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1 DEPARTAMENTO DE FÍSICA ANTIMATÉRIA Revista do Núcleo de Estudantes do Departamento de Física da Associação Académica de Coimbra 14ª Edição - 31 de Maio 2016

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ANTIMATÉRIARevista do Núcleo de Estudantes do Departamento de Física da Associação Académica de Coimbra

14ª Edição - 31 de Maio 2016

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por Catarina Oliveira

Há uns meses, ergueu-se um gigantesco desejo de acrescentar mais a esta casa. Quisemos registar pessoas, relatar acontecimentos e criar um arquivo de memórias. Quisemos que todos pudessem lembrar, como quem lê uma história, quem por cá já passou e partiu. Desta forma, pela importância da partilha, pelo peso do conhecimento e pelo o valor de todos os que deixam, deixaram e deixarão marcas neste lugar, renasceu o Antimatéria.Este não foi, ao longo deste tempo, um desafio inteiramente fácil. Já sabíamos, na realidade, de antemão, que lançar uma revista mensal, com um número sólido de páginas, nunca poderia ser, efetivamente, um propósito simples. No entanto, e quebrando os nossos próprios preconceitos, a construção do Antimatéria acabou por ser um passatempo prazeroso e gratificante. No final, a possibilidade de vermos as nossas páginas preenchidas pelos registos da nossa comunidade ultrapassou, em muito, o peso de qualquer adversidade. Tudo isto não, poderia, de todo, ter acontecido sem a fantástica equipa de edição do Antimatéria. Estivéssemos em altura de frequências, em altura de exames, fosse Natal, Páscoa ou até, talvez ainda mais complicado, Queima das Fitas, eles nunca pararam e, por mais ocupados que andassem os dias, criaram sempre a possibilidade de existência da nossa revista. Muito disto se deve, também, ao nosso presidente, Dani Silva, por ter sempre confiado em nós e por, em todas as circunstâncias, ter dado a maior liberdade às nossas vontades. Por fim, e acima de tudo, o maior obrigada a vocês, que nos estão a ler, e fazem com que o nosso principal objetivo seja cumprido: a partilha das palavras. Eu encontro-me no fim da minha vida académica, mas, muitos de vocês, não. No início do meu 5º ano letivo, quando sentia, amarguradamente, o peso e a melancolia da reta final, perguntei a uma ex-colega do departamento que havia acabado Engenharia Biomédica há uns anos, se não era estranho e, de certa forma, aterrador, ver-nos aqui, como estudantes, quando ela já havia partido e terminado toda esta fase. Ela disse-me que não. Respondeu-me que tinha vivido, por cá, tudo o que havia para viver. Que tinha feito tudo o que quis fazer, participado e contribuído em tudo o que pretendeu. Que sentiu as suas etapas de caloira, fitada e finalista, ao máximo. Afirmou que, neste momento, não existia nada para cobiçar ou sentir como pavoroso, porque tudo o que nós passamos e íamos passar, também ela, na sua altura, o viveu. A partir daí, tudo passou, para mim, a fazer muito mais sentido e, muito sinceramente, toda a angústia inicial desapareceu.Tudo isto para vos dizer que, mais do que se deixarem existir nas verdes e frias paredes do departamento, vivam! Vivam, contribuam e usufruam. Não se deixem chegar ao fim com planos por fazer e objetivos por cumprir. Aproveitem os vossos amigos que serão, pelo menos dentro de vocês, para sempre, iniciem projetos, colaborem e deixem, de todas as vezes, o vosso melhor. Do meu lado, espero, verdadeiramente, que o Antimatéria continue por cá para contar as vossas histórias e narrar as vossas conquistas, ajudando a que, neste nosso microuniverso, perdurem no tempo e cheguem a todos aqueles que estão para vir!*

EDITORIAL

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24Eng. Biomédica: a minha escolha de mestradoVários Autores

Como é trabalhar?João Nuno Nogueira

Se não fosse cientista, seria...Prof.* Dra. Maria Helena Alberto

O Sayal em HelsínquiaMauro Pinto

Conta-me como foi...Prof.* Dra. Margarida Abrantes

Entrevista a Dani SilvaSara Barros

Entrevista a Bruno CerqueiraNuno Pinheiro

7h Symposium on BioengineeringJoana Rita Covelo e Mariana Lapo Pais

Eng. Física: a minha escolha de mestradoVários Autores

Física: a minha escolha de mestradoVários Autores

Timeline: carros de Eng. BiomédicaEquipa de Edição

BotOlympicsRicardo Margarido

Ciência em PortugalMaria Pimentel

Um objetivo certo por caminhos incertosMariana Lapo Pais

Sugestão cultural: ÁlbumAlexandre Chambel

Sugestão cultural: FilmeMauro Pinto

Sugestão cultural: LivroJoana Rita Covelo

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60CuriosidadesSra. Cristina, Sra. Teresa e Sra. Maria de Lurdes

Capítulo 4Rita Roque

Queima by random eyes Ricardo Margarido

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Acabar a Universidade, entrar no mundo real.

Acabar o curso e entrar no mercado de trabalho é provavelmente dos momentos mais assustadores na vida de qualquer estudante. É normal, depois de todas as histórias de terror que ouvimos sobre patrões, de como é difícil o mercado de trabalho e de quão miseráveis as pessoas são no seu dia a dia. Para além disso, é uma viagem para o desconhecido e para uma nova realidade, o que potencia ainda mais a sensação de medo que sentimos. No entanto eu tenho uma mensagem optimista para vocês, trabalhar é das coisas que mais prazer vos dará ao longo da vossa vida. Mas não se enganem! Não é fácil! Têm de procurar algo que vos apaixone, e acreditem, isso é possível. Posso-vos dizer que estou neste momento, sábado, dia 28 de Maio, às cerca de 4 horas da tarde, num puff na varanda do meu escritório a escrever este artigo numa pausa do trabalho. Podia estar em outros mil sítios neste sábado, ou simplesmente em casa a jogar uncharted 4 na minha playstation, mas decidi estar aqui, porque realmente adoro aquilo que faço.

Quando me desafiaram para escrever este artigo, pediram-me para descrever as principais diferenças entre o mundo Universitário e o Profissional, por isso, e para não desiludir ninguém, aqui vai:

1- Estudar vai deixar de ser aborrecidoEste é provavelmente a diferença que mais vão notar, e pessoalmente aquela que eu mais gostei. Se pensam que estudar e aprender termina após terminarem o vosso percurso Universitário estão bem enganados, agora é que começa a aventura a serio. Na Universidade a simples tarefa de estudar para aquela frequência daquela cadeira complicadíssima (Física da Matéria Condensada foi a minha némesis) dá arrepios e dói fisicamente, arranjamos todas e quaisquer desculpas para procrastinar ou simplesmente limpar o pó à televisão, em vez de estudar. Quando saímos da Universidade os papéis

invertem-se um pouco devo dizer. A vontade de absorver conhecimento torna-se uma necessidade e em certas alturas uma obsessão. Os temas que estudamos, que agora têm aplicação prática e tomam forma à frente dos nossos olhos, tornam-se muitos mais interessantes. Esta é uma das belezas de trabalhar, é ver que as nossas ações têm impacto naquilo que é o destino de uma organização, e nós temos influencia nela. Por isso, absorver conhecimento vai-nos ajudar a crescer como pessoas, mas também a moldar o sitio onde estamos, a fazer parte integrante dele. A constante aprendizagem e a sede de saber cada vez mais e mais pode surgir bem mais cedo, mas conseguirmos que esta aprendizagem tenha impacto naquilo que é a nossa vida profissional é um prémio que traz um orgulho inexplicável. Agora já não temos alguém sempre a dizer o que é certo ou errado, agora podemos trilhar o nosso próprio caminho.

2- Ter dinheiro na conta é tão bom Se vocês eram estudantes como eu, ter os bolsos cheios de dinheiro era uma coisa rara. É um facto, a não ser que sejamos filhos de alguém abastado, nunca temos dinheiro para fazer aquilo que nos apetece e temos de andar sempre a contar os trocos ou a pedir autorização aos nossos pais para fazer aquela viagem a Amesterdão que tanto queremos, “para ir ver a cidade”…ya. ir “ver” Amesterdão, é isso… Bom, quando começamos a ter o nosso dinheiro, fruto do nosso trabalho, isto deixa de ser um problema, porque o dinheiro é nosso e fazemos com ele aquilo que bem queremos e nos apetece. Se amanhã me apetecer meter num avião e ir “visitar” Amesterdão vou e pronto, não preciso de estar a dar mil justificações a ninguém. Se me apetece comprar uma playstation, não preciso de esperar pelo Natal para pedir aos meus pais. Se quero pagar aquele jantar àquela miúda que conheci a semana passada, já não preciso de ir ao McDonalds comprar o menu poupança, porque posso fazer o que me der na real gana como o meu dinheiro. Tenho plena noção de que o que escrevi é um exagero,

COMO É TRABALHAR?por João Nuno Nogueira

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COMO É TRABALHAR?por João Nuno Nogueira

exactamente para transmitir que a partir de agora somos independentes! Mas com a independência vem responsabilidade, o que não é propriamente mau, porque vamos ser responsáveis pelas nossas próprias escolhas, e acima de tudo, vamos poder escrever o nosso próprio caminho. A responsabilidade aumenta, mas as escolhas também, e nada sabe melhor que o livre arbítrio e a responsabilidade de que somos a partir de agora donos e senhores do nosso destino.

3- O céu é o limiteMuitas pessoas estão habituadas que o curso que tiram seja o selo daquilo que vão fazer no futuro. Um advogado vai exercer advocacia, um médico exerce medicina, um professor dá aulas e um Engenheiro Físico vai… Hmm vai… fazer engenharia física? Ya, isso acabou, lamento. O vosso curso vai dar-vos ferramentas para que vocês podem utilizar naquilo que realmente vos apaixona e que vos faz levantar de manhã da cama com um sorriso brutal

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porque estão a trabalhar naquilo que adoram. Posso dar-vos o meu exemplo. Eu sou Engenheiro Físico, e sou provavelmente a vergonha de qualquer professor do Departamento de Física, uma vez que não quero saber da física para absolutamente nada

(a não ser por lazer, porque realmente é um tema que me interessa) e o que eu faço no meu dia a dia está muito mais ligado à gestão do que à física. Tenho noção que para alguns dos leitores acabei de dizer uma blasfémia. Podemos perguntar porquê.

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Porque não sou um génio da física? De certeza, sim. Porque não tinha capacidades de fazer papers científicos? Não, tenho 2 com o meu nome. Porque os professores não viam em mim o reflexo deles? De certeza. Porque sou mais feliz hoje a fazer o que faço do que alguma vez fui na universidade a estudar física? De certeza.

O que quero dizer com isto é, o curso não é um selo ou uma marca que vos acompanha durante a vida ou na escolha do vosso percurso profissional. O curso é suposto (e todos devíamos perceber melhor isto) ser uma forma de nos transmitir ferramentas para depois aplicarmos nas diversas áreas em que sejamos realmente felizes e apaixonados, para que consigamos alguma vez deixar alguma marca! Se repararem, uma característica em comum a todos os grandes cientistas e empreendedores de sucesso é que eles têm um propósito e uma paixão gigante por aquilo que fazem! Não deixem que aquele

professor, ou aquele colega de trabalho, ou familiar, ou chefe vos estrague os vossos sonhos. Vocês são o único entrave para que os vossos sonhos se tornarem realidade.

Bem, eu podia estar aqui a escrever linhas sem conta sobre as diferenças entre o mundo profissional e universitário. Nalguns pontos exagerei exactamente para mostrar a minha opinião, não levem a mal. Não levem a mal também o meu estilo de escrita informal e pouco cuidado, mas eu não tenho muito jeito para este tipo de artigos, confesso.

Bem, para terminar a grande diferença que há entre serem estudantes e entrarem no mercado de trabalho é que agora vocês são responsáveis pelo vosso futuro, e está nas vossas mãos escolher o caminho que querem percorrer. Vai ser fácil? Não, nunca. Vai custar? Vai, e doer às vezes. Mas vai ser divertido se vocês decidirem ir atrás daquilo que vos motiva e apaixona.

