo. Foram considerados os efeitos fixos

de tratamento (dietas), dias em lactação e interação tratamentos x dias em lactação.

Os efeitos de vacas dentro de classes foram considerados aleatórios.

Para as características reprodutivas, foram realizadas análises de

variância, sendo empragado, nas comparações entre médias o teste F, adotando-se

5% de probabilidade de erro, utilizando o procedimento GLM do SAS (SAS,

1999). Para as freqüências de animais em estro até 120 dias, inseminação até 120

dias e animais gestantes foi realizado o teste Qui-Quadrado, com 5% de

probabilidade de erro.

3. RESULTADO E DISCUSSÃO

Na Tabela 3 estão sumariados as médias do consumo de matéria seca (CMS;

kg), CMS em porcentagem do peso vivo (CMS % PV), extrato etéreo (EE),

nutrientes digestíveis totais (NTD), energia líquida (NEL), produção de leite total

(PL) e produção de leite corrigido para 3,5% de gordura (PLC), segundo o tipo de

dieta.

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Tabela 3 – Médias para CMS pré e pós-parto, CMS em porcentagem do peso vivo (% PV),

consumos de extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais (NTD), energia

líquida (NEL), produção de leite total (PL) e produção de leite corrigido para 3,5%

de gordura (PLC) dos animais alimentados com dieta controle (C) ou gordura (G)

durante o período de transição.

Controle Gordura

Pré - Parto1

CMS (kg/dia) 10,73 ± 2,87 9,95 ± 1,80

CMS (% PV) 1,51 ± 0,37 1,37 ± 0,26

EE (kg/dia) 0,234 ± 0,085b 0,607 ± 0,090a

NDT (kg/dia) 6,70 ± 1,83 6,51 ± 1,24

NEL (Mcal/dia) 15,38 ± 4,05 15,49 ± 2,89

Pós – Parto2

CMS (kg/dia) 16,02 ± 3,71 17,81 ± 3,62

CMS (% PV) 2,76 ± 0,70 3,01 ± 0,62

EE (kg/dia) 0,408 ± 0,09b 1,022 ± 0,22a

NDT (kg/dia) 11,16 ± 2,70b 13,01 ± 2,67a

NEL (Mcal/dia) 28,22 ± 5,79b 32,61 ± 6,99a

PL (kg/dia) 31,88 ± 5,06 34,41 ± 6,51

PLC (kg/dia) 36,34 ± 6,29 36,02 ± 8,30 1 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,1% da MS) 1 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,3% da MS) 2 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,4% da MS) 2 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,5% da MS) a,b Médias com diferentes letras sobrescritas na mesma linha diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste

t.

O CMS e a ingestão de energia aumentou durante as semanas após o parto

(P<0,01), mas não foi afetado pela dieta no pré nem no pós-parto (Tabela 3). Os

animais do grupo G consumiram 1,79 kg de MS a mais que o grupo C após o

parto, resultando em maior consumo de NDT e, consequentemente, NEL (P< 0,05).

Como esperado, foram verificados no pré-parto e pós-parto, para as vacas dos

grupos C e G, consumos de 0,234 ± 0,08 e 0,408 ± 0,09, e 0,607 ± 0,09 e 1,02 ±

0,22 kg de EE por dia, respectivamente (P<0,05). Não foi verificada diferença na

PL nem na PLC entre os animais dos tratamentos, sendo que o grupo G produziu,

em média, 2,53 kg (7,93%) de leite a mais que o grupo C durante os primeiros 60

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dias de lactação. Resultados similares foram observados por Schingoethe e Casper

(1991).

A produção média de leite, o ECCP, o peso corporal ao parto, o ECC aos

60 dias e o peso corporal aos 60 dias foram de 31,88 ± 5,06 e 34,41 ± 6,51 kg/dia,

3,10 ± 0,47 e 3,15 ± 0,44, 640,10 ± 62,33 e 651,33 ± 50,31, 2,40 ± 0,33 e 2,50 ±

0,23 e 565,80 ± 37,28 e 580,44 ± 40,38 para os grupos C e G, respectivamente, e

não diferiram entre os animais dos tratamentos.

