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Antologia livro

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Antologia - Ajel

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Page 1: Antologia   livro
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Fernanda Rangel de Aquino

BRECHÓ

Vendo: Roupas usadas, Sapatos usados,

Homens usados...

Sim...Homens usados! Seduzidos pelo meu decote

E descartados pelo meu coração!

Homens desiludidos? Não! Homens adoradores:

Saias curtas, roupas justas, Lingeries e transparências.

Fúteis bajuladores!

Também não estão gastos! Podem ser reaproveitados,

E, até mesmo, domesticados.

São apenas usados! Homens que muito me satisfizeram,

Mas agora não me servem mais. Usei, mas foi recíproco!

Cansei e não os quero mais!

Vendo sim! Homens usados

Por um preço barato E uma única condição:

Comprou está comprado! Eu não aceito troca,

E muito menos devolução!

Page 3: Antologia   livro

Aline Mendonça

PALÁDIO

Há também vermes nos sepulcros de mármore. Onde jaz tão quieto a sono profundo. Tu a lm a p equ ena, esguia e na lápide

Tão pobre, descrito, em letras de sabre.

Quem és vencedor, na eterna rotina? Da vida vazia, carregas teu fardo!

Num sonho perdido, entregaste a safira Tão qual preciosa, tão leve, tão fraco...

Quebraste o silêncio, de penas, de chamas... As flores tão mortas, tão secas estiveram.

Não cheiram, não brotam na terra abatida. Só os vermes que vivem, e seguem sua vida!

Page 4: Antologia   livro

Aline Mendonça

S ONETO DA ÁS DE COPAS

A princesa de copas não sabe quem é Em seu paradoxal caos pessoal tenta

de alguma forma, a si mesma encontrar mas tudo o que encontra é sua maldição

é minha maldita, doce princesa de copas Em sua cruzada por amor e libertação

Teme jamais encontrar qualquer benção No seu caminho de dor e desolação

Mas corre esta trilha até seu final busca pelo seu reino, cara princesa e lá soberana terá poder para reinar

Lá sua maldição conseguirá quebrar Seu beijo não será mais venenoso

e assim, doce e maldita, livre estará.

Page 5: Antologia   livro

Franklin dos Santos Moura

DES ES PERO POÉTICO

Papel, caneta, cadeira confortável, uma taça de vinho, algumas lembranças. Tudo pronto para o conhecido e prazeroso ritual, é a hora da magnífica viagem pelo mundo das palavras.

O tempo passa, e a inquietação toma forma. As palavras surgem sem sentido, as idéias fogem. Boas músicas são ótima inspiração, m a s o ba ru lh o a t ra pa lh a , e o pa pel con t in u a virgem s ob a mesa.

Lem bra r de pen s a m en tos , tem a s s ocia is , u m a a n t iga namorada, tudo parece tão normal e conhecido. Os jornais já trazem estas poesias, enquanto isso a terceira taça encontra-se vazia.

Acendo um cigarro, olho pela varanda. Pessoas caminhando, natureza e prédios. Carros quebram o silêncio, crianças o sossego, e a criação permanece muda, inerte.

A primeira garrafa de vinho entorpece os pensamentos, o es ta do de leveza é o m elh or ca m in h o pa ra en con tra r a s palavras. Na lon ga ca m in h a da pela s a la , depa ro-m e com u m á lbu m de fotografias. - O passado é o celeiro das poesias !

Vejo antigos amigos, amores. Ao invés de inspiração, recebo a tristeza. Tristeza, talvez o melhor dos temas. Quando declamei minha idéia, as palavras voaram pela janela.

Percebo uma leve camada de poeira sobre a intocável folha. Decido com eça r u m a fra s e e a o n ã o con s egu ir der ra m o a sétima taça de vinho. A folha manchada de vinho, e a vida manchada de sangue.

Page 6: Antologia   livro

Seria um ótimo tema, se o cotidiano não fosse tão real.

Desisto? Não! Talvez a esperança seja um bom tema. Es qu eço! O n a ta l e os p olít icos já fa la m dem a is s ob re esperança. Traição! Este tema nunca saiu de moda... m a s m in h a s fer ida s im pedem m in h a s m ã os de des en h a r u m a só palavra.

Então esqueço que nesta noite sou poeta ! Se não tenho palavras, não tenho nada. Sou um pobre embriagado, numa varanda ao fitar o mundo. Sou u m s on h a dor , qu e m a l con s egu e ergu er a qu a r ta ga r ra fa de vinho.

Que o próximo amanhecer traga a nova poesia, ou pelos menos um motivo, um tema. Pois, se não tenho palavras, não tenho nada. Se não sou poeta, não sei o que sou.

Guardem o vinho, por favor !

Page 7: Antologia   livro

Gabriela Zorzal

A MINHA POES IA.

A poesia sai dos meus pensamentos Pura, leve, bela.

O verso sai feito, sem defeito, As palavras também feitas, perfeitas, O poema todo em rima, obra prima. Há quanto tempo que não escrevia.

O verso que havia se perdido, Voltou arrependido,

As palavras antes escondidas, Também voltaram arrependidas.

O poema antes inexistente, Agora sai facilmente, perfeitamente...

Eu voltei a escrever, A poesia voltou para os meus olhos, para minha vida,

Sinto como renascer.

Page 8: Antologia   livro

Lorena Colodette Pessanha

ENTE QUERIDO

Depende... Há algo que pende,

e tende no ente a fitar

demente o

toque.

Doente? depende

do Ente

Galgar o aparante,

roçar, contente

a pele que

surpreende.

Page 9: Antologia   livro

Priscilla Reges Ferreira

OLHO DE PEIXE, PÉ DE COELHO

Quando ouvi meu nome sendo chamado Não acreditei.

Atravessei os portões de Arcádia Para encontrar

A minha vida através do espelho. Deitei na relva da minha alma e sonhei Que tomava chá com o que havia sido

De mim num passado remoto de um futuro distante... Quando acordei percebi

Que o meu espírito voava livre Como as borboletas e cantava

Como os pássaros Então abri minhas asas pra voar

E caí no mar azul do céu E ao mergulhar percebi

Que o segredo do universo É a vida!

E surpreso com a descoberta Despertei todos os sentidos Dei um suspiro profundo

E acendi um cigarro pra descansar. A fumaça elevou meu ego ao infinito

E tudo o que era Eu Deixou de ser

Para se tornar Tudo.

Então o Gato Careteiro deu uma gargalhada E destruiu todas as barreiras

E nada mais era mistério E tudo fazia parte de todos

E as fadas podiam voar novamente Levando em suas asas

O pó que restara de mim mesmo.

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Brendda Dos Santos Neves

S OU VERS OS S OLTOS

Mundos distintos povoam meu coração... Ao despertar do sol sou casulo;

Rua sem tumulto Relógio sem horas...

Caio em mim! Quem sou?

Hoje... Amanhã e sempre...

Em toda parte A cada instante

Saio de mim!

_Sou eu meu amor....

Minha mente é um quadrado: Lados perfeitos da mesma moeda,

Sem portas nem janelas... Sou verso só sem sol sem casulo!

Presa em tuas muralhas Ouço apenas o cair da chuva,

Rítmico e constante... Como o coração de um assassino calculista...

Saio de ti!

Sinto meu corpo dormente e pesado, Saindo de um coma profundo...

Os pensamentos estão desconexos, Aos poucos recobro minha identidade:

Sou EU...

_É você meu amor?

Deixo por trás da névoa Uma face de menina

Perdida entre sombras...

Page 11: Antologia   livro

Teu sorriso somente

Aumenta minha agonia... Sou casulo!

Doce sonho que findou! Teu amor-borboleta Bateu asas e voou!

Desperto e sinto o sol se pôr... Sou versos soltos...

_Amor?!

Page 12: Antologia   livro

Thalita Ferreira

½

Assim como a lua é cheia E não meia

Não há como ter apenas meio Ter a metade

Apenas a parte de um todo Pois se o todo é perfeito

A metade será sempre imperfeita, Incompreensível, inapta...

Onde estará o completo, o preenchido, O acabado, o total,

quando só se oferece parcialmente A parte, retamente dividida? Afinal, de que vale ter meia

Meia-água, meia colher, meia tigela? De que adianta possuir

Meio-dia, meio-fio, meio-termo? Se lhe falta o inteiro, o concluído,

Vivendo toda uma vida Não deixando partes para trás,

Pois viver apenas meia vida É como deixar de viver!

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Gabriel Raposo

MEL E VIOLÊNCIA ARMADA

Embora a doce abóbora dos meus sonhos Esteja ela indo embora dessa paragem, Da brincadeira em muita meia margem

Fugiu-se a laranja do abraço do enfadonho.

Gaveta que abre sem se ver; porém É amarelo pra tudo quanto é lado Ao gentil, ainda que sim, emulado,

Rabiscando os traços de meu alguém.

Tem-se feito ao beliscão de voada baixa, No verão de meia cor, todavia, natural.

Foste ao enterro de tuas últimas lembranças Conspurcada dos dejetos da mendicância

Ao ver-me partido pela cretina má vontade Tua quase presença vigia a insegurança

De uns farsistas jogados à caricatura De servos da alegoria qual blá-blá.

Page 14: Antologia   livro

Flávia Barcellos de passos

POETA

O poeta tem na veia A sede de escrever Ele apenas semeia Essa forma de viver

A escrita é um desabafo E a cada linha um relato

Talvez de amor Talvez de felicidade

Quem sabe relate a dor Ou apenas a vida em sociedade É poeta, quem vê com o coração

É poeta, até mesmo quem não respeita a razão Sou poeta!!!

E qualquer um pode ser Para ser poeta

Não é preciso saber escrever A poesia está no sentir

E se constrói no imaginar A poesia está na vida

E poeta, é quem sente o ar Ou quem consegue perceber

Que poesia é viver...

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Gabriel Raposo ODE AO AMOR PURO 0

Embora a doce abóbora dos meus sonhos Esteja ela indo embora dessa paragem, Da brincadeira em muita meia margem

Fugiu-se a laranja do abraço do enfadonho.

Gaveta que abre sem se ver; porém É amarelo pra tudo quanto é lado Ao gentil, ainda que sim, emulado,

Rabiscando os traços de meu alguém.

Tem-se feito ao beliscão de voada baixa, No verão de meia cor, todavia, natural.

Foste ao enterro de tuas últimas lembranças Conspurcada dos dejetos da mendicância

Ao ver-me partido pela cretina má vontade Tua quase presença vigia a insegurança

De uns farsistas jogados à caricatura De servos da alegoria qual blá-blá-blá.

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Anaximandro Oliveira Santos Amorim

SONETO DE FANTAS IA (para minha afilhada Jade)

Dorme princesinha! Um carrossel Espera por ti na Terra-dos-Sonhos! É tão fácil de ir! Fecha teus olhos

E põe as mãos nas de Papai-de-céu!

Confia em mim! Um lindo corcel Alado virá durante teu sono!

Nele, vais partir! E o teu risonho Anjo da guarda abrirá teu dossel!

Irás até um mundo encantado Onde os relógios vivem quebrados Para a brincadeira nunca ter fim!

Mas para o anjo abrir teu cortinado E dar o teu lindo corcel alado,

Fecha os olhos, princesa. E vai dormir!

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Franklin dos Santos Moura

S AUDAÇÕES AO VELHO PARKINS ON

Entre, sente-se a mesa

sirva-se a vontade. Leve meu ânimo, minha alegria

e me dê a esperança de mais um dia.

Já faz algum tempo, não sei se lembras. O primeiro tremor foi na mão que escrevo.

A juventude permitia-me ignorar, era apenas um tremor, logo passa.

Mas logo atacaste minhas pernas, e com isso pouco consegui segurar meus filhos. O incômodo da muleta, da bengala

foi logo substituído pelo conforto da cadeira de rodas.

Meus amigos desapareceram, sabia ? Que tipo de amizade teriam com um inteligente inválido ?

Com o tempo minha taça virou caneca, não foi muito difícil vencer a guerra dos canudos.

Sentia medo quando o peito ofegante não permitia a voz sair, não conseguia conversar, que dirá discutir.

Reconheço, você conseguiu ! Confesso que não estou derrotado.

Vejo que você também treme, suas pernas, seus braços,

sua face abatida e sombria... Seu prazer é ignorante e inútil.

Tenho lembranças do meu trabalho, da minha outra vida. Ajudava pessoas, vivia um dia após outro.

Contudo, tudo foi em vão... Sou apenas um objeto decorativo na sala da casa que

construí.

Já não escuto, respiro, durmo...velho maldito.

Page 18: Antologia   livro

Vivo agarrado a misericórdia de pessoas que nunca vi, mas e você, velho inútil, agarra-se em quê? Não vejo muletas, garrafas, nem bengalas.

Olhe para mim! Veja o que sou! Sou mais um tentando saber o que aconteceu,

sou um monte de nada sem sustentação, sou o primeiro a atirar a pedra e o primeiro atingido.

Não sorria assim velho maldito, não brinde com o meu desespero.

Não terás a vitória, pois ainda sou fé e você é somente o destino.

A hora ainda não chegou, vá embora !

Fúnebre silêncio! A inércia dos móveis e meus inúteis involuntários movimentos.

A estatueta de porcelana mergulha rumo ao tapete. Meu movimento: em vão.

Mudanças são necessárias. é melhor sair da frente desse espelho...

Page 19: Antologia   livro

Hanor F.

CARAS DEMAIS !

Cansei! É! Cansei... !!!

De ouvir os outros, de falar dos problemas deles, dos relacionamentos deles, de falar de mim.

Do que quero, do que vivi, - chega de falar de mim... Não quero mais essas conseqüências, então resolvi parar com es s a p rocu ra id iota por u m a pes s oa es pecia l s im p les m en te

por a cred ita r qu e ela exis te .

Existe droga nenhuma! Existe um monte de pessoas querendo satisfazer como eu

seus desejos carnais. Querendo saciar suas mãos em corpos gostosos de se tocar.

Existe sim, um monte de vermes inescrupulosos que con s egu em s a cia r es s a s fom es de con ta to fís ico.

Mas, não quero falar deles: Talvez eu me pareça mais com eles do que julgo. Tranquei-me!

Pronto! Tranquei-me, e, não há chave, não há outras en tra da s , n ã o h á s a ída s , n ã o h á n in gu ém do la do de den tro

desse meu mundo.

Que se danem todos os conceitos de felicidade,de amor próprio.

Do amor com letra minúscula mesmo que para ser receb ido p recis a s er da do s em qu a lqu er idéia de ret r ibu içã o .

Isso aqui é um desabafo! Sim! Um grande desabafo.

Por que como disse outrora, agora vai ser assim: entre eu e o papel,

es s e pá lido peda ço in er te de pa pel . Não quero mais diálogo, não quero mais contato, e que

venham as conseqüências que já não são diferentes das de agora, quando a busca também me devora.

Page 20: Antologia   livro

Não quero gritar, não quero falar, não quero amar. Nã o qu ero d roga n en h u m a des s e m u n d in h o ch eio de

es crú pu los . É, não quero mesmo!

E não vou me arrepender! Não quero pena, não quero compaixão, não quero ódio nem

rancor. Qu ero s olidã o! Pois es s a , eu n ã o p recis o bu s ca r : já ten h o E

de sobra!

Vou trabalhar mais, mesmo que sem entusiasmo. Vou me ferrar nesse aspecto repugnante de vida, e se quer

saber? Da n e-s e digo de coração!

Eu posso ser um bom acompanhante para mim mesmo. Vou m e cu r t ir m a is , e s e a lgu ém t iver qu e m e des t ru ir , qu e

eu s eja o ú n ico cu lpa do!

Não quero sorrir, não farei sorrir. Não quero...não quero...não!...quero!

Princípios? Não os tenho mais... Conceitos? Para mim tanto faz...

Conselhos? Ninguém os ouve, nem mesmo eu que os tanto procuro.

Não existe felicidade! Não existe amor!

Existe a realização de fantasias, quereres, desejos. Exis te a t roca de fa vores ;exis te o ód io, a vin ga n ça , o m edo!

