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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO - PUC-SP
ANTONIO MENDES FEITOSA JNIOR
A NO INCIDNCIA DAS CONTRIBUIES PREVIDENCIRIAS, SOBRE AS
VERBAS DE CARTER INDENIZATRIO: Conceitos e Definies de
Remunerao
MESTRADO EM DIREITO TRIBUTRIO
SO PAULO
2014
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO - PUC-SP
ANTONIO MENDES FEITOSA JNIOR
A NO INCIDNCIA DAS CONTRIBUIES PREVIDENCIRIAS, SOBRE AS
VERBAS DE CARTER INDENIZATRIO: Conceitos e Definies de
Remunerao
Dissertao apresentada BancaExaminadora da Pontifcia UniversidadeCatlica de So Paulo, como exignciaparcial para obteno do ttulo de Mestreem Direito do Estado (Direito Tributrio).
Orientadora: Profa. Dra. Fabiana DelPadre Tom
So Paulo
2014
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Banca Examinadora
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O jurista o ponto de interseo da
teoria e da prtica, da cincia e da
experincia.
Lourival Vilanova
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minha esposa, Marina; minha
filha, Mariana, com todo o meu amor.
Aos meus familiares.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo minha esposa, Marina Pinheiro Torres Feitosa, pelo estmuloconstante, pela compreenso e amor incondicional, consolidados por nossa princesa
Mariana; tenho certeza que nossa filha vir cercada de amor e carinho.
Aos meus pais, Antonio e Francisca, por tudo que eu sou hoje, e pelo que
representam na minha vida. Minha eterna admirao, gratido e amor.
Aos meus irmos, Marcos e Nelson, por nossa unio, amizade e
cumplicidade. minha sogra, urea, Cassia e ao Rafael, por tambm fazerem parte da
minha famlia; considero-os minha segunda famlia.
Ao meu amigo de So Paulo, Galderise, amizade construda desde os tempos
do Cogeae; fico feliz que hoje avanamos bastante nos estudos do Direito Tributrio.
Aos meus colegas do Mestrado, pelos longos debates que permitiram melhor
compreenso do Direito Tributrio.
Ao pessoal do Escritrio, nossa Equipe de trabalho formada pela Wylderlene,
Fabrcia e Maria, aos advogados Nogueira e Daniel, meu irmo Marcos, e os
estagirios Lucas e Rafael, alm do Robert e Cludio, no qual agradeo a eles pela
ajuda nas consultas importantssimas para a concluso deste trabalho.
minha orientadora, Profa. Dra. Fabiana Del Padre Tom, por sempre ter
acreditado em mim, e por tudo o que seu exemplo representa em minha formao
acadmica.
Aos meus professores do Curso de Mestrado, Paulo de Barros Carvalho,
Roque Antonio Carrazza, Renato Lopes Becho, Robson Maia, por seus valiosos
ensinamentos e estmulo reflexo.
Ao professor Paulo de Barros Carvalho, condio necessria do Direito
Tributrio brasileiro.
Por fim, seguem meus agradecimentos Pontifcia Universidade Catlica de
So Paulo, pela oportunidade de aprendizagem nos estudosdo Direito Tributrio.
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JNIOR, Antonio Mendes Feitosa. A no incidncia das contribuiesprevidencirias, sobre as verbas de carter indenizatrio: conceitos e definiesde remunerao. 2014. Dissertao (Mestrado em Direito do Estado) PontifciaUniversidade Catlica de So Paulo-PUC-SP, So Paulo.
RESUMO
O presente trabalho trata da no incidncia das contribuies previdencirias sobre
as verbas de carter indenizatrio. Buscamos estudar o que o fisco tem feito para
englobar essas verbas indenizatrias na base de clculo da contribuio sobre afolha de salrio; vimos definies e conceitos de salrio e remunerao, sempre
argumentando pela inconstitucionalidade da no incidncia destas verbas sobre a
base de clculo deste tipo de contribuio social, sem esquecermo-nos de analisar
todos os preceitos e estudos da linguagem e das espcies tributrias. Fundamento
basilar para o estudo realizado.
Palavras-chaves: No incidncia. Contribuies previdencirias. Verbas
indenizatrias. Conceitos e definies de remunerao.
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ABSTRACT
This paper deals with the non-social security tax on indemnities. We seek to studywhat the IRS has done to encompass these indemnifications in the calculation of the
levy on the payroll, saw definitions and concepts of wage and salary always arguing
the unconstitutionality of no impact of these funds on the basis of such calculation
social contribution, without forgetting to analyze all the precepts and language
studies and tax species. Fundamental basis for the study.
Keywords: Irrelevant. Social security contributions. Indemnifications. Concepts and
definitions of remuneration.
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SUMRIO
INTRODUO ...................................................................................................... 13
CAPTULO I DIREITO, CONHECIMENTO, REALIDADE E MTODO ................ 16
1.1 Giro Lingustico: Novo Paradigma Filosfico ............................................. 16
1.2 Conhecimento, Realidade e Verdade ........................................................... 18
1.3 Autorreferncia da Linguagem ..................................................................... 22
1.4 Conceito de Direito ........................................................................................ 22
1.5 O Carter Construtivista do Direito ............................................................. 24
1.6 Mtodo: Constructivismo Lgico e Semntico .......................................... 26
CAPTULO II NORMA JURDICA E REGRA MATRIZ DE INCIDNCIATRIBUTRIA DAS CONTRIBUIES PREVIDENCIRIAS ............................... 28
2.1 Norma Jurdica ............................................................................................... 28
2.2 Norma Jurdica: Juzo Hipottico-Condicional ........................................... 31
2.2.1 Uniformidade sinttica e heterogeneidade semntica das normasjurdicas ............................................................................................ 34
2.2.2 Normas gerais e abstratas, individuais e concretas e processode positivao do direito ................................................................... 35
2.3 Norma Jurdica Tributria: Regra Matriz de Incidncia Tributriadas Contribuies Previdencirias ......................................................... 38
2.3.1 Antecedente da regra matriz de incidncia tributria dascontribuies previdencirias ........................................................... 40
2.3.1.1 Critrio material ................................................................... 422.3.1.2 Critrio espacial ................................................................... 432.3.1.3 Critrio temporal .................................................................. 43
2.3.2 Consequente da regra matriz de incidncia tributria dasContribuies Previdencirias .......................................................... 44
2.3.2.1 Critrio pessoal .................................................................... 452.3.2.2 Critrio quantitativo .............................................................. 46
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CAPTULO III CLASSIFICAO DAS ESPCIES TRIBUTRIAS E REGIMEJURDICO DAS CONTRIBUIES PREVIDENCIRIAS .................................... 48
3.1 Conceito de Tributo .................................................................................. 48
3.2 Consideraes sobre o Ato de Classificar ............................................. 50
3.3 Doutrina e Classificao dos Tributos .................................................... 51
3.3.1 Classificao dos tributos em trs espcies (classificaointranormativa das espcies tributrias) ........................................... 51
3.3.1.1 Inconvenientes da classificao intranormativa .................. 52
3.3.2 Classificao dos tributos em cinco espcies (classificaointernormativa das espcies tributrias) .......................................... 54
3.4 Espcies Tributrias segundo Classificao Internormativa ............... 55
3.5 Subespcies de Contribuies Previstas no Texto Constitucional............ 57
3.5.1 Contribuies sociais ....................................................................... 59
3.5.1.1 Contribuies previdencirias e a evoluo da legislaoaplicvel ............................................................................... 61
CAPTULO IV CONCEITOS E DEFINIES DE REMUNERAO ................... 67
4.1 Movimento do Neopositivismo Lgico Semntico ................................ 67
4.2 Influncia do Neopositivismo Para Construo do Conhecimento ..... 68
4.2.1 Grande influncia do Neopositivismo para o direito, o rigorsinttico ........................................................................................... 69
4.3 Diferenas Entre Conceitos e Definies ............................................... 71
4.4 Conceitos e Definies de Remunerao............................................... 73
4.4.1 Conceito e definio sobre salrio ................................................... 76
4.4.2 Conceitos e definies sobre o carter indenizatrio do salrio ...... 79
CAPTULO V CRITRIO MATERIAL DAS CONTRIBUIES
PREVIDENCIRIAS: SALRIO OU REMUNERAO? ..................................... 83
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5.1 Competncia Tributria e Limites ConstitucionalmenteEstabelecidos ............................................................................................ 83
5.2 Norma de Competncia Tributria .......................................................... 85
5.2.1 Papel da norma de competncia na conformao da regra matrizde incidncia tributria ..................................................................... 86
5.2.2 Consequente da norma de competncia das ContribuiesPrevidencirias: enunciado de autorizao materialidade ............ 88
5.2.2.1 Pressupostos de salrio e remunerao na legislaoptria .................................................................................... 89
5.3 Novo Critrio Material das Contribuies Previdencirias, a
Incidncia sobre o Faturamento .............................................................. 94
5.4 Critrio Material Exigido pelo Legislador na Base de Clculo dasContribuies Previdencirias sobre as Verbas de CarterIndenizatrio, Salrio ou Remunerao.................................................. 96
CAPTULO VI A NO INCIDNCIA DAS CONTRIBUIESPREVIDENCIRIAS SOBRE AS VERBAS DE CARTER INDENIZATRIO .... 98
6.1 Ditames Constitucionais e Legais Acerca da Incidncia dasContribuies Previdencirias Sobre a Folha de Salrio ................................ 98
6.2 A Natureza Jurdica das Verbas Trabalhistas: Inconstitucionalidadese Ilegalidades ....................................................................................................... 100
6.2.1 Hora Extra .......................................................................................... 101
6.2.2 Adicional Noturno ............................................................................... 102
6.2.3 Adicional de Insalubridade ................................................................. 103
6.2.4 Adicional de Periculosidade ............................................................... 104
6.2.5 Salrio-Maternidade ........................................................................... 105
6.2.6 Tero Constitucional de Frias e Frias Indenizadas ........................ 106
6.2.7 Salrio Famlia ................................................................................... 107
6.2.8 Aviso Prvio ....................................................................................... 108
6.2.9 Auxlio-Educao ............................................................................... 109
6.2.10 Auxlio-Doena ................................................................................. 110
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6.2.11 Auxlio-Creche.................................................................................. 111
6.3 As Limitaes da Incidncia das Contribuies Previdencirias Sobre
as Verbas de Carter Indenizatrio, Da No Amplitude da Definio deRemunerao ....................................................................................................... 112
CONSIDERAES FINAIS .................................................................................. 114
REFERNCIAS ..................................................................................................... 124
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INTRODUO
A Constituio Federal, por meio do artigo 195,1 outorgou Unio acompetncia para tributar o empregador e o empregado. A base de clculo da
exao consiste na folha de salrio e nos demais rendimentos do trabalho. Para o
exerccio dessa competncia, est determinada a edio de lei ordinria como nico
veculo hbil instituio de tributo, consoante o artigo 150 do seu texto.
