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Antropologia - Alba

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Z16c ZACHARIAS, Alba Regina

Caderno de Antropologia Dom Alberto / Alba Regina Zacharias. – Santa Cruz do Sul: Faculdade Dom Alberto, 2010.

Inclui bibliografia.

1. Direito – Teoria 2. Antropologia – Teoria I. ZACHARIAS, Alba Regina II. Faculdade Dom Alberto III. Coordenação de Direito IV. Título

CDU 340.12(072)

Catalogação na publicação: Roberto Carlos Cardoso – Bibliotecário CRB10 010/10

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APRESENTAÇÃO

O Curso de Direito da Faculdade Dom Alberto teve sua semente

lançada no ano de 2002. Iniciamos nossa caminhada acadêmica em 2006,

após a construção de um projeto sustentado nos valores da qualidade,

seriedade e acessibilidade. E são estes valores, que prezam pelo acesso livre

a todos os cidadãos, tratam com seriedade todos processos, atividades e

ações que envolvem o serviço educacional e viabilizam a qualidade acadêmica

e pedagógica que geram efetivo aprendizado que permitem consolidar um

projeto de curso de Direito.

Cinco anos se passaram e um ciclo se encerra. A fase de

crescimento, de amadurecimento e de consolidação alcança seu ápice com a

formatura de nossa primeira turma, com a conclusão do primeiro movimento

completo do projeto pedagógico.

Entendemos ser este o momento de não apenas celebrar, mas de

devolver, sob a forma de publicação, o produto do trabalho intelectual,

pedagógico e instrutivo desenvolvido por nossos professores durante este

período. Este material servirá de guia e de apoio para o estudo atento e sério,

para a organização da pesquisa e para o contato inicial de qualidade com as

disciplinas que estruturam o curso de Direito.

Felicitamos a todos os nossos professores que com competência

nos brindam com os Cadernos Dom Alberto, veículo de publicação oficial da

produção didático-pedagógica do corpo docente da Faculdade Dom Alberto.

Lucas Aurélio Jost Assis Diretor Geral

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PREFÁCIO

Toda ação humana está condicionada a uma estrutura própria, a

uma natureza específica que a descreve, a explica e ao mesmo tempo a

constitui. Mais ainda, toda ação humana é aquela praticada por um indivíduo,

no limite de sua identidade e, preponderantemente, no exercício de sua

consciência. Outra característica da ação humana é sua estrutura formal

permanente. Existe um agente titular da ação (aquele que inicia, que executa a

ação), um caminho (a ação propriamente dita), um resultado (a finalidade da

ação praticada) e um destinatário (aquele que recebe os efeitos da ação

praticada). Existem ações humanas que, ao serem executadas, geram um

resultado e este resultado é observado exclusivamente na esfera do próprio

indivíduo que agiu. Ou seja, nas ações internas, titular e destinatário da ação

são a mesma pessoa. O conhecimento, por excelência, é uma ação interna.

Como bem descreve Olavo de Carvalho, somente a consciência individual do

agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido

de testemunha externa que o ato de conhecer. Por outro lado, existem ações

humanas que, uma vez executadas, atingem potencialmente a esfera de

outrem, isto é, os resultados serão observados em pessoas distintas daquele

que agiu. Titular e destinatário da ação são distintos.

Qualquer ação, desde o ato de estudar, de conhecer, de sentir medo

ou alegria, temor ou abandono, satisfação ou decepção, até os atos de

trabalhar, comprar, vender, rezar ou votar são sempre ações humanas e com

tal estão sujeitas à estrutura acima identificada. Não é acidental que a

linguagem humana, e toda a sua gramática, destinem aos verbos a função de

indicar a ação. Sempre que existir uma ação, teremos como identificar seu

titular, sua natureza, seus fins e seus destinatários.

Consciente disto, o médico e psicólogo Viktor E. Frankl, que no

curso de uma carreira brilhante (trocava correspondências com o Dr. Freud

desde os seus dezessete anos e deste recebia elogios em diversas

publicações) desenvolvia técnicas de compreensão da ação humana e,

consequentemente, mecanismos e instrumentos de diagnóstico e cura para os

eventuais problemas detectados, destacou-se como um dos principais

estudiosos da sanidade humana, do equilíbrio físico-mental e da medicina

como ciência do homem em sua dimensão integral, não apenas físico-corporal.

Com o advento da Segunda Grande Guerra, Viktor Frankl e toda a sua família

foram capturados e aprisionados em campos de concentração do regime

nacional-socialista de Hitler. Durante anos sofreu todos os flagelos que eram

ininterruptamente aplicados em campos de concentração espalhados por todo

território ocupado. Foi neste ambiente, sob estas circunstâncias, em que a vida

sente sua fragilidade extrema e enxerga seus limites com uma claridade única,

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que Frankl consegue, ao olhar seu semelhante, identificar aquilo que nos faz

diferentes, que nos faz livres.

Durante todo o período de confinamento em campos de

concentração (inclusive Auschwitz) Frankl observou que os indivíduos

confinados respondiam aos castigos, às privações, de forma distinta. Alguns,

perante a menor restrição, desmoronavam interiormente, perdiam o controle,

sucumbiam frente à dura realidade e não conseguiam suportar a dificuldade da

vida. Outros, porém, experimentando a mesma realidade externa dos castigos

e das privações, reagiam de forma absolutamente contrária. Mantinham-se

íntegros em sua estrutura interna, entregavam-se como que em sacrifício,

esperavam e precisavam viver, resistiam e mantinham a vida.

Observando isto, Frankl percebe que a diferença entre o primeiro

tipo de indivíduo, aquele que não suporta a dureza de seu ambiente, e o

segundo tipo, que se mantém interiormente forte, que supera a dureza do

ambiente, está no fato de que os primeiros já não têm razão para viver, nada

os toca, desistiram. Ou segundos, por sua vez, trazem consigo uma vontade de

viver que os mantêm acima do sofrimento, trazem consigo um sentido para sua

vida. Ao atribuir um sentido para sua vida, o indivíduo supera-se a si mesmo,

transcende sua própria existência, conquista sua autonomia, torna-se livre.

Ao sair do campo de concentração, com o fim do regime nacional-

socialista, Frankl, imediatamente e sob a forma de reconstrução narrativa de

sua experiência, publica um livreto com o título Em busca de sentido: um

psicólogo no campo de concentração, descrevendo sua vida e a de seus

companheiros, identificando uma constante que permitiu que não apenas ele,

mas muitos outros, suportassem o terror dos campos de concentração sem

sucumbir ou desistir, todos eles tinham um sentido para a vida.

Neste mesmo momento, Frankl apresenta os fundamentos daquilo

que viria a se tornar a terceira escola de Viena, a Análise Existencial, a

psicologia clínica de maior êxito até hoje aplicada. Nenhum método ou teoria foi

capaz de conseguir o número de resultados positivos atingidos pela psicologia

de Frankl, pela análise que apresenta ao indivíduo a estrutura própria de sua

ação e que consegue com isto explicitar a necessidade constitutiva do sentido

(da finalidade) para toda e qualquer ação humana.

Sentido de vida é aquilo que somente o indivíduo pode fazer e

ninguém mais. Aquilo que se não for feito pelo indivíduo não será feito sob

hipótese alguma. Aquilo que somente a consciência de cada indivíduo

conhece. Aquilo que a realidade de cada um apresenta e exige uma tomada de

decisão.

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Não existe nenhuma educação se não for para ensinar a superar-se

a si mesmo, a transcender-se, a descobrir o sentido da vida. Tudo o mais é

morno, é sem luz, é, literalmente, desumano.

Educar é, pois, descobrir o sentido, vivê-lo, aceitá-lo, executá-lo.

Educar não é treinar habilidades, não é condicionar comportamentos, não é

alcançar técnicas, não é impor uma profissão. Educar é ensinar a viver, a não

desistir, a descobrir o sentido e, descobrindo-o, realizá-lo. Numa palavra,

educar é ensinar a ser livre.

O Direito é um dos caminhos que o ser humano desenvolve para

garantir esta liberdade. Que os Cadernos Dom Alberto sejam veículos de

expressão desta prática diária do corpo docente, que fazem da vida um

exemplo e do exemplo sua maior lição.

Felicitações são devidas a Faculdade Dom Alberto, pelo apoio na

publicação e pela adoção desta metodologia séria e de qualidade.

Cumprimentos festivos aos professores, autores deste belo trabalho.

Homenagens aos leitores, estudantes desta arte da Justiça, o Direito.

.

Luiz Vergilio Dalla-Rosa Coordenador Titular do Curso de Direito

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Sumário

Apresentação..........................................................................................................

Prefácio...................................................................................................................

Plano de Ensino......................................................................................................

Aula 1

Introdução a Antropologia……………………………………………………..........…

Aula 2

Antropologia e Direito............................................................................................

