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PARA: Comissão para a Reforma da Fiscalidade Verde Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia Rua de O Século, n.º 51, 1200-433 Lisboa Anteprojeto de Reforma da Fiscalidade Verde Contributos do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável BCSD Portugal

Anteprojeto de Reforma da Fiscalidade Verde · Rua de O Século, n.º 51, 1200 ... tanto mais que ocorre em período típico de férias. A sugestão do BCSD Portugal é que o diploma

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PARA: Comissão para a Reforma da Fiscalidade Verde

Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia Rua de O Século, n.º 51, 1200-433 Lisboa

Anteprojeto de Reforma

da Fiscalidade Verde

Contributos do Conselho Empresarial para o

Desenvolvimento Sustentável – BCSD Portugal

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ÍNDICE

1. Apreciação geral sobre o anteprojeto de reforma de fiscalidade verde ...................................................................... 3

2. As 40 propostas de alteração do sistema atualmente em vigor .................................................................................. 5

Propostas alinhadas com o desenvolvimento sustentável ........................................................................................... 6

Propostas que carecem de melhoria para estarem alinhadas com o desenvolvimento sustentável ......................... 8

3. As 26 recomendações que constituem uma proposta de programa de trabalho futuro .......................................... 11

Recomendações alinhadas com o desenvolvimento sustentável .............................................................................. 12

Recomendações que carecem de melhoria para estarem alinhadas com o desenvolvimento sustentável ............. 14

4. Posição detalhada da Comissão sobre as sugestões não adotadas ........................................................................... 16

5. Outros assuntos a incluir no Projeto de Reforma ....................................................................................................... 18

Conclusões ........................................................................................................................................................................ 21

Sobre o BCSD Portugal ..................................................................................................................................................... 23

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1. Apreciação geral sobre o anteprojeto de reforma de

fiscalidade verde

Neste capítulo, apresentamos as considerações gerais das

empresas membro do BCSD Portugal relativas ao anteprojeto da

fiscalidade verde apresentado pela Comissão para a Reforma da

Fiscalidade Verde.

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1. Apreciação geral sobre o Anteprojeto de Reforma de Fiscalidade Verde

Os membros do BCSD Portugal felicitam a Comissão para a Reforma da Fiscalidade Verde pelo trabalho

desenvolvido no âmbito do anteprojeto. É um trabalho notório, realizado num tempo reduzido, que

incorpora vários aspetos das sugestões e contributos que o BCSD Portugal apresentou e que procura

ponderar o papel da competitividade das empresas e do País. Porém, consideramos que o período de

consulta pública deveria ser mais alargado, tanto mais que ocorre em período típico de férias.

A sugestão do BCSD Portugal é que o diploma a implementar a reforma da fiscalidade verde seja encarado

como as alterações aos códigos tributários e possa ser, tal como a reforma do IRC (Lei n.º 2/2014 de 16 de

Janeiro), um diploma autónomo e não integrado na Lei do Orçamento de Estado para 2015. As áreas da

sustentabilidade como, ambiente, energia ou ordenamento de território serão mais abrangentes e eficazes,

quanto maior for a consciencialização pública – e isto só é possível se a intervenção tributária destas áreas

for autónoma.

A reforma da fiscalidade verde deve promover os benefícios ambientais e será melhor entendida num

contexto de neutralidade fiscal incorporando medidas que estimulem a procura, o emprego e o

investimento. Neste sentido, dispõe a Constituição da República Portuguesa, nomeadamente no Artigo

66.º, ponto 2, alínea h), que incumbe ao Estado “Assegurar que a política fiscal compatibilize

desenvolvimento com proteção do ambiente e qualidade de vida”.

Em relação à neutralidade fiscal, os membros do BCSD Portugal têm a expetativa de que os procedimentos

e o calendário de aplicação faseada constem de forma clara e inequívoca no projeto de reforma a entregar

pela Comissão ao Governo, e que estes procedimentos continuem a garantir a competitividade das

empresas, em harmonia com as práticas sustentáveis.

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2. As 40 propostas de alteração do sistema atualmente em vigor

Neste capítulo, apresentamos a posição dos membros do BCSD

Portugal relativamente às 40 propostas de alteração do sistema

atualmente em vigor, propostas pela CRFV no anteprojeto. Os

contributos do BCSD Portugal estão repartidos pelas medidas que

consideramos que estão alinhadas com os princípios do

desenvolvimento sustentável e por aquelas que ainda carecem de

melhoria.