No exerccio de sua competncia Constitucional, a Unio instituiu
Contribuio Social, nos limites estabelecidos pelo Artigo 195 da Lei Maior, por meio
da Lei 8.212/95. Prev a legislao que a seguridade social ser financiada por todaa sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos oramentos da Unio, dos Estados, do Distrito federal e dos
Municpios.
A Unio, por meio deste embasamento legal, vem realizando esta cobrana
Constitucionalmente permitida; porm ao cobrar tal exao, o fisco vem distorcendo
o real conceito de remunerao, incidindo essa contribuio ao salrio integral,
independente de ser carter extraordinrio, indenizatrio ou mesmo benefcios no
habituais.
Em outras palavras, com base em uma anlise sistemtica do nosso
ordenamento jurdico, em especial das normas que compem o sistema
constitucional tributrio, possvel a Unio, no exerccio de sua competncia,
instituir na base de clculo das Contribuies Sociais a Folha de salrio, incluindo as
verbas de carter indenizatrio? possvel determinar o real conceito de
Remunerao para a incluso ou no dessas verbas indenizatrias na base de
clculo das Contribuies Sociais?
A ttulo de exemplo, a Receita Federal do Brasil est cobrando na base de
clculo das contribuies previdencirias verbas indenizatrias, como podemos ver,
por exemplo, no auxlio doena, auxlio creche, aviso prvio indenizado, frias e 1/3
de frias.
Seria justo e cabvel o Fisco delimitar um entendimento consolidado do que
1Art. 195. A seguridade social ser financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,
nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos oramentos da Unio, dos Estados, doI - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:a) a folha de salrios e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer ttulo, pessoa fsica que lhe preste servio, mesmo sem vnculo empregatcio.
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integra ou no a folha de salrio. A Constituio Federal em seu artigo 195, I alnea
a, determina que o empregador e a empresa devem arcar com a folha de salrio e
demais rendimentos do trabalho; mas o legislador Constitucional no delimitou
especificamente o que deve integrar ou no. Gerando uma interpretao
tendenciosa pelo fisco com o motivo de maior arrecadao.Deste modo, o presente trabalho trata da no incidncia das contribuies
previdencirias sobre as verbas de carter indenizatrio. Buscamos estudar o que o
fisco tem feito para englobar essas verbas indenizatrias na base de clculo da
contribuio sobre a folha de salrio; vimos definies e conceitos de salrio e
remunerao, sempre argumentando pela inconstitucionalidade da no incidncia
destas verbas sobre a base de clculo deste tipo de contribuio social, semesquecermo-nos de analisar todos os preceitos e estudos da linguagem e das
espcies tributrias. Fundamento basilar para o estudo realizado.
Para construir esta Dissertao, o texto foi estruturado da seguinte forma: 1
Introduo, na qual discorremos sobre Direito, Conhecimento, Realidade e Mtodo -
giro lingustico: novo paradigma filosfico; Autorreferncia da linguagem; Conceito
de Direito; O carter construtivista do Direito; Mtodo: construtivismo lgico e
semntico. 2 Norma Jurdica e Regra Matriz de Incidncia Tributria dasContribuies Previdencirias. Aqui foram abordados os seguintes tpicos: Norma
jurdica; Norma jurdica: juzo hipottico-condicional; Norma Jurdica Tributria: regra
matriz de incidncia tributria das contribuies previdencirias, entre outros tpicos
que complementam este captulo. 3 Classificao das Espcies Tributrias e
Regime Jurdico das Contribuies Previdencirias. Neste captulo, foram
apresentados: Conceito de tributo; Consideraes sobre o ato de classificar;
Doutrina e classificao dos tributos; Espcies tributrias segundo classificaointernormativa; Subespcies de contribuies previstas no texto constitucional. 4
Conceitos e Definies de Remunerao. Neste captulo, discutiu-se sobre:
Movimento do neopositivismo lgico semntico; Influncia do neopositivismo para
construo do conhecimento; Diferenas entre conceitos e definies; Conceitos e
definies de remunerao. 5 Critrio Material das Contribuies Previdencirias:
salrio ou remunerao? Neste captulo, foi realizada a seguinte abordagem:
Competncia tributria e limites constitucionalmente estabelecidos; Norma de
competncia tributria; Novo critrio material das contribuies previdencirias, a
incidncia sobre o faturamento, entre outros. 6A No Incidncia das Contribuies
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Previdencirias sobre as Verbas de Carter Indenizatrio. Neste, discorreu-se
acerca dos Ditames constitucionais e legais acerca da incidncia das contribuies
previdencirias sobre a folha de salrio; A natureza jurdica das verbas trabalhistas:
inconstitucionalidades e ilegalidades; As limitaes da incidncia das contribuies
previdencirias sobre as verbas de carter indenizatrio, da no amplitude da
definio de remunerao. 7 Consideraes Finais. Por fim, as Referncias, que
constituram a base terica fundamental para respaldar o presente trabalho.
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1 DIREITO, CONHECIMENTO, REALIDADE E MTODO
1.1 Giro Lingustico: Novo Paradigma Filosfico
Podemos considerar o giro-lingustico como uma corrente filosfica que foi
responsvel pelo novo paradigma no estudo da linguagem. Antes dessa corrente, a
linguagem no era considerada condio do conhecimento, mas vista como
instrumento de representao da realidade. O conhecimento era visto como uma
relao entre sujeito e objeto. A partir do giro-lingustico o conhecer a linguagem
passou a ser condio primeira para a apreenso do objeto, no h uma
correspondncia entre a linguagem e o objeto, haja vista este ser produto dela; a
linguagem nessa concepo passa a ser pressuposto primordial para o
conhecimento.
Nesta perspectiva, a interpretao possui ntima relao com a realidade
medida que esta corresponde a uma interpretao, a um sentido atribudo aos dados
brutos que nos so sensorialmente perceptveis. Nesse sentido, temos importante
esclarecimento trazido por Aurora Tomazini:
Na verdade, o que conhecemos so construes lingusticas(interpretaes) que se reportam a outras construes lingusticas(interpretaes), todas elas condicionadas ao contexto socioculturalconstitudo por uma lngua. Neste sentido, o objeto do conhecimentono so as coisas em si, mas as proposies que as descrevem,porque delas decorre a prpria existncia dos objetos2
Seguindo essa linha de raciocnio, podemos concluir que no mais h espao
para verdades absolutas; desse modo, podemos afirmar que a correspondncia no
se d entre um termo e a coisa, mas entre um termo e outros, ou seja, entre a
prpria linguagem. O que conhecemos como mundo corresponde a uma construo
interpretao, a qual condicionada culturalmente, e, por isso, no possui o
condo de refletir a coisa tal qual ela livre de qualquer influncia ideolgica. O giro
lingustico traz a noo que os objetos apenas se tornam reais depois de terem sido
interpretados; o real dessa forma uma construo de sentido a qual ocorre no
universo lingustico.
2 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do Direito: o construtivismo lgico-semntico. So Paulo: Noeses, 2009. p.14
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Para que se possa discutir acerca de conhecimento, realidade e mtodo e
relacion-los ao Direito, faz-se necessrio analisar o movimento filosfico do giro
lingustico, o qual surge como proposta de superao da filosofia da conscincia.3
As conquistas do giro fazem sentir-se em todos os quadrantes daexistncia humana. Ali onde houver o fenmeno do conhecimentoestaro interessados, como fatores essenciais, o sujeito, o objeto, e apossibilidade de o sujeito captar, ainda, que a seu modo, a realidadedesse objeto. Reflexes desse gnero conduziram o pensamento auma desconstruo da verdade objetiva e a correspondente tomadade conscincia dos limites intrnsecos do ser humano, com asubsequente runa do modelo cientfico representado por mtodosaplicveis aos mltiplos setores da experincia fsica e social.Plantado no princpio de autorreferencialidade da linguagem, eis a
assuno do movimento do giro lingustico.
De acordo com a filosofia da conscincia, a linguagem era vista como simples
instrumento entre o sujeito e o objeto do conhecimento, sendo a verdade resultado
da correspondncia entre a proposio lingustica e o objeto referido.
Com a apario do movimento do giro lingustico, somente a linguagem
apta a construir a realidade; pois, para se conhecer qualquer objeto do mundo
concreto, faz-se mister a produo de linguagem. Sem ela jamais se chegaria ao
conhecimento da realidade circundante.Com efeito, a linguagem deixa de ser concebida como mero instrumento que
ligaria o sujeito ao objeto do conhecimento, convertendo em lxico capaz de criar
tanto o ser cognoscente como a realidade.4
O homem utiliza-se de signos convencionados linguisticamente paradar sentido aos dados sensoriais que lhes so perceptveis. Arelao entre tais smbolos e o que eles representam construdaartificialmente por uma comunidade lingustica. As coisas do mundo
no tm um sentido ontolgico. o homem quem d significado scoisas quando constri a relao entre uma palavra e aquilo que elarepresenta, associando-a a outras palavras que, juntas, formam suadefinio.
Logo, a linguagem no descreve a realidade, mas a constri. A linguagem
no se presta somente a descrever a realidade, mas tambm a alter-la e a criar
novas realidades. As frases ou segmentos lingusticos que servem para descrever o
3CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributrio, linguagem e mtodo.So Paulo: Noeses, 2008.p. 160.4 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do Direito: o construtivismo lgico-semntico. So Paulo: Noeses, 2009. p.14.