Aula 3

História da Antropologia Jurídica........................................................................... Aula 4

MINORIAS: Retratos do Brasil de hoje..................................................................

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”.

Centro de Ensino Superior Dom Alberto

Plano de Ensino

Identificação

Curso: Direito Disciplina: Antropologia Aplicada ao Direito

Carga Horária (horas): 30 Créditos: 2 Semestre: 3º

Ementa

Fundamentos da Antropologia Geral. Exame da Antropologia sob o enfoque jurídico. Antropologia e Direito. Antropologia do Direito e da Política. Diversidade Cultural. Alteridade. O homem em sociedade. Família e costumes: as transformações. A religião e sua influência. As crenças. Limitações do Direito quanto à resolução de conflitos. Antropologia da violência. Globalização cultural e democracia: a desigualdade material.

Objetivos

Geral: Construir uma base epistemológica capaz de nortear o entendimento, em especial no que tange a questão do estudo da antropologia sob ponto de vista jurídico e suas relações com outras disciplinas. Tecer uma introdução interdisciplinar ao conhecimento da antropologia jurídica e suas relações com os fenômenos jurídicos no contexto mundial atual. Específicos: Despertar uma visão crítica interdisciplinar no que diz respeito aos conceitos sobre Religião, Justiça e Direito. Discutir sobre o papel da família, da criança, do jovem e do adulto nas suas relações micro e macro políticas. Refletir como a Antropologia Jurídica contribui na construção de uma sociedade e de um Estado mais pluralistas e democráticos.

Inter-relação da Disciplina

Horizontal: Psicologia Aplicada, Sociologia Aplicada, Filosofia Aplicada e Introdução à Ciência do Direito. Vertical: Direito Civil V e VI - Família e Sucessões, Teoria da Constituição, Direito Constitucional I e II.

Competências Gerais

Reflexão e atuação crítica sobre a esfera de produção e desenvolvimento de raciocínio lógico, crítico e analítico da aplicação do direito.

Competências Específicas

Raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de reflexão crítica.

Habilidades Gerais

Ampliar habilidades de expressão e comunicação compatíveis com o exercício profissional.

Habilidades Específicas

Ampliar habilidades da utilização de reflexão, raciocínio para a aplicação do Direito.

Conteúdo Programático

PROGRAMA 1. Introdução ao Conhecimento Antropológico. 1.1. Breve História da Antropologia 1.2 As teorias da Cultura e o surgimento da Antropologia Científica. 1.3 Conceituando Antropologia

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”.

2. Antropologia aplicada 2.1. Antropologia e Direito 2. 2. Antropologia do Direito e da Política. 4. A Antropologia Jurídica e a Globalização 4.1- A Globalização mutilfacetada 4.2- A crise de identidade cultural das etnias nacionais dentro das sociedades complexas globalizadas 4.3. Um olhar antropológico jurídico sobre a globalização nas sociedades complexas: etnologia, alteridade e tolerância. 4.4. Antropologia das minorias: raízes da dominação cultural brasileira. 5. A Antropologia Jurídica e a Violência Estrutural 5.1- A Construção cultural da Criminalidade 5.2- A função social da dogmática jurídica nas sociedades complexas 5.3- Um Olhar antropológico jurídico sobre a violência estrutural nas sociedades complexas. 6. Antropologia Jurídica e as Religiões 2.1. O Conceito Operacional de Religião e seus quatros principais elementos formadores. 2.2. As diferenças entre Religião e Magia 2.3. As finalidades da Religião 2.4. A Antropologia Jurídica e suas relações culturais com a Religião. 2.5. Religião, Direito e Sociedade em uma perspectiva comparada: sociedades arcaicas e modernas; sociedades orientais e ocidentais, sociedades desenvolvidas e periféricas, sociedades latino-americanas e Brasil. 7. A Antropologia Jurídica e a Diversidade Cultural da Família. 6.1. Brevíssimo Histórico das pesquisas antropológicas sobre a Família 6.2- Tipologias Antropológicas da Família 6.3- Tipologias Antropológicas do Casamento 6.4- Um Olhar antropológico jurídico sobre a diversidade cultural das famílias nas sociedades complexas. 8. Sistemas de administração e de solução de conflitos. 8.1. Violência, pobreza e desigualdade. 8.2. O truismo “povo e criminalidade” vs. o novo fenômeno da criminalidade do Brasil urbano: atividade empresarial organizada do crime. 8.3. Medicalização dos problemas sociais.

Estratégias de Ensino e Aprendizagem (metodologias de sala de aula)

Aulas expositivas dialógico-dialéticas. Trabalhos individuais e em grupo para análise e possíveis soluções de casos práticos relacionados á realidade do aluno. Utilização de recurso Áudio-Visual.

Avaliação do Processo de Ensino e Aprendizagem

A avaliação do processo de ensino e aprendizagem deve ser realizada de forma contínua, cumulativa e sistemática com o objetivo de diagnosticar a situação da aprendizagem de cada aluno, em relação à programação curricular. Funções básicas: informar sobre o domínio da aprendizagem, indicar os efeitos da metodologia utilizada, revelar conseqüências da atuação docente, informar sobre a adequabilidade de currículos e programas, realizar feedback dos objetivos e planejamentos elaborados, etc. Para cada avaliação o professor determinará a(s) formas de avaliação podendo ser de duas formas: 1ª – uma prova com peso 10,0 (dez) ou uma prova de peso 8,0 e um trabalho de peso 2,0

2ª – uma prova com peso 10,0 (dez) ou uma prova de peso 8,0 e um trabalho de peso 2,0

Avaliação Somativa

A aferição do rendimento escolar de cada disciplina é feita através de notas inteiras de zero a dez, permitindo-se a fração de 5 décimos. O aproveitamento escolar é avaliado pelo acompanhamento contínuo do aluno e dos resultados por ele obtidos nas provas, trabalhos, exercícios escolares e outros, e caso necessário, nas provas substitutivas. Dentre os trabalhos escolares de aplicação, há pelo menos uma avaliação escrita em cada disciplina no bimestre. O professor pode submeter os alunos a diversas formas de avaliações, tais como: projetos, seminários, pesquisas bibliográficas e de campo, relatórios, cujos resultados podem culminar com atribuição de uma nota representativa de cada avaliação bimestral. Em qualquer disciplina, os alunos que obtiverem média semestral de aprovação igual ou superior a sete

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(7,0) e freqüência igual ou superior a setenta e cinco por cento (75%) são considerados aprovados. Após cada semestre, e nos termos do calendário escolar, o aluno poderá requerer junto à Secretaria-Geral, no prazo fixado e a título de recuperação, a realização de uma prova substitutiva, por disciplina, a fim de substituir uma das médias mensais anteriores, ou a que não tenha sido avaliado, e no qual obtiverem como média final de aprovação igual ou superior a cinco (5,0).

Sistema de Acompanhamento para a Recuperação da Aprendizagem

Serão utilizados como Sistema de Acompanhamento e Nivelamento da turma os Plantões Tira-Dúvidas que são realizados sempre antes de iniciar a disciplina, das 18h00min às 18h50min, na sala de aula.

Recursos Necessários

Humanos Professor.

Físicos Laboratórios, visitas técnicas, etc.

Materiais Recursos Multimídia.

Bibliografia

Básica

CHAUI, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000. COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martin Claret. 2002. LYRA FILHO, Roberto. O que é direito? São Paulo: Brasiliense, 2003. WOLKMER, Antonio Carlos. Fundamentos de História do Direito. Delrey, 2003. HABERMAS, Jürgen. Agir comunicativo e razão destranscendentalizada. São Paulo: Tempo Brasileiro, 2002.

Complementar

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. Editora 34, 2000. MORIN, Edgar. O Método. Sulina, 2003. MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. Bertrand, 2002. FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 1999. WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico. São Paulo: Alfa-Omega, 2001.

Periódicos

Jornais: Zero Hora, Folha de São Paulo, Gazeta do Sul, entre outros. Jornais eletrônicos: Clarín (Argentina); El País (Espanha); El País (Uruguai); Le Monde (França); Le Monde Diplomatique (França). Revistas: Revista Scielo

Sites para Consulta

WWW.SCIELO.BR WWW.ANTROPOLOGA.COM.BR

Outras Informações

Endereço eletrônico de acesso à página do PHL para consulta ao acervo da biblioteca: http://192.168.1.201/cgi-bin/wxis.exe?IsisScript=phl.xis&cipar=phl8.cip&lang=por

Cronograma de Atividades

Aula Consolidação Avaliação Conteúdo Procedimentos Recursos

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”.