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O SAYAL EM HELSÍNQUIApor Alexandre Sayal

ERASMUS

Por que escolheste ir para Aalto University, Helsínquia? No meu ano a oferta de universidades foi extremamente reduzida devido a alterações nos protocolos de Erasmus. Na prática, para os meus interesses existia Milão e Helsínquia (tendo excluído Milão logo à partida). Para além disso, a coordenadora de Erasmus tinha informação que Helsínquia seria ideal para alunos interessados em Neurociências. Na verdade, acabou por ser um misto de Informática com Neurociências (precisamente o que queria).

Como é o ambiente académico?Os espaços da universidade são excelentes, condições

sem nada a apontar. Em termos sociais, os estudantes finlandeses acabam por se dar mais entre eles, portanto as pessoas que conheci pertenciam maioritariamente à comunidade de Erasmus e de outros programas de intercâmbio.

Sentiste, em termos de conteúdos disciplinares, mais ou menos dificuldades em relação ao que estavas habituado?Diferente. É tudo mais apertado em termos de tempo de estudo, e as aulas são maioritariamente teóricas (aulas práticas não tive nenhuma, a componente prática é avaliada com um projecto final).

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PREÇOS DIFICULDADEACADÉMICA TRANSPORTES

CLIMA CULTURAVIDA

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Como encontraste alojamento?Através da HOAS http://www.hoas.fi/en/.

Como são os preços em geral?Bastante mais elevados comparativamente a Portugal, mas os estudantes têm descontos significativos na maioria dos sítios. Por exemplo, o passe para todos os transportes rondava os 25€/mês.

Como foi com a língua? Frequentaste algum curso?Todas as pessoas falam Inglês, sem excepção. Existem porém cursos de Finlandês na universidade, com vagas limitadas.

Que conselhos darias aos futuros estudantes em Helsínquia?Vale a pena investir na universidade: existem cadeiras que me ajudaram muito a definir o rumo para a Tese, mesmo para além daquelas definidas cá como equivalentes. Relativamente a esta escolha, não se preocupem muito, porque há possibilidade de chegar lá e terem de mudar a maioria! É também fundamental assegurar alojamento o mais cedo possível, como a HOAS recomenda insistentemente. Não percam a oportunidade de ir a Tallin, à Lapónia e a São Petersburgo. Finalmente, vão preparados para usar muitas camadas de roupa!

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SE NÃO FOSSE CIENTISTA, SERIA...

por Prof.ª Dra. Maria Helena Alberto

Se eu não fosse cientista seria…

…talvez jornalista de viagens. Para poder conhecer e transmitir aos outros a variedade de sítios belos do mundo. Todos eles, sem exceção, nas suas expressões mais diversas: a natureza exuberante, plena de cores e cheiros, os locais inóspitos e despojados, o frio cortante, o calor que sufoca, a fúria das ondas, a tranquilidade dos lagos. O infinito no horizonte do mar e a singularidade de uma alga banal.

Seria jornalista de viagens para poder também transmitir o meu olhar sobre as pessoas, nas suas variadíssimas expressões culturais, raciais, sociais. Todas elas. Seja um berbere nómada do deserto do Saara, um homem de negócios da city de Londres, um adolescente de uma favela do Rio de Janeiro, um magnata do petróleo, um monge budista, um rosto por trás de uma burka, um criminoso numa prisão de alta segurança. Para poder avaliar melhor a nossa capacidade de nos adaptarmos e de nos superarmos, de sermos capaz de rir e chorar em todos os momentos. Para aprender a separar o que são construções culturais, do que constitui o cerne da nossa condição humana.

Para ver mais longe e melhor. As circunstâncias que nos rodeiam determinam a forma de vermos o mundo. Permanecer toda a vida no

nosso pequeno nicho é como estar num alto de uma montanha, ter pela frente uma paisagem deslumbrante e só poder ver através de um óculo estreito. É verdade que a natureza e a humanidade estão presentes em plenitude em cada imagem do óculo, mas é difícil reconhecer essa plenitude sem ter visto alguma vez a paisagem completa.

Mas a beleza das pessoas e da natureza não se esgota no que vemos, sentimos e intuímos. Há uma beleza escondida que deslumbra a cada ínfimo detalhe que é revelado. Aprendi isso com o trabalho científico. É verdade que é necessário um esforço imenso para compreender cabalmente um pequeno problema, mesmo que seja um detalhe insignificante da realidade que nos rodeia. Mas é igualmente verdade que tudo o que parece estranho e ininteligível se transforma sempre em algo simples e belo, quando finalmente se compreende. E que para atingir uma meta é preciso levantar todas as pedras do caminho, porque cada pedra é em si mesma uma meta. Que nos faz crescer.

E há tantas pedras por levantar, em qualquer lugar, em qualquer trabalho. Por isso, depois de ver o mundo do alto de uma montanha, já poderia dedicar o resto da minha vida a descobrir o infinito contido na imagem de um pequeno óculo.

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CONTA-ME COMO FOI...por Prof.ª Dra. Margarida Abrantes

“…Ninguém pode voltar no tempo e fazer um novo começo. Mas podemos começar agora e fazer um novo fim…” (Francisco Xavier)

O início remonta ao ano de 2001 as indecisões eram muitas, relativamente às cidades, Coimbra ou Porto eram as opções. Depois de alguma pesquisa a lista incluía Medicina, Medicina Nuclear e Nutrição. Seguiram-se quatro anos de uma licenciatura bietápica, na Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto no curso de Medicina Nuclear. Um percurso muito rápido.

O primeiro ano caracterizado pela adaptação à cidade do Porto, com nova casa, novas amizades, a praxe, e até manifestações estudantis de Norte a Sul…sim, porque para conseguirmos que as aulas começassem em Janeiro tivemos que lutar pelas instalações. Ano atribulado contrabalançado pelo segundo muito mais calmo, já com a certeza que o meu futuro passaria obrigatoriamente pela Medicina Nuclear, foi um ano de consolidação ao nível pessoal e profissional. Seguiu-se o terceiro ano, a azáfama novamente de Norte a Sul. As salas de aula deram lugar aos diferentes locais de estágio em hospitais e instituições com passagem obrigatória pela cidade do encanto na hora da despedida, Coimbra!

No 4º ano, já com o primeiro grau académico, o bacharelato, estava apta a ingressar no mercado de trabalho. A oportunidade surge em Coimbra na Faculdade de Medicina… O dilema! Já tenho trabalho mas ainda quero ser estudante. Entre Porto e Coimbra vivi intensamente o último ano da Licenciatura, por todas as razões e mais algumas, definitivamente era “começar um novo fim”.

Segue-se o Mestrado em Biologia Celular na FCTUC. A confirmação oficial da mudança de cidade que trouxe, para além de mais dois anos de vida académica, mais amigos e definitivamente mais conhecimento mas ainda o fim estava no princípio!

Segue-se o Doutoramento em Ciências da Saúde na FMUC. Até à defesa cinco anos passaram. A obtenção deste grau já como docente na Faculdade de Medicina, em 2013, tornou-se na concretização da ambição presente desde o primeiro momento de todas as indecisões quando preenchi o boletim de candidatura.

Ainda bem que não podemos voltar no tempo porque eu faria tudo igual do início ao fim… e agora!? Será altura de começar novamente e fazer um novo fim?

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ENTREVISTA A DANI SILVApor Sara Barros

O que te levou a candidatar à presidência do NEDF no ano letivo 2015/2016?A minha candidatura ao núcleo de estudantes foi um pouco repentina. A ideia de o fazer surgiu logo no final do ano letivo de 2014/2015 e partiu do incentivo de um pequeno grupo de alunos que tinha a ambição de alterar o rumo do núcleo, até então. Não só por compartilhar do mesmo objetivo e por acreditar que estava reunido um grupo de pessoas que tinham potencial para formar uma grande equipa, decidi avançar e encabeçar uma lista candidata ao NEDF.

Qual o balanço geral até agora?O balanço que posso fazer deste mandado é o melhor possível. Conseguimos nestes 7 meses alterar o paradigma do NEDF entre a comunidade estudantil e realizámos eventos inovadores com grande sucesso. Foi, sem dúvida, uma época de vitalidade e êxito nas mais variadas áreas de ação do núcleo.O Pelouro de Desporto continuou com o conhecido torneio de futebol, com grande adesão dos alunos, tal como o

torneio de voleibol, realizado pela primeira vez e que teve igualmente bastante sucesso. Outra das novidades que conseguimos oferecer aos alunos do DF foi o paintball, garantindo momentos de descontração e diversão. Conseguimos superar todas as espectativas com a recolha de roupa e brinquedos, criámos uma periodicidade nas sessões de voluntariado do “Aprender a Brincar”, proporcionando às crianças do pediátrico momentos de distração e alegria, durante todas as semanas. Voltámos a organizar a Gala do DF, com um novo nome, uma nova imagem e um novo contexto, culminando numa noite de sucesso e grande diversão. Criámos pela primeira vez as jornadas pedagógicas, onde foram apresentadas à direção do departamento as reclamações e sugestões dos cursos, resultando numa discussão bastante produtiva. Concebemos, o que, para mim, foi o evento do ano, o “Evento Alumni”, trazendo ao departamento antigos alunos dos três cursos. Permitimos com isto o reencontro de grande parte deles e a partilha de experiências laborais com os atuais alunos.Para além de todas estas atividades, ainda realizámos

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ENTREVISTA A DANI SILVApor Sara Barros

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o Dia do Núcleo, workshops e palestras. Por todos estes projetos e por termos conseguido, em todas elas, reunir a comunidade estudantil do DF, concluo que o balanço não podia ser mais positivo.

Qual a maior dificuldade que encontraste?Infelizmente, nem tudo foi fácil nesta temporada. Existem algumas dificuldades que não são fáceis de combater

neste departamento. Foi muito complicado conseguir que os alunos se entusiasmassem com as atividades que criámos, e, consequentemente, conseguir a participação nas mesmas foi bastante difícil. Para além disso, também foi complicado inicialmente organizar o meu tempo e conciliar o curso com todo o trabalho que o núcleo exige, mas a partir do momento em que entramos no ritmo as coisas vão fluindo e tudo se consegue fazer.

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O que gostaste mais durante esta experiência?Esta experiência foi mesmo muito gratificante em todos os sentidos. A nível pessoal, sinto que evolui muito tanto a nível de organização de tempo e trabalho, como no que diz respeito ao desenvolvimento das minhas soft skills. Para além disso, o núcleo permitiu-me conhecer pessoas excelentes, bastante esforçadas e que queriam tanto

quanto eu que este projeto corresse pelo melhor. Externamente, com toda a informação que adquiri da Associação Académica de Coimbra e com as atividades em que estive a representar o NEDF, o orgulho por fazer parte desta Academia aumentou. Neste momento, valorizo muito mais esta cidade e a associação a que pertencemos.

Ficou algum projeto por fazer?Inevitavelmente, fica sempre. Começámos com objetivos muito elevados, que é assim que tem que ser, mas, como o tempo não dá para tudo e como existe um curso para fazer, nem todos podem, no final, ser concretizados. Tanto os organizadores dos eventos, como o seu público-alvo têm constantemente entregas de trabalhos e frequências, o que impossibilita a realização de todos os projetos a que nos propusemos, até porque fazer uma atividade e não ter participantes consegue ser bastante desmotivador. Assim sendo, se queremos evitar essa situação, temos que estar frequentemente em atualização das datas livres

do pessoal e fazer tudo em função disso.

Quais os grandes planos para o próximo mandato?Para o próximo mandato pretendemos manter o núcleo igualmente ativo e com bastantes atividades, de forma a que os estudantes que representamos possam, facilmente, aceder a meios que os ajudem a complementar o curso que frequentam. Para além disto, pretendemos, também, realizar eventos que lhes proporcionem descontração e divertimento.

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Com isto não pretendo dizer que nos restringiremos ao trabalho já feito: pretendemos inovar e criar novos projetos, nomeadamente já no início do próximo semestre, com a semana de receção ao caloiro. Neste mandato, para além de todo o trabalho que se

pretende pôr em prática, ainda teremos ao nosso encargo um evento enorme, o Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Biomédica, evento esse que exigirá bastante da equipa.