Com relação ao peso corporal, houve interação entre as dietas utilizadas e

as semanas em relação ao parto. Os animais do grupo G mostraram queda mais

acentuada de peso nas primeiras quatro semanas de lactação, provavelmente

devido à maior produção de leite verificada neste periodo comparado ao grupo C,

e não sendo acompanhado, concomitantemente, pelo aumento no CMS. Na quarta

semana houve aumento no CMS (P < 0,05) para os animais do grupo G,

melhorando o balanço de energia (P = 0,02) e diminuindo a perda de peso. Como o

status energético continou melhorando nas semanas seguintes, os animais do grupo

G estabilizaram a perda de peso e começaram a ganhar peso a partir da sétima

semana, adquirindo 0,122 kg/dia, enquanto os animais do grupo C continuaram a

perder peso (- 0,382 kg/dia), até o final do período avaliado.

As vacas de todos os tratamentos manifestaram balanço energético negativo

(BEN) no início da lactação. As do grupo C e G atingiram o ponto máximo de

BEN na segunda (-12,38 Mcal/dia) e primeira (-9,41 Mcal / dia) semana de

lactação, respectivamente. Não foi verificado efeito de tratamento sobre o BEN,

exceto na quarta semana (P = 0,02), em que as vacas do grupo G apresentaram um

BEN de -3,0 Mcal/dia enquanto as vacas do grupo C apresentaram um BEN igual

a – 9,14 Mcal/dia. Esta diferença no BEN apresentado na quarta semana pode ser

explicado pelo maior CMS neste mesmo período (P < 0,05), além da maior

densidade energética da dieta. Contudo, houve interação entre tratamento e tempo

( P<0,05). De forma geral, as vacas do grupo G tiveram melhor status energético

que o grupo C, com menor magnitude e duração em BEN. Os animais do grupo G

começaram a melhorar o balanço de energia a partir da terceira semana de

lactação, enquanto nos animais do grupo C, isto só foi verificado a partir da quarta

semana, porem com taxa menor que do grupo G. Verificou-se que as vacas do

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grupo G atingiram o balanço positivo de energia na oitava semana (60 dias de

laçtacão) enquanto as do grupo C permaneceram em BEN após o período

experimental. Neste estudo, o BEN médio, durante as primeiras nove semanas de

lactação, foi – 7,94 ± 3,08 e -3,40 ± 3,83 para os grupos C e G, respectivamente.

Beam e Butler (1997) verificaram resultados similares, com os animais

suplementados com maiores níveis de gordura apresentando balanço de energia

diário menos negativo durante o período de suplementação (primeiras seis

semanas após o parto). O BEN médio foi – 6,72 ± 1,03, – 5,01 ± 1,08 e – 2,78 ±

1,08 para os grupos de baixa (controle), média e alta gordura, respectivamente.

Na Figura 1 estão sumariadas as médias da concentração de colesterol

plasmática total nas quatro semanas pré-parto, no dia do parto e nas primeiras oito

semanas pós-parto, de acordo com as dietas utilizadas. A concentração de

colesterol plasmático diminuiu lentamente até a segunda semana pré-parto, quando

pôde ser observado rápido declínio atingindo sua menor concentração na primeira

semana após o parto, seguido por um aumento significativo até a sexta semana

após o parto. Provavelmente, a diminuição da concentração de colesterol

plasmático inclui a utilização de colesterol pelo feto (Arave et al., 1975) e a

utilização do colesterol para síntese de progesterona ou hormônios da adrenal

(Gueorguieva e Gueorguiev, 1997). Já a elevação da concentração plasmática de

colesterol após o parto pode estar relacionada à lactogênese (Shweigert, 1990).

Houve efeito da dieta sobre as concentrações de colesterol total no pré-parto

e no parto (P < 0,01). Como observado na Figura 1, a concentração de colesterol

total foi superior durante todo o pré-parto e a partir da terceira semana após o parto

nos animais suplementados com gordura. Este aumento na concentração de

colesterol total no pós-parto coincidiu com o maior consumo de materia seca para os

animais do grupo G, neste mesmo período. Os animais dos grupos C e G apresentaram

concentrações plasmáticas médias de 54,23 ± 20,54 e 73,68 ± 20,14 mL/dL, respectivamente.

