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ANTÔNIO ROBERTO FERNANDES ATANIL DE MEDEIROS WAGNER FILHO DANIELA MOREIRA TOMASI DE ANDRADE SOCIALIZAÇÃO DO SABER ESCOLAR: O ESPORTE E A CULTURA COM FUNÇÃO FACILITADORA DESTE PROCESSO Monografia apresentada como requisito parcial ao Programa de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrado ao Ensino Médio na Modalidade de Jovens e Adultos, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina. Orientadora: Ms. Nilva Schroeder. FLORIANÓPOLIS 2007

ANTÔNIO ROBERTO FERNANDES ATANIL DE MEDEIROS … · 2.1 Descrição Do Projeto ... migrante pertence ao meio urbano, ... Abrindo espaço para que os sujeitos participem na construção

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ANTÔNIO ROBERTO FERNANDES ATANIL DE MEDEIROS WAGNER FILHO

DANIELA MOREIRA TOMASI DE ANDRADE

SOCIALIZAÇÃO DO SABER ESCOLAR: O ESPORTE E A CULTURA COM FUNÇÃO FACILITADORA DESTE

PROCESSO

Monografia apresentada como requisito parcial ao Programa de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrado ao Ensino Médio na Modalidade de Jovens e Adultos, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina.

Orientadora: Ms. Nilva Schroeder.

FLORIANÓPOLIS 2007

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SOCIALIZAÇÃO DO SABER ESCOLAR: O ESPORTE E A CULTURA COM FUNÇÃO FACILITADORA DESTE

PROCESSO

ANTÔNIO ROBERTO FERNANDES

ATANIL DE MEDEIROS WAGNER FILHO DANIELA MOREIRA TOMASI DE ANDRADE

Esta Monografia foi julgada adequada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista, pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina.

__________________________________________ Ms Nilva Schroeder

Professora Orientadora

Banca Examinadora:

__________________________________________ Ms Maria Lúcia Cidade de Souza

__________________________________________ Ms Antonio Galdino da Costa

iii

SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................... IV

INTRODUÇÃO............................................................................................................1

CAPÍTULO 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................6 1.1 Os Sujeitos Da Eja E Seu Lugar Social.................................................................6 1.2 Socialização Do Sujeito E Desenvolvimento Humano ........................................14 1.3 O Lugar Das Atividades Esportivas E Culturais No Processo De Socialização ..17 CAPÍTULO 2. NOITE ESPORTE CULTURA E LAZER .............................................25 2.1 Descrição Do Projeto ..........................................................................................25 CAPÍTULO 3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................................27 3.1 Noites De Esporte E Cultura: Uma Experiência De Socialiação .........................27

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... .......................................................37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................... ................................................42

APÊNDICE 1.............................................................................................................45

APÊNDICE 2.............................................................................................................48

iv

RESUMO

O presente estudo trata da socialização escolar e o processo de

desenvolvimento humano. As aproximações com o campo empírico foram feitas na

Educação de Jovens e Adultos (EJA), no Núcleo Evanda Sueli Juttel, no município

de Palhoça. Este Núcleo desenvolve o Projeto Noite Esporte, Cultura e Lazer com o

objetivo de aumentar a auto-estima e a sociabilidade dos alunos, considerando a

importância de valores para nortear as práticas pedagógicas, tais como: socialização

do saber; respeito às diferenças; valorização do espírito de cooperação; promoção

da auto-estima. Utilizando-se de atividades coletivas promove-se a interação

indispensável ao desenvolvimento dos sujeitos, em todas as dimensões: cognitiva,

motora, emocional e social. O fato de interagir com o diferente, favorece o respeito,

a cooperação, a troca de experiências, o auto-conhecimento entre outros aspectos

que concorrem para o desenvolvimento humano. É preciso repensar o

individualismo em que o ensino escolar se encontra, possibilitar a integração, que

contribui para o processo de socialização, na perspectiva de consolidar o papel da

escola de educar o sujeito para a vida.

Palavras-chave : socialização, desenvolvimento humano, esporte, cultura.

1

INTRODUÇÃO

Nesta monografia realizamos um estudo sobre a socialização e o processo de

desenvolvimento humano. Partimos do pressuposto de que a socialização promove

o desenvolvimento humano, contribuindo assim para o desenvolvimento dos grupos

sociais. Quando se trata de socialização no espaço escolar, acreditamos que

diversas atividades concorrem para o processo de socialização, desde que

promovam a interação entre os sujeitos. Sendo assim, realizamos um estudo sobre

a possibilidade de explorar atividades esportivas e culturais como facilitadoras do

processo de socialização, considerando que este tipo de atividade favorece a

interação entre professores e alunos.

As aproximações com o campo empírico foram feitas na Educação de Jovens

e Adultos (EJA), nível III1, no Núcleo Evanda Sueli Juttel. Como está localizado na

periferia do Município de Palhoça, atende vários bairros em seu entorno. Por isso,

possui o compromisso de receber um público que abrange desempregados sem

formação profissional, subempregados, trabalhadores do setor terciário, a maioria

atuando na economia informal.

O referido Núcleo desenvolve o Projeto Noite Esporte, Cultura e Lazer, com o

objetivo de aumentar a auto-estima e a sociabilidade dos alunos, criando um círculo

de amizade entre pessoas que estão enfrentando o mesmo desafio, que é o de

retomada dos estudos, tendo em vista a elevação da escolaridade. Este projeto

sustenta-se na concepção de que os alunos não são meros objetos da educação,

devendo ser agentes deste processo. E assim, em um dos dias letivos de cada mês,

os alunos juntamente com os professores organizam atividades, tais como: jogos

coletivos (vôlei, futebol, basquete...), danças, teatro, apresentações musicais,

declamação de poemas, exposições de artes plásticas a partir de releituras de

obras, capoeira, entre outras, como pode ser observada no Apêndice 2.

Quanto ao perfil dos alunos que freqüentam o Núcleo, a maioria é composta 1 Nível III representa 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries do ensino fundamental.

2

de adultos oriundos de escola da zona rural, e jovens que foram excluídos do ensino

fundamental em conseqüência da repetência. É interessante destacar que a maioria

dos alunos é migrante ou filho de imigrante de outros Municípios. Por pertencerem a

grupos sociais diferentes, isto é, o migrante pertence ao meio rural e o filho de

migrante pertence ao meio urbano, surge dificuldades na relação com a escola.

Estas características dos grupos são importantes, especialmente do ponto de vista

cultural, pois sugerem que suas raízes estão fundadas em referências diferentes das

comuns nesta região.

É pertinente registrar que no trabalho realizado neste Núcleo, vários fatores

representam obstáculos no andamento das atividades, tais como: a descontinuidade

do corpo docente, em virtude de não haver uma política pública que garanta a

permanência do professor no ano subseqüente, o que fragmenta o trabalho

construído com o corpo discente; a evasão escolar, causada por vários motivos

como mudança de moradia, incompatibilidade do horário do trabalho e das aulas;

desarticulação do corpo docente provocada pela falta de interação e objetivos

comuns dos professores, apesar de haver espaço para discussões. Convêm

salientar que existe uma articulação de alguns professores, no sentido de promover

a interdisciplinaridade, a interação entre aluno e professor, professor/aluno e

aluno/aluno, que a nosso ver é fundamental para o desenvolvimento da socialização

do conhecimento, porém esta condição por si só não garante a permanência do

aluno.

O ideal do Núcleo Evanda Sueli Juttel, conforme seu Projeto Político

Pedagógico, é de valorização do ser humano, visando à auto-estima elevada, o

desenvolvimento do pensamento crítico e autônomo para que possa ter capacidade

de interagir em qualquer situação, buscando formar um cidadão emancipado. Este

ideal pressupõe a valorização de sua historicidade, para que seja autor de sua

própria história e valorize as diferenças que passam a sua volta.

Por isso, a relevância do projeto acima citado, que oportuniza um

aprendizado prazeroso, promove a interação entre alunos e professores e favorece

a aproximação com diversas culturas e seus aspectos regionais. Com o esporte

mediante atividades coletivas todos podem participar, jogando, torcendo,

organizando. Com as atividades culturais busca-se resgatar as características

3

individuais do sujeito e a diversidade cultural, com vistas à valorização de aspectos

que constituem o processo constante de transformação e desenvolvimento da

sociedade. E com o lúdico, o entretenimento, tem-se uma somatória positiva de

todo o trabalho proposto a ser desenvolvido. A intenção é de explorar as

possibilidades de interação, a partir da participação efetiva de cada sujeito nas

atividades.

Nesta perspectiva, são necessários alguns valores para nortear as práticas

pedagógicas, tais como:

- Socialização do saber (libertação do individualismo e do egoísmo,

socialização do conhecimento científico produzido pela humanidade e socialização

das múltiplas experiências individuais, nas quais se devem considerar a importância

do quê ensinar e como ensinar);

- Respeito às diferenças (de etnia, de sexo, de idade, de culturas, de

saberes);

- Valorização do espírito de cooperação, que foi perdido ao longo dos anos

nas práticas escolares, devido à intencionalidade do sistema que tem como objetivo

individualizar, para dominar e subjugar;

- Promoção da auto-estima (estimular o diálogo entre educando e educador,

pois só através do diálogo haverá o respeito à historicidade dos indivíduos

envolvidos no processo).

É notório que este ideal político-pedagógico na EJA fragiliza-se quando

acontecem apenas algumas ações isoladas e não existe uma política educacional

direcionada a esta modalidade de ensino. Por isso, faz-se necessário o diálogo para

que a instituição possa avançar para uma prática social coerente e comprometida

com a humanização do educando, de maneira a contribuir com a diminuição das

diferenças sociais.

Então, é preciso valorizar o coletivo, partindo da compreensão de que o

indivíduo é indispensável na construção de uma sociedade mais justa e igualitária,

onde este indivíduo percebe que pode e deve interferir nos processos políticos

levando a uma autonomia de pensar e agir do sujeito na sociedade onde este se

integra.