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Propostas alinhadas com o desenvolvimento sustentável

Proposta 1.Tributação do carbono a) O BCSD Portugal concorda com o princípio de que todas as atividades económicas devem reportar e ser responsáveis por todas as emissões de carbono no sentido de promover uma redução de emissões e da economia de baixo carbono. Integra-se neste princípio a proposta de criação de uma taxa de CO2 para os sectores de atividade não abrangidos pelo CELE. Esta proposta vai ao encontro da proposta da Comissão Europeia de revisão da Directiva de tributação dos produtos petrolíferos e energéticos, que se encontra em discussão pelos Estados Membros, há já alguns anos, sem que se consiga chegar a acordo. Contudo, se não forem adotadas medidas de reciclagem adequadas e considerando a situação económico-social que Portugal atravessa, esta pode não ser a altura ideal para implementar uma proposta deste género já que as medidas propostas não existem de forma equivalente nos países da União Europeia e resto do mundo que são concorrentes diretos de Portugal. Os resultados imediatos destas medidas, se não forem compensadas, serão: o agravamento económico, a redução das exportações e a diminuição do emprego. Como referido no Anteprojeto, a experiência de tributação das emissões de CO2 fora do mercado CELE é uma realidade nos países mais desenvolvidos, como é o caso da Alemanha, Austrália, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Holanda, Noruega, Reino Unido e Suécia. De salientar que Reino Unido e Austrália têm apresentado retrocessos muito relevantes, ao ponto da Austrália ter efetuado a revogação do mecanismo de preço para as emissões de CO2. No BCSD Portugal somos da opinião que o País sairia beneficiado se assumisse uma postura prudente neste tema, aguardando pela conclusão de uma política europeia única. Em rigor, uma perspetiva de fiscalidade verde consistente com os valores e as práticas de desenvolvimento sustentável deverá garantir que a proposta condiciona a aplicação de taxa de CO2 a uma estratégia de reciclagem apropriada, apoiando comportamentos mais sustentáveis: económica, social e ambientalmente. b) Caso a recomendação do BCSD Portugal de adiamento da Taxa de Carbono não venha a ser atendida, que se consubstanciaria na manutenção do artigo 92ºA ao Código do IEC, o BCSD Portugal alerta para a importância de que se mantenha a redação do nº 4, ou seja, que este adicionamento sobre as emissões de CO2 incida sobre os produtos petrolíferos e energéticos referidos no nº 1 do artigo 92º quando sujeitos ao imposto e dele não isentos, e se mantenham todas as isenções atualmente em vigor. De facto, as isenções já consagradas no Código dos IEC, e em particular no campo do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos, são baseados em racionais que não devem ser alterados, quer porque se encontram ligados à estrutura do imposto, que visa a tributação no momento da introdução no consumo do produto final sujeito a imposto, quer pelo facto de a atribuição dessas isenções já estar em linha de conta com a sustentabilidade porque isenta o consumo deste tipo de produtos por transportes públicos ou por instalações integradas no CELE ou abrangidos por um ARCE. Ou seja, quer em sede de impostos sobre o consumo energético, quer em sede de impostos sobre emissões, as propostas estão em linha de conta com o sugerido pelo BCSD Portugal já que propõem uma discriminação positiva para as empresas que contribuem para uma redução efetiva de emissões e/ou consumo energético, através da melhoria da eficiência energética nos processos, ou que estão num nível de eficiência aceite como sendo difícil de melhoria, como é o caso das empresas com ARCE. De salientar também que as empresas abrangidas pelo SGCIE e que cumprem o regulamento, estão a contribuir, ou já contribuíram, para uma melhoria da eficiência energética e sugerimos que sejam premiadas. A descriminação positiva deve constituir o contraponto da penalização daqueles que não contribuem para a melhoria do nível de emissões e/ou

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consumo energético, sendo que a nossa sugestão é que as penalizações do regulamento sejam atualizadas, no sentido de penalizar as empresas que não cumprem as metas. Proposta 2.1. Provisão para reconstituição do meio ambiental (reparação de danos de carácter ambiental) O BCSD Portugal congratula-se com a posição da CRFV que acolheu favoravelmente a nossa sugestão de alargamento da dedutibilidade desta provisão a todos os setores, de acordo com o princípio da igualdade tributária. Proposta 2.2. Fixação de período de amortização de equipamento eólico e fotovoltaico entre 12,5 anos e 25 anos O BCSD Portugal está em concordância com as propostas referentes à promoção da eficiência energética.