4ª Primeira: Trabalho

7ª 1

8ª Segunda

9ª Substitutiva

Legenda

Procedimentos Recursos Procedimentos Recursos Procedimentos Recursos

Código Descrição Código Descrição Código Descrição

AE Aula expositiva AE Aula expositiva AE Aula expositiva

TG Trabalho em grupo

TG Trabalho em grupo TG Trabalho em grupo

TI Trabalho individual

TI Trabalho individual TI Trabalho individual

SE Seminário SE Seminário SE Seminário

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Introdução a Introdução a ANTROPOLOGIAANTROPOLOGIA

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AntropologiaAntropologia

•• Antropologia (cuja origem Antropologia (cuja origem etimológicaetimológicaderiva do grego deriva do grego anthroposanthropos -- homem / homem / pessoapessoa e logos e logos -- razão / pensamentorazão / pensamento é a é a ciência centralizada no estudo do homemciência centralizada no estudo do homemciência centralizada no estudo do homemciência centralizada no estudo do homem

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AntropologiaAntropologia

•• Ela se preocupa em conhecer não o ser Ela se preocupa em conhecer não o ser humano em sua totalidade, mas as humano em sua totalidade, mas as divergentes culturas que o homem divergentes culturas que o homem produziu e constantemente é produzido produziu e constantemente é produzido produziu e constantemente é produzido produziu e constantemente é produzido por ele, o que lhe confere um tríplice por ele, o que lhe confere um tríplice aspecto:aspecto:

•• 1. Ciência Social 1. Ciência Social -- propõe conhecer o propõe conhecer o homem enquanto elemento integrante de homem enquanto elemento integrante de grupos organizados.grupos organizados.

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AntropologiaAntropologia

•• 2. Ciência Humana 2. Ciência Humana -- voltavolta--se se especificamente para o homem como um especificamente para o homem como um todo: sua história, suas crenças, usos e todo: sua história, suas crenças, usos e costumes, filosofia, linguagem etc.costumes, filosofia, linguagem etc.costumes, filosofia, linguagem etc.costumes, filosofia, linguagem etc.

•• 3. Ciência Natural 3. Ciência Natural -- interessainteressa--se pelo se pelo conhecimento psicossomático do homem e conhecimento psicossomático do homem e sua evolução. Relacionasua evolução. Relaciona--se, assim, com as se, assim, com as chamadas ciências biológicas e culturais; chamadas ciências biológicas e culturais; as primeiras visando o ser físico e as as primeiras visando o ser físico e as segundas o ser cultural.segundas o ser cultural.

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AntropologiaAntropologia

•• Antropologia pode ser definida como a Antropologia pode ser definida como a ciênciaciência da humanidade e da cultura.da humanidade e da cultura.

•• Apesar da diversidade dos seus campos de Apesar da diversidade dos seus campos de •• Apesar da diversidade dos seus campos de Apesar da diversidade dos seus campos de interesse, constituiinteresse, constitui--se em ciência se em ciência polarizada, que necessita da colaboração polarizada, que necessita da colaboração de outras áreas do saber, mas conserva de outras áreas do saber, mas conserva sua unidade, uma vez que seu enfoque é sua unidade, uma vez que seu enfoque é o homem e a cultura. o homem e a cultura.

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AntropologiaAntropologia

•• A Antropologia visa o conhecimento A Antropologia visa o conhecimento completo do homem, o que torna suas completo do homem, o que torna suas expectativas muito mais abrangentes. expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, uma conceitualização mais Dessa forma, uma conceitualização mais Dessa forma, uma conceitualização mais Dessa forma, uma conceitualização mais ampla a define como a ciência que estuda ampla a define como a ciência que estuda o homem, suas produções e seu o homem, suas produções e seu comportamentocomportamento

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AntropologiaAntropologia

•• O seu interesse está no homem como um todo O seu interesse está no homem como um todo --o ser biológico e o ser cultural o ser biológico e o ser cultural --, preocupando, preocupando--se em revelar os fatos da natureza e da cultura. se em revelar os fatos da natureza e da cultura. Tenta compreender a existência humana em Tenta compreender a existência humana em Tenta compreender a existência humana em Tenta compreender a existência humana em todos os seus aspectos, no espaço e no tempo, todos os seus aspectos, no espaço e no tempo, partindo do princípio da estrutura biopsíquica. partindo do princípio da estrutura biopsíquica. Busca, também, a compreensão das Busca, também, a compreensão das manifestações culturais, do comportamento e da manifestações culturais, do comportamento e da vida social.vida social.

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AntropologiaAntropologia

•• A Antropologia, como ciência do biológico e do A Antropologia, como ciência do biológico e do cultural, tem seu objeto de estudo definido: o cultural, tem seu objeto de estudo definido: o homem e suas obras.homem e suas obras.

•• A antropologia fixa como objetivo o estudo da A antropologia fixa como objetivo o estudo da •• A antropologia fixa como objetivo o estudo da A antropologia fixa como objetivo o estudo da humanidade como um todo e nenhuma outra humanidade como um todo e nenhuma outra ciência pesquisa sistematicamente todas as ciência pesquisa sistematicamente todas as manifestações do ser humano e da atividade manifestações do ser humano e da atividade humana de maneira tão unificada.humana de maneira tão unificada.

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AntropologiaAntropologia

•• É um objeto extremamente amplo, É um objeto extremamente amplo, visando o homem como expressão global visando o homem como expressão global --biopsicultural biopsicultural -- isto é, o homem como ser isto é, o homem como ser biológico pensante, produtor de culturas, biológico pensante, produtor de culturas, biológico pensante, produtor de culturas, biológico pensante, produtor de culturas, participante da sociedade, tentando participante da sociedade, tentando chegar, assim, à compreensão da chegar, assim, à compreensão da existência humanaexistência humana

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AntropologiaAntropologia

•• Entre as diversas ciências humanas que Entre as diversas ciências humanas que emergiram da Revolução Intelectual dos emergiram da Revolução Intelectual dos séculos XVIIIséculos XVIII--XIX, a antropologia foi a XIX, a antropologia foi a mais tardia de todas. A sua motivação mais tardia de todas. A sua motivação mais tardia de todas. A sua motivação mais tardia de todas. A sua motivação inicial, o elemento deflagrador para que inicial, o elemento deflagrador para que ela se tornasse uma ciência, decorreu do ela se tornasse uma ciência, decorreu do impacto do pensamento evolucionista e impacto do pensamento evolucionista e darwinista no século XIX. darwinista no século XIX.

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AntropologiaAntropologia

•• Ao colocarAo colocar--se em descrença a explicação bíblica se em descrença a explicação bíblica exposta no Gênese, pela qual o homem nasceu de exposta no Gênese, pela qual o homem nasceu de uma ação divina imediata, o Ato da Criação, uma ação divina imediata, o Ato da Criação, abriuabriu--se o caminho para que cientistas e demais se o caminho para que cientistas e demais pesquisadores saíssem a campo, pelo mundo pesquisadores saíssem a campo, pelo mundo pesquisadores saíssem a campo, pelo mundo pesquisadores saíssem a campo, pelo mundo todo, atrás do chamado elo perdido, isto é, do todo, atrás do chamado elo perdido, isto é, do antropóide ou hominídio, o ser meio animal, meio antropóide ou hominídio, o ser meio animal, meio humano, que hipoteticamente teria ligado, em humano, que hipoteticamente teria ligado, em algum tempo remotíssimo, o mundo natural ao algum tempo remotíssimo, o mundo natural ao mundo humano, a ponte sobre o riacho Rubicon mundo humano, a ponte sobre o riacho Rubicon que aproximara, num lugar incerto e obscuro do que aproximara, num lugar incerto e obscuro do tempo, o símio do homem.tempo, o símio do homem.

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AntropologiaAntropologia

•• ser humano, implícita a qualquer ser humano, implícita a qualquer pensamento religioso, para, aparelhados pensamento religioso, para, aparelhados nas ciências físicas e exatas, mergulharam nas ciências físicas e exatas, mergulharam atrás das suas raízes naturais do homem, atrás das suas raízes naturais do homem, atrás das suas raízes naturais do homem, atrás das suas raízes naturais do homem, entendendoentendendo--o fruto da Natureza e não de o fruto da Natureza e não de DeusDeus..

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AntropologiaAntropologia

•• Simultaneamente a esta verdadeira Simultaneamente a esta verdadeira caçada às formas précaçada às formas pré--humanas, atrás dos humanas, atrás dos vestígios últimos dos primatas, os vestígios últimos dos primatas, os interesses dos investigadores ampliaraminteresses dos investigadores ampliaram--interesses dos investigadores ampliaraminteresses dos investigadores ampliaram--se para o estudo das sociedades ditas se para o estudo das sociedades ditas primitivas, acreditando que elas também primitivas, acreditando que elas também mereciam serem submetidas ao crivo da mereciam serem submetidas ao crivo da racionalidade ocidental.racionalidade ocidental.