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30.0

50.0

70.0

90.0

110.0

130.0

S-4 S-2 PARTO S2 S4 S6 S8

Semanas Peri-Parto

Co

lest

ero

l (m

g/d

L)

C G

Figura 1. Concentração de colesterol plasmático total da quarta semana pré-parto (S-4) até a oitava

semana após o parto (S8) dos animais dos grupos controle (C) e gordura (G).

Bean e Butler (1997) verificaram aumento na concentração de colesterol

plasmático total do dia 3 até dia 28 após o parto em todos os grupos experimentais,

sendo maior (P< 0,01) para os grupos suplementados com gordura a partir do dia

21 após o parto. Guédon et al. (1999) notaram que a concentração plasmática de

colesterol foi fortemente influenciada pelo status fisiológico e significativamente

maior durante os primeiros cinco meses de lactação comparado aos últimos dois

meses de gestação. Wehrman et al. (1991) observaram aumento de 1,7 vez na

concentração de colesterol total e colesterol HDL 21 dias após o parto em vacas

suplementadas com dietas hiperlipidêmica.

Na Figura 2 estão descritas as médias da concentração de colesterol HDL

plasmática nas quatro semanas pré-parto, no dia do parto e nas oito semanas pós-

parto, em razão das dietas utilizadas. Na análise de HDL pré-parto houve uma

interação entre tratamento e tempo (P = 0,09), em que o tratamento com gordura

adicional apresentou maior concentração plasmática de HDL no período pré-parto

e no parto em relação ao tratamento-controle. No período pós-parto as

concentrações de HDL seguiram o mesmo comportamento do pré-parto. No

entanto, o nível de significância foi maior para a interação tratamento e tempo

(P<0,027). Estes resultados são esperados em virtude da suplementação dietética

de com óleo de soja aumentar os metabólitos relacionados com o metabolismo de

lipídeos.

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30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

S-4 S-3 S-2 S-1 PARTO S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8

Semanas Peri-Parto

Col

este

rol

- H

DL

(m

g/dL

)

C G

Figura 2. Concentração de colesterol HDL da quarta semana pré-parto (C-4) até a oitava semana

após o parto (C8) dos animais dos grupos controle (C) e gordura (G).

O HDL é a forma predominante de colesterol em bovinos. Alta concentração

de colesterol plasmático em bovinos reflete uma alta concentração de HDL

(Grummer e Carroll, 1988). A lactogênese e a suplementação com gordura

dietética aumentam o colesterol HDL plasmáticos. Após uma dieta com

suplemento lipídico, ocorre elevação na concentração de colesterol no sangue

bovino, encontrado principalmente em lipoproteínas de alta densidade (HDL; 90 a

95%). A maioria do colesterol nos ovários chega pelo transporte direto das

lipoproteínas do sangue ou pela síntese de novo (Grummer e Carroll, 1988).

Wehrman et al. (1991) verificaram aumento na concentração de colesterol total e

colesterol HDL dentro do fluído folicular 21 dias após o parto e, essencialmente,

todo o colesterol apresentado dentro do folículo parece estar associado à fração

HDL. Conforme estes autores, folículos classificados com estrógeno-ativos

demonstraram uma ativação de um sistema de transporte seletivo para HDL

através da membrana basal folicular durante o puerpério. Resultados similares

foram obtidos por Ryan et al. (1992) e Santos (2005; dados não publicados)

trabalhando com novilhas suplementadas com gordura dietética.

Um animal do grupo C foi excluído das análises dos dados reprodutivos

por não apresentar onda de crescimento folicular com dominância durante os

primeiros 60 dias após o parto. Um outro animal, do grupo G, foi excluído por

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85

apresentar cisto folicular durante o mesmo período. Em média, os animais dos

grupos C e G apresentaram 1,50 ± 0,71 e 2,0 ± 0,00 ciclos ovarianos, caracterizado

pelo número de ovulações durante os primeiros 60 dias após o parto,

respectivamente. O número de dias até a detecção de um folículo ≥10 mm de

diâmetro e a taxa de crescimento até o maior diâmetro foram 10,67 ± 2,31 e 10,50

± 0,58 dias e 0,16 ± 0,07 e 0,19 ± 0,06 cm/dia para os grupos C e G,

respectivamente. No total, foram observados 5,11 ± 0,78 e 4,86 ± 0,38 ondas de

crescimento folicular para os grupos C e G, respectivamente.