4

Surge desta perspectiva um questionamento: Como as atividades coletivas

do esporte e cultura contribuem para a socialização do sujeito no espaço escolar?

Esse questionamento põe-se como um problema de pesquisa na medida em

que a escola é considerada um espaço disciplinador, com a função de preparar o

aluno nos moldes, valores, interesses e padrões vigentes na sociedade,

individualista e excludente.

A partir deste problema, realizamos este trabalho com os seguintes objetivos:

Objetivo Geral:

Compreender o processo de socialização do sujeito da EJA por meio de

atividades esportivas e culturais.

Objetivos específicos:

- Compreender a influência do esporte e da cultura no processo de

socialização.

- Verificar a importância da criação de um espaço para práticas coletivas que

permitam a socialização.

- Investigar como os alunos percebem as atividades de esporte e cultura

como mecanismo de socialização.

Para responder a estes questionamentos foi aplicado um questionário2 aos

alunos, nos quais foram divididos por sexo e idade para uma melhor

representatividade do grupo.

Para alcançar os objetivos foi necessário compreender melhor os sujeitos da

EJA e seu lugar social, quem são esses jovens que se encontram fora do ensino dito

regular, quais os motivos que os trouxeram para a EJA, e quem são os adultos desta

modalidade de ensino, quais suas dificuldades, sociais e culturais a serem

superadas com a escolarização.

Ao falar da socialização do sujeito e desenvolvimento humano há duas

grandes correntes de pensamento histórico-crítico nas quais se pode agrupar o

conceito de socialização. A primeira corrente tem como base a relação entre o

2 Em Apêndice 1.

5

indivíduo e o social. A segunda compreende o conceito de socialização tendo como

base o natural e o social.

Para compreender a influência do esporte e da cultura no processo de

socialização, busca-se explorar o esporte e as atividades culturais de forma lúdica,

com a participação de todos, com o objetivo de promover a confraternização e o

aprendizado. Abrindo espaço para que os sujeitos participem na construção do

conhecimento, integram-se sem pré-conceitos, trabalhando em conjunto, permitindo

e viabilizando espaço e tempo para que seja possível o desabrochar das relações

interpessoais e intergrupais.

6

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 OS SUJEITOS DA EJA E SEU LUGAR SOCIAL

Para entender a importância da Educação de Jovens e Adultos (EJA), faz-se

necessária uma reflexão sobre o perfil dos sujeitos que constituem esta modalidade

de educação. É notório que a EJA remete a especificidades em termos de

escolarização, de faixa etária e, sobretudo, à especificidade cultural.

Por isso, a compreensão do lugar social do sujeito da EJA é fundamental

para situar sua relação com o processo de escolarização. Neste sentido, é

interessante destacar a concepção de educação que predomina na sociedade

contemporânea. Hadji (2006) quando perguntado, em uma entrevista para a revista

Nova Escola, sobre o que entende por ser humano educado, responde:

É quem teve a sorte de encontrar as circunstâncias e as pessoas que lhe permitiram tirar o melhor proveito de suas potencialidades. E que graças a isso, vai saber em qualquer situação respeitar os outros. Este é o critério para saber se a educação foi bem sucedida: como o respeito se manifesta na relação com o outro (HADJI, 2006, p. 20).

Esta resposta sugere uma indagação: Em que medida a escola contribui para

a educação do sujeito? Que relação há entre escola e sociedade?

Inicialmente é preciso registrar que a EJA busca atender uma grande parcela

da sociedade que, por algum motivo, teve de interromper os estudos, alguns por um

curto período, outros por um período maior de tempo. Por isso, a maioria dos

sujeitos que ingressam na EJA são motivados, em primeira instância, pela

necessidade de recuperar a escolaridade, de correr atrás do tempo perdido, para

melhorar ou conseguir um emprego.

Neste movimento de retorno à escola emerge o descompasso entre escola e

sociedade. Entretanto, segundo Bango (2003) a escola

não é a única instituição que se ressente do descompasso com as mudanças sociais. Outros agentes de socialização – família, igreja, os sistemas políticos ou o próprio Estado – também não conseguem adequar-se ou transformar-se no mesmo ritmo das mudanças.

7

Desajustes e déficits podem surgir na função socializadora que tradicionalmente cumpriam (BANGO apud CAMACHO, 2003, p. 328).

O que podemos perceber é que o Estado assume um papel duplamente

compensatório através de suas ações e medidas. Por um lado aparece para

compensar um déficit da escola na formação de jovens, por outro, vem compensar o

déficit e o atraso atribuído aos jovens de classes populares, prestando assistência

de maneira a garantir ainda que minimamente, condições de exercício de cidadania

(CAMACHO, 2003).

Tanto o jovem como o adulto volta à escola não apenas para conquistar um

diploma, mas uma vida mais digna. Segundo Cavalcante (2005, p. 52) “os alunos

vão em busca de instrumentos para viver no mundo da informação, e elaborar

pensamentos e ações de forma crítica. Disso depende a auto-estima, a identidade, e

até a possibilidade de conseguir emprego”.

Ao abordar o tema EJA Dayrell (1996) afirma estar implícito que a tradição

desta modalidade possui uma amplidão maior de ensino por não se limitar à

escolarização, a simplesmente transmitir conteúdos, mas “diz respeito aos

processos educativos amplos relacionados à formação humana”, como afirmava

Paulo Freire (apud DAYRELL, 1996, pg. 53).

Dayrell (1996, p. 54) ao se referir a “jovens” e “adultos”, explicita que a EJA

“abrange os sujeitos, e não simplesmente aos ‘alunos’ ou qualquer outra categoria

generalizante, e mais: sujeitos que estão situados num determinado tempo de vida,

possuindo assim especificidades próprias”. Na fala deste autor fica claro que a EJA

“lida com dois tipos de sujeitos – jovens e adultos - que pelo lugar que ocupam nos

tempos de vida, possuem realidades especificas e assim apresentam demandas e

necessidades também específicas” (DAYRELL, 1996, p. 54).

Alguns questionamentos são pertinentes e de vital importância ao estudo,

tais como: Quem são estes jovens? Como podemos definir juventude? Quais os

desdobramentos entre sua realidade e suas expectativas e afinal a quem podemos

chamar de adultos?

Oliveira (1999) alerta para a importância da percepção de que quando se

trata de EJA não está em questão apenas a especificidade etária, mas

8

fundamentalmente a especificidade cultural. Nesta linha de raciocínio, entende-se

que apesar do recorte por idades tanto jovens como adultos são basicamente não

crianças , desta forma as reflexões bem como as ações educativas não estão

direcionadas a qualquer jovem ou adulto, mas determinam e elegem um grupo

específico de pessoas relativamente homogêneas no interior da diversidade de

grupos culturais da sociedade contemporânea.

Ao se analisar o jovem, faz-se necessário observar a relação que existe

entre o mesmo e o fato de ser aluno. Oliveira (1999, p. 59) defende a idéia de que o

jovem foi incorporado recentemente ao universo da antiga educação de adultos e,

portanto, não representa a parcela de jovens com uma “história de escolaridade

regular, o vestibulando, ou aluno de cursos extracurriculares em busca de

enriquecimento pessoal”. Um dos pontos que tem em comum com os adultos é o

fato de também ser um excluído da escola, mas que muitas vezes é incorporado em

cursos supletivos em fases mais adiantadas, portanto teoricamente com mais

chances de concluir o ensino fundamental e o médio. Este jovem além de estar bem

mais ligado ao mundo urbano transita com mais facilidade através de atividades de

trabalho e lazer pelo mundo da sociedade letrada, escolarizada e urbana.

Segundo Perrenoud (apud CAMACHO, 2004, p. 329), para explicitar o

estado de aluno é determinante falar de ofício de aluno que em sua opinião é um

dos componentes do ofício de criança, de adolescente ou de jovem, pois em

qualquer das situações é exercido determinado tipo de trabalho do qual retiram

seus meios de sobrevivência.

Os meios de sobrevivência não se limitam à questão material. Para existir, dependemos de outros de uma forma ainda mais fundamental: temos necessidade que nos reconheçam uma identidade, o direito de sermos o que somos (...). Ora, estes meios de sobrevivência, tanto a criança como o adolescente, retiram-nos essencialmente do seu ofício de alunos. (PERRENOUD apud CAMACHO 2004, p. 329).

Este ofício impõe ao aluno algumas restrições, começando pelo fato de não

ser pago; ser escolhido com menor liberdade; é exercido permanentemente sob o

olhar e o controle de terceiros; e suas qualidades, defeitos, inteligência estão

freqüentemente sujeitas aos parâmetros avaliativos (PERRENOUD apud

CAMACHO, 2004).

É fundamental entender que os sujeitos focalizados, além do fato de serem

9

alunos, são jovens. A idéia de jovem é construída social e culturalmente e, portanto,

muda conforme o contexto histórico, social, econômico e cultural. Diante destas

perspectivas é inconcebível a existência de apenas uma juventude, mas juventudes.

As diferentes situações existenciais dos sujeitos permitem a construção de

concepções diversificadas de jovem ou de juventude (CAMACHO, 2004).

Na discussão sobre juventudes deparamo-nos com duas tendências

norteadoras. A primeira compreende a juventude como um conjunto social

constituído por indivíduos pertencentes a uma determinada fase da vida. Já a

segunda contempla a juventude como um conjunto social, necessariamente

diversificado, abrangendo diferentes culturas juvenis decorrentes de diferentes

pertencimentos de classes, com diferentes parcelas de poder, com diferentes

interesses ou diferentes situações econômicas (CAMACHO, 2004).