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AntropologiaAntropologia

•• Desta forma, a antropologia começou a Desta forma, a antropologia começou a alargaralargar--se, procurando determinar qual se, procurando determinar qual era a organização social das tribos e qual era a organização social das tribos e qual era o sistema de parentesco delas, como era o sistema de parentesco delas, como era o sistema de parentesco delas, como era o sistema de parentesco delas, como realizavam suas cerimônias de iniciação e realizavam suas cerimônias de iniciação e de matrimônio, como procediam nos seus de matrimônio, como procediam nos seus ritos religiosos e nos de sepultamento, e ritos religiosos e nos de sepultamento, e de que maneira viam os céus e temiam os de que maneira viam os céus e temiam os demôniosdemônios..

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AntropologiaAntropologia

•• Antropologia é, pois, o estudo do homem. Se bem que, Antropologia é, pois, o estudo do homem. Se bem que, como observou Malinowski, existam outras ciências que como observou Malinowski, existam outras ciências que igualmente o fazem, tais como a sociologia, a psicologia, igualmente o fazem, tais como a sociologia, a psicologia, a historia, a leis, a economia, e a ciências políticas, ela, a a historia, a leis, a economia, e a ciências políticas, ela, a antropologia, se distingue por incluir na sua área de antropologia, se distingue por incluir na sua área de antropologia, se distingue por incluir na sua área de antropologia, se distingue por incluir na sua área de estudo as questões de ordem físicas, anatômicas e estudo as questões de ordem físicas, anatômicas e estruturais do homem, atendidas pela chamada estruturais do homem, atendidas pela chamada Antropologia física, que trata do o homem como um Antropologia física, que trata do o homem como um organismo físico, seguiu as pistas da sua evolução a organismo físico, seguiu as pistas da sua evolução a partir das formas mais primitivas da vida. partir das formas mais primitivas da vida.

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Antropologia FísicaAntropologia Física

•• Os antropólogos físicos, atuando quase que como Os antropólogos físicos, atuando quase que como arqueólogos ou anatomistas, analisam o material fóssil arqueólogos ou anatomistas, analisam o material fóssil esquelético das formas que estão dentro da esquelético das formas que estão dentro da descendência humana (múmias indígenas dos maias, descendência humana (múmias indígenas dos maias, astecas e incas, por exemplo) ou nas suas proximidades. astecas e incas, por exemplo) ou nas suas proximidades. astecas e incas, por exemplo) ou nas suas proximidades. astecas e incas, por exemplo) ou nas suas proximidades. Os resultados disso são classificados, graças à técnica do Os resultados disso são classificados, graças à técnica do Carbono 14, também chamada como o Relógio do Carbono 14, também chamada como o Relógio do Carbono, numa certa seqüência de tempo, comparando Carbono, numa certa seqüência de tempo, comparando anatomicamente suas descobertas com a estrutura física anatomicamente suas descobertas com a estrutura física dos primatas atualmente existentes. dos primatas atualmente existentes.

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Antropologia CulturalAntropologia Cultural

•• Outro ramo da antropologia que ganhou grande Outro ramo da antropologia que ganhou grande estatura, e uma projeção que saltou para bem além das estatura, e uma projeção que saltou para bem além das suas fronteiras de investigação, foi o da antropologia suas fronteiras de investigação, foi o da antropologia cultural. Isto se deveu à impressionante ampliação do cultural. Isto se deveu à impressionante ampliação do seu campo de ação, englobando a lingüistica, a seu campo de ação, englobando a lingüistica, a seu campo de ação, englobando a lingüistica, a seu campo de ação, englobando a lingüistica, a arqueologia e a etnologia (descrição ou crônica da arqueologia e a etnologia (descrição ou crônica da cultura de uma tribo ou povo), estudos esses que se cultura de uma tribo ou povo), estudos esses que se referem ao comportamento do homem, particularmente referem ao comportamento do homem, particularmente no que diz respeito às atitudes padronizadas, rotineiras, no que diz respeito às atitudes padronizadas, rotineiras, que genericamente chamaque genericamente chama--se de cultura. se de cultura.

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AntropologiaAntropologia

•• EntendaEntenda--se que para o antropólogo a palavra cultura se que para o antropólogo a palavra cultura adquire uma outra dimensão do que a adquire uma outra dimensão do que a convencionalmente entendida. Não se trata de identificáconvencionalmente entendida. Não se trata de identificá--la, a cultura, com erudição ou sofisticação, como é la, a cultura, com erudição ou sofisticação, como é comum associarcomum associar--se essa palavra, mas sim de utilizáse essa palavra, mas sim de utilizá--la la para definir tudo aquilo que o homem faz, pois, para o para definir tudo aquilo que o homem faz, pois, para o para definir tudo aquilo que o homem faz, pois, para o para definir tudo aquilo que o homem faz, pois, para o antropólogo, antropólogo, cultura é forma de vida de um grupo de cultura é forma de vida de um grupo de pessoas, uma configuração dos comportamento pessoas, uma configuração dos comportamento aprendidos, aquilo que é transmitido de geração em aprendidos, aquilo que é transmitido de geração em geração por meio da língua falada e da simples imitação.geração por meio da língua falada e da simples imitação.Não se trata de um comportamento instintivo, mas algo Não se trata de um comportamento instintivo, mas algo que resulta de mecanismos comportamentais que resulta de mecanismos comportamentais introjetados pelo indivíduo. introjetados pelo indivíduo.

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AntropologiaAntropologia

•• “O homem é o resultado do meio cultural “O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é herdeiro de em que foi socializado. Ele é herdeiro de um longo processo acumulativo, que um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência reflete o conhecimento e a experiência reflete o conhecimento e a experiência reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam.” (Laraia,2006, p.45)o antecederam.” (Laraia,2006, p.45)

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Antropologia Antropologia –– Áreas de InteresseÁreas de Interesse

•• Além da religião, fazem parte da cultura os Além da religião, fazem parte da cultura os modos de alimentarmodos de alimentar--se de vestirse de vestir--se, de se, de combater ou de seguir os rituais religiosos. Os combater ou de seguir os rituais religiosos. Os antropólogos que seguem por esta senda podem antropólogos que seguem por esta senda podem antropólogos que seguem por esta senda podem antropólogos que seguem por esta senda podem até ser divididos naqueles que se interessam em até ser divididos naqueles que se interessam em procurar aquilo que é comum entre as várias procurar aquilo que é comum entre as várias culturas espalhadas pelo mundo, e aqueles culturas espalhadas pelo mundo, e aqueles outros que têm o seu interesse voltado outros que têm o seu interesse voltado exclusivamente para o que é original, singular, exclusivamente para o que é original, singular, único, naquela cultura. único, naquela cultura.

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Antropologia do DireitoAntropologia do Direito

•• É uma área da É uma área da Antropologia SocialAntropologia Social ou ou CulturalCultural (ou (ou EtnologiaEtnologia) voltada ao estudo ) voltada ao estudo das categorias que perpassam o saber das categorias que perpassam o saber jurídico: seus mecanismos de produção, jurídico: seus mecanismos de produção, jurídico: seus mecanismos de produção, jurídico: seus mecanismos de produção, reprodução e consumo. Busca identificar, reprodução e consumo. Busca identificar, classificar e analisar as formas como se classificar e analisar as formas como se organiza o “campo" jurídico.organiza o “campo" jurídico.

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Antropologia do DireitoAntropologia do Direito

•• DefineDefine--se em alguns programas de pósse em alguns programas de pós--graduação acadêmica, como aquele graduação acadêmica, como aquele gênero de “estudos comparativos de gênero de “estudos comparativos de processos de resolução de conflitos, das processos de resolução de conflitos, das processos de resolução de conflitos, das processos de resolução de conflitos, das relações de poder e de processos de relações de poder e de processos de formação de opinião política em contextos formação de opinião política em contextos sóciosócio--culturais específicos”.culturais específicos”.

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Antropologia e Direito

Profª Alba Regina Fagundes Zacharias

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� Só a antropologia permite/possibilita uma compreensão do pensamento ocidental. Ela lhe dá uma identidade a partir de sua alteridade, de sua imagem partir de sua alteridade, de sua imagem do outro. Só a partir daí é possível fazer a crítica das categorias universais que sustenta o pensamento ocidental desde a sua base (filosofia grega).

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� Só com o instrumental antropológico que categorias como história, razão, direito, cultura e natureza poderão ser lidas numa chave não etnocêntrica, numa chave não etnocêntrica, desuniversalizada, ou seja, sem ter como fundo a própria sociedade ocidental que dá forma a essas categorias.

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� A partir da antropologia, a história só fazer sentido em contraposição a forma mítica de ver o mundo, ou seja, o velho princípio do pensamento racionalidade princípio do pensamento racionalidade como ruptura com o pensamento mítico deverá ser redefinido fora de sua tradicional dinâmica evolucionista.

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� Se só a antropologia permite a compreensão do pensamento, por colocar pontos de referência fora desse pensamento, por lhe criar uma exterioridade, enquanto a maior parte do pensamento, das ciências humanas parte do pensamento, das ciências humanas sobrevive ainda hoje de sua herança política etnocêntrica e evolucionista, cabe aqui situar o direito.