Existe um m on te de cois a s va lios a s ... Mas não quero mais saber de nada que vem do coração,

esse desprezível ícone da dor e da vida, esse desprezível ícone do amor..., a.m.o.r.

Qu e lin d in h o, ele es tá a m a n do ;

Sã o con s eqü ên cia s m eu ca ro, a m or leva a es s a s conseqü ên cia s ;

Vá em fren te, a m e e deixe-s e a m a r .

Page 21: Antologia   livro

Filos ofia s do a m or ...Cois a s tã o a bs tra ta s qu a n to a a bs t ra çã o da vida.

Conheci pessoas loucas nesses últimos dias, não últimos de tempo anterior há esse dia,

mas sim tempo de últimas experiências, de últimas concorrências.

Vou s egu ir s ozin h o...e...m u n do... - não quero ninguém, não qu ero n in gu ém ... .

Feia ou bonita, branca, negra, inteligente, burra, inconseqüente, crente, ateia,

não quero platéia, não quero amigos, não quero inimigos, não quero sexo, carinho, beijos.

Não quero olhar, não quero falar, não quero ouvir. Não quero nada!

Porque não quero pagar por nada dessas coisas. Por que quer saber ?

Pra mim,

Sã o ca ra s dem a is .

Page 22: Antologia   livro

Gabriela Zorzal

NÃO ME CONFUNDE MAIS

Eu estava tentando acertar as coisas E você veio de novo e atrapalhou tudo!

Não posso trocar um amor certo Por você totalmente confuso.

Não me confunde mais... Eu quase mudei todos os meus planos,

E eu ia me magoar tanto! Não me confunde mais...

Por que meu coração não pode mais se quebrar Quando eu não tenho nem forças pra recomeçar

Não me confunde mais... Deixa-me te esquecer

Antes de me arrepender Não me confunde mais... Antes que eu me entregue

E seja tarde demais pra eu voltar atrás.

Page 23: Antologia   livro

Joacles Costa Bento

INSTANTE

C a d a h o r a s e i q u e n ã o vo lt a m a is .

C a d a m in u t o , s e i q u e é in c o n s t a n t e .

C a d a s e gu n d o d is p e r s o n o t e m p o ,

s e i q u e é s ó u m in s t a n t e .

O t e m p o n ã o e s t á a m in h a e s p e r a ,

p o r is s o e le n ã o p á r a , p a r a q u e

a c a d a s e gu n d o , m in u t o e h o r a ,

n ã o s e ja m o s m e s m o s e n o e s p e lh o

d e m in h a vid a , o b s e r vo o s a va n ç o s

c r o n o m e t r a is d o t e m p o . . .

e m in s t a n t e s .

Page 24: Antologia   livro

Fernanda Rangel de Aquino

FORA DE S INTONIA

S o u u m s e r a s s i t u a c io n a l ! Nã o s igo r e gr a s c o n ve n c io n a is J á q u e a s p r ó p r ia s s i t u a ç õ e s

S ã o m o vid a s à s u p e r fic ia lid a d e

Q u e vid a s e m gr a ç a ! P r e c is o q u e b r a r a s r e gr a s ,

B u r la r l im it e s , In va d ir e s p a ç o s . . . Ar r e ga la r o s o lh o s

D o s q u e m e o lh a m d e s a c r e d it a d o s .

P r e c is o p e r d e r m e u s p a s s o s , P is a r n a s le is ,

Lu t a r c o n t r a a s n o r m a s , Ne ga r a p r ó p r ia n o r m a liza ç ã o ,

P o is lo u c o s . . . s o m o s t o d o s !

E s t o u fo r a d o a lc a n c e , C a n s a d a d e c o n c e it o s , À p a r t e d o s c o n t e x t o s ,

Le ilô o a vid a Nu m ú n ic o la n c e .

A in é r c ia d a s s i t u a ç õ e s m e d e s ga s t a , Ap r is io n a , d e vo r a . . . Ma t a .

S o u a s s it u a c io n a l , s im , Ma s d e a lm a . . .

P o r q u e o m e u c o r p o Ain d a e s t á p r e s o a q u i!

Page 25: Antologia   livro

Lindemberg O. Gomes

LEMBRANÇA

Sonhos de amor, sois como a rosa (O Dia Seguinte do Amor)

V. de Carvalho

Penso no passado sua imagem se apresenta Lembrança cruel de um feliz momento.

Men in a n ã o recobra o s en t ido, De u m a n jo despido,

In s en s a tez ju ven il, a ob ra r o firm a m en to .

Olhos negros de feição ardil, Brilham qual lua cheia, em noite primaveril.

Lábios ardentes em fulgor, Con s om em m in h a lm a em b ra s a s .

Longos cabelos a embalsam, Meneando flutuar como asas. Pele dourada de jambo ao sol

Feliz cortejo de um raio, Beleza radiante de arrebol.

Abrasa meus desejos Num triunfo final.

Deusa-Mulher, tem-me enfeitiçado Com figura angelical.

Em seu seio adormeci, do colo calor senti Musa de inspiração espelha a reflexão.

Em noite profunda, em sonhos vi O s eu corpo por m im s ofrer

Delírios de amor, alma do meu ser; Amada de meus sonhos; tudo é confusão.

Menina de meus olhos, alegria de viver, Fez-me feliz só por lhe conhecer.

Passado triste de um momento feliz Qual espontâneo riso ao amanhecer.

Sua imagem ficou no passado,

Page 26: Antologia   livro

No presente restam as lembranças De um sonho eternizado.

Page 27: Antologia   livro

Franklin dos Santos Moura

UM DIA NO RIO. . .

Galeão, pés no Rio,

Canibais capitalistas na pela de taxistas Cerco de necessidades e ambições,

Escolher já é um risco.

Com sorte, um guia historiador ou calado Ou então, mal humorado pela curta corrida.

Vejo a Maré, e alguns lutadores E o cheiro de comida se mistura ao canal.

Ainda estou diante da Maré, Agora aves negras observam o tráfego

Ninguém nas ruas, tempo nublado, dia cinza, Alguns destemidos curiosos observam das janelas.

Trânsito lento e pressa...incompatibilidade. Planos para o dia intenso...imprevisível. Compromissos, objetivos e o vôo de volta

O vôo de volta...tudo se repete.

Na estrada vermelha, dedos cruzados e fé. Na Maré só vejo a cortina da noite.

Quando cruzo a Ilha, suspiro...alívio. No Galeão, filas enormes para o check in.

Os dedos continuam cruzados, mas não adianta. O vôo está atrasado...sem previsão.

Paciência, café, uma boa leitura. Acordo no destino, sabendo que volto.

Page 28: Antologia   livro

Lorena Colodette Pessanha

AVIS O:

Não bata antes de entrar: Você pode estar ferindo este lugar que se apresenta.

Antes seja cúmplice dos olhos. Eles sim!

Focados em firmamentos, Projetados em órbitas, Tecem ruas inéditas

e transitam por moradas nem sempre visitadas.

Olhos clínicos Porque apreendem,

Olhos artísticos Porque vislumbram,

Olhos mágicos Porque descortinam,

Olhos líricos Porque vêem.

Page 29: Antologia   livro

Priscilla Reges Ferreira

CONTO DE FADAS

Quando o relógio soou a 13ª hora Cinderella se perdia

Nos braços do rei dos elfos A Branca de Neve jogava cartas Enquanto a Bela Adormecida

Preparava uns drinks A chuva caía lá fora

Enquanto as flores dançavam Com os hipopótamos

Para impressionar um tigre Que teve as suas listras roubadas E serviu para desenhar os bigodes De um príncipe perdido no deserto

À procura da casa da Vovó.

A Balada do Rei de Espadas

Ah, meu grande mentiroso, tolo Rei, Nada sabes e tudo sabes, sempre assim.

No Caos caminhamos, juntos, porém, Não facilitamos a jornada para ninguém.

Um grande jogador Meu curinga preferido

Eterno companheiro de contos E para todo o sempre, Amigo.

Rides do mundo, Das pessoas e das coisas,

Mas, acima de tudo, Rides de vós, e de vossa piada, Chamada ironicamente de vida.

Mas ah, tolo Rei, Hás de reinar

Comigo para todo o sempre E não mais tolo serás E não mais perdido

Page 30: Antologia   livro

O mundo estará.

Page 31: Antologia   livro

Thalita Ferreira

O ÚLTIMO PEDAÇO

O chocolate Late...bate

Invade cruelmente Na forma escarlate

Profundamente arde Provocando devaneios na tarde Loucuras, balbucio, tatibitate

Mais um pedaço... ... hum ... invade

Cada doçura quente parte A imaginação e a realidade

Ao leite, branco ou amargo... a verdade É que a falta, o vício se torna nulidade.

Quando deixar embriagar-te, ou Quando o frenesi enroscar-te Perceberás que não há nada

Que mate: a vontade louca de voltar ao último pedaço Pois mesmo que busque, suplique, cate...

Não há mais CHOCOLATE!

Page 32: Antologia   livro

Aline Mendonça

ES CARLATINA

Há estrelas perdidas nos teus cabelos, E loucura na sã inocência que te corta a carne.

Ah!Se eu fosse um sonho, um simples devaneio... Ou mesmo a doce brisa que te toca a face!

Vejo seu "eu" ao ouvir a sinfonia Das cores do silêncio imutável e mortal.

E o céu, para mim, chora com tal melodia, Mas o agora padece: amargo e real!

Desejo a fadiga, a miséria e a dor; Que o anseio sádico ainda me consome...

Nessa contínua vivência em busca do fulgor. Ainda estou cansada de viver no meu ontem!

Há estrelas perdidas nos teus cabelos: Na manta negra da escuridão fantástica.

E o seu brilho, hoje, torna-se meu espelho Do imenso amor, no meu modo trágico!

Page 33: Antologia   livro

Flávia Barcellos de Passos

M(EU) CURRÍCULUM

Não preciso de uma faculdade para aprender Não preciso de diploma pra ser inteligente

Não dependo de um currículo para ser gente! Diploma e certificado não medem inteligência

Preciso de gente para aprender Preciso viver, para adquirir o "saber"

Um diploma não é capaz de dizer quem sou Um simples diploma...não expressa como estou

Pode "mostrar" algumas coisas que sei fazer Pode até mostrar algo que já fiz

Mas não pode medir minha capacidade Nem mesmo mostrar minha integridade

Não sou o que está escrito no papel Não tenho só o que nele contem

Eu sou muito mais Sou mais do que as palavras podem mostrar

Porque não sou ser inanimado Sou "ser vivo" e sou real

Em mim não se pode pôr ponto final Sou parte do que é a vida

Mas ainda não sei se sei viver Ainda não sei o que sou capaz de conhecer

Acho que com o tempo vou descobrindo E ao final de um ano saberei

Saberei que acabei construindo E continuo a construir a cada amanhecer

Não construo pontes Não construo edifícios

Construo apenas o espaço em que vivo Construo minhas crenças e meus ideais

Construo meus pensamentos e talvez algo mais Porque não sou apenas um diploma Porque não estou presa a um papel Não sou faculdades ou certificados Não faço parte de um enunciado

Não sou algo que se leia Nem sou nada para se avaliar

Sou uma existência

Page 34: Antologia   livro

Uma existência como o mar E assim como o mar não tem

Também não tenho um ponto final O mar cresce...e eu também

Às vezes, ele diminui Também me sinto diminuída

Ao fazer o tal currículo Porque já disse!!!

Não sou o que está no papel Não caibo nesse pequeno espaço

Porque não sou o que fiz Ou o que sei fazer Não sou só isso

Porque se assim fosse, Quem não tem currículos

Ou sequer sabe o que é diploma Um nada seria

Portanto, volto a reforçar Não sou nem ninguém é Aquilo que está no papel

Nós somos mais Muito mais...

Nem 100 diplomas descreveriam Ainda que com ajuda de 100 certificados

Talvez sejamos, então, apenas como o mar Algo difícil de se decifrar

Porque pode-se ver e até sentir Mas jamais corretamente o definir

Ou saber e conhecer Tudo o que nele contém

Porque somos profundos... Profundos e preenchidos.

Page 35: Antologia   livro

Anaximandro Oliveira Santos Amorim

SONETO DE AMOR

I

O nosso amor é como as catedrais Prontas para rasgar o firmamento Feitas de rochas, torres eternais

Impávidas contra o sabor dos ventos

Um nume passa por seus ogivais Iluminando nossos sacramentos

Rezamos segundo antigos missais E damos as almas em casamento

Que saiam todos! deuses infernais Que ousam sair de suas capitais Para nos levar ao pecado imundo

Mas enquanto nós formos imortais Fecharemos as nossas catedrais Para ficarmos seguros do mundo

Page 36: Antologia   livro

Bernardo Silva Barbosa

COMPLETAMENTE APAIXONADO

Apaixonado estou pois te achei em minha vida

foi a coisa mais linda mas eu vivo esse amor.

Quando eu olho pro céu te vejo nas estrelas

quando escuto tua voz vejo a tua beleza.

Eu te amo e te quero te chamar de meu amor

eu te amo e desejo sentir o teu calor.

O amor que eu sinto é enorme demais

mas é que eu te quero e te amo cada vez mais.

eu te amo e te quero te chamar de meu amor

eu te amo e desejo sentir o teu calor.

Porque te amo...

Page 37: Antologia   livro

Brendda dos Santos Neves

POEMA DAS CORES

Li o diário onde segredos Insondáveis diziam que sou

Menina-lima, menina sapeca! A brincar com tua vida...

Amei teus sonhos sem medo: Menina-ameixa nas tuas mãos!

E deixei meus sonhos ao Imaginar-te real e perto.

Xôôô... Amor-ilusão!

Pulsa o amor em minhas veias Entrecortado...descompassado Leve bater de asas fugidias!

Esqueça-me! Sou ave bandida...

Pousa o beija-flor sempre a bailar... Repousa sobre o ninho a pensar, Espera ter enfim o beijo da flor, Ter nos lábios o sabor do mel O beija-flor sempre a bailar...

Azul é o coração de quem ama! Zelar por ti todas as noites, Unicamente estar contigo...

Lembranças azuis o tempo não apaga!

Viajar nas lembranças vividas Esquecer-te em algum lugar verde,

Ruínas de sonhos e amores Desfragmentados no coração...

Esquecer-te em mim...

Rios de flores Oscilam_ ornamentais_ ocultam Sabiamente a marca da idade

Aflorada de tua interior mocidade!

Page 38: Antologia   livro

Cai a chuva lentamente Imagino como seria se não fosse tarde

Nesta noite cinza de tempestade; Zuuummmmm.................... A tempestade levou o amor!

Amar sem você é sentir tudo amarelo Marelado ao redor de mim!

Amarelado sem fim a me envolver... Rasgado está o meu amor,

Esmaecido está o meu coração: Lago sem vida e monocromático

O amor amarelado do fim!

Brinco com palavras e sonhos Rasuras de amor e amizade...

Amo o novo e o inusitado, Não suporto o amor-clichê!

Caio e desmaio nas palavras feitas... Onde estará você agora?!

Venha ver o lindo mar E sinta as partículas salgadas

Rompendo a rotina de tua vida... Mergulhe em meu coração

E veja a vermelhidão que nele há, Luz de amor a te procurar, Homem misterioso a vagar

Onde o céu e o mar deságuam...

O sol de teus cabelos dourados; Uivantes ondas de verão;

Rostos colados lábios amassados: O quadro perfeito do amor-relâmpago!

Lilazes mariposas Ilhadas em meus pensamentos... Lantejoulas libidinosas libertinas

Assumem aspecto sólido: Solidez que eu perdi ao te amar!

Violetas vilipendiosas: Instantâneas imagens primaveris!

O ano não parou aqui, Levou lentamente tua lembrança

Page 39: Antologia   livro

E nunca mais voltará! Tua voz de viola

Amarga harmoniosamente no jardim!