O que podemos notar é a predominância histórica e social da juventude como

uma fase da vida. São notórias as contradições que circundam e permeiam as ações

das correntes que hora “conferem atributos positivos aos jovens como, por exemplo,

a responsabilidade das mudanças sociais” e em outras oportunidades, enfatizam os

aspectos negativos, atribuindo a eles uma seqüência de problemas que envolvem

desde irresponsabilidade, desinteresse, chegando ao ápice de considerá-lo como

um problema social, por estarem muitas vezes envolvidos com situações geradoras

de problemas tais como: inserção social, drogas, violência, delinqüência, problemas

com os pais, gravidez precoce e tantos outros que são considerados pela sociedade

como sendo juvenis. (PAIS, 1993; ESPÓSITO, 1994, 2003 apud CAMACHO, 2004,

p. 331).

Por um lado a condição juvenil é reconhecida e validada, devido ao

“fenômeno de alargamento da juventude” proveniente da diminuição da infância,

pressionada pela adolescência, que vem se manifestando cada vez mais

precocemente, estendendo a juventude após os 30 anos, e o fato de que a

sociedade encontra dificuldade em permitir um movimento linear e ordenado da

juventude pelo circuito família, escola, emprego no mundo adulto. Em contrapartida,

segundo Abad (apud CAMACHO, 2004, p. 331), percebemos que o momento atual

impõe a esta condição juvenil, um “processo de desinstitucionalização, atribuindo-

lhes algumas especificidades, como, ausência de responsabilidades de terceiros,

10

(...) autonomia individual, (...), de precoces exercícios da sexualidade, de maturidade

mental física e de emancipação nos aspectos afetivos e mentais”.

Este processo embora permita alguma estabilidade, ao mesmo tempo nega a

possibilidade de autonomia econômica (ABAD apud CAMACHO, 2004, p. 331). Se

no passado a vida adulta era esperada até com certa ansiedade, hoje isto é bem

diferente. O que encontramos é uma tentativa de prolongar cada vez mais a

condição juvenil, evitando ter de assumir as atribuições impostas pela condição de

adulto. Manter a condição juvenil representa liberdade, mobilidade e, acima de tudo,

a possibilidade de vivenciar diversificadas experiências socializantes.

Diante de uma nova realidade juvenil, é determinante que se faça uma

releitura da noção de moratória social, o que no passado foi utilizado como

instrumento de caracterização da juventude, principalmente das de classe média e

da elite. Estudos sociológicos explicitam que a “juventude depende de dinheiro e

tempo”, ou seja, de uma moratória social. Podendo viver desta forma, com menor

preocupação e isentos de responsabilidades de terceiros, por um período mais ou

menos longo. É importante salientar que este tempo destinado aos estudos é

proporcionado pela família. Já em relação às classes populares a realidade é outra.

Convivendo muitas vezes com o desemprego, crises e uma insegurança brutal, os

jovens destas classes estão mergulhados em circunstâncias que não os conduzem

para uma moratória social. O tempo livre que deveria ser um facilitador para o

aprimoramento do conhecimento; acaba se constituindo em frustração, infelicidade,

impotência, (...), sofrimento e mais pobreza. Este tempo excludente, muitas vezes

pode levar os jovens ao encontro da marginalidade. (MARGULIS apud CAMACHO,

2004, p.332).

Outra questão abordada por Margulis (apud CAMACHO, 2004, p. 332), é a da

moratória vital que seria em sua opinião uma complementação do conceito

moratória social 3, que estaria, segundo ele, vinculada a aspectos energéticos do

corpo , identificando-se “com a sensação de imortalidade que hoje é algo tão

característico do jovem”. Conclui dizendo que, uma sensação que ao mesmo tempo

situa o jovem no mundo, o impele para uma conduta autodestrutiva. Uma mitologia

3Moratória social: retardar o momento de assumir de forma plena as responsabilidades econômicas e

familiares.

11

juvenil que surge de tudo isto, é a de “valorizar o morrer jovem, para não envelhecer,

tendo a ilusão de ser imortal”.

Abad (apud CAMACHO, 2004, p. 333) faz uma intervenção interessante

quando diz que a moratória social hoje impõe a necessidade de ser vista de um

novo ângulo, pois começa a “ser ampliada e enriquecida apontando dois grandes

desafios”. Em um primeiro momento encontramos os “jovens das classes populares”

que desfrutam de tempo livre, identificado como um “tempo de espera, de vazio, de

falta de trabalho e de ócio criativo”. Tempo este desvalorizado, sem valorização e

respaldo social, levando e estimulando o jovem a ir para a marginalidade, dando a

ele a garantia de exclusão. De outro lado, aqueles jovens de classe social mais

privilegiada, com possibilidade de atraso, legitimado nas responsabilidades da vida

adulta. A este sujeito, é permitido alongar o período de formação.

Segundo Bourdieu (apud CAMACHO, 2004, p. 333) a sociedade vive

atualmente a desinstitucionalização da juventude, independente da situação de

classe ou de idade a que pertençam os jovens, com isto a moratória social ao

mesmo tempo em que é instaurada, juntamente com sua negação, é o ponto de

partida para se definir a atual condição juvenil. Daí a contradição, existe uma

pseudoliberdade individual e uma possibilidade de uma verdadeira conquista

coletiva.

“(...) A desinstitucionalização proporciona uma conquista de maior liberdade no sentido de desenvolver uma moral mais autônoma e crítica; com menos interferência dos adultos, e com isto uma oportunidade real de modificar o destino, que lhe concederia um determinado lugar na estrutura social, de acordo com sua origem”. (ABAD apud CAMACHO, 2004, p. 334).

Faz-se necessário a partir de agora refletir sobre o outro personagem que é

determinante dentro do processo educacional da EJA, aquele a quem, inicialmente,

foi direcionada esta modalidade de ensino: o Adulto.

A maioria dos adultos analfabetos ou com escolarização incompleta vêem na

EJA uma possibilidade de completar sua escolaridade não concluída em idade

considerada própria por falta de oportunidade. “A caneta que meu pai me deu foi o

cabo da enxada” lamenta Maria da Silva, agricultora Pernambucana de 50 anos, que

cresceu na roça e acaba de se alfabetizar (CAVALCANTE, 2005, p. 50).

12

Oliveira (1999) diz que “o adulto, no âmbito da educação de jovens e adultos,

não é o estudante universitário, ou o profissional qualificado que freqüenta cursos de

formação continuada”, pelo contrário, por ter vindo muitas vezes de outras regiões,

ele é conhecido como migrante, com baixo nível escolar (freqüentemente

analfabetos), que chega às grandes metrópoles em busca de uma melhor condição

para viver, deixando para trás geralmente, as áreas rurais empobrecidas. Seu

relacionamento com a escola é extremamente fragmentado, pois sua passagem pelo

sistema escolar é curta e não sistemática. Paralelamente trabalhando em ocupações

urbanas não qualificadas. A busca da escola, mesmo que tardiamente, se dá para

alfabetizar e cursar algumas séries do ensino supletivo.

Oliveira (1999, p. 60) salienta que uma das características que promovem a

diferenciação entre adolescentes e adultos é o fato de que o adulto por já estar

inserido no mercado de trabalho, estabelece relações interpessoais de modo

diferente. Traz em sua bagagem pessoal, um acúmulo de experiências vividas,

conhecimentos assimilados e reflexões que lhe permitem uma leitura sobre si

mesmo e sobre outras pessoas.

Outro aspecto bastante relevante, segundo Oliveira (1992), é a falta de

sintonia existente entre a escola atual e os alunos que dela se servem. Isto se torna

visível quando verificamos os altos índices de evasão e repetência nos programas

de educação de jovens e adultos, porém não se podem desconsiderar os fatores

socioeconômicos, que muitas vezes acabam por dificultar e impedir que os alunos

possam se dedicar a este projeto de vida.

O adulto por ter se ausentado da escola por um período de tempo

considerável, e ser um dos elementos vivos do processo de exclusão do qual a

escola muitas vezes é a responsável, acaba por desenvolver situações de

desconforto pessoal provenientes de natureza afetiva, mas que podem significar

dificuldades no aprendizado. Os alunos têm vergonha de freqüentar a escola depois

de adultos e muitas vezes pensam que serão os únicos adultos em classes de

crianças, sentindo-se por isso humilhados e tornando-se inseguros quanto a sua

própria capacidade para aprender. (NUNES, 2006)

Freire, quando se refere ao aprendizado, diz que este

13

(...) inicia-se no próprio ambiente em que desenvolve-se a ação cotidiana. Para que ocorra o aprendizado, logo a evolução do ser humano, este necessita despertar para a necessidade da mesma, analisando seu cotidiano refletindo sobre ele e argumentando, logo percebendo-se como ser que se integra interage com o meio, portanto capaz de modificá-lo. Para que este processo desenvolva-se, é necessário atingir o indivíduo, desacomodá-lo de sua condição humana por vezes precária, concordante e submissa a uma existência ínfima de apenas existir por existir. É necessário tornar-se sujeito deixando de ser objeto da sociedade. (FREIRE apud NUNES, 2006).

Percebemos aqui a importância do diálogo do sujeito com o meio onde vive.

Para Freire (2006) o processo de ensino-aprendizagem só terá êxito a partir do

momento em que o educando tome consciência de que ele não é um mero

espectador, mas sim autor e construtor de sua própria história podendo alterá-la ou

modificá-la a partir de uma leitura e análise da realidade.

Ao abordarmos o perfil dos sujeitos que constituem a EJA, estamos

procurando definir a sua especificidade, levando em consideração que tanto o jovem

como o adulto, muitas vezes analfabeto, que antes de tudo é um trabalhador, de

modo geral em condição de subemprego ou mesmo desempregado, como já

mencionado, se vê quase sempre “submetido à circunstância de mobilidade no

serviço, alternância de turnos de trabalho, cansaço. Outro aspecto importante e que

deve ser levado em consideração, é a diversidade dos grupos sociais; bem como o

“perfil sócio-econômico, étnico (...), localização espacial, (...). Sendo assim, requer

pluralismo, tolerância e solidariedade na sua promoção”. (GADOTTI & ROMÃO,

2006, p. 120).

