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ANSELMO DOMINGOS FERREIRA SANTOS
DESEMPENHO PRODUTIVO E REPRODUTIVO DE VACAS LEITEIRAS
SUPLEMENTADAS COM GORDURA DIETÉTICA NO PRÉ E PÓS-PARTO
Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, para obtenção do Título de “Doctor Scientiae”.
VIÇOSA MINAS GERAIS – BRASIL
2005
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação da Biblioteca Central da UFV
T Santos, Anselmo Domingos Ferreira, 1973- S237d Desempenho produtivo e reprodutivo de vacas 2005 leiteiras suplementadas com gordura dietética no pré e pós-parto / Anselmo Domingos Ferreira Santos. _ Viçosa:
UFV, 2005. xiii, f. : il. ; 29cm.
Orientador: Ciro Alexandre Alves Torres. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de
Viçosa. Inclui bibliografias.
1. Bovino de leite - Reprodução. 2. Bovino de leite - Registros de desempenho. 3. Bovino de leite - Alimentação e rações. 4. Lipídios na nutrição animal. I. Universidade Federal de Viçosa. II. Título.
CDD 22.ed. 636.20824
ANSELMO DOMINGOS FERREIRA SANTOS
DESEMPENHO PRODUTIVO E REPRODUTIVO DE VACAS
LEITEIRAS SUPLEMENTADAS COM GORDURA DIETÉTICA NO
PRÉ E PÓS-PARTO
Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, para obtenção do Título de “Doctor Scientiae”.
APROVADA: 31 de março de 2005
Prof. Eduardo Paulino da Costa
(Conselheiro)
Prof. José Domingos Guimarães
(Conselheiro)
Dr. João Henrique Moreira Viana
Dr. Jeferson Ferreira da Fonseca
Prof. Ciro Alexandre Alves Torres
(Orientador)
ii
“A vida tem dois caminhos.
Um permanente, imutável, eterno, que leva você à felicidade.
O outro, passageiro, que leva à dor.
O permanente mostra-se difícil. Precisa ser procurado. Exige esforço, compreensão, persistência.
O passageiro se oferece, apresenta atrativos.
Assim são os caminhos do bem e do mal.
Tenha coragem na escolha.
Todo sacrifício na estrada do bem produz luz e alegria que nunca se extinguem.
(Lourival Lopes – Sementes de Felicidade)
iii
“Toda a natureza é uma harmonia divina, sinfonia maravilhosa que convida todas as criaturas que acompanhem sua evolução e progresso. Seja, em sua
vida, um instrumento apto a captar as vibrações de paz e serenidade da natureza, e sua saúde encontrará o equilíbrio necessário para prosperar
cada vez mais.”
iv
À minha mãe Silionisia Ferreira Santos e ao meu pai Ailton Cardoso Santos, pelas demonstrações de amor, confiança, dignidade,
perseverança e justiça, dedico toda a minha vida.
Às minhas irmãs Naiana Carla, Naiara Mírian e Náira Cristina, pelo carinho, ternura, atenção, compreensão e incentivo, dedico.
v
AGRADECIMENTO
A Deus...
Ao professor Ciro Alexandre Alves Torres, pela experiência, amizade,
compreensão e confiança.
Ao professor Eduardo Paulino da Costa e professor José Domingos
Guimarães, pela confiança, amizade, apoio, pelo exemplo de humildade,
trabalho, dedicação, competência, perseverança e amor à profissão.
Ao professor Paulo Sávio, pela competência e pelo fundamental apoio
no desenvolver deste trabalho.
Ao Departamento de Zootecnia e a Universidade Federal de Viçosa
(UFV), pela realização deste curso.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), pela concessão da bolsa de estudo.
Ao amigo Chico Rennó, pela competência profissional, pelo precioso e
indispensável apoio no desenvolvimento deste trabalho, pela transmissão de
conhecimentos e pela amizade.
A Mariana Drumond (Candinha), pelo sentimento, convivência,
dedicação, confiança e zelo.
Aos professores Sebastião Valadares, José Maurício, Marcelo Teixeira,
pelos aconselhamentos e pelas sugestões.
vi
Aos amigos Jeferson, Alan, Hebert Lafon, Nadja, Dudu Maníaco, Vitor,
Fabiene, Amélia, Miller, Luiz Gustavo, Fábio Luns Joel, Zé Franciso, Paulim,
pelo apoio na execução deste trabalho e, também, pela amizade e
companheirismo.
Aos amigos da Grande “Pelada da Violeira”, em especial ao Mingote,
Marieta, Junior, Branco, Bigode, Sebastião, Kita, Erly, pelos agradáveis dias
de sábado. Sentirei muita falta!
Aos amigos, Fabrício, Matheus, Priscila, Mariele, Henrique, Rodrigo,
Cristiano, Gustavo, Ana Paula, pelo apoio e companheirismo.
Às amigas Áurea e Flávia, pessoas abençoadas, com quem tive o
privilégio de conviver.
Ao Zootecnista Belmiro, pelo caráter, competência, confiança, amizade
e convivência.
Ao Mauro, da fábrica de ração, por todo o apoio e confiança em mim
depositado, para que pudesse desenvolver este trabalho.
Ao professor Dantas, que esteve presente nos momentos críticos
durante a execução deste trabalho.
Ao Professor Aloísio, Fátima, Aloisinho, Alexandre e Thiago, pela
amizade e convivência.
A todos os funcionários do Departamento de Zootecnia, Celeste,
Adilson, Venâncio, Raimundo, Rosana, Márcia, Joélcio, Marcelo, Sr. Jorge e
aos demais, pela presteza e disposição.
Aos companheiros do estábulo, Almiro, Chico, Cláudio, Joãozinho,
Zezé, Zé Antônio, Maurinho, Paulinho, Antônio, Zé Ramin, Zinho, enfim a
todos com quem pude conviver e desfrutar de momentos de alegria, e pelo
imprescindível apoio.
vii
Ao Pum e Sr. Raimundo, do Laboratório Animal, pela garra, força de
vontade, competência, compromisso e suporte.
A todos os professores da Universidade Federal de Viçosa que, direta ou
indiretamente, aprimoraram meus conhecimentos de vida e profissional.
Ao funcionário José Cândido (Nenzinho), pelo seu alto astral, pela
prontidão e por ter me ajudado a fazer do Laboratório de Reprodução Animal
(DVT) a minha segunda casa.
Aos professores, colegas de curso e funcionários do DZO e DVT,
enfim, a todos aqueles que, de uma forma ou outra, ajudaram na minha
formação.
viii
BIOGRAFIA
ANSELMO DOMINGOS FERREIRA SANTOS, filho de Ailton
Cardoso Santos e Silionisia Ferreira Santos, nasceu em Vitória da Conquista,
Bahia, em 5 de julho de 1973.
Graduou-se em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA), em fevereiro de 1998.
Especializou-se em Reprodução Animal, no Departamento de Medicina
Veterinária da Universidade Federal de Viçosa, dedicando seus estudos na
área de Fisiopatologia e Biotecnologia da Reprodução, submetendo-se à
defesa de monografia em março de 1999.
Iniciou, em março de 1999, iniciou o curso de Pós-graduação em
Zootecnia na Universidade Federal de Viçosa, sob a orientação do professor
Ciro Alexandre Alves Torres, concentrando seus estudos na área de Fisiologia
da Reprodução, submetendo-se à defesa de tese para obtenção do título de
“Magister Scientiae”, em 29 de março de 2001.
Em abril de 2001, iniciou o curso de Doutorado em Zootecnia na
Universidade Federal de Viçosa em abril de 2001, concentrando seus estúdos
na área de Fisiologia da Reprodução, Produção e Nutrição Animal,
submetendo-se à defesa de tese em 31 de março de 2005.
ix
ÍNDICE
RESUMO .................................................................................................... xii
ABSTRACT ................................................................................................ xv
1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 1
2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................. 4
2.1. Lipídios na nutrição de ruminantes .................................................... 5
2.2. Período de transição e o consumo de matéria seca (CMS) ................ 7
2.3. Mobilização de reservas corporais ................................................... 10
2.4. Efeito da gordura dietética no metabolismo lipídico durante o
período de transição................................................................................. 12
2.5. Efeito da gordura dietética sobre a reprodução ................................ 13
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 21
RESPOSTA PRODUTIVA DE VACAS NO INÍCIO DE
LACTAÇÃO SUBMETIDAS À SUPLEMENTAÇÃO DE
GORDURA DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO ........................ 28
RESUMO . .................................................................................................. 28
ABSTRACT ............................................................................................... 29
1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 30
2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 31
3. RESULTADO E DISCUSSÃO .............................................................. 35
4. CONCLUSÃO......................................................................................... 47
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 48
x
VARIAÇÃO DA CONDIÇÃO CORPORAL E DO PESO
CORPORAL NO INÍCIO DA LACTAÇÃO EM VACAS
SUBMETIDAS À SUPLEMENTAÇÃO DE GORDURA
DIETÉTICA DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO ....................... 52
RESUMO. ................................................................................................... 52
ABSTRACT – ............................................................................................. 53
1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 54
2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 55
3. RESULTADO E DISCUSSÃO .............................................................. 59
4. CONCLUSÃO......................................................................................... 69
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 70
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO DE GORDURA DURANTE O
PERÍODO DE TRANSIÇÃO SOBRE A ATIVIDADE OVARIANA
E O DESEMPENHO REPRODUTIVO DE VACAS LEITEIRAS DE
ALTA PRODUÇÃO ................................................................................... 72
RESUMO . .................................................................................................. 72
ABSTRACT ............................................................................................... 74
1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 75
2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 76
3. RESULTADO E DISCUSSÃO .............................................................. 81
4. CONCLUSÃO......................................................................................... 93
5, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 94
3. CONCLUSÕES GERAIS ....................................................................... 97
xi
RESUMO
SANTOS, Anselmo Domingos Ferreira, D.S., Universidade Federal de Viçosa, março de 2005. Desempenho Produtivo e Reprodutivo de Vacas Leiteiras Suplementadas com Gordura Dietética no Pré e Pós-Parto. Orientador: Ciro Alexandre Alves Torres. Conselheiros: Eduardo Paulino da Costa e José Domingos Guimarães.
Este estudo foi realizado com o objetivo de estudar os efeitos da
suplementação dietética com gordura durante o período de transição sobre
consumo de matéria seca (CMS), a produção de leite, o balanço energético, a
mobilização de reservas corporais, a dinâmica folicular ovariana, os
parâmetros plasmáticos hormonais e metabólicos (colesterol, colesterol HDL e
progesterona) e o desempenho reprodutivo (intervalos do parto à primeira
ovulação, ao primeiro estro e à primeira inseminação, taxa de concepção à 1ª
inseminação, número de serviço por concepção). Para todos os experimentos,
utilizaram-se 20 vacas da raça holandesa, multíparas, gestantes, distribuídas
aleatoriamente em dois tratamentos: C = dieta-controle (3% de extrato etéreo
(EE) na matéria seca (MS)) e G = dieta-gordura (6% de EE na MS). No
experimento 1, os valores médios de consumo de MS (CMS) não diferiram no
pré e pós-parto (10,73 e 9,95 kg e 16,06 e 17,81 kg de MS/dia para os grupos
C e G, respectivamente), contudo houve aumento (P < 0,05) na quarta semana
xii
de lactação para o animais do grupo G (15,53 vs 18,29 kg de MS). Este
aumento no CMS, associado à maior densidade energética da dieta G, foi
responsável por um maior consumo de energia líquida para os animais do
grupo G após o parto (28,22 vs 32,61 Mcal/dia; P< 0,05). A produção de leite
total e o leite corrigido para 3,5% de gordura não diferiram, com médias de
31,88 e 34,41 kg/dia e 36,34 e 36,05 kg de leite/dia para os animais dos grupos
C e G, respectivamente, apesar de os animais do grupo G produzirem 2,53 kg
de leite a mais por dia (7,93%) que o grupo C. Houve redução da porcentagem
da gordura do leite (P < 0,05), com médias de 4,36 e 3,81 % de gordura para
os grupos C e G. Observou-se, portanto, que a produção total de gordura não
foi afetada (1,38 vs 1,29 kg de gordura por dia para os animais dos grupos C e
G, respectivamente). No experimento 2, verificou-se interação entre dieta e
semanas em lactação sobre o balanço de energia líquida e os animais do grupo
G apresentaram menor balanço negativo de energia a partir da quarta semana
de lactação (P < 0,05), coincidindo com o aumento de consumo verificado
neste mesmo período. Não foram observados efeitos das dietas sobre o Escore
de Condição corporal e Mudança de Condição Corporal. Contudo, observou-
se interação entre dieta e semanas em lactação sobre o Peso Corporal e
Mudança de Peso Corporal no pré e pós-parto para os animais do grupo G, que
estabilizaram o peso corporal e começaram a ganhar peso a partir da sétima
semana, enquanto os do grupo C permaneceram perdendo peso. No
experimento 3, a suplementação de gordura promoveu aumento nas
concentrações plasmáticas de Colesterol Total (54,23 vs 73,68 mg/dL) e
Colesterol HDL (52,59 e 61,42 mL/dL), não alterou as concentrações de
progesterona (2,35 vs 2,47 ng/mL). Verificou-se também aumento na
população de folículos ovarianos da classe 1 (0,3–0,6 cm de diâmetro;
P<0,05), principalmente entre os dias 26 e 31 após o parto, quando o consumo
de energia foi maior para este grupo. Os animais dos grupos C e G
desenvolveram 13,40 e 12,63, 6,90 e 7,38, 2,90 e 4,78 folículos das classes 2,
3 e 4, respectivamente. O diâmetro médio do maior folículo foi afetado pela
xiii
dieta (P = 0,53), com valores de 1,46 ± 0,22 e 1,74 ± 0,37 cm para os grupos C
e G respectivamente. Houve melhoria dos indices reprodutivos de forma geral
para os animais do grupo G comparado ao C. Verificou-se menor intervalo 1-
2ª ovulação, (29,50 vs 23,13 dias para os animais dos grupos C e G,
respectivamente). Não foi verificado efeito da dieta sobre a área do corpo
luteo, contudo, houve correlação (r = 0,50; P<0,01) entre está caractarística e o
diâmetro do folículo ovulatório.O primeiro estro no pós-parto ocorreu 27 dias
após a segunda ovulação para o grupo G contra 60 dias para o C. Houve
redução de 39 dias no intervalo parto-1º estro, de 46,37 dias no intervalo Parto
– 1º IA (P = 0,08), e de 42,89 dias no intervalo de parto para os animais do
Grupo G. O período de serviço e o número de serviços por concepção foram
de 152,67 e 106,89 dias e 1,33 e 1,50 doses para os grupos C e G,
respectivamente. O fornecimento de energia adicional na forma de gordura
reduz o estado energético negativo da vaca, fazendo com que retorne ao estro
mais cedo após o parto, e dessa maneira, concebe mais precocemente.
xiv
ABSTRACT
SANTOS, Anselmo Domingos Ferreira, D.S., Universidade Federal de Viçosa, March, 2005. Productive and Reproductive Performance of Dairy Cows Supplemented with Dietary Fat During the Pre and Postpartum. Adviser: Ciro Alexandre Alves Torres. Committee members: Eduardo Paulino da Costa and José Domingos Guimarães.
The aim of this study was to evaluate the reproductive and productive
performance, dry matter intake, energy balance, changes in condition score,
ovarian follicular dynamics, plasma concentration of cholesterol and
progesterone in the early lactation of dairy cows supplemented with dietary fat
during the transition period. Twenty pregnant Holstein cows were randomly
assigned in two treatments: C – control diet (3% Ether Extract in dry matter);
and G – dietary fat (6% Ether Extract in dry matter). In the first experiment,
the cow average dry matter intake (DMI) did not differ among pre and post-
partum period (10,73 e 9,95 kg e 16,06 e 17,81 kg de DMI/day) for C and G
groups respectively. However, in the fourth lactation week, animals from
group G had a higher DMI than group C (15,53 vs 18,29 kg de DM). The
increase in the DMI associated with a higher energy density of the G diet was
the responsible for a higher liquid energy intake for the animals G group in the
pos-partum (28,22 vs 32,61 Mcal/day; P< 0,05). Milk production and
corrected milk did not differ among the groups (31,88 e 34,41 kg/day to group
C and 36,34 e 36,05 kg of milk/day to group G) even with a 2,53 kg/day
xv
increase in milk production to group G animals. A decrease in milk fat
percentage was verified to group G animals (4,36 X 3,81% milk fat) but not
for total fat production (1,38 X 1,29 kg of milk fat/day for groups C and G). In
the second experiment, group G animals had a lower negative energy balance
after the fourth week of lactation (P < 0,05), concurring with a higher DMI in
the same period. No differences in body condition score and body condition
changes was verified among the groups, however group G animals had a
higher average daily body weight gain than group C after the seventh week
pos-partum while group C animal remain loosing weight until the and of this
experiment. In the experiment 3, a higher total and HDL cholesterol
concentration was verified for group G (54,23 vs. 73,68 mg/dL and 52,59 vs.
61,42 ml/dL). Differences in plasma progesterone concentration were not
significant in the experimental period. A higher number of class 1 follicles
also were verified to group G animals principally between the 26 – 31 days
after partum (P < 0,05), when this group had an increase in energy intake. The
number of class 2 and 3 were not different among the groups. Dominant
follicle average diameter was affected by diet (P = 0,53), animals from group
G had a higher diameter than group C (1,46 vs. 1,74 cm). The reproductive
performance was better for group G animals, when evaluated the interval from
first to second ovulation (23,13 vs. 29,5), days to first ovulation pos-partum (
42,89 vs. 46,37 days), open days (106,89 vs. 152,67 days) and IA per
conception (1,33 vs. 1,5 doses). In conclusion the supplementation of dietary
fat to dairy cows during the transition period decreases the cow negative
energy status and improves the reproductive and productive performance.
1
1. INTRODUÇÃO
Alta produção de leite e um bom desempenho reprodutivo são condições
imprescidíveis para a lucratividade de um empreendimento leiteiro. Contudo, a
associação entre produção de leite e reprodução é antagonista (BUTLER e
SMITH, 1989). Durante o início da lactação, a taxa de aumento na produção de
leite excede ao de consumo de matéria seca (CMS), resultando em balanço
energético e protéico negativo (BEN), o qual está estritamente relacionado ao
desempenho reprodutivo. Portanto, métodos para minimizar a magnitude e duração
do balanço negativo de nutrientes podem ser benéficos para a reprodução.
Suplementos lipídicos têm sido adicionados a dietas de vacas de alta
produção durante o início da lactação, com o objetivo de aumentar a densidade
calórica das dietas, o que resulta em maior ingestão de energia, aumento de
produção de leite e melhoria no desempenho reprodutivo em geral. Isto porque as
vacas utilizam o ingrediente gordura de forma mais eficiente que grãos ou
forragens para a produção de leite; as perdas energéticas durante o metabolismo de
gordura são menores que as perdas para grãos e forragens; e a maior parte da
energia da gordura é incorporada diretamente no leite. Além disso, a adição de
gordura aumenta a absorção de nutrientes lipossolúveis.
Schingoethe e Casper (1991) citaram aumento na produção de leite entre 5 e
10% quando vacas foram suplementadas com óleos de sementes oleaginosas. A
inclusão de sementes de girassol ou soja na dieta de vacas entre a 4ª e 16ª semana
após o parto resultou em 2,8% a mais de leite no momento da suplementação,
maior pico de produção e produção total de leite 8,2% maior no final de um
período de 12 semanas de alimentação. Esta maior produção de leite foi mantida
durante toda a lactação.
2
O aumento do nível de energia pelo uso de lipídios é especialmente
importante na fase inicial da lactação, quando o consumo de alimentos é limitado
pelo estresse pós-parto (15% em média), evitando, assim, a perda de peso, o
balanço negativo de nutrientes e, conseqüentemente, a redução da produção total
de leite na lactação e a baixa eficiência reprodutiva (Butler e Canfield, 1989).
A alguns autores têm reportado diminuição no CMS ou aumento na produção
de leite corrigido para gordura quando dietas foram suplementadas com gordura,
ocorrendo mudanças mínimas no balanço de energia (Staples et al., 1998).
Portanto, o efeito benéfico primário da gordura suplementar pode ser independente
do balanço de energia e ser mediado por meio do aumento do suprimento de
ácidos graxos.
A suplementação de gordura tem influenciado positivamente o desempenho
reprodutivo de vacas leiteiras, incluindo aumento no tamanho do folículo
ovulatório, aumento no número de folículos, aumento da concentração de
progesterona plasmática, redução na secreção de metabólitos de prostaglandinas e
aumento na fertilidade, independentemente do balanço de energia das dietas
(Williams, 1996; Beam e Butler, 1997; Staples et al., 1998). Há vários mecanismos
possíveis pelos quais a gordura dietética pode melhorar a função reprodutiva: 1)
diminuição do balanço energético negativo; 2) aumento da esteroidogênese
favorável ao aumento da fertilidade; 3) manipulação da insulina de forma que
estimule o desenvolvimento folicular ovariano; 4) aumento das concentrações
plasmáticas de colesterol que, por sua vez, serve como precursor para síntese de
progesterona; e 5) inibição da produção e liberação da prostaglandina F2a (PGF2α).
Também, parece haver uma diminuição da síntese de 17β-estradiol, o que pode
diminuir a sensibilidade do corpo lúteo a PGF2α (Staples et al., 1998).
A adição de fontes de gordura suplementar na dieta de vacas lactantes é uma
alternativa para diminuir o período do balanço energético negativo e maximizar o
desempenho produtivo e reprodutivo no pós-parto. Contudo, a recomendação
tradicional é que se adicione gordura à dieta logo após o parto. No entanto, estudos
posteriores demonstraram que a resposta à suplementação é retardada neste
período (Salfer et al., 1995). A lenta resposta e a substancial resposta residual
(carry-over) à suplementação de gordura podem parcialmente explicar porque
3
pouca ou nenhuma resposta na produção foi observada em alguns estudos que
utilizaram desenho experimental de curta duração. O intervalo para a resposta à
suplementação (lag time) pode ser maior no início da lactação (Schingoethe e
Casper, 1991) e isto provavelmente ocorreu em razão de não haver nenhum
período de adaptação anterior à dieta contendo gordura suplementar.