Houve efeito da dieta sobre a população de folículos da classe 1 (0,3 – 0,6

cm; P < 0,05), notadamente entre os dias 26 a 31 pós-parto (Figura 3). Não foi

verificado efeito da dieta sobre as demais classes de folículos. Durante os

primeiros 60 dias após o parto, os animais dos grupos C e G desenvolveram 13,40

± 3,37 e 12,63 ± 3,02; 6,90 ± 2,23 e 7,38 ± 2,50; 2,90 ± 2,02 e 4,78 ± 2,86

folículos das classes 2 (0,6 – 0,9 cm), 3 (0,9 – 1,5 cm) e 4 (> 1,5 cm),

respectivamente. O diâmetro médio do maior folículo foi influenciado pela dieta

(P = 0,053), com valores de 1,46 ± 0,22 e 1,74 ± 0,37 cm para os grupos C e G

respectivamente. Esta diferença foi verificada principalmente na terceira onda

quando o folículo dominante apresentou valores de 1,25 ± 0,23 e 1,69 ± 0,34 (P<

0,01).

1

2

3

4

5

6

7

15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59

Dias Pós-Parto

Fo

lícu

los

Cla

sse

1

C G

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86

Figura 3. Desenvolvimento de folículos da Classe 1 (0,3 – 0,6 cm) durante os

primeiros 60 dias após o parto para os animais alimentados com dieta

controle (C) ou suplementados com gordura (G).

A emergência de um folículo dominante durante a segunda semana após o

parto demonstra que o desenvolvimento de um folículo de tamanho pré-ovulatório

(1,69 ± 0,36 e 1,87 ± 0,46 cm, para os grupos C e G, respectivamente) não é um

fator limitante no restabelecimento da atividade reprodutiva após o parto em vacas

leiteiras lactantes, e que o início de uma onda folicular, inclui recrutamento e

seleção de um folículo dominante, independentemente do balanço energético

negativo típico desde período. O número de folículos da classe 1, representando a

população de folículos recrutados, foi correlacionado com do balanço energético.

Conforme, discutido acima, houve diferença no status energético (P < 0,05) a

partir da quarta semana após o parto, quando os animais do grupo G apresentaram

redução do BEN, coincidindo com o aumento no pool de folículos ovarianos da

classe 1. Uma relação entre o balanço de energia e aumento de folículos classe 1

necessita ser demonstrada durante os estágios iniciais de lactação.

Lucy et al. (1991) verificaram aumento na população de folículos das classes

1 e 4 após a retirada do implante de progesterona no dia 25 após o parto em vacas

suplementadas com gordura, e no diâmetro do maior e segundo maior folículo.

Vacas suplementadas com gordura dietética têm demonstrado aumento na

concentração plasmática e folicular de colesterol total e colesterol-HDL (Wehrman

et a., 1991; Beam e Butler, 1997), e aumento da habilidade das células da

granulosa para secretar pregnenolona e progesterona in vitro (Wehrman et al.,

1991; Ryan et al., 1992). Neste estudo, as vacas suplementadas com gordura

apresentaram maior concentração de colesterol plasmática total a partir da terceira

semana (dia 21), coincidindo com o aumento na população de folículos da classe

1, com aumento do diâmetro do folículo ovulatório (1,34 ± 0,31 e 1,71 ± 0,50 cm

para os grupos C e G, respectivamente; P < 0,05), bem como intervalo médio da

primeira ovulação após o parto (25,66 dias).

Guédon et al. (1999) observaram interação entre concentração sérica de

colesterol e primeira ovulação após o parto. Neste estudo, vacas que retornaram a

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87

atividade cíclica ovariana mais cedo tiveram maior concentração de colesterol

sérico da segunda semana pré-parto até a quarta semana após o parto.