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estado de coisas so apenas uma das categorias possveis; portanto, seria uma
falcia ou uma ingenuidade propor que a linguagem verbal s tivesse essa funo, a
de descrever a realidade, apesar de os gramticos sempre terem afirmado que nem
todas as frases so sentenas declarativas.
Observa Manfredo Oliveira que no existe mundo totalmente independente da
linguagem, ou seja, impossvel filosofar sobre algo sem filosofar sobre a
linguagem. Isso porque a linguagem momento necessrio constitutivo de todo e
qualquer saber humano, de tal modo que a formulao de conhecimento
intersubjetivamente vlido exige reflexo sobre a infraestrutura da linguagem.5
Aurora Tomazini de Carvalho tambm compartilha desse entendimento:
conheo determinado objeto na medida em que posso expedir enunciados sobreele, de tal sorte que o conhecimento se apresenta pela linguagem, mediante
proposies descritivas ou indicativas.6
Assim, os objetos no precedem o discurso, mas surgem com ele, pois por
meio do seu emprego que o mundo circundante ganha significado. Contudo, a
significao do vocbulo no depende da relao com o objeto, mas do vnculo que
estabelece com outras palavras.
1.2 Conhecimento, Realidade e Verdade
Para Flusser (2004, p. 33-34), conhecimento, realidade e verdade so
aspectosda lngua; cincia e filosofia so pesquisasda lngua; religio e arte so
disciplinas criadoras da lngua. Tais afirmaes so baseadas na sabedoria dos
antepassados. Logo, a palavra o fundamento do mundo dos gregos pr-filosficos;
nama-rupa, a palavra-forma, o fundamento do mundo dos hindus pr-vedistas;
hachem hacadoch, o nome do santo, o deus dos judeus; e o Evangelho comea
dizendo que no comeo era o verbo.
A verdade uma construo lingustica, de tal modo que a lngua cria e
propaga a realidade, por isso Flusser afirma que a lngua:
[...] o instrumento mais perfeito que herdamos de nossos pais e emcujo aperfeioamento colaboram incontveis geraes desde a
5OLIVEIRA, Manfredo Arajo de. Reviravolta lingustico-pragmtica na filosofia contempornea.2. ed. So Paulo: Loyola, 2001. p.13.6CARVALHO, Aurora, op. cit., 2009, p.93.
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origem da humanidade, ou, talvez, at alm dessa origem. Elaencerra em si toda a sabedoria da raa humana. Ela nos liga aosnossos prximos e, atravs das idades, aos nossos antepassados.Ela , h um tempo, a mais antiga e a mais recente obra de arte,obra de arte majestosamente bela, porm sempre imperfeita. E cadaum de ns pode trabalhar essa obra, contribuindo, emboramodestamente, para aperfeioar-lhe a beleza. No ntimo sentimosque somos possudos por ela, que no somos ns que a formulamos,mas que ela que nos formula. Somos como que pequenos portes,pelos quais ela passa para depois continuar em seu avano rumo aodesconhecido. Mas, no momento de sua passagem pelo nossopequeno porto, sentimos poder utiliz-la. Podemos reagrupar oselementos da lngua, podemos formular e articular pensamentos.Graas a este nosso trabalho ela continuar enriquecida em seuavano.7
De acordo com o dicionrio Houaiss, o conceito clssico de verdade :Conjunto de formulaes e enunciados que mantm uma coerncia dedutiva interna,
uma perfeita concatenao lgica, a despeito da relao de harmonia ou dissonncia
cognitiva que possa estabelecer com os objetos da realidade extralingustica.8
Aparentemente, para se considerar algo como verdadeiro deve ocorrer a
correspondncia entre uma assero terica explicativa ou designativa realidade
factual investigada. Porm, para Vilm Flusser:
A verdade qualidade puramente formal e lingustica da frase,resultado das regras da lngua. Ela uma correspondncia entrefrases ou pensamentos, resultados das regras da lngua. A verdadeabsoluta, essa correspondncia entre lngua e algo que ela significa, to inarticulvel quanto a esse algo, sendo, portanto,incompreensvel.9
Existem frases e pensamentos certos (quando obedecem s regras da
respectiva lngua), como tambm h frases e pensamentos errados (quando no as
obedecem). A lngua que dispe de regras que governam as relaes entre frases.Uma frase (ou pensamento) verdadeira, em relao a outra frase, quando obedece
a essas regras, e falsa quando no as obedece.
Assim, a verdade no algo objetivo, mas sim decorrente das regras de
estrutura da lngua que constroem a realidade. Ela alcanada quando enunciados
de um mesmo discurso no so, entre si, contraditrios. Trek Moussalem assevera:
7FLUSSER, Vilem.Lngua e realidade. 2. ed. So Paulo: Annablume, 2004. p.33-34.8 HOUAISS, Antnio. Dicionrio eletrnico Houaiss da Lngua Portuguesa. Verso 2.0a. SoPaulo: Objetiva, 2007.9FLUSSER, Vilm. Lngua e realidade. 2. ed. So Paulo: Annablume, 2004. p.33-34.
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A verdade criada porque a linguagem independente da realidade.Basta recordarmos que o significado no mais a relao entre osuporte fsico e o objeto representado, mas, sim, entre o suportefsico e o objeto representado, mas, sim, entre as significaes desuportes fsicos, entre sentidos, entre linguagens. Explica-se umapalavra por outra palavra [...] a realidade constituda pelalinguagem que por sua vez cria a verdade, que somente por meio deoutro enunciado alterada.10
Tem-se, portanto, que a verdade, para o Direito, justamente aquilo que a
linguagem constitui segundo seus ditames, e no o que meramente se passou no
plano fsico-existencial.11 Isso significa que, por mais que Joo afirme que foi
roubado por Jos e v ao Judicirio pleitear sua priso sem as provas admitidas
pelo sistema jurdico que evidenciem a autoria do crime, para o direito, a verdade vaiser a inocncia de Jos. Da mesma forma, quando uma pessoa vem a bito sem
que seja expedido o seu devido atestado de morte: a verdade para o Direito que
ela nunca faleceu.
Todavia, a verdade pode ser alterada por outro enunciado lingustico que
constitua realidade diversa. justamente por isso que se afirma que h total
irrelevncia na tradicional classificao entre verdade material e verdade formal: no
Direito, toda verdade reduzir-se- formal, pois se trata de verdade dentro de um
determinado sistema de linguagem,12 ou seja, a verdade para o direito uma
caracterstica da linguagem jurdica, determinada segundo o vnculo estabelecido
entre o enunciado jurdico e a linguagem do direito positivo.
Por isso, conhecer saber emitir proposies sobre o objeto cognoscitivo.13
Porm, o conhecimento s pleno por meio da emisso de um juzo no qual o
homem d objetivao, por meio do emprego de uma linguagem, quelas
impresses e sensaes que teve ao entrar em contato com algo.14
Emprega-se o termo conhecimento pleno como sinnimo deconhecimento em sentido estrito, pois a partir de ento que podem
10MOUSSALEM, Trek Moyss. Fontes do Direito tributrio. 2. ed. So Paulo: Max Limonad, 2006.p.38.11 GAMA, Tcio Lacerda. Competncia tributria: fundamentos para uma teoria da nulidade. sopaulo: noeses, 2009. p.100.12 MOURA, Frederico Arajo Seabra de. Lei complementar tributria. So Paulo: Quartier Latin,2009. p. 38.13CARVALHO, Paulo de Barros. IPI: comentrios sobre as regras gerais de interpretao da tabelaNBM/SH (TIPI/TAB). Revista Dialtica de Direito Tributrio, So Paulo: Dialtica, n. 12, p. 42, set.
1996 categrico ao afirmar que conheo determinado objeto na medida em que posso expedirenunciados sobre ele, de tal arte que o conhecimento, neste caso, se manifesta pela linguagem,mediante proposies descritivas ou indicativas.14CARVALHO, Aurora, op. cit., 2009, p.9.
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ser submetidos a critrios de confirmao ou informao. Nestesentido o posicionamento de Aurora Tomazini ao afirmar quemediante as ideias temos um conhecimento rudimentar no mundo(conhecimento aqui empregado em acepo ampla), com o qualsomos capazes de identificar certos objetos no meio do caos desensaes. Com os atribumos caractersticas a estes objetos epassamos a conhecer suas propriedades definitrias, alcanamos,ento, o conhecimento em sentido estrito.
Esse ato de objetivao de natureza cultural, pois, segundo Miguel Reale,
tem o poder nomottico de converter em algo de objetivo o mundo das impresses
e dos estmulos subjetivos sensoriais e intelectivos, o que explica a possibilidade de
verificar-se a sintonia entre natureza e cultura.15
Logo, o que chega pela via dos sentidos um dado bruto que se torna realapenas no contexto da lngua, nica responsvel pela transformao do mundo
catico, que circunda o homem, em algo por ele compreensvel, que, por meio da
linguagem, o ordena e constitui em realidade.16
O mundo da vida, com as alteraes ocorridas no campo dasexperincias tangveis, submetido nossa intuio sensvel,naquele caos de sensaes a que se referiu Kant. O que sucedenesse domnio e no recolhido pela linguagem social no ingressano plano chamado de realidade, e, ao mesmo tempo, tudo que delefaz parte encontra sua forma de expresso nas organizaeslingusticas com que se comunica; exatamente porque todo oconhecimento redutor de dificuldades, reduzir as complexidades doobjeto da experincia uma necessidade inafastvel para se obter oprprio conhecimento.
O mundo no um conjunto de coisas que primeiro se apresentam e, depois,
so nomeadas ou representadas por uma linguagem. Isso que chamamos de mundo
nada mais que uma interpretao, sem a qual nada faria sentido.17
As palavras esto sempre ocupando o lugar da coisa em si, pois essa ltima inalcanvel. A significao de um vocbulo no depende da relao com o objeto
que se presta a representar, mas do vnculo que se estabelece com outras palavras.
Por isso, as palavras so os mecanismos utilizados para se chegar prximo
realidade, precedendo os objetos, criando-os, constituindo-os para o ser cognoscente.