Page 40: Antologia   livro

Bruno Vial

S ONETO DO REI DE ESPADAS

"Não me conhece e não sabe o que sou não sabe meus nomes e sobre o que sinto posso fingir, enganar e jamais descobrirá que sou vazio e carente, tolo e orgulhoso

mas algo sobre mim deve logo saber caminho no nada e na dor da Verdade Sustento o valor da chamada falsidade porém abomino esta sua tola hipocrisia

Sou mal, saber, insolência e rancor temo e tremo, puro e também só o caos mas acima disso, sou eu temível vilão

O Rei de Espadas, aquele que o mata o grande vazio, só um louco perdido

mas não vou admitir, continuarei a mentir"

Page 41: Antologia   livro

Joacles Costa Bento

LÁGRIMA

Lágrima que cai

da face chorosa,

molha esse chão,

aduba essa terra.

Que nasça uma rosa

com cheiro da

moça que um dia

surgiu como o arco-íris.

Belíssimas cores

vem trazer a paz.

Faça vir o amor

que cesse esta dor

doce gotícula,

lágrima, simplesmente.

Page 42: Antologia   livro

Daniele Braga Pinheiro

GERALDO BRAGA

Sempre vou lembrar... Das suas mãos macias

Dos seus cabelos brancos Do seu jeito ranzinza

Sempre vou lembrar... Dos seus conselhos precisos Da sua experiência de vida Dos telefones aos domingos

Sempre vou lembrar... Dos seus chinelos de couro

Do grampeador e da furadeira Da pastinha preta

Sempre vou lembrar... Do seu jeito carinhoso

Do aperto de mão com força Da sua proteção

Sempre vou lembrar... De você varrendo a rua

Desembrulhando um presente Abrindo um pacote

Molhando o pão no leite

Sempre vou lembrar... Das festas de fim de ano Da sua risada gostosa

Da cara de safado Do nosso papai noel rosado

Sempre vou lembrar... Da saudade com a sua ausência

Do amor sempre presente Da família que você plantou

Sempre vou lembrar... A pessoa brilhante

Page 43: Antologia   livro

que você sempre representou.

Page 44: Antologia   livro

Ezequias Miller

MUNDO IMPERFEITO

Qualquer coisa que nos coloquem Abaixo de uma grande organização Supõe-nos apenas um pensamento:

A minha natureza que se foi...

Qualquer fato... Qualquer ato de impiedade

Que nos conduzem a belas superfícies, porém falsas, e nos afastam da verdadeira face da arte de viver:

viver em profundidades jamais vividas

Não vive cautelosamente o perigo E sim vive o perigo intensamente

De maneira inconsciente Que a consciência confunde-se

Entre o céu e a terra

Não respira o ar, as flores, os rumores De que algo jamais será vivido

Sem a plena emoção Em lugares dominados,

sustentados pela razão...

Em lugares sem portas Sem janelas, sem paredes, sem estrelas De onde o nada é partida para a estrada

Que se constrói em cada passada...

Isso tudo faz calar-me em toda e quaisquer Situação...

Faz apenas calar-me, insustentar-me, que de outra forma

Faz-me apenas pensar:

Eu s ou m a is n a da e n a da m a is do qu e is s o

Page 45: Antologia   livro

Gabriel Raposo

ODE AO AMOR PURO I

Enterremos a faca no peito do irmão Pois meu cano é mais grosso que o teu.

Já que teu miolo é defeito de Deus, Piso e afasto os unidos pelo fracasso.

Corja de imbecis infantes que se amam Reunindo-se em derredor do deslumbre

Garganteiam propaladas inverdades Do engajamento da miséria humana.

Na faca enterrada, afasta a carne dura; Entre vencidas costelas semeia pouca paz. Do béocio rejeitado sobram-lhe as penas

Que não se excitam na tolice tardia.

ODE AO AMOR PURO II

Ai, que felicidade infinita e bonita! É grande como um bujão de gás.

Daí, peguei uma linda meiga florzinha. Dei-lhe do fundo do meu coração

Todo o aquele sensacional carinho. Vou voar de tão alegre, de sensação,

Como a mão leve do cafajeste. Sorrir para as plantinhas e folhinhas Um bom-dia pra terra e pro mar!

Minha querida rainhazinha! Cacarejar da goela à ponta da língua

Fanfarronices vou da meia-humilhação. Não há -viva!- excremento que me iluda, Pois todo cheiro de merda me faz bem.

Estou voando e voando sorridente Cuspindo prantos no quengo dos contentes.

Page 46: Antologia   livro

Lindemberg O. Gomes

MALDITO

Ó retrato da morte! Ó noite amiga, Por cuja escuridão suspiro há tanto! Bocage

Quando da passagem do Velho Chico O barqueiro viu a criança,

Praguejou e exclamou taxativo: Ma ld ito t ra z a lu m e ta l des gra ça !

És a m a ld içoa do e s ofrerá As a gru ra s qu e n a ter ra h á .

Indiferente ao grande presságio A criança crescia e ágil

Robustecia. Na pré-adolescença A previsão do barqueiro reluz; Sua vida informe e sem força,

Qu e fizes tes pesa-m e ta n to a cru z .

Os amigos aos poucos sumiam À medida que apareciam as desgraças; Em sua mente não havia esperanças;

Dos amores fagueiros nada lhes sorriam.

Ma ld igo: o céu e a s es t rela s Qu e s obeja va m a n te os olh a res . Ma ld igo: da s flores a s m a is bela s

Qu e m e rou ba ra m os m im os da s m u lh eres .

Ma ld igo: a Deu s pela m in h a exis tên cia Des ca b ida , pelo fla gelo in ces s a n te .

Ma ld igo: os p rogen itores pela a n u ên cia Em in d ign a in fliçã o a u m in ocen te .

Ma ld igo: a s m a is va r ia da s doen ça s Qu e n ã o m u da ra m a m in h a s or te .

Ma ld igo: o tor to Anjo Negro que danças Ébr io, es qu ecen do-s e de m in h a m or te .

Page 47: Antologia   livro

Fernanda Rangel de Aquino

MEIO TERMO

Queria ser mais feliz Menos tola

Mais responsável Menos pensadora.

Queria ser mais firme Menos predestinada Um pouco mais solta Menos atrapalhada.

Queria ser mais sensata Menos sonhadora

Mais livre Menos conservadora.

Queria ser diferente... Queria mesmo era não viver essa briga

De querer ser. Queria não me meter

E me contentar em viver Neste meio termo.

Queria ser mais descomplicada... E muito menos confusa.

Eu devia ter nascido mais decidida Menos louca

Ou não...

Mas eu nasci assim, Sou assim e pronto!

Eu até gosto! Quer dizer...

Pensando bem: Eita vidinha mais ou menos essa...

Mas boa que só ela!

Page 48: Antologia   livro

Gabriela Zorzal

AMOR COMPLICADO

Descreveram para mim, Mas descobri que não é bem desse jeito

Acho que amor não é assim, O meu pelo menos é cheio de defeito. Me disseram que o amor era infinito,

Mas o meu tem fim e começo. Ou mentiram para mim,

Ou eu não sei amar direito. Acho que quem me ama,

Ama demais. E eu, amo de menos...

Esse tal amor é complicado, Por isso eu não entendo.

Você acha que eu deveria amar um pouco mais, E isso pra mim é difícil.

Desculpa, eu não consigo amar Mais do que isso.

Page 49: Antologia   livro

Flávia Barcellos De Passos

ALÍVIO E EMOÇÃO

Alívio é poder chorar sem medo É ir em frente sem se preocupar com o erro

É arriscar e seguir o coração É não depender dos conselhos ou da razão

É querer sem se sentir culpado É sorrir e querer chorar

Chorar de felicidade Chorar de emoção

É deixar os sentimentos fluir Seguir os impulsos, deixando "rolar"

Que role... Role lágrimas, arrepios, apertos e talvez aflição

Permita a ansiedade, a curiosidade... Toque o céu com os pés no chão E alcance as estrelas com o olhar

Sinta-se flutuar, mesmo que esteja sentado Mergulhe no turbilhão dos sentimentos

Na invasão da contradição entre eles Queira dormir, acordar, sentar e descansar

Deseje amar,um olhar, um raiva e a empolgação E aprenda...

Aprenda a perdoar, a errar e a pecar A agradecer, a sorrir e a fugir

Sinta cada gesto, cada dia e cada oração E perceba...tente perceber...

Que só se vive bem A vida que é cheia de emoção.

Page 50: Antologia   livro

Lorena Colodette Pessanha

ECONOMIS TAS

Economia de água, luz, telefone,

pensamento,verbo, ação, fala, visão,escuta...

Economia de ... ... ...

Todos os olhos deveriam

economizar palavras.

Page 51: Antologia   livro

Thalita Ferreira

O PRAZER DO CHOCOLATE

A poluição sonora Empapuça minha capacidade

De ouvir... O choro, a verdade, o amor

Como será o prazer adocicado De um chocolate

Sem precisar degustá-lo? Onde mais há prazer além do amar?

Transforma-se mel em fel Jorrado em escudo prateado

De cavaleiro de guerra A loucura de usar um par de óculos

E lembras de quentes e apaixonantes ósculos De, numa consulta, após uma análise de reflexos

Desejar fortes e protetores amplexos. Pernas escondidas embaixo da saia crua e comprida

Colo escondido por véus e rendas bordadas Posição cabisbaixa com olhar triste, Idôneo, apático, indolente e ansioso

Pela carência voraz escondida na naveta Ou seria na velha gaveta?

Brincadeiras de fingir felicidade Enquanto a tempestade não vai embora

Preces à meia Lua Para a tempestade não aumentar!

O barulho cresce; O coração aperta;

E a poluição sonora Empapuça todo meu ser ...

Page 52: Antologia   livro

Priscilla Reges Ferreira

PERDIDO

Somos muitos, E ao mesmo tempo

Nenhum. Temos idéias diferentes,

E quase sempre Iguais.

Temos vidas diferentes, Mas dividimos o mesmo corpo. Temos lembranças diferentes,

Mas estão perdidas.

O que é a realidade? O que é a vida senão um sonho

Por nós mesmos sonhado E que acreditamos ser real?

O que é o sonho? O que é a paz? O que sou eu?

Quem Sou eu?

O que é verdadeiro? Qual é a minha realidade?

O que é a minha vida? Qual é a minha lembrança?

Desejo uma resposta Desejo a mim de volta

O tempo em que sabia o que era E quem era

Eu E sabia a minha verdade

E era imperatriz de meu mundo E fazia sentido

Viver Ou morrer...

Não tenho mais vontades

Page 53: Antologia   livro

De viver De odiar

De morrer De destruir

De amar De ser

Desejo minhas lembranças Minhas vontades

Minha vida E minha morte

Minha luz E minhas trevas

E saber quem somos E o que desejamos

As nossas diferenças E semelhanças

Não quero me perder mais Em meu nada

Quero ser alguém de novo Importante de novo

Para alguém Para você

Para a morte Para o mundo

Eu quero...

Page 54: Antologia   livro

Fernanda Rangel de Aquino

UTOPIA GRAMATICAL

Tu, te, ti, contigo...Chega! Esses pronomes,

Que em meu coração Tem apenas um nome, Não fazem parte mais Do meu vocabulário.

Cor ta rei ta m bém os lh es , os s es

E seus companheiros de ilusão, Porque do você

Eu não quero mais nada.

Excluirei ainda o vós, Para quando o você Juntar-se a alguém

Eu não sofrer

Nós? Nem pensar! União em meio a incógnitas?

Não...Não... É melhor eu descartar.

Ret ira rei, por fim , o eles

Para não correr riscos De falar do tal você Mesmo à distância.

Sobra-m e o eu ! E é tudo o que deve bastar.

Vou galantear meu ego E só comigo ficar.

Ao menos se um dia O relacionamento esfriar Terei a certeza absoluta:

A culpa foi do eu E de ninguém mais.

Page 55: Antologia   livro

Pode parecer uma tentativa frustrada, eu sei,

Mas quem garante que não irá funcionar? Não queimam fotos para destruir lembranças?

Pois queimarei então a gramática Com seus pronomes ilusórios Para não mais pronunciá-los Que virem cinzas e pronto!

De agora em diante, Somente o eu,

A mim, Basta!

Page 56: Antologia   livro

Aline Mendonça

ANIS TIA

Clamo-te há séculos e nada me orienta Somente suicidas bocas mudas me acompanham;

Velam-me à noite, sacrificam-me ao dia, Apagam-me as estrelas, mutilam-me os anjos!

Um dia, porém, hei de dizer morrer nas nuvens, Beber o ar fresco das rosas e dos alvos lírios

E tardiamente, sem que talvez me importune, Tocar a pálida face do sétimo sentido...

Mas, se outrora, pudesse, então, perceber Que a solidão é mais forte que o fascínio,

Teria, pois, em clave, na carne borbulhante Marcas crepitantes e imutáveis do destino.

E os estéreis atos, em vão, pacificantes Seriam apenas puro e macilento exílio!

Page 57: Antologia   livro

Anaximandro Oliveira Santos Amorim

SONETO DO MAR

Homme de l océan, tu toujours cheriras la mer La mer est votre mirroir

Charles Baudelaire

Monstro colossal, deus dos exegetas Desejo pisar os teus vagalhões

Para atá-los aos pés, como grilhões, No mais puro delírio dos ascetas!

Que sejam curvas ou que sejam retas Leva-me em todas as direções

E juntos, ao sabor das estações, Sejamos o ocaso dos poetas!

Arrasta-me a teus pélagos profundos, Conduz-m e às entranhas de teu mundo

- Quero afundar em ti cada vez mais!

E, para que o meu corpo não corra, Tranca-me em uma de tuas masmorras

- Não quero ser encontrado jamais!

Page 58: Antologia   livro

Bernardo Silva Barbosa

UM MIS TÉRIO

Inspiração de onde você vem? Venho do seu subconsciente

ou quem sabe, venho do interior do seu coração.

Esse dom que você tem poucos sabem aproveitar

você foi escolhido para escrever e recitar.

Fico honrado por ter te desenvolvido

e farei bom uso.

Sempre estarei com você onde quer que esteja

pois sempre seremos um e mais nada.

Page 59: Antologia   livro

Hanor F.

INDIGNAÇÃO

Indignação! É isso que sinto no momento, É esse meu sentimento...

Queria poder colocar aqui toda minha indignação pelas pessoas,

Quero poetizar todo mal que sinto dentro de mim.

São tantas coisas que norteiam o meu ser que não consigo definir o que por no papel.

Contento-me para a escrita dessa apenas com a luz de uma casa simples,

Cuja dona outrora fora amiga minha.

Aconchego-me com um simples estar em ver o mar ao longe, As luzes da ponte, o tom de um agudo som que se repete ao

longo das tentativas. Meu olhar agora vaga onde possa estar quem lê e lerá esta.

E em que momento se dará o fim da mesma.

Vejo ruas, monumentos, igrejas, becos, saídas, Vejo a morte viva em galhos secos, Sinto o ar úmido o cheiro do nada.

Que mundo meu Deus!

Mundo de riquezas eternas e ternas que caem por terra pela ganância dos homens.

Vida que não é vivida que não se faz vívida por estupidez. Desejos da carne...do coração...desejos das mãos,

por irmãos, sendo esses de sangue ou não.

Ouço agora um profundo silêncio. Silêncio que se quebra por um grito mudo ou por um passo,

Pelo som, outrora descompassado e agudo, agora cadenciando harmonias.

Por minhas a encharcar esse pedaço de papel.

Silêncio...desejos...vida...mundo...indignação. Que se fez canção!

Page 60: Antologia   livro

Palavras que saíram de meu ser e do que estava por acontecer

Page 61: Antologia   livro

Bruno Vial

IMPULS O

Um poeta não tece Em seus versos Mentira alguma

Suas palavras são Sempre retratos

Da sua alma e verdade Por pior e dura que seja

Ele escreve sua busca O que representa

O que sente

Não importa Se por metáforas Ou cegas silabas

Não verá nas estrofes Vãs tolices

Cada letra significa Aquilo que no intimo

Se passa e revive Desde a felicidade

Até a pura angustia

Um poeta não escreve Ele decifra as linhas

E junto a elas Decifra a si mesmo

É por isso que, Por mais medíocre

Que eu seja Eu sou um poeta.