A suplementação com lipídios também tem estimulado o aumento da

concentração sérica de hormônio de crescimento (GH), que coincide com um

aumento no acúmulo de IGF-1 no fluido folicular, sem afetar o IGF-1 periférico

(Thomas e Williams, 1996). Há evidências de que o GH pode estimular

diretamente mRNA para IGF-1 dentro das células da granulosa (Yoshimura et al.,

1994).

Na Figura 3 estão descritas as médias da concentração de progesterona

plasmática nas duas semanas no pré-parto, no dia do parto e nas oito semanas mo

pós-parto, em razão das dietas utilizadas. Não houve efeito (P>0,05) da dieta sobre

a concentração de progesterona, com médias de 2,35 ± 2,67 e 2,47 ± 2,86 ng/mL

para os grupos C e G, respectivamente. Em vários estudos foi citada a elevação da

concentração plasmática de progesterona, quando os animais foram suplementados

com gordura dietética (Lucy et al., 1993; Son et al., 1996). Neste estudo, o mesmo

não foi verificado, provavelmente devido ao ‘status’ fisiológico dos animais

durante o período avaliado.

0.00

1.00

2.00

3.00

4.00

5.00

6.00

7.00

8.00

S-2 Parto S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8

Semanas de Coleta

Prog

este

rona

(ng

/mL

)

C G

Figura 3. Concentração de progesterona plasmática na segunda semana pré-parto (C-2) até a oitava

semana após o parto (C8) dos animais dos grupos controle (C) e gordura (G).

Harrison et al. (1990) encontraram alta correlação (r = 0,88) entre produção

de leite e ingestão de matéria seca, ou seja, as vacas que apresentavam maior

ingestão de matéria seca também produziam mais leite. Contudo, em um estudo

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88

realizado por Parr et al. (1993), foi verificada uma relação inversa entre o nível de

ingestão de alimentos e a concentração de progesterona plasmática e atribuíram

esta diferença à maior taxa de “clearance” de progesterona no fígado, ao invés de

mudanças em sua taxa de produção. A taxa média de fluxo sanguíneo na veia porta

esteve diretamente relacionada ao nível de alimentação, e o fígado apresentou

eficiência de 96% na remoção da progesterona, levando a menores concentrações

de progesterona circulante.

As concentrações plasmáticas de progesterona foram inferiores a 1 ng mL

nas primeiras três semanas após o parto, indicando ausência de atividade luteal.

Com o aumento do número de dias, as concentrações começaram a se elevar,

indicando início da atividade luteal. Neste experimento, a primeira ovulação após

o parto ocorreu nos dias 25,89 ± 12,04 e 25,44 ± 9,95 após o parto, para os grupos

C e G, respectivamente, o que explica a elevação nas concentrações de

progesterona do dia 21 (S3) ao dia 28 (S4) após o parto. As concentrações

voltaram a diminuir do dia 42 (S6) ao 49 (S7) para o grupo C e do dia 35 (S5) ao

42 (S6) para os grupo G, uma semana de diferença entre os grupos C e G, quando

novamente se elevaram, sugerindo nova ovulação. O intervalo da primeira à

segunda ovulação para os grupos C e G foram, respectivamente, 29,50 ± 7,42 e

23,13 ± 6,38 dias.

Hawkins et al. (1995) utilizaram novilhas gestantes para determinar se o

aumento nas concentrações de lipídios séricos alteraria a área ocupada por gotas

lipídicas nas células esteroidogênicas luteais e a taxa de liberação de progesterona

para o soro destes animais. As vacas que receberam o tratamento lipídico tiveram,

aproximadamente, duas vezes mais colesterol total, HDL e progesterona no soro

comparado ao grupo-controle (P < 0,05). Também, a área ocupada por gotas

lipídicas foi maior nas vacas tratadas que no grupo-controle (P<0,05).

Conforme Bao et al. (1995), a habilidade de dietas com alto teor de gordura

em promover aumento na incidência de função luteal normal e estimular o

crescimento folicular está, também, relacionada aos seus efeitos nos eventos

mediados pelas lipoproteínas em nível celular. A HDL, junto com outra

lipoproteína de baixa densidade (LDL), promove a viabilidade das células da

granulosa in vitro, independentemente do tipo de folículo, aumento da proliferação

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in vitro de células derivadas da teca de folículos pré-ovulatórios, aumento da

androstenediona nas células da teca e da produção de IGF-1 nas células da

granulosa. A HDL foi mais potente em estimular a produção de progesterona pelas

células da granulosa e teca, e LDL atenuou a produção de progesterona estimulada

pelo HDL.