É fundamental que a EJA não seja uma mera oportunidade de reposição da

escolaridade perdida, como normalmente muitos consideram por ser um curso que é

ministrado em um período menor de tempo. Ao contrário deve buscar construir uma

identidade própria, visando sempre à qualidade do ensino, oportunizando a todos

chegar até ao final, com a garantia de acessar a certificação equivalente a do ensino

que conhecemos como regular (GADOTTI & ROMÃO, 2006, p. 121).

14

1.2 SOCIALIZAÇÃO DO SUJEITO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Vai encontrar o mundo, disse-me meu pai,

a porta do Ateneu. Coragem para a luta. O Ateneu (Crônicas de Saudade)

Esta frase, citada pelo personagem Sérgio, na obra O Ateneu, de Raul

Pompéia, foi dita por seu pai no momento em que o deixa na porta do Ateneu, uma

escola em regime de internato, em que a partir deste momento ele conviverá em

outro grupo social, sugere-nos uma reflexão sobre a relação entre socialização e

escola.

Como a expressão socialização é comum no linguajar cotidiano, é preciso

situá-la no campo educacional. Segundo Oliveira (1996) há duas grandes correntes

de pensamento histórico-crítico nas quais podemos agrupar o conceito de

socialização. A primeira corrente tem como base a relação entre o indivíduo e o

social. A segunda compreende o conceito de socialização tendo como base o

natural e o social. Na primeira corrente, conforme Oliveira (1996, p.71), tem-se como

base a concepção de que o homem é dotado, ao nascer, de uma essência já

determinada, mas que se desenvolve no ato de relacionar-se com o meio em que

vive. É com base nesse pressuposto que os termos individual e social são

concebidos, considerando-se o desenvolvimento do indivíduo ou como processo de

adaptação ou como interação entre organismo e meio ambiente (mesmo sendo este

entendido como meio social), através da busca de equilíbrio entre organismo e meio

ambiente. Ocorre, então, uma polarização entre os fatores sociais e os biológicos. É

nesse sentido que o processo de socialização é visto como algo externo à essência

já existente no indivíduo (OLIVEIRA, 1996, p. 72).

Com base nesta corrente, podemos compreender a questão do pleno

desenvolvimento do indivíduo no meio em que vive, cuja origem está no processo de

surgimento da burguesia e com a Revolução Francesa disseminou-se, de forma

mais enfática, através da proclamação dos princípios de igualdade, fraternidade e

liberdade para todos. Do ponto de vista da concepção de homem e de seu

desenvolvimento para formar-se como cidadão participante da construção daquela

15

sociedade, era preciso que o indivíduo fosse educado espelhando-se numa essência

idealizada de homem, que se afirmava compatível com aquela sociedade em

construção. Oliveira (1996, p.72) ressalta que isso vai mudar com o surgimento das

manifestações proletárias no final do séc. XIX, que fará com que a burguesia mude o

seu discurso de igualdade fraternidade, para a tentativa de explicar o “sucesso ou

não do indivíduo no seu meio social como algo decorrente das diferenças

individuais”.

A segunda corrente baseia-se na relação entre o natural e o social, que tem

como origem da mesma forma que a anterior o fato histórico, mas há, entretanto,

uma diferença fundamental: a contraposição entre o social e o individual tem origem

objetivo – histórica na divisão social do trabalho, na alienação da sociedade de

classes. A relação entre o natural e o social tem como origem objetivo - histórica na

transformação da natureza pelo trabalho, na produção do mundo humano através da

dialética entre objetivação e apropriação que, na historia da humanidade, tem se

dado na divisão social do trabalho (OLIVEIRA,1996, p. 77).

Nesse sentido, a socialização é o processo de produção do mundo social que

se distingue do mundo da natureza e do homem como ser social, que se distingue

dos demais seres vivos. O processo histórico – social de humanização do ser

humano foi precedido pelo processo de evolução biológica, o processo de

humanização que resultou no aparecimento de características biológicas

necessárias ao surgimento da atividade especificamente humana – o trabalho

(OLIVEIRA, 1996, p. 77).

Então, cabe refletir sobre a relação entre a escola e o processo de

socialização.

De acordo com Saviani (2000), cabe à escola a socialização do saber

elaborado. Este autor parte do pressuposto de que “a elaboração do saber implica

em expressar de forma elaborada o saber que surge da prática social” (idem, p. 91).

Nesse sentido, a escola, numa perspectiva histórico-crítica, não fará apenas a

transmissão do saber, mas promoverá a apropriação dos instrumentos de

elaboração e sistematização dos saberes produzidos nas relações sociais.

(SAVIANI, 2000, p. 91)

16

Ao referir-se ao saber produzido socialmente, Saviani (2000) salienta que o

desafio pedagógico consiste em “permitir que as novas gerações se apropriem, sem

necessidade de refazer o processo, do patrimônio da humanidade, isto é daqueles

elementos que a humanidade já produziu e elaborou”. Então, o processo de

socialização supõe um saber existente. Porém, este saber não é estático, acabado,

“é suscetível de transformação, mas sua própria transformação depende de alguma

forma do domínio deste saber pelos agentes sociais”. (SAVIANI, 2000, p. 92).

Sendo assim, a questão crucial quando se trata de socialização no espaço

escolar está na concepção de educação adotada. Se partirmos do entendimento de

que a educação é uma prática social interessada na emancipação do sujeito, ou

seja, no seu processo de humanização, a socialização consiste em promover um

espaço de interação para que o sujeito possa efetivamente desenvolver-se.

Nesta perspectiva, todo o processo pedagógico concorrerá para o

desenvolvimento do sujeito. Cada atividade, cada ato pedagógico concorrerá ou não

para que o indivíduo elabore os saberes historicamente construídos, conforme suas

necessidades e expectativas.

Oliveira (1992, p. 56) ressalta que quando não se discute o material escolar

pode-se estar sendo instrumento de transmissão e perpetuação da ordem vigente e,

conseqüentemente, de uma determinada postura frente a decisões a serem tomadas

e realizadas. Então, se o educador escolheu ser ordeiro, por exemplo, (e ser ordeiro

é seguir aquela ordem considerada a ordem certa), utiliza nada mais nada menos

que a ordem estabelecida sem questioná-la em função de seu aprendizado, o

educador retira do educando a oportunidade de se exercitar no ato de escolher algo

conscientemente em função de objetivos que, por sua vez, são determinados a partir

da identificação das necessidades que precisam ser superadas. Retira, portanto, do

educando a oportunidade de se exercitar (no processo ensino-aprendizagem) no

processo de ir se tornando sujeito de sua decisão de seu aprender e demais atitudes

e, portanto, de se tornar livre (OLIVEIRA, p.58, 1992).

17

1.3 O LUGAR DAS ATIVIDADES ESPORTIVAS E CULTURAIS N O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO

Heller (apud SPOSITO, 2000, p. 101), descortina o cotidiano escolar nas suas

micro-relações, enfatizando as relações sociais e afetivas existentes entre os alunos,

destes com os professores e o corpo técnico. A escola é uma instituição viva,

contraditória, que se constrói no dia a dia, onde os alunos atuam como sujeitos

quando “apropriam e reelaboram os conteúdos e as relações, dando-lhes

significados específicos, muitas vezes distantes dos atribuídos pela formalidade da

instituição”. São de grande importância os espaços e tempos vividos pelos alunos

fora das atividades formais da sala de aula. Rocha (apud SPOSITO, 2000, p. 101)

conclui apontando que a melhoria do ensino “passa pela revisão do que acontece no

interior da escola, o que demanda um conhecimento mais profundo dos variados e

complexos componentes do cotidiano escolar”.

Segundo Rodrigues (1991, p. 56),

(...) a função da escola não é apenas informar o educando sobre o passado histórico de uma nação ou transmitir um conhecimento morto, mas situar os cidadãos, no âmbito da sua atualidade. E ao fazer isto possibilita aos indivíduos desenvolver habilidades que lhes permitem o desempenho de atividades, capazes de garantir condições de sobrevivência a si, a sua família a ao grupo social ao qual pertence.

Nesta concepção Rodrigues aponta a necessidade de situar os educandos no

âmbito da atualidade, para que possam construir sua via de acesso para inserção

social e inserção no mundo de trabalho. Para este autor a função da escola, uma

exigência fundamental hoje, diz respeito à formação e ao desenvolvimento do

espírito de cidadania nos indivíduos (RODRIGUES, 1991, p. 57). Nesse processo,

está a necessidade de dar condições de sobrevivência aos indivíduos.

A partir daí, determina-se o que é fundamental que a escola ensine, o que é

essencial que a escola desenvolva como: preparação dos indivíduos e da sociedade

para a aquisição do saber, desenvolvimento da cultura e aprendizado de técnicas e

de formas de trabalho que promovam em conjunto o desenvolvimento individual e

social.

18

Considerando que o trabalho da escola acontece num determinado contexto

sócio-histórico marcado por contradições, é evidente que existem limites e

possibilidades para alcançar seus objetivos. Neste contexto, o papel do professor

tem sofrido alterações diante das mudanças que vem ocorrendo no conjunto da

sociedade. O que se pode dizer é que a socialização está seguindo um outro

caminho já indicado por Mead (apud VILLA, 1998, p. 108): as sociedades primitivas

ofereciam muito menos espaço para a individualidade – para o pensamento e a

condutas originais, únicos, criadores, por parte do indivíduo que se encontra dentro

dela ou pertinente a ela - do que a sociedade civilizada. Na verdade o que temos

hoje é uma mudança nos elementos que compõem a formação dos indivíduos.

Atualmente, as pessoas têm um acesso muito maior a informações e ao

conhecimento do que no passado e com isso se o educador não estiver preparado

para o diálogo, provavelmente ele terá problemas de relacionamento com os

educandos.