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� O direito como um dos grandes herdeiros do pensamento evolucionista, tem grande dificuldade de operar com pontos de referência que não sejam internos ao pensamento ocidental. pensamento ocidental. Isso se deve ao seu conjunto de referências marcadamente internas, concepções arbitrárias e convencionais como justiça, liberdade, bem etc.

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� A própria estrutura do pensamento jurídico está montada para operar reificando o poder da sociedade de que emana, da sociedade que o gerou, da emana, da sociedade que o gerou, da sociedade ocidental moderna e suas categorias

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� É por isso que se estuda antropologia em direito A antropologia fornece um modelo para circunscrever o pensamento positivista, gerado a partir pensamento positivista, gerado a partir do iluminismo universalista

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Temos dificuldade de conceber ainda hoje uma ciência fora dos parâmetros definidos pela ciência ocidental tradicional, que dirá então um direito que tradicional, que dirá então um direito que seja o direito ocidental, universal, baseado no indivíduo e na propriedade.

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Ética discursiva

� Em torno da palavra ética concebemos um campo semântico que se articula nas palavras equilíbrio, igualdade entre partes. Discurso seria diálogo, fala.partes. Discurso seria diálogo, fala.Ética discursiva seria a igualdade de condições num campo discursivo.

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Etnocentrismo

� Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência

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� No plano intelectual, pode ser visto como dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, sentimentos de estranheza, medo, hostilidade,etc.

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� Como uma espécie de pano de fundo da questão etnocêntrica temos a experiência de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” e de repente nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente”.

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� O etnocentrismo viria antes por que o evolucionismo seria o pensamento que explicaria a prática etnocêntrica.

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� A antropologia no século dezenove se define como o estudo dos povos primitivos. Qual o contexto dessa antropologia, dessa definição. antropologia, dessa definição. Entendendo contexto como um plano discursivo e mesmo um campo epistêmico, o contexto é o evolucionismo

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� O evolucionismo, definiu-se como pensamento que entende a diferença a partir da idéia de evolução.Cultura ou técnica seriam parâmetros ou Cultura ou técnica seriam parâmetros ou critérios para balizar o grau de evolução.

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O que é o direito

� A questão tratada foi a relação do quadro em que se desenvolve a antropologia e sua relação com o direito. Assim como a antropologia se define nos contextos de etnocentrismo, nos contextos de etnocentrismo, colonização, evolucionismo, positivismo etc..., também o direito se desenvolve aqui, nessa mesma realidade.

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� Se o nosso pensamento antropológico é marcado pela diferença, pela discriminação e pelo etnocentrismo, também o direito positivo, normativo, se também o direito positivo, normativo, se caracteriza da mesma forma, no mesmo contexto de pensamento.

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� Assim, é para se conhecer o campo em que o direito se define, se desloca, que estamos estudando antropologia jurídica, por que nossa definição de jurídica, por que nossa definição de política, de estado e de cidadania se estabelecem a partir de pressupostos que só ao identificados nessa gênese crítica fornecida pela antropologia.

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� Portanto, é essa incursão epistemológica que a antropologia oferece ao direito.

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”.

Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050

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PLANO DE AULA 3/10

I - IDENTIFICAÇÃO DA DISCIPLINA 1 – Disciplina: Antropologia Aplicada

2 - Curso: Direito

3 – Professor: Ms. Alba Regina Fagundes Zacharias

4 – Semestre/Ano 2010

5 - Data da Aula: 3ª aula

II – EMENTA Fundamentos da Antropologia Geral. Exame da Antropologia sob o enfoque jurídico. Antropologia e Direito. Antropologia do Direito e da Política. Diversidade Cultural. Alteridade. O homem em sociedade. Família e costumes: as transformações. A religião e sua influência. As crenças. Limitações do Direito quanto à resolução de conflitos. Antropologia da violência. Globalização cultural e democracia: a desigualdade material. III – OBJETIVO GERAL Construir uma base epistemológica capaz de nortear o entendimento, em especial no que tange a questão do estudo da antropologia sob ponto de vista jurídico e suas relações com outras disciplinas. Tecer uma introdução interdisciplinar ao conhecimento da antropologia jurídica e suas relações com os fenômenos jurídicos no contexto mundial atual.

IV – OBJETIVOS ESPECÍFICOS Despertar uma visão crítica interdisciplinar no que diz respeito aos conceitos sobre Religião, Justiça e Direito. Discutir sobre o papel da família, da criança, do jovem e do adulto nas suas relações micro e macro políticas. Refletir como a Antropologia Jurídica contribui na construção de uma sociedade e de um Estado mais pluralistas e

democráticos.

V – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO História da Antropologia Jurídica

VI – METODOLOGIA

Aulas expositivas dialógico-dialéticas. Trabalhos individuais e em grupo para análise e possíveis soluções de casos práticos relacionados á realidade do aluno. Utilização de recurso Áudio-Visual.

VII – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Básicas: COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martin Claret. 2002. LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. Editora 34, 2000. LYRA FILHO, Roberto. O que é direito? São Paulo: Brasiliense, 2003. WOLKMER, Antonio Carlos. Fundamentos de História do Direito. Delrey, 2003. HABERMAS, Jürgen. Agir comunicativo e razão destranscendentalizada. São Paulo: Tempo Brasileiro, 2002.

Complementar: CHAUI, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000. MORIN, Edgar. O Método. Sulina, 2003. MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. Bertrand, 2002. FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 1999. WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico. São Paulo: Alfa-Omega, 2001.

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História da Antropologia Jurídica

� Antes de 1926, quando foi publicado “Crime e costume na sociedade selvagem”, de Bronislaw Malinowski, as concepções sobre o direito “primitivo” eram as seguintes:

� A lei e o costume eram percebidos como a mesma coisa na mente dos “nativos”. Percepção etnocêntrica que se entendia como mais evoluída juridicamente, enquanto os “primitivos” teriam uma cultura rígida em que a ordem era obtida pelo poder coercitivo dos sentimentos do grupo, fortificado pela religião e pela magia.

� Maine seguia a tendência do seu tempo de considerar o legal como não existente em sociedades de pequena escala. Interpreta que as pessoas têm um apego rígido e automático ao costume.

� Maine acreditava que o direito não teria existido nas sociedades ditas “primitivas”. � A obediência seria devida, na concepção de Maine, às regras do patriarca, em que

o indivíduo obtinha o status por sua posição dentro do grupo parental, de tal forma que seus direitos e deveres estavam determinados pelo o que o costume prescrevia.

� Na concepção de Durkheim, a ordem social das comunidades “primitivas” sujeitas

à solidariedade mecânica se mantém por meio da submissão habitual a regras de comportamento universalmente aceitas. Essas regras se mantêm em virtude das crenças compartilhadas por toda a comunidade. Assim, o descumprimento dessas regras eram entendidas como um ataque a toda a comunidade, e deveriam ser severamente penalizadas.

� Em ambos os autores, e em tantos outros precursores da Antropologia do Direito, se percebe que os “povos primitivos” são considerados como sujeitos que respondem de forma rígida, automática e submissa ao costume, ao mesmo tempo que as infrações à lei são tomadas como intentos contra o corpo total de costumes contidos na consciência coletiva.

� Malinowski rechaçou as idéias de submissão automática aos costumes, bem como criticou a idéia de que não havia um corpo de regras de obrigações mútuas que pudessem ser vistas como regras legais.

� Analisando o contínuo intercâmbio e alimentos e outras coisas entre os Trobriandeses (sociedade em que realizou seu trabalho de campo, Malinowski negou a existência de uma espécie de “comunismo primitivo” baseado no costume.

LEGENDA Procedimentos Recursos

Código Descrição Código Descrição Código Descrição AE Aula expositiva QG Quadro verde e giz LB Laboratório de informática TG Trabalho em grupo RE Retroprojetor PS Projetor de slides TI Trabalho individual VI Videocassete AP Apostila SE Seminário DS Data Show OU Outros PA Palestra FC Flipchart

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� Afirmou que existiam certos deveres ou compromissos mutuamente obrigatórios, respeitados e conscientemente percebidos, baseados na satisfação de necessidades recíprocas.

� A reciprocidade seria produto do interesse pessoal e até da ambição. � Isso quer dizer que as pessoas dá e ajuda em certas quantidades e a pessoas

específicas, não só por generosidade ou pelo “comunismo primitivo”, mas devido à esperada devolução dos mesmos favores ou coisas, o que significa que da reciprocidade decorrem obrigações mútuas.

� As obrigações recíprocas, ao serem parte dos costumes, podem ser definidas como um corpo de regras de comportamento, socialmente impostas e sancionadas através da ação da comunidade sobre as pessoas que rompem com as regras. Como essas regras controlam a vida social e facilitam a cooperação mútua, Malinowski as compara com as regras do código civil.