Proposta 24. Agravar a componente E para as utilizações da água em meios sensíveis (Nº 7 do Artº 8º - Decreto Lei nº 97/2008, de 11 de Junho) – na opinião dos membros do BCSD Portugal deve ser penalizada a descarga de poluentes, ou seja, a componente E no que respeita a descarga de efluentes em zonas hídricas vulneráveis e/ou sensíveis. Proposta 29. Diferenciação das componentes A, E e U de acordo com a eficiência na utilização (Artºs 7º/5-e), 8º/5-f) e 11º/3-e)). O BCSD Portugal considera esta medida de redução das taxas das componentes A, U e E da TRH em 5% para os utilizadores certificados através de EMAS, ISO 14000 ou esquema de certificação equivalente, muito positiva, pois reforça “o sinal de incentivo aos utilizadores que comprovem a adoção de procedimentos que visem a obtenção de uma maior eficiência ambiental”. Proposta 31 - Corrigir as "disfunções” na aplicação do IVA no sector O BCSD Portugal concorda com a eliminação das situações que originam distorção de concorrência, como a

revogação n.º 25 do artigo 9.º do CIVA.

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Propostas que carecem de melhoria para estarem alinhadas com o desenvolvimento sustentável

Proposta 1.Tributação de carbono Caso a recomendação do BCSD Portugal de adiamento da Taxa de Carbono não venha a ser atendida, o que se consubstanciaria na manutenção do artigo 92.ºA ao Código do IEC, e tendo em conta os argumentos relativos à tributação do carbono mencionados nas páginas 82 e 103, o BCSD Portugal alerta para a forma como é estabelecida a isenção do imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos - (alíneas f) do nº 1 e e) do nº 2 do Artº 89º do CIEC). Faz sentido que as empresas consumidoras intensivas de energia tenham isenções, desde que esta isenção seja permanente ao longo dos ciclos de auditoria energética – atualmente, e tendo em conta que estes ciclos são realizados de 6 em 6 anos, há sempre um período de um ano, ou parte dele, em que as empresas estão em fase de auditoria e ainda não têm o plano aprovado, não podendo usufruir das isenções do ISP mencionadas nas alíneas f) do nº 1 e e) do nº 2 do Artº 89º do CIEC. É também importante ter em conta que nem todas as empresas com utilização intensiva de energia estão abrangidas pelo comércio europeu de licenças de emissaõ (CELE) ou pelos acordos de racionalização dos consumos energéticos (ARCE) e, em consequência, nem todas estas empresas estão isentas do ISP, de acordo com a legislação em vigor. Contrariamente ao que é expresso na pág. 103 do Anteprojecto, no que se refere ao ARCE, não basta submeter um plano de racionalização energética, mas sim aprová-lo e só depois convertê-lo em ARCE. Em suma, esta proposta pode vir a induzir um aumento no custo da energia que vem limitar a competitividade das empresas. Para que a redução de emissões seja acompanhada de um efeito virtuoso na economia (segundo dividendo), é extremamente importante garantir uma reciclagem de receitas adequada. Deste modo, o BCSD Portugal sugere que o Projeto de Reforma evidencie o carácter fundamental da consignação das receitas a medidas de reconhecimento e incentivo de boas práticas de sustentabilidade, mais amigas do ambiente, apresentando os impactos da aplicação de estratégias de reciclagem. Proposta 2 - Alterações das regras relativas à aceitação para efeitos fiscais de determinado tipo de despesas com relevância ambiental, nomeadamente a criação ou extensão de regimes (mais favoráveis do que o geral) de deduções em IRC de gastos com impacto ambiental positivo e extinção ou restrição de regimes (mais favoráveis do que o geral) de deduções em IRC de gastos com impacto ambiental negativo A refª ao artº 23º, n.1 do CIRC é mencionada na versão anterior e deve ser atualizada. Proposta 9.1. - Criar uma dedução, em sede de IRS, de custos com utilização de transportes públicos colectivos Proposta 9.2. Alargamento da dedução prevista no número 15 do artigo 43.º do CIRC, relativa a gastos suportados com a aquisição de passes de transportes públicos em benefício dos colaboradores da empresa, a todos os gastos com transportes públicos colectivos O BCSD Portugal considera que estas duas propostas são fortes incentivos à utilização dos transportes públicos, ainda que o limite de 250€ de máximo de dedução em sede de IRS de compra de passes por agregado familiar seja muito limitativo. O que propomos é aumentar esta fasquia ou o valor passar a depender do número de elementos que constituem o agregado familiar.