Os objetivos desta pesquisa foram estudar os efeitos da suplementação
dietética com gordura durante o período de transição sobre: consumo de matéria
seca (CMS), produção de leite, balanço energético, mobilização de reservas
corporais, dinâmica folicular ovariana, parâmetros plasmáticos e perfis hormonais
e metabólicos (colesterol, colesterol HDL), desempenho reprodutivo (intervalos do
parto à primeira ovulação, ao primeiro estro e à primeira inseminação, taxa de
concepção a primeira inseminação e número de serviços por concepção).
2. REVISÃO DE LITERATURA
O termo ‘gordura’ é normalmente utilizado para descrever componentes que
têm alto conteúdo de ácidos graxos de cadeia longa, incluindo triglicerídios,
fosfolipídios, ácidos graxos não-esterificados e sais de ácidos graxos de cadeia
longa.
Diferentes tipos de suplementação de gordura têm sido fornecidos a vacas
lactantes. Alguns deles incluem misturas de lipídios vegetal – animal, sebo bovino,
gordura amarela, óleos de farinha de peixe, óleos de sementes (algodão, soja,
canola, girassol), gordura granulada, gordura ‘protegida’, entre outros. As gorduras
das forragens contêm, tipicamente, altas concentrações de ácidos linolênico (C18:3)
e linoléico (C18:2), enquanto grãos e sementes oleaginosas contêm triglicerídios,
que são ricos em ácidos linoléico e oléico (C18:1). Gorduras como sebo contêm
mais ácido palmítico e esteárico, enquanto óleos de peixe são os únicos que
possuem relativamente altas concentrações de ácidos graxos longos altamente
insaturados, denominados eicosapentanóicos (EPA, 20:5) e docosahexaenóico
(DHA, 22:6) (Staples et al., 1998).
O conteúdo energético líquido das gorduras dietéticas é altamente
influenciado pelo grau de saturação dos ácidos graxos. Gorduras que contêm maior
proporção de ácidos graxos insaturados (fontes vegetais) comparadas a ácidos
4
graxos saturados (fontes animais) são freqüentemente mais digestíveis no intestino
delgado, possivelmente, devido a um menor ponto de saturação em relação às
gorduras saturadas, aumentando, dessa maneira, a formação de micelas para
absorção (Staples, 2001). Estes ácidos graxos polinsaturados (linoléico, linolênico,
eicosapentaenoico e docosahexaenoico) são classificados como essenciais,
devendo ser suplementados nas dietas de vacas leiteiras (Mattos et al., 2000).
2.1. Lipídios na Nutrição de Ruminantes
Os alimentos glicídicos (forrageiras), aqueles consumidos em maior
quantidade pelos ruminantes, após fermentados pelos microrganismos presentes no
rúmen produzirão ácidos graxos voláteis (AGV), que constituem 70 a 80% do
aporte energético para o animal (Byers e Schelling, 1993).
Entre os AGV produzidos no rúmen, os ácidos acético e butírico são os
responsáveis pela formação da gordura do leite e deposição dessa em diversos
tecidos (subcutâneo, intermuscular e intramuscular, medula óssea, cavidades
torácica e abdominal, associada às vísceras e aos órgãos vitais). Metade dos AGV
e sintetizada de novo na glândula mamária a partir do acetato e hidroxibutirato,
porém. Os outros 40-50% originam-se da gordura da dieta, que podem ser
transferidos diretamente para a gordura do leite, e menos de 10% são provenientes
do tecido adiposo (Palmquist e Jenkins, 1980).
A adição de gordura a dietas de ruminantes pode causar problemas de
palatabilidade, e diminuição da digestiblidade, provavelmente devido a um efeito
tóxico de ácidos graxos de cadeia longa sobre as bactérias celulolíticas ruminais,
além de reduzir a relação acetato:propionato e, conseqüentemente, o suprimento de
ácido acético, precursor direto de 50% da gordura do leite (Chalupa et al., 1986;
Palmquist, 1989). A influência dos lipídios sobre os microrganismos ruminais é
dependente, ainda, da presença de ácidos graxos livres, da capacidade de formar
sais insolúveis, da propriedade de formar barreira física sobre o alimento,
dificultando a colonização microbiana, e da quantidade diária ingerida por dia
(Palmquist, 1989; Jenkins, 1995).
A insaturação e a esterificação são as duas maiores propriedades da gordura
que podem influenciar na digestão (Palmquist e Jenkins, 1980). Embora a
5
fermentação seja depreciada pela adição de gordura na dieta, a digestibilidade total
da energia não é sempre diminuída, presumivelmente devido à fermentação
adicional no intestino grosso (Byers e Schelling, 1993).
Conforme Devendra e Lewis (1974) existem quatro teorias para explicar a
diminuição da digestibilidade dos componentes da parede celular, induzida pela
adição com gordura na dieta: 1) efeito causado pelo envolvimento de partículas de
alimentos pela gordura; 2) déficit de cátions para formação de sais insolúveis com
ácidos graxos de cadeia longa; 3) inibição da atividade microbiana no rúmen; e 4)
modificação da população microbiana.
A ação da gordura sobre a concentração de protozoários é um fator muito
variável, principalmente em relação à fonte de lipídio. De acordo com Ameny et
al. (1995), os efeitos deletérios da adição de gordura têm sido mediados pela ação
inibitória direta de alguns ácidos graxos livres sobre a degradação da fibra por
bactérias e protozoários. O grau de inibição parece depender primeiramente da
taxa de liberação de ácidos graxos pela lipólise.
Jenkins e Jenny (1989) e Beam e Butler (1998) verificaram que o CMS de
vacas diminuiu com a adição de gordura na dieta, mas a ingestão de energia e o
balanço de energia foram similares entre as dietas. Vargas et al. (2002) verificaram
que as fontes de lipídios reduziram em 20% o consumo de matéria seca, sem,
contudo, afetar a produção e composição do leite e os parâmetros fermentativos
ruminais.
Palmquist (1990), citado por Salfer et al. (1995), sugeriu que durante o
período de rápida mobilização de tecido adiposo, as vacas podem diminuir o CMS
para regular a concentração de ácidos graxos no plasma. Os mecanismos pelos
quais a gordura dietética reduz o CMS não estão bem esclarecidos. Contudo,
fatores potenciais incluem aceitabilidade da dieta, liberação de hormônios
intestinais e oxidação da gordura pelo fígado. Choi et al. (2000) verificaram que as
concentrações plasmáticas de NEFA, triclicerídios e colecistoquinina aumentaram
linearmente com o aumento do nível de gordura dietética, ao contrário da insulina
que diminuiu linearmente. E concluíram que a elevada concentração plasmática de
colecistoquinina pode ter mediado a depressão no CMS de vacas suplementadas
com gordura dietética.
6
Kin et al. (1993) não verificaram redução no CMS quando suplementaram
vacas holandesas com óleo de soja (18.4 kg MS/ dia) ou ácidos graxos ligados a
sabões de cálcio (16.6 kg MS/dia) comparado ao grupo controle (17.8 kg MS/dia)
da quarta até a 15º semana após o parto. Salfer et al. (1995) verificaram que vacas
alimentadas com gordura durante os primeiros 35 dias de lactação tiveram maior
CMS que aquelas da dieta controle.
Salla et al. (2003) verificaram consumos de EE de 3,67, 5,92, 6,70 e 6,29%
da MS das dietas, respectivamente, para as dietas controle, sebo, gordura protegida
e grão de soja. Embora os níveis de extrato etéreo fossem superiores aos
usualmente recomendados (em torno de 5%), aparentemente estes não exerceram
efeito negativo pronunciado sobre a digestibilidade do volumoso, e,
conseqüentemente, sobre o consumo voluntário. Outro aspecto a considerar é que,
aparentemente, as fontes de gordura adicionadas foram palatáveis ou pelo menos
não alteraram negativamente o apetite dos animais.
A incorporação de lipídios em dietas de ruminantes é uma prática comum.
Segundo Schauff et al. (1992), muitos produtores de leite, nos Estados Unidos, têm
tido sucesso com o uso de sebo ou óleo de soja nas rações. Fontes lipídicas como
óleo de soja, sebo ou gordura animal, usualmente, são de baixo custo, o que
aumenta o interesse em maximizar sua utilização nas dietas para vacas leiteiras.
Têm sido adicionadas em dietas a um nível máximo de 6 a 8%, pois níveis
superiores a este têm afetado a digestibilidade ruminal. A eficiência máxima para
produção de leite é conseguida quando cerca de 15 a 20% da energia
metabolizável dietética for oferecida na forma de lipídios (aproximadamente 8%
da dieta).
A resposta em produção de leite à suplementação de gordura é curvilinear,
ou seja, a resposta diminui quando a suplementação de gordura aumenta na dieta a
partir de um determinado valor. Alem disso, pode ser influenciada por vários
fatores, incluindo a dieta basal, o estágio de lactação, o balanço energético, a
composição e a quantidade da gordura dietética. Segundo Kronfeld, em 1976, a
produção de leite atinge seu máximo quando os ácidos graxos constituem 16% da
energia metabolizável, o que equivale a 600 – 700 gramas de gordura suplementar
por dia (aproximadamente 3% da MS). Para Jenkins (1997) a máxima resposta em
7
produção de leite à suplementação com gordura é de 3,5 kg por dia (leite corrigido
para gordura). Cerca de 700 gramas de gordura suplementar é requerido para
suportar a produção de 3,5 kg de leite corrigido, admitindo-se que a gordura é 80%
digestível e que 75% da gordura absorvida vai para a glândula mamária.
A partir de resultados combinados de diversos trabalhos, Palmquist (1984)
citado por Palmquist (1996) observou um aumentou de 10% na produção de leite
quando adicionado 500 gramas de gordura a dieta. Ao fornecer uma dieta com 5%
de extrato etéreo (EE) para vacas no início da lactação, a produção de leite foi
mais baixa que as controle até a sexta semana de lactação, causado pelo menor
CMS das dietas suplementadas com gordura. Em todos os trabalhos, as vacas
suplementadas com gordura alcançaram pico de lactação mais alto. Porém, duas
semanas mais tarde que as do grupo-controle. A persistência de lactação melhorou
nas vacas que receberam gordura adicional. Grummer (1992) observou que o
fornecimento de 500 gramas de gordura aumentou a produção de leite em 1,3 kg
por dia para novilhas e 2,8 kg por dia para vacas adultas.
De maneira geral, pode-se considerar que uma ração comumente utilizada
para vacas em lactação contém cerca de 3% de ácidos graxos. As fontes
comerciais convencionais de lipídios podem ser utilizadas de modo a proporcionar
uma suplementação de 2 a 3% de ácidos graxos em rações de vacas em lactação,
perfazendo cerca de 7-9% de lipídios na dieta (Palmquist, 1989).
2.2. Período de Transição e Consumo de Matéria Seca (CMS)
O sucesso do período de transição, efetivamente, determina a lucratividade
de uma vaca durante a lactação subseqüente (Drackley, 1999). Este período é
geralmente definido como aquele que se inicia três semanas antes do parto e
prossege até três semanas após o parto (Grummer, 1995) e é caracterizado por
ajustes endócrinos e metabólicos para se adequar ao parto e à lactação.
A insulina plasmática diminui e o hormônio de crescimento aumenta neste
período, com ondas de grandes intensidades nas concentrações plasmáticas de
ambos os hormônios ao parto (Kunz et al., 1985). Os requerimentos para glicose e
energia metabolizável aumentam duas a três vezes durante este período (Drackley,
2001). A concentração de glicose plasmática permanece estável ou aumenta
8
levemente durante o período seco de transição,eleva drasticamente ao parto e
diminui imediatamente após o parto (Kunz et al., 1985). Devido ao menor CMS
observado neste período, este aumento transiente da glicose pode ser o resultado
da elevação das concentrações de glucagon e glicocorticóides, os quais são
responsáveis pela depleção das reservas de glicogênio hepático. A concentração de
tiroxina plasmática (T4) gradualmente aumenta durante o final da gestação,
diminui aproximadamente 50% ao parto e novamente começa a aumentar (Kunz et
al., 1985).
Mudanças no ‘status’ endócrino e diminuição no CMS durante o final da
gestação influência o metabolismo e leva à mobilização de gordura do tecido
adiposo e glicogênio do fígado. Os ácidos graxos não-esterificados (NEFA)
aumentam duas vezes ou mais entre 2 2 3 semanas pré-parto e 2 e 3 semanas após
o parto (Bertics et al., 1992; Grum et al., 1996). A alimentação forçada a vacas no
período seco reduziu a magnitude de aumento do NEFA, mas não o eliminou
completamente (Bertics et al., 1992). O NEFA plasmático eleva-se rapidamente no
dia do parto, provavelmente devido ao estresse decorrente desse momento, e
diminui rapidamente após o parto, mas mantendo níveis superiores àqueles antes
do parto (NRC, 2001).
A ocorrência de desordens metabólicas e de problemas clínicos é
centralizada, desproporcionalmente, neste relativo curto espaço de tempo e pode
facilmente comprometer o desempenho produtivo e reprodutivo de uma vaca
individual em uma lactação (Drackley, 1999). Uma transição subótima do período
seco para o período de lactação pode diminuir o pico e a persistência de produção,
o que, consequentemente, prejudica também a produção total de leite, e o
desempenho reprodutivo.
O primeiro desafio enfrentado pela vaca logo após o parto é um rápido e
marcante aumento nas exigências nutricionais para produção de leite, no momento
em que o CMS e, dessa forma, o suprimento de nutrientes, não acompanham este
aumento. As exigências para energia líquida e proteína metabolizável pela vaca no
quarto dia após o parto excede a ingestão em 26 e 25%, respectivamente. Já a
utilização da energia líquida e proteína metabolizável pela glândula mamária para
9
produção de leite representa 97 e 83%, respectivamente, do CMS, restando pouco
para o suprimento das necessidades de exigência para mantença (Bell, 1995).
A restrição imposta pelo baixo CMS, associada a outros fatores de estresse
relacionados com o parto e ajustes metabólicos para a lactação, contribui para a
alta incidência de desordens clínicas neste período, resultando em perdas na
produção de leite durante a enfermidade e, frequentemente, em toda a lactação.
Conforme Wallace et al. (1996), vacas com alguma desordem no período de
transição produziram 7,2 kg de leite/dia a menos nos primeiros 20 dias após o
parto. As vacas com retenção de placenta e subseqüente metrite produziram 8,2 kg
de leite/dia a menos que vacas saudáveis.
Segundo Grant e Albrightt (1995), o período de transição pode ser dividido
em duas fases distintas: 5 a 7 dias pré-parto, caracterizado por redução de 30% no
CMS, e 0 a 21 dias após o parto, durante o qual o CMS aumentará rapidamente.
A taxa de aumento do CMS durante o início da lactação pode ser
primariamente determinada pela ingestão e pelo balanço de energia, com aumento
aproximado de 1,5 a 2,5 kg/semana durante as primeiras três semanas de lactação
(Bertics et al., 1992).
Quando uma vaca inicia e termina o período seco, há mudanças na dinâmica
do rúmen, as quais são induzidas nutricionalmente e não fisiologicamente. A
mudanças de um dieta que é rica em concentrado para uma rica em fibra causa
alterações na população microbiana e nas características do epitélio ruminal.
(NRC, 2001). Dietas com alta energia favorecem as bactérias utilizadoras de
amido com aumento na produção de propionato e lactato e alongamento das
papilas ruminais (responsáveis pela absorção dos ácidos graxos voláteis). Dietas
com alta fibra favorecem as bactérias celulolíticas, a produção de metano e o
encurtamento das papilas ruminais. Quase 50% da área absortiva do rúmen pode
ser perdida durante as primeiras sete semanas do período seco e o alongamento das
papilas, após reintrodução do concentrado, leva de 4 a 7 semanas, para o completo
desenvolvimento (Dirksen et al., 1985; Grummer, 1995).
Grummer (1995) sugeriu que o aumento da densidade energética da dieta por
meio do aumento de carboidratos não fibrosos durante este período traz alguns
benefícios. A energia adicional fornecida para o animal pode ajudá-lo a minimizar
10
o balanço energético negativo antes do parto, especialmente se o CMS está
grandemente reduzido. Aumento na formação de propionato pode estimular uma
elevação na insulina plasmática, a qual pode agir para reduzir a mobilização de
ácidos graxos do tecido adiposo e desordens metabólicas relacionadas aos lipídios.
Rabelo et al. (2003) estudaram os efeitos da densidade de energia dietética
durante o período de transição sobre o desempenho produtivo de vacas leiteiras.
Os animais que receberam uma dieta rica em energia no pré-parto (a partir do dia -
28) tiveram o CMS 19,8% (% PV) maior e 21.5% maior de consumo de energia
que animais que receberam dieta com baixa energia no pré-parto. A produção de
leite foi maior em vacas alimentadas com dieta alta em energia comparada às
alimentadas com baixa energia. Os tratamentos pré-parto não afetaram as
características de fermentação ruminal no pós-parto.
Hayirli (2001) agrupou dados de CMS de 699 vacas holandesas alimentadas
com 49 diferentes dietas durante as três semanas finais de gestação e observou que
o CMS diminuiu linearmente e quadraticamente com o aumento do FDN dietético.
Com menor conteúdo de fibra dietética, a digestibilidade da matéria seca ruminal é
maior, permitindo mais rápida evacuação da digesta ruminal e, consequentemente,
maior CMS.
Para avaliar a importância do CMS pré-parto, Bertics et al. (1992)
compararam o desempenho metabólico e produtivo de vacas alimentadas
voluntariamente durante as ultimas três semanas antes do parto com vacas forçadas
a se alimentarem via fístulas ruminais. Após o parto, ambos os grupos foram
alimentados ad libitum e o CMS não diferiu entre os grupos. Contudo, as vacas
que receberam alimentação forçada tiveram menor deposição de triglicérides
(gordura) ao parto e produziram mais leite e gordura.
Grummer* ao agrupar dados de vacas “controle” de vários experimentos e
examinar a relação entre CMS voluntário imediatamente antes do parto e o CMS
voluntário 21 dias após o parto, observou uma relação bastante forte (r = 0,54).
2.3. Mobilização de Reservas Corporais
O entendimento das relações biológicas entre as reservas corporais, a
produção de leite e a reprodução podem resultar em estratégias de alimentação
11
otimizadas que resultem em maior eficiência no processo de produção de leite
durante a vida útil de vacas leiteiras (Waltner et al., 1993).
Vacas leiteiras apresentam constantes alterações na composição corporal
durante a lactação e o período seco, refletindo, primariamente, na depleção ou
repleção de tecidos corporais quando são fornecidas dietas com energia
insuficiente ou em excesso para o atendimento dos requerimentos nutricionais
(Komaragiri et al., 1998). Segundo Ferguson e Otto (1989), o monitoramento
adequado das reservas corporais é crítico para manter vacas leiteiras,
principalmente de alta produção, em condições de expressarem seu potencial
produtivo, contribuindo, dessa forma, para o sucesso econômico da atividade
leiteira.
Waltner et al. (1993) verificaram que o escore da condição corporal ao parto
(ECCP) influenciou a produção de leite corrigida (3,5% de gordura) aos 90 dias de
lactação, sendo as maiores produções de leite observadas em vacas que
apresentaram escore da condição corporal (ECC) entre 3,0 e 4,0 ao parto. Domecq
et al. (1997) relataram que um ponto de aumento no escore de condição corporal
ao parto (ECCP) resultou em cerca de 545 kg de leite a mais nos primeiros 120
dias de lactação.
Durante o balanço energético negativo, eventos homeorréticos sustentam as
necessidades metabólicas da lactação e, aparentemente, a função da glândula
mamária tem prioridades metabólicas quanto à função ovariana. A taxa e a
extensão da mobilização de reservas corporais dependem de fatores como:
produção de leite, composição corporal ao parto, estágio de lactação, idade da
vaca, ordem de partos, tipo de dieta e utilização de hormônios, como a
somatotropina (Bauman e Currie, 1980; Chilliard et al., 1991; Ruegg e Milton,
1995; Komaragiri et al., 1998).
O monitoramento do ECCP e da mudança de condição ao longo da lactação
pode ser utilizado para determinar as recomendações de manejo nutricional e
identificar problemas em potencial (Butler e Smith, 1989; Nebel e McGilliard,
1993).
O aumento do balanço energético negativo pós-parto e o tempo para o
máximo balanço energético negativo são altamente associados com o declínio no
12
desempenho reprodutivo (Butler e Smith, 1989; Britt (1992) e Beam e Butler
(1998). Domecq et al. (1997) verificaram que o aumento da condição corporal
durante o período seco alcançando valor próximo a 3,5 (escala de 1-5) resultou em
melhores índices reprodutivos que condições corporais inferiores. Price et al.
(2001), após ajustar as médias de taxa de concepção para o efeito de produção de
leite, verificaram que vacas que apresentaram maior ECCP tiveram taxa de
concepção ao primeiro serviço 10% maior do que a média das vacas do rebanho.
Dessa forma, a duração e a magnitude do balanço energético podem ser
importantes reguladores no restabelecimento do ciclo estral e subseqüente
manutenção da gestação. O balanço energético negativo interfere, primariamente,
em razão da habilidade do eixo hipotalâmico-hipofisário em desenvolver um
padrão de liberação do hormônio luteinizante (LH) necessário para induzir o
desenvolvimento folicular ovariano e a ovulação. Secundariamente, o ‘deficit’ de
energia e a baixa concentração de insulina durante este período podem limitar a
responsividade dos ovários à estimulação pelas gonadotrofinas. O intervalo para a
primeira ovulação no período pós-parto depende da recuperação da função normal
do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal (Butler e Smith, 1989).
Lucy et al. (1991) demonstraram que o aumento do balanço energético foi
proporcional ao número de grandes folículos em vacas leiteiras no pós-parto com
significativa diferença no desenvolvimento folicular relacionada à condição
corporal.
2.4. Efeito da Gordura Dietética no Metabolismo Lipídico Durante o Período
de Transição
Segundo Drackley (1999), a suplementação com gordura dietética resultou
em diversas mudanças metabólicas em roedores, incluindo aumento na β-oxidação
peroxissomal e mitocondrial dos ácidos graxos, diminuição da esterificação dos
ácidos graxos, alteração no perfil e “clearance” das lipoproteínas plasmáticas e
alteração na responsividade a sinais metabólicos.