Todo conhecimento decorre da compreenso que se tem acerca de algo,
mediante o estudo e reflexes da linguagem produzida sobre o objeto a ser
15REALE, Miguel. Cinco temas do culturalismo. So Paulo: Saraiva, 2000. p. 43-44.16CARVALHO, Paulo, de Barros. Curso de Direito tributrio. 20. ed. So Paulo: Saraiva, 2008. p.6-7.17TOM, Fabiana Del Padre. A prova no Direito tributrio. So Paulo: Noeses, 2005. p. 5.
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conhecido.
1.3 Autorreferncia da Linguagem
Na concepo do giro lingustico no h relao entre palavras e objetos, pois
a linguagem que os constitui. Toda linguagem fundamenta-se em outra linguagem,
ou seja, ela sempre se reporta a outra linguagem e no a outra coisa.
Isso decorre do fato de a linguagem prescindir de referenciais empricos, pois
ela prpria se mantm, construindo e desconstruindo suas realidades.
Neste sentido so os ensinamentos de Fabiana Tom, ao afirmar:
comum referirmo-nos as coisas que no percebemos diretamente ede que s temos notcias por meio de testemunhos alheios. Falamosde lugares que no visitamos, pessoas que no vimos e no veremos(como nossos antepassados e os vultos da Histria), de estrelasinvisveis a olho nu, de sons humanamente inaudveis (como os ques os ces percebem), e muitas outras situaes que no foram etalvez jamais sero observadas por ns. Referimo-nos, at mesmo, acoisas que no existem concretamente.18
Assim, somente um enunciado tem o poder de refutar outro, simplesmenteporque os objetos e os eventos no falam. Pluto h pouco tempo era considerado
um planeta, at que foi produzido um novo enunciado, sustentado por outras
proposies, e ele deixou de ser considerado um planeta.
Ao se seguir, no presente trabalho, a linha das teorias retricas em
contraposio s teorias ontolgicas, adotou-se o entendimento de que a linguagem
no tem outro fundamento, alm de si prpria, no existindo elementos externos,
nem podendo jamais um evento ir contra uma teoria, demonstrando sua
inadequao queles. Somente uma teoria refuta outra teoria (TOM, 2005a, p. 19).
Ressalta Moussallem (2006, p. 27) que os eventos no provam nada,
simplesmente porque no falam. Sempre uma linguagem dever resgat-los para
que eles efetivamente existam no universo humano. Os objetos no precedem o
discurso, mas nascem com ele, pois atravs dele que ganham significados.
1.4 Conceito de Direito
18Ibid., 2005, p. 18.
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O conceito de direito formado no intelecto em razo das formas de uso da
palavra no discurso, tendo em vista os referenciais culturais do intrprete. A
pluridimensionalidade do termo direito permite tipos diversos de abordagem, quegeram distintas definies, de tal forma que inexiste um conceito absoluto de direito.
Leciona Aurora Tomazini que:
No demasiado reforar que o conceito de um vocbulo nodepende da relao com a coisa, mas do vnculo que mantm comoutros vocbulos. Nestas condies, definir no fixar a essncia dealgo, mas sim de eleger critrios que apontem determinada forma deuso da palavra, a fim de introduzi-la ou identific-la num contextocomunicacional. No definimos coisas, definimos termos. Os objetos
so batizados por ns com certos nomes em razo de habitarmosnuma comunidade lingustica, ao definirmos estes nomesrestringimos suas vrias possibilidades de uso, na tentativa deafastar os problemas de ordem semntica inerentes ao discurso. Porisso que, quanto mais detalhada a definio, menores aspossibilidades de utilizao da palavra.19
Tal problema surge porque no existe significado ontolgico ao termo (no existe
correspondncia com a realidade), ele construdo pelo vnculo que se estabelece
entre a palavra e o significado que atribudo artificialmente pela comunidade de
discurso ao termo, podendo um mesmo termo possuir mais de um significado.
Em toda e qualquer linguagem h palavras ambguas e vagas,20 porm, na
linguagem cientfica a vaguidade e ambiguidade ficam atenuadas em razo do rigor
e preciso semntica que essa linguagem exige. Contudo, quando inevitvel a
existncia desses vcios na linguagem cientfica, necessrio se faz o processo de
elucidao, a fim de que seja mantida a rigidez do discurso.
No presente trabalho, o termo direito foi utilizado como o conjunto de
normas vlidas em um dado pas, num determinado momento histrico. Sua
manifestao se d atravs de uma linguagem prpria, voltada para a disciplina do
comportamento humano nas suas relaes de intersubjetividade.
As regras do Direito existem para regrar condutas humanas no plano
exterior, no importando o que se passa no plano intrassubjetivo das pessoas.
Deste modo, torna-se de grande valia o ensinamento de Paulo de Barros Carvalho,
19CARVALHO, Aurora, op. cit., 2009, p.55.20Todo termo impreciso, porque os termos utilizados na demarcao de seu conceito pressupemoutros para serem explicados, em uma circularidade infinita, justificada na autorreferibilidade dalinguagem.
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ao inferir que ao direito no interessam os problemas intrassubjetivos, isto , da
pessoa para com ela mesma, a no ser na medida em que esse inferior e subjetivo
corresponda a um comportamento exterior e objetivo.21
Logo, constata-se que o direito posto apresenta-se como um conjunto de
proposies que se voltam para a regulao das condutas humanas nas suas
relaes sociais, buscando, a todo o momento, obter estabilidade e harmonia nas
relaes interpessoais, por meio de regras prescritivas de conduta estampadas em
uma frmula lingustica apropriada.
A partir dessa concepo de Direito, afasta-se do campo de investigao da
cincia do Direito as razes econmicas, polticas e sociais que desencadearam a
produo da norma jurdica, interessando para o cientista do direito apenas oconjunto de normas jurdicas vlidas.
A importncia da definio de direito, para o presente trabalho, decorre do
fato de se buscar delimitar a anlise da no incidncia das contribuies
previdencirias sobre as verbas de carter indenizatrio, ao campo estritamente
normativo (direito positivo), deixando-se de lado aspectos econmicos e polticos
que por demais influenciam a compreenso destas incidncias.
1.5 O carter construtivista do Direito
Para o mestre Paulo de Barros Carvalho, a interpretao do Direito atribuir
valores aos signos: Mantenho presente a concepo pela qual interpretar
atribuir valores aos smbolos, isto , adjudicar-lhes significaes e, por meio
dessas, referncias aos objetos.22 E seguindo seu pensamento conclui com
preciso:
V-se, desde agora, que no correta a proposio segundo a qual,dos enunciados prescritivos do direito posto, extramos o contedo,sentido e alcance dos comandos jurdicos. Impossvel seria retirarcontedos de significao de entidades meramente fsicas. De taisenunciados partimos, isto sim, para a construo das significaes,dos sentidos, no processo conhecido como interpretao.23
O ato de interpretar de acordo com o novo paradigma ganha contornos bem
21CARVALHO, Paulo, 2008, p.2.22CARVALHO, Paulo, op. cit., 2008, p.180.23Ibid., p.183.
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diferenciados dos que os praticados anteriormente, o direito passou a ser visto como
um corpo de linguagem no qual o sentido construdo pelo interprete de acordo com
seus limites e vivncias culturais, diferenciando do entendimento anteriormente
predominante, no qual o sentido era extrado do texto. Estudar o Direito como
linguagem possibilitou ao participante e ao observador uma anlise mais detalhada
acerca do fenmeno jurdico. Os recursos da teoria comunicacional possibilitaram o
alcance de planos mais aprofundados e de observaes mais minuciosas da Cincia
do Direito.
O sentido do texto jurdico no se encontra embutido no texto, no funo
do intrprete extrair o sentido da norma. A significao est atrelada a um ato de
valorao do intrprete o qual constri o sentido de acordo com sua ideologia, assuas tradies culturais, e dentro dos limites de seu mundo. Prova disto podem ser
verificadas nas divergncias doutrinrias e jurisprudncias, fruto das criaes
diversificadas de cada intrprete, em virtude das diferentes concepes culturais,
ideolgicas e valorativas de cada um.
Seguindo esta celeuma e adotando os modernos mtodos de interpretao, o
intrprete no extrai a interpretao e sentido daquele texto, mas na verdade ele
atribui sentido ao texto de acordo com seus limites culturais.Adotando este segmento, vemos que a forma de atribuir sentido no texto
provoca interpretaes diferentes no ramo do Direito, e, por isso, o carter dinmico
do Direito, por estar sempre mudando e alterando o seu sentido.
Por conta dos atuais mtodos de interpretao e pelo fato de o Direito estar
sempre sujeito a interpretaes e alteraes, temos nele uma caracterstica muito
importante, o carter construtivista, de estar sempre em construo.
Por estar sempre em construo e alterao, a Receita Federal do Brasilresolveu adotar uma construo diferente na base de clculo das contribuies
previdencirias.
O fisco federal resolveu incluir na base de clculo das contribuies
previdencirias as verbas indenizatrias de carter no trabalhista. Por incluir
valores que no esto dentro do conceito e definio de salrio e remunerao,
ocorre o aumento da base de clculo das contribuies previdencirias, gerando,
inclusive, debates entre os doutrinadores e tribunais superiores.
No decorrer do nosso trabalho, vamos analisar o porqu do fisco federal
adotar as verbas indenizatrias na base de clculo das contribuies
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previdencirias, veremos individualmente se cada verba trabalhista de carter
indenizatrio preenche todos os requisitos dos conceitos e definies de
remunerao. Para, no final, chegarmos ao consenso se esta verba indenizatria
deve ou no ser includa na base de clculo da contribuio previdenciria.
1.6 Mtodo: construtivismo lgico e semntico
Sobre o discurso cientfico ensina Paulo de Barros Carvalho que este se
caracteriza pela existncia de um feixe de proposies lingusticas, relacionadas
entre si por leis lgicas, e unitariamente consideradas, em funo de convergirem
para um nico objetivo, o que d aos enunciados um critrio de significao
objetiva.24
Esse critrio de significao objetiva alcanado com a delimitao de um
objeto e a presena de um mtodo. Assim, a cada teoria corresponde um e somente
um objeto e somente um mtodo.