Na Tabela 5 estão sumariados as médias do intervalo parto retorno do útero à posição

pélvica (Parto-Pel), intervalo parto-primeira ovulação (parto-1ªovul), intervalo da primeira à

segunda ovulação (Int. 1-2ªovul,), área do corpo lúteo (área do CL), intervalo parto-primeiro estro

(Parto-1ºestro), intervalo parto primeira inseminação (parto-1ª IA), número de serviço por

concepção (Nº serviço / concepção), período de serviço (per. serviço) e intervalo de partos (int.

partos), segundo o tipo de dieta.

Tabela 5. Média (± desvios-padrão), número de observações, média geral e coeficiente de variação

do intervalo parto retorno do útero a posição pélvica (parto-pel), intervalo parto-

primeira ovulação (parto-1ºovul), intervalo primeira a segunda ovulação (int. 1-

2ªovul,), área do corpo lúteo (área do CL), intervalo parto primeiro estro (Parto-

1ºestro), intervalo parto primeira inseminação (parto-1ªIA), número de serviço por

concepção (Nº serviço / concepção), período de serviço (per, serviço) e intervalo de

partos (int, partos)

Tratamento Variável

(n) Controle (n) Gordura

Média

Geral

C,V,

(%) P <

Parto-pel (dias) (9) 22,33 ± 7,05 (10) 18,60 ± 3,75 20,36 27,2 0,16

Parto-1ªovul (dias) (9) 25,89 ± 12,04 (9) 25,44 ± 9,95 25,66 43,5

Int. 1-2ªovul (dias) (5) 29,50 ± 7,45 (10) 23,13 ± 6,38 25,85 26,4 0,11

Área do CL (cm2) (9) 4,89 ± 1,13 (9) 5,28 ± 0,94 5,08 20,4

Parto-1ª estro (dias) (10) 115,60 ± 84,36 (10) 76,20 ± 30,75 95,90 66,2 0,18

Parto-1ª IA (dias) (9) 140,67 ± 75,85 (10) 94,30 ± 23,39 116,26 47,0 0,08

Nº serviço/concepção (9) 1,33 ± 0,50 (10) 1,50 ± 0,70 1,42 43,5

Per. serviço (dias) (9) 152,67 ± 73,10 (9) 106,89 ± 34,87 129,77 44,1 0,10

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Int. partos (meses) (8) 14,23 ± 2,55 (9) 12,82 ± 1,15 13,48 14,3 0,15

Houve melhoria dos indices reprodutivos de uma forma geral para os animais do grupo

G comparado aos animais do grupo C. Verificou-se menor intervalo 1-2ª ovul, (29,50 vs 23,13 dias

para grupo C e G, respectivamente). Segundo Thatcher et al, (1996), a capacidade dos folículos

dominantes precoces ovularem e sofrerem “turn-over” afeta a duração do período anovulatório no

pós-parto e, esta posterior sincronia dos ciclos ovarianos tem relação com o "status" energético no

pós-parto. Não foi verificado efeito da dieta sobre a área do corpo lúteo, contudo, houve

significativa correlação (r = 0,50; P < 0,01) entre esta característica e o diâmetro do folículo

ovulatório, indicando que maiores folículos resultaram em maiores corpos lúteos subsequentes.

O primeiro estro no pós-parto ocorreu 27 dias após a segunda ovulação para os animais

do grupo G contra 60 dias para o C, presumindo-se que houve sincronia dos ciclos ovarianos nos

animais do grupo G.

Houve redução de 39 dias no intervalo parto-1º estro entre os animais do grupos C e G

(115,6 vs 76,2 dias, respectivamente). Também, verificou-se redução (P = 0,08) de 46,37 dias no

intervalo Parto – 1ª IA (dois ciclos estrais) e de 42,89 dias no intervalo de parto para os animais do

Grupo G. O período de serviço e o número de serviços por concepção foram de 152,67 e 106,89

dias (45,78 dias a menos) e 1,33 e 1,5 para os animais dos grupos C e G, respectivamente.