Vacas holandesas com ECC = 3,5 no início do período seco foram
distribuídas em três tratamentos: dieta-controle (rica em forragem; NEL = 1,27
13
Mcal/kg MS), dieta-controle mais 6,5% de gordura (1,44 Mcal/kg MS), ou dieta
alta em grãos (1,44 Mcal/kg MS). As vacas foram alimentadas ad libitum durante
o período seco até uma semana antes do parto previsto. Após o parto, todas foram
alimentadas com a mesma dieta de lactação. No primeiro dia após o parto, aquelas
que foram alimentadas com dieta rica em gordura no pré-parto tiveram menor
acúmulo de triglicerídios no fígado (1,4% do peso úmido), comparado com o
grupo-controle (7,3%) ou o grupo alto em grãos (5,9%). A menor concentração de
lipídio hepático foi acompanhada pelo menor aumento na concentração de ácidos
graxos não esterificados (NEFA) plasmático ao parto, e aumento da β-oxidação
peroxissomal no homogenato hepático (Grum et al., 1996). Estas mudanças
indicam que a dieta rica em gordura durante o período seco resultou uma
adaptação coordenada no metabolismo de lipídios que culminou em menor
acúmulo de triglicerídeos hepáticos no parto. Este efeito foi específico no período
periparto, pois não resultou em aumento na β-oxidação peroxissomal do dia 21 a
300 de lactação.
Segundo Drackley (1999), os mecanismos para estas coordenadas mudanças
adaptativas induzidas pela gordura dietética são incertos, mas muitas destas
mudanças na atividade enzimática são mediadas pela interação dos ácidos graxos
ou seus metabólitos com receptores nucleares específicos (receptor ativado
proliferador peroxomal ou PPAR). A ativação do PPAR pelos ácidos graxos é
responsável pela ligação do PPAR à áreas de respostas específicas de genes-alvo,
que codificam proteínas envolvidas no metabolismo lipídico que são encontradas
em peroxissomos, mitocôndrias, microsomas e citosol.
Skaar et al. (1989) reportaram que a suplementação dietética 17 dias antes do
parto previsto não afetou os trigliceridios hepáticos no primeiro dia após o parto,
embora as médias tenham sido maiores. Se a suplementação com gordura altera o
metabolismo no periparto por meio da indução mediada pelo PPAR das enzimas
envolvidas no metabolismo lipídico, é possível que um período maior de
suplementação seja necessário.
Outro aspecto da gordura dietética durante o período de transição é o seu uso
em dietas após o parto. Kronfeld (1982) propôs que gordura suplementar
preveniria a cetose e aumentaria a eficiência lactacional pela supressão da
14
mobilização de NEFA dos tecidos adiposos. Chilliard (1993) sumarizou os
resultados de 11 experimentos, nos quais as vacas foram suplementadas com
gordura durante o início da lactação. O balanço de energia aumentou cerca de 1,1
Mcal/dia, mas não houve redução das mudanças no peso corporal (-65
gramas/dia).
2.5. Efeito da Gordura Dietética sobre a Reprodução
A função reprodutiva no pós-parto é diretamente dependente da
disponibilidade de nutrientes energéticos relativos a sua utilização para lactação.
Segundo Butler e Smith (1989), a correlação entre produção de leite e o número de
dias até a primeira ovulação no pós-parto é significativa apenas após o 40o dia,
quando muitas vacas já ovularam, o que significa que outros fatores estão
envolvidos no intervalo do parto-primeira ovulação.
De acordo com Spicer et al. (1990), citaram que o balanço de energia entre
os dias 20 e 60 pós-parto foi inversamente relacionado ao número de dias do parto
à primeira ovulação, concordando com Bean e Butler (1997), que encontraram
correlação positiva entre o número de dias do parto à primeira ovulação com o
tempo para o restabelecimento do balanço energético, e que maior energia resultou
em folículos maiores (> 15 mm).
Quanto mais deficiente for o manejo nutricional de vacas relacionado à
produção de leite durante a fase inicial de lactação, maior será o tempo gasto para
a vaca restabelecer o ciclo estral e, também o ambiente uterino favorável à
sobrevivência do embrião. Portanto, o objetivo principal é otimizar o manejo
nutricional de vacas, principalmente quanto à ingestão de energia, durante o
período de transição e nos estádios iniciais de lactação (dois primeiros meses) para
diminuir a duração e magnitude do balanço energético negativo e,
conseqüentemente, diminuir os dias até a primeira ovulação e aumentar a taxa de
concepção nos primeiros ciclos estrais.
A suplementação lipídica tem influenciado positivamente o desempenho
reprodutivo de vacas em lactação, alterando a função do folículo ovariano e do
corpo lúteo por meio do aumento do status energético e dos precursores para a
15
síntese de hormônios reprodutivos, como esteróides e prostaglandinas (Mattos et
al., 2000). De fato, inúmeros são os benefícios da adição de lipídios sobre os
parâmetros reprodutivos em vacas leiteiras, por exemplo aumento do número de
folículos grandes (acima de 8 mm), maior número de folículos recrutados,
aumento nas concentrações de estradiol e progesterona circulantes, redução da
secreção da prostaglandina (PGF2a), maior diâmetro do folículo dominante e do
corpo lúteo subseqüente, encurtamento do intervalo parto - 1º estro e, na melhoria
da performance reprodutiva em geral (Grumer e Carroll, 1988; Williams, 1996;
Staples et al., 1998).
Diferentes tipos de suplementação lipídica têm sido fornecidos a vacas
lactantes. Alguns deles incluem mistura de lipídios vegetal – animal, sebo, gordura
amarela, óleos na farinha de peixe, óleos de sementes (algodão, soja, canóla,
girassol), entre outros. Os principais ácidos graxos na maioria dos lipídios de
sementes são o ácido linoléico (C18:2) e o ácido linolênico (C18:3), ambos
classificados como essenciais e devem ser suplementados nas dietas devido à
dupla ligação entre o carbono ∆9 e o grupo metil terminal não poder ser utilizado
pelo sistema biológico animal.
Estudos realizados por Scott et al. (1995) mostraram que grande proporção
de vacas alimentadas com ácidos graxos de cadeia longa ligadas à sais de cálcio
(Ca-LCFA) apresentou intensos sinais de estro (71,4% versus 65,6% de exibição
de padrão de estro) e tiveram os ovários mais ativos (75,4% versus 69,5%,
determinado pela palpação retal a cada 2 – 4 semanas). Lucy et al. (1993) e Beam
e Butler (1997) observaram folículos dominantes maiores com a suplementação de
Ca-LCFA, e mistura de sebo e gordura amarela, em vacas lactantes e recém-
paridas, respectivamente. SegundoWilliams (1996), o aumento de consumo de
gordura por fêmeas bovinas promove crescimento folicular e aumento de 1,5 a 5
vezes no número de folículos classificados de médios e grandes dentro de três a
sete semanas, independentemente da ingestão de energia metabolizável ou do
ganho de peso. Parece haver uma substituição na população de folículos pequenos
(= 3 mm) pela categoria de folículos médios (4 - 9 mm) (Wehrman, 1991), e esta
substituição ocorre em, aproximadamente, seis semanas após o consumo de óleos
de origem vegetal.
16
Lucy et al. (1990) infundiram Intralipid® (20% de emulsão de óleo de soja
e 50% de ácido graxo na forma de ácido linoléico; Kabivitrum Inc., Alameda, CA)
ou solução fisiológica, ambas por via intravenosa, em novilhas holandesas (310 kg
de peso vivo) nos dias 9 a 13 de um ciclo estral sincronizado, e observaram que no
dia 16 do ciclo, o número médio de folículos ovarianos > 3mm de diâmetro foi
aumentado três vezes (de 2 para 6 mm) e o diâmetro do maior folículo foi
aumentado de 7 para 10,2 mm nas novilhas que receberam a infusão com
Intralipid®.
Quando o milho foi substituído por 2,2% de Ca-LCFA na MS em uma
dieta contendo 14,5% de caroço de algodão e fornecida a vacas no início da
lactação, houve aumento no número de folículos médios (6 – 9 mm) e diminuição
no número de pequenos folículos (3 – 5 mm) antes de 25 dias pós-parto. Durante
um ciclo estral sincronizado, após 25 dias do parto, o número de pequenos e
grandes (>15 mm) folículos aumentou nos animais suplementados com gordura.
Este maior número de pequenos folículos pode refletir maior pool de folículos
disponíveis para o desenvolvimento subseqüente (Lucy et al., 1991b).
O impacto dos folículos maiores sobre a fertillidade ainda não está claro.
Quando a suplementação com gordura reduziu o CMS durante o início do período
pós-parto, o tamanho do maior folículo não influenciou a taxa de ovulação (Beam
e Butler, 1998). No entanto, Beam e Butler (1997) observaram que folículos que
ovularam durante a primeira onda de crescimento folicular pós-parto tinham
diâmetro maior. Portanto, é possível que o aumento no número e no tamanho das
estruturas foliculares pelo fornecimento de gordura na dieta possa acelerar o
intervalo do parto à primeira ovulação no pós-parto, o que pode beneficiar a
fertilidade.
A resposta máxima à suplementação com óleos vegetais tem ocorrido
quando os bovinos são alimentados com óleos de 4 a 6% da matéria seca da dieta
(MS), sendo o menor aumento observado com baixos níveis de lipídios
adicionados (Williams, 1996). A inclusão de sebo animal, ácidos graxos saturados
de sais de cálcio, e óleo de peixe tem mostrado menor efeito no crescimento
folicular que aquele causado por óleos de origem vegetal (Hightshoe et al., 1991).
17
Uma das possíveis razões para este efeito pode ser explicada em razão de o
fornecimento de óleos vegetais polinsaturados promover um rápido aumento na
concentração basal de insulina (Palmquist e Moser, 1981; Gutiérrez et al., 1997) e
este rápido aumento na concentração de insulina tem concomitante aumento na
população de folículos médios (Hightshoe et al., 1991).
Os ácidos graxos polinsaturados (linoléico, linolênico, eicosapentaenoico
(EPA; C20:5, n-3) e docosahexaenóico (C22:6, n-3)) podem inibir a sintese de
prostaglandina F2α (PGF2α) por meio de mecanismos como diminuição da
disponibilidade de seu precursor, ou seja o ácido araquidônico, aumento na
competição destes ácidos graxos com o ácido araquidônico pela ligação à
prostaglandina H sintetase (PGHS), inibindo a sua atividade (Mattos et al., 2000).
Acredita-se que o mecanismo de inibição ocorre em virtude da competição do
ácido linolêico com o ácido araquidônico, quando este se liga à enzima
cicloxigenase. A inibição da produção do ácido araquidônico pode também ocorrer
em nível da enzima ∆-6-dessaturase (Staples et al., 1998). Os ácidos graxos do
grupo n-3 (linoleico) inibem a atividade da enzima dessaturase e sofrem
dessaturação preferencial no lugar da dessaturação dos ácidos graxos n-6
(linoléico), resultando no aumento da incorporação de ácidos graxos n-3 e na
redução da incorporação do ácido araquidônico (AA; C20:4, n-6) dentro da
membrana plasmática. A diminuição da disponibilidade do AA e o aumento da
disponibilidade do EPA resultam na redução da síntese das prostaglandinas da
série 2 e aumento da síntese de eicosanóides da série 3. Os ácidos graxos podem
ativar fatores de transcrição nuclear como receptor proliferador de peroxissomos
ativados (PPAR) para inibir a resposta a elementos proliferador de peroxissomos
na região regulatória de genes-alvo.
Lucy et al. (1991b) argumentaram que os efeitos da gordura sobre a
dinâmica folicular de vacas recém-paridas ocorreram em razão da maior síntese de
PGF2α quando elevadas doses de ácido linolêico atingiam o intestino delgado.
Estes autores sincronizaram o estro de vacas de leite no início do período pós-parto
e forneceram uma dieta controle ou uma dieta contendo gordura inerte na forma de
sabões de cálcio. A suplementação com gordura no início do período pós-parto
aumentou a secreção de PGF2α medida pelos níveis de seu metabólito no plasma
18
(PGFM ou 13,14-dihidro-15-keto-PGF2α). Entretanto, observou-se recentemente
que a adição de ácidos graxos poliinsaturados à dieta de vacas de leite no meio da
lactação inibiu a secreção de PGF2α (Staples et al., 1998; Oldick et al., 1997).
Portanto, a resposta à adição de gordura na dieta de vacas de leite e de corte pode
estar associada com o estágio de lactação desses animais.
Oldick et al. (1997) infundiram leite com água, glicose, óleo vegetal ou
gordura animal no duodeno de vacas. A infusão de uma fonte de gordura altamente
insaturada (óleo vegetal) diminuiu o nível de PGFM no plasma em resposta ao
desafio com injeções de ocitocina. Coelho et al. (1997) alimentaram 15 vacas de
leite primíparas, com média de 83 dias em lactação, com farinha de peixe. Essas
vacas tiveram seus ciclos estrais sincronizados e receberam a aplicação de uma
injeção de 3 mg de estradiol e 100 UI de ocitocina. Amostras de sangue foram
coletadas seqüencialmente a cada 15 min durante 1 hora antes e 5 horas após a
injeção de ocitocina. A concentração de PGFM no plasma foi reduzida pelo
fornecimento de farinha de peixe. A infusão de resíduo de óleo vegetal no duodeno
de vacas aumentou significativamente a vida do CL (Oldick et al., 1997). Portanto,
o uso de fontes de gordura que suprem maiores quantidades de ácidos graxos
poliinsaturados ao intestino delgado diminui a secreção de PGF2α e aumenta vida
do CL.
Após uma dieta com suplemento lipídico, ocorre uma elevação na
concentração de colesterol no sangue bovino, encontrado principalmente em
lipoproteinas de alta densidade (HDL; 90 a 95%). A concentração de colesterol no
fluido folicular também aumenta após suplementação lipídica A maioria do
colesterol nos ovários chega pelo transporte direto das lipoproteínas do sangue ou
pela síntese “de novo” (Grummer e Carroll, 1988).
Antes da vascularização, apenas HDL está no fluído folicular e contribui
com esteróis para as células da granulosa porque outras lipoproteínas em razão de
sua massa molecular são incapazes de atravessar a membrana basal. Após a
vascularização, ambos LDL e HDL encontram-se nas células luteais (Grummer e
Carroll, 1988).
O colesterol serve como precursor para a síntese de progesterona pelas
células luteais ovarianas. Hawkins et al. (1995) utilizaram novilhas gestantes para
19
determinar se o aumento nas concentrações de lipídios séricos alteraria a área
ocupada por gotas lipídicas nas células luteais esteroidogênicas e a taxa de
liberação de progesterona para o soro destes animais. Para tanto, foi utilizada uma
dieta contendo ácidos graxos de cadeia longa de sabões de cálcio (Megalac –
Church and Dwight, Princeton, NJ) fornecida 100 dias antes do parto. As dietas
tinham 2% e 5% de lipídios na MS para os grupos-controle e tratamento,
respectivamente. As vacas que receberam o tratamento lipídico apresentaram,
aproximadamente, duas vezes maior concentração de colesterol, HDL e
progesterona no soro comparado àquelas do grupo-controle. Também, a área
ocupada por gotas lipídicas foi maior nas vacas tratadas que nas controles.
A suplementação com lipídios tem estimulado o aumento da concentração
sérica de hormônio de crescimento (GH), que coincide com o aumento no acúmulo
do fator de crescimento semelhante à insulina I (IGF-1) no fluido folicular, sem
afetar o IGF-1 periférico (Thomas e Williams, 1996). Há evidências de que o GH
pode estimular diretamente o mRNA para IGF-1 dentro das células da granulosa
(Yoshimura et al., 1994).
Conforme Bao et al. (1995), a habilidade de dietas com alto teor de gordura
em promover aumento na incidência de função luteal normal e estimular o
crescimento folicular está, também, relacionada aos seus efeitos nos eventos
mediados pelas lipoproteínas em nível celular. A lipoproteína circulante
predominante em bovinos é a lipoproteína de alta densidade (HDL,
aproximadamente 80% do total). A HDL, juntamente com outra lipoproteína de
baixa densidade (LDL), promove a viabilidade das células da granulosa in vitro,
independentemente do tipo de folículo, aumento da proliferação in vitro de células
derivadas da teca de folículos pré-ovulatórios, aumento da androstenediona nas
células da teca e produção de IGF-1 nas células da granulosa. A HDL foi mais
potente em estimular a produção de progesterona pelas células da granulosa e teca,
e LDL atenuou a produção de progesterona estimulada pelo HDL.
O aumento das concentrações plasmáticas de progesterona tem sido
associado à maoir na taxa de concepção de vacas lactantes e ainda com maior
fertilidade antes da inseminação (Staples et al., 1998). A progesterona não somente
20
prepara o útero para a implantação do concepto, mas também ajuda a manter a
gestação, uma vez que nutre o embrião.
Receptores para lipoproteínas desenvolvem-se nas célulass luteínicas para
a sintese de progesterona da mesma forma que receptores são desenvolvidos para o
LH. Highthoe et al. (1991) encontraram maior concentração de LH (1,47 versus
1,12 ng/mL) em vacas Simental suplementadas com 1 kg/dia de Ca-LCFA e maior
número de folículos em crescimento que vacas não suplementadas.
Evidências suportam a hipótese de que lipídios dietéticos podem modular a
sobrevivência do corpo lúteo e, conseqüentemente, a gestação. Outros estudos
mostram uma estimulação da hipófise anterior liberando de LH após
suplementação lipídica. Este mecanismo ainda não está bem esclarecido, mas
supõe-se que haja “economia” de glicose pela glândula mamária, promovendo
maior quantidade de glicose no sistema hipotalâmico-hipofisário, com produção de
LH mais acentuada. No útero, ácidos graxos polinsaturados (linoléico e
encosapentaenóico), além de inibir a síntese de PGF2α, promovem maior síntese de
progesterona, e dessa forma, permite a sobrevivência do concepto (Staples et al.,
1998).
21
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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28
RESPOSTA PRODUTIVA DE VACAS NO INÍCIO DA LACTAÇÃO
SUBMETIDAS À SUPLEMENTAÇÃO DE GORDURA DURANTE O
PERÍODO DE TRANSIÇÃO
RESUMO – Objetivou-se com este experimento estudar o efeito da
suplementação dietética de gordura de 28 dias pré-parto até 60 dias pós-parto
sobre o consumo de matéria seca (CMS) e o desempenho produtivo de vacas
leiteiras de alta produção. Foram utilizadas 20 vacas holandesas, multíparas,
gestantes, distribuídas aleatoriamente em dois tratamentos: C = dieta controle (3%
de extrato etéreo (EE) na matéria seca (MS)) e G = dieta gordura (6% de EE na
MS). Os valores médios de CMS não diferiram (P>0,05) no pré e pós-parto (10,73
e 9,95 kg e 16,06 e 17,81 kg de MS/dia para os grupos C e G, respectivamente).
Contudo, houve aumento (P<0,05) na quarta semana de lactação para o animais do
grupo G (18,29 vs 15,53 kg de MS). Este aumento no CMS, associado à maior
densidade energética da dieta G foi responsável pela elevação do consumo de
energia líquida para os animais do grupo G após o parto (32,61 vs 28,22 Mcal /
dia; P<0,05). A produção de leite total e de leite corrigido para 3,5% de gordura
não diferiram (P>0,05), com médias de 31,88 e 34,41 kg/dia e 26,34 e 36,05 kg de
leite/dia para os grupos C e G, respectivamente, apesar do G produzir 2,53 kg de
leite a mais por dia (7,93%) que o C. Houve redução da porcentagem da gordura
do leite (P < 0,05), com médias de 4,36 e 3,81 % de gordura para os grupos C e G.
Observa-se, contudo, que a produção total de gordura não foi afetada (1,38 vs 1,29
kg de gordura por dia para os grupos C e G, respectivamente; P>0,05). A
suplementação com gordura fez com que a ingestão de energia líquida no início da
lactação aumentasse, resultando, consequentemente, em maior produção de leite
diária.
Palavras-chave: período de transição, gordura dietética, vacas leiteiras,
consumo de matéria seca, produção de leite.
29
PRODUCTIVE PERFORMANCE IN THE EARLY LACTATION
DAIRY COWS SUPPLEMENTED WITH DIETARY FAT DURING
THE TRANSITION PERIOD
ABSTRACT – The aim of this study was to evaluate the reproductive
performance and dry matter intake (DMI) of dairy cows supplemented with dietary
fat during the transition period. Twenty pregnant Holstein cows were randomly
assigned into two treatments: C = Control diet (3% of EE in DM); and G = Fat diet
(6% of EE in DM). The average DMI did not differ during the pre and pos-partum
for both groups (P < 0,05; 10,73 and 9,95 kg DM to group C and 16,06 and 17,81
kg of DM to group G). However, in the fourth lactation week, animals from group
G had a higher DMI than group C (15,53 vs 18,29 kg de DM). The increase in the
DMI associated with a higher energy density of the G diet was the
responsible for a higher liquid energy intake for the animals G group in the
pos-partum (28,22 vs 32,61 Mcal/day; P< 0,05). Milk production and
corrected milk to 3,5% of butter fat did not differ among the groups (31,88 e
34,41 kg/day to group C and 36,34 e 36,05 kg of milk/day to group G) even
with a 2,53 kg/day increase in milk production to group G animals. A
decrease in milk fat percentage was verified to group G animals (4,36 X
3,81% milk fat) but not for total fat production (P > 0,05; 1,38 X 1,29 kg of
milk fat/day for groups C and G). In conclusion the supplemtary dietary fat
in dairy cows during the transition period increased the liquid energy intake
resulting in a higher daily milk production
Key-words: dairy cows, dietary fat, dry matter intake, milk production,
transition period.
30
1. INTRODUÇÃO
A gordura suplementar é freqüentemente adicionada às dietas de vacas de
alta produção no pós-parto por aumentar a densidade calórica da dieta e, assim,
promover aumento da ingestão de energia e produção de leite. Adicionalmente, o
valor energético da gordura, associado ao baixo custo de algumas fontes, tem
possibilitado a suplementação de lipídios em dietas, com uso em vários países.