O mtodo est ligado s escolhas epistemolgicas do cientista e influi
diretamente na construo de seu objeto, demarcando o caminho a ser percorrido,
durante o desenvolvimento do trabalho, possibilitando o estudo coerente, no qual
esteja sempre presente a pertinncia lgica entre as premissas adotadas e as
concluses obtidas no decorrer do trabalho.
No mbito da cincia do Direito, a funo do mtodo a mesma que em
outras cincias, isto , voltar-se para a orientao do trabalho do cientista, ao lhe
prescrever certas regras (metodolgicas) que devem ser obedecidas, para que o
conhecimento por ele apreendido possa ser tido como cientfico.
Alerta Lourival Vilanova que:
O direito uma realidade complexa e, por isso, objeto de diversospontos de vista cognoscitivos. Podemos submet-lo a um tratamentohistrico ou sistemtico, cientfico-filosfico ou cientfico-positivo, daresultando a histria do direito, a sociologia do direito, as cinciasparticulares do direito e a filosofia jurdica em seus vrios aspectos.Em cada um destes pontos de vista considera-se o direito sob umngulo particular e irredutvel. a complexidade constitutiva dodireito que exige essa variedade de perspectivas. Se fosse um objetoideal, portanto, alheio determinao do tempo e do espao, no
24CARVALHO, Paulo de Barros. Filosofia do Direito I: lgica jurdica. Apostila do Programa de Ps-Graduao em Direito. Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. So Paulo: PUC, 2005. p.8.
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comportaria tantas cincias.25
Ao tomar-se o Direito como um corpo de linguagem, o mtodo analtico de
trabalho hermenutico mostra-se um mecanismo eficiente para o seu conhecimento,pois enfatiza a uniformidade da anlise do objeto e a precisa demarcao da esfera
de investigao, permitindo que se entre em contato com o sentido dos textos
positivados e com os referenciais culturais que os informa.
Tanto a escolha do mtodo quanto o corte no objeto so atos arbitrrios do
sujeito cognoscente, objetivando a fixao de uma hiptese limite, de forma a
impedir que a investigao se d at o infinito, fato incompatvel com os fins
cientficos.
Condizentes com a proposio adotada de que o conhecimentojurdico-cientfico construtivo de seu objeto em razo do sistema dereferncia indicado pelo cientista e dos recortes efetuados, em algummomento necessrio que este estabelea um corte restritivo, pontode partida para elaborao descritiva, fundamentado no conjunto depremissas, as quais espera-se que se mantenha fiel do comeo aofim de suas investigaes. As proposies delineadoras desterecorte so tomadas como dogmas e delas partem todas as outrasponderaes. No questionamos tais proposies, as aceitamoscomo verdadeiras e com base nelas vamos amarrando todas asoutras para, em nome de uma descrio, construir nosso objeto
(formal). E, neste sentido, o mtodo dogmtico encontra-se sempreaparente.26
O presente trabalho busca traar quais os critrios a serem utilizados para
definir o que so verbas indenizatrias. Alm do mais importante, determinar os
conceitos e definies de remunerao e salrio, estes pressupostos poderiam e
deveriam determinar o que a Unio Federal deve utilizar na base de clculo das
contribuies previdencirias, obedecendo realmente aos ditames legais e
constitucionais. Convm enfatizar que este estudo no tem como objetivo esgotar oassunto em debate, mas verificar a sua adequao, ou seja, realizar um estudo
dogmtico das normas que tratam da incidncia das contribuies previdencirias.
25 VILANOVA, Lourival. As estruturas lgicas e o sistema do direito positivo. 3. ed. So Paulo:Noeses, 2005. p. 32.26CARVALHO, Aurora, op. cit., 2009, p.83-84.
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2 NORMA JURDICA E REGRA MATRIZ DE INCIDNCIA
TRIBUTRIA DAS CONTRIBUIES PREVIDENCIRIAS
2.1 Norma Jurdica
No captulo introdutrio, definiu-se o Direito como o conjunto de normas
vlidas em um dado pas, num determinado momento histrico. Ento, estudar o
direito significa conhecer seus elementos e relaes sistmicas.
Como as normas jurdicas so os elementos que integram o sistema do direito
positivo, a nica forma de compreend-lo conhecer os elementos que o compem,motivo pelo qual o seu estudo se torna essencial para o desenvolvimento de
qualquer trabalho que pretenda, cientificamente, analisar e descrever o direito
positivo, precisamente, pela circunstncia de ser ele o objeto do conhecimento da
cincia do direito.27
Os fatos sociais, isoladamente, no geram efeitos jurdicos. Se assimo fazem porque uma norma jurdica os toma como proposioantecedente implicando-lhes consequncias. Sem a norma jurdicano h direito e deveres, no h jurdico. Por isso, o estudo do direito
volta-se s normas e no aos fatos ou relaes sociais delesdecorrentes, que se estabelecem por influncia (incidncia) dalinguagem jurdica. A linguagem jurdica o objeto do jurista e ondeh linguagem jurdica, necessariamente, h normas jurdicas.
Assim como o prprio conceito de direito, o termo norma jurdica no goza
de privilgio em relao aos vcios de linguagem. A vaguidade, a ambiguidade e a
carga emotiva acompanham a expresso lingustica norma jurdica, podendo ser
utilizada nas mais diversas acepes.28
Buscando afastar a ambiguidade da expresso normasjurdicas, distingue as normas jurdicas em sentido amplo e emsentido estrito. Emprega normas jurdicas em sentido amplopara aludir aos contedos significativos das frases do direitoposto, vale dizer, aos enunciados prescritivos, no enquantomanifestaes empricas do ordenamento, mas comsignificaes que seriam construdas pelo intrprete. Aomesmo tempo, a composio articulada dessas significaes,de tal sorte que produza mensagens com sentido dentico-
27 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do Direito: o construtivismo lgico-semntico. So Paulo: Noeses, 2009. p.264.28 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito tributrio. 20. ed. So Paulo: Saraiva, 2008.p.128.
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jurdico completo, receberia o nome de normas jurdicas emsentido estrito.
Buscando afastar a vaguidade e ambiguidade do termo norma jurdica,
Robson Maia Lins sentencia que:
Um primeiro passo para espancar-se aqueles vcios lingusticos identificar, com auxlio da Semitica, qual nvel lingusticopredominante na definio. Em voga na doutrina, temos definiesque ora primam pelo enfoque semntico (v.g., norma jurdica oinstrumento elaborado pelos homens para lograr aquele fimconsistente na produo da conduta desejada); outros vosobrelevar o nvel pragmtico (v.g., norma jurdica um programa deao em face da crescente estabilizao e burocratizao dos
sistemas sociais; e outros ainda primam pelo aspecto sinttico(norma jurdica um juzo hipottico-condicional, que, por meio daimputao dentica ou causalidade jurdica, liga o antecedente aoconsequente).29
Ao identificar o nvel lingustico prevalecente na definio de norma jurdica,
sendo uma opo do sujeito cognoscente, reduzem-se drasticamente os problemas
de vagueza e ambiguidade.
Coerente com as premissas adotadas no presente trabalho, nas quais o
Direito se manifesta por meio de uma linguagem prpria, voltada para a disciplina docomportamento humano nas suas relaes de intersubjetividade, utilizar-se- o
termo norma jurdica como significao construda a partir dos enunciados do
direito positivo, estruturada na forma hipottico-condicional D (H!C).30
O direito compreendido no s como significaes deonticamenteestruturadas, mesmo porque a existncia destas depende de umsuporte fsico, da integrao de enunciados (textos de lei), daconstruo de significaes isoladas (proposies) e da estruturao
dos sentidos normativos. O sistema jurdico compreende,necessariamente, suporte fsico, significao e estruturao, por issosero utilizadas as distines feitas Carvalho, P. (2008a, p. 8) entrenormas jurdicas em sentido amplo (designam tanto as frases,enquanto suporte fsico do direito posto, ou os textos de lei, quantoos contedos significativos destas) e normas jurdicas em sentidoestrito (abrangem a composio articulada das significaes,construdas a partir dos enunciados do direito positivo, na formahipottico-condicional), a fim de afastar-se a ambiguidade que aexpresso norma jurdica apresenta.
29 LINS, Robson Maia. Controle de constitucionalidade da norma tributria: decadncia eprescrio. So Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 52.30CARVALHO, Paulo, op. cit., 2008, p.8.
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Nos dizeres de Paulo de Barros Carvalho sobre a norma jurdica:
[...] exatamente o juzo que a leitura do texto provoca emnosso esprito, a significao que obtemos a partir da leiturados textos do direito positivo. Trata-se de algo que se produzem nossa mente, como resultado da percepo do mundoexterior.31
A norma resultado de um trabalho mental, interpretativo, de construo e
estruturao de significaes. A mente atribui tratamento formal s proposies
elaboradas a partir do plano de expresso do Direito, agrupando-se na conformidade
lgica da frmula implicacional para que se possa compreender a mensagem
legislada. nesse instante que aparece a norma jurdica, como significaodeonticamente estruturada.
Ao se tratar a norma como significao, pressupe-se que o intrprete a
constri. Isso porque ela no se encontra no plano fsico do direito, escondida entre
as palavras que o compe. Ela produzida na mente do intrprete e condicionada
por seus referenciais culturais. Por isso, um nico texto de direito positivo pode
originar diferentes normas jurdicas, consoante os valores empregados aos seus
vocbulos pelo intrprete.Ao se adotar o entendimento de norma jurdica como significao, conclui-se
que ela est sempre na implicitude dos textos, no se podendo falar em norma
expressa. O que se apresenta de forma expressa so os enunciados prescritivos,32
componentes do plano material do direito positivo. Esta a lio do professor Paulo
de Barros,33ao afirmar que no cabe distinguir normas implcitas e expressas, haja
vista que, pertencendo ao campo das significaes, todas elas so implcitas, pois
as normas se encontram no plano imaterial das significaes, e sua base emprica
so os textos de direito positivo.34
31CARVALHO, Paulo, op. cit., 2008, p.8.32O primeiro contato do intrprete, no percurso de construo do sentido dos textos jurdicos, como campo da literalidade textual (plano da expresso), base material para a construo dassignificaes jurdicas, formado pelo conjunto dos enunciados prescritivos, um conjunto estruturadode letras, palavras, frases, perodos e pargrafos graficamente manifestados nos documentosproduzidos pelos rgos de criao do direito. CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio:Fundamentos Jurdicos da Incidncia. So Paulo: Saraiva, 2009, p.21.33CARVALHO, Paulo, op. cit., 2008, p.10.34 Textos de direito positivo esto sendo empregados como indicativo do conjunto das letras,palavras, frases, perodos, e pargrafos, graficamente manifestados nos documentos produzidospelos rgos de criao do Direito.