Villa (1998) fala do processo de decomposição do papel tradicional. Esta

decomposição é a libertação de qualquer servidão no que se refere os modelos de

homens exibidos por cada época, e que constituíam, na visão de Durkheim, o ser

social que existe em cada um de nós e que a educação deveria desenvolver-se, ou

seja, que o intelectual e o professor se encarregavam de inculcar nos alunos

(DURKHEIM apud CASTRO & DIAS, 1976). Na realidade, os grupos passam a ter

vários modelos e não um modelo a ser imitado, despertando na sociedade o

sentimento de insegurança, (VILLA, 1998) uma superposição de identidades, o que

torna possível viver uma vida singular.

Qual seria então a melhor postura a ser tomada, no contexto atual, diante da

diversidade do corpo discente? Como o corpo docente pode contribuir para que os

alunos se articulem, de modo a criar vias de acesso para a interação em que

professores e alunos circulem e troquem conhecimentos e experiências, respeitando

o mosaico de identidades multifacetadas, em que o diferente se torne, ao invés de

um fator complicador, um fator enriquecedor? Como administrar e desinibir os

sujeitos para que eles circulem com mais desenvoltura e dissipando totalmente os

medos que impregnam as mentes, dificultando os relacionamentos entre educando –

educador e educador – educando?

19

No espaço escolar é preciso promover o encontro dos sujeitos para favorecer

a socialização. Considerando a experiência realizada no Núcleo Evanda Sueli Juttel,

com a Noite de Esporte e Cultura, que consiste em um conjunto de atividades

voltadas a socialização dos sujeitos, entendemos que se promove o encontro, o

espaço do diálogo entre alunos e professores, de modo que os sujeitos irão

aprender mutuamente, discutindo seus problemas sociais.

A relação entre as pessoas, o diálogo, a troca de experiências, permitirá o

crescimento humano, fará compreender as diferenças, construirá elos que

representam as relações de troca de conhecimento humano diferenciados, formando

uma grande corrente.

Freire (2005, p. 23) fala que “não existe docência sem discência”. Com isso

ele quer dizer bem mais do que não existe professor sem aluno, ele quer dizer na

verdade que antes de você ensinar você aprende. O ato de aprender precede o de

ensinar, é isto que o educador tem que ter sempre em mente, quem ensina aprende

ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.

Freire afirma, ainda, que:

Ensinar inexiste sem aprender e vice e versa e foi aprendendo que historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar, como tarefa não apenas embutida no aprender, mas perfilada em si com relação a aprender, é um processo que pode deflagrar no aprendiz uma curiosidade crescente, que pode torná-lo mais e mais criador. (FREIRE, 2005, p. 24).

É isto que o educador tem que socializar, uma postura de diálogo, de

curiosidade e criticidade, para que ele e os educandos construam uma escola

verdadeiramente democrática, como fala Saviani (1987). Para que a humanidade

saia das cavernas em que ainda habita, não é suficiente que uma minoria apenas

delas se liberte, mas que todos os seus membros saiam para a luz do dia e vejam a

realidade, superando a visão das sombras, como dizia Platão na Alegoria da

Caverna.

É muito interessante que já na Antigüidade, até nossos tempos, quase todos

os autores citados acabam referindo-se ao diálogo, à compreensão, à humildade

que eleva a condição humana. A referência não é a condição material, mas a do seu

interior.

20

As atividades esportivas realizadas no Núcleo fundamentam-se em uma

concepção de esporte lúdico, que tem a brincadeira como objetivo, tal como sugere

Santin (1993, p. 89).

O jogo compreende um mundo de mistério, de magia, de ilusões e de

interesse, isto porque se constitui de situações altamente contraditórias enraizadas

na origem da humanidade. Os jogos estão envolvidos de sonhos e desilusões, de

sorrisos e lágrimas, de alegria e tristeza, de vitórias e derrotas, de festas e lutas.

Realmente o jogo está vinculado à liberdade e à criatividade da brincadeira, mas ao

mesmo tempo está amarrado às normas e às regras das organizações esportivas. O

jogo pode ser o momento de lazer, de divertimento e de prazer, ao mesmo tempo,

pode ser esforço e trabalho. Pode ser o símbolo de autonomia e auto-realização.

Promove confraternização, festa, abraços e vitórias, isto é alegria. Conforme Santin

(1993, p. 89), o jogo é uma atividade lúdica, brincadeira que leva as pessoas à

criatividade, porque o ato de brincar é por si só, uma atividade criativa.

Na proposta pedagógica do Núcleo, os jogos são utilizados como

mecanismo facilitador para a socialização, pois o objetivo é justamente fomentar a

criatividade, sair da repetição não inculcar elementos impostos e, sim, fazer com que

as pessoas interajam entre si e despertem para o seu interior que é um universo só

seu.

Foi a ação de brincar que tornou o homem um ser humano. Isto porque o ato

de brincar é uma atividade do brinquedo criativo. É a criatividade do brinquedo que

implica na capacidade de simbolizar, que pertence exclusivamente ao homem

(CHILLER apud SANTIN, 1993, p. 91). É interessante observar que crianças que

não têm acesso a brinquedos industrializados pegam, por exemplo, latas de leite ou

de óleo, enchem de areia, passam um arame por dentro, amarram um barbante

neste arame e, assim, constroem o melhor carrinho do mundo e saem a puxar

dando asas à imaginação.

Na antiguidade, especialmente na cultura grega, centrava-se a condição

humana na scholé que consistia em atividades de lazer, de cultura, muito diferentes

das ocupações do trabalho, por isso eles não tinham em sua linguagem, termo

específico para nomear as ocupações que nós chamamos de trabalho. Eles usavam

a forma privativa. O trabalho era designado como a-sclholé, que significa privação

21

de scholé, ou seja, o não lazer. O mesmo acontece com a cultura romana. Os

romanos designavam as atividades de trabalho pelo termo privativo nec-otium, isto

é, o não-ócio, ausência de tempo livre (SANTIN, 1993, p. 91).

As atividades culturais, por sua vez, baseiam-se na idéia de que a cultura, tal

como nos diz Coelho (2001), move o indivíduo, o grupo, para longe da indiferença,

da indistinção, é uma construção que só pode preceder pela diferenciação - seu

oposto é a diluição.

Com as atividades culturais educadores e educandos saem da situação

inercial em que se encontram na quase totalidade das aulas. Quebra-se o gelo,

fazendo com que as pessoas interajam mediante a troca de experiências ricas, até

porque neste ambiente das salas de aula da EJA, à diversidade cultural, racial,

social, etária e de gênero é muito grande, dificultando o relacionamento até porque

as pessoas e os grupos não estão ambientados, por várias questões que serão

abordadas ao longo deste trabalho.

A proposta adotada no Núcleo busca uma abordagem interdisciplinar, com o

envolvimento de todos os educadores, interagindo a partir de suas respectivas

disciplinas. Isto requer um projeto de ação coletiva, pois:

A interdisciplinaridade requer não apenas especialistas nas diversas áreas envolvidas (e nunca será demais ressaltar o papel que a competência representa aqui), mas acima de tudo, um projeto, que coordene as atividades, para a qual convirjam as ações e que tenha sido elaborado para ser posto efetivamente em prática (COELHO, 2001, p. 68).

Coelho (2001, p. 93) enfatiza, também, que a ação cultural espera ativar três

esferas da vida dos indivíduos e dos grupos:

A imaginação, onde a consciência reflita sobre si mesma, inventa a si mesma, se abre para as possibilidades, libertando-se do ser, onde a consciência está à beira de muita coisa, sem saber bem o que, gerando imagens imateriais do mundo tal como este existe em sua aparência precária e imediata, isenta de normas e coações.

A ação, quando o sujeito, ativamente pronto, sem tensão ou distração, penetra no tempo presente e viabiliza que sua imaginação pré-sentiu, predispôs, ligando-se ao processo cultural concreto.

A reflexão, que lhe permite fazer a si mesmo uma proposta de continuidade de si próprio, de sua consciência e de sua ação, uma interação com o passado capaz de permitir–lhe o exercício teórico, isto é, a previsão do futuro, a predeterminação do possível. Neste momento, o circulo se fecha e a imaginação é ativada.

22

Ainda conforme Coelho (2001), a consciência está isenta de normas e

coações, é neste exato momento que você, observando atentamente, percebe o

sujeito em pleno ato de realização, às vezes este ato aparentemente singelo, mas

de um significado incrível, não só para o realizador, mas para o observador atento.

Estas três esferas, a consciência, a imaginação e a reflexão são muito

importantes no processo de aprendizagem e de desenvolvimento humano, sem falar

no relacionamento do indivíduo com o grupo. Porque ao realizar-se como criador e

percebendo-se como ser inacabado (FREIRE, 2005), ele vai adiante e vê que pode

muito mais, que as coisas não estão prontas.

Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem tratar sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vistas sobre o mundo, sem fazer ciência, ou teologia, sem assombro em face do mistério, sem aprender, sem ensinar, sem idéias de formação, sem politizar não é possível. É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente. (FREIRE, 2005, p. 58).

Estas palavras sobre a inconclusão caracterizam a ação cultural. A busca da

liberdade de criar e de se expressar torna o ato de trabalhar a cultura um

mecanismo de socialização. Pois é justamente manipulando repertórios de

fragmentos de coisas populares que, em muitas sociedades, inclusive a nossa, se

expressa e se reafirma simbolicamente a identidade da nação como um todo ou,

quando muito, das regiões, encobrindo a diversidade e as desigualdades sociais

efetivamente existentes no seu interior (ARANTES apud COELHO, 2001, p. 14).

Significação e valores são da essência da organização da cultura, pertencer a um

grupo social implica, basicamente, em compartilhar um modo específico de

comportar-se em relação aos outros homens e à natureza.

Arantes (apud COELHO, 2001, p. 50) registra alguns pontos fundamentais

sobre a Cultura:

1- A cultura se constitui de signos e símbolos; ela é convencional, arbitrária e

estruturada.