Diferentes tipos de suplementação lipídica têm sido fornecidos a vacas
lactantes. Alguns incluem mistura de lipídios vegetal – animal, sebo, gordura
amarela, óleos na farinha de peixe, óleos de sementes (algodão, soja, canola,
girassol), entre outros. Os principais ácidos graxos na maioria dos lipídios de
sementes são o ácido linoléico (C18:2) e o ácido linolênico (C18:3), ambos essenciais
e devem ser suplementados nas dietas devido à dupla ligação entre o carbono ∆9 e
ao grupo metil terminal não poder ser utilizado pelo sistema biológico animal.
Segundo Schingoethe e Casper (1991), houve aumento de 5 e 10% de leite
quando as vacas foram suplementadas com sementes oleaginosas, ocorrendo maior
persistência na produção sem, necessariamente, apresentar maior pico. Este
aumento na persistência foi associado a um efeito residual após o término da
suplementação com gordura sobre a produção de leite. A inclusão de sementes de
girassol ou soja na dieta de vacas entre a 4º e 16º semana no pós-parto resultou em
2,8% mais leite no momento da suplementação, maior pico de produção e
produção 8,2% maior no final de um período de 12 semanas de alimentação. Este
significativo pico de produção de leite foi mantido durante toda a lactação.
A adição de gordura suplementar pode aumentar o status energético das
vacas, mas o resultado líquido depende do efeito da gordura suplementar no CMS,
na digestibilidade dos ácidos graxos e do nível de produção de leite. Uma
31
característica da gordura que limita o seu uso em rações para vacas leiteiras é o
grau de saturação. O efeito negativo das gorduras insaturadas na digestão da fibra
ruminal tem sido observado (Jenkins e Jenny, 1989).
Tradicionalmente, recomenda-se adicionar gordura à dieta logo após o parto,
embora estudos tenham demonstrado que a resposta à suplementação é retardada
neste período (Salfer et al., 1995). O mecanismo não tem sido esclarecido, mas
Palmquist (1990), citado por Salfer et al. (1995), sugeriu que altas concentrações
de ácidos graxos livres, estimulados pelo início da lactação e superestimulado pela
gordura adicional, poderiam atrasar o aumento no consumo de matéria seca
(CMS).
A resposta lenta e a resposta substancial “carry-over” à suplementação de
gordura podem parcialmente explicar porque pouca ou nenhuma resposta na
produção foi observada em alguns estudos que utilizaram desenho experimental de
curta duração. O “lag time” para a resposta à suplementação pode ser maior no
início da lactação (Schingoethe e Casper, 1991) e isto ocorreu, provavelmente, por
não haver nenhum período de adaptação anterior.
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da suplementação dietética de
gordura, iniciando-se 28 dias pré-parto até 60 dias no pós-parto, sobre o consumo
de matéria seca (CMS) e o desempenho produtivo de vacas leiteiras de alta
produção.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Setor de Bovinocultura de Leite
(Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite, UEPE-GL),
Departamento de Zootecnia, na Universidade Federal de Viçosa, MG, e no
Laboratório de Reprodução Animal do Departamento de Zootecnia da referida
instituição, no período de março de 2003 a maio de 2004.
Foram utilizadas 20 vacas holandesas, pluríparas (4,15 ± 2,13 partos),
gestantes, com peso vivo médio aos 28 dias pré-parto de 712,02 ± 65,20 kg e
escore de condição corporal médio igual a 3,16 ± 0,53 (escala de 0 a 5; Wildman
et al., 1982; Edmonson et al., 1989).
Os animais foram balanceados quanto a idade, peso corporal, escore de
32
condição corporal, número de lactações e produção de leite na lactação anteriores
e distribuídos em dois grupos: dieta controle (C; 3% extrato etéreo (EE) na
matéria seca (MS); n = 10) e dieta gordura (G; 6% de EE na MS; n = 10),
começando 28 dias pré-parto até 60 dias no pós-parto.
As dietas foram formuladas conforme as recomendações do National
Research Council (NRC 2001) para cada período (pré e pós-parto) e produção de
leite durante a lactação (Tabela 1).
Tabela 1. Critérios utilizados para cálculo das exigências nutricionais dos grupos
Controle (C) e Gordura (G)
Pré-Parto Pós-Parto
Idade (meses) 58,0 60,0
Peso vivo (kg) 650,0 600,0
Dias de gestação 250 0
Escore de condição corporal (ECC) 3,0 2,5
Dias em lactação 0 30
Número de lactações 3 3
Idade ao primeiro parto (meses) 30 30
Intervalo de Parto (meses) 13 13
Produção de leite (kg / dia) - 35,0
Gordura no leite (%) - 3,80
Proteína bruta no leite (%) - 3,23
As análises químico-bromatológicas dos ingredientes das dietas foram
realizadas de acordo com os procedimentos do Laboratório de Nutrição Animal do
Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (Silva e Queiroz,
2002) e, em seguida, a dieta C foi calculada para oferecer, aproximadamente, 3%
de extrato etéreo (% MS). A dieta G foi calculada para oferecer,
aproximadamente, 6% de EE (% MS) via adição de óleo de soja (Tabela 2).
As dietas foram similares na composição, exceto para o extrato etéreo e a
energia liquida, devido à adição de óleo de soja. A energia da dieta G pré-parto
apresentou 0,12 Mcal/kg de MS e a dieta de lactação apresentou 0,10 Mcal/kg de
33
MS que suas respectivas dietas controle.
Tabela 2. Ingredientes e composição nutricional das dietas durante os períodos pré e pós-parto como porcentagem da matéria seca (MS)
Pré-Parto Pós-Parto Ingredientes
Controle Gordura Controle Gordura
% da Matéria Seca
Silagem de milho 81,72 81,81 45,02 45,10
Fubá de milho 10,77 7,49 28,93 26,04
Farelo de soja – 48% PB 4,95 4,70 22,35 21,71
Óleo de soja - 3,30 - 3,25
Uréia 1,19 1,33 - 0,21
Núcleo mineral 1,10 1,10 3,02 3,02
Sulfato de amônio 0,16 0,16 - -
Premíx vitamínico 0,12 0,12 0,03 0,03
Bicarbonato de sódio - - 0,65 0,64
Composição
PB1 % da MS 12,3 12,3 17,7 17,7
PDR2 % da PB 9,6 9,8 11,0 11,3
PNDR3 % da PB 2,7 2,5 6,7 6,4
NEl4 Mcal / kg MS 1,42 1,54 1,61 1,71
FDN5 % da MS 45,9 45,6 29,4 29,1
FDN, % da MS (forragem) 44,4 44,4 24,4 24,5
FDA6, % da MS 26,4 26,3 16,6 16,5
NDT7(1x) , % da MS 62,0 66,0 70,0 73,0
EE8, % da MS 2,1 5,3 2,4 5,5
CNF9, % da MS 35,1 32,3 43,7 40,9
1PB – Proteína Bruta 2PDR – Proteína Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 3PNDR – Proteína Não Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 4NEl - Energia Líquida 5FDN – Fibra Solúvel em Detergente Neutro 6FDA – Fibra Solúvel em Detergente Ácido 7NDT – Nutrientes Digestíveis Totais (nível de mantença) 8EE – Extrato Etéreo 9CNF – Carboidrato Não Fibroso
34
As vacas que receberam a dieta G foram alimentadas com a dieta C antes do
início do período experimental, com substituição parcial da dieta-controle antes da
4ª semana pré-parto na proporção de 20%, até chegar a 100% da dieta G. Foi
considerado o primeiro dia experimental no início da 4ª semana pré-parto, quando
cada animal consumiu sua ração completa. A água e o sal mineral foram
fornecidos ad libitum.
Os animais foram mantidos em baias individuais, sendo arraçoados duas
vezes ao dia (as 07:00 h e às 15:00 h). A quantidade de volumoso e concentrado
foi ajustada diariamente para manter uma sobra entre 5 e 10% de MS. A
quantidade total de volumoso mais concentrado a ser oferecido para cada animal e
também das sobras do dia anterior foram pesadas diariamente.
Amostras de silagem e sobras foram coletadas diariamente e armazenadas em
sacos plásticos a -20 ºC, até completar o período de sete dias, compondo uma
amostra semanal. Este procedimento foi repetido até o final do período
experimental, para posterior análise química. Amostras do concentrado foram
obtidas quinzenalmente e armazenadas em sacos plásticos a -20º C.
Todos os animais foram pesados e avaliados quanto ao ECC uma vez por
semana, por um técnico treinado, segundo metodologia desenvolvida por
Edmonson et al. (1989), a partir de uma escala biológica de 1 a 5, com sub-
unidades de 0,25 pontos, em que 1 representa uma vaca muito magra e 5 muito
gorda. No dia do parto, os animais também foram pesados e avaliados quanto ao
escore de condição corporal (ECCP).
Informações relacionadas à produção de leite eram obtidas diariamente após
as ordenhas, e as amostras de leite foram coletadas semanalmente para a avaliação
da porcentagem de gordura. A produção de leite foi corrigida para 3,5% de
gordura segundo fórmula descrita por Sklan et al. (1994).
As variáveis consumo de materia seca (kg), consumo de materia seca (% do
peso vivo), consumo de nutrientes (kg de proteína bruta, fibra detergente neutro,
carboidrados não fibrosos, carboidratos totais, matéria orgânica, extrato etéreo,
nutrientes digestíveis totais e energia líquida), produção de leite (PL), produção de
leite corrigida (PLC), produção de gordura (Gkg) e porcentagem de gordura (G%)
foram analisadas pelo procedimento PROC MIXED do SAS (SAS, 1999).
35
Utilizando-se um modelo linear misto para medidas repetidas no tempo. Foram
considerados os efeitos fixos de tratamento (dietas), dias em lactação e interação
tratamentos x dias em lactação. Os efeitos de vacas dentro de classes foram
considerados aleatórios. As médias ajustadas (LSmeans) dos efeitos fixos foram
comparadas por intermédio da diferença mínima significativa (LSD), obtida pelo
teste “t”.
A produção total de leite na lactação foi estimada segundo equação de
Wood (1967). Os dados foram submetidos a análise de variância usando-se o SAS
(SAS, 1999).
Esta equação é essencialmente uma curva do tipo gama e é expressa pela
função:
yn = a nb exp (-cn) (1)
Em que yn é a produção de leite diária na semana n e a, b e c são constantes. A produção
total é assim expressa pela função:
y = ___a___ Γ (b + 1) (2) cb+1
A produção para a semana t é representada pela função:
yt = a ∫0t tbexp (-ct) dt (3)
Que pode ser avaliada usando-se tabelas de função gama incompleta.
3. RESULTADO E DISCUSSÃO
O peso corporal ao parto e o ECCP para os animais dos grupos C e G foram
de 640,10 e 651,33 kg, e 3,10 e 3,15, respectivamente. Aos 60 dias no pós-parto,
os animais dos grupos C e G pesaram 565,46 e 582,46 kg e apresentaram ECC
igual a 2,40 e 2,50, respectivamente. Esta diminuição do ECC está dentro dos
valores normais citados pelo NRC (2001) para vacas de leite nos primeiros 60 dias
após o parto, os quais variam de 0,5 a 1,0 unidade.
As análises de variância do consumo de matéria seca (CMS; kg), CMS em
porcentagem do peso vivo (CMS % PV), proteína bruta (PB), fibra solúvel em
36
detergente neutro (FDN), carboidrato não fibroso (CFN), carboidrato total
(CCHO), matéria orgânica (MO), extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais
(NTD) e energia líquida (NEL) estão sumariados na Tabela 3. Nas Tabelas 4 e 5
estão sumariados as médias das variáveis anteriormente citadas, segundo o tipo de
dieta e semanas pré e pós parto.
Tabela 3 – Resumo das análises de variâncias do consumo de matéria seca (CMS; kg), consumo de
matéria seca em porcentagem do peso vivo (CMS % PV), proteína bruta (PB), fibra
solúvel em detergente neutro (FDN), carboidrato não fibroso (CFN), carboidrato total
(CCHO), matéria orgância (MO), extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais
(NTD) e energia líquida (NEL) nas vacas durante o pré e o pós-parto.
Valor de P
Variáveis
CMS CMS
%PV PB FDN CFN CCHO MO EE
NDT NEL
Pré-Parto
Grupo1 0,4612 0,2602 0,3472 0,4785 0,0851 0,2352 0,4283 <,0001 0,8264 0,8513
Tempo2 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0004 <,0001 <,0001
Grupo x
Tempo
0,3336 0,1733 0,7555 0,1848 0,3168 0,2970 0,3392 0,1378 0,3910 0,4869
Pós-Parto
Grupo3 0,1557 0,2484 0,4489 0,5168 0,8234 0,4874 0,4032 <,0001 0,0459 0,0239
Tempo 0,0003 <,0001 <,0001 0,0046 <,0001 0,0008 0,0001 <,0001 0,0004 0,0001
Grupo x
Tempo
0,0907 0,0974 0,1504 0,1398 0,2357 0,1067 0,1050 0,0813 0,3388 0,2394
1 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,1% da MS) 1 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,3% da MS) 2 Dias em lactação 3 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,4% da MS) 3 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,5% da MS)
37
Tabela 4 – Consumos de matéria seca (CMS; kg), CMS em porcentagem do peso vivo (% PV), PB,
FDN, CFN, carboidrato total (CCHO), matéria orgânica (MO), EE, NTD e energia
líquida, de acordo com as semanas antes do parto e os tipos de dieta
Semanas Itens Grupo S-4 S-3 S-21 S-11
C 11,95 11,77 10,70 8,86 G 10,97 10,72 9,70 8,61 CMS (kg/d)
P< 0,4957 0,3836 0,3182 0,8114
C 1,72 1,65 1,49 1,25 G 1,54 1,42 1,34 1,20 CMS
(%PV) P< 0,2176 0,1479 0,2466 0,7115
C 1,61 1,54 1,42 1,34 G 1,42 1,39 1,27 1,26 PB (kg/d)
P< 0,3229 0,3550 0,2691 0,5532
C 5,46 5,45 4,92 3,86 G 4,93 4,83 4,30 3,62 FDN (kg/d)
P< 0,6607 0,4360 0,2885 0,6826
C 4,16 4,00 3,61 3,00 G 3,29 3,20 2,94 2,58 CNF (kg/d)
P< 0,0581 0,0636 0,0761 0,2706
C 9,62 9,45 8,53 6,91 G 8,23 8,03 7,24 6,20 CCHO
(kg/d) P< 0,2451 0,2051 0,1634 0,4510
C 11,51 11,26 10,20 8,45 G 10,29 10,05 9,09 8,06 MO (kg/d)
P< 0,4471 0,3676 0,3057 0,7170
C 0,27 0,26 0,23 0,19 G 0,64 0,62 0,58 0,59 EE (kg/d)
P< 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001
C 7,47 7,36 6,68 5,53 G 7,18 6,98 6,36 5,66 NDT (kg/d)
P< 0,9364 0,6693 0,6258 0,8559
C 16,96 16,76 15,32 12,93 G 17,04 16,60 15,14 13,52 NEL
(Mcal/d) P< 0,6328 0,9884 0,9043 0,6964 S1...9 = Semanas pós-parto
38
Tabela 5 – Consumos de matéria seca (CMS; kg), CMS em porcentagem do peso vivo (% PV), PB,
FDN, CFN, carboidrato total (CCHO), matéria orgânica (MO), EE, NTD e energia
líquida segundo a semana de lactação e o tipo de dieta.
Semanas Pós-Parto Itens Grupo
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
C 12,34 14,34 15,10 15,53 16,70 17,84 17,81 16,98 17,58
G 13,13 15,71 17,29 18,29 18,47 18,73 19,23 20,01 19,43 CMS
(kg/d) P< 0,5212 0,2585 0,0916 0,0410 0,1229 0,5475 0,4039 0,1212 0,3647
C 1,97 2,36 2,56 2,69 2,92 3,12 3,13 2,99 3,10
G 2,06 2,57 2,90 3,12 3,17 3,22 3,30 3,43 3,34 CMS
(%PV) P< 0,6706 0,3708 0,1546 0,0947 0,2207 0,6599 0,5324 0,1554 0,4459
C 2,23 2,58 2,73 2,81 3,02 3,24 3,18 3,03 3,15
G 2,25 2,69 2,96 3,13 3,15 3,20 3,27 3,41 3,32 PB (kg/d)
P< 0,9529 0,5838 0,3547 0,1583 0,5127 0,8765 0,7050 0,1617 0,6133
C 3,84 4,25 4,48 4,47 4,77 5,24 5,20 4,80 5,32
G 3,99 4,59 4,99 5,23 5,09 5,06 5,54 5,59 4,66 FDN
(kg/d) P< 0,7805 0,4281 0,3044 0,0937 0,4407 0,7477 0,4785 0,2028 0,5120
C 5,49 6,44 6,87 7,09 7,68 8,25 8,24 7,82 7,99
G 5,32 6,34 6,96 7,33 7,49 7,57 7,81 8,10 7,84 CNF
(kg/d) P< 0,7604 0,8497 0,8828 0,6746 0,7321 0,3599 0,5227 0,6813 0,8664
C 3,74 4,31 4,54 4,60 4,90 5,27 5,32 4,97 5,32
G 3,70 4,48 4,96 5,19 5,18 5,21 5,42 5,65 5,49 CCHO
(kg/d) P< 0,9313 0,6389 0,3446 0,1454 0,4876 0,9176 0,8184 0,2181 0,7924
C 11,83 13,73, 14,54 14,90 16,01 17,21 17,17 16,24 16,89,
G 12,03 14,42 15,88 16,80 16,97 17,20 17,67 18,39 17,86 MO
(kg/d) P< 0,8732 0,5371 0,3173 0,1188 0,4022 0,9963 0,7172 0,1714 0,6033
C 0,31 0,37 0,39 0,41 0,43 0,45 0,44 0,42 0,43
G 0,76 0,90 0,99 1,06 1,07 1,07 1,09 1,13 1,10 EE (kg/d)
P< 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001
C 8,65 9,47 10,61 10,93 11,78 12,54, 12,40 11,82 12,26
G 9,59 11,52 12,67 13,35 13,51 13,68 14,02 14,59, 14,15 NDT
(kg/d) P< 0,3039 0,0593 0,0308 0,0133 0,0406 0,2904 0,1879 0,0528 0,2116
C 20,93 23,96, 24,99 25,58 27,31 28,74 28,65 28,95 28,22
G 23,67 27,63 29,97 31,36 32,94 31,95 32,57 33,71 32,61 NEL
(Mcal/d) P< 0,1933 0,0562 0,0120 0,0043 0,0161 0,1281 0,1193 0,0555 0,1438
S1...9 = Semanas pós-parto
39
O CMS no pré e pós-parto não foram diferentes entre os animais dos
tratamentos C e G, com médias de 10,73 ± 2,87 e 9,95 ± 1,80 kg, e 16,02 ± 3,71 e
17,80 ± 3,62 kg MS por dia, respectivamente. Os consumos dos demais nutrientes
foram semelhantes (PB, FDN, CNF, CCHO e MO), exceto EE (P<0,01). Neste
caso, verificou-se no pré-parto e pós-parto, para as vacas dos grupos C e G
consumos de 0,234 ± 0,08 e 0,408 ± 0,09, e 0,607 ± 0,09 e 1,02 ± 0,22 kg de EE
por dia, respectivamente. Também houve maior consumo de NDT e NEL no pós-
parto (P<0,05).
Estudos realizados por Rabello (1995) e Silva (1997) relataram que os CMS,
MO, CCHO, NDT, PB, FDN, pH, amônia e síntese microbiana não foram afetados
pela inclusão de fontes de gordura na ração concentrada. Porém, o consumo de EE
aumentou linearmente com o aumento de grão de soja. Corroborando, Malafaia
(1995), trabalhando com sebo bovino, verificou que o consumo médio diário de
MS, MO, PB, CCHO, FDN, NDT, a produção de leite corrigida para 3,5% de
gordura e os teores de proteína bruta e gordura do leite não foram influenciados
pela inclusão de sebo no concentrado.
A ingestão de nutrientes é uma função do CMS e da densidade de nutrientes
da dieta. Como visto na Tabela 2 e descrito anteriormente, a dieta de lactação G
apresentou 0,10 Mcal por kg de MS a mais que a dieta-controle. Como
demonstrado na Tabela 5, apesar de não haver diferença, as vacas do gupo G
consumiram em média 1,8 kg de MS por dia a mais que o grupo C, permitindo,
dessa forma, que o consumo de NDT e, consequentemente, de NEL, fosse maior
para a dieta (P<0,05).
O CMS diminuiu da quarta semana pré-parto até o parto para ambos os
grupos (Figura 1; P<0,05). Houve redução de 22,75 e 17,68% na última semana
pré-parto, comparado às semanas anteriores, para os grupos C e G,
respectivamente. Bertics et al. (1992) e Grant e Albrightt (1995) observaram
redução entre 20 e 30% no CMS na última semana pré-parto. A concentração
sangüínea de muitos hormônios aumenta ou diminui drasticamente ao parto e pode
ser um potente modificador do CMS. Grummer (1995) sugeriu que o estrógeno ou
a proporção entre estrógeno e progesterona tem uma influência no CMS pré-parto.
Infusão intravenosa de 17β-estradiol diminuiu o CMS e a produção de leite em
40
vacas leiteiras (Grummer et al., 1990). A progesterona não tem efeito direto no
CMS, mas, indiretamente, bloqueia os efeitos do estrógeno em vacas leiteiras
(Muir et al., 1972). Limitações físicas, devido ao crescimento fetal, têm sido
apontadas como causas da diminuição do CMS com a proximidade do parto
(Ingvartsen et al., 1992, citados por Agenas et al., 2003). Outra possível explicação
para o declínio no CMS verificado alguns dias pré-parto está associada ao aumento
da infiltração de gordura no fígado (Bertics et al., 1992).
79
11131517192123
S-4 S-3 S-2 S-1 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
Semanas Peri-Parto
CM
S (
Kg
/ D
ia)
C G
Figura 1. Mudanças no consumo de matéria seca (CMS) durante o pré e o pós-parto para as vacas
alimentadas com dietas controle (C) e gordura (G). S-4 até S-1 representam semanas
relacionadas ao pré-parto e S1 até S9 representam semanas relacionadas ao pós-parto.