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2.2 Norma jurdica: juzo hipottico-condicional
Ao se estipular que a norma jurdica se encontra na implicitude dos textos
positivados, como significao estruturada na forma hipottico-condicionalD(H!C), logo se percebe que o nmero de normas no guarda identidade com o
nmero de enunciados existentes no plano da expresso do direito positivo. So
muitos os casos em que o intrprete se depara com vrios enunciados para compor
o sentido da mensagem legislada; outras vezes, a partir de um s enunciado
constri mais de uma significao normativa,35 ao ensinar que as construes de
sentido tm de partir da instncia dos enunciados lingusticos, independente do
nmero de formulaes expressas que venham a lhe servir de fundamento. Haveria,
ento, uma forma direta e imediata de produzir normas jurdicas (realizada pelo
legislador ao inserir novos enunciados prescritivos); outra, indireta e mediata, mas
sempre tomando como ponto de referncia a plataforma textual do direito posto
(realizada pelo intrprete, quando da construo do sentido dos textos jurdicos).
Isso s ocorre pelo fato de a norma ser valorativa, podendo cada intrprete construir
a norma de acordo com a sua significao obtida pela leitura dos textos jurdicos.
De todo modo, a compreenso dos textos de direito positivo ocorrer a partir
do momento em que se agruparem suas significaes na forma hipottico-
condicional e, com isso, constroem-se normas jurdicas.
Explica o professor Lourival Vilanova sobre a norma jurdica:
[...] uma estrutura lgica. Estrutura sinttico-gramatical asentena ou orao, modo expressional frsico (de frase) da snteseconceptual que a norma. A norma no oralidade ou escritura dalinguagem, nem o ato de querer ou pensar ocorrente no sujeitoemitente da norma, ou no sujeito receptor da norma, nem ,
tampouco, a situao objetiva que ela denota. A norma jurdica uma estrutura lgico-sinttica de significao.36
Por isso, os comandos jurdicos, para serem compreendidos no contexto de
uma comunicao bem-sucedida, devem apresentar um quantumde estrutura formal.
A norma jurdica no apenas um simples juzo construdo pelo intrprete a
partir do contato com os textos de direito positivo. Ela deve ser estruturada na forma
hipottico-condicional para ser construdo o seu sentido dentico. Caso isso no ocorra,
35CARVALHO, Paulo, op. cit., 2009, p.25.36VILANOVA, Lourival. As estruturas lgicas e o sistema do Direito Positivo. 3. ed. So Paulo:Noeses, 2005. p. 208.
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no restar manifestado o sentido prescritivo completo da mensagem legislada.
A professora Aurora Tomazini de Carvalho traz um exemplo bastante
esclarecedor acerca de tal assertiva, in verbis:
Do enunciado a alquota 3%, construmos um juzo articulado nafrmula S P ou S (P) onde S representa a alquota e P 3%.Tal proposio, entretanto, no manifesta um sentido prescritivocompleto, pois diante dela no sabemos qual o comando emitidopelo legislador: Qual a conduta prescritiva? Qual a circunstnciaftica que a enseja? A resposta a tais perguntas s aparecerquando saturarmos os campos significativos da estrutura H!C seocorrer o fato H, ento deve ser a relao intersubjetiva C.37
Assim, toda norma jurdica possui a estrutura condicional D (H!C) se
ocorrer o fato x, ento deve ser a relao intersubjetiva y, em que H a varivel
que representa a previso de uma determinada situao de possvel ocorrncia no
mundo fenomnico; C a varivel que representa a consequncia, ou melhor, a
relao jurdica que nascer no momento em que se verificar a ocorrncia da
situao prevista em H, modalizada em obrigatrio, permitido e proibido, ligados
por um vnculo implicacional ! dentico (D), representativo do ato de autoridade
que a constitui.
Tomando um fato social como ponto de partida, pode-se afirmar que: dado
um determinado fato social F1, correspondente a uma situao social, prevista na
hiptese H1 da norma N1, deve ser (conectivo lgico de implicao: !) o
nascimento de uma relao jurdica R1, entre dois ou mais sujeitos de direito,
correspondente a uma consequncia jurdica, em face do acontecimento da situao
prevista pela consequente: C1.
Essa frmula lgica nada mais do que a realidade do fenmeno normativo.
Ela d a precisa noo de que, quando a hiptese (H) se verifica, deve ser aocorrncia da consequncia (C). O deve ser o conectivo interproposicional, que
une os dois locais sintticos da norma jurdica: hiptese e consequncia; define a
estrutura sinttica presente nas normas jurdicas, de forma que toda norma jurdica,
qualquer que seja a sua natureza, sempre ser composta por um antecedente e por
um consequente.38
37 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do Direito: o construtivismo lgico-semntico. So Paulo: Noeses, 2009. p.264.38VILANOVA, Lourival, op. cit., 2005, p. 87.
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O legislador pode selecionar fatos para sobre eles incidir ashipteses, pode optar por estes ou aqueles contedos sociais evalorativos, mas no pode construir a hiptese sem a estruturasinttica e sem a funo que lhe pertence por ser estrutura de umahiptese. Pode vincular livremente, em funo de contextos sociais ede valoraes positivas e de valores ideais, quaisquer consequnciass hipteses delineadas. Mas no pode deixar de sujeitar-se srelaes meramente formais ou lgicas que determinam a relao-de-implicao entre hipteses e consequncias. Pode combinar umas hiptese para uma s consequncia, ou vrias hipteses, ou umas hiptese para vrias consequncias, mas no podearbitrariamente construir uma outra estrutura alm dessas possveisestruturas. Simbolizando por H e C, tem-se: a) H implica C; b) H, He H, implica C; c) H, H e H, implica C, C, C; d) H implicaC,C, C. Com essas possveis estruturas formais, o legisladorpreenche o contedo social e valorativo.
Porm, a norma jurdica s se figura como tal quando as variveis da frmula
H e C estiverem preenchidas por contedos significativos, construdos a partir
dos textos do direito positivo. Antes de ser uma estrutura hipottico-condicional, a
norma uma significao, construda com base no suporte fsico, produzido pelo
legislador (Constituio Federal, leis, decretos, instrues normativas etc.). Essa
condio que lhe atribui o qualificativo de jurdica. Se o intrprete toma como
suporte fsico um texto doutrinrio, poder at construir uma norma, mas tal norma
no ser qualificada como jurdica, pois tomou por base algo fora do campo de
especulao do direito positivo.
A hiptese uma proposio descritiva, que incide sobre a realidade social,
porm no coincide com essa realidade. O consequente, por outro lado, funciona
como prescrio de condutas e oferece notas para identificar os elementos que
compem a relao jurdica. Com esse raciocnio, percebe-se que os elementos
sintticos da norma tm a caracterstica de selecionar propriedades: o antecedente,
com a funo de descrever quais as circunstncias do mundo real que, uma vez
verificados (ocorridos), ganharo contornos de juridicidade; e o consequente, com a
funo de prescrever os efeitos jurdicos que devem desencadear quando da
constituio das relaes jurdicas.
O antecedente da norma seleciona algumas propriedades do mundo real,
atribuindo-lhes carter jurdico. A norma incide sobre a realidade no momento em
que escolhe situaes possveis do mundo real e autoriza a incidncia sobre elas, a
fim de gerar relaes jurdicas intersubjetivas, prescritas pelo consequente.
Sobre a hiptese, importante mencionar que o legislador, ao selecionar as
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propriedades, deve faz-lo de maneira tal que se digne a prescrever apenas eventos
e situaes sociais que estejam no campo da possibilidade. A possibilidade basta.
Somente uma conduta possvel capaz de ser jurisdicizada pelo Direito, ou seja,
pode ser modalizada como permitida, proibida ou obrigada.39
Sendo assim, a hiptese s pode descrever os fatos que possam ocorrer no
mundo fenomnico. Tambm no h como se pretender regular deonticamente
situaes impossveis. Se impossvel que o homem viaje atravs do tempo,
totalmente incua e vazia de sentido uma norma que pretenda obrigar, proibir ou
permitir essa conduta. A norma jamais ter a sua incidncia verificada, pois o fato
nunca se consumar.
2.2.1 Uniformidade sinttica e heterogeneidade semntica das normas jurdicas
Como afirmado anteriormente, a norma jurdica uma estrutura lgico-
sinttica de significao. Sem a construo dessa estrutura condicional, no haver
mensagem normativa completa, tampouco ser possvel falar em norma jurdica em
sentido estrito. Necessariamente, toda norma jurdica que compe o sistema de
direito positivo deve possuir essa estrutura bimembre, isto , uma hiptese ligada a
um consequente, por meio de uma relao de implicao, porque sem ela amensagem prescritiva incompreensvel.40 O direito sintaticamente homogneo
porque sua estrutura lgica invarivel.
Segundo Paulo de Barros carvalho:
Nenhuma diferena h entre a percusso de uma regra jurdicaqualquer e a incidncia da norma tributria, uma vez que operamoscom a premissa da homogeneidade lgica das unidades do sistema,consoante a qual todas as regras teriam idntica esquematizao
formal, quer dizer, em todas as unidades do sistema encontraremosa descrio de um fato F que, ocorrido no plano da realidade fsico-social, far nascer uma relao jurdica (SR S) entre dois sujeitosde direito, modalizada com um dos operadores denticos:obrigatrio, proibido ou permitido (O, V ou P).41
Por outro lado, apesar de as normas jurdicas possurem a mesma estrutura
formal, elas so diferentes umas das outras em decorrncia dos contedos de
39 Conforme tratado, toda relao jurdica caracterizada pelo contedo dentico. Ela pode ser
modalizada como permissiva, obrigatria ou proibitiva. No existe uma quarta hiptese.40 O princpio da homogeneidade sinttica das normas jurdicas s tem aplicabilidade se seconsiderar o direito positivo enquanto conjunto de normas em sentido estrito.41CARVALHO, Paulo, op. cit., 2009, p.11.