� Não havendo um conjunto de leis que castigue os infratores, o escândalo, o ridículo e o escárnio público, o temor à ira do chefe e o temor da bruxaria foram os principais meios dessas sociedades de pequena escala para sancionar e forçar o respeito às regras de comportamento social.

� Desta forma, as regras de costumes/leis se distinguem de outros conjuntos de regras de costume, como os costumes religiosos, artesanais, formas e maneiras de interação social, comércio, etc., em que as regras jurídicas se destacam do resto pelo fato de serem consideradas obrigações de uma pessoa e direitos da outra.

� Além de afirmar que as regras legais são diferentes das de mero costume, Malinowski indicou também a separação entre lei civil e lei criminal no Direito “primitivo” e tribal

� Para Malinowski, o direito civil é o corpo de obrigações forçosas consideradas como justas por uns e reconhecidas como um dever por outros, cujo cumprimento se assegura por um mecanismo específico de reciprocidade e publicidade inerentes à estrutura da sociedade.

� Já o direito penal foi definido pelo antropólogo como as regras fundamentais que salvaguardam a vida, a propriedade e a personalidade.

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MINORIAS: Retratos do Brasil de hoje. Luciano Mariz Maia. Procurador Regional da República. Professor de Direitos Humanos da UFPB. Mestre em Direito Público pela Universidade de Londres. Membros do IEDC. Introdução.

Objetivando conferir força normativa aos dispositivos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, as Nações Unidas cuidaram de organizar instrumentos normativos internacionais, aprovando-os e submetendo-os à assinatura dos Estados partes, em 1966. Os dois documentos principais, que passaram a ser considerados como "A Carta Internacional de Direitos Humanos", são o Pacto dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

Naquela época, o mundo vivia uma guerra fria, e o Brasil vivia uma ditadura. Apenas com a redemocratização foi possível o Estado submeter-se às regras de direito, e aderir aos tratados internacionais de direitos humanos.

Embora pouquíssimo conhecido, o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi aprovado pelo Legislativo brasileiro, e promulgado pelo Poder Executivo, vigendo, com força de lei, desde 1992.

Ali são mencionados direito ao trabalho, emprego e renda; direito a um padrão de vida adequado, o que inclui moradia, vestuário e alimentação; direito à saúde; direito à educação; direito ao meio ambiente equilibrado, etc.

Esses direitos são garantidos para toda a população. Mas é de especial interesse saber, para além das estatísticas gerais, como se materializa a implementação do pacto, em cada um dos seus direitos, para os chamados grupos vulneráveis. Em especial, e pelo fato de discutirmos os 500 anos da vinda dos colonizadores, dando início à formação de um Estado distinto do encontrado, examinaremos como é a situação, hoje, das minorias étnicas, lingüísticas e religiosas no Brasil. Conceito de minoria, para efeito da análise.

Para efeito de relatar o cumprimento das obrigações do Brasil em decorrência do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o conceito de minoria será, a grosso modo, o genericamente aceito pelas Nações Unidas: grupos distintos dentro da população do Estado, possuindo características étnicas, religiosas ou lingüísticas estáveis, que diferem daquelas do resto da população; em princípio numericamente inferiores ao resto da população; em uma posição de não dominância; vítima de discriminação.

No Brasil isto compreende os índios; os ciganos; as comunidades negras remanescentes de quilombos; comunidades descendentes de imigrantes; membros de comunidades religiosas.

Essa a primeira dificuldade. O censo classifica a população brasileira em brancos, negros, pardos, indígenas (apenas recentemente), amarelos e outros. Indaga sobre a religião a que pertencem, e o país de nascimento. Nada mais.

A única minoria a ser identificada como tal no Brasil são os índios. E os dados populacionais são desencontrados. Os índios eram 251.422, em contagem de 1996, do IBGE. Para a FUNAI, órgão oficial de assistência e proteção aos índios, os índios são 325.652. Para todas as minorias o Brasil historicamente adota uma política de assimilação. Curiosamente, para os negros e seus descendentes, a política é historicamente de apartação.

É verdade que essas posições tanto assimilacionista e unificadora, quanto de apartação foram radicalmente alteradas pela Constituição de 1988. Esta determinou a proteção a todas as manifestações culturais, fazendo respeitar expressamente as culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, bem como as de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.

Passados mais de 11 anos da promulgação dessa Constituição, e quase 8 da ratificação dos Pactos dos Direitos Civis e Políticos e Econômicos e Sociais, esses textos quase não saíram do papel.

O Estado não tem a uma política em favor das minorias, pois não há identificação da problemática referente às minorias (ou seja, aspectos de educação, saúde, inserção econômica que dizem respeito ou afetam mais intensamente minorias e seus membros); nem elaboração de um programa para atuar sobre as comunidades e grupos identificados; muito menos execução desse programa; e sua avaliação. Povos indígenas

São 246 os povos indígenas no Brasil. O quantitativo populacional varia de um grupo para outro. Também varia o modo de organização social. Os povos que vivem com menor interação e fricção com a sociedade majoritária

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conseguem permanecer com o modo de organização social mais tradicional, valorizando representantes e líderes espirituais, mantendo conselhos tribais, e preservando modos de manutenção da ordem e coesão interna.

O Brasil celebra os 500 anos do assim chamado "Descobrimento". Pretende comemorá-lo como sendo um "encontro" entre os navegadores portugueses e os índios, que aqui já habitavam. O discurso oficial narra, como fato restrito ao passado, matanças de índios, invasões e tomadas de suas terras e riquezas, destruição de suas culturas e grupos. Mas o que se vê é a repetição desses mesmos fatos, nas novas fronteiras de expansão econômica, e a perpetuação do problema nas áreas em que a convivência entre índios e não-índios tem sido mais intensa, desde a época da chegada dos primeiros europeus.

Há um convite para examinar quais ações governamentais foram tomadas sobre os direitos sociais, econômicos e culturais dos povos indígenas, em especial nas áreas de saúde, educação e cultura, alimentação e discriminação, trabalho e qualidade de vida, e quais as principais dificuldades para o Estado brasileiro implementar tais direitos de maneira satisfatória.

Para facilitar a compreensão, serão abordados aspectos referentes às terras indígenas e sua demarcação, à educação e à saúde indígena.

A FUNAI é a principal agência governamental incumbida da realização de uma política indigenista. Sucedeu ao antigo Serviço de Proteção ao Índio – SPI. Vinculado ao Ministério da Justiça, esse órgão tem sua ação subordinada às decisões políticas adotadas pelo Governo, em especial pelas diretrizes ou definições estabelecidas nesse Ministério.

O Governo Federal não tem com clareza uma política indigenista. O deliberado "sucateamento" da FUNAI, com esvaziamento de muitas de suas funções, caminha na direção oposta ao discurso oficial. Examinando-se, por exemplo, os recursos orçamentários para as populações indígenas de 1995 a 1998, verifica-se que o orçamento de 1995, no montante de R$ 67.843.000,00 foi reduzido a R$ 39.450.000,00 no orçamento de 1998, tanto mais grave quando se identifica que mesmo esse valor reduzido não foi inteiramente realizado. Em 1998, a execução orçamentária restringiu-se a R$ 28.215.000,00. Durante os anos de 1995 a 1998 foram gastos, em média, 70,39% dos recursos orçamentários destinados às populações indígenas. Os índios e a demarcação de suas terras

A matéria é tratada na Constituição nos artigos 231 e 232. O constituinte de 1988 reconheceu aos índios o direito às terras como um direito originário que resulta da

própria natureza do Homem, e que a lei positiva reconhece. É consagração do instituto jurídico luso-brasileiro do indigenato. Tais terras destinam-se à sua posse permanente, vedada remoção

A propriedade é da União (CF, art. 20, inc. XI). Mas dos índios é o usufruto exclusivo, abrangendo o aproveitamento das riquezas do solo, dos rios e lagos nelas existentes. Há o direito à demarcação e à proteção, como garantias materiais do estabelecimento da certeza jurídica sobre todos os demais direitos. Ao direito à demarcação corresponde o dever da União de alocar meios e recursos de garantir tal direito.

A Lei 6.001, de 19 de dezembro de 1973, determinou, em seu artigo 65 "O Poder Executivo fará, no prazo de cinco anos, a demarcação das terras indígenas, ainda não demarcadas." Esse prazo se esgotou em dezembro de 1978. A Constituição de 1988 fixou novo prazo, agora no artigo 67 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias: "A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição." Passados 26 anos da promulgação do Estatuto do Índio, e 12 da promulgação da Constituição, a demarcação das terras indígenas se encontra metade feita e metade por fazer.