Houve rápido aumento do CMS após o parto para ambos os grupos (Figura
1; P<0,05). Neste estudo, a taxa de aumento no CMS entre a primeira e a terceira
semana foi de 1,38 e 2,08 kg por semana para os animais dos grupos C e G,
respectivamente. Estes valores estão dentro dos limites citados por Bertics et al.,
(1992), com aumento aproximado de 1,5 a 2,5 kg/semana durante as primeiras três
semanas de lactação. A taxa de aumento do CMS durante o início da lactação pode
ser primariamente determinada pela ingestão e pelo balanço de energia (Bertics et
al., 1992).
O CMS (% PV) durante o período pré-parto foi de 1,51 e 1,37% para os
animais dos grupos C e G, respectivamente. Já no pós-parto, o CMS (% PV) foi de
2,77 e 3,01%, respectivamente, até 60 dias de lactação (1,26 e 1,64% a mais).
41
Diversas medidas de manejo nutricional têm sido propostas para aumentar a
ingestão de nutrientes durante períodos críticos no ciclo de produção. Dentre todas
elas, a maximização do CMS é a principal. Vacas que podem avançar no CMS de,
aproximadamente, 2% de seu peso vivo durante o período seco para 3,5% dentro
das primeiras seis semanas de lactação (1,5% a mais), não apenas apresentarão
menor e mais curto BEN, mas também produzirão mais leite (Staples et al., 1990).
As análises de variância das características associadas à produção e
composição do leite (PL, PLC, Gkg e G%) estão sumariadas na Tabela 6. Na
Tabela 7 estão resumidas as médias das variáveis acima citadas, em razão dos dias
em lactação, segundo o tipo de dieta utilizada. Não foi observado efeito do
tratamento sobre a PL e nem sobre a PLC (P>0,05). A PL foi afetada pelo tempo e
as maiores produções foram observadas durante o primeiro e segundo mês de
lactação para os grupos C e G, respectivamente.
Tabela 6 – Resumo das análises de variâncias da produção de leite total (PL), produção de leite
corrigido para 3,5% de gordura (PLC), produção total de gordura (Gkg) e porcentagem
de gordura no leite (G%) nas vacas durante o pós-parto
Valor de P Variáveis
PL PLC Gkg G%
Grupo1 0,2353 0,9106 0,0159 0,4764
Tempo2 <,0001 0,0002 0,0002 <,0001
Classe x Tempo 0,1925 0,2353 0,0558 0,3466
1 Grupo 1: Dieta-controle (EE = 2,4% da MS) 1 Grupo 2: Dieta-gordura (EE = 5,5% da MS) 2 Dias em lactação
42
Tabela 7 - Produção de leite (PL), produção de leite corrigida a 3,5% de gordura (PLC),
produção de gordura por quilograma (Gkg) e porcentagem de gordura (G%) segundo
a semana de lactação e o tipo de dieta, nas vacas após o parto
Semanas de Lactação Itens Grupo
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
C1 25,60 32,09 33,84 32,04 33,24 33,70 33,26 31,84 31,35
G2 27,25 32,22 34,09 35,09 35,76 35,90 36,58 37,34 35,42 PL
(kg/d) P< 0,4845 0,9580 0,9225 0,1273 0,3159 0,3538 0,2017 0,0544 0,1322
C 31,47 39,52 40,82 37,61 35,81 36,31 35,68 34,51 35,33
G 34,48 40,39 38,73 36,49 35,29 36,05 33,73 35,36 33,68 PLC
(kg/d) P< 0,3729 0,8284 0,5890 0,6922 0,8441 0,9268 0,5544 0,8030 0,6279
C 4,89 4,88 4,74 4,56 4,00 3,95 3,94 4,05 4,29
G 5,12 5,04 4,28 3,69 3,40 3,55 2,95 3,11 3,14 G%
(%) P< 0,5993 0,6944 0,1863 0,0030 0,0384 0,2204 0,0017 0,0207 0,0045
C 1,25 1,58 1,61 1,46, 1,31, 1,33 1,30 1,27 1,34
G 1,39 1,62 1,47 1,31 1,21 1,26 1,10 1,18 1,13 Gkg
(kg) P< 0,3714 0,8408 0,4499 0,2607 0,3853 0,5788 0,1650 0,5522 0,1897
1 Grupo C: dieta-controle. 2 Grupo G: dieta-gordura.
Durante os primeiros 60 dias de lactação, a PL média para os grupos controle
(C) e gordura (G) foram de 31,88 ± 5,06 e 34,41 ± 6,51 Kg por dia,
respectivamente (+2,53 kg/dia). Os animais do grupo G produziram 7,93% mais
leite por dia que os a do grupo C. Ao final dos 60 dias de lactação, os animais do
grupo C produziram 1.912,8 kg de leite e os do grupo G, 2064,6 kg de leite,
resultando na produção de 151,8 kg de leite a mais ao final de 60 dias de lactação
para os animais do grupo G.
De acordo com a equação de Wood (1967), a produção total de leite na
lactação foi estimada em 8.442,5 e 9.338,5 kg para os os animais dos grupos C e
G, respectivamente, o que representa 895,9 kg de leite (10,61%) a mais na
lactação. Este resultado é similar aos 10% observados por Palmquist (1984), citado
por Palmquist (1996), e 8,2% registrados por Schingoethe e Casper (1991), os
43
quais também observaram que a produção de leite manteve-se maior durante toda
a lactação para os animais suplementados com gordura mesmo após o final do
tratamento na 16ª semana após o parto. O efeito residual à suplementação de
gordura é um fator importante a ser considerado para avaliar a resposta total à este
tipo de suplementação.
Este aumento pode ser devido à maior ingestão de energia verificada para as
vacas suplementadas com gordura, principalmente a partir da terceira semana de
lactação, quando consumiram 4,66 Mcal/dia a mais que os animais do grupo C,
resultando em 3,44 kg de leite a mais por dia a partir da quarta semana de lactação.
De acordo com Onetti e Grummer (2004), a resposta positiva a suplementação
com gordura deve ser esperada, devido à maior disponibilidade de NEL, desde que
não haja redução do CMS.
O padrão de produção de leite foi afetado pela dieta quando as curvas de
lactação foram comparadas (Figura 2). A produção de leite cresceu continuamente
para ambos os grupos. Contudo, o pico de produção de leite para os animais do
grupo C ocorreu na terceira semana (33,84 kg de leite), enquanto para os do grupo
G, o pico de produção aconteceu na oitava semana (37,34 kg de leite). A curva de
lactação para os animais do grupo G aumentou acima daquela do grupo C à partir
da terceira semana e continuou até o final do experimento (3,44 kg de leite a
mais/dia). Estes resultados estão de acordo com os de Garcia-Bojalil et al.(1998),
os quais verificaram que o padrão de produção de leite não foi afetado pela
gordura suplementar até 20 dias após o parto, momento no qual a curva de
produção começou a se separar, estimulando a produção em aproximadamente 2,0
kg de leite a mais por dia.
Schingoethe e Casper (1991) registraram valores semelhantes quanto à
semana de pico de produção, sendo que os animais alimentados com a dieta-
controle apresentaram o pico de produção de leite na sexta semana e aqueles
tratados com gordura mostraram pico na nona semana de lactação.
44
20
25
30
35
40
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
Semanas Pós-Parto
Pro
du
ção
de
Lei
te (
Kg /
dia
)
C G
Figura 2. Produção de leite nos primeiros 60 dias de lactação para as vacas tratadas com dieta
controle (C) ou gordura (G). As semanas pós-parto são representadas de S1 a S9.
Segundo vários autores, a suplementação com gordura tem aumentado a
produção de leite. Estes aumentos foram observados quando de utilizaram sais de
ácidos graxos com cálcio a 4% da MS da ração (Peixoto et al., 1994), gordura
protegida – Magnapac (Pinto, 1997), sebo bovino (Malafaia et al., 1996). As
respostas, contudo tem sido bastante variáveis. Algumas das variações podem ser
atribuídas à redução do CMS quando a gordura foi adicionada à dieta. Se o CMS
for bastante diminuído, a ingestão de energia total pela vaca pode não ser
aumentada.
O consumo de EE neste estudo foi 0,612 kg a mais para o grupo G, o que
suportou o aumento de 2,53 kg de leite a mais por dia. Grummer (1992), citado por
Palmquist (1996), observou que o fornecimento de 500 gramas de gordura fez com
que a produção de leite fosse aumentada em 2,80 kg por dia. Este volume foi
inferior ao verificado por Jenkins (1997), o qual indicou que a máxima resposta
em produção de leite à suplementação com gordura foram de 3,50 kg por dia.
Cerca de 700 gramas de gordura suplementar foram requeridos para suportar a
produção de 3,50 kg de leite.
A porcentagem de gordura no leite (G%) diferiu (P<0,05) entre os animais
dos tratamentos, sendo significativo a partir da quarta semana de lactação, quando
a diferença na produção total de leite tornou-se mais expressiva (Figura 3). As
45
médias finais da G% aos 60 dias de lactação foram 4,37 ± 0,79 e 3,81 ± 1,08 %
para os animais dos grupos C e G, respectivamente (redução de 0,56%). Esta
diferença pode ser devido à maior produção de leite verificada neste período para
os animais do grupo G, visto que, quanto maior o volume de leite, menor será a
concentração por mililitro de seus constituintes. Contudo, esta redução da G% foi
compensada pela maior produção de leite diária, resultando na ausência de efeito
dos tratamentos utilizados sobre a produção total de gordura (Gkg). As produções
médias de gordura foram de 1,38 ± 0,29 e 1,30 ± 0,40 kg/d para os grupos C e G,
respectivamente.
2.50
3.00
3.50
4.00
4.50
5.00
5.50
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
Semanas Pós-Parto
%G
C G
Figura 3. Mudança na porcentagem de gordura (G%) do leite nos primeiros 60 dias de lactação para
as vacas tratadas com dieta controle (C) ou gordura (G). As semanas pós-parto são
representadas de S1 a S9.
A redução da gordura do leite tem sido demonstrada quando fontes
adicionais de gordura são fornecidas nas dietas de vacas em lactação,
principalmente se estas fontes são compostas de grande quantidade de ácidos
graxos insaturados (Schingoethe e Casper, 1991), o que pode reduzir a digestão da
fibra e diminuir a proporção entre acetato e propionato. Outros autores não
verificaram redução na porcentagem de gordura no leite quando vacas foram
alimentadas com gordura (Ruegsegger e Schultz, 1985; Driver et al., 1990).
Schingoethe e Casper (1991) observaram redução na porcentagem de gordura do
leite de 0,25% durante o período de suplementação. SegundoWrenn et al. (1978), a
46
porcentagem de gordura do leite reduziu 0,5% quando animais foram
suplementados com gordura.
A redução da gordura do leite pode ter ocorrido devido também em virtude
do acúmulo de ácidos graxos trans no rúmen durante a hidrogenação dos ácidos
graxos de cadeia longa. Gaynor et al. (1994) demonstraram que a infusão
abomasal de ácidos graxos oléicos trans reduz a percentagem de gordura do leite,
devido à diminuição na síntese de outros ácidos graxos e reduzida atividade da
enzima acyl transferase no tecido mamário, reduzindo assim a síntese de
triglicerídeos. Baumgard et al. (2002) relataram que ácidos graxos polinsaturados,
com duplas ligações trans-10 diminuiu, diminuiram a porcentagem de gordura do
leite por meio da redução da síntese de novo de ácidos graxos.
4. CONCLUSÃO
De acordo com os dados deste experimento, a suplementação dietética de
gordura (óleo de soja) durante 30 dias pré-parto até 60 dias pós-parto promoveu a
adaptação à gordura suplementar, mantendo o consumo de matéria seca e
melhorando a ingestão de energia, sem diminuir a ingestão de fibra. Também foi
eficiente em aumentar a produção de leite diária e, conseqüentemente, a produção
total no período de suplementação, sem comprometer a quantidade de gordura
produzida.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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51
VARIAÇÃO DO ESCORE DE CONDIÇÃO CORPORAL E DO PESO
CORPORAL NO INÍCIO DA LACTAÇÃO EM VACAS SUBMETIDAS À
SUPLEMENTAÇÃO DE GORDURA DIETÉTICA DURANTE O PERÍODO
DE TRANSIÇÃO
RESUMO – Este estudo foi realizado com o objetivo de estudar os efeitos da
suplementação dietética com gordura durante o período de transição sobre o
balanço energético, a mobilização de reservas corporais e mudança de peso
corporal. Foram utilizadas 20 vacas holandesas, multíparas, gestantes, distribuídas
aleatoriamente em dois tratamentos: C = dieta controle (3% de extrato etéreo (EE)
na matéria seca (MS)) e G = dieta gordura (6% de EE na MS). Os valores médios
de consumo de MS (CMS) não diferiram no pré e pós-parto (10,73 e 9,95 kg e
16,06 e 17,81 kg de MS/dia para os grupos C e G, respectivamente; P>0,05).
Contudo, houve aumento (P < 0,05) na quarta semana de lactação para o animais
do grupo G (18,29 vs 15,53 kg de MS). Este aumento no CMS, associado a maior
densidade energética da dieta G, responsável pelo aumento no consumo de energia
líquida para os animais do grupo G após o parto (32,61 vs 28,22 Mcal/dia;
P<0,05). A produção de leite total, e leite corrigido para 3,5% de gordura não
diferiram, com médias de 31,88 e 34,41 kg/dia e 26,34 e 36,05 kg de leite/dia para
os grupos C e G, respectivamente (P>0,05). Verificou-se interação entre dieta e
semanas em lactação sobre o balanço de energia liquida, sendo que os animais do
grupo G apresentaram menor balanço negativo de energia a partir da quarta
semana de lactação (P<0,05), coincidindo com o aumento de consumo verificado
neste mesmo período. Não foram verificados efeitos das dietas sobre o escore de
condição corporal e mudança de condição corporal. Observou-se no entento que
houve interação entre dieta e semanas em lactação sobre o peso corporal e
mudança de peso corporal no pré e pós-parto para os animais do grupo G, que
estabilizaram o peso corporal e começaram a ganhar peso a partir da sétima
semana enquanto os animais do grupo C permaneceram perdendo peso. A
suplementação dietética com gordura durante o período periparto fez com que o
‘deficit’ energético diminuisse, resultando, portanto em menor mobilização dos
tecidos corporais.
Palavras-chave: período de transição, gordura dietética, vacas leiteiras, escore de
condição corporal, peso corporal
52
BODY CONDITION AND WEIGHT CHANGES IN THE EARLY
LACTATION PERIOD OF DAIRY COWS SUPPLEMENTED WITH
DIETARY FAT DURING THE TRANSITION PERIOD
ABSTRACT – The aim of this study was to evaluate the energy balance and body
conditions and weight changes of dairy cows supplemented with dietary fat during
the transition period. Twenty pregnant Holstein cows were randomly assigned into
two treatments: C = Control diet (3% of EE in DM); and G = Fat diet (6% of EE in
DM). The average DMI did not differ during the pre and pos-partum for both
groups (P < 0,05; 10,73 and 9,95 kg DM to group C and 16,06 and 17,81 kg of
DM to group G). However, in the fourth lactation week, animals from group G
had a higher DMI than group C (15,53 vs 18,29 kg de DM). The increase in the
DMI associated with a higher energy density of the G diet was the responsible for
a higher liquid energy intake for the animals G group in the pos-partum (28,22 vs
32,61 Mcal/day; P< 0,05). Milk production and corrected milk to 3,5% of butter
fat did not differ among the groups (31,88 e 34,41 kg/day to group C and 36,34 e
36,05 kg of milk/day to group G). Group G animals had a lower negative energy
balance after the fourth week of lactation (P < 0,05), concurring with a higher
DMI in the same period. No differences in body condition score and body
condition changes was verified among the groups, however group G animals had a
higher average daily body weight gain than group C after the seventh week pos-
partum while group C animal remain loosing weight until the end of this
experiment. In conclusion, dairy cows supplemented with dietary fat during the
pre-partum period had a lower energy deficit that resulted in a decrease in body
condition score and weight changes.
Key-words: body condition score, body weight, dairy cows, dietary fat, transition
period.
53
1. INTRODUÇÃO
Fontes suplementares de gordura dietética têm sido utilizadas para que sejam
maximizadas as respostas produtivas de vacas em lactação. Adicionalmente, o uso
de fontes de gordura suplementar pode resultar em melhor equilíbrio metabólico
em vacas leiteiras durante o início da lactação, conseguindo-se menores variações
do escore de condição corporal (ECC) e do peso corporal (PC; Garcia-Bojalil et
al., 1998; NRC, 2001).
Apesar de serem relatados aumentos de produção de leite de 5 a 10% quando
vacas são suplementadas com gordura dietética (Schingoethe e Casper, 1991),
estes aumentos podem estar acompanhados de um balanço energético negativo
mais intenso caso não sejam fornecidas as quantidades necessárias de nutrientes
para suprir estes aumentos. A utilização de gordura nas dietas pode resultar em
maior quantidade de energia ingerida diariamente, se não observadas observadas
as reduções de consumo associadas à suplementação dietética com gordura.
Vacas leiteiras apresentam constantes alterações na composição corporal
durante a lactação e no período seco, refletindo, primariamente, a mobilização ou
reposição de tecidos corporais quando as dietas contêm energia insuficiente ou em
excesso para o atendimento das exigências nutricionais (Komaragiri et al., 1998).
O monitoramento adequado das reservas corporais é crítico para a manutenção de
vacas leiteiras, principalmente de alta produção, em condições de expressarem seu
potencial produtivo (Ferguson e Otto, 1989; Waltner et al., 1993).
Variações no ECC durante a lactação, refletindo o padrão de mobilização de
reservas corporais, estão relacionadas com os dias em lactação, sendo esperada
diminuição gradativa no ECC no início da lactação, seguida de posterior
54
recuperação e retorno ao ECC inicial no meio e final da lactação (Pedron et al.,
1993; Waltner et al., 1993).
O peso corporal também apresenta variações durante a lactação, sendo
influenciado pelo tamanho dos animais, quantidade de reservas corporais e
enchimento do trato gastrintestinal (Enevoldsen e Kristensen, 1997). Estes fatores
dependem dos estádios de lactação e gestação e da idade dos animais (Koenen et
al., 1999). Segundo Koenen et al. (1999) e Buckley et al. (2000), o PC segue um
padrão, com ligeira redução na época do parto, quando o feto, a placenta e demais
conteúdos uterinos são expulsos, seguido de declínio gradual, em virtude da
mobilização de reservas corporais para o fornecimento de energia para a produção
de leite e, após o início da lactação e nova concepção, o animal retorna ao peso
inicial, por causa da reposição dos tecidos corporais mobilizados e pelo
desenvolvimento fetal.
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da suplementação dietética de
gordura, iniciando-se 28 dias pré-parto até 60 dias no pós-parto, sobre o balanço
de energia, a variação do peso corporal e do escore de condição corporal de vacas
leiteiras de alta produção.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Setor de Bovinocultura de Leite
(Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite, UEPE-GL),
Departamento de Zootecnia, na Universidade Federal de Viçosa, MG, e no
Laboratório de Reprodução Animal do Departamento de Zootecnia da referida
instituição, no período de março de 2003 a maio de 2004.
Foram utilizadas 20 vacas holandesas, pluríparas (4,15 ± 2,13 partos),
gestantes, com peso vivo médio aos 28 dias pré-parto de 712,02 ± 65,20 kg e
escore de condição corporal médio igual a 3,16 ± 0,53 (escala de 0 a 5; Wildman
et al., 1982; Edmonson et al., 1989).
Os animais foram balanceados quanto a idade, peso corporal, escore de
condição corporal, número de lactações e produção de leite na lactação anteriores
e distribuídos em dois grupos: dieta controle (C; 3% extrato etéreo (EE) na
matéria seca (MS); n = 10) e dieta gordura (G; 6% de EE na MS; n = 10),
55
começando 28 dias pré-parto até 60 dias no pós-parto.
As dietas foram formuladas conforme as recomendações do National
Research Council (NRC 2001) para cada período (pré e pós-parto) e produção de
leite durante a lactação (Tabela 1).
Tabela 1. Critérios utilizados para cálculo das exigências nutricionais dos grupos
Controle (C) e Gordura (G)
Pré-Parto Pós-Parto
Idade (meses) 58,0 60,0
Peso vivo (kg) 650,0 600,0
Dias de gestação 250 0
Escore de condição corporal (ECC) 3,0 2,5
Dias em lactação 0 30
Número de lactações 3 3
Idade ao primeiro parto (meses) 30 30
Intervalo de Parto (meses) 13 13
Produção de leite (kg / dia) - 35,0
Gordura no leite (%) - 3,80
Proteína bruta no leite (%) - 3,23
As análises químico-bromatológicas dos ingredientes das dietas foram
realizadas de acordo com os procedimentos do Laboratório de Nutrição Animal do
Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (Silva e Queiroz,
2002) e, em seguida, a dieta C foi calculada para oferecer, aproximadamente, 3%
de extrato etéreo (% MS). A dieta G foi calculada para oferecer,
aproximadamente, 6% de EE (% MS) via adição de óleo de soja (Tabela 2).
As dietas foram similares na composição, exceto para o extrato etéreo e a
energia liquida, devido à adição de óleo de soja. A energia da dieta G pré-parto
apresentou 0,12 Mcal/kg de MS e a dieta de lactação apresentou 0,10 Mcal/kg de
MS que suas respectivas dietas controle.