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Proposta 19 – Eliminar as reduções e isenções de taxa de recursos hídricos (TRH) previstas no artigo 8º No BCSD, discordamos da eliminação da alínea b) do nº 5 do artº 8º do Decreto-Lei nº 97/2008, de 11 de Junho (“redução da componente E em 35% no que respeita a instalações industriais abrangidas pelo regime de prevenção e controlo integrados (PCIP), que nos seus processos apliquem melhores práticas e técnicas disponíveis de acordo com os documentos de referência sectoriais”). Entendemos que esta alínea deve ser mantida, dado que as instalações PCIP (Prevenção e Controlo Integrados da Poluição) já são obrigadas a utilizar as melhores práticas e técnicas disponíveis, de acordo com os documentos sectoriais. Adicionalmente, embora seja um incentivo positivo com o qual estamos totalmente de acordo, não é consistente sugerir, simultaneamente, premiar a certificação através da introdução da alínea f) do nº 5 do mesmo artº 8º e a revogação da alínea b). Proposta 28 – Ajustamento das componentes A e U referentes à produção de energia hidroeléctrica, assegurando um maior equilíbrio na contribuição dos diversos usos de água No que toca ao agravamento para o dobro das componentes A e U para a produção hidrelétrica levantam-se dúvidas sobre a adequação dessa medida, por razões de diversa ordem, entre as quais: (i) trata-se de uma produção de eletricidade através do recurso de uma energia renovável, a qual não deveria ser penalizada; (ii) não se tratando de um uso consumptivo de água, também não se vislumbra uma necessidade de agravamento da mera utilização que, diga-se, não prejudica o recurso e (iii) o reforço da tributação sobre esta utilização não induz a uma utilização mais eficiente do recurso água. Com efeito, a TRH referente à produção de energia hidrelétrica é entendida num quadro de regulação sectorial de carácter económico, mas não ambiental, na medida em que este tributo não incentiva qualquer alteração de comportamento que promova boas práticas ambientais dos operadores destas instalações. Proposta 29 – Diferenciação das componentes A, E e U de acordo com a eficiência na utilização Apesar do BCSD Portugal estar de acordo com a generalidade desta medida, sugerimos algumas alterações: a) tendo em conta os princípios fundamentais explicitados no Decreto Lei nº 97/2008, de 11 de Junho, nomeadamente o princípio do valor social da água, o princípio da dimensão social da água e o princípio da equivalência, consideramos fundamental: (1) equiparar a utilização das águas de transição (estuários de rios) às águas marinhas, no que diz respeito às componentes A (utilização de águas do domínio público hídrico do Estado) e U (utilização de águas sujeitas a planeamento e gestão públicos); (2) em simultâneo, penalizar a componente E (descarga de efluentes)

b) como relativamente à componente E já está prevista uma alteração no anteprojecto (Proposta 24 que merece a nossa concordância), sugerimos que sejam alterados dois artigos relativos às componentes A e U:

- alínea c) do nº 5 do Artº 7º : 5 – A componente A é reduzida nos seguintes termos (…) c) 90% no que respeita à utilização de águas marinhas e águas de transição (estuários de rios) em circuitos de refrigeração para produção de energia termoeléctrica e outras formas de regulação térmica, designadamente a refrigeração industrial e regaseificação de gás natural liquefeito;

- alínea c) do nº 3 do Artº 11º : 3 – A componente U é reduzida nos seguintes termos (…)

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c) 90% no que respeita à utilização de águas marinhas e águas de transição (estuários de rios) em circuitos de refrigeração para produção de energia termoeléctrica e outras formas de regulação térmica, designadamente a refrigeração industrial e regaseificação de gás natural liquefeito.