Até 120 dias após o parto, 40% e 80,0% das fêmeas foram inseminadas nos grupos C e

G (P = 0,06), respectivamente, e 30% dos animais do grupo C ficaram gestantes, contra 60% do

grupo G (P = 0,12). Foi observado que 90% dos animais do grupo G e apenas 50% dos animais do

grupo C manifestaram estro neste período. Staples et al., (1998) citaram melhora no desempenho

reprodutivo de vacas leiteiras suplementadas com gordura. Em seu estudo, fêmeas com dietas ricas

em gordura apresentaram sinais mais fortes de estro (71,4 vs 65,6%) e tiveram ovários mais ativos

(75,4 vs 69,5%). A taxa de concepção foi 17% maior para os animais suplementados com gordura.

O fornecimento de energia adicional na forma de gordura melhora o estado energético negativo da

vaca, retornando ao estro mais precocemente após o parto, e dessa maneira, concebe mais cedo.

4. CONCLUSÃO

Dietas ricas em gordura promoveram o aumento da população de folículos da classe 1 e do

diâmetro do folículo dominante nos estádios iniciais da lactação, sendo relacionado com o aumento

na concentração plasmática e folicular de colesterol total e colesterol-HDL.

Programas nutricionais, com adição de gordura começando 28 dias pré-parto até 60 dias no

pós-parto melhoram o desempenho reprodutivo de vacas leiteiras de alta produção, beneficiando,

assim, o manejo reprodutivo do rebanho.

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94

3. CONCLUSÕES GERAIS

Os trabalhos foram realizados no Setor de Bovinocultura de Leite (Unidade

de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite (UEPE-GL)) e no Laboratório

de Reprodução Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de

Viçosa (UFV) com o objetivo de estudar os efeitos da suplementação dietética

com gordura durante o período de transição sobre o consumo de matéria seca

(CMS), a produção de leite, o balanço energético, a mobilização de reservas

corporais, a dinâmica folicular ovariana, os parâmetros plasmáticos hormonais e

metabólicos (colesterol, colesterol HDL), o desempenho reprodutivo (intervalos do

parto à primeira ovulação, ao primeiro estro e à primeira inseminação, taxa de

concepção a 1ª inseminação, número de serviço por concepção).

Para tanto, utilizaram-se 20 vacas pluríparas (4,15 ± 2,13 partos) da raça

holandesa, gestantes, com peso vivo médio aos 28 dias pré-parto de 712,02 ±

65,20 kg e escore de condição corporal médio igual a 3,16 ± 0,53, distribuídas em

delineamento inteiramente casualisado, em dois grupos: dieta controle (C; 3%

extrato etéreo (EE) na matéria seca (MS); n = 10) e dieta gordura (G; 6% de EE na

MS; n = 10), começando 28 dias pré-parto até 60 dias após o parto.

Com base nas condições em que foram realizados os experimentos,

concluiu-se que:

1. A suplementação com gordura dietética iniciada 28 dias pré-parto

promoveu adaptações fisiológicas de forma a não comprometer o consumo de

matéria seca e, dessa forma, minimizando o balanço energético negativo típico do

pós-parto.

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95

2. A produção de leite aumentou 8%, aproximadamente, sem

comprometer a produção de gordura total do leite.

3. A perda de peso corporal diminuiu mais rapidamente nos animais

suplementados com gordura, em virtude da melhoria do balanço energético.

4. A suplementação de gordura dietética promoveu aumento dos

níveis plasmáticos de colesterol total e colesterol HLD tanto no pré quanto no pós-

parto.

5. A população de folículos ovarianos no pós-parto imediato foi

influenciada pela dieta, com aumento no número de folículos de 0,3 a 0,6 cm de

diâmetro.

6. O diâmetro do maior folículo ovariano aumentou quando os

animais foram suplementados com gordura dietética.

7. Houve melhoria geral do desempenho reprodutivo quando os

animais foram suplementados com gordura dietética durante o período de

transição.

8. O desempenho produtivo e reprodutivo de vacas leiteiras durante

lactação é positivamente associado ao manejo nutricional oferecido o período de

transição.