56
Tabela 2. Ingredientes e composição nutricional das dietas durante os períodos pré e pós-parto
como porcentagem da matéria seca (MS)
Pré-Parto Pós-Parto Ingredientes
Controle Gordura Controle Gordura
% da Matéria Seca
Silagem de milho 81,72 81,81 45,02 45,10
Fubá de milho 10,77 7,49 28,93 26,04
Farelo de soja – 48% PB 4,95 4,70 22,35 21,71
Óleo de soja - 3,30 - 3,25
Uréia 1,19 1,33 - 0,21
Núcleo mineral 1,10 1,10 3,02 3,02
Sulfato de amônio 0,16 0,16 - -
Premíx vitamínico 0,12 0,12 0,03 0,03
Bicarbonato de sódio - - 0,65 0,64
Composição
PB1 % da MS 12,3 12,3 17,7 17,7
PDR2 % da PB 9,6 9,8 11,0 11,3
PNDR3 % da PB 2,7 2,5 6,7 6,4
NEl4 Mcal / kg MS 1,42 1,54 1,61 1,71
FDN5 % da MS 45,9 45,6 29,4 29,1
FDN, % da MS (forragem) 44,4 44,4 24,4 24,5
FDA6, % da MS 26,4 26,3 16,6 16,5
NDT7(1x) , % da MS 62,0 66,0 70,0 73,0
EE8, % da MS 2,1 5,3 2,4 5,5
CNF9, % da MS 35,1 32,3 43,7 40,9
1PB – Proteína Bruta 2PDR – Proteína Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 3PNDR – Proteína Não Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 4NEl - Energia Líquida 5FDN – Fibra Solúvel em Detergente Neutro 6FDA – Fibra Solúvel em Detergente Ácido 7NDT – Nutrientes Digestíveis Totais (nível de mantença) 8EE – Extrato Etéreo 9CNF – Carboidrato Não Fibroso
57
As vacas que receberam a dieta G foram alimentadas com a dieta C antes do
início do período experimental, com substituição parcial da dieta-controle antes da
4ª semana pré-parto na proporção de 20%, até chegar a 100% da dieta G. Foi
considerado o primeiro dia experimental no início da 4ª semana pré-parto, quando
cada animal consumiu sua ração completa. A água e o sal mineral foram
fornecidos ad libitum.
Os animais foram mantidos em baias individuais, sendo arraçoados duas
vezes ao dia (as 07:00 h e às 15:00 h). A quantidade de volumoso e concentrado
foi ajustada diariamente para manter uma sobra entre 5 e 10% de MS. A
quantidade total de volumoso mais concentrado a ser oferecido para cada animal e
também das sobras do dia anterior foram pesadas diariamente.
Amostras de silagem e sobras foram coletadas diariamente e armazenadas em
sacos plásticos a -20 ºC, até completar o período de sete dias, compondo uma
amostra semanal. Este procedimento foi repetido até o final do período
experimental, para posterior análise química. Amostras do concentrado foram
obtidas quinzenalmente e armazenadas em sacos plásticos a -20º C.
Todos os animais foram pesados e avaliados quanto ao ECC uma vez por
semana, por um técnico treinado, segundo metodologia desenvolvida por
Edmonson et al. (1989), a partir de uma escala biológica de 1 a 5, com sub-
unidades de 0,25 pontos, em que 1 representa uma vaca muito magra e 5 muito
gorda. No dia do parto, os animais também foram pesados e avaliados quanto ao
escore de condição corporal (ECCP).
Informações relacionadas à produção de leite eram obtidas diariamente após
as ordenhas, e as amostras de leite foram coletadas semanalmente para a avaliação
da porcentagem de gordura. A produção de leite foi corrigida para 3,5% de
gordura segundo fórmula descrita por Sklan et al. (1994).
O balanço de energia líquida (NEL) foi assim: Ingestão de NEL –
Requerimento de NEL para mantença – Requerimento de NEL para produção de
leite. Os exigências nutricionais foram estimadas conforme NRC (2001), e os
cálculos realizados por meio do software Nutrient Requirements of Dairy Cattle
(versão 1.0; Clark, 2000).
58
As variáveis escore de condição corporal (ECC), mudança de condição
corporal (MECC), peso corporal (PC) e mudança de peso corporal (MPC) foram
analisadas pelo procedimento PROC MIXED do SAS (SAS, 1999), utilizando-se
um modelo linear misto para medidas repetidas no tempo. Este procedimento
permitiu melhor ajuste na estrutura da matriz que descreve as covariâncias de
medidas repetidas no tempo. Foram considerados os efeitos fixos de tratamento
(dietas), dias em lactação e interação tratamentos x dias em lactação. Os efeitos de
vacas dentro de classes foram considerados aleatórios. Na avaliação da MPC pré-
parto e pós-parto utilizou-se, respectivamente, o peso corporal no início do período
experimental e no dia do parto como covariável.
3. RESULTADO E DISCUSSÃO
O resumo das análises de variância do consumo de matéria seca (CMS; kg),
CMS em porcentagem do peso vivo (CMS % PV), extrato etéreo (EE), nutrientes
digestíveis totais (NTD), energia líquida (NEL), produção de leite total (PL) e
produção de leite corrigido para 3,5% de gordura (PLC) estão sumariados na
Tabela 3, e as médias das variáveis descritas anteriormente, segundo o tipo de
dieta, encontram-se representados na Tabela 4.
Tabela 3 – Resumo das análises de variâncias do consumo de matéria seca (CMS; kg), consumo de
matéria seca em porcentagem do peso vivo (CMS % PV), extrato etéreo (EE),
nutrientes digestíveis totais (NTD), energia líquida (NEL), produção de leite total (PL)
e produção de leite corrigido para 3,5% de gordura (PLC) nas vacas durante o pré e o
pós parto.
Valor de P Variáveis
CMS CMS %PV EE NDT NEL PL PLC
Pré-Parto
Grupo1 0.4612 0.2602 <.0001 0.8264 0.8513 - -
Tempo2 <.0001 <.0001 <.0004 <.0001 <.0001 - -
Grupo x Tempo 0.3336 0.1733 0.1378 0.3910 0.4869 - -
59
Pós-Parto
Grupo3 0.1557 0.2484 <.0001 0.0459 0.0239 0.2353 0.9106
Tempo 0.0003 <.0001 <.0001 0.0004 0.0001 <.0001 0.0002
Grupo x Tempo 0.0907 0.0974 0.0813 0.3388 0.2394 0.1925 0.2353
1 Grupo 1: Dieta-controle (EE = 2,1% da MS) 1 Grupo 2: Dieta-gordura (EE = 5,3% da MS) 2 Dias em lactação 3 Grupo 1: Dieta-controle (EE = 2,4% da MS) 3 Grupo 2: Dieta-gordura (EE = 5,5% da MS)
Tabela 4 – Médias para CMS pré e pós-parto, CMS em porcentagem do peso vivo (% PV),
consumos de extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais (NTD), energia
líquida (NEL), produção de leite total (PL) e produção de leite corrigido para 3,5%
de gordura (PLC) dos animais alimentados com dieta controle (C) ou gordura (G)
durante o período de transição
Controle Gordura
Pré - Parto
CMS (kg/dia) 10,73 ± 2,87 9,95 ± 1,80
CMS (% PV) 1,51 ± 0,37 1,37 ± 0,26
EE (kg/dia) 0,234 ± 0,085 0,607 ± 0,090
NDT (kg/dia) 6,70 ± 1,83 6,51 ± 1,24
NEL (Mcal/dia) 15,38 ± 4,05 15,49 ± 2,89
Pós - Parto
CMS (kg/dia) 16,02 ± 3,71 17,81 ± 3,62
CMS (% PV) 2,76 ± 0,70 3,01 ± 0,62
EE (kg/dia) 0,408 ± 0,09 1,022 ± 0,22
NDT (kg/dia) 11,16 ± 2,70 13,01 ± 2,67
NEL (Mcal/dia) 28,22 ± 5,79 32,61 ± 6,99
PL (kg/dia) 31,88 ± 5,06 34,41 ± 6,51
PLC (kg/dia) 36,34 ± 6,29 36,02 ± 8,30
O CMS não foi afetado pela dieta no pré e nem no pós-parto (Tabela 4).
Contudo, os animais do grupo G consumiram 1,79 kg de MS a mais que os
animais do grupo C após o parto, resultando em maior consumo de NDT e,
60
consequentemente, NEL (P< 0,05). Como esperado, verificou-se no pré-parto e
pós-parto, para as vacas dos grupos C e G, consumo de 0,234 ± 0,08 e 0,408 ±
0,09, e 0,607 ± 0,09 e 1,02 ± 0,22 kg de EE por dia, respectivamente (P<0,05).
Não foi verificada diferença na PL nem na PLC (P>0,05), sendo que os animais do
grupo G produziram, em média, 2,53 kg de leite a mais que o grupo C durante os
primeiros 60 dias de lactação.
O padrão de CMS foi semelhante para ambos os animais dos grupos.
Reduziu gradativamente nas últimas semanas pré-parto e voltou a aumentar logo
após o parto, com pico de consumo ao redor de 45 e 60 dias para os grupos C e G,
respectivamente (Figura 1). As vacas do grupo G aumentaram o CMS a uma taxa
maior que o grupo C, com valores de 2,08 e 1,38 kg por semana, respectivamente,
entre a primeira e a terceira semanas de lactação, sendo superior na quarta semana
(P<0,05). Devido ao fato de a densidade energética da dieta com gordura ser maior
que a da dieta-controle, a ingestão média diária de NDT e, consequentemente, de
NEL dos animais do grupo G durante os primeiros 60 dias de lactação foi maior
que dos animais do grupo C (P <0,05), principalmente entre a terceira e a quinta
semanas de lactação (Figura 2).
79
11131517192123
S-4 S-3 S-2 S-1 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
Semanas Peri-Parto
CM
S (
Kg
/ D
ia)
C G
Figura 1. Padrão de consumo de matéria seca (CMS) durante o peri-parto para as vacas tratadas
com dieta controle (C) ou gordura (G). S-4 até S-1 representam semanas antes do
parto. As semanas após o parto são representadas de S1 a S9
61
10
15
20
25
30
35
S-4 S-3 S-2 S-1 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
Semanas Peri-Parto
Con
sum
o de
NE
líqu
ida
(Mca
l/di
a)
C G
Figura 2. Padrão de consumo de energia líquida (NEL) durante o peri-parto para vacas tratadas
com dieta controle (C) ou gordura (G). S-4 até S-1 representam semanas antes do
parto. As semanas após o parto são representadas de S1 a S9
As análises de variância do balanço de energia (BE), escore de condição
corporal (ECC), mudança de escore de condição corporal (MECC), peso corporal
(PC) e mudança de peso corporal (MPC) estão sumariadas na Tabela 5.
Tabela 5 – Resumo das análises de variância do balanço de energia (BE), escore de condição
corporal (ECC), mudança de escore de condição corporal (MECC), peso corporal (PC)
e mudança de peso corporal (MPC) nas vacas durante o pré e o pós-parto.
Valor de P Variáveis
BE ECC MECC PC MCP
Pré-Parto
Grupo1 0,9488 0,8563 0,8612 0,5777 0,3638
Tempo2 <,0001 <,9844 <,7660 <,0001 <,0001
Grupo x Tempo 0,5691 0,4465 0,5551 0,0047 0,0106
62
Pós-Parto
Grupo3 0,0900 0,6908 0,9848 0,6581 0,6909
Tempo <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001
Grupo x Tempo 0,0237 0,2798 0,3684 0,0031 0,0216
1 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,1% da MS) 1 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,3% da MS) 2 Dias em lactação 3 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,4% da MS) 3 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,5% da MS)
As vacas de todos os tratamentos manifestaram balanço energético negativo
(BEN) no início da lactação (Figura 3). As do grupo C e G atingiram o ponto
máximo de BEN na segunda (-12,38 Mcal / dia) e primeira (-9,41 Mcal / dia)
semana de lactação, respectivamente. Não foi verificado efeito de tratamento sobre
o BEN, exceto na quarta semana (P = 0,02), em que as vacas do grupo G
apresentaram BEN de -3,0 Mcal/dia enquanto as do grupo C mostraram BEN igual
a – 9,14 Mcal/dia. Esta diferença no BEN apresentada na quarta semana pode ser
explicada pelo maior CMS neste mesmo período (P < 0,05), além da maior
densidade energética da dieta. Contudo, verificou-se interação entre tratamento e
tempo ( P < 0,05). De forma geral, as vacas do grupo G tiveram melhor status
energético que as fêmeas do grupo C, com menor magnitude e duração em BEN.
Os animais do grupo G começaram a melhorar o balanço de energia a partir da
terceira semana de lactação, enquanto que nos animais do grupo C, isto só foi
verificado a partir da quarta semana, porem com taxa menor que as fêmeas do
grupo G. As vacas do grupo G atingiram o balanço positivo de energia na oitava
semana (60 dias de laçtacão) enquanto as do grupo C permaneceram em BEN após
o período experimental.
63
-14.00-12.00-10.00-8.00-6.00-4.00-2.000.002.004.006.00
S-4 S-3 S-2 S-1 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
Semanas Peri-Parto
Ene
rgia
Líq
uida
(M
cal /
dia
)
Controle Gordura
Figura 3. Balanço de energia líquida (NEL) durante o periparto para as vacas tratadas com dieta
controle (C) ou gordura (G). S-4 até S-1 representam semanas antes do parto. S1 até
S9 representam semanas após o parto
Na Figura 4 estão sumariadas as médias de ECC (Painel A) e MECC (Painel
B) nas quatro semanas pré-parto, no dia do parto e nas nove semanas pós-parto,
em razão das dietas utilizadas. Em todos os animais, o ECC mudou rapidamente
após o parto. O ECC diminuiu acentuadamente até a quarta semana de lactação (30
dias), após o qual esta diminuição tornou-se mais moderada. Esta diminuição foi
verificada até, aproximadamente, a oitava semana de lactação, quando esta se
estabilizou. Estes valores são semelhantes aos de Moallem et al. (2000), que
verificaram redução acentuada no ECC até 35 dias de lactação para os animais
controle e suplementados com gordura e a estabilização a partir do dia 60.
64
2.25
2.5
2.75
3
3.25
S-4 S-3 S-2 S-1 Parto S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
Semanas Peri-Parto
EC
CC G
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0
0.2
S-3 S-2 S-1 Parto S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
Semanas Peri-Parto
Mud
ança
de
EC
C
C G
Figura 4 - Escore da condição corporal (ECC) (Painel A) e mudança do escore de condição
corporal (Painel B) em virtude das semanas em relação ao parto, para as vacas
alimentadas com a dieta controle e com a dieta suplementada com gordura.
A utilização de gordura na dieta não influenciou (P>0,05) o ECC e a MECC
durante o período pré-parto. Em relação ao ECCP, não foram observadas
diferenças entre os animais dos tratamentos utilizados (P>0,05), sendo o ECCP
para os animais do grupo C e G, respectivamente, de 3,10 ± 0,47 e 3,15 ± 0,44,
demonstrando que os animais apresentavam adequada condição corporal ao parto.
Também não foram verificadas alterações no ECC e na MECC em função das
semanas pré-parto (tempo) ou alguma interação do tempo com as dietas utilizadas
(P>0,05).
A
B
65
O ECC e a MECC no pós-parto não foram influenciadas (P>0,05) pelas
dietas utilizadas ao longo das nove primeiras semanas. Após o parto, as vacas
alimentadas com a dieta G apresentaram maior mobilização de reservas corporais
nas três primeiras semanas de lactação, possivelmente devido a maior produção de
leite da vacas deste grupo, ocorrendo posteriormente estabilização no ECC e na
MECC, coincidindo com a melhora do balanço energético verificado a partir da
terceira semana pós-parto. No entanto, os animais submetidos à dieta C
apresentaram mobilização de reservas corporais menos intensa nas três primeiras
semanas de lactação, e, ao contrário dos animais submetidos a dieta com gordura,
mostraram contínua diminuição do ECC e aumento da MECC com o avanço da
semanas em lactação, confirmando estarem em balanço energético negativo mais
acentuado e prolongado que os animais submetidos às dietas com gordura (Figura
4). Em razão destes resultados, as vacas submetidas às dietas controle
apresentaram ECC e MECC ao final do período experimental 2,40 ± 0,33 e -0,70 ±
0,37, enquanto as submetidas a dieta com gordura suplementar exibiram ECC e
MECC de 2,50 ± 0,23 e -0,65 e ± 0,39.
O argumento de que gordura dietética deve ser benéfica para vacas no início
de lactação é que a gordura iria suprimir a mobilização de NEFA. Apesar da
melhora verificada, não foi notado efeito da dieta sobre a mobilização de reserva
corporal. Segundo Drackley (1999), o fornecimento de gordura suplementar
melhorou o balanço de energia calculado mas não suprimiu a mobilização de
energia corporal e nem a perda de peso corporal.
Na Figura 5 estão sumariadas as mudanças nas médias do Peso Corporal
(PC; Painel A) e mudança de peso corporal (MPC; Painel B), em razão das dietas
utilizadas, nas quatro semanas pré-parto, no dia do parto e nas nove semanas pós-
parto. Em todos os grupos, o PC mudou rapidamente após o parto. O PC diminuíu
até o dia 35 pós-parto nos animais do Grupo G, enquanto no grupo C o mesmo
continuou diminuindo até o final do experimento. Resultados similares foram
verificados por Moallem et al. (2000), no qual os animais suplementados com
gordura diminuíram de peso até 39 dias de lactação.
66
550
600
650
700
750
S-4 S-3 S-2 S-1 Parto S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
Semanas Peri-Parto
Pes
o C
orpo
ral
(kg)
C G
-80
-60
-40
-20
0
20
P-3 P-2 P-1 Parto S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
Semanas Peri-Parto
Mud
ança
de
Pes
o (K
g /
sem
ana)
C G
Figura 5 - Peso corporal (Painel A) e mudança de peso corporal (Painel B) em função das semanas
em relação ao parto, para as vacas alimentadas com a dieta controle e com a dieta
suplementada com gordura.
O PC e a MPC não foram influenciadas pelas dietas utilizadas (P>0,05) no
período pré-parto. Observou-se efeito do tempo sobre a MPC, especialmente em
relação à mudança de peso no dia do parto. As vacas dos tratamentos controle e
gordura perderam 74,29 ± 20,58 e 74,55 ± 16,73 kg de peso corporal no dia do
parto. Essa perda é resultado da expulsão do feto e anexos fetais e do início do
catabolismo das reservas corporais. No período pós-parto não foi verificado efeito
da dietas utilizadas no PC e na MPC (P>0,05), sendo notado efeito do tempo
(semanas em lactação) (P<0,01) sobre estas variáveis, onde com o avançar da
lactação foi verificada diminuição gradativa do peso corporal para ambos os
A
B
67
tratamentos (Figura 5). No entanto, notou-se interação entre as dietas utilizadas e
as semanas em relação ao parto. Os animais do grupo G perderam peso mais
acentuadamente nas primeiras quatro semanas de lactação, provavelmente devido
à maior produção de leite verificada neste período comparado ao grupo C, e não
sendo acompanhado, concomitantemente, pelo aumento no CMS. Na quarta
semana houve significativo aumento no CMS (P < 0,05) para os animais do grupo
G, melhorando o balanço de energia (P = 0,02) e diminuindo a perda de peso.
Como o status energético continuou melhorando nas semanas seguintes, os
animais do grupo G estabilizaram a perda de peso e começaram a ganhar peso a
partir da sétima semana, quando ganharam 0,122 kg/dia, enquanto os animais do
grupo C continuaram a perder peso (- 0,382 kg/dia), até o final do período
avaliado.
De acordo com Drackley (1999), vacas suplementadas com gordura dietética
apresentaram menor balanço negativo de energia que animais do grupo controle (+
1,1 Mcal / dia), mas as mudanças no PC não foram reduzidas. Segundo Kim et al.
(1993) e Garcia Bojalil et al. (1998), a utilização de gordura suplementar não tem
influenciado o peso corporal e a mudança de peso corporal em vacas no início da
lactação. No entanto, estes autores citam que em razão das dietas utilizadas e do
consumo de matéria seca obtido com vacas suplementadas com fontes dietéticas de
gordura, estas podem apresentar melhor balanço energético no pós-parto,
resultando em menores alterações da condição corporal. Os resultados obtidos
neste estudo também são semelhantes aos verificados por Schingoethe e Casper
(1991).
4. CONCLUSÃO
Os dados deste experimento sugerem que a suplementação dietética de
gordura (óleo de soja) durante os 30 dias pré-parto, até 60 dias após o parto,
melhorou o status energético após o parto, mesmo com a produção de 2,53 kg de
leite a mais por dia, refletindo menor perda de peso durante a lactação. A
mobilização de reservas corporais avaliadas pelo ECC não foi influenciada pela
dieta com G, mas reduziu a taxa de mobilização a partir da quinta semana quando
comparado ao grupo C.
68
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CLARK, J. H., BEEDE, D. K., ERDMAN, R. A., GOFF, J. P., GRUMMER, R.
R., LINN, J. G., PELL, A. N., SCHWAB, C. G., TOMKINS, T., VARGA, G.
A., WEISS, W. P. National Research Council. Board on Agriculture and
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70
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM GORDURA DURANTE O
PERÍODO DE TRANSIÇÃO SOBRE A ATIVIDADE OVARIANA E
O DESEMPENHO REPRODUTIVO DE VACAS LEITEIRAS DE
ALTA PRODUÇÃO
RESUMO – Este estudo foi realizado com o objetivo de verificar os efeitos da
suplementação dietética com gordura sobre a dinâmica folicular ovariana, os
parâmetros plasmáticos hormonais e metabólicos (colesterol, colesterol
HDL) e o desempenho reprodutivo em vacas leiteiras durante o período de
transição. Utilizaram-se 20 vacas holandesas, multíparas, gestantes,
distribuídas aleatoriamente em dois tratamentos: C = dieta controle (3% de
extrato etéreo (EE) na matéria seca (MS)) e G = dieta gordura (6% de EE na
MS). Houve aumento no consumo de matéria seca (CMS; P < 0,05) na
quarta semana de lactação para os animais do grupo G (15,53 vs 18,29 kg de
MS). Este aumento no CMS, associado à maior densidade energética da
dieta G, fez com que eleva-se o consumo de energia líquida para os animais
do grupo G após o parto (28,22 vs 32,61 Mcal/dia; P< 0,05). Verificou-se
aumento nas concentrações plasmáticas de colesterol total (54,23 vs 73,68
mg/dL) e colesterol HDL (52,59 e 61,42 ml/dL) mas não houve alteração
nas concentrações de progesterona (2,35 vs 2,47 ng/mL). Verificou-se também
aumento na população de folículos ovarianos da classe 1 (P<0,05),
principalmente entre os dias 26 e 31 após o parto, quando o consumo de
energia foi maior para este grupo. Os animais dos grupos C e G
desenvolveram 13,40 e 12,63, 6,90 e 7,38, 2,90 e 4,78 folículos das classes
2, 3 e 4, respectivamente. O diâmetro médio do maior folículo foi afetado
pela dieta (P = 0,53), com valores de 1,46 ± 0,22 e 1,74 ± 0,37 cm para os
grupos C e G respectivamente. Verificou-se menor intervalo 1 - 2ª ovulação
com valores de 29,50 vs 23,13 dias para grupo C e G, respectivamente. As
dietas não afetaram a área do corpo lúteo, contudo, houve correlação (r =
0,50; P < 0,01) entre esta característica e o diâmetro do folículo
71
ovulatório.O primeiro estro no pós-parto ocorreu 27 dias após a segunda
ovulação para o grupo G contra 60 dias para o C. Houve redução de 39 dias
no intervalo parto-1º estro, de 46,37 dias no intervalo Parto – 1º IA (P =
0,08) e de 42,89 dias no intervalo de parto para os animais do Grupo G. O
período de serviço e o número de serviços por concepção foram de 152,67 e
106,89 dias e 1,33 e 1,50 doses para os grupos C e G, respectivamente. O
fornecimento de energia adicional na forma de gordura melhorou o estado
energético negativo da vaca, pois o retorno ao estro ocorreu mais
precocemente após o parto e, dessa maneira, pôde conceber mais cedo.