Page 62: Antologia   livro

Daniele Braga Pinheiro

WESDAN

Você me conquistou De uma forma inesperada

Dia a dia Sonhando junto

Buscas parecidas Vidas cruzadas

Se alma gêmea existe Acabou de ser encontrada Metade que se completa

Amor que desperta Numa nova descoberta

O medo ainda existe Mas a felicidade persiste

Quero apenas viver cada momento De forma plena

Serena Lembrando que a vida sempre vale a pena

Page 63: Antologia   livro

Ezequias Miller

A GUERRA DOS DES ES PERADOS

Maldita Santa Inquisição Banham de sangue toda e quaisquer canção de amor

Trocam farpas entre o mundo e o mundano São diamantes que brilham tão insanos

Que o último papa morra com as tripas Do último rei...

E se enovele num mar em fúria E desconheça a cor púrpura

Das rosas que nascem no quintal Que sua vida deixe de ser um falso manto imoral

Para se tornar o frio do manto infernal

Que os homens caiam em desgraça profunda E que a corrente tão pesada da âncora

Que presa em seus pés se afunda E lhe cortam a respiração...

Que lhe cortem como fio de navalha Os pulsos que passam o sangue... O sangue que jorra no alto e falha

E falte-lhe ar para sempre

Desta forma o misterioso se faz E tudo há de caminhar para o infinito

Onde as borboletas descansam para o vôo Que tornam o universo mais bonito

E desatem as correntes da ilusão De que o homem não pode nada

Como os reis afirmam com incisão

E cortam os sonhos de quem um dia almejou Cantar canções de amor profundas

E que hoje apenas andam como mortas-vivas ... as pessoas... sem sentido... insensatas...

Sem vida...

Page 64: Antologia   livro

Gabriel Raposo

RUA DE VIDA

Minha rua era viva Com moleques, malandros Passeavam os namorados

Brigavam os parentes

Minha rua era viva Até o dia de ontem

O dia de hoje minha rua morreu

Alvorecer de chuva Minha cidade chora

A ocaso da rua Que até ontem incomoda

É dia de natal É dia de tudo sim

Mas a minha rua morreu Levando na água toda a ternura

Toda bagunça Toda esperança Toda vingança

Abraços Canduras E tristezas

Minha rua não tem mais sim Não tem mais não

É um nada encruado.

Page 65: Antologia   livro

Fernanda Rangel de Aquino

PACTO

Passos Perto Penso

Perco... E peco!

Uso Usa Suo Sua

Abuso!

Impulso Pulsa

Um passo O pulso Impasse!

Possuo Preciso Procuro

Persisto... E peco de novo!

Page 66: Antologia   livro

Gabriela Zorzal

O LIMITE DO AMOR

O amor não tem limites? Teve para mim.

O limite dos teus olhos. Depois de entrar em contato com os meus

Não vi mais nada Bloqueou toda a luz

Me cegou, me fez escrava.

O amor não tem limites? Teve para mim.

O limite da sua voz. Ao suavizar os meus ouvidos

Não ouvi mais nada Sua voz se instalou em mim Mas uma vez me fez escrava.

E o seu sorriso? O que dizer?

Que é tão belo como de um anjo, Reflexo da perfeição,

Que me faz pensar todos os dias nos seus olhos, Lembrar-me todas as horas de sua voz,

E não me sai do pensamento o seu lindo sorriso. Esse amor me limitou sim,

A pensar em você todos os dias, Te desejar todas as horas, E te querer a vida inteira.

Page 67: Antologia   livro

LINDEMBERG O. GOMES

INTERCES S ÃO

Deixai vir a mim os meninos, E não os impeçais,

S. Lucas: 18.16

Quem me clama há tal hora? Sou eu Senhor, Zé Ninguém!

Que desejas? Vou-me embora. Nada Senhor. Clamo por alguém.

Que desejas? Diga-me sem demora? Peço-te a atenção e não o teu desdém.

Ela terá se o teu desejo a valer. Clamo pelas crianças rotas e esquecidas

Num mundo de solidão onde vivem a sofrer. O teu desejo é justo, tornarei esclarecidas

As tuas dúvidas. Nada deixarei de responder! Vertei bênçãos e a elas sejam oferecidas.

Sejas tu mais claro em teu pedido! Senhor é tempo de festas no mundo terreno Muitas crianças têm seu clamor atendido Outras tantas vivem um palor horrendo. Que te queres que eu faça; estou ofendido

Com tantas crianças que vivem morrendo.

Senhor atente para o que vou expor: Elas são muitas, e muitas são as suas dores, Imaginam um mundo diferente a contrapor

A sua realidade. Não peço presentes. Peço que as tornem dignas de se impor

E serem tratadas como gentes.

Zé Nin gu ém ! É ju s to o teu cla m or Mas nada posso fazer. Dotei-os do livre arbítrio

Só vi agigantar-se no mundo o desamor. Pobres crianças que sofrem o martírio

Do destino impuro; merecem o Divino Amor

Page 68: Antologia   livro

Aqueles que para a sua dor buscam o alívio.

Page 69: Antologia   livro

Lorena Colodette Pessanha

AS LINHAS DES S E CADERNO

A lin h a é a m en or d is tâ n cia en tre dois pon tos

de vista,

de encontro, de táxi, finais.

A linha é uma tênue

massa ilusória que insiste

em prolongar

a palavra.

Page 70: Antologia   livro

Thalita Ferreira

VITUPÉRIO *

Por um instante a vitória, Por outro o fim;

Cada palavra é uma arma Que destrói aquele que a escuta Na medida da censura, da dor,

Do desapontamento, do desacordo, Do n ã o , do des p rezo...

A luxúria penetra na boca Dos que pouco falam,

A torpeza se excreta da boca Dos que muito falam,

Mas nada dizem! Ser vituperado, exprobrado

É ser golpeado Com uma espada No meio do peito.

Afinal, uma palavra mal pronunciada, Mal significada, Mal pensada,

Nunca mais retorna a quem diz Mas eternamente destrói quem a ouve

*censura áspera, injúria, desonra...

Page 71: Antologia   livro

Aliene Mendonça

ALENTE TURMALINA

Pouco importa meu formoso anjo Se és injusta a vida que nos deste,

Que espalhando-me dos dedos o sopro rouco Faz-te tão bela a vingativa veste.

Murmuro, então, teu nome em simples versos, Pois noutra forma não te ocultas neste tanto.

Serão efeitos de amor meu puro pranto? Ou a loucura de achar-te em amor eterno?

Pois és o drama que amplio em poesia... Dizei que em mim me consome e me afaga!

Tu és a causa de aceitada covardia, Se outra vida não aceito em tua causa!

Queimam ainda, no céu, milhões de estrelas, Seres da terra e o minuto que me segue, O doce aroma n'alva brisa de tristezas.

Sonho ser breve, ó meu amor, que seja breve!

Pois sou do mundo e não te nego meus suspiros Ao trazer junto contigo meus desejos. Se consumo a leve vida de teus beijos,

Sois a manta do meu céu, os teus cabelos.

Page 72: Antologia   livro

Bernardo Silva Barbosa

AS QUATRO ES TAÇÕES

Primavera cheia de flores m e enchendo de amores

Primavera com Verão esquentou meu coração.

O Outono vem chegando e as folhas vão voando

pelo ar E as flores vão caindo

só pra ver você passar.

Nós dois bem juntinhos vendo o Inverno chegar

e nesse dia frio, n ossos corpos

vão se esquentar.

Page 73: Antologia   livro

Daniele Braga Pinheiro

CICLO DA VIDA

Tentar lutar correr

Fraquejar fracassar renascer

Continuar levantar esquecer

A vida tem fases que precisamos vencer Um ciclo permanente que nos faz crescer Mas cada manhã traz-nos a certeza

de que vale a pena viver Pois foi numa surpresa da vida

que encontrei você.

Page 74: Antologia   livro

Bruno Vial

ÀS VEZES . . .

Às vezes, digo tolices a mim mesmo Nesses momentos, penso que sou um bobo

Por ficar dizendo coisas sem nexo Para o único que ainda me ouve

É um grande problema se estar só Por não conseguir saber se o que falo

É realmente estúpido ou genial

A solidão é minha grande companheira E nela me conheço como nunca Mas, por vezes, admito fraqueza E sinto falta de uma companhia

Rir sozinho produz eco e é sinistro Contar coisas engraçadas perde o sentido

Estar só é fácil, porém também triste É por isso que, às vezes, gostaria de alguém comigo

Page 75: Antologia   livro

Ezequias Miller

HÁ UMA GRANDE RIQUEZA NAS PALAVRAS DE UM

POETA. . .

A poesia faz o homem tocar as estrelas... E voltar para descansar em terra firme para poder lembrá-

las... Faz o homem beber toda água que desce de uma cachoeira

O faz ser mais veloz que a velocidade da luz... O faz sumir no espaço...

O homem pode pular de um abismo sem cordas que lhe seguram

Que mesmo assim continuará vivo... Pode dar a volta ao mundo em questão de segundos

Pode ser a semente de manga que brota no fundo do oceano... E ainda lhes digo! Vai dar bons frutos...

O homem pode ser de outro planeta... Pode desaparecer e aparecer...

Pode voltar ao ponto de partida... Pode não haver partida para nada...

A poesia se situa entre os extremos Do alto das montanhas até as profundezas dos oceanos

Do centro da Terra até os lim ites do u n ivers o Entre um homem e outro homem...

Dois extremos que tentam se tocar a cada instante Mas a união total, a união completa

Só vem por meio da poesia...

E não são todas as criaturas dessa vida Que dão propósitos a essa tão suave melodia...

Um canto a qual todo homem se espanta Se não..ouve e desce fino pela garganta

Esse fardo chamado esperança...

Mas a poesia tira todas as esperanças Tira todas as lembranças tira o mundo do lugar...

Page 76: Antologia   livro

E não dá nenhum lugar ao mundo Pois dele não há nada a se amparar

Ela não se ampara no mundo ... ela apenas está ...

É viva nas cores que nos oferecem risos naturais A vida é bela!

Façamos dela o astral mais alto que as estrelas podem Nos oferecer...

Façamos dela a singularidade que caracteriza os homens de juízo...

E viva a história dos belos homens de Shakeaspeare até os atuais...

Coma o amor que a mais bela flor há de lhe oferecer... Vista-se de palhaço para saudar as crianças... Viva o mundo na esperança de dias melhores...

Se é qu e eles virã o...

Ainda lhes digo que não há futuro para a poesia... Não há esperanças...

Ela faz do presente um presente tão simples Que faz o chocolate escorrer pelos lábios

Faz as lágrimas terem sabor de chocolate E depois gota a gota repousar no céu estrelado da boca...

Dá roupa ao descamisado Da encanto aos desencantados

Dá grãos de areia aos esfomeados

Dá a morte aos desgraçados...

Enquanto que dá a eternidade aos maravilhados pela grandeza da existência...

e a grandeza encolhe o real... redu-lo para dar beleza ao ponto de partida

Mais um ponto de partida inventado pelos homens...

Mas mistérios são mistérios... e se concentram em um único ponto,

de um ao outro

Page 77: Antologia   livro

na orquestra da vida... na música que nunca jaz esquecida...

É assim... O Ciclo da Vida...

Page 78: Antologia   livro

Gabriel Raposo

BOA NOITE, DIA!

O dia é amanhecer e ousado, Ar de trabalho e estudo. A noite é a observação, O olhar latente e mudo.

De lembrança e festa pejada, Vem ela em leveza acariciando

Pelo caminho dos leves.

Mas a noite tem seu tempo ansioso Seus cantos mistérios e canto gostoso.

Ele tem de outro lado presença De tempo claro e de percurso quente.

Mas o dia da noite arranca o medo Dos pés à face lhe cobrindo.

Guia-a ao oeste, pousada em segredo. De modo ouro lhe atraindo.

Vem a noite silenciosa e bela. O dia te protege puro sempre. E ela sem mistérios para ele Se cobre estrilada e plena.

No entre a solidariedade da aurora. Vem ele cobrindo ela de cor quente?

Sim, na efusão de vermelho e branco, De luz e respiradas de chegou a hora.

Ou será a noite que cobre o dia?

Page 79: Antologia   livro

Aline Mendonça

CORS O DAS MINÚCIAS

A esquisitice dos planos traçados Que soam cansados da renovação.

A impulsividade dos atos impulsivos A fortaleza d'uma paixão...

A tristeza que é emoldurada Junto à eloqüência dos sons emudecidos.

Imensa beleza inexistente Em atos esquecidos...

Amo o brilho do teu olhar E a inocência do teu sorriso...

A forma como caminha E a textura dos teus sentidos... As palavras de encorajamento,

A paciência nos maus momentos, O aroma simples e carnal, A melancolia da tua figura, A jocosidade da tua doçura, Os beijos puros e infantis,

Cada detalhe da tua alma...

Jamais pensei te amar, Jamais pensei sonhar...

Jamais pensei achar alegria em te imaginar dormir...

Há uma estreita linha entre a loucura e o amor?

Page 80: Antologia   livro

Gabriela Zorzal

UM LUGAR PRA VOCÊ.

Um anjo soou em meus ouvidos, Ele disse que era cedo demais

Eu não devia entregar meu coração ainda. Obedeci e aguardei.

Mas o tempo foi rápido. Quando te reencontrei

Meu coração estava ocupado. Eu não podia fazer nada

Era um amor incondicional Eu mesma não queria nem

Tentar combater. Talvez se esse amor não tivesse aparecido,

Meu coração seria teu. Mas acabei me vendo obrigada a Encontrar um lugar nele pra ti.

Então separei um lugar: Não tão grande como do meu amor,

Mas tão especial quanto E ao seu lado.

Um lugar de amigo, Um lugar de melhor amigo,

Um lugar que eu cuido Com carinho e confiança.

Por que amigos tratam-se com carinho, Mas para melhores amigos,

Basta confiança.

Page 81: Antologia   livro

Flávia barcellos de Passos

NÃO QUERO!!!

Não quero saber das coisas que não me pertencem Não quero essas coisas que não preenchem...

Anseio por carinho e irmandade Longe de mim, esteja a falsidade

Não quero sofrer o que ainda não vivi E não quero provar do dissabor De não saber o gosto do amor

Não quero conselhos nem reconciliações Por hora servem os devaneios

Só não posso permitir alucinações Não quero viver o que não mereço

Não quero...não quero... Senão padeço

Não quero risadas E não quero agonias

Não quero nada que não preencha o dia Não quero dia parado

Tão pouco quero viver de passado Não, não quero o que me faz mal Não quero que piorem meu astral

Não quero comida, não quero bebida Mas também não quero solidão

Porque em meio a tantos "não quero" Há sempre outros tantos "quero".

Page 82: Antologia   livro

Thalita Ferreira

PSEUDO-SONETO DO CANSAÇO

Cansei dos clichês destemidos Das mãos inquietas e despudoradas

Dos forçados e falsos gemidos Das palavras omitidas e mal-faladas

Só agora percebi os passos simulados Aqueles que vão e vem, sem mesmo sair do lugar

Tentando, sem esforços, parecer fadados Enquanto o resultado é impossível encontrar

Pudera eu controlar o tempo como um escravo Só assim o libertaria da insignificância

Trazendo-o como um presente meu

Cansado do insipiente mundo bravo Só mesmo levando todos de volta à infância

Ou quem sabe...aconchegando-os nos braços de Morfeu!

Page 83: Antologia   livro

Lorena Colodette Pessanha

PRECE

Articular um sorriso interno, Vertê-lo em lira, em linguagem,

em convite, é prece.

Page 84: Antologia   livro

Bernardo Silva Barbosa

MAIS UM ANO

Mais um ano que vem chegando, m ais um ano que vai partindo,

m ais um ano começando, m ais um ano sorrindo.

Mais um ano com bravura, m ais um ano de paixão,

m ais um ano de ternura, m ais um ano de emoção.

Mais um ano de guerra, mais um ano de carinho,

m ais um ano que se encerra, m ais um ano sozinho.

Mais um ano...