Proposta 30 – Introdução de um imposto sobre sacos de plástico a) Apesar do BCSD Portugal concordar com a tributação dos sacos de plástico como forma indutora de comportamentos, dez cêntimos por saco é um valor demasiado oneroso - um imposto tão elevado pode trazer comportamentos nefastos para o ambiente. Segundo alguns estudos, cerca de 90% do lixo doméstico é acondicionado em sacos provenientes das compras efetuadas – esta medida, pode levar o consumidor a procurar alternativas aos sacos plásticos das compras como, por exemplo, a aquisição de sacos específicos para a deposição do lixo. Estes sacos são, por regra, de maiores dimensões e mais resistentes, factores que agravam ainda mais o impacto ambiental.

b) Ainda relativamente à aplicação de um imposto único de 10 cêntimos por saco, entendemos que devem existir taxas diferenciadas para, por exemplo, os sacos biodegradáveis e oxibiodegradáveis, pelo facto de terem um impacto ambiental menos nefasto. A existência de um imposto mais reduzido dá, por um lado, uma alternativa de escolha ao consumidor e, por outro lado, torna a aplicação da taxa de 10 cêntimos menos abrupta, além de incentivar a indústria a procurar soluções mais sustentáveis para as embalagens.

Proposta 38 - Agravamento da taxa de IMI aplicável a prédios rústicos com áreas florestais em situação de abandono É crucial que o Projeto de Reforma clarifique e defina o que se entende como “área florestal em situação de abandono”, assim como defina o modo de verificação deste tipo de situações.

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3. As 26 recomendações que constituem uma proposta de programa de trabalho futuro

Neste capítulo, apresentamos a posição dos membros do BCSD

Portugal relativas às 26 recomendações da CRFV para um

programa de trabalho futuro. Os contributos do BCSD Portugal

estão divididos pelas recomendações que consideramos que estão

alinhadas com os princípios do desenvolvimento sustentável e por

aquelas que ainda carecem de melhoria.

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Recomendações alinhadas com o desenvolvimento sustentável

Recomendação 3 - Oneração por via fiscal do preço de bens ambientalmente nocivos (e.g. equipamentos elétricos de baixa eficiência) O BCSD Portugal considera que é importante reforçar a sugestão de inclusão de medidas de oneração fiscal dos equipamentos elétricos de baixa eficiência, como são os casos das lâmpadas e outros equipamentos elétricos. Com efeito, há margem para distinguir as escolhas mais eficientes por parte de consumidores, fabricantes e comercializadores, incentivando mudanças de comportamento. Recomendação 4 - Criação de uma taxa de congestionamento nas grandes cidades a) O BCSD Portugal é a favor da criação deste tipo de taxa, desde que aplicada num enquadramento de promoção de mobilidade sustentável, gestão sustentável do território e de soluções de competitividade “inteligente” das cidades (smart cities). b) O BCSD Portugal apoia a taxa de qualidade do ar, desde que integrada num conceito de ordenamento de território e de promoção das “cidades inteligentes”, regulando também o congestionamento do tráfego e favorecendo os transportes públicos e os modos suaves. Recomendação 8 – Ajustamento da componente O da TRH (artº 10º Decreto Lei nº 97/2008, de 11/6) O BCSD Portugal concorda com o teor da posição da CRFV, sendo que esta posição pode ser reforçada com o seguinte: deve ser garantido que não há dupla tributação no caso de estruturas já abrangidas e taxadas pelas administrações dos portos das áreas fluviais correspondentes e devem ser salvaguardadas as isenções conferidas à ocupação do domínio público hídrico sempre que a utilização da água contida nas respetivas albufeiras se destine a fins de utilidade pública ou de interesse geral. Recomendação 15 - Transferir a responsabilidade de cobrança coerciva da TGR para a AT Esta alteração pode ser uma mais-valia, já que a AT tem larga experiência na cobrança coerciva de outros impostos e tem vindo a desenvolver grandes esforços no cruzamento de informação sobre as várias vertentes das entidades. Recomendação 16 - Eliminar a referência aos “custos administrativos” constante do artigo 58.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de setembro No BCSD Portugal, concordamos com a eliminação da referência aos custos administrativos. Recomendação 17 - Revisão dos valores da TGR por forma a ficar alinhada com a hierarquia da gestão de resíduos e os objetivos do PERSU 2020 No BCSD Portugal, concordamos com a aplicação de taxas diferenciadoras para as diversas operações de resíduos. Concordamos com a proposta de aumento gradual e progressivo das taxas tendo em consideração aspetos que contribuem para a reciclagem, reutilização ou substituição de materiais. No que toca à criação de um intervalo para as taxas devidas pela deposição em aterro, que implicitamente resulta num agravamento da taxa, dever-se-á, em obediência ao princípio da equivalência, estabelecer uma

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correlação entre o valor determinado e o comportamento do produtor dos resíduos. Igual raciocínio deverá ser aplicado aos diversos resíduos, devendo existir também uma hierarquia de resíduos, variando a taxa em função da perigosidade ou nocividade. Recomendação 18 - Uma parte significativa das receitas da TGR deve ser utilizada para o financiamento do sector. A reciclagem do rendimento da TGR deve abranger o apoio ao investimento, nomeadamente para complementar fundos comunitários consignados à gestão de resíduos, bem como o apoio à conceção e aplicação de tarifários PAYT. Concordamos com o princípio da utilização das receitas da TGR para financiamento do sector.