A Constituição Federal de 1988 deu grande impulso ao processo de demarcação de terras indígenas no Brasil. Basta dizer que 2/3 (dois terços) da extensão total das áreas delimitadas e registradas no país foram feitas a partir do Decreto Presidencial nº 22/91 que, ao criar um novo procedimento para demarcação administrativa de terras indígenas, estimulou a demarcação de grande parte das áreas indígenas hoje existentes no país, permitindo a regularização fundiária e o reconhecimento oficial das terras indígenas delimitadas anteriormente por critérios e regulamentos distintos.

Para a FUNAI, as terras indígenas do Brasil ocupam 929.209 km2, correspondentes a 10,87 por cento do território nacional. Das 561 áreas indígenas reconhecidas pela FUNAI, 315 já se encontram demarcadas, homologadas e registradas, perfazendo 738.344 km2 de extensão. Existem, ainda, 54 terras delimitadas, 23 identificadas e 169 a identificar.

Piauí e Rio Grande do Norte são estados onde não há povos indígenas. Por outro lado, a grande maioria da população indígena atual, cerca de 60%, vive no Centro-Oeste e Norte do país (Amazônia e cerrado) com direito a 98,75% da área das terras indígenas na Amazônia Legal. Os 40% restantes da população indígena do país habitam as regiões mais ocupadas do Nordeste, Leste e Sul do Brasil, confinados a apenas 1,25% do total da extensão das terras indígenas. Isso é fruto da expansão das fronteiras econômicas. E do esbulho historicamente sofrido, sem direito a qualquer restituição ou indenização.

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Por outro lado, embora cerca de 80% da área dos territórios indígenas estejam demarcados, os 20% restantes de área pertencem a quase 50% do número das terras indígenas, que permanecem sem demarcação, grande parte das quais no Nordeste e Sudeste, onde a pressão dos interesses econômicos é enorme. Relatos de vivências, apresentados em audiências públicas: (AL) "Sem a demarcação de nossos territórios tradicionais, sem acesso a projetos de auto-sustentação e recuperação ambiental é impossível falar de qualidade de vida e emprego para os povos indígenas. (SC) "A questão fundamental para a afirmação cultural e social dos povos indígenas tem sido a demarcação de suas terras com vistas a uma definição espacial que possa proporcionar mínima implementação de políticas públicas no setor. (Documento do Povo Guarani) "O problema principal apresentado, que afeta quase todas as nossas comunidades, é a falta de terras. A maioria de nossas comunidades não tem terra demarcada; muitas terras são pequenas que não dá para sobreviver culturalmente e nem fisicamente nossos filhos. São nossas terras tradicionais que precisam ser demarcadas, reconhecidos nossos direitos. Não vamos aceitar a compra de terras, porque elas já nos pertencem. (ES) "As duas demarcações das terras dos Tupinikim e Guarani somente aconteceram a partir da mobilização constante das comunidades indígenas. Em todo o processo, o Governo Federal somente tomou providência a partir da pressão das comunidades e seus aliados e em ambas prevaleceu os interesses da empresa Aracruz Celulose na definição dos limites das terras". (MS) "...O Brasil tem milhões de quilômetros quadrados e não se consegue resolver um problema mínimo, como a área denominada Panambizinho, dentro do nosso Estado, onde, de 1.260 hectares de terras, tão somente 60 foram destinados aos índios. O governo demarcou sim, mas demarcou para o lado dos fazendeiros." Violência contra os povos indígenas

As terras indígenas são freqüentemente invadidas por garimpeiros, madeireiras, fazendeiros, provocando destruição em suas formas de organização tradicional, destruição ambiental, e levando doenças e morte.

Opondo os índios resistência às violações a suas terras, direitos e bens, são cada vez mais vítimas de violência e agressões.

O CIMI – Conselho Indigenista Missionário – tem monitorado e mapeado a violência contra os índios, de modo sistemático, desde 1993. De 1993 a 1998 foram mais de 194 homicídios. Além desses, há casos gravíssimos de massacres, como o do povo Tikuna, em 1988, conhecido como "Massacre do Capacete", com morte de 14 índios, praticado por posseiros e madeireiros. Os responsáveis continuam impunes. Também o genocídio dos Yanomami em Haximu, em 1993, praticado por garimpeiros, matando 16 índios, dos quais 14 eram mulheres ou crianças.

As violações graves ainda incluem tentativas de homicídio (mais de 300 casos) e ameaças de morte (mais de 2.000 casos), sem falar em prisões com abuso de autoridade (mais de 3.000 casos) e constrangimento ilegal (mais de 1.600 casos). A principal causa é a luta pelo reconhecimento dos direitos originários às terras de ocupação tradicional. Os índios e a saúde

Desde 1994 ficou estabelecido que as ações de prevenção em saúde nas áreas indígenas seria atribuição do Ministério da Saúde – Funasa, e não mais da FUNAI.

Em 23 de setembro de 1999 foi sancionada a chamada Lei Arouca ( Lei 9.936/99), definindo regras para um subsistema de saúde indígena.

O novo subsistema de atenção à saúde indígena é de competência federal (Ministério da Saúde), vinculado ao sistema Único de Saúde (SUS), devendo respeitar os princípios aplicáveis a este, e ter como base os distritos sanitários especiais indígenas, que prestará serviços de saúde junto às aldeias indígenas e será responsável pela articulação junto ao SUS.

O subsistema deverá levar em consideração a realidade e as especificidades das culturas dos povos indígenas, levando em conta, igualmente, os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, meio ambiente, demarcação de terras, educação sanitária e integração institucional

Ora, se estes dados produzem esperança para o futuro, os fatos atuais são desanimadores. Segundo pesquisa do Instituto de Medicina Tropical de Manaus (1995), a expectativa de vida dos índios é de apenas 42,6 anos, em média. Já a expectativa de vida média do brasileiro não índio é de 64 anos para os homens e 72 para as mulheres. Índios nas audiências públicas.

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(SC) Muitas pessoas que prestam atendimento às nossas comunidades estão despreparadas e não entendem o

nosso jeito de ser, acham que o atendimento do pajé é feitiçaria, não dão valor e não respeitam nosso sistema." (SP) "Principais fatores que impedem a existência digna dessas populações: Atendimento à saúde preocupante,

com repetição de padrões de "doenças da pobreza", como são conhecidas as doenças crônico degenerativas, tais como diabetes, hipertensão arterial e neoplasias; não se tem informações sobre a existência de programas voltados para saúde da mulher indígena; ausência de dados sobre doenças associadas ao tabagismo e alcoolismo.

Avanços Finalmente a Fundação Nacional de Saúde/MS criou os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) no país. A base de organização desta rede são os serviços de saúde prestados em nível de aldeia, onde o agente de saúde trabalhará em posto de saúde devidamente construído e equipado. Onde este agente ficará responsável pela prevenção, primeiros socorros, atendimento de doenças mais freqüentes, apoio às vacinações e acompanhamento a gestantes e recém-nascidos." (ES) "As ações governamentais nas áreas de saúde, agricultura e educação têm sido sistemáticas e significativas a partir da criação do NISI - ES (Núcleo Interinstitucional de Saúde Indígena - Espírito santo) em 1994 por decreto municipal. Este Núcleo é composto por 3 sub-núcleos: saúde, educação e agricultura. Os índios e a educação

A política nacional para educação escolar indígena foi definida pelo MEC e expressas em documento(Diretrizes para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena, MEC, 1993). São princípios para sua prática a diferenciação, a especificidade, o bilingüismo e a interculturalidade.

Vários projetos de formação e capacitação de professores indígenas, e estruturação de escolas indígenas, que atendam aqueles propósitos, têm sido desenvolvidos por iniciativas da FUNAI, de Secretarias de Estado da Educação, do CIMI, do Instituto Socioambiental como os mais representativos. Problemas:

A educação escolar indígena no Brasil ainda é caracterizada por experiências pulverizadas e descontínuas, sem articulação regional ou nacional.

A Resolução Nº 3 (10.11.1999) da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, estabelece a estrutura e o funcionamento das Escolas Indígenas, reconhecendo-lhes a condição de escolas com normas e ordenamento jurídico próprios, e fixando as diretrizes curriculares do ensino intercultural e bilíngüe, visando à valorização plena das culturas dos povos indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversidade étnica. Índios nas audiências públicas

Quais ações governamentais foram tomadas sobre os direitos sociais, econômicos e culturais dos povos indígenas, em especial nas áreas de saúde, educação e cultura, alimentação e discriminação, trabalho e qualidade de vida?

(AL) "Na educação escolar indígena, verificamos um processo semelhante, o início da municipalização da educação escolar indígena, o que acarretará numa queda na já deficitária oferta e qualidade educação escolar e indígena."

(SC) (Documento do Povo Guarani )"Na educação escolar também enfrentamos muitos problemas. Sabemos que a lei garante uma educação escolar diferenciada, que é mais que ter um professor bilingüe. Temos problemas também em algumas de nossas comunidades, por serem pequenas, não têm escola, nossos filhos têm de estudar em escolas de brancos.