Page 85: Antologia   livro

Daniele Braga Pinheiro

CAMINHO REAL

A vida muda Envelhece Amadurece

O amor transforma Renova

Fortalece Bases de uma esperança De um amanhã melhor

Você é a minha luz De um caminho real

Riqueza plena De uma alma serena.

Page 86: Antologia   livro

Flávia Barcellos de Passos

SAUDADES

O que dizer sobre a saudade? Como explicar esse sentimento?

Como entender a saudade aqui de dentro? Será passageira?apenas momentanea? Ou será aquela saudade que engana?

Existem saudades em mim Saudades do que já não tenho junto a mim

Saudades de quem se foi E dos tempos que passaram

Também dos que ainda vivem Mas estão longe de minha realidade

Saudades boas e saudades ruins As boas estampam sorrisos em meu coração

As ruins me apertam e deixam aflição É, saudade não é passageira

Saudade não é curada Porque saudade vira lembrança

E a lembrança não se deixa por aí A lembrança é carregada

E não importa a idade Porque com certeza dura a eternidade.

Page 87: Antologia   livro

Gabriela Zorzal

NÃO ME ES QUECE

Tenho tanta coisa pra dizer Mas você não quer ouvir,

Quer encontrar um jeito de esquecer Mas já caiu fundo demais pra conseguir. Medo de me envolver, medo de te iludir.

Não quero te fazer sofrer, muito menos te seduzir. E você me trouxe a realidade, Apagou tudo que se passou. Mal sabe que eu ainda sonho

Mesmo sabendo que pra você acabou. E vou mesmo continuar sonhando.

É que eu não consigo combater. E sei que mesmo que você tente, Não vai conseguir me esquecer.

Page 88: Antologia   livro

Hanor F.

Esperei muito tempo por você. Então agora te devorarei lentamente.

Degustando o gosto seu com o tempero EU. Degustando o teu cheiro que é bom,

Teu sabor que é novo. Degustando você como um todo,

Mas, Aos poucos.

Bem aos poucos, Quente e conseqüências,

Misturando-te a uma pitada de amor.

Page 89: Antologia   livro

ALine Mendonça

DIÁLOGO CÓS MICO II

Sinto por perder mais uma vez a voz E fazer desta agonia mais do que agonia:

Apenas saudade perdida no silêncio!

Que torna a insônia uma tortura diária Enquanto as palavras fogem-me aos lábios

Cada vez que mais me aproximo...

Ah, poeira de estrelas... Finda a morte de teus olhos,

Sendo o eco do silêncio Que perfuma a solidão!

Mero e inútil envolvimento Gravidade encantadora,

Obséquio do destino, Que clareia a escuridão!

Se em toda a minha eloqüência Houvesse um ritmo,

As palavras seriam folhas dançantes Se desprendendo no abismo

Da loucura articulada do meu ser...

Page 90: Antologia   livro

Bruno Vial

DES ES PERO

Olh e pa ra m im

Essa sombra patética Que caminha no ermo

Sem destino algum Num mundo nojento Que não me pertence

Que não pertenço Olha aqui

Eu sou eu mas não sei Se sou só eu

Isso é tudo tão... Olho a sombra Olhe na parede

Ali perdida da realidade A qual não é

Nada além de ausência Ouço os lamentos

Que eu digo para a noite A sombra vazia

Não escuridão não existe Mas ainda assim disse

n ã o

Que verdade nada Não há

Há? Está lá por um instante

Sem exceção A eternidade do vazio

É tão grande Que não me deixa ver

A efemeridade do momento Em que a sombra

Implora ali no canto olh e pa ra m im

Mas não dá Ignora o tolo o que pede

Vira o rosto Sigo caminho

Page 91: Antologia   livro

Para além dali E não espero

O que viria depois Não virá

Não vou olhar Não quero

A sombra não vai Mas seguirá onde quer que vá

Só rindo mesmo Para não ouvir

n ã o

Olha, olha, olha aqui Não sei o que é

Mas foi Sempre Minha

E eu não quis olhar Não era sofrer

Ignorar, morrer Sem ter acontecido

Olho para mim E rio e rio e rio...

Page 92: Antologia   livro

Thalita Ferreira

EU CONSUMO E TU CONSOMES

Eu con s u m o o m u n do O m u n do m e con s om e

Quando o lobo lograr o ouro

A tentativa sucumbirá a resposta É gasto o metal pela ferrugem

É consumido o oxigênio perdido no ar Fecha-se o mundo, Relaxa-se os olhos,

Perde-se o sentido de destreza e razão Mataras a luz Que se apaga

O feixe se esvai Perante infinda escuridão...

A trindade, o trio, o tripé Três, tercetos, triplos, tantos

Três, três, dois, três ... telefone A vela se queima

A parafina escorre O tamanho diminui

Se na natureza Tudo nasce, tudo se Consome

Tudo se transforma Até que a vastidão se consome corrompendo-se!

O cansaço desanima O stress consome O sono reanima

O mundo premia o indivíduo A realidade retira-o liberdade Consumindo a paz, o sossego

O sopro e a sanidade . . . CONSOME SE . . .

Page 93: Antologia   livro

Lorena Colodette Pessanha

DESENCONTRO

Ao anoitecer você se faz presença,

afago, Lua atraente.

Ao amanhecer você se faz ausência,

vácuo, e já não há Lua que possa...

E há dias você se desfaz

e não constrói nada.

Page 94: Antologia   livro

Flávia Barcellos de Passos

P(ARTE) DE MIM

Não quero pensar sobre o que escrever Quero apenas sentir

Sentir e "dizer" Quero fluir naturalmente

Deixar estampado E bem gravado no papel

As idéias da minha mente Pode ser sobre o cotidiano

Ou sobre o palpitar do coração Pode ser sobre coisas mínimas

Ou sobre a imensidão Só o que não pode é parar

Não posso estagnar É preciso prosseguir

Num constante ir e vir Porque o dia em que parar de escrever

É o dia que deixarei de viver E aí, não verão mais a mim Mas apenas p(arte) de mim.

Page 95: Antologia   livro

Joacles Costa Bento

NADA

O sempre não é tudo

e o tudo nunca

foi nada.

Porque somos isso,

Apenas isso (o nada).

Que nada possuímos

e o que temos é apenas adotado,

Pois quando o homem morre,

simplesmente, volta para casa.

Será isso evolução?

Nascer,

crescer,

envelhecer,

(viver do irreal )

e morrer.

Isso é evoluir?

Page 96: Antologia   livro

Lorena Colodette Pessanha

MORADA

Resido e pairo em você! Não por ocasião fortuita,

pois que o amor requer morada, mas por lucidez.

Uma lucidez enebriante, capaz de ruir as vicissitudes e de conjugar nosso verbo

no infinitivo das horas.

Não! Não mais o ocaso, Nem mesmo os antigos hábitos tecidos,

pois agora posso ser até a menina que sou!

Esta é a morada em que minha assência se dilata,

na direção do caminho que escolhemos viver nós em nós.

Page 97: Antologia   livro

Aline Mendonça

FIS IOLOGIA HUMANA

Faça agora mesmo o que é certo! E deita-me na lama fria da derrota!

Regojiza-te feito o céu em sol nascente E jubila-te a cada instante dessa aurora

Vá e sinta o sangue sádico rir em tal momento E prover felicidade em meu prejuízo

Que de tão pouca, vive só em pensamento Na fa lta d a lm a des te corpo es gu io.

A voz trêmula e a anemia permanente Que, tão loquazes, já fugiram da carne túrgida Não são mais empecilhos neste tempo agouro

Apenas testemunharam a minha loucura

Vá que já é tarde e a noite assombra Abandona-me na solidão da terra escura

A sós, eu, vazio corpo e a loucura Sob a dor vencida que agora queixa-se

Vá. Amanhã o dia nasce e a vida é curta... Deixa-me a sós com a minha sorte!

Que qualquer beleza é hoje chão fecundo Na minha dor eterna, eu, um pobre moribundo

Vá e deixa-me gozar da bela morte...!

Page 98: Antologia   livro

Joacles Costa Bento

EU

Queria não pensar no amor, Queria não sentir essa dor,

Queria não lembrar nossa canção, Queria não sentir mais emoção, Queria não mais ver seu sorriso, Queria não tê-la em meu pranto,

Queria não vê-la no espelho da minha solidão, Queria não relembrar nosso passado

e no reflexo de uma lagrima caída da face, queria poder

lembrar de mim, para então fazer parte de você.

Page 99: Antologia   livro

Fernanda Rangel de Aquino

TRANSE

Olho para o nada O estranho vazio

Algo longe... E tão perto de mim.

O olhar não é recíproco Não existe... Ou é triste

Num árduo silêncio sem fim

Meu olhar busca perdido Desesperado e sozinho

O reflexo do que há enfim

Mas o espelho Cruel... Ou verdadeiro

Mostra apenas a invisibilidade Do que é visível em mim.

Page 100: Antologia   livro

Hanor F.

S EPARAÇÃO

É faz tempo! Que o amor não vence o fim. Que ninguém como eu quero

Goste de mim.

Não, não me acostumo!

Quero separação, Deixo hoje a solidão,

Mesmo que ela não queira o fim.

Que ela chore por mim. Que sinta o seu gosto de dor,

Sua própria dose de frio.

Page 101: Antologia   livro

Aline Mendonça

S IMELITRON

Nada peço além do fardo do perfume! Abraço a vida e não desejo nada!

Sê a escória e feche as íris do abrigo, Enquanto o sonho ainda te embriaga...

Vejo em teus olhos minha face nua Pegue a taça, acomode-se ao espelho.

Pois conservo a máscara ainda em meu peito, Enquanto o fogo consome a carne crua!

Que benefício traz a pressão do paraíso? Que em sonhos entorpece com aroma de rosas...

Sê do mundo o filho prodígio e valente, Para em vida conhecer visão de outrora!

Page 102: Antologia   livro

Flávia Barcellos de Passos

Mundo isolado, amigos bem longe Mundo entediante, amor distante

Quero meu mundo de volta, Quero os que amo à minha volta

Desejo voltar, desejo ficar Por vezes, é tão confuso

Que nem sei... Não sei mesmo o que desejar.

Quero isto e aquilo Mas não posso!!!

Não tudo de uma só vez Quero tantas coisas entre Brasil e Portugal

Que nem sei... Só sei que estou mal

E essa espera angustiante, Dúvida alarmante.

O incerto me desespera Mas a determinação me acompanha

Por isso fico na espera. Enquanto isso vou vivendo

Criando e inventando o que fazer Porque as horas são inimigas

E os dias parecem tardar Nesses momentos em que quero vê-los voar

Entretanto espero... E aqui me manterei

Até que venha a resposta Resposta que irá definir

Se fico ou embora irei daqui

Page 103: Antologia   livro

Thalita Ferreira

MEU VENTRE

O que simplesmente depende de mim Sem que necessariamente exista você

Eu em mim Eu sem você

Não o princípio de um fim Mas um desejo de mim

Minimamente eu Minúscula neste gigantesco mundo

Fisgada por um debutar neste mundo Onde o eu seja mais

Seja diferente no meio da multidão Seja não só seu

Mas muito mais meu Meu Tudo

Meu Ventre Meu Mundo

Meu Eu!

Page 104: Antologia   livro

Priscilla Reges Ferreira

A BALADA DO REI DE ESPADAS

Ah, meu grande mentiroso, tolo Rei, Nada sabes e tudo sabes, sempre assim.

No Caos caminhamos, juntos, porém, Não facilitamos a jornada para ninguém.

Um grande jogador Meu curinga preferido

Eterno companheiro de contos E para todo o sempre, Amigo.

Rides do mundo, Das pessoas e das coisas,

Mas, acima de tudo, Rides de vós, e de vossa piada, Chamada ironicamente de vida.

Mas ah, tolo Rei, Hás de reinar

Comigo para todo o sempre E não mais tolo serás E não mais perdido

O mundo estará.

Page 105: Antologia   livro

Bruno Vial

OUTRO S ONETO DO 6 DE ES PADAS

Seria tão mais simples apenas aceitar viver com uma certeza absoluta

mesmo que falsa ou até tola é mais fácil do que ter dúvidas

É um fardo, uma maldição ser atormentado pela angustia

não ser somente fútil e superficial escondido confortavelmente na verdade

é quase triste olhar para o lado ver um rosto sorridente e tranqüilo

que não se inquieta ante os mistérios

Mas não quero ser como eles outra vez vi um lampejo da resposta procurada e não foi no sorriso frívolo dos tolos.

Page 106: Antologia   livro

Thalita Ferreira

SONO

Vontade de cair nos braços de Morfeu Envolvendo-se em devaneios e sonhos

Como se estivesse em nuvens Como se estivesse deleitando-se em

[flocos de algodão A fuga do cansaço, da tensão Que insiste em se acumular Nas entranhas do dia-a -dia...

Conseguir fechar os olhos É conseguir libertar-se de todos

[os pensamentos Apertando o botão OFF da mente

Para que não haja nada Além de paz e escuridão,

Na busca da mais intensa meditação, Concentração e relaxamento

Em que tudo se renova Se encaixa, se cura

Para simplesmente acordar Com a verdadeira vontade

De d izer : Bom d ia !

Page 107: Antologia   livro

Ávila Jane

DE UM OLHAR...

Es ta va eu a a p roveita r u m a n oite qu e dever ia , a té o p res en te m om en to, s er m a ra vilh os a . Porém o qu e eu t in h a p la n eja do n ã o a con teceu . Mes m o a s s im , con t in u ei a da n ça r con form e a música. No m eio de des en con tros e en con tros , en con trei-o, e foi a í qu e a noite realmente começou. Foi com u m a m ú s ica qu e tu do com eçou a a con tecer : n os s os olh os s e en con tra ra m , e ca da vez m a is in ten s o e pen etra n te ficávamos a n os cor teja r ; olh a res s eden tos e ca loros os , tã o qu ã o o a m bien te o qu a l n em o a r con d icion a do con s egu ia refrescar. Os olh a res fica va m ca da vez m a is en volven tes con form e a s m ú s ica s qu e toca va m , e con s equ en tem en te n os s os corpos s e a qu ecia m m a is , m es m o a in da u m p ou co d is ta n te u m d o ou tro, e a ca da m ú s ica n os s os olh a res fa zia m d iferen tes melodias, logo, nossos corpos começavam a juntos dançar. E olh a res m a is e m a is p róxim os , corpos m a is e m a is cola dos ,

n os s os ros tos s e a ca r icia n do, n os s os ch eiros s e exa la n do, e ca da m ovim en to, o ca lor de n os s a a tm os fera corpora l a u m en ta va in ten s a e ra p ida m en te; a s lu zes fa zia m s u a pa r te, deixa n do a in da m a is p rovoca n tes e s en s u a is n os s os movimentos. Em m eio a ta n ta p res s ã o, n os s os h orm ôn ios en tra m em eru pçã o e, a s s im , n os s os lá b ios en tã o s e toca ra m e tod o a qu ele ca lor qu e s en t ía m os em n os s o beijo con cen trou -s e. E beijavam-n os m a is e m a is , s u a s m ã os percorr ia m m eu ros to, m in h a n u ca e for te s egu ra va m m eu s ca belos , logo com eça ra m a des liza r em m eu corpo, es pa lh a n do todo o ca lor (a té en tã o con cen tra do em n os s o en volven te beijo) por todo o m eu corpo e fa z com qu e s eu corpo todo ta m bém s en t is s e es s e ca lor , fa zen do com qu e s eu s h orm ôn ios en tra s s em em u m a exp los ã o de von ta des e des ejos , igu a la n do n os s os pen s a m en tos , n os s a s carícias, nossa malícia. Neces s itá va m os s a ir da qu ela m u lt idã o, p recis á va m os de s os s ego , m a s n ã o en tre n os s os corpos . En tã o, ret ira m o-nos

dali, mas em nenhum momento nossos olhos se distanciaram. E qu a n do n os en con tra m os a s ós , foi u m a exp los ã o de pen s a m en tos , toqu es e volú p ia . En trega m o-n os n os s os

Page 108: Antologia   livro

corpos , en trega m o-n os a o n os s o olh a r . Na da d izía m os , m a s n ã o p recis á va m os d izer n a da , n os s o olh a r fa la va por n ós , n os s os beijos fa la va m por n ós , n os s o ch eiro fa la va por n ós , e diziam incessantemente querer-nos. O teu tors o n u ped ia m in h a s m ã os , m in h a pele ped ia s eu s beijos , tu a n u ca cla m a va por m in h a s m ord ida s e m in h a s pernas imploravam o aconchego das suas. Nos s os corpos ca da vez m a is en trela ça dos , n os s os pen s a m en tos ca da vez m a is via ja va m , n os s os lá b ios e feições declarava m tã o gra n de p ra zer , n os s os beijos ca da vez m a is a lgoz. E n o a lge de toda es s a s in fon ia , n os s os "in s t ru m en tos m u s ica is " fizera m u m lin do s olo, qu e en toa va o com plem en to de dois corpos , a fu s ã o de dois s eres torn a n do-s e u m s ó, s u p r in do todos n os s os va zios ; com pleta m o-n os e contemplamo-n os d ia n te de u m gozo p rofu n do e de poder ouvir e embalar a canção do amor. Es ta ca n çã o s em fim , qu e a ca da d ia qu e pa s s a m os ju n tos e a ca da olh a r qu e deleita m o-n os , en toa m o-a s com a cer teza de felicidade eterna.