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Recomendações que carecem de melhoria para estarem alinhadas com o desenvolvimento sustentável

Recomendação 1 - Criação de certificados de eficiência energética (white certificates) Apesar do BCSD Portugal ser a favor de medidas que promovam a eficiência energética, não somos da opinião que a criação dos certificados brancos venha a ser eficaz, sem que antes este sistema seja estudado e ponderado face aos instrumentos alternativos. As duas razões imediatas desta nossa posição estão baseadas no facto do mecanismo de certificados brancos ter elevados custos administrativos associados à complexidade da regulamentação técnica exigida e no facto da pequena dimensão do mercado nacional não permitir uma diluição eficaz destes custos. Sendo a poupança energética uma grandeza dificilmente mensurável, o mecanismo de certificados brancos tem uma transparência limitada, que se agrava pela dificuldade em garantir que determinadas poupanças são adicionais a outras medidas já existentes - possibilidade de double counting. Recomendação 16 - Eliminar a referência aos “custos administrativos” constante do artigo 58.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de setembro No BCSD Portugal, concordamos com um dos pressupostos que levaram à criação da TGR, que passa por a TGR apoiar ações concretas de gestão, monitorização e de melhoria contínua das entidades. No entanto, é necessário perceber se os montantes disponibilizados para estes incentivos têm sido suficientes ou insuficientes. No entender do BCSD Portugal as verbas resultantes da TGR efetivamente destinadas ao apoio a melhorias ambientais e à promoção de práticas mais sustentáveis são muito reduzidas e deveriam ser maiores. Recomendação 17 - Revisão dos valores da TGR por forma a ficar alinhada com a hierarquia da gestão de resíduos e os objetivos do PERSU 2020 a)No BCSD Portugal, não concordamos com o princípio da tarifação dos resíduos depositados em aterro e que resultaram do processo de incineração em instalações dedicadas ao aproveitamento energético – a razão da discordância é que estamos perante a aplicação de uma dupla taxa sobre a mesma origem do resíduo. Uma vez que no processo de incineração não existe qualquer alternativa para evitar a produção de escórias e cinzas, entendemos que deve ser definida em qual das fases é que o resíduo proveniente de uma incineradora deve ser taxado (na incineração ou na deposição em aterro) e não nas duas fases como é sugerido nesta recomendação. b) Também não concordamos com a aplicação generalizada da TGR a todos os resíduos depositados em aterro, não devendo ser aplicada a situações em que a deposição de resíduos não perigosos ou inertes em aterros próprios existentes, sem alternativas economicamente viáveis de valorização. Os motivos que baseiam esta posição são os seguintes:

- como os custos de investimento, operação, manutenção e controlo associados à deposição de resíduos em aterros próprios são avultados, sempre que existem condições de mercado e soluções de valorização técnica e economicamente viáveis, os operadores optam pelo encaminhamento de resíduos;

- redução de custos;

- aumento do tempo de vida da estrutura.

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A aplicação da TGR nestas situações contribui para reduzir a competitividade das empresas que, apesar de

não terem como atividade a gestão de resíduos, investiram neste tipo de estruturas por motivação

ambiental.

c) A aplicação da taxa à massa total de resíduos depositados nos aterros, incluindo a água associada,

conduz a uma dupla taxação – por um lado as empresas pagam a água que consomem através da taxa de

utilização de recursos hídricos, por outro lado, as empresas são taxadas pelo montante de carga poluente

descarregado nos efluentes líquidos (que corresponde aos poluentes presentes nos lixiviados dos aterros,

em vez de corresponder à massa seca depositada em aterros próprios).