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significao em que so preenchidas as unidades normativas, albergando os
mltiplos setores da vida social; ou seja, o contedo das normas jurdicas varivel,
sendo configurado o direito positivo como um sistema sintaticamente homogneo e
semanticamente heterogneo.
Toda norma jurdica apresenta-se sob a mesma forma D(H!C). O que
diferencia uma norma jurdica da outra o contedo que preenche essa frmula. As
significaes que compem a posio sinttica de hiptese e consequente das
normas jurdicas se modificam de acordo com a matria eleita pelo legislador e com
os valores que informam a interpretao dos textos jurdicos.
Tratando da heterogeneidade das normas jurdicas, Paulo de Barros Carvalho
prescreve que: na instncia semntica que as diferenas se estabelecem.Procurando cobrir todo o campo possvel das condutas eminterferncia intersubjetiva, o legislador vai saturando as variveislgicas da norma com os contedos de significao dos fatos querecolhe da realidade social, depois de submet-los ao juzo de valorque presidiu a escolha, ao mesmo tempo em que orienta oscomportamentos dos sujeitos envolvidos, modalizando-os com osoperadores obrigatrio, proibido e permitido. precisamenteneste espao que as normas jurdicas adquirem aquelaheterogeneidade semntica que mencionamos, sendo admissvel,
ento, falar-se em normas constitucionais, administrativas, civis,comerciais, processuais e normas de direito tributrio.42
Cabe frisar que apenas as estruturas que compem o direito positivo so
lgicas (normas jurdicas), pois, alm da observncia da estrutura das normas
jurdicas, preciso preench-las com as significaes extradas dos textos de direito
positivo, com a finalidade de o Direito alcanar seu objetivo maior: regular as
condutas humanas nas suas relaes de intersubjetividade. Somente atravs
dessas estruturas lgicas, e com o devido preenchimento do contedo dasproposies normativas, o Direito alcana a sua finalidade.
2.2.2 Normas gerais e abstratas, individuais e concretas e processo de positivao
do Direito
Toda norma jurdica composta de uma hiptese e um consequente, em
decorrncia do princpio da homogeneidade sinttica que alberga todo o sistema
jurdico, porm o referido princpio convive com o da heterogeneidade semntica.
42Ibid., p.109.
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Em razo disso, no obstante as normas jurdicas se organizarem sob a mesma
estrutura formal, elas apresentam diferentes contedos, tornando possvel classific-
las com base em diferentes critrios.
Ao se considerar o tipo de fato previsto no antecedente da norma e o tipo de
relao jurdica que prescreve, possvel classific-las em normas gerais e
abstratas, ou em individuais e concretas.
Segundo o professor Paulo de Barros Carvalho, norma geral [...] aquela
que se dirige a um conjunto de sujeitos indeterminados quanto ao nmero;
individual, a que se volta a certo indivduo ou a grupo especfico de pessoas.
Contudo, a respeito do fato, o mesmo autor ensina que a tipificao de um conjunto
de fatos realiza uma previso abstrata, ao passo que a conduta especificada noespao e no tempo d carter concreto ao comando normativo.43
A norma geral e abstrata traz no seu antecedente a descrio hipottica de
um fato, contido na lei, de possvel ocorrncia no mundo social, apto a produzir
efeitos jurdicos no momento de sua ocorrncia. Tem a funo de anunciar os
critrios (material, espacial e temporal) para o reconhecimento de um fato ocorrido
na vida social, com o intuito de irradiar os seus efeitos jurdicos.
Em relao ao consequente da norma geral e abstrata, ele ir tratar dosefeitos jurdicos gerados por conta da realizao do fato previsto na hiptese,
fazendo irromper direitos subjetivos e deveres correlatos, delineando a previso de
uma relao jurdica (dado a ocorrncia de um fato A, deve ser a instaurao da
relao jurdica entre B e C). Tem, ainda, a funo de fornecer os critrios para
identificao do vnculo jurdico que nasce, informando quem so os sujeitos da
relao, o seu objeto e o momento em que deve se dar o seu cumprimento.
Assinale-se que o descritor (hiptese) das normas gerais e abstratas no traza descrio de um acontecimento especificamente determinado, mas alude a uma
classe de eventos, na qual se encaixam infinitas ocorrncias concretas. Da mesma
forma, o consequente no traz a prescrio de uma relao intersubjetiva
especificadamente determinada e individualizada, alude a uma classe de vnculos
intersubjetivos, na qual se encaixam infinitas relaes entre sujeitos de direito.
Existir, assim, para a construo dos conceitos conotativos das normas
gerais e abstratas, no antecedente: (a) um critrio material (delineador do
comportamento); (b) um critrio temporal (condicionador da ao no tempo); e (c)
43CARVALHO, Paulo, op. cit., 2009, p.35.
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um critrio espacial (identificador do espao da ao); e, no consequente: (d) um
critrio pessoal (delineador dos sujeitos ativo e passivo da relao); e (e) um critrio
prestacional (qualificador do objeto da prestao).44 Apenas com a conjugao
desses dados indicativos pode-se compreender a mensagem legislada na sua
plenitude e cumprir a conduta esperada pelo Direito.
Satisfeito o requisito de pertencialidade aos critrios da hiptese e do
consequente das normas gerais e abstratas, so produzidas as normas individuais e
concretas. A norma individual e concreta documenta a incidncia da norma.
Prescreve, no seu antecedente, um fato concreto ocorrido em um determinado
momento de espao e tempo, e no seu consequente uma relao jurdica com
sujeitos e objetos delimitados.Segundo Kelsen,45 a aplicao do Direito ocorre simultaneamente sua
criao. Logo, toda criao de norma jurdica, seja ela individual e concreta seja
geral e abstrata, sempre fruto de aplicao de norma superior. As normas
introduzidas por meio de lei complementar so fruto da aplicao das normas
constitucionais que disciplinam a matria. O mesmo se d com as normas
individuais e concretas e com as gerais e abstratas; no entanto, as primeiras so
fruto da aplicao das segundas.O processo de positivao do Direito o fenmeno em que se aplica o Direito
ao caso concreto. Aplicar o Direito o ato pelo qual o jurista abstrai a amplitude do
dispositivo legal, fazendo-a incidir num caso especfico, obtendo a norma individual e
concreta, caracterizando o processo de positivao do Direito.
Assim, construda a norma jurdica geral e abstrata pela interpretao dos
enunciados do direito positivo, e constatada a ocorrncia no mundo concreto,
daquele fato previsto no antecedente normativo (hiptese), atravs da linguagemdas provas jurdicas d-se a incidncia. Entretanto, mister a presena do homem
para realizar a incidncia da norma ao caso concreto, fazendo a subsuno e
promovendo a implicao que o preceito normativo determina. A norma no incide
por fora prpria, ela incidida.46
No processo de positivao do Direito, existir sempre a presena do ser
humano sacando de normas gerais e abstratas outras gerais e abstratas ou
44CARVALHO, Paulo, op. cit., 2009, p.361.45 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. Trad. Joo Batista Machado. 6. ed. So Paulo: MartinsFontes, 1998. p.260.46CARVALHO, Paulo, op. cit., 2009, p.11.
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individuais e concretas, para disciplinar juridicamente os comportamentos
intersubjetivos.
Em seguida, ressalta-se a importncia do ser humano na movimentao das
estruturas do direito positivo ao afirmar que:
Numa viso antropocntrica, requerem o homem, como elementointercalar, movimentando as estruturas do direito, extraindo denormas gerais e abstratas outras gerais e abstratas ou individuais econcretas e, com isso, imprimindo positividade ao sistema, que dizer,impulsionando-o das normas superiores s regras de inferiorhierarquia, at atingir o nvel mximo de motivao das conscinciase, dessa forma, tentando mexer na direo axiolgica docomportamento intersubjetivo: quando a norma terminal fere aconduta, ento o direito se realiza, cumprindo o seu objetivo
primordial, qual seja, regular os procedimentos interpessoais, paraque se torne possvel a vida em sociedade, j que a funo do direito realizar-se, no podendo ser direito o que no realizvel, como jdenunciara Ihering. E essa participao humana no processo depositivao normativa se faz tambm com a linguagem, que certificaos acontecimentos factuais e expede novos comandos normativossempre com a mesma compostura formal: um antecedente de cunhodescritivo e um consequente de teor prescritivo.47
A norma no incide automtica e infalivelmente, dependo sempre do homem
para verificar a ocorrncia, no mundo dos fenmenos, da descrio prevista nahiptese normativa, a fim de que se possa realizar o processo de subsuno do fato
norma e instaurar a relao jurdica que une dois ou mais sujeitos de direito.
2.3 Norma jurdica tributria: regra matriz de incidncia tributria das
contribuies previdencirias
Como se tem afirmado no decorrer deste trabalho, a norma jurdica uma
estrutura lgico-sinttica de significao. Sem a construo dessa estruturacondicional (H!C), no haver mensagem normativa completa; tampouco ser
possvel falar em norma jurdica em sentido estrito. Necessariamente, toda a norma
jurdica que compe o sistema de direito positivo deve possuir essa estrutura
bimembre; isto , uma hiptese ligada a um consequente por meio de uma relao
de implicao, porque sem ela a mensagem prescritiva incompreensvel. Dessa
forma, a norma instituidora das Contribuies Previdencirias no foge dessa
estrutura hipottico-condicional.
47Ibid., 2009, p.11-12.
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Por sua vez, a regra matriz de incidncia tributria48 uma norma jurdica
geral e abstrata, instituidora de tributos; traz em seu bojo os critrios necessrios
para identificar a hiptese de incidncia tributria e o consequente traz critrios que
caracterizam os elementos da relao jurdica tributria. O seu conjunto de critrios
deve ser preenchido pelas significaes obtidas pelo intrprete a partir da leitura dos
textos de direito positivo, a fim de se chegar completude da conduta exigida pelo
direito.