Page 109: Antologia   livro

Bruno Vial

UM PALHAÇO TRIS TE

Com o em qu a s e todos os d ia s de qu a s e toda s u a vida , seguindo a rotina durante anos programada para ser realizada s em s equ er pen s a r n os a tos e fa tos de s u a s a t itu des , a cordou cedo pou co a pós o n a s cer do s ol. Ain d a com s on o m a s s em reclamar por n ã o ter n in gu ém pa ra ou vir , s equ er a s i m es m o, levantou-s e es p regu iça n do e boceja n do e a in da a s s im ca m in h a n do pa ra o ba n h eiro s em n ota r o ca m in h o qu e já con h ecia ta lvez qu a s e por in s t in to, com o poder ia res pon der s e in da ga do fos s e, a pes a r de n a verda de con h ece-lo por pu ra força de h á b ito, cr ia do por ta n ta s e ta n ta s vezes repet ir o m es m o p roces s o, s em n u n ca pergu n ta r o porqu ê de tu do is s o. Com a por ta fech a da e o ch u veiro liga do, pa rou d ia n te o es pelh o pa ra es cova r os den tes a b r in do a torn eira dem a is , m olh a n do o ch ã o e ch a tea n do-s e por ter , a n tes de a corda r d o res qu ício de s on o com o ba n h o qu en te la va n do o s eu corpo, lim pa r a á gu a derra m a da n o p is o. Ba n h o tom a do, den tes es cova dos , s a iu en rola do n a toa lh a pa ra o qu a r to, s em cru za r com n in gu ém e s em n en h u m pen s a m en to m a is p rofu n do qu e o copo de ca fé qu e o es pera va n a m es a da cozin h a , ju n to com toda s u a fa m ília a qu em s e reu n iu logo depois de t roca r a s rou pa s e pega r s u a s cois a s . O pa i com en tou s obre o tem p o firm e s em des via r os olh os d o jorn a l, a m ã e con cordou s em des via r os olh os rep rova dores da filh a , s u a irm ã , n em dois a n os m a is n ova e a in da a s s im tã o d is ta n te, cu jo n ovo p iercin g n a lín gu a ch oca va m a is qu e o da s ob ra n celh a . Tra n s corren do tu do com o s em pre t ra n s corr ia , m a is u m a refeiçã o em fa m ília começou e terminou e seu caminho deveria ser seguido, pois o des t in o cer to de qu a s e todos os d ia s de qu a s e toda s u a vida o es pera va m a is u m a vez. J á n a ru a , pa s s a n do por a qu ele m es m o ca m in h o por on de ta n ta s vezes já pa s s ou s em o con h ecer , cru zou com o pa lh a ço t r is te. Vin do do n a da , in do p ro m es m o lu ga r , por u m m ero in s ta n te, o pa lh a ço t r is te dominou sua mente por completo e tornou-se o mundo. Havia um palhaço triste. Poder ia s er? O ch oqu e com pleto por exis t ir u m p a lh a ço t r is te n ã o perm it iu qu e s e m oves s e. Es ta va pa ra lis a do, s equ er con s egu ia da r u m pa s s o. Seu s pen s a m en tos en tra ra m n a per igos a zon a do ca os e era m a rra s ta dos pelo tu rb ilh ã o do

Page 110: Antologia   livro

pa ra doxo. Se h a via u m pa lh a ço t r is te, com o ter cer teza s e o ch ã o s er ia firm e? Se a s n u ven s s er ia m flu tu a n tes ? Se o a r s er ia res p irá vel? Se o Sol s er ia qu en te? Se o ch ocola te s er ia gos tos o? Se 1+1 s er ia 2? Se o m u n do s er ia redon do? Se a á gu a s er ia m olh a da ? Se a vida s er ia u m a obr iga çã o? Se o in fin ito s er ia s em fim ? Se o qu a dra do s er ia com pos to d e qu a tro la dos ? Se o a çú ca r s er ia doce? Se a a r te s er ia bela ? Se o poder s er ia força ? Se o a m or s er ia bom ? Se a religiã o s er ia s a gra da ? Se o fa to s er ia rea l? Se a n eve s er ia gela da ? Se o des ejo s er ia in evitá vel? Se a s es t rela s s er ia m lon gín qu a s ? Se a dor s er ia s ofr im en to? Se o fer ro s er ia s ólido? Se a a legr ia s er ia felicidade? Se a verdade seria necessária? Se a existência seria uma certeza? Por cu lpa da qu ele pa lh a ço t r is te, tu do o qu e u m d ia foi a gora n ã o m a is o é. Da con for tá vel cer teza defin it iva , foi a r ra n ca d o s em perm is s ã o, com força e foi joga do n a a n gu s t ia da dú vida peren e. A pa r t ir da qu i, s eu ca m in h o n ã o s erá m a is o m es m o, s eu s olh os verã o o qu e a n tes n ã o via m . Seu p róxim o pa s s o, e a qu ele depois des s e e o pos ter ior s erã o s em pre ru m o a o des con h ecido e a o in exp lora do, p ron to a qu a lqu er tem po pa ra s en t ir o ch ã o va cila r , a s n u ven s ca írem , o a r s u foca r , o s ol con gela r , o ch ocola te ca u s a r n a ú s ea s , 1+1 s er orn itor r in co, o m u n do fica r cú b ico, a á gu a s eca r a a reia , a vida torn a r-se s u pérflu a , con ta r a té o in fin ito, fa zer u m qu a dra do s em n en h u m la do, s en t ir o a çú ca r a m a rgo, des p reza r a a r te, s er poderos o e fra co, s ofrer por a m or , n ega r a cren ça , viver n a ilu s ã o, s en t ir a n eve m orn a , dom a r o des ejo, toca r a s es t rela s , s en t ir a dor e n ã o s e im por ta r , a m ã o t res pa s s a r pelo fer ro, es ta r t r is te de felicida de, n ã o p recis a r da verda de e n ã o ter certeza de nada. O pa lh a ço t r is te s egu iu s eu ca m in h o, o m es m o ca m in h o qu e a gora ta m bém s egu irá . Nã o im por ta qu e a s d ireções s eja m opos ta s , s erã o os m es m os pa s s os a s erem d a dos , pa s s os decid idos e in ten s os , s u rp res os e tem eros os por tu do continuar da mesma forma enquanto tudo muda. Pois olh a r o pa lh a ço t r is te é olh a r o pa ra doxo con s ta n te, o con tra d itór io im perm is s ível qu e im pede a con s tâ n cia da s cois a s do m u n do, a n ã o a ceita çã o m a is do d ito n orm a l. A pa r t ir de a gora a o n ovo pa lh a ço t r is te o im pos s ível n ã o é m a is uma pergunta que não se faça, mas apenas uma consideração sempre imaginável.

Page 111: Antologia   livro

Lindemberg O. Gomes

CRIADOR E CRIATURA

Antes da criação do cosmo; do que hoje existe abaixo dos céus Deu s , Lú cifer e s u a s legiões de a n jos d iver t ia m -s e em intermináveis banquetes. Essas festas estavam deixando Deus en ted ia do. Até qu e u m d ia ele ch a m ou o com a n da n te do exército celestial, o seu número um, e disse-lhe:

Eu n ã o a gü en to m a is es ta s fes ta s , s em pre a s m es m a s coisas. Esta rotina está me matando! Dizes com o s e rea lm en te pu des s es m orrer , pen s ou o

comandante. Deixas de cinismo. Sabes muito bem que nada do que fazes

ou que pensas me escapa, eu sei de tudo.

É a í qu e es tá o p rob lem a m eu Sen h or!

con clu iu

com o a vos s a d ivin a excelên cia tem con h ecim en to do qu e va i a con tecer n a da te s u rp reen de. Lem bra s -te da fes ta do s eu s ext ilh ã o qu e es tá va m os orga n iza n do, n o m a is com pleto s igilo e, ch ega m os a a cred ita r p ia m en te de qu e n a da s a b ia s , m a s qu a l n ã o foi a n os s a s u rp res a . Todos n o s a lã o de fes ta s es pera va m a s u a en tra da e n a da da vos s a d ivin a excelên cia ch ega r ; a té qu e o s a lã o foi cla rea n do pa u la t in a m en te, e a s s im , da m os con ta de qu e o Sen h or es ta va h á m u ito tem po n o s a lã o e divertia-se com a nossa angústia à sua espera.

É verda de

dis s e Deu s es con den do u m leve r is o

n a qu ele d ia vós m e d iver t is tes m u ito pen s a n do qu e eu n ã o com pa recer ia a fes ta

con clu iu Deu s ilu m in a n do o loca l com um breve sorriso. Con t in u a ra m con vers a n do por m u ito, m u ito tem po relem bra n do ca s os in teres s a n tes e ou tros n em ta n to. Foi qu a n do s u rgira m u n s ra ios (a lâ m pa da a in da n ã o h a via s ido inventada) sobre a cabeça do comandante.

Arrá uma idéia! Deus mostrou-se entusiasmado.

É m eu Sen h or u m a in t r iga n te idéia . Aba ixo dos céu s n ã o h á n a da a lém do etern o a b is m o, o Alt ís s im o poder ia u s a r o s eu gra n d ios o poder pa ra cr ia r u m m u n do en tre o céu e o abismo dando vida a criaturas diversas dos seres celestiais.

Ma s qu e idéia s u p im pa

dis s e Deu s da n do vida a primeira gíria.

Page 112: Antologia   livro

Deu s foi con ven cido pelo com a n da n te a cr ia r o m u n do pa ra lelo a o rein o celes t ia l. En qu a n to ele es t ives s e da n do vida a u m n ovo m u n do, o s eu n ú m ero u m , es ta r ia ocu pa n do o s eu pos to. Deu s pa s s ou a s recom en da ções n eces s á r ia s e des ceu a o ca os .

Lú cifer com a n da n te do exército celes t ia l fica rá em

m eu lu ga r , a s u a voz s erá a m in h a , a qu eles qu e o des obedecerem es ta rã o des ob edecen do a m im , s en ten ciou e partiu para obrar o universo. A ca da pa la vra s u a s u rgia m cois a s n ova s e a ter ra ia tom a n do n ovo form a to; cr ia tu ra s d iferen tes de d iferen tes h a bitat a pa recia m da n oite pa ra o d ia . A gra n de á gu a fora a ju n ta d a deixa n do a ter ra livre; cr ia tu ra s voa va m s obre a s á gu a s e ou tra s ia m tã o a lta s qu e pa recia m qu erer a lca n ça r os céu s . O poder do Su prem o res p la n decia em todo o s eu vigor , on d e antes não havia nada surgiam coisas fantásticas. En qu a n to es s a s m a ra vilh a s a con tecia m n a ter ra

n o céu Lúcifer planejava um golpe. Ele pretendia usurpar o poder que es ta va va go, m a s o a rca n jo Ga br iel, líder da res is tên cia , vin h a minando o seu plano. Apes a r de toda s a s m a ra vilh a s cr ia da s Deu s perm a n ecia in s a t is feito, es ta va fa lta n do a lgu m a cois a qu e rep res en ta s s e n o todo o s eu poder . Depois de m u ito pen s a r decid iu da r vid a a u m s er qu e s er ia s u per ior a tu do a té en tã o cr ia do. E d is s e Deu s : Fa ça m os o h om em à n os s a im a gem , con form e a n os s a s em elh a n ça ; e dom in e s obre os peixes d o m a r , e s ob re a s a ves dos céu s , e s ob re o ga do, e s ob re toda a ter ra , e s ob re todo o rép t il qu e s e m ove s obre a ter ra . E a s s im fin dou a m a n h ã e à ta rde do s exto d ia . Viu qu e tu d o qu e cr ia ra era bom e a gra dá vel de ver . E h a ven do Deu s term in a do a s u a ob ra n o s ét im o d ia , ele o a ben çoou e n ele descansou. Depois de u m d u ro em ba te o a rca n jo Ga br iel e s eu s s egu idores ven cera m a Lú cifer , a p r is ion a n do-o n o Va le do Es qu ecim en to. Deu s retorn a n do a os céu s recebeu do a rca n jo Ga br iel, o rela to da rebeliã o de s eu com a n da n te. Es te foi des p ido de s u a s h on ra r ia s e la n ça do ju n ta m en te com os s eu s seguidores no abismo eterno. Tom a do p elo ód io Lú cifer p rom eteu vin ga n ça ; obs erva n do a s cr ia ções de Deu s ele teve u m a s a tâ n ica idéia . De toda s a s criaturas

s ó o h om em n ã o t in h a u m a com pa n h eira ; es s e era o ten dã o de Aqu iles a s er a ta ca do. Ten ta t iva s a pós ten ta t iva s era m fra ca s s a da s . Su a s cr ia ções n ã o pa s s a va m de aberrações da natureza.

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En fim , depois de m u itos fra ca s s os a s u a ob ra es ta va a ca ba da , era lin da de feiçã o corpórea , a docilida de de s eu s ges tos escondiam a natureza de sua criação. O seu único objetivo era des vir tu a r a cr ia çã o m a ior do Deu s Su prem o. Em s eu s olh os es con d ia m a ter r ível verda de qu e a rde n o m a is p rofu n do precipício da alma humana. Deu s p res s en t in do os p rob lem a s qu e es s a cr ia tu ra ir ia p rovoca r , n ã o t in h a a ltern a t iva a n ã o s er des t ru í-la . Ma s ela era lin da dem a is e o Alt ís s im o ven do qu e ela s er ia u m a boa companhia para o homem resolveu quebrar o encanto maligno que a dom in a va . Dotou -a de s en t im en tos s u per iores a d o homem

a s pa ixões . Decid iu ta m bém qu e ela s er ia eternamente subjugada pelo homem. As s im a cr ia çã o m á xim a de Deu s con s egu iu a s u a com pa n h eira : ela dota da de pa ixões , e ele, dota do da ra zã o. Um n ã o vive s em o ou tro, o ou tro, n ã o vive s em o u m . Ele com o cr ia çã o d ivin a dom in a a tu do o qu e s e en con tra en tre os céus e o reino de Lúcifer.

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Marcelo dos Santos Netto

TESTE DA FÁBULA DOS TRÊS RATOS

Era m três ra tos qu e d is pu ta ra m o m es m o n a co de ca rn e da qu ela m es m a n oite. Nen h u m deles percebeu qu e a ca rn e, n a verda de, era is ca . Foi a s s im qu e ca íra m os t rês n a a ra p u ca que o dono da mercearia preparou. O don o es ta va con tra r ia do com o a r roz qu e perd ia . Sepa rou u m ba lde, bes u n tou o la do de den tro com ba n h a ; ca vou u m bu ra co n a a reia , a s s en tou o ba lde a li den tro, jogou is ca s a o fu n do. En tra r a li foi fá cil. Os ra tos s ó p recis a ra m s e joga r . Pa ra s a ir , im pos s ível. As ga rra s es correga va m n a ba n h a . Logo os t rês ra tos fica ra m à m ercê do ra to h om em , qu e os des pejou n u m a ga iola e os pen du rou n o teto do ter ra ço. Prom eteu a s i mesmo que só veria o resultado daqui a dois dias. De p r im eira , os b ich os n ã o en ten dera m . Roera m a ca rn e e tu do bem . Ten ta ra m s a ir , n ã o con s egu ira m . Res olvera m dorm ir . Até qu e a m a n h eceu . A fom e a p er tou m a is , e m a is . Foi assim que os três perceberam as regras do jogo.