(AC) "Estados e municípios não assumem com maior responsabilidades ações para a educação escolar indígena. Já a nível federal, há uma disponibilidade maior, pois nos parâmetros curriculares há uma política voltada para a educação indígena

(ES) "As ações governamentais na área de educação têm sido sistemáticas e significativas a partir da criação do NISI - ES (Núcleo Interinstitucional de Saúde Indígena - Espírito santo) em 1994 por decreto municipal. Na área de educação, existem escolas de 1o grau em todas as áreas, mantidas pela Prefeitura Municipal de Aracruz. Há três anos iniciou-se um curso de formação de educadores indígenas."

(CE) "Temos que reconhecer o avanço que significou o processo de legitimação das Escolas Indígenas, através do Programa Nacional de Educação Escolar Indígena e a edição do Referencial Curricular Nacional de Educação Indígena, uma conquista importante, participada por inúmeros grupos de professores indígenas no país." Ciganos

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O que o Executivo brasileiro tem feito para promover o desenvolvimento econômico, social e cultural dos ciganos? Nada.

Quais ações governamentais foram tomadas sobre os direitos sociais, econômicos e culturais dos ciganos, em especial nas áreas da saúde, educação e cultura, alimentação, discriminação, trabalho e qualidade de vida?

Nenhuma. A não ser algumas iniciativas isoladas de órgãos governamentais, em defesa dos direitos dos ciganos, como intervenção da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados para facilitar aos ciganos do Paraná a obtenção de registros de nascimento, e do Ministério Público Federal na Paraíba, para assegurar às crianças ciganas no Município de Sousa acesso à escola.

Identifique quais as principais dificuldades para o Estado brasileiro implementar tais direitos de maneira satisfatória, criticando as ações governamentais, recomendando soluções e citando casos significativos de violação dos direitos sociais, econômicos e culturais em relação aos ciganos. Carta endereçada pelo cigano Cláudio Iovanovitchi, presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana (PR) ao Secretário Nacional de Direitos Humanos, José Gregori, pode servir de resposta à questão: " Na I Conferência Nacional de Direitos Humanos, que subsidiou o Programa Nacional de Direitos Humanos, houve aprovação de uma emenda, que incluía os ciganos, afirmando da necessidade de sermos reconhecidos, respeitados, e protegidos nos nossos direitos. Curiosamente, essa emenda não constou do programa nacional, e até hoje não conseguiram explicar direito porque.

A partir mesmo da Constituição de 1988, em que os ciganos estão abrangidos pela grande proteção dada pelos artigos 215 e 216, que manda preservar, proteger e respeitar o patrimônio cultural brasileiro. Este patrimônio é constituído pelos modos de ser, viver, se expressar, e produzir de todos os segmentos que formam o processo civilizatório nacional.

Com efeito, sob a expressão geral de "cigano", qualificam-se minorias étnicas que a si mesmas chamam de calon, rom ou sinti. Somos vítimas de muitos preconceitos. Para os citadinos, cigano muitas vezes é sinônimo de esperto, de vagabundo, ou de ladrão. Esse ranço histórico é cultivado, inclusive, pela literatura em torno de estórias e histórias vividas ou imaginadas. Assim como os judeus, ou os índios, ou os negros, ou os pobres, os ciganos são discriminados na sociedade. Quais são os problemas que mais nos afetam?

Não temos acesso ao registro civil de nascimento, nem de óbito. Nosso nomadismo serve de pretexto aos titulares dos cartórios para dificultar e mesmo impedir sejam lançados os nascimentos dos filhos e filhas de ciganos.

Não temos direito de estacionar nossas caravanas, e estabelecermos nossos acampamentos provisórios, sem sermos molestados pelas polícias, e autoridades locais.

Nossas crianças não têm direito de freqüentar escolas, por conta da nossa maneira de viver. E quando nos sedentarizamos, vemos nossos filhos serem tratados como cidadãos de segunda classe, porque nossos valores culturais não são conhecidos nem são respeitados.

A carta continua sem resposta prática do Governo Federal. A questão dos ciganos ainda não entrou na agenda oficial.

Não há uma entidade ou instituição de atuação nacional que trate da questão cigana, o que agrava a luta pelo reconhecimento dos seus direitos. Um braço da Igreja Católica, a Comissão Pastoral dos Nômades, foi criada, objetivando a evangelização dos grupos nômades, o que inclui os ciganos. Quilombos e negros

O censo demográfico no Brasil classifica sua população baseada em critério de cor. Os brasileiros são brancos, negros, pardos, amarelos ou índios.

Negros e pardos no Brasil, segundo o censo, são cerca de 45% da população. A questão cultural e étnica passa longe das estatísticas. É a maior população negra fora da África. E a segunda maior do mundo, só perdendo para a população da Nigéria.

As conseqüências de séculos de exploração e crueldade produzem efeitos ainda hoje. A população negra (incluídos os negros e pardos, segundo os dados do IBGE) são os mais pobres entre os pobres, os com menor nível educacional, com trabalhos mais duros, e pior remunerados. Essas estatísticas, porque examinadas unicamente à luz do critério cor ou raça, reforçam o preconceito e a discriminação.

O Governo Federal tem a Fundação Cultural Palmares, para tratar da questão dos afro-brasileiros. Entretanto, a Fundação Cultural Palmares não dispõe de um orçamento compatível com a magnitude do desafio. Ainda assim, segundo ela, a identificação e reconhecimento oficial, em 1995, da comunidade de Rio das Rãs, município de Bom Jesus da Lapa, Bahia, a teria credenciado para o desempenho dessa função.

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Houve criação de Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), com o objetivo de apresentar propostas que viessem implementar o art. 68 do ADCT. De prático estão sendo desenvolvidos alguns projetos. O projeto "Quilombo: Terras de Preto" resultou na identificação e posterior reconhecimento das áreas remanescentes de Riacho de Sacutiaba e Sacutiaba, município de Wanderley, Bahia; Mocambo, município de Porto das Folhas, Sergipe; Castainho, município de Guaranhuns Pernambuco, Jamary dos Pretos, município de Turiaçu, Maranhão.

Há mais de quinhentas comunidades negras, remanescentes de quilombos, em todo o país que esperam pelo reconhecimento da propriedade da terra. Além da falta de recursos, há uma visível falta de sintonia entre a Fundação Palmares e o órgão fundiário do país: INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma agrária). Enquanto a Fundação Palmares, que está vinculada ao Ministério da Cultura, procedeu ao reconhecimento de 30 (trinta) áreas de remanescentes de Quilombos e obteve, em favor daquelas comunidades a titulação e a regularização de sua terras, em processo paralelo, porém mais eficaz, o INCRA, autarquia federal vinculada ao Ministério da Reforma Agrária, titulou 17 (dezessete) áreas de remanescentes de Quilombos com base em Portaria interna, sem que esses processos de regularização fundiária tivessem tramitado pela Fundação Palmares. Imigrantes e seus descendentes

O Brasil não se caracteriza por ser um país que estimule a imigração. Ao contrário, quando adotou políticas de estímulo à vinda de estrangeiros, o fez de modo bastante controlado, e para atender objetivos específicos. Segundo Decreto republicano, mão de obra branca, européia, deveria ser trazida para substituir a mão de obra escrava, em razão da abolição, mas também para "embranquecer" o país.

Desde a Constituição de 1934, a regra é dispersar os imigrantes, uma vez ingressos no território nacional. A política oficial pretendia impedir a reprodução dos traços culturais de origem, e sua organização social, forçando os que aqui chegavam a uma assimilação.

Há inúmeras comunidades que podem ser consideradas de italianos, alemães, holandeses, japoneses, chineses, sírios, libaneses, que mantêm tradições comuns, histórias vividas em comum, e um sentimento de ancestralidade. A essas correntes migratórias anteriores, acrescentam-se dezenas de milhares de coreanos, bolivianos e outros grupos sul-americanos, que reproduzem aqui práticas e costumes trazidos em sua bagagem de vida. O Estado brasileiro não leva em conta essa diversidade cultura e étnica. Aqui também valem as observações feitas com relação aos ciganos e negros. Também essas comunidades originadas de imigrantes não estão na agenda oficial. Conclusões

Os direitos culturais, lingüísticos e religiosos serão mera retórica política, se desprovidos de conteúdo ao não receberem apoio e suporte do Estado em uma maneira compatível com o nível de apoio e suporte conferido à maioria da população.

Os responsáveis pela implementação de políticas públicas e aplicação das leis no Brasil necessitam ouvir e interagir com juristas e cientistas sociais - geógrafos, lingüistas, historiadores, sociólogos, antropólogos, etc. -, para compreenderem de modo plural a realidade das minorias étnicas, lingüisticas, e religiosas. Para, ao fim e ao cabo, compreenderem que uma democracia pluralista é feita também de minorias, diferentes da sociedade envolvente, menores em número mas não em direitos.

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