2- Ela é constitutiva da ação social sendo, portanto indissociável dela.

23

3- O significado é resultante da articulação, em contextos específicos, e na

ação social, de conjuntos de símbolos e signos que integram sistemas.

4- Em conseqüência disso, os eventos culturais devem ser pensados como

totalidades, cujos limites são definidos a partir de critérios internos as

situações observadas.

5- Embora os símbolos culturais tenham existência coletiva, eles são

possíveis de manipulação. Articulam-se no interior de uma mesma cultura,

as concepções e interesses diferentes ou mesmo conflitantes.

6- Os eventos culturais não são coisas (objetos materiais ou não materiais),

mas produtos significantes da atividade social de homens determinados,

cujas condições históricas de produção e transformação devem ser

desvendadas.

Segundo Arantes (apud COELHO, 2001), os eventos culturais articulam-se na

esfera do político, no sentido mais amplo do termo, ou seja, no espaço das relações

entre grupos e segmentos sociais. Assim sendo, o estudo das manifestações

culturais deve detectar os constrangimentos que limitam a sua articulação efetiva e a

sua transgressão e superação em situações concretas.

É interessante perceber, que os vários grupos sociais por opção ou exclusão

criam espaços alternativos de expressão cultural, em que eles são livres para

dialogar entre si ou com outros elementos culturais de outros grupos, absorvendo

elementos que são incorporados, elementos que são excluídos, tirando de novelas,

de teatros, de cinemas, formando uma identidade para este grupo, e a forma de

expressão destes grupos é muito importante para o trabalho de socialização.

Nas atividades culturais os sujeitos abrem-se para o conhecimento, integram-

se e participam sem pré-conceitos, trabalhando em conjunto, permitindo e

viabilizando espaço e tempo para que seja possível o desabrochar das relações

interpessoais e intergrupais.

Como na EJA existem diferentes grupos, interagindo entre si, estes se

libertam dos medos de se expor e se expressar, podendo, assim, educandos e

educadores, transitar e perceber as várias interseções que aparecem nas vias que

são as expressões culturais. Nesse sentido, fazendo teatro, música, poesia ou

24

mediante qualquer outra manifestação de arte constroem-se com cacos e

fragmentos um espelho onde transparecem roupagens identificadoras particulares e

concretas, o que é mais abstrato e geral num grupo humano, ou seja, a sua

organização, que é condição e modo de sua participação na produção da sociedade

(ARANTES, apud COELHO, 2001, p. 78). Esse é o sentido mais profundo da

cultura.

25

2. NOITE ESPORTE CULTURA E LAZER

2.1 DESCRIÇÃO DO PROJETO

A Noite Esporte, Cultura e Lazer é um momento pensado para alunos e

professores. Nesta noite tem-se a oportunidade de professores e alunos

conhecerem-se, criando um laço maior a escola, e, com isso, um maior interesse em

aprender.

O tema a ser abordado é determinado pelas: datas comemorativas,

necessidades dos alunos, ou temas de sala de aula. O evento acontece em uma

noite da última semana de cada mês, sendo necessário alternar o dia da semana,

para não prejudicar nenhuma disciplina. Todos os professores devem estar presente

mesmo que não seja seu dia de aula e devem se envolver com as atividades antes,

durante e depois do evento, apoiando e incentivando os alunos.

A primeira Noite Esporte Cultura e Lazer foi no primeiro semestre de 2006,

onde foram utilizadas as duas últimas aulas do período noturno. Naquele momento

os alunos puderam realizar atividades desportivas de forma lúdica (vôlei, basquete,

futebol), onde cada time poderia ser formado por alunos de todas as turmas e sexo;

e atividades musicais.

A segunda Noite foram utilizadas as cinco aulas do período noturno para a

realização do evento sendo que o tema desta feito de um conteúdo estudado em

sala. Os alunos com a orientação dos professores apresentaram as correntes

culturais no Brasil desde a década de 20 (poesia, cinema, esporte e música).

O terceiro momento foi, a pedido dos alunos, uma gincana desportiva

onde puderam realizar esportes como: vôlei, futebol, basquete e handebol (estes

com regras adaptadas).

O seguinte foi inspirado no calendário. Os alunos e professores realizaram

uma arrecadação de fundos e promoveram uma festa junina com trajes típicos,

comidas típicas e música.

Ao retornar as aulas para o segundo semestre de 2006, as atividades do

26

projeto foram retomadas, explicando o projeto aos novos alunos e debatendo os

temas a serem desenvolvidos. Em 2007 o projeto foi retomado com dificuldade

devido às mudanças do corpo docente, pois estes antes de ajudarem os alunos

tiveram que conhecer o projeto e seus objetivos.

A Noite Esporte, Cultura e Lazer é uma construção dos alunos com o

apoio dos professores. O entendimento e a avaliação do aluno sobre o evento é de

grande importância, pois este só faz sentido acontecer ser for alcançado o objetivo

que é de: aumentar a auto-estima dos alunos, criar um círculo de amizade, mostrar

que o aprendizado ultrapassa as paredes da sala de aula, que são capazes de

produzir conhecimento entre tantos outros enumerados pelos alunos e professores.

27

3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 NOITES DE ESPORTE E CULTURA: UMA EXPERIÊNCIA DE SOCIALIAÇÃO

Ao se realizar a pesquisa optou-se por uma abordagem qualitativa dos dados

para uma melhor compreensão da atividade coletiva de esporte e cultura como meio

socializador do sujeito. Para se ter um conjunto representativo de entrevistados,

procurou-se constituir a amostra com diversidade de gênero e de idade, com a

participação de todas as turmas. Sendo assim, em cada turma, espontaneamente,

os alunos se prontificaram a responder o questionário. Quanto a gênero, temos a

seguinte distribuição: 15 (quinze) homens sendo que destes 6 (seis) jovens e 9

(nove) adultos; 15 (quinze) mulheres, 6 (seis) jovens e 9 (nove) adultas. Considerou-

se, portanto, jovens aqueles com idade inferior a 30 anos, adultos aqueles com

idade superior a 30 anos.

Estes se encontravam devidamente matriculados no segundo semestre de

2006, no Grupo Escolar Evanda Sueli Juttel – Núcleo Vicente Silveira, na

modalidade EJA nível III4, localizado no Bairro Passa Vinte em Palhoça onde foi

aplicado o questionário, vide Apêndice 1.

Para compreender a influência da atividade coletiva de esporte e cultura na

socialização do sujeito indagamos sobre seu entendimento em relação à

socialização. A maioria dos alunos entrevistados refere-se à socialização como “uma

união para alcançar um objetivo”.

Um dos entrevistados diz: “A socialização é um componente de pessoas de

jovens e adultos trocando idéias, experiência, sem conclusões preciptadas, sem

briga, em união, por que sem a união, sem a força de vontade de participação, não

há socialização” (questionário 07).

4 Educação de Jovens e Adultos de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental.

28

Nesta fala podemos destacar palavras chaves da socialização muito

utilizadas pelos alunos na tentativa de descrevê-la. Temos “grupo”, “ser social”,

“respeito” chegando a um tripé da descrição de socialização. Os alunos entendem a

palavra socialização como algo que se compartilha na convivência em harmonia

entre grupos ou indivíduos o que leva ao entrosamento e, conseqüentemente, a

amizade e o divertimento, permitindo assim mostrar as potencialidades de cada um,

a qual acontece através da comunicação e do diálogo. Este entendimento remete-

nos a Freire (2005, p. 24), onde este fala que é através do diálogo que o educador

vai aprender sobre o mundo do educando, que é o princípio básico de quem se

propõe a ensinar e que quanto mais criticamente se exerce a capacidade de

aprender tanto mais se constrói e desenvolve o que ele chama de capacidade

epistemológica, sem a qual não alcançamos o conhecimento cabal do objeto, e é

isto que nos leva a uma recusa do ensino bancário5.

Houve também o não entendimento da palavra socialização ou uma leitura

errônea da mesma. O entrevistado confunde socialização e sociedade.

“Eu entendo que socialização é um conjunto de sócios que fazem

envestimentos para o Estado” (questionário 16).

Esta falta de entendimento vai refletir na segunda questão onde é perguntado

se a escola é um ambiente socializador, 29 (vinte e nove) entrevistados

responderam que sim e 1 (um) que não, a escola não é um ambiente socializador.

5 O ensino bancário se alicerça nos princípios de dominação, de domesticação e alienação transferidas do

educador para o aluno através do conhecimento dado, imposto, alienado.

29

Questão 2 - A escola é um ambiente socializador? Ex plique.

0

5

10

15

20

25

30

Sim

Não

Na opinião dos entrevistados a escola onde estudam é um lugar socializador

devido ao trabalho em grupo, convivência entre jovens e adultos, as relações de

amizades e o aprendizado. Estão na EJA para aprender com expectativa de um

trabalho melhor, mas as amizades são muito importantes para mantê-los

estimulados. A seguir algumas das respostas da segunda questão.

“Sim, a escola nos proporciona um ambiente socializador, levendo-nos ao

aprendizado e conhecimento. Abrindo-nos espaço para os conhecimentos gerais e

humanos promovendo assim a socialização entre todos” (questionário 8).

“Sim, porque trabalhamos em grupos fazemos várias amizades de clase

diferentes fazemos progetos juntos” (questionário 22).

“Sim, porque adquirimos novos conhecimentos e novos amigos, nos

tornamos uma família dentro da escola, fazemos coisas que não fazíamos e

aprendemos muitas coisas um com o outro e também com os professores”

(questionário 2).

“Sim, porque na escola você conhece pessoas diferentes com opiniões

diferentes. Aqui você aprende adquire conhecimento faz atividades físicas. Cada dia

na escola é diferente porque a gente faz amigos” (questionário 20).

Ao serem questionados sobre a socialização na noite de esporte e cultura

estes não tiveram dúvida, 100% dos entrevistados consideram o espaço

30

socializador.