E a gora ?

pergu n tou o m en or .

Qu e fa rem os pa ra n ã o morrer de fome? Bom concluiu o do meio só se a gente tirar na sorte... Tirar na sorte o quê? perguntou o maior. Quem vai servir de comida para os outros...

Depois de muito protesto e desconversa, assim foi feito. E o do meio acabou sorteado. Injusto! protestou o escolhido.

In ju s to por qu ê?

pergu n ta ra m os ou tros dois .

Nã o qu er aceitar as regras do próprio jogo?

Nã o é is s o; bom , in ju s to porqu e... Eu s ou o ju iz! É , is s o m es m o! Se o jogo é m eu , en tã o p recis o es ta r a qu i pa ra s a b er se as regras vão ser cumpridas!

Nã o s e p reocu pe

dis s e o m en or .

Nos s a fom e va i ga ra n t ir que suas regras sejam cumpridas!

As cois a s n ã o fu n cion a m a s s im !

protes tou o ra to. Como vã o fa zer u m a d ivis ã o ju s ta s em u m ju iz pa ra is s o? Ten h o de estar aqui! É a única chance que vocês têm para garantir isso! Meio contrariados, jogaram outra vez. O menor foi escolhido.

Des ta vez s ou eu qu em p rotes ta

d is s e o m a ior .

Es s e a í tem pou ca ca rn e!, n ã o dá n em pa ra ta pa r o bu ra co do m eu dente.

Page 115: Antologia   livro

Então jogaram outra vez e o maior foi escolhido. Acho que é justo disse o menor. Vai dar para nós dois. Seja um bom perdedor... disse o do meio.

Pois bem !

dis s e en tã o o m a ior

Se qu is erem , podem vir !

Quem sou eu para impedi-los de tentar! E o ra tã o devorou os ou tros dois s em p rob lem a a lgu m . Roeu olh os , roeu cou ro, roeu ca rn e, roeu u n h a s . Roeu os s os . Roeu tudo. Uma fome de elefante na barriga de um rato. Dois d ia s depois , o don o da m ercea r ia voltou a o ter ra ço e s ó en con trou u m ra to. Um filete de s orr is o es correu pelo ca n to da boca dele. Bem qu e o m u n do todo pod ia s er feito du m a ju s t iça poét ica a s s im

o roedor , s en do roído, n u m a cois a d e p r is ã o tu rca e s eren a , poes ia de Ha m u ra b i e s u a s Doze Tá bu a s Fla m eja n tes . Sim s en h or . Ele va i da r ca bo da qu ele ú lt im o ra tã o

s ó fa lta lh e s u rgir ou tra idéia , tã o b r ilh a n te como a da gaiola.

Moral da His t ória: m ora l é cois a de s itu a çã o; violên cia doméstica não se domestica.

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Franklin dos Santos Moura

S E ELES S OUBES S EM!!!

Ma is u m a s exta -feira , e com o era de cos tu m e, lá es ta va m eles em volta da m es a pa ra u m a reflexiva refeiçã o. Con tu do, n in gu ém s e a t revia a des a r ru m a r a m es a , en qu a n to Sa lva dor n ã o ch ega s s e. Ele gos ta va de p rofer ir a lgu m a s pa la vra s , e ta m bém a gra decer pelo a lim en to da qu ela h ora . Nã o ta rdou m u ito, e lá es ta va m todos eles : fa m in tos , a legres , e extrem a m en te a ten cios os a Sa lva dor . Es te por s u a vez, a pós a lgu n s m in u tos de in icia da a refeiçã o, ped iu a a ten çã o p lena de todos pa ra con ta r u m s on h o. Pa recia u m pou co p reocu pa do, e is to logo ficou vis ível qu a n do foi a n u n cia da s u a in ten çã o. Im ed ia ta m en te, toda a ten çã o es ta va d is pon ível pa ra ou vir e reflet ir s ob re s u a s p reocu pa ções e a n s eios . Na qu ele momento, a fome estava em segundo plano. Daí, disse o jovem Salvador:

- Ca rís s im os , n a n oite pa s s a da , t ive u m s on h o in t r iga n te. Vá r ia s vis ões , e cois a s qu e ja m a is t in h a im a gin a do. Gos ta r ia de con ta r a vocês , e ju n tos , ten ta rm os entendê-la s . Tu do com eçou qu a n do eu em ergi n u m lago, e com ecei a ca m in h a r n u m a flores ta . Nes s a flores ta , a s en s a çã o era de gra n de per igo, e vá r ios h om en s s e a pon ta va m com u m m eta l qu e em it ia u m a pequ en a fa gu lh a . Aos pou cos , pu de ver qu e a qu ela s fa gu lh a s rep res en ta va m d is pa ros , com o s e a lgo fos s e la n ça do ra p ida m en te. Nã o d em orou m u ito, e perceb i qu e a s pes s oa s a t in gida s ca ia m p ra t ica m en te s em vida...Fiquei admirado, mas não entendia por que aquilo es ta va a con tecen do. Im a gin em s ó, pes s oa s s e m a ta n do, porqu ê? De repen te, u m a á gu ia fis gou m eu s om bros e comecei a vis u a liza r tu do por cim a . Con fes s o qu e s en t i u m a for te t r is teza , pois pa recia qu e o m u n do era h a b ita do por m on s tros . Nã o m u ito d is ta n te, vi m a s s a cres on de u m a n u vem de fogo deva s ta va en orm es áreas: pessoas, animais, plantas...tudo sendo destruído. Eu m e pergu n ta va qu e m u n do era a qu ele ? Olh ei pa ra cim a , e o céu t ra n s m it ia u m a en orm e a n gú s t ia . Ped i à á gu ia qu e m e s olta s s e, e ca í n u m loca l on de a s p es s oa s es ta va m a pres s a da s , n ervos a s , e dep r im ida s . As ves tes

Page 117: Antologia   livro

eram bem diferentes das nossas, e eles entravam numas ca rroça s de m eta l e color ida s pa ra s e locom over . Ha via m á rvores de ped ra en orm es qu e qu a s e a lca n ça va m o céu . Qu a n do a dm ira va u m a des s a s á rvores , vi u m a pes s oa ten ta n do voa r , s a lta n do do topo, ... de b ra ços a ber tos . Es ta va p erp lexo, e p recis a va fa la r com a lgu ém , e pergu n ta r o qu e es ta va a con tecen do, m a s n in gu ém m e ou via . Depa rei-m e com u m a m u lh er , a té s im pá t ica d ia n te da qu ela s pes s oa s , e com o con s egu i s u a a ten çã o, logo pergu n tei: - O qu e es tá a con tecen do a qu i? On de es tá a h a rm on ia , a a legr ia , o a m or deste m u n do? Ela s im ples m en te ba la n çou a ca beça n ega t iva m en te, e m e deu a s cos ta s . Segu rei-a pelo b ra ço, e ela com lá gr im a s n os olh os ret ru cou : - Qu em é você? De qu ê p la n eta você veio? Es s a s pa la vra s n ã o s ign ifica m n a da por a qu i...s in cera m en te, já fora m esqu ecida s .Vivem os u m a ép oca qu e pa is e filh os s e m a ta m , ca s a m en tos es tã o des a cred ita dos , a com pa n h a dos de fom e e des em prego, qu e den tre outras coisas, fazem parte do cotidiano. Agora, deixa-me ir , pois pen s ei qu e você fos s e u m clien te, e n ã o pos s o perder tem po...p recis o ga n h a r o d ia . Mes m o n ã o en ten den do bem a qu ela s pa la vra s , con t in u ei a caminhada pela floresta de pedra. Curiosamente, alguns m e joga ra m a lgu m a s m oeda s , m a s eu n ã o en ten d ia porqu e. Ca m in h a n do pela s es t ra da s vi u m m u n do d iferen te, e qu a n do s en tei u m pou co pa ra des ca n s a r , u m s en h or a lto, com ves te es cu ra e p ele bem cu ida da , s e a p roxim a e pergu n ta : - Qu er ga n h a r u n s t roca dos ? Precis o qu e leve es ta en com en da a té....Foi a í qu e acordei.

Todos es cu ta ra m a ten ta m en te o Sa lva dor , e qu a n do ele term in ou , a a p reen s ã o era gera l. J oã o Ba t is ta , ten ta n do a m en iza r toda a s itu a çã o, d is s e: Ach o qu e você vem tra ba lh a n do dem a is . É m elh or t ira r a lgu n s d ia s pa ra des ca n s a r . Ped ro e Tia go p refer ira m in terp reta r o s on h o (qu e m a is pa rece u m pes a delo) e con clu íra m qu e poder ia s er a lgu m a p rofecia s ob re os Rom a n os . Algu n s m in u tos depois , Sa lva dor es ta va m a is ca lm o, e a pós u m a ta ça de vin h o, retom ou a pa la vra : - Acred ito qu e es te s on h o ten h a s ido u m a vis o. Nã o pa ra a n os s a época , m a s pa ra u m tem po qu e possivelmente virá. Isto é, somente virá se as nossas sementes

Page 118: Antologia   livro

forem n ociva s à h u m a n ida de. Dia n te d is s o, s in to-me tra n qü ilo, pois s ei o qu e ca da u m de vocês tem gu a rda do n o cora çã o. Nós s om os a s s em en tes do a m a n h ã . Um a m a n h ã de harmonia, igualdade, confiança, respeito, esperança e fé.

Nã o h ou ve qu em n ã o con corda s s e com o Sa lva dor . Tra ta va -se realmente de um sonho, e todos estavam ali contribuindo para u m m u n do m elh or . A refeiçã o p ros s egu iu , com o d e cos tu m e, e a fom e h a via receb ido u m for te es t ím u lo. O s ilên cio era tota l, a té qu e Pedro olh a pa ra J oã o e pergu n ta : - Tu vis te o m om en to qu e J u da s s a iu da m es a e m in u tos depois voltou com u m s a co de m oeda s pen du ra do n a ves te? Repa ra s te ta m bém qu e ele es ta va in qu ieto a pós o retorn o? Com o s erá qu e ele ga n h ou a qu ela s m oeda s ? In es pera da m en te (com o s e t ives s e es cu ta do o com en tá r io), Sa lva dor , com u m tom m ela n cólico, vira p a ra J u da s e pergu n ta : - E tu J u da s , o qu e achastes do sonho?

Page 119: Antologia   livro

Anaximandro Amorim

O TELEFONEMA

Pedro encontrou a namorada em prantos. - O que foi amor? - Quem é essa Janaina? - Quem? Indagou, confuso. A moça não se deixou abater: - Nã o s e fa ça de bobo. Diga , qu em é es s a ta l de

Janaina? - Ma s eu n ã o con h eço n en h u m a J a n a in a !

excla m ou o ra pa z, des es pera do. Olh ou p a ra a n a m ora da : a m oça es ta va com a s têm pora s verm elh a s ; pa recia h a ver ch ora do u m r io e, ofegante, agora soltava fogo pelas ventas.

- Ligou pa ra você a in da a gora u m a ta l de J a n a in a . Deixou reca do e tu do m a is . Vozin h a m ole, jeit in h o de oferecida.

O ra pa z n ã o pod ia a cred ita r ! Aqu ilo era u m com plô con tra ele. Qu em p oder ia s er? Algu m ex-namorado dela ? Um a vizin h a en ca lh a da , qu e t in h a in veja do n a m oro deles ? Ou s er ia a lgu m colega do fu tebolzin h o de todos os fin s de s em a n a , qu eren do colocá -lo em m a u s len çóis ? Só porqu e ele era o a r t ilh eiro do t im e, d is pa ra do. Aqu ilo s ó pod ia s er armação!

- Ma s a m or! Eu já d is s e qu e n ã o con h eço n en h u m a J a n a in a ! Você tem qu e a cred ita r em m im , ben zin h o!

dis s e, e foi de a ch ega n do à n a m ora da , qu e o repu ls ou , es t ica n do o braço. E, com o semblante em riste, sentenciou:

- Está tudo acabado, Pedro! Tudo acabado entre nós! - Ma s com o, com o m eu a m or? E todos es s es a n os

juntos? E os nossos planos? - Nã o vou fica r d ivid in do você com n in gu ém . Term in ou .

Chega! A n a m ora da era du ra n a qu eda ! Ciu m en ta , b r iga va por

qu a lqu er cois a . Era gen ios a , t in h os a , qu a n do s e decid ia , n ã o h a via qu em a con ven ces s e. Ele teve en tã o u m a idéia , u m t iro de misericórdia.

- Es tá bem ! Você fa lou qu e es s a ta l d e J a n a in a a ca bou de me ligar, não é? Foi o último número?

E a namorada só balançou a cabeça, fazendo que sim. - Então escute só.

Page 120: Antologia   livro

Tirou o fon e do ga n ch o e a per tou u m b otã o qu e d is cou ,

a u tom a t ica m en te, o n ú m ero gra va do n a m em ória . Seja lá o quem fosse, ouviria umas boas.

Uma voz de criança atendeu, ingênua: - Alô? - Es cu ta a qu i? Qu em é você p ra fica r liga n do p ra m in h a

namorada, hein? Sua sirigaita... e despejou cobras e lagartos n o in fa n te qu e, m u do, n ã o h a via a p ren d ido s equ er m eia dú zia das palavras que o rapaz despejou em seus ouvidos.

Exa s pera do, Pedro, pa ra term in a r , ba teu o telefon e, dando à sua peroração um ar de gran d fin ale . A namorada, do s eu la do, des fez a t rom ba . Um a r de ca n du ra tom ou con ta do seu semblante. Parecia tê-lo conhecido pela primeira vez.

- Eu s a b ia qu e você n ã o t in h a feito n a da de erra do. - e jogou-s e n os b ra ços do n a m ora do, im p lorando:- Des cu lpe-me, desculpe-me.

- O que é isso, amorzinho! Não precisa se desculpar. - Nã o, p recis o s im ! O qu e eu pos s o fa zer pa ra con s er ta r

meu erro? - Bem... Ficou boa zin h a por m u ito tem po, a ceita n do a té o

fu tebolzin h o depois do h orá r io e a s s a ída s com os a m igos , todos os fin s de s em a n a ; Um d ia , porém , res olveu m a n da r tu do pa ra a s fa va s . Foi qu a n do u m a ta l de Ma rcela deixou reca do pa ra Pedro qu e, des es pera do, ligou de volta pa ra o n ú m ero, a gin do da m es m a form a . Tu do s e res olveu e, em t roca , ele con t in u ou com s eu fu tebol e s u a s s a ída s com os a m igos . E a s s im ela foi leva n do s em n u n ca en ten der por qu e ta n ta s m u lh eres p rocu ra va m por ele, por en ga n o, ju s to quando voltavam a brigar.