Recomendação 18 - Uma parte significativa das receitas da TGR deve ser utilizada para o financiamento do sector. A reciclagem do rendimento da TGR deve abranger o apoio ao investimento, nomeadamente para complementar fundos comunitários consignados à gestão de resíduos, bem como o apoio à concepção e aplicação de tarifários PAYT. No BCSD Portugal consideramos que o retorno da TGR para a melhoria de projetos de gestão de resíduos tem sido residual, logo é importante definir metas e objetivos concretos de forma a colmatar e acompanhar esta situação.

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4. POSIÇÃO DETALHADA DA COMISSÃO SOBRE AS SUGESTÕES NÃO

ADOTADAS

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Sugestão 2 Deduções à colecta em sede de tributação do rendimento das pessoas colectivas (IRC) ou singulares (IRS) O BCSD Portugal considera útil a reintrodução de medidas de incentivo e promoção, pela via fiscal, da adoção de comportamentos e equipamentos ambientalmente sustentáveis, podendo ser esta uma forma de corrigir comportamentos nocivos, motivados por questões económicas, e de impulsionar as atividades económicas ligadas à eficiência energética, aos equipamentos para utilização de energias renováveis e às práticas sustentáveis.

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5. Outros assuntos a incluir no Projeto de Reforma

Neste capítulo, apresentamos um conjunto de outros temas que

consideramos que devem ser tidos em conta na preparação do

Projeto de Reforma.

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Impacto sectorial das medidas

A análise global efetuada deveria ser complementada com uma análise do impacto sectorial das medidas propostas, por forma a que seja assegurada a manutenção da competitividade dos vários sectores da economia Portuguesa.

Imposto s/ eletricidade - Aplicação da Directiva nº 2003/96/CE

Aplicar o valor de €. 0,00 por MWh para empresas com utilização intensiva de energia, nos termos previstos da Directiva nº 2003/96/CE.

Compensação da emissão indireta de CO2

Compensação da emissão indireta de CO2 (CO2 incorporado no preço da energia elétrica) – para os consumidores electro-intensivos - tal como implementado em países como Espanha e Alemanha, é importante que haja um mecanismo com verba suficiente para compensar os consumidores electro-intensivos do sobrecusto introduzido pelo CELE na produção da energia elétrica.

Reintrodução das empresas do sector energético no âmbito do regime fiscal de apoio ao investimento (RFAI)

Inexistência de comentários quanto à reintrodução das empresas do sector energético no âmbito do RFAI, no que toca aos investimentos em infraestruturas associadas à promoção de uma economia de baixo carbono.

Relação entre fiscalidade verde, as melhorias ambientais e a sustentabilidade Eliminação de distorções na utilização da infra-estrutura rodoviária através de ajustamento do IVA sobre as portagens e criação de Taxa de Mobilidade Urbana

Sugerimos que haja melhor comunicação e contextualização da ligação das medidas propostas a finalidades de alcance ambiental e de sustentabilidade, bem como efetiva afetação de receitas da fiscalidade verde ao desenvolvimento de uma economia verde e a projetos I&D, como modos de armazenamento de energia, captura e armazenamento de CO2, eficiência energética, redes inteligentes, entre outras. Esta proposta contém um pacote de medidas que permitiriam racionalizar, no curto e médio prazo, a utilização da infra-estrutura rodoviária. A distorção do mercado da utilização rodoviária em Portugal, motivada pela existência de elevados desequilíbrios na tarifação rodoviária, introduz custos para a economia, sinistralidade e ambiente que são parcialmente evitáveis através de medidas fiscais. Este é o caso, em particular, dos desequilíbrios de preço entre auto-estradas (AE) e restante rede rodoviária e da ausência de um preço associado à utilização da infra-estrutura em locais de elevado congestionamento e poluição. Ao mesmo tempo, esta proposta permite captar receitas para aplicação no abatimento da dívida e melhoria do transporte público nas grandes áreas urbanas. A proposta insere-se nos objectivos da Reforma de Fiscalidade Verde