Questão 3 - A Noite Esporte e Cultura promove a soc ialização?

0

5

10

15

20

25

30

Sim

Não

Na questão anterior, ao serem questionados, se a escola é um ambiente

socializador, estes já falavam da importância da Noite Esporte e Cultura: “Sim,

porque com a noite de esporte e cultura todos se divertem e se comunicam uns com

os outros dentro da escola” (questionário 19).

Para Rodrigues (1987, p. 55), “a escola tem por função preparar o indivíduo

para o exercício da cidadania moderna, para a modernidade. Isso significa formar o

homem capaz de conviver em sociedade em que se cruzam interveniências e

influências mundiais da cultura, da política, da economia, da ciência e da técnica”.

Este espaço é utilizado não só para a socialização dos discentes, mas

também dos docentes. É de grande valia para o docente conhecer os discentes,

seus objetivos, dificuldades. Este conhecimento ajuda na construção de um

relacionamento de respeito, de troca, de diálogo.

Com isso é importante saber de que forma essa socialização é percebida

pelo entrevistado, como este avalia a participação dos docentes e dos discentes.

31

Questão 4 - Esta socialização nas Noites de Esporte e Cultura é

percebida de forma:

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Intensa

Regular

Fraca

Inexistente

Sem Resp.

Confirma-se nesta resposta, o interesse e o envolvimento dos alunos com as

atividades.

Conforme Rodrigues (1987), o processo de participação se dá em nível

individual, na medida em que os indivíduos adquirem conhecimento e se propõem a

enfrentar a realidade. E também em nível coletivo, pela interferência organizada

pelos indivíduos para mudá-la, pois o conhecimento produz alterações nos modos

de sentir e de se inserir na realidade.

Questão 5 - Em sua opinião a participação dos profe ssores na Noite

Esporte e Cultura são:

0

5

10

15

20

25

Ótima

Boa

Regular

Ruim

Insuficiente

32

Questão 6 - Em sua opinião a participação dos aluno s na Noite Esporte e

Cultura são:

0

2

4

6

8

10

12

14

16

ÓtimaBoaRegularRuimInsuficiente

Em ambas as questões as participações foram consideradas na sua maioria

ótima e boa, mostrando o envolvimento tanto do corpo docente quanto discente com

o Projeto.

Tal como nos diz Rodrigues (1987, pg. 56), “a escola, por si, não forma o

cidadão, a escola o prepara, o instrumentaliza, dá condições para que ele possa se

formar e se construir”. Mas para prepará-lo e instrumentalizá-lo é necessário

conhecê-lo. Para conhecê-lo precisa-se de tempo e espaço para

que a escola possa ser um centro de debates, de discussão, de ampliação dos valores da própria cultura, da própria civilização e do grupo social a que ela atende, permitindo, assim, uma integração dos valores tradicionais da sociedade, mas pela sua incorporação, dos novos valores que, agora, são conquistados e transmitidos pela pratica educacional” (RODRIGUES, 1987, p. 40).

E através da escola aprendem, não só, o conhecimento científico, mas

também sobre respeito, diferenças (etnia, cultura, opiniões). É de grande

importância trabalhar a realidade dos discentes e deste ponto ampliar sua

concepção de mundo, direcionando a ação do homem.

Logo, a educação escolar não pode ser pensada como algo neutro em relação ao mundo, mas como algo que produz, na sua própria dinâmica, caminhos diferenciados para a ação social concreta em função de interesses e necessidades dos próprios educandos (RODRIGUES, 1987, p. 23).

33

Na EJA temos, em especial, as diferenças de idade. Esta diferença reflete

nas ações em sala, onde o adulto dá prioridade ao aprendizado e os jovens passam

por um momento de muita euforia, surgindo os conflitos.

Questão 7 - As Noites de Esporte e Cultura consegue promover a

socialização dos JOVENS e ADULTOS?

0

5

10

15

20

25

30

Sim

Não

“Sim, porque na hora das apresentações e nas brincadeiras não tem mais

jovens e nem adultos somos todos iguais pra fazer o melhor das noites culturais”

(Questionário 11).

Este é um momento de troca, um espaço para se comunicarem, tanto para o

jovem quanto o adulto.

“Sim, temos bastante entrosamento com os colegas e professores”

(Questionário 6).

“Sim, desenvolve a sabedoria dos jovens e dos adultos” (Questionário 1).

Essa integração diminui o atrito entre jovens e adultos devido à troca de

experiências, ao espaço para se comunicarem.

Ao serem questionados em qual atividade eles se sentem mais socializados,

obtivemos o resultado abaixo:

34

Questão 8 - Em qual atividade você se sente mais so cializada?

0

2

4

6

8

10

12

14

16

EsporteCulturaNas duasEm nenhuma

Ambas as atividades se mostraram eficientes para o objetivo: a socialização.

Ao perguntar sobre a importância da criação deste espaço, não se quer

necessariamente comprovar que desta forma é o correto, mas que o espaço criado

tem sua importância.

Questão 9 - Para você a Noite de Esporte e Cultura é:

0

5

10

15

20

25

30

ImportanteIndiferenteDesnecessária

Sendo este considerado importante por 100% dos entrevistados, deixa

marcado a importância deste espaço conquistado tanto para os docentes, quanto

para os discentes. Isto porque este tem ajudado em seu desenvolvimento escolar,

como mostra a tabela abaixo.

35

Questão 10 - As atividades desenvolvidas na Noite E sporte e Cultura

influenciaram de alguma maneira para seu desenvolvi mento escolar?

0

5

10

15

20

25

30

SimNão

Os que responderam que não, apresentam explicações como as que seguem:

“Não, para mim a aula é separada da noite da cultura e não me atrapalha,

porque gosto da noite da cultura”. (questionário 2)

“Não, estava tudo sobre controle”. (questionário 9)

“Não, atrapalhou pos estava com estuto em dia”. (Questionário 27)

Sendo estes uma pequena parte dos entrevistados, para a maioria esta é

importante, como:

“Sim, eu acho que eu me desenvolvi melhor na sala de aula, consigo mostrar

o que aprendi com os professores”. (questionário 1)

“Sim, além do esporte ser bom para a saúde, a cultura e muito melhor para o

cérebro, pois você aprende muitas coisas, além do seu desenvolvimento escolar”.

(questionário 4)

“Sim, aprendemos atividades novas, a fazer atividades em grupo etc”.

(questionário 10)

“Sim, da maneira de incentivar os alunos ir na escola cada vez mais”.

(questionário 15)

Esta ajuda no aprendizado, no entrosamento, nos trabalhos em grupo

desenvolve o respeito.

36

O importante é possibilitar uma ampla discussão no âmbito da sociedade e, através da prática da discussão, da busca de novos rumos, da procura dos diversos grupos do interior da sociedade, determinar quais são as carências fundamentais para a atividade educacional. A própria sociedade vai encontrando os determinantes que devem ser desempenhados pela escola. A partir desse movimento, estaremos rompendo a espinha dorsal do autoritarismo, que afasta a comunidade da discussão e da decisão, incorporando a novamente para determinar um novo comportamento social da definição das práticas educacionais (RODRIGUES, 1987, p. 53).

Para que o diálogo e o respeito sejam base do processo de socialização no

modelo educacional atual faz-se necessário a criação de um espaço, para que todos

possam entender que juntos são mais fortes e criativos.

37

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando nosso propósito inicial de compreender o processo de

socialização do sujeito da EJA por meio de atividades esportivas e culturais, após

estudos teóricos e as aproximações com o campo empírico, pode-se confirmar a

relevância destas atividades no espaço escolar.

Mediante atividades coletivas promove-se a interação indispensável ao

desenvolvimento dos sujeitos, em todas as dimensões: cognitiva, motora, emocional

e social. O fato de interagir com o diferente, favorece o respeito, a cooperação, a

troca de experiências, o auto-conhecimento entre outros aspectos que concorrem

para o desenvolvimento humano.

Para o professor, particularmente, nestas atividades está a possibilidade real

de diálogo, fundamental para o processo de mediação. Se o professor não se

integrar ao mundo do aluno terá dificuldades para promover a mediação. É preciso

usar mecanismos de integração e de diálogo, para conhecer e interagir com o

conhecimento do educando.

Quando não acontece o diálogo o educador fica sem parâmetro para

desenvolver o currículo, pois não atinge o mundo do indivíduo, e este deve ser um

princípio básico de quem se propõe a ensinar. Como diz Freire (2005, p. 24)

aprender precede ensinar ou, em outras palavras, ensinar se dilui na experiência

realmente fundante de aprender. O que se quer dizer com isso é que quanto mais

criticamente se exerça a capacidade de aprender tanto mais se constrói e se

desenvolve o que chamamos de curiosidade epistemológica, sem a qual não

alcançamos o conhecimento cabal do objeto.

É isto que leva a uma crítica e a recusa ao ensino bancário. Isso fica muito

claro quando se está diante dos educandos e tenta-se impor um conteúdo que não

foi discutido, ou melhor, dialogado de uma maneira que se consiga dar importância

ou significado deste para os educandos, e o educador percebe que os educandos

não estão integrados ao que está sendo colocado, porque é fragmentado, não

pertence ao todo. Este todo ao qual nos referimos é o mundo do educando e do

38

educador, porque quando este educador está tentando impor algo na realidade, ele

está praticando o ensino bancário e está repetindo o que ele aprendeu, que foi o

ensino bancário, ele não se libertou, e como diz Freire (2005) ele não se humanizou.

“A escola é um espaço disciplinador, que tem por função preparar o aluno em

função de moldes, valores, interesses e padrões vigentes na sociedade, vista como

autoritária, individualista e excludente” (SOUZA apud SPOSITO, 2000, p. 105).

Sposito (2000) afirma que a escola é também um espaço de resistência por parte

dos alunos. A reação dos alunos seria um indicador das necessidades de mudanças

na estrutura.