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ENTREVISTA A BRUNO CERQUEIRApor Nuno Pinheiro

Olá, Bruno! Antes de mais, parabéns pelo teu sucesso no Hearthstone e pelas tuas mais recentes experiências.Gostávamos de te perguntar, primeiro, como é que alguém que começa a jogar online consegue, mais tarde, se tornar num jogador profissional?Olá, Nuno! Desde já expresso o meu agradecimento pela congratulação. Voltando-me agora para a questão, devo dizer que é tudo uma questão de esforço e dedicação. Como qualquer coisa, os jogos de computador exigem imensa prática. No meu caso particular, tudo começou pela participação em pequenos torneios portugueses e, futuramente, o interesse despertado por algo maior. Hoje em dia há imensos torneios online, há sites dedicados a realização destes torneios para jogos como o Hearthstone, e é aí que a experiencia competitiva começa. Assim que comecei a participar nestes torneios, acabei por ganhar pontos para o europeu de Hearthstone e apurar-me para o qualificador. Portanto, como podes ver, é algo que está ao alcance de qualquer jogador, exigindo apenas tempo e dedicação para melhorar. Para terminar gostava de realçar que este tipo de mudanças não ocorrem de um dia para o outro, no meu caso, foi cerca de ano e meio de prática até atingir o nível em que me encontro.

Recentemente, qualificaste-te para o Campeonato Europeu de Hearthstone e foste jogá-lo a Hollywood, Los Angeles. Como é que descreves a tua experiência lá? Ficaste muito surpreendido, quer pela forma como o jogo é vivido no estrangeiro, quer pelo dia-a-dia nos EUA?A única palavra que me ocorre quando fazes esta pergunta é “fenomenal”. Primeiro, achei muito engraçado conhecer

as rotinas da população americana, pois foi a primeira vez que viajei para os EUA. A diferença de estilos de vida é simplesmente assustadora. Do ponto de vista daquilo que é o gaming, devo realçar que é uma população muito mais evoluída do que a que temos na Europa, e principalmente em Portugal. Encontrei-me inclusive numa situação caricata à saída do aeroporto, em que conversei abertamente com a senhora que estava a verificar a minha identidade, sobre o torneio em que ia participar, e espantou-me a naturalidade com que ela encarou o propósito da minha viagem, tenho inclusive conhecimento do evento que eu participei.

Tens o plano de continuar a jogar a este nível? Se sim, durante vários anos ou estás “a ver o que acontece”?Muito sinceramente, estou mesmo a ver o que acontece. Sei que não é nada fácil vingar nesta área e que não é um investimento seguro a longo prazo, já que uma carreira profissional nunca dura mais do que 15 anos enquanto jogador. Neste momento, a minha prioridade é acabar o curso de Engenharia Biomédica. No entanto, estou a tentar manter de certa forma o nível que tenho, e procuro apurar-me e participar em torneios de grande escala, simplesmente não me dedico 100% a isso visto ter objetivos que considero de maior importância.

Para chegares a este nível, tiveste de ter alguma disciplina e esforço especial a jogar ou aconteceu tudo, simplesmente, pela consequência de gostares do jogo?Tudo começou por eu gostar do jogo, mas isso não foi nem de perto nem de longe o suficiente. Eu sempre tive um caráter de uma pessoa vencedora, não gosto de perder nem a feijões, então desde muito cedo procurei melhorar o meu nível de jogo. Isto pode parecer estranho, mas encaro os jogos como uma cadeira da universidade,

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ENTREVISTA A BRUNO CERQUEIRApor Nuno Pinheiro

não basta praticar, a meu ver devemos também estudar o jogo para entender ao máximo as suas componentes. Posso dizer que nos últimos 6 meses gastei mais tempo a ler artigos e a analisar a forma de jogo de alguns profissionais do que propriamente a jogar. A componente académica tem um peso tão elevado como a componente prática num “Trading Card Game” como é o caso do Hearthstone.

O Hearthstone sempre foi o teu jogo de eleição ou já jogaste outras coisas a este nível ou a nível semelhante?Não, o Hearthstone nem sempre foi o meu jogo de eleição. Comecei por jogar MOBA’s (Multiplayer Online Battle Arena), mais especificamente Heroes of Newerth e Dota/Dota2. Sempre tentei ser competitivo neste estilo de jogos e consegui entrar no ponto percentual mais

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Achas que é possível, depois de se jogar tão assiduamente, e de forma profissional, continuar a gostar de um jogo sem se fartar?Eu penso que sim, pelo menos eu ainda continuo a gostar do Hearthstone! A grande diferença que eu senti ao dar este passo foi a nível emocional, pois passei a sentir de uma forma mais séria quando os resultados obtidos não são os desejados. Por outras palavras, agora exijo mais de mim mesmo, o que acaba também por ser um ponto positivo! Mais uma vez tenho de deixar um agradecimento

à ForTheWin e aos seus membros por sempre me ajudarem a levantar sempre que eu senti que falhei.

Consideras que a vida de jogador online e de estudante são facilmente conciliáveis? A questão que eu deixo é “Qual a altura da nossa vida para ser um jogador online se não quando estudantes?”. Não quero com isto dizer que devemos dar prioridade aos jogos, pelo contrário.

alto de Heroes of Newerth por exemplo, mas nunca cheguei a obter o nível que obti no Hearthstone, ao ponto de participar em Campeonatos Europeus.

Tu pertences à equipa ForTheWin eSports, talvez a melhor equipa nacional de e-sports. Como é que conseguiste lá chegar? Achas que a tua presença na equipa foi fundamental para o teu atual sucesso?Sim, eu pertenço a ForTheWin e-Sports, que é neste momento a maior organização de e-sports em Portugal. Eu entrei para a ForTheWin assim que comecei a ter

alguns resultados a nível nacional. Procurei a entrada para a equipa e desde logo me receberam de braços abertos. Penso que foi um passo fundamental na direção daquilo que eu obtive recentemente. Abriram-se imensas portas e, o mais importante, encontrei um grupo de pessoas com as quais pratico diariamente, o que me ajudou imenso a evoluir não só como jogador mas também como pessoa. A ForTheWin conseguiu criar um ambiente não só de trabalho, mas também de amizade entre os seus jogadores, e este ambiente motiva-me ainda mais a jogar, e a querer evoluir progressivamente.

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Mas se eu não desse este passo agora, não acho que voltaria a ter oportunidade para tal. Certamente que não me vejo a ter tanto tempo livre assim que entrar no mercado de trabalho. Devo confessar que não considero fácil, penso que conciliar a vida de um jogador online com outra qualquer é sempre difícil, mas acho que não há melhor altura para o fazer.

Para terminar, que conselhos darias a algum leitor que gostaria de seguir as tuas pisadas?Penso que a melhor forma de terminar esta entrevista é como começou. É tudo uma questão de esforço e

dedicação como qualquer objetivo que temos na vida. Para aqueles que querem seguir este caminho, resta-me sugerir que invistam tempo em estudar o jogo, vejam jogadores profissionais a jogar e procurem entender o porquê dos acontecimentos, ao invés de investirem todo o tempo livre em efetivamente jogar. Mais importante que isso, são as cadeiras que temos para fazer no fim do semestre, por isso não confundam prioridades!

E NÃO ACREDITEM NOS VOSSOS AMIGOS QUANDO ELES GOZAREM CONVOSCO, UM DIA HÃO DE OS PROVAR ERRADOS! :D

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7th Symposium on Bioengineering:

Solving Tomorrow, Today!por Joana Rita Covelo e Mariana Lapo Pais

Ocorreu nos passados dias 22 e 23 de abril, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), e teve como objectivo formar e informar os presentes sobre o que é e o que se faz na crescente área de bioengenharia. O simpósio, para além de dar uma perceção de tudo o que já se conquistou nesta área até então, ofereceu uma perspetiva futurista do que poderá ser possível fazer-se em alguns anos, deixando aos presentes um desejo de poder contribuir em conquistas tão desafiantes. Tratou-se assim de um diálogo enriquecedor onde a biologia e a engenharia se fundiram e se tornaram nas estrelas daqueles dois dias na invicta. Os temas foram diversos, tendo por base a divisão em Engenharia Biomédica, Biotecnologia Molecular e Engenharia Biológica e dispersaram-se até as mais distintas temáticas, tais como alternativas alimentares, biomateriais, neurociências, empreendedorismo e o mundo do trabalho.

Os dois dias distribuíram-se em palestras intervaladas por “Coffee Break + Speed Dating” onde, para além de poder recuperar energias num abastado lanche, existia a oportunidade de contactar diretamente com os palestrantes. Esta programação possibilitava assim aos presentes conhecer a um nível mais pessoal estas personalidades tão inspiradoras com quem poderíamos esclarecer quaisquer dúvidas e curiosidades numa conversa informal. A divisão das palestras foi realizada de forma a chegar a todas as áreas e gostos distribuindo-se da seguinte forma: ∙ Investigação: “cancer the 21st century´s biggest battle”; ∙ Biomateriais e bioenergia: “Tissue Engineers: the new bodybuilders” e “Bioenergy: fuel from the unexpected”; ∙ Descobrir a mente: “Unraveling the human mind”;

∙ Bioinformática: “A new way to spell Health: with 0s and 1s” e “Simulating Life”; ∙ Visão ecológica: “Feeding the next X billion”.

O painel de oradores foi constituído por notáveis cientistas, engenheiros, investigadores e professores de vários áreas e pontos do globo (Portugal, Estados Unidos, França,…) e devido a este facto o simpósio foi falado em inglês. Todos contribuíram de forma essencial, dando a conhecer claramente todo o fantástico trabalho que estão a desenvolver.

Alguns exemplos:

Paulo Maia (Co-founder of SilicoLife): Formado em Engenharia Informática pela Universidade do Minho com mestrado em Bioinformática. As suas actividades principais são a de investigação na área de bioinformática e sistemas biológicos, estando envolvido no desenvolvimento e testagem de software.

Co-fundador da SilicoLife, uma empresa focada na criação de soluções de Biologia Computacional para as Ciências da Vida, que disponibiliza serviços altamente especializados fornecendo soluções no âmbito da exploração de diversos tipos de dados experimentais.

Na sua palestra, mostrou a importância actual de possuir competências na área da informática de forma a perceber e simular melhores sistemas biológicos. Admite (ainda) não ter nenhum engenheiro biomédico na sua equipa, mas realça que todos os formados em áreas de bioengenharia são a ponte fundamental entre a engenharia e as ciências de uma equipa de sucesso,

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sendo profissionais fundamentais na procura actual do desenvolvimento científico e tecnológico.

Ryan Pandya (CEO of Muufri, Silicon Valley):CEO da Muufri, uma empresa sediada na Silicon Valley que está a reinventar a fórmula de produzir leite: leite animal-free. Este composto sintético é feito através de culturas de leveduras (um processo semelhante à produção de cerveja), às quais posteriormente adicionam componentes como cálcio e potássio ou açúcares compatíveis com quem é intolerante à lactose. O objetivo é revolucionar a produção de leite de tal forma que se evitem as complicações da produção industrial convencional, como a contaminação proveniente das vacas, o tratamento desumano dos animais confinados a espaços muito reduzidos e a emissão de metano para a atmosfera pelo estrume e flatulência dos animais. Uma palestra que, para além de muito apelativa, fez acreditar que jovens adultos com ideias não convencionais podem fazer a diferença no mundo e tornar essas mesmas ideias negócios rentáveis.

Miguel Castelo-Branco (Director of IBILI and

ICNAS):Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, atual coordenador do Instituto Biomédico de Investigação da Luz e Imagem (IBILI) e diretor do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS), já contribuiu para áreas como a oftalmologia, neurologia, neurociências visuais (entre outras).

No simpósio, apresentou processos inovadores como a medição de sinais bioelétricos ou neurofisiológicos, útil na identificação de doenças degenerativas da retina e métodos de recolha de imagens da estrutura do cérebro e da retina, importantes na deteção de sinais da doença de Alzheimer ou de glaucoma. Um trabalho notável de centros de investigação tão perto como o IBILI e o ICNAS.