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de maior eficiência na utilização de recursos e maior sustentabilidade. Sugere-se que o IVA sobre o pagamento de portagens rodoviárias seja reduzido para 6% (ou 13%) e que, paralelamente, seja criada uma Taxa de Mobilidade Urbana (TMU) nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. A redução da taxa de IVA permitiria potenciar a utilização da rede de AE através da captação de tráfego actualmente em circulação na rede de estradas nacionais. Esta realocação do tráfego iria reduzir o congestionamento, sinistralidade e emissões de gases de efeito de estufa e poluentes locais na rede nacional de estradas, ao mesmo tempo que diminuiria os tempos de deslocação das viagens transitadas para as AE. Por outro lado, estas medidas teriam um impacte significativo na redução do défice da Estradas de Portugal, por via do aumento da sua receita e da redução de custos de manutenção da rede rodoviária não portajada. A medida implicaria eventuais perdas de receita de IVA, que seriam no entanto significativamente amortecidas pela captação adicional de tráfego para as estradas sujeitas a custos para o utilizador. A TMU seria introduzida nos sublanços de AE portajados nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, como uma parcela adicional da taxa de portagem, quantificada de forma a recolocar a taxa total cobrada no valor actual (i.e. uma TMU equivalente ao valor da redução do IVA). O produto da TMU seria consignado ao financiamento dos sistemas de transporte colectivo das áreas metropolitanas respectivas, por forma a potenciar o desenvolvimento destes sistemas. A redução da taxa de IVA deveria ser acompanhada por uma clarificação do actual regime de dedutibilidade do IVA nas despesas com portagens rodoviárias.

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CONCLUSÕES

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Conclusões

No BCSD Portugal, temos a expetativa de que há vontade política para não aumentar impostos e de que os

novos impostos vão ser propostos num cenário de neutralidade fiscal, com os mecanismos corretos para

alavancar a economia e a competitividade das empresas enquanto criadores de emprego e bem-estar e,

simultaneamente, contribuir para a melhoria do ambiente e de práticas mais eficientes e sustentáveis.

A fiscalidade verde só será benéfica às empresas, à economia e ao ambiente, se os mecanismos de

reafectação da nova receita fiscal não conduzirem a efeitos económicos desfavoráveis. Nesta época

particularmente sensível do País, os estímulos têm de ser feitos à procura, ao emprego, à competitividade

das empresas e ao investimento. As medidas a implementar no Projeto de Reforma também devem ter em

conta o estímulo ao investimento estrangeiro, em que, por exemplo, simplicidade, previsibilidade,

estabilidade fiscal, transparência e preços competitivos de energia são valores essenciais.

Neste trabalho de transição para a fiscalidade verde, voltamos a referir a importância da gradualidade na

implementação das medidas, tendo por base uma calendarização que deve ser feita ao mesmo tempo que

se desenham as medidas. O que a CRFV está a propor neste anteprojeto já são alterações relevantes para a

introdução de melhorias no sistema fiscal ambiental português.

Reforçamos também a necessária concertação com as políticas europeias e com todas as reformas que

estão a ser levadas a cabo no País, nomeadamente a reforma do IRS, que aparentemente não está

integrada com a reforma da fiscalidade verde.

Consideramos também essencial que seja criada uma estrutura adequada de acompanhamento e

monitorização às medidas implementadas pela reforma da fiscalidade verde, conforme mencionado nos

princípios orientadores desta reforma, sendo que esta estrutura deve envolver as organizações

vocacionadas para o desenvolvimento sustentável.

4 de Agosto de 2014 23

Sobre o BCSD Portugal

O BCSD Portugal é uma organização de líderes empresariais que tem uma visão de futuro, e que se propõe

galvanizar a comunidade empresarial para criar um mundo que seja sustentável para as empresas, para a

sociedade e para o ambiente.

Com um total de 100 membros, entre os quais se encontram as maiores empresas nacionais, o BCSD

Portugal tem ampla representação setorial e agrega 19 das empresas do índice PSI20. As empresas

membro do BCSD Portugal representam 15% do PIB nacional, valor que se traduz em mais de 25 mil

milhões de euros de volume de negócios e mais de 115 mil colaboradores.

Em conjunto com as empresas membro, o BCSD Portugal catalisa a liderança e a defesa dos interesses

comuns na construção de soluções e ações partilhadas. Alavancado nas fortes relações com diferentes

stakeholders, o BCSD Portugal fomenta a mudança de políticas públicas a favor do desenvolvimento

sustentável.

É membro da rede regional do WBCSD - World Business Council for Sustainable Development, instituída em

1992 no âmbito da Cimeira do Rio 92, sendo a maior organização empresarial internacional a trabalhar na

área do desenvolvimento sustentável. Internacionalmente, o WBCSD é uma das entidades mais credíveis

entre as principais organizações de defesa da sustentabilidade.

Fernanda Pargana

Secretária Geral do BCSD Portugal

Tel.: 21 781 9001

email: [email protected]

www.bcsdportugal.org