Palavras-chave: período de transição, gordura dietética, vacas leiteiras, dinâmica ovariana,
colesterol, progesterona, desempenho reprodutivo
72
OVARIAN ACTIVITY AND REPRODUCTIVE PERFORMANCE OF
HIGH PRODUCING DAIRY COWS SUPPLEMENTED WITH DIETARY
FAT DURING THE TRANSITION PERIOD
ABSTRACT - – The aim of this study was to evaluate the energy balance and body
conditions and weight changes of dairy cows supplemented with dietary fat during
the transition period. Twenty pregnant Holstein cows were randomly assigned into
two treatments: C = Control diet (3% of EE in DM); and G = Fat diet (6% of EE in
DM). The average DMI did not differ during the pre and pos-partum for both
groups (P < 0,05; 10,73 and 9,95 kg DM to group C and 16,06 and 17,81 kg of
DM to group G). However, in the fourth lactation week, animals from group G had
a higher DMI than group C (15,53 vs 18,29 kg de DM). The increase in the DMI
associated with a higher energy density of the G diet was the responsible for a
higher liquid energy intake for the animals G group in the pos-partum (28,22 vs
32,61 Mcal/day; P< 0,05). A higher total and HDL cholesterol concentration was
verified for group G (54,23 vs. 73,68 mg/dL and 52,59 vs. 61,42 ml/dL).
Differences in plasma progesterone concentration were not significant in the
experimental period. A higher number of class 1 follicles also were verified to
group G animals principally between the 26 – 31 days after partum (P < 0,05),
when this group had an increase in energy intake. The number of class 2 and 3
were not different among the groups. Dominant follicle average diameter was
affected by diet (P = 0,53), animals from group G had a higher diameter than
group C (1,46 vs. 1,74 cm). The reproductive performance was better for group G
animals, when evaluated the interval from first to second ovulation (23,13 vs.
29,5), days to first ovulation pos-partum ( 42,89 vs. 46,37 days), open days
(106,89 vs. 152,67 days) and IA per conception (1,33 vs. 1,5 doses). In conclusion,
dairy cows supplemented with dietary fat during the transition period had a better
energy balance and an early return to estrus.
Key-words: cholesterol, dairy cows, dietary fat, follicular dinnamic, reproductive performance,
progesterone, transition period.
73
1. INTRODUÇÃO
Um bom manejo de vacas leiteiras integra fatores reprodutivos aos
programas nutricionais do rebanho, a fim de aperfeiçoar tanto o desempenho
reprodutivo como o produtivo. Para se conseguir estas respostas de produtividade,
é fundamental atingir alto consumo de energia com o objetivo de reduzir o status
energético negativo o mais rápido possível após o parto. A adição de gordura na
dieta de vacas tem sido utilizada com esta finalidade, ou seja, aumentar a
densidade energética da dieta, além de ser uma alternativa para reduzir custos com
alimentação.
Em fêmeas bovinas, a ocorrência da ovulação durante o pós-parto é
influenciada pela habilidade do eixo hipotalâmico-hipofisário para secretar
gonadotrofinas. Uma complexa arquitetura de interações endócrinas, autócrinas e
parácrinas conduzem o estabelecimento da capacidade esteroidogência ovariana e
o desenvolvimento de um folículo dominante até a competência ovulatória. O
estádio final deste processo está relacionado à habilidade do eixo hipotalâmico-
hipofisário para gerar um padrão adequado de liberação de gonadotrofinas, o qual
pode ser influenciado por vários fatores extrínsecos e intrínsecos. O resultado
destes fatores sobre a atividade ovariana tem sido estudado primeiramente pelos
seus efeitos no eixo hipotalâmico-hipofisário ou no ambiente hormonal e
metabólico. Apesar da necessidade de suficiente suporte gonadotrófico, o ambiente
metabólico dentro do folículo deve ser considerado um potencial e independente
modulador da capacidade esteroidogênese e maturacional (Wehrman et al., 1991).
O status do metabolismo de lipídios pode influenciar o status reprodutivo de
vacas após o parto, desde que estes, em particular o colesterol, tenham sido
reconhecidos como precursores da esteroidogênese ovariana (Grummer e Carroll,
74
1988). Esta relação parece ser independente de mudanças na secreção de
gonadotrofinas e pode ter particular importância durante o período de transição em
vacas leiteiras, quando restrições dietéticas têm maiores influências (Randel,
1990).
A suplementação lipídica tem influenciado positivamente o desempenho
reprodutivo de vacas em lactação, alterando a função do folículo ovariano e do
corpo lúteo por meio do aumento do status energético e pelo aumento de
precursores para a síntese de hormônios reprodutivos tais como esteróides e
prostaglandinas (Mattos et al., 2000). De fato, diversos são os benefícios da adição
de lipídios sobre os parâmetros reprodutivos em vacas leiteiras, como aumento do
número de folículos grandes (acima de 8 mm), maior número de folículos
recrutados, aumento nas concentrações de estradiol e progesterona circulantes,
redução da secreção de PGF2a medida por meio de metabólito PGFM, maior
diâmetro do folículo dominante e do corpo lúteo subseqüente, encurtamento do
intervalo parto-1º cio e na melhoria do desempenho reprodutivo em geral (Grumer
e Carroll, 1988; Williams, 1996; Staples et al., 1998).
Na maioria das vacas leiteiras, o desenvolvimento de folículos dominantes
no ovário ocorre nos estádios iniciais do pós-parto. Porém, a competência
funcional destes folículos varia de acordo com o status energético em que a
maioria desses folículos surgiu (Beam e Butler, 1997). Com o advento da ultra-
sonografia, tem-se observado que o folículo dominante é maior nas vacas lactantes
suplementadas com gordura.
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da adição de gordura 30 dias pré-
parto até 60 dias no pós-parto sobre a atividade ovariana e o desempenho
reprodutivo de vacas leiteiras de alta produção.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Setor de Bovinocultura de Leite
(Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite, UEPE-GL),
Departamento de Zootecnia, na Universidade Federal de Viçosa, MG, e no
Laboratório de Reprodução Animal do Departamento de Zootecnia da referida
instituição, no período de março de 2003 a maio de 2004.
75
Foram utilizadas 20 vacas holandesas, pluríparas (4,15 ± 2,13 partos),
gestantes, com peso vivo médio aos 28 dias pré-parto de 712,02 ± 65,20 kg e
escore de condição corporal médio igual a 3,16 ± 0,53 (escala de 0 a 5; Wildman
et al., 1982; Edmonson et al., 1989).
Os animais foram balanceados quanto a idade, peso corporal, escore de
condição corporal, número de lactações e produção de leite na lactação anteriores
e distribuídos em dois grupos: dieta controle (C; 3% extrato etéreo (EE) na
matéria seca (MS); n = 10) e dieta gordura (G; 6% de EE na MS; n = 10),
começando 28 dias pré-parto até 60 dias no pós-parto.
As dietas foram formuladas conforme as recomendações do National
Research Council (NRC 2001) para cada período (pré e pós-parto) e produção de
leite durante a lactação (Tabela 1).
Tabela 1. Critérios utilizados para cálculo das exigências nutricionais dos grupos
Controle (C) e Gordura (G)
Pré-Parto Pós-Parto
Idade (meses) 58,0 60,0
Peso vivo (kg) 650,0 600,0
Dias de gestação 250 0
Escore de condição corporal (ECC) 3,0 2,5
Dias em lactação 0 30
Número de lactações 3 3
Idade ao primeiro parto (meses) 30 30
Intervalo de Parto (meses) 13 13
Produção de leite (kg / dia) - 35,0
Gordura no leite (%) - 3,80
Proteína bruta no leite (%) - 3,23
As análises químico-bromatológicas dos ingredientes das dietas foram
realizadas de acordo com os procedimentos do Laboratório de Nutrição Animal do
Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (Silva e Queiroz,
2002) e, em seguida, a dieta C foi calculada para oferecer, aproximadamente, 3%
de extrato etéreo (% MS). A dieta G foi calculada para oferecer,
76
aproximadamente, 6% de EE (% MS) via adição de óleo de soja (Tabela 2).
As dietas foram similares na composição, exceto para o extrato etéreo e a
energia liquida, devido à adição de óleo de soja. A energia da dieta G pré-parto
apresentou 0,12 Mcal/kg de MS e a dieta de lactação apresentou 0,10 Mcal/kg de
MS que suas respectivas dietas controle.
Tabela 2. Ingredientes e composição nutricional das dietas durante os períodos pré e pós-parto
como porcentagem da matéria seca (MS)
Pré-Parto Pós-Parto Ingredientes
Controle Gordura Controle Gordura
% da Matéria Seca
Silagem de milho 81,72 81,81 45,02 45,10
Fubá de milho 10,77 7,49 28,93 26,04
Farelo de soja – 48% PB 4,95 4,70 22,35 21,71
Óleo de soja - 3,30 - 3,25
Uréia 1,19 1,33 - 0,21
Núcleo mineral 1,10 1,10 3,02 3,02
Sulfato de amônio 0,16 0,16 - -
Premíx vitamínico 0,12 0,12 0,03 0,03
Bicarbonato de sódio - - 0,65 0,64
Composição
PB1 % da MS 12,3 12,3 17,7 17,7
PDR2 % da PB 9,6 9,8 11,0 11,3
PNDR3 % da PB 2,7 2,5 6,7 6,4
NEl4 Mcal / kg MS 1,42 1,54 1,61 1,71
FDN5 % da MS 45,9 45,6 29,4 29,1
FDN, % da MS (forragem) 44,4 44,4 24,4 24,5
FDA6, % da MS 26,4 26,3 16,6 16,5
NDT7(1x) , % da MS 62,0 66,0 70,0 73,0
EE8, % da MS 2,1 5,3 2,4 5,5
CNF9, % da MS 35,1 32,3 43,7 40,9
77
1PB – Proteína Bruta 2PDR – Proteína Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 3PNDR – Proteína Não Degradável no Rúmen (calculada utilizando-se os valores do NRC, 2001) 4NEl - Energia Líquida 5FDN – Fibra Solúvel em Detergente Neutro 6FDA – Fibra Solúvel em Detergente Ácido 7NDT – Nutrientes Digestíveis Totais (nível de mantença) 8EE – Extrato Etéreo 9CNF – Carboidrato Não Fibroso
As vacas que receberam a dieta G foram alimentadas com a dieta C antes do
início do período experimental, com substituição parcial da dieta-controle antes da
4ª semana pré-parto na proporção de 20%, até chegar a 100% da dieta G. Foi
considerado o primeiro dia experimental no início da 4ª semana pré-parto, quando
cada animal consumiu sua ração completa. A água e o sal mineral foram
fornecidos ad libitum.
Os animais foram mantidos em baias individuais, sendo arraçoados duas
vezes ao dia (as 07:00 h e às 15:00 h). A quantidade de volumoso e concentrado
foi ajustada diariamente para manter uma sobra entre 5 e 10% de MS. A
quantidade total de volumoso mais concentrado a ser oferecido para cada animal e
também das sobras do dia anterior foram pesadas diariamente.
Amostras de silagem e sobras foram coletadas diariamente e armazenadas em
sacos plásticos a -20 ºC, até completar o período de sete dias, compondo uma
amostra semanal. Este procedimento foi repetido até o final do período
experimental, para posterior análise química. Amostras do concentrado foram
obtidas quinzenalmente e armazenadas em sacos plásticos a -20º C.
Todos os animais foram pesados e avaliados quanto ao ECC uma vez por
semana, por um técnico treinado, segundo metodologia desenvolvida por
Edmonson et al. (1989), a partir de uma escala biológica de 1 a 5, com sub-
unidades de 0,25 pontos, em que 1 representa uma vaca muito magra e 5 muito
gorda. No dia do parto, os animais também foram pesados e avaliados quanto ao
escore de condição corporal (ECCP).
Informações relacionadas à produção de leite eram obtidas diariamente após
as ordenhas, e as amostras de leite foram coletadas semanalmente para a avaliação
78
da porcentagem de gordura. A produção de leite foi corrigida para 3,5% de
gordura segundo fórmula descrita por Sklan et al. (1994).
O balanço de energia líquida (NEL) foi assim: Ingestão de NEL –
Requerimento de NEL para mantença – Requerimento de NEL para produção de
leite. Os exigências nutricionais foram estimadas conforme NRC (2001), e os
cálculos realizados por meio do software Nutrient Requirements of Dairy Cattle
(versão 1.0; Clark, 2000).
Para a avaliação da atividade ovariana, utilizou-se um aparelho de Ultra-som
portátil, marca ALOKA, modelo SSD-500, acoplado a um transdutor linear de 5
MHz. Foi realizada ultra-sonografia transretal, diariamente, iniciando após o 15º
dia no pós-parto até o 60º dia, pela manhã, antes do fornecimento da dieta. A
principio, tentou-se iniciar a ultra-sonografia a partir do sétimo dia após o parto,
mas dificuldades decorrentes da involução uterina (feridas na mucosa retal,
útero/ovário na cavidade abdominal e etc) em alguns animais impossibilitaram a
sua execução, optando-se por padronizar a partir do 15º dia. Foram estudadas as
variáveis: duração do período inter-ovulatório, emergência do 1°, 2° e 3° folículos
dominantes, persistência do folículo ovulatório, emergência das ondas de
crescimento folicular, número de folículos recrutados por onda de crescimento
folicular, número de folículos dentro das classes: 1, 2, 3, 4 (de 0,3 – 0,5, de 0,6 –
0,9, 1,0 -1,5 e folículos > 1,5 cm de diâmetro) respectivamente, diâmetro máximo
dos folículos dominantes, taxa de crescimento folicular e o número de ondas de
crescimento folicular, bem como a identificação do CL e mensuração de sua área.
Cavidades luteais também foram mensuradas.
O estro foi monitorado duas vezes ao dia, durante 1 hora, às 6h 30 e às 17h
30 , sendo consideradas em estro as fêmeas que aceitaram a monta pelas
companheiras de rebanho.
A partir de 60 dias no pós-parto as vacas detectadas em estro foram
inseminadas 12 horas após o início do estro, com sêmen de fertilidade
comprovada. Os parâmetros reprodutivos avaliados foram: involução uterina com
retorno à região pélvica (Parto-Pelv), intervalo parto a 1ª ovulação (Parto-1ª ovul.),
intervalo de ovulações (1-2ª ovul.), intervalo parto ao primeiro estro (IPE),
79
intervalo parto a primeira inseminação (IPIA), período de serviço (PS), número de
serviços por concepção (NSC) e intervalo de partos (IP).
Amostras de sangue foram obtidas uma vez por semana, iniciando no dia -30
(pré-parto) até o 60º dia pós-parto para determinação de colesterol total, colesterol
HDL e progesterona, utilizando-se kits comerciais. A coleta de sangue foi
realizada previamente ao exame ultra-sonográfico, em estado pré-prandial, em dois
tubos vacuolizados com anticoagulante (EDTA), pela punção da artéria ou veia
coccígea. As amostras foram centrifugados a 3.000 rpm por 15 min, para a
obtenção do plasma e prontamente acondicionados em frasco esterilizado,
identificado e estocado a uma temperatura de -20 °C, até posterior análise
laboratorial.
As variáveis concentração de colesterol total, colesterol HDL e progesterona
foram analisadas pelo procedimento PROC MIXED do SAS (SAS, 1999),
utilizando-se um modelo linear misto para medidas repetidas no tempo. Este
procedimento permitiu melhor ajuste na estrutura da matriz, que descreve as
covariâncias de medidas repetidas no tempo. Foram considerados os efeitos fixos
de tratamento (dietas), dias em lactação e interação tratamentos x dias em lactação.
Os efeitos de vacas dentro de classes foram considerados aleatórios.
Para as características reprodutivas, foram realizadas análises de
variância, sendo empragado, nas comparações entre médias o teste F, adotando-se
5% de probabilidade de erro, utilizando o procedimento GLM do SAS (SAS,
1999). Para as freqüências de animais em estro até 120 dias, inseminação até 120
dias e animais gestantes foi realizado o teste Qui-Quadrado, com 5% de
probabilidade de erro.
3. RESULTADO E DISCUSSÃO
Na Tabela 3 estão sumariados as médias do consumo de matéria seca (CMS;
kg), CMS em porcentagem do peso vivo (CMS % PV), extrato etéreo (EE),
nutrientes digestíveis totais (NTD), energia líquida (NEL), produção de leite total
(PL) e produção de leite corrigido para 3,5% de gordura (PLC), segundo o tipo de
dieta.
80
Tabela 3 – Médias para CMS pré e pós-parto, CMS em porcentagem do peso vivo (% PV),
consumos de extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais (NTD), energia
líquida (NEL), produção de leite total (PL) e produção de leite corrigido para 3,5%
de gordura (PLC) dos animais alimentados com dieta controle (C) ou gordura (G)
durante o período de transição.
Controle Gordura
Pré - Parto1
CMS (kg/dia) 10,73 ± 2,87 9,95 ± 1,80
CMS (% PV) 1,51 ± 0,37 1,37 ± 0,26
EE (kg/dia) 0,234 ± 0,085b 0,607 ± 0,090a
NDT (kg/dia) 6,70 ± 1,83 6,51 ± 1,24
NEL (Mcal/dia) 15,38 ± 4,05 15,49 ± 2,89
Pós – Parto2
CMS (kg/dia) 16,02 ± 3,71 17,81 ± 3,62
CMS (% PV) 2,76 ± 0,70 3,01 ± 0,62
EE (kg/dia) 0,408 ± 0,09b 1,022 ± 0,22a
NDT (kg/dia) 11,16 ± 2,70b 13,01 ± 2,67a
NEL (Mcal/dia) 28,22 ± 5,79b 32,61 ± 6,99a
PL (kg/dia) 31,88 ± 5,06 34,41 ± 6,51
PLC (kg/dia) 36,34 ± 6,29 36,02 ± 8,30 1 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,1% da MS) 1 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,3% da MS) 2 Grupo 1: Dieta controle (EE = 2,4% da MS) 2 Grupo 2: Dieta gordura (EE = 5,5% da MS) a,b Médias com diferentes letras sobrescritas na mesma linha diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste
t.
O CMS e a ingestão de energia aumentou durante as semanas após o parto
(P<0,01), mas não foi afetado pela dieta no pré nem no pós-parto (Tabela 3). Os
animais do grupo G consumiram 1,79 kg de MS a mais que o grupo C após o
parto, resultando em maior consumo de NDT e, consequentemente, NEL (P< 0,05).
Como esperado, foram verificados no pré-parto e pós-parto, para as vacas dos
grupos C e G, consumos de 0,234 ± 0,08 e 0,408 ± 0,09, e 0,607 ± 0,09 e 1,02 ±
0,22 kg de EE por dia, respectivamente (P<0,05). Não foi verificada diferença na
PL nem na PLC entre os animais dos tratamentos, sendo que o grupo G produziu,
em média, 2,53 kg (7,93%) de leite a mais que o grupo C durante os primeiros 60
81
dias de lactação. Resultados similares foram observados por Schingoethe e Casper
(1991).
A produção média de leite, o ECCP, o peso corporal ao parto, o ECC aos
60 dias e o peso corporal aos 60 dias foram de 31,88 ± 5,06 e 34,41 ± 6,51 kg/dia,
3,10 ± 0,47 e 3,15 ± 0,44, 640,10 ± 62,33 e 651,33 ± 50,31, 2,40 ± 0,33 e 2,50 ±
0,23 e 565,80 ± 37,28 e 580,44 ± 40,38 para os grupos C e G, respectivamente, e
não diferiram entre os animais dos tratamentos.
Com relação ao peso corporal, houve interação entre as dietas utilizadas e
as semanas em relação ao parto. Os animais do grupo G mostraram queda mais
acentuada de peso nas primeiras quatro semanas de lactação, provavelmente
devido à maior produção de leite verificada neste periodo comparado ao grupo C,
e não sendo acompanhado, concomitantemente, pelo aumento no CMS. Na quarta
semana houve aumento no CMS (P < 0,05) para os animais do grupo G,
melhorando o balanço de energia (P = 0,02) e diminuindo a perda de peso. Como o
status energético continou melhorando nas semanas seguintes, os animais do grupo
G estabilizaram a perda de peso e começaram a ganhar peso a partir da sétima
semana, adquirindo 0,122 kg/dia, enquanto os animais do grupo C continuaram a
perder peso (- 0,382 kg/dia), até o final do período avaliado.
As vacas de todos os tratamentos manifestaram balanço energético negativo
(BEN) no início da lactação. As do grupo C e G atingiram o ponto máximo de
BEN na segunda (-12,38 Mcal/dia) e primeira (-9,41 Mcal / dia) semana de
lactação, respectivamente. Não foi verificado efeito de tratamento sobre o BEN,
exceto na quarta semana (P = 0,02), em que as vacas do grupo G apresentaram um
BEN de -3,0 Mcal/dia enquanto as vacas do grupo C apresentaram um BEN igual
a – 9,14 Mcal/dia. Esta diferença no BEN apresentado na quarta semana pode ser
explicado pelo maior CMS neste mesmo período (P < 0,05), além da maior
densidade energética da dieta. Contudo, houve interação entre tratamento e tempo
( P<0,05). De forma geral, as vacas do grupo G tiveram melhor status energético
que o grupo C, com menor magnitude e duração em BEN. Os animais do grupo G
começaram a melhorar o balanço de energia a partir da terceira semana de
lactação, enquanto nos animais do grupo C, isto só foi verificado a partir da quarta
semana, porem com taxa menor que do grupo G. Verificou-se que as vacas do
82
grupo G atingiram o balanço positivo de energia na oitava semana (60 dias de
laçtacão) enquanto as do grupo C permaneceram em BEN após o período
experimental. Neste estudo, o BEN médio, durante as primeiras nove semanas de
lactação, foi – 7,94 ± 3,08 e -3,40 ± 3,83 para os grupos C e G, respectivamente.