Professores e alunos possuem concepções e expectativas diferentes sobre

as relações e os conteúdos ministrados na sala de aula. Cordeiro (apud SPOSITO,

2000) relata que os alunos acentuam a importância da postura do professor, o qual

pode estimular ou não certas relações, ao incentivar a participação nas aulas,

privilegiar os desafios e as conquistas e construir uma relação de companheirismo.

Consideram importante o bom humor dos professores como aspecto facilitador das

interações em sala de aula, sem, contudo, descartar o seu papel de autoridade,

gerando uma disparidade entre os objetivos propostos e a realidade vivida pelos

alunos, sem levar em conta a sua especificidade como alunos trabalhadores. No

caso da EJA há, ainda, a tendência de torná-la um arremedo do ensino regular, com

uma qualidade inferior.

Uma das características fundamentais dos grupos de alunos da EJA é a

diversidade. Temos diferença de idade e de cultura. O tempo fora da escola é

diverso, há desde aqueles que saíram da escola há décadas até jovens que estão

saindo do ensino fundamental direto para a EJA. Há famílias que vem do interior

tentar a vida na cidade grande e enfrentam dificuldades e há os que nasceram e

viveram sempre nesta região. Estas diferenças por um lado tornam a questão da

socialização mais complexa, mas por outro sugerem uma riqueza incontestável.

Com histórias de vida diversas às vezes professores e alunos entram em conflito,

pois seus objetivos em relação à escolarização são distintos. Então, torna-se

incontornável compreender a “prática social global como ponto de partida e de

chegada da prática educativa” (OLIVEIRA & DUARTE, 1992, p. 91). Ou seja, é

partindo das relações sociais dos sujeitos, do seu universo, dialogando com estes

39

sujeitos, trocando, interagindo, discutindo as questões sociais que atingem a cada

um, re-elaborando o que parece ser a desordem social, que vamos efetivamente

contribuir nos processos de socialização destes sujeitos. Por isso é que o homem é

não só um produto das circunstâncias, mas também aquele que as cria e as

transforma. Tal como diz Oliveira e Duarte (1992, p. 58),

se o educando escolheu “ser ordeiro” (e ser ordeiro é seguir aquela ordem considerada a ordem certa), utilizou-se, nada mais nada menos a ordem estabelecida sem questionamentos em função do seu aprendizado, ele não foi crítico, ele não realizou nada, não acrescentou nada para resolver as suas necessidades, ele não exercitou no processo de se tornar sujeito de sua decisão de seu aprender, e, portanto de se tornar livre.

Os educandos da EJA precisam de um trabalho diferenciado para poderem

perceber que estudar não tem idade nem hora. Tanto educandos como educadores

sempre terão o que aprender seja com os livros ou com os amigos, na escola ou na

sociedade. Ter o direito de colocar sua opinião e saber respeitar a opinião de outro.

Saber ouvir e poder se expressar com segurança. É este o sujeito que poderá

melhorar nossa sociedade.

“As razões fundamentais que levam os alunos para a escola são o aprender

a ler, escrever e contar e para conseguir emprego” (SPOSITO, 2000, p. 138). Essas

são motivações que traduzem a escolaridade como uma esperança do aluno de EJA

de conquistar o direito à cidadania e se inserir no mercado de trabalho formal. E esta

vem acompanhada pelo obstáculo da dificuldade de conciliar escola e trabalho.

A escola é um dos poucos espaços a que estes têm acesso, onde podem

vivenciar a possibilidade de novas relações, elevar o nível moral e intelectual, se

colocar como sujeitos de dignidade e de direitos. Sposito (2000) considera em

espaços e momentos que ultrapassam a sala de aula e o processo de ensino

também possuem uma dimensão educativa, o aprendizado ultrapassa as paredes e

as anotações de sala de aula.

Em virtude da ausência de políticas que articulem organicamente a educação de jovens e adultos às redes públicas de ensino básico, não há carreira específica para educadores desta modalidade educativa. A situação mais comum é que os docentes que atuam com os jovens e adultos sejam os mesmos do ensino regular que, ou tentam adaptar a metodologia a este público específico, ou reproduzem com os jovens e adultos a mesma dinâmica de ensino aprendizagem que estabelecem com crianças e adolescentes. (DI PIERRO & GRACIANO, 2003, p. 23)

40

A docência em turmas de educação de jovens e adultos é utilizada, na sua

maioria, para complementar em período noturno a jornada de trabalho dos docentes

que atuam com crianças e adolescentes no período diurno. A rotatividade de

docentes e a inexistência de equipes dedicadas à educação de jovens e adultos

impedem a formação de um corpo docente especializado e dificulta a organização

de projetos pedagógicos específicos para esta modalidade, limitando as

possibilidades e os resultados de eventuais iniciativas de capacitação em serviço.

(DI PIERRO & GRACIANO, 2003).

Há por parte de muitos professores e alunos pré-conceitos em relação à

escolarização de jovens e alunos, difundindo uma concepção de que já é tarde para

se aprender algo. Contraditoriamente a esse pensamento, projetos aplicados no

noturno têm mostrado a importância da garantia de uma educação de qualidade

para os jovens e adultos, apresentando inclusive mudanças nos relacionamentos

interpessoais dos sujeitos envolvidos (ALMEIDA apud HADDAD, 2000). Os maiores

desafios desses projetos são trazer elementos para a discussão em torno da

didática da educação básica de jovens e adultos, que tem como maior desafio

garantir no processo ensino aprendizagem as dimensões: política, técnica e humana

(ABRANTES; GUIDELLI apud HADDAD, 2000). É a articulação entre as dimensões

política, técnica e humana, em relação ao fazer pedagógico que caracteriza a prática

de um bom professor.

Estes alunos, além da carência material, também manifestam as carências

afetivas e a falta de participação nos processos de decisão na sociedade e em sua

vida profissional. (HADDAD, 2000)

As atividades desenvolvidas no Núcleo desde uma simples exposição de um

cartaz, a leitura de um poema, ou realização de um ato mais complexo como um

teatro, todas são valorizadas. O aluno deve ser livre para escolher a forma de

expressão a qual vai usar e cabe ao professor estimulá-lo a ultrapassar a barreira da

timidez, da insegurança, mostrando que é capaz. Dentre as atividades culturais de

grande dificuldade e ao mesmo tempo de superação, temos as danças folclóricas

regionais, estas trazem grandes desafios, pois devido as diferentes idades e regiões

de origem dos alunos os gostos musicais são os mais variados.

41

A prática faz com que o aluno perca certos medos e aos poucos comece a

propor desafios a si mesmo. Esta confiança em se colocar perante os demais pode

ajudá-lo em sua vida na sociedade, em uma entrevista de emprego.

A atividade esportiva promove a integração dos indivíduos em um objetivo

comum, promovendo um aspecto de colaboração e respeito aos demais. Além disso,

na atividade esportiva a participação não é só dos jogadores, a torcida, o apoio

“técnico” e moral dos colegas são de grande importância para os participantes. Os

jogos podem ser populares como o futebol ou jogos propostos pelos alunos, como

um campeonato de bolinha de gude, no qual as regras devem ser pré-definidas, pois

cada aluno joga da forma como aprendeu em sua região.

Para realização destas atividades é necessário repensar o currículo da EJA,

pois vários são os Núcleos que além de não terem Educação Física não têm

Educação Artística, retirando do aluno o direito de reconhecer a importância dessas

componentes curriculares em sua formação cidadão.

A ausência desses componentes curriculares repercute na ausência de

estudos e reflexões sobre as contribuições das atividades esportivas e culturais, ou

de lazer, na produção teórica sobre EJA.

Mesmo tendo os componentes curriculares, é necessário criar o espaço da

interação entre alunos e professores. É preciso repensar o individualismo em que o

ensino escolar se encontra. Um projeto como esse realizado no Núcleo Evanda

Sueli Juttel representa uma possibilidade de integração, que contribui para o

processo de socialização, na perspectiva de consolidar o papel da escola de educar

o sujeito para a vida.

42

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45

APÊNDICE 1

46

Este questionário será utilizado para realização de uma pesquisa de campo para a

conclusão do curso de especialização em educação profissional técnica de nível médio integrada ao ensino médio na modalidade de jovens e adultos.

Este deve ser respondido com sinceridade para que as conclusões do trabalho sejam verdadeiras.

Este questionário tem como objetivo verificar a relevância da Noite de Esporte e Cultura como um instrumento socializador.

O número do questionário deve ser anotado com você para se necessário uma futura entrevista.

Questionário nº ____

1. O que você entende como sendo socialização? Explique. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. A escola é um ambiente socializador? Explique. Sim Não ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. A Noite Esporte e Cultura promove a socialização? Sim Não

4. Esta socialização nas Noites de Esporte e Cultura é percebida de forma: Intensa regular fraca inexistente

5. Em sua opinião a participação dos professores na Noite Esporte e Cultura é:

Ótima Boa Regular Ruim Insuficiente 6. Em sua opinião a participação dos alunos na Noite Esporte e Cultura são:

Ótima Boa Regular Ruim Insuficiente

47

7. As Noites de Esporte e Cultura consegue promover a socialização dos JOVENS e

ADULTOS?

Sim Não Justificativa:_____________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8. Em qual atividade você se sente mais socializada?

Esporte Cultura Nas duas Em nenhuma delas

9. Para você a Noite de Esporte e Cultura é:

Importante Indiferente Desnecessária 10. As atividades desenvolvidas na Noite Esporte e Cultura influenciaram de alguma

maneira para seu desenvolvimento escolar?

Sim De que maneira:________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Não Por que? ____________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

48

APÊNDICE 2

49

Reeleitura de Obras de Arte Feitas pelos Alunos

Declamação de Poemas

50

Encenação de uma Rádio Novela

Apresentação de Dança

Marcha Sete de Setembro

51

Apresentação de Palhaços

Capoeira

Encenação de um Texto

52

Dança da Cadeira

Teatro