Em suma, concluímos dizendo que foi sem dúvida uma experiência a repetir, não só pela riqueza de conteúdo, mas principalmente pela motivação de um dia poder também contribuir naquela que é uma das áreas em maior crescimento na ciência: Bioengenharia.

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ENGENHARIA FÍSICAA MINHA ESCOLHA DE MESTRADO

INSTRUMENTAÇÃOConfesso que, até chegar ao meu 5º ano e ao meu mestrado, me questionei muitas vezes quando é que iria fazer engenharia física, assumindo que existe algo como “fazer engenharia física”. Bom, acho que faz parte termos este tipo de dúvidas.

Felizmente, encontrei muitas respostas neste ano com a minha tese de mestrado. Estou no mestrado de instrumentação e a minha tese chama-se: Monitorização e diagnóstico automático de cadeias de frio. Eu sei, eu sei, tem um título aborrecido, mas o importante é tudo o que está por trás do nome. Estou na Whitesmith (btw, empresa criada por um antigo aluno de engenharia física do DF e um dos fundadores da jeKnowledge - Rafael Jegundo) a desenvolver um serviço: o qold (podem dar uma espreitadela em https://www.qold.co/).

[Agora que já terminei toda a shameless promotion] A minha tese acaba por se centrar em desenvolver um dispositivo que permite monitorizar desde pequenos frigoríficos a câmaras frigoríficas industriais, isto é, medir temperatura, detectar abertura de porta, fazer detecção de corrente e, depois, enviar estes dados para uma gateway que os irá “pôr na internet” numa plataforma catita para o cliente usar, gerar relatórios e alarmes. Com estes dados todos vou, também, desenvolver um algoritmo de diagnóstico. Para além de simplesmente me sentar a codar e a soldar peças, estive também a falar com potenciais clientes onde fiz umas instalações. Uma delas foi no Práxis, o que é sempre uma desculpa

para ir beber uma cerveja. Mas mais do que aquilo que ando a fazer, é tudo aquilo que ando a aprender. Em breves palavras, uso um Arduino para prototipar e fazer a recolha e processamento de dados que comunica com um Raspberry Pi (a gateway) por radiofrequência (433 MHz), a gateway depois liga-se à rede de Wi-Fi (2.4 Ghz) e comunica com uma base de dados. Programei em Arduino, C++, usei JSON e SQLite. Desenvolvi circuitos, trabalhei com módulos mais low level e queimei-me algumas vezes com o ferro de soldar. Terminado o protótipo é preciso desenhar o PCB (que é a parte onde estou actualmente).

Ah! E escrever a tese…

Um conselho para os mais novos, não desanimem se estiverem com dúvidas, faz parte. Apostem nas cadeiras que vos dão mais gozo! No meu caso, foram as Análises Matemáticas, algumas cadeiras de física mais pura e moderna (apesar de ser um bocado nabo), Projecto e Concepção de Instrumentos, Sistemas Informáticos, Sensores Inteligentes e Instrumentação Industrial (aquele momento em que tens de ir ao inforestudante para te lembrares do nome das cadeiras #velho).

Tinha como objectivo fazer uma tese que fosse importante de alguma forma, que não fosse um aprendiz de engenharia física a fazer uma tese de engenharia biomédica e que me desafiasse. Penso que consegui isso, agora falta só mesmo fazer a tese!

Diogo de Bastos

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METROLOGIA E QUALIDADEEstranho pensar que já passaram quatro anos desde que tomei a minha decisão final de que Engenharia Física, na UC, seria o rumo académico que iria tomar. Lembro-me bem: na altura, analisei os planos de estudo e, desde logo, me identifiquei com o mestrado de instrumentação. Com o avanço do curso a ideia de seguir instrumentação foi ganhando suporte.

O terceiro ano começou e, no primeiro semestre, tive a disciplina de Tecnologia de Sistemas Embebidos. Pela primeira vez no curso, tive uma cadeira de eletrónica que era focada na avaliação da componente prática.

Não gostei.

No segundo semestre, com Projeto e Conceção de Instrumentos, sucedeu-se o mesmo. Apercebi-me que não tinha aptidão nem interesse por este ramo de estudos, e, por exclusão de partes, e influenciada pelo facto de metrologia ser um ramo com quociente oferta/procura alto, fiz a minha escolha.

Sabia que a decisão não seria muito pesada, uma vez que, no primeiro ano de mestrado, apenas duas disciplinas não eram comuns a instrumentação. Assim, se não me identificasse, facilmente fazia a mudança.

Agora, que já estamos no final do segundo semestre do primeiro ano de mestrado, sei que fiz a escolha acertada.

As cadeiras de especialização que temos fizeram-me tomar gosto pela área.

Mas o que é, afinal, Metrologia e Qualidade?

Este mestrado pretende tornar-te capaz de, com recurso a métodos estatísticos e dados de referência, e com o background que a licenciatura te dá, avaliar dados recolhidos, assim como transmitir-te métodos para que a tua recolha de dados apresente o mínimo desvio do real.

Tem também uma componente ligada à gestão da qualidade, em que é apresentado um conjunto de métodos que pretendem convergir no aumento de produtividade de uma empresa e criação de valor para o cliente.

Se te encontrares na posição em que eu estava há um ano e ainda não estás certo da tua escolha, pesquisa. Analisa os dois planos de estudo, vê com qual mais te identificas, vê as listas dos projetos de tese dos últimos anos, fala com atuais alunos e, se possível, com antigos e com o coordenador de curso.

Qualquer dúvida, sente-te à vontade para vir falar comigo.

Bons estudos!

Inês Pessoa

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FÍSICAA MINHA ESCOLHA DE MESTRADO

FÍSICA DA MATÉRIA CONDENSADAO meu nome é Vanda e sou, atualmente, a única aluna inscrita no ramo do Mestrado em Física da Matéria Condensada.

O que terá levado, então, a que esta área com tanta tradição no Departamento de Física da UC tenha deixado de ser tão atraente para os seus alunos?

Podemos, antes de mais, culpar a falta de alunos inscritos no Mestrado em Física. Sendo poucos os alunos anuais, mesmo com uma distribuição minimamente uniforme, poucos são os alunos em cada ramo.

Porém, outro dos motivos que me parece ser mais proeminente na rejeição deste ramo é a sua vertente muito prática. Penso que, no caso em que alguém esteja com sérias dúvidas em relação a este “problema”, contactar com os professores seja o mais acertado. Tendo em conta que a escolha do tema da dissertação é algo flexível e relacionado com os projectos que os diferentes grupos ou professores tenham disponíveis, será sempre imprescindível discutir ideias e possíveis temas.

No entanto, há que referir que, quanto ao primeiro ano do mestrado, terão sempre contacto com a parte experimental, tendo em conta que uma das

cadeiras obrigatórias do ramo assim o exige (Métodos Experimentais na Matéria Condensada).

Para mim, por exemplo, não se pôs em causa esse problema, tendo em conta que queria uma vertente mais experimental. Para pessoas nessa situação, devo dizer que o primeiro ano do mestrado oferece duas cadeiras com uma forte componente prática (a já referida anteriormente e Matéria Mole e Materiais de Baixa Dimensão – não obrigatória). Em ambas foram realizados pequenos trabalhos de investigação em que foi possível ter contacto com muitos dos aparelhos e técnicas utilizadas, o que sem dúvida foi uma mais-valia para o projecto deste ano.

Aos próximos alunos do Mestrado em Física, destaco a importância de se dirigirem aos grupos de investigação existentes, tentando perceber o seu trabalho e temas de investigação.

Quanto à escolha do ramo, tendo em conta a grande sobreposição da maioria das cadeiras, tenham apenas uma especial atenção às cadeiras obrigatórias, que não poderão contornar.

A todos, boa sorte.

Vanda Pereira

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FÍSICA NUCLEAR

E DE PARTÍCULASAs alturas de decisões são complicadas e, como tal, não é fácil escolher uma área para o mestrado. Assim sendo, vou falar um pouco sobre dicas gerais que podem ser úteis na altura da escolha e, depois, falar um pouco sobre o que se pode esperar na área de Física Nuclear e de Partículas.

Em primeiro lugar, há duas coisas que importa ter em conta na altura de escolher: as cadeiras do plano de estudos e a tese do mestrado.

Em relação às cadeiras, é uma boa ideia familizarizar-se com as que existem. Para isto, pode dar-se uma vista de olhos no plano de estudos, nos sumários dos anos anteriores, e perguntar aos alunos desses anos como é que elas funcionam. Como as cadeiras podem ser obrigatórias ou opcionais, e como existe bastante flexibilidade nas opcionais, uma boa estratégia é escolher o mestrado que tenha como obrigatórias as cadeiras que já se quer fazer.

Em relação à tese de mestrado, convém lembrar que a área determina à partida o tipo de tese que se pode fazer. No entanto, existe uma certa flexibilidade dentro dos vários grupos de investigação e dos coordenadores, que podem permitir “fugir” à área escolhida. Isto é, não é estranho ver alguém de Física Computacional trabalhar em simulações de Física de Partículas ou alguém de Física de Partículas desenvolver código no seu mestrado. Falando agora mais especificamente de Física Nuclear e de Partículas, pode dizer-se que é uma área que dá continuidade às cadeiras dos anos da licenciatura.

Do ponto de vista teórico, aprendem-se as teorias que constituem a base da física actual, isto é, a Relatividade Geral e a Teoria Quântica de Campos (associada ao Modelo Padrão). Com estas, obtêm-se as bases para se poder compreender teorias mais recentes (como supersimetria, por exemplo) e para se compreender as discussões mais actuais dos problemas fundamentais na física. De um ponto de vista mais experimental, também se pode aprender como funcionam os detectores que estudam as partículas (permitindo testar as várias teorias), os fenómenos cósmicos, a matéria escura, ou até aqueles que têm aplicação médica.

No departamento existem grupos com bastante experiência nestas áreas. Na parte teórica, estudam-se modelos de hadrões, estrelas de neutrões, simulações de cromodinâmica quântica, entre outros. Do ponto de vista experimental, existem grupos que constroem detectores que são usados em várias experiências a nível mundial. Exemplos destas experiências são o CERN e as colaborações LuX e NEXT. Na área da saúde inclui-se trabalho desenvolvido para o ICNAS. Para além disso, existem grupos que trabalham um pouco no meio da teoria e da experiência, fazendo análises de dados de experiências do CERN e fazendo simulações de modelos teóricos. Em suma, para fazer uma boa escolha, o mais importante é informar-se, ter uma ideia do que se quer fazer no futuro e, também, ter uma ideia do que se quer aprender enquanto o futuro não chega.

Sagar Pratapsi

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MODELAÇÃO E

SIMULAÇÃO COMPUTACIONALO meu nome é Marcos Gouveia e estou, atualmente, a terminar o primeiro ano do Mestrado em Física, no ramo de Modelação e Simulação Computacional.

O que me atraiu neste ramo foi o facto de ser aquele que tem aplicação em qualquer área da Física (e até fora dela), seja Física de Partículas, Matéria Condensada, Cosmologia e até mesmo Física Teórica! Todos nós gostamos de resolver um problema e chegar ao fim com uma soluçãozinha analítica toda bonita com raízes cúbicas de cotangentes hiperbólicas ou lá o que seja...no entanto, isto só acontece com uma fração minúscula dos problemas. Na realidade temos de recorrer a métodos computacionais para chegar a soluções que sejam minimamente aplicáveis no Mundo real. Outro factor que me levou a escolher este caminho é o facto de, ser o ramo que, em príncipio, oferece mais ferramentas para trabalhar fora da Física. Atualmente, existe muita oferta para especialistas em simulação e modelação, por exemplo no mundo das finanças, seguros, etc.

Quanto ao plano de estudos, a minha opinião é que, sendo um ramo que depende tanto em computadores e sistemas informáticos, falta de alguma maneira uma base relacionada com essa área. Ou, então, pelo menos, a existência de uma opção aberta para nos

dar a oportunidade de escolher, por exemplo, uma cadeira por semestre que nos permitisse obter aqueles conhecimentos que achamos que nos serão necessários. No entanto, existem algumas cadeiras nas quais aprendi bastante e que sei que me ajudarão no futuro.

O meu conselho para quem vai brevemente ter de escolher um ramo do Mestrado de Física é:Escolham o ramo a seguir tendo em conta as cadeiras obrigatórias que essa escolha vos levará a ter. Isto por quê? À parte das cadeiras obrigatórias de cada ramo, podem trocar cadeiras pelas dos outros à vontade...só não se livram mesmo das duas obrigatórias por semestre. Mas podem pensar que a escolha do ramo vos vai limitar na hora de escrever a tese...bem, casos recentes vieram-me mostrar que, nesse aspeto, os coordenadores costumam ser bastante flexiveis.

O nosso Departamento tem à disposição grupos de trabalho disposto a aceitar alunos que queiram trabalhar na tese de Mestrado, por isso não tenham vergonha e dirijam-se aos professores!

Boa sorte a todos os que vão começar esta nova etapa no próximo ano! E estejam à vontade para pedir conselhos a quem aqui anda há mais um anito que vocês.

Marcos Gouveia

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ENGENHARIA BIOMÉDICAA MINHA ESCOLHA DE MESTRADO

NEUROCIÊNCIAS

As Neurociências foram, desde sempre, uma paixão.

Antes mesmo de vir para Coimbra, frequentei o curso de Neurofisiologia no Porto. Quando decidi mudar de curso, confesso que Coimbra foi a primeira opção, mas Engenharia Biomédica despertou a minha curiosidade pela possibilidade de seguir o mestrado em Neurociências.

Durante a licenciatura, sempre soube o que queria, e depois de fazer todas aquelas cadeiras de física e programação, só pensava em seguir aquilo onde sempre me vi a trabalhar: neurobiologias.

No final do 3º ano, quando temos de tomar decisões relativamente àquilo que possivelmente será o nosso futuro, naturalmente surgiram dúvidas: o que é que este mestrado me pode oferecer? Será que terei trabalho no futuro? O que é que eu poderei fazer quando acabar o curso? Será que devo seguir outro mestrado que me irá garantir um futuro melhor?

Decidi arriscar e seguir aquilo que sempre soube que conseguia e queria fazer. Hoje, estou prestes a terminar o mestrado, a trabalhar há cerca de um ano na minha tese e naquilo que quero fazer no futuro.

Foi fácil? Não, nada que vale a pena é fácil.

Estou arrependida? Não, não me vejo a fazer outra coisa.

Este mestrado superou as minhas espectativas, abriu-me imensas portas e mostrou-me que eu sempre estive certa quanto às minhas escolhas.

Sim, é verdade, podemos não ter, à primeira vista, todas as saídas profissionais que o nosso curso oferece. Mas seremos igualmente mestres em Engenharia biomédica, com uma vertente de investigação no currículo, que pode ou não ser continuada.

Se lutarmos por aquilo que queremos e que nos faz felizes, podemos fazer de tudo. Se gostas de neurociências e de biologia este é um ótimo mestrado e não tens obrigatoriamente que seguir investigação no futuro.

Existem imensas vertentes e possibilidades para nós. Terás sempre de trabalhar muito, batalhar pelo teu lugar e mostrar o que vales, independentemente do trabalho que escolheres, mas será tudo mais fácil se lutares por algo que realmente gostas.

Lígia Fão

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Antes de escolher Engenharia Biomédica, sempre soube que queria seguir a área específica de Neurociências. À medida que fui concluindo várias disciplinas semestrais, este desejo foi tornando-se cada vez mais forte pois não me identificava muito com as áreas de eletrónica, programação ou mesmo de imagem. Sempre gostei de saber como funciona o corpo humano – a máquina mais complexa que existe – que está em constante mudança, que corrige os seus próprios erros, que adapta-se a novas condições e que é constituído por milhões de células. Estas últimas têm características diferentes entre si, e constituem tecidos que vão formar órgãos com uma determinada função que, para além disso, têm de estar em constante ligação com todos os restantes órgãos. É esta a magia da grande máquina que nos permite viver e usufruir daquilo que é chamado de “Vida”. Este é o motivo que me levou a optar pelo estudo do corpo humano.

E porquê Neurociências? O cérebro humano sempre me despertou grande curiosidade. Na minha opinião, é o órgão mágico que comanda todo o corpo humano. Se estivermos tristes ou contentes, o nosso corpo ressente-se e age de forma diferente. O cérebro é o que nos permite pensar de forma racional, acharmos o que é certo e o que é errado, que nos permite sonhar e lutar para esses sonhos se realizarem! E eu sou uma sonhadora.

Tive algumas disciplinas onde estudei um pouco o sistema nervoso, mas nunca de forma aprofundada. Quando cheguei ao 4º ano e tive as disciplinas de Neurobiologia I e Neurobiologia II, percebi que, o que sabia do sistema nervoso, não era rigorosamente nada de relevante! Essas disciplinas foram trabalhosas, o sistema de avaliação era contínuo, o que me obrigava a estar constantemente atualizada mas, como consequência disso, terminei o 4º ano com um sentimento de satisfação e de dever cumprido.

Muitas vezes perguntam-me: “Mas se tirar o mestrado em Neurociências, a probabilidade de arranjar emprego é menor?” – Isso é mentira. Nós acabamos o curso de Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica e estamos aptos para exercer qualquer função, uma vez que temos uma grande capacidade de adaptação. O que acontece é que, muitas das vezes, quem escolhe estas áreas do estudo do corpo humano quer dedicar-se à investigação e, aí sim, é mais difícil de encontrar um emprego.

A área de informática, por exemplo, tem muito mais procura por parte das empresas, pois é uma área em constante mudança. No entanto, no meu caso, não quero seguir uma carreira de investigação, pois quero trabalhar com produtos/aparelhos médicos, perceber a sua interação no corpo humano e “ir para o terreno”: explicar como atuam, como funcionam e ajudar quem precisa.

Por isso, se gostam do estudo do corpo humano, mais especificamente a área de Neurociências, escolham este mestrado!

Catarina Sá Silva

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INSTRUMENTAÇÃO MÉDICA

E BIOMATERIAISJá não consigo contar o número de pessoas que me perguntou, neste ano, qual era o meu mestrado. Respondi sempre o mesmo em tom de brincadeira: ‘’Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica’’ e já vais perceber porquê.

A escolha do ramo de mestrado é um assunto difícil para qualquer estudante e sempre motivo de ansiedade para os mais novos. É compreensível, mas relaxem, não é assim tão crítico.

Muita coisa me motivou quando tomei a decisão de seguir Biomateriais e Instrumentação e a parte mais difícil, tal como na escolha do curso, foi a escolha dos critérios para avaliar as opções e do peso de cada um. Eu não tive muitos critérios e provavelmente sou a pior pessoa para vos falar deste tema, porque não sou tão racional como me imaginam, muito pelo contrário.

Baseei a minha escolha em poucas coisas como as cadeiras que mais gostei e as empresas ou institutos onde gostava de trabalhar. Mas dentro destes há muito que importa e muito que é acessório. Nas cadeiras, dei mais importância aos temas que achei mais cativantes e que sabia que não me iriam ‘’cansar’’, não sendo necessariamente as cadeiras em que tive mais sucesso.

O segundo passo que tomei foi pensar em como poderia aplicar da melhor forma o que aprendia no curso e, aí, tentei sempre orientar-me segundo as capacidades que quero ter, para me apresentar no mercado de trabalho. E este mercado é imenso e está à espera de ser conquistado por ti, tanto o nacional como o estrangeiro; tanto os que são ‘’expectáveis’’ para um Engenheiro Biomédico, como as variadas funções que os nossos colegas mais velhos desempenham nas 1001 empresas que têm uma adoração especial por Engenheiros Biomédicos, mas que não são aquilo que conjeturamos quando escolhemos este curso ou quando explicamos

àquele familiar que pergunta ‘’ Afinal o que é Engenharia Biomédica?!’’.

A parte mais crítica do mestrado, a meu ver, é a escolha das cadeiras opcionais e aí deves seguir uma estratégia. A minha foi peculiar porque tentei juntar às cadeiras que mais gostava, algumas de outros mestrados, para complementar a minha especialização, mantendo um espectro aberto de opções, porque acredito que me podem vir dar jeito um dia mais tarde, uma espécie de plano B.

Mas depois de escolheres o ramo, as opcionais serão as que estão em concordância com o que te fez escolher aquele ramo em detrimento dos outros. Existem muitas mais questões que deves ter em conta neste tema, como o facto de não existirem em Coimbra alguns ramos de Mestrado que só estão disponíveis noutras instituições de Ensino Superior. Deves pesquisar e ponderar transferência ou candidatura para outro lado se nenhuma das opções de cá preenche as tuas medidas.

Se achares agora que estás com mais dúvidas do que quando começaste a ler, é normal, não te preocupes. Primeiro experimenta todas as cadeiras de licenciatura, vive Coimbra e depois acredita em mim: só um ramo vai fazer sentido para ti.

A tua escolha vai aparecer naturalmente e as dúvidas vão sempre permanecer, por muito pequenas que se tornem. Se não duvidares das tuas escolhas é porque não pensaste suficientemente nelas. Mas isso não significa que o teu percurso académico falhou! Tu deves fazer o que queres, porque gostas! No fim do dia, se achares que não estás feliz, muda de rumo! Os estatutos sociais não valem nada e qualquer emprego é bom e digno desde que seja honesto e te sintas bem. Se há riquezas que ninguém te pode tirar são o teu conhecimento e cultura e nunca é demais investires neles.

António João Torres

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Ao longo do curso, fui-me conhecendo a mim mesmo e descobrindo quais as áreas que mais me fascinavam.

Foi, e continua a ser, a área de Biomateriais que me completa e me cativa….

Não só pela liberdade e flexibilidade de horários que se tem ao trabalhar num laboratório, como também na parte de investigação, ao termos a hipótese de tentar solucionar

novos problemas e atingir a um determinado objetivo de uma forma criativa.

Se existe empregabilidade nesta área? Eu próprio também não sei…

Mas, de uma coisa, tenho a certeza… Se trabalharmos em algo de que gostamos, isso não se torna um trabalho, mas sim um passatempo.

Fábio Reis

O mestrado de Instrumentação e Biomateriais tem, como qualquer outro, pontos fortes e pontos fracos.

Por um lado, somos confrontados com disciplinas tipicamente de engenharia e muito características do nosso departamento de Física, nomeadamente os cadeirões de Instrumentação e Sistemas de Aquisição de Dados (ISAD) e Instrumentação Optoelectrónica (obrigatórias, uma do primeiro e outra do segundo semestre, respetivamente).

Apesar de não ser propriamente difícil “fazer” estas duas, conseguir uma boa nota já necessita de uma carga de esforço e estudo bem acima da média e, ainda, boas bases de eletrónica, pelo menos, do ponto de vista de um estudante de Biomédica…

Por outro lado, temos as cadeiras da parte dos Biomateriais: Engenharia de Tecidos (primeiro semestre) e Processamento de Materiais (segundo semestre, mais genérica, visto que aborda outros assuntos para além da

visão exclusivamente biomédica).

Do meu ponto de vista, são as cadeiras mais interessantes do curso e que me ajudaram na escolha do meu estágio de verão, orientadores e projeto final de curso.

Acredito que seja uma vantagem ficar com bases nestes dois ramos. No entanto, acho que se o mestrado fosse separado, havendo dois mestrado “puros”, um de Instrumentação e outro de Biomateriais, conseguiríamos uma melhor especialização, e que nos daria mais conhecimento útil para o nosso projeto de final de curso.

Claro que existem sempre as cadeiras opcionais... A escolha destas, a meu ver, deve resultar de uma ponderação entre o que vamos realmente aprender e a nota que vamos ter na disciplina e, se nos ajuda, ou não, a subir a média (se realmente acharmos que esta possa ser relevante).

João Gouveia

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IMAGEM E RADIAÇÃOA minha decisão para escolher a especialização de Imagem e Radiação foi muito simples.

O facto de cadeiras como Biomateriais e Eletrónica não serem merecedoras do meu gosto pessoal fez com que a especialização em Instrumentação Médica e Biomateriais ficasse automaticamente excluída. Neurociências é muito próxima da investigação científica e, como no meu futuro profissional não é algo que pretenda fazer, também ficou excluída. A especialização em Informática Clínica e Bioinformática metia-me um bocado de “medo” já que a minha aptidão para programar não era fantástica e por isso, por exclusão de partes, restou Imagem e Radiação. Tinha gostado da cadeira de Radiações em Biomedicina (3º ano) e por isso lá fui.

No 4º ano tens a opção de escolher duas cadeiras opcionais em cada semestre e isso, sim, é que torna a decisão mais difícil. Na altura, em conjunto com uma colega, decidimos que seria interessante e mais vantajoso aliciarmos o nosso mestrado a algumas cadeiras de bioinformática.

Assim, no 1º semestre escolhemos Computação Neuronal e Sistemas Difusos (cadeira obrigatória para o mestrado de Bioinformática) e Instrumentação para Imagiologia Médica. Esta última é uma cadeira que aconselho vivamente a quem escolhe o mestrado de Imagem e Radiação a escolher como opcional, pois dá-nos um panorama geral sobre vários aspetos importantes para quem escolhe o nosso mestrado, e no futuro ajuda imenso para outras cadeiras.

No 2º semestre, as escolhas de opcionais recaíram sobre uma cadeira de bioinformática, ADDAR (Algoritmos de Diagnóstico e de Auto-Regulação) e Visão Computacional e Perceção Biológica (apesar de ser uma cadeira muito diferente de todas as outras, tem como componente de avaliação um relatório relacionado com o trabalho/acompanhamento de um dos projetos do IBILI/ICNAS, o que pode abrir portas a nível do projeto do 5ºano).

No 5º ano, como obrigatória, temos uma cadeira também

obrigatória para o mestrado de Bioinformática: Base de Dados e Análise de Informação; como opcional, escolhi RMN Biomédica e Imagiologia molecular (se fosse hoje, esta cadeira não estaria nas minhas escolhas!).

Este mestrado, relativamente às cadeiras obrigatórias (tirando cadeiras comuns a todos os mestrados) consegue, no fim, dar-nos uma perspetiva das possibilidades que alguém com este mestrado pode fazer no futuro, a nível da dosimetria, análise de imagem, radiofarmácia. Além disso, é, talvez, dos mestrados que se interligue mais com o ambiente hospitalar, visto que existem muitas visitas aos hospitais, no serviço da radiologia, radioterapia, visitas ao ICNAS/IBILI.

O facto de ter escolhido algumas cadeiras de bioinformática ajudou bastante o meu percurso, deu-me um conhecimento diferente e permitiu que a prática não desaparecesse (pelo menos) e, se fosse hoje, teria escolhido mais cadeiras de bioinformática, pois acho que o mestrado de Imagem e Radiação fica muito mais completo com um conhecimento nessa área e, para quem diz que não gosta de programar, acho que com o tempo vai-se aprendendo a gostar e com a prática torna-se menos difícil (não é que tenha ficado uma pro, mas acho que me safo melhor!).

Também há quem alicie este mestrado a Neurociências, uma escolha também interessante para quem gosta da área das neurociências e quer um conhecimento mais amplo, que não restrinja as opções no futuro.

Na minha opinião, e estando a acabar o mestrado, estou bastante satisfeita com a escolha da especialização em Imagem e Radiação. Neste momento, voltaria a escolher a mesma, pois, sinceramente, tanto a nível da imagem como da radiação, existem imensos trabalhos interessantes a ser realizados na área, principalmente em Coimbra (IBILI/ICNAS), e são áreas em constante evolução, onde é sempre possível fazer mais e melhor!

Ah, e é brutal!! Filipa Rodrigues

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Olá a todos, long time reader first time poster!

A primeira coisa que posso dizer é: mestrado não é licenciatura. Em licenciatura tens de ganhar todas as bases possíveis para caso queiras seguir os vários ramos existentes (e, em Biomédica, ainda são alguns). Eu sei lá quantas cadeiras fiz sem tirar de lá grande espingarda... estudava-se e pronto, está feita.

Em mestrado, não, escolhes a área que mais gostas. Tu decides o teu próprio percurso, claro que tens cadeiras obrigatórias mas a existência de cadeiras opcionais permite-te criar um plano de estudo flexível consoante o que achas importante aprender. Isso permite-te ter uma mentalidade completamente diferente, entrar numa cadeira com a disposição de aprender algo dali porque foi foste tu que a escolheste.

Em termos de Imagem e Radiação, foi uma escolha um bocado automática, sempre achei fascinante o que se consegue fazer em relação em termos de imagiologia e o que se consegue compreender do corpo humano, da mente humana quando se mete uma pessoa numa caixinha cheia de detectores. Portanto, imaginam a carinha de puto no Natal quando calho num projecto que tem como objectivo estudar actividade econectividade cerebral e mandar pessoas para dentro de ressonâncias magnéticas.

Em termos de cadeiras aprende-se desde dosimetria

e radiobiologia a radiofarmacia (basicamente radioactividade em prol de imagem e terapêutica) a fundamentos por detrás de PET, ressonância magnética, Raios-X, e todas as modalidades, aprende-se como se formam as imagem e como processar e trabalhar esse tipo (e outros tipos) de imagens até mesmo criação de bases de dados e data mining.

Tudo isso facilmente completável com cadeiras opcionais que no meu caso serviram para aprofundar temas que me interessavam (Instrumentação para Imagiologia Médica e Visão Computacional e Percepção Biológica) e para preencher lacunas que sentia que existiam em toda a burrice da minha pessoa (Reconhecimento de Padrões e ISAD).

Fear not, professores (cada vez mais no polo 3) espectaculares, acessíveis e interessados, cadeiras interessantes, entrada num contexto hospitalar e de investigação biomédica com visitas a serviços no hospital, bem como por exemplo ao ICNAS e ao seu cilotrão (entrada essa que peca por tardia).

Talvez como lado negativo os métodos de avaliação que podem beneficiar quem está lá só para fazer cadeira mas como disse, depende da visão que cada um tem e o que pretende retirar da matéria, das aulas e sobretudo dos professores, que quem sabe podem ser os nossos futuros orientadores ou co-orientadores.

João Pereira

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BIOINFORMÁTICA

E INFORMÁTICA CLÍNICA

A bioinformática define-se como o ramo da engenharia que aplica técnicas da informática no sentido do processamento, análise e gestão de dados biológicos. Se a esta definição juntarmos a componente de software médico, ficamos com a definição daquilo que é o Mestrado em Bioinformática e Informática Clínica do Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica.

Posicionar este mestrado (de Universidade de Coimbra), num dos campos anteriormente referidos (processamento, análise, gestão de dados ou software) não é tarefa fácil. Mas ainda bem que existe essa dificuldade, o que neste caso significa que saímos, ao fim de 2 anos bioinformáticos, por termos aprendido de tudo um pouco.

Ainda assim, consigo estabelecer 2 clusters, o software a a analise de informação. Entre estes dois, a análise de informação é, sem dúvida, o ponto forte.

Mas o melhor talvez seja explicar como funciona o mestrado.

Desde cedo se aprende a lidar com a pressão! Mas vá, também não é a tropa.

Começa-se o curso com as disciplinas de Bases de Dados e Analise de Informação (BDAI) e Computação Neuronal e Sistemas Difusos (CNSD). Desde cedo se aprende muito sobre armazenamento e gestão de dados, nomeadamente software de gestão de bases de dados com BDAI, e, para completar o certame, aprende-se sobre redes neuronais, processos de decisão e sistemas difusos com CNDS. É, sem dúvida, muito interessante. Mas na hora da verdade, trocas as noites na alta, pelas noites em frente ao computador e o Matlab® passa a ser o teu melhor amigo.Adiante!

Ainda no campo dos dados, ADDAR (Algoritmos

de Diagnóstico e de Auto-Regulação) acaba por complementar os estudos levando a análise e processamento da informação a outro nível, dando noções práticas de processamentos de dados e contacto direto com as técnicas usadas na área do processamento digital.

Por último, interessa referir aquelas que, possivelmente, são as disciplinas que mais horas de sono tiram a toda a gente: Integração de sistemas (IS) e Informática Clínica e Sistemas de Tele-saúde (ICSTS). Acabam por ser aquelas cuja curva de aprendizagem é mais demorada, muito devido ao facto de serem mais voltadas para o software (área que não chegamos ao mestrado com tanto à-vontade). Em IS tem-se contacto com gestão de sistemas e integração de serviços que não foram pensados para ser integrados, bem como gestão de bases de dados, servidores e clientes… é bonito.Já ICSTS aborda temáticas da comunicação de dados, como protocolos e normas de comunicação de informação clínica quer em termos de sintaxe, quer em termos de forma.

Tudo isto para mostrar que, realmente, se aprendem coisas úteis e interessantes, e só peca por ter tudo de ser ensinado/aprendido em 2 anos. Aí reside um dos problemas: por serem matérias tão complexas, 2 anos acaba por ser pouco tempo para um estudo completo dos temas, ficando parte da informação a pairar algures no subconsciente, “só a título de curiosidade, porque não temos tempo para mais”.

Por falar em desvantagens… Surge-me um ponto controverso, que são as disciplinas obrigatórias que se desviam do core do mestrado, cuja sua utilidade é questionável, na minha perspetiva. Mas não me vou alongar nesse ponto.

Em suma, sai-se deste mestrado com preparação para

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enfrentar quase todos os desafios da bioinformática e informática clínica. E prova disso é a versatilidadedos alunos que estão hoje a fazer projeto de tese: há quem esteja a programar android, há quem esteja a programar plataformas web, há quem esteja a processar sinais de ultrassons, há quem esteja processar sinais

ECG, há quem esteja a processar imagem, há quem esteja a desenvolver modelos computacionais de processos fisiológicos,etc., enfim, tanta coisa e tão diferente.

Ah! E quanto ao “Um informático fazia isso melhor do que tu…” É um mito urbano.

Pedro Oliveira

Olá a todos! Estou a escrever para dar a minha perspetiva sobre o mestrado que escolhi: Informática Clínica e Bioinformática.

Quando entrei em Engenharia Biomédica, e devido ao meu gosto por Biologia, planeava, caso permanecesse cá, seguir o mestrado em Neurociências. No entanto, a minha opinião mudou bastante rapidamente… Bastaram, na verdade, apenas duas coisas: disseram-me que este mestrado era o que tinha mais e melhor empregabilidade e, depois, tive Computadores e Programação.

Quanto à primeira razão, concordo e discordo de igual forma. Por um lado, acho genuinamente que esta é a área atualmente mais bem construída e ensinada do nosso curso; no entanto, acho que não nos devemos reduzir ao nosso mestrado (sou mais apologista de o encarar como uma extensão ao nosso conhecimento, nunca esquecendo que, na “base mais básica de todas”, somos todos engenheiros biomédicos e, na verdade, podemos candidatar-nos ao trabalho que bem nos entender). No último ENEEB que existiu em Coimbra, disseram algo do género: “Não existe, em Portugal, trabalho de Engenharia Biomédica para todos vocês. Mas existe, seguramente, trabalho como engenheiro.”

Quanto à segunda razão, tenho imensa pena de só ter contactado com programação na faculdade – acho que toda a gente de Ciências e Tecnologias deveria, no Secundário, ter, pelo menos, uma disciplina de iniciação à programação; isto mudaria, certamente, uma série de tabus que existem acerca do assunto (agora, muito menos

do que há 5 anos atrás). Pelo menos, quanto a mim, mudou. Fora para fazer trabalhos do Secundário, nunca me tinha interessado muito por computadores, nem sequer para ver filmes… E, de repente, vi que programar não era, de todo, a mesma coisa que usar o computador, e que, afinal, era algo que até gostava de fazer e que queria aprender.

Lá mais em cima, defendi que esta área está muito bem construída. De facto, somos ensinados por professores competentes e temos uma componente prática bastante forte (sendo que essa componente é sempre realizada em computador, claro). Existem vários trabalhos exigentes em todas as cadeiras, o que garante muitas noites mal dormidas, muito tempo ocupado e, em última instância, uma boa aprendizagem.

De resto, aprendemos algumas diversas ferramentas e conteúdos, em licenciatura, que são importantes para este ramo. Eu diria que, essencialmente, se encerram em três disciplinas insuspeitas: Bioestatística, Análise e Processamento de BioSinais e Sistemas Informáticos. Isto, porque este mestrado cobre duas dinâmicas: a análise e processamento de dados, e a engenharia de software.

A primeira, através de Computação Neuronal e Sistemas Difusos (CNSD), Base de Dados e Análise de Informação (BDAI), e Algoritmos de Diagnóstico e de Auto-Regulação (ADDAR). A segunda, através de Integração de Sistemas (IS). Em Informática Clínica e Sistemas de Tele-Saúde (ICSTS), abordam-se ambas as dinâmicas, percebendo a

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importância de cada uma e como elas se ligam.

Em Informática Clínica e Sistemas de Tele-Saúde (ICSTS), abordam-se ambas as dinâmicas, percebendo a importância de cada uma e como elas se ligam.

Todas estas disciplinas me interessaram imenso, não havendo nenhuma de que não tenha gostado. Além disso, acho que obtive conhecimento realmente útil em todas elas. Tenho alguma pena da maioria das disciplinas de análise de dados serem dadas em Matlab. Compreendo o “porquê” de assim ser e compreendo a utilidade do programa. Todavia, na minha opinião, para currículos em ambiente empresarial, por vezes, é uma ferramenta algo subvalorizada, quer pelo facto de não estar, nesse meio, muito presente, quer por ser de muito alto nível, não atestando as capacidades de programação do utilizador. No entanto, lá está, considero-a uma ferramenta de análise genial, com a enorme vantagem de permitir o desenvolvimento de investigação/protótipos num curto intervalo de tempo.

Quanto às disciplinas em si, é mais fácil ilustrá-las com os trabalhos que realizámos.

CNSD explora, entre outras coisas, a aprendizagem de máquina e a inteligência artificial (a adaptação de um software à “experiência” por que passa), através de algoritmos de redes neuronais. Neste domínio, fizemos dois trabalhos muito interessantes: um programa de OCR para o reconhecimento de dígitos numéricos escritos “à mão”; um programa de reconhecimento de padrões em EEG, capaz de distinguir a ocorrência de crises epiléticas no paciente.

BDAI divide-se nas duas partes que lhe dão nome. Na primeira, realiza-se um trabalho de armazenamento, gestão e consulta de informação, através de SQL (linguagem em que se constroem bases de dados) e Java – no meu caso, foi a construção de uma base de

dados para a gestão de uma clínica fictícia. Na segunda, resolve-se um problema de análise de dados através da aplicação de diferentes técnicas muito interessantes, tentando encontrar tendências e padrões, geralmente, em conjuntos de informação muito grandes.

ADDAR engloba uma série de valências. Essas valências são tantas que, no meu ano, tínhamos um trabalho prático quase por cada semana do semestre! Para mim, o mais interessante é logo o início da cadeira, em que são dados diferentes algoritmos estatísticos que complementam o aprendido nas duas disciplinas anteriores. A parte boa de ter tantos trabalhos é o facto de se perceber a aplicabilidade das técnicas.

IS retoma as bases de dados, mas de uma forma muito importante e realmente boa para o currículo. Fazemos três trabalhos em que aplicamos uma série de ferramentas diferentes para o armazenamento, apresentação e troca de informação entre máquinas, seja através da consulta de ficheiros standard, seja pela utilização de HTML, seja pela consulta de programas que alojamos em servidores ou pela construção de canais de comunicação entre contas.

ICSTS tem um pouco de tudo: comunicação entre máquinas, armazenamento e disponibilização estruturada de informação e análise de sinais biológicos.

A quantidade de projetos que realizei nas disciplinas obrigatórias foi, então: CNSD, 3; BDAI, 2; ADDAR, 11; IS, 3; ICSTS, 4.

Em suma, este será, à partida, o mestrado menos biológico de todos e, sem sombra de dúvida, o mais difícil e trabalhoso. (Tem muita piada dizer este último facto, porque os nossos amigos de outras áreas levam sempre a mal, ahahah! – ainda que saibam que é verdade, ahahah!)

Nuno Pinheiro

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Maio 2006

TAC-MÓ-AÇOEm Maio de 2006, partiram, no TAC-mó-aço, em 15º lugar no cortejo, os primeiros estudantes de Engenharia Biomédica da Universidade de Coimbra (com entrada no

ano letivo de 2002/2003). Neste carro alegórico iam, ainda, também, os estudantes de Física e de Engenharia Física.

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CEREBRÓNICO

Maio 2007

Na Queima das Fitas de 2007, foi a vez dos Estudantes de Engenharia Biomédica que ingressaram no

curso em 2003/2004, de partirem no Cerebrónico.

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ROCK IN BIO

Maio 2008

No lugar 28, em 2008, partiram, no Rock in Bio, os caloiros de Engenharia Biomédica de 2004/2005.

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PEACE MAKER

Maio 2009O Peace Maker, com os estudantes de 2005/2006, tomou o 35º lugar no cortejo da Queima de 2009..

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ESPET-TACULAREm Maio de 2009, partiu, ainda, um outro carro alegóricode Engenharia Biomédica: o ESPET-TACULAR, no lugar59, com os estudantes 2006/2007. Este foi, assim, um

ano de transição, onde se passou a ir no carro no 3º anode curso, e não, como até previamente, no 4º ano.

Maio 2009

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PROTESÃO

Maio 2010

Os caloiros de 2007/2008, foram, na Queima de 2010, no 49º lugar, no Protesão.

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HOW I BUILT YOUR BODY

Maio 2011

No 16º lugar, no Cortejo de 2011, partiu o How I Built Your Body, dos estudantes que entraram em 2008/2009.

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DRUNKENSTEIN

Maio 2012

Na Queima das Fitas de 2012, partiu o Drunkenstein com os caloiros de 2009/2010, no 25º lugar.

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TACustarO TACustar, no 18º lugar, levou os estudantes de Engenharia Biomédica que entraram em 2010/2011.

Maio 2013

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IRON BONECom uma Menção Honrosa, o Iron Bone, a Maio de 2014, levou os caloiros de 2011/2012, no lugar 53.

Maio 2014

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BIONIC ARM’YNa Queima das Fitas de 2015, foram os caloiros de 2012/2013, no Bionic Army, no lugar 31.

Maio 2015

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ENDOCUSPIAS

Maio 2016

Por fim, na Queima deste mês, viajou pelas estradas de Coimbra o Endocuspias, nº 30, sobrevivendo de forma

hercúlea às fortes chuvas e mostrando que nem o mau tempo estraga a boa disposição!

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A minha experiência no BotOlympicspor Ricardo Margarido

Nos dias 8,9,10 e 13 de Abril de 2016 realizou-se no DEEC o BotOlympics 2016.

O desafio consiste num fim de semana a aprender e programar Arduino de maneira a que (na prova universitária) se consiga que o robot detete e apague uma vela autonomamente. Daí vem o nome do robot Bombeiro.

A competição começou na sexta-feira depois de almoço. Depois de apresentadas as equipas, o staff e o sítio fomos conhecer um pouco mais do ISR e do que lá se faz. Em seguida fomos encaminhados para um workshop de arduino. Visto ser uma linguagem nova para a maior parte dos presentes (C++) começou-se por explicar os básicos desta linguagem como ciclos for, while, breaks e ifs.

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A minha experiência no BotOlympicspor Ricardo Margarido

Decorrido este workshop e após o jantar iniciou-se um segundo workshop dedicado exclusivamente aos sensores a trabalhar. O robot opera com vários sonares, 2 motores ligados cada um a uma roda, um sensor de luz e um sensor de chama. Através da informação recolhida nesses sensores é possível orientar o robot para seguir uma

parede, identificar uma divisão de casa e apagar a vela.

O desafio como dito é este: liga-se o robot e ele tem de ser capaz de identificar em que divisão se encontra a vela, aproximar-se da mesma e apaga-la ligando a ventoinha que foi instalada.

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A classificação é atribuída conforme o tempo que o robot demora a realizar a sua função tendo algumas bonificações consoante o nível de dificuldade.

De destacar a prestação das equipas do departamento de física com um 1º lugar e um 2º. Destacar a iniciativa de participação de um grupo de alunos de 1º ano.

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Durante o fim-de-semana foram proporcionados bastantes momentos de convívio estando sempre presente um grande espírito de entreajuda.É sem dúvida uma experiencia que recomendo a toda

a gente que queira alargar horizontes e que queira experimentar algo novo. Ao contrário do que se possa pensar a aprendizagem é relativamente fácil e torna-se gratificante fazer algo concreto para variar um pouco!

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CIÊNCIA EM PORTUGALpor Maria Pimentel

João Pequenão, “o português que acelera a divulgação da Física no CERN” desempenha um papel crucial no mundo da física. Este português faz chegar a “miúdos e graúdos”, de forma extremamente simples e bem trabalhada, as explicações mais intrincadas e complexas do mundo da Física!

Enquanto estudante, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, João já batalhava com as suas ideias contra a ignorância da humanidade em relação ao desenvolvimento científico. Autodidata, aprendeu a criar jogos interativos para conseguir partilhar conhecimento!

Hoje, João Pequenão faz, dessa sua vocação, vida! “Estive no grupo que desenvolveu um dos subdetetores da experiência ATLAS [uma das duas que descobriu o bosão de Higgs, em 2012, a outra foi a CMS]”, relata ao Diário de Notícias. Apesar do seu currículo não convergir para a animação, João nunca deixou de o fazer!

“Em 2011, propus ao então diretor do CERN, o professor Rolf-Dieter Heuer, a formação de um grupo especializado para conceber e de-senvolver produtos de multimédia de alta qualidade para comunicar a

física e as descobertas do CERN, e ele aceitou.”O MediaLab foi criado em 2012. “Inicialmente éramos quatro, um alemão e três portugueses, e começámos a pensar em dispositivos interativos, para falar de física de forma intuitiva, com uma narrativa, e integrando jogos cooperativos, em que as pessoas têm de colaborar para as coisas acontecerem, que é, aliás, a forma como se trabalha no CERN. Nem podia ser de outra maneira”, afirma o Físico ao DN (Diário de Notícias).

“A equipa de João Pequenão criou uma instalação interativa em que os visitantes podiam simular colisões de protões para produzir partículas, e depois experienciar o campo de Higgs: é ao atravessá-lo que as partículas ganham massa.” No ano de 2012, aquando da da enorme demanda pela desmitificação do Bosão de Higgs, o CERN recebeu um convite da Feira de Frankfurt a estar presente, “Íamos ficar ao lado da Nintendo, era preciso ter uma coisa muita boa.”

A missão de João contínua a ser extremamente colimada: “acelerar a divulgação da física de partículas”. E como num filme bastante recente da Walt Disney, que já se tornou um clássico, dita: “Qualquer um pode cozinhar!” (Ratatouille-2007).

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Um objetivo certo por caminhos incertos

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Nem sempre é fácil definir um caminho certo. Aquele percurso sem assaltos ou sobressaltos que é rápido e indolor. Tudo parece sempre demasiado incerto para podermos acreditar que existe de facto algo que leva a um lugar previsível. Nem o caminho que se tem de percorrer nem o lugar a que se chega se pode antever e de uma visão pessimista é sem dúvida um pressagio muito desmotivador.

Algumas coisas são certas: dada ação gera dada consequência: Isso é certo! Complicado será talvez garantir que a ação 1 apenas gera a consequência 1 porque não se tratam de “pares” ação-reação como seria de esperar. A ação 1 por vezes pode gerar 1 mas por outras pode não gerar nada ou mesmo gerar uma imensidão de consequências não previsíveis. A incerteza constante torna tudo isto um jogo apelativo, mas também muito stressante e exaustivo. É preciso ganhar o gosto à aventura e aceitar a imprevisibilidade implícita em tudo que se faz.

Torna-se assim demasiado fácil desmotivar por não ver resultados numa ação que achamos que está correta impedindo, demasiadas vezes, de chegar “mais além”. Torna-se difícil continuar a apreciar o jogo que é jogado sozinho e com o mundo exterior. Estar constantemente a filtrar opiniões ou mesmo ações pode levar a um cansaço não reconhecido, mas muito sentido. É uma constante luta e procura pelo que por vezes nem se sabe que se quer encontrar.

Existem perguntas que penso serem fundamentais para fazer batota neste jogo e conseguir ganhar uns pontos extra: que te move? Sentes que estás no mundo com que razão? Ages para te fazer feliz ou para proporcionar felicidade a outro?

Basicamente é ter uma conversa connosco mesmos e tentar perceber o que realmente queremos quando realizamos determinada ação. A vida não é só uma incessante busca de felicidade pessoal. Existem sacrifícios por um objetivo maior, existem outras pessoas que queremos agradar e claro que conciliar todas essas variantes é o objetivo fundamental de todo este difícil percurso. Estar focado nas respostas daquelas perguntas acaba por afastar aquele sentimento de estar á deriva e de não saber o que fazer ou até onde chegar.

As coisas nunca vão deixar de ser incertas, vamos sempre duvidar de nos mesmos e de tudo o que fazemos e até mesmo de tudo que pretendemos fazer. Mas esse é o segredo: quanto mais duvidamos mais certos estamos! A complexidade da vida tem essa previsibilidade imprevista: conseguir prever dentro do que não se tem a certeza um objetivo final.

E assim por caminhos incertos chegamos a um lugar certo escolhido por nós mesmos.

Um objetivo certo por caminhos incertos

por Mariana Lapo Pais

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ESTE ÁLBUM É BRUTAL!

Gist It (2014)Adult Jazz

Adult Jazz é uma banda inglesa composta por quatro estudantes da Universidade de Leeds. Com Harry Burgess a mentorear o grupo, que se estreou com Gist Is, álbum lançado em 2014 e que revela a complexidade sonora deste incrível quarteto.Diria mesmo que estes jovens estudantes são pequenos génios no que toca à composição lírico-sonora, com temas quase sempre longos que por vezes parecem, propositadamente, inacabados, e com uma construção nada usual. Os sons são relaxantes e ao mesmo tempo perturbadores, inquietantes. É esta falta de contraste que os distingue, e por vezes faz-nos perder naquilo que estamos a ouvir e nem conseguimos perceber a transição de música para música, pois dentro de cada uma há uma divisão impercetível que nos transporta a vários níveis, não prevendo o que vai acontecer a seguir. Porém, é essa imprevisibilidade que seduz.O próprio Harry assume algumas inspirações em Joanna

Newsom, e admite que foi a partir da harpista e cantora norte americana que aprendeu que diferentes conceções melódicas podiam coincidir na mesma canção, algo a que não estamos habituados a ouvir todos os dias! Vocalmente, Burgess é flexível, e é capaz de atingir um falsete à mesma velocidade que do falsete parte para a nota mais grave que as suas cordas permitem. E este fenómeno ocorre em todas as músicas, mais que uma vez até.

Resumo então a música dos Adult Jazz como transportadora de invenção, engenho, e muita inteligência, criando ressonância. Não é pop convencional mas também não é de digestão pesada. E ao que inicialmente a uns pode parecer estranho, a outros, como a mim, parece familiar. “Gosto do lado conceptual da música, mas não é preciso ser-se iluminado para entrar na nossa música”, delibera Burgess.

Alexandre Chambel

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Mencionar algum aspeto particular ou alguma personagem seria desmistificar parte do processo. Arrisco-me assim apenas a perguntar-vos uma série de pontos fucrais.

Porque não um filme criado por um ex-engenheiro de software sobre viajar no tempo? Esperem, porque não um filme independente de um orçamento extremamente baixo criado por um ex-engenheiro de software sobre viajar no tempo?

Se pensam que por baixo orçamento significa menos qualidade, enganam-se. Sabem aquelas teorias de viajar do tempo e de plotlines temporais alternativas paralelas do Donnie Darko? Com Primer preparem-se para algo mais elaborado, aliás, para algo que, se quiserem realmente entender o fio condutor terão que passar um dia ou dois com papel e caneta a decifrar o esquema temporal que melhor se adapta.

Ver uma vez este filme é pouco, ver duas é confuso, e ver três pode não chegar para perceber a resposta. Mais que entretenimento, é uma aventura pela lógica e por desvendar através de engenharia reversa o verdadeiro enigma de interpretar a verdadeira sucessão de acontecimentos.

O melhor de tudo? Não faltam teorias de propostas e esquemas de tentativas de explicação pela internet fora. Não estarão a caminhar no deserto. Primer, muito mais que entretenimento, um desafio aos mais aborrecidos e aos mais perspicazes. Primer, uma máquina de viajar no tempo.

E sabem que mais? E se vos disser que é considerado um dos filmes mais complexos de ficção científica de sempre?

ADORO ESTE FILME!

Mauro Pinto

Primer (2004)Shane Carruth

Escrito em 1862, Os Miseráveis é um clássico imortal da literatura, que resulta da íntima relação entre o realismo e o romantismo.

Num contexto histórico que cobre o período entre a Batalha de Waterloo (1815) e as barricadas de Paris (1832), a descrição rica em detalhes permite-nos calcorrear as imundas ruas parisienses do século XIX, pintadas de sangue dos ideais da revolução. Os floreios da linguagem são enquadrados num conteúdo rude, que expõe vividamente não só as injustiças sociais e a corrupção, mas também expressa a mais profunda e primitiva natureza humana. Uma narrativa social de grande complexidade, tanto a nível do discurso como da própria intriga, que se torna grandiosa pelas personagens intensas e completas, que se interligam entre si de forma sublime e inesperada. Ao longo de mais de 1200 páginas, seguimos particularmente a luta de Jean Valjean, um homem condenado pelo crime de ter roubado um pão, que, por tentativa de evasão, viu a sua

pena alterada para 19 anos de trabalhos forçados. A história acompanha o seu desenvolvimento desde o homem a quem a justiça humana embruteceu e arrancou os escrúpulos até àquele que, depois de conhecer o perdão e a generosidade, experiencia a redenção.

Este livro é, assim, não só um relato da arquitetura e da vida urbana de Paris, da política, da filosofia, dos movimentos antimonárquicos, da justiça e da religião no século XIX, mas também um testemunho da miséria e, acima de tudo, uma história de amor, em todas as suas vertentes.

A história foi popularizada a partir de múltiplas adaptações ao teatro, televisão e cinema, incluindo o famoso musical Les Misèrables, que, por sua vez, serviu de inspiração a um filme vencedor de três Prémios da Academia.

Por isto e muito mais, Os Miseráveis é, para mim, uma obra de leitura obrigatória a todos os amantes da literatura.

ESTE LIVRO É INCRÍVEL!Os Miseráveis (1862)Victor Hugo

Joana Rita Covelo

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Piérre olhava atentamente o mordomo, medindo-lhe cada respirar fora do normal, mantendo-se em silêncio durante largos minutos enquanto analisava cada microexpressão que ele deixava escapar. Sentia-se a tensão a encher a sala e notava-se o suor de Gerard a escorrer pelo pescoço; também abria e fechava os olhos com intensidade, como se estivesse com dificuldades em focar o que via. Estava nervoso, sem dúvida e era esta a vez de ser Pièrre a guiar a entrevista:

- Uma noite atribulada para estes lados, não acha?

O mordomo não respondeu, antes esfregava as mãos uma na outra, como se tivesse comichão.

- Parece-me desconfortável, Gerard. Quer que eu abra uma janela? - e sem esperar pela resposta, Piérre escancarou as janelas, deixando entrar o ar – Muito melhor! Não se sente mais revitalizado?

Gerard acenou e Piérre deixou-se cair refasteladamente numa poltrona à sua frente, acendeu um charuto e só quando largou um par de nuvens de fumo é que falou:

- Fale-me do chá, Gerard.

- Meia colher de ervas-prícipe do jardim, deixadas a secar no verão passado na adega; cinco minutos de água fervida e uma colher de açúcar. - era visível um pequeno tremor na sua voz - Não lhe sei dizer mais nada.

- Uma receita incompleta, porém, meu caro. Faltou-lhe a pequena pitada de arsénico para dar sabor... Não é muito do meu agrado, mas há sempre quem prefira sabores mais exóticos e o meu amigo bem que os tinha!

- Arsénico?! - o suspeito apresentava agora uma cara de terror, com os olhos completamente vermelhos e a lacrimejar.

Potrait adivinhava já os começares de uma confissão e preparava as algemas atrás das costas, mas Gerard tombou no chão e só teve tempo de proferir:

- É que eu também o bebi...

-Voltamos à estaca zero... - murmurou Potrait aproximando-se da janela em que estava Pièrre. - Eu fui-te buscar... nem te perguntei se estavas...

- A Edith? - Piérre sacudiu os ombros como que afastando o assunto – O que lá vai, lá vai e eu sou quem cá fica.

- Tens escrito?

- Para áfrica? Eu não sou homem de lutar contra o destino, ou com o traste a mandou para lá.

- Falando nisso, Pièrre, encontramos umas cartas na secretária do Dupont... Foi ele quem a mandou...

CAPÍTULO 4por Rita Roque

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- O quê? - Piérre exaltou-se durante um momento e logo depois voltou a ficar sereno – Não pode, Potrait, não pode...

- Não se preocupe, Piérre, o mordomo contou-nos de que soube há umas semanas. É de facto uma notícia devastadora. - mudou de tom - Encontrámos uma encomenda curiosa na cozinha, trazia ervas de chá com traços de arsénico!

- Isso são óptimas notícias. Identificação?

- Não: envelope branco. Mas vinham misturadas pequenas farpas de madeira tratada... tudo indica que seja de um conjunto de arco e flecha - Potrait disse o resto com os olhos e Piérre apresentou-lhe os pulsos, derrotado. - Sabe, Pièrre, eu nunca disse que o ia buscar para me ajudar na investigação; apenas para me ajudar a encontrar o culpado.

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Partilha as tuas fotos com o nosso hashtag!

QUEIMA by random eyesas escolhas de Ricardo Margarido

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#coimbrabyrandomeyes61

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O João Pereira, o Pedro Rocha, a Sara Anjo, (alunos de 5º ano de Eng. Biomédica) e Rui Baptista (Eng. Electrotécnica) estão a desenvolver o LEDViser - um dispositivo que permite ao ciclista indicar com antecedência a sua intenção de virar e a travagem.

Estão a concorrer num programa de pré-aceleração do Big Smart Cities cujo projeto mais votado ganha a entrada na aceleradora da Vodafone Power Labs e apoio da Ericson!

Precisam do teu voto que é GRÁTIS; para isso basta ires a https://bigsmartcities.com/, clicares VOTE (LEDVISER) e preencher:->e-mail;->351 + número de telemóvel.Depois, recebes uma mensagem no telemóvel com a senha de validação do voto.

Eles podem contar com o teu voto?

Curiosidadespor Sra.Cristina, Sra. Teresa e Sra. Maria de Lurdes

Sabiam que não é correcto dizer... ?

• “Cor de burro quando foge”, mas “corre do burro quando foge”, porque este quando se enfurece torna-se perigoso e incontrolável;

• “Ovelha ranhosa”, mas “ovelha ronhosa”, espécie de sarna que ataca alguns animais.

• “Bichos carpinteiros”, mas “bichos pelo corpo inteiro”. Claro que os bichos não são carpinteiros.

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MoradaRua Larga, Departamento de Física,

Sala C8, 3004-516 Coimbra

[email protected]

Editor ExecutivoCatarina Oliveira

Equipa de EdiçãoAna Rita Neves, Catarina Sá Silva, Joana Rita

Covelo, João Pereira, Maria João Carriço, Maria Pimentel, Mariana Lapo Pais, Mariana Rajado, Nuno Pinheiro, Ricardo Margarido,

Rita Viegas Rego, Sara Barros

Capa e DesignCatarina Oliveira

Equipa de RevisãoNuno Pinheiro, João Pereira

Equipa de FotografiaInês Gomes, Mafalda Viana

FICHA TÉCNICA

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ANTIMATÉRIA

Maio 2016NEDF/AAC