Beam e Butler (1997) verificaram resultados similares, com os animais
suplementados com maiores níveis de gordura apresentando balanço de energia
diário menos negativo durante o período de suplementação (primeiras seis
semanas após o parto). O BEN médio foi – 6,72 ± 1,03, – 5,01 ± 1,08 e – 2,78 ±
1,08 para os grupos de baixa (controle), média e alta gordura, respectivamente.
Na Figura 1 estão sumariadas as médias da concentração de colesterol
plasmática total nas quatro semanas pré-parto, no dia do parto e nas primeiras oito
semanas pós-parto, de acordo com as dietas utilizadas. A concentração de
colesterol plasmático diminuiu lentamente até a segunda semana pré-parto, quando
pôde ser observado rápido declínio atingindo sua menor concentração na primeira
semana após o parto, seguido por um aumento significativo até a sexta semana
após o parto. Provavelmente, a diminuição da concentração de colesterol
plasmático inclui a utilização de colesterol pelo feto (Arave et al., 1975) e a
utilização do colesterol para síntese de progesterona ou hormônios da adrenal
(Gueorguieva e Gueorguiev, 1997). Já a elevação da concentração plasmática de
colesterol após o parto pode estar relacionada à lactogênese (Shweigert, 1990).
Houve efeito da dieta sobre as concentrações de colesterol total no pré-parto
e no parto (P < 0,01). Como observado na Figura 1, a concentração de colesterol
total foi superior durante todo o pré-parto e a partir da terceira semana após o parto
nos animais suplementados com gordura. Este aumento na concentração de
colesterol total no pós-parto coincidiu com o maior consumo de materia seca para os
animais do grupo G, neste mesmo período. Os animais dos grupos C e G apresentaram
concentrações plasmáticas médias de 54,23 ± 20,54 e 73,68 ± 20,14 mL/dL, respectivamente.
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S-4 S-2 PARTO S2 S4 S6 S8
Semanas Peri-Parto
Co
lest
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g/d
L)
C G
Figura 1. Concentração de colesterol plasmático total da quarta semana pré-parto (S-4) até a oitava
semana após o parto (S8) dos animais dos grupos controle (C) e gordura (G).
Bean e Butler (1997) verificaram aumento na concentração de colesterol
plasmático total do dia 3 até dia 28 após o parto em todos os grupos experimentais,
sendo maior (P< 0,01) para os grupos suplementados com gordura a partir do dia
21 após o parto. Guédon et al. (1999) notaram que a concentração plasmática de
colesterol foi fortemente influenciada pelo status fisiológico e significativamente
maior durante os primeiros cinco meses de lactação comparado aos últimos dois
meses de gestação. Wehrman et al. (1991) observaram aumento de 1,7 vez na
concentração de colesterol total e colesterol HDL 21 dias após o parto em vacas
suplementadas com dietas hiperlipidêmica.
Na Figura 2 estão descritas as médias da concentração de colesterol HDL
plasmática nas quatro semanas pré-parto, no dia do parto e nas oito semanas pós-
parto, em razão das dietas utilizadas. Na análise de HDL pré-parto houve uma
interação entre tratamento e tempo (P = 0,09), em que o tratamento com gordura
adicional apresentou maior concentração plasmática de HDL no período pré-parto
e no parto em relação ao tratamento-controle. No período pós-parto as
concentrações de HDL seguiram o mesmo comportamento do pré-parto. No
entanto, o nível de significância foi maior para a interação tratamento e tempo
(P<0,027). Estes resultados são esperados em virtude da suplementação dietética
de com óleo de soja aumentar os metabólitos relacionados com o metabolismo de
lipídeos.
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S-4 S-3 S-2 S-1 PARTO S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8
Semanas Peri-Parto
Col
este
rol
- H
DL
(m
g/dL
)
C G
Figura 2. Concentração de colesterol HDL da quarta semana pré-parto (C-4) até a oitava semana
após o parto (C8) dos animais dos grupos controle (C) e gordura (G).
O HDL é a forma predominante de colesterol em bovinos. Alta concentração
de colesterol plasmático em bovinos reflete uma alta concentração de HDL
(Grummer e Carroll, 1988). A lactogênese e a suplementação com gordura
dietética aumentam o colesterol HDL plasmáticos. Após uma dieta com
suplemento lipídico, ocorre elevação na concentração de colesterol no sangue
bovino, encontrado principalmente em lipoproteínas de alta densidade (HDL; 90 a
95%). A maioria do colesterol nos ovários chega pelo transporte direto das
lipoproteínas do sangue ou pela síntese de novo (Grummer e Carroll, 1988).
Wehrman et al. (1991) verificaram aumento na concentração de colesterol total e
colesterol HDL dentro do fluído folicular 21 dias após o parto e, essencialmente,
todo o colesterol apresentado dentro do folículo parece estar associado à fração
HDL. Conforme estes autores, folículos classificados com estrógeno-ativos
demonstraram uma ativação de um sistema de transporte seletivo para HDL
através da membrana basal folicular durante o puerpério. Resultados similares
foram obtidos por Ryan et al. (1992) e Santos (2005; dados não publicados)
trabalhando com novilhas suplementadas com gordura dietética.
Um animal do grupo C foi excluído das análises dos dados reprodutivos
por não apresentar onda de crescimento folicular com dominância durante os
primeiros 60 dias após o parto. Um outro animal, do grupo G, foi excluído por
85
apresentar cisto folicular durante o mesmo período. Em média, os animais dos
grupos C e G apresentaram 1,50 ± 0,71 e 2,0 ± 0,00 ciclos ovarianos, caracterizado
pelo número de ovulações durante os primeiros 60 dias após o parto,
respectivamente. O número de dias até a detecção de um folículo ≥10 mm de
diâmetro e a taxa de crescimento até o maior diâmetro foram 10,67 ± 2,31 e 10,50
± 0,58 dias e 0,16 ± 0,07 e 0,19 ± 0,06 cm/dia para os grupos C e G,
respectivamente. No total, foram observados 5,11 ± 0,78 e 4,86 ± 0,38 ondas de
crescimento folicular para os grupos C e G, respectivamente.
Houve efeito da dieta sobre a população de folículos da classe 1 (0,3 – 0,6
cm; P < 0,05), notadamente entre os dias 26 a 31 pós-parto (Figura 3). Não foi
verificado efeito da dieta sobre as demais classes de folículos. Durante os
primeiros 60 dias após o parto, os animais dos grupos C e G desenvolveram 13,40
± 3,37 e 12,63 ± 3,02; 6,90 ± 2,23 e 7,38 ± 2,50; 2,90 ± 2,02 e 4,78 ± 2,86
folículos das classes 2 (0,6 – 0,9 cm), 3 (0,9 – 1,5 cm) e 4 (> 1,5 cm),
respectivamente. O diâmetro médio do maior folículo foi influenciado pela dieta
(P = 0,053), com valores de 1,46 ± 0,22 e 1,74 ± 0,37 cm para os grupos C e G
respectivamente. Esta diferença foi verificada principalmente na terceira onda
quando o folículo dominante apresentou valores de 1,25 ± 0,23 e 1,69 ± 0,34 (P<
0,01).
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Dias Pós-Parto
Nº
Fo
lícu
los
Cla
sse
1
C G
86
Figura 3. Desenvolvimento de folículos da Classe 1 (0,3 – 0,6 cm) durante os
primeiros 60 dias após o parto para os animais alimentados com dieta
controle (C) ou suplementados com gordura (G).
A emergência de um folículo dominante durante a segunda semana após o
parto demonstra que o desenvolvimento de um folículo de tamanho pré-ovulatório
(1,69 ± 0,36 e 1,87 ± 0,46 cm, para os grupos C e G, respectivamente) não é um
fator limitante no restabelecimento da atividade reprodutiva após o parto em vacas
leiteiras lactantes, e que o início de uma onda folicular, inclui recrutamento e
seleção de um folículo dominante, independentemente do balanço energético
negativo típico desde período. O número de folículos da classe 1, representando a
população de folículos recrutados, foi correlacionado com do balanço energético.
Conforme, discutido acima, houve diferença no status energético (P < 0,05) a
partir da quarta semana após o parto, quando os animais do grupo G apresentaram
redução do BEN, coincidindo com o aumento no pool de folículos ovarianos da
classe 1. Uma relação entre o balanço de energia e aumento de folículos classe 1
necessita ser demonstrada durante os estágios iniciais de lactação.
Lucy et al. (1991) verificaram aumento na população de folículos das classes
1 e 4 após a retirada do implante de progesterona no dia 25 após o parto em vacas
suplementadas com gordura, e no diâmetro do maior e segundo maior folículo.
Vacas suplementadas com gordura dietética têm demonstrado aumento na
concentração plasmática e folicular de colesterol total e colesterol-HDL (Wehrman
et a., 1991; Beam e Butler, 1997), e aumento da habilidade das células da
granulosa para secretar pregnenolona e progesterona in vitro (Wehrman et al.,
1991; Ryan et al., 1992). Neste estudo, as vacas suplementadas com gordura
apresentaram maior concentração de colesterol plasmática total a partir da terceira
semana (dia 21), coincidindo com o aumento na população de folículos da classe
1, com aumento do diâmetro do folículo ovulatório (1,34 ± 0,31 e 1,71 ± 0,50 cm
para os grupos C e G, respectivamente; P < 0,05), bem como intervalo médio da
primeira ovulação após o parto (25,66 dias).
Guédon et al. (1999) observaram interação entre concentração sérica de
colesterol e primeira ovulação após o parto. Neste estudo, vacas que retornaram a
87
atividade cíclica ovariana mais cedo tiveram maior concentração de colesterol
sérico da segunda semana pré-parto até a quarta semana após o parto.
A suplementação com lipídios também tem estimulado o aumento da
concentração sérica de hormônio de crescimento (GH), que coincide com um
aumento no acúmulo de IGF-1 no fluido folicular, sem afetar o IGF-1 periférico
(Thomas e Williams, 1996). Há evidências de que o GH pode estimular
diretamente mRNA para IGF-1 dentro das células da granulosa (Yoshimura et al.,
1994).
Na Figura 3 estão descritas as médias da concentração de progesterona
plasmática nas duas semanas no pré-parto, no dia do parto e nas oito semanas mo
pós-parto, em razão das dietas utilizadas. Não houve efeito (P>0,05) da dieta sobre
a concentração de progesterona, com médias de 2,35 ± 2,67 e 2,47 ± 2,86 ng/mL
para os grupos C e G, respectivamente. Em vários estudos foi citada a elevação da
concentração plasmática de progesterona, quando os animais foram suplementados
com gordura dietética (Lucy et al., 1993; Son et al., 1996). Neste estudo, o mesmo
não foi verificado, provavelmente devido ao ‘status’ fisiológico dos animais
durante o período avaliado.
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S-2 Parto S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8
Semanas de Coleta
Prog
este
rona
(ng
/mL
)
C G
Figura 3. Concentração de progesterona plasmática na segunda semana pré-parto (C-2) até a oitava
semana após o parto (C8) dos animais dos grupos controle (C) e gordura (G).
Harrison et al. (1990) encontraram alta correlação (r = 0,88) entre produção
de leite e ingestão de matéria seca, ou seja, as vacas que apresentavam maior
ingestão de matéria seca também produziam mais leite. Contudo, em um estudo
88
realizado por Parr et al. (1993), foi verificada uma relação inversa entre o nível de
ingestão de alimentos e a concentração de progesterona plasmática e atribuíram
esta diferença à maior taxa de “clearance” de progesterona no fígado, ao invés de
mudanças em sua taxa de produção. A taxa média de fluxo sanguíneo na veia porta
esteve diretamente relacionada ao nível de alimentação, e o fígado apresentou
eficiência de 96% na remoção da progesterona, levando a menores concentrações
de progesterona circulante.
As concentrações plasmáticas de progesterona foram inferiores a 1 ng mL
nas primeiras três semanas após o parto, indicando ausência de atividade luteal.
Com o aumento do número de dias, as concentrações começaram a se elevar,
indicando início da atividade luteal. Neste experimento, a primeira ovulação após
o parto ocorreu nos dias 25,89 ± 12,04 e 25,44 ± 9,95 após o parto, para os grupos
C e G, respectivamente, o que explica a elevação nas concentrações de
progesterona do dia 21 (S3) ao dia 28 (S4) após o parto. As concentrações
voltaram a diminuir do dia 42 (S6) ao 49 (S7) para o grupo C e do dia 35 (S5) ao
42 (S6) para os grupo G, uma semana de diferença entre os grupos C e G, quando
novamente se elevaram, sugerindo nova ovulação. O intervalo da primeira à
segunda ovulação para os grupos C e G foram, respectivamente, 29,50 ± 7,42 e
23,13 ± 6,38 dias.
Hawkins et al. (1995) utilizaram novilhas gestantes para determinar se o
aumento nas concentrações de lipídios séricos alteraria a área ocupada por gotas
lipídicas nas células esteroidogênicas luteais e a taxa de liberação de progesterona
para o soro destes animais. As vacas que receberam o tratamento lipídico tiveram,
aproximadamente, duas vezes mais colesterol total, HDL e progesterona no soro
comparado ao grupo-controle (P < 0,05). Também, a área ocupada por gotas
lipídicas foi maior nas vacas tratadas que no grupo-controle (P<0,05).
Conforme Bao et al. (1995), a habilidade de dietas com alto teor de gordura
em promover aumento na incidência de função luteal normal e estimular o
crescimento folicular está, também, relacionada aos seus efeitos nos eventos
mediados pelas lipoproteínas em nível celular. A HDL, junto com outra
lipoproteína de baixa densidade (LDL), promove a viabilidade das células da
granulosa in vitro, independentemente do tipo de folículo, aumento da proliferação
89
in vitro de células derivadas da teca de folículos pré-ovulatórios, aumento da
androstenediona nas células da teca e da produção de IGF-1 nas células da
granulosa. A HDL foi mais potente em estimular a produção de progesterona pelas
células da granulosa e teca, e LDL atenuou a produção de progesterona estimulada
pelo HDL.
Na Tabela 5 estão sumariados as médias do intervalo parto retorno do útero à posição
pélvica (Parto-Pel), intervalo parto-primeira ovulação (parto-1ªovul), intervalo da primeira à
segunda ovulação (Int. 1-2ªovul,), área do corpo lúteo (área do CL), intervalo parto-primeiro estro
(Parto-1ºestro), intervalo parto primeira inseminação (parto-1ª IA), número de serviço por
concepção (Nº serviço / concepção), período de serviço (per. serviço) e intervalo de partos (int.
partos), segundo o tipo de dieta.
Tabela 5. Média (± desvios-padrão), número de observações, média geral e coeficiente de variação
do intervalo parto retorno do útero a posição pélvica (parto-pel), intervalo parto-
primeira ovulação (parto-1ºovul), intervalo primeira a segunda ovulação (int. 1-
2ªovul,), área do corpo lúteo (área do CL), intervalo parto primeiro estro (Parto-
1ºestro), intervalo parto primeira inseminação (parto-1ªIA), número de serviço por
concepção (Nº serviço / concepção), período de serviço (per, serviço) e intervalo de
partos (int, partos)
Tratamento Variável
(n) Controle (n) Gordura
Média
Geral
C,V,
(%) P <
Parto-pel (dias) (9) 22,33 ± 7,05 (10) 18,60 ± 3,75 20,36 27,2 0,16
Parto-1ªovul (dias) (9) 25,89 ± 12,04 (9) 25,44 ± 9,95 25,66 43,5
Int. 1-2ªovul (dias) (5) 29,50 ± 7,45 (10) 23,13 ± 6,38 25,85 26,4 0,11
Área do CL (cm2) (9) 4,89 ± 1,13 (9) 5,28 ± 0,94 5,08 20,4
Parto-1ª estro (dias) (10) 115,60 ± 84,36 (10) 76,20 ± 30,75 95,90 66,2 0,18
Parto-1ª IA (dias) (9) 140,67 ± 75,85 (10) 94,30 ± 23,39 116,26 47,0 0,08
Nº serviço/concepção (9) 1,33 ± 0,50 (10) 1,50 ± 0,70 1,42 43,5
Per. serviço (dias) (9) 152,67 ± 73,10 (9) 106,89 ± 34,87 129,77 44,1 0,10
90
Int. partos (meses) (8) 14,23 ± 2,55 (9) 12,82 ± 1,15 13,48 14,3 0,15
Houve melhoria dos indices reprodutivos de uma forma geral para os animais do grupo
G comparado aos animais do grupo C. Verificou-se menor intervalo 1-2ª ovul, (29,50 vs 23,13 dias
para grupo C e G, respectivamente). Segundo Thatcher et al, (1996), a capacidade dos folículos
dominantes precoces ovularem e sofrerem “turn-over” afeta a duração do período anovulatório no
pós-parto e, esta posterior sincronia dos ciclos ovarianos tem relação com o "status" energético no
pós-parto. Não foi verificado efeito da dieta sobre a área do corpo lúteo, contudo, houve
significativa correlação (r = 0,50; P < 0,01) entre esta característica e o diâmetro do folículo
ovulatório, indicando que maiores folículos resultaram em maiores corpos lúteos subsequentes.
O primeiro estro no pós-parto ocorreu 27 dias após a segunda ovulação para os animais
do grupo G contra 60 dias para o C, presumindo-se que houve sincronia dos ciclos ovarianos nos
animais do grupo G.
Houve redução de 39 dias no intervalo parto-1º estro entre os animais do grupos C e G
(115,6 vs 76,2 dias, respectivamente). Também, verificou-se redução (P = 0,08) de 46,37 dias no
intervalo Parto – 1ª IA (dois ciclos estrais) e de 42,89 dias no intervalo de parto para os animais do
Grupo G. O período de serviço e o número de serviços por concepção foram de 152,67 e 106,89
dias (45,78 dias a menos) e 1,33 e 1,5 para os animais dos grupos C e G, respectivamente.
Até 120 dias após o parto, 40% e 80,0% das fêmeas foram inseminadas nos grupos C e
G (P = 0,06), respectivamente, e 30% dos animais do grupo C ficaram gestantes, contra 60% do
grupo G (P = 0,12). Foi observado que 90% dos animais do grupo G e apenas 50% dos animais do
grupo C manifestaram estro neste período. Staples et al., (1998) citaram melhora no desempenho
reprodutivo de vacas leiteiras suplementadas com gordura. Em seu estudo, fêmeas com dietas ricas
em gordura apresentaram sinais mais fortes de estro (71,4 vs 65,6%) e tiveram ovários mais ativos
(75,4 vs 69,5%). A taxa de concepção foi 17% maior para os animais suplementados com gordura.
O fornecimento de energia adicional na forma de gordura melhora o estado energético negativo da
vaca, retornando ao estro mais precocemente após o parto, e dessa maneira, concebe mais cedo.
4. CONCLUSÃO
Dietas ricas em gordura promoveram o aumento da população de folículos da classe 1 e do
diâmetro do folículo dominante nos estádios iniciais da lactação, sendo relacionado com o aumento
na concentração plasmática e folicular de colesterol total e colesterol-HDL.
Programas nutricionais, com adição de gordura começando 28 dias pré-parto até 60 dias no
pós-parto melhoram o desempenho reprodutivo de vacas leiteiras de alta produção, beneficiando,
assim, o manejo reprodutivo do rebanho.
91
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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3. CONCLUSÕES GERAIS
Os trabalhos foram realizados no Setor de Bovinocultura de Leite (Unidade
de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite (UEPE-GL)) e no Laboratório
de Reprodução Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de
Viçosa (UFV) com o objetivo de estudar os efeitos da suplementação dietética
com gordura durante o período de transição sobre o consumo de matéria seca
(CMS), a produção de leite, o balanço energético, a mobilização de reservas
corporais, a dinâmica folicular ovariana, os parâmetros plasmáticos hormonais e
metabólicos (colesterol, colesterol HDL), o desempenho reprodutivo (intervalos do
parto à primeira ovulação, ao primeiro estro e à primeira inseminação, taxa de
concepção a 1ª inseminação, número de serviço por concepção).
Para tanto, utilizaram-se 20 vacas pluríparas (4,15 ± 2,13 partos) da raça
holandesa, gestantes, com peso vivo médio aos 28 dias pré-parto de 712,02 ±
65,20 kg e escore de condição corporal médio igual a 3,16 ± 0,53, distribuídas em
delineamento inteiramente casualisado, em dois grupos: dieta controle (C; 3%
extrato etéreo (EE) na matéria seca (MS); n = 10) e dieta gordura (G; 6% de EE na
MS; n = 10), começando 28 dias pré-parto até 60 dias após o parto.
Com base nas condições em que foram realizados os experimentos,
concluiu-se que:
1. A suplementação com gordura dietética iniciada 28 dias pré-parto
promoveu adaptações fisiológicas de forma a não comprometer o consumo de
matéria seca e, dessa forma, minimizando o balanço energético negativo típico do
pós-parto.
95
2. A produção de leite aumentou 8%, aproximadamente, sem
comprometer a produção de gordura total do leite.
3. A perda de peso corporal diminuiu mais rapidamente nos animais
suplementados com gordura, em virtude da melhoria do balanço energético.
4. A suplementação de gordura dietética promoveu aumento dos
níveis plasmáticos de colesterol total e colesterol HLD tanto no pré quanto no pós-
parto.
5. A população de folículos ovarianos no pós-parto imediato foi
influenciada pela dieta, com aumento no número de folículos de 0,3 a 0,6 cm de
diâmetro.
6. O diâmetro do maior folículo ovariano aumentou quando os
animais foram suplementados com gordura dietética.
7. Houve melhoria geral do desempenho reprodutivo quando os
animais foram suplementados com gordura dietética durante o período de
transição.
8. O desempenho produtivo e reprodutivo de vacas leiteiras durante
lactação é positivamente associado ao manejo nutricional oferecido o período de
transição.