Enquanto norma jurdica, a regra matriz de incidncia tributria composta
por dois elementos: (a) um antecedente, que prev as caractersticas de um evento
social de possvel ocorrncia no mundo fenomnico, capaz de dar ensejo a uma
relao jurdica tributria; e (b) um consequente, que nada mais do que a previsoabstrata da relao jurdica que poder se formar entre dois ou mais sujeitos de
direito (S R S), assim que verificado o fato descrito na hiptese.
Paulo de Barros Carvalho assinala que:
Dentro desse arcabouo, a hiptese trar a previso de um fato (sealgum industrializar produtos), enquanto a consequnciaprescrever a relao jurdica (obrigao tributria) que se vaiinstaurar, onde e quando acontecer o fato cogitado no suposto
(aquele que algum dever pagar Fazenda Federal 10% do valordo produto industrializado).49
Ao aprofundar o estudo da regra matriz de incidncia tributria, pode-se
conceber a existncia de determinados critrios que fazem parte de sua estrutura.
Os denominados critrios (ou aspectos)50 da regra matriz de incidncia tributria
so: (a) material, (b) temporal e (c) espacial, que compem o antecedente da norma
jurdica tributria; e (d) pessoal e (e) quantitativo, componentes que informam os
elementos da eventual relao jurdica a ser instaurada quando da verificao daocorrncia do fato previsto no antecedente da norma padro de incidncia.
Esses critrios so formados por um conjunto de propriedades denotativas, e
o seu estudo mostra-se relevante na medida em que estabelece as notas que o
legislador deve propor para que seja definido o fato jurdico tributrio, bem como as
48 Na expresso regra matriz de incidncia tributria utiliza-se o termo regra como sinnimo denorma jurdica, porque se trata de uma construo do intrprete, alcanada a partir do contato com ostextos de direito positivo. O termo matriz utilizado para significar que tal construo serve comomodelo padro sinttico-semntico na produo da linguagem jurdica; isto , modelo para
construo de normas, marcando o ncleo da atividade tributria. E de incidncia tributria porquese referem a normas produzidas para institurem tributos.49CARVALHO, Paulo, op. cit., 2008, p.260.50ATALIBA, Geraldo. Hiptese de incidncia tributria. 6. ed. So Paulo: Malheiros, 2005. p.76.
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notas definidoras dos elementos da relao jurdica tributria. A identificao das
notas relacionadas aos critrios da norma jurdica tributria deve estar em sintonia
com o prescrito pela norma que outorga competncia tributria.
A seguir, analisar-se- cada critrio que compe a regra matriz de incidncia
tributria das contribuies previdencirias.
2.3.1 Antecedente da regra matriz de incidncia tributria das contribuies
previdencirias
A hiptese (descritor) a descrio hipottica de um fato, contido nos textos
de lei, de possvel ocorrncia no mundo social, apto a produzir efeitos jurdicos, no
momento de sua ocorrncia no mundo fenomnico. Sua funo delimitar um fato
que, se verificado, ensejar efeitos jurdicos, estabelecendo as caractersticas que
determinados acontecimentos devem possuir para serem considerados fatos
jurdicos. Assim, o legislador fixa as caractersticas que um evento deve possuir para
ser considerado fato jurdico, promovendo um recorte na multiplicidade contnua da
realidade social, elegendo apenas algumas das propriedades do evento para
identificao de situaes capazes de promover os devidos efeitos.
[...] qualificando normativamente sucessos do mundo real-social ,como todos os demais conceitos, seletor de propriedades,operando como redutor das complexidades dos acontecimentosrecolhidos valorativamente. Todos os conceitos, antes de mais nada,so contraconceitos, assim como cada fato ser um contrafato ecada significao uma contrassignificao. Apresentam-se comoseletores de propriedade, e os antecedentes normativos, conceitos
jurdicos que so, elegem aspectos determinados, promovendocortes no fato bruto tomado como ponto de referncia para asconsequncias normativas. E essa seletividade tem carter
eminentemente axiolgico.51
Ao determinar o fato que dar ensejo ao nascimento da relao jurdico-
tributria, o legislador estipula as propriedades importantes para se apreender o fato,
podendo-se extrair dessas propriedades critrios que tm o condo de identificar a
situao que ocasionar a incidncia tributria, traando aspectos inerentes
conduta das pessoas (aes humanas), assinaladas por caractersticas de espao e
de tempo, e, por este motivo, encontram-se, no antecedente da regra matriz de
incidncia tributria, os critrios material, temporal e espacial.
51CARVALHO, Paulo, op. cit., 2009, p.26.
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O critrio material o mais importante da regra matriz de incidncia. Sua
funo descrever uma ao que, uma vez verificada, torna-se fato passvel de
instaurar uma relao jurdica tributria. , invariavelmente, formado por um verbo
pessoal, carecedor de predicado, assim como pela prpria predicao.52
[...] a operatividade dos desgnios normativos, impossibilitando oudificultando o seu alcance. Isso concerne ao sujeito, que pratica aao, e bem assim ao complemento do predicado verbal, que,impreterivelmente, h de existir. Descabe falar-se, portanto, deverbos de sentido completo, que se expliquem por si mesmos. foroso que se trate de verbo pessoal e de predicao incompleta, oque importa a obrigatria presena de complemento.
Ao prosseguir com a descrio da conduta que deve ser exposta comomatria-prima para a incidncia tributria, o antecedente da regra matriz dever
situar as propriedades de tempo e de espao que esto intimamente ligadas
conduta humana.
O critrio temporal traz as notas de tempo, ou seja, mostra em que momento
a ao (critrio material) deve acontecer para que haja a incidncia tributria. ,
pois, o momento em que surge o lao relacional entre os sujeitos do direito. o
instante em que se tem a efetiva incidncia jurdica para a regulao das condutas
intersubjetivas.
O critrio espacial mostra em que coordenada de espao a ao prevista no
critrio material deve acontecer, para que haja a incidncia do tributo. A legislao
tributria brasileira tem demonstrado que existem trs diferentes tipos de
enumerao das coordenadas de espao intrnsecas conduta humana que se
deseja jurisdicizar. O primeiro descreve as coordenadas de um determinado e
exclusivo local para a ocorrncia da conduta humana; outra diretriz demonstra que o
critrio material ordena-se por uma dada regio ou intervalo territorial previamente
delimitado; e o terceiro tipo reflete uma coincidncia com a eficcia territorial da
norma jurdica.
Estes so, portanto, os trs critrios que descrevem as notas trazidas pelo
antecedente da norma jurdica tributria, a fim de determinar a conduta humana a
ser jurisdicizada. Assim, verificada a ocorrncia da conduta humana prevista pela
norma em um determinado espao e num determinado lapso temporal, tambm
previstos nessa norma, instaura-se uma relao jurdica tributria, cujas
52CARVALHO, Paulo, op. cit., 2008, p.287.
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propriedades so encontradas no bojo do consequente normativo da regra matriz de
incidncia tributria.
Estas notas que compem a estrutura formal do antecedente da norma
precisam identificar situaes que sejam materialmente possveis de sofrer a
incidncia tributria. A seguir, sero traados os critrios encontrados na hiptese de
incidncia da regra matriz das contribuies previdencirias.
2.3.1.1 Critrio material
Por ser o critrio material o ncleo central da hiptese de incidncia, a sua
parte fundamental, dvidas no podem pairar quanto ao seu exame. Portanto,
observemos Paulo de Barros Carvalho, in verbis:
Cuidemos, de incio, do critrio material. Nele, h referncia a umcomportamento de pessoas, fsicas ou jurdicas, condicionado porcircunstncias de espao e tempo (critrios espacial e temporal). Porabstrao, desliguemos aquele proceder dos seus condicionantesespao-temporais, a fim de analis-lo de modo particular, nos seustraos de essncia. Sobre o assunto, alis, curioso anotar que osautores deparam com grande dificuldade para promover o isolamentodo critrio material, que designam por elemento material da hiptese
de incidncia. Tanto nacionais como estrangeiros tropeam, no selivrando de apresent-lo engastado aos demais aspectos ouelementos integradores do conceito, e acabam por desenhar, comocritrio material, todo o perfil da hiptese tributria.53
Assim devemos extrair o critrio material das contribuies previdencirias no
art. 195, I, a da Constituio da Repblica, ao descrever no seu inteiro teor como
as contribuies previdencirias incidiro sobre a folha de salrios e demais
rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer ttulo, pessoa fsica que
lhe preste servio, mesmo sem vnculo empregatcio.Por conseguinte, o critrio material da hiptese de incidncia da chamada
contribuio sobre a folha de salrios pagar ou creditar salrio ou rendimento
pessoa fsica que lhe preste servio, permitindo, assim, a identificao de um verbo
(pagar ou creditar) e seu complemento (salrio ou rendimento pessoa fsica que
lhe preste servio). Este o cerne da hiptese ou antecedente. o ncleo central do
conceito do fato apto a dar nascimento obrigao tributria referente contribuio
previdenciria.
53CARVALHO, Paulo, op. cit., 2008, p.179.
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No nos podemos esquecer de que, com a Medida Provisria 540/2011,
convertida na Lei 12.546/2011, iniciou-se a migrao da contribuio previdenciria
da folha de salrios para a receita bruta ajustada (faturamento), abrangendo,
inicialmente apenas algumas atividades econmicas e os segmentos de vesturio e
caladista.
Posteriormente, novas alteraes legislativas ampliaram o rol das empresas
abrangidas, sendo que, com a Medida Provisria 601/2012, tal obrigatoriedade foi
estendida para diversos ramos varejistas, os quais passam a contribuir, a partir de
01.04.2013 para a Previdncia Social na razo de 1% do seu faturamento ajustado.
Esse novo critrio material das Contribuies Previdencirias ser trabalhado
posteriormente em nosso trabalho.
2.3.1.2 Critrio espacial
O critrio espacial da regra matriz de incidncia da Contribuio
Previdenciria coincide com os limites territoriais do ente que tem a competncia
para institu-la a Unio Federal.
Portanto, nos moldes da alnea a do inc. I do art. 195 da Con