Page 121: Antologia   livro

Ezequias Miller

MULHERES

Algu m a vez você já ten tou en ten der a s m u lh eres ? Se a res pos ta foi s im , a ch o qu e n a qu ele m om en to a in s en s a tez tom ou con ta de você. E s e você con t in u a s s e eu d ir ia com o u m n ã o en ten dedor de m u lh eres qu e você con t in u a r ia s em entendê-la s . E s e fos s e o ca s o, a lgu m a s pes s oa s o in tern a r ia em u m a clín ica pa ra cu ra r o ou os t ra u m a s qu e es s e n ã o-en ten d im en to poder ia m lh e ca u s a r . Qu a n do bu s ca m os en ten der m u lh eres s ign ifica qu e n ã o es ta m os p repa ra dos pa ra tê-la s . Is to é fa to. É m a is fá cil s e perder n o en ten d im en to do qu e n o n ã o-en ten d im en to. As m u lh eres n ã o s ã o de ou tro planeta. Os homens também não. Eles vivem trocando olhares o tem po todo. Olh e pa ra u m a m u lh er n o ôn ibu s . Qu a n do ela olh a pa ra você, pode n ã o s ign ifica r a qu ilo qu e você qu er rea lm en te en ten der . E la pode es ta r te a ch a n do bon ito dem a is ou feio dem a is . E la pode a ch a r a s u a rou pa m a ra vilh os a ou n ã o. Ela pode qu erer n a m ora r com você ou n ã o. Pode qu erer fa zer s exo com você ou n ã o. Pode qu erer te ven der a lgu m a cois a ou n ã o. Pode te s edu zir ou n ã o, m u ita s vezes depois da s edu çã o vem o n ã o, o n ã o s e en trega r , o n ã o n a m ora r , o n ã o casar o não viver ao seu lado. Ela pode estar fazendo isso para s a t is fa zer o p rópr io ego. Ela pode ta n ta cois a qu e eu n ã o en ten do. Aí es tá a ch a ve. O n ã o en ten d im en to. O n ã o en ten d im en to pode n os fa zer a ceita r a s cois a s com o s ã o. Ou pode n os leva r a lou cu ra , s im p les m en te por n ã o en ten derm os . Ma s é u m a lou cu ra s ã . Is s o eu a ch o. Ma s exis te lou cu ra s ã ? Loucos são loucos e são tratados como loucos.

Mu lh eres s ã o de vid ro, de pa pel, de m eta l, de á gu a , de ped ra , de fogo, de ar, de cores e muito mais, pois para mim todas são n a tu ra is . E o qu e é n a tu ra l n ã o tem de s er com preen d ido. Tem de s er a ceito, s ó is s o. Tem de s er a ceito. Qu a n do aceitamos algo, esse algo pode nos tornar agradável. E assim é fá cil des eja -lo. E o des ejo é a lgo orgâ n ico? Sim , por qu e n ã o. Ma s o des ejo pode s er a lgo m a is do qu e orgâ n ico. Pode s er m á gico. Acred ito qu e é m á gico. Há a lgo de m á gico s im . En tã o a s m u lh eres s ã o m á gica s . Má gica s por n a tu reza . É a lgo qu e é mágico é indesvendável. Portanto se elas são, elas apenas são. Não precisamos compreende-las. Pois mágica é mágica.

Page 122: Antologia   livro

Entendeu as mulheres?

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Marcelo dos Santos Netto

VAI VER QUE S IM

Lem bro da ú lt im a vez qu e m in h a m ã e ten tou s er in ven t iva . Pa s s ei u m a ra iva da qu ela s ; m a s ta m bém s en t i pen a . Foi a s s im qu e a p ren d i: o ca s a m en to é u m a in ven çã o do s ilên cio. Os bichos assim unidos querem apenas se ignorar em paz, até qu e a m or te os s epa re ou tra vez. Ap es a r d is s o, m in h a m ã e es ta va s em pre in ven ta n do. E s ó des is t iu n es s e d ia t r is te, qu a n do en fim pa s s ou da con ta . O qu e ter ia a in s p ira do? Imaginei que o tempo me faria entender. E realmente fez. Na qu ela m a n h ã , m in h a t ia m os trou a ela u m a m á qu in a a botoa dora . Com u m golpe de a la va n ca , botões de p res s ã o s e a ga rra va m a o tecido qu e fos s e. Lem bro qu e a m a rca do a pa relh o era a lgo com o Vigoreli . Ch a m a va m o m odelo de Robô , porqu e os robôs pa recia m s er a s olu çã o pa ra tu do

naquela época. An tes da Vigoreli, os botões t in h a m de s er cos tu ra dos e a s roupas, caseadas. Dava muito trabalho. Não havia mulher que gos ta s s e de ca s ea r

s em con ta r qu e era m u ito ch a to en s in a r os filh os a a botoa rem a s p rópr ia s rou pa s . Foi por is s o qu e m in h a m ã e s e en ca n tou com a ta l m á qu in a . Ma s s e en ca n tou ta n to, qu e perdeu a ta rde in teira fa zen do u m a rou pa m u ito feia pa ra m im

lis tra da e cin zen ta , de u m m a u gos to terrível. Ma s is s o n ã o a in com oda va . Pa ra ela , cos tu ra r era com o a s s in a r a lgo do qu a l s e d izia fu i eu qu e fiz . Sozin h a . E p rega r aqueles botões seria um ritual de alforria, de emancipação. Por con ta d is s o, t ive de fica r u m bom tem po pa ra do, feito manequim de verda de. Ou de m en t ira

com o m en in o, n u n ca t ive voca çã o pa ra a beleza . Hoje em d ia , ten h o cer teza de qu e m in h a m ã e n ã o cos tu ra va pa ra m im . Ma s es ta va tã o a cos tu m a da a fa zer tu do pa ra os ou tros

cozin h a r e pa s s a r e limpar , qu e term in ou s e es qu ecen do do óbvio: cos tu ra r pa ra si mesma. Term in a d o o s erviço, m in h a m ã e pa recia feliz. Ch ega n do em ca s a , m eu pa i qu is s a ber o m otivo da qu ela fes ta . E la o levou a o m eu qu a r to, on de h a via m e es con d ido den tro do gu a rda -rou pa . Ta -dá ! , ca n ta rolou , revela n do-m e en tã o. Qu e surpresa ingrata. Papai levou a mão à testa. Que roupa horrível é essa? Tira o menino desse trapo agora!

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O m eu pa i, ele era de u m a a u tor ida de ú n ica . Um h om em s ólido e ob jet ivo, com o u m cód igo pen a l. A p res en ça dele s em pre m e in com odou . Afin a l, fu i u m ga roto d is ta n te, perd ido em u m m u n do de s ím bolos qu e fiz s ó pa ra m im . Ain da a s s im , fiqu ei feliz em cu m prir a ordem do m eu pa i. Aqu ela rou pa era mesmo triste. Depois daquele dia, minha mãe nunca mais tentou nada. Nem m es m o cor ta r o m eu ca belo, cois a qu e ela fa zia s em pre. E m u ito m a l. Sei qu e dever ia es ta r con ten te. Ma s n ã o m e a cos tu m ei a ta n ta pa z. Sen t i fa lta de gem er m e deixa ir em bora , eu qu ero é b r in ca r . Pode s er qu e eu ten h a en ten d ido a qu ilo com o u m des p rezo. Rea lm en te, ja m a is con s egu i fica r gra to pela in terven çã o do m eu pa i. Depois dela , é verda de qu e conheci alguma paz. Mas isso não vinha ao caso. Não sei onde li qu e a felicida de n ã o es tá a pen a s n o bem -es ta r . Tive de concordar, mesmo em segredo.

De qu a lqu er form a , eu es ta va fin a lm en te livre. Pod ia s a ir e ga s ta r o res to de m in h a s ta rdes ju n to a o Felipe. Pa ra fa la r a verda de, eu n ã o gos ta va m u ito dele, n ã o. Mes m o a s s im , eu o p rocu ra va . Nos s a b r in ca deira fa vor ita era a de b r iga r . Rolá va m os n a a reia da s con s tru ções fin gin do cen a de pa n ca da r ia , t ipo da qu eles film es de a çã o qu e p a s s a va m n a s n oites de s á ba do. E foi a s s im qu e com ecei a des con fia r de qu e Felipe gos ta va de m im . Mu ito. Ma s eu gos ta va m a is d a Mich ele. Só qu e o Felipe era m en in o, a s s im com o eu . Fa zia xixi de pé. Gos ta va de b r in ca r de gu erra . Br iga va e fica va rep rova do n a es cola . E com cer teza s a b ia m a is s ob re o qu e nós, meninos, gostamos. Pois é. Senti-me dividido.

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Gabriel Raposo

FIGUEIRA

Figu eira era u m ga roto im petu os o, s egu ro de s i! Con vivia com vá r ios a m igos . Leva u m ch oqu e a o s a ber qu e tu d o a qu ilo qu e s u a fa m ília pos s u íra n ã o era rea lida de, à m ed ida qu e n ã o lh e perm it ir ia con clu ir s eu s es tu dos m éd ios e da r p ros s egu im en to à h era n ça e a o en leva m en to da h is tór ia fa m ilia r . Figu eira , qu e s e a ch a va bon ito e s u per in teligen te, m a s n u n ca t in h a a r ra n ja do n a m ora da e, ta m pou co, boa s n ota s , porqu e s u a m en te era m a l com preen d ida , a ch a va m a s u a m ã e e ele, p repa ra va -s e pa ra o cu rs o de odon tologia numa grande universidade, pois sua mãe lhe encucara isso. Agora , com o n u m s opro de ven to repen t in o, ele s e en qu a dra va e rotu la va -s e; a fa lta de d in h eiro fizera transformá-lo n u m m en in o con fu n d ido, perd ido en tre a s m a is va r ia da s cla s s es n om ea da s . Cla s s es es s a s qu e n ã o m a is a s en xerga va com d is ta n cia m en to de s u perm en in o. E ou tra s , a qu ela s ($ ), qu e de tã o lon ge lh e a r rep ia va m os cabelos lisos.

Lem bra va ele de qu e u m d ia vivera a vida com o os verda deiros p la yboys . E s en t ira a n eces s ida de de con h ecer uma garota a sua altura. Há mister de bom garbo e imbuída de toda uma elegância finda, a que fora costumado. Não era de es pera r -s e ou tra cois a , da do qu e, com u m a edu ca çã o da qu ela s , tu do s e torn a r ia o m a is leve s op ro de a gra do pa ra aquele corpo bem acostumado.

Com pleta va u m a ida de de res pon s a b ilida de, e de p res en te ga n h a ra a verda de. Um a recepçã o de vida a du lta ? Comemora va a gora s eu des p ren d im en to com o pa s s a do, o qu a l n ã o lh e s ervira pa ra m a is n a da , a pen a s pa ra pa s s a do, lem bra n ça s por qu e, s eu rela xa n te n otu rn o, en tre s on h os rela xa va . E n o d ia -a -d ia corr ia a t rá s com s u a s per ipécia s imaturas.

Ficou u m s u jeito qu e ja z ta citu rn o, m or ibu n do e va d io. Des ilu d ido e in s a t is feito. Por qu ê? Exp lico! Pres o n u m n ovo s etor de h u m a n os , u m a cla s s e m éd ia ilu d ida qu e s e a ch a va em posição. Não há mulher que o suporte para com as suas

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exigên cia s (n u n ca declin a da s à s s u a s pa rceira s ) n em o s a t is fa ça , a n ã o s er , a s m u ito fin a s , a s qu a is de vez em vez o percebem gra ça s à s u n h a s s u ja s de pom a da , n o pos to de ga s olin a on de t ra ba lh a . Pom a da qu e com m u ito es forço ele s e d ign a va a com pra r pa ra a m en iza r s eu s p rob lem a s psíquicos pu lu la va m n a pele. Sem força pa ra m a n ter u m a pos tu ra , ele torn a -s e a gora u m in d ivídu o a pá t ico: n ã o r i, n ã o ch ora , n ã o ca n ta , n ã o tem a m igos n em rea ções d e s en t im en to. Sem pre evita va qu a lqu er con ta cto com os pa ren tes , pou cos , m a s s em pre a ten tos à s u a vida , o qu e m u ito o ir r ita va . Fizera u m m u ito pa ra s er es qu ecido, m a s qu a lqu er con du ta ch a m a va à a ten çã o de s eu s fa m ilia res ; a té m es m o pen s a ra em s u icíd io, a to qu e ele ren ega va , da do qu e u m a cois a des s a s t ra r ia toda a ten çã o dos pa ren tes , n o m ín im o! Fica va en tã o ten ta n do m orrer em vida , n ã o dem on s tra va n en h u m a expres s ã o fa cia l, s em pre de ros to qu ieto. Pen s a va em a rra n ja r u m a m u lh er s em m odos ? m a s qu e ju n tos a ju da r ia m u m a o ou tro? n u n ca ! O qu e ele ter ia de bom a oferecer a ela s em d in h eiro!? Su a edu ca çã o n ã o o perm it ia . E ten ta r fa zer u m cu rs o u n ivers itá r io qu e repu ta va ba ixo, ele, n u n ca ! Tin h a feito a m igos n a in fâ n cia , r icos e eru d itos , e n a h ipótes e de reen con trá -los todos bem de vida , p refer ia t ra ba lh a r n u m pos to do s u bú rb io, econ om iza n do u m res to de d in h eiro, n a es pera n ça de com u m d in h eiro la u to poder retom a r s u a in fâ n cia de m en t ira . Em tu do, s er es qu ecido e a com pa n h a r a vitór ia dos ou tros eram suas grandes e únicas diversões.

Lá ia Figueira. Mudara-se para uma cidade do interior fria. As s im , de ca s a cos ele s e s u m ia . Pa ra ir a o t ra ba lh o era s em pre pon tu a l, n u n ca h a via s ido recla m a do ou recla m a r a lgo a s eu ch efe lembre-s e de qu e n ã o ch a m a r a a ten çã o alheia fazia parte, agora, do escopo de sua vida.

Nu m a cr is e econ ôm ica , Figu eira teve de s er dem it ido, e com is s o, logo pen s ou em toda s a s econ om ia s qu e t in h a feito. As u s a r ia pa ra fin a n cia r u m p rojeto, n ã o! Pa ra pa ga r a s con ta s de ca s a e s ob reviver , n ã o! Tu d o era m u ito in cer to, com u m a cr is e des s a s , n ã o s e s a be qu a n do ir ia a ca ba r . E Figu eira pegou todo o d in h eiro, colocou -o n u m s a co, e pa r t iu em bora . Com três d ia s n os om bros , n ã o a gü en ta va de fom e, pen s ou em u s a r u m pou co do d in h eiro qu e a cu m u la ra pa ra fa zer u m la n ch ezin h o. Nã o! Se em três d ia s ele fra qu eja s s e. O qu e s er ia da s p róxim a s s em a n a s ? Firm e, fita va a vis ta

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n os ba ldes de lixo e execu ta ra o qu e pen s ou ..., pois t in h a u m a edu ca çã o a u s tera e d is cip lin a da . Pa s s a dos cin co m es es , o lixo e o es qu ecim en to fizera m de Figu eira u m m en d igo a com oda do. Agora já n ã o ga s ta va o d in h eiro em h ipótes e a lgu m a ; s en t ira -s e, com o n a in fâ n cia , r ico. Tinha u m m on ta n te de d in h eiro qu e in veja va m os ou tros (s e s ou bes s em ). Ma s repet ia s em pre em voz: qu e n ã o ga s ta o d in h eiro pa ra n ã o fica r pobre; e levou es s e vers o por cin co anos para junto dele ao túmulo.

E Figu eira m orreu , s os s ega do e s em rem ors os , n u m aciden te, qu e ele m es m o p rovoca ra , u m a ciden te perfeito de qu e n ã o h ou ves s e ch a n ce a lgu m a de s ob revivên cia ou deb ilita m en to. Do d in h eiro econ om iza do, ele deixou pa ra s eu irm ã o, o m a is n ovo, o qu a l ele a ch a ra ter u m a vida s em elh a n te à s u a , m a s com o porém dos s on h os da velh a m ã e s erem m a iores do qu e os s on h os da s cla s s es a lta s . Ah ! Ma s ele teve o cu ida do de o d in h eiro ch ega r à s m ã os de s u a m ã e, in cólu m e, ou s eja , n u n ca qu e ela cogita r ia ter vin do das mãos dele.

E morre Figueira, sem rastro de personalidade, sem história m a l con ta da , s em b r iga s , s epa ra ções e des a fetos . Com o o golpe de ven to repen t in o qu e levou ju n to com s eu s s on h os , s u a pers on a lida de, es pera n ça , e toda s a s pequ en a s peça s qu e com põem a vida h u m a n a . Va i-s e s em gra n des pom pa s , p r in cipa lm en te por n ã o ter con cret iza do os deva n eios da mãe ou dado continuidade ao passado que de tão belo enjoa e